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O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL

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Introdução
30

© Fundação Odebrecht, 2013

COMITÊ CULTURAL DA
ORGANIZAÇÃO ODEBRECHT
Márcio Polidoro (Coordenador)
Karolina Gutiez (Secretária Executiva)
Aluisio Rebello de Araujo
Genésio Lemos Couto
35

Gilberto Sá
Marcelo Lyra
Marcos Wilson Spyer Rezende
Pedro Novis
Renato Martins
Roberto Dias
Rubens Ricupero

COMISSÃO JULGADORA DA ETAPA FINAL DO


PRÊMIO ODEBRECHT DE PESQUISA HISTÓRICA
CLARIVAL DO PRADO VALLADARES EM 2011
Márcio Polidoro (Presidente)
Eduardo Silva
Francisco Soares Senna
José Enrique Barreiro
Rinaldo Gama
40

PROJETO E AUTORIA
Júnia Ferreira Furtado

COORDENAÇÃO EDITORIAL
Versal Editores

EDITOR
José Enrique Barreiro

PREPARAÇÃO DE TEXTO
Maria Beatriz Albernaz

PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO


Karyn Mathuiy

PESQUISA ICONOGRÁFICA
Ileana Pradilla
45

Júnia Ferreira Furtado CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO


SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
REVISÃO DE TEXTO
Ana Grillo F987m
José Grillo
Furtado, Júnia Ferreira, 1960-
O mapa que inventou o Brasil / Junia Ferreira Furtado. - 1. ed. - Rio de Janeiro :
PRODUÇÃO GRÁFICA
Versal ; São Paulo : Odebrechet, 2013.
Malu Tavares 452 p. : il. ; 32 cm.

CTP, IMPRESSÃO E ACABAMENTO ISBN 978-85-89309-49-3


Pancrom Indústria Gráfica
1. Cartografia - Brasil - História. 2. Brasil- História. I. Odebrecht S. A. II. Título.

Parte da tiragem deste livro é comercializada. 13-04083 CDD: 526


Informações podem ser obtidas no site www.versal.com.br. CDU: 528.9
A receita gerada com a comercialização destina-se à
Sociedade Amigos de Clarival do Prado Valladares. 15/08/2013 16/08/2013 5
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O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Introdução

“Q ue vagueie quem quiser vaguear.


Que veja a Inglaterra, a Hungria,
a França e a Espanha. Eu me
contento em viver em minha terra natal. (...)
E isso é bastante para mim. Sem jamais
pagar por um estalajadeiro (...).
Sem jamais fazer juras quando os céus se
iluminam de raios, irei saltando sobre todos
os mares, mais seguro a bordo de meus
mapas que a bordo de navios.”
ARIOSTO, SÁTIRA 3

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elebrado entre Portugal e Espanha em 1494, o Tratado de Tordesilhas
estabeleceu uma linha imaginária que atravessava o continente americano
e definia os limites das terras pretendidas pelos dois países. Apesar dos
movimentos de ocupação dos novos territórios, ocorridos ao longo dos
séculos XVI e XVII, só na primeira metade do século XVIII, quando se acentuaram
os conflitos em áreas próximas à linha de Tordesilhas, evidenciou-se a caducidade do
Tratado e teve início a busca de uma solução definitiva para as possessões espanholas
e portuguesas na América. As negociações decorrentes culminaram na assinatura do
Tratado de Madri, em 1750, que aboliu o meridiano de Tordesilhas e definiu as novas
fronteiras das terras americanas dos dois países naquele período.
Neste livro, a professora Júnia Ferreira Furtado, da Universidade Federal de Minas
Gerais, estuda a parceria intelectual entre o representante diplomático de Portugal
na França, dom Luís da Cunha, e o cartógrafo francês Jean-Baptiste Bourguignon
d’Anville, voltada para a elaboração da Carte de l’Amérique méridionale, mapa que
consubstanciava o projeto geopolítico advogado por Portugal para as suas possessões na
América. A elaboração desse documento teve início em 1720 e desdobrou-se ao longo de
três décadas. Embora não tenha sido levada à mesa de negociações do Tratado de Madri
(Portugal decidiu, de última hora, por questões políticas, apresentar um outro mapa,
o chamado Mapa das Cortes), é a Carte de l’Amérique méridionale que efetivamente,
como nos diz a autora, inventa o Brasil, ou seja, dá ao nosso país feições muito próximas
ao que hoje constitui o território brasileiro.
Resultado do projeto vencedor do Prêmio Odebrecht de Pesquisa Histórica –
Clarival do Prado Valladares em 2011, este livro, de evidente relevância historiográfica, é
particularmente especial para a Organização Odebrecht porque vem a público no ano em
que o prêmio completa 10 anos.
Nesse período, cerca de 1.500 projetos de pesquisa foram encaminhados por
graduados, mestres, doutores e pós-doutores de todas as regiões brasileiras, levando o
prêmio Odebrecht de Pesquisa Histórica a firmar-se como uma importante iniciativa de
natureza cultural.
Ao apoiar o trabalho de pesquisadores que se dedicam a temas relevantes e inéditos
da História do Brasil – como este, desenvolvido pela professora Júnia Ferreira Furtado
–, a Organização Odebrecht cumpre um papel que considera essencial no âmbito de sua
ação empresarial: o de valorizar o patrimônio cultural brasileiro e ajudar a preservar a
nossa memória para as gerações futuras.

ORGANIZAÇÃO ODEBRECHT
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Introdução

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S UMÁRIO
Introdução 14

PARTE I | Diplomacia e cartografia das Luzes 26


Dom Luís da Cunha
Oráculo da geopolítica portuguesa 28
Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville
Oráculo da geografia iluminista 64
Bosque de Minerva
O embaixador, o cartógrafo e a biblioteca régia 94

PARTE II | Continente de papel 130


Um saber moderno
A Carte de l’Amérique méridionale 132
O caso dos irmãos Nunes
Trajetórias de uma família de cristãos-novos na construção 168
da cartografia dos sertões
Espelhos ondulados
Os vazios e os simulacros 210
O paraíso e seus mitos
O Xarais, a serra das Esmeraldas, as amazonas e o Parima 244
Os bens que a velha tem
As Minas Gerais, o Cabo do Norte e a Colônia do Sacramento 286

Considerações finais 328


Às vésperas do Tratado de Madri 330
A diplomacia e o uti possidetis
A invenção do Brasil 350
Uma guerra de imagens

Lista de abreviaturas 369


Notas 370
Fontes 415
Bibliografia 429
Créditos das imagens 441
Agradecimentos 452
Sobre a autora 454
I NTRODUÇÃO
Mas não foi em vão, pois, entre tantos odo livro de história tem, por trás de si, sua
tesouros, fiquei magnetizada por um própria história. Este começou em fevereiro
de 2003, e, por mais estranho que pareça,
raro manuscrito, quase escondido
por culpa de um pintor flamengo, um voo
entre as inúmeras preciosidades que perdido e três irmãos desconhecidos. O que se passou
me deslumbravam a cada página. foi o seguinte. Depois de ver a exposição das pinturas de
Albert Eckhout — o pintor flamengo — sobre o Brasil
holandês do século XVII, na Pinacoteca de São Paulo,
deparei-me, na livraria desse museu, com um catálogo
da Coleção Brasiliana, pertencente à Companhia Bosch.1
Algumas horas depois, já no aeroporto de Congonhas,
me deliciava com a leitura, e com as descobertas de pos-
síveis livros ou documentos, pouco ou nada conhecidos,
que poderiam ser fontes instigantes de pesquisa. Tão en-
tretida fiquei, que perdi o avião de volta para casa. Mas
não foi em vão, pois, entre tantos tesouros, fiquei mag-
netizada por um raro manuscrito, quase escondido entre
as inúmeras preciosidades que me deslumbravam a cada
página. Intitulava-se “Notícias das minas da América
chamada Geraes pertencentes à el Rei de Portugal relata-
O Rei Gustavo III da da pelos três irmãos Nunes os quais rodaram muitos anos
Suécia e seus irmãos. por estas partes”.2 Ali estavam os três irmãos desconhe-
No século XVIII, mapas
cidos! Intrigada com a descoberta desse documento, dei
estavam em toda parte
e influenciavam as início a uma pesquisa que, muitos anos depois, acabou
negociações diplomáticas. resultando neste livro.

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O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Introdução

Minha expectativa era de que, tendo sido os irmãos D’Anville, que viveu em Paris, entre 1697 e 1782, e foi
Nunes testemunhas oculares de um dos períodos mais geógrafo real de Luís XV e Luís XVI. Muito famoso até o
conturbados da história de Minas Gerais, o da Guerra século XIX, ele é hoje muito pouco conhecido. Por que
dos Emboabas — conflito que opôs paulistas e forastei- esses documentos sobre o Brasil, inclusive a carta dos
ros pelo controle da região —, esse documento pudesse três irmãos, estariam vinculados a J.B.B. D’Anville?
trazer novas informações sobre tal momento ainda pou- Consultando a famosa obra do historiador portu-
co conhecido da nossa história.3 O próximo passo seria guês Jaime Cortesão, Alexandre de Gusmão e o Tratado
conseguir consultar o relato dos irmãos Nunes, o que, de Madrid, a resposta não custou a chegar.5 Esse traba-
ao contrário do que se pode imaginar, não se revelou ta- lho monumental analisa o processo de formação ter-
refa fácil. O catálogo da Coleção Brasiliana não fornecia ritorial do Brasil, no contexto das negociações diplomá-
muitas informações sobre o local onde se encontrava esse ticas estabelecidas entre Portugal e Espanha, na primei-
acervo, sobre como contatar a pessoa responsável nem ra metade do século XVIII, que culminaram na assina-
sobre como acessar o seu conteúdo. Perdida no site mun- tura do tratado de limites das duas Coroas na América,
dial da Bosch, não tive outra saída a não ser enviar um em 1750. Foi quando finalmente se aboliu o Meridiano
e-mail para o endereço destinado aos consumidores de de Tordesilhas como a linha divisória e definiu-se uma
seus produtos, pedindo maiores informações. fronteira mais próxima à da que o Brasil tem hoje, im-
Foi com alegria que, poucos dias depois, recebi, ali- primindo ao seu território uma feição continental.
viada, a resposta da conservadora da coleção, Angelika Jaime Cortesão nos informa que, nos anos 1740,
Merkle. Por ela, fiquei sabendo que se tratava de uma “D’Anville se ocupara longamente da geografia do Brasil
coleção particular de livros e documentos raros, deposi- e dispusera para esse fim de cartas geográficas forneci-
tada na sede da companhia, em Stuttgart, na Alemanha. das por dom Luís da Cunha”, embaixador português.6
Poderia ela me enviar uma cópia impressa ou digita- De fato, em 1748, D’Anville finalizou a sua Carte de
lizada? A resposta foi negativa, mas, depois de muita l’Amérique méridionale. Esse mapa apresenta o Brasil
insistência, foi permitida uma consulta ao documento, com as fronteiras muito próximas das que seriam, dois
que poderia ser reproduzido, em fotografia digital, para anos depois, negociadas em Madri. Cortesão concluiu
efeitos de pesquisa. que, para produzi-lo, “ele dispôs de elementos de infor-
Tive de esperar até maio de 2004, aproveitan- mação portuguesa”. Chegou a essa conclusão a partir de
do a oportunidade de um congresso de que participei inúmeros topônimos empregados, aos quais o cartógrafo
na Bélgica, para viajar de carro até lá e passar um dia só teria acesso nos mapas portugueses.7 Quais seriam es-
descobrindo o precioso acervo da Biblioteca Brasiliana ses documentos? Nos acervos de D’Anville existentes na
da Robert Bosch GmbH, infelizmente ainda pouco co- Bibliothèque Nationale de France, Cortesão buscou em
nhecido ou acessível aos pesquisadores brasileiros. Ali vão as respostas que lhe permitiriam esclarecer esse enig-
estão depositadas raridades como um manuscrito, em ma.8 Mas pelo menos um deles ele conseguiu identificar,
pergaminho iluminado, da Geografia, de Ptolomeu; graças a uma carta escrita pelo cartógrafo, em 1776, ao en-
a biblioteca portátil, os manuscritos, os diários, cor- tão ministro dos Negócios Estrangeiros da França, o du-
respondência e as aquarelas do príncipe Maximiliano que de Vergennes.9 Trata-se de um mapa do sul do Brasil,
de Wied-Neuwied, referentes à sua viagem ao Brasil, traçado pelo engenheiro e comandante militar português,
entre 1815 e 1817, cujas ilustrações mereceram a publi- governador da ilha de Santa Catarina, José da Silva Pais.10
cação de um catálogo.4 Os manuscritos que permitiriam elucidar essa
Na página Já de posse da cópia para a minha consulta, per- questão repousavam adormecidos nas estantes da sala
seguinte, Carte
de l'Amérique
cebi que o documento estava encadernado junto com do conselho da companhia Bosch, em Stuttgart. A
méridionale outros, numa pasta que estampava o título: J.B.B. “Coleção de oito manuscritos que dizem respeito ao
(edição de c.1742), D’Anville – Collection of eight manuscripts concerning Brasil” agrega duas memórias e uma discussão geográ-
de Jean-Baptiste
Brazil (Coleção de oito manuscritos que dizem respei- fica sobre as medidas de longitude, escritas pelo próprio
Bourguignon
d’Anville to ao Brasil). Sob as iniciais J.B.B. D’Anville se escon- D’Anville, nas quais ele esmiúça o processo de con-
(1697-1782). dia o cartógrafo francês Jean-Baptiste Bourguignon fecção do seu mapa da América do Sul e faz referência
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O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Introdução

às cartas e documentos que utilizou para tanto. Como imaginária de fronteiras, que não correspondia à reali- costa e do sertão, do Brasil, do qual se conhece apenas
cartógrafo de gabinete, fazia seus trabalhos a partir do dade da época, mas sim aos novos limites propostos por uma cópia,15 quanto o mapa anônimo Descripçam do
estudo de vários documentos subsidiários de natureza dom Luís da Cunha, que futuramente deveriam ser nego- Continente da América Meridional que nos pertence
geográfica, juntando-os e conectando-os como consi- ciados. O que estava em vigor até então era o Tratado de com os rios, e montes, que os certanejos mais experi-
derava o mais correto. Cinco documentos — entre eles a Tordesilhas. Legalmente, toda a parte central da América, mentados, dizem ter encontrado, cuja divisão se faz,
carta dos irmãos Nunes e dois mapas que também fazem a leste da cordilheira dos Andes até a linha imaginária do de 1746,16 limitam a América portuguesa a Tordesilhas.
parte da coleção — foram alguns dos que ele utilizou meridiano, que por direito estava em território espanhol, Esse último, inclusive, foi desenhado por ordem do
para confeccionar a Carte de l’Amérique méridionale; no mapa é representada como sendo de Portugal. vice-rei do Brasil, Gomes Freire de Andrade, também
os demais estavam descritos nas duas memórias em que Essa inversão, do mapa inventar o território, não com o intuito de embasar as negociações em curso
descreve o processo de sua produção. era e nem constituía uma novidade. Não raro, o mapa é com a Espanha, e espelhava o que as autoridades locais
Nesses escritos, D’Anville conta que os docu- que precede o espaço que ele representa, e não o contrá- consideravam como o território a que a Coroa portu-
mentos sobre o Brasil, e não só o mapa de Silva Pais, rio: “Mais do que o mapa ser um produto do território, guesa tinha direito de posse. A Carte de l’Amérique
lhe chegaram às mãos diretamente ou por intermédio como normalmente se compreende, vindo apenas depois méridionale foi, então, o primeiro mapa a desenhar
de dom Luís da Cunha, comprovando, como observa- dele — tanto temporalmente quanto conceitualmente — o Brasil nesse formato triangular, muito próximo do
ra Cortesão, que a colaboração entre os dois fora fun- e permanecendo uma resposta a ele, o que ocorre fre- atual, e delineava, não seus limites então vigentes, mas
damental no momento de negociação diplomática das quentemente é uma curiosa reversão.”13 Exemplo pre- as futuras fronteiras que o embaixador português dom
fronteiras brasileiras. Dessa forma, enquanto o diplo- coce desse fenômeno pode ser visto na galeria da Carta Luís da Cunha acreditava deveriam ser negociadas com
mata contribuía para aperfeiçoar a obra do geógrafo, Geográfica do Vaticano. Entre os 124 painéis dispostos na os espanhóis. De fato, as negociações que desemboca-
esse dava forma cartográfica ao projeto geopolítico de longa e impressionante galeria de 120 metros, localizada ram no Tratado de Madri, em 1750, deram ao Brasil o
dom Luís. A descoberta de documentos elucidativos numa das alas do Palácio, existe uma carta da península formato muito próximo a esse que aparece retratado na
dessa simbiose traçou o tema da minha pesquisa. Mais itálica como se a mesma constituísse um espaço homo- carta de D’Anville.17
do que isso, como a carta foi produzida em estreita co- gêneo e coeso, um único país, o que somente muito mais Dom Luís da Cunha defendia a utilização de mapas
laboração com o embaixador português, este trabalho tarde viria a se constituir na Itália moderna. Com isso, precisos do ponto de vista geográfico na condução das
concentra-se na investigação desse intercâmbio. reforçava-se o poder temporal da Igreja Católica, então negociações diplomáticas sobre os limites entre as duas
Os irmãos Nunes acabaram por me conduzir a ca- sob a batuta de Gregório XIII.14 Desse modo, observa-se Coroas e, com o intuito de colocar Portugal numa po-
minhos que eu jamais imaginara. Não se tratava mais como um documento cartográfico pode se configurar em sição vantajosa em relação à Espanha, instigou a Coroa
de descobrir algum fato inédito sobre a Guerra dos um projeto político para o futuro. a encetar iniciativas que promovessem o maior co-
Emboabas, mas sim de investigar o processo de produ- Esse mesmo processo, de antecipação do território nhecimento do seu espaço americano, explorando-o e
ção da Carte de l’Amérique méridionale, de autoria de por um mapa, pode ser claramente observado na Carte representando-o em mapas cada vez mais detalhados.
D’Anville, da qual foram produzidas três variações: uma de l’Amérique méridionale, tendo sido esse o primeiro Também tomou para si a tarefa de aprimorar a repre-
versão preliminar, manuscrita, menor e menos detalha- documento a configurar o Brasil como um gigantes- sentação cartográfica do Brasil, conforme acreditava
da, datada de 1737, feita para o uso privado do duque co território que se estende, no sentido norte-sul, do serem os interesses de Portugal. Para tanto, aproximou-
de Orleans; outra bastante similar, mas sem a dedicató- atual estado do Amapá e da serra de Rondônia, até a -se e estabeleceu a profícua colaboração com D’Anville,
ria, talvez de 1742; e uma versão maior (em três folhas), foz do rio da Prata. Desse ponto, a partir do extremo a partir da década de 1720, que resultou na Carte de
mais elaborada e detalhada, manuscrita e impressa, da- sul, no sentido leste-oeste, o Brasil vai se alargando, à l’Amérique méridionale. Durante as negociações, das
tada de 1748.11 O mapa sofreu sucessivas reimpressões medida que a linha fronteiriça avança para o noroeste, quais participou por toda a primeira metade do sécu-
na França — as seis primeiras delas, ainda sob a direção configurando-se num formato triangular, que abarca lo, o embaixador se tornara cônscio da necessidade de
Primeira edição impressa de D’Anville, visaram introduzir pequenas modifica- os atuais estados do Mato Grosso, Goiás e a maior parte construir uma base cartográfica sólida que permitisse a
da Carte de l’Amérique ções de acordo com o conhecimento adquirido sobre o da bacia Amazônica, ultrapassando em muito a linha Portugal tomar a dianteira perante a Espanha no pro-
Meridionale (1748), publicada interior do continente.12 imaginária do meridiano de Tordesilhas. A capacida- cesso de negociação das fronteiras na América. Nessa
sob os auspícios do Duque
O leitor pode se espantar, mas a tese central deste de de D’Anville de inventar esse espaço fica evidente perspectiva, observa-se como os mapas podem ser uma
de Orléans. Neste mapa,
delineia-se a configuração livro propõe que foi esse mapa que inventou o Brasil, e quando se compara o seu mapa com os que os próprios importante arma de persuasão política. Do que se de-
triangular do Brasil. não, como usualmente se pensa, o contrário; isto é, que portugueses fizeram ou utilizaram para represen- preende que um mapa configura também uma forma de
ele era um espelho fiel do território colonizado pelos por- tar a América portuguesa como um todo, nessa mes- poder e que sua linguagem nunca é neutra.18
tugueses na América. A carta de D’Anville construiu uma ma época. Tanto o mapa do padre Cocleo, produzido Dom Luís da Cunha não chegou a participar direta-
nova imagem da América portuguesa, ao traçar uma linha por volta de 1699, intitulado Mapa da maior parte da mente das negociações em Madri, que tiveram início em
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O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Introdução

1746. Por essa época, estava muito velho, com mais de em Paris, pude me debruçar, por todo o ano de 2008,
80 anos, e, adoentado, ficou em Paris, onde morreu em sobre a volumosa coleção de mapas que pertenceu a
fins de novembro de 1749. De longe, enquanto foi pos- D’Anville — e que ele vendeu a Luís XVI -, e, dessa
sível, assessorou os meandros diplomáticos entre os re- forma, acabar de desvendar o processo de produção do
presentantes portugueses e espanhóis em curso na corte mapa. Nas seções de manuscritos e obras gerais, encon-
madrilenha. No entanto, ao contrário também do que se trei as referências para compreender a evolução da arte
poderia esperar, a Carte de l’Amérique méridionale não da cartografia na França e de como D’Anville se inseria
foi utilizada nas negociações que culminaram com o nesse panorama. Para isso, também foram fundamen-
Tratado de Madri de 1750. De Portugal vieram ordens tais os Archives de l’Académie Royale des Sciences de
para que o embaixador responsável, Tomás da Silva Paris e os Archives de l’Académie des Inscriptions et
Teles, visconde de Vila Nova de Cerveira, não apre- Belles Lettres, instituições que tiveram D’Anville como
sentasse esse mapa aos espanhóis. associado. De volta à Biblioteca Nacional, no Rio de
Por que isso ocorreu? Para responder a essa per- Janeiro, encontrei na Divisão de Cartografia o primei-
gunta, este estudo centra-se também nas semelhan- ro atlas que D’Anville produziu para dom João V, por
ças e diferenças existentes entre a Carte de l’Amérique encomenda do embaixador, e, depois, na Sociedade
méridionale, de D’Anville, e o mapa que lhe é contem- Geográfica de Lisboa, o plano que ele e dom Luís es-
porâneo, de origem portuguesa, intitulado Mapa dos boçaram para estabelecer uma conexão terrestre entre
Confins do Brazil com as terras da Coroa de Espanha Angola e Moçambique, na África. Mas as descobertas
na América Meridional, mais conhecido como Mapa nunca terminam. Recentemente, por acaso, já envolvi-
das Cortes, que efetivamente foi o apresentado e guiou da em novo projeto, encontrei perdida na Biblioteca da
as negociações de 1750.19 Universidade de Stanford a cópia em microfilme de um
Compreender o processo de produção da Carte livro – cuja publicação em Londres foi patrocinada por
de l’Amérique méridionale e como ela consubstanciou dom Luís da Cunha – sobre o modo como os maridos
o projeto geopolítico que dom Luís da Cunha advo- devem tratar as suas esposas.21
gava para a América portuguesa exigiu uma pesqui- Enfim, o processo de produção da Carte de
sa de dimensões quase mundiais. A carta dos irmãos l’Amérique méridionale insere-se nesse amplo con-
Nunes, que já tinha me levado até Stuttgart, acabou texto de renegociação das fronteiras entre Portugal
me empurrando para muitos outros lugares. Assim, e Espanha definidas, desde 1494, pelo Tratado de
no Arquivo Histórico do Itamaraty e na Seção de Tordesilhas, sabendo-se que, ao longo dos dois sécu-
Manuscritos da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro; los seguintes, a ocupação dos territórios na América do
nos Arquivos da Torre do Tombo e da Universidade de Sul não se deu de forma tão homogênea como havia
Coimbra, bem como na Biblioteca da Real Academia sido prevista por esse tratado. No século XVIII, por-
das Ciências, na Biblioteca da Ajuda e na Biblioteca tanto, os limites entre as duas Coroas estavam em li-
Nacional de Portugal, todos em Portugal, pude re- tígio, tanto na América quanto no mar do Sul (oceano
montar o quebra-cabeça da volumosa correspondên- Pacífico), como foi o caso das Molucas. À medida que
cia e papéis de dom Luís da Cunha, indispensáveis esse século avançava e Portugal interiorizava o povoa-
para compreender seu pensamento e sua associação mento do Brasil, Tordesilhas se tornava um embaraço
com o geógrafo francês. Em Salamanca, na Espanha, cada vez maior para os propósitos portugueses de so-
e nos Archives des Affaires Étrangères, em Paris, pude berania na América. Ao estabelecer a divisão das novas
acompanhar como as cortes estrangeiras monitoravam terras americanas banhadas pelo oceano Atlântico, a Na página
anterior, detalhe
sua atividade diplomática. Na Newberry Library, em partir de uma linha imaginária posicionada a 370 lé- do Planisfério, de
Chicago, nos Estados Unidos, encontrei finalmente as guas a oeste de uma ilha não especificada do arquipé- Alberto Cantino,
duas memórias manuscritas sobre os limites do Brasil, lago de Cabo Verde, atribuía à Espanha o domínio do 1502, com a
linha divisória
que D’Anville redigira a pedido de dom Luís da Cunha, centro-oeste da América do Sul, que sistematicamente
estabelecida
e que Jaime Cortesão tanto buscara.20 Na seção de vinha sendo desbravado e ocupado por Portugal. A im- pelo Tratado
Cartes et Plans, da Bibliothèque Nationale de France, precisão da localização do meridiano também punha de Tordesilhas.

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O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Introdução

em dúvida as fronteiras exatas entre as duas Coroas 1782, ano da morte de D’Anville. Nesse intervalo, as- diplomata e de D’Anville, no tocante a sua formação a regiões específicas da carta. Para tanto, o Capítulo 5
no norte do Brasil — nas bacias dos rios Amazonas, siste-se ao fim do governo de dom Pedro II e aos rei- e sua concepção de geografia. Herdeiro da tradição de debruça-se sobre o relato dos irmãos Nunes, que deu
Tocantins e seus afluentes. Já no extremo sul, a dis- nados de dom João V, dom José I e os primeiros anos grandes geógrafos de gabinete, ele desenvolveu uma início a esta pesquisa, abordando sua trajetória, a con-
puta centrava-se na margem setentrional do rio da de dona Maria I, durante os quais Portugal estabele- aguçada metodologia de crítica cartográfica e, para cepção geográfica que construíram em suas andan-
Prata, onde os portugueses, em fins do século XVII, ceu importantes negociações e quatro grandes tratados efetivá-la, amealhou uma impressionante coleção de ças pela região onde corre o rio São Francisco, entre
erigiram a Colônia do Sacramento. No início do sécu- com a Espanha sobre os limites no Brasil: Utrecht, 1715; cerca de 10 mil documentos cartográficos. Minas Gerais e a Bahia e, finalmente, de que maneira
lo XVIII, em 1705, no contexto da Guerra da Sucessão Madri, 1750; Pardo, 1761; e Santo Ildefonso, 1777. Além Já o Capítulo 3 aborda a colaboração mútua, a D’Anville utilizou esse documento para traçar parte do
Espanhola (1700-1713),22 Sacramento, ainda possessão de Utrecht e dos preparativos de Madri, dom Luís se partir de 1724, quando o embaixador servia em Paris. mapa. No Capítulo 6 é abordado o aparecimento e os di-
lusa, foi invadida pelos espanhóis,23 tornando-se a pe- envolveu nas negociações europeias de Cambrai, entre A aproximação entre os dois se deu, primeiramente, ferentes significados dos vazios cartográficos que apa-
dra de toque das negociações portuguesas e espanho- 1720 e 1725; Breda, 1747; e na Paz de Aquisgrán, em 18 no contexto da formação da biblioteca de dom João V, recem no Brasil, em especial na região Nordeste, e no
las na primeira metade do século XVIII. Luís Ferrand de outubro de 1748. que reunia não apenas livros, mas se tratava de um Centro-Oeste, entre o rio Tocantins e o São Francisco,
de Almeida afirma que “o problema foi longamente A extensão do corte cronológico para além de 1749, amplo projeto de transformação e renovação inte- e também por que na região amazônica ele dissimula,
tratado pelos representantes de Portugal em Madrid e ano da morte de dom Luís da Cunha, justifica-se pelo lectual, de viés iluminista, dotando o reino dos mais nas memórias escritas sobre o processo de produção do
também noutras cortes, como Viena e Paris, mas sem fato de as negociações diplomáticas sobre as fronteiras modernos equipamentos culturais e científicos. Nesse seu mapa, as fontes de que se valeu. O Capítulo 7 analisa
conseguirem alterar a posição espanhola”, sendo seu brasileiras terem sofrido inflexão importante no ano de cenário, a arte da cartografia recebeu atenção parti- as construções geográficas cujas origens remontam às
representante mais importante dom Luís da Cunha.24 1750, com o tratado de Madri. Nessa conjuntura, o Mapa cular, em grande parte por insistência de dom Luís da concepções mitológicas de existência de um paraíso ter-
Tais fatores fizeram surgir, em Portugal, uma cor- das Cortes, e não a Carte de l’Amérique méridionale, Cunha, pois o processo de negociação das fronteiras restre. Assim, no interior da América do Sul, D’Anville
rente de defensores favoráveis a que as fronteiras entre de D’Anville, foi apresentado por Portugal, refletindo americanas exigiram que Portugal conhecesse a geo- continua a representar alguns mitos geográficos como
os dois reinos, no continente americano e no oceano a conformação do território brasileiro que desejavam. grafia de seus territórios da forma mais ampla possí- a presença do lago do Xarais, entidade geográfica que
Pacífico, fossem renegociadas em conjunto, posição sis- Isso levou o cartógrafo a sistematicamente reiterar, vel, e a sua associação com D’Anville visou aprimorar originalmente uniria a corrente hidrográfica dos rios
tematicamente defendida por dom Luís da Cunha nas junto à comunidade de savants, na Real Academia de esse conhecimento. da Prata, Amazonas e São Francisco, cujas proximi-
diversas negociações em que representou Portugal após Ciências de Paris, a exatidão de sua carta, em memórias A Parte II disseca a Carte de l’Amérique méri- dades seriam abundantes em tesouros minerais; ou o
a Guerra da Sucessão Espanhola (especialmente duran- redigidas em 1750 e 1779. dionale e o processo de produção do mapa em si, in- lago Parima (que aparece na segunda edição do mapa),
te os Tratados de Utrecht, Cambrai, Breda e Aquisgrán) Os marcos espaciais são amplos. Abrangem a Amé- vestigando diversos aspectos, tais como: o modo como localizado na Amazônia, que sinaliza a existência do
e que vigorou na culminância de todo esse processo, rica Meridional26 retratada na carta de D’Anville; o Brasil, o mapa se situa no contexto da geografia iluminista, a Eldorado; ou a serra das Esmeraldas, localizada no inte-
quando foi estabelecido o Tratado de Madri, em 1750. local de produção de grande parte dos documentos que maneira como D’Anville elegia suas fontes e a forma de rior das Minas Gerais e arduamente buscada na bandeira
A Colônia do Sacramento e as Molucas, no oceano subsidiam o trabalho cartográfico do mapa; Paris, local submissão dessas informações a critérios de validação de Fernão Dias Paes Leme; ou ainda nomeia a presença
Pacífico, segundo dom Luís da Cunha, seriam as duas onde D’Anville viveu, produziu sua cartografia, estabe- que garantiam, ou não, a sua confiabilidade. Uma vez das aguerridas amazonas. Interessa arguir a longevi-
grandes moedas de troca entre as duas nações, opinião leceu a colaboração com dom Luís da Cunha e debateu escolhidas, como o geógrafo consolidava suas fontes em dade de tais representações e compreender a aparente
compartilhada por D’Anville, num parecer em que es- seu mapa com a comunidade de savants de seu tempo; um mapa marcado pelo signo do Iluminismo? Como se contradição existente entre a feição iluminista do mapa
creveu sobre o tema.25 e as diversas embaixadas de dom Luís, que incluíram dá o processo de apropriação de relatos geográficos e e as imagens mitológicas que ele contém. A concepção
O presente estudo começa em 1697, ano em que Londres, Utrecht, Hanôver, Haia, Madri, Bruxelas, e dos mapas subsidiários? Como se configura um mapa geopolítica que dom Luís da Cunha desenvolveu em sua
dom Luís da Cunha inicia sua carreira como embaixa- Paris, onde morreu em 1749. iluminista e como o geógrafo procede à crítica de suas longa carreira diplomática, representando Portugal nas
dor de Portugal e, também, de nascimento de D’Anville. A Parte I, nos Capítulos 1 e 2, discute como dom fontes, incorporando algumas e descartando outras? principais cortes europeias durante a primeira metade
É no curso de sua carreira diplomática, em diversas cor- Luís da Cunha e Jean-Baptiste Bourguignon D’Anville Resultantes de uma visão iluminista do mundo e da na- do século XVIII, se torna evidente em três regiões do
tes europeias, que dom Luís constrói sua visão acerca foram alçados à condição de oráculos, tanto por seus tureza, os mapas dessa época progressivamente impõem mapa – as Minas Gerais, o Cabo do Norte e a Colônia do
do Império português e mais particularmente sobre a contemporâneos quanto por sucessivas gerações; em uma representação do espaço mediada pela matemáti- Sacramento –, analisadas com mais vagar no Capítulo 8:
geopolítica da América. A partir de 1724, isso o leva a Portugal e na França, respectivamente. Procura-se, ca e pela geometria, pois se acreditava que, por meio enquanto as regiões mineradora e amazônica tornam-
colaborar com D’Anville, e dessa colaboração resultará aqui, compreender os significados ambíguos do ter- dessas ciências, seria possível fazer da cartografia um -se objetos a serem assegurados a qualquer custo, e, na
a confecção do mapa de 1748. Sem pretender fazer um mo oráculo, que apontam para o caráter profético do espelho perfeito do mundo real, opinião compartilhada esteira do deslocamento do eixo econômico do império
estudo biográfico de dom Luís da Cunha ou de sua car- trabalho de ambos, mas também para o conteúdo por tanto por D’Anville quanto por dom Luís da Cunha. para o Brasil, o embaixador chega a advogar a trans-
reira como embaixador, este livro lançará mão de sua vezes controverso de suas ideias. O objetivo é também Para tanto, o Capítulo 4 apresenta os aspectos ge- ferência do eixo político na mesma direção, a região
estada como diplomata na cortes da Europa para assim analisar o desempenho tanto da atividade diplomáti- rais da Carte de l’Amérique méridionale e insere este da Colônia do Sacramento vai se configurando como a
compreender o contexto e o processo de construção da ca por parte do primeiro, quanto da cartográfica por mapa no conjunto da obra e da coleção cartográfica de grande moeda de troca territorial com os espanhóis.
Carte de l’Amérique méridionale e da colaboração es- parte do segundo. Com essa finalidade, apresenta-se D’Anville e os capítulos seguintes se debruçam sobre as A Parte III concentra-se no contexto político de
tabelecida com D’Anville. O marco cronológico final é a trajetória pessoal de dom Luís da Cunha enquanto fontes utilizadas e a conformação geográfica conferida negociações luso-espanholas das fronteiras na América
22 23
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL

no momento em que a Carte de l’Amérique méridio- Capítulo 10, a título de considerações finais, a linha de
nale é enviada a Madri, para, segundo o desejo de dom fronteiras desenhada para o Brasil nas diferentes ver-
Luís, dar a ver a concepção geopolítica que ele acredita- sões da Carte de l’Amérique méridionale, de D’Anville,
va ser a melhor para Portugal. O Capítulo 9 apresenta o é cotejada com as concepções geopolíticas do território
modo como começa a se configurar, na concepção geo- brasileiro que dom Luís da Cunha esboçou ao longo do
política do embaixador, a ideia do uti possidetis — isto tempo. Ainda que os dois, como savants iluministas,
é, a posse a quem colonizou de fato um território —, que acreditassem que se tratava de um documento neutro,
ele passa a advogar como instrumento de negociação. um puro espelho da realidade, o mapa estava carregado
O entendimento dessa concepção é fundamental, pois de intencionalidades. E, ainda que espelhasse a forma
ela se espelha na concepção geográfica que o Brasil de representação iluminista do mundo, onde a matemá-
apresenta na Carte de l’Amérique méridionale e se tica e a geometria eram as ferramentas utilizadas para
configurou, de forma inédita, num importante instru- mediar a relação entre o espaço real e o seu desenho
mento de negociação diplomática das fronteiras sul- cartográfico, o mapa inventava um Brasil que não exis-
-americanas, no Tratado de Madri, de 1750. Aborda, tia. Como a Coroa portuguesa decidiu não apresentar o
ainda, os meandros da conjuntura dos anos 1740, mapa de D’Anville nas mesas de negociação em Madri,
marcada por novos arranjos políticos entre Portugal, busca-se, por fim, compreender por que foi outra car-
Espanha, França e Inglaterra, e como eles influíram ta, o Mapa das Cortes, a utilizada pelos representantes
nas negociações. Discute, então, as diferenças entre o diplomáticos das duas Coroas. Ou seja, por que o mapa
projeto geopolítico de dom Luís, expresso no mapa de que inventou o Brasil foi, durante muito tempo, prati-
D’Anville, e o de Alexandre de Gusmão, encarregado camente esquecido e quase se configurou como um te-
por dom João V de articular as negociações. Por fim, no souro perdido?

Geógrafos trabalhando,
pintura do século XVII,
pelo artista holandês
Cornelis de Man
(1621-1706).

24 25
D IPLOMACIA
� CARTOGRAFIA
das LUZES
Parte I
DOM L UÍS DA CUNHA
Oráculo da
geopolítica portuguesa

Ao se autodenominar oráculo do rei, m 1736, dom Luís da Cunha, ainda ser-


dom Luís da Cunha parecia estar vindo como embaixador em Haia, mas
já nomeado, desde o ano anterior, para
muito consciente do seu papel no
um novo posto em Paris, foi informado
estabelecimento de uma política da morte de Diogo de Mendonça Corte Real, até então
para o império [...]. Por isso, apesar responsável pela condução da Secretaria de Estado dos
de ter passado a maior parte de sua Negócios Estrangeiros em Portugal. A notícia o deixou
comovido. “Deus o tenha no céu! El rei perdeu nele um
vida distante da corte, sua intensa
velho, fiel e incansável ministro, e eu, um grande Ami-
correspondência o colocou no
go”, declarou.1 Na ocasião, o embaixador completava 39
centro da vida política, cultural anos de serviço como diplomata, tendo passado ao longo
e científica do reino. de todo esse tempo por diversas cortes europeias. Ao sa-
ber que dom João V estava prestes a nomear um sucessor
e ciente do cabedal que acumulara ao longo desse perío-
do, o embaixador profetizou que ele seria o oráculo que
Sua Majestade buscaria na Holanda.2 Lisonjeava-se com
o fato de que o rei o “tirasse de tão longe para o servir
de mais perto, preferindo-me a tantos sujeitos quanto
Dom Luís da Cunha deve haver na nossa terra, muito mais capazes de seme-
(1662-1749) no auge lhante emprego”. Contudo, seu longo afastamento do
de sua carreira:
reino o impediu de participar das articulações e intrigas
reconhecimento
por sua argúcia no da corte, fundamentais na hora das nomeações régias e
trato diplomático. não foi ele que acabou sendo nomeado. Insatisfeito, dom

29
Dom Luís da Cunha
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Oráculo da geopolítica portuguesa

Luís conclui que “poderia ser menos mau Secretário do Em 1746, numa carta sua em resposta a Marco dores de cabeça e os dispensava, sem resolver as ques-
Estado dos Negócios Estrangeiros, porque o uso [da António de Azevedo Coutinho, então secretário dos tões para as quais haviam sido chamados. No entanto,
diplomacia] me poderia haver dado deles mais conhe- Negócios Estrangeiros e da Guerra, observa-se o papel continuava a “ler regularmente todos os ofícios [de dom
cimento que a qualquer outro que nem os tratou, nem de conselheiro que dom Luís desempenhava na corte. Luís] (...) e resolvia todas as matérias de que eles trata-
ouviu falar deles, senão muito superficialmente”.3 O próprio rei ouvia suas opiniões, levando-as em alta vam por si mesmo”.12
Ao se autodenominar oráculo do rei, dom Luís da conta quando se tratava dos assuntos de Estado. Na oca- O duque de Luynes, Charles Philippe d’Albert, que
Cunha parecia estar muito consciente do seu papel no es- sião, dom Luís respondia a um pedido do secretário e do escreveu uma importante memória sobre a vida na Corte
tabelecimento de uma política para o império, atribuin- cardeal da Mota, outro que pertencia ao círculo privado de Luís XV, foi um dos que atestaram as benesses que lhe
do a si próprio um caráter profético, já que um oráculo de dom João V e, nessa época, talvez fosse o mais im- devia dom João V. Já próximo da morte, dom Luís rece-
podia emitir, com voz humana, as respostas advindas de portante conselheiro do rei.6 Os dois lhe pediam que es- beu do rei uma reprimenda por manter em sua casa uma
anjos, ou as palavras de Deus nas Sagradas Escrituras.4 crevesse diretamente ao monarca sobre um assunto im- concubina, chamada madame Salvador, judia holandesa.
Os savants iluministas, como era o seu caso, acreditavam portante, a respeito do qual os três já haviam discutido A despeito da censura, o duque contou: “Dom Luís
possuir essa missão civilizadora, a ser colocada a serviço privadamente e compartilhavam da mesma opinião. O (é assim que o chamam ordinariamente) tinha grande con-
do Estado. Por isso, apesar de ter passado a maior parte de assunto não é explicitado na carta,7 mas provavelmente sideração do rei seu mestre, que lhe escrevera uma carta
sua vida distante da corte, sua intensa correspondência o tratava-se da proposta francesa de que Portugal servisse fortemente tocante e cheia de bondade para lhe determi-
colocou no centro da vida política, cultural e científica do de mediador no Congresso de Paz, em Breda, em fins nar a fazer sair de sua casa a madame de San-Salvador”.13
reino. De longe, por meio de cartas, memórias e da prá- de 1740. Malgrado os dois gravitarem no centro político Como um oráculo, também era constantemente in-
tica política, procurava influenciar as grandes decisões de decisório da corte, era a dom Luís, ainda que distante vocado por membros de seu círculo relacional a emitir
sua época, fazendo com que suas ideias chegassem aos em Paris, que recorriam para que aconselhasse o mo- opiniões sobre a política portuguesa, municiando-os
Dona Maria
ouvidos de dom João V. Seus conselhos deveriam servir narca. O velho embaixador, do alto de seus 84 anos,8 com seus conselhos. Tomás da Silva Teles, visconde de Ana de Áustria,
como espelhos aos príncipes, pois, como filósofo ilumi- com aparente modéstia respondeu: "Não compreendo a Vila Nova de Cerveira, é outro que testemunha a sua in- rainha de Portugal.
nista, o embaixador partilhava da “convicção de trabalhar razão porque seja necessário [que o rei se] servisse de fluência como conselheiro, a partir da ampla experiência
para fazer avançar o reinado da razão universal”.5 outras luzes mais que das suas próprias, que serão as como diplomata. Cerveira, ao ser nomeado embaixador de seda, o manto vermelho, as comendas, a cruz da
que darão mais claridade e [...] força porque os objetos em Madri, no ano de 1746, pediu a dom Luís que, com Ordem de Cristo, o pó de arroz na face são elementos de
de longe nunca parecem tão grandes como de perto."9 o seu vasto conhecimento, o instruísse para que assim dignificação e, ao mesmo tempo, marcas da sociabilidade
Era apenas um jogo de retórica, pois a pujante produ- pudesse desempenhar com afinco a nova função. Pediu- e das convenções do mundo da corte e da diplomacia.
ção epistolar de dom Luís não deixa dúvida de que, de -lhe “que divirt[isse] agora o fio das [instruções] que di- O primeiro retrato, uma iluminura, o mos-
longe, ele buscava aconselhar o rei e os altos círculos da tava, ocupando o tempo em fazer-me uma instrução tão tra durante o Congresso de Utrecht (1713-1715), ain-
nobreza governante que articulavam a política do reina- miúda que me ponha capaz de perceber qual é o verda- da no início de sua carreira diplomática, e revela um
do joanino, e que acreditava em seu poder de influenciar deiro interesse de Portugal na conjuntura presente”.14 homem jovem e ambicioso.16 A escultura, datada de
as decisões. Por essa razão, ocupava-se “todos os dias, a Poucos meses depois, Cerveira, ao pedir novo con- 1737, apresenta-o já maduro, mas no auge da sua força.
maior parte da manhã, em ditar utilíssimas instruções selho sobre como encaminhar o estabelecimento da paz O semblante carregado, as bolsas debaixo dos olhos e a
em matérias sempre dignas de atenção”.10 entre Espanha e Portugal, insistiu na sabedoria e na papada, juntamente com a vivacidade do olhar, sugerem
Mas não era apenas dom Luís da Cunha que se acha- prudência de dom Luís como oráculo de Sua Majesta- a agudeza de seu espírito.17 O segundo retrato, um qua-
va predestinado a influenciar a política joanina. O pró- de. Pediu que, de Paris, o embaixador lhe avisasse “de dro a óleo, é um instantâneo do seu cotidiano. O em-
prio dom João V reconhecia que ele ocupava papel de tudo o que devo participar a esta Corte [Madri] ainda baixador, corpulento em sua meia-idade, encontra-se
destaque, era uma figura respeitada na corte e, nos úl- [que] sendo por modo de conselho, pois os de Vossa em seu gabinete, cercado de livros, sentado em sua se-
timos anos de sua vida, o seu mais experiente embaixa- Excelência são livres de suspeita e sempre são cheios de cretária, ocupado nos afazeres da leitura e da escrita, de
dor. Ao escrever à sua filha, dona Bárbara de Bragança, prudência e fundados no grande conhecimento e expe- todas as manhãs. À sua frente estão vários papéis e car-
rainha de Espanha a partir de 1746, conta: “Em Paris riência dos negócios da Europa”.15 tas seladas, uma pena com seu tinteiro e mata-borrão.
está, como sabes, dom Luís da Cunha, o qual é hoje o Três retratos e um busto de dom Luís da Cunha o Seus trajes são informais, mas seu robe, com punhos e
decano dos ministros, e pela sua notória capacidade e apresentam com toda a pompa. Suas vestimentas são as gola de pele, ostenta no peito a cruz da Ordem de Cristo,
largas experiências, todos os mais o respeitam, (...) de da nobreza, refletindo o seu estatuto social, e, acima de indicativo de sua nobreza. A seus pés repousa um cão,
sorte que por esta via costumo receber as notícias mais tudo, o luxo afeito aos diplomatas que personificavam os que ao mesmo tempo imprime à cena um aspecto do-
Dom João V
reinou em Portugal puras e exatas”.11 Por essa época, o rei, bastante doen- reis junto às cortes estrangeiras. Em todos eles, a vasta méstico e evidencia a fidelidade do personagem a seu
de 1707 a 1750. te, já não ouvia os ministros, queixava-se de constantes peruca, a casaca bordada, os peitilhos rendados, o colete soberano. O último, também um óleo, revela um velho
30 31
Dom Luís da Cunha
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Oráculo da geopolítica portuguesa

testemunhou sua inteligência e sagacidade, assim como


o seu reconhecimento por toda a sociedade parisiense.
Contou que dom Luís era um “homem de muito espírito
e muito conhecido” e que “todos os ministros estrangei-
ros o viam como seu pai e se reuniam todas as semanas
em sua casa. Estas visitas lhes pareciam um dever e sua
amizade um favor”.20 O marquês d’Argenson, que, em
1737, aguardava sua nomeação como embaixador fran-
cês em Lisboa, conviveu com ele intensamente. Ates-
tou que, por essa época, “tinha 70 anos. Era um homem
consumido nas negociações, nas quais está empregado
há 45 anos. Ele tem muito espírito; eu creio que um es-
pírito justo, mas a idade pode ter pesado sobre suas vi-
sões e sua perspicácia. Mas a este velho experiente ainda
sobram bons golpes e mistérios”.21
O Cavaleiro de Oliveira, Francisco Xavier de Oli-
veira, também emitiu uma opinião favorável sobre o
embaixador. Oliveira havia entrado na carreira diplo-
mática como embaixador em Viena, tendo servido antes
Dom Luís da Cunha,
em iluminura das
como secretário do conde de Tarouca no Congresso de
Memórias da Paz de Utrecht e em Londres. Não teve a mesma sorte que dom
Utrecht, c.1715. Luís da Cunha, e a radicalidade de suas ideias, particu-
larmente as contrárias ao Santo Ofício e à perseguição
experimentado e arguto, de quem os anos roubaram a aos judeus, valeram-lhe o desterro e uma condenação
vivacidade da face, mas trouxeram em troca a experi- pelo Tribunal da Inquisição. Oliveira esteve em contato
ência, indispensável às maquinações do trato diplomá- com dom Luís em Utrecht e mais tarde em Haia, em
tico.18 Essas três últimas representações do embaixador 1734, quando viajava com destino a Viena. Quando es- de dom Luís da Cunha, junto à estatura corpulenta, cerimonial desses encontros era mais simples, eles se Praça Louis
revelam, noutras dimensões, a posição de oráculo de creveu suas memórias, em 1741, disse que “a inteireza à idade avançada, e à ciência conhecida que tem, são tornavam mais intimistas. A rainha recebeu o visitante le Grand, em
1725, um dos
Portugal da qual estava imbuído e que conseguiu trans- atributos mui próprios para o fazerem respeitável”. em seus aposentos de pé, junto à mesa, disposta entre
locais que serviram
mitir a seus contemporâneos, inclusive ao próprio rei. Para Jorge de Macazaga, cônsul espanhol em Lisboa, duas janelas, logo após ter feito sua toalete, mas antes de residência a
Assim, frequentemente, e à medida que se passa- em 1736, dom Luís era um “sagaz ministro”.22 de assistir à missa matinal.25 dom Luís em Paris.
vam os anos e a sua experiência no exterior aumentava, O jovem 4º. conde de Assumar, dom João de Almeida A sagacidade e a agudeza de espírito de dom Luís
as ordens do reino advertiam os embaixadores recém- e Portugal, que viveu em sua companhia em Paris, entre da Cunha foram mencionadas por vários contemporâ-
-nomeados a buscarem os seus conselhos. Por exemplo, 1744 e 1745, contou que, numa visita ao Louvre, acom- neos seus. O 4º. conde de Assumar afirmou que ele “era
quando Manuel Freire de Andrade, em 1748, foi nomea- panhando o embaixador, em audiência por Luís XV, homem de grande sangue-frio”, o que lhe trazia imensa
do para os Estados Gerais (ou Países Baixos), onde o percebeu que “todos geralmente na Corte [o] veneram vantagem nas negociações que encetava.26 A Gazeta de
embaixador servira por vastos anos, foi-lhe ordena- e têm com ele atenções que se não tem com ninguém, Lisboa, ao anunciar a sua morte, registrou que o em-
do que “todas as notícias que alcançares concernentes até El-rei, que é bastante [ilegível] reservado, lhe falou baixador servira em vários postos diplomáticos, “con-
à negociação da paz, comunicareis cuidadosamente a com grande agrado, perguntando-lhe pela sua saúde, firmando em tod[o]s o alto conceito que tinham for-
dom Luís da Cunha, e nos negócios do vosso ministé- mostrando-se interessado nela”.23 Tal deferência pa- mado da sua capacidade”.27 Frei Gaspar da Encarnação
rio procurareis, com a antecipação que for possível, os rece ter sido compartilhada também pela rainha, que foi outro que se espantou com o espírito e a tenacidade
No busto de 1737, seus prudentes conselhos”.19 apresentara o mesmo interesse, pois, quando o rapaz do embaixador. Ao comentar sua morte e se referir aos
o luxo afeito aos Na corte francesa e entre os demais ministros es- foi apresentado a ela, sem a presença do embaixador, últimos tempos de sua vida, marcada por um primeiro
diplomatas que
trangeiros a serviço em Paris, dom Luís gozava de par- “quis saber da saúde do sr. dom Luís da Cunha”.24 enfrentamento direto com o rei, comentou que “o que
personificavam os
reis junto às ticular respeito e deferência, inclusive da parte de Luís O conde de Luynes relatou uma das audiências pri- em tanto tempo não puderam fazer as forças humanas e
cortes estrangeiras. XV. O duque de Luynes dele tinha boa impressão, e vadas que a rainha concedeu ao embaixador. Como o reais, fez o poder divino em um instante”.28
32 33
Dom Luís da Cunha
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Oráculo da geopolítica portuguesa

com diversas autoridades portuguesas — oriunda, prio-


ritariamente, mas não só, de sua função diplomática —,
que grande parte de suas ideias se irradiou. Ainda que
tenha vivido praticamente toda a sua ativa vida adul-
ta distante do reino, dom Luís da Cunha manteve uma
intensa e ininterrupta troca de cartas com os principais
artífices e pilares da política portuguesa de seu tempo,
municiando-os com seus conselhos e com sua visão de
mundo. Ainda que à distância, procurou influenciar por
meio dessas missivas as grandes decisões de sua época.
Apesar de a maior parte de suas cartas circular
principalmente em esfera privada, algumas delas alcan-
çaram significativa repercussão pública e outras poucas
chegaram mesmo a ser produzidas com esse fim, exer-
cendo influência em mais de uma geração da elite go-
vernante portuguesa e não apenas nos destinatários a
João Gomes da quem eram endereçadas.
Silva, conde Além dessa farta correspondência, que em grande
de Tarouca,
parte sobreviveu até os dias de hoje,31 o embaixador pro-
representante
de Portugal duziu alguns textos nos quais procurava extrair lições de
em Utrecht, sua atuação em diversas embaixadas e, mais particular-
juntamente mente, de sua participação nos grandes tratados de paz
com dom Luís.
europeus. Buscava estabelecer uma nova política diplo-
mática para que Portugal voltasse a ocupar um papel de
O quinto evangelista destaque no teatro do mundo. O mais profícuo e vasto de
seus textos o intitulado Memórias da Paz de Utrecht, es-
Por tudo isso, sua esfera de influência não se restrin- crito logo depois de terminado o tratado.32 “Veio a lume
giu ao período em que esteve vivo, mas transcendeu o seu em 1716, constando de um plano inicial de quatro par-
tempo. Acentuando seu caráter profético, e correspon- tes e suplemento (cinco volumes).” Neles, apresentava e
dendo à expectativa do 4º. conde de Assumar de que “só discutia “as causas e as origens da Guerra da Sucessão de
o fim do mundo o poderia fazer sair dele”, o historiador Espanha, tal como as negociações em que as partes envol-
francês, Alphonse de Beauchamp, que, em 1815, escreveu vidas participaram”.33 Era um tratado consagrado à arte da
uma História do Brasil, afirmou que dom Luís da Cunha diplomacia, da política, da paz em oposição à guerra. Em
era, entre os portugueses, um quinto evangelista.29 Tal 1714, quando enviou os manuscritos do primeiro volume
denominação não lhe foi conferida por acaso, nem tam- para Portugal, redigiu uma carta ao secretário de Estado,
pouco fruto de um desenrolar natural do caráter profé- Diogo de Mendonça, apresentando os originais. Com fal-
tico de suas ideias, como ele fizera parecer, mas o resul- sa modéstia retórica, afirmou então que, na obra, retratou
tado de uma estratégia muito bem articulada, ainda em “o caráter dos príncipes e pessoas que representaram esta
vida, por ele próprio, já que acreditava fazer parte da sua grande cena com as cores que fielmente me deram, ou eu
missão, como dos demais filósofos iluministas, situar sua as vi”. Acrescentou que “não pude dispensar-me de me-
Na página
seguinte, a ação no vasto campo do devir histórico.30 Por esta razão, a ter às claras, como às escuras, pelo que é conveniente que
batalha na baía parte mais significativa de seus escritos foi direcionada ao nem o painel, nem o autor saiam à luz”.34
de Vigo, em 23 de futuro, constituindo um legado seu à posteridade. Assim, Para além dos documentos de caráter diplomático,
outubro de 1702,
ele superaria seu próprio tempo e espaço. destacam-se três textos políticos de sua autoria, escritos
durante a Guerra
da Sucessão Foi a partir de sua extensa produção literária, mani- com o intuito de se tornarem públicos, ainda que alguns
Espanhola. festa em grande parte em sua vasta correspondência tenham sido mantidos secretos por algum tempo pela
34 35
Dom Luís da Cunha
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Oráculo da geopolítica portuguesa

interesses de Portugal, para que ele seja governado con-


forme o seu verdadeiro interesse”.37 O terceiro ficou co-
nhecido como seu Testamento Político,38 e acredita-se
que foi endereçado ao príncipe dom José, herdeiro do
trono. Juntos, esses textos fundaram toda uma agenda
que, segundo seu desejo, deveria ser seguida por Por-
tugal nos anos vindouros. Não se sabe exatamente a data
em que esses documentos foram escritos, pois só vieram
a público após a morte do embaixador. É provável que
pelo menos uma primeira versão das Instruções políticas
tenha sido rascunhada em Haia por volta do ano de 1736,
e a Carta de Instruções escrita quando, mais tarde, dom
Luís resolveu enviar as Instruções políticas a seu sobri-
nho. Não por acaso, esses documentos, onde ele esboçou
sua visão da geopolítica portuguesa, se relacionavam a
seu sobrinho e a dois pupilos seus — Marco António de
Azevedo e Sebastião José de Carvalho —, grandes perso-
nalidades de seu tempo, sobre quem dom Luís nutria a
expectativa de que viessem a ocupar o papel de espelhos
do príncipe, que ele mesmo já havia cumprido. Na Carta
de Instruções incitava seu sobrinho a entrar na adminis-
tração régia, e com efeito ele foi posteriormente nomea-
do secretário de Estado da Marinha e Ultramar e depois
secretário dos Negócios Estrangeiros. Já no Testamento
Político, o embaixador sugeria que a melhor indicação
para a Secretaria de Estado do Reino era Sebastião José
de Carvalho, posteriormente conhecido como conde de
Oeiras e depois marquês de Pombal.39 Dessa forma, bus-
cava influenciar mais de uma geração da elite governante
portuguesa, já que esses documentos apontavam para o
presente e para o futuro do império, e pretendiam pro-
vocar ressonância junto a elite e aos sucessivos monar-
cas.40 E, de fato, à primeira vista, a pretensão do em-
baixador realizou-se, pois tanto dom José I quanto dom
João VI apresentaram-se como herdeiros de seu ideário,
concretizando algumas das suas propostas.
Por seus escritos, dom Luís da Cunha foi reco-
Frontispício da heterodoxia das sugestões neles contidas. O primeiro, nhecido a posteriori como um oráculo da política Luís da Cunha “como uma espécie de oráculo do futuro seu mestre”, confirmando assim a perspectiva de dom Uma quermesse,
obra intitulada dedicado a seu sobrinho, dom Luís da Cunha Manuel, portuguesa, já que os novos dirigentes justificaram ou marquês de Pombal”.41 Seguidamente, as ideias de Pom- Luís como “oráculo de Sebastião de Carvalho”.43 de Sybrandt van
Casa da Villa de Beest, em Haia,
é conhecido como Carta de Instruções.35 O segundo, embasaram suas ações nos textos políticos do embai- bal foram apontadas como tributárias daquelas traçadas A mudança da corte para o Brasil, em 1808, pa-
Utrecht onde século XVII.
se tinhão as intitulado Instruções políticas,36 começou a ser escrito xador. Foram eles que fizeram cópias de seus papéis e registradas em seus documentos políticos. Também rece ter sido o eco mais vivo, em pleno raiar do século
Conferencias a pedido de Marco António de Azevedo Coutinho, por políticos circularem no seio da elite governante por Camilo Castelo Branco refere-se a ele como “o deão dos XIX, do impacto da visão de dom Luís da Cunha a res-
da Paz (1715), ocasião de sua nomeação para a Secretaria dos Negó- longo período após a sua morte, reapropriando-os embaixadores” e afirma que “nas reformas essenciais de peito da reconfiguração do império português. Não foi
gravura de
cios Estrangeiros. Esse esperava que, por meio de um com diferentes intenções. Sebastião José de Carvalho (futuro marquês de Pombal) mero acaso que, durante esse contexto, avivou-se o in-
Bernard Picart.
texto bastante amplo, dom Luís consolidasse seu pen- Sua influência sobre a política pombalina é tão evi- transluz a educação política de D. Luís da Cunha”.42 Para teresse pelo seu pensamento, especialmente por parte
samento e formasse “um sistema do que julga convir aos dente, que Joaquim Veríssimo Serrão considerou dom o autor, Pombal teria sido o executor do pensamento “de daqueles que buscavam ver em seu ideário o embrião
36 37
Dom Luís da Cunha
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Oráculo da geopolítica portuguesa

das reformas introduzidas por dom João V. De fato, as passando ao Brasil, cuja vastidão e riquezas eram as que julgar convir aos interesses de Portugal”, que resultou
Instruções políticas, escritas na primeira metade do naquele tempo se sabiam”.47 Desse modo, o seu pensa- no complexo texto das Instruções políticas, acrescen-
século XVIII, parecem ter conduzido o norte da po- mento projetava-se para o futuro, pois, como ele mes- tou que dom Luís ficasse tranquilo e realizasse a tarefa
lítica portuguesa para muito além do tempo em que mo dizia: “Quero passar no espírito de V.S.a por visio- escrevendo com liberalidade, “não se embaraçando que
foram redigidas. Entre tantas outras medidas a serem nário”, mas, ao mesmo tempo, ancorava-se no passado, pareçam coisas novas e possam lá ser mal recebidas”.54
adotadas por Portugal, sugerem a mudança da sede do nas tradições familiares,48 inicialmente esboçadas por Dom Luís sabia muito bem que suas ideias costumavam
império para o Brasil. Alguns portugueses ilustrados seu antepassado.49 ser mal interpretadas na corte, e quando foi preterido
— como dom Rodrigo de Sousa Coutinho, secretário Ainda que não se pretenda fazer aqui uma análise na escolha para ministro dos Negócios Exteriores, em
da Marinha e Domínios Ultramarinos (1796-1802), ou de como a historiografia analisou ou retratou a figura de 1736, exclamou: “Cara pátria, oh pátria cara se nela se
o próprio príncipe regente, futuro dom João VI —, ao dom Luís da Cunha, ou como seu pensamento foi apro- pudera ser profeta!”55 Foram várias as ocasiões em que
buscarem o pensamento de dom Luís da Cunha, evi- priado ou reapropriado ao longo do tempo, algumas suas opiniões provocaram rumores em Lisboa. Em
denciaram elementos comuns entre a suas práticas e observações pontuais se justificam. Alguns anos depois 1746, por exemplo, ao circular entre os conselheiros do
as antigas prescrições do embaixador. Logo, ainda que da transmigração da corte portuguesa para o Brasil, rei sua sugestão de que Portugal sediasse um congres-
não se possa dizer que a mudança da corte para o Brasil em 1811, algumas de suas cartas foram publicadas no so para estabelecer a paz na Europa, ele foi acusado de
tenha sido um desenrolar natural e pura aplicação dos Investigador Português, jornal que circulou em Londres “que não era muito certo na religião, pois [se] mostrava
ideais esboçados pelo velho embaixador, é sintomáti- e que congregava uma parcela importante da elite ilu- muito francês”.56 Recaía sobre ele a suspeita de que os
co, nesse sentido, que uma cópia manuscrita das suas minista de luso-brasileiros emigrados, alguns deles longos anos vivendo longe da corte incutiram-lhe hábi- O cardeal João
Instruções políticas fizesse “parte da Coleção de Ma- tos e pensamentos estrangeiros. da Mota e Silva
exilados devido à radicalidade de suas ideias.50 A publi-
era um dos mais
nuscritos da Coroa, objeto de cuidados especiais, [que] cação desses papéis aponta para novas identidades que De fato, dom Luís da Cunha encontrou nos países
importantes
conservada em arquivo separado, [foi] com o Príncipe então se estabeleciam entre o pensamento desses inte- onde residira, especialmente na Inglaterra, na Holanda conselheiros do
Regente para o Brasil, ficando por sua determinação lectuais e o do antigo embaixador, visto por eles como e, por fim, na França, uma liberdade e uma camarada- rei dom João V.
‘junto à sua Pessoa’ e [sendo] um dos poucos manuscri- fonte de inspiração heterodoxa e inconformista. Na es- gem intelectual, que lhe avivaram o espírito e desenvol-
tos da dita Coleção que voltou para Lisboa em 1822”.44 teira do surgimento do movimento republicano em Por- veram uma percepção aguda e crítica da realidade ao seu homens do seu caráter, [que] faz estas sublevações nos
Por conservar o manuscrito ao seu lado, fica evi- tugal, já no alvorecer do século XX, ocorre novo interes- redor. Era um livre-pensador, ainda que se esforçasse [seus] ânimos contra os afetos da pátria”.59
dente que o príncipe conferia às Instruções políticas se pelo pensamento de dom Luís da Cunha e, com isso, por manter as aparências, necessárias por estar a serviço Em Haia, dom Luís encontrou um ambiente de li-
uma importância especial, e a dom Luís da Cunha, o es- em 1929, as Instruções foram publicadas pela primeira do rei e gozar de prestígio nas cortes onde serviu. Em berdade intelectual e prazeres cotidianos que se ajustava
tatuto de oráculo que ele tanto almejara. Também dom vez.51 É sintomático que, em 2001, esse interesse tenha Paris, por exemplo, no mesmo ano de 1746, quando se perfeitamente ao seu espírito. Isso o levou a adquirir uma
Rodrigo de Sousa Coutinho preocupou-se com o des- renascido, apontando para a longevidade de suas con- aproximava a chegada de seu sobrinho dom Lourenço propriedade que se tornou sua casa, mantendo-a até o
tino de um conjunto de cartas do embaixador que ele cepções, e uma nova e cuidadosa edição das Instruções da Cunha, “turbulento e libertino”, ele considerou ser fim de sua vida, apesar de ter vivido na cidade apenas en-
possuía. Entre elas constavam as Instruções políticas, tenha sido realizada, no contexto das comemorações o rapaz dotado de todas as “más qualidades para poder tre 1728 e 1736, quando serviu como embaixador junto
que dom Francisco Inocêncio de Sousa Coutinho, seu dos 500 anos dos descobrimentos marítimos portugue- viver em Paris sem se expor e me expor”, já que a cidade às Províncias Gerais. Demonstrando a alegria com a sua
pai, deixara como espólio.45 Uma vez no Brasil, dom ses,52 mais uma vez reforçando a sua configuração como respirava “liberdade e deboche”.57 Mais tarde, concluiu, permanência, dizia sobre a quinta que adquiriu: “Na por-
Rodrigo teve todo o empenho de preservá-las e, preo- oráculo da política portuguesa. não sem algum pesar, que não poderia mais viver no ta nova que lhe fiz lhe dei o nome de Monplaisir”.60
cupado com o destino desses papéis, escreveu a seu se- além-Pireneus, pois “os muitos anos que tenho vivido Mas, apesar dessas opiniões que fazem dom Luís
cretário, que permanecera em Lisboa, pedindo “que me com as outras nações me fizeram contrair certos hábitos parecer um desterrado de Portugal, um pensador he-
diga com toda a individuação se mandou [para o Brasil] Cícero que me não deixam contentar a nossa nobreza e é muito terodoxo e ímpar em relação a seus compatriotas, e em
os manuscritos de D. Luís da Cunha, que meu pai aí ti- tarde para me repatriar”.58 particular em relação à elite dirigente portuguesa, que
nha, e que eram seus, tendo-os comprado, e que não Um sentido coevo do termo “oráculo” levanta in- O Cavaleiro de Oliveira, Francisco Xavier de Olivei- estaria mergulhada no obscurantismo, o que emerge de
tinham nada de comum com os da Corte”.46 teressantes considerações acerca da figura do velho ra, que comungava muitas de suas ideias, também co- sua correspondência é o compartilhamento e a discus-
Interessante apontar que, ao escrever sugerindo embaixador. A acepção de “resposta que davam os de- mentou que a longa permanência de dom Luís afastado são de seu ideário com os seus missivistas de confiança,
a transferência da sede do império para o Brasil, dom Luís mônios debaixo do nome dos falsos deuses da gentili- de Portugal tivera consequências, tendo vivido “mais de muitos deles do círculo mais íntimo de conselheiros de
procurou ancorar seu pensamento numa longa tradi- dade”53 aponta para o caráter muitas vezes heterodoxo quarenta anos em ministério”. Na sua opinião, “a au- dom João V, revelando que, ainda que de forma priva-
ção familiar, iniciada quando seu “bisavô dom Pedro e radical das ideias de dom Luís, o que fez com que fre- sência introduziu nele bem os seus efeitos. Julgo que da em círculos fechados, ideias heterodoxas circulavam
da Cunha deu ao senhor dom António, grão-prior do quentemente ele fosse também visto com suspeita. não se lembra de Portugal mais do que pela obrigação entre setores da elite lusitana.
Crato”, o mesmo conselho, dizendo que “se poderia Por exemplo, quando Marco António de Azevedo e amor com que serve ao soberano”. Segundo ele, te- Nesse círculo de sociabilidade de letrados com quem
Sua Alteza embarcar com os que quisessem seguir, e Coutinho pediu que ele escrevesse o “sistema do que ria sido “a estimação que nestes países se confere aos compartilhava suas ideias, havia um especialmente
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Dom Luís da Cunha
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Oráculo da geopolítica portuguesa

caro a dom Luís da Cunha. Tratava-se de seus pupi-


los, cujo exemplo mais vivo foi seu discípulo Marco
António de Azevedo Coutinho. Nos anos que serviram
juntos em Paris e, depois, quando viveram em Bruxelas
e Haia, entre 1726 e 1728, estreitaram a convivência,
a camaradagem e a confiança mútua. Adoentado em
Bruxelas, dom Luís teve Marco António em sua cabe-
ceira, amparando-lhe as dores. E vice-versa. Quan-
do Marco António caiu doente,61 a assistência de dom
Luís serviu para aproximá-los mais ainda. O embai-
xador descreve ao cardeal da Mota a relação deles do
seguinte modo: “Éramos muito amigos, enfermeiros
um do outro e nos consolávamos nas nossas misérias,
me aliviava de algum trabalho quando a minha cabeça
lhe resistia.”62
Em Haia, ambos partilharam das liberdades e pra-
zeres que a vida na cidade proporcionava. A partida
de Marco António para Lisboa, em 1728, deixou dom
Luís mortificado de saudades (“abraços e mais abra-
ços, saudades e mais saudades”)63 e a correspondência
desses primeiros meses são o melhor registro da pro-
funda amizade que ambos devotavam um ao outro. As
palavras do saudoso embaixador revelam a falta que
lhe fazia o amigo querido e fiel: “Escrevo a Vossa Se-
nhoria com dobradas saudades por ser o primeiro dia
que o tempo me permite que o faça no nosso balcão,
vendo passar a quantidade de gente que vai e vem da
Keremesse, da Haia, e me lembro com grande dor que
nele despachávamos e nele comíamos.”64 Noutra carta,
fica registrado o intercâmbio intelectual entre os dois e
a liberdade com que tratavam os vários assuntos: “Aqui
achei a sua carta de 8 do corrente e também convenho
em que para falar mais livremente das matérias que ela
contém seria melhor estarmos tomando o nosso thé,
depois de encarregar a Ana Nunes de ter a porta bem
cerrada.”65 A confiança entre eles era tamanha, que,
muitos anos mais tarde, quando Marco António de
Azevedo já era secretário dos Negócios Estrangeiros,
dom Luís da Cunha não hesitou em remeter “um livri-
nho que se intitula O luxo e se vende secretamente por
ser uma sátira contra o governo e já o Colporteur que
distribui os exemplares fica na Bastilha”.66
Vários anos mais tarde, sem jamais terem voltado
Vista de Lisboa,
a se encontrar, ainda partilhavam da mesma amizade,
em 1755, antes
confiança e liberdade de espírito. Em 1746, dom Luís do terremoto
escreveu-lhe para comentar sobre um artigo publicado no mesmo ano.

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O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Oráculo da geopolítica portuguesa

na “Gazeta Eclesiástica, ou janseísta, de que não se por Cícero para que a velhice trouxesse sabedoria e não
sabe o autor, [mas que] ataca[va] mr. Voltaire sobre a demência. Noutro trecho, comentando o fato de que
religião; ele se defendeu escrevendo uma larga carta poderia vir a ocupar a Secretaria dos Negócios Estran-
ao Pe. Latour a que ele respondeu e porque estes dois geiros, apesar de ter vivido tanto tempo longe da corte,
papeis são muito bem escritos os remeto a [sua] curio- afirma que, “verificando-se a grande máxima de Cícero,
sidade”.67 Poucos meses depois, enviou-lhe o dis- enquanto diz que os chamados ao governo devem entrar
curso que Voltaire proferira quando tomara posse na nele minimo sonitu”, isto é “silenciosamente, discreta-
Academie Française des Inscriptions et Belles Lettres, mente”. Nesse ponto, se refere ao fato de que, no momen-
“por ser feito em novo gosto e ter sido muito apreciado to certo, mesmo estando afastados de sua pátria, ambos
com a resposta que lhe fez o abade D’Olivet, diretor tinham importantes contribuições a dar a seus governos.
da mesma Academia”.68 Por novo gosto referia-se ao No entanto, havia mais uma importante proximi-
racionalismo triunfante professado pelos filósofos ilu- dade entre eles. Ambos se cercaram de jovens apren-
ministas franceses, do qual Voltaire será um dos mais dizes. Como dom Luís, “Cícero apreciava a companhia
importantes expoentes e com quem muito provavel- dos jovens e, à medida que ia envelhecendo, dava-lhe
mente tivera contato por meio de D’Anville, que se re- imenso prazer recebê-los, colaborar no desenvolvi-
lacionava com ele em Paris. mento de seus talentos e promover suas carreiras”.73
Emblematicamente, em uma de suas cartas, Marco Diogo de Mendonça filho, Marco António de Azevedo
António chamou o velho embaixador de Cícero. Dom e os dois jovens da casa de Assumar, foram alguns dos
Luís protestou e pediu que “não me torne VSa. a [me] muitos exemplos de jovens discípulos que transmitiram
chamar de Cícero, a menos que não seja por alcunha”. as ideias de dom Luís para a geração seguinte e contri-
O embaixador não descarta a semelhança e, de fato, buíram para garantir sua posição de oráculo.
reconheceu que se parecia com o sábio da antiguida-
de, de quem era grande admirador,69 porque “eu digo o
que sinto sem examinar como digo”.70 No entanto, ha- Academias
via muitos outros aspectos em comum na biografia dos
dois, para além da questão da sinceridade, que convém Ainda que vivendo distante do reino, dom Luís da
destacar.71 Ambos foram grandes prosadores; deixaram Cunha teve participação importante na República de
uma produção epistolar significativa; possuíam um do- Letras, de viés iluminista, que se formava em Portugal em
mínio incrível da palavra que se revelava numa retórica torno de dom João V, seu principal mecenas. Esse grupo
impecável; formularam sistemas importantes de pen- de ilustrados buscava construir um novo conhecimento,
samento; influenciaram os grandes dirigentes de seu genuinamente voltado para as questões colocadas pela
tempo (César e dom João V); viveram longos períodos realidade do império português. Dom Luís da Cunha es-
desterrados de sua pátria de origem (exílio para Cícero, tava muito cônscio desse papel pedagógico destinado à conjunta da diplomacia em diversas embaixadas portu- (salões, círculos, academias)”.77 Não por acaso, dom Luís A rainha Christine
guesas e nos grandes Congressos de Paz que ocorreram da Cunha participou das duas maiores academias que da Suécia, com
serviço para dom Luís) e, por fim, muitas das ideias dos elite pensante na modernização e transformação da cul-
sua corte, escuta
dois apresentavam caráter heterodoxo. tura lusitana, pois “que não basta inculcar as pessoas de na Europa na primeira metade do século XVIII; no con- funcionaram em Portugal por essa época: a Academia Descartes em uma
O embaixador era, na verdade, um verdadeiro ad- que [se] conhece as capacidades, é preciso instruí-las”,74 tato indireto encetado na troca de correspondência ou na dos Generosos e a Academia Real da História Portuguesa, demonstração
como também da importância da produção de um novo leitura dos mesmos livros ou gazetas, esse grupo com- surgida a partir da primeira; na França e Inglaterra, com- de geometria, na
mirador de Cícero, e não se cansou nem se furtou de
tela de Dumesnil,
o citar em sua obra. Logo no primeiro parágrafo das conhecimento revertido em proveito da nação. partilhava visões de mundo e estreitava os laços entre si. parecia ou se mantinha informado do que se passava nas
século XVII.
Instruções políticas, dirigidas a Marco António de Na participação nas academias portuguesas e eu- Em Portugal, na França e mesmo no Brasil, entre seções das academias científicas locais.
Azevedo Coutinho, lança mão de Cícero para aconselhar ropeias, que se formavam por toda parte como locus de fins do século XVII e ao longo do século XVIII, as acade- A Academia dos Generosos foi fundada, em 1647,
o amigo: “porque as forças espirituais, se não caducam discussão e intercâmbio entre esses savants; nos en- mias literárias foram importantes centros de convergên- entre outros, pelo pai de dom Luís da Cunha — dom
totalmente, se enfraquecem com as corporais, apesar dos contros em diversas capitais da Europa, em que se con- cia desses homens instruídos, onde efetivavam a troca e António Álvares da Cunha —, pelos condes de Tarouca,
remédios que Cícero aponta para se poderem conservar gregava uma nova sociabilidade intelectual;75 nas via- a divulgação de ideias.76 Como na França, “o homem de da Ericeira (o 4o.) e de Vila Maior, Manuel Teles da Silva,
umas e outras (...), de sorte que não basta ser velho para gens, pois o grand tour fazia parte da educação não só letras não existe fora das instituições que se objetivam em depois 1o. marquês de Alegrete. Durante sua existência,
ter adquirido as experiências que VSa. me supõem”.72 das elites portuguesas, mas de todas as redes de intelec- um espaço social. Sua atividade depende dos aparelhos a Academia dos Generosos sediou-se na casa de dom
Aqui ele deixa claro que utilizou os métodos apregoados tuais iluministas das mais diferentes cortes; na prática culturais do Estado e de todas as redes da sociedade civil António em Lisboa e exerceu importante influência no
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Dom Luís da Cunha
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Oráculo da geopolítica portuguesa

espírito do jovem dom Luís,78 realizando suas atividades membros, foi a partir da Academia dos Generosos que havia começado esta obra e a tinha adiantado, de que fui
até 1668, quando foram paralisadas temporariamente. dom Luís da Cunha teceu as principais conexões sociais testemunha, porque queria que o acompanhasse e me
Em sua segunda fase, entre 1693-1696, dom Luís da e intelectuais que manteve em Portugal, mesmo residin- instruísse na esperança de que lhe sucederia na conti-
Cunha desempenhou um papel determinante para o do no exterior durante todo o resto de sua existência.80 nuação dessa reforma”.85
sucesso da instituição durante os três anos seguintes. A Academia Real da História foi fundada por dom Os embaixadores portugueses, como era o caso de
Em 1696, sua partida para Londres, como embaixador, João V, em 1720, e congregou os grandes expoentes da dom Luís da Cunha, eram espectadores privilegiados des-
fez com que seus trabalhos fossem interrompidos de administração e da intelectualidade portuguesa da épo- se “teatro do mundo” e, por isso mesmo, constantemente
forma permanente.79 Essa primeira academia lançou as ca.81 Criada por sugestão de Manuel Caetano de Sousa, produziam textos reflexivos sobre os acontecimentos, a
Alegoria à bases de articulação da República das Letras portuguesa depois de realizar seu grand tour europeu, teve entre respeito dos quais debatiam com os seus corresponden-
Academia Real
na primeira metade do século XVIII, e as sociabilidades seus primeiros sócios, o conde da Ericeira, Martinho tes. Era uma história eminentemente política, que deve-
da História,
água-forte e as amizades ali estabelecidas foram invocadas por seus de Mendonça Pina e Proença, o padre Bartolomeu ria reconstituir os acontecimentos do passado, mas tam-
de 1735. participantes ao longo de toda a vida. Como os demais de Gusmão, Diogo Barbosa Machado, o marquês de bém instruir a Coroa em sua ação futura. José da Cunha
Alegrete e o conde de Vila Maior, seu primeiro secretá- Brochado, nas Memórias particulares ou anedotas da
rio.82 Com sua criação, os antigos partícipes da Academia Corte de França, no tempo que serviu como enviado na-
dos Generosos juntaram-se a ela. Por indicação régia, quela corte, escritas entre 1696 e 1702, apontava como
em 1723, dom Luís da Cunha se tornou membro, na uma das importantes virtudes dos embaixadores — além
qualidade de supranumerário.83 Os sócios supranume- de “grande desembaraço, muita atenção, grande sagaci-
rários eram aqueles não residentes em Lisboa e, dessa dade com muita dissimulação, um semblante de muitas
forma, a elite intelectual da capital se conectava com caras e um aparato com tanto artifício que sirva a todos
os residentes no interior do país e também no exterior, os gênios” — a “muita erudição de História Moderna”.86
como era o caso dos diplomatas. Brochado, como era de esperar, também foi sócio da Real
A criação dessa academia serviu aos propósitos Academia da História, tendo sido seu primeiro diretor.87
da elite pensante quanto à formulação de um novo co- Dom Luís da Cunha refere-se aos diplomatas em termos
nhecimento, construído segundo as regras do método semelhantes. Para ele, “os Embaixadores (se são como de-
cartesiano. A submissão estrita às regras metodológicas vem ser, e não como eu sou) têm justamente a obrigação
conferiria a esse conhecimento um estatuto científico. de serem uns Jornaleiros Historiadores dos sucessos pre-
Segundo esse método, o texto histórico a ser produzido sentes, necessitando de os combinar com os passados,
pelos membros da instituição deveria ser precedido de para poderem formar o seu juízo sobre os futuros”.88
uma investigação rigorosa. As fontes históricas encon- Observa-se aí a missão messiânica da História, de pro-
tradas seriam primeiramente submetidas à crítica, se- jetar para o futuro a ação dos homens presentes, à luz de
gundo esse novo método.84 Era uma história ligada ao ensinamentos passados.
poder e, por isso mesmo, era sobretudo uma história Dom Luís da Cunha cumpria, por meio de vários es-
administrativa. Dessas duas perspectivas — a preocu- critos de caráter histórico-político, no seio dos quais as
pação com as fontes e o viés administrativo — decorria Memórias sobre a Paz de Utrecht têm lugar especial, esse
a necessidade de coleta e organização dos documen- papel destinado a essa República das Letras, em especial
tos, principalmente os oficiais. Não por acaso, o papel aos sócios da Academia Real da História, na construção entre eles, escolha Sua Majestade um sujeito digno de Frontispício
de um conhecimento moderno, a serviço do Estado. “O ter cuidado da educação do Príncipe nosso Senhor, da obra Hesperi
de guarda-mor da Torre do Tombo foi confiado, ini-
et Phosphori.
cialmente, por dom João V, a dom António Álvares da poder desses intelectuais repousa enfim sobre sua con- pois sendo tão versados na arte de louvar os Heróis,
Nova Phaenomena
Cunha, pai de dom Luís da Cunha, que imprimiu no- vicção de produzirem história”,89 mas não apenas a fim parece que também devem saber melhor que os outros sive observationes
vos rumos à instituição. Dom António esperava que o de desvendar o passado, pois tinham a missão de instruir o modo de forma-los.90 circa planetam
os príncipes em seu devir histórico. Essa importante fun- Veneris, de 1728,
filho o sucedesse no cargo e, por isso, em sua juventude, Esse novo conhecimento, porém, não deveria ser por Francesco
ministrou-lhe o preparo intelectual que a função exigia, ção dos acadêmicos-historiadores, na formação dos mo- produzido apenas de forma individual, o que tornavam Bianchini,
segundo a nova metodologia nascida nas academias. Isto narcas esclarecidos, é acentuada por dom Luís da Cunha as academias espaços privilegiados de intercâmbio de dedicada ao rei
acabou não acontecendo e, segundo o embaixador, “a em seu discurso de posse na Academia: ideias e de sociabilidade. “A Academia é instituída sob
Dom João V,
patrono das
Torre do Tombo ficou sem se acabar de reformar, ainda O estudo, que fazem da antiguidade, dando-lhes ex- o signo da comunicação, o que implicava um ideal de ciências.
que me dizem que depois se pôs na ordem que meu pai periência de todos os tempos, os habilita, para que, colaboração que condena o trabalho solitário”.91 Seus
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O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL

sócios, por meio da instituição, ainda que distancia- tórico”, e seus conselhos deveriam servir tão-somente
dos espacialmente, estavam conectados entre si. Mas como espelhos dos príncipes.93
a produção de um conhecimento coletivo não signifi-
cava que não houvesse diferenças ou divergências nos
discursos dos acadêmicos, ou que a instituição fosse República das Letras
monolítica.92 Ao contrário, o debate era a essência do
conhecimento ilustrado. Dom Luís da Cunha manteve fortes vínculos de
Grande parte do cotidiano de dom Luís da Cunha amizade e teceu intensa sociabilidade e correspondên-
era despendido na produção de textos que demonstra- cia intelectual com alguns membros dessa República
vam o seu domínio sobre a história moderna, como era das Letras portuguesa, dentre os quais se destacava o 4º.
esperado de um membro da Academia, especialmente conde da Ericeira, dom Francisco Xavier de Meneses.94
sendo ele um embaixador. Como os demais partícipes Ao lado de dom Luís e de seu pai, o conde participara
de uma República de Letras ilustrada, ele fazia parte de da Academia dos Generosos. Depois disso, foi funda-
um movimento que pretendia deixar suas marcas na dor, em Lisboa, de uma Academia Portuguesa (1717),
transformação do mundo. O philosophe era um ser en- onde mais uma vez demonstrou sua vasta erudição e
gajado. O culto da escrita, a certeza de possuírem uma seu desejo de constituir uma sociabilidade intelectual
missão civilizadora a serviço do Estado, o gosto pela ao gosto de uma República das Letras. Foi também um
polêmica, a certeza de que suas opiniões seriam ouvi- dos sócios fundadores da Academia Real da História,
das faziam com que esses intelectuais iluministas pos- participando da elaboração de seu projeto e da redação
suíssem a convicção de que faziam e participavam da de seus estatutos.
História. Sua ação, contudo, “se situava no devir his- O conde da Ericeira foi um dos grandes epicentros
em torno de quem se reuniram os inteligentes do reino.95
Dom Luís destacou que ele tinha “o mais digno e mais
elevado lugar, não em uma confusa República de Letras,
porém sim em o seu bem regulado império”, na qual se
destacava sua “numerosa e seleta biblioteca”.96 Como
cabia a um savant de seu tempo, suas conexões intelec-
tuais não se restringiam a Portugal, tendo sido admitido
na Royal Society, de Londres, em 1738. O experimen-
talismo era a base dessa nova ciência, por isso o conde
Página de rosto possuía em sua casa um gabinete de física, um museu
de Henriqueida: de história natural e uma vasta biblioteca com cerca de
poema heroico…, de
15 mil volumes, que rivalizava com a de dom João V.97
Francisco Xavier
de Meneses, conde O cardeal da Cunha se referiu a ele como “homem in-
de Ericeira, 1741. signe e versado em todas as línguas e ciências”.98 As
Na página questões científicas, especialmente a física newtoniana,
seguinte, ministros
mobilizavam cada vez mais os letrados portugueses reu-
plenipotenciários
em Baden, onde nidos em academias científicas, de modo semelhante ao
foi assinado novo que vinha acontecendo com os ingleses e os franceses.
acordo (1714) Com dom Luís, encetou um estimulante intercâm-
depois do Tratado
de Utrecht (1713)
bio intelectual, cuja base assentava-se na liberdade de
e antes do de pensamento, a partir de vasta e contínua troca de car-
Antuérpia (1715), tas, pelas quais discutiam e intercambiavam leituras,
relacionados
nem sempre ortodoxas, sempre de forma crítica e in-
à Guerra da
Sucessão teligente. Em 1741, por exemplo, o conde confessou ao
Espanhola. embaixador estar lendo bastante Voltaire e o chama de
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Dom Luís da Cunha
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Oráculo da geopolítica portuguesa

o “antimachiavel do rei da Prússia”.99 Como resulta-


do dessa camaradagem intelectual, a 20 de janeiro de
1744, dom Luís lamentou com pesar a perda do amigo
com quem compartilhara tantas identidades, “porque
me deixou penetrado da mais viva dor a morte de meu
amigo velho o conde da Ericeira, no qual Sua Majestade
perdeu um tão fiel vassalo e que pela sua incomparável
erudição dava grande crédito a Portugal”.100
Outro ícone dessa República das Letras foi o 2º. con-
de de Assumar, dom João de Almeida,101 também dileto
amigo e correspondente por toda a vida de dom Luís da
Cunha. As cartas que trocaram entre si retratam a ama-
bilidade, o respeito e a troca intelectual. Conversavam
sobre tudo, especialmente sobre as questões em torno da
política portuguesa após a Guerra da Sucessão Espanho-
la, da qual ambos foram partícipes — o primeiro como
militar no front de batalha, e o segundo como diplomata
nos acordos que se seguiram. Dom João de Almeida foi
nomeado sócio da Academia Real da História, em 1721, e
era conselheiro de Estado. Foi a ele que dom Luís enca-
minhou sua obra Tradução e paráfrase dos Tratados de
Paz e Comércio, celebrados em Utrecht, Baden e Anvers,
para que o mesmo a tornasse pública em Portugal.102
Pela correspondência, o velho Assumar e dom
Luís estreitavam a amizade, partilhavam e discutiam
ideias e também intercambiavam notícias. Dom João
de Almeida contava o que se passava no reino e no im-
pério, dom Luís punha-o a par das notícias do teatro
do mundo europeu. Em 1720, as novas que Assumar
dava do Brasil, onde seu filho, Pedro de Almeida, era
governador das Minas, revelam reflexões sobre os con-
flitos que convulsionavam a capitania. A partir da óti-
ca dos Assumar,103 as informações foram importantes
para moldar em dom Luís sua concepção, comparti-
lhada por outros membros desse grupo, da centrali- Rei Felipe V
dade das Minas e do Brasil para o império português, de Espanha
concede ao
além dos perigos que corriam.
marechal James
Além da troca de cartas, a amizade pessoal entre Fitzjames, duque
dom Luís e Assumar revelou-se ainda na incumbência, de Berwick,
o título de
assumida pelo embaixador, de receber em sua casa, em
Cavaleiro do
Paris, na década de 1740, a fim de que se instruíssem, Velocino de Ouro,
os dois netos de Assumar — João e Luís, filhos de Pedro pelo comando
de Almeida, o 3o. conde.104 Dessa forma, a amizade es- na Batalha
de Almansa
tendeu-se às outras gerações da casa.
na Guerra
O marquês de Abrantes foi outro com quem dom da Sucessão
Luís manteve intensa amizade. O relacionamento dos Espanhola.

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Dom Luís da Cunha
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Oráculo da geopolítica portuguesa

Nesse círculo restrito de nobres, do qual dom Luís


era integrante ativo, ainda que à distância, priorizava-
-se a troca de ideias, a liberalidade de pensamento, o
compartilhamento de leituras, muitas vezes de caráter
heterodoxo, e o intuito era o de serem espelhos dos
príncipes e influenciarem a política do reino.

O embaixador e
a arte da diplomacia

No ano de 1697, dom Luís da Cunha iniciou sua lon-


ga carreira como embaixador de Portugal, servindo, até a
morte, em diversas cortes europeias. Até 1712, esteve na
embaixada na Inglaterra. Lá se envolveu em pesadas ne-
gociações com os ingleses, que haviam prometido finan-
ciar o exército português em troca da participação portu-
guesa na Guerra da Sucessão Espanhola. Como resultado
dessas negociações surgiu em seu espírito uma profunda
desconfiança em relação aos britânicos, para quem, se-
gundo ele, só valiam seus próprios interesses. Ao final do
Detalhes de Alegoria conflito, com vistas a superar diversos impasses ocorri-
da Paz de Utrecht, dos, foi organizado o Congresso de Utrecht. As negocia-
por Johannes
Drappentier, 1713.
ções preliminares ocorreram em Londres, em 1712, onde
ainda servia dom Luís, e o congresso propriamente dito,
nos Países Baixos, entre 1712 e 1715. Dom Luís da Cunha
dois caracterizou-se pela camaradagem intelectual, por
vezes marcada por ideias discordantes. Quase sempre foi nomeado 2º. plenipotenciário, auxiliando o conde de
vivendo em espaços geograficamente distantes, era a Tarouca, que era o 1º. plenipotenciário, na delegação por-
correspondência que viabilizava em grande parte esse tuguesa. Antes de estabelecer-se em Haia, onde ocorreu aconteceu a partir de 1750, dom Luís se envolveu em to- letras voltados para os negócios exteriores. O diplomata Vista panorâmica
diálogo. O marquês também era sócio da Academia Real o congresso, teve curta passagem por Paris, ocorrida em das as grandes negociações e tratados europeus da pri- era, antes de mais nada, um homem de letras, e uma de Londres no
1712.106 Com o fim do congresso, em 1715, voltou a Lon- século XVIII.
da História, tendo sido inclusive um de seus censores. meira metade do século XVIII, como Cambrai, entre 1720 ampla cultura era essencial à sua formação.
Descendia da velha nobreza do reino e seus interesses dres; em 1716, esteve em Hanôver, Haia e Londres; em e 1725, Breda (1747) e a Paz de Aquisgrán (1748). Cabia aos embaixadores tanto negociar quanto re-
intelectuais se concentravam na arquitetura e na pintura. 1717 e 1718, retornou a Haia; e o ano de 1719 passou em A vida diplomática não era apenas um espaço de presentar os soberanos ou príncipes a quem serviam.109
O intercâmbio de pensamento entre dom Luís e o Madri, para tentar resolver os impasses criados a par- negociação política, mas tornou-se ponto importante A novidade do século XVIII era o fato de que a diplo-
marquês era constante e, por meio da correspondên- tir de um incidente diplomático ocorrido na embaixada de formação e sociabilização da República das Letras no macia era “considerada como uma atividade específica,
cia, o embaixador buscava — à distância — influenciá- portuguesa. Entre 1720 e 1725, esteve em Paris, como espaço continental europeu. Embaixadores eram ho- com suas próprias regras, com seus lugares de definição e
-lo e, indiretamente, à política régia, pois o marquês de emissário para participar do Congresso de Cambrai, de mens cultos e, nos congressos e nas cortes estrangeiras, seu próprio estatuto ‘disciplinar’ e jurídico”,110 exigindo,
Abrantes era consultado pelo rei em diversos assuntos. onde saiu devido à ruptura das relações diplomáticas com estabeleciam intensa cordialidade entre si. O primeiro pois, saberes próprios e mesmo, como salienta dom Luís,
Este preferia, em lugar da convocação de instituições a França. Entre 1726 e 1727, esteve em Bruxelas; entre congresso europeu do século XVIII, em Utrecht, cons- uma outra linguagem. Por isso confessou ele “que quan-
formais, se aconselhar de maneira informal com ho- 1728 e 1736, novamente em Haia, onde chegou a adquirir tituiu-se como um momento de inflexão, pois moldou do saí da Relação de Lisboa para vir a Londres suceder ao
mens de sua confiança. Em 1729, em mais uma carta a uma casa, pensando em ali se estabelecer; e, entre 1736 novas formas de política diplomática e foi a grande es- visconde de Fonte Arcada, não sabia mais que despachar
Marco António de Azevedo, dom Luís registra sua rela- e 1749, permaneceu em Paris, pois as relações diplomá- cola de uma geração de diplomatas que praticamente um feito, (...) e assim me foi necessário aprender outra
ção com o marquês e aponta a ressonância das opiniões ticas haviam sido restabelecidas, e foi ali que morreu. Se debutaram nessa oportunidade.108 Vários desses ho- língua; e fazer outro estudo”.111 Antes de tudo, a diploma-
deste junto ao rei: “Parece que o marquês de Abrantes “o século XVII foi descrito como um tempo de guerras, o mens continuaram a se encontrar vida afora nas di- cia era uma arte. Arte de conhecimento, de prudência, de
ainda não formou totalmente a sua ideia para que o amo XVIII [foi] como uma sucessão de congressos”.107 Além de versas cortes onde serviram e em outros congressos de inteligência política, de mediação, de polidez,112 mas tam-
sobre ela tome a sua última resolução.”105 Utrecht e dos preparativos para o Congresso de Madri, que paz, constituindo uma rede internacional de homens de bém de dissimulação. Qualidades imprescindíveis para o
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O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL

O conde de Tarouca, dom Luís da Cunha e o duque de Ossuna, Ratificações da paz fora da Porta Branca, limite da cidade
representantes de Portugal e Espanha, assinam a paz no parque de Utrecht, em 2 de abril de 1715.
do Jogo do Malho, em Utrecht, em 6 de fevereiro de 1715.

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Dom Luís da Cunha
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Oráculo da geopolítica portuguesa

que os funcionários subalternos ascendiam na carreira um papel de destaque, consoante com a riqueza e o po-
diplomática, deveriam retribuir com fidelidade a pro- derio da nação no século XVIII.
teção e os favores antes recebidos. Assim se formavam
as redes clientelares que conectavam esses homens por
toda a vida. Os salões e a mesa
Quando estava em Paris, em 1724, dom Luís da
Cunha escreveu uma carta de recomendação para O iluminista da República das Letras não era um
Francisco Mendes de Góis, que buscava uma mercê ré- solitário. Constituía-se em sociedade, por meio da con-
gia.117 A missiva nos permite observar essa teia de so- versação. Por isso, “segundo os padrões do establishment
ciabilidade e serviço entre embaixadores e seus antigos literário”, dominar essa arte era fundamental para a troca
funcionários. Diz dom Luís: de saberes e opiniões.119 O médico português Antônio
Ribeiro Sanches, um grande savant de sua época, que
Certifico que, no ano de 1710, veio a Londres Francisco
pertencia ao círculo de dom Luís, malgrado “sua apa-
Mendes de Góis, onde o conheci, vivendo quase em
rência medíocre, tinha uma fisionomia espiritual, dois
minha casa com bom procedimento e então o encar-
olhos pequenos mas vivos, um sorriso fino que pare-
reguei de algumas diligências por achar nele a capa-
cidade que para elas se requeria e ali ficou servindo a
cia na conversação ser garantia de sua inteligência, ou
Joseph da Cunha Brochado até que este ministro vol- o intérprete de seu pensamento”. De Sauvigny,120 que
tou para Portugal, pelo que, vendo-se desamparado, escreveu estas linhas em elogio ao amigo, ressalta que
buscou o meu abrigo em Holanda e, dali, o levei co- a conversação de Ribeiro Sanches “era sempre inte-
migo outra vez a Londres [1715], servindo na minha ressante, algumas vezes viva e animada”, observando
secretaria e me não pôde acompanhar na embaixada ainda: “Ele não amava a disputa, mas ele se prestava
Em Utrecht, de Castela. Depois o vi voltar de Inglaterra, servindo com prazer à discussão e citava sempre a propósito os
entre 1713 e 1715, de secretário a Marco António de Azevedo Coutinho; em fatos interessantes para apoiar o raciocínio sólido”.121
moldaram-se
todo este tempo e em todas as partes observei sempre A partir de tais comentários, portanto, observa-se que
novas formas
de política nele capacidade, modéstia, fidelidade e desinteresse.118 o domínio da retórica exigia argumentação consisten-
diplomática. Na te e que a arte da conversação baseava-se na discussão
gravura de origem A carta também nos permite observar como um
inteligente, diferenciada da mera disputa.
holandesa, a funcionário subalterno na carreira diplomática, ao ser-
assinatura de um Desse modo, a participação na sociedade dos le-
vir diferentes embaixadores, funcionava como elo de
dos acordos. trados “concretiza[va]-se, substancialmente, nas com-
conexão entre eles, tal como aconteceu com Francisco
Mendes de Góis, que reuniu a tríade dom Luís da panhias escolhidas que compartilham os prazeres do
exercício da função eram “a observação penetrante, a pers- Essa capacidade de estabelecer vínculos amistosos, Cunha, José da Cunha Brochado e Marco António de encontro, da conversa, do salão, da mesa”.122 O salão
picácia, a justa apreciação dos homens, das circunstân- políticos e intelectuais eram essenciais para se enfronhar Azevedo Coutinho. era o espaço ímpar de sociabilidade dos homens de le-
cias e das oportunidades, o autodomínio, a moderação e nas altas hierarquias, não só da própria corte de origem A diplomacia era, muitas vezes, um primeiro de- tras e, quando dom Luís residiu em Paris, a cidade fer-
o equilíbrio”.113 Além disso, um embaixador deveria ser (para angariar postos e mercês), mas da que o embaixador grau para a ascensão a postos administrativos mais vilhava dessas “pequenas sociedades onde os letrados
“muito familiar, popular e magnífico”.114 estivesse servindo (para defender os interesses de sua pá- importantes. Não por acaso Diogo de Mendonça Corte adora[vam] conversar e discutir".123 Frequentemente,
A diplomacia, para a qual a arte da conversação tria). O marquês d’Argenson, que se preparava para re- Real, Marco António de Azevedo Coutinho e Sebastião comparecia à “casa de me. Tencin, que é uma espé-
era expediente importante, contribuía para fundar e presentar a França, em Portugal, em 1737, sabia que, “um José de Carvalho, depois de ocuparem cargos de em- cie de museu, onde há muitos anos preside mr. de
alargar laços de identidade, amizade e clientela. A rede embaixador (...) deve ser um homem de sociedade para baixadores, acabaram sendo recrutados e ascende- Fontenelle”.124 Claudine Alexandrine Guérin de Tencin,
de sociabilidade intelectual que se articula em torno se ligar com todas as pessoas que pertencem ao governo ram ao cargo de ministro dos Assuntos Estrangeiros. ou me. Tencin, baronesa de Saint-Matin, mãe de
de dom Luís da Cunha, por exemplo, que começa a donde se está servindo, e tudo vai bem para a nossa nação A diplomacia era fonte de conhecimento estra- D’Alembert, no famoso salão de sua casa, reunia a nata
ser tecida ainda na juventude, na casa de seu pai, sob quando se é agradavelmente recebido em toda parte”.115 tégico, acumulado em benefício do Estado. Essa da elite intelectual iluminista francesa. Por ali circulavam
os auspícios da Academia dos Generosos, constrói-se A diplomacia era organizada em diferentes postos nova intelectualidade portuguesa, que se reunia personalidades como o abade Prevost, Montesquieu,
na vida adulta principalmente a partir dos postos di- hierárquicos: embaixadores, plenipotenciários, envia- em torno de dom João V, e que tinha em dom Luís Marivaux, Helvetius, entre outros. Bernard Le Bouyer
plomáticos ocupados no exterior, nos quais entrou em dos, residentes e secretários,116 que estabeleciam laços da Cunha um de seus expoentes, insistia na neces- (ou Le Bovier) de Fontenelle, famoso escritor, amigo de
contato com vários homens da República das Letras horizontais e verticais entre si. A casa de um embaixa- sidade de que Portugal se inserisse sob novos pa- Voltaire, e secretário perpétuo da Académie Royale des
portuguesa e europeia. dor era servida por vários postos auxiliares e, à medida tamares na orquestra política europeia, buscando Sciences de Paris, entre 1699 e 1737, presidia as seções.
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Dom Luís da Cunha
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Oráculo da geopolítica portuguesa

dos Países Baixos, baseando-se em seu profundo co-


nhecimento sobre o tema: Acerca do livro que adqui-
riu para dom João V — de gravuras que reproduziam as
pinturas que Rubens produziu para adornar o palácio
de Luxemburgo, retratando a vida de Maria de Médi-
cis —, disse ser “um dos melhores que Sua Majestade
terá na sua Biblioteca, pela excelência do autor”. Já so-
bre outras gravuras do mesmo pintor que comprou de
um particular afirmou que “semelhante coleção se não
achava”. Quanto a dois painéis de pinturas de Rubens,
um deles retratando a descida de Jesus da cruz, que a
infanta Isabel doara à catedral de Bruxelas, contou que
procurou seus novos proprietários e os “vi ambos com
grande atenção”. Após estudá-los, recomendou então
que o rei os comprasse “porque não é fácil achar dois
Natureza morta
originais deste autor, e desta qualidade”.127
com flores (1706),
Desde o período em que se encontrava em Londres de Van Huysum.
(1697-1712), no início de sua carreira diplomática, dom Por seu conhecimento
Luís da Cunha já dava mostras do seu conhecimento e da arte flamenga,
Jantar de filósofos dom Luís assessorou
erudição. Ele foi um dos grandes compradores de livros o rei de Portugal
reunindo Voltaire,
Diderot, o abade
para a biblioteca que dom João V compunha. Mas ele não na aquisição de
Maury e o marquês comprava o que lhe era indicado pelos savants do reino obras holandesas.
de Condorcet. de forma acrítica, sua erudição permitia que possuísse
um espírito crítico sobre o que estava sendo impresso convencimento e da persuasão, angariada nos longos
Outro salão que o embaixador frequentou em Paris e era bastante arguto em suas observações sobre suas anos de exercício em sua carreira diplomática.
foi o do rico financista Pierre Crouzat, situado na rue leituras e sobre os livros que adquiria. Ao longo de suas Desse modo, o monarca destacava um aspecto im-
Richelieu, que reunia principalmente artistas e colecio- pesquisas nas bibliotecas e leilões, ele revela sua capaci- portante da arte da conversação quando empregada
nadores de arte. Crouzat também fazia parte do círculo dade de reconhecer raridades, habilidade indispensável na diplomacia. Tratava-se não apenas de exercício de
do duque de Orleans, regente na França durante a mi- a um connoisseur, que era admirada pelo círculo dos erudição, mas era parte das estratégias para descobrir
noridade de Luís XV, de quem D’Anville foi secretário. homens de letras. Na Inglaterra, em 1697, o tradutor do segredos ou convencer o interlocutor dos interesses da
Ele reuniu uma das mais notáveis coleções de arte de livro do espanhol Francisco Manuel — The government corte representada pelo embaixador. Atingir os fins de-
seu tempo, disposta no interior de seu palácio, cujas of a wife, or wholsom and pleasant advice for married sejados, isto é, conseguir arrancar os segredos do repre-
peças mais preciosas ficavam numa galeria octogonal, man —, Juan Stevens, dedicou a obra ao embaixador, sentante da nação rival, exigia toda uma habilidade que
inspirada na Tribuna do palácio Uffizi, em Florença.125 salientando suas luzes e seu entendimento.128 dom Luís manejava com maestria. Segundo ele:
No contato com artistas, colecionadores e na observa- Como homem de letras, frequente nos salões lite- O segredo é um ser moral que tem muitos inimigos, de
ção dessas pinturas, dom Luís apurou sua capacidade rários, dom Luís da Cunha era igualmente um mestre que se deve defender para se guardar. O primeiro é a
de expert ou connoisseur, amplamente reconhecida, até da arte da conversação. O Cavaleiro de Oliveira contou natural inclinação com que nascemos a falar; o segundo
O escritor e filósofo
Bernard le Bovier nas gerações seguintes, não só entre a elite intelectual que “a sua conversação é gostosíssima. A liberdade com é a vaidade (...) de que nos deem atenção mostrando
de Fontenelle portuguesa mas também a europeia.126 que fala de todas as matérias é igual à erudição com que sabemos o que os outros ignoram; o terceiro é a as-
(1657-1757) De fato, em suas cartas, dom Luís mostra profundo que as entende, e com que discorre nelas, (...) tendo túcia com que alguns, como por força nos arrancam o
foi secretário
conhecimento sobre pintura, revelando uma predileção residido com grande aceitação nas principais cortes da que de nós querem saber; o quarto é o da chave de ouro,
perpétuo da
especial pelos pintores flamengos, o que resultará num Europa”.129 Dom João V observou que “em Paris, (...) ou de qualquer outro equivalente metal, que abre as bo-
Académie Royale
número acentuado de obras desses artistas na coleção cas mais fechadas.131
des Sciences de todos os mais os respeitam e fazem assembleia em sua
Paris e membro
que dom João V reunia em Portugal, muitas delas ad- casa, e nenhum tem dúvida a comunicar-lhe os seus Um embaixador devia dominar uma verdadei-
da Académie des
Inscriptions et quiridas pelo embaixador nas cortes onde serviu. São segredos, ou para o conselho, ou por confidência, na ra arte para arrancar o segredo mais bem guardado
Belles-Lettres. muitos os seus comentários sobre a excelência da arte certeza de sua probidade”,130 pois era mestre na arte do que, segundo ele, consistia ou em saber se aproveitar
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O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL

Adoração dos magos, de Rubens,


1610, obra à qual dom Luís
devotava grande admiração.
Ao lado, Descida da cruz,
de Van der Werff, 1703.

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Dom Luís da Cunha
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Oráculo da geopolítica portuguesa

quanto políticos, por isso, no caso dos diplomatas, eram coleções preciosas, principalmente de estampas e ma-
indispensáveis ao desempenho do ofício. Dom Luís da pas, e sua corte era conhecida pelo esplendor. Ele foi um
Cunha, ao escrever a Marco António de Azevedo suas herói em sua época e participou de várias batalhas épi-
instruções de como organizar a secretaria de Estado, re- cas, inclusive na guerra de combate aos turcos. Durante
comendou que guardasse um dia da semana para — tal sua estada em Londres, “e ao longo dos dois meses e
como vira em Paris — receber cada ministro estrangeiro meio, o príncipe teria sido visitado todos os dias” em
em audiência, “servindo-se delas e deles para saber o sua casa.139 Dom Luís foi seu cicerone em Londres,
que se passa; e se, de tempo em tempo, lhes der de jan- acompanhando-o em diversos encontros que, como era
tar, será muito melhor”.134 esperado, davam-se em torno da mesa. A mesa libera-
Sabedor da importância da mesa para criar a cama- va os espíritos e, dos temas políticos, passava-se a con-
radagem, aproximar os espíritos e abrir as bocas mais versações mais amenas; por isso, o embaixador afirmou
fechadas, grande parte da sociabilidade intelectual, di- que de todos saía muito tarde, como ocorrera no jantar
plomática e política de dom Luís da Cunha ocorria em que o duque de Shumberg oferecera.140 Esse comentá-
torno da comida.135 “A arte da mesa se inscrevia natural- rio ilustra os excessos que se cometiam à mesa, crian-
mente no quadro diplomático”, e era “uma valorização do um clima favorável à intimidade e às confidências.
da refeição como símbolo político”.136 Mas “não poucos No entanto, dom Luís fez uma avaliação pouco positiva
philosophes, quando se punham à mesa, esqueciam dos resultados políticos desses encontros. Revela que “o
‘a doutrina das proporções’ e abandonavam-se a exces- príncipe Eugênio teve domingo a primeira conferência
sos”,137 pois “a digestão facilitava as confidências”.138 e não creio por algumas coisas que lhe ouvi que delas
Dom Luís da Cunha, ao longo de sua correspondên- saiu mais satisfeito do que entrou, mas não lhe faltam
cia, relata diversos jantares, dá detalhes dos convivas à convites, que fazem pouco bem ao seu negócio e muito
mesa, dos assuntos abordados, principalmente nos últi- mal à minha saúde, pois de ordinário sou um dos as-
mos anos de vida, quando as doenças quase lhe confina- sistentes, e os meus anos e achaques não permitem estes
ram em casa e muitos ali iam lhe falar. À sua mesa, eram repetidos excessos”.141
recebidos príncipes e nobres, ministros de Estado, espe- O congresso já se desenrolava em Utrecht quando
cialmente os de Assuntos Estrangeiros, diplomatas das o príncipe chegou, em abril de 1712. Na ocasião, o car-
mais diversas cortes, com muitos dos quais se relaciona- deal Passionei,142 núncio papal, o convidou para jantar
va desde o início do século, principalmente a partir do em sua casa. Número sugestivo, eram treze à mesa, sen-
congresso de Utrecht, intelectuais e amigos, vários deles do um deles dom Luís da Cunha. Apesar das diferentes
portugueses em trânsito. Era quando então se aproveita- nações que representavam, a mesa de Passionei “reunia
Coroação de da inclinação natural dos homens para revelar seus se- Dom Luís redigiu um auto-retrato memorável de va para, entre outros, abordar temas de seu interesse ou um círculo de fidelidade que se desenhava em torno de
Maria de Médicis gredos, ou em tirar vantagens da vaidade humana que si mesmo. Nesse texto diz que a despeito de seu “humor de Portugal. À sua própria mesa ou nas que ele frequen- Eugênio”,143 e os portugueses, representados por dom
em Saint Denis fazia com que alguns falassem além do devido, ou em melancólico e adusto”, “não era fastidioso na compa- tou em congressos e em cortes estrangeiras, dom Luís Luís e o conde de Tarouca, estavam entre os que mais
(1610), uma
ter a astúcia de saber conduzir a conversação para o fim nhia” e sabia entreter os ministros de Estado. Ao invés participou de momentos ímpares em que, exercitando a lhe foram fiéis. “Um hóspede ilustre fazia da refeição
das 24 pinturas
realizadas por almejado ou, por fim, em saber quando o suborno é o de frequentar a Corte, preferia chamar os convivas à sua arte da conversação, conseguiu arrancar as informações um acontecimento.”144 Dom Luís sabia da importância
Rubens retratando único expediente para abrir uma boca mais fechada. No casa pois lá, com liberalidade, os deixava “discorrer so- que almejava, ou convencer seu interlocutor de propósi- da arte da mesa em proveito da negociação, e, por meio
a vida da rainha
exercício dessa arte era preciso saber o momento opor- bre os negócios do tempo presente e passado”. Sendo tos portugueses. Citemos apenas alguns. do contato com o círculo imperial, reunido em torno
da França.
tuno para que determinado assunto fosse abordado, capaz de ouvir tudo que lhe tinham a dizer, com paci- Em Londres, em janeiro de 1712, acompanhou o de Eugênio de Saboia, utilizou “círculos privados para
requerendo dissimulação por parte do embaixador. Por ência, guardava o que lhe parecia necessário ao Estado príncipe Eugênio, duque de Saboia numa série de jan- obter informações e vantagens durante o congresso”,145
essa razão, conhecedor da sua verve e da sua oratória, português, “sem contradizer o que lhe não agrada, evi- tares, preliminares ao congresso de Utrecht. O duque apesar das ordens que recebera do reino para se ater aos
o conde de Oxford recomendou ao diplomata britânico tando por esse modo todo o gênero de disputa e contes- lutara na Guerra da Sucessão Espanhola e brilhara encontros com os ingleses.
John Robinson, em Utrecht, “que, por favor, dê a dom tação” que lhe parecia abominável.133 por sua capacidade militar. Tanto em Londres quanto Poucos meses depois, em novembro, em uma nova
Luís uma ocasião de lhe falar, mas eu o suplico de não Nos salões e nas embaixadas, esses homens de letras depois, já nos Países Baixos, desempenhou importan- visita, o príncipe se hospedou na casa do conde de
iniciar; mas se ele mesmo começar e vos oferecer uma se reuniam principalmente em torno da mesa. Jantares te papel nas negociações que se sucederam à guerra, Tarouca. Chegou em seu iate e o conde foi buscá-lo,
ocasião, o faça saber que eu concorro ao que ele me pro- íntimos ou festas espetaculares eram momentos ím- convivendo intensamente com dom Luís da Cunha. com toda a pompa, em três carruagens puxadas por seis
pôs por um intermediário de seu amigo”.132 pares para estabelecer os contatos, tanto intelectuais O príncipe era também um savant ilustrado, possuía cavalos cada.146 Os dias de Eugênio em Utrecht foram
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Dom Luís da Cunha
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na conta dos reparos de guerra. O convite do rei, apa- As relações de amizade entre ministros de dife-
rentemente espontâneo, era não só uma deferência a rentes cortes eram passaportes com que podiam es-
dom Luís, enquanto embaixador português, como fazia tabelecer redes pessoais conectadas com seus países
transpirar certa camaradagem entre os dois.150 Observa- de origem. Os embaixadores eram, dessa maneira, os
-se que a conversa desenrolara-se durante quatro horas, primeiros anfitriões dos que, do exterior, pretendiam
tempo suficiente para ele expor seu ponto de vista e ser passar para o país que os mesmos representavam ou
capaz de influenciar seu interlocutor. simplesmente se conectar com membros da elite do país
A sociabilidade à mesa se sucede em sua vida di- que serviam. Dom Luís, por exemplo, escrevia cartas
plomática. Em 1736, quando servia em Haia, cuidava de de recomendação àqueles a quem se sentia obrigado a
espinhosos assuntos em torno do bloqueio estabelecido retribuir a amizade, e a mesa era muitas vezes o teatro
pelos espanhóis na Colônia do Sacramento e do resta- dessa retribuição. Assim, por exemplo, quando o conde
belecimento das relações diplomáticas com a França, de Huescar, embaixador espanhol em Paris, retornou
preparando-se para ali assumir o posto de embaixador. a Madri, em 1749, dom Luís o recomendou por carta a
Numa quarta-feira do mês de agosto, foi jantar em sua Tomás da Silva Teles, embaixador português na cidade,
casa o embaixador inglês, Trevor, quando então aprovei- pedindo a este também que, quando o conde chegas-
tou-se para se inteirar das novas dessa corte. Em Paris, se, lhe desse um abraço, pois era muito seu amigo.154 Página de rosto
em 1746, embrenhado nas articulações para que Portugal De posse dessa recomendação, Silva Teles respondeu do Tratado de pax
entre o muito alto,
fosse mediador no Congresso de Breda e ele o seu repre- que o conde ainda não chegara a Madri, pois se encon-
O príncipe francês e muito poderoso
Eugênio de Saboia
sentante, sua mesa era ponto de encontro e articulação trava em Aranjuez, em audiência com os monarcas, mas Príncipe D. João,
desempenhou política.151 Nela se sentaram dois dos principais ministros que “nesta semana determino dar-lhe de jantar e as o V... e o muito alto,
importante papel franceses, artífices da política da época. “Mr. Argenson suas irmãs e cunhadas e dar princípio a comunicação e muito poderoso
nas negociações Príncipe D. Filipe
viera jantar a esta casa e pouco depois chegara mr. de mais particular como tenho com os seus parentes to-
depois da Guerra V... Rey Catholico
da Sucessão Chavigny.”152 O primeiro ocupava o cargo de ministro dos”.155 Dessa forma, o círculo se completava e a mesa se de Hespanha
Espanhola. dos Negócios Estrangeiros e o segundo havia sido embai- mostrava mais uma vez como elemento que interligava (Utrech, 1715).
xador francês em Lisboa. Dom Luís aproveitou-se para os membros da República das Letras.
cheios. No primeiro, jantou na casa de Aníbal, conde de informá-los da posição portuguesa nos conflitos com os Os jantares que ofereceu em Paris, em nome de na embaixada portuguesa para comemorar o nascimen-
Maffei, diplomata da corte de Saboia, e tomou a sopa na espanhóis e instruí-los sobre o desejável para dom João V. dom João V, foram memoráveis e visavam demons- to do 4º. infante de Portugal.159 A mesa constitui mais
casa de seu anfitrião, onde assistiu a uma comédia. No D’Argenson, por sua vez, dá notícia de um grande trar à sociedade parisiense a grandeza do monarca que uma vez um momento ímpar de sociabilização festiva.
segundo, jantou na casa de Passionei, e novamente to- jantar que ofereceu a dom Luís da Cunha, em março de ele representava. Por isso, vários deles foram noticia- Festas que “não serviam tanto para o prazer dos convi-
mou a sopa com Tarouca.147 Essa geografia da mesa re- 1737, quando se encontrava na expectativa de ser no- dos no Mercure de France, importante gazeta literária dados, mas para exibir a grandeza, o grandeur de seus
flete a “relação directa [estabelecida] entre as vivências meado embaixador em Lisboa. Além de dom Luís, fo- da República das Letras europeia. O número de de- organizadores”, e, no caso dos embaixadores, refletiam
sociais e os contatos políticos estabelecidos”.148 ram convidados Francisco Mendes de Góis e Gonçalo zembro de 1721, por exemplo, noticia um grande jan- a do monarca a quem serviam.160
Em 1716, estando nos Países Baixos, dom Luís foi Manuel de Lacerda, ambos a seu serviço, como enviados tar em sua casa, com cinco serviços de peixe à escolha
Finalmente, em edição de dezembro de 1749, dom
jantar na casa do rei Jorge I, que se encontrava na corte da embaixada portuguesa.153 Mendes de Góis, por essa dos convidados, todos de primeira distinção.156 Em
Luís aparece na seção de obituários, por sua morte,
de Hanôver. É importante atentar de que foi o embaixa- época, havia estreitado relações com o cardeal Fleury, janeiro de 1722, é a vez de dom Luís ser um dos con-
ocorrida no dia 9 de outubro. A nota destaca o fato de
dor espanhol quem deu notícias do acontecido, a partir primeiro-ministro francês, e era uma figura vista de vidados ilustres no batizado do filho de Pedro Nolasco
que ele pertencia à Ordem de Cristo; que era embaixador
de uma carta chegada em Lisboa, na qual informa que forma ambígua por D’Argenson e outros membros da Convay, grande financiador das despesas do rei de
português junto à Sua Majestade, o rei Luís XV; que, na
“o ministro [dom Luis da Cunha] saiu a cumprimentar a corte, que creditam a Mendes o insucesso de sua embai- Portugal na França, e a cerimônia, cercada de pom-
qualidade de ministro, servira em várias cortes; que fora
marcha a SMde. que estava para ceiar e lhe mandou sen- xada. De fato, não ficava muito claro quem era espião de pa, é minuciosamente descrita no periódico.157 Logo
tar-se à sua mesa e depois teve uma larga conferência, quem, se Fleury se aproveitava de Mendes ou vice-versa no início do ano de 1723, noticia-se sua eleição, junto plenipotenciário em Utrecht e que “era o deão de todos
que durou cerca de quatro horas, pertencente a estes (o mais provável é que a espionagem ocorresse dos dois com André de Melo e Castro, conde das Galveas, como os embaixadores e ministros da Europa”.161 Mesmo na
negócios”.149 O assunto em questão era um desdobra- lados). O jantar servia não só para D’Argenson estreitar membro supranumerário da Academia Real da História morte, dom Luís torna público, perante toda a socieda-
mento do texto do tratado assinado com os espanhóis seu contato com os representantes de Portugal, e assim em Portugal, atestando sua inteligência e capacidade de parisiense, não só a sua importância enquanto par-
em Utrecht. Discutia-se a disputa em torno de navios mover as engrenagens para efetivar a sua nomeação, intelectual frente a toda a sociedade de letras euro- tícipe dessa sociedade de letras, mas a pompa, o luxo e
castelhanos confiscados, no Rio de Janeiro, em mar- mas também para que antecipasse uma boa recepção peia.158 No mesmo ano, a gazeta estampa, com grande a riqueza de dom João V, rei magnânimo e erudito, do
ço de 1704, e que os portugueses não queriam incluir quando chegasse na corte lisboeta. riqueza de detalhes, a festa que dom Luís deu em Paris qual ele era o legítimo representante.162
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JEAN-BAPTISTE BOURGUIGNON
D’ANVILLE
Oráculo da geografia iluminista

Geógrafos, como D’Anville, herdeiros m 1802, no elogio escrito à Notice des


de uma geografia de matiz renascentista, Ouvrages de M. D’Anville,1 o barão
Joseph Dacier afirmava sobre Jean-
confinados em seus gabinetes na Europa,
-Baptiste Bourguignon d’Anville que “os
produziam mapas de grandes extensões de savants, os viajantes, as pessoas esclarecidas de todos os
terra — países, continentes, planisférios — níveis e de todos os países, mesmo os príncipes de seu
a partir da consolidação de informações tempo, por seu desejo de contribuir para o progresso da
retiradas de fontes diversas. Geografia” o tinham como um oráculo da Geografia.2
Para atestar sua enorme contribuição ao desenvolvi-
mento da matéria, a Notice lhe atribuía a autoria de mais
de 211 mapas, manuscritos e impressos, e de 23 obras de
natureza geográfica, além de uma impressionante cole-
ção de mapas que atingia cerca de 6 mil itens.3
Ao lado, D’Anville,
placidamente sentado Tal como esse elogio escrito por Dacier, ao longo de
à mesa de trabalho: sua vida e mesmo após a morte, D’Anville foi alvo de uma
um geógrafo pensador
e não um oficial mecânico. série de comentários que exaltavam sua competência
Acima, Luís XVI instrui profissional. Parte significativa da comunidade intelec-
o conde de La Pérouse, tual, para além da França e de seu próprio tempo, apon-
em 1785, de partida para
o mar do Sul, com o auxílio tou o importante papel que ele desempenhou para a arte
de um mapa de D’Anville. da geografia e da cartografia do século XVIII. Condorcet
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Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Oráculo da geografia iluminista

(1743-1794) afirmou “que todas as nações concordam em articulada por ele, consoante os tempos em que vivia,
o considerar o primeiro geógrafo da Europa”.4 O cardeal na qual os intelectuais de baixo nascimento procuravam
Dominique Passionei, conservador da Biblioteca e fun- ascensão social, construindo suas carreiras a partir de
dador do Museu do Vaticano, que manteve correspon- um talento. Vejamos.
dência com D’Anville, o denominou o “deus da geogra-
fia”,5 justificando o título pelo fato de que “em sua obra
se podia encontrar um grau de perfeição, buscado em vão Um geógrafo de gabinete
nas demais”.6 Diderot (1713-1784) tinha-o em alta con-
ta e, por essa razão, D’Anville foi um dos escolhidos para Jean-Baptiste Bourguignon D’Anville foi o último
contribuir nos verbetes da Encyclopédie, tendo escrito de uma extensa sucessão de grandes geógrafos franceses
sobre os ventos etésios.7 Em seu Plan d'une université de gabinete. Na França, como na Inglaterra, a criação de
pour le gouvernement de Russie, Diderot recomendou escolas militares de engenharia gerou a divisão dos pro-
que os alunos estudassem as obras de D’Anville no que dutores de mapas em dois grupos de especialistas, aos
dizia respeito à cartografia antiga.8 quais hoje denominamos indistintamente “cartógrafos”.
Em 1855, Vivien de Saint-Martin (1802-1897), Os engenheiros militares realizavam medições empíricas
fundador da Société de Géographie Française, ao fazer e faziam mapas de pequenas regiões, com a ajuda de ins-
um balanço do estado atual da cartografia europeia, por trumentos e a partir da observação direta. Já os geógra-
ocasião da Exposição Universal realizada em Paris, co- fos, como D’Anville, herdeiros de uma geografia de matiz
locou D’Anville num patamar superior, mesmo quando renascentista, confinados em seus gabinetes na Europa,
comparado a Cassini e Delisle. Não se tratava de um elo- produziam mapas de grandes extensões de terra — países,
gio qualquer. Jacques Cassini (1677-1756) e Guillaume continentes, planisférios — a partir da consolidação de
Delisle (1675-1726) descendiam de famílias tradicionais informações retiradas de fontes diversas.
de geógrafos e deixaram importantes e reconhecidos D’Anville nunca saiu de Paris. Na pintura que se acre-
trabalhos que contribuíram para a transformação da dita tratar-se de um retrato seu, sua figura e seu métier
arte da cartografia como um todo. Cassini concebeu o estão representados com bastante acuidade.14 Não se tra-
projeto e foi responsável pelo início do primeiro levan- ta de fidedignidade em relação a seus traços, sobre os
tamento topográfico da França,9 em uma planta que leva quais não se pode ter certeza, mas aos elementos simbó-
seu nome, “obra memorável que permanece o primeiro licos agregados à imagem. Nela, o geógrafo encontra-se
modelo dos grandes trabalhos corográficos executados placidamente sentado à mesa de trabalho. Suas vesti-
desde então na Europa”.10 Delisle, além da vasta obra mentas, com punhos de renda, e sua peruca, amarrada
cartográfica, destacou-se no desenvolvimento de formas por uma fita, indicam que ali está um savant, um gentil-
mais precisas para medir as longitudes e representá- -homem, um pensador e não um oficial mecânico, como
-las nos mapas.11 Para Saint-Martin, no que diz respeito por exemplo eram os gravadores e impressores de mapas.
à cartografia, enquanto “Delisle somente tocou os con- Outra imagem de D’Anville, uma litografia de Benjamin
tornos do conjunto e os contornos exteriores, D’Anville Duvivier, revela também um homem bem-vestido, com
abraçou todos os detalhes em sua diversidade infinita”.12 sua peruca exuberante, jaqueta bordada e seus babados,
O alcance de sua obra se deveu à capacidade do geógrafo mas sem referência direta ao seu ofício.15 Seu semblan-
em “associar a perfeita elegância do seu desenho, a pro- te tenso, contudo, revela alguém imerso em reflexões,
porção dos detalhes e a harmonia do conjunto à análise um verdadeiro inteligente de seu tempo. Uma escultura
aprofundada das fontes, à exatidão da nomenclatura e de D’Anville, que adorna a fachada do Hôtel de Ville de
à determinação rigorosa das posições”.13 Paris, apresenta o mesmo gentil-homem, com sua casaca,
Como dom Luís da Cunha, D’Anville cultivou a peitilho de renda, chapéu na mão. A estátua foi colocada Na gravura, Luís XIV com seu séquito
imagem de si como um oráculo da geografia, apresen- quando da reforma da fachada realizada no último quartel em visita imaginária à Academia
Royale des Sciences de Paris.
tando-se como um espírito inato para essa arte. Tal ima- do século XIX, e D’Anville foi entronizado ali juntamente
Método para estudar a geografia Abaixo, engenheiro militar desenha a
(1718), tratado científico de gem foi incorporada acriticamente pelos seus biógra- com outras grandes figuras do iluminismo francês, como planta de uma fortificação acompanhado
Nicolas Lenglet du Fresnoy. fos, mas fazia parte de uma estratégia cuidadosamente D’Alembert, Voltaire e Lavoisier. de dois auxiliares, c.1661.

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Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Oráculo da geografia iluminista

Nas três imagens, D’Anville não manipula ne- erudito, abstrato e não prático, afeito a um oficial letra- Ateliê de gravação.
Ilustração da
nhum mapa ou instrumento matemático, nem mesmo do e não a um oficial mecânico. Enciclopédia de
uma pena. Na escultura há um meio globo posiciona- A produção de mapas era atividade desempenhada Diderot, 1763.
do a seus pés e, na pintura, há um globo sobre a mesa, por diversos profissionais, “cada aspecto da produção Na página ao
lado, Interior
posicionado a seu lado, únicas referências ao mundo de mapas, do levantamento do território e da compi- com geógrafos e
da geografia. Na primeira, D’Anville olha para baixo e lação do material à impressão e distribuição, envolvia matemáticos, c.1680.
aponta a Terra; na segunda, ele é retratado com o olhar trabalho especializado e materiais aos quais valores
distante. O geógrafo parece refletir sobre o conteúdo eram agregados”.16 D’Anville, como geógrafo, estava no
do livro que está aberto à sua frente, como se o pintor topo hierárquico desses profissionais. Por essa razão, é
o tivesse flagrado no meio de uma leitura interessante. retratado em seu ateliê, que claramente não representa
Ao fundo, na prateleira, estão dispostos outros livros, uma oficina de produção de mapas. Essa imagem re-
cujos títulos não estão legíveis em suas lombadas. Não vela a natureza de seu trabalho e da metodologia que
se trata de uma oficina de impressão de mapas, nem de empregava. No trabalho cartográfico, sua função era a
uma aula régia de cartografia. O trabalho do geógrafo de compilar todas as informações geográficas disponí-
era bastante distinto daquele realizado por gravadores veis, colhidas por outros, submetê-las à crítica severa, e
e engenheiros militares. Geógrafos como D’Anville não traçar a carta que seria então impressa e comercializa-
imprimiam os mapas que desenhavam, nem realizavam da por terceiros. Para imprimir seus mapas, ele se valia
medições dos terrenos representados em suas cartas. de ateliês de impressão, com artesãos experimentados.
Os inúmeros livros dispostos nas prateleiras ao seu re- A especialização do trabalho cartográfico na França se
dor são referências ao grande volume de tratados, rela- refletiu na própria terminologia relacionada a essa ciên-
tos, memórias, entre outras publicações por ele coligidas cia, para a qual não se encontra similar exato na língua
para traçar seus mapas. Trata-se de um conhecimento portuguesa, pois em Portugal as divisões das funções
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Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Oráculo da geografia iluminista

dos grandes geógrafos franceses, não descendia de uma


família tradicional do ramo, apontando as possibilida-
des de ascensão nessa nova sociabilidade intelectual
das Luzes àqueles que fossem efetivamente capazes por
sua inteligência e habilidade. Era filho do comerciante
e mestre alfaiate20 Hubert Bourguignon e de Charlotte
Vaugon.21 Seguiu-lhe um irmão, apenas dois anos mais
novo, Hubert-François (1699-1773), dito Gravelot, de
quem se falará mais adiante;22 e um outro, o caçula,
de nome Paul, que se dedicou às finanças.23 D’Anville
e Gravelot, com pequena diferença de idade entre eles,
eram amigos e, mais tarde, trabalharam em conjunto.
Um e outro escolheram sobrenomes diferentes do pa-
terno. Isso não era raro no mundo intelectual das Luzes.
Foi assim que François-Marie Arouet se transformou
em Voltaire. Essa mudança de nome dos Bourguignon,
como no caso de Voltaire, “indica uma disposição para
trocar de pele e fazer tábua rasa do passado. Usar uma
pele nova iria distingui-lo simbolicamente do pai, da fa-
mília e das origens burguesas. Ornamentar o pseudôni-
mo literário com uma partícula indicativa de nobreza”,
no caso o D’, servia para “relacionar sua futura ativida-
D’Anville: o perfil de literária a um lugar no Mundo, o da elite do gosto,
de um geógrafo que era ao mesmo tempo a elite social”.24
gentil-homem,
em litografia de
A biografia de D’Anville é em grande parte conhe-
Benjamin Duvivier. cida a partir dos elogios escritos sobre ele após sua mor-
te, prática comum da tradição iluminista para cultuar
não se deram claramente e nem da mesma forma, já os grandes homens de intelecto e seus feitos.25 Vários mas nunca igualando-se a eles. O percurso de D’Anville Visão panorâmica
membros da Académie des Sciences e da Académie des de Paris no século
que os “cartógrafos” profissionais em atividade estavam representa exatamente esse tipo de trajetória.
XVIII, com a Pont
a serviço do Estado e eram engenheiros militares for- Inscriptions et Belles-Lettres foram alvos desses escri- Com poucos recursos para sustentar uma educa- Royal ao centro,
mados nas Aulas Régias. Assim, em francês, o ato de tos laudatórios.26 Lidos como exemplos de um gênero ção de qualidade, sem acesso aos estabelecimentos de e as galerias do
Louvre à esquerda.
lever um mapa diferenciava-se do dresser e do graver. literário e sob o signo iluminista, esses textos exagera- ensino restritos à nobreza e gentis-homens, D’Anville
O primeiro termo refere-se ao trabalho dos engenhei- vam na construção da imagem do self made man, da e Gravelot começaram seus estudos em uma peque-
ros militares que faziam o levantamento de campo e, por ascensão devida apenas ao talento inato do indivíduo na escola, um pensionato27 de nome desconhecido.
isso, “levantavam” (lever) as informações para o mapa; oriundo de camadas sociais hierarquicamente inferio- Segundo seus biógrafos, bem cedo Jean-Baptiste mos-
o segundo, ao ato de produção ou de desenho (dresser)17 res. As trajetórias de D’Anville e de seu irmão se presta- trou aptidão para o estudo da cartografia e interesse na
da carta, de responsabilidade dos geógrafos; e o tercei- vam bem a esse gênero, mas é preciso ler as informações geografia, tendo, por iniciativa própria, começado a co-
ro, ao processo de impressão (graver), atividade reali- escritas nas suas biografias de época com cuidado e a piar alguns mapas. A vocação foi descoberta por acaso,
zada pelos ateliês de impressão.18 contrapelo, pois sem um patronato de peso, especial- “quando uma carta geográfica tombou sem querer entre
mente o régio, isso não era possível. Na verdade, fazia suas mãos, quando ele não tinha mais que doze anos,
parte da nova sociabilidade da época que esses oficiais dando-lhe ocasião de manifestar seu gosto pela geogra-
Origem e formação letrados, sob o mecenato de poderosos, ascendessem, fia”.28 Entre os 12 e os 15 anos, D’Anville realizou seu
colocando seu intelecto a serviço do Estado, encontran- primeiro mapa, terminado em 1712. Tratava-se de uma
D’Anville nasceu em Paris, a 11 de julho de 1697, e do reconhecimento e local para o exercício do seu ta- pequena Carte de la Grèce antiga, onde o autor desta- Carte de la Grèce
Antigue, concluída
morreu na mesma cidade, em 1782, aos 85 anos de ida- lento nas Academias. Ali, os intelectuais distinguiam-se cou as principais regiões e cidades. Nela, D’Anville já
por D'Anville,
de.19 Sua origem não era nobre e, contrariando as dinastias do restante da sociedade, alinhando-se aos poderosos, teria manifestado a inclinação à qual se dedicaria mais em 1712.

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Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Oráculo da geografia iluminista

Collège des Quatre tarde, tornando-se para ele “uma espécie de paixão” escritos biográficos, merece considerações. Em primei- os quais Voltaire, figura central desse ambiente.32 Criança sociabilidade necessária, principalmente aos que, como
Nations, fundado conjugar a história e a geografia. Assim, pôs-se a estu- ro lugar, eles não preenchiam os requisitos sociais para prodígio que fora, o próprio Longuerue (1652-1733) era D’Anville, vinham de baixo. Era nesses salões, muitos
pelo cardeal Mazarin
(ao lado), primeiro- dar o percurso dos exércitos e a encontrar os campos de tal. Além disso, o custo para mantê-los ali era muito mais considerado uns dos maiores savants de seu tempo.33 deles capitaneados por mulheres, que se entrecruzavam
-ministro francês batalha, entre outros resquícios da civilização grega.29 elevado do que os ganhos esperados para um alfaiate, Dominava o latim, o grego e as principais línguas orien- o mundo da corte, da vida intelectual e os divertimen-
até 1661.
Na verdade, como destaca o próprio D’Anville, os dois apesar de D’Anville ter dito que o pai não poupara gastos tais e se dedicou ao estudo da filosofia, da antiguidade sa- tos mundanos. D’Anville, por exemplo, era um habitué Na página seguinte,
leitura da tragédia
irmãos mostravam aptidões para o desenho, mas Jean- na educação dos filhos.31 Com certeza, desde o ingres- cra e profana e das belas-letras, tendo sido autor de várias do salão de madame Geoffrin, na rue de Saint-Honoré,
L’Orphelin de la
-Baptiste era mais afeito a cumprir uma educação for- so, as crianças contaram com algum protetor influente, obras versando sobre esses temas.34 Foi o abade que des- um dos mais célebres de Paris. Um quadro da época Chine, de Voltaire,
mal que o mais jovem. talvez o abade Longuerue, o qual, sabe-se, mais tarde pertou D’Anville para a junção da história e da geografia, retrata um desses encontros semanais, no qual esteve no salão de madame
Geoffrin, em 1755.
As habilidades dos dois meninos abriram-lhes as protegeu D’Anville. Seus biógrafos insistem em fazer pa- cuja expressão se encontrava na cartografia, tornando-se presente a nata da inteligência parisiense, muitos de- Na assistência,
portas do Collège des Quatre-Nations,30 um dos que recer natural e simples essa ascensão pelo talento, bem seu primeiro protetor quando ele resolveu dedicar-se in- les sócios da Académie Royale des Sciences de Paris. entre outros
expoentes do
compunham a Universidade de Paris, também conhe- ao gosto iluminista, mas tudo indica que o abade Louis tegralmente a essa arte.35 Longuerue também reunia um Além de D’Anville, pode-se ver Rousseau, D’Alembert, Iluminismo francês,
cido como Collège Mazarin, pois sua fundação se deveu du Four de Longuerue, seu grande instrutor na arte da prestigioso salão ilustrado, do qual D’Anville logo se tor- Fontenelle, La Condamine, Helvétius, Reaumur, reuni- como La Condamine,
ao cardeal Jules Mazarin. Este, ao morrer, deixou uma geografia, tenha lhe determinado o caminho profissional nou um dos partícipes.36 dos em torno de um busto de Voltaire.37 Rousseau, Diderot,
Montesquieu
herança a fim de que se estabelecesse um colégio, cujos a seguir, supervisionado seu trabalho desde a confecção Frequentar os salões parisienses era atividade fun- D’Anville completou sua formação em retórica no e D’Alembert,
primeiros sessenta alunos eram gentis-homens ou no- do primeiro mapa e o protegido para entrar no colégio. damental para os savants iluministas. Neles, não se Collège des Quatre-Nations, mas Gravelot, menos afeito encontra-se D’Anville
(à mesa, ao centro,
bres vindos das quatro províncias francesas. O ingresso Ao se mostrar interessado no estudo da cartografia, discutiam apenas assuntos de natureza intelectual, es- aos estudos, abandonou o colégio no terceiro ano para se com a mão sobre
dos meninos no colégio, apesar de parecer natural em D’Anville foi introduzido aos savants parisienses, dentre pecialmente os científicos, como também se forjava a dedicar ao desenho livre. O destino voltaria a reuni-los o joelho).

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O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Oráculo da geografia iluminista

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quando Gravelot, ao acompanhar o novo governador de


São Domingos, o cavaleiro de Rochalard, foi encaminha-
do para auxiliar o engenheiro Frézier, chefe dessa colônia
em 1719. Frézier e Gravelot desenharam um mapa da
ilha que, por sua qualidade, foi impresso. Pela primeira
vez o irmão dedicava-se à cartografia, já então paixão de
D’Anville,38 que, em 1730, desenhou um segundo mapa
de São Domingos a partir do de 1719.39 De volta à França,
Gravelot não se dedicou diretamente à cartografia, mas
ao desenho, realizando muitas das cartelas dos mapas de
D’Anville, inclusive a da Carte de l’Amérique méridionale.
A formação de D’Anville como geógrafo, por não
ter tido acesso à educação jesuítica, a que pertenciam os
Carta circular
em que D'Anville grandes mestres dessa ciência na França,40 e por não ter
utilizou o cursado os Cursos Régios de Hidrografia, não se aproxi-
método do seu
professor François mava da obtida pela maioria dos geógrafos ou engenhei-
Chevallier para ros militares de seu tempo. De fato, restou-lhe a educação
o levantamento
topográfico de particular, sob orientação de Longuerue, mas também é
locais específicos. certo que se valeu de estudos realizados no Collège de
France. Ali, deve ter sido aluno de François Chevallier,
que ministrava aulas de geometria, aritmética, arte de
fortificações, navegação e óptica.41 Chevallier, em 1707,
criou um novo método de ensino de cartografia por cor-
respondência, em substituição ao método de triangula-
ção, mais sofisticado, que demandava conhecimento e
instrumentos astronômicos especializados. Era perfeito
para ser aplicado por leigos interessados. O método era
“econômico e simples [pois permitia] desenhar uma carta
com a ajuda de um chassi orientado segundo suas am-
plitudes, fortemente elogiado por Fontenelle”, secretário
perpétuo da Academia da qual Chevallier era sócio.42
As primeiras cartas impressas de D’Anville foram
produzidas exatamente para compor o livro de seu
protetor, o abade Longuerue, intitulado Description
Folha de rosto
historique et géographique de la France ancienne et
do livro do abade
Longuerue, em 1719, moderne.43 Os esboços manuscritos do livro foram
na qual D'Anville apresentados ao rei, futuro Luís XV, ainda durante sua
teve suas primeiras
cartas impressas. menoridade, pelo próprio abade em 1718.44 Continha
Na página seis mapas produzidos por D’Anville e o rei parece
seguinte, o pequeno ter se impressionado com o seu trabalho cartográfico,
rei Luís XV em aula,
sob a supervisão pois o nomeou para assistir Delisle, que o instruía na
do cardeal Fleury arte da cartografia e da geografia histórica, segundo o
e do duque Philippe
de Orléans. projeto de ensino traçado por um de seus preceptores, o
À direita, um de duque de Bourgogne.45 Chevallier, nomeado professor
seus preceptores —
D'Anville talvez? —
de matemática do rei em 1717,46 deve ter aprovado a esco-
apresenta um mapa. lha de seu jovem pupilo. D’Anville então produziu, para
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Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville
Oráculo da geografia iluminista

a instrução privada do rei, sua primeira carta sobre


a França antiga (1719) — a Gália.47 A função do mapa
era tornar inteligível o estudo que o rei fazia de Les
commentaires de César (Os comentários de César),48
realizando a associação entre história e geografia.
A partir de então, D’Anville passou a participar
como auxiliar da educação do jovem delfim, juntamente
com Hermand, matemático e engenheiro-mor do reino.
Sua especialidade era a geografia histórica, produzin-
do mapas que ilustravam e ajudavam o ensino dos fatos
históricos, como as campanhas de César ou a formação
territorial da França desde a Gália. O quadro que mos-
tra Luís XV recebendo uma lição destaca a importância
da geografia e da cartografia na formação do jovem rei Retrato do conde
Carl Gustaf Tessin
e do domínio da geografia como parte fundamental de (1695-1770):
uma educação superior. Todos os monarcas ilustrados, pintura típica
da época revela
tais como dom João V, Pedro o Grande, Luís XIV, Luís a importância
XV ou Luís XVI, receberam aulas de geografia na in- da geografia
na formação
fância e, mais tarde, se tornaram importantes patronos iluminista
dessa matéria. No canto direito da imagem, um dos seus dos nobres.
preceptores — D’Anville talvez? — apresenta um mapa;
a seus pés, bem como na mesa em frente ao delfim, geógrafo do rei, o primeiro de uma longa lista ostentada ao
encontram-se dispostos todos os instrumentos neces- longo de sua carreira.54 Foi ao futuro Luís XV que ele de-
sários ao aprendizado da geografia.49 dicou essas suas primeiras cartas. No ano mesmo da ou-
Em 1719, com a idade de 22 anos, D’Anville se tor- torga do título, D’Anville produziu um outro mapa. Dessa
nou geógrafo do rei da França,50 recebendo o título de vez, dedicado ao então duque de Orléans (1674-1723)
engenheiro e geógrafo ordinário do rei, concedido aos — Philippe — primeiro príncipe de sangue e regente da
engenheiros de campo e da armada e aos que produzis- França. O mapa representava o reino de Aragão.55 A estra-
sem cartas geográficas de qualidade.51 O cargo era ho- tégia utilizada por D’Anville — de dedicar seus primeiros
norífico, nem sempre resultava em remuneração direta trabalhos aos dois homens mais importantes da França
dos cofres régios, mas conferia grande prestígio. Quando — rendeu os frutos esperados e ele pôde usufruir do me-
concedidas, as pensões variavam “em torno de 100 a 400 cenato de ambos, fundamental em sua carreira. O patro-
livres por ano”.52 O título era ofertado aos que tivessem nato, especialmente o régio, fazia parte das estratégias de
produzido pelo menos um documento cartográfico apro- ascensão dos oficiais letrados na República das Letras
vado e considerado bom pelo rei. Dacier destaca que a europeia. A nova edição de 1722 do livro de Longuerue
aptidão de D’Anville era tão evidente, que o título lhe foi acrescida de mais quatro mapas de D’Anville, apre-
foi concedido sem que ninguém conhecesse uma obra sentando os Países Baixos, a Alsácia e a Lorena, a Suíça e
de sua autoria.53 No entanto, há indícios de que o título a Savoia, e as províncias de Lyon e Borgonha.56
lhe foi outorgado em reconhecimento ao mapa da Gália, D’Anville bem cedo prestou serviço à casa de
feito para uso privado do rei, além dos seis mapas produ- Orléans. Primeiro sob o apoio de Philippe e, a partir
zidos para a Description historique et géographique de de 1723, para o novo duque — Luís, o Piedoso (1703-
la France ancienne et moderne, de Longuerue. Se o pú- 1752) —, protetor das ciências e das artes em geral, o
Na página ao
blico ainda não conhecia seu trabalho, o rei dele tomara que incluía a geografia, um dos conhecimentos fun- lado, cardeal de
conhecimento desde o ano anterior. damentais na formação da nobreza, dos príncipes e do Fleury, tutor,
regente e primeiro-
De fato, quando o livro veio à luz, em cada uma das próprio rei. “Os Bourbon não cessarão de se interessar -ministro durante o
seis cartas lia-se, impresso junto a seu nome, o título de pela geografia, por gosto ou por necessidade, porque reinado de Luís XV.

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O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Oráculo da geografia iluminista

‘conhecer a carta’ fazia parte da educação do príncipe,


como do homem cortês”.57 O geógrafo começou como
instrutor do futuro duque, Louis-Philippe d’Orléans
(1725-1785), filho de Luís, o Piedoso, então duque de
Chartres. O plano de estudos do pequeno príncipe foi
traçado pelo marquês de Balleroi, seu tutor.58 Quando
tinha 11 anos de idade, com a supervisão de D’Anville, o
menino desenhou um mapa-múndi, que passou a fazer
parte da coleção do geógrafo. O príncipe também de-
senhou quatro cartas, correspondendo a cada uma das
partes do mundo — Europa, Ásia, África e América.59
Nas palavras do próprio D’Anville, este “grande prín-
cipe anima meus estudos pelas suas benesses”.60 Por
isso, muitas de suas cartas geográficas e obras impres-
sas foram dedicadas aos duques de Orléans, inclusive a
Carte de l’Amérique méridionale traçada segundo “o
Dois mapas
desejo deste grande príncipe”.61
com detalhes do Em 1725, com vistas a uma futura candidatura
continente africano,
na Académie Royale des Sciences de Paris, D’Anville
por D'Anville: ao
lado, a Etiópia apresentou aos acadêmicos “uma carta feita para o rei
oriental; e abaixo, de Portugal. Ela contém toda a África Meridional des-
os reinos de
Luanda, Congo, de o Equador, e leu um escrito onde ele a explica”.62
Angola e Bengala, Para quem até então se dedicara somente à geografia
desenhados sob
o mecenato de histórica da Antiguidade, esta era sua primeira inves-
dom João V. tida pelo campo da geografia moderna, ocorrida às ex-
pensas de dom João V e intermediada por dom Luís da
Cunha. Em novembro de 1726, voltou à Academia com
uma nova carta da França, examinada pelos acadêmi-
cos Maraldi e Chevallier.63 No mês seguinte, os exami-
nadores atestaram sua conformidade às mais recentes
observações das coordenadas de latitude e longitude e cesso em toda a sua obra cartográfica. Como todas as comprometeu a produzir três cartas gerais e algumas Jean Baptiste
concluíram “que estava corretamente e propriamente outras particulares da região, sendo uma “Carte générale Colbert apresenta
demais, a Carte de l’Afrique conhecerá várias edições
os membros da
desenhada e o detalhe das costas é preciso”.64 Mas o e correções sucessivas. Mais tarde, o geógrafo referen- de la Chine (1730), la Carte générale du Tibet (1733) et la Académie Royale des
primeiro grande mapa de geografia moderna produzi- ciará todas as suas fontes e a maneira como as subme- Carte générale de la Chine, de la Tartarie chinoise et du Sciences de Paris ao
rei Luís XIV, c.1667.
do por D’Anville foi uma Carte de l’Afrique, de 1727,65 teu ao rigor de sua crítica nas Mémoires da Académie Tibet (1734)”.69 Este trabalho colocou D’Anville em con-
cuja parte relativa à costa ocidental foi apresentada Royale des Inscriptions et Belles-Lettres. tato com os jesuítas, que eram, então, os maiores produ-
à Academia em janeiro do mesmo ano. Novamente, tores de conhecimento astronômico, cartográfico e de
Maraldi e Chevallier foram designados para seu exa- ciências naturais das regiões onde atuavam. Para a produ-
me.66 Buscando “uma combinação do antigo e do mo- D’Anville e os jesuítas ção dos mapas, Du Halde mostrou ao geógrafo tudo que
derno”, D’Anville reuniu os novos conhecimentos dizia respeito às observações astronômicas, realizadas
sobre o continente, sem deixar de mostrar, segundo No ano seguinte, em 1728, o jesuíta J.-B. du Halde se pelos jesuítas em suas missões no Oriente,70 contribuindo
ele mesmo, “o que interessava à antiguidade”.67 Para associa a D’Anville para produzir uma obra sobre a China com “esta clareza e esta exata justeza que lhe é conhecida”.71
isso, utilizou tanto as informações fornecidas pelos e a Tartária, reunindo as descrições de 27 jesuítas que ali Em 1737, Du Halde patrocinou a publicação, na Holanda,
novos viajantes, muitos deles portugueses, quanto as estiveram, intitulada Description géographique, histo- do Nouvel Atlas de la Chine, de D’Anville, com 42 mapas.
oriundas das autoridades da Antiguidade, como Plínio rique, chronologique, politique et physique de l’Empire Esse mesmo atlas foi aumentado e publicado em Paris, já
e Estrabão. Essa metodologia ele empregará com su- de la Chine et de la Tartarie chinoise.68 D’Anville se com 64 pranchas. Finalmente, em 1785, acompanhado
80 81
Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Oráculo da geografia iluminista

perfeição esta carta”.74 Para tanto, ele mesmo afirmou, entre essas duas ciências, destacando que “parece su-
“me servi [...] de muitas cartas dadas à luz pelos padres je- pérfluo recomendar particularmente o que é muito
suítas missionários naquele país”.75 As observações sobre geralmente conhecido, a necessidade de ser instruído
a forma de composição da carta também foram publicadas nesta Geografia, quando se quer ser na História”.79
num volume, sob o título de Observations géographiques “Durante toda a sua vida, D’Anville teve uma pre-
sur la carte du Paraguai par l’Auteur de cette carte.76 dileção pela geografia antiga”.80 Ele mesmo afirmou que
esse era “um objeto que para mim sempre foi precio-
so”.81 Em sua concepção, a geografia, como uma luz,
Académie des Inscriptions clarearia o conhecimento da história.82 Na gravura de-
et Belles-Lettres senhada por seu irmão Gravelot para ornar as páginas
de seu livro Géographie ancienne abrégée (1768),83 esta
D’Anville, que “chegou à geografia pela história, relação é explícita. Posicionada à direita da imagem, a
prolonga[ndo] uma corrente erudita e humanista”,77 se musa da geografia, com a mão esquerda, segura livros
destacou inicialmente na produção de uma cartogra- e mapas da Ásia, Europa e África; e, com a direita, le-
fia antiga, cuja produção foi animada por sua nomea- vanta uma tocha, iluminando o livro escrito pela musa
ção para a Académie des Inscriptions et Belles-Lettres. da história. Este se apoia nas costas de uma figura que
“Esta instituição, que se ocupa apenas de antiguidades representa o tempo, sugerido pela ampulheta ao seu
e de geografia antiga, resvala[va] por vezes também so- lado. Ao fundo, as pirâmides egípcias, as colunas gregas Académie des
Inscriptions et
bre a cartografia moderna”.78 Na Géographie ancien- e os castelos europeus são testemunhos do ininterrupto Belles-Lettres,
ne abrégée, ele afirmou a importância da associação curso da história. século XVIII.

O Paraguai, mapa
produzido por
D’Anville em
1733, a pedido do
jesuíta Du Halde,
para a coleção
Lettres édifiantes et
curieuses, écrites
des missions
étrangères.

da Description générale de la Chine, do abade Jean Gobien, procurador em Paris das missões jesuíticas na
Baptiste Gabriel Alexandre Grosier, D’Anville publicou
72
China. Em 1709, Du Halde assumiu a coordenação da
seu Atlas général de la Chine, corrigindo detalhes das coleção e, em virtude da bem-sucedida colaboração com
cartas precedentes, conforme observações mais recentes. D’Anville na cartografia sobre a China, ao preparar o vo-
A colaboração com Du Halde não se resumiu ao lume sobre as missões do Paraguai, convidou o geógrafo
Oriente. Em 1733, vinha à luz seu mapa do Paraguai, com- para produzir um mapa da região. Na ocasião, D’Anville
pondo o tomo nove das Lettres édifiantes et curieuses, escreveu ao religioso: “Não posso responder à honra
écrites des missions étrangères. Publicado em 34 vo-
73
que V. Revma. me fez de me encomendar uma Carta do
lumes, entre 1702 e 1776, a organização dessa gigantes- Paraguai, para entrar no Recueil des Lettres édifiantes,
ca obra ficou inicialmente a cargo do jesuíta Charles Le que por todos os cuidados que dependem de mim, fiz com
82 83
Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Oráculo da geografia iluminista

Na carta Orbis
Veteribus
Notus, de 1741,
D’Anville coligiu
o conhecimento
geográfico que os
antigos tinham
do mundo.

