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O Estado e as empresas estatais no desenvolvimento econômico

A nacionalização das empresas privadas no Brasil nos setores básicos, como


eletricidade, telecomunicações, ocorreu com a incapacidade do setor privado se
expandir com as demandas do desenvolvimento. Tal incapacidade, desinteresse, do
setor privado investir em certos setores se dá pelo fato de que havia a necessidade de
aplicar muitos recursos e um longo prazo de retorno financeiro.
O objetivo em si não foi ampliar a intervenção do Estado em detrimento do setor
privado, mas, sim, ocupar os “espaços vazios”, aqueles que não eram de interesse para
o privado, áreas que correspondem a atividades essenciais para o desenvolvimento
econômico, portanto, o objetivo se resumiu em complementar a ação do setor privado
visando o desenvolvimento do país.
Visto isso, tal maior intervenção do Estado foi inevitável, pelos seguintes fatores: o
setor privado era relativamente pequeno, e, portanto, não sustentaria investir em
todas as áreas importantes, os desafios que foram enfrentados devido às crises
econômicas que atingiram o mundo, como a crise de 1929, que abriu espaço para uma
maior intervenção do Estado para reforçar as bases do país, o desejo de controlar a
participação do capital estrangeiro e o objetivo de promover o desenvolvimento no
país, por meio da industrialização rápida.
O processo da industrialização no Brasil foi por meio da substituição de importações,
em que se eleva a produção interna para, consequentemente, diminuir as importações,
com a proteção ao mercado local e a forte presença do Estado nas atividades
produtivas.
Os anos pré-1930
Antes de 1930, o papel do Estado na economia brasileira era relativamente limitado e
passou por diferentes fases ao longo dos anos. Até o início do século XX, a economia
brasileira era predominantemente agrária, com a produção de café, açúcar, cacau e
borracha desempenhando um papel central. A economia era baseada em grandes
propriedades rurais e mão de obra escrava (até a abolição da escravatura em 1888).
Durante o Império e as primeiras décadas da República Velha (1889-1930), o Estado
tinha uma presença limitada na economia. As políticas governamentais eram
geralmente voltadas para a manutenção da ordem e a garantia dos interesses das elites
agrárias. A economia brasileira estava fortemente ligada à exportação de produtos
primários, como café, borracha, açúcar e minério de ferro. Isso a tornou suscetível a
flutuações nos preços internacionais dessas commodities. O Brasil dependia
fortemente de capitais e tecnologia estrangeira para desenvolver sua infraestrutura e
indústrias. Isso resultou em um alto grau de dependência externa. A economia
brasileira era caracterizada por ciclos econômicos, nos quais a prosperidade era
seguida por crises, particularmente relacionadas às oscilações nos preços das
commodities de exportação. A industrialização estava em estágios iniciais,
principalmente nas áreas de manufatura de bens de consumo e processamento de
matérias-primas. A maior parte da indústria estava concentrada nas regiões Sudeste e
Sul do Brasil. Nas áreas rurais, o poder estava frequentemente concentrado nas mãos
de "coronéis", líderes políticos e econômicos locais que exerciam grande influência
sobre a população e as eleições. Em resumo, antes de 1930, o Estado brasileiro
desempenhava um papel relativamente limitado na economia, com a ênfase na
produção agrícola e a exportação de produtos primários. Essa era uma época de
grande desigualdade social e econômica, com uma economia instável e sujeita a
flutuações nos mercados internacionais.
A década de 1930
Na década de 1930, o papel do Estado na economia brasileira passou por mudanças
significativas devido a uma série de eventos e fatores que moldaram a trajetória
econômica do país.
- A crise de 1930 marcou uma mudança na mentalidade dos governos brasileiros, com
a industrialização tornando-se uma prioridade.
- A dificuldade de realizar transações comerciais com o exterior, devido à guerra e à
depressão dos anos 1930, incentivou a industrialização como uma forma de atenuar a
vulnerabilidade externa.
- O Estado expandiu seus instrumentos regulatórios, controlando preços de produtos
básicos como água, eletricidade e gasolina, bem como estabelecendo tetos para as
taxas de juros.
- A impossibilidade de obter importações levou ao estímulo à indústria local como
substituição das importações estrangeiras, fortalecendo o crescimento da indústria
doméstica.
- Pela primeira vez, o governo federal assumiu a responsabilidade pela sustentação dos
preços do café, controlando a produção e os preços nesse setor.
- Em 1931, o controle de câmbio foi introduzido para racionar as divisas, o que
indiretamente protegeu o setor industrial.
- Foram criadas autarquias que, em colaboração com os produtores, regulavam a
produção, os preços e financiavam a construção de armazéns gerais.
