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Real Gazeta

DO ALTO MINH

PÁG.20 - ENTREVISTA DA REAL GAZETA DO ALTO


MINHO AO EX.MO. SENHOR DR. CARLOS AGUIAR
GOMES
‘...A MONARQUIA “A HAVER”, TRARIA ESTABILIDADE NA
CHEFIA DO ESTADO E NÃO NOS SUBMETERIA A UM
LEILÃO DE TANTOS EM TANTOS ANOS DE FIGURAS, QUE
SE DEIXAM “VENDER” COMO QUEM QUER VENDER UM
QUALQUER TIRA-NÓDOAS. O REI ESTÁ ACIMA DOS
PARTIDOS NÃO POR CIMA NEM DENTRO DOS PARTIDOS. ’

EDIÇÃO DO CENTRO DE ESTUDOS ADRIANO XAVIER CORDEIRO | N.º 38 DEZEMBRO 2023


REAL GAZETA DO ALTO MINHO

CONTEÚDOS
3 EDITORIAL
Por José Aníbal Marinho.

4 CAMPANHA ELEITORAL NA
REPÚBLICA DEMOCRÁTICA: O QUE
FICA POR DIZER.
Por José Manuel de Castro.

5 A REPÚBLICA DAS BANANAS EM 2 ACTOS


Por António de Souza Cardoso.

22 EXCLUSIVO!
ENTREVISTA DA REAL GAZETA DO
ALTO MINHO AO EX.MO. SENHOR DR.
CARLOS AGUIAR GOMES

54 BREVE REVISÃO DE
2023, POIS “NÃO HÁ
ALMOÇOS GRÁTIS!” 29 RAINHAS DE PORTUGAL
D. Mafalda.

31 PRÉMIO PRÍNCIPE DA BEIRA À


INVESTIGAÇÃO E CIÊNCIA
ENTREGUE A 'PROJETO CÉREBRO
MATERNO'

32 II EDIÇÃO DO PRÉMIO MARQUÊS


DE RIO MAIOR PARA A
AGRICULTURA
34 20 Por Susana Cunha Cerqueira.

CASAMENTO REAL ENTREVISTA EX.MO. 37 JANTAR DOS CONJURADOS


Na véspera do casamento da
SENHOR DR. CARLOS
infanta D. Maria Francisca de AGUIAR GOMES
Bragança com o Dr. Duarte ‘O Povo será tanto mais 43 PRINCIPADO DE LIECHTENSTEIN
Martins, no dia 6 de Outubro, monárquico quanto mais
próximo sentir bater o coração
houve um arraial especial, que
contou com cerca de 500 da sua Família Real.’ 52 WOKISMO!
convidados, nos jardins da casa
de SS.AA.RR. Dom Duarte e 57 MACHISMO POLÍTICO PORTUGUÊS,
Dona Isabel de Herédia, em NOMEADAMENTE REPUBLICANO
São Pedro de Sintra.
A infanta Dona Maria Francisca
de Bragança surpreendeu 59 “REALMENTE EXEMPLARES E
todos os convidados, ao surgir CONSISTENTES…”

8
vestida com o traje de noiva de
REAL GAZETA DO ALTO MINHO - Nº38
Viana, cumprindo desta forma DEZEMBRO 2023
um desejo do seu pai, S.A.R. D.
Duarte de Bragança.
CRÓNICA DA Director Redactor
RESTAURAÇÃO DA José Aníbal Marinho Gomes Porfírio Silva
INDEPENDÊNCIA
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Editorial
JOSÉ ANÍBAL MARINHO

Os republicanos, amiúde referem que as Monarquias são retrógradas e


destoam com o espírito dos dias de hoje. Se assim fosse como é que os
países mais desenvolvidos do mundo continuam a ser monarquias?
Um outro argumento que por vezes apresentam é da possível falta de
capacidade do monarca, argumento este que cai por terra uma vez que
qualquer Constituição digna desse nome previne tal eventualidade. Aliás, em
Portugal, já a Constituição de 1822, no art.º 146, estatuía que no caso de o
monarca ter/apresentar incapacidade notória para governar, as cortes o
declaravam incapaz, regulando os artigos seguintes a forma como se
procederia à sua sucessão.

A vantagem da Monarquia, é que a figura do Rei encarna, ao vivo, o Estado.


Só Ele é o árbitro porque é isento uma vez que não se submeteu a eleições,
proposto e/ou apoiado por qualquer partido político e está acima dos
interesses de grupos económicos ou de qualquer outra natureza. Só um Rei é
que pode oferecer uma imagem de neutralidade política, representar o
interesse nacional e assegurar um rigoroso cumprimento da Constituição. A
sua subida a primeira figura do Estado transmite-se através da Instituição
Familiar, que é o elemento fundamental de qualquer sociedade.

As Monarquias são populares porque na sua origem está um verdadeiro


pacto entre o Rei e o Povo, ou seja, o entendimento do Rei com o Povo e do
Povo com Rei. Ora o pacto implica uma série de obrigações para o Rei, entre
elas, assegurar a unidade do Estado, cumprir e fazer cumprir a Constituição,
designadamente garantir o normal funcionamento das instituições e o
respeito pelas liberdades e garantias dos cidadãos, que correspondem ao
núcleo fundamental da vivência numa sociedade democrática.
O Rei dos Portugueses será a garantia do bom funcionamento dos poderes
legislativo, executivo e judicial (o Parlamento que faz as leis, o Governo que
as executa e os Tribunais que administram a justiça em nome do Povo).

Os Portugueses encontrarão sempre no Rei o legítimo defensor das suas


aspirações. Mas só com o esforço conjunto de todos os seus cidadãos poderá
Portugal restabelecer e manter a sua posição no Mundo.

3 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Campanha eleitoral na república


democrática: O que fica por dizer.
JOSÉ MANUEL DE CASTRO
ABSTRACT
From the 2024 legislative elections: Everything voters need to know. What you don't know, you will
learn, the Republic teaches!

Key words: Republic; Monarchy; Electoral campaign; Hidden agenda.

RESUMÉ
Des élections législatives de 2024: tout ce que les électeurs doivent savoir. Ce que vous ne savez pas,
vous l’apprendrez, enseigne la République!

Mots clés: République; La monarchie; Campagne électorale; Agenda caché.

Portugal caminha alegremente na procissão do que se


convenciona chamar pré-campanha eleitoral, na sequência da
queda do governo PS e da dissolução da AR.
Também um partido monárquico se juntou à lide numa
coligação, o que tem levantado burburinho na imprensa e nos
habituais “players” da política, sempre preocupados com o
acessório e nunca com o essencial.
O mérito dessa participação não cabe nas preocupações deste
curto artigo, apesar de na opinião deste modesto signatário, ser
duvidosa. Mas adiante.
O que impressiona na pré-campanha da nossa república
democrática, aliás muito republicana e laica como sempre
faz questão de lembrar, é além da completa ausência de ideias e a omissão de outras (já lá iremos), a
discussão ser prosaicamente centrada na dança de cadeiras das personagens do regime!
Quem vai ficar em 5º nas listas? E em 19º ou 20º? E é elegível.
O “debate eleitoral” chegou ao descalabro de publicamente se discutirem os interesses pessoais dos
doutos deputados da Nação no seu assento na AR. É com isto que o povo se deve preocupar.
Em contrapartida não deve nem tem de se preocupar com outros assuntos bem mais graves que são
sistemáticamente omitidos por todos os partidos no debate político.
Por exemplo, quem lança para a discussão eleitoral e anuncia a sua posição sobre matérias como a
ideologia do género, a introdução de nomes “neutros“ e as casas de banho “neutras“ nas escolas ou as
cidades de 15 minutos?
Sobre estas questões realmente importantes (fracturantes, como agora se diz), para o presente e
futuro colectivo paira um manto de silêncio.
Os partidos escondem as suas reais intenções e evitam sujeitá-las ao escrutínio popular. Quando no
poder, logo as aplicarão mesmo que ninguém as tenha votado. Realmente alguém se lembra de ter
sancionado pelo voto tais projectos?
De facto, será muito mais importante para o bom povo, saber se o deputado A ou B conseguiu sentar-
se na AR, do que poder definir a educação dos filhos, ou sair de um espaço em que estará confinado e
cuja área não leva mais do que 15 minutos a percorrer.
Esta é a visão da república democrática de Portugal hoje.
Não se pode deixar de reflectir sobre o que seria hoje a posição de grandes monárquicos e ecologistas
que felizmente tivemos, sobre projectos urbanísticos (digamos assim) como as cidades de 15 minutos!
Mas infelizmente é o que temos. Vivemos em República.

4 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

A República das Bananas


em 2 Actos
ANTÓNIO DE SOUZA-CARDOSO

ABSTRACT
I believe there is no other country in the world with so many rulers, including the Prime Minister,
dismissed and simultaneously suspected of influence and abuse of power by the President of the
Republic.
Evil, dear friends, I have to say, is in the regime!

Key words: Ethics; Responsibility; Identity.

RESUMÉ

Je crois qu'il n'existe aucun autre pays au monde avec autant de dirigeants, y compris le Premier
ministre, limogés et simultanément soupçonnés d'influence et d'abus de pouvoir de la part du
président de la République.
Le mal, chers amis, je dois le dire, est dans le régime!

Mots clés: Éthique; Responsabilité; Identité.

Portugal chegou a um ponto de degenerescência democrática que nos deve levar a reflectir. Ou talvez
mais - que nos obriga a pensar que sinais podem os cidadãos dar ao poder político para que a
degradação das instituições democráticas desta III República não fira de morte uma democracia
prestes a celebrar os seus 50 anos. Para ajudar a perceber a dimensão desta declinação democrática
peço que leiam dois sinais de extrema relevância ocorridos nos últimos meses:

Acto I - “Como é difícil a Ética e a Responsabilidade na III Republica”

Depois de um Governo fustigado por casos demasiadamente graves que iam enxotando do elenco
governativo os prevaricadores, o clímax maior desta “desresponsabilidade” política surgiu com um
comunicado da Procuradoria-Geral da República feito na sequência da “Operação Influencer” que
envolvia num esquema de tráfico de Influências e abuso de poder pessoas demasiado próximas do
Primeiro-Ministro. O pior é que o comunicado oficial no seu fatídico último paragrafo envolveu o
próprio Primeiro-Ministro que aproveitou o ensejo para com o “tremendismo” político que se conhece
apresentar a sua demissão e provocar a queda do Governo e a dissolução da Assembleia da República,
com marcação de novas eleições legislativas pelo Presidente da República.

5 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Se olharmos a linha do tempo e percorrermos o conjunto de episódios que um Governo de maioria


absoluta acumulou em pouco mais de um ano, percebemos que o que de comum tiveram os “casos e
casinhos” foi o total afastamento de um sentido de ética e de responsabilidade da classe política
envolvida no que não pode deixar de representar um padrão de comportamento que parece ser
dominante no chamado sistema político. Com pouca preparação cívica e moral, as nossas classes
dirigentes parecem mais apostadas em servir-se do poder do quem em servir uma República que em
Portugal raramente foi exemplo de alguma virtude. Mesmo António Costa ainda que - e nada do que
se sabe o comprova, nada tivesse a ver com esta teia de influências, tem a enorme responsabilidade
política de permitir que tal ocorra através das pessoas mais próximas que ele próprio escolheu para o
seu “núcleo duro”.
Claro que o Presidente da República poderia ter feito de outra forma. Mas o acumular de tudo
deixava-lhe uma muito pequena margem de manobra. Logo de seguida, quem sabe se
inocentemente, cai com igual estrondo o “Caso das Gémeas” envolvendo no mesmo clima de
suspeição e influencia o Presidente da República. Marcelo numa defesa instintiva muito ao seu género
entregou atabalhoadamente o próprio Filho para que nenhuma água caísse no seu imaculado capote.
Apareceu a pior face de Marcelo – o ardiloso e pérfido político capaz de tudo para encenar uma
representação que o pudesse tirar do pior cenário de uma demissão. Logo circularam nas redes sociais
as memoráveis memórias da “vichyssoiçe” contada a todos por Paulo Portas, então Director do
Independente e que, a ser verdade, em nada abona sobre o carácter do actual Presidente da
República. E essa, a República, com uma demissão e meia lá foi aguentando com tudo isto numa
degenerescência que faz duvidar da qualidade da própria democracia que a suporta. Depois não se
venham queixar de populismos ou radicalismos de esquerda e de direita.

6 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Julgo não haver outro País do Mundo com tantos governantes incluindo o Primeiro-Ministro
demitidos e simultaneamente a suspeição de influência e abuso de poder do Presidente da
República.
O mal, caros Amigos, tenho que dizê-lo, está no regime!

Acto II – “Como é fácil à III República acabar com a Identidade dos Portugueses”

Para que tudo se arrime na mesma descomposta responsabilidade o Estado ou o Governo – aqui a
culpa objectiva morre solteira, decidiu abolir o símbolo principal da nossa bandeira – a esfera armilar
carregada do escudo que transporta os 7 castelos das conquistas Afonsinas e os 5 escudetes que
dizem rememorar a célebre batalha de Ourique.
O Estado decidiu desbaratar 75 mil euros para substituir este símbolo histórico da nossa identidade
por uma bola vermelha que nos remete para um anónimo terceiro mundismo. Tudo, defendeu-se o
desgraçado que desenhou a proposta e recebeu os 75 mil euros, em nome da limpeza de imagem e
da protecção do ambiente(??). Está tudo maluco? Que regime é este que fere gratuitamente os
elementos mais agregadores da Nação Portuguesa. Já não chegou tirar o nome de Portugal e
substituí-lo por República Portuguesa?

Batemos no fundo, ou como diz o brasileiro, se calhar ainda não porque estamos cavando!
Na altura em que se aproximam os 50 anos do 25 de Abril, vale a pena reflectir sobre este declínio de
responsabilidade e de ética que nos deixa órfãos dos principais pilares onde deve assentar um Estado
de Direito Democrático.
O mal, Caros Amigos, tenho que dizê-lo, está no regime!

7 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Crónica da Restauração da
Independência
MIGUEL VILLAS-BOAS
ABSTRACT

After sixty years of Castilian yoke, Portugal was exhausted by taxation, with the economy in tatters,
depopulated by the mobilization of recruits to fight the wars of Philip III and the Count-Duke of
Olivares, so the Three States were united in the same desideratum: Restore the Independence of
Portugal. To crown the Kingdom with Portuguese blood, who better than the great-great-grandson of
Dom Manuel I, the Fortunate: Dom João (II), Duke of Braganza.
A revolt broke out in Catalonia, and it was then that, secretly, a group of Nobles gathered – who would
come to be called the 40 Conjured. In its meetings, at the Almadas Palace, the patriotic group
Portuguese born clandestinely, began to analyze and engineer the best form of revolt against Spanish
rule.
On December 1, 1640, the Conjurados invaded the Palace of Ribeira where the Kingdom lived and
governed in the name of Philip III, the Vice-Queen, the Duchess of Mantua, defenestrated the
secretary of state, the traitor Miguel de Vasconcellos, and proclaimed King John IV as King of Portugal.

Key Words: Restore of the Independence; Almadas Palace; King John IV.

RESUMÉ

Après soixante ans de joug castillan, le Portugal était épuisé par les impôts, avec l’économie en
lambeaux, dépeuplé par la mobilisation des recrues pour mener les guerres de Philippe III et du
comte-duc d’Olivares, de sorte que les trois États étaient unis dans le même desideratum : restaurer
l’independence du Portugal. Pour couronner le Royaume de sang portugais, qui de mieux que
l’arrière-arrière-petit-fils de Dom Manuel Ier, l’Fortuné : Dom João (II), duc de Bragance.
Une révolte éclata en Catalogne, et c’est alors que, secrètement, un groupe de Nobles s’est rassemblé,
qui allait être appelé les 40 Conjurés. Lors de ses réunions, au palais de l’Almadas, le groupe
patriotique portugais né clandestinement, a commencé à analyser et à organiser la meilleure forme
de révolte contre la domination castillane.
Le 1er décembre 1640, les Conjurados envahirent le palais de Ribeira où le royaume vivait et
gouvernait au nom de Philippe III, la vice-reine, la duchesse de Mantoue, défenestra le secrétaire
d’État, le traître Miguel de Vasconcellos, et proclama le roi Jean IV roi du Portugal.

Mots-clés: Restauracion de l’independence; Palais de l’Almadas; Roi Jean IV.

8 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

O desaparecimento d'El-Rei D. Sebastião em Alcácer


Quibir, em 1578, sem descendência, abriu caminho,
em Portugal, a uma crise de sucessão dinástica que
interrompeu a linha natural da Dinastia de Avis e,
consequentemente, ao risco de União Ibérica. O
Cardeal D. Henrique, tio-avô do rei Sebastião, sucedeu
ao trono português em 1578, após a morte do Rei,
contudo devido à sua idade avançada e à sua
condição de religioso, não ofereceu a segurança da
descendência, o que levou a uma crise dinástica após
a sua morte, em 1580, e à aclamação de Filipe II de
Espanha nas Cortes de Tomar, em 1581, como rei
Filipe I de Portugal e que culminaria com a
constituição da Monarquia Dual.
Encontrando-se o Cardeal-rei Dom Henrique, 17.º Rei
de Portugal, muito doente, e uma vez que não tinha
descendentes, pois não lhe fora concedida dispensa
Papal para casar, convocou a 11 de Janeiro, em 1580,
as Cortes de Almeirim, para assim se proceder à
nomeação de sucessor ao trono de Portugal. D.
Henrique havia convidado todos quantos se
julgassem nesse direito a exporem por escrito as suas
razões, e por sua vez hesitava entre Filipe II de
Espanha e D. Catarina de Bragança, filha de D. Duarte
de Portugal, 4.º Duque de Guimarães, e neta de D.

D. Sebastião desapareceu em Alcácer-Quibir

Manuel I. Por sua vez, o Povo, nos seus vários estratos, queria
aclamar D. António, Prior do Crato, neto de D. Manuel I, por
recear a perda da independência de Portugal. No final de
Janeiro de 1580, D. Henrique faleceu sem ser designado o
herdeiro.
Apresentaram-se três pretendentes ao trono português, todos
eles netos d'El-Rei D. Manuel I. D. António, Prior do Crato, D.
Catarina, Duquesa de Bragança, e D. Filipe II de Espanha, este
último foi apoiado pela nobreza e pela burguesia - segundo se
diz comprou esse apoio.
D. António de Portugal nasceu em Lisboa, em 1531, e morreu, em
Paris, a 26 de Agosto de 1595, e ficou conhecido pelo cognome
de "o Prior do Crato". Era filho legitimado do Infante D. Luís e,
desta forma, neto d’El-Rei D. Manuel I. Destinado pelo pai à vida
eclesiástica, D. António cedo preferiu a vida mundana, o que
terá contribuído, desde cedo, para a animosidade que sempre
lhe reservou o seu tio o Cardeal D. Henrique, que sempre lhe
negou a dignidade própria a um filho de Infante e neto de Rei.
A 24 de Julho de 1580, D. António I foi Aclamado Rei pelo Povo
no Castelo de Santarém e, depois em Lisboa e Setúbal.

D. António Prior do Crato por mestre C. Alberto

9 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Consequentemente, em Novembro de 1580, Filipe II de Espanha, incumbiu o Duque de Alba de invadir


Portugal para reivindicar o Reino à força. Às mãos do mais poderoso exército europeu, à época, após a
Batalha de Alcântara, em que num derradeiro acto de heróica resistência D. António comandou o que
sobejava da cavalaria e o povo mal-armado de Lisboa, a Capital caiu rapidamente e o rei espanhol foi
proclamado Rei de Portugal, sobretudo pela alta nobreza, mas com a condição de que o reino de
Portugal e seus territórios ultramarinos não se tornassem províncias espanholas.
D. António decidiu então levar a resistência para Norte, e, com um povo armado apenas de paus, pás e
foices, libertou Coimbra, Aveiro, Porto e foi até Viana da Foz do Lima, onde a clara hegemonia das
tropas castelhanas se fez sentir, obrigando o 18.° Rei de Portugal a fugir. Filipe de Espanha ofereceu
uma recompensa de milhares de ducados a quem capturasse Dom António “vivo ou morto”, mas o
“Prior do Crato” refugiou-se no arquipélago dos Açores, e dessa forma Angra (desde o séc. XIX 'do
Heroísmo') foi capital do reino de Portugal entre 5 de Agosto de 1580 e 6 de Agosto de 1582, enquanto
D. António, ali estabeleceu o seu governo, e onde inclusive cunhou moeda. A estocada final na
independência do Reino e no reinado de D. António, foi a Batalha Naval de Vila Franca, travada no dia
26 de Julho de 1582, em Ponta Delgada, Açores, entre uma esquadra aliada luso-francesa, comandada
por Filippo Strozzi, e uma armada espanhola, que incluía parte da armada portuguesa afeta a Filipe I
(II de Espanha), comandada por Don Álvaro de Bazán, Marquês de Santa Cruz, que utilizou, pela
primeira vez, os grandes galeões. Em inferioridade as forças luso-francesas foram derrotadas,
seguindo-se o violento massacre dos portugueses. O Determinado, o Lutador ou o Independentista,
como, também, foi cognominado D. António, teve de partir para o exílio.
Filipe II de Espanha invadiu Portugal e foi aclamado rei, iniciando a União Ibérica que durou até 1640.
A União entre as coroas não teve aprovação homogénea de ambos os lados desde seu início. O novo
rei não foi aclamado como o esperado e ainda teve que encarar a desconfiança do povo, que
aguardava o retorno do rei encoberto que os libertaria do jugo espanhol.
Durante o Domínio Filipino da nossa Pátria, sobretudo no de Filipe III (IV de Espanha), Portugal, na
prática, tratava-se de província espanhola, governada à distância, por quem não demonstrava
qualquer cuidado com os interesses e anseios dos portugueses.
No início do reinado de Filipe III, então com 16 anos, em 1621, instalou-se em Madrid a política
centralista de Gaspar Filipe de Gusmán, Conde-Duque de Olivares, plasmada no seu “Projecto
Instrucción sobre el gobierno de Espanha”, de 1625, apontada à obliteração da autonomia portuguesa,
abduzindo por completo o Reino de Portugal.
O conde-duque de Olivares foi um nobre e político espanhol do século XVII, III conde de Olivares, I
duque de Sanlúcar la Mayor, I duque de Medina de las Torres, I conde de Arzarcóllar, I príncipe de
Aracena e valido do rei Felipe IV da Espanha. Seu nome completo era Gaspar de Guzmán y Pimentel
Ribera y Velasco de Tovar e o seu documento de intenções apontava três sentidos:
1º - Realizar uma cuidadosa política de casamentos, para confundir e unificar os vassalos de Portugal e
de Espanha;
2º - Ir o rei Filipe IV fazer corte temporária em Lisboa;
3º - Abandonar definitivamente a letra e o espírito dos capítulos das Cortes de Tomar (1581), que
colocava na dependência do Governo autónomo de Portugal os portugueses admitidos nos cargos
militares e administrativos do Reino e do Ultramar (Oriente, África e Brasil), passando estes a ser Vice-
reis, Embaixadores e oficiais palatinos de Espanha.