Na sua carta Le monde connu des anciens, de 1741,


ou na Orbis Veteribus Notus, D’Anville coligiu o conhe-
cimento geográfico que os antigos tinham do mundo.
Por sua dedicação ao estudo da antiguidade, associan-
do história e geografia, foi eleito, em 1754, membro da
Académie des Inscriptions et Belles-Lettres.84 A partici-
pação nessa Academia fazia parte do percurso típico de
um oficial letrado no seio da República das Letras eu-
ropeia, conferindo-lhe prestígio85 e abrindo-lhe novas
portas. Não sem orgulho, D’Anville passou a ostentar,
a partir de 1755, por concessão da Academia,86 na car-
tela de seus mapas, o título recebido, como se observa A geografia histórica era uma ciência cultuada desde o No dia 21 do mesmo mês, logo após sua admissão, A Palestina, por
na carta para a expedição de Annibal, desenhada para século anterior, e encontrou nessa Académie, entre os em nova seção da Academia, o marquês D’Argenson leu Jean-Baptiste
A gravura Bourguignon
ilustrar o Atlas de géographie ancienne pour servir à savants iluministas franceses do século XVIII, o espa- publicamente a carta do conde D’Argenson, comuni- D’Anville, 1768.
produzida por
seu irmão para l’intelligence des œuvres de Rollin. ço ideal para seu florescimento. Para seus acadêmicos, cando que o rei havia escolhido D’Anville para ocupar o
o livro Géographie A Académie des Inscriptions et Belles-Lettres cul- “a geografia e a cronologia são os dois olhos da histó- cargo de associado, conforme a indicação dos acadêmi-
Ancienne explicita
a concepção tuava o estudo das belas-letras, mas também da história, ria”.88 A geografia moderna ou as ciências da natureza, cos.90 Então, com toda a pompa e seguindo o ritual,91 “m.
de D’Anville: associada à geografia da antiguidade. Medalhas, moedas, no entanto, eram mais afeitas à Académie des Sciences, D’Anville, que estava num dos gabinetes da Academia, foi
a Geografia, como
uma luz, clareia inscrições, monumentos, mapas eram importantes obje- enquanto a Académie des Inscriptions se voltava para as introduzido na assembleia e tomou lugar na seção entre
a História. tos de seu interesse enquanto repositórios de memória.87 matérias do espírito.89 os associados”.92 Ele foi um acadêmico extremamente
84 85
Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Oráculo da geografia iluminista

l’Histoire romaine101, mas a culminância dessa carto- Inscriptions, D’Anville questiona se as milhas da via ro-
grafia da França antiga se deu em 1760, numa publi- mana seriam contadas a partir do centro de Roma, ou
cação dedicada ao duque de Orléans, acompanhada de a partir das suas muralhas, permitindo que a cidade se
uma ampla memória que desnudava todo o complexo reposicionasse relativamente a esse objeto;108 valendo-
processo de sua produção. Sua Notice de l’ancienne -se de medidas de triangulação que, por ordem do papa,
Gaule tirée des monuments romains,102 “em um volume haviam sido tomadas recentemente por engenheiros
in-4º., [era] obra repleta de pesquisas e de saberes”.103 com o uso de instrumentos matemáticos.109 Entre tan-
tos exemplares de cartas que se referem à Itália, em 1738
desenhou um mapa dos arredores de Roma e, em 1739,
Geografia e história uma carta da Itália antiga, “cujo objetivo foi traçar as vias
romanas”, para ilustrar o livro de Rollin, no qual se in-
Sua principal obra sobre a geografia histórica foi formava que, “na composição dessa carta, o autor mui-
Géographie ancienne abrégée. Publicada em 1769 e ree- to retocou a que está no segundo volume dessa obra”,110
ditada em 1775 e 1810, foi traduzida para o inglês em edi- mostrando o contínuo refazer da sua cartografia.
ções de 1775, 1795, 1801, 1806, 1810 e 1820, o que aponta Os mapas, ao longo do século XVIII, mesmo os que
para sua importância à época.104 Composta de três volu- se referiam à antiguidade, eram documentos em aber-
mes, sobre a Europa, Ásia e África, respectivamente, a to, sujeitos a contínuas modificações. A cartografia da
publicação condensava todo o seu conhecimento teórico Itália de D’Anville resultou, em 1744, na publicação de
sobre a geografia e a cartografia dessas regiões do mun- um novo mapa e de sua memória, intitulada Analyse
do. Como ele mesmo afirma na sua Introdução, o livro Géographique de l’Italie.111 Dedicada ao então duque
era produto de cerca de 15 anos de estudos e de inúme- de Chartres, a edição justificava-se, segundo o próprio
ras cartas sobre o mundo conhecido dos antigos.105 Era D’Anville, pois ainda que “muitos savants, igualmen-
dedicado a Louis Phélypeaux, conde de Saint-Florentin, te distinguidos pela erudição e pela crítica, tenham já
ministro e secretário de Estado, a partir de 1761.
Contudo, seu interesse pela geografia da antigui-
dade não se esgotava em si mesmo, constituindo-se
também num caminho para estabelecer relações com a
Milhas romanas, ativo,93 encontrando no seio dessa instituição o ambien- 1755, discorreu sobre a posição das vilas de Taurunum geografia moderna. Vejamos dois exemplos significati-
mapa que faz parte vos desse processo que se tornou intrínseco à sua obra.
te adequado para exercer sua habilidade no domínio da e Singidunum, antigas vilas romanas, na atual Sérvia
dos estudos de
D’Anville sobre geografia histórica, expressa em inúmeros mapas, me- (Belgrado); em março, leu uma memória sobre um mo- O primeiro diz respeito à sua famosa carta do Egito, re-
cartografia antiga. mórias e livros sobre o tema. Sete dias depois de assumir numento persa esculpido numa montanha do Medie; alizada a partir da compilação de um conjunto de infor-
o cargo, realizou a “leitura de uma memória de sua com- em abril, o assunto era a posição da Babilônia e, em mações oriundas da antiguidade e também de observa-
posição, na qual pretendia fazer ver que as nascentes do maio, as medidas chinesas de itinerário.97 Todas essas ções feitas por viajantes, inclusive o conhecimento atua-
Nilo não são ponto ainda descoberto”.94 No início de discussões e outras tantas que ele fez nos anos seguintes lizado sobre as nascentes do Nilo, tema que mobilizava os
julho, leu sobre medidas antigas, entre elas o sehoene resultaram em memórias e mapas publicados, em gran- savants da época. Essa carta foi considerada “muito
egípcio e o stade grego,95 que despertaram muito inte- de parte, nas Mémoires da Académie des Inscriptions et mais exata que a dos seus predecessores”, tornando-se
resse e foram amplamente discutidas pelos acadêmicos.96 Belles-Lettres.98 “de grande ajuda à expedição organizada por Napoleão”
O esclarecimento dessas medidas era fundamental para Na Academia, D’Anville “assentou as bases do co- no século seguinte.106 Nessa obra de D’Anville, segundo
atingir a perfeição na cartografia histórica, pois muitos nhecimento da antiga França e permitiu aos acadêmi- Dacier, “a geografia antiga e a geografia moderna se ilu-
dos documentos e mapas antigos eram utilizados pelos cos (...) desenvolver o conhecimento da geografia dos minavam e se retificavam uma pela outra”.107 Pela correção
do posicionamento
eruditos como fontes. Realizar a correspondência entre gauleses”.99 Ao longo do tempo, valendo-se de varia- O segundo exemplo refere-se à sua Carte de l’Italie de toda península
estas e as modernas era imperativo para aprofundar o das fontes históricas, produziu inúmeras cartas sobre que, tratando não só da geografia da antiguidade da pe- itálica, a obra
Analyse
conhecimento geográfico, especialmente na feitura dos a Gália antiga. Cada nova versão era “mais detalhada nínsula, como também da moderna, obteve várias ver- Géographique
novos mapas, e ocupava grande parte do tempo dos aca- que a precedente”,100 e mais aperfeiçoada. Um exemplo sões. Fiel ao seu método, para produzir a cartografia da de L’Italie foi
considerada uma
dêmicos. Em novembro de 1754, D’Anville apresentou interessante é o da carta que compôs em 1745, para o região, D’Anville mesclou documentos antigos e con- das obras-primas
um texto sobre a posição do lago Moerin; em janeiro de segundo volume da obra de Charles Rollin, Abrégé de temporâneos. Na memória apresentada na Académie des de D’Anville.

86 87
Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Oráculo da geografia iluminista

trabalhado sobre a geografia da Itália, esta nova obra não Itália, em 1744, observou que “há um grande intervalo
parecerá supérflua”.112 Em uma das cartas que acompa- entre o que é chamado geografia antiga e o estado atual,
nhava o livro, o geógrafo destacou as diferentes confor- para que a passagem de um a outro seja imediata”. As
mações que Sanson, Delisle e ele imprimiram à região, mudanças ocorridas na Europa depois da queda do
deixando claras as mudanças que fizera em relação às Império Romano eram tão significativas que ele desta-
representações anteriores. Sua principal contribuição cou que “deveria existir um estado médio, que antecede
foi a correção do posicionamento geográfico de toda a e prepara o de hoje em dia”.114 Sua reflexão se aprofun-
península itálica, e muitos consideraram esta como uma dou quando se dedicou, em 1771, ao estudo dos États
de suas obras-primas.113 formés en Europe après la chute de l’Empire romain
Para a história, a grande contribuição de D’Anville en Occident.115 Assim, ao se dedicar à realização de um
foi ter destacado a existência de um período que guar- grande manual de geografia, em 1777, sua reflexão sobre
dava suas próprias peculiaridades, entre a queda do a existência de uma Idade Média já estava amadurecida.
Orbis Romani Império Romano e a Era Moderna. A reflexão sobre o Segundo ele, em sua época, era “comum não falar com
pars occidentalis,
publicado tema se desenvolveu paralelamente à confecção de sua distinção da [idade] antiga da moderna”. Mas, para ele,
na coletânea cartografia histórica, acompanhando o processo de trans- a existência dessa Idade Média se justificava “pela falta
Géographie
Ancienne, de
formação dos Estados europeus após a queda do Im- de um estado [unitário] intermediário muito considerá-
D’Anville. pério Romano. Ao se debruçar sobre a configuração da vel” e pelo surgimento “das nações chamadas bárbaras,
que se estabeleceram sobre a fragmentação do Império
Romano, tanto no Ocidente, quanto no Oriente”. Ele via
nessas entidades “a fundação de novos Estados, mais
Parte dos papéis
ou menos conforme eles são atualmente” e ressaltava
geográficos de
as especificidades desse período em relação ao que lhe D'Anville com
era anterior e o posterior. Propôs então, em relação a anotações para o
Mapa do Paraguai.
esse tempo, que “teria a duração de mais ou menos mil
anos, (...) chamar Idade Média”.116 E apontou o fato de homens e da marca do tempo, ambas simbolizadas pela D’Anville utilizava como fontes para reformar sua carto-
que “para que a mudança nesses objetos [Estados euro- ampulheta e pela foice presentes na gravura produzida grafia dos novos mundos.126
peus] se faça perceber, é suficiente lançar os olhos so- por Gravelot para ornar suas Considérations générales Gibbon foi um leitor atento da obra de D’Anville, a
bre a carta que tem por título Germanie, France, Italie, sur l’étude et les connaissances que demande la qual julgava “exata”, “singular e sensata”.127 Em sua bi-
Espagne, Isles Britanniques, dans un âge intermédiaire composition des ouvrages de Géographie. O inglês blioteca possuía 18 obras do geógrafo, entre memórias
de l’ancienne Géographie et de la moderne”.117 Porém, Edward Gibbon foi o historiador que melhor compre- e mapas, destacando-se as análises geográficas das car-
ao se debruçar sobre a geografia da Rússia, do Império endeu essa lição de D’Anville,122 que se tornou um dos tas da Grécia, Itália, Índia, Gália, Rússia, China, Egito
Turco e do Bizantino, D’Anville se deu conta de que a eixos centrais de sua The history of the decline and fall e Império Turco; a obra teórica sobre o estudo da geo-
Idade Média não era privilégio apenas da Europa, tendo of the Roman empire.123 grafia; e dois atlas de cartografia antiga e moderna.128
igualmente ocorrido no continente asiático.118 Gibbon, para quem “William Delisle [era] o príncipe As citações que Gibbon dedicou a ele em seu livro des-
Se a geografia era até então basicamente uma ciência dos geógrafos, até o aparecimento do grande D’Anville”,124 tacam a importância do geógrafo para seu sistema de
descritiva, pode-se dizer que D’Anville foi precursor de encantou-se com o seu trabalho e a ele dedicou o maior pensamento, que concebia a história e a geografia como
uma geografia de natureza humana, pois percebeu que número de citações, “dezoito no total, mais do que para indissociáveis, ambas transformando-se ao longo do
o espaço mudava conforme as transformações operadas qualquer outro autor individualmente. E a extensão des- tempo pela ação humana. Ao se referir ao império de
pela sociedade ao longo do tempo, na forma de “revo- sa apropriação indica uma relação destinada a fortemen- Carlos Magno, Gibbon cita o livro de D’Anville, États
luções espantosas que mudaram a face quase inteira da te influenciar Gibbon”,125 autor que viu seu interesse ser formés en Europe après la chute de l’Empire romain
Terra”.119 Dedicando-se “a construir um edifício imen- despertado pela geografia, conectando-a com a história, en Occident, que julga “conciso, mas correto e origi-
so da geografia de todas as idades”,120 demonstrou que durante um grand tour que incluía Paris, Suíça e Itália. nal”, e cujo mapa seria indispensável para o estudo
“os movimentos que sacudiram as nações nas migrações Em Paris, onde esteve em 1736, assistiu às reuniões da desse período.129 Quando se debruça sobre Bizâncio,
que elas sofreram são uma parte essencial das pesqui- Académie des Inscriptions e teve contato com a República afirma que “um bom mapa que cobrisse a última era
sas a serem feitas em geografia”.121 Para ele, a geogra- das Letras parisiense e seus grandes viajantes/explorado- do império bizantino seria de grande utilidade (acres-
fia, tanto quanto a história, era inseparável da ação dos res, como Bougainville e La Condamine, os mesmos que centamento) para a geografia”. Mas, como D’Anville
88 89
Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Oráculo da geografia iluminista

Vista de Paris no já estava morto a essa altura, exclama: “Mas, alas! tinha cerca de 10 anos133 e foi ele quem, após a sua morte,
século XVIII, por D’Anville não mais!”.130 continuou a feitura do catálogo e a organização da cole-
Turgot. Os marcos
visíveis são o palácio ção de mapas que o geógrafo vendera ao rei.134
do Louvre, as No final do século XVIII, a arte da cartografia havia
Tulherias e a Pont
Royal sobre
O método de D’Anville se transformado a ponto de a geografia de gabinete en-
o rio Sena. trar em declínio, mas a origem e a formação de D’Anville,
O método cartográfico de D’Anville, chamado de que o levaram a uma trajetória relativamente afastada
gabinete, era herdeiro da tradição de geógrafos que lhe das tradicionais casas de geógrafos franceses, também
precederam, e residia na habilidade de realizar a crítica dificultaram a formação de uma linhagem que lhe su-
da extensa documentação (mapas, relatos de viagens, au- cedesse. Mesmo fisicamente, D’Anville não estabeleceu
tores da antiguidade etc.) que coligia para produzir cada seu ateliê no quai de l’Horloge, bulevar que margeava
Na página seguinte, um de seus mapas. Essa habilidade, exercida com enor- a ilha de Saint Louis, lugar de “conexões históricas com
Grande Galeria me maestria, não deixou herdeiros à altura. No final da os geógrafos [...] onde se estabeleceram muitos geógra-
do Louvre, por
Hubert Robert, vida, não sem certo ressentimento, ele mesmo lamentou fos e vendedores de mapas no século XVII” e no seguin-
1796. Depois da que não fora capaz de “formar um aluno, para me dar te, como Guillaume Delisle e Robert de Vaugondy.135
mudança do rei
para Versailles, (como se gosta bem de dizer) um sucessor”.131 Jean-Denis No entanto, não se afastou demais. A oficina na qual tra-
academias Barbié du Bocage não hesitou, no entanto, em afirmar balhava, e que pertencia ao rei, situava-se nas Galerias
e gabinetes de
ciência e arte
que ele era “o único aluno que teve m. D’Anville”.132 De do Louvre, anexas ao palácio. Muitos de seus mapas
ocuparam o prédio. fato Du Bocage entrou no serviço de D’Anville quando ostentam a informação de terem sido produzidos ali.
90 91
Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Oráculo da geografia iluminista

Como geógrafo do rei, ele passou a ter o direito de carta que produzira do Hemisfério Austral. Era comum
se estabelecer em uma das oficinas das galerias. O palácio no período de eleição que os pretendentes ao cargo
era a residência do rei, mas não só. Era também moradia apresentassem seus trabalhos nas seções da Academia,
de parte da corte, de seus principais administradores e de e ele se aproveitava da precedência sobre os demais para
muitos artistas que desfrutavam do patronato régio, além ganhar apoio à sua indicação. Cassini e Delambre foram
de abrigar muitas instituições reais. Uma delas era a pró- indicados para examinar a memória e a carta. Na reu-
pria Académie Royale des Inscriptions et Belles-Lettres e nião de 24 de março, os dois apresentaram um longo
outra era a Académie Royale des Sciences de Paris, que parecer elogioso sobre o trabalho.139 A nomeação como
congregava a elite dessa República das Letras parisien- geógrafo associado da instituição alçava o agraciado ao
se. Também ficavam no mesmo prédio uma galeria que cargo de primeiro geógrafo do rei, auferindo-lhe uma
expunha as principais plantas militares e a biblioteca do renda de cerca de 1.000 livres. Esse foi um posto de-
rei. Hermand, matemático régio, tinha ali um gabinete sejado por D’Anville durante anos. Houve eleições em
de curiosidades muito frequentado, onde, em outubro de 1751, 1753, 1754 e 1772, sem que ele fosse indicado para
1721, estiveram o rei e o duque de Orléans para ver, com disputar qualquer uma delas.140 Finalmente em 1773,
uma mescla de prazer e curiosidade, “uma máquina que “depois da morte de Philippe Buache, os candidatos
representa o acampamento de uma armada com todas as nomeados para [disputar] a posição de geógrafo as-
suas evoluções”, movimentada por meio de um engenho- sociado foram Jean-Baptiste Bourguignon D’Anville,
so sistema de molas.136 Os enormes globos (um terrestre e Rigobert Bonne, Jean-Nicolas Buache de la Neuville,
um celeste) que Coronelli construíra a pedido de Luís XIV, Didier Robert de Vaugondy e um desconhecido, cha-
que deslumbraram Paris e, por extensão, a Europa, ali fi- mado Hugin”.141 Apesar de toda a sua origem familiar,
caram abrigados entre 1715 e 1722137 e, a partir de 1750, no Vaugondy e Buache foram vencidos por D’Anville, fi-
prédio se estabeleceu a Escola de Construção Naval, que cando Bonne em segundo lugar. Dessa disputa, certa-
reunia os engenheiros militares e possuía uma extensa mente deve ter nascido a rivalidade que mais tarde opôs
coleção de cartas.138 Como se vê, geograficamente, ele se D’Anville, Bonne e Vaugondy.142 Na vitória de D’Anville,
posicionava no coração onde estavam abrigadas as princi- o talento parece ter superado as tradições familiares,143
pais instituições que, sob patronato régio, abriam a França ainda que sob a mobilização de patronos poderosos.
ao caminho das Luzes. Dessa forma, ele não só desfrutava Em seus desentendimentos com outros geógrafos,
do convívio com membros da República das Letras, como D’Anville dava mostras de não tolerar a crítica — e, o
também demonstrava publicamente que dela fazia parte, que era pior, deixava isso claro, pois certamente o con-
sob patronato privilegiado. flito tornou-se público em toda a sociedade geográ-
fica parisiense — e de não saber agir com a honra e a
dignidade esperadas do ocupante desse cargo, o que
Primeiro geógrafo do rei significava discutir com liberalidade os assuntos cien-
tíficos e respeitar as críticas dos especialistas, principal-
A eleição de D’Anville para o posto de geógrafo mente daqueles hierarquicamente inferiores. Por outro
adjunto da Académie Royale des Sciences de Paris, em lado, Vaugondy empenhou-se em desnudar a origem
1773, foi o coroamento da sua carreira. Porém, a demora pequeno-burguesa de D’Anville e a disputa entre os
com que a mesma ocorreu evidenciava as disputas entre dois refletiu o conflito entre os antigos clãs de geógra-
uma carreira assentada no talento e outras que davam fos (os messieurs) e os novos talentos vindos de baixo.
continuidade ao monopólio das tradicionais redes fa- Ou seja, o pequeno mundo da cartografia parisiense re-
miliares de geógrafos. Na eleição, D’Anville enfrentou fletia, como era de se esperar, as grandes questões que
não só Vaugondy, herdeiro de uma tradicional família convulsionavam a sociedade europeia da época — en-
de cartógrafos franceses, mas também Buache e Bonne. tre a hierarquia assentada em privilégios de nascimen-
A vacância do cargo foi anunciada na seção de 17 de to e a abertura aos talentos individuais, dentre os quais
Luís XV, rei da
março de 1773, uma quarta-feira. Nesse mesmo dia, D’Anville se destacava como um dos principais expoen- França, por Louis-
Robert de Vaugondy leu uma memória sobre uma tes, autointitulando-se oráculo da geografia iluminista. -Michel van Loo, 1761.

92 93
BOSQUE DE MINERVA
O embaixador, o cartógrafo
e a biblioteca régia

Dom Luís da Cunha foi o início da década de 1720, dom João V


constantemente instado não só deu início a uma série de movimentos
para formar uma volumosa biblioteca, ins-
a comprar, mas também a indicar
talada em seu palácio, no Paço da Ribeira.
obras, pinturas e instrumentos, e A biblioteca régia teve o objetivo de reunir livros,
mesmo a sugerir mudanças estampas, gravuras, mapas, instrumentos científicos e
no panorama do ensino em Portugal. tudo o mais que fosse necessário ao desenvolvimento
[...] Pode-se dizer que a livraria do conhecimento humano. Mas também visou demons-
trar publicamente a importância que o monarca, como
régia era a consolidação de um
grande mecenas que era, dedicava ao conhecimento e à
projeto científico mais amplo, de viés cultura das Luzes, comportamento típico dos reis ilus-
enciclopédico e iluminista. trados da época. A biblioteca do Paço não foi a única
iniciativa nesse sentido, dom João V criou outras bi-
bliotecas e ampliou algumas já existentes, com vistas à
modernização e ao progresso do reino (dois conceitos
estruturantes da visão de mundo iluminista). Essas li-
vrarias deveriam ostentar as obras clássicas, mas tam-
Minerva como protetora bém o que de melhor e de mais novo estivesse sendo
das artes e das ciências
produzido tanto em Portugal quanto no exterior.
(c.1680), de Luca Giordano.
A primeira instituição beneficiada foi a Universidade
Acima, visão panorâmica
da Praça do Comércio, de Coimbra, que, alguns anos antes, em 1716, havia sido
em Lisboa (século XVIII). presenteada pelo monarca com uma nova biblioteca.
95
Bosque de Minerva
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL O embaixador, o cartógrafo e a biblioteca régia

A magnífica livraria, ainda existente, foi dividida em vistas à renovação da cartografia do reino — e uma co-
três grandes espaços — o primeiro, adornado com uma leção de instrumentos científicos, tudo sob o mecenato
alegoria da Universidade de Coimbra recebendo o co- de dom João V.2
nhecimento das quatro partes do mundo; o segundo, O núcleo inicial da Livraria Real, em parte desa-
dedicado ao aprendizado; e o terceiro, ao conhecimen- parecido no terremoto de Lisboa, em 1755, constituiu-
to. No fundo desse último, no frontão de entrada, um -se de livros pertencentes ao acervo do Palácio dos
retrato de dom João V com o escudo das armas reais tor- Bragança em Vila Viçosa e que, havia algum tempo, dom
na público o patronato do rei.1 Ao longo de seu reinado, João IV transferira para Lisboa.3 A princípio, a bibliote-
ele também deu início à construção de uma gigantesca ca régia foi instalada no segundo andar do Palácio Real,
biblioteca no Convento de Mafra, projetada em cruz; e, no torreão do edifício projetado sobre o Tejo. Era “uma
a partir de 1742, devotou-se ao aumento da biblioteca sala que, por cada face, tem cinco janelas de grades de
dos Oratorianos, no Colégio do Monastério de Nossa ferro (...), onde estão os melhores livros que se tem”.4
Senhora das Necessidades. À medida que o acervo se avolumou, suas instalações
O Colégio das Necessidades desempenhou im- ampliaram-se, ocupando alguns recintos do edifício
portante papel no programa científico joanino. Ali os adjacente,5 e, na década de 1730, já se estendia ao salão
oratorianos ensinavam a nova filosofia de Newton e de dos embaixadores, no terceiro andar do palácio. Ali o rei
Descartes, e os livros, reunidos na biblioteca, eram es- mandou construir longas estantes de nogueira — que se
senciais para a renovação do ensino das ciências. Suas cruzam como em ruas de quatro faces —, estimadas para
instalações foram completadas com a construção de um conter cerca de 20 mil volumes.6 A biblioteca deveria
gabinete de história natural, um observatório astronô- abarcar todos os campos do conhecimento e foi colo-
mico — onde realizaram importantes observações com cada sob a proteção de Minerva, a deusa das ciências e
das artes. Seria um “armazém das ciências, tesouro das
joias mais ricas, e mais úteis que há no mundo”.7 Era
um palácio ou bosque de Minerva, “cada livro daquela
numerosa livraria (...) é uma árvore que está permanen-
temente dando sazonados frutos de sabedoria”. Nesse
sentido, a livraria régia era o jardim do Palácio Real.8
A biblioteca real, no entanto, não era apenas um
“lugar onde estão muitos livros em estantes”. Ela se
constituiu como um espaço irradiador do programa
científico joanino, aberto às Luzes, caracterizado pela Mas não se tratou apenas de comprar livros, mas anualmente triplicou, passando de 300 para 900, as- Palácio Real no
renovação e abertura do conhecimento.9 Para cumprir também de produzi-los. A exemplo do que ocorria em sim como o número de impressores, de 13 para 46, só Paço da Ribeira,
onde no torreão,
esse objetivo, de um lado, a instituição pretendia reunir outras nações, “essas imponentes ‘bibliotecas’ [como a em Lisboa”.14 Por sua vez, vários desses livros foram junto ao Tejo,
“as edições mais raras”, mas, de outro, também deveria de dom João V] constituem, com as enciclopédias e os traduzidos e editados em língua estrangeira, divulgan- foi instalada a
agregar “grande número de manuscritos, instrumentos dicionários, uma imagem maior das grandes iniciativas do a cultura portuguesa e os intelectuais que a produ- Biblioteca Régia.
matemáticos, admiráveis relógios e outras muitas coisas editoriais do século XVIII”.12 Assim sendo, uma pujan- ziam para além do espaço nacional. Nesses aspectos,
raras”.10 Entrelaçava o luxo “de coisas preciosas, admi- te coleção de livros de matiz lusitano foi publicada por os inteligentes portugueses encontravam-se alinhados
ráveis e raras” úteis ao espírito, como as pinturas dos essa época, movimento editorial que ocorreu parale- com a matriz de pensamento racionalista que caracte-
mestres, os manuscritos, os relógios e os instrumentos lamente ao desenvolvimento do próprio mercado li- rizava a República das Letras europeia. De fato, sob o
Tratado de vreiro no império português. O esforço de composição selo da biblioteca, artefatos culturais os mais variados
matemáticos, necessários à observação da natureza e do
Francesco Bianchini
sobre o planeta universo. Sua disposição era tal que instrumentos e li- da biblioteca régia incluiu não apenas a aquisição de chegavam e eram produzidos em Portugal, promoven-
Vênus, a princípio vros científicos relacionados estavam dispostos de for- livros, mas também a compra de uma oficina tipográfi- do um novo sentido de gosto no país.15
conhecido como a ma a serem consultados conjuntamente.11 Desse ponto ca, doada à Academia Real da História, e a contratação Mas de que se tratava o gosto? Para os iluministas,
estrela matutina Na página
de vista, pode-se dizer que a livraria régia era a con- de tipógrafos e gravadores para a produção de livros, à medida que o século XVIII avançava, tratava-se de um
Phosphorus e seguinte, estúdio
a vespertina solidação de um projeto científico mais amplo, de viés entre eles o célebre Jean Villeneuve.13 Como reflexo novo sentimento, que aos poucos se instituía e abrangia de colecionador
Hesperus. enciclopédico e iluminista. dessa pujança, “o número de novos títulos publicados todos os campos da arte, da literatura, da ciência e por em Antuérpia.

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pelas gerações seguintes, não só entre a elite intelec-


tual portuguesa mas também a europeia.20 Foi duran-
te o Congresso de Utrecht (1713-1715) que dom Luís,
juntamente com o conde de Tarouca, começou a se
dedicar com mais afinco às compras reais. No ambien-
te do Congresso, a diplomacia buscava pretexto para o
estreitamento das relações entre os diversos savants
europeus, que trocavam gostos e compartilhavam da
cultura ilustrada vigente. “Reunidos em Utreque, em-
baixadores de diversos países contribuíram para um
diálogo internacional, baseado na circulação de bens,
pessoas e ideias.”21 Ali se formava uma “diplomacia de
espírito” em torno de uma “República de inteligentes
e de letras”.22 O congresso conformou uma rede de so-
ciabilidade cultural entre os inteligentes ali reunidos,23
incluindo os dois embaixadores portugueses, cujas re-
sidências se tornaram locais de intensa boemia erudita.
Não por mero acaso, a do conde de Tarouca, primeiro
plenipotenciário, foi comparada por Nicolas Chevalier,
Bibliotecas em sua magnificência, a um Palácio de Júpiter, onde
imponentes
Hércules nascera, fazendo lembrar o ciclo do ouro.24 Coleção de
refletem o espírito
Não era um elogio qualquer, Chevalier, um renomado curiosidades,
enciclopédico do
gravura do
século XVIII. colecionador, que se autointitulava marchand de livros livro Teatro das
e de medalhas, possuía famoso gabinete de antiguida- maravilhas da
extensão da cartografia. D’Alembert aponta o desenvol- matemáticos e o que mais servisse à curiosidade inte- des, que levara consigo quando se mudara de Amsterdã natureza. Escola
holandesa, c.1719.
vimento do gosto como um dos principais objetivos da lectual dos savants portugueses. Todos os diplomatas para Utrecht.25 Espelhava o colecionismo vigente no
Academia Francesa. Sobre o termo, ele diz que significa receberam encargos de compras régias, destacando-se início do século XVIII que, para além de coisas raras e
“todo gênero de sentimento delicado ao decoro”,16 em José da Cunha Brochado, o conde de Tarouca, Francisco curiosas, como teatro do mundo, começava a refletir o
tudo oposto às velhas convenções “do exagero e do ridí- Mendes de Góis,17 Sebastião José de Carvalho, o futu- panorama científico da inteligência europeia, inspiran-
culo”. Essa nova estética, proveniente de um racionalis- ro marquês de Pombal e, especialmente, dom Luís da do outras coleções, como as que reuniam os monarcas
mo triunfante, se contrapunha à teatralidade excessiva Cunha. O grande impulso na formação da biblioteca ilustrados, tal qual dom João V. A edição de 1714 do ca-
que lhe era anterior, e sobre a qual o novo programa real ocorreu exatamente na década de 1720, e como tálogo das peças dessa sua Galeria de Antiguidades foi
artístico e cultural iluminista buscava imprimir um tom Martinho de Mendonça Pina e Proença, bibliotecário- dedicada justamente a Tarouca, a quem Chevalier re-
mais naturalista, menos artificial. -chefe, reconhecia a vasta cultura de dom Luís, pois conhecia o “prazer e o gosto”, em cuja casa era capaz de
Indicar obras literárias e artísticas, assim como ins- convivera com o embaixador em Haia e Utrecht, entre estabelecer com dignidade o difícil equilíbrio entre as
trumentos científicos, passou a mobilizar membros des- 1717 e 1718, tornou-o um dos grandes compradores do negociações públicas e o estudo das ciências, atividades
tacados da intelectualidade lusa. Em Portugal, membros rei. A França, os Países Baixos meridionais (Bélgica) e as que o embaixador iluminava com seu saber.26
do círculo privilegiado em torno do rei e da Academia Províncias Unidas (basicamente o que hoje constitui a Foi também em Utrecht que dom Luís da Cunha
Real da História — tais como os marqueses de Abrantes Holanda), locais onde dom Luís da Cunha ocupará pos- conheceu um importante especialista, ou connoisseur,
e de Alegrete, o conde da Ericeira, o padre Bartolomeu tos a partir de 1717, serão por conseguinte os maiores mais tarde arregimentado em prol do colecionismo do
de Gusmão e seu irmão, Alexandre, o cardeal da Mota países fornecedores da biblioteca.18 monarca português. Tratava-se de Pierre Jean Mariette,
e Martinho de Mendonça Pina e Proença (encarregado Dom Luís da Cunha foi constantemente instado jovem herdeiro de uma importante dinastia do ramo li-
de dirigir a formação da coleção) — redigiam extensas não só a comprar, mas também a indicar obras, pin- vreiro e do comércio de gravuras, em Paris. Por volta de
listas de obras. Na outra ponta dessa rede, cabia aos em- turas e instrumentos, e mesmo a sugerir mudanças no 1717, com o intuito de diversificar o gosto e os contatos no
Gabinete de
baixadores em serviço nas cortes estrangeiras adquirir panorama do ensino em Portugal.19 Sua capacidade de ramo, Pierre chegou a Utrecht. Por essa época, seu pai curiosidades, em
livros, pinturas, estampas, tapeçarias, mapas, instrumentos expert ou connoisseur foi amplamente reconhecida, até o enviara num grande tour pela Europa, que, sabe-se, gravura de 1744.

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começara pelos Países Baixos e pela Alemanha.27 Iniciar e seu epicentro foi Paris, onde, então, dom Luís da
a viagem por aí não era um mero acaso. Amsterdã, Haia Cunha se encontrava a serviço. Desta feita, o embai-
e Bruxelas eram grandes centros fornecedores das es- xador pôde contar com a ajuda de seu funcionário
tampas que a Casa Mariette comercializava em Paris. Francisco Mendes de Góis, que se dedicou com afinco à
Nada mais natural que, uma vez em Utrecht, ocor- incumbência. Algumas dessas compras eram expressões
resse uma aproximação entre o embaixador e o jovem do luxo da corte joanina, mas muitas eram relativas à
Mariette, propiciada pelo interesse e gosto comum pelas cultura e erudição, de acordo com o programa científico
artes e pelas primeiras encomendas ordenadas por dom da biblioteca régia. Como já foi dito, tratava-se não só
João V.28 De fato, alguns anos depois, em 1724, quando de afluxo de livros, mas também de instrumentos ma-
dom Luís já se encontrava em Paris e o rei ordenou que temáticos, e mesmo de sábios competentes que pudes-
ele adquirisse uma coleção de gravuras,29 o embaixador sem colocar seu conhecimento a serviço do reino. Por
encontrou em Pierre Jean Mariette,30 já à frente dos ne- essa razão, biblioteca aqui é entendida em sentido am-
gócios da família, o fornecedor ideal para satisfazer as plo, referindo-se a tudo que sirva ao desenvolvimento
demandas régias.31 Dom Luís assim justificou sua esco- do conhecimento humano.33 A chegada em Lisboa dos Abaixo, à esquerda,
lha perante o monarca: chamados padres matemáticos, os jesuítas João Baptista gravura ilustrativa
Carbone e Domenico Capacci, em 1722, exerceu um im- de uma recepção
Monsieur de Mariette, que vende as estampas e é o ho- oferecida pelo
pacto significativo na organização da biblioteca régia
mem mais inteligente e rico nesse gênero, me segurou conde de Tarouca,
nos quesitos da astronomia e da geografia e também no seguida do
que a coleção seria mais perfeita se aqui se fizesse toda,
ensino das duas matérias,34 portadoras dos conheci- frontispício de
porque em Paris se achariam muitas estampas, que um dos muitos
mentos necessários ao levantamento cartográfico do
em Itália, nem outras partes se não poderia descobrir. catálogos
império que começava a ser posto em prática, confor- compilados por
Remeto a VSa um borrador do index, que mandei fazer
me insistentemente advogava dom Luís da Cunha, com Nicolas Chevalier.
a cada tomo, traduzido em português e só Mariette e
o objetivo de nortear as negociações diplomáticas sobre Neste encontra-se
seu filho são capazes desse trabalho.32 a listagem
os limites territoriais da América portuguesa. Por essas
descritiva das
Um dos ápices das compras régias para aparelhar razões, a estruturação das ciências físico-matemáticas festas promovidas
a biblioteca régia se deu a partir da década de 1720 no reinado joanino significou não só a produção e pelo conde.
Apresentação da passarola
por Bartolomeu Lourenço
de Gusmão, em 1709.
Na assistência, dom João
entre o núncio apostólico
Miguelangelo Conti e a rainha
Maria Ana de Áustria.

A máquina voadora
do balonista francês
Jean Pierre Blanchard
(1753-1809).

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Delisle e a nova medição


do meridiano de Tordesilhas

A demanda régia por livros, instrumentos cientí-


ficos e mapas se acirrou quando, em 27 de novembro
de 1720, Guillaume Delisle,38 então o primeiro geógrafo
do rei da França, leu na Académie Royale des Sciences
de Paris uma memória geográfica, escrita a partir das
recentes medidas das longitudes, utilizando novas téc-
nicas e tendo como referências os eclipses dos satéli-
tes de Júpiter.39 Junto com essa memória, apresentou o
novo mapa-múndi que estava confeccionando para Luís
XV.40 O impacto do mapa e do texto completo, intitula-
do Détermination Géographique de la situation et de
l’étendue des diferentes parties de la terre, foi muito
além das paredes da Academia, transformando, a partir
de então, toda a arte da cartografia, pela reorientação
que imprimiu na disposição das terras pelo globo.
Mais que isso, o texto atingiu em cheio as pretensões
lusas sobre seus territórios de além-mar. Entre inúmeras
mudanças na configuração geográfica dos continentes,
a partir do reposicionamento dos meridianos, especial- Octante, 1750

mente o da Ilha de Ferros41 e o de Paris, Delisle propunha


o reposicionamento do meridiano de Tordesilhas, com feito o país perder mais territórios do que seus inimigos
Vista do Jogo do aquisição de obras científicas, mas também a “organi- implicações evidentes na posse das regiões da Colônia em muitos anos.43
Malho, onde os zação de museus dos três reinos da natureza, de obser- do Sacramento na América, em disputa entre espanhóis Dom Luís da Cunha imediatamente percebeu o im-
embaixadores
e plenipotenciários
vatórios astronômicos e de gabinetes de física, onde se e portugueses, e das Molucas, no mar do Sul (oceano pacto que tal novidade traria às disputas luso-espanholas
de Portugal e Castella realizavam observações e experiências com instrumen- Pacífico). Também redimensionava a posição do meri- na América meridional. Contou que lhe chegara às mãos
se congratularam tos matemáticos”, tudo sob o signo do “cartesianismo, diano no Cabo do Norte (Amapá), desta feita em disputas
por terem firmado empirismo e da física newtoniana”.35 A partir daí “a bi- uma dissertação geográfica e, que [nela] mr. DeLisle,
com os franceses. O texto de Delisle explicava que
a paz, em 6 de geógrafo do rei Xmo., determina a situação e a extensão
fevereiro de 1715.
blioteca real no Paço da Ribeira se tornou centro de ex-
se verá bem cedo que as Molucas ficam na divisão por- de diferentes partes da terra, a qual se leu e se apro-
perimentação científica, e um símbolo do programa de
tuguesa, contra a situação que as cartas ordinárias dão vou, na Academia Real das Ciências e nela assenta que
reforma do ensino que D. João V tinha iniciado”.36
a essas ilhas. Mas não se dá o mesmo com a Colônia que injustamente possuímos as terras do Cabo do Norte e
O início do levantamento cartográfico do reino e
os portugueses estabeleceram na embocadura do rio
especialmente do Brasil, para servir às negociações di- a Colônia do Sacramento, sem embargo de nos dar as
da Prata. (...) É ainda pior a propósito do que os portu-
plomáticas com a Espanha, intensificou a aquisição de ilhas Molucas.44
gueses nos citaram essa mesma Bula de Alexandre VI
tudo que pudesse servir à astronomia e à cartografia,
nos termos das diferenças que nós temos com eles so- A dissertação de Delisle invertia o que de fato ocor-
“Impressor voltando desde livros e mapas a instrumentos matemáticos, as- bre a possessão do Cabo do Norte até a entrada do rio rera em relação à ocupação desses territórios. A região
a cruzela”, ilustração tronômicos e geodésicos.37 A partir de então, dom Luís das Amazonas.42
do Tratado da do Cabo do Norte estava, desde o Tratado de Utrecht,
da Cunha tomou mais diretamente para si a tarefa de
gravura a água-
A questão da medição das longitudes era tema sob domínio português, mas a exata posição da linha de-
contribuir para a produção das cartas geográficas ne-
forte, e a buril, e em
cessárias ao melhor conhecimento do império portu- candente na época. Efetivamente, desde o início do sé- marcatória ainda gerava controvérsias com os franceses.
maneira negra com o
modo de construir as guês. Desde o Tratado de Utrecht, o embaixador insistia culo XVIII, a partir de medições celestes cada vez mais Em relação às disputas com a Espanha, desde o Tratado
prensas modernas, e na necessidade de construir uma base cartográfica de precisas que estabeleceram novos posicionamentos de Saragoça, em 1529, os portugueses haviam compra-
de imprimir em talho
peso que permitisse aos diplomatas dar melhor visibi- para os meridianos, a febre cartográfica sobre a França do as Molucas dos espanhóis, o que agora parecia ter
doce, de Abraham
Bosse, gravador lidade ao que era negociado entre as partes, dirimindo fez com que Luís XIV se queixasse dos geógrafos que, sido um pagamento inútil e, na América, a ocupação da
régio, século XVII. dúvidas ou contendas. com suas medidas acuradas, haviam, em pouco tempo, Colônia do Sacramento pelos portugueses estendera suas
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Mapa-múndi de Guillaume Delisle, c.1725:


reorientação da disposição das terras pelo
globo transformou a cartografia.
Na página seguinte, mapa da América,
feito por Delisle em 1722 para o rei Luís
XIV. Medições celestes mais precisas
estabeleceram novos posicionamentos
para os meridianos.

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possessões até a margem setentrional do rio da Prata, culo e, como ele o aprovara, parecia a dom Luís que este, aliança franco-espanhola. Dubois teve uma ascensão
o que, segundo as novas medições, seria território es- sempre favorável aos interesses lusos, não sabia da in- meteórica nesse período da regência, passando a ocupar
panhol. Na década de 1720, no contexto da devolução clusão de tais temas tão sensíveis a Portugal. Sua opinião o primeiro escalão da administração francesa. Foi se-
da Colônia do Sacramento aos portugueses, depois dos foi que Delisle incluíra a discussão sobre Tordesilhas “ex cretário, conselheiro de Estado e, finalmente, em 1722,
acordos de Utrecht, a diplomacia portuguesa ainda se de- proprio marte”, isto é, por sua própria conta.45 primeiro-ministro.
batia com a espanhola sobre a legitimidade e a extensão Para entender essa observação do embaixador — Dom Luís da Cunha chegou a Paris exatamente nes-
das possessões portuguesas nessa região do sul do Brasil. de que o duque de Orléans provavelmente não tomara se contexto favorável à Inglaterra, e, por conseguinte, a
Preocupado com as implicações da memória de conhecimento dessa parte da dissertação, já que não a Portugal, encetado pelo duque de Orléans e seu entourage.
Delisle nas disputas entre as duas Coroas, dom Luís da apoiaria se soubesse, assim como os primeiros passos Conhecia Dubois, pois ambos haviam sido embaixado-
Cunha enviou, por meio do secretário de Estado, um dados em Paris por dom Luís em relação ao assunto — é res na Inglaterra à mesma época, desfrutava da confian-
exemplar manuscrito da mesma a dom João V. Informou necessário analisar o contexto político francês. O duque ça da casa de Hanovre (jantara em casa de Jorge I em
que “não me pareceu fazer algum passo sem dar a V.Sa., de Orléans era, por essa época, regente de França du- Hanôver, em 1716) e participava do círculo intelectual
quanto mais que o principal que a Corte [França] teve em rante a minoridade do futuro Luís XV. Era o primeiro reunido em torno de madame Tencin, outra partidária
mandar fazer esta obra, foi a de querer ver os erros que príncipe de sangue e, por essa razão, tinha direitos he- da casa dos Orléans, favorável a uma aproximação com
Felipe V, rei de Mr. DeLisle tinha achado nos mapas ordinários”. Contou reditários ao trono, podendo ser coroado rei na falta de a Inglaterra. Durante os anos 1720 de sua estada pari-
Espanha, 1723. que o próprio regente, o duque de Orléans, lera o opús- um herdeiro direto de Luís XIV. O duque “controlou a siense, o embaixador conviveu intensamente com esse
França de 1715 até sua morte em 1723, em uma situação grupo. Os dois lados defendiam, no contexto da aproxi-
precária, que o encorajou a buscar aliados que pudes- mação com a Inglaterra, também um estreitamento das
sem bloquear a ameaça de intervenção espanhola caso relações franco-portuguesas, pois “o duque de Orléans,
Luís morresse”.46 A sucessão de Luís XIV por um des- no tempo em que foi primeiro-ministro, mandou mui-
cendente direto não estava ainda de todo assegurada e tas vezes falar a dom Luís da Cunha para que dispusesse
o regente tinha a possibilidade de ascender ao trono. O el rei de Portugal a que quisesse fazer com esta Coroa
único herdeiro legítimo vivo, o delfim (futuro Luís XV), um tratado de comércio”.49 Depois da morte do regen-
neto de Luís XIV, ainda era menor de idade e tinha uma te, o cardeal Fleury, que se tornou o mais importante
saúde delicada que inspirava temores. Foi a ascensão de ministro à época, continuou com a política de seu ante-
Filipe V ao trono da Espanha, no contexto da Guerra da cessor.50 “O cardeal de Fleury busc[ou], antes de tudo,
Sucessão Espanhola, que o empurrou a uma aproxi- manter a paz, isto queria dizer conservar a aliança com
mação com a Inglaterra e, por extensão com Portugal, a Inglaterra e viver em boa inteligência com a Espanha
tradicionais aliados. Isso aconteceu porque Filipe V e a Áustria”.51 Quanto a Portugal, dom Luís da Cunha e
também tinha direitos hereditários ao trono francês e, Francisco Mendes de Góis, seu confiável subordinado na
apesar de ter abdicado deles no Tratado de Utrecht, a embaixada,52 continuaram a entabular as negociações
ausência de um descendente direto do rei morto pode- com o objetivo de estabelecerem um tratado de comércio
ria levá-lo a novas investidas para recuperá-los, atrapa- franco-português e também a intermediação da França
lhando as pretensões do regente à Coroa.47 nas diferenças territoriais com a Espanha.53 Como a corte
Assim, durante a regência, sob a influência do car- portuguesa não se decidia sobre essa mudança de rumo
deal Dubois, o duque de Orléans encetou uma aproxi- em sua política externa, que poderia ameaçar a tradicio-
mação com a Inglaterra. O cardeal era membro da casa nal aliança com a Inglaterra, as negociações na França,
de Orléans e no final do século XVII fora enviado como especialmente no que dizia respeito a um tratado de
embaixador à Inglaterra. Lá se tornou um admirador da comércio, eram levadas pelo embaixador e seu auxiliar ainda em disputa com os espanhóis, e encarregou o em- Alegoria da
cultura política inglesa e passou a advogar uma aproxi- com muito cuidado e discrição.54 baixador de fazer o possível para que a dissertação não Geografia, página
de rosto do Atlas
mação entre os Orléans e os Hanovre, que haviam as- Por isso, nada mais natural que, no contexto da di- fosse publicada ou pelo menos divulgada, pois poderia
de Frederick de
cendido ao trono na Inglaterra. Sob o seu patrocínio, vulgação da dissertação de Delisle, dom Luís da Cunha dar munição à Espanha, que se obstinava em não cum- Wit, c.1688.
quando ainda era secretário dos Negócios Estrangeiros, buscasse a ajuda do regente e de seus ministros, pois o prir as cláusulas acordadas em Utrecht. O reposiciona-
em 1717, foi assinada a Tríplice Aliança, que selou um próprio geógrafo também fazia parte da casa de Orléans. mento do meridiano poderia ser um forte argumento
compromisso entre Holanda, Inglaterra e França de A Coroa portuguesa sentiu-se mortalmente ameaçada, para a posição espanhola de que os portugueses não ti-
zelar pela paz na Europa,48 ameaçando a tradicional sobretudo em relação à região da Colônia do Sacramento, nham direitos legítimos, como pretendiam, a estenderem
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seu território até a margem setentrional do rio da Prata. que a França não teria direitos a reivindicar as posses- e não como pura especulação. Mas continuava a defen- listagem tanto as obras sobre navegação, ciência militar,
As orientações que vieram do reino, em março de sões nas terras do Cabo do Norte, atendo-se ao acorda- der sua máxima “de que nem a corte de Espanha nem cartas náuticas e terrestres, quanto os instrumentos ma-
1722, determinavam que dom Luís da Cunha procurasse do em Utrecht em 1713. Num tom tranquilizador, dom esta se podem servir contra o que está estipulado nos temáticos, embarcados para o reino, por ele e Francisco
o geógrafo e também se dirigisse diretamente ao duque Luís informou a dom João V que o cardeal “me tornou a Tratados e quando fosse possível fazê-lo então seria pre- Mendes de Góis, nos anos anteriores.73
de Orléans e ao cardeal Dubois e negociasse com eles a mandar dizer de palavra que executaria o que me tinha ciso mostrar o contrário”.68 Compreendendo que ciên- Essa transitividade também significou a contra-
não divulgação da obra e a retratação de Delisle. As or- prometido” e impediria a publicação do opúsculo.60 cia e diplomacia nem sempre caminhavam juntas, dom tação de sábios, que foram, em parte, arregimentados
dens determinavam que Cópia da dissertação foi enviada ao reino a 9 de Luís da Cunha justificou perante o monarca a atitude no estrangeiro para ajudarem em diversas funções:
março de 1721,61 mas não chegou a seu destino. Os espa- de Delisle em se obstinar em publicar seu estudo, pois indicar e selecionar os objetos a serem comprados no
se queixe ao Regente de que este autor assente em uma
nhóis interceptaram o correio com a correspondência, não seria “praticável que um homem que havia pronun- exterior; organizar os artefatos adquiridos; produzir
coisa tão falsa e que suscite uma disputa, que está de-
terminada por tratados solenes entre esta mesma Coroa
em Vitória,62 pouco depois de ter cruzado a fronteira.63 ciado aquele discurso na Academia das Ciências, como instrumentos matemáticos; instruir sobre sua mon-
e a de Castela e assim verá VSa. que meio pode haver Em setembro, Diogo de Mendonça Corte Real, secretá- membro da mesma Academia, se desdissesse sem que o tagem e uso; e informar sobre as novas metodologias
para que se retrate daquela opinião, que será menos rio de Estado, ainda sem saber do ocorrido, queixava-se comessem”.69 No entanto, apesar dos seus esforços e das científicas vigentes etc. A alguns sábios foram feitas
dificultoso se o livro ainda não estiver impresso. 55 com dom Luís da Cunha de não ter enviado ainda a dis- promessas de Dubois, conforme ele mesmo previra, a ofertas para se mudarem para Portugal e ali se empre-
sertação e o Atlas de Delisle. Perguntava também “que dissertação foi publicada pela própria Académie Royale garem a serviço da Coroa; a outros, que contribuíssem
Por ordem de dom João V, dom Luís da Cunha pro- SMde. (...) me havia ordenado soubesse de VSa. se pode- des Sciences de Paris, no ano seguinte, 1722.70 para o sucesso das compras feitas por dom João V em
curou Delisle e fez-lhe ofertas tentadoras em troca da ria aí descobrir o que el rei da França costuma dar aos Na impossibilidade de convencer o geógrafo a des- seus países de origem. Em Paris, dom Luís valeu-se
não publicação do opúsculo, encomendando-lhe in- estrangeiros que lhe faziam semelhante oferta”.64 Parece dizer a sua teoria, o embaixador insistia em defender do círculo intelectual que girava em torno do príncipe
clusive um Atlas em sete volumes para enviar ao rei.56 que o secretário ou não entendeu, ou fingiu que não que a Coroa deveria se obstinar no que havia sido acor- de Orléans, simpático a Portugal e hostil à Espanha de
Apesar de ter aceitado a encomenda, o savant não se entendeu a estratégia do embaixador de encomendar o dado em Utrecht, procurando diminuir o impacto que Felipe V, para arregimentar os savants necessários ao
deixou convencer, e o embaixador falhou em sua mis- Atlas a Delisle, colocando-o dessa forma a serviço do rei um novo posicionamento do meridiano de Tordesilhas cumprimento das ordens que recebera, no sentido de
são de impedi-lo de publicar seu texto. Ao perceber que de Portugal, pois na mesma missiva Corte Real estranha- poderia ter sobre os domínios territoriais dos portugue- aparelhar o reino com o saber e os instrumentos que
não seria capaz de demovê-lo, dom Luís mudou de alvo va o fato de que o geógrafo, que imprimira a memória ses na América. Afinal, sempre defendera o estabelecido contribuiriam para a renovação do conhecimento cien-
e, de acordo com “a segunda parte da ordem” recebida contra os interesses portugueses, pudesse fazer tal oferta nos tratadores anteriores como importante arma diplo- tífico no império português.
de Portugal, foi procurar as autoridades francesas. Sua ao rei. Dom Luís apressou-se a responder que a todos os mática nas negociações seguintes. Nessa linha de pensa-
primeira providência foi falar ao cardeal Dubois, que serviços de Delisle pagara “com larga mão”. 65 mento, em carta ao marquês de Abrantes, insistia: “Não
também acumulava o título de arcebispo de Cambray, Com o marquês de Abrantes, que também quis entendo que a Dissertação ou opinião de um geógrafo
solicitando que não se imprimisse a memória. Este, sen- informações sobre o assunto, voltou a insistir que “m. possa prejudicar o que está estipulado num Tratado.”71
sível aos interesses de Portugal, prometeu que o atende- Delisle está mui bem pago do seu trabalho”. E acrescen- Chamou ainda a atenção para a transitividade entre car-
ria, mas pediu que, primeiro, o embaixador lhe enviasse tou que, “posta de parte a sua ciência, é um homem tão tografia e diplomacia, aspecto que não deveria ser ne-
por escrito as passagens referidas que feriam os inte- avaro que não fará um passo sem lhe proceder o inte- gligenciado por Portugal em suas futuras negociações.
resses portugueses.57 Dom Luís enviou-lhe os trechos resse”.66 Deixava claro, como já estava acostumado, que
marcados e pediu-lhe que ele ordenasse “ao sr. Delisle para colocar um homem desse porte a serviço da Coroa
de apagar de sua dissertação, em caso que ele a faça im- era necessário molhar suas mãos. Como ele mesmo di- Instrumentos matemáticos
primir, as passagens em questão”.58 zia, a “chave de ouro ou de qualquer outro equivalen- e seus experts
A estratégia de dom Luís da Cunha foi a de apar- te metal (...) abre as bocas mais fechadas”67 e submete
tar o campo da ciência do diplomático, o primeiro não qualquer vontade. A compra de instrumentos matemáticos pelos em-
podendo interferir no que tivesse sido acordado em tra- A 10 de novembro de 1721, dom Luís da Cunha baixadores portugueses nas cortes europeias com vistas
tados.59 O embaixador não reivindicou que o trabalho remeteu nova “cópia da Dissertação que fez monsieur ao levantamento geográfico do reino e do Brasil teve iní-
não fosse publicado como lhe ordenavam do reino, pois Delisle”. Como a mesma havia sido “fundada nas novas cio em 1721, e dom Luís da Cunha foi um dos principais
sabia ser impossível impedir que um savant divulgasse observações astronômicas que se tem feito”, o embaixa- encarregados dessa tarefa. A primeira ocasião foi quando,
descobertas suas sustentadas frente à Académie Royale dor acreditava “que, para o convencer, seria necessário logo que chegou a Paris, em 1720, recebeu ordens para
des Sciences de Paris, mas somente que apagasse os terem-se feito algumas observações mais modernas que adquirir um conjunto de livros dedicados à ciência, ma-
trechos que trouxessem implicações diplomáticas para as alegadas e, no caso contrário, não seria de parecer temática e náutica, na Casa Mariette, complementando tal
Portugal. Acreditava que o alinhamento do cardeal com que se procurasse impugnar a opinião de um geógrafo”. aquisição, ao que parece, com a compra de artefatos cien-
a Inglaterra e sua política claramente antiespanhola o Chamava a atenção novamente para a necessidade de se tíficos.72 Alguns anos depois, em 1729, percebe-se a tran- Esfera Armilar
faria tomar o partido de Portugal numa demanda contra começar a levantar uma cartografia dos territórios por- sitividade entre livros e instrumentos científicos, em um baseada no sistema
a Espanha. Mas não só, também se tratava de reconhecer tugueses na América a partir das medidas dos territórios balanço realizado por dom Luís, que incluía na mesma copernicano, 1764

110 111
Bosque de Minerva
O embaixador, o cartógrafo e a biblioteca régia

Um dos primeiros inteligentes contratados por


dom Luís da Cunha, em Paris, foi Hermand, renomado
matemático e engenheiro.74 Na ocasião em que o rei e o
duque de Orléans estiveram em seu gabinete de curiosi-
dade nas Galerias do Louvre, em outubro de 1721, a fim
de apreciar a sua última invenção75, dom Luís observou
que esse engenho “ensina[va] e mostra[va] as opera-
ções dos exércitos mecanicamente, cousa bem curiosa”.
Quando o cardeal da Cunha esteve em Paris, em 1722,
dom Luís o levou para visitar o gabinete, e Hermand fez
funcionar seu interessante invento.76
Em 1723, dom Luís da Cunha estabeleceu um co-
nhecimento mais estreito com o matemático,77 a quem
tinha em alta conta. Sobre Hermand, afirmou que “é
homem tão estimado como presumido dos seus inven-
tos militares e mecânicos” e sugeriu que dom João V o
arregimentasse para seu serviço.78 A engenharia mili-
tar abrangia um espectro bastante amplo de conheci-
mentos, que exigiam profundo domínio da matemática,
mecânica, geometria, hidráulica etc.79 Na época, enge-
nheiro, em primeiro lugar, era aquele “que faz máqui-
nas e obras para a guerra ofensiva e defensiva” e, em
Tratado do modo
segundo lugar, o “que faz qualquer gênero de máquinas o mais facil, e o
e engenhos”.80 Percebe-se, então, o forte sentido militar mais exacto de
da função, que abrangia não só o conhecimento sobre fazer as cartas
geograficas..., por
o deslocamento das tropas no território, mas também o
Manoel de Azevedo
projeto e a construção de instalações militares, o desen- Fortes, 1722.
volvimento de armamentos de guerra, o levantamento
da geografia dos territórios e a feitura de mapas. dos engenheiros militares portugueses, conforme as
Todos esses saberes, que Hermand reunia como metodologias modernas, intitulados Tratado do modo
engenheiro militar, seriam de grande valia para asses- o mais fácil de fazer as cartas geográficas assim de ter-
sorar dom Luís no desempenho de suas tarefas, afei- ra como de mar, e tirar as plantas das praças (1722) e
tas às transformações que se passavam na Engenharia O engenheiro português (1729).83 Esses manuais não
Militar desde a nomeação, por dom João V, de Manoel eram simples adaptações da literatura consultada, espe-
Azevedo Fortes como engenheiro-mor do reino. Em cialmente a francesa. “A leitura dos tratados estrangei- Na página anterior,
1719, Azevedo Fortes tornou-se o primeiro regente da ros não era passiva. Dos vários textos consultados, com- Manoel de Azevedo
Fortes (1660-1749),
Aula Régia de Fortificação Militar, em Lisboa, e come- pilavam-se e discutiam-se as questões mais relevantes,
engenheiro-mor
çou a preparar as mudanças que considerava neces- enfatizando o debate entre os vários autores e a própria do reino, operou
sárias à formação dos engenheiros militares portugueses opinião do lente sobre o assunto.”84 importantes
segundo os mais modernos ensinamentos81 e sob forte No começo de 1724, dom Luís da Cunha embar- mudanças na
formação técnica
influência da escola francesa.82 No contexto da criação cou um óculo ou telescópio para o reino, produzido dos militares
da Academia Real da História, Azevedo Fortes foi no- pelo matemático Hermand,85 “que serve para ver as portugueses
meado pelo rei para se ocupar das questões de geo- cortaduras86 e outras obras que os sitiados fazem de- segundo os
mais modernos
grafia, orientando a formação da biblioteca régia nessa trás das muralhas”.87 O óculo foi uma oferta para que o
ensinamentos em
área. Sob a proteção do rei, dentre outras iniciativas, ele rei o testasse e se certificasse do engenho de seu cria- áreas científicas
publicou manuais técnicos a fim de normatizar a prática dor, que entrava a seu serviço e deveria ser alvo de sua e técnicas.

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Bosque de Minerva
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL O embaixador, o cartógrafo e a biblioteca régia

graça. Os percalços por que esse invento passou após sua curiosidade”.88 Em outubro, dom Luís escreveu que com a ajuda de D’Anville,97 pois, para pôr o futuro rei adquiridos e como deveriam ser feitos, mostrando-se
chegar a Lisboa ilustram os paradoxos decorrentes do Hermand soubera que o rei “ainda não vira o seu ócu- a par das manobras militares, mapas eram ferramentas afinados com o conhecimento mais moderno que então
volumoso afluxo de instrumentos e novidades científi- lo, o que é de grande mortificação para este homem”.89 indispensáveis, pois permitiam uma melhor visão das se produzia.
cas que chegavam. Parece que, a princípio, o engenho Finalmente, recebeu notícias, em 1725, que “os livros batalhas, dos movimentos das tropas, e da situação das Para nortear a construção dos observatórios em
não gerou muita atenção na corte, o mesmo ocorrendo de mr. Hermand pareceram bem e também o óculo que fortificações. Guerra, geografia e cartografia eram temas Lisboa, o embaixador também foi encarregado de bus-
só depois que dom Luís cobrou a opinião que dele se há poucos dias se achou entre outras encomendas e constantemente interligados.98 car as plantas do observatório da Académie Royale des
tivera no reino, mas, então, ninguém sabia onde o mes- Blumenstein o armou”. Agradecido da oferenda, dom O ano de 1724 foi de inflexão nas compras régias Sciences de Paris, cujo diretor era Cassini — “o mais ca-
mo fora parar. Em agosto de 1724, outro sábio francês, João V ordenou que se “poderá gratificar este homem o relacionadas aos campos da astronomia e da geografia. paz matemático da Academia de Paris".103 Com o mesmo
Blumenstein, que já se encontrava em Lisboa a serviço que lhe parecer”.90 O incidente permite se ter ideia do Nesse ano, sob a orientação dos jesuítas matemáticos, o fim, o conde de Tarouca conseguiu as plantas de alguns
do rei, escreveu a Hermand que, no palácio, “o vira dei- volume de objetos que chegavam, o que por vezes gera- rei estabeleceu um observatório no palácio real no Paço observatórios da Alemanha.104 Obedecendo imediata-
tado a um canto”. Baseando-se nessa informação, dom va descuidos e desatenções, assim como da importân- da Ribeira, que servia inclusive para seu uso privado, e mente a todas as ordens, dom Luís da Cunha informou
Luís supôs que, “a ser verdade, já o haviam tirado do cia do mecenato de dom João V nos círculos ilustrados deu início à construção de um outro grande observató- ao reino que estaria “fazendo a diligência mencionada
caixão em que foi”. Argumentou, então, que “é preci- europeus e do seu papel como árbitro desses inventos, rio no Colégio das Necessidades.99 Além desses dois, já no papel em latim que vem a ser o plano exterior e in-
so que apareça, pois era extraordinariamente grande apontando para sua erudição intelectual. existia em operação em Lisboa o observatório do colégio terior de todas as partes do observatório e os debrunhos
para se perder, nem é natural que o dito Blumenstein De fato, o monarca português não era um assis- jesuíta de Santo Antão, que abrigava as famosas Aulas de de todos os instrumentos que nele se acham”.105
inventasse o havê-lo visto”. Desolado, afirmou sentir tente passivo da renovação intelectual que ocorria no Esfera, e que reunia os inacianos mestres no campo da Juntamente com esses planos, diversos instrumen-
“que se desencaminhe porque mr. Hermand estava com reino. A educação que recebera em criança, “como ma- astronomia.100 Afinando-se com a sugestão do embaixa- tos matemáticos foram então encomendados em Paris.
grande desvanecimento de que SMde. quisesse ver esta jestoso ornamento de um Príncipe perfeito”,91 permitia dor, de que para rebater a dissertação de Delisle e fazer A primeira encomenda parece ter sido feita a Sully, ofi-
que fosse crítico em relação às questões científicas. Nas o levantamento cartográfico do império era necessário cial mecânico de Bordeaux, que tinha seu gabinete nas
áreas de astronomia, matemática, geografia e cartografia realizar observações mais modernas, a instalação do Galerias do Louvre. Esse artífice produzia pêndulas de
— todas ciências afins — tivera aulas com o então cos- observatório no Paço da Ribeira tinha como primeira vários tipos. As ordens que dom Luís recebeu deter-
mógrafo do reino, Manuel Pimentel, tendo adquirido missão o estabelecimento do meridiano de Lisboa. Para minaram a encomenda a Sully de duas pêndulas para
pleno domínio desses campos do saber. Merveilleux, referendar a sua construção e muni-lo do que de mais medir longitudes no mar: “Uma há de ser das símplices
que deixou registradas suas observações sobre o rei- moderno houvesse em equipamentos matemáticos, e outra de quartos e horas, sem repetição.”106 Além des-
nado de dom João V, exaltou-o como grande savant e dom Luís da Cunha recebeu a seguinte ordem no mês sas, Cassini fez outra pêndula para medir as longitudes;
colecionador. Sugeriu que os experts que estivessem em de agosto: “que encarregue o mais capaz matemático da e Lefevre, um micrometre, invenção sua,107 e um meio-
busca de apoio se colocassem a seu serviço, mas só os de Academia de Paris [a] mandar-lhe fazer os instrumentos -círculo azimutal.
grande talento, pois o monarca era um connoisseur e seu apontados no papel que acompanhava a mesma carta e Depois de prontos esses instrumentos, dom Luís
gosto superava o de todos os seus súditos.92 “Francisco que sejam com a maior presteza e perfeição que se pos- mandou também que fossem feitas as caixas para
Xavier da Silva descreveu dom João V como um verda- sam obrar”.101 Esse savant seria encarregado “de fazer guardá-los. Essas foram encomendadas a Gilles-Marie
deiro bibliófilo, que só ficava satisfeito quando o título e obrar perfeitamente os instrumentos que Sua Majestade Oppenord, arquiteto também pertencente ao círculo do
a edição que ele desejava estava guardada com segurança deseja”, cujas especificações iam numa “Memória inclu- duque de Orléans, conhecido por ter introduzido o esti-
no seu palácio”.93 sa feita em língua latina”. Os instrumentos deveriam ser lo Regência.108 Três desenhos foram enviados a Portugal
Mas voltemos a 1723, quando dom Luís da Cunha enviados assim que estivessem terminados, “sem que para que o rei escolhesse a caixa que melhor lhe aprou-
conheceu Hermand. Nesse mesmo ano recebeu or- seja necessário que se acabem todos para virem juntos”. vesse — todas admiráveis por sua “novidade e perfei-
dens do reino para que, sob a orientação do marquês Dom Luís deveria escolher cuidadosamente quem lhe ção” e, da escolhida, foi feito um modelo em tamanho
de Abrantes, reunisse tudo o que dissesse respeito à or- assessorasse no empreendimento. Assim, determinava- menor. Depois de aprovado, o artífice começou a traba-
ganização das tropas francesas e seus uniformes, e nin- -se que o dirigente “[d]este ministério [será] um dos lhar no original.109
guém melhor que Hermand para lhe assessorar nessa matemáticos mais cientes e que os oficiais que obrarem Antes de serem embarcados para Lisboa, todos es-
empreitada.94 Em outubro, conseguiu que o duque de os ditos instrumentos sejam os mais peritos”. Os traba- ses instrumentos deveriam ser cuidadosamente testados
Orléans autorizasse que ele fosse colocado a serviço de lhos desses oficiais seriam assistidos pelo “matemático e avaliados. As ordens eram claras: “Acabado qualquer
Portugal, passando os desenhos a serem copiados.95 Por [contratado] para os dirigir e evitar que [os instrumen- instrumento VExa. o mandará examinar nas suas opera-
ordem do regente, a fim de se dedicar às encomendas de tos] tenham qualquer imperfeição que possa haver, ções por pessoas certas na matéria e só com a sua aprova-
Planetario Lusitano
dom João V, Hermand interrompeu a compilação de do- porque se deseja que sejam muito exatos e os melhores ção acertará” o pagamento do mesmo.110 Cassini foi con-
para o ano de 1757 ...
pelo padre jesuíta cumentos sobre assuntos militares que vinha realizando que aí haja feito”.102 Os inteligentes do reino, contudo, tratado para supervisionar a produção e testar vários dos
Eusebio da Veiga. para uso educativo do delfim.96 Nesse trabalho, contava se incumbiam de determinar quais os objetos a serem instrumentos.111 O principal deles foi um grande óculo.112
114 115
Bosque de Minerva
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL O embaixador, o cartógrafo e a biblioteca régia

Depois de reunir todas essas especificações, o em-


baixador começou as negociações para ajustar a feitura
do instrumento. Primeiramente, antes de fechar o ne-
gócio, resolveu consultar mais uma vez D’Osenbray
para que o instruísse sobre o preço, “reservando-se a
liberdade de ainda pedir mais, porque, sendo a primei-
ra vez que faz esta obra, não pode fazer cabal prejuízo
sobre o seu trabalho”.116 Novamente observa-se, nesse
trecho, que não se tratava apenas de copiar instrumen-
tos já existentes, mas de inovar na sua produção, e nisso
os savants do reino eram aptos a opinar junto aos fran-
ceses, buscando equipar o observatório português com
o que de mais moderno pudesse ser produzido.
Após muita negociação, o embaixador informou
que com o “mesmo obreiro, com o qual veio a esta casa
o dito Mr D’Osenbray”, ajustaram-se “o preço e o tem-
po de dar o tal instrumento na forma em que VSa. verá
na sua obrigação junta, (...), visto que [em relação a]os
outros instrumentos em que também trabalha não há
de receber o preço senão quando os entregar”.117 Mas,
apesar de todos esses cuidados, quando o grande óculo
chegou a Lisboa e foi finalmente testado, percebeu-se
que, infelizmente, apresentava vários defeitos.118
Dom Luís também estava aberto para conhecer no-
vos inventos que pudessem vir a ser úteis aos intentos da
Coroa portuguesa e muitos artífices iam procurá-lo para
mostrar suas criações.119 Certa feita, um “mestre dos reló-
gios da fábrica inglesa” trouxe-lhe um para testar. O em-
baixador contou que esse mesmo mestre “também me fez
ver outro [relógio] que pretende não poder variar no mar
e por este modo saber-se a longitude, senão precisamen-
Jean Dominique Assim, em dezembro de 1724, dom Luís informou te, ao menos com pouca diferença (...) e a experiência que
Cassini ao rei “que fiz consultar mr. Cassini sobre o grande e se fez levando-o em um coche correspondeu ao intento,
(1625-1712)
novo instrumento matemático que SMde. manda fazer e porque sem embargo dos seus grandes movimentos não
diante do
observatório que o dito Cassini respondeu que havia muito tempo que variou de um segundo e assim se deve fazer outra expe-
de Paris. cuidara nele por lhe parecer que seria de muito bom uso, riência no mar”.120 A busca por uma forma eficiente de
mas que se não atrevera a mandá-lo obrar porque en- medir as longitudes durante as viagens marítimas era um
tendera que seria muito caro”.113 Sobre esse instrumento desafio maior, visto que as pêndulas desregulavam-se
novas instruções foram emitidas do reino, especificando com o movimento dos navios.121
inovações a serem adicionadas. A essas especificações, Não se tratava apenas de perscrutar os astros erran-
Cassini juntou outras e dom Luís submeteu-as ao jul- tes e dessa forma medir as longitudes que permitiriam o
gamento de outro savant, D’Osenbray.114 O conde de aperfeiçoamento da representação dos territórios, mas
D’Osenbray, Louis-Léon Pajot, era um físico, membro de adquirir todas as novidades que contribuíssem para
da Académie Royale des Sciences de Paris, que se no- o avanço do conhecimento. Assim, dom Luís enviou um
Plantas de fachadas
tabilizara pela invenção de um instrumento para medir microscópio, criado por “Jacques Le Maire, nativo de do observatório
os líquidos e outro para medir o vento.115 Paris, aluno de mr. Butterfield, engenheiro inglês, um de Paris, 1692.
116 117
Bosque de Minerva
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL O embaixador, o cartógrafo e a biblioteca régia

matemático célebre ”. De acordo com o diplomata, a in- O embaixador era detalhista nos contratos das enco- encomiásticos sendo a sua acção na promoção das ci-
venção foi testada e aprovada pelo mendas e as autoridades reinóis chegaram a cumprimen- ências comparada à dos mais famosos mecenas euro-
tá-lo, pois o “ajuste feito com os oficiais a respeito do tra- peus”.137 Dom João é dignificado não só no texto, como
insigne Pe. Sebastien, carmelita, igualmente bom reli-
gioso que inventor e professor de máquinas e instru-
balho dos instrumentos matemáticos está bem-feito”.131 também é exaltado na imagem que ilustra o frontispício
mentos matemáticos: ele mesmo me falou a favor do
Mas, mesmo com todos os cuidados, acidentes podiam da obra em que vários adereços remetem a seu patronato
oficial que o fez, o qual abalado da fama que se tem acontecer a meio caminho, comprometendo a qualidade despendido no progresso da geografia em geral e à astro-
estendido da proteção que el rei N.S. dá às ciências e às desses objetos. Foi o que ocorreu com o sextante que, a nomia em particular, bem como à cultura do próprio mo-
artes, desejaria ir exercitar a sua em Lisboa porque me despeito de, em Paris, ter-se “reconhec[ido] estar fabri- narca nessas áreas.138 A cena se centra no retrato do rei,
deu a memória que remeto a V.S. Se se aprovar a sua cado com toda a diligência, perfeição e exação”, chegou a sendo ele sustentado por uma musa que aponta para o
proposição farei os exames convenientes. 122 Lisboa empenado. Assim, lamentou-se que “muito tem futuro, enquanto, no céu, um anjo é o arauto que noticia
custado é o reduzi-lo outra vez a sua perfeita retidão, que seu patronato aos quatro cantos do mundo. Esse carrega
Observa-se que não era apenas a Coroa que man- totalmente perdeu pelo incômodo que padeceu na via- uma coroa de louros por sobre a cabeça de dom João, fa-
dava contratar esses savants, mas vários apresentavam- gem, principalmente no plano, entortando-se as traves- zendo uma alusão a César, imperador dos imperadores.
-se espontaneamente, sabedores do patronato de dom sas de ferro em que se apresenta”. Para evitar que isso Vários objetos relacionados às ciências da geografia e da
João V à ciência e às artes. Contudo, o embaixador, se repetisse foi dada a ordem que se cuidasse não apenas cosmografia estão dispostos na imagem. Outra musa, po-
como um bom expert, considerou alguns desses inven- de verificar as condições de produção, mas também “se sicionada aos pés do retrato do soberano, lhe oferece uma
tos engenhosos mas impraticáveis. Foi o que ocorreu recomenda muito a V.Sa. a cautela e cuidado na condução esfera armilar; um compasso, um telescópio e uma obra
com a “proposta de mr. Mandel de uma invenção para dos mais instrumentos para que não padeçam”.132 de astronomia estão dispostos a seus pés; outro anjo lhe
resgatar com um aparelho despojos de navios naufraga- Em 1728, dom João V ordenou a produção de dois oferece um globo (talvez o planeta Vênus, tema da obra)
dos”. Dom Luís contou que seu autor o procurara para relógios, cujos mecanismos deveriam ser os mais mo- e, ao fundo, Atlas sustenta, em seus ombros, a Terra.
vender o invento ao rei e “conseguir uma licença para dernos, encomendados ao relojoeiro parisiense Sieur
ir testá-lo junto à costa do Brasil”, mas ele não afiançou Thiout. Suas caixas foram produzidas respectivamente por ordem de dom João V, alguns atlas de conteúdo pu- Imagem satírica
a iniciativa.123 da "Passarola"
por Sébastien-Antoine Slodtz e Paul-Ambroise, no estilo Mapas e estampas ramente cartográfico, assim como outras publicações
inventada pelo
Em Paris, dom Luís ainda mandou construir um rococó. “Esse relógio monumental, de 11 pés de altura, que misturassem estampas e mapas. Dentre as publica- padre Bartolomeu
quarto círculo mural,124 um sextante,125 um quadrante era encabeçado pelo brasão real português e tinha uma Importante artefato da biblioteca régia foi a co- ções encomendadas, destacam-se o Atlas, em sete volu- de Gusmão
de três pés e, apesar de os desenhos deste, como dos de- leção de estampas que abrangia uma ampla variedade mes, produzido por Guillaume Delisle, em 1721, por en- em 1709.
base de um mármore escocês bastante raro.” A caixa, fei-
mais, terem vindo do reino, foi recomendado que “se ta de bronze, lápis-lazúli e mármore, ostentava uma ale- de itens e temas, como gravuras de artistas, retratos de comenda direta de dom Luís da Cunha,142 e um outro que
acaso algum dos matemáticos da Academia Real quiser goria ao casamento do delfim, dom José, com a infanta pessoas de d stinção, mapas, vistas de cidades, planos estava à venda em um leilão em Amsterdã e que, a 13 de
neste instrumento acrescentar ou mudar alguma coi- espanhola Maria Anna Vitória de Bourbon.133 Ciência, re- de fortificações etc. Uma coleção de estampas cons- janeiro de 1722, o conde de Tarouca recebeu ordens para
sa para maior cômodo do mesmo instrumento VExa. finamento, luxo e gosto entrelaçavam-se nesses objetos. tituía um catálogo visual amplo que ilustrava o está- arrematar.143 Tratava-se do Atlas Boendermaker, que
lho conviria”.126 Nicolas Bion (1652-1733), “importante Na Itália, dom João V tornou-se mecenas do astrô- gio do conhecimento humano.139 O colecionismo régio revela com maestria a íntima proximidade entre uma co-
construtor francês de instrumentos”,127 fez um sextante e nomo Francesco Bianchini, proteção intermediada por nessa área se acentuou a partir de 12 de julho de 1724, leção de estampas e a cartografia.144 Sua base era “a clas-
uma esfera armilar, “composta de três círculos, que ser- João Baptista Carbone.134 Em 1725, o astrônomo man- quando dom João V enviou uma ordem a todos os seus sificação por país e por continente e a associação entre as
ve para examinar as horas, quartos e minutos de cinco dou de presente ao rei um “raro telescópio, produzido embaixadores, encaminhada por meio do secretário de cartas, que servem de ponto de partida, e as represen-
em cinco”. Quando estivesse pronto, “reconhecendo-se segundo as descobertas de Newton, e produzido pelo Estado, Diogo de Mendonça Corte Real, para que ad- tações topográficas, de arquitetura, de acontecimentos
estar feito com a devida exação”, o instrumento deveria astrônomo e filósofo Eustachio Manfredi (1674-1739) quirissem todas as gravuras existentes em seus países de históricos e os retratos dos que os ‘animam’, no sentido
ser imediatamente enviado a Portugal.128 Por essa razão, da Accademia delle Scienze de Bolonha”.135 Segundo as residência, produzidas nos últimos trinta anos.140 Seis próprio do termo, segundo Theodorus Boendermaker”.145
todos os instrumentos deveriam ser examinados “nas especificações de Carbone, para que tivessem qualida- meses mais tarde, a 30 de janeiro de 1725, a ordem foi Tarouca descreveu que “o Atlas tinha tanto de raridade,
suas operações por pessoas certas na matéria e só com de e precisão, o italiano mandou construir também dois ampliada para abarcar “todas as gravuras que se puder como decerto pompa”, porque continha 103 volumes.146
a sua aprovação acertará” a compra.129 Outra esfera ar- globos e uma esfera armilar para comporem a biblioteca encontrar, desde todos os tempos que elas foram inven- Custara 8.900 florins, mas seu preço final deveria se ele-
milar foi feita por Maraldi, que a completou em 1728, régia.136 Com o financiamento de dom João V Bianchini tadas”.141 Essas duas instruções deram novo impulso ao var, pois ainda “era necessário encaderná-lo e pôr em
segundo as especificações que o padre Carbone redigira publicou, em Roma, o livro Hesperi et phosphori nova colecionismo régio, mas, como era usual, as compras boa ordem os volumes que ainda não estão formados”.
em Portugal.130 Todos esses instrumentos eram neces- phaenomena sive observations circa planetam Veneris, não se restringiram às estampas, estendendo-se a tudo Atestava seu valor o fato de “as pessoas inteligentes o
sários e foram utilizados para estabelecer o meridiano relativo às observações astronômicas que realizou de que interessasse ao intelecto, ao luxo e ao gosto. prefer[ir]em muito a um que el rei da Polônia comprou
de Lisboa e, assim, dar início ao levantamento cartográ- Vênus, também custeadas pelo rei. Em retribuição, na Além das estampas propriamente ditas, foram comis- há anos”,147 e de que “concorriam a vê-lo muitas pessoas
fico do Brasil, como advogava dom Luís. obra, “o monarca português é elogiado nos termos mais sionados ou comprados pelos diplomatas portugueses, das principais da terra”.148 Infelizmente, grande parte
118 119
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O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL O embaixador, o cartógrafo e a biblioteca régia

dar coerência ao que restara do precioso Atlas, ordens


vieram do reino, ordenando ao embaixador que “VSa. só
compre aquelas estampas que interromperem a boa or-
dem que se requer na coleção, (...) citando-se a página
em que está no mesmo Atlas”.1511
Em outubro de 1723, Tarouca propôs ao rei
que comprasse uns globos de Coronelli, à venda nos
Países Baixos, onde ele servia na ocasião. De acordo
com Tarouca, “o intento que SMde. tem de formar uma
grande biblioteca e o muito que eu estimo haver con-
corrido para esse efeito na execução das suas reais or-
dens, me faz desejar que se ponham nela uns excelentes
globos que se hão de vender aqui nestas Províncias, fei-
tos pelo padre Vincenzo Coronelli”.152 O embaixador in-
formou ainda que os que estavam à venda em Amsterdã
eram “maiores que uns que conheço do conde da
Ericeira, porque têm cinco palmos de diâmetro e estão
muito bem montados. Entende-se que o preço há de ser
entre trezentos e quatrocentos mil reis”.153 Dom João V,
no entanto, enviou ordens, em maio do ano seguinte,
para que os globos não fossem adquiridos.154 Tarouca,
porém, talvez sentindo-se culpado pela perda de grande
parte do Atlas e achando-os “tão raros pela grandeza e
[porque] eram aqui tão geralmente gravados”, e como
não havia “nem cabia no tempo ter resposta”, já os havia
comprado por sua conta e risco. Enviou ao reino “no
caso que SMde. queira para a Real Biblioteca, da qual na
verdade me parece que são dignos”.155
No início de 1724, de Paris, dom Luís da Cunha es-
creveu a dom João V que o abade de Vayrac propusera a
venda de um atlas ao conde da Ericeira.156 Em resposta,
no mês de março, o embaixador recebeu ordens para o
adquirir para o rei. Cauteloso, afirmou que “eu não os
comprarei sem os fazer examinar por pessoa inteligen-
te, por que não tenho boa opinião da probidade do dito
abade,157 que fez o ofício de espião mal premiado”.158
O exame e a aprovação foram rápidos porque, em maio,
já despachara o Atlas, encarregando Francisco Mendes
Atlas compilado desse Atlas se perdeu durante um incêndio ocorrido na de Góis de levar os seus pesados volumes. Iam embarca-
por D’Anville,
casa de Tarouca, em Haia.149 “Não puderam salvar-se dos no navio comprado na França exclusivamente para
edição em três
volumes, c.1724-5. mais que 60 volumes, [e] esses truncados”. O embaixa- o transporte das compras régias.159 Entretanto, o barco
Na página dor lamentou profundamente “que ficara uma coleção naufragou e, apesar das primeiras notícias de que o Atlas
seguinte, Hemisfério (...) imperfeita e pouco estimável”, mas, para remediar não se molhara,160 tendo sido resgatado do naufrágio,
setentrional ou as
o dano, propôs que se “lha juntassem mapas e estampas verificou-se que sofrera danos com a água.
terras árticas, de
Delisle: uma das que podem descobrir-se e tornar a fazê-lo tão magní- Parece ser este o Atlas, ou Recueil de cartes
cartas do Atlas. fico como era”.150 Seguindo em parte esse conselho, para géographiques, cuja autoria Jean-Baptiste Bourguignon
120 121
Bosque de Minerva
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL O embaixador, o cartógrafo e a biblioteca régia

d’Anville reclama para si e que hoje se encontra na dada a qualidade dos mapas por ele selecionados, enri-
Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.161 Trata-se de quecia a biblioteca régia e engrandecia seu nome junto
um “Atlas que em 03 volumes [D’Anville] fez para o sr. aos inteligentes portugueses.
embaixador”.162 O primeiro volume, intitulado Mundo,
reúne as cartas gerais, a Europa e suas principais divi-
sões, detalhes da Ásia, África e América e finaliza com O embaixador e o cartógrafo
mapas de cartografia de história antiga. O segundo abar-
ca a França, e inclui um mapa geral, mapas históricos, Foi então, no contexto da recuperação do Atlas que
plantas das províncias, rios e uma extensa cartografia de se molhara, no primeiro quartel do século XVIII, quando
cada uma das dioceses do país. Já o terceiro volume re- se avolumaram as encomendas científicas, que dom Luís
fere-se à Alemanha, Itália, Espanha e Ilhas Britânicas, da Cunha se aproximou de Jean-Baptiste Bourguignon
incluindo cartas gerais ou de áreas específicas desses d’Anville. A aproximação não é de se estranhar, es-
países. Nenhum desses mapas, no entanto, era de au- tando o embaixador em contato com Delisle, Cassini e
toria de D’Anville, cuja cartografia por essa época era Hermand, intelectuais do círculo da casa de Orléans, à
incipiente, praticamente se restringindo a representa- qual D’Anville também estava associado. E, certamente,
ções de geografia da Antiguidade, especialmente Gália assim como acontecera com os demais, precisou da li-
e Grécia, não tendo se aventurado ainda pela geogra- cença do duque para recrutá-lo ao serviço de dom João V.
fia moderna. Mas ele era um jovem cartógrafo e podia Não se sabe exatamente quais desses sábios apre-
ser empregado como expert ou compilador de mapas. sentou D’Anville ao embaixador. Tanto pode ter sido
Os mapas que constam do Atlas eram, com raríssimas Delisle, com quem dividia a instrução geográfica do del-
exceções,163 em sua maioria de autores franceses, quase fim; ou Hermand, que era seu vizinho nos gabinetes do
todos de autoria de Nicolas Sanson e Guillaume Delisle, Louvre e com quem partilhava a produção dos volumes
outros ainda de Nolin, hidrógrafo do rei, Bernard Jean sobre a história militar francesa também para o delfim,
Jaillot,164 e Nicolas de Fer.165 Portugal aparece apenas em ou ainda Cassini, que foi quem entregou a dom Luís os
dois mapas, como parte integrante da Espanha, como planos do Observatório Real,169 pois uma das primeiras
Na gravura de Leclerc, tarefas confiadas a D’Anville pelo embaixador foi co-
era comum na cartografia até o início do século XVIII,
máquinas para erguer
as duas grandes pedras o que explica o interesse nacionalista português de rea- piar esses planos, com os desenhos dos instrumentos
no frontão da entrada lizar sua cartografia de forma autônoma. Há um mapa matemáticos do observatório.170 Não é de se estranhar
principal do Louvre. do país de autoria de Placide,166 de 1700, e um da foz do que D’Anville tenha sido arregimentado por dom Luís,
Tejo de De Fer, que ostenta algumas vistas de Lisboa. visto que tanto ele quanto Delisle, Hermand e Cassini
O que D’Anville fez foi compilar as melhores cartas pertenciam ao círculo de intelectuais a serviço da casa
existentes, mandando encaderná-las por Padeloupe le do duque de Orléans, que pode ter sido quem o indicou
jeune, em seu ateliê na place de la Sorbonne. “Antoine diretamente ao embaixador.
Michel Padeloupe, comumente chamado Padeloupe le Se não se sabe quem os apresentou ou a data exata
jeune, que sucedeu Luc Antoine Boyet como ‘enca- em que ambos se conheceram, sabe-se que D’Anville
dernador do rei’ [1733], era originário de uma família foi, ao longo do ano de 1724, arregimentado por dom
que ostentava cinco gerações sucessivas de papeleiros Luís da Cunha para se colocar a serviço de dom João V,
e encadernadores.”167 Não é improvável que tenha sido primeiramente auxiliando os demais savants do grupo
D’Anville quem atestou a qualidade do Atlas de Vayrac nas tarefas que já realizavam para o rei e, com o pas-
para dom Luís da Cunha. De fato, alguns anos depois, sar do tempo, adquirindo funções de maior destaque.
Pavilhão dos globos
Marco Antônio de Azevedo atestou sua competência Não foi possível precisar o mês da sua contratação para
Coronelli, em planta
do gabinete de Robert como expert. Quando este escreveu a Francisco Mendes que copiasse os desenhos do observatório fornecidos
de Cotte. Em Lisboa, de Góis em Paris, encomendando um Atlas para o cardeal por Cassini, mas em fevereiro de 1725 o embaixador in-
globos como esse
da Mota, aconselhou-o a procurar D’Anville, “que como formou ao reino que “D’Anville corre com a obra dos
podem ser apreciados
atualmente na se entende na matéria sabe escolher as cartas mais exa- instrumentos matemáticos”,171 do que se infere que ele
Sociedade de Geografia. tas”.168 Seu Atlas, ou Recueil de cartes géographiques, já havia sido contratado há algum tempo para realizar
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Bosque de Minerva
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL O embaixador, o cartógrafo e a biblioteca régia

esse trabalho. Em julho de 1724, dom Luís noticiou ao estratégias de ascensão. O geógrafo, por sua vez, encon- da França, visto que coincide com a instalação do obser- do império português. Assim, comparando as medições
rei que, quanto às estampas, os “dois livros que contêm trava no rei de Portugal um patrono ilustre e magnânimo vatório no Paço da Ribeira.177 Como D’Anville não era só- entre as duas cidades, pôde-se “julgar com maior fun-
o estado de gens d’armerie, carabineiros e cavalos li- em suas ofertas e uma porta de acesso às informações cio dessa Academia, não poderia ele mesmo ler a memó- damento qual seja a diferença entre os meridianos de
geiros estão acabados e mr. Hermand nos mostrou”.172 geográficas mais recentes das vastas possessões portu- ria, tendo sido somente seu portador. Por isso, reportou Lisboa e Paris, a qual até agora se lhe dava a maioria de
Durante 1724, o embaixador também iniciou a compra guesas, essenciais para a construção de sua geografia de dom Luís, “a observação do eclipse da lua que VSa. man- quase dois minutos, por não se ter recebido até o pre-
de uma coleção de estampas na Casa Mariette, na qual a gabinete. As referências a essa parceria vêm à tona, de dou foi lida na Academia de Ciências pelo diretor e todos sente observação alguma feita nesse observatório com
cartografia era tema correlato. Foi assim que, nessa oca- modo intermitente, nos papéis dos dois, embora grande a louvaram, mas muito mais a atividade com que VMde. o qual se pudesse fazer acertada comparação”. Tomar
sião, “monsieur D’Anville e mr. D’Hermand fica[ra]m parte deles tenha se perdido. No levantamento de seus protege as mesmas ciências”.178 A descoberta de méto- o meridiano de Lisboa e toda a cartografia daí advinda
encarregados de continuarem a coleção [de estampas], documentos existentes na embaixada em Paris, que foi dos mais precisos para a medida das longitudes era então era assunto de Estado, por isso o secretário recomendou
com bom gosto e ordem da sua encadernação, porque realizado após a morte do embaixador por seu sobrinho, uma questão “em que se engajaram os maiores soberanos a dom Luís que, daqui “por diante, se comunicarão [as
de uma e outra coisa têm muita inteligência”.173 Pelo seu há referência a um maço com vinte cartas de D’Anville, da Europa”179 e disso não se furtava dom João V, eviden- observações] feitas com o possível cuidado e diligência
serviço nessa etapa da coleção de estampas e na restau- que infelizmente não foi localizado.175 ciando seu mecenato frente aos acadêmicos parisienses e conforme a vontade de SMde. se poderão confirmar e
ração do Atlas, D’Anville “mand[ou] pedir vinte pisto- À medida que o tempo transcorria, dom Luís foi e colocando alguns deles ao seu serviço. Em sessão no aperfeiçoar as notícias sobre a diferença”.185
las”, e dom Luís — ainda que o comissionasse por sua comprometendo D’Anville em todos os trabalhos de na- dia 9 de dezembro, o diretor da Academia, Cassini, leu as Em 3 de fevereiro de 1725, o embaixador enviou as
conta sem ordem expressa do reino — a fim de assegu- tureza geográfica, matemática e artística de que fora in- observações do eclipse da Lua realizadas em Lisboa, jun- plantas do observatório da Académie Royale des Sciences
rar a qualidade das tarefas, “esper[ava] que SMde. leve a cumbido em Paris. De tal modo que, depois de ter rece- to com as de Maraldi e Delisle, que o avistaram em Paris. de Paris,186 com o desenho de seus principais instru-
bem, que lhas mandasse dar”.174 bido do reino, em 14 de novembro de 1725, “exemplares As atas da Academia, no entanto, nos relatos sobre o que mentos, e deu notícias da feitura dos demais instrumen-
Com interesses em comum e servindo-se dos mes- das observações que se fizeram do eclipse” da Lua em ocorrera nesse dia, não dão destaque às observações fei- tos necessários que vinham sendo feitos pelos principais
mos círculos sociais, o embaixador e D’Anville inicia- Lisboa, ocorrido em 1º. de novembro do ano anterior, tas em Lisboa. Além das realizadas em Paris, registra ape- artífices locais para equipar o observatório português.187
ram, a partir de então, profícua e longa parceria. Dom encarregou o geógrafo de “os fazer ver na Academia Real nas as ocorridas em Lima.180 D’Anville contribuiu em todas essas tarefas. Copiou os
Luís da Cunha encontrou em D’Anville um geógra- das Ciências”.176 Essa foi a primeira observação astronô- Nessa mesma ocasião, também foi ordenado a dom planos do observatório, supervisionou os desenhos e a
fo novo, ansioso por reconhecimento, pois, sendo ele mica dos padres matemáticos Carbone e Capassi, com Luís da Cunha que procurasse as memórias das obser- fabricação dos instrumentos e, ainda, a organização das
alheio às tradicionais famílias de geógrafos franceses, vistas ao estabelecimento do meridiano de Lisboa e, ao vações que “se fizeram no observatório [de Paris], como estampas.188 Junto com Hermand, ajudou na organiza-
o patronato de dom João V vir-lhe-ia a calhar em suas que tudo indica, já utilizando novos instrumentos vindos também as do íntimo satélite de Júpiter feitas no mes- ção dos vinte volumes que compuseram essa coleção,
mo observatório, assim no ano passado como neste”,181 adquirida na Casa Mariette.189
para serem comparadas com as que então se faziam em Em 1725, dom Luís da Cunha viu as relações diplo-
Portugal. “Entre 1724 e 1729, os jesuítas italianos a ser- máticas entre a França e Portugal se deteriorarem, devi-
viço de dom João V realizaram várias observações as- do a um incidente diplomático, quando da apresentação
tronómicas, não apenas em Lisboa mas também noutras do embaixador francês na corte lisboeta. Preocupado
partes do reino”.182 Por meio de D’Anville, o embai- e insone, resolveu distrair-se esboçando um plano
xador conseguiu mais uma vez as memórias pedidas e para estabelecer uma ligação terrestre entre Angola e
as enviou a Lisboa. As observações sobre o eclipse da Moçambique, duas colônias portugueses, situadas res-
Lua foram fornecidas por Cassini que “me mandou di- pectivamente nas costas leste e oeste da África. D’Anville
zer que me daria também as observações que se fizeram foi seu principal colaborador na empreitada.190 Intitulado
do mesmo eclipse e as do íntimo satélite de Júpiter fei- Projeto de um caminho para ligar estabelecimentos
tas assim no ano passado como neste”.183 Quando essas portugueses da África, ele continha um mapa e uma me-
memórias chegaram ao reino,184 em 1725, o embaixador mória anexos, ambos de autoria do geógrafo.191 Era este
foi informado pelo secretário de Estado que “a observa- o mapa que, em 1º de setembro de 1725, D’Anville apre-
ção do eclipse da lua que VExa. me mandou feita nesse sentou na Académie Royale des Sciences de Paris, com o
observatório por mr. Maraldi e pelo mesmo comparada qual pôde contar com o mecenato de dom João V.
com a [que] daqui se mandou [e] foi recebida com muito Ao ter que deixar Paris de forma precipitada an-
aplauso, assim por ser feita com tanta miudeza e exação tes do fim de 1725 devido ao rompimento das relações
como se costuma, como também por se conformar em diplomáticas entre os dois países, dom Luís confiou a
muitos pontos com a mesma que se remeteu a VExa.”. D’Anville a tarefa de substituí-lo na supervisão das
Medição do
meridiano de Paris, O estabelecimento do meridiano de Lisboa era compras e dos serviços relacionados à biblioteca ré-
em gravura de 1744. fundamental para iniciar o levantamento cartográfico gia,192 como a produção de índices para a coleção, que
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Bosque de Minerva
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL O embaixador, o cartógrafo e a biblioteca régia

os Mariette, pai e filho, faziam, encarregando-o “da negociações, essa defesa de uma política de abandono A Discussion géographique sur la ligne de
perfeição e da expedição” dos mesmos.193 De Bruxelas, da geografia como ferramenta diplomática representou, Démarcation etablier pour fixer des limites entre les
o embaixador acompanhava o trabalho de D’Anville, da parte do embaixador, um recuo breve, momentâneo découvertes du Portugal et celles de la Castille é um
ainda que outorgando-lhe bastante liberdade de ação e e estratégico, provocado principalmente pela falta de manuscrito de próprio punho do geógrafo, em dez fó-
endossando-lhe as decisões.194 Em fins de 1725, certa- bons mapas portugueses que pudessem se contrapor às lios, e, ao que tudo indica, é o esboço do trabalho en-
mente por ter percebido que os artífices encarregados da pretensões espanholas sobre as regiões em litígio. De comendado pelo embaixador e que Jaime Cortesão
construção dos instrumentos não eram capazes de reali- fato, dom Luís da Cunha continuou a se valer da carto- tanto buscara na Bibliothèque Nationale da França.
zar o trabalho com acerto, D’Anville decidiu “empregar grafia como expediente fundamental das negociações, e Esse documento, no entanto, hoje faz parte do acervo
Bion na encomenda de alguns instrumentos astronômi- D’Anville, que ao longo de 1724 e 1725, ganhara a con- da Newberry Library, em Chicago. São pequenas tiras
cos”, em aceitação à sugestão do geógrafo. Em janeiro fiança do embaixador, foi quem lhe forneceu os subsí- de papel, por vezes reaproveitadas, com muitos cortes e
de 1726, dom Luís escreveu ao secretário de Estado, en- dios de como conduzir geograficamente as negociações correções, uma apresentação típica dos manuscritos que
viando-lhe “a carta que me escreveu D’Anville na qual diplomáticas com a Espanha, que não se restringiam D’Anville produzia ou copiava para subsidiar seu traba-
VSa. tornará a ver a razão por que foi preciso” contratar ao território da Colônia do Sacramento. Além de todo lho.202 Nesse, ele discute os argumentos existentes so-
Bion.195 Não se sabem as razões apontadas pelo geógrafo, o apoio na supervisão da aquisição das estampas e dos bre o real posicionamento do meridiano de Tordesilhas,
mas é patente a confiança que dom Luís nele depositava. instrumentos matemáticos, por encomenda do embai- indicando a melhor estratégia para Portugal adotar nas
Nesse sentido, escreveu ao reino que, estando D’Anville xador, o geógrafo comporia um estudo específico sobre negociações com a Espanha.203
supervisionando as compras régias em Paris, “não faltará o meridiano de Tordesilhas. Seu objetivo era “expor os meios geográficos que são
a minha presença”.196 Ainda que dom Luís argumentasse que as medidas a favor e contra nas diferenças que há entre” as duas cor-
de um meridiano não poderiam pôr em xeque o que am- tes.204 Insistia no primado da geografia como norteadora
bas as Coroas haviam estabelecido nos tratados anteriores, das suas considerações, sublinhando, na conclusão, “que
Tordesilhas ele procurou se inteirar da questão do posicionamento a geografia me dita sobre o que interessa à Demarcação.
geográfico do meridiano de Tordesilhas e das suas impli- Isso não depende da vontade humana. A intenção e a
Em 26 de maio de 1724, dom Luís da Cunha re- cações sobre os territórios das conquistas portuguesas. habilidade não podem nada sobre as circunstâncias que
cebeu uma ordem do secretário de Estado Diogo de A seu pedido, D’Anville realizou um trabalho profundo foram discutidas”.205 Sua reflexão, além de se situar na
Mendonça Corte Real para que interpusesse “o meu e detalhado sobre a questão, enveredando por argumen- esteira da dissertação de Delisle sobre as longitudes, ba-
parecer à vista dos ofícios que passou o embaixador de tos tanto geográficos quanto diplomáticos. Documento seava-se nas recentes medidas dos meridianos tomadas
Castela, da resposta que se lhe deu, e do papel que sobre até então desconhecido do público, o estudo do geógra- pelos geógrafos em várias partes do globo, o que era um Manuscrito
o mesmo negócio VSa. fez”.197 Com um histórico das ne- fo era subproduto direto da dissertação de Delisle. novo ingrediente nas disputas territoriais entre portu- da Discussion
gociações travadas entre as duas partes sobre a Colônia Enfim, ao contrário do que sugerira ao secretário gueses e espanhóis. Jaime Cortesão intitulou essa onda géographique
do Sacramento,198 Corte Real buscava trazer a disputa sur la ligne de
de Estado, o embaixador não deixou os geógrafos em como “cultura da longitude”.206 Para os portugueses, o
Démarcation
desse território para o campo da diplomacia, afastando- paz, cercando-se de argumentos geográficos que sub- estabelecimento geográfico do meridiano de Tordesilhas redigido por
-a da discussão geográfica, que fragilizava a posição sidiassem os negociadores portugueses no debate. Em permitiria saber se o posicionamento das terras por- D’Anville para
portuguesa, devido à dissertação de Delisle. Corte Real 1776, D’Anville relata em carta a Charles Gravier, conde tuguesas embasaria sua pretensão sobre a Colônia do dom Luís da Cunha.
concluíra “que o tratado de Utreque resolvera o pro- de Vergennes, ministro dos Negócios Exteriores desde Sacramento e territórios adjacentes e discutir se aquela
blema, substituindo-se esse acordo ao processo difícil 1774, com a ascensão de Luís XVI, “que é real que ha- divisão ainda estaria válida, coincidindo ou não com o meridiano. O tratado, referia-se apenas a “trezentas e se-
e controverso de determinação da linha de Tordesilhas. via feito há alguns anos, [um trabalho] por solicitação domínio que ambas as Coroas de fato haviam colonizado tenta léguas das ilhas de Portugal”.207 Seria do interesse
Não cabia, portanto, aos geógrafos decidir a questão”.199 de dom Luís da Cunha, embaixador de Portugal, sobre ao longo dos séculos precedentes. O documento se inicia desse país, de acordo com o geógrafo, tomar a medida a
Acompanhava o texto um mapa da região do rio da Prata os limites do Brasil, contestados entre as duas Coroas com um histórico das descobertas e das primeiras nego- partir da ilha situada mais a ocidente do arquipélago, de-
com a proposta portuguesa e a espanhola para o me- de Espanha e Portugal”.200 Também em sua Second ciações entre Portugal e Espanha, distinguindo e des- nominada Santo Antônio, enquanto os espanhóis teima-
ridiano de Tordesilhas. Essa última situava a Espanha Mémoire concernant l’Amérique méridionale, D’Anville crevendo os termos da Bula Papal de Alexandre VI e do vam em fazer a medição a partir da ilha de São Nicolau,
mais a leste, diminuindo assim as possessões lusas. se refere ao fato de ter sido solicitado a “tratar desse as- Tratado de Tordesilhas, ambos assinados no contexto do mais recuada, o que lhes era mais favorável.
Dom Luís acreditava que não se deveriam cansar sunto”.201 Nesse documento, não só revela que emitiu sua expansionismo marítimo do século XV. D’Anville destaca ainda que o importante para
os geógrafos com o tema e sim fugir deles, deixando a opinião sobre o tema, como também o fato de ter tido D’Anville destacou o fato de que o tratado fora vago Portugal era poder reivindicar as terras em torno da
questão ser resolvida com base, exclusivamente, em acesso a documentos oficiais, portugueses e espanhóis, em não definir com clareza a ilha do arquipélago a partir Colônia do Sacramento, como contíguas ao Brasil.208
acordos diplomáticos. Na realidade, ainda que consi- para embasar o seu parecer. Esses certamente foram-lhe da qual a medida deveria ser estabelecida, o que compli- Faz então uma longa discussão de natureza geográfi-
derasse importante o uso da cartografia para guiar as fornecidos por dom Luís da Cunha. cava ainda mais a discussão sobre o posicionamento do ca, baseando-se em vários autores e navegantes, para
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Bosque de Minerva
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL O embaixador, o cartógrafo e a biblioteca régia

estabelecer o posicionamento das ilhas de Cabo Verde, das as Filipinas, que no acordo de Saragoça ficara sob
especialmente a de Santo Antônio. A partir dela, su- soberania espanhola.216
gere que, na discussão, um próximo passo seria situar A partir de então, em linhas gerais, dom Luís
as 370 léguas. Nesse momento, como era afeito a seu da Cunha apoiou-se nesses pontos levantados por
método, faz uma reflexão sobre medidas, pois as léguas, D’Anville para encaminhar as negociações: o Tratado
como todas as demais, “variavam sem cessar, seguindo de Tordesilhas não tinha mais validade na região
os diferentes séculos e os diferentes países”,209 “sendo de Sacramento; a posse portuguesa da Colônia do
o termo lieue/léguas muito ambíguo em si mesmo pela Sacramento estava assegurada pelo Tratado de Utrecht,
diversidade que esta medida encontra”.210 Desse modo, ainda que a mesma estivesse fora dos domínios portu-
conclui que a medida mais conveniente seria a légua es- gueses estabelecidos em Tordesilhas; e as Molucas cla-
panhola, utilizada no tratado, que equivaleria a quatro ramente eram possessões portuguesas. Portanto, as ne-
milhas romanas, ou a 19 lieues francesas. Tomando-se gociações deveriam abarcar todas essas questões e não
a circunferência da Terra, isso corresponderia, por grau se limitar ao território da Colônia, e as Molucas seriam
de meridiano, a 17 lieues e meia.211 De um ponto de vista uma das moedas de troca, defendendo a ideia de que a
claramente favorável a Portugal, aponta essa estimativa Espanha não podia reivindicar ganhos nos dois lados do
como a mais vantajosa para essa Coroa. globo. Examinando os prós e os contras alinhavados por
Em seguida, estabelece o posicionamento da linha D’Anville, segundo dom Luís, Portugal poderia se valer
de Tordesilhas sobre o território americano, o que, tanto da geografia quanto da diplomacia para garantir a
segundo ele, demandava uma discussão anterior pela posse da Colônia do Sacramento, demonstrando a ile-
qual primeiro situaria a posição da costa do Brasil. galidade do pagamento feito em troca das Molucas.217
Depois de lançar mão das tábuas do cosmógrafo-mor Há ainda um último ponto a considerar. Ao discu-
de Portugal, Manuel Pimentel; das observações astro- tir o posicionamento da linha de Tordesilhas a partir do
nômicas que George Marggraf tomara no nordeste, arquipélago de Cabo Verde, D’Anville faz uma adver-
durante a invasão holandesa; do mapa do brigadeiro tência que, segundo ele, seria do interesse de Portugal.
português José da Silva Pais; das tábuas de Cassini, Recomenda que a distância de 370 léguas seja medida
conclui que a costa estaria a 36º e 20’ e a linha posi- não a partir do Equador, mas “sobre o paralelo de 17
cionada a 29º e meio de longitude.212 Ou seja, o meri- graus de latitude”, onde estava situado o arquipélago.
diano de Tordesilhas se estendia da embocadura do rio Por que razão? Segundo ele, partindo do pressuposto de
Amazonas, junto ao rio de Cayté, até o cabo de Santa que a Terra não era uma esfera perfeita, os intervalos de
Maria, na entrada do rio da Prata.213 longitude seriam menores nessa altura e isso deslocaria
D’Anville passa então a examinar a linha do outro a linha algumas milhas a mais para o ocidente. Ele então
lado do globo, no mar do Sul (Pacífico). Um dos gran- advertia: “esse debate não podia deixar de lado o novo
des pontos levantados por ele, e que dom Luís repe- sistema dos inteligentes sobre o formato da Terra”.218
tirá à exaustão, era estender a discussão não apenas Ao contrário do que dom Luís da Cunha advoga-
à América, mas também ao oceano Pacífico, onde as ra até então, as reflexõs de D’Anville sugeriam que a
Molucas eram disputadas. D’Anville adverte que, ha- negociação dos limites na América não poderia se ater
vendo favorecimento dos espanhóis “no que concerne à apenas ao que fora estabelecido nos tratados anterio-
América meridional, os portugueses tinham igual razão res, mas também no que dizia respeito à geografia.
em reclamar as Filipinas”.214 Nesse aspecto, assegura- A associação dos dois, a partir dos anos 1720, que culmi-
va que “as Filipinas inteiras, mais ainda uma parte de nará na produção da Carte de l’Amérique méridionale,
espaço de mar que as separa das ilhas Marianas, tam- é testemunha inconteste do reconhecimento por parte
bém estão na parte portuguesa”.215 Isso era uma grande do embaixador da ligação intrínseca e importante entre
novidade, já que os portugueses tinham comprado as diplomacia e cartografia. A essa última devotará cada vez
Molucas pelo Tratado de Saragoça. Ele não tinha dú- mais atenção, contribuindo diretamente para a produ-
Na página anterior,
vidas: não só as Molucas pertenciam geograficamente ção de uma cartografia do Brasil que subsidiasse as fu-
Émilie du Châtelet
a Portugal, não necessitando para isso reivindicar a turas negociações luso-espanholas acerca de suas fron- (1706-1749), física
compra que dom João III fizera a Carlos V, como to- teiras na América do Sul. e matemática.

128 129
C ONTINENTE
de PAPEL
Parte II
UM SABER MODERNO
A Carte de l’Amérique
méridionale

Somente a partir de uma leitura crítica o início de sua carreira, D’Anville tornou-
da cartografia antiga pelo geógrafo -se bastante renomado pela produção de
uma cartografia histórica, ligada à sua
moderno, com melhorias, acréscimos
atuação na Académie des Inscriptions
e esclarecimentos, uma nova carta et Belles-Lettres, pela qual buscava completar o estu-
poderia ser realizada. [...] Porém, a Carte do da história por meio da geografia. No entanto, ele
de l’Amérique méridionale exigia do também se dedicou à geografia moderna, orgulhando-
cartógrafo uma postura radicalmente -se de “usar os meios que se pode ter para enriquecer a
Geografia pelos novos conhecimentos”.1 Nesse campo,
diferente, já que para essa região
ele reservava um lugar especial à Carte de l’ Amérique
tal tradição não existia. méridionale, com primeira edição em 1748, apontando
em seus escritos algumas das razões para isso.
Em sua visão, o continente sul-americano permi-
tiu, como nenhum outro, o avanço dos conhecimentos
geográficos disponíveis em sua época, pois,
Carte de l’Amérique
méridionale, de D’Anville [um] continente tão vasto em geografia, compreen-
(1737), produzida para
dendo em longitude a oitava parte da circunferência
o duque de Orléans,
da terra sobre o Equador e 63 graus de latitude, nos
então de Chartres.
dará oportunidade de juntar às novas aquisições um
Acima, América,
de Stephan Kessler, grande melhoramento no detalhe do que se acreditava
visão do século XVII. que fosse conhecido.2

133
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL

da tecnologia disponível. Dessa forma, o mapeamento


do subcontinente sul-americano se configurava como
um adequado laboratório de testes para as teorias so-
bre o formato da Terra. Por isso, D’Anville escolheu a
projeção mericilíndrica para desenhar o seu mapa.5
Frequentemente utilizada por ele para representar os
hemisférios, essa projeção apresenta-os como cones
que se desenrolam sobre um plano, acentuando, dessa
forma, a diminuição da distância entre os meridianos à
medida que se aproximam dos polos, o que expressa a
sua adesão, por essa época (1748), à teoria newtoniana.6
D’Anville também ressaltou a importância da sua
carta diante do desconhecimento de uma extensa área
no interior do Brasil, considerado por ele como “objeto
A determinação de grande especulação (...) em um continente dos mais
do meridiano de vastos em geografia (...)”.7 Em suas obras, insistiu várias
Paris e a precisão
vezes nesse aspecto, empregando termos como vazio, nu
na medida das
longitudes foram e desconhecido ao se referir a espaços territoriais ainda
fundamentais não conhecidos pelos geógrafos. Segundo ele, as grandes
para a a adoção novidades geográficas naquele século seriam observadas
de princípios
iluministas na
no continente sul-americano, pois “o interior desse gran-
Geografia do de espaço de terra” era ainda desconhecido.8 Esperando
século XVIII. contribuir, ele afirma que sua “Carte de l’Amérique
méridionale desnuda aos olhos, com o detalhe do local,
Não por acaso, uma das duas expedições organi- muitas circunstâncias novas, segundo o estado vazio de
zadas, em 1735, pela Académie Royale des Sciences de nossos conhecimentos em espaços totalmente nus”.9 Em
Paris, a fim de medir a largura da Terra no equador e nos contraposição à ignorância sobre a geografia interior des-
polos, dirigiu-se à América do Sul. D’Anville, porém, se continente, D’Anville apresenta seu mapa como aquele
chama atenção para o fato de o continente ser extenso que melhor permitiria conhecer “o que nas cartas prece-
não só no sentido leste-oeste, mas também no norte- dentes se buscou transmitir como coisas vagas e de pura
-sul, permitindo observar, consoante o sistema newto- presunção nas suas configurações, o que era anterior-
niano de uma Terra achatada, a contração dos meridia- mente um vazio absoluto”.10
nos à medida que esses se aproximam dos polos.3 A memória que escreveu sobre sua Carte de l’Inde,
Por essa época, duas teorias dividiam a comunida- publicada em 1753, apresenta mais uma razão para o
de savant europeia acerca do formato da Terra, que não importante papel que o geógrafo atribuía à Carte de
deixavam também de refletir rivalidades e pretensões l’Amérique méridionale. Nessa memória, D’Anville es-
nacionalistas sobre qual país - França ou Inglaterra — clarece que a produção do mapa da Índia tinha que se
teria o primado da ciência. De um lado, a partir da teoria assentar sobre uma base cartográfica herdada da Anti-
Na página seguinte, de Descartes, a escola francesa defendia que seu formato guidade. Para ele, somente a partir de uma leitura críti-
índio da tribo era oblongo, devido ao seu estreitamento no equador e ao ca da cartografia antiga pelo geógrafo moderno — com
Yumbo, que vivia
próximo a Quito,
seu alongamento no sentido norte-sul. De outro, segun- melhorias, acréscimos e esclarecimentos — uma nova
local estratégico do as proposições de Newton, a escola inglesa sustentava carta poderia ser realizada. Segundo ele, tal mecanismo
para a medição que a Terra era esférica, mas achatada nos polos, como poderia ser empregado na cartografia dos três grandes
do arco meridiano
resultado da ação da gravidade sobre o globo terrestre.4 continentes — Ásia, Europa e mesmo África — por terem
no Equador e o
desvendamento do No entanto, as medições realizadas até então eram sido eles representados cartograficamente desde a Anti-
formato da Terra. inconclusivas e apontavam os limites dos métodos e guidade.11 Porém, a Carte de l’Amérique méridionale
134
Um saber moderno
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL A Carte de l’Amérique méridionale

atualizarem a data na cartela e incluírem observações tais l’Amérique méridionale.21 Porém, apesar de não ter im-
como “revista e ampliada em muitos lugares seguindo as primido um livro, como fez com outros mapas seus, ele
Memórias mais recentes”,17 ou ainda “de acordo com as publicou duas memórias sobre o mapa, assim como arti-
mais novas exatas observações”,18 ou mesmo “tirada de gos, logo após a sua impressão, no Journal des Sçavans,
todas as Relações que apareceram até o presente”.19 que saíram nos meses de março e abril de 1750.22 Esse
Humboldt foi um dos que se queixou do fato de jornal, ligado à Académie Royale des Sciences de Paris,
D’Anville, “ao fazer importantes correções nas chapas constituía o principal veículo de publicação dos cien-
de cobre de seus mapas, não ter gravado o período em tistas franceses. Mais tarde, em 1779, D’Anville redigiu
que foram feitas”. Segundo o famoso viajante do início ainda mais duas memórias manuscritas, nas quais se
do século XIX, entre as consequências desse lapso es- refere às mudanças posteriores que realizou na carta.23
tava o fato de que os “geógrafos que não sabem as cir- Para conhecermos a Carte de l’Amérique méridio-
cunstâncias podem ser inclinados ao erro sobre as datas nale, comecemos pela análise de sua cartela. Desenhada
de muitas descobertas”.20 Contudo, as memórias escri- por Gravelot, “irmão do autor”,24 ela denota, ao mesmo
tas por D’Anville, nas quais desnuda o processo de pro- tempo, contenção figurativa e rara beleza, consoante o novo
dução das edições da carta, ajudam a desvendar onde e gosto caracterizado pelo racionalismo triunfante, do qual
por que foram realizadas as mudanças, pois tais textos, D’Anville era tributário, já que, segundo afirma, “em-
como o próprio nome indica, eram fontes de repositório pregava uma parte do seu tempo a formar o gosto e o
da memória de todo o processo de produção dos mapas estilo pela leitura dos nossos grandes escritores”.25 Na
à época. O geógrafo inglês John Green foi outro que se cartela, simboliza-se a vitória da cristandade europeia
queixou de D’Anville, pois esse, apesar das promessas, por uma mulher que segura, em uma das mãos, uma
Visão panorâmica exigia do cartógrafo uma postura radicalmente dife- de comprimento por 80 centímetros de largura.14 O não publicara em livro as suas memórias da Carte de cruz, e na outra, um cálice, tendo a seus pés os infiéis
da base medida rente, já que para essa região tal tradição não exis- norte, folha 1, foi intitulado Carte du Pérou et Brésil
na planície de
Yarouqui, em
tia. Tratava-se de um mundo desconhecido — o Novo septentrionale de Tierra-Firma, de Guayana et de la
gravura extraída Mundo. Assim, a América, como entidade geográfica, Rivière des Amazones. O centro do continente, folha 2,
da obra Viagem seria uma construção dos modernos, constituindo-se corresponde à Carte qui represente la partie méridionale
ao Equador,
como o único espaço continental inteiramente elabora- du Brésil, et du Pérou, Le Chili Septentrional, et le
de La Condamine.
do à luz de uma nova e recente geografia. Em seu livro Paraguay. O sul, folha 3, foi representado na Carte du
publicado em 1777, Considérations générales sur l’étude Chili Méridional, du Rio de La Plata, des Patagons et du
et les connoissances que demande la composition des Détroit de Magellan.
ouvrages de Géographie, ele reafirmou: “Se formos A estratégia de separar as partes do continente em Página de
assistir a um aumento considerável dos conhecimentos três pedaços facilitou a realização de mudanças em áreas rosto do livro
geográficos, será na América que se poderá encontrá- específicas, como aconteceria nos anos seguintes. Foram Considerations
Génerales sur
-los, e justamente no interior desse grande espaço de cinco as reimpressões do mapa, datadas respectivamen- l'étude et les
terra.”12 Observa-se assim que a Carte de l’Amérique te de 1754, 1760, 1765, 1772 e 1779, nas quais D’Anville conoissance
méridionale só poderia ser construída a partir de um alterou pequenos trechos da carta.15 No entanto, por es- qui demande
la composition
conjunto de fontes coevas, produzidas depois do desco- tranho que possa parecer, essas diversas impressões, com
des ouvrages de
brimento da América, e, visto que a penetração do inte- suas correções e ajuntamentos posteriores, foram todas Géographie, por
rior do continente era empreendimento ainda recente, a publicadas com a data de 1748. A permanência do ano da D'Anville, 1777.
maioria delas era praticamente contemporânea ao pro- primeira edição, que traz dificuldades para a identifica- Página de abertura
do Diário dos
cesso de produção cartográfica. ção correta das diferentes reimpressões,16 não era usual
trabalhos dos
Sendo o maior mapa até então produzido por na época, visto que o mais comum era que, quando se acadêmicos
D’Anville, a Carte de l’Amérique méridionale exigiu inseriam modificações em relação ao original, os geógra- enviados por
Ordem do Rei
“três grandes folhas” separadas, cada uma podendo se fos destacassem tal fato para atrair o interesse na compra
sob o Equador
constituir como uma carta à parte.13 Quando juntas, im- da nova edição, ressaltando o grau de precisão alcan- de 1735 a 1745,
portam um mapa de aproximadamente 127 centímetros çado em relação à versão anterior. Para isso era comum La Condamine.

136 137
Um saber moderno
A Carte de l’Amérique méridionale

Monte Cayambe
no Equador,
em litografia
do princípio
do século XIX.

nativos da região. Nessa alegoria do triunfo da civiliza- ser grande patrono das artes. Abaixo da data aparece a
ção sobre a barbárie, os americanos são representados informação “avec privilege”. Por essa época, não existia
por três figuras masculinas. Os dois da esquerda — um na França uma legislação que garantisse o reconheci-
ameríndio selvagem com sua tanga de penas e um nativo mento da autoria de uma obra intelectual, assim como
da região andina, talvez um inca, vestido com um tecido os direitos dela decorrentes. No entanto, havia uma ins-
produzido na região — estão de joelhos, em posição de tituição, – “a Librarie,27 que supervisionava e controla-
submissão, mas ao mesmo tempo de adoração à cruz. va o comércio de livros e impressos”. Segundo a legisla-
O da direita, segurando um arco e flechas, está deita- ção, “a proteção para o autor e o desenhista ou gravador
do languidamente sobre a moldura da cartela e desvela residia na permissão ou no privilégio” concedido por
com um gesto de sua mão o título do mapa. Em volta da esse órgão,28 sendo, de outra maneira, expressamente
moldura estão dispostos elementos regionais da flora e proibida a impressão de qualquer obra.29 Para cada área
da fauna (um tatu, uma ave e uma preguiça),26 sugerin- havia um censor que examinava os títulos a serem apro-
do a exuberância da natureza tropical do continente. vados e, no caso da geografia, isso incluía livros e ma-
Além do título, a primeira seção da cartela osten- pas.30 Mas, mediante o pagamento de uma taxa, que po-
ta a dedicatória ao duque de Orléans, primeiro prínci- deria ser repartida entre o autor, o gravador e o editor, Na página anterior,
detalhe da Carte
pe de sangue da França, grande patrono e patrocinador e do compromisso de depositar três cópias do mapa na de l’Amérique
da obra cartográfica de D’Anville e de quem este era, à biblioteca do rei, a permissão ou privilégio era concedi- Meridional com
época, secretário. Essa referência não só tornava pública do. Esses eram de dois tipos: o exclusif ou général e o a dedicatória ao
duque de Orléans,
a homenagem ao duque, como também conferia status privilège ou permission simple. O primeiro, mais caro,
patrocinador da
ao mapa, relacionando-o a um dos homens mais pode- “garantia direito exclusivo para produzir, distribuir e obra cartográfica
rosos da França, conhecido por sua vasta cultura e por vender o produto pela França, por um período de três de D’Anville.

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Um saber moderno
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL A Carte de l’Amérique méridionale

a vinte anos”. O segundo, mais barato, permitia que o assim contribuir para desvendar o formato da Terra, fo- de Maldonado, cuja contribuição ele restringe à geogra- com os savants franceses e dar início a uma produção
autor vendesse seu trabalho a mais de um editor, e co- ram fundamentais para o aprimoramento da cartografia fia da “parte setentrional do Peru”.37 cartográfica que ilustrasse o domínio espanhol sobre a
bria um período de três a seis anos.31 Ao arcar com um de D’Anville na região do Vice-reinado do Peru. Um a Quando La Condamine chegou de volta à França, região.49 Ele levantou os dados, mas a carta foi começa-
privilège simple para a Carte de l’Amérique méridionale, um, os membros dessa expedição, à medida que retor- Bouguer, que chegara antes dele, já havia lido na as- da e terminada sem a sua presença, já que, em junho de
D’Anville garantia a produção, venda e distribuição de naram à França, tornaram-se colaboradores do geógrafo. sembleia da Académie Royale des Sciences de Paris, de 1747, Maldonado teve que partir para a Holanda a fim de
seu mapa, controlando todo o processo de edição, mas No entanto, ao contrário do que afirma a cartela, a 14 de novembro de 1744, sua Narrativa abreviada de comprar um atlas de 125 tomos para a biblioteca do rei
por um período mais curto. Conforme estava escrito à contribuição da expedição não se restringiu à parte his- uma viagem ao Peru.38 Nela, “fazia a relação da sua via- da Espanha50 e de lá seguiu para a Inglaterra, onde mor-
esquerda da cartela, e fora anunciado no Mercure de pânica do continente, já que foram importantes também gem e das operações que tinha feito para saber a figu- reu em fins de 1748.51 Substituindo-o, La Condamine
France,32 o mapa podia ser adquirido no próprio ate- para o estabelecimento de todo o curso do rio Amazonas:34 ra da Terra”.39 Por essa razão, La Condamine resolveu interferiu em sua finalização.52 No entanto, a carte-
liê do autor, nas galerias do Louvre. A emissão de um Devido a vários percalços, a permanência em terras ame- concentrar a divulgação dos seus feitos na Amazônia. la do mapa, em espanhol, fazia referência à autoria de
privilégio pela Librarie garantia que a obra estava pro- ricanas prolongou-se em demasia e o impacto das obser- Com dados que afirmou na ocasião terem sido coligidos Maldonado: “Carta de la provincia de Quito y de sus
tegida pelo rei e não poderia ser copiada por outros em vações geodésicas do Peru não foi determinante para a a partir do que observara diretamente no território,40 adjacentes, obra posthuma de don Pedro Maldonado...
território francês. Isso, porém, não impedia a pro- definição do formato da Terra. Desde 1737, a Académie seus textos, lidos na Académie Royale des Sciences de hecha... sobre las proprias demarcaciones/del difunto
dução de cópias em outros países, como foi o caso da Royale des Sciences de Paris já sabia das observações Paris e depois reunidos em livros, eram destinados a autor por el S. D’Anville”.53 Além dessas parcerias, La
Inglaterra, onde muito cedo apareceu uma versão não realizadas na Lapônia, por outra expedição enviada ao impressionar a comunidade inteligente, mas também o Condamine também contribuiu com D’Anville em sua
autorizada do mapa, intitulado Map of South America, polo norte, sob a chefia de Maupertuis, as quais revela- grande público e, por essa razão, sua obra foi publicada Carte de la région du Chiriqui, tirada de um manuscrito
publicada por J. Harrison. ram que, de fato, os newtonianos estavam corretos so- como uma narrativa rocambolesca.41 por ele comunicado ao geógrafo.54
Segundo D’Anville, “o que constitui uma das gran- bre a forma do globo terrestre.35 Por essa razão, dois dos O relato de sua viagem pelo rio foi transforma- Uma primeira vista-d’olhos na Carte de l’Amérique
des vantagens que distingue a Carte de l’Amérique savants da expedição para medir o arco de meridiano jun- do em livro em duas versões um pouco diferentes: a méridionale produzida por D’Anville, em 1737, para
Mapa das rotas méridionale (...) é de ter adquirido no país que ocupam to ao equador, o francês Charles Marie de La Condamine Voyage sur l’Amazone, de 1745, e o Journal du voyage o uso privado do duque de Chartres, na atribuída a
de La Condamine os espanhóis um grau de perfeição que não se deixará de e o hispano-americano Pedro Vicente Maldonado, resol- fait par ordre du Roi a l’Equateur, de 1751. Na publica- c.174255 e na de 1748 revela o avanço alcançado no co-
por mar e terra se lisonjear”.33 Sem sombra de dúvida, os dados coligidos veram voltar à Europa descendo pelo rio Amazonas, pois ção do primeiro, La Condamine se associou a D’Anville nhecimento da geografia da América do Sul. Nos dois
no curso de sua
pela expedição geodésica franco-espanhola, enviada pela o seu curso era de grande interesse entre os acadêmicos para a produção de alguns mapas que ilustraram aspec- primeiros mapas (1737 e c.1742), toda a região central
expedição ao
Equador, por Académie Royale des Sciences de Paris, em 1735, a Quito, europeus, visto que o conhecimento sobre seu posiciona- tos do relato.42 A Carte du cours du Maragnon ou de do continente configura-se como um grande vazio e
D’Anville. para medir um arco de meridiano junto ao equador e mento era, até então, bastante relativo.36 La Condamine la grande route des Amazones veio à luz em 1745 para ostenta os dizeres “país desconhecido”. O volume de
era membro da Académie Royale des Sciences de Paris, figurar nessa edição.43 Baseada em levantamentos de informações geográficas cresce em número exponen-
e Maldonado, um criollo espanhol ilustrado, governador longitudes realizados por La Condamine, foi a primeira cial no mapa de 1748, perceptível pelo detalhamento
da província de Esmeraldas. Por rotas parcialmente dife- carta desse rio feita a partir de um esboço fornecido a da hidrografia das regiões andina, amazônica, sudeste
rentes, os dois percorreram o rio, do Peru até a cidade de D’Anville, “cuja habilidade”, afirma La Condamine, “é e sul do Brasil, revelando o progressivo domínio do in-
Belém do Pará. E as informações que recolheram sobre o conhecida, [e] me foi de grande vantagem para concate- terior do continente pelos europeus. Para isso, foi fun-
posicionamento da sua calha foram, em parte, incorpo- nar e redigir esses materiais esparsos”.44 damental o acesso obtido por D’Anville aos documen-
radas por D’Anville à sua cartografia. Também para acompanhar a edição do livro de La tos da expedição franco-espanhola e também, como
Na parte de baixo da cartela, o geógrafo rendeu tri- Condamine, o geógrafo produziu uma Carte des routes veremos, das fontes portuguesas fornecidas por dom
buto aos membros da expedição por suas contribuições, de m. de la Condamine, tant par mer que par terre dans Luís da Cunha.
mas diferenciou as contribuições de cada um. Escreveu le cour du voyage a l’Equateur.45 Em fins de 1747, os A Carte de l’Amérique méridionale foi impressa
que o estabelecimento do “curso do rio das Amazonas e dois começaram a trabalhar na Carta de la Província por Guillaume Nicolas Delahaye (1727-1802), descen-
seus tributários” havia sido feito a partir da “reunião de de Quito,46 mapa financiado e encomendado pela Coroa dente de uma família tradicional de impressores. Por
documentos” que La Condamine trouxera da viagem, espanhola, tendo sido terminado e enviado a Madri no essa época, sua oficina estava estabelecida na rue de
além das observações diretas que realizara quando des- começo de 1750.47 É bastante provável que a aproxima- l’Arbre Sec, logo atrás do Palácio do Louvre. Delahaye
ceu o rio, já que ele havia feito “a comunicação de tudo ção de D’Anville com a Coroa de Espanha tenha se dado já tinha imprimido para D’Anville, em 1746, a Carte de
que se tratasse de uma curiosidade ativa e esclarecedo- a partir da camaradagem intelectual que dom Luís da l’Amérique septentrionale, e como o geógrafo pretendia,
ra” do que tivera conhecimento durante a viagem à re- Cunha desfrutou com o duque de Huescar, então seu conforme anunciou no Mercure de France, uma unifor-
gião. D’Anville se disse ainda “devedor do uso que tinha embaixador em Paris, apesar da rivalidade entre as duas midade, inclusive de escala, entre as duas cartas, essa
feito de algumas informações importantes” fornecidas coroas. O mapa de Quito, porém, foi desenhado a par- foi, para além de sua destreza no ofício, mais uma razão
por Pierre Bouguer, chefe da expedição, sem especificar tir das anotações de Pedro Maldonado,48 que chegou para a sua escolha como impressor. Mais tarde, prova-
exatamente o que este acadêmico lhe disponibilizou, e a Paris em dezembro de 1746, para entrar em contato velmente pelo mesmo motivo, Delahaye veio a imprimir
140 141
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL

sua Carte de Canada, Louisiane et Terres Angloises, de D’Anville. Uma de suas maiores preocupações era com
1755,56 e a Carta de la Provincia de Quito.57 a forma como as informações eram dispostas em cada
A Carte de l’Amérique méridionale está orienta- carta para garantir a sua clareza. Uma das evidências
da pelo meridiano de Ferro, que cortava uma das Ilhas do seu gosto era o cuidado que despendia na grafia e
Canárias, e que, por essa época, conforme popularizado na nomenclatura dos topônimos, em relação às quais
por Delisle, a cartografia francesa utilizava como pri- D’Anville estabeleceu regras bem estritas: 1) o nome
meiro meridiano ou meridiano de referência. Um dos dominante deve vir no centro, na horizontal e em letras
aspectos interessantes desse meridiano é que se torna- maiores; 2) o nome das províncias deve ser centralizado,
ria um marco simbólico, por estar a meio caminho entre na horizontal, em letras grossas; 3) o nome dos rios deve
o Novo e o Velho Mundo.58 Contrariamente ao que era seguir seu curso; 4) os nomes dos lugares devem ser de
convencional quando se utilizava o meridiano de Ferro, preferência horizontais, mas para evitar “a monotonia
contavam-se as longitudes positivas crescendo para fastigiosa e mesmo fatigante, [que] não dá uma ideia da
oeste, e não de 0º a 360º para leste. variedade que a natureza colocou na sua obra”, o autor
Bem de acordo com o seu estilo, cuidadoso em re- poderia aí experimentar certa liberalidade.61
lação ao estudo e ao estabelecimento comparativo das A análise das cartas de 1737 e c.1742, não idênticas
medidas para configurar sua cartografia, o mapa ostenta entre si, apesar de muito semelhantes, revela o início
quatro escalas diferentes. A primeira, em léguas france- da aplicação de seu método de grafia dos topônimos.
sas, é a que o mapa utiliza como padrão de referência. Assim, por exemplo, o nome dos Pampas, logo abaixo
A segunda refere-se a léguas marítimas francesas, in- do de Buenos Aires, que aparece na vertical e descen-
glesas e espanholas, medidas necessárias para a nave- tralizado na primeira, é modificado para a horizontal
gação, pois os mapas eram importantes para guiar os e centralizado em relação ao território a que se refere.
navegadores, e a incerteza da navegação “de um vasto
Mas é na versão de 1748 que todas as regras são per-
oceano” demandava “a prudência de ter esse espaço de
feitamente aplicadas. O nome da planície de Tucuman,
mar mais referido”.59 A seguir vinham léguas espanho-
por exemplo, é espelhado em relação às duas cartas an-
las que, como explica ele, também eram utilizadas pelos
teriores, para ficar na posição correta para o leitor, da
holandeses na Guiana. Por fim, há uma medida de iti-
esquerda para a direita. A região do Paraguay é exem-
nerário, que se refere à correspondência entre as horas
plar, e as informações, apesar de abundantes, estão
e as distâncias percorridas por um viajante num dado
dispostas de forma perfeitamente clara, o que ocorre
trecho. Além de mapas, os geógrafos de gabinete uti-
devido à maestria com que ele manipula os diferentes
lizavam constantemente os relatos de viagem que des-
tamanhos, espessuras, afastamentos e formatos das le-
creviam a geografia do lugar: são os chamados mapas
tras e a maneira como e onde posiciona os topônimos. A
mentais. D’Anville tornou-se um especialista na trans-
letra do nome da região é maior e mais grossa; os nomes
formação das informações geográficas contidas nesses
dos rios seguem seus cursos; os dos lugares, a maioria
relatos em representações cartográficas e, como se verá,
Na página seguinte, missões jesuíticas, estão frequentemente na horizon-
esse tipo de documento foi utilizado como fonte em vá-
na carta de D’Anville tal, mas quando necessário, para maior clareza, como
rias partes da Carte de l’Amérique méridionale.
de 1737, acima, é o caso de Santa Maria do Iguaçu, a regra é quebrada
o nome dos Pampas
para ajustar a longa extensão desse nome ao pequeno
é grafado na vertical e
descentralizado. Com Topônimos espaço em branco disponível. Comparando essa região
o desenvolvimento com a das Minas Gerais, observa-se que, em ambas, o
de seu método de formato e tamanho das letras permite hierarquizar os
Uma análise dos três mapas (1737, c.1742 e 1748)
organização dos
topônimos, na revela o desenvolvimento de seu estilo, que atingiu núcleos de povoamentos e diferenciar acidentes geo-
carta de c.1742, “uma espécie de perfeição”, a ponto de sobre eles ser gráficos. Nos dois mapas anteriores, isso não acontecia
abaixo, o mesmo afirmado que “foram desenhados com tanto de gosto e de forma evidente. No de 1737, as urbes são quase todas
nome é colocado
de clareza”.60 Se dom Luís da Cunha considerava que representadas pelo mesmo símbolo — círculos verme-
na horizontal e
centralizado em Delisle era pouco cuidadoso no que dizia respeito ao lhos — apesar de algumas poucas e raras, como Buenos
relação à região. acabamento de seus mapas, o inverso pode-se dizer de Aires, serem encimadas por uma cruz — e, no de c.1742,
142
Um saber moderno
A Carte de l’Amérique méridionale

terem sido simbolizadas apenas por um círculo sem cor. Outra preocupação de D’Anville dizia respeito à to-
Além disso, nesses dois mapas, pouco se nota em rela- ponímia.66 Nas duas primeiras cartas (1737 e c.1742), os
ção a diferenças de tamanhos das letras. nomes estão escritos em francês, o que contrasta com a
Todo esse cuidado não se restringia às represen- versão de 1748, onde os topônimos, com raras exceções
tações da geografia física. Bem ao seu gosto de pensar (é o caso do Brasil, estampado com a grafia france-
uma geografia humana, D’Anville não deixa de atentar sa Brésil), figuram em espanhol, português e mesmo
para muitos povoamentos que não existem mais. Nesse nas línguas indígenas. Para D’Anville, a nomenclatura
caso, o mapa se torna um testemunho vivo da presen- deve respeitar a língua local. E, para isso, os geógrafos
ça humana e da transformação do espaço ao longo do tinham que “conhecer entre as nações dominantes, os
tempo, funcionando como uma enciclopédia, pela reu- termos próprios para designar a natureza dos lugares,
nião de informações etnográficas, de história natural, rios, montanhas, ilhas, etc.”.67 Em relação à toponímia,
de geografia ou de história. Tal é o caso das missões do advogava algumas regras bastante estritas, como o res-
Paraguai, que ele conhecia bem devido às informações peito à grafia do nome na língua do lugar cartografado e
recebidas dos jesuítas por ocasião da realização da carta não na do autor do mapa, seguindo a grafia primitiva do
dessa Província para as Lettres edifiántes et curiouses. nome, mesmo quando houvesse alterações posteriores.68
Assim, no mapa de 1748, ele informa, no canto superior Isso exigia um conhecimento e um estudo aprofundado
direito, que, “muitos lugares que tem esta marca + de- dos idiomas, o que permitiria, segundo ele, a construção
signam as vilas ou as missões que não existem mais”.62 de um dicionário de topônimos geográficos, de muita
Outras informações remontam ao processo de desco- utilidade e interesse.69 Defendia que a nomenclatura era
berta e colonização do continente. No Chile, o porto ponto que não podia ser negligenciado na hora de dese-
próximo ao arquipélago dos Chonos “foi encontrado nhar um mapa. Na Carte de l’Amérique méridionale, seu
pelos ingleses em 1741”; o vulcão da Ilha do Fogo foi espírito meticuloso levou-o a cuidar de cada toponímia
“visto em 1712”; o arraial de Nossa Senhora de Nieves empregada nos mínimos detalhes. Por exemplo, ele opta
de Yurimaguas, junto ao rio Amazonas, havia se ori- pelo topônimo “rio das Amazonas”, 70 mas registra que o
ginado de uma “antiga missão espanhola”; o encontro mesmo rio, “abaixo do rio Negro, é chamado pelos portu- Na página anterior,
acima, nos trechos
entre o rio Ené e o Apurinac, no Peru, foi “levantado em gueses rio de Solimoens ou rio dos Peixes”.71
que representam
1742”.63 A datação de eventos reflete a temporalidade No entanto, o médico Antônio Ribeiro Sanches es- o território das
presente na produção do mapa. creveu, referindo-se à toponímia da Carte de l’Amérique Missões Jesuíticas
méridionale, que “muitos nomes de rios e de lugares, que (à esquerda)
A apuração desse gosto, marcado pela contenção e
e as Minas Gerais
racionalidade figurativa, faz D’Anville praticamente não se leem no dito Tratado [de Santo Ildefonso], não se acham
(à direita),
colorir suas cartas. A base das montanhas (sempre da na Carta de Mr. D’Anville, e pelo contrário, ou porque são o formato e o
esquerda para a direita); o litoral; os rios e lagoas, in- escritos por um estrangeiro, ou porque este geógrafo não tamanho das letras
teve deles conhecimento”.72 De fato, a despeito de todo o hierarquizam
dicando a existência de água, são apenas hachurados.64
os núcleos de
Nas duas primeiras cartas, as cores, bem mais presen- cuidado do geógrafo, nuances da escrita das línguas lo-
povoamento
tes, demarcam os limites entre as províncias e distin- cais lhe escaparam. Solimões é grafado como Solimoens, e diferenciam
guem as possessões: as portuguesas, em verde água; as Baixos como Baxos, Casa como Caza e Boipeba como acidentes
Buipeba. No caso da América meridional, seria necessá- geográficos.
espanholas, em vermelho; as francesas, em amarelo; e Abaixo, cores
as holandesas, em verde. Na de 1748, apenas algumas rio, além do emprego de nomes em português e espanhol,
demarcam
cópias apresentam cores. Nesse caso, são utilizadas para a inclusão de nomes indígenas. Apesar disso, D’Anville os limites entre
demarcar as fronteiras externas entre a América portu- demonstra certo domínio no campo linguístico desses as possessões.
idiomas e até mesmo na sonoridade das palavras. Num As portuguesas
guesa e a espanhola, e os diversos vice-reinados exis- estão em verde
tentes nessa última, com a linha do equador colorida de texto sobre a pronúncia dos topônimos, escrito no canto água; as espanholas,
marrom.65 No caso do mapa de 1737, produzido para a direito superior da carta, ele alerta o leitor que, em vermelho;
as franceses,
instrução do duque de Chartres, as cores apresentam para bem ler ou pronunciar os nomes indígenas, é pre-
em amarelo; e
claramente sua virtude pedagógica, de ressaltar as divi- ciso estar prevenido que todo final é fechado, diferen- as holandesas,
sões políticas do território para o diligente aluno. temente dos nomes que são espanhóis ou portugueses; em verde.

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Um saber moderno
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL A Carte de l’Amérique méridionale

e que não somente esta vogal, mas todas as outras que ilhas formadas pelos braços do rio dos Sauces são habi-
terminam uma palavra; a sua pronunciação ainda que tadas pelos brancos”.77
sendo muito mais marcada, do que comumente a pe- Mas os indígenas não se constituem apenas como
núltima ou a sílaba precedente a esta, é breve. Observa- informantes da geografia local. De acordo com o espírito
-se também, que duas vogais, uma junto da outra, não iluminista, uma etnologia nascente converteu os nativos
formam ditongos, e se pronunciam separadamente.73
em objetos de estudo dos savants europeus. A cartogra-
É indicativo do seu conhecimento acerca do signi- fia foi um dos suportes materiais para a cristalização das
ficado das palavras indígenas o modo como grafa o to- informações e de visões que os europeus tinham sobre
pônimo “pampas”. Logo abaixo do nome, ele informa esses povos. No entanto, os mapas, ainda que eficien-
que “as grandes planícies são chamadas pampas, de uma tes para dar visibilidade ao conhecimento recolhido por
palavra indígena que na língua Quichua do Peru significa exploradores europeus, apresentavam limites quanto à
propriamente vale”.74 E um indício de que as cópias de sua fidedignidade. A dificuldade em registrar o cará-
seus mapas realizadas fora da França não eram autoriza- ter nômade de grande parte desses povos, por exem-
das por ele é o descuido em relação à grafia dos topôni- plo, pode ser observada em vários mapas. Na Carte de
mos. No caso das cópias feitas na Inglaterra, por exem- l’Amérique méridionale, ao se referir aos nativos que
plo, ocorre uma mistura do idioma local com o francês habitavam os pampas, D’Anville informa “que vivem
e o inglês. D’Anville tinha razão em se queixar desse errantes por essas planícies”.78 Quanto aos tupinambás,
seu copista, cujas cópias, dizia, eram “de uma execução esses constituíam “uma grande nação e que, de sua pri-
grosseira, (...) muito longe de ser elegante, como nas car- meira morada nas costas do Rio de Janeiro, se estendeu
tas originais”.75 Uma rápida comparação de um mesmo até aqui [interior do nordeste do Brasil] e se espalhou
trecho da carta em uma edição francesa e outra inglesa, mesmo até a fronteira do Peru”.79
entre o trópico de Capricórnio e a cidade de Salvador, re- Além dessas, o mapa apresenta várias informações
vela essas discrepâncias. Por exemplo, Cabo Frio se torna de caráter etnográfico, no que diz respeito às nações
Cape Frio, Baxos de Abrolhos é grafado como Banks of indígenas: na Guiana francesa, estão os “amiccouanes,
Abrolhos, St. Antonio vira St. Anthony e Bahia de Todos nação de grandes orelhas”;80 no Brasil, “cujo interior é
os Santos torna-se B. of All Saints. Nesse caso, o copis- desconhecido em grande parte, os naturais do país são
ta estava mais interessado em tornar o nome dos locais chamados de um nome comum - tapuias”;81 nos pam-
acessíveis ao público consumidor inglês do que ser fiel pas se encontravam os “puelches, chamados serranos, Na página anterior,
exemplos de
à nomenclatura local, como advogava D’Anville firme- ou da montanha”, pois viviam próximo a uma grande informações
mente. Não é de se estranhar que esse último se sentisse Sierra;82 já na Patagônia “se estabeleceram os Argeles e etnográficas na
duplamente traído por essas cópias. Cesares, que se diz serem misturados com os espanhóis Carte de l’Amérique
O movimento de interiorização da América do Sul, méridionale:
saídos do Chile em 1554”. Curioso é que, no Suriname,
acima, lê-se que
intensificado ao longo do século XVIII, colocou os eu- D’Anville situou nas cabeceiras do rio de mesmo nome, os tupinambás
ropeus em contato com diversos povos nativos, muitos cuja foz se situa em Paramaribo, uma colônia de “negros constituíam “uma
deles até então desconhecidos, e os mapas da época, a muçulmanos”, referindo-se a uma comunidade de es- grande nação que
Carte de l’Amérique méridionale inclusive, são espe- se espalhou …
cravos fugidos.83 até a fronteira do
lhos desse movimento. Mapas indígenas ou os próprios Peru”, os demais,
nativos se tornaram grandes fontes de informação so- desconhecidos,
bre a geografia local, indispensáveis para a penetração Fontes eram chamados
de “tapuias”.
nessas áreas, e as formas de apropriação do conheci-
Abaixo, lê-se
mento geográfico indígena muitas vezes transparece De volta à cartela do mapa, se ela não esclarece todo que na Patagônia,
na cartografia produzida pelos europeus.76 Na Carte de o seu processo de produção, como se queixaram diver- “se estabeleceram
l’Amérique méridionale há vários exemplos de contri- sos geógrafos, permite tecer algumas considerações. os Argeles e
Cesares, …”
buições das populações locais para a feitura do mapa. Em primeiro lugar, a despeito de toda a profusão de
misturados com os
Junto ao litoral dos pampas argentinos, por exemplo, documentos de que o geógrafo se valeu para desenhar espanhóis saídos
D’Anville escreve que “os índios reportaram que as o mapa, muitos oriundos de indivíduos anônimos que do Chile em 1554”.

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Um saber moderno
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL A Carte de l’Amérique méridionale

palmilharam os sertões do interior do continente, alguns região referente à sua contribuição, “que concerne prin-
dos quais comunicados a ele por meio de documentos cipalmente ao curso do rio das Amazonas e dos seus rios
fornecidos por dom Luís da Cunha, outros de uma lon- tributários”. Ao ser redigido dessa forma, o texto indica
ga tradição que remontava aos séculos XVI e XVII, é so- de maneira sub-reptícia que a grande área de interesse e
mente aos savants da expedição geodésica a Quito que inovação cartográfica do mapa residia na região amazôni-
D’Anville rende tributo evidente. Certamente, valia-se ca, eclipsando as demais visitadas pela expedição. Dessa
do prestígio que seus membros desfrutavam junto à co- forma, contribuía para a estratégia de La Condamine de
munidade científica para conferir maior credibilidade destacar sua importância para o conhecimento do curso
a seu mapa. Apontar as redes de informantes/viajantes desse rio em detrimento dos feitos dos demais membros
utilizadas era expediente comum entre os geógrafos. da expedição.
Mas, a expedição geodésica a Quito não era uma expe- Em terceiro lugar, as contribuições dos expedicio-
dição qualquer. Ela tinha reconhecimento internacio- nários de Quito são apontadas nominalmente. D’Anville
nal não só por ter contribuído para a solução de um dos destaca primeiramente La Condamine, a seguir Bouguer
grandes enigmas científicos daquele século - o for- e, por fim, Maldonado. Dessa forma, ele hierarquiza
mato da Terra - como também por ter participado do suas contribuições, refletindo a hegemonia progressiva
grande esforço de remodelação geográfica da entidade que La Condamine alcançou, após seu retorno a Paris,
sul-americana a partir de uma experiência concreta de capitalizando para si os louros oriundos da divulgação
viagem pela região amazônica e andina, incrementando dos resultados da expedição.85 De fato, percebe-se que a
o conhecimento sobre essas áreas. Simbolizava, como cartela reflete as disputas entre os expedicionários após o
nenhuma outra, o progressivo domínio dos europeus seu retorno à Europa,86 pois assim que todos se reuniram
sobre a geografia do globo em geral, e da América em em Paris, Maldonado e Bouguer acusaram La Condamine
particular, especialmente sobre o primado da observa- de deslealdade ou mesmo de cometer alguns erros.87 O
ção e da tomada de medidas in loco, utilizando-se para texto da cartela, no entanto, alinha-se a esse último, ao
isso de instrumentos matemáticos modernos. Era este circunscrever as regiões geográficas a que cada um deles
o tipo de conhecimento geográfico, em detrimento da forneceu informações, cabendo a La Condamine aquelas
geografia de gabinete, que a Académie Royale des sobre o Amazonas e sua rede de rios, considerada a re-
Sciences de Paris advogava cada vez mais. D’Anville, gião mais importante; e a Pierre Bouguer e Maldonado,
ainda um geógrafo à moda antiga, distante em seu gabi- apenas detalhes da região setentrional de Quito.88
nete, não partilhava do esforço de reconhecimento em- Cotejando o texto da cartela e o das memórias so-
pírico do vasto mundo ao seu redor, não era um “via- bre o mapa, uma das questões que salta aos olhos é a
jante artista”.84 Mas, ancorando as informações geográ- desqualificação e apagamento dos integrantes espa-
ficas dispostas em seu mapa da América do Sul numa nhóis da expedição geodésica. Eram eles: Jorge Juan e
das mais importantes expedições científicas do seu tem- Antonio Ulloa, além de Maldonado. Na primeira memó-
po, ele compartilhava do trabalho hercúleo de remode- ria sobre a Carte de l’Amérique méridionale, publicada
lar a feição geográfica de todo o globo, pintado com suas em março de 1750, no Journal des Sçavans, D’Anville
cores, isto é, a seu modo. Como a expedição de Quito, reconhece que “o mérito dessa carta é devido aos aca-
D’Anville - por meio de suas cartas — inseria-se no dêmicos franceses, que empregaram muitos anos na
esforço de publicação e divulgação dos resultados das medida dos graus do meridiano nas vastas extensões do
recentes explorações, e assim dava a ver o continente Peru”. Em seguida, nessa mesma memória, ele desta-
sul-americano. Quando trazia à luz, na cartela do mapa, ca que “o que há de mais perfeito nessa carta consiste
Na página
seguinte, “Guia de
as contribuições desses acadêmicos para a produção da na parte das cercanias de Quito”,89 contradizendo o seu
Caminhantes”, sua carta, ao mesmo tempo integrava-se a essa tradição texto da cartela do mapa que enaltecia a Amazônia como
da Coleção de de desvendamento científico do mundo sob o primado a grande contribuição. Na memória, no entanto, ao des-
mapas de diversas
da observação direta e legitimava o seu trabalho. tacar a área ao redor de Quito, o nome de Maldonado
regiões do Brasil,
de Anastácio de Em segundo lugar, ao render tributo a esses via- não é sequer mencionado, apesar de ter sido ele quem
Santana, 1817. jantes/exploradores, o texto da cartela circunscreve a colheu a maioria das informações geográficas da região,
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O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL A Carte de l’Amérique méridionale

registradas num mapa primitivo,90 de acordo com a memórias e seus textos escritos sobre a Carte de utilizou um mapa da sua costa e ilhas circunvizinhas le-
documentação diplomática da época e com o reconhe- l’Amérique méridionale, bem como sua coleção de QUADRO I vantado por La Condamine, que por sua vez se valeu de
cimento de sua autoria póstuma na cartela da Carta de mapas que hoje se encontra depositada na Bibliotèque h uma carta do padre jesuíta Magnin, obtida durante a sua
la Provincia de Quito. Os demais membros da partida Nationale de France, pode-se rastrear o conjunto de Local cartografado nos mapas estadia na região.101
referentes à América meridional96
espanhola não são nem ao menos referenciados na car- documentos incorporados criticamente na carta de O Paraguai, com 18 cartas, agrega a cartografia re-
tela da Carte de l’Amérique méridionale. Jorge Juan e D’Anville, a fim de que ele pudesse cartografar o conti- LOCAL NÚMERO % lativa ao rio da Prata, e a da região das missões, objetos
Antonio Ulloa mereceram apenas uma breve referência nente sul-americano de um modo inédito, muitos deles América meridional da estrita atenção de dom Luís da Cunha. Não se pode
como um todo* 39 9,3
na memória por terem contribuído para o estabeleci- inéditos e de autores desconhecidos. Brasil 78 18,6 esquecer que D’Anville, em 1733, já tinha publicado uma
mento de uma região do Chile, ao redor da ilha de Chiloé, Guiana Francesa 21 5,0 Carte du Paraguay, nas Lettres edifiántes et curieuses.
tendo o primeiro fornecido “uma memória, que ele fez Paraguai 18 4,3 Desde essa ocasião, ele destacara que o acesso a al-
Guiana Holandesa 8 1,9
acompanhar de uma Carta das Costas da América sobre Mapas Subtotal para a América
guns mapas manuscritos produzidos pelos jesuítas era
o mar do Sul, desenhada em 1747; e nessa carta a costa Espanhola: 256 60,9 fundamental para o conhecimento da área, já que eles
é representada em conformidade”.91 D’Anville se refere Comecemos pela cartografia que ele dispunha na Província da Terra Firme 4 1,0 possuíam ali várias missões de catequese. Em suas pró-
ainda a Maldonado como “um piloto prático”, que “to- ocasião. A enorme Coleção D’Anville reúne os mapas Audiência do Panamá 38 9,0 prias palavras, em consonância com o pensamento do
produzidos pelo geógrafo e aqueles utilizados como fonte Audiência de Nova Granada 33 7,9
mou parte nos trabalhos feitos sobre o terreno, ao visitar embaixador, “a cavalaria dos padres”102 fechava o acesso
Ilha de Curaçao 4 1,0
a costa nas entradas dos rios”, e usa a mesma expressão de consulta. Apoiar-se em cartas precedentes era parte à área, e, por isso, monopolizava o saber geográfico so-
Ilhas Cuba, Marguerite
da metodologia dos geógrafos, cuidando para efetivarem 9 2,1
para se referir a Jorge Juan e Antonio Ulloa: “dois pilo- e de La Trinité bre a região.103 Na coleção aparecem seis mapas da lavra
melhorias e não simples cópias, o que seria danoso à sua Orinoco (Guiana Espanhola) 14 3,3
tos espanhóis e práticos do mar do Sul”. O termo piloto dos jesuítas, com destaque para o de Matthias Seutter,
Peru em geral 7 1,7
— depreciativo em relação a savant — se refere aos que reputação. D’Anville reuniu 462 cartas do continente com o título de Paraguaia Provincia Societatis Jesu cum
Audiência de Quito 18 4,3
se aventuravam pelo sertão, como os paulistas no Brasil, sul-americano, o que corresponde a 4,4% do total da Audiência de Lima 44 10,5 adjacentitus novissima descriptis.104 Esse foi publicado
mas que não possuíam formação científica adequada,92 coleção de 10.502 itens cartográficos.94 Descontadas as Audiência de Les Charcal 6 1,4 em 1732, a partir de um mapa anterior de autoria dos je-
de sua autoria e as produzidas posteriormente a 1748,95 Chili (Ilha de Chiloé) 46 10,9
o que era uma inverdade em relação aos três. suítas, de 1726, atribuído ao missionário Juan Francisco
Ilhas Juan Fernandes 6 1,4
Na cartela, D’Anville toma o cuidado de dizer que encontra-se o total de 420 mapas utilizados como fontes D’Ávila.105 D’Anville também possuía essa carta,106 que
Chili – Terra Magellanique 27 6,4
se valera não só das informações diretas desses viajantes, para a Carte de l’Amérique méridionale (Quadro I). apresenta algumas diferenças em relação à de Seutter,
TOTAL 420 100
mas também de memórias e conhecimentos de tercei- Observa-se que o subcontinente, em seu conjunto especialmente no que diz respeito ao curso do Paraguai e
Fonte: Coleção D’Anville. BNF. DCP. Fundo Ge DD 2987.97
ros trazidos pela expedição, especialmente os recolhi- — incluindo cartas referentes a toda a América ou apenas seus afluentes, o mesmo ocorrendo com o lago Titicaca,
* Foram incluídos nessa categoria os mapas-múndi do
dos por La Condamine. No entanto, essa referência ao a sua porção meridional, ou ainda os mapas-múndi —, continente americano e da América meridional. que aparece posicionado um pouco mais ao norte.
conjunto de contributos anônimos que lhe permitiram representa 9,3% do total dos mapas correspondentes a A análise do Quadro II reflete, quanto ao período
preencher espaços ou incluir enormes vazios na América esse subcontinente, compreendendo 39 cartas. Seguindo de produção das cartas gerais sobre a América meri-
portuguesa aparece na cartela de forma quase impercep- a mesma tendência do conjunto da coleção como um o Chile se explica pela grande extensão desse territó- dional, as tendências da flutuação da produção carto-
tível. Ele apenas menciona que, para estabelecer o curso todo, a cartografia de regiões circunscritas, que corres- rio e pelo fato de que o conhecimento de sua costa era gráfica europeia, que cresce em ritmo exponencial ao
do Amazonas, se valeu “de conhecimentos indepen- ponde a 90,7% do total das 420 cartas, é mais numerosa determinante para a navegação do Pacífico; já os da longo do tempo, considerando-se o século XVIII o de
dente das suas [La Condamine] observações diretas”. do que as que retratam o subcontinente como um todo. Audiência de Quito, pela presença na região da expe- maior produção. Retratando a América como um todo,
Por trás dessa imprecisão e dos termos vagos, porém, O Brasil constitui a província que agrega o maior dição geodésica franco-espanhola, que reuniu e pro- D’Anville possuía cinco cartas do século XVI, sen-
escondiam-se relatos preciosos, um conjunto inédi- número de mapas, totalizando 78 cartas, o que corres- duziu um conjunto cartográfico significativo da área, do duas versões de uma carta de Ptolomeu,107 uma de
to de fontes nunca antes compiladas, indispensáveis à ponde a 18,6% desse total. Sua grande extensão e sua fornecido por seus membros a D’Anville. A Audiência Mercator,108 uma de Forlani109 e uma de Van Langren.110
consolidação do conhecimento geográfico de um conti- diversidade geográfica explicam essa predominância. do Panamá aparece com o número de 38 mapas, porém Nesse século, a cartografia oriunda dos Países Baixos,
nente ainda pouco conhecido e explorado, muitas delas A América espanhola, no seu conjunto, tem a partici- apenas a porção inferior desse istmo aparece represen- especialmente de Amsterdã, é dominante em nível
fornecidas por dom Luís da Cunha. Distantes em seus pação mais significativa. São 256 cartas, 60,9% do to- tada na Carte de l’Amérique méridionale. Do Panamá mundial, o que se reflete em sua coleção. Tal predomi-
gabinetes europeus, esses geógrafos lançavam mão des- tal, mas distribuídas entre as diferentes províncias ou destaca-se um mapa que Bouguer traçou e levou para nância também se dá no século XVII, e 12 mapas (30,8%
se tipo de documentos, oriundos da observação direta, vice-reinados. Dessas, o Chile e a Audiência de Lima a França, e que D’Anville utilizou para desenhar essa do total) provêm dessa mesma origem. Lá estão Blaeu,
essenciais para a representação desses espaços recém- agregam o maior número de mapas. Ao primeiro, po- porção em sua carta.98 Comparando-o com a Carte Visscher,111 Jocodus Hondius,112 e uma reimpressão de
-explorados. De fato, segundo D’Anville, na sua memó- dem ser somadas ainda as 27 cartas referentes à terra réduite de la Mer du Sud,99 de sua autoria, ele conse- Mercator (1512-1594).113 Também, a cartografia fran-
Nas páginas
ria sobre o mapa, “a carta em questão apresenta muitas de Magalhães, já que, segundo D’Anville, esta era uma guiu estabelecer a posição correta do istmo, entre o gol- cesa, que começava a se sobressair no mercado euro-
seguintes, Americae
coisas novas e contém poucas que não tenham rece- denominação equivocada, pois a região fazia parte da fo de Darien, no mar do Sul, e o escudo de Veragua, no peu, aparece representada por Sanson e Nicolas du Fer. nova tabula, de
bido qualquer melhoramento”.93Analisando-se suas Audiência do Chile. O grande número de mapas sobre mar do Norte (oceano Atlântico).100 D’Anville também Como o século XVIII mal começara, esse período está Willem Blaeu, 1635.

