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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

Faculdade de Direito – Economia


Professor Fernando de Oliveira Marques
São Paulo, 13 de maio de 2021  
Grupo: MA1
- Beatriz Guerra Martinez (ra00299230)
- Gabriela Izidoro Siccherino (ra00290193)
- Gustavo da Silva Arienzo (ra00299190)
- Vinicius de Melo Braga Tapai (ra00299191)

CELSO FURTADO

 BIOGRAFIA:
Celso Monteiro Furtado foi, talvez, o maior economista brasileiro. Embora ele tivesse atuado
principalmente durante a década de 50 e 60, durante os governos JK e Jango, suas influências são
muito mais abrangentes para o contexto econômico brasileiro. Ele nasceu em 26 de julho de 1920, em
Pombal, cidade do sertão da Paraíba. Ele tem sua educação primária e secundária em João Pessoa e no
Recife, e, em 1939, o economista se muda para o Rio de Janeiro, onde inicia seus estudos na
Faculdade Nacional de Direito, parte da atual UFRJ, formando-se bacharel em Ciências Jurídicas e
Sociais. Em 1944, mesmo ano da sua graduação foi convocado pela Força Expedicionária Brasil para
lutar na Segunda Guerra Mundial, participando do combate no front italiano. Depois da guerra, em
1946, ingressou no doutorado em economia na universidade de Sorbonne em Paris, em que conseguiu
concluir uma tese sobre a economia brasileira durante o período colonial.

 INFLUÊNCIAS:
Em sua passagem por essas universidades, Celso teve contato com as principais correntes de
pensamento econômico e social de seu tempo. Ele estudou Marx e sua forma dialética de se entender a
história, o positivismo de Auguste Comte e necessidade de análise científica para se atingir o
conhecimento e se aprofundou na sociologia do conhecimento de Karl Mannheim, que afirma que há
um plano cultural que baseia e norteia o processo histórico. Mas talvez a sua maior influência seria
aquela de John Maynard Keynes, que na década de 1930 embasou várias políticas intervencionistas ao
redor do mundo.
Furtado logo se destacou na área, e foi convidado, em 1949, para fazer parte da Cepal, em Santiago do
Chile. A Cepal, que significa Comissão Econômica para a América Latina e Caribe, havia sido
fundada no ano anterior pela ONU, com o objetivo de identificar e solucionar os problemas
econômicos dessa parte do mundo. Ela se encontrava sob a organização de Raúl Prebisch, economista
argentino, que também foi uma grande influência para o pensamento furtadiano. Ele argumentou que a
teoria liberal das vantagens comparativas só funcionava entre países com nível similar de
desenvolvimento, assim rompendo com a visão hegemônica então vigente entre as classes dominantes
latino-americanas.
 TEORIAS:
Furtado constrói a partir dessas influências suas próprias ideias. A “teoria-mãe” de Furtado se
origina da época em que ele trabalhou na Cepal: a teoria da dependência. A teoria postula, a partir da
Revolução Industrial, as relações econômicas entre os países se dão de forma desigual: os
países europeus e os que apresentavam características semelhantes aos países europeus (Austrália,
Canadá e Estados Unidos), se industrializam precocemente, e  expandem seu poder político-
econômico pelas outras regiões do globo substituindo as formas de produção local pelo capitalismo,
e  previnem sua industrialização, fazendo-os importar produtos com alto valor agregado, além
de explorar seus recursos naturais em benefício próprio, causando desigualdade econômica entre
países, criando-se a divisão internacional do trabalho, entre países desenvolvidos ou centrais, e seu
subproduto, os países chamados de subdesenvolvidos, periféricos, na época chamados
até mesmo de atrasados.
Tal sistema de dependência que se origina no Neoimperialismo do Século XIX encontrava-se
consolidado na época de Furtado, quase 100 anos depois, o que baseia a sua Teoria do
Subdesenvolvimento, na qual o subdesenvolvimento não era uma etapa transitória no caminho
do desenvolvimento, como se previa na teoria classista, mas sim uma condição estrutural, que se
manteria. Por exemplo, no caso brasileiro, mesmo havendo um aumento na industrialização durante as
décadas de 1930 e 1940, durante o governo Vargas, como a estrutura existente no Brasil se manteve,
não houve desenvolvimento. Para ele ocorrer, necessita-se uma postura e uma vontade política por
parte da nação de empreender transformações estruturais na realidade.
Mas primeiramente necessitava-se identificá-las. Para isso acontecer e então combatê-las, o
economista cria o método furtadiano, que consiste em estudar a dependência, analisar globalmente a
economia mundial e a visão particular da dinâmica das economias dominadas, e estudar a história para
explicar as raízes estruturais do subdesenvolvimento. A partir desse método, e da teoria estruturalista
identificou os seguintes problemas e propôs solucioná-los:

PROBLEMA 1: Dependência das trocas desiguais resultantes dos ciclos econômicos externos,


como os do açúcar, da borracha, do café, onde há momentos cíclicos, como o nome indica, de
expansão e retração econômica, baseando-se nos preços internacionais das commodities, o que causa
variações cambiárias bruscas e uma dependência da economia de produtos com baixo valor agregado,
o que com o tempo causa uma tendência de endividamento.
SOLUÇÃO: Industrialização acelerada, aumento da base produtiva e substituição de
importações por meio de protecionismo alfandegário. Pensa-se que tais ações seriam promovidas pelo
Estado, via um processo estruturado e abrangente de planejamento econômico, que define diretrizes a
serem seguidas, também pelo setor privado, cuja área de atuação é rigidamente definida e é
subserviente à estatal. Exemplo: Plano de Metas e Trienal.

PROBLEMA 2: Falta de um mercado de consumo interno, causada pela concentração de


renda, herança do tipo de sociedade colonial, levando a uma dependência dos mercados internacionais
para escoamento da produção, o que a submete aos perigos da flutuação cambiária exposta no
problema 1.
SOLUÇÃO: Desconcentrar renda a partir de programas sociais, assim levando a população a ter
dinheiro para comprar e usufruir dos novos produtos e serviços nacionais. A reforma do sistema
fiscal e tributário é necessária para que ela contribua para o desenvolvimento e investimento no país, e
não para que ele seja usado para favorecer os interesses dos setores empresariais privados das classes
dominantes. 

PROBLEMA 3: Concentração fundiária, ocasionando o êxodo rural e a concentração


desproporcional da população nos grandes centros urbanos. 
SOLUÇÃO: Reforma Agrária. Ele também seria a favor da construção de Brasília

PROBLEMA 4: Autoritarismo e a instabilidade institucional do sistema de poder. 


SOLUÇÃO: Reformulação do Estado, a sociedade deve exercer uma opinião pública aberta e
uma cidadania exigente, impedindo assim, a degeneração do aparelho estatal. Celso Furtado também
diz que nesse estágio de desenvolvimento deve haver necessariamente uma desconstrução radical da
sociedade, e que programas de desenvolvimento que são estabelecidos em nome da
estabilidade, que mantém as estruturas econômica, social e política intocáveis, estão fadados à
ineficiência. Na concepção furtadiana, a estabilidade é fruto do desenvolvimento, e logo, não vem
antes dele, os estados que querem se desenvolver tendo que administrar tais tensões.

Tais pensamentos e propostas seriam expostas ao longo de sua vasta obra, em livros


como Formação Econômica do Brasil, de 1959, e Desenvolvimento e subdesenvolvimento de 1961. O
seu reconhecimento como economista leva a seu envolvimento com diversos órgãos do governo
brasileiro a partir de 1952, ele promovendo diversas políticas, como por exemplo: 

 PLANO DE METAS:
 