10 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Foi sobretudo a política fiscal que abriu o caminho


para a Restauração. Ainda, em 1628, aconteceu o
Motim das Maçarocas, no Porto, revolta contra o
imposto do linho fiado; depois, em Agosto de 1637,
foram os protestos e a violência, que ficaram
conhecidas por Alterações de Évora. Vulgarizam-se os
panfletos populares contra Filipe III (IV):

‘Que teve em ti Portugal?


Grande mal.
E de seres seu Senhor?
Gram rigor.
Que teve dos castelhanos?
Grandes danos.’

A Restauração da Independência de Portugal foi um


processo histórico que procurou a autonomia
portuguesa após sessenta anos de União Ibérica (1580-
1640). Foi o messianismo Bragantino que acabou por
ser utilizado para legitimar a ascensão de D. João IV,
baseado na lealdade dos nobres e na dinastia que
descendia de D. Manuel I. Desta forma, o
Conde-duque de Olivares e Filipe III (IV) descontentamento era transversal a toda a Sociedade
portuguesa: a Nobreza via os poucos cargos de administração que, ainda, sobejavam no Reino de
Portugal – uma vez que a Corte estava em Madrid -, e, que outrora haviam sido dos seus antepassados,
ocupados pelos ocupantes estrangeiros. Além disso, eram obrigados a alistar-se no exército espanhol
suportando todas as despesas, e os que a sua idade já desobrigava da prestação obrigatória do serviço
militar retiraram-se para a província, onde viviam nos seus palacetes e solares subsistindo com o
mínimo de dignidade que impunham os pergaminhos de família.
Também, a Burguesia estava desiludida e em rota de colisão com a pobreza, pois em consequência da
belicosidade castelhana com as demais nações europeias, os territórios e navios portugueses eram
atacados e saqueados, ficando os corsários Ingleses, Franceses e Holandeses, com os produtos
originários dessas terras e que outrora, os portugueses, comerciavam proveitosamente. Assim,
comércio e respectivo lucro haviam caído a pique.
Para isso muito contribuiu Gonçalo Annes Bandarra, ou ainda Gonçalo Annes, o Bandarra, um autor,
‘profeta’ e sapateiro Português, nascido em Trancoso, autor de Trovas Messiânicas que ficaram
posteriormente ligadas ao sebastianismo e ao milenarismo português.

'Está a aproximar-se a hora, e o dia da formação,


de uma tão grande nação, que todo o mundo ignora.
Nesta nação nascerá, o Quinto Império do mundo,
quando vier o Segundo, do lugar onde ele está.'

Muitos viram nesta professia do 'segundo' que se referia a D. João II de Bragança, II porque a exemplo
dos Reis os Duques de Bragança têm numeração.
As Trovas nas quais Bandarra falava do futuro de um povo que se havia de cumpri, denotavam
umconhecimento das escrituras do Antigo Testamento, do qual fazia as suas próprias interpretações,
tendo composto uma série de "Trovas" falando sobre a vinda do Encoberto e o futuro de Portugal
como reino universal.

11 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

As Trovas circularam em diversas cópias manuscritas, apesar da interdição do Santo Ofício. Em 1603,
D. João de Castro editou-as e comentou-as numa obra impressa em Paris e intitulada Paráfrase e
Concordância de Algumas Profecias de Bandarra. As Trovas foram interpretadas como uma profecia
ao regresso do Rei D. Sebastião após o seu desaparecimento na Batalha de Alcácer–Quibir em Agosto
de 1578.
Em 1639, D. João, o 8.° Duque de Bragança, recém-nomeado Governador de Armas do Reino, instalou-
se em Almada onde começou a receber a visita da nobreza e fidalguia, entre os quais D. Francisco de
Mello que lhe começa a incutir as ideias da Restauração da independência.
Escrevera, o Bandarra:

'Saia, saia esse Infante bem andante,


O seu nome é D. João
Tire, e leve o pendão, E o guião
Poderoso e triunfante.
Vir-lhe-ão novas num instante
Daquelas terras prezadas,
As quais estão declaradas
E afirmadas pelo Rei dali em diante.'

A Revolta do Manuelinho

A Revolta do Manuelinho ou Alterações de Évora foi um movimento de cariz popular ocorrido no


Alentejo, durante a dominação Filipina. Contestava o aumento de impostos e as precárias condições
de vida da população provocadas pela governação castelhana.
Ainda antes desta revolta eclodiram outras insurreições, pois a governação dos Filipes transformara-se
em despotismo e os portugueses serviam-lhes unicamente para serem visitados pelo cobrador de
impostos. Este confisco em nada beneficiava o País, pois o tributo não era repartido para fruir as
necessidades e premências de Portugal e o bem comum dos naturais, mas ajudavam tão só a custear
as despesas do Império espanhol.
Foi sobretudo esta política fiscal que abriu o caminho para a Restauração. Ainda, em 1628, aconteceu
o Motim das Maçarocas, no Porto, mas sem dúvida que o mais importante movimento que antecedeu
a revolução em si, foi o das Alterações de Évora que principiou na cidade a 21 de Agosto de 1637,
quando o Povo se sublevou contra o aumento de impostos decretado pelo governo da Vice-Rainha – a
Duquesa de Mântua -, em Lisboa, que tiveram origem no aumento do imposto do real de água, assim
como o aumento do imposto da Sisa elevado para 25%. A elevação do imposto do real de água e a sua
extensão a todo o Reino de Portugal, bem como o aumento da antiga Sisa, generalizou a ira do Povo,
o que estourou em contestação e violência.
Quanto às Alterações de Évora, apesar da revolta ter sido instigada pelo Procurador e pelo Escrivão do
Povo - acicatados ainda pelo imposto da meia-anata -, numa manobra para manter o anonimato dos
impulsionadores, as ordens para a marcha da insurreição surgiram assinadas pelo ‘Manuelinho’, um
pobre demente da cidade alentejana. As Alterações de Évora contagiariam todo o País e alastraram a
Sousel, Crato, Santarém, Tancos, Abrantes, Vila Viçosa, Porto, Viana do Castelo, Bragança, Beira e
Algarve.
No decurso da revolta foram incinerados os livros dos assentos das contribuições reais e assaltadas
algumas casas da nobreza afecta aos Filipes. Os nobres pró-Castela não ousaram enfrentar a multidão
enfurecida. Desta forma, o descontentamento já era transversal a toda a Comunidade portuguesa com
ânsias de Independência, juntando o Povo ao escol da Nobreza portuguesa e ao Clero, e,, só não se
deu ali a Restauração pela pronta intervenção do tropel castelhano. Não obstante, estava-se, já, a
caminho da Restauração.

12 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

As Reuniões dos Conjurados

Após sessenta anos de jugo castelhano, Portugal


estava exaurido pelo imposto, com a economia de
rastos, sem a outrora Marinha de causar admiração,
despovoado pela mobilização de recrutas para
combater as guerras de Filipe III e do Conde-Duque
de Olivares e, também, uma outra vez os Três Estados
estavam unidos no mesmo desiderato. Crescia a
crença do Sebastianismo a que ajudavam as visões
feitas profecias do sapateiro Bandarra; elevado a
áugure. Tudo confluía para a necessidade e
possibilidade de um novo Rei Português. Para Coroar
o Reino com sangue portucalense como futuro Rei
Dom João IV de Portugal. quem melhor do que o
trineto de Dom Manuel I, o Venturoso: Dom João II de
Bragança, Duque de Bragança, Conde-Duque de
Barcelos, Duque de Guimarães e Marquês de Vila
Viçosa. Conjurados

Então, os acontecimentos precipitam-se, pois


eclode uma revolta na Catalunha, também,
contra o centralismo do Conde-Duque de
Olivares. A 7 de Junho de 1640, O rei Filipe III
(IV de Espanha) convoca Dom João (II) de
Bragança para o assistir na viagem à
Catalunha e colaborar na campanha de
repressão que ia empreender. O Duque de
Bragança enjeitou a convocação de Filipe IV,
no que foi seguido por muitos nobres
portugueses que receberam idêntica
intimação, recusando-se também a obedecer
a Castela.
Foi, então, que, secretamente, se congregou
um grupo de Nobres – que viriam a ser
denominados de Conjurados. Nas suas
Reunião Jantar dos Conjurados
reuniões, no Palácio dos Almadas,
propriedade de Dom Antão de Almada, 7.º Conde de Avranches, o grupo patriótico português nascido
clandestinamente, começou a analisar e engendrar a melhor forma de revolta contra o domínio
castelhano.
As reuniões dos 40 Conjurados no Palácio de D. Antão de Almada foram uma série de encontros por
estes realizados entre 12 de Outubro e 30 de Novembro de 1640. Foi nessas reuniões e/ou jantares que
os conspiradores planejaram a restauração da independência de Portugal de 1 de Dezembro de 1640,
derrubando do trono Filipe III de Portugal e colocando, no seu lugar, D. João IV. As reuniões
conspirativas, que juntavam 40 nobres, aconteciam num anexo do palácio, então conhecido como o
palácio de Antão Vaz de Almada, nome de um dos principais conspiradores. O acesso a este espaço
fazia-se por uma das mais movimentadas zonas de Lisboa daquela época, uma situação que serviu de
cobertura às actividades secretas.
O grupo era composto por cerca de cinquenta homens, de quarenta famílias da nobreza, e os
restantes do clero e militares, daí também serem conhecidos por Os Quarenta Conjurados ou os Os
Quarenta Aclamadores, por estarem envolvidos quarenta brasões. O objetivo da conjuração era a
destituição dos Áustrias, os Habsburgos espanhóis, e proclamar e aclamar um rei português.
Principiaram então a tecer uma revolta que desse garantia de êxito.

13 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Dom Antão de Almada foi o 7º Conde de Avranches, Comendador de dois terços de S. Vicente de
Vimioso, Comendador da Ordem de Cristo, Senhor do Pombalinho e Senhor dos Lagares d’ El-Rei e um
dos principais Conjurados da Restauração da Independência. Era filho de Dom Lourenço de Almada
(6º Conde de Avranches) e de Dona Francisca de Távora.
Após a Restauração, Dom Antão de Almada foi nomeado para o Conselho de Estado e de Guerra e,
como representante da Nobreza, para a Junta dos Três Estados. Exerceu ainda o mais importante
cargo diplomático da altura: o de Embaixador ao Reino de Inglaterra entre 1641-42, tendo como
objetivo o reconhecimento inglês da nova Dinastia reinante e da Independência portuguesa e
negociar um tratado entre as duas Coroas. Para a sua nomeação terá contribuído a sua ascendência
inglesa, e a titulatura por ser descendente do herói português Dom Álvaro Vaz de Almada (1392-1449),
o 1.° Conde de Avranches, que foi um dos mais insignes cavaleiros da Europa do seu tempo. Alferes
Mor de Portugal, Capitão Mor do Mar, Alcaide Mor de Lisboa, Dom Álvaro Vaz de Almada combateu na
guerra dos 100 anos ao lado do Rei Henrique V de Inglaterra na Batalha de Azincourt (1415), onde se
ilustrou pelas armas e praticou inúmeros actos de heroísmo, tendo-lhe sido atribuído, pelo monarca
inglês, o título de Conde de Avranches – tinha conquistado aquela cidade francesa em 1421 - e
agraciado com o grau de Cavaleiro da Ordem da Jarreteira figurando as suas armas no exclusivíssimo
St. George Hall no Castelo de Windsor, onde a lista de portugueses agraciados não viria a incluir mais
do que 15 personalidades, sobretudo Reis e Infantes e D. Álvaro Vaz de Almada, o 162° Cavaleiro da
Jarreteira, como o único membro da nobreza e de sangue não real, confirmado.
O Doutor João Pinto Ribeiro (1590-1649) foi um dos mais eminentes Conjurados de 1640, e a figura
chave da Restauração da Independência. Diligente intermediário entre os conjuradores que se
reuniam no Palácio dos Almadas e D. João (II), Duque de Bragança, a quem administrava os negócios
da Casa, João Pinto Ribeiro desempenhou um papel decisivo na Conjuração pois foi determinante a
convencer o hesitante Duque de Bragança a aceitar a Coroa portuguesa e o Trono dos seus maiores.
Recorde-se que se não aceitasse a Coroa como futuro D. João IV, a Restauração ocorreria na mesma e
Portugal teria um governo sob a forma de uma República Aristocrática, a exemplo da Veneza da
altura.
Aquele que ficou reconhecido como tendo sido o grande impulsionador da conspiração foi o Dr. João
Pinto Ribeiro, bacharel em direito canónico cuja jurisprudência anulou o juramento de Tomar por
incumprimento de obrigações por parte dos Habsburgos espanhóis. João Pinto Ribeiro era filho de
Manuel Pinto Ribeiro, Senhor da Casa de Frariz, Capitão-Mor do Concelho de Gestaço, natural de
Amarante e de Helena Gomes da Silva. Formou-se na Universidade de Coimbra (1607-1617) com o grau
de bacharel em Direito-Canónico, notabilizando-se depois como jurisconsulto. O Cérebro da
Restauração foi, ainda, Cavaleiro da Ordem de Cristo, Juiz de fora das Vilas de Pinhel e Ponte de Lima,
Administrador dos negócios da Casa de Bragança e seu agente em Lisboa, Agente da Aclamação de D.
João IV, Comendador de Santa Maria de Gimunde na Ordem de Cristo, do Conselho de Sua Majestade,
Contador-Mor das Contas do Reino, Desembargador Supranumerário da Mesa do Desembargo do
Paço, Guarda-Mor da Torre do Tombo. O autor de "Discorso dell' vsurpatione retentione e ristoratione
del Regno di Portogallo" foi, também, decisivo no tipo de Monarquia que foi restaurada, a orgânica -
tipicamente portuguesa -, proclamando que: ‘A Monarquia vale por virtude própria,
independentemente da figura que a incarna.’
A noite de 12 de Outubro de 1640, foi a mais importante de todas da Conjuração, pois além de D.
Antão de Almada, participaram ainda D. Miguel de Almeida – o decano destes Conjurados -, o
Monteiro-mor Francisco de Mello e seu irmão Jorge de Mello, António Saldanha, Pedro de Mendoça
Furtado e o agente do Duque de Bragança em Lisboa, o Dr. João Pinto Ribeiro.
Foi nessa reunião conjurativa que ficou decidido o encontro entre Pedro de Mendoça Furtado e Dom
João (II) de Bragança (futuro Rei Dom João IV de Portugal) e que aconteceu na segunda quinzena de
Outubro, onde o Duque foi instigado a assumir o seu dever de defesa da Independência portuguesa,
assumindo a Coroa de Portugal.

14 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Estava uma noite escura e fria, típica do Outono que já ia adiantado, e a neblina envolvia em segredo
aquelas figuras que afundadas em capas e capotes negros se abafavam não só do frio, mas se
escondiam de olhares indagantes. Os seus largos chapéus de abas e plumas escuras pareciam bailar
enquanto as figuras que mal se recortavam no breu se esgueiravam pela noite adentro, sem outra
coisa que os denunciasse que não fosse o brilho nos olhos de quem tinha a razão do seu lado, e os
tacões que quando em vez apanhando um solo mais seco troavam, fazendo ladrar um cão na
vizinhança. Convergiam todos para uma pequena porta incrustada na velha muralha fernandina.
Um a um, ou às vezes até mais quando o objectivo os fazia convergir ao mesmo tempo, batiam à
portinhola e perguntavam-lhes um a um:
- Ao que vem, Vossa Mercê?
Uma voz abafada respondia com a senha que lhe dava direito a entrar:
- 'Nossa Senhora da Conceição!'
Dita a senha e depois de reconhecidas as caras do outro lado pelo proprietário as figuras que se
moviam esguias na noite entravam e desciam, um a um, os estreitos degraus – porque não dava para o
fazer de par em par - até desembocar no jardim do que parecia ser um Palácio.
Iam entrando numa pequena sala na qual desembocava a escadaria, e que umas velas de luz mortiça
teimavam em não se deixar apagar para alumiar os presentes. O encontro tinha que ser assim, no
secretismo que aquele lugar possibilitava por estar longe dos olhares curiosos dos demais habitantes
do Palácio, especialmente da criadagem – sempre de língua solta! -, até porque aquilo não era uma
tertúlia, mas uma Conjura!
Livres dos embuços que serviram para os camuflar na noite, cumprimentaram-se todos efusivamente.
Que fazia convergir todos aqueles homens da Nobreza Portuguesa para aquelas reuniões
conspirativas? A resposta era a Restauração da Liberdade nacional.
A Conjuração que levaria à Restauração da Independência de Portugal, em 1 de Dezembro de 1640,
não foi obrada por aventureiros com agendas pessoais, ou projectos de poder, ou simples romantismo
serôdio. Depois de muito patuá é decidido indigitar um deles para se encontrar com o Duque de
Bragança, no Paço Ducal de Vila Viçosa.
Na segunda quinzena de Outubro acontece um encontro entre Pedro de Mendoça Furtado e Dom
João II de Bragança onde o Duque é instigado a assumir o seu dever de defesa da autonomia
portuguesa, assumindo o Ceptro e a Coroa de Portugal: segundo o direito consuetudinário do País,
pelo direito da representação Dom João II de Bragança era o candidato natural e legítimo, pois era
filho varão primogénito do 7.º Duque de Bragança, D. Teodósio II, e como tal neto de D. João I de
Bragança e da Infanta Dona Catarina, Duquesa de Bragança, e tal como Filipe I, neta d’ El-Rei Dom
Manuel I de Portugal. Filipe I, sendo um Príncipe estrangeiro, não tinha direito ao trono português,
tanto mais que havia, segundo estas leis do País um candidato natural e legítimo: Dona Catarina,
Duquesa de Bragança. Dom João II de Bragança mostra-se favorável, mas reserva uma resposta
definitiva para depois de umas consultas com o Marquês de Ferreira, o Conde de Vimioso, o secretário
António Paes Viegas e a própria Duquesa de Bragança, D. Luísa de Gusmão. Todos se mostrando
favoráveis, Dom João II de Bragança decide apoiar incondicionalmente o coup.

O 1.º de Dezembro de 1640

Parecia uma terça-feira como as outras, mas não era. Não fora o facto de
a ânsia de liberdade ir fazer eclodir, por fim, a revolta na capital, aquele
dia 1 de Dezembro do ano de 1640, em tudo se assemelhava a um
normal dia de Outono, pois a cidade de Lisboa acordara para o rame-
rame habitual: os coches a rolarem com as senhoras da nobreza que se
dirigiam para a missa, os operários das diversas guildas a
desempenharem os seus mesteres, as tabernas com os habitués. Mas
sentia-se o odor a mistério e a conspiração no ar! E os avisados, de
quando em vez, desligavam-se da rotina dos seus afazeres e olhavam em
volta procurando desenvolvimentos.
D. Antão Vaz de Almada Colorido
15 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Assomaram então no Paço da Ribeira, como que surgidos de uma bruma que nem havia, o grupo
patriótico dos 40 e tal Conjurados, entre eles, D. Antão de Almada - Conde de Avranches -, D. Miguel
de Almeida – o de maior idade -, Francisco de Mello e seu irmão Jorge de Mello. Também, além de
outros, António Saldanha, Pedro de Mendoça Furtado, Fernão Telles de Menezes, D. Manrique da Silva,
Bernardim de Távora e o Dr. João Pinto Ribeiro.
A João Pinto Ribeiro, perguntando-lhe um transeunte, seu conhecido, 'aonde vão, Vossas Mercês?',
respondeu com um sorriso: 'Não se altere. Chegámos ali abaixo à sala real, e é um instante enquanto
tirámos um rei e pomos outro'. O amigo logo se juntou, ao Doutor e companhia, na missão. Às 9h00m
certas, invadiram o palácio do Vice-Rei em nome de Filipe III, a Vice-rainha Duquesa de Mântua, e
dominaram-lhe, facilmente a Guarda Alemã das portas. Os Conjurados subiram a escadaria e
assomaram Francisco Soares de Albergaria e António Correia que perante a arrogante resistência
foram despachados a chumbo.
O Povo, que entretanto se juntara por passa a palavra e que desemborcara serpenteando de todos os
lados, seguindo o Crucifixo do Padre Nicolau, ficou a aguardar no Terreiro do Paço o sinal de que a
revolução tinha sido bem-sucedida, o que ocorreria com a defenestração de Miguel de Vasconcellos.
Miguel de Vasconcellos e Brito, Senhor do Morgado da Fonte Boa, era um oportunista político,
tornando-se odiado pela nobreza e pelo povo por, sendo português, trair a sua Pátria e colaborar com
a representante real servindo assim por interposta pessoa um Príncipe estrangeiro, Miguel de
Vasconcellos seria a última e justa vítima da Restauração.
Aproximando-se o Natal do ano 1640, como a maioria dos castelhanos partira para Espanha, na capital
portuguesa, ficaram a Duquesa de Mântua, a espanhola que, desde 1634, ocupava o cargo de Vice-Rei
de Portugal, e o seu Secretário de Estado, o português Miguel de Vasconcellos e Brito. Margarida de
Sabóia, Duquesa consorte de Mântua, era filha de Carlos Emanuel I, Duque de Sabóia e da Infanta
Catarina Micaela de Espanha o que fazia dela neta materna de Felipe II – Felipe III de Espanha, o Rei-
planeta - e prima direita de Felipe III – IV de Espanha. Esse parentesco fazia da Duquesa de Mântua
um importante membro da família imperial dos Áustrias ou Habsburgos, e por meio de uma aliança
matrimonial casou com o futuro duque Francisco IV de Mântua e de Montferrat. Para esta nomeação
na qual exerceu as funções de vice-rainha de Portugal, em dependência do rei de Espanha, valeram-
lhe as relações de parentesco real, mas, pela sua importância, devem ser reconhecidos os esforços de
Diogo Soares, do Conselho de Portugal na capital espanhola, valido do Conde-Duque de Olivares e
parente de Miguel de Vasconcellos que, em 1635, foi nomeado Secretário de Estado de Portugal,
encarregando-se do governo do Reino.
Não existe uma lista completa dos Conjurados, pois além dos ditos 40 que eram os que possuíam
Brasão de Armas, existiram outros mais. De uma forma ou de outra, os seguintes participaram na
conjura e na revolução que restaurou, nesse 1 de Dezembro de 1640, a Independência usurpada, em
1580, pelos castelhanos:
D. Afonso de Menezes; D. Álvaro de Abranches da Câmara (Comendador de S. João de Castanheira na
Ordem de Aviz, dos Conselhos de Estado e da Guerra, Governador de Armas das Províncias da Beira e
Entre Douro e Minho e da cidade do Porto, Senhor do Morgado de Abranches); D. Álvaro Coutinho da
Câmara; D. Antão Vaz d’Almada (7.º Conde de Avranches, 5.º Senhor de Pombalinho e 10.º Senhor dos
Lagares d´El-Rei, Governador da Cidade de Lisboa, Primeiro Embaixador à Corte de Inglaterra); D.
António de Alcáçova Carneiro (Alcaide-mor de Campo Maior); D. António Álvares da Cunha (17º Senhor
de Tábua); D. António da Costa; D. António Luís de Menezes (1.º Marquês de Marialva, 3.º Conde de
Cantanhede, 9.º Senhor de Cantanhede, de Marialva, de Medelo (Lamego) e de São Silvestre); D.
António de Mascarenhas; António de Mello e Castro; António de Saldanha (Alcaide-mor de Vila Real);
António Telles da Silva; D. António Telo; Ayres de Saldanha; D. Carlos de Noronha; D. Estêvão da Cunha
(Prior de São Jorge em Lisboa, Cónego da Sé do Algarve, Bispo eleito de Miranda); Fernando Telles de
Faro; D. Fernão Telles de Menezes (1.º e último Conde de Vila Pouca de Aguiar, capitão de Diu, como
General das Armadas de remo e de alto bordo, 46.º Governador da Índia em 1639, 18º Governador do
Brasil e de Angola, Alferes-mor de D. João IV de Portugal); Fernão Telles da Silva (1.º Conde de Vilar
Maior); Francisco Coutinho; D. Francisco de Mello e Torres (1º Marquês de Sande); Francisco de Noronha

