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A estagnação do mundo rural

Entre o fim da segunda guerra mundial e o fim do estado novo a economia


portuguesa cresceu em vários aspectos. Mas,enquanto no litoral cresciam as
indústrias, o mundo rural permanecia estagnado.

Nos anos 50 e 60 o país agrário continuava um mundo superpovoado e pobre


bem longe da visão imaginária que fazia portugal “ a mais formosa das
herdades”.
Causas do bloqueio do desenvolvimento agrícola:
- a falta de vias de comunicação que, eficientemente, ligasse as zonas
produtoras às cidades do litoral, locais de consumo exportação;
- o mau dimensionamento das propriedades, no norte predomina o
minifúndio que mal dava para as necessidades de uma família e não
possibilitava a mecanização, já no sul aproveitava se os campos
extensos no entanto, estes encontravam-se subaproveitados;
- a exploração de mais de um terço da área agrícola em regime de
arrendamento precário, nada propício ao investimento;
- os baixos preços dos produtos agrícolas, que desmotivaram o
investimento em máquinas de transportes;
- a miséria da maioria dos trabalhadores rurais, que a custo
conseguiram sobreviver. a população camponesa isolada do mundo e
mal alimentada e sem instrução continuava a mesma rotina atrasada
dos seus pais e avós.
Estes bloqueios provocavam índices de produtividade muito baixos
relativamente à média europeia, nada foi feito para que este problema fosse
resolvido, a política agrícola acabou por se esgotar em subsídios e incentivos
que pouco efeito tiveram.
Na década de 60, quando o país enveredou pela via industrializada e a
agricultura tornou-se conhecida como um caso sem solução. A década
apresenta-se por um enorme decréscimo na taxa de crescimento do Produto
Agrícola Nacional e por um êxodo rural marcante.
(ver documentos 2.A ,2.B, 2.C pág 88,89)

A emigração

Um fenómeno recorrente da história portuguesa, a emigração reduziu-se


drasticamente nas décadas de 30 e 40 devido à Grande Depressão, e em
seguida à Segunda Guerra Mundial. Estas duas décadas correspondem a um
crescimento demográfico intenso que, sobrepovoou o país, originando um
excesso de mão de obra que a economia não foi capaz de absorver.Esta
pressão demográfica resultou numa imensa debanda dos campos, quer em
direção às cidades do litoral, quer, sobretudo, ao estrangeiro.
O continente migratório português provinha de todo o Portugal, com maior
destaque para as regiões do Norte e das ilhas. Rumou em direção da Europa
em especial França (900 mil portugueses) e com menor adesão às Américas
do Norte e do Sul. Os salários do mundo industrializado, o clima e repressão
política e a rejeição de muitos face ao recrutamento para a Guerra colonial
potencializaram o fluxo migratório.
A maior parte desta emigração fez-se clandestinamente .A legislação
portuguesa subordinava o direito de emigrar “aos interesses económicos do
país e à valorização dos territórios do Ultramar pelo aumento da população
branca” colocando várias restrições.
Não sendo o suficiente o Estado procurou proteger os interesses dos
emigrantes, celebrando, na década de 60, acordos com os principais países
de acolhimento. com o intuito de permitir a obtenção de regalias sociais e
livre transferência, para Portugal,das remunerações amealhadas.O país
passou, por esta via a receber um montante considerável de divisas:
remessas dos emigrantes que representavam 6% do PIB na década de 70.
Para o Estado novo a emigração foi um fato de pacificação social e de
equilíbrio económico, que permitiu ajustar o mercado de trabalho e fez entrar
divisas necessárias ao equilíbrio da economia.
consequências da emigração:
- Desfalcou o país de mão-de-obra
- Privou o convívio das famílias
- Fator de pacificação social
- Fator de equilíbrio económico
- Permitiu ajustar o mercado de trabalho
- Fez entrar quantias volumosas de dinheiro
- Contacto com outras gentes mudou mentalidades e abalou as velhas
estruturas rurais sobre as quais assentava o imobilismo rural
( ver documentos 3.A ,3.C pág 90 e 91)
O surto industrial

Apesar da posição de neutralidade de Portugal na Segunda Guerra Mundial, o


conflito afetou seriamente a economia portuguesa, muito dependente dos
fornecimentos estrangeiros.
As dificuldades do tempo de guerra deram força àqueles que defendiam a
industrialização como imprescindível ao desenvolvimento nacional. Logo em
1945 a indústria foi assumida como prioridade económica embora dentro do
tradicional modelo de autarcia: o seu último fim era o de substituir as
importações.
Pouco tempo depois(1948), Portugal assinou o pacto fundador da
Organização para Cooperação Económica Europeia(OECE), integrando-se nas
estruturas do plano de Marshall. A participação na OECE reforçou a
necessidade de um planeamento económico, conduzindo à criação dos
Planos de Fumentos que, a partir de 1953, caracterizam a política de
desenvolvimento do Estado Novo.

