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A economia portuguesa: do pós-guerra ao início da década de 70

Entre o fim da Segunda Guerra e o fim do Estado Novo, a economia portuguesa cresceu e, em vários aspetos, o país
modernizou-se. Mas, enquanto no litoral cresciam as indústrias, o mundo rural permanecia pobre estagnado.
Começa, desde muito cedo, a existir uma grande diferença entre o litoral e o interior, existindo um maior
desenvolvimento no litoral e pouco desenvolvimento no interior.

A estagnação do mundo rural

Nos anos 50 e 60, o país agrário continuava um mundo sobrepovoado e pobre, em longe da visão idílica que fazia de
Portugal “a mais formosa das herdades”. Os bloqueios ao desenvolvimento agrícola eram numerosos:

• a falta de vias de comunicação que, eficientemente, ligassem as zonas produtoras às cidades do litoral, locais
de consumo e exportação;

• o mau dimensionamento das propriedades. no Norte, predominava o minifúndio, que mal dava as
necessidades da família e não possibilitava a mecanização; no Sul, estendiam-se propriedades imensas
(latifúndios), que, de tão grandes, se encontravam subaproveitadas.

• a exploração de mais de um terço da área agrícola em regime de arrendamento precário, nada propício ao
investimento (Como a terra era arrendada por pouco tempo os arrendatários não investiam, nem cuidava
bem da terra)

• os baixos preços dos produtos agrícolas, que desmotivavam o investimento em máquinas e transportes;

• a miséria da maioria dos trabalhadores rurais, que a custo conseguiam sobreviver. Isolada do mundo, mal
alimentada e sem instrução, a população camponesa mantinha-se na mesma rotina atrasada dos seus pais e
avós, ou seja, mentalmente também não existia predisposição para o desenvolvimento).

Estes bloqueios, que geravam índices de produtividade muito inferiores à média europeia, tarde ou nunca foram
resolvidos e a política agrícola acabou por se esgotar em subsídios e incentivos vários que pouco efeito tiveram.

Na década de 60, quando o país enveredou pela via industrializadora, a agricultura viu-se relegada para segundo
plano foi olhada por muitos como “um caso sem solução”. A década saldou-se por um enorme decréscimo a taxa de
crescimento do Produto Agrícola Nacional e por êxodo rural maciço, que esvaziou as aldeias do interior.

A emigração

• Fenómeno persistente da História portuguesa, a emigração reduziu-se drasticamente nas décadas de 30 e 40,
devido, primeiro, à Grande Depressão e, em seguida, à Segunda Guerra Mundial.

• Ora estas duas décadas correspondem a um crescimento demográfico intenso que, sem escoamento,
sobrepovoou o país, originando um excesso de mão de obra que a economia não foi capaz de absorver.

• Esta pressão demográfica resultou numa imensa debandada dos campos, quer em direção às cidades do litoral,
quer, sobretudo, ao estrangeiro. Entre 1946 e 1973 terão emigrado cerca de 2 milhões de portugueses, metade
dos quais saiu na década de 60.

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• O contingente migratório português provinha de todo o Portugal, com particular destaque para as regiões do
Norte e das ilhas. Rumou em direção à Europa- só França recebeu mais de 900 mil portugueses- e, em menor
escala, às Américas do Norte e do Sul.

• Os altos salários do mundo industrializado, o clima de repressão política e rejeição de muitos face ao
recrutamento para a Guerra Colonial potenciaram o fluxo migratório. Assim, a procura de melhores condições
de vida, a fuga ao serviço militar e a fuga por questão política constituem as principais razões de emigração.

• Grande parte desta emigração fez-se clandestinamente. A legislação portuguesa subordinava o direito de
emigrar “aos interesses económicos do país e à valorização dos territórios do Ultramar pelo aumento da
população branca”, colocando-lhe restrições várias. Sair “a salto”, como então se dizia, tornou-se a opção de
muitos portugueses.

O surto industrial

• Apesar da posição de neutralidade que o nosso país manteve na Segunda Guerra Mundial, o conflito afetou
seriamente a economia portuguesa, muito dependente dos fornecimentos estrangeiros. No país reinou, então, a
penúria e a carestia.