16 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

D. Francisco de São Payo; D. Francisco de Sousa (1º Marquês das Minas); Gaspar de Brito Freire;
Gastão Coutinho; D. Gomes Freire de Andrade; Gonçalo Tavares de Távora; D. Jerónimo de
Athayde (6.º Conde de Atouguia - filho de Dona Filipa de Vilhena que o armou Cavaleiro assim
como ao seu irmão -, Governador de Peniche, Governador de Armas de Trás-os-Montes,
Governador e Capitão General do Brasil, Governador de Armas do Alentejo, Capitão General da
Armada Real, Presidente da Junta do Comércio do
Conselho de Estado e do da Guerra, Comendador de
Adaúfe e de Vila Velha de Ródão na ordem de Cristo;
D. João da Costa (1.º Conde de Soure); D. João Pereira
(Prior de S. Nicolau, Deputado do Santo Ofício); Dr.
João Pinto Ribeiro (Bacharel em Direito Canónico,
Juiz de Fora de Pinhel e de Ponte de Lima, Agente
da Casa de Bragança, Cavaleiro e Comendador de
Santa Maria de Gimunde na Ordem de Cristo, do
Conselho de Sua Majestade, Contador-Mor das
Contas do Reino, Desembargador Supranumerário
da Mesa do Desembargo do Paço, Guarda-Mor da
Torre do Tombo); Dr. João Rodrigues de Sá; D. João
Rodrigues de Sá e Menezes (3º Conde de Penaguião); Dr. João Pinto Ribeiro
João de Saldanha da Gama; João de Saldanha e Sousa; João Sanches de Baena (Desembargador da
Relação do Porto, Desembargador da Casa da Suplicação, Desembargador do Paço); Jorge de Mello; D.
Luís de Almada (filho de D. Antão de Almada, 11.º senhor dos Lagares d´El-Rei, 6.º senhor de
Pombalinho); Luís Álvares da Cunha; D. Luís da Cunha de Athayde (Senhor de Povolide); Luís de Melo
(Alcaide-mor de Serpa); D. Manuel Child Rolim (15.º Senhor de Azambuja); Martim Afonso de Melo
(Alcaide-mor de Elvas); D. Miguel de Almeida (4º Conde de Abrantes); Miguel Maldonado; D. Nuno da
Cunha de Athayde (1º Conde de Pontével); Paulo da Gama; D. Pedro de Mendóça Furtado (Alcaide-mor
de Mourão); D. Rodrigo da Cunha (Arcebispo de Lisboa); D. Rodrigo de Menezes; Rodrigo de Resende
Nogueira de Novais; Rui de Figueiredo (Senhor do morgado da Ota); Sancho Dias de Saldanha; D.
Tomás de Noronha (3º Conde dos Arcos); Tomé de Sousa (Senhor de Gouveia); Tristão da Cunha e
Athayde (Senhor de Povolide); e Tristão de Mendonça.
Após, penetrarem no palácio, os patrióticos
Conjurados procuraram pelo insidioso traidor, mas do
secretário de estado nem sinal. E por mais voltas que
dessem, não encontravam Miguel de Vasconcellos. Já
tinham percorrido os salões, os gabinetes de trabalho,
os aposentos do ministro, e nenhum sinal da criatura.
Ora acontece que Miguel de Vasconcellos,
espantadiço, quando se apercebeu que não podia
fugir, encolhera-se num armário fechado por dentro,
com uma arma em riste. Mas o tamanho do armário
era diminuto e o fugitivo, ao tentar posição mais
confortável, remexeu-se lá dentro, restolhando a
papelada lá guardada, denunciando-se. Foi quanto
bastou para os Conjurados patriotas rebentarem a
porta e o crivarem de balas. Era hora de dar o sinal ao
Povo atirando o traidor pela janela fora!
Ainda antes, os Conjurados proclamaram “Rei” Dom
João II de Bragança, aos gritos de:
"Liberdade! Liberdade! Viva El-Rei Dom João IV!”
Conjurado a entrar no palácio dos Almadas

17 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Depois de D. Miguel de Almeida gritar à janela do Paço Real, “o Duque de Bragança é o nosso legítimo
Rei!”, ocorreu, então, a célebre defenestração sendo o corpo de Miguel de Vasconcellos arremessado
pela janela, caindo, ressupino, no meio de uma multidão enfurecida que acicatou sobre o cadáver
todo o ódio acumulado por 60 anos de ocupação, cometendo verdadeiras atrocidades. Depois de
ofendido pela turba justiceira, o destroço - que outrora constituiu um corpo - foi deixado in loco na
marca da queda para ser desgastado e corroído pelos cães - sinal da mais genuína profanação e
destino merecido por todos os traidores da Pátria.
A Duquesa de Mântua, abandonada pela guarnição castelhana, tentou, em vão, aplacar os ânimos do
povo amotinado na Praça. Terá sido neste transe que, diante dos Conjurados, tentando assomar à
janela do Paço para pedir a lealdade do povo, D. Carlos de Noronha, um dos líderes da sublevação, lhe
terá remetido a frase:
"Se Vossa Alteza não quiser sair por aquela porta, terá que sair pela janela...".
Temendo o mesmo destino, o de ser defenestrada como Miguel de Vasconcellos e Brito, isolada e sem
apoios locais, a Duquesa, foi aprisionada nos seus aposentos.
Eram 9h15m do 1.º de Dezembro de 1640 e a Revolução, que pôs fim ao domínio castelhano de seis
décadas, durou um curtíssimo quarto de hora e foi imediatamente apoiada por muitas comunidades
urbanas e concelhos rurais em todo o país.
A 6 de Dezembro, D. João II, Duque de Bragança, desembarcaria na Casa da Índia e, como um César
vitorioso, entraria triunfante, em Lisboa, para o seu desfile perante a ovação e os “Vivas!” de todos: 'Viv’á
Restauração! Viv’ó 1.° de Dezembro! Viva Portugal Independente! Viv'ó Rei!'

Aclamação D’El-Rei D. João IV

Consumado o golpe palaciano no qual os Conjurados restauraram a


Independência do Reino de Portugal, El-Rei João IV, vindo de Vila
Viçosa, chegou a Lisboa na noite de 6 de Dezembro. Nos dias seguintes,
enquanto se preparava a cerimónia da Aclamação e o Rei se ocupava
dos assuntos de Estado, houve festejos, procissões e iluminações
públicas.
A Aclamação D’El-Rei Dom João IV de Portugal ocorreu a 15 de
Dezembro de 1640.
Logo de manhã cedo, o novo monarca saiu dos seus aposentos no Paço
da Ribeira, acompanhado dos Grandes Titulares da sua Corte, de oficiais
da Casa Real e de Bispos, até ao local onde deveria decorrer a
Cerimónia de Aclamação.
Aclamação d'El-Rei D. João IV
A cerimónia aconteceu num grande teatro de madeira erguido e guarnecido de magníficos e ricos
panejamentos, adjacente à engalanada varanda do Paço da Ribeira. Nesse 15.º Dia de Dezembro de
1640, as mais altas e influentes figuras a nível nacional, os membros da Família Real e por último a
figura central da cerimónia, El-Rei, tomaram o seu lugar no teatro de madeira. Antes de o soberano se
sentar no trono real foi-lhe dado o ceptro que segurou com a mão direita, a coroa real foi colocada ao
seu lado esquerdo. Dom João IV, pela derradeira vez, cingia na cabeça a Coroa dos Reis de Portugal
que haveria de oferecer a Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, em 1646, pela protecção
concedida durante a Restauração, coroando-a Rainha de Portugal – nas coroações de outros monarcas
que haveriam de se seguir, durante a Cerimónia de Aclamação a Coroa Real seria sempre acomodada
numa almofada vermelha (cor real) ao lado do novo Rei, como símbolo real, e não na cabeça do
monarca.
O monarca então de joelhos coloca o ceptro na mão esquerda e o missal e a cruz na mão direita e
Jurou.
Feito o juramento e declarada a aceitação, o Alferes-Mor e Condestável, D. Francisco de Mello,
agitando a Bandeira desenrolada declara a fórmula de Aclamação do Monarca:
‘Real, Real, Real! Pelo mui alto e muito poderoso e excelente Príncipe, Rei e Senhor Dom João IV de
Portugal!’

18 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Estava inaugurada a 4ª Dinastia Portuguesa, a Dinastia de


Bragança.
Finalmente, a comitiva real dirigiu-se com a população em
direcção ao Palácio Real momento que marca o fim das
cerimónias de Aclamação do monarca Português.

A Guerra da Restauração

À revolução nacional e patriótica do 1° de Dezembro de 1640


empreendida pelo heroico grupo designado de ‘Os Quarenta
Conjurados’, membros da mais distinta nobreza portuguesa, com
o apoio do Clero e do Povo, que pôs fim à monarquia dual da
Dinastia Filipina (iniciada em 1580) e que resultou na
Restauração da Independência, mais precisamente na
Restauração de Portugal como País Soberano, seguiu-se uma Os Conjurados a entrarem no Paço da Ribeira
longa guerra.
Inaugurada a 4ª Dinastia Portuguesa, a da Casa de Bragança, com a Aclamação de D. João IV, a
restauração alastrou por todo o Reino com a revolta dos portugueses à governação da dinastia
castelhana, que durante 60 anos, reinou em Portugal.
Mas a questão, longe de ficar resolvida imediatamente, deu origem à Guerra da Restauração, um
conjunto de confrontações bélicas travadas entre o Reino de Portugal e a Coroa de Castela, e que se
estendeu por um período de 28 anos, entre 1640 e 1668, quando pelo Tratado de Lisboa de 1668,
assinado em nome do Rei Dom Afonso VI de Portugal e Don Carlos II de Espanha, ficou
definitivamente reconhecida a independência do Reino de Portugal.
A Bandeira da Restauração, também conhecida como
“Bandeira de D. João IV”, vigorou de 1640 a 1683. Foi
instituída logo após o fim do domínio espanhol que durou
de 1580 até 1 de Dezembro de 1640, dia em que foi
Restaurada a Independência. O objectivo foi caracterizar o
ressurgimento do Reino de Portugal, independente, sob os
auspícios da Casa de Bragança. A orla azul alia, à ideia de
Pátria, o culto de Nossa Senhora da Conceição, que passou a
ser a Padroeira de Portugal, no ano de 1646.
As unidades do Exército Português usaram, também, entre
1640 e 1668, as Bandeiras da Guerra da Restauração,
estandartes quadrados com o campo da cor verde, cor da
Casa de Bragança, e a Cruz da Ordem de Cristo ao meio.
Durante a Guerra da Restauração, aparece a distinção
tradicional entre bandeiras e estandartes militares. As
Guerra da Restauração primeiras eram as insígnias das unidades de infantaria,
enquanto os segundos constituíam a insígnia das unidades de cavalaria. Por razões práticas e para
poderem ser levados a cavalo, os estandartes tinham uma dimensão menor que as bandeiras, a fim de
serem mais leves e manejáveis.
A Guerra da Restauração foi um conjunto de confrontos armados travados entre o Reino de Portugal e
a Coroa de Castela, desencadeados após o início da Guerra dos Segadores (ou Sublevação da
Catalunha), e que se estenderam por um período de 28 anos, entre 1640 e 1668. Esses confrontos
tiveram início no golpe de estado da Restauração da Independência em 1 de Dezembro de 1640, que
pôs fim à monarquia dualista da Dinastia Filipina iniciada em 1580. A guerra terminou com o Tratado
de Lisboa de 1668, assinado em nome de Afonso VI de Portugal e Carlos II de Espanha, pelo qual ficou
definitivamente reconhecida a independência do reino de Portugal.
A 4ª Dinastia Portuguesa, com a Coroa cingida pela Casa de Bragança, elevará de novo Portugal aos
píncaros da Glória escrevendo o Seu Nome na História, e, a Monarquia duraria por mais 2 séculos e
meio.

19 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

ENTREVISTA DA REAL GAZETA DO ALTO MINHO


AO EX.MO. SENHOR DR. CARLOS AGUIAR GOMES

‘Caros correligionários: só há um princípio que nos une: a chefia do Estado!


Depois falem de heráldica e genealogia em clubes próprios. Orgulhem-se,
imitando, os antepassados que foram ilustres, seguindo o seu exemplo.’

No programa Ser Igreja

20 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

RGAM. – É naturalmente Monárquico e/ou por convicção?

CAG.- Talvez me tenha tornado monárquico com origem diferente! Nasci numa família onde havia
monárquicos e republicanos. Mas, o que de facto me tornou monárquico até hoje foi, quando estava
na 4ª Classe, do ensino Primário, tomei conhecimento da existência do nosso querido Rei, Dom Pedro
V, e do seu papel de um Rei próximo do povo, dos doentes e desfavorecidos. Fiquei fascinado por este
grande Bragança. A ele e só a ele devo ser monárquico. Depois, vi que nenhum presidente da
república lhe chegava aos calcanhares na bondade, generosidade e enorme cultura. E pensei de mim
para mim, que era assim que eu queria um Chefe de Estado. Posteriormente, sobretudo a minha Mãe,
falava-me do regicídio e das perseguições aos monárquicos e ao clero por parte dos bandidos que
tinham assassinado o nosso Rei e o Príncipe Herdeiro. E contava-me como seu Pai, Oficial do Exército,
tinha, no seu carro, levado clandestinamente dois Padres jesuítas à fronteira com a Espanha. Como
sua Mãe, minha Avó Aurora, tinha escondido “uns” (não sei quantos) padres que estavam foragidos
como malfeitores e lhes deu guarida durante vários dias e roupas “à civil”. Como prova de gratidão,
ofereceram uma medalha da Imaculada com um laço de seda azul e branca, que ela trouxe quase
toda a sua vida e de que eu trago uma réplica que minha Mulher me deu para memória deste
episódio que me é tão caro. A minha Avó paterna, casada com um republicano militante, meu Avô,
contava-me a instabilidade brutal que se vivia nos primeiros anos republicanos e de como o seu irmão
único, o Tio Alberto, tinha sido expulso do Seminário de Braga e, depois de passar escondido numa
corte de gado várias semanas, até ter fugido para o Brasil, via Vigo. Sempre gostei de ouvir estórias
contadas pelos mais velhos. Os meus pais deram, durante muitos anos, todos os dias o almoço a um
pobre velho, o senhor Zeferino, que tinha tomado parte nas revoltas anti-republicanas e o quanto
tinha sofrido e visto sofrer quem não tivesse aderido ao novo regime. E recordo com grande saudade,
quando me contava uma “espera” que, ele e outros monárquicos, fizeram a um bando republicano que
ia fazer algo de pouco recomendável e lhes saltaram ao caminho e, com uns fortes varapaus de
marmeleiro, zurziram naqueles indivíduos. Estes gritavam: “Aqui d`El Rei!” pedindo socorro. O grupo
reduzido de monárquicos dizia-lhes, aos berros e às bordoadas: “Ah! Seus filhos da p…, matastes o Rei e
agora gritais para que ele vos acuda?” e caíam varadas naqueles “lombos” (como ele dizia). Ouvi muitas
estórias em discurso directo de como era a acção vingativa e odienta da maioria dos republicanos
(também os havia de bom carácter!). Foi assim, muito simplesmente, que me tornei monárquico.
Criança, formei uma má imagem da república e dos seus sequazes. Depois, pelos meus 15/16 anos,
então comecei a aprofundar as minhas convicções monárquicas e a arranjar argumentos para o meu
“apostolado” político. Resumidamente, são estas as razões de ser e continuar monárquico.

Carlos Aguiar Gomes - RTP

21 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

RGAM.- Foi dirigente da Causa Monárquica


do Porto e de Lisboa e colaborou nos
jornais monárquicos como ‘O Debate’, ‘A
Palavra’, ‘Consciência Nacional’ e no diário
‘A Voz’. Quer-nos descrever um pouco esses
tempos de intervenção activa em prol do
Movimento Monárquico?

CAG.- Desde os meus 17 anos que passei a


fazer, nos meus tempos livres, militância
activa monárquica, num período de
liberdade cerceada mas que me dava “um
gozo” imenso lutar por aquilo em que
acreditava: a Monarquia como a solução
para Portugal. Fiz parte de vários corpos
directivos da então Causa Monárquica, quer
no Porto quer em Lisboa, quando tinha já
entrado na Universidade. Entendi, e nisso
fui muito apoiado por minha Mãe, que
deveria pôr os meus parcos talentos a
escrever sobre os meus ideais. Abriram-me
as suas “portas” vários jornais como “O
Debate”, “A Voz”, depois o jornal portuense
“A Palavra” e a “Consciência Nacional”. Era o
meu combate pela Monarquia em que
acreditava e, por causa desta causa, vi
vários artigos cortados pela censura. E já
que falo em censura, gostaria de referir que
fui preso durante um dia, num 1º de
Dezembro, quando ia para S. Marcos
(residência da nossa Família Real) à sessão
de cumprimentos que então se fazia à
Família Real, pois tinha deitado pela janela
do autocarro, em que ia, uns panfletos
inócuos com um simples “VIVA O REI!”.
Eram tempos difíceis, mas que davam luta
e, como jovem que era, não me furtava a
ela.

22 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

RGAM.- A sua intervenção vai muito para além da defesa da forma Monárquica de governo, mas
desenvolve uma forte acção de cunho social e de apoio aos mais desfavorecidos e dos que sofrem de
dependências. Pode-se, pois, dizer que sempre foi um ‘Homem de Causas’?

CAG.- Posteriormente iniciei a minha intervenção social na Rádio. Primeiro nas Rádios Pirata de Braga.
Depois tive programas sobre as questões da Vida e da Família em todas as Rádios de Braga e na Rádio
Renascença e posteriormente na Rádio Sim do Grupo Renascença até aquela acabar e onde trabalhei
voluntariamente durante 35 anos num programa semanal de 1 hora.
Nasci numa família e por ela educado no respeito total e incondicional pelos mais desfavorecidos.
Todos os dias, ao almoço, havia sempre dois ou mais pobres idosos e colegas meus da escola para
almoçar. E aos Sábados a porta da Quinta estava sempre aberta para as esmolas dos inúmeros
pedintes que “varriam” a freguesia. Sobretudo o meu Pai, que não era praticante católico, sempre
exigiu, com severidade, o maior respeito pelos mais pobres e doentes. Recordo um dia de Natal, teria
eu uns 10 anos, quando depois do almoço me disse que o acompanhasse. Não sabia onde o meu Pai
me levava mas, como era lógico, lá fui. Fomos visitar uns antigos caseiros (3 irmãos solteiros) já muito
velhos. Quando entrei naquele casebre miserável vi uma das irmãs profundamente doente e acamada,
senhora que conhecera poucos anos antes, activa e faladora. Teria o que hoje chamamos Alhzeimer.
Desatei num choro desenfreado e a ordem do meu pai para sair. No caminho de regresso, deu-me
uma grande lição: “Tens de te habituar a ver e lidar com esta realidade. Chorar, por esta causa, não é a
resposta! Esta gente precisa de ajuda e não de lágrimas. Limpa-te!. Vi que o meu pai lhes deixou
dinheiro e manteve uma conversa com o senhor Abel, o único que se mantinha saudável, animando-o
e disponibilizando-se para os ajudar. Foi uma das maiores lições da minha vida como interventor
social que, graças a Deus, nunca deixei de ser. Este episódio da minha vida marcou-me para sempre e
moldou o meu modo de ser cidadão interventivo que sempre fui. Nunca deixei de ser assim! Até
quando cumpri, com honra, o meu serviço militar na Guiné, como Oficial da Reserva Naval, me envolvi
com os marinheiros, com quem lidava diariamente; e, o que me marcou profundamente, foi o trabalho
que, como voluntário, desenvolvi com os missionários italianos da Cumura, onde havia uma leprosaria.
Depois a vida foi tomando diversos rumos e surgem condicionantes que nos impedem de servirmos
sempre mais e melhor os que mais precisam de nós. Casei, tive 4 filhos e tinha o meu trabalho que me
permitia uma vida decente, no que, sempre, fui coadjuvado por minha Mulher, também ela educada
para o serviço dos pobres. Depois, sem nunca deixar de me envolver nas causas ditas sociais pelos
mais desfavorecidos, “aterrei” em Braga em 1980 onde desempenhei, ainda em tempo do Senhor Dom
Francisco Maria da Silva, o serviço de Presidente Arquidiocesano de Leigos. Depois, o meu
saudosíssimo Arcebispo, Senhor Dom Eurico Dias Nogueira, me incumbiu da direcção da Caritas
Arquidiocesana. Grande escola de serviço sócio-caritativo. Aí fui despertado para um problema
gravíssima, que ainda não tem solução, que são os comportamentos adictivos e dos problemas
gravíssimos dos comportamentos desviantes provocados pelo consumo de drogas. Vi, ou melhor, senti
que havia urgência em trabalhar com as famílias e foi então que, com o apoio incondicional da minha
Mulher, fundei a Associação Famílias que servi durante 35 anos. Entretanto fui convidado pelo
Governador Civil, Dr. Fernando Alberto Matos Ribeiro da Silva (um homem com H grande e maiúsculo)
para ser o primeiro Coordenador Distrital do Projecto Vida, causa a que me entreguei de alma e
coração (partido!) e que levou a tirar uma Pós-Graduação em toxicodependência na Faculdade de
Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, a forma que achei mais adequada para
servir mais e melhor a causa a que estava dedicado. Entretanto tinha, com minha Mulher, tirado um
curso de Orientação Familiar pela Universidade de Navarra. Além da minha vida familiar, conjuguei o
serviço à Associação Famílias e ao Projecto Vida continuando com a Caritas. Fui despertado para algo
de novo ligado ao tratamento e acompanhamento de toxicodependentes, o Projecto Homem, que
acabei por colaborar intensamente, para a sua implantação em Braga. Porém, por um convite
irrecusável, do referido Governador Civil de Braga, fui ocupar as funções de Sub-Director e depois
Director do Instituto Português da Juventude para o Porto e Minho. Nessa altura, por
incompatibilidade de conseguir mais tempo livre, deixei a Caritas, para grande desgosto do Senhor
Dom Eurico que me escreveu uma belíssima carta.