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O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL A Carte de l’Amérique méridionale

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O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL A Carte de l’Amérique méridionale

referência no século XVIII, período predominante da in loco. Durante o governo do conde Maurício de Nassau
coleção de D’Anville. Muitas das cartas foram retiradas (1637-1644), representante da Companhia das Índias
dos depósitos do Departamento da Marinha, que, desde Ocidentais, foram realizados importantes estudos de
1720, possuía importante acervo cartográfico para utili- Medicina, História Natural e Geografia sobre o Brasil ho-
zação em expedições sob o seu patrocínio.114 Dos autores landês. O conde trouxe consigo um grupo de sábios, en-
franceses, destacam-se Delisle, com oito mapas, seguido carregados de estudar e ilustrar a natureza e a geografia
de Sanson, com três. Amsterdã, outro centro importan- brasileira. Após o seu retorno, sob o seu patrocínio, fo-
te de produção de mapas na Europa, vem a seguir. No ram publicadas em Amsterdã a História dos feitos recen-
entanto, quando os dados de local e data são cruzados, temente praticados durante oito anos no Brasil e nou-
observa-se que essa cidade domina o conjunto dos sécu- tras partes sob o governo do ilustríssimo João Maurício,
los XVI e XVII, totalizando 10 mapas do total de 17, qua- Príncipe de Nassau, de Gaspar Barleo [i.e. Barléu],118
se 59%.115 Em contraste, do total de 22 cartas do século e a História Natural do Brasil, de Willem Piso, Georg
XVIII, a França aparece como o local de produção de 14, Marggraf e Johannes de Laet.119 Essas duas obras, além
atingindo 63,6% do total desse conjunto, o que reflete o de várias pinturas, como as de Eckhout e Franz Post, dis-
deslocamento do eixo da produção cartográfica impressa ponibilizaram ao público europeu a conformação carto-
da Holanda para a França, no século XVIII.116 Outro fe- gráfica do nordeste brasileiro. Sobre tal região, D’Anville
nômeno observável pela leitura desse mesmo quadro é a possuía um significativo conjunto de mapas e estampas,
maior diversidade de locais de produção cartográfica no totalizando 16 exemplares. As estampas, com suas vis-
século XVIII em relação aos séculos precedentes. Assim, tas de cidades, de aparência tridimensional, constituíam
do século XVI, a Itália comparece apenas com Forlani, também forma de representação cartográfica.
e do século XVII, com Coronelli,117 que viveu parte de
sua vida em Paris, a serviço de Luís XIV. No século
XVIII, figuram ainda a Inglaterra, com Hermann Moll; a
Noruega, com Du Fruzier; e a Espanha, com La Fuente.

QUADRO IV
h
Século de produção das
Incendia molarum sub-representado nesse conjunto, mas mesmo o volu- cartas sobre o Brasil
prafecturae Omnium me de cartas dos dois séculos precedentes juntos não o QUADRO III
Sanctorum - h SÉCULO TOTAL %
supera. São 22 cartas, totalizando 56,4% do total. Ter
Incêndios em Local de publicação das XVII 42 54,5
Salvador da Bahia, acesso às “coisas novas” era fundamental para assegurar cartas gerais da América meridional XVIII até 1748 35 45,5
por Frans Post, 1647. a qualidade de sua Carte de l’Amérique méridionale. TOTAL
LOCAL NÚMERO % 77 100
França 18 46,2 Fonte: Coleção D’Anville. BNF. DCP. Fundo Ge DD 2987.
Amsterdã 13 33,3
QUADRO II Itália 3 7,7
h Espanha 2 5,1 Examinando-se as cartas sobre o Brasil, a partir dos
Século de produção das cartas Inglaterra 2 5,1
gerais da América meridional Noruega 1 2,6
Quadros IV e V, observam-se lacunas em relação a algu- Frontispício da
mas das tendências das cartas gerais sobre a América. As obra Historia
SÉCULO TOTAL % TOTAL 39 100
dificuldades de acesso à cartografia portuguesa, em ge- naturalis Brasiliae
XVI 5 12,8 Fonte: Coleção D’Anville. BNF. DCP. Fundo Ge DD 2987. ..., de 1648, do
XVII 12 30,8 ral manuscrita e para consumo próprio da Coroa, impli- médico e cientista
Subtotal 17 43,6 caram uma produção restrita de mapas sobre o Brasil em Guilherme Piso,
XVIII até 1748 22 56,4 Conforme o Quadro III, a França é o país onde outros centros. Por essa razão, a cartografia dos Países contratado pelo
TOTAL governador da
39 100 foi produzida a maior parte das cartas gerais sobre a Baixos sobre o Brasil, sobretudo aquela resultante da in-
colônia holandesa
Fonte: Coleção D’Anville. BNF. DCP. Fundo Ge DD 2987. América meridional, o que é natural, pois a cartografia vasão holandesa (1630-1654), ocupou papel de destaque no Brasil, Maurício
francesa lhe era a mais acessível, além de ter se tornado na coleção, possivelmente pela coleta de informações de Nassau.

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O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL

A ilha Henri, Baixos, dominam os mapas e as estampas de Blaeu, Post


no Rio de Janeiro, QUADRO V e Marggraf, retratando o Brasil holandês. Em relação à
carta de André h
Thevet, no Local de publicação das produção da França, espelhando o gradativo predomínio
manuscrito Le grand cartas sobre o Brasil da cartografia desse país, ocorre o inverso, sendo sete os
insulaire, descrição mapas do século XVII; e 15 os do século XVIII. No primei-
LOCAL NÚMERO %
de ilhas habitadas
e desabitadas Amsterdã 29 37,6 ro caso, aparecem Sanson120 e André Thevet, que produ-
no Ocidente, França 22 28,6 ziram algumas cartas no contexto da invasão francesa ao
Novo Mundo e Portugual 13 16,9 Rio de Janeiro.121 No segundo, destacam-se Coquart, que
Mediterrâneo, 1686 Itália 7 9,1
esteve na expedição de Duguay-Trouin, pirata francês que
À direira, a ilha Espanha 5 6,5
Inglaterra 1 1,3 atacou o Rio de Janeiro em 1711; Philippe Buache, descen-
das Margaias,
adaptação do nome TOTAL 77 100 dente de uma tradicional família francesa de geógrafos;
Maracajás (atual Amédée François Frézier, membro de uma expedição em
Fonte: Coleção D’Anville. BNF. DCP. Fundo Ge DD 2987.
Ilha do Governador)
1714 ao Chile e Peru, que coletou dados sobre a Bahia e
por Thevet, 1586.
Santa Catarina, a partir dos quais produziu um mapa;122
A conjugação do monopólio português sobre a carto- e La Condamine. Ainda nesse grupo, contabiliza-se uma
grafia do território brasileiro e a visibilidade da cartografia carta de Delisle, publicada em Nuremberg, na Alemanha.
holandesa no período da invasão, conforme se percebe Trata-se da Typus geographicus Chili Paraguay Freti
no Quadro IV, implicaram um maior número de mapas Magellanici, de 1733. Esse mapa retrata um processo típi-
sobre o Brasil do século XVII, em detrimento do século co da cartografia da época, no qual o geógrafo atualiza um
XVIII, diferentemente do que ocorrera com a cartogra- mapa precedente, utilizando a placa anterior de outro.123
fia geral da América e mesmo com o conjunto da coleção. O comércio dessas placas era rendoso e elas eram ardua-
Assim, Amsterdã foi o local de produção do maior núme- mente disputadas entre as dinastias de cartógrafos.
ro de cartas sobre o Brasil, e não a França, representan- Originalmente de autoria do jesuíta Alfonso d’Ovalle
do, respectivamente, 29 (37,6%) e 22 (28,6%), num total (1601-1651), o mapa atualizado por Delisle e impresso por
Na página seguinte, de 77 mapas. No entanto, cruzando os dados de ambos os Nicolas Techo agrega as informações de Frézier sobre a
plano da cidade do
quadros, observa-se a tendência de declínio da produção América do Sul.124
Rio de Janeiro, no
século XVI, mapa da cartográfica holandesa, sendo 27 mapas do século XVII Muitos desses mapas foram produzidos no contex-
Coleção D’Anville. e apenas dois do século XVIII. Na produção dos Países to dos ataques de piratas ou de viagens de estrangeiros
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Um saber moderno
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL A Carte de l’Amérique méridionale

ao Brasil. A configuração que D’Anville imprime à baía territoriais, D’Anville teve acesso a cartas manuscritas
do Rio de Janeiro, por exemplo, é tributária principal- portuguesas, sem as quais não poderia ter imprimido ao
Carta topographica
mente das cartas produzidas no contexto da invasão de seu mapa uma configuração adequada do Brasil. Foram de todo o terreno
René Duguay-Trouin, em 1711, considerando-se que 13 mapas, cuja importância é fulcral. Em grande par- comprehendido
ele possuía uma carta resultante dessa expedição, e uma desde a Barra
te, essa cartografia foi fornecida a D’Anville por dom
do Rio Grande
outra que nela se baseava, de autoria do hidrógrafo do Luís da Cunha e seu círculo mais próximo. Do con- de S. Pedro, the
rei, Jacques Nicolas Bellin,125 de quem tinha ainda outra, junto, destacam-se ainda a Carta topográfica de todo Castilias pequeno,
por sua vez copiada de Mannevillete.126 Também em sua o terreno compreendido desde a Barra do Rio Grande que corre entre a
coleção consta a publicação Relation d’un voyage fait Costa do Mar e a
de São Pedro, thé Castilhos pequeno, que corre entre a Lagoa de Merim,
en 1695, 1696 et 1697 aux côtes d’Afrique, détroit de
costa do mar e a Lagoa de Merim, tirada por ordem do por Francisco
Magellan, Brésil, Cayenne et isles Antilles, cuja edi- Maldonado, 1737.
brigadeiro José da Silva Pais, executada por Francisco
ção de 1698 foi acompanhada dos mapas, de autoria de
de Barbuda-Maldonado;132 a carta manuscrita do rio
François Froger,127 que acompanhou Jean-Baptiste de casos, são as memórias que “fornecem o socorro que não
Tocantins,133 de rara beleza; e a Esquisse au crayon de Itinerários de viagem
Gennes em viagem à África e ao Brasil, até o estreito de é possível assegurar” ao utilizar somente um mapa.143
la Region de Santos au Brésil, desenhada a partir das
Magalhães.128 Toda essa cartografia de origem francesa Mapas encontram muitas formas de expressão e Por essa razão, D’Anville procurou colecionar não ape-
informações de Manuel Gonçalo de Lacerda, secretário
foi cotejada com uma linda carta manuscrita portugue- “muitas vezes, os mapas dos viajantes se apresentavam nas mapas, mas suas memórias, ou os relatos de viagem
de dom Luís da Cunha.134
sa, de autoria desconhecida, na qual, em folha à parte, na forma de relatos narrativos sobre as experiências vi- que descrevem os trechos percorridos.
Não por acaso, os mapas portugueses mais recentes
D’Anville redigiu uma legenda em francês dos princi- venciadas durante a viagem”.140 Relatos de viagem são o A partir de um exemplo, referente ao padre
pais pontos do entorno e da cidade.129 a que D’Anville teve acesso referem-se, em sua maioria,
que podemos chamar de mapas mentais, já que não ad- Gumilla e sua obra El Orinoco ilustrado y defendido,144
Quanto à baía de Todos os Santos, D’Anville ba- à bacia do rio da Prata, à região amazônica e às Minas quirem a forma de uma representação pictórica do espa- uma das memórias de que D’Anville se vale na Carte
seou-se principalmente na configuração estabelecida Gerais, pois interessava ao embaixador que essas áreas ço, mas o descrevem por meio de palavras. Nesse caso, o de l’Amérique méridionale, percebe-se que ele não era
França Antártica, por Amédée François Frézier, quando esse viajante pas- fossem cartografadas com precisão, por se inserirem texto do roteiro configura-se como um mapa, expresso um receptor passivo nem dessa literatura, nem desses
aliás Rio de
sou por Salvador.130 Uma carta náutica inglesa de WH em sua lógica geopolítica de limites para a América do em linguagem escrita. Na pintura anônima que retrata mapas. Ávido crítico desse material, lia-o com agude-
Janeiro, mapa
realizado nas Smith, baseada, segundo o próprio autor, nas observa- Sul. A região do Prata poderia ser intercambiada a fim D’Anville em seu ateliê, ele se debruça sobre um livro, e za, procedimento necessário para deles extrair de forma
viagens de ções de marinheiros holandeses e ingleses, também faz de garantir a posse da Amazônia e das Minas, pois no com seu dedo aponta um trecho que acabara de ler, des- segura o maior número possível de informações. Nesse
Villegagnon e
parte da coleção.131 início do século XVIII Portugal ainda não estava segu- tacando sua importância. Outros muitos estão atrás de sentido, afirma: “A leitura da obra desse padre mostra
Jean de Léry
ao Brasil em Apesar de os portugueses buscarem manter se- ro de que toda a porção mineradora estivesse no espaço sua mesa, dispostos em uma estante. Livros, de que tam- as omissões e outros defeitos na carta que ele inseriu.
1557 e 1558. creto o conhecimento da geografia de suas possessões intra-Tordesilhas. bém se valia para apurar seu gosto,141 eram repositórios Esta carta deve ser aperfeiçoada pelo estudo da obra em
Quanto aos demais locais de produção cartográ- escritos de importantes saberes geográficos, utilizados si.”145 É por isso que sua vasta coleção incluía um con-
fica sobre o Brasil, a Itália aparece com sete cartas, para produzir seus mapas. Diferentemente de sua cole- junto de relatos e memórias de viagem, acompanhadas
todas de Andreas Antonius Loratii Horatius, geógrafo ção cartográfica, a quase totalidade da coleção de manus- ou não de mapas. Quando o são, as memórias contribu-
que adaptou mapas preexistentes, de Marggraf,135 ou critos e da biblioteca de D’Anville não sobreviveu, mas íam para o entendimento e a crítica da carta em questão.
pistas de documentos coevos, livros, memórias e relatos Outro autor de quem D’Anville utilizou tanto os
da cartografia portuguesa,136 publicando-as em Roma
de viagem que utilizou podem ser encontrados aqui e ali diários quanto os mapas foi Amédée-François Frézier.
no início do século XVIII. Quase todas as cartas os-
em alguns arquivos, e muito especialmente descritos nas Em sua Voyage de la mer du Sud,146 ele descreveu as
tentam as armas de Portugal e parecem fazer parte de
memórias que escreveu para acompanhar seus mapas. viagens que realizou no Chile, Peru e Brasil. O irmão de
um atlas.137 A Inglaterra aparece com uma carta do sé-
“Memórias são acompanhadas de cartas particula- D’Anville, Gravelot, servira em São Domingos sob o co-
culo XVII, de Robert Dudley (1574-1649), geógrafo
res sobre cada um de seus objetos.” De fato, no contexto mando de Frézier e o auxiliara na confecção de um mapa
que trabalhou sob o patrocínio do duque da Toscana e
das viagens de exploração, o mapa é que é geralmente da ilha. Além de suas cartas, D’Anville utilizou seus apon-
produziu Del Arcano Mare, publicado em Florença.138 uma ferramenta auxiliar ao texto que descreve a viagem tamentos e medidas de vários lugares. O geógrafo tinha
Trata-se de uma carta do século XVIII, copiada de e, quando o primeiro é produzido, assegura ao leitor Frézier em alta conta, e afirmou que, nessa viagem ao mar
um mapa original do autor da foz do rio Amazonas.139 uma leitura visual do território percorrido.142 É o caso do Sul, ele “provou sua habilidade, bem como sua exati-
D’Anville, porém, não se apoiou apenas em mapas, de La Condamine com a publicação de seu relato de dão”.147 Sempre preocupado com a conversão de medidas
mas também em memórias e outros documentos es- viagem pelo rio Amazonas, que, para facilitar a visua- e a transformação do tempo gasto em um itinerário de
critos que, correlatos e complementares à cartografia, lização do trajeto percorrido, encomenda a D’Anville viagem numa medida cartograficamente representável,
ajudavam a desvelá-la. mapas para ilustrar seus livros. Nesse e em outros D’Anville destaca que, ao estabelecer a distância entre
158 159
Um saber moderno
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL A Carte de l’Amérique méridionale

e escritor francês Jean de Léry (1536-1613), Histoire


d’un voyage faict en la terre du Brésil, autrement dite
Amérique. Em alguns casos, Coreal ampliou o texto de
Léry, acrescentando suas próprias observações.151

Os relatos de Walter Raleigh e El Orinoco ilustrado,


de Gumilla, foram de grande valia para que D’Anville se
debruçasse sobre a existência ou não do lago Parima na
região amazônica, e discutisse sua possível localização.
Também utilizado por ele, a Descripción Geographica
y derrotero de la région austral Magallanica, por dom
Francisco de Seixas y Loreva (1690),152 relata uma embai-
xada enviada por Espanha à Mongólia, que retornou pela
China, passando pelo estreito de Magalhães.153 Apesar de
a maioria dessas jornadas ter sido realizada nos dois sé-
culos anteriores à produção da carta, havia outras mais
recentes, como aquelas descritas no Diario de un viaje
a la costa del Mar Magallanica em 1745, desde Buenos
Aires hasta el estrecho de Magallanes, formado sobre las
observaciones de los pp. Cardiel Quiroga, por el Pedro Ilustração de
Lozano, ou na Histoire du Paraguay, par le R.P. Pierre Historia natural,
François-Xavier de Charlevoix (1756); ou ainda na civil y geografica
de las naciones
Voyage around the world by the Amiral Anson (1749).154 situadas en las
Pedro Lozano era um missionário jesuíta em ação riveras del rio
perto de Córdoba, nos pampas argentinos. Em 1746, Orinoco, do padre
Joseph Gumilla,
escreveu um relato sobre a região, do qual constava a
Ignacio de Obregon
descrição de uma viagem, realizada pelo padre José e Antonio Juglá
Quiroga, que fora encarregado pelo Conselho das Índias y Font, 1791.
de Espanha de realizar observações. A expedição partiu
Índios da Patagônia Valparaíso e Santiago do Chile em 28 léguas, Frézier não ce qu’il y a vû de plus remarquable pendant son séjour do rio da Prata e foi tentar descobrir uma possível pas- enfraquecimento da força militar espanhola no cone sul,
cumprimentam deixou de considerar que “o caminho atravessa um país depuis 1666 jusqu’en 1697.150 Francisco ou François sagem entre a baía de São Julião e o mar do Sul, por um onde a Colônia do Sacramento encontrava-se sitiada.
um viajante
europeu, litografia
inculto e deserto, cortado por montanhas e vales, por- Coreal era um espanhol, cuja identidade é muito duvi- rio chamado Campana.155 Disse que “esta guerra nos vem do céu, e é que do céu
de Jules Ferrario, tanto próprio para colocar uma diferença sensível entre a dosa. Esse livro seria uma A expedição inglesa do almirante George Anson, nos pode vir senão a paz, porque é natural que os nos-
c.1820-30. medida do caminho e a da linha direta”.148 direcionada ao mar do Sul, se insere no contexto das sos vizinhos e nossos êmulos quebrem as cabeças e exte-
tradução francesa de um relato em primeira mão, em
Também utilizadas para o instruir na configuração disputas anglo-espanholas, agravadas a partir da apre- nuem as suas forças para resistirem a tão poderosos ini-
espanhol, de várias viagens ao Brasil e à América His-
de partes da Carte de l’Amérique méridionale foram pânica realizadas por Coreal ao longo de 30 anos, de ensão pelos espanhóis, nas proximidades de Havana, do migos”.156 Foi nesse contexto que a frota comandada por
as Noticías historiales de Tierra-firme, do padre fran- 1666 a 1697. As supostas viagens de Coreal cobrem, navio mercante inglês, comandado pelo capitão Robert Anson partiu da Inglaterra em 1740 com destino incerto,
ciscano Simon, e as Genealogias del Nuevo-Reino de aproximadamente, metade dos três volumes. O restante Jenkins, acusado de contrabando. Os espanhóis muti- junto com outra dirigida ao Caribe.157 O almirante levava
Granada, de Flores Ocariz. Como era afeito a seu mé- da obra é composto por um conjunto heterogêneo de laram o capitão e, a partir daí, a escalada das tensões consigo o livro de Frézier e suas cartas, conforme atestou
todo, D’Anville copiara extratos dessas obras, esperan- textos extraídos dos relatos de viagem de Sir Walter levou a uma guerra entre as duas potências. Intitulada Richard Walter, que redigiu o relato da viagem de Anson.
do que pudessem servir como fonte de informação para Raleigh (1552-1618) e de vários de seus contemporâneos. Guerra de Jenkins, o conflito, que se estendeu entre D’Anville possuía tal relato, intitulado A Voyage
uma futura obra sua. Ele confirma que esses dois livros Muitos estudiosos acreditam que Coreal era o nome fic- 1739 e 1742, se caracterizou por enfrentamentos espo- round the world, no qual colheu medidas utilizadas
“e algumas outras memórias, me forneceram muitas tício de um escritor que, provavelmente, nunca viajou rádicos, ocorridos principalmente no mar. No contexto em várias partes de seu mapa, e duas cartas relativas
circunstâncias locais, muitas das quais se combinam para as terras descritas no livro. Esta teoria é [sustentada] dessa rivalidade, a Inglaterra intensificou a pirataria em à expedição. Uma correspondia à ilha de Chiloé (na
com o detalhe do itinerário”.149 pelo fato de que nenhum original da obra em espanhol direção às possessões espanholas na América do Sul. costa do Chile),158 cuja configuração alterou na edição
Outra memória de que se valeu se intitula Voyages tenha sido encontrado e que grande parte da narrativa Dom Luís da Cunha regozijou-se por esse conflito, pois da Carte de l’Amérique méridionale de 1760. A outra
de François Coreal aux Indes Occidentales, contenant de Coreal é plágio [da] obra de 1578 do explorador Portugal poderia retirar dele algumas vantagens com o era um mapa da rota de Anson entre o Atlântico (mar
160 161
Um saber moderno
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL A Carte de l’Amérique méridionale

vários pontos da costa do continente. Halley produ- l’Amérique méridionale dressée sur les observations du
ziu um mapa de variações dos ventos em 1689 e, em R. P. L. Feuillée, impressa em Paris, por Pierre Giffart,
1701, um da variação do compasso, todos dois impor- que fazia parte da coleção de D’Anville.164
tantes para a navegação. D’Anville possuía um mapa Apesar de dispor de todas essas fontes, uma dificul-
de Hermann Moll, geógrafo inglês, desenhado a partir dade a princípio parecia insuperável, interpondo-se ao
das viagens de Halley, que mostrava a rota percorrida processo de produção do mapa: a necessidade de dispor
e corrigia a localização de vários pontos da costa sul- de fontes apropriadas para todo o território do subcon-
-americana em relação a estimativas anteriores.162 tinente a ser representado, especialmente do interior do
Outro viajante, cujo relato D’Anville utilizou na Brasil, desconhecido para os cartógrafos estrangeiros,
produção da Carte de l’Amérique méridionale, foi o como era o seu caso. Como ele próprio admitiu em uma
padre francês Louis Feuillée que, depois de uma expe- de suas memórias escritas sobre a Carte de l’Amérique
dição ao Levante entre 1700 e 1701, foi, em 1703, para méridionale: “as razões de Estado [de Portugal] im-
a Martinica. A expedição ao Levante foi organizada pela pediriam que os resultados das recentes observações
Académie des Sciences de Paris, da qual era membro, geográficas e astronômicas [realizadas pelos mesmos]
para que ele e Jacques Cassini estabelecessem as medi- se tornassem públicas”.165 Contudo, a colaboração que
das de várias localidades. Finalmente, entre 1707 e 1711, estabeleceu com dom Luís da Cunha permitiu que ele
realizou uma longa viagem pelas costas da América do tivesse acesso a algumas informações geográficas mais
Sul, passando por Argentina, Chile e Peru. Entre 1714 e recentes da América portuguesa, muitas delas ainda
1725, publicou em três volumes os resultados científi- consideradas secretas por Portugal, já que o embaixador
cos de sua expedição163 consultados por D’Anville. Junto esperava que a Carte de l’Amérique méridionale pu-
da primeira edição de seu livro, publicou uma Carte de desse vir a ser utilizada nas negociações com a Espanha,

Páginas de rosto
de relatos de
viajantes europeus
no século XVIII.
Plano de uma baía do Norte) e o Pacífico (mar do Sul), de Hermann Moll.159 Anson pela América meridional chamava a atenção para À esquerda,
nas costas do Chile, o diário de
Entre outras informações, Anson forneceu-lhe a distân- “as sondas e as variações da agulha observadas, e as esti-
descoberta pelo George Anson,
almirante Anson, cia entre Santiago e Buenos Aires, a partir da notícia que mativas de erro causadas pela violência das correntes”.161 comandante inglês
pirata inglês, deu de que um índio havia gastado 13 dias para passar D’Anville também se apoiou nas medidas tomadas em missão oficial
em 1741. de circunavegação
de uma vila a outra. A partir dessa referência, estimou o por Edmond Halley. Famoso astrônomo inglês, Halley
marítima;
caminho em 300 léguas, e afirmou que se podia confiar também se preocupou em tomar medidas mais preci- e, ao lado,
nesse relato, pois Maldonado lhe garantira que “os índios sas dos meridianos, visitando, para isso, a ilha de Santa o levantamento
realizado ao longo
são próprios a fazer com exatidão suas rotas”.
160
Viajantes Helena, onde montou um observatório, tendo poste- do rio Orinoco,
como Anson, que durante suas viagens tinham utilizado riormente realizado duas viagens à América do Sul, uma pelos espanhóis
instrumentos para estabelecer coordenadas de medidas em 1698-99 e outra em 1699-1701, como comandante padre Joseph
Gumilla, Ignacio de
confiáveis, foram fundamentais para a precisão do mapa do navio Paramour, da marinha britânica. A partir de Obregon e Antonio
de D’Anville. A cartela do mapa que retrata a rota de suas observações, D’Anville estabeleceu a localização de Jugla y Font.

162 163
Um saber moderno
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL A Carte de l’Amérique méridionale

mais de perto o espaço a ser representado, constituindo- tempestade, foi parar no Brasil; e uma terceira que lhe a filha de Silva Pais.177 Silva Pais era brigadeiro, en-
-se como fontes de uma geografia vivida. deram dois mercadores de Saint Mallo, porto de onde genheiro militar e participou da Guerra da Sucessão
Ao longo de vários anos de negociações ininterrup- saiu grande parte das expedições corsárias francesas em Espanhola, trabalhando no reparo e construção das for-
tas nas diversas cortes europeias, o embaixador reuniu direção ao Brasil no século XVIII.169 tificações portuguesas.178 A partir de 1722, foi membro
um notável acervo constituído de mapas e relatos manus- D’Anville possuía e usou seguidamente as medi- do Conselho Ultramarino, especialmente nas questões
critos. A estreita colaboração entre dom Luís da Cunha e das de longitude e latitude determinadas por Manoel que diziam respeito à engenharia militar e à cartogra-
D’Anville para a confecção do mapa de 1748 se delineou Pimentel, cosmógrafo-mor de Portugal, no livro Arte de fia.179 Em 1735, foi para o Brasil para auxiliar na forti-
a partir desse conjunto de documentos (mapas, tábu- Navegar, publicado em Lisboa, em 1746.170 D’Anville as ficação do Rio de Janeiro, a partir dos planos estabe-
as de latitudes e longitudes, livros e relatos).166 O exame considerava bastante exatas e em vários pontos afirma que lecidos por João Massé, depois da invasão francesa de
dessa documentação permite perceber como D’Anville “não encontro nada que contradiga aqui a autoridade de 1711.180 Sua nomeação previa que, quando necessário,
elegia as suas fontes, e selecionava algumas informações Pimentel”.171 Entre seus papéis geográficos, encontra-se substituísse Gomes Freire de Andrade, governador da
Cópia de uma
em detrimento de outras, submetendo-as a critérios de uma transcrição de próprio punho da página 193 deste Repartição Sul, o que de fato ocorreu, tendo servido página de A arte
validação que garantiam a sua confiabilidade, de acordo livro, que registra as longitudes da Arábia, Pérsia e ilhas como governador interino no Rio de Janeiro.181 Após sua de navegar, de
com suas diversas memórias escritas sobre o mapa. Uma chegada, participou nessa capitania da Academia dos Manoel Pimentel,
adjacentes.172 Mas o interessante é que, desde 1736, ele se
manuscrito colhido
vez escolhidas, ele as consolidou em um mapa marcado baseia nas medidas de “Manoel Pimentel, cosmógrafo do Felizes.182 Era um savant de seu tempo, possuindo uma
entre os papéis
pelo signo das Luzes. Essa documentação também aju- rei”, muito antes de serem publicadas em livro, para es- livraria “composta por 437 volumes, vários maços de geográficos de
da a desvendar as redes de informação que o embaixador tabelecer pontos geográficos do império português e em papéis soltos e séries contínuas de gazetas nacionais e D’Anville.
teceu não só para se municiar com informações precisas seu estudo sobre o meridiano de Tordesilhas, realizado a
sobre o território brasileiro e sobre o que se passava na pedido de dom Luís da Cunha.173 O acesso ao manuscrito
região, mas também para compreender as questões des- das tábuas de Pimentel antes de sua publicação só pode
pertadas pelo papel que o Brasil e as Minas Gerais, em ser creditado ao embaixador, que muito certamente as
particular, desempenhavam em sua estratégia geopolí- apresentou ao geógrafo.
tica. Muitos dos elos dessa rede eram membros da elite Muitos desses documentos dom Luís da Cunha
portuguesa esclarecida, ou funcionários das nações onde conseguiu a partir de seu círculo de amizades. Manoel
serviu, o que pode ser percebido pelo exame da corres- Pimentel, como ele, havia sido membro da Academia
pondência de dom Luís da Cunha. dos Generosos. Como demonstração da confiança que
Alguns desses documentos o embaixador buscou existia entre ambos, em várias questões sobre as defi-
de forma intencional, outros conseguiu quase ao aca- nições dos limites a serem estabelecidos, o embaixador
so, no exercício de suas atividades diplomáticas coti- recomendava que se consultasse o cosmógrafo-mor.174
dianas, que incluíam certo grau de espionagem, não só Em 1681, Manoel Pimentel havia ido, junto com dois
Edmond Halley dando a ver o continente sul-americano. Com a preci- das atividades das Coroas adversárias, mas também de comissários enviados pelo rei de Portugal, assistir as
(1656-1742), são que fosse alcançada, que era própria da cartografia cidadãos que circulavam pelos países estrangeiros e que negociações que resultaram no Tratado Provisional,
astrônomo e
de D’Anville, o mapa não deixaria mais dúvidas sobre poderiam fornecer informações vitais sobre o império o qual se debruçou “sobre o direito das demarcações
matemático inglês.
os territórios de cada Coroa, e guiaria as negociações a português, fossem eles portugueses ou estrangeiros.167 das conquistas deste reino e as de Castela a respeito
serem travadas entre ambas as nações. Ciente do poder de atração que as minas brasileiras pas- da nova colônia do Sacramento, fundada novamente
saram a exercer, na década de 1720, já em Paris, come- na margem setentrional do rio da Prata”. Ali perma-
çou a recolher um conjunto intrigante de mapas sobre a neceu “por três meses, assessorando as negociações
Oráculos de uma geografia vivida região mineradora e seu entorno. Ele se fez atento para com as notícias e papéis geográficos que compôs”.175
“alguns franceses [que] procuravam correspondência A partir de então seu conhecimento sobre a disposi-
No que diz respeito à Carte de l’Amérique méridio- com pessoas das nossas Minas”.168 Assim foi que, na ção do território brasileiro, especialmente a Colônia
nale, foi preponderante para a configuração do Brasil ocasião, recolheu três memórias de franceses sobre o do Sacramento, foi constantemente invocado por
o acesso a um conjunto de documentos fornecidos a Rio de Janeiro: a memória do capitão Dunssumnet, que dom Luís da Cunha como necessário para dirimir
D’Anville por dom Luís da Cunha, colecionados ao longo foi ao Rio de Janeiro e à Bahia em 1713-1714 e 1718; ou- questões geográficas.
de suas diversas embaixadas. Distante em seu gabinete na tra memória de um barco confiscado pelos portugue- Parece que foi também a partir de Manoel Pimentel
França, esses documentos se tornavam uma janela aberta ses, do capitão Gelui de la Rochelle que, em 1718, devia que o embaixador teve acesso à cartografia de José da
desde Paris, por meio da qual o geógrafo podia observar ir para a Guiné aprisionar negros e, por causa de uma Silva Pais,176 pois o filho de Pimentel era casado com
164 165
Um saber moderno
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL A Carte de l’Amérique méridionale

estrangeiras”.183 Sua biblioteca espelha a circulação da de l’Amérique méridionale foi a primeira a fazer conhe-
cultura iluminista entre os membros da República de cer”.197 De fato, uma das grandes novidades de seu mapa
Letras européia e apresenta uma feição “de base racio- nessa região residiu na inclusão das lagoas dos Patos e
nalista e de vincada filiação cartesiana e newtoniana”.184 Mirim. Dessa melhoria, o geógrafo se vangloriava afir-
No Brasil, fez parte de duas expedições à Colônia do mando que “esta extensão pude a fazer entrar em com-
Sacramento, com o objetivo de reparar e reforçar suas paração com os maiores [geógrafos] que nos fizeram ser
fortificações, primeiro se precavendo contra uma pos- conhecidos nesse continente”.198 D’Anville tinha o briga-
sível invasão logo depois do cerco à fortaleza encetado deiro e a sua carta em alta conta. Esta, ele acreditava, havia
pelos espanhóis,185 tendo sido comandante das opera- sido riscada com precisão, baseada em tomadas de medi-
ções de desembarque e ação terrestre da grande esqua- das diretas no terreno, segundo os métodos e instrumen-
dra enviada de Lisboa, em 1736, e comandada por Luís tos mais modernos.199 Enquanto esteve como governador
de Abreu Prego para libertar a fortaleza.186 Depois do ar- da ilha de Santa Catarina, Silva Pais deu abrigo à esquadra
mistício foi enviado para o Rio Grande de São Pedro,187 do corsário inglês, o almirante Anson,200 depois de uma
onde “se empregou com [...] zelo e acerto nas suas forti- peste a bordo.201 Em seu livro Voyage around the world,
ficações e na execução dos seus limites”.188 Foi ainda, por Anson se referiu a Silva Pais “como um engenheiro há-
duas vezes (1739-43 e 1746-49), governador de Santa bil”202 e essa passagem foi mencionada por D’Anville para
Catarina, “empregando-se com o mesmo zelo na sua atestar a sua credibilidade e a de seu mapa.203
fortificação e estabelecimento”.189 Grande conhecedor da Mas as diferentes formas com que D’Anville se
arte da cartografia, Silva Pais produziu, em 1737, impor- apropria dos inúmeros documentos por ele recolhidos
tante carta da região sul do Brasil.190 O mapa foi produ- para reconfigurar a entidade sul-americana e as ma-
zido de acordo com as normas cartográficas introduzi- neiras distintas como torna pública essa apropriação
das em Portugal por Manoel de Azevedo, pois Silva Pais levantam interessantes considerações sobre diversos
fora aluno das Aulas Régias de Fortificação e Arquitetura estatutos de verdade que ele concede a essas fontes –
Militar,191 e possuía em sua biblioteca exemplares de cartográficas ou não – e que foram fundamentais para
todas as obras desse engenheiro militar.192 Cópia des- conformar sua concepção de mundo. Assim, na carte-
se mapa veio parar nas mãos de dom Luís da Cunha,193 la do mapa, ele declara ostensivamente se apoiar nas
não se sabe exatamente como. Pode ter-lhe sido envia- fontes textuais e cartográficas de La Condamine e dos
do pelas próprias autoridades portuguesas, após 1736, outros membros da expedição franco-espanhola en-
juntamente com outras cartas para a condução das ne- quanto esfumaçam-se os que, palmilhando os sertões
gociações após o cerco da Colônia, ou diretamente por das gerais, os pampas platinos e as selvas amazônicas,
Manoel Pimentel, a quem sempre requisitava que escla- constituíram os verdadeiros olhos do cartógrafo e se
recesse sobre as questões de geografia que envolviam as tornaram assim os reais oráculos de uma geografia vivi-
disputas de território com a Espanha. Certo é que obteve da. Ao conferir status distintos ao conjunto de relatos e
o mapa pouco depois de sua produção, pois o forneceu informações de que dispunha para conformar sua enti-
a D’Anville, quando este ainda fazia seu estudo sobre dade americana, D’Anville não deixa evidente no mapa,
o posicionamento do meridiano de Tordesilhas, exata- mas apenas no debate que se segue à sua publicação,
mente por essa mesma época.194 que eram esses homens do sertão que lhe permitiam
D’Anville fez de seu próprio punho uma cópia do conferir uma nova dimensão à terra, embora seus re-
mapa195 e dele se serviu para conseguir informações mais latos não tivessem sido produzidos com tal propósito.
precisas do sul do Brasil, particularmente da existência Contudo, é na Carte de l’Amérique du Sud, e somente
e das feições da lagoa dos Patos, bem como da geografia nela, que os três oráculos se encontram e revelam os
dessa região até a ponta de Castilhos. Como atesta o geó- substratos e as diversas linguagens sob os quais se as-
grafo, “é a essa carta que eu devo o conhecimento de um sentam o mapa: o cartográfico, domínio do sábio fran-
Na página anterior,
grande lago, até o presente desconhecido nessa região da cês; a política, palco do diplomata português; e o espaço
América (detalhe),
América”,196 que “me deu não menos que 50 léguas ma- vivido, nas trilhas percorridas pelos viajantes anônimos de Stephan Kessler,
rítimas de comprimento desse lago, [e] que a minha Carte ou naturalistas em terras americanas. (1622-1700).

166 167
O CASO DOS
IRMÃOS N UNES
Trajetórias de uma família de
cristãos-novos na construção
da cartografia dos sertões

Como se verá, os irmãos Nunes eram ara estabelecer na Carte de l’Amérique


cristãos-novos. Por essa razão, sua méridionale a geografia do território entre
Salvador da Bahia e o coração das Minas
transumância nos permite esboçar
Gerais, D’Anville utilizou como principal
uma trajetória cartogeográfica da fonte o roteiro intitulado Noticias das minas da Améri-
saga errante de uma família de ca chamadas Geraes Pertencentes a El rei de Portugal,
marranos no espaço atlântico que se relatada pellos tres irmaos chamados Nunes os quaes
reflete no mapa de D’Anville. rodaraó muytos annos por estas partes,1 que deu início a
esta pesquisa.2 Ao comparar as informações contidas nes-
se documento e a conformação geográfica do mesmo ter-
ritório no mapa, a correspondência é evidente. O próprio
Sinagoga Portuguesa em cartógrafo atestou, em suas memórias sobre o processo de
Amsterdam, por Emanuel produção da carta, que se baseara no roteiro dos irmãos
de Witte, c.1680. Nunes para cartografar o trecho entre Salvador da Bahia e
Acima, um detalhe da gravura o interior das Minas Gerais,3 e, no livro que publicou em
Acampamento noturno de viajantes
1777 para aprimorar o estudo da geografia, reafirmou que
sugere o modo de vida itinerante
dos irmãos Nunes nos caminhos “um itinerário de cerca de 250 léguas me conduziu, par-
para as Minas. tindo da Baía de Todos os Santos, até Vila Rica”.4
169
O caso dos irmãos Nunes
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Trajetórias de uma família de cristãos-novos na construção da cartografia dos sertões

pelo qual, a partir de Salvador na Bahia, em duas rotas Os três irmãos Nunes eram filhos do segundo casa- de porco, lebre, coelho e peixe de pele; e acreditavam
distintas - a Travessia de João Amaro e a Travessia de mento do velho Diogo. Do primeiro matrimônio do pai, que só existia o Deus do céu. Comemoravam a Páscoa e
dona Joana -, alcançava-se o rio São Francisco e daí, tinham três meios-irmãos: Diogo Henriques, Manoel faziam o jejum do Dia Grande (Yom kippur) e o da rai-
seguindo sua margem direita, subia-se o rio das Velhas e Mendes e Francisco, que também moravam em Idanha- nha Ester (Purim), que caía entre os meses de janeiro e
atingia-se Vila Rica já nas Minas; 2) um relato da Guerra -a-Nova, onde eram sapateiros, assim como grande fevereiro. No calendário hebreu, o Yom kippur começa
dos Emboabas, conflito pelo controle da área que opôs, parte de seus tios e primos. Mas alguns indivíduos da no crepúsculo, no décimo dia do mês hebreu de Tishrei
entre 1708 e 1711, os paulistas e os recém-chegados, família estavam ascendendo socialmente, deixando o (coincide com setembro ou outubro), até o seguinte
genericamente apelidados de emboabas;5 3) o caminho mundo dos ofícios mecânicos ao qual pertencia a maio- pôr do sol, e os três rapazes, como era o costume, fi-
para a região das esmeraldas; e 4) um rol sucinto de tri- ria de seus membros,13 para ingressar no das artes libe- cavam “desde a véspera, depois de sair a estrela, até o
bos indígenas encontradas ao longo do rio Doce. rais, como era o caso dos primos Diogo Nunes Ribeiro e dia seguinte, às mesmas horas, sem comer nem beber
Antônio Ribeiro Sanches,14 médicos, e Antônio Nunes, e cea[vam], então, o que se lhe[s] oferecia”. Segundo
estudante de medicina.15 o Santo Ofício, esses hábitos e crenças eram todos in-
Os irmãos Nunes Como eles, a maioria da família residia na Beira, dicativos de adesão ao judaísmo, sendo usados pelos
entre São Vicente, Idanha-a-Nova, Covilhã e Proença, cristãos-novos, onde quer que estivessem, para iniciar
Os próprios autores do roteiro se autodenomina- mas havia parentes espalhados por todo o império por- uma conversação e identificar seus semelhantes.20
ram “os irmãos Nunes”.6 A identificação nominal dos tuguês, como também pela França, Holanda e Inglater- Contudo, para manter as aparências junto à comu-
três irmãos - Diogo, João e Sebastião -, no entanto, ra. Em fins da década de 1720, Diogo Nunes Ribeiro e nidade e ficarem a salvo dos longos braços da Inquisição,
só foi possível a partir da consulta ao rol dos culpados Antônio Ribeiro Sanches16 estavam em Londres, assim os três irmãos Nunes foram batizados pelos pais ainda
de heresia oriundos do Brasil, levantado por Anita No- como a prima Clara, professora de judaísmo; os primos em São Vicente, e mais tarde foram crismados, já em
vinsky, junto aos arquivos da Inquisição.7 Portugueses, Diogo Nunes Henriques e Miguel Nunes estavam em Idanha-a-Nova. Diogo teve como padrinhos Francisco
cristãos-novos, naturais da vila de São Vicente da Beira, Minas Gerais, onde eram tratantes; José Nunes de Mi-
parte do concelho de Castelo Branco, bispado da Guar- randa era comerciante no Rio de Janeiro; Gaspar Henri-
da, próxima à fronteira espanhola, os irmãos Nunes que, capitão de navio, morava em Salvador; Luís Lopes,
eram descendentes de judeus fugidos das perseguições cirurgião, morrera a caminho da Índia;17 e Ana Nunes
inquisitoriais na Espanha e convertidos à força ao cato- estava em Haia, nos Países Baixos.18
licismo, em Portugal, no final do século XV. O contato dos três irmãos Nunes com o judaísmo se
Seus pais eram Diogo Nunes, natural de Proença,8 deu ainda na infância. Como comumente ocorria entre
e Clara Henriques, nascida em São Vicente da Beira.9 as seguidas gerações portuguesas de cristãos-novos, os
Logo após o matrimônio dos dois, o casal estabeleceu- três meninos foram instruídos pela mãe no recôndito
-se junto à família de Clara, em São Vicente, onde os do lar, nos arredores de São Vicente da Beira. Como
Página inicial do Do que trata esse documento e como chegou às três meninos nasceram, sem que se possa ter certeza da deve ter ocorrido com os demais, aos 13 anos19 Diogo
manuscrito com mãos de D’Anville? Foi por meio de dom Luís da Cunha? ordem em que vieram ao mundo. Parece que João foi o celebrou o seu bar mitzvah, quando, pelas crenças
notícias dos irmãos
Quem seriam os Nunes e o que os teria levado à reali- primogênito, seguido de Diogo, que nasceu por volta de judaicas, os rapazes se tornam responsáveis por seus
Nunes acerca de
suas travessias zação desse roteiro? Quais as modificações introduzi- 1675, e de Sebastião, o caçula. Depois que os filhos cres- atos. Após esse rito iniciático, os meninos assumem a
entre Bahia e as das na representação do mapa a partir das informações ceram, a família mudou-se para Idanha-a-Nova, reduto obrigação de cumprir diversos preceitos religiosos, que
Minas Geraes.
dadas pelos Nunes, e de que forma o trecho reflete os onde moravam muitos outros membros da sua parente- os irmãos mantiveram por toda a vida em cerimônias
interesses de domínio territorial da Coroa portugue- la. Eram gente humilde. O velho Diogo e seus três filhos que praticavam secretamente, entre si e com outros
sa? Como tal documento nos aproxima da concepção dedicaram-se ao pequeno comércio, identificando-se judaizantes que encontravam em suas andanças. Mais
geográfica dos territórios percorridos, por meio do que como tratantes10 ou comissários, realizando negócios, tarde, quando foi preso, Diogo contou aos inquisidores
intitulo uma geografia vivida? Como se verá, os irmãos transportando mercadorias ou cobrando dívidas, agin- que, quando rezavam o padre-nosso, não pensavam em
Nunes eram cristãos-novos. Por essa razão, sua transu- do sempre, sob comissão, a serviço de terceiros.11 A iti- Jesus, pois não criam nele, já que ainda aguardavam a
mância nos permite esboçar uma trajetória cartogeo- nerância marcava seu modo de vida. Era uma profissão vinda do messias; também não acreditavam no mistério Listagem dos
gráfica da saga errante de uma família de marranos no arriscada, muitos morriam nas viagens perigosas que da Santíssima Trindade, nem nos sacramentos da Igre- Reynos gentios às
margens do rio
espaço atlântico que se reflete no mapa de D’Anville. eram obrigados a fazer ou eram assassinados por maus ja Católica, ou no poder da confissão para salvação de
Doce, página do
O roteiro Noticias das minas da América chama- pagadores ameaçados pelas cobranças que se encarre- suas almas; guardavam “os sábados de trabalho como manuscrito dos
das Geraes é constituído de quatro partes: 1) o caminho gavam de realizar.12 se fossem dias santos” - o Shabbat; não comiam carne irmãos Nunes.

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O caso dos irmãos Nunes
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Trajetórias de uma família de cristãos-novos na construção da cartografia dos sertões

A saga dos três irmãos entre


o reino e as Minas Gerais

Em 1707, quando Diogo tinha perto de 30 anos,


ele e João resolveram deixar o reino para buscar opor-
tunidades comerciais em outras praças marítimas do
império português. Por essa época, João era solteiro,
mas Diogo deixou para trás a esposa.25 Primeiramente,
fixaram residência em Luanda e se envolveram no trato
negreiro. No entanto, não ficaram muito tempo por lá.
Logo perceberam que as oportunidades do outro lado
do Atlântico, na América portuguesa, polo complemen-
tar deste comércio bipolar com a África,26 eram mais
promissoras e, em menos de um ano, aportaram em
Salvador da Bahia, com a intenção de se estabelecerem
no Brasil. Possivelmente concretizaram essa ideia nas
longas conversas mantidas na casa de Diogo, em Luan-
da, com Manoel Nunes Bernardes, comerciante no Rio
de Janeiro. Judaizante como eles, enquanto estiveram
juntos os três praticaram em segredo cerimônias e ritos
judaicos.27 Não se sabe se Sebastião foi com os dois para
a África, mas é certo que os encontrou na Bahia, sem
que se saiba quem chegou antes de quem.28
Durante toda a permanência dos irmãos no Brasil,
a partir dos contatos feitos em Luanda, os três manti-
veram-se envolvidos no comércio de escravos, em seus
diversos desdobramentos. É o que revela o exame dos
relacionamentos estabelecidos por eles, mescla de negó-
Judeus portugueses Lopes e Manoel Rodrigues, respectivamente.21 Onde cios, relações familiares e exercício secreto do judaísmo. 40% dos recém-chegados da África tenham sido re- Minas, não só os valiosos escravos, como também louça Gamboa, de
celebrando Pessach, quer que se encontrassem nos vastos territórios do im- Cite-se José da Costa, capitão de navios que se destina- direcionados de Salvador para a área mineradora,32 ou da Índia, toalhas, roupas, tecidos, bebidas, medicamen- William Gore
em gravura inglesa Ouseley. No início
pério português, os três frequentavam a Igreja Católica vam a Angola;29 Antônio Roiz Campos, lavrador de taba- seja, aproximadamente 1.560 cativos ao ano.33 tos, entre outros produtos manufaturados, oriundos tan-
de 1725. do século XVIII,
e se confessavam. Mas era apenas uma formalidade, pois co e proprietário de um curtume no Recôncavo Baiano, No entanto, apesar da complementaridade comer- to do reino, quanto da Europa, da África e do Oriente. Os as trocas comerciais
não seguiam os preceitos nem revelavam ao confessor sendo o fumo e o couro comercializados na África;30 e cial entre a Bahia e as Minas e do dinamismo das ativida- Nunes atestaram o dinamismo desse comércio e contaram entre a Bahia e a
os seus erros de fé, já que não acreditavam que a confis- Manoel Mendes Monforte, médico, que enviava carrega- des mercantis estabelecidas entre as duas regiões, logo no que, em fins da década de 1720, “El Rei, [deu] permissão área mineradora
foram restringidas.
são fosse capaz de perdoar pecados.22 ções de pano para serem vendidas em Luanda - todos início do século XVIII o trato comercial para a área mine- para que tudo passe, pagando os direitos reais, os quais
Por volta dos 21 anos, Diogo casou-se com Leonor cristãos-novos.31 radora foi proibido. Seguidas leis foram editadas visando estão arrendados em setenta e cinco arrobas de ouro, em
Henriques, provavelmente parente sua, já que o sobre- O comércio negreiro, entretanto, não se resumia restringir as trocas nessa rota apenas aos gados vacum e cada um ano”.36 Mas esse não era um movimento uni-
nome da mãe dele também era Henriques, e mudou-se apenas ao intercâmbio estabelecido entre as praças ma- cavalar criados nos sertões entre as duas capitanias.34 Se- direcional. Os viandantes, no caminho de volta, levavam
para a vila de Covilhã, onde a moça residia. Ali conti- rítimas africanas e brasileiras. Ao longo do século XVIII, gundo os Nunes, era “em Sete Alagoas, onde [ficavam] os para o porto de Salvador produtos das fazendas da região
nuou a participar secretamente de ritos judaicos, tanto o crescimento da produção de ouro e diamantes fez in- visitadores, [qu]e confiscam as fazendas, por cuja causa - Sertão e Recôncavo -, principalmente couro e taba-
na casa de sua sogra, Brites Henriques, quanto na de sua teriorizar as trocas entre o porto de Salvador e a região os mercadores que viajam se juntam no Maquiné, e se co, essenciais para a realização do comércio negreiro na
prima, Ana Nunes, casada com seu cunhado, Antônio mineradora. As Minas exigiam cada vez mais a presença preparam para se defender, porque os visitadores são África.37 Considerado pelos portugueses como de terceira
Vaz.23 João permaneceu solteiro por toda a vida e Sebas- do braço escravo e tornaram-se o destino final da maior muitos, e bem armados; e só era permitido que passas- qualidade, esse fumo, embebido em melaço e envolto em
tião casou-se com a filha de André de Siqueira, ambos parte dos cativos que chegavam aos portos brasileiros, sem os mercadores que levavam, bois, ou outros alimen- couro para impedir que ressecasse ou perdesse o aroma,
cristãos-novos e judaizantes. Até onde se sabe, nenhum conectando essa região interior ao comércio negreiro tos”.35 Mas, apesar dessas restrições, da Bahia continua- caiu no gosto da nobreza da costa do Benin, que o recebia
dos três deixou descendência legítima ou ilegítima.24 transatlântico. Calcula-se que, nesse período, cerca de ram a sair mercadorias de toda a natureza com destino às como parte do pagamento pelos escravos.38
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O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL

Como era comum entre as famílias que se dedica- alguns cavalos44 para o carregamento das mercadorias
vam ao comércio no império luso-brasileiro,39 os três e tomaram o Caminho da Bahia, também chamado de
irmãos se associaram para usufruir desse rendoso cir- “Caminho dos Currais”, devido às inúmeras fazendas
cuito comercial.40 Inicialmente, sem grandes créditos ao longo de seu traçado e às boiadas que constante-
para se envolverem diretamente na compra de escravos mente transitavam por ali para abastecer de carne a
ou de mercadorias que vinham do reino, os três perce- população mineradora; ou ainda de “Caminho do Ser-
beram que o melhor era se colocar a serviço de terceiros, tão”, devido à natureza agreste de grande parte da re-
e, como tratantes, trilhar o caminho que ligava o porto gião que cortava.
baiano às Minas Gerais. No caso desse eixo comercial, Pelo fato de estarem sempre a serviço de tercei-
a figura do tratante tornava-se fundamental porque ros, era forçoso que os tratantes estabelecessem re-
grande parte das vendas se realizava a grandes distân- des de negócio que abarcavam amplos espaços e nas
cias dos [grandes] comerciantes, já que [estes] se en- quais se misturavam laços familiares, de amizade e de
contravam nos portos litorâneos ou nas vilas mineiras, fé. Por onde passaram, os irmãos Nunes encetaram
[e dos fazendeiros que ficavam no] sertão. O costume relações comerciais com membros da sua parentela e
de comprar fiado também tornava a figura do tratan- com os irmãos de fé. Como eles, vários membros das
te essencial para a cobrança de dívidas. Por costume, famílias Nunes, Henriques e Miranda, todos cristãos-
o tratante recebia as mercadorias para transportá- -novos, muitos deles judaizantes, exploraram essa rota
Escravos lavando
diamantes em -las, delas tornava-se devedor a quem lhe contratara, entre as Minas e a Bahia, e frequentemente se associa-
Curralinho, passando-lhe documento escrito. Uma vez vendidas,
ram para esse fim.45 Numa ponta ficavam os que dispu-
gravura do geralmente pelo sistema de crédito, o tratante tinha
Atlas de viagem
nham de crédito e financiavam as atividades comerciais
que receber o pagamento, o que durava vários anos.
ao Brasil, de dos pequenos comerciantes da família. Diogo de Ávila
De posse do dinheiro, as contas eram acertadas, rece-
Spix e Martius. Henriques, por exemplo, estabelecido em Salvador, ti-
bendo o tratante uma porcentagem sobre as vendas.41
Na página nha acesso a letras de crédito recambiadas do Porto e
seguinte, Tropeiro
Assim, um ano depois de chegarem a Salvador,42 de Lisboa para a Bahia.46 Com esse capital, tornou-se
paulista, por
Charles Landseer, os três seguiram pela primeira vez para as Minas, ini- grande importador de negros de Angola, que em par-
século XIX. ciando a viagem em outubro de 1709.43 Adquiriram te enviava, por mãos de terceiros  como João Lopes
Álvares e Jerônimo Rodrigues , para vender em Mi-
nas.47 Também mandava comprar couro no sertão, que
entregava a Antônio de Miranda, dono de curtume na
Bahia, para ser beneficiado.48 Uma vez curtido o couro,
parte era transformada em solas enviadas para a cidade
do Porto, a fim de serem comercializadas por seu pai
Jorge Henrique Moreno; parte mandava vender nas Mi-
nas; e ainda outra parte era revertida para o comércio
negreiro, também em Angola.
Um importante homem de negócio foi o primo
Diogo Nunes Henriques, natural de Pinhel, arcebis-
pado de Viseu. Os três Nunes tiveram intenso contato
com ele em Minas, onde primeiramente se estabeleceu
no Curralinho, e mais tarde mudou-se para as Minas
de Itacambira, ambas situadas nas Minas Gerais.49 Nu-
nes Henriques adiantava créditos a negociantes volan-
tes, como era o caso dos três irmãos ou de Cristóvão
João, e também comprava gado do sertão, que mandava
conduzir e vender nos açougues das vilas da região mi-
neradora.50 Os três Nunes frequentaram intensamente
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O caso dos irmãos Nunes
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Trajetórias de uma família de cristãos-novos na construção da cartografia dos sertões

o seu desbravamento e de apenas usufruírem as suas ri- irmãos, os paulistas também eram responsáveis, com
quezas; ou para indicar todos os que utilizavam o Ca- suas arbitrariedades, por desorganizar o comércio, es-
minho da Bahia, em oposição aos que chegavam de São pecialmente pelo Caminho da Bahia, no qual os três ti-
Paulo.62 Os paulistas se autodenominavam “naturais do nham interesse direto. Mas, diferentemente de grande
solo”, “filhos da terra”, e se opunham a todos os foras- parte de seus compatriotas, os Nunes tinham uma visão
teiros, chamados “emboabas por desprezo, que na sua favorável de Borba Gato, paulista, genro de Fernão Dias
língua quer dizer galinhas calçudas, o que imitavam Paes Leme, nomeado pelo rei superintendente das Mi-
pelos calções que usavam de rolos”.63 nas, responsável por distribuir as lavras e manter a or-
A clivagem que os irmãos Nunes estabeleciam opõe, dem nos tumultuosos primeiros tempos da exploração
de um lado, como era de costume, os paulistas; e, de ou- aurífera. Segundo eles, Borba era “homem de cabeça,
Acampamento a casa que ele possuía em Vila Rica, uma verdadeira tratante para as Minas, para o que dispunha de três ca- tro, os europeus, por vezes qualificados por eles como mais inclinado a fazer bem, que mal. Assim, favorecia
noturno de viajantes “sinagoga”, onde amigos e parentes realizavam vários valos. Como resultado de sua atividade mercantil, esse quanto podia aos mercadores, que com tanto trabalho
brancos e portugueses. Entre os dois grupos, os irmãos
(detalhe), de Jean
ritos judaicos. Ali se reuniam ainda “David Mendes, Domingos devia a Joseph Ferreira da Silva, comercian- marcavam diferenças de cor - europeus brancos e pau- faziam viagens tão longas”.68 Por se colocar ao lado dos
Baptiste Debret.
Domingos Nunes (sobrinho de Diogo Nunes Henriques), te, as fazendas que tinha comprado, mas tinha créditos listas mestiços - e também culturais - os primeiros comerciantes e tentar apaziguar os instintos erráticos
o senhor de engenho Domingos Rodrigues Ramires que nas mãos de vários devedores pequenos, provenientes eram honrados e civilizados; os segundos, bárbaros, dos paulistas, a Borba eles conferiram valores iguais aos
tinha residido no Rio de Janeiro, João da Cruz, o mer- das vendas que realizara.56 irracionais, traiçoeiros.64 Até a formação militar dos que haviam dado aos europeus.
cador de panos David de Miranda, Francisco Nunes, Paulista com
Mais tarde, Diogo Nunes se declarou homem de paulistas e portugueses refletia suas diferenças. Sobre Em Minas, Luís Nunes adquiriu a fazenda da Cha-
poncho, Thomas
Duarte Rodrigues, Manuel Nunes de Paz (filho de Diogo negócio e não mais tratante.57 Homens de negócio era os paulistas, os Nunes diziam que “esta gente marchava pada, ao pé da Serra Vermelha, sem que se possa loca- Ender, início do
Henriques), Manuel Nunes Sanches e muitos outros, como se denominavam os comerciantes mais ricos, en- sem ordem alguma, todos em bando” e vinham “já ma- lizar com exatidão essa propriedade.69 Pouco depois, século XIX.
todos vizinhos”.51 Negócios, amizade, parentesco e a volvidos em múltiplas atividades mercantis, principal- tando e roubando os portugueses que encontravam”. Já
prática do judaísmo mesclavam-se nas relações esta- mente o financiamento da atividade dos comerciantes sobre o líder emboaba, Manuel Nunes Viana, diziam
belecidas entre eles. menores.58 Era um sintoma do seu enriquecimento no que dispôs “sua gente em boa ordem militar. Armou
Na outra ponta dessas complexas redes comerciais trato mercantil, que só as Minas Gerais, como nenhum toda sua gente de boas armas. Formou companhias,
ficavam os tratantes, como era o caso dos três irmãos outro ponto do império português no século XVIII, fez oficiais de cavalaria e infantaria, com suas trombe-
Nunes. Como exemplo, um parente deles, Fernando foram capazes de proporcionar.59 tas e tambores. Marchou esta gente mandada por um
Gomes Nunes, era contratado por várias pessoas para official, ficando Viana de reserva”.65 De fato, enquanto
fazer carregações da Bahia às Minas e dispunha de os portugueses mimetizavam a organização e as táticas
quatorze cavalos para o negócio, além de duas pisto- Entre a América portuguesa, da guerra europeia - honrosa ao olhar dos Nunes -,
las e dois revólveres para se proteger dos perigos dos a Inglaterra e a França os paulistas mamelucos - desonrosos - utilizavam as
caminhos. Era credor de muitos moradores nas Minas técnicas de guerrilha indígena. A chamada guerra bra-
pelas fazendas que vendia. Entre seus devedores esta- Os três irmãos permaneceram cerca de 15 anos em sílica, tática dos paulistas, era caracterizada por em-
va o cirurgião-barbeiro Luís Gomes Ferreira, autor do Minas Gerais, entre 1709 e 1724, circulando anualmen- boscadas e assaltos, oposta em tudo à guerra europeia,
Erário Mineral,52 um caixeiro no Serro do Frio e um pa- te entre esta capitania e Salvador. Durante esse período realizada pelo embate dos exércitos, com formação tra-
dre em Guarapiranga, alcunhado de Quatro Olhos.53 Por foram testemunhas de muitos dos acontecimentos que dicional no campo de batalha, onde realizavam gran-
sua vez, Fernando devia a várias pessoas na Bahia que convulsionaram os primeiros tempos do povoamento da des manobras, “amparados por rigorosa hierarquia de
lhe tinham dado mercadorias para vender nas Minas, região, como a Guerra dos Emboabas.60 Da pena deles postos e funções”.66
entre elas alguns comerciantes, proprietários de enge- sobreviveu um dos raros testemunhos coevos, não ofi- Na esteira de uma visão emboaba do conflito,67
nhos, um oficial da Casa da Moeda e um médico vindo ciais, do conflito.61 As razões do embate foram várias e como era de se esperar devido à sua origem reinol, os
da Índia que lhe passou produtos de lá.54 Pouco antes de se revelam na própria etimologia da palavra emboabas, três irmãos posicionaram-se a favor dos portugueses
morrer, estava no Caminho do Sertão com três cavalos que é incerta e cujo significado é flexível. Às vezes, era e contra os paulistas. Não por acaso, o título da parte
carregados de mercadorias pertencentes ao comercian- utilizada para designar apenas os portugueses; outras, do texto em que descrevem os acontecimentos foi De
te Manoel Sampaio de Freitas e ao senhor de engenho englobava todos os que não fossem paulistas, como por- como os Paulistas foram dominados. Na visão deles
Diogo Henriques Ferreira. Também na Bahia, devia por tugueses, baianos, pernambucanos etc. Foi empregada “eram estes paulistas homens arrogantes [e] facinoro-
empréstimos ao mercador Antônio Gonçalves Maciel e a ainda para diferenciar os que tinham aberto as minas, sos. Matavam sem piedade, [e sem] nem admitir razão
um oficial da Casa da Moeda.55 Outro parente que se de- identificados como paulistas, e os recém-chegados, alguma (...). E cada um [era] um régulo. (...) E, muitos
dicou ao mesmo tipo de atividade foi Domingos Nunes, acusados pelos primeiros de não terem contribuído para daqueles régulos se julgavam soberanos”. Segundo os
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O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL

os três se fixaram no chamado “sítio (...) dos Três dos cristãos-novos, muitos deles envolvidos com o trato
Irmãos”,70 que, segundo eles, ficava depois do Curral do mercantil, como acontecia com os Nunes e vários mem-
Borba, a seguir ao Roteador das Pedras de Luís Nunes, bros da sua parentela.79 Não por acaso, pelo menos 25
nas proximidades da lagoa da Itaubira, logo na saída da membros da família foram aí morar no primeiro quartel
mata que circundava esse povoado, junto aos Campos do século XVIII.80 Dispersos em Portugal, os parentes se
de mesmo nome, à pouca distância de Vila Rica.71 Trata- reuniam nos perdidos sertões das Gerais.81
va-se de Campos de Itaubira, hoje a cidade de Itabirito. Entre 1716 e 1719, Diogo e João também realizaram
Reiterando tal localização, Diogo contou aos inquisido- viagens ao Rio de Janeiro, passando a explorar outro
res que esta sua casa ficava a seis léguas (cerca de 40 importante eixo comercial que ligava as Minas Gerais
quilômetros) de Vila Rica. Para atingi-la, “bastava ir até ao porto carioca, cada vez mais dinâmico. Na primeira
a Bocayna, e atravessar o Passa-dez, que é um rio, que se viagem, pouco depois de saírem de sua casa, no Curra-
passa dez vezes”.72 As terras deveriam ter “umas capo- linho, encontraram-se com um parente, Miguel Nunes,
eiras, alguns campos e limitados matos”, como aquela tratante como eles. Miguel era sobrinho de David de
sobre a qual Bartolomeu Alves da Silva pediu confir- Miranda,82 outro cristão-novo, também tratante do Ca-
mação, também nessa região.73 Ali eles descobriram as minho da Bahia, especializado em comprar panos em
minas do “Varão, [situadas] onde faz barra o rio da Itau- Salvador, com os quais fabricava roupas vendidas nas
bira”. Nesse local, apenas um dos irmãos possuía “dez Minas. Como era o costume, os três então viajaram jun-
ou doze possessões [de lavras], em mais de uma légua de tos, protegendo-se mutuamente dos perigos do traje-
terra, de que era senhor”, localizadas em uma das mui- to,83 aproveitando para se conhecerem melhor, revelan-
tas minas da região aurífera chamada “da Conquista, do uns aos outros sua secreta profissão de fé judaica.84
pelo bom sítio e matos em que está, [e] se julga a melhor Como sempre faziam onde estivessem, em suas diversas
das Minas Gerais”.74 estadas no Rio de Janeiro, os dois irmãos estabeleceram
Campos de Itaubira era um dos distritos da fregue- contatos com outros cristãos-novos judaizantes, com os
sia de Cachoeira do Campo, pertencente ao termo de quais pudessem se associar no trato mercantil, encon-
Vila Rica. Sua denominação provinha do tipo de vege- trar proteção e pouso na cidade e ainda realizar os ritos
tação de campos que cobria a região. O sítio dos irmãos judaicos costumeiros. Tal ocorreu com Manoel Dias;85
ficava nos campos do Curralinho, situado nos arredo- Manoel Nunes Bernardes, antigo conhecido de Luanda,
res de Itaubira.75 Ali, os Nunes eram vizinhos de Diogo e quem provavelmente os aconselhara a se envolver no
Nunes Henriques.76 Apesar de estar continuamente em comércio com a praça carioca;86 e Ana Roiz, viúva de
trânsito, Diogo Nunes considerava este seu local de re- Damião Roiz, advogado.87
sidência.77 Cachoeira do Campo foi uma das urbes mais Uns dos pontos da capitania de Minas, fora das rotas
antigas de Minas Gerais,78 e palco de alguns dos confli- para a Bahia e do Rio de Janeiro, que os irmãos chega-
tos da Guerra dos Emboabas. Acredita-se que na igre- ram a atingir em suas andanças foi Pitangui, reduto dos
ja de Nossa Senhora do Nazaré, a matriz, o português paulistas depois da Guerra dos Emboabas.88 Ali, por volta
Manuel Nunes Vianna tenha sido empossado governa- de 1716, na casa do cristão-novo Antônio Roiz, originário
dor pelos insurgentes. do Fundão, eles se reuniram e cumpriram os ritos judai-
Campos de Itaubira, um dos pequenos arraiais que cos, com mais um sobrinho do anfitrião e um mineiro de
surgiam entre e nas fazendas dispostas em seu entor- quem não se sabe o nome.89 Apesar das rivalidades en-
no, possuía, como era comum a esses povoados, carac- tre europeus e paulistas, Pitangui parece ter sido um dos
terísticas entre o urbano e o rural. Sua igreja principal grandes redutos dos cristãos-novos portugueses em Mi-
era dedicada a Santo Antônio, padroeiro de Portugal. nas.90 Outro foi a região do Serro do Frio, onde, de acor-
O povoado ficava na região mineradora, e era, ao mes- do com os Nunes, encontrava-se a “paragem ad’onde
mo tempo, local de trânsito intenso de viajantes, que (sic) se acham muitas esmeraldas”. Um deles conhe-
ali pousavam a caminho de Vila Rica. Por ambos os ceu a região por causa de um paulista a quem devotava
Na página seguinte,
As imediações de motivos, era ponto estratégico para o estabelecimen- amizade e, com ele, chegou até Itacambira. Segundo os
Vila Rica, c.1766. to de uma comunidade de refugiados, como era o caso Nunes, a viagem começou em Antônio Dias, distrito de
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O caso dos irmãos Nunes
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Trajetórias de uma família de cristãos-novos na construção da cartografia dos sertões

Ouro Preto, inicialmente “buscando o poente”. Quan- barco de volta ao reino. As minas do Varão em Itau- Prospectiva da
do atingiram o rio Preto, tomaram uma canoa e o curso bira foram repartidas entre “quatro amigos, os quais Cidade do Rio
de Janneiro.
desse rio foi percorrido até desaguar no Jequitinhonha. [ainda] ficaram tirando ouro mais de ano e meio”
Vista da parte
Seguindo sua vazante, chegaram às Minas de Araçuaí e depois.97 É muito provável que tenham resolvido fu- do Norte, na Ilha
finalmente, um pouco mais ao norte, a Itacambira.91 gir quando os longos braços da Inquisição chegaram das Cobras…,
A praça mercantil mais importante para as ativi- ao Curralinho. De fato, do total de 51 cristãos-novos Miguel Angelo
Blasco, 1760.
dades dos irmãos, no entanto, foi Salvador, onde eles denunciados ao Santo Ofício como judaizantes, em
anualmente iam comprar e vender mercadorias. Ini- Minas Gerais, na primeira metade do século XVIII,98
ciavam a viagem sempre no mês de outubro, quando 25 eram oriundos dessa localidade, vários deles presos e
começavam as chuvas, essenciais para suprir de água enviados a Lisboa. Do total, três eram mulheres, e nove
os viajantes e seus cavalos em uma região marcada pelo tinham o sobrenome Nunes. Parece que a prisão de
agreste da natureza.92 Nos vastos sertões estendidos en- Francisco Nunes Miranda, médico, aparentemente o
tre as duas capitanias, os Nunes se abasteciam de taba- primeiro cristão-novo preso no século XVIII na capi-
co, com fornecedores como Antônio Roiz Campos, de tania, deu início à perseguição e descoberta dos demais
alcunha o Romão, lavrador nas proximidades de Santo familiares e amigos, que, como pedras de um domi-
Amaro, no Recôncavo Baiano.93 Também realizavam nó, eram descobertos a partir dos depoimentos dos já
negócios com Manoel Mendes Monforte, já mencio- encarcerados.99 Tudo indica que os Nunes deixaram a
nado, proprietário de um engenho, o sítio do Salgado, cidade em companhia de Diogo Fernandes Cardoso,
perto da vila de Cachoeira, a três léguas de Salvador; da sua esposa, Branca Lopes; sua sogra, Brites Lopes;
com Isabel Luiza de Pina, outra proprietária de enge- e ainda duas cunhadas.100
nho na região; e com o lavrador de cana, Luís Nunes Diogo contou que resolveu voltar a Portugal por-
de Castro.94 Em Salvador, relacionavam-se com vários que recebera uma carta ameaçadora de sua prima, Ana
homens de negócio, alguns deles financiadores de suas Nunes, assinada também pelo marido dela, Antônio
atividades, como Antônio do Vale Sarmento, Domingos Vaz, e seus filhos: se ele não retornasse ao reino para
Nunes Penacor e João Roiz Nogueira, que, apesar de ter fazer a vida com sua mulher, Leonor Henriques, iriam
a base de seus negócios na cidade, morava nas Minas. denunciá-lo à Inquisição.101 Não se sabe se tal carta exis-
A partir do século
Na companhia destes - cristãos-novos e judaizantes tiu, podendo tratar-se apenas de uma desculpa, já que
XVIII, dinamizou-
como eles - também cumpriam secretamente os ritos os três, e não apenas Diogo, resolveram partir juntos, -se o eixo comercial
judaicos,95 pois, como era típico nessa época, identi- deixando para trás suas propriedades e seus rendosos entre as Minas
dade religiosa e familiar contribuíam para a realização negócios. O mais provável é que, a essa altura, a fé que Gerais e o porto
carioca. Ao lado,
dos negócios.96 verdadeiramente professavam estava prestes a se tornar
duas vistas do
Por volta de 1724, os três Nunes resolveram deixar pública, já que o número de judaizantes com quem ha- Rio de Janeiro do
o Brasil e retornaram a Salvador, onde tomaram um viam partilhado crenças e ritos era amplo e muitos deles início do século XIX.

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O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL

Prospecto da cidade
da Bahia, Manoel
Roiz Ferreira, c.1786.

já estavam presos. Era apenas uma questão de tempo em Londres, onde continuaram a se relacionar. Diogo
para que as denúncias arrancadas nos cárceres do Santo contou que na urbe londrina passou a se encontrar com
Ofício apontassem para os três irmãos. Miguel Nunes na sinagoga,105 visitar frequentemente a
Ao desembarcar em Lisboa, os Nunes não ficaram família de Diogo Fernandes Cardoso106 e ainda ajudou
parados por muito tempo. Como era característico dos Maria Ayres de Pina a se instalar, emprestando-lhe
tratantes, os negócios exigiam viagens regulares. Co- dinheiro para seu sustento inicial.107
meçaram frequentando várias feiras no Alentejo, onde Na Inglaterra, os três Nunes passaram a circular na
aproveitavam para falar sobre suas crenças religiosas a comunidade de judeus portugueses ali exilados, entre
todos os cristãos-novos que conheciam, alargando seus eles vários Nunes  como seus primos, os médicos
laços de sociabilidade e negócios com a comunidade Diogo Nunes Ribeiro108 e Antônio Ribeiro Sanches,
secreta de judaizantes e também buscando ajuda para além de sua prima Clara. Por essa época, os dois úl-
organizar uma fuga do reino, já que a Inquisição era timos sobreviviam como professores de judaísmo.109
uma ameaça real e cada vez mais próxima.102 Numa des- Como os demais, os irmãos aproveitaram a tolerância
Na página seguinte, sas viagens foram até a vila de Almada, onde visitaram ali existente para professar abertamente a religião ju-
Antigo palácio Maria Ayres de Pina, viúva do médico Manoel Mendes daica. Frequentavam regularmente a sinagoga e, para
da Inquisição de
Monforte, amigo e antigo parceiro de negócios nas Mi- externar sua verdadeira devoção, a conselho do primo
Lisboa, c.1842,
depois demolido nas.103 Na casa de Maria Ayres encontraram ainda vários Diogo Nunes Ribeiro, resolveram se circuncidar. A cir-
para dar lugar ao amigos da Bahia,104 entre eles, provavelmente, Diogo cuncisão de Diogo ocorreu em cerimônia “com todas
Teatro Nacional
Fernandes Cardoso e Miguel Nunes, com quem realiza- as solenidades com que os judeus costumam em se-
D. Maria II.
ram ritos judaicos. Tudo indica, no entanto, que o mo- melhantes ocasiões”.110 A profunda conversão à reli-
Abaixo, Auto de
Fé em Lisboa, tivo principal da reunião foi acertar os planos da fuga, já gião de Moisés e o domínio de suas crenças por parte
século XVIII. que, no ano seguinte, em 1727, todos estavam residindo dos irmãos se revela no fato de que, em Londres, para
182
O caso dos irmãos Nunes
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Trajetórias de uma família de cristãos-novos na construção da cartografia dos sertões

“espontaneamente”, estratégia comum aos que tenta- Os sinuosos trajetos do Outras menções no texto apontam para a mesma di-
vam minimizar suas penas. Nos meses que se seguiram, roteiro dos irmãos Nunes reção: as duas enchentes do rio São Francisco (1712 e
se apresentou quatro vezes perante os inquisidores para 1721); a residência do governador no palácio da Vila do
confessar seus desvios de fé. Confinado entre a sua pe- Não se sabe a data exata em que os irmãos Nunes Carmo, erguida apenas no governo de dom Lourenço
quena cela e a 1a. e a 2a. Casa de Audiência, onde prestou escreveram o roteiro que tão detalhadamente descre- de Almeida, iniciado em 1721; o estabelecimento das ca-
seus depoimentos, percorreu - no interior do imenso ve o trajeto entre Salvador e Vila Rica. O próprio relato sas de fundição em Minas (junho de 1724), durante este
palácio - espaços bem mais exíguos do que os vastos deixa entrever algumas pistas, ainda que desperte in- mesmo governo; a transferência da capital de Mariana
sertões das Gerais, para os quais ansiosamente sonhava dagações. (Sabendo-se que Diogo era analfabeto, sen- para Vila Rica (1724); o retorno ao reino por Manoel
voltar. Finalmente, a 5 de dezembro, apresentou-se à do capaz apenas de assinar/desenhar seu nome, e que Nunes Vianna depois da Guerra dos Emboabas (1726);
Mesa da Inquisição para ouvir sua pena. A estratégia de muito provavelmente o mesmo se pode dizer de seus ir- e por fim a informação da volta dos Nunes a Portugal
colaboração foi bem-sucedida; recebeu uma pena leve mãos, utilizaram-se de um escrevente.)114 O texto inicia (c.1724) e da doação das lavras da Itaubira a quatro
e não teve seus bens sequestrados. Finalmente, no dia advertindo que os irmãos se encontravam em Salvador, amigos que continuaram fazendo-as render por mais
10 do mesmo mês, apresentou-se à Casa do Despacho em 1709, quando resolveram ir às Minas, sugerindo ao um ano e meio após a sua partida, avançando a data de
para receber sua penitência: foi instruído na fé católica, leitor que é esta viagem a ser descrita. No entanto, à me- escrita do documento para perto de 1728. Portanto -
confessou, comungou e sofreu castigos com todo o ri- dida que a leitura se desenvolve, observa-se que vários pelo menos nessa versão final, já que versões anteriores
gor (afinal, acreditava-se que um pouco de mortificação outros trajetos possíveis entre os dois pontos extremos podem ter existido -, o roteiro parece datar do fim da
do corpo minimizaria os pecados da alma). No dia 20, da estrada são descritos com acuidade e riqueza de de- década de 1720, quando chegaram na Inglaterra.
já em liberdade, suplicou aos inquisidores que pudes- talhes. Tal conhecimento só pode ter sido reunido em Se é inequívoco que esse documento serviu de
se voltar a Minas Gerais, no Estado do Brasil, onde era inúmeras viagens entre Minas e Salvador, como as que fonte para que Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville
morador. Apesar dos vários anos ausente, sentia falta do os Nunes anualmente realizavam. É provável, portan- estabelecesse, na Carte de l’Amérique méridionale, a
Curralinho, pois aquela era a sua casa. As autoridades to, que o relato tenha sido escrito num período poste- geografia dessa região, menos evidente é a forma como
Homem condenado não atenderam a seu pedido. Seria mais fácil vigiar-lhe rior, com informações tomadas em diferentes ocasiões. foi parar nas mãos do geógrafo francês. O que se sabe
ao fogo pela os passos no reino do que nas infinitas brenhas dos ser-
Inquisição de Goa,
tões das Gerais e, dessa forma, garantir que “com a vida
século XVIII.
desse mostras de bom e fiel católico”. Isso significava,
de acordo com o entendimento dos inquisidores, rea-
sobreviverem, Diogo e Sebastião se tornaram profes- lizar atos públicos que atestassem sua reconversão ao
sores de judaísmo.111 catolicismo. Diogo deveria comparecer publicamente
Mas, em 1728, os três Nunes se separaram, tornan- todos os anos às quatro festas principais do calendário
do, pela primeira vez, bastante distintos os destinos de católico - Natal, Páscoa, Pentecostes e Assunção - e
cada um. Sebastião, por essa época já casado, resolveu rezar semanalmente, na igreja, o rosário à Virgem. Mas
permanecer em Londres com a esposa, e Diogo e João ainda havia outras contrições a serem cumpridas no es-
partiram para a França. É provável que, como era cos- paço privado. Em casa, às sextas-feiras, deveria rezar
tume entre as famílias envolvidas no comércio, e como cinco padres-nossos e cinco ave-marias. Livrara-se das
os três já haviam feito anteriormente, tenham resolvido estreitas paredes da prisão dos Estaus, mas jamais dos
se distribuir por diferentes praças mercantis. Os dois olhos vigilantes das autoridades inquisitoriais.
foram morar em Dunquerque, ao norte de Calais.112 Ali, Em 1729, os três Nunes se encontravam em situações
com a morte inesperada de João e a chegada da notí- muito diferentes. João morrera na França e Sebastião,
cia de que ficara viúvo, o que afastava as ameaças dos casado, vivia em Londres, onde podia professar aber-
parentes de denunciá-lo à Inquisição, Diogo decidiu tamente o judaísmo. Enredado nas malhas do Santo
retornar a Portugal. Ofício, Diogo era um penitente no reino.113 Se não vol-
Mas parece que se enganou, pois o perigo de cair taram a trilhar os caminhos que separavam o porto de
nas mãos do Santo Ofício não havia passado. Diogo Salvador das Minas Gerais, o roteiro, que tão minucio-
chegou a Lisboa em 1729 e, a 7 de setembro, foi dar à samente produziram, serviu a quem desejasse seguir-
porta do Palácio dos Estaus, prédio que abrigava o Tri- -lhes os passos, nos vastos sertões e campos gerais até Quartel em Vila
bunal Inquisitorial em Lisboa. Resolveu se apresentar Vila Rica, no coração da capitania. do Carmo, 1722.

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O caso dos irmãos Nunes
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Trajetórias de uma família de cristãos-novos na construção da cartografia dos sertões

é que o embaixador português, dom Luís da Cunha, lhe - cujas redes extensas se espraiavam desde o Brasil - Nunes? Não é improvável, visto que, como se verá, no
forneceu esse documento. Contudo, fica a questão: que informações geográficas úteis sobre a conformação do livro de Sarmento, há vários elementos em comum com
caminhos esse interessante documento percorreu entre seu território. O roteiro dos irmãos Nunes encaixava-se a visão que os Nunes tinham sobre as Minas.
a pena dos três irmãos, a mão do embaixador e o estúdio como uma luva, pois possibilitaria que, graças à agu- Em Haia, de 1713 a 1714, durante as negociações
do geógrafo em Paris? da habilidade de D’Anville para representar cartogra- do acordo de Utrecht; em 1718; e de 1728 a 1736, como
Não se pode deixar de atentar que, em todos os lu- ficamente as descrições de trajetos de viagens, a região representante de Portugal junto aos Países Baixos, o
gares na Europa onde dom Luís serviu, ele entrou em mineradora fosse situada com mais precisão. Na con- embaixador tornou-se amigo do judeu Álvaro Nunes
contato com cristãos-novos portugueses exilados. Com cepção de dom Luís da Cunha, essa região era um dos da Costa, financista da corte portuguesa e credor de
eles exercitou a tolerância em relação às diferentes re- bens mais preciosos a serem mantidos sob o domínio grandes somas de dinheiro para o pagamento das des-
ligiões e, apesar de ter sempre mantido a aparência de da Coroa portuguesa. Era “o bem que a velha tem”,115 pesas da embaixada.120 Dom Luís chegou a comparecer
bom católico, tornou-se um defensor da liberdade de sendo, portanto, necessário saber sua posição exata em ao casamento do filho dele, ocorrido na sinagoga da
culto e um severo crítico dos excessos cometidos pela relação ao meridiano de Tordesilhas para nortear ade- cidade. Além disso, em Mon Plaisir, como nomeou a
Inquisição. Sempre sequioso de encontrar informações quadamente as negociações de limites com a Espanha. casa que comprou em Haia, teve como criada uma Ana
Jacob de Castro recentes e confiáveis sobre a geografia do interior do Se não se pode traçar com certeza o momento em Nunes.121 Seria essa Ana Nunes a mãe ou uma das ir-
Sarmento, médico
Brasil, para nortear as negociações diplomáticas de que que o roteiro dos Nunes chegou às mãos de dom Luís, mãs de Antônio Ribeiro Sanches? Não é de todo impos- Cultura e opulência
e rabino em
Londres no participava sobre os limites entre Portugal e Espanha na podem-se rastrear os contatos que este estabeleceu, nas sível, visto que o pai deste, Simão Nunes, era flamen- do Brasil por suas
América, o embaixador buscou entre os cristãos-novos drogas e minas…,
século XVIII. diversas cortes em que atuou, com membros da ampla go.122 Se assim for, ela era outra prima dos irmãos
1711, de André
comunidade de cristãos-novos portugueses exilados Nunes e, quando em Portugal, residia em Penacor.123 João Antonil,
que poderiam ter-lhe fornecido o documento. Na In- Dom Luís depositava nela total confiança e, quando tra- pseudônimo de
glaterra, serviu na embaixada entre 1697 e 1712, e ex- tava de assuntos sigilosos e poucos ortodoxos em sua um padre jesuíta.
Pelas informações
perimentou duas outras curtas estadas, respectivamente casa, Ana Nunes cuidava de manter a porta bem fechada
sigilosas, a edição
em 1717 e 1719. Quando em Londres, conviveu com os e sob estreita vigilância, para que o embaixador pudesse foi recolhida pela
médicos cristãos-novos portugueses Fernão Mendes da falar com inteira liberdade.124 Indício de ela ser de fato Coroa Portuguesa.
Costa, que o assistiu em suas enfermidades,116 e Jacob de uma parenta de Antônio Ribeiro Sanches ocorreu em
Castro Sarmento, que comercializava um famoso me- 1730, quando o embaixador foi encarregado pelo car- embaixador junto à corte francesa, novamente se co-
dicamento, a Água da Inglaterra, à base de quina, vá- deal da Mota, secretário de dom João V, de compor “um locou em contato com os judeus portugueses ali exi-
rias vezes adquirido pelo embaixador para dom João V.117 catálogo dos melhores autores que escreveram assim lados. Tal foi o caso de Pedro Nolasco Couvay, grande
Sarmento chegou a ser rabino da sinagoga londrina e, da filosofia como da medicina moderna, ajuntando-se financiador das despesas do rei de Portugal na França.
mostrando-se conhecedor da geografia da região mine- os de que se necessita para entender e praticar o que Couvay não era apenas um homem de negócios, tam-
radora, inseriu em seu livro de medicina, datado de 1735 eles ensinam”.125 Para levar a cabo a tarefa, resolveu ir à bém “era renomado por seu intelecto, seu espírito, seu
e intitulado Matéria Médica, Físico-Histórica-Mecâni- Universidade de Leiden, onde Antônio Ribeiro Sanches gosto e suas luzes”.128 Como um savant de sua época,
ca, Reino Mineral, descrições sobre as regiões auríferas estudava, provavelmente seguindo indicação da criada. possuía significativa biblioteca, com 3.731 obras, na
e diamantinas de Minas Gerais.118 Não parece ser mero Esse o ajudou a compor um pequeno tratado de como qual dispunha de uma coleção “considerável de livros
acaso o fato de o livro ter sido redigido na mesma épo- reformar o estudo da medicina em Portugal e quais os espanhóis e portugueses”,129 como também de mapas e
ca em que os irmãos Nunes desembarcaram em Lon- livros necessários para tanto.126 O embaixador ficou tão “manuscritos os mais curiosos”, que fazia dela “única
dres. Com efeito, no apêndice da obra, o autor anexou impressionado com a capacidade intelectual do médi- na Europa”.130 Entre estes últimos havia preciosas des-
uma carta de próprio punho, endereçada ao secretário co que o recomendou vivamente a dom João V. Desse crições das Minas Gerais, que a Coroa portuguesa ten-
da Royal Society, da qual era membro, onde conta que momento em diante, os dois estabeleceram uma ami- tava a todo custo manter desconhecidas das demais na-
“teve a oportunidade de conversar, com um senhor, re- zade fraterna, reencontrando-se em Paris, na década ções europeias que cobiçavam suas riquezas. Dom Luís,
comendado a mim, que veio das Minas de ouro do Bra- de 1740, quando Ribeiro Sanches tornou-se seu médi- sempre atento em recolher documentos e mapas sobre o
sil, pertencentes ao rei de Portugal, e que trouxe muitos co pessoal, acompanhando-o nas mazelas da velhice e Brasil, valeu-se várias vezes da coleção de Couvay para
diamantes de considerável valor, recentemente encon- amparando-o em seu leito de morte.127 municiar D’Anville de informações geográficas sobre o
trados naqueles lugares”.119 A carta provavelmente foi Durante as estadas de dom Luís da Cunha em Pa- Brasil. O embaixador não se descuidou ainda de acom-
escrita entre 1731 e 1732 e o texto se refere a aconteci- ris, em 1712, onde esteve de passagem a caminho de panhar as movimentações das comunidades de judeus
mentos ocorridos até 1728, pouco depois de os irmãos Haia; entre 1720 e 1725, como emissário português no portugueses estabelecidas nos importantes portos fran-
chegarem a Londres. Seria esse senhor um dos irmãos Congresso de Cambrai; e entre 1736 e 1749, já como ceses de Bordeaux e Dunquerque, sendo essa última
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O caso dos irmãos Nunes
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Trajetórias de uma família de cristãos-novos na construção da cartografia dos sertões

cidade onde, por volta de 1728, João e Diogo residiram. Lá Nunes. O roteiro é o que podemos chamar de um mapa O éden minerador
podem ter fornecido o roteiro a quem quisesse se aventu- mental, já que não adquire a forma de representação
rar pelas Minas, chegando até às mãos de dom Luís. pictórica, mas sim de um texto com informações geo- Em uma simples leitura do texto dos três irmãos,
Por meio de todos esses contatos, em diferentes gráficas. Aos mapas mentais pode-se imprimir uma di- observa-se a recorrência de elementos de exaltação à
cortes e em momentos distintos, o embaixador pode mensão cartográfica, que foi o que D’Anville fez com natureza animal, vegetal e mineral da região, apresen-
ter tido acesso ao texto dos Nunes. Mesmo sendo im- os dois roteiros dos irmãos Nunes, utilizados para con- tando-a como um novo éden, ainda propício à ocupa-
possível precisar a partir de qual deles teve acesso ao figurar o território minerador e situar sua distância em ção. A descrição favorável da natureza da área minera-
relação à costa brasileira. dora - com abundância e diversidade de frutos e ali-
documento, são inequívocos os indícios de que o iti-
Desde o início do século XVIII, o Conselho Ultra- mentos - não se circunscreve ao relato dos Nunes, mas
nerário foi escrito para que servisse de roteiro a outros
marino, principal órgão em Portugal de gestão política era decorrente do papel central que a região passava a
cristãos-novos contatados pelos Nunes em Portugal,131
das conquistas do ultramar, se preocupou com o fato de ocupar na cosmologia de muitos portugueses da épo-
na Inglaterra ou na França - cortes nas quais o em-
que a descoberta do ouro poderia acarretar o aumento ca: ali encontrava-se um paraíso terrestre reservado à
baixador desfrutou de contatos diretos com vários ju-
das invasões estrangeiras no Brasil, e se alarmava com ocupação portuguesa. Em vários trabalhos, tenho iden-
deus portugueses ali residentes. A descoberta das Mi-
a circulação de informações mais detalhadas sobre a tificado esse aspecto como uma visão emboaba das mi-
nas de ouro e o significativo fluxo populacional que lhe área. Esse temor se ampliou com as tentativas de in- nas,135 proveniente da percepção de que a região estava
seguiu, inclusive o de cristãos-novos, provocou uma vasão francesa no Rio de Janeiro, ocorridas em 1709 destinada para e pelos portugueses, em oposição às rei-
produção intensa de roteiros e de mapas, hoje relati- e 1711, exatamente na mesma época em que os Nunes vindicações dos paulistas, os verdadeiros descobridores.
vamente raros, que descreviam as formas de entrada chegavam às Minas. A descrição desses caminhos e a Desde o século XVI, motivos edênicos eram uti-
e acesso à região. É no contexto da corrida do ouro e exata localização de cada um deles eram informações lizados para descrever o Brasil,136 a partir do início do
dos diamantes e da busca das sonhadas esmeraldas, no preciosas que, do ponto de vista da Coroa, deveriam
século XVIII, porém, esse imaginário se desloca espe-
coração das Minas Gerais, que se situa a notícia dos ser mantidas fora do domínio público, com o intuito Escravos na
cificamente para as Minas Gerais.137 A ideia da centra-
de garantir a soberania portuguesa sobre as riquezas extração de
lidade das Minas, como um espaço destinado aos rei-
minerais. O cuidado das autoridades, a fragilidade des- diamantes, por
nóis, era compartilhada não apenas por indivíduos dos Carlos Julião,
ses documentos e o fato de eles, quase sempre, terem
círculos populares, como é o caso dos irmãos Nunes, c.1770.
circulado de forma secreta fizeram com que a maioria
mas também por membros da elite e da administração
desses roteiros e mapas não chegasse até nossos dias,
luso-brasileira, como o próprio embaixador dom Luís da da “Alemanha, Hungria, Transilvânia, Boêmia [e] Peru”,
ainda que se especule ter sido um tipo de documento
Cunha.138 A região, a partir de então, passou a ser descri- o ouro geralmente era encontrado misturado a outros
extremamente comum à época. Como exemplo, pare-
ta em vários relatos coevos, principalmente por portu- metais, “nas Minas Gerais (...) raramente se acha o ouro
ce ter tido ampla circulação um mapa anônimo, atri-
gueses que percorreram a área, a partir de elementos do de outro modo, que puro”.142 O autor, como os Nunes,
buído ao mestre de campo Felix de Azevedo Cunha,
maravilhoso. Os homens eram perfeitos e bem-dotados, expressa uma visão negativa dos paulistas que, apesar
acompanhado de um manuscrito que descrevia os ca-
a caça e a pesca abundantes, cristalinas as águas dos de descobridores, “sem fazer uso algum dos ditames da
minhos para as Minas, com anotações dos acidentes
caudalosos rios e, nas florestas, madeiras de todos os ti- razão, ou da diligência, largaram o sítio e se retiraram
geográficos, roças, lavras e localidades do trajeto. Esse
mapa se encontra desaparecido, mas o manuscrito que pos. O mato era alto e virgem e as soberbas serras che- à sua pátria”.143 Em contrapartida, “o contínuo exercí-
o acompanhava sobreviveu e teve algumas impressões gavam às nuvens. Ora, tudo confluía, inclusive os astros, cio e observação de trabalhar nas Minas, (...) cheios de
mais recentes.132 Um outro roteiro geográfico baseado para uma natureza exuberante e farta, coroada pelo diligência e método próprio” fez com que tirassem “os
no mapa de Felix de Azevedo Campos foi redigido por ouro, a prata e outros metais.139 Portugueses em tanta abundância o Ouro, que, parece,
Francisco Tavares de Brito, e publicado em Sevilha em Jacob de Castro Sarmento compartilhava dessa por não caber já dentro de casa”.144 A visão distinta dos
1732.133 Trata-se de um folheto, sem licença régia, nem mesma visão paradisíaca. “De Londres, fazia a propa- dois grupos - negativa dos primeiros e positiva dos úl-
O Itinerario do Santo Ofício, publicado por tipógrafo clandestino, ganda d[as Minas como] o novo ‘Eldorado’”,140 cujas ri- timos - aparece inclusive na forma como ele grafa as
Geografico..., de quezas infindas não cabiam mais na capitania e para as palavras. Enquanto escreve paulistas em letras minús-
autointitulado Antônio da Silva. Ambos descrevem
Francisco Tavares
de Brito, descrevia o mais pormenorizadamente os caminhos a partir de São quais “apenas há lugar na Europa”.141 Como bom pro- culas, Portugueses e Europa aparecem em itálico e com
que havia entre Paulo e Rio de Janeiro. Este último roteiro era, até a pagandista, ele inicia seu livro descrevendo as virtudes a primeira letra maiúscula.
a cidade de presente pesquisa, o único remanescente conhecido, terapêuticas do ouro e já na página 9 anuncia que “de As raízes desse discurso edenizador podem ser en-
São Sebastião
produzido claramente com vistas a orientar cristãos- todas as Minas de Ouro, as que se conhecem mais ri- contradas na tradição cristã-católica de crença na exis-
do Rio de Janeiro
até as Minas do -novos até as Minas,134 o que torna o texto dos irmãos cas, e abundantes no mundo, são as Minas Gerais”. Isso tência de um paraíso terrestre e no próprio milenarismo
Ouro, em 1731. uma fonte rica e instigante. ocorria porque, enquanto nas demais jazidas, como as português.145 O que é curioso no relato dos três irmãos é
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O caso dos irmãos Nunes
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Trajetórias de uma família de cristãos-novos na construção da cartografia dos sertões

que podemos conectar o fenômeno e recuá-lo à tradição


judaica, também presente na cultura popular portugue-
sa, devido à forte presença dos cristãos-novos nessa so-
ciedade, com sua crença na terra prometida - o jardim
das delícias anunciado por Deus e revelado por Moisés
aos judeus em sua fuga do Egito. As imagens edênicas
que os irmãos associam às Minas assumem ainda no-
vos significados quando se compreende a sina errante a
que os marranos portugueses eram submetidos naquele
momento, remontando ao Êxodo bíblico, vivido pelos
judeus na Antiguidade. Vários elementos que eles as-
sociam à região podem ser relacionados aos que Deus
apontou a Moisés, quando este guiou os judeus do Egito
em direção à terra prometida.
Em primeiro lugar, Moisés dizia que Deus lhe re-
velara que essa terra se encontrava próxima a um rio, o
Jordão. No roteiro dos irmãos também é um rio, o São
Francisco, o elemento geográfico central que orienta os
viajantes a encontrar seu destino. Logo no início do ro-
teiro, os Nunes advertem o viajante de que, “para ir da
Bahia às Minas Gerais, é necessário ir buscar o rio de
S. Francisco”,146 pois é ele que orienta os caminhantes.
Nesse trecho gastavam-se entre 25 e 30 dias pelo ca-
minho mais curto, podendo o viajante utilizar algumas e seca a maior parte do ano. Segundo os Nunes, em meio Detalhe de
variantes.147 O leito do São Francisco era navegável por à caatinga, abriam-se uns “campos muito dilatados” que Paisagem brasileira,
de Frans Post, 1652.
longo trecho: de Salto, localidade próxima à foz, pouco eram chamados de Gerais.150 O termo sertão, em portu-
depois da cachoeira de Paulo Afonso, até a barra do rio guês do século XVIII, significava região distante do mar
das Velhas, já na capitania de Minas Gerais. Apesar dis- e de todas as partes, ou ainda que se situa “entre as ter-
so, essa rede fluvial servia menos como meio de trans- ras”.151 Referia-se, então, a qualquer região interior, dis-
porte e mais como referencial geográfico, ao permitir a tante do litoral, mas que, por associação, era ao mesmo
ligação espacial de territórios sertanejos descontínuos. tempo incerta, desconhecida, longínqua, inculta. No re-
A maioria dos transeuntes se deslocava em cavalos ou lato dos Nunes, o sertão do São Francisco assume essa
mulas por trilhas que margeavam o leito dos rios, mas dimensão de espaço interior, distante e primitivo, confi-
em alguns trechos usavam-se canoas. Essas eram amar- gurando-se como uma fronteira aberta, em grande parte,
radas “de duas em duas, emparelhadas, e presas uma a exterior à civilização - ocupada por animais selvagens,
outra para que a corrente não vire”,148 cuidado neces- índios ferozes, paulistas incivilizados e escravos fugidos
sário porque as águas do São Francisco em certos tre- -, mas ao mesmo tempo interna a ela, pois tratava-se
chos eram muito fortes. Os Nunes usavam os dois meios de territórios à espera de integração ao projeto de co-
de transporte - possuíam cavalos e uma canoa, pois, lonização edificado pelos portugueses na América. Os Na página anterior,
cristãos-novos europeus, que buscavam um lugar segu- uma visão
certa feita, “repousaram numa das ilhas” do rio.149
detalhada da costa
Em segundo lugar, do mesmo modo que na região ro para se abrigarem da perseguição inquisitorial, sendo brasileira, da baía
encontrada pelos judeus após cruzarem o rio Jordão em não paulistas, seriam os arautos dessa civilização. Nesse de Todos os Santos
seu êxodo, a vegetação que cobria o sertão do rio São sentido, o sertão estava fora e ao mesmo tempo dentro, até São Paulo.
O mapa de 1764
Francisco era hostil à presença humana. A caatinga, tí- já que destinado à ampliação do império luso-brasileiro.
foi inspirado na
pica do semiárido, que se estende por grande parte da Importante lembrar que, por essa época, intensificaram- Carte de l’Amérique,
região, constitui-se de vegetação rala, baixa, espinhosa -se as negociações entre Portugal e Espanha pelas terras de D’Anville.

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O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Trajetórias de uma família de cristãos-novos na construção da cartografia dos sertões

do interior do continente e a Coroa portuguesa buscava própria para o consumo humano. Ali, os viajantes de-
garantir o domínio máximo de territórios a oeste do me- veriam se abastecer, acondicionando a água em odres de
ridiano de Tordesilhas. couro, levados “em cargas, sobre os cavalos, (...) feitos de
Uma das grandes ciladas que os viajantes encontra- dois meios de solas”. Logo depois, no riacho Seco, que
vam pelo caminho era a angústia da sede e, também por como a maioria dos cursos de água da região não era pe-
essa razão, buscar os rios da bacia do São Francisco era rene, era necessário abrir covas ou buracos mais profun-
tão importante. Logo no início do relato, os Nunes, que dos, “que na língua da terra se chamavam cacimbas”, de
já tinham empreendido a viagem inúmeras vezes, aler- onde se tirava água para dar de beber aos cavalos,152 pois
tavam aos que iam se aventurar pelo Caminho do Sertão esta vinha misturada com barro. Dessa forma, poupava-
que “o maior trabalho nesta viagem é buscar água”. Por -se a água potável estocada no começo da viagem para
essa razão, “em viagem tão dilatada (...) se começa[va] a os caminhantes. Poções era outro local de abastecimento
caminhar em outubro”, quando, “então, favorecem as cujo “nome se lhe deu porque neste lugar se acha água,
chuvas aos caminhantes”. Em Minas Gerais, as estações no mais tempo do ano”.153 Era o rio São Francisco e sua
não são bem marcadas, existindo basicamente um perío- bacia, formada por inúmeros riachos, córregos, poções e
do de seca, que vai de abril a setembro, e outro de chu- lagoas, que aplacaria a sede do viajante.
vas, que se estende de outubro a março, quando então Em terceiro lugar, a Bíblia descreve que, a despeito
as últimas águas fecham o verão. Enquanto a exploração da paisagem agreste, o leito do rio Jordão estava ponti-
do ouro, por ser feita principalmente nos leito dos rios, lhado de ilhas de fartura, repletas de melancias - um
era realizada na estação da seca, a viagem no sertão de- paraíso em meio ao deserto. Da mesma forma, o rio São
veria aproveitar-se da estação chuvosa, para facilitar o Francisco era responsável por um ecossistema diverso e
abastecimento de água, pois grande parte do percurso rico que garantia não apenas a água, mas mantimentos
cortava área de vegetação escassa e rala. aos viajantes. Contam os Nunes que, em uma de suas
Mesmo aproveitando a chuva, cuidados e estraté- ilhotas, “defronte da Malhada Grande, e não está povoa-
gias eram necessários para se conseguir água em volu- da, tem uns areais (...). Seu terreno compreende [de]
me suficiente para garantir a sobrevivência ao longo do três a quatro léguas”. Nela, sem haver necessidade de
caminho. Advertiam os irmãos que, num lugar chamado plantar, “se criam melancias das mais excelentes”. Essas
Boqueirão, próximo a uma das primeiras fazendas, cha- estavam sempre ao alcance dos transeuntes famintos,
mada Serrinha, logo depois da cidade de Salvador e da pois eram abundantes na ilha, bastando que se deixasse
Cajueiro, c. 1780. travessia da baía de Todos os Santos, havia água limpa, no solo, sem necessidade de semear, as sobras daquelas
que foram comidas. De uma única vez, os irmãos Nunes
chegaram a colher 36 dúzias! No entanto, era preciso fi- do rio, como o jenipapo, “uma árvore, que dá uma fruta branca e pena avermelhada; outros de crista vermelha; Ataque de índios
car atento, pois eles informam que “em 1712 e 1721 se parecida com o marmelo. (...) O Jenipapo fica um ano marrecos; jacu, que é do tamanho de uma perua e é botocudos na
região de Minas
inundou esta ilha”, sem que houvesse necessidade de na árvore, antes que se possa comê-[lo]”. E informam muito saboroso; jacotinga; assuã, que é do mesmo ta- Gerais, ex-voto
alarde, porque isso “sucede muito poucas vezes”.154 Joan sobre os alimentos encontrados no caminho que podiam manho, é um pássaro negro com as barbas vermelhas; do século XVIII.
Nieuhof, que viajou pelo nordeste do Brasil, em 1640, saciar a fome do viajante: “milho, feijão, frutas da terra, papagaios; araras (...), emas; seriemas [e] outras muitas
quando da invasão holandesa, apontou também que en- inhame (que se planta), e mandobim [amendoim],156 que sortes”. Com tanta diversidade, era “impossível relatar
tre os frutos que proliferavam naturalmente no Brasil nasce nas raízes, ao revés das outras plantas; [e] tem al- todas”. Alguns animais se assemelhavam aos europeus,
havia a papaia, que “os Americanos apelidam Mamoeira guma semelhança com as favas. Esta planta não cresce como os muitos veados de vários tipos e tamanhos, com
e Pinoguaçu; [e] os nossos às vezes chamam de árvore mais alto que dois palmos”.157 Outro indicativo da fartura ou sem galhadas; já outros eram nativos da região. Esses
de melão dada a semelhança de seu fruto com o nosso que o rio provia era a lagoa dos Patos, que encantou os últimos foram descritos em minúcias, denotando que o
melão”.155 O paraíso brasileiro se revelava, pela fartura irmãos Nunes e ainda deslumbrava os viajantes estran- leitor a quem o texto se destinava não estava familiari-
da terra, em grande parte ainda desabitada, que ali não geiros no século XIX, como o prussiano Von Martius, zado com eles, que se tratava de um público europeu.
se precisava do suor e do trabalho humano para obter que intitulou uma gravura sua retratando o local como Os Nunes se referem às antas; “pacas, que são maio-
alimento e repasto. Lagoa dos Pássaros.158 res que um cordeirinho, são de cor avermelhada, e são
Ao longo do relato, os Nunes dão notícias de vá- Apregoavam também os irmãos que “por todos muito gostosos. [O] Tatú, do tamanho como uma lebre
rias outras frutas que cresciam graças à prodigalidade estes sertões há variedade de aves, como patos de asa de cor parda, e [que] tem uma concha em dadinhos;
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O caso dos irmãos Nunes
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Visões paradisíacas estes não correm muito e, às vezes, matam-nos com um habitados por índios que ainda resistiam à civilização,
do Nordeste do pau. [As] Capivaras, que são como grandes porcos e são por isso considerados selvagens ou bravios, como os ta-
Brasil: em obras
anfíbios; são pardas escuras, têm dentes curvos e tama- puias,161 que os Nunes descrevem como sendo “da cor de
de Johan Nieuhof,
1703 (à esquerda), e nhos como o dedo de um homem - toda a dentadura é cereja, com grande cabelo, muito corredio”.162
Thierry Frères, 1839. igual -, e são estes animais tão fortes, que atravessam Um quarto ponto a destacar nessa visão edênica
Na página seguinte, um rio de três léguas andando”. Toda essa diversidade dos Nunes em relação às Minas diz respeito ao papel
as visões de Johann animal, que podia matar a fome do viajante, também re- que ela representaria na redenção econômica dos
von Spix, c.1831
forçava o caráter edênico do sertão. emigrantes portugueses. Para eles, enquanto os reinóis
(acima); e Frans
Post, 1638. Mas o paraíso encravado brasileiro podia ser consi- eram diligentes, pobres, desejosos de buscar fortuna;163
derado até mesmo como mais proveitoso do que a terra os paulistas eram “régulos, se julgavam soberanos”,164
prometida do Antigo Testamento, pois enquanto a Bí- possuidores de “léguas de conquistas que fizeram seus
blia narra a longa luta entre os judeus recém-chegados antepassados”.165 Essa clivagem entre pobres - portu-
para expulsar as populações residentes na Palestina, os gueses - e potentados - paulistas - permeou os dis-
irmãos - ao descreverem algumas ilhas no meio do São cursos emboabas da época.166 Os Nunes, como muitos
Francisco - apregoavam que muitas delas “ainda não emboabas, viam nas Minas um espaço paradisíaco des-
têm dono”, ou seja, podiam ser ocupadas pelas hordas tinado pelos e para o enriquecimento dos portugueses,
de judeu-portugueses que por essa época andavam er- especialmente os mercadores, como eles, “que, com
rantes pelo mundo. Em relação à ilha de Itaparica, por tanto trabalho, faziam viagens tão longas”.167
exemplo, também chamada de ilha do Medo, eles ad- Em meio a essa disputa, os Nunes, como muitos
vertem que, mesmo sendo povoada em toda a borda do reinóis, encampam a visão que Manuel Nunes Viana
rio até à localidade de Cachoeira, “a Ilha [em si] não é produzia de si mesmo como redentor e justiceiro dos
povoada”. E os que se aventurassem a ocupá-la podiam pobres. “No discurso de Viana, o sertão - sobretudo
tomar seu sustento pelas muitas baleias que ali eram o sanfranciscano, onde estava localizado a [fazenda]
pescadas.159 Segundo os Nunes, as sesmarias distribuí- da Tábua [administrada por ele] - aparece como um
das na região Nordeste tinham “três léguas de terra, em lugar mítico que as justiças de El-rei não conseguem
longo; [posto] que, no largo, cada um possui quanto alcançar”.168 Como protetor dos emboabas que sofriam
pode cultivar”. Isto ocorria “porque, na largura, não tem com os desmandos dos régulos paulistas, ele “favorecia
fim o que está por descobrir, [neste] sertão”.160 Repre- muito a pobreza”. Os guardas, que “o temiam, fechavam
sentados como vazios, esses sertões eram, na verdade, os olhos, deixando passar os ditos [mercadores] com
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O caso dos irmãos Nunes
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bois”. Nem mesmo os paulistas “se atreviam a executar e, nas proximidades da vila de Sabará, já no territó- fim da viagem não tem mais sua montaria, suas roupas
coisa alguma contra as pessoas que o dito Viana favore- rio minerador, havia um ribeirão chamado de Inferno, estão em farrapos, está descalço e sem chapéu, e sem
cia”, pois esse “meteu muitos em prisão, muito aperta- “porque para atravessá-lo era preciso passar por uma os antigos símbolos de sua distinção e importância no
da, por crimes muito atrozes que haviam cometido”.169 ponte de menos de 20 pés de comprimento, correndo o reino. A vida dura do sertão, ao fim e ao cabo, igualava
Sabe-se que essa visão edênica associada ao São rio por baixo por mais de duzentos de profundidade”,171 todos, até mesmo nos parcos modos de trajar, tornan-
Francisco não era um elemento totalmente novo, pois o formando um horroroso precipício. Já nas proximidades do-os pobres e expostos às intempéries da região e aos
rio, desde o século XVI, foi descrito por imagens asso- do Recôncavo Baiano, os andarilhos se defrontavam com desmandos dos paulistas.
ciadas ao paraíso terrestre. Era comum dizer que tinha a serra da Chapada, cuja travessia exigia três jornadas. O ex-voto pode ser tomado como uma ilustração
um sumidouro, que fazia desaparecer aquele mar de No primeiro dia, dormia-se no sopé, no “seguinte, se vai das dificuldades encontradas pelos irmãos. Os Nunes
água, que só reaparecia a bastante distância, e também dormir no meio da dita Serra, onde se chama Jiboia [e] também foram atacados por animais. A um deles “su-
que seu curso, em extenso trecho, percorria uma rota no seguinte, no fundo”.172 cedeu que, havendo feito [alto] em um caminho, foi
circular. Se essa geografia fantástica não aparece no re- Apesar de a geografia desse espaço sertanejo, em buscar água em uma lagoa. Pôs o pé sobre uma terra
lato dos irmãos Nunes, sem dúvida o rio é visto como geral, facilitar o deslocamento humano, por todo o per- movediça e, retirando-se, o pôs onde lhe pareceu estar
fonte de fartura, garantindo o sustento dos viajantes em curso era constante a ameaça da fome e da sede, de um grande pau seco. Indo, escorregando, se ajudou de
suas margens, pois não só fornecia a água e o alimento animais selvagens e peçonhentos, de bandos de negros uma mão, [e] a pôs sobre uma cobra, a qual chamam
aos andarilhos cansados, como também apontava a rota fugidos ou de índios, alguns antropófagos, que ataca- sucuri ubá”. Para advertir o leitor do grande perigo que
a ser seguida. Nessa associação que os irmãos fazem vam de surpresa, tornando imperativo que a viagem resultava do ataque dessa serpente, o relato descre-
da região em torno do rio São Francisco com o paraíso fosse realizada em grupos fortemente armados. Havia ve que “este animal cinge um boi, ou cavalo, e o serra
terrestre, e mais propriamente com a terra prometida, ainda inúmeras febres malignas que acometiam muitos de qualidade que lhe esmigalha os ossos e o chupa”.
configura-se um dos elementos sublineares do mapa Frontispício do
viajantes. Como grande parte dos que percorriam esse Mas o rapaz conseguiu se safar porque, muito depres-
Erario mineral,
mental produzido por eles, e, ainda que o roteiro tivesse trajeto, o cirurgião Luís Gomes Ferreira ficou doente no sa, pegou “um alfanje, [e] deu-lhe um golpe”. Para sua de Luis Gomes
como objetivo primeiro orientar os viajantes - prin- caminho, permanecendo cinco meses na barra do rio surpresa, “não ficando mais que ferida, a cobra voltou Ferreyra, 1735.
cipalmente os cristãos-novos - em seu deslocamento das Velhas atacado de febres altas, sem saber ao certo a a cabeça sobre os lombos, fincou neles os dentes e [a]
na região, ele revela elementos do imaginário coletivo natureza do mal, mas sim de estar perto da morte. Tinha língua, de sorte que ali morreu”.175 se levantar, “no movimento que fez com o pé, saltou a
na época sobre a área mineradora - ela era o próprio delírios seguidos e proferia frases desconexas. Contou Mas esse não foi o único ataque de cobras que os cobra fora da bota, e um escravo do dito Nunes a matou,
paraíso terrestre. em seu livro, Erário Mineral, que as sezões que infes- Nunes enfrentaram. De outra feita, “dormindo a sesta, com um varapau verde; [pois] que se fora seco, podia
tavam a região do São Francisco eram as piores de que com seus camaradas, à sombra de uma árvore”, um de- [se] quebrar, e corria[-se] perigo de vida”. Escaldados,
tinha notícia e a maleita173 não poupava os que transi- les foi advertido de que “não se meneasse, porque tinha os Nunes contam que as cobras venenosas do sertão
Uma geografia vivida
tavam por ali. Descrevendo essa rota, um morador das uma cobra coral na joelheira da bota, (...) onde a coral eram muitas: “uma se chama caninana; há a jararaca; a
Dois aspectos evidenciam que o roteiro não era Minas contou que a viagem era demorada e “tudo era reluzia como o mais fino rubi”. A reação do rapaz foi se cascavel; outra coral; a cipó. Outra de duas cabeças”.177
apenas uma descrição com fins geográficos, mas efeti- feroz e contrário à penetração humana nessas terras levantar para pegar o animal pelo rabo, “porém, temen- Criaturas fantásticas, animais selvagens ou ferozes
vamente se destinava a orientar aqueles dispostos a per- misteriosas e sinistras”.174 do [que] lhe escorregasse, bateu com o pé na terra, ain- estavam por todo lado e podiam surpreender o viajante
correr a mesma trilha. De um lado, o texto alinhavava Um ex-voto, dedicado à Nossa Senhora dos Remé- da que receando ser mordido”. A mordida da serpente descuidado. Os Nunes advertiam, porém, que “o maior
os cuidados e perigos que poderiam ser encontrados, dios, depositado no Convento de São Bento na Bahia, geralmente era fatal, “pois logo rebenta o sangue pelos perigo é a onça, e outro [...] o gato dos montes. [...] Havia
bem como as fontes de água e alimentos necessários ao mostra os perigos mais comuns do caminho, os mes- olhos, dedos e nariz, e se morre incontinente”. Precavi- também muitos tigres, e outra espécie de onça, chamada
caminhante para prosseguimento da viagem; de outro, mos que os Nunes encontraram e sobre os quais aler- dos, os três traziam consigo o contraveneno para sua pi- suçuarana, que é quase alaranjada”.178 Também “nestes
descrevia cuidadosamente o trajeto, apontando os me- taram aos que desejassem realizar o trajeto. O quadro cada mortal. Segundo Guilherme Piso (1648), “das pró- caminhos se encontram uns porcos monteses, ruivos de
lhores trechos e as formas de percorrê-lo. retrata Agostinho Pereira da Silva saindo de Portugal, prias víboras [se] prepara antídoto contra elas, o qual cor, que [se] lhes chamam de queixada branca; os quais,
Arriscado e penoso, o Caminho da Bahia corta- vestido galantemente e montado em seu cavalo. Como se defende de todos os venenos e de todas as coisas en- sendo muitos em tropa, em vendo um homem, o aco-
va uma região mais plana, em comparação à geogra- numa história em quadrinhos: ao vagar pelo sertão, venenadas”. No caso da coral, “cura-se com emplastro metem. Fazendo-lhe um cerco, o matam e o comem”.
fia mais íngreme com que se defrontavam os viajantes este português recém-chegado vai encontrando diver- preparado com a cabeça da serpente e aposto eficaz- Certa vez, um dos irmãos viu, “à borda de uma lagoa,
que partiam de São Paulo e do Rio de Janeiro, e que sos perigos - é atacado por uma cobra e dois outros mente”. Ao mesmo tempo devia-se pingar na ferida “o uma tropa de mais de vinte mil”[!]. Era necessário re-
tinham que cruzar as escarpas da serra do Mar e da animais peçonhentos (jacarés?), por índios e também pó da planta nhambi, [bem] como o suco das folhas da dobrar o cuidado nas épocas de muita estiagem, pois
serra da Mantiqueira, percorrendo o Caminho Velho pelos paulistas; fica desorientado e sobe em uma árvo- caapeba e da caiatia, [pois] extraem o veneno”.176 De- “toda a caça, bichos e animais, quando há grande seca,
e o Caminho Novo respectivamente.170 Ainda assim, re buscando avistar a rota correta. Como resultado das vem ter sido esses os antídotos que os irmãos levavam saem dos matos, para buscar água, e se juntam, infinitos
muitos dos seus trechos não eram totalmente planos, agruras que, por vários meses, o rapaz enfrentou, ao consigo. Mas não foi necessário utilizá-los, porque, ao em número”.179 Aproximar-se dos rios para buscar água
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O caso dos irmãos Nunes
Trajetórias de uma família de cristãos-novos na construção da cartografia dos sertões

podia resultar em experiência perigosa. Porém, como a perigo que representavam às fazendas de gado estabe-
natureza - sábia - sempre tem dois lados, ao caçador lecidas no sertão, pesadas guerras de extermínio foram
experiente o ajuntamento de tantos animais podia re- deslanchadas contra várias etnias. Isso ocorreu com as
sultar em benefício para aplacar a fome em espaço tão tribos dos araraus e dos taboiaras, que vieram a se insta-
dilatado e distante dos núcleos urbanos. lar junto ao rio das Velhas, tributário do São Francisco.185
Os animais peçonhentos podiam se constituir Encurralados entre conquistadores poderosos, esses ta-
numa ameaça não apenas ao viajante distraído mas à puias foram progressivamente dizimados ou escraviza-
própria colonização do sertão. Foi o que ocorreu na dos. Índios bravios, tenazes e resistentes, representavam
fazenda do Paulista, cujo nome, contam os Nunes, se um perigo a ser evitado. Os Nunes contam que, perto de
devia ao fato de ter sido, “em outro tempo, povoada por Morrinhos, ficava “uma aldeia [subordinada ao paulista]
um destes homens. E, tendo ali muito gado, resolveu- Januário Cardoso, povoada de Tapuias”.186 Numa feita,
-se desampará-la, pela muita quantidade de onças e quando Sebastião Nunes se aproximou dela para pedir
morcegos que havia, e lhe matavam o gado. Hoje se água, “como ninguém o entendia, o quiseram matar.
descobrem ainda, nesta paragem, ruínas de casas e de Chegou, então, um coronel, seu camarada, que sabia a
currais desta povoação”.180 língua da terra, e lhe salvou a vida”.187 Aqui, observa-
Outros animais pareciam mais ameaçadores do que -se outra informação importante aos viajantes, o papel
verdadeiramente o eram, como o tamanduá, do qual daqueles que podiam se comunicar com os nativos, cha-
contam os Nunes ser mados “os línguas”. A chamada Língua Geral havia sido
criada pelos missionários jesuítas para facilitar a comu-
do tamanho de um cachorro ordinário. Este, se o não
nicação e a conversão dos indígenas e era amplamente
[o] atacam, não acomete a ninguém. Um dos Irmãos
falada no sertão, inclusive pelos paulistas, muitos deles
Nunes, encontrando no mato este animal, que ainda
mamelucos. Mas apesar de útil, tratava-se de mais uma
não conhecia, lhe deu com um pau. Porém, o animal se
referência negativa dos Nunes aos paulistas. Ao se re-
foi, sem o acometer. Este Tamanduá não corre, sempre
ferir a eles como aliados dos tapuias, os igualava na sua
anda de trote; as suas garras têm três unhas, [e] é da
condição de feros e incivilizados, o que era acentuado
cor de um urso. Porém, no rabo tem tanto pelo, que
pelo fato de ambos serem falantes da Língua Geral, di-
o trazendo estendido a direito, arrasta-lhe pelo chão.
Este bicho, em vendo uma onça, se abraça com ela de
ferentemente dos cultos europeus que se expressavam
tal sorte que, fincando-se um ao outro as garras, não se
em português. A língua era considerada sintoma do grau
separam; assim morrem ambos juntos.181 de civilidade de uma sociedade. No caso das línguas dos
nativos, desde o início da colonização, diversos cronistas
Presença fugidia e difícil de detectar nos sertões salientaram a ausência das letras “l”, “f” e “r”, o que sig-
eram os índios, paulatinamente exterminados para dar nificava, para os portugueses, que seus falantes - índios
lugar às fazendas de gado ou reduzidos à condição de ou paulistas - não tinham nem lei, nem fé, nem rei -
escravos. Genericamente, chamados de tapuias pelos todos indícios do grau de civilidade dos europeus.
portugueses e pelas tribos tupis, os historiadores têm Os Nunes chegaram às Minas no auge dos conflitos
buscado recuperar os rastros de sua existência.182 Sabe- entre portugueses e paulistas, que culminaram na Guer-
-se que o termo tapuia, em tupi, significa “o bárbaro” ra dos Emboabas. Essa foi interpretada pelos irmãos, da
Na página anterior,
ou “o contrário”, denotando a visão que tanto portu- mesma forma que em outros relatos coevos saídos da um ex-voto,
gueses quanto os demais nativos, aliados dos últimos, pena de portugueses, como resultante das desavenças dedicado a
tinham desses índios, considerados incivilizados e hos- entre os régulos do planalto e os pobres do reino, pois Nossa Senhora
dos Remédios,
tis, e muitas vezes acusados de serem antropófagos.183 os dois grupos disputavam as oportunidades abertas - depositado no
A região do São Francisco recebeu no século XVIII um tanto no setor mineral, quanto no mercantil - pelas mosteiro de
contingente significativo de índios de áreas próximas descobertas de ouro e diamantes. Ao tomarem, no texto, São Bento na
Bahia, mostra
que fugiam das guerras de extermínio empreendidas o partido emboaba, os irmãos advertem seus leitores de
os perigos mais
pelos paulistas, desde fins do século XVII, conhecidas que o ataque dos paulistas - sempre traiçoeiros e des- comuns do caminho
em seu conjunto como a Guerra dos Bárbaros.184 Pelo leais - era um perigo contra o qual se acautelar. Esses para as Minas.

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O caso dos irmãos Nunes
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registram a luta cotidiana contra a sede quanto exaltam de Santo Antônio do Urubu e de Santo Antônio do Re- açúcar, vestidos feitos, camisas, bois, pólvora, balas, [e]
os valiosos postos de abastecimento de água no interior tiro. Afinal, ao lado da espada, a cruz era um dos pilares chumbo de toda sorte”.195 O mesmo ocorria com “Ca-
do sertão. Os ranchos das Cabras, da Ovelha, da Cabeça que sustentaram a colonização lusitana nos trópicos. puame, onde há uma grande feira de gados”.196 Outros
do Touro, o riacho dos Porcos, das Araras, o rio das Rãs, eram essenciais para guiar o transeunte. Por essa razão,
do Peixe e do Papagaio nos contam da fartura animal ali a partir da “barra da Bahia”, o viajante deveria buscar e
Do mapa mental à Carta
disposta e das criações predominantes no sertão. Já ou- seguir uma serra que ali nasce, “que vai tomando o nome
de l’Amérique méridionale
tros locais, como o arraial das Formigas, o rancho do Ja- das partes por donde passa, e continua o caminho, de
caré e a serra das Jiboias remontam à presença constante Contudo, se o relato alertava sobre todos os pos- sorte que estes três Irmãos a tiveram à vista, pela parte
de pragas e feras. A fazenda das Jabuticabas, do Cocal, síveis perigos durante a viagem, sua principal fun- esquerda, [por] setecentas léguas de caminho; e, no fim,
o rancho das Canavieiras, o riacho das Canabravas, a ção era dar a ver a rota a ser trilhada, uma vez que a vai entrar nas terras de Castela, pela parte ocidental”.197
vargem das Palmeiras, o Campo Grande, a fazenda das desorientação acometia frequentemente os viajantes. O registro cuidadoso, no relato dos Nunes, com medi-
Urtigas Mortas, a Gameleira190 e o Imbuzeiro191 testemu- Assim, os Nunes sublinharam vários acidentes geográ- ções das jornadas gastas entre as diversas localidades,
nhavam as plantas e frutas encontradas no caminho ou a ficos que deviam ser buscados ao longo do percurso. foi essencial para que D’Anville pudesse posicioná-los
dureza da vegetação do sertão.192 Alguns, como o arraial de Mathias Cardoso, que ficava a com precisão em seu mapa, transformando essas me-
Antropophagos do Outros que deixaram seus nomes gravados, batizan- “meio caminho das Minas”, servia de ponto de orienta- didas de tempo de viagem em intervalos de distâncias.
Brazil devorando
do vários trechos ou localidades e fazendas dispostas no ção, mas também para onde se dirigiam os comercian- Para tanto era necessário saber com exatidão o
huns portuguezes.
Autor desconhecido, caminho, foram os desbravadores dos sertões - fossem tes porque era ali que “vinham alguns mineiros fazer tempo gasto nessas jornadas, que podia ser diferente,
século XVIII. paulistas, baianos ou portugueses. A Coroa portuguesa negócios com a gente que [chegava] de Pernambuco e dependendo das dificuldades encontradas ou dos meios
considerava a região “um país habitado de homens po- da Bahia, [e] que traziam negros, armas, cavalos, sal, de transporte utilizados. A maior parte da viagem pelo
eram acusados de desestabilizar o comércio empreen- derosos que não conheciam outra lei que a da força”, e
dido ao longo do Caminho do Sertão, que constituía o que a qualquer preço deveriam ser levados “à boa ordem
modo de vida dos Nunes e da maioria dos que, como e sujeição à justiça”.193 Mas, ainda que vistos com descon-
eles, percorriam continuamente essa rota. Por causa fiança pelas autoridades, esses régulos sustentavam a co-
desses déspotas e de suas tiranias - queixavam-se os lonização portuguesa nos confins do sertão. Seus nomes
três -, “não faltavam discórdias, de que se originavam ficaram inscritos na paisagem como a travessia da Dona
mortos”, perturbando os “mercadores que, com tan- Joana, a de João Amaro, o arraial de Matias Cardoso, o do
to trabalho, faziam viagens tão longas”.188 Para eles, os padre Curvelo, o curral do Borba, as lages do Sargento
paulistas eram “uma gente [que] marchava sem ordem Queirós, a aldeia de Januário Cardoso, o saco do Correia,
alguma: todos em bandos”, sendo que a maioria desse o Rodeador das Pedras de Luiz Nunes, a fazenda da Viú-
contingente era constituído de escravos seus, “homens va, a do Coronel Salvador Cardoso, a do Paulista, a do
negros, e mulatos”.189 Pedroso e ainda a dos Três Irmãos Nunes.
O relato revela que os nomes dados às localidades e Mas, embora a razão principal de os Nunes se refe-
acidentes geográficos ao longo do percurso espelhavam rirem a esses perigos tenha sido a de acautelar o viajan-
as vivências cotidianas desses viajantes pelo sertão, mar- te, tais avisos acabam por reforçar a leitura paradisíaca
cadas por perigos, é verdade, mas também pela visão pa- que os irmãos, como os demais emboabas ilustrados,194
radisíaca dos locais. Apesar de D’Anville ter transposto faziam do sertão. Na tradição judaico-cristã, tanto a ter-
para a Carte de l’Amérique méridionale muitos desses ra prometida quanto o paraíso somente podiam ser al-
topônimos, a linguagem cartográfica, mais simplificada cançados pelos eleitos depois de muitos percalços e pri-
e esquemática, não nos permite apreender a origem se- vações. A toponímia também revela que a intervenção
O mapa da
mântica desses nomes. A fazenda de Santo Antônio do divina era frequentemente invocada por esses homens
Freguesia da
Urubu era assim chamada porque ali se encontrava o à medida que desbravavam os sertões, inserindo os vá- Manga, na
“urubu que é um pássaro como um corvo”. Rancho da rios espaços na dimensão do sagrado. Percebe-se tal capitania de
Fome, Urtigas, Agreste eram denominações identificadas sacralização em denominações como a do rio de São Minas Gerais,
c.1764, assinala o
com a difícil jornada do viajante junto à natureza muitas Francisco, do Hospício dos Frades do Carmo, do arraial
rio São Francisco,
vezes hostil. Olho d’Água da Serra, Lagoinha, Boqueirão, de São Pedro Novo, da mata de São João, do rancho da sua nascente
Canudos, Poções, Lagoa do Junco e a dos Patos, tanto Páscoa, das fazendas de São Eusébio, de Santo Onofre, e afluentes.

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O caso dos irmãos Nunes
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onde os encontrara. Percebe-se nos autos que, fre- do Sertão era organizada de modo que ao final de cada
quentemente, se esquecia dos nomes ou confundia marcha chegava-se a um local de pouso, mais comu-
os parentescos dos cristãos-novos que conhecera em mente uma fazenda. O Mapa do território da Capitania
suas andanças e com quem compartilhara cerimônias, da Bahia, compreendido entre o rio São Francisco, rio
crenças e ritos judaicos (claro que tais esquecimentos Verde Grande e o riacho chamado Gavião, de 1759,
podiam ser intencionais, para proteger a identidade de mostra a rede de fazendas regularmente dispostas ao
possíveis novos perseguidos, o que parece não ter tido longo desse trecho, proporcionando pouso aos viajan-
bons resultados, pois nas margens do processo, o in- tes, e dividindo o trajeto em jornadas médias de cerca
quisidor registrou os nomes completos de todos a quem de 37 léguas, distância que podia ser transposta em um
Diogo se referiu). No entanto, ele foi capaz de dizer com dia de viagem de marcha à paulista.203 Muitas das fazen-
precisão - decorridos mais de trinta anos de algumas das descritas eram locais onde paravam para descansar
viagens - que Vila Rica distava seis léguas do seu sítio e, sob a rede protetora dos cristãos-novos ali residentes,
em Itaubira, enquanto o sítio do Salgado ficava a três algumas serviam também de locais de culto e de exer-
léguas da cidade de Salvador da Bahia, distando 14 ou cício dos ritos judaicos. Isso ocorreu, por exemplo, no
15 léguas de Santo Amaro. As distâncias também po- sítio do Salgado e na Roça de Antônio Roiz Campos, essa
diam adquirir a forma de espaços de tempo, como era o última distante cerca de 15 léguas de Salvador, ambas
caso de Guarapiranga, que, de acordo com ele, estava a localizadas nas proximidades da Vila de Cachoeira.
três dias de jornada da Vila do Carmo. Da mesma forma, Mesmo após a proliferação dos arraiais e pousos
o roteiro dos irmãos ordena em jornadas precisas os 25 ao longo do trajeto, a viagem no sertão continuou a de-
a 30 dias que o viajante aguarda pela frente, o que não pender prioritariamente do abrigo nessas fazendas pró-
pode ser facilmente percebido no mapa, apesar de os ximas. Os pousos, quando existiam, eram incômodos e
locais assinalados por D’Anville ao longo do caminho sujos e compunham-se em geral de umas casinholas e
se referirem a pousos mencionados pelos três irmãos. uns barracões, onde eram estocadas as mercadorias des-
Cientes do que ocorria nas estradas, os comer- carregadas dos lombos dos burros, para que os animais
ciantes preferiam se deslocar em grupos e, para isso, pudessem descansar e pastar. Na maior parte do tra-
organizavam comboios bem armados com o objetivo de jeto, pernoitava-se com muito pouco conforto. Os co-
se autoprotegerem. Quando um dos Nunes foi atacado merciantes, precavidos, comumente traziam “consigo
pela cobra coral, por exemplo, estava acompanhado sua cama e seus utensílios de cozinha, [e] não deixavam
de seus camaradas e de seus escravos. Um comerciante nunca os animais” se distanciarem.204 No início do sécu-
português, chamado Francisco da Cruz, foi testemunha lo XIX, o inglês John Mawe recomendava aos viajantes
exemplar do cotidiano dos caminhos, pois, como os “se munirem de camas e cobertas, de uma provisão de
Mapa de território Caminho da Bahia era realizada marchando “à paulista”. para a carregarem às costas”.200 Tantas dificuldades va- Nunes, frequentemente transitava por eles vendendo chá, açúcar, velas, aguardente, sal, sabão, duas marmi-
na capitania da Isto é, acordava-se bem cedo e caminhava-se somente até lorizavam em muito a presença de cavalos e animais de seus produtos e realizando suas cobranças. Sobre o ta- tas, [além de] um chifre para água”.205 Na Parateca, a pri-
Bahia, entre o rio
por volta do “meio-dia, quando muito até uma ou duas cargas, mesmo sendo forçoso desmontar nos locais mais manho das comitivas, contou que - para enfrentar uma meira localidade a ser atingida junto ao rio São Francis-
São Francisco, o
Verde Grande e o horas da tarde, assim para se arrancharem, como para te- perigosos ou nas passagens dos rios, e deviam ser levadas dessas viagens - seu “cunhado e dois amigos [junta- co, podia-se buscar abrigo no “Hospício dos Frades do
riacho chamado rem tempo de descansar e de buscar alguma caça ou pei- em consideração pelo geógrafo, na hora de realizar seus vam] uma tropa de quarenta negros e quatro homens Carmo, onde habitam três ou quatro frades”.206
Gavião, c.1758. xe”.198 A exceção era o trecho entre o Agreste e o rio das cálculos das medidas de distância. brancos”.201 O armamento era essencial para garantir O Caminho da Bahia era na realidade um conjunto
Rãs, pois, como a distância era muito grande e não havia O lapso de tempo gasto para percorrer diversos tre- a segurança do grupo. Os Nunes trataram de alertar ao de estradas e picadas que, com variações, ligavam Salva-
abrigo seguro entre os dois pontos, os viajantes tinham chos ou a distância entre dois pontos eram informações leitor de seu roteiro que “nas cabeceiras do rio Verde, se dor, na Bahia, a Sabará e Vila Rica, nas Minas Gerais. O
que partir à meia-noite e somente na noite seguinte iam vitais para os que pretendiam se deslocar por esses cami- acham pederneiras para as espingardas, muito boas; e viajante que saía de Salvador atravessava de barco a baía
pernoitar no Curral Falso.199 A viagem era feita a pé, em nhos e deveriam ser cuidadosamente medidos e regis- [d]as grandes, que servem para os bacamartes [e] valem de Todos os Santos, margeando a ilha de Itaparica, se-
lombo de burro, ou em redes carregadas por escravos ou trados para que o viajante não se perdesse. Esse tipo de meia oitava de ouro, cada uma”.202 guindo até o outro lado até a vila da Cachoeira, distante
índios, e alguns trechos podiam ser vencidos em canoas. cuidado deixava marcas indeléveis num viajante contu- Aos poucos, ao longo da jornada, estabeleceram- 12 léguas, porta de entrada do Recôncavo Baiano. Ali ele
O comerciante Antônio Mendes da Costa, por exemplo, maz. Assim é que, frente aos inquisidores, Diogo Nunes, -se fazendas e roças, além de algumas poucas estalagens podia pegar as variantes. Os Nunes descreveram duas
vinha pelo caminho, “muito devagar, por trazer sua mu- quando instado a denunciar outros cristãos-novos, não e raros arraiais, que serviam de abrigo para os viajan- delas. A primeira chamava-se Travessia de João Amaro
lher em uma rede em todo o estado, e buscando índios teve dúvidas em lembrar as distâncias precisas dos locais tes e de pasto para os animais. A viagem pelo Caminho e era uma trilha que, a partir de São Pedro o Novo,
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cruzava o rio Paruassu ou Paraguaçu e atingia a vila de sobre as entradas de todas as mercadorias a serem co-
João Amaro, o mais curto até as Minas. A partir da vila de mercializadas na capitania e sobre as passagens dos
João Amaro, passava-se a fazenda da Tranqueira, a serra viajantes pela travessia em rios caudalosos. Esses eram
da Chapada, os Campos Gerais, o rio das Contas Peque- guardados por destacamentos militares, que tinham
no e o Grande, o hospício dos Frades do Carmo, o rio as funções de fazer o giro dos territórios próximos em
das Rãs, até a fazenda da Parateca, na confluência com o busca de contrabandistas, e de encontrar e destruir pi-
rio São Francisco. Por essa rota, o viajante gastava cer- cadas clandestinas. Em geral, os registros não tinham
ca de trinta dias de viagem até atingir a margem do São localização fixa, variavam conforme as necessidades
Francisco.207 Era ali, na Parateca, que a Travessia de João estratégicas e situavam-se em lugares do caminho
Amaro se encontrava com a segunda ramificação que os onde, por algum acidente geográfico, havia dificuldade
irmãos descreveram a partir de Salvador, denominada para os extraviadores buscarem outra rota. No caso do
Travessia da Dona Joana, assim chamada porque nessa Caminho da Bahia um dos registros mais importantes
rota a maioria das fazendas que o viajante era obrigado a ficava na barra do rio das Velhas, pois sua travessia era
atravessar ou pousar pertencia a Joana da Silva Guedes obrigatória para atingir a região mineradora. Os Nunes
de Brito. Joana e sua mãe, Isabel Maria Guedes de Brito, dão conta que o primeiro registro construído para con-
herdaram um sem-número de fazendas no sertão. Se- trolar essa travessia ficava onde morava um tal de Luís
gundo os Nunes, só as de Isabel importavam “novecen- Dias. Na época em que escreveram o relato, a “passagem
tas léguas de conquistas, que fizeram seus antepassa- que agora se pratica neste rio das Velhas” passou a ficar
dos”. Como residiam em Salvador, aforavam suas terras um pouco mais à frente, entre as Porteiras de Cima e as
a terceiros e “neste [seu] tão grande distrito há infinitas Lages do Sargento Queirós.211
herdades, [pelas] quais lhe pagam de foro os habitantes Contudo, diferentemente do que está escrito no
dez mil reis, [a] cada um ano, por cada três léguas de roteiro dos três irmãos, quem se debruça sobre o mapa
terra, em longo”.208 Mãe e filha eram descendentes de feito por D’Anville percorre apenas um dentre os vários
uma índia com Antônio Guedes de Brito, famoso apre- caminhos que, a partir de Salvador, podiam ser tomados
sador de índios que, por seus serviços, acumulou uma para atingir as Minas Gerais. Os próprios irmãos abrem
enorme quantidade de sesmarias na região. o seu roteiro informando ao viajante que havia “três Mi-
Ainda de acordo com os Nunes, a partir da Parate- nas diferentes” e que cada uma podia ser atingida, a par-
ca, marco fundamental nesse trecho da rota, um único tir de Salvador, por caminhos distintos: “a que fica mais
caminho acompanhava o curso do rio até a foz do rio perto está a quinhentas léguas de caminho, indo pela
das Velhas. Dali, passava-se pela vila da Cachoeira, pelo Travessia de João Amaro. Outra a oitocentas, pela tra-
arraial do Cardoso, pela aldeia dos tapuias, cruzava-se vessia de Dona Joana. [E] a terceira, sendo de seiscentas
os rios Giguitay e Rosário, até a barra do rio das Velhas. [léguas], com pouca diferença, é a do Morro do Chapéu.
O rio tomou esse nome porque os índios o chamavam Estas três Minas eram, até agora, as mais distantes da
guaimi, termo que em tupi-guarani significava mulher Bahia”.212 Mas, à medida que o texto se desenrola, várias
velha.209 Depois de atravessar o rio Ricudo, o rio Fon- bifurcações se apresentam para além desses três cami-
do, a serra Vermelha e Itacambira, atingia-se Vila Rica. nhos principais. Na página 3, fica-se sabendo que, na
Nesse último trecho, o caminho tomava o nome de Parateca, também “fina o Caminho das Contas Peque-
Estrada Real,210 onde, ao longo do tempo, a Coroa procu- no”, que atravessa as fazendas de Isabel Maria Guedes
rou aumentar o seu controle, não só para dar mais segu- de Brito. Já na 4, o leitor é informado de que a Travessia
Na página seguinte,
rança aos viajantes, mas também para efetivar a cobrança de Dona Joana é o caminho que chega na fazenda do
estradas e picadas
ligavam Salvador de vários tributos. Por essas duas razões, determinava-se Rio do Taparacu das Porteiras pela “Carreira Direita,
a Sabará e Vila que os viajantes transitassem apenas por ela, evitando saindo da Bahia até a fazenda da Jatoba”. O que sig-
Rica. A viagem embrenharem-se nos matos ou usarem picadas clan- nifica que havia também uma “Carreira da Esquerda”,
começava por
destinas. Ao longo da Estrada Real foram construídos não descrita por eles.
barco, margeando
a ilha de Itaparica registros onde eram feitos o controle de entrada e saída O Caminho do Morro do Chapéu atingia o rio São
até Cachoeira. de pessoas e mercadorias e a cobrança dos impostos Francisco na altura da fazenda de Santo Antônio do
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Não só isso. Na Carte de l’Amérique méridionale posicionamento exato dos rios, montanhas, fazendas e
(1748), a oeste do rio São Francisco, bem no coração do arraiais dispostos nesse trajeto.
Brasil, D’Anville inseriu uma cartela de texto com os No entanto, ainda que o relato tenha sido a fonte
seguintes dizeres: “Nesta parte do Brasil se observa um principal para o estabelecimento desse trecho do mapa,
espaço de cerca de 50 mil léguas francesas quadradas, os dois não são idênticos, e a linguagem cartográfica, ao
que as cartas precedentes não deram algum conheci- se tornar cada vez mais esquemática na forma de legen-
mento”.213 Trata-se de um enorme vazio, representado das universalmente apreensíveis, eliminava determina-
no mapa como um espaço em branco. À primeira vista das informações contidas no texto e apagava vivências
isso parece ser um defeito, resultante do desconheci- experimentadas pelos desbravadores da região, regis-
mento do cartógrafo dos elementos geográficos nesse tros culturais do espaço. De certa forma, em séculos
trecho. Mas D’Anville atesta esse vazio não como de- anteriores, tais registros podiam ser apreendidos pe-
feito, nem como ausência, mas como um dos grandes las pinturas que preenchiam o espaço vazio das cartas
acréscimos ao território americano que ele, e somente sobre a América. Se o caminho foi traçado ao longo de
ele, fora capaz de revelar. Tratava-se de 50 mil léguas um repertório de experiências vividas que definiram
quadradas francesas, acrescidas, como um vazio geo- os locais de pouso, os de reabastecimento de água, os
gráfico, no centro-oeste brasileiro. de caça e pesca, as trilhas mais seguras e os postos de
Na Carte de O aparecimento desse território até então desco-
l’Amérique, as
repasto, além do momento mais propício para come-
nhecido se explica a partir do estabelecimento no mapa
múltiplas rotas çar a viagem - sempre em outubro para beneficiar-se
entre Bahia e Minas de duas entidades geográficas distintas, ambas localiza-
da estação chuvosa -, essas escolhas não podem ser
foram reduzidas das no sertão interior do Brasil. Do lado leste, o rio São
percebidas por quem observa o mapa. Enquanto rios,
a uma única Francisco - posicionado graças ao roteiro dos irmãos
trilha, em linha cadeias de montanhas, vilas e caminhos aparecem cla-
Nunes -; do oeste, o rio Tocantins. Ao desenhar os dois
pontilhada. Entre os ramente, outras informações que dão o tom e revelam a
rios Tocantins e São rios nas posições de longitude que considerava corretas,
riqueza do relato desapareceram completamente quan-
Francisco, surgiu esse espaço vazio surgiu no meio do mapa, reflexo do
do a informação textual foi transformada em linguagem
um grande vazio. que ele acredita ser um maior conhecimento da geo-
cartográfica. Assim, por exemplo, pelo mapa de 1748,
grafia local, ainda que desenhado como um espaço em
é impossível saber que na ilha de Itaparica pescavam-
Urubu, depois de atravessar o rio das Contas Pequeno e a Travessia de João Amaro com a do Caminho do Morro branco. O significado desta inserção foi a significativa
-se baleias, que os índios tinham a pele avermelhada, ou
o Grande. Após o primeiro dia de caminhada, pernoita- do Chapéu; e dali até Vila Rica pela Estrada Real. Se, no expansão do território do Brasil, entre os paralelos 10º
perceber as agruras defrontadas pelos irmãos Nunes ao
va-se na fazenda das Palmas e, no dia seguinte, na das mapa de D’Anville, o caminho é configurado como uma e 15º, estendendo em muito as possessões lusas no cen-
longo do caminho, sobre as quais eles tiveram o cuidado
Lages, situada logo depois do rio das Contas e um pouco rota linear, pelo relato dos Nunes, que vivenciaram o tra- tro-oeste da América, a serem reivindicadas pela Coroa
de escrever para alertar os viajantes.
adiante do morro do Chapéu, que dava nome à trilha. jeto, sabemos que ele não era unívoco, mas sim tortuoso, portuguesa. Conforme advogava dom Luís da Cunha,
todas as riquezas minerais do planalto centro-oeste do O leitor do mapa podia se surpreender ao visua-
Depois que se atingia o São Francisco, seguia-se o seu sinuoso e não linear, e que também não era dado de ante-
Brasil deveriam estar sob o domínio luso, daí a impor- lizar, na Carte de l’Amérique méridionale, uma aldeia
leito, cruzando o rio das Rãs e o rio Verde até o arraial mão, mas resultante de escolhas a partir das várias picadas
tância desse acréscimo que incorporava ao território dos tapuias. No entanto, a maneira como D’Anville dis-
de Matias Cardoso. Logo depois chegava-se à fazenda que podiam ser tomadas e dos locais a serem buscados ou
brasileiro as Minas de Cuiabá. Segundo os Nunes, “des- pôs graficamente a informação, parecendo se tratar de
de Januário Cardoso, grande potentado da região e pro- evitados. No mapa de D’Anville, ao contrário, o caminho, apenas mais um povoado, situado logo abaixo do arraial
de de 1709 [para cá], se descobriram outras [Minas],
prietário, em meio à caatinga, das fazendas de Angicos reto e certeiro, apresenta-se como uma simplificação da do Cardoso, atenua o impacto. Os Nunes, no entanto, se
contíguas às terras de Espanha, chamadas de Cuiabá; as
e Juazeiro, onde, como era costume, criava-se gado intricada rede de caminhos que cruzavam o sertão. Suas referiram à aldeia não como ponto de referência a ser
quais distam das Minas Gerais três meses de caminho,
vacum. Dali seguia-se um único trajeto, que margeava informações, contudo, configuravam uma novidade car- buscado pelo viajante, mas sim a ser evitado, tendo em
tudo [por] terra firme [e] pelo sertão”.214
o rio das Velhas até Sabará, passando pela fazenda da tográfica e enalteciam a habilidade e o conhecimento do vista o perigo que os tapuias selvagens representavam.
D’Anville valeu-se das informações contidas no
Jaguara, por Fidalgo e por Santa Luzia. cartógrafo sobre o pouco conhecido território interior da relato dos irmãos para estabelecer não só o posiciona- Mas, ao dispor o núcleo indígena em uma sucessão li-
Se o roteiro descreve ou evidencia a existência de América portuguesa. Sem nomear seus informantes na mento do São Francisco e seus afluentes, mas também near de povoamentos dos brancos, o cartógrafo não só
múltiplas rotas cruzando os sertões, ao compará-lo cartela do mapa, apropriando-se de um saber popular, dos pontos principais da região mineradora215 e dese- o inscreve dentro de uma organização espacial dos eu-
com a trilha que Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville ele o eternizava como conhecimento erudito, reconhe- nhou a distância entre Salvador e a Bahia como ten- ropeus, como também incorpora a população nativa à
desenhou na Carte de l’Amérique méridionale, de 1748, cido universalmente como de sua própria lavra, já que do cerca de 250 léguas.216 Por essa razão o caminho é população colonial, o que igualmente servia para de-
observa-se que o cartógrafo dispôs apenas uma única a Carte de l’Amérique méridionale foi o primeiro mapa tracejado no mapa, pois a partir das distâncias preci- monstrar a expansão da fronteira civilizatória da cultu-
linha tracejada: de Salvador até a Parateca, misturando impresso a representar o Caminho da Bahia. sas que os irmãos percorreram é possível estabelecer o ra e da sociedade portuguesa na América. A linguagem
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O caso dos irmãos Nunes
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Trajetórias de uma família de cristãos-novos na construção da cartografia dos sertões

cartográfica se diferenciava mais uma vez da escrita, os emboabas haviam criado e reproduzido ali a sua ci- O usuário ou o fim a que se destinavam os dois
pois, como se verá, também servia a outros propósitos. vilização. No contexto do império, a riqueza de detalhes documentos também influenciaram as escolhas do que
A Carte de l’Amérique méridionale espelhava a com que a região foi representada revela a centralidade representar nesses dois documentos, ainda que ambos
concepção geopolítica que dom Luís da Cunha advoga- que o embaixador conferia às Minas e o incontestável tivessem uma natureza cartográfica. Por exemplo, tanto
va para o império português: para ele, as Minas cons- domínio da Coroa portuguesa sobre a região. As nego- no relato dos irmãos, que foram várias vezes ao Rio de
tituíam região vital da América portuguesa e deveriam ciações entre as duas Coroas deveriam se assentar em Janeiro, quanto na Carte de l’Amérique méridionale, foi
ser mantidas a qualquer custo. No mapa, o grau de bases cartográficas sólidas e, sem escamotear a realidade intencional a supressão do Caminho Velho, que partia
detalhamento das informações geográficas dessa área, geográfica, se guiar pelo já acordado em tratados ante- de São Paulo; ou do Caminho Novo, que ligava o Rio
incluindo aí todo o sertão da capitania, que se esten- riores, respeitando as balizas naturais do terreno e o uti de Janeiro à região mineradora, diferentemente do que
dia da margem esquerda do São Francisco até Salvador, possidetis. Isto é, a posse seria assegurada a quem efe- ocorrera com o Caminho da Bahia. Entretanto, as ra-
aponta para essa necessidade. A região se apresenta tivamente tivesse colonizado o terreno em disputa. Aos zões da supressão desses outros caminhos nos dois do-
graficamente como uma entidade geográfica cujo espa- olhos do embaixador, a colonização portuguesa da área cumentos são diversas. Vejamos. No caso de D’Anville,
ço está palmilhado pela presença portuguesa. Todo um mineradora, claramente visível no mapa de D’Anville, quando ele redigiu seu mapa, em fins da década de 1740,
conjunto de informações gráficas desenhadas - os rios tornava inquestionável a manutenção da sua posse. Já o o Caminho Novo já era o mais utilizado pelos viajantes
e as cadeias de montanhas, com seus traçados conhe- vazio que aparece entre os rios São Francisco e Tocan- e, por isso mesmo, muito mais conhecido. Quanto ao
cidos; os caminhos, as vilas e os pousos estabelecidos tins expande a interiorização da colonização portuguesa Caminho Velho, entre os documentos que dom Luís lhe
pelos portugueses - deixa ver que era inconteste que no coração oeste da América. forneceu, estavam dois mapas manuscritos dessa área.
Apesar de terem servido para ajudar o cartógrafo a esta-
belecer a geografia dessa região da capitania, o Caminho
Velho não aparece tracejado na carta. Para compreen-
der essa supressão é necessário recordar que uma das
funções que dom Luís exerceu em suas embaixadas foi
monitorar a pirataria, especialmente a francesa, que
invadira por duas vezes (1710 e 1711) o Rio de Janeiro.
Nesse porto, o ouro brasileiro era embarcado nas fro-
tas que seguiam para o Reino. Descrever os dois cami-
nhos (o Novo e o Velho) por onde, do Rio de Janeiro, Caça aos pássaros,
podia-se atingir as Minas com relativa facilidade, era c.1778.
informação perigosa demais e não poderia, a seus
olhos, alcançar tamanho grau de publicidade. Afinal, essas questões dizem mais sobre as imagens que se con-
dom Luís era um fiel servidor da Coroa portuguesa. figuram, tanto no mapa quanto no relato, do que a res-
Já no relato dos irmãos, a supressão dos demais acessos peito da própria região que ambos buscavam represen-
à região mineradora claramente se encontra no caráter
tar. Tal é o caso da leitura paradisíaca da região, presente
paradisíaco que eles imprimiam ao sertão. Esse era o ca-
no texto dos três irmãos; ou na demonstração enfática
minho para a terra prometida destinada aos emboabas
cristãos-novos. da presença e da colonização portuguesa, no lado leste
Cotejar parte da Carte de l’Amérique méridionale, do rio São Francisco, por parte da Carte de l’Amérique
de D’Anville, com o relato dos irmãos Nunes nos per- méridionale. Ambas eram reflexos da visão dos embo-
mitiu discutir alguns dos pontos acerca dos mapas e de abas sobre a capitania das Minas Gerais, mas enquanto
sua linguagem simbólica. Mapa e relato possuem cor- a primeira adquire um caráter edenizador, a segunda é
respondências entre si e com a região cartografada, mas
pragmática, pois se relaciona ao processo de negociação
nenhum dos dois é um simples espelho, em miniatura,
diplomática entre Espanha e Portugal em meados do
da região. Ambos são uma representação dessa realidade
Mapa de século XVIII. Essas e muitas outras questões elegeram
demarcação da
e inúmeras camadas se interpõem entre o real, o relato e
região produtiva de o mapa, plasmadas por questões diplomáticas, políticas, presenças e mesmo ausências no texto escrito e na ima-
diamantes, c.1729. econômicas, culturais e mesmo religiosas. Muitas vezes gem cartográfica da América portuguesa.
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ESPELHOS ONDULADOS
Os vazios e os simulacros

A aparente incoerência entre o texto cartografia europeia produzida durante


da cartela, o das memórias e os dados os séculos XVI e XVII parecia ter horror
ao vazio, mas a partir do século XVIII
extraídos a partir do emprego de
esse panorama altera-se. Deixando-se de
ferramentas digitais [...] nos permitem temer o espaço em branco, um vazio geográfico passa
desnudar o que, em alguns trechos do a representar vastas extensões, o que revela o relativo
mapa, se escondeu por trás do discurso desconhecimento que os europeus ainda tinham do ter-
ritório interior da América, África e Ásia. Delisle, a par-
empregado por D’Anville, isto é,
tir de 1700, em seu mapa-múndi1 e em outros dedicados
os dados realmente incorporados ao
às suas quatro partes do mundo, produzidos a seguir,
mapa, os descartados e os não revelados foi o primeiro a abandonar essa obsessão de preencher
integralmente a seus interlocutores. todos os espaços geográficos das cartas. Em seu mapa
da “América do Norte,2 deixou ‘em branco’ todo o no-
roeste do continente que era perfeitamente desconhe-
cido”.3 Mas, como nenhum outro geógrafo, D’Anville
“baniu de suas cartas todas as maravilhas decorativas”,
não hesitando “em deixar os ‘brancos’”.4 J.B. Harley diz:
“O que está ausente dos mapas é tão mais próprio de ser
inquirido do que o que está presente.”5 A partir dessa
sugestão, questões relacionadas aos espaços deixados
Floresta Amazônica,
em branco na Carte de l’Amérique méridionale serão o
de Von Spix e
Von Martius, 1823-31. objeto inicial deste capítulo
Acima, Vista de São Luís Nas cartas de D’Anville, os espaços em branco, segun-
do Maranhão, 1863. do ele dizia, relacionavam-se a “muitas das circunstâncias
211
Espelhos ondulados
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Os vazios e os simulacros

anteriormente desconhecidas”,6 mas também deixavam A sua Carte de l’Afrique foi a primeira a refletir essa
às claras os lapsos geográficos ainda existentes. A des- concepção. Comparada com as de outros geógrafos, ela
peito desses espaços em branco, ele “levou ao extremo “aparece com muitos vazios em qualquer dos lugares,
o cuidado de preencher os vazios do interior das ter- [mais] do que nas demais cartas”.8 Seu objetivo era que
ras”,7 não mais de encobrindo-os com imagens mito- seus mapas refletissem “os limites dos conhecimentos
lógicas, mas sim com acidentes geográficos aos poucos positivos em geografia” e que os vazios desnudassem os
desvelados pelos que se aventuravam no interior desses locais onde se encontravam esses limites.9 Em um tre-
continentes, como foi o caso dos irmãos Nunes. Eis por cho de seu livro Considérations générales sur l’étude
que, a exemplo de outros geógrafos de seu tempo, e et les connoissances que demande la composition des
bem ao gosto iluminista, seus mapas mereceram diver- ouvrages de Géographie, referiu-se diretamente aos
sas reedições, nas quais ele cuidou de corrigir detalhes espaços em branco deixados na Carte de l’Amérique
geográficos considerados incorretos ou preencher es- méridionale de 1748, bem como à nova configuração
paços em branco com os acidentes recém-conhecidos, espacial que imprimira ao continente, justificando esses
revelando o gradativo domínio dos europeus sobre a vazios não apenas pela ausência, mas pela possível futu-
geografia da Terra. ra presença: “Se, todavia restam ainda muitos brancos,

Antes do
século XVIII,
os cartógrafos
preenchiam
os espaços
desconhecidos da
América: ao lado,
carta de Henricus
Hondius, 1647; e na
página seguinte, de
Van Langren, 1595.

