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SEMANAL
A NEWSMAGAZINE MAIS LIDA DO PAÍS WWW.VISAO.PT
REPORTAGEM ESPECIAL
EM MOÇAMBIQUE
IMOBILIÁRIO
O CAMINHO
SEM FIM A GRANDE
DOS REFUGIADOS REVOLUÇÃO
DE CABO DELGADO
Nº 1499 . 25/11 A 1/12/2021 .
NOS ESCRITÓRIOS
GREGÓRIO DUVIVIER
“BRASIL É
O ÚNICO PAÍS
QUE SE VACINOU
À REVELIA
DO SEU LÍDER”
“O PSD TRANSFORMOU-SE
NUM PARTIDO PREGUIÇOSO”
O QUE PENSA E O QUE MOVE O COMENTADOR MAIS INFLUENTE DE PORTUGAL
– A QUEM TODOS ATENDEM O TELEFONE
· ·
A AMIZADE COM MARCELO A RELAÇÃO COM COSTA A ADMIRAÇÃO POR CAVACO
VISÃO
25 NOVEMBRO 2021 / Nº 1499
RADAR
16 Raio X
18 A semana em 7 pontos
20 Holofote
JOSÉ CARLOS CARVALHO
22 Inbox
23 Almanaque
24 Transições
26 Próximos capítulos
30 Oceano de esperança
32 Imagens do mundo 46 Cabo Delgado, os rostos da violência
Um terço da população de Cabo Delgado foi obrigado a sair da região
FOCAR devido à violência. Deixaram para trás o pouco que tinham para abraçar
78 Suicídios: o que o nada que os faz continuar vivos. O relato dos enviados à província mais
violenta de Moçambique
se passa nas polícias?
82 O regresso
de Judite de Sousa 34 O poder de Marques Mendes
84 Papel: preço nas alturas Entrevista de vida ao comentador mais famoso do País, ex-ministro
e ex-líder do PSD, que se fez analista e faz tremer a classe política com os
seus “recados”. Como este grande influenciador prepara os seus domingos
VAGAR
86 The Beatles: a história
interminável 54 Putin, o grande provocador
Será que, a poucas semanas de se assinalar o 30º aniversário da implosão
soviética e do regime comunista em Moscovo, o Presidente russo
VISÃO SETE quer invadir a Ucrânia e desestabilizar ainda mais a Europa?
OPINIÃO
6 Mia Couto
Online W W W.V I S A O . P T
Últimos artigos no site da VISÃO
8 Mafalda Anjos
14 Pedro Marques Lopes
28 Cecília Meireles
81 José Carlos de Vasconcelos
90 Capicua
Luís Delgado Manuel Delgado Alice Vieira
114 Ricardo Araújo Pereira LINHAS DIREITAS SAÚDE e Nelson Mateus
Que faria Rangel A saúde DIÁRIO DE UMA AVÓ
Interdita a reprodução, mesmo parcial, se fosse cínico? dos portugueses E DE UM NETO
de textos, fotografias ou ilustrações sob no contexto da OCDE Mais um ano
quaisquer meios, e para quaisquer fins,
inclusive comerciais.
Todos os dias, um novo texto assinado por um dos 28 especialistas convidados
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de 60 palavras e conter nome, morada
e telefone. A revista reserva-se
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que considerar mais importantes.
NOVA MORADA
RANKING ANIMAIS CANCRO CORREIO: Rua da Fonte da Caspolima
Os 25 mais ricos Amigos As novas armas – Quinta da Fonte,
de Portugal muito fixes da Ciência Edifício Fernão Magalhães, 8,
2770-190 Paço de Arcos
Morrer
de raça (2)
POR MIA COUTO
O
lhamos e voltamos a olhar para o nosso ex- Na nossa terra, ninguém nasce dono da sua boca.
-conterrâneo, Xavier Anaishe, os seus dois Aprendemos a escutar com o devido cuidado: todos
filhos e todos os estrangeiros. E uma coisa trazem recados de alguém. Xavier Anaishe conhecia
parecia certa: aquela gente não vinha à sua essas suspeitas e sabia como nascem espinhos no
terra natal para matar saudade. Nem a sua silêncio. Não perdeu mais tempo. Estendeu o bra-
delegação nos vinha visitar. Os poucos que ço em direção ao mais encasacado dos visitantes e
antes aqui chegaram à nossa aldeia tinham anunciou: – Apresento-vos o doutor Martinez. Ele é
os olhos doentes: olharam-nos e não viram o boss dos bosses.
ninguém. Estes que acabavam de chegar Cumprimentámos o doutor Martinez e ficámos à
tinham olhos de águia: ciscavam a terra espera de que o Xavier apresentasse os restantes mem-
em busca de uma presa. Quando o silêncio se tornou bros da delegação. Cada um deles tinha a sua naciona-
demasiado pesado, o nosso tio dirigiu-se com modos lidade, a sua língua, a sua cor de pele. Sabíamos que o
secos ao Xavier: mundo era grande, mas estávamos longe de pensar que
– Porque trouxeste esta gente à sua aldeia paterna? houvesse uma tal variedade de raças. Mais perto, po-
– Materna – emendou com delicadeza um vizinho. rém, via-se que os recém-chegados eram todos pareci-
– Não me interrompa, cunhado – reclamou o nosso dos, todos murungos, todos vientes. Desta vez, o cego
tio. Na nossa aldeia, os homens casados chamam-se de Muoni tinha-se enganado. Nenhum daqueles homens
cunhados e, assim, todas as esposas se tornam irmãs. O era um munu mutema, a raça da nossa aldeia.
tio recompôs-se para, de novo, se dirigir ao Xavier: Foi então que os estrangeiros estenderam um
– Estamos à espera de que fales. grande mapa sobre o capim. Quando se colocaram de
– Não tenho que te dar satisfações – resmungou pé em redor do mapa, eu tive uma visão: o que cobria
Xavier. o chão não era um papel. Era um lençol. Repetiam o
ILUSTRAÇÃO: SUSA MONTEIRO
– Mas há uma coisa que deves explicar: que nome é que se faz com os mortos que são tapados para que
esse que deste à tua filha? Anodia Anaishe?!!! não se saiba que há, neste mundo, corpos sem vida.
– É um nome shona, quero que ela seja autentica- Pela primeira vez, olhei o chão e senti que ele era uma
mente shona – argumentou o visitante. criatura mortal.
– Pois agora na nossa aldeia – retorquiu o nosso tio Faz parte da nossa cortesia saudar, um por um,
– todos temos o nome arraçado de português. É assim aqueles que nos visitam. Um estranho torna-se da
que somos autênticos nos dias de hoje. nossa família depois de o seu nome tocar os nossos
H
á duas palavras inomináveis na quando este era líder do PSD.
política portuguesa: uma, para o Sem uma coligação efetiva, ou seja, sem
PS, é a maioria absoluta, um tabu ministros do PSD a assumir pastas, Marcelo
que perdura desde 1985, quando Rebelo de Sousa viabilizou o governo mi-
Almeida Santos a pediu e conse- noritário de António Guterres e, em troca,
guiu o pior resultado de sempre conseguiu o referendo que inviabilizou a
para o partido; a outra, tanto para o regionalização, avanços para PSD na revisão
PS como para o PSD, o famigerado constitucional, medidas fiscais no Orça-
bloco central. mento do Estado e até impediu a liberaliza-
Ainda estamos a larga distância das elei- ção do aborto. Uma fotografia
ções – dois meses e uma campanha eleitoral Coisa distinta, uma terceira via de en- antiga de Marques
Mendes a falar
em política são uma eternidade –, mas este tendimentos ao centro, são os acordos de
num púlpito pode
sufrágio tem um elevadíssimo grau de im- regime que os partidos podem e devem
ter graça
previsibilidade. fazer, sejam ou não maioritários, em temas para capa.
Pela primeira vez, podemos não ter um estruturais para a nossa economia. A falta
desfecho claro após uma dissolução do de coragem para os fazer é um dos maiores
Parlamento: em todas as outras sete disso- cancros da nossa vida política, porque as
luções, as eleições trouxeram uma clarifica-
ção da situação política e até duas maiorias
grandes reformas estruturais duram mais
do que uma legislatura, e tudo o que se
2
absolutas: em 1987, Mário Soares dissol- consegue fazer em quatro anos são meras
veu a Assembleia depois de uma moção de operações cosméticas, não mexidas subs-
censura do PRD e Cavaco Silva ganhou a tanciais.
maioria absoluta; em 2004, Sampaio fez o Tanto no PS como no PSD, um cenário
mesmo e o País deu uma maioria absoluta a em que os dois podem vir a ser obrigados
Sócrates. a entender-se, se não num bloco central,
Agora, podemos sair das eleições com em acordos ao centro, está hoje em cima da
um impasse: e se nem à esquerda nem à mesa. Portugal está a sair de uma pandemia
direita se conseguir uma maioria clara ou e tem mais de 50 mil milhões de fundos
uma solução governativa? Oiço gente dos comunitários para executar: todos os im-
dois lados a colocar muito seriamente essa passes pagam-se caro nesta altura. António Mas talvez seja
hipótese à boca pequena. E se… não existir Costa, que rebentou com o muro à esquer- demasiado
irreconhecível.
alternativa viável? da, não temeria rebentar com o muro que
Vamos para
Num sistema político que assenta num perdura à direita há 36 anos, se conseguisse
algo atual.
bipartidarismo de facto, os entendimentos condições para se manter no poder. Já abriu
de governo ao centro são sempre uma ul- essa margem na entrevista que deu à RTP,
traexceção ao modelo de alternância em que corrigindo o erro estratégico que cometeu
o centro-direita e o centro-esquerda se re- em 2019. À direita, só no sábado saberemos
vezam no governo da nação. É uma solução quem vai liderar o PSD. Rui Rio sempre
com riscos, porque aplana as diferenças e os
posicionamentos ideológicos entre os parti-
esteve disponível para entendimentos, e não
recuará agora. Paulo Rangel, mais estratega,
3
dos, e estimula crescimentos nos extremos, quer apelar à maioria absoluta e, por isso,
vistos como a única alternativa à amálgama recusa agora quaisquer coligações de bloco
aglutinadora que ocupa tudo ao centro. central, mas é omisso quanto a outro tipo
Mas foi a única saída possível, entre 1983 de acordos possíveis. À partida, é menos
e 1985, quando Mário Soares e Mota Pinto favorável a entendimentos, mas depois de
formaram uma coligação, perante a emer- contados os votos, no dia 30 de janeiro,
gência nacional de um País a debater-se e de os partidos se sentarem à mesa para
com a intervenção do FMI e um programa conversar e procurar soluções, a realidade
de austeridade e com a entrada na CEE no tem muita força. Perante isto, tomadas de
horizonte. posição insanáveis são dispensáveis nesta
Há outro modelo em que a relação é me- altura. Aconselha-se na campanha, mais do Esta resulta
nos estreita: são geringonças ao centro ou que nunca, calma, prudência e moderação, melhor, mais
informal mas
acordos de incidência parlamentar como os sem assomos irremediáveis. Não estamos
com atitude.
que aconteceram com Guterres e Marcelo em tempo de arrufos nem de irresponsabi-
Rebelo de Sousa, no fim da década de 1990, lidades. manjos@visao.pt
A melhor oposição
não é gritar mais alto
P O R P E D R O M A R Q U E S L O P E S / Colunista
F
oi a vacinação ter corrido tão bem que nos único responsável pela vacinação (que ele sempre
permite chegar a esta nova vaga da pande- rejeitou) não teve outro propósito senão a luta política
mia em melhores condições do que todos os no pior sentido. Para obter ganhos eleitorais, não se
nossos congéneres europeus. hesitou em desmerecer o trabalho de milhares de
O enorme sucesso político dessa cam- pessoas e de esquecer o trabalho político de dezenas
panha é indesmentível. Um sucesso que, de anos e vários governos. Pior, há quem berre pelo
tal como todos os grandes feitos de uma regresso de Gouveia e Melo e diga que há sinais de in-
comunidade – salvo raríssimas exceções –, competência nesta nova fase de vacinação quando não
não acontece por geração espontânea, por há rigorosamente nada que indique qualquer pro-
qualquer fenómeno extraordinário ou por blema (como ficou claro na reunião do Infarmed, da
intervenção de um qualquer homem providencial. semana passada) na administração da terceira dose.
Há sempre razões estruturais que são decisivas e este O tempo das redes sociais e dos noticiários 24
caso é um bom exemplo disso. horas por dia impôs o imediatismo político; a polari-
A liderança do vice-almirante foi importante e são zação – que existe no espaço público, apesar de estar
merecidos os elogios que lhe são feitos. Porém, ne- longe de estar provada na comunidade – pressupõe a
nhum super-herói conseguiria levar a bom porto esta negação por sistema do que o outro lado defende.
missão se não existisse um quadro de funcionários A pressão dos média para que os partidos reajam
públicos bem organizado e motivado para a função, a todo e qualquer assunto faz com que a política se
se não estivéssemos integrados na Europa (logo com torne um nunca acabar de pequenas discussões mais
acesso ao produto), se o nosso programa geral de ou menos frívolas sobre assuntos na sua esmagadora
vacinação não fosse excelente (basta ver os números maioria distantes das preocupações das pessoas.
para outras doenças) e se os portugueses não acredi- Isto ajuda à criação de um clima de conflito per-
tassem nos méritos das vacinas. manente que apenas gera mais conflito. Nada mais.
Temos assim um claro caso de sucesso políti- Duvido muito que os cidadãos apreciem a opo-
co: uma boa escolha para uma tarefa concreta e um sição pela oposição, essa futebolização da política.
trabalho político de muitos anos que permitiu ter as Não me parece que gostem dos políticos que basta o
condições objetivas e subjetivas para se atingir o obje- outro partido dizer branco para que eles digam preto,
tivo proposto. que passam a vida a berrar contra os adversários e até
A forma como se lidou com a pandemia e a dis- caiam em ofensas pessoais. As pessoas estão satura-
cussão sobre de quem é a responsabilidade dos exce- das desse modo de fazer política e a tendência será
lentes resultados da vacinação e como estamos a lidar premiar quem se afaste desse método. É, aliás, uma
com esta nova vaga são dois bons exemplos de como das razões para o crescimento da abstenção e para o
é hoje entendida a política em geral e a luta político- descrédito da classe política.