23 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Sim, sempre fui homem de causas, causas sociais, as únicas a que entendo que merecem que delas
nos ocupemos. Político? Não e sim! Não por não militar em Partidos políticos (aliás sempre fui contra a
ideia de se fundar um Partido Monárquico pois entendia e entendo que os monárquicos devem estar
em Partidos diferentes, de acordo com o seu entendimento de Governança.) Sim, por militar na “res
publica” e nas sua grandes causas, as únicas por que vale a pena lutar! E é assim que quero morrer, a
lutar pelas causas da minha vida, pelos “princípios inegociáveis”, no dizer do grande Papa Bento XVI: a
vida humana, da concepção até à morte natural; a Família, célula estruturante da sociedade e a
Liberdade de Ensino a que nestes tempos conturbados, anexo, com igual peso, a luta contra as teorias
da moda: cancelamento e teoria do Género que estão a destruir a sociedade.

RGAM.- Vivemos tempos de relativismo moral e de tentativa de desintegração do conceito de Família


como a conhecíamos. Dir-se-ia que há uma fúria endoutrinadora que parece ser ideologia
quimicamente pura e uma insuportável ingerência na reserva de privacidade e intimidade das
pessoas. O que pensa desta tentativa de imposição de determinadas agendas, que tende a dividir a
sociedade em campos cada vez mais antagónicos?

CAG.- Vivemos, hoje, numa verdadeira e feroz guerra Cultural que procura desconstruir a nossa
Civilização, enxameada de cobardes e micro-cobardes, que pululam por todo o lado e em todos os
meios sociais, científicos, artísticos e, até, religiosos. Orwell, ao escrever “1984” foi um verdadeiro
profeta que todos nós deveríamos conhecer. Chegamos ao ponto de o Estado, por estar imbuído por
tão deletérias doutrinas, a todos os níveis, querer ser ele o único educador das crianças e jovens face
ao alheamento e indiferença criminosa da maioria dos cidadãos. Não precisamos de uma Contra-
Revolução, mas de uma Revolução ao contrário daquela que nos “lava o cérebro” a todo o instante e
com meios poderosíssimos. Temos de ser cidadãos interventivos e corajosos sabendo opormo-nos
contra a invasão destes novos bárbaros que, por nossa culpa, têm encontrado campo aberto e mentes
vazias e ocas, trabalhadas para não reagir!
Como cidadãos livres, os que o querem ser, temos de estar particularmente atentos, às novas
propostas que circulam já em altas esferas da União Europeia, para proibir quem não “afinar pelo seu
diapasão”, o pensamento único.
Seja-me permitido, a propósito, que recomende vivamente a
leitura deste livro: “DESPIERTA – y combate a los bárbaros
que arruinan tu vida” de Álex Rosal, Ed. LibrosLIBRES, 2023.
Uma arma altamente eficaz nesta guerra cultural em curso.
Permita-me que cite George Orwell: «Se queres fazer uma
ideia de como será o futuro, imagina uma bota esmagando
um rosto humano.» para começar a resposta à sua questão.
De facto, vivemos um tempo de absoluto relativismo
egolátrico. O que conta é o meu eu elevado à suma potência
e tudo deve girar, obrigatoriamente, à volta dele. Assim,
compreendemos o ataque feroz à Família, constituída por
Homem e Mulher com a abertura à descendência. Na
realidade, sendo a Família uma comunidade de nós em que
cada eu não é aniquilado mas respeitado e acarinhado.
Assim sendo, é preciso destruir a Família como grande
“inimiga” do eu A natalidade continua a baixar
perigosamente entre nós e em toda a Europa, pois um filho é
tido como um objecto que se programa SE e quando não
incomoda cada um dos eus parentais que têm primazia
absoluta sobre tudo e sobre todos. O Aborto ou a Eutanásia
estão nesta linha de nunca por nunca se perturbar o
egocentrismo e daí se eliminarem os “incómodos” por nascer
ou no ocaso da vida. Perdemos totalmente a noção do Bem e

24 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

do Mal ou flexibilizamos de tal modo um e outro que já não temos capacidade de saber discernir
entre um e outro. Chegamos ao ponto que já é a própria Pessoa Humana, a sua identidade e
dignidade, a ser atacada com a pseudo Teoria do Género que impõe às cabeças que esvaziam dos
nossos contemporâneos a começar pelas crianças.

RGAM. – Apesar de se viver numa república, Portugal parou para assistir ao Casamento Real da Infanta
D. Maria Francisca, tendo-se registado uma audiência de mais de 800 mil telespectadores com um
pico de 1 milhão. Com os eventos reais estrangeiros o interesse não é menor. Podemos concluir, que os
portugueses se pudessem preferiam ter uma Família Real com que se identificar e acarinhar; e que,
nem que seja no âmago, os portugueses são monárquicos?

CAG.- Creio que a grande maioria dos portugueses se sentem fascinados pelas figuras da realeza. É
pena que muitos de nós vejamos essas personagens como fazendo parte de um conto de fadas. O que
nem sempre é verdade pois alguns Reis e Príncipes têm muito trabalho e dedicam-se ao seu país
totalmente, inspiram a ideia de encarnarem a própria Pátria. Recordo, em tempos recentes, as figuras,
diferentes, da Rainha Isabel II da Grã-Bretanha e do extraordinário Rei Balduíno da Bélgica. E que
dizer da actividade social tão pouco publicitada do Senhor Dom Duarte? O casamento da Senhora
Infanta foi um grande acontecimento nacional e tornou-se, creio bem, num dos melhores e mais bem
conseguidos cartazes favoráveis à Monarquia. Quem não reparou no seu sorriso cativante, simples e
próximo de todos aqueles que se deslocaram até Mafra? A sua singeleza irradiante transmitia a ideia
de que ser Princesa não é propriamente o mesmo de “starlette” de cinema! Sim, precisamos que a
Senhora Infanta apareça muitas vezes engajada em causas sociais a que é tão sensível e possa dar um
pouco do seu sorriso cheio de simpatia e bondade a tantos homens e mulheres acabrunhados por um
mundo tão triste! A Monarquia não é para condes, viscondes ou “marcondes” que só sabem pavonear
as suas raízes, mas que, no hoje e aqui, não passam, muitos deles, de inutilidades ou bugigangas
decorativas. O Povo será tanto mais monárquico quanto mais próximo sentir bater o coração da sua
Família Real.

RGAM.- Eça de Queiroz chamava a isso, 'o alto dever real de comunicar docemente com o povo'. Será
que há uma afinidade natural entre as famílias reais e as pessoas; e que só, nalguns casos existe entre
alguns presidentes, que se comportam como monarcas constitucionais, e o povo?

CAG.- Ao representar, de facto, a perenidade de uma Pátria, o Rei e a Família Real são a melhor
representação do país. Os presidentes da república representam-se a si e às claques que os
escolheram e representam a efemeridade, um momento do país que a História raramente registará.
Portugal tem um bom exemplo de um presidente que sabia fazer muito bem (nem sempre!) o papel
de Rei – Mário Soares, um republicano convicto. Este sabia muito bem manter a proximidade distante
e a distância próxima do Povo! … E não andava a fazer selfies por todo o lado.

‘O casamento da Senhora Infanta foi um grande acontecimento nacional e


tornou-se, creio bem, num dos melhores e mais bem conseguidos cartazes
favoráveis à Monarquia. (...) A sua singeleza irradiante transmitia a ideia de
que ser Princesa não é propriamente o mesmo de “starlette” de cinema!’

25 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

RGAM. – Das 44 Monarquias actuais, 68% são Democracias e é onde há mais liberdade individual e de
imprensa, maior PIB per capita, maior indíce de desenvolvimento indivídual; já das 135 repúblicas
existentes no Mundo, apenas 53 são Democracias. Que diria àqueles que contestam a monarquia,
argumentando que provoca a violação da igualdade, da justiça e da meritocracia, privilegiando uma
pessoa (Rei) ou uma família (real) pelo seu nascimento, e não pelo seu mérito ou sua capacidade?

CAG.- A Monarquia, ao dar estabilidade a um país, cria as boas condições para a eficácia governativa,
assim os Governantes queiram. Além disso, dada a isenção que todos os Reis actuais sabem manter
face aos Partidos políticos, o Rei pode e sabe ser Chefe de Estado com Governos de todas as “cores” o
que dificilmente acontece em república como podemos observar. Quanto ao mito da Monarquia ferir
a igualdade entre os cidadãos não passa de uma enorme falácia ainda que nos digam o contrário.
Vejamos o caso português em que todo o cidadão maior de 35 anos pode ser candidato a presidente.
Ora este item constitucional é pura demagogia, pois quem não tiver grandes apoios financeiros nunca
na vida poderá exercer a suprema magistratura e o putativo candidato terá que os andar a “mendigar”.
E nunca temos a certeza de que iremos escolher o cidadão mais bem preparado para ser o “rosto” de
um país enquanto que o Rei é preparado desde o nascimento para saber ocupar as funções de chefia
do Estado. Pode haver riscos, é verdade. Mas é, igualmente verdade, que uma boa Constituição prevê
alternativas sem criar complicações e gastos desnecessários que uma eleição presidencial acarreta e
que custa muitos euros aos nossos bolsos!

RGAM.– Quais as principais vantagens que uma Monarquia traria para Portugal?

CAG.- Uma Monarquia a restaurar, restauraria o cordão umbilical com o Fundador e com toda a
plêiade de Reis que fizeram, com o Povo, o nosso país. Quero crer que esta república (a 3ª) é um mero
e caro intervalo triste da História de Portugal que nasceu com um crime de sangue, o duplo regicídio
de Dom Carlos I e do seu sucessor Dom Luís II (o Príncipe Dom Luís Filipe que morreu assassinado
pouco depois do Pai). Para lá deste aspecto, a Monarquia “a haver”, traria estabilidade na chefia do
Estado e não nos submeteria a um leilão de tantos em tantos anos de figuras, que se deixam “vender”
como quem quer vender um qualquer tira-nódoas. O Rei está acima dos Partidos não por cima nem
dentro dos Partidos. Não é uma vantagem?

Carlos Aguiar Gomes com D. Duarte

26 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

RGAM. – A actual classe política (republicana) soma favorecimentos, embustes, trapaças, erros de
casting, falta de transparência, etc, e inversamente, nas Monarquias europeias assiste-se a um
escrutínio profundo e a uma ética apuradíssima para quem exerce cargos públicos. Ou seja, no nosso
País não há, actualmente, uma instituição que possa servir de modelo - um compasso moral e ético.
Ora o Princípio de Tomás de Kempis defende que ‘um costume mau é vencido por um costume bom’.
Essa, seria, também, uma grande vantagem da forma de governo monárquico?

CAG.- Esta sua questão leva-me um pouco mais longe, à falsificação e adulteração do que deve ser a
Pessoa Humana, Rei ou não. Vivemos uma crise profunda de uma Cultura que está já nos estertores da
morte. Deixamos e somos coniventes de uma guerra cultural desenfreada. Deixamos destruir e
desconstruir uma civilização. E o que resta? O que vemos e sentimos à nossa volta: oportunistas,
vigaristas, aldrabões, “desescrupulados”… Onde páram a honestidade, a honradez, a solidariedade…
Onde estão os valores que fizeram de nós uma das mais elevadas culturas de todo o mundo? E esta
“desgraça” atinge todos os grupos sociais, porém, vemos que os países onde há menos escândalos
políticos são Monarquias apesar de alguns membros da realeza desses países não serem dignos da
responsabilidade, que lhe estão associadas e o povo tem pena e lamenta que aqueles que deveriam
ser referências nem sempre o são. Ser Rei/Rainha ou Príncipe é pertencer a um grupo a quem tudo se
pede de edificante e todos exigem comportamento exemplar ainda que a sociedade esteja podre ou a
apodrecer! Não é fácil ser membro de uma Família Real, em minha opinião, pois são os cidadãos
menos livres, mais escrutinados e mais vigiados. E tudo para o bem da Nação. Impolutos. Solidários
com todos. Servidores incondicionais do Bem Comum. Coesos familiarmente, falando numa sociedade
“esboroada”, fragilizada moralmente…

RGAM. – Quer deixar umas últimas palavras


aos monárquicos portugueses?

CAG.- Que dizer aos meus correligionários


monárquicos? Sejamos cidadãos pró-
activos na luta pelos pobres e junto destes,
servidores dos frágeis, honestos, servidores
do Bem Comum, militem em Partidos
políticos limpando a imagem denegrida do
que é a Monarquia. Caros correligionários:
só há um princípio que nos une: a chefia
do Estado! Depois falem de heráldica e
genealogia em clubes próprios. Orgulhem-
se, imitando, os antepassados que foram
ilustres, seguindo o seu exemplo. Vivam
hoje preparando um futuro melhor sem
esquecer o passado mas não no passado Num jantar monárquico do Centro de Cultura Popular com
que … passou e não volta! o Dr. Henrique Barrilaro Ruas - Junho de 1969,
3.º a contar da esquerda

Muito Obrigado.
Entrevista realizada por Miguel Villas-Boas para a Real Gazeta do Alto Minho da Real Associação
de Viana do Castelo.

27 DEZEMBRO 2023
NOTA
INFORMATIVA
A Direcção da Real Associação de Viana do Castelo, com mandato para o
triénio 2020-2023, cumprimenta V. Exas, desejando desde já um bom ano de
2024.
A Real Associação de Viana do Castelo tem um plano de actividades e
orçamento para 2024, que inclui diversas iniciativas, que vão desde a
organização de conferências à publicação da Real Gazeta do Alto Minho,
órgão oficial de comunicação da Real Associação de Viana do Castelo, do
qual muito nos orgulhamos, e que se pretende sejam executadas com a
participação de todos os associados, simpatizantes e entidades que
entendam colaborar, com o intuito de contribuir e ajudar a dinamizar o ideal
Monárquico que todos nós abraçamos convictamente. Atendendo à
necessidade imperiosa que temos em angariar recursos financeiros
necessários ao normal funcionamento da Real Associação, e tendo em conta
que uma das competências da Direcção é a cobrança de quotas, eu, em
nome da Direcção e na qualidade de Tesoureiro, venho por este meio solicitar
a V. Exas. a regularização da QUOTA DE ASSOCIADO REFERENTE ao ano de 2023,
no valor de 20,00 € (vinte euros), preferencialmente por transferência
bancária, para:

Titular da Conta: Real Associação de Viana do Castelo


Entidade bancária: Caixa de Crédito Agrícola
Agência: Ponte de Lima
IBAN: PT 50 0045 1427 40026139242 47
Número de conta: 1427 40026139242
SWIFT: CCCMPTPL

Caso seja possível, pede-se o favor de enviarem por e-mail


(real.associacao.viana@gmail.com e amorim.afc@gmail.com) informação da
regularização da quota (ex: comprovativo), após o que procederemos de
imediato à emissão do recibo de liquidação.
Cordiais cumprimentos e saudações monárquicas,

Filipe Amorim
Tesoureiro da RAVC

Ficha Técnica
MARÇO 2023

TÍTULO: REAL GAZETA DO ALTO MINHO


PROPRIEDADE: REAL ASSOCIAÇÃO DE VIANA DO CASTELO
PERIODICIDADE: TRIMESTRAL
DIRECTOR: JOSÉ ANÍBAL MARINHO GOMES
REDACTOR: PORFÍRIO SILVA
WEB: WWW.REALVCASTELO.PT TF agency
EMAIL: REAL.ASSOCIACAO.VIANA@GMAIL.COM Agência de Marketing & Comunicação
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Nascimento Consorte
1125. D. Afonso Henriques.

Morte Filhos
3 de Dezembro de 1158 (33 anos) Coimbra, D. Henrique Afonso de Portugal (5 de Março
sepultada no Mosteiro de Santa Cruz, de 1147-1155), chamado como seu avô,
Coimbra. morreu quando tinha apenas oito anos de
idade. Representou a seu pai, apesar da sua
idade, com cerca de três anos, num conselho
Reinado na cidade de Toledo.
D. Urraca Afonso de Portugal (1148-1211)
Janeiro/Junho de 1146 – 3 de Dezembro de
casou com o rei Fernando II de Leão.
1158.
29 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Títulos e Honrarias
D. Teresa Afonso de Portugal (1151-1218),
depois do casamento chamada Matilde ou Condessa de Saboia, Piemonte e
Mafalda, casou com Filipe, Conde da Maurienne. Rainha de Portugal.
Flandres e depois em 1194 com seu primo
Eudo III, Duque da Borgonha, matrimónio
que foi anulado pelo Papa no ano seguinte
D. Mafalda em pessoa
por razões de consanguinidade. Sabe-se pouco da sua, no entanto os
D. Mafalda Afonso de Portugal (1153-1162 ou historiadores referem-se à Rainha D.
depois de Março de 1164). O seu casamento Mafalda de Saboia como tendo sido uma
com o infante Afonso de Aragão foi acordado mulher com um “feitio difícil e de real
pelo seu pai e pelo conde de Barcelona, teimosia”.
Raimundo Berengário IV em janeiro de 1160. Atribui-se o seu mau feitio assim como
Após a morte do conde de Barcelona no uma certa teimosia à Rainha devido aos
verão de 1162, o rei Fernando II de Leão conflitos constantes entre a rainha e o
convenceu a rainha viúva Petronila de prior de Santa Cruz de Coimbra, São
Aragão, de modo que o compromisso do Teotónio.
infante Afonso com Mafalda foi anulado e o Demonstrava preocupação para com os
seu casamento foi acordado com a infanta viajantes em geral e os peregrinos em
Sancha de Castela, filha do segundo particular, em especial para aqueles que
casamento do rei Afonso VII. O ano preciso das Beiras se deslocavam para Santiago de
da morte de Mafalda, que morreu quando Compostela, empenhando-se no
ainda era criança, é desconhecido. estabelecimento de vias de comunicação e
D. Sancho I de Portugal (1154-1211), rei de facilitação da transposição de rios, tendo
Portugal. para tal criado duas barcas entre Moledo
D. João Afonso de Portugal (1156-25 de (Lamego) e Porto de Rei (Peso da Régua),
Agosto de 1164). no Rio Douro. Nas suas margens, mandou,
D. Sancha Afonso de Portugal (24 de ainda, edificar uma albergaria, a Albergaria
Novembro de 1157-14 de Fevereiro de 1167), de Moledo.
nasceu dez dias antes da morte da mãe (se a
sua mãe morreu em 1157) e morreu antes de
cumprir os dez anos, segundo o livro de
óbitos do Mosteiro de Santa Cruz.

Pai
Amadeu III de Saboia

Mãe
D. Mafalda de Albon

30 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Prémio Príncipe da Beira à Investigação e


Ciência entregue a
'Projeto Cérebro Materno'
A cerimónia de entrega do prémio, que foi atribuído a um
trabalho que avalia o impacto da gravidez na saúde, teve
lugar no dia 10 de Novembro às 15h00, no salão nobre da
Câmara Municipal de Guimarães.
Joana Sequeira Pinto, investigadora na Oxford University,
foi a premiada da edição deste ano, com um trabalho que
avalia o impacto da gravidez na saúde e função do
cérebro, que tem como objetivo principal avaliar o
impacto da gravidez e dos distúrbios hipertensivos da
gravidez na saúde materna e na função cerebral.
O júri atribuiu uma menção honrosa à investigação
'Abordagem multimodal para o tratamento local de
glioblastoma: terapia de RNA direcionada ao tumor e
quimioterapia autorreforçada (chamado PRECISE)', da
investigadora Claúdia Martins.
O prémio, no valor de 15.000€, foi instituído pela Fundação
D. Manuel II, Universidade do Minho e Município de
Guimarães, consistindo num galardão que visa distinguir um
investigador de excelência na área, com menos de 40 anos
de idade, pretendendo apoiar o seu plano de pós-graduação
a realizar numa instituição de I&D nacional e/ou estrangeira.
A iniciativa, para além de premiar anualmente a investigação
de excelência, pretende contribuir para a abertura de novas
etapas na investigação aplicada e ética no domínio das
ciências biomédicas, bem como colaborar para o
desenvolvimento de terapias avançadas e impulsionar o
desenvolvimento de uma nova geração de investigadores
com formação focada naquela área científica.
A cerimónia, à qual não faltaram familiares e amigos das
premiadas, contou com a presença da vice-presidente da
Câmara Municipal de Guimarães, Dra. Adelina Paula Pinto,
S.A.R. o Senhor Dom Duarte Bragança, o Príncipe Dom
Afonso de Bragança, o vice-reitor da Universidade do Minho,
Prof. Dr. Eugénio Campos Ferreira e alguns membros do júri,
designadamente Dr. Adalberto Neiva de Oliveira e Prof. Dr.
Manuel Braga da Cruz.
Estiveram também presentes o Dr. José Aníbal Marinho, Vice-
Presidente da Direcção Nacional da Causa Real e Presidente
da Direcção da Real Associação de Viana do Castelo, o Dr.
Gonçalo Pimenta de Castro, Presidente da Direcção da Real
Associação de Braga e o Arq. Paulo Valença, Presidente da
Direcção da Real Associação do Porto.

