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LINHARES, Maria Yedda. História Geral do Brasil. Rio de Janeiro: Campus, 1990.

LINHARES, Maria Yedda. História Geral do Brasil. 10ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016.

MENDONÇA, Sônia Regina de. As bases do desenvolvimento capitalista dependente: da industrialização restringida à
internacionalização. Cap. 7. p.243-272
p.490-527
10ª ed. Cap. 8.

Década de 1930, indústrias de base, “afirmação do polo urbano-industrial enquanto eixo dinâmico da economia.” p.243
p.491

“Mesmo sem comungar exatamente das mesmas premissas, outro grupo de estudos mais recentes procura ampliar o escopo
da avaliação da política econômica empreendida no pós-30, dando destaque ao “projeto” mais amplo que lhe dava sentido.
Dessa perspectiva, deixam de atribuir às medidas setoriais praticadas pelo Estado uma importância decisiva. O que passa a
interessar é o caráter do conjunto, assim como seu beneficiário último: a burguesia industrial. O fato de ele estar ainda
compromissado com setores tradicionais da economia não o define como indubitavelmente antiindustrialista, posto que p.244
p.492
ultrapassou, largamente, os limites da mera defesa de interesse dos velhos grupos dominantes. Ainda que os núcleos
decisórios do Estado coubessem a frações oligárquicas, isso não significava que elas fossem desprovidas de qualquer caráter
burguês. De igual modo, seria difícil supor um projeto industrializante à revelia do empresariado industrial que, mesmo sem
deter a hegemonia do processo, foi ator estratégico nas alianças políticas do novo regime.”

“Esboçava-se um ‘projeto’ de industrialização pesada que, a despeito de limitado e inconcluso, foi a tônica de organização do
próprio Estado. Entre 1930 e 1945 o Estado brasileiro avançou seu processo de constituição enquanto Estado nacional e p.244
p.492
capitalista.”

Mudança de sentido: da agroexportação à industrialização.


“O avanço do aparelho econômico do Estado foi concomitante à reformulação de suas próprias práticas econômicas, cujo p.245
sentido último consistia em destruir as regras do jogo segundo as quais a economia se inclinava tradicionalmente para a p.492-493
atividade agroexportadora, criando condições institucionais para expandir as atividades ligadas ao mercado interno. Tratava-
se, como aponta Oliveira, de introduzir um novo modo de acumular baseado numa realização interna crescente da produção.
“No entanto, a conjuntura internacional era adversa a tal propósito. (...) Os limites da definição plena de um projeto p.245
industrializante tornavam-se evidentes”; (...) Processo de industrialização restringida, como o denomina Cardoso de Mello.” p.493

“A ação do Estado seria decisiva na condução desse processo, através da definição de algumas medidas essenciais para um
desenvolvimento industrial baseado em recursos escassos. (...) primeira grande diretriz da política econômica adotada no p.245
p.493
período: o controle dos fatores produtivos enquanto instrumento de acumulação industrial.”

“O exemplo mais cabal da ação reguladora do Estado foi sua política sindical e trabalhista, (...) salário mínimo também
enquanto instrumento da acumulação urbano-industrial. E isso, por duas razões: por um lado, porque ao substituir o mercado
como instância formadora do preço da força de trabalho, o Estado evitava o confronto direto entre capital e trabalho; por p.245-246
p.493-494
outro, porque ao fixar esse mínimo em níveis biológicos, a lei garantia aos empresários expressiva redução de gastos com a
folha de pagamento.”

“A segunda grande diretriz da política econômica do Estado ao longo das décadas de 1930 e 1940 foi a definição de um novo p.246
papel para a agricultura.”; Confisco cambial, desestímulo à exportação, transferência de recursos da agricultura para indústria. p.494

“O Estado procurou, igualmente, transformar a agricultura de alimentos em coadjuvante do processo de industrialização, p.246
incentivando a expansão de fronteiras agrícolas que produzissem gêneros básicos a baixos preços.” p.494

“Transformação do Estado em investidor produtivo”:


“Alargamento da estrutura tributária do Estado, (...) para driblar um quadro de déficits crônicos gerados pela defasagem entre
o projeto de industrialização esboçado e a realidade dos recursos disponíveis.”; (...) p.247
p.495
“Opção pela empresa pública como alternativa de financiamento do novo padrão de acumulação, em uma conjuntura
internacional de tecnologia altamente monopolizada.”

