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DO ALTO MINH
CONTEÚDOS
SETEMBRO 2023
13 O CASAMENTO REAL
Editorial
PEDRO QUARTIN GRAÇA
Inversamente à República, que antagoniza todos quantos se lhe opõem, a Família Real Portuguesa e
o Senhor Dom Duarte em particular tem tido sempre um comportamento exemplar, representativo
de Portugal em todo o mundo, liderante e, ao mesmo tempo com a capacidade de conciliação que
só um Rei consegue alcançar de forma natural.
Esta postura, já de si grande, faz parte do enorme legado que a Infanta recebe dos seus pais, tanto
no que à educação se refere, como à simplicidade que coloca em todos os seus gestos, reveladores
de um grande amor a Portugal e aos portugueses.
Maria Francisca de Bragança teve também a felicidade de encontrar no seu noivo Duarte uma
pessoa à altura do seu legado para, juntos, contribuírem para o engrandecimento de Portugal e da
defesa dos valores Pátrios e da Independência. Uma defesa que passa, nos atribulados tempos que
correm, pela continuação da luta iniciada pelo Senhor Dom Duarte décadas atrás e que hoje, mais
do que nunca, se revela como absolutamente necessária de travar de novo.
Esta é uma tarefa que deve unir todos os monárquicos portugueses numa liderança que, pelo
exemplo e por aquilo que representam, cabe à Família Real e à qual nós, CAUSA REAL, daremos
todo o nosso maior empenho e dedicação.
Todos não somos muitos para contribuir para a defesa da Liberdade e levar bem alto a nossa
bandeira!
3 SETEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO
ABSTRACT
IThe ceremonial attire was always black, so as the wedding was a ceremony, the bride and groom
wore black.
The Royal Association of Viana do Castelo, knowing that the Infanta intended to wear the Minho or
Vianense Wedding Attire on the eve of her wedding, ordered one from the company MARSOG.
Meanwhile, the Royal Association of Viana do Castelo informed the Municipal Council of Viana do
Castelo of D. Francisca de Bragança's desire to pay homage to Minho, wearing the wedding attire of
Viana, the municipality, with a view to promoting the territory and heritage culture as well as the uses
and customs of Minho (Viana's regional bridal attire is unique in the country), he offered the infanta
the bridal attire that the Royal Association had ordered made.
The costume consists of a coat, skirt, apron, pouch, veil, love scarf, petticoat, socks and slippers,
embroidered with cotton thread and moonlight glass.
RÉSUMÉ
La tenue de cérémonie était toujours noire, donc comme le mariage était une cérémonie, les mariés
portaient du noir.
A Real Associação de Viana do Castelo, sachant que l'Infante avait l'intention de porter la tenue de
mariée Minho ou Vianense la veille de son mariage, en a commandé une à la société MARSOG.
Parallèlement, a Real Associação de Viana do Castelo a informé le Conseil Municipal de Viana do
Castelo du désir de D. Francisca de Bragança de rendre hommage à Minho, en portant la tenue de
mariage de Viana, la municipalité, en vue de promouvoir le territoire et la culture patrimoniale. ainsi
que les us et coutumes du Minho (la tenue de mariée régionale de Viana est unique dans le pays), il
offrit à l'infante la tenue de mariée que l'Association Royale avait commandée.
Le costume se compose d'un manteau, d'une jupe, d'un tablier, d'une pochette, d'un voile, d'un
foulard d'amour, d'un jupon, de chaussettes et de pantoufles, brodés de fil de coton et de verre clair
de lune.
A história do Traje à moda do Minho ou à Vianesa, tal como a dos restantes trajes regionais de Viana
do Castelo, surge documentada a partir de finais do século XIX, com pequenas referências aos tecidos
e modas locais.
O traje de cerimónia sempre foi preto pelo que sendo o casamento uma cerimónia, os nubentes
vestiam de preto.
No caso das mulheres minhotas ou vianesas, a tradição do traje preto tem raízes ainda mais
profundas.
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REAL GAZETA DO ALTO MINHO
O traje de noiva tem origem no fato de morgada (pessoa com posses acima da média) e como
qualquer outro traje foi sendo influenciado pelas modas, pelos gostos das épocas e por factores sócio-
económicos.
É vestido pela primeira vez aquando da sua primeira mordomia (normalmente aos 18 anos, quando
colabora pela primeira vez na organização da festa ao santo do seu lugar ou da sua fé).
Mais tarde será o seu vestido de noiva, apenas trocando o habitual lenço de cabeça (normalmente de
seda) por um véu branco. E muitas vezes a noiva punha ao peito todo o ouro que possuía, exibindo
desta forma o seu poder económico.
A seguir ao casamento, o traje era cuidadosamente tratado e guardado numa arca, de onde era tirado
para se usar em actos civis e religiosos importantes e voltado a guardar, para um dia ser usado por
uma filha ou uma neta.
A Real Associação de Viana do Castelo, tendo conhecimento que a Infanta gostaria de usar na véspera
do seu casamento um traje regional de Viana, encomendou à MARSOG, Unidade produtiva artesanal
reconhecida (carta 121395), localizada em Santa Marta de Portuzelo, empresa cuja designação social é
o nome completo da própria fundadora e artesã (Maria Augusta Ribeiro Sousa Oliveira Gil) o Traje de
Noiva do Minho.
O traje é composto por uma casaca em tecido brocado preto, ajustada ao corpo, fazendo uma
pequena aba na cintura, decorada com bordado rico, feito à mão, a fio de algodão e com vidrilho luar
(brilhante), ornamentada em galões e fita de cetim plissada, também em preto, com renda branca nos
punhos e na gola;
uma saia comprida, do mesmo tecido, com 3 metros de roda, com pinças, em cetim, em redor da
cintura (para adelgaçar a figura), com larga barra de veludo luxuosamente bordada, à mão,
ornamentada com galões acedados e vidrilho luar, ornamentada com aplicação de fita e tira de cetim
pregueada; tiara em veludo, bordada à mão, a linha de algodão e vidrilho luar, que segura o véu
branco;
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REAL GAZETA DO ALTO MINHO
avental de veludo preto, decorado com bordado rico, à mão, a fio de algodão e vidrilho luar, com as
armas da Infanta Dona Francisca de Bragança ao centro e coroa ducal (por ser duquesa de Coimbra)
enquadrado por motivos florais, possuindo um folho pregueado de seda preta e galões de seda da
mesma cor;
com uma algibeira em forma de coração estilizado, bordada com
fio de algodão e vidrilho luar, entre o avental e a saia.
1 Estas quadras costumam ter erros ortográficos uma vez que são escritas como as pessoas falam.
6 SETEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO
ABSTRACT
If we add a lemon, three cucumbers and mint to a Greek yogurt and peel the cucumbers, remove the
seeds and cut them into pieces so that they are almost like mush, salt them and leave them to drain
well in a colander, adding two crushed garlic cloves and the lemon juice and at the end we mix
everything: the yogurt, the cucumbers drained with salt and garlic, the lemon juice. leaving it to stay
in the fridge for a few hours.
Then we can try it with a salad, or with grilled meat, or with a kid in the oven, or with loose rice, or by
the spoonful for pure delight on a toast and bed in an ice-cold white, an even colder rosé, an open red
from the rare ones that prove themselves sometimes.
At our lunch, friends born in the 50s, at home, in fact, in the secret gardens of Casa da Deveza, in
Azevedo, Caminha. We shaved the cup!
RÉSUMÉ
Si nous ajoutons un citron, trois concombres et de la menthe à un yaourt grec et épluchons les
concombres, retirons les graines et les coupons en morceaux pour qu'ils ressemblent presque à de la
bouillie, salez-les et laissez-les bien égoutter dans une passoire, en ajoutant deux écrasés. les gousses
d'ail et le jus de citron et à la fin on mélange le tout : le yaourt, les concombres égouttés avec le sel et
l'ail, le jus de citron. en le laissant quelques heures au réfrigérateur.
Ensuite on pourra l'essayer avec une salade, ou avec une viande grillée, ou avec un chevreau au four,
ou avec du riz en vrac, ou à la cuillerée pour un pur délice sur une tartine et coucher dans un blanc
glacé, un rosé encore plus froid. , un rouge ouvert parmi les rares qui font parfois leurs preuves.
A notre déjeuner, des amis nés dans les années 50, chez eux en effet, dans les jardins secrets de la
Casa da Deveza, à Azevedo, Caminha. Nous avons rasé la coupe !
Se num dia de muito calor acontecer passarmos diante dum escaparate com boiões grandes de
iogurte grego, devemos comprar pelo menos um e ainda um limão, três pepinos e hortelã de bom
perfume (que seja suficiente para enchermos, a mais do que a trasbordar, uma chávena de chá com
as folhas cortadas à tesoura). Descascamos os pepinos, rapamos-lhes as sementes e cortamo-los em
picado de modo a ficarem quase em papa, salgamo-los e deixamo-los a escorrer bem num coador.
Acrescentamos dois dentes de alho esmagadíssimos. E o sumo do limão. E misturamos tudo: o
iogurte, os pepinos escorridos com o sal e o alho, o sumo de limão. Provamos para ajustar o sal.
Misturamos, cuidadosa e finalmente, a hortelã. Contenhamos a gulodice e deixemos ficar por umas
horas no frigorífico. Depois…
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REAL GAZETA DO ALTO MINHO
…depois podemos provar com salada, ou com carne grelhada, ou com um cabrito no forno, ou com
um arroz solto, ou à colherada por puro deleite numa tostinha e cama feita a um branco gelado, um
rosé mais gelado ainda, um tinto aberto dos raros que se provam às vezes.
No nosso almoço, o de amigos nascidos nos anos 50, em casa, aliás, nos jardins secretos da Patrícia
Jacquot e do Acácio Pimentel, há dias, havia uma mesa cuja decoração foi mudando e por onde
passaram coisas óptimas, até as fotografámos para memória futura. Mas quando pensamos nessas
mesas sucessivas de cores e surpresas, de mão do Acácio, em que houve queijos e azeitonas, bacalhau,
tripas, couscous, milhos, verduras várias e temperos soberbos, cabrito que se cortava com um prato,
sabores trasmontanos e minhotos com sangue, cominhos e cravinho, havia uma taça, que se distingue
na nossa imagem mental: a do creme de iogurte com pepino, da mão da Patrícia, em que o pepino
estava lá, mas tão bem acompanhado que se sumia sem perder a personalidade – seria o mesmo que
uma das fotos de um de nós num museu de cera ao lado da Raquel Welch: nós estamos lá mas o que
salta à vista é a Raquel Welch vestida ou não como se quiser. O que tinha aquele iogurte? Houve
imensos palpites, mas o aahhh! foi geral quando a Patrícia revelou que o creme tinha pepino: depois
de se saber era fácil, só um fruto desses para dar aquela estrutura – e havia ali uma grande mestria em
conseguir-se o resultado, aquele resultado e não outro. Rapámos a taça!
A Casa da Deveza, em Azevedo, faz jus ao nome: no Dicionário da Academia, uma devesa é uma
alameda que delimita um terreno; lugar cercado por arvoredo; mata ou arvoredo cercado ou murado;
souto; campo fértil na margem dum rio. Ora, a casa da Patrícia e do Acácio é isso tudo e ainda mais!
Aliás, é o dicionário que está incompleto já que deveria acrescentar (não duvidamos que o será em
edições futuras!) pedaço de éden em que os donos recebem os amigos. Com uma vantagem sobre o
Éden primordial, já que esse não se sabe onde ficava – e este fica mesmo ao pé de Caminha! (É uma
casa particular e não um estabelecimento público, esclareça-se!). Passear naqueles jardins de gosto
inglês, em que os nossos pés se afundam em muitos centímetros de relva de folha larga, fez-nos
mudar tão bem da nossa vida nesse dia que foi com motivos de alegrias e sem nostalgias tristes que
conversámos sobre infâncias, carreiras, negócios, amigos presentes e ausentes, festas e lutos como se
um caleidoscópio, especial porque todo ele verde (estávamos no Minho, para todos os efeitos), para lá
desse especial porque o verde tinha as intermitências dos áceres, do bambu, do colorido das fatiotas
de todos nós, as nossas vozes, o passear dos leões-da-rodésia com a sua agitação e imponência, o
imaginar mitológico e anedótico dum canguru por ali aos saltos, o vôo das garças a vir buscar os
peixes da taça de água, como se um caleidoscópio, dizia, nos maravilhasse com os vislumbres dos
nossos professores, das aulas, das férias, das marotices ingénuas de há meio século em Trás-os-Montes
que nos fizeram, afinal, a todos, estarmos ali.