-partidária. A questão é que as máquinas partidárias tendem a
No auge dos problemas de saúde pública e econó- portar-se como claques de futebol. Querem quem fala
micos provocados pela pandemia houve um com- mais alto, quem entre nas pequenas discussões do dia
portamento exemplar dos principais protagonistas a dia. Há uma clara dissensão entre essas máquinas e
políticos. Aliás, também a estes se deve o tal sucesso os leitores.
político. Uma atitude beligerante causaria sempre Isto leva a um sempre maior afastamento dos cida-
problemas: suscitaria desconfiança, traria confusão. dãos dos protagonistas políticos e a uma repulsa pelos
Foi um momento em que, sobretudo, o líder da partidos gerando uma enorme multidão de descrentes
oposição percebeu que a política, antes de ser apenas no jogo democrático. Um jogo que lhes parece cada
um espaço de luta entre visões diferentes de como se vez mais apenas uma forma de obter o poder pelo po-
atingir o bem comum, é a procura desse bem comum. der e não a luta por uma visão que, na opinião de cada
As narrativas que se tentaram impor sobre a va- partido e político, será o melhor para a comunidade.
cinação e o momento que vivemos levam-nos para A melhor oposição não é a que grita mais alto, é a
outro campo, o do que não deve ser a política e do que defende as melhores soluções, mesmo que não se-
que falamos quando falamos de oposição. jam propostas pelo nosso lado. Os cidadãos não que-
A tentativa de transformar o vice-almirante no rem guerras, querem uma vida melhor. visao@visao.pt
M A N U E L B A R R O S M O U R A mbmoura@visao.pt
FFortuna pelo ar
A
Apesar dos seus 58 anos e de já ter terminado a carreira nos idos de 2003, aquele que
muitos consideram o melhor basquetebolista de todos os tempos continua a gozar de uma
m
popularidade global. Assim o prova o sucesso, no ano passado, de The Last Dance, a série de
p
documentários sobre a sua vida, produzida pela ESPN e Netflix. A grande fonte de rendimento
d
de Michael Jordan é a milionária associação que mantém com a Nike. Só no último ano fiscal,
d
a Air Jordan, submarca da multinacional norte-americana, faturou €4,16 mil milhões.
De acordo com a revista Forbes, só este acordo rende ao antigo basquetebolista uma verba
D
anual
a de 100 milhões de dólares, qualquer coisa como €89 milhões
1,33
1,22
1,10 1,06 1,04 1,01 1 0,99
Michael Tiger Arnold Jack Cristiano Floyd LeBron Lionel Michael Roger
Jordan Woods Palmer Nicklaus Ronaldo Mayweather James Messi Schumacher Federer
Império CR7
A meio da tabela, e como primeiro desportista não norte-americano do top 10, surge Cristiano
Ronaldo. Aos 36 anos, o futebolista português continua a ser um dos mais bem pagos do mundo
e o que, de sempre, mais ganhos obtém da milionária Premier League, com um ordenado semanal
de €653 mil. Segundo a revista Forbes, os dois anos de contrato com o Manchester United vão
render-lhe a absurda quantia de €60 milhões em ordenados e outros €47 milhões em patrocínios
POR
FILIPE LUÍS*
LUCÍLIA MONTEIRO
Foram os cidadãos
mil jurista, temos dois casos de quem não é jurista e
pensa como jurista; pelos vistos, o erro foi meu...”
Marcelo Rebelo de Sousa ironizando sobre o facto de o ministro da Defesa,
atendidos no regime João Gomes Cravinho, ter invocado a sua interpretação jurídica para não
de “casa aberta”, em comunicar a existência da investigação sobre tráfico, nas Forças Armadas
nove lojas do cidadão
e do Campus de
Justiça, nos últimos
BUSCAS
oito sábados, em que
os balcões estiveram
abertos das 9 às 22
A vez do Porto
horas. O regime de
ARLINDO CAMACHO
Fraude fiscal,
“casa aberta” estende- branqueamento de
se, assim, das vacinas capitais, abuso de
a outros serviços do confiança – eis os
Estado, neste caso, aos alegados crimes sob
pedidos de emissão ou suspeita que motivaram,
renovação do cartão do esta semana, buscas da PJ
cidadão e passaportes. e da Autoridade Tributária
MARCOS BORGA
Compensar as falhas às instalações da SAD do
acumuladas durante Futebol Clube do Porto e a
o período pandémico empresas e residências de
foi o objetivo, que figuras ligadas ao clube,
envolveu 250 incluindo Pinto da Costa
COVID-19
trabalhadores. e o seu filho Alexandre.
Ordem para vacinar Miguel Braga, diretor de
comunicação do Sporting,
Ao mesmo tempo que as autoridades de saúde correm escreveu que o futebol
CHILE
contra o tempo (perdido…) na administração da 3ª dose português precisa de
O fantasma da vacina contra a Covid-19, Graça Freitas anunciou
que os maiores de 18 anos que levaram a vacina da
ver separado “o trigo do
joio” e que o Sporting “é
de Pinochet Janssen deverão ter uma dose de reforço, após 90 dias.
Ao mesmo tempo, as autoridades europeias pedem aos
a favor da transparência”.
Também os responsáveis
José António Kast, Estados que se preparem para vacinar as crianças dos de comunicação do FC
descendente de 5 aos 11 anos, estando a medida dependente de uma Porto sempre comentaram
alemães, e Gabriel Boric aprovação final da Agência Europeia de Medicamentos. os processos que visaram
Font, descendente de E hoje mesmo, quinta-feira, o Governo deverá decidir a SAD do Benfica. No
croatas, disputarão, a que medidas restritivas serão tomadas para prevenir e futebol português,
19 de dezembro, a 2ª mitigar o presente aumento de infeções, em Portugal. por vezes, calados, os
volta das presidenciais, diretores de comunicação
no Chile. Este fim de seriam… “uns poetas”.
semana, o primeiro SNS
obteve 27,9% dos votos
e o segundo 25,8%.
Kast, 55 anos, do
Temos o Santa Maria connosco?...
Partido Republicano, Depois de, a 10 de os médicos demitiram-
admirador de Augusto novembro, os dez chefes se mesmo. Este é mais
Pinochet, tem como das equipas de cirurgia do um exemplo, agora no
referência a extrema- Hospital de Santa Maria maior hospital do País, do
direita espanhola do terem enviado uma carta caos instalado em várias
Voxx. Boric, 35 anos, ao diretor clínico do Centro unidades, na ressaca dos
do Convergência Social Hospitalar Universitário piores períodos de resposta
e representante da Lisboa Norte (CHULN), à Covid-19 e quando se
JOSÉ MIGUEL TELES
SEXUAL A UM ALTO
ro e segurança de acalmar as
Acusação Peng. Os tenistas Aparições preocupações,
Participou em três
Jogos Olímpicos
Serena Williams,
Novak Djokovic QUADRO DO PARTIDO Com a pressão me-
diática internacional
nomeadamente
quanto à sua efeti-
e venceu o torneio ou Naomi Osaka,
entre muitos ou- COMUNISTA CHINÊS. em ebulição, come- va liberdade. Nikki
Dryden, advogada
REAPARECEU, MAS
de duplas em çaram a aparecer si-
Wimbledon, em tros, expressaram nais de que a tenista de direitos huma-
publicamente a nos e ex-nadadora
2013, e no Open de
França, em 2014. sua preocupação SUBSISTEM DÚVIDAS está bem. Os órgãos
de comunicação olímpica pelo
No passado dia 2
de novembro, a
e exigiram uma
investigação QUANTO À SUA oficiais chineses
divulgaram uma
Canadá, classificou
a forma como o
tenista Peng Shuai,
atualmente com
independente
às acusações LIBERDADE carta de Peng Shuai
para o presidente
COI lidou com o
caso de Peng de
35 anos, recorreu feitas pela tenista MANUEL BARROS MOURA do WTA. “Não estou um “exercício de
às redes sociais chinesa a um dos desaparecida. As propaganda” des-
para acusar Zhang sete políticos alegações de abu- tinado a acalmar
Gaoli, antigo vice- mais poderosos sos sexuais não são as crescentes
-primeiro-ministro do país. O presi- verdadeiras. Estou a ameaças de boico-
e membro do Co- dente da Asso- descansar em casa tes às Olimpíadas
mité Permanente ciação de Ténis e estou bem”, dizia a de Inverno. E
do Politburo do Feminino (WTA), mensagem atribuída recorda que aquele
Partido Comunista, Steve Simon, à tenista. Durante organismo tem
de a ter forçado a admitiu mesmo o fim de semana, evitado sempre
manter relações estar disposto os mesmos meios pronunciar-se
sexuais. Acusou a suspender as divulgaram vídeos contra o histórico
também a mulher competições na que mostravam desrespeito da
de Zhang que, China. Além do Peng a jantar, no China pelos direi-
entre 2013 e 2018, mais, a opacidade sábado, em Pequim, tos humanos, que
de ter participado com que o regime e a autografar bolas inclui, entre tantos
na violação, tendo chinês tratou este de ténis, no dia se- outros, o trata-
ficado de guarda caso veio avolumar guinte, num torneio mento da minoria
à porta durante o as ameaças de boi- realizado também muçulmana uigure
incidente. Poucos cote aos próximos na capital chinesa. e a repressão
minutos depois de Jogos Olímpicos No final de domingo, política em Hong
ter sido divulgada, de Inverno, que o Comité Olímpico Kong. A luta pela
esta mensagem foi terão lugar, a partir Internacional (COI) necessidade de ver
apagada das redes do próximo dia 4 anunciou que o seu Peng Shuai pro-
sociais e, desde de fevereiro, em presidente, Thomas nunciar-se ao vivo,
esse dia, Peng Pequim. Bach, mantivera de livre vontade,
Shuai esteve quase uma videochamada perante entidades
três semanas com Peng, na qual independentes
sem ser vista em a tenista garantia continua – e pela
público. estar “sã e salva”, garantia de que
a descansar com a as acusações são
família e amigos. cabalmente inves-
tigadas.
M O D É S T I A À PA R T E
O meu corpo
Mais depressa a
Escócia é campeã
foi sempre
do mundo do objeto de
que eu faço uma
parceria com discussão:
o Elton John
ROD STEWART
O cantor britânico, de 76 anos,
se sou gorda
que acaba de lançar novo álbum
ou não;
se sou uma
brasa
ou não
ADELE
A cantora inglesa, de 33 anos,
que perdeu 45 quilos, recusa ser
responsável pela validação da forma
Pela primeira vez na como os seus admiradores se sentem
a respeito dos próprios corpos: “Estou
minha vida, e faço-o a tentar organizar a minha própria
com muita tristeza, vida. Não posso acrescentar outra
preocupação.”
não vou votar no CDS
ANTÓNIO PIRES DE LIMA
O antigo dirigente e ministro do FRASE DA SEMANA
CDS acusa o atual líder de “se
vitimizar” e espera que o partido
“volte a recuperar a decência e a
importância que desempenhou
no sistema democrático”
Entre fracos e
fortes, o Estado
Quando o PSD tiver C H O Q U E F R O N TA L
deve intervir para
um líder carismático, reparar o equilíbrio
o Chega desaparece ANA CATARINA MENDES
A líder parlamentar escreveu um
ÁLVARO BELEZA artigo num jornal inglês em defesa do
Dirigente do PS e presidente da teletrabalho, mas também do direito
SEDES defende entendimentos a desligar: “Proibimos os patrões
entre o PS e o PSD portugueses de contactarem os
trabalhadores fora do horário
de trabalho”
Ao longo dos
anos, o Brasil tem
negligenciado a Já não há A Covid-19 está
relação com Portugal, pandemia. Estamos em crescimento
com medo que exponencial
que é, hoje, um se repita o que desde o princípio
parceiro importante aconteceu no ano de outubro, só
na União Europeia passado. Eu acho que agora é que
GILMAR MENDES que é um erro começamos a ver
O juiz do Supremo Tribunal PEDRO SIMAS a fase explosiva
Federal do Brasil defende que, O virologista
apesar de pequeno, o nosso país MANUEL CARMO
defende que há uma Gomes
tem “uma presença forte” nos “estabilidade de infeção
fóruns internacionais Epidemiologista
muito grande”
Fontes: CBS, The Guardian, Huffington Post, Lusa, Diário de Notícias, SIC Notícias
22 VISÃO 25 NOVEMBRO 2021
ALMANAQUE
NÚMEROS DA SEMANA
23
O Observatório de Mulheres
Assassinadas contabilizou,
entre 1 de janeiro e 15 de
novembro deste ano, 23
mulheres mortas, 13 das
quais em contexto de violência
doméstica.
43
Desde o início da erupção do
vulcão de Cumbre Vieja, a 19
de setembro, a ilha espanhola
de La Palma aumentou 43
45
animais envolvidos em experiências capazes de incorporar os fármacos em
científicas através da substituição da teste – e que os animais ingerem de
administração oral forçada de fármacos, forma voluntária e precisa.
venceu o prémio “3Rs Refinement”, Esta investigação decorreu no âmbito O acordo sobre as frotas
apoiado pela Comissão Europeia, do projeto de investigação HaPILLness pesqueiras portuguesa e
federações de saúde, ambiente e defesa - Voluntary oral dosing in rodents e foi espanhola, aprovado pelo
dos animais, e mais de três dezenas realizada no Instituto de Investigação Conselho de Ministros, passa a
de indústrias farmacêuticas e de Clínica e Biomédica de Coimbra, da permitir que 45 navios, 30 dos
cosmética. Faculdade de Medicina da Universidade quais de arrasto e 15 de cerco,
Esta nova técnica evita que tenha de se de Coimbra, com a colaboração da de cada um dos dois países
utilizar o tradicional método invasivo Escola Superior de Tecnologia da Saúde possam pescar nas águas
do tubo introduzido no estômago, de Coimbra, do Instituto Politécnico. continentais do outro.