I Plano de Fomento (1953-58) reconhece a importância da indústria para o


país = prioridade à criação de infraestruturas:
- Eletricidade
- Transportes
- Comunicações
• II Plano (1959-64) assume claramente uma política industrializadora e,
detrimento da agricultura. Elege a indústria transformadora de base. Quais?
- Siderurgia
- Refinação de petróleos
- Adubos
- Químicos
- Celulose
- Etc.
• III Plano de Fomento (1968-71) – Marcello Caetano é eleito para o cargo de
presidente do Conselho = orientação completamente nova com a tónica no
normal funcionamento da concorrência e do mercado
- Concentração empresarial
- Política agressiva de exportações
- Captação de investimentos estrangeiros (sobretudo quando são
portadores de novas tecnologias)
- Apelo ao dinamismo dos empresários («pensem mais no futuro que no
passado»)

Consequências:
- consolidação dos grupos económicos-financeiros( EFTA em português
AECL Associação Europeia de Comércio Livre (FMI E BIRD))
- aceleração do crescimento nacional que atingiu o seu pico
- continuam alguns problemas: pesado fardo da Guerra colonial e o
enorme atraso face à Europa desenvolvida.

Adesão a estas organizações marca a inversão da política de autarcia do


Estado Novo.
(ver documentos 4.A 4.B 4.D pág 93)

Urbanização

Nos anos 50 e 60, o processo de urbanização acelerou-se e absorveu, em


parte, o êxodo rural. Crescem ,sobretudo, as cidades do litoral, entre Braga e
Setúbal, onde se concentram as indústrias e os serviços. Os arredores das
cidades Lisboa e Porto tornam-se “dormitórios” dando origem às expressões
“Grande Lisboa” e “Grande Porto”.
Esta expansão urbana não foi acompanhada da construção das
infraestruturas necessárias ao acolhimento de uma população de poucos
recursos. A falta de habitações sociais, estruturas sanitárias e de uma rede de
transportes eficiente repercutiu nas construções clandestinas, os bairros de
lata, que degradam as condições de vida(incremento da criminalidade e
prostituição). Embora tendo sido feito alguns investimentos em pontes e nas
vias de comunicação a espera pelos transportes públicos e a sobrelotação é
normal na vida quotidiana de quem usa os transportes públicos.
Contudo, o crescimento das cidades representou um avanço em direção a
um mundo mais moderno e cosmopolita, que aproximou Portugal dos
padrões europeus. A urbanização fez aumentar o número dos que ouviam
rádio, se inteiravam das notícias, participavam num sindicato ou numa
associação. Deste modo, formou-se um conjunto populacional numeroso e
escolarizado.
Novos comportamentos

Foi sobretudo, na década de 60, que a sociedade portuguesa sentiu os


ventos da mudança.
As novidades chegavam por diversas vias:
- emigrantes que regressaram para as suas aldeias;
- os turistas;
- as lojas divulgavam a moda londrina
- os programas de rádio e revistas de música;
- a televisão que trazia filmes e programas estrangeiros.

Aos poucos Portugal foi se aproximando dos padrões de comportamento dos


europeus. O conservadorismo que protegia o Estado Novo estava prestes a
chegar ao fim.