8 SETEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO
Tenho a certeza de que ao experimentar construir o creme de iogurte, o pepino vai estar a mais ou a
menos. O que até será bom, porque teremos de repetir a experiência até acertarmos e cada repetição
exigirá aprumo e denodo culinário. A Mariana zelará pelo meu aprumo. Para o denodo já pusemos o
rosé no frigorífico. Falta vir um dia de calor com uma tarde de sol para irmos buscar o boião de
iogurte grego. Até lá, vamo-nos consolando com a amizade das mensagens, das fotos, dos videoclips
do nosso grupo dos anos cinquenta no whatsapp!… Qual o rosé que pusemos no frigorífico?! Ah! Pois
é!… revelaremos num dia de Verão a sério já que é um rosé a sério, intencional. Saúde, Patrícia e
Acácio!
* Publicado em https://eggas.pt/2023/06/19/iogurte-grego-numa-receita-francesa-comida-no-minho/
9 SETEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO
PORTUGAL: família de
famílias – a FAMÍLIA REAL
ABSTRACT
The author tells us about the importance of the Family, the basis of all human society since time
immemorial. The Royal Family of a country is the face of a people, a Family that tells us the entire
history of their country. All the “workers” of a country are present in its genome.
The upcoming wedding of Princess Maria Francisca of Bragança gives us a preview of the history of
Portugal, a country with almost 9 centuries of existence. The author asks the Queen of Portugal, Our
Lady of Her Conception, for her protection for the young couple who are will unite on October 7th and
be the example we need at this time of slaughter for family and society.
RÉSUMÉ
L`auteur nous parle de l`importance de la Famille, base de toute la société humaine depuis toujours.
La Famille Royal d`un pays c`est le visage d`un peuple, une Famille qui nous raconte toute l`histoire
de son pays. Dans son génome son présents tous les “faiseurs” d`un pays.
Le prochain mariage de la Princesse Maria Francisca de Bragança nous donne la visualisation de
l`histoire du Portugal, un pays de presque 9 siècles d`existence L`auteur demande à la Reine du
Portugal, Notre Dame dans Sa Conception, Sa protection pour le jeune Couple que va s`unir le 7
octobre prochain et qu`ils soient en exemple dont nous avons besoin dans ce temps d`hécatombe de
la famille et de la société.
A Revolução Francesa, ao executar o Rei e a Rainha (talvez o Delfim) fundou um sistema político que
vigora até hoje e que tem por base já não a Família, mas o indivíduo, o cidadão. Inicia-se um processo
de “desconstrução” da sociedade tradicional e que vem dos mais antigos povos de toda a Terra e de
todas as geografias. A sociedade é, sempre foi, naturalmente, baseada em famílias que se foram
agregando, constituindo comunidades cada vez mais amplas que, para defesa dos seus interesses,
deram origem às nacionalidades. E estas novas comunidades, naturalmente, eram dirigidas por uma
família.
Portugal, quando nasceu, a sua organização comunitária estava definida por comunidades, não por
sociedades anónimas e muito menos por indivíduos que agiam individualmente. É até curioso que,
em Portugal, com a implantação da república, o voto era dado aos “chefes de família” que votavam
em nome (?) do seu agregado familiar. A grande diferença que trouxe a república portuguesa foi um
exacerbamento do individualismo com a chefia do Estado ser desempenhado por um indivíduo e em
que a sua família não tinha, legalmente, qualquer função. Os familiares do chefe de Estado eram
ignorados para que só sobressaísse o indivíduo, o homem. É curioso que, à semelhança dos EUA e de
10 SETEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO
outros países, Portugal criou, não há muitos anos, a figura de “Primeira Dama” com direito a Gabinete
e colaboradores pagos pelos contribuintes, quando o regime republicano é a expressão do
individualismo e a chefia do Estado é uninominal. Quanto a mim, esta foi a grande revolução
republicana: a exaltação do indivíduo e a ignorância da família, apesar de a república, para “apagar” o
Natal, ter criado a festa da Família em 25 de Dezembro, festa que não criou raízes por ser contra a
natureza e contra a nossa cultura e identidade.Tudo em Portugal e noutras repúblicas tem convergido
na luta contra o papel e função social, económica e espiritual das famílias, da Família como
comunidade estruturante de qualquer sociedade equilibrada. É curioso, ou talvez não, que a
campanha republicana em tempo da nossa Monarquia, era feita contra a Família Real, e o regicídio
teria tido como alvo abater toda a Família Real com o Rei, como Chefe de Estado, à cabeça.
Assim, e a meu ver, a república é um regime anti-natural pois vai contra a natural constituição da
sociedade humana. Mesmo nas Monarquias contemporâneas, os seus detractores, ocupam-se mais
em atacar a Família Real do que o Rei/Rainha. Esta é a grande diferença entre república e
Monarquia: a Família.
Familia Real
11 SETEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO
… Por isso, nos países com um regime de chefatura de Estado monárquico, os cidadãos, malgrado a
dissolução dos costumes e a hecatombe da Família, exigem uma Família Real exemplar, modelo onde
se revejam face aos seus falhanços familiares. Exemplifico com o mediatismo dos fracassos familiares
da Família Real do Reino Unido e como tais fracassos quase sempre foram mal entendidos e aceites
pelos britânicos. Ou “ad contrario” como silenciam, intencionalmente, as Famílias Reais exemplares, os
Reis, como Balduíno e Fabíola da Bélgica. E nos que nos diz respeito, veja-se o silêncio que fazem cair
os “mass media” sobre a nossa Família Real, como se não existissem nem representassem 8 séculos da
nossa História de feitos notáveis e de Reis e Rainhas absolutamente excepcionais malgrado outros,
poucos, que não foram assim tão bons.
No subconsciente dos diferentes povos da Europa há um fascínio sobre os acontecimentos reais,
mesmo no concernente a Famílias Reais não reinantes! Constato isto com a venda brutal de revistas
especializadas em “faits divers”, sobretudo quando há algum acontecimento real como casamentos,
funerais ou outros. E malgrado a chamada “Teoria do Género” e do Wokismo vigente e dominante,
ainda se contam estórias às crianças de Príncipes e de Princesas que as fascinam.
Portugal tem uma Família Real. Infelizmente desconhecida de muitos portugueses. Simples e
servidora desinteressada do bem de Portugal. Mesmo quando a ignoram os poderes representativos
do país que se esquecem ou não sabem que no património genético desta família há informação
genética dos grandes santos e heróis que fizeram Portugal. Quando vejo algum membro da Família de
Bragança, não posso deixar de me recordar que neles estão, geneticamente falando, o nosso
Fundador, Dom Dinis, Dom João I e a Ínclita Geração, Dom Manuel I, Dom João IV ou dom Pedro V, o
Rei que me tornou monárquico, Dom Luís I ou Dom Carlos I e a Rainha Senhora Dona Amélia e o
nosso espantoso patriota que foi Dom Manuel II. Como não podemos deixar de percorrer na nossa
mente toda a História de Portugal ao vermos o Senhor Dom Duarte, herdeiro (não pretendente) dos
nossos Reis?
Vamos assistir ao casamento de uma Infanta de Portugal, no próximo dia 7 de Outubro, um
casamento de amor de uma Princesa portuguesa que brilha como um sol radiante e radioso num
mundo sombrio. O seu sorriso de bondade e simpatia, de proximidade para com todos, é estimulante!
Exemplar. Esperançoso. Quando, na Basílica de Mafra, obra de um Rei seu antepassado, Portugal
reviver a sua História multissecular participará, graças a esta Princesa portuguesa (posso chamar-Lhe,
Alteza: Miss Simpatia?) a um episódio que nos remete para o sentido profundo e insubstituível da
Família Real, património de Portugal. Sim, a Família Real é autenticamente um verdadeiro património
espiritual, cultural e histórico deste país que tanto ama.
A Família Real, de que a Senhora Infanta Maria Francisca é
membro, é um verdadeiro “guarda joias” onde se guarda a mais
preciosa herança de Portugal: a continuidade da nossa Pátria, de
nobre povo, de heróis do mar e uma nação valente e imortal!
Que Nossa Senhora, que já era “Madrinha de Portugal quando este
foi a baptizar”, abençoe a nossa Família Real e n`Ela a família que
a Senhora Infanta vai constituir. Que esta Bragança nos dê o
exemplo de uma verdadeira Família: unida, coesa (na diferença) e
aberta à vida. Precisamos, Senhora Infanta que com o Seu marido,
nos devolva a esperança de que, como dizia o saudosíssimo Papa
S. João Paulo II Magno,” o futuro da humanidade passa pela
Família”. Peço à nossa e Vossa Rainha, Nossa Senhora da
Conceição, que vos dê a coragem de permanecerem unidos no
Amor e que sejam um autêntico exemplo de que o Amor é
possível!
12 SETEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO
O Casamento Real
ANTÓNIO DE SOUZA-CARDOSO
ABSTRACT
October 7th, the day on which S. A. Infanta Dona Maria Francisca marries, is a day of celebration for
the Portuguese, but it should also be a day of reflection for Portugal.
The main reading behind the event is the realization that Portugal have a King. Or, better yet - that
Portugal haves a Royal Family.
Let us focus, therefore, on the King who unites and represents. A King with whom we identify in the
kind condition we share with all our countrymen. A metaphysical apogee that is fixed in time and
space as a sign or beacon of our existence as a People.
RÉSUMÉ
Le 7 octobre, jour du mariage de S. A. Infanta Dona Maria Francisca, est un jour de fête pour les
Portugais, mais il devrait aussi être un jour de réflexion pour le Portugal.
L'interprétation principale de cet événement est la prise de conscience que le Portugal a un roi ou,
mieux encore, que le Portugal a une famille royale.
Concentrons-nous donc sur le Roi qui rassemble et représente. Un Roi auquel nous nous identifions
dans la condition bienveillante que nous partageons avec tous nos compatriotes. Un apogée
métaphysique qui se fixe dans le temps et dans l’espace comme signe ou phare de notre existence en
tant que Peuple.
13 SETEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO
O que não deixa de representar para todos os que beneficiam da condição de portugueses, um
elemento de agregação, de unidade e de partilha. Todos estamos juntos na mesma história, na mesma
língua e na mesma cultura. Todos partilhamos este referencial que é nosso e que foi de todos os
portugueses antes de nós. Todos podemos vivenciar uma história e um património cultural e afectivo
que incorpora de forma indelével a nossa identidade.
Por isso, como se faz na boa culinária reservemos. O quê, perguntarão? A ideia de um Rei que
representa a nossa identidade e a nossa universalidade. Um Rei que convoca e que promove o nosso
reencontro com a história. Um Rei ou uma Família Real que representam no fio do tempo o nosso
essencial elemento de agregação e de partilha geracional.
Fixemo-nos, pois, no Rei que une e que representa. Um Rei com quem nos identificamos na amável
condição que partilhamos com todos os nossos conterrâneos. Um apogeu metafisico que se fixa no
tempo e no espaço como sinal ou farol da nossa existência como Povo.
Reservadas que estão as primeiras virtudes passemos para outra dimensão: Este referencial constitui,
por outro lado um elemento de permanência e de compromisso. A permanência que se traduz numa
tranquila continuidade na acção e na coesão social que incessantemente promove, mas também na
forma como confere estabilidade e experiência aos actos e funções de dele naturalmente emanam. É
esta continuidade que confere às Nações e aos Estados notoriedade e prestígio tão relevantes num
mundo globalizado em permanente relação e cooperação. Todos percebem que qualquer pessoa de
qualquer País europeu ou mundial sabe quem é o Rei de Espanha ou o Rei de Inglaterra. Muito
poucos saberão quem é o Chefe de Estado de Itália ou o Chefe de Estado da Alemanha para falar
apenas nos Países mais relevantes.