• As dificuldades do tempo de guerra deram força aqueles que defendiam a industrialização como imprescindível
ao desenvolvimento nacional. Logo em 1945, a indústria foi assumida como prioridade económica, embora
dentro do tradicional modelo de autarcia: o seu fim último era o de substituir as importações.

• Pouco tempo depois, Portugal assinou o pacto fundador da OECE, integrando-se nas estruturas do Plano
Marshall. Embora pouco tenhamos beneficiado da ajuda americana, a participação na OECE reforçou a
necessidade de um planeamento económico, conduzindo à elaboração dos Planos de Fomento que, a partir de
1953, caracterizam a política de desenvolvimento do Estado Novo.

• O I e II Planos de Fomento dão prioridade à criação de infraestrutura (eletricidade, transportes, comunicações) e


à indústria transformadora de base (siderurgia, refinação de petróleos, adubos, químicos, celulose…),
mantendo, no entanto, intocada a velha Lei do Condicionamento industrial e objetivo da substituição das
importações, que colocava o país à margem da economia mundial.

• Os anos 60 trouxeram, porém, alterações significativas à política económica portuguesa. No decurso do II Plano,
Portugal viria a integrar-se na economia europeia e mundial: em 1960, torna-se um dos países fundadores da
EFTA- Associação Europeia de Comércio Livre-, que reúne sete países que, por razões diversas, não pretendiam
aderir à CEE; ainda no mesmo ano integra-se nas estruturas financeiras mundiais (FMI e BIRD); em 1962, assina
em Genebra o protocolo GATT.

• A adesão a estas organizações marca a inversão da política de autarcia do Estado Novo. O grande ciclo
salazarista aproximava-se do fim.

• Em 1968, a nomeação de Marcello Caetano para o cargo de presidente do Conselho inaugura, com o III de
Fomento, uma orientação completamente nova.

Principais medidas para o fomento industrial

O período do pós-guerra até o início da década de 1970 foi crucial para o desenvolvimento industrial em Portugal.
Durante esse tempo, o país implementou várias medidas para impulsionar sua economia industrial. Algumas das
principais medidas incluem:

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• Plano de Fomento Económico (1953): Este foi o primeiro plano de desenvolvimento econômico em Portugal, e
visava modernizar a economia do país. Incluiu investimentos em infraestrutura, transporte, energia e indústrias
básicas.

• Incentivos Fiscais: Foram introduzidos vários incentivos fiscais para encorajar o investimento privado na
indústria. Isso incluiu isenções fiscais para empresas que investiram em determinadas áreas ou setores
estratégicos.

• Política de Subsídios: O governo ofereceu subsídios diretos às empresas, especialmente aquelas envolvidas em
setores considerados estratégicos, como a indústria de base e a produção de bens de capital.

• Protecionismo e Barreiras Alfandegárias: Foram implementadas políticas protecionistas para proteger a indústria
nacional da concorrência estrangeira. Isso incluiu a imposição de tarifas e barreiras alfandegárias para promover
a produção local.

• Nacionalizações: Durante o governo de Salazar, houve uma tendência de nacionalização de setores estratégicos,
como a indústria de energia e transporte. Essas nacionalizações tinham o objetivo de consolidar o controle do
Estado sobre áreas-chave da economia.

• Formação de Mão de Obra: Investimentos significativos foram feitos em programas de formação de mão de obra
para atender às demandas crescentes da indústria. O objetivo era melhorar a qualificação dos trabalhadores e
aumentar a produtividade.

• Desenvolvimento do Setor Agrícola: Inicialmente, o governo também buscou modernizar o setor agrícola para
liberar mão de obra para a indústria. A criação de infraestrutura agrícola e investimentos na mecanização foram
partes integrantes desse esforço.

• Integração europeia: A adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia (CEE) em 1986, embora ocorrida
após o período mencionado, também teve impacto na modernização industrial. A integração abriu mercados,
promoveu investimentos estrangeiros e estimulou a concorrência.

Essas medidas coletivas contribuíram para o crescimento industrial em Portugal durante o período do pós-guerra até
a década de 1970, estabelecendo as bases para uma economia mais diversificada e moderna.