O FUTURO
FAZ ECO
Plano Funerário Eco
TRANSIÇÕES
ELEIÇÃO
Economista e gestor de
empresas, Fernando
Cabecinha foi eleito,
no fim de semana, como
novo grão-mestre do
Grande Oriente Lusitano,
para o triénio 2021-2024,
substituindo Fernando
Lima Valada, que ocupava
o cargo desde 2011 e
o único grão-mestre a
cumprir mais de dois
mandatos após o 25
de Abril. Na segunda
volta da mais antiga
obediência da maçonaria
portuguesa (fundada
em 1802), Cabecinha
voltou a superiorizar-
se ao advogado Carlos
Vasconcelos, atual
vice-grão-mestre, como
já havia acontecido no C H U N D O O - H WA N 19 3 1 – 2 0 2 1
primeiro turno – na
O último ditador
altura numa corrida a
três, que também incluiu
o jurista e gestor Luís
Parreirão, ex-secretário
de Estado dos governos Governou a Coreia do Sul com mão de ferro, ordenando
de António Guterres. O massacres dos quais nunca se arrependeu
novo grão-mestre do GOL,
67 anos, é um histórico Nascido a 6 março de 1931, Chun revolta popular na cidade de Gwang-
da organização, tendo Doo-hwan era o quarto de dez filhos ju, 260 quilómetros a sul de Seul, um
presidido, por quatro de uma modesta família de Rigokku- massacre que causou pelo menos 200
vezes, à Grande Dieta (o -men, pequena aldeia da rural região mortos e 1 800 feridos. Em 1987, o dita-
parlamento maçónico). de Kosen, na província de Gyeongsang, dor nomeou o seu amigo Roh Tae-woo
Coreia do Sul. O seu crescimento foi como sucessor, o que fez agigantar a
afetado pela morte, num acidente, dos revolta popular e os protestos pró-de-
MORTES
dois irmãos mais velhos e pela fuga da mocracia. Em vésperas da Coreia do
O poeta e antigo bastonário
da Ordem dos Advogados
família, depois de o pai, antigo membro Sul ser palco dos Jogos Olímpicos de
António Osório de Castro da Kempeitai, corpo policial das forças Seul’88, a visibilidade internacional do
morreu na quinta-feira, 18, armadas japonesas que ocuparam a país tornou impossível à junta militar
aos 88 anos. O Presidente Coreia até 1945, ter assassinado, em continuar a resistir à marcação de elei-
da República, Marcelo 1939, um capitão da polícia. Talvez este ções. É verdade que Chun e Roh ainda
Rebelo de Sousa, lamentou passado violento e militarista do proge- ganharam eleições e governaram até
a perda de um homem que nitor tenha funcionado como principal 1993, mas acabariam por ser julgados e
“acreditou na harmonia das inspiração para que Chun escolhesse condenados por corrupção e pela orga-
coisas e com as coisas”. também uma carreira de armas. Aos 20 nização do golpe de Estado de 1979 e do
anos, entrou para a Academia Mili- massacre de Gwangju. O antigo ditador
tar, onde conheceu figuras como Roh foi condenado a prisão perpétua, mas
O antigo bastonário da Tae-woo e Jeong Ho-yong, com quem recebeu um indulto presidencial em
Ordem dos Médicos e fundou a Associação Hanahoe, que 1997. Nunca mostrou qualquer remorso
presidente da Sociedade reunia principalmente pessoal militar e até viria a ser novamente condenado,
Portuguesa de Cardiologia do Sudeste do país e que acabaria por em 2020, por difamar uma das teste-
Carlos Ribeiro morreu, no desempenhar um papel fundamental munhas do massacre. Recorreu e foi
sábado, 20, aos 95 anos. no futuro da nação. Em 1979, logo após numa sessão do processo de recurso
O atual bastonário, Miguel
o assassínio do então Presidente, Park que apareceu pela última vez em públi-
Guimarães, lembra o seu
Chung-hee, o grupo Hanahoe organi- co, em agosto deste ano, visivelmente
exemplo de “liderança,
humanismo, solidariedade,
zou um golpe militar, que culminaria debilitado. Acabou por morrer na
bondade e empatia”. com a chegada de Chun Doo-hwan terça-feira, 23, em casa, devido a com-
à chefia do Estado. Um ano depois, plicações relacionadas com o mieloma.
ordenou a supressão brutal de uma Tinha 90 anos. M.B.M.
Um aliado
contra as
doenças
respiratórias
O purificador de ar Daikin garante
a inativação, em apenas 2,5 minutos,
de mais de 99% de um coronavírus
da mesma família do SARS-CoV-2, assim
como do vírus da gripe, segundo estudos
recentes. O trunfo deste aparelho
é sobretudo tornar o ar mais saudável
e limpo, ajudando ainda no combate
às doenças respiratórias
O
s purificadores de ar da Daikin sur- Para passar um marca, “capta o ar da divisão através de três frentes
gem como uma medida adicional no diferentes, expelindo o ar purificado pelo topo”.
combate às doenças respiratórias, Natal e Ano Novo De acordo com o Standard JEM1467, este
num espaço fechado, como as casas mais tranquilos, equipamento é adequado a áreas até 41m2 pois
ou locais de trabalho. Numa altura em que vive- aproveite até ao cumpre com o critério de eliminar 80% das par-
mos assolados pela pandemia da Covid-19, testes final do ano o tículas nocivas em apenas 30 minutos em áreas
realizados nos laboratórios do Instituto Pasteur iguais ou inferiores a 41m2.
de Lille vêm demonstrar que os purificadores de
desconto de 15% Outro trunfo deste purificador diz respeito à
ar da Daikin eliminam mais de 99,98% do co- na compra de capacidade de decomposição para garantir que
ronavírus humano HCoV-229E em 2,5 minutos. purificadores as partículas nocivas são inativadas. Ou seja, a
Segundo a Daikin, “este vírus é da mesma família de ar Daikin em tecnologia Streamer, desenvolvida pela Daikin,
do SARS-CoV-2” que está a contagiar as pessoas purificadoresar- realiza uma decomposição oxidativa de substâncias
por todo o mundo. De acordo com o mesmo nocivas. “A descarga Streamer gera eletrões de alta
estudo, este aparelho também é 99,93% eficaz
daikin.pt com o velocidade de forma estável, removendo continua-
contra o vírus H1N “que causa a gripe comum” cupão VISAO15AP mente vírus, odores, pólen, bactérias e poluentes do
e durante o mesmo período de tempo. ar interior, como o formaldeído”, garante a marca.
Nos espaços fechados existe uma concen- Por fim, o Filtro HEPA Eletroestático remove
tração de partículas nocivas à saúde. Entre elas mais de 99% das partículas nocivas, com um ta-
estão os vírus, as bactérias, os pólenes, os ácaros, manho entre 0,1 μm (micrómetros) e 2,5 μm, para
os fungos e os bolores. Além dos químicos que que não sejam inspiradas. Só a título de exemplo,
existem nas carpetes, cortinas ou produtos de um fio de cabelo tem o diâmetro de 100 μm. “As
limpeza. Estas partículas trazem prejuízos para a partículas mais perigosas que, quando inspiradas,
saúde e bem-estar ao ponto de afetarem a quali- ficam nos nossos brônquios ou corrente san-
dade de vida das pessoas, principalmente aquelas guínea, têm cerca de 1 μm”, alerta a Daikin. Não
que têm problemas respiratórios. E sobretudo basta, por isso, inativá-las. É preciso capturá-las.
durante os meses de outubro e de maio, consi- Este purificador de ar também permite poupar
derados os mais críticos do ano por se registar na conta da eletricidade em relação aos demais,
um maior pico desses poluentes. porque tem uma potência de apenas oito watts.
Outro feito digno de nota nos tempos que correm.
COMO FUNCIONA? E, para passar um Natal e Ano Novo mais tran-
O Purificador de Ar Daikin é, por isso, uma solu- quilos, aproveite até ao final do ano o desconto de
ção para atenuar o problema e pelas razões que 15% na compra de purificadores de ar Daikin em
passamos a explicar. Primeiro, apresenta um po- purificadoresardaikin.pt com o
tente poder de sucção, o que, desde logo, elucida a cupão VISAO15AP.
PERISCÓPIO
O imbróglio
da governação
P O R C E C Í L I A M E I R E L E S / Deputada do CDS-PP
D
izem que em política tudo muda muito ram o País. É caso para perguntar o óbvio: afinal, se
depressa. Nem sempre é verdade, mas são capazes de se entender, como não foram capa-
no último mês as coisas mudaram de zes de aprovar o Orçamento?
facto em ritmo acelerado. Temos agora Esta ausência de estratégia teve e tem consequên-
um Parlamento com uma dissolução já cias. Para começar, Portugal é hoje um dos países
anunciada e eleições à porta. O motivo: mais lentos a recuperar da pandemia. Há mais de
a incapacidade de o Governo fazer passar oito Estados-membros que já recuperaram em 2021
o seu Orçamento do Estado para o ano o seu PIB pré-pandemia e prevê-se que, no fim
que vem. deste ano, mais quatro lá cheguem. Já para nós, o
Desde 2016, o PS afirmava-se com Governo acha muito ambicioso voltarmos ao ponto
arrogância como o partido de Governo, capaz de em que estávamos antes da pandemia lá para 2022.
fazer acordos com praticamente todos os parti- É o retrato dos anos da geringonça que nunca
dos no espectro político. Aliás, dava-se até ao luxo entendeu que não é possível distribuir riqueza sem
de raras vezes os cumprir. Aprovava orçamentos à a criar e que tem o seu reflexo num País que con-
esquerda e pseudorreformas com tinua a ser ultrapassado em PIB
o PSD, numa política de alianças per capita pelos países do Leste
e de acordos aparentemente sem
outra estratégia que não fosse a
Desde 2016, o PS europeu, que aprenderam com
muitos sacrifícios o que custam
da manutenção do poder e a dum afirmava-se com as receitas que em Portugal al-
certo statu quo. O resultado dessa arrogância como o guns dos partidos desta gerin-
estratégia não foi rápido mas foi gonça querem ainda aplicar.
trágico. O PS acabou num partido partido de Governo, Depois, a transformação
incapaz de se entender seja com capaz de fazer acordos da política numa espécie de
quem for.
No debate do Orçamento que com praticamente todos leilão, com todos a fingirem
que é possível o Estado dar
acabou chumbado, o primei- os partidos. O resultado tudo a todos e que o Estado
ro-ministro afirmava que tinha dessa estratégia não foi tem quaisquer recursos que
muito orgulho em ter rompido não sejam os que retira aos
com o chamado arco da governa- rápido, mas foi trágico. cidadãos, significou que na maior
ção. Pois o arco tinha esse nome
por um motivo. É precisamente
O PS acabou num parte destes anos a carga fiscal
aumentou.
porque a teimosia numa gover- partido incapaz Os impostos indiretos, as
nação com o apoio das esquerdas de se entender seja taxas e as taxinhas prolifera-
mais radicais conduziu Portugal a ram, passando por tudo, desde o
uma situação objetiva de ingover- com quem for açúcar a florestas e a embalagens
nabilidade. Quando Portugal ain- de takeaway. Um Governo que
da não só não recuperou da pan- começou com um aumento de
demia como ainda discute novas vagas, a geringonça impostos nos combustíveis, do qual nunca recuou,
de que o primeiro-ministro se orgulha não conse- nem mesmo agora que os preços do gasóleo e da
guiu sequer aprovar um Orçamento do Estado. gasolina atingem recordes.
A geringonça gosta de ventos de feição; quando Ao mesmo tempo, a despesa primária sem
as coisas se tornam difíceis, ou quando há sinais de medidas de emergência deve crescer, e muito. De
viragem numas autárquicas, rapidamente cada um €84 700 milhões em 2019 para €98 700 milhões
vai para o seu lado, com mais preocupações eleito- em 2022. Ou seja: quase mais quatro pp do PIB.
rais do que vestígios de sentido de Estado. A economia que cresce muito pouco, mas o Estado
E assim continuam, aliás, com os responsáveis do não para de crescer muito.
PS e do BE ainda a falarem em entendimentos a Desta geringonça ficará para a História que caiu
seguir às eleições e sem admitirem qualquer sombra exclusivamente pelas suas mãos e não merece de
de responsabilidade na confusão em que mergulha- Portugal outra oportunidade. visao@visao.pt
1 milhão de euros
para enfrentar
a crise climática
Nomeações até
15 mar 2022
OCEANO DE ESPERANÇA
Oceano de Esperança é um projeto da VISÃO em parceria com a ROLEX, no âmbito da sua iniciativa Perpetual Planet, para dar
voz a pessoas e a organizações extraordinárias que trabalham para construir um planeta e um futuro mais sustentáveis
A cientista caça-plástico
Filipa Bessa estuda os efeitos da contaminação por plásticos nas
espécies marinhas, de Portugal à Antártida. É cientista, mas utiliza
a fotografia para chamar a atenção do mundo para a sua causa
BRUNO LOBO
“Os resultados são assustadores”, alerta Filipa Bessa, antes APA, e com o top 10 de itens mais contados exatamente
de revelar as conclusões preliminares de um estudo à popu- igual”. Mas com uma diferença: os seus dados têm 33 mil
lação de tubarões ao largo da costa portuguesa. A pesquisa objetos mapeados em quase 300 locais ao longo da costa
só deverá estar concluída na primavera, mas “100% dos e ilhas − e não apenas nove. A app podia beneficiar com
animais analisados apresentavam elevadas percentagens uma maior divulgação, mas existe um óbvio problema de
de plásticos e de microplásticos no seu organismo”. financiamento: “Somos dez voluntários a manter o site
Bióloga e investigadora do MARE, na Universidade de vivo e, se não fosse a Amazon apoiar-nos, nem espaço
Coimbra, Filipa Bessa especializou-se nos efeitos da po- tínhamos para alojar o site.”
luição por plásticos nos ecossistemas marinhos e costei- Filipa nasceu em Vila Real, longe do mar, mas cresceu
ros, e sabe bem como o plástico está hoje por todo o lado, a ver documentários da BBC com David Attenborough,
“até nas espécies e nos locais mais isolados do mundo”, por isso sabia desde muito cedo que queria ser bióloga.
como ficou provado por outro estudo em que participou, Inicialmente, o plano era viver no meio da selva e trabalhar
dedicado às espécies de pinguins da Antártida. Por isso, com gorilas, uma verdadeira Jane Goodall portuguesa, mas
estes resultados “não são propriamente surpreendentes”, a vida empurrou-a para o Brasil e foi lá, num trabalho de
para mais porque os tubarões são predadores de topo e, preservação de ecossistemas dunares, que mudou o foco:
portanto, “uma espécie acumuladora”. O que nos leva a “Encontrava mais plásticos na areia do que as espécies que
outro predador de topo, o maior… nós. era suposto preservar”, recorda. “Algo estava muito errado.”
