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Portugal: do autoritarismo à democracia

Índice:
 Imobilismo político e crescimento económico do pós-guerra a
1974:
 Coordenadas económicas e demográficas;
 A radicalização das oposições e o sobressalto político de
1958;
 A questão colonial;
 A primavera marcelista.
 Da revolução à estabilização da democracia:
 O movimento das forças armadas e a eclosão da
revolução;
 A caminho da democracia;
 O reconhecimento dos movimentos nacionalistas e o
processo de descolonização;
 A revisão constitucional de 1982 e o funcionamento das
instituições democráticas.
 O significado internacional da revolução portuguesa.

2.1 Imobilismo político e crescimento


económico do pós-guerra a 1974

2.1.1 Coordenadas económicas e demográficas


Com o final da 2º Guerra Mundial os Estados fascistas praticamente
desapareceram, como tal Portugal tem de se adaptar para sobreviver.

A estagnação do mundo rural


O país agrário continuava um mundo sobrepovoado e pobre, com índices de
produtividade muito inferiores à média europeia.
No Norte predominava o minifúndio que não possibilitava a mecanização; No
Sul estendiam-se propriedades imensas (latifúndios) que se encontravam
subaproveitadas. Também havia um terço de área agrícola que era cultivada em
regime de arrendamento precário e pouco propício ao investimento.
As alterações na estrutura fundiária acabaram por nunca se fazer, devido aos
interesses dos grandes proprietários do Sul que tinham muita influência política,
e a política agrária esgotou-se em subsídios e incentivos beneficiando os
grandes proprietários do Sul.
Na década de 60, Portugal começa a industrializar e a agricultura viu-se em
segundo plano. Isso provocou um decréscimo brutal da taxa de crescimento do
Produto Agrícola Nacional e num êxodo rural que esvaziou as aldeias do
interior, o que elevou o défice agrícola, ou seja, não produzíamos o suficiente
para alimentar o país.

A emigração

Entre 1960 e 1973 (fim do Estado Novo), registou-se em Portugal um forte


surto emigratório para a Europa, calcula-se que terão emigrado legalmente
cerca de 900 mil portugueses. Causas: A guerra colonial (1961-1974) e a procura
de melhores condições de vida, que os levou à saída de nosso país em direção à
França, à Alemanha e outros países da Europa Central.
O Estado Novo celebrou, no início dos anos 60, acordos com os principais
países de acolhimento (França, Alemanha). Estes acordos permitiram a livre
transferência, para Portugal, das remunerações (ordenados dos emigrantes). O
país passou a receber um montante de divisas (remessas dos emigrantes).
As consequências da emigração portuguesa, a nível demográfico foram a
quebra de população jovem e adulta, a diminuição da taxa de
natalidade/fecundidade, envelhecimento da população e diminuição da
população residente. Já a nível socioeconómico foram a diminuição da
população ativa, aumento da taxa de analfabetismo, diminuição do desemprego
que provocou uma subida dos salários e o investimento em noca tecnologia na
indústria e entrada de divisas estrangeiras.

O surto industrial
Em 1945, a Lei do Fomento e Reorganização Industrial, política
industrializadora, tinha como objetivo final a substituição das importações, ou
seja, Portugal continuava a seguir um ideal de autarcia (autossuficiência a nível
industrial).
Em 1948, o nosso país assinou o pacto fundador da OECE, integrando-se no
Plano Marshall (plano americano de ajuda à Europa para recuperar depois da 2º
Guerra Mundial).
Houve também a elaboração dos Planos de Fomento, uma forma de
planeamento económico semelhante aos planos Quinquenais da URSS. O I Plano
de Fomento (1953-1958) deu prioridade à criação das infraestruturas
(eletricidade, transportes e comunicações). No II Plano (1959-1964) elege-se a
indústria transformadora de base (siderurgia, refinação de petróleo, adubos,
químicos, celulose…).
Os anos 60 trouxeram alterações significativas à política económica portuguesa.
Em janeiro de 1960, Portugal torna-se um dos países fundadores da EFTA –
Associação Europeia do Comércio Livre. No mesmo ano, aprovaram o acordo do
BIRD e do FMI; em 1962 assina-se o protocolo do GATT. A adesão a estas
organizações marca a inversão da política da cultura do Estado Novo. Portugal
apesar de ser um Estado Fascista que defendia a autarcia, vai integrar
associações de comércio internacional.
Em 1968, a nomeação de Marcello Caetano para o cargo de presidente do
Conselho inaugura, com o III Plano de Fomento (1968-73), uma orientação
completamente nova. No normal funcionamento da concorrência e do mercado
na concentração empresarial, numa política de exportações e na captação de
investimentos estrangeiros.
Para concluir, houve um crescimento nacional, no entanto, o país continuou a
sentir a seu enorme atraso fase à Europa desenvolvida.