31 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

II EDIÇÃO DO PRÉMIO MARQUÊS DE RIO


MAIOR PARA A AGRICULTURA
JOSÉ CRAVEIRO LOPES LOBÃO

ABSTRACT
The Marquês de Rio Maior Award was presented in Almeirim, at Quinta do Casal Branco. The awarded
entity was Associação + Tejo with the Tejo project that will allow, with 6 dams, to store water to
irrigate over 300 thousand hectares of land. The session was chaired by Infanta D. Maria Francisca who
presented the prize.

Key words: Marquis of Rio Maior Award; Infanta; Tejo Project; Water.

RESUMÉ
Le Prix Marquês de Rio Maior a été remis à Almeirim, à Quinta do Casal Branco. L'entité lauréate était
Associação + Tejo avec le projet Tejo qui permettra, avec 6 barrages, de stocker de l'eau pour irriguer
plus de 300 000 hectares de terres. La séance a été présidée par l'infante D. Maria Francisca qui a
remis le prix.

Mots clés: Prix Marquis de Rio Maior; Infante; Projet Tejo; Eau.

Pela segunda vez a Real Associação do Ribatejo, representante da Causa Real no Ribatejo, entregou o
Prémio Marquês de Rio Maior, relativo ao ano de 2022. Este prémio tem o nome do Eng. Agrónomo
João Saldanha Oliveira e Sousa, em homenagem ao Engenheiro Agrónomo, agricultor e professor, que
foi director da Estação Nacional de Fruticultura, autarca e que desempenhou várias funções na Causa
Real.
O Júri do prémio, presidido pelo Eng. João Coimbra é constituído por: Gonçalo Martins da Silva (Real
Associação do Ribatejo), Eng. Fernando Mouzinho (Ordem dos Engenheiros), Prof. Nuno Geraldes
Barba (Docente da Escola Superior Agrária de Santarém), Prof. Francisco Gomes da Silva (AGROGES),
José Cortez de Lobão (Causa Real), Eng. Eduardo Oliveira e Sousa (Ex-Presidente da CAP) e o Dr. João
Saldanha Oliveira e Sousa (em representação da família do
homenageado). O Prémio foi entregue em cerimónia especial pela Senhora Infanta D. Maria Francisca
de Bragança.
O prémio foi em 2023 atribuído ao “Projecto
Tejo” pela sua “proposta relevante e inovadora
no aproveitamento dos recursos hidráulicos
para fins múltiplos", nomeadamente na rega
do Vale do Tejo, Oeste e Setúbal e Alto
Alentejo, com uma forte componente
ambiental.
Este projecto tem sido Desenvolvido pela
“Associação + Tejo para a Promoção do
Desenvolvimento Sustentável do Tejo”,
também prevê também a navegabilidade do
Rio, a produção de eletricidade verde e a
pesca.

32 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Foi precisamente à referida Associação que o prémio foi entregue em mão ao seu presidente o Eng.
Manuel Campilho. Tecnicamente, a coordenação do projecto foi feita pelo Eng. Jorge Froes, um dos
mais prestigiados especialistas do sector em Portugal.
O projecto não implica a construção de uma nova barragem no rio Tejo mas sim a de 6 açudes que
regularizarão o caudal do rio e retêm a água necessária para ampliar a área de regadio em cerca de
300 mil ha.
A atribuição deste prémio a este projecto pretende chamar a atenção à absoluta necessidade de
aproveitarmos a água da chuva para resolver o drama que se vem acentuando com a sua falta e
aumentar a produção agrícola melhorando as produções do sector e incrementando a nossa
segurança alimentar. Na situação que se vive em Portugal, particularmente no Sul do país, neste
momento este projecto não poderia ser mais oportuno.
De facto no nosso país temos água da
chuva suficiente para todas as
necessidades no global do ano, o que
está é mal distribuída, em excesso no
norte e durante o Inverno, e em falta no
Sul, especialmente no Verão.
A solução de dessalinizar da água do
mar, além dos custos elevados em
energia, resolve apenas pontualmente
situações limites no litoral. A única forma
de resolver de uma vez por todas a falta
de água em Portugal é fazer o transvase
da bacia do Douro para o Tejo, do Tejo
para o Guadiana e do Guadiana (Alqueva)
para as barragens do Algarve.
A cerimónia de entrega do prémio
realizou-se no passado dia 24 de
Novembro, na Quinta do Casal Branco
em Almeirim, foi presidida pela Senhora
Infanta Dona Francisca, acompanhada do
seu marido, o Dr. Duarte Araújo Martins e
onde estiveram presentes várias
entidades além dos premiados e onde
usaram
da palavra além dos 2 irmãos Campilho,
Manuel e Miguel e do Eng. Jorge Froes
em representação da Associação + Tejo, a
Senhora Infanta, O presidente da Real
Associação do Ribatejo, o Eng. Fernando
Mouzinho, em representação do Júri, o
Eng. António Saldanha em representação
da família e encerrou a sessão o Sr.
Presidente da Câmara de Almeirim com
uma intervenção cheia de coragem e
bom senso. O anfitrião, Eng. José Lobo de
Vasconcelos, da Quinta do Casal Branco
proporcionou aos convidados uma
selecção de excelentes vinhos da sua
Casa Agrícola onde foi igualmente
servido um magnífico jantar animado no
final por um grupo folclórico.

33 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Casamento Real

Na véspera do casamento da infanta D. Maria Francisca de Bragança com o Dr. Duarte Martins, no dia
6 de Outubro, houve um arraial especial, que contou com cerca de 500 convidados, nos jardins da
casa de SS.AA.RR. Dom Duarte e Dona Isabel de Herédia, em São Pedro de Sintra.
A infanta Dona Maria Francisca de Bragança surpreendeu todos os convidados, ao surgir vestida com o
traje de noiva de Viana, cumprindo desta forma um desejo do seu pai, S.A.R. D. Duarte de Bragança.
O traje de Noiva do Minho, conforme descrito no número anterior da Real Gazeta do Alto Minho, foi
encomendado pela Real Associação de Viana do Castelo à MARSOG, Unidade produtiva artesanal
reconhecida (carta 121395), localizada em Santa Marta de Portuzelo, empresa cuja designação social é
o nome completo da própria fundadora e artesã (Maria Augusta Ribeiro Sousa Oliveira Gil).
A autarquia de Viana do Castelo, tendo tomado
conhecimento, por intermédio da Real Associação
de Viana do Castelo, do desejo de D. Francisca de
Bragança homenagear o Minho, vestindo o traje de
noiva de Viana, numa perspetiva da promoção do
território e do património cultural bem como dos
usos e costumes do Minho (o traje regional de
noiva de Viana é único no país), ofereceu à infanta
o traje de noiva que a Real Associação tinha
mandado fazer.
No dia 7 de Outubro, a Infanta Dona Maria
Francisca de Bragança casou na Basílica do
Convento de Mafra, com o Dr. Duarte de Sousa
Araújo Martins, sendo a cerimónia religiosa
presidida por Sua Eminência o Senhor Cardeal-
patriarca emérito D. Manuel Clemente, ao som dos
seis órgãos e da aclamação dos inúmeros
convidados.
Os convidados começaram a chegar muito antes
da hora marcada para a cerimónia e, a Infanta
Dona Maria Francisca, veio para a Basílica de
caleche, acompanhada por S. A. R. o Senhor Dom Ao centro D. Francisca de Bragança, à sua esquerda o casal Cabral de
Menezes e à sua direita da Regina Azevedo e José Adolfo Costa
Duarte Pio de Bragança. Azevedo
Entre os cerca de 1200 convidados estavam o príncipe Louis e o príncipe Sébastien - do Luxemburgo -,
filhos do Grão-Duque Henri e da Grã-Duquesa Maria Teresa, Fra'John Dunlap, Príncipe e 81.º Grão-
Mestre da Soberana Ordem Militar de Malta e representantes das casas reais da Bélgica, do
Liechtenstein, de França, da Áustria, da Bulgária, Brasil e da Rússia.
Na cerimónia estiveram presentes o presidente da república, Marcelo Rebelo de Sousa, Miguel
Albuquerque, presidente do governo regional da Madeira, Carlos Moedas e Pedro Santana Lopes,
Durão Barroso, Pedro Passos Coelho e Paulo Portas, António Horta Osório, ex-presidente do Credit
Suisse, Manuel Caldeira Cabral, ex-ministro da economia e o músico José Cid. O primeiro-ministro,
António Costa, foi convidado, mas por motivos de agenda, não pôde comparecer.

34 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Dona Maria Francisca usou uma tiara da rainha Dona Amélia, a última rainha de Portugal e as mesmas
jóias que Dona Isabel usou no seu casamento, em 1995.
A costureira Luzia do Nascimento idealizou o vestido de decote em V e manga “francesa”, com uma
pequena cauda.
Os noivos cortaram um primeiro bolo no Terreiro Dom João V que foi distribuído pelos populares que
assistiam ao casamento e um segundo bolo inspirado na filigrana de Gondomar no cocktail para os
convidados que se realizou nos claustros do convento, bolos estes da autoria do Chef Hélio Loureiro.
No exterior do convento, foram muitos os populares que se
reuniram logo de manhã para assistirem à boda real, local
onde da parte de tarde actuou o Rancho da Casa do Concelho
de Ponte de Lima em Lisboa.
Após o cocktail nos claustros, que terminou por volta das
19h00, cerca de metade dos convidados seguiram para São
Pedro de Sintra, onde na casa dos Duques de Bragança os
esperava um copo de água, concebido pelo Chef Hélio
Loureiro.
Embora não estivessem em representação da Real Associação
de Viana do Castelo, foram convidados e marcaram presença
no Arraial e no casamento, o Dr. José Aníbal Marinho,
Presidente da Direcção da Real Associação de Viana do
Castelo e Vice-Presidente da Direcção Nacional da Causa Real
e sua mulher, a Dra. Paula Marinho, o Eng.º Francisco Calheiros
(Conde Calheiros), Presidente da Mesa da Assembleia Geral da
Real Associação de Viana do Castelo e sua mulher a Arq. Rosário Coutinho e o Eng.º José Adolfo da
Costa Azevedo, Presidente do Conselho Fiscal da mesma associação e sua mulher a Dra. Regina
Azevedo.
Uma reportagem mais detalhada sobre o casamento pode ser lida no Correio Real, n.º 28, Novembro
de 2023, dedicado ao casamento Real.

Em Mafra no local do cocktail, da esquerda para a direita, João Paredes


Presidente da Real Associação da Madeira e Porto Santo e sua filha
Luciana Paredes, Pedro Quartin Graça, Presidente da Causa Real e sua
Mulher Eugénia Quartin e José Aníbal Marinho, Presidente da Direcção da
Real Associação de Viana do Castelo e Vice-Presidente da Causa Real e
sua mulher Paula Marinho.

35 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Da direita para a esquerda Paula Marinho e José Aníbal Marinho com os Francisco Calheiros com S. A. R. o Senhor D. Duarte
noivos na noite do Arraial

José Anibal Marinho em conversa com os Noivos

36 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

JANTAR DOS CONJURADOS


Museu Nacional de História Natural e da Ciência em Lisboa, 30 de
Novembro de 2023

Realizou-se no dia 30 de Novembro no Museu Nacional de História Natural e da Ciência em Lisboa, o


tradicional Jantar dos Conjurados, num espírito renovado e com o alto patrocínio de Sua Alteza Real o
Senhor Dom Duarte e da Família Real.
A Pedido de Sua Alteza Real o Senhor Dom Duarte de Bragança a Senhora Duquesa de Coimbra,
juntamente com a Causa Real e com a colaboração das Reais Associações, através da Associação
Infanta Maria Francisca, organizou o Jantar deste ano.
Para D. Francisca de Bragança “Restauração da Independência é uma ocasião digna de festa! Além de
relembrar a nossa História, o Jantar dos Conjurados é a ocasião perfeita para enfatizar a importância
de nos unirmos em função de um bem maior. Desta forma, este ano decidimos aliar o Jantar dos
Conjurados à instituição Banco do Bebé.

37 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Intervenção de Pedro Quartin Graça, Presidente da Causa Real

Altezas Reais,
Minhas senhoras e meus senhores,
Caros amigos,

Cabe-me agradecer a Vas. Altezas Reais a possibilidade


de partilharmos com a Família Real esta data de
celebração na véspera de um dia e de um momento que
amanhã mesmo se comemora, o 1.º de Dezembro de 1640,
data marcante da história pátria.
Uma data que, recordo, deixou tristemente de ser feriado
nacional durante alguns anos e para cuja difícil
restauração muitos patriotas aqui presentes tiveram
ocasião de contribuir.
Hoje mais do que nunca comemorar o 1º de Dezembro é
um dever patriótico!
Agradeço também a todos quantos, monárquicos ou não,
aqui se encontram hoje, em elevadíssimo número, aliás, e
a todos os que tornaram possível este jantar. Faço-o na
figura de SAR a Infanta Dona Maria Francisca cuja
Associação foi peça absolutamente essencial para o êxito
desta iniciativa.
Permitam-me que saúde também, nesta ocasião a Juventude Monárquica Portuguesa que agora
comemora 10 anos de vida e de luta pela monarquia e que vive actualmente os mais elevados
números de filiação da sua história. Bem-haja JMP! E obrigado à Maria João Lencastre e ao José Carlos
Lobão pelo apoio de sempre.
Foram 40, bem menos, muito menos dos que aqui se encontram presentes, os homens que em 1640
permitiram que hoje aqui estejamos como Portugueses.
São 40 os que nós hoje homenageamos e cujo espírito temos de honrar e continuar a seguir: os
Conjurados.
E foram esses 40 patriotas que, pondo em risco posses, posição, família e até a sua própria vida,
enfrentaram um contingente muitíssimo superior de castelhanos e que, unidos com o povo de Lisboa,
estiveram na génese da reconquista do país e da aclamação de D. João IV como Rei.
Hoje, como no passado, e num momento em que a crise que actualmente atravessamos, mais do que
política é, sobretudo, uma crise de identidade, é de novo hora de abandonar a passividade, a miopia e
a mediocridade e de tomar uma atitude semelhante aos portugueses de 1640. É com esse mesmo
espírito de coragem, determinação, convicção e união à volta de uma causa maior do que cada um de
nós deve enfrentar o presente para construir o futuro.
E o futuro existe apenas se formos livres. É essa a nossa causa maior.
É esse combate pela liberdade que hoje nos deve mover. Uma liberdade que está ameaçada quando
os símbolos pátrios são erradicados da simbologia do nosso país. Anos atrás foi o nosso feriado da
independência que foi suprimido. Agora são os castelos e as quinas que caiem por terra. Mas todos
nós temos uma bandeira que nos une na nossa história pátria: a bandeira azul e branca carrega toda o
nosso passado, representa o presente e é a única que assegura a nossa unidade no futuro.
Dentro desta lógica também a Causa Real tem procurado levar para a frente essa mensagem numa
mudança de atitude para a qual a Família Real é absolutamente determinante.

38 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Para além de vermos no nosso Rei e na Família Real uma ligação directa e ininterrupta à nossa
história milenar, ao desenvolvimento da nossa consciência enquanto portugueses e à nossa
independência enquanto Nação, vemos também no Senhor Dom Duarte, hoje como no passado, esse
espírito de luta, de defesa da liberdade, de que deu sempre provas.
Quem não se recorda do papel absolutamente determinante que o Duque de Bragança teve na
libertação de Timor-Leste do jugo indonésio e de todos os esforços que desenvolveu para permitir a
continuação da integração de Timor num espaço lusófono de que realmente faz parte?
Hoje, consolidada que está a jovem democracia timorense, é de novo Portugal que se volta para o seu
Rei, como único garante da sua continuidade.
Contam, os Portugueses, portanto com a Família Real nessa luta pela liberdade que alguns nos
tentam cercear ou, pura e simplesmente, eliminar.
Permitam-me que dedique breves palavras à Causa Real e na sua posição de apresentação de uma
alternativa política de regime para o País.
A Causa Real não sendo nem pretendendo ser um partido político, não abdica contudo dos princípios
de defesa da Pátria e de restauração da monarquia.
O nosso projecto, o das Reais Associações e da Juventude Monárquica que federamos é claro, firme,
inamovível e resoluto: pugnamos pela unidade do movimento monárquico, servimos para apresentar
propostas aos Portugueses, lutamos pela defesa dos direitos, liberdades e garantias do nosso Povo e
pela possibilidade dos portugueses fazerem escolhas através de nova legislação eleitoral que permita
a real representação dos eleitores.
Defendemos, pois, a dignificação do Homem, da vida e da Nação Portuguesa.
Mas essa só é possível com o Rei. Só com a restauração da Monarquia seremos livres e independentes.
Termino citando e reiterando o apelo que nesta mesma ocasião lancei no ano passado. São palavras
de Pessoa: (...) "Tudo é incerto e derradeiro. Tudo é disperso, nada é inteiro! Ó Portugal, hoje és
nevoeiro... É a hora!"
Peço que se juntem a mim bebendo à saúde de SS.AA.RR. os Duques de Bragança, ao Príncipe e aos
Infantes de Portugal que, encarnando a nossa história, representam uma instituição que será sempre
um símbolo de esperança para o futuro de Portugal.

Viva Portugal! Viva o Rei!

Lisboa, 30 de Novembro de 2023

39 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Mensagem de 1.º de Dezembro de 2023 de Sua Alteza Real O Senhor Dom Duarte de Bragança

Portugueses,
Desde o final da II Guerra Mundial que não vivíamos um
período tão preocupante como o que vivemos
actualmente. Todos os dias recebemos imagens de
destruição e sofrimento dos povos envolvidos em
guerras. O desrespeito pela vida humana atinge níveis
que há muito não víamos.
A guerra na Ucrânia e a guerra na faixa de Gaza vão
deixar marcas de que não nos livraremos tão cedo.
Os nossos irmãos Moçambicanos sofrem as
consequências do terrorismo, que tem provocado
milhares de mortos e centenas de milhares de
refugiados. As Forças Armadas Portuguesas têm
oferecido o seu apoio, mas apenas o apoio humanitário
tem sido aceite.
A eficácia do envolvimento das Forças Armadas
Portuguesas em alguns conflitos tem sido muito bem
vista internacionalmente, apesar das limitações
orçamentais.
É tempo de o poder político voltar a dar dignidade aos militares, que são o garante da nossa
segurança e soberania.
Por outro lado, não posso deixar de referir a preocupante situação económica.
Parece ser consensual que a carga fiscal atual tem de ser reduzida. Tanto para as pessoas como para
as empresas.
A situação é claramente agravada com os aumentos dos preços que sofremos, sem haver um aumento
semelhante dos salários. Como consequência deste erro persistente, estamos a perder para a Europa e
para o Mundo os nossos jovens, tendo por outro lado uma entrada massiva de estrangeiros, com a
consequente exploração de mão de obra barata, sem que haja da parte do Estado uma visível política
de integração.
Esta falta de atenção, aliada aos receios económicos presentes em Portugal, pode criar inimizades
entre as diversas comunidades que aqui vivem e levar ao aparecimento de grupos radicais violentos.
Portugal tem potencial. Se nós olharmos para as áreas do desporto, da diplomacia, das artes, da
economia e das ciências, vemos que os Portugueses estão desproporcionalmente representados
internacionalmente, em posições de elite e de chefia.
Portugal é um país de vencedores. Não nos podemos esquecer disto.
Mas, não basta ser vencedores lá fora, precisamos de ser vencedores aqui.
Em tempos de receio, em que o futuro parece tão incerto, é preciso ser exemplo a seguir. É preciso
viver com convicção, coragem e determinação em todas as situações da vida.
Temos de aproveitar as próximas eleições, a 10 de Março, e não perder esta oportunidade para exigir à
classe politica uma estratégia séria e eficiente para Portugal.

40 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Além disso, não podemos ser indiferentes ao futuro do nosso País e deixar de exercer a nossa
responsabilidade de votar. Quem não vota, não tem legitimidade para criticar; quem não vota, entrega
a sua responsabilidade a outrem. Não abdiquem da vossa responsabilidade!
Os Portugueses sabem fazer bem! Este ano, fomos responsáveis pela organização da Jornada Mundial
da Juventude, cujo sucesso se deveu a uma excelente organização e complementaridade entre a
Igreja, o Governo, as Autarquias e a sociedade civil, especialmente a mais jovem. Os nossos filhos
Afonso e Dinis tiveram a oportunidade de participar. O Dinis conduziu um grupo internacional de
peregrinos e o Afonso participou como voluntário na organização.
Queria aqui expressar a minha gratidão ao Senhor Cardeal D. Manuel Clemente, Patriarca Emérito de
Lisboa, ao Senhor Cardeal D. Américo Aguiar, ao Senhor Presidente da República, ao Governo e às
Câmaras Municipais, com destaque para as de Lisboa e de Loures, por terem proporcionado aos
Portugueses e a Portugal aqueles inesquecíveis momentos de Paz e Comunhão que vivemos no
passado mês de Agosto.
É um legado que não devemos esquecer. O reconhecimento do Santo Padre, e de tantas outras vozes,
pela excelência da organização portuguesa enche-nos de orgulho e prova que, quando queremos,
somos capazes.
A minha Mulher e Eu, gostaríamos de manifestar um sentido agradecimento a todos os Portugueses,
pela forma como acolheram e acarinharam o casamento da nossa filha Maria Francisca, no magnifico
Palácio Real de Mafra, no passado dia 7 de Outubro. Foi com emoção que toda a família sentiu o apoio
de tantos Portugueses para aquela que foi uma celebração de felicidade e esperança.
Queria ainda expressar o nosso agradecimento à Câmara Municipal de Mafra e a todos os voluntários
que permitiram que esta cerimónia tenha sido um sucesso. A todos, a minha família espera sempre
poder corresponder com serviço e dedicação ao nosso País.
Por fim, queria agradecer a todos quantos colaboraram na organização deste jantar, que é memória
histórica dos que serviram Portugal no passado e desafio a servir Portugal hoje. Os bilhetes e o leilão
deste jantar irão reverter a favor do Banco do Bebé, instituição que se dedica ao apoio de recém-
nascidos em dificuldades e suas famílias.
Juntamo-nos hoje, para lembrar os Conjurados de 1640 que, pela sua coragem e pela sua fidelidade a
Portugal, nos devolveram a nossa liberdade de Nação. Aos monárquicos, presentes e não presentes,
empenhados na Causa Real, nas Reais Associações ou noutras realidades: honremos o exemplo dos
Conjurados, hoje! Não percamos o nosso tempo e o nosso futuro em divisões estéreis, mas juntemos o
nosso esforço e o nosso talento, sempre ao serviço da liberdade e da unidade portuguesas, ao serviço
do nosso povo e o nosso território, ao serviço de Portugal!
Viva Portugal!