“Sendo um corpo estranho ao nosso organismo, à parti- Foi quase por coincidência, também, que se dedicou à
da os plásticos serão expulsos”, começa por explicar. “Mas fotografia, quando começou a captar imagens dos pedaços
sabemos que funcionam como verdadeiras esponjas, que microscópicos de plástico que analisava. Uma colega incen-
atraem todo o tipo de contaminantes químicos e bactérias tivou-a a participar num concurso de fotografia ambiental
por onde quer que passem, no mar ou nos esgotos. Dentro promovido pelas Nações Unidas. Foi sem grandes expec-
do nosso corpo, podem libertar os químicos acumulados e tativas que enviou a imagem de uns grãos de sal marinho,
isto é um cocktail que não pode ser benéfico para nenhum um deles embrulhado num fio de poliéster. Sea Salt Plastic
organismo vivo”, conclui. chamou à foto, que acabou por vencer o concurso, dando
Filipa Bessa procura também fazer um quadro mais uma dimensão inesperada a este hobby. Apesar dos vários
preciso do lixo que existe na nossa costa. Os dados for- convites que recebe para expor, Filipa continua a afirmar
necidos pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA) são que não faz fotografia, “mas aproveito toda esta atenção
recolhidos apenas em nove locais, manifestamente uma para comunicar o problema da poluição”. E não será demais
amostra muito reduzida. Para colmatar essa lacuna, mon- dizer que as suas fotografias já estiveram inclusivamente
tou dois projetos inovadores, um deles recorrendo a drones expostas no Berlaymont, sede da Comissão Europeia, por
para fazer um varrimento das praias, identificando e cate- onde passam muitas das decisões políticas da Europa.
gorizando o lixo. Ao contrário do que possa parecer, não “O meu trabalho como cientista é mostrar o problema
se trata de nada high tech, e o nome do projeto é mesmo na sua real dimensão, e garantir que essa informação chega
“utilização de drones lowcost para mapear o lixo marinho”. aos governos e à indústria, mas também à sociedade civil
O segundo projeto é o site lixomarinho.app (funciona de que tem a capacidade de influenciar a tomada de decisão.”
forma semelhante a uma app), que nos convida a conta- Já percebeu que nem todos podem ser conquistados, por
bilizar e a identificar o lixo que encontramos na praia. O isso acredita ser necessário que os governos “taxem e
funcionamento é muito simples, até porque o objetivo é proíbam certos comportamentos”. O que não faz sentido,
conquistar utilizadores: “Este projeto permite alargar enor- defende, é “diabolizar o plástico”. Até porque não vamos
memente essa base e envolver os cidadãos na luta contra a conseguir encontrar uma alternativa tão depressa. “Não
poluição”, conta com entusiasmo. Está, no entanto, ciente com as mesmas características e sem provocar danos para o
da oposição de alguns dos seus colegas, que desconfiam ambiente.” A solução será apostar nos plásticos com menor
desta abertura à sociedade. A eles responde com números impacto, com uma vida longa, recicláveis e reutilizáveis:
“coincidentes em mais de 80% com os fornecidos pela “Tudo o resto é para desaparecer.” visao@visao.pt
LINHAS
DE DIVISÃO
A Europa vive mergulhada em profundas divisões.
Por um lado, as linhas vermelhas da pandemia obrigam
governos a reforçar restrições e provocam convulsão
social. Por outro, nas linhas de fronteira da UE,
milhares de desesperados são barrados e vítimas
da guerra surda das autoridades
GETTYIMAGES
HAIA, HOLANDA
Desde sexta-feira, 19, várias cidades holandesas têm sido
palco de violentas manifestações contra medidas restritivas
impostas pelo governo para controlar a subida de novos
casos de Covid-19.
VIENA, ÁUSTRIA
Um casal faz uma
pausa junto aos
stands de um
dos tradicionais
mercados de Natal
da capital austríaca,
todos encerrados,
depois de as
autoridades terem
decretado um novo
confinamento total,
para combater o
aumento de novos
casos de Covid-19.
O país tomou
medidas drásticas,
entre as quais a
obrigatoriedade das
vacinas, já a partir
de fevereiro.
BRUXELAS,
BÉLGICA
A capital belga tem
sido, desde o final
da semana passada,
um dos principais
epicentros dos
protestos contra
a reintrodução de
medidas restritivas
na Europa. Os
manifestantes
contestam, muitas
vezes de forma
violenta, o uso
obrigatório de
certificado de
vacinação para entrar
em espaços públicos.
das pessoas, por um lado, e, por outro, planear, executar e rico de Melo, dentro da generosidade que o caracterizava,
sentir resultados marca uma pessoa. e algum exagero, resolveu dizer no discurso de despedida
Na altura, quais eram as sua referências políticas? que eu tinha sido “meio governador civil”. Sá Carneiro re-
Tenho duas grandes referências: uma dentro da família e solveu, por causa dessa afirmação, conhecer-me. Tivemos
outra fora dela. A grande referência dentro da família foi ali uma conversa de alguns minutos. Na minha vida estive
o meu pai, advogado, mas que já era um político quando com ele pessoalmente apenas duas vezes. Li, antes do 25
se dá o 25 de Abril. Foi presidente da Câmara de Fafe em de Abril, Ser ou Não Ser Deputado, o livro [de Joaquim
1973, em circunstâncias semelhantes àquelas em que Sá Silva Pinto] em que Sá Carneiro fala sobre a sua saída da
Carneiro, Balsemão e Magalhães Mota foram deputados Assembleia Nacional, que me marcou profundamente.
na ala liberal. O meu pai era da CEUD [Comissão Eleitoral Tudo isto exerceu sobre mim um grande fascínio.
de Unidade Democrática], da oposição democrática, que E nunca sentiu o apelo do marxismo-leninismo, dos
aceita com uma declaração da separação da política com a maoistas, tão em voga na época? É um homem de
gestão autárquica e de demarcação com o regime. O meu equilíbrios: manteve-se sempre ao centro?
pai foi sempre uma referência para mim. As minhas am- Li tudo, Marx e essa estirpe de grande qualidade. Aliás,
bições foram sempre ser advogado e político – influência achei graça, porque durante a pandemia, enquanto fiz
nitidamente do meu pai. Fora da família foi, sem dúvida, comentários a partir de casa, cheguei a ter espectadores
Sá Carneiro. Está na moda falar em Sá Carneiro... um pouco surpreendidos por ter Marx na estante. É tudo
Sim, toda a ala direita o faz... uma questão de opção, de escolha e de convicção. E desde
Nunca fui íntimo, mas conheci Sá Carneiro com 18 anos, muito cedo que me apaixonei pelos princípios da social-
quando Eurico de Melo sai do Governo Civil de Braga e democracia. Aquilo que me influenciava nessas matérias
tem em Esposende uma grande festa de homenagem. Sá era o exemplo da social-democracia nórdica e da Suécia,
Carneiro, então líder do PSD, resolve estar presente. Eu- em particular, e de Olof Palme. Palme é talvez, no plano
internacional, dos políticos que mais apreciei.
Mas o PSD de então também era diferente. Tinha
uma visão da social-democracia como um caminho
para o socialismo.
Todos os partidos, principalmente aqueles quatro
fundadores da democracia, eram em tudo radicalmente
O ÚNICO CULPADO POR ESSA IMAGEM diferentes do que são hoje. Todos os partidos, mesmo
muito pensamento, hoje produz pouco. Gerava grandes autoridade tranquila e um conhecimento profundo dos
quadros, jovens e menos jovens, hoje estagnou do ponto dossiers. Durante os dez anos, ele estava tão dentro das
vista da atração de elites. Costuma-se dizer que o PSD matérias como o ministro do respetivo setor. E tinha
é o partido mais português de Portugal e, na altura, era muito a ideia de planeamento político: os três primeiros
muito isso. Era o partido que tinha a maior capacidade anos são para governar e o último ano é para ganhar
de traduzir o que era o País, dentro da sua lógica de eleições. Isto parece politiquice, mas não é. É uma boa
elevador social, de mobilidade social, do ponto de vista forma de governação. Ou seja, as grandes reformas fazem-
interclassista, ao ponto de ter várias causas para vários se nos primeiros anos para que os resultados se vejam
setores. Era um partido completo. Agora, como tudo na no final. O último ano é para mostrar resultados e, com
vida, as coisas vão mudando... isso, criar as condições para voltar a ter governabilidade
Estou a ouvi-lo, estou a pensar no discurso de e estabilidade no futuro. O seu estilo de governação e os
Rangel. Porque há muito disso no discurso de Paulo resultados que alcançou durante dez anos são qualquer
Rangel. coisa de notável e histórico. Claro que também houve
Sim, é verdade. E nisso ele tem razão. falhas e erros. Sobretudo nos dois últimos anos. Por isso,
Já lá vamos. E Cavaco Silva, como é que ele se já comparei o que estamos a viver agora em Portugal com
lembrou de o ir buscar para integrar o governo? o oitavo ano do cavaquismo. Estamos claramente no fim
Cavaco Silva conhecia-me mal. A minha relação com o de um ciclo.
Cavaco Silva começa na Figueira da Foz, no congresso, Que sinais é que lê?
em maio, quando ele é eleito líder. Praticamente não me Os sinais de fim de ciclo são normalmente três: cansaço
conhecia. político, perda de autoridade e exercícios de arrogância no
A famosa rodagem do carro... poder. Em fim de ciclo, quando as pessoas estão cansadas,
Sim, isso foi uma ficção, um mito urbano... Fui apoiante quando os governantes estão já sem paciência, começam a
de Cavaco Silva nesse congresso. Eu era vice-presidente ser muito arrogantes. O poder conduz muito a isso. Todo
da distrital de Braga, que era das poucas que apoiavam o poder, à esquerda e à direita.
Cavaco Silva. Nessa altura, ele ganha o congresso, eu Tal como no fim do cavaquismo.
entro para a sua Comissão Política Nacional. O nosso São as situações de fim de ciclo. Os dois últimos anos do
conhecimento era fortuito, de reuniões de 15 em 15 dias, cavaquismo não são a coisa mais brilhante do mundo.
da Comissão Política Nacional, em que eu, vivendo no Cometemos erros nessa altura que não deveríamos ter
Norte, vinha a Lisboa às reuniões, e regressava ao Norte, cometido. Agora, os oito anos anteriores foram marcos
para a advocacia e a minha família. Fui convidado, mas relevantes de reformas profundas e estruturais. Foi o
não aceitei ser candidato a deputado por causa da minha único grande período em que Portugal deu um salto
vida profissional, queria continuar a exercer advocacia. enorme relativamente à União Europeia. Não se podem
Por isso, a seguir às eleições, quando ele me convida para excluir os erros, como também não se devem desvalorizar
ser secretário de Estado, para mim foi uma surpresa. Dá- os resultados. O balanço foi claramente positivo.
se a primeira coisa estranha na minha vida e na relação Mas nesses dois anos, Cavaco Silva tornou-se menos
com políticos de alto nível – recusei duas vezes o convite. obstinado?
Cavaco Silva insistiu e eu aceitei à terceira. Não, não diria isso. Acho que perdeu um pouco a
E Cavaco era um homem de aceitar um “não” como paciência para os desafios que o País enfrentava. O que
resposta e voltar a convidar? é humano: o poder cansa. As pessoas começam a não ter
Fiquei impressionadíssimo. Impressionou-me o seu cará- a mesma energia, a mesma paciência, a mesma lucidez,
ter de persuasão e acutilância. Dá-se a mudança brutal na a mesma vontade. Com a diferença de que na altura os
minha vida. Vivia no Norte, mudei-me para Lisboa. Fazia ciclos ainda eram longos. Agora, os ciclos são mais curtos,
advocacia, deixei de a fazer. Não tinha nascido sequer porque a política agora é mais stressante. Basta pensar nos
ainda o meu primeiro filho, e nos dez anos seguintes nas- fenómenos das redes sociais, algo inexistente à época.
ceram os três filhos. Só quatro pessoas estiveram desde o É precisamente nesses dois últimos anos de Cavaco
primeiro dia do chamado cavaquismo, eu sou uma delas.
Mudei de cargos, fui secretário de Estado da Comuni-
cação Social, fui secretário de Estado da Presidência do
Conselho, fui ministro-adjunto do primeiro-ministro,
e mantive-me do primeiro ao último dia. Cavaco Silva é
uma pessoa obstinada, quando quer uma coisa luta por ela
UM BOM PRIMEIRO-MINISTRO
até à exaustão. Nunca na vida imaginei que uma pessoa,
sobretudo na altura – hoje já nem tanto – muito fria,
muito distante, quase parecia pouco humana, tivesse este
tipo de atitude. Percebi depois, ao longo dos tempos, que É QUEM TEM SOBRETUDO TRÊS
ele é assim também na forma de governar.
Cavaco Silva continua com essa imagem “pouco
CARACTERÍSTICAS: SER CORAJOSO,
humana” ainda hoje. TER VISÃO ESTRATÉGICA E ÍMPETO
Não, acho que ele hoje é bastante diferente. Acho que
mudou muito, como toda a gente. Tenho uma grande REFORMADOR. CAVACO SILVA TEVE
admiração por Cavaco Silva. Era notável a dirigir um
conselho de ministros. Ao contrário do que se imagina,
TUDO ISSO. FOI O MELHOR PM DA
nunca o vi levantar a voz, ser deselegante. Tinha uma DEMOCRACIA PORTUGUESA
38 VISÃO 25 NOVEMBRO 2021
Silva como primeiro-ministro que se lhe cola aquela
imagem de “yes, minister”. Essa imagem foi justa?