A urbanização (bipolarização)

Nos anos 50 e 60 houve um êxodo rural. Cresceram, sobretudo, as cidades do


litoral, a Área Metropolitana do Porto e a Área Metropolitana de Lisboa.
Esta expansão urbana não foi acompanhada da construção das infraestruturas
necessárias. Faltavam habitações sociais, estruturas sanitárias, uma rede de
transportes eficiente. Com isto, aumentam as construções clandestinas como os
bairros de lata, que com elas trazia o crescimento da criminalidade e da
prostituição. Também havia longas esperas pelos meios de transporte e os
hospitais não serviam a população total.
No entanto, também houve efeitos positivos, contribuindo para a expansão do
setor dos serviços e para um maior acesso ao ensino e aos meios de
comunicação.

O fomento económico nas colónias (desenvolvimento económico das


colónias)

Até aos 40, o Estado Novo desenvolveu um colonialismo típico baseado no


desencorajamento do desenvolvimento industrial. As décadas seguintes seriam
marcadas por um reforço da colonização branca (emigração portugueses) pela
escalada dos investimentos públicos e privados e pela maior abertura ao capital
estrangeiro, Angola e Moçambique.
A partir de 1953, foram incluídos nos Planos de Fomento.
Então o Estado procedeu à criação de infraestruturas como caminhos de ferro,
estradas, pontes, aeroportos, portos e centrais hidroelétricas. Paralelamente,
desenvolveram- se os setores agrícolas (sisal, açúcar e café em Angola;
oleaginosas [óleos vegetais], algodão e açúcar em Moçambique) e extrativo
(diamantes, petróleo e minério de ferro em Angola).
No setor industrial nos anos 50 e 60 houve um acentuado crescimento.
Para concluir, ao contrário do que se previa, o fomento económico das colónias
recebeu um forte impulso após o início da guerra colonial, que foi uma forma de
tentarmos demonstrar que queríamos desenvolver as colónias (Angola – 1961/
Moçambique – 1964)

2.1.2 A radicalização das oposições e o sobressalto


político de 1958 (oposição ao Estado Novo)

A 7 e 8 de maio de 1945, grandes manifestações celebraram a derrota da


Alemanha (fim da guerra na Europa [derrota da ideologia fascista; vencem os
democráticos]). Com isso, Salazar tirou as devidas conclusões: o seu regime
deveria (pelo menos na aparência) democratizar-se ou corria o risco de cair.
Neste contexto, o Governo toma a iniciativa de dissolver a Assembleia Nacional
e convocar eleições antecipadas e Salazar anuncia que serão “tão livres como na
livre Inglaterra”.
Em outubro nasce o MUD – Movimento de Unidade Democrática (partido de
oposição), reuniram-se 50 000 assinaturas. O MUD formulou algumas
exigências, como o adiamento das eleições por seis meses, a reformulação dos
cadernos eleitorais (atualizar a lista de portugueses que podiam votar), 15% da
população, além da liberdade de opinião, de reunião e de informação.
Nenhuma das reivindicações do Movimento foi satisfeita e este desistiu. As
listas de adesão ao MUD forneceram à polícia política as informações
necessárias para uma repressão eficaz, muitos aderentes ao MUD foram
interrogados, presos ou despedidos do seu trabalho.
Entretanto, o clima de Guerra Fria foi tomando conta da Europa e as
preocupações das democracias orientaram-se para a contenção do comunismo,
objetivo que o salazarismo servia em pleno. Em 1949, o nosso país tornou-se
membro fundador da NATO, o que equivalia a uma aceitação clara do regime
(Estado Novo) pelos parceiros (EUA).
Nesse mesmo ano, 1949, desta vez em torno da candidatura de Norton de
Matos às eleições presidenciais. Face a uma severa repressão, Norton de Matos
apresentou também a sua desistência. Em 1958, houve a candidatura de
Humberto Delgado a novas eleições presidenciais.
O “General Sem Medo” anunciou o seu propósito de não desistir das eleições e
a forma destemida como anunciou a sua intenção de demitir Salazar, caso
viesse a ser eleito, fizeram da sua campanha um acontecimento ímpar no que
respeita à mobilização popular (teve muito apoio).
O resultado oficial deu a vitória por esmagadora maioria, 75% dos votos, a
Américo Tomás. Mas as credibilidades dos resultados saíram abalados desta
prova (diziam que “até os mortos votavam”). Salazar sentiu-o e para evitar um
novo risco de “um golpe de Estado constitucional” anulou o sistema de sufrágio
direto, passando o chefe de Estado a ser eleito por um colégio eleitoral restrito
(não houve sufrágio universal).
Entre 1959-62 o bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, escreveu uma carta
a Salazar em que denuncia a miséria do povo e a falta de liberdades cívicas. A
coragem do bispo custou-lhe 10 anos de exílio.
Também foi exilado Humberto Delgado, obrigado a procurar refúgio no Brasil. É
neste papel que assume a responsabilidade política do apresamento do navio
português “Santa Maria” tomado de assalto em 1961 por um comando
revolucionário em pleno mar das Caraíbas. Os americanos, que intercetaram o
“Santa Maria”, entregam os rebeldes, sãos e salvos, ao exílio que o Brasil lhes
oferece.