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Espelhos ondulados
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Os vazios e os simulacros

Minas Gerais, com os documentos fornecidos por dom índios esteja gravado nesse espaço, essas terras não
Luís da Cunha; a Amazônia e o Peru, onde D’Anville teve pertenciam a eles, e o vazio, melhor do que qualquer
acesso a fontes e a informações trazidas por membros da outra forma de representação, refletia a negação do di-
expedição geodésica ao Peru para medição do Equador; reito dos indígenas aos vastos territórios que ocupavam
e o Paraguai, sobre o qual dispunha de informações dos no momento da chegada dos europeus, desde a costa do
missionários jesuítas, foram locais onde a geografia des- Rio de Janeiro até o Peru, dos quais vinham sendo pau-
velou-se e o mapa aperfeiçoou-se. Já no interior do nor- latinamente alienados.
deste do Brasil as informações geográficas desaparecem. É importante destacar que a folha 1 da Carte de
Em comparação com as versões anteriores, na carta de l’Amérique méridionale, que diz respeito aos territó-
1748 o sertão dessa região configura-se como um grande rios do norte e nordeste do Brasil, apresenta como seu
espaço vazio. limite sul na região Nordeste um trecho do baixo São
Nesse espaço da Carte de l’Amérique méridionale Francisco, que corre no sentido oeste-leste, e que o cur-
de 1748 está escrito o nome Brésil, que se refere a toda so integral desse rio somente é desenhado na folha 2.
a área de domínio português, limitado em suas frontei- Apenas um pequeníssimo trecho, na altura da vila de
ras por uma linha de cor verde, e por isso esse topônimo Cachoeira, penetra discretamente e se insinua na folha
apresenta-se com o maior tamanho de letra. Logo abai- 1 da carta. O São Francisco, como já se discutiu, faz uma
xo, um texto informa: “cujo interior é desconhecido em delimitação clara entre, de um lado, o território costei-
grande parte. Os naturais desse país são chamados de ro e o minerador, fortemente marcados pelos signos do
um nome comum Tapuias”. Os portugueses, pouco in- colonizador, e, do outro, o vasto sertão interior, distante
teressados em compreender a diversidade das tribos do do litoral, incerto, desconhecido, longínquo, inculto e,
Brasil, e muito mais preocupados com as alianças que por isso, desenhado pelo geógrafo como um vazio.
estabeleciam com eles, distinguiam os índios em dois Esse desaparecimento de informações geográficas
grandes grupos: de um lado estavam os tapuias, que con- evidencia-se na hidrografia local. Na carta de 1737, os
sideravam inimigos, selvagens e antropófagos, de outro, cursos superiores de vários rios são desenhados, es-
estavam as tribos tupis-guaranis que habitavam o litoral. praiando-se desde o interior até o litoral onde desá-
Enquanto os primeiros eram continuamente combatidos, guam. Tal é o caso dos rios Meari, Taboucourou, Siará
os últimos foram cooptados pelos portugueses em sua (i.e., Ceará) e Omarás, todos vertendo a partir do sopé
luta contra aqueles que resistiam à civilização, por isso da cordilheira do Brasil até a costa norte no Atlântico.
considerados selvagens ou bravios. No mapa, um pouco Ao se observar a carta que D’Anville produziu sobre a
a nordeste dessa primeira inscrição, junto à vazante do América de c.1742 já se percebe que alguns dos ele-
rio Tocantins, D’Anville escreveu: “Tupinambás grande mentos hidrográficos foram suprimidos, diminuindo o
nação, que de sua primeira morada nas costas do Rio de número de afluentes e mesmo desaparecendo os nomes
Janeiro se estendeu até aqui e propagou-se mesmo até a de alguns rios.
Mapa da América eles são reservados a outras ocasiões de adquirir novos continuava a ser o mesmo mapa, só que mais preciso. fronteira do Peru.” O conteúdo dos dois textos reflete, Apesar das supressões citadas, na carta de 1748 ele
Central e do Norte, conhecimentos, o que não acontece tão frequentemente Dessa forma, a Carte de l’Amérique méridionale cons- grosso modo, as formas distintas com que o colonizador foi capaz de alcançar uma maior precisão da hidrografia
de Guillaume representava os nativos, cabendo somente aos tupinam- junto à costa e, com essa representação, superava outros
como se desejaria.”10 Ao deixar a carta em branco nos tituía um único mapa, permanentemente em aberto.
Delisle, 1700:
espaços onde a geografia era desconhecida, facilitava-se bás o qualificativo de grandes, termo ao qual podem ser mapas franceses da época. Por exemplo, em sua coleção,
o primeiro a
abandonar o seu processo de correção numa futura reimpressão. atribuídos diversos significados. ele possuía três versões da carta Amérique méridionale,
“as maravilhas Dessa maneira, para incluir um novo acidente geográ- O Nordeste Se o vazio de informações geográficas no interior de 1650, 1669 e 1709, de autoria de Sanson d’Abbeville.
decorativas”. Nas três, o curso superior dos rios Meari, Taboucourou
fico num trecho específico, não seria necessário rasurar do nordeste do Brasil podia significar que este era um
as três placas de cobre utilizadas na impressão, pois bas- Ao se comparar a primeira versão da Carte de espaço exterior à civilização que os portugueses cons- e Siará é representado.11 O Meari, grafado como Miary,
tava acrescentar o objeto no trecho em branco desejado. l’Amérique méridionale, a mais simples, de 1737, com truíam na América, ele adquiria ao mesmo tempo, ao parte do lago Xarais, no centro-oeste do Brasil, corre no
Eis aí uma razão para entender por que D’Anville não as duas seguintes — uma produzida por volta de 1742 ser inserido no interior das fronteiras portuguesas, cla- sentido nordeste até desaguar no litoral, na província
alterou a data da cartela nas constantes reimpressões da e outra, a mais elaborada, em 1748 —, observa-se que ramente desenhadas no mapa, um sentimento de per- do Maranhão. Em seu curso, recebe vários tributários,
carta, feitas à medida que novas descrições do interior se espaços em branco desaparecem em alguns pontos, tença e um status de território à espera da integração como o Ouoiecoup, Pimaré e Muracou. O Taboucourou,
do continente chegavam às suas mãos, pois, para ele, em outros ampliam-se significativamente. A região das pelo colonizador. Nesse sentido, ainda que o nome dos por sua vez, verte no sentido norte e corre paralelo ao
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O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Os vazios e os simulacros

rio Siope, que, já próximo à vazante, divide-se em dois: de 1737, grande parte da geografia do interior dessa re- Na Carte de
o Pará, a oeste; e o Siope, a leste, que deságuam na ca- gião então configurada não era assentada no real co- l’Amérique
méridionale de 1748,
pitania do Ciará (sic). Interessante observar que, no seu nhecimento do território, mas sim em pura presunção.
vê-se a ilha de
terço médio, o Pará, nas duas primeiras versões dessa Nesse caso, neste trecho, o aumento do vazio na Carte Marajó como uma
carta (1650 e 1669), se conecta ao rio São Francisco, de l’Amérique méridionale apresenta-se não como uma grande porção
próximo a um lago, mas na versão de 1709 esses rios simples ausência, mas como um aperfeiçoamento carto- de terra e não como
um ajuntamento
não se conectam mais e uma cordilheira divide os dois gráfico, pois, como defendia o geógrafo, na falta de in- de ilhotas, como era
sistemas hidrográficos. formações seguras, o melhor é deixar o espaço em bran- comum na época.
Ao se compararem os mapas de Sanson com a co, a ser preenchido com novas e seguras informações.
Carte de l’Amérique méridionale de 1748 de D’Anville Esse grande vazio que representa o interior da re-
fica evidente que, apesar de a representação desses rios gião do Nordeste brasileiro se explica, em parte, porque
se resumir a suas vazantes, junto à costa, ela é muito a sua coleção de mapas da área é maciçamente domi-
mais precisa. Por exemplo, o número de rios repre- nada pela cartografia holandesa do século XVII, pro-
sentados é maior, suas posições são mais exatas e sua duzida no contexto da invasão da região. Em seu con-
nomenclatura está mais bem estabelecida. Isso fica evi- junto, ela basicamente retrata o litoral, não esmiúça os
dente no sistema de rios que deságuam próximo a São acidentes geográficos do interior, que aparece coberto
Luís do Maranhão, núcleo urbano situado em posição de elementos pictóricos. Sem essas imagens de ador-
bastante precisa (latitude e longitude). Os rios Pinaré, no, sobra o grande vazio. D’Anville possuía um total de
Uayou, Meari, Taboucourou e Moniy, sem nenhuma 30 cartas referentes ao nordeste, das quais seis são pos- Na página
conexão com o sistema fluvial do Centro-Oeste, nem teriores a 1748, data da confecção do seu mapa, restan- anterior, na Carte
de l’Amérique
com o Xarais, correspondem aos atuais Pindaré, Grajaú, do 24 cartas e estampas utilizadas como fontes. Dessas,
méridionale, c. 1742,
Mearim, Itapecuru e Munim. Esse processo revela que, 19 referem-se ao século XVII, ou seja, 79,2%, sendo o tamanho das
enquanto a geografia litorânea do Nordeste se tornou 17 produzidas no contexto do Brasil holandês (Blaeu, letras em Brésil
mais conhecida e passou a ser mais bem representada 7; Post, 7; Marggraf, 1; Vissher, 1; e Hondius, 1), sen- indicava o domínio
português sobre
no período que distancia o período de produção des- do a maioria delas estampas com vistas de cidade como
o território dos
sas cartas, no interior da região ocorreu o inverso. Com Recife, Salvador, ou Itamaracá. Do total, apenas duas Tapuias, índios
esse procedimento, o cartógrafo desnuda que, no mapa não foram diretamente produzidas pelos holandeses, considerados hostis.

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O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Os vazios e os simulacros

mas pelo italiano Horatius, que, no entanto, reprodu- preocupou em reunir um acervo que a representasse em
ziu em seu Atlas aqueles mesmos mapas flamengos. detalhes. A exceção é o rio São Francisco, uma impor-
Restam assim seis cartas do século XVIII, que repre- tante porta de entrada para a região mineradora, para
sentam 20,8% do total. Dessas, três são de Frézier, o qual dom Luís disponibilizou a ele mapas e roteiros,
mas representam apenas a baía de Todos os Santos e entre eles o dos irmãos Nunes, que permitiram repre-
Salvador; e três são anônimas, sendo duas delas estam- sentar o seu curso de forma bastante acurada. Esses as-
pas de Salvador e uma de Olinda. pectos se refletem diretamente na composição da cole-
Mas o que parece ter contribuído de forma deter- ção de mapas de D’Anville.
minante para que D’Anville deixasse o grande vazio Com o intuito de deixar o vazio onde não há in-
interior foi o fato de que sua maior fonte para dese- formações geográficas seguras, muitos outros elemen-
nhar o litoral de toda a região Nordeste até São Luís do tos da carta de 1737 simplesmente desapareceram na de
Maranhão foi a Carte huilée des côtes du Brésil depuis 1748. Novo exemplo, ainda no Nordeste, é a “Cordilheira
l’Île de Maldonado à l’embouchure de la Plata jusqu’au do Brasil”, também representada nos três mapas de
Maragnon.12 Mais adiante, discuto a autoria e as pecu- Sanson. No mapa de D’Anville de 1737, trata-se de um
liaridades dessa carta, que parece ter-lhe sido dada por maciço montanhoso que corresponde, grosso modo,
dom Luís da Cunha. A ausência, na sua coleção, de uma ao Espinhaço. Começa no interior da região Sudeste,
cartografia recente do interior do Nordeste reflete o fato correndo perpendicular à costa até pouco acima do rio
de que, por essa época, essa não era uma área diploma- São Francisco, para então dobrar-se em direção ao in-
ticamente em disputa e por isso o embaixador não se terior da região Nordeste. Se na sua carta, produzida em

Carte huilée des côtes du Brésil


depuis l’Île de Maldonado à
l’embouchure de la Plata jusqu’au
Maragnon, provavelmente
desenhada por Antônio Alves
(ou Álvares) da Cunha, sobrinho
do embaixador dom Luís.
Ilha de Itamaracá, Nas páginas seguintes,
gravura holandesa "uma cadeia de rochas,
de 1647. chamada Serra dos Órgãos".

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gráficas desenhadas no mapa — rios, caminhos, cadeias Carte de l’Amérique méridionale, pois, segundo o au-
de montanhas, vilas e pousos — permite ao leitor apre- tor, nenhum mapa precedente o mostrava. Em segundo,
ender a geografia local. Por outro lado, a inserção da deve-se entender o significado geopolítico desse acrés-
parte oeste, marcada por um vazio gráfico, é legitimada cimo. O aparecimento do território até então desconhe-
pelo discurso do cartógrafo. Essa duplicidade de lin- cido se explica a partir do estabelecimento no mapa de
guagens (uma pictórica e outra discursiva) mostra não duas entidades geográficas distintas, ambas localizadas
só a presença de elementos geográficos vistos a partir do no sertão interior do Brasil, em longitudes considera-
mapa, mas também as ausências antes não percebidas das mais corretas: do lado leste, o rio São Francisco; do
pela tradição. Essas espelhavam “o vazio real de nos- oeste, o rio Tocantins. Tais inserções provocaram signi-
sos conhecimentos nos lugares totalmente nus”,16 vazio ficativa expansão do território do Brasil, na altura dos
não desprezível, representando “mais de duas vezes a paralelos 10º e 15º, estendendo em muito as possessões
extensão da França”.17 O cartógrafo, porém, justifica a lusas no centro-oeste da América.
supressão das informações geográficas dessa região, Para representar o rio Tocantins, D’Anville afirma
dispostas em “cartas precedentes”, pois essa “vasta ex- que foi fundamental o acesso a “uma longa carta ma-
tensão desse continente” havia sido representada como nuscrita” sobre o curso desse rio, “cuja riqueza em mi-
“coisas vagas e de pura presunção”.18 Dessa maneira, o nas de ouro desse país fez descobrir a parte superior”.
“objeto novo” na parte central do Brasil, agora trazido à Segundo ele, a carta havia sido trazida do Pará por La
luz, se configurava como um amplo espaço vazio ates- Condamine e Maldonado.19 Já para posicionar o rio São
tado por D’Anville não como um defeito, nem mesmo Francisco, além do roteiro dos irmãos Nunes, D’Anville
uma ausência, mas como um dos grandes acréscimos conta que utilizou o mapa manuscrito desenhado por
ao território americano que ele, e somente ele, fora ca- Antônio Alves (ou Álvares) da Cunha, sobrinho do em-
paz de revelar. Tratava-se, afinal, de um aumento de baixador.20 Parece tratar-se da Carte huilée des côtes
50 mil léguas quadradas francesas, ainda que represen- du Brésil depuis l’Île de Maldonado à l’embouchure
tadas como um enorme vazio geográfico, localizado no de la Plata jusqu’au Maragnon,21 pois fica eviden-
centro-oeste brasileiro. te, ao se comparar a configuração do São Francisco
Em primeiro lugar, deve-se compreender como se apresentada nessa carta com a da Carte de l’Amérique
dá o processo de inserção desse significativo espaço na méridionale, a semelhança entre ambas. Nos dois mapas,

Amérique c.1742, a representação continua a mesma, na de 1748 diamantes. Sobre essa serra, ele informa que a “região
méridionale,
essa montanha desaparece completamente no Nordeste. das minas de diamantes [...] é adjacente na porção oci-
de Sanson
d’Abbeville, Já no Sudeste, D’Anville a representou dividindo-a e dental de uma cadeia de montanhas, ou cordilheira que
século XVII, desdobrando-a em várias outras, o que é mais condizen- separa a banda marítima do interior das terras”.14
em uma das suas te com a configuração dos maciços que cobrem a região.
três versões.
Nesse último mapa, ele representou ainda a serra dos
Órgãos, correndo paralela à costa, separando o litoral do O rio Tocantins
interior, de maneira que “para ali chegar, em deixando a
margem do mar, é preciso atravessar uma cadeia de ro- Como já mencionado no Capítulo 5, D’Anville in-
Vista do sítio
chas, chamada Serra dos Órgãos, porque o aspecto des- seriu na Carte de l’Amérique méridionale de 1748, a
do Limoeiro, no
sas rochas parece representar os canudos dos órgãos”.13 oeste do rio São Francisco, bem no coração do Brasil, rio dos Tocantins,
A Mantiqueira é outra serra desenhada por ele, e, apesar uma cartela de texto com os seguintes dizeres: “Nesta da coleção
de não nomeada no mapa, se espraia a sudeste de Vila parte do Brasil se observa um espaço de cerca de 50 mil Prospectos das
aldeias e lugares
Rica; a Canastra é representada a oeste da mesma vila; e léguas francesas quadradas, que as cartas precedentes
mais notáveis,
o serro das Esmeraldas (serra do Espinhaço) corre per- não deram algum conhecimento.”15 No lado leste da de João André
pendicular à capitania, dirigindo-se para a região dos área central do Brasil, todo um conjunto de informações Schwebel, 1756.

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o rio Verde e o Paracatu aparecem como tributários da 3,33 m de comprimento por 0,65 m de largura. Também notícias chegaram um pouco confusas. Diziam que no ficar afamadas. Os viajantes, ao encontrarem os pri-
margem esquerda desse rio. No curso imediatamente pela comparação, estabelece-se tal atribuição, dadas as “estado do Maranhão se descobriram proximamente meiros moradores das margens do rio, após 16 dias de
superior à barra do Paracatu, ambos representam uma similitudes entre este mapa e a Carte de l’Amérique duas minas”. Azevedo Coutinho logo escreveu ao reino viagem, informaram que seu “destino não era em che-
lagoa, que D’Anville denomina Parapitinga, e o Tangi méridionale no que se refere à representação do rio pedindo maiores informações sobre o assunto, temendo gar ao Pará, que era buscar ouro”.28 Do mesmo modo,
aparece como afluente do Paracatu. A utilização desse Tocantins. A carta de la Condamine e Maldonado abar- que, por essa porta, as Minas Gerais pudessem ser ame- D’Anville, ao se referir ao Tocantins, referiu-se a “um
mapa para o estabelecimento de Minas Gerais fez com ca praticamente todo o curso do rio, do arraial da Meia açadas. O secretário de Estado, Antônio Guedes Pereira, país rico em ouro”.29 Ao longo da derrota, os expedicio-
que D’Anville não configurasse os limites da capita- Ponte,23 em Goiás, bem próximo de sua nascente, até a lhe respondeu, a 22 de fevereiro de 1738, que a notícia, nários fizeram várias tentativas para encontrar o metal,
nia, incorporando as comarcas do Rio das Mortes e de Vila de Cametá, já na sua foz, no rio Amazonas.24 Seu como lhe chegara, era “inteiramente falsa” e, exagerando algumas delas bem-sucedidas, como no que chamaram
Ouro Preto às capitanias mais próximas - São Paulo e objetivo principal é orientar a navegação do Tocantins, no tom, menciona “as minas que de novo se descobriram “rio do Ouro”, por ali terem encontrado o valioso me-
Espírito Santo, respectivamente. Contudo, não se deve estando assinaladas todas as suas cachoeiras, ilhas e nos Tocantins e Goiases”. Acrescenta ainda que não ha- tal. Para isso, levavam bateias, almocreves e alavancas,
estranhar essa ausência de limites, visto que, até 1720, bancos de areia. via o que se temer, pois os novos achados “são em gran- ferramentas próprias para a mineração.30 Finalmente,
década em que dom Luís recolhe a maior parte dos do- Sabe-se da existência de uma derrota ou expedição de distância daquele estado” das Minas Gerais e “houve ao chegarem a Belém, reafirmaram mais uma vez o in-
cumentos que fornece a D’Anville, Minas não consti- no rio Tocantins, que ao que parece deu origem àque- nelas três homens que entrando-se por aquele sertão e tento da expedição. Ali alcançaram uma licença para
tuía uma capitania autônoma, mas anexa a São Paulo, le mapa, ocorrida entre 2 de novembro de 1734 e 23 de servindo-se em algumas partes dos rios de que abunda partir para o reino e então “dar testemunho daquele
e a Carte huilée des côtes du Brésil apenas reflete essa janeiro do ano seguinte, depois de 15 meses de árdua vieram a sair no Grão-Pará”. Esses viajantes “encontra- descoberto que eu e meus camaradas tínhamos feito das
configuração política. D’Anville explicou que conseguiu jornada. Ainda que não tenha sido possível identificar ram tantos embaraços que a mesma experiência os de- minas de ouro do rio dos Tocantins”.31 Indicativo da ri-
estabelecer uma correspondência entre as duas cartas a seus participantes, provavelmente três, foi encontrado senganou de não ser possível facilitar-se uma entrada da queza mineral do rio, o mapa manuscrito aponta a loca-
partir da nascente do Tocantins, próxima ao arraial da no acervo do Arquivo Ultramarino de Lisboa um ma- dita cidade para as referidas Minas [Gerais]”.26 lização além do rio do ouro, das Minas da Natividade, já
Meia Ponte, e do fato de que alguns “rios que compõem nuscrito que descreve essa viagem.25 Trata-se de um Cópia dessa missiva foi enviada, na mesma ocasião, povoadas e exploradas, o que leva D’Anville a registrar
o rio São Francisco” são também próximos ao arraial. mapa mental que enumera exatamente os mesmos aci- a dom Luís da Cunha, que estava em Paris, e assim o esta mesma localidade em sua carta.
A Carte manuscrite Tratava-se do Urucuia e do Paracatu.22 dentes geográficos dispostos na Carte manuscrite de la embaixador tomou conhecimento do que se passava.27 O cotejamento entre esse relato, o mapa manus-
de la navigation A carta do Tocantins que La Condamine e navigation de la Rivière des Tocantins e, por conse- Como ele sempre advertia, as descobertas de minas crito e a conformação do rio Tocantins conferido por
de la Rivière des Maldonado trouxeram do Brasil parece tratar-se, sem quência, na Carte de l’Amérique méridionale. Marco auríferas no Brasil imediatamente repercutiriam na D’Anville na Carte de l’Amérique méridionale de 1748
Tocantins assinala
sombra de dúvida, da que foi denominada, na cole- António de Azevedo Coutinho, então servindo como di- Europa, especialmente na Inglaterra, que invejava as revela a relação direta entre os três. No entanto, o sen-
cachoeiras, ilhas
e bancos de areia, ção D’Anville, Carte manuscrite de la navigation de la plomata na Inglaterra, foi quem primeiro teve notícias suas riquezas. De fato, o intuito da viagem havia sido tido vazante-nascente dos textos escritos ao longo do
c.1734. Rivière des Tocantins — um longo mapa português com dessa aventura, por a “ter ouvido nesta Corte”. Mas as buscar ouro, e as minas do Tocantins começavam a mapa é o inverso da viagem descrita no manuscrito.

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Seja qual for a explicação, o fato é que a seme- pelos que se consideravam descobridores desses mun- 367 léguas entre a cachoeira de Itaboca, junto à foz, e
lhança entre o relato da derrota e o mapa do Tocantins, dos novos. Esse é um argumento a favor da relação São José, em Goiás, já bem próximo da sua nascente.39
e de ambos com a representação desse trecho na direta entre o relato e o mapa, pois os nomes que os O mapa do Tocantins e o de Antônio Álvares da
Carte de l’Amérique méridionale, é impressionante. integrantes da derrota conferem aos acidentes geográ- Cunha permitiram que situasse a posição do Tocantins
Lembremo-nos de que o mapa do Tocantins havia sido ficos do caminho foram transpostos um a um para a em relação aos meridianos. Como D’Anville mesmo
trazido por La Condamine e Maldonado quando de sua Carte manuscrite de la navigation de la Rivière des afirma, essa medida foi conseguida graças ao posiciona-
estada no Pará. Tocantins, como o rio da Canabrava, a cachoeira com- mento do arraial da Meia Ponte, no alto do rio, já próxi-
Não se sabe exatamente quem eram os integran- prida dos Corixás, Santa Luzia etc.37 Todos esses topôni- mo à nascente, referenciado na Carte manuscrite de la
tes da derrota descrita no relato, e o roteiro não ser- mos presentes no relato e nessa carta manuscrita tam- navigation de la rivière des Tocantins, e “mais ainda sua
ve de pista, pois seus autores não se identificam ao bém aparecem na Carte de l’Amérique méridionale. correspondência ou ligação com a parte representada na
longo do texto, mas sabe-se que, pelo caminho, esses Por vezes, a grafia se embaralha, como é o caso do rio carta de M. da Cunha”.40 Seguindo as orientações que
aventureiros vão desbravando o rio e seu entorno; e dos Mangues, forma que D’Anville utiliza em seu mapa, essa cartografia auxiliar lhe apontava, ele posicionou, no
o relato e o mapa revelam essa contínua descober- que foi grafado Magues na carta manuscrita. sertão interior do Brasil, as duas entidades hidrográficas
ta da geografia local. Observa-se que alguns lugares Essa carta permitiu que D’Anville fosse capaz de — o Tocantins e o São Francisco. O primeiro, a oeste,
já possuíam denominação própria, como o arraial de imprimir uma configuração extremamente precisa do ficou a aproximadamente 32º de longitude, e o segundo,
São Félix das terras novas, com uma igreja, sob a ad- curso do rio Tocantins. Como era costume seu, ele fez a leste desse último, foi posicionado em seu curso médio
ministração do padre José Pires;33 ou a fazenda de São primeiro um esboço de sua autoria, a partir do mapa a cerca de 25º de longitude, o que revelou a distância de
José, onde permaneceram alguns dias doentes, próxi- original. Intitulou-o Amérique. Rivière des Tocantins.38 50 mil léguas francesas quadradas existentes entre os Amérique.
Rivière des
Detalhe da Carte ma ao rio Preto,34 ou ainda a casa forte, onde vez por Nesse mapa primário, como na Carte de l’Amérique dois rios, território antes desconhecido. Tocantins,
manuscrite de la outra se metiam os moradores, quando ameaçados méridionale, estão dispostos os morros e serras avistados É interessante observar que, na carta de 1748, esboço de
navigation de la
pelos índios.35 Outras localidades são batizadas pelos nas margens, e as contínuas cachoeiras que os intrépidos D’Anville desenhou dois arraiais da Meyaponte (sic), tri- D’Anville:
Rivière des Tocantins.
a configuração
expedicionários, como “a cachoeira a que chamamos navegantes encontraram pelo caminho, a cujos números butários de dois rios distintos com esse mesmo topôni-
precisa do
Sabe-se, no entanto, que houve tentativas de seguir a cachoeira de Maquines”, ou “um rio a que chama- e extensão muitas vezes eles se referem, e que tornaram mo, sendo que um dos arraiais está situado um pouco ao rio Tocantins,
um e outro sentido, e os próprios expedicionários se mos rio dos Mangues e (...) sete léguas abaixo está um a viagem extremamente arriscada. Esses acidentes geo- sul do outro. Essa configuração permaneceu nas edições com as medidas
referem ao fato de, no 38º dia de viagem, terem se en- rio a que chamamos de rio de Luzia, que fica a vista gráficos e suas posições cuidadosamente registradas subsequentes do mapa. O primeiro deles foi disposto nas de distância
e os acidentes
contrado com “a tropa que do Pará haverá mandado o de uma serra grande e comprida, chegada muito aos pelos expedicionários foram determinantes para que o margens de um rio da Meia Ponte tributário do sistema
geográficos
governador daquele estado pelo rio acima”, sob o co- Tocantins”.36 Dar nomes aos acidentes geográficos cartógrafo estabelecesse as medidas de distância do rio fluvial da região sudeste do Brasil, conectado às bacias avistados
mando do tenente-coronel Luís Prates.32 era ato simbólico de posse, continuamente encetado em sua carta. Assim, por exemplo, D’Anville demarcou dos rios das Mortes, Grande e Paraná, representadas das margens.
Apesar de terem existido outros aventureiros per-
correndo o rio, a relação entre esse relato e o mapa
manuscrito é evidente. A inversão do sentido da escri-
ta no mapa em relação ao do relato pode ser explicada
de três maneiras:

1. Uma vez tendo chegado ao Pará, ao desenhar o


mapa do rio, provavelmente a pedido do gover-
nador, o autor inverteu o sentido dos topôni-
mos, orientando-os a partir de Belém.
2. O mapa não ter sido resultado direto do relato
e sim de outra expedição ocorrida mais ou me-
nos na mesma época, comandada pelo tenente-
-coronel Luís Prates.
3. O mapa ter sido produzido no Pará, a pedido
das autoridades locais, mas por outra pessoa
que, apesar de se servir das informações da
expedição que descia o rio, desenhou a carta a
partir de Belém.
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como interligadas. O segundo, mais ao norte, está loca- ao que parece, isso acabou por duplicar os posiciona-
lizado na bacia do Tocantins, do qual o outro rio da Meia mentos que dispunha para o arraial da Meia Ponte. As QUADRO VI
Ponte é tributário. Como explicar essa duplicidade? posições onde D’Anville situou esses núcleos urbanos h
Como dito anteriormente, D’Anville afirmou que, podem ser conferidas no Quadro VI. Posição de núcleos urbanos na Carte de l’Amérique méridionale44
para essa região, utilizou dois mapas: a longa carta do O geógrafo genovês Francisco Tosi Colombina, que COORDENADAS DA CARTE COORDENADAS DO
DIFERENÇAS
Tocantins, intitulada Carte manuscrite de la naviga- fazia levantamentos cartográficos no Brasil a serviço DE L’AMÉRIQUE MÉRIDIONALE MAPA DO IBGE ATUAL

tion de la rivière des Tocantins, trazida do Brasil por da Coroa portuguesa, fez, a pedido do governador de Local Latitude Longitude Longitude Latitude Longitude Latitude Longitude
m. Ferros greenwich greenwich
La Condamine, e a do vasto território entre as Minas e Goiás, em agosto de 1750, uma avaliação da Carte de
o Paraguai, traçada pelo sobrinho de dom Luís,41 pro- l’Amérique méridionale. Ele concluiu que nesse tre- Meia Ponte N -17,99 -32,80 -50,47 -15,85 -48,96 -2,14 -1,50
Meia Ponte S -18,79 -32,43 -50,10 -17,39 -49,24 -1,40 -0,86
vavelmente a que se denomina na sua coleção Carte cho do rio havia muitos erros, e em seu parecer dis-
Santa Ana -18,35 -34,28 -51,95 -16,30 -50,70 -2,05 -1,25
huilée des côtes du Brésil depuis l’Île de Maldonado à se que “não se pode fazer fundamento deste mapa de Cuiabá -18,36 -37,90 -55,57 -15,60 -56,09 -2,76 0,53
l’embouchure de la Plata jusqu’au Maragnon. A partir d’Anville”. Sobre o arraial da Meia Ponte, Colombina Villa Boa -16,94 -33,58 -51,25 -15,92 -50,13 -1,02 -1,12
da comparação das duas afirmou que “ficou muito fe- não menciona as duas localidades com o mesmo nome Rio de Janeiro -23,00 -26,31 -43,98 -22,91 -43,18 -0,09 -0,80

liz porque a posição do arraial da Meia-Ponte, que se no mapa, somente conclui que esse estava deslocado em Fonte: Jorge Pimentel Cintra

vê no alto do rio Tocantins, foi incluída nessa [primei- 2o 55’ de latitude. O arraial da Meia Ponte corresponde a
No detalhe abaixo,
ra] carta”, situada “em um país rico em minas de ouro, hoje cidade de Pirenópolis, e, ao se comparar o mapa de
observa-se a
dupla inclusão ocupada por uma nação nomeada Guayazas”. Essa D’Anville a um mapa atual do IBGE, a localidade com o diferença de 1o40’ de latitude e 0,86’ de longitude em a cartografia de gabinete era capaz de representar a
por D’Anville do inclusão lhe permitiu conhecer “não somente o lugar nome de Meia Ponte, situada mais a norte, é a mais pró- relação a medidas atuais dessa localidade. O arraial que Terra de forma acurada, apenas com o artifício da crí-
arraial da Meia conveniente às nascentes do rio, no interior do Brasil, xima de onde está situada essa cidade. Colombina exage- ele nomeia de Santa Ana parece ser a atual localidade de tica das fontes. Conseguir bons mapas e roteiros era
Ponte. A repetição
deve-se ao cotejo mais ainda sua correspondência ou ligação com a parte ra quanto à imprecisão do mapa! Observa-se no Quadro Serra Dourada, às margens do rio Pilões, que desemboca fundamental para esse sucesso. Esses eram como lentes
de duas fontes representada na carta de m. da Cunha”.42 Por essa úl- VI que as diferenças de posicionamento das localidades no rio Claro, nas proximidades da Serra Dourada. Nesse que ampliavam a geografia da América meridional até a
cartográficas tima, ele pôde também conhecer “um cantão chama- do Centro-Oeste na Carte de l’Amérique méridionale, caso, a precisão também é muito razoável, sendo as di- mesa do seu gabinete em Paris.
com informações
do Cuiabá, rico em minas de ouro”, situado “acima do em relação a medidas atuais, variam para as longitudes ferenças de 2o05’ para a latitude e 1o25’ para a longitude. Numa outra perspectiva, a presença ou a ausência
divergentes sobre
a posição da rio Mbotetei, ao lado do rio Paraguai”.43 Sabe-se então entre 53’ (a menor) e 1o50’ (a maior), e para as latitu- Cuiabá e Vila Boa também apresentam posições relativas de determinadas informações no mapa também são im-
localidade. que ele estabeleceu uma conexão entre as duas cartas e, des de 2o76’ e 9’, o que é quase insignificante, princi- bastante próximas do real. Para as cinco localidades do portantes para compreendermos o imaginário das pes-
palmente quando se leva em consideração a dimensão Centro-Oeste, são maiores as diferenças em relação às soas sobre a região. A cartografia não era fruto apenas
da carta e a falta de medições precisas disponíveis para latitudes (média de 1o87’) do que às longitudes (média de da observação direta e empírica da natureza, embora
essas localidades na ocasião em que D’Anville desenha- 1o 01’).47 Eis por que Colombina, na sua crítica ao mapa, houvesse alguns indivíduos que faziam levantamentos
va sua carta. Ao contrário, o mapa apresenta bastante refere-se somente às primeiras. Interessante observar topográficos de regiões circunscritas, e geógrafos, como
precisão, e se de fato há 2o14’ de diferença na latitude de que as medidas de latitude, mais fáceis de serem toma- D’Anville, e embaixadores, como dom Luís da Cunha,
Meia Ponte em relação à posição de Pirenópolis, na lon- das, bastando para isso medir a declinação do sol com que acreditavam que os mapas eram espelhos diretos do
gitude a diferença média é de apenas 1o01’.45 Colombina instrumentos adequados, como o quadrante, são mais mundo real. De fato, apesar do banimento das imagens
aponta também o fato de que, na verdade, Meia Ponte inexatas do que as de longitude, que, no entanto, são oníricas ou mitológicas nessa cartografia iluminista, vá-
estava às margens do rio das Almas, que deságua no rio mais difíceis de serem conseguidas, pois exigem a ob- rias delas - ecos da crença na existência de um paraíso
Maranhão, para então este atingir o Tocantins e “nesse servação de eclipses (geralmente dos satélites de Júpiter) terrestre48 - teimosa e sub-repticiamente penetravam
mapa não se acha tal rio Maranhão e suponho equivo- e instrumentos, como pêndulas e telescópios, de grande nos mapas. Mesmo não mais representados de forma
casse com o que chama [de rio] do arraial das Almas”.46 precisão e alcance. Poder-se-ia inferir daí que, a despei- pictórica, os espaços oníricos encontravam expressão
Nesse caso ele tinha razão, pois D’Anville situou o ar- to de não terem mencionado no relato, os expedicioná- em símbolos cartográficos que a geografia de matriz ilu-
raial não nas margens, mas ao sul do rio das Almas. rios tomaram medidas de longitude ao longo da viagem? minista procurava universalizar. Vejamos.
O outro arraial da Meia Ponte, situado mais ao sul A título de curiosidade, observe-se que, para o Rio
do primeiro, parece corresponder à atual Rochedo, que de Janeiro - cujo meridiano havia sido medido pelos
fica às margens de um rio da bacia do sistema fluvial dos padres matemáticos Diogo Soares e Domingos Capassi, A bacia Amazônica49
rios Grande-Paraná, que corre para o sul, paralelo à es- em 1730, do que D’Anville não parece ter tido notícia -,
trada que hoje liga Itumbiara a Goiânia. Considerando- sua precisão é impressionante, apenas 0,09’ para a la- Se, no caso do Nordeste e do Centro-Oeste, os
se Rochedo como o núcleo urbano representado, a titude e 0,80’ para a longitude de diferença em relação vazios são propositais, há outras regiões da Carte de
precisão de D’Anville é muito boa, pois há apenas uma às medidas atuais. De fato, como ele mesmo defendia, l’Amérique méridionale onde o geógrafo escamoteia
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Espelhos ondulados
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Os vazios e os simulacros

Visão de Santa
Maria de Belém
do Grão-Pará,
em 1784.

intencionalmente o uso ou a ausência de certas infor- cada um. Na ordem em que esses savants são apresenta- a grau e meio de latitude austral; por aí se chega[va] à do Napo.” Cuidadoso, comenta que “essa determina-
mações. Isso acontece de maneira mais evidente na dos, na referência do pertencimento ou não à Académie província de Cañelos, atravessando várias torrentes ção será mais exata quando se tiver a hora de observa-
bacia do rio Amazonas. Para entender o processo de Royale des Sciences de Paris e no tipo da contribuição de cuja junção faz o rio chamado Pastaça, que entra no ção atual em qualquer lugar cuja posição em longitude
estabelecimento da posição do rio e seus afluentes no cada um, D’Anville hierarquizou seus três colaboradores, Maranhão cento e cinquenta léguas acima do Napo”.53 La seja conhecida e onde essa emersão tenha sido visível”,
mapa - e a forma como ele hierarquiza, seleciona ou privilegiando La Condamine, em detrimento de Bouguer Condamine escolheu a rota mais longa e menos conhe- acrescentando em seguida que “logo depois de minha
descarta o material disponível -, é necessário, primei- e Maldonado. No entanto, ainda que Maldonado viesse cida, começando por um largo caminho terrestre, que observação de longitude, pusemo-nos em caminho”.57
ramente, realizar uma leitura crítica dos textos nos quais em último lugar, fica evidente que o mapa incorporava saía de Tarqui, passando por Guayaquil, Zaruma, Loja No entanto, há discrepâncias entre o que La Condamine
D’Anville descreve o processo de produção da carta. Em uma dose de observação do Novo Mundo, produzida em e entrava no Amazonas em Jaén de Bracamoros. Dali, de observou e o que relatou.58 Ao se referir às medidas as-
segundo lugar, utilizando modernos sistemas de infor- grande parte por membros cultos das elites hispânicas canoa, passando ainda por Borja, acima do rio Pastaça, tronômicas que realizou, busca legitimar um novo tra-
mação, devem-se comparar as coordenadas de vários locais, como era o caso desse savant, sem as quais os ge- por onde viera Maldonado, atingiu a foz desse rio e, de çado para o curso do rio, em detrimento do conhecido
pontos geográficos dispostos ao longo do rio na Carte ógrafos de gabinete, na Europa, não seriam capazes de lá, desceu até La Laguna, situada na foz do Guallagua.54 até então. D’Anville, um mestre da arte da crítica carto-
de l’Amérique méridionale em relação à cartografia au- produzir suas sínteses cartográficas. Quando, a 19 de julho, chegou a esse vilarejo, Maldonado gráfica, por vezes irá descartar as medidas tomadas por
xiliar que lhe serviu de base e mesmo em relação aos Maldonado, enviado à Europa, em 1746, pela Coroa já se encontrava lá havia seis semanas.55 Dali, desceram La Condamine, ao confrontá-las com a documentação
mapas atuais.50 O que se pretende com o uso dessas fer- espanhola para fazer contato com intelectuais france- juntos até o Pará, ou Santa Maria de Belém do Grão Pará, de que dispunha.
ramentas digitais não é avaliar a qualidade dos dados ses, havia acompanhado La Condamine em sua expedi- ou simplesmente Belém.56 Em Belém, Maldonado e La Condamine novamente
de D’Anville a partir dos que hoje se encontram dispo- ção ao rio Amazonas entre 1743 e 1744. Os dois partiram Ao longo do caminho, La Condamine realizou vá- se separaram. Esse conta, em seu diário: “Durante mi-
níveis, mas sim compreender o processo de crítica das das cercanias de Quito, usando, no trecho inicial, rotas rias medições de longitude e latitude, conforme constam nha permanência no Pará, fiz pelos arredores algumas
fontes utilizadas pelo geógrafo. diferentes. D’Anville considerou tal estratégia “motivo do seu relato da viagem. Como exemplo, descreve em viagenzinhas de canoa, e disso aproveitei para deta-
Comecemos pela cartela. No texto inserido na sua de um digno elogio”, pois, dessa forma, “multiplica- detalhes a que realizou na confluência do Napo com o lhes de minha carta.” Curioso em relação ao fenôme-
parte inferior, D’Anville presta tributo aos que contribu- ram o conhecimento” sobre a geografia da região.51 La Amazonas. Conta que, “em São Joaquim, [...] partimos no da pororoca, foi de canoa do Pará até Caiena, onde
íram “na reunião de materiais que serviram para a cons- Condamine atingiu o rio a partir de Jaén de Bracamoros, [...] com a intenção de chegar à foz do Napo a tempo de aí embarcou num navio em direção à Europa, enquanto
trução desse mapa” e afirma que, “no que concerne prin- ainda na América espanhola, início do trecho navegável. observar, na noite de 31 para 1º. de agosto, uma emersão Maldonado embarcou para Lisboa em Belém.59 Ao lon-
cipalmente ao curso do rio Amazonas e dos rios que nele Maldonado desceu por um afluente chamado Pastaça e do primeiro satélite de Júpiter”. Em seguida, revela como go de suas incursões pelo delta do rio, La Condamine Nas páginas
deságuam”, era devedor das informações recolhidas pe- os dois se encontraram em Laguna, situada na Província foi feita a operação: “Observei primeiro a altura meridia- não só estabeleceu diversas medidas de distância, como seguintes, casas
los partícipes da missão franco-espanhola para a medição de Mainas, já nas margens do rio Amazonas, ainda em na do Sol, em uma ilha em frente da boca do Napo. Achei também tomou as latitudes de diversos pontos, produ- de índios na
floresta Mata-Mata
do arco de meridiano no Equador. Como mencionado no território espanhol.52 3º24’ de latitude astral”, concluindo, depois das medi- zindo uma cartografia manuscrita de vários intervalos
no Moju, Pará,
Capítulo 4, o cartógrafo agradece a todos os membros da Maldonado foi por um caminho mais curto, que pas- ções, ter encontrado “pelo cálculo 4 horas e três quartos numerados, com indicação dos locais das observações. por Joseph Leon
missão, delimitando e hierarquizando as contribuições de sava “por uma garganta ao pé do vulcão de Tonguragua, a diferença entre os meridianos de Paris e a embocadura A coleção D’Anville ostenta um desses originais relativo Righini, 1867.

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Espelhos ondulados
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Os vazios e os simulacros

ao trecho setentrional da ilha de Marajó, além de uma desse relato.66 A Carte du cours du Maragnon ou de la
cópia em cores, realizada pelo próprio geógrafo, da par- grande route des Amazones veio à luz, em 1745, para
te sul, entre Yaraoubi e Anajaheba.60 D’Anville também figurar na edição de sua Voyage sur l’Amazone,67 e foi
possuía fragmentos de capítulos de um diário de viagem, o primeiro mapa desse rio baseado nos levantamentos
com observações e apontamentos geográficos da foz do de longitudes realizados por La Condamine. Esse fez
Amazonas, intitulado De l’entré du Pará. Copiado com um primeiro esboço, entregue a D’Anville, “cuja habi-
sua própria letra, os textos não têm autoria clara, mas lidade”, afirma o viajante, “é conhecida, [e] me foi de
tudo indica serem também do viajante francês.61 grande vantagem para concatenar e redigir esses ma-
Uma vez na Europa, La Condamine e Bouguer de- teriais esparsos, e enriquecer a minha carta”.68 Como
sentenderam-se quando começaram a divulgar resul- era comum a divisão das tarefas na geografia de gabi-
tados nem sempre convergentes de suas observações.62 nete da época,69 La Condamine se responsabilizou pelo
Na Carte de l’Amérique méridionale as observações levantamento das informações geográficas (lever, em
de Bouguer serviram de base para delinear a região ao francês) e coube a D’Anville desenhar o mapa (dresser),
redor de Cuenca, onde ele e os demais partícipes da ex- o que também significava concatenar a série de dados
pedição realizaram as principais medidas para estabe- disponíveis. Observa-se, no entanto, que muitas das
lecer o arco de meridiano. A triangulação em Cuenca conformações geográficas sobre a bacia Amazônica, que
foi realizada por La Condamine e Bouguer, a partir da La Condamine divulgou na Académie como sendo suas,
observação, em março de 1743, da movimentação de na verdade eram baseadas em informações de terceiros,
uma estrela, “obtida no mesmo instante por ambos os nem sempre comprovadas por ele.70 Apesar de na car-
observadores nas duas extremidades do arco”,63 sendo tela do mapa constar a informação “levantado em 1743
que o primeiro se encontrava a cinco léguas ao sul de e 1744 e submetido às observações astronômicas por geográficas desse mapa estão presentes na Carte de o rio até próximo a sua foz, na cidade de Belém do Pará. Mapa do curso
Cuenca, num deserto perto de Tarqui, limite austral do m. La Condamine, da Académie Royale des Sciences”, do Maranhão
l’Amérique méridionale (pelo menos em suas pri- Sobre a experiência que acumulou, padre Fritz produziu
ou do grande
meridiano.64 Logo, Bouguer não dispunha de informa- no prefácio de seu livro o viajante francês conta que tais meiras edições): 1) o desenho do curso do rio Negro;72 um diário ou relato manuscrito, usado por outro jesuí- rio das Amazonas,
ções relevantes sobre a calha do Amazonas, a não ser documentos lhe foram “comunicados no país por vá- 2) o desaparecimento do lago Parima e sua substitui- ta, o padre Pablo Maroni, como base para suas Noticias coprodução
para ajudar no estabelecimento da distância entre essa e rios missionários ou viajantes inteligentes” e que coube ção pelo Amucu, por meio da conexão das bacias dos Autenticas del Famoso Rio Marañon. Uma cópia des- de D’Anville e
a região de Cuenca. a D’Anville, “cuja habilidade é conhecida”, utilizando La Condamine.
rios Rupunuwini, Essequebé e Negro; 3) a conexão en- se diário, cujos originais estão guardados nos Arquivos
Já La Condamine e Maldonado tinham recolhi- seu método de crítica cartográfica, “concatenar e redigir tre o Amazonas e o Orenoco, realizada por meio do rio do Colégio de Quito, foi fornecida pelo Dr. José Pardo y
do importantes informações sobre o rio e, na Europa, esses materiais esparsos”.71 Negro;73 4) a configuração da ilha de Marajó como uma Figueroa, marquês de Valleumbroso, a La Condamine,
Carte de la côte por razões diferentes, colaboraram com D’Anville. La Para estabelecer o traçado da bacia do rio Amazonas grande porção de terra, em vez de um ajuntamento de que a levou a Paris.76 Com o intuito de defender o do-
septentrionale Condamine concentrou-se na divulgação dos seus fei- na Carte de l’Amérique méridionale, D’Anville utilizou, ilhotas menores, como era comum na cartografia até mínio da Espanha sobre a região, Fritz desenhou vários
de l’Ile de Marajo
tos na epopeia amazônica,65 associando-se a D’Anville, sem sombra de dúvidas, como uma fonte importante, a então.74 Mas, ao contrário do que se poderia esperar, os mapas da área, mas apenas alguns poucos chegaram
depuis Yaraoubi
jusqu’à Anajaheba, que produziu alguns mapas que acompanharam a obra Carte du cours du Maragnon, produzida em conjun- dois mapas são divergentes em vários pontos, até mes- até nós. Um deles, com data de 1691, intitulado Mapa
por D’Anville, 1763. que escreveu narrando a viagem e ilustraram aspectos to com La Condamine. Quatro grandes contribuições mo em trechos como o referente à foz do Amazonas, Geographica del Rio Marañon o Amazonas, também
onde La Condamine fizera várias observações astronô- levado para a Europa por La Condamine, possui uma
micas seguras.75 cartela com uma descrição geográfica do rio e de seus
As diferenças entre esses dois mapas, especial- habitantes. Uma outra, um pouco diferente, foi gravada
mente no que diz respeito às longitudes, aponta para a em Quito, no Colégio da Companhia, em 1707, e incor-
utilização, por D’Anville, de outras informações sobre porada com pequenas modificações à edição do volume
o Amazonas, além daquelas trazidas pelos membros da 12 das Lettres édifiantes et curieuses, de 1717, ficando
expedição geodésica. Vejamos agora, grosso modo, os muito conhecida na Europa.77
principais documentos auxiliares que D’Anville utilizou Para descer o rio, La Condamine serviu-se do mapa e
para desenhar o rio Amazonas. do diário de Fritz, ambos fornecidos a ele, em Quito, pelo
Em primeiro lugar, cabe destacar o mapa do padre marquês de Valleumbroso, sendo que o mapa era con-
Fritz, missionário a serviço dos espanhóis junto aos ín- siderado a representação mais fiel até então produzida
dios omáguas e mainas. Numa de suas muitas viagens sobre o seu curso. Mas, assim que chegou à Europa, ele
pela Amazônia entre 1686 e 1725, o missionário desceu encetou uma campanha para desacreditar as informações
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Espelhos ondulados
Os vazios e os simulacros

do jesuíta78 e garantir a hegemonia da sua represen- de madeira, de três polegadas de raio, para as latitudes”.
tação, com vistas a imortalizar sua importante contri- A isso juntou sua péssima condição de saúde e concluiu
buição ao conhecimento europeu da geografia do Novo que, “enfim, ele estava tão doente quando desceu o rio Na página anterior,
Mundo. A Carte du cours du Maragnon, que compôs até o Pará,” que suas informações não eram confiáveis.79 detalhes da Carte
de l’Amérique
com D’Anville, foi um importante instrumento dessa No entanto, D’Anville, apesar de não mencionar o padre
méridionale:
campanha. Nela, os dois incluíram, em tracejado, com Fritz na cartela, admite em uma das memórias que es-
1. o curso do
uma linha mais fraca, o curso do rio desenhado pelo creveu sobre a Carte de l’Amérique méridionale, que de rio Negro;
missionário e sobrepuseram a que consideravam ser a fato utilizou o mapa do jesuíta para estabelecer “o deta- 2. a conexão entre
mais correta. Com esse expediente, bastante visível no lhe da parte superior do Maranhão”,80 uma das deno- os rios Amazonas
baixo Amazonas, na foz e na ilha de Marajó, apresen- minações que o Amazonas possuía por essa época e em e Orenoco, pelo
Negro;
tando deslocamentos acentuados para leste no caso do outros trechos do rio,81 já que La Condamine não havia
3. a substituição
mapa de Fritz, ambos buscavam evidenciar as correções percorrido tais trechos.82
do lago Parima
que introduziam no curso do rio. Outra fonte para o estabelecimento desses trechos pelo Amucu e
La Condamine utilizou as informações do diário do foi uma grande carta manuscrita desenhada pelo padre a conexão dos
próprio missionário para acentuar a imprecisão da carta Magnin, presenteada a La Condamine em Borja, e, ain- rios Rupunuwini,
Essequebé
de Fritz. Afirmou que “o padre Fritz, sem pêndulo e sem da que o geógrafo visse imperfeições nessa carta, por
e Negro; e
luneta, não pôde determinar nenhum ponto em longi- falta de “rigor geométrico”, o que resultou “em exagerar
4. a configuração
tude”. Sobre seus instrumentos de medição disse que a extensão dos espaços”, incorporou várias de suas in- inteiriça da ilha
“[ele] não dispunha senão de um pequeno semicírculo formações, cotejando-as com várias memórias que lhe de Marajó.
3

2 1

O grande rio
Maranhão ou
Amazonas com
as missões da
Companhia de
Jesus, mapa
delineado pelo
padre Fritz,
em 1707.

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Espelhos ondulados
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Os vazios e os simulacros

Álvares Cunha, foram importantes para posicionar a foz entre vários pontos coligidos pelos dois viajantes entre alcançados.99 De fato, essas medições, em virtude de
do Tocantins, quando este deságua no Amazonas. Quito e Laguna, passando pela foz do Pastaça, além de várias razões, inclusive a tecnologia então disponível,
Vejamos como D’Anville coligiu todas as infor- utilizar outra documentação subsidiária. O fato de te- estavam longe de ser perfeitas, mas D’Anville era um
mações de que dispunha entre a nascente e a foz do rem escolhido dois itinerários diferentes permitiu que especialista não só na sua equivalência, como na trans-
Amazonas.90 Para os arredores de Cuenca e Quito, uti- D’Anville pudesse comparar as medidas tomadas por formação de medidas de itinerário em medidas geográ-
lizou os dados colhidos pela expedição geodésica. Em cada um separadamente e, a partir desse cotejamento, ficas de distância, e grande parte do sucesso de seu tra-
suas memórias, afirma que La Condamine considerava estabelecer a diferença de longitude que considerava a balho residia exatamente na maestria com que domina-
a medida justa para o meridiano de Quito como sen- mais correta entre os dois pontos. Nesses cálculos, era va essa etapa fundamental no processo de construção
do de 5 horas e 21 minutos, ou 80º15’ em relação ao preciso ter em conta a direção dos cursos d’água tomada da cartografia de gabinete.100
meridiano de Paris. Para efeito da Carte de l’Amérique pela bússola, o ângulo entre o azimute magnético e o A partir de Jaén, ainda usando os dados de La
méridionale, posicionou-o a 60o20’ e poucos minutos verdadeiro, e a distância percorrida em função da ve- Condamine, D’Anville posicionou as cidades de S.Tiago
a oeste do meridiano de Ferro.91 Isso significava um des- locidade da embarcação com relação à margem do rio, e Borja, essa última já na calha do rio, o que permitiu
vio de sete a oito minutos em relação aos dados de La considerando também o uso de diferentes léguas: fran- que estabelecesse na carta o primeiro ponto do curso
Condamine. D’Anville estava ciente disso, mas conside- cesas, espanholas, marítimas ou as comuns, operação do Amazonas. Entre Jaén e a foz do Pastaça, D’Anville Em 1729, D’Anville
rou que, pela dimensão da carta, não causaria grandes de crítica de fontes na qual ele era um expertise.98 Era dispunha de duas opções principais de dados – os de publicou um mapa
desvios no mapa.92 preciso levar em conta também as dificuldades que am- La Condamine e os de Fritz. Fixou a longitude de Jaén exclusivo incluindo
Aceitou as medições feitas por La Condamine en- informações de
bos encontraram pelo caminho, como os acidentes do apoiando-se em La Condamine e utilizou as diferen-
diversas fontes
tre Quito e Jaén, apesar das dificuldades que o mesmo terreno, a força dos ventos ou das águas, que influíam ças de distâncias (convertidas para longitudes) medidas sobre a bacia
encontrou para realizá-las, e estabeleceu a longitude de na velocidade da embarcação e portanto nos resultados pelo padre Fritz, escolhendo portanto uma fonte que, do Amazonas.
Descrição dos rios foram dadas por Maldonado, quando os dois trabalha- Jaén com apenas 0,25º de diferença em relação a Carte
Pará, Curupa e ram em conjunto na confecção da Carta de la provincia du cours du Maragnon. Mas essa diferença vai aumen-
Amazonas, por
de Quito.83 tando à medida que se desce o rio, chegando a valores
Antônio Vicente
Cochado, 1623. No que se refere à foz do Amazonas, D’Anville dis- máximos de 2º60’, no Coari e Purus; e depois declinan-
punha das medidas tomadas por La Condamine e de um do para valores na casa de 1º14’, em Belém do Pará, o
mapa manuscrito do padre Ignácio Reis.84 O religioso que revela que as duas cartas não são coincidentes e que
era um mercedário “que viveu 12 anos nas margens do D’Anville, nos trechos médios e inferior do rio, não se
rio” Amazonas. O geógrafo encontrou-se com ele na valeu dos dados do viajante francês.
casa de Pedro Nolasco Couvay, em Paris.85 A partir desse D’Anville conta que, para estabelecer na Carte de
encontro, ocorrido em setembro de 1729, conforme as l’Amérique méridionale o trecho entre Quito e Laguna,
instruções e memórias que o padre lhe forneceu, tra- tomou e comparou as observações de La Condamine e
çou alguns rascunhos de trechos do Amazonas e seus Maldonado nas duas rotas que usaram até o rio Ama-
tributários e uma carta manuscrita da foz,86 que che- zonas,93 valendo-se desse último para traçar o curso do
gou a publicar, no mesmo ano, com o título de Carte Pastaça,94 realizado com a ajuda de uma bússola e um gnô-
du cours de la rivière des Amazones ou de Maragnon mone portátil.95 Ambos partiram de Quito com a mesma
depuis l’entrée du Para en remontant jusqu’au coordenada e realizaram medições de latitude, direções,
confluent de la Rivière Noireoù.87 O padre lhe orientou velocidade das águas e distâncias percorridas, mas ne-
ainda como era a conformação da foz dos rios Madeira, nhum deles tomou medidas de longitude até a foz do rio
Guatuma, Abacaxi e Urubu, quando esses desaguavam Napo, situada a oito dias de canoa a vazante de Laguna,
no Amazonas.88 No leito superior dos dois últimos, os onde os dois se encontraram.96 La Condamine saiu de
mercedários haviam estabelecido suas missões, como as Laguna no dia 23 de julho e chegou à foz do Napo no dia
de São Pedro Nolasco e São Raimundo, onde ele missio- 31, a fim de observar um eclipse dos satélites de Júpiter,
nara, realizando com frequência o percurso entre elas. o que não foi possível, a despeito dos esforços, pois va-
Além desse mapa manuscrito do padre Ignácio Reis, a pores no horizonte impediram que o fenômeno fosse
longa carta manuscrita do curso do rio Tocantins, tra- avistado.97 Por não terem medido nenhuma longitude
zida do Pará por La Condamine,89 assim como a que lhe até esse ponto, foi preciso que D’Anville calculasse as
forneceu o sobrinho de dom Luís da Cunha, Antônio longitudes a partir das medidas de distância percorrida
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O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Os vazios e os simulacros

a princípio, era mais confiável, já que o jesuíta havia


percorrido muitas vezes esse trecho ao visitar as aldeias
sob a sua tutela.
Na região entre a foz do Pastaça e Laguna, D’Anville
passou a contar com uma terceira fonte: os dados que
Maldonado recolhera in loco com o intuito de posicio-
nar o curso e a foz desse rio. A partir deles, D’Anville
modificou a medida de longitude da foz do Pastaça
em relação à Carte du cours du Maragnon (uma dife-
rença de -1,26º), pois considerou que as medidas de
Maldonado eram mais precisas.101 No entanto, descul-
pou La Condamine pela inexatidão de suas medidas,
causadas, segundo ele, ou pelas dificuldades do terre-
no montanhoso no início do percurso, antes de atingir
o rio, ou por ele ter minimizado a força dos ventos, o
que influiu nos seus cálculos da distância percorrida em
canoa.102 Quanto à foz do rio Napo, a despeito do fato de
La Condamine e Maldonado terem tomado a longitude
nesse ponto,103 a Carte du cours du Maragnon apresen-
ta um desvio de 3,79º que contaminou todo esse mapa.
D’Anville, em seu trabalho crítico para feitura da Carte
de l’Amérique méridionale, percebeu esse erro e pro-
curou eliminá-lo, valendo-se principalmente dos dados
coligidos pelo padre Fritz.
A partir da foz do Napo e no Javari, verifica-se uma
coincidência muito grande com a Carte du cours du
Maragnon, o que se observa até a altura do Tapajós e do
Curupatuba (a média das diferenças entre as duas cartas
nos diversos pontos é de apenas 0,04º). A grande dis-
crepância ocorre no Xingu, dadas as contribuições da
carta da foz do Amazonas, desenhada a partir do padre
Ignácio Reis, e a do Tocantins. Na Carte de l’Amérique
méridionale, D’Anville posicionou a foz do Tocantins a
32o63’ de longitude, deslocada 1o58’ quando confron-
tada com um mapa atual. Esse posicionamento foi al-
cançado graças ao estabelecimento das coordenadas do
arraial da Meia Ponte, já próximo à nascente do rio, de-
terminando o posicionamento de todo o seu curso.
O acesso a essas fontes portuguesas, fornecidas
por dom Luís da Cunha, no caso da folha 1 do mapa,
permitiu que D’Anville alterasse o posicionamento de
vários pontos situados nas proximidades da foz do rio
Amazonas, em relação às posições defendidas por La
Condamine, o que produziu, nesse trecho, uma série de
Floresta virgem,
de Charles Etienne desvios tanto de latitude quanto de longitude, em rela-
Pierre Motte, 1834. ção às medidas atuais. As medidas do francês eram mais
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Espelhos ondulados
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Os vazios e os simulacros

La Condamine entre Quito e Jaén; uso dos dados de A aparente incoerência entre o texto da cartela,
Maldonado para a região do Pastaça; utilização do mapa o das memórias e os dados que se extraem a partir do
do padre Fritz e outros missionários para estabele- emprego de ferramentas digitais merece considerações.
cer a regiões entre Jaén e Borja, e deste ao Napo e ao Essas nos permitem desnudar o que, em alguns trechos
Javari. A partir daí, utilização dos dados coligidos por La do mapa, se escondeu por trás do discurso empregado
Condamine e Maldonado, e, finalmente, do Xingu até por D’Anville, isto é, os dados realmente incorporados
4 3
5
1 a foz, extração de coordenadas de mapas portugueses. ao mapa, os descartados e os não revelados integral-
2
6
Na parte superior da bacia, a eliminação do lago Parima mente a seus interlocutores. Percebe-se então que seu
e o estabelecimento de uma conexão entre as bacias discurso, como um espelho ondulado, muda conforme
Amazônica e do Orenoco, por meio do rio Negro, fo- o público a que se destina.
ram baseadas em La Condamine, considerando-se, no O texto da cartela da Carte de l’Amérique méridio-
entanto, que este se baseou em informações de tercei- nale buscava validar cientificamente o mapa diante de
ros para realizar tal configuração, uma vez que não per- uma audiência ampla, ancorando-o na prestigiosa mis-
correu esses trechos. O desaparecimento do Parima, e são geodésica, internacionalmente reconhecida. Seu
sua substituição pelo Amucu, o que será examinado no tom laudatório permitia ainda que o geógrafo honrasse
Capítulo 7, foi realizado a partir de um mapa e de um o importante contributo da missão ao desenvolvimento
diário que La Condamine trouxe consigo de um prus- da geografia, sem que, claramente, tomasse partido nas
siano, Nicolas Horstman, o qual realizou uma viagem disputas que dilaceravam seus membros. As memórias
entre Caiena e Belém. que escreveu sobre a carta, por sua vez, eram destina-
Quanto à ligação entre o Amazonas e o Orenoco, das a um público mais restrito e especializado de sa-
D’Anville estabelece não uma, mas três conexões a vants, especialmente os reunidos na Académie Royale
partir da junção do Caquetá, no alto Orenoco, respec- des Sciences de Paris. Por meio delas, submetia o pro-
tivamente com os rios Iça, Yupura e Negro. Essa tripla cesso de crítica cartográfica para a produção do mapa
Vila de Monforte exatas, pois esse, valendo-se dos métodos astronômicos, fez para o posicionamento dessa localidade. Num único ligação foi primeiro estabelecida pelo padre Acuña, a uma audiência qualificada, sem o que o mesmo não
na Ilha Grande havia tomado, em três momentos diferentes, a longitude documento, intitulado De l’entré du Pará,105 há menção que, em seu livro Nuevo Descubrimiento del Gran rio receberia o aval dessa instituição, fundamental para
dos Joanes
de Belém do Pará. Nesse caso, ele é bastante específico à posição da cidade do Pará, mas trata-se apenas da lati- de las Amazonas, relatou a viagem de Pedro Teixeira, consolidar sua fortuna científica. Nesse caso, garantir
[Marajó], c.1783:
1. igreja matriz;
em seu diário ao relatar como e quando realizou as me- tude, que coincide com o valor encontrado pelo viajan- entre Quito e Belém, realizada em 1639. Segundo a credibilidade da Carte de l’Amérique méridionale
2. quartel; dições, concluindo que: “Achei por várias observações te francês (cerca de 1º20’ ao sul do equador), sem nada D’Anville, “o Caquetá, que forma essa junção, con- significou escamotear, com informações vagas ou am-
3. Armazém e acordes 1º28’ [de latitude e], (...) julguei pelo cálculo mencionar sobre sua longitude, referindo-se apenas às forme o que diz o padre Acuña, depois de ter dado seu bíguas em alguns trechos do mapa, os dados que real-
Pesqueiro Real;
que a diferença do meridiano do Pará para o de Paris distâncias em relação a outros pontos situados na foz do nome a um pequeno lugar situado nas suas margens, mente coligiu e os que de fato descartou. Da mesma
4. casa do Capitão;
5. casa das canoas; e é de cerca de 3 horas e 24 minutos para o Ocidente.”104 rio. Na Carte de l’Amérique méridionale, o reposicio- localizado a cerca de 1 grau de latitude norte, espalha forma que na cartela, ainda que com mais detalhes, os
6. canoa do Ouvidor. Com efeito, essa longitude de Belém apresenta uma di- namento dessas outras localidades próximas, junto à foz suas águas em diferentes braços que serão formadores membros da expedição geodésica foram exaltados, em
ferença de apenas 0,06o em relação às medidas atuais. do Amazonas, como é o caso de Guanapu e Jacunda, ou do rio Negro, rio Yupurá e rio Iça”. Da nascente para a detrimento de outras fontes menos prestigiosas tam-
Examinemos então as fontes que D’Anville utili- em seu trecho imediatamente superior, caso da foz do vazante do Caquetá, D’Anville desenha essas três cone- bém empregadas. Mas foi possível perceber, com cla-
zou para posicionar Belém e alguns outros locais pró- Tocantins, também podem ter contribuído para o repo- xões. A primeira acontece a partir das junções dos rios reza, como D’Anville se posicionou de fato em rela-
ximos à foz do Amazonas. Em relação à posição de sicionamento de Belém. No caso da Carte de l’Amérique Jaoya e Iça; a segunda, diretamente com o Yupura, no ção aos dados divergentes coligidos pelos membros
Belém, D’Anville difere do valor estabelecido por La méridionale, os ajustes nas cercanias de Belém foram país dos Acanejos; e a terceira, com o Negro, no país dos da expedição. Para algumas localidades, apesar do
Condamine, mas também não utiliza o posicionamen- grandes, e, pelo fato de D’Anville ter descartado as me- Orelhudos. Essa última foi atestada a La Condamine prestígio maior de La Condamine, optou pelos dados
to conferido à localidade pelo padre Fritz. É sugestivo didas de La Condamine, a mesma apresenta uma dife- por missionários portugueses que, em 1744, fizeram de Maldonado, por considerá-los mais fidedignos. Por
o fato de que, ao contrário do que faz para outros pon- rença que poderia ter sido evitada, de 1,6º de longitude uma viagem pelo rio Negro e, depois, “passando de rio fim, o uso das ferramentas digitais foi capaz de des-
tos e cidades importantes da América (como Caiena, ao se comparar com o valor atual. a rio, se encontraram no Orenoco”.106 Essa conexão que velar que, em alguns outros pontos, D’Anville de fato
Buenos Aires, Valparaíso, Santos, São Vicente, Olinda e De modo geral, na Carte de l’Amérique méridionale de fato existe era “conhecida desde sempre pelos in- utilizou fontes que na cartela são referenciadas ape-
muitas outras), em todas as versões das suas memórias, D’Anville desenhou a hidrografia dessa região a par- dígenas”. Humboldt, no raiar do século XIX, navegou nas como “material”, sem individualizar seus autores.
D’Anville não menciona a medida de longitude tomada tir da seguinte composição: estabelecimento da lon- 12 dias em canoas para a encontrar, conseguindo reali- Algumas delas, como o mapa do padre Fritz, aperfei-
por La Condamine em Belém, e muito menos se refe- gitude fundamental em Quito, a partir dos dados da zar as medidas de sua localização e estabelecê-la cienti- çoaram a representação da calha do rio Amazonas,
re às fontes ou dados que utilizou, ou aos cálculos que expedição geodésica; aproveitamento das medidas de ficamente, através do Casiquiare.107 outras nem tanto.
242 243
OPARAÍSO E SEUS MITOS
O Xarais, a serra das
Esmeraldas, as amazonas
e o Parima

Como então um geógrafo, que resenças inquietantes e persistentes fo-


insistentemente defendia a ram incluídas por D’Anville na Carte de
l’Amérique méridionale: três grandes
necessidade de inserir em um
imagens mitológicas representadas como
mapa apenas os acidentes sobre os entidades geográficas reais — o lago Xarais, a serra das
quais houvesse um conhecimento Esmeraldas e o lago Parima —, além da denominação rio
empírico positivo, pôde construir das Amazonas, que substituiu o tradicional topônimo de
uma representação geográfica rio Solimões ou Maranhão, até então majoritariamente
desses mitos? Qual a explicação utilizados pelos portugueses. Essas três representações
e a escolha desse topônimo são evidentes indícios de
para serem mantidos na carta?
como antigos mitos, quase sorrateiramente, continua-
ram presentes nessa carta.1 Se mapas, como foi o caso
da Carte de l’Amérique méridionale, podiam legitimar
a soberania de um império sobre seu território, por
meio de uma representação cartográfica que buscasse
Alegoria da
América, de José espelhar sua real configuração, podiam também, ainda
Teofilo de Jesus que com o mesmo fim e intencionalmente procurassem
(1758-1847), com
o inverso, mitificá-lo,2 ao continuar a representar uma
simbologia extraída
da cartografia. geografia fantástica. Como então um geógrafo, que in-
Acima, uma visão sistentemente defendia a necessidade de inserir em um
do rio Negro. mapa apenas os acidentes sobre os quais houvesse um
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O paraíso e seus mitos
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL O Xarais, a serra das Esmeraldas, as amazonas e o Parima

conhecimento empírico positivo, pôde construir uma de 1559, seguida da carta de Bartolomeu Velho, de 1561,
representação geográfica desses mitos? Qual a explica- que denomina este lago de “Eupana”, termo que, por
ção para serem mantidos na carta? vezes, continua a aparecer na cartografia. Da tradição
portuguesa, o Xarais se espalhou para a cartografia fla-
menga, italiana, alemã, inglesa e outras, onde reper-
O lago Xarais cutiu por maior tempo, mesmo após o abandono dessa
imagem cartográfica pelos próprios portugueses. Em
Desde a primeira edição da Carte de l’Amérique parte, isso era reflexo do processo tradicional de utili-
méridionale, na folha 2, referente à parte central do zação de um mapa precedente, pelo aproveitamento de
continente, porção mediana do Brasil, observa-se a sua chapa de gravação ou pela cópia direta, por suces-
presença do lago Xarais. A imagem geográfica desse sivas gerações de geógrafos. Também decorria do fato
lago não era totalmente nova, pois inúmeros mapas, de que a cartografia portuguesa, em geral manuscrita,
produzidos nos séculos XVI, XVII e início do XVIII, o e que a partir de meados do século XVII abandonara
representam no centro-oeste da América do Sul.3 Essas paulatinamente essa forma de representação, era a todo
cartas geralmente desenhavam o lago comunicando as custo mantida pouco acessível aos geógrafos europeus.
bacias do rio da Prata e do Amazonas e, por vezes, tam- A Carta Atlântica, atribuída a João Teixeira Albernaz
bém a do São Francisco, configuração abandonada na I, desenhada por volta de 1640, foi a última repre-
Carte de l’Amérique méridionale desde a sua primeira sentação cartográfica portuguesa conhecida que ainda
O lago Xarais, versão, em 1748. No entanto, a representação do lago mantinha esse mito geográfico. A coleção D’Anville
na Carte de
Xarais como nascente do rio Paraguai persiste. guarda vários exemplares de mapas que apresentam
l’Amérique
Meridionale, Tal representação da geografia interior da América o Xarais e as bacias comunicantes dos rios da Prata e
de 1748. do Sul teve início com o Planisfério de André Homem, Amazonas. Um deles é a Americae Nova Tabula, de
Willem Janszoon Blaeu, publicado entre 1638 e 1640.4
Outros que se destacam são a America Meridionalis, de
Gérard Mercator (c.1610),5 ou a Amérique Meridionale,
de Nicolas Sanson, em suas diversas versões de 1650,
1669 e 1709.6 As cartas de Guillaume Delisle sobre a
região, com três versões ligeiramente distintas, produ-
zidas a partir de 1700, apresentam o Xarais muito pró-
ximo dos rios da bacia Amazônica, mas, como a carta
de D’Anville, sem estabelecer uma ligação direta entre
o Paraguai e o Amazonas.7
Segundo Sérgio Buarque de Holanda, essa confi-
guração geográfica de um lago mítico no centro-oeste bacias do rio da Prata e do rio Paraguai9. Cabeza de Vaca hidrografia do centro-oeste da América do Sul, isto é, No mapa de Nicolas
do Brasil surgiu pelo fato de os portugueses terem en- foi dos primeiros a ter notícias, pelos índios, da exis- para a presença do Xarais, foi a necessidade de encon- de Fer (1646-1720),
a representação
campado os mitos indígenas, principalmente as len- tência desse grande lago interior, onde viviam os índios trar limites naturais entre as possessões portuguesas e
do Xarais ou
das dos povos tupis, de que existiria um lago interior xarais.10 Ele foi enviado em 1540, como governador da espanholas, o que aponta para uma intencionalidade. O Lago Dourado
de onde partiam dois grandes rios, fronteiras naturais província do Rio da Prata, onde ficou até 1542. Nesse “mito da ilha Brasil: a ideia de que o Brasil seria uma ilha denota uma visão
do Brasil. Tal construção estava associada ao paraíso e período, ocorreram algumas entradas na região, en- definida pelo Oceano e pelos sistemas hidrográficos co- paradisíaca da
América.
à transposição para a América de mitos europeus que cetadas por Domingo de Irala, Gonzalo de Mendoza e municantes do rio Amazonas e do rio da Prata”12 criava
remontavam à antiguidade. De início, ela foi “assinalada Francisco de Ribeira, que exploraram o rio Paraguai a tal fronteira natural. Segundo Cortesão, essa configu-
entre os cartógrafos sob o nome de Eupana”, que, se- partir de um núcleo por eles estabelecido, cujo nome ração geográfica teria surgido durante a União Ibérica,
gundo esse autor, “era uma simples deformação gráfica era Porto dos Reis. quando as Coroas de Espanha e Portugal estiveram uni-
do Eupana, ou Upaua, dos naturais do país”.8 Jaime Cortesão encontrou outra explicação para a das, sob a hegemonia da primeira. Maquiavelicamente,
Essa imagem foi inicialmente confirmada pe- persistência dessa imagem.11 Para ele, uma das razões os cartógrafos portugueses teriam feito coincidir a linha
los primeiros viajantes espanhóis que penetraram as principais para a representação dessa conformação da do Tratado de Tordesilhas com o traçado desses dois
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O paraíso e seus mitos
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL O Xarais, a serra das Esmeraldas, as amazonas e o Parima

No início do século
XVIII, a região
já era descrita
como um grande
pantanal, mas, com
fontes insuficientes,
D'Anville mantém
o Xarais.

rios, fazendo a natureza justificar o predomínio portu- que por ali viajaram, como Ulrico Schmidl (1535),17
guês sobre a colonização brasileira.13 Alvar Núñez Cabeza de Vaca (1543),18 e Ruy Diaz de
Para Cortesão, essa não era uma construção fan- Guzmán (1583).19 Para a autora, tratou-se de uma difi-
tástica da geografia brasileira, mas derivava de um culdade de compreensão das peculiaridades da natureza
mal-entendido — o Xarais era na verdade o Pantanal. local com sua configuração lacustre e fugidia, que para
Durante a estação das chuvas, o rio Paraguai sai de seu estes homens foi sempre um lugar de passagem.20 De
leito e provoca uma enorme cheia das terras baixas situ- fato, ainda que essa imagem tenha sido utilizada com
adas no interior do Brasil, o que parecia ser um enorme propósitos políticos, a crença na existência da bacia co-
lago aos índios e aos primeiros viajantes estrangeiros. municante dos dois rios, estabelecida pelo Xarais, é bas-
Vários deles, inclusive, chegaram até a região do Peru tante anterior à União Ibérica. Sua origem, tudo indica,
e mais ao norte até o rio Amazonas a partir da bacia do é uma mistura dos mitos indígenas aos dos europeus,
Paraguai, seguindo as informações dos índios e perpe- que sonhavam com a existência do Eldorado e de um
tuando assim o mal-entendido na cartografia que fun- lago paradisíaco, conformado pela geografia lacustre do
dia os rios Paraguai e da Prata por esse lago comunican- pantanal mato-grossense.
te das bacias hidrográficas do sul e do norte do Brasil.14 No entanto, ainda que não se possa pensar numa
Para se contrapor à ideia da origem política dessa con- estratégia preestabelecida por parte dos portugueses,
formação geográfica defendida por Cortesão, Sérgio engana-se Sérgio Buarque de Holanda ao acreditar
Buarque de Holanda aponta para a difusão dessa mesma que a persistência dessa representação não pode ser
imagem cartográfica entre alemães, italianos e holande- também creditada a razões geopolíticas. Assim é que,
ses, os quais fizeram representações semelhantes sem já tendo sido abandonada como representação carto-
interesses coincidentes em relação ao Brasil.15 gráfica pelos próprios portugueses por volta de 1640,
Maria de Fátima Costa salientou que a tradição essa imagem ainda constituiu a base do argumento do
oriunda dos viajantes espanhóis que penetraram pela domínio luso sobre a região apresentado por seus di-
bacia sul conformou essa criação do Xarais, uma cons- plomatas durante as negociações com os espanhóis, que
trução imaginária, paradisíaca, da região, que se espe- resultaram no Tratado Provisional de 1681. No domínio
lha na presença desse grande lago interior, em cujas da diplomacia, os portugueses continuavam a se valer
Detalhe da America
redondezas haveria ouro, por isso também chamado e a defender a configuração da geografia da região com meridionalis, de
Lago Dourado.16 Para ela, essa imagem foi perpetuada os dois rios conectados pelo lago dourado, cujo traçado Gerard Mercator,
pelos relatos de vários cronistas de tradição espanhola coincidiria com o do meridiano de Tordesilhas a separar 1606.

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O paraíso e seus mitos
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL O Xarais, a serra das Esmeraldas, as amazonas e o Parima

Essa noção das fronteiras naturais,23 empregada


pela primeira vez no caso dos territórios americanos pe-
los portugueses no contexto do Tratado Provisional, em
1681, disseminada pela diplomacia europeia, refletia-
-se na cartografia. “De Ortelius a Sanson e até o fim do
século XVIII, a tendência dos geógrafos é sublinhar o
papel separador dos rios, que eles alargam exagerada-
mente.”24 Na França, por exemplo, foi fartamente em-
Nesta página pregada durante a Idade Média, fazendo com que, no
e na seguinte, as
alvorecer da modernidade, o território que se formava já
iluminuras da
Crônica do Mundo, se apresentasse como coeso, demarcado por fronteiras
de Nuremberg, naturais, como era o caso dos Pireneus que separavam
1493, mostram seres o território francês do espanhol a oeste.25 Como geógra-
monstruosos, tais
fo, D’Anville não podia se eximir de traçar as fronteiras
como os orelhudos,
da região dos Xarais. existentes no continente sul-americano, antes mesmo
que esses limites estivessem consolidados. Para tanto,
naturalmente as terras das duas Coroas. Neste sentido, em alguns pontos, consoante a tradição, empregará o
afirmaram os negociadores que conceito das fronteiras naturais. Porém, na primeira
não faltou a natureza em prover nestas dúvidas (...) inal-
versão da carta, como veremos, diferentemente de ou-
teráveis divisões do poder divino, cortando e dividindo
tros acidentes geográficos, o Xarais não foi inserido com
as terras da contenda com o notável Lago Dourado ou
esse propósito.26
Xarais que, como coração da América, situado quase no No início do século XVIII, entre os portugueses, a
centro dela a cinge com dois braços, ou rega com dois ideia do lago Xarais já havia desaparecido quase com-
rios, um que corre para o norte com o título das Ama- pletamente, pois, capazes de apreender a “sazonalidade
zonas e deságua em mais de 80 léguas de boca; outro imposta pelo ritmo das águas”, passaram a descrever a
com o nome da Prata, que corta para o sul se difunde em região como um grande pantanal.27 No entanto, dispon-
40 de largo e é mais que maravilhoso acaso um mistério do de fontes insuficientes para que a retirasse de seu
da providência da repartição lançada de norte a sul sem mapa, D’Anville persiste nessa representação. Vejamos
respeito a estes rios, nem a notícia deles (pelo não haver por quê. Em sua expansão para o oeste, os bandeiran-
quando se acordou neste meio da divisão da orbe) cor- tes paulistas foram os grandes responsáveis pela con-
tasse tão ajustadamente por estes dois termos, como se os solidação da imagem pantaneira em oposição ao mito
fosse buscar mui de propósito para estas demarcações.21 da ilha Brasil e da lagoa dourada. Nos seus primeiros
relatos, descreveram as entradas realizadas através da
Percebe-se que nesse discurso é o próprio poder bacia do rio Tietê, a partir de onde alcançaram o rio
divino, com sua providência não alcançada pela razão Paraguai e seus afluentes.28 Por essa rede de rios, que
humana, que criou o que a princípio parece mero acaso. tão sabiamente souberam utilizar, ultrapassaram a linha
Os negociadores chegam a inverter o decurso dos fatos demarcatória imaginária estabelecida pelo Tratado de
e a descoberta dos dois rios simplesmente confirmaria Tordesilhas e, pelo Caminho das Monções, colonizaram
a profecia já manifesta no Tratado de Tordesilhas, que a região de Goiás e Mato Grosso, onde novos achados
Na página 252, havia situado o meridiano exatamente sobre o curso dos metalíferos foram realizados.29
acampamento
rios da Prata e do Amazonas, argumentando que “este Várias fontes portuguesas de época então repro-
no rio Paraguai
durante as viagens parto da natureza tão maravilhoso [...] deixou estes duziram e consolidaram a imagem do Pantanal e a ca-
do conde de dois rios (Prata e Amazonas) colocados quase debaixo racterística sazonal das águas da região.30 Os ecos dessa
Castelnau, Francis
do mesmo meridiano e afastados ao poente das ilhas de descoberta encontram-se nos relatos oficiais luso-bra-
de la Porte, à
América do Sul Cabo Verde quase as mesmas 370 léguas nomeadas no sileiros31 e também nas correspondências dos moradores
em 1843 . contrato de Tordesilhas”.22 locais que, com menos precisão, informavam sobre as
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O paraíso e seus mitos
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL O Xarais, a serra das Esmeraldas, as amazonas e o Parima

expedições empreendidas pelos paulistas. Em 1725, por


exemplo, o comerciante português Francisco da Cruz es-
crevia a Portugal contando que essas viagens eram feitas
“com grande risco de vida, [já que] o caminho para elas
são ainda por matos e dizem gastar-se mais de seis meses,
segundo dizem os paulistas, e a maior parte do caminho
é andar por rios e se não come por eles senão caça brava,
como são papagaios, macacos, tucanos e várias castas de
animais e, sobre o maior perigo, as muitas onças”.32
De fato, o mapa enviado do Brasil por Gomes
Freire de Andrade, em 1746, intitulado Descripçam do
Continente da América Meridional,33 que consolidava
o conhecimento geográfico recolhido por sertanistas,
práticos e engenheiros militares portugueses, apre-
senta a região do Xarais como um território alagado, de
onde emergem várias ilhotas. Em Portugal, Alexandre
de Gusmão, a partir de mapas produzidos sobre a re-
gião, compartilha da visão da geografia lacustre do lo-
cal como um pantanal, atribuindo tal conhecimento aos
práticos paulistas. Escreve ele ao visconde de Vila Nova
de Cerveira em 1749:
Pelo país que medeia entre o Guaporé e os pantanais
do Paraguai, que os espanhóis chamam Laguna de lo
Xarayes. (...) Deste espaço de país tem muito melhor
conhecimento os nossos sertanejos do Cuiabá e do
Mato Grosso, que referem serem quase tudo até os
Chiquitos terras que se inundam, em que não pode
subsistir gente, senão de passagem no tempo seco,
e os rios que ali mostra ao ocidente o dito mapa das
missões, provavelmente não são mais que uns desa-
guadores dos alagadiços.34

Em 1748, depois de receber a Carte de l’Amérique


méridionale de D’Anville, enviada por dom Luís da
Cunha, o visconde da Silva Teles, negociador junto aos
espanhóis, também se mostrava conhecedor da con-
Para D’Anville,
formação pantaneira do centro-oeste do Brasil, pois existiam três
estava bem munido de mapas portugueses. Diz ele, grandes lagos
referindo-se diretamente ao equívoco de D’Anville no continente
sul-americano:
de representar o Xarais na Carte de l’Amérique méri- o Xarais e o
dionale que, na verdade, “naquele espaço se acham os Titicaca (acima)
pantanais, que em todos os mapas antigos, e ainda em e a lagoa Merim
(abaixo), que
alguns modernos vêm representados como um lago que
ele representa
chamam Xarais ou dos orejones, e realmente são uns utilizando o
campos abaixo, que alagando-se com as cheias daquele mapa de José
rio [Paraguai] formam um pequeno mar”.35 No entanto, da Silva Pais.

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O paraíso e seus mitos
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL O Xarais, a serra das Esmeraldas, as amazonas e o Parima

ainda que Alexandre de Gusmão, no reino, e Silva Teles, edição do mapa, de 1748, quanto nas seguintes, de 1754 deles uma novidade geográfica por ele revelada — e ao penetrado, refletindo a ideia do uti possidetis, que, por
em Madri, soubessem que a região se configurava como e de 1760. E, conforme a mitologia associada ao lago, no mitológico lago dourado.37 Mas, ao contrário da carto- essa época, já advogava como uma das estratégias nor-
uma formação pantaneira e não como um lago, e que o centro da ilha, o nome dos seus habitantes são inscritos grafia precedente, que utilizava o Xarais para configurar teadoras das negociações.
mapa enviado do Brasil por Gomes Freire com a repre- como orelhones ou orejones. Dom Luís da Cunha, de o mito da ilha Brasil, ele não o utiliza como uma frontei- Assim, na primeira edição da Carte de l’Amérique
sentação do pantanal tenha sido utilizado para compor o início partidário da existência do lago Xarais, defendia ra natural entre as possessões lusas e espanholas, nem méridionale, a linha demarcatória proposta corria para-
chamado Mapa das Cortes mostrado aos espanhóis du- sua utilização para configurar os limites no Centro- o faz coincidir com o meridiano de Tordesilhas. Nesse lela ao lago — não mais uma fronteira natural entre os
rante as negociações, mesmo esse último apresenta um -Oeste. Nas Instruções políticas, que escreveu a Marco trecho, o limite fronteiriço está posicionado no mapa territórios espanhóis e portugueses. Apenas em um tre-
Fruto de uma lago interior na porção superior do rio Paraguai, ainda Antônio de Azevedo, dom Luís advogava que “os limites a aproximadamente 10º de longitude a oeste de onde, cho muito curto, um pouco a leste do lago, uma peque-
expedição
que não denominado Xarais. terrestres poderiam ser o rio Paraguai, que nele desá- grosso modo, passaria o meridiano de Tordesilhas, que na cadeia de montanhas cumpre esse papel. Ainda que a
portuguesa em 1791,
este mapa informa Sem mapas ou roteiros recentes sobre a região, já gua, subindo por ele até o Xarayes, ainda que o seu nas- se situava, aproximadamente, a 34º de longitude. O car- linha fronteiriça pareça ter sido colocada nesse local de
sobre a bacia do rio que os fornecidos por dom Luís da Cunha não repre- cimento parece vir de mais longe”.36 tógrafo assume, sem sombra de dúvida, que essa divi- forma quase aleatória pelo geógrafo, o mapa apresenta
Paraguai, possível sentavam a área, e basicamente confiando na tradição Em seus escritos, D’Anville advoga a existência são incorporaria ao Brasil territórios espanhóis extra- uma conformação dos dois territórios de acordo com os
fronteira natural
espanhola, da qual possuía muitos mapas, e na carto- de três grandes lagos no continente sul-americano: o -Tordesilhas, conforme a visão geopolítica de dom Luís princípios advogados pelos portugueses a partir da pri-
entre territórios de
Portugal e Espanha grafia dos jesuítas missionários do Paraguai, D’Anville Xarais, o Titicaca e a lagoa Merim, conferindo o mes- da Cunha de que os novos limites do Brasil deveriam meira metade do século XVIII: aos espanhóis ficava as-
na América do Sul. continuou a representar o Xarais, tanto na primeira mo estatuto de verdade aos dois lagos reais — o último se estender a oeste até onde os portugueses tivessem segurada a região das missões do Itatim e da antiga vila

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O paraíso e seus mitos
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL O Xarais, a serra das Esmeraldas, as amazonas e o Parima

a introdução dessa distinção entre o rio e o lago tem co-


notação claramente geopolítica, pois permite que o tre-
cho médio do rio Paraguai, situado a leste do lago, se
configure como uma fronteira natural entre as posses-
sões das duas Coroas, revelada pelo geógrafo e sua car-
ta. Desse modo, a região de Cuiabá e as minas do Mato
Grosso permaneceriam sob o domínio português, com o
Ao lado, mapa
lago claramente em território espanhol e o rio Paraguai
manuscrito da
região das monções como limite das terras dos dois. Dessa maneira, se na edi-
de São Paulo a ção de 1748 da Carte de l’Amérique méridionale a inser-
Cuiabá, c.1720; ção do mitológico Xarais não pode ser explicada como ar-
abaixo, a chapada
timanha política, mas sim como reflexo das fontes de que
das minas do Por razões
Mato Grosso. o cartógrafo dispunha, na de 1765, a situação é inversa. diplomáticas
A região, Claramente a nova configuraçào desse elemento geográ- e geopolíticas,
colonizada por fico fantástico adquire função diplomática e geopolítica. na versão de
bandeirantes 1765 da Carte
paulistas, de l’Amérique,
compreendia Goiás D'Anville mantém
e ultrapassava a
A serra das Esmeraldas o lago Xarais,
linha demarcatória mas como uma
do Tratado O Gênesis descreve o paraíso terrestre como um entidade a oeste
de Tordesilhas. lugar de riquezas e delícias, sendo as pedras preciosas do rio Paraguai.
e o ouro indícios seguros de sua aproximação.41 “Ora,
espanhola de Xerez - fundada em 1593 por Ruy Díaz de o senhor Deus, tinha plantado ao princípio um paraí- tesouros eram os maiores do mundo, ou o de Murfili, em
Guzmán -, posteriormente atacadas pelos paulistas,38 e so, ou jardim delicioso, no qual pôs ao homem que ti- cujas montanhas não era raro encontrar diamantes.43
aos portugueses ficava garantida a posse das regiões do nha formado. [...] Deste lugar de delícias saía um rio, Para Sir John Mandeville, África e Ásia eram ambas ter-
Mato Grosso e de Cuiabá, ricas em minas de ouro, e por [...] onde nasce o ouro. E o ouro desta terra‚ excelente: ras de fantasia. Nelas havia regiões repletas de tesouros
eles colonizadas. De fato, D’Anville e dom Luís da Cunha ali se acha também o berilo e outras pedras preciosas” guardados por dragões e sobre os quais pairavam aves
estavam bem informados sobre a ocupação lusa na re- (Gênesis 2:8-12). Procurar tais riquezas significava ao sem patas que passavam a vida toda no ar; e de mulheres
gião que se reflete no posicionamento da linha de limites. mesmo tempo buscar o paraíso e, ao encontrá-las, estar cujos olhos, feitos de pedras preciosas, podiam fulmi-
De tal ocupação se queixavam os espanhóis, segundo os perto dele. Assim, a partir do século XIV, a busca do nar um intruso com um simples olhar. Mas tais regiões
quais “[as] vizinhanças da laguna dos Xarais, até onde se ouro e a adoração das pedras preciosas se confunde com eram também redutos do Paraíso ou do reino de Preste
tem introduzido os portugueses por aquela parte, fazen- a perseguição do paraíso terrestre. João e continham várias evidências paradisíacas, como
do-se donos do terreno, distam do mesmo meridiano de Contadores de histórias faziam do paraíso uma re- rios em cujas águas corriam pedras preciosas em grande
[Tordesilhas] até o poente quase 11 graus, distância bas- gião concreta. O Oriente povoava o imaginário europeu quantidade. Riqueza e brilho eram signos de um pas-
tante sensível para que não fosse dissimulável”.39 com suas riquezas e maravilhas, confundindo-se com o sado perdido, que podia ser reencontrado. Ao expri-
Na edição de 1765, no entanto, D’Anville corrige a próprio paraíso terrestre, pois desde os tempos clássicos mirem qualidades sobre-humanas, as pedras preciosas
disposição do lago Xarais e apresenta o curso superior do era depositário de histórias surpreendentes: “Jasão fora faziam parte desse horizonte divino, pois geravam a ma-
rio Paraguai. Na versão original, o lago se configura como à Cólquida, para se apoderar do Velocino de Ouro; os ravilha e a veneração.44 Por tais razões, possuíam uma
a nascente desse rio, que correria a partir dele em sentido Jardins das Hespérides tinham, nas suas árvores, frutos simbologia muito especial e ocupavam posição de desta-
sul. Com a modificação, o Xarais passa a ser representado de ouro, que Hércules tinha colhido num de seus fei- que entre as riquezas materiais oferecidas pela natureza.
numa bifurcação que se espraia a oeste do rio, em sua tos heroicos.”42 Marco Polo foi, sem dúvida, quem mais O movimento de interiorização encetado pela Coroa
porção medial, tornando rio e lago entidades distintas. contribuiu para povoar o imaginário medieval sobre a portuguesa na América, que a custo penetrava o sertão a
Essa alteração, não explicada em suas memórias sobre região. Seu Livro das Maravilhas circulou pela Europa, partir da costa leste do Brasil, era estimulado por esses
a carta, em 1779, teria resultado de novas informações excitando as imaginações sobre a Ásia, e o rápido fecha- mitos da antiguidade e reforçado por histórias indígenas
fornecidas pelos jesuítas,40 a partir das quais D’Anville mento das rotas terrestres orientais facilitou a veloz di- sobre grandes riquezas, permitindo o aparecimento de
passou a situar a fonte do rio a 5 ou 6 graus de latitude, fusão de suas histórias que enumeravam as riquezas dos muitas outras lendas que consubstanciavam essas duas
já na região amazônica, a oeste do rio Xingu. Contudo, reinos, especialmente o do grão-cã dos mongóis, cujos tradições.45 A localização geográfica do Eldorado em
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O paraíso e seus mitos
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL O Xarais, a serra das Esmeraldas, as amazonas e o Parima

terras americanas, no entanto, era imprecisa e refletia respectivamente Em que se trata das pedras verdes e
o desconhecimento da geografia interior do continente. azuis que se acham no sertão da Bahia e Em que se
Seus sinais eram montanhas reluzentes, rios e lagoas re- declara o nascimento das esmeraldas e safiras.51
pletas de metais e gemas preciosas, com destaque para as É esse Vapabuçu e suas minas lendárias que suces-
esmeraldas. Relacionado na América espanhola ao Peru sivas expedições vão buscar. Antônio Dias Adorno, por
ou às minas de Potosi, o Eldorado encontrou concretu- exemplo, que deixou Porto Seguro a seguir, em 1574,
de no Brasil no lago Parima, localizado próximo ao rio recebeu a recomendação de encontrar algumas minas.
Amazonas, mas também foi associado à região das Minas Esse sertanista penetrou grande parte do interior “e
Gerais.46 Segundo Sérgio Buarque de Holanda, o nome com efeito chegou ao pé da serra da banda do leste, e
Eupana conheceu muitas derivações e localizações, achou nela as esmeraldas”.52 Como resultado, diversas
como “o célebre Vupabuçu de Fernão Dias, que Pizarro pedras preciosas foram mandadas ao reino e, quando
designa também por Hepabuçu — e ainda Paraupava — examinadas pelos lapidários, foram consideradas muito
em que se reúnem as ideias de ‘mar’ e de ‘lagoa’”.47 boas. Concluiu-se, então, que o sertão era muito mais
Fernandes Tourinho, cuja expedição chegou à re- fértil em gemas do que se pensava e que essas seriam
gião leste das Minas Gerais pelo rio Doce, em 1573, foi conseguidas com facilidade, o que atraiu aventureiros
quem primeiro se referiu à existência de uma grande de toda parte.
lagoa e contribuiu para a construção dessa mitologia A união das duas Coroas ibéricas, entre 1580 e
lacustre associada a essa área.48 Seguindo informações 1640, pelo menos temporariamente, retirou os obs- Acampamento
de bandeirantes,
indígenas, Tourinho supôs ter encontrado jazidas de es- táculos impostos aos portugueses pelo Tratado de em desenho do
meraldas e safiras, numa lagoa ao norte de Porto Seguro. Tordesilhas à penetração do interior da América e es- século XIX.
Em seguida, subindo o rio São Mateus, topou com uma timulou novas entradas a partir da costa brasileira.
serra de pedras verdes, provavelmente nas fraldas do Acreditava-se que “esta terra [o sudeste do Brasil] e serra das pedras verdes que iam buscar, e que não ha- opiniões de capitães, cosmógrafos, índios versados
Espinhaço e, na volta, descendo pelo rio Jequitinhonha o Peru é todo um”, como afirmara, em 1550, Tomé de via muito dali ao Peru”.55 Ambrósio Brandão, no livro no sertão e moradores de São Paulo.59 Para ele, “o ser
encontrou mais pedras verdes, e outras vermelhas, azuis Sousa, primeiro governador-geral.53 Um dos mais ati- Diálogos das Grandezas do Brasil, escrito em 1618, foi do Brasil nos mostra justamente a perfeição das pro-
e cristais da maior pureza.49 O mito de um lago dourado vos nessas diligências foi o 12o. governador-geral, dom das poucas vozes que afirmaram que as pedras depo- priedades dele, e estas são tais que parecerão incríveis
passou então a ser associado ao da serra resplandecen- Francisco de Sousa, que ambicionava ganhar o título de sitadas por Marcos de Azeredo aos pés de Filipe II não aos que as não viram”. Para comprovar a bondade da
te, mencionada pela primeira vez por índios aos por- marquês das Minas, prometido pelo monarca espanhol, eram tão boas quanto pareciam e que as esmeraldas po- nova terra, enumerou as diversas riquezas encontra-
tugueses em 1550. Segundo Gandavo, “a esta Capitania Filipe II, a quem achasse ouro no Brasil. Depois de vá- diam ser “mais tesouro” do que realidade. Contudo, se das, como “minerais de pedras finas, ferro, chumbo,
de Porto Seguro chegarão (sic) certos índios do Sertão rias tentativas de encontrar os depósitos minerais a par- as pedras verdes não eram esmeraldas, garantia ele que calaim, prata e ouro”, vindas “de seus serros, vargens,
a dar novas dumas pedras verdes que havia numa serra tir de Porto Seguro e do Espírito Santo, dom Francisco ouro havia sido encontrado na capitania de São Vicente, arredores e rios, que podem comparar-se à mesma
muitas legoas pela terra dentro, e trazião algumas dellas de Sousa se convenceu de que a lendária lagoa dourada prometendo muita riqueza.56 Índia, Potosi, Maldívia e Peru”.60
por amostra, as quaes erão (sic) esmeraldas”.50 Todos e a serra resplandecente deveriam ser procuradas mais “Em 1659, Salvador de Sá, escrevendo a D. Afonso Os desbravadores do interior produziam relatos
esses achados reforçavam a lenda do Eldorado e con- para o sul. Em 1596, Marcos Azeredo, partindo da cos- VI, anunciara o projeto de chefiar uma expedição à com descrições de rotas percorridas por sucessivas ge-
tribuíam para que a busca de pedrarias e metais fosse ta do Espírito Santo, penetrou pelo rio Doce e retornou Serra das Esmeraldas, a partir da vila de Vitória, no rações de exploradores. Assim, na década de 1670, par-
intensificada, na esperança de que, junto delas, se avi- alguns anos depois com incríveis riquezas encontradas afã de repetir a saga de Marcos Azeredo e tantos ou- tiu de São Paulo a expedição de Fernão Dias, afamado
zinhasse o paraíso, como também que se estabeleces- numas serras altíssimas junto de uma lagoa. Ao voltar tros.”57 Essa intenção apontava para o progressivo des- sertanista paulista, em busca das esmeraldas das famo-
se uma rota para alcançá-las, inicialmente partindo-se à Europa, Azeredo depositou várias esmeraldas aos pés locamento do eixo das expedições cada vez mais para o sas minas de Sabarabuçu, localizadas nas cabeceiras do
de Porto Seguro para adentrar os sertões pelo rio Doce. de Filipe II e,54 a partir de então, o paraíso não parecia sul, conforme advogara dom Francisco de Sousa, o que rio São Francisco.61 Tratava-se de reencontrar as esme-
Segundo Gabriel Soares de Sousa, Fernandes Tourinho, mais estar próximo, mas sim ser a própria Colônia, com acabou por resultar na hegemonia dos paulistas na em- raldas, mais que as descobrir, visto que suas minas já
subindo o rio Doce, encontrou “uma pedreira de esme- sua natureza exuberante e suas riquezas minerais. presa de interiorização, consolidada a partir de fins do seriam conhecidas desde o século anterior.62 A saga da
raldas e outra de safiras, às quais estão ao pé de uma As notícias minerais do Brasil chegavam ao reino e século XVII. Em 1663, o padre Simão de Vasconcelos expedição é bastante conhecida. Estando já de volta da
serra”. Um pouco mais ao leste, “está uma serra, que é encantavam os cronistas, que as exaltavam e anuncia- escreveu suas impressões sobre o Brasil, em sua “crô- lagoa de Sabarabuçu, situada aos pés da serra resplan-
quase toda de cristal muito fino, a qual cria em si muitas vam o Brasil como uma porção paradisíaca. Gandavo nica de um novo mundo”, e concluiu que “ali plantara decente descrita por Marcos Azeredo, onde se abastece-
esmeraldas”. As serras de pedras da Bahia, das quais “se contou que, aos habitantes de Porto Seguro, “alguns ín- Deus nosso Senhor o paraíso terreal”, confirmando os ra de esmeraldas, Fernão Dias foi apanhado pela morte,
enxerga o resplendor [...] de muito longe”, ainda mere- dios (...) deram notícia, segundo a menção que faziam, prognósticos de inúmeras riquezas minerais.58 Reunira às margens do rio das Velhas, o que o impediu de revelar
ceram do autor dois capítulos em separado, intitulados que [as minas de ouro] podiam estar [a] cem léguas da informações de fontes variadas, principalmente as sua descoberta às autoridades.
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O paraíso e seus mitos
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL O Xarais, a serra das Esmeraldas, as amazonas e o Parima

costa, entre o Espírito Santo e Porto Seguro, podendo que consta do relato, se insere na tradição oral a respeito peça, pois, na língua portuguesa, um “s” entre duas vo-
ser mais facilmente alcançada pelo rio Doce, encon- do caminho percorrido desde a expedição de Tourinho gais passa a ter som de “z” e não de “ç”, como deveria
trando representação cartográfica em vários mapas. até a de Fernão Dias. Segundo um dos irmãos Nunes, soar a pronúncia original desse nome.
Os primeiros a retratá-la são da lavra de João Teixeira ele teria sido convidado a seguir um paulista seu amigo Também a geografia da parte norte do serro das
Albernaz I. Um deles é o que compõe o Livro que dá nesse empreendimento, mas não pudera ir por se achar Esmeraldas é configurada por D’Anville a partir da in-
razão ao estado do Brasil, de 1616; outro é o mapa da de partida para o reino. Ainda de acordo com ele, estan- formação dos irmãos. Assim é que, do outro lado da
capitania de Porto Seguro, de 1631.64 Em ambos, a ser- do nas Minas, no lugar chamado Conquista de Antônio montanha, “nasce outro rio chamado o rio Preto, no qual
ra das Esmeraldas é posicionada “ao norte do rio Doce Dias, o viajante deveria subir o rio Doce. Ao norte, en- julga dito Nunes haverá muito ouro por algumas circuns-
e a oeste das cabeceiras do rio Cricaré (São Mateus).65 contraria o Assusi, e em sua montante, também em sua tâncias que nele remarcou. Em seguindo este rio vai dar
No entanto, os mapas de Albernaz que D’Anville pos- margem norte, estaria o rio das Esmeraldas, reconheci- em outro chamado Jequitinhonha, (...) mais adiante fica
suía não são os que retratam essa região. Já na carta da do por ter em sua barra uma cachoeira e uma corredei- [I]Tacambira, onde há Minas de ouro”.77 Para garantir a
America Meridionale, de Coronelli,66 presente em sua ra.75 Subindo este rio, em sua nascente “está uma lagoa, fidedignidade desse relato, seu autor assegura que “até
coleção, aparece a Serra do Sabarabuçu, próxima a um junto do serro das Esmeraldas, donde já foi povoação aqui chegou dito Nunes, uns dos três irmãos”.78
lago formado pelas águas de um rio chamado Paraná, e arraial do descobridor delas Marcos de Azeredo e na Para configurar esse trecho, D’Anville também
que pode ser identificado com o rio Grande ou das mesma paragem as achou Fernão Dias Paes”.76 O irmão utiliza a Carte manuscrite des côtes du Brésil, prova-
Mortes.67 Outra carta que fazia parte de sua coleção era ainda avisa que, para quem vem do Espírito Santo, su- velmente de Antônio Álvares da Cunha, seu sobrinho.79
a Tabula Americae specialis geographica regni Peru, bindo o rio, a primeira cachoeira seria o referencial para Reflexo claro dessa utilização, para além de situar a ser-
Brasiliae, Terrae Firmae et Reg Amazonum, baseada encontrar a vazante do Assusi. D’Anville não deixa de ra ou sítio das Esmeraldas na altura da foz do rio Doce,
nas relações de Herrera, Laet, Acuña e M. Rodriguez, registrar essa cachoeira, como todo o restante da con- acima dos baixos de Abrolhos, é a presença nas duas
e atualizada segundo as observações de Delisle, a partir figuração fornecida por um dos irmãos Nunes. Todos cartas de um morro, posicionado logo ao norte, intitu- Para configurar
a parte norte do
de um mapa de Johann Baptist Homann (1664-1724), os elementos geográficos — rio, lago e montanha — lado Cara da Velha.
serro das Esmeraldas
cartógrafo alemão.68 Nela estão retratadas junto a um associados ao mito das esmeraldas estão ali presentes. Mas se a presença das sonhadas esmeraldas era in- na sua Carte de
tributário do rio Doce, chamado d’Acecy, as minas en- A grafia do rio, porém, flutua ao sabor do tempo; de dício certo do paraíso, havia aqueles que, como Antônio l’Amérique (à direita),
Aceci no relato de Tourinho, passa a Acecy, no mapa de Blem, outro de cujos textos se serviu D’Anville, que via D'Anville valeu-se
contradas por Sebastião Fernandes Tourinho.
da Carte huilée…
De fato, Fernandes Tourinho é o primeiro a se refe- Johann Baptist Homann, a Assesi, no relato dos Nunes na maior parte desses achados pura quimera. Sobre “as
(à esquerda), feita
rir a esse rio Aceci, como “afluente do rio Doce, por onde e, finalmente, Asusi, na carta de D’Anville. Nesse caso, chamadas Esmeraldas”, diz ele que “se descobriram a pelo sobrinho de
[ele] e seus homens entraram após navegarem sessenta o seu cuidado com a grafia dos nomes pregou-lhe uma quinze dias de jornada do Serro do Frio, porém não são dom Luís da Cunha.

ou setenta léguas a partir do mar”. Depois de percorre-


rem “quatro léguas no rio Aceci, os exploradores deixa-
ram as canoas e continuaram sua jornada por terra”,69
quando então se “avistou uma pedreira de esmeraldas
e outra de safiras”.70 Identificado por Capistrano de
Abreu como o rio Suaçuí,71 o Aceci “que nasce na região
do Serro Frio, (...) poderia ter constituído um caminho
natural para Tourinho chegar à serra do Espinhaço”.72
Mas, conforme afirma D’Anville, foi sobretudo com
o auxílio do roteiro dos irmãos Nunes, intitulado Da pa-
Canal de Entretanto, mais importante do que a descoberta ragem adonde se acham muitas esmeraldas,73 que “eu
Passagem, uma
das pedras era a fundação de uma tradição geográfica fixei o Serro das Esmeraldas”.74 Observa-se na Carte de
vista da encosta
do Itacolomi, em que situava os locais onde se encontravam essas rique- l’Amérique méridionale que o posicionamento desse
Minas Gerais, por zas. Por essa razão, mais uma vez, repetindo a saga dos serro num tributário do rio Doce, cuja foz se situa na
Ernest de Courcy, antigos exploradores, “desse manifesto faria parte a ne- capitania de Porto Seguro. Seguindo a tradição iniciada
c.1885.
cessidade de elaborar um roteiro que ensinasse a forma pela expedição de Fernandes Tourinho, D’Anville traça
e o lugar do descoberto”.63 No início do século XVIII, o rio Doce, e a partir dele, um tributário que grafa como
estava consolidada a ideia da existência dessa serra das Asusi, de onde parte um afluente, o rio das Esmeraldas,
Esmeraldas, que corria mais para o interior, paralela à que termina num pequeno lago. Esse traçado, o mesmo
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O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL

os demais emprega a palavra rio e não rivière. Desse


modo, o nome selecionado revela duas inconsistências
em relação ao seu próprio método para a escolha dos
topônimos: a grafia em francês e não na língua local, e a
sua escassa utilização na porção portuguesa do territó-
rio. Por essa última razão, ele insere um texto próximo à
confluência com o rio Negro, que diz: “O rio Amazonas,
abaixo do rio Negro, é chamado pelos portugueses rio
Solimões, ou rio dos Peixes.”
De fato, a nomenclatura do rio até essa época ainda
apresentava grande variação: Orellana, Maranhão, Grão-
-Pará, Peixes, para os colonizadores; ou Paranguazú,
Guyerme e Solimões, nas línguas dos nativos que ha-
bitavam suas margens. O médico José Rodrigues Abreu
revela essas ambivalências.82 Em sua descrição do Brasil,
de 1739, denomina o rio de Grão-Pará, mas que, ao se
Da paragem aonde
se acham muitas “meter no mar, [já é] o mais opulento rio do mundo com
esmeraldas: nome das Amazonas”.83 Ele sabia o que estava dizendo,
o roteiro dos pois foi médico de cabeceira de Antônio de Albuquerque,
irmãos Nunes
também auxiliou
que governou o Maranhão entre 1691 e 1701 e cuja esta-
a consolidação da da foi marcada por problemas de saúde.84 Por essa razão
Carte de D'Anville. seu testemunho é ocular: “Dizem que neste rio se pesca
uma tal quantidade de peixe, que faz tremer com força o
verdadeiras esmeraldas, mas umas pedras verdes trans- braço da cana, assim que brandamente se toca na isca,
parentes, compridas, e depois de lavradas não têm mais fizemos toda a boa diligência para saber se, comido o tal
luz que a do vidro comum com a cor desmaiada”.80 Para peixe fazia algum efeito notável.” Nesse trecho o autor
homens como ele, a colônia se revelava mais como in- não só emprega a primeira pessoa do plural, incluindo a
ferno atlântico81 do que como redenção emboaba. si mesmo na ação, como demonstra a preponderância do
que viu sobre o que ouviu dizer e, após provar a carne do
pescado para ver se produzia alguma alteração no corpo
As amazonas
humano, o que só poderia ser feito in loco, concluiu que
Como aponta a cartela da Carte de l’Amérique mé- “não o pudemos alcançar com certeza individual”.85
ridionale, La Condamine desempenhou importante pa- Bem antes de José Rodrigues Abreu, ainda no sécu-
pel na configuração espacial que D’Anville imprimiu à lo XVI, “o primeiro europeu que o avistou do Atlântico,
região da bacia amazônica, mesmo em trechos, como o quando deságua no mar, deu-lhe o nome de ‘Santa
rio Negro, que ele jamais visitou. As impressões do via- Maria do Mar Doce’, pensando que se tratava de um mar
jante francês também foram fundamentais na escolha do que não fosse salobro”.86 Essa denominação se relaciona
nome do rio, pois na primeira metade do século XVIII ao contexto da expansão marítima, onde, usualmente, os
vários topônimos distintos ainda eram empregados para designativos escolhidos pelos portugueses faziam refe-
designar esse vasto mar de água doce. D’Anville presta- rências à religião católica, com suas festividades e santos:
va bastante atenção à nomenclatura empregada em seus Monte Pascoal, Bahia de São Salvador ou Santa Maria de
mapas, buscando respeitar a língua e os usos locais. O Belém do Grão Pará, que remete a esse primeiro nome
nome Riv. des Amazones é impresso no mapa, em fonte que o rio recebeu de seu descobridor.
destacada em relação aos demais rios que compõem seu D’Anville não se furta a essa discussão, sabendo que
Amazonas, gravura sistema, no seu terço médio-superior, logo depois que precisa justificar a escolha do topônimo Amazonas que
francesa de 1826. suas águas entram em território português. Para todos empregou para nomear o rio. Assim, em uma de suas
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O paraíso e seus mitos
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL O Xarais, a serra das Esmeraldas, as amazonas e o Parima

O rio Amazonas, memórias sobre a Carte de l’Amérique méridionale, es-


abaixo do rio Negro, creve que, sobre o “Maranhão, é necessário dizer qual-
é chamado pelos
portugueses rio
quer coisa sobre a origem de seu nome”.87 Segundo ele, a
Solimões, ou rio etimologia desse nome foi atribuída pelos jesuítas Pedro
dos Peixes. Simão e Manuel Rodrigues à expedição do conquistador
D'Anville deixa
espanhol Lopes de Aguirre, que acompanhou Pedro de
registrada a
controvérsia dos Urzúa, comandante de uma expedição que partiu do Peru
topônimos, optando em 1559 em busca do Eldorado. À medida que descia o
pelo mais antigo. rio, Aguirre transformava sua expedição numa verdadei-
ra carnificina, matando Urzúa e outros, como Fernando
de Guzmán, que sucedeu Urzúa no comando. Assim, os
que sobraram com Aguirre após esses violentos conflitos
se autodenominaram maranhões, ou “marañones, que
foi inventado por eles, para se chamarem uns aos outros,
Colheita de vegetais ou para qualificar sua tropa em geral, e Moragnon [ou
pelos índios das
Maranhão] (...) se tornou próprio do rio, no qual esses
bacias do Orinoco
e do Amazonas, no sangrentos episódios foram encenados”.88
Maranhão, 1780. No entanto, D’Anville não escolhe esse topôni-
mo para designar o rio no seu mapa. A razão, segundo
ele, seriam “as mulheres que fizeram dar ao Maranhão
o nome de rio das Amazonas”.89 O mito das amazonas
remonta à antiguidade e tem uma de suas versões mais
difundidas em Estrabão. D’Anville sabe muito bem
disso e menciona seu livro XI, onde o sábio descre-
ve essas mulheres, “que habitam nas proximidades de Ilustração no
frontispício do
Termodonte”, nos limites do mundo conhecido pelos Traité historique
gregos.90 Ao descreverem as amazonas, os autores da an- sur les Amazones,
tiguidade apresentam algumas variações: uns dizem que de Pierre Petit, 1718.
elas cortavam um dos seios para posicionarem o arco,
outros não; uns, que matavam seus descendentes mas- amazonas, e que apartadas dele e metidas terra adentro
culinos, outros que os entregavam para serem criados estavam as dependências do chefe Ica, muito abundan-
pelos pais e ficavam apenas com as meninas. D’Anville tes em metal amarelo”.94 Foram, no entanto, advertidos
percebe que as amazonas americanas assimilaram, entre que se fossem “ver as amazonas, que chamam na sua
tantas variações, os traços distintivos do padrão clássico língua coniupuiara, que quer dizer grandes senhoras,
das que habitavam junto ao rio Termodonte.91 que víssemos o que fazíamos, porque éramos poucos
A transposição desse mito para a América remonta, e elas muitas, e que nos matariam”.95 O frei Gaspar de
inicialmente, a Colombo, que situa a existência dessas Carvajal, cronista dessa viagem, relatou o encontro vio-
mulheres guerreiras em algumas ilhas do Caribe,92 mas lento e belicoso que finalmente tiveram com elas, quan-
acaba sendo aderido de forma permanente ao espa- do chegaram nas terras que chamaram de São João, nas
ço entre o norte da América portuguesa e as Guianas. proximidades do rio Madeira, pois ali pararam para ce-
Isso se deveu inicialmente à expedição de Francisco lebrar as festas em homenagem a esse santo, no dia 24 de
Orellana, que, entre 1541 e 1542, desceu o rio em busca junho.96 Também deixou um raro registro sobre o modo
do país da Canela.93 Pouco depois de começar a viagem, como aparentavam: “Estas mulheres são muito alvas e
os expedicionários foram informados, na região dos altas, com cabelo muito comprido, entrançado e enro-
omáguas, pelo cacique Aparia, que estivera naquelas lado na cabeça. São muito membrudas e andam nuas
terras, “que, águas abaixo, no grande rio, se achavam em pelo, tapadas as suas vergonhas, com os seus arcos
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e flechas nas mãos”.97 Walter Raleigh, que escreveu em Pedro Teixeira teve um sentido inverso às anteriores, a despeito de saberem não ser este o topônimo mais
1591, também atesta seu espírito guerreiro: “Amazonas, partindo de Belém e subindo o rio até Quito, no Peru. empregado pelos portugueses. La Condamine buscava
iremos presentemente escutar o nome destas virgens, No contexto da União Ibérica, pretendia estabelecer a ser reconhecido como o novo Acuña, cujo relato consi-
que não apenas são capazes de defender seus territórios soberania portuguesa sobre a navegação do rio, daí a derava de natureza histórica,105 pois, segundo ele, “nada
e seus vizinhos, mas também de invadir e conquistar tão intencionalidade do abandono do topônimo Orelhana se sabe na Europa de hoje em dia quanto ao que concer-
grandes impérios e tão remotamente distantes”.98 Mas, ou o de Maranhão, que Aguirre lhe conferira, ambos ne aos países atravessados pelo Amazonas, além do que
apesar de ter sido o primeiro a encontrá-las, Orellana impregnados de referências à hegemonia espanhola so- se havia aprendido há mais de um século pela ‘Relação’
não associou o rio a elas, e sim a si próprio. O relato bre a região. Dois relatos foram produzidos sobre essa do padre d’Acuña”.106 D’Anville efetivamente concede
que Carvajal escreveu, denominado Descobrimento do viagem. O primeiro, escrito pelo jesuíta Alonso Rojas, esse crédito a ele e afirma que La Condamine “fez revi-
rio de Orellana, tornou público o batismo do rio com o em 1637, descreve a viagem de ida, subindo o rio, e se ver os escritos de Acuña”.107
nome de seu desbravador e contribuiu para a polivalên- intitula Relação do descobrimento do rio da Amazonas, Ambos demonstram conhecer a diversidade de
cia das designações existentes. hoje S. Francisco de Quito.100 O segundo, de autoria de nomes pelos quais o rio era chamado. Por que então a
Foi a expedição de Pedro Teixeira, de 1639, que ins- outro jesuíta, Cristóbal de Acuña, de 1641, que relata escolha de uma nomenclatura sobre as demais e a que
tituiu pela primeira vez o topônimo de Amazonas para o a viagem de volta, chama-se Novo Descobrimento do não era a mais empregada? La Condamine reflete so-
rio, embora tenha tentado registrar o de São Francisco de grande rio das Amazonas.101 Logo no início desse úl- bre a toponímia do rio e afirma que os antigos auto-
Quito, que, segundo ele, seria mais utilizado. De acordo timo relato, o cronista deixa claro sua opção por esse res espanhóis chamavam o rio de Marañon, mas que
com frei Laureano de la Cruz, que, em 1650, foi missio- nome, refutando os demais, e começa pela descrição do mais modernamente, depois de Orellana ter visto as
nar junto aos omáguas, nas proximidades dos rios Juruá “descobrimento do grande rio das Amazonas, o qual, Amazonas, este último nome tornou-se o único a que se
e Tefé, esse último nome “deram os portugueses ao rio, por erro comum dentre os poucos encontráveis na geo- referem, pois “foi conservado até hoje, há mais de dois
por acreditarem que o haviam descoberto e navegado grafia, foi chamado de Marañon”, contribuindo para o séculos, pelos espanhóis, para [chamar] todo o seu cur-
os religiosos filhos de São Francisco”.99 A expedição de início da difusão desse topônimo. Quando descreve as so”. Quanto aos portugueses havia grande diversidade
amazonas, afirma que “os cosmógrafos que o têm es- de designativos. Junto à foz eles o conheciam “senão
tudado até hoje não o conhecem por nenhum outro, pelo nome de rio das Amazonas, e mais acima pelo de
senão este” e comenta que seria de admirar terem as Solimões [rio dos venenos] e transferiram o apelido de
amazonas usurpado o nome do rio sem que nisto hou- Marañon, ou de Maranhão em seu idioma, a uma cida- La Condamine afirma que por toda a parte, “com 'No alto desse rio
vesse maiores fundamentos, isto é, sem que elas exis- de e a uma província inteira”. Após essas considerações, grande cuidado”, inquiriu os “índios das diversas na- de Cunuris, o padre
Acuña acredita que
tissem de fato.102 conclui: “Usarei [na minha crônica] indistintamente o ções (...) se tinham algum conhecimento das mulheres há uma província
Nem Pedro Teixeira nem seus dois cronistas che- nome de Maranhão, ou de rio das Amazonas.” 108 belicosas que Orellana pretendia ter encontrado e com- particular habitada
garam a avistar as amazonas. Rojas conta que “disseram A autoridade conferida por D’Anville a La Conda- batido”. Sua fonte de informação principal era, mais pelas Amazonas,
a qual está situada
esses índios, ao soldado que os entendia, que nas ban- mine é, sem sombra de dúvida, determinante para que uma vez, Acuña, e para confirmar as informações que
nas montanhas',
das do norte, onde iam uma vez por ano, havia umas esse geógrafo opte pelo topônimo Amazonas para ba- esse havia dado sobre as valorosas guerreiras, inquiria anotação feita por
mulheres e ficavam com elas dois meses e se dessa união tizar o rio. A essas famosas guerreiras, o viajante fran- a todos “se era certo que elas se conservavam fora do D'Anville em sua
tinham parido filhos, os traziam consigo e as filhas fica- cês dedica um capítulo inteiro no livro que narra suas comércio dos homens, não os recebendo entre si se- Carte particulière
du cours de
vam com as mães”.103 Acuña garante a seus leitores que aventuras rio abaixo.109 Nele atesta e naturaliza a exis- não uma vez por ano”. Por toda a parte, a informação
la rivière des
“só me prevaleço do que com meus ouvidos ouvi e com tência delas, o que não deixa de causar certo mal-estar da existência delas era confirmada, mas ninguém as Amazones ou de
cuidado averiguei, desde que pusemos o pé neste rio”. junto às audiências cultas europeias.110A outra fonte de tinha visto, e todos diziam que ouviram a história de Maragnon, 1729.
Sobre as famosas amazonas afirmou que, de todas “as D’Anville é o padre Ignácio Reis, com quem se encon- seus pais, cada um acrescentando um novo detalhe. Dos
longas histórias que, por todo o rio” recolheram, as no- trou na casa de Pedro Nolasco Convay. Apesar de o tí- omáguas, La Condamine diz ter recebido uma das in-
tícias mais concretas foram fornecidas pelos tupinam- tulo da carta impressa por ele representando a vazante formações mais concretas, pois lhe indicaram um índio,
bás.104 Esses eram capazes de se comunicar na língua do rio, apoiada nas informações desse padre, apresentar na aldeia de Coari, como uma das raras testemunhas
geral e, por isso, os portugueses não precisavam de in- a duplicidade de nomes do rio — Carte du cours de la oculares ainda vivas.112
Mapa da expedição térpretes para conversar com eles. rivière des Amazones ou de Maragnon —, uma observa- Quando chegaram a essa aldeia, não encontraram
de Pedro Teixeira, Acuña é a grande autoridade em que D’Anville e ção, na margem norte do rio, aponta para a existência das o tal índio, que já tinha morrido, mas conversaram com
que desceu o
La Condamine se apoiam, tanto para traçar a hidro- amazonas: “No alto desse rio de Cunuris, o padre Acuña seu filho, de cerca de 70 anos, que confirmou o fato de
rio Amazonas, de
Quito à barra do grafia quanto para atestar a existência das amazonas e acredita que há uma província particular habitada pelas seu avô, e não seu pai, ter visto as amazonas e que ele
Pará, em 1637. a escolha da denominação do rio em referência a elas, Amazonas, a qual está situada nas montanhas”.111 chegara a falar com quatro delas. La Condamine intitulou
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O paraíso e seus mitos
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL O Xarais, a serra das Esmeraldas, as amazonas e o Parima

o capítulo referente à questão de “As amazonas ame- La Condamine, localizadas nas franjas da civilização região, que pretendia garantir aos portugueses o domínio
ricanas — As asiáticas e as africanas”, e assinala a coe- ocidental, eram a imagem da libertação feminina. das duas margens do rio e, assim, assegurar o monopólio
rência existente entre as histórias que ouviu desse índio D’Anville, entretanto, não faz uma clara alusão às luso sobre a sua navegação.
Coari, dos tapajós, de um índio Mortigura e de um ve- amazonas no mapa. Entre a margem setentrional do rio
lho soldado da guarnição de Caiena, tais coincidências e o sul da fronteira com as Guianas, em um texto expli-
para ele reforçavam a veracidade desses relatos. Todas cativo, informa que “nesta altura reina uma cadeia de O Eldorado e o lago Amucu
associavam as amazonas às esmeraldas que provinham montanhas”. A opção por tal recurso é coerente com o
de suas terras, localizadas nas montanhas distantes do seu método de deixar em branco, sem informações geo- Na primeira versão manuscrita ou impressa do
interior das Guianas, que nem os franceses, nem os gráficas consistentes, as regiões desconhecidas, como mapa em 1748,118 na folha 1 da Carte de l’Amérique
portugueses haviam ainda penetrado. La Condamine era o caso do país das amazonas, cujo “centro comum méridionale, que abarca a região amazônica, nota-se
conclui então que, malgrado elas provavelmente não de convergência” eram as “montanhas da Guiana, num que o lago Parima não está presente, o que pode ser
existirem mais, isso não era prova de que nunca tives- cantão onde nem os portugueses do Pará, nem os fran- observado também nas duas versões mais simples, de
sem realmente existido.113 Ou seja, o que apresenta é um ceses de Caiena, ainda penetraram”.117 Mais ao norte, 1737 e de c.1742. A primeira informação sobre a exis-
sofisma: se não se pode provar o contrário é porque o passando a linha de fronteira, D’Anville inseriu, numa tência do Eldorado na região, coincidindo com o lago
fato é verdadeiro. alusão à associação entre as amazonas e os quilombolas, Parima, remonta à expedição de Gonzalo Pizarro, em
Sua assertiva foi de que, enquanto as amazonas a existência de “uma comunidade de negros fugidos”, 1541. Depois de conquistar Quito, onde teria encon-
asiáticas e africanas eram pura lenda, as americanas de no alto do rio Suriname, que deságua em Paramaribo. trado um índio que forneceu as primeiras informações
fato tinham tido existência concreta. A razão de tantas Se, no mapa, a alusão às amazonas só pode ser per- sobre um reino situado às margens de um vasto lago
mulheres se reunirem solitárias, sem a presença mas- cebida de forma indireta, na escolha do nome do rio, na interior, cujo imperador se cobria de ouro, Pizarro de-
culina, seria porque, fartas de acompanharem seus ma- memória que escreveu sobre a carta, fica claro que não cidiu realizar, a partir do Peru, uma expedição em bus- assim como o seu chefe, tudo nas imediações de um No detalhe
ca do Eldorado.119 Mas foi a publicação do relato de Sir grande oceano interior.124 Esse reino seria o Inga e seu da ilustração,
ridos à guerra e infelizes com a opressão vivenciada em só a escolha desse topônimo para nomear o rio se explica
as localidades
seus lares, onde eram subjugadas por maridos tiranos, porque D’Anville acreditava na existência delas, como Walter Raleigh, The experience of the large, rich and imperador, do mesmo modo que os seus ancestrais no lendárias de
tiveram a ideia de “fazer para si um estabelecimento também que essa crença era devida a La Condamine. No beautiful empire of Guiana, with a Relation of the Peru, havia construído palácios de ouro “que eram por Manoa, El Dorado
onde pudessem viver na independência, e pelo menos texto, escreveu que, “ainda que com o risco de ir mui- great and Golden city of Manoa (which the Spaniards suas riquezas e raridades mais maravilhosos e excediam e Lago Parima,
do livro Brevis
não serem reduzidas à condição de escravas e bestas to longe, não é possível deixar de falar dessas mulhe- call Eldorado),120 em 1596, que “instalou o império mí- a todos da Europa e (...) do mundo”. A cidade de Manoa,
et admiranda
de carga”. Para o francês, uma sociedade de mulheres res que fazem dar ao Maranhão o nome de Amazonas”. tico no centro das Guianas”.121 Raleigh fez duas entradas sua capital, ele assegurou, “tinha mais abundância de descriptio regni
guerreiras apartadas da sociedade não seria muito di- Contou que La Condamine buscou todas as notícias na região em busca do Eldorado, a primeira em 1595 e a ouro, no seu território, que em todo o Peru e Índias oci- Guianae: auri
segunda em 1617. No entanto, apesar de não duvidar da dentais”.125 Raleigh não tinha visto nem o reino, nem a abundantissimi,
ferente do “que se observa todos os dias em todas as sobre elas, do que concluiu que, numa dupla negativa,
in America, de
colônias europeias da América”, onde era “demasiado “não se pode afirmar que elas não tenham existido”. sua existência, nunca conseguiu alcançá-lo. cidade ou o seu imperador, mas considerava sua fonte
Sir Walter Raleigh,
comum que servos maltratados e descontentes fugissem Assim, ao nomear o grande rio de água doce, as Nessa busca, Raleigh despendeu 22 anos, e perdeu segura. Segundo ele, também os espanhóis haviam lhe século XVI.
aos bandos para os bosques”.114 amazonas sutilmente penetraram no mapa e conferiram seu filho e fiel companheiro de expedição, Lawrence garantido que tudo isso era verdade, bem como outras
Neil Safier observa com perspicácia que “no caso aspecto mitológico à região cuja representação o geó- Keymis.122 Ainda que jamais tenha encontrado o mítico nações indígenas que habitavam as fronteiras do impé-
das amazonas americanas, La Condamine pintou então grafo buscava racionalizar. Por outro lado, a escolha do Eldorado, o explorador procurou dar a seu relato sobre a rio Inga, com as quais teve contato em suas andanças
um quadro que fundia as amargas realidades da ser- topônimo Amazonas expressava a hegemonia portuguesa Guiana o estatuto de veracidade. Garantiu que de “tudo pelo interior da Guiana.
vidão africana e as duras condições da vida doméstica sobre a calha do rio, pois esse nome era correntemente isso eu tive conhecimento, e muito mais, em parte por O relato de Raleigh foi fundamental não só na cons-
ameríndia”. Safier ainda aponta que, para estabelecer utilizado pelos portugueses apenas junto a foz, na região meio de minhas próprias viagens e o resto por confe- trução e difusão do mito do Eldorado, como também no
essa associação entre as amazonas e os quilombos de de Belém, mas pelos espanhóis em todo o território sob o rência [...] tendo comigo um índio que falava muitas lín- estabelecimento das rotas para alcançá-lo.126 O impé-
escravos fugidos, foi determinante a presença de um seu domínio. Dessa forma, escolher uma única denomi- guas e a da Guiana naturalmente”. Foi assim que Raleigh rio Inga estaria localizado numa vasta planície interior,
escravo fugido, de nome Louis, na canoa em que La nação desde Belém até a nascente era a expressão do pro- “veio a conhecer as situações, os rios, os reinos a partir que cobriria cerca de 2 mil milhas de leste a oeste e 800
Condamine viajou de Belém até Caiena.115 O interessan- jeto luso expresso desde a expedição de Pedro Teixeira de do mar do leste até as costas do Peru e, em direção ao sul, milhas no sentido norte-sul, a meio caminho entre as
te é que numa França em que os iluministas não cons- que os portugueses fossem senhores absolutos da nave- do Orinoco até os longínquos Amazonas e Maranhão”.123 Guianas e o rio das Amazonas, cercado por uma densa
truíam uma imagem muito positiva das mulheres em gação do rio. Esse mesmo princípio norteará as negocia- Seu principal informante, o índio Juan Martinez de floresta, altas montanhas e junto a um enorme lago in-
suas obras, como em Rousseau, que chegou a afirmar ções encetadas por dom Luís da Cunha com os franceses Albújar, que ele conhecera em Trinidad, em 1595, lhe terior — o Parima. Raleigh prometia infinitas riquezas
que a mulher virtuosa seria “feita para obedecer ao ho- no Congreso de Utrecht em 1713. Tal adoção revelava que contou que havia sido feito prisioneiro por uma tribo de em ouro e outras mercadorias a quem tivesse a prima-
mem” e deveria “aprender desde cedo a sofrer injustiças a Carte de l’Amérique méridionale estava afinada com canibais no sul da Guiana (inglesa), numa região cercada zia do descobrimento.127 De fato, nos séculos seguintes,
e a suportar os erros dos maridos”,116 as amazonas de o projeto geopolítico defendido pelo embaixador para a de montanhas, onde havia uma cidade coberta de ouro, inúmeros viajantes/cientistas e aventureiros, inclusive
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O paraíso e seus mitos
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL O Xarais, a serra das Esmeraldas, as amazonas e o Parima

Alexander von Humboldt,128 tentaram localizar o lago documentos e a memória permitiu a ele “reparar as fal-
Parima, e os geógrafos, seguindo essas descrições, tra- tas nesse desenho e fazer as correções” necessárias.
taram de inseri-lo ou não em seus mapas. Para o geógrafo, era extraordinária a menção ao
No entanto, na primeira versão da Carte de “nome de Rupununi dado a um desses rios que serviram
l’Amérique méridionale, de 1748, seguindo as informa- a fazer esta travessia e a proximidade de um lago”, pois,
ções que La Condamine angariou em sua expedição de nas antigas cartas, era comum a afirmação de “que o lago
descida do Amazonas, desdenhando a tradição, D’Anville Parima é chamado pelos índios Rupunuwini”. Concluiu,
não desenhou o Parima, mas sim o lago Amucu, locali- então, a partir da existência de um rio Rupununi que
zando-o não na Guiana, conforme os relatos de Raleigh, deságuava nesse lago percorrido por Horstman, que,
mas na porção portuguesa do território, um pouco mais “no que toca este famoso lago, [...] o nome Parima é de
ao sul, abaixo do rio Orinoco e ao norte do Amazonas. um outro rio dessa região, que deságua no Rio Negro” e
Deve-se tal fato a um mapa manuscrito por um prussia- não do lago denominado Amucu.134
no129 que La Condamine encontrou durante sua viagem Aqui fica bem ilustrado como o seu método de tra-
no rio Amazonas.130 Tratava-se de Nicolas Horstman, in- balho de crítica cartográfica foi aplicado nessa parte da
cumbido pelo governo da Prússia de explorar a parte sul carta. Ou seja: ele parte do cotejamento de um mapa ma-
da Guiana. Porém, em vez de retornar aos seus patronos nuscrito, resultante de uma observação empírica recente,
holandeses para dar conta das descobertas, Horstman com a sua memória redigida na ocasião, e a compara-
prosseguiu cada vez mais para o sul, penetrando no ter- ção dessas informações com aquelas contidas em cartas
ritório português. Havia rumores de que havia se torna- antigas da sua coleção. Desse modo, o conhecimento
do um índio, ou que organizava um levante indígena, ou mais antigo renovava-se à luz do conhecimento mais
que tinha traído os holandeses, fornecendo segredos de novo, tal como se observa quando se refere a uma carta
Estado aos portugueses.131 O certo é que La Condamine de sua coleção em que o lago Parima havia sido deno-
se encontrou com ele na cidade do Pará (Belém) e levou minado por índios Rupunuwini. Na verdade, ele possuía
para a Europa o mapa do lago Amucu com os rios que dois mapas com essa referência. O primeiro era a carta
nele deságuavam. Hortsman utilizara a rede de rios da La Guaiane ou coste sauvage, autrement El dorado, et
região, subindo o Essequebé (cuja foz ficava na Guiana), Pais des Amazones, de 1654, de autoria de Pierre Duval
descendo o rio Negro para atingir o Amazonas, e de lá d’Abbeville, geógrafo do rei.135 O segundo era de auto-
indo até Belém, onde La Condamine o encontrou.132 Foi ria de Nicolas Sanson, intitulado Partie de Terre ferme
essa configuração que D’Anville imprimiu à hidrogra- où sont Guiane et Caribane (1656).136 Além desses dois
fia da área, identificando o lago Amucu como o mítico mapas, D’Anville possuía várias cartas apresentando
Parima, o que foi objeto de futuras discussões e viagens o lago Parima, com destaque para um de I. Janssonius
de descobridores até a região em busca da “verdadeira” (séc. XVII), um de G. Blaeu (1630) e um de Vincenzo
geografia local. Esse debate chegou até Humboldt, que Maria Coronelli (1690-1691),137 todos do século XVII.138
nela baseou sua expedição à região, tendo confirmado O mapa manuscrito de Horstman foi a base prin-
essa configuração geográfica de D’Anville.133 cipal para que D’Anville estabelecesse sua configu-
A relação entre o mapa de Horstman e a geografia ração geográfica da área. De novo, acreditando em La
que a Carte de l’Amérique méridionale imprime ao lago Condamine, que trouxe as informações do prussiano
Amucu e a rede de rios ao seu redor é direta e eviden- e garantiu sua veracidade, fiou-se na narrativa des-
te, saltando aos olhos do observador. D’Anville, em sua se aventureiro, desenhando uma comunicação qua-
primeira memória sobre a carta, impressa no Journal se perfeita entre as bacias dos rios Negro/Amazonas e Detalhe da
gravura de
des Sçavans, em março de 1750, confirma que, para Rupunuwini/Essequebé, separados, respectivamente, A descoberta
esse trecho, utilizou o mapa e um relato do prussiano. por dois pequenos istmos e o lago Amucu.139 do grande, rico
Conta ainda que, quando em Belém, La Condamine fez Observa-se, tanto no mapa de Horstman quanto no e belo império
de Guaiana,
cópias do “desenho em forma de carta” de Horstman de D’Anville, que, a partir da foz, o rio Essequebé recebe
de Sir Walter
e da memória na qual o prussiano descreveu sua via- dois afluentes à direita, o Cajona e o Mazaroni, com dois Raleigh
gem. Como era seu costume, D’Anville cotejou os dois trechos de cachoeiras logo depois. No segundo trecho, (c.1554-1618).

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O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL O Xarais, a serra das Esmeraldas, as amazonas e o Parima

O lago Parima, no mapa O lago Parima, no mapa


de Jan Jansson, c.1640. de Pierre Duval, 1654.

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O paraíso e seus mitos
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL O Xarais, a serra das Esmeraldas, as amazonas e o Parima

entre os tributários Arussari e Rupunuwini, D’Anville


escreve na carta que ali se apresentam 39 saltos su-
cessivos, informação retirada certamente da memória
de Horstman, e não do seu mapa, pois dele não cons-
ta tal detalhe. Depois desse segundo trecho de saltos, o
rio Rupunuwini deságua no Essequebé. Remontando-
-se à nascente do Rupunuwini, chega-se, no mapa de
Horstman, a três lagos, separados por pequenos istmos.
O terceiro, o maior deles, é o Amucu. D’Anville, no en-
tanto, reduz os dois primeiros lagos a apenas um em sua
carta, sendo o segundo deles o Amucu.140 A partir des-
se, flui o rio Pirara, que deságua no Maho, que por sua
vez verte para o Tacutu, sendo todos eles tributários do
rio Parima, “que os portugueses chamam rio Branco”.
A expressão, “coberto de junco” (“couvert de joncs”)
que ele grava, logo ao norte do lago e abaixo do topôni-
mo, aponta para o caráter sazonal dessas águas, que se
espraiam na época das chuvas.
Também fazia parte da metodologia de trabalho de
D’Anville estabelecer uma conexão entre o tempo des-
pendido nessas expedições e as medidas de distância,
correspondências que também podem ser observadas
num dos textos escritos nas bordas do mapa manuscrito
de Horstman. Um mês de navegação no trecho inicial do
rio, mais lenta devido aos inúmeros saltos, foi o tempo
estimado na carta, correspondendo a 50 lieues de dis-
tância;141 e 14 dias, no segundo trecho do rio, identifica-
do como B-C no manuscrito de Horstman, onde aquelas
dificuldades não mais se impunham, correspondendo a
14 lieues no mapa.
O Parima, na carta de D’Anville, seguindo a geo-
grafia fluvial sugerida por Horstman, é transformado
em rio, mas um outro lago aparece nesse trecho — o
Amucu. Nesse primeiro momento, portanto, a Carte de
l’Amérique méridionale rompe com a tradição mitológi- Louvre, a crítica das fontes cartográficas e textuais que O mapa de Nicolas
ca que, desde Raleigh no século XVI, identificava o lago lhe chegavam às mãos, produzidas por exploradores que Horstman teve
influência direta
dourado como o Parima, estando a cidade de Manoa lo- trilhavam o vasto interior do Novo Mundo. na configuração
Nas cartas de
D’Anville, o mítico calizada em suas margens. A única referência ao Parima de D'Anville em
Parima desaparece aparece nos escritos que identificam o rio Branco, tri- relação ao lago
(acima), mas na Amucu e à rede
butário do rio Negro, que faz a conexão com o Amucu. O retorno do Parima
versão de 1748 de rios ao redor.
Não há também, diferentemente dos mapas precedentes,
(ao lado), um outro Nas páginas
lago aparece nesse qualquer referência ao Eldorado ou a riquezas minerais. O posicionamento do Amucu em terras luso- seguintes, a rocha
trecho — o Amucu, Tudo indicava que, nesse caso, a geografia racional se -brasileiras não refletia os interesses de franceses, nem Comuti no rio
resultado das de espanhóis ou de holandeses, todos com possessões Essequebé, vista
impôs à mítica. De fato, D’Anville fazia mais uma vez,
informações de do interior da
La Condamine com aparente sucesso, a aplicação do seu método, reali- territoriais na região, cujas fronteiras ainda estavam Guiana, por George
sobre a região. zando a partir de seu gabinete, nas galerias do palácio do em disputa com os portugueses. A linha divisória, a Barnard, 1840.

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O sítio de Esmeralda, no
El Dorado, nas Orinoco, local da
cercanias do missão espanhola
Amucu, Georges na Guiana, Charles
Barnard, 1840. Bentley, 1840.

noroeste do lago, é situada por D’Anville na Carte de e na versão manuscrita do mapa, na qual ensaiou al- superior do seu curso, é o sítio que deram anteriormente a origem dessa quimera não é outra coisa que uma
l’Amérique méridionale de 1748 quase paralela a uma gumas possibilidades de inserção do lago.145 A partir a um país que se estimou ser muito rico. Esta província narrativa feita a Sebastião Belalcaçar, tenente de Gon-
cadeia de montanhas (o habitat das míticas amazo- de então e até a última revisão de D’Anville na Carte tão buscada pelos espanhóis, e que eles se engajaram em zalo Pizarro dada ao governador de Quito (...) por volta

nas?), condizente com o costume de utilizar acidentes de l’Amérique méridionale, em 1777, o Amucu apre- empresas que foram todas sem sucesso, é o famoso [El] do ano de 1536. Um índio que se dizia ser do país de
Bogotá contou a Belalcaçar que um rei ou senhor desse
geográficos como balizas para estabelecer fronteiras de senta a mesma configuração sugerida por Horstman e Dorado”. Esse lago e seu rei dourado “não é outro se-
país tinha o costume de embarcar para uma cerimônia
territórios. Porém, a linha proposta a nordeste não cor- o lago Parima aparece a noroeste do mesmo, em ter- não o que foi encontrado chamado Parima, e que é de
de religião, num certo lago, situado nas montanhas,
responde a nenhuma barreira natural do terreno. Ela reno extraportuguês. Também se observa que a rede uma extensão muito vasta na carta da Guiana, de Jean de
o corpo inteiramente nu, e bezuntado de um óleo ou
é simplesmente posicionada ali pelo cartógrafo. Dessa de rios, inserida na região a partir de 1760, estabelece Laet”. Acrescenta então que não tardou “a fazer entrar
goma, e sobre este ele era todo polvilhado de um pó de
maneira, a carta de D’Anville permitia que os portugue- uma comunicação fluvial entre o Amucu e o Parima, esse trecho com todos os seus detalhes particulares, na
ouro, que fazia com que ele todo reluzisse.148
ses pudessem reclamar para si o domínio de um terri- via afluentes dos rios Mahos, Parima e Essequebé, bem minha Carte de l’Amérique méridionale”.147
tório142 que, pela tradição mitológica, estaria coberto de como uma conexão entre o Parima e o rio Orinoco. Observa-se que ele não só inclui o lago Parima, No entanto, se a existência do Eldorado é descri-
riquezas minerais. Dessa maneira, um viajante saindo do Amazonas, via como, na sua justificativa, relaciona esse acidente geo- ta como quimera pelo cartógrafo, a entidade geográfica
Apesar de procurar desmistificar a geografia local rio Negro e Maho, chegaria ao lago Parima e, de lá, até o gráfico com o antigo mito do império do Eldorado, re- identificada como lago Parima é inserida sem grandes
na primeira edição da carta, quando se observam as al- Orinoco, podendo transitar por via fluvial entre os ter- velando que o lago fora encontrado pelos espanhóis. questionamentos em seu mapa.
terações que D’Anville realizou na folha 1 do mapa — ritórios português e espanhol. Também, como era afeito ao seu método, faz referência Desde 1742, D’Anville esteve envolvido na produ-
correspondente à região amazônica, na versão de 1760 D’Anville justificou a introdução do Parima nas edi- a antigas cartas — no caso, um mapa de Laet — para ção de cartas da área, o que, a partir de 1744, se intensi-
—, percebe-se, surpreendentemente, que o geógrafo ções do mapa posteriores a 1760, numa das versões re- reivindicar a autoridade dos antigos cartógrafos sobre ficou com a estreita colaboração de La Condamine. Em
incluiu o lago Parima.143 O processo de reconfiguração vistas da memória que acompanha a Carte de l’Amérique o acidente geográfico agora incluído na carta. Sobre os 1754, ele realizou a primeira reimpressão modificada
dessa região pode ser observado num fragmento de méridionale,146 datada de 1779. Segundo ele, “na par- mitos que cercam a região, no entanto, ele é incisivo da Carte de l’Amérique méridionale, na qual apenas
seu acervo,144 que deveria substituir o trecho original, te oriental em relação ao Orinoco, e em direção à parte em afirmar que “acrescentou alguns detalhes nas montanhas acima de
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da região, diferentemente das mais conhecidas cartas percebeu a existência do Parima. Não escreve nada, po-
de Sanson, Hondius ou Blaew, que D’Anville possuía, e rém, para explicar o fato de, na versão de 1748, ter to-
que apresentam o lago Parima ocupando grande exten- mado o Amucu pelo Parima. Em sua memória de 1779,
são. A única referência a Laet na coleção é uma carta de conta que Horstman partiu das costas da Guiana em 3
Guillaume Delisle, intitulada Tabula Americae specialis de novembro de 1739, quando então começou sua jor-
geographica regni Peru, Brasiliae, Terrae Firmae et Reg nada pelo Essequebé. Valendo-se da estação chuvosa,
Amazonum. Secundum relationes de Herrera, de Laet, chegou ao rio Negro em 16 de julho do ano seguinte,
e P.P. de Acuña e M. Rodriguez, na qual o Parima não descendo por esse rio até a cidade do Pará (Belém). Ele
aparece representado. Nesse mapa há apenas uma re- então exime o viajante de seu erro dizendo que
ferência textual, próxima ao rio Essequebé, onde se lê:
na sua viagem, que lhe custou penas infinitas, porque
“nessa região está situado o lago Parima, cidade Manoa
ele a empreendeu por água, ele tomou transportes, pas-
do Eldorado”.154 D’Anville parece dissimular para se es-
sando perto do lago Parima sem ter conhecimento dele.
quivar do que poderia ser entendido, então, como um
Ele entrou, entretanto, num lago todo coberto de juncos
erro grosseiro da primeira edição do mapa.
e nomeado Amucu pelos índios, mas que ele estava en-
Como ele concilia a explicação que dera na memória
ganado de tomá-lo pelo Parima que ele buscava.155
de 1750, quando afirmou que o lago Amucu era de fato o
Parima, com a reconfiguração do mapa, em 1760, quan- É importante salientar que, a partir de fins de 1747,
do os dois lagos aparecem lado a lado? Primeiramente, D’Anville começou a preparar outra carta em conjunto
Detalhe do Parima Lima”.149 No entanto, apesar de afirmar que os docu- em 1746, D’Anville passou a ter acesso a um conjunto ele atesta que a novidade lhe foi apresentada por La com La Condamine e Maldonado. Tratava-se da Carta
na Carte, em sua mentos utilizados para configurar a região já estavam de documentos de origem espanhola. Fazer referência Condamine, no mapa pertencente aos espanhóis, no de la Província de Quito.156 Esse mapa, produzido a pe-
versão de 1779,
e, à direita,
em suas mãos desde 1745, os mapas produzidos sobre ao ano de 1749 visava apenas justificar a não inclusão qual o Parima existia em separado do Amucu. Em se- dido da Coroa espanhola, foi terminado no começo de
fragmento de seu a região até 1754 não incluíram o Parima, nem mesmo do Parima na primeira versão da Carte de l’Amérique gundo lugar, aponta o lapso de Horstman, que não 1750, quando foi finalmente enviado a Madri. Durante
acervo, o qual essa primeira revisão do mapa da América do Sul, ocor- méridionale em 1748 — tal mapa espanhol não seria
deveria substituir
rida nessa última data. ainda de seu conhecimento. No entanto, isso não explica
o trecho original
e que desnuda Quanto aos documentos de que dispunha na oca- por que, a despeito de a documentação espanhola que
o processo de sião, D’Anville se contradiz nas diferentes versões das assegurava a existência do Parima já ser do seu conheci-
reconfiguração memórias que escreveu sobre a Carte de l’Amérique mento pelo menos desde 1749, na primeira reimpressão
dessa região.
méridionale, mas essas contradições não ocorreram por modificada, realizada em 1754, ele apenas acrescentou
acaso. Na memória, publicada no Journal des Sçavans “alguns detalhes nas montanhas acima de Lima”.152 O
em abril de 1750, conta que teve em mãos uma carta, fato de ele não incorporar o lago Parima nem na pri-
entre outras, encadernada “numa compilação de mui- meira edição, nem nessa revisão da carta merece ser
tos volumes in-fólio de diversas memórias, escritas por analisado. Por que alguém tão obcecado em buscar uma
um oficial espanhol para o seu rei pouco depois da as- “perfeição cartográfica” teria deixado de aperfeiçoar seu
censão de Filipe V ao trono”.150 Na memória que redigiu mapa se acreditava na informação sobre a existência do
em 1779, no entanto, informou que a inclusão do Parima lago? E por que ele o insere em 1760?
se devera porque, “em 1749, M. de la Condamine, co- Antes de buscar uma resposta para essas duas ques-
locando sob os meus olhos uma carta da região desse tões é necessário fazer algumas observações. Nem a carta
lago, me disse que este documento saíra do gabinete de Laet, a que ele se refere na memória, nem a carta es-
do senhor marquês de La Encenada”.151 Tratava-se do panhola constam da coleção D’Anville. Isso não significa Mapa da América,
então poderoso ministro do rei espanhol Fernando VI. em absoluto que ele não tenha consultado esses mapas, compreendendo
Peru, Brasil, Terrae
Tudo indica que se tratava do mesmo mapa e, em sen- ou que de fato os tenha possuído, visto que a coleção
firmae e região
do assim, afinal quando o teria conseguido? Em 1745, apresenta algumas lacunas.153 No entanto, é pelo me- amazônica, editado
como afirma no primeiro texto, ou em 1749, como diz nos intrigante que não exista na coleção nem ao menos por Delisle, de
acordo com dados
no segundo? A primeira data é a mais provável, pois a uma cópia sua (quando todos os demais a que se refere lá
de Herrrera, Laet,
partir de 1744, quando se intensificou a estreita colabo- estão), e que se apoie em Laet para justificar sua inclu- Acuna e Rodriguez,
ração de La Condamine e com a chegada de Maldonado são na tradição. Laet não produziu um mapa marcante século XVIII.

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O paraíso e seus mitos
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL O Xarais, a serra das Esmeraldas, as amazonas e o Parima

esse período, La Condamine esteve em contato com as alguns locais ele realizou observações astronômicas,
autoridades espanholas, entre elas José de Carvajal, en- mas “em outros, ele teve que confiar em mapas, relatos
tão secretário dos Negócios Exteriores do rei espanhol, de viagem, e relatos orais de missionários e índios”.162
Fernando VI.157 Por essa época, preparando-se para ne- Filtrar as notícias oriundas dos informantes encon-
gociar com os portugueses as fronteiras na América, a trados pelo caminho era um desafio para esses viajan-
Coroa espanhola não só procurava fundar instituições tes, pois o tempo da viagem não lhes permitia uma visita
científicas de moldes iluministas, mas também preparar pessoal a todos os locais de interesse. Ainda que o em-
uma cartografia das suas possessões na América. Devido pirismo devesse guiar o conhecimento a ser produzido
ao caráter de urgência, utilizou para isso impressores segundo o racionalismo iluminista, o que se observa é
franceses, como foi o caso de D’Anville, e enviou es- que, como no caso de La Condamine, devido à vastidão
pecialistas à França para se atualizarem na arte da car- do território, muitos exploradores tiveram que se valer
tografia, como foi o caso de Maldonado.158 Foi por meio não apenas do ver, mas também do ouvir dizer.
dessa colaboração franco-espanhola que La Condamine A questão era: entre tantas narrativas recolhidas, a
e, por extensão, D’Anville tiveram acesso às cartas es- quais conferir o estatuto de verdade? A maioria das in-
panholas da região, instrumentos importantes para a formações selecionadas a partir dos relatos de terceiros,
produção da nova carta, na complementação das infor- contrariando o primado do ver sobre o ouvir, após se-
mações acerca das regiões não visitadas pelos viajantes, rem eleitas como verdadeiras, muitas vezes eram apre-
desde pelo menos 1746. sentadas ao público europeu por aqueles intelectuais
Rastreada a forma como a carta espanhola chegou como oriundas de sua própria observação. Foi o que La
às mãos de D’Anville, é necessário enfrentar a questão Condamine frequentemente fez,163 sustentando algumas
sobre as razões de ele ter passado a se fiar nela, para de- conformações geográficas do continente americano que
pois procurarmos desvendar aquelas que fizeram com não passavam de ecos de mitos da antiguidade, e ain-
que ele não incorporasse o lago Parima na revisão do da por cima como se fossem frutos de sua observação
mapa de 1754, e finalmente os motivos de sua inclusão direta. Como D’Anville utilizou-o como principal fon-
na revisão seguinte, em 1760. te de informação na conformação da região amazôni-
Ao longo da década de 1740, D’Anville estabe- ca, a geografia que ele considerava “verdadeira”, fosse
leceu uma amizade e uma relação simbiótica com La ela fruto da observação de La Condamine, fosse obtida
Condamine. Os geógrafos de gabinete dependiam desses por terceiros, acabou aparecendo no mapa. No caso da
colaboradores que os supriam com relatos e mapas das inclusão do Parima, foi também determinante o fato de
áreas recém-exploradas. Herman Moll, geógrafo alemão ter sido o mais poderoso ministro do Estado espanhol
que fez carreira na Inglaterra, estabeleceu uma cola- quem fornecera o documento cartográfico básico.
boração parecida com dois grandes viajantes ingleses, No entanto, durante os anos da colaboração en-
William Dampier e Woodes Rogers.159 Da mesma maneira tre D’Anville e La Condamine em Paris, Maldonado e
que D’Anville e La Condamine, “cartógrafos como Moll Bouguer já vinham se desentendendo com o último,
e seus amigos-navegadores, como Dampier e Rogers, acusando-o de alguns erros e de escamotear suas fon-
inevitavelmente desenvolviam uma relação profissional tes, nem sempre seguras.164 A par dessas desavenças,
e pessoal de interdependência muito estreita”.160 D’Anville mesmo assim continuou confiando e privile-
Ao contrário de D’Anville, La Condamine, em giando as informações trazidas por La Condamine, em
seus relatos e leituras públicas na Académie Royale detrimento das fornecidas pelos outros dois. Nem as
des Sciences de Paris sobre as expedições a Quito e ao correções que Maldonado tentou introduzir nas pran-
rio Amazonas, buscava garantir que suas descrições se chas do Mapa da Província de Quito, que D’Anville
baseavam primordialmente em observações visuais di- preparava com La Condamine, foram suficientes para
retas, dissimulando ao máximo a origem de muitas das que o geógrafo duvidasse das informações que esse
Pururama: a grande
informações, ainda que grande parte do que apresen- último lhe fornecia. De fato, como aponta Neil Safier,
catarata no Rio
Parima, por Georges tava ao público europeu fosse oriundo de informações D’Anville não incluiu nessa carta a maior parte das
Barnard, 1840. de terceiros,161 como o relato de Horstman. De fato, em correções sugeridas por Maldonado, conspirando para
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O paraíso e seus mitos
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL O Xarais, a serra das Esmeraldas, as amazonas e o Parima

que tudo fosse feito de acordo com a visão do viajante do território espanhol. Observa-se também que a inclu- Eram os ecos da fidelidade ao antigo amigo e protetor e rede fluvial da região aponta para o uso inconteste da
francês.165 A amizade pessoal entre os dois, assim como são do Parima fez com que o cartógrafo estendesse o es- as injunções geopolíticas que interferiam mais uma vez Carte de l’Amérique méridionale. Dom Luís da Cunha
o respeito que La Condamine usufruía na comunida- paço entre o Amucu e a cadeia de montanhas situada na Carte de l’Amérique méridionale. havia enviado o mapa de D’Anville para Madri, em 1747,
de de savants iluministas à época, diferentemente de um pouco mais ao norte. Com isso, as montanhas não Em linhas gerais, a visão geopolítica de dom Luís na esperança de que ele cumprisse sua função: dar a ver
Maldonado que D’Anville considerava um simples piloto mais coincidem com a linha divisória proposta, pois a para essa parte da região amazônica, à qual D’Anville o continente americano, não deixando dúvida sobre o
prático, além dos interesses diplomáticos luso-franco- mesma é deslocada um pouco mais para o sul. imprimiu uma primeira feição cartográfica em 1748, es- território que seria acordado entre os diplomatas espa-
-ingleses, foram certamente determinantes para que o O que parece ser uma simples correção geográfi- pelhou-se no Tratado de Madri de 1750, acordado entre nhóis e portugueses. E também mandou cópia para
geógrafo confiasse plenamente nas suas informações, ca, sem outra intenção aparente a não ser o aperfeiçoa- as duas Coroas. No tratado ficou estabelecido, pelo artigo Alexandre de Gusmão em Lisboa. Porém, mesmo de
transportando-as para seus mapas. mento da carta, introduz pelo menos duas importantes IX, que naquela área “continuará a fronteira pelo meio posse dele, Gusmão determinou que fosse composto o
Mas não foi somente D’Anville que, ao buscar uma questões de natureza geopolítica. Em primeiro lugar, do rio Japurá, e pelos mais rios que a ele se ajuntam, e Mapa das Cortes especificamente para esse fim, incor-
geografia condizente com os princípios iluministas, aca- o geógrafo abandona a ideia de utilizar os acidentes que mais se chegarem ao rumo do norte, até encontrar porando-se alguns enxertos cartográficos oriundos da
bou por preservar imagens mitológicas do Novo Mundo. naturais do terreno, como havia feito na carta de 1748, o alto da cordilheira de Montes que mediam entre o rio Carte de l’Amérique méridionale, desde que fossem fa-
Muitas vezes, era a própria observação empírica da rea- ao estabelecer os limites entre as Coroas de Portugal e Orenoco e o das Amazonas ou Marañon; e prosseguirá voráveis aos interesses portugueses, o que era o caso do
lidade que conduzia a uma conformação fantástica do Espanha na região com a maciça cadeia de montanhas. pelo cume destes montes para o oriente até onde se es- lago Amucu e sua rede de rios.
território, tal como aconteceu com o médico português Em segundo lugar, a rede de rios que conecta os dois la- tender o domínio de uma e outra Monarquia”.169 O Mapa O ano de 1760 deu início a uma nova era nas dis-
José Rodrigues Abreu, que, em 1734, ainda descrevia o gos, permitindo que se transite sem grandes dificulda- dos Confins (conhecido como Mapa das Cortes),170 que putas de limites luso-espanholas. As partidas bilaterais,
Brasil como uma ilha, fruto de longas expedições que des entre os territórios português e espanhol, transfere dava a ver a linha divisória então negociada, revela, que, após a assinatura do Tratado de Limites em Madri,
realizou pelo território interior.166 Já Herman Moll, a para a negociação diplomática a questão da demarcação que, ao norte, a divisa seguia exatamente pela grande começaram a demarcar as fronteiras, tomando as me-
despeito de várias correções que fez nas diversas edi- da fronteira, que se torna então aparentemente fluida e cordilheira situada a meio caminho entre o Amazonas didas topográficas, questionavam os termos do tratado.
ções de seus mapas, continuou até a sua morte, em 1732, indistinta, não mais se referenciando a qualquer carac- e o Orinoco, sendo que a linha se interrompe antes de Os portugueses se ressentiam de terem aberto mão da
a representar a Califórnia baseando-se em Sanson, isto terística natural do terreno. O aparecimento do Parima, atingir o litoral, pois ali se tratava não mais de terreno Colônia do Sacramento, e os espanhóis, por seu tur-
é, como uma ilha, e essa configuração ainda apareceu que estivera sempre conectado aos espanhóis, e não aos luso-espanhol, mas das Guianas. Ao sul dessa linha di- no, achavam que haviam cedido demais. Nesse sentido,
em seus mapas reimpressos postumamente até 1780, portugueses, impõe então uma soberania (assentada visória, observa-se que o território no Mapa das Cortes 1760 se apresentava como um momento propício para
quando os mapas de Delisle já haviam abandonado essa na mitologia criada desde a expedição de Pizarro) à Co- apresenta a mesma disposição que D’Anville imprimiu. imprimir uma nova edição do mapa. Efetivamente, a
configuração havia muito.167 roa de Espanha, enquanto o topônimo Amazonas, mais Subindo o rio Negro, penetra-se no rio Branco, depois 12 de fevereiro do ano seguinte, o Tratado de El Pardo
Resta salientar o caráter geopolítico não tão evi- usual nas cercanias de Belém, dado ao rio, em detri- o Maho e finalmente o Pirara, atingindo o lago Amucu, cancelava o que havia sido acordado em Madri. Nessa
dente da inclusão do Parima no mapa após 1760. Na mento de Maranhão ou Orellana, o insere na esfera de que não recebe qualquer denominação nesta carta. nova versão do mapa, não só o lago Parima é represen-
versão manuscrita da Carte de l’Amérique méridionale influência portuguesa. Depois do Amucu, um pequeno istmo separa o lago do tado, mas aparece posicionado claramente em território
observam-se algumas interpolações a lápis realizadas É evidente então que implicações de natureza geo- rio Rupunuwini, que deságua no Essequebé, cuja foz já dos espanhóis, garantindo a esses últimos o direito sobre
posteriormente pelo geógrafo, nas quais ele corrige política, contrárias aos interesses lusos, decorrem da se encontra em território do Suriname. as possíveis riquezas ali prometidas. Eclipsava-se assim
ou acrescenta elementos cartográficos não constantes inserção do Parima na carta. Resta ainda compreender Uma das questões que têm mobilizado a historio- a ingerência portuguesa sobre a Carte de l’Amérique
na primeira versão manuscrita.168 Não é possível saber por que o lago foi omitido da versão de 1754 e final- grafia são as fontes cartográficas utilizadas para a fei- méridionale, impondo-se a influência espanhola, com
exatamente quando essas anotações a lápis foram in- mente inserido na de 1760, se D’Anville já dispunha do tura do Mapa das Cortes, citadas imprecisamente por a colaboração de La Condamine e Maldonado. Razões
troduzidas, ou ainda se todas foram inseridas ao mes- Alexandre de Gusmão.171 A configuração dessa parte da de Estado e questões geopolíticas ecoavam no paraíso!
mapa espanhol desde pelo menos 1749. Foi certamen-
mo tempo. Porém, tais correções são também indícios te por instâncias de dom Luís da Cunha e do duque de
das alterações realizadas nas chapas do mapa em épocas Orléans, ainda que o primeiro tivesse morrido em fins
posteriores à primeira impressão. de 1749 e o segundo em 1752, que, mesmo de posse do
Um desses reparos refere-se exatamente à inclusão mapa espanhol por essa época, D’Anville não incluiu o
do lago Parima. Na carta manuscrita, a posição desse lago Parima e continuou a representar, até a revisão de 1754,
aparece esboçada a lápis exatamente sobre a linha divi- apenas o Amucu, posicionando-o em território portu-
sória que ele propõe entre o Brasil e a América hispâni- guês. Por não estar diretamente relacionado ao mito do
ca, isto é, abaixo da cadeia de montanhas que dividiria Eldorado, não era difícil justificar a soberania portu-
naturalmente os dois territórios. No entanto, quando se guesa dessa parte do território, principalmente porque a
observa a versão impressa da carta de 1760, percebe-se cadeia de montanhas relacionada ao mito das amazonas,
que o lago foi deslocado um pouco mais para o norte, fi- que por sua vez dava nome ao rio sob a soberania por-
cando situado não sobre a linha divisória, mas no interior tuguesa, que serviria como baliza natural dos limites.
284 285
OS BENS QUE
A VELHA TEM
As Minas Gerais, o Cabo do
Norte e a Colônia do Sacramento

Preocupado em garantir que a om Luís da Cunha rearticulou o papel de-


posse sobre a região mineradora sempenhado pelas diversas partes do im-
pério português, privilegiando a América
permanecesse incontestável, dom
em detrimento de outras áreas, até mesmo
Luís da Cunha colecionou, com em relação a Portugal. Juntamente com alguns mem-
cuidado, as peças cartográficas e bros da elite administrativa, o embaixador identificou
os relatos importantes sobre essa com clareza singular o processo de deslocamento do eixo
região e os forneceu a D’Anville. econômico do império a partir da descoberta das minas
de ouro e diamantes no Brasil, e sua importância para o
futuro do reino, num contexto de crescente dependên-
cia de Portugal em relação às outras potências europeias,
particularmente a Inglaterra. Para ele, esse processo de-
veria ser conjugado com a mudança do centro político
para a América portuguesa, mas para isso era preciso
Ao lado, Extração
consolidar seu território em detrimento dos interesses
de diamante; dos espanhóis. Foi então que, com pragmatismo, pers-
acima, Escravos picácia e tenacidade, dom Luís escreveu sobre a questão,
lavando o ouro do
defendendo que “o Brasil, (como são preciosos domínios,
aluvial: os novos
bens da Coroa é digno de maior resguardo)”.1 Em sua correspondência,
portuguesa. e especialmente em suas célebres Instruções políticas,2
287
Os bens que a velha tem
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL As Minas Gerais, o Cabo do Norte e a Colônia do Sacramento

das descobertas, mas não tarda a concluir que “as con- “que, na balança do poder, possamos pôr [para dentro]
quistas, que supus ser um acessório de Portugal, eu as a riqueza, para fazermos uma tal ou qual igualdade com
tenho pelo seu principal, e ainda garantes de sua con- as outras potências”.8
servação, principalmente as do Brasil”.6 Em 1720, exul- O embaixador via no ouro que deveria verter conti-
tante, confirmando suas melhores expectativas, informa nuamente do Brasil para o reino a possibilidade de com-
ao conde de Tarouca que “a frota do Rio (...) vem ma- pensar a pequenez geográfica de Portugal e seus limi-
nifesta do ouro que traz a capitania [e] importa em seis tados recursos econômicos. Por essa razão, segundo seus
milhões e meio e vinte e três mil cruzados e novecentos princípios, a abundância mineral não poderia continu-
e vinte réis”.7 Nesse sentido, percebendo a importância ar a enriquecer os cofres das demais nações da Europa,
dessa riqueza para que Portugal recuperasse poder e especialmente a Inglaterra. Lamentava-se do fato de
prestígio no teatro das nações europeias, observou que, que Portugal tivesse ido “cavar nas minas, para que os
se de um lado “a providência quis que os estados del estrangeiros recolham as suas preciosas produções”.9
rei [dom João V] em Europa não fossem tão estendi- Observava, atento, que a maneira como o comércio era
dos como os dos seus vizinhos”, de outro, “lhe deu fora realizado entre essas duas nações criava um fluxo contí-
dela abundantes minas que eles não logram”. Defendia nuo de ouro brasileiro para fora do reino. O metal, trans-
então que Portugal adotasse uma política de tal modo formado em moedas, enriquecia os cofres ingleses.10

Extração de ouro o embaixador apontou para a crescente dependência eco-


em Minas Gerais.
nômica de Portugal em relação ao Brasil. Como corolário
dessa dependência, advogou que “o príncipe, para poder
conservar Portugal, necessita totalmente das riquezas do
Brasil, e de nenhuma maneira das de Portugal [...] de que
se segue que é mais cômodo, e mais seguro, estar onde
se tem o que sobeja, [do] que onde se espera o de que se
carece”.3 Sendo assim, o embaixador defendia a transfe-
rência da corte para a América, com estabelecimento no
Rio de Janeiro, de onde o rei governaria, tomando o título
de “Imperador do Ocidente”.4
Essa ideia da centralidade do Brasil toma forma no
pensamento de dom Luís à medida que ele, paulatina-
mente, se conscientiza da importância que os produtos
oriundos dessa conquista ultramarina adquiriam no seio
da economia do império, em detrimento da supremacia
do Oriente. A partir de estratégias geopolíticas elabora-
das por ele, o açúcar e o tabaco, entre outros, são vistos
como moedas de troca com as demais economias eu-
ropeias. Mas, entre tantas outras mercadorias, é o ouro
que adquire especial relevância e, com ele, o embaixador
Por força da lei
passa a atribuir enorme importância à região das Minas.
Demarcação do
assinada por Em 1719, ele escreveu ao conde de Assumar, seu velho território mineiro
dom João V em amigo, e, bem a seu estilo irreverente, afirmou: “Aquele pelo Mapa das
3 de Dezembro de minas do ouro e
Brasil, [e] aquelas Minas, são o bem que a velha tem.”5
1750, determinou- S. Paulo e costa
-se a revogação da Inicialmente, o embaixador, como outros membros do mar que lhe
cobrança do quinto. da elite portuguesa, se mostra cético sobre a durabilidade pertence, de 1714.