Não, não foi justa. Mas o único culpado por essa imagem
fui eu. Não culpo nenhum analista, comentador, jornalista,
sou eu próprio, porque deixei que essa imagem fosse
colada e nunca tratei publicamente de explicar que a bota
não batia com a perdigota. Eu era, dentro do governo, das
pessoas mais irreverentes.
Mas era possível discordar de Cavaco Silva, o
homem que raramente se enganava e nunca tinha
dúvidas?
Sim. Uma pessoa que vai cedo para o governo tem
sangue na guelra. Como qualquer jovem com sangue na
guelra é irreverente, diz exatamente aquilo que pensa.
Concordando ou discordando. Fui assim, desde muito
novo. Lealdade é diferente de subserviência. Fui sempre
leal, mas nunca fui subserviente. Nem a Cavaco Silva, nem
a qualquer outro líder.
Cavaco Silva foi melhor primeiro-ministro (PM) do
que Presidente da República?
Não podemos comparar. Mas marcou mais Portugal
como primeiro-ministro, no meu ponto de vista. Cavaco
Silva foi o melhor primeiro-ministro da democracia
portuguesa. Para mim, um bom PM tem de ter sobretudo
três características: ser corajoso, ter visão estratégica e
ímpeto reformador. Ele teve tudo isso.
E teve a ajuda de fundos europeus...
Sim, claro, teve a ajuda de fundos.
É mais fácil governar com dinheiro do que sem
dinheiro.
Mas hoje temos mais fundos da Europa e não nos
valer tudo. Essa linha de correção E pagou por isso nas autárquicas.
Sim, acho que pagou. Foi um erro brutal dele. A mim só
e coerência é fundamental” me faz impressão como alguém tão intuitivo e hábil não
percebeu isso. Foi a tal arrogância do poder: “Ai dizem lá
fora que eu devo remodelar, então não remodelo.” Cavaco
O PSD deve manter linhas bem demarcadas e Silva também era um pouquinho assim.
claras em relação ao Chega e a André Ventura? Apresentou as memórias de Pinto Balsemão. Como
Pessoalmente, acho que sim. E Rangel fez isso na sua viu a parte em que fala do caráter traiçoeiro de
apresentação da candidatura e depois disso. Marcelo Rebelo de Sousa.
Mesmo que isso signifique não formar Aí não tenho opinião a manifestar.
governo? Porque uma coisa é dizê-lo agora, Mas reconhece-lhe esse traço de caráter?
outra coisa é dizê-lo mais à frente, se disso Não, mas se Balsemão diz que aconteceu, não tenho dados
depender formar governo. para me pronunciar sobre isso. Se me pergunta, na minha
Veja este exemplo passado comigo. Em 2005, era relação de mais de 20 anos, quase 30, com Marcelo Rebelo
eu líder do PSD e José Sócrates primeiro-ministro, de Sousa, se senti que ele alguma vez foi assim comigo?
fresquinho como uma alface, com uma maioria Não.
absoluta. Ao fim de seis meses, havia eleições Nunca se sentiu traído por ele?
autárquicas, em que o grande favorito era o PS. E Não, de maneira alguma. E não considero que o Marcelo
quais foram as primeiras decisões que tomei para Rebelo de Sousa não seja uma pessoa de caráter, é uma
as autárquicas? Corri com dois autarcas que eram pessoa de forte caráter. No plano político, tem um talento
presidentes de câmara fortíssimos no PSD. do outro mundo. E, no plano pessoal, tem algo que nunca
Um deles, Isaltino Morais. encontrei em nenhuma figura, sobretudo figura públi-
Isaltino Morais, em Oeiras, e o Valentim Loureiro, ca, um lado genuíno, de humanidade, de solidariedade
em Gondomar. Um em Lisboa e outro no Porto, e afeto. Por exemplo, os meus filhos sempre adoraram o
fortíssimos dentro e fora do partido. Depois, corri professor Marcelo. Ele chegava a minha casa e oferecia-
com mais dois ou três, figuras menos mediáticas. -lhes pranchas de surf e de bodyboard. Ele chegava lá a
Mas a razão era a mesma: sabia que iria ter grandes casa e brincava com eles, às vezes até mais do que os pais.
ataques dentro do PSD, mas sempre defendi que Aceitou apresentar as memórias de Balsemão,
a imagem de credibilidade, designadamente em apesar de estar, por assim dizer, “entalado” entre
questões de Justiça, estava acima de tudo. Não podia duas amizades.
dar o dito por não dito. Às vezes, na vida, é preciso Até acrescento mais. [Risos.] Sou amigo de três pessoas, e
perder uma eleição para afirmar uma linha política. tenho muito gosto nessas amizades, que entre si têm di-
Ou seja? ficuldades de relação – Marcelo, Balsemão e Cavaco Silva.
Acho que, com o Chega e André Ventura, as coisas O dr. Balsemão, se calhar de todos, é o que conheço há
se colocam exatamente nos mesmos termos. Tem de mais tempo. O senhor foi maltratado como primeiro-mi-
haver princípios, não pode valer tudo. Seria deitar nistro. Criticado por ter sido um primeiro-ministro fraco.
fora os valores e princípios só por causa de uma Acho que ele merecia uma reabilitação, ou merece. Porque
lógica eleitoral. Essa linha de correção e coerência é Balsemão fez uma coisa que, à época, em 1982, era dificí-
fundamental. lima: uma revisão constitucional para acabar com a tutela
militar e com o Conselho da Revolução. O que era muito
difícil, porque o Mário Soares, na altura, não tinha grandes
condições para a fazer, porque estava muito acossado
políticos, mesmo quando acho que não são muito internamente pelas pessoas do ex-secretariado. Balsemão
competentes. Porque é muito difícil ser-se ministro. fez essas pontes todas. O CDS tinha o peso que tinha. E
Primeiro, para pessoas que têm boas profissões, chegam havia os militares quase a ameaçar – não direi Ramalho
ali a perder dinheiro. Segundo, porque a exposição Eanes – mas os outros militares, com uma dissolução do
mediática é brutal. Algumas pessoas não estão preparadas Parlamento se houvesse a revisão constitucional. Balse-
para isso. Por isso, cada vez mais pessoas de qualidade mão teve esse talento brutal. Também tive o maior gosto
dizem que não. Isto é dramático para a vida política. E em apresentar a biografia de Jorge Sampaio, há uns anos,
o pior problema nem é a questão dos salários, é mais e um livro de Cavaco Silva, que foi o último da governação
o escrutínio e a mediatização. Temos de lutar para lá 1985-1995.
estarem os melhores e isto está a degradar a vida política. Quem vai apresentar as suas memórias quando for
Por exemplo, no caso dos últimos meses: tenho muita Presidente da República?
dificuldade em perceber como um primeiro-ministro Aí acompanho o professor Marcelo Rebelo de Sousa.
tão habilidoso, como António Costa, não percebeu que [Risos.] Mas, neste momento, não penso nisso sequer.
deveria ter feito uma remodelação profunda em junho Já disse que não era altura certa para pensar nisso.
passado. Nunca pensei muito em questões de memórias. Estou tão
Foi um erro António Costa não a ter feito. fresquinho.
A seguir à presidência da União Europeia deveria ter Mas porque ainda faltam capítulos importantes por
havido uma remodelação profunda. Meio governo escrever?
estava morto e a outra metade estava cansada. O que Não sei se faltam. Mas não penso nisso, estou neste
é compreensível: presidência da União Europeia, a momento tão preenchido com as coisas que tenho...
Covid-19... Sempre recusou liminarmente voltar ao governo,
JN – O JORNAL
DOS TERRITÓRIOS
SOMOS O ÚNICO DIÁRIO GENERALISTA FEITO A PARTIR DO PORTO,
RTO,
QUE TEM NO SEU ADN A DIVERSIDADE E MULTIPLICIDADE
DE PERSPETIVAS. ESTAMOS EM TODAS AS GEOGRAFIAS
HÁ 133 ANOS A CONSTRUIR UMA HISTÓRIA DE PROXIMIDADE..
A CAMINHO DE
SÍTIO NENHUM
Um terço da população de Cabo Delgado fugiu da violência
gerada pelos ataques que, muitas vezes, têm sido atribuídos
ao Daesh. Cerca de 769 mil moçambicanos deixaram para
trás o pouco que tinham para agarrarem o nada que os
mantém vivos. Durante duas semanas, a VISÃO percorreu
dois mil quilómetros na região à procura destes deslocados
de quem o mundo prefere esquecer-se
M A R G A R I D A VA Q U E I R O L O P E S J O S É C A R L O S C A R VA L H O , E M M O Ç A M B I Q U E
J
Joaquina é sol e é força, resiliência e esperança.
É isso que mostra a blusa amarela que ela veste
e que faz conjunto com o sorriso aberto e o
olhar determinado com que nos brinda. Aos 66
anos, não deixou que a matassem, nem os ata-
ques à aldeia de Chinda, onde vivia e cultivava
caju na sua machamba, nem as três semanas
de fuga pelo mato, com a família no encalço.
Saíram de lá sem nada, em junho do ano passa-
do, e com pouco sobrevivem em Montepuez, a
300 quilómetros de casa, onde os dias passam,
sempre iguais, num dos campos de reassen-
tamento criados para albergar as cerca de 15
mil famílias que chegaram nos últimos meses.
“Se me dissessem que podia voltar amanhã, eu
voltava”, diz, com a voz cheia de uma tristeza
que só se sente. “Aqui, a terra não é boa, não se
consegue cultivar nada”, lamenta. “Mas estamos
vivos!”, contrapõe Cristóvão que, aos 67 anos,
tem pouca esperança de regressar ao lugar que
lhe levou a esperança e o filho de 17. “Ele estava
a vender banana à beira da estrada. Chegaram
e mataram-no”, conta, com um olhar vazio.
Diz dos assassinos que eles “se vestiam como
soldados e se comportavam como soldados”,
e atira-nos um encolher de ombros para que
tiremos as nossas ilações. Cristóvão fugiu de
Mocímboa da Praia e não pensa em regressar.
“Não volto para um lugar onde posso morrer
sem saber quem me mata.”
Desde 2017 que a província de Cabo Del-
gado, no Norte de Moçambique, é alvo de Estudar para ajudar um desenvolvimento enorme e sustentável do
violentos ataques que tornaram desertas al- Zena quer ser país”. “Há três aspetos únicos na exploração de
deias inteiras, mataram mais de um milhar enfermeira quando gás em Moçambique, que são o facto de o país
de pessoas e deixaram incontáveis feridos crescer. Apesar da estar no meio do mapa e ser ideal para exportar
(ver caixa). Recorde-se que é nesta região que timidez, garante, com para a Ásia e para a Europa, ter uma grande
está a ser feito o maior investimento total em o olhar, que quer lutar concentração de reservas num raio geográfico
Moçambique, na construção da já chamada por um futuro melhor, pequeno e não estar alinhado com qualquer
“Cidade do Gás”. O diretor do departamento onde não precise de jurisdição política, podendo, por isso, vender
de petróleo e gás da Standard & Poor’s afir- fugir para todos os países”, salienta Paul Taylor.
mava, no ano passado, que “o investimento de Já na altura Taylor resumia publicamente
125 mil milhões de dólares [115 mil milhões de aquilo que, agora, as várias fontes ouvidas pela
euros], até meados desta década, pode levar a VISÃO, durante 12 dias e mais de dois mil qui-
2018
Foi o annus horribilis da zona, com os
ataques violentos a se alastrarem a
vários distritos da província. Dada a
gravidade da situação, a Assembleia da
República aprovou, a 2 de maio, a Lei
de Combate ao Terrorismo. Milhares
de pessoas abandonaram a região, e o
Presidente da República, Filipe Nyusi,
fala pela primeira vez da situação,
prometendo proteção aos cidadãos.
2019
O ano começa com ataques, as Dona Verónica Alimentar Mundial da ONU. “Lá não há escola,
mortes continuam a aumentar e, à Senhora de um e eu preciso de que os meus netos vão à escola.
onda de violência, junta-se o ciclone coração do tamanho Se forem à escola, têm futuro”, diz, enquanto
Kenneth, que em abril varreu a região. do sorriso com que acena para Calton, que acabou de voltar das
É a primeira vez que são reportados brinda todos os que aulas. Chega de uniforme e saco de pano, com
ataques a funcionários de empresas lhe falam, não há os cadernos, pendurado ao ombro. É um dos
estrangeiras, no caso a norte-americana quem lhe faça sombra. alunos apoiados pela Helpo, uma ONG por-
Anadarko Petroleum. O Daesh É o centro de uma tuguesa que se dedica a projetos de educação,
reivindica alguns dos atentados, família que tem pouco
o que lhe garantiu material escolar e manuais,
mas há dúvidas relativamente mais do que mãos
durante o ano letivo que está a terminar.
à veracidade da informação. vazias, mas muita
força para sobreviver
Atrás de si, o resto da família mira o ho-
rizonte, costas apoiadas na parede de terra e
2020 bambu de uma casa que não é mais do que
O ataque mais mediático aconteceu quatro paredes e três divisões cheias de nada.
no final de março, quando as vilas de Numa estão as capulanas que servem de cama
Mocímboa da Praia e Quissanga foram para os nove elementos da família; na outra,
invadidas, alegadamente pelo Daesh, meia dúzia de panelas espalhadas pelo chão. A
que içou a bandeira num quartel terceira está vazia – como os seus estômagos
de Forças de Defesa e Segurança. que há dois dias não veem outra comida que
Várias missões e ONG são alvos não seja a fruta caída das árvores. E mesmo
de ataques numa movimentação essa escasseia, pois o tempo agora é dema-
praticamente inédita.
siado quente para que algo sobreviva. “Tem
machamba, lá em sua casa, em Portugal?”,
2021 pergunta D. Verónica, ao fim de uns minutos
Entra em vigor uma missão militar de silêncio. Perante a resposta, volta a refle-
conjunta da África Austral, a que se tir antes de perguntar: “É jornalista, não é?
juntaram as forças militares do Ruanda, Então, tem machamba. O jornalismo é a sua
para dar músculo à ofensiva militar. Em machamba. Todos os que têm trabalho têm
outubro passado, foram localizadas e machamba, se é isso que dá o sustento.” D.
destruídas três bases de insurgentes, Verónica continuará sem machamba e sem
e resgatadas 13 pessoas. Dados sustento, e ela sabe disso.
oficiais das autoridades moçambicanas
revelam que, até agora, o conflito terá
ATÉ NA MORTE A VIDA VENCE
provocado mais de 3 100 mortes.