Curiosamente é este compromisso biunívoco entre o Rei e o Povo que confere ao Chefe de Estado a
legitimidade que só aparentemente poderia faltar. A tal dificuldade que muitos apontam às
Monarquias de não escolherem o Chefe de Estado é superada por esta aliança não escrita entre o Rei
o Povo que tem a primeira confirmação no momento relevantíssimo da aclamação. A altura em que o
Povo sufraga o seu Rei que lhe não foi imposto por um dos dois maiores partidos como ocorre na
Eleição do Chefe de Estado, por exemplo em Portugal. Depois da Revolução todos os Chefes de Estado
civis foram anteriores líderes do PS ou do PSD. Onde está a liberdade de escolha (?). E também todos
foram sufragados com votações reforçadas no segundo mandato – o que confirma o valor que o Povo
dá à continuidade em tudo o que ela tem de relação e de confiança.
14 SETEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO
Reservemos, pois, o valor da continuidade em tudo o que ele induz de estabilidade, de conhecimento,
de notoriedade e de competência. E reservemos ainda a ideia do compromisso, num entendimento de
serviço público e não de carreirismo político, numa assunção de que por vezes a legitimidade tem
outras formas mais genuínas de se expressar. Não escolhemos os nossos Pais, mas todos os dias eles
nos dão provas do sentimento que os fez serem Pais. E por isso, sem votar neles, não queremos outros.
Assim também o Rei cuja legitimidade não é feita por uma parte mais pequena da população de 5 em
5 anos, mas por todos, em todos os momentos do compromisso que estabeleceram com o Povo.
Vai longo este artigo e ainda quero chamar a atenção para mais um núcleo de virtudes que envolvem
a figura do Rei. Falo da sua independência, isenção e suprapartidarismo. Não quero focar esta reflexão
no nosso Chefe de Estado, nem discutir se o estilo menos contido, mais de comentador, atacando
tudo o que mexe, casa bem com a função que deve exercer. Nem muito menos as paixões e amuos
que cultivará com o Primeiro Ministro por serem de famílias políticas em permanente contenda.
O que quero relevar é como pode alguém que emerge de uma das partes garantir isenção na
regulação das Instituições e dos Órgãos de soberania? Como pode ser árbitro da vida política alguém
que foi capitão de uma das principais equipas em competição? Como pode ser isento, em suma,
alguém que é refém permanente do sistema partidário que o ajudou a eleger?
De tudo o reservado que está muito longe de esgotar os ingredientes possíveis, podemos ver a outra
dimensão do Casamento Real. O dia 07 de Outubro, dia em que casa S. A. a Infanta Dona Maria
Francisca, é um dia de Festa para os Portugueses, mas deveria ser também um dia de reflexão para
Portugal.
15 SETEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO
16 SETEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO
AMM. – Desde que assumi maturidade política, passando a ter consciência do sentido e alcance da
Res Publica, enveredei pela Causa e pela Ideologia Monárquicas, as quais fui interiorizando durante a
minha juventude e, obviamente, aprofundando e sedimentando com a passagem para a idade adulta.
Porém, minha participação política monárquica activa começou indiscutivelmente com os comícios e
com as caravanas do PPM…As quais recordo com Saudades de Meninice!
A tomada de consciência política é um processo ou, melhor, um procedimento de vontade in itenere,
como muitos outros na nossa vida. Em bom rigor, nessa medida, posso afirmar que «sempre fui»
monárquico, porque me «fui tornando cada vez mais» monárquico. O que expressa o valor e a
relevância que, em sede de maturidade política, fui conferindo, dia após dia, à Instituição Régia e ao
Regime Jurídico-Político Monárquico Constitucional.
Não obstante, tudo como em tudo – e nos procedimentos também – há sempre um início…uma
espécie de «pré-história» das ideias. Esse «chamamento» partiu, indiscutivelmente, de «Casa» - como
sempre sucede na Vida. A verdade é que poderia não ter «ido por aí», mas sei que «fui por aí». Aliás,
curiosamente, tenho vindo a pensar que o meu gosto pela História e a minha preferência pelo Direito,
em especial pelo Direito Público, maxime pelo Direito Constitucional, resulta também e precisamente
dessa «fonte» familiar remota!
Por isso, se me perguntam se me tornei monárquico, por ter mudado de posição política, só posso
responder que não! Não! Nunca fui republicano. Agora, se me perguntam se fui «sempre» monárquico,
respondo peremptoriamente que sim, mas porque e na medida em que me fui «tornando» cada vez
mais monárquico. O passar do Tempo apura as Ideias, as Crenças e os Fundamentos em que as
escoramos.
17 SETEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO
RGAM. – Escreveu Fernando Pessoa: 'Metade do país é monárquico; metade do país é republicano… Por
qualquer razão, que não nos compete investigar, os republicanos estão mais organizados que os
monárquicos; noutras palavras, a maioria republicana activa é mais activa que a maioria monárquica
activa.' De facto, assim parece ainda hoje. Por que será que isso acontece?
AMM. – Naturalmente que Fernando Pessoa teceu esta observação crítica num determinado contexto
histórico, político e temporal que…era o seu – arrisco, até aos anos 30 do Século XX! Daí que, quanto à
primeira parte, com toda a probabilidade não possa ser transposta, sem mais, para os nossos dias.
Todavia, já o mesmo não direi a propósito da segunda parte do «desabafo» do Escritor e Político, posto
ainda hoje, ser uma realidade, se bem que, talvez, por razões muito diversas do passado.
Tempos houve, sobretudo a partir do Ultimatum de 1890, em que o Partido Republicano – pois, o Reino
de Portugal era um Estado de Direito em que as Liberdades Fundamentais Partidária, de Expressão e de
Pensamento, eram garantidas, no termos constitucionais -, actuando numa «penumbra» contra-regime
constitucional, associado a organizações ilegítimas, como a Carbonária, recrudescimento este que
esteve na base da hedionda tragédia do Regicídio, a 1 de Fevereiro de 1908, se manteve
necessariamente (muito) «organizado», esperando a melhor oportunidade política para perpetrar o
golpe no Regime Monárquico cuja legitimidade se encontrava escorada na Carta Constitucional de
1826, três vezes «revista» pelas Cortes – não sem embargo da sua fraca representatividade eleitoral na
Câmara dos Deputados.
Imposta a República, em Lisboa, pela força das armas, 5 de Outubro de 1910 – a meu ver, também por
responsabilidades de que não se livram os Partidos Monárquicos (tradicionalmente rotativistas), bem
como, até certo ponto, por descoordenação da Instituição Militar), seguiu-se, como alguém disse, a sua
«proclamação» …«pelo telefone», em todo o País! Um Portugal que não estava preparado para o choque
revolucionário, embora, à data indiscutível e maioritariamente monárquico! Não teve força par reagir,
perante «máquina» organizada do Partido Republicano. Os republicanos foram indiscutivelmente
«activos»! Era essa a sua «função» e o seu «móbil»: destruir a Coroa!
Claro que os arrependimentos não se fizeram esperar! «Noites sangrentas», «camionetas fantasmas», o
fuzilamento do cognominado «Herói da Rotunda», Machado dos Santos pelos próprios republicanos,
quedas de Governo, rebeliões e atentados bombistas, o assassinato de Sidónio Pais…até à adesão
popular ao 28 de Maio de 1926, seguido pari passu, de Braga a Lisboa, tudo revela o descrédito em que
caiu a República. A Monarquia do Norte e o General Paiva Couceiro também não deixam de ser o
Exemplo oposto a essa alegada inactividade monárquica! Depois, foi o que já todos sabem!
Hoje, sim hoje, não se pode dizer que o Movimento Monárquico esteja «inactivo». E a prova disso é esta
conversa que estamos a ter. A Causa Real e as Reais Associações contribuem muito, mas muito, para
não deixar esmorecer a Valia Política e Cultural da Instituição Real e do Regime Jurídico-Político
Monárquico, em Portugal. Claro que não podemos pensar um Jantar dos Conjurados, no 1.º de
Dezembro é iniciativa suficiente e bastante para despertar consciência para a Causa Real!
Estou certo que, muito proximamente, o casamento da Senhora Infanta Dona Maria Francisca, Duquesa
de Coimbra, será um Acontecimento deveras acompanhado e acarinhado pelos Portugueses – apesar
de, a meu ver, não terem sido poucas as tentativas, maxime de certos Meios de Comunicação Social,
para o ofuscar e desvirtuar. Trata-se de um Momento muito relevante para a Monarquia e para a Casa
Real Portuguesa, o qual deve ser visto, sempre, como um «novo início», um «novo alento», um «novo
alertar» da consciência do Povo Português para a importância da Monarquia como Regime Jurídico-
Político.
S.A.R, o Senhor Dom Duarte, Duque de Bragança nunca se afastou do Portugal genuíno e real, nem dos
Portugueses, como um corpo «multifacetado»! Cabe, sim, agora, aos monárquicos cumprirem o seu
dever qua tale: «convencer» os Portugueses que (ainda) não estão «convencidos» e, acima de tudo,
combatendo a «desinformação» de que a Monarquia tem vindo – desde há muito – a ser alvo. Desde
logo, desmistificar a ideia de que a Monarquia se confunde com o Passado e que, apenas, a ele
pertence. Este é o grande perigo de que alguns se fazem valer!
18 SETEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO
RGAM. – Consagra a alínea b) do Artigo 288.º da Constituição da república portuguesa que “as leis de
revisão constitucional terão de respeitar a forma republicana de governo”, pelo que esta cláusula
impede um referendo nacional sobre esta matéria. Mas, apesar dessa petrificação, desse do limite
material, poderia formalmente haver uma revisão constitucional dessa alínea? Quid iuris?
AMM. – Salvo a devida e merecida vénia por opiniões contrárias, defendidas por grandes Autores que
muito prezo, a verdade é que, na minha Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, tanto os
meus Mestres, como os meus Colegas, como, especialmente, os meus Alunos, conhecem muito bem a
minha posição teorética adversa à consagração/imposição de limites materiais de revisão
constitucional, como sucede com o prescrito do artigo 288.º da Lei Fundamental.
Por um lado, entendo-os como uma redundância, e, por outro lado, como um paradoxo. São uma
redundância, pois, se tais valores ou princípios visam salvaguardar a identidade essencial da
Constituição – logo devendo entender-se como aceites e sentidos por todos (ou quase todos) os
Portugueses, para que se trate de uma Constituição efectivamente vigente – não se enxerga, com um
mínimo de razoabilidade, o porquê dessa disposição «pétrea». Se todos aceitam o que lá está, não há
razão para impor expressamente uma proibição de alteração em sede de exercício do poder
constituinte derivado, em que se traduz o poder de revisão constitucional, cuja titularidade pertence
ao Povo, nos termos da mesma Lex Fundamentalis.
São um paradoxo, pois, se o Povo é o titular da Soberania ou do Poder Político Soberanos, logo, titular
do Poder de Revisão da Constituição (regulado nos artigos 284.º a 289.º da Constituição de 1976), logo
é ostensivamente anti-democrático impedir que o Povo possa alterar a Constituição nas matérias que
muito bem entender e quiser. Nem que isso implique bulir no «caso» dessa Constituição. Pois se é essa
a sua Vontade! Manter as gerações futuras agrilhoadas á vontade política de gerações passadas é
intoleravelmente antidemocrático.
Por isso, tem-se desenvolvido na Doutrina Constitucional a designada Teoria da «Dupla Revisão», de
acordo com a qual primeiro, procede-se à revisão do artigo 288.º, eliminando, por exemplo,
determinadas alíneas, como poderia suceder com a alínea b), respeitante à «forma republicana de
governo», e, depois, já se poderiam alterar as matérias a que essas alíneas respeitavam. Daí «dupla
revisão», que, a meu ver, não deixando de ser prestável, em prol da Democracia, seria desnecessária,
caso o artigo 288.º não constasse, como tal, da Constituição de 1976.