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Os bens que a velha tem
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL As Minas Gerais, o Cabo do Norte e a Colônia do Sacramento

Foi durante a sua estada na Inglaterra, entre 1697 e 1709, realizava suas embaixadas aos tratados de amizade estabe- a sessenta léguas da costa, “segundo a observação de parecia ser dos mais aprazíveis, ao contrário, era “no
ao perceber o crescente desequilíbrio da balança de co- lecidos com Portugal, à integridade dos seus navios mer- alguns pilotos, que naquelas terras vimos tomar o sol”.21 mais áspero dele”, mas isso se justificava, “por ser lugar
mércio portuguesa, agravada pelo seu envolvimento na cantes e dos territórios das suas conquistas. Quando se Distante em seu gabinete parisiense, D’Anville es- onde abunda mais o ouro”. O núcleo urbano é descrito
Guerra da Sucessão Espanhola, que a valorização das encontrava na Inglaterra, mostrou-se atento em relação tabeleceu a altura de Vila Rica, entre 20o e 21º de lati- como sendo constituído por “uma rua continuada por
minas no contexto do império e a necessidade de edifi- às armadas francesas de Le Clerc, em 1710, e Duguay- tude, e, em termos de longitude, nas proximidades do espaço de meia légua, [e a mesma] está dividida em três
car uma política protecionista dessa riqueza começaram -Trouin, em 1711, quando se dirigiram ao Rio de Janeiro. meridiano do Rio de Janeiro. Para isso, contou com “as bairros. O primeiro se chama Ouro Preto; o segundo
a se manifestar. Mas não só. Ele se tornou cada dia mais Preocupado em garantir que a posse sobre a região melhores cartas, e uma entre outras, me foram comuni- Antônio Dias, onde está o Palácio do governador, casa
cônscio do interesse que elas despertavam na Europa e mineradora permanecesse incontestável, dom Luís da cadas manuscritas por dom Gonzalo de la Cerda”,22 na de moeda, câmera, e cadeia; e o terceiro o Padre Faria”.26
da ameaça que isso representaria para o império maríti- Cunha colecionou, com cuidado, as peças cartográficas verdade, Manuel Gonçalo de Lacerda, enviado à embai- O documento forneceu-lhe também as localizações
mo português. Passou então a chamar continuamente a e os relatos importantes sobre essa região e os forneceu xada em Paris, como secretário de dom Luís da Cunha. de alguns outros arraiais da capitania e suas distâncias
atenção das autoridades reinóis para a necessidade pre- a D’Anville. Sem acesso direto às medidas no território Como membro do Conselho Ultramarino,23 Lacerda relativas à Vila Rica, permitindo que as mesmas fossem
mente de salvaguardá-las da cobiça estrangeira. Entre das Minas tomadas por ordem da Coroa portuguesa, o provavelmente teve acesso a tais documentos, tendo en- situadas no mapa. O Padre Faria ficava a duas léguas a
tantas e seguidas observações nesse sentido, advertiu geógrafo enfrentou o desafio de estabelecer o posiciona- tregue a dom Luís um mapa manuscrito “que representa leste do centro da urbe e, pouco adiante, na mesma dire-
as autoridades portuguesas de que “toda a segurança da mento correto da capitania em sua Carte de l’Amérique as cercanias de Vila Rica”.24 ção, estava situado o Ribeirão do Carmo, hoje Mariana.
América é precisa porque a riqueza das nossas Minas faz méridionale. Segundo ele, “a área principal das Minas Também para a localização de Vila Rica foi funda- “Desta segunda vila, para a parte do nordeste e norte,
cada dia maior ruído e causa maior inveja”.11 de Ouro é determinada em latitude pela posição de Vila mental uma memória intitulada Descrição das Minas estão as vilas de Sebastião, S. Bartolomeu, e Catas Altas,
Nas cartas que dirige ao reino e a outros embai- Rica”,17 pois ele sabia que, ao estabelecer a posição desse Geraes do Brasil.25 Nela havia uma descrição da vila, e para o sueste, o Forquim, os Gualachos, Guaripiranga.
xadores portugueses em serviço nas demais cortes eu- núcleo urbano, seria capaz igualmente de posicionar os com sua exata localização. De acordo com o autor, Vila (...) Das Catas Altas virando para o norte, noroeste, e
ropeias, é recorrente a ideia da importância das frotas principais acidentes geográficos em seu entorno. Rica estava a “setenta léguas ao ocidente da costa do oeste, se acha o país chamado Mato Dentro.”27
oriundas do Brasil e de todas as riquezas que traziam a Sobre essa localização muito se especulou. Brasil”, sita “na latitude de vinte graus e vinte e cin- Essa memória, afirmou D’Anville, lhe foi dada por
bordo para sustentar a economia do reino. Mesmo de Domingos Afonso Certão, em 1702, conjecturava: “as co minutos austral”, na capitania das Minas. Esta, por Pedro Nolasco Couvay, o financiador das compras joa-
longe, não se descuidava um só instante de pôr-se a minas acham-se ficar em direitura do Espírito Santo, sua vez, ficava por “detrás de montes e serras, que se ninas em Paris, tendo sido catalogada dessa forma em
par de seu fluxo, especialmente do ouro. Das chegadas afastado para o sertão, o quanto não se sabe por se não continuam desde a costa até aquele sítio, que é também sua coleção. Em suas memórias, aponta como data para
e partidas das frotas, tanto recebia quanto dava notí- ter ainda descoberto, [...] e para o Rio de Janeiro dizem monstruoso”. O lugar escolhido para sua fundação não o documento o ano de 1732 e, numa delas, afirma que
cias, mostrando seu interesse constante pelo tema. Em ser mais perto”.18 Em 20 de junho de 1704, Ambrozio
1712, parabenizou o cardeal da Cunha pela “chegada da Jauffret forneceu ao governador da Guiana Francesa, o
nossa frota em [que] totalmente estava afiançada a con- conde de Pontchartrein, uma descrição da região, indi-
servação desse reino”.12 A 11 de janeiro 1714, escreveu cando que a localização do “reino dos Cataguases é na
aliviado que, por um navio vindo de Lisboa e aportado altura de 23 graus distante do Rio de Janeiro, cem léguas
em “Falmouth, soubemos que a frota do Brasil ia en- [...] terra adentro. Nelas há minas de prata, ouro e esme-
trando nesse porto de que nos logramos infinitamente, raldas”.19 Essa imprecisão se dava porque, apesar de es-
livrando-nos do susto que tivemos com a notícia de que tar na altura do Espírito Santo, o melhor porto de acesso
há dias se divulgou de que a dita frota fora derrotada às Minas Gerais era o da cidade do Rio de Janeiro, de
por uma grande tormenta”.13 Para o duque de Cadaval, onde eram embarcados os quintos régios. José Rodrigues
escreveu em 1721: “Estimo muito que chegasse a frota Abreu, que foi às Minas acompanhando o governador
tão abundante de todos os gêneros e do bom metal como Antônio de Albuquerque, em 1711, foi minucioso nas
V.Exa. mo participa.”14 distâncias que separavam as Minas das capitanias do Rio
Como corolário da importância do ouro do Brasil, de Janeiro, Bahia, Pernambuco e São Paulo, não deixan-
era constante o seu temor de ataques piratas.15 No exer- do de anotar, como bom empírico, que “poderá haver
Segundo
cício de suas funções de embaixador dispensava espe- engano, por ser esta medida mais que pela reflexão, e
D’Anville,
cial atenção ao monitoramento de expedições inglesas, cômputo dos dias”.20 Como no restante do discurso, às Vila Rica
francesas e até mesmo russas que para ali pudessem experiências dos práticos, particularmente dos paulis- localizava-se
se dirigir. Na Inglaterra, buscava as autoridades locais tas que percorriam aquelas paragens, contrapunha- entre 20º e 21º
de latitude, nas
para espionar as atividades dos franceses;16 e, em Paris, -se o discurso dos doutos. Ainda assim, afirmou, com
proximidades
o inverso acontecia. Vemo-lo constantemente pressio- certeza, que as Minas ficavam na altura da capitania do do meridiano do
nando autoridades, exigindo o respeito das nações onde Espírito Santo, vinte graus e cinco minutos de latitude, Rio de Janeiro.

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Os bens que a velha tem
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL As Minas Gerais, o Cabo do Norte e a Colônia do Sacramento

a autoria era de Antonio Blem,28 Antônio ou Antoine


Blem, ou ainda Belém, originário de Marselha,29 comer-
ciante francês estabelecido em Lisboa,30 “que dissera
ser filho de João Batista Blem”,31 e que “esteve no Rio
de Janeiro com Francisco da Távora”.32 Como os demais
governadores portugueses, Távora era mestre de cam-
po general, e recebeu a patente de governador do Rio
de Janeiro por mercê de dom João V, a 2 de junho de
1712,33 chegando à cidade no ano seguinte. É interes-
sante o fato de o novo governador ter chegado ao Rio de
Janeiro com um francês em seu séquito, já que a cidade
havia acabado de se livrar das duas invasões de pira-
tas vindos da França, o que não deve ter sido recebi-
do com muita tranquilidade pelos moradores. Pouco se
sabe da estada de Blem no Brasil, ou por quanto tempo
permaneceu, mas com certeza esteve nas Minas Gerais,
incluindo uma estada na região diamantina em torno
do arraial do Tejuco. Esse périplo lhe permitiu reunir
as informações escritas em sua memória.34 Em 1722, já ter morrido Francisca Botelho de Vasconcelos, a her- Mapa manuscrito
de volta a Lisboa, traduziu para a língua portuguesa e deira dos bens que a sustentavam. Como ela não ti- da região de
São Paulo.
publicou um tratado de puerícia, de autoria do francês nha herdeiros, nem feito testamento por ser demente,
Le Notre, que intitulou Escola do mundo, ou instrução Blem pediu a dom João V para assumir a administração
de um pae para seu filho.35 dos seus bens.38 A decisão do rei foi rápida e, em julho
Em 1723, dom Luís da Cunha foi informado do re- do mesmo ano, foi-lhe concedida a administração de
torno de Blem à França por carta vinda de Saint-Malo, “umas casas na freguesia de São João da Praça de Lisboa
na qual lhe avisaram “ter chegado àquele porto um oriental” que pertencera à falecida.39 Percebe-se que, a
português”. O embaixador não parece ter recebido in- despeito do julgamento inicialmente negativo feito pelo
formações muito abonadoras do recém-chegado, pois embaixador, Blem acumulou em vida mercês régias que
observou que esse lhe pareceu “extravagante, parecido a apontam para a importância e a utilidade que adquiriu
um António da Cunha, com foro de fidalgo, que também junto ao monarca português.
veio parar a esta cidade depois de haver contraído na de Mas voltemos um pouco no tempo, exatamente a
Nantes várias dívidas e porque aqui não fizesse outras 1723, quando Blem chegava a Paris. Nesse mesmo ano,
ou alguma ação semelhante às que de lá trouxera o fiz um suíço, de nome Merveillheux, aportava em Lisboa,
sair desta corte pagando o que já nela estava devendo regressando de uma viagem a Louisiana, desejoso de se
e ajudando-o para a sua jornada”. Ainda segundo dom colocar, como naturalista, a serviço do monarca portu-
Luís, o tal Blem parecia ser “moço bem feito e próprio guês.40 Esse indicou um alemão, especialista em mine-
a ir a Índia, onde se amansam os turbulentos e vêm, às ração, chamado Blumenstein, que na época residia na
vezes, os grandes homens”.36 França e que também queria ir para Portugal desfrutar
Não se sabe a data exata que voltou a Portugal, mas do mecenato de dom João V.41 Foi então que, em Paris,
sabe-se, pelas notícias dadas sobre ele pelo embaixa- o comerciante francês, Peyrelongue, escreveu a dom
dor, que não ficou muito tempo na França e, já de volta Luís intercedendo em favor de Blumenstein. Num pri-
a Lisboa, acabou por se tornar vice-cônsul desse país.37 meiro momento, o embaixador afirmou: “Não dei ouvi-
Em 31 de maio de 1727, pediu alvará da capela que insti- dos, por estar cansado de ouvir projetistas que só pro-
tuíra dona Isabel de Castilho com a obrigação de missas curam ir comendo enquanto se não descobrem os seus
Na página anterior,
na igreja de São Bento de Sande, extramuros de Lisboa, enganos.”42 Mas como, algumas semanas mais tarde, o praça principal de
na freguesia de São João, que então se achava vaga, por alemão foi-lhe também recomendado por Hermand, Vila Rica, c.1780.

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Os bens que a velha tem
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL As Minas Gerais, o Cabo do Norte e a Colônia do Sacramento

Relato sobre o
levante em Vila
Rica de Nossa
Senhora do Pilar do
Ouro Preto liderado
por Filipe dos
Santos, em 1720.

matemático do rei, e recebesse ordens do reino nesse verá da carta que ele escreve a PeyreLongue e da resposta
sentido, o embaixador resolveu escrever a Peyrelongue que faz às dúvidas do dito Blem”.47
para recolher mais informações sobre o sujeito.43 Sobre os dois colaboradores e o debate que trava-
Blumenstein, que explorava uma mina de chumbo vam, o conde de Tarouca advertiu dom Luís da Cunha
nas cercanias de Lyon,44 entregou então a dom Luís da de que “Antonio Belém é um francês enxertado em por-
Cunha um memorial sobre a modernização da tecno- tuguês, todo prezado de saber tudo, (...) e assim não se
O Mapa da capitania
logia de mineração do ouro brasileiro.45 Blem, que por faça caso do que ele escreveu”.48 Também lhe comuni-
de São Paulo e seu
sertão destaca as essa época estava em contato com o embaixador, leu cou que ele e a Coroa davam muito mais crédito ao “me-
Minas Gerais e esse memorial, sem dúvida por intermédio de Couvay e morial que a vós deu Blumenstein”.49 Sobre as duas me-
Goiás, com todos Peyrelongue, e lhe “fez uma resposta sobre as minas do mórias, “em francês e português sobre as nossas minas
os seus pousos e
Brasil”.46 Em 1723, Blem redigiu um primeiro manuscri- do Brasil”, redigidas por Blem, dirigidas a Blumenstein
passagens, por
Francisco Tosi to sobre as minas brasileiras, que ofereceu a dom Luís e e a PeyreLongue, Diogo Mendonça Corte Real, secretá-
Columbina, c.1750. no qual afirmava “que a fundição de mr. de Blumenstein rio de Estado, explicou ao embaixador que haviam de-
Nas páginas as não faria mais proveitosas a sua qualidade”. Esse, por cidido no reino que as duas deveriam ser examinadas
seguintes, Modo de sua vez, informado das críticas, também lhe respondeu. pelas “pessoas práticas nelas, para saber se o que nelas
lavar os diamantes,
A partir do debate entre os dois, o embaixador sentiu que se discorre é acertado”. Quanto a Blumenstein, parece
em arraial do Tejuco,
atual cidade de “pela sua mesma informação [de Blumenstein] se forti- que, a despeito das críticas de Blem, lhe foi feita uma
Diamantina, c.1775. fica mais sobre a utilidade da sua manipulação como (...) proposta para ir trabalhar em Portugal, pois Corte Real
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O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL As Minas Gerais, o Cabo do Norte e a Colônia do Sacramento

Modo como se
Modo de minerar extrai o ouro no
para se tirarem rio das Velhas...,
diamantes, c.1775. c.1780.

informou a dom Luís “que veremos [então] que resolu- de 1710. Tudo indica que o documento que pertenceu a dos montes, sem procurar o que fica nos altos”.57 De XVIII”.59 Blem conta que “há também nas Minas Gerais
ção toma o dito alemão”.50 D’Anville tenha sido atualizado, em relação ao primei- fato, nos primórdios, a abundância do ouro de aluvião montes de Serra, que tem ouro de beta, o qual se po-
De fato, decidido o valor a ser pago ao alemão, a ro, apenas com algumas poucas informações mais re- e a complexidade e os altos custos da extração do ouro deria separar das pedras por meio do fogo com grande
Coroa passou ordens a dom Luís da Cunha de que havia centes, acessíveis a qualquer morador de Lisboa, como nos veios dos altos dos montes contribuíram para que a utilidade. Porém como os moradores ignoram este arti-
sido “servido [o] ajuste com o dito Blumenstein [para] a instalação das casas de fundição, em Minas Gerais, em extração se concentrasse “nos rios ou em terraços pou- fício, ficam privados deste lucro”.60 O ouro de beta era o
vir a este reino”, com a recomendação, pelo secretário 1720,54 e o pagamento do donativo pelas câmaras da ca- co acima do nível dos seus leitos, [onde] não havia pro- que adentrava mais profundamente na terra, em veios.
de Estado, de que “o que ajustar com o dito Blumenstein pitania, quando da ocasião do casamento do príncipe e blema com o uso da água”. Consoante a realidade das Apesar de mais duradouro que o de aluvião, por vezes
me participe”.51 Blumenstein e Merveillheux foram en- da infanta de Portugal com os herdeiros espanhóis, em formas de extração aurífera então generalizadamente não foi explorado, não por ignorância dos mineiros, ou
tão contratados, e o primeiro seguiu para trabalhar em 1728.55 Couvay certamente conseguiu essa nova memó- empregadas, no Regimento dos Superintendentes, de falta de tecnologia, como quer Blem, mas por iniciativa
Lisboa.52 Dele se tem notícia nessa cidade na ocasião em ria com o aval e a pedido do embaixador. No manus- 1702, primeira legislação exarada para regulamentar a das próprias autoridades. Assim aconteceu, por exem-
que desapareceu o óculo que Hermand enviara de pre- crito, Blem revela conhecer relativamente bem as téc- mineração local, “não [se] previa nenhuma regulamen- plo, quando, no início do século XVIII, Jorge Soares de
sente para o rei, pois foi Blumenstein que o armou.53 nicas de mineração utilizadas na capitania no início do tação para as águas em terrenos mais elevados”.58 Macedo se ofereceu para examinar tal ocorrência nas
Na verdade, a memória sobre as minas brasilei- século, mas que essas posteriormente se alteraram, e ele Blem sustenta que, nessas lavras, “se desperdiça Minas de Cataguazes e foi proibido pelo então gover-
ras, que, segundo D’Anville, Antônio Blem enviou a não teve como noticiar, pois já residia longe da capitania muito [ouro], porque como esta separação se executa nador da capitania, cujas ordens foram referendadas
Pedro Nolasco Couvay, em 1732, e este lhe forneceu, havia muito tempo.56 por mãos de Negros brutos”, ela não era feita adequada- pelo Conselho Ultramarino.61 Mas isso ocorreu apenas
e que hoje se encontra na Coleção Robert Bosch, não Blem descreve que “quase todos os montes das mente. De fato, “a escravatura era o alicerce da minera- no início porque, em fins da primeira década do século,
devia ser muito diferente daquela entregue a dom Luís Minas Geraes são de terra, e por isso fáceis de penetrar; ção do ouro”, mas hoje é discutível que tal dependência, “a busca de novas minas chegou às nascentes dos cursos
da Cunha em 1723, pois a maior parte das informações porém como os mineiros não podem separar o ouro da como sugerem alguns autores, tenha causado “o atraso de água e subiu nos morros”. Como consequência na-
era resultante da sua experiência na região na década serra sem água, contentam-se com o que acham no pé tecnológico da mineração no Brasil durante o século tural, a Carta Régia exarada pelo governador de Minas,
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o conde de Assumar, em 24 de fevereiro de 1724, co- A despeito dessa visão negativa, D’Anville retirou
nhecida como “Provisão das Águas”, regulamentava a do texto de Blem várias informações de natureza geo-
forma de repartição da água pelos guarda-mores, indis- gráfica: a localização de Vila Rica, das principais vilas e
pensável para a mineração no alto dos morros.62 das comarcas da capitania, a distância dessa em relação
Grande parte dessa descrição negativa da tecno- a São Paulo, Espírito Santo e demais capitanias adjacen-
logia empregada na mineração não correspondia exa- tes, e a disposição de alguns rios, como um que “corre
tamente à realidade,63 mas era resultado de uma visão [na] comarca do rio das Mortes, que depois de passar por
emboaba das minas, onde os paulistas eram acusados vários campos e montes, se vai meter no célebre rio de
pelos portugueses de todos os problemas e desati- Paraguai, que forma depois de muito curso o rio da Prata,
nos, constituindo uma “legenda negra”, que come- o qual passa por Buenos Aires e Nova Colônia”.70 A partir
çou a ser construída pelos jesuítas e pelos emboabas.64 dessa informação, no seu mapa, o rio das Mortes — que
Consoante essa visão, Blem afirma que a região “é go- nasce nas proximidades de Vila Rica — passa pela Vila de
vernada por homens que não viram tirar ouro mais que São José (hoje Tiradentes) e nas cercanias de São João del
aos paulistas, os quais foram sempre muito ignorantes Rei, desaguando no rio Grande, um afluente do Paraná,
nesta arte” e devido às técnicas que utilizam “leva a tributário do rio da Prata. Essa conexão de rios explica a
água mais ouro do que se recolhe”. Ele então sugere insistência de dom Luís de que a ocupação da Colônia do
Sacramento, possessão portuguesa estabelecida na foz
que esse “dano se poderá reparar se usassem dos vá-
desse último rio, por forças estrangeiras, poderia pôr a
rios instrumentos, que os mestres mineiros da Europa
perigo o domínio luso sobre as minas auríferas.
inventaram para separar o ouro da serra, porém como
Assim, na década de 1740, no contexto da guerra
aqui há grande vigilância para que não passem estran-
de Jenkins, que opôs espanhóis e ingleses, quando es-
geiros a aquele Estado, ficam sempre os seus morado-
ses últimos despacharam duas expedições (sendo uma
res na ignorância”.65
delas a do almirante Anson, que passou pelo litoral do
Entretanto, Blem não compartilha com dom Luís da
Brasil) para invadir possessões de Espanha no além-
Cunha da importância da riqueza de Minas Gerais para
-mar, dom Luís da Cunha temeu que se apoderassem de
sustentar a economia luso-brasileira ou de sua centra-
Buenos Aires. Dali, conjecturou, os ingleses logo seriam
lidade econômica no interior do império. Na verdade,
donos “do rio da Prata, tomando [depois] Montevidéu,
em seu discurso de tom moralista, que se coaduna com
mais ainda do rio Paraguai, e das missões dos jesuítas,
o de Nunes Marques Pereira, no Compêndio Narrativo
de onde irão entestar com os paulistas, tirando deles por
do Peregrino da América (1728),66 ou com o do padre
meio de suas fazendas o ouro das nossas minas, e por
Antonil, em sua Cultura e opulência do Brasil por suas
consequência o comércio de nossos mercadores”.71
drogas e minas (1711),67 ele percebe as riquezas como No entanto, outras apropriações que D’Anville faz
efêmeras, trazendo mais mal que bem, pela desagrega- do texto de Blem são menos evidentes. Ao falar da des-
ção moral que causam.68 De acordo com essa visão, no coberta de minas de prata no Rio Grande do Sul, Blem
final de sua memória escreve que, se refere à Companhia de Jesus e utiliza a expressão “a
por conclusão direi que as riquezas do Brasil se devem cavalaria PP. da Companhia”,72 a mesma que o geógrafo,
considerar temporais, e não perpétuas, porque o ouro pouco depois, utilizou para se referir à presença jesuí-
que estava perto d’água se tem tirado a maior parte, e tica no Paraguai numa carta escrita ao jesuíta Du Halde,
em poucos anos se acabará de tirar o que fica. Os Dia- coordenador da publicação da monumental obra intitu-
Na página lada Lettres édifiantes.73 A desconfiança em relação aos
mantes estão acabados; os Topázios são poucos, e de
seguinte, carta
com a localização pouco valor; as esmeraldas são falsas; e a prata só apa- jesuítas era compartilhada também pelo embaixador,
das aldeias de rece de longe. De sorte que podemos dizer, que estas que não se cansou de advertir a Coroa dos excessivos
índios e das missões e as outras riquezas do mundo são todas aparentes, e poderes dispostos pela Ordem em Portugal, tema mar-
jesuíticas arrasadas,
que a maior parte delas só servem de embaraçar aos cante nas suas Instruções políticas.
a partir da Carte
de l’Amérique homens o caminho da salvação, que é a única felicida- No pensamento de dom Luís, a oposição aos je-
de D’Anville. de que não caduca.69 suítas deveria se articular a partir de várias razões: na
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disputa pelo domínio da cartografia das áreas das mis- de muitos anos nessa parte do Brasil [...] lhe permitiu confusão, pois esse a quem ele se referia era o meio-
sões, nas questões religiosas — por ser favorável à tole- adquirir”.78 António Álvares ou Alves da Cunha, 1º. conde -irmão de António Álvares da Cunha, dom José Vasques
rância em relação aos cristãos-novos -, na constituição, da Cunha, foi governador de Mazagão e Angola (meados Álvares da Cunha, sucessor do título. Esse foi minis-
pela Companhia, de uma força paralela aos interesses de 1750), membro do Conselho Ultramarino, deputado tro plenipotenciário de Portugal nos Países Baixos, de
do Estado. Sobre as missões, afirmou: “Estou informado da Junta dos Três Estados (a partir de 1761), vice-rei do 1766 a 1776, com algumas ausências, preenchidas por
que os jesuítas que governam todas aquelas aldeias não Brasil (1763-1767) e presidente do Conselho Ultramarino Domingos Luís da Costa, agente comercial.82
permitem viver nelas algum espanhol; nem obedecem (1768-1791). Primogênito do seu irmão mais velho, dom A estada de António Álvares da Cunha no Brasil
a El Rei, ou ao seu Geral, senão quando querem; e se Luís da Cunha conquistou-lhe o título, barganhado pode ter ocorrido quando seu pai e irmão do embai-
lhes vão algumas ordens que eles esperam ser contra como recompensa por seus serviços e os de seu pai.79 xador, dom João Lourenço da Cunha, que servira na
os seus interesses, fazem conselho e sem as abrirem as Todos esses cargos, porém, foram ocupados na segunda Índia e a caminho do Reino, passou pelo Brasil. Sobre
lançam no rio.”74 Além disso, em relação à ocupação dos metade do século XVIII e, como a Carte de l’Amérique isso, o próprio dom Luís da Cunha dá notícia. Ao su-
jesuítas nas missões instaladas nas pradarias do extremo méridionale foi produzida na década de 1740, tal infor- gerir ao rei que se mudasse para o Brasil, o embaixador
sul do Brasil, onde se abatia muito gado para o corte, mação aponta para uma passagem do conde pelo Brasil afirmou que “o lugar mais próprio da sua residên-
acusou-os de quererem “ser senhores absolutos de to- em período anterior à sua estada como vice-rei. cia seria a cidade do Rio de Janeiro”, justificando sua
das aquelas matanças”.75 Após entrar em contato com o É D’Anville quem informa a origem desse docu- escolha pelas informações que seu irmão reunira in
padre jesuíta Daubenton, confessor do rei da Espanha, mento e a biografia do ofertante, e não se pode duvidar loco: “meu irmão dom João, que nela esteve, vindo da
observou ser “raro o jesuíta que não tenha o que eles de sua informação, pois, apesar de uma ligeira con- Índia, me segurou que era muito saudável e parecido
chamam espírito da Companhia, isto é [o de] contribuir fusão, parece saber exatamente de quem está falando. ao nosso”. Entre as vantagens que o embaixador arrola
a tudo que direta ou indiretamente pode vir a ser útil à Na segunda memória, redigida em 1750, informa que para justificar sua escolha, baseada nas observações do
Sociedade [de Jesus]”.76 o conde na ocasião era “governador do Mazagão, na irmão, constava a situação geográfica da cidade, “es- geógrafo. Dessa relação, consta uma Nouvelle Relation Mapa manuscrito
Intrigante é a informação de que dom Luís da costa da África”.80 Alguns anos depois, na memória de tando tão próxima das minas de ouro e diamantes”.83 de la rivière des Amazones, et Description de l’interieur da região de
Cunha entregou ao geógrafo francês “uma carta manus- 1779, acrescentou a informação biográfica: “atualmente São Paulo,
Observa-se assim que dom João trouxera na baga- du Brésil qui renferme des mines d’or et des pierres provavelmente
crita traçada por dom António Alv(ar)es da Cunha seu desempenha funções de embaixador junto aos estados gem notícias sobre o clima e a fertilidade do solo, a précieuses.88 Trata-se de um documento in-quarto, de 120 desenhado por
sobrinho”,77 escrita “segundo as noções que uma estada Generais das Províncias Unidas”.81 Aí reside pequena posição geográfica da cidade e as distâncias desta às folhas, cuja descrição esclarece ser ele um “manuscrito António Alves
Minas Gerais. É possível que seu filho o acompanhasse da Cunha.
muito interessante composto a partir das memórias parti-
na ocasião ou que tenha apenas desenhado o mapa.84 culares fornecidas, em 1729, por M. Couvay, cavaleiro
O mapa desenhado então “era uma carta ideal traçada da Ordem de Cristo, a qual fala da missão dos capuchi-
por António Alves da Cunha, seu sobrinho [...] que se nhos e dos jesuítas daquele país, como da sua lingua-
estende desde Vila Rica, capital do distrito das Minas do gem”.89 Conclui-se, portanto, que D’Anville havia redi-
Ouro, até o rio Paraguai”.85 gido um manuscrito a partir das informações de Couvay,
Na coleção de D’Anville, a única carta disponível que tanto no que diz respeito à região das minas de ouro, dia-
corresponde a essa descrição é a Carte huilée des côtes mantes e pedras preciosas, quanto à região amazônica.
du Brésil depuis l’Île de Maldonado à l’embouchure de Colocando juntos os mapas e as memórias que
la Plata jusqu’au Maragnon, uma cópia feita pelo geó- dom Luís da Cunha e Couvay lhe forneceram sobre
grafo de uma carta portuguesa.86 Esse mapa, como o tí- as Minas Gerais, D’Anville foi capaz de situar a posi-
tulo ostenta, se estende desde o Maranhão até o extremo ção da capitania em relação às que lhe eram adjacen-
sul do Brasil, sendo o único da coleção que retrata a re- tes. Três mapas manuscritos de sua autoria, a partir de
gião de Vila Rica. Efetivamente utilizado por D’Anville esboços produzidos por Gonçalo Lacerda, consolidam
para traçar a rede urbana de Minas Gerais em torno de os apontamentos que reuniu, estabelecendo a posição
Vila Rica, essa carta também serviu ao traçado do rio São relativa da área mineradora em relação a São Paulo, o
Francisco e sua confluência com o rio das Velhas, e tam- que considerava uma das novidades e grandes contri-
bém para reforçar o traçado e a ligação entre os rios das buições de seu mapa. Ele informa que todas essas fon-
Mortes, Grande e Paraná. tes portuguesas foram utilizadas como base e definiram
Topo do pico de
No catálogo de livros de Louis-Charles-Joseph de “a maneira de representar as cercanias de São Paulo, e o
Itacolomi, em Minas
Gerais, por Ernest Manne,87 constava uma seção de manuscritos e cartas intervalo até Vila Rica, [como] [...] coisas novas na Carte
de Courcy, c.1885. oriundas do gabinete de D’Anville, herdadas desse de l’Amérique du Sud”.90
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Enquanto a expedição geodésica de Quito foi fun- efetivar seus constantes deslocamentos pelo território.93
damental para que pudesse configurar a região ama- Já a forma que o cartógrafo encontra para hierarquizar
zônica, o Peru, o Panamá e o Chile, o estabelecimento os núcleos urbanos, inserindo-os no mundo que os
da região mineradora foi devido particularmente aos portugueses criaram na América, revela-se na escolha
documentos entregues por dom Luís da Cunha ou, por do tamanho e tipo das fontes. Tal escolha, não aleató-
intermédio desse, por Couvay. ria, também fazia parte da metodologia gráfica por ele
Na Carte de l’Amérique méridionale, o grau de desenvolvida com vistas a criar um espaço cartográfico
detalhamento de informações cartográficas sobre as racionalmente inteligível. Como exemplo, a toponímia
Minas aponta para a necessidade de garantir sobre elas Salvador ou Cidade da Bahia (capital) é escrita em mai-
o domínio da Coroa. Todo um conjunto de informações úsculas, negritada e com uma fonte maior, enquanto a
gráficas desenhadas nessa área — os rios e cadeias de do Rio de Janeiro (cidade) é escrita em negrito e com
montanhas com seus traçados conhecidos, os cami- uma fonte um pouco menor, mas maior que Villa Rica
nhos, vilas e pousos estabelecidos pelos portugueses (vila), que também não recebe negrito.
— torna inconteste o fato de que os emboabas haviam Nessa perspectiva, a Carte de la Amérique méri-
ali criado e reproduzido sua civilização. A riqueza de dionale de D’Anville desnudava como incontestável a
detalhes com que a região foi representada desnuda a presença portuguesa na área mineradora, pois “há mui-
centralidade no contexto do império que o embaixador to tempo que as minas de ouro e diamantes que SMde.
conferia às Minas. gloriosamente possui não dão somente matéria aos dis-
Observa-se na Carte de l’Amérique méridionale cursos mas ainda muito mais à inveja”.94
que, entre os paralelos 10 e 25 sul, a parte leste do rio Dom Luís da Cunha defendia que as negociações
São Francisco apresenta-se como uma entidade geográ- entre as duas Coroas deveriam se assentar em bases
fica cujo espaço está palmilhado pela presença portu- cartográficas sólidas e, sem escamotear a realidade
guesa. Contrasta com a parte a oeste do mesmo rio onde geográfica, se guiar pelo já acordado em tratados an-
um vazio cartográfico se impõe.91 Assim, na região que teriores, respeitando as balizas naturais do terreno e
corresponde, grosso modo, à capitania de Minas Gerais o uti possidetis, que assegurava a posse a quem efe-
e seu entorno (Rio de Janeiro, sul da Bahia, São Paulo e tivamente havia colonizado a área disputada. A colo-
Espírito Santo), todo um conjunto de informações grá- nização portuguesa da região mineradora, claramente
ficas desenhadas no mapa — caminhos tracejados, vilas, visível no mapa de D’Anville, tornava inquestionável,
arraiais e pousos hierarquizados entre si — são teste- aos olhos do embaixador, a manutenção da sua posse.
munhos da colonização e da penetração dos portugue-
ses, que interiorizaram o povoamento da região sudeste
do Brasil para muito além do litoral. O Cabo do Norte
É evidente que a porção oeste do São Francisco não
constituía um deserto despovoado, ao contrário do que Em fins do século XVII, os conflitos entre franceses
sugere a imagem gráfica de D’Anville. Uma significativa e portugueses se concentraram na região do chamado
população indígena ocupava as ainda pouco conheci- Cabo do Norte, entre a margem norte do rio Amazonas e
das extensões do sertão interior. Ao conferir diferentes o rio de Vicente Pinzón, o que, grosso modo, hoje cor-
significados aos espaços socioculturais dentro do mapa, responde ao território do Amapá. O avanço da França
“observa-se que os modos de vida considerados provi- nessa região iniciou-se a partir do ano de 1663, quan-
sórios”, como era o caso dos indígenas, são considerados do foi criada a Companhia da França Equinocial, cujo Ao contrário do
que mostra o mapa,
como exteriores, “quer dizer, sem lastro com o mundo objetivo era estimular a ocupação da região da Guiana, a porção oeste
qualificado como civilizado e desenvolvido”.92 Assim, a sob a bandeira francesa. Em 1688, “o projeto francês de do São Francisco
ausência do colonizador fez com que a geografia des- controlar as terras e o Amazonas foi [finalmente] posto não constituía
um deserto
sa região permanecesse oculta, impedindo o geógrafo em marcha”.95 Nesse ano, os franceses, comandados por
despovoado.
de inscrevê-la no mapa, ainda que a mesma fosse co- De Ferrolles, ameaçaram o forte de Araguari. “Mas foi Muitos indígenas
nhecida pelos indígenas que dela tinham domínio para só em 1697 que se resolveram a atacar as fortalezas de ocupavam o sertão.

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Macapá e Parú, que foram destruídas dando início ao A 18 de junho de 1699, França e Portugal assinaram
conflito luso-francês pela posse da região.”96 um tratado de amizade e aliança. Porém essa aproxima-
Com vistas a resolver o conflito, em 1699, Luís XIV ção entre os dois países não foi duradoura. No contexto
e dom Pedro II assinaram um acordo de limites relativo da Guerra da Sucessão Espanhola (1700-1713), novas
às possessões das duas Coroas na Amazônia. O acordo hostilidades se iniciaram a partir de 1704, visto que,
havia sido negociado pelo segundo marquês de Cascais, nesse ano, Portugal abandonou a política de neutrali-
embaixador extraordinário na corte francesa. Em no- dade na qual se mantivera até então e assumiu a defesa
vembro do mesmo ano, foi nomeada uma comissão da posição inglesa. A guerra, que acabou por envolver
portuguesa para determinar os limites da Guiana fran- quase todas as nações da Europa Ocidental, teve re-
cesa e, a 4 de março do ano seguinte, assinado o Tratado verberações significativas na América, pois o campo de
Provisório.97 Nesse tratado, os portugueses compro- batalha entre portugueses, franceses e espanhóis não
meteram-se a evacuar e demolir os fortes construídos se limitou à Europa. Além das duas invasões de piratas Acima na
Carte particulière
ao norte do rio Amazonas, como o Araguari, Camaí, franceses no Rio de Janeiro, a França passou a questio-
du cours de
e especialmente o de Macapá (ou Massapá). Na Carte nar os limites das suas possessões na região amazônica, la rivière des
particuliere du cours de la rivière des Amazones ou de nas fronteiras entre o Brasil e a Guiana. Amazones
Maragnon, de 1729, desenhada por D’Anville a partir Em janeiro de 1712, abriram-se os trabalhos em observam-se os
fortes portugueses
de esboço do padre jesuíta Ignácio Reis, observam-se Utrecht com vistas a superar diversos impasses ocor- do Paru e do
os fortes portugueses da região, sendo que alguns por ridos durante o conflito; e em setembro, dom Luís da Desterro ou do
essa época ainda permaneciam em ruínas, como o forte Cunha recebeu ordens de se apresentar nos Países Exílio, demolido.
do Desterro ou o do Exílio.98 Por seu turno, “a França Baixos, onde foi nomeado segundo plenipotenciário, Abaixo,
três possíveis
se comprometeu a provisoriamente não fazer nenhum sendo o conde de Tarouca o primeiro plenipotenciário.
localizações
estabelecimento na margem norte do rio e a considerar Dom Luís então deixou Paris, onde se encontrava pro- para o rio de
as terras situadas entre Macapá e o rio Iapoc (Oiapoque) visoriamente à espera de instruções. De lá, enviou ao Vicente Pinzón.
A escolha do
tamanho e tipo das ou Vicente Pinzón a ser regulado posteriormente”.99 embaixador José da Cunha Brochado, seu substituto na
fontes fazia parte da A posição portuguesa no conflito foi a de que Inglaterra, um resumo das questões a serem negociadas
metodologia gráfica a eles pertencia, por direito, todas as terras do Cabo com os franceses. “O ponto principal é que a ribanceira
desenvolvida
Norte, situadas entre o Amazonas e o rio de Vicente dos Amazonas, da parte norte, nos fique livremente com
por D'Anville a
fim de criar um Pinzón, que entendem ser o mesmo que o Oiapoque. a entrada desde o cabo” de Vicente Pinzón.101 Ainda que
espaço cartográfico Aos franceses caberia apenas o território ao norte do um mapa anônimo francês, do início do século XVIII,
inteligível.
Oiapoque. Esses, por seu turno, arguiam a dificuldade projetasse a linha de Tordesilhas logo a oeste da foz do
de identificar exatamente tais rios.100 Uma das cópias da rio Amazonas, tirando de Portugal o direito à calha do
Carte de l’Amérique méridionale apresenta exatamen- rio, desde os tratados estabelecidos com a França em
te essa questão. Onde se localizaria o rio de Vicente fins do século anterior, Portugal considerava que tinha
Pinzón e sua foz? Nela D’Anville grafou, em vermelho, assegurado seu direito sobre esses territórios. Como
três possíveis localizações para a baía desse rio que tra- consequência, a posição que os dois embaixadores de-
riam impacto na demarcação da fronteira entre as duas veriam sustentar em Utrecht era basicamente se aterem
Coroas. Na primeira delas, escolhida como marco divi- ao já acordado entre as duas nações. Apesar de dom
sório no mapa impresso, o Cabo do Norte seria o lugar Luís da Cunha afirmar na missiva, “não me lembro ago-
da baía de Vicente Pinzón ou Calcuene; na segunda, o ra a demarcação que mais nos convinha para fazer nossa
Resposta ao
rio Arawari é identificado como o Pinzón, deslocando a ribeira de uma e outra parte”, o importante era que se
embaixador da
França sobre a os limites um pouco mais para o norte; na terceira, o garantisse o “direito de edificar, fortificar, e levantar os
posse do Cabo do rio Oiapoque e Pinzón são coincidentes e a baía estaria antigos fortes que demolimos, que esta foi a maior pe-
Norte, por Roque localizada na sua foz. A primeira opção foi a utiliza- dra de escândalo”. Como referido nos tratados até então
Monteiro Paim, por
da na versão impressa do mapa, mas as duas outras, se estabelecidos, portugueses e franceses tinham ficado de
ocasião da invasão
do Rio de Janeiro adotadas, implicariam perdas de território mais pesa- regular posteriormente os terrenos entre o Oiapoque e o
em 1711. das para os franceses. rio Vicente Pinzón e o embaixador acreditava que essas
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Os bens que a velha tem
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL As Minas Gerais, o Cabo do Norte e a Colônia do Sacramento

de 1713 e, como previra o embaixador, desenrolaram-se ministério, nem o ministério estrangeiro nessa Corte.
de forma relativamente rápida e eficiente, muito dife- Todos e em todos os dias falam e são respondidos e não
rente do que viria a acontecer com as negociações com os adiantam nada, como mula de Atafona”.113
espanhóis. Os três pontos discutidos entre os represen- Essa metáfora — a mula de Atafona — utilizada pelo
tantes das duas Coroas versaram sobre “[a França] ceder embaixador ilustrava bem o que acontecia no reino, onde
o direito que queria ter sobre as terras do Cabo do Norte inúmeros centros de poder dificultavam a tomada de
e que desistisse da navegação do rio das Amazonas com decisões. Atafona é um moinho de água utilizado desde
a qual em último lugar queria ficar, ainda consentindo a antiguidade, puxado por uma mula que anda o dia in-
em não usar da sua entrada” na foz do rio.106 Em janeiro, teiro em círculos. Seu interlocutor nessa carta era, como
Tarouca e dom Luís se reuniram com os representantes ele, um ácido crítico da política interna para quem “tudo
da Inglaterra, sob a batuta do conde de Stratford, “que nasce dos poucos homens que El-rei tem em seu servi-
prometera [que] o Tratado Provisional sobre as ter- ço, quero dizer, que ninguém sabe fazer a sua obrigação
ras do Maranhão ficaria decisivo”, comprometendo-se por não haver disciplina nem doutrina, nem escola; não
também a servir de mediador na negociação com a sabemos mandar, nem sabemos obedecer”.114
França.107 Apesar dessas promessas, os dois temeram A grande dificuldade, que desde cedo se impôs
“que a preço do novo armistício, [os ingleses] quisessem para estabelecer os limites do território a ser devolvido,
lograr a permissão de navegar no rio das Amazonas”.108 foi a falta de mapas da área. Quando o congresso come-
Detalhe do Para dom Luís, a questão mais espinhosa e que çou, dom Luís angustiou-se com o fato de que o conde
mapa com as
desembocaduras os franceses “procuram com ardente desejo” era “que de Tarouca, que vinha munido das instruções para nor-
do rio Amazonas e ficasse livre [...] a entrada e navegação do rio das tear a posição portuguesa, chegara “sem uma boa carta
margens vizinhas, Amazonas”.109 Os dois embaixadores portugueses então daquele estado [do Maranhão], nem tampouco da parte
por D’Anville.
passaram a pressionar os ingleses que, “tendo feito até do rio da Prata, com a explicação das terras que SMde. ali
então mais ofício de mediadores que de bons aliados [...] pretende”. Desolado, confessou que “sempre imaginei
“largas terras de que nós e os franceses nos abstivemos, criticando a inércia em restaurar os fortes de Araguari e deviam empenhar-se nesse negócio por nos haverem que o Conde de Tarouca vinha provido de todos estes
não são de grande utilidade e assim não farão eles gran- Camaú nas terras do Cabo do Norte, o que poderia levar prometido a restituição das ditas terras”.110 documentos, pois as promessas dos tratados têm mais
de força em cedê-las”. A posição dos portugueses era de a que os franceses levantassem de novo dificuldades” na Foi nesse ponto, que os portugueses se impres- força quando são assistidas da mesma justiça”.115 Por
que os limites deveriam ser estabelecidos exatamente no efetiva posse dos portugueses sobre o território.104 sionaram de como eram meticulosas as instruções que justiça, o embaixador se referia a qualquer documento
rio de Vicente Pinzón, que para eles coincidiria com o Se essas terras não pareciam ao embaixador de os embaixadores franceses haviam recebido, bem dife- — mapa, tratado, relação — que justificasse a posse his-
chamado rio Oiapoque. O embaixador avaliava que con- muita valia para os franceses, o acesso à navegação do rio rentes das que possuíam os dois portugueses, cujas or- tórica de um território e a injusta ocupação do mesmo
seguir essas terras não seria difícil, já mantê-las era ou- era outra história. As negociações versavam não apenas dens eram genéricas e ambíguas. Como documentação pela potência inimiga. Mapas começavam a ser utiliza-
tro caso, pois “o ponto é que saibamos guardá-las e usar sobre as possessões territoriais, mas também sobre o di- de apoio às suas reivindicações, os dois não dispunham dos, de forma cada vez mais sistemática, para justificar e
delas ao mesmo tempo em que deixamos incultas e sem reito de comércio na região, para o qual a abertura da mais do que de uma cópia do Tratado Provisional do definir as fronteiras negociadas entre nações rivais.
uso as imensas terras do Grão-Pará”.102 Assim, chamava navegação do rio e seus tributários era essencial. Dom início do século, apesar de que vinham, já havia algum De fato, dom Luís salienta que as poucas instruções
a atenção para o fato de que pouco adiantava apenas a Luís contou que em Utrecht “estão dois franceses que tempo, insistentemente, pedindo instruções e ma- vindas do reino, para piorar as coisas, eram confusas,
posse, pois essa sempre seria precária e passível de ser vêm para regular o comércio e que são mais especulati- pas que pudessem nortear a sua atuação. Cartas iam pois os instruíam a reafirmar acordos contraditórios
contestada se as terras não fossem efetivamente coloni- vos que práticos, [...] e não duvido que estejam intenta- e vinham, mas queixava-se dom Luís ao secretário de no que dizia respeito à abertura ou não da navegação
zadas. Essa sua observação é mais uma demonstração dos da navegação das Amazonas pela leitura de 4 livros Estado: “daí não veio documento algum mais que o do Amazonas aos estrangeiros. A falta ou a imprecisão
de que, à medida que o embaixador encaminhava as su- de viagens, porque hoje as vizinhanças do Brasil são Tratado Provisional”.111 Ele esperava que José da Cunha das ordens forçaram dom Luís da Cunha e o conde de
cessivas negociações portuguesas, ao longo da primeira todo o estudo de França e de toda a Europa”.105 Desse Brochado, que já cuidara de negociações com os france- Tarouca a agir com certa liberdade em relação a esse
metade do século tornava-se mais claro, em sua con- modo, salientava a falta de conhecimento do território ses em 1710, tivesse em seu poder algum documento ou ponto. Percebendo que seria impossível conciliar a con-
cepção geopolítica sobre a América, a importância da por parte dos negociadores franceses, cujas informações mapa que os pudesse guiar, pois não tinham recebido firmação do antigo tratado com a proibição do comércio
colonização dos territórios pretendidos. De fato, os dois provinham, acreditava, de apenas quatro livros de via- do reino nenhuma instrução ou documentos a respei- francês no rio Amazonas, resolveram se ater ao segun-
embaixadores em Utrecht já previam as imensas dificul- gem, e mais uma vez chamava a atenção para o interesse to do Maranhão.112 Exasperado com a falta de rumo no do ponto, que lhes parecia mais importante, pois “se
dades que os portugueses enfrentariam para colonizar a que o Brasil despertava nas cortes europeias. reino em estabelecer uma política clara pela qual eles pedíssemos a confirmação do tal tratado não tínhamos
região: “Jesus que grande negócio era esse para nós103 As negociações com os franceses a respeito do Mara- pudessem se orientar, escreveu a Brochado queixando- ação para exigir a diferença do dito comércio e procu-
— exclamava cerca de dois anos mais tarde Tarouca, nhão foram entabuladas em Utrecht a partir do início -se da secretaria de Estado, pois não compreendia “este rar esta com a revogação do mesmo tratado era contra a
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Os bens que a velha tem
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL As Minas Gerais, o Cabo do Norte e a Colônia do Sacramento

instrução”. A solução do impasse veio quando eles per- quarto” do terreno em disputa.121 Ainda que, como ve-
ceberam, logo na primeira conferência, “que os fran- remos, os portugueses tenham vencido a “guerra” com
ceses em nenhum modo quereriam confirmar o dito os franceses em Utrecht, disputada mais no campo da
tratado, por começar por uma aliança ofensiva contra diplomacia do que no da cartografia, essa foi uma lição
Castela, nem tampouco revogá-lo”. Foi então, informa, que dom Luís da Cunha levou por toda a vida. A par-
que “ousamos oferecer-lhe a alternativa para nos res- tir daí, advogou incessantemente o uso de mapas para
ponderem como fizeram que se não falasse no dito tra- guiar as negociações, insistindo na importância dos
tado e nestas circunstâncias ficamos livres”.116 mesmos como instrumentos diplomáticos e reiteran-
Uma certa liberalidade por parte dos embaixado- do a necessidade de Portugal produzir uma cartografia
res era esperada nas negociações, principalmente num precisa da América para municiar e justificar seus plei-
momento em que as comunicações entre as cortes eram tos. Para ele, a centralidade do Brasil para o império e
lentas e custosas. Jean-Baptiste Colbert de Torcy, mi- a necessidade de definir com precisão suas fronteiras,
nistro de Estado da França, foi informado pelo embai- garantindo assim a soberania portuguesa na América,
xador francês em Utrecht, que “o bravo Tarouca disse marcariam o século XVIII. Ou seja, a guerra continuaria
que a distância de Portugal e a incertitude dos ventos a ser travada nos congressos de paz, e os mapas seriam
para ali fazerem passar um expresso o fazem tomar para armas poderosas de convencimento e persuasão.
si de resolver as demandas de sua corte”.117 Por ser a li- Apesar da aparente desvantagem, sem mapa algum Cours du Maragnon
beralidade inerente ao posto de embaixador, dom Luís da região, os representantes portugueses se apegaram ou du fleuve des
Amazones do
da Cunha insistia que dois importantes pré-requisitos aos tratados anteriores. Essa era outra das máximas de padre Fritz,
para a escolha de um diplomata eram a sua habilidade dom Luís: o respeito ao que tivesse sido anteriormente c.1700, primeiro
ou inteligência e a sua probidade.118 O conde de Tarouca acordado. Apesar de advogar que antigos tratados eram a representar o
rio com acuidade.
e dom Luís da Cunha experimentaram tanta liberda- poderosos instrumentos de negociação, pois histori-
de de manobra em Utrecht que, em dado momento, o camente ancoravam os argumentos pretendidos, sabia
conde apresentou na mesa de negociação “um papel em que eram sempre provisórios e respeitados ou desres- carta daquele estado”.123 Os franceses possuíam, entre encarregados de conduzir os trabalhos “disseram que
branco que seu mestre lhe enviara para tomar a reso- peitados conforme a conjuntura do momento. Quanto tantos outros mapas, um que mostrava que o rio Pinzón primeiro cuidássemos em regrar a dita divisão e ao de-
lução que ele considerasse apropriada a seu serviço”.119 à navegação do rio Amazonas, os representantes portu- se encontrava posicionado, segundo essas medidas, pois trataríamos da outra dependência”.129
Bem ao contrário, as instruções dos franceses dei- gueses garantiram que estava vedada aos franceses ha- nas possessões francesas. Como relata dom Luís, isso A estratégia de primeiro negociar o território, sem
xaram dom Luís da Cunha e Tarouca “admirados [com] via muito tempo, porque o rio ficava abaixo da linha di- “lhes deu um novo argumento para pretender a posse recorrer a expedições de limites, como ocorrera no
a miudeza delas e os documentos e mapas com que vi- visória estabelecida pelas duas nações, cujo marco era o de parte daquelas terras, que segundo a demarcação da tratado anterior, revelou-se boa, pois, conforme dom
nham autorizadas”.120 Ou seja, a realidade dos plenipo- rio de Vicente Pinzón. Apresentaram então uns “papéis sua carta correm desde 3 graus e 3 quartos até o rio de Luís avaliou, não encontrou grande resistência da par-
tenciários franceses era bem diferente daquela primeira que achamos em poder de José da Cunha Brochado”, já Vicente Pinzón”.124 te francesa. Assim redigiram “o projeto do tratado que
impressão de dom Luís. Não eram homens sem prática, apresentados em 1710 por esse embaixador aos france- Quanto aos portugueses, dom Luís confessou, “não entregamos aos ingleses para que o pusessem na mão
baseando-se apenas em quatro relatos de viagem. ses em Haia. Neles se provava que “a patente que o car- tínhamos algum documento por onde possamos mostrar dos franceses como fizeram”. Ficaram então aguardan-
De fato, num curto espaço de tempo, entre dezem- deal de Richelieu acordou com a Companhia, chamada que a nossa posse daquela banda vai sempre seguindo o do e, segundo dom Luís, “posto que até agora nos não
bro de 1712 e fevereiro de 1713, os franceses haviam se do Cabo do Norte, se disse que ela era contra producen- curso do rio”.125 Os únicos recursos de que dispunham tenham respondido ouvimos que só dificultam o artigo
munido de cartas e documentos para sustentar suas po- te, pois lhe não dava permissão de negociar mais que de eram a astúcia diplomática126 e o expediente de pressio- no qual el rei de França deve confessar que as duas mar-
sições frente aos portugueses, o que permitiu que insis- 3 graus e 3 quartos até 4 graus e 3 quartos e que o rio de nar os ingleses seus aliados para que arrancassem dos gens do rio Amazonas indefinidamente nos devem per-
tissem no primado da cartografia para configurar o ter- Vicente Pinson ficava em 3 graus exatos e se disse tam- franceses o que pretendiam.127 Usaram sabiamente o tencer querendo que o nosso domínio não se estenda da
ritório situado entre o Amazonas e o Oiapoque, já que bém que, nesta forma, assim como lhe não disputáva- artifício de tratar primeiro da regulação dos limites de parte setentrional mais que desde a entrada do dito rio
só eles possuíam esses mapas. Como relataram a seu mos a posse daquela demarcação, assim pretendíamos cada Coroa, que os franceses estavam mais predispos- até donde tínhamos o último forte”.130
rei, Luís XIV, “nós sobrepusemos as cartas, nós medi- que o dito rio fosse o limite dos dois domínios”.122 tos a aceitar, para depois abordar a questão da navegação Conforme haviam prometido, os ingleses de fato
mos o terreno”. Apesar dessa vantagem inicial, os ter- O tiro saiu pela culatra. Basear-se nessas medidas do rio Amazonas. Para tanto, convenceram os represen- apresentaram a Luís XIV um ultimatum, o qual foi fun-
mos acordados foram mais favoráveis aos interesses de em graus sem dispor de um mapa confiável acabou sen- tantes ingleses de que “a liberdade da navegação do rio damental para que a solução do conflito se desse de for-
Portugal e os plenipotenciários da França tiveram que do um argumento que se voltou contra as pretensões que pretendiam os franceses seria mui prejudicial ao co- ma rápida e favorável às pretensões portuguesas. Nesse
se justificar a seu rei porque não conseguiram demover portuguesas. Não sem razão, dom Luís queixou-se com mércio de Inglaterra”. Conseguiram então arrancar uma ultimato, a rainha da Inglaterra declarava que “sem es-
os portugueses que “não quiseram jamais ceder que um o cardeal da Cunha que “nós nos achamos sem uma boa promessa e, por ordem da própria rainha,128 os ingleses sas condições não haveria paz”, que a proposição dos
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O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL As Minas Gerais, o Cabo do Norte e a Colônia do Sacramento

franceses era inaceitável e que eles deveriam recuar “da amparar do Maranhão e fazer descer pelo dito rio toda a
pretensão de entrar pelo rio das Amazonas, sem ter mais prata do Peru para ali embarcar sem risco”. Assim, por
liberdade ou posse do que tinham de antes. [E] Que as esse mesmo princípio, “no nosso tratado ficou proibida
terras de uma e outra parte do rio ficariam pertencendo aos franceses a navegação do dito rio e se nos cede-
a Portugal e poderíamos conservar as terras da disputa e ram as suas duas margens indefinidamente afim que
levantar os fortes que foram demolidos”.131 não pudessem tirar pelo mesmo rio a prata do Peru”.139
Em março, dom Luís da Cunha escreveu triunfante Os dois diplomatas sustentaram então que era de “suma
ao reino que “às sobreditas pretensões acordou el rei de importância ter esta porta franqueada no Peru o qual o
França e os ministros ingleses nos diziam que nos vinham rei de França [acabou por reconhecer] que nos toca e
dar aquela notícia tão prontamente”.132 Dessa forma em lha fechamos”.140
relação à questão da navegação do Amazonas e, apesar da Novo acordo provisional foi assinado então en-
resistência dos oponentes, conseguiu-se vedar aos fran- tre as duas partes em Utrecht a 11 de abril de 1713. Por
ceses a navegação não só do seu curso, como também dos ele, “tudo se conseguiu”, festejava dom Luís da Cunha:
portos de entrada do rio. Segundo o embaixador, o obje- “SMde. fica senhor não só das terras do Cabo do Norte,
tivo desses em manter aberta a navegação do Amazonas mas também das duas margens do rio Amazonas, inde-
era tirar pelo mesmo rio a prata do Peru.133 Ele advogava finidamente”.141 Pelo artigo 12, “fica excluído para todos
esse privilégio para os portugueses, pois “o comércio por os franceses o comércio do Maranhão”. Segundo o “ar-
este rio [...] era fácil, chegando as tropas portuguesas até tigo 5, o comércio se abrirá [apenas] no continente das
o Quito e vizinhança do mar do Sul [oceano Pacífico].134 duas Coroas, como se fazia antes”, ainda que o artigo
Ele julgava “de suma importância ter esta porta fran- 7 definisse que “os franceses podem entrar nos portos
queada no Peru” e rogava que “praza a Deus que saiba- onde costumavam entrar antes da guerra”. Dom Luís
mos fazer delas, o uso que os franceses intentavam, [que] afirmava que isso não seria problema, era pura retórica,
muitas vezes me disseram que era de negociarem com o pois que “não me lembre que jamais fossem ao Brasil”.142
Peru até onde a dita ribeira tem o seu nascimento”.135 Chama a atenção para o fato de que ele e Tarouca conse-
Anos mais tarde, dom Luís contou a Marco António guiram muito mais do que lhes fora ordenado, pois “não
de Azevedo que o argumento utilizado para vedar o se esperavam dantes mais que aquelas [terras] em se
rio Amazonas aos franceses “e nos ganhou a causa no achavam os fortes de Araguari e Camaú, mas agora nos
congresso de Utrecht” havia sido um “projeto do padre ficam cedidas, sem alguma limitação, antes com grande
Acuña sobre a navegação do rio das Amazonas”. O pa- aumento, de nos darem em propriedade toda a margem
pel, que “ficou nas mãos do conde de Tarouca”, tinha setentrional do rio das Amazonas”.143 Considerava que
sido enviado por José da Cunha Brochado.136 O padre “se os franceses intentarem em ir ao Brasil, na forma em
Cristóbal de Acuña, jesuíta do Colégio de Cuenca, havia que o podem fazer os ingleses e holandeses, não se po-
sido encarregado de acompanhar a expedição pelo rio derão servir do tratado de Utrecht”. Aliviado, em maio
Amazonas comandada por Pedro Teixeira,137 entre 1636 escreveu ao cardeal da Cunha que “tenha VExa. muitas
e 1638, com cerca de mil membros, até as cabeceiras do boas festas e segura paz com a França, de que este cor-
Peru, chegando a Quito, e depois retornando a Belém. reio leva o Tratado”.144
O relato intitulado Relación del Descubrimiento del rio A Carte de l’Amérique méridionale, de D’Anville,
de las Amazonas foi publicado pelo padre, em 1641.138 ainda que não recue os limites até o rio Oiapoque, ex-
A expedição fazia parte, no contexto da União Ibérica, pressa com bastante clareza a geopolítica de dom Luís da
de um conjunto de iniciativas tomadas pelo governador Cunha para a área que não conferia muito valor às ditas
do Grão-Pará, que almejava garantir a posse da região terras, mas sim à garantia de navegação do rio. A linha
Na página seguinte, amazônica para os portugueses, neutralizando os inva- divisória, estabelecida pela utilização do Cabo do Norte
Alegoria da Paz sores holandeses e franceses e delimitando as frontei- como baliza geográfica, inicialmente corre paralela e de-
de Utrecht na
ras com os espanhóis. pois ascende em relação à calha do rio Amazonas, a uma
ocasião em que foi
assinado um dos Segundo dom Luís, a realização da expedição sus- distância razoável, garantindo aos portugueses não só
tratados, em 1713. tentava-se na ideia de “que el rei de Espanha se devia a soberania sobre as duas margens, como o monopólio
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Os bens que a velha tem
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL As Minas Gerais, o Cabo do Norte e a Colônia do Sacramento

da sua navegação, assegurando-lhe o direito de recons-


truir os fortes demolidos ou abandonados no início do
século XVIII.

A Colônia do Sacramento

No Roteiro de todos os sinais, conhecimentos,


fundos, baixos, alturas e derrotas que há na Costa do
Brasil, de Luís Teixeira, produzido por volta de 1585,
não se observa qualquer vestígio da presença portuguesa
na foz do rio da Prata, aparecendo somente a fortaleza
espanhola de Buenos Aires. Esse panorama, no entanto,
modifica-se durante o reinado de dom Pedro II no ano
de 1680, quando foi fundada a Colônia do Sacramento,
estabelecida por uma expedição portuguesa capitanea-
da por dom Manoel Lobo, então governador do Rio de
Janeiro. Nessa ocasião, ali aportaram cinco navios, com
cerca de 440 pessoas que, desde o início, tinham inten-
ções expansionistas e para lá se dirigiram com o objetivo
de assentar um povoamento duradouro.145 Planta topográfica
Primeiro enclave português situado no rio da da praça da
Nova Colônia
Prata, na margem setentrional do rio, oposta a Buenos
de Sacramento,
Aires, a fundação da Colônia foi de interesse vital para a por José da Silva
Coroa, pois era local estratégico para que Portugal pu- Pais, 1736.
desse usufruir do contrabando da prata explorada pelos
espanhóis na área andina.146 Sua fundação teve como na região do rio da Prata respeitariam o princípio de al
objetivo imediato facilitar o acesso dos comerciantes presente la tiene, “desta forma ficou estabelecido que
portugueses, principalmente os do Rio de Janeiro, ao a Colônia do Sacramento ficasse pertencendo à Coroa
comércio com as possessões espanholas, cujo saldo era portuguesa”.149 Ao receberem de volta o território, os
recebido em prata.147 A Colônia provocou reação ime- portugueses reconstruíram o sítio destruído. A coloni-
diata da parte de Espanha e, poucos meses depois, foi zação da área, que na primeira ocupação se restringira
invadida e destruída por uma expedição enviada pelo à fortaleza, na década de 1690 começou a se expandir
Na página
governador de Buenos Aires. O governador dom José para fora do bastião, constituindo um cinturão agrícola
anterior, o mapa
Garro reuniu “um exército de 250 espanhóis e 3.000 para sustentar os moradores. das capitanias
índios das missões jesuíticas do Paraná e Uruguai e, na No contexto da Guerra da Sucessão Espanhola, em hereditárias, de
Luís Teixeira
madrugada de 6 para 7 de Agosto de 1680, fez tomar 1705 a Espanha expulsou novamente as tropas portu-
em Roteiro de
de assalto a Colônia, aniquilando parte da guarnição guesas ali aquarteladas. No Congresso de Utrecht, de- todos os sinaes,
(houve cerca de 120 mortos)”.148 pois de negociar as questões que envolviam a região conhecimentos,
Em 1681, por tratado provisional assinado entre amazônica com os franceses, foi a vez de os represen- fundos, baixos,
alturas e derrotas,
Portugal e Espanha, o território da Colônia foi devolvido tantes portugueses se sentarem com os espanhóis.
que ha na Costa
aos portugueses, que trataram de enviar nova expedi- A discussão versou não só sobre a devolução da Colônia do Brasil, desde
ção para restaurar a fortaleza e repovoá-la. Esse tratado, do Sacramento, como também sobre a restituição de cabo de Santo
Agostinho até o
que tinha sido “celebrado em 1º. de maio de 1681 entre o dois navios portugueses que haviam sido presos em
estreito de Fernão
sr. rei dom Pedro, de gloriosa memória, e Carlos 2º. rei Buenos Aires, sob a acusação de contrabando. Dom de Magalhães
de Castela”, definia que as possessões das duas Coroas Luís da Cunha queixou-se também da brevidade das (c.1585-1590).

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Os bens que a velha tem
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL As Minas Gerais, o Cabo do Norte e a Colônia do Sacramento

como mediadores, as discussões foram custosas e demo- duas monarquias fiquem no mesmo estado que antes
radas. Para dom Luís da Cunha, a restituição da Colônia da presente guerra” e que, “especialmente, se restitui-
do Sacramento e a cessão, por parte da Espanha, das rão à Coroa de Portugal o Castelo de Noudar com o seu
terras em seu entorno se justificavam, não “por ambição distrito, a Ínsua do Verdoejo, e o Território, e Colônia
de lucro”, mas “somente para a segurança daquele es- do Sacramento”.159
tado, em que os nossos aliados deviam estar sempre em A expressão al presente la tiene, que constara do
grande cuidado e atenção”. Segundo ele, era evidente Tratado Provisional, gerou muitas controvérsias ao
“que tínhamos naquelas regiões mais terras do que po- longo das negociações em Utrecht. Afinal, quais eram
díamos povoar”.152 Mencionou-se então, pela primeira as terras que os portugueses ocupavam na ocasião?
vez, trocar com os espanhóis o território da Colônia por Os espanhóis insistiam que o território da Colônia a ser
um equivalente de terras. Dom Luís da Cunha discu- restituído aos portugueses deveria se limitar ao que eles
tiu essa questão intensamente com os embaixadores de possuíam até a assinatura do Tratado Provisional, em
Espanha, durante o ano de 1713. Mas, por essa época, 1681, o que praticamente correspondia à fortaleza então
assumiu uma posição ambígua em relação à questão, existente. Os portugueses achavam que, pelo Tratado
afirmando que não saberia precisar a justa equivalên- de Tordesilhas, tinham direito a toda a margem seten-
Este documento,
cia, que não tinha instruções sobre o assunto e que não trional do rio da Prata. Consoante às intenções ex-
guardado por
dom Luís durante se atrevia a propor nada sem ordens expressas do rei.153 pansionistas na área, as instruções que Tarouca e dom
toda sua vida, foi Para ganhar tempo, pois os ingleses pressionavam para Luís receberam em Utrecht questionavam “se podía-
escrito pelo ministro mos meter o Artigo da restituição da Colônia, tirando-
que um acordo fosse assinado, quando finalmente as or-
dos negócios Planta da fortaleza
exteriores, Diogo dens chegaram, dom Luís alegou que não dispunha das -lhe a cláusula como al presente la tiene que se achou de São Gabriel,
de Mendonça Corte cifras necessárias para decodificá-las.154 Apesar dessas no Tratado Provisional”, dada a diferença com que a na Colônia
Real, e descrevia evasivas, confessou mais tarde que “as ordens que em expressão era interpretada pelas duas partes.160 de Sacramento,
as negociações abrangendo o
Utrecht tivemos [foram] para não admitir algum equi- Dispondo de certa independência para manobrar
sobre a Colônia de litoral do Uruguai
Sacramento entre valente pela dita Colônia que não fosse em Europa”.155 a negociação, os dois embaixadores se regozijaram de até Maldonado
Portugal e Espanha. A rainha da Inglaterra, que intermediava as negociações, que “também é de consequência o que logramos sobre e o rio da Prata.
pressionava para que Portugal aceitasse um equivalente a Colônia, pois há tempos trazemos premeditado que se
instruções recebidas a esse respeito, que praticamen- na América e desistisse das pretensões na Europa, a que não falasse na Colônia, sem dizer juntamente o territó- mas cederá assim em seu nome, como de todos os seus

te se resumiam a uma cópia do Tratado Provisional de o embaixador contra-argumentou que “fica mui caro o rio, e com efeito fizemos um plural, como, por exem- descendentes, sucessores, e herdeiros, de toda a ação,

1681, e da falta de mapas em que se basear para delimi- que interessamos no Brasil pelo que deixamos de adqui- plo, quando dizemos no artigo 6º: ‘Que o território e direito, que pretendia ter ao dito Território e Colônia,
e Colônia fiquem compreendidos’”.161 Foi a partir dessa fazendo a desistência pelos termos mais fortes, como se
tar claramente os limites da Colônia. Pediu então que o rir nessas fronteiras” com a Espanha.156 Sugeriu ao con-
liberalidade que dom Luís e Tarouca, “tiraram a cláu- elas aqui fossem declaradas, para que o dito Território,
cosmógrafo-mor, Manoel Pimentel, fosse consultado.150 de de Tarouca que “outro meio havia ainda que poderia
sula de como al presente la tiene, que VMde recomen- e Colônia fiquem compreendidos nos domínios da
A resposta do rei, após consultar o cosmógrafo, foi de conseguir o domínio destas duas praças [Albuquerque
dou” e incluíram o termo Colônia e território, uma Coroa de Portugal. (art.14).163
e Puebla]”, reivindicadas por Portugal na fronteira com
que a Colônia não era de importância alguma a Portugal
a Espanha, admitindo ainda “fazer um pouco de fingi- criação dos dois, “porque [...] o metemos no Tratado da Inicialmente, os dois plenipotenciários se rego-
e de muita para meus reais interesses, mas o que con-
mento (sem o qual não se costuma negociar)”.157 O em- Paz, sem que para isso tivéssemos ordem”. O que isso zijaram com os termos do acordo, pois “nos pareceu
viria mais a esse reino [é que] se formasse outra colônia
baixador revela nesse trecho um aspecto importante significava e quais as consequências que uma simples que ganhamos muito nesta paz”.164 Isso porque, ambos
no território português para resguardar sua própria
das estratégias de negociação diplomática, qual seja, o mudança de termos poderia acarretar? Com isso, os sabiam, os portugueses tinham projetos expansionis-
jurisdição do que expor-se a novas contingências.151
de usar, sempre que necessário, de artifícios falsos para dois embaixadores esperavam provar “que a restituição tas para toda a margem do Prata, especialmente em Nas páginas
Interessante observar que ficamos sabendo dessa ludibriar os adversários. Mas, nesse caso, apesar dos es- e cessão del rei de Castela contém as duas coisas, não Montevidéu165 e na ponta de Maldonado,166 e os termos seguintes, a praça
resolução por intermédio do embaixador espanhol em forços dos dois plenipotenciários, as negociações acaba- só a Colônia, mas [o] território que lhe pertence”.162 genéricos poderiam abarcar toda a margem setentrio- da Colônia do
Desta forma, especificamente em relação à Colônia, o Sacramento no
Lisboa, pois, como se sabe, a atividade diplomática con- ram efetivamente tendendo não para a troca, mas para nal do rio da Prata. rio da Prata,
jugava-se com uma boa dose de espionagem de parte a a devolução do território aos portugueses.158 Tratado de Utrecht, assinado entre Espanha e Portugal, Porém, o mais certo é que a expressão havia sido à esquerda, em
parte, e dessa maneira o seu representante informava às Uma segunda restituição da Colônia a Portugal foi em 1715, declarava que cuidadosamente escolhida pelos embaixadores devido à mapa iconográfico
de 1776; e à direita,
autoridades na Espanha os bastidores da negociação em então acordada no Tratado de Utrecht, finalmente assi- Sua Majestade Católica não somente restituirá o ter- dificuldade em definir em termos mais precisos o territó-
em planta da época
Portugal. Os termos do tratado que luso-espanhóis ne- nado, entre Portugal e Espanha, a 6 de fevereiro de 1715. ritório, e Colônia do Sacramento, sita na margem se- rio pretendido. Conforme dom Luís reclamava, à medida sob o domínio
gociavam em Utrecht iam e vinham e, tendo os ingleses Pelo texto, ficou decidido “que as raias, e limites das tentrional do rio da Prata, a Sua Majestade Portuguesa; que se aproximavam as negociações, “nos acharemos mui espanhol em 1777.

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Os bens que a velha tem
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL As Minas Gerais, o Cabo do Norte e a Colônia do Sacramento

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O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL As Minas Gerais, o Cabo do Norte e a Colônia do Sacramento

embaraçados por falta de explicação no que pertence às com prazo determinado de um ano. Ainda em 1715, exigiria a continuidade dos esforços diplomáticos nos pretensões portuguesas? Dom Luís da Cunha insistiu,
terras boreais do Rio da Prata, as quais, de acordo com dom Luís comunicou ao reino que, como era de de- muitos anos que se seguiram. Os espanhóis insistiam: o mais uma vez, junto ao rei, que “quanto ao território da
o Tratado de cessão de Carlos III, deviam dar-se a esta sejo dos portugueses, de fato, “os espanhóis oferecem termo território, inserido no acordo pelos dois embai- Colônia do Sacramento, seria mui conveniente que se
Coroa, porque se diz que as terras da margem daquele Albuquerque com seu território e a Puebla com seu ter- xadores, correspondia apenas à campanha172 em torno me mandasse um mapa especial daquele país se é que o
rio servia de limite entre as duas monarquias; porém não ritório como equivalente pela Colônia do Sacramento”, da fortaleza, e eles se obstinavam em restituir apenas o há, declarando quais são os limites que SMde. deseja”.176
se explica quais hão de ser as terras e que extensão hão ficando então à espera da decisão portuguesa. Segundo território limitado ao alcance de um tiro de canhão,173 Insistia que “os negócios desta natureza se ajustam à
de ter”.167 Ou seja: a falta de mapas adequados impe- a opinião do conde de Tarouca, era provável que o rei que correspondia a cerca de três quilômetros ao redor vista dos mapas e depois se mandam executar por co-
diu que se estabelecesse um texto que precisasse com aceitasse a oferta,169 porém tal troca não se efetivou. Ao da fortaleza. O que parecia ter sido um lance de astúcia missões que vão regular os limites”.177
mais clareza os limites negociados. De fato, dom Luís da longo de todo o ano de 1716, o embaixador espanhol em política, isto é, a inclusão da palavra território, rapida- Como nada chegava do reino, dom Luís resolveu,
Cunha comentou: “já que por afora se não podia assina- Lisboa negociou diretamente com Diogo de Mendonça, mente se transformou em pesadelo. Por isso, pouco de- uma vez em Madri, procurar o confessor do rei, o jesuí-
lar um distrito, no tempo adiante se virá a regular a de- ministro dos Negócios Exteriores, oferecendo em nome pois, tentando se explicar à Coroa, dom Luís da Cunha ta Daubenton, “procurador geral das Índias Ocidentais,
marcação, para o que fica feito este ato solene de cessão”. de Filipe V um equivalente em território ou a compra da se lamentou em relação ao termo território que “já com o qual me daria as notícias daquele país, por haver es-
O acordo, acreditava, não deixava “dúvida na propriedade Colônia do Sacramento.170 a mesma confusão [do termo al presente la tiene], o tado muitos anos daquelas partes”, “dizendo-lhe que de
[portuguesa], mas somente nos limites” do território.168 Mas a troca acabou não acontecendo de fato, e em metemos no Tratado da Paz”.174 suposto me constava que ele se não metia nos negócios
Logo depois de assinado o Tratado de Utrecht, a 1716 a Colônia foi novamente devolvida aos portugue- A ideia de dimensionar o território português ao políticos,178 me parecia falar-lhe em um, porque nele se
proposta de trocar a Colônia com os espanhóis por ses, o que configurou uma terceira refundação do sítio. alcance de um tiro de canhão foi sugerida pelo gover- interessava a Companhia e debaixo deste suposto lhe
um equivalente - fosse na Europa, fosse na própria Nos anos que se seguiram, seu desenvolvimento urbano nador de Buenos Aires. Dom Baltasar Garcia Ros havia pratiquei o do Território da Colônia do Sacramento, por-
América - voltou à mesa de negociações, pois o texto e comercial chegou ao auge.171 No entanto, ao contrá- escrito ao rei espanhol alertando-o dos prejuízos que que devia confinar com as missões dos jesuítas”.179 Dom
acordado também estabelecia uma cláusula prevendo rio do que dom Luís da Cunha esperava, a sua resti- a reocupação da Colônia iria provocar aos seus inte- Luís pediu-lhe então um mapa da área, entre os muitos
que uma oferta poderia ser oferecida pelo rei espanhol tuição a Portugal renderia ainda muitas reviravoltas e resses, mas quando o rei se decidiu por não entregar a que pertenciam à coleção dos jesuítas, usando assim o
Colônia, como ele sugerira, já era tarde demais. O ato interesse da Ordem pela região das missões a favor dos
formal de entrega já havia sido realizado. Nessa corres- portugueses. Observa-se também que ele não só empre-
pondência, o governador enumerou três possibilidades gou a palavra território, tal qual constava do tratado, como
de interpretar o termo território: a primeira, que se grafou a palavra com letra maiúscula, conferindo-lhe
limitaria ao alcance de um tiro de canhão; a segunda, uma entidade independente da fortaleza propriamen-
que incluiria a campanha, onde os portugueses criavam te dita, insinuando também que o Território da Colônia
gado e exploravam o couro; e a terceira, que abrange- confina com as missões jesuítas, claramente assumindo
ria todas as terras pretendidas por Portugal, compre- uma área muito mais ampla do que apenas a fortaleza
endendo toda a margem setentrional do rio da Prata. original ou os meros três quilômetros do seu entorno.
Contudo, impossibilitados de desistirem da entrega da Com a ajuda de Daubenton, dom Luís conseguiu um
Colônia aos portugueses sem que novo conflito arma- velho mapa de um tal padre Castañeda, cujas “letras es-
do se iniciasse, os espanhóis passaram a se obstinar, a tavam apagadas”, mas que veio a ocupar um papel sim-
partir de então, em interpretar o termo território com bólico, pois provavelmente esse foi o primeiro mapa que
referência apenas ao alcance de um tiro de canhão em o embaixador conseguiu da área e também o primeiro da
torno da fortaleza.175 coleção de mapas de dom Luís. Ele não ficou com o ori-
Como a Espanha se recusava a seguir o que Portugal ginal, que pertencia à Companhia, mas o mandou copiar
entendia que havia sido acordado em Utrecht, impondo sem, no entanto, demonstrar grande entusiasmo, pois
uma limitação ao território da Colônia, foi necessário “como é muito antigo, não me dá melhor luz do país e
continuar os esforços diplomáticos para pôr fim à dis- rios que entram no da Prata que os modernos, ainda que
puta. O próximo lance se desenrolaria em Madri, para igualmente confusos”.180 Essa referência à rede de rios
onde dom Luís da Cunha se deslocou em 1719, chegan- se explica pelo fato de que dom Luís da Cunha pretendia
do em agosto desse ano. Sua principal missão consis- que o rio de “São João faça por aquela parte os nossos
tia em pressionar a Espanha a cumprir o acordo. Nas limites, [e] seria de opinião que nos sustentássemos nesta
negociações diplomáticas que se seguiram, a cartogra- posse sem inovar cousa alguma, deixando correr os pre-
Planta da Colônia
de Sacramento, fia de novo se impôs como ferramenta indispensável. textos de um e outro governador enquanto esta corte não
anônimo, s.d. Como encontrar mapas precisos que justificassem as fala na matéria”.181 Assim, ele aponta um acidente natural
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O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL As Minas Gerais, o Cabo do Norte e a Colônia do Sacramento

Mapa manuscrito
da embocadura do
rio da Prata, com
detalhe na página
ao lado, c.1740.
A linha vermelha
representa o que
os espanhóis
entendiam como
território português;
já a amarela
espelha a pretensão
portuguesa.

do terreno, no caso o rio São João, para definir o limite que a propalada iniciativa de Portugal de construir uma esperança aos jesuítas para que eles contribuíssem quan- da Cunha e o conde de Tarouca foram nomeados repre-
do território da Colônia. Esse expediente de utilizar um fortaleza em Montevidéu “dará maior causa a que os to mais ao ajuste dos limites, porque, como digo, parecia sentantes de Portugal, tendo como secretário Alexandre
acidente natural — cadeia de montanhas ou rio — sus- castelhanos procurem evitar o dano que se lhes pode mui conveniente pôr fim a esta questão”.185 As informa- de Gusmão, e os dois esperavam incluir a questão da
tentará muitas das pretensões portuguesas de limites na seguir, pois hão de supor que faremos mais fortifica- ções que recolhe sobre os benefícios advindos da manu- Colônia nas negociações. No entanto, permaneceram em
América no contexto do Tratado de Madri (1750). ções até o rio Negro”, um dos tributários do rio da Prata. tenção da Colônia sob a bandeira portuguesa não são Paris,188 pois foram impedidos de participar formalmente
Por essa época, esse jesuíta insistiu com dom Luís Defendeu então “que nos sustentássemos nesta posse nada animadoras. Uma das poucas atividades na região pelos ingleses, com a justificativa de que os portugueses
da Cunha que a única forma de resolver definitivamente sem inovar cousa alguma”.184 provinha “das matanças dos bois, por serem os seus cou- não haviam participado da Quádrupla Aliança, estabele-
a questão seria Portugal se contentar com uma troca de É nessa embaixada que se inteira com os padres ros a única utilidade que dali se tira”.186 Em Portugal, uma cida entre Holanda, Inglaterra, França e Espanha, para
territórios, pois “ainda que se ajustem os limites, sempre jesuítas em Madri sobre as peculiaridades da região da das raras vozes nesse sentido era a do duque de Cadaval, garantir a paz mundial.189 Assim, retido em Paris, dom
haverão de haver algumas diferenças, porque [...] não se Colônia do Sacramento e começa a defender que a falta conselheiro do rei, que sustentava “que um rei cujas con- Luís da Cunha tentou conseguir a intermediação dos mi-
trata de mais ou menos terreno, pelos imensos espaços de utilidade dessa possessão, aliada aos altos custos polí- quistas produziam tanto ouro não tinha necessidade de nistros franceses e do embaixador inglês para articular as
que as duas Coroas possuem naquele Novo Mundo”.182 ticos e econômicos para sua manutenção, justificava que um território cuja principal riqueza se constituía na ex- negociações, à margem de Cambrai, e, desta feita, encer-
Os rumores de que Portugal estava para adotar uma po- a melhor opção para resolver o impasse com os espanhóis tração de couros”.187 Paulatinamente, dom Luís da Cunha rar a contenda em relação à Colônia.
lítica expansionista na região, apossando-se das terras era a troca por um território na América. Como não rece- passou a defender posição análoga. Para convencer as autoridades francesas, especial-
que considerava suas por direito, amedrontavam o em- bera ordens nesse sentido, e por ter sido repreendido por A questão da Colônia continuava a se arrastar e nada mente o cardeal Fleury, de intermediarem as negocia-
baixador pois podiam intervir negativamente nas nego- ter tocado no assunto com o confessor do rei, dom Luís se se resolveu em Madri. Começou então a se organizar o ções com os espanhóis nos termos favoráveis a Portugal,
ciações que conduzia em Madri.183 Dom Luís sustentava justificou dizendo que “só falei em que se podia dar esta congresso de Cambrai. Em setembro de 1720, dom Luís dom Luís redigiu uma memória na qual mostrava que o
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O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL As Minas Gerais, o Cabo do Norte e a Colônia do Sacramento

português em Madri, o senhor de Belmonte, Pedro Colônia. No entanto, os ingleses vacilavam. Dom Luís de 1737, de autoria de dom Jose de Amichi, representam
Álvares Cabral. Seus criados, quebrando as regras diplo- comentou consternado que “os ingleses não farão caso o território da Colônia correspondendo apenas ao en-
máticas protocolares, libertaram e abrigaram na embai- da sua garantia, antes darão outras cores ao sucesso, torno da fortaleza, ocupando somente a ponta da penín-
xada um indivíduo que havia sido preso pelas autorida- querendo remeter toda a mediação. De longe se sabe sula que se projeta sobre o rio da Prata, limitado ao que
des de justiça locais.194 Não sem razão, assim que soube às vezes melhor o interior das cortes”. No entanto, ele corresponderia à distância de um tiro de canhão. Numa
do acontecido, dom Luís da Cunha temeu que o episódio exagerava no tom quando dizia que apenas à distân- perspectiva completamente diferente, a cartografia por-
trouxesse o reinício das hostilidades militares entre as cia pudera perceber que os ingleses prometiam uma tuguesa apresenta o território se espraiando para muito
duas nações, cujos reflexos não se dariam na Península coisa e faziam outra, pois desde seus longos anos ser- além da península, interiorizando-se cada vez mais na
Ibérica, mas na América. Não se cansava de alertar que “é vindo em Londres (1697-1712) aprendera a lição que a campanha, distanciando-se da fortaleza, chegando a
da minha obrigação lembrar a VExa. que da menor desa- Inglaterra só servia aos seus próprios interesses. Mas, ocupar toda a margem setentrional do rio da Prata.
vença que tivermos com a Espanha se hão de ver logo os nesse caso, ele contava que eram justamente os inte- Os mapas intitulados O Grande Rio da Prata na
efeitos, não nas nossas fronteiras, mas no Rio da Prata, resses da Inglaterra na região, para além das antigas America austral e Portuguesa201 e a Carte manuscrite
enquanto se não tomar alguma conclusão”.195 Apesar das alianças com Portugal, que fariam com que o país vies- de l’embouchure de rio da Prata,202 ambos produzidos
promessas do ministro espanhol, José Patinho, de que se em socorro, pois o próprio “embaixador de Espanha na década de 1740, sob o impacto do cerco espanhol à
No mapa de bem faz entender que a nossa Colônia lhe é de grande fortaleza, retratam as variações portuguesas de repre-
não haveria retaliações, como previra o embaixador, o in-
D’Anville de 1737,
cidente teve repercussões diretas no Prata e os espanhóis prejuízo porque por ela comerciavam os ingleses”.200 sentar esses domínios. No primeiro caso, o próprio títu-
o Brasil termina em
uma bifurcação até decretaram o bloqueio à Colônia, e novas e custosas ne- Exame dos mapas espanhóis e portugueses dessa lo do mapa sugere que o grande rio da Prata se estende
as margens do rio gociações tiveram que ser novamente entabuladas para se época apontam para as formas bastante distintas que pela parte austral da América portuguesa. Ou seja, toda
da Prata, incluindo ambas as Coroas entenderam ser o território a que os a margem setentrional era de direito português, não se
tentar resolver o impasse.196
a Colônia do
Por essa época, a audácia dos espanhóis e o peri- portugueses tinham direito. Logicamente, mais do que estabelecendo nenhuma linha divisória em torno da
Sacramento.
go que o cerco representava às pretensões portuguesas serem retratos da realidade, essas cartas pretendiam le- Colônia. A fortaleza é desenhada em vermelho sem que
de determinação na bacia do Prata,197 levou dom Luís a gitimar o que cada nação entendia como sendo seu de se estabeleça nenhum limite em relação ao terreno em
rei de Espanha “quer reduzir [a Colônia] somente àque-
abandonar o tom quase sempre pacífico de suas reco- direito. Os mapas eram, nessa perspectiva, antes de mais seu entorno. O segundo propõe uma linha divisória,
les espaços que a artilharia da praça cobre” e buscava
mendações à Coroa. Em julho de 1736, questionava as nada, instrumentos de poder. Mapas espanhóis, como o grafada em amarelo, posicionada imediatamente a oeste
provar a ilegalidade deste ato. Escreveu à Coroa, então,
autoridades em Portugal sobre qual seria a estratégia Plano, perfil y elevación de la Colônia del Sacramento, da fortaleza. Essa linha, posicionada mais ou menos ao
que, à vista de tudo o que lhe informaram os franceses
e o embaixador espanhol, “a intenção desta corte é não para retaliar a ofensiva militar espanhola: “ou de não
permitir que a Colônia tenha maior território que o so- dar ouvidos as proposições dos mediadores enquanto
bredito, assim que, sendo neste caso maior a despesa que não lhe se restituir a Colônia, caso que seja tomada, ou
fizermos em a sustentar, do que a utilidade que dela nos a de ir entretendo a negociação [e] mandar passar ao
resulta, venhamos a largá-la pelo equivalente que nos rio da Prata as forças que tiver no Brasil para a recupe-
quiserem oferecer”.190 O embaixador deixa claro nesse rar e ainda atacar Buenos Aires se possível”. Agora, era
trecho um ponto ao qual ele se apegará daí por dian- ele que se queixava do fato de que a projetada fortaleza
te, a de que a falta de interesse econômico da Colônia de Montevidéu nunca saíra do papel, mas advertia que
justificava sua troca por um equivalente. Efetivamente, ainda era tempo de levantá-la, “pois com ela ficamos
em 1721, o marquês de Capecelato, ministro espanhol, em quanto se disputar até onde estenderá o território
escreveu ao seu embaixador na França, o marquês de da Colônia para a parte do rio Uruguai; se por ventura
Grimaldo, que, “sem embargo o assinalado na Paz de se falar de um equivalente em Europa quanto mais ti-
Utrecht,191 [...] esforçou-se o embaixador Dom Luís da vermos que largar melhor”.198 De fato, a partir de 1736,
Cunha à solicitar se assinalassem limites ao referido ter- os portugueses vão inaugurar uma era mais agressiva
ritório”.192 Mas nada resultou de efetivo uma vez mais. de ocupação sistemática da região sul do Brasil, com
Em fins de 1735, os espanhóis impuseram um se- a construção de fortes (Jesus Maria José, em 1737) e a
vero bloqueio à Colônia do Sacramento. Esse episódio vinda de imigrantes açorianos (1740).199
chamado de “Grande Sítio” e que, “durante quase dois Dom Luís da Cunha, em Haia e depois em Paris, e O grande
Rio da Prata na
anos [1735-1737], levou os habitantes da Colônia às raias Marco António de Azevedo, em Londres, procuravam
America Austral
da inanição”,193 ocorreu a partir de um incidente diplo- convencer as autoridades inglesas a socorrerem Portugal e Portuguesa,
mático provocado pela inabilidade do então embaixador militarmente, a fim de repelir o ataque espanhol na anônimo, 1740.

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mesa de negociação ao longo do século. Como as dis- europeias, mas passaria forçosamente por toda uma reo-
putas territoriais com os espanhóis não se limitavam à rientação geopolítica dos limites entre as duas Coroas na
Colônia do Sacramento, o embaixador passou a advogar América. Dom Luís estava ciente do papel que o Brasil
O documento
que a questão da definição dos limites abarcasse o Brasil passara a ocupar no seio do império português e que
Demonstração fácil
como um todo, e mesmo além, incluindo — como acon- era forçoso garantir o máximo de território possível nas e concludente do
selhara D’Anville — a região das Molucas no mar do Sul. regiões Centro-Oeste e amazônica, mantendo certa se- direito que tem a
No mapa de Coroa Portuguesa,
D’Anville,
O documento produzido por D’Anville para o embai- gurança no sul. Passou então, de forma intransigente, a
de 1715, mapeia
a Colônia de xador - Discussão geográfica sobre a linha de Demar– defender que a grande riqueza de Portugal nesse momen- as terras sob o
Sacramento era cação estabelecida para fixar os limites entre as des- to se encontrava nas minas de ouro recém-descobertas seu domínio,
representada como graças a acordos
cobertas e estabelecimentos de Portugal e aqueles de na região das Minas Gerais, e que a região da Colônia do
uma área circular diplomáticos com
descontínua Castela - teve como objetivo, segundo seu autor, “expor Sacramento, na foz do rio da Prata, por sua absoluta falta
a Espanha, a
em relação ao os meios geográficos que são a favor e contra nas dife- de interesse econômico, seria a grande moeda de troca partir do tratado
território do Brasil. renças que há entre” as duas Cortes.207 D’Anville insistiu com os espanhóis durante as negociações. provisional de 1681.
no primado da geografia como norteadora das suas con-
que corresponderia a de Tordesilhas, sobe pelo territó- como moeda de troca entre as duas Coroas rivais. Outra siderações e, na conclusão, apontou que isso era o “que
rio até o Rio Grande do Sul, mostrando que todo o ter- evidência dessa intenção é o fato de que, em versões da a geografia me dita sobre o que interessa à Demarcação.
ritório a oeste dela estaria sob a posse de Portugal. carta onde as fronteiras foram coloridas, a Colônia não Isso não depende da vontade humana. A intenção e a
Em 1737, dom Luís da Cunha retornou a Paris, pois ter sido circulada nem com a cor que representava as habilidade não podem nada sobre as circunstâncias que
as relações entre Portugal e França, rompidas desde 1725 fronteiras dos territórios espanhóis (amarelo), nem com foram discutidas”.208 Observa-se que, em linhas gerais,
devido a um incidente diplomático,203 haviam sido resta- a dos portugueses (verde). os pontos levantados por ele foram os mesmos nos quais
belecidas nesse ano e ele foi nomeado embaixador. De lá, Dom Luís da Cunha tirou importantes lições das dom Luís da Cunha se apoiou, a partir de então, para en-
monitorava o que acontecia na bacia do Prata, acionando intermitentes negociações em que se envolveu sobre a caminhar as negociações: o Tratado de Tordesilhas não
os representantes diplomáticos de outras nações, princi- questão da Colônia do Sacramento ao longo da primei- tinha mais validade na região da Colônia do Sacramento;
palmente o da Inglaterra, e as autoridades francesas para ra metade do século XVIII. Essas lições tornaram-se a a posse desta estava assegurada a Portugal pelo Tratado
que prestassem auxílio militar ou intermediassem uma base ancilar sobre a qual edificou seu pensamento geo- de Utrecht, ainda que estivesse fora dos domínios por-
negociação com os espanhóis. Tentava acompanhar o dia político. Segundo sua visão, três grandes questões tugueses estabelecidos em Tordesilhas; as Molucas eram
a dia do cerco, com suas idas e vindas, informando-se se se interpunham nas negociações entre Espanha e claramente possessões portuguesas; as negociações de-
a Espanha havia conseguido tomar o bastião português Portugal em relação aos seus territórios na América. veriam abarcar todas essas questões e não se limitar ao
ou se o ataque havia sido repelido. Em novembro, rego- A primeira dizia respeito, após Utrecht, à indefinição território da Colônia e as Molucas seriam uma das mo-
zijava-se “pelo bom sucesso que até os 25 de abril e 13 das duas grandes potências, França e Inglaterra, de se edas de troca. Portugal deveria defender a ideia de que a
de maio haviam tido as armas de SMde. [portuguesa] em envolverem como mediadoras nas negociações luso- Espanha não podia reivindicar ganhos nos dois lados do
América” e pedia que “queira Deus que assim continue espanholas sobre a questão da Colônia do Sacramento, o globo. Examinando os prós e os contras, Portugal poderia
até o fim desejado”.204 Como estava ciente que as forças que o levou a concluir que o assunto deveria ser objeto de se valer da geografia e da diplomacia para garantir a pos-
ali aquarteladas eram insuficientes, o embaixador bus- negociação direta entre as duas Coroas e não seria resol- se da Colônia, demonstrando a ilegalidade do pagamento
cava apoio militar da França e da Inglaterra, como tam- vido no contexto dos grandes tratados de paz europeus. que havia sido feito em troca das Molucas e o que havia
bém defendia que tropas portuguesas de outras praças A segunda se referia à imprecisão sobre a verdadeira me- sido estabelecido em Utrecht.209
brasileiras fossem em socorro da fortaleza.205 dida do meridiano de Tordesilhas, e os limites a serem A invasão dos portugueses de territórios na área mi-
Para dom Luís, como para Alexandre de Gusmão, a respeitados por ambas as nações, preocupação que levou neradora, no Centro-Oeste, e também na região amazô-
posse da Colônia do Sacramento era dispendiosa e pou- o embaixador a encomendar a D’Anville um arrazoado nica - que, de acordo com o Tratado de Tordesilhas, de-
co proveitosa. A soberania dos portugueses sobre ela só de natureza geográfica, que sustentasse as pretensões veriam pertencer à Espanha -, e a compra das Molucas
fazia sentido na medida em que de sua posse dependes- portuguesas, o que resultou na Discussion géographique dos espanhóis - território que já seria português de di-
se a manutenção do direito sobre as minas de ouro. Na sur la ligne de Démarcation.206 A terceira era resultante reito, segundo o mesmo Tratado -, além da própria im-
Carte de l’Amérique méridionale, a Colônia é apresen- da invasão, por parte dos portugueses, de territórios no precisão da localização desse meridiano, segundo dom
tada como uma área circular, que se estende para além centro-oeste e na Amazônia, que, por direito, perten- Luís, exigiam que novos e mais precisos limites fossem
da fortaleza, mas não muito. Essa imagem cartográfica ciam à Espanha, uma vez que as diferenças com a França estabelecidos. Sua atuação o ensinara que qualquer ne-
coaduna-se com a ideia de a mesma vir a ser utilizada haviam sido resolvidas em Utrecht e não retornaram à gociação com a Espanha não se resumiria às fronteiras
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O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL As Minas Gerais, o Cabo do Norte e a Colônia do Sacramento

C ONSIDERAÇÕES
FINAIS

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ÀS VÉSPERAS DO
TRATADO DE MADRI
A diplomacia e o uti possidetis

A ênfase na negociação como meio de oi a partir das disputas de soberania por-


garantir a soberania dos territórios tuguesa sobre as regiões da Amazônia e
da Colônia do Sacramento, e sua preo-
exigiu novas lógicas jurídicas e
cupação com o domínio sobre a produ-
táticas diplomáticas para embasar as ção aurífera das Minas Gerais, que dom Luís da Cunha
pretensões expansionistas das nações. começou a articular algumas das questões que se tor-
naram as pedras angulares de seu pensamento sobre as
estratégias a serem adotadas nas negociações de limites
com a Espanha: 1) a utilização das balizas naturais do
terreno; 2) o respeito aos tratados prévios; e 3) a ideia do
uti possidetis, ou seja, o de “dar por boa a posse em que
cada um estivesse”.1 Examinaremos aqui como esses
dois últimos expedientes diplomáticos configuram-se
no pensamento de dom Luís da Cunha, já que utilizar as
Os Embaixadores, por
balizas naturais do terreno para esse tipo de negociação
Hans Holbein, o jovem,
1533. Desde o séc. XVI, não constituía novidade.
a cartografia e a diplomacia Durante a época moderna, a definição das frontei-
caminhavam juntas. ras estava diretamente relacionada ao exercício da sobe-
Acima, Fernando VI e Bárbara
rania por parte das monarquias.2 De fato, nesse período,
de Braganza nos jardins de
Aranjuez, por Francesco quase todas as coroas da “Europa Ocidental iniciaram
Battaglioli, 1756. um intenso processo de incorporação de territórios
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Às vésperas do Tratado de Madri
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL A diplomacia e o uti possidetis

(através da herança, da conquista ou do pacto)”,3 uti- apresentadas em mapas, memórias, ocupações pos- 1714, no contexto do Tratado de Utrecht, consciente do
lizando fartamente o expediente da guerra (jus belli) e teriores ou linhas imaginárias. Mesmo respeitando os artifício da ocupação (uti possidetis) como assegurador
do pacto (jus tractum), negociados pela via diplomática mapas como reflexos do território em papel, frente a da posse, dom Luís da Cunha relembrou o acontecido
(jus legationis) para angariar territórios e alargar suas uma cartografia fugidia e imprecisa, os tratados já es- quando a Companhia de Comércio da Escócia recebeu
fronteiras, tanto no solo europeu, quanto no além-mar. tabelecidos não podiam ser questionados. Assim, em permissão para colonizar o território do golfo de Darien,
Porém, a partir do Congresso de Utrecht, “a tentação 1721, quando se encontrava em Paris e os conflitos sobre hoje situado entre Colômbia e Panamá. Na ocasião, os
de alargar os limites através da guerra foi cada vez mais a Colônia do Sacramento se acirravam e os espanhóis escoceses pediram que o direito se estendesse a todas as
cerceada por necessidades de ordem internacional, ex- tentavam provar que a posse portuguesa era ilegítima, “terras não possuídas por alguma potência de Europa
pressas na teoria de equilíbrio de poderes e reconhe- baseando-se no Tratado Provisional de 1681, dom Luís - as terras não habitadas”, ou seja, consideraram que
cida pela primeira vez no Congresso”.4 Essa ênfase na argumentou que o tratado de “Utrecht tira toda a dúvi- estas últimas não podiam ser reivindicadas por nenhu-
negociação como meio de garantir o domínio/sobera- da, por ser posterior, o que é tão certo que ainda quan- ma potência europeia porque não haviam sido coloniza-
nia dos territórios exigiu novas lógicas jurídicas e táti- do no mesmo Tratado se acham dois artigos contrários das/povoadas por nenhuma delas. Apesar desse direito
cas diplomáticas para embasar as pretensões das nações um ao outro, só o último é válido, porque as partes ao não ter sido concedido, por “não ser da conveniência Reconfiguração
em constante disputas por territórios. Ao longo de seus mesmo tempo não devem e não podem querer e deixar da lagoa dos
de Inglaterra que ela continuasse” nesse intento, o em-
escritos, dom Luís da Cunha, com coerência e transpa- de querer uma mesma coisa, pelo que a ulterior dispo- Patos e da Merim
baixador lembrou o argumento utilizado nessa ocasião
rência, apresentou suas estratégias de encaminhamento na versão da
sição deve ser a regra de qual foi a vontade dos contra- pela Companhia para advertir, em relação ao Brasil, que
e as justificativas das demandas portuguesas. Carte de l’Amérique
tantes”.8 No mesmo sentido, quando estava em Haia, seria “bom prevenirmos com atos possessórios de todos de 1779.
A América meridional foi, no século XVIII, um dos
na década de 1730, negociando os direitos disputados os lugares ainda desertos que pareçam próprios para se-
palcos onde se desenrolaram os conflitos territoriais entre
entre Portugal e a Holanda pelo comércio na África, ele melhantes estabelecimentos”.10 que poderá alterar-nos a cobiça dos outros a quem vai
as nações europeias, o que exigiu a redefinição das fron-
concluiu que “o fundamento que me parece mais sóli- despertando a riqueza das nossas minas”.12
teiras sistematicamente negociadas em diversos tratados Ele já dera conselho semelhante em 1712, quan-
do é o da posse em que ficamos depois do Tratado de Foi a partir dessa perspectiva que o embaixador
ao longo do século. Para Portugal, e em particular para do foi informado de uma expedição inglesa, capita-
Trégua”,9 estabelecido entre as duas potências em 1641. paulatinamente construiu a ideia do uti possidetis como
dom Luís da Cunha, não se tratava apenas de negociar os neada por um certo capitão Thomas Blau, com planos
Ou seja, o que um tratado estabeleceu, somente outro
limites do Brasil, mas de compreender que este “funcio- de “estabelecer uma nova colônia, que, ainda que não um elemento complementar e até mais forte do que o
tratado poderia abolir.
nava como fronteira de Portugal”,5 isto é, paulatinamen- consta a parte onde se intenta, basta que seja na vizi- acordado em tratados anteriores. Tal conceito articula-
A diplomacia era sua especialidade; e a negociação
te, a América portuguesa substituía o Oriente, como uma nhança do Brasil para recebermos um dano incompará- -se com mais clareza durante o funesto ano de 1736,
de tratados, sua missão. Vem daí o seu cuidado em guar-
reserva natural de riquezas para o reino. Dessa maneira, vel”. Conjeturou que “se acaso fosse nas ilhas de Santa quando seu temor de uma possível perda da hegemo-
dar os papéis das negociações anteriores, em relatar seus
justificava-se o esforço de deslocar sua própria fronteira Catarina ou na dos Patos, temos por certo que perde- nia portuguesa sobre o Brasil se concretizou. A Colônia
principais acontecimentos preservando-lhes a memória,
externa para regiões cada vez mais distantes do litoral, ríamos o grande proveito das nossas minas, usurpan- do Sacramento estava novamente em perigo, cercada
tomando para o domínio da Coroa territórios que teo- como nas Memórias da Paz de Utrecht, e em apegar-se,
do-nos os ingleses a maior parte daquele comércio”. pelos espanhóis, e os franceses tinham invadido mais
ricamente, por tratados anteriores, pertenciam a outras nas negociações seguintes, ao previamente acordado.
Novamente, aparece o argumento da transitividade da uma vez o território brasileiro, apoderando-se da ilha
nações ou eram considerados desertos, terra incógnita, Porém, dom Luís estava cônscio de que, frequentemente,
posse de locais estratégicos no litoral, como garantia do de Fernando de Noronha. Além disso, outro fato impor-
ainda à espera de serem colonizados. “O Brasil pode por- as potências mais fortes desrespeitavam os textos assina-
domínio das Minas Gerais, peça-chave dentre as pos- tante ocorrido nesse ano foi o levante dos sertões da ca-
tanto ser visto como uma sociedade de fronteira durante dos, muitas vezes pela força das armas ou pela ocupação
sessões portuguesas. Como preventivo para tal dano, pitania de Minas contra o imposto da capitação, sobre o
largo período da sua história”, particularmente no século quase silenciosa de um território ainda não colonizado
sugeriu que se “devia mandar logo, sem a menor di- qual dom Luís deve ter tomado conhecimento. Por essa
XVIII.6 Nesse século a necessidade de renegociação dos por quem legitimamente detinha sua posse.
lação, ordem ao Brasil para que se despache qualquer época, o uso do conceito do uti possidetis ainda era du-
seus limites passou a direcionar o grosso da política car-
embarcação às ditas ilhas de Santa Catarina e dos Patos vidoso para a diplomacia portuguesa.
tográfica portuguesa para a América, em detrimento do
O uti possidetis com gente que levasse umas cabanas,11 o que bastaria Nesse mesmo ano, dom Luís da Cunha recebeu or-
próprio reino,7 e todos os esforços régios concentraram-
para provar que temos posse delas”. A efetiva coloni- dens para transladar-se para Paris e começar a negocia-
-se para realizar a cartografia do Brasil.
Se a história e a cartografia histórica eram sistema- zação seria o contraponto mais forte para neutralizar ção com a França tendo em vista o entendimento com a
ticamente invocadas na hora das negociações dos ter- juridicamente uma possível colonização inglesa, pois, Espanha.13 As relações diplomáticas franco-portugue-
O respeito aos tratados prévios ritórios em disputa, era a efetiva colonização do espaço “nestes termos, não deixarão as outras potências de sas, rompidas desde 1725 devido a um incidente diplo-
que, em última instância, justificava a manutenção da ajudar-nos a sustentar um direito indubitável”. E con- mático,14 haviam sido restabelecidas e ele foi nomeado
A questão do respeito aos tratados anteriores se sua posse e servia de argumento para que a potência ri- cluía: “o mesmo se devia fazer em outros quaisquer embaixador. De Paris, dom Luís passou a monitorar o
articulou no pensamento de dom Luís da Cunha pela val, ainda que tivesse tido direitos sobre tal território, portos que houver na costa do Brasil desde o rio das que acontecia na bacia do Prata, acionando os repre-
necessidade de legitimar os direitos de posse historica- não possuísse mais legitimidade sobre o mesmo. Ou Amazonas até o da Prata, porque sendo esta uma pre- sentantes diplomáticos de outras nações, principal-
mente adquiridos, ainda que contrários a demarcações seja, o jus de fato se sobrepunha ao jus de direito. Em venção de mui pouco custo nos livra de muitas questões mente da Inglaterra, e autoridades francesas para que
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O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL A diplomacia e o uti possidetis

esses países prestassem auxílio militar a Portugal, ou portugueses. A dúvida residia nas dificuldades de saber
intermediassem uma negociação com os espanhóis. Ele ao certo quais territórios estavam na posse de quem, já
tentava acompanhar o dia a dia do cerco, com suas idas que no contexto da guerra os acontecimentos evoluí-
e vindas, informando-se se a Espanha havia consegui- am de forma rápida e as notícias demoravam a chegar à
do tomar o bastião português ou se o ataque havia sido Europa. Assim, num dado momento, Gusmão não sabia
repelido. Em novembro se regozijava “pelo bom sucesso se os portugueses já tinham tomado Montevidéu, ou se já
que (...) haviam tido as armas de SMde. [portuguesa] em tinham fundado um povoado no Rio de São Pedro, como
América, [e] queira Deus que assim continue até o fim fora ordenado pelo rei. Precavida, a Coroa portuguesa,
desejado”.15 Como estava ciente que as forças aquartela- sob a influência de Gusmão, recomendou a dom Luís que
das na região do Prata eram insuficientes, o embaixador o melhor seria que “se reponham as coisas in status quo,
buscava apoio militar, como também defendia que tro- referindo-o ao tempo das últimas hostilidades”. Seria
pas portuguesas de outras praças brasileiras fossem em mais prudente do que decidir pelo “uti possidetis, porque
socorro da fortaleza.16 é incerto o que teremos conservado ou perdido até que lá
De novo veio à tona a questão da troca de territó- cheguem ordens, visto que a Espanha continuamente vai
rios, e dom Luís da Cunha começou a conjecturar sobre aumentando forças naquelas partes”.22
as possíveis bases para a concretização dessa operação. Depois da longa discussão entre os dois, que se
Ao mesmo tempo, ele tentava influenciar os ministros traduz em diversas versões que a Dissertation tomou,
franceses a convencerem os espanhóis e ainda conse- Alexandre de Gusmão finalmente consolidou a posição
guir apoio na corte portuguesa para a ideia. Nessa oca- portuguesa em um outro documento conhecido como a
sião, Jean-Jacques Amelot de Chaillou, ministro francês Grande Instrução, de outubro de 1736.23 Os manuscritos
para os Negócios Estrangeiros, o aconselhara de que desse documento foram guardados cuidadosamente por
“qualquer porção de país que Espanha nos desse em dom Luís da Cunha.24 Entre inúmeros tópicos, a Grande
Instrução ordenava que os embaixadores conseguissem
América, sempre nos meteria em novos embaraços que
o máximo de terras em torno da Colônia de Sacramento
era o que cuidadosamente e reciprocamente deveríamos
e não que a mesma se tornasse uma moeda de troca com
evitar” e o teria arguido se estava informado “do que
a Espanha.25 Isso era exatamente o contrário do que, por
SMde. poderia desejar em Europa”. Para ganhar tem-
essa época, já advogava dom Luís da Cunha.26 Também
po, pois não tinha ordens sobre o assunto, dom Luís foi
na margem setentrional do rio da Prata, descartava o
evasivo,17 respondendo que o assunto havia sido tratado
uso do uti possidetis como argumento a ser invocado
em Utrecht, mas que ele não se lembrava do que ficara
na disputa, pois contínuos embates ainda se travavam
acordado.18 Tratava-se de uma de suas estratégias dila-
entre as forças espanholas e portuguesas na região, tor-
tórias, de acordo com a qual “um pouco de fingimento”
nando difícil prever quem estaria na posse do que quan-
sempre era necessário para o encaminhamento adequa-
do se dessem as negociações. Como suas consequências
do das negociações, pois ele possuía uma coleção deta-
seriam incertas, advertia-se que esse argumento só de-
lhada de documentos que descreviam minuciosamente Na página
veria ser invocado como última arma de negociação. Por
toda a questão da Colônia.19 Além do mais, em 1736, anterior, dom
essa época, no entanto, dom Luís da Cunha já conside- Luís da Cunha,
produzia um arrazoado, intensamente discutido com
rava o uti possidetis como tópico central de sua argu- em seu gabinete
Alexandre de Gusmão, secretário pessoal de dom João de trabalho.
mentação. Tal posição baseava-se, porém, na invasão de
V, que resultou em um documento síntese, base para as Nas páginas
Fernando de Noronha pelos franceses, e não no cerco da
futuras negociações, conhecido como Dissertation.20 seguintes, a ilha
Colônia do Sacramento pelos espanhóis. Vejamos.
Nele, Alexandre de Gusmão resumiu seu pensamento a de Fernando
de Noronha na
respeito da questão, e dom Luís da Cunha, que discor- Carte de la partie
dou de algumas das posições defendidas por ele, incluiu A ilha de Fernando de Noronha de l'Ocean vers
suas observações e corrigiu o texto antes que viesse a ser l'Équateur, por
Philippe Buache,
apresentado aos franceses.21 Em novembro de 1736, quando ainda se arrastavam
e em uma carta
Uma das pendências entre os dois foi se o concei- as primeiras tentativas de negociação com a Espanha manuscrita
to do uti possidetis seria favorável ou não aos interesses acerca da Colônia, as mais funestas previsões de dom Luís portuguesa.

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O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL A diplomacia e o uti possidetis

pareciam estar prestes a se realizar. Na ocasião, ele havia a primazia da chegada. Tratava-se de instituir uma so- não era uma simples curiosidade ou aberração carto-
recebido uma carta do reino com “a notícia da ocupação ciedade e uma ordenação administrativa, de “interiori- gráfica. Tratava-se de um ato político declarado de pos-
da ilha de Fernão de Noronha [que] veio confirmada pe- zar a metrópole”.34 se por parte da França, avançando mais uma vez sobre
las notícias que comunicou o vice-rei da Bahia, dadas por Essa noção de direito de posse pela colonização as possessões portuguesas.
uma embarcação nossa que ali aportou”.27 O secretário de aparece claramente nas reflexões de dom Luís a respei- No contexto do cerco espanhol à Colônia do Sacra-
Estado, Antônio Guedes Pereira, contou que “o gover- to da invasão de Fernando de Noronha. Era melhor que mento e da invasão da ilha de Fernando de Noronha,
nador daquela capitania” havia sido informado “que em ali houvesse “uma tal ou qual povoação para que se não em 1736, dom Luís da Cunha instigou a Coroa para que
uma ilha contígua, chamada de Fernando de Noronha, se diga que não pertence a alguma nação, [pois] deve ser ela encetasse uma política mais ativa e francamente ex-
achavam estabelecidos alguns franceses que mostravam da primeira que dela tomar posse e renovando assim pansionista na região sul do Brasil. Ele sugeriu então
serem piratas”. O governador dera ordens de os desalojar a que tivemos”. Assim, adverte que “é para temer que ao rei: 1) “mandar passar ao rio da Prata as forças que
e prender, no que foi bem-sucedido. Num papel incluso, chegando os ditos navios com os mais trezentos homens tiver no Brasil para a recuperar e ainda atacar Buenos
o secretário ordenou a dom Luís da Cunha que procurasse e mais petrechos tornem a revalidar o ato possessivo Aires se possível”;39 2) construir “a projetada fortaleza
“averiguar se os ditos homens são ou não piratas e, segun- que os outros fizeram”. Esses dois trechos ilustram a de Montevidéu, porque [...] se por ventura se falar de
do o que achar, passe os ofícios convenientes naquela cor- importância da colonização para a renovação da pos- um equivalente em Europa quanto mais tivermos que
te”.28 Para cumprir essas ordens, o embaixador começou se obtida pela primazia da chegada. A revalidação da largar melhor”;40 3) povoar essa fortaleza “à sombra da
a movimentar suas redes de informação em Paris e soube, posse portuguesa pelo descobrimento ou dos france- gente e navios que foram da Bahia e Rio de Janeiro”;41
por um de seus informantes no governo,29 que um certo ses pela conquista seria assegurada à nação que tivesse 4) fortificar e povoar as ilhas como, por exemplo, a de
“capitão Lesquelin, por ordem desta Companhia da Índia a primazia da colonização, assentando no território um Santa Catarina.42 São posições bastante diferentes da
(francesa), com nove homens, desembarcara na ilha”.30 povoamento estável. Por isso, afirma que, ainda que se que tomara em 1720-1721, quando temia que qualquer
Se as primeiras informações não eram ameaçadoras, diga que a terra “deve ser da primeira [nação] que dela ação portuguesa poderia provocar mais retaliações por
já que se tratava de apenas oito homens, as consequên- tomar posse”, é “uma tal e qual povoação” que “revalida parte de Espanha.43
cias futuras da ação não poderiam ser mais danosas, pois o ato possessivo”.35 Está aí claramente articulado, pela Ao recomendar a fortificação da costa e o estabeleci-
“sobre estas informações tomou a Companhia a resolu- segunda vez em seu pensamento, ainda que não nome- mento de uma política agressiva de proteção do territó-
ção de fazer naquela ilha, a que deu o nome da Delfina, ado, o direito do uti possidetis. rio, o embaixador deixou claro que, para ele, “o conceito
um grande e útil estabelecimento”.31 Dom Luís chama a É interessante observar que D’Anville possuía de fronteira tinha uma ligação directa com a defesa do
atenção para o fato de que, como parte do ato posses- uma Carte Portugaise manuscrite de l’Isle de Fernao território e da soberania do rei, face ao exterior”.44 Não
sório, os franceses tinham renomeado a ilha. Esse ato de de Noronha, que apresenta na legenda: “no.10 — igreja deixa de ser sugestivo e não pode ser visto como mera
nomeação como contíguo ao ato de posse acompanha e povoação que os franceses fizeram” na ilha. Já outro coincidência que, em 1737, como ele advertira no ano ainda: “Uma fortificação de terra brevemente se levanta e O bispo de Chavigny,
todo o processo de expansão marítima da era moderna, mapa de sua coleção, de autoria de Philippe Buache, in- anterior, a Coroa portuguesa tenha dado início ao po- com boa artilharia se defende sendo forte a guarnição”.45 embaixador em
com os europeus renomeando os acidentes geográficos titulada Carte de la partie de l’Ocean vers l’Équateur, Lisboa a partir de
voamento e à colonização mais efetiva da região de São Como se viu, num primeiro momento, Alexandre
1739, e (na página
à medida que deles vão tomando conhecimento. “Dar- de 1737, onde junto ao arquipélago de Fernando de Pedro, com a edificação de vários fortes. de Gusmão e, por extensão, a Coroa portuguesa te- seguinte) o marquês
-lhes nomes justos, (...) equivale a tomar posse.”32 Noronha aparece o texto “ilha de Fernando de Noronha, meram a adoção pura e simples do conceito do uti D’Argenson,
O embaixador também procurou demonstrar que, nomeada Delfina em 1734 por um navegador francês”,36 possidetis para resolver suas disputas com a Espanha na secretário dos
apesar de se tratar inicialmente de poucos homens, a apresenta a ilha em detalhes e junto à ruína do velho Negócios Exteriores,
A Dissertation região do rio da Prata. Mas, paulatinamente, e por insis-
foram peças-chave
Companhia decidira enviar mais trezentos homens. Era forte vê-se a cruz de madeira plantada pelos france- tência do embaixador, esse conceito vai se configurando para que Portugal
urgente, pois, que “lhe embarace a expedição, contando ses em 1734. “Dar nome à ilha e plantar uma cruz de Juntando suas reflexões sobre a Colônia do Sacra- como o elemento central das negociações, que desá- conseguisse o apoio
porém que, depois dela feita, serão inúteis as diligên- madeira” eram encenações integrantes das cerimônias mento e a ilha de Fernando de Noronha, em fins de 1736, guam em Madri em 1750. Sob inspiração de dom Luís da dos franceses nas
dom Luís da Cunha articulou claramente em seu texto negociações com
cias que se fizerem ou por via da força ou de negocia- com que os franceses estabeleciam suas possessões no Cunha, “nas conferências que precederam à assinatura a Espanha.
ção para que o desista da empresa”.33 Diante da ameaça Novo Mundo.37 Estabelecer um marco, renomear um o conceito de uti possidetis, que de sua correspondên- do Tratado [de Madri] ficou resolvido que se renuncias-
de colonização francesa, ele aconselha o rei de que os acidente geográfico e inseri-lo em mapa sob o domínio cia passa para a Dissertation, que vinha redigindo com se de todo ao estabelecimento de linhas imaginárias de
portugueses deveriam se antecipar e encetar eles mes- de uma outra nação também eram formas importantes Gusmão. Entre as diversas medidas para manter o con- demarcação”. Ou seja, os acordos anteriores não seriam
mos uma colonização efetiva da ilha. Essa insistência de possessão, principalmente porque os mapas eram trole de áreas estratégicas do território, escreveu ao rei mais válidos e os novos limites passariam a ser determi-
em povoar uma região estava diretamente ligada à ideia bastante utilizados como repositórios de memória nas que construísse a fortaleza em Montevidéu, povoando-a nados a partir dos dois princípios que ele advogava: que
de, mais tarde, poder justificar a sua posse pela coloni- negociações diplomáticas sobre o direito ancorado no “à sombra da gente e navios que foram da Bahia e Rio “fossem determinados pelos rios e montes mais notáveis
zação ali estabelecida. Não era mais o caso de somente passado que as diferentes nações teriam sobre os ter- de Janeiro, porque é mais fácil ajustar-se quando se faz e conhecidos” — as chamadas fronteiras naturais e que
levantar marcos de pedra, edificar cruzes ou reivindicar ritórios em disputa.38 Nessa perspectiva, a ilha Delfina sobre o que de uti possidetis, que de outra maneira”. E ficasse “cada uma das partes contratantes com o que
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possuía naquela data” — o uti possidetis —, “excetua- ilustrado, Ensenada foi sucessivamente secretário da
das as mútuas cessões que fossem feitas”.46 Fazenda, Marinha, Guerra e Índias e secretário de
A Carte de l’Amérique méridionale, de D’Anville, Estado. Apoiado por dona Maria Bárbara, seria nomea-
espelha claramente esses conceitos. Os vazios geográfi- do, em 1747, seu secretário particular. José de Carvajal,
cos representam as áreas despovoadas. Estas, ainda que que também contava com o apoio da rainha, era amigo
não colonizadas, podiam estar na posse de uma das duas do embaixador português Vila Nova de Cerveira e sua
Coroas porque estariam circunscritas pelos seus novos li- nomeação visou criar um clima favorável à aproximação
mites fronteiriços. A linha divisória desenhada pelo geó- com Portugal. Porém, nos anos seguintes, a política ex-
grafo respeita tanto os limites naturais do terreno, como terna espanhola foi bastante ambígua, oscilando entre
é evidente na lagoa Merim, quanto o povoamento efeti- uma aproximação ora com a França, ora com a Inglaterra
vo do território. E deixa claro, como no caso da Colônia (o que era dificultado pela obstinação dos ingleses em
do Sacramento, os territórios passíveis de ser intercam- manter sob seu domínio a península de Gibraltar). Quanto
biados entre as duas Coroas. Nesse sentido, ela era uma às pendências com Portugal, especialmente no que con-
expressão evidente da política que dom Luís da Cunha cernia à América, durante muito tempo não se decidiu se
advogava para as negociações de fronteira na América. as negociações seriam feitas em separado ou no conjunto
das alianças que a Espanha negociaria com os demais paí-
ses europeus em Breda (1747) e Aquisgrán (1748).
As negociações em Madri Pouco depois de chegar, Cerveira iniciou as primei-
ras negociações e, em 12 de novembro de 1746, escre-
A partir de meados de 1746, com a morte, no dia veu ao secretário de Estado em Portugal, Marco António
9 de julho, de Felipe V, pró-francês e abertamente avesso de Azevedo Coutinho, relatando a primeira conferência
ao entendimento com Portugal, a Coroa portuguesa efeti- que tivera com o marquês de la Ensenada. Nessa primei-
vou esforços para restabelecer, em bases mais promisso- ra conferência, os dois discutiram “a possibilidade de
ras, as negociações com a Espanha. Essa reaproximação resolver as pendências da Colônia do Sacramento e as
foi a culminância da estratégia diplomática portuguesa, relações comerciais entre os dois países”, iniciando uma
encetada a partir de 1727-1728, com a realização do du- longa negociação, que se arrastará nos anos seguintes.51
plo casamento dos príncipes herdeiros e das princesas Foi nesse momento que se iniciou intensa troca de
descendentes das duas casas reinantes. A negociação informações entre Vila Nova de Cerveira, em Madri, a
envolveu o casamento da infanta espanhola, Maria Ana Corte, em Lisboa (especialmente com Marco António
Vitória, com dom José, herdeiro do trono português, e o de Azevedo Coutinho e Alexandre de Gusmão) e dom
matrimônio da princesa portuguesa, dona Maria Bárbara, Luís da Cunha, em Paris, visando orquestrar as ações
com Fernando, sucessor do trono espanhol.47 Tal estraté- para encetar as negociações.52 A partir de então, ocu-
gia visava criar um clima futuro favorável para Portugal.48 pando seu papel de oráculo do rei, e seguindo as de-
Quando soube da morte do rei espanhol e da ascensão terminações de dom João V, o velho embaixador tratou
de Fernando VI, dom João V escreveu uma carta a sua de aconselhar o que achava que deveria ser feito. Vila
filha, agora a nova rainha, exortando que o amor filial a Nova de Cerveira, por sua vez, o encarregou de fazer
levasse a colaborar com a reaproximação com a Espanha “uma instrução tão miúda que me ponha capaz de per-
e a retomada das negociações.49 A partir daí, tudo come- ceber qual é o verdadeiro interesse de Portugal na con-
çou a evoluir rapidamente. Em setembro de 1746, logo juntura presente”. Sua opinião era tão importante para
após a ascensão de Fernando VI ao trono, o visconde de ele, que rogou a dom Luís que o informasse qual era o
Vila Nova de Cerveira partiu para Madri para assumir seu seu arbítrio e pedia que tivesse “o trabalho de me man-
posto de embaixador de Portugal.50 dar uma planta de paz geral, tal qual V.Exa. entende que
A coroação trouxe mudanças na corte espanhola. pode ser, atendendo ao estado das coisas presentes e
O marquês de la Ensenada foi nomeado secretário de Es- que possa ser para o tempo futuro firme e segura”,53 pois
tado e, no ano seguinte, dom José de Carvajal chegou ao o considerava “fonte perene de sólidos, claros, seguros
posto de secretário dos Negócios Estrangeiros. Homem conselhos (...) como oráculo de toda matéria”.54
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Apesar de afastado do centro das negociações, pois buscava formar opiniões favoráveis aos interesses de Desde o Tratado de Utrecht advogava que mapas deve- essa época, servia dom Luís da Cunha.78 As cidades de
sua avançada idade e sua saúde delicada não recomenda- Portugal. Para eles, dom Luís redigia textos e mais textos riam nortear a negociação das fronteiras entre as na- Blois, Poitiers, Bordeaux e Bayonne — todas em solo
vam sua transferência para Madri, dom Luís desempe- em francês defendendo as posições portuguesas e con- ções e, a partir de 1724, estabeleceu a colaboração com francês —, Vitoria, Miranda de Ebro, Burgos, Aranda de
nhou importante função, articulando de Paris o apoio da testando as espanholas. Como cabia à atividade diplo- D’Anville. Esse, a seu pedido, começara a trabalhar na Duero, Boceguillas e Alcobendas79 — estas já na Espanha
Coroa francesa às pretensões portuguesas. Aproveitava- mática uma boa dose de espionagem, também sondava cartografia da América desde 1737, e vinha aprofundan- —, serviram apenas de pousos breves, suficientes para
-se do fato de que a tradicional aliança hispano-francesa as autoridades francesas com quem se relacionava sobre do seu conhecimento sobre a geografia do continente. repousar o corpo doído da jornada do dia, trocar ou
estava fragilizada, o que era reconhecido mesmo na corte suas posições em relação às disputas com a Espanha.62 O interesse de dom Luís em contribuir para a produção descansar os cavalos e alimentar-se precariamente —
espanhola. A ascensão dos novos ministros de Estado na de mapas do Brasil respondia também ao anseio do vis- somente o necessário para recuperar as energias gastas
França, com a morte do cardeal Fleury (1743) — espe- conde de Vila Nova de Cerveira, também ciente de que na viagem. Mas as dores que lhe assaltavam o corpo já fa-
cialmente a do conde D’Argenson,55 secretário de Estado Dom Luís e os mapas do Brasil mapas seriam um importante instrumento nessa nego- ziam parte do seu cotidiano, comum a todos aqueles en-
e da Guerra; do marquês D’Argenson,56 secretário dos ciação de fronteiras e que deveriam se munir dos que pu- carregados de levar, com presteza e segurança, a corres-
Negócios Exteriores, do bispo de Chavigny57 e do con- Quando, ainda no segundo semestre de 1746, Vila dessem ilustrar a posição portuguesa. Logo nas primeiras pondência entre os embaixadores portugueses dispersos
de de Maurepas,58 todos partidários da Casa de Orléans e Nova de Cerveira começou a entabular as primeiras con- audiências que tivera com Carvajal, este lhe assegurara pelas cortes europeias e, também, entre estes e as autori-
opostos aos interesses dos Bourbon espanhóis —, criava versações com as autoridades espanholas para dar início “que tinha mapas, relações e documentos, e por eles se dades do reino. A seu encargo estava levar com rapidez,
um panorama favorável para uma aliança luso-france- às negociações entre as duas partes, percebeu que as ins- provava que as minas do Cuiabá estavam na demarcação apesar de haver quem dissesse o contrário e o chamasse
sa,59 já que dom Luís sempre mantivera relações amisto- truções que recebera quando partira de Lisboa eram insu- da Espanha, e que no rio Maranhão se usurpara uma cer- de tartaruga,80 a correspondência do embaixador.
sas com os Orléans. Ele e Marco António de Azevedo se ficientes e as novas custavam a chegar,63 especialmente no ta porção de terra que também tocava a Espanha”.69 Uma vez no interior da cidade, o correio81 se des-
consideravam amigos de Chavigny e ambos acreditavam que dizia respeito à questão da Colônia do Sacramento.64 Dom Luís da Cunha, que recebia cópias de todas locou com rapidez, pois as ruas sinuosas e as vielas
que este seria peça-chave para conseguir o apoio dos O primeiro documento mais minucioso que lhe caiu às essas cartas, prometeu então a Cerveira que lhe envia- estreitas, ainda quentes pelo calor do dia, eram suas
franceses nas negociações com a Espanha.60 Chavigny, a mãos sobre o assunto foi-lhe oferecido pelo próprio mar- ria um mapa que retratasse a posição portuguesa, como velhas conhecidas. Sem demora percorreu o cami-
partir de 1739, havia servido como embaixador francês quês de la Ensenada, a quem se queixara da falta de conhe- também a relação de La Condamine sobre o Amazonas,70 nho até a casa de Vila Nova de Cerveira82 e já tarde da
em Lisboa, estabelecendo fortes laços com o país. O con- cimento aprofundado das negociações anteriores entre as e um outro, de autoria de D’Anville, que representa- noite bateu à porta, mas, apesar do adiantado da hora,
tato do velho embaixador com os Orléans passava também duas Coroas. De posse desse relato espanhol, notou que va as missões jesuíticas do Paraguai. Trata-se da Carte Cerveira não se encontrava. A preciosa encomenda foi,
pela amizade que estabelecera com D’Anville, outro dos o mesmo vinha acompanhado de um mapa e apresentava du Paraguay, que o geógrafo publicara no Recueil des por isso, entregue aos criados do diplomata,83 e o vis-
fiéis servidores da casa, e com o marquês D’Argenson, apenas uma versão parcial dos episódios, pois justificava Lettres édifiantes, em 1733.71 Dom Luís prometeu ainda conde foi imediatamente avisado da chegada das no-
com quem se relacionava desde 1737, quando de sua somente os interesses e as pretensões que a Espanha tinha os “dois discursos largos sobre a linha divisória”, que vas de Paris.84 Junto das cartas enviadas por dom Luís
nomeação como embaixador francês em Portugal, ain- na disputa.65 Começou então a demandar instruções mais D’Anville produzira a seu pedido em 1737.72 Cerveira estava um mapa manuscrito da América do Sul,85 que
da que esta tenha acabado por não se efetivar.61 O mar- exatas de Portugal, rogando que “com a brevidade pos- foi informado do conteúdo desses discursos, pois em vinha acompanhado de uma carta explicativa, ambos de
Cuiabá, na Carte quês D’Argenson e Chavigny eram comensais frequen- sível me remeta tudo o que entender que pode instruir- julho de 1747 chegou a mencionar a Carvajal que, se- autoria de Jean-Baptiste Bourguignon D’Anville, geó-
Méridionale de 1779. tes da mesa de dom Luís da Cunha, quando então este -me, não porque me pareça tratar aqui este negócio, mas gundo a “opinião dos geógrafos modernos”, as Molucas, grafo do rei da França.86 Tratava-se da cópia menor da
para saber responder se me falarem”.66 as Filipinas e as ilhas Marianas estariam na porção por- Carte de l’Amérique méridionale, impressa no ano se-
Por essa mesma época, dom Luís da Cunha deu iní- tuguesa, “segundo as novas medidas do meridiano de guinte. Sequioso como estava por mapas de qualidade,
cio a uma nova e profícua produção de textos sobre o as- Tordesilhas”, exatamente a opinião que D’Anville ex- sem poder encontrá-los em Madri, Cerveira recomen-
sunto. Ocupava o papel destinado a um savant iluminista pressara nesses papéis.73 Também recebeu mapas, pois dou a dom João V, opinião compartilhada por dom Luís
— de se tornar conselheiro e espelho de seu príncipe, de mais satisfeito, em fevereiro de 1747, afirmou que já da Cunha, que recompensasse regiamente o geógrafo.87
oráculo no teatro do mundo. Em grande parte coligiu a possuía em seu poder “dois dos melhores mapas, que Dom Luís sabia da “dificuldade de regular os con-
documentação sobre o assunto que reunira durante toda há, e nos podem servir para regular os limites dos nos- fins na América”. Por essa razão, defendia que, depois
a vida, nela inserindo sua própria visão,67 pois constituía- sos domínios”,74 mas, no mês seguinte, se queixou que de estabelecido o acordo, se nomeasse uma comissão
-se numa memória viva de tudo que fora negociado pelos o primeiro mapa que dom Luís lhe prometera ainda não demarcatória para que “pessoas práticas” fizessem “um
portugueses na primeira metade do século. Apesar de es- tinha chegado.75 Tratava-se de “um pequeno mapa para exame [...] dos mesmos lugares”. Mas isso não seria pos-
crever a seu sobrinho queixando-se que estava cansado verificar a sua opinião a nosso favor”, que D’Anville sível, segundo ele, “sem um mapa na forma que aponta
de redigir tantos relatórios,68 sentia um enorme prazer na “ultimamente” fazia, a seu pedido.76 mr. D’Anville”,88 pois esta carta era, na sua visão, o mais
posição de conselheiro da qual o rei o encarregara, ma- Caía a noite de 18 de agosto de 1747 em Madri perfeito espelho do território brasileiro até então reali- Nas páginas
seguintes, vista da
nobrando os cordões da negociação pela Europa. quando um apressado viajante adentrou os muros da zado. A Coroa portuguesa tinha conhecimento do grau
Calle de Alcalá, de
Além de conselhos, o velho embaixador percebeu cidade.77 Estava empoeirado e cansado depois de cerca de precisão do mapa de D’Anville. E por essa mesma Antonio Joli, Madri,
que poderia contribuir também com a parte cartográfica. de dez dias de viagem acelerada desde Paris, onde, por razão, apesar de dom Luís ter enviado uma cópia menor c.1750.