“O papel da empresa produtiva estatal era claro: não somente viabilizar a implantação possível de um núcleo capitalista no
país, como também fornecer bens e serviços a baixo preço, de modo a propiciar economia de custos ao capital privado. A p.247
burguesia industrial, apesar de temer os excessos do intervencionismo, continuaria investindo nos tradicionais setores p.495-496
produtivos, à sombra dos benefícios da ação estatal. Estava lançada a semente de uma acelerada concentração da renda.
Ambiguidade da intervenção estatal:
“como o aponta Draibe, a forte presença, na conjugação de forças políticas, de grupos que combatiam o projeto p.248
industrializante e a intervenção estatal, foi responsável pela ambiguidade desse intervencionismo de dupla face: abrangente e p.497
limitado, por isso mesmo insuficiente para superar o caráter restringido da industrialização brasileira.”

Industrialização nacionalista falta de recursos estrangeiros (crise)


“Antes de mais nada é preciso deixar de lado a ligação automática estabelecida entre o nacionalismo e a escassa penetração
do capital forâneo no país da época. Uma vez que se processava a redefinição do próprio capitalismo internacional desde a
crise de 1929, mais exato seria falar da não disponibilidade de recursos e tecnologia no mercado mundial. A rearticulação p.249
entre os centros e a periferia permaneceria difícil com a eclosão da Segunda Grande Guerra: o jogo de forças dela resultante p.497
impunha como prioridade um padrão de investimentos de “centro a centro”, desviando recursos das nações não
industrializadas do sistema. Aos países periféricos continuava cabendo o papel de produtores de matérias-primas e bens
agrícolas. A industrialização brasileira viria a realizar-se nas brechas desse policentrismo e “à revelia” dele, sem implicar uma
escolha nacionalista como pensam muitos.”

Do fim do Estado Novo (1945) ao segundo governo Vargas (1951):


“interregno para as tendências estatizantes até então vigentes no campo da política econômica, em nome da euforia
‘democratizante’ que se opunha a todos os vestígios de autoritarismo. Foi aí que se rearticularam as forças conservadoras
partidárias do arrefecimento da industrialização pesada e da reintegração do país ao ‘livre comércio’ internacional. Durante a p.249
p.497-498
gestão Dutra, embora não se tenha concretizado o desmantelamento da capacidade intervencionista do Estado, procedeu-se a
uma relativa paralisia da tendência centralizadora dos comandos econômicos.”

“A supressão de órgãos do aparelho econômico criados durante o Estado Novo foi a tendência preponderante. Seu alvo foi o
grupo de instituições mais claramente identificadas com o corporativismo e, portanto, definidas como mais ‘autoritárias’. p.250
Apesar disso, permaneceram intocadas a legislação trabalhista e a estrutura sindical, o que correspondia aos anseios perenes p.498-499
dos setores dominantes de exercerem o controle sobre a classe operária.”
“Na coligação de forças conservadoras vigente entre 1945 e 1950, a direção econômica do Estado se exerceria segundo um
padrão desaquecido e restrito de expansão capitalista, distante, em muito, da visão do desenvolvimento industrial como um
problema urgente. Ao que tudo indica, o equilíbrio político sobre o qual se sustentou tal aliança parece ter-se constituído de p.250
p.499
um acerto entre grupos urbano-industriais e agromercantis, com participação mínima das forças políticas mais próximas de
um projeto nacional popular de desenvolvimento econômico.

“O retorno de Vargas ao poder em 1951, dessa vez pela via eleitoral, significou, exatamente, a retomada desse tipo de projeto.
A industrialização acelerada enquanto condição do progresso social era a meta e o Estado armou-se de novas instituições e p.250
instrumentos capazes de viabilizá-la, prenunciando o tipo de intervenção que assumiria nos anos pós-55 com a posse do novo p.499
presidente Kubitschek.”