Diga-se, todavia, que a questão do Referendo sobre o Regime também não é tão simples e não se
prende, exclusivamente, com a questão dos «limites materiais» da revisão constitucional, ou, melhor
ainda, não se identifica com ela. É que a Constituição de 1976, também proíbe os referendos
constitucionais, ou seja, os referendos sobre matérias reguladas na Constituição. O que é o caso
paradigmático da forma de Regime. Assim sendo, no actual quadro jurídico-constitucional, a
submissão da «questão do regime» a referendo popular só seria possível ou legítima após a revogação
da norma constante do artigo 115.º da CRP, em cujos termos «4 - São excluídas do âmbito do
referendo: a) As alterações à Constituição». Ora, esta norma é, frequentemente esquecida. Em todo o
caso, a «dupla revisão» sempre asseguraria a alteração do artigo 288.º, sem embargo da conveniência
ou, mesmo, necessidade jurídica de ultrapassar, concomitantemente, a proibição dos «referendos
constitucionais», até para efeitos de legitimação e de segurança de uma opção popular, clara expressa,
pelo regime monárquico.
19 SETEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO
AMM. – Sem dúvida alguma! O Monarca Constitucional é Símbolo e Factor determinante de Unidade e
Continuidade, relevo este que se projecta muito para além do plano Político stricto sensu e se espelha
no plano Cultural! Contudo, no domínio político, nas Monarquias Constitucionais, sobretudo nas
actuais, o Monarca está dotado naturalmente de um Poder Moderador – assim chamado por Benjamin
Constant -, o qual funciona como a «chave» da organização política e da separação e equilíbrio dos
restantes Poderes.
Ab initio, o Monarca não está vinculado a forças partidárias, políticas económicas ou sociais. É
verdadeiramente independente! E essa «Independência» faz falta ao Sistema Político! É saudável, por
politicamente transparente. Aliás, era este Poder Moderador de que, juntamente com o Poder
Executivo, Em Portugal, o Monarca era titular, nos termos da Carta Constitucional de 1826, em vigor
até 5 de Outubro de 1910.
Quiseram transpor esta «independência» para a chefia republicana do Estado. Porém, não passa de
um artifício. Sem pretender menosprezar ou desvalorizar as capacidades e a personalidade dos
titulares da chefia de Estado republicana, a verdade é que a sua apregoada «independência» está
condenada …à partida! Como já afirmei, ninguém é tão ingénuo para acreditar que determinada
Pessoa foi líder de um Partido Político, anos e anos, teve um papel proeminente como figura Pública,
onde expressou e implementou a sua ideologia e…no preciso segundo em que ganha as eleições para
a Chefia do Estado passa «milagrosamente» a ser «Presidente de todos os Portugueses»! Por alguma
razão, o segundo mandato é sempre diferente do primeiro…
20 SETEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO
RGAM. – Nestes tempos de wokismo e cancelamento cultural, uma Monarquia podia contribuir,
certamente, de forma mais consistente para a preservação da história, da tradição e da cultura do
país, valorizando o património e a memória nacional?
AMM. – Na esteira do que venho de dizer deste o início deste nosso encontro, tenho absoluta certeza!
A Monarquia deve ser analisada, até sociologicamente, no campo mais amplo da Cultura de um Povo.
A Monarquia está associada a Ritos e os Ritos são a História! O seu Simbolismo é uma Personificação
Actualizada de Actuante da Memória e da Peculiaridade do Povo. A Monarquia é uma Instituição…
Familiar. Nessa medida, é a Representação da Continuidade, encarnando a grande Família Global.
A República tornou-se «fria» aos olhos do Povo! Visou o corte, a fractura com os «ritos» e com as
«tradições»! Se pararmos um pouco para pensar, perguntamos: Onde é que, hoje, a nível do Estado,
ainda vislumbramos algum Cerimonial que nos faça sentir a nossa História e viver a nossa Cultura?
Quase nada, à excepção da Instituição Militar! Rituais ancestrais? Na Igreja Católica e, felizmente, para
já, na Universidade de Coimbra! Até o Hino Nacional …só é cantado pelo Povo nos Jogos de Futebol!!!
E…mesmo assim, não é cantado por todos! A Monarquia vivifica a Cultura do Povo, Marca! Personaliza!
Valoriza dimensão humana da Emoção.
RGAM. – A Família Real Inglesa além de representar tudo isso é também uma forte atracção de
investimentos, de turismo e de prestígio, gerando desenvolvimento económico, social e cultural para o
Reino Unido. Não teria o nosso país, também, fortes benefícios a esse nível, já que o actual turismo
estrangeiro parece pouco sustentável e até prejudicial para os portugueses?
AMM. – Como acabei de dizer, pela sua essência, a Instituição Monárquica está associada aos Ritos e
aos Cerimoniais que enaltecem a História e actualizam a Cultura de um Povo. É óbvio que esse cenário
e, mais do que tudo, o que ele representa, não só dignifica e enaltece o Povo em causa, como cativa a
curiosidade dos outros Povos, sobretudo, aqueles onde essa Instituição foi postergada! Vejamos que,
em Portugal, são milhões a assistir a Cerimónias e Acontecimentos em torno da Coroa Britânica. As
Televisões, mesmo com os seus «complexos» republicanos rendem-se à Tradição.
Tudo isto se projecta no Turismo. Palácios, Render da Guarda, Coroações…etc. A Monarquia promove o
país, aumenta o bem-estar do Povo, potenciando o Investimento e o Turismo. Porém, digo com
franqueza, não gosto de ir por aí. A Monarquia é muito, muito mais do que isso. Não pode ser
confundida com uma «atracção turística», por alguns acenada, em jeito de «moeda de troca» pelas
«despesas» que alegadamente o Orçamento suporta com a sua existência. Há outras vias mais
adequadas para desenvolver o Turismo, as quais, incumbe desbravar a outros Poderes do Estado.
RGAM. – Que diria àqueles que contestam a monarquia, argumentando que traz problemas como a
violação da igualdade, da justiça e da meritocracia, privilegiando uma pessoa ou uma família pelo seu
nascimento, e não pelo seu mérito ou sua capacidade?
AMM. – Diria, não! Digo que são objectivamente «preconceituosos». Partem do pré—conceito. Ponto de
honra: Presentemente, só há Monarquia onde o Povo quiser que ela exista, como tal. A Soberania
Popular é que se pronuncia ou se pronunciará a favor da Monarquia ou da sua Restauração, sempre
nos termos expressos na Lei Fundamental do Estado e da Sociedade: A Constituição. Assim, sucede
com todas as Monarquia contemporâneas ocidentais e não só. A Monarquia é uma Instituição
personificada num Titular e numa Família que representam a Comunidade nacional e a sua História.
21 SETEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO
AMM. – Sim! Não digamos apenas que somos monárquicos! Sejamo-lo, lutando quotidianamente pela
Monarquia e apoiando a nossa Família Real!
Muito obrigado.
Entrevista realizada por Miguel Villas-Boas para a Real Gazeta do Alto Minho da Real Associação
de Viana do Castelo.
‘Em todo o caso, a «dupla revisão» sempre asseguraria a alteração do artigo 288.º, sem embargo
da conveniência ou, mesmo, necessidade jurídica de ultrapassar, concomitantemente, a proibição
dos «referendos constitucionais», até para efeitos de legitimação e de segurança de uma opção
popular, clara expressa, pelo regime monárquico.’
22 SETEMBRO 2023
NOTA
INFORMATIVA
A Direcção da Real Associação de Viana do Castelo, com mandato para o
triénio 2020-2023, cumprimenta V. Exas, desejando desde já a continuação de
um bom ano de 2023.
A Real Associação de Viana do Castelo tem um plano de actividades e
orçamento para 2023, que inclui diversas iniciativas, que vão desde a
organização de conferências à publicação da Real Gazeta do Alto Minho,
órgão oficial de comunicação da Real Associação de Viana do Castelo, do
qual muito nos orgulhamos, e que se pretende sejam executadas com a
participação de todos os associados, simpatizantes e entidades que
entendam colaborar, com o intuito de contribuir e ajudar a dinamizar o ideal
Monárquico que todos nós abraçamos convictamente. Atendendo à
necessidade imperiosa que temos em angariar recursos financeiros
necessários ao normal funcionamento da Real Associação, e tendo em conta
que uma das competências da Direcção é a cobrança de quotas, eu, em
nome da Direcção e na qualidade de Tesoureiro, venho por este meio solicitar
a V. Exas. a regularização da QUOTA DE ASSOCIADO REFERENTE ao ano de 2023,
no valor de 20,00 € (vinte euros), preferencialmente por transferência
bancária, para:
Filipe Amorim
Tesoureiro da RAVC
Ficha Técnica
SETEMBRO 2023
Nascimento
Cerca de 1080.
Morte
11 de Novembro de 1130, Mosteiro
de Montederramo, Galiza.
Sepultada na Sé de Braga, Portugal.
Reinado
12 de Maio de 1112 a 24 de Junho de 1128.
Consorte
D. Henrique de Borgonha.
24 SETEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO
25 SETEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO
A DIREÇÃO DA ASSOCIAÇÃO
PORTUGUESA DE KARATÉ-DO SHOTOKAI
(VIANA DO CASTELO-PORTUGAL)
ABSTRACT
The Portuguese Association of Karate-Do Shotokai, will hold the 25th International Karate-Do Shotokai
Internship.
This year, we will honor the 43 consecutive years that Masters Atsuo Hiruma (Japan) and Domingos
Silva (Portugal) have kept the cult of this martial art alive in Viana do Castelo.
On November 11, 2023, at 8:00 pm, in the “Vianinha Eventos” space, the various national and
international associations will meet to pay homage to Master Atsuo Hiruma.
RÉSUMÉ
L'Association Portugaise de Karate-Do Shotokai organisera le 25ème Stage International de Karate-Do
Shotokai.
Cette année, seront honorés les 43 années consécutives pendant lesquelles les Maîtres Atsuo Hiruma
(Japon) et Domingos Silva (Portugal) ont maintenu vivant le culte de cet art martial à Viana do Castelo.
Le 11 novembre 2023, à 20h00, dans l'espace «Vianinha Eventos», les différentes associations nationales
et internationales se réuniront pour rendre hommage à Maître Atsuo Hiruma.
26 SETEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO
A consistência, a perseverança,
dos mestres Atsuo Hiruma e
Domingos Silva contribuem para
que a prática do Karaté-Do
Shotokai se desenvolva com
ânimo e persistência em Viana
do Castelo, sendo uma referência
a nível nacional e internacional.
O mestre japonês Atsuo Hiruma
afirma, ”Recuerdo como si fuera
ayer, mi llegada a Espanã en
1966. Entonces tenia gran ilusión
[…] y no mi imaginaba en áquel
momento que se llegara a
desarollar tanto el Karate en
Espanã, y sobre todo mi escuela
Shotokai, siendo la única hoy en
dia en Japón, que busca la
verdade del caminho del Budo y
no mira al Karate Do como un
mero deporte […][1], seguindo os
ensinamentos do Señor Shigeru
Egami. Consta que “Era
según […] dijeron en la Embajada [nipónica em Espanha], el primer Maestro de karate que vénia a
Espanã a dar classes”[2]. Na realidade, sintetizando, o Karaté-Do Shotokai não é um simples desporto –
é o físico que se transmuta no Ser, no existir do Homem em combate, na linha da frente. O primeiro
combate acontece com a sua própria essência como Ser, como existente, entre o que julga ser, o que
é, e o que descobre, no caminho que percorre que pode ser, sem esgotar a energia que o move, mas
resolvendo-se no primeiro e último Kumite (combate) que desemboca na morte.
Todavia, que ânimo, que força, contém em si um jovem que, sem nada, cruza os mares, aquela
imensidão de água que flui e que é energia pura, embarca num navio e chega a Espanha, sem saber
que, naquele momento, a prática do Karaté estava proibida nesse país? Que Kumite o levava a fluir, a
agir, como se estar em Hachiji-Dachi (verticalidade do Ser) fosse sempre a sua postura como Homem?