É como se fosse uma espécie de equilíbrio
Fonte: https://acleddata.com/resources
universal: por cada vida que se perde, outras
/methodology/ nascem. Lura saiu de Mocímboa da Praia sem
quaisquer pertences, mas com um bebé na A brincar, a brincar músico nos tempos livres. Recorreu a agiotas
barriga. “Estou arrependida de ter sido mãe As escolas são, neste para conseguir alugar casas para quem chegou
tão nova”, admite, com os olhos a transbor- país, lugares ainda e ainda não sabe bem como vai pagar tudo.
dar de tristeza, enquanto embala Iuran, quase mais fundamentais Mas o que importa, todos os dias, é que os
com um ano. Aqui é raro uma mãe admitir para o futuro das três filhos continuem a estudar, e é isso que
que não queria ser… mãe. Aos 17 anos, Lura crianças, como estas, também ele pretende fazer. Quer tirar o curso
devia estar na escola, e é isso que ela espera no Centro Infantil da de Direito, assim que lhe for possível, explica
conseguir fazer quando o bebé for maior. Um Ilha de Moçambique enquanto acena a Ezequiel que – do alto dos
sobrevivente. Lura começou por fugir com a seus 12 anos – passa por nós com uma mo-
família para Mueda, mas novos ataques obri- chila cor de rosa na mão e a irmã Jemima, de
garam-na a continuar o caminho. Agora estão 6, no encalço. Vai levá-la à escola, num passo
todos seguros, em Nampula, ao cuidado de apressado e decidido.
Joaquim Chimuémé, o primo que lhes abriu Chimuémé tem saudades de Chinda, de
a porta de casa – e a magra carteira – e que onde saiu quando era ainda criança – veio para
viu o seu agregado aumentar de cinco para Nampula procurar uma vida melhor –, e sonha
14 pessoas, de um dia para o outro. “Não ti- a ela voltar. Lá, garante, vivia melhor, porque
nha escolha, mas não tenho possibilidade de a família tem terras. E onde há terras, não há
sustentar toda a gente”, conta este polícia que fome. “São guerras desnecessárias, estas que
exibe orgulhosamente a sua biblioteca e que é estão a acontecer no país. Se Samora Machel
[primeiro Presidente de Moçambique, após a
independência] fosse vivo, as coisas não esta-
vam assim. O nepotismo, o regionalismo e o
tribalismo são um problema”, atira, enquanto
AQUI AS FARDAS DO EXÉRCITO NÃO SÃO nos oferece bananas em jeito de lanche para
o meio da manhã. Foi buscá-las ao mercado,
SINÓNIMO DE SEGURANÇA, E TÊM SIDO mais cedo, e certamente fazem-lhe falta. Mas
partilhá-las com quem chega é também Chi-
AS FORÇAS MILITARES DO RUANDA OU muémé a dizer que vai ficar tudo bem, que
ele é suficiente.
DO BOTSWANA A GARANTIR ALGUM ELEFANTES SILENCIOSOS
SOSSEGO NA REGIÃO. MAS O INTERESSE A população moçambicana fala pouco dos
DINAMARCA
NAMARCA
NAM
MARCA LITUÂNIA
Sassnitz RÚSSIA
Em janeiro de 2007, Angela Merkel, a Greifswald
Lubmin BIELORRÚSSIA
LO
chanceler da Alemanha, foi convidada
a visitar a residência oficial de verão ALEMANHA POLÓNIA
do Presidente da Rússia, em Sochi.
NS 1 – Inaugurado em 2011 Limites das Zonas Económicas Exclusivas
A energia e os fornecimentos de gás NS 2 – Pronto, aguarda certificação Fronteiras nacionais 200 km
russo à União Europeia (UE) eram o
principal tema da agenda de trabalho, 43% do gás e 30% do petróleo Países que mais importam gás russo (%, em 2020)
mas a reunião acabou por ficar mar- importados pela UE têm origem na Rússia +50% – Alemanha e Polónia
+75% – Finlândia, Estónia, Letónia, Lituânia, R. Checa,
cada por algo bem diferente. Konni, a FONTE Le Monde Eslováquia, Áustria, Hungria, Roménia e Bulgária AR/VISÃO
cadela labrador negra que era então o
animal de estimação de Vladimir Putin,
entrou na sala e a linguagem corporal lizado as relações entre o Kremlin e O politólogo francês Dominique Moï-
da dirigente germânica confirmou o o Ocidente, à medida que se soma- si, na sua coluna no jornal Les Echos,
que o senhor do Kremlin já sabia: ci- vam sanções da UE e dos EUA contra recordou que a fórmula preferida de
nofobia, um medo patológico de cães. personalidades e empresas russas. Putin é muito simples: “Assusto-vos,
Os fotógrafos registaram o momento No passado mês de abril, soaram logo existo.” E acrescentava: “A ima-
e o sorriso trocista do anfitrião. Se- novamente os alarmes, em Washin- gem da Rússia no mundo constitui
gundos depois, Merkel conseguiria gton D.C. e nas capitais europeias, uma das chaves incontornáveis da
reagir e em russo: “Afinal, ela não come por causa de uma iminente invasão sua legitimidade. (...) Para consolidar
jornalistas!” russa da Ucrânia. Perto de 100 mil o seu estatuto e poder, Putin joga com
No regresso a Berlim e off the re- soldados estariam apenas à espera o irredentismo russo face à Ucrânia
cord, deu a sua explicação sobre o que da palavra final de Vladimir Putin. – tal como em relação à Bielorrússia
ocorrera: “Eu compreendo o motivo A ordem de marcha nunca chegou; em e aos Estados bálticos.” Não se enga-
que o leva a fazer isto – tem de provar contrapartida, o homem que manda no nou. A 12 de julho, o governante que
a sua virilidade… Tem medo das suas Kremlin desde 1999 (ver caixa sobre descreveu o fim da União Soviética
próprias fraquezas.” A cadela faleceu popularidade) ganhou o direito de ser como “a maior catástrofe geopolítica
em fevereiro de 2014 e, no final desse levado a sério. A nova administração do século XX” deu-se ao trabalho de
mesmo mês, Vladimir Putin recorreu norte-americana aceitou uma cimeira escrever um longo artigo – 35 mil ca-
a “pequenos homens verdes” para Biden-Putin, que viria a realizar-se racteres – sobre “A unidade histórica
formalizar a “anexação da Crimeia” e em Genebra, Suíça, a 16 de junho. de russos e ucranianos”. Divulgado no
o início da guerra no Donbass. Tropas site oficial da presidência, onde per-
especiais russas [dissimuladas e com manece, o texto define igualmente os
uniformes verdes sem quaisquer in- bielorrussos como fazendo parte “do
sígnias] assumiram o controlo da pe- mesmo povo” e, na parte final, tem
nínsula que sempre serviu de base à NO MESMO DIA EM uma clara advertência: “Juntos sempre
frota do Mar Negro e desencadearam
as manobras para a secessão da região QUE TRAÇOU “LINHAS fomos e seremos muitas vezes mais
fortes e mais bem-sucedidos. (...) Estas
oriental da Ucrânia, as repúblicas po-
pulares de Donetsk e Luhansk, onde o
VERMELHAS” palavras podem ser interpretadas de
muitas maneiras. No entanto, muitas
conflito – demasiadas vezes descrito
como “congelado” e de “baixa inten-
À NATO, A RÚSSIA pessoas vão ouvir-me.”
Foram necessárias 14 semanas e
sidade” – entre as forças pró-russas e
os efetivos leais ao governo de Kiev já
DISPAROU UM MÍSSIL vários incidentes para se fazer escu-
tar como pretendia: “Em setembro,
fez mais de 13 mil mortos.
Nos últimos sete anos e meio, o
HIPERSÓNICO o grupo Wagner [ver caixa sobre os
mercenários do Kremlin] aterrou no
“problema ucraniano” tem monopo- NO ÁRTICO Mali e irritou a França. Em outubro,
AGO JAN JAN JAN JAN JAN JAN JAN JAN JAN JAN JAN JAN JAN JAN JAN JAN JAN JAN JAN JAN JAN JAN OUT
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2021
ALÉM DA UCRÂNIA
Os mercenários do Kremlin E DA BIELORRÚSSIA,
Locais onde atuam os soldados da fortuna que integram a empresa de segurança
privada conhecida como Wagner Group. Quase todos os seus efetivos têm ligações
PUTIN SERÁ DECISIVO
às tropas especiais (Spetsnaz) e aos serviços secretos militares (GRU). O seu
principal financiador é o empresário Yevgeny Prigozhin, também conhecido como
NA RESOLUÇÃO DA
o “chefe de Putin”, devido à proximidade com o Presidente e aos negócios de ATUAL CRISE NA
BÓSNIA, A PIOR
catering (entre outros) com o Kremlin
SE DORME A SESTA...
idas ao escritório apenas duas ou três serviço de lavandaria, ginásio e várias
vezes por semana estimularam a redu- lojas”, diz o responsável. Neste espaço,
A PERIFERIA
atividade”, realça o responsável, dando melhores práticas em Portugal e lá fora.
como exemplo as empresas tecnológicas Estivemos em Silicon Valley e visitámos
como as mais proativas na alteração dos ‘os grandes’, entre os quais a Google, a
espaços, em contraponto com as mais A Heden vai abrir mais um Facebook, Airbnb ou Pinterest. Já antes
conservadoras e onde se incluem os centro de coworking, o quinto da pandemia estávamos a pensar em
setores da banca ou dos seguros. em três anos, na estação do adotar o modelo híbrido”, conta Rute
A mesma experiência é partilhada Rossio, em Lisboa. O teletraba- Ablum, chief management office da
pela Openbook, atelier de arquitetura lho criou uma oportunidade de PHC Software, empresa nacional com
que se tem desdobrado em projetos de negócio até nas periferias, diz mais de 30 anos de existência.
edifícios de escritórios. Entre os mais Manuel Bastos, cofundador da Inaugurado em abril, o espaço ainda
emblemáticos que ostentam a sua assi- Heden, acrescentando que “há cheira a novo. Com cerca de 300 tra-
muita gente que não consegue
natura incluem-se, por exemplo, as ins- balhadores, a empresa tem atualmente
trabalhar em casa, mas tam-
talações da Microsoft, KPMG Portugal, cerca de metade das pessoas presencial-
bém não está disposta a ficar
Vieira de Almeida ou Abreu Advogados. presa durante horas no trânsito
mente no local e de forma rotativa. O
“Há cada vez mais empresas preocu- em deslocações diárias para o sistema de teletrabalho implementado
padas em criar ambientes de trabalho escritório”. permite que os trabalhadores fiquem
colaborativos, mais flexíveis, confortá- em casa três dias por semana e, nos
veis, convidativos e que respeitem es- outros dois, quando se deslocam à sede,
crupulosamente questões mais técnicas têm acesso a uma panóplia de serviços
como a refrigeração do ar e o distancia- e equipamentos ainda pouco habituais
mento entre as pessoas”, aponta Paulo arquitetura pelos projetos que tem em locais de trabalho em Portugal.
Jervell, arquiteto e sócio da Openbook. desenhado. O mais recente foi-lhe Um ginásio, uma sala de jogos para
Parte do espaço que foi libertado pela atribuído pelo Architecture MasterPrize os momentos de descontração, uma
redução de pessoal, agora em regime pelo projeto da sede da PHC Software. área de convívio onde não falta um
de teletrabalho, está precisamente a ser Construído de raiz num terreno pequeno palco e instrumentos mu-
reconvertida nestas áreas colaborativas. arejado no Tagus Park, em Porto Salvo sicais para quem se atreve a uma jam
(Oeiras), o edifício de escritórios ficou session, um espaço dedicado às mães
FELICIDADE NO TRABALHO concluído este ano, após um investi- que levam os seus bebés e precisam
A Openbook há muito que soma pré- mento de 12 milhões de euros e uma de amamentar em sossego, uma nap
mios nacionais e internacionais de pesquisa aprofundada para conceber o room para os apologistas das sestas
Até
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I M O B I L I Á R I O / E N T R E V I S TA
Patrícia Barão
“Após o confinamento,
os estrangeiros voltaram em força”
O fenómeno de um bairro como Alvalade, o crescimento de Oeiras, as novidades
de Marvila... A responsável da JLL Portugal traça um retrato do setor residencial na
Grande Lisboa, onde o interesse dos clientes internacionais continua a ditar os preços
U
MARISA ANTUNES
ma intensa onda de reabi- nível muito alto de poupança e sabem decisão tomada de comprar casa.
litação imobiliária envolveu que o imobiliário é o local certo para Temos muitos clientes que, antes da
as cidades de Lisboa e do colocarem o seu dinheiro, uma vez pandemia, já andavam a pensar em
Porto, na última década, que as rentabilidades são superiores adquirir o imóvel e aceleraram a sua
uma dinâmica que nem a às que a banca oferece. Eu diria que é compra. Tem um peso grande saber
pandemia travou. Ainda praticamente a única alternativa que que é possível trabalhar em qualquer
assim, e segundo o mais os portugueses têm para aplicar o seu parte do mundo – basta haver uma
recente estudo da multi- dinheiro com baixo risco. boa ligação à internet. Por isso, o
nacional de imobiliário JLL A JLL sempre teve um mindset destes clientes é: “Porque
Portugal – Living Destina- significativo número de clientes não trabalhar a partir de Lisboa ou do
tion –, “a oferta habitacional estagnou, estrangeiros. Eles desapareceram Algarve e continuar na minha empresa
apresentando um aumento residual de com a pandemia? em Londres, nos Estados Unidos da
apenas 1%, de 5,88 para 5,96 milhões Passámos de 60% de clientes inter- América, no Brasil ou em França?”
de casas entre 2011 e 2021”. Do lado da nacionais e de 40% nacionais para o O perfil manteve-se ou há
procura, porém, atingiam-se valores inverso – 60% nacionais e 40% inter- novidades?
máximos e com um perfil de clien- nacionais. Eles estiveram arredados, Mantivemos os brasileiros, os fran-
tes mais diversificado do que nunca. mas, assim que o mercado começou a ceses, os ingleses e há cada vez mais
“Se em 2012, a presença da procura abrir, após o confinamento, sentimos norte-americanos. Temos meses em
estrangeira não chegava aos 5% dos logo que os estrangeiros voltaram que estes últimos estão em terceiro
fogos vendidos, em 2020 a JLL estima em força para Portugal e estão mais lugar entre os melhores clientes, de-
que esta quota tenha duplicado e es- ativos do que nunca. Já vêm com a pois dos portugueses e dos brasileiros.
teja próxima dos 11%”, refere o estudo. Isto nunca tinha acontecido.