“Nova articulação entre empresários e Estado – não mais nos moldes corporativistas de representação vigentes até então.
A intenção do novo esquema de articulação era tornar a grande empresa pública o núcleo definitivo dos investimentos
industriais, o que estimularia, por seus efeitos dinâmicos, o capital privado nacional. Seu limite também era evidente: a p.250-251
insuficiência desse último para ter acesso à tecnologia monopolizada. Por mais que o aparelho econômico do Estado se tenha p.499-500
expandido e adquirido níveis de coordenação mais elevados, as realizações efetivas, comparadas com o plano original, foram
fragmentadas ou incompletas, frustrando o projeto vanguardista.”

“Do ponto de vista político, a materialização do salto para a industrialização sob a liderança da empresa estatal, minimizando
a participação da empresa estrangeira e subordinando o capital privado nacional, evidenciava um conteúdo nacional-popular p.251
p.500
que despertou inúmeras resistências, tanto interna quanto externamente.”

JK: “Foi sob a égide do Plano de Metas, lançado na segunda metade dos anos 50, que o país ingressou em sua fase de
economia industrial avançada, concretizando-se uma estrutura monopolista específica que articulou, de modo peculiar, a
multinacional, a empresa privada nacional e a empresa pública. Operou-se uma ruptura com a orientação da política
econômica anterior sobretudo em dois níveis: no da definição de um novo setor industrial a ser privilegiado pelo Estado; e no p.251
p.500
do estabelecimento de novas estratégias de financiamento para a industrialização brasileira. No primeiro caso, a prioridade
seria do setor produtivo de bens de consumo duráveis; no segundo, a opção foi a internacionalização da economia brasileira,
em lugar da ênfase aos empréstimos públicos externos.”
“Semelhante redefinição do padrão de acumulação deveu-se ao imbricamento de conjunturas excepcionalmente favoráveis.
Internamente, a concentração da renda decorrente do padrão anterior incentivará uma mudança qualitativa do perfil da p.251
p.500
demanda nacional”

“Do ponto de vista internacional, (...) Os centros capitalistas, uma vez concluídos os planos de reconstrução do pós-guerra,
principiaram a buscar novas alternativas para a exportação de capitais, “redescobrindo” a América Latina em pleno apogeu da p.252
p.501
guerra fria.”

Modelo JK X Modelo Vargas:


“Abrindo-se mão de qualquer projeto de desenvolvimento nacional autônomo, internacionalizou-se a economia, franqueando- p.252
a ao capital estrangeiro sob a dupla modalidade de empréstimos e investimentos diretos. Inaugurava-se o que Cardoso e p.501
Falleto denominam “modelo de capitalismo independente associado”, superando-se o principal limitante da industrialização
restringida: sua dependência do desempenho do setor agroexportador enquanto gerador de divisas.”

“A definição das bases da associação com a grande empresa oligopólica estrangeira coube ao Estado, através da mais
ambiciosa experiência de planejamento até então tentada: o Plano de Metas, que significou a reelaboração qualitativa das p.252
p.501-502
relações entre Estado e economia no país.”

Construção de Brasília: “A nova capital representava, em sua concretude, a prioridade estabelecida pelo Plano para a p.253
indústria automobilística e o transporte rodoviário enquanto eixos do desenvolvimento nacional.” p.502

Setores industriais em bloco: “Estavam lançadas as bases do chamado “tripé” da indústria, setorizado e distribuído – pela
mediação harmoniosa do Estado – entre o capital privado estrangeiro (alocado no setor de bens de consumo duráveis), o p.253
capital privado nacional (responsável pelas empresas produtoras de bens de consumo) e o capital estatal (ligado ao setor de p.502
bens de produção).”