Que procura o faz deixar sair de um país com um ordenamento político e social monárquico,
procurando do mesmo modo um outro ordenamento político e social monárquico? O que existe em
comum entre o Karaté-Do e a monarquia nipónica ou espanhola?
Muitas questões se poderão levantar, mas existe uma linha comum que perpassa as duas realidades,
englobando várias vertentes: a nobreza do espírito, a descoberta, a verticalidade, o bem comum, a
procura do caminho.
É este SER, Mestre Atsuo Hiruma, esta pessoa extra-ordinária, que o Mestre Domingos Silva e as várias
associações nacionais e internacionais pretendem homenagear: a pessoa, o Mestre, a resiliência, o
Hachiji-Dachi, o silêncio, o caminho.
“Compañeros! Hogamos KEIKO com ánimo e ilusión para buscar el DO” – Atsuo Hiruma! (1978)
[3].
1 Atsuo Hiruma – Karate-Do Shotokai, Evolucionando hacia un nuevo caminho (2016), Espanã, Asociacion Shotokai Espanã, p. 51.
2 Atsuo Hiruma – Karate-Do Shotokai, Evolucionando hacia un nuevo caminho (2016), Espanã, Asociacion Shotokai Espanã, p. 4.
3 “Companheiros! Façamos o treino consciente, com ânimo e alma na procura do caminho. – Atsuo Hiruma (1978)”
27 SETEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO
“Enquanto vive tem o Rei de conservar os olhos sempre bem abertos, vendo tudo, olhando por todos.
Nele reside o amparo dos desprotegidos, o descanso dos velhos, a esperança dos novos; dele fiam os
ricos a sua fazenda, os pobres o seu pão e todos nós a honra do país em que nascemos, que é a
honra de todos nós!” Mouzinho de Albuquerque, Tenente-coronel de Cavalaria (Carta ao Príncipe D.
Luís Filipe de Bragança). [1]
ABSTRACT
On October 7th, Infanta D. Maria Francisca de Bragança will marry Duarte de Sousa Araújo Martins, at
the Mafra Convent, at 3:00 pm.
Why is this ceremony important, in the 23rd year of the 21st century, at a time dominated in Portugal
by the republican idea of the State? And where the discussion about the “monarchical way of being in
life” is, unfortunately, almost non-existent?
Exactly because of this, but also for a set of reasons that go far beyond this.
The Royal Family has been present in Portugal since the beginning of nationality, accompanying the
Nation in its vicissitudes and joys; developments and setbacks; glories and setbacks.
The Royal Family must be an example of civic and moral virtues, without the exception of all its
members being made of flesh and blood and having a human soul, not a divine one. The King - or
whoever is “marked” for power to be - is the first servant of the Nation and his history is the History of
his people.
RÉSUMÉ
Le 7 octobre, l'infante D. Maria Francisca de Bragança épousera Duarte de Sousa Araújo Martins, au
couvent de Mafra, à 15 heures.
Pourquoi cette cérémonie est-elle importante, en la 23e année du 21e siècle, à une époque dominée
au Portugal par l'idée républicaine de l'État ? Et où le débat sur la « manière monarchique d’être dans
la vie » est malheureusement presque inexistant ?
Exactement à cause de cela, mais aussi pour un ensemble de raisons qui vont bien au-delà.
La Famille Royale est présente au Portugal depuis le début de la nationalité, accompagnant la Nation
dans ses vicissitudes et ses joies ; évolutions et revers ; gloires et revers.
La Famille Royale doit être un exemple de vertus civiques et morales, sans exception que tous ses
membres soient faits de chair et de sang et aient une âme humaine et non divine. Le Roi – ou
quiconque est « marqué » pour pouvoir l’être – est le premier serviteur de la Nation et son histoire est
l’Histoire de son peuple.
1 Mouzinho escreveu a carta após ser nomeado pelo Rei D. Carlos I, Aio do Príncipe herdeiro. É uma carta notável, que devia ser lida em todas as escolas
do País.
28 SETEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO
Porque é que esta cerimónia é importante, no ano 23 do século XXI, numa época dominada em
Portugal pela ideia republicana de Estado? E onde a discussão sobre o “modo monárquico de estar na
vida” é, infelizmente, quase inexistente?
Pois exactamente por causa disto, mas, também, por um conjunto de razões que estão muito para
além disto.
A Família Real está presente em Portugal desde o princípio da nacionalidade, acompanha a Nação nas
suas vicissitudes e alegrias; desenvolvimentos e retrocessos; glórias e desaires. E tal verificou-se, apesar
do intervalo de 60 anos, em que a Coroa Portuguesa foi ocupada por uma dinastia estrangeira; um
desvario que não devia ter ocorrido.
E agora, neste inverno republicano, que já dura há 122 anos - mais por responsabilidade dos
monárquicos do que por acção dos republicanos, deve acrescentar-se - a Família Real mantém-se
através dos desígnios da vida, sendo que a “roda” da mesma é mantida pela procriação legítima e a
regra da antiguidade da descendência.
Ora este enlace enquadra-se naturalmente neste âmbito.
A Família Real deve ser um exemplo de virtudes cívicas e morais, sem embargo de todos os seus
membros serem feitos de carne e osso e terem uma alma humana, não divina. O Rei - ou quem está
“marcado” para o poder ser - é o primeiro servidor da Nação e a sua história é a História do seu povo.
2 Ainda resta apurar o que se passou exactamente neste lance histórico e o que evitou que o iate se dirigisse ao Porto, a fim de continuar a luta contra as
Forças Republicanas.
29 SETEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO
Num mundo e numa sociedade cada vez mais centrífuga e atomizada, vivendo um individualismo e
hedonismo feroz - que intenta tornar a Moral e a Ética “relativas” - a Família Real deve ser exemplo de
união, coesão e bons propósitos, de modo a manter a Nação dos Portugueses no rumo do seu
objectivo maior que é o de manter a sua identidade e independência. E cada uma não se mantém,
sem a outra.
*****
3 Apesar de considerar que o povo português tem as suas características como Nação, consolidadas no reinado de D. Dinis, o Estado moderno começou a
ser organizado apenas ao tempo do Rei, Senhor D. João II, já que todas as estruturas anteriores se podem considerar incipientes.
4 O Duque de Aveiro era descendente do filho natural de D. João II, D. Jorge de Lencastre…
30 SETEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO
Um erro de monta, fruto das ideias em voga na época, foi feito pela Dinastia de Bragança, quando o
Rei D. Pedro II deixou de convocar Cortes Gerais, após aquelas realizadas em 1698. Tal facto foi ditado
pela importação algo acrítica, do modelo francês de Luís XIV, da “monarquia absoluta”, que se veio a
revelar na sua plenitude no reinado de D. José I.
Ora tal contrariava frontalmente o modelo de cortes gerais, tradicionais no Reino (um modelo que
considero mais adequado e “democrático” daquele que temos actualmente), que tinha sido
aperfeiçoado pelo preclaro Rei, Senhor D. Afonso III, nas Cortes de Leiria de 1254 (a que se deve
acrescentar, as tradições municipalistas e acção das corporações).
Quando o Rei D. Miguel se apercebeu do erro, em 1828, e quis retornar tudo à antiga, já era tarde
demais…
Entretanto as invasões francesas obrigaram a Família Real, o Governo e a Armada a retirarem-se
estrategicamente para o Rio de Janeiro – que passou a capital do Reino – tendo destruído o
continente europeu português e, pior de tudo, deixaram por cá as ideias da Revolução Francesa em
grande parte apoiados nas ideias iluministas, racionalistas e maçónicas desenvolvidas durante o
século XVIII.
E herdámos duas Maçonarias, uma de inspiração inglesa e outra francesa. [5]
Daqui à Revolução Liberal, de 24 de Agosto de 1820, no Porto, foi um fósforo. [6]
O Rei D. João VI – que lidou, porventura, com a conjuntura política mais complicada da nossa História
– não parecendo nada interessado em sair do Brasil, teve que o fazer, o que ocorreu em 1821,
chegando a Lisboa a 1 de Outubro. O Rei jurou a novel Constituição (inspirada na Constituição
Francesa de 1791 e, sobretudo, na Constituição de Cádis, de 1812), a 30 de Setembro de 1822, tendo a
Rainha Carlota Joaquina recusado assinar.
Mais uma vez a Família Real desentendeu-se e partiu-se, o que veio a originar a pior guerra civil que
em Portugal já houve. A Convenção de Évora – Monte, de 26 de Maio de 1834, selou a derrota dos
“Absolutistas”, que melhor se apelidariam de “tradicionalistas” e a vitória dos Liberais liderados, pelo
primogénito da Casa Real, que, salvo melhor opinião, tinha automaticamente perdido a nacionalidade
portuguesa ao liderar a sedição brasileira, em 7 de Setembro de 1822.
Entretanto tinha D. João VI desaparecido do número dos vivos, a 10 de Março de 1826, tudo leva a crer
por envenenamento, tendo o seu “testamento político” sido forjado. Não se sabe até hoje quem foram
os autores do crime.
Mais uma vez a “paz” de Évora-Monte não fechou as contas, mesmo tendo banido do País os
partidários de D. Miguel.
A convulsão política e social cavalgou, daí resultando mais duas guerras civis em 1846 e 1847.
A relativa paz de 1851, após mais uma insurreição militar, em que se tentou que as lutas políticas se
confinassem ao parlamento criando um sistema como o inglês, com um partido mais à esquerda e
outro mais à direita que se revezariam no poder – a que chamaram de “rotativismo” – nunca resultou
verdadeiramente. A partir de 1890 o regime monárquico entrou em agonia, após o “ultimatum” inglês,
banca rota e aumento de agitação política. Em 31 de Janeiro de 1891 ocorreu a segunda tentativa de
proclamação da República, no Porto, mas nem mesmo assim tal facto fez emendar a mão aos Partidos
ditos monárquicos – estando o Rei quase impotente para intervir, dado que, desde a Constituição de
1822, o “Rei reinava, mas não governava”.[7]
Até que se chegou à vilania de se tentar matar a Família Real a tiro, em plena via pública. Era o dia 1
de Fevereiro de 1908.
Este ignominioso crime foi perpetrado por elementos da Carbonária (outra organização secreta que
actuava como uma espécie de braço armado da maçonaria) e inspirado pelo Partido Republicano.
Daqui resultou a morte do Rei D. Carlos e do herdeiro ao trono, o promissor príncipe D. Luís Filipe.[8]
O processo relativo a este crime desapareceu.
5 Convém lembrar para registo de memória, que quando o país foi invadido pela “águia napoleónica”, em 1807, uma delegação da Maçonaria foi a
Sacavém receber o exército invasor, comandado por Junot, como “libertador”.
6 A revolução foi preparada na loja maçónica “O Sinédrio”, no Porto, liderada pelo bacharel Fernandes Tomás.
7 Dizemos segunda tentativa, pois a primeira tinha ocorrido no Brasil, em 1817, com a revolta de Pernambuco.
8 A “Carbonária” desapareceu, algo misteriosamente, na Ditadura Militar que se seguiu ao Golpe de Estado de 28 de Maio de 1926.
31 SETEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO
Até que a 5 de Outubro de 1910, um golpe de estado militar com a participação de centenas, ou poucos
milhares de civis armados, assaltou os centros do Poder. As forças militares e policiais supostamente
leais à Monarquia desenfiaram-se ou renderam-se.
Nada justificava esta insurreição armada a não ser as paixões políticas descabeladas (e já agora pouco
“democráticas”), que estabeleceu um regime que se assemelhava à revolução francesa serôdia, e ao pior
jacobinismo, com 150 anos de atraso. O regime foi implantado à lei da bala e nunca referendado. [9]
Logo o novel governo republicano, pela Lei da Proscrição de 15 de Outubro de 1910, obrigou ao exílio,
todos os ramos da Família Real Portuguesa “expulsando-os para sempre”.