O imobilismo político

O fim da guerra e o nascimento da oposição democrática

• Nos dias 7 e 8 de maio de 1945, grandes manifestações de regozijo celebraram, nas ruas da capital, a derrota da
Alemanha. As democracias tinham vencido a guerra e mostrado, assim, a sua superioridade faze às ditaduras
fascistas e nazi.

• Salazar tirou, deste facto, as devidas ilações: o seu regime deveria (pelo menos na aparência) democratizar-se ou
corria o risco cair.

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• Neste contexto, o Governo Nacional toma a iniciativa de antecipar a revisão constitucional, dissolver a
Assembleia Nacional e convocar eleições antecipadas, que Salazar anuncia “tão livres como na livre Inglaterra”.

• Um clima de otimismo instala-se entre opositores ao Estado Novo. Acredita-se na vaga democrática que
percorre a Europa, julgando-se capaz de, por si só, forçar a abertura do regime. Em 8 de outubro, numa
entusiástica reunião no Centro Republicano Almirante Reis, nasce o MUD- Movimento de Unidade Democrática,
que congrega as forças até aí clandestinas da oposição.

• O impacto deste movimento ultrapassou todas as previsões. Em pouco tempo reuniram-se 50 000 assinaturas e
as adesões alastraram por todo o país. Tinha nascido a oposição democrática.

• Para garantir a legitimidade do ato eleitoral, o MUD formula algumas exigências, que consideram fundamentais.
Entre elas, o adiamento das eleições por seis meses (a fim de se instituírem partidos políticos), a reformulação
dos cadernos eleitorais (que abrangiam apenas cerca de15% da população), além da imprescindível liberdade de
opinião, de reunião e de informação.

• As esperanças goraram-se. Nenhuma das revindicações do Movimento foi satisfeita e este desistiu, à boca das
urnas, por considerar que o ato eleitoral não passaria de uma farsa. Pouco tempo depois iniciou-se a repressão:
muitos aderentes ao MUD foram interrogados, presos ou despedidos do seu trabalho.

• Em 1949, as forças oposicionistas voltam a mobilizar-se, desta vez em torno da candidatura de Norton de Matos.
Era a primeira vez que um candidato da oposição concorria à Presidência da República e a campanha voltou a
entusiasmar o país, mas, face a uma severa repressão, Norton de Matos apresentou também a sua desistência
pouco antes das eleições.

• Entretanto o clima de Guerra Fria foi tomando conta da Europa e as preocupações das democracias ocidentais
orientaram-se, prioritariamente, para a contenção do comunismo, objetivo que o salazarismo servia em pleno.

O sobressalto político de 1958

• Nos anos que se seguiram, a oposição democrática dividiu-se e enfraqueceu. O governo pensava ter a situação
controlada até que, em 1958, a candidatura de Humberto Delgado a novas eleições presidenciais desencadeou
um autêntico terramoto político.

• O anúncio do seu propósito de não desistir das eleições a forma destemida como anunciou a sua intenção de
demitir Salazar, caso viesse a ser eleito, fizeram da sua campanha um acontecimento ímpar de mobilização
popular.

• O resultado oficial das eleições deu vitória por esmagadora maioria ao candidato da situação, o contra-almirante
Américo Tomás. Mas a credibilidade dos resultados e, com ela, a do próprio regime saíram seriamente abaladas
desta prova.

• Salazar sentiu-o e, para evitar novo risco de um” golpe de Estado constitucional”, anulou o sistema de sufrágio
direto, passando o chefe de Estado a ser eleito por um colégio eleitoral restrito.

• Os anos de 1959-62 foram marcados por um forte agravamento da oposição, que passou a contar com
elementos que, até então, lhe tinham sido alheios.

• Enquanto a instabilidade crescia ao ponto de se tentarem dois golpes de força para derrubar o regime, a
ditadura portuguesa mostrava bem o seu caráter repressivo ao fazer, em apenas dois anos, mais de 1200 presos

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políticos e ao reprimir, com mortos e feridos, as manifestações de 31 de janeiro, do 5 de outubro e do 1º de
Maio.

• A má imagem que, deste modo, o regime projeta no estrangeiro reforça-se com o exílio de Humberto Delgado.

• Pouco depois, a eclosão da Guerra Colonial traz ao regime a sua maior e derradeira prova.