O fim da guerra e o nascimento da oposição democrática

As democracias tinham vencido a guerra e mostrado ,assim, a sua


superioridade face às ditaduras fascistas e nazis.Salazar tirou ,deste facto, as
devidas ilações: o seu regime devia (pelo menos de aparência)
democratizar-se ou corria o risco de cair. O governo toma a iniciativa de
antecipar a revisão constitucional e convocar eleições antecipadas, que
Salazar dizia serem “ tão livres como as da Inglaterra.”
A população começa a ficar otimista, acredita-se então que esta vaga
democrática será capaz de forçar a existência de um novo regime. A 8 de
outubro de 1945 numa entusiástica reunião no centro republicano almirante
reis nasce o MUD- Movimento de Unidade Democrática, que congrega as
forças até aí clandestinas da oposição.
O impacto deste movimento ultrapassou todas as previsões, em pouco
tempo reuniram-se 50.000 assinaturas e as adesões alastraram-se por todo o
lado país. tinha nascido a oposição democrática.
Para garantir a legitimidade do ato eleitoral, o MUD formula algumas
exigências, que considera fundamentais. Entre elas, o adiamento das eleições
por seis meses ( a fim de instituírem partidos políticos), a reformulação dos
cadernos eleitorais (15% da população), além da imprescindível liberdade de
opinião, de reunião e de informação.
As esperanças goraram-se. Nenhuma das reivindicações do movimento foi
satisfeita e este desistiu, à boca das urnas, por considerar o ato eleitoral uma
farsa.
Em 1949, as forças oposicionistas voltaram a mobilizar-se, desta vez, em
torno da candidatura a presidente da república de Norton de Matos, face à
severa repressão, o candidato apresentou também a sua desistência pouco
antes das eleições.
Nesse mesmo ano, o país torna-se também o fundador da NATO, o que
significava a aceitação do regime pelos parceiros desta
organização.Começou assim um novo ciclo de relações internacionais, que
permitiu ao regime salazarista sobreviver à derrota dos fascismos europeus.
(ver documentos 6.A,8.B, 8.C,9 pág 98)

O sobressalto político de 1958

Em 1958 a candidatura de Humberto Delgado as novas eleições presidenciais


desencadeou um autêntico terramoto político.
O anúncio do seu propósito de não desistir das eleições e a forma destemida
de como anunciou que demitia Salazar do seu cargo, caso fosse eleito,
fizeram a sua campanha um acontecimento ímpar de mobilização
populacional. Salazar convida Américo Tomás a apresentar a
candidatura à presidência (aí permanecerá até ao 25 de abril de 1974).

Consequências de 1958:
- resultado oficial deu a vitória ao candidato do regime Américo Tomás
(75% dos votos)
- credibilidade do regime e de Salazar seriamente abaladas
- Para evitar novo risco de um «golpe de Estado constitucional» anula o
sistema de sufrágio direto e o chefe de Estado passa a ser eleito por
um colégio eleitoral restrito
- 1959-62 cresce muito a oposição que integra novos elementos da
sociedade.
O Bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, escreve uma carta a Salazar, em
que denuncia a miséria do povo e a falta de liberdades cívicas, a sua coragem
levou-o a 10 anos de exílio.
A instabilidade política crescia ao ponto de se tentarem dois golpes de força
para derrubar o regime. 1958-60 mais de 1200 presos políticos, as
manifestações de 31 de janeiro, de 5 de outubro e de 1 de maio acabaram
com mortos e feridos.
A má imagem ,deste modo, o regime projeta no estrangeiro reforça-se com o
exílio de Humberto Delgado e o apresamento do navio português Santa
Maria, tomado de assalto a 22 de janeiro de 1961.
( ver documentos 10.A, 11.A e B pág 101,102 e 103)

A questão colonial

A vaga descolonizadora que se deu após a Segunda Guerra Mundial afetou


fortemente Portugal. A ideia de um país predestinado para dominar um
grande império, deixou de se ajustar ao mundo em que valores com a
igualdade entre os povos e do direito à autodeterminação ganhavam força.

Do “império português” ao “Ultramar português”

A adaptação aos novos tempos processou-se em duas vertentes


complementares, uma ideológica, outra jurídica.
Em termos ideológicos, a “ mística do império”, é substituída pela ideia da “
singularidade da colonização portuguesa”, inspirada nas teorias de Gilberto
Freire.
Segundo este sociólogo Brasileiro, os portugueses haviam demonstrado
uma surpreendente capacidade de adaptação à vida nas regiões tropicais,
onde, por ausência de convicções racistas, se tinham entregue à
miscigenação e à fusão de culturas. Esta teoria, conhecida como
lusotropicalismo, serviu, nos anos 50, para individualizar a colonização
portuguesa retirando-lhe o caráter opressivo que assumia no caso das outras
nações.
No campo jurídico, opta-se por fazer alterações formais:
- Eliminar de todos os diplomas legais as expressões «colónia» e
«império colonial»
- Revogar Ato Colonial (1951) e inserir o estatuto dos territórios por ele
- abrangidos na Constituição Portuguesa = legalmente deixou de ter
colónias
- Designar as colónias por «Províncias Ultramarinas» equivalentes a
qualquer província do continente
- Substituir a designação de «Império Português» por «Ultramar
Português» unido o país estendia-se «do Minho a Timor»
O que esperava o Estado Novo? Resistir à dinâmica histórica e manter intacto
o Ultramar português.
Externamente a manutenção do colonialismo foi posta em causa muito cedo.
Internamente, a presença portuguesa em África não sofreu praticamente
contestação até ao início da guerra colonial.
(ver documentos 12.B,12.C,12.D pág 104 e 105)