Registaram-se ainda tentativas armadas de restauração monárquica em 1911/12 e 1919, que falharam,
onde se notabilizou o intrépido e indefectível monárquico Capitão Henrique de Paiva Couceiro, herói
militar de África e benemérito da Pátria.
Houve ainda uma tentativa de golpe de estado constitucional, em 1951, após a morte do Presidente da
República General Carmona, que foi abortada, dentro dos círculos do regime vigente.
Entretanto a I República cai fragorosamente, em 28 de Maio de 1926, deixando o país em cacos.
Entre essa data e a entrada em vigor do Estado Novo, em 1933, assistiu-se a um período que se pode
chamar de transição e amadurecimento, onde se vislumbram três ditaduras de carácter militar (1926-
28); financeiro (1928-32) e político (1932/3).
Enquanto tudo isto se passava, deu-se uma tentativa de união dos ramos desavindos da Família Real e
dos monárquicos, através do Pacto de Dover, em 1912, de iniciativa do Rei patriota, D. Manuel II, de onde
resultou a actual Família Real Portuguesa. No campo da doutrinação destacaram-se as figuras que
integravam o “Integralismo Lusitano”.
9 Digamos que acabou por ser referendado, mais tarde, indirectamente e por ironia do destino, quando a Constituição de 1933 foi plebiscitada.
32 SETEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO
O sarar das feridas foi lento e até hoje nunca houve verdadeiro consenso sobre os factos históricos que
deram origem a tão atribulado período de mais de um século de vida nacional e que tão grave
prejuízo trouxe ao país (1817-1933, com um período de “incubação” que vai de 1801 – “Guerra da
Laranjas”, a 1817 – Revolta de Gomes Freire).
É urgente haver consenso alargado sobre tudo isto.
A situação política, jurídica e social da Família Real Portuguesa ficou, felizmente, “normalizada” por via
da notável Lei 2040 de 27 de Maio de 1950 em que, em dois parágrafos, se revogou a Lei do
Banimento, promulgada a 19 de Dezembro de 1834 e a Lei da Proscrição, de 15 de Outubro de 1910,
permitindo o regresso a Portugal dos descendentes do ex-infante D. Miguel e da Casa de Bragança –
Saxe – Coburgo - Gota e da Casa de Loulé, entre outros.
Deste modo a Família Real Portuguesa passou a fazer parte novamente, da Nação dos Portugueses e
os monárquicos ficaram livres de se organizarem segundo as leis vigentes.
*****
É, pois este, o contexto, muito sucintamente abordado, em que se vai realizar o casamento agora
assinalado.
É importante que a Família Real esteja sempre atenta e alerta - como bem afirmava Mouzinho – a
tudo o que se passa à sua volta e ao papel que lhe cabe cumprir. Os descendentes da Real Família são
aqueles que são postos no caminho do trono pela providência divina, mas só os braços da Nação, a
antiga nobreza, clero e povo, os podem aclamar. Foi assim em Portugal durante séculos e é assim que
está bem.
Na sucessão das gerações segue a roda da vida e logo a perenidade dos vínculos que nos devem unir
(e não desunir).
A Família Real é também, e sobretudo, uma família.
E quanto melhor ela for, melhor será a nossa.
A Felicidade dos noivos é também, a nossa felicidade.
E nunca se esqueçam que são portugueses.
33 SETEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO
Principado de Mónaco
- Cidade-estado moderna com origens antigas
presente na vida internacional
contemporânea -
ANTÓNIO PINHEIRO MARQUES
ABSTRACT
From a protected country to a modern constitutional monarchy through the succession of changes in
European politics.
Résumé
D’un pays protégé vers une moderne monarchie constitutionnelle à travers la succession
d’événements de la politique européenne.
Possivelmente porto fundado no século VI a.C. pelos gregos, numa região habitada pelos lígures, com
ótimas condições para zona de contacto entre os navegantes e mercadores do Mediterrâneo, como os
fenícios, os gregos e os romanos. Neste local teria existido um templo dedicado a Hércules (Heracles
Monoikos) culto de origem grega; a região foi posteriormente colonizada pelos romanos. Ainda hoje o
porto de água profunda de Mónaco, existente desde tempos antigos, e com melhoramentos dos anos
20 do século passado, é designado por Port Hercule.
À queda do império romano, deram-se sucessivas vagas de povos invasores, entre os quais os godos,
os lombardos e os sarracenos. Posteriormente, o território onde se situa Mónaco estava integrado no
Condado de Provença, enquanto Menton e Roquebrune dependiam de Génova. Ainda assim o
Imperador Henrique VI concede a Génova, em 1191, direitos sobre Mónaco e as terras limítrofes. A
importância estratégica e militar do Rochedo de Mónaco consolida-se com a fortificação construída
pelos genoveses, na origem do que posteriormente foi o palácio dos príncipes.
34 SETEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO
Entretanto em Génova, na sequência da querela das Investiduras, entre o Papa e o Imperador do Santo
Império, tendo triunfado os Gibelinos, apoiantes deste último, a nobre família genovesa dos Grimaldi
seguiu os Guelfos, fiéis ao Papa. É nesta situação que os primos Rainier e Francisco Grimaldi tentaram
apoderar-se, com sucesso, do Rochedo e do seu porto, em 1297.
Rainier Grimaldi, fundador da dinastia em Mónaco, almirante de França, distinguiu-se na batalha de
Zierikzee, na Zelândia, com a frota do Rei de França, Filipe o Belo, tendo derrotado os flamengos. Em
recompensa foi criado Senhor de Cagnes-sur-Mer, na costa do Mediterrâneo, onde construiu o Castelo
Grimaldi. O seu filho, Carlos I Grimaldi, foi também almirante de França e com o primo António Grimaldi,
co-senhor de Mónaco, adquiriu Menton e Roquebrune, que fizeram parte do território do principado até
meados do século XIX.
Em 1841, Florestan I sucedeu ao irmão, devendo enfrentar a grave crise da secessão de Menton e
Roquebrune, que teve como pano de fundo o Risorgimento italiano (à época a região de Nice pertencia
ao Reino da Sardenha), o desejo de reformas e a agitação política e social que se vivia em boa parte da
Europa. Controlados os protestos de 1847, o príncipe reinante decidiu a concessão de uma constituição
em janeiro de 1848, mas já em março desse mesmo ano Menton e Roquebrune se assumiam como União
de Cidades Livres, declarando-se sob a proteção da Sardenha. Posteriormente viriam a ser integradas no
território francês. O principado perdeu superfície e população e, não menos importante, o rendimento
proveniente do comércio dos citrinos e do azeite.
Carlos III sucedeu ao pai nesta conjuntura, de dificuldades
financeiras agravadas, em 1856. Já em 1854, de acordo com a
Princesa consorte Maria Carolina, o ainda príncipe herdeiro
começara a preparar Mónaco como destino turístico,
autorizando a abertura de um casino no ano em que subiu
ao trono. A sua localização seria na zona conhecida por
Spéluges, rebatizada como Monte Carlo em honra do
soberano. Em 1863, Carlos III cria a Société des Bains de Mer,
hoje a maior empresa de turismo de toda a Côte d’Azur, com
quatro mil postos de trabalho. A linha de caminho de ferro
ligando Nice a Itália foi aberta em 1868, com duas estações
no principado, melhorando assim os acessos ao país. Foi
também neste reinado que a visibilidade diplomática de
Mónaco começou a ser reforçada, tendo sido estabelecido
um acordo com a Tunísia. Carlos III criou, em 1858, a Ordem
de S. Carlos, a primeira das ordens honoríficas de Mónaco.
36 SETEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO
O Príncipe Luís II subiu ao trono em 1922. Também ele tentou promover a candidatura do principado à
Sociedade das Nações, sem melhores resultados do que os do Príncipe Alberto I.
37 SETEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO
Rainier III
Sistema político
A Constituição de 1911
Esta lei fundamental, elaborada por um grupo de juristas convocados pelo Príncipe Alberto I, em resposta
às reivindicações da população e de um grupo de notáveis monegascos, estabeleceu formalmente a
estrutura política do principado. Os seus cinquenta e sete artigos, em sete títulos, consagraram a
monarquia constitucional, regulando as instituições e estabelecendo os direitos fundamentais dos
monegascos, baseados nos princípios da liberdade, igualdade, segurança, legalidade, inviolabilidade e
propriedade. A liberdade de consciência, religiosa e de cultos ficou também reconhecida. Esta
Constituição esteve vigente até 1962.
38 SETEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO
O Príncipe soberano
Nos termos da Constituição de 1962, o Príncipe de Mónaco, para além das funções de representação do
seu país nas relações com outros estados, nomeadamente acreditando e recebendo embaixadores e
assinando e ratificando os tratados, procede à nomeação do Ministro de Estado e dos restantes membros
do Conselho de Governo, do Conselho de Estado, do Supremo Tribunal e do Conselho da Coroa. O
monarca também exerce o direito de indulto e de amnistia, de naturalização e de reintegração da
nacionalidade. Por outra parte, pode conceder ordens honoríficas, títulos e outras distinções.
A regulamentação da sucessão ao trono, presente por razões compreensíveis nos tratados com a França,
atualmente rege-se pela primogenitura e, no mesmo grau de parentesco com preferência pelo varão e
estando acautelada a falta de sucessão direta com o recurso às linhas colaterais. Findou assim a
possibilidade prevista de integração de Mónaco em França, em caso de falta de sucessores no trono. Das
mais de duas dezenas de títulos do soberano monegasco, cabe destacar, entre os de origem francesa, os
de duque de Valentinois, Mazarin, Mayenne e o de príncipe de Château-Porcien, hoje considerados títulos
monegascos.
Poder legislativo
Conselho de Estado
Criado pela Constituição de 1962, o Conselho de Estado é um órgão que se deve pronunciar sobre todos
os projetos de legislação, contribuindo para a sua elaboração. Os seus doze membros são nomeados pelo
Príncipe, com parecer do Ministro de Estado e do Secretário de Estado da Justiça e Diretor dos Serviços
Judiciais.
Governo
O Conselho de Governo é nomeado pelo Príncipe e presidido pelo Ministro de Estado, integrando cinco
conselheiros de governo, responsáveis pelos departamentos ministeriais: Interior, Finanças e Economia,
Assuntos Sociais e Saúde, Equipamento, Ambiente e Urbanismo e Relações Externas e Cooperação, e
exerce as suas competências sob a alta autoridade do Príncipe. O cargo de ministro de estado, que
sucedeu aos de governador-geral e de lugar-tenente geral (representantes do príncipe reinante) foi
criado em 1911, tendo vindo a ser nomeados cidadãos franceses sob proposta do governo de Paris. Desde
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REAL GAZETA DO ALTO MINHO
2005, podem ser nomeados franceses ou monegascos, devendo o príncipe consultar previamente o
governo francês. O atual Ministro de Estado, Pierre Dartout, de nacionalidade francesa, é formado em
Direito e completou estudos no Instituto de Estudos Políticos de Paris e na Escola Nacional de
Administração, tendo prosseguido carreira na Administração Pública francesa, até ser nomeado em 2020
chefe do governo do principado.
Conselho da Coroa
Órgão de aconselhamento do chefe do estado, tanto em questões internas como em política externa. O
presidente e três dos conselheiros são designados diretamente pelo Príncipe e os três restantes são por
ele escolhidos de entre os nomes apresentados pelo Conselho Nacional.
Poder judicial
Os tribunais exercem o poder judicial em nome do soberano, existindo várias instâncias. O Supremo
Tribunal detém competências de verificação da constitucionalidade de certas medidas e é formado por
cinco juízes e dois suplentes, nomeados pelo Príncipe, por oito anos, sob propostas do Conselho Nacional,
Governo, Conselho de Estado, Conselho da Coroa e Tribunais. Os propostos devem ser juristas de
reconhecida competência e são franceses, uma vez que Mónaco devido à exiguidade da sua população
recorre em caso de necessidade a cidadãos estrangeiros, pois dos seus 36 600 habitantes apenas cerca
de um quarto são cidadãos monegascos.