A questão colonial
A vaga descolonizadora que se seguiu à Segunda Guerra Mundial afetou fortemente Portugal. A ideia de um país
predestinado para dominar um grande império, tão cara à propaganda do Estado Novo, deixou de se ajustar a um
mundo em que os valores da igualdade entre os povos e do direito à autodeterminação ganhavam força de dia para
dia. Num tal contexto, o regime salazarista viu-se obrigado a rever a retórica imperialista e a sua política colonial.

Do “Império Português” ao “Ultramar Português”

• Opta-se por eliminar as expressões colónia e império colonial de todos os diplomas legais. Em 1951, revogou-se
o Ato Colonial e inseriu-se o estatuto dos territórios por ele abrangidos na própria Constituição portuguesa. Por
outras palavras, Portugal deixou legalmente de ter colónias.

• Estas, doravante designadas por Províncias Ultramarinas, ganharam equivalência jurídica a qualquer província do
continente: o país estendia-se, sem qualquer quebra de unidade que não fosse a geográfica, “do Minho a
Timor”. O “Império Português” desaparecera, substituído pelo “Ultramar Português”.

• Com estas alterações formais esperava o Estado Novo resistir à dinâmica histórica e manter intactos os vastos
territórios ultramarinos.

O fomento económico das colónias

• Como reforço desta nova abordagem política, as colónias receberam também um impulso económico
significativo. Havia que mostrar ao mundo que a unidade entre o Portugal europeu e o Portugal de além-mar era
um facto, e que o país se empenhava em desenvolver harmoniosamente os vários territórios que o compunham.

• Primeira preocupação foi o incremento da população branca. Favoreceu-se a emigração para o Ultramar e
chegam mesma a organizar-se colonatos em Angola e Moçambique.

• Aumentaram também os investimentos públicos e privados, passando os territórios africanos, com destaque
para Angola e Moçambique, a estar contemplados nas verbas dos Planos de Fomento.

• O Estado português procedeu à criação de infraestruturas (caminhos de ferro, estradas, pontes, aeroportos,
centrais hidroelétricas); promoveu o setor agrícola (sisal, açúcar e café em Angola; oleaginosas, algodão e
açúcar em Moçambique) e extrativo (diamantes, petróleo e minério de ferro em Moçambique), virados para o
mercado externo, e apoiou as iniciativas industriais, que conheceram um forte crescimento. Mesmo o turismo
não ficou esquecido.

• Ao contrário do que seria de prever, o fomento económico das províncias ultramarinas intensificou-se com o
início da Guerra Colonial.

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• O deflagrar do conflito não só coincidiu com a época de maior dinamismo da economia portuguesam como veio
reforçar a necessidade de uma presença nacional forte, que legitimasse, aos olhos do mundo, a posse dos
territórios do Ultramar.

A luta armada

Apesar de todos os esforços, o governo português não conseguiu contrariar os ventos de mudança que sopravam
sore África. Nos territórios portugueses formaram-se também, os anos 50 e 60, movimentos independentistas
dispostos a lutar contra a dominação portuguesa:

✓ Em Angola, surge a UPA (União das Populações de Angola), liderada por Holden Roberto, que, sete anos
mais tarde, se transforma na FNLA (Frente Nacional de Libertação de Angola), dirigido por Agostinho Neto;
e a UNITA (União para a Independência Total de Angola) surge pela mão de Jonas Savimbi, dissidente da
FNLA;

✓ Em Moçambique, a luta é encabeçada pela FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique), criada por
Eduardo Mondlane;

✓ Na Guiné distingue-se o PAIGC (Partido para a Independência da Guiné e Cabo Verde), fundador por
Amílcar Cabral.

• Os controlos iniciaram-se em Angola com ataques do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) em
Luanda e violentos ataques da UPA a várias fazendas e postos administrativos do Norte.

• Mais tarde, o conflito estendeu-se à Guine e, no ano seguinte, a Moçambique.