2.1.3 A questão colonial

Com o final da 2º Guerra Mundial deu-se uma vaga de descolonização


incentivada pela Carta das Nações Unidas que previa a autodeterminação dos
povos e a própria inclusão dos povos das colónias, que lutaram ao lado das suas
metrópoles e perceberam que também podiam lutar pela sua própria liberdade.
Perante isto, Salazar teve de atualizar a sua política ou então corria o risco ser
obrigada a abdicar das colónias, por pressão das potências Ocidentais.

soluções preconizadas

Numa primeira fase, em duas vertentes, processou se uma ideológica, outra


jurídica.
Em termos ideológicos, a “Mística do Império” é substituída pela ideia de
“singularidade da colonização portuguesa”, inspirada nas teorias de Gilberto
Freire, lusotropicalismo.
Segundo este sociólogo brasileiro, os portugueses haviam demonstrado uma
capacidade de adaptação à vida nas regiões tropicais, onde, por ausência de
convicções racistas, se tinham entregado a miscigenação (mistura de raças).
O papel histórico de Portugal como nação evangelizadora, acrescentava se a
estas características (fomos desempenhar e espalhar o cristianismo).
no campo jurídico (leis), opta se por eliminar as expressões colónia Império
colonial de todos os diplomas legais. Em 1951, revogou-se o Alto Colonial. Estas,
doravante designadas por províncias ultramarinas. O “Império Português”
desaparecera, substituído pelo “Ultramar Português”.
No início (Guerra colonial) da luta armada em Angola, em 1961, confrontaram-
se duas teses, a integracionista e a federalista. A primeira defendia a política até
aí seguida, pugnando por um ultramar integrado no Estado português. Já a
segunda, considerava não ser possível, face à pressão Internacional e aos custos
de uma guerra em África.
Defendiam a progressiva autonomia das colónias e a Constituição de uma
Federação de Estados, “EUA”, que salvaguardasse os interesses portugueses.
Não conseguiram demover Salazar do seu propósito de manter intocado o
velho Império Português.

A luta armada

Aconteceram movimentos de libertação África portuguesa:


Em Angola, em 1955, surge a UPA (União das Populações de Angola), que acaba
por se tornar na FNLA (Frente Nacional da Libertação de Angola); o MPLA
(Movimento Popular de Libertação de Angola); e a UNITA (União para a
Independência Total de Angola).
Em Moçambique, FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) em 1962.
Na Guiné, PAIGC (Partido para a Independência da Guiné e Cabo Verde).
O confronto armado iniciou-se no norte de Angola em 1961.
Consequências: em 1963, o conflito estendeu-se à Guiné e em 1964 a
Moçambique. Abriram-se assim três frentes de combate, o país mobilizou 7% da
sua população ativa. Despendeu na defesa 40% do orçamento geral do Estado.
Pereceram cerca de 8000 portugueses e mais 100 000 ficaram feridos.

