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Fernando Manuel Moreira de Sá Monteiro

do Instituto Português de Heráldica


da Academia Portuguesa de Ex-Líbris
da Sociedade Martins Sarmento,
etc.

Prefácio da

Profª. Doutora Maria de Fátima Sá e Melo Ferreira

Memórias Familiares e
Genealógicas
(Outros Tempos, Outras Histórias)

*
Porto-2018
AGRADECIMENTO

O Autor deseja manifestar aqui o seu mais sincero agradecimento à muito


estimada e respeitada Prima e ilustre historiadora, Profª. Doutora Maria de
Fátima Sá e Melo Ferreira, pelo valioso contributo que quis oferecer a este
estudo no Prefácio que o acompanha.
Memórias Familiares e Genealógicas
(Outros Tempos, Outras Histórias)
A meus amados Filhos, para que sabendo um pouco da História da
Família, possam aprender com o passado, para melhor viverem no
presente e lhes servir de alguma lição no futuro

O Autor

“A História é émula do tempo, repositório dos factos, testemunha do passado,


exemplo do presente, advertência do futuro”
(Miguel de Cervantes y Saavedra)
ÍNDICE

INTRODUÇÃO: Outros Tempos, Outras Histórias (As desventuras da Morgadinha de Laços) 1

FARIA, GUIMARÃES, ANDRADE, REBELO, PEIXOTO – Casas de Recobelo e Marinhão, Morgadio


de Laços e Casa de Fundevila 3

APÊNDICE: Os Morgadios do Outeiro, em S. Paio dos Arcos e Paçô – Seus instituidores,


administradores e a extinção (a propósito de uma pedra de armas inédita) 48

ANEXO I: MOREIRAS, de Louredo e S. Pedro de Ferreira – Um breve ensaio genealógico 63

ANEXO II: SÁS, da Casa de Sá, em Santa Eulália de Barrosas, Vizela 82

DOC. I: Requerimento do capitão-mor Francisco Moreira Carneiro para confirmação da carta de


sesmaria de uma terra em Rio de Santo António de Mato Dentro 127

DOC. II: Requerimento do capitão-mor Francisco Moreira Carneiro solicitando a mercê de o


confirmar na serventia do posto de capitão-mor das Ordenanças da freguesia da Conceição, da
comarca do Serro Frio 137

DOC. III: Requerimento de Francisco Joaquim Moreira Carneiro Borges de Sá, filho do capitão-
mor Francisco Moreira Carneiro, solicitando ao rei que os credores de seu pai, das dívidas feitas
na vila do Príncipe e em outros sítios de Minas Gerais, sejam citados para pagarem 141

DOC. IV: Carta de Francisco Joaquim Moreira Carneiro Borges de Sá para o secretário dos
Negócios Ultramarinos, como senhor da Casa e Morgadio de Sá, em Guimarães, pedindo para
que lhe sejam pagas as dívidas que lhe tinham feito várias pessoas em Minas Gerais, para poder
montar nas terras do seu morgado uma fábrica de papel 146

DOC. V: ANNUNCIO: D. Maria do Carmo Moreira de Sá, a propósito da Fazenda de Santo António
de Rio Abaixo, no Serro Frio 155

DOC. VI: Autos de Habilitação de Francisco Joaquim Moreira Carneiro Borges de Sá, Fidalgo da
Casa Real, Cavaleiro professo na Ordem de Cristo, como herdeiro universal de seus pais, o
capitão-mor Francisco Moreira Carneiro, Fidalgo da Casa Real, Cavaleiro professo na Ordem de
Cristo e Familiar do Santo Ofício, e de sua mulher a Senhora Dona Eduarda Catarina Borges do
Couto e Sá. 156

DOC. VII: PORTAL DE LEGISLAÇÃO – Decreto nº 8514 de 06/05/1882 / PE – Poder Executivo


Federal (D. O. U. 31/12/1882) – Concede ao Dr. António Secioso Moreira de Sá patente de
invenção par o motor pneumo-hydraulico e propulsor a roldanas 157

OS PARENTES BRASILEIROS DA ACTUAL DUQUESA DE BRAGANÇA: HERÉDIAS DE VASCONCELOS,


do Serro Frio 158

- Anexo A: Requerimento do sargento-mor (D.) Sancho Bernardo de Herédia, Cavaleiro da