- Novos mecanismos de intervenção nos preços foram adotados, como o Código das
Águas em 1934, que permitia ao governo fixar tarifas de eletricidade.
- Em 1937, a criação da carteira de crédito agrícola e industrial do Banco do Brasil
ofereceu empréstimos de prazo mais longo para estabelecimentos industriais,
contribuindo para o desenvolvimento econômico do país.
Nesse período, o Estado desempenhou um papel fundamental na promoção da
industrialização, controle de preços e regulação da economia, estabelecendo as bases
para a transformação econômica no Brasil.
Os anos 1940 e 1950 Foi um período marcado pelo desenvolvimento nacional, dentro
de um processo da industrialização, com uma justificativa nacionalista para criação de
estatal, aonde foi um período de grande preocupação em virtude da manutenção
industrial, com insumos que viam através de importação decorrente de crises externas.
Assim em 1942 foi criada a CSN onde se tornou símbolo do compromisso do governo
com o desenvolvimento econômico, e foi baseado em ideias na nacionalista aonde
visavam que era importante o estado ter uma soberania na produção de aço no estado,
diante do cenário daquela época, e também da fraqueza que o setor privado
demostrou nessa área. O ano 1942 a 1943 marcou pela criação da Companhia Vale do
rio do doce, Fábrica Nacional de Motores e Companhia Nacional de Acalis, marcando
um grande desenvolvimento estatal e industrial no Brasil.
E em 1952 teve o marco para o avanço do econômico do Brasil a criação do BNDE,
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico , que posteriormente virou o BNDES,
assim fornecendo o financiamento a empresas privadas, diante da sua vulnerabilidade
no cenário econômico, com fácil acesso a financiamentos, baixo custo e longo prazo, já
era notório que o pais precisava de um banco governamental de desenvolvimento
econômico local que fomentasse essas as áreas industriais e agrícolas, com foco no
crescimento e modernização. Um período marcado aonde o Presidente Juscelino
Kubitschek consolidou o pensamento desenvolvimentista, representando uma
ideologia econômica sustentação do projeto de industrialização, com objetivos
ousados, com famoso´´50 anos em 5``, e em 1953 também teve a criação da Petrobras
com um marco no desenvolvimento, principalmente entre os nacionalistas que viam a
criação com uma garantia da soberania nacional.
O Estado encarou esse desenvolvimento a sério e estimulou metas, onde o estado
entraria com investimento para consolidar suas industriais, energia, transporte,
educação e alimentação. Período em que tanto empresas estatais e privadas se
desenvolveram, com investimentos, sendo bastante favorável o investimento privado
diante das condições de financiamento. E aos poucos o estado foi assumindo o cenário
nacional de desenvolvimento com a criação de companhias que ajudasse nesse avanço,
como a CEMIG, CESP, CHESF etc.
A convivência de desenvolvimentista ´´Liberais`` e ´´Nacionalista``, marcou esse período
onde os liberais tinham uma posição em relação a investimentos privados, defendiam
que o investimento do estado era somente em último caso, privilegiando os
investimento estrangeiro ou nacional privados, assim afirmando que o estado não
deveria atuar aonde a inciativa privada atuava com mais eficiência , assim o estado
atuando de maneira indireta, e atuando como o investidor pioneiro, quando a fase
passe sairia do setor deixando somente o setor privado. Já o Nacionalista via que era
fundamental a participação do estado nos investimentos a fim de garantir a soberania
nacional do país, priorizando a estatização em setores de infraestrutura e utilidade
pública, os nacionalistas tinham uma memória do Presidente Vargas que se apegavam
ao desenvolvimento nacionalista, vele ressaltar que para os nacionalistas o
investimento privado podia ser de grande valor para outros setores.
Neste capítulo vemos os dois lados tanto liberais como nacionalistas, um Presidente
como Vargas que fortaleceu desenvolvimento nacional, através de investimentos em
estatais, já o Presidente Juscelino Kubistschek focou em proporcionar que o país
tivesse investimentos privados nos seus principais setores econômicos.
Crescimento do intervencionismo estatal: Nas décadas de 1960 e 1970, muitos países
adotaram abordagens mais intervencionistas em relação à economia. Isso incluía a
criação e operação de empresas estatais em setores-chave, como energia, transporte,
telecomunicações e indústria pesada. Essas empresas estatais eram frequentemente
usadas para impulsionar o desenvolvimento industrial e a infraestrutura nacional.
Nacionalização de setores estratégicos: Em muitos casos, governos nacionalizaram
empresas estrangeiras que operavam em setores considerados estratégicos para a
economia, como petróleo, mineração e telecomunicações. Isso era frequentemente
motivado por razões de segurança nacional e o desejo de garantir o controle sobre
recursos cruciais.