• Abriram-se assim três frentes de combate, que exigiram dos portugueses um sacrifício desproporcionado: o país
mobilizou 7% da sua população ativa (algo que só foi ultrapassado por Israel e deixa a Guerra do Vietname a um
nível cinco vezes inferior) e despendeu, na Defesa, 40% do Orçamento Feral do Estado. Em treze anos de
combates pereceram cerca de 8000 portugueses e mais de 10 000 ficaram feridos ou incapacitados.

O isolamento internacional

• Internacionalmente, a questão das colónias ganhou dimensão aquando da entrada do nosso país na ONU, em
1955.

• Portugal recusou-se de imediato a admitir que as disposições da Carta relativas à administração de “territórios
não autónomos” lhe fossem aplicadas, argumentando que as províncias ultramarinas eram parte integrante do
território português.

• A tensão agravou-se na década de 60, com a admissão na ONU dos países recé-descolonizaos e a aprovação de
Resoluções como a 1514, que reforçou as disposições da Carta sobre o direito à autodeterminação dos povos
sob domínio estrangeiro.

• Além das dificuldades que lhe foram colocadas na ONU, Portugal viu-se a braços, no início dos anos 60, com a
hostilidade da administração americana.

• Sobretudo durante a “era Kennedy”, os americanos mostravam-se convictos de que o prolongamento da guerra
jogaria a favor dos interesses soviéticos já que afastava os Estados africanos de Portugal e, em consequência,
dos seus aliados da NATO.

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• Deste modo, não só financiaram alguns grupos nacionalistas (como a UPA, em Angola), como propuseram
sucessivos planos de descolonização, procurando vencer as resistências de Salazar com chorudas propostas de
auxílio económico.

• Agarrado às suas convicções, reiterando que “Portugal não está à venda” e “a Pátria não se discute”, Salazar
encarou o facto de ficarmos “orgulhosamente sós”.

O marcelismo

Reformismo político não sustentado

• Em setembro de 1968, face à doença grave de Salazar, o Presidente da República vê-se obrigado a encetar os
procedimentos institucionais para a sua substituição.

• A escolha recaiu sobre o professor Marcello Caetano, um dos notáveis do Estado Novo, que, no entanto, se
permitira discordar, em mais do que uma ocasião, da política salazarista. Apresentava-se, por isso, como um
político mais liberal, capaz de alargar a base de apoio ao regime.

• Logo no discurso da tomada de posse, Marcello Cetano define as linhas orientadoras do seu governo: continuar
a obra de Salazar, à qual presta homenagem, sem por isso prescindir da necessária renovação da política.
Pretendia-se, em suma, “evoluir na continuidade”, concedendo aos portugueses a “liberdade possível”.

• Nos primeiros meses do mandato, o novo governo dá sinais de abertura, que enchem de esperança os
opositores políticos:

✓ faz regressar do exílio algumas personalidades, como o bispo do porto e Mário Soares;
✓ modera a atuação da polícia política (que passará a chamar-se Direção-Geral de Segurança- DGS);
✓ ordena o abrandamento da Censura (mais tarde designada Exame Prévio);
✓ abre a União Nacional (rebatizada de Ação Nacional Popular- ANP) e sensibilidades políticas mais liberais.

• Foi neste clima de mudança, que ficou conhecido como “primavera marcelista”, que se prepararam as eleições
legislativas de 1969.

• Procurando legitimá-las aos olhos da opinião pública, o governo alargou o sufrágio feminino (a todas as
mulheres escolarizadas), permitiu a maior liberdade de campanha à oposição, bem como a consulta dos
cadernos eleitorais e a fiscalização das mesas de voto.

• Para as listas da União Nacional são convidadas personalidades liberais, como Pinto Leite, Miller Guerra, Sá
Carneiro ou Pinto Balsemão. Em conjunto, formarão, na Assembleia, o grupo conhecido por “ala liberal”.

• No entanto, embora possa considerar-se o menos manipulado de todos os que ocorreram durante o Estado
Novo, o ato eleitoral saldou-se por uma série de atropelos aos princípios democráticos e o mesmo resultado de
sempre: 100% dos lugares de deputados para a União Nacional; 0% para a oposição.

• Frustradas as esperanças de uma rela democratização do regime, o presidente do conselho viu-se se apoio dos
liberais, que lhe condenavam a falta de força para implementar as reformas necessárias, e alvo da hostilidade
dos núcleos mais conservadores, que o culpavam pela onda de instabilidade que, entretanto, tinha assolado o
país.