Inflação: “Tal como antes, o alargamento das bases financeiras do Estado não repousou essencialmente em medidas fiscais e
cambiais de efeitos redistributivistas. Optou-se pelo velho mecanismo inflacionário (...) A emissão de moeda ganhou foro de p.253
estratégia sistemática de criação de poupanças forçadas, o que era altamente oneroso para os setores subalternos. O nacional- p.502-503
desenvolvimentismo entrava em cena.”
Capital nacional cresce a reboque do capital estrangeiro: “Ainda que no esboço dos novos blocos de inversão o comando
coubesse à empresa estrangeira, oferecia-se aos empresários nacionais um novo front de acumulação a elevadas taxas de p.253
lucro, permitindo-lhes ingressar em novos mercados e linhas de investimento mediante o suporte creditício do próprio p.503
Estado.”

Crescem também os setores estatais: “Os efeitos de encadeamento da impetuosa instalação de setores de ponta na produ ção p.254
de bens duráveis atingiram, igualmente, os investimentos estatais em infraestrutura, alargando-os.” p.503

Resultados do Plano de Metas: “desnacionalização da economia brasileira” e “consolidação definitiva do predomínio dos p.254
ramos modernos” p.503

Reordenação burocrática: “Sua contrapartida foi o lento e discreto esvaziamento do Legislativo enquanto instância de p.254
aprovação de matérias econômicas. As decisões cruciais de política pública transferiam-se para os gabinetes dos técnicos.” p.504

“Emergência de novas contradições”: 1) “favorecimento ostensivo à concentração de capital e empresas propiciado pela p.255-256
inserção das multinacionais em nosso território (...) oportunidades para o pequeno capital estariam, na prática, dificultadas.” p.504-505

2) “Garantir a complementaridade equilibrada entre os três setores da produção industrial seria outro problema, uma vez que
a composição do capital estatal, do capital privado nacional e do capital privado estrangeiro se instalara de forma assimétrica,
com clara vantagem para esse último. (...) Recorrer às importações foi a solução compensatória para a escassez interna de p.256
insumos básicos, o que representou desviar para fora os impulsos dinâmicos do novo modo de acumular. Gerava-se o que p.506
Oliveira denomina “restauração Kubitschek”: o restabelecimento de uma dada articulação centro/periferia que aprofundou
violentamente o grau de dependência externa da economia brasileira.”

“Essa reversão de tendências, além de reeditar a tradicional crise do balanço de pagamentos, fez-se acompanhar da
emergência de um novo tipo de crise: aquela resultante da contradição inerente a uma industrialização baseada na produção
de bens duráveis – e que se realizavam no mercado interno – cuja propriedade era do capital estrangeiro que retomava às p.256
matrizes sob a forma de lucros, juros e dividendos. A imperiosa necessidade de dotar a economia dos meios de pagamento p.506
internacionais compatíveis com o retorno à circulação mundial dos excedentes aqui realizados pelas empresas estrangeiras
está na raiz do alargamento inaudito do patamar da dívida externa brasileira.”
“Finalmente, cumpre mencionar o pesado custo social desse “modelo”, cuja base está na ampliação do fosso entre
produtividade e salários, favorecida pela política econômica do governo. Considerando-se a injeção maciça de tecnologia de
ponta então ocorrida, tem-se uma ideia do grau de elevação da produtividade do trabalho assim obtida, sem repasses – nem p.256
p.507
via preços, nem via salários – à classe trabalhadora, já combalida pela inflação. Seu corolário foi uma acelerada concentração
da renda, que serviu de suporte às medidas da política econômica do pós-64.”