Conselho Municipal
No plano autárquico, Mónaco só conta com uma divisão administrativa, a Comuna de Mónaco,
coincidente com o Estado monegasco, que é assim uma verdadeira cidade-estado. O Conselho Comunal
é eleito por quatro anos, por sufrágio universal direto e sistema maioritário, com duas voltas, entre listas
plurinominais. O movimento Evolução Comunal obteve nas eleições de 2019 a totalidade de lugares no
conselho, que é formado pelo presidente (Maire) e catorze conselheiros.
Príncipe Alberto I
40 SETEMBRO 2023
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A família reinante
Dois aniversários significativos, nos anos de 2022 e 2023, tanto para o principado como para a dinastia, o
centenário da morte em 2022 do Príncipe Alberto I e o do nascimento de Rainier III, em 2023,
respetivamente, deram lugar a comemorações com repercussão internacional.
Entre outras, são de salientar a exposição “O amigo oceanógrafo - Alberto I e Portugal 1873-1920”, em boa
parte sublinhando os laços de amizade do Príncipe Alberto I com o Rei D. Carlos I e com Portugal, e que
foi inaugurada por ocasião da visita de Sua Alteza Sereníssima o Príncipe Alberto II a Portugal, em
outubro de 2022. A visita, que começou nos Açores, integrada num périplo do Príncipe Alberto II
comemorativo do Centenário, incluiu igualmente a Espanha, visitando uma exposição em Madrid, sobre o
papel de Alberto I na oceanografia e recordando os fortes laços do soberano com Espanha, em cuja
Marinha Real prestou serviço de 1866 a 1868, abrangeu também a Cantábria, relembrando o interesse do
Príncipe Alberto I pela arqueologia pré-histórica. De assinalar igualmente, em dezembro de 2022, a
assinatura de uma parceria entre o Principado de Mónaco e a UNESCO para apoio de jovens cientistas,
investigadores nas reservas da biosfera, e também a realização, na Sede da UNESCO, em Paris, de uma
conferência com o tema “Science in the service of humanity. Prince Albert I of Monaco and his work”.
41 SETEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO
Alberto II
O Príncipe Alberto nasceu em 1958, no palácio de Mónaco,
segundo dos três filhos dos Príncipes Rainier III e Grace.
Frequentou o liceu Alberto I, no principado, o Amherst
College, em Massachusetts, e formou-se em Ciência Política na
Exposição no Museu de Marinha - Outubro a Dezembro de Universidade britânica de Bristol. Alberto II é bilingue em
2022 francês e inglês e fala também alemão e italiano sem
esquecer a língua nacional, o monegasco.
O Príncipe Alberto tem chefiado pessoalmente a delegação do seu país na abertura da Assembleia Geral
das Nações Unidas e presidiu igualmente a representação do Principado no Conselho da Europa, quando
da sua admissão naquela instituição.
O soberano casou-se com a campeã olímpica
sul-africana Charlene Wittstock, sendo pais dos
Príncipes Jacques e Gabriella. Como sucessor no
trono monegasco o primeiro recebeu o título
tradicional de Marquês de Baux. Alberto II tem
dois filhos extra-matrimoniais reconhecidos,
que mantêm um bom relacionamento com a
família reinante.
Desportista consagrado, o jovem príncipe
praticou andebol, natação, remo, esqui, judo
(cinto preto em 1985) e foi campeão de
bobsleigh tendo participado nos jogos
olímpicos de inverno em 1988, 1992, 1994, 1998 e
2002. Em três destes jogos foi porta-bandeira
do do principado. É membro do Comité
Olímpico Internacional desde 1985.
Alberto II, chefe da delegação monegasca à Assembleia Geral das Nações Unidas
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REAL GAZETA DO ALTO MINHO
Príncipes de Mónaco
43 SETEMBRO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO
MIGUEL VILLAS-BOAS
ABSTRACT
The monarchical regime is a form of government in which a monarch (king/queen, emperor/empress)
exercises the function of head of state, and may have more or less political power, depending on the
type of monarchy. There are two main types of monarchy: absolute and constitutional.
Each of us, as a monarchist and a Portuguese citizen, can and must position ourselves ideologically,
such as dictating our conscience and will and defending our conviction; what is not proper is to
identify the Royalty with a political regime, for we repeat: the King belongs to all.
Resumé
Le régime monarchique est une forme de gouvernement dans laquelle un monarque (roi/reine,
empereur/impératrice) exerce la fonction de chef de l’État, et peut avoir plus ou moins de pouvoir
politique, selon le type de monarchie. Il existe deux principaux types de monarchie: absolue et
constitutionnelle.
Chacun d’entre nous, en tant que monarchiste et citoyen portugais, peut et doit se positionner
idéologiquement, par exemple en dictant sa conscience et sa volonté et en défendant sa conviction;
ce qui n’est pas approprié, c’est d’identifier la royauté à un régime politique, car nous le répétons: le
roi appartient à tous.
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REAL GAZETA DO ALTO MINHO
Dois meses depois da proclamação da república, que instalou a balbúrdia, o medo e a corrupção, o jornal
O Sindicalista, num artigo de sugestivo título, levanta uma importante questão: ‘Quem tem ganho com a
República? Quem Tem Ganho´, fazendo eco das queixas dos operários e dos sindicatos relativamente às
limitações impostas pelo governo ao direito à greve e ao direito à manifestação.
’Nas grandes crises nacionais, nas épocas em que a Nação busca ansiosamente rumo, como é a nossa, só
o Rei tem a virtualidade de se identificar com todos e com ninguém, de «servir», de realizar todos os
ideais sem com eles se confundir, de consentir todas as esperanças sem que uma exclua ou mate
necessariamente as outras.
Não será necessário que a Nação viva livremente e que como outrora, da pujança nacional brotem
gradualmente as formas genuínas da liberdade, da convivência e da política do homem português?
E quem garante a vida livre da Nação? Quem tem por si o dom de El-Rei, o dom da serenidade no poder,
o dom de deixar, sem medo, brotar a liberdade?’, escreveu Francisco Sousa Tavares, jornalista e político
Monárquico português in "Combate Desigual - Ensaios", 1960.
O Principado do Liechtenstein (Fürstentum Liechtenstein), é um minúsculo principado localizado no
centro da Europa, encravado nos Alpes entre a Áustria, a leste, e a Suíça a oeste e onde pouco mais de 39
mil habitantes moram nos seus 160,477 km². É uma Monarquia Constitucional Executiva. Em Monarquias
executivas, o monarca exerce o poder executivo de forma significativa, embora não absoluta. A
monarquia sob esse sistema de governo é uma poderosa instituição política e social. Por outro lado, nas
Monarquias cerimoniais, o monarca tem pouco poder real ou influência política directa. Uma proposta
para revogar os poderes de veto e diminuir os restantes poderes do Príncipe-soberano foi rejeitada por
76% dos eleitores num referendo, em 2012.
‘Nós, da Casa Real, estamos convencidos de que a Monarquia do Liechtenstein é uma parceria entre o
Povo e a Casa Real, uma parceria que deve ser voluntária e baseada no respeito mútuo. Enquanto nós, da
Casa Real, estivermos convencidos de que a monarquia pode contribuir positivamente para o país e o seu
Povo, de que uma maioria do Povo assim o deseja e de que certas condições são satisfeitas, tais como a
autonomia da nossa família, como estabelecido pelas leis de nossa Casa, forneceremos de bom grado o
Chefe de Estado.’, grafou o Príncipe-soberano Hans-Adam II.
‘A liberdade do Povo salva-se na liberdade do Rei. Porque a liberdade do Rei consiste em estar preso à
Nação, em fazer com ela um mesmo corpo.
A liberdade que enche os discursos e os jornais de um século romântico é uma falsa liberdade, porque
não tem sentido.
Nega-se a natureza humana e, em seguida, afirma-se que o homem é inteiramente livre. Destroem-se as
associações, centraliza-se a administração e, sobre as ruínas de toda a obra de séculos, lançam o homem,
inteiramente livre... de si próprio.
Procura-se tirar todo o poder concreto à Realeza, única força social igualmente interessada na defesa de
todas as outras, e ao mesmo tempo proclama-se a liberdade como convite ao domínio do mais forte.
(…) A liberdade do Rei é inseparável da liberdade dos Portugueses, mas esta só pode encontrar garantia
perfeita e sentido adequado na liberdade do Rei.’, escreveu Henrique Barrilaro Ruas, político e
doutrinador monárquico in ‘O Drama de um Rei’, Lisboa, 1971.
Pois é, o Monarca Personifica A Nação, como escreveu MÁRIO SARAIVA (Guimarães, 12 de Maio de 1910 -
Cadaval, Vilar, 28 de Maio de 1998), in Décimo quinto capítulo de “Razões Reais”, Lisboa, Universitária
Editora (3ª ed. revista e aumentada), 2002, o historiador, escritor, político e médico português.
Monárquico interventivo desde cedo, exerceu diversos cargos directivos no movimento monárquico,
como o de presidente da Junta Distrital de Lisboa da Causa Monárquica e membro da sua Comissão
Doutrinária:
‘Do significado nacional, histórico e não político da instituição Dinástica, deduz-se o que deva e não deva
ser próprio das funções do Rei, isto é, do âmbito do seu poder activo e directo.
Não governa mas olha pelos Governos e, por isso, supremo intérprete do sentimento e do interesse da
Nação, nomeia-os e demite-os na devida oportunidade.
Poder por natureza independente e supra-político, deixa ao país a livre escolha e aplicação dos métodos
políticos na administração do Estado; fiador da liberdade popular, faz respeitar essas primeiras liberdades
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REAL GAZETA DO ALTO MINHO
cívicas; guarda os direitos das minorias governadas, contendo a maioria governante nos limites da
legalidade constitucional; assegura a possibilidade permanente de fiscalização e de crítica dos atos
governativos; denominador comum, vela pela igualdade de todos os direitos e na justiça social; poder
paternal, congrega, harmoniza e arbitra os dissídios da grei. E mais, e especialmente, separa o que é
nacional do que é político; preserva do domínio político as instituições de índole puramente nacional e
anti-política. Neste caso as Forças Armadas, a Justiça e a Diplomacia.
As Forças Armadas nacionais em primeiro lugar. Em boa ética nunca estas deverão subordinar-se a um
mando de significado político sob pena de correrem o risco, sempre imanente, de passarem ao serviço da
política ou de serem elas mesmas transformadas em meras forças políticas. A defesa da Pátria é uma
coisa e a defesa política dos governos, outra.
As Forças Armadas nacionais pedem uma chefia nacional e só nacional. Independentes do jogo político,
requerem uma chefia independente e não política. Com estas características, que outra senão a chefia
real?
O exemplo notório do Almirantado britânico merece a este propósito uma justa atenção.
A Inglaterra, sempre tão ciosa e tão absorvida pelos domínios do político, teve o bom senso e a
inteligência de preservar as suas Forças Armadas, que é como quem diz, a representativa Royal Navy, das
dependências ou influências políticas. A chefia real confere ao Almirantado a autonomia em relação aos
Governos, que o isenta das ingerências político-partidárias, quer na estrutura dos seus serviços, quer na
designação de comandos ou nas promoções e nomeações, o que tudo se cifra na maior eficiência e no
fortalecimento moral dos seus quadros.’
'Uma república não tem qualquer afecto pelos seus cidadãos. Um Rei pode ser mal aconselhado e agir
mal, uma república nunca age bem, pois um nó de vilões apoia-se mutuamente, e juntos fazem o que
nenhuma pessoa se atreve a tentar.', já lembrava Lord Nelson (Burnham Thorpe, 29 de Setembro de 1758 –
Cabo Trafalgar, 21 de Outubro de 1805), 1.º Visconde Nelson, 1.º Duque de Bronté, Cavaleiro da Ordem do
Banho, Vice-Almirante da Marinha Real Britânica, famoso pelas suas vitórias contra os franceses durante
as Guerras Napoleónicas.