O fomento económico das colónias

Como o reforço desta abordagem política, as colónias receberam também


um impulso económico significativo. Havia que se mostrar que Portugal
europeu e que Portugal além-mar eram reais, e que o país se empenhava em
desenvolver os vários territórios que o compunham.
A primeira preocupação foi o incremento da população branca.
Favoreceu-se a emigração para o Ultramar e organizaram-se colonatos na
Angola e em Moçambique.
Aumentaram também os investimentos no setor público e privado,
passando os territórios africanos, com destaque para Angola e Moçambique,
a estar contemplados com as verbas dos Planos de Fomento.
- O Estado português procedeu à criação de infraestruturas(estradas,
pontes,aeroportos…)
- Promoveu o setor agrícola e extrativo(açúcar, café, sisal em Angola;
algodão oleaginosas e açúcar em Moçambique)( diamantes,
ferro,petróleo em Angola, vidrados para o setor externo)
- apoiou as iniciativas industriais.

O fomento económico das províncias ultramarinas intensificou-se com o


início da Guerra Colonial. O deflagrar do conflito (1961, em Angola, e 1964 em
Moçambique) não só coincidiu com a época de maior dinamismo da
economia portuguesa, como veio reforçar a necessidade de uma presença
nacional forte, que legitimasse, aos olhos do mundo, a posse dos territórios
Ultramar.
A quase unanimidade de opiniões foi posta em causa com o início da luta
armada em Angola (1961)
Surgem 2 teses divergentes:
Tese integracionista:
- Defendia a continuidade da mesma política (o Ultramar plenamente
integrado no Estado português)
Tese federalista:
-Devido à pressão internacional e aos custos de uma guerra em África não era
possível persistir na mesma via
-Defendia progressiva autonomia das colónias e a constituição de uma
federação de estados que salvaguardasse interesses portugueses

Federalismo: defendido por elementos da oposição e alguns membros do


Governo e das altas esferas das Forças Armadas
Salazar opõe-se e manda
«rapidamente e em força» os 1ºs contingentes militares para Angola.
( ver documentos 13.A,13.D pág 106 e 107)

A luta armada

Nos territórios portugueses formaram-se, nos anos 50 e 60, movimentos


independentistas dispostos a lutar contra a dominação portuguesa:
- Em Angola, 1955 surge a UPA( União das Populações de Angola) sete
anos depois torna-se na FNLA( Frente Nacional de Libertação de
Angola) liderada por Holden Roberto; MPLA( Movimento Popular de
Libertação de Angola) dirigido por Agostinho Neto; em 1956 surge
ainda UNITA( União para a Independência Total da Angola) criado por
Jonas Savimbi, dissidente da FNLA, em 1966;
- Em Moçambique, a luta é encabeçada pelo FRELIMO( Frente de
Libertação de Moçambique), criada por por eduardo Mondlane, em
1962;
- Na Guiné distingue-se o PAIGC(Partido para a Independência da Guiné e
Cabo Verde), fundado por Amílcar Cabral, em 1956.

Os confrontos iniciaram-se em Angola, em fevereiro e março de 1961, com


ataques do MPLA em Luanda e violentos ataques da UPA a várias fazendas e
postos administrativos do Norte.
Em 1963 o conflito estende-se à Guiné e em 1964 a Moçambique.

Abriram-se três frentes de combate, que exigiram dos portugueses um


sacrifício desproporcionado:
- o país mobilizou 7% da sua população ativa
- despendeu, na defesa, 40% do Orçamento Geral do Estado.
A resistência portuguesa ultrapassou, em muito, os prognósticos da
comunidade internacional, que previam, para um conflito de tal envergadura, a
capacidade rápida desta nação pequena e economicamente atrasada.
(ver documentos 14.A,14.C,15 pág 109)