Sociedade e Política: Construção e crise do populismo no Brasil


“revolução de 30”, “quebra das autonomias estaduais”, “poder do Estado como poder unificado e genérico, representativo do p.257
‘interesse geral’ em sua concretude.”; A burguesia industrial desempenharia papel político expressivo no jogo das alianças p.507-508
que se constituíram a partir de 1930

“tendência centralizadora do Estado Novo (...) tratava-se da edificação de um aparelho administrativo de intervenção, p.258
regulação e controle, que organizava em novas bases a dominação, inscrevendo as relações sociais na ossatura do Estado.” p.508

Centralização Controle das oligarquias locais


“Para tanto, a ação do governo seguiu três direções: a definição de um novo padrão de relações políticas entre o poder federal
e os estados; a criação de instituições com abrangência nacional, ligadas diretamente ao controle de esferas estratégicas da
economia; e, finalmente, a ampliação do papel do Exército. Seu significado global residiu na abertura de novos canais de
influência para os diversos grupos de interesse, dentro do próprio Estado, bem como na consolidação de um novo estilo de p.258
p.508-509
participação política que prescindia das tradicionais organizações partidárias.
A tática central para a realização do controle sobre as estruturas políticas regionais foi a montagem de
interventorias/departamentos administrativos, que interligavam as tradicionais oligarquias estaduais ao Ministério da Justiça e
da Presidência. (...) autonomia para o poder central (...)”
O coroamento do sistema foi a criação, em 1938, do Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP), concebido
como um superministério ao qual es tariam afeitos o controle central da estrutura administrativa e a preparação dos
orçamentos anuais. Nesse contexto, os estados eram relegados à posição de divisões administrativas subordinadas a uma p.259
hierarquia de agências burocráticas, propiciando a passagem das grandes decisões sobre sua própria vida econômica para as p.509
mãos do governo federal, através de decretos-lei.
Burocracia:
“Esse foi o sentido da multiplicação de institutos, conselhos e autarquias voltados para o controle das atividades econômicas
em três planos: aqueles ligados à instauração de políticas de âmbito nacional; aqueles encarregados da regulação e fomento p.259
p.509-510
de ramos da produção (...); e, finalmente, os órgãos de caráter consultivo ou normativo, responsáveis pelas políticas referentes
às grandes áreas da economia nacional (...).”

“Doutrina da solidariedade militar”:


“Durante o Estado Novo desenhou-se o contorno de uma doutrina militar que definia – pela primeira vez de dentro para fora
da instituição – o papel do Exército na sociedade brasileira. (...) Sua premissa foi a busca de denominadores comuns que p.259-260
identificassem todos os militares, desde o culto aos mesmos heróis e o anticomunismo, até a associação definitiva entre p.510-511
defesa e desenvolvimento ou, ainda, a necessidade de preservação do Alto Comando em uma posição acima das divergências
pessoais.”

“Pela durabilidade de seus efeitos, a marca mais específica do Estado Novo foi sua política sindical e trabalhista. A
preocupação em institucionalizar as relações entre Estado, empresariado e operários assumiu, no pós-37 – em plena p.260
emergência da industrialização e da sociedade de massas –, o caráter de produção de uma verdadeira “visão de mundo”, p.511
consubstanciada no corporativismo e sua concepção orgânica do todo social.

Sindicatos:
“Estrutura sindical (...) vertical e hierarquizada, (...) controle da classe operária”, mas também “fortalecimento do
empresariado a partir da maior proliferação dos sindicatos patronais. p.260
Desde a lei de sindicalização de agosto de 1939, o sindicato transformava-se não apenas em uma agência do aparelho de p.511
Estado, rigorosamente subordinada ao controle do Ministério do Trabalho, como também em um instrumento de mobilização
dos trabalhadores, em função do estabelecimento de uma série de benefícios para os que fossem sindicalizados.”

Empresariado:
“A recusa das categorias patronais em aceitar o projeto de um Estado totalizador da vontade nacional ficava patente em sua p.260
p.511
própria prática, que evitava cumprir o previsto pela nova legislação protetora do trabalho.”
p.261
Crise do Estado Novo:
“A deposição de Vargas e o fim do Estado Novo, via golpe, em 1945, explica-se a partir de um duplo condicionamento. Por
um lado, (...) derrota dos regimes fascistas na Segunda Guerra, (...). Por outro, (...) consolidação da hegemonia norte-
americana no Ocidente (...) princípios econômicos antagônicos a qualquer tipo de protecionismo e intervencionismo, (...).
p.512
Esse neoliberalismo serviu como elemento aglutinador das oposições ao Estado Novo, compondo uma frente ampla que
comportava tanto setores tradicionalmente ligados à agroexportação, quanto grupos importadores e até mesmo frações da
classe média urbana, todos eles lesados pela política econômica do governo e desejosos de livrar-se, quer do confisco
cambial, quer da seletividade das importações praticadas pelo Estado.”