41 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

JANTAR DOS CONJURADOS


GUIMARÃES, 30 DE NOVEMBRO DE 2023

Decorreu no dia 30 de Novembro o Jantar dos Conjurados das Reais


Associações de Braga, Viana do Castelo que este ano contou também
com a co-organização da Real Associação de Trás-os-Montes e Alto
Douro, no Palácio de Vila Flor, em Guimarães.
Foram vários os associados das três Reais Associações organizadoras
que marcaram presença neste evento. Importa salientar a presença
significativa de alguns jovens, o que prova que o nosso ideal está vivo!
Para além do Presidente da Direcção da Real Associação de Viana do
Castelo, Dr. José Aníbal Marinho, que é também Vice-Presidente da
Direcção Nacional da Causa Real, estiveram presentes os Vice-
Presidentes da direcção Dra. Mariana de Magalhães Sant’Ana e Dr.
Pedro Giestal, bem como Dom José Vaz de Almada, ilustre
representante de D. Antão de Almada e António da Rocha Páris.
Por impedimento do Presidente da Direcção da Real Associação de
Braga, Dr. Gonçalo Pimenta de Castro, coube à Vice-Presidente, Dra.
Gabriela Sequeira saudar todos os presentes e, lembrar a data que se
estava a comemorar “1.º de Dezembro de 1640”.
Couve ao Prof. Dr. Pedro Villas Boas Tavares fazer a apresentação do Prof. Dr. José Carlos Seabra
Pereira, referindo que é Doutor pelas universidades de Coimbra e de Poitiers e professor da Faculdade
Letras da Universidade de Coimbra e na Universidade e é Coordenador Científico do Centro
Interuniversitário de Estudos Camonianos.
O Prof. Seabra Pereira proferiu uma palestra intitulada “Evocação a 1640", começando por
contextualizar a época, após o que se referiu à importância do 1.º de Dezembro para a independência
Nacional e enumerou alguns dos heróis que arriscaram a própria vida independência e a importância
que tiveram na revolução.
No final, os participantes assistiram via vídeo à tradicional mensagem do 1º de Dezembro de S.A.R. o
Senhor Dom Duarte de Bragança.

42 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Principado de Liechtenstein
- Um estado que deve a sua existência e
nome à dinastia reinante -
ANTÓNIO PINHEIRO MARQUES

ABSTRACT
Evolution of a territory to a national state. A monarchy based on democracy and parliament and a
direct democracy.

Key words: Holy Empire; monarchy; constitutionalism; referendums.

RESUMÉ
Évolution d’un territoire vers un état national. Une monarchie avec une base démocratique
parlementaire et une démocratie directe.

Mots clés: Saint-Empire; monarchie; constitutionalisme; référendums.

A Família Liechtenstein na origem da criação do principado

O território onde se situa o Liechtenstein foi ocupado por tribos dos Alamanos, fixadas na região, já
depois do domínio romano e, posteriormente, integrou o império franco em 504, após a derrota que
Clovis lhes infligiu em Tolbiac. Esta zona passaria a fazer parte do império carolíngio e, quando da
divisão deste, pela morte de Carlos Magno, da Lotaríngia ou reino dos Francos Orientais.
A família Liechtenstein tomara o nome do seu castelo de origem, já na sua posse em 1140, situado em
Liechtenstein, na Baixa Áustria. Foi Carlos de Liechtenstein, que exerceu o cargo, de grande
preponderância, de chefe da Casa do Imperador e da corte imperial, que em 1608 recebeu o título de
príncipe concedido pelo Rei Matias da Hungria, depois também Imperador. Foram-lhe concedidos,
igualmente, os títulos de duque de Troppau e de Jägerndorf, na região da Morávia e Silésia.
O seu neto Hans-Adam I (Johann Adam Andreas) que se notabilizou pelas suas capacidades de gestão
financeira, que lhe valeram ser conhecido como “o Rico”, entendido e patrono das artes, adquiriu
quadros de Sir Peter Paul Rubens e Sir Anthony van Dyck, dando início à coleção dos príncipes de

43 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Liechtenstein. Hans-Adam viria a estar na origem do principado de Liechtenstein, resultante da união


do senhorio de Schellenberg (criado por Carlos Magno, no século IX) e por ele comprado em 1699, pela
soma de 115.000 florins, com o condado de Vaduz, com o qual Schellenberg tinha ligações e
contiguidade territorial, igualmente comprado pelo mesmo príncipe, em 1712, por 290.000 florins.
Foi o Imperador do Santo Império, Carlos VI que em 1719 criou o Principado de Liechtenstein, para
Anton Florian de Liechtenstein, da linha chamada a suceder pelo falecimento de Hans-Adam, sem
filhos varões, e que acompanhara o então Arquiduque Carlos, pretendente ao trono de Madrid, no
período da guerra de sucessão de Espanha. Quando o Arquiduque Carlos sucedeu a seu irmão José I,
como imperador, Anton Florian continuou a exercer funções de grande confiança, como seu
conselheiro privado e também como embaixador e enviado extraordinário. Os titulares deste novo
principado ficavam na dependência direta do imperador e passavam a ter assento no Reichstag, a
Dieta imperial, no banco dos príncipes.

A Confederação do Reno e a Confederação Germânica

Os príncipes de Liechtenstein detiveram cargos de muito relevo na corte imperial, confiando a


administração do principado, território com poucas localidades e habitantes, a um seu representante
em Feldkirch, no Vorarlberg.
O principado fez parte do Santo Império até à sua dissolução em 6 de agosto de 1806, com a
abdicação do Imperador Francisco II, sendo reconhecido, finda a dependência imperial, como estado
soberano. Passou a integrar a nova Confederação do Reno, formada pelos dezasseis estados alemães a
fazer parte do tratado que a instituía e que foi assinado em Paris a 12 de julho de 1806. A
Confederação de Estados do Reno tinha o Imperador dos Franceses como protetor.
Resultante da derrota de Napoleão I em maio de 1814, e da reorganização da Europa pelo Congresso
de Viena, em 1815, surgiu a Confederação Germânica, com quarenta membros, entre os quais o
Principado de Liechtenstein. Todos eram monarquias, com exceção de quatro cidades livres: Bremen,
Francoforte, Hamburgo e Lubeque. A convenção ou dieta confederal, sediada em Francoforte, era
formada pelos representantes dos estados-membros, sob a presidência da Áustria, e decidia por
unanimidade.
Ainda no início do século XIX, o Príncipe João I, grande militar que participara nas guerras contra
Napoleão, outorgou uma constituição ao principado em 1818, e nesse mesmo ano, seu filho o Príncipe
Alois, deslocou-se ao país, no que foi a primeira visita de um membro da família reinante. O mesmo
príncipe, já como soberano, esteve no Liechtenstein em 1842 e 1847.
O Príncipe João II assinou uma nova constituição em 1862, com
base nas propostas do comité constitucional, surgido depois da
agitação revolucionária de 1848 e 1849, que também afetou o
principado, texto influenciado pelas constituições de Vorarlberg e
de Sigmaringen. Nele ficaram consagradas as liberdades dos
cidadãos e estabelecido um parlamento com quinze membros.
Em 1866, e como consequência da guerra austro-prussiana, a
Confederação Germânica foi dissolvida, surgindo a Confederação da
Alemanha do Norte, a que se seguiu a proclamação do Império
Alemão em 1871, dos quais o Liechtenstein não fez parte, vindo a
reforçar a sua já forte ligação à Áustria, com a qual tinha
estabelecido uma união alfandegária em 1852.

As duas guerras mundiais


Príncipe João I de Liechtenstein

O Principado de Liechtenstein, estado sem exército desde que dissolvera os seus efetivos, depois da
guerra austro-prussiana em 1868, e proclamara a neutralidade, que viria a conseguir manter não
estando diretamente envolvido na grande guerra, embora tenha sofrido algumas das suas
consequências.

44 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Os abastecimentos provenientes da Áustria e da Suíça diminuíram, tendo-se verificado também um


aumento do desemprego, e um período de agitação que chegou ao próprio parlamento, provocando
um movimento de rejeição da constituição vigente e a substituição do governador, nomeado pelo
príncipe João II, por um comité executivo provisório. O monarca aceitou a demissão do governador
von Imhof, substituindo-o por Karl Alois de Liechtenstein. Esta situação levou à necessidade de uma
revisão constitucional que, por acordo dos dois principais partidos, resultou na aprovação de um novo
texto, sancionado em 1921.
Tendo laços muito estreitos com o Império da Áustria, derrotado
no conflito e existindo uma situação revolucionária em Viena, o
principado prosseguiu numa aproximação à Confederação Suíça,
tendo sido concluído um tratado que criava uma união
alfandegária entre os dois estados, mantido o estatuto de
neutralidade do principado, e ficando a Suíça responsável pela
sua segurança e representação externa. Desde os anos 20 que o
franco suíço é a sua moeda oficial.
Uma tentativa de admissão do Liechtenstein na Sociedade das
Nações, em 1920, foi rejeitada devido à exiguidade do seu
território, tendo apenas sido apoiada pela Suíça.
Entretanto, Francisco I, príncipe reinante desde 1929, receoso de
uma possível anexação da Áustria pelo III Reich (o que viria a
acontecer em março de 1938), mas talvez também por razões
Principe João II pessoais (era casado com uma aristocrata de origem judia), e
ainda pela sua idade avançada (em 1938 cumpriria oitenta e quatro anos), e
uma vez que não tinha filhos, retirou-se para o seu castelo de Feldberg,
depois de atribuir a regência a seu sobrinho neto, que desde 1930 e por
renúncia de seu pai (igualmente por razões de idade) já era o seu sucessor
e representante no Liechtenstein, onde se deslocava com frequência. Seria
o jovem Francisco José II que teve de enfrentar o período da II Guerra
Mundial, já como príncipe reinante, uma vez que Francisco I falecera em
julho do mesmo ano de 1938. O Príncipe Francisco José II foi o primeiro
soberano a residir permanentemente no principado, onde se instalou ainda
em 1938.

Francisco José II

Sua Alteza Sereníssima o Príncipe Francisco José II, nasceu em 1906 no Francisco José II
castelo de Frauenthal, propriedade da sua família, na Estíria. O príncipe
prosseguiu estudos numa prestigiada escola católica de Viena, o
Schottengymnasium, também frequentada por vários familiares seus, pelo Imperador Carlos I da
Áustria, e por figuras ilustres da ciência, literatura, artes e música, como os irmãos Josef e Johann
Strauss II, para só citar estes dois.
Muito interessado em grego e também em matemáticas e ciências da natureza, formou-se, em 1930,
em engenharia florestal pela Universidade de Recursos Naturais de Viena.
Procurou manter a independência e a neutralidade do país, com o apoio do popular primeiro-ministro
Josef Hoop. Efetuou uma visita de boa vontade a Berlim, acompanhado pelo seu chefe de governo,
para um encontro com o chanceler alemão, Adolf Hitler, e com Joachim von Ribbentrop. Durante esta
ausência, deu-se uma tentativa de golpe, pelo Movimento Nacional Alemão no Liechtenstein, com o
intuito de provocar uma invasão do país pelas forças alemãs, o que se não viria a concretizar. A
tentativa de golpe provocou a reação da população, sendo alguns dos envolvidos acusados de alta
traição e condenados a penas de prisão, já depois da guerra.

45 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Neste difícil período, o príncipe reinante com o apoio da Princesa Georgina, com quem casara em 1943
e que viria a fundar a Cruz Vermelha do Liechtenstein, procurou aliviar as dificuldades da vida no país,
acudindo à população com a sua fortuna pessoal e dando apoio aos refugiados e prisioneiros de
guerra. Igualmente consequência desta, a família reinante perdeu as suas extensas propriedades na
Morávia e Silésia, confiscadas pelo governo comunista da Checoslováquia. Entre esses bens, a cripta
onde estão sepultados, na sua maioria, os príncipes de Liechtenstein. O Príncipe Francisco José II
mandou construir um novo panteão familiar em Vaduz.
O Liechtenstein deve ao Príncipe Francisco José II um intenso período de desenvolvimento, tanto
económico e social como cultural. Este príncipe preocupou-se também com a coleção de arte,
formada ao longo de cinco séculos, que conta cerca de mil e seiscentos quadros, do Renascimento ao
século XIX, incluindo, entre muitas outras, obras de Lucas Cranach, o Velho, Quentin Matsys, Rafael,
Peter Paul Rubens, Antoon van Dyck, Frans Hals, Rembrandt, Rudolf von Alt, Ferdinand Georg
Waldmüller, Friedrich von Amerling e Hans Makart. A coleção inclui igualmente mobiliário, tapeçarias,
desenhos e gravuras, bem como bronzes italianos dos séculos XVI ao XVIII, porcelanas e outros objetos
decorativos. O Príncipe Francisco José II promoveu a divulgação da coleção de arte, através de
exposições tanto em Vaduz como em Viena, nos palácios pertencentes à sua família. Das exposições
temporárias é de destacar a que esteve patente em Nova Iorque, no Museu Metropolitano de Arte, de
outubro de 1985 a maio de 1986: “Liechtenstein, the princely collections”.
Este príncipe faleceu em novembro de 1989, menos de um mês depois da morte da Princesa Gina com
quem esteve casado quarenta e seis anos.

Sistema político
O Príncipe reinante

De acordo com o texto da Constituição de 1911,


revisto em 2011, e conforme estabelecido no seu
capítulo I, o Liechtenstein é uma monarquia
constitucional hereditária, de base democrática
parlamentar, sendo o poder do Estado exercido nos
termos desta lei fundamental. O capítulo II declara
que o príncipe reinante é o chefe do estado e exerce
a sua autoridade soberana de acordo com a
Constituição e demais leis, atribuindo-lhe, entre
outras funções, a representação do Estado nas
relações com os países estrangeiros, a sanção das
leis, a nomeação dos juízes e o direito de graça.
Em 2003, foi realizado um referendo constitucional relativo aos poderes do monarca, com duas
propostas alternativas: a “Iniciativa do príncipe” e a “Iniciativa constitucional”. Com uma participação
de 87% dos recenseados, a primeira proposta foi aprovada por uma maioria de 64,3% contra 35,7% de
votos negativos, enquanto a segunda foi rejeitada por 83,4% dos votos, com aprovação por apenas
16.6%. Os poderes do chefe do estado foram assim reforçados, designadamente em matéria de veto.
Caso único entre as monarquias, a Constituição prevê a possibilidade de uma moção de censura ao
príncipe reinante, que pode ser apresentada por mil e quinhentos cidadãos, devendo o parlamento
dar-lhe seguimento e convocar um referendo, cujo resultado comunicará ao monarca, a efeitos de
aplicação da lei dinástica.
Tradicionalmente, para além do título de Príncipe de e em Liechtenstein (Fürst von und zu
Liechtenstein), correspondem-lhe também os títulos de Duque de Troppau e de Jägerndorf e de
Conde de Rietberg, Soberano da Casa de Liechtenstein. Esta é regida por uma lei dinástica
(Hausesgesetz des Fürsten Hauses Liechtenstein), e para a qual remete a constituição vigente, que
determina a chefia da família, a sucessão no trono (por ordem de primogenitura agnática, com
exclusão feminina), a abdicação ou renúncia à sucessão, o casamento e adopção, bem como os títulos
dos membros da família. Esta norma dinástica fundamental, anterior à fundação do próprio país e

46 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

cuja redação atual data de 1993, não pode ser alterada pela constituição política ou por normas
internacionais.

Referendos

Os referendos encontram-se previstos na Constituição e são um instrumento usado muito


frequentemente na democracia direta do país. De 1919 a 2023, foram realizados mais de cem
referendos nacionais, dos quais cinco abrangendo matéria constitucional.
O sufrágio universal foi aprovado por referendo, em 1984, por 51,34 % dos votantes, com uma
participação eleitoral de 86,2%, depois do voto feminino ter sido rejeitado em dois referendos
anteriores.

Poder legislativo

O parlamento do principado, Landtag, é formado por vinte e cinco membros, desde a reforma
constitucional de 1988, eleitos por quatro anos em listas abertas e por representação proporcional,
correspondendo a dois círculos eleitorais, (quinze a Oberland, Terra Alta e dez a Unterland, Terra
Baixa). São igualmente eleitos substitutos, para os casos de impedimento ou de eventuais renúncias
aos mandatos.
O Landtag tem um presidente que é também o seu porta-voz, um vice-presidente e os porta-vozes dos
grupos parlamentares, que formam a presidência, dispondo também de comités permanentes.
Quando não está em sessão é substituído pelo Comité Nacional, formado pelo presidente do Landtag
e quatro deputados, dois por cada círculo. Para aprovação de medidas, o parlamento deve reunir com
a presença obrigatória de dois terços dos seus membros. O parlamento exerce uma função de
controle de toda a administração do estado, através do seu comité de auditoria.
Nas últimas eleições, em 2021, apresentaram-se cinco candidaturas: União Patriótica (com dez eleitos),
Partido Progressista dos Cidadãos (dez eleitos), Lista Livre (três eleitos), Democratas pelo Liechtenstein
(dois eleitos) e Independentes (que não obtiveram eleitos), verificando-se uma participação de 78%
dos eleitores.

Poder executivo

O governo, órgão colegial, é formado pelo


primeiro-ministro e quatro conselheiros,
designados como ministros: Interior,
Economia e Ambiente (que é também o vice-
primeiro-ministro do atual executivo),
Assuntos Sociais e Cultura, Negócios
Estrangeiros, Educação e Desporto e Justiça e
Infraestruturas. São propostos pelo
parlamento e nomeados pelo príncipe ou,
Comemorações do Dia nacional caso tenha de se verificar uma escolha por
Poder judicial este, devem obter a aprovação do Landtag.

O sistema judicial é formado por tribunais de primeira instância, tribunais de Apelação e pelo
Supremo Tribunal, com competência civil e criminal, com duas câmaras formadas por presidente e
quatro juízes. Existem igualmente um Tribunal Administrativo e um Tribunal Constitucional
(inicialmente instituído em 1921) que pode anular legislação considerada inconstitucional, decidir
sobre conflitos judiciais e ainda sobre questões de direitos humanos. Os cidadãos, com um mínimo de
cem assinaturas, podem pedir a este tribunal a revisão de uma disposição legislativa.
Os juízes são eleitos pelo Landtag e nomeados pelo Príncipe, depois de um processo em que o
conselho de seleção é nomeado conjuntamente pelo parlamento e pelo príncipe e integra o ministro
da Justiça, bem como representantes de cada grupo parlamentar.
47 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Administração municipal

O país encontra-se dividido em onze municípios, seis no Oberland e cinco no Unterland, que nos
termos da Constituição gozam do direito de secessão, sujeita a aprovação pela maioria dos eleitores.
Os municípios estão dotados de administração própria, com um presidente e um conselho, podendo
neles ser organizados referendos para aprovação ou rejeição de medidas a nível local.

Forças Armadas

O país não dispõe de forças armadas, confiando a sua defesa à Suíça. João II não querendo que na
guerra austro-prussiana, os seus soldados enfrentassem outros alemães (à data o país pertencia à
Confederação Germânica), conseguiu que o destacamento fosse encarregue da defesa do Tirol e dos
acessos entre a Áustria e Itália. Conta-se que teriam regressado ao principado sem baixas e com mais
um homem, um italiano que optou por se lhes juntar. Posteriormente, o contingente do Liechtenstein
foi dissolvido, quando da declaração de neutralidade do país.
A Polícia Nacional do Liechtenstein conta com um total de cento e vinte e cinco efetivos, das quais
trinta e quatro são administrativos. Tem funções de segurança, controle das fronteiras e do trânsito e
de investigação criminal; para o efeito dispõe de meios terrestres, aéreos e fluviais.

A família reinante

A família de Liechtenstein, além da residência


oficial, o castelo de Vaduz (cuja torre data do
século XII) possui várias outras propriedades,
entre as quais o castelo Liechtenstein, ao sul
de Viena, mandado construir no século XII por
Hugo de Liechtenstein. O castelo passou por
várias vicissitudes, tendo saído da família por
casamento e herança e sido destruído no
século XVI, quando do cerco de Viena pelos
otomanos; viria, no início do século XIX, a
regressar à posse dos príncipes de
Liechtenstein, sofrendo obras de reconstrução.
Também na Áustria, o castelo de Wilfersdorf está na posse da família desde o século XV, sendo na
atualidade um centro cultural e de exposições, com produção de vinho branco pelos seus trinta e oito
hectares de vinhedos; e em Viena, os dois palácios pertencentes à família, o palácio da Cidade
(Stadtpalais Liechtenstein), construído no virar do século XVII para o XVIII, e que serve de residência ao
príncipe reinante quando em Viena, e o do Jardim (Gartenpalais Liechtenstein), cuja construção data
do mesmo período. Ambos têm galerias, onde parte da imensa coleção de pintura está exposta por
períodos, podendo ser visitada.

Hans-Adam II

Sua Alteza Sereníssima o Príncipe João Adão, de seu nome completo Joahnnes Adam Ferdinand Alois
Josef Maria Marco d’Aviano Pius, conhecido como Hans-Adam, nasceu em 1945, em Zurique, filho mais
velho do príncipe reinante Francisco José II e da Princesa Gina. Frequentou o ensino secundário em
Viena, no Schottengymnasium, e diplomou-se pelo liceu de Zuoz, na Suíça. Depois de um estágio na
banca, em Londres, veio a graduar-se em Administração de Empresas pela Universidade de St. Gallen,
em 1969. O Príncipe Hans-Adam domina as línguas inglesa e francesa além da sua língua materna, o
alemão. Casou com a Princesa Marie, condessa Kinsky von Wchinitz und Tettau., já falecida. Muito
empenhada no trabalho das instituições sociais do Liechtenstein, foi presidente da Cruz Vermelha do
seu país durante trinta anos.