Plano de Metas foi um programa cuja finalidade era melhorar as infraestruturas brasileiras
implementado durante o governo de Juscelino Kubitschek (1956-1960). Esse plano foi fundamento a
partir das ideias dos economistas da CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina) e do
BNDE (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico). Celso Furtado foi um dos responsáveis por
desenvolver o projeto para o governo de JK. 
Celso Furtado, durante os anos 50, montou um grupo na Cepal, que começou a elaborar técnicas
de análises econômicas baseadas em modelos macroeconômicos, um termo trazido para economia
brasileira pelo próprio economista, permitindo assim relações entre as metas de produção setorial.
Quando voltou para a BNDE, formou um grupo de trabalho que estudava a aplicação desses métodos
no Brasil, fundamentando-se nas projeções econômicas brasileiras. Tinham como objetivo identificar
maneiras de aumentar as taxas de crescimento do país, por meio de diversos cenários, encontrando o
que era necessário para que esse aumente ocorresse. Foram formulados diversos modelos que levaram
em conta hipóteses sobre o comércio internacional, taxas de investimentos e suas produtividades, entre
outras. Foram esses estudos, previamente realizados por Celso Furtado tanto durante seu trabalho na
CEPAL, quanto na BNDE, que serviram de vínculo para os projetos setoriais do Plano de Metas.
No Livro Memórias do Desenvolvimento, publicado pelo Centro Celso Furtado aborda que a
política do Plano de Metas consistia em diversos objetivos voltados para a área setorial que deveriam
ser implementados e cumpridos durante os cinco anos do governo de Kubitschek. Além disso, aborda
que, mesmo com todo a oposição que o governo estava recebendo, esse projeto acabou sendo
relativamente bem-sucedido, tendo como principais colaboradores a BNDE, como dito anteriormente.
Uma das metas de Juscelino foi a criação da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste
(SUDENE), que tinha como objetivo corrigir os problemas regionais, ou seja, visto que o sul do Brasil
tinha se industrializado muito mais rápido que o norte do país, essa empresa tinha função de equilibrar
essa drástica diferença.
Observação: A BNDE tinha como função o financiamento de longo prazo e investimento em
todos os segmentos da economia brasileira, promovendo o desenvolvimento econômico. No governo
de JK foi o grande agente financeiro do Plano de Metas. Atualmente a BNDE está vinculada ao
Ministério da Economia com o objetivo de a realização de projetos a fim de gerar mais empregos,
renda e inclusão social no Brasil.

 Associação com a CF: Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do


Brasil: II - garantir o desenvolvimento nacional;

 SUDENE:
Dia 6 de janeiro de 1959, no Palácio Rio Negro, durante o mandato de do Presidente da República,
Juscelino Kubitschek, foi convocada uma reunião com uma série de “produtores de ideias”. Dentre
estes, estava Celso Furtado, então um dos diretores do BNDE, que propõem um projeto para auxiliar
no desenvolvimento da região Nordeste. Detalhes sobre as mudanças que gostaria de implementar
podem ser encontrados no livro “A Operação Nordeste”, publicado em 1959, sugerindo que o governo
priorizasse a criação de bases para a industrialização e o aumento da oferta de alimentos. A
Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste, Sudene, foi criada pela Lei no 3.692, resultando
da ideia do economista. No livro destaca a política de açudagem, que não havia trazido mudanças até o
momento e que diversas diretrizes e políticas inapropriadas para a situação diversa da região
contribuíam para sua piora, ou seja, todas as medidas deveriam ser tomadas considerando as
características socioeconômicas e físicas da região, destacando a seca, a pobreza e a permanência de
estruturas perversas com o coronelismo. As observações do economista indicavam que as diferenças
entre a região nordeste e a sul-sudeste persistiriam -e até aumentariam- caso não intervissem de forma
planejada, levando a região a um maior desenvolvimento.
Celso Furtado se manteve no comando da Sudene de 1959 a 1964. As áreas de atuação do projeto
incluíam os estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas,
Sergipe, Bahia e parte de Minas Gerais. O economista, pretendia ao final da operação, a transformação
e evolução da região, tanto no setor público, quanto no privado. Esperava a formação de uma
consciência regional e que o novo grupo industrial da região colocasse um fim a hegemonia
latifundiária.
Entretanto, as ideias de Furtado, se depararam com diversas barreiras, o egoísmo estatal dos
políticos nordestinos e a pressão das oligarquias que possuíam grande influência no Congresso
Nacional. Além disso, o DNOCS, Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, atuante no
Nordeste, criado em 1909, vinculado ao Ministério da Viação e Obras Públicas, com outro nome, em
1945, recebeu o nome atual. Este, ganhava uma imagem cada vez mais forte de órgão que utilizava a
situação das secas para manipular verbas por corrupção favorecendo ilicitamente políticos e
fazendeiros, realizando obras falsas e forjando pagamentos de trabalhadores inexistentes. Portanto,
apesar das ideias iniciais de Furtado serem boas e promissoras, diversos fatores impediram que fossem
a diante. A Sudene não foi bem-sucedida, fechando em 2001 por denúncias de estar favorecendo
clientelas.