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• Obrigado a reprimir um poderoso surto de agitação estudantil, greves operárias e até ações bombistas. Marcello
Caetano endurece a repressão política: as associações de estudantes mais ativas são encerradas, a legislação
sindical aperta-se, a polícia política desencadeia uma nova vaga de prisões, alguns opositores, como Mário
Soares, são novamente remitidos ao exílio.

• Desencantados e incapazes de fazer passar as suas propostas de reforma do regime, os deputados da “ala
liberal” abandonam progressivamente a Assembleia Nacional.

• Alvo de todas as críticas, à frente de um regime que não acompanhara a modernização da sociedade e as
aspirações dos portugueses, Marcello Caetano via-se ainda a brações com o grave problema da Guerra Colonial.

O impacto da guerra colonial

• Ao assumir o governo, Marcello Caetano assumiu também a continuação da guerra África. Mantinha-se a ideia
de que a guerra era atiçada por interesses estrangeiros e de que a independência não correspondia aos
verdadeiros anseios da população africana. Havia também de continuar a proteger a população da metrópole
que residia nas colónias.

• Assim, o estatuto das províncias ultramarinas pouco se alterou. Foram dotadas de novas instituições
governativas, mas continuaram fortemente dependentes de Lisboa, como parte integrante do território
português.

• Em tais circunstâncias, a luta armada foi endurecendo e, embora controlada em Angola e Moçambique, a
situação militar deteriorou-se na Guiné, onde o PAIGC adquiriu controlo sobre uma parte significativa do
território.

• Externamente, cresceu o isolamento português. Na ONU, o país sofre a maior de todas as humilhações quando a
Assembleia-Geral reconhece a independência da Guiné-Bissau, à rebeldia do Estado Português. No mesmo ano,
a visita oficial de Marcello Caetano ao Reino Unido decorre no meio de protestos populares e de uma forte
segurança policial, ao ser denunciado, na imprensa, um massacre de civis em Moçambique.

• As próprias Forças Armas dão sinais de uma inquietação crescente.

• É exatamente de um prestigiado militar que o regime recebe o maior dos golpes: o general António de Spínola,
herói da guerra da Guiné, publica, em fevereiro de 1974, a obra Portugal e o Futuro.

• Este livro que, segundo o seu próprio relato, Marcello Caetano leu de um sorvo, ao serão, proclamava
abertamente a inexistência de uma solução militar para a guerra de África. Por outras palavras, que a guerra
estava perdida. Quando, já de madrugada, terminou a leitura, Marcello Caetano percebeu “que o golpe militar
(…) era inevitável”.

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O 25 de Abril e

O Movimento das Forças Armadas

• Nos primeiros anos da década de 70, o impasse em que se encontrava a Guerra Colonial começou também a
pesar sobre o exército.

• Os progressos do PAIGC na Guiné, o encarniçamento da guerra em Moçambique e a persistente condenação


internacional deram a muitos oficiais de carreira a convicção de que estavam a remar contra a corrente, lutando
por uma causa perdida.

• Foi este sentimento que induziu o general Spínola a publicar Portugal e o Futuro, e foi igualmente este
sentimento que transformou um movimento de oficiais- o Movimento dos Capitães-, iniciado por meras
questões de promoção na carreira- no movimento revolucionário que derrubou o Estado Novo.

• Considerando que este último objetivo exigia a intervenção de altas patentes, o Movimento dos Capitães
depositou a sua confiança nos generais Costa Gomes e Spínola, respetivamente, chefe e vice-chefe do Estado-
Maior-General das Forças Armadas.

• Face a estas posições, que conhecia, e ao impacto do livro de Spínola, Marcello Caetano convoca os oficiais
generais das Forças Armadas para uma sessão solene em que seria reiterada a sua lealdade ao Governo. Costa
Gomes e Spínola não comparecem à reunião, sendo, no mesmo dia, exonerados dos seus cargos.

• Estes acontecimentos deram força àqueles, que, dentro do movimento (agora denominado Movimento das
Forças Armadas- MFA), acreditavam na urgência de um golpe militar que, restaurando as liberdades cívicas,
permitisse a tão desejada solução para o problema colonial.