48 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

O então príncipe herdeiro Hans-Adam, a exemplo de seu pai, dedicou desde sempre grande atenção
ao desenvolvimento económico e financeiro do país, devendo-se-lhe a transformação do banco
Liechtenstein Global Trust, com origem no pequeno banco BIL (Bank in Liechtenstein) fundado em
1920 e do qual a família reinante tinha comprado nos anos 30 uma posição de controle, num grupo
financeiro internacional, hoje administrado pela família.
Quando recebeu do príncipe reinante o encargo de gerir o património familiar, Hans-Adam criou em
1970 a Fundação Príncipe de Liechtenstein (Stiftung Fürst Liechtenstein) abrangendo uma vasta área
de atividades económicas (como a agricultura, florestas e produção de vinho), financeiras (banca e
investimentos, incluindo o Liechtenstein Group Trust)) e culturais (coleção de arte, museus e
exposições), sendo proprietária de onze empresas e dois museus. O príncipe reinante tem tentado, por
via judicial, recuperar as propriedades (superiores em área ao próprio principado) expropriadas pelo
governo checoslovaco, até agora sem sucesso. Ainda assim, e embora não seja o proprietário, tem
vindo a custear as obras de conservação da cripta familiar na Igreja da Natividade de Nossa Senhora
em Vranov, mandada construir por Maximiliano de Liechtenstein, no século XVII.
O Príncipe Hans-Adam publicou em 2009 “O Estado no Terceiro
Milénio”, livro em que expôs as tanto as suas convicções como as
ideias políticas pessoais, e que foi traduzido para várias línguas.
Nele abordou, entre outros temas, o direito à autodeterminação, a
origem dos estados, a democracia direta e indireta, a reforma
constitucional de 2003, as deficiências da democracia tradicional
ou o estado de bem-estar social.

O Principado de Liechtenstein na vida internacional

O país mantém relações diplomáticas com cento e trinta e um


países, dos quais cento e doze têm embaixadores não-residentes,
acreditados em Vaduz, sendo a maioria residente em Berna, mas
também em Berlim, Genebra e Viena. Existem trinta e dois
consulados honorários no Liechtenstein e dezasseis consulados
Principe Hans-Adam
gerais, na sua maioria em Zurique., com jurisdição no Liechtenstein.
O principado conta, por sua vez, com embaixadas bilaterais residentes em Berlim, Berna, Bruxelas,
Santa Sé, Viena e Washington e dispõe igualmente de missões junto da União Europeia, no Conselho
da Europa, junto das organizações internacionais em Genebra, e nas Nações Unidas, em Nova Iorque.
A Suíça assume a representação do principado nos países onde este não tem representação
diplomática, conforme acordado em 1919.
O Liechtenstein pertence na atualidade a
vinte e duas organizações internacionais. O
seu comité olímpico nacional foi reconhecido
pelo Comité Olímpico Internacional em 1935.
Em 1962 o principado entrou para a União
Postal Universal e em 1968 aderiu à Agência
Internacional de Energia Atómica e à
Conferência sobre a Segurança e Cooperação
na Europa, hoje Organização para a
Segurança e Cooperação na Europa, em 1973.
A adesão ao Conselho da Europa, foi
formalizada cinco anos depois, exercendo
desde novembro de 2023 e até maio de 2024
a presidência semestral rotativa do seu
Comemoração do dia Nacional, família principesca Príncipe comité de ministros, tendo como prioridades
Hans-Adam II, Princesa herdeira Sophie e Príncipe herdeiro a promoção e o fortalecimento dos direitos
Alois cumprimentam a população enquanto passam.
humanos, da democracia e do estado de
direito.
49 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Nas últimas décadas, a atividade diplomática do principado a nível multilateral veio a afirmar-se, de
forma mais visível nos anos noventa, com a admissão nas Nações Unidas, em 1990 (onde apresentou
uma resolução requerendo a justificação do veto pelos membros permanentes do Conselho de
Segurança) e na EFTA em 1991, no Espaço Económico Europeu, em 1992, e em 1995 na Organização
Mundial do Comércio. É igualmente parte da Zona Schengen desde 2011, num crescendo que
confirma a vontade de presença ativa nas organizações internacionais.
Os príncipes reinantes têm participado na cimeira dos seis países de língua alemã, com os reis da
Bélgica, os grão-duques do Luxemburgo e os presidentes da Alemanha, Áustria e da Suíça.

O Principado de Liechtenstein no mundo contemporâneo

País de reduzida superfície (cento e sessenta quilómetros quadrados) e população (39 000
habitantes), é o único estado do Santo Império existente na atualidade. Aliando tradição e
modernidade, é conhecido pelo seu elevado nível de vida e de segurança, sem analfabetismo (0%) e
com um dos níveis de desenvolvimento humano mais altos do mundo (16º lugar) e uma renda
nacional per capita de mais de 100 000 dólares.
O Príncipe Hans-Adam publicou em 2009 “O Estado no Terceiro
Milénio”, livro em que expôs as tanto as suas convicções como as
ideias políticas pessoais, e que foi traduzido para várias línguas.
Nele abordou, entre outros temas, o direito à autodeterminação, a
origem dos estados, a democracia direta e indireta, a reforma
constitucional de 2003, as deficiências da democracia tradicional
ou o estado de bem-estar social.

O Principado de Liechtenstein na vida internacional

O país mantém relações diplomáticas com cento e trinta e um


países, dos quais cento e doze têm embaixadores não-residentes,
acreditados em Vaduz, sendo a maioria residente em Berna, mas
Réplica contemporânea da coroa
também em Berlim, Genebra e Viena. Existem trinta e dois ducal dos Príncipes de Liechtenstein
consulados honorários no Liechtenstein e dezasseis consulados
gerais, na sua maioria em Zurique., com jurisdição no Liechtenstein.
Nos últimos cinquenta anos, verificou-se uma enorme transformação do Liechtenstein, que passou de
país essencialmente agrícola a uma economia industrializada e de serviços. Presentemente exporta
instrumentos de precisão, equipamentos eletrónicos, componentes de motores de automóveis,
produtos farmacêuticos e ópticos, material dentário, bem como géneros alimentares, sendo que o
valor das suas exportações (3.5 mil milhões de francos suíços) é o dobro do das importações (1.7 mil
milhões de francos suíços). Os principais destinos das suas exportações são a União Europeia, Suíça,
Estados Unidos e Reino Unido, num total de 95%. A contribuição do setor dos serviços para a
economia, (como o turismo, mas principalmente como centro financeiro) é muito significativa, sendo
sede de numerosas companhias, atraídas por um regime fiscal baixo, contribuindo para cerca de 30%
das receitas, volume ultrapassado pelo setor industrial, sendo que as manufaturas e a construção
contribuem com 41% para o produto interno bruto.
Os estrangeiros constituem cerca de 30 % da população, sendo suíços (9%), austríacos (6%), italianos
(4,5%) e pertencentes a outras nacionalidades, como os turcos, bósnios, kosovares, macedónios e
também cerca de novecentos portugueses. O catolicismo (73% da população) é reconhecido como
religião oficial pela Constituição, que estabelece igualmente a liberdade religiosa; seguem-se outras
denominações cristãs com 9,8% e o islamismo com 6%. Trata-se de uma sociedade pequena, mas
bastante diversificada.

50 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

O príncipe herdeiro

Aloísio (Alois Philipp Maria), príncipe herdeiro e


conde de Rietberg recebeu e exercício dos seus
poderes, como seu representante e para
preparação para as suas funções futuras.
Nascido em Zurique, em 1969, frequentou o ensino
primário e secundário no seu país e teve formação
militar no Reino Unido. Depois da Real Academia
Militar de Sandhurst, prestou serviço no regimento
Coldstream da guarda real britânica, em Londres e
em Hong Kong. O príncipe herdeiro viria a formar-
se em Jurisprudência pela Universidade de
Salzburgo, em 1993, tendo prosseguido a sua
Principe Alois
formação profissional numa empresa em Londres.
De regresso ao Liechtenstein assumiu funções na gestão do património familiar. De regresso ao
Liechtenstein assumiu funções na gestão do património familiar. De regresso ao Liechtenstein assumiu
funções na gestão do património familiar.
Casado desde 1993 com a Princesa Sofia, pertencente à casa real da Baviera, o príncipe é pai de quatro
filhos, o primeiro dos quais nasceu em Londres.
Já com Alois como príncipe herdeiro a exercer as funções do príncipe reinante, foi em julho de 2012
convocado um referendo que teve uma participação de 82% dos eleitores e que rejeitou a proposta de
limitar os poderes de veto do chefe do estado, por 76,4% com 23,5% a aprovarem a medida
apresentada.
Tão popular como o Príncipe Hans-Adam, o príncipe herdeiro tem vindo a desempenhar um papel
cada vez mais ativo tanto na representação internacional do país como na sua vida política.

Família Liechtenstein

51 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Wokismo!
SUSANA CUNHA CERQUEIRA

ABSTRACT
In the years following 2010, wokism emerged, intending to raise awareness of inequalities related to
African-American racial injustices, sexism or LGBT rights. However, a semantic extension of the term
appears to have occurred, which is believed to be causing a radicalization of confrontation and the
emptying of meaning of the Wokist movement.

Key words: Wokism; gender identity; migration.

RESUMÉ
Dans les années qui ont suivi 2010, le wokism a émergé, visant à sensibiliser aux inégalités liées aux
injustices raciales des Afro-Américains, au sexisme ou aux droits LGBT. Cependant, une extension
sémantique du terme semble être produite, ce qui a provoqué une radicalisation de l’affrontement et
un vide de sens du mouvement wokiste.

Mots clés: Wokisme; identité de genre; migration.

Sim!… Leram bem! E não é o que estão a pensar…Aquela coisa abaulada onde se colocam muitos
legumes, soja, uns camarões de aquicultura, vindos dos arrozais orientais, transformados em tanques
para cultivo de camarões (camarão da costa está insuportável - até porque não faço parte da comitiva
convidada para um almocinho para os lados de Oeiras - apesar de ser da costa portuguesa![1].
Então, caros comensais linguistas, de repente, apenas mais um novo conceito que abrange tudo e
todos, vindo, ao que parece, dos states. E não é apenas um ismo, movimento ou doutrina assexuada,
arracial, anódina, simplista… Não! De todo! É mesmo uma gamela, um Wok onde, gente de boas
intenções - sejam elas quais foram - pretende megamoralizar, panmoralizar a sociedade, levado ao
limite este conceito, pode surgir uma pansexualidade da moral – ideia genial![2]
Se este wokismo aparece para ressuscitar e afrontar e
levantar mortos, empedernidos e entrincheirados no
marasmo social da letargia mental individual e
individualista, em relação à discriminação racial, parece
ser um conceito que alastrou para os mais diversos
campos. Na realidade, até se compreende que haja
necessidade de uma extensão, de uma revolução da
moralização social, de uma revolução ética [epistéme][3],
sendo a ciência relativa aos costumes, pois na gamela
panwokista cabe quase tudo, o que pode conduzir a um
esvaziamento de conteúdo se pretendiam wakear as
mentes mais letárgicas.
1 Desculpem a deriva de pensamento, mas é a mesma história das bananas… Sempre que alguém vai ao supermercado e pretende comprar bananas da
Costa Rica, da China (????)… São sempre mais baratas que aquelas importadas da Madeira… Será que ninguém se questiona? Uma ilha… Ali… Tão perto,
que deve fazer parte do país denominado Portugal (aqui, os pobres do Continente, à beira mar plantado, enviam uns trocos para a pérola do Atlântico,
certo?), coloca a produção das suas bananas a preços da Harrods para os consumidores do Continente? A quem pertence a produção das bananas da
Madeira? Não há dúvida que a Madeira parece mesmo um outro país… Ó autóctone do Continente, se queres bananas de melhor qualidade, paga as
importadas da Madeira! Come, come… Mas paga!
2 Saliente-se que o conceito Woke, corrente com fundamentos sobre a defesa racial teve início nos anos subsequentes a 2010. Tornou-se um movimento
que pretendia acordar a as consciências para as desigualdades relacionadas com as injustiças raciais afro-americanas, o sexismo ou com os direitos dos
LGBT.
3 Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/etica-e-moral-etimologia/9599 consultado em 13-01-2024.

52 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Por isso, contra a corrente e igual a si próprio, Trump disse alto e bom som que tudo que é Woke
representa nada. Não o disse nestes termos[4], mas o certo é que quebrou, remou contra as correntes
e venceu.
Afinal, o que é o correto politicamente e não o politicamente correto? Dizer o que se pensa, em
minoria, ou seguir, amestradamente, as maiorias? Com que realidade nos deparamos, atualmente? Por
exemplo, as identidades sexuais, que se referem, geralmente, à orientação sexual (e.g. demissexual,
assexual, bissexual, homossexual, heterossexual, pansexual) e as identidades de géneros (e.g. homem,
mulher, não binário vs binário, fluído, agénero, bigénero, andrógino, dois-espíritos) são tão
diversificadas que o ser humano entra no campo da incerteza e de uma pansexualidade já ideológica,
em que a certeza passou a ser incerteza. Quem sou? O que sou, Que corpo é este? Que sexo tenho?
Como me identifico? A que casa de banho devo ir hoje? E, amanhã, que casa de banho devo utilizar?
Porém existe uma certeza: a (des)informação passará para os jovens na Escola… Mas que
endoutrinamento vai ou está a ser feito? O que é ensinado nas escolas? O comum cidadão sabe? Os
Pais sabem? As Associações de Pais sabem? Debatem? O que sabem sobre a pedagogização da
sexualidade? Na realidade, o “ensino, a educação, faz o eu sair da mesmidade, da sua circularidade,
desfazendo totalidades padronizadas, porque o Outro [levinasiano] apresenta no seu rosto o rasto
Infinito, apelando-o[5]. Mas não ficamos pela educação nem
pelo género, nem pela identidade…
O que fazer em relação aos (e/i)migrantes[6] (nós que fomos
e somos emigrantes) apanágio e bandeira fluída de uns e o
varrer para debaixo do tapete de outros como avestruzes que
escondem a cabeça, que não apresentam ideias concretas?
Não se fazem opções concretas, fica tudo fluído? O que fazer
em relação às pessoas? Sim… Estamos a falar de pessoas.
Seguir as ideias politicamente corretas ou as corretas
politicamente?
Mas, afinal, onde entra aqui, o wokismo? Se, por um lado, o wokismo condensava o inconformismo
perante injustiças específicas, por outro, a sua extensão semântica parece esvaziar-lhe o sentido, pois
o inconformismo tornou-se uma panrealidade difusa. Contudo, há que Wakear consciências e tentar
perceber Como e Quais percursos têm de ser feitos para atingir os objetivos pretendidos, devendo ser
priorizados, claros e específicos para cada caso concreto.

4 https://www.newyorker.com/podcast/political-scene/what-does-woke-mean-and-how-did-the-term-become-so-powerful, consultado em 13-01-2024.


5 Cunha Cerqueira, S. (2008) Emmanuel Lévinas - assimetrias simétricas para a Educação da Sexualidade. Ensaios de Bioética, [coord. de] Ana Sofia
Carvalho, Walter Osswald. Lisboa: Universidade Católica Portuguesa, p. 127
6 https://ces.uc.pt/publicacoes/oficina/ficheiros/14615_Oficina_434.pdf, consultado em 13-01-2024.

53 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

BREVE REVISÃO DE 2023, pois “Não há


Almoços Grátis!”
MÓNICA RODRIGUES
ABSTRACT
With the year 2023 under review, we are witnessing the escalation of conflict in Europe and the Near
East. At the same time, the 2030 Agenda continues to be implemented, gaining some prominence, on
the one hand, the 15-minute City project (not without contestation) and, on the other, the project for
the progressive elimination of private property, in accordance with the ideology of Davos.

Key words: Year 2023; Agenda 2030; World Economic Forum; Retrospective.

RESUMÉ
L’année 2023 étant considérée, nous assistons à une escalade des conflits en Europe et au Proche-
Orient. Parallèlement, l'Agenda 2030 continue d'être mis en œuvre, en mettant en avant, d'une part, le
projet de la Ville des 15 minutes (non sans contestation) et, d'autre part, le projet d'élimination
progressive de la propriété privée, en conformément à l'idéologie de Davos.

Mots clés: Année 2023; Agenda 2030; Forum Économique Mondial; Rétrospective.

Este fim de ano de 2023 expõe a escalada de conflitos bélicos que ninguém parece ter antevisto há
quatro anos apenas. Uma época já caracterizada como a Era da Guerra de 5ª Geração – também
conhecida como Guerra Cognitiva -, revela uma conflitualidade crescente de ameaças híbridas
(imprensa falsa, terrorismo, sublevação urbana, violência social) e cujos contornos são difíceis de
detetar.
Como alguém dizia, na guerra a primeira vítima é a verdade. Em boa verdade, depois de 2020, o
mundo assiste a um período de guerra híbrida e no qual podemos incluir os ataques à liberdade de
informação (iniciados por Estados e por Organizações Internacionais – como a ONU, a OMS, a União
Europeia, por exemplo), ou a “campanha militar” russa em território ucraniano.
Este ano fica, por isso, na memória dos cidadãos
europeus, como o ano da escalada bélica com o
possível alastrar do conflito entre Israel e Hamas
à região do Mar Vermelho. Esta derrapagem só
vem reforçar o que se parece anunciar como o
“fim da liberdade de informação”, tal como a
temos conhecido até hoje.
Mas neste tabuleiro de xadrez mundial em
“ebulição” conflitual, surgiram outras tendências
que provavelmente serão agravadas no próximo
ano de 2024.
Uma nova peça que entra no jogo é a posição de alguns políticos e chefes militares europeus
relativamente à necessidade de mudar as mentalidades europeias face a um possível conflito próximo
na Europa. No verão passado, o Ministro de Defesa alemão foi o primeiro a alertar os cidadãos alemães
para a necessidade de se prepararem para conflitos, depois de no ano anterior o Chanceler alemão
Olaf Scholtz ter mencionado a determinação do governo quanto ao reforço do orçamento de defesa.
Mais recentemente, foi a vez do antigo Chefe do Estado-Maior do Exército dos Países Baixos, Martin
Wijnen, afirmar que é necessário preparar o país para uma guerra com a Rússia, convidando a
população a criar um aprovisionamento de alimentos e de água.

54 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Outra “peça forte”, que ameaça por fora do tabuleiro várias outras como as elites mundiais, parece ser
o caso Epstein. Aguarda-se a autorização para publicação da documentação do processo e no qual se
expõe o envolvimento de uma rede de personalidades mundiais no negócio da exploração de
prostituição e de pedofilia, desde o mundo das finanças ao setor da indústria de entretenimento.
Mas é com alguma expectativa que se
aguarda a reunião do Fórum Económico
Mundial, depois de anunciada a “Grande
Reinicialização” do mundo por Klaus
Schwab, fundador e líder da organização. A
reunir em Davos, Suíça, entre os próximos
dias 15 a 19 de janeiro, o Fórum pretende
reconstruir a confiança dos povos nas elites
e na agenda 2030. Mas que, de facto,
poderá não ocorrer e, em vez disso, poderá
suscitar as resistências dos cidadãos,
fortemente apostados na afirmação da
importância da soberania dos Estados e no espírito democrático de um sistema e regime político
sufragado (e menos interessados na alienação da soberania do povo para elites não sufragadas e que
os consideram apenas no seu papel de consumidor).
E esta expetativa é mesmo grande em virtude do fracasso que tem sido a implementação de algumas
agendas setoriais da Agenda 2030. Agenda esta que foi assinada pelos Estados em 2015.
Ora, uma dessas agendas setoriais refere-se às denominadas “Cidades dos 15 minutos”. Não sabia? Pois
com o objetivo verdadeiro de limitar e de controlar a circulação de indivíduos – a bem das alterações
climáticas -, este paradigma da autoria de Carlos Moreno (professor na Universidade de Paris) visa a
reorganização de serviços, comércio, infraestruturas públicas e trabalho numa distância de 15 minutos
(a pé ou de bicicleta), e relativamente ao local de habitação do cidadão comum. Exato. Estou a falar
de mim e do senhor leitor ou da senhora leitora.
Pois esta maravilha da vida livre e saudável foi
experimentado em Oxford, assim como noutras cidades no
Reino Unido. Como foi implementado? Dividiu-se a cidade
em setores. Proibiu-se a circulação automóvel, exceto em
alguns casos como, por exemplo, no caso de profissionais de
saúde e de segurança. Limitou-se o uso do automóvel
particular a um período máximo de 100 dias por ano,
mediante justificação do proprietário, autorização das
autoridades municipais e o pagamento de uma taxa. Cito
apenas algumas das medidas tomadas. E a reação dos
cidadãos? Contentes ou perplexos? Em fúria! Devido à forte
tradição britânica de organização associativa, os cidadãos
manifestaram-se nas reuniões camarárias, denunciando sentirem-se defraudados: primeiro, porque a
agenda da cidade dos 15 minutos não tinha sido debatida em eleições anteriores, nem tinha sido
nomeada nos programas eleitorais; e segundo, porque a transformação estava a ser realizada com o
dinheiro dos contribuintes, estando estes alheios às mudanças.
E o que fizeram esses cidadãos? Recusaram a “vigilância à chinesa” e retiraram as câmaras de
vigilância das ruas assim como os pilaretes que delimitavam a circulação permitida. Recusaram
também a falta de liberdade, afirmando que o país deles não era comunista, nem existia partido
comunista no Reino Unido, nem estavam na União Soviética, e tudo não era mais do que um atentado
aos direitos civis. Recusaram, por fim, a reestruturação porque tinha colocado em causa a viabilidade
dos negócios – a reorganização dos fluxos de mobilidade tinha desviado a clientela, seguindo-se as
falências, a incapacidade de cumprimento dos compromissos bancários e o desemprego.