O isolamento internacional

A questão das colónias ganhou dimensão aquando da entrada do nosso país na


ONU, em 1955.
Por pressão dos países do Terceiro Mundo, o debate sobre as colónias
portuguesas rapidamente se abriu, tendo a Assembleia Geral concluído que os
territórios eram, de facto, colónias. Foram isolando os portugueses.
Em 1961, ano em que se inicia a guerra em Angola, Portugal esteve
particularmente em foco nas Nações Unidas, condenando o nosso país. Estas
condenações repetiram-se insistentemente, com apelos claros a Portugal para
que reconhecesse o direito à autodeterminação das colónias africanas. Isso
conduziu ao desprestígio do nosso país, que foi excluído de vários organismos
das Nações Unidas como o Conselho Económico e Social.
No início dos anos 60, com hostilidade da administração americana, a “era de
Kennedy”, não só financiaram alguns grupos nacionalistas (como a UPA) como
propuseram sucessivos planos de descolonização.

2.1.4 A primavera marcelista

Reformismo político não sustentado

Em setembro de 1968, face à doença grave de Salazar (em agosto desse ano
Salazar sofreu um acidente: a cadeira em que estava sentado partiu-se e o
presidente bateu com a nuca no chão), o Presidente da República vê-se
obrigado a encetar os procedimentos institucionais para a sua substituição. A
escolha recaiu sobre o professor Marcello Caetano, um dos notáveis do Estado
Novo que, no entanto, se permitiria discordar, em mais do que uma ocasião, da
política salazarista, apresentava-se como um político mais liberal.
Logo no discurso da tomada de posse, Marcello Caetano diz continuar a obra
de Salazar, mas sem prescindir da necessária renovação política.
Nos primeiros meses de mandato, o nosso Governo dá sinais de abertura, faz
regressar do exílio algumas personalidades, como o bispo do Porto e o Mário
Soares, modera a atuação do polícia política passa-se a chamar Direção-Geral de
Segurança – DGS, ordena o abrandamento da censura (mais tarde designada
Exame Prévio). Foi neste clima de mudança, que ficou conhecido como
“primavera marcelista”, que se preparam as eleições legislativas de 1969. O
Governo alargou o sufrágio feminino (a todas as mulheres escolarizadas),
permitiu maior liberdade de campanha à oposição, bem como a consulta dos
cadernos eleitorais (recenseados) e a fiscalização das mesas de voto.
No entanto, o ato leitoral saldou-se por uma série de atropelos aos princípios
democráticos e o mesmo resultado de sempre 100% dos lugares de deputados
para a União Nacional; 0% para a oposição (farsa).
Obrigado a reprimir um poderoso surto de agitação estudantil (universitários),
greves operárias e até ações bombistas, Marcello Caetano inflete a sua política
inicial (volta atrás). As associações de estudantes mais ativas são encerradas, a
polícia política desencadeia uma nova vaga de prisões, Mário Soares, por
exemplo, é remetido novamente ao exílio. Com isto, o regime continuava-se a
debater quanto ao problema da guerra colonial.

O impacto da Guerra colonial


Aquando da escolha de Marcello Caetano, as altas patentes das Forças
Armadas puseram, como única condição, que o novo chefe do executivo
mantivesse a guerra em África. Paralelamente, e dando execução às suas
convicções federalista, o chefe do Governo redigiu um minucioso projeto de
revisão do estatuto das colónias, no sentido para a “autonomia progressiva”.
O projeto contou com a oposição e acabou amputando das soluções mais
inovadoras. No essencial nada mudou.
Consequências: a luta armada foi endurecendo, na Guiné a situação militar
deteriorou-se, onde o PAIGC adquiriu controlo sobre uma parte significativa do
território.
 Externamente, cresceu o isolamento português: em 1970, o Papa Paulo
VI recebe, no Vaticano, os líderes dos movimentos do MPLA, FREIMO e
PAIGC; na ONU em 1973, a Assembleia-Geral reconhece a
independência da Guiné-Bissau, à rebelia do Estado português. No
mesmo ano, a visita oficial de Marcello Caetano ao Reino Unido decorre
no meio de protestos populares e de uma forte segurança policial, ao ser
denunciado, na imprensa, um massacre de civis em Moçambique.
 Internamente, a pressão aumenta. Os deputados liberais começaram a
abandonar a Assembleia Nacional, proliferaram os grupos oposicionistas
de extrema-esquerda (comunistas) cresce a contestação dos católicos
progressistas.
As próprias Forças Armadas (militares) dão sinais de uma inquietação
crescente. O general António de Spínola, herói da guerra da Guiné
publica, em fevereiro de 1974, a obra Portugal e o Futuro. Este livro
proclamava abertamente a inexistência de uma solução militar para a
guerra da África, por outras palavras a guerra estava perdida.