Ordem de Cristo, morador na vila do Príncipe, pedindo para ser provido no posto de capitão-
mor do termo da dita vila (em anexo vários documentos) 163

- Anexo B: Requerimento de D. João José de Herédia, Tenente-coronel de Cavalaria de Dragões


Auxiliares do Regimento do termo da vila de Pitangui, solicitando a D. José I a mercê de o
confirmar no exercício do referido cargo – Anexo: 1 carta patente 169

FOTOGRAFIAS DIVERSAS: Fac-simile da capa do opúsculo “Proclamação aos Portuguezes”, da


autoria de Francisco Joaquim Moreira de Sá, Casa de Sá (Santa Eulália de Barrosas, Vizela), Casa
dos Moreiras de Sá (Guimarães), Casa de Fundevila (S. Miguel do Paraíso, Guimarães) e Fazenda
do Engenho de Santo António de Rio Abaixo, no Serro Frio, Conceição de Mato Dentro, Minas
Gerais 173

RECENSÃO BIBLIOGRÁFICA DO AUTOR 183


Prefácio

Apesar dos laços que parecem ligá-las, a história e a genealogia são dois tipos de
conhecimento independentes que a alguns poderão parecer mesmo dissociados. É que,
embora lidem ambos com o passado, da história se esperam resultados mais ambiciosos:
generalizações e perspectivas de conjunto construídas a partir daquilo a que já se
chamou “grandes narrativas”, sendo essas narrativas das nações, dos estados ou de
qualquer outra grande noção abstracta quer ela seja social, como a de classe, económica,
como a de capitalismo ou política como a de democracia. Não assim da genealogia que
se propõe atingir algo bem mais modesto: a história de uma família ou de um apelido
através da análise dos laços de parentesco que a ligam pesquisando, em sentido
geralmente ascendente, conexões familiares e biográficas. Não uma “grande narrativa”,
mas uma história singular feita de histórias ainda mais singulares de homens e mulheres
concretos e irrepetíveis, embora às vezes susceptíveis de se confundirem quando, por
tradição familiar, se repetem nomes próprios e apelidos.
Tida, outrora, por “ciência auxiliar da história”, a genealogia não parece ter sido,
no entanto, muito bem vista pela grande maioria dos historiadores por ser
frequentemente confundida com a busca retrospectiva de prestígio social assente na
tentativa de identificação de antigas linhagens e de antepassados ilustres pelos que a
cultivam. E não há dúvida que, tradicionalmente, as genealogias têm sido sobretudo
usadas pelos historiadores das elites, nomeadamente os que se debruçam sobre a história
social dos grupos que integravam as antigas categorias de nobreza e fidalguia. Porém,
não é possível deixar de concluir, à leitura de algumas delas, que, se rigorosas e bem
usadas, podem prestar enormes serviços aos historiadores.
Apesar da ligação quase imediata da genealogia à história das elites, a micro-
história e a história da família têm procedido a operações de pesquisa
metodologicamente semelhantes para os grupos populares com resultados
surpreendentes. Foi neste mesmo género de investigação que se baseou Giovanni Levi
para escrever o seu famoso exercício de micro-história que, na tradução francesa,
recebeu o nome de “Le Pouvoir au village. Histoire d'un exorciste dans le Piémont du
XVII e siècle” e foi a procedimentos não muito distantes que Norberta Amorim
recorreu, nos seus estudos histórico-demográficos baseados na reconstituição de
famílias, bem ilustrados, entre outros, pela minuciosa reconstrução genealógica de uma
família açoriana (que era também a sua) da ilha do Pico intitulada Francisca Catarina
(1846-1940). Vida e raízes em S. João do Pico (biografia, genealogia e estudo de
comunidade). A pesquisa genealógica tornou-se mesmo moda de alguns anos a esta
parte, com inúmeros adeptos que, para além doutros, usam agora muitos dos recursos
que a internet põe à sua disposição com o objectivo de reconstruir a teia dos seus
antepassados.
Arquivos notariais e paroquiais, essenciais para estudos deste tipo, são também
regularmente usados pelos antropólogos quando o seu objecto de investigação o requer
e o interesse pela dimensão diacrónica os norteia.
A unir estas aparentemente diversas áreas de investigação: genealogia, história
da família, micro-história e antropologia, encontra-se o interesse pela experiência
concreta dos agentes históricos, à qual se junta uma mais ou menos reflectida
perspectiva histórico-antropológica em que a escala de análise não assenta na dimensão
macro, seja ela nacional ou transnacional, mas se orienta para universos mais restritos
como a casa, a família, a paróquia ou o município para escolhermos exemplos