O isolamento internacional

Internacionalmente, a questão das colónias ganhou dimensão quando o


nosso país entrou na ONU em 1955. Portugal recusou-se de imediato a
admitir que as disposições da Carta relativas à administração de “territórios
não autônomos” lhe fossem aplicadas , argumentando que as províncias
ultramarinas eram parte integrante do território português.
Em 1961,ano em que se inicia a guerra em Angola, Portugal esteve
particularmente em foco nas Nações Unidas, acabando esta organização por
condenar o nosso país devido ao persistente não cumprimento dos princípios
da Carta das resoluções aprovadas.
Além das dificuldades que lhe foram colocadas na ONU, Portugal viu-se a
braços, no início dos anos 60, com a hostilidade americana. Os americanos
mostravam-se convictos que o prolongamento da guerra jogaria a favor dos
seus interesses soviéticos, já que afastava os estados africanos de Portugal,
e ,em consequência, os seus aliados da NATO. Deste modo não só
financiaram alguns grupos nacionalistas (como a UPA em Angola), como
propuseram sucessivos planos de descolonização, com o intuito de vencer as
resistências de Salazar com propostas de auxílio económico.
( ver documentos 16.C pág 112)

O marcelismo
Reformismo político não sustentado

Em setembro de 1968, por motivos de saúde Salazar foi substituído por


Marcelo Caetano, anterior ministro das colónias e da Presidência.
As medidas políticas que Marcelo Caetano tomou são:
- diminuiu a censura mais tarde designada Exame prévio;
- fez regressar figuras políticas do exílio( Mário Soares,o bispo do Porto);
- Mudança do nome da PIDE para DGS(Direção Geral de Segurança);
- Mudança da União Nacional para ANP( Ação Nacional Popular).
Foi neste clima de mudança, que ficou conhecido como “primavera
marcelista”, que se prepararam as eleições legislativas de 1969.
Procurou legitimar os olhos da opinião pública, o governo:
- alargou o sufrágio femenino( a todas as mulheres escolarizadas);
- permitiu a maior liberdade de campanha à oposição;
- a consulta dos cadernos eleitorais;
- fiscalização das mesas de voto.
Para as listas da União Nacional foram convidados políticos liberais como
Pinto Leite,Miller Guerra, Sá Carneiro, Pinto Balsemão. Em conjunto formaram,
na assembleia, o grupo conhecido como a “ala liberal”.
Contudo, o ato eleitoral saldou-se por uma série de atropelos aos princípios
democráticos, apenas os deputados da ANP conseguiram ser eleitos pela
assembleia, levando à derrota da oposição.
Frustradas as esperanças de uma real democratização do regime, o
presidente do conselho viu-se sem apoio dos liberais, pois não conseguiu
implantar as reformas necessárias e ainda o condenavam pela onda de
instabilidade política que chegava ao país.
Marcelo Caetano decide endurecer a repressão política:
- associações de estudantes foram encerradas;
- a legislação sindical apertou-se;
- alguns opositores como Mário Soares,voltam para o exílio;
- a polícia política desencadeia uma nova vaga de prisões.

Alvo de várias críticas, à frente de um regime que não acompanhara a


modernização da sociedade e as aspirações dos portugueses, Marcelo
Caetano via-se ainda de braços com o grande problema da Guerra Colonial.

O impacto da guerra colonial

Ao assumir o governo, Marcelo Caetano assumiu também a continuação da


guerra em África. O estatuto das províncias ultramarinas pouco se alterou.
Em tais circunstâncias, a luta armada foi endurecendo e, embora controlada
na Angola e Moçambique, a situação militar deteriorou-se na Guiné, onde o
PAIGC adquiriu controlo sobre uma parte significativa do território.
Externamente, cresceu o isolamento português. Na ONU, o país sofre a
maior de todas as humilhações quando, em 1973, a Assembleia-Geral
reconhece a independência da Guiné-Bissau, à rebelia do Estado português.
As próprias Forças Armadas dão sinais de uma inquietação crescente.
É exatamente de um prestigiado militar que o regime recebe o maior dos
golpes: o general António de Spínola, herói da guerra da Guiné, publica, em
fevereiro de 1974, a obra Portugal e o Futuro.
(ver documentos 18.A pág 116)
O Movimento das Forças Armadas

Conjuntura Política: início da década de 70 regime estava debilitado e a


guerra colonial já decorria há muito tempo (com domínio progressivo do
território pelos movimentos de libertação, considerava-se perdida)
- Crescente número de adeptos da democratização do país e do fim da
guerra
- Publicação do livro de Spínola e questões corporativas (*) originam a
constituição de um movimento de militares em 1973 (predominavam
oficiais de baixa patente – capitães) que visa o derrube do regime e
criar condições que permitam a resolução política da questão colonial
(Como? Através de um golpe de Estado)
- O Movimento dos Capitães surgiu na sequência da publicação 2 de
diplomas que facilitavam a integração no quadro permanente do
exército de militares milicianos – o sucesso das suas reinvindicações
fê-los compreender que detinham a força necessária para levar o
Governo a aceitar uma solução política para a guerra. Para tal contaram
com a aliança de altas patentes – os Generais Costa Gomes e Spínola
(chefe e vice-chefe do EMGFA - Estado-Maior- General das Forças
Armadas)- exonerados do cargo quando Marcello convocou os oficiais
- generais para confirmar a sua lealdade e ambos não compareceram.