• Depois de uma tentativa precipitada, em março, que as forças governamentais debelaram com facilidade, o MFA
preparou minuciosamente a operação militar que, na madruga do dia 25 de 1974, pôs fim ao Estado Novo.

Operação “Fim-Regime”

• A operação “Fim-Regime” do Movimento das Forças Armadas decorreu sob a coordenação do major Otelo
Saraiva de Carvalho, de acordo com o plano previamente definido: depois da transmissão, pela rádio, das
canções-senha (E Depois do Adeus, de Paulo de Carvalho, cerca das 23 horas, e Grândola, Vila Morena, de Zeca
Afonso, hora e meia mais tarde), as unidades militares saem dos quarteis para cumprirem, com êxito, as missões
que lhes estavam destinadas: ocupação das estações de rádio e da RTP, controlo do aeroporto e dos quartéis-
generais das regiões militares de Lisboa e do Norte, cerco dos ministérios miliares do Terreiro do Paço, entre
outras.

• A única falha no plano previsto- a prévia neutralização dos comandos do Regime de Cavalaria 7 de Lisboa, que
não aderira ao golpe- originou uma das poucas situações verdadeiramente difíceis com que o MFA se defrontou:
junto ao Terreiro do Paço, o destacamento da Escola Prática de Cavalaria de Santarém, chefiada pelo jovem
capitão Salgueiro Maia deparou-se com uma poderosa coluna de tanques do Regime de Cavalaria 7, que saiu em
defesa do regime. Valeu, nesta altura, o sengue frio de Salgueiro Maia, que não autorizou os sus homens a abrir
fogo, decidindo, corajosamente, parlamentar com o inimigo.

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• Coube também a Salgueiro Maia dirigir o cerco ao Quartel do Carmo, onde se tinham refugiado o presidente do
Conselho e outros membros do Governo.

• A resistência do quartel terminou cerca das 18horas, quando Marcello Caetano se rendeu, dignamente, ao
general Spínola.

• No fim do dia, o “Movimento dos Capitães” sagrava-se já vitorioso. Apesar dos insistentes pedidos, para que, por
razões de segurança, a população civil se recolhesse em casa, a multidão acorrera à ruas em apoio aos militares,
a quem distribuía cravos vermelhos.

O desmantelamento das estruturas do Estado Novo

No próprio dia da revolução, Portugal viu-se sob a autoridade de uma Junta de Salvação Nacional, constituída por
acordo entre o MFA e a hierarquia das Forças Armadas. A Junta tomou imediatamente, de acordo com o programa
do MFA, um conjunto de medidas tendentes à liberalização da política partidária e ao desmembramento das
estruturas do regime deposto:

✓ O Presidente da República, Américo Tomás, e o presidente do Conselho, Marcello Caetano, foram


destituídos, bem como todos os governadores civis e outros quadros administrativos. Américo Tomás e
Marcello Caetano partiram para a Madeira e, pouco depois, para o exílio, no Brasil.

✓ A PIDE-DGS, a Legião Portuguesa e as Organizações de Juventude foram extintas, bem como a Censura
(Exame Prévio) e a Ação Nacional Popular.

✓ Os presos políticos foram amnistiados e libertados e, concomitantemente, as personalidades no exílio


puderam regressar a Portugal.

✓ Foi autorizada formação de partidos políticos e de sindicatos livres sendo legalizadas as organizações que,
até aí, operavam clandestinamente;

• O MFA comprometeu-se, igualmente, a passar o poder para as mãos dos civis, definindo o prazo máximo de um
ano para a realização das eleições constituintes. Para assegurar o funcionamento das instituições governativas
até a sua normalização democrática, a Junta de Salvação Nacional como presidente da República o general
António Spínola, que escolheu o advogado Adelino da Palma Carlos para chefiar o I Governo Provisório.

• Assim se dava início à democratização, um dos três Dês (Democratizar, Desenvolver, Descolonizar) que
nortearam o MFA.