“O marco formal da oposição à ditadura foi o Manifesto dos Mineiros (1943), documento que consistia em um libelo em prol
do restabelecimento das liberdades político-partidárias no país. Em torno dessa mobilização surgiria a União Democrática
Nacional (UDN), um dos três grandes partidos políticos brasileiros do pós-45, juntamente com o Partido Social Democrático p.261
p.512
(PSD) e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Os dois últimos formaram-se, um, a partir da máquina política clientelista, e
outro, das bases populares urbanas do trabalhismo getulista.”

“Por estar situado entre dois períodos autoritários, o regime de 1946-1964 costuma ser encarado como “momento único” da
nossa história política recente, inaugurado sob o signo da ruptura. Entretanto, estudos como o de Campello de Souza apontam
para o quanto de continuísmo que ele conteve, uma vez que o advento do pluralismo partidário e de eleições diretas foi p.261-262
p.513
superposto à estrutura das interventorias e do sindicalismo corporativo. A permanência dos grupos estadonovistas no poder
foi assegurada por um conjunto de regras estipuladas ainda durante a vigência do Estado Novo.”

“A coligação PSD/PTB iria ocupar o espaço cênico do jogo eleitoral, (...) O novo pacto então inaugurado configurou o p.262
chamado populismo brasileiro (...)” p.513

Instabilidade do populismo: “cabe lembrar que o populismo representou também o reconhecimento institucional da cidadania
política dos trabalhadores, ou seja, de seu direito de cobrar o atendimento de suas aspirações. Essas eram, grosso modo, três:
o acesso ao emprego urbano, à condição de consumidores e à participação eleitoral. Da resposta a elas dependeram tanto os p.262
p.513
limites da manipulação, quanto a própria estabilidade do regime, gerando-se um quadro de equilíbrio instável inerente ao
populismo.”
“O segundo governo Vargas (1951-54) ilustra as contradições que ameaçavam um regime baseado na difícil conciliação entre
a satisfação das demandas populares, a manutenção do ritmo acelerado do crescimento e as contraditórias alianças integrantes
da cúpula do pacto político. O exacerbado nacionalismo varguista – partilhado por setores de classe média, do Exército, do p.262
proletariado e dos pequenos empresários –, ao impor restrições à penetração de tecnologia e capitais forâneos, não só acirrava p.513-514
os limites da industrialização restringida, como entrava em conflito com outro projeto de desenvolvimento que então se
esboçava. A burguesia industrial já discutia a possibilidade de associação com o capital estrangeiro.”

“Após o tumultuado interregno do governo Café Filho – quando golpistas e legalistas disputavam a liderança do país –, p.263
inaugurou-se a gestão de Juscelino Kubitschek (1956), marco da vitória do novo projeto industrializante em gestação.” p.514

“coligação PSD/PTB no Legislativo (...) Ao PSD, (...) negociar junto às suas bases eleitorais – incluindo as grandes
empreiteiras e proprietários rurais – as obras previstas pelo Plano de Metas (...) Já para o PTB, (...) procurou-se ampliar o p.263
grau de ingerência das representações sindicais em decisões cruciais do governo, como também adotou-se a prática do p.514-515
subsídio estatal para produtos básicos”

Crise definitiva do populismo: “Através de expedientes como os descritos, preservava-se a ilusão de um pacto social. No
momento em que o arrefecimento do ritmo do crescimento econômico viesse a coincidir com a diferenciação relativa de um
dos setores integrantes da aliança dominante, no entanto, o populismo sucumbiria às suas contradições. A crise de inícios dos p.263
p.515
anos 60 explicitaria esse processo, mediante a intensificação de movimentos grevistas e a retirada do apoio dos empresários
industriais ao regime.”

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