2.2 Da revolução à estabilização da


democracia
2.2.1 O movimento das forças armadas e a eclosão da
revolução
Relativamente à conjuntura política, em 1974, o regime tinha o problema da
guerra colonial por resolver, tendo o território da Guiné declarado a
independência unilateralmente e a situação de Angola e Moçambique
encontrava-se num impasse. Além disso, a condenação internacional da política
colonial do regime intensificava-se.
Perante isto, a recusa de uma solução política por parte do governo só veio
acentuar, em muitos oficiais milicianos, a convicção de que estavam a lutar por
uma causa perdida e, ainda, a ideia de que só o fim da ditadura poderia abrir
caminho à democratização e ao fim da guerra colonial.

A toda esta conjuntura política, acrescentava-se ainda o descontentamento


popular contra o aumento do custo de vida, o desejo da aproximação da Europa
comunitária e a intensificação da violência levada a cabo por movimentos
clandestinos.

Do Movimento dos Capitães ao movimento das forças armadas

Movimento dos Capitães

Como exemplo de movimentos clandestinos temos o Movimento dos Capitães,


que foi constituído em 1973 por militares, maioritariamente oficiais de baixa
patente, que preparava um golpe de estado, com o objetivo de derrubar o
regime ditatorial e assim criar condições favoráveis à resolução política da
questão colonial.

Inicialmente, o seu descontentamento baseava-se em questões corporativas,


as quais motivaram o movimento, no entanto a consciência da sua força política
leva à procura de uma solução para o problema do ultramar.

Movimento das forças armadas

Considerando que este último objetivo exigia a intervenção de altos patentes,


o Movimento dos Capitães depositou toda a confiança nos generais Costa
Gomes e António Spínola, sendo estes chefe e vice-chefe, respetivamente, do
Estado-Maior General das Forças Armadas.

Costa Gomes e António Spínola, que recusaram participar numa manifestação


de apoio ao regime e à sua política, foram exonerados dos seus cargos, ficando
assim disponíveis para reforçar os movimentos de contestação militar.

Assim sendo, o movimento sendo liderado então por Costa Gomes e António
Spínola, que assumiram o claro objetivo de pôr fim ao regime do Estado Novo e
com a adesão das principais unidades militares, o Movimento dos Capitães
evoluiu então para o Movimento das Forças Armadas – MFA.

A operação “fim-regime”
São então as forças armadas assim organizadas, que saem à rua na madrugada
de 25 de abril de 1974 e levam a cabo a ação revolucionária que pôs fim ao
regime de ditadura que vigorava desde 1926.

Na noite de 24 de abril de 1974, a senha combinada entre os militares do


Movimento das Forças Armadas toca na rádio para dar início à revolução. Por
volta da 00:20h do dia 25, toca a segunda senha, que era um sinal para as tropas
saírem à rua. Rapidamente, nas principais cidades portuguesas, os militares
comandados por Otelo Saraiva de Carvalho ocuparam estações de rádio, de
televisão, aeroportos, quartéis, ministérios, principalmente em Lisboa.

Perante a situação, Marcello Caetano e os outros ministros refugiaram-se no


Quartel do Carmo, em Lisboa. A população reagiu com entusiasmo aos
movimentos da revolução e acabou por sair à rua para apoiar a movimentação
dos militares. Entretanto as tropas, comandadas pelo capitão Salgueiro Maia e
apoiadas pela população portuguesa, cercaram o Quartel do Carmo e o Governo
acabou por se render, pondo fim a 48 anos de ditadura em Portugal. Os cravos
vermelhos que a população foi distribuindo pelos soldados no dia 25 de abril
passaram a ser o grande símbolo desta revolução. O reduzir do número de
mortos e feridos, e a adesão pacífica do povo à revolução fizeram da “revolução
dos cravos” uma mensageira de paz no futuro do país.