Monárquico não é sinónimo de aristocrata, pois a Monarquia é inclusiva e não exclusiva; não é um clube
privado para ensimesmados, mas um modelo onde cabem todos,
independentemente de condição social, sexo, estirpe, ideologia política. A Monarquia tem as portas
escancaradas para a colectividade, não é um grémio de fidalgos, - lembremos o provérbio grego:
‘ninguém liga à música escondida’ -, mas uma Agora onde cada um faz parte do todo e o todo só faz
sentido com cada indivíduo. Não pertencemos a uma elite de pessoas. Acreditamos que a medida da
riqueza de cada um é o Espírito, tal como a do calçado é o pé! E, ao contrário, antes de sermos
privilegiados, não raras vezes somos desprezados pela opção pela Causa da Monarquia.
Não somos monárquicos por snobismo de ADN como diz o equívoco que os republicanos instalaram na
mente do Povo, apenas acontece que na Família de alguns monárquicos houve antepassados que ou
fizeram parte da história ou participaram na construção do País ou na administração do Estado, e isso é
para os seus descendentes motivo de orgulho familiar que não deve ser confundido com soberba, ou com
pretensões de fidalguia ou de superioridade de sangue: trata-se de não renegar a sua Família assim como
os demais não renegam a sua. É orgulho e fascínio por quem, em muitos casos, tanto contribuiu para o
engrandecimento da Nação portuguesa.
De resto, como já Oliveira Martins o lembrava no século XIX “dá-se o caso tão frequente de se achar hoje
nos solares aristocráticos a mais genuína elegância aliada à quase pobreza, ao passo que os palácios
ricaços ostentam a sua opulência de mau gosto”. Sim, não são monárquicos a alardear o dinheiro na cara
do Povo, este sofre do desprezo e do esbulho mas é na mão dos plutocratas e da oligarquia burguesa!
A Monarquia deve passar por uma combinação de um Monarca, com umas Cortes (Parlamento), com uma
democracia mais directa e uma descentralização política que dê às Comunidades intervenção e
autonomia.
É preciso, também, o sentido de Missão que só um Rei possui - uma missão que é para a vida; e quando o
Rei partir o Seu Filho, aclamado Rei, instruído nos mesmos valores de seu Pai, seguirá a obra com o
mesmo desígnio de servir a Nação, acrescido das mais-valias que a substituição geracional aporta e não
como nas presidências a que sucede a um presidente de pródiga idade, outro de idade senatorial.
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REAL GAZETA DO ALTO MINHO
Se o monarca tem alguma voz sob qualquer condição, ela é atendida precisamente ao modo inter-
geracional, que é requerido pelo processo político. Os monarcas são, num sentido muito especial, a voz
da história, e o modo muito acidental por meio do qual eles recebem o cargo enfatiza as bases de sua
legitimidade na história de um povo, de um lugar e de uma cultura.’, escreveu Sir Roger Scruton in ’O
Que É Conservadorismo’, Circa 1980.
Das 44 Monarquias actuais, 68% são Democracias. Ou seja, é em Monarquia que a Democracia se realiza
mais intensa e profundamente. De resto, 7 dos 10 Países com Maior Índice de Democracia são Monarquias
Constitucionais, com a Noruega em 1.º lugar, a Suécia em 3.º, a Nova Zelândia em 4.º, o Canadá em 5.º, a
Dinamarca em 7.º e a Austrália e os Países Baixos em 9.º lugar ‘Ex aequo’.
Já das 135 repúblicas existentes no Mundo, apenas 53 são Democracias, isto é, apenas 39,2% - sim pasme-
se: república não é sinónimo de democracia.
Então, ideologicamente como se posiciona um Monárquico?
Cada ideologia tem uma visão diferente sobre o papel do Estado, a organização da sociedade, a
distribuição da riqueza, a defesa dos direitos humanos, a participação popular, a preservação do meio
ambiente, etc. Por exemplo, o liberalismo defende a liberdade individual, a propriedade privada, a livre
iniciativa, a democracia representativa e a limitação do poder estatal. O socialismo defende a igualdade
social, a propriedade colectiva, a intervenção estatal, a democracia participativa e a solidariedade entre
os trabalhadores. O fascismo defende a supremacia nacional, a propriedade corporativa, a ditadura, a
violência e a submissão dos indivíduos ao Estado.
As ideologias políticas e sociais podem se manifestar de diferentes formas, dependendo do contexto
histórico, cultural e geográfico em que surgem e se desenvolvem. Elas podem se adaptar, se transformar,
se combinar ou se opor entre si, gerando conflitos ou consensos. Elas também podem influenciar ou ser
influenciadas por outras áreas do conhecimento, como a filosofia, a economia, a sociologia, a psicologia, a
arte, a religião, etc. As ideologias políticas e sociais são, portanto, dinâmicas e complexas, e não podem
ser reduzidas a simples rótulos ou categorias.
O binómio esquerda/direita é uma forma de
classificar as diferentes posições políticas e
ideológicas que existem na sociedade. A
origem deste binómio remonta à Revolução
Francesa, quando os grupos mais radicais ou
antimonárquicos se sentaram à esquerda do
rei, enquanto os grupos pró-monárquicos se
sentaram à direita. Desde então, a esquerda
e a direita têm sido usadas para designar as
tendências políticas que defendem,
respectivamente, mais igualdade e mais
liberdade, mais intervenção e menos
intervenção do Estado, mais solidariedade e
mais individualismo, entre outras questões.
No entanto, o binómio esquerda/direita não
é estático nem universal, mas sim dinâmico
e relativo. Isto significa que as definições de
esquerda e direita podem variar ao longo do
tempo e do espaço, dependendo do contexto histórico, cultural, social e económico de cada país ou
região. Por exemplo, o que é considerado de esquerda ou de direita nos Estados Unidos pode não ser o
mesmo que na Europa, ou o que era de esquerda ou de direita no século XIX pode não ser o mesmo que
no século XXI. Além disso, dentro da própria esquerda e da própria direita, existem diferentes correntes e
matizes que podem divergir ou convergir em certos temas ou propostas.
No caso de Portugal, a dicotomia esquerda/direita tem sido marcado pela história do país, especialmente
pelo período da ditadura do Estado Novo e pela transição para a democracia após o 25 de Abril de 1974.
Neste contexto, a esquerda tem sido associada aos valores da liberdade, da igualdade, da justiça social,
50 SETEMBRO 2023
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conservador. Eles tinham como objectivo manter o poder na mão da elite, no entanto queriam abolir os
privilégios da classe. E também garantir medidas para promover o bem-estar individual. Já os burgueses,
jacobinos, também defendiam o fim dos privilégios da nobreza. No entanto, eram favoráveis a luta dos
direitos dos trabalhadores e dos mais pobres.
Na reunião da Assembleia Constituinte de 11 de Setembro de 1789, os deputados discutiram sobre o
poder de veto do rei Luís XVI. Sentados de cada lado do presidente, os deputados à esquerda colocaram-
se contra o veto, enquanto aqueles à direita, apoiaram o rei. Esta prática enraizou-se quando, a partir de
Outubro de 1789, a Assembleia reuniu-se na sala Manège das Tuileries. Os deputados contrários à
Revolução (alguns nobres e clérigos) sentaram-se à direita do presidente da Assembleia (lado que é
chamado de "lado da Rainha"). Foram chamados de “aristocratas”, em tom de desprezo. Os demais,
chamados de “patriotas”, sentaram-se à esquerda do presidente (o "lado do Palais Royal"). Eram favoráveis
à Revolução mas em diferentes níveis. Os mais radicais, os “democratas”, eram partidários das ideias de
Rousseau como o sufrágio universal. Os moderados, chamados de “monarquistas” como Jean Joseph
Mounier, instigador do Juramento do Jogo da Pela e autor dos três primeiros artigos da Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão, ansiavam por uma monarquia constitucional parlamentar e bicameral
do tipo inglês. Os “constitucionalistas”, a maioria, entre os quais estava o abade Sieyès, Talleyrand e
Lafayette, foram a fonte da primeira Constituição que estabeleceu uma monarquia constitucional.
Esta distribuição dos deputados franceses por afinidades políticas marcou a divisão entre a direita
(considerada conservadora) e a esquerda (considerada revolucionária ou reformista) que ainda hoje
pontua a vida política em todas as democracias.
Essa distinção espacial deu origem aos termos direita e esquerda, que passaram a designar as diferentes
tendências políticas e ideológicas que se formaram ao longo da história. Em geral, a direita está
associada ao conservadorismo, ao liberalismo económico, ao individualismo e à defesa da ordem e da
tradição. A esquerda, por sua vez, está ligada ao progressismo, ao intervencionismo estatal, ao
colectivismo e à busca por transformações sociais. Essas diferenças, no entanto, não são absolutas e
podem variar conforme o contexto e a época.
Mas, em abono da verdade, a divisão de direita e esquerda na política não surgiu com os girondinos e
jacobinos na revolução francesa, mas sim com os guelfos e gibelinos, isto é, é mais antiga. Os guelfos
eram o partido do Papa contra o Imperador, já os gibelinos eram o partido do Imperador contra o Papa.
No crucifixo dos guelfos, o rosto de Jesus Cristo estava virado para a direita, enquanto que no crucifixo
dos gibelinos, o rosto de Jesus Cristo estava virado para a esquerda.
E hoje? Responde-nos Alain de Benoist:
'É verdade que os conceitos de direita e esquerda nas mentalidades estão hoje ofuscados.
Mas, se se ofuscam, isto acontece precisamente porque os grandes partidos que lhes envergam as cores
têm tomado progressivamente consciência da inconsistência daquilo que os separa.
Actualmente não há nada de substancial que diferencie os seus valores. As suas escolhas aproximam-se,
os seus programas movem-se em direcção ao centro e a opinião prevalecente é que dizem todos mais ou
menos a mesma coisa.
Ainda ontem pensavam pertencer a famílias diferentes. Hoje percebem que apenas foram inimigos
irmãos, que podem ainda polemizar sobre este ou aquele ponto mas fazem espontaneamente — com
toda a naturalidade, sentir-se-ia dizer — frente comum para demonizar e rejeitar para o tenebroso
extremo qualquer direita que seja uma direita verdadeira, com referências próprias, os seus autores, a sua
antropologia, a sua própria sociologia, a sua própria visão do mundo, do homem e da sociedade.'
Já S.M.F. El-Rei Dom Manuel II de Portugal, na entrevista concedida, já no exílio, a António Ferro e
publicada a 7 de Dezembro de 1930, no “Diário de Notícias", disse:
"O mundo moderno – perdoe-me a expressão – é uma casa ‘sem rei nem roque’… Caminhamos a passos
longos para uma luta definitiva, para uma luta de extremos…”.
Ideologicamente, na vertente política e social, um Monárquico será, maioritariamente, de direita, pois a
defesa dos valores e instituições assim lho exige. Mas não será um extremista, muito longe disso.
52 SETEMBRO 2023
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Como escreveu Jacinto Ferreira, António (1906, Lisboa, Portugal - 10 de Outubro de 1995, Lisboa, Portugal),
publicista e militante Monárquico, fundador e director do jornal “O Debate”, semanário monárquico de
grande expansão in "Prédicas de um Monárquico", 1957:
‘Assim caros adversários de hoje, o tão sedutor ideal da Liberdade que vos conduziu para a república,
acabará por vos orientar e muito logicamente agora para a Monarquia autêntica, depois da necessária
rectificação de rumo…
Mas dentro do vosso patriotismo um só caminho se vos depara – o da Monarquia. Aí vereis autoridade
sem opressão, liberdades sem desordem, respeito sincero pela vontade da nação, igualdade de todos
perante a lei.
Entre o vosso republicanismo e o vosso patriotismo tem que se travar duro combate porque sois homens
de consciência.
Decidi-vos com presteza, pois cada hora que vamos vivendo é mais grave do que a anterior.
Se eu não tivesse a certeza de que o vosso patriotismo acabará por vencer o vosso republicanismo, não
vos teria dirigido uma só palavra que fosse.’
Cada um de nós, como monárquico e cidadão português, pode e deve posicionar-se ideologicamente
como lhe ditar a consciência e a vontade e defender a sua convicção; o que não é próprio é identificar a
Realeza com um regime político, pois repetimos: o Rei é de todos.
53 SETEMBRO 2023
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