portugueses. O desafio é sempre o mesmo: o de uma análise minuciosa e morosa das
fontes, atenção ao pormenor significativo, imaginação, crítica de fontes e rigor.
No estudo que aqui se apresenta, de autoria de Fernando Moreira de Sá
Monteiro, com quem partilho um apelido, uma história familiar e uma amizade daí
nascida, encontram-se reunidos, de forma exemplar, os melhores contributos que os
estudos genealógicos podem trazer à história. A partir de uma investigação escrupulosa
e rigorosa, o autor faz-nos percorrer o itinerário de uma família de apelido Sá, do século
XVI ao século XIX (chegando por vezes ao XX) instalada em Santa Eulália de
Barrosas, uma freguesia pertencente outrora ao “termo de Guimarães, depois ao
concelho de Lousada e actualmente ao de Vizela.
Jorge Anes Sá terá sido o mais antigo locatário de um “casal de Sá” emprazado
ao Convento de Santa Marinha da Costa, sendo identificado como “fidalgo de Cota de
Armas”, originário do continente, mas com engenhos de cana na ilha da Madeira.
Fixada nesse lugar de Sá, de Santa Eulália de Barrosas, esta família vai sofrer diversas
vicissitudes num percurso complexo até ao casamento, já no século XVIII, mais
precisamente em 1746, de uma herdeira da casa ali constituída, Eduarda Catarina
Borges do Couto e Sá com Francisco Moreira Carneiro, capitão-mor da vila de Nossa
Senhora da Conceição de Mato Dentro, distrito de Serro Frio, província de Minas
Gerais, Brasil, cavaleiro-fidalgo da casa de Sua Majestade, familiar do Santo-Ofício,
com carta de brasão de armas datada de 16/4/1750.
Enriquecido durante o apogeu da exploração aurífera em Minas Gerais,
Francisco Moreira Carneiro viu o seu processo de habilitação à Ordem de Cristo
atrasado pelo facto de ter sido oficial de carpinteiro antes de embarcar para o Brasil
(embora descendente “de lavradores honrados com boas fazendas”) e depois “ter sido
carpinteiro de engenhos em Minas Gerais e ter entrado a minerar com os escravos,
embora fosse já capitão de ordenança” na pesquisa do ouro. Neste tipo de trajecto
social, reconhecemos sem esforço, alguns dos principais topos dos processos de
nobilitação coevos estudados por Nuno Gonçalo Monteiro.
A partir deste casamento, que deu origem ao apelido Moreira de Sá, assistimos,
graças à minuciosa investigação do autor deste livro, à formação de uma verdadeira
família luso-brasileira, cujo desenvolvimento se fará ao longo de três gerações
acompanhando os sucessos da monarquia portuguesa, entre os quais avulta a decisiva
ida do Príncipe Regente e da Corte para o Brasil em 1807.
Acompanhando este movimento, Francisco Joaquim Moreira de Sá, o primeiro
desse apelido, deslocar-se-á também para o outro lado do Atlântico com a família,
deixando para trás a fábrica de papel vegetal que fizera edificar nas suas propriedades
da Cascalheira e que tinha representado um avultado investimento da sua fortuna, em
grande parte granjeada no Brasil. Uma fábrica que passa por ter sido a primeira não só
de Portugal como da Europa, parcialmente destruída no contexto das invasões francesas.
Protegido pelo Conde da Barca, de quem a sua primeira mulher era parente, Francisco
Joaquim instalou-se no Brasil na fazenda de seu pai em Minas e aí projectou prosseguir
as actividades industriais que fora obrigado a abandonar em Portugal, projecto que não
se concretizou.
Casado já em segundas núpcias quando rumou ao Brasil e com filhos pequenos
deste seu segundo matrimónio, regressou a Portugal em 1821 onde viria a viver, com a
família, a dura experiência das lutas liberais. Fidalgo ilustrado, perseguido pela
Inquisição antes de se ausentar para o Brasil acusado de pertencer à maçonaria,
Francisco Joaquim viu os seus descendentes de ambos os matrimónios, com uma única
excepção (a de um filho que abraçou a carreira eclesiástica tornando-se abade de S.
Miguel de Vizela), perfilharem a causa liberal em prol da qual combateram. Foi esse o
caso do filho mais velho do segundo matrimónio, Miguel António Moreira de Sá (que
viria a herdar a casa e quinta de Sá) e do seu neto mais velho Valentim Brandão Moreira
de Sá Sotomayor e Menezes que foi mesmo distinguido por D. Maria II com a ordem da
Torre e Espada pelos serviços prestados “à causa da Liberdade e da Legitimidade”
durante o Cerco do Porto. Tio e sobrinho, próximos na idade, terão partilhado também a
opção pela corrente mais radical do liberalismo, tendo sido o primeiro, precocemente