 PLANO TRIENAL:
Durante o governo de João Goulart, foi proposto pelo Ministro do Planejamento Celso Furtado, o
Plano Trienal que tinha como principal função reverter o aumento da inflação e a deterioração do
comércio exterior. Todo o projeto foi elaborado durante apenas três meses por uma equipe liderada
pelo economista, com o objetivo de retomar o crescimento do PIB do Brasil, que foi muito prejudicado
pelas primeiras políticas econômicas que Goulart formulou, além de começar um plano de distribuição
de renda. De forma geral, o Plano trienal tinha como objetivo fazer com que o país voltasse a crescer,
conter a inflação, promover a distribuição de renda, diminuir a desigualdade e reorganizar a dívida
externa.
Pelo governo de João Goulart ter sido extremamente instável, não foi possível instaurar e executar
o plano desenvolvido por Celso, sendo considerado um fracasso, o que acabou desenvolvendo uma
crise institucional. Em resposta à essa crise, o até então presidente, começou a desenvolver decretos-
lei, nacionalizar empresas privadas de petróleo e desapropriar terras, causando a revolta da classe
média e alta brasileira. Essas classes, por já estarem descontentes por conta das más condições
econômicas que já existiam no brasil, fez com que as críticas ao plano trienal tivessem uma grande
contribuição para a derrubada do governo e o aumento da instabilidade política nacional.
Entretanto, mesmo com as diversas opiniões contrárias ao Plano Trienal, o trabalho desenvolvido
por Celso Furtado tornou-se muito importante para a formação do pensamento econômico brasileiro,
pois no seu texto apresentou diversos dados sobre saúde, educação, transporte, energia, indústrias,
recursos minerais, entre outros, se tornando uma fonte de extrema relevância sobre como era a
sociedade brasileira daquela época.
Em decorrência de todo o seu envolvimento durante o governo de João Goulart, quando ocorreu o
golpe militar em 64, em que se formulou o Ato Institucional nº 1 (AI-1), Furtado teve seu nome
incluído na lista de cassados, sendo obrigado a sair do Brasil. O economista então, se mudou para os
Estados Unidos, onde assumiu uma posição de pesquisador na Universidade de Yale.
Celso Furtado retornaria ao Brasil em 1979, beneficiado pela Lei de Anistia. Ele voltou e ocupou
diversos cargos de importância no governo, como o Ministério de Cultura durante o governo Sarney
onde capitaneou projetos de incentivo à cultura que foram a base da atual Lei Rouanet, e ainda foi
eleito para a cadeira 11 da Academia Brasileira de Letras. Ele faleceu no dia 20 de novembro de 2004,
no Rio de Janeiro, mas a influência de suas ideias continuou após sua morte, se estendendo até os dias
atuais.

 OBSERVAÇÃO:
Além de ter sofrido várias influências, vale ressaltar também que a partir da década de 90, os
conceitos do economista caíram no esquecimento, devido ao surgimento de novas ideias e práticas
desenvolvimentistas. Sendo assim, durante o governo Dilma, ocorre algumas mudanças no âmbito
econômico, como a criação da Nova Matriz Econômica pelo ministro da fazenda Guido Mantega.
Ademais, entende-se que esse novo conjunto de medidas adotado, retoma ideias defendidas por Celso
Furtado, como a redução de juros (retorno do uso do BNDS) e do IPI (imposto sob produtos
industrializados), e o evento mais importante, a criação do PAC (Programa de Aceleração do
Crescimento). Esse último pode ser visto como um plano que teve como objetivo acelerar o
crescimento econômico do Brasil, sendo uma de suas prioridades o investimento em infraestrutura,
principalmente na região Nordeste. A partir de 2014, essa política começou a ser abandonada pelo
aprofundamento da crise econômica.

 BIBLIOGRAFIA:
 https://pt.wikipedia.org/wiki/Plano_de_Metas
 https://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi2311200406.htm
 https://www.todamateria.com.br/plano-de-metas/
 https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/JK/biografias/celso_furtado
 http://www.centrocelsofurtado.org.br/arquivos/image/201109010957170.MD4_0_045.pdf
 https://en.wikipedia.org/wiki/Sudene
 https://en.wikipedia.org/wiki/Celso_Furtado
 https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/Jango/artigos/NaPresidenciaRepublica/
O_plano_trienal_e_a_politica_economica
 https://pt.wikipedia.org/wiki/Banco_Nacional_de_Desenvolvimento_Econ%C3%B4mico_e_Social
 http://www.centrocelsofurtado.org.br/interna.php?ID_M=462
 https://www.infoescola.com/historia-do-brasil/plano-trienal/
 http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/departamento-nacional-de-obras-contra-
as-secas-dnocs
 http://www.centrocelsofurtado.org.br/arquivos/image/201109201209490.CD8_0_018.pdf
 https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/JK/artigos/Economia/Sudene

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