Tamanho desequilíbrio entre a oferta E ainda se concentram muito
e procura fez crescer em 25%, nos úl- na Comporta ou estão mais
timos 10 anos, o valor médio dos imó- dispersos?
veis transacionados. Até à pandemia. Lisboa, Cascais, Comporta e Porto!
E agora? Patrícia Barão, responsável A quantidade de apartamentos que
pelo Departamento Residencial da JLL temos vendido aos norte-americanos
Portugal, antecipa o que vai acontecer
no mercado residencial de Lisboa, o
OS ÚLTIMOS NÚMEROS no Porto é incrível. E Cascais foi uma
autêntica revelação em 2021. Aliás,
mais pressionado do País.
O Departamento Residencial
DIVULGADOS APONTAM neste momento, temos um problema
grave de falta de produto em Cascais
da JLL vai ter o melhor ano de PARA UM AUMENTO e Estoril, porque a procura está mui-
DOS 8%
Justifica-se com a força do mer- força dos estrangeiros vai manter
cado doméstico e com o facto de o a pressão no preço das casas nas
imobiliário ser um refúgio para as zonas de maior procura?
poupanças. Durante a pandemia, os Efetivamente, a pandemia não alterou
portugueses conseguiram atingir um os preços do imobiliário. Existem al-
4,1%
NÚMERO ESCRITÓRIOS
HOTELARIA
MARCOS BORGA
Quem quer
comprar um
hotel? RESIDÊNCIAS
O imobiliário não
é a última praia
D
P O R M A S S I M O F O R T E / R E A L E S TAT E I N F L U E N C E R
epois de uma última década vigorosa, em que terá de desenvolver o seu próprio negócio com base no
o dinamismo e a evolução estiveram de mãos serviço que presta, em resultados alinhados com o seu ní-
dadas para ultrapassar com ótimo desempenho vel de entrega, formação, compromisso e profissionalismo.
e resiliência períodos de crise, mudanças cada Ser um profissional de mediação é decidir que acei-
vez mais rápidas e o mais recente desafio de ta o desafio de mudar o seu mindset de empregado para
uma pandemia, o imobiliário ainda vive com empreendedor e que aceita investir em si e no seu serviço,
o estigma de ser a “última praia” para pessoas para depois ser remunerado pelos resultados das suas
que procuram uma atividade para fugir a situa- transações.
ções de desemprego prolongado, despedimen- A comissão cobrada ao cliente de uma empresa de me-
to ou até falência, muitas vezes com a promessa diação em Portugal não é a comissão recebida pelo agente.
de dinheiro fácil e rápido. A comissão média de uma empresa de mediação em
O imobiliário é um setor amplo que alberga uma série Portugal vai dos 3 aos 5% + IVA, e sobre o valor gerado
de atividades, desde a promoção, construção, consultoria, desta comissão é paga uma comissão ao agente imo-
avaliação, engenharia, arquitetura, gestão de ativos, entre biliário, que pode ir dos 15% até um máximo de 100%.
outros, em que se inclui a mediação imobiliária, uma Normalmente, acima dos 50% de comissão, o agente
atividade extremamente importante que tem como obje- imobiliário tem de pagar pelos serviços que a mediadora
tivo saber ligar e mediar interesses de pessoas para gerar lhe proporciona: estrutura de apoio, loja, staff, marketing,
resultados, mas que, tendencial e consecutivamente, é a formação, acompanhamento, entre outros. Como um
mais estigmatizada e desvalorizada nes- verdadeiro empresário, o agente imobi-
ta cadeia de valor. liário terá de avaliar qual a melhor pro-
A mediação imobiliária tem, e a meu O imobiliário ainda posta de valor para o seu projeto tendo
ver continuará a ter, um papel funda-
mental no setor.
vive com o estigma em conta os seus objetivos e, claro, os
seus resultados.
Mediadores e agentes imobiliários de ser a “última Quando alguém se integra nesta ati-
são figuras cruciais no fecho da maioria praia” para pessoas vidade e não desenvolve um verdadeiro
das transações imobiliárias, que, muitas plano de negócios, muitas vezes tem a
vezes, parecem fáceis, porque à primeira que procuram sensação de que “paga para trabalhar”,
vista afiguram-se apenas um negócio fugir a situações outra expressão ouvida com frequência
de colocação de placa de venda, mas
que na realidade são complexas. Estes
de desemprego por falta de noção de que a relação que
existe entre agente e agência é de cola-
profissionais são as pessoas que melhor prolongado, boração e não de assalariado.
sabem transmitir confiança e respon- despedimento ou Há pessoas que conseguem desenvol-
der a necessidades, dúvidas e anseios ver-se e outras que têm muitas dificul-
de vendedores e compradores durante até falência dades, principalmente na operacionali-
um processo de decisão de alto envolvi- zação e gestão da sua atividade. Todas as
mento financeiro ou emocional que é a pessoas poderão ser empresárias, mas
venda, aquisição ou arrendamento de um imóvel. nem todas vão conseguir manter-se como empresárias; as
Porque nasce então a expressão “última praia” associa- que conseguem beneficiarão, com certeza, de excelentes
da aos profissionais da mediação imobiliária? resultados que se traduzem em rendimentos e, princi-
Tem que ver com os modelos de negócio desta ativi- palmente, de uma liberdade em relação à gestão do seu
dade, que se foram focando mais em empreendedoris- dinheiro e do seu tempo.
mo e menos em remuneração fixa. Consequentemente, Em Portugal, não há condicionantes, nem avaliação
relaciona-se com a posterior motivação que levou muitas obrigatória de perfil e capacidades para se exercer a ativi-
pessoas a procurar esta atividade com uma perspeti- dade, ou seja, não há, como houve no passado, qualquer
va retorcida de “muito dinheiro” e “dinheiro fácil”, sem tipo de licenciamento ou carteira profissional, sendo ape-
grandes barreiras à entrada. Naturalmente, surgiu a nas exigida uma licença AMI à agência de mediação.
constatação de que não era um negócio fácil e, com isso, O profissional que consiga ser bem-sucedido como
a desilusão perante a falta de resultados. agente imobiliário facilmente entenderá que, definiti-
Mas para haver resultados, tem de haver motivação, vamente, o imobiliário não é nem tenderá a ser a última
formação, prática e sistematização. Quem quer realmente praia, mas sim uma praia para quem sabe nadar.
passar de curioso a profissional tem de estar ciente de que visaoimobiliario@visao.pt
“Existe apenas
um único
problema
filosófico
realmente sério:
o suicídio. Julgar
se a vida vale ou
não a pena ser
vivida significa
responder SEGURANÇA
à questão
fundamental
da filosofia”
Albert Camus
Escritor franco-argelino
(1913-1960)
Taxa de suicídios
das polícias é mais do
dobro da população geral
Nos últimos 20 anos, 160 polícias portugueses
(da PSP e da GNR) tiraram a própria vida, colocando
a taxa de suicídios nas forças de segurança em
níveis que, conforme os anos, duplicam ou triplicam
os da média nacional. Na passada terça-feira, 23,
repetiu-se um desfecho trágico.
Haverá solução para travar este fenómeno?
JOÃO AMARAL SANTOS
78 VISÃO 25 NOVEMBRO 2021
C
arlos Santos, 54 anos, Élio
Quinteiro, 37, e Luís Nobre, 42,
Vítor Cruz, 55, talvez pudes-
sem, num passado não muito
distante, ter figurado como
heróis de outras histórias. Em
comum, estes três homens es-
colheram dedicar os melhores
anos da juventude às carreiras
na PSP e na GNR – com o mais
puro espírito de missão –, mas,
cada um no seu momento, de-
cidiram também renunciar a tantos outros
anos que ainda lhes restavam viver. Carlos,
Élio e Luís e Vítor não vão poder ler as pági-
nas que se seguem, pois, em apenas três me-
ses, tornaram-se protagonistas da lúgubre
e dolorosa estatística que comprova a regra
dos sucessivos casos de suicídio no seio das
forças de segurança em Portugal – fenó-
meno para o qual tutela e polícias parecem
não conseguir encontrar diagnóstico e cura.
A realidade choca nos números. Nas últi-
mas duas décadas, 160 polícias portugueses
– 80 na PSP e 80 na GNR – terminaram com
a própria vida. Desde 2000 que a média se
situa em sete mortes por ano. Comparativa-
mente, a taxa de incidência de suicídios nas
forças de segurança varia entre o dobro e o
triplo face à população geral. As estatísticas
indicam ainda que a situação em Portugal
tem sido, neste período, pior do que em
países com elevados índices de criminalidade
violenta, como Estados Unidos da América
ou Brasil.
Sem solução à vista, o tema converteu-se
em tabu. Somente em 2016 é que o Ministério
da Administração Interna (MAI), liderado por
Constança Urbano de Sousa, avançou com
a execução de um estudo sobre o assunto.
As conclusões, porém, acabariam por abrir
novas feridas. Aos polícias foram imputa-
dos pecados humanos – como problemas
financeiros, sentimentais, familiares ou de
consumo excessivo de álcool –, mas sobre
uma relação direta entre suicídios e atividade
profissional... nem uma linha se escreveu,
gerando incómodo no seio dos sindicatos
e dos polícias.
Os suicídios continuaram a acumular-se.
Precisamente por isso, um agente da polícia
decidiu agarrar no tema. Miguel Oliveira
Rodrigues, 43 anos, chefe no Comando
Metropolitano de Lisboa da PSP, docente e
investigador do Instituto de Serviço Social da
Universidade Lusófona e autor do livro Os
Polícias Não Choram, contou com o apoio
do Sindicato Independente dos Agentes da
Polícia (SIAP/PSP) – onde exerce o cargo de
Diretor Social – e mergulhou fundo (e sem
rede) no fenómeno.
Como ponto de partida, Miguel Oliveira
Rodrigues questiona as conclusões apre-
PSP GNR
quisa, este polícia e académico não tem
dúvidas. “Os diferentes fatores e perspe- 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
tivas observados levam-nos a depreender
que os polícias se podem encontrar em
maior risco porque a sua realidade laboral
PERFIL mais de 50 20 a 24
e institucional os pode tornar mais vul- 12% 4% 25 a 29
neráveis, colocando-os diante de maior 16%
risco de desenvolvimento de problemas 45 a 49
psicossociais, nomeadamente os referi- SEXO IDADE MÉTODO
dos pela tutela (problemas financeiros, Masculino 18% 30 a 34 Arma de fogo
sentimentais, familiares e consumo de
álcool), os quais se podem constituir
90% 22% 90%
como fios condutores para depressões e
40 a 44
outras perturbações mentais, por norma,
as doenças mais associadas ao suicídio”, Feminino
13% 35 a 39 Outros
explica. A somar, surge ainda o facto de
os profissionais da PSP e da GNR terem
10% 14% 10%
FONTE Os Polícias Não Choram, estudo financiado e produzido pelo SIAP/PSP, de Miguel Oliveira Rodrigues (PSP, docente e investigador universitário)
acesso, à simples distância de um gesto,
a um instrumento letal – é pela arma de
fogo de serviço que 90% dos suicídios A situação despertaria preocupações prindo as regras internas, a arma de
são consumados. crescentes dentro da própria esquadra, fogo de serviço teve de lhe ser retirada.
até que, no passado mês de maio, as O que poderia ser uma solução tornar-
ALERTA(S) SEM SOLUÇÃO chefias viram-se obrigadas a impor-lhe -se-ia, afinal, o agravamento definitivo
Carlos Santos nasceu em 1959, em Cha- baixa médica. “É pelo melhor”, assegura- dos problemas, uma vez que, sem esse
ves. Na juventude, ingressou na PSP e, ram-lhe, mas, a partir daqui, a situação instrumento, o polícia deixava de estar
anos mais tarde, criou raízes em Torres descambou. Carlos Santos passou a ser habilitado a prestar os denominados gra-
Vedras, onde se casou, se divorciou e acompanhado por psicólogos e, cum- tificados, que sempre lhe garantiam um
voltou a constituir família. Como agente dinheiro extra. Desesperado, começou a
principal, passou a integrar o programa verbalizar insistentemente um desejo pela
Escola Segura. Pai de quatro filhos (dois Suicídios – PSP/GNR morte. “[O Carlos Santos] tinha perdido
menores, gémeos de apenas 3 anos), a
vida foi-se-lhe tornando pesada: Carlos
face à população em geral a alegria na vida e no trabalho”, revela, à
VISÃO, um familiar próximo.