2.2.2 A caminho da democracia


O desmantelamento das estruturas do Estado Novo
Com a adesão pacífica da população ao ato revolucionário, foi constituído um
poderoso estímulo para que rapidamente se desse início ao processo de
desmantelamento do regime deposto. Depois da queda do regime, o MFA
entregou o poder à Junta da Salvação Nacional, a quem cabia aplicar o
programa do MFA e promover eleições livres para a Assembleia Nacional
Constituinte. A Junta da Salvação Nacional procedeu ao desmantelamento das
estruturas do Estado Novo, através da aprovação de várias medidas:
● Destituição dos órgãos do poder, como o Presidente República Américo
Tomás, o Presidente do Conselho Marcello Caetano e a dissolução da
Assembleia Nacional;
● Extinção das instituições repressivas: polícia política (DGS) e
organizações paramilitares (Mocidade Portuguesa e Legião Portuguesa),
abolição da censura (Exame prévio), extinção da Ação Nacional Popular;
● Libertação e amnistia dos presos políticos, e permissão do regresso de
exilados;
● Autorização da formação de associações políticas e de partidos
(legalização do PS e do PCP);
● Garantia da liberdade sindical;
● Início do processo de descolonização;
● Preparação de eleições livres.

Tensões político-ideológicas na sociedade e no interior do


movimento revolucionário
A aclamação da liberdade levou em seguida a dois anos politicamente
conturbados. Com efeito, verificaram-se profundas divergências ideológicas,
que levaram a grandes confrontações sociais e políticas, e a iminentes conflitos
militares.

O processo revolucionário pós 25 de abril


De um lado, encontrava-se o general Spínola e os seus apoiantes, seguidores
de uma corrente mais moderada. Do outro, o Movimento das Forças Armadas,
defensores de uma política de esquerda mais radical. A Junta de Salvação
Nacional, liderada por Spínola, rapidamente encarregou-se de eliminar os
símbolos e estruturas do Estado Novo, adotando as medidas que já foram
mencionadas anteriormente. Apesar destas medidas, o MFA opunha-se à
governação de António Spínola, que se demitiu em 1974, e estava assim aberto
o caminho para uma viragem à esquerda.

No ano seguinte, a 11 de março, o general Spínola lidera um golpe de Estado,


mas este falha, deixando aberta a porta à radicalização. Foi formado o Conselho
da Revolução, que passa a funcionar como órgão executivo do MFA. A posição
do Governo chefiado por Vasco Gonçalves extrema-se, e começa o período
conhecido como PREC - Processo Revolucionário em Curso, orientado pelo
Conselho da Revolução.

Iniciam-se nacionalizações da banca, dos seguros das principais empresas


industriais, e dos transportes e comunicações. Dá-se a reforma agrária através
do controlo de propriedades por parte de associações de trabalhadores rurais. E
surge uma vaga de perseguições aos opositores, que têm o seu expoente
máximo no verão de 1975.

A inversão do processo deveu-se ao forte impulso dado pelo Partido Socialista


à efetiva realização, no prazo marcado, das eleições constituintes prometidas
pelo programa do MFA.

Estas eleições, as primeiras em que funcionou o sufrágio verdadeiramente


universal, realizaram-se no dia 25 de Abril de 1975, marcando a vida cívica e
política portuguesa. Tanto a campanha como o ato eleitoral decorreram dentro
das normas de respeito e de pluralidade democrática.

A vitória do Partido Socialista, seguido do Partido Popular Democrático, nas


eleições para a Assembleia Constituinte, veio criar condições para travar a
direção e o rumo que a revolução portuguesa tomara.

Neste verão de 1975, que ficou conhecido como o “verão quente”, registam-se
encontros violentos que levaram, por exemplo, à destruição de várias sedes do
Partido Comunista Português.

Em novembro de 1975, a esquerda revolucionária tenta novo golpe de Estado,


no entanto falha e afasta-se do poder. Ruma-se assim à democratização com
forças políticas mais moderadas a governar o país.

Política económica antimonopolista e intervenção do Estado no


domínio económico-financeiro
Após o 25 de abril, a política económica do país alterou-se profundamente.
Graças à luta sindical e à abertura do Governo, os trabalhadores portugueses
conseguiram, entre 1974 e 1975, um aumento real dos salários de 20%. As
principais alterações na vida económica foram a política de nacionalizações,
tendo o Governo em abril de 1975 nacionalizado a banca, seguros e transportes
e a reforma agrária, que implicou uma nova distribuição das terras
latifundiárias.
A intervenção do Estado também se fez sentir na(s):

· Grandes campanhas de dinamização cultural promovidas pelo MFA,


com o objetivo de explicar à população do interior rural o significado da
revolução, o valor da democracia e a importância do voto popular nos
diversos sufrágios em curso, bem como os direitos dos trabalhadores;

· Grandes conquistas dos trabalhadores, que viram a sua situação social


e económica muito beneficiada com, por exemplo, a instituição do salário
mínimo nacional e o controlo dos preços dos bens de primeira necessidade.