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O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL A diplomacia e o uti possidetis

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O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL A diplomacia e o uti possidetis

ao visconde de Vila Nova de Cerveira,89 o mesmo não exploração econômica que justificasse tal dispêndio,94 Gusmão se altere a partir dessa data, ele ainda continuou
foi apresentado aos espanhóis. Ordens vieram do reino, por isso, e devido à crescente importância econômica cético de que seria possível encontrar um equivalente
diretamente da pena de Alexandre de Gusmão, para que da região mineradora, advogava, em terceiro lugar, que que satisfizesse ambas as partes.
assim fosse feito. Um novo mapa estava sendo prepara- Sacramento fosse negociada em troca de outras praças No entanto, a questão da troca encontrou repercus-
do em Portugal e logo seria enviado ao embaixador em mais importantes. são em Portugal e o assunto começou a ser discutido na
Madri, estabelecendo as negociações em outras bases. Como quarto ponto, dom Luís da Cunha tinha cada corte com mais seriedade, inclusive com a participação
vez como mais certo que as fronteiras entre Brasil e de Gusmão. As instruções régias de 22 de novembro de
Espanha na América deveriam ser negociadas em con- 1748 determinaram finalmente a cessão da Colônia do
Dom Luís da Cunha junto e não se limitar à questão do extremo sul do Brasil. Sacramento.97 Mas, em maio do ano seguinte, em vista da
versus Alexandre de Gusmão A Colônia do Sacramento e as Molucas seriam os pon- lentidão das negociações com a Espanha, ele pergunta-
tos principais de troca, e as novas fronteiras que fossem va a Cerveira, afinal, “qual é, pois, o equivalente que se
Apesar dos esforços de dom Luís da Cunha, sua estabelecidas deveriam se guiar pelas balizas naturais oferece a Sua Majestade pelo dito território e Colônia?”.
morte, em novembro de 1749, impediu que tomasse do terreno e pela predominância do uti possidetis, ou Entre irritado e descrente com a concretização dessa pro-
parte das últimas negociações para solucionar as ques- seja, cada Coroa ficaria com as terras que efetivamen- posta, Gusmão desafiou o visconde a que “lance VExa. os
tões territoriais na América finalizadas em Madri no ano te tivesse colonizado. Como quinto ponto, dom Luís olhos pelo mapa e conhecerá facilmente que nada pode-
seguinte. Ainda que tenha se envolvido, de Paris, nas sustentava que os mapas, o mais precisos possível, mos pretender, que não seja para Espanha de muito valor
negociações preliminares, foi Alexandre de Gusmão deveriam guiar estas negociações, como espelhos dos ou de mais grave consequências, que o que temos pro-
quem finalmente se destacou como o grande artífice Alexandre
territórios negociados e, após a assinatura de um tra- posto”.98 Mas, ao final, no curso das negociações, os por-
de Gusmão,
da negociação dos limites, negociada por Vila Nova de tado definitivo, fossem estabelecidos marcos que sina- tugueses abriram mão da Colônia do Sacramento, que se secretário pessoal
Cerveira.90 Segundo Isabel de Cluny, sua ação, “de- lizassem os novos limites e se fizesse um levantamento tornou a importante moeda de negociação, conforme ad- de dom João V.
senvolvida nas negociações, que visavam pôr fim aos cartográfico o mais detalhado possível dos territórios vogara dom Luís da Cunha havia muitos anos. Em janeiro
problemas no Brasil e no rio da Prata, foram tomadas a americanos, estabelecendo sem sombra de dúvida a li- de 1750, não sem grandes repercussões, ela foi entregue Fronteiras do império
partir das propostas sugeridas por dom Luís da Cunha”.91 nha demarcatória entre os territórios das duas Coroas. aos espanhóis, no acordo assinado em Madri.
Porém, apesar de Alexandre de Gusmão ter ao fim e ao Apesar da ascendência do velho embaixador sobre Apesar das divergências iniciais de Alexandre Em suas Considérations générales sur l’étude et
cabo posto em prática as principais ideias propostas ao Alexandre de Gusmão, isso não foi suficiente para im- Gusmão, o Tratado de Madri de 1750, devido princi- les connoissances que demande la composition des
longo do tempo pelo velho embaixador, a visão geopo- pedir que surgissem algumas diferenças na forma de palmente à iniciativa dos portugueses, acabou por ra- ouvrages de Géographie, livro em que, já perto do final
lítica de ambos e as estratégias utilizadas para a nego- encaminhar as negociações com a Espanha. tificar a maioria dos pressupostos advogados por dom da vida, condensou seus ensinamentos sobre a arte da
ciação dos limites foram divergentes em vários aspectos, Essas divergências já tinham começado a tomar for- Luís da Cunha. A questão não se resumiu à Colônia do cartografia e os conhecimentos necessários para pro-
apesar de terem convergido no texto final negociado. ma na redação da Dissertation, mas se tornaram eviden- Sacramento, nem mesmo apenas à América, mas in- duzi-la, D’Anville afirmou que os mapas mostravam
Ao longo de toda a sua correspondência, dom Luís tes na construção dos argumentos e da cartografia que cluiu as Molucas, localizadas no mar do Sul ou oceano “não apenas os limites das províncias, mas as provín-
da Cunha deixou bastante clara sua opinião a respei- precederam o acordo diplomático em Madri, em 1750. Pacífico, como grandes moedas de troca oferecidas pe- cias mesmo [quando] são ignoradas”.99 Isso seria pos-
to de como encaminhar as negociações de limites. Em Ao contrário do que defendia dom Luís, Gusmão procu- los portugueses pelas possessões no Centro-Oeste e na sível porque mapas eram, na concepção iluminista que
primeiro lugar, acreditava que as novas medidas dos rara salientar nesse texto a impossibilidade de se saber a Amazônia, neste último caso garantindo o monopólio ele e dom Luís compartilhavam, espelhos perfeitos do
meridianos terrestres não deixavam dúvidas de que a real posição do meridiano de Tordesilhas, apesar de ter português sobre as duas margens de toda a extensão do território, projeções gráficas sobre o papel do mundo
Colônia do Sacramento estava fora dos domínios portu- conhecimento das estimativas de Delisle e de que medi- rio. Não se configurou nenhum equivalente de território real, ainda que a própria região ou suas fronteiras fos-
gueses estabelecidos pelo Tratado de Tordesilhas, assim das precisas haviam sido tomadas no Brasil.95 Outra di- na Europa. Os ajustes territoriais se configuraram tendo sem desconhecidas. Nesse caso, eram os espaços dei-
como grande parte da região mineradora (centro-oeste vergência dizia respeito à troca da Colônia do Sacramento. como princípio o uti possidetis, guiando-se sempre que xados em branco que desnudavam a localização desses
do Brasil) e da amazônica. Essa segurança em grande Foi somente em setembro de 1748 que Gusmão aventou possível pelos limites naturais do terreno. Desta manei- territórios e dessas fronteiras ainda não conhecidas.
parte se assentava nas duas memórias sobre Tordesilhas pela primeira vez trocá-la por um equivalente de ter- ra, todo o sertão interior da América ficou sob a posse Mas havia uma outra ideia ainda subjacente a essa sua
que D’Anville produzira a seu pedido.92 Tal assertiva ras, mas esse deveria ser apontado na Europa e não na dos portugueses. Porém, apesar dessas convergências, afirmativa. Ao sustentar que os limites das províncias
impunha, como segundo ponto, que a negociação de- América. Não era, portanto, um mecanismo para inter- Alexandre de Gusmão continuou divergindo de dom podiam ser ignorados, D’Anville, como o embaixador,
veria se basear nos acordos diplomáticos já realizados, cambiar possessões de uma e outra Coroa na América, Luís da Cunha em um ponto fulcral. Essa divergência partilhava da tese de que os limites podem existir ain-
e o Tratado Provisional e o de Utrecht creditavam, sem nem se tratava de pensar as fronteiras americanas no seu se tornará clara, como se verá a seguir, na forma dife- da que não se soubessem onde se situavam, cabendo
sombra de dúvida, a Portugal o domínio da Colônia do conjunto e assim garantir a posse por parte de Portugal renciada como ambos encaminharam a construção do à cartografia revelá-los, dando-os a ver e, assim, pos-
Sacramento.93 Segundo ele, no entanto, a manutenção de grandes extensões de terra, por exemplo, na Amazônia conhecimento cartográfico sobre a América portuguesa sibilitando que os mesmos se tornassem conhecidos e
dessa praça para os portugueses era cara e ali não havia ou no Centro-Oeste.96 Ainda que o tom do discurso de no alvorecer das negociações de 1750. dessa forma respeitados. Com essa crença revelava que
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Às vésperas do Tratado de Madri
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL A diplomacia e o uti possidetis

se conectassem intrinsecamente ao aprimoramento da Ainda que Marco António de Azevedo se queixasse com
cartografia em bases iluministas.101 Diplomacia e geo- Cerveira de que não podia entender por que razão o
grafia se fundiam e se completavam, e a colaboração ministro espanhol não concordava imediatamente com
entre o embaixador e o geógrafo era mais um capítulo a proposta portuguesa, visto que o volume de terras
das conexões estabelecidas no seio de uma República devolutas que sobrariam para cada uma das duas po-
das Letras europeia iluminista, colocada a serviço dos tências era imenso,105 resolver esse diferendo não seria
Estados nacionais para a consolidação de suas fronteiras. tarefa fácil. Impunha muita negociação diplomática, e
No trecho de seu livro que se segue à afirmação os mapas nesse contexto estavam destinados a desem-
sobre o reconhecimento do papel dos mapas para re- penhar papel significativo.
velarem os territórios e suas fronteiras, D’Anville, não A segunda questão referia-se à “falta de mapas e
por acaso, se refere à América do Sul. Segundo ele, “é notícias bastantes dos sertões por onde hão de passar os
no imenso espaço interior da América meridional (e não confins”, exatamente por não serem colonizados pelos
em um reino da Europa) que não se pode dispensar de europeus.106 Segundo D’Anville, “os espanhóis, ainda
traçar vagamente linhas de separação entre diferentes que ocupem muito de vasto na América meridional, não
potências da Europa, tendo ali estabelecimentos sem conhecem nada de províncias particulares do Rio da
limites bem definidos”.102 Ou seja, D’Anville sabia que Prata, do Uruguai e do Paraguai”, ou mesmo do Chile,
as fronteiras que ele desenhava não correspondiam à cujas possessões se estendem ao que nos mapas era cha-
realidade, mas não se furtou a propô-las e, ainda que mado “Terre magellanique”.107 Com esta afirmação, o
as fronteiras fossem imprecisas, cabia aos geógrafos de- geógrafo chamava a atenção para o relativo desconheci-
senhar os limites, contribuindo para o grande debate mento que a Espanha tinha dos seus territórios no Novo
que se estabelecia no campo das negociações diplomá- Mundo,108 mas não diz o mesmo sobre os portugueses.
ticas entre Espanha e Portugal. Esses mapas não seriam Muito ao contrário, estava ciente de que os portugue-
então, como acreditavam os iluministas (entre eles, o ses se preparavam havia algum tempo para negociar
próprio geógrafo e o embaixador), objetos neutros, des- com os espanhóis, intensificando o conhecimento car-
carnados, mas, sim, carregados de subjetividade e de tográfico sobre os sertões interiores do Brasil. Afirmou
intencionalidade política, construindo, e não revelando, estar “informado que a corte de Portugal enviou os as-
a delimitação desses territórios coloniais no continente trônomos a esse país para observar: mas eu tenho ra-
No mapa da foz do sul-americano. zões para acreditar que as razões de estado impedirão
rio das Amazonas, Às vésperas do Tratado de Madri, os negociadores que os resultados dessas observações se tornem públi-
século XVIII, observa-
portugueses propuseram duas linhas gerais para norte- cos”.109 Referia-se à missão dos padres matemáticos110
-se a representação de
Marajó ainda como ar as negociações, advogadas por dom Luís da Cunha, e queixava-se, desolado, de “ser privado desse recurso,
um arquipélago. que acabaram sendo aceitas pela Espanha: “Em pri- que em vão solicitei”,111 o que tornava mais complexo o
meiro lugar, que nas terras já povoadas por qualquer estabelecimento das longitudes concernentes ao conti-
os mapas podiam ser uma invenção e não apenas um que viesse a ser constituído. Era esse o desejo de dom das partes, cada uma [das Coroas] conservaria o que nente sul-americano na carta que acabara de produzir
reflexo do território, antecipando o território que re- Luís da Cunha ao encomendar a D’Anville a Carte de tivesse ocupado” e, “em segundo lugar, que se procu- desse continente. Mas, seguindo seu método costumei-
presentam e não o inverso.100 l’Amérique méridionale: contribuir para o sucesso das rasse constituir a raia pelas balizas mais conspícuas e ro, realizou um longo processo de crítica das fontes de
notáveis de montes ou rios grandes”.103 Duas questões que dispunha, muitas fornecidas pelo embaixador, para
D’Anville apontava para a importância que a car- posições portuguesas na negociação com a Espanha,
surgiram da aplicação desses corolários. A primeira definir de que forma o continente se estendia entre os
tografia desempenhava nesse processo de definição e mas o mapa que deveria servir a esse propósito teria
delas referia-se à existência de muitas terras não co- meridianos que cortavam a região.112 No entanto, não se
consolidação das fronteiras. Desnudava o papel geo- que ser um espelho o mais perfeito possível do espaço
lonizadas nem por uma nem por outra Coroa — uma pode deixar de registrar aqui que tal desconhecimento
político dos mapas de se anteciparem ao próprio terri- representado. Dessa forma, poria definitivamente um
imensidão de “terras desertas, onde sobravam tantas a do continente sul-americano por parte dos espanhóis
tório, representando-o e desvelando-o ao espectador, fim a meio século de contendas entre as partes, já que cada uma das Coroas que não poderia povoar em mui- era relativo, pois há vários mapas e obras de geografia
mesmo quando as próprias províncias ou seus limites não restariam mais dúvidas sobre o território em ques- tos séculos”.104 Essas terras evidentemente desertas sul-americana produzidos por eles nessa época, apesar
fossem ignorados. Nesse caso, os mapas se tornam uma tão. No século XVIII, um século extremamente bélico, do ponto de vista dos colonizadores, há séculos eram de que não raro as informações e relatos fossem con-
arma política de negociação, dando a ver o território a transitividade entre cartografia e diplomacia permitiu o habitat de tribos indígenas que vinham sendo pro- traditórios,113 ou representassem apenas a parte povoada
como as partes consideram que deveria ser ou queriam que os tratados políticos e as delimitações de fronteiras gressivamente exterminadas, expulsas ou escravizadas. pelos espanhóis.
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A INVENÇÃO
DO BRASIL
Uma guerra de imagens

A Carte de l’Amérique os anos que antecederam à assinatura do


méridionale constitui um oráculo Tratado de Madri, mapas iam e vinham
entre Lisboa, Madri e Paris, “para inteli-
valioso. Ela antecipou e inventou o
gência dos limites apontados no Plano”
território brasileiro com as feições
produzido para resolver as questões.1 Por sua impor-
continentais que hoje conhecemos. tância, a cartografia era invocada por todas as partes. Se
mapas davam a ver os possíveis territórios a serem in-
tercambiados na América, ou sua impossibilidade, tam-
bém serviam para representar por onde deveria passar
a raia em negociação. Por essa razão, cada Coroa tratava
de “traça[r] com um risco vermelho” ou de qualquer ou-
tra cor, “ou passar uns fios de seda”,2 demarcando numa
carta suas pretensões territoriais.3 Mapas, como o de La
Condamine, da Amazônia;4 o de Diogo Soares, um dos
padres matemáticos, que representava o rio de São Pedro
Carte de l'Amérique
méridionale, e Curitiba; o do Paraguai, de D’Anville, foram alguns
na versão de 1779, dos reunidos pelos portugueses, entre tantos outros, e
com a inclusão
apresentados aos espanhóis para facilitar o processo de
do Parima, o alto
Paraguai e o entorno negociação.5 Outros foram intencionalmente escondi-
da Lagoa Merim. dos ou utilizados apenas em parte pelos portugueses,
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A invenção do Brasil
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Uma guerra de imagens

como foi o caso da Carte de l’Amérique méridionale, de mapa, até encontrar o rio Madeira, que vai confundir a pela região da bacia do Prata e os mapas utilizados para
D’Anville, ou a Descripçãm do Continente da América sua corrente com a do rio das Amazonas”.11 Que mapa se- configurar esta área. D’Anville possuía exemplares tan-
Meridional, produzida no Brasil às instâncias do vice- ria esse a que o embaixador se referia de forma tão direta to da cartografia portuguesa quanto da espanhola, além,
-rei Gomes Freire de Andrade.6 nas Instruções sem que houvesse necessidade de nomeá- é claro, de mapas produzidos pelos jesuítas. Seus mapas
Em 1747, quando dom Luís enviou a Carte de -lo? Tudo indica se tratar de uma das versões manuscri- da bacia do Prata e do Paraguai totalizam 12 exempla-
l’Amérique méridionale para Cerveira, em Madri, esta tas da Carte de l’Amérique méridionale. Não só era dos res. Descontando-se dois de sua autoria e um de Bellini,
ainda não tinha seu aspecto acabado, mas tratava-se de poucos mapas da época a imprimir essa configuração ao que é posterior a 1748 e se baseia no seu próprio mapa,
um “pequeno mapa para verificar a sua opinião a nosso centro-oeste do Brasil, já que a cartografia portuguesa ha- ele dispunha de nove mapas da região. D’Anville contou
favor”.7 Jaime Cortesão acreditou tratar-se de uma carta via abandonado a representação do lago dourado, quanto ainda com memórias e relatos dos missionários da região
manuscrita, que datou de 1742, cuja cópia fotográfica en- a linha divisória que propunha era exatamente esta que que utilizara na produção de seu mapa Le Paraguay.15
controu no Arquivo do Itamaraty.8 Na coleção D’Anville dom Luís da Cunha apontava. Sabe-se que tais instruções É bastante sugestivo observar de que maneira
há uma carta também intitulada Carte de l’Amérique foram inicialmente escritas em 1736, mas que não foram D’Anville representa a região da bacia do Prata em seus
méridionale, muito semelhante à que traçara para o du- enviadas na ocasião, sofrendo sucessivos ajustes até pró- diversos mapas, nos quais o viés político é marcante, e
que de Chartres, em 1737, porém esta não ostenta nem a ximo à morte do embaixador em 1749.12 como se apropria dessa cartografia de base para configu-
dedicatória nem a data. Possui apenas uma página e suas De que forma as fronteiras portuguesas na América rá-los. Sua representação se modifica ao longo do tempo
dimensões são muito mais reduzidas que as da carta im- foram configuradas na cartografia de D’Anville, até se e observa-se que é sempre um reflexo do que dom Luís
pressa de 1748. Mede apenas 47 centímetros de altura, por consolidarem na Carte de l’Amérique méridionale, de da Cunha entendia serem os interesses dos portugueses. Dom Tomás
1748, e posteriormente em suas diversas reedições? Até da Silva Teles,
34,5 centímetros de comprimento, o que se ajustaria per- Seu primeiro mapa da região, desenhado para os jesuítas,
visconde de
feitamente ao pequeno mapa descrito por Cerveira. Teria que ponto essas configurações corresponderam às visões intitula-se Le Paraguay, inserido nas Lettres édifiantes Vila Nova de
sido esta a produzida em 1742, enviada a Madri em 1747 e geopolíticas que dom Luís da Cunha formulou para a de 1733. Nele, D’Anville não estabeleceu nenhuma li- Cerveira, 1791.
referenciada por Cortesão? Se não se pode descartar esta América? Para tanto é necessário cotejar as conformações nha de demarcação, estendendo o território do Brasil até
do Brasil que a Carte de l’Amérique méridionale estabele-
provável datação (1742), certo é que se pode dizer com a margem norte do rio da Prata, incluindo a Colônia do rio da Prata”.18 A Carte manuscrite de l’embouchure de
ce nas suas diferentes versões com a cartografia apresen-
bastante segurança que não se trata do exemplar enviado Sacramento. Justificou na memória que escreveu sobre rio da Prata, produzida no contexto das negociações dos
tada pelos portugueses durante as negociações em Madri,
para subsidiar as negociações em Madri, visto que a vi- ele que “não se contesta ao Brasil as bordas do mar, até o anos 1740, pertencente à coleção de D’Anville, mostra
e, dessa forma, compreender como as diferentes concep-
são geopolítica que dom Luís advogava para o Brasil não rio da Prata, onde os portugueses possuem a Colônia do bem esse diferendo, utilizando duas linhas com cores di-
ções geopolíticas de dom Luís da Cunha e Alexandre de
se ajustava mais a essa configuração. Isso fica evidente na Sacramento, junto das pequenas ilhas de São Gabriel”. ferentes. O amarelo demarca as pretensões portuguesas;
Gusmão se espelharam em cartografias distintas.
região da Colônia do Sacramento, que é representada de Dada essa “continuação do Brasil” até a margem se- e o vermelho, as espanholas.
Apesar de dom Luís da Cunha ter enviado mapas
forma contínua ao território do Brasil na primeira versão tentrional do rio da Prata, D’Anville não traçou limites Ainda que nessa época essa configuração do Brasil,
de D’Anville para Madri e para o reino, esperando que
e descontínua na segunda, favorecendo a política de tro- nessa área.16 Porém, apesar de não haver nenhuma li- estendendo-se sem limites até a costa setentrional do
fossem utilizados nas negociações, por fim decidiu-se
ca de territórios que o embaixador passou a advogar; e na nha desenhada, a foz do rio da Prata e sua junção com o rio da Prata, não era mais a que D’Anville representasse
em Portugal produzir um “mapa geral (...) que basta-
região amazônica que, na de 1742, restringe a soberania Paraná e o Paraguai, até a lago Xarais e, acima dela, um em seus mapas, ou dom Luís da Cunha advogasse, foi o
rá para a demonstração de tudo” que se pretendia.13
portuguesa ao baixo Amazonas, nas cercanias de Belém, pequeno rio que sai um pouco a leste, configuraram um mapa Le Paraguay o apresentado pelos portugueses ao
Intitulado Mapa dos confins do Brazil com as terras da
respeitando o Meridiano de Tordesilhas. A carta impressa limite natural do terreno entre as possessões das Coroas se iniciarem as negociações em Madri. Tal estratégia con-
Coroa de Espanha na América Meridional, ficou co-
em 1748 é bem mais condizente com o que o embaixador de Portugal e Espanha. Observa-se que esse mapa esta- vinha bem a Portugal, pois ele apresentava como tábula
nhecido como o Mapa das Cortes, porque foi o que afi-
defendia por essa época e, se não dispomos do exemplar va bastante afinado com a proposta que os portugueses rasa, na falta de demarcação clara de fronteiras, todo o
nal serviu “para ajustar o Tratado da divisão dos limites
enviado para Madri, é certo que ele deve ter sido bem pró- sustentavam naquela época, pois esses “supõem que lhes processo de disputa que esse território sofrera entre as
na América meridional assinado [entre as duas Cortes]
ximo da versão manuscrita final da Carte de l’Amérique pertence toda a costa que corre desde a capitania de São duas Coroas, desde a criação da Colônia do Sacramento,
em 13 de janeiro de 1750”.14 Os dois mapas baseavam-
méridionale.9 Esta não apresenta o rio Jauru, na porção Vicente até as margens do rio da Prata”. 17 A visão dos es- em 1680. A opção por esse mapa teve início em 1747,
-se em duas concepções geopolíticas muito diferentes,
superior do rio Paraguai, conhecido em Lisboa desde 1743 panhóis, por seu turno, era radicalmente oposta, e seus quando Vila Nova de Cerveira procurava na cidade “ma-
como analisaremos mais adiante.
e a respeito do qual dom Luís não tinha informações se- mediadores argumentavam que “o Conselho de Índias pas da América meridional para ir examinando por onde
guras. Nas suas Instruções políticas advogou que “os limi- tem provas que parecem incontestáveis de que a extensão os castelhanos confinam com os nossos descobrimen-
tes terrestres [da América portuguesa] poderiam ser o rio A bacia do Prata da demarcação das costas dos portugueses de norte a sul tos no Brasil, conforme as suas mesmas cartas geográ-
Paraguai, que nele deságua, subindo por ele até o Xarayes, não é mais que de 370 léguas, o que termina efetivamente ficas”. Entre as que lhe caíram nas mãos constou uma
ainda que o seu nascimento parece vir de mais longe”.10 Percebe-se que os limites entre as duas Coroas re- no fim desta capitania e cai sobre aquilo que os espanhóis que fora feita “pelos padres da Companhia do Paraguai”
A partir do Xarais, a fronteira seguiria “uma linha ferenciados por D’Anville ao longo de sua cartografia da chamam nos seus títulos Água de Peruega e, por conse- e que Cerveira achou bem adequada. Vendo-se frustrado
para west por espaço de 100 léguas, segundo se vê no América variou com o decorrer do tempo. Comecemos quência, há mais de duzentas e vinte e cinco léguas ao em seu desejo de alcançar um exemplar desse mapa na
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A invenção do Brasil
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Uma guerra de imagens

cidade, escreveu “a dom Luís da Cunha para que o man- Paraguai, autônoma, que se estende entre as possessões seus domínios, a Colônia era ponto de constante tensão O Centro-Oeste e a Amazônia
dasse procurar em Paris”. Como era seu costume, dom Luís portuguesas, a leste, e o rio Paraguai, a oeste, no terri- entre as duas Coroas, desde que fora criada em 1680.
recorreu diretamente a seu autor. D’Anville “tom[ou] por tório ocupado em grande parte pelas missões jesuíticas. Livrando-se dela, a Espanha poderia completar sua he- Em todas as versões da carta, a partir do rio Paraguai,
sua conta fazer copiar o dito mapa, já emendado no ano O mapa de 1737 refletia com precisão o contexto gemonia sobre toda a margem setentrional do Prata. a linha penetra cada vez mais para o noroeste até atin-
de 1732”.19 No ano seguinte, Marco Antônio de Azevedo, político da região nessa época. Mais que tudo, refletia o Todavia, mais que convencer os adversários, essa gir o Amazonas entre São Pedro e Nossa Senhora de
ao listar os mapas que Cerveira podia apresentar aos ne- interesse de dom Luís de mostrar às autoridades france- configuração fazia parecer aos portugueses, para quem Guadalupe. Trata-se exatamente da última povoação
gociadores espanhóis, concordou com a utilização desse sas como as posses de ambas as Coroas naquela região a entrega da Colônia também não era ponto pacífico, portuguesa e da primeira espanhola existentes no curso
mapa. A 26 de março de 1749, quando finalmente deu- estavam embaraçadas e alimentavam uma situação ex- que abriam mão de um território insignificante em troca do rio. Observa-se que, até atingir esse ponto, a raia pas-
-se a primeira conferência com José de Carvajal, ministro plosiva. A continuidade do território brasileiro, acompa- de porções significativas de terreno no Centro-Oeste e sa por um território que, com a exceção do rio Madeira,
espanhol, Cerveira principiou a conferência “com o mapa nhando aparentemente o que mais ou menos conformava na Amazônia. De fato, a troca da Colônia, enfim acorda- é totalmente desconhecido. O traçado do Madeira
à vista que fizeram os jesuítas do Paraguai, e emendou o meridiano de Tordesilhas, fazia com que a presença dos da em Madri, provocou bastante mal-estar em Portugal, D’Anville deveu principalmente a Ignacio dos Reys.
mr. D’Anville no ano de 1732”. O ministro espanhol, no espanhóis em Montevidéu parecesse extemporânea e in- e os adversários da ideia, especialmente a Companhia Foi na casa de Convay, em 1729, que ele desenhou três
entanto, “preferiu um exemplar impresso em tafetá, para cômoda aos direitos dos portugueses. A imagem do mapa de Jesus, encetaram uma campanha difamatória contra cartas da região a partir dos desenhos e instruções des-
poder melhor passar uns fios de seda que assinalassem legitimava claramente a Colônia do Sacramento frente Alexandre de Gusmão, culpando-o pessoalmente pelo se religioso.24 Duas davam detalhes da embocadura
os ditos limites”. Cerveira aceitou o expediente, apesar ao olhar inquisitivo dos franceses, a quem o embaixador acontecido. As críticas eram injustas, Gusmão resistira do Madeira e alguns tributários, como os rios Urubu,
de achar que o procedimento mais fácil era simplesmente tentava convencer por serem intermediários nas nego- enquanto pôde à troca, aceitando-a apenas nos mo- Uatuma25 e Abacaxi,26 nas redondezas de onde o padre
marcar com um lápis vermelho num mapa de papel.20 ciações. É bastante provável que esse mapa tenha sido mentos finais da negociação. Ao contrário, dom Luís da estabelecera sua missão.27 A partir dessas informações,
Ao produzir sua Carte de l’Amérique méridionale, desenhado juntamente com a dissertação que, em 1737, Cunha foi ferrenho defensor desta política22 e a Carte D’Anville estabeleceu a conformação da rede fluvial em
para o estudo do duque de Chartres, em 1737, D’Anville D’Anville produziu sobre o meridiano de Tordesilhas, de l’Amérique méridionale contribuía visualmente para torno da foz do Madeira.
já modificara por onde deveria passar a fronteira nessa dando a ver os interesses portugueses conforme a con- diminuir o impacto do que no reino se chamou de a en- Sem elementos geográficos seguros entre o Xarais
região, pois, desde 1734, passara a advogar a necessida- cepção de dom Luís da Cunha. A proximidade entre os trega da Colônia. e o Amazonas (o curso do alto Purus, desconhecido, é
de de reformar a configuração do Paraguai. Afirmou que limites que D’Anville advoga na dissertação e esse mapa, Em linhas gerais, a raia desenhada nessa carta na insinuado apenas por um tracejado), a linha divisória
era necessário fazer uma extensão do território do Brasil além da coincidência de datas, é suficiente para estabe- porção sul do território assegura a posse de uma estrei- configura-se nesse trecho apenas pela geometria. Dessa
até a possessão que os portugueses tinham na margem lecer a relação entre os dois. A outra versão dessa carta, ta faixa litorânea no Rio Grande do Sul, colonizado pelo forma, uma linha ascendente vai se interiorizando cada
setentrional do Prata, a Colônia do Sacramento, mas talvez de 1742, sem a dedicatória ao príncipe de Orléans, brigadeiro José da Silva Pais, com o estabelecimento, em vez mais a noroeste e corta o Madeira exatamente num
esta tinha que ser interrompida na região de Montevidéu apresenta a mesma raia divisória, e não seria portanto a 1737, do forte de Jesus, Maria e José e era consoante a pro- trecho com poucas informações geográficas. Nessa re-
onde os espanhóis haviam se instalado.21 Observa-se que dom Luís teria enviado a Madri, visto que não refle- posta “feita em 1714, durante as negociações do Tratado gião, um texto do geógrafo informa que 22 saltos de
assim que, na carta de 1737, na região sul do Brasil, a tia mais a visão geopolítica que sustentava os limites do de Utrecht, e que admitia o prolongamento do Brasil, ex- cachoeiras interrompem o curso do rio entre as pos-
linha de limites corresponde exatamente a essa nova Brasil em meados do século XVIII. clusivamente até a embocadura do Prata por uma língua sessões portuguesas e as missões espanholas. Está con-
percepção da configuração geopolítica. A raia, per- Sem sombra de dúvida, é a primeira versão da de terra, de 10 léguas de profundidade, a partir da capita- figurado, portanto, um elemento natural que separa os
pendicular à costa e não muito distante dela, coincide Carte de l’Amérique méridionale, de 1748, que apre- nia de São Paulo”.23 A partir do extremo sul do Brasil, na domínios das duas Coroas e justifica a artimanha do
grosso modo com o local por onde passaria o meridia- senta a configuração mais acabada da proposta que dom porção inferior da lagoa Merim, a linha contorna-a pelo autor de traçar uma fronteira sem um referencial se-
no de Tordesilhas. Dessa forma, alonga os domínios do Luís, em fins dessa década, defendia para os limites com oeste e, a partir daí, utilizando montes e rios, vai interio- guro. Sem elementos geográficos conhecidos, o traço
Brasil até a foz do rio da Prata, mas esses não abarcam a Espanha. Nela, a Colônia do Sacramento não aparece rizando-se cada vez mais no sentido noroeste até atingir corre linear, sem se sobrepor a serras ou rios, que po-
toda a margem setentrional do rio. De fato, o território mais conectada ao território do Brasil, configurando- o rio Paraguai; daí dirige-se ao norte, coincidindo com o deriam configurar elementos demarcatórios naturais,
português toma na base final a forma de uma forquilha -se como um enclave português às margens do Prata. curso desse rio até atingir o lago do Xarais. As versões de até atingir o rio Amazonas. Sem sombra de dúvida, com
ou de um Y invertido. Uma das duas extremidades cor- Visualmente, essa apresentação da Colônia como uma 1754, 1760 e 1765 não alteram a configuração das bacias esse traçado ficava garantida a posse portuguesa de to-
responde à Colônia do Sacramento e a outra à ponta de porção isolada era mais favorável para convencer os dois do Prata e do Paraguai, e somente na de 1779 acrescen- das as regiões mineradoras do Centro-Oeste: Minas
Castilhos, ou Maldonado. No espaço entre as duas es- lados das vantagens de uma possível troca de territórios, ta uma parte norte do curso do rio Paraguai na porção Gerais, Mato Grosso e Goiás. Isso significava também
taria Montevidéu, possessão que os espanhóis haviam como ele advogava. Bastava olhar o mapa para concluir superior do lago do Xarais, incluindo neste trecho dois “preservar a estrada fluvial das monções, que ligava
assegurado e fortificado, em 1736. A raia divisória não que a mesma seria de interesse dos espanhóis, que fi- tributários — o Supoaiva (?) e o Jauru (já no Mapa das [São Paulo] a Cuiabá e, finalmente, unir Mato Grosso
acompanha o rio Paraguai, nem utiliza o Xarais como cariam livres dessa incômoda e pontual presença por- Cortes sua embocadura foi utilizada como limite). Esse aos territórios da Amazônia”.28
elemento natural para dividir o terreno, o que dei- tuguesa no estuário do rio. Apesar de territorialmente artifício permitiu que a raia divisória, que, num pequeno A partir do rio Amazonas uma linha meio artificial,
xa claro que não foi esse que dom Luís tinha nas mãos diminuta, ela era de consequências econômicas e po- trecho na porção inferior do lago, já vinha acompanhan- que se curva para leste, separa as missões jesuíticas dos
quando se referiu a um mapa nas suas Instruções polí- líticas importantes. Além de ser por ali que os comer- do o curso do Paraguai, continuasse na parte superior, portugueses da dos espanhóis, cortando perpendicular-
ticas. Neste, de 1737, D’Anville projeta uma província do ciantes luso-brasileiros drenavam a prata peruana para utilizando o rio como limite natural. mente vários rios da região. É preciso chamar a atenção
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O local escolhido na carta de 1748 para o início da li- o projeto geopolítico que dom Luís da Cunha defen-
nha divisória é então o rio e a baía de Vicente Pinzon. dia ser o favorável aos interesses dos portugueses na
Porém, ainda que, à primeira vista, o mapa conformas- América. Não era, pois, um documento neutro como
se apenas os interesses franceses, na verdade o mais acreditavam os iluministas, mas carregado de inten-
importante para os portugueses ficava preservado. cionalidade, ainda que para isso não fosse necessário
Com essa divisão, a América portuguesa ficava na pos- distorcer o território apresentado, mas, antes, configu-
se de todos os seus antigos fortes construídos nos limi- rá-lo da forma mais realista possível.
tes do que considerava seu território por direito e, mais
importante ainda, garantia o domínio sobre o estuário
e todo o curso do Amazonas, podendo fazer valer as Carte de l’Amérique méridionale
interdições de comércio nessa área às nações estran- versus Mapa das Cortes
geiras. O mapa, nesse sentido, refletia a culminância
de um lento processo de construção da hegemonia No ano de 1749, os meses que se sucederam à de-
portuguesa na calha do Amazonas, defendida por dom cisão portuguesa de ceder a Colônia do Sacramento Guiana, Antilhas
foram marcados por uma tensão sem precedentes. Os e Martinica, no
Luís da Cunha, desde Utrecht, e enfim alcançado com
detalhe do mapa
o Tratado de Madri de 1750.32 portugueses insistiam que os espanhóis apontassem um manuscrito por
Evidencia-se assim que a representação das por- equivalente a ser intercambiado e se arraigavam ao fato D’Anville, em 1745.
ções sul, oeste e norte do Brasil na Carte de l’Amérique
Mapa manuscrito méridionale de 1748 de D’Anville, e não nas versões
de partes do rio de 1737 e c.1742, ilustra as ideias advogadas por dom
Amazonas, Luís da Cunha para o território brasileiro por essa
de Ignacio dos
Reys, 1729.
época. No sul, desde a capitania de São Paulo, o Brasil
se prolonga numa estreita faixa litorânea que margeia
as lagoas dos Patos e Merim, e termina pouco antes da
para o fato de que, nesse trecho, D’Anville representa as O Cabo do Norte e as Guianas
foz do rio da Prata, não se estendendo até a Colônia
bacias do rio Negro e do Solimões comunicando-se en-
Quanto às Guianas, D’Anville valeu-se das me- do Sacramento e os Sete Povos das Missões, posiciona-
tre si, segundo as informações de Gumilla e de Acuña,
dições que Richer e La Condamine tomaram da foz do dos evidentemente em região para além do meridiano
referendadas por La Condamine, sem que o viajante
Aprouak, o primeiro, e da baía de Vicente Pinzon, o se- de Tordesilhas, mas sob o domínio luso. O mapa dei-
francês jamais tenha atingido a parte superior do rio.29
gundo, determinadas a partir do meridiano de Caiena.30 xa evidente as possibilidades de troca entre esses dois
O trecho em torno do Amucu foi estabelecido a partir
Isso permitiu que estabelecesse com precisão a linha terrenos. A oeste a linha de limites preserva na porção
das informações da viagem do prussiano Horstman, e a
proposta para o limite que, a partir desse cabo, se- portuguesa as áreas de Minas Gerais, Mato Grosso e
posterior inclusão do lago Parima graças, segundo ele,
gue mais ou menos perpendicular até a região do lago Goiás, garantindo o seu domínio sobre esse coração
a fontes castelhanas não mencionadas. Enquanto a in-
Amucu. É preciso salientar que, em linhas gerais ele minerador da América, conectando-as à região ama-
clusão do Amucu foi favorável aos interesses dos portu- zônica, conforme advogava dom Luís da Cunha e os
faz uma junção dos interesses franceses e portugue-
gueses, a inclusão do Parima, nas versões posteriores a emboabas ilustrados, que viam nas minas brasileiras
ses nessa região. Assim é que, desde fins da década de
1760, fortaleceu os interesses da Espanha nessa região. o “baú que a velha tem”. No norte, apesar de grande
1720, a cartografia francesa advogava a distinção entre
Na região Amazônica é visível o acréscimo do territó- parte dessa área estar posicionada também em terri-
o Oiapoque e o rio de Vicente Pinzon, para diminuir as
rio português em relação às duas versões mais sim- pretensões dos portugueses nas terras do Cabo Norte.31 tório extra-Tordesilhas, os portugueses garantiam a
ples da Carte de l’Amérique méridionale, a de 1737 e a Valendo-se em grande parte das observações dos total jurisdição de toda a calha do Amazonas e mesmo
de c.1742, que abarca apenas o baixo Amazonas. Na de viajantes franceses que percorreram o litoral da região de grande parte dos seus tributários da margem seten-
1748, a fronteira abrange quase toda a porção oeste da — principalmente La Condamine, que, na viagem entre trional, estendendo o território luso até as fronteiras
bacia e setentrional da planície em torno da calha do Belém e Caiena, traçou esboços ao longo do seu trajeto com as Guianas e com o vice-reinado do Peru. Dessa
rio, estendendo-se, a norte, até a Guiana holandesa e, e tomou as medidas dos locais percorridos —, D’Anville forma, o mapa não era apenas resultado do processo
a oeste, até o vice-reinado do Peru, para muito além do manteve esse estratagema. Sua Carte manuscrite de de desvelamento da geografia do continente, permi-
meridiano de Tordesilhas que, grosso modo, passa junto la Guyane avec les Antilles jusqu’à la Martinique, de tido pela progressiva interiorização dos europeus no
à foz do rio, próximo à ilha de Marajó. 1745, já mostra claramente a separação dos dois rios. território, como pretendia D’Anville, mas dava a ver
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“que se procurasse constituir a raia pelas balizas mais


conspícuas e notáveis de montes ou rios grandes”.33
Espanhóis e portugueses travaram então um epi-
sódio sem precedentes na longa batalha diplomáti-
ca pela definição das fronteiras do Brasil. O tratado de
1750 não pôs fim aos diferendos entre as duas Coroas.
As divergências de limites na América meridional ainda
se estenderão até os séculos XIX e XX, já num contex-
to pós-independência, desta feita envolvendo as jovens
nações americanas. Porém, sem dúvida a negociação
representou um marco ao conferir à América portugue-
sa feições muito próximas às do Brasil atual. O acordo
eliminou o Tratado de Tordesilhas e, pela primeira vez,
em vez de uma linha demarcatória imaginária, consti-
tuiu limites a partir de experiências concretas, fosse a
colonização efetivada ou os limites naturais do terreno,
ainda que em vários casos ambos tenham sido produzi-
dos pela invenção humana.
Essa disputa foi uma guerra de imagens cartográficas.
Antecipando-se aos espanhóis, os portugueses
foram capazes de elaborar um documento cartográ-
fico base, apresentado pelo visconde de Vila Nova de
Tratado de Madri,
assinado em 13 de Cerveira. Conhecido como o Mapa das Cortes,34 esse
janeiro de 1750. documento era o espelho da posição que Portugal de-
fendia em termos de formato das possessões das duas
de que era legítima a posse que detinham desse encla- Coroas na América. Como os Andes acabaram forman-
ve. Nesse contexto, qualquer vazamento de informações do uma barreira natural à interiorização dos espanhóis,
para a Espanha poderia ser extremamente prejudicial. a partir da costa oeste, os vastos sertões do planalto
Não se tratava mais de apenas indicar um equivalente central do continente foram mais facilmente atingidos
de terras que pudesse ser trocado entre as duas cortes, pelos exploradores luso-brasileiros, apesar de per-
mas, como advogara durante anos o próprio dom Luís tencerem à Coroa espanhola, conforme definido pelo
da Cunha, a questão passou a tomar uma forma muito Tratado de Tordesilhas. Com um sábio uso da rede de
mais abrangente, implicando não só a definição de uma rios que cortava a região, os portugueses acabaram co-
nova e ampla linha demarcatória entre todos os territó- lonizando o Centro-Oeste, e, à medida que os explora-
rios na América, mas também o envolvimento das re- dores penetravam pelo interior, aumentava o conheci-
giões em disputa no mar do Sul - Molucas e Filipinas. mento geográfico desses territórios. Essa precedência,
Esboçava-se uma negociação que abarcava dimensões e o relativo desconhecimento dos espanhóis em relação
mundiais e todo cuidado era pouco. às reais dimensões do interior do continente america-
A negociação baseou-se em invocar tratados, auto- no, permitiu que Portugal assumisse a dianteira das ne-
ridades e documentos históricos do processo de coloniza- gociações e garantisse, no tratado assinado em Madri,
ção da América, inclusive mapas históricos e coevos que que a linha demarcatória fosse estabelecida a partir do
pudessem ser utilizados para justificar a posse pretendida Mapa das Cortes.
Maria Barbara de por cada parte. Em se tratando de invasões dos territórios Uma última dimensão, portanto, desse estudo
Braganza, filha
adversários, estabeleceu-se que se lançaria mão em pri- abarca as visões geopolíticas de Alexandre de Gusmão,
de Dom João V, foi
rainha da Espanha meiro lugar do direito de uti possidetis, em que “cada um grande articulador do Tratado de Madri, e de dom
de 1746 a 1758. conservaria o que tivesse ocupado”, e em segundo lugar Luís da Cunha, expressa no mapa de D’Anville a partir
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da comparação entre o Mapa das Cortes e a Carte de tivéssemos de esperar por outros que agora se man-
l’Amérique méridionale. As diferenças denotam que, dassem formar no mesmo país ficaria a conclusão do
apesar do pensamento político de dom Luís ter sido, em Tratado para as calendas gregas”.38
grande parte, levado a cabo pelos negociadores, por in- A despeito dessa primeira ordem, no dia 28 de
fluência do próprio Gusmão, a produção cartográfica do dezembro, a Coroa ordenou a Cerveira que, “quanto
território e a forma de condução geopolítica das nego- ao mapa mandado por Gomes Freire de Andrade, não
ciações foram divergentes. Quais eram essas diferenças? convém comunicá-lo da sorte que está”. A justificati-
Por que, para servir aos propósitos que ambos enten- va para tal decisão foi que “nele apontou o governa-
diam serem os da Coroa portuguesa, o Mapa das Cortes dor a raia que lhe parecia conveniente estabelecer-
distorcia as dimensões da América, enquanto a Carte -se, sendo a sua ideia por falta de inteira notícia das
de l’Amérique méridionale procurava restabelecer, sob nossas razões muito inferior ao que justamente deve-
princípios muito claros, suas reais dimensões? mos pretender”.39 Esse limite se assemelhava bastante
Desde o primeiro quartel do século XVIII, em com a proposta na Carte de l’Amérique méridionale,
grande parte por insistência de dom Luís da Cunha, a de 1737, abrangendo uma parte pequena da Amazônia
Coroa portuguesa não poupou esforços para reunir um e concordando em linhas gerais com o meridiano de
conjunto cartográfico de peso sobre o Brasil, com vis- Tordesilhas. As instruções o advertiam de que, se fosse
tas a municiar seus embaixadores em negociações na necessário “valer-se daquele mapa, pelo que respeita
Europa, a partir da Guerra da Sucessão Espanhola. Em ao caminho de São Paulo para o Cuiabá, e até o Mato
1719, o Conselho Ultramarino, órgão gestor da política Grosso (que é somente o que ele contém de mais par-
colonial portuguesa, recomendou que se incentivasse ticular) poderá VExa. ou fazer copiar só aquela parte,
a produção de mapas sobre o Brasil.35 Depois de quase ou o mapa todo suprimindo o que aponta a respeito
trinta anos de levantamentos geodésicos locais e regio- da futura raia”. Cerveira foi então avisado de que “o
nais, e utilizando muitos relatos e mapas de sertanis- mapa geral que tenho prometido a VExa. e que bastará
tas, em 1746, por ordem de Gomes Freire de Andrade, para a demonstração de tudo, ainda não está acabado.40
então vice-rei do Brasil, foi realizado o mapa intitula- Observa-se, no entanto, que, entre 14 e 28 de dezem-
do Descripção do continente da América Meridional. bro de 1748, a Coroa desistiu de apresentar apenas
Produzida no Brasil, esta carta consolidava o conhe- fragmentos ou cópias dos mapas já na posse do embai-
cimento cartográfico no e sobre o território brasileiro, xador e produzir um novo mapa com a linha divisória
assim como o posicionamento de Portugal em relação que pretendia negociar. Por que a Coroa optou por esse
ao continente sul-americano, já esboçando uma linha procedimento, quando seu diplomata em Madri já pos-
divisória com as possessões espanholas, que ainda res- suía uma cartografia com razoável confiabilidade para
peitava os limites impostos pelo Tratado de Tordesilhas. guiar os trabalhos diplomáticos?
Esse mapa foi então enviado a Gusmão para que servisse Em 1749, o novo mapa, finalmente acabado, se-
de base para a cartografia a ser produzida durante as ne- guiu para a Espanha. Confeccionado sob os auspícios de
gociações.36 De Lisboa, uma cópia seguiu para Madri.37 Alexandre de Gusmão, o Mapa das Cortes se tornou de
Em dezembro de 1748, Cerveira recebeu instru- fato a peça cartográfica chave para o estabelecimento dos
Na página anterior,
ções sobre os mapas que poderiam ser mostrados. limites no Tratado de Madri.41 No entanto, a despeito do o mapa Descripçam
Inicialmente, a lista incluía o mapa de Diogo Soares, que haviam dito as autoridades portuguesas, as diferen- do Continente
para a região do Rio Grande do Sul; o Le Paraguay, ças entre ele e o mapa que Gomes Freire havia mandado da America
Meridional, de 1746,
de D’Anville, para a bacia do Prata; o de Gomes Freire, confeccionar não se limitavam à proposição da raia. O
produzido por
para o Sudeste, incluindo Goiás e Mato Grosso. Dali Mapa das Cortes apresentava sérias inexatidões:42 “vá- ordem do vice-rei,
até o Amazonas, seria usada a Carta das Missões dos rios centros urbanos importantes do interior do Brasil Gomes Freire de
Moxos, que compunha o tomo 12 das Lettres edifiántes, foram empurrados para o oriente, sendo que a cidade de Andrade, sintetizou
todo o conhecimento
e finalmente, para o Amazonas, o de La Condamine e Cuiabá foi deslocada para leste em cerca de 5º, situando-
geográfico dos
D’Anville. Nesse momento, os portugueses se con- -se bem mais próxima de onde passaria o meridiano de portugueses sobre
formavam com “os mapas que já houver, porque se Tordesilhas, e a distância entre os meridianos de Belém o Brasil.

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e da Colônia de Sacramento foi estabelecida em apenas observa o deslocamento geográfico do Brasil para les- Durante muito tempo, a Carte de l’Amérique
7º e 20’”.43 Esses e vários outros deslocamentos decor- te.47 Isso evidencia as máximas que, segundo dom Luís, méridionale de D’Anville, de 1748, foi considerada um
riam do fato de o mapa estar viciado nas longitudes, ape- deveriam guiar as negociações: sem escamotear a rea- tesouro perdido. Sua primazia e importância para a
sar de só as latitudes estarem numeradas na carta. Com lidade geográfica, baseando-se em mapas precisos, as construção do território brasileiro, estendendo-se con-
esse estratagema, toda a América portuguesa foi deslo- negociações deveriam se guiar pelo já acordado em tra- tinentalmente numa feição triangular, muito a oeste do
cada para leste e “a área extra-Tordesilhas do Brasil era tados anteriores, respeitando o uti possidetis e as balizas determinado pelo meridiano de Tordesilhas, foram es-
(...) bastante diminuída, o que dava a impressão de haver naturais do terreno. quecidas. Isso ocorreu devido ao fato de, intencional-
poucos ganhos territoriais para os portugueses a oeste As discrepâncias entre a Carte de l’Amérique méri- mente, a carta não ter sido apresentada aos espanhóis
deste meridiano”.44 Quando as distorções da carta são dionale e o Mapa das Cortes denotam que a visão geo- durante as negociações, a despeito de dom Luís da
corrigidas, posicionando os acidentes geográficos corre- política do território e a forma de condução das nego- Cunha ter enviado uma cópia, talvez em tamanho re-
tamente em relação aos meridianos, tornam-se eviden- ciações entre ambos eram divergentes. Para o experien- duzido, para Cerveira. Optou-se por usar o Mapa das
tes os ganhos territoriais que os portugueses procuravam te embaixador, tratava-se de apresentar o território com Cortes. Logo depois, houve quem duvidasse da qua-
escamotear dos espanhóis.45 Evidencia-se dessa forma maior acuidade, partilhando com os representantes es- lidade da Carte de l’Amérique méridionale. Em 1750,
que o projeto geopolítico de Alexandre de Gusmão se panhóis o conhecimento que os portugueses reuniram, Francisco Tosi Colombina, engenheiro genovês con-
assentava numa ilusão cartográfica – um espelho defor- e encaminhar diplomaticamente a solução dos confli- tratado por Portugal, indicado pelo próprio D’Anville,
mado da América portuguesa –, “mais desenhado para tos, valendo-se dos tratados já acordados. Nesse aspec- para participar da expedição de limites no Brasil, após
enganar do que para informar”.46 to, o mapa de D’Anville era um espelho fiel do Brasil estudá-lo por ordem do conde dos Arcos, então gover-
Por seu turno, a Carte de l’Amérique méridionale, inventado pelos portugueses naquele momento. Para nador de Goiás, concluiu “que não se pode fazer funda-
de D’Anville, que espelhava a concepção geopolítica de Gusmão, impunha-se a necessidade de escamotear as mento deste mapa de D’Anville para a referida Coroa e
dom Luís da Cunha, representava o território português reais feições do território, de modo que as negociações, pelo que respeita ao interior da América, que pertence a
com feições muito mais próximas do que ambos acredi- tomando proveito do relativo desconhecimento dos es- esta Coroa, é muito errado e nem serve para fazer acer-
tavam ser o real, a partir das informações disponibili- panhóis no tocante a significativas porções de terra, se tar a divisão dos governos e bispados dela”.49 Colombina,
zadas pelo embaixador, por La Condamine e por outros fizessem de maneira que os mesmos aceitassem as pro- que já se encontrava no Brasil há quase um ano, tendo
sábios e viajantes, reunindo-as a partir de um método posições portuguesas.48 rodado algumas partes de Goiás, tinha conhecimento de
Fragmento de crítica de geografia. Este era o desejo do embaixador: Paradoxalmente, os dois mapas colocavam em la- outras capitanias por levantamentos geodésicos locais,
manuscrito para
Apenas uma carta exata poderia pôr fim a mais de meio dos opostos dois antigos aliados: Alexandre de Gusmão especialmente o realizado pelos padres matemáticos.
correção do mapa
da América do Sul, século de disputas territoriais. De fato, mesmo dispon- e dom Luís da Cunha. Com a intenção de bem servir Por essa época, os portugueses já dispunham de dados
por D’Anville. do de fontes incompletas para muitas regiões, não se aos propósitos que entendiam ser os da Coroa portu- de longitude e latitude bastante precisos, o que permitiu
guesa, ambos inventaram um novo Brasil, usando ar- que Colombina fosse rigoroso em sua crítica. A maio-
tifícios diferentes: o Mapa das Cortes distorcia as suas ria dos desvios que ele aponta na Carte de l’Amérique
dimensões e a Carte de l’Amérique méridionale pro- méridionale estão na ordem de um grau de latitude ou
curava restabelecer, sob princípios muito claros, a es- longitude, o que é insignificante, especialmente quando
pacialidade real no interior do continente americano, se leva em conta a dimensão do mapa; que se tratava de
ainda que muitas conformações mitológicas do conti- um produto da cartografia de gabinete; que, para muitas
nente ainda permanecessem. No contexto do Tratado regiões, D’Anville não dispunha de dados; e que, devi- memórias, em 1779, nas quais, com algumas variantes, A map of South
de Madri, a visão de Alexandre de Gusmão saiu vence- do à própria imprecisão dos instrumentos e métodos da esclarecia as fontes utilizadas na confecção do mapa e America, versão
inglesa não
dora e, a despeito dos esforços posteriores de D’Anville época, as medidas de que dispunha não eram perfeitas. a profícua colaboração estabelecida com dom Luís da
autorizada da
na defesa de sua conformação territorial da América, Saliente-se que, por exemplo, para muitos pontos da ba- Cunha.50 No entanto, isso não foi suficiente para re- carta de D’Anville,
foi o Mapa das Cortes que serviu como base para o cia Amazônica a carta era geometricamente mais acura- verter o relativo esquecimento que se abateu sobre esse em 1791.
estabelecimento do tratado e passou a ser considera- da que o mapa de La Condamine, o qual havia tomado in mapa. Interessante observar que em todas as negocia-
do o mapa que teria inventado esse novo Brasil. Mas loco medidas de latitude e longitude de diversos pontos. ções de fronteiras nas quais o Ministério dos Negócios
o tratado também previu que partidas bilaterais deve- As contínuas negociações entre as duas Coroas Estrangeiros do Brasil se envolveu entre fins do século
riam estabelecer os marcos de pedra que demarcassem após o Tratado de Madri (tratados do Pardo, 1761, e de XIX e início do século XX, os mapas de D’Anville fo-
os limites na América. Quando começaram a tomar as Santo Ildefonso, 1777) mostraram-se propícias para ram invocados como provas documentais do direito
medidas locais, as distorções do Mapa das Cortes se que D’Anville se levantasse em defesa de sua Carte de possessório do Brasil sobre os territórios em disputa.
tornaram evidentes. l’Amérique méridionale e para isso redigisse duas novas Nas negociações com o Suriname, em 1897, o barão do
362 363
A invenção do Brasil
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Uma guerra de imagens

Rio Branco afirmou que “D’Anville traçou as fronteiras Deste livro, o que se espera é que a Carte de Na página anterior,
da Guiana Holandesa de acordo com os levantamentos l’Amérique méridionale de 1748 não se configure mais Carta Geographica
de que se serviu
oficiais tomados na Holanda”. E afirmou que o governo como um tesouro perdido. Ela uniu dois grandes savants o ministro
britânico havia utilizado a mesma carta em seu favor, de seu tempo, dom Luís da Cunha e Jean-Baptiste plenipotenciario
nas negociações com a Venezuela, em 1896.51 Esse es- Bourguignon d’Anville. Foi graças aos dois, ao fundirem de S. Magestade
Fidelissima para
tratagema invertia a realidade na qual a carta foi pro- política, diplomacia, geografia e cartografia, e produzi-
ajustar o tratado
duzida. Tendo, na realidade, inventado o Brasil, e não rem, em conjunto, um mapa que deu a ver as fronteiras de limites na
servido aos propósitos de holandeses ou espanhóis, a que os portugueses desejavam para sua possessão ame- America Meridional,
Carte de l’Amérique méridionale era então invocada ricana, que o Brasil continental foi inventado. Essa in- uma das cópias do
Mapa das Cortes.
pela diplomacia de diferentes países como um docu- venção configurou-se como um projeto futuro, que co-
Acima, o verso
mento histórico, que comprovava o domínio anterior- meçou a ser posto em prática pelo Tratado de Madri, de do mesmo mapa
mente assegurado de uma das partes dos territórios em 1750. Nesse sentido, se o embaixador português e o geó- com a assinatura
litígio. Ou seja, deixava-se de lado o fato de que o mapa grafo francês são considerados oráculos da geopolítica dos negociadores
das duas Coroas.
havia se adiantado ao espaço que representava e fazia- iluminista, a Carte de l’Amérique méridionale consti-
-se uso dele como prova de que os limites ali desenha- tui um oráculo valioso do território brasileiro de feições
dos efetivamente já existissem. continentais que ela ajudou a construir.

364 365
A breviaturas

AAE Archives des Affaires Étrangères


AAIBL Archives de l’Académie des Inscriptions et Belles-Lettres
AASP Archives de l’Académie Royale des Sciences de Paris
AGS Arquivo Geral de Simancas
AHI Arquivo Histórico do Itamaraty
AHU Arquivo Histórico Ultramarino
ANTT Arquivos Nacionais da Torre do Tombo
AUC Arquivo da Universidade de Coimbra
BA Biblioteca da Ajuda
BACL Biblioteca da Academia das Ciências de Lisboa
BAIBL Bibliotèque de l’Académie des Inscriptions et Belles-Lettres
BGUC Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra
BNF Bibliotèque Nationale de France
BNP Biblioteca Nacional de Portugal
BNRJ Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro
BPE Biblioteca Pública de Évora
CBG Casa Borba Gato
CDLC Cartório de Dom Luís da Cunha
DCP Department des Cartes et Plans
IEB Instituto de Estudos Brasileiros
IL Inquisição de Lisboa
MAG Manuscritos Avulsos de Goiás
MAMG Manuscritos Avulsos de Minas Gerais
MNE Ministério dos Negócios Estrangeiros
MO Museu do Ouro
NL Newberry Library
RBC Robert Bosch Collection
SGL Sociedade Geográfica de Lisboa
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Notas

N otas 4 BLUTEAU, Rafael. Oráculo. In: Dicionário da língua d’Albert). Mémoires du Duc de Luynes, sur la cour
portuguesa. Ampliado por Antônio de Morais. Lisboa: de Louis XV, t.2, p.12 (outubro de 1749).
Oficina de Thadeo Ferreira, 1739, v.VI, p.97. 21 D’ARGENSON, René-Louis de Voyer. Journal et mémoires
5 MASSEAU, Didier. L’invention de l’intellectuel dans du marquis d’Argenson. Paris: Vve de J. Renouard, 1859,
[ Introdução ] l’Europe du XVIIIe siècle. Paris: PUF, 1994, p.15. t.1, p.248 (março de 1737).
6 AUC. CDLC. Doc.828, Carta de 16 de maio de 1746, p.1-1v. 22 OLIVEIRA, Francisco Xavier de. Memórias das viagens
1 KOPPEL, Susanne. Biblioteca Brasiliana da Robert Bosch 14 MALAFARINA, Gianfranco. The Gallery of maps de Francisco Xavier de Oliveira. Amsterdã: [s.n.], 1741, t.1,
GmbH. Rio de Janeiro: Livraria Kosmos Editora, 1992. in the Vatican. Modena: F.F. Panini, 2006. 7 Era estratégia para manter a privacidade sobre
determinados assuntos que fossem segredos de Estado, p.137. Segundo informações de Inocêncio de Oliveira, só
2 Notícias das minas da América chamada Geraes 15 Reproduzido em COSTA, Antônio G. (org.), FURTADO, já que a segurança do sistema de correspondência era o primeiro tomo das memórias foi publicado. AGS. Estado
pertencentes à el Rei de Portugal relatada pelos três irmãos Júnia F., RENGER, Friedrich E., SANTOS, Márcia Maria relativamente precária. Assim os correspondentes, Portugal, legajo 7182. Cartas de Jorge de Macazaga, cônsul
Nunes os quais rodaram muitos anos por estas partes. D. Cartografia da conquista das minas. Lisboa: Kappa/ especialmente os embaixadores, utilizavam cifras ou espanhol em Lisboa, de 6 de novembro de 1736.
In: KOPPEL, Susanne. Biblioteca Brasiliana da Robert Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2004, p.163. Esse mapa faziam referências evasivas a assuntos tratados em 23 Carta de 10 de fevereiro de 1745. Apud: MONTEIRO,
Bosch GmbH, p.201. pertence ao Arquivo Histórico do Exército no Rio de Janeiro. diferentes missivas. Sabe-se que, de tempos em tempos, Nuno Gonçalo (org.). Meu pai e meu senhor muito do meu
3 O livro mais recente sobre o assunto é ROMEIRO, Adriana. 16 Reproduzido em COSTA, Antônio G. (org.), FURTADO, o próprio embaixador queimava parte de seus papéis e de coração: correspondência do conde de Assumar, para seu
Paulistas e emboabas no coração das Minas: ideias, práticas Júnia F., RENGER, Friedrich E., SANTOS, Márcia Maria sua correspondência que poderia ser comprometedora, pai, o marquês de Alorna, p.43.
e imaginário político no século XVIII. Belo Horizonte: D. Cartografia da conquista das minas, p.161. Esse mapa impedindo o historiador de ter acesso à totalidade de sua 24 Carta de 25 de outubro de 1744. Apud: MONTEIRO,
Ed. UFMG, 2008. pertence ao acervo da Biblioteca Guita e José Mindlin. produção epistolar. Porém, tudo indica, como se verá Nuno Gonçalo (org.). Meu pai e meu senhor muito do
4 LÖSCHNER, Renata e KIRSCHSTEIN-GAMBER, Birgit 17 CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado adiante, que se tratava de propor o rei de Portugal como meu coração, p.30.
(orgs.). Viagem ao Brasil do Príncipe Maximiliano de de Madrid, 1984, v.IV, p.820 e 875. árbitro das negociações europeias.
25 LUYNES, Duc de (Charles Philippe d’Albert). Mémoires
Wied-Neuwied - ilustrações da Viagem ao Brasil de 18 “Todo mapa é retórico. [...] A retórica permeia todas as 8 Após sua morte, em 1749, “em um livro de Dom Antônio du Duc de Luynes, sur la cour de Louis XV. (1735-1758),
1815-1817. Biblioteca Brasiliana da Robert Bosch GmbH. camadas de um mapa. [...] Mapas nunca são neutros ou Caetano de Souza achamos que o embaixador dom Luís da t.1, p.262 (11 de junho de 1737).
Petrópolis: Kapa Editorial, 2001. deixam de expressar um valor ou são completamente Cunha tinha 88 anos menos poucos meses de idade”. ANTT.
MNE. Caixa 562, Cartas de dom Luís da Cunha a Marco 26 Carta de 27 de março de 1750. Apud: MONTEIRO, Nuno
5 Existem duas edições dessa obra: CORTESÃO, Jaime. científicos”. HARLEY, John Brian. The new nature of maps:
António, 1745-1748, ofício de 3 de novembro de 1749. Dom Gonçalo (org.). Meu pai e meu senhor muito do meu
Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid. Rio de essays in the history of cartography. Baltimore/London:
Luís nasceu a 23 ou 25 de janeiro de 1662. CLUNY, Isabel. coração, p.128.
Janeiro: Ministério das Relações Exteriores, 1950-1963, The Johns Hopkins University Press, 2001, p.37.
D. Luís da Cunha e a ideia de diplomacia em Portugal, p.20. 27 Lisboa, 30 de outubro de 1749. In: Notícias Históricas
10 vols., e CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o 19 FERREIRA, Mário Clemente. O Tratado de Madrid e o
9 AUC. CDLC. Doc.828, Carta de 16 de maio de 1746, p.1-1v. de Portugal e Brasil (1715-1750). Coimbra: Editora da
Tratado de Madrid. Lisboa: Livros Horizonte, 1984, 4 vols. Brasil Meridional. O Mapa das Cortes e o Tratado de Madrid:
Há uma cópia desta carta em ANTT. MNE. Caixa 562, Cartas Universidade de Coimbra, 1961.
A primeira edição, mais extensa, agrega também todos os a cartografia a serviço da diplomacia, vol.23, n.37, p.53-74.
documentos primários consultados pelo autor, dispostos de dom Luís da Cunha a Marco António 1745-1748, M.E. III. 28 ANTT. Legação de Madri. Carta do padre Frei Gaspar
20 CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de
conforme o tema abordado nos diferentes volumes. A. Fr. C.3- no.3, Carta de 16 de maio de 1746. da Encarnação para Gonçalo Manoel Galvão de Lacerda
Madrid, 1984, v.4, nota 6, p.857.
10 AUC. CDLC. Doc.894, Carta de Tomás da Silva Teles, Caixa 612 — 555/11, 4 de janeiro de 1750.
6 CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado 21 É evidente que todas essas pesquisas só foram possíveis
de Madrid, 1984, v.4, p.875. com os auxílios financeiros que recebi ao longo desses anos, visconde de Vila Nova de Cerveira e embaixador de Portugal 29 BEAUCHAMP, Alphonse de. Histoire du Brèsil, depuis
listados ao final do livro. em Madri, p.1-1v, Lisboa, setembro de 1746. sa découverte en 1500 jusqu’en 1810. Paris: A La Librairie
7 CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado d’Éducation et de Jurisprudence d’Alexis Eymery, 1815.
22 Os portugueses se envolveram nesse conflito a partir de 1704. 11 FERREIRA, A. Pinto (ed.). Correspondência de D. João V
de Madrid, 1984, v.4, p.87.
e D. Bárbara de Bragança, rainha de Espanha (1746-1747). 30 MASSEAU, Didier. L’invention de l’intellectuel dans l’Europe
8 CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado 23 ALMEIDA, Luís Ferrand de. A colónia do Sacramento Coimbra: Liv. Gonçalves [Deposit.], 1945, p.195. du XVIIIe siècle, p.15.
de Madrid, 1984, v.4, nota 6, p.857. e a formação do sul do Brasil. In: Páginas dispersas:
estudos de História moderna de Portugal. Coimbra: 12 FERREIRA, J.A.P. Estudo preliminar. In: FERREIRA, A. 31 A vasta correspondência de dom Luís, além de cópias de
9 Rio de Janeiro. Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (BNRJ). Pinto (ed.). Correspondência de D. João V e D. Bárbara várias de suas cartas se encontram em profusão espalhadas
Manuscritos. 30,1.005 n.014. Carta de D’Anville ao Instituto de História Econômica e Social/Faculdade de
Letras da Universidade de Coimbra, 1995, p.163-182. de Bragança, rainha de Espanha (1746-1747), p.172. por vários arquivos em Portugal, particularmente nos
Sr. Vergennes, sobre o trabalho geográfico em tempos feito ANTT - fundos, Ministério dos Negócios Estrangeiros
24 ALMEIDA, Luís Ferrand de. Alexandre de Gusmão, 13 LUYNES, Duc de (Charles Philippe d’Albert). Mémoires du
a pedido de dom Luís da Cunha (1776). e Manuscritos da Livraria, na Biblioteca Nacional de
o Brasil e o Tratado de Madrid (1735-1750). Coimbra: Duc de Luynes, sur la cour de Louis XV (1735-1758). Paris:
10 CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado Firmin Didot Frères, 1862, t.2, p.12 (outubro de 1749). Portugal (Seção de Reservados — Manuscritos), Arquivo
INIC/Universidade de Coimbra, 1990, p.9. da Universidade de Coimbra e na Biblioteca da Ajuda.
de Madrid, 1984, v.4, p.8.
25 Chicago. Newberry Library (NL). Doc.552, f.J8 e K9. 14 AUC. CDLC. Doc.894, Carta de Tomás da Silva Teles,
11 CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado No Brasil aparecem na Seção de Manuscritos da Biblioteca
Discussion géographique sur la ligne de Démarcation etablir visconde de Vila Nova de Cerveira e embaixador de Portugal
de Madrid, 1984, v.III, nota 5, p.787, e v.IV, nota 5, p.908. Nacional e no Arquivo do Itamaraty.
pour fixer des limites entre les découvertes du Portugal et em Madri, p.1-1v, Lisboa, setembro de 1746.
32 ANTT. CUNHA, dom Luís da. Memórias da Paz de Utrecht,
12 DE MANNE, J.C.J. e DU BOCAGE, Jean-Denis Barbié. celles de la Castille..., Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville. 15 AUC. CDLC. Doc.917, Carta de Tomás da Silva Teles,
1715. Manuscritos da Livraria, maço 967. Ver: CLUNY, Isabel.
Notice des Ouvrages de M. D’Anville précedée de son 26 O mesmo que América do Sul. Chama-se “Equador, porque visconde de Vila Nova de Cerveira e embaixador de Portugal
D. Luís da Cunha e a ideia de diplomacia em Portugal, p.91.
éloge, premier Géographe du Roi, Membre de l’Académie divide o globo em duas partes iguais, chamam-se setentrional em Madri, p.1, Escorial, 10 de novembro.
des Inscriptions et Belles-Lettres... Paris: Imprimerie de 33 CLUNY, Isabel. D. Luís da Cunha e a ideia de diplomacia
e meridional as duas partes iguais da superfície terrestre 16 BNL. Reservados. Dom Luís da Cunha em Memórias da Paz
Delance, 1802, p.98-99. em Portugal, p.89.
separadas pelo equador”. DAINVILLE (?), François de (S.J.). de Utrecht, c. 1.715, PBA 450A.
13 KING, Geoff. Mapping reality: an exploration of cultural Le langage des géographes: termes, signes, couleurs des cartes 34 ANTT. Arquivo do Conde de Linhares. “Memórias de dom
17 Amsterdã. Rijksmuseum. Dom Luís da Cunha, 1737,
cartographies. Londres: Macmillan, 1996, p.1-2. anciennes, 1500-1800. Paris: Éditions Picard, 1964, p.11. Luís da Cunha datadas de Utrecht, em 1714” (incompletas).
mármore, por Jan Baptist Xavery.
Carta a Diogo de Mendonça Corte Real, do Conselho de
18 Palácio das Necessidades. MNE. Dom Luís da Cunha. Sua Majestade e seu secretário de Estado. vol.1, f.2. Utrecht
Escola francesa, 1745. (20-VI-1714) (grifo meu). Nuno Saldanha aponta essa
[ Capítulo 1 ] 19 Manuscrito da Biblioteca da Casa de Bragança, BDM, mesma transitividade no discurso que dom Luís da Cunha
2º./CXIII. Apud: SILVA, Abílio Diniz. D. Luís da Cunha escreveu quando tomou posse como sócio-supranumerário
1 ANTT. MNE. Legação dos Países Baixos. Caixa 789. Cartas MNE. Legação dos Países Baixos. Caixa 789. Apud: CLUNY, e o Brasil. In: SILVA, Maria Beatriz Nizza da. De Cabral a da Academia de História Portuguesa em 10 de março de 1723.
de 1728-1736 de dom Luís da Cunha a Marco António de Isabel. D. Luís da Cunha e a ideia de diplomacia em Pedro I: aspectos da colonização portuguesa no Brasil. Porto: SALDANHA, Nuno. Poéticas da imagem, p.280.
Azevedo Coutinho, 5 de junho de 1736. Apud: CLUNY, Isabel. Portugal, p.165. Universidade Portucalense, 2001, nota 15, p.268 (grifo meu). 35 CUNHA, dom Luís da. Carta de Instruções a Luís da Cunha
D. Luís da Cunha e a ideia de diplomacia em Portugal, p.165. 3 ANTT. MNE. Legação dos Países Baixos. Caixa 789. Apud: 20 LUYNES, Duc de (Charles Philippe d’Albert). Mémoires Manuel. Apud: Instruções políticas (edição de Abílio Diniz
2 As palavras exatas de dom Luís da Cunha foram: “Este é o CLUNY, Isabel. D. Luís da Cunha e a ideia de diplomacia du Duc de Luynes, sur la cour de Louis XV, t.1, p.262. Silva). Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações
Oráculo que S. Majestade nos foi buscar a Holanda.” ANTT. em Portugal, p.165. (11 de junho de 1737). LUYNES, Duc de (Charles Philippe dos Descobrimentos Portugueses, 2001, p.173-179.

370 371
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Notas

36 CUNHA, dom Luís da. Carta de Instruções a Marco António 60 ANTT. MNE. Caixa 789, Dom Luís da Cunha em Haia, 83 CLUNY. D. Luís da Cunha e a ideia de diplomacia In: O sol e a sombra: política e administração na América
de Azevedo Coutinho. Apud: Instruções políticas (edição de 16 cartas de 1728 a 1736 dirigidas a Marco António de em Portugal, p.107-108. portuguesa do século XVIII. 1a. ed. São Paulo: Companhia
Abílio Diniz Silva), p.181-373. Azevedo Coutinho, n.5, 12 de maio de 1729. 84 MOTA. A Academia Real da História, p.60. das Letras, 2006, p.185-252.
37 BAC. MS 175A. Cartas de Marco António de Azevedo para 61 “Recebi a carta de VM com a inclusa para o enviado [Marco 85 CARTA a Marco António de Azevedo Coutinho, 18 de fevereiro 104 A correspondência de João com seu pai, Pedro de Almeida,
dom Luís da Cunha. Apud: SILVA, Abílio Diniz. D. Luís António de Azevedo] que lha não entreguei porque há três de 1742. Localizado em ANTT. MNE. Caixa 561. Doc.42, que se encontrava servindo como vice-rei na Índia, é
da Cunha e o Brasil, p.271. dias que lhe repetem as sezões e como é a terceira recaída primorosa para reconstruir esse e outros momentos da vida
86 Memórias particulares ou anedotas da Corte de França,
38 CUNHA, dom Luís da. Testamento Político (1748). São me tem com cuidado de sorte que parecendo-me que a carta do rapaz. MONTEIRO, Nuno Gonçalo. (org.) Meu pai e meu
apontadas por José da Cunha Brochado no tempo que serviu
Paulo: Alfa-Omega, 1976. ALMEIDA, Luís Ferrand de. A de VM poderia fazer-lhe abalo.” ANTT. MNE. Caixa 1. Maço senhor muito do meu coração: correspondência do conde
como enviado naquela corte, 1696-1702, f.41. Localizado em
autenticidade do testamento político de D. Luís da Cunha. 1, Doc.15, 4 de fevereiro de 1727. de Assumar, para seu pai, o marquês de Alorna.
BNF, seção de manuscritos. Portugais 18.
In: Anais da Academia Portuguesa de História, vol.XVII, 62 ANTT. MNE. Livro 795. Cartas de dom Luís da Cunha e 105 ANTT. MNE. Caixa 789, doc. 7, 4 de outubro de 1731.
Lisboa, 1968, p.81-114. 87 MOTA. A Academia Real da História, p.47.
outras pessoas do serviço de Sua Majestade de Haya nos 106 CLUNY. D. Luís da Cunha e a ideia de diplomacia em
39 ALMEIDA, Luís Ferrand de. A autenticidade do testamento anos de 1728, 1729 e 1730. f.55, 20 de maio de 1728. 88 CUNHA. Carta de D. Luis da Cunha em resposta do aviso
Portugal, p.74-86.
político de D. Luís da Cunha. In: Anais da Academia que o Secretario da Academia lhe fez de estar nomeado
63 ANTT. MNE. Caixa 789, dom Luís da Cunha em Haia, 107 BÉLY, Lucien. Espions et ambassadeurs au temps
Portuguesa de História, vol. XVII, Lisboa, 1968, p.81-114. Académico Supranumerário, p.87.
16 cartas de 1728 a 1736 dirigidas a Marco António de de Louis XIV, p.12.
40 Como os demais iluministas franceses, “Voltaire desfrutava Azevedo Coutinho, n.4, Haia 16 de dezembro de 1729 89 MASSEAU. L’invention de l’intellectuel dans l’Europe
du XVIIIe siècle, p.15. 108 BÉLY. Espions et ambassadeurs au temps de Louis XIV, p.327.
do sentimento de contribuir para o progresso da civilização, 64 ANTT. MNE. Caixa 789, dom Luís da Cunha em Haia,
porque ele revelava aos homens os traços de ‘barbárie’ que 90 CUNHA. Carta de D. Luis da Cunha em resposta do aviso 109 CARDIM. A prática diplomática em Europa do Antigo Regime,
16 cartas de 1728 a 1736 dirigidas a Marco António de
atrasavam o mundo em sua marcha em direção às ‘Luzes’”. que o Secretario da Academia lhe fez de estar nomeado p.42-46; CLUNY. Os diplomatas de negociação e de
Azevedo Coutinho, n.5, 12 de maio de 1729.
MASSEAU, Didier. L’invention de l’intellectuel dans Académico Supranumerário, p.86. representação em Portugal no século XVIII, p.53-68.
l’Europe du XVIIIe siècle, p.16. 65 ANTT. MNE. Caixa 1, maço 1, doc.39. Bayona 22 de março
91 MOTA. A Academia Real da História, p.54. 110 FRIGO, Daniela. Ambassadeurs et diplomatie à l’époque
de 1729.
41 SERRÃO, Joaquim Veríssimo. História de Portugal moderne: modèles et pratiques entre l’Italie et l’Europe, p.31.
66 ANTT. MNE. Caixa 561, M.E III A.Fr.C2. n.188, 92 CUNHA. Elites e Acadêmicos na cultura portuguesa
(1640-1750): a Restauração e a monarquia absoluta. 2ª. ed. setecentista, p.11. 111 CUNHA. Instruções políticas, p.190.
Lisboa: Verbo, 1982, v.5, p.330. 28 de novembro de 1744.
93 MASSEAU. L’invention de l’intellectuel dans l’Europe 112 FRIGO. Ambassadeurs et diplomatie à l’époque moderne:
42 BRANCO, Camilo Castelo. Perfil do marquês de Pombal, 67 AUC. CDLC. Doc.814, Ofício de dom Luís da Cunha para
du XVIIIe siècle, p.15. modèles et pratiques entre l’Italie et l’Europe, p.31.
p.97 e 99. a Secretaria de Estado, 2 de maio de 1746.
94 Sobre a trajetória intelectual do conde da Ericeira ver 113 MAGALHÃES, José Calvet de. A acção diplomática no
43 BRANCO, Camilo Castelo. Perfil do marquês de Pombal, 68 Trata-se de Pierre-Joseph Thoulier d’Olivet. AUC. CDLC.
MOTA, Isabel Ferreira da. Os grandes amadores. In: pensamento dos diplomatas portugueses dos séculos XVII
p.99 e 100. Doc.834, Oficio de dom Luis da Cunha para a Secretaria
A Academia Real da História, p.148-154. e XVIII, p.14.
44 SILVA, Abílio Diniz. D. Luis da Cunha e o Brasil, p.261. de Estado, 23 de maio de 1746.
95 Emprego aqui a mesma expressão utilizada pelo conde de 114 BNF. Seção de Manuscritos. Portugais 18. Memórias
45 SILVA, Abílio Diniz. Introdução. In: CUNHA, dom Luís da. 69 CUNHA, dom Luís da. Carta de Instruções a Marco
Tarouca ao se referir ao Atlas de Theodoro Broendermaker: particulares ou anedotas da corte de França, apontadas
Instruções políticas (edição de Abílio Diniz Silva), p.169. António de Azevedo Coutinho. Apud: Instruções políticas
“As pessoas inteligentes o preferem”. BNL. Arquivo do Conde por José da Cunha Brochado no tempo em que serviu como
(edição de Abílio Diniz Silva), p.181 e 184.
46 Apud: SILVA, Abílio Diniz. Introdução, p.169. de Tarouca. AT 26, v.11, 2 de abril de 1722. O dicionário de enviado naquela Corte, 1696-1702, f.40-41.
70 ANTT. MNE. Caixa 789, dom Luís da Cunha em Haia, Raphael Bluteau de 1739 registra os termos intelectual e 115 D’ARGENSON. Journal et mémoires du marquis
47 CUNHA, dom Luís da. Carta de Instruções a Marco António 16 cartas de 1728 a 1736 dirigidas a Marco António de
de Azevedo Coutinho, p.363. intelectivo como aquele “dotado de faculdades, inteligente. d’Argenson, p.226.
Azevedo Coutinho, n.6, Haia 18 de março de 1729. Em outro O que tem potência capaz para compreender e entender as
48 O conceito de linhagem constitui força estruturante das momento, dom Luís escreve a Francisco Mendes de Góis 116 Sobre os tipos e as hierarquias na carreira diplomática
coisas do discurso”. O autor reconhece a existência de uma da época cf. CARDIM. A prática diplomática em Europa
sociedades de Antigo Regime. ressaltando essa mesma característica: “V.Mce. me conhece virtude e uma alma intelectual dotada de entendimento. Por do Antigo Regime, p.42-46; CLUNY. Das embaixadas
49 CUNHA, dom Luís da. Carta de Instruções a Marco António o meu humor franco, livre e sincero.” ANTT. MNE. Caixa esta razão, o termo será empregado neste livro como correlato
de Azevedo Coutinho, p.371. 1, maço 1. Minutas de cartas de dom Luís da Cunha para itinerantes às embaixadas permanentes, p.42.
a savant, letrado, inteligente ou philosophe. BLUTEAU.
50 SILVA, Abílio Diniz. Introdução. In: CUNHA, dom Luís da. Francisco Mendes de Góis. Doc.23, 18 de março de 1727. Dicionário da língua portuguesa, p.159. 117 CLUNY. Dom Luís da Cunha e a ideia de diplomacia
Instruções políticas, p.170. 71 EVERITT, Anthony. Cícero: uma vida. Lisboa: Quetzal em Portugal, p.171-177. Cluny acredita tratar-se de sua
96 ANTT. MNE. Livro 779. Relações de dom Luis da Cunha nomeação como agente especial em Paris (p.171).
51 AZEVEDO, Pedro (org.). Instruções inéditas a Marco editores, 2004. pendente a sua residência na corte de Londres em qualidade
António de Azevedo Coutinho. Coimbra: Imprensa da 72 CUNHA, dom Luís da. Carta de Instruções a Marco de enviado extraordinário de 6 de janeiro de 1705 até o fim 118 ANTT. MNE. Caixa 1, maço 2. Doc 2. Minutas de cartas de dom
Universidade de Coimbra, 1929. António de Azevedo Coutinho. Apud: Instruções políticas do dito ano, f.205v-206, 2 de junho de 1705. Luís da Cunha para Francisco Mendes de Góis, 1716 a 1719.
52 CUNHA, dom Luís da. Instruções políticas (edição de Abílio (edição de Abílio Diniz Silva), p.181. 97 Não se está ainda “em presença, entenda-se, da gramática 119 CHARTIER, Roger. O homem de Letras. In: VOVELLE,
Diniz Silva). 73 EVERITT, Anthony. Cícero: uma vida, p.150. museológica enciclopedista e iluminista. Aqui, nestes Michel. O homem do Iluminismo. Lisboa: Editorial
pequenos gabinetes privados, impera a desordem, tão ao Presença, 1997, p.133.
53 BLUTEAU, Rafael. Oráculo. In: Dicionário da língua 74 BNL. Seção de Manuscritos. Reservados. Cód.10.484,
portuguesa, v.VI, p.95. Carta de dom Luís da Cunha, f.88. gosto maneirista, na exibição dos naturalia et artificialia 120 Louis Bénigne François Bertier de Sauvigny foi intendente
(...), vive de uma grande ideia, de um grande e utópico de Paris, entre inúmeras medidas reformadoras, a partir
54 BAC. MS 175A. Cartas de Marco António de Azevedo para 75 BLACK, Jeremy. Italy and the Grand Tour, p.2-3. desígnio – reconstruir o universo numa só sala”. BRIGOLA, de 1785, mandou realizar os planos das diversas paróquias
dom Luís da Cunha. Apud: SILVA, Abílio Diniz. D. Luís
76 No Brasil destacam-se a Academia Brasílica dos Esquecidos João Carlos. Introdução. In: Colecionismo no século XVIII – de Paris para melhor organizar a tributação.
da Cunha e o Brasil, p.271.
e a dos Renascidos. Cf. KANTOR, Iris. Esquecidos e textos e documentos. Porto: Porto Editora, 2009, p.xi-xii. 121 DE SAUVIGNY, Louis. Catalogue des livres de feu
55 ANTT. MNE. Livro 789. Dom Luís da Cunha, embaixador Renascidos.
em Haia – 16 cartas de 1728 a 1736, dirigidas a Marco 98 AUC. CDLC. Doc.641, Oficio para a secretaria de Estado, 26 M. Sanchès, p.25 e 27.
77 MASSEAU. L’invention de l’intellectuel dans l’Europe de dezembro de 1743. 122 CHARTIER, Roger. O homem de Letras, p.128.
António de Azevedo Coutinho, n.7.
du XVIIIe siècle, p.6. 99 ANTT. Manuscritos da Livraria, 1944. Carta de dom Francisco
56 BN. Maço 16, no.45. Cartas de dom Luis da Cunha para 123 CHARTIER, Roger. O homem de Letras, p.129.
Alexandre de Gusmão, f.8. 78 PALMA-FERREIRA. Academias literárias dos séculos XVII Xavier de Mendonça a dom Luís da Cunha, 15, setembro de 174.
e XVIII, p.31-38. 124 ANTT. Manuscritos da Livraria, n.1944. Cartas de
57 AUC. CDLC. Doc.745. Carta de dom Luís para Marco 100 ANTT. MNE. Caixa 561, doc.42, 20 de janeiro de 1744. dom Francisco Xavier de Mendonça (4º. conde da Ericeira)
António de Azevedo, 17 de janeiro de 1746. 79 SILVA. Introdução, p.27-29; CLUNY. D. Luís da Cunha 101 Era pai do conde de Assumar que foi governador das Minas, a dom Luís da Cunha, f.312, 23 de setembro de 1743.
e a ideia de diplomacia em Portugal, p.23-24; KANTOR. Pedro de Almeida.
58 ANTT. MNE. Caixa 789, dom Luís da Cunha, embaixador em 125 DELAFORCE, Angela. Art and patronage in
Esquecidos e Renascidos, p.45-57.
Haia – 16 cartas de 1728 a 1736- dirigidas a Marco António 102 CLUNY. D. Luís da Cunha e a ideia de diplomacia em Eighteenth-century Portugal. Cambridge: Harvard
de Azevedo, f.14, Haia 5 de junho de 1736. 80 SILVA. Introdução, p.34. Portugal, p.90. University Press, 2002, p.44.
59 OLIVEIRA, Francisco Xavier de. Memórias das viagens 81 MOTA, Isabel Ferreira da. A Academia Real da História. 103 SOUZA, Laura de Mello e. Teoria e prática do governo 126 CLUNY, Isabel. As encomendas reais ou a arte do
de Francisco Xavier de Oliveira, t.1, p.137. 82 MOTA. A Academia Real da História, p.33. colonial: Dom Pedro de Almeida, conde de Assumar. colecionador. In: D. Luís da Cunha e a idéia de diplomacia

372 373
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Notas

em Portugal, p.113-118; SALDANHA, Nuno. Poéticas fez na corte de Paris em 18 de agosto de 1715 o excelentíssimo de la Section de Géographie. Paris, v.41, Arthur e ARAGO, M. F. Oeuvres de Condorcet. Paris: Firmin
da imagem. Lisboa: Caminho Editorial, 1995, p.286. senhor Dom Luís Manoel da Câmara, conde da Ribeira p.93-145, 1926. Didot Frères, 1847, v.2, p.528.
127 ANTT. MNE. Livro 794, f.101v,109, 109v (grifo meu). Grande. Lisboa: José Lopes Ferreira, 1716.) A questão era tão 4 CONDORCET, Jean-Antoine-Nicolas de Caritat (marquis 22 TOOLEY, Ronald Vere. Gravelot, [Bourguignon],
delicada que, quando o tratado estabelecido entre espanhóis de). Éloge de M. D’Anville. In: CONDORCET O’CONNOR, Hubert-François. A dictionary of mapmakers. Londres:
128 MANUEL, Francisco. The government of a wife, or
e portugueses em Utrecht estava pronto para ser assinado, Arthur e ARAGO, M. F. Oeuvres de Condorcet. Paris: Firmin Map collectors’ circle, 1965, v.2, p.204-205.
wholsom and pleasant advice for married man: in a letter
como o embaixador espanhol já mandara de volta os coches Didot Frères, 1847, v.2, p.536-537.
to a friend. Londres: Jacob Thomson, 1697 23 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguigon d’. Éloge de monsieur
e não podia fazer uma entrada de praxe e com pompa, devido
129 OLIVEIRA, Francisco Xavier de. Memórias das viagens de à impossibilidade de manter o protocolo, decidiu-se por 5 MASCART, Jean. La correspondance de d’Anville. Ciel et Terre Gravelot. In: Le Nécrologe des hommes célèbres de France
Francisco Xavier de Oliveira. Amsterdã: [s.n.], 1741, t.1, p.137. assinar o acordo no parque. ANTT. MNE. Livro 788. Cartas - Revue populaire d’astronomie, de météorologie et de (1772-1775). A Paris: de l’Imprimerie de Moreau, 1974, v.9,
do conde de Tarouca e de dom Luís da Cunha nas quais se physique du globe, vol.33, p.10, 1912. p.132-145. D’ANVILLE, Jean-Baptiste B. Histoire de l’art
130 FERREIRA. A. Pinto (ed.). Correspondência de D. João V
e D. Bárbara de Bragança, rainha de Espanha (1746-1747). continua a negociação de Utrecht para Diogo de Mendonça 6 Apud: MARCEL, M. Gabriel. Lettres inédites du cardinal en France. Gravelot. In: L’Artiste. Paris: l’Artiste, 1o. de abril
Coimbra: Liv. Gonçalves [Deposit.], 1945, p.195. Corte Real, f.281, 12 de fevereiro de 1715. de 1853, p.70. “Já faz algum tempo que a morte havia levado
Passionei à D’Anville. Bulletin de géographie historique
desta família um irmão mais novo, e seu nome de batismo
131 CUNHA, dom Luís da. Instruções políticas, p.194. 147 BÉLY. Espions et ambassadeurs au temps de Louis XIV, p.396. et descriptive. Paris, n.3, p.433, 1904.
era Saint-Paul. Este, depois de ter estudado finanças com
132 Apud: BÉLY, Lucien. Espions et ambassadeurs au temps 148 CLUNY. O conde de Tarouca e a diplomacia na época 7 Segundo D’Anville, etésios era como os antigos chamavam um notário, se tornou muito hábil nestes domínios, sobre o
de Louis XIV, p.389. moderna, p.271. os ventos que anualmente sopravam nas seis ou sete que ele encheu muitos portfólios com escritos com pesquisas
133 AUTO-RETRATO de D. Luís da Cunha. Apud: SILVA, 149 Arquivo Geral de Simancas. Estado, Legajo 7091, f.1-1v, semanas que sucediam o solstício do verão. D’ANVILLE, e discussões profundas sobre esta matéria.”
Abílio Diniz. (org.) Testamento Político de D. Luís da Lisboa 23 de fevereiro de 1717. Jean-Baptiste B. Ethésiens. In: DIDEROT, Denis &
24 LEPAPE, Pierre. Voltaire: nascimento dos intelectuais
Cunha. Lisboa: Biblioteca Nacional, p.181-183. Esse D’ALEMBERT. L’Encyclopédie ou Dictionnaire raisonnée
150 De fato, este não era o primeiro encontro entre os dois. no século das Luzes. Rio de Janeiro: Zahar, 1995, p.33.
auto-retrato foi esboçado por Dom Luís mas a missiva foi des Sciences, des Arts et des Métiers. Paris: Briasson, 1756,
Quando a rainha Anne morreu, o novo rei, que era eleitor 25 Le Nécrologe des hommes célèbres de France. A Paris:
assinada por seu secretário Gonçalo Galvão de Lacerda. tomo VI, p.50-51. WITHERS, Charles W. J. Placing the
de Hanôver, passou por Haia, onde se encontrava dom Luís, de l’Imprimerie de Moreau, 1767-1782. 17 vols.
Enlightenment: thinking geographically about the Age
134 CUNHA, dom Luís da. Carta de Instruções a Marco António a caminho da Inglaterra. Dom Luís conseguiu se encontrar
of Reason, p.175. 26 D’ALEMBERT, M. Éloges lus dans les séances publiques
de Azevedo Coutinho, p.195. (grifo meu). com ele e apresentar os interesses de Portugal. O encontro
8 KAFNER, Frank Arthur e KAFNER, Serena. Anville, de l’Académie Françoise. Paris: Panckoucke, 1779.
135 CAMPORESI, Piero. Hedonismo e exotismo: a arte de viver foi alvissareiro, pois escreve que passou a ter mais esperanças
de um apoio inglês. BNL. Reservados. Cód.11.209. Cartas Jean-Baptiste Bourguignon d’. In: The encyclopedists as 27 É o próprio D’Anville quem informa que “os dois mais
na época das Luzes. São Paulo: Unesp, 1996.
de dom Luís da Cunha para cardeal da Cunha - inquisidor individuals: a biographical dictionary of the authors of the velhos, entre os quais a diferença de idade não diferia mais
136 BÉLY. Espions et ambassadeurs au temps de Louis XIV, p.395. geral, f.441-445, 27 de setembro de 1714. “Encyclopédie”. Oxford: Voltaire Foundation, 1988, p.11. que aproximadamente um ano e meio, entraram ao mesmo
137 CAMPORESI. Hedonismo e exotismo, p.14. 9 Sobre a Carta de Cassini há uma substantiva bibliografia tempo num pensionato, para começar seus estudos”.
151 AUC. CDLC. Doc.359. Ofício de dom Luís para a Secretaria
138 BÉLY. Espions et ambassadeurs au temps de Louis XIV, p.397. correlata. A título de exemplo: PELLETIER, Monique. ANVILLE, Jean-Baptiste B. d’. Histoire de l’art en France.
de Estado, 17 de agosto de 1746.
0Les cartes des Cassini: la science au service de l’État et Gravelot. In: L’Artiste. Paris: l’Artiste, 1o. de abril de 1853,
139 CLUNY. O conde de Tarouca e a diplomacia na época 152 AUC. CDLC. Doc.788. Ofício de dom Luís para a Secretaria
des régions. Paris: Éditions du CTHS, 2002. p.69; KAFKER, Frank Arthur. Anville, Jean-Baptiste
moderna, p.243. de Estado, 1º. de abril 1746. Bourguignon d’. In: The encyclopedists as a group: a
140 BNL. Reservados. Cód.11.209. Cartas de dom Luís da Cunha 153 D’ARGENSON. Journal et mémoires du marquis 10 SAINT-MARTIN, Vivien de. De l’État actuel de la collective biography of the authors of the “Encyclopédie”.
para cardeal da Cunha – inquisidor geral, f.244, Londres, d’Argenson, t.1, p.248. cartographie en Europe. Bulletin de la Société de Oxford: Voltaire Foudation, 1996, p.11.
26 de janeiro de 1712. Géographie, Paris, p.248, julho-dezembro de 1855.
154 AUC. CDLC. Doc.1105. Carta de dom Luís da Cunha 28 MICHAUD, Louis-Gabriel. Anville (Jean-Baptiste
141 BNL. Reservados. Cód.11.209. Cartas de dom Luís da Cunha para Tomás da Silva Teles, 12 de maio de 1749. 11 DAWSON, Nelson Martin. L’atelier Delisle: l’Amérique Bourguignon D’). In: Biographie universelle ancienne et
para cardeal da Cunha – inquisidor geral, f.246v, Londres, du nord sur la table à dessin. Sillery, Quèbec: Editions moderne. Paris: s.e., 1811, v.2, p.97. Esta mesma história
155 AUC. CDLC. Doc.1106. Carta de Tomás da Silva Teles
2 de fevereiro de 1712 (grifo meu). du Septentrion, 2000. edificante é relatada em DACIER, M. Éloge de M. D’Anville. In:
para dom Luís da Cunha, 12 de maio de 1749.
142 O cardeal era um núncio papal em serviço na corte 12 SAINT-MARTIN, Vivien de. De l’État actuel de la cartographie DE MANNE, J.C.J. e DU BOCAGE, Jean-Denis Barbié. Notice
156 Mercure de France. Decembre, p.158, Journal de Paris.
parisiense, onde se conectou com vários savants. Participou en Europe, p.248. des Ouvrages de M. D’Anville précedée de son éloge, p.18.
como embaixador em Utrecht, desempenhando papel 157 Mercure de France. Janvier de 1722, p.193-196, Journal
de Paris. 13 SAINT-MARTIN, Vivien de. De l’État actuel de la cartographie 29 “O mais velho dos dois, chamado D’Anville, indo mais
importante na redação do acordo final. rápido que o outro por sua aplicação, cursou retórica às
en Europe, p.248-249.
143 BÉLY. Espions et ambassadeurs au temps de Louis XIV, p.396. 158 Mercure de France. Mars de 1723, p.565-566, Nouvelles Quatro-Nações”. ANVILLE, Jean-Baptiste B. d’. Histoire de
des Pays Etrangères, Nouvelles de l’Acadèmie des Anonimes 14 Jean-Baptiste Bourguignon D’Anville. Museu de Versalhes,
144 BÉLY. Espions et ambassadeurs au temps de Louis XIV, p.396. l’art en France. Gravelot, p.69. MICHAUD, Louis-Gabriel.
et Royale de l’Histoire de Lisbonne. anônimo, séc. XVIII.
Anville (Jean-Baptiste Bourguignon d’), p.97.
145 CLUNY. O conde de Tarouca e a diplomacia na época 15 Portrait de Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville, por
159 Mercure de France. 23 Novembre de 1723, p.1046-1047, 30 KAFKER, Frank Arthur. Anville, Jean-Baptiste
moderna, p.264. Benjamin Duvivier. BNF-MFILM SG PORTRAIT-1382.
Journal de Paris e Decembre de 1723, p.1.344-1.354, Feste Bourguignon d’, p.11.
146 Carruagens eram símbolos importantes de dignificação, e donnée a Paris, par M. L’Ambassadeur de Portugal. 16 PEDLEY, Mary Sponberg. The commerce of cartography, p.9.
como os embaixadores representavam seus príncipes, deviam 31 “Seu pai, homem de probidade, não conheceu limites
160 HABERMAS, J. Mudança estrutural da esfera pública, p.23. 17 Em inglês a distinção semântica também não é clara. O verbo para a educação de seus filhos, sem poupar nas despesas,
se apresentar de forma adequada. Dois momentos ímpares
em que dom João V se valeu desse expediente para se fazer 161 Mercure de France. Decembre de 1749, p.207 – Morts. survey refere-se ao lever; e printer ao graver. Quanto ao contanto que suas habilidades pudessem ser socorridas;
representar com toda a pompa foram a entrada pública que 162 Isabel Cluny discute o papel de representação do soberano de dresser, a correlação não é exata, podendo corresponder e algum sucesso que ele tivera em vida foi sua recompensa.”
o conde da Ribeira Grande fez em Paris quando ali chegou que os embaixadores estavam investidos enquanto diplomatas ao design, como o desenhar ou o traçar em português. ANVILLE, Jean-Baptiste B. d’. Histoire de l’art en France.
como embaixador, em 1715, e a troca das princesas de nomeados: “Os embaixadores são pessoas públicas que os 18 SAFIER, Neil. Measuring the New World: Enlightenment Gravelot, p.69.
Espanha e Portugal, em rio Caia, na fronteira entre os dois príncipes mandam a outras cortes”. CLUNY. D. Luís da science and South America. Chicago: Chicago University 32 DACIER, M. Éloge de M. D’Anville, p.19.
países, em janeiro de 1729. (Notícia da entrada pública que Cunha e a ideia de diplomacia em Portugal, p.51-53. Press, 2008, p.153.
33 MICHAUD, Louis-Gabriel. Longuerue (Louis Dufour,
19 ARCHIER, A. Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’. abbé de). In: Biographie universelle ancienne et moderne,
In: ANFÄNGEN, Von Den; WELTKRIEG, Bis Zum Ersten. v.25, p.79-80.
[ Capítulo 2 ] Lexikon zur geschichte der kartographie. Wien: Franz 34 MICHAUD, Louis-Gabriel. Longuerue (Louis Dufour,
Duticke, 1986, p.18-21. abbé de). In: Biographie universelle ancienne et moderne,
1 DACIER, M. Éloge de M. D’Anville. In: MANNE, J.C.J. e DU 2 DACIER, M. Éloge de M. D’Anville, p.38. 20 PEDLEY, Mary Sponberg, The commerce of cartography: v.25, p.80.
BOCAGE, Jean-Denis Barbié. Notice des Ouvrages de M. 3 DACIER, M. Éloge de M. D’Anville, p.38. Sobre making and marketing maps in eighteenth-century France 35 KAFNER, Frank Arthur e KAFNER, Serena. Anville,
D’Anville précedée de son éloge, premier Géographe du Roi, a coleção D’Anville ver DU BUS, C. Les collections and England, p.259, nota 93. Jean-Baptiste Bourguignon d’. In: The encyclopedists as
Membre de l’Académie des Inscriptions et Belles-Lettres... d’Anville à la Biblioteque nationale. In: Comité 21 CONDORCET, Jean-Antoine-Nicolas de Caritat (marquis individuals: a biographical dictionary of the authors of the
Paris: Imprimerie de Delance, 1802, p.38. des travaux historiques et scientifiques: Bulletin de). Éloge de M. D’Anville. In: CONDORCET O’CONNOR, “Encyclopédie”. Oxford: Voltaire Foundation, 1988, p.11.

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O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Notas

36 “Ele teve o prazer de ser acolhido e de ser admitido na 55 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Aragon et 74 NL. Vault box. Ayer MS 1918. Lettre écrite au R.P. Du Halde, e sextas no Louvre. Também constava como obrigação
sociedade do abade Longuerue, na qual a conversação foi pays voisins entre Campsan, Monzon, Deca et Pampelune, de la Compagnie de Jesus, par M. d’Anville, Geographe ordo. a contínua apresentação dos trabalhos de investigação
para ele uma fonte inesgotável de conhecimento.” DACIER, ca 1719. 1 fl. BNF. Ge D 10605. Du Roi, au sujet de la Carte du Paraguay, doc 549, f.1. realizados (obligations de travaux). KRIEGEL, Blandine.
M. Éloge de M. D’Anville, p.19. 56 LONGUERUE, Louis Du Four (abée). Description historique 75 NL. Vault box. Ayer MS 1918. Lettre écrite au R.P. Du Halde, Les Académies de l’histoire, p.192-194.
37 Anicet Charles-Gabriel Lemonnier, Lecture de la tragédie et géographique de la France ancienne et moderne, enrichie de la Compagnie de Jesus, par M. d’Anville, Geographe ordo. 94 BAIBL. Journal des délibérations et des assemblées de
de L’Orphelin de la Chine de Voltaire dans le salon de de plusieurs cartes géographiques. Paris: sl., 1722. 2 partes em Du Roi, au sujet de la Carte du Paraguay, doc 549, f.1. l’Académie des Inscriptions et Belles-Lettres, 1754, f.95,
Madame Geoffrin, 1812. Rueil-Malmaison, Musée National 1 volume. (Desta feita a obra não apresenta o local de edição.) 76 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguigon d’. Observations 28 de maio.
des Châteaux de Malmaison et de Bois-Préau. 57 BROC, Numa. La Géographie des philosophes: géographes géographiques sur la carte du Paraguai. In: Lettres édifiantes 95 BAIBL. Journal des délibérations et des assemblées de
38 ANVILLE, Jean-Baptiste B. d’. Histoire de l’art en France. et voyageurs français au XVIIIe. siècle. Lille: University Paul et curieuses, écrites des missions étrangères, v.8, p.254-266. l’Académie des Inscriptions et Belles-Lettres, 1754, f.124,
Gravelot, p.69. Valéry de Montpellier, 1972, p.21. 77 BROC, Numa. La Géographie des philosophes: géographes 19 de julho.
39 BNF. DCP. Ge D 14032 - Anville, Jean-Baptiste 58 Louis-Philippe foi duque de Chartres de 1725 a 1752, et voyageurs français au XVIIIe. siècle, p.25. 96 BAIBL. Journal des délibérations et des assemblées de
Bourguignon d’. Carte de l’isle de Saint-Domingue avec e então duque de Orléans até sua morte. ANVILLE, 78 BROC, Numa. La Géographie des philosophes: géographes l’Académie des Inscriptions et Belles-Lettres, 1754, f.129,
partie des isles voisines, dressée sur diverses pièces et Jean-Baptiste Bourguigon d’. Mesure conjecturale de et voyageurs français au XVIIIe. siècle, p.16. 30 de julho.
instructions particulièrement sur la dernière carte de la terre sur l’équateur, en conséquence de l’étendue
79 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguigon d’. Géographie ancienne 97 BAIBL. Journal des délibérations et des assemblées de
Mr Frézier et sur les mémoires de M. Buttet. Paris: chez de la mer du Sud. Paris: Chaubert, 1736, p.559.
abrégée, v.1, p.viij. l’Académie des Inscriptions et Belles-Lettres, 1754, f.162;
l’Auteur, outubro de 1730.
59 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguigon d’. Mesure 1755, f. 6, 15, 33, 36, 55, 61, 70 (diferenças de longitude e
40 DAINVILLE, François de (S.J.). Histoire et Geographie. 80 DACIER, M. Éloge de M. D’Anville, p.19.
conjecturale de la terre sur l’équateur, p.559, nota 1. latitude entre Alexandria e Sagene), 91 (situação da antiga
In: L’éducation des jésuites (XVIe-XVIIIe siècles). Paris: 81 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguigon d’. Géographie Martessur na Bétique), 108 (descrição da Dácia conquistada
Les Éditions de Minuit, 1978, p.427-472. “A formação dos 60 Mercure de France, Lettre de M. d’Anville à M. Remond
ancienne abrégée, v.1, p.viij. por Trajano); 1756, 25, 27 (discurso para servir de
geógrafos franceses por seus professores jesuítas influenciou de Sainte Albine, sur une nouvelle Carte d’Amerique
Meridionale de 17 de novembre 1749, f.169, dezembro de 1749. 82 DACIER, M. Éloge de M. D’Anville, p.19. introdução à Nova Carta do Canadá), 51 (sobre Helesponto),
fortemente a arte da cartografia.” 90, 91 (Remarques géographiques sur le Fretum
61 Mercure de France, Lettre de M. d’Anville à M. Remond 83 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguigon d’. Géographie
41 PELLETIER, Monique e OZANE, Henriette. Portraits ancienneabrégée. Paris: Chez Merlin, libraire, 1768. 3 vols. Gaditanum), 124, 148 (se as milhas sobre a via romana são
de la France, p.163. de Sainte Albine, sur une nouvelle Carte d’Amerique contadas a partir do centro de Roma e posicionar a cidade
Meridionale de 17 de novembre 1749, f.169, dezembro de 1749. 84 KRIEGEL, Blandine. Les Académies de l’histoire. Paris: relativamente a este objeto), 175 (Carta das costas da Grécia).
42 DAINVILLE, François de (S.J.). L’éducation des jésuites Presses Universitaires de France, 1988.
(XVIe-XVIIIe siècles), p.417. 62 AASP. Process verbaux, 1725, 1o. Septembre. 98 Outra obrigação dos acadêmicos era a de depositar seus
63 AASP. Procès-verbal, 1726, 27 Novembre. 85 Em geral, somente os pensionários, e não os associados, escritos nas mãos do secretário geral (obligation de laisser
43 LONGUERUE, Louis Du Four (abée). Description historique recebiam remunerações. Para D’Anville, tratou-se
et géographique de la France ancienne et moderne. Paris: 64 AASP.Procès-verbal, 1726, 4 Decembre. entre les mains du secretaire tous les écrits qu’ils auront
principalmente de uma honraria, pois, enquanto pertenceu composés). Esses escritos eram depois publicados nas
J.-H. Pralard, 1719. 2 partes em 1 volume. 65 BNF. DCP. Ge DD 2987 (7772) - Anville, Jean-Baptiste à casa, não auferiu renda da instituição. KRIEGEL, Memórias da Academia. KRIEGEL, Blandine.
44 GRELL, Chantal. De l’Antiquité aux temps modernes: Bourguignon d’. Carte d’Afrique, 1727. FURTADO, Junia Blandine. Les Académies de l’histoire, p.197-198. Les Académies de l’histoire, p.195-196.
l’histoire utile aux princes de France, au siècle des F. Entre Angola e Moçambique: um projeto português 86 Em seção do dia 17 de junho de 1755, a Academia “concedeu 99 KRIEGEL, Blandine. Les Académies de l’histoire, p.265.
Lumières. In: BERNIER, M. A. Parallèle des anciens de ligação terrestre entre as duas costas da África e suas a m. D’Anville a permissão de inscrever a qualidade de
et des modernes: rhétorique, histoire et esthétique, p.93. fontes europeias e africanas. In: PAIVA, Eduardo França e 100 “plus deteillée que les précedentes”. AAIBL. Mémoire de
acadêmico em todas as suas cartas e de se servir do privilégio
45 GRELL, Chantal. De l’Antiquité aux temps modernes: SANTOS, Vanicléia Silva (orgs.). África e Brasil no mundo dessa Companhia como o sr. m. Delisle se serviu da da Mr. D’Anville sur ses Cartes de l’ancienne Gaule, f.1.
l’histoire utile aux princes de France, au siècle des moderno. São Paulo: AnnaBlume; Belo Horizonte: Academia de Ciências”. BAIBL. Journal des délibérations 101 ROLLIN, Charles. Abrégé de l’Histoire romaine de Rollin,
Lumières, p.93. PPGH-UFMG, 2012, p.83-115. et des assemblées de l’Académie des Inscriptions et ou l’on suivi le plan de cet auteur. Par Ant. C**. Paris:
46 PELLETIER, Monique e OZANE, Henriette. Portraits 66 AASP. Procès-verbal, 1727, 21 Janvier. Belles-Lettres, 1755, f.85, 17 de junho. Brunot-Labbe, 1818.
de la France, p.163. 67 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguigon d’. Considérations 87 LE GOF, Jacques. Documento/monumento. In: Enciclopédia 102 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguigon d’. Notice de
47 AAIBL. Mémoire de Mr. D’Anville sur ses Cartes de générales sur l’étude et les connaissances que demande Einaudi. Memória – História. Lisboa: Imprensa Nacional/ l’ancienne Gaule tirée des monuments romains...
l’ancienne Gaule, f.1. O mapa pode ser encontrado em la composition des ouvrages de Géographie, p.63-64. Casa da Moeda, 1997, v.1, p.95-106. Paris: Desaint & Saillant, 1760.
BNF. DCP. Ge DD 2987 (365) - Anville, Jean-Baptiste 68 DU HALDE, Jean-Baptiste. Description géographique, 88 DURANTON, Henri. La recherche historique à l’Académie 103 AAIBL. Mémoire de Mr. D’Anville sur ses Cartes de
Bourguignon d’. La France ancienne dedié au roi. 1719. historique, chronologique, politique et physique de l’Empire des Inscriptions: l’exemple de l’Histoire de France. l’ancienne Gaule, f.1.
48 Les commentaires de César. Paris: Vve J. Camusat et P. Le de la Chine et de la Tartarie chinoise, enrichie des cartes In: Colloque Historique Franco-Allemand. Bonn: L. 104 TOOLEY, R. V. Map and map-makers. Londres:
Petit, 1650. Ver: PELLETIER, Monique. Cartographie de la générales & particulières de ces pays, de la carte générale Röhrscheid, 1976, p.211. B.T. Batsford, 1949, p.43.
France et du monde de la Renaissance au siècle des lumières. & des cartes particulières du Thibet & de la Corée & ornée 89 BÖDEKER, Hans Erich. Academias. In: FERRONE, 105 BNF. DCP. GE D 12426 - Anville, Jean-Baptiste
Paris: Bibliotèque Nationale de France, 2001, p.95-96. A d’un grand nombre de figures & de vignettes gravées en Vicenzo e ROCHE, Daniel. (eds) Diccionario Histórico Bourguignon d’. Le monde connu des anciens pour
edição de conde Turpim de Crisse foi acompanhada dos mapas taille-douce. Paris: P.G. Lemercier, 1735. de la Ilustración. Madri: Alianza Editorial, 1998, p.224. l’intelligence de l’histoire ancienne de M. Rollin .
de D’Anville. TURPIN DE CRISSE, M. le Cte. Commentaires 69 Du Halde et D’Anville (Cartes de La Chine). Apud: Recueil 90 Para o recrutamento havia a obrigatoriedade que todos [Paris]: [Vve Estienne], janeiro de 1740.
de César, avec des notes historiques, critiques et militaires. de mémoires orientaux: textes et traductions publiés par
Amsterdã, Leide: les Libraires associés, 1787, 3v., in-8o. os acadêmicos tivessem sua eleição confirmada por uma 106 KRIEGEL, Blandine. Les Académies de l’histoire, p.208.
les professeurs de l’Ecole spéciale des langues orientales concordância régia. Para a investidura, o acadêmico deveria
49 Louis XV enfant recevant une leçon, en présence du vivantes à l’occasion du XVIe Congrès international des 107 DACIER, M. Éloge de M. D’Anville. In: DE MANNE, J.C.J.
ter pelo menos 25 anos. KRIEGEL, Blandine. Les Académies
cardinal de Fleury et du Regent. Escola Francesa, orientalistes réuni à Alger, avril 1905. Paris: E. Leroux, e DU BOCAGE, Jean-Denis Barbié. Notice des Ouvrages
de l’histoire, p.192.
século XVIII. Paris, Museu Carnavalet. 1905, p.395. Esta publicação reúne os contratos firmados de M. D’Anville précedée de son éloge, p.22.
91 A pompa e o ritual nas academias régias eram, como
50 DACIER, M. Éloge de M. D’Anville, p.26. entre D’Anville e Du Halde entre 1728 e 1735. 108 BAIBL. Journal des délibérations et des assemblées de
em qualquer instituição do Antigo Regime, formas de
51 DAINVILLE, François de (S.J.). Le langage des 70 Du Halde et D’Anville (Cartes de La Chine), p.395. l’Académie des Inscriptions et Belles-Lettres, 1756, f.148,
exteriorizar e publicizar a honra e distinção que as cercavam.
géographes, p.IX. 7 de setembro de 1756.
71 DU HALDE, Jean-Baptiste. Préface. In: Description A partir desses rituais, os acadêmicos criavam toda uma
52 PEDLEY, Mary Sponberg. The commerce of cartography, géographique, historique, chronologique, politique sociabilidade, apenas a ele afeitas, e tornavam evidente que 109 Position des points discutés dans l’Analyse Géographique
p.30. Livre era a moeda francesa da época. Um livre podia et physique de l’Empire de la Chine et de la Tartarie se distinguiam do restante da sociedade. de l’Italie, d’Anville, 1744. BNF. K- 1707.
ser dividido em 20 sous, que, por sua vez, era dividido chinoise, p.xlviij. Apud: Du Halde et D’Anville 92 BAIBL. Journal des délibérations et des assemblées de 110 BNF. DCP. Ge DD 2033 (RES). Carte de l’Italie,
em 12 deniers. (Cartes de La Chine), p.397. l’Académie des Inscriptions et Belles-Lettres, 1754, f.92, d’Anville, 1739.
53 DACIER, M. Éloge de M. D’Anville, p.26. 72 Du Halde et D’Anville (Cartes de La Chine), p.398-399. 21 de maio. 111 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguigon d’. Analyse
54 Os seis mapas representavam, respectivamente, a Gália 73 Lettres édifiantes et curieuses, écrites des missions 93 Os acadêmicos tinham entre suas principais obrigações Geographique de l’Italie. Paris: Veuve Estienne et fils, 1744.
Antiga, a França Antiga, a França Moderna e seus países étrangères. Toulouse: Noel-Etienne Sens/Auguste Gaude, a de comparecerem assiduamente às assembleias 112 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguigon d’. Analyse
vizinhos e três mapas regionais da França. 1810-1811. Nouvelle édition, tomo 9, p.254. (obligation d’assiduité), que aconteciam todas as terças Geographique de l’Italie, p.vii.

376 377
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Notas

113 “e atingiu seu mais alto grau na sua Carta da Itália. DACIER, 128 KEYNES, Geoffrey (org.). The Library of Edward Gibbon: Jesus, v.5, 1728, p.163. http://www.brasiliana.usp.br/ autres fêtes aussi donnés par son Excellence en differentes
M. Éloge de M. D’Anville, p.29. “a eficiência do seu método a catalogue of his books. Londres: The Bibliography Society, dicionario/edicao/1. occasions. Utrecht: N. Chevalier, 1714, p.80.
geral de trabalho foi evidenciado no seu mapa da Itália”. 1950, p.51-52. 10 SOUSA, Antônio Caetano de. História Genealógica da Casa 25 CHEVALIER, Nicolas. Recherche curieuse d’antiquités
CRONE, C.R. Maps and their makers: an introduction to 129 GIBBON, Edward. The history of the decline and fall Real Portuguesa. Lisboa: Oficina de José António da Sylva, venuës d’Italie, de la Grece, d’Egypte, & trouvées à
the history of cartography. 5a.ed. Kent/Inglaterra: Dawson/ of the Roman empire, v.3, p.127, nota 105. 1741, tomo VIII, p.272-273. Nimegue, a Santen, au château de Wiltenburg proche
Archon Books, 1978, p.90. d’Utrecht, dans le château de Britten proche de Leyde,
130 GIBBON, Edward. The history of the decline and fall 11 DELAFORCE, Angela. Art and patronage in
114 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguigon d’. Analyse of the Roman empire, v.3, p.701, nota 7. Eighteenth-century Portugal, p.8; SILVA, Cândido & a Tongres. Utrecht: Chez N. Chevalier, 1709.
Geographique de l’Italie, p.XXXVI. Marciano da. D. João V patrono do astrônomo Bianchini. In: 26 CHEVALIER, Nicolas. Recherche curieuse d’antiquités
131 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguigon d’. Considérations
115 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguigon d’. États formés en Estrelas de papel: livros de astronomia dos séculos XIV a venuës d’Italie, p.1v.
générales sur l’étude et les connaissances que demande
Europe après la chute de l’Empire romain en Occident. XVIII. Lisboa: Biblioteca Nacional de Portugal, 2009, p.53. 27 Depois da Alemanha e dos Países Baixos, o jovem
la composition des ouvrages de Géographie, p.110.
Paris: l’Imprimerie Royale, 1771. 12 CHARTIER, Roger. Bibliotecas sem muros. In: A ordem Jean-Pierre foi para Viena, contratado para organizar a
132 DU BOCAGE, Jean-Denis Barbié. Avant propos. In: DE
116 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguigon d’. Considérations dos livros: leitores, autores e bibliotecas na Europa entre os coleção de estampas do príncipe Eugênio, em grande parte
MANNE, J.C.J. e DU BOCAGE, Jean-Denis Barbié. Notice
générales sur l’étude et les connaissances que demande la séculos XIV e XVIII. 2ª ed. Brasília: UNB, 1998, p.71. adquirida na Casa Mariette. CLUNY, Isabel. As encomendas
des Ouvrages de M. D’Anville précedée de son éloge, p.15.
composition des ouvrages de Géographie. Paris: Imprierie 13 ALMEIDA, Luís Ferrand de. Dom João V e a Biblioteca Real. reais ou a arte do colecionador. In: D. Luís da Cunha
133 DU BUS, C. Les collections d’Anville à la Biblioteque e a ideia de diplomacia em Portugal, p.113-115.
de Lambert, 1777, p.96-97-98. In: Páginas dispersas: estudos de História moderna de
nationale. In: Comité des travaux historiques et
117 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguigon d’. Considérations Portugal. Coimbra: Instituto de História Econômica e Social/ 28 A amizade era um conceito estrutural na sociabilidade
scientifiques: Bulletin de la Section de Géographie. Paris, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 1995, p.213-
générales sur l’étude et les connaissances que demande do Antigo Regime e adquiria uma dimensão hierárquica
v.41, p.98, 1926. 214. CLUNY, Isabel e BARATA, Paulo J.S. A propósito de um
la composition des ouvrages de Géographie, p.98. e desigual. HESPANHA, M. e XAVIER, Ângela. As redes
134 “Barbié foi encarregado do catálogo geral e da classificação.” documento da política cultural joanina. Leituras – Revista da clientelares. In: MATTOSO, José (org.). História de Portugal; o
118 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguigon d’. Considérations DU BUS, C. Les collections d’Anville à la Biblioteque Biblioteca Nacional de Portugal, v.3, n.3, p.133, abr/out 1998. antigo regime. Lisboa: Editorial Estampa, 1993. v.4, p.381-393.
générales sur l’étude et les connaissances que demande nationale, p.99, 1926. 14 CLUNY, Isabel e BARATA, Paulo J.S. A propósito de um 29 As instruções régias chegaram a 12 de junho de 1724.
la composition des ouvrages de Géographie, p.98.
135 PEDLEY, Mary Sponberg. Bel et utile: the work of the documento da política cultural joanina, p.133. BRANDÃO, Fernando de Castro. História diplomática de
119 DACIER, M. Éloge de M. D’Anville, p.36. Robert de Vaugondy family of mapmakers, p.24. Portugal, p.132. ANTT. MNE. Legação de Londres. Carta de
15 HONTANILLA, Ana. El gusto de la razón: debates de arte
120 DACIER, M. Éloge de M. D’Anville, p.24. 136 Mercure de France. Octobre, 1721, p.186-187, Journal y moral en el siglo XVIII español. Madri: Iberoamericana, Diogo de Mendonça Corte Real para dom Luís da Cunha.
121 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguigon d’. Considérations de Paris. 2010, p.11. Livro 14 (12-VII-1724). Apud: CLUNY, Isabel. As encomendas
générales sur l’étude et les connaissances que demande reais ou a arte do colecionador, p.113. Sobre a formação
137 RICHARD, Hélène. Les globes de Coronelli. Paris: 16 D’ALEMBERT, M. Preface. In: Éloges lus dans les séances
la composition des ouvrages de Géographie, p.107. da coleção régia de estampas ver: MANDROUX-FRANÇA,
Bibliothèque Nationale de France, 2006, p.27. publiques de l’Académie Françoise. Paris: Panckoucke,
Marie-Thérèse e PRÉAUD, Maxime (orgs.). Catalogues de
122 ABBATTISTA, Guido. Establishing the ‘order of time 138 Informações sobre o que estava abrigado no Louvre por essa 1779, p.XXVI.
la collection d’Estampes de Jean V, roi de Portugal, par
and place’: ‘rational geography’, French erudition and época em PEDLEY, Mary Sponberg. Bel et utile: the work 17 CARVALHO, Augusto da Silva. Um agente de Portugal em Pierre-Jean Mariette. Lisboa/Paris: Fundação Calouste
the emplacement of history in Gibbon’s mind. Studies on of the Robert de Vaugondy family of mapmakers, p.43. França, Francisco Mendes de Góis. Anais da Academia Gulbenkian/Bibliothèque Nationale de France/Fundação
Voltaire & the Eighteenth Century, v.355, p.45, 1997. Portuguesa da História, Lisboa, série II, vol.2, p.211-240, da Casa de Bragança, 2003, 3v; FURTADO, Júnia Ferreira.
139 AASP. Procès-verbal 1773, f.58, 17 de março de 1773. AASP.
123 GIBBON, Edward. The history of the decline and fall Process verbaux 1773, f.67-72, 24 de março de 1773. 1949. CLUNY, Isabel. O conde de Tarouca e a diplomacia Colecionismo e gosto. In: Oráculos da geografia iluminista:
of the Roman empire [1776-1788]. Londres: Penguin, na época moderna. Lisboa: Livros Horizonte, 2006. dom Luís da Cunha e D’Anville na construção da cartografia
140 PEDLEY, Mary Sponberg. The commerce of cartography:
1976-1994, 3 vols. 18 Estas compras no estrangeiro se seguiram por todo o século sobre o Brasil. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2012, cap.5.
making and marketing maps in eighteenth-century France
124 GIBBON, Edward. The history of the decline and fall XVIII. Só para se ter uma ideia do volume das compras 30 Le cabinet d’un grand amateur, P.J. Mariette, 1694-1774.
and England, p.281, nota 5.
of the Roman empire, v.3, p.379, nota 3. anuais, apenas em Paris, em 1759, estavam estocados mais Paris: Musée du Louvre, 1967.
141 PEDLEY, Mary Sponberg. Bel et utile: the work of the de 3 mil livros que aguardavam o embarque para Portugal.
125 ABBATTISTA, Guido. Establishing the ‘order of time Robert de Vaugondy family of mapmakers, p.114-115. ANTT. Manuscritos da Livraria. Cartas oficiais escritas de 31 Já de volta à França, Jean-Pierre Mariette recebeu em Paris a
and place’: ‘rational geography’, French erudition and Paris por monsenhor Salema a Luís da Cunha Manuel, f.173, patente de impressor em abril de 1722. Gravador, impressor
142 PEDLEY, Mary Sponberg. Bel et utile: the work of the
the emplacement of history in Gibbon’s mind, p.45, 1997. 10 de setembro de 1759. e crítico de arte, redigiu muitos catálogos e obras sobre arte.
Robert de Vaugondy family of mapmakers.
126 ABBATTISTA, Guido. Establishing the ‘order of time and 19 Em 1730, a pedido do cardeal da Cunha, dom Luís visitou 32 BNRJ. Manuscritos. I-14,04,017. Correspondência de Paris
143 “A eleição de D’Anville, com Bonne em segundo lugar, era
place’: ‘rational geography’, French erudition and the a Universidade de Leyden para melhor conhecer seu curso de 1725, 23 de março de 1725.
claramente baseada no mérito.” “D’Anville’s election, with
emplacement of history in Gibbon’s mind, p.46-47. Bonne second, was clearly based on merit.” PEDLEY, Mary de Medicina e esboçar uma proposta para o ensino dessa 33 FINDLEY, Paula. Possessing nature: museus, colleting, and
127 ABBATTISTA, Guido. Establishing the ‘order of time Sponberg. Bel et utile: the work of the Robert de Vaugondy ciência na Universidade de Coimbra. Nessa ocasião, além scientific culture in early modern Italy. Berkeley: University
and place’, p.48 e 49. family of mapmakers, p.115. de uma proposta de ensino, mandou compor dois catálogos of California Press, 1996.
nos quais listou os livros necessários à reforma. BNL. 34 ALMEIDA, André Ferrand de. Os jesuítas italianos em
Reservados. Maço 62, no.2, no.210 e 240. Portugal e a política científica de D. João V. In: A formação
20 CLUNY, Isabel. As encomendas reais ou a arte do do espaço brasileiro e o projecto do Novo Atlas da América
[ Capítulo 3 ] Portuguesa. Lisboa: Comissão Nacional para a Comemoração
colecionador. In: D. Luís da Cunha e a ideia de diplomacia
em Portugal. Lisboa: Livros Horizontes, 1999, p.113-118; dos Descobrimentos Portugueses, 1991, p.85-100.
1 DELAFORCE, Angela. Art and patronage in 6 BRASÃO, Eduardo. Correspondência de dom Francisco SALDANHA, Nuno. Poéticas da imagem. Lisboa: Caminho 35 ALMEIDA, Luís Ferrand de. Dom João V e a Biblioteca
Eighteenth-century Portugal. Cambridge: Harvard Xavier de Meneses (1731-1733), p.72 e 177. Apud: Editorial, 1995, p.286. Real. In: Páginas dispersas: estudos de História moderna
University Press, 2002, p.67-68. SERRÃO, Joaquim Veríssimo. História de Portugal: a 21 CLUNY, Isabel. O conde de Tarouca e a diplomacia na de Portugal. Coimbra: Instituto de História Econômica e
2 DELAFORCE, Angela. Art and patronage in Restauração e a monarquia absoluta, p.407. época moderna. Lisboa: Livros Horizonte, 2006, p.301. Social/Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra,
Eighteenth-century Portugal, p.113.
7 BLUTEAU, Rafael. Suplemento ao Vocabulário português e 22 FUMAROLI, Marc. La diplomatie de l’esprit. De Montaigne 1995, p.209.
3 SERRÃO, Joaquim Veríssimo. História de Portugal: latino que acabou de sair à luz, ano 1721. Lisboa, 1727-1728, à La Fontaine. Paris: Hermann, 1994. FUMAROLI, Marc. 36 SILVA, Cândido Marciano da. D. João V patrono do
a Restauração e a monarquia absoluta [1640-1750]. 2a.ed., v.2, p.225. Apud: DELAFORCE, Angela. Art and patronage
v.5. Lisboa: Verbo, 1982, p.407. Diplomatie de l’espirit. Colloque l’Europe des Traites de astrônomo Bianchini. In: Estrelas de papel: livros de
in Eighteenth-century Portugal, p.68. Westphalie. Paris, 1968. astronomia dos séculos XIV a XVIII. Lisboa: Biblioteca
4 ANTT. Manuscrito da Livraria. Mss 729. CASTRO,
8 ALEGRETE, Manuel Teles da Silva. Colecçam dos 23 FUMAROLI, Marc. La diplomatie de l’esprit. De Montaigne Nacional de Portugal, 2009, p.53.
Manuel Baptista de. Chronica di Maximo Doutor e Principe
dos Patriarcas Sao Jeronymo. Particular do Reyno de documentos estatutos e memorias da Academia Real da à La Fontaine. 37 SILVA, Cândido Marciano da. D. João V patrono
Portugal, f.511v. Historia. Lisboa: Officina de José António da Sylva, 1727, p.10. 24 CHEVALIER, Nicolas. Relation des fêtes que son excellence do astrônomo Bianchini, p.51-54.
5 DELAFORCE, Angela. Art and patronage in 9 BLUTEAU, Rafael. Livraria. In: Vocabulário português e Monseigneur le comte de Tarouca a donné au sujet des 38 Delisle estudou astronomia com Cassini. Foi membro da
Eighteenth-century Portugal, p.67. latino... Coimbra: No Collegio das Artes da Companhia de naisssances des deux Princes de Portugal, et de plusieurs Academia de Ciências e primeiro geógrafo do rei, a partir

378 379
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Notas

de 1718, além de tutor do futuro Luís XV. DAWSON, Nelson 52 “Devo dizer a VExa. que não há em Paris outra pessoa com e lhe pergunta o que se deve dar de oferta. 30 de setembro 83 FERNANDES, Mário Gonçalves (org.). Manoel Azevedo
Martin. L’atelier Delisle: l’Amérique du nord sur la table à quem o cardeal de Fleury fale com tanta abertura como de 1721. Apud: CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão Fortes: cartografia, cultura e urbanismo (1660-1749).
dessin. Sillery, Quèbec: Editions du Septentrion, 2000. Francisco Mendes.” ANTT. MNE. Caixa 1, maço 2, doc.71. e o Tratado de Madrid, parte III, tomo II, p.222-223. Porto: GEDES, 2006;
39 SOBEL, Dava. Longitude: the true story of a lone genius who 53 Numa passagem dom Luís da Cunha se mostra cético da 65 “Eu lhe respondo ser escusada a diligência porque Mr de 84 BUENO, Beatriz Piccolotto Siqueira. Desenho e desígnio,
solved the greatest scientific problem of his time. Nova York: durabilidade da aliança da França com a Inglaterra, apesar Lisle está muito bem pago do seu trabalho.” ANTT. MNE. p.140 (grifo da autora).
Penguin Books, 1995. A Lua oferecia inúmeras dificuldades de ter negociado insistentemente a sua aproximação com Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários 85 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses
em virtude de seu movimento em relação às estrelas não Portugal. “Bem sei que o cardeal desejará fazer florescer de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 790, f.388-389, e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 793, f.35,
ser bem conhecido, apesar de haver quem defendesse a o comércio de França, mas repare VMce. em que não faz 27 de outubro de 1721. Paris, 24 de janeiro de 1724.
viabilidade do sistema, como o astrólogo alemão Johannes mistério de querer tirar parte dele a Inglaterra, de que se 66 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas 86 BLUTEAU, Rafael. Dicionário da língua portuguesa, v.2, p.573.
Werner, em 1514. Mas, no século XVIII, o mais comum foi a deve concluir que a amizade destas duas Coroas é, como portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, 87 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses
utilização dos satélites de Júpiter e Vênus para a medição das sempre disse, acidental, e que será necessário que as águas livro 790, f.395-396, 27 de outubro de 1721. e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 793, f.357,
longitudes. SOBEL, Dava. Longitude, p.23. que se desbordarão tornem a tomar o seu antigo curso.”
40 AASP. Process verbaux, 1720, mercredi, 27 novembre, 1720. 67 CUNHA, dom Luís da. Instruções políticas. (Edição de Abílio Paris, 10 de julho de 1724.
ANTT. MNE. Caixa 1, maço 1, doc.28. Carta de dom Luís da
Diniz Silva), p.194. 88 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses
41 O meridiano de Ferros era assim denominado porque Cunha para Francisco Mendes de Góis, 13 de abril de 1727.
utilizava como referência o meridiano que corta esta ilha, 68 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Livro 793. Dom Luís da Cunha,
54 Por isso insistia com Francisco Mendes de Góis que e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 790, f.453, Paris, 28 de agosto de 1724.
situada no arquipélago das Canárias. Foi empregado pela grande parte da correspondência entre os três deveria ser
primeira vez por Ptolomeu e seu uso foi popularizado f.421, Paris 10 de novembro de 1721. Cópia em BNRJ. 89 ANTT. MNE. Livro 793, f.543-544, Fontainebleau,
destruída. Em carta de próprio punho dom Luís o advertiu Manuscritos. 30,1,005 n.030. Cartas a Diogo de Mendonça
pelo Guillaume Delisle. Por essa época, esse meridiano que “Faça VMce. reflexão em que o cardeal guarda as cartas 30 de outubro de 1724.
começou a ser usado na cartografia como um meridiano Corte Real, tratando da dissertação de Delisle.
ostensivas e será grande o perigo se elas passam à notícia 90 ANTT. MNE. Legação de Londres. Livro 14. Cartas de Diogo de
“internacional”. 69 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses Mendonça Corte Real para dom Luis da Cunha e para o conde
de outras pessoas.” ANTT. MNE. Caixa 1, maço 1, doc.56.
42 AASP. Process verbaux, 1720, 18 decembre, 1720. Delisle Carta de dom Luís da Cunha para Francisco Mendes de e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 790, de Tarouca, Paris, 1723 e 1724, f.186, 26 de julho de 1725.
faz uma confusão no texto entre o Tratado de Tordesilhas Góis, setembro de 1727. Mais tarde, em 1736, em nova f.389, Paris, 27 de outubro de 1721. 91 Apud: DELAFORCE, Angela. Art and patronage in
e a Bula Pontifícia que a antecede e reduz a posição de negociação para se aproximar da França, escreveu que 70 DELISLE, M. Determination géographique de la situation Eighteenth-century Portugal, p.35.
Tordesilhas a 100 léguas do arquipélago de Cabo Verde. “em consequência então das minhas ordens falei ao mr. et de l’etendue des diferentes parties de la terre. Des 92 MERVEILLEUX, Charles-Frédèric. Memoires instructifs
CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de de F[enelon] perguntando-lhe se as linhas do tratado para Sciences. Paris: Academie des Sciences de Paris, 1722. pour un voyager dans les divers états de l’Europe.
Madrid. Lisboa: Livros Horizonte, 1984, v.2, p.330-331. tratar comigo, pois eu as recebera para negociar com ele p.365-384. Apud: CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão Amsterdã: H. Du Sauzet, 1738, t.1, p.177.
43 SOBEL, Dava. Longitude, p.27. com todo o segredo”. ANTT. MNE. Caixa 1, maço 1, doc.135, e o Tratado de Madrid, parte III, tomo II, p.224-225.
93 DELAFORCE, Angela. Art and patronage in
44 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses Haia, 22 de maio de 1736. 71 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses Eighteenth-century Portugal, p.69.
e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 790, f.73, 55 Carta de 25 de marco de 1725. Apud: CORTESÃO, Jaime. e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 790,
94 MANDROUX-FRANÇA, Marie-Thérèse. La collection
9 de março de 1721. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, v.II, p.333. f.395, Paris, 27 de outubro de 1721.
royale portugaise. In: MANDROUX-FRANÇA,
45 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses 56 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses 72 DELAFORCE, Angela. Art and patronage in Marie-Thérèse e PRÉAUD, Maxime. (orgs.) Catalogues
e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 790, e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 790, Eighteenth-century Portugal, p.86. de la collection d’Estampes de Jean V, roi de Portugal,
f.73-74, 9 de março de 1721 (grifo do autor). f.388, 27 de outubro de 1721. 73 ANTT. MNE. Caixa 1, maço 1 (1724-1727). Minutas de cartas par Pierre-Jean Mariette, p.59. ANTT. MNE.
46 BLACK, Jeremy. European international relations, 57 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses de dom Luís da Cunha para Francisco Mendes de Góis, doc.1. Correspondência entre diplomatas portugueses e
1648-1815. Basingstoke: Palgrave, 2002, p.146. e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 790, secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 792,
74 “(...) é o primeiro engenheiro de el rei e ele o ensina
47 Alguns anos depois, em 1725, o novo duque de Orléans f.333, Paris, 23 de agosto de 1723.
f.126, Paris, 12 de maio de 1721. e mostra as operações dos exércitos mecanicamente,
demonstrou que ainda tinha pretensões ao trono da França. coisa bem curiosa”. ANTT. MNE. Correspondência entre 95 BAC. Manuscrito 592, série azul. Apud: ALMEIDA, Luís
58 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses
Isso porque o rei Luís XV se restabelecia de uma perigosa diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís Ferrand de. O naturalista Merveilleux em Portugal, p.288.
e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 790,
doença e fora rompido o acordo de matrimônio entre o da Cunha, livro 792, f. 333, Paris, 23 de agosto de 1723. 96 MANDROUX-FRANÇA, Marie-Thérèse. La collection
infante (futuro Luís XVI) e a infanta espanhola. Dom Luís f.125, Paris, 9 de maio de 1721.
75 Mercure de France. Outubro, 1721, p.186-187, Journal de Paris. royale portugaise, p.59. ANTT. MNE. Correspondência entre
escreveu ao reino que “o Duque e a Duquesa de Orléans 59 CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da
sofrem com impaciência a ruptura do matrimônio do infante de Madrid, v.II, p.333. 76 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas
Cunha, livro 792, f.451-452, Paris, 8 de novembro de 1723.
porque o Duque se ainda não perde as esperanças de poder 60 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha,
suceder na Coroa”. Rio de Janeiro. BNRJ. Manuscritos. livro 792, f.333, 23 de agosto de 1722. MANDROUX-FRANÇA, 97 MANDROUX-FRANÇA, Marie-Thérèse. La collection royale
e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 790, portugaise, p.59.
I-14,04,017. Correspondência de dom Luís da Cunha de f.126-127, Paris, 12 de maio de 1721. Marie-Thérèse. La collection royale portugaise. In:
Paris -1725, f.50, 13 de março de 1725. MANDROUX-FRANÇA, Marie-Thérèse e PRÉAUD, 98 FURTADO, Júnia Ferreira. Guerra, diplomacia e mapas:
61 “Quanto à dissertação do mesmo Mr. De Lislle, fui eu que a Maxime (orgs.). Catalogues de la collection d’Estampes de a Guerra da Sucessão Espanhola e a América portuguesa
48 PELLETIER, Monique e OZANE, Henriette. Portraits remeti a VSa. em 9 de março”. ANTT. MNE. Correspondência
de la France, p.197-198. Jean V, roi de Portugal, par Pierre-Jean Mariette, v.1, p.59. na cartografia de D’Anville. Topoi, Rio de Janeiro, v.12,
entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom n.23, p.66-83, jul.-dez. 2011.
49 “É constante que seria uma dobrada utilidade para a França Luís da Cunha, livro 790, f.389, Paris, 27 de outubro de 1721. 77 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses
se pudesse fazer com Portugal um tratado do comércio em e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 792, f. 99 ALMEIDA, André Ferrand de. A formação do espaço brasileiro
62 “Quando dei notícia a VS . da Dissertação que Mr. De Lislle
a
333, Paris, 23 de agosto de 1723. e o projecto do Novo Atlas da América Portuguesa, p.92.
prejuízo do que Inglaterra e Holanda têm naquele reino.”
havia pronunciado na Academia das Ciências, lhe remeti a 100 “Em atividade desde 1545, quando os jesuítas se instalaram
ANTT. MNE. Caixa 560. Documentos diplomáticos de 78 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas
França, ME.III-A- Fr.C1.no.174, 1723. cópia, e como não chegou às mãos suponho que ficou em em Portugal, o Colégio de Santo Antão dispôs a partir
portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha,
Vitória com outras coisas mais que se tomaram ao postilhão de c.1590 de uma Cadeira específica para o ensino das
50 Em 1725, com o rompimento dos esponsais do infante livro 793, f. 357, Paris, 10 de julho de 1724.
e assim mandarei outra cópia na posta que vem.” ANTT. Matemáticas aplicadas à Ciência Náutica, Astronomia,
francês, dom Luís informou que se conjeturava que a 79 FURTADO, Júnia F. História da Engenharia. In:
MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e Cosmografia (i.e., Esfera), Geometria Prática, Geografia
escolhida seria uma descendente do trono inglês. “Desse STARLING, Heloísa Maria Murguel e GERMANO,
secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 790, f.411, e Arte de Fortificar.” BUENO, Beatriz Piccolotto Siqueira.
fato, que a doença de el rei cristianíssimo precipitou, se Lígia Beatriz de Paula (orgs.). Engenharia: História em
Paris, 3 de novembro de 1721. Desenho e desígnio, p.181
segue no meu entender estar ajustado o matrimônio, que construção. Belo Horizonte: EdUFMG, 2012, p.21-69
até agora me pareceu impossível, como mandei dizer, do 63 CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado 101 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses
sobredito príncipe com a princesa de Inglaterra.” BNRJ. de Madrid, v.II, p.334. ALMEIDA, André Ferrand de. 80 BLUTEAU, Rafael. Dicionário da língua portuguesa, v. 3, p. 117. e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 793, f.415,
Manuscritos. I-14,04,017. Correspondência de dom Luís A formação do espaço brasileiro e o projecto do Novo Atlas 81 BUENO, Beatriz Piccolotto Siqueira. Desenho e desígnio: Paris, 7 de agosto de 1724.
da Cunha de Paris -1725, f.50, 13 de março de 1725. da América Portuguesa, p.67, nota 51. o Brasil dos engenheiros militares (1500-1822). São Paulo: 102 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses
51 PELLETIER, Monique e OZANE, Henriette. Portraits 64 Carta de Diogo de Mendonça Corte Real para dom Luís da EDUSP, 2012, p.203-206. e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 14, f.115,
de la France, p.199. Cunha em que lhe fala dos Atlas de Delisle oferecidos ao rei 82 BUENO, Beatriz Piccolotto Siqueira. Desenho e desígnio, p.102. 19 de julho de 1724.

380 381
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Notas

103 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses 124 ANTT. MNE. Livro 14, carta ao conde de Tarouca 146 BNL. Arquivo do conde de Tarouca. AT 2611, 18 de março par le Sieur d’Anville, geographe du Roy: T.1. Le Monde;
e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 793, f.415, e a dom Luís da Cunha, f.197, 13 de outubro de 1725. de 1723. TII: La France; T.III: l’Allemagne, l’Italie, l’Espagne, les
Paris, 7 de agosto de 1724. 125 ANTT. MNE. Livro 14, carta ao conde de Tarouca 147 BNL. Arquivo do conde de Tarouca. AT 2611, 2 de abril Iles Britanniques (avec un index manuscrit).
104 DELAFORCE, Angela. Art and patronage in e a dom Luís da Cunha, f.199, 23 de outubro de 1725. de 1722 (grifo meu). 162 ANTT. MNE. Caixa 1, maço 3. Correspondência de Marco
Eighteenth-century Portugal, p.86. 126 ANTT. MNE. Legação de Londres, livro 14, carta a dom 148 BNL. Arquivo do conde de Tarouca. AT 2611, 18 de março António de Azevedo para Francisco Mendes Góis. Doc.42,
105 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses Luís da Cunha, f.127, 17 de setembro de 1724, folha anexa. de 1723. Lisboa ocidental, 14 de agosto de 1729.
e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 793, 127 ALMEIDA, André Ferrand de. A formação do espaço 149 “Nos desvãos dessa casa, a que chamam graneiros, e servem 163 Há alguns poucos mapas de Wischer (entre outros, Viena,
f.448, Paris, 28 de agosto de 1724. brasileiro e o projecto do Novo Atlas da América de guardar os moveis tinha eu todo o meu fato (...) . Às 10 Utrecht, Reno e Escócia), um da Bavária de Homann, um da
106 ANTT. MNE. Legação de Londres, livro 14, carta ao conde Portuguesa, p.86. horas da noite pegou fogo nos ditos graneiros e com tal Itália de Rossi e um de Auvergne de Vanlochan. Há também
de Tarouca, f.199v, 13 de outubro de 1725. violência que dentro em 1 hora queimou toda a morada, sem estampas de Mariette referentes ao Japão, abadias da França
128 ANTT. MNE. Legação de Londres, livro 14, carta a dom
que eu salvasse dela mais que uma boa parte da baixela e e uma das dioceses francesas.
107 “Ele entregará a VSa. um micrometre da invenção de monsieur Luís da Cunha, f.127, 17 de setembro de 1724, folha anexa.
LeFevre e pelo que toca aos mais instrumentos matemáticos duas tapeçarias, perdendo tudo o mais que tinha. Nos poucos 164 Os Jaillot eram uma família que teve várias gerações de
129 ANTT. MNE. Legação de Londres, livro 14, carta a dom Luís
verá VSa. a memória junta.” BNRJ. Manuscritos. I-14,04,017. minutos que me deu liberdade um tão arrebatado incêndio geógrafos. No caso tratava-se de Bernard Jean Hyacinthe
da Cunha, f.127, 17 de setembro de 1724, folha anexa.
Correspondência de Paris de 1725, f.88, 13 de março de 1725. só cuidei em salvar pessoalmente já com evidente perigo os Jaillot (1673-1739).
130 DELAFORCE, Angela. Art and patronage in papeis mais importantes do serviço. (...) Estando os tomos
108 DELAFORCE, Angela. Art and patronage in 165 Nicolas de Fer (1646–1720), filho de um comerciante de
Eighteenth-century Portugal, p.86. separados em diversas casas da minha morada sucedeu nela
Eighteenth-century Portugal, p.45-46. mapas, executou mais de seiscentos mapas, sendo sua obra
131 ANTT. MNE. Legação de Londres, livro 14, carta a dom o incêndio o qual entre outras perdas causou a do Atlas.” BNL. mais famosa l’Atlas Curieux où le Monde représenté dans
109 DELAFORCE, Angela. Art and patronage in Luís da Cunha, f.127, 17 de setembro de 1724, folha anexa. Arquivo do conde de Tarouca. AT 2611, 2 de outubro de 1722. les cartes générales et particulières du Ciel et de la Terre.
Eighteenth-century Portugal, p.46.
132 ANTT. MNE. Livro 14, carta ao conde de Tarouca e 150 BNL. Arquivo do conde de Tarouca. AT 2611, 18 de março 166 Placide de Sainte Hélène le père (1649-1734).
110 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses a dom Luís da Cunha, f.199, 23 de outubro de 1725. de 1723.
e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 14, f.127, 167 HORNE, Herbert P. The binding of books: an essay in the
133 DELAFORCE, Angela. Art and patronage in 151 ANTT. MNE. Legação de Londres, livro 14, cartas de history of gold-tooled bindings. Nova York: The Grolier
17 de setembro de 1724.
Eighteenth-century Portugal, p.46. Diogo de Mendonça Corte Real para dom Luís da Cunha Club, 1884, p.44.
111 BNRJ. Manuscritos. I-14,04,017. Correspondência de Paris e para o conde de Tarouca, Paris, 1723 e 1724, f. 123,
134 ALMEIDA, Anfré Ferrand de. Os jesuítas matemáticos 168 ANTT. MNE. Caixa 1, maço 3. Correspondência de Marco
de 1725, f.88, 13 de março de 1725. 30 de agosto de 1724.
e os mapas da América portuguesa (1720–1748), p. 79-92. António de Azevedo para Francisco Mendes Góis. Doc.42,
112 “Fico entregue do conhecimento em que vêm os livros 152 BNL. Arquivo do conde de Tarouca. AT 2611, 8 de outubro
135 DELAFORCE, Angela. Art and patronage Lisboa ocidental, 14 de agosto de 1729.
e o telescópio, mas o navio ainda não chegou”. ANTT. MNE. de 1722.
in Eighteenth-century Portugal, p.87. 169 MANDROUX-FRANÇA, Marie-Thérèse. La collection royale
Livro 14, carta ao conde de Tarouca e a dom Luís da Cunha,
f.181, 6 de junho de 1725. 136 DELAFORCE, Angela. Art and patronage 153 BNL. Arquivo do conde de Tarouca. AT 2611, 8 de outubro portugaise, p.64-65.
in Eighteenth-century Portugal, p.87. de 1722. 170 “Planos do observatório da Relação de Monsieur D’Anville.”
113 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses
e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 793, 137 BNP. Estrelas de papel: livros de astronomia 154 ANTT. MNE. Legação de Londres, livro 14, carta para BNRJ. Manuscritos. I-14,04,017. Correspondência de Paris
f.603, Paris, 10 de dezembro de 1724. dos séculos XIV a XVIII, p.184-185. o conde de Tarouca, f.5v, 8 de maio de 1723. de 1725, Bruxelas, 29 de outubro de 1725.
114 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses 138 SILVA, Cândido Marciano. D. João V patrono 155 BNL. Arquivo do conde de Tarouca. AT 2611, 6 de maio 171 BNRJ. Manuscritos. I-14,04,017. Correspondência de Paris
e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 793, do astrónomo Bianchini, p.56. de 1723. Os globos ainda existem em Lisboa e hoje de 1725, f.44, 3 de fevereiro de 1725.
f.625, Paris, 25 de dezembro de 1724. 139 CUNHA, Lygia da Fonseca Fernandes. A coleção de pertencem ao acervo da Sociedade de Geografia de 172 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses
estampas Le Grand Théâtre de l’Univers. Rio de Janeiro: Lisboa, tendo sido restaurados. SERUYA, Ana Isabel e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 793,
115 HASSENFRATZ, Jean-Henri. Encyclopédie méthodique. (dir.). Globos Coronelli. Lisboa: Instituto Português
Physique. A Paris: Hôtel de Thou, t.2, 1793, p.231. Fundação Biblioteca Nacional, 2004, vol.III, tomos f. f.357, Paris, 10 de julho de 1724.
CII-CXXV; CAETANO, Joaquim Oliveira (coord.). Gravura de Conservação e Restauro, 2004.
116 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses 173 BNRJ. Manuscritos. I-14,04,017. Correspondência de Paris
e conhecimento do mundo: o livro impresso ilustrado nas 156 Carta de Diogo de Mendonça Corte Real para dom Luís de 1725, f.44, 3 de fevereiro de 1725.
e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 793, coleções da BN. Lisboa: Biblioteca Nacional, 1998. da Cunha sobre vários negócios, inclusive a compra de um
f.603, Paris, 10 de dezembro de 1724. Atlas, 29 de fevereiro de 1724. Apud: CORTESÃO, Jaime. 174 “Da outra carta de mr. D’Anville que por minha ordem
140 MANDROUX-FRANÇA, Marie-Thérèse. La collection corre com a coleção de estampas e está reformando os Atlas
117 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses royale portugaise. In: MANDROUX-FRANÇA, Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, parte III,
e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 793, que se molharam.” ANTT. MNE. Caixa 789. f.23v, Bruxelas,
Marie-Thérèse e PRÉAUD, Maxime (orgs.). Catalogues tomo II, p.252-254.
f.625, Paris, 25 de dezembro de 1724. 25 de janeiro de 1726.
de la collection d’Estampes de Jean V, roi de Portugal, 157 Referia-se às conexões do abade com a Espanha. Em 1727,
118 ANTT. MNE. Legação de Londres. Livro 14. Cartas de Diogo de par Pierre-Jean Mariette. Lisboa/Paris: Fundação Calouste 175 ANTT. MNE. Caixa 564, doc.356, ano 1756.
Vayrac se valeu dos savants portugueses para atestar, na
Mendonça Corte Real para dom Luis da Cunha e para o conde Gulbenkian / Bibliothèque Nationale de France / Fundação introdução do seu livro, a qualidade do mesmo. ANTT. MNE. 176 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses
de Tarouca, Paris, 1723 e 1724, f.187v, 25 de julho de 1725. da Casa de Bragança, 2003, v.1, p.55. ANTT. MNE. Registro Caixa 1, maço 1, doc.54, 27 de outubro de 1727. e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 793,
119 O mesmo ocorria com a Académie Royale des Sciences de Diogo Corte Real para dom Luís da Cunha e para o f.603, Paris, 10 de dezembro de 1724.
158 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses
de Paris, onde inúmeros savants apresentavam seus conde de Tarouca. Livro 14, f.122v-123, 12 de julho de 1724. e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 793, f.142, 177 ALMEIDA, André Ferrand de. A formação do espaço
inventos que eram examinados, avaliados e aprovados 141 MANDROUX-FRANÇA, Marie-Thérèse. La collection Paris, 27 de março de 1724. brasileiro e o projecto do Novo Atlas da América
ou não pelos acadêmicos. Por exemplo, a 27 de janeiro de royale portugaise, v.1, p.55. BNL. Reservados. AT.26.12, Portuguesa, p.94. CARVALHO, Rômulo. A astronomia
159 “Parte para esta corte Francisco Mendes de Góes o qual
1725, mr. Lonbardeur “apresentou uma máquina de sua 8 de março de 1725 em Portugal no século XVIII. Lisboa: ICLP, 1985, p.37-53.
entregará a VSa. uma caixa com os Atlas do Abbé Vayrac que
invenção para britagem e peneiramento, etc. e foi nomeado 142 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses 178 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses
hoje remeti ao Harve.” ANTT. MNE. Correspondência entre
mr. Reaumur et Nicoler” para o exame da mesma. AASP. e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 790, e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 793,
diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís
Process verbaux, 1725, 27 de janeiro de 1725. f.388-389, 27 de outubro de 1721. f.603, Paris, 10 de dezembro de 1724.
da Cunha, livro 793, f.142, Paris, 11 de maio de 1724.
120 BNRJ. Manuscritos. I-14,04,017. Correspondência de Paris 143 BNL. Arquivo do conde de Tarouca. AT 2611, 19 de fevereiro 179 “Des recherches qui ont été faites jusqu’à present pour
160 “Porque agora me escreve Pedro Nolasco Convay que o
de 1725, f.89, 23 de março de 1725. de 1722. “Ordenou-me Sua MAde, em carta de VM, de 13 de trouver les longitudes & des moyens que l’on peut tenter
navio naufragara, mas que venturosamente os Atlas não se
121 SOBEL, Dava. Longitude. janeiro do ano passado, que comprasse o Atlas que ajuntava molharam.” ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas pour parvenir à leur découverte.” AASP. Process verbaux,
122 ANTT. MNE. Documentos diplomáticos de França, Theodoro Broendermaker e que por ele desse ate 10 mil portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, 1722, 15 de avril de 1722.
caixa 560, ME.III-A- Fr..C1.no.18, 2 de março de 1723; florins pouco mais ou menos.” livro 793, f.319, Paris, 26 de junho de 1724. 180 AASP. Process verbaux, 1724, 9 de dezembro de 1724.
ME.III-A- Fr..C1.no.19; 144 BNL. Arquivo do Conde de Tarouca. AT 2611, 161 BNRJ. Divisão de Cartografia. At, 015, 02, 001-003. Atlas, 181 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses
123 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses 18 de março de 1723. ou Recueil de cartes géographiques, D’Anville, Collection e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 793,
e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 793, 145 MANDROUX-FRANÇA, Marie-Thérèse. La collection royale de cartes géographiques en trois volumes que son f.583, Paris, 4 de dezembro de 1724 e f.603, Paris,
f.142-143, carta de 27 de março de 1724. portugaise, p.80. Excellence l’Ambassadeur a fait choisir pour son usage 10 de dezembro de 1724.

382 383
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Notas

182 “A obra de Capassi, intitulada Lusitania Astronomice Ilustrata, ocidental, 14 de agosto de 1726”. ANTT. MNE. Caixa 789, 216 NL. Vault box. Ayer MS 1918. Discussion géographique españolas (1500-1822). Salamanca: Universidad de
nunca foi impressa e reúne as observações astronómicas feitas cópia de cartas de dom Luís da Cunha para a corte sur la ligne de Démarcation..., f.J8. PÉREZ, José Manuel. Salamanca/Centro de Estúdios Brasileños, 2008, p.55.
em Coimbra, Porto e Braga entre 1726 e 1727.” ALMEIDA, de Lisboa, escritas de Bruxelas de 4 de janeiro até Introdução: a formação territorial do Brasil a través dos 217 NL. Vault box. Ayer MS 1918. Discussion géographique sur
André Ferrand de. A formação do espaço brasileiro e o projecto 27 de dezembro de 1726, f.41, 8 de março de 1726. mapas manuscritos nos arquivos espanhóis: reflexo de três la ligne de Démarcation..., f.G6.
do Novo Atlas da América Portuguesa, p.97 e 98. 195 ANTT. MNE. Caixa 789, cópia de cartas de dom Luis da Cunha séculos de história compartida. In: CABRIA, Juan Vicente. 218 NL. Vault box. Ayer MS 1918. Discussion géographique sur
183 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses para a corte de Lisboa, escritas de Bruxelas de 4 de janeiro Cartografia manuscrita de Brasil em las colecciones la ligne de Démarcation..., f.C2-D3.
e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 793, até 27 de dezembro de 1726, f.9, 11 de janeiro de 1726.
f.603, Paris, 10 de dezembro de 1724. 196 BNRJ. Manuscritos. I-14,04,017. Correspondência de Paris
184 Em 25 de dezembro de 1724, dom Luís escreveu: “Remeto de 1725, f.44, 3 de fevereiro de 1725. [ Capítulo 4 ]
a VS a observação q. Mr. Maraldi fez do último eclipse da lua 197 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses
comparada com a que VSa. me remeteu. Espero a do íntimo e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, livro 793,
satélite de Júpiter.” ANTT. MNE. Correspondência entre 1 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Considérations como também o Paraguai. DACIER, Joseph, Notice
f.284, Paris, 18 de junho de 1724.
diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís générales sur l’étude et les connoissances que demande des ouvrages de M. D’Anville, p.98-99.
da Cunha, livro 793, f.624, Paris, 25 de dezembro de 1724. 198 “Demonstracion (sic) convincente de la extension del la composition des ouvrages de Géographie, p.63. 16 Por essa razão, Jaime Cortesão afirmou, equivocadamente,
territorio, em que está situada la Colonia del Sacramento,
185 ANTT. MNE. Legação de Londres, livro 14, cartas de Diogo de 2 RBC. n.539 (1). Mémoire sur un accroissement considérable tratarem-se de duas versões diferentes impressas em 1748.
por Diogo de Mendonça Corte Real.” Apud: CORTESÃO,
Mendonça Corte Real para dom Luis da Cunha e para o conde de connoissances locales en ce qui intéresse l’Amérique CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de
Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid,
de Tarouca, Paris, 1723 e 1724, f.158, 17 de janeiro de 1725. méridionale, d’Anville, 1779, f.1. Madrid. Lisboa: Livros Horizonte, 1984, vol.III, nota 5,
parte III, tomo I, p.230-243.
3 Newberry Library. ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon p.787, e vol.IV, nota 5, p.908.
186 “Remeto a VSa. em primeiro lugar a resposta que deu o 199 ALMEIDA, André Ferrand de. A formação do espaço
obreiro que faz os instrumentos matemáticos, ao papel d’. Documents pertaining to the papal line of demarcation 17 BNF. DCP. Ge DD 2987. 9155. Amérique Méridionale,
brasileiro e o projecto do Novo Atlas da América dividing South America between Spain and Portugal
que VSa. me mandou, e em segundo mando a VSa., pelo 1669, Nicolas Sanson. Paris: chez Pierre Mariette, 1669,
Portuguesa, p.69. 1734-46, Vault box. Ayer MS 1918, f.D-3.
postilhão Manoel da Costa, um livro que contém os planos 1f. 40 x 56 cm.
e relação do observatório de Paris.” BNRJ. Manuscritos. 200 BNRJ. Seção de Manuscritos. 30, 1.005 n.014. Carta de 4 BROC, Numa. La figure de la terre. In: La Géographie 18 BNF. DCP. Ge DD 2987. 9163. Map of South America,
I-14,04,017. Correspondência de Paris de 1725, f.43-44, D’Anville ao sr. Vergennes, sobre o trabalho geográfico des Philosophes, p.42-50. SAFIER, Neil. Measuring Herman Moll. Londres: D. Midwinter, T. Bowles, P. Overton,
3 de fevereiro de 1725 e DELAFORCE, Angela. Art and em tempos feito a pedido de d. Luis da Cunha, the New World, p.8. ca. 1717.
patronage in Eighteenth-century Portugal, p.86. 28 de agosto de 1776.
5 AGUILLAR, José. História da cartografia, v.1, p.218. 19 BNF. DCP. Ge DD 2987. 9156. Amérique méridionale
187 ANTT. MNE. Legação de Londres, livro 14, carta ao conde 201 NL. Vault box. Ayer MS 1918. Discussion géographique sur
6 D’Anville estava ciente de que qualquer projeção divisée en ses principales parties, Nicolas Sanson.
de Tarouca, f.115, 19 de julho de 1724. la ligne de Démarcation etablier pour fixer des limites entre
impunha a deformação do objeto representado e, Paris H. Iaillot, 1709, 1 f. em cor; 46,5 x 65 cm.
les découvertes du Portugal et celles de la Castille, d’Anville,
188 “Pelo que respeita à coleção das estampas vai também a ao longo de sua produção, não se prendeu a uma única 20 HUMBOLDT. Relation historique du voyage aux régions
doc.552, 10 fólios.
outra memória, ambas assinadas por mons. D’Anville, que forma, variando conforme a localização da área representada équinoxiales du nouveau continent fait en 1799, 1800, 1802,
corre com uma e outra obras, a que deu grande facilidade 202 NL. Vault box. Ayer MS 1918. Discussion géographique sur no globo terrestre. 1803 et 1804. Apud: SAFIER, Neil. Measuring the New
às últimas ordens.” BNRJ. Manuscritos. I-14,04,017. la ligne de Démarcation etablier pour fixer des limites entre World, p.123.
les découvertes du Portugal et celles de la Castille. 7 RBC. n.539 (1). Mémoire sur un accroissement considérable
Correspondência de Paris de 1725, f.88, 13 de março de 1725. de connaissances locales en ce qui intéresse l’Amérique 21 GREEN, John. Remarks in support of the new chart
189 “Ajunto a esta a memória das estampas que mr. Mariette 203 NL. Vault box. Ayer MS 1918. D’Anville, Jean-Baptiste méridionale, f.1. of North and South America, p.6.
tem dado com os seus preços e a dos volumes que se Bourguignon. Two autograph manuscripts concerning the
papal line of demarcation between Spain and Portugal in 8 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Considérations 22 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Premiere Lettre
ficam encadernando.” BNRJ. Manuscritos. I-14,04,017. générales sur l’étude et les connoissances que demande
South America, giving a detailed account of the dispute de Monsieur d’Anville, à Messieurs du Journal des Sçavans,
Correspondência de Paris de 1725, f.44, 3 de fevereiro de 1725. la composition des ouvrages de Géographie, p.64.
between the 2 countries... [manuscrito] 1734-1746. sur une Carte de l’Amérique Méridionale qu’il vient de
190 Ver FURTADO, Júnia Ferreira. Entre Angola e Moçambique: 9 RBC. n.539 (1). Mémoire sur un accroissement considérable publier. Journal des Sçavans, Paris, p.522-533, March, 1750.
Descrição: 3 itens (19 folhas); 41 cm ou menor.
um projeto português de ligação terrestre entre as duas de connoissances locales en ce qui intéresse l’Amérique ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre de
costas da África e suas fontes europeias e africanas. In: 204 NL. Vault box. Ayer MS 1918. [manuscrito] Discussion Monsieur d’Anville, à Messieurs du Journal des Sçavans, sur
méridionale, f.2.
FRANÇA, Eduardo Paiva (org.). Os Angolas no Brasil, o géographique sur la ligne de Démarcation..., f.A1. une Carte de l’Amérique Méridionale qu’il vient de publier.
Brasil em Angola – África, Europa e América e a construção 10 RBC. n.539 (1). Mémoire sur un accroissement considérable
205 NL. Vault box. Ayer MS 1918. Ligne de Demarcation, f.3. Journal des Sçavans, Paris, p.625-673, abril de 1750.
do mundo moderno. São Paulo: Annablume, no prelo. de connoissances locales en ce qui intéresse l’Amérique
206 CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado méridionale, f.2. 23 RBC. n.539 (1). Mémoire sur un accroissement considérable
191 MOTA, Avelino Teixeira. Dom Luis da Cunha e a carta da de Madrid, v.2, p.349. de connaissances locales en ce qui intéresse l’Amérique
África Meridional de Bourguignon d’Anville (1725). Separata 11 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Éclaircissemens
207 NL. Vault box. Ayer MS 1918. Discussion géographique géographiques sur la carte de l’Inde. Paris: l’Imprimerie méridionale, d’Anville, agosto de 1779, 11p. e BC. n.539
da Revista Portuguesa de História, tomo X, 1962, 16p. (2). Second Mémoire concernans l’Amérique méridionale,
sur la ligne de Démarcation..., f.B2 (grifo do autor). Royale, 1753.
192 SILVA, Cândido Marciano da. D. João V patrono do d’Anville, 31 de agosto de 1779, 15 ½ p.
208 NL. Vault box. Ayer MS 1918. Discussion géographique 12 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Considérations
astrónomo Bianchini. In: Estrelas de papel, p.54. 24 À esquerda cartela aparece a atribuição à Gravelot:
sur la ligne de Démarcation..., f.2. générales sur l’étude et les connoissances que demande
193 “Remeto a VSa. a conta dos preços de cada estampa de que “du dessin du sr. Gravelot, frère de l’Auteur”. “do desenho
209 DACIER, M. Éloge de M. D’Anville, p.25. la composition des ouvrages de Géographie, p.64.
se compõem os 20 volumes, de que deixei para se embarcar, do sr. Gravelot, irmão do Autor”. In: Carte de l’Amérique
com o resumo do que também custou a sua encadernação 210 “Le terme de lieue étant assez équivóque en lui meme 13 Mercure de France, Lettre de M. d’Anville, à M. Remond méridionale, d’Anville, 1748
e o trabalho de fazer e copiar os seus index. (...) Ao sair de par la diversité que la medida epreuve”. NL. Vault box. de Sainte Albine, sur une nouvelle Carte d’Amerique
Méridionale, de 17 de novembro de 1749, dezembro 25 DACIER, M. Éloge de M. D’Anville, p.42.
Paris ajustei com o mesmo encadernador que daqui por Ayer MS 1918. Discussion géographique sur la ligne
diante (...) mr. D’Anville ficou encarregado da perfeição e de Démarcation..., f.C.2. de 1749, p.328. 26 Desde as descrições de André Thevet, que veio ao Brasil entre
da expedição. Para sempre me deve remeter os tais index 14 BNF. DCP. Ge DD 2987. 9169. Carte de l’Amérique 1555 e 1556, a preguiça era objeto de admiração e incredulidade
211 NL. Vault box. Ayer MS 1918. Discussion géographique
em francês para que aqui se traduzir em português.” BNRJ. méridionale, impressa, 1748. Outro exemplar da mesma por parte dos europeus. No que foi a primeira descrição
sur la ligne de Démarcation..., f.C2.
Manuscritos. I-14,04,017. Correspondência de Paris de carta pode ser visto em Ge DD 2987. 9169, neste caso desse animal para o público europeu, Thevet assegura que o
212 NL. Vault box. Ayer MS 1918. Discussion géographique animal não se alimentava e vivia de vento. FURTADO, Júnia
1725, Bruxelas, 29 de outubro de 1725. sur la ligne de Démarcation..., f.D3. a largura da folha é de 78,5 centímetros.
F. Le merveilleux, le monstrueux et le singulier dans la
194 “Logo recebi a terceira carta que respeita a coleção de 213 NL. Vault box. Ayer MS 1918. Ligne de Demarcation, f. 15 Na de 1754, acrescentou montanhas nas proximidades cosmographie de la terre d’Andre Thevet, p. 193-212.
estampas, escrevi a mr d’Anville na conformidade que de Lima; na de 1760, alterou o curso do Orenoco e seus
VSa. me advertisse, ele me tinha escrito a carta que remeto 214 NL. Vault box. Ayer MS 1918. Discussion géographique afluentes; na de 1765, corrigiu a posição do lago do Xarayes, 27 PERRIN, Antoine. Almanach de la Librarie. [1781] Paris:
na qual VSa. verá a desculpa que Mariette buscou para a sur la ligne de Démarcation..., f.H7. no interior do Brasil; na de 1772, modificou o traçado das Aubel, 1984.
demora, porque a notícia dos passaportes que mandava 215 NL. Vault box. Ayer MS 1918. Discussion géographique ilhas Malouines e, finalmente, na de 1779, reconfigurou a 28 PEDLEY, Mary Sponberg. The commerce of cartography,
buscar para a nossa jornada lhe deu esta ocasião.” Lisboa sur la ligne de Démarcation..., f.J8. parte sul do Brasil, que correspondia à região do Paraná, p.103.

384 385
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Notas

29 PERRIN, Antoine. Almanach de la Librarie, p.14. 45 BNF. DCP. Ge D 2987 (9653). Carte des routes de M. de 60 DU BOCAGE, Jean-Denis Barbié. Avant propos, p.9. 80 Essa mesma observação aparece em seu mapa intitulado
30 PERRIN, Antoine. Almanach de la Librarie, p.7. la Condamine, tant par mer que par terre dans le cour du 61 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Considérations Carte de la Guiane françoise ou du gouvernement de
voyage a l’Equateur. générales sur l’étude et les connoissances que demande Caïenne. Porém nessa carta a informação se refere aos
31 PEDLEY, Mary Sponberg. The commerce of cartography,
46 A carta manuscrita, de 1750, pode ser vista em BNF. DCP. la composition des ouvrages de Géographie, p.66-67. Armaboutous, que habitam o interior do território. Abaixo
p.104.
Ge DD 2987 (10660) (1), (2), (3), (4). Carte générale de de seu nome aparece a seguinte observação: “que tem
32 Mercure de France. Lettre de M. d’Anville, à M. Remond de 62 Carte de l’Amérique méridionale, D’Anville, 1748. grandes orelhas sobre seus ombros e muitos furos nas
l’audience de Quito, entre 2o 30’ N et 6o. Sud, et jusqu’à
Sainte Albine, sur une nouvelle Carte d’Amerique Méridionale, 63 Carte de l’Amérique méridionale, D’Anville, 1748. faces”. BNF. DCP. Ge DD 2987 (9568). Carte de la Guiane
confluent Hullaga-Manation. Outra cópia manuscrita em
de 17 de novembro de 1749, dezembro de 1749, p.169. 64 Na França, desde meados do século XVII, aparecem françoise ou du gouvernement de Caïenne, D’Anville, 1729,
BNF. DCP. Ge DD 2987. 10661.
33 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Considérations manuais que buscam uniformizar o desenho de mapas, tais 1f., manuscrito e impresso, 40 x 49 cm.
47 SAFIER, Neil. Measuring the New World, p.149.
générales sur l’étude et les connoissances que demande como L’Ingénieur français, de Jean-Louis Naudin (1699) 81 Carte de l’Amérique méridionale, D’Anville, 1748.
la composition des ouvrages de Géographie, p.65. 48 Todo o processo de produção e de disputa em torno dessa ou Les Règles du dessein et du lavis, de Nicolas Buchotte
carta foi esmiuçado em: SAFIER, Neil. “Correcting Quito”. 82 Carte de l’Amérique méridionale, D’Anville, 1748.
34 FURTADO, Júnia Ferreira e CINTRA, Jorge Pimentel. (1722). Regras desse tipo são introduzidas em Portugal a
In: Measuring the New World, p.123-165. partir dos manuais publicados por Azevedo Fortes. BUENO, 83 Carte de l’Amérique méridionale, D’Anville, 1748.
A Carte de l’Amérique méridionale de Bourguignon
D’Anville: eixo perspectivo de uma cartografia amazônica 49 Em 31 de outubro de 1746, dom José de Carvajal, secretário Beatriz Piccolotto. Decifrando mapas: sobre o conceito 84 SØRENSEN, Madeleine Pinault. Les voyagers artistes em
comparada. Revista Brasileira de História. [on-line], dos Negócios Estrangeiros, comunicou ao conde de de território e suas vinculações com a cartografia. Anais Amérique du Sud au XVIIIe siècle. In: LAISSUS, Yves.
São Paulo, vol.31, n.62, p.273-316, 2011. Huescar, embaixador espanhol na França, que “dom Pedro do Museu Paulista, v.12, p.193-236, jan/dez 2004. Les naturalistes français en Amérique du Sud, XVI-
Maldonado, homem ilustre, sábio e utilíssimo para o Rei, “A padronização dos códigos de representação, encabeçada XIX siècles. Paris: Comité des Travaux Historiques et
35 AASP. Process verbaux, 1737, f.188, mercredi 13 novembre
te entregará esta que servirá para sua apresentação, por Azevedo Fortes é visível na série de desenhos dos Scientifiques, 1995, p.43-55.
de 1737. “Mr. Maupertuis a lû um écrit sur son voyage du
que depois o estimarás por seu mérito e se tens tempo o engenheiros militares da geração seguinte.” (p.222) 85 SAFIER, Neil. Measuring the New World.
nord pour la mesure de la terre.”
poderás ouvir coisas bem amenas”. Carta n.18 de Carvajal 65 “As tintas de maior uso entre os desenhadores [de mapas]
36 SAFIER, Neil. Como era ardiloso o meu francês: Charles 86 Neil Safier destaca que, também durante a confecção do
a Huescar, 31 de outubro de 1746. Apud: OZANAN, Didier.
Marie de la Condamine e a Amazônia das Luzes. Revista são a tinta da China, o carmim, a aguada de rios, o rohão, o mapa de Quito, D’Anville perceptivelmente tomou o partido
La diplomacia de Fernando VI: correspondencia reservada
Brasileira de História, São Paulo, v.29, n.57, p.91-114, bistre, o verde-bechiga, o verde-lírio, o anil fino, o vermelhão de La Condamine em detrimento de Bouguer e Maldonado,
entre D. Jose de Carvajal y el Duque de Huescar, 1746-1749.
jan.-jun.2009. e a aguada de tabaco.” FORTES, Manoel Azevedo. FORTES, apesar de o último ser o verdadeiro autor da carta. Assim,
Madri: Escuela de Historia Moderna, 1975, p.104.
Manoel A. O engenheiro português. Lisboa: Oficina de várias correções propostas pelo último não fizeram parte
37 BNF. DCP. Ge ANGRAND 11. Cartuche de la Carte de Maldonado foi eleito membro correspondente da Academia
Manoel Fernandes da Costa: 1728, tomo I, p.413. da versão final do mapa. SAFIER, Neil. Measuring
l’Amérique méridionale, Jean-Baptiste Bourguignon de Ciências em 24 de março de 1747
66 Sobre esta questão na cartografia do Brasil, ver: KANTOR, the New World, p.128-135.
d’ Anville. 50 Carta n.104 de Huescar a Carvajal, de junho de 1747. Apud:
Íris. Cartografia e diplomacia: usos geopolíticos da 87 PRATT, Mary Louise. Os olhos do império, p.45-46.
38 PRATT, Mary Louise. Os olhos do império, p.47. OZANAN, Didier. La diplomacia de Fernando VI, p.203.
informação toponímica (1750-1850). Anais do Museu 88 Apesar de restringir a contribuição dos dois à região de
39 Carta de 10 de fevereiro de 1745. Apud: MONTEIRO, 51 Carta n.318 de Huescar a Carvajal, de 1747. Apud: OZANAN, Paulista, São Paulo, v.17, n.2, p. 39-61, jul.-dez. 2009.
Nuno Gonçalo (org.). Meu pai e meu senhor muito do meu Didier. La diplomacia de Fernando VI. Quito, Bouguer comunicou a D’Anville uma carta do Golfo
67 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Considérations de Panamá (1744, [S.l.]: [s.n.], 1 carte ms; 30 x 35,5 cm, BNF.
coração, p.49. Nas páginas seguintes, 49-53, o autor, o 52 SAFIER, Neil. “Correcting Quito”. In: Measuring générales sur l’étude et les connoissances que demande DCP. Ge DD 2987 (9189)), que o geógrafo utilizou como base
jovem conde de Assumar, que assistiu ao evento, faz uma the New World, p.123-165. la composition des ouvrages de Géographie, p.81. para sua Carte manuscrite de l’istme et la baye de Panamá
detalhada exposição da apresentação de Bouguer.
53 BNF. DCP. Ge DD 2987 (10878). 68 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Considérations et contrées adjacentes. BNF. DCP. Ge DD 2987 (9187 B).
40 Como aponta Neil Safier, a despeito da pretensão de
54 “Carte de la région du Chiriqui, tirée d’un ms comuniqué générales sur l’étude et les connoissances que demande 89 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Premiere Lettre
La Condamine, muitas das informações inseridas em seus
par la Condamine”. BNF. DCP. Ge DD 2987 (10673) (2). la composition des ouvrages de Géographie, p.68. de Monsieur d’Anville, p.523 (grifo meu).
relatos foram adquiridas através de terceiros. SAFIER, Neil.
Como era ardiloso o meu francês, p.91-114. 55 Este mapa não está datado. É muito semelhante à versão 69 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Considérations 90 SAFIER, Neil. “Correcting Quito”. In: Measuring
de 1737, produzida para o duque de Chartres, mas não é générales sur l’étude et les connoissances que demande the New World, p.123-165.
41 PRATT, Mary Louise. Os olhos do império: relatos
idêntico. Alguns topônimos desapareceram, como o rio la composition des ouvrages de Géographie, p.80-81. 91 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre
de viagem e transculturação. Bauru: Edusc, 1999, p.47-48.
da Prata, ou a ponta de Castilhos; outros foram corrigidos. 70 A utilização do topônimo rio das Amazonas será discutida de Monsieur d’Anville, p.671.
42 Segundo o próprio La Condamine, “terminada a questão Parto do pressuposto de que se trata de um exemplar do
da configuração da terra, e atenuada a curiosidade pública no Capítulo 9. 92 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Premiere Lettre
mapa feito a pedido de dom Luís da Cunha, e que Jaime
nesse particular, cri interessar mais à assembleia pública de Cortesão data de 1742. CORTESÃO, Jaime. Alexandre 71 Carte de l’Amérique méridionale, D’Anville, 1748. de Monsieur d’Anville, p.523.
26 de abril último [1745], com uma relação de viagem pelo de Gusmão e o Tratado de Madrid, vol. III, nota 5, p.787, 72 KANTOR, Íris. Cartografia e diplomacia: usos geopolíticos 93 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Premiere Lettre
rio Amazonas que desci desde o ponto em que começa a e vol. IV, nota 5, p.908. da informação toponímica (1750-1850), p.44-45. de Monsieur d’Anville, à Messieurs du Journal des Sçavans,
ser navegável até à embocadura, percorrendo uma extensão sur une Carte de l’Amérique Méridionale qu’il vient de
56 TOOLEY, Ronald Vere. Delahaye [De La Haye]. In: 73 Carte de l’Amérique méridionale, D’Anville, 1748.
de mais de mil léguas”. LA CONDAMINE, Charles-Marie publier, p.523.
de. [1745] Viagem na América meridional descendo o rio A dictionary of mapmakers, v.1, p.351. Delahaye ficou 74 Carte de l’Amérique méridionale, D’Anville, 1748.
na rue de l’Arbre Sec até 1767 e se estabeleceu na place 94 DU BUS, C. Les collections d’Anville à la Biblioteque
Amazonas. Brasília: Editora do Senado Federal, 1984, p.31. 75 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Considérations
du Chevalier du Guet, a partir de 1781. nationale, p.21.
43 BNF. DCP. Ge DD 2987 (9542) e (9543). Carte du cours du générales sur l’étude et les connoissances que demande
57 Na carta de Quito aparece a mesma conjugação entre D’Anville la composition des ouvrages de Géographie, p.111. 95 Estas são principalmente de Bellin, hidrógrafo do rei,
Maragnon ou de la grande riviere des Amazonas dans sa
como desenhista, Delahaye como gravador e Gravelot bastante conhecido por suas cartas marítimas, algumas
partie navigable depuis Jaen de Bracamoros jusqu’à son 76 “O mapa que era produzido pelos europeus era, em parte,
como autor da cartela. SAFIER, Neil. Correcting Quito. In: delas baseadas nos mapas de D’Anville.
embouchure et qui comprend la province de Quito et la Côte dependente da contribuição dos nativos. Essa contribuição
de la Guyane depuis le Cap de Nord jusqu’à Esquebé (sic), Measuring the New World, p.123-129. Observa-se que isto 96 Esta classificação está de acordo com a adotada no catálogo
configura estratégia evidente de busca de uniformização da se configurou numa variedade de formas, incluindo não
etc., d’Anville. A primeira cota refere-se à versão impressa, somente o fornecimento de informações, mas também de da coleção do Departament des Carts et Plans da BNF.
e a Segunda, à manuscrita. cartografia que ele produzia da América do Sul. A organização que resultou nessa classificação começou
pessoal. O desejo dos cartógrafos europeus de se apoiar em
44 LA CONDAMINE, Charles-Marie de. [1745] Viagem na 58 WASHBURN, Wilcomb E. As ilhas Canárias e a questão inúmeras fontes para produzir seus mapas foi importante para a ser feita pelo próprio D’Anville e, após sua morte, foi
América meridional descendo o rio Amazonas, p.34. Na do meridiano de referência: a busca do rigor na medição este processo, como também sua desesperada necessidade de continuada por Barbié du Bocage. Ver: DU BUS, C. Les
cartela do mapa aparece a informação “levantado em 1743 da terra, p.213-220. FURTADO, Júnia F. Um cartógrafo informação”. BLACK, Jeremy. Visions of the world, p.66-67. collections d Anville à la Biblioteque nationale, p.21.
e 1744 e submetido às observações astronômicas por m. La rebelde? José Joaquim da Rocha e a cartografia de Minas 97 Foram incluídas aí duas cartas do fundo Ge D 10691, que
Gerais. Anais do Museu Paulista, São Paulo, v.17, n.2, 77 Carte de l’Amérique méridionale, D’Anville, 1748.
Condamine, da Real Academia de Ciências. Aumentado do não constavam da classificação original, porque se tratam
curso do rio Negro, e de outros detalhes tirados de diversas p. 175-176, jul.-dez. 2009. 78 Sobre os pampas afirma que “é o mesmo nome que se dá de duas cartas fornecidas por Gonçalo de Lacerda, secretário
memórias e roteiros manuscritos de viajantes modernos”. 59 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Considérations aos índios que vivem errantes nessas planícies”. In: Carte de dom Luís da Cunha, e copiadas por D’Anville, referentes
BNF. DCP. Ge DD 2987 (9542). Carte du cours du Maragnon générales sur l’étude et les connoissances que demande de l’Amérique méridionale, D’Anville, 1748. à região de Santos. BNF. DCP. Ge D 10691. Esquisse au
ou de la grande rivière des Amazones. la composition des ouvrages de Géographie, p.52. 79 Carte de l’Amérique méridionale, D’Anville, 1748. crayon de la Region de Santos au Brésil, d’Anville, ca.1740.