Desenvolvimento de infraestrutura: Empresas estatais desempenharam um papel
fundamental na construção de infraestrutura, como estradas, ferrovias, portos e usinas
de energia. Isso visava melhorar a conectividade e fornecer uma base sólida para o
crescimento econômico.
Subsídios e planejamento central: Muitos governos implementaram políticas de
subsídios em setores-chave, como agricultura e manufatura, a fim de estimular o
crescimento e garantir a segurança alimentar. Além disso, o planejamento econômico
centralizado foi uma característica proeminente em várias nações, com governos
definindo metas de produção e investimentos.
Desafios e problemas: Embora as empresas estatais tenham desempenhado um papel
importante no desenvolvimento econômico de muitos países, também enfrentaram
problemas significativos. Ineficiência, corrupção, falta de concorrência e má gestão
eram desafios comuns que prejudicavam o desempenho econômico.
Crise do petróleo de 1970: A crise do petróleo de 1973 teve um impacto significativo
nas economias globais. Muitos países que dependiam fortemente da importação de
petróleo sofreram com altos preços do petróleo e inflação, o que afetou a viabilidade
das empresas estatais que operavam no setor de energia.
Mudanças de paradigma: A década de 1970 marcou uma virada de paradigma, com a
ascensão do neoliberalismo e a crítica crescente à intervenção estatal na economia.
Isso levou a uma tendência de privatização e liberalização econômica nas décadas
seguintes.
Em resumo, nas décadas de 1960 e 1970, o Estado desempenhou um papel central no
desenvolvimento econômico, especialmente em muitos países em desenvolvimento
que buscavam uma industrialização acelerada e a construção de infraestrutura. As
empresas estatais eram frequentemente instrumentos-chave nesse processo, embora
tenham enfrentado desafios relacionados à eficiência e à gestão. No entanto, esse
modelo de desenvolvimento econômico foi contestado nas décadas seguintes, com
uma mudança em direção ao neoliberalismo e à privatização em muitos lugares.
Razões para a estatização
O papel do Estado na economia brasileira é justificado por várias razões. Em primeiro
lugar, nos países em desenvolvimento, o Estado assume um papel proeminente na
economia quando o setor privado não demonstra interesse ou capacidade para realizar
investimentos em áreas cruciais, como infraestrutura e indústrias fundamentais. Isso
acontece devido à falta de um mercado de capitais robusto e eficiente que possa
financiar esses empreendimentos de maneira adequada.
Em segundo lugar, a intervenção estatal ocorre em setores nos quais a produção
eficiente exige economias de escala. Isso significa que, devido a considerações técnicas,
a produção mais eficiente requer uma redução no número de empresas atuantes e um
aumento significativo nas quantidades produzidas. Setores como energia elétrica,
telecomunicações e aço são exemplos nos quais a presença do Estado se faz necessária
para garantir a eficiência e o desenvolvimento dessas indústrias.
Em terceiro lugar, o Estado brasileiro intervém em setores que geram externalidades
positivas para toda a economia, como é o caso dos transportes. A construção de
rodovias e outros sistemas de transporte é um exemplo disso, embora essa intervenção
seja realizada diretamente pelo governo, sem a necessidade de empresas estatais.
Além disso, a intervenção estatal também pode ser motivada por considerações
nacionalistas, que envolvem a necessidade de garantir a segurança e a soberania
nacional em setores estratégicos. O controle de áreas com recursos naturais escassos,
como o setor de petróleo, é outra justificativa para a intervenção direta do Estado na
economia brasileira. Isso ocorre para garantir que esses recursos sejam explorados de
forma eficiente e em benefício do país como um todo.
Após a Segunda Guerra Mundial, houve uma maior intervenção estatal na economia
internacional. Isso ocorreu de duas maneiras principais: nos países desenvolvidos,
surgiu o Estado de Bem-Estar Social, expandindo serviços sociais; nos países menos
desenvolvidos, o Estado investiu em setores estratégicos, planejou o desenvolvimento
econômico e apoiou setores em dificuldades. Empresas estatais desempenharam um
papel vital na política econômica, apoiando a acumulação de capital. Essa intervenção
estatal foi comum em muitos países em desenvolvimento que buscavam uma
industrialização rápida para superar defasagens em diversos setores. O Estado atuou
como produtor e financiador para impulsionar o crescimento econômico.
A intervenção estatal na economia brasileira após a Segunda Guerra Mundial teve
como motivos a necessidade de resolver problemas de Balanço de Pagamentos,
controlar atividades de empresas estrangeiras, e promover uma industrialização rápida.