Mas os resultados não foram os esperados, devido à fuga de capitais, ao


regresso de centenas de milhares de pessoas vindas das ex-colónias e à
desmobilização de milhares de soldados.

A opção constitucional de 1976


Com a promulgação a 2 de abril de 1976, a nova Constituição tinha um carácter
marcadamente socialista. Este texto constitucional consagra o Estado Português
como uma república democrática.

A Constituição de 1976 consagra também os direitos fundamentais dos


cidadãos e define a estrutura política, económica e social do país que se afirma
democrático, unitário, pluripartidário e descentralizado. Os órgãos de poder
passaram a ser a Assembleia da República, o Presidente da República, o
Conselho da Revolução, o Governo e os Tribunais. Nesta Constituição
transparece tendência socializante e denota-se a importância da estrutura
militar.

2.2.3 O reconhecimento dos movimentos nacionalistas e


o processo de descolonização

A descolonização portuguesa em África


O processo de descolonização dos territórios portugueses em África foi feito de
uma forma rápida e precipitada. Logo após o 25 de abril, foram iniciadas
negociações com os movimentos de libertação, que levaram à independência
das várias colónias africanas. A primeira colónia a tornar-se independente foi a
Guiné-Bissau, ainda em 1974. E a última Angola, em novembro de 1975.

Neste processo de descolonização, os portugueses que habitavam nas agora


ex-colónias ficaram desprotegidos face às guerras e movimentos
revolucionários que surgiram nesses territórios após a independência. Os cerca
de 500 mil portugueses que viviam nessas colónias, tiveram então de voltar
para Portugal, deixando todos os seus bens materiais e os seus empregos para
trás. Esta população, conhecida como os “retornados”, enfrentou sérias
dificuldades após a sua chegada a Portugal, principalmente em arranjar casa e
emprego. A integração na sociedade portuguesa e a obtenção de melhores
condições de vida por parte dos “retornados” foi possível graças ao seu
dinamismo e às ajudas do Governo português.

Após a descolonização portuguesa em África, surgiram 5 novos países


independentes: Guiné-Bissau, Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e
Angola.

A descolonização portuguesa na Ásia


Portugal mantinha na Ásia até ao Estado Novo os enclaves de Goa, Damão e
Diu, Macau e Timor.

Em 1961, os enclaves de Goa, Damão e Diu são ocupados pela Índia, mas
Portugal só reconhece a sua independência depois do 25 de abril de 1974.
Restavam assim Macau e Timor, colónias portuguesas que não conseguiram a
independência logo após a descolonização portuguesa na Ásia.

Macau manteve-se sob governação portuguesa após o 25 de abril, mas em 1987


foi assinado um acordo que pretendia a transferência deste território para a
China, ainda que com um estatuto especial. Essa transferência ocorreu em
1999.

Timor-Leste reivindica a independência de Portugal em 1975, no entanto antes


de a conseguir, é invadida pela Indonésia que ocupara este território durante 24
anos cometendo vários crimes contra as pessoas que lutavam pela
independência. A independência timorense começaria a ser conseguida em
1999 quando, após muitas pressões e protestos, a Indonésia foi forçada a deixar
fazer um referendo no território, com uma vitória esmagadora para a
independência. Em 2002, depois de pacificado o território, Timor-Leste torna-se
finalmente independente.

A independência de Timor e Macau marcaram o fim do império português. O


território português passou assim a estar limitado a Portugal Continental e aos
Arquipélagos dos Açores e da Madeira. Portugal mantém, no entanto, relações
de amizade e cooperação com as suas antigas colónias, onde o português
continua a ser a língua oficial.

2.2.4 A revisão da Constituição de 1982 e o


funcionamento das instituições democráticas
Seis anos após a entrada em vigor, foi efetuada a primeira revisão
constitucional. As principais alterações ocorreram na organização do poder
político, uma vez que se conservaram as disposições de carácter económico.