falecido em 1836, redactor e director do jornal O Nacional e o segundo, aclamado
administrador do concelho de Guimarães aquando da Patuleia.
Combatentes de outras lutas tinham sido poucas décadas antes dois filhos do
primeiro casamento de Francisco Joaquim, Manuel António e José Xavier Moreira de
Sá que, integrados no Regimento nº 18 da 2ª Brigada da Divisão do Norte, combateram
os franceses, tendo o primeiro perdido a vida no combate da ponte de Amarante em
1809.
Regressado a Portugal com o rei e a corte, o mesmo Francisco Joaquim deixou
no Brasil uma filha, Maria do Carmo Moreira de Sá, casada em Campos de Goytacazes
com António Lino de Herédia, professor de canto e piano, que contribuiu directamente
para, numa segunda geração, perpetuar os laços dos Moreira de Sá com o Brasil e que
foi professora de primeiras letras na mesma cidade.
Também viria a ficar no Brasil a geração de Maria Marfida Moreira de Sá, filha
de Rodrigo António Moreira de Sá Brandão, segundo filho do fidalgo industrial, que se
perpetuou até aos nossos dias.
O filho mais velho do segundo casamento de Francisco Joaquim, Miguel
António Moreira de Sá, que casou com uma senhora brasileira nascida no Rio de
Janeiro, havia de deixar também no Brasil o seu filho varão, António Secioso Moreira
de Sá, um prestigiado médico, que teve, igualmente, posteridade.
O fim da época de transição do Brasil colónia para o Brasil da independência
em que se impõem novas escolhas ditadas pela “razão nacional” veria começarem a
afastar-se estes ramos de uma mesma árvore, não sem que se registassem reencontros
como o ocorrido nos finais do século XIX quando Bernardo Valentim Moreira de Sá,
descendente de Valentim Brandão Moreira de Sá, sobejamente conhecido como músico,
compositor e intérprete e fundador do conservatório do Porto, viajou até ao Brasil para
dar concertos e se encontrou com a família brasileira com a qual se fez fotografar.
Na segunda metade do século XIX a casa e quinta de Sá reatariam a sua antiga
vocação agrícola pelas mãos de Ana Amália Moreira de Sá e de seu marido, Manuel
António da Silva e Melo, de Valença do Minho, retomando assim uma actividade
económica que os rendimentos do ouro brasileiro investido posteriormente na indústria
do papel tinham vindo subalternizar.
À imagem do que aconteceria no país, segundo amplamente demonstraram
historiadores como Jorge Borges de Macedo, Miriam Halpern Pereira e Valentim
Alexandre, a prosperidade que a família Moreira de Sá (que em 1773 vinculara os seus
bens) conheceu nesse período foi também ela de curta duração e o seu fim motivado
pela mesma ordem de razões das que afectaram a economia portuguesa na época: as
invasões francesas que implicariam a parcial destruição do novo equipamento
industrial onde tinha sido investido um capital em grande medida granjeado no Brasil e
a deslocação para o outro lado do Atlântico do seu antigo proprietário.
No regresso, os conflitos civis em que o país se viu mergulhado desde o
princípio dos anos de 1820 até à Regeneração em 1851 e a profunda transformação
trazida à economia portuguesa pela separação do Brasil ditariam novos rumos aos seus
descendentes, dado que nem mesmo os herdeiros da quinta de Sá puderam viver dos
rendimentos agrícolas por mais de duas gerações.
Seguindo, em geral, profissões liberais ou afins a partir dos finais do século
XIX, cumpre destacar os que se afirmaram nas artes, em particular na música, no
decurso de várias gerações. Gerações que se iniciaram com o compositor Bernardo
Valentim Moreira de Sá, cujo percurso e descendência até à actualidade tiveram a sua
máxima expressão na pianista Helena Moreira de Sá e Costa e na sua irmã, a
violoncelista Madalena Moreira de Sá e Costa.
De referir, por fim, o possível e provável entroncar numa tradição familiar
ilustrada e liberal da precoce afirmação pública das mulheres desta família. Uma
afirmação que passa pela já referida Maria do Carmo Moreira de Sá (Herédia),
professora na primeira metade do século XIX em Campos de Goytacazes, no Brasil, e se
reencontra na herdeira da Casa de Sá (por doação de seu irmão António Secioso) Ana
Amália Moreira de Sá, poetisa renomada à época, e na sua irmã Eduarda Emília, filha
primogénita de Miguel António Moreira de Sá. Na verdade, o seu pai, um liberal
perseguido, condenado e obrigado a exilar-se durante o reinado de D. Miguel advogava
já, em meados dos anos de 1830, nas páginas do jornal de O Nacional os grandes
benefícios da instrução feminina.