O Brasil teve sucesso nessa intervenção devido ao tamanho do mercado, um governo
autoritário, uma forte aliança entre militares e tecnocratas, tecnocratas competentes,
confiança financeira internacional, expansão da burocracia, diversificação das
atividades das empresas estatais e instrumentos regulatórios. A aquisição de empresas
privadas em dificuldades foi limitada. Essa intervenção desempenhou um papel crucial
no desenvolvimento econômico do Brasil até a década de 1980.
Papéis do Estado.
O papel regulador: o Estado regulador no sistema econômico seguia o modelo anglo-
saxão tradicional, onde o mesmo tinha o papel de estabelecer e garantir o
cumprimento das normas de comportamento, controlar flutuações econômicas,
influenciar a distribuição de renda e a direção do crescimento. O Estado
desenvolvimentista buscava superar atrasos por meio da industrialização, com
objetivos como limitar importações, diversificar exportações, reduzir consumo de
petróleo e desenvolver fontes de energia. Para alcançar esses objetivos, o Estado
exerce funções de alocação, estabilização e distribuição, utilizando instrumentos
tradicionais como políticas monetária, fiscal, creditícia, de comércio, cambiais e
controle de preços. O controle de preços, produção e comércio exterior pelo Estado
começou no início do século XX, com destaque para o café, e se expandiu após 1964,
aumentando o impacto da ação estatal e resultando na proliferação de agências
regulatórias. Além disso, destaca-se a importância do sistema de incentivos fiscais e
linhas de crédito subsidiadas para estimular investimentos em áreas menos
desenvolvidas e promover exportações e agricultura. As agências governamentais
também intervinham para afetar decisões privadas, como fixar tarifas, preços, salários
e aprovar licenças e isenções fiscais.
O papel do órgão financiador: O setor público interveio no sistema financeiro brasileiro,
se destacando no papel de financiador, colaborando na evolução do crescimento
econômico. Os fatores que influenciaram essa evolução incluem seu envolvimento em
atividades bancárias comerciais e de desenvolvimento, as reformas dos anos 1960 para
modernizar o mercado de capitais e a crescente importância dos programas de crédito
subsidiados nos anos 1970. As mudanças resultantes das reformas dos anos 1960
incluíram a introdução de um sistema de correção monetária para proteger as
transações financeiras da inflação, novas regras para instituições financeiras visando
melhorar o acesso ao financiamento e à capitalização, e a implementação de um
sistema de financiamento habitacional. As principais instituições financeiras estatais
que podem ser mencionadas são o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e o
BNDES, cada uma desempenhando um papel fundamental em áreas como agricultura,
habitação e desenvolvimento industrial. Destaca-se a atuação do BNDES ao longo do
tempo, desde sua criação até sua participação ativa em várias fases do
desenvolvimento nacional, incluindo o Segundo Plano Nacional de Desenvolvimento. O
BNDES inicialmente concentrou seus financiamentos em setores como transporte,
energia e siderurgia, mas ao longo dos anos 1960 e após 1974, diversificou suas
atividades, aumentando o financiamento ao setor privado e promovendo modificações
estruturais significativas na economia brasileira.
O papel de produtor: Em 1974, havia cerca de 700 empresas estatais, sendo a maioria
federais e estaduais. Uma pesquisa mostrou que essas empresas detinham uma parte
significativa dos patrimônios líquidos e das vendas totais, especialmente em setores
como mineração, infraestrutura e serviços públicos. Em 1990, o Estado tinha forte
presença em setores como metalurgia, química e mineração, controlando uma parte
considerável do faturamento e patrimônio líquido das 500 maiores empresas
brasileiras. A Companhia Vale do Rio Doce era uma das principais empresas estatais no
setor de mineração. Tendo o Estado uma presença significativa como produtor em
diversas áreas-chaves da economia brasileira.
O Brasil e o crescimento da economia mundial: Nas décadas de 1950, 1960 e 1970, o
Brasil teve uma participação significativa no PIB mundial, com taxas de crescimento
econômico superiores à média global. Esse crescimento foi impulsionado pelo modelo
de desenvolvimento baseado na substituição de importações, fechamento da
economia e forte intervenção estatal nas atividades produtivas. No entanto, a crise
fiscal e a diminuição das importações levaram a um esgotamento desse modelo e à
necessidade de adotar uma nova abordagem de desenvolvimento. Nos anos 1980,
tornou-se evidente a necessidade de um novo estilo de desenvolvimento, inspirado
pelo notável desempenho econômico dos países asiáticos, que priorizavam a promoção
de exportações. Apesar de críticas posteriores ao modelo de substituição de
importações, é reconhecido que foi bem-sucedido até o final dos anos 1970.

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