Estes acontecimentos deram força àqueles, que dentro do movimento(MFA),


acreditavam na urgência de um golpe militar, que restaurando, as liberdades
cívicas, permitisse a tão desejada solução para o problema colonial.
Depois de uma tentativa falhada em março, o MFA preparou a operação
militar que na madrugada do dia 25 de abril de 1974 que pôs fim ao Estado
Novo.

Operação “Fim-regime”

A operação “Fim- regime” do Movimento das Forças Armadas(MFA) decorreu


sob a coordenação do major Otelo Saraiva de Carvalho, de acordo como o
plano previamente definido: depois da transmissão, pela rádio, das
canções-senhas, as unidades militares saem dos quartéis para cumprirem,
com êxito, as missões que lhe estavam destinadas:
- ocupação das estações rádio e da RTP;
- controlo do aeroporto e dos quartéis-generais das regiões militares de
Lisboa e do Norte;
- cerco dos ministérios militares do Terreiro do Paço.
A única falha no plano previsto- a prévia neutralização dos comandos do
Regimento de Cavalaria de 7 de Lisboa, que não aderiram ao golpe.Junto ao
Terreiro do Paço, o destacamento da Escola Prática de Cavalaria de Santarém,
chefiada pelo jovem capitão Salgueiro Maia, deparou-se com uma poderosa
coluna de tanques do Regimento de Cavalaria 7, que saiu em defesa do
regime. Salgueiro de Maia, não autorizou os seus homens a abrir fogo,
decidindo,corajosamente, parlamentar com o inimigo.
Coube também a Salgueiro Maia dirigir o cerco ao Quartel do Carmo, onde
se tinha refugiado o presidente do Conselho e outros membros do Governo.
A resistência do quartel terminou às 18 horas, quando Marcelo Caetano se
rendeu, dignamente, ao general Spínola.
No fim do dia, o “Movimento dos Capitães” sagrava-se já vitorioso. Apesar
dos insistentes pedidos para que a população civil se recolhesse em casa, a
multidão acorrera às ruas em apoio aos militares, a quem distribuía cravos
vermelhos. Só a polícia política é que resistiu ao golpe militar, no entanto,
rendeu-se na manhã seguinte.
(ver documento 22.D e E pág 120 e 121)

O desmantelamento das forças armadas

No próprio dia da revolução, Portugal viu-se sob a autoridade de uma Junta de


Salvação Nacional, constituída por um acordo entre a MFA e a hierarquia das
Forças Armadas. A Junta tomou imediatamente, de acordo com o programa
do MFA, um conjunto de medidas tendentes à libertação da política partidária
e ao desmantelamento das estruturas do regime deposto:
- O presidente da República, Américo Tomás, e o presidente do Conselho,
Marcelo Caetano, foram destituídos, e partiram para a Madeira, e pouco
depois, para o exílio no Brasil.
- A PIDE-DGS, a legião Portuguesa e as Organizações de Juventude
foram extintas, bem como a Censura( Exame Prévio) e a Ação Nacional
Popular.
- Foi permitida da criação de partidos políticos e de sindicatos livres,
sendo legalizadas as organizações que, até aí, operavam
clandestinamente, como era o caso, entre outros, da central sindical
unitária(Intersindical), do Partido Comunista Português( fundado 1921)
e o Partido Socialista( fundado em 1973, a partir da Ação Socialista
Portuguesa).

O MFA comprometeu-se, igualmente, a passar o poder para as mãos dos civis,


definindo o prazo máximo de um ano para a realização de eleições
constituintes. Para assegurar o funcionamento das instituições governativas
até à sua normalização democrática, a Junta de Salvação Nacional nomeou
como presidente da República o general António Spínola.
Assim se dava início à democratização, um dos três Dês (Democratizar,
Desenvolver, Descolonizar).
(ver documentos 23.A,C,D e 24 pág 122 e 123)

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