O Império Colonial Português enfrentou vários desafios e problemas ao longo de sua história. Alguns dos principais
problemas incluíram:

• Exploração e Exploração Desenfreada: Os colonizadores portugueses muitas vezes exploravam os recursos


naturais de forma intensiva, resultando em desmatamento, esgotamento do solo e exploração excessiva de
minerais e outras riquezas.
• Conflitos com Populações Nativas: A colonização frequentemente resultava em conflitos violentos entre os
colonizadores e as populações nativas. A imposição de sistemas econômicos e sociais estrangeiros muitas vezes
levava a resistência por parte das comunidades indígenas.
• Sistema de Escravidão: A economia colonial portuguesa dependia fortemente da mão de obra escrava,
especialmente nas plantações de açúcar. Isso resultou em sérios problemas humanitários e sociais.

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• Declínio Econômico: Ao longo do tempo, o modelo econômico baseado na monocultura, como a produção de
açúcar, mostrou-se vulnerável a flutuações nos preços globais. Isso, por sua vez, impactou negativamente a
estabilidade econômica do império.
• Ineficiência Administrativa: A administração colonial muitas vezes sofria com a corrupção, ineficiência e falta de
recursos, o que prejudicava o desenvolvimento e a gestão adequada das colônias.
• Movimentos de Independência: Ao longo do tempo, as colônias portuguesas também testemunharam
movimentos de independência, influenciados por ideias iluministas e pelos sucessos de outros movimentos de
independência ao redor do mundo.
• Esgotamento de Recursos Naturais: A exploração excessiva de recursos naturais sem práticas sustentáveis levou
ao esgotamento de muitos desses recursos, prejudicando a viabilidade econômica a longo prazo.

Esses problemas, entre outros fatores, contribuíram para a eventual desintegração do Império Colonial Português e
o surgimento de nações independentes nas áreas colonizadas.

O regime salazarista, liderado por António de Oliveira Salazar em Portugal, enfrentou várias formas de oposição ao
longo do tempo. Essas oposições foram variadas e ocorreram em diferentes momentos. Aqui estão alguns dos
principais momentos de oposição ao regime:

• Oposição Política e Intelectual: Década de 1940: Mesmo nos primeiros anos do regime, houve vozes dissidentes
dentro de Portugal, principalmente entre intelectuais e políticos. Algumas figuras, como o general Norton de
Matos, expressaram críticas ao autoritarismo de Salazar.
• Oposição Estudantil: Década de 1960: O movimento estudantil desempenhou um papel significativo na oposição
ao regime. Estudantes universitários organizaram manifestações e protestos contra a falta de liberdades
políticas e a repressão.
• Oposição Operária e Sindical: Década de 1960: O descontentamento operário cresceu, levando a greves e
manifestações. Os sindicatos, apesar de controlados pelo Estado, tornaram-se locais de expressão de
insatisfação. A repressão do governo a esses movimentos foi intensa.
• Oposição Externa e Exílio: Anos 50 e 60: Muitos opositores do regime buscaram refúgio no estrangeiro,
principalmente em França e em países de língua portuguesa. Organizações anti-salazaristas operavam no exílio,
buscando apoio internacional contra o regime.
• Guerra Colonial e Oposição à Guerra: Década de 1960-1970: Com o envolvimento de Portugal em guerras
coloniais na África, cresceu a oposição à guerra e à gestão do conflito. Movimentos antimilitaristas e anti-
imperialistas ganharam força.
• Primavera Marcelista: 1970-1974: O último período do regime salazarista, conhecido como "Primavera
Marcelista," sob a liderança de Marcelo Caetano, viu alguma liberalização. No entanto, as tensões internas e a
oposição persistiram, culminando no 25 de Abril de 1974, que pôs fim à ditadura e estabeleceu a democracia em
Portugal.
• Igreja Católica: Ao longo do Regime: Embora a Igreja Católica tenha mantido uma relação complexa com o
regime, algumas figuras eclesiásticas expressaram descontentamento com as políticas autoritárias. A Encíclica
Papal "Mater et Magistra" (1961) condenou o totalitarismo, levando a algumas tensões.

Esses momentos de oposição foram variados e ocorreram em diferentes setores da sociedade portuguesa. A pressão
crescente, tanto interna quanto externa, eventualmente contribuiu para a queda do regime salazarista e a transição
para a democracia em Portugal após a Revolução dos Cravos em 1974.

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