386 387
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Notas

98 BNF. DCP. Ge DD 2987 (9189). Golfe de Panama. representar o conhecimento geográfico. BARBER, Peter. (ed.) 126 BNP. DCP. Ge DD 2987 (9483). MANNEVILLETE, J. B. y costumbres de los indios sus habitadores, com nuevas y
99 BNF. DCP. Ge 2987 (9682) ou Ge D 10890. Anville, The map book. Londres: Weidenfeld & Nicolson, s/d, p.134. Nicolas Denis d’. Plan de la Baye et du port de Rio de utiles noticias de animales, arboles, frutos, aceytes, resinas,
Jean-Baptiste Bourguignon d’. Carte réduite de la Mer 113 BNF. DCP. Ge DD 2987 (9153). America Meridionalis, Janeiro. Paris: JN Bellin, 1751. 55 x 38 cm. yervas, y raìces medicinales: Y sobre todo, se hallaràn
du Sud selon la nouvelle hypothese de la longitude, 1736. Gérard Mercator, [ca1610], 44 x 57 cm. 127 BNP. DCP. Ge DD 2987 (9482). Entree de la Riviere de conversiones muy singulares à nuestra Fé, y casos de
Ianeyro a la côte du Bresil, François Froger, séc. XVIII, mucha edification. Madri: Manuel Fernandez, 1741
100 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Premiere 114 CRONE, C.R. Maps and their makers, p.70.
Lettre de Monsieur d’Anville, p.530. 15 x 10,5 cm. Paris: Nicolas le Gras, 1700 145 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Premiere
115 “Amsterdam estava então [1630] rapidamente se Lettre de Monsieur d’Anville, p.529.
101 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Premiere desenvolvendo como o centro cartográfico da Europa. 128 FROGER, François. Relation d’un voyage fait en 1695, 1696
Lettre de Monsieur d’Anville, p.531. O capital oriundo das empresas ultramarinas financiou o et 1697 aux côtes d’Afrique, détroit de Magellan, Brésil, 146 FRÉZIER, Amédée. Relation du voyage de la mer du Sud
desenvolvimento técnico de instrumentos e gravadores para Cayenne et isles Antilles, par une escadre des vaisseaux du aux côtes du Chili, du Pérou et de Brésil, fait pendant les
102 NL. Vault box. Ayer MS 1918. Doc.549, Lettre écrite
a produção de globos, Atlas e mapas de parede em escala roy, commandée par M. De Gennes, Paris, quay de l’Horloge, années 1712, 1713 1714. Ouvrage enrichi de quantité de
au R.P. Du Halde, de la Compagnie de Jesus, par M.
massive”. CRONE, C.R. Maps and their makers, p.81. 1698, in-16, 200 p., avec des cartes et des figures, 1699. planches en taille-douce. Paris: Pierre Humbert, 1717.
d’Anville, Geographe ordo. Du Roi, au sujet de la Carte
du Paraguay. Doc.549, Addition à la lettre de Mr. D’Anville 116 “Cientistas, engenheiro e os funcionários públicos foram 129 BNP. DCP. Ge DD 2987 (9487 e 9488). Plan de la ville 147 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre
à Mr. De la Roque. responsáveis pelas mais importantes e distintivas inovações de St Sebastien à la coste du Bresil ou autrement la Baye de Monsieur d’Anville, p.632.
103 Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville, “Observations em cartografia no século XVIII na Europa. Eles dominaram de Rio de Janeiro. Sec. 18, Manuscrite em coul; 50 x 34 cm; 148 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre
geographiques sur la Carte du Paraguai par l’auteur de a cartografia da época como nenhum outro grupo nacional f.2 legende, ms; 30 x 20,5 cm. de Monsieur d’Anville, p.632.
cette carte”. Paris: Chez J.G Merigot le jeune, 1781, v.IX. O havia feito até então”. KONVITZ, Josef. Cartography in 130 BNP. DCP. Ge DD 2987 (9497). FRÉZIER, A F. Plan de la 149 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Premiere Lettre
manuscrito dessa memória se encontra na Newberry Library. France, 1660-1848: science, engineering, p.XVIII. Baye de tous les Saints située à la côte du Brésil. Paris: JC de Monsieur d’Anville, p.528-529.
104 BNF. DCP. Ge DD 2987 (9445). Paraguaia Provincia 117 Vincenzo Coronelli (1650-1718) foi o cartógrafo italiano mais Nyon, 1716. 20,5 x 14,5 cm; BNP. DCP. Ge DD 2987 (9499).
150 Relation Voyages de François Coreal aux Indes
Societatis Jesu cum adjacentitus novissima descriptis, prolífico da época. BLACK, Jeremy. Visions of the world, p.64. FREZIER, A F. Plan de la ville de Saint Salvador capitale du
Occidentales, contenant ce qu’il y a vû de plus remarquable
Matthias Seutter, 1740. Brésil. Fonbonne scupt. Paris: Nyon, 1714. 21,5 x 32 cm; BNP.
118 BARLEO, Gaspar. Rerum per octennium in Brasilia, et alibi pendant son séjour depuis 1666 jusqu’en 1697. Amsterdã:
DCP. Ge DD 2987 (9501). FRÉZIER, Amédée-François. Brésil:
105 FERREIRA, Mário Clemente. O Mapa das Cortes e o Tratado nuoer gestarum. Amsterdã: Ioannis Blaeu, 1647. J. Frederic Bernard, 1722.
Bahia de todos los Santos. Paris: J C Nyon, 1716. 1 f. 18 x 11 cm.
de Madrid: a cartografia a serviço da diplomacia. Varia 151 http://www.wdl.org/pt/item/379/ (acesso em 04/09/2009)
119 PISO, Willem, MARGGRAF, Georg, et LAET, Johannes. 131 BNP. DCP. Ge DD 2987 (9504). SMITH, WH. Carte Anglaise
Historia, Belo Horizonte, vol.23, n.37, p.56, 2007.
Historia naturalis Brasiliae. Auspicio et beneficio Illustriss. des Côtes du Brésil depuis la Rivière de Ypernim jusqu’à 152 SEIXAS Y LOVERA, Francisco de. Descripcion geographica,
106 BNF. DCP. Ge DD 2987 (9446). Paraguaria Provincia Societatis I. Mauritii Com Nassau. Leiden: Franciscum Hackium/ y derrotero de la region austral Magallanica. Que se
Sergipe del rey. Londres: Dalrymple, 1779. 64,5 x 49 cm.
Jesu cum adjacentibus novissima descriptio – 1722, Michaeli Amsterdã: Ludovicus Elzevirium, 1648. dirige al Rey nuestro señor, gran monarca de España,
Angelo Tamburino Soc. Jesu Praep. Generali XIV, Ano 1726. 132 BNF. DCP. Ge DD 2987 (9471B). (Suite) Huilé (?) Portugais
120 “Nicolas Sanson (…), um homem de vastos interesses, y sus dominios en Europa, Emperador del Nuevo Mundo
du Lagoa de Merin, de la main de M. d’Anville, F. Barbuda
107 BNF. DCP. Ge DD 2987 (8496). Oceanus occidentalis, Claude como cientista e antiquário, que esteve sob a influência Americano, y Rey de los reynos de la Filipinas y Malucas.
Maldonado, Carta topográfica de todo o terreno... 1737,
Ptolemée, Lugduni, 1535, 1 f. 35 x 50 cm. BNF. DCP. Ge de René Descartes. (...) Como matemático, ele é conhecido Madri: Antonio de Zafra, 1690.
ms, 25,5 x 74,5 cm.
DD 2987 (8497). Oceanus occidentalis, Claude Ptolemée, como inventor da projeção sinusoidal (conhecida como 153 BROSS, Mag. America and the east: early geographies.
Oceanus occidentalis, 1535, 35,5 x 49,5 cm. 133 BNF. DCP. Ge DD 2987 (9554). Carte manuscrite de la
Sanson-Flamsteed) na qual o formato das áreas é (1921) Londres: Mag Bross, 2008, p.64.
108 BNF. DCP. Ge DD 2987 (8498). Mercartor America sive india navigation de la Rivière des Tocantins. Manuscrita em cor,
preservado.” CRONE, C.R. Maps and their makers, p.83. 154 ANSON, A Voyage round the world, in the years 1740, 41,
nova, Gerard Mercator, Duysburgi: Mercatorem, 1595, 65 x 333 cm.
121 BNF. DCP. Ge DD 2987 (9474). André Thevet, L’isle Henrii. 42, 43, 44. Londres: John and Paul Knapton, 1749.
44,5 x 50,5 cm. “Em 1569, Mercator produziu uma projeção 134 BNF. DCP GE D 10691 (1) e (2). Esquisse au crayon
1586. BNF. DCP. Ge DD 2987 (9475). André Thevet, L’isle 155 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre
que tratava a terra como um cilindro, assim os meridianos de la Region de Santos au Brésil, ca 1740.
des Margaias, 1586 – 15 x 18,5 cm. BNF. DCP. Ge DD 2987 de Monsieur d’Anville, p.663-664.
eram paralelos e não convergentes para os polos. Os mapas (9480). Gouffre de la riviere de Guanabara ou Janaire, 135 DCP. Ge DD 2987 (9473). Maritima Brasiliae universae/
que usam a projeção de Mercator expandem as terras Andreas Antonius Horatii inv. Et delin. Rome: Rossi, 156 BNL. Reservados. Cartas Avulsas de dom Luís da Cunha.
André Thevet, 1586, 15 x 18,5 cm.
temperadas em relação às terras tropicais. Usa as linhas de 1700 – 43,5 x 57 cm. Maço 62, n.2. Doc.226, Carta para o cardeal da Mota,
projeção que são importantes na navegação criando ângulos 122 D’Anville possuía esse mapa da ilha de Santa Catarina 14 de dezembro de 1739.
e uma do mar do Sul de Frézier. BNF. DCP. Ge DD 2987 136 BNF. DCP. Ge DD 2987 (9476). HORATIUS, Andreas
entre altitude e longitudes. Foi ele que estabeleceu a Europa 157 SAFIER, Neil. Measuring the New World, p.47.
(9475). Amédée-François Freézier. Carte particuliere de Antonius. Pianta di S. Vicenzo/ Andreas Antonius Horatii.
no centro e no hemisfério norte, o que dava primazia à
i’Isle de S.te Catherine située à la côte du Bresil. Paris, H. Vicent sc. Rome, Rossi, 1700, 39,5 x 52 cm. 158 BNP. DCP. Ge DD 2987 (9401). Plan d’une baye de la côte
Europa em relação aos outros continentes. Como toda
JCNyon, 1716. 21X31; BNF. DCP. Ge DD 2987 (9175). 137 Como exemplo BNF. DCP. Ge DD 2987 (9474). Provincie de du Chili, 174.., por George Anson, 22 x 29 cm.
projeção, o mapa de Mercator apresenta distorções. Isso é
inerente ao fato de representar um objeto tridimensional Carte reduite pour l’intelligence du voyage de la Mer S. Vicenzo e del Rio de Janeiro, Andreas Antonius Horatii 159 BNP. DCP. Ge DD 2987 (9408). Carte de la partie
em apenas duas dimensões. Não há mapa correto num mapa du Sud. Amédée-François Frézier, ca.1716, 21 x 16,5 cm. inv. Et delin; Vicent sc. Rome, Rossi 1700. 39 x 51,5 cm. méridionale de l’Amérique méridionale avec la route
de projeção, as distorções aumentam a área representada. 123 “Jan Jansson e seu filho Joan Jodocus Hondius, impressor, 138 GUNN, Geoffrey C. First Globalization: the Eurasian du Centurion, 174.., por George Anson, 50,5 x 49 cm.
Foi ele também quem fortificou a representação do mundo tendo, em 1606, comprado as placas do Atlas de Mercartor Exchange 1500-1800. Lanham/Boulder/New York/Toronto/ 160 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre
como um retângulo, que não revela a circularidade da terra.” de sua família, republicaram seu mapa com o acréscimo de Oxford: Rowman Littlefied Publishers, 2003, p.121. de Monsieur d’Anville, p.638-639.
BLACK, Jeremy. Visions of the world: a history of maps. mais 36 de sua autoria no Mercartor-Hondius Atlas, que 139 BNF. DCP. Ge DD 2987 (9551). Carte de l’embouchure de 161 BNP. DCP. Ge DD 2987 (9408).
Grã-Bretanha: Octopus Publishing Group, 2003, p.48-50. continha 143 mapas. Estes subsequentemente apareceram l’Amazone, Robert Dudley, século XVIII, ms., 37 x 34 cm. 162 Está escrito na cartela desse mapa: “Foi ultimamente
109 BNF. DCP. Ge DD 2987 (9152). La descritione de Cullo (sic) em edições em seis línguas”. CRONE, C.R. Maps and their
140 DYM, Jordana. Mais calculado para enganar do que para publicado um mapa de duas folhas da América do Sul,
ao Peru, Paolo de Forlani, [da Verona] ca.1560, 53 x 38,5 cm. makers, p.81.
informar: os viajantes e o mapeamento da América Central copiado de um mapa francês muito errado de 1703 e,
A América do Sul de Mercator tinha um curioso formato 124 BNF. DCP. Ge DD 2987 (9167). Typus geographicus Chili (1821-1945). Varia Historia, Belo Horizonte, v.23, n.37, para enganar o mundo, dedicado ao Dr. Halley, e pretende
quadrangular que só foi corrigido depois das viagens de Paraguay Freti Magellanici ex Ppbg Alfonso d’Ovalle e Nicol. p.85, jan/jun 2007. na dedicatória ter sido corrigido por suas descobertas”.
Drake ao longo da costa oeste”. CRONE, C.R. Maps and Techo nec non de Brouwer, Narbouroug, de Beauchesne
141 DACIER, M. Éloge de M. D’Anville, p.42. Esta observação lança luz sobre as disputas territoriais no
their makers, p.74. etc. a Guiliel de I’Islio descripts in superque secundum além-mar entre duas potências rivais e como os mapas
110 BNF. DCP. Ge DD 2987 (9170). Delineatio omnium orarum recentiores du Frezier relations retificato cui accedit 142 DYM, Jordana. Mais calculado para enganar do que para podiam servir para enganar o adversário. BNP. DCP. Ge DD
totius Australis partis Americae, dictae Peruvianae Arnolius ichonographia urb. Cap. S Iago editoribus. Nuremberg: informar, p.81-109. 2987 (9172). A new and exact map of the coast, countries
Florentuit (Arnold Florent) van Langren, [Anvers], [1596], Homannianis heredibus, 1733, em coul 49 x 63,5 cm. 143 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Considérations and islands, Herman Moll, 1711, coul., 66 x 49,5 cm.
41 x 57 cm. générales sur l’étude et les connoissances que demande
125 BNP. DCP. Ge DD 2987 (9484). COQUART, A Plan de la Baye 163 FEUILLÉE, Louis E. Journal des observations physiques,
111 Blaeu e Visscher referem-se a duas dinastias tradicionais et de la ville de Rio de Janeiro, prise par l’escadre commandé la composition des ouvrages de Géographie, p.63. mathématiques et botaniques, Faites par l’ordre du Roy
de cartógrafos dos Paises Baixos, séculos XVI e XVII. par M. Duguay Troüin, apres 1711 – 24,5 x 33 cm; BNP. DCP. 144 GUMILLA, Joseph (S.J., Le P.) El Orinoco ilustrado y sur les Côtes Orientales de l’Amérique Méridionale, &
112 Hondius foi um dos cartógrafos mais famosos da sua época. Ge DD 2987 (9486). BELLIN, JN Plan de la baye de Rio de defendido, historia natural, civil y geographica, de este dans les Indes Occidentales, depuis l’année 1707. jusques
Foi um dos primeiros a utilizar a projeção de Mercator para Janeiro. Paris, Bellin, 1764 - 1 f. - 31,5 x 49 cm. gran rio, y de sus caudalosas vertientes: Govierno, usos, en 1712. Paris, 1714, 2vol. FEUILLÉE, Louis E. Journal des

388 389
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Notas

observations physiques, mathématiques et botaniques, retirando-se para o exército”. ANTT. Ministério do Reino. 189 ANTT. Ministério do Reino. Decretamento de Serviços. the Castilhos pequeno, que corre entre a costa do mar
Faites par l’ordre du Roi sur les Côtes Orientales de Decretamento de Serviços. José da Silva Pais. Maço 58, José da Silva Pais. Maço 118, n.19, serviços de 1790, f.1. e a Lagoa de Merim tirada por ordem do brigadeiro José da
l’Amérique Méridionale, & aux Indes Occidentales. Et no.64, Marechal de campo, serviços de 1778. 190 Carta Topográfica de todo o terreno comprehendido desde Silva Paes, executada por Francisco de Barbuda-Maldonado,
dans un autre Voyage fait par le même ordre à la Nouvelle 178 ANTT. Ministério do Reino. Decretamento de Serviços. a Barra do Rio Grande de S. Pedro thé Castilhos pequeno, ms, 25,5 x 74,5 cm.
Espagne, & aux Isles de l’Amérique. Paris, 1725, 3o.vol. José da Silva Pais. Maço 118, n.19, serviços de 1790. que corre entre a Costa do mar & a lagoa de Merim. Tirada 196 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre
164 BNP. DCP. Ge DD 2987 (9174). Carte de l’Amérique 179 Como tal, “servindo nesta corte desde o referido ano de por ordem do Brigadeiro dos Exércitos de Sua Majestade, de Monsieur d’Anville, p.645.
Méridionale dressée sur les observations du R. P. L. Feuillée. 1722 se lhe remeteram por este Conselho várias contas dos José da Silva Paes. 197 BC. n.539(1). Mémoire sur un accroissement considérable
Á Paris: chez Giffart, 1714, 25 x 33,5 cm. governadores da América com várias plantas, para examinar 191 ARAÚJO, Ana Cristina. Livros de uma vida: critérios e de connoissances locales en ce qui intéresse l’Amérique
165 RBC. ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Discussion o estado das fortificações daquelas conquistas a que não modalidades de uma livraria particular no século XVIII, p.152. méridionale, agosto de 1779, d’Anville, f.4.
Géographique de la longitude qui convient au continent somente respondeu com prontamente, mas vendo o erro 192 Possuía a Representação a Sua Magestade sobre a forma e 198 BC. n.539(1). Mémoire sur un accroissement considérable
de l’Amérique Méridionale. de muitas fez novas plantas (...). No dito ano foi por ordem direcção que devem ter os Engenheiros para melhor servirem de connoissances locales en ce qui intéresse l’Amérique
166 BC. ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Coleção de Vossa Majestade à Ilha Terceira examinar o novo porto o Reyno e suas conquistas (1720), Tratado do modo mais méridionale, agosto de 1779, d’Anville, f.4.
de oito manuscritos e tratados dos quais cinco se referem da cidade de Angra e os mais daquela ilha, mostrando por fácil e o mais exato de fazer as cartas geográficas (1722),
199 Sobre a carta de Paes, D’Anville afirmou “que eu creio dada
ao Brasil... Documento no. 229 do Catálogo. um mapa a capacidade dele, o estado de suas fortificações O engenheiro Português, (1729), Lógica racional, geometrica
pela bússola”. NL. Vault box. Ayer MS 1918. Discussion
167 BÉLY, Lucien. Espions et ambassadeurs: au temps de e o que nele se devia obrar”. ANTT. Ministério do Reino. e analytica, obra utilissima e absolutamente necessaria para
géographique sur la ligne de Démarcation etablier pour
Louis XIV. Decretamento de Serviços. José da Silva Pais. Maço 118, entrar em qualquer sciencia, e ainda para todos os homens,
fixer des limites entre les découvertes du Portugal et celles
n.19, serviços de 1790, f.1. que em particular quiserem fazer uso do seu entendimento
168 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses de la Castille, d’Anville, doc.552, f.G6.
180 PIAZZA, Walter F. Um “iluminado” oitocentista: (1744). Apud: ARAÚJO, Ana Cristina. Livros de uma vida:
e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha. Livro 790, 200 “E na ocasião em que se aportou naquela ilha, uma esquadra
José da Silva Paes, p.206. critérios e modalidades de uma livraria particular no século
f.269, Paris, 8 de setembro de 1721. inglesa e deu a costa nela uma fragata espanhola se houve
XVIII, p.171, 173-174, 183-184.
169 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses 181 “Foi encarregado do governo do Rio de Janeiro, que exercitou com tal acordo e disposição na hospitalidade de uns e outros
2 anos e 1 mês e 15 dias e ultimamente no de sargento mor 193 “Uma carta portuguesa manuscrita & das melhores
e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha. Livro 790, que sendo presente tudo a V.MAde.” ANTT. Ministério do
de batalha”. ANTT. Ministério do Reino. Decretamento circunstâncias, desenhada pela diligência do Brigadeiro
f. 291 –306; 311-313; 332. Reino. Decretamento de Serviços. José da Silva Pais. Maço
de Serviços. José da Silva Pais. Maço 58, no.64. Jozé da Silva Paez & que eu recebi de M. Dom Luís da
170 PIMENTEL, Manoel. Arte de Navegar: em que se ensinam Cunha, embaixador de Portugal”. ANVILLE, Jean-Baptiste 118, n.19, serviços de 1790, f.1
as regras práticas e os modos de cartear e graduar a 182 PIAZZA, Walter F. Um “iluminado” oitocentista: Bourguignon d’. Second Lettre de Monsieur d’Anville, p.644. 201 ANSON, George. Proceedings at St. Catherine’s, and a
balestrilha por via de números e muitos problemas úteis José da Silva Paes, p.207. description of a place, with a short account of Brazil.
194 NL. Vault box. Ayer MS 1918. Discussion géographique sur
à navegação e Roteiro das viagens e costas marítimas de 183 ARAÚJO, Ana Cristina. Livros de uma vida: critérios e In: A Voyage round the world, in the years 1740, 41, 42, 43,
la ligne de Démarcation etablier pour fixer des limites entre
Guiné, Angola, Brasil, Índias e ilhas ocidentais e orientais. modalidades de uma livraria particular no século XVIII. 44. Londres: John and Paul Knapton, 1749, p.42-56.
les découvertes du Portugal et celles de la Castille, d’Anville,
Lisboa: Oficina de Francisco da Silva, 1746. In: História das ideias. O livro e a leitura. Coimbra, 202 ANSON, George. A Voyage round the world, in the years
doc.552, f.G6.
171 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre vol.20, p.157, 1999. 1740, 41, 42, 43, 44, p.44.
195 BNF. DCP. Ge DD 2987 (9471B). Suite Huilé Portugais du
de Monsieur d’Anville, p.650. 184 ARAÚJO, Ana Cristina. Livros de uma vida: critérios e Lagoa de Merin, 1737, Carta topográfica de todo o terreno 203 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre
172 BNF. NAF 6502-6503. Papiers geographiques de modalidades de uma livraria particular no século XVIII, p.162. compreendido desde a Barra do Rio Grande de São Pedro, de Monsieur d’Anville, p.645.
d’Anville, f.299. 185 “E passando por ordem de VMde ao Rio de Janeiro a
173 NL. Vault box. Ayer MS 1918. Discussion géographique empregar-se no seu real serviço sucedendo os castelhanos
sur la ligne de Démarcation etablier pour fixer des limites bloquear a Nova Colônia de Sacramento ser encarregado da
[ Capítulo 5 ]
entre les découvertes du Portugal et celles de la Castille, expedição dos socorros reparos das suas fortificações e defesa
d’Anville, doc.552. dela”. ANTT. Ministério do Reino. Decretamento de Serviços.
José da Silva Pais. Maço 118, n.19, serviços de 1790, f.1. 1 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes 6 Segundo eles, eram “chamados os três irmãos, que são
174 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses
Pertencentes à El rei de Portugal relatada pellos tres irmaos os de quem se teve esta Relação e se chamam Nunes de
e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha Livro 786, 186 “E chegando àqueles mares a esquadra que comandava
chamados Nunes os quaes rodaraó muytos annos por estas sobrenome”. RBC. Noticias das minas da América chamadas
Cartas de dom Luís da Cunha para o reino, Paris 2 de o coronel Luís de Abreu Prego com observância da
partes. n.229, doc.555 (1). Geraes..., n.229, doc.555 (1), f.1, f.6.
setembro de 1712, f.403. ordem que teve de VMade pelo seu secretário de Estado,
se embarcou na [nau] capitânia dela com o intento de 2 A primeira análise que fiz sobre esse documento resultou 7 NOVINSKY, Anita. Inquisição, rol dos culpados: fontes
175 ANTT. Ministério do Reino. Decretamento de Serviços.
surpreender Montevidéu, o que não se pudera praticar na publicação de um artigo, junto com meu colega Neil para a história do Brasil, século XVII. Rio de Janeiro:
José da Silva Pais. Maço 58, no.64, f.15..
pelas tormentas que sobrevieram não darem lugar a esta Safier: FURTADO, Júnia Ferreira e SAFIER, Neil. O sertão Expressão e Cultura, 1992, p.28, 58, 103.
176 PIAZZA, Walter F. Um “iluminado” oitocentista: José da das Minas como espaço vivido: Luís da Cunha e Jean-Baptiste
satisfação. E passando ao Rio da Prata, dispersa a dita nau 8 Há aqui uma dúvida, pois existem duas Proenças nas
Silva Paes. Boletim do Arquivo Histórico militar, Lisboa, Bourguignon D’Anville na construção da cartografia europeia
das mais, se combateu por duas vezes com duas fragatas Beiras (na BeiraR: nas Beiras – Beira Alta e Beira Baixa?).
v.51, p.201-223, 1982. PIAZZA, Walter F. O Brigadeiro sobre o Brasil. In: PAIVA, Eduardo França (org.). Brasil-
inimigas, obrando ali várias ações de seu valor. E achando- Proença-a-Velha faz parte do concelho de Idanha-a-Nova
José da Silva Paes, estruturador do Brasil Meridional. -Portugal: sociedades, culturas e formas de governar no
-se na praça da Colônia, rude ficando as suas ruínas, e Proença--a-Nova faz parte do concelho de mesmo nome,
Florianópolis: Editora da UFSC, 1988. mundo português (séculos XVI-XVIII). São Paulo: Editora
e pondo a sua melhor defesa, concorreu com as suas mas o mais certo é tratar-se da primeira.
177 O filho de Manoel Pimentel, de nome Luís Pimentel, se disposições e influiu com seu ardor bélico o assalto que Annablume, 2006, p.263-277. Muitas das análises que então
casou com a filha de José da Silva Pais, de nome Clara propusemos são retomadas aqui de forma mais vertical. 9 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Todas as
se fez sobre o acampamento inimigo, que foi destruído
Joaquina. Tudo indica que o relacionamento entre as duas Também utilizei esse documento no livro Oráculos da informações sobre os irmãos foram retiradas desse processo.
e saqueado, trazendo-lhe uma peça de artilharia
famílias se deu a partir do conhecimento estabelecido entre e queimando-lhe o seu abarracamento, depois de geografia iluminista, especialmente nos Capítulos 8 e 9. 10 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Perguntas
José da Silva Pais e o engenheiro militar Francisco Silva abandonarem o campo precipitadamente”. ANTT. 3 D’ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon. Second lettre de de genealogia realizadas a 7/11/1729. Sobre seus avós, Diogo
Pimentel, irmão de Manoel, durante as batalhas travadas Ministério do Reino. Decretamento de Serviços. monsieur D’Anville, à messieurs du Journal des Sçavans, sur só soube informar o nome de um. Tratava-se de Diogo
nas fronteiras entre Portugal e Espanha durante a Guerra José da Silva Pais. Maço 118, n.19, serviços de 1790, f.1. une Carte de l’Amérique Méridionale qu’il vient de publier. Gomes, que vivia de sua fazenda, morador em São Vicente
da Sucessão Espanhola. Em Monsanto, José da Silva Pais Journal des Sçavans, Paris, p.661-662, abril de 1750. da Beira, provavelmente pai de sua mãe.
“foi pego na batalha com os espanhóis” e teve que “arrimar 187 O “presídio do Rio Grande [foi] fundado em 1737 pela
a porta com o peito descoberto para examinar o que era expedição de Silva Pais, que justamente procurava criar um 4 D’ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon. Considérations 11 FURTADO, Júnia F. Homens de Negócio: a interiorização
preciso para o rendimento dele e ferido o engenheiro ponto de apoio para tentar salvar a Colônia”. KUHN. Fábio. générales sur l’étude et les connaissances que demande la da metrópole e do comércio nas Minas setecentistas.
Francisco Silva [Pimentel] e retirados alguns engenheiros Uma fronteira do império: o sul da América portuguesa composition des ouvrages de géographie. Paris: Imprimerie São Paulo: Hucitec, 1999, p.327-329 (2ª. edição: 2006).
holandeses, pelo perigo, ficara ele só com a empresa e pelo na primeira metade do século XVIII. Anais do Além Mar, de Lambert, 1777, p.67. 12 FURTADO, Júnia F. Teias de Negócio: conexões mercantis
grande trabalho e disposição com que houve de conseguir Lisboa, v.VIII, p.108, 2007 5 ROMEIRO, Adriana. Paulistas e emboabas no coração das entre as minas do ouro e a Bahia durante o século XVIII.
rendimento do dito castelo e no choque do sítio dele ser 188 ANTT. Ministério do Reino. Decretamento de Serviços. Minas: ideias, práticas e imaginário político no século XVIII. In: FRAGOSO, João; FLORENTINO, Manolo; SAMPAIO, A.
dos primeiros que se misturou com os inimigos e com valor José da Silva Pais. Maço 118, n.19, serviços de 1790, f.1. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2008. C. Jucá de; CAMPOS, Adriana Pereira (orgs). Nas rotas do

390 391
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Notas

império: eixos mercantis, tráfico e relações sociais no mundo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Segunda confissão realizada para tanto três cavalos. (NOVINSKY, Anita. Inquisição: de Luciano Raposo de Almeida Figueiredo e Maria Verônica
português. Lisboa: Instituto de Investigações Científicas e a 3/11/1729. inventários de bens conquistados a cristãos-novos, Campos. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 1999, v.1,
Tropicais/Vitória: EDUFES, 2006, p.165-192. 31 NOVINSKY, Anita. Inquisição: inventários de bens p.96-97). Manoel Madureira Pinto, que em 1733 p.198), “levantamento e sublevação universal dos naturais
13 Nas sociedades de Antigo Regime, como era o caso conquistados a cristãos-novos, p.198-206; ANTT. IL. encontrava-se na Bahia de partida para as Minas, possuía do reino de Portugal contra os paulistas e naturais de toda
de Portugal e demais países europeus por essa época, Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Primeira confissão para seu comércio uns “cavalos e seus trastes”. (MO. CBG. a Serra Acima” (Códice Costa Matoso, v.1, p.193), “logo
as profissões cindiam-se em dois grandes universos: as artes realizada a 7/09/1729. Testamento de Manoel Madureira Pinto, L2(6), f.80v-83). paulistas e taubateanos, também tidos por paulistas, como
liberais e as artes mecânicas. Nas primeiras se enquadravam Lucas Pereira do Lago, natural da Bahia, declarou em seu todos naturais de Serra Acima” (Códice Costa Matoso, v.1,
32 GOULART, Maurício. Escravidão africana no Brasil: testamento que estava “para seguir viagem para as Minas p.230). Ver também: RUSSELL-WOOD, A.J. Identidade,
os médicos; e nas últimas os pequenos comerciantes e os das origens à extinção do tráfico. São Paulo: Alfa-Ômega,
sapateiros. Enquanto as primeiras eram honrosas, e levo em minha companhia escravos, cavalos e os mais etnia e autoridade nas Minas Gerais do século XVIII: leituras
1975, p.165. produtos necessários para o caminho e negócio”. (MO. CBG. do Códice Costa Matoso. Varia Historia, Belo Horizonte,
as segundas eram desonrosas.
33 RIBEIRO, Alexandre Vieira. O tráfico atlântico de escravos e Testamento de Lucas Pereira do Lago, L6(12), f.127-132). v.21, p.100-118, 1999; e ROMEIRO, Adriana. Um visionário
14 O famoso médico português cujo nome completo era a praça mercantil de Salvador, c.1680-c.1830. Rio de Janeiro: na corte de D. João V: revolta e milenarismo nas Minas
Antônio Nunes Ribeiro Sanches. 45 Mais detalhes em FURTADO, Júnia F. Teias de Negócio:
UFRJ, 2005, p.195. (Dissertação, Mestrado em História.) conexões mercantis entre as minas do ouro e a Bahia Gerais. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2001, p.195-197.
15 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Perguntas 34 O argumento era de que dessa forma se evitava os durante o século XVIII; FURTADO, Júnia F. From Brazil’s 63 Códice Costa Matoso, v.1, p.206. “Emboabas chamavam aos
de genealogia realizadas a 7/11/1729. descaminhos do ouro. Providências nesse sentido estiveram central highlands to Africa’s ports: trans-atlantic and do Reino, palavra que quer dizer galinha com calças”, p.202.
16 O périplo de Ribeiro Sanches assim foi descrito por dom contidas nas ordens e bandos do governador da Repartição continental trade connections in goods and slaves. 64 Ao descreverem os que se envolveram na guerra dizem:
Luís da Cunha, que o conheceu na Universidade de Leiden, Sul, dom Artur de Sá e Menezes, de 23 e 25 de setembro e 46 Arquivo Histórico do Museu da Inconfidência. Casa “aquele Europeu era homem honrado e tinha razão no
em 1730: “havendo estudado em Coimbra, se formou em 20 de dezembro de 1701, medidas reforçadas pela carta régia do Pilar. Testamento de João Gonçalves Batista, cód.67. que dizia”; já Manuel Nunes Viana era “homem de muito
Salamanca, depois estudou em Pádua, depois em Londres, de 9 de dezembro de 1702. Essas leis foram renovadas pelo Auto 802, p.81. bem”, “homem de bom e grande coração”, “homem de
e ultimamente estuda debaixo de Boerhaave, e estudará governador seguinte, dom Álvaro de Silveira Albuquerque, valor e satisfação”, o “aborreciam mentiras e enganos”,
ainda três anos para se crer perfeito nesta ciência, a fim de ir em atos de 16 e 25 de setembro de 1702, e de 10 e 13 de março 47 NOVINSKY, Anita. Inquisição: inventários de bens
conquistados a cristãos-novos, p.79-84. “capitaneava ele esta gente, e a sua, (…) entre os quais havia
praticar em Paris”. BNL. Reservados. Maço 61, n.2, doc.10. de 1703. ANASTASIA, Carla Maria Junho e FURTADO, Júnia alguns brancos de Europa”. Em relação aos paulistas,
17 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Primeira F. A Estrada Real na História de Minas Gerais. História & 48 NOVINSKY, Anita. Inquisição: inventários de bens dever-se-ia ter “sempre o cuidado do que aqueles
confissão realizada a 7/09/1729 e Perguntas de genealogia Perspectivas. Uberlândia, v.20/21, p.33-53, jan/Dez 1999; conquistados a cristãos-novos, p.50-53. ânimos cavilosos podiam premeditar”, eram “soberbos e
realizadas a 7/11/1729. e FURTADO, Júnia F. Teias de Negócio: conexões mercantis 49 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. presumidos”, cometiam crimes atrozes, como degolar os
entre as minas do ouro e a Bahia durante o século XVIII. Primeira confissão realizada a 7/09/1729. portugueses que achavam. Valentim Pedroso, paulista, era
18 ANTT. MNE. Caixa 1, maço 1, doc.39. Correspondência
de dom Luís da Cunha com Marco António de Azevedo 35 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., 50 NOVINSKY, Anita. Inquisição: inventários de bens “homem afamado em arrogância e crueldade”. RBC. De como
Coutinho. Bayona, 22 de março de 1729. n.229, doc.555 (1), f.1, f.6. conquistados a cristãos-novos, p.89-91. os Paulistas foram dominados, n.229, doc.555 (2), f.11-16.
19 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Primeira 36 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., 51 NOVINSKY, Anita. Ser marrano em Minas Colonial. 65 RBC. De como os Paulistas foram dominados, n.229,
confissão realizada a 7/09/1729 e Auto de questionamento n.229, doc.555 (1), f.1, f.6. Revista Brasileira de História, São Paulo, v.21, n.40, 2001. doc.555 (2), f.14.
da fé realizado a 7/11/1729. 37 VERGER, Pierre. Bahia and the west African trade Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102- 66 ROMEIRO, Adriana. Paulistas e emboabas no coração
20 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. 1549-1851. Ibadan: Ibadan University Press, 1964; 01882001000100008&script=sci_arttext das Minas, p.180.
Confissões realizadas a 7/09, 3/11 e 7/11/1729 e Auto FURTADO, Júnia F. From Brazil’s central highlands 52 FERREIRA, Luís Gomes. Erário Mineral. Organização 67 FURTADO, Júnia F. José Rodrigues Abreu e a geografia
de questionamento da fé realizado a 7/11/1729. to Africa’s ports: trans-Atlantic and continental trade de Júnia Ferreira Furtado. Belo Horizonte: Fundação João imaginária emboaba da conquista do ouro. In: BICALHO,
connections in goods and slaves. Colonial Latin American Pinheiro, 2002. 2v. (Coleção Mineiriana). Maria Fernanda; FERLINI, Vera Lúcia Amaral (orgs.). Modos
21 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro.
Historical Review, v.21, p.127-160, 2012. de Governar: ideias e práticas políticas no Império Português
Perguntas de genealogia realizadas a 7/11/1729. 53 Trata-se do padre Manoel da Silva. Mau pagador, só acertou
38 VERGER, Pierre. Fluxo e refluxo: do tráfico de escravos a dívida depois de executado judicialmente. SALVADOR, (séc. XVI a XIX). São Paulo: Alameda, 2005, p.277-295.
22 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro.
entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos. 4ª.ed. José Gonçalves. Os cristãos-novos em Minas Gerais durante 68 RBC. De como os Paulistas foram dominados, n.229,
Confissões realizadas a 7/09, 3/11 e 7/11/1729 e Auto
Salvador: Corrupio, 2002, p.30-31; COSTA E SILVA, o ciclo do ouro (1695-1755): relações com a Inglaterra. doc.555 (1), f.11-12.
de questionamento da fé realizado a 7/11/1729.
Alberto. Francisco Félix de Souza, mercador de escravos. São Paulo: Pioneira, 1992, p.39. 69 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes...,
23 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Rio de Janeiro: Eduerj, 2004, p.43.
54 NOVINSKY, Anita. Inquisição: inventários de bens n.229, doc.555 (1), f.6.
Primeira confissão realizada a 7/09/1729.
39 O caso dos Pinto de Miranda é examinado em SANTOS, conquistados a cristãos-novos, p.105-107. 70 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes...,
24 Pelo menos até o ano de 1729, quando se perde o rastro Eugênio dos. Relações da cidade e região do Porto com
55 NOVINSKY, Anita. Inquisição: inventários de bens n.229, doc.555 (1), f.6.
de Sebastião, e Diogo e João já haviam morrido. ANTT. IL. o Rio de Janeiro e Minas Gerais no século XVIII. Anais
Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Perguntas conquistados a cristãos-novos, p.105-107. 71 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes...,
do I Colóquio de Estudos Históricos Brasil-Portugal -
de genealogia realizadas a 7/11/1729. 56 NOVINSKY, Anita. Inquisição: inventários de bens n.229, doc.555 (1), f.6.
PUCMG, Belo Horizonte, 1994; e o de Francisco Pinheiro
25 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. e seus agentes em SANTOS, Eugênio dos. Relações da conquistados a cristãos-novos, p.96-97. 72 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Primeira
Segunda confissão realizada a 3/11/1729. cidade e região do Porto com o Rio de Janeiro e Minas Gerais 57 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro, confissão realizada a 7/09/1729.
26 ALENCASTRO, Luiz Felipe de. O trato dos viventes: no século XVIII. Anais do I Colóquio de Estudos Históricos folha de rosto. 73 AHU. MAMG. Caixa 87, doc.15. Requerimento de
formação do Brasil no Atlântico sul. São Paulo: Companhia Brasil-Portugal. Belo Horizonte: PUC-MG, 1994. 58 FURTADO, Júnia F. Negociantes e caixeiros. In: Homens Bartolomeu Álvares da Silva, morador na freguesia da
das Letras, 2000; COSTA E SILVA, Alberto. Um rio 40 FURTADO, Júnia F. From Brazil’s central highlands de Negócio, p.197-272. Cachoeira do Campo. Termo de Vila Rica, pedindo carta
chamado Atlântico: a África no Brasil e o Brasil na África. to Africa’s ports: trans-atlantic and continental trade de confirmação de sesmaria de meia légua em quadra,
59 FURTADO, Júnia F. Homens de Negócio; STUMPF, Roberta
Rio de Janeiro: Nova Fronteira/Ed. UFRJ, 2003. connections in goods and slaves. na paragem chamada Curralinho, 1765.
Giannubilo. Cavaleiros do ouro e outras trajetórias
27 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Primeira 41 FURTADO, Júnia F. Homens de Negócio, p.327. nobilitantes: as solicitações de hábitos das Ordens militares nas 74 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes...,
confissão realizada a 7/09/1729. Minas setecentistas. Brasília: Universidade de Brasília, 2009 n.229, doc.555 (1), f.9.
42 É o que se depreende examinando a cronologia e a geografia
28 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Primeira reveladas nas três confissões de Diogo junto ao Santo Ofício. (Tese: doutorado em História). RODRIGUES, Aldair Carlos. 75 AHU. MAMG. Caixa 87, doc.15.
confissão realizada a 7/09/1729. ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Limpos de Sangue: Familiares do Santo Ofício, Inquisição e 76 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Primeira
sociedade em Minas colonial. São Paulo: Alameda, 2011. confissão realizada a 7/09/1729.
29 NOVINSKY, Anita. Inquisição: inventários de bens 43 “Achávamo-nos na Bahia de Todos os Santos, no mês de
conquistados a cristãos-novos. Fontes para a História de outubro, em 1709, quando resolvemos fazer [uma] viagem 60 ROMEIRO, Adriana. Paulistas e emboabas no coração 77 No processo ele é identificado como “morador no Curralinho,
Portugal e do Brasil (Brasil-século XVIII). Lisboa: Imprensa para as Minas Gerais; assim chamadas por estarem no meio das Minas. distrito das Minas de Ouro Preto, Bispado do Rio de Janeiro”.
Nacional, sd, p.154-157; ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo daquelas conquistas.” RBC. Noticias das minas da América 61 RBC. De como os Paulistas foram dominados, n.229, ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro, folha de rosto.
Nunes Ribeiro. Primeira confissão realizada a 7/09/1729. chamadas Geraes... n.229, doc.555 (1), f.1. doc.555 (1), f.11-17. 78 BARBOSA, Waldemar de Almeida. Curralinho. In:
30 NOVINSKY, Anita. Inquisição: inventários de bens 44 Os cavalos eram essenciais para o transporte das 62 Como exemplo, nos textos da época: “todos os reinóis e Dicionário Histórico, geográfico de Minas Gerais.
conquistados a cristãos-novos, p.52; ANTT. IL. Processo mercadorias. Domingos Nunes, tratante nas Minas, tinha os mais não sendo paulistas” (Códice Costa Matoso. Coord. Belo Horizonte: Itatiaia, 1995, p.63-64.

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O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Notas

79 De acordo com Augusto de Lima Jr., “os judeus e cristãos- 101 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. 124 ANTT. MNE. Caixa 1, maço 1, doc.39, Bayona, 22 de março 139 ABREU, José Rodrigues. Historiologia Médica, fundada e
novos (…) atiraram-se para as terras ultramarinas, buscando Segunda confissão realizada a 3/11/1729. de 1729. estabelecida nos princípios de George Ernesto Stahl. Lisboa:
a fortuna e a redenção na largueza dos sertões infindos, 102 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. 125 BNL. Reservados. Maço 62, n.2, doc.210, Relação de dom Oficina de António de Sousa da Silva, 1739, t.2, p.514-528.
onde dificilmente chegariam as importunações do Santo Perguntas de genealogia realizadas a 7/11/1729. Luís da Cunha, caderno 1, f.2v-3, Haia, 29 de junho de 1730. 140 LIMA JR., Augusto de. A capitania das Minas Gerais, p.133.
Ofício, por essa razão, segundo o autor, a migração para
103 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. 126 BNL. Reservados. Maço 61, n.2, doc.10. 141 SARMENTO, Jacob de Castro. Matéria Médica,
as Minas constituiu-se principalmente de “emigrados de
Portugal, e de outras partes da Europa, onde predominavam Primeira confissão realizada a 7/09/1729. 127 ANTT. MNE. Correspondência da Legação Portuguesa em Physico-Histórica-Mechanica, Reino Mineral, p. 11.
os cristãos-novos ou mesmo judeus, vindos da Holanda, 104 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Paris. Caixa 562, f.229, 10 de outubro de 1749. 142 SARMENTO, Jacob de Castro. Matéria Médica,
que até 1720 eram quase exclusivamente homens solteiros” Terceira confissão realizada a 7/11/1729. 128 Avertissement. In: Catalogue des livres de la bibliothèque Physico-Histórica-Mechanica, Reino Mineral, p.11.
LIMA JR., Augusto de. A capitania das Minas Gerais. 105 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. de feu Mr. de Couvay, chevalier des ordres du Roi de 143 SARMENTO, Jacob de Castro. Matéria Médica,
Belo Horizonte: Itatiaia, 1978, p.35 e 75. Terceira confissão realizada a 7/11/1729. Portugal. Paris: Chez Damonneyville, 1755, f.iv. Physico-Histórica-Mechanica, Reino Mineral, p.9-10.
80 Levantamento realizado a partir de NOVINSKY, Anita. 106 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. 129 RBC. n.539 (2). Second Mémoire concernant l’Amérique 144 SARMENTO, Jacob de Castro. Matéria Médica,
Inquisição: inventários de bens conquistados a cristãos-novos. Primeira confissão realizada a 7/09/1729. méridionale, d’Anville, 31 Aout 1779, f.13-14. “Sr. Pierre Physico-Histórica-Mechanica, Reino Mineral, p.10-11
81 Em 1765, quando Bartolomeu Alves da Silva pediu a Nolasque Couvay, secretário do rei, cavaleiro das ordens do (grifos do autor).
107 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Rei de Portugal, nascido a Lisboa & morto à Paris em 1751
confirmação da sua sesmaria no Curralinho, ainda eram seus Quarta confissão realizada a 14/11/1729. 145 Para o milenarismo português como base para a edenização
vizinhos Domingos Nunes da Silva e João Nunes Pereira. com 65 anos, viveu 40 anos nesta cidade & ele é renomado
108 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. por suas grandes riquezas, seu espírito, seu gosto & suas de Minas Gerais ver ROMEIRO, Adriana. Um visionário
AHU. MAMG. Caixa 87, doc.15. na Corte de Dom João V: revolta e milenarismo nas Minas
Primeira confissão realizada a 7/09/1729. luzes.” Catalogue des livres de la bibliothèque de feu
82 NOVINSKY, Anita. Inquisição: inventários de bens Mr. de Couvay, p.v. Gerais. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2001; GOMES,
conquistados a cristãos-novos, p.77. 109 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Plínio F. Um herege vai ao paraíso: cosmologia de um
Perguntas de genealogia realizadas a 7/11/1729. 130 Catalogue des livres de la bibliothèque de feu Mr. de
83 Ver FURTADO, Júnia F. Transitar na Estrada Real: o ex-colono condenado pela Inquisição (1680-1744).
110 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Couvay, p.v.
cotidiano dos caminhos. In: COSTA, Gilberto (org.). São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
Primeira confissão realizada a 7/09/1729. 131 “Os cristãos-novos que desde o primeiro instante correram
Os Caminhos do Ouro e a Estrada Real. Lisboa: Kappa/ 146 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes...,
111 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. para as Minas (…) organizavam roteiros para os que
Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2005, p.192-205. n.229, doc.555 (1), p.1.
necessitavam fugir de suas terras da Europa, e atingirem
84 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Perguntas de genealogia realizadas a 7/11/1729. 147 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes...,
as terras do ouro e dos diamantes”. LIMA JR., Augusto de.
Terceira confissão realizada a 7/11/1729. 112 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. A capitania das Minas Gerais, p.133. n.229, doc.555 (1), p.1.
85 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Perguntas de genealogia realizadas a 7/11/1729. 148 ABREU, José Rodrigues. Historiologia Médica, fundada e
132 DERBY, Orville. Um mappa antigo de partes das Capitanias
Segunda confissão realizada a 3/11/1729. 113 Todas as informações retiradas de ANTT. IL. Processo de S. Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Revista do estabelecida nos princípios de George Ernesto Stahl. Lisboa:
86 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, Oficina de António de Sousa da Silva, 1739, t.2, 517, 520-521.
Primeira confissão realizada a 7/09/1729. 114 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. v.II, p.197-220, 1897. 149 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes...,
87 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Primeira confissão realizada a 7/09/1729. 133 BRITO, Francisco Tavares. Itinerário Geográfico, 1732. In: n.229, doc.555 (1), f.9.
Terceira confissão realizada a 7/11/1729. 115 Rio de Janeiro. Arquivo do Itamaraty. Ofícios de dom Luís Códice Costa Matoso. Coord. de Luciano Raposo de Almeida 150 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes...,
da Cunha, 1719-1723, f.41, Madri, maio de 1719. Figueiredo e Maria Verônica Campos. Belo Horizonte: n.229, doc.555 (1), f.3.
88 CUNHA, Vagner da Silva. Violência na vila de Pitangui
Fundação João Pinheiro, 1999, v.1, p.898-910. Cópias do
(1709-1789): “a que sempre foi a mais rebelde e a mais 116 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses 151 BLUTEAU, Raphael. Sertão. In: Dicionário da língua
manuscrito podem ser encontradas em: Coimbra. Biblioteca
renitente”. Belo Horizonte: UFMG, 2009. (Dissertação, e secretários de Estado. Correspondência de dom Luís da portuguesa. Lisboa: Oficina de Simão Thadeo Ferreira, 1739,
Geral da Universidade de Coimbra. Ms.148. f.6v-8v. e
mestrado em História.) Cunha. Livro 779, f.347v. p.613. Locais cobertos de árvores densas e vegetação, ou seu
Lisboa. Biblioteca da Ajuda. Ref.54-XIII-4, n.24.
89 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. 117 FURTADO, Júnia F. A medicina na época moderna. In: oposto, de deserto também podiam aparecer associadas ao
134 LIMA JR., Augusto de. A capitania das Minas Gerais, p.133. termo sertão.
Terceira confissão realizada a 7/11/1729. STARLING, Heloísa Maria Murguel, et alli. (orgs.) Medicina:
135 FURTADO, Júnia F. José Rodrigues Abreu e a geografia
90 LIMA JR., Augusto de. A capitania das Minas Gerais, p.79. História em exame. Belo Horizonte: Ed.UFMG, 2011, p.53. 152 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes...,
imaginária emboaba da conquista do ouro. In: BICALHO,
91 RBC. Da paragem ad’onde se acham muitas esmeraldas, 118 SARMENTO, Jacob de Castro. Matéria Médica, Physico- n.229, doc.555 (1), f.1-2.
Maria Fernanda; FERLINI, Vera Lúcia Amaral. (orgs). Modos
n.229, doc.555 (3), f.19. Histórica-Mechanica, Reino Mineral. Londres: 1735, de governar: ideias e práticas políticas no Império Português 153 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes...,
92 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., p.2-15 e 148-154. Sobre Jacob de Castro Sarmento ver: (sécs. XVI a XIX). São Paulo: Alameda, 2005, p.277-295. n.229, doc.555 (1), f.4.
n.229, doc.555 (1), f.1. CARDOZO, Manoel. The Internationalism of the portuguese 154 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes...,
136 HOLANDA, Sérgio Buarque de. Visão do Paraíso. 6ª ed.
Enlightenment: the role of the Estrangeirado. In: Brasiliense: São Paulo, 1994; SOUZA, Laura Mello e. O Diabo n.229, doc.555 (1), f.11.
93 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. ALDRIDGE, A. O. The Ibero-American Enlightment. Urbana:
Terceira confissão realizada a 7/11/1729. e a Terra de Santa Cruz: feitiçaria e religiosidade popular no 155 NIEUHOF, Joan. Memorável viagem marítima e terrestre ao
University of Illinois Press, 1971, p.153-154, 165-167. Brasil colonial. São Paulo: Companhia das Letras, 1986.
94 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia, 1981, p.328.
119 SARMENTO, Jacob de Castro. A letter from Jacob de Castro 137 Para análise da fusão do mito do Eldorado ao do paraíso
Primeira confissão realizada a 7/09/1729. 156 Mandobim: o mesmo que amendoim ou feijão cru.
Sarmento, M.D. and F.R.S. to Cromwell Mortimer, M.D. terrestre e seu deslocamento progressivo para as Minas ver:
95 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Secr. R.S. concerning Diamonds lately found in Brazil. 157 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes...,
FURTADO, Júnia F. Chuva de estrelas na terra: o paraíso e a
Terceira confissão realizada a 7/11/1729. Apud: Matéria Médica, Physico-Histórica-Mechanica, n.229, doc.555 (1), f.7.
busca dos diamantes nas Minas setecentistas. In: História e
96 FURTADO, Júnia F. A interiorização da metrópole. Reino Mineral, p.199. meio ambiente: o impacto da expansão europeia. Funchal: 158 São Paulo. Fundação Maria Luiza e Oscar Americano.
In: Homens de Negócio, p.57-72. 120 CLUNY, Isabel. D. Luís da Cunha e a ideia de diplomacia CEHA, 1999. p.445-458. Carl Friedrich Phillip von Martius (atribuição).
97 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., em Portugal, p.149-152. 138 FURTADO, Júnia F. “O oráculo que Sua Majestade foi buscar”: Lagoa das Aves no rio São Francisco.
n.229, doc.555 (1), f.9. 121 ANTT. MNE. Caixa 1, maço 1, doc.39, Bayona, 22 de março dom Luís da Cunha e a geopolítica do novo império luso- 159 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes...,
98 NOVINSKY, Anita. Marranos and the Inquisition on the de 1729. -brasileiro. In: FRAGOSO, João; GOUVÊA, Maria de Fátima n.229, doc.555 (1), f.2.
Gold Route in Minas Gerais, Brazil. In: BERNARDINI, Paolo (orgs.). Na trama das redes: política e negócios no império 160 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes...,
122 Simão Nunes era vendeiro e, na década de 1720, pelo menos
e FIERING, Norman (eds.). The Jews and the Expansion of português, séculos XVI-XVIII. Rio de Janeiro: Ed. Civilização n.229, doc.555 (1), f.3.
dois dos seis ou sete filhos dele já se encontravam fora de
Europa to the West, 1450-1800. New York/Oxford: Bergham Brasileira, 2010, p.373-400. Em dom Luís não se observa um
Portugal. Antônio e Manoel moravam em Londres, onde o caráter edenizador das Minas, mas é seu pragmatismo que o 161 NEVES, Erivaldo Fagundes. Introdução. In: NEVES, Erivaldo
Books, Oxford, 2001, p.215-241. primeiro era professor de judaísmo e estudava medicina e o Fagundes e MIGUEL, Antonieta. Caminhos do sertão:
leva a reconhecer a importância e centralidade da região para
99 FERNANDES, Neusa. A Inquisição em Minas Gerais. segundo para ser boticário. ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo a economia portuguesa, chegando nas suas Instruções ocupação territorial, sistema viário e intercâmbios coloniais
Rio de Janeiro: Eduerj, 2000, p.97. Nunes Ribeiro. Perguntas de genealogia realizadas a 7/11/1729. Políticas a sugerir a mudança da corte para o Brasil, dos sertões da Bahia. Editora Arcádia, 2007, p.9-10.
100 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. 123 ANTT. IL. Processo n.7488, Diogo Nunes Ribeiro. Perguntas com vistas a melhor assegurar o domínio português sobre 162 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes...,
Primeira confissão realizada a 7/09/1729. de genealogia realizadas a 7/11/1729. a região mineradora. n.229, doc.555 (1), f.5.

394 395
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Notas

163 RBC. De como os Paulistas foram dominados, n.229, 185 Márcio Roberto Alves dos Santos, Bandeirantes paulistas no 209 COSTA, Joaquim Ribeiro. Toponímia de Minas Gerais. Belo 213 Carte de l’Amérique méridionale, d’Anville, ms. 1748.
doc.555 (2), f.11-12. sertão do São Francisco e do Verde Grande de 1688-1732, 81. Horizonte: BDMG, 1997, p.218. 214 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes...,
164 RBC. De como os Paulistas foram dominados, n.229, 186 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., 210 “E, logo, à [Parateca]. Aqui se encontra a Estrada Real, junto n.229, doc.555 (1), f.3.
doc.555 (2), f.12. n.229, doc.555 (1), f.5. ao Rio de São Francisco, onde se mete o Rio das Rãs, e acaba 215 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre
165 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., 187 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., esta travessia de João Amaro”. RBC. Noticias das minas da de Monsieur d’Anville, p.661-662.
n.229, doc.555 (1), f.3. n.229, doc.555 (1), f.5-6. América chamadas Geraes..., n.229, doc.555 (1), f.3. 216 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Considérations
166 ROMEIRO, Adriana. Paulistas e emboabas no coração 188 RBC. De como os paulistas foram dominados, n.229, 211 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., générales sur l’étude et les connaissances que demande la
das Minas, p.86-88; ANDRADE, Francisco Eduardo de. doc.555 (2), f.11-12. n.229, doc.555 (1), f.5. composition des ouvrages de Géographie, p.67.
A invenção das Minas Gerais: empresas, descobrimentos
189 RBC. De como os paulistas foram dominados, n.229, 212 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes...,
e entradas nos sertões do ouro da América portuguesa.
doc.555 (2), f.15 e 12. n.229, doc.555 (1), f.1.
Belo Horizonte: Autêntica, 2008, p.287-290.
190 Árvore grande, cuja madeira macia é muito utilizada para
167 RBC. De como os Paulistas foram dominados, n.229,
doc.555 (2), f.11. fazer utensílios, produz-se látex de sua casca.
168 ROMEIRO, Adriana. Paulistas e emboabas no coração 191 Árvore própria do semiárido brasileiro, cujas raízes têm [ Capítulo 6 ]
das Minas, p.168. tubérculos reservadores de água, sendo os frutos, bagas
comestíveis, muito apreciados. 1 Um dos exemplares desse mapa pertencente à BNF integra 15 Carte de l’Amérique méridionale, D’Anville, ms. 1748.
169 RBC. De como os Paulistas foram dominados, n.229,
doc.555 (2), f.12-16. 192 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., a Coleção D’Anville: BNF. DCP. Ge DD 2987 (84 B). 16 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre
n.229, doc.555 (1), f.1-20. Mappe-Monde dressée sur les observations de Mrs. de de Monsieur d’Anville, p.659.
170 ANASTASIA, Carla Maria Junho e FURTADO, Júnia Ferreira. l’Académie royale des sciences et quelques autres et sur les
A Estrada Real na História de Minas Gerais, História & 193 “Motins do sertão. Carta de Martinho de Mendonça de 29 de 17 RBC. n.539 (2). Second Mémoire concernant l’Amérique
junho de 1736 e 17 de outubro de 1737”. Revista do Arquivo mémoires les plus récens, à son altesse royale monseigneur
Perspectivas, v.20/21, p.33-53, 1999. méridionale, 31 de agosto de 1779, D’Anville, f.4.
Público Mineiro, Belo Horizonte, v.1, p.649 e 662, 1986. le duc de Chartres. Paris: chez l’Auteur, G. Delisle, 1700.
171 BRITO, Francisco Tavares de. Itinerário geográfico com a 18 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre
194 Um desses emboabas ilustrados foi o médico português 2 BNF. DCP. Ge C. 7902. L’Amérique septentrionale dressée
verdadeira descrição dos caminhos do Rio de Janeiro até as de Monsieur d’Anville, p.658-659.
José Rodrigues Abreu, que esteve nas Minas Gerais durante sur les observations... de l, Académie royale des sciences.
Minas do Ouro. In: Códice Costa Matoso. Ed. de Luciano 19 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre
a Guerra dos Emboabas, acompanhando o governador Paris: chez l’auteur, G. Delisle, 1700.
Raposo de Almeida Figueiredo e Maria Verônica Campos. de Monsieur d’Anville, p.659.
Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 1999, v.1, p.905. Antônio de Albuquerque, e também escreveu um relato 3 BROC, Numa. La Géographie des Philosophes: géographes
et voyageurs français au XVIIIe. siècle. Paris: Éditions 20 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre
172 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., edenizador das Minas. É muito significativo o fato de que as
Ophrys, 1975, p.28. de Monsieur d’Anville, p.659.
n.229, doc.555 (1), f.2. imagens da capitania que sustentam o paraíso do autor são
muito semelhantes às dos irmãos Nunes: a riqueza mineral, 4 BROC, Numa. La Géographie des Philosophes: géographes 21 BNF. DCP. Ge DD 2987 (9469B). Carte huilée des côtes
173 Sezão, maleita ou febre maligna era como se chamava a a conformação edênica do rio São Francisco, a presença da du Brésil depuis l’Île de Maldonado à l’embouchure de la
et voyageurs français au XVIIIe. siècle, p.35.
malária. FURTADO, Júnia F. (org.) Erário Mineral de Luís serpente e o fechamento do espaço minerador. FURTADO, Plata jusqu’au Maragnon, séc.XVIII, 66 x 44 cm (António
Gomes Ferreira. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 5 HARLEY, John Brian. The new nature of maps: essays in Álvares da Cunha?).
Júnia F. José Rodrigues Abreu e a geografia imaginária the history of cartography. Baltimore/Londres: The Johns
2002, v.1, p.293-294.
emboaba da conquista do ouro, p.277-295. Hopkins University Press, 2001, p.86. 22 RBC. n.539 (1). Mémoire sur un accroissement considérable
174 FURTADO, Junia Ferreira Homens de Negócio, p.190. de connoissances locales en ce qui intéresse l’Amérique
195 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., 6 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Considérations
175 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., n.229, doc.555 (1), f.5. méridionale, agosto de 1779, D’Anville, f.
n.229, doc.555 (1), f.9. générales sur l’étude et les connoissances que demande
196 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., 23 O arraial da Meia Ponte, atual Pirinópolis, foi fundado
la composition des ouvrages de Géographie, p.63.
176 PISO, Guilherme. Livro terceiro: que trata dos venenos n.229, doc.555 (1), f.3. por volta de 1729. GALVÃO JÚNIOR, José Leme. Pirinópolis.
e seus antídotos. In: PISO, Willem, MARGGRAF, Georg, 7 LE GENTIL, Georges. Découverte du monde. Paris: Presses In: PESSOA, José e PICCINATO, Georgio (orgs.). Atlas de
et LAET, Johannes. Historia naturalis Brasiliae. Auspicio 197 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., Universitaires de France, 1954, p.177. centros históricos do Brasil. Rio de Janeiro: Casa da Palavra,
et beneficio Illustriss. I. Mauritii Com Nassau. Leiden: n.229, doc.555 (1), f.9. 8 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Considérations 2007, p.90-95.
Franciscum Hackium/Amsterdã: Ludovicus Elzevirium, 198 ANTONIL, André João. Cultura e opulência no Brasil, générales sur l’étude et les connoissances que demande 24 BNF. DCP. Ge DD 2987 (9554). Carte manuscrite de la
1648, p. 49 (grifo do autor). por suas drogas e minas. Belo Horizonte: Itatiaia/São Paulo: la composition des ouvrages de Géographie, p.63. navigation de la Rivière des Tocantins. Manuscrita em
177 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., Edusp, 1982, p.182. 9 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Considérations cor, 65 x 333 cm.
n.229, doc.555 (1), f.8. 199 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., générales sur l’étude et les connoissances que demande 25 AHU. MAG. Caixa 1, doc.12. Roteiro da derrota do rio
178 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., n.229, doc.555 (1), f.3. la composition des ouvrages de Géographie, p.32. Tocantins até Belém do Pará, 21 fol.
n.229, doc.555 (1), f.7-8. 200 LISANTI FILHO, Luís. Negócios coloniais: uma 10 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Considérations 26 ANTT. MNE. Livro 16, f.23v-24, 22 de fevereiro de 1738.
179 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., correspondência comercial do século XVIII. Brasília: générales sur l’étude et les connoissances que demande 27 ANTT. MNE. Livro 16, f.24, 22 de fevereiro de 1738.
n.229, doc.555 (1), f.9. Ministério da Fazenda/São Paulo: Visão Editorial, 1973, la composition des ouvrages de Géographie, p.66.
v.1, p.336. 28 AHU. MAG. Caixa 1, doc.12. Roteiro da derrota do rio
180 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., 11 BNF. DCP. Ge DD 2987 (9154). Amérique Méridionale, Tocantins até Belém do Pará, f.6.
n.229, doc.555 (1), f.4. 201 ANTT. Testamentária de Francisco Pinheiro. Carta 167, Nicolas Sanson, à Paris: chez lauther et chez Pierre Mariette,
1650, 1f., 40 x 55 cm; BNF. DCP. Ge DD 2987 (9155). 29 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre
181 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., maço 29, f.271.
Amérique Méridionale, Nicolas Sanson, à Paris: chez de Monsieur d’Anville, p.659.
n.229, doc.555 (1), f.7. 202 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes...,
l’auther et chez Pierre Mariette, 1669, 40 x 56 cm; BNF. DCP. 30 AHU. MAG. Caixa 1, doc.12. Roteiro da derrota
182 RESENDE, Maria Leônia Chaves de. Gentios Brasílicos: n.229, doc.555 (1), f.9.
Ge DD 2987 (9156). Amérique Méridionale, Nicolas Sanson, do rio Tocantins até Belém do Pará, f.14.
índios coloniais em Minas Gerais. Campinas: Unicamp, 203 AHU. Mapoteca, n.167/980. à Paris: H. Iaillot, 1709. 31 AHU. MAG. Caixa 1, doc.12. Roteiro da derrota
2003 (Tese, doutorado em História); LANGFUR, Harold 204 MAWE, John. Viagens ao interior do Brasil. São Paulo: 12 BNF. DCP. Ge DD 2987 (9469B). Carte huilée des côtes do rio Tocantins até Belém do Pará, f.9.
Lawrence. The forbidden lands: colonial identity, frontiers Edusp/Belo Horizonte: Itatiaia, 1978, p.109.
violence and the persistence of Brazil’s eastern Indians, du Brésil depuis l’Île de Maldonado à l’embouchure de 32 AHU. MAG. Caixa 1, doc.12. Roteiro da derrota
1750-1830. Stanford: Stanford University Press, 2006. 205 MAWE, John. Viagens ao interior do Brasil, p.118. la Plata jusqu’au Maragnon. do rio Tocantins até Belém do Pará, f.18.
183 SANTOS, Márcio Roberto Alves. Bandeirantes paulistas no 206 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., 13 RBC. n.539 (1). Mémoire sur un accroissement considérable 33 AHU. MAG. Caixa 1, doc.12. Roteiro da derrota
sertão do São Francisco e do Verde Grande de 1688-1732. n.229, doc.555 (1), f.3. de connoissances locales en ce qui intéresse l’Amérique do rio Tocantins até Belém do Pará, f.5.
São Paulo: Edusp, 2010, p.44. 207 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., méridionale, agosto de 1779, f.4. 34 AHU. MAG. Caixa 1, doc.12. Roteiro da derrota
184 PUNTONI, Pedro. A Guerra dos Bárbaros: povos indígenas n.229, doc.555 (1), f.1-2. 14 RBC. n.539 (1). Mémoire sur un accroissement considérable do rio Tocantins até Belém do Pará, f.6.
e a colonização do sertão nordeste do Brasil, 1650-1720. 208 RBC. Noticias das minas da América chamadas Geraes..., de connoissances locales en ce qui intéresse l’Amérique 35 AHU. MAG. Caixa 1, doc.12. Roteiro da derrota
São Paulo: Hucitec, 2002. n.229, doc.555 (1), f.3. méridionale, agosto de 1779, D’Anville, f.4. do rio Tocantins até Belém do Pará, f.8.

396 397
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Notas

36 AHU. MAG. Caixa 1, doc.12. Roteiro da derrota 60 BNF. DCP. Sh Pf 166 Div 1 pièce 8 B. Route de Mr. La Como exemplo dessa configuração tradicional, ver a carta, 89 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre
do rio Tocantins até Belém do Pará, f.11. Condamine le long le la cote Nord de l’Ile Marajó ou sem autoria identificada, intitulada Embouchure de la de Monsieur d’Anville, p.659.
37 AHU. MAG. Caixa 1, doc.12. Roteiro da derrota do rio Joannès. Dessin original de M. de La Condamine, 1736; rivière des Amazones, séc.18. BNF. DCP. Ge DD 2987 (9552). 90 Para detalhes ver CINTRA, Jorge Pimentel e FURTADO,
Tocantins até Belém do Pará, f.9, 10, 11. BNF. DCP. GEC- 9798. Carte de la côte septentrionale de 75 CINTRA, Jorge Pimentel e FURTADO, Júnia Ferreira. A Carte Júnia Ferreira. A Carte de l’Amérique méridionale de
l’Ile de Marajo depuis Yaraoubi jusqu’à Anajaheba, 1763, de l’Amérique méridionale de Bourguignon D’Anville: eixo Bourguignon D’Anville: eixo perspectivo de uma cartografia
38 BNF. GE D 10688. Amérique. Rivière des Tocantins. D’Anville. Para toda a rota de La Condamine desde Paris ver:
ca 1730, 1 fls, au crayon. perspectivo de uma cartografia amazônica comparada, p.304. amazônica comparada, p.273-316. Os trechos a seguir são
BNF. DCP. Ge D 2987 (9653). Carte des routes de M. retirados desse artigo.
39 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre de la Condamine, tant par mer que par terre dans le cour 76 CONDAMINE, Charles-Marie de. [1745] Viagem na América
de Monsieur d’Anville, p.660. du voyage a l’Equateur, D’Anville. meridional descendo o rio Amazonas, nota 16, p.44. 91 Como curiosidade, no seu mapa, o posicionamento se dá
O marquês, um erudito, era neto de Cristóval Acuña. a 60o43’. Em relação a Greenwich corresponde a 78º06’,
40 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre 61 RBC. n.229 (558). Chapitre II. De l’entré du Pará... Ele forneceu várias informações sobre o rio Amazonas o que é muito próximo do valor atual de 78º35’.
de Monsieur d’Anville, p.660. (manuscrito do próprio punho de D’Anville), 8 ½. a La Condamine e deu várias sugestões das questões 92 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Premiere Lettre
41 RBC. n.539 (1). Mémoire sur un accroissement considérable 62 SAFIER, Neil. Correcting Quito. In: Measuring principais a serem descobertas. Pedro Texeira descera o de Monsieur d’Anville, p.524-525.
de connoissances locales en ce qui intéresse l’Amérique the New World, p.123-165. Napo para atingir o Amazonas, uma terceira rota possível.
méridionale, agosto de 1779, D’Anville, f.2. 93 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Premiere Lettre
63 LA CONDAMINE, Charles-Marie de. [1745] Viagem na SAFIER, Neil. Como era ardiloso o meu francês: Charles
de Monsieur d’Anville, p.535-538.
42 RBC. n.539 (1). Mémoire sur un accroissement considérable América meridional descendo o rio Amazonas, p.37. Marie de la Condamine e a Amazônia das Luzes, p.95.
de connoissances locales en ce qui intéresse l’Amérique 94 LA CONDAMINE, Charles-Marie de. [1745] Viagem na
64 LA CONDAMINE, Charles-Marie de. [1745] Viagem na 77 Sobre as diferentes versões ver: ALMEIDA, André Ferrand
méridionale, agosto de 1779, D’Anville, f.2. América meridional descendo o rio Amazonas, p.64.
América meridional descendo o rio Amazonas, p.47. de. Samuel Fritz and the mapping of the Amazon. Imago
43 RBC. n.539 (1). Mémoire sur un accroissement considérable Mundi, v.55, p.113-119, 2003. 95 Gnômone ou gnômon: Instrumento que, projetando
65 PRATT, Mary Louise. Os olhos do império: relatos de viagem sombra num plano horizontal, marca e mede a altura do sol;
de connoissances locales en ce qui intéresse l’Amérique e transculturação, p.47-48. 78 SAFIER, Neil. Measuring the New World, p.77.
méridionale, agosto de 1779, D’Anville, f.3. podendo funcionar também como relógio solar.
66 Segundo o próprio La Condamine, “terminada a questão 79 LA CONDAMINE, Charles-Marie de. [1745] Viagem na
96 LA CONDAMINE, Charles-Marie de. [1745] Viagem na
44 Esta tabela foi elaborada pelo Prof. Jorge Pimentel Cintra, da configuração da terra, e atenuada a curiosidade pública América meridional descendo o rio Amazonas, p.44.
América meridional descendo o rio Amazonas, p.65 e 73.
a quem agradeço a colaboração. D’Anville tomou as medidas nesse particular, cri interessar mais à assembleia pública de 80 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre
a partir do meridiano de Ferros, que é o meridiano de 97 LA CONDAMINE, Charles-Marie de. [1745] Viagem na
26 de abril último [1745], com uma relação de viagem pelo de Monsieur d’Anville, p.627.
origem do mapa. América meridional descendo o rio Amazonas, p.65.
rio Amazonas que desci desde o ponto em que começa a 81 Ver figura 8 em CINTRA, Jorge Pimentel e FURTADO,
45 Cálculos realizados por Jorge Pimentel Cintra a partir ser navegável até à embocadura, percorrendo uma extensão 98 Para distâncias menores, como a largura de um rio ou
Júnia Ferreira. A Carte de l’Amérique méridionale de
do programa de cartografia digital (Map Info). de mais de mil léguas”. LA CONDAMINE, Charles-Marie profundidade da corrente em certo ponto, D’Anville deveria
Bourguignon D’Anville: eixo perspectivo de uma cartografia
de. [1745] Viagem na América meridional descendo o rio ainda fazer a equivalência de medidas, já que Maldonado
46 CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de amazônica comparada, p. 302.
Amazonas, p.31. utilizou a vara, medida que equivalia a três pés espanhóis,
Madrid. Rio de Janeiro: Ministério das Relações Exteriores, 82 CINTRA, Jorge Pimentel e FURTADO, Júnia Ferreira. e La Condamine a toesa do Peru.
1951, tomo II, parte III, p.139-144. 67 BNF. DCP. Ge DD 2987 (9542) e (9543). Carte du cours du A Carte de l’Amérique méridionale de Bourguignon
Maragnon ou de la grande riviere des Amazonas dans sa 99 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Premiere Lettre
47 Cálculos realizados por Jorge Pimentel Cintra a partir D’Anville: eixo perspectivo de uma cartografia amazônica
parti navigable depuis Jaen de Bracamoros jusqu’à dan de Monsieur d’Anville, p.535-536.
do programa de cartografia digital (Map Info). comparada, p.287.
embouchure eh que comprend la province de Quito et la 100 Sobre o tema escreveu: ANVILLE, Jean-Baptiste
48 HOLANDA, Sérgio B. Visão do Paraíso. 6ª ed. Brasiliense: Côte de la Guyane depuis le Cap de Nord jusqu’à Esquebé 83 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Première Lettre
Bourguignon d’. Traité des mesures itinéraires anciennes
São Paulo, 1994. (sic), etc., D’Anville. A primeira cota refere-se à versão de Monsieur d’Anville, p.438-439.
et modernes. Paris: l’Imprimerie Royale, 1769. Sobre sua
49 Ainda que a narrativa seja diferente, essa parte que se segue impressa e a segunda à manuscrita. 84 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Première Lettre metodologia de conversão de medidas ver FURTADO,
foi baseada no artigo CINTRA, Jorge Pimentel e FURTADO, 68 LA CONDAMINE, Charles-Marie de. [1745] Viagem na de Monsieur d’Anville, p.555. Júnia Ferreira. Oráculos da Geografia iluminista, cap. 4.
Júnia Ferreira. A Carte de l’Amérique Méridionale de América meridional descendo o rio Amazonas, p.34. BNF. 85 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Première Lettre 101 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Premiere Lettre
Bourguignon D’Anville: eixo perspectivo de uma cartografia DCP. Ge DD 2987 (9542). Carte du cours du Maragnon ou de Monsieur d’Anville, p.554. de Monsieur d’Anville, p.537-538.
amazônica comparada. Revista Brasileira de História. São de la grande route des Amazones. 86 BNF. DCP. GE DD 2987 (9553). Carte particuliere 102 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Premiere Lettre
Paulo, vol.31, n.62, p.273-316, 2011, a quem rendo coautoria
69 PEDLEY, Mary Sponberg. The commerce of cartography: du cours de la rivière des Amazones ou de Maragnon, 1729, de Monsieur d’Anville, p.540-541.
nessa seção e agradeço a frutífera colaboração.
making and marketing maps in eighteenth-century France ms, 36 x 46 cm.
50 Cálculos realizados por Jorge Pimentel Cintra a partir do 103 Na foz do rio Napo, La Condamine tomou medidas de latitude
and England. Chicago: The University of Chicago Press, 2005. 87 BNF. DCP. GE DD 2987 (9550). Carte du cours de la rivière e longitude: a primeira resultou como sendo 3,40º, a segunda
programa de cartografia digital (Map Info).
70 SAFIER, Neil. Como era ardiloso o meu francês, p.91-114. des Amazones ou de Maragnon depuis l’entrée du Para 4 horas e três quartos, o que equivale a 71,25º. Esse valor
51 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Premiere Lettre en remontant jusqu’au confluent de la Rivière Noireoù l’on significa uma diferença em relação a medidas atuais de 3,79º
71 LA CONDAMINE, Charles-Marie de. [1745] Viagem na
de Monsieur d’Anville, p.532. a marqué entre autres circonstances,les établissements em longitude nesse ponto, enquanto que na Carte du cours
América meridional descendo o rio Amazonas. Brasília:
52 SAFIER, Neil. Measuring the New World, p.103-104. Editora do Senado Federal, 1984, p.34. des Portugais, et un grand nombre de Missions établies du Maragnon, devido aos ajustes, o desvio é de 3,22º.
53 LA CONDAMINE, Charles-Marie de. [1745] Viagem na chés les indiens, dressée sur les Mémoires du P. Ignacio
72 Nos dizeres “aumentado do curso do rio Negro, e de outros 104 LA CONDAMINE, Charles-Marie de. [1745] Viagem na
América meridional descendo o rio Amazonas. Brasília: dos Reys... par le Sr D’Anville, 1729, 34 x 53,5 cm.
detalhes tirados de diversas memórias e roteiros manuscritos América meridional descendo o rio Amazonas, p.112.
Editora do Senado Federal, 1984, p.45. de viajantes modernos”, que aparece impresso na cartela da 88 BNF. DCP. GE DD 2987 (9555). Carte manuscrite de la
105 RBC. n.229 (558). Chapitre II. De l’entré du Pará...
54 LA CONDAMINE, Charles-Marie de. [1745] Viagem na Carte du cours du Maragnon, buscava deixar evidente que partie de la Riviere del Amazonas voisine de celle de
(manuscrito do próprio punho de D’Anville), 8p. e ½.
América meridional descendo o rio Amazonas, p. 47. o curso do rio Negro era novidade. Madère et de celle de Guatuma et d’Urabu, 1729, Ignacio
dos Reys, ms, 19 x 23 cm; BNF. DCP. GE DD 2987 (9556). 106 RBC. n.539 (2). Second Mémoire concernant l’Amérique
55 LA CONDAMINE, Charles-Marie de. [1745] Viagem na 73 Esta conexão, no entanto, já havia sido sugerida no Magni Petite carte manuscrite de la mission des Abacaxis proche méridionale, 31 de agosto de 1779, p.10.
América meridional descendo o rio Amazonas, p.64. Amazoni Fluvii, mapa do conde de Pagan, de 1655 e nos relatos la Riviere des Amazonas et celle de Madere, 1729, Ignacio 107 PIZARRO, Ana. Amazônia: as vozes do rio. Belo Horizonte:
56 CINTRA, J.P. e FREITAS, J.C. Sailing down the Amazon de viagem de Pedro Teixeira e Cristóval Acuña, que juntos dos Reys, ms, 19 x 23 cm. Ed. UFMG, 2012, p.108.
River: La Condamine’s Map. Survey Review, Londres, haviam descido o rio, sendo que o último, em 1637, deixou um
v.43, n.323, p.550-566, outubro de 2011. relato da empreitada, intitulado Nuevo Descubrimiento del
Gran rio de las Amazonas. Ver CINTRA, J.P. Magni Amazoni
57 LA CONDAMINE, Charles-Marie de. [1745] Viagem na Fluvii: o Mapa do conde de Pagan. In: Anais do Iº Simpósio [ Capítulo 7 ]
América meridional descendo o rio Amazonas, p.73. Brasileiro de Cartografia Histórica. Paraty, maio 2011, p.1-20.
58 SAFIER, Neil. Como era ardiloso o meu francês: Charles https://www.ufmg.br/rededemuseus/crch/simposio/CINTRA_ 1 SAFIER, Neil. Como era ardiloso o meu francês: Charles 2 HARLEY, J.B. Maps, knowledge and power.
Marie de la Condamine e a Amazônia das Luzes, p.91-114. JORGE_PIMENTEL_1.pdf. Marie de la Condamine e a Amazônia das Luzes. Revista In: COSGROVE, Denis e DANIELS, Stephen. (eds.)
59 LA CONDAMINE, Charles-Marie de. [1745] Viagem na 74 LA CONDAMINE, Charles-Marie de. [1745] Viagem na Brasileira de História, São Paulo, v.29, n.57, p.91-114, The iconography of landscape: essays on the symbolic
América meridional descendo o rio Amazonas, p.113. América meridional descendo o rio Amazonas, p.115. jan.-jun.2009. representation, design, and use of past environments.

398 399
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Notas

Nova York: Cambridge University Press, 1988, 21 AI. 343-1-1. Colônia do Sacramento, Tratado Provisional mitad del mundo: la cartografía y la construcción territorial 60 VASCONCELOS, Simão de. Chronica da Companhia de
p. 277-312. 1680-1725, p.128-129. de los espacios americanos siglos XVI al XIX. Lisboa/México: Jesu do Estado do Brasil e do que obrarão seus filhos nesta
3 FURTADO, Júnia F. As índias do conhecimento ou a 22 AI. 343-1-1. Colônia do Sacramento, Tratado Provisional Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa/ parte do Novo Mundo, tomo I, p.34.
geografia imaginária da conquista do ouro. Anais de 1680-1725, p.210-211. Universidade do México, 2010, p.276. 61 LIMA JÚNIOR, Augusto de. Primeiros descobridores.
História de Além-mar, Lisboa, vol.4, p.155-212, 2003. 23 MAGNOLI, Demétrio. O corpo da pátria. São Paulo: 39 JUAN, Jorge e ULLOA, Antonio de. Disertación histórica In: A capitania das Minas Gerais, p.21.
4 BNF. DCP. Ge DD 2987 (8501). America Nova Tabula, Moderna/Edunesp, 1997, p.39-41. y geográfica sobre el meridiano de demarcación entre los 62 ANDRADE, Francisco Eduardo. Empresas de descobrimento
BLAEU/Willem Janszoon, ca.1640. dominios de España y Portugal y los parajes por donde de Minas: o estilo heroico de Fernão Dias Pais. In:
24 DAINVILLE, François de (S.J.). Frontières. In: Le langage passa en la America Meridional conforme á los tratados
des géographes: termes, signes, couleurs des cartes A invenção das Minas Gerais: empresas, descobrimentos
5 BNF. DCP. Ge DD 2987 (9153). America Meridionalis, y derechos de coda Estado, y las más seguras y modernas
anciennes, 1500-1800. Paris: Éditions Picard, 1964, p.272. e entradas nos sertões do ouro da América portuguesa.
Gérard Mercator, ca.1610. observaciones. Madri: Imprensa de A. Marin, 1749. Belo Horizonte: Autêntica/PUC-MG, 2008, p.67.
6 BNF. DCP. Ge DD 2987 (9154). Amérique Méridionale, 25 DION, Roger. Les frontières de la France. Paris: Hachette, 40 DE MANNE, J.C.J. e DU BOCAGE, Jean-Denis Barbié. Notice
1947. POUNDS, N.J.G. The origin of the idea of natural 63 ANDRADE, Francisco Eduardo. Empresas de descobrimento
N. Sanson d’Abbeville, 1650; Ge DD 2987 (9155). Amérique des Ouvrages de M. D’Anville précedée de son éloge, p.98.
frontiers in France. Annals, Association of American de Minas, p.65.
Méridionale, N. Sanson d’Abbeville, 1669; e Ge DD 2987
Geographers, v.44, n.1, p.51-62, 1951. 41 HOLANDA, Sérgio B. Visão do Paraíso. 64 Livro que dá razão ao estado do Brasil, João Teixeira
(9156). Amérique Méridionale divisée en ses principales
parties, N. Sanson d’Abbeville, 1709. 26 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre 42 LIMA JÚNIOR, Augusto de. A capitania das Minas Gerais. Albernaz I, 1616. A cópia mais antiga que se conhece
de Monsieur d’Anville, p.60-61. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Editora Universidade pertence à Biblioteca Pública do Porto.
7 BNF. DCP. Ge DD 2987 (9157). L’Amérique Méridionale
de São Paulo, 1978, p.17. 65 RENGER, Friedrich E. Primórdios da cartografia das
dressée sur les observations de Mrs de l’Académie Royale 27 COSTA, Maria de Fátima. História de um país inexistente,
des Sciences, Guillaume Delisle, 1700; Ge DD 2987 (9158). p.63, 177-206. 43 POLO, Marco. O livro das maravilhas; a descrição do Minas Gerais, p.108.
America Meridionalis concinnata juxta observationes, mundo. Porto Alegre: LPM, 1985, p.207-208. 66 BNF. DCP. Ge DD 2987 (9161). America Meridionale,
28 TAUNAY, Afonso (org.). Relatos Monçoeiros. São Paulo:
Guillaume Delisle, séc. XVIII; e Ge DD 2987 (9159). 44 FURTADO, Júnia F. Chuva de estrelas na Terra: o Paraíso Vincenzo Maria Coronelli, Veneza, 1690-1691.
Martins Fontes Editora, 1976.
L’Amerique Méridionale dressée sur les observations de Mrs e a busca dos diamantes nas Minas setencentistas. In: 67 RENGER, Friedrich E. Primórdios da cartografia das
de l’Académie Royale des Sciences, Guillaume Delisle, 1700. 29 HOLANDA, Sérgio B. Monções. São Paulo: Brasiliense, 1990. História e Meio Ambiente. O impacto da extensão europeia. Minas Gerais, p.110.
8 HOLANDA, Sérgio B. Visão do Paraíso. 6ª.ed. São Paulo: 30 Uma das exceções a essa regra, porque essa nova Funchal: Ed. CEHA Centro de Estudos de História do
68 BNF. DCP. Ge DD 2987 (9166). Tabula Americae specialis
Brasiliense, 1994, p.40. representação não foi totalmente hegemônica, foi José Atlântico, n.26, p.445-457, 1999. (Coleção Memórias)
geographica regni Peru, Brasiliae, Terrae Firmae et Reg
Rodrigues Abreu, que, ainda que compartilhasse do círculo 45 HOLANDA, Sérgio B. Visão do Paraíso.
9 GANDÍA, Enrique de. Los falsos dorados. In: História Amazonum. Secundum relationes de Herrera, de Laet, e PP
de ilustrados portugueses, continuou a representar a região
crítica de los mitos y leyendas de la conquista Americana. 46 FURTADO, Júnia F. Chuva de estrelas na Terra: o Paraíso e de Acuña e M Rodriguetz atiorunq observationes recentiores
a partir de três círculos concêntricos de rios e montanhas,
Buenos Aires: Centro Difusor del Libro, 1946, p.124. a busca dos diamantes nas Minas setencentistas, p.445-457; de signata e dita par G. de l’Isle, Herdeiros de Johann Baptist
coroados pelo lago Xarais. Ver: FURTADO, Júnia F. José
de DELVAUX, Marcelo Motta. As Minas imaginárias: Homann, século XVIII, em coul 49X64.
10 CABEZA DE VACA, Alvar Núñez. [1542 e 1555] Relation et Rodrigues Abreu e a geografia imaginária emboaba da
conquista do ouro, p.277-295. o maravilhoso geográfico nas representações sobre o sertão 69 DELVAUX, Marcelo Motta. As Minas imaginárias, p.117.
commentaires du gouverneur Alvar Nuñez Cabeza de Vaca
da América Portuguesa — séculos XVI a XIX. Belo Horizonte:
sur les deux expéditions qu’il fit aux Indes. Paris: Mercure 31 Carta 918. Maço 12. f.124. Apud: LISANTI, Luis F. 70 SOUZA, Néri de Almeida. Peregrinação, conquista e
UFMG, 2009. (Dissertação, mestrado em História).
de France, 1980, p.234-254. Negócios coloniais: uma correspondência comercial do povoamento. Mito e “realismo desencantado” numa
século XVIII. Brasília: Ministério da Fazenda; São Paulo: 47 HOLANDA, Sérgio B. Visão do Paraíso, p.40. hagiografia medieval portuguesa. Revista Brasileira
11 CORTESÃO, Jaime. História do Brasil nos velhos mapas.
Rio de Janeiro: Instituto Rio Branco, 1957/1971. 2 v. Visão Editorial, 1973. 48 HOLANDA, Sérgio B. Visão do Paraíso, p.40-41. de História. São Paulo, vol.21, no40, p.70, 2001.
12 MARQUES, Alfredo Pinheiro. A cartografia dos 32 Carta 161. Maço 29. f.201. Apud: LISANTI, Luis F. 49 RENGER, Friedrich E. Primórdios da cartografia das Minas 71 ABREU, J. Capistrano de. Caminhos antigos e povoamento
descobrimentos. Lisboa: Elo, 1994, p.65. CORTESÃO, Jaime. Negócios coloniais, v.1, p.291. Gerais (1585-1735): dos mitos aos fatos. In: RESENDE, do Brasil. Belo Horizonte/São Paulo: Ed. Itatiaia/
História do Brasil nos velhos mapas. Maria Efigênia Lage de e VILLALTA, Luiz Carlos (orgs.). Ed. da Universidade de São Paulo, 1989, p. 104.
33 Descripção do continente da América Meridional que
nos pertence com os rios, e montes, que os certanejos mais História de Minas Gerais: as Minas Setecentistas. 72 DELVAUX, Marcelo Motta. As Minas imaginárias, p.17.
13 Sobre a disputa entre os dois historiadores ver: HOLANDA,
experimentados, dizem ter encontrado, cuja divisão se faz. Belo Horizonte: Autêntica, 2007, vol.1, p.107.
Sérgio B. Um mito geopolítico: a Ilha Brasil. In: Tentativas 73 RBC. n.555 (1). Da paragem adonde se acham muitas
de mitologia. São Paulo: Perspectiva, 1979, p.61-84. Mapa manuscrito existente na Biblioteca Brasiliana da USP 50 GANDAVO, Pero de Magalhães. Tratado da terra do Brasil. esmeraldas. In: Noticias das minas da America chamadas
que abriga a coleção de Guita e José Mindlin, e publicado História da Província Santa Cruz. [1576] Belo Horizonte/São Geraes pertencentes à el rei de Portugal, relatada pelos três
14 CORTESÃO, Jaime. História do Brasil nos velhos mapas, Paulo: Itatiaia/Ed. da Universidade de São Paulo, 1980, p.63.
em FERREIRA, Mário Clemente. Uma ideia de Brasil num irmãos chamados Nunes os quais rodarão muytos annos
t.1, p.347-355.
mapa inédito de 1746. Oceanos, Lisboa, v.43, p.184-195, 51 SOUSA, Gabriel Soares. Tratado descritivo do Brasil por estas partes, f.18-19.
15 HOLANDA, Sérgio B. O extremo oeste. São Paulo: 2000 e RODRIGUES, Ana Maria (coord.). A construção em 1587. Recife: Editora Massangana/Fundação Joaquim 74 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre
Brasiliense, 1986, p.92-93. do Brasil. Lisboa: Catálogo de Exposição no Palácio da Nabuco, 2000, p.52-53 e 308-310. de Monsieur d’Anville, p.662.
16 COSTA, Maria de Fátima. História de um país inexistente: Ajuda, 2000, p.141. 52 VASCONCELOS, Simão de. Chronica da Companhia 75 RBC. n.555 (1). Da paragem adonde se acham muitas
o Pantanal entre os séculos XVI e XVIII. São Paulo: Estação 34 ANTT. MNE. Caixa 612, 16 de maio de 1749 (grifo meu). de Jesu do Estado do Brasil e do que obrarão seus filhos esmeraldas, p.18.
Liberdade/Kosmos, 1999. nesta parte do Novo Mundo [1663] 2ª.ed. Rio de Janeiro:
35 ANTT. MNE. Livro 824, Em que são revistados os principais 76 RBC. n.555 (1). Da paragem adonde se acham muitas
17 Ulrico Schmidl era um alemão que viajou para a América documentos de toda a negociação do visconde Thomas da Typographia de João Ignácio da Silva, 1864, tomo I, p.28. esmeraldas, p.18-19.
do Sul, como participante da expedição de Pedro de Silva Teles, f.122, 11 de outubro de 1748. 53 HOLANDA, Sérgio B. Visão do Paraíso, p.41.
Mendoza em 1535 e permaneceu na região da bacia do rio 77 RBC. n.555 (1). Da paragem adonde se acham muitas
36 Como já foi dito, as Instruções começaram a ser escritas 54 LIMA JÚNIOR, Augusto de. Primeiros descobridores. esmeraldas, p.19.
da Prata até 1553. Em 1567, ele publicou um relato de sua em 1736, mas não se sabe exatamente quando alcançaram In: A capitania das Minas Gerais, p.19-20. 78 RBC. n.555 (1). Da paragem adonde se acham muitas
viagem. SCHMIDL, Ulrico. Ander theil dieses weltbuchs sua versão final.
von schiffahrten. Frankfurt: Meno, Teodoro de Bry, 1567. 55 GANDAVO, Pero de Magalhães. Tratado da terra do Brasil; esmeraldas, p.19.
37 De acordo com D’Anville: “eu dei conhecimento de um História da Província Santa Cruz, p.65.
18 Cabeza de Vaca foi o segundo Adelantado na região do 79 BNF. DCP. Ge DD 2987 (9469B). Carte manuscrite des côtes
lago, até então ignorado nessa área”. Vangloria-se de ter 56 BRANDÃO, Ambrósio F. Diálogos das grandezas do Brasil.
Rio da Prata. Ele conduziu uma expedição ao rio Paraguai du Brésil, séc.XVIII, 66 x 44 cm (António Álvares da Cunha?)
representado “não somente o Titicaca do Peru, mas também [1618]. Recife: Fundação Joaquim Nabuco/Editora
em 1543. A publicação do seu relato de viagem se deu em a laguna dos Xarayes”. RBC. n.537. Discussion géographique 80 RBC. n. 555 (2). Extrait d’une lettre ecrite de Lisbonne le 11
1555. CABEZA DE VACA, Alvar Núñez. Naufragios Massangana, 1997, p.42. Mars 1732 par Mr. Couvai, qui me l’a communiquée. Relation
de la longitude, qui convient au continent de l’Amérique
y Comentarios. Madri: Anaya y Oronoz, 1992. méridionale, D’Anville, f.10. 57 ROMEIRO, Adriana. Um visionário na Corte de dom du sr. Antonio Blem a son retour des mines de diamans, f.6.
19 Guzmán era um criollo nascido no Paraguai, que também João V, p.47. 81 SOUZA, Laura de Mello e. Inferno atlântico: demonologia
38 FERREIRA, Mário Clemente. O conhecimento da área de
viajou pela área. Seu manuscrito foi finalizado em 1612, mas fronteira entre Mato Grosso e a América espanhola no século 58 VASCONCELOS, Simão de. Chronica da Companhia e colonização — séculos XVI-XVIII. São Paulo: Companhia
publicado somente em 1835. GUZMÁN, Ruy Díaz de. La XVIII: a procura de informações geográficas e cartográficas de Jesu do Estado do Brasil, T.1, p. 1, 24. das Letras, 2009.
Argentina. Madri: Historia 16, 1986. por portugueses e castelhanos. In: OLIVEIRA, Francisco 59 VASCONCELOS, Simão de. Chronica da Companhia 82 FURTADO, Júnia F. José Rodrigues Abreu e a geografia
20 COSTA, Maria de Fátima. História de um país inexistente, p.63. Roque de; VARGAS, Héctor Mendoza. (orgs.). Mapas de la de Jesu do Estado do Brasil, T.1, p.17, 21, 24. imaginária emboaba da conquista do ouro. In: BICALHO,

400 401
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Notas

Maria Fernanda e FERLINI, Vera Lúcia Amaral. Modos de 107 RBC. n.539 (2). Second Mémoire concernant l’Amérique 129 Graham Burnet, seguindo as informações de Humboldt, 145 BNF.DCP. Ge C 11339 (rés). Carte de l’Amérique méridionale
Governar: ideias e práticas políticas no Império Português méridionale, 31 de agosto de 1779, p.10. afirma que Horstman era holandês. No entanto, no de d’Anville, manuscrito do mapa de 1748.
(séc. XVI a XIX). São Paulo: Alameda, 2005, p.277-295. 108 LA CONDAMINE, Charles-Marie de. [1745] Viagem na manuscrito do mapa, pertencente a D’Anville, percebe-se 146 RBC. n.539 (2). ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’.
83 ABREU, J. R. Historiologia Médica fundada e estabelecida América meridional descendo o rio Amazonas, p.42. que tinha origem germânica, pois lê-se “Nicolas Horstman Second Mémoire concernans l’Amérique méridionale, p.11.
nos princípios de George Ernesto Stahl. Lisboa: Oficina de nativo de Hildesheim na Westphalie”. D’Anville afirma que
109 LA CONDAMINE, Charles-Marie de. [1745] As amazonas ele era cirurgião e Burnet que era comerciante. Este mesmo 147 RBC. n.539 (2). ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’.
António de Sousa da Silva, 1739, t.2, p.528 (grifo do autor). americanas — As asiáticas e as africanas. In: Viagem na Second Mémoire concernans l’Amérique méridionale, p.11.
autor, no entanto, salienta que a vida de Horstman foi
84 SOUZA, Laura de Mello e. Os nobres Governadores de América meridional descendo o rio Amazonas. Brasília: cercada de mistérios. BURNET, D. Graham. Masters 148 RBC. n.539 (2). ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’.
Minas, mitologias e histórias familiares. In: Norma e Editora do Senado Federal, 1984, p.81-85. of all they surveyed, p.30-31. Second Mémoire concernans l’Amérique méridionale, p.11.
conflito. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1999. p.185. 110 Sobre a construção e os paradoxos do mito das amazonas 130 BNF. DCP. Ge DD 2987 (9612). Carte huilée de la route de 149 DE MANNE, J.C.J. e DU BOCAGE, Jean-Denis Barbié. Notice
85 ABREU, J. R. Historiologia Médica, t.2, p.518 (grifo meu). em La Condamine ver SAFIER, Neil. Como era ardiloso o Nicolas Horstman natif de Hidelsheim en Westphalie depuis des Ouvrages de M. D’Anville précedée de son éloge, p.98.
86 PIZARRO, Ana. Amazônia: as vozes do rio. Belo Horizonte: meu francês: Charles Marie de la Condamine e a Amazônia Rio Esquibé jusqu’à Rio Negro, 17.. [communiqué par M. de 150 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre de
Ed. UFMG, 2012, p.39. das Luzes, p.106-111. La Condamine]1 carta manuscrita; 49,5 x 32,5 cm. Monsieur d’Anville, à Messieurs du Journal des Sçavans, sur
87 RBC. n.539 (2). Second Mémoire concernant l’Amérique 111 BNF. DCP. GE DD 2987 (9550). Carte du cours de la rivière 131 BURNET, D. Graham. Masters of all they surveyed, p.30-31. une Carte de l’Amérique Méridionale qu’il vient de publier.
méridionale, 31 de agosto de 1779, p.8. des Amazones ou de Maragnon depuis l’entrée du Para en Journal des Sçavans, Paris, p.664, Avril, 1750.
132 RBC. n.539 (2). ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’.
remontant jusqu’au confluent de la Rivière Noire où l’on a Second Mémoire concernans l’Amérique méridionale, p.11.
88 RBC. n.539 (2). Second Mémoire concernant l’Amérique 151 RBC. n.539 (2). ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’.
marqué entre autres circonstances, les établissements des
méridionale, 31 de agosto de 1779, p.8 (grifos do autor). 133 Humboldt, na esteira de La Condamine e D’Anville, de Second Mémoire concernans l’Amérique méridionale, p.11.
Portugais, et un grand nombre de Missions établies chés les
89 RBC. n.539 (2). Second Mémoire concernant l’Amérique indiens, dressée sur les Mémoires du P. Ignacio dos Reys ... quem era admirador, concluiu que o Amucu era de fato 152 DE MANNE, J.C.J. e DU BOCAGE, Jean-Denis Barbié. Notice
méridionale, 31 de agosto de 1779, p.13. par le Sr. D’Anville, 1729, 34 x 53,5 cm. o verdadeiro local da fábula do Eldorado. BURNET, D. des Ouvrages de M. D’Anville précedée de son éloge, p.98.
Graham. Masters of all they surveyed, p.31.
90 RBC. n.539 (2). Second Mémoire concernant l’Amérique 112 LA CONDAMINE, Charles-Marie de. [1745] Viagem na 153 Os mapas da coleção referentes à “Guiana holandesa
méridionale, 31 de agosto de 1779, p.13. América meridional descendo o rio Amazonas, p.81. 134 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Premiere Lettre e seus detalhes” vão da entrada Ge DD 2987 (9592) a (9613),
de Monsieur d’Anville, à Messieurs du Journal des Sçavans, sendo que faltam as de número 9593, 9595 e 9606 a 9608.
91 HOLANDA, Sérgio Buarque de. Visão do paraíso, p.30. 113 LA CONDAMINE, Charles-Marie de. [1745] Viagem na sur une Carte de l’Amérique Méridionale qu’il vient de O número 9612 corresponde ao mapa de Horstman.
92 HOLANDA, Sérgio Buarque de. Visão do paraíso, p.24-25. América meridional descendo o rio Amazonas, p.81-83. publier. Journal des Sçavans, Paris, p.552-553, March, 1750. As demais entradas existentes são relativas ou às cartas
93 HOLANDA, Sérgio Buarque de. Visão do paraíso, p.27; 114 LA CONDAMINE, Charles-Marie de. [1745] Viagem na 135 BNP. DCP. Ge DD 2987 (9561). holandesas do século XVII ou aos mapas de Nicolas Bellini,
GONDIM, Neide. A invenção da Amazônia. Manaus: América meridional descendo o rio Amazonas, p.84. posteriores e em grande parte baseados na própria cartografia
136 BNP. DCP. Ge DD 2987 (9562).
Editora Valer, 2007, p.97-108; PIZARRO, Ana. Amazônia: 115 SAFIER, Neil. Como era ardiloso o meu francês: Charles de D’Anville.
137 Os maravilhosos globos de Coronelli, como já foi dito, para
as vozes do rio, p.42-45 e 71-77. Marie de la Condamine e a Amazônia das Luzes, p.107. 154 BNP. DCP. Ge DD 2987 (9166).
deleite de toda a elite parisiense, até 1720, ficavam expostos
94 HOLANDA, Sérgio Buarque de. Visão do paraíso, p.27. 116 ROUSSEAU, Jean-Jacques. Emílio ou da Educação. nas galerias do Louvre, onde D’Anville passou a ter sua oficina. 155 RBC n.539 (2). ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’.
95 CARVAJAL, Gaspar de. Descobrimento do rio Orellana. 3a.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995, p.439-440. 138 Guiana sive amazonum regio. Amstelodami: I. Janssonius, Second Mémoire concernans l’Amérique méridionale, p.12.
São Paulo: Nacional, 1941, p.30. 117 LA CONDAMINE, Charles-Marie de. [1745] Viagem na 17eme, BNP. DCP. Ge DD 2987 (9559); Guiana sive 156 A carta manuscrita, de 1750, pode ser vista em BNF. DCP.
96 HOLANDA, Sérgio Buarque de. Visão do paraíso, p.27, América meridional descendo o rio Amazonas, p.84. amazonum regio. Amstelodami: Guiljelmus Blaeuw, 1630. Ge DD 2987. 10660. (1), (2), (3), (4). Carte generale de
e GONDIM, Neide. A invenção da Amazônia, p.104. 118 BNF. DCP. Ge DD 2987 (9168B) (1). BNP. DCP. Ge DD 2987 (9560) e America Meridionale l’audiencie de Quito entre 2o 30’ N et 6o. Sud, et jusqu’à
Venetia. BNP. DCP. Ge DD 2987 (9162. Os dois 1 folha em confluent Hullaga-Manation. Outra cópia manuscrita em
97 CARVAJAL, Gaspar de. Descobrimento do rio Orellana, 119 RBC. n.539 (2). ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’.
cor, o segundo 2 folhas. Ge DD 2987. 10661.
p.60-61. Second Mémoire concernans l’Amérique méridionale,
31 de agosto de 1779, p.11. 139 “Mas, antes de descer mais abaixo representando o rio das 157 SAFIER, Neil. Measuring the New World, p.149
98 RALEIGH, Walter (Sir). The experience of the large, rich
Amazonas, não se pode omitir uma comunicação quase
and beautiful empire of Guiana, with a Relation of the 120 RALEIGH, Walter (Sir). The experience of the large, 158 SAFIER, Neil. Measuring the New World, p.134.
inteiramente praticada entre o rio Negro e o Essequebé.”
great and Golden city of Manoa (which the Spaniards rich and beautiful empire of Guiana, with a Relation ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Premiere Lettre 159 REINHARTZ, Dennis. The cartographer and the literati:
call Eldorado), p.199 of the great and Golden city of Manoa (which the de Monsieur d’Anville, à Messieurs du Journal des Sçavans, Herman Moll and his intellectual circle. Lewiston/NY:
99 MADERUELO, Rafael Díaz (ed.). La Aventura del Spaniards call Eldorado). sur une Carte de l’Amérique Méridionale qu’il vient de Queenston, 1997, p.71-85.
Amazonas — Crônicas de Fray G. de Carvajal, P. Arias de 121 BURNET, D. Graham. Masters of all they surveyed: publier, p.552. 160 REINHARTZ, Dennis. The cartographer and the literati, p.83.
Almesto e A. de Rojas. Madri: Dastin, 2012, p.214, nota 10. exploration, geography, and a British El Dorado. 140 Esta simplificação pode ser atribuída a duas razões. 161 SAFIER, Neil. Como era ardiloso o meu francês: Charles
100 ROJAS, Alonso de. Relação do descobrimento do rio das Chicago: University Of Chicago Press, 2001, p.25. A primeira refere-se a uma questão de escala, visto que Marie de la Condamine e a Amazônia das Luzes, p.97-102.
Amazonas, hoje S. Francisco de Quito e declaração do 122 BURNET, D. Graham. Masters of all they surveyed, p.17. o segundo lago apresenta dimensões muito reduzidas e não
162 SAFIER, Neil. Measuring the New World, p.59-60.
mapa onde está pintado. São Paulo: Nacional, 1941. 123 RALEIGH, Walter (Sir). The experience of the large, rich teria tamanho suficiente para figurar na carta. A segunda, ao
caráter sazonal dessas águas, visto que o próprio Horstman 163 SAFIER, Neil. Como era ardiloso o meu francês: Charles
101 ACUÑA, Cristóbal de. Novo Descobrimento do Grande and beautiful empire of Guiana, with a Relation of the
indicou que os lagos se apresentavam cobertos por juncos, o Marie de la Condamine e a Amazônia das Luzes, p.97-102.
rio das Amazonas. Rio de Janeiro: Agir, 1994. great and Golden city of Manoa (which the Spaniards
call Eldorado), p.149 (grifo do autor). que levaria D’Anville a concluir tratar-se de um único lago. 164 SAFIER, Neil. Como era ardiloso o meu francês: Charles
102 ACUÑA, Cristóbal de. Novo Descobrimento do Grande
141 Lieue ou léguas: medida francesa de distância que variava Marie de la Condamine e a Amazônia das Luzes, p.105-106.
rio das Amazonas, p.49 e 152. 124 BURNET, D. Graham. Masters of all they surveyed, p.27.
conforme a região. A légua comum correspondia a 165 SAFIER, Neil. Correcting Quito. In: Measuring the New
103 ROJAS, Alonso de. Relação do descobrimento do rio 125 RALEIGH, Walter (Sir). The experience of the large, rich aproximadamente 3,333 metros ou 2.500 passos. KONVITZ, World, p.123-165.
das Amazonas, p.111. and beautiful empire of Guiana, with a Relation of the Josef. Cartography in France, p.XIX-XX.
great and Golden city of Manoa (which the Spaniards 166 FURTADO, Júnia F. As índias do conhecimento ou a
104 ACUÑA, Cristóbal de. Novo Descobrimento do Grande 142 Observa-se que, de fato, em fins do século XVIII, o barão
call Eldorado), p.193-194 (grifos do autor). geografia imaginária da conquista do ouro. Anais de
rio das Amazonas, p.152-153. do Rio Branco vai utilizar este mapa de D’Anville nas História de Além-mar, Lisboa, vol.4, p.155-212, 2003.
105 SAFIER, Neil. Como era ardiloso o meu francês: Charles 126 BURNET, D. Graham. Masters of all they surveyed, p.26. negociações com os britânicos sobre a Guiana, procurando
167 REINHARTZ, Dennis. The cartographer and the literati, p.38.
Marie de la Condamine e a Amazônia das Luzes. Revista 127 RALEIGH, Walter (Sir). The experience of the large, rich provar a antiguidade da posse portuguesa sobre a região do
Brasileira de História, São Paulo, v.29, n.57, p.95, and beautiful empire of Guiana, with a Relation of the Amucu. RIO-BRANCO, José Maria da Silva Paranhos Júnior 168 BNF. DCP. Ge D 10.657. Versão manuscrita da Carte de
jan.-jun.2009. “Assim, o francês insinuava que nenhum great and Golden city of Manoa (which the Spaniards (barão do). Mémoire sur la Question des limites entre les l’Amérique méridionale, 1748.
conhecimento relevante havia sido obtido desde a viagem call Eldorado), p.194, 196, 197. états-unis du Brésil et la Guyane Britannique. S.l., se., 1897. 169 Tratado de Madri. http://www.info.lncc.br/madri.html
de Acuña, cem anos antes.” 128 HUMBOLDT, Alexander von. Relation historique du 143 BNP. DCP. Ge DD 2987 (9169B) (1). (acesso em 07/07/2009) (grifo meu).
106 LA CONDAMINE, Charles-Marie de. [1745] Viagem na voyage aux régions équinoxiales du nouveau continent 144 BNF. DCP. GE D 10.658. Deux fragments d’une Carte de 170 BNRJ. ARC.030,01,009. Mapa dos confins do Brazil com
América meridional descendo o rio Amazonas. Brasília: fait en 1799, 1800, 1802, 1803 et 1804. 3 vols. Stuttgart: l’Amérique du Sud montrant partie de la nouvelle Grenade as terras da Coroa de Espanha na América Medirional.
Editora do Senado Federal, 1984, p.45. F. A. Brockhaus, 1970. et l’estuaire de rio de la Plata, D’Anville. No anno de 1749, verso.

402 403
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Notas

171 FERREIRA, Mario Clemente. O Tratado de Madrid a cartografia a serviço da diplomacia. Varia Historia, Belo 25 RBC. n.555 (3). Descricção das Minas Geraes do Brasil. 44 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses
e o Brasil Meridional. Lisboa: CNPCDP, 2001. FERREIRA, Horizonte, vol.23, n.37, p.53-69, 2007. Mémoire sur des Mines d’or de ce pays, communiqué e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha. Livro 792,
Mário Clemente. O Mapa das Cortes e o Tratado de Madrid: par Mr. Couvay. f. 374, 23 de agosto de 1723.
26 RBC. n.555 (3). Descricção das Minas Geraes do Brasil. 45 “Fazem do presente a S. Majestade que Deus o guarde o
Mémoire sur des Mines d’or de ce pays, communiqué memorial que a vós deu Blumenstein”. ANTT. MNE. Cartas
[ Capítulo 8 ] par Mr. Couvay, f.1. de Diogo de Mendonça Corte Real para dom Luís da Cunha e
27 RBC. n.555 (3). Descricção das Minas Geraes do Brasil. para o conde de Tarouca e vice e versa. Legação de Londres,
Mémoire sur des Mines d’or de ce pays, communiqué livro 14, f.27, carta de 27 de julho de 1723.
1 ANTT. MNE. Livro 787. Cartas do conde de Tarouca BNL. Reservados. Cód.11.209. Cartas de dom Luís da Cunha
par Mr. Couvay, f.1. 46 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses
e de dom Luis da Cunha nas quais se continua a negociação para o cardeal da Cunha – inquisidor geral, f.205-205v,
28 “Duas cartas endereçadas em 1732 à M. Couvai, cavaleiro de e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha. Livro 792,
de Utrecht para Diogo de Mendonça Corte Real, f.75, Londres, 1 de setembro de 1711.
15 de abril de 1713. Cristo, por um de seus amigos (Dom Antonio Blem) que havia f.407, Paris, 7 de outubro de 1723.
16 Em carta ao cardeal da Cunha confessa “que terça feira
2 CUNHA, dom Luís da. Carta de Instruções a Marco morado alguns anos naquele país, a primeira me forneceu 47 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses
passada estava tão aflito com o sucesso do Rio de Janeiro,
António de Azevedo Coutinho. Apud: Instruções políticas. uma descrição do distrito das minas de ouro de Villa Rica, e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha. Livro 792,
que não tive coração para doer-me com V.Illma. daquelas
(Edição de Abílio Diniz Silva), p.181-373. com a indicação de sua latitude.” ANVILLE, Jean-Baptiste f.407, 7 de outubro de 1723.
desgraças, nem agradecer-lhe o favor que me fez de boas
novas suas”. BNL. Reservados. Cód.11.209. Cartas de dom Bourguignon d’. Second Lettre de Monsieur d’Anville, p.662. 48 ANTT. MNE. Cartas de Diogo de Mendonça Corte Real para
3 CUNHA, dom Luís da. Carta de Instruções a Marco António
de Azevedo Coutinho, p.371. Luis da Cunha para o cardeal da Cunha — inquisidor geral, 29 Inocêncio Francisco da Silva equivocadamente o dá como dom Luís da Cunha e para o conde de Tarouca e vice e versa.
f.248, Londres, 16 de fevereiro de 1712. português, nascido de pais franceses. SILVA, Inocêncio Legação de Londres, Livro 14, f.48v, 18 de outubro de 1723.
4 Henequim, grande leitor de Vieira, acalentava o sonho “de uma Francisco da. Dicionário bibliográfico português. Lisboa:
América Meridional unida sob o cetro do Infante D. Manuel, à 17 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Considérations 49 ANTT. MNE. Cartas de Diogo de Mendonça Corte Real para
Imprensa Nacional, 1867, tomo 8, p.105. dom Luís da Cunha e para o conde de Tarouca e vice e versa.
espera da realização do Quinto Império”. A autora destaca générales sur l’étude et les connoissances que demande
a continuidade dessa ideia no pensamento de Vieira e de la composition des ouvrages de Géographie, p.65. 30 LABOURDETTE, Jean-François. La nation française a Legação de Londres, livro 14, f.27, carta de 27 de julho de 1723.
dom Luís da Cunha, que inspiraram os sonhos de Henequim Lisbonne de 1669 a 1790: entre Colbertisme et Liberalisme. 50 ANTT. MNE. Legação de Londres, livro 14, cartas de Diogo
18 Carta de Domingos Afonso Certão a dom João de Lecastro,
e do Infante. ROMEIRO, Adriana. Um visionário na Corte Paris: Fondation Calouste Gulbenkian, 1988, p146. de Mendonça Corte Real para dom Luís da Cunha e para o
Bahia, 15 de janeiro de 1702. Apud: ANTONIL, André João.
de Dom João V. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2001, p.43 e 165. Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas. 31 ANTT. Mercês de D. João V. Alvará a Antonio Blem. conde de Tarouca, f.40, 21 de setembro de 1723.
5 Arquivo do Itamaraty. Ofícios de dom Luís da Cunha, Introdução e comentário crítico de Andrée M. Diniz Silva. Administração de capela. D. João V, Livro 18, f.367, 51 ANTT. MNE. Legação de Londres, Livro 14, Cartas de Diogo
1719-1723, f.41, Madri, maio de 1719. Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos 31 de maio de 1727. de Mendonça Corte Real para dom Luís da Cunha e para o
6 CUNHA, dom Luís da. Carta de Instruções a Marco António Descobrimentos Portugueses (CNPCDP), 2001, p.441. 32 ANTT. MNE. Cartas de Diogo de Mendonça Corte Real para conde de Tarouca, f.27, 27 de julho de 1723.
de Azevedo Coutinho, p.279. 19 Este manuscrito faz parte do acervo do Arquivo Nacional dom Luís da Cunha e para o conde de Tarouca e vice e versa. 52 ANTT. MNE. Cartas de Diogo de Mendonça Corte Real para
de Paris e está publicado em: JAUFFRET, Ambrozio. Relação Legação de Londres, Livro 14, f.48v, 18 de outubro de 1723. dom Luís da Cunha e para o conde de Tarouca e vice e versa.
7 ANTT. MNE. Livro 137. Cartas para o Conde de Tarouca
em Holanda que principiou em julho de 1717 e findou em que faz Ambrozio Jauffret, natural da cidade de Marseille, 33 ANTT. Chancelaria de dom João V. Livro 39, f.7, 2 de junho Legação de Londres, livro 14, f.27, 40, 41, 66v. ver também
13 de outubro de 1725, carta de 26 de julho de 1720. ao Primeiro Ministro de Sua Magestade Sereníssima, de 1712. CLUNY, Isabel. D. Luís da Cunha e a ideia de diplomacia
o Sr. Conde de Pont Chartrein, informando-o de todo o 34 RBC. n.555 (2). Extrait d’une lettre ecrite de Lisbonne le 11 em Portugal, p.105-110.
8 ANTT. MNE. Livro 790, f.375 e 376, Paris, 20 de outubro
estado do Rio de Janeiro... Apud: MANSUY, Andrée. Mémoire Mars 1732 par Mr. Couvai, qui me l’a communiquée. Relation 53 ANTT. MNE. Legação de Londres. Livro 14. Cartas de Diogo de
de 1721.
inédit d’Ambroise Jauffret sur le Brésil à l’époque de la du sr. Antonio Blem a son retour des mines de diamans, 6 ½ p. Mendonça Corte Real para dom Luís da Cunha e para o conde
9 CUNHA, dom Luís da. Carta de Instruções a Marco Antônio découverte des mines d’or (1704). Coimbra: Separata do
de Azevedo Coutinho, p.279. 35 BLEM, Antonio. Escola do mundo, ou instrucção de um pae de Tarouca, Paris, 1723 e 1724, f.186, 26 de julho de 1725.
V Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros, 1965.
para seu filho, pertencente ao modo com que se deve viver 54 “Os tributos que pagão estes moradores são primeiramente
10 Além do comércio, dom Luís aponta diversos subterfúgios 20 ABREU, J. R. Historiologia Médica, fundada e estabelecida no mundo, dividida em diálogos, por Le Noble na lingua vinte por cento do ouro que tiram da serra, que são
utilizados pelos ingleses para se aproveitarem das riquezas nos princípios de George Ernesto Stahl. Lisboa: Oficina francesa e traduzida na portuguesa. Lisboa: Oficina da obrigados a levar a casa de moeda para ali ser fundido
do Brasil. Umas delas era o fato de que “têm os ingleses feito de António de Sousa da Silva, T.2, p.516. Música, 1722, tomo I, e 1724, tomo II. e cunhado.” RBC. n. 555 (3). Descricção das Minas
do nosso Brasil uma ordinária escala aos seus navios da
Índia, não sei se em dano nosso, mas é certo que em grande 21 ABREU, J. R. Historiologia Médica, T.2, p.516. As medidas 36 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses Geraes do Brasil. Mémoire sur des Mines d’or de ce pays,
proveito seu”. BNL. Reservados. Cód.11.209. Cartas de dom feitas a partir da medição da posição do sol utilizavam e secretários de Estado. Cartas de dom Luís da Cunha para o communiqué par Mr. Couvay, f.4.
Luís da Cunha para cardeal da Cunha — inquisidor geral, o astrolábio. reino, Paris, 1723, Livro 792, f.416, 18 de outubro de 1723. 55 “Com a ocasião dos casamentos do príncipe e infanta deste
f.65, Londres, 19 de novembro de 1709. 22 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre 37 LABOURDETTE, Jean-François. La nation française a reino se repartiu um novo tributo a todos os povos do Brasil,
11 ANTT. MNE. Livro 790. Correspondência entre diplomatas de Monsieur d’Anville, p.648. Lisbonne de 1669 a 1790: entre Colbertisme et Liberalisme. a que chamam donativo, e tocou as Minas Geraes cento e
portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha, 23 “Gonçalo Manoel Galvão de Lacerda [por] estar servindo à Paris: Fondation Calouste Gulbenkian, 1988, p.146. cinquenta arrobas de ouro, que se dividirão em seis anos, e
f.270, Paris, 8 de setembro de 1721. minha satisfação do lugar de deputado da junta da Casa de 38 ANTT. Mercês de D. João V. Alvará a Antonio Blem. pagam vinte cinco arrobas cada ano por este título, repartindo
Bragança de capa e espada por espaço de três anos. Ei por Administração de capela. D. João V, Livro 18, f.367, este tributo as câmaras pelos moradores.” RBC. n. 555 (3).
12 BNL. Reservados. Cód.11.209. Cartas de dom Luis da Cunha
bem fazer-lhe mercê além de outra, em satisfação dos serviços 31 de maio de 1727. Descricção das Minas Geraes do Brasil. Mémoire sur des
para o cardeal da Cunha — inquisidor geral, f.324v, Utrecht,
do dito seu pai, de um lugar de conselheiro de capa e espada Mines d’or de ce pays, communiqué par Mr. Couvay, f.5.
18 de novembro de 1712. 39 ANTT. Chancelaria de Dom João V. Mercê a Antônio Blem.
do Conselho Ultramarino (...), 17 de fevereiro de 1724”. ANTT. Livro 69, f.338, 24 de julho de 1727. 56 REIS, Flávia Maria da Mata. Entre faisqueiras, catas e
13 ANTT. MNE. Caixa 926. Tratados, atos, convenções e outros Chancelaria de dom João V. Livro 63, f.358. “Dom João por galerias: explorações do ouro, leis e cotidiano nas Minas
papéis que dizem respeito à paz de Utrecht. Cartas do conde 40 CLUNY, Isabel. D. Luís da Cunha e a idéia de diplomacia
graça de Deus, rei de Portugal, faço saber aos que esta minha do século XVIII (1702-1762). Belo Horizonte: UFMG, 2007.
de Tarouca e de dom Luís da Cunha até o fim da negociação em Portugal, p.109.
carta de privilégio de Desembargador virem que por parte de (Dissertação, mestrado em História.)
de Utrecht para Diogo de Mendonça Corte Real, secretário Gonçalo Manoel Galvão de Lacerda, conselheiro de capa e 41 Sobre “Blumenstein, me ordenou respondesse a VSa.
de Estado de Sua Magestade, 2 de janeiro de 1714 até 18 de que como deste homem tínhamos já notícia pelo suíço 57 RBC. n.555 (3). Descricção das Minas Geraes do Brasil.
espada do meu Conselho Ultramarino, me foi apresentada sua Mémoire sur des Mines d’or de ce pays, communiqué par
abril de 1715. Em 11 de janeiro de 1714, f.4v-5. petição pedindo-me lhe fizesse mercê mandar passar carta Merveillheux”. ANTT. MNE. Cartas de Diogo de Mendonça
Corte Real para dom Luís da Cunha e para o conde de Mr. Couvay, f.2-3.
14 Apud: RAU, Virginia. Cartas de dom Luís da Cunha para o com teor dos privilégios que tem e gozam pelas ordenações
1º. duque de Cadaval (1715-1725). Separata da Revista da do reino, regedor e desembargador da casa de suplicação (...). Tarouca e vice e versa. Legação de Londres, livro 14, f.27, 58 RENGER, Friedrich E. Direito Mineral e Mineração no
Faculdade de Letras, Lisboa, tomo XII, 1947, p.37. 27 de junho de 1724”. ANTT. Chancelaria de Dom João V. carta de 27 de julho de 1723. Códice Costa Matoso. Varia Historia, Belo Horizonte, v.21,
Livro 65, f.123-123v. 42 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses p.159, 1999.
15 Como exemplo, no contexto das invasões francesas ao Rio
de Janeiro, escreveu ao cardeal da Cunha que “com grande 24 RBC. n.539 (1). Mémoire sur un accroissement considérable e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha. Livro 792, 59 RENGER, Friedrich E. Direito Mineral e Mineração no
susto me deixa a notícia de que a esquadra de Brest entrara de connoissances locales en ce qui intéresse l’Amérique f.333, 23 de agosto de 1723. Códice Costa Matoso, p.158.
em Canárias aos 10 de julho, ainda que [para] se reparar do méridionale, d’Anville, agosto de 1779, f.3. ANVILLE, 43 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses 60 RBC. n.555 (3). Descricção das Minas Geraes do Brasil.
dano que sofreu com o mau tempo que encontrou, pois se Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre de Monsieur e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha. Livro 792, Mémoire sur des Mines d’or de ce pays, communiqué
vê que vai ao Brasil, e que poderá encontrar a nossa frota”. d’Anville, p.661. f. 333, 23 de agosto de 1723. par Mr. Couvay, f.2-3.

404 405
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Notas

61 ROMEIRO, Adriana. Paulistas e emboabas no coração 79 BN. Reservados. Maço 62, n.2. Doc. 7. Cópia da petição 95 ALMEIDA, André Ferrand de. A formação do espaço 116 BNL. Reservados. Cód.11.209. Cartas de dom Luís da Cunha
das Minas, p.111. manuscrita dirigida ao rei dom João V, 13 de fevereiro de brasileiro e o projecto do Novo Atlas da América para o cardeal da Cunha — inquisidor geral, f.312v-313,
62 RENGER, Friedrich E. Direito Mineral e Mineração no 1728. ANTT. Ministério do Reino. Decretos. Maço 6, n.22, Portuguesa. Lisboa: Comissão Nacional para a Utrecht, 13 de abril de 1713.
Códice Costa Matoso, p.159. julho de 1738. Comemoração dos Desco-brimentos Portugueses, 1991, 117 AAE. Correspondência Política. Hollande 242, f.36, feuille
80 “Dom António Alves da Cunha seu sobrinho & atualmente p.38. de nouvelles de la Haye, 16 de fevereiro de 1712. Apud:
63 REIS, Flávia Maria da Mata. Entre faisqueiras, catas e
galerias: explorações do ouro, leis e cotidiano nas Minas governador de Mazagão na costa da África”. ANVILLE, 96 ALMEIDA, André Ferrand de. A formação do espaço BÉLY, Lucien. Espions et ambassadeurs au temps
do século XVIII (1702-1762). Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre de Monsieur brasileiro e o projecto do Novo Atlas da América de Louis XIV, p.501.
d’Anville, p.659. Portuguesa, p.38. 118 “Ainda que VSa. não ignora quais são as circunstâncias de
64 FURTADO, Júnia F. José Rodrigues Abreu e a geografia
imaginária emboaba da conquista do ouro, p.277-295. 81 “Dom António Alves da Cunha seu sobrinho que eu 97 BRANDÃO, Fernando de Castro. História diplomática que necessitam os ministros que VSa. indicar a SMde. para
ROMEIRO, Adriana. Paulistas e emboabas no coração creio atualmente ocupando as funções de embaixador de Portugal, p.121. o servirem utilmente nas cortes estrangeiras, falarei de duas
das Minas, p.33. junto aos Estados Gerais das Províncias-Unidas”. RBC. 98 BNF. DCP. Ge DD 2987 (9550). que neles devem juntamente concorrer; que são a habilidade
n.539 (1). Mémoire sur un accroissement considérable e probidade, porque uma sem a outra ou é insignificável,
65 RBC. n.555 (3). Descricção das Minas Geraes do Brasil. 99 LEVASSEUR, E. Le Brésil. Paris: H. Lamirault et cia., 1889, p.2.
de connoissances locales en ce qui intéresse l’Amérique ou pode ser prejudicial.” CUNHA, dom Luís da. Carta de
Mémoire sur des Mines d’or de ce pays, communiqué par Mr. 100 ALMEIDA, André Ferrand de. A formação do espaço brasileiro
méridionale, d’Anville, agosto de 1779, p.2. Instruções a Marco António de Azevedo Coutinho, p.187.
Couvay, f.2-3. Sobre a proibição de se passarem estrangeiros e o projecto do Novo Atlas da América Portuguesa, p.39.
às Minas e o impacto técnico dessa proibição ele comenta 82 Ver: http://www.geneall.net/P/per_page.php?id=19304 119 AAE. Correspondência Política. Hollande 236, f.312, Roussi
que “Neste lugar devo fazer menção de uma suspensão desta 101 Ao cardeal da Mota escreve que, “suposto que não tínhamos à Torcy, 8 de agosto de 1712. Apud: BÉLY, Lucien. Espions
83 CUNHA, D. Luís da. Instruções políticas. Edição de Abílio algum documento por onde possamos mostrar que a nossa et ambassadeurs au temps de Louis XIV, p.501.
Corte, para a qual não posso achar razão; e é que vindo a ela
Diniz Silva, p.366. posse daquela banda vai sempre seguindo o curso do rio,
de passagem o Barão de Leyen, cavalheiro irlandês, insigne 120 ANTT. MNE. Livro 787, f.20, 14 de fevereiro de 1713
na arte de beneficiar minas e fundir minerais, como se viu nas 84 Era muito raro que os governadores levassem a família procuraremos que nesta forma nos fique para que os franceses (grifo meu).
obras que se estabeleceu na Sibéria, por ordem do czar Pedro, quando serviam no além-mar, mas há, ainda que raras, em nenhuma o possam navegar e um dia passamos por ele o
comércio que os ditos franceses pretendiam estabelecer com o 121 AAE. Correspondência Política. Hollande 248, os
el Rei nosso senhor o admitiu ao seu serviço, dando-lhe a exceções.
Peru”. BNL. Reservados. Cod 11209. Cartas de dom Luís para o plenipotenciários franceses ao rei, 10 de fevereiro de 1713.
patente de coronel, com soldo dobrado, com condição de que 85 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre de Apud: BÉLY, Lucien. Espions et ambassadeurs au temps
havia de ir às Minas ensinar a aqueles mineiros aquela arte; cardeal da Cunha – Inquisidor geral, f.310.
Monsieur d’Anville, p.659. de Louis XIV, p.718.
porém há mais de oito anos que logra este soldo, e que solicita 102 ANTT. Manuscritos da Livraria. Maço 638, correspondência
ir satisfazer o que está obrigado, sem que a Corte se resolva a 86 BNF. DCP. Ge DD 2987 (9469B). Carte huilée des côtes du 122 ANTT. MNE. Livro 787, f.20, 14 de fevereiro de 1713.
de José da Cunha Brochado com dom Luís da Cunha, carta
mandá-lo às Minas”. Brésil depuis l’Île de Maldonado à l’embouchure de la Plata 123 BNL. Reservados. Cód.11.209. Cartas de dom Luís da Cunha
28, 6 de setembro de 1712 (grifo meu).
jusqu’au Maragnon, séc.XVIII, 66 x 44 cm (António Álvares para o cardeal da Cunha – inquisidor geral, f.282v, Utrecht,
66 PEREIRA, Nunes Marques. Compêndio Narrativo do da Cunha =?). 103 BNL. Arquivos do conde de Tarouca. AT 164. Carta
Peregrino da América. [1728] 6ª. ed. Rio de Janeiro: particular de Tarouca para o marquês de Alegrete, Haia, 2 de outubro de 1712.
Academia Brasileira de Letras, 1939. 87 Era filho de Nicolas-Joseph De Manne, e foi secretário de 17 de novembro de 1715. 124 ANTT. MNE. Livro 787, f.20-21, 14 de fevereiro de 1713.
D’Anville, sendo mais tarde nomeado conservador da
67 ANTONIL, André João. Cultura e Opulência do Brasil por 104 MIRANDA, João Manuel da Silva Alves. As relações 125 BNL. Reservados. Cód.11.209. Cartas de dom Luís da Cunha
Biblioteca real e responsável por organizar as suas coleções
suas drogas e minas. diplomáticas entre Portugal e a Rússia na época de Pedro, para o cardeal da Cunha – inquisidor geral, f.310, Utrecht,
sitas na rue Richelieu, inclusive a coleção D’Anville.
68 ROMEIRO, Adriana. Paulistas e emboabas no coração o Grande (1700-1725). Lisboa: Fundação Calouste 13 de abril de 1713.
das Minas, p.34-39. 88 MANNE, Louis-Charles-Joseph de. Catalogue des livres de Gulbenkian 2095, p.93. 126 “Ouvi dizer sempre aos bons estadistas que não estava
feu M. de Manne... Suivi de manuscrits, lettres autographes,
69 RBC. n.555 (3). Descricção das Minas Geraes do Brasil. 105 ANTT. Manuscritos da Livraria. Maço 638, correspondência o ponto em negociar depressa, se não em negociar bem,
et autres documents provenant du cabinet de m. d’Anville.
Mémoire sur des Mines d’or de ce pays, communiqué de José da Cunha Brochado com dom Luís da Cunha, carta quando uma coisa e outra se não conseguir.” Apud:
Paris: François, 1863, p.246. MAGALHÃES, José Calvet. A acção diplomática no
par Mr. Couvay, f.7. 64, 24 de fevereiro de 1713.
89 MANNE, Louis-Charles-Joseph de. Catalogue des livres de pensamento dos diplomatas portugueses dos séculos XVII
70 RBC. n.555 (3). Descricção das Minas Geraes do Brasil. 106 BNL. Reservados. Cód.11.209. Cartas de dom Luís da Cunha
feu M. de Manne..., p.246. e XVIII, p.23.
Mémoire sur des Mines d’or de ce pays, communiqué para o cardeal da Cunha – inquisidor geral, f.312, Utrecht,
par Mr. Couvay, f.2. 90 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre de 13 de abril de 1713. 127 Observa-se esse expediente em vários momentos. Assim,
Monsieur D’Anville, p.663. 107 ANTT. MNE. Livro 787. Cartas do conde de Tarouca e de em abril, quando nova rodada de negociações é realizada,
71 BNL. Reservados. Maço 62, n.2. Doc.137, f.3v.
91 “Etendue de païs deserte t peu connu”. Suite du Bresil, dom Luís da Cunha nas quais se continua a negociação de primeiro eles se reuniram, “na segunda [feira], com os
72 “Mas não deixa de haver Prata no Brasil, porque ao Sul de aliados e ontem [13 de abril] com os inimigos”. BNL.
Santos, de fronte do Porto da Ubatuba, e [no] Rio Grande, depuis la Baye de tous les Saints jusqu’a St. Paul, D’Anville. Utrecht para Diogo de Mendonça Corte Real, 1º. Secretário
Acervo pessoal. de Estado de S. Majestade, f.4, 6 de janeiro de 1713. Reservados. Cód.11.209. Cartas de dom Luís da Cunha
a que chamam porto de S. Pedro há uns montes para a parte para o cardeal da Cunha — inquisidor geral, f.254, Utrecht,
do ocidente, abundantes em betas de prata; porém como a 92 BORGES, Maria Eliza Linhares. A hermenêutica cartográfica 108 ANTT. MNE. Livro 787, f.19, 14 de fevereiro de 1713. 13 de abril de 1712.
cavalaria PP. da Companhia do Paraguai correm aqueles em uma sociedade miscigenada. In: ANASTASIA, Carla M. 109 ANTT. MNE. Livro 787, f.20, 14 de fevereiro de 1713.
campos, não se pode ir desfrutar aqueles montes senão J. e PAIVA, Eduardo F. (orgs.). O trabalho mestiço: maneiras 128 BNL. Reservados. Cód.11.209. Cartas de dom Luís da Cunha
com mão armada e com bastante poder”. RBC. n.555 (3). 110 ANTT. MNE. Livro 787, f.19-20, 14 de fevereiro de 1713. para o cardeal da Cunha — inquisidor geral, f.313, Utrecht,
de pensar e formas de viver - séc. XVI a XIX. São Paulo:
Descricção das Minas Geraes do Brasil. Mémoire sur des Mines 111 ANTT. MNE. Livro 787, f.20, 14 de fevereiro de 1713. 13 de abril de 1713.
Annablume, 2002. p.105-122.
d’or de ce pays, communiqué par Mr. Couvay, f.6. (grifo meu). 112 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses 129 ANTT. MNE. Livro 787. Cartas do conde de Tarouca
93 As contribuições dos povos nativos na configuração da
73 NL. Vault box. Ayer MS 1918. Doc.549, Lettre écrite au R.P. Du e secretários de Estado. Livro 786, carta de dom Luís da e de dom Luís da Cunha nas quais se continua a negociação
geografia europeia dos territórios ainda desconhecidos foi
Halde, de la Compagnie de Jesus, par M. d’Anville, Geographe Cunha para Diogo de Mendonça Corte Real, f.403, Paris, de Utrecht para Diogo de Mendonça Corte Real, f.21,
significativa, pois foram os grandes informantes e guias para
ordo. Du Roi, au sujet de la Carte du Paraguay. Doc.549, 2 de setembro de 1712. 14 de fevereiro de 1713.
a penetração dos territórios onde habitavam. São inúmeros
Addition à la lettre de Mr. D’Anville à Mr. De la Roque. os exemplos. James Cook foi um dos inúmeros exploradores 113 ANTT. Manuscritos da Livraria. Maço 638, correspondência 130 BNL. Reservados. Cód.11.209. Cartas de dom Luís da Cunha
74 ANTT. MNE. Correspondência de dom Luís da Cunha. europeus do século XVIII que dependeu dos indígenas de José da Cunha Brochado com dom Luís da Cunha, carta para o cardeal da Cunha — inquisidor geral, f.310, Utrecht,
Livro 789, f. 452. locais, no seu caso os maoris, para recolher informações 64, 24 de fevereiro de 1713 (grifo meu). 13 de abril de 1713.
75 ANTT. MNE. Correspondência de dom Luís da Cunha. sobre a Nova Zelândia quando por ali passou em 1773, a 114 Carta de José da Cunha Brochado ao conde de Viana, de 131 ANTT. MNE. Livro 787. Cartas do conde de Tarouca e de dom
Livro 789, f.294 e 299. bordo do Endeavour. Contou que, depois que um nativo 6 de outubro de 1708. Apud: MAGALHÃES, José Calvet. A Luís da Cunha nas quais se continua a negociação de Utrecht
traçou um mapa da costa norte da ilha, pegou um papel acção diplomática no pensamento dos diplomatas para Diogo de Mendonça Corte Real, f.46, 12 de março de 1713.
76 ANTT. MNE. Correspondência de dom Luís da Cunha.
e copiou o desenho que o chefe havia feito no deque do portugueses dos séculos XVII e XVIII. In: A diplomacia na 132 ANTT. MNE. Livro 787. Cartas do conde de Tarouca e de dom
Livro 789, f.633.
navio. WITHERS, Charles W. J. Placing the Enlightenment: História de Portugal: Actas do Colóquio. Lisboa: Academia Luís da Cunha nas quais se continua a negociação de Utrecht
77 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre thinking geographically about the Age of Reason. Chicago: Portuguesa da História, 1990, p.25. para Diogo de Mendonça Corte Real, f.46, 12 de março de 1713.
de Monsieur d’Anville, p.659. Chicago University Press, 2007, p.106. 115 BNL. Reservados. Cód.11.209. Cartas de dom Luís para o 133 ANTT. Caixa 562. Cartas de dom Luís da Cunha a Marco
78 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Second Lettre 94 AUC. Cartório de dom Luís da Cunha. Doc.408, Ofício para cardeal da Cunha — inquisidor geral, f. 282v, Utrecht, António de Azevedo 1745-1748. M.E. III. A. Fr. C.3- no.8,
de Monsieur d’Anville, p.659. 2 de outubro de 1712. Paris, 1 de maio de 1747.
a Secretaria de Estado, 5 de julho de 1737.