Perante isto, foi abolido o Conselho da Revolução como órgão coadjuvante da


Presidência da República. Na mesma linha, limitaram-se os poderes do
Presidente da República e aumentaram-se os da instituição parlamentar.

O regime viu, assim, reforçado o seu cariz democrático-liberal, assente no


sufrágio popular e no equilíbrio entre órgãos da soberania:

● O Presidente da República é eleito por sufrágio direto e por maioria


absoluta. É assistido por um Conselho de Estado. O mandato presidencial
é de 5 anos, sendo interdito ao mesmo Presidente mais do que dois
mandatos consecutivos. Além disso, tem como funções comandar as
Forças Armadas, dissolver a Assembleia da República, nomear e exonerar
o Primeiro-ministro, ratificar os tratados internacionais, mandar
promulgar as leis e exercer o direito de veto.
● A Assembleia da República é constituída por deputados eleitos por
círculos eleitorais. Cada legislatura tem a duração de 4 anos e os
deputados organizam-se por grupos parlamentares. A Assembleia tem
como funções fazer as leis; aprovar as alterações à Constituição, os
estatutos das regiões autónomas, a lei do plano e do orçamento de
Estado; e conceder ao Governo autorizações legislativas.
● O Governo é o órgão executivo ao qual compete a condução da política
geral do país. Manda a Constituição que o Primeiro-ministro seja
designado pelo Presidente da República, de acordo com os resultados
das eleições legislativas. Tem como funções fazer os regulamentos
necessários à execução das leis, dirigir a administração pública e elaborar
leis em matérias não reservadas à Assembleia da República.
● Os Tribunais tiveram a sua independência consagrada pela Constituição
de 1976. A Constituição tornou o poder judicial verdadeiramente
autónomo, proporcionando as condições para a sua imparcialidade. A
revisão de 1982 criou, ainda, o Tribunal Constitucional. Os tribunais têm
como funções verificar previamente a constitucionalidade das leis. Cabe
aos tribunais a administração da justiça em nome do povo.

A governação das regiões autónomas exerce-se através de uma Assembleia


Legislativa Regional, um Governo Regional e um Ministro da República.

Quanto ao poder local, este estruturou-se em municípios e freguesias,


dispondo ambos de um órgão legislativo e de um órgão executivo.

2.3 O significado internacional da


revolução portuguesa

Não violenta, tratou-se de mais uma vitória da democracia (liberdade). A


revolução de abril contribuiu para quebrar o isolamento e a hostilidade de que
Portugal tinha sido alvo, recuperando o país a sua dignidade.

O fim do Governo marcelista representou o princípio do fim dos regimes


autoritários que persistiam ainda na Europa Ocidental: em julho cai na Grécia o
“regime dos coronéis”; no ano seguinte, é a vez da vizinha Espanha, após a
morte do general Francisco Franco.

A influência da revolução portuguesa estendeu-se também a África, onde a


independência das nossas colónias contribuiu para o enfraquecimento dos
últimos bastiões brancos da região, como a Rodésia e a África do Sul.

Na Rodésia, o regime segregacionista de Ian Smith viu-se de braços com a força


crescente da opinião negra. Esta luta conduziu, em 1980, à realização de
eleições livres. O país muda então o seu nome para Zimbabué.

A descolonização portuguesa e a viragem política na Rodésia puseram em


maior evidência a desumanidade do regime de apartheid sul-africano. Só em
1994 organizaram-se as primeiras eleições sob o princípio de um homem, um
voto, que fizeram de Nelson Mandela o primeiro presidente negro da África do
Sul.

Bibliografia/Webgrafia:
 Manual “Um novo tempo da história” Parte 2 História A 12ºano;
 http://sitiosdahistoria12.blogspot.com/2011/01/822-da-revolucao-
estabilizacao-da.html
 https://www.studocu.com/pt/document/universidade-de-coimbra/
historiografia-e-teoria-da-historia/darevolucaoaestabilizacao/17619158
 https://www.studocu.com/pt/document/ensino-secundario-portugal/historia-
a/22-da-revolucao-a-estabilizacao-da-democracia-modulo-8/9692954
 https://pt.scribd.com/document/109090556/10-Da-Revolucao-a-Estabilizacao-
da-Democracia

 Manual “Geografia 10º”;


 Manual “Raio-X” 10º ano Geografia.

Trabalho realizado por: Catarina Moutinho Nº 6 e Mariana Gouveia Nº 19

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