Santos acumulara dívidas e a recente
separação agravaria definitivamente o
Média/ano 16 9,7 Carlos Santos regressaria ao ativo, mas
por pouco tempo. Na sequência de uma
quadro negro. Por 100 mil pessoas queda, voltaria a parar. A 15 de agosto,
Cansado, desmotivado e pressionado,
32,8
34,8 perto do meio-dia, o PSP seria encon-
o agente entrou em depressão profun- 30 trado sem vida no interior da sua resi-
da. Recolocado atrás de uma secretária, dência. Tinha 54 anos. No local, deixou
25
onde, mecanicamente, dedicava agora os três cartas, uma delas dirigida às chefias,
seus dias a carimbar e a arquivar multas 20
19,2 17,6 em que deixava um último desejo: não
de trânsito, não tardou a confessar, aos queria ninguém fardado no seu funeral.
mais próximos, sentir-se no “fundo do 15 “Compreendi perfeitamente a mensagem.
poço”. À VISÃO, um dos colegas mais Tenho a certeza de que as condições que a
10
antigos e chegados recorda esses mo- polícia lhe ofereceu, ao longo da carreira,
mentos. “O Carlos já não era a mesma 5 9,6 10,9 9,5 contribuíram para a situação psicológica
pessoa que tinha conhecido há 20 anos. e financeira que enfrentou na reta final
Estava muito afetado psicologicamente, 0 5 da sua vida. A profissão foi decisiva para
e isso refletia-se e notava-se diariamente este desfecho”, insiste o mesmo familiar.
no trabalho. Parecia totalmente alheado 2000 2007 2014 2021* Enquanto recolhíamos informação
FONTE Os Polícias Não Choram, estudo financiado e produzido pelo SIAP/PSP,
de tudo”, conta. de Miguel Oliveira Rodrigues (PSP, docente e investigador universitário) VISÃO para o artigo, mais três polícias partiram:
C
2000 a 2021*
J
M A FA L D A A N J O S
udite de Sousa tem mais na um jornal de autor duas semanas a nós próprios. Com confiança,
de 40 anos de jornalismo, por mês, em alternância com Júlio responsabilidade e espírito de equipa.
sempre à frente das câma- Magalhães. O que trazem de novo os norte-
ras, como pivot ou repór- O seu rosto abriu a emissão da americanos da CNN ao jornalismo
ter enviada especial nos CNN em Portugal. Acusa o peso da que se faz em Portugal? Tem
grandes acontecimentos responsabilidade? Ao fim de quatro aprendido com eles, neste formato
nacionais e internacionais. décadas de televisão, ainda sente de franchising? Qual o nível de
Começou na RTP, onde borboletas na barriga? intervenção que têm?
apresentou o Telejornal O jornalismo e a minha vida Os norte-americanos trazem-nos a
durante duas décadas, e cruzaram-se permanentemente. São sua marca, a sua matriz profissional.
transitou para a TVI, em 2011, como já 40 anos de experiências nacionais As suas normas e práticas editoriais.
diretora de informação. Saiu em e internacionais. Por isso, abrir as Devemos ter humildade para aprender
2019, durante o processo de negocia- emissões da CNN Portugal é, para com eles.
ção da venda do grupo, para regres- mim, não só um assunto profissional, Vai assinar um noticiário de
sar agora como aposta principal do mas uma questão de vida. Digamos autor. O que é isso? E o que tem de
canal liderado por Nuno Santos, no que é um recomeço. E recomeçar diferente face aos noticiários da
horário nobre das 21h, onde assi- é darmos uma nova oportunidade noite tradicionais?
550
que assume simultaneamente a outro alcance e uma outra dimensão.
coordenação editorial. É um modelo Os portugueses sabem do que falo.
muito experimentado nos países Isso é que é importante.
de influência anglo-saxónica. Na METROS QUADRADOS O mundo da televisão, com
Europa, verificamos que os pivots tamanho do estúdio principal, tamanha exposição, exacerba os
têm responsabilidades editoriais com sete sets diferentes egos. Os jovens que chegam às
24
nos jornais que apresentam. É redações querem todos ser pivots.
uma forma de envolvimento e de Isso dificulta os processos de
responsabilização. trabalho?
Consegue-se chegar às elites a HORAS A transição das universidades
falar também para dez milhões de informação com emissão ao longo para as redações exige um grande
portugueses, ou é preciso optar? de todas as horas do dia acompanhamento nos processos
O jornal da CNN tem a duração de integração dos mais novos. Há
de 50 minutos em que convergem
as principais histórias do dia,
reportagens diferenciadoras de
50
N O VA S C O N T R ATA Ç Õ E S
que comunicar o gosto pelo género
mais nobre do jornalismo que é a
reportagem. O ecrã é uma dimensão
curta duração, análise pontual dos para o canal do jornalismo. O mundo da televisão
acontecimentos e protagonistas, não é tão glamoroso quanto se
debates e entrevistas com uma
duração dependente das expectativas
de informação do público em relação
80
T RA BA L H A D O R ES
imagina.
Tem 60 anos. Sente que a
sociedade é demasiado exigente
aos factos e “atores” da vida pública. com as mulheres que, pelas suas
que transitam para a CNN Portugal
Mas notícias estão em todo o lado profissões, envelhecem à frente das
ABC1
gratuitamente, somos invadidos câmaras ou num palco? É também
por conteúdos noticiosos 24 horas um processo de autoaceitação?
por dia. Neste panorama mediático, A idade tornou-se um termo de
qual é o espaço para os canais de TA R G E T S C O M E R C I A I S referência. Há pessoas com 40
informação de cabo? serão a aposta do canal, anos que estão envelhecidas e há
Quem quer estar bem informado com idades que vão dos 25 anos outras com mais idade que estão em
tem nos canais de notícias acessos para cima dos 60 boa forma. No caso do jornalismo
425
privilegiados. Tão ou mais importante televisivo e da CNN em concreto,
do que a divulgação noticiosa de os apresentadores em prime-time e
um acontecimento, sob mediação os correspondentes internacionais
jornalística, é a forma como M I L H Õ ES têm quase todos mais de 60 anos.
interpretamos a realidade. Nesta número de lares onde a CNN, Em Portugal, a média de idades dos
era da globalização digital, os média a casa-mãe, está presente apresentadores das 20 horas está nos
tradicionais, como a televisão, são 56 anos. Não há grandes diferenças.
importantes para conhecermos e A questão, hoje em dia, não é a idade
compreendermos o que se passa à que se tem, mas a forma como a
nossa volta. A narrativa audiovisual pessoa está, física e cognitivamente.
pode ser uma fonte de mais e melhor Como lida com a exposição e
conhecimento. as críticas, por vezes ferozes e
Voltou à empresa de onde, impiedosas, das redes sociais em
depois de um processo atribulado,
saiu há exatamente dois anos. “A PALAVRA relação às figuras com exposição
pública? Conseguiu já criar uma
Sente este retorno como um
regresso a casa ou a outro sítio ‘DOLOROSO’ NÃO FAZ carapaça resistente a tudo isso?
As redes sociais configuram uma
diferente? Nessa altura,
saíram notícias de que a Cofina,
SENTIDO NA MINHA parte do nosso mundo. Não há como
evitá-lo. Encaro o fenómeno com
então na corrida à compra da VIDA PROFISSIONAL. distanciamento. Um post não ocupa
Sobe, sobe,
papel, sobe
Matérias-primas, custos
de energia e de transporte
levam o papel a subidas
superiores a 50%. Para
jornais e revistas, aumentar
os preços de capa
ou reduzir páginas pode
ser inevitável
PA U L O Z A C A R I A S G O M E S
É
um mar conturbado com vários de papel de jornal e a procura se ajustava Pelas estimativas de João Palmeiro, o
navios em apuros. Os desconfi- à produção, os preços voltaram a subir. custo do papel de jornal sofre aumentos
namentos dispararam a procura Até que veio a pandemia, que reduziu a de 40% a 50%, a que se juntam 15% a
de matéria-prima, e a produção, procura e as tiragens e afundou o valor 20% para transporte e armazenamento,
adormecida na pandemia, tem do papel para mínimos. podendo levar o preço por tonelada aos
dificuldade em responder. O Se isto permitiu aos jornais aguentar o €750 em 2022. Nas revistas, as subidas
aumento dos custos com energia, embate da crise, o reatar da procura com “serão menos selvagens, porque não hou-
combustíveis e transportes pio- os desconfinamentos voltou a pressionar ve o mesmo problema de stock versus a
raram ainda mais a fatura. Agora os stocks. Dados da Euro-Graph, asso- falta de papel”.
também o papel, em particular ciação dos produtores europeus de papel O setor já começou a acomodar as
para jornais e revistas, começa a sofrer para uso gráfico, mostram as encomendas altas, mas elas podem ser, nas palavras
os efeitos dos preços mais altos. Todos na Europa a cair até maio e a inverter a de Palmeiro, uma “machadada final”. Os
reconhecem os aumentos e a dificuldade tendência no mês seguinte. A partir daí, efeitos podem ir do aumento dos pre-
em lidar com eles, mas ninguém arrisca não parou. Agosto teve um disparo de 11% ços de venda ao público à alteração da
um desfecho. na procura, sobretudo nos jornais. Nos periodicidade ou à redução de páginas.
O presidente da Associação Portuguesa últimos três meses, os preços de papel Mas o risco de fecho de títulos não está
de Imprensa tem os números na ponta para revista dispararam de forma inédi- afastado, sobretudo nos mais pequenos
da língua. Por ano, Portugal consome ta, concluía recentemente a Fastmarkets, e com menor capacidade de reação.
80 mil toneladas de papel para jornal e especialista em commodities. Uma situação que “arrastará postos
pouco mais de 110 mil para revista. “Mas de trabalho”. “Este momento devia ser
nem um grama é produzido no País. Os fundamental para que as pessoas sentis-
eucaliptos plantados cá não servem para sem confiança, para terem informação
papel de jornal e uma máquina pequena verdadeira”, lamenta.
produz 300 mil toneladas por ano. Não há
forma de sermos interessantes para quem ENTRE SETEMBRO E INDÚSTRIA EVITA FALAR EM PREÇOS, MAS
OS AJUSTAMENTOS SÃO “NATURAIS”
NOVEMBRO, OS PREÇOS
tem este negócio”, lamenta João Palmeiro.
Há cerca de cinco anos, recorda, o Algumas consequências chegam em breve
preço do papel começou a descer subi-
tamente. Os produtores anteciparam a DO PAPEL PARA REVISTA a outras prateleiras. A partir de 1 de de-
zembro, a Navigator vai subir 8% a 10%
procura de cartão, acumularam inven-
tários para a Imprensa e transferiram
DISPARARAM DE FORMA os preços do papel tissue (usado em guar-
danapos ou papel higiénico) no mercado
capacidade de produção para o cartão de
embalagem, requisitado pelo comércio
INÉDITA NA EUROPA, ibérico. Além da eletricidade quatro vezes
mais cara e do gás natural seis vezes mais
online. Enquanto se consumiam os stocks SEGUNDO A FASTMARKETS dispendioso do que em 2020, a empresa
VAGA R
“O tempo, tal
como o mar,
desfaz todos
os nós”
A história interminável
MAIS DE 50 ANOS DEPOIS DA SEPARAÇÃO, AINDA
Iris Murdoch
Escritora NOS PROMETEM HISTÓRIAS NOVAS DOS BEATLES.
(1919-1999)
O REALIZADOR PETER JACKSON MERGULHOU
EM MAIS DE 60 HORAS DE FILMAGENS
PARA NOS MOSTAR “QUATRO TIPOS NORMAIS”
PEDRO DIAS DE ALMEIDA
F
oi com perplexidade que li o parecer em que a Ordem
dos Médicos escolhe afirmar o negacionismo da violência
obstétrica, ignorando o sofrimento de milhares de
mulheres. Foi com angústia que ouvi os relatos corajosos e
pungentes de dezenas de mães na manifestação do passado
dia 6. Foi com esperança que li artigos e crónicas de
pessoas sensíveis ao tema, nomeadamente de um grupo de
P O R C A P I C U A / Rapper médicos, que fez questão de admitir que o primeiro passo
para a solução é identificar e reconhecer o problema. E é a propósito do Dia
Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres que escolho
Dar à
falar sobre o direito a dar à luz sem sombra.
Enquanto mulher, mãe e feminista, revolta-me especialmente que seja
tão comum ser vítima de maus cuidados de saúde no processo de gravidez
luz sem
e parto em Portugal. É um momento especialmente sensível, de grande
vulnerabilidade, em que sofrer maus tratos, coação, desconsideração,
intervenções dolorosas que não são necessárias e todo o tipo de silenciamento
sombra
é profundamente traumático, física e psicologicamente.
Bem sei que a falta de números não ajuda a que se tome o problema
como sério e, infelizmente, a falta de registos fidedignos por parte dos
serviços e as poucas queixas formais das vítimas (por falta de informação ou
consciência do trauma) são o argumento perfeito para quem prefere praticar o
negacionismo. Mas todos conhecemos pelo menos uma mulher que foi vítima
de comentários maldosos, de descaso, falta de liberdade de movimentos
no parto, episiotomia de rotina, manobra de Kristeller, do chamado “toque
maldoso”, da administração não informada de ocitocina artificial, do famoso
“ponto do marido”, e até de cesarianas mal justificadas. Todos conhecemos
alguém que teve péssimas experiências, que ficou com traumas profundos e
que na hora do desabafo teve de ouvir que o que interessa é que o bebé nasceu
com saúde e tudo mais é ingratidão.
Claro que é inegável que Portugal tem uma taxa muito baixa de mortalida-
de no parto, quer dos bebés quer das mães, mas considero que a manutenção
das boas estatísticas não será incompatível com consideração pelas parturien-
tes e seus direitos, com informação sobre os procedimentos, com o respeito
pela vontade da mulher e pelo seu Plano de Parto, e muito menos com o
cumprimento das recomendações da Organização Mundial da Saúde.
A episiotomia (o corte do períneo para facilitar a expulsão do bebé), por
exemplo, é desaconselhada pela OMS e as suas vantagens não têm evidência
científica na grande maioria das situações. Mas apesar de ser recurso apenas
para casos muito específicos, em Portugal acontece em cerca de 70% dos
partos hospitalares (segundo números da APDMGP). É uma intervenção que
muitas vezes deixa cicatrizes dolorosas e causa desconforto físico, sendo por
JOSÉ ANTÓNIO RODRIGUES