55 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Outra “peça forte”, que ameaça por fora do tabuleiro várias outras como as elites mundiais, parece ser
o caso Epstein. Aguarda-se a autorização para publicação da documentação do processo e no qual se
expõe o envolvimento de uma rede de personalidades mundiais no negócio da exploração de
prostituição e de pedofilia, desde o mundo das finanças ao setor da indústria de entretenimento.
Em Espanha, em las Rozas, a manifestação
dos cidadãos também não se fez esperar.
Tal como os habitantes de Oxford, também
denunciaram o atentado aos direitos civis
que significava esta falta de liberdade de
circulação. Mas foram mais longe, uma vez
que vislumbraram como não seria
permitida a circulação fora do setor onde o
indivíduo habitava sem autorização das
autoridades. Como também recusaram o
limite máximo de tempo dentro do qual o
cidadão se poderia ausentar do seu setor
dos 15 minutos. Assim como recusaram ainda o controlo das autoridades relativamente à circulação e
ao limite de tempo de ausência do setor.
Em Portugal, Lisboa é uma cidade que testará o modelo. Acaba de ser assinado um protocolo entre a
Câmara Municipal de Lisboa e a Faculdade de Arquitetura de Lisboa para identificar o melhor modelo
de implementação. Entusiasmado? E já agora, e a sua cidade, também vai ser uma cidade modelo de
15 minutos?
Refiro apenas mais uma tendência que constitui a
agenda setorial, agora relativamente à propriedade
privada. De acordo com a ideologia da Agenda 2030, de
Davos e da ONU, em 2030 “Não terás nada e serás feliz!”.
Quer isto dizer que, em termos de mobilidade,
não terá viatura particular e, ainda assim, será feliz.
Como? De acordo com a Jovem Líder de Davos, Ida
Auken, a antiga Ministra do Ambiente dinamarquesa
entre 2011 e 2014, para quê ser proprietário de um

telemóvel ou de uma máquina de lavar a loiça, se pode arrendar? Para quê ser proprietário de um
carro? Para quê ser proprietária de uma máquina de lavar a roupa? Pois Ida teve uma ideia brilhante.
Ida propõe um futuro sem posse, onde os produtos, as ferramentas, tudo é arrendado e partilhado, em
vez de se possuir tudo o que pretende.
Mas, como diz o povo, não há almoços grátis. Na realidade, analisando à lupa as condições contratuais
– porque se trata, na verdade, de rescrever um novo contrato social e rasgar o atual, obsoleto -, pode-
se constatar que poderá arrendar tudo o que quiser se tiver atualizado o pagamento de todas as
contas, de todas as prestações, se o seu crédito social for suficientemente elevado e…. muita atenção,
se não tiver excedido o seu crédito de carbono. Porque, caso contrário, não lhe será permitido adquirir
nada com o dinheiro do banco central programado, ou, como lhe chamam, a Moeda Digital do Banco
Central (CBDC- Central Bank District Currency). Não ouviu falar?
Podia ainda referir outra agenda setorial relativa ao setor alimentar, mais concretamente a
alimentação com insetos, ou ainda a importância de não comprar um carro elétrico. Mas não. Será
uma oportunidade para escrever outro artigo. Uma sugestão. Aproveite este final de ano e comece já a
ler George Orwell e Aldous Huxley. Quem avisa seu amigo é.

56 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Machismo político português,


nomeadamente republicano
ANTÓNIO MONIZ PALME
ABSTRACT
Despite the republican propaganda regarding the broad freedoms brought by the first Republic, this
was nothing more than a fanciful lie that did not correspond in the slightest to the truth.
The Republican Revolution did not alter in any way this situation of political inferiority of Portuguese
women.
Portuguese women had to wait for the innovative legislation of the Estado Novo to have the right to
vote, once they had completed a secondary course. In 1969, they could already vote for the National
Assembly, but not for the Parish Councils. With the 25 A revolution, all restrictions that existed in this
field for Portuguese women were eliminated.

Key words: Right to vote; women; Portugal.

RESUMÉ
Malgré la propagande républicaine sur les larges libertés apportées par la Première République, ce
n'était qu'un mensonge fantaisiste qui ne correspondait en rien à la vérité.
La Révolution républicaine n’a en rien modifié cette situation d’infériorité politique des femmes
portugaises.
Les femmes portugaises ont dû attendre la législation innovante de l'Estado Novo pour avoir le droit
de vote, une fois qu'elles ont terminé leurs études secondaires. En 1969, ils pouvaient déjà voter pour
l'Assemblée nationale, mais pas pour les conseils paroissiaux. Avec la révolution du 25 A, toutes les
restrictions qui existaient dans ce domaine pour les femmes portugaises ont été supprimées.

Mots Clés: Droit de vote; femmes; Portugal.

É a triste realidade. Apesar da propaganda republicana às amplas liberdades trazida pela primeira
República, tal não passou de uma fantasiosa balela que não correspondia minimamente à verdade,
como vou tentar explicar, especificadamente em relação ao estatuto político das mulheres.
O facto de termos tido duas Rainhas, que foram chefes de Estado e que chefiaram os destinos
portugueses com a aceitação da população, como igualmente do julgamento da própria história, a
abertura à possibilidade da autorização do Voto Feminino e da participação geral das mulheres na vida
política nacional, nunca passou de uns fogachos sem consistência e da reclamação de meia dúzia de
mulheres intelectuais que nunca tiveram força para impor ao Povo Português os seus direitos políticos
equivalentes ao dos homens.
No tempo da Monarquia, em 1822, na Reunião das Cortes Gerais de 22 de Abril, o deputado Borges de
Barros, ainda motivado pela nascente Liberdade Constitucional, apresentou uma proposta para a
possibilidade do Voto da Mulher, quando tivessem tido, pelo menos, seis filhos legítimos. Considerava
aquele parlamentar que a colectividade não podia negar o direito de voto a qualquer um que
represente a Nação e ninguém dá mais ao seu País do que uma Mãe que lhe oferece seis cidadãos e que
os educa para a vida. Vai mais longe este corajoso deputado, acusa o bicho homem de querer manter a
mulher na ignorância, no fundo por temer a sua superioridade!!! As mulheres, acrescenta, não têm
qualquer defeito que as diminua perante os homens e que as impeça de exercer os direitos políticos,
que devem possuir. Na verdade, não há campo nenhum, nem qualquer matéria, por mais estranha que
seja, que as mulheres não tenham executado, rivalizando com os homens e, muitas vezes,
excedendo, nos bons resultados, os seus parceiros do outro sexo. E, sensatamente, na defesa do sufrágio
feminino, refere a influência que as mulheres exercem em todas as fases da vida dos homens, desde a

57 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

primeira educação até às primeiras letras, nomeadamente à formação do seu


patriotismo e do seu carácter. Igualmente, quanto à criação dos valores firmes
que lhes permitam enfrentar os momentos de crise que tenham que enfrentar,
especificadamente na participação da vida política. Pelo menos, protestava o
deputado, facultem o direito de voto às mulheres mães, que deram à sociedade,
pelo menos, seis filhos legítimos.
Esta proposta extraordinária, nem sequer foi admitida à discussão do
Parlamento!!! Está tudo dito… O Machismo inveterado e indecoroso que oprimia
as mulheres, não foi dissipado com a nova aragem de liberdade intelectual
trazida pelos constitucionalistas. A Rainha D. Amélia protestava contra a
Domingos Borges de Barros,
Visconde da Pedra Branca discriminação política de que eram alvo as mulheres, principalmente as mais
cultas. E muitas mulheres existiam, gestoras dos seus bens e com influência na vida económica,
devido à sua esclarecida actividade, como a célebre D. Antónia Ferreira, “a Ferreirinha”, que se
celebrizou na defesa e na afirmação internacional do Norte Vinhateiro, e que não gostava nada que
lhe fosse atribuído um estatuto político inferior e diferente do homem.
A Revolução Republicana não alterou em nada essa situação de inferioridade política da mulher
portuguesa. Bem falam que a primeira mulher a votar, foi na Primeira República. Mas não contam
toda a verdade, pois tal circunstância foi provocada pela má redacção das disposições da
Constituição de 1911. Esta Constituição era mais restritiva que as disposições constitucionais da
monarquia. Pois, se no tempo da Monarquia, tinham direito de votar todos os Homens, no tempo da
República, apenas podiam votar os maiores de 21 anos
que soubessem ler e escrever e fossem chefes de família.
Isto é, foi estabelecida a proibição de participação na
vida política dos analfabetos e dos que não fossem
chefes de família. De uma só penada, eram afastados das
urnas eleitorais os homens do campo e da província, que
não sabiam ler, apesar da numerosa família que
normalmente chefiavam e os elementos do clero que
sabiam ler mas, obviamente, não tinham família
constituída. Porém, fizeram grande barulho com a Pormenor de caricatura "O voto das mulheres", "O Zé", 9 de
primeira mulher que votou, oportunidade dada pela má Julho de 1912, n.º 87, p. 8. BNP
redacção das disposições constitucionais de 1911. Na verdade, a Constituição falava em “CIDADÃOS
PORTUGUESES”, sem especificar o sexo, isto é, utilizaram um termo que claramente compreendia
tanto Homens como Mulheres. E aconteceu o imprevisto. Uma mulher, nascida na Guarda, formada
em medicina, chamada Carolina Beatriz Ângelo, casada com o seu primo Januário Barreto, um
conhecido republicano, e que exercia a sua profissão médica no Hospital de S. José, enviuvou
entretanto e, nessa situação, como tinha mais de 21 anos e era chefe de família, pois tinha uma filha a
seu cargo, estava nas condições exigidas aos votantes. Além do mais, sabia ler e escrever, pois tinha
um curso superior, o curso de Medicina. Perante a legislação em vigor, elaborou um requerimento ao
Presidente da Comissão Recenseadora do 2º Bairro de Lisboa, no sentido da sua pessoa ser incluída
nos cadernos do recenseamento eleitoral. Claro que o pedido foi indeferido, pois o termo cidadãos
portugueses, na mente republicana, não incluía as mulheres…!!!
Por esta razão, a ilustre clínica, perante o acórdão favorável que obteve, apresentou-se para votar,
tendo sido aceite o seu sufrágio. Parecia estar dado o primeiro passo para a equiparação dos direitos
das mulheres ao dos homens. Mas não, pois houve logo um oportuno retrocesso da lei que, em 1913,
passaria a esclarecer as dúvidas então criadas que facilitaram a votação de uma mulher. Foi
publicado então o seguinte texto: “São eleitores de cargos legislativos os cidadãos portugueses do
sexo masculino, maiores de 21 anos ou que completem essa idade até ao termo das operações de
recenseamento, que estejam no pleno gozo dos seus direitos civis e políticos, saibam ler e escrever
português e residam no território da República Portuguesa”. Um escândalo que revoltou tudo e
todos, menos o sectarismo republicano.
As portuguesas tiveram que esperar pela legislação inovadora do Estado Novo para terem o direito ao
voto, quando tivessem concluído um Curso Secundário. Em 1969, puderam já todas votar para a
Assembleia Nacional, mas não para as Juntas de Freguesia. Com a revolução do 25 A foram
eliminadas todas as restrições que existiam neste campo para as mulheres portuguesas. E o futuro,
estou certo disso, dirá que uma sociedade cuja chefia seja participada pelo sexo feminino terá um
maior êxito no progresso e no bem-estar da Colectividade.

58 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

“REALmente Exemplares e
Consistentes…”
PAULO CORREIA ALVES

ABSTRACT
Let us be “REALLY Exemplary and Consistent…” and Let us have a strategic and 100-year Vision for
Portugal, which knows how to combine the six words that best define our Homeland: Sea, Sun,
Diaspora, Empathy, but also Disorganization and Envy.

Key words: Exemplarity; consistency; Monarchy.

RESUMÉ
Soyons «VRAIMENT Exemplaires et Cohérents…» et ayons une Vision stratégique et centenaire pour le
Portugal, qui sait combiner les six mots qui définissent le mieux notre Patrie: Mer, Soleil, Diaspora,
Empathie, mais aussi Désorganisation et Envie.

Mots clés: Exemplarité; cohérence; Monarchie.

Foi esta a prenda que Dom Dinis de Bragança, Duque do Porto pediu a todos os Monárquicos no dia
do seu vigésimo quarto aniversário celebrado no 34º jantar anual da nossa Real Associação do Porto, “…
e que o sejamos diariamente junto da nossa Família, junto dos nossos Amigos, no nosso local de
trabalho junto dos nossos Colegas, só assim é que conseguiremos fazer passar e o Ideal Monárquico e
fazermos a diferença junto de cada vez mais Portugueses.”

59 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

E nós, Movimento Monárquico seja na Causa Real, nas Reais e outras Associações Monárquicas que
contributo podemos e estamos obrigados a dar?
Tenhamos uma Visão estratégica e a 100 anos para Portugal, que saiba conjugar as seis palavras que
melhor definem a nossa Pátria: Mar, Sol, Diáspora, Empatia, mas também Desorganização e Inveja.
Trabalhemos num modelo de Constituição que permita que o Rei, enquanto Chefe de Estado, isento,
conciliador e acima de tudo fator de união entre todos os Portugueses, exerça as suas funções e
poderes. Que transforme o Conselho de Estado num Conselho Real.
Apresentemos uma proposta de Revisão da Lei Eleitoral que atenue a excessiva partidocracia
instalada, por exemplo com a criação de 200 Círculos Eleitorais Uninominais com uma
representatividade equilibrada de População e Território, a que se juntaria um Círculo Nacional com
50 lugares a distribuir proporcionalmente pelo número de votos expressos.
Criação de uma segunda Câmara Consultiva com representatividade corporativa ou institucional,
nomeadamente Fundações relevantes, União das Misericórdias, UGT, Intersindical, Ordens Profissionais
mais representativas, etc.
Que saibamos contribuir com opinião consistente sobre os principais temas/desafios da sociedade
portuguesa, desde a Saúde, á Justiça, passando pela Educação, Cultura ou Ambiente, não esquecendo
a Agricultura ou a Indústria, o Património ou a organização do Estado.

E por último que sejamos mais organizados, mais unidos nas nossas diferenças, mais eficazes no
cativar de muitos mais Portugueses para o nosso Movimento e divulgação do Ideal Monárquico.
Um Povo, Uma Pátria, Um Rei
Viva Portugal

60 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

COMUNICADO
A Causa Real e a actual situação política

Portugueses,

Considerando a acentuada degradação social, política e económica do País nos últimos tempos, para
a qual a Causa Real tem vindo a dar voz pública, sucede que a grande crise nacional eclodida no
passado dia 07 do corrente mês, a mais grave e mais gravosa desde 1976, com a demissão do Primeiro-
Ministro do XXIII Governo Constitucional, pelas razões que o próprio PM teve ocasião de dizer ao País
e, depois, com anúncio do Senhor Presidente da República, nos termos da declaração que veio fazer
no passado dia 09, que, resumindo, disse ter tomado a decisão de dissolver a Assembleia da República
e de convocar eleições para o dia 10 de Março de 2024, perante isto, e dado que os partidos políticos
já tiveram ocasião de se pronunciar, entende a Causa Real emitir o seguinte Comunicado:

1. Em primeiro lugar, uma palavra para a Justiça, o poder judicial. A justiça respeitada é a justiça que
está prevista na Constituição, a justiça que procede e actua no respeito pelos direitos, liberdades e
garantias. Esta é a posição de sempre da Causa Real, essa tem sido também a posição reiterada nos
tempos mais recentes, em especial durante a pandemia, e também a propósito do processo de revisão
constitucional, onde, porventura como poucos, a Causa Real não se coibiu de interpelar os órgãos de
soberania, donde só pode ser esse, também agora, o entendimento. A Causa Real sabe bem o que é a
injustiça, por isso a ninguém tal deseja. Daí que os parâmetros constitucionais previstos, desde que
em tempo útil empregues, consideramo-los adequados, para além de que as balbúrdias, sejam de
quem for, não ajudam ao trabalho e desempenho das partes.

2. Por outro lado, entende também a Causa Real que não possa ser pedido ao País que ignore ou
desconheça aquilo que a Procuradoria-Geral da República, o Primeiro-Ministro e o Governo, assim
como o Senhor Presidente da República vieram dizer aos Portugueses, termos em que o Chefe do
Estado aceitou o pedido de demissão do Primeiro-Ministro, e com o PM ainda considerou promover
um Governo de iniciativa presidencial, possibilidade que veio a gorar-se e que, neste tempo e
circunstâncias concretas, a ter singrado, seria atear um forte descontentamento popular, a acrescer
àquele que se verifica.

3. Assim, não se olvidando, como não pode ser olvidada, a emanação da mais grave crise de Estado
desde 1976, e não se olvidando também o choque que tão tristes notícias causaram em Portugal e no
estrangeiro, a partir do momento em foram desencadeados os mecanismos constitucionais para
estancar, na medida do possível, as réplicas do terramoto, importa que não nos fixemos tanto neste ou
naquele ponto, mas que tiremos as ilações sobre o panorama geral, não menos denso que a
deflagração emergida, pelo que a Causa Real vem sublinhar o seguinte:

61 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

4. Esta não é só mais uma demissão de um Primeiro-Ministro. Esta não é só mais uma dissolução da
Assembleia da República. Estas não são só mais umas eleições antecipadas. Esta não é só mais uma
crise política por razões judiciais. Esta não é só a contenção de uma crise política por via da
formalização, aliás errática, dos trâmites político-constitucionais. Este não é mais o tempo de fazer
profissão de fé em vãs esperanças e abstrações, quando a cada dia mais empobrecem e se desiludem,
mais se se entristecem e abatidos ficam os Portugueses com aquilo a que se pode chamar um
“Processo de Destruição em Curso”, em que a Constituição, por si só, não tendo quem a interprete e
defenda patriótica e desprendidamente, que não por cálculos, adiamentos e paliativos, atrofiamentos
altamente lesivo para a confiança das pessoas desesperançados, e o mesmo se diga do sector social e
das pequenas e médias empresas, donde, a conclusão mais sensata, ainda que dramática, é a das
famílias, das comunidades e das entidades locais de Portugal, que tolhidos pelas dificuldades e pelo
medo, oscilam entre a dor, a indignação e o desgosto de quem tanto ouve falar em “salvar” isto mas já
pouco acredita que as suas terras e localidades, as suas cidades e o País se salvem, desde logo pelo
inverno demográfico da baixa natalidade, pela muita velhice e mortalidade.

5. Na verdade, considera a Causa Real, a dignidade tornou-se um conceito indigno, a liberdade tornou-
se um estranho consentimento tácito, a democracia tornou-se plasticina, e a solidariedade um slogan
vazio.

6. Portugal está doente, doente também enquanto Povo, Nação e Pátria. O Estado, em vez de deixar a
sociedade civil viver, tornou-se padrasto e madrasto do cerceamento e da regulação de tudo,
incluindo do amor a Portugal, incluindo da alma de uma Nação, veja-se a educação.
Portugueses,

7. O País assiste neste momento ao espectáculo mais degradante da Democracia Constitucional desde
há quase 50 anos, o qual, pelos calendários do Senhor Presidente da República, vai arrastar-se até ao
segundo trimestre de 2024.

8. A tal percurso, desde aqui até às eleições de 10 de Março de 2024 e à formação do novo Governo,
junta-se, logo em Junho, as eleições europeias, o que significa que dois órgãos de soberania,
Parlamento e Executivo, irão estar confinados durante este tempo, enquanto que a actividade
político-partidária vai intensificar-se, como é próprio das disputas partidárias, e enquanto que não
sabemos como irá reagir o País a tudo isto sob nuvens de chumbo, considerando ainda um contexto
externo, na Europa e no plano internacional, ambos periclitante e sinais de turbulências várias.

9. A Causa Real entende que se os movimentos populistas são maus, as tentações autoritaristas para
lhes porem cobro não são melhores, como também considera importante que seja clarificado a quem
e em que termos passarão a responder os Ministérios com funções de soberania a partir de agora
neste hiato, apesar do previsto na lei quanto aos actos de um Governo em gestão corrente,
designadamente no plano externo, mas também nas finanças, justiça e administração interna.

10. Ponderadas, assim, as considerações feitas quanto à governação, à actividade político-partidária,


tendo presente a realidade social e económica do País, e atendendo à agonia das instituições
democráticas e ao estado comatoso dos órgãos de soberania, a Causa Real apela ao Movimento
Monárquico, como também apela a todas as associações e entidades idóneas, e aos Portugueses, que
se mantenham nos seus trabalhos e actividades, de modo a que o País prossiga o mais normalmente
possível, enquanto que todos deverão ter presente que é possível fazer uma “transição democrática”
sem romper a coesão e a paz social, será esta a última via antes de um descalabro social.

11. Aqui chegados, é hora H para que a democracia constitucional seja capaz do fôlego para se
levantar em nome da independência nacional, das liberdades, do progresso e da paz, pois é chegado
o tempo da verdade, o tempo de viver, o tempo que clama que restauremos Portugal e o nosso País
seja devolvido aos Portugueses.

Lisboa, 16 de Novembro de 2023

62 DEZEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

COMUNICADO
A Causa Real e o estado em que se encontra a Saúde em Portugal

A Causa Real vem manifestar a sua preocupação pelo estado em que se encontra a Saúde em
Portugal.
As visões a curto prazo de consecutivos governos, têm mantido o Serviço Nacional de Saúde (SNS) a
funcionar com remendos. Os anos de Pandemia vieram mostrar que o SNS apenas se mantinha à
custa da boa vontade de uns quantos profissionais. Depois dessa prova de fogo, e depois de serem
recompensados com algumas salvas de palmas e outros tantos insultos, muitos foram os que
decidiram abandonar o SNS e emigrar ou trabalhar apenas no sector privado.
Entretanto, pagam-se milhões em horas extraordinárias em vez de contratar mais profissionais, retira-
se poder às Ordens Profissionais para que o Governo deixe de depender destas para balizar a
qualidade da formação, e possa contratar mão de obra mais barata, mesmo que mal preparada. Há
dinheiro para construir estádios de futebol,
mas chove em alguns centros de saúde. Há frotas automóveis renovadas para ministérios, e
computadores obsoletos nos consultórios médicos.
Ao mesmo tempo que há milhares de portugueses sem médico de família, há quem faça turismo para
Portugal apenas para conseguir de borla um tratamento que no seu país de origem é pago. Há
consultas de graça para se fazer um aborto a pedido, mas não há unidades de cuidados paliativos
suficientes para dar resposta a tantos que precisam.
A solução não pode ser fechar sucessivas urgências e blocos operatórios, concentrando os poucos
profissionais nos hospitais que sobram.
Falta uma visão a longo prazo, se queremos manter os ganhos em saúde que nos deram fama.
Falta remunerar os profissionais de forma digna, falta dar-lhes condições de trabalho, falta taxar o que
deve ser taxado e manter a gratuidade naquilo que é realmente importante.
Ora isso exige que se deixe de pensar no que dará mais votos nas próximas eleições, ou no melhor
negócio para o bolso de alguns.
Acima de tudo, no caos que a República atravessa, faltam exemplos, como os das Rainhas D. Leonor,
D. Estefânia, ou de D. Pedro V, que dedicaram o seu trabalho e no último caso a sua vida, para a Saúde
em Portugal.

Lisboa, 20 de Novembro de 2023

63 DEZEMBRO 2023
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