406 407
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Notas

134 ANTT. MNE. Livro 787 Cartas do conde de Tarouca e de dom estudo. Revista Portuguesa de História, Coimbra, tomo XVI, 166 POSSAMAI, Paulo. A vida cotidiana na Colónia do 180 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas
Luís da Cunha nas quais se continua a negociação de Utrecht p.333-341, 1976. Sacramento: um bastião português em terras do futuro portugueses e secretários de Estado. Cartas de dom Luís
para Diogo de Mendonça Corte Real, f.75, 15 de abril de 1713. 148 ALMEIDA, Luís Ferrand de. A colónia do Sacramento Uruguai. Lisboa: Bertrand, 2006, p.67. da Cunha para o reino, Madri, 1719-1720, livro 789, f.311,
135 BNL. Reservados. Cód.11.209. Cartas de dom Luís da e a formação do sul do Brasil, p.168. 167 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses Madri, 29 de dezembro de 1719.
Cunha para o cardeal da Cunha – inquisidor geral, f.312, 149 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha. Livro 786, 181 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas
Utrecht, 13 de abril de 1713. O conde de Tarouca partilhava e secretários de Estado. Cartas de dom Luís da Cunha para o cartas de dom Luís da Cunha para o reino, Paris, portugueses e secretários de Estado. Cartas de dom Luís
da mesma opinião: “se nós soubéssemos aproveitar daquela reino. Livro 793, Paris, 1724, f.285-286. 2 de setembro de 1712, f.403 (grifos meus). da Cunha para o reino, Madri, 1719-1720, livro 789, f.29,
navegação (...) se navegarmos por este rio como é possível 168 ANTT. MNE. Livro 788. Cartas do conde de Tarouca Madri, 15 de maio de 1719.
150 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses
impedir-nos os castelhanos a entrada e o comércio no e de dom Luís da Cunha nas quais se continua a negociação 182 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas
e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha. Livro 786,
Peru, e esta consideração além de outras muitas bastava de Utrecht para Diogo de Mendonça Corte Real, f.281, portugueses e secretários de Estado. Cartas de dom Luís
Cartas de dom Luís da Cunha para o reino, Paris,
para que estimássemos infinitamente o que conseguimos”. 12 de fevereiro de 1715. da Cunha para o reino, Madri, 1719-1720, livro 789, f.292,
2 de setembro de 1712, f.403.
BNL. Reservados ACT. AT 164, Haia, 17 de setembro de 169 ANTT. MNE. Livro 788. Cartas do conde de Tarouca Madri, 18 de dezembro de 1719.
1709. Apud: MIRANDA, João Manuel da Silva Alves. 151 AGS.. Estado (Portugal), Legajo 7084, f.1, Madri,
e de dom Luís da Cunha nas quais se continua a negociação 183 Refere-se a um parecer de Antônio Rodrigues da Costa
As relações diplomáticas entre Portugal e a Rússia na 31 de dezembro de 1716.
de Utrecht para Diogo de Mendonça Corte Real, f.264-266, junto ao Conselho Ultramarino que, entre outras questões,
época de Pedro, o Grande, p.93. 152 ANTT. MNE. Livro 787. Cartas do conde de Tarouca e de 18 a 20 de janeiro de 1715. defendia a ideia de levantar um forte em Montevidéu, ao
136 ANTT. Caixa 562. Cartas de dom Luís da Cunha a Marco dom Luís da Cunha nas quais se continua a negociação qual, por essa época, se opunha dom Luís: “sobre o território
170 “E tendo presente tudo o que há passado na dependência do
António de Azevedo 1745-1748. M.E. III. A. Fr. C.3- no.8, de Utrecht para Diogo de Mendonça Corte Real, 1713, f.7, da Colônia visto mandar-me o despacho que siga o parecer
equivalente oferecido por minhas ordens que as estão dadas
Paris, 1 de maio de 1747. 6 de janeiro de 1713. de Antônio Roiz da Costa que assim o julgo mais acertado,
e neste assunto pela via reservada.” AGS. Estado (Portugal).
137 GUEDES, Max Justo. Os limites territoriais do Brasil a norte 153 ANTT. Manuscritos da Livraria. Maço 638, correspondência Legajo 7084, f.1, Madri, 31 de dezembro de 1716. porém permita-me dizer-lhe que sendo o primeiro fim do
e nordeste. In: ALBUQUERQUE, Luis de (org). Portugal no de José da Cunha Brochado com dom Luís da Cunha, cartas dito voto evitar a guerra que sobre o tal território da Colônia
171 PRADO, Fabrício. Colônia do Sacramento: o extremo sul possa sobrevir entre as duas coroas, a segurança que busca
mundo. Lisboa: Publicações Alfa, 1989, v.5, p.202-228. 71 a 74, de fevereiro a abril de 1713. da América portuguesa, p.109-119.
Max Justo Guedes, em consonância com Jaime Cortesão, com a construção de outra fortaleza no sítio de Montevidéu
154 Londres. Public Record Office, S.P.84/243. f.254-259, lettre 172 Termo que se referia ao entorno agrícola.
aventa que a organização da expedição foi encetada para 23 léguas distante da primeira dará maior causa a que os
de Strafford à Saint-John, Utrecht, 9 de agosto de 1712. castelhanos procurem evitar o dano que se lhes pode seguir
impedir a expansão das missões jesuíticas no alto Amazonas. Apud: BÉLY, Lucien. Chiffres et déchiffreus, p.155. 173 POSSAMAI, Paulo. A vida cotidiana na Colónia do
Sacramento, p.84-85. pois hão de supor que faremos mais fortificações até o rio
138 ACUÑA, Cristóbal. Nuevo Descubrimento del Gran 155 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses Negro”. ANTT. MNE. Livro 789, f.29, Madri, 15 de maio de
rio de las Amazonas. Madri: Iberoamericana, 2009. e secretários de Estado. Dom Luís da Cunha. Livro 789, 174 ANTT. MNE. Livro 788. Cartas do conde de Tarouca
1719, e Livro 793, f. 284-285, Paris, 18 de junho de 1724.
f.335, Madri, 5 de janeiro de 1720. e de dom Luís da Cunha nas quais se continua a negociação
139 ANTT. Caixa 562. Cartas de dom Luís da Cunha a Marco 184 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas
de Utrecht para Diogo de Mendonça Corte Real, f.264-266,
António de Azevedo 1745-1748. M.E. III. A. Fr. C.3- no.8, 156 ANTT. MNE. Livro 787. Cartas do conde de Tarouca e de dom portugueses e secretários de Estado. Cartas de dom Luís
18 a 20 de janeiro de 1715.
Paris, 1 de maio de 1747. Luís da Cunha nas quais se continua a negociação de Utrecht da Cunha para o reino, Madri, 1719-1720, livro 789, f.29,
para Diogo de Mendonça Corte Real, f.47, 12 de março de 1713. 175 A correspondência de dom Baltasar Garcia Ros sobre a
140 ANTT. MNE. Livro 787. Cartas do conde de Tarouca e de Madri, 15 de maio de 1719.
Colônia vai ser apresentada diversas vezes nas negociações
dom Luís da Cunha nas quais se continua a negociação de 157 ANTT. MNE. Livro 787. Cartas do conde de Tarouca e de futuras, inclusive por parte dos portugueses, sob a batuta 185 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas
Utrecht para Diogo de Mendonça Corte Real, f.75, dom Luís da Cunha nas quais se continua a negociação de de Alexandre de Gusmão. Dom Luís, que possuía cópia portugueses e secretários de Estado. Cartas de dom Luís
15 de abril de 1713. Utrecht para Diogo de Mendonça Corte Real, f.52, dessas cartas, vai discordar dessa tática, porque, segundo da Cunha para o reino, Madri, 1719-1720, livro 789, f.335,
141 BNL. Reservados. Cód.11.209. Cartas de dom Luís da Cunha 12 de março de 1713. ele, elas sugeriam uma posse contestada e não pacífica Madri, 5 de janeiro de 1720.
para o cardeal da Cunha — inquisidor geral, f.312, Utrecht, 158 Em novembro de 1714, dom Luís se queixa de que os do território. 186 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas
13 de abril de 1713. espanhóis apresentaram “a ridícula oferta do equivalente 176 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses portugueses e secretários de Estado. Cartas de dom Luís
142 BNL. Reservados. Cód.11.209. Cartas de dom Luís da Cunha que sobre ser de uma légua de terra inútil e que com tantos e secretários de Estado. Cartas de dom Luís da Cunha da Cunha para o reino, Madri, 1719-1720, livro 789, f.294,
para o cardeal da Cunha — inquisidor geral, f.313-313v, títulos provamos nossa, vem depois de havermos muitas para o reino, Madri, 1719-1720, livro 789, f.286, Madri, Madri, 18 de dezembro de 1719.
Utrecht, 13 de abril de 1713. vezes declarado que nenhum equivalente aceitaríamos 15 de dezembro de 1719. 187 POSSAMAI, Paulo. A vida cotidiana na Colónia do
na América”. ANTT. MNE. Caixa 926. Tratados, atos, Sacramento, p.74.
143 ANTT. MNE. Livro 787. Cartas do conde de Tarouca convenções e outros papeis que dizem respeito a paz 177 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas
e de dom Luís da Cunha nas quais se continua a negociação de Utrecht. Carta de dom Luís da Cunha para Diogo de portugueses e secretários de Estado. Cartas de dom Luís 188 Mas no dia 12 Alexandre de Gusmão parte para Roma,
de Utrecht para Diogo de Mendonça Corte Real, f.75, da Cunha para o reino, Madri, 1719-1720, livro 789, f.286, em missão junto à Santa Sé.
Mendonça Corte Real, f.94v, 30 de novembro de 1714.
15 de abril de 1713. Madri, 15 de dezembro de 1719. 189 FARIA, Ana Leal. Arquitetos da Paz: a diplomacia
159 http://www.info.lncc.br/utrech2.html (grifo meu).
144 BNL. Reservados. Cód.11.209. Cartas de dom Luís da Cunha 178 É apenas um jogo de aparências (por parte do confessor) portuguesa de 1640 a 1815. Lisboa: Tribuna, 2008,
para o cardeal da Cunha — inquisidor geral, f.312, Utrecht, 160 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas e de retórica (por parte do embaixador). Dom Luís vai p.139-140.
13 de abril de 1713. portugueses e secretários de Estado. Cartas de dom Luís chamar a atenção mais tarde, o que é bastante conhecido
da Cunha para o reino, Madri, 1719-1720, livro 789, f.286, 190 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas portugueses
145 ALMEIDA, Luís Ferrand de. A colónia do Sacramento pela historiografia, que esse religioso respirava política,
Madri, 15 de dezembro de 1719 (grifo meu). e secretários de Estado. Cartas de dom Luís da Cunha para
principalmente no que concernia aos interesses da
e a formação do sul do Brasil. In: Páginas dispersas: estudos o reino, Madri, 1719-1720, livro 789, f.645, agosto de 1720.
161 ANTT. MNE. Livro 788. Cartas do conde de Tarouca Companhia: “Pe. Daubenton (...) o qual suposto diga
de História moderna de Portugal. Coimbra: Instituto de 191 O acordo estipulara o prazo de um ano para que a Espanha
e de dom Luís da Cunha nas quais se continua a negociação que não entra nas outras [matérias que não seja da igreja],
História Econômica e Social/Faculdade de Letras oferecesse um equivalente, mas que já tinha caducado.
de Utrecht para Diogo de Mendonça Corte Real, f.281, nem por isso deixa de ouvir a quem nelas lhe fala tomando
da Universidade de Coimbra, 1995, p.167.
12 de fevereiro de 1715. a precaução de que as não promoverá e que somente dirá 192 AGS. Estado (Colônia de Sacramento), Legajo 7439,
146 Ao longo do século XVIII, a essa iniciativa vieram outras o seu parecer em caso que o dito [rei] lhas comunique, 14 de março de 1721.
162 ANTT. MNE. Livro 788. Cartas do Conde de Tarouca
com objetivo de aumentar a presença dos portugueses na o que de ordinário sucede, porque como ele quer que se
e de dom Luis da Cunha nas quais se continua a negociação 193 PRADO, Fabrício. Colônia do Sacramento: o extremo sul
região hoje correspondente aos atuais estados de Santa creia que governa pelas regras da consciência, é certo que
de Utrecht para Diogo de Mendonça Corte Real, f.281, da América portuguesa, p.119.
Catarina e no Rio Grande do Sul, onde houve a vinda todos os negócios vão topar nesse princípio e nessa forma
12 de fevereiro de 1715 (grifo meu). 194 SILVA, Abílio Diniz. Introdução (O incidente diplomático
de casais de imigrantes açorianos e a fundação do forte o dito confessor é o que tem mais parte nas resoluções”.
de Jesus, Maria e José que deu origem à cidade do Rio 163 http://www.info.lncc.br/utrech2.html (grifos meus). ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas de Madrid – fevereiro de 1735). In: CUNHA, D. Luís da.
Grande. FRANZEN, Beatriz Vasconcelos. A presença ibérica 164 PRADO, Fabrício. Colônia do Sacramento: o extremo sul da portugueses e secretários de Estado. Cartas de dom Luís Instruções políticas. Edição de Abílio Diniz Silva, p.112-115.
no extremo-sul do Brasil (séculos XVII-XVIII). Mare América portuguesa. Porto Alegre: F. P. Prado, 2002, p.92. da Cunha para o reino, Madri, 1719-1720, livro 789, 195 ANTT. MNE. Caixa 2, maço 2. Cartas de dom Luís da Cunha.
Liberum, Lisboa, n.4, p.255-259, dez.1992. LAZZAROTTO, 165 “Em 1723, o governo português promoveu a fundação de f. 632-633, agosto de 1720. Doc.48, Luís da Cunha para Marco António de Azevedo.
Danilo. História do Rio Grande do Sul. 7ª.ed. Ijuí: Montevidéu, que serviria de apoio à Colónia. Contudo, em 179 ANTT. MNE. Correspondência entre diplomatas Paris, 3 de julho de 1741.
Ed. Unijuí, 2001. 1726, os espanhóis arrasaram este povoado.” FERREIRA, portugueses e secretários de Estado. Cartas de dom Luís 196 Dom Luís da Cunha informa que, para não parecer que
147 ALMEIDA, Luís Ferrand de. A colônia do Sacramento nos Mario Clemente. O Tratado de Madrid e o Brasil Meridional. da Cunha para o reino, Madri, 1719-1720, livro 789, f.292, tivessem faltado com a sua palavra, os espanhóis justificavam
princípios do século XVIII, uma fonte importante para seu Lisboa: CNPCDP, 2001, p.39. Madri, 18 de dezembro de 1719. que a invasão da Colônia não tinha “nada de comum com

408 409
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Notas

o caso de Pedro Álvares Cabral e assim não se sabia qual 198 AUC. Cartório de dom Luís da Cunha. Doc.359, oficio para 14 O rompimento ocorrera devido a uma questão de protocolo, estudos. São Paulo: Alameda, 2005, p.7-37. FURTADO,
fora o motivo daquelas hostilidades”. Ao pressionar a a secretaria de Estado, 17 de agosto de 1736. pois o abade de Livry, embaixador francês em Portugal, Júnia Ferreira. Homens de negócio.
Inglaterra sobre o caso, pois esta nação afiançara que não 199 KUHN. Fábio. Uma fronteira do império: o sul da América obstinou-se a só apresentar oficialmente sua embaixada 35 AUC. Cartório de dom Luís da Cunha. Doc.408. Oficio para
haveria retaliações por parte da Espanha, conta que falara portuguesa na primeira metade do século XVIII. Anais do depois de receber a visita em sua casa do secretário de a Secretaria de Estado, 5 de julho de 1737 (grifos meus).
com seu embaixador, “mr Trevor, que está a sua maneira Além Mar, Lisboa, v.VIII, p.103-121, 2007. Estado Marco António de Azevedo, o que foi considerado
36 Isle de Fernand de Noronha nomée I. Dauphine em 1734
envergonhado de ver como Patinho enganou a sua corte”. uma afronta por parte do rei de Portugal.
200 AUC. Cartório de dom Luís da Cunha. Doc.342, Oficio para par un navegater[navigateur] François. BNF. DCP. Ge DD
AUC. Cartório de dom Luís da Cunha. Doc.342, Ofício a Secretaria de Estado, 20 de julho de 1736. 15 AUC. CDLC. Doc.387, Ofício para a Secretaria de Estado, 2987 (9523).
para a secretaria de Estado, 20 de julho de 1736. 6 de novembro de 1736.
201 BNP. DCP. Ge DD 2987 (9451). 37 SEED, Patrícia. Cerimônias: os teatrais ritos franceses
197 O secretário de Estado Antônio Guedes Pereira manteve 16 ANTT. MNE. Livro 16, f.20. 26 de outubro de 1737. de tomada de posse política. In: Cerimônias de posse
os diplomatas na Europa, especialmente Marco António 202 BNP. DCP. Ge DD 2987 (9450).
17 ANTT. MNE. Livro 787. Cartas do conde de Tarouca na conquista européia do Novo Mundo (1492-1640).
de Azevedo Coutinho (Inglaterra) e dom Luís da Cunha 203 O rompimento ocorrera devido a uma questão de protocolo,
e de dom Luís da Cunha nas quais se continua a negociação São Paulo: Unesp, 1999, p.63-99.
(França) informados do que se passava dia a dia na Colônia. pois o abade de Livry, embaixador francês em Portugal,
obstinou-se a só apresentar oficialmente sua embaixada de Utrecht para Diogo de Mendonça Corte Real, 1713, f.52. 38 A Carte Portugaise manuscrite de l’Isle de Fernao de
ANTT. MNE. Livro 16. Exemplo: f.10, 27 de abril de 1737:
depois de receber a visita em sua casa do secretário de 12 de março de 1713. Noronha, pertencente à coleção, catalogada como BNF. DCP.
“Chegou um bergantim da Colônia, que de lá partiu no
principio de janeiro, a notícia que trás de mais consideração Estado Marco António de Azevedo, o que foi considerado 18 ANTT. MNE. Caixa 560. ME.III-A- Fr.C1., no.124. Ge DD 2987 (9525).
é que os espanhóis faziam novas e maiores prevenções uma afronta por parte do rei de Portugal. Documentos diplomáticos de França, 1737. 39 AUC. Cartório de dom Luís da Cunha. Doc.342, ofício para
depois que receberam um socorro de gente, artilharia 204 AUC. Cartório de dom Luís da Cunha. Doc.387, oficio para 19 ANTT. MNE. Caixa 564, doc.356. Lista dos papéis que se a Secretaria de Estado, 20 de julho de 1736.
de bronze, morteiros e outras munições e se supunha, a secretaria de Estado, 6 de novembro de 1736. acham na secretaria do Ministério da Corte de Paris...., 1756. 40 AUC. Cartório de dom Luís da Cunha. Doc.359, ofício para
por algumas conjecturas e também depunham alguns 205 De fato, em 26 de outubro de 1737 teve notícias que “se 20 FERREIRA, Mario Clemente. O Tratado de Madrid a Secretaria de Estado, 17 de agosto de 1736.
desertores, que o seu desígnio era intentarem novamente entendia haverem saído [embarcações espanholas] com e o Brasil Meridional, p.44. 41 AUC. Cartório de dom Luís da Cunha. Doc.346, ofício para
o sitio da Colônia”. f.20, 26 de outubro de 1737: “o navio de intento de sitiar novamente a praça. Este receio obrigou a Secretaria de Estado, 24 de agosto de 1736.
aviso despachado do Rio de Janeiro trouxera a de estar tudo 21 AUC. CDLC. Doc. 387. Oficio para a Secretaria de Estado,
o governador Gomes Freire de Andrade a mandar logo 6 de novembro de 1736.
sossegado no rio da Prata, não é verdade porque quando 42 AUC. Cartório de dom Luís da Cunha. Doc.408, ofício para
para o rio da Prata as primeiras duas fragatas da nossa
partiu o dito navio tinham os espanhóis saído do seu porto 22 Cf. CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado a Secretaria de Estado, 5 de julho de 1737.
esquadra que tinham voltado a reparar-se no Rio de Janeiro
da Barregan com 4 fragatas, 2 paquebotes e 8 lanchões, e entrando, depois destas partirem, as outras três, as fez de Madrid, 1984, v.3, p.627. 43 ALMEIDA, André Ferrand de. A formação do espaço
armados em guerra a cruzar defronte da Colônia, ao mesmo também consertar e partir para o mesmo rio”. ANTT. MNE. 23 “Grande Instrução” redigida por Alexandre de Gusmão e brasileiro e o projecto do Novo Atlas da América
tempo que três fragatas novas (as principais de Espanha) Livro 16, f.20, 26 de outubro de 1737. dirigida a dom Luís da Cunha e Marco António de Azevedo Portuguesa, p.70-71.
foram obrigadas de uma tormenta a virem reparar-se ao 206 NL. Vault box. Ayer MS 1918, doc.552. Discussion Coutinho na qual se propõe uma mudança nas relações 44 CLUNY, Isabel. D. Luís da Cunha e a ideia de diplomacia
Rio de Janeiro. E depois deste chegou já outro navio de géographique sur la ligne de Démarcation établie pour fixer diplomáticas de Portugal... Apud: CORTESÃO, Jaime. em Portugal, p.122.
aviso com a notícia de que com efeito pretenderam os ditos des limites entre les découvertes du Portugal et celles de la Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, parte 3, t.1, 45 AUC. Cartório de dom Luís da Cunha. Doc.346, ofício para
espanhóis, no dia 16 de maio, sondar o dito canal e lançar Castille, 10 fólios. 1950-1963, p.420-454. a Secretaria de Estado, 24 de agosto de 1736. Este trecho
alguma gente na nossa costa, mas que sendo observados 24 Trata-se dos “3 volumes in-folio com o título Papéis que de documento também pode ser visto apud: SILVA, Abílio
207 NL. Vault box. Ayer MS 1918, doc.552. Discussion
da praça mandou o governador dar-lhes caça por três el rei me mandou sobre a Colônia do Sacramento, 1ª., 2ª., Diniz. Introdução, p.114.
géographique sur la ligne de Démarcation..., f.A1.
bergantins e um iate, que obrigaram os 3 paquebotes e 3ª. partes”. ANTT. MNE. Caixa 564, doc.356, ano 1756.
208 NL. Vault box. Ayer MS 1918, doc.552,. Ligne de 46 RIO-BRANCO, José Maria da Silva Paranhos Júnior
a retirarem-se, amparando-se das suas fragatas e os
Demarcation, f.3. 25 Na Grande Instrução, “o diplomata português [Alexandre de (Barão do). Questão de limites. Rio de Janeiro: Ministério
lanchões a fugirem precipitadamente pelo rio abaixo,
Gusmão] lembrava que o fim principal da negociação era não das Relações Exteriores, 1845-1847, v.1, p.21 (grifo meu).
sem que se saiba se foram parar a Montevidéu ou se 209 NL. Vault box. Ayer MS 1918. Discussion géographique sur
experimentaram alguma infelicidade”. la ligne de Démarcation..., f.G6. desistir de Sacramento, mas conseguir o ‘território adjacente’ 47 FUERTES, Amália Yrizar. Tiempo de bodas: Tratados
à Colônia”. FERREIRA, Mario Clemente. O Tratado de Madrid matrimoniales entre las dinastías ibéricas (1727-1728).
e o Brasil Meridional. Lisboa: CNPCDP, 2001, p.45. In: ALBUQUERQUE, Martim de; GUERREIRO, Inácio;
26 ANTT. MNE. Livro 793, f.290-291. Cartas de dom Luís PORTELA, Feliciano Novoa; CASTELLANOS, Elena
[ Considerações finais] da Cunha para o reino, Paris, 1724. Postigo (orgs.). Encontros e desencontros ibéricos: Tratados
hispano-portugueses desde a Idade Média. Lisboa: Chaves
27 ANTT. MNE. Caixa 559. M.E. III-A-Fr-C.2, no.5. Missão
Às vésperas do Tratado de Madri Ferreira Publicações, 2006, p.171-185.
portuguesa em França — despachos da França desde o ano
de 1736 até ao ano de 1756. Cópia da carta que o secretário 48 FUERTES, Amália Yrizar. Tiempo de bodas: Tratados
1 Carta de Tomás da Silva Teles para Marco António de Azevedo 6 PEDREIRA, Jorge M. Brasil, fronteira de Portugal. Negócio, de Estado António Guedes Pereira escreveu a Marco Antônio matrimoniales entre las dinastías ibéricas (1727-1728),
Coutinho, 9 de setembro de 1747. Apud: CORTESÃO, Jaime. emigração e mobilidade social (séculos XVII e XVIII), p.49. de Azevedo em 26 de novembro de 1736. A carta do vice-rei p.163-164.
Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, 1950-1963, O autor destaca que esta concepção, no século XVIII, do pode ser vista em CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão 49 AUC. CDLC. Doc.884, ofício de Marco António de Azevedo
parte IV, t.1, p.92-93. Brasil como fronteira de expansão do império português e o Tratado de Madrid, parte 3, t.1, 1951, p.470-473. a dom Luís da Cunha, Lisboa a 30 de julho de 1746, f.1.
2 CLUNY, Isabel. Os conceitos de soberania, limite e fronteira. encontra similar nas teorias de Turner da fronteira em (grifos no original).
28 ANTT. MNE. Livro 16, f.23v Carta do secretário de Estado
In: D. Luís da Cunha e a ideia de diplomacia em Portugal, permanente avanço nos EUA no século XIX. 50 AUC. CDLC. Doc.894. Lisboa, setembro de 1746; e Carta
António Guedes Pereira para Marco Antônio de Azevedo
p.99-102. 7 ALEGRIA, Maria Fernanda e GARCIA, João Carlos. Aspectos Coutinho, Lisboa, 22 de fevereiro de 1738. de 14 de agosto de 1746. Apud: MONTEIRO, Nuno Gonçalo
3 CARDIM, Pedro. La jurisdicción real y su afirmación en da evolução da Cartografia portuguesa (séculos XV-XIX), p.71. 29 AUC. CDLC. Doc. 408. Ofício para a Secretaria de Estado, (org.). Meu pai e meu senhor muito do meu coração:
la Corona portuguesa y sus territórios ultramarinos (siglo 8 ANTT. MNE. Livro 793, f.286-287. Paris, 18 de junho de 1724. correspondência do conde de Assumar, para seu pai,
5 de julho de 1737 (grifo meu).
XVIXVIII): reflexiones sobre la historiografia. In: PÉREZ, o marquês de Alorna, p.70.
Francisco José Aranda e RODRIGUES, José Damião (eds.). 9 ANTT. MNE. Livro 795, p.7 (grifo meu). 30 AUC. CDLC. Doc.408. Ofício para a Secretaria de Estado,
5 de julho de 1737. 51 CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado
De Re Publica Hispaniae: una vindicación de la cultura 10 BNP. Reservados. Cód.11.209. Cartas de dom Luís da Cunha de Madrid, 1950-1963, parte IV, t.I, p.23-26.
política en los reinos ibéricos en la primera modernidad. para o cardeal da Cunha – inquisidor geral, f.435-435v, 31 AUC. CDLC. Doc.408. Ofício para a Secretaria de Estado,
Madri: Sílex, 2008, p.362. 5 de julho de 1737. 52 A intensidade desse intercâmbio pode ser percebida pelo
Utrecht, 21 de junho de 1714.
significativo e extenso conjunto de cartas coligidas por
4 CLUNY, Isabel. D. Luís da Cunha e a ideia de diplomacia 11 KUHN, Fábio. Uma fronteira do império: o sul da América 32 TODOROV, Tzvetan. A conquista da América: a questão Jaime de Gusmão, que constituem a parte IV, intitulada
em Portugal, p.100. portuguesa na primeira metade do século XVIII, Anais de do outro. São Paulo: Martins Fontes, 1983, p.27. Negociações, de sua obra. CORTESÃO, Jaime. Alexandre de
5 PEDREIRA, Jorge M. Brasil, fronteira de Portugal. Negócio, História de Além-Mar, v. 8, p.108-113, 2007. 33 AUC. CDLC. Doc.408. Ofício para a Secretaria de Estado, Gusmão e o Tratado de Madrid, 1950-1963, parte IV, t.I e t.2.
emigração e mobilidade social (séculos XVII e XVIII). 5 de julho de 1737 (grifos meus).
In: CUNHA, Mafalda Soares da (coord.) et alli. Do Brasil 12 ANTT. MNE. Livro 786, f.403. Paris, 2 de setembro de 1712. 53 AUC. CDLC. Doc.894. Carta de Tomás da Silva Teles para
à metrópole: efeitos sociais (séculos XVII-XVIII). Évora: 13 CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de 34 DIAS, Maria Odila Leite da Silva. A interiorização da dom Luís de 3 de setembro de 1746, p.1-1v.
Universidade de Évora, 2001, p.51. Madrid, v.3, p.630. metrópole. In: A interiorização da metrópole e outros 54 AUC. CDLC. Doc.894, p.1-1v. (grifo meu).

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O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Notas

55 Não confundir o marquês D’Argenson com o conde. 75 Carta de 25 de março de 1747. Apud: CORTESÃO, Jaime. 95 CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado 108 Segundo Mario Clemente Ferreira, grande parte
O então conde D’Argenson era Marc-Pierre de Voyer de Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, 1950-1963, de Madrid, v.3, p.602. desse desconhecimento se devia à falta de transitividade
Paulmy, que foi chanceler do duque de Orléans (1723-1740), parte IV, tomo I, p.85. 96 ANTT. MNE. Caixa 612, 11 de setembro de 1748. do conhecimento entre os jesuítas e as autoridades
depois ministro de Estado (1742) e secretário do Estado e da 76 Carta de 17 de agosto de 1747. Apud: CORTESÃO, Jaime. espanholas, nos territórios dominados pelos primeiros,
97 FERREIRA, Mario Clemente. O Tratado de Madrid que configuravam muito do território fronteiriço entre
Guerra (1742-1757). Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, 1950-1963, e o Brasil Meridional, p.47. as duas Coroas, devido aos conflitos de interesse entre as
56 René-Louis de Voyer d’Argenson, autor dos famosos parte IV, tomo I, p.98.
98 ANTT. MNE. Caixa 612, 16 de maio de 1749. duas partes. FERREIRA, Mário Clemente. O conhecimento
diários sobre a corte de Luís XV. D’ARGENSON. Journal 77 AUC. CDLC. Doc. 994, f.1, Madri, 21 de agosto de 1747.
et mémoires du marquis d’Argenson. 99 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Considérations da área de fronteira entre Mato Grosso e a América
78 Esse era o tempo médio que a posta portuguesa gastava à générales sur l’étude et les connoissances que demande la espanhola no século XVIII: a procura de informações
57 Denis-François Bouthilier de Chavigny, bispo e filho de época para percorrer os cerca de 1.300 quilômetros que geográficas e cartográficas por portugueses e
composition des ouvrages de Géographie. Paris: Imprierie
Léon de Bouthilier, conde de Chavigny, que foi ministro separavam Paris de Madri. Cf. AUC. CDLC. Doc. 1017, castelhanos, p.281.
de Lambert, 1777, p.60.
dos Assuntos Estrangeiros. Ambos, pai e filho, eram ligados Escorial, 30 de outubro de 1747. Com bom tempo e bom
à casa de Orléans. 100 KING, Geoff. Mapping reality: an exploration of cultural 109 RBC. n.537. Discussion géographique de la longitude,
caminho (especialmente entre maio e outubro) o percurso qui convient au continent de l’Amérique méridionale,
cartographies, p.1-2.
58 Jean-Frédéric Phélypeaux, conde de Maurepas, era podia ser percorrido por um correio rápido entre cinco D’Anville, f.14.
secretário da Marinha e utilizou os homens de ciência, e sete dias. No inverno podia alongar-se por até 15 dias. 101 AGUILLAR, José. Historia de la cartografia: la tierra de
especialmente os reunidos na Académie des Sciences de papel, v.1, p.227. 110 ALMEIDA, André Ferrand de. Os jesuítas matemáticos
Localizado em Arquivo da Universidade de Coimbra,
e os mapas da América portuguesa (1720-1748). Oceanos,
Paris, com o intuito de desenvolver os conhecimentos Coimbra. OZANAN, Didier. La diplomacia de Fernando VI: 102 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Considérations
Lisboa, no. 40, p. 79-92, 1999.
náuticos em prol da Marinha francesa. correspondência reservada entre D. Jose de Carvajal générales sur l’étude et les connoissances que demande
e o Duque de Huescar, 1746-1749. Madri: Escuela de la composition des ouvrages de Géographie, p.60-61. 111 RBC. n.537. Discussion géographique de la longitude,
59 A disputa entre as duas casas se acirrou durante a Guerra da
Historia Moderna, 1975, p.80. qui convient au continent de l’Amérique méridionale,
Sucessão Espanhola, quando Louis d’Orléans disputou com 103 ANTT. MNE. Caixa 612, 16 de maio de 1749.
D’Anville, f.14
Felipe V, Bourbon, o trono da Espanha, sendo preterido pelo 79 Paris. AAE. Correspondência Política II. Livro 501. Viagem 104 ANTT. MNE. Caixa 612, 16 de maio de 1749.
segundo, conforme ficou acordado em Utrecht em 1713. da Infanta dona Luiza de Madri a Versailles. Espanha. 112 RBC. n.537 – Discussion géographique de la longitude,
105 ANTT. MNE. Caixa 612, 16 de maio de 1749. qui convient au continent de l’Amérique méridionale,
60 AUC. CDLC. Doc.884, Ofício de Marco António de Azevedo 80 Segundo o conde de Huescar, os correios de dom Luís
106 ANTT. MNE. Caixa 826. Carta de Marco António de Azevedo D’Anville, 14 ½ p.
a dom Luís da Cunha, Lisboa, a 30 de julho de 1746, f.3.). caminhavam como tartarugas. Carta de Versailles,
a Tomás da Silva Teles, Lisboa, 14 de agosto de 1748. 113 FERREIRA, Mário Clemente. O conhecimento da área
61 D’ARGENSON. Journal et mémoires du marquis 20 de fevereiro de 1747. Apud: OZANAN, Didier.
La diplomacia de Fernando VI, p.150. 107 RBC. n.537. Discussion géographique de la longitude, de fronteira entre Mato Grosso e a América espanhola
d’Argenson, tomo 1, p.248.
qui convient au continent de l’Amérique méridionale, no século XVIII: a procura de informações geográficas
62 AUC. CDLC. Oficio de dom Luís para a Secretaria de Estado, 81 Carta de seu sobrinho, dom Luís da Cunha Manoel,
D’Anville, f.14. e cartográficas por portugueses e castelhanos, p.276-281.
doc.794, 11 de abril de 1746. de 23 de fevereiro de 1750. Apud: CLUNY, Isabel. D. Luís da
Cunha e a ideia de diplomacia em Portugal. Lisboa: Livros
63 Carta de 23 de setembro de 1746. Apud: CORTESÃO, Jaime.
Horizontes, 1999, p.234. ANTT. MNE. Caixa 2, maço 2.
Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, 1950-1963,
Doc.117, Paris, 28 de novembro de 1746. A invenção do Brasil
parte IV, tomo I, p.21-22.
82 AUC. CDLC. Doc. 894, Lisboa, setembro de 1746.
64 Carta de setembro de 1746. Apud: CORTESÃO, Jaime.
83 CARTA do conde de Assumar de 24 de março de 1746. 1 ANTT. MNE. Caixa 612. Carta de Marco António de Azevedo 10 CUNHA, D. Luís da. Carta de Instruções a Marco Antônio
Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, 1950-1963, para Vila Nova de Cerveira, 8 de fevereiro de 1749.
Apud: MONTEIRO. Meu pai e meu senhor muito do meu de Azevedo Coutinho, p.370.
parte IV, tomo I, p.19-20.
coração, p.58. 2 Carta de 2 de abril de 1749. Apud: CORTESÃO, Jaime. 11 CUNHA, D. Luís da. Carta de Instruções a Marco Antônio
65 Carta de 28 de novembro de 1728. Apud: CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, parte IV,
84 AUC. CDLC. Doc. 994, f.1, Madri, 21 de agosto de 1747. de Azevedo Coutinho, p.370 (grifo meu).
Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, 1950-1963, tomo I, p.279.
parte IV, tomo I, p.31-32. 85 AUC. CDLC. Doc. 994, f.1, Madri, 21 de agosto de 1747. 12 SILVA, Abílio Diniz. Introdução. In: CUNHA, D. Luís da.
3 ANTT. MNE. Caixa 612. Carta de Marco António de Azevedo Instruções políticas. (Edição de Abílio Diniz Silva), p.137-145.
66 Carta de 28 de novembro de 1728. Apud: CORTESÃO, Jaime. 86 DE MANNE, J.C.J. e DU BOCAGE, Jean-Denis Barbié. para Vila Nova de Cerveira, Lisboa, 8 de fevereiro de 1749.
Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, 1953, parte Notice des Ouvrages de M. D’Anville précedée de son éloge, 13 ANTT. MNE. Livro 826. Carta de Marco António de Azevedo
4 ANTT. MNE. Caixa 612. Carta de Marco António de Azevedo para Vila Nova de Cerveira, f.114v, Lisboa, 28 de dezembro
IV, tomo I, p.32. página de rosto.
para Vila Nova de Cerveira, Lisboa, 16 de maio de 1749.
67 ANTT. MNE. Caixa 564. Doc.356, ano 1756. 87 CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de de 1748.
5 ANTT. MNE. Livro 826. Carta de Marco António de Azevedo
68 AUC. CDLC. Doc.836. Ofício de dom Luís da Cunha para Madrid. Rio de Janeiro: Ministério das Relações Exteriores, 14 BNRJ. ARC.030,01,009. Mapa dos confins do Brazil com
para Vila Nova de Cerveira, f.112-113, Lisboa,
dom Luís da Cunha Manoel, 23 de maio de 1746. 1950-1963, parte IV, tomo I, p.100. 14 de dezembro de 1748. as terras da Coroa de Espanha na América Meridional.
88 AUC. CDLC. Doc.1017. Carta de Tomás da Silva Teles, No anno de 1749, verso.
69 Carta de 6 de fevereiro de 1747. Apud: CORTESÃO, Jaime. 6 Descripção do continente da América Meridional que nos
Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, 1950-1963, visconde de Vila Nova de Cerveira e embaixador de Portugal pertence com os rios, e montes, que os certanejos mais 15 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Observations
parte IV, tomo I, p.75. em Madri, para dom Luís, Escorial, 30 de outubro de 1747. experimentados, dizem ter encontrado, cuja divisão se faz. géographiques sur la carte du Paraguai. In: Lettres
89 AUC. CDLC. Doc. 994, f.1. Madri, 21 de agosto de 1747. édifiantes et curieuses, écrites des missions étrangéres.
70 Carta de 25 de março de 1747. Apud: CORTESÃO, Jaime. 7 ANTT. MNE. Livro 826. Carta de Vila Nova de Cerveira
Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, 1950-1963, 90 CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado para Marco António de Azevedo, f.16-16v, Madri, 17 de [1733] Toulouse: Noel-Etienne Sens/Auguste Gaude,
parte IV, tomo I, p.85. de Madrid, 1950-1963, 10 vols. agosto de 1747. 1810-1811, v.8, p.254-266.
71 BNF. GD 2836. Le Paraguai, 1733, D’Anville. ANVILLE, 91 CLUNY, Isabel. D. Luís da Cunha e a ideia de diplomacia 8 CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado 16 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Observations
Jean-Baptiste Bourguignon d’. Observations géographiques em Portugal, p.221. de Madrid, 1984, v.III, nota 5, p.787 e vol.IV, nota 5, p.908. géographiques sur la carte du Paraguai, v.8, p.265.
sur la carte du Paraguai. In: Lettres édifiantes et curieuses, No entanto, Cortesão comete equívocos ao datar as cartas 17 ANTT. MNE. Caixa 926. Tratados, atos, convenções e outros
92 NL. Vault box. Ayer MS 1918. D’ANVILLE, Jean-Baptiste
écrites des missions étrangéres. [1733] Toulouse: Noel- impressas de D’Anville, o que se explica pela manutenção papéis que dizem respeito à paz de Utrecht. Carta de dom
Bourguignon. Two autograph manuscripts concerning the
Etienne Sens/Auguste Gaude, 1810-1811, v.8, p.254-266. da mesma data em todas as versões. De fato, ao contrário do Luís da Cunha para Diogo de Mendonça Corte Real, f.99,
papal line of demarcation between Spain and Portugal in
que acredita o autor, a versão que apresenta as nascentes do 30 de novembro de 1714, f.104.
72 Carta de 17 de agosto de 1747. Apud: CORTESÃO, Jaime. South America, giving a detailed account of the dispute
Paraguai a 5 ou 6 graus de latitude é mais tardia que a que
Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, 1950-1963, between the 2 countries... [manuscrito] 1734-1746. 18 ANTT. MNE. Caixa 926. Tratados, atos, convenções e outros
apresenta esta nascente próximo a 12º, ainda que esta última
parte IV, tomo I, p.98. 93 ANTT. MNE. Livro 793. Cartas de dom Luís da Cunha para seja mais próxima do real. papéis que dizem respeito à paz de Utrecht. Carta de dom
73 Carta de 9 de julho de 1747. Apud: CORTESÃO, Jaime. o reino, Paris, 1724, f.284-292. Luís da Cunha para Diogo de Mendonça Corte Real, f.99,
9 D’Anville. Carte de l’Amérique méridionale de d’Anville,
Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, 1950-1963, 94 ANTT. MNE. Livro 789. Cartas de dom Luís da Cunha para 30 de novembro de 1714, f.99 (grifo do autor).
manuscrito de 1748. BNF. DCP. Ge C 11339 (rés) e BNF. DCP.
parte IV, tomo I, p.93. o reino, Madri, 1719 -1720. Breve Informação para o Sr. CeC 6149. A versão manuscrita apresenta esboços a lápis 19 ANTT. MNE. Livro 826, Carta de Vila Nova de Cerveira
74 CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Antonio Guedes Pereira, f.645. ANTT. MNE. Livro 793. de futuras correções realizadas por D’Anville nas versões para Marco António de Azevedo, f.16-16v, Madri, 17 de
Madrid, 1950-1963, parte IV, tomo I, p.81. Cartas de dom Luís da Cunha para o reino, Paris, 1724, f.291. subsequentes. agosto de 1747.

412 413
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Fontes

20 Carta de 2 de abril de 1749. Apud: CORTESÃO, Jaime. Antônio G., FURTADO, Júnia F., RENGER, Friedrich E., Fontes
Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, parte IV, SANTOS, Márcia Maria D. Cartografia das Minas Gerais:
tomo I, p.279. da Capitania à Província. Belo Horizonte: Editora UFMG,
21 NL. Lettre écrite au R.P. Du Halde, de la Compagnie de 2002, p.15.
Jesus, par M. d’Anville, Geographe ordo. Du Roi, au sujet [ Fontes textuais manuscritas ]
42 Intenso debate vem sendo realizado sobre a
de la Carte du Paraguay, doc.549,f.4, 21 de março de 1734.
intencionalidade ou não desses desvios. Jaime Cortesão
22 Carta de 2 de abril de 1751. Apud: MONTEIRO, Nuno 1 | BIBLIOTECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO (BNRJ) • 343-1-2 e 343-1-3 — Memórias da Paz de Utrecht,
é partidário da intencionalidade dos erros, assim como
Gonçalo (org.). Meu pai e meu senhor muito do meu 1715, v.1.
Mário Clemente Faria. Mais recentemente, João Carlos Documentos de autoria de dom Luís da Cunha:
coração, p.156-157. Garcia defendeu que não havia intencionalidade, mas os • 343-1-4 — Ofícios de Londres dirigidos ao conde
• I-13,04,005 — Memorial da Corte de Versalhes de Assumar, 1705-1711
23 CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado desvios eram decorrências de uma tradição cartográfica • I-16,03,036 — Ofícios diplomáticos
de Madrid, 1984, v.III, p.754. jesuítica que servira de base para a carta (Seminário Luzes • 343-1-5 e 343-1-6 — Memórias da Paz de Utrecht,
• I-14, 02,021 e I-14, 02,022 e 13,1,37 — Memórias 1715, v.2
24 BNF. DCP. GeDD 2987 (9553). Carte particuliere de l’entree nos Trópicos. São Paulo, USP, 2004). Novas informações da Paz de Utrecht
du Para, 1729, Ignacio dos Reys, 1729, ms, 36 x 46 cm. sobre a intencionalidade dos erros em: FERREIRA, Mário • 343-1-7 e 343-1-8 — Memórias da Paz de Utrecht,
• 13,2,7 — Tratado da Paz e Amizade... 1715, v.3
25 BNF. DCP. GeDD 2987 (9555). Confluent de l’Amazone, Clemente. O Mapa das Cortes e o Tratado de Madrid: • 01,1,032 e 09,1,027 — Máximas discretas sobre a • 343-1-9 — Ofícios de Madri e Paris dirigidos ao
de l’Urubu et du Uatuma, 1729, Ignacio dos Reys, 1729, a cartografia ao serviço da diplomacia, Varia Historia, reforma necessária da agricultura, comércio, milícia,
ms, 20,5 x 31,5 cm. v.23, n.37, p.51-69, 2007. conde de Assumar, 1719-1732
marinha, etc.
26 BNF. DCP. GeDD 2987 (9555). Confluent de l’Amazone et • 343-1-10 — Ofícios de Bruxelas e Haia, 1717-1732
43 COSTA, Antônio Gilberto (org.), FURTADO, Júnia • 01,2,015 — Carta de instrução ao rei dom José I
du Madeira, confluent de l’Amazone et du Rio Abacaxis, F., RENGER, Friedrich E., SANTOS, Márcia Maria D. • 343-1-11; 343-1-12 e 343-1-13 — Instrução política
• 09,1,009-010 — Memórias políticas, 1699-1706
Ignacio dos Reys, 1729, ms, 19 x 23 cm. de dom Luís da Cunha, composta em 1737
Cartografia da conquista das minas. Lisboa: Kappa/ • 09,1,011-013 — Ideias da guerra de 1702
27 ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Premiere Lettre Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2004. p.31. Conde de Tarouca:
• I-14,04,001 — Despachos de Londres p
de Monsieur d’Anville, p.554.
44 COSTA, Antônio Gilberto (org.), FURTADO, Júnia • 343-1-14 — Conde de Tarouca a dom Luís da Cunha
28 CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado Cartas de ou para dom Luís da Cunha:
F., RENGER, Friedrich E., SANTOS, Márcia Maria D. e Diogo de Mendonça Corte Real, embaixadores
de Madrid, 1984, v.III, p.754. • I-14,04,017 — Correspondência de Paris, 1725
Cartografia da conquista das minas, p.30-31. do rei de Portugal em Utrecht, 1713-1714
29 RBC. n.539 (2). Second Mémoire concernant l’Amérique • I-32,33A,027 — Carta de dom Luís da Cunha a Tomé
méridionale, D’Anville, 31 de agosto de 1779, f.10. 45 Ver: Projeção nos meridianos do Mapa das Cortes. Apud: Joaquim da Costa Corte Real relatando uma caçada (1759) p Documentação Rio Branco:
COSTA, Gilberto A. (org.), FURTADO, Júnia F., RENGER, • I-28,27,011, n. 001 — Ofício a Aires de Sá e Melo, sobre • Doc. 6. — Carta de José da Cunha Brochado a dom
30 BNF. DCP. GeDD 2987 (9558). Carte manuscrite de la
Friedrich E., SANTOS, Márcia Maria D. Cartografia da o Tratado de Paz existente entre Madri e Portugal (1764) Luís da Cunha, 17/1/1713. Maço 638. Estante 340,
Guyane avec les Antilles jusqu’à la Martinique. 1745,
Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville. Ms; 75 x 62 cm. conquista das minas, p.31. CINTRA, Jorge Pimentel • 30,1,004, n. 001 — Carta de Diogo Mendonça Corte Real prateleira 1, v.7
e FURTADO, Júnia Ferreira. A Carte de l’Amérique para dom Luís da Cunha sobre o Congresso de Cambrai
31 GUEDES, Max Justo. Os limites territoriais do Brasil a norte Série Espanhola / Arquivo Geral das Índias:
Méridionale de Bourguignon D’Anville: eixo perspectivo • 30,1,004, n. 005 — Carta de Diogo de Mendonça Corte
e nordeste. In: ALBUQUERQUE, Luís de (org). Portugal no
de uma cartografia amazônica comparada. Revista Real sobre a Colônia do Sacramento • Doc. 27: 1721 — Informe del padre Samuel Fritz
mundo. Lisboa: Publicações Alfa, 1989, v.5, p.211.
Brasileira de História. [online], São Paulo, v.31, n.62, acerca del rio Maranon o Amazonas, Sevilha 77-3-18.
32 BNL. Reservados. Cód. 11209. Cartas de dom Luís para • 30,1,004, n. 007 — Carta de dom Luís da Cunha sobre
p.273-316, 2011. Estante 340, prateleira 1, v.8
o cardeal da Cunha — Inquisidor geral, Utrecht, f.312, o tratado com a França (1738)
13 de abril de 1713. 46 DYM, Jordana. “Mais calculado para enganar do que para • 30,1,005, n. 030 — Cartas a Diogo de Mendonça Corte Série Espanhola / Arquivo Geral de Simancas:
33 ANTT. MNE. Caixa 612, 16 de maio de 1749. informar”: os viajantes e o mapeamento da América Central Real, tratando da dissertação de Delisle • Instruções dadas por el-rei a dom Luís da Cunha.
(1821-1945). Varia Historia, Belo Horizonte, v.23, n.37, • 30,1,005, n. 039 — Carta sem especificar o destinatário Secretaria de Estado, Legajo 7.400, fl.28. Estante 340,
34 BNRJ. Cartografia. ARC.030,01,009. Mapa dos confins
p.81-109, jan/jun. 2007. tratando da corte (1736) prateleira 1, v.9
do Brazil com as terras da Coroa de Espanha na América
Medirional. No anno de 1749. 47 CINTRA, Jorge Pimentel e FURTADO, Júnia Ferreira. • 30,1,008, n. 020 — Carta de dom Luís da Cunha sobre
a Colônia do Sacramento Série Brasileira / Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro:
35 ALMEIDA, André Ferrand. A formação do espaço brasileiro A Carte de l’Amérique Méridionale de Bourguignon
• 30,1,009, n. 027 e n. 028 — Carta de Marco Antonio • Doc. 7 — Memória que dom Luís da Cunha apresentou à
e o projecto do Novo Atlas da América Portuguesa. D’Anville: eixo perspectivo de uma cartografia amazônica
de Azevedo Coutinho para dom Luís da Cunha sobre rainha da Inglaterra. 1711. Estante 340, prateleira 1, v.12
Lisboa: Comissão Nacional para a Comemoração dos comparada.
o tratado de neutralidade com a Espanha • Doc. 24: Primeiro despacho para dom Luís da Cunha,
Descobrimentos Portugueses, 1991. 48 FERREIRA, Mario Clemente. O Tratado de Madrid e o • 30,1,010, n. 007 — Lista de documentos de 1736 remetido por expresso que partiu em 22 de outubro
36 Descripção do continente da América Meridional que nos Brasil Meridional, p.87. de 1740. Estante 340, prateleira 1, v.13
pertence... Reproduzido em COSTA, Antônio G. (org.), Outros:
49 Exame da Carta da América Meridional de D’Anville (1748) • Doc. 27: Parecer sobre a carta geográfica da América
FURTADO, Júnia F., RENGER, Friedrich E., SANTOS, Márcia • 11,2,033 — Documentos de José da Cunha Brochado
por Tosi Colombina. Apud: CORTESÃO, Jaime. Apud: Meridional, publicada por D’Anville em 1748,
Maria D. Cartografia da conquista das minas, p.161. Esse sobre a diplomacia
Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, parte III, principalmente sobre a parte percorrida pessoalmente
mapa pertence ao acervo da Biblioteca Guita e José Mindlin.
tomo II, p.139-144. Como atesta o jovem conde de Assumar, Cartas de ou sobre D’Anville pelo encarregado do exame, Francisco Tosi Columbina,
37 ANTT. MNE. Livro 826. Carta de Marco António de que o assina. 1750. Coleção Martins. Estante 340,
foi D’Anville que, a pedido e a serviço de Portugal, sugeriu a • 30,01,005, n. 013 — Carta de [Philippe] Buache ao
Azevedo para Vila Nova de Cerveira, f.112v, Lisboa, prateleira 1, v.14
14 de dezembro de 1748. contratação de Colombina ao rei. Carta de 2 de abril de 1751. Sr. Vergennes, sobre o trabalho geográfico para a corte
Apud: MONTEIRO, Nuno Gonçalo (org.). Meu pai e meu portuguesa – 28/08/1776
38 ANTT. MNE. Livro 826, f.112v-113. Carta de Marco António 3 | INSTITUTO DE ESTUDOS BRASILEIROS — IEB/USP
senhor muito do meu coração, p.163. • 30,1,005, n. 014 — Carta de D’Anville ao Sr.
de Azevedo para Vila Nova de Cerveira, Lisboa, 14 de SÃO PAULO
dezembro de 1748. 50 RBC. n.539 (1). Mémoire sur un accroissement Vergennes, sobre o trabalho geográfico em tempos feito
considérable de connoissances locales en ce qui intéresse a pedido de dom Luís da Cunha (1776) Coleção de Yan de Almeida Prado:
39 ANTT. MNE. Livro 826, f.114. Carta de Marco António
de Azevedo para Vila Nova de Cerveira, Lisboa, l’Amérique méridionale, agosto de 1779 e RBC. n.539 (2). • Doc. 19 — Cartas de Alexandre de Gusmão datadas
2 | ARQUIVO HISTÓRICO DO ITAMARATY (AHI) de 1741 a 1750
28 de dezembro de 1748. Second Mémoire concernant l’Amérique méridionale, RIO DE JANEIRO
40 ANTT. MNE. Livro 826, Carta de Marco António de 31 de agosto de 1779. • Doc. 3873. f.14b-16A — Carta de Dom Luís da Cunha
Série Documentos Encadernados: limites a Gusmão datada de 6/12/1746
Azevedo para Vila Nova de Cerveira, f.114-114v, Lisboa, 51 RIO BRANCO, José Maria da Silva Paranhos Júnior
28 de dezembro de 1748. (barão do). Mémoire sur la Question des limites entre p Dom Luís da Cunha: • f.38b-40B — outra de 11/02/1748
41 FERREIRA, Mario Clemente. O Tratado de Madrid les États-Unis du Brésil et la Guyane Britannique. • 343-1-1- Colônia do Sacramento — Tratado • f.45A-46b — Carta de Dom Luís da Cunha a Gusmão
e o Brasil Meridional. Lisboa: CNPCDP, 2001. COSTA, S.l., se., 1897, p.2. Provisional, 1680-1725 datada de 6/12/1746

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O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Fontes

Coleção Lamego: • Mss 775 — Correspondência de dom Luís da Cunha • 11.209 • MS 5 — Cartas do secretário de Estado para o conde
• Códice 136, doc. 27.12 (Londres, 1697-1699) • 11.253 de Tarouca
• Mss 950 — Cartas oficiais escritas de Paris por p Arquivos do conde de Tarouca:
4 | ARQUIVOS NACIONAIS DA TORRE DO TOMBO (ANTT) monsenhor Salema a Luís da Cunha 10 | BIBLIOTECA PÚBLICA DE ÉVORA (BPE)
LISBOA • AT. 268
• Mss 967 — CUNHA, dom Luís da. Memórias da Paz • AT 2611 • Cod. CXX/203, p.76-78 (157, 158, 161). Três cartas
Registro de correspondência de vários embaixadores de Utrecht, 1715 de Joseph da Silva Paes
(caderneta 170B da sala dos índices), v.21 • AT 2612 — Correspondência do conde de Tarouca, 1724
• Mss 1944 — Cartas de dom Francisco Xavier de
• AT 2618 — Correspondência do conde de Tarouca, 1727
Ministério do Reino: Mendonça (4º. conde da Ericeira) a dom Luís da Cunha 11 | BIBLIOTHÈQUE NATIONALE DE FRANCE (BNF)
• AT 164 PARIS
• Decretamento de Serviços. Dom Luís da Cunha. • Códice 283, Maço 299, n. 51 — Cartas oficiais escritas de
• AT 165
Caixa 283, Maço 299, n. 51 Paris por monsenhor Salema a Luís da Cunha Manuel Sítio Richelieu:
• AT 1801
• Decretamento de Serviços. Maço 58, n. 64. Manuscritos do Brasil: p Seção de Manuscritos:
José da Silva Pais 6 | ARQUIVO DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA (AUC)
• n. 25, catálogo 532, cód. 2, cad. 3 • Portugais 25, 107, f.321-344v — Noticia e justificação
• Decretamento de Serviços. José da Silva Pais.
Papéis do Brasil: Cartório de Dom Luís da Cunha do titulo e boa fé com que se obrou a nova Colônia do
Maço 118, n. 19. Decretos, maço 6, n. 22
Sacramento nas terras da capitania de S. Vicente,
• Regimento dado por El Rei Dom João, mas escrito por p Documentos:
Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE): no sitio chamado S. Gabriel nas margens do Rio da
Alexandre de Gusmão, ao novo governador das Minas, • 20, 22, 33, 60, 67, 96, 112, 119, 141, 153, 183, 223, 342,
• Caixa 1, maço 1 — Minutas de cartas de dom Luís da Prata, e Tratado Provisional sobre o novo incidente
Martinho de Mendonça Pina e Proença, com referências 346, 359, 387, 396, 408, 409, 413, 427, 641, 745, 784,
Cunha para Francisco Mendes de Góes causado pelo governador de Buenos Aires, ajustado
muito particulares ao sistema da capitação a inaugurar 788, 790, 794, 814, 828, 833, 834, 836, 866, 871, 884,
• Caixa 62, maço 2 naquela capitania, 30 de abril de 1733 nesta corte de Lisboa pelo duque de Iovenaso, Príncipe
894, 917, 994, 1017, 1059, 1091, 1096, 1105, 1108, 1127, de Chelemar, embaixador extraordinário de El Rei
• Caixas 507, 559, 561, 562, 789, 825, 826, 916, 926, 929
Chancelaria de dom João V: 1131, 1061, 1064 Católico, etc. Lisboa, 1681
Correspondência entre diplomatas portugueses • Livro 39, f.7 — Francisco de Távora • Portugais 29, 87, f.161 — Frota do Rio de Janeiro.
e secretários de Estado: 7 | BIBLIOTECA GERAL DA UNIVERSIDADE
• Livro 63, f.358 — Gonçalo Manuel Galvão de Lacerda Mapa do ouro e mais cargas, 1723
• Livros 59, 78, 135, 137 DE COIMBRA (BGUC)
• Livro 65, f.123 e 123v — Gonçalo Manuel Galvão • Portugais 30, 1, f.6-16 — Tratado de Paz oferecido
de Lacerda • Cód. 148, Miscelânia, p. 1-16. Notícias geográficas de pelos embaixadores plenipotenciários de França,
Correspondência entre diplomatas portugueses e secretários varias terras, rios, montanhas, etc. compreendidos nos
de Estado. Correspondência de dom Luís da Cunha: Mercês de dom João V: ao Barão de Lelienroot, embaixador plenipotenciário
limites do governo de S. Paulo e Minas e também nos do
• Livros 775 (mau estado), 776, 777, 778, 779, 780, 781, • Alvará a Antonio Blem. Administração de capela. de Suécia, em Haya, 20 de julho de 1697
Rio de Janeiro
782, 783, 784, 785, 786, 787, 788, 789, 790, 791, 792, 31-05-1727. D. João V, Lv.18, f.367 • Portugais 31, f.8 e 9 — Carta do Conde da Ericeira,
793, 794, 795, 796 8 | BIBLIOTECA DA AJUDA (BA) Dom Francisco Xavier de Meneses, ao duque de
Inquisição de Lisboa: Cadaval, 12 de fevereiro de 1711
Legação dos Países Baixos: • Processo 7488 — Diogo Nunes • 51-II-27. Cartas de dom Luís da Cunha, embaixador
de Portugal em Paris, para Alexandre de Gusmão • Portugais 31, f.18-19 — Carta do Conde Assumar
• Caixa 789. Cartas de 1728-1736 de dom Luís da Cunha para o mesmo, 18 de março de 1711
a Marco António de Azevedo Coutinho Arquivo do conde de Linhares: • 54-V-32(4). Doc. 11. Cartas de dom Luís da Cunha,
• Memórias de dom Luís da Cunha datadas de Utrecht, embaixador de Portugal em Paris, para Alexandre de • Portugais 18 — Memórias Particulares ou Anedotas
Legação de Londres: em 1714. (incompletas) Gusmão da corte de França, apontadas por José da Cunha
• Livro 14. Cartas de Diogo de Mendonça Corte Real Brochado, no tempo que serviu como enviado naquela
• Volume1 — Carta a Diogo de Mendonça Corte Real, do • Ms. 16, n. 45. Cartas de dom Luís da Cunha, embaixador
para dom Luís da Cunha e para o conde de Tarouca Conselho de Sua Magestade e seu secretário de Estado. corte, 1696-1702 (cópia manuscrita da Biblioteca
de Portugal em Paris, para Alexandre de Gusmão
e vice e versa In: Memórias de dom Luís da Cunha datadas de da Academia Real das Ciências de Lisboa)
• 51-IX-33, f.475-482. Parecer tocante à vedação dos
• Livro 16 Utrecht, em 1714 (incompletas), f.1-1v caminhos das vilas de S. Paulo para o rio São Francisco • Portugais 18, f.60-101 — 67 cartas escritas por José
da Cunha Brochado, durante sua embaixada na França,
Legação de Madri: Arquivo da Casa da Fronteira e Alorna: • 51-VI-41. Diário do conde da Ericeira dom Francisco
1698-1702
• Caixa 612 Xavier de Meneses
• n. 118 — Cartas Avulsas • Portugais 38 — Cartas e negociações de José da Cunha
• Caixa 612 — 555/11 Brochado, na Inglaterra, em 1710-1712 (66 cartas)
9 | BIBLIOTECA DA ACADEMIA DAS CIÊNCIAS
5 | BIBLIOTECA NACIONAL DE PORTUGAL (BNP)
Documentos diplomáticos de França: DE LISBOA (BACL) p Manuscrits Français (Fr):
• Caixa 560 Reservados:
Série Azul: • Fr. 22.147 (3)
• Caixa 561 p Maços: • MS 101 — Cartas para o marquês de Abrantes • Fr. 22.233 — Correspondence du abbé Bignon
• Caixa 564, doc. 356, ano 1756 — Lista dos papéis que • 16, n. 45 — Cartas de dom Luís da Cunha para • MS 175A — Cartas de Marco António de Azevedo • Manuscrits Français — Nouvelle acquisition française
se [encontravam] na secretaria do Ministério da Corte... Alexandre de Gusmão para dom Luís da Cunha (NAF):
Secretaria de dom Luís da Cunha • 30, n. 31 • MS 178 — Cartas do conde de Tarouca para  NAF 6502-6503 — D’Anville — Papiers

Manuscritos da Livraria: • 62, n. 2 dom Luís da Cunha géographiques — Notes et extraits divers relatifs
• Mss 67 — Documentos de Cambrai • 242 • MS 591 à la géographie Ancienne et Moderne de l’Armenie,
• MS 592 de la Grèce, de la Turquie, d’Europe et d’Asie
• Mss 374 — Carta que escreveu ao Infante Dom Manuel, o p Códices:
• MS 602 (Syrie, Palestine et Arabie), de l’Egypte et de l’Ethiope
embaixador Dom Luís da Cunha, mandando-lhe o projeto • 1.608 — Cartas de dom Luís da Cunha ao (Voyages de Granger et de le Noir du Roule; extraits
das condições da Quádrupla Aliança e discurso sobre elas • MS 608 — Cartas de dom Luís da Cunha — de Haia, 1736
2º. conde de Assumar de mémoires de M. De Maillet):
que por mandado do sr. Infante fez o mesmo embaixador. • MS.608A — Instruções
• 1.759 f.101 — Comentários sobre a Carta do Paraguai
• Mss 492 — Correspondência de Diogo de Mendonça
n

• 2.634 • MS 610A
a Marco António de Azevedo Coutinho n f.652 — Mesures Itinéraires des Romains, des
• 2.968 • MS 617A — Cartas de Paris Chinois et des Arméniens
• Mss 638 — Correspondência de Luís da Cunha • MS 618A
Brochado para dom Luís da Cunha • 3.016 — O grande Cunha em Haia  NAF 989 — Carte des voyages d’Otter en Asie

• Mss 729 — CASTRO, Manuel Baptista de. Chronica • 3.662 Série Vermelha:  NAF 1030 — Papiers de Guilhem de Clermont-

di Maximo Doutor e Principe dos Patriarcas Sao • 10.484 • MS 3 — Cartas de dom Luís da Cunha para Diogo -Lodéve, Baron de Sainte-Croix (1746-1809):
Jeronymo. Particular do Reyno de Portugal • 10.721 de Mendonça n f.284 — Lettre sur M. Anville

416 417
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Fontes

 NAF 1208 — (Collection Marquis Léon de Laborde. Mémoires et documents/Fonds divers/Portugal: 16 | NEWBERRY LIBRARY • n. 558 — Chapitre II. De l’entré du Pará... (manuscrito
v. 45). Répertoire Alphabétique d’Artistes et Artisans, • 1 — doc. 1139 a 1802 — Carta e conselhos de dom Luís CHICAGO — USA (NL) do próprio punho de D’Anville), 8 ½ p.
tirés de l’État Civil Parisien (XVIe-XVIIIe siècle): da Cunha • Vault box. Ayer MS 1918 — D’ANVILLE, Jean Baptiste • n. 562 — Estrait du voyage de M. Caperon, capitaine
n HAYE, Guillaume Nicolas de La Haye, graveur, • 2 — doc. 1143 a 1166 — Sobre a Colônia do Sacramento Bourguignon. Two autograph manuscripts concerning d’infanterie de la garnison de Caïenne, aux sources
1758, graveur, géographe du roi, n.18.095 the papal line of demarcation between Spain and d’Oyapock et du Camopi en 1730 et 1731. Communiqué
• 4 — doc. 1640 a 1660 — Memórias das negociações
 NAF 2473 — Viagem de Paris a Bordeaux — journal entre Portugal e França Portugal in South America, giving a detailed account par M. del la Condamine, 1 ½ p.
des voyages du Sr. Otter de Constantinople à Ispahan, of the dispute between the 2 countries... [manuscript]
• 9 — Correspondência com embaixadores franceses
d’Ispahan à Bassora, de Bassora à Constantinople et 1734-1746 18 | ARQUIVO GERAL DE SIMANCAS (AGS)
son retour a France (1736-1743). On a joint en tête du Memoires et documents/ Fonds divers/ Espanha: • Doc. 552 — Discussion géographique sur la ligne de Estado, Portugal:
volume une “Carte pour servir au voyage de M. Otter, • 263 — Memórias sobre a Colônia do Sacramento Démarcation etablie pour fixer des limites entre les
dressé par d’Anville, en mars 1748, et gravé à la fin • Legajo 7082
• 340 — Tratado de Fontainebleau découvertes du Portugal et celles de la Castille, 10 fólios
d’avril de 1748” • Legajo 7084
• Doc. 549 — Lettre écrite au R.P. Du Halde, de la
France et états divers: • Legajo 7091
p Département des Cartes et Plans (DCP) Compagnie de Jesus, par M. d’Anville, Geographe ordo.
• 445 (1703/1735) — Memórias sobre negociações Du Roi, au sujet de la Carte du Paraguay, 4 fólios • Legajo 7182
• Ge F pièce 13821 Rés (1) et (2) — ROBERT DE • 448 — Guerra de Portugal
VAUGONDY, • Doc. 549 — Addition à la lettre de Mr. D’Anville Estado, Colônia de Sacramento:
Didier (1723-1786). 4 lettres échangées entre Didier Correspondência política: à Mr. De la Roque, 2 fólios
• Doc. 552 — Ligne de Demarcation, 3 fólios • Legajo 7439
Robert de Vaugondy et Jean-Baptiste Bourguignon • v.120 — Portugal — (1510-1759) — microfilme 11056
d’Anville à propos d’une erreur de calcul commise
Fonds de France: 17 | ROBERT BOSCH COLLECTION 19 | ARQUIVO HISTÓRICO ULTRAMARINO (AHU)
par ce dernier dans ses "Considérations géographiques"
(p.48-49). Contenu dans: 2 lots de lettres adressées ou • 1990 (1700-1739) — Colonies de l’Amérique STUTTGART — ALEMANHA (RBC) Códices:
reçues par Gilles et/ou Didier Robert de Vaugondy, • 1996 (1730-1737) — Colônia do Sacramento • n. 229 — ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. • Cód. 248, f.250 — Provisão régia de 18 de novembro
12 février 1754 Collection of eight manuscripts concerning Brazil: de 1729
• 2010 (1713-1773) — Tentativas de estabelecimentos
• Ge FF 4837 — Anville, Jean-Baptiste Bourguignon franceses na América desde o século XVI • n. 537 — Discussion géographique de la longitude, qui
d’. Lettre de M. D’Anville,... au R. P. Castel,... au sujet Manuscritos Avulsos de Goiás (MAG):
• 2115 — Memória sobre as diferenças entre Portugal convient au continent de l’Amérique méridionale, 14 ½ p.
des pays de Kamtchatka et de Jeço et réponse du e a Espanha na América do Sul • n. 539 (1) — Mémoire sur un accroissement considérable • Caixa 1, doc. 12 — Roteiro da derrota do rio Tocantins
R.-P. Castel. (S. l.), 1737 de connoissances locales en ce qui intéresse l’Amérique até Belém do Pará
Fonds divers:
Sítio Tolbiac: méridionale, agosto de 1779, 11p.
• 19 (1699-1819) — Guiana Francesa — Memórias 20 | SOCIEDADE GEOGRÁFICA DE LISBOA (SGL)
• Banque DOSS <FOL — LN1-232 (600)>Anville, • n. 539 (2) — Second Mémoire concernant l’Amérique
sobre limites méridionale, 31 de agosto de 1779, 15 ½ p. • Manuscritos. Res 3-C-16 e Res 3-C-17 — Description
Jean-Baptiste Bourguignon d’. Lette a M. Henin.
In: Recueil. Dossiers biographiques Boutillier du Retail. • n. 555 (1) — Noticias das minas da America chamadas Geographique de la partie de l’Afrique, qui est
13 | ARCHIVES DE L’ACADÉMIE au sud de la ligne Equinoxiale, représentée dans
ROYALE DES SCIENCES (AASP) Geraes pertencentes à el rei de Portugal, relatada pelos
três irmãos chamados Nunes os quais rodarão muytos une Carte que j’ai dressée par l’ordre et conforment
12 | ARCHIVES DES AFFAIRES ÉTRANGÈRES (AAE) PARIS au dessein de Son Excellence Monseigneur
PARIS annos por estas partes, 21 p.
Process verbaux, années: Dom Louis da Cunha.
• n. 555 (2) — Brésil. Extrait d’une lettre écrite de
Portugal: • 1722, 1723, 1724, 1725, 1726, 1727, 1728, 1729, 1730, Lisbonne le 11 Mars 1732 par Mr. Couvai, qui me
•5 1731, 1732, 1733, 1734, 1735, 1736, 1737, 1738, 1739, 1740, l’a communiqué. Relation du sr. Antonio Blem a son 21 | ARCHIVES DÉPARTEMENTALES DE L’ORNE
•8 1741, 1742, 1743, 1744, 1745, 1746, 1748, 1749, 1750, retour des mines de diamants, 6 ½ p. • Fonds de la Société historique et archéologique
• 11 1751, 1752, 1753, 1754, 1771, 1772, 1773, 1774, 1775 • n. 555 (3) — Brésil. Descricção das Minas Geraes do Brasil. de l’Orne. Cote 252J224
• 83 Mémoire sur des Mines d’or de ce pays, communiqué par
14 | ARCHIVES DE L’ACADÉMIE DES Mr. Convay, 6 ½ p.
Correspondência Política II. Espagne: INSCRIPTIONS ET BELLES LETTRES (AAIBL)
p Livros: • Pasta de D’Anville:
• Mémoire de l’Amérique Septentriole, de D’Anville
• 334 — Carta para Antônio Guedes Pereira [ Fontes cartográficas manuscritas e impressas ]
• Mémoire sur les nons des peuples et des villes...,
• 335 — Carta a dom Luís da Cunha
de D’Anville
• 338 — Carta de dom Luís da Cunha e Guedes Pereira 1 | BIBLIOTECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO (BNRJ) 2 | BIBLIOTECA DE GUITA E JOSÉ MINDLIN, SÃO PAULO
• Mémoire sur ses Cartes de l’ancienne Gaule,
• 420 — Lista dos navios que se armam em França de Mr. D’Anville Divisão de Cartografia • Descripção do continente da América Meridional que
para a América nos pertence com os rios, e montes, que os certanejos
• Syracuses, par Mr. D’Anville • AT. 002,04,014. Atlas geral, d’Anville, 17...
• 431 — Carta para Antônio Guedes sobre projeto de paz mais experimentados, dizem ter encontrado, cuja
entre Espanha e Portugal • AT. 015,02,001/003. Atlas, ou Recueil de cartes
15 | BIBLIOTÈQUE DE L’ACADÉMIE DES INSCRIPTIONS divisão se faz. 5 de dezembro de 1746. 93 x 80 cm
• 437 — Memória sobre a Colônia do Sacramento ET BELLES-LETTRES (BAIBL) géographiques, d’Anville, Collection de cartes
• 441 — Memória para o fim da hostilidade géographiques en trois volumes que son Excellence
• Registre — Journal des délibérations et des assemblées 3 | BIBLIOTECA NACIONAL FRANÇOIS MITERRAND,
l’Ambassadeur a fait choisir pour son usage par le Sieur
• 446 — Memória para o fim da hostilidade de l’Académie des Inscriptions et Belles-Lettres, années:
d’Anville, geographe du Roy: T.1. Le Monde; PARIS
• 452 — Correspondência com dom Luís da Cunha • 1721, 1722, 1723, 1724, 1725, 1726, 1727, 1728, 1729, TII: La France; T.III: l’Allemagne, l’Italie, l’Espagne,
• 456 — Tratado de Paz entre Portugal e Espanha 1730, 1731, 1732, 1733, 1734, 1735, 1736, 1737, 1738, 1739, Sítio Tolbiac:
les Iles Britanniques (avec un index manuscrit)
• 470 — Carta de dom Luís da Cunha 1740, 1741, 1742, 1743, 1744, 1745, 1746, 1748, 1749, • J- 1697. Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’.
1750, 1751, 1752, 1753, 1754, 1755, 1756 • BA. Cód. 52-XII-25. Roteiro de todos os sinais,
• 472 — Carta de dom Luís da Cunha conhecimentos, fundos baixos, alturas e derrotas Atlas de géographie ancienne pour servir à
• ANVILLE, Jean Baptiste Bourguignon d’. Prospectus l’intelligence de l’Histoire des empereurs, par Crevier,
• 475 — Projeto de neutralidade entre Portugal que há na Costa do Brasil, desde o cabo de Santo
d’une édition complète des ouvrages imprimés et
e Espanha, por dom Luís da Cunha Agostinho até o estreito de Fernão de Magalhães, gravé d’après les cartes originales de d’Anville (1697-
manuscrits de d’Anville, et des 62 cartes qui y sont
• 488 — Carta de dom Luís da Cunha annexées, proposé par suscription, sans aucune avance ca.1585-1590 1782). Paris: Ledoux et Teuré, 1819
• 501 — Viagem da Infanta dona Luiza de Madri des fonds. 8pp in oct. Voy rec. in 4o HR 1 (vo.10) • ARC. 030,01,009. Mapa dos confins do Brazil com as • J- 16552 (2). Anville, Jean-Baptiste
a Versalhes • Correspondance de P. M. Benin avec divers et avec terras da Coroa de Espanha na América Medirional. Bourguignon d’. L’Empire de Russie, son origine
• 504, f.214-215 — Carta de Puyzieulx a Vaulgrenant d’Anville No anno de 1749 et ses accroissemens, 1772

418 419
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Fontes

Sítio Richelieu: • Ge DD 2033 (RES). Recueil factice des cartes • Ge DD 2987 (9451). O grande Rio da Prata na América 5 | NEWBERRY LIBRARY (NL)
de d’Anville suit une première page intitulée Austral e Portuguesa • Ayer 135. A87 1740. Atlas portatif pour servir à
p Département des Cartes et Plans (DCP):
“Liste générale des cartes de d’Anville”. Anville, • Ge DD 2987 (9450). Carte manuscrite de l’embouchure l’intelligence de l’Histoire philosophique et politique
• GD 2836. Le Paraguay, 1733. Anville, Jean-Baptiste Jean-Baptiste Bourguignon d’, Paris, 17.. de Rio da Prata, c. 1.740 des establissmens et du commerce des Européens
Bourguignon d’ • Ge DD 2039. Atlas de géographie ancienne pour dans les deux Indes, du Abée Raynal. ANVILLE,
• Ge DD 2987 (9474). L’Isle Henri, André Thévet, 1586
• Ge A 1191 (RES). Nouveau plan routier de la Ville servir à l’intelligence des oeuvres de Rollin, gravé Jean-Baptiste Bourguignon d’, Amsterdã: E. van
• Ge DD 2987 (9523). Carte de la partie de l’Ocean vers
et Faubourgs de Paris, avec ses Principaux Edifices d’après les cartes originales de d’Anville. Paris: Harrevelt, & D.J. Chanquion, 1740-1773. (47 mapas, seis
l’Équateur, Philippe Buache
et Nouvelles barrières. M. Pichon, Ingénieur Ledoux et Tenré, 1818 deles têm o nome do Sr. D’Anville, um é desenhado por
Géographe, 1789 • Ge DD 2987 (9525). Carte Portugaise manuscrite
• Ge DD 2987 (100 B). Hémisphère occidental ou du padres jesuítas e um é de D’Anville com La Condamine)
de l’Îsle de Fernão de Noronha
• Ge C 7902. L’Amérique septentrionale dressée sur nouveau monde. Anville, Jean-Baptiste Bourguignon • Ayer 135. G7 1896. Venezuela. No. 1 Appendix no. III. Maps
les observations... de l’Académie Royale des Sciences. • Ge DD 2987 (9542) e (9543). Carte du cours du
d’, 1761 to accompany documents and correspondence relating
Delisle, G., Paris: l’auteur, 1700 Maragnon ou de la grande rivière des Amazones.
• Ge DD 2987 (365). La France ancienne, dedié au roi. to the question of boundary between British Guiana
Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’
• Ge C 9798. Carte de la côte septentrionale de l’Île de Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’, 1719 and Venezuela... Londres: Harrison and Sons, [1896]
Marajó depuis Yaraoubi jusqu’à Anajaheba. Anville, • Ge DD 2987 (9549). Detalhe da Carte huilée des
• Ge DD 2987 (1186). Carte d’une partie du cours embouchures de la rivière des Amazones et cotes 6 | ACERVO PESSOAL (AP)
Jean-Baptiste Bourguignon d’
de la Loire et de quelques positions de lieux, dans voisines. Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’ • Carte de l’Amérique méridionale. ANVILLE,
• Ge C 11302. Canevas circulaire pré-imprimé, orienté l’espace d’environ quatre degrés de longitude:
vers le nord, destiné à cartographier une trentaine • Ge DD 2987 (9550). Carte particulière du cours de Jean-Baptiste Bourguignon d’, 1779, em 3 fólios
pour servir à la mesure de la terre sur les parallèles. la rivière des Amazones ou de Maragnon. Anville,
de types de bâtiments, lignes ou zones géographiques • Suite du Bresil, depuis la Baye de tous les Saints jusqu’à
Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’, 1734 Jean-Baptiste Bourguignon d’, 1729
prévues dans la légende, à partir de la vue que l’on St. Paul. ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’
• Ge DD 2987 (1626). Carte huilée des côtes d’Espagne • Ge DD 2987 (9551). Carte de l’embouchure de • Suite du Bresil. Depuis la Barre d’Iguape jusqu’à
a d’une paroisse du haut de son clocher. Anville,
et de Portugal depuis Lisbonne jusqu’à Gibraltar, l’Amazone, Robert Dudley la Riviere de la Plata. ANVILLE, Jean-Baptiste
Jean-Baptiste Bourguignon d’, 1720-1780
Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’, 17.. Bourguignon d’
• Ge C 11339 (RES). Carte de l’Amérique Méridionale. • Ge DD 2987 (9552). Embouchure de la rivière des
• Ge DD 2987 (1700 B). Carte des opérations militaires Amazones, séc. 18. Ge DD 2987 (9682) ou Ge D 10890. • A map of South America. ANVILLE, Jean-Baptiste
Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’
dans la région située entre Alcantara et Almeida, Carte réduite de la Mer du Sud selon la nouvelle Bourguignon d’, Publicado sob patrocínio do duque
• Ge D 10605. Aragon et pays voisins entre Campsan, autour de Ciudad Rodrigo. Anville, Jean-Baptiste
Monzon, Deca et Pampelune. Anville, Jean-Baptiste hypothese de la longitude. Anville, Jean-Baptiste de Orléans, desenhado e gravado por J. Harrison,
Bourguignon d’, entre 1700 e 1710 Bourguignon d’, 1736 115 Newgate street, janeiro de 1791
Bourguignon d’, c. 1719
• Ge DD 2987 (4997). Parallèle du contour de l’Italie • Ge DD 2987 (9554). Carte manuscrite de la navigation • Mapa dos Confins do Brasil com as terras da Coroa de
• Ge D 10658. Fragments d’une Carte de l’Amérique selon les cartes de MM. Sanson, de l’Isle et d’Anville.
du Sud montrant partie de la nouvelle. Anville, de la rivière des Tocantins Espanha na América, Mapa das Cortes. (Cópia legítima
Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’, 17.. • Ge DD 2987 (9612). Carte huilée de la route de Nicolas colorida do mapa do Tratado de Limites de Madri de
Jean-Baptiste Bourguignon d’
• Ge DD 2987 (7772). Carte d’Afrique. Anville, Horstman natif de Hidelsheim en Westphalie depuis 1750, oferecida a Marcos Carneiro de Mendonça pelo
• Ge D 10659. Carte de L’Amérique Méridionale. Anville, prof. Rodolfo Garcia, diretor da Biblioteca Nacional,
Jean-Baptiste Bourguignon d’, 1727 Rio Esquibé jusqu’à Rio Negro, 17...
Jean-Baptiste Bourguignon d’, [s.d., 1742?], manuscrita por ter ele propiciado a compra do exemplar original
• Ge DD 2987 (8166 B). Carte de la Côte de Guinée • Ge D 2987 (9653). Carte des routes de M. de la
• Ge D 10691. Esquisse au crayon de la Region de Santos para esta instituição)
et du pays, autant qu’il est connu, depuis la Rivière Condamine, tant par mer que par terre dans le
au Brésil. Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’, c. 1740 • Mapa dos Confins do Brasil com as terras da
de Serre-lione jusqu’à celle des Camarones. cour du voyage a l’Equateur. Anville, Jean-Baptiste
• Ge D 10692. Manuscript sur l’a Carte de l’Amérique Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’, 1729 Coroa de Espanha na América, Mapa das Cortes.
Bourguignon d’
méridionale. Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’ (Fac-símile em preto e branco do original pertencente
• Ge DD 2987 (8252). L’Ethiopie occidentale. • Ge DD 2987 (9555). Confluent de l’Amazone, de
• Ge D 10739 (B). Carte de la province romaine dans la Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’, 1732 à Biblioteca Nacional)
l’Urubu et du Uatuma, 1729, Ignacio dos Reys, 1729
Gaule pour la continuation de l’Histoire romaine de
• Ge DD 2987 (8255) — Royaumes de Loando, Congo, • Ge DD 2987 (9558). Carte manuscrite de la Guyane 7 | IEB/USP
M. Rollin. Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’,
Angola, Benguela & c. Anville, Jean-Baptiste avec les Antilles jusqu’à la Martinique. Anville, • Col. ML. 67.4. n. 55. Roteiro ilustrado de terras
[Paris]: [s.n.], maio de 1743
Bourguignon d’, 1730 Jean-Baptiste Bourguignon d’, 1745 minerais do Brasil/ o Capp.m mor Manoel Francisco
• Ge D 10743. Carte de l’Italie..., où l’objet principal a
• Ge DD 2987 (8302). Carte de l’Ethiopie orientale • Ge DD 2987 (9687). Représentation du cours primaire dos Santos Soledade. Lisboa Ocydental, 1729.
été de tracer les voyes romaines, pour l’intelligence de
située sur la mer des Indes entre le cap Guardafouin & des vents de traverse qui regnent le long des côtes
l’Histoire romaine de Mr Rollin. Anville, Jean-Baptiste 8 | BIBLIOTECA DA RAINHA DA DINAMARCA
le cap de Bonne-Espérance, dressée sur les meilleurs dans la Mer Atlantique et celle des Indes. Anville,
Bourguignon d’, gravé par P. Bourgoin, julho de 1739 • Juliane Marie Atlas. Imagem de uma sala de cadetes,
mémoires principalement sur ceux des portugais Jean-Baptiste Bourguignon d’
• Ge D 10868. Carte particulière des royaumes par le Sr d’Anville géographe ordre du roi, Delahaye por Johann Friederich von Wecker, 1762
d’Angola, de Matamba et des Benguela. Anville, • Ge DD 2987 (9898). Carte pour le mémoire de
sculpsit, 1727 Mr. d’Anville sur le mille romain. Anville, 9 | ROBERT BOSCH GMBH COLLECTION
Jean-Baptiste Bourguignon d’, setembro de 1731
• Ge DD 2987 (8501). Americae Nova Tabula, Willem Jean-Baptiste Bourguignon d’, 17… STUTTGART — ALEMANHA (RBC)
• GE D 10890. Carte réduite de la Mer du Sud selon
Janszoon Blaeu, c. 1.640 • Ge DD 4796 (68). Atlas général de d’Anville avec les • n. 229. Collection of eight manuscripts concerning
la nouvelle hypothèse de la longitude. Anville,
Jean-Baptiste Bourguignon d’, 1736 • Ge DD 2987 (9003). Carte de l’isle de Saint Domingue cartes des deux hémisphères revues et augmentées des Brazil. ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’:
avec partie des isles voisines. Anville, Jean-Baptiste découvertes de 1786, par Barbié du Bocage. Anville, • 2 mapas manuscritos da região de São Paulo
• Ge D 11795 (RES). Carte de l’Amérique Méridionale,
Bourguignon d’, 1730 Jean-Baptiste Bourguignon d’, 1736-1787
Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’, 1737, manuscrita 10 | ARQUIVO HISTÓRICO DO ITAMARATY
• Ge DD 2987 (9168B). Carte de l’Amérique Méridionale. • IFN- 7710100. Carte topographique du diocèse de
• Ge D 12426. Le monde connu des anciens pour RIO DE JANEIRO (AHI)
Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’, 1760 Lizieux. Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’, gravé
l’intelligence de l’histoire ancienne de M. Rollin. Anville, • Mapa dos confins do Brazil com as terras da Coroa
• Ge DD 2987 (9401). Plan d’une baye de la côte du par Delahaye, ca. 1730
Jean-Baptiste Bourguignon d’, [Paris]: [Vve Estienne], de Espanha na América Medirional. No anno de 1749.
janeiro de 1740 Chili..., Mr. Anson • Sh Pf 166 Div 1 pièce 8 B. Route de M. La Condamine
le long le la cote Nord de l’Ile Marajó ou Joannès. 78 x 57 cm
• Ge D 14032. Carte de l’isle de Saint-Domingue avec • Ge DD 2987 (9469B). Carte manuscrite des côtes
du Brésil Dessin original de M. de La Condamine, 1736 11 | BIBLIOTECA NACIONAL DE PORTUGAL (BNP)
partie des isles voisines, dressée sur diverses pièces
et instructions particulièrement sur la dernière carte • Ge DD 2987 (9471B). Suite huilée Portugaise du Lagoa Seção de Cartografia
4 | DAVID RUMSEY COLLECTION (CATÁLOGO ON-LINE)
de Mr Frézier et sur les mémoires de M. Buttet. de Merin, José da Silva Paes
Carte de l’Amérique méridionale de d’Anville, 1748: • BA. Cód. 52-XII-25. Roteiro de todos os sinais que
Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’, Paris: l’Auteur, • Ge DD 2987 (9474). Provincie de S. Vicenzo e del há na Costa do Brasil, Luís Teixeira, ca. 1.585-1.590.
outubro de 1730 Rio de Janeiro, Andreas Antonius Horati, 1700 • http://www.davidrumsey.com/luna/servlet/detail/
• Ge DD 866. A complete Body of ancient geography • Ge DD 2987 (9487). Plan de la ville de St Sebastien RUMSEY~8~1~4428~410017:-Composite-of-- 12 | BIBLIOTECA PÚBLICA DO PORTO
(Atlas). Anville, Jean-Baptiste Bourguignon d’, à la coste du Brésil ou autrement la baye de Rio de Amerique-Meridionale?qvq=q:d%27Anville;lc:RUMSE • CMεeA P24 (45). Planta da Colônia do Sacramento,
Londres: for R. Sayer, s/d. Janeiro. Séc. XVIII, Manuscrite en coul; 50 x 34 Y~8~1&mi=43&trs=332 c.1752.

420 421
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Fontes

[ Fontes cartográficas manuscritas e impressas ] ANVILLE, Jean-Baptiste B. d’. Ethésiens. In: DIDEROT, Denis & ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Traité des mesures
D’ALEMBERT. L’Encyclopedie ou Dictionnaire raisonné des itinéraires anciennes et modernes. Paris: l’Imprimerie
• Julho, p.161 — Nouvelles des Pays Étrangers — sciences, des arts et des métiers. Paris: Briasson, 1756. Royale, 1769.
1 | MERCURE DE FRANCE:
Nouvelles de Lisbonne ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Analyse geographique ANVILLE, Jean-Baptiste B. d’. Histoire de l’art en France. Gravelot.
Anos 1721-1750: de l’Italie. Paris: Veuve Estienne et fils, 1744. In: L’Artiste. Paris: l’Artiste, 1o. de abril de 1853, p.69-70.
• Julho, 18, p.168 [incompleto]
p 1721: ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Considérations ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Observations
• Julho, p.174 — Nouvelles des Pays Étrangers
• Agosto, p.164-165 — Journal de Paris (Notícias générales sur l’étude et les connoissances que demande la géographiques sur la carte du Paraguai. In: Lettres édifiantes
• Julho, p.203-204 — Nouvelles des Pays Étrangers
de Tarouca) composition des ouvrages de Géographie. Paris: Imprierie et curieuses, écrites des missions étrangéres. [1733]
— Nouvelles de l’Académie Royale de l’Histoire de
• Setembro, p.3-9 — Instructions necessaires aux de Lambert, 1777. Toulouse: Noel-Etienne Sens/Auguste Gaude, 1810-1811.
Lisbonne
voyageurs ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Dissertation sur ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Éloge de monsieur
• Setembro, p.547-548-549 [incompleto]
pour faire leurs observations; avec un adresse aux l’étendue de l’ancienne Jérusalem et de son temple, et sur Gravelot. In: Le Nécrologe des hommes célèbres de France.
marchands & aux missionaries que se trouvent dans • Setembro, p.557-559 — Nouvelles des Pays Étrangers les mesures hébraïques de longueur. Paris: Prault fils, 1747. (1772-1775) A Paris: de l’Imprimerie de Moreau, 1974.
les pays étrangers & que peuvent rendre des services — Nouvelles de l’Académie Royale de l’Histoire de
ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Eclaircissemens AUTO-RETRATO de D. Luís da Cunha. Apud: SILVA, Abílio
considèrables à la Géographie Lisbonne
géographiques sur l’ancienne Gaule, précédés d’un Traité Diniz. (org.) Testamento Político de D. Luis da Cunha.
• Setembro, p.9-20 — Les defauts de nos grandes • Setembro, p.600 — Nouvelles des Pays Étrangers — des mesures itinéraires des Romains et de la lieue gauloise. Lisboa: Biblioteca Nacional, p.181-183, 2013.
collections des voyages... Nouvelles de Lisbonne Paris: Vve. Estienne, 1741. AZEVEDO, Pedro (org.). Instruções inéditas a Marco António
• Setembro, p.89-95 — Nouvelles des Pays Étrangers — • Outubro, p.773 — Nouvelles des Pays Étrangers — ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Éclaircissemens de Azevedo Coutinho. Coimbra: Imprensa da Universidade
Nouvelles de l’Académie de Rhetoriciens et Royale Nouvelles de l’Académie Royale de l’Histoire de géographiques sur la carte de l’Inde. Paris: l’Imprimerie de Coimbra, 1929.
de l’Histoire de Lisbonne Lisbonne Royale, 1753. BARLÉU, Gaspar. Rerum per octennium in Brasilia, et alibi
• Setembro, p.95-96 — Journal de Paris • Outubro, p.795-796 — Nouvelles des Pays Étrangers — ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. États formés en nuper gestarum. Amsterdã: Ioannis Blaeu, 1647.
Nouvelles de Lisbonne Europe après la chute de l’Empire romain en Occident.
• Outubro, p.186-187 — Journal de Paris BEAUCHAMP, Alphonse de. Histoire du Brèsil, depuis sa
• 23 de novembro, p.1046-1047 — Journal de Paris Paris: l’Imprimerie Royale, 1771. découverte en 1500 jusqu’en 1810. Paris: A La Librairie de
• Dezembro, p.358 — Journal de Paris
• Dezembro, p.1191-1192 — Nouvelles des Pays Étrangers ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Géographie ancienne l'Éducation et de Jurisprudence d'Alexis Eymery, 1815. 3v.
p 1722:
— Nouvelles de l’Académie Royale de l’Histoire de abrégée. Paris: Chez Merlin, libraire, 1768. 3v. BEAUVAL, Jacques Basnages (ou Basnage) de. Annales
• Janeiro, p.68-72 — Nouvelles des Pays Étrangers — Lisbonne
Nouvelles de l’Académie Royale de l’Histoire ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Géographie ancienne des Provinces-Unies, contenant les choses les plus
• Dezembro, p.1227 — Nouvelles des Pays Étrangers — abrégée. Paris: Chez P. Théophile Barrois, 1782, tomo I, remarquables arrivees en Europe, et dans les autres parties
de Lisbonne
Nouvelles de Lisbonne contenant Europe. du monde, depuis les negociations pour la paix de Munster,
• Janeiro, p.118-119 — Nouvelles des Pays Étrangers
• Dezembro, p.1228 e 1238 — Journal de Paris ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Géographie ancienne jusqu’a la paix de Breda. Haia (The Hague): Charles le Vier,
— Nouvelles de l’Académie Royale de l’Histoire de
• Dezembro, p.1344-1354 — Feste donnée a Paris, par et historique, composé d’aprés les cartes de d’Anville par 1719-1726.
Lisbonne
M. L’Ambassadeur de Portugal L.B.D.M. Paris: Egron, 1807. BERREDO, Pereira de. Annaes Historicos do Estado do
• Janeiro, p.131-132 — Nouvelles des Pays Étrangers —
1749: ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. L’Empire Turc Maranhaõ, em que se da’ noticia do seu Descobrimento, e
Nouvelles de Lisbonne p
• Maio, p.97-102 — Extrait d’une lettre ... sur la passage considéré dans son établissement et dans ses accroissemens tudo o mais que nelle tem succedido desde o anno em que
• Janeiro, p.150-152 — Feste donnée a Paris, par foy descuberto até o de 1718. Lisboa: na Officina de Francisco
l’Ambassadeur du Czar au nordest le l’Asie successifs. Paris: l’Imprimerie Royale, 1772.
Luiz Ameno, Impressor da Congregaçaõ Cameraria da Santa
• Janeiro, p.193-196 — Journal de Paris • Junho, p.127-128 — Pièces littéraires ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. L’Euphrate et le Tigre.
Igreja de Lisboa, 1749.
• Outubro, p.162-164 — Carte géographique de M. Bellin Paris: l’Imprimerie Royale, 1779.
• Fevereiro, p.142 — Charges et Dignitez des Pays BESTERMAN, Theodore (ed.). Correspondence de Voltaire.
Étrangers — Portugal • Dezembro, p.169 — Lettre de M. d’Anville, ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Mémoire instructif
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à M. Remond de Sainte Albine, sur une nouvelle Carte pour dresser sur les lieux des cartes... d’un canton de pays
• Fevereiro, p.147-148 — Nouvelles des Pays Étrangers et Musée Voltaire, 1971.
d’Amérique Méridionale, de 17 de novembro 1749 renfermant dix ou douze paroisses... S.l., S.e., julho de 1743.
— Nouvelles de Lisbonne BESTERMAN, Theodore (ed.). Correspondance de Voltaire.
• Março, p.5-6 — Extrait de la declaration ... sur la • Dezembro, p.207 — Morts ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Mesure conjecturale
Paris: Gallimard, 1977. 13v.
nouvelle Isle qui s’est formée entre l’Isle Tercere de la terre sur l’équateur, en conséquence de l’étendue de
p 1750: BLEM, Antonio. Escola do mundo, ou instrucção de um pae
& l’Isle de Saint Michel la mer du Sud. Paris: Chaubert, 1736.
• Janeiro, p.81-93 — Lettre sur la publicacion du para seu filho, pertencente ao modo com que se deve viver
• Março, p.110-111 — Nouvelles des Pays Étrangers — Relation du voyage de la mer du Sud, de M. Anson ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Notice de l’ancienne
no mundo, dividida em diálogos, por Le Noble na lingua
Nouvelles de Lisbonne Gaule tirée des monuments romains... Paris: Desaint &
francesa e traduzida na portuguesa. Lisboa: Oficina da
2 | LIVROS E ARTIGOS Saillant, 1760.
• Abril, p.148-149 — Nouvelles des Pays Étrangers — Música, 1722, tomo I, e 1724, tomo II.
Nouvelles de la Haye ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Première Lettre de
BLUTEAU, Rafael. Livraria. In: Vocabulário português e latino...
ABREU, José Rodrigues. Historiologia médica, fundada e Monsieur d’Anville, à Messieurs du Journal des Sçavans, sur
• Abril, p.156-158 — Nouvelles des Pays Étrangers — Coimbra: No Collegio das Artes da Companhia de Jesus,
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• Maio, p.125- 136 — Nouvelles Littéraires BLUTEAU, Rafael. Dicionário da língua portuguesa. Ampliado por
ACUÑA, Cristóbal de. [1641] Nuevo descubrimiento del gran ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d’. Seconde Lettre de
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p
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• Janeiro, p.191-192 — Journal de Paris la Carte qu’il a publié de l’Amérique Méridionale. Journal BLUTEAU, Rafael. Suplemento ao Vocabulário português e latino
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CONDORCET, Jean-Antoine-Nicolas de Caritat (marquês de). et autres documents provenant du cabinet de m. d’Anville. y derechos de cada estado, y las mas seguras y modernas
de fazer as cartas geográficas, assim da terra, como do
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sobre tela. Palácio das Necessidades, Lisboa. (Guerra de Sucessão espanhola). Autor desconhecido,
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Óleo sobre tela (106 x 170 cm). Ca’ Rezzonico, Museo Rijksmuseum, Amsterdã.
del Settecento, Veneza. The Bridgeman Art Library. p. 36 Frontispício da Casa da Villa de Utrecht onde se
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dos Biscainhos, Braga. Nacional de Portugal, Lisboa.

p. 31 Dona Maria Ana de Áustria. Pompeo-Girolamo p. 37 Uma quermesse. Sybrandt van Beest, séc. XVII.
Óleo sobre madeira (22.5 x 29 cm). Haags
Batoni (atribuído), séc. XVIII. Óleo sobre tela
Gemeentemuseum, Haia/The Bridgeman Art Library.
(90 x 68 cm). Palácio Nacional da Ajuda, Lisboa.
p. 39 Cardeal João da Mota e Silva. In Retratos de
p. 32a D. Luís da Cunha. In Memórias da Paz de Utrecht.
cardeaes, bispos, e varoens portuguezes illustres
Autor desconhecido, c.1715. Iluminura. Biblioteca
em nobreza, armas, letras, e santidade (estampa
Nacional de Portugal, Lisboa.
9). Autor desconhecido, 1791. Gravura. Biblioteca
p. 32b Busto de D. Luís da Cunha. Jean Baptiste Xavery, 1737. Nacional de Portugal, Lisboa.
Mármore (80 x 66 x 31 cm). Rijksmuseum, Amsterdã.
p. 40/41 Vista de Lisboa. Escola inglesa, 1755. Gravura.
p. 33 Vista da praça Louis le Grand com as construções Biblioteca Nacional da França, Paris/The Bridgeman
realizadas por ocasião do casamento do Art Library.
Rei Luís XV. Escola francesa, séc. XVIII.
p. 43 A rainha Christine da Suécia, rodeada por sua
Coleção particular/The Stapleton Collection/ corte, escuta o filósofo René Descartes fazendo
The Bridgeman Art Library. uma demonstração de geometria. Louis Michel
p. 34 João Gomes da Silva, conde de Tarouca. Andreas Dumesnil, séc. XVII. Óleo sobre tela (97 x 126 cm).
Schmutzer, c.1730. Água-forte e buril. Biblioteca Museu do Palácio de Versailles, Versailles/
Nacional de Portugal, Lisboa. The Bridgeman Art Library.

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O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Créditos das imagens

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Vieira Lusitano. Gravado por Pedro de Rochefort, Utrecht. Biblioteca Nacional de Portugal, Lisboa. Jean Nicolle, c.1810. Aquarela sobre papel. Museu da França, Paris.
1735. Sanguínea, água-forte e buril (27 x 19,5 cm). p. 54 Assinatura do Tratado de Utrecht em 11 de abril de Nacional do Castelo de Malmaison, Rueil-Malmaison. p. 83 A Academia de Ciências e das Belas Artes com
Biblioteca Nacional de Portugal, Lisboa. 1713. Escola holandesa, séc. XVIII. Gravura. Coleção p. 73 Cardeal Mazarin em seu palácio. Robert Nanteuil, dedicatória do autor ao rei. Sebastien Le Clerc,
p. 45 Frontispício do livro Hesperi et Phosphori. Nova particular/The Bridgeman Art Library. c.1658-60. Gravura. Biblioteca Nacional da França, séc. XVIII. Gravura. Coleção particular/White
Phaenomena sive observationes circa planetam Paris/The Bridgeman Art Library. Images/Scala, Florence.
p. 56 Jantar de filósofos reunindo Voltaire, Diderot, o abade
Veneris. Francesco Bianchini (Roma), 1728. p. 74/75 Leitura da tragédia L’Orphelin de la Chine de p. 84a Orbis Veteribus Notus. In Géographie ancienne,
Maury e o marquês de Condorcet. Autor desconhecido,
Biblioteca Nacional da Ajuda, Lisboa. xxxxxxxxxxxxx Francois Marie Arouet, conhecido como Voltaire, abrégée. Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville,
séc. XVIII. Gravura. Coleção particular/White Images/
p. 46 Página de rosto do livro Henriqueida: poema Scala, Florença. no Salão de madame Geoffrin na rue Saint Honoré. 1763 (data do mapa)/1768 (data de publicação do
heroico, com advertencias preliminares das regras Anicet Charles Gabriel Lemonnier, 1812. Óleo sobre livro). Coleção particular.
p. 56 Bernard le Bouvier de Fontenelle. Jean Baptiste tela (129 x 196 cm). Museu do Castelo de Bois-Preau,
da poesia epica, argumentos, e notas. Francisco p. 84b Ilustração do livro Géographie ancienne, abrégée
Greuze, 1723. Óleo sobre tela (129 x 96,5 cm). Museu Rueil-Malmaison/The Bridgeman Art Library.
Xavier de Meneses, conde de Ericeira, 1741. de Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville. Gravelot
Biblioteca da Universidade de Toronto, Toronto. do Palácio de Versailles, Versailles/Giraudon/The
p. 76a Canevas Circulaire (reimpressão). Jean-Baptiste (Hubert-François Bourguignon), 1769. Coleção
Bridgeman Art Library.
p. 47 Ministros plenipotenciários no Congresso de Baden. Bourguignon D’Anville, séc. XVIII. Biblioteca particular.
Autor desconhecido, 1714. Óleo sobre tela. Museu p. 57 Natureza morta com flores. Jan van Huysum, 1706. Nacional da França, Paris. p. 85 A Palestina. Jean-Baptiste Bourguignon D’Anville,
do Palácio de Versailles, Versailles/The Bridgeman Óleo sobre tela. Hamburger Kunsthalle, Hamburgo/ p. 76b Folha de rosto do livro Description historique et 1767 (38 x 43, 5 cm).Biblioteca Nacional da
Art Library. The Bridgeman Art Library. géographique de la France ancienne et moderne, França, Paris.
p. 48/49 O duque de Berwick recebe de Felipe V o tosão de p. 58 Descida da Cruz. Peter Paul Rubens, 1703. do abade Louis Du Four Longuerue, 1719. Biblioteca
p. 86 Carte pour la mémoire de M. D’Anville sur le mille
ouro. Jean Auguste Dominique Ingres, séc. XIX. Bayerische Staatsgemäldesammlungen — Alte Nacional da França, Paris.
romain. Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville,
Óleo sobre tela. Palácio de Liria/Coleção do duque Pinakothek, Munique. p. 77 O rei Luís XV, criança, recebendo lição em presença séc. XVIII (40 x 49 cm). Biblioteca Nacional da
de Berwick y Alba, Madrid/Giraudon/The Bridgeman p. 59 Adoração dos magos. Peter Paul Rubens, 1610. Óleo do cardeal Fleury e do regente o duque Philippe de França, Paris.
Art Library sobre tela (346 x 438 cm). Museu do Prado, Madri/ Orléans. Autor desconhecido, séc. XVIII. Óleo sobre
p. 87 Analyse géographique de l’Italie. Jean-Baptiste
p. 50 Alegoria da Paz de Utrecht (detalhes). Johannes The Bridgeman Art Library. tela (23 x 23 cm). Museu da Cidade de Paris, Museu
Bourguignon d’Anville, 1744. Biblioteca Nacional
Drappentier, 1713. Gravura (35,1 x 42,2 cm). Carnavalet, Paris/The Bridgeman Art Library.
p. 60 Coroação de Maria de Médicis em St. Denis, 13 de da França, Paris.
Rijksmuseum, Amsterdã. maio de 1610. Peter Paul Rubens, 1621-1625. Óleo p. 78 Cardeal Fleury (André Hercule de Fleury). François
p. 88 Orbis Romani pars occidentalis. In Géographie
sobre tela (394 x 727 cm). Museu do Louvre, Paris/ Stiemart, séc. XVIII. Óleo sobre tela (160 x 129 cm).
p. 51 Vista panorâmica de Londres. Escola francesa, Ancienne, abrégée. Jean-Baptiste Bourguignon
The Bridgeman Art Library. Museu do Palácio de Versailles, Versailles/
séc. XVIII. Gravura (30 x 44 cm). Museu Tavet- d’Anville, 1763 (data do mapa)/1768 (data da
The Bridgeman Art Library.
Delacour, Pontoise/The Bridgeman Art Library. p. 62 Príncipe Eugênio de Saboia. Jacques ou Jakobus van publicação do livro). Coleção particular.
p. 79 Conde Carls Gustaf Tessin. Jacques-André-Joseph
p. 52 Embaixadores e plenipotenciários de Portugal e Schuppen, séc. XVIII. Óleo sobre tela (152 x122 cm). p. 89 Fragmento de informações geográficas retirado
Aved, s.d. Óleo sobre tela (149 x 116 cm). Museu
Castela assinando a Paz no interior do Malho, aos Victoria Art Gallery, Bath/The Bridgeman Art Library. de Mapas Jesuítas sobre o Paraguai. In Papéis
Nacional de Estocolmo/The Bridgeman Art Library.
6 de fevereiro de 1715, representando o conde de p. 63 Página de rosto do livro Tratado de pax entre o geográficos de Jean-Baptiste Bourguignon
Tarouca, D. Luís da Cunha, o duque de Ossuna p. 80a Mapa da Etiópia oriental, situada sobre o mar das d’Anville, s.d. Biblioteca Nacional da França, Paris.
muito alto, e muito poderoso Principe D. João, o V... Índias, entre o Cabo Guardafouin e o Cabo da Boa
e os secretários. In Memórias da Paz de Utrecht. e o muito alto, e muito poderoso Principe D. Filipe p. 90 Mapa de Paris, conhecido como Mapa Turgot
Biblioteca Nacional de Portugal, Lisboa. Esperança. Jean-Batiste Bourguignon d’Anville, 1727
V,... Rey Catholico de Hespanha. Feito em Utrech, a (43 x 64,5 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris. (fragmento), 1734-1739. Gravura. The Print
p. 53 Embaixadores e Plenipotenciários de Portugal e 6 de Fevereiro de 1715. Autor desconhecido, c.1715. Collector/Heritage-Images/Scala, Florença.
Castella trocando as Ratificaçoens da Paz fora da Porta p. 80b Reinos de Luanda, Congo, Angola, Benguela dentre
Biblioteca Nacional de Portugal, Lisboa. p. 91 Vista da Grande Galeria do Louvre. Hubert Robert,
outros. Jean-Baptiste Bourguignon D’Anville, 1730
(49 x 64,5 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris. 1796. Óleo sobre tela (112 x 143 cm). Museu do
Louvre, Paris/The Bridgeman Art Library.
p. 81 Jean Baptiste Colbert apresenta os membros da
[ Capítulo 2 ] Academia Real de Ciências ao rei Luís XIV. Autor p. 92 Luís XV, rei da França, usando vestes sacras. Louis
desconhecido, c.1667. Óleo sobre tela (340 x 590 cm). Michel van Loo, 1761. Óleo sobre tela (227 x 184 cm).
Museu do Palácio de Versailles, Versailles. Museu do Palácio de Versailles/White Images/
p. 64 Jean-Baptise Bourguignon d’Anville. Autor plantas de todas as praças do reino de Portugal Scala, Florença.
desconhecido, séc. XVIII. Óleo sobre tela pelo tenente-geral Nicolao de Langres, francez, p. 82 O Paraguay, onde os Padres da Companhia de Jesus
(81,3 x 64,3 cm). Museu do Palácio de Versailles, que servio na guerra da Acclamação. Nicolau de difundiram suas missões. Jean-Baptiste Bourguignon
Versailles/RMN/Other Images Langres, c.1661. Desenho(36 x 48 cm). Biblioteca
p. 65 Luís XVI valendo-se de um mapa para dar instruções Nacional de Portugal, Lisboa.
a Lapérouse, em 29 de junho de1785. Nicolas-Andre p. 68 Interior com geógrafos e matemáticos (detalhe). Escola [ Capítulo 3 ]
Monsiau, 1817. Óleo sobre tela (172 x 227 cm). Museu francesa, c.1680-90. Óleo sobre tela. Museu Municipal,
do Palácio de Versailles, Versailles/The Bridgeman Cambrai/Giraudon/The Bridgeman Art Library. p. 94 Minerva como protetora das artes e das ciências. Palazzo Pitti/ Galleria Palatina. Florença/
Art Library. Luca Giordano, c.1680 (73,5 x 88 cm). National De Agostini Picture Library/G. Dagli Orti/
p. 69 Ateliê de gravação (ilustração da Enciclopédia).
p. 66 Ilustração do livro Método para estudar a geografia. Escola francesa, 1763.Gravura.Coleção particular/ Gallery, Londres/The Bridgeman Art Library. The Bridgeman Art Library.
Onde é dada uma descrição exata do universo, The Bridgeman Art Library. p. 95 Praça do Comércio em Lisboa. Gaspar Frois Machado p. 100 A biblioteca Vergennes no Palácio de Versailles.
formada a partir das observações da Academia (atribuído), séc. XVIII. Gravura (62,5 x 43,5 cm).
p. 70 Jean-Baptiste Bourguignon D’Anville. Pierre Sinom Escola francesa, séc. XIX. Cromolitografia. Biblioteca
Real de Ciências e de autores originais. Com um Museu da Cidade, Lisboa.
Benjamin Duvivier (desenhista) e Augustin de Saint- das Artes Decorativas, Paris/Archives Charmet/
discurso preliminar sobre o estudo desta ciência
& um catálogo de cartas geográficas, relações, Aubin (gravador), séc. XVIII. Gravura. Biblioteca p. 96 Página de rosto do livro Hesperi et Phosphori. The Bridgeman Art Library.
viagens & descrições necessárias à geografia, Nacional da França, Paris. Nova Phaenomena sive observationes circa p. 101 Coleção de curiosidades. In Theatre de Merveilles
de M. L’abée Lenglet Dufresnoy, s.d.William L. p. 71a Perspectiva de Paris, desde a Pont Royal. Escola planetam Veneris. Francesco Bianchini, 1728 de la Nature. Levin Vincent (escola holandesa),
Clements Library, Ann Arbor. francesa, séc. XVIII. Gravura. Museu da Cidade (Roma). Biblioteca Nacional da Ajuda, Lisboa. c.1719. Biblioteca das Artes Decorativas, Paris/
p. 67a Luís XIV visitando o jardim do Rei. Sebastien de Paris, Museu Carnavalet, Paris/The Bridgeman p. 97 Terreiro do Paço. Francisco Zuzarte, séc. XVIII. The Bridgeman Art Library.
Le Clerc, c.1665. Gravura. Biblioteca Nacional da Art Library. Tinta da china com aguada sobre papel p. 101 Frontispício do Catalogue raisonné des diverses
França, Paris/The Bridgeman Art Library. p. 71b Carte de la Grèce, D’Anville (1712). In: MANNE, (48 x 67,5 cm). Museu da Cidade, Lisboa. curiosités du cabinet de feu M. Quentin de
p. 67b Engenheiro desenhando a planta de uma fortificação, Louis-Charles-Joseph de. Oeuvres de d’Anville. p. 98/99 Estúdio de colecionador em Antuérpia. Cornelis de Lorengére. Quentin de l’Orangerie, 1744. Gravura.
acompanhado de dois auxiliares. In Desenhos e Paris: F.G. Levrault, 1834. Baellieur, séc. XVII. Óleo sobre tela (73 x 185 cm). Coleção BIU Médicine, Paris.

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p. 102a Apresentação de Bartolomeu Lourenço de p. 114 Folha de rosto do livro Planetario Lusitano para [ Capítulo 4 ]
Gusmão à Corte portuguesa do “instrumento para o anno de 1757, Dedicado Ao Illustrissimo, e
se andar pelo ar”, em 8 de agosto de 1709 na Excellentissimo Senhor Dom João, Calculado p. 132 Mapa da América Meridional desenhado para o duque p. 154 Incendia molarum prafecturae Omnium Sanctorum
Sala das Audiências do Palácio Real. Bernardino para o Meio Dia do tempo verdadeiro no de Chartres. Jean-Baptiste Bourguignon D’Anville, [Incêndios em Salvador, Todos os Santos]. Frans
de Souza Pereira, 1940. Óleo sobre tela. Museu Meridiano de Lisboa, do padre Eusebio da Veiga 1737 (47 x 35 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris. Post, 1647. Gravura. Fundação Biblioteca Nacional,
Paulista, São Paulo. da Companhia de Jesus, impresso na Oficina de p. 133 América. Stephan Kessler, s.d. Óleo sobre tela Rio de Janeiro.
p. 102b A máquina voadora de Jean Pierre Blanchard. François Miguel Manescal da Costa, 1756. Biblioteca Nacional (153,3 x 250 cm). Pinacoteca do Estado de São Paulo, p. 155 Frontispício do livro Historia naturalis Brasiliae …:
Nicolas Martinet, séc. XVIII. Gravura. Museu do Ar e de Portugal, Lisboa. São Paulo/Doação da Fundação Estudar. in qua non tantum plantae et animalia, sed et
do Espaço, Le Bourget/The Bridgeman Art Library. p. 116 Giovanni Domenico Cassini diante do Observatório p. 134 Página de rosto do primeiro capítulo. In La indigenarum morbi, ingenia et mores describuntur
p. 103a Ilustração no livro Relation des fêtes que son de Paris. Léopold Durangel, 1879. Óleo sobre tela. Meridienne de Paris, de Cesar-Francois Cassini et iconibus supra quingentas illustrantur, de Guillelm
excellence Monseigneur le comte de Tarouca a Biblioteca do Observatório de Paris, Paris/Scala de Thury, 1744. Gravura. Academia das Ciências, Pison e Franciscum Hackium, 1648. Acervo de Obras
donnés au sujet des naisssances des deux Princes Archives, Florença. Paris. The Bridgeman Art Library. Raras da Universidade Federal de Minas Gerais.
de Portugal, et de plusiers autres fêtes aissi donnés p. 117a Elévation d’un des costez du Bastiment de p. 135 Indio Yumbo das vizinhanças de Quito, Equador, p. 156a A ilha Henri. In Le grand insulaire, et pilotage
par son Excellence en differentes occasions, de l’Observatoire du costé du levant. François com frutas e árvores. Escola americana, s.d. Óleo d’André Thevet. Angoumoisin, cosmographe du
Nicolas Chevalier.Autor desconhecido, 1714 d’Orbay, 1692. Desenho a bico de pena e tinta sobre tela. Museu da América, Madri/Index/The Roy, dans lequel sont contenus plusieurs plants
Biblioteca Nacional da Ajuda, Lisboa. chinesa (28,9 x 43,3 cm). Biblioteca Nacional da Bridgeman Art Library. d’isles habitées, et deshabitées, et description
p. 103b Folha de rosto do livro Relation des fêtes que França, Paris. p. 136 Vista panorâmica da Planície de Yarouqui. In Voyage d’icelles, em dois tomos. André Thevet, 1586
son excellence Monseigneur le comte de Tarouca a l’Equateur, de Charles Marie de la Condamine. (15 x 18,5 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris.
p. 117b Profil du bastiment de l’Observatoire couppé depuis
a donnés au sujet des naisssances des deux Autor desconhecido, c.1750. Gravura. Academia p. 156b Rio da Guanabara ou de Janeiro, ilha das Margaias.
la tour du Levant à celle du Couchant. François
Princes de Portugal, et de plusiers autres fêtes aissi das Ciências, Paris/Archives Charmet/The André Thevet, 1586 (17,5 x 13 cm). Biblioteca
d’Orbay, 1692. Desenho a bico de pena e tinta chinesa
donnés par son Excellence en differentes occasions, Bridgeman Art Library. Nacional da França, Paris.
(24,6 x 46,8 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris.
de Nicolas Chevalier, 1714 Biblioteca Nacional de p. 137a Página de rosto do livro Considerations
p. 119 Figura da nova Barca inventada em Lisboa no ano de p. 157 Mapa da cidade de São Sebastião na costa do Brasil,
Portugal, Lisboa. Géneralessur l’étude et les conoissances qui
1709 (Passarola). Atribuído a Bartolomeu Lourenço ou baía do Rio de Janeiro. Anônimo, séc. XVIII
p. 104a Vista do Jogo do Malho, onde os Embaixadores, demande la composition des ouvrages de (50 x 34 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris.
de Gusmão, 1727. Desenho a nanquim. Fundação Géographie, de Jean-Baptiste Bourguignon
e Plenipotenciarios de Portugal, e Castella se
Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro. d’Anville, 1778. Newberry Library, Chicago. p. 158 A França Antártica, aliás Rio de Janeiro (das viagens
congratulárão de terem firmado a Paz aos 6 de
p. 120 Página de rosto do Atlas ou compilação de cartas que Villegagnon e Jean de Lery fizeram ao Brasil nos
fevereiro, de 1715. In Memórias da Paz de Utrecht. p. 137b Primeira página da introdução ao Journal des Travaux
geográficas. Coleção das cartas geográficas em anos 1557 e 1558). Anônimo, 1800 (16,5 x 23,5 cm).
Biblioteca Nacional de Portugal, Lisboa. des Academiciens Envoyes par Ordre du Roi sous
três volumes, que sua Excelência o Embaixador Biblioteca Nacional da França, Paris.
p. 104b Ilustração no livro Tratado da gravura a água- l’Equateur depuis 1735 jusqu’en 1745, de Charles Marie
fez escolher para serem usadas pelo senhor de La Condamine. Autor desconhecido, 1751. Gravura. p. 159 Carta topographica de todo o terreno comprehendido
-forte, e a buril, e em maneira negra com o modo desde a Barra do Rio Grande de S. Pedro, the Castilias
d’Anville, geógrafo do rei. Autor desconhecido, Biblioteca do Instituto de França, Paris.
de construir as prensas modernas, e de imprimir pequeno, que corre entre a Costa do Mar e a Lagoa
séc. XVIII. Gravura. Fundação Biblioteca Nacional, p. 138 Cartela do Mapa da América Meridional publicada
em talho doce. Abraham Bosse, 1801. Fundação de Merim tirada por ordem do Brigadeiro Joze da Silva
Rio de Janeiro. sob os auspícios do duque de Orléans. Jean-Baptiste
Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro. Pais. Francisco de Barbuda Maldonado, 1737
p. 121 Hemisfério setentrional. As terras árticas. In Atlas Bourguignon d’Anville (cartógrafo), Guillaume-
p. 105 Octante. Anônimo, 1750. Madeira e metal. Coleção Nicolas Delahaye (gravador), Gravelot (desenhista), (25,5 x 74,5 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris.
ou compilação de cartas geográficas. Coleção
particular/The Bridgeman Art Library. 1748 (124 x 77 cm). Biblioteca Nacional de Paris, Paris. p. 160 Índios da Patagônia cumprimentando um viajante
das cartas geográficas em três volumes, que sua
p. 106 Mapa-múndi desenhado a partir das observações Excelência o Embaixador fez escolher para serem p. 139 Monte Cayambe no Equador. In Le Costume Ancien europeu. In Le Costume Ancien et Moderne, volume
dos senhores da Academia real de Ciências. usadas pelo senhor d’Anville, geógrafo do rei. et Moderne, volume II, de Jules Ferrario. Paolo II. Jules Ferrario, c.1820-30.Litografia colorida.
Guillaume Delisle, c.1725 (50 x 64,3 cm). Fundação Anônimo, séc. XVIII. Gravura. Fundação Biblioteca Fumagalli, c.1820s-30. Litografia colorida. Coleção Coleção particular/The Stapleton Collection/The
Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro. Nacional, Rio de Janeiro. particular/The Stapleton Collection/The Bridgeman Bridgeman Art Library.
p. 107 Mapa da América desenhado para uso do Rei em p. 122a Representação das máquinas que serviram para içar Art Library. p. 161 Ilustração do livro Historia natural civil y geografica
1722 por Guillaume Delisle e aumentado de novas as duas grandes pedras que cobrem o frontão da p. 140 Carte des routes de Mr. de la Condamine tant par Mer de las Naciones situadas en las riveras del Rio
descobertas em 1763 por Phil. Buache, seu genro. entrada principal do Louvre. Sébastien Le Clerc, que par Terre dans le cours du Voyage à l’Équateur. Orinoco, do padre Joseph Gumilla, Ignacio de Obregon,
Guillaume Delisle, 1763 (48,5 x 61,3 cm [imagem] séc. XVII. Coleção Michel Hennin. Estampas Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville, 1749 Antonio Jugla y Font. Autor desconhecido, 1791
em folha de 50,3 x 63,6 cm). Fundação Biblioteca relativas à história da França. Tomo 170. Biblioteca (20 x 22,5 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris. (27,8 x 40 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris.
Nacional, Rio de Janeiro. Nacional da França, Paris. p. 143a Mapa da América Meridional desenhado para p. 162 Plano de uma baía nas costas do Chile. George
p. 108 Felipe V, rei de Espanha. Jean Ranc, 1723. Óleo p. 122b Corte do Pavilhão dos Globos, gabinete Robert de o duque de Chartres (detalhe). Jean-Baptiste Anson, c.1741 (22 x 29 cm). Biblioteca Nacional
sobre tela (144 x 115 cm). Museu do Prado, Madri/ Bourguignon D’Anville, 1737 (47 x 35 cm). Biblioteca da França, Paris.
Cotte. Autor desconhecido,1703. Desenho a bico de
The Bridgeman Art Library. Nacional da França, Paris. p. 163a Viagem ao redor do mundo. George Anson, editado
pena e aquarela (35,6 x 28,8 cm). Biblioteca Nacional
p. 109 Alegoria da Geografia. Página de rosto do Atlas da França, Paris. p. 143b América Meridional publicada sob os auspícios por Arkstée e Merkus (Amsterdam e Leipzig), 1749.
de Frederick de Wit, c.1688. Royal Geographical do duque de Orléans (detalhe da cartela 1). Biblioteca Nacional da França, Paris.
p. 124 Medindo o Meridiano de Paris. In La Meridienne Jean-Baptiste Bourguignon D’Anville, 1748.
Society, Londres/The Bridgeman Art Library. de Paris de Cesar-Francois Cassini de Thury. p. 163b Ilustração do livro Historia natural civil y geografica
Biblioteca Nacional da França, Paris.
p. 111 Esfera armilar baseada no sistema copernicano. Autor desconhecido, 1744. Gravura. Academia de de las Naciones situadas en las riveras del Rio Orinoco,
Ciências, Paris/Archives Charmet/The Bridgeman p. 144a Idem (detalhe da cartela 2). do padre Joseph Gumilla, Ignacio de Obregon, Antonio
Bonifazio Borsari, 1764. Bronze. Museu Cívico de
História e Arte Modena/Alinari/The Bridgeman Art Library. p. 144b Idem (detalhe da cartela 2). Jugla y Font. Autor desconhecido, 1791 (27,8 x 40 cm).
Art Library. p. 144c Idem (detalhe da cartela 1). Biblioteca Nacional da França, Paris.
p. 127 Discussión géographique sur la ligne de démarcation
p. 112 Manoel de Azevedo Fortes, engenheiro-mor do établie pour fixer des limites entre les découvertes p. 146 Idem (detalhe da cartela 3). p. 164 Edmond Halley. Thomas Murray, c.1690. Óleo sobre
reino. Pedro de Rochefort, 1729. Água-forte e buril du Portugal et celles de la Castille. Jean-Baptiste tela (76,5 x 63,9 cm). Royal Society, Londres.
p. 149 Guia de caminhantes. Coleção de mapas de
(19,7 x 13,7 cm [imagem] em folha de 21 x 15 cm). Bourguignon d'Anville, c.1737. Manuscrito. Newberry diversas regiões do Brasil. Anastácio de Santana, p. 165 Página de A arte de navegar, de Manoel Pimentel,
Biblioteca Nacional de Portugal, Lisboa. Library, Chicago. 1817. Aquarela e desenho a nanquim (53 x 75 cm). volume I. In Papéis geográficos de D´Anville. Séc.
p. 113 Folha de rosto do livro Tratado do modo o mais p. 128 Madame de Chatelet-Lomont. Maurice Quentin Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro. XVIII. Manuscrito. Biblioteca Nacional da França, Paris.
facil, e o mais exacto de fazer as cartas geograficas... de la Tour (a partir de), séc. XVIII. Óleo sobre tela p. 152/153 Americae nova tabula. Willem Jansz Blaeu p. 166 América (detalhe). Stephan Kessler, séc. XVII. Óleo
de Manoel de Azevedo Fortes, 1722. Biblioteca (45 x 38 cm). Coleção particular/The Bridgeman (cartógrafo) e Guiljelmum Blaeu (editor), 1635 sobre tela (153,3 x 250 cm). Pinacoteca do Estado de
Nacional de Portugal, Lisboa. Art Library. (42,5 x 56,5 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris. São Paulo, São Paulo/Doação da Fundação Estudar.

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[ Capítulo 5 ] p. 194b Frutas do Brasil. Thierry Frères, 1839. Litografia do Rio São Francisco até o limite do atual
(29,8 x 23,6 cm [gravura] em folha de 52,6 x 34,6 Estado da Bahia). Anônimo, c.1764. Desenho
p. 168 Sinagoga Portuguesa em Amsterdã. Emanuel de proporção o seu prospecto, até a barra, como o Risco cm. Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro. a tinta (84,8 x 61 cm). Arquivo Histórico
Witte, c.1680. Óleo sobre tela (108 x 123,4 cm). representa. Elevada por Ordem do Ill.mo e Ex.mo p. 195a America. Johann Baptist von Spix, 1823-1831. Ultramarino, Lisboa.
The Israel Museum, Jerusalém/Doação, Coleção Senhor Conde de Bobadella, a quem a Cidade deve Gravura (46 x 59 cm). Fundação Biblioteca Nacional, p. 202 Mapa do território da Capitania da Baía,
M. Fischer/The Bridgeman Art Library. a mayor parte da sua prente Grande e Magñ. Miguel Rio de Janeiro. compreendido entre o Rio de S. Francisco,
p. 169 Acampamento noturno de viajantes. In Viagem Angelo Blasco, 1760. Arquivo Histórico do Exército, p. 195b O Rio São Francisco. Frans Post, 1638. Óleo sobre o rio Verde Grande e o riacho chamado
pitoresca ao Brasil, volume II, de Jean Baptiste Rio de Janeiro. tela (62 x 95 cm). Museu do Louvre, Paris/A. Gavião. Anônimo, c.1758. Arquivo Histórico
Debret. Thierry Frères, 1835. Gravura. Fundação p. 182 Baía — prospecto visto pela frente de uma porção da Dequier–M. Bard. Ultramarino, Lisboa.
Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro. cidade da Baía. Manoel Roiz Ferreira, c.1786. Arquivo p. 197 Erario mineral dividido em doze tratados, dedicado, p. 205 Ilha de Itaparica. Johann Moritz Rugendas,
p. 170 Noticias das minas da América chamadas Geraes Histórico Ultramarino, Lisboa. e offerecido á purissima, e serenissima Virgem Nossa 1835. Gravura. Fundação Biblioteca Nacional,
Pertencentes a El rei de Portugal Relatada pellos tres p. 183a Antigo Palácio da Inquisição de Lisboa. Charles Senhora da Conceyção. Luís Gomes Ferreyra, 1735. Rio de Janeiro.
irmaons chamados Nunes os quaes rodárão muytos Legrand, c.1842. Litografia (12,3 x 20,2 cm). Instituto de Estudos Brasileiros/IEB-USP/Acervo p. 206 Mapa da América Meridional publicado sob
annos por estas partes. Séc. XVIII. Manuscrito. Biblioteca Nacional de Portugal, Lisboa. Yan de Almeida Prado, São Paulo. os auspícios do duque de Orléans (detalhe da
Biblioteca Brasiliana da Robert Bosch GmbH, Sttutgart. p. 198 Guerra dos Emboabas (ex-voto). Anônimo, 1749. cartela 2). Jean-Baptiste Bourguignon D’Anville,
p. 183b Auto de Fé em Lisboa. Escola francesa, séc. XVIII.
p. 171 Nomes dos Reynos gentios por onde se passa pella Gravura. Biblioteca Nacional da França, Paris/ Mosteirinho de Nossa Senhora do Monte Serrat. 1748. Biblioteca Nacional da França, Paris.
Banda do Rio Doce. In Noticias das Minas da Archives Charmet/The Bridgeman Art Library. p. 200 Antropophagos do Brazil devorando huns p. 208 Mapa da demarcação da região produtiva de
America chamadas Geraes Pertencentes a el rei portuguezes. Autor desconhecido, séc. XVIII. diamantes. Anônimo, c.1729. Arquivo Histórico
p. 184 Homem condenado ao fogo pela Inquisição de Goa.
de Portugal Relatada pelos três irmaons chamados Gravura sobre papel (17,1 x 12,0 cm). Arquivo Ultramarino, Lisboa.
Escola francesa, séc. XVIII. Biblioteca das Artes
Nunes os quais rodárão muytos anos por estas Histórico Ultramarino, Lisboa.
Decorativas, Paris/Archives Charmet/The Bridgeman p. 209 Caça aos pássaros. Autor desconhecido, c.1778.
partes. Séc. XVIII. Manuscrito. Biblioteca Brasiliana
Art Library. p. 201 Mapa da Freguezia da Manga na Capitania de Minas Aquarela e nanquim (33,3 x 21,8 cm). Arquivo
da Robert Bosch GmbH, Sttutgart.
p. 185 Vista ou perspectiva de um lado dos quartéis da Vila Gerais (região norte de Minas Gerais, desde a nascente Histórico Ultramarino, Lisboa.
p. 172 Judeus portugueses celebrando a festa da Páscoa ou
de N. Srª.do Carmo. José Rodrigues de Oliveira, 1722.
Jantar de judeus portugueses na casa de Álvaro Nunes
Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa.
da Costa. In Religious Ceremonies and Customs.
Bernard Picart, 1725. Gravura. Coleção particular/ p. 186 Jacob de Castro Sarmento. In Materia medica, [ Capítulo 6 ]
Stapleton Collection/The Bridgeman Art Library. physico-historico-mechanica... de J. de Castro
Sarmento. Autor desconhecido, 1758. Biblioteca da p. 210 Floresta Amazônica. In Plantarum Cryptogamicarum p. 222 América Meridional, Sanson (cartógrafo) e Pierre
p. 173 Gamboa, Bahia. William Gore Ouseley, 1835. Aquarela
sobre papel (26 x 39,5 cm). Pinacoteca do Estado de Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Brasiliensium, de Johann Baptist von Spix and Carl Mariette (editor), séc. XVII (28 x 20 cm). Biblioteca
São Paulo, São Paulo/Doação da Fundação Estudar. p. 187 Frontispício de Cultura e opulência no Brasil, Friedrich von Martius, 1823-31. Gravura colorida. Nacional da França, Paris.
do padre João Antonio Andreoni (Antonil), 1711. Biblioteca Pública de Neuchatel, Suíça./De Agostini p. 223 Collecçam dos prospectos das aldeas, e lugares mais
p. 174 Escravos lavando diamantes em Curralinho. In Atlas
Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro. Picture Library/The Bridgeman Art Library. notaveis que se acham em o mapa que tiraram os
de uma viagem ao Brasil, de Johann Baptist von Spix
e Karl Friedrich Philipp Martius, 1835-50. Coleção p. 188 Frontispício de Itinerario Geografico com a p. 211 Vista de São Luís do Maranhão. Joseph Leon engenheiros de expediçam principiando da cidade do
particular/The Stapleton Collection/The Bridgeman verdadeira descripção dos caminhos, estradas, Righini, 1863. Óleo sobre tela (49,6 x 98,7 cm). Pará the a aldea de Mariua no Rio-Negro, onde se acha
Art Library. rossas, citios, povoaçoens, lugares, villas, rios, Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo/ o arrayal, alem dos prospectos de outras tres ultimas
montes, e serras, que ha da cidade de S. Sebastião Doação da Fundação Estudar. aldeas chamadas Camarâ, Bararuâ, Dari; situadas
p. 175 Interior de um rancho brasileiro na província de
do Rio de Janeiro até as Minas do Ouro, de p. 212 America Pars Meridionailis. Henricus Hondius, 1647. no mesmo rio. João André Schwebel, 1756. Gravura.
São Paulo com um mercador viajante, seus escravos
Francisco Tavares de Brito, 1732. Biblioteca Nacional Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa. Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
e mercadorias. Charles Landseer, séc. XIX. Óleo
sobre madeira (27,8 x 34,9 cm). Coleção particular. de Portugal, Lisboa. p. 213 Delineatio Totius Australis Partis Americae. Arnold p. 224/225 Carte manuscrite de la navigation de la rivière des
Foto: Christie’s Images/The Bridgeman Art Library. p. 189 Escravos britadores de pedra para a extração de Florent van Langren, 1595. Arquivo Histórico Tocantins [Mapa manuscrito da navegação do rio
diamantes. In Notícia summaria do gentilismo Ultramarino, Lisboa. Tocantins]. Anônimo, c.1734. Manuscrito
p. 176 Acampamento noturno de viajantes (detalhe). In
da Asia: com dez riscos illuminados — Desenho 50. (65 x 330 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris.
Viagem pitoresca e histórica ao Brasil, volume II, de p. 214 Mapa da América Central e do Norte. Anônimo,
Jean Baptiste Debret. Thierry Frères, 1835. Gravura. Carlos Julião, c.1770. Fundação Biblioteca Nacional, a partir de Guillaume Delisle, 1700. Coleção p. 226 Idem (detalhe).
Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro. Rio de Janeiro. particular/The Bridgeman Art Library. p. 226/227 América. Rio Tocantins. Jean-Baptiste Bourguignon
p. 177 Paulista com poncho. Thomas Ender, séc. XIX. p. 190 Suite du Brésil, depuis la Baye de Tous les Saints p. 216 Mapa da América Meridional (detalhe). Jean-Baptiste d’Anville, 1730 (24 x 64 cm). Biblioteca Nacional
Desenho a lápis sobre papel (28 x 20,2 cm). Gabinete jusqu’à St. Paul, extraído da Carte de l’Amérique, Bourguignon d’Anville, c.1742. Tinta sobre papel da França, Paris.
de Estampas, Viena. por Jacques Nicolas Bellin, 1764. Coleção particular. (51 x 38,5 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris. p. 228 Mapa da América Meridional (detalhe) publicado
p. 179 Carta geográfica do termo da Vila Rica, Minas p. 191 Paisagem brasileira. Frans Post, 1652. Óleo sobre p. 217 Mapa da América Meridional (detalhe) publicado sob os auspícios do duque de Orléans. Jean-Baptiste
Gerais. Anônimo, c.1766. Arquivo Histórico tela. Rijksmuseum, Amsterdã. sob os auspícios do duque de Orléans, Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville, 1748. Biblioteca Nacional
Ultramarino, Lisboa. p. 192 Desenho da planta do cajueiro, com dois ramos Bourguignon d’Anville, 1748. Biblioteca Nacional da França, Paris.
p. 180a Praia de Botafogo com Dois irmãos, Gávea e entrecruzados, com um fruto amarelo e outro da França, Paris. p. 230/231 Prospecto da cidade de S. Maria de Belém do
Corcovado ao fundo. Autor desconhecido, 1800. vermelho, e tendo numa das pontas um pássaro p. 218 Itamaracá. In Rerum per octennium in Brasilia, Grão-Pará. De 20 de maio de 1784. Gravura.
Aquarela sobre papel (19,3 x 28 cm). Pinacoteca de plumagem castanha. Autor desconhecido, c.1780. de Caspar van Baerle Amstelodami [Amsterdã], Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro/
do Estado de São Paulo, São Paulo/Doação, Coleção Aquarela e nanquim (27,4 x 38,7 cm). Arquivo 1647. Gravura. Fundação Biblioteca Nacional, Coleção Alexandre Rodrigues Ferreira.
Brasiliana–Fundação Estudar. Histórico Ultramarino, Lisboa. Rio de Janeiro. p. 232/233 Casas de índios na floresta Mata-Mata no Moju,
p. 180b Vista do Rio de Janeiro tomada do outeiro da p. 193 Ataque de índios botocudos na região de Minas p. 219 Carte manuscrite des côtes du Brésil (coleção Pará. Joseph Leon Righini, 1867. Óleo sobre tela
Glória. Willem Roelofs, 1801. Aquarela sobre Gerais com danos e mortes. In Catálogo de D’Anville). Anônimo, séc. XVIII (66 x 44 cm). (24 x 45,3 cm). Pinacoteca do Estado de São Paulo,
papel (26,5 x 44,5 cm). Pinacoteca do Estado de iconografia - ex-voto 59, coleção Alberto Biblioteca Nacional da França, Paris. São Paulo/Doação Fundação Estudar.
São Paulo, São Paulo/Doação, Coleção Brasiliana — Lamego. Julio Caio Veloso, s.d. Instituto de Estudos p. 220/221 Arredores da Fazenda Mandioca, Rio de Janeiro, p. 234 Mapa da costa septentrional da Ilha de Marajó desde
Fundação Estudar. Brasileiros — IEB/USP, São Paulo. Autor desconhecido, 1838. Óleo sobre tela Yaraoubi até Anjaheba. Jean-Baptiste Bourguignon
p. 181 Prospectiva da Cidade do Rio de Janneiro. Vista da p. 194a Ilustração. In Memorável Viagem Marítima e (30,1 x 43,7 cm). Pinacoteca do Estado de d’Anville, 1763. Biblioteca Nacional da França, Paris.
parte do Norte, na Ilha das Cobras no baluarte mais Terrestre ao Brasil, de Johan Nieuhof, 1703. Gravura. São Paulo, São Paulo/Doação Coleção Brasiliana– p. 235 Carte du cours du Maragnon ou de la grande route des
chegado a S. Bento, da qual parte se ve diminuir em Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro. Fundação Estudar. Amazones dans sa partie navigable depuis

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O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Créditos das imagens

Jaen de Bracomoros jusqu’à son embouchure et p. 239 Carte du cours de la rivière des Amazones ou de 1826. Gravura. Biblioteca das Artes Decorativas, Bourguignon D’Anville, 1737 (47 x 35 cm). Biblioteca
qui comprend la Province de Quito, et la côte de la Maragnon depuis l’entrée du Para en remontant Paris.Archives Charmet/The Bridgeman Art Library. Nacional da França, Paris.
Guiane depuis le Cap de Nord jusqu’à Essequebè/ jusqu’au confluent de la Rivière Noire où p. 264a América Meridional, publicado sob os auspícios p. 274b Mapa da América Meridional (detalhe), publicado
levée en 1743 et 1744 et assujetie aux observations l’on a marqué entre autres circonstances, les do duque de Orléans (detalhe da cartela 1). Jean- sob os auspícios do duque de Orléans. Jean-Baptiste
astronomiques [Mapa do curso do rio Maranhão ou do établissements des Portugais, et un grand nombre Baptiste Bourguignon D’Anville, 1748. Biblioteca Bourguignon d’Anville, 1748. Biblioteca Nacional da
grande curso das Amazonas em sua parte navegável, a de Missions établies chés les indiens dressée sur Nacional da França, Paris. França, Paris.
partir de Jaen de Bracomoros, até sua desembocadura les Mémoires du P. Ignacio dos Reys... [Mapa do
p. 264b Colheita de vegetais pelos índios das bacias do p. 275 Carte huilée de la route de Nicolas Horstman natif
e que compreende a Provincia de Quito, e a costa curso do rio das Amazonas ou do Maranhão desde de Hidelsheim en Westphalie depuis Rio Esquibé
Orinoco e do Amazonas (Maranhão). Escola italiana,
da Guiana desde o Cabo do Norte até o Essequebe, a entrada do Pará remontando até a confluência jusqu’à Rio Negro / [communiqué par M. de La
1780. Gravura. Coleção particular/Mithra-Index/
desenhado em 1743 e 1744 e submetido às observações do Rio Negro onde marcamos, dentre outras Condamine]. Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville
The Bridgeman Art Library.
astronômicas pelo Sr. de la Condamine]. Jean-Baptiste circunstâncias, os assentamentos portugueses (cartógrafo), Nicholas Horstmann (autor adaptado)
Bourguignon d’Anville, 1743- 1744 (38 x 49 cm). e um grande número de Missões estabelecidas junto p. 265 Amazona. Ilustração no frontispício de Traité
e Charles-Marie de La Condamine (autor adaptado),
Biblioteca Nacional da França, Paris. aos índios desenhado a partir das memórias do historique sur les Amazones, de Pierre Petit.
séc. XVIII (49,5 x 32,5 cm). Biblioteca Nacional da
P. Ignacio dos Reys...]. Jean-Baptiste Bourguignon Autor desconhecido, 1718. Talha doce (16 x 23 cm).
p. 236 América Meridional publicada sob os auspícios França, Paris.
d’Anville, 1729 (34 x 53,5 cm). Biblioteca Nacional Biblioteca Nacional da França, Paris.
do duque de Orléans (detalhe da cartela 1). Jean- p. 276/277 A rocha Comuti no Rio Essequibo (detalhe).
Baptiste Bourguignon D’Anville, 1748. Biblioteca da França, Paris. p. 266 Mapa do rio Amazonas, desde Quito até a Barra
In Twelve Views in the Interior of Guiana.George
Nacional da França, Paris. do Pará. Pedro Teixeira, 1637. Desenho a tinta
p. 240/241 Floresta virgem às margens do rio Paraíba. In Viagem Barnard (gravador), a partir de Charles Bentley,
ferrogálica (41,5 x 28,5 cm). Arquivo Histórico
p. 237 El gran río Marañon o Amazonas con la Misión de pitoresca ao Brasil de Jean Baptiste Debret. Charles 1840.Litografia.Coleção particular/The Stapleton
Ultramarino, Lisboa.
la Compañía de Jesus. Padre Samuel Fritz, 1707. Etienne Pierre Motte, 1834. Gravura (22,3 x 35 cm). Collection/The Bridgeman Art Library.
Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro. Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro. p. 267 Mapa do curso do rio Maranhão ou do grande
p. 278 Pirara e Lago Amucu — o sítio de El Dorado. In
curso das Amazonas em sua parte navegável, Twelve Views in the Interior of Guiana.George
p. 238 Descripção dos Rios Para Curupa e Amazonas p. 242 Prospecto da Vila de Monforte na Ilha Grande dos
a partir de Jaen de Bracomoros, até sua Barnard (gravador), a partir de Charles Bentley,
discuberto e sondado por mandado de Sua. Mag. Joannes. José Joaquim Freire, séc. XVIII. Aquarela
desembocadura e que compreende a Provincia de 1840. Litografia.Yale Center for British Art, Paul
de por Ant. o Vicente Patrão de Pernambuco. (33,5 x 18,5 cm em folha de 35 x 24 cm). Fundação
Quito, e a costa da Guiana desde o Cabo do Norte Mellon Collection.The Bridgeman Art Library.
Antônio Vicente Cochado, 1623 (46,5 x 59 cm). Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro/Coleção até o Essequebe, ... submetido às observações
Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro. Alexandre Rodrigues Ferreira. astronômicas pelo Sr. de la Condamine (detalhe). p. 279 Esmeralda, no Orinoco– local da Missão Espanhola.
Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville, 1743-1744 In Twelve Views in the Interior of Guiana.Paul
(38 x 49 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris. Gauci (gravador), a partir de Charles Bentley,
1840. Llitografia. Coleção particular/The Stapleton
[ Capítulo 7 ] p. 269 Eldorado. Ilustração de Regni Guianae, de Sir Walter Collection/The Bridgeman Art Library.
Raleigh. Autor desconhecido, séc. XVII. Gravura.
p. 244 Alegoria da América. José Teófilo de Jesus, s.d. p. 254/255 Ideia topográfica do rio Paraguay desde o prezidio p. 280a Mapa da América Meridional (detalhe da cartela 1).
Biblioteca Nacional de Mapas e Planos, Paris/
Óleo sobre tela. Museu de Arte Sacra, Salvador. de Nova Coimbra até Vila Real. Anônimo, c.1792. Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville,1779.
Archives Charmet/The Bridgeman Art Library.
Paul Maeyaert/The Bridgeman Art Library. Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa. Coleção particular.
p. 270 A Descoberta do grande, rico e belo Império de
p. 256a Mapa da região das monções de São Paulo a Cuiabá. p. 280b Fragments d’une carte de l’Amérique du Sud
p. 245 Forte brasileiro São Gabriel no rio Negro (detalhe). Guaiana. In Newe Weld un Americanische Historien
Anônimo, c.1720. Desenho a tinta ferrogálica montrant partie de la Nouvelle Grenade et
In Views in the Interior of Guiana. George Barnard por Johann Ludwig Gottfried, de Sir Walter Raleigh.
(55 x 104,5 cm). Fundação Biblioteca Nacional, l’estuaire de rio de la Plata [Fragmento de um
(gravador), s.d.Litografia. Coleção particular/The Autor desconhecido, a partir de Theodore de Bry,
Rio de Janeiro. mapa da América do Sul, mostrando parte da Nova
Stapleton Collection/The Bridgeman Art Library. 1631. Litografia. Coleção particular/The Stapleton
Granada e o estuário do rio da Prata]. Jean-Baptiste
p. 246 Mapa da América Meridional (detalhe), publicado p. 256b Configuração do chapado das Minas do Mato Grosso. Collection/The Bridgeman Art Library.
Bourguignon d‘Anville, 1748. Tinta sobre papel
sob os auspícios do duque de Orléans. Jean-Baptiste Anônimo, s.d. Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa. p. 272 Guiana siue amazonum regis. Jan Jansson, s.d. (20 x 20 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris.
Bourguignon d’Anville, 1748. Biblioteca Nacional da p. 257 Mapa da América Meridional (detalhe) publicado (37,5 x 48,5 cm em folha de 48,5 x 58 cm). p. 281 Tabula Americae specialis geographica regni
França, Paris. sob os auspícios do duque de Orléans. Jean-Baptiste Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro. Peru, Brasiliae, Terrae firmae et Reg. Amazonum,
p. 247 América Meridional. Nicolas de Fer, séc. XVII Bourguignon d’Anville, 1748. Biblioteca Nacional da p. 273 La Guaiane, ou coste sauvage, autrement El Dorado, et segundo Herrera, Laet,P.P. d’Acuna e M. Rodriguez
(21 x 28 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris. França, Paris. païs des Amazones, aujourdhuy France E-quinoctiale e observações de G. Delisle, séc. XVIII (49 x 64 cm).
p. 259 Acampamento de bandeirantes. Autor desconhecido, [A Guiana, ou costa selvagem, também El Dorado Biblioteca Nacional da França, Paris.
p. 248 America Meridionalis (detalhe). Gerard Mercator
séc. XIX. Crayon e aguada sobre papel (20,3 x 31,2 e país das Amazonas, hoje França Equinocial]. p. 283 Pururama: a grande catarata no Rio Parima.
(cartógrafo) e J. Hondius (editor), 1606
cm). Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro. InQuarante lieues françaises, de Pierre Duval, 1654 In Twelve Views in the Interior of Guiana. Paul
(35,8 x 49,5 cm em folha de 48,5 x 57,2 cm).
p. 260 Canal de passagem: vue le versant de l’Itacoulumi. (39 x 49 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris. Gauci (gravador), a partir de Charles Bentley,
Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
In Six semaines aux mines d’or du Brésil (desenho p. 274a Mapa da América Meridional, desenhado para 1840. Litografia. Coleção particular/The Stapleton
p. 249 Mapa da América Meridional (detalhe). Jean-Baptiste
29). Ernest de Courcy, c.1885. Desenho. Fundação o duque de Chartres (detalhe). Jean-Baptiste Collection/The Bridgeman Art Library.
Bourguignon d’ Anville, c.1742. Tinta sobre papel Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
(51 x 38,5 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris.
p. 261a Carte manuscrite des côtes du Brésil (detalhe)
p. 250/251 Seres monstruosos, dentre eles os orelhudos (coleção d’Anville). Anônimo, séc. XVIII
(detalhes). In Crônica do Mundo de Nuremberg. [ Capítulo 8 ]
(66 x 44 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris.
Anônimo, 1493. Iluminura. Coleção particular.
p. 261b Mapa da América Meridional (detalhe), publicado p. 286 Extração de diamante. In Notícia summaria do p. 288b Alvará em forma de Lei, por que V. Magestade
p. 252 Acampamento no rio Paraguai durante as viagens sob os auspícios do duque de Orléans. Jean-Baptiste gentilismo da Asia: com dez riscos illuminados. há por bem annullar, cassar, e abolir a Capitação,
do conde de Castelnau, Francis de la Porte, a Bourguignon d’Anville, 1748. Biblioteca Nacional da Carlos Julião, s.d. Desenho. Fundação Biblioteca que pagaõ ao seu Real Erario os moradores das
América do Sul. Autor desconhecido,1843.Gravura. França, Paris. Nacional, Rio de Janeiro. Minas geraes. Lisboa 3 de dezembro de 1750.
De Agostini Picture Library/M. Seemuller/The Coleção particular.
p. 262 Roteiro dos irmãos Nunes — Da paragem aonde p. 287 Escravos lavando o ouro de aluvião, vigiados
Bridgeman Art Library. se acham muitas esmeraldas, séc.XVIII. pelo escravo mestre, brandindo chicote. Autor p. 289 Mapa das minas do ouro de S. Paulo, e a costa do
p. 253 Mapa da América meridional (detalhe), publicado Manuscrito. Biblioteca Brasiliana da Robert desconhecido, 1814. Gravura. Universal History mar que lhe pertence. Anônimo, 1714. Desenho a
sob os auspícios do duque de Orléans. Jean-Baptiste Bosch GmbH, Sttutgart. Archive/UIG/The Bridgeman Art Library. tinta ferrogálica (54,5 x 66 cm). Fundação Biblioteca
Bourguignon d’Anville, 1748. Biblioteca Nacional p. 263 Ilustração de Amazonas. In Histoire des voyages p. 288a Extração de ouro em Minas Gerais. Autor Nacional, Rio de Janeiro.
da França, Paris. autour du monde, de J. Dufay, publicado por desconhecido, s.d. Óleo sobre madeira. Museu p. 291 Mapa da América Meridional (detalhe). Jean-Baptiste
p. 253 Idem. Courvalet & Co., Paris. Autor desconhecido, do Ouro, Sabará. Bourguignon d’Anville, 1779. Coleção particular.

448 449
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Créditos das imagens

p. 292 Praça principal de Vila Rica. Autor desconhecido, p. 307b Mapa da América Meridional (detalhe), publicado [ Considerações finais]
c.1780. Aquarela (38 x 50 cm). Instituto de Estudos sob os auspícios do duque de Orléans. Jean-Baptiste
Brasileiros-IEB/USP, São Paulo/Acervo Yan de Bourguignon d’Anville, 1748. Biblioteca Nacional da Às vésperas do Tratado de Madri
Almeida Prado. França, Paris.
p. 293 Mapa manuscrito da região de São Paulo. Anônimo, p. 308 Carte huilée des embouchures de la rivière des p. 330 Os embaixadores. Hans Holbein, o jovem, 1533. Fernando de Noronha. Situada nas costas do
s.d. Desenho. Biblioteca Brasiliana da Robert Bosch Amazones et côtes voisines (detalhe). Jean-Baptiste Óleo sobre madeira (207 x 209,5 cm). National Brasil...]. Ph. Buache (editor), 1737 (49 x 64, 5 cm).
GmbH, Sttutgart. Bourguignon d’Anville, séc.XVIII. Manuscrito. Gallery, Londres/The Bridgeman Art Gallery. Biblioteca Nacional da França, Paris.
p. 294 Relato sobre o levante em Vila Rica, em 1720. Instituto Biblioteca Nacional da França, Paris. p. 331 Fernando VI e Bárbara de Braganza nos jardins p. 339 Theodore de Chavigny ou Chavignard. Escola
de Estudos Brasileiros/IEB-USP, São Paulo/Coleção p. 311 Cours du Maragnon ou du fleuve des Amazones. de Aranjuez. Francesco Battaglioli, 1756. Óleo francesa, séc. XVIII. Óleo sobre tela. Coleção
Alberto Lamego. Padre Samuel Fritz, c.1700. Manuscrito. Biblioteca sobre tela (68 x 112 cm). Museu do Prado, Madri/ particular/Archives Charmet/The Bridgeman
Nacional da França, Paris. The Bridgeman Art Library. Art Library.
p. 295 Mappa da capitania de S. Paulo, e seu sertão em que
devem os descobertos, que lhe forão tomados para p. 313 Alegoria da Paz de Utrecht. Johannes Drappentier, 1713. p. 333 Mapa da América Meridional (cartela 2, detalhe). p. 340 Marc-Pierre de Voyer-de-Paulm, conde de
Minas Geraes, como tambem o camiho de Goyazes, Gravura (35,1 x 42,2 cm). Rijksmuseum, Amsterdã. Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville, 1779. Argenson. Hyacinthe Rigaud (ateliê de), séc. XVIII.
com todos os seus pouzos, e passagens. Francisco Coleção particular. Óleo sobre tela (135 x 104 cm). Museu do Palácio
p. 314 Roteiro de todos os sinaes, conhecimentos, fundos, de Versailles, Versailles/The Bridgeman Art Library.
Tosi Columbina, séc. XVIII. Nanquim (65 x 45,2 baixos, alturas e derrotas, que ha na Costa do Brasil, p. 334 Dom Luís da Cunha em seu gabinete de trabalho.
cm em folha de 66,5 x 48 cm). Fundação Biblioteca desde cabo de Santo ... Luís Teixeira, s.d. Biblioteca Autor desconhecido, séc. XVIII. Óleo sobre tela. p. 342 Mapa da América Meridional (cartela 2, detalhe).
Nacional, Rio de Janeiro. Nacional da Ajuda, Lisboa. Coleção particular. Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville, 1779.
p. 296/297 Modo de lavar os diamantes– Arraial do Tejuco. p. 336 Ilha de Fernando de Noronha. Anônimo, séc. XVIII Coleção particular.
p. 315 Planta topográfica da Praça da Nova Colónia: com o
Autor desconhecido, c.1775. Aquarela e nanquim seu novo desenho. José da Silva Pais, 1736. Desenho (40,5 x 52 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris. p. 344/345 Vista da Calle de Alcalá. Antonio Joli, c.1750. Óleo
(17 x 22 cm). Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa. a tinta (63,7 x 42,2 cm em folha de 67,5 x 45,5 cm). p. 337 Plan de l’Isle de Fernand de Noronha Située sur les sobre tela (76,8 x 119,7 cm). Coleção particular/Rafael
p. 298 Modo de minerar para se tirarem diamantes — Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa. Cotes du Bresil à l’E.N.E. de Rio Grande. Levée sur Valls Gallery, Londres/The Bridgeman Art Library.
Arraial do Tejuco. Autor desconhecido, c.1775. p. 316 Demonstracion convincente de la extension les Lieux en 1734 par un Officier de la Compagnie p. 347 Alexandre de Gusmão. Oswaldo Teixeira, séc. XX.
Aquarela e nanquim (17 x 22 cm). Arquivo Histórico del territorio, en que está situada la Colonia del des Indes et la Coupe de cette isle avec les Bancs Óleo sobre tela. Museu Paulista, São Paulo.
Ultramarino, Lisboa. Sacram[en]to. In Papeis origin[ais] pertencentes et Dangers qui l’environnent [Planta da Ilha de p. 348 Embouchure de la rivière des amazones. Anônimo,
p. 299 Modo como se extrai o ouro no rio das Velhas e à entrega da Collonia do Sacramento, raros e séc. XVIII. Impresso (21 x 22 cm). Biblioteca
nas mais partes que a Rios. Autor desconhecido, particullares. 1725-1736. Manuscrito. Biblioteca Nacional da França, Paris.
c.1780. Aquarela. Arquivo do Instituto de Estudos Nacional de Portugal, Lisboa.
Brasileiros-IEB/USP, São Paulo/Coleção Yan de p. 317 Planta da fortaleza de São Gabriel, na Colônia
Almeida Prado. de Sacramento. Anônimo, s.d. Desenho a tinta A invenção do Brasil
p. 301 Suite du Brésil. Villages d’Indiens et Missions ferrogálica (22 x 32 cm). Fundação Biblioteca
ruinées. Extraída da Carte de l’Amérique de Nacional, Rio de Janeiro. p. 350 Mapa da América Meridional, publicado sob os raya dos dominios de huma e outra Corôa na America
D’Anville. Anônimo, séc.XVIII. Coleção particular. p. 318 Mappa iconographico da Praça da Colônia do auspícios do duque de Orléans. Jean-Baptiste Meridional, assignado em Madrid a 13 de Janeiro de
p. 302 Cume do pico de Itacolomi. In Six semaines aux mines Sacramento. Anônimo, 1776 (35 x 44 cm). Fundação Bourguignon d’Anville, 1779. Coleção particular. 1750. Biblioteca Nacional da Ajuda, Lisboa.
d’or du Brésil. Ernest de Courcy, c.1885. Desenho. Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro. p. 351 Floresta virgem às margens do rio Paraíba (detalhe). p. 359 Maria Barbara de Braganza Rainha da Espanha.
Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro. p. 319 Planta da Praça da Colonia do Sacramento no Rio da In Viagem pitoresca e histórica ao Brasil, de Jean Domenico Dupra, séc. XVIII. Óleo sobre tela.
p. 303 Mapa manuscrito da região de São Paulo. Anônimo, Prata, tomada pelos Espanhoes em 1777. Anônimo, Baptiste Debret. Charles Etienne Pierre Motte, Museu do Prado, Madri/The Bridgeman Art Library.
s.d. Desenho. Biblioteca Brasiliana da Robert Bosch s.d. (40,5 x 49 cm, em folha de 42,5 x 51,6 cm). 1834. Gravura (22,3 x 35 cm). Fundação Biblioteca p. 360 Descripçam do Continente da America Meridional
GmbH, Sttutgart. Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro. Nacional, Rio de Janeiro. que nos pertence com os Rios, e Montes, que
p. 304 Demonstração do rio São Francisco, em Minas p. 320 Planta da Collonia do Sacramento. Anônimo, s.d. p. 353 Dom Tomás da Silva Teles –Visconde de Vila Nova os Certanejos mais experimentados, dizem ter
Gerais. Anônimo, s.d. Desenho a tinta ferrogálica Manuscrito. Biblioteca Nacional de Portugal, Lisboa. de Cerveira. In Retratos de cardeaes, bispos, e encontrado, cuja divisaõ se faz. Anônimo, 1746.
(35,5 x 67,5 cm). Fundação Biblioteca Nacional, p. 322 Carte manuscrite de l’embouchure de Rio da Prata. varoens portuguezes illustres em nobreza, armas, Coleção Guita e José Mindlin, São Paulo.
Rio de Janeiro. Anônimo, c. 1740. Manuscrito. Biblioteca Nacional letras, e santidade (imagem 40). Autor desconhecido, p. 362 Fragments d’une carte de l’Amérique du Sud
p. 306a Mapa da América Meridional, desenhado para da França, Paris. 1791. Biblioteca Nacional de Portugal, Lisboa. montrant partie de la Nouvelle Grenade et
o duque de Chartres (detalhe). Jean-Baptiste p. 323 Carte manuscrite de l’embouchure de Rio da Prata p. 356 Carte manuscrite de la partie de la Riviere del l’estuaire de rio de la Plata [Fragmento de um
Bourguignon D’Anville, 1737 (47 x 35 cm). Biblioteca (detalhe). Anônimo, c. 1740. Manuscrito. Biblioteca Amazonas voisine de celle de Madère et de celle mapa da América do Sul, mostrando parte da Nova
Nacional da França, Paris. Nacional da França, Paris. de Guatuma et d’Urabu. Ignacio dos Reys, 1729 Granada e o estuário do rio da Prata]. Jean-Baptiste
p. 306b Resposta ao embaixador da França sobre a posse (19 x 23 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris. Bourguignon d‘Anville, 1748. Tinta sobre papel
p. 324 Mapa da América Meridional (detalhe). Jean-Baptiste
do Cabo do Norte. Roque Monteiro Paim, 1699-1711. p. 357 Carte manuscrite de la Guyane avec les Antilles (20 x 20 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris.
Bourguignon d’Anville, c.1742.Tinta sobre papel
Manuscrito. Fundação Biblioteca Nacional. (51 x 38,5 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris. jusqu’à la Martinique [Mapa manuscrito da Guyana p. 363 A Map of South America. Jean-Baptiste Bourguignon
Rio de Janeiro. com as Antilhas até a Martinica]. Jean-Baptiste d’Anville, 1791. Impresso. Coleção particular.
p. 325 O grande Rio da Prata na América Austral e
p. 307a Mapa do curso do rio das Amazonas ou do Bourguignon d’Anville, 1745. Manuscrito p. 364 Carta Geographica de que se serviu o ministro
Portuguesa. Anônimo, 1740 (43 x 68,5 cm).
Maranhão desde a entrada do Pará remontando até (75 x 62 cm). Biblioteca Nacional da França, Paris. plenipotenciario de S. Magestade Fidelissima
Biblioteca Nacional da França, Paris.
a confluência do rio Negro onde marcamos, dentre p. 358 Tratado de limites das conquistas entre... D. Joaõ V para ajustar o tratado de limites na America
outras circunstâncias, os assentamentos portugueses p. 326 Mapa da América Meridional, publicado sob
Rey de Portugal, e D. Fernando VI Rey de Espanha, Meridional, assignado em 13 de Janeiro de 1750
e um grande número de Missões estabelecidas os auspícios do duque de Orléans (detalhe).
pelo qual [foi] abolida a demarcação da Linha em Lisboa (67 x 60 cm). Biblioteca Nacional da
junto aos índios desenhado a partir das memórias Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville, 1748.
Meridiana, ajustada no Tratado de Tordesillas de Espanha, Madri.
do P. Ignacio dos Reys (detalhe). Jean-Baptiste Biblioteca Nacional da França, Paris.
7 de Junho de 1494, se determina individualmente a p. 365 Idem (verso).
Bourguignon d’Anville, 1729 (34 x 53,5 cm). p. 327 Demonstração fácil e concludente do direito que tem
a Coroa Portuguesa e o domínio das terras... 1715.
Manuscrito. Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa.

450 451
O MAPA QUE INVENTOU O BRASIL Fontes

Agradecimentos

rimeiramente, gostaria de agradecer à mento importante para a abertura de novos hori- para agradecer a Nuno Gonçalo Monteiro, por todo o da Cunha, Marco Antônio Silveira, Maria Fernanda

P Organização Odebrecht, em especial a


Márcio Polidoro, e à comissão julgadora
da edição 2011 do Prêmio Odebrecht de
zontes de pesquisa. Gostaria de agradecer especial-
mente à Reitoria da UFMG, nas pessoas de Ronaldo
Tadeu Pena, Heloísa Maria Murgel Starling, Clélio
apoio em inúmeras estadas.
Agradeço a todos os funcionários de bibliotecas e
arquivos por onde passei buscando pistas sobre dom
Bicalho, Pedro Cardim, Fernanda Olival, Carla Lois,
Jordana Dym, Antônio Gilberto Costa, Friedrich E.
Renger, Márcia Maria Duarte Santos, Katia Quei-
Pesquisa Histórica Clarival do Prado Valladares — Campolina Diniz e Rocksane de Carvalho Norton pelo Luís da Cunha e D’Anville. Agradeço especialmen- rós Matoso, Rákóczi István, Catarina Madeira Santos,
iniciativa relevante e praticamente solitária neste país apoio constante. Agradeço à Capes, que durante o ano te ao embaixador Álvaro da Costa Franco, do Arquivo Maria Emilia Madeira Santos, Abilio Diniz Silva,
—, pelo acolhimento deste projeto. Na preparação edi- de 2008 me concedeu uma bolsa de pós-doutorado, Histórico do Itamaraty; a Maria Dulce de Faria, da Bi- Anna Canas Delgado Martins e Ângela Domingues.
torial deste livro pude contar com uma equipe preciosa: fundamental para a realização da pesquisa na Fran- blioteca Nacional do Rio de Janeiro; a Helène Richard A Maria de Fátima Gouvêa fica um agradecimento
a Versal Editores, na pessoa de José Enrique Barreiro ça e que permitiu tanto o acesso à documentação car- e Catherine Hofmann, do Département des Cartes et marcado por muitas saudades. Ao Departamento de
e de todo o seu time; a Maria Beatriz Albernaz, que tográfica de D’Anville, como a uma bibliografia in- Plans da Bibliothèque Nationale de France, e, por meio História da UFMG, paticularmente aos professores
cuidou com afinco da preparação e editoração do tex- dispensável ao refinamento teórico deste livro. A delas, a todos os funcionários desse setor, que durante Maria Efigênia Lage de Resende, Eliana Dutra, Regina
to, a despeito das minhas tantas idas e vindas; a Ileana Companhia das Índias/UFF me concedeu um apoio um ano de pesquisa foram sempre amáveis e solícitos; a Horta Duarte, Mauro Condé, Thaïs Pimentel, Maria Eliza
Pradilla, que realizou a cuidadosa pesquisa iconográfi- de pesquisa em 2007 por meio do projeto Raízes do Margarida Lages e Manuel Côrte-Real, do Arquivo do Linhares Borges, José Newton Coelho Meneses, João
ca; a Karyn Mathuiy, pelo precioso projeto gráfico, que Privilégio, financiado pela Faperj, do qual participei Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal, que Pinto Furtado e Eduardo França Paiva. A Cássio Ramiro
permitiu dar maior visibilidade a essa pesquisa; a Flora como pesquisadora associada. Gostaria de agradecer prontamente disponibilizaram os retratos de dom Luís Mohallem Contrim não tenho como agradecer os
Thomson-DeVeaux, pela versão para o inglês, e a Norma a todos os seus membros, e especialmente a Rodrigo da Cunha para reprodução; a Maria Joaquina Esteves “mimos” materializados em mapas e documentos
Luz Arteaga de Medina, pela versão para o espanhol. Bentes Monteiro, Ronaldo Vainfas e Márcia Motta. Da Feijão e a Conceição Chambel, da Biblioteca Nacional de sobre a nossa história, e a Luiz Phillipe do Carneiro
Da mesma forma, agradeço à Bosch Company, por Fapemig recebi, entre 2009 e 2010, uma bolsa de pes- Portugal; a Helena Greco, da Sociedade Geográfica de de Mendonça, por me disponibilizar os que pertence-
ter me permitido o acesso à sua coleção e, em particu- quisa no escopo do seu projeto Pesquisador Mineiro II. Lisboa; e a Diná Marques Pereira Araújo, do Acervo de ram a Marcos Carneiro de Mendonça.
lar, a Angelika Merkle, por ter me recebido com imensa No exterior, pude contar com algumas instituições e Obras Raras da Universidade Federal de Minas Gerais. Por fim, last but not least, quero agradecer a minha
disponibilidade e gentileza. O dia da descoberta desse colegas que me acolheram, permitindo que a pesquisa Os colegas e amigos que, de alguma forma, con- família, que, de uma forma ou de outra, compartilhou
precioso acervo foi compartilhado com Neil Safier e Íris alcançasse a abrangência internacional necessária para tribuíram com alguma sugestão, documento, apoio ou a construção deste livro, a meus pais, Ilda e Evaldo; a
Kantor, amigos queridos, que viveram comigo muitos realizar os objetivos a que me propus, ao me aventurar amizade, são preciosos e inúmeros. Correndo o risco de meus irmãos Beatriz, Marisa e Marcos; a meus cunha-
dos esforços, mas também dos prazeres, decorrentes a cruzar os destinos de um embaixador português e um esquecer algum, agradeço a Eddy Stols, Luís Felipe de dos e cunhada, Sérgio, Jason e Liliana. A Li An e Vera
dessa pesquisa. Com ambos desenvolvi, ao longo desses cartógrafo francês, num mundo europeu muito mais Alencastro, André Ferrand de Almeida, Jorge Pimentel Andrade, tia e amiga querida que deixou muitas sau-
anos, uma cumplicidade acadêmica e uma camarada- globalizado do que se poderia esperar. Em 2007, obtive Cintra, Laura de Mello e Souza, Mary Pedley, Mathew dades. A Lucas, Clara e Alice é mais difícil ainda dizer
gem intelectual, resultado de nosso amor pelos mapas uma bolsa de pesquisador visitante na Newberry Library, Edney, João Carlos Garcia, Evaldo Cabral de Mello, qualquer coisa. Para eles, todo o meu amor, e o agrade-
e de nossa amizade. concedida pelo The Hermon Dunlap Smith Center for Lucile Haguet, Diogo Ramada Curto, Arno Wehling, cimento especial por conseguirem sobreviver à minha
Os apoios institucionais que recebi no Brasil fo- the History of Cartography, que me abriu o acervo des- Modesto Florenzano, Lúcia Maria Bastos Pereira das vida dedicada à história com inúmeros gestos cotidianos
ram imprescindíveis para a fase de concretização da sa instituição. Por isso, agradeço especialmente a James Neves, Jean-Marc Besse, Marie-Thérèse Mandroux- de generosidade e amor, que não passaram desperce-
pesquisa. O CNPq me concedeu uma bolsa de Pro- Ackerman, Robert Karrow Jr., James Grossman e Diane -França, Herbert Klein, Karen Wigen, Roberta Stumpf, bidos. Para com vocês, minha dívida mas principalmen-
dutividade em Pesquisa, que teve vigência a partir de Dillon, que me acolheram com enorme carinho. Em Tiago dos Reis Miranda, Laurent Vidal, Mafalda Soares te minha gratidão e meu amor são eternos.
2006. Além desta, pude contar ainda com um bol- 2008, fui recebida como pesquisadora visitante da
sista de Iniciação Científica, a partir de 2007, e com École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS)
o auxílio financeiro decorrente do Edital Universal durante meu período de pós-doutoramento. Lá, pude Belo Horizonte, outono de 2013.
de 2008, ambos concedidos por essa instituição. O contar com a acolhida e a amizade inestimáveis de
Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares/ Serge Gruzinski e o apoio sempre amável dos mem-
IEAT/UFMG me acolheu, no ano de 2007, como pro- bros do Cerma, especialmente de Lydia Robin, Cláudia
fessora residente. Ao diretor Carlos Antônio Leite Damasceno Fonseca, Carmen Bernand, Louise Bénat- Agradecimento especial
Brandão e ao conselho diretor, particularmente -Tachot, Carmen Salazar-Soler. Em Lisboa, onde esti-
a João Antônio de Paula e Sérgio Danilo Junho Pena, ve como professora visitante pelo Instituto de Ciências A Organização Odebrecht agradece ao Grupo Bosch por ter cedido gentilmente, para esta publicação,
sou imensamente grata pelo acolhimento num mo- Sociais da Universidade de Lisboa, não tenho palavras imagens do acervo da Biblioteca Brasiliana da Robert Bosch GmbH.
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Sobre a autora

Júnia Ferreira Furtado é mineira, de Belo Horizonte. Graduou-


-se em História na Universidade Federal de Minas Gerais onde hoje
é professora titular de História Moderna. Realizou mestrado e dou-
torado em História Social na USP e fez estudos de pós-doutoramento
na Universidade de Princeton (2000) e na École des Hautes Études
en Sciences Sociales (2008). Foi professora residente do IEAT/UFMG
e agraciada com a Short-Term Fellowship, concedida pelo Hermon
Dunlap Smith Center for the History of Cartography, da Newberry
Library, (2007); com a Bolsa Luso-Afro-Brasileira, pelo Instituto de
Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (2010); e com a Cátedra
Joaquim Nabuco, do Center for Latin American Studies, da Universi-
dade de Stanford (2012). Tem vários artigos e livros publicados sobre
a História Moderna Luso-brasileira, entre eles “Chica da Silva e o con-
tratador dos diamantes: o outro lado do mito” (Companhia das Le-
tras, 2003, Menção Honrosa Casa de las Américas, 2004).
Este livro foi composto na fonte Andrade Pro e impresso
em papel couché matte pela Pancrom Indústria Gráfica,
para a Versal Editores, em São Paulo, em outubro de 2013.

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