Lisboa, 4/2/2018

Maria de Fátima Sá e Melo Ferreira ⁕


Nasceu em Lisboa em 1950. Licenciou-se em História na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
em 1974, realizou estudos pós-graduados na Universidade de Paris I-Sorbonne onde obteve o DEA
(Diplôme d’Etudes Approffondies) em 1983 e o Doutoramento em História Social Contemporânea em
1995 sob a orientação do professor Maurice Agulhon.
Professora Associada (aposentada) no Departamento de História do ISCTE-IUL onde exerceu funções
desde o ano académico de 1976-77. Na sua actividade docente leccionou nas Licenciaturas de História
Moderna e Contemporânea, Sociologia, Antropologia e Gestão de Empresas, nos Mestrados em História
Social Contemporânea e História Moderna e Contemporânea, no Curso doutoral em História Moderna e
Contemporânea do ISCTE-IUL e no Programa Interuniversitário de Doutoramento em História (PIUDH).
Foi membro da Escola Doutoral da École Pratique des Hautes Études (EPHE) de Paris e professora
convidada da École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS). Foi investigadora do CEHC (Centro
de Estudos de História Contemporânea) desde a sua fundação onde desenvolveu a sua principal
actividade como investigadora e onde foi coordenadora da linha de investigação em História Política e
Cultural. Foi também coordenadora da colecção de livros do CEHC Portugal: Estado, Sociedade e
Economia. Integra atualmente o CIES-IUL.
De entre os projectos de investigação em que participa destaca-se o projecto
internacional Iberconceptos onde foi coordenadora da equipa portuguesa desde 2005 e onde é,
actualmente, co-directora do grupo: Linguagens da Identidade e da Diferença
http://www.iberconceptos.net.
Directora da revista Ler História de 2014 a 2016, é membro do seu conselho de redacção, a que
pertence desde a sua fundação, e ainda consultora das revistas: CEM . Cultura, Espaço e
Memória (CITCEM), Memoria e Ricerca. Rivista di Storia Contemporanea(Itália), e Ariadna. Lenguajes,
conceptos y metaforas (Espanha), Revista do IHGB (Brasil).
É autora/coordenadora, entre outras, das seguintes obras:
Diccionario político y social iberoamericano, Iberconceptos II Javier Fernández Sebastián director, (co-
editora e autora de diversas entradas) Centro de Estudios Políticos y Constitucionales, Madrid, 2014,
Tomo II, 10 vols.
Diccionario político y social iberoamericano. Conceptos políticos en la era de las independencias, 1750-
1850 Iberconceptos I, Javier Fernández Sebastián director, (co-editora e autora de diversas entradas)
Centro de Estudios Políticos y Constitucionales, Madrid, 2009. Tomo I.
Contra-Revolução, Espírito Público e Opinião no Sul da Europa: séculos XVIII E XIX, Lisboa, CEHCP, 2009
(coord.).
D. Miguel (em co-autoria com Maria Alexandre Lousada), Circulo de Leitores, Colecção Biografias dos
Reis de Portugal, 2006.
Rebeldes e Insubmissos: Resistências Populares ao Liberalismo – 1834-1844, Ed. Afrontamento, Porto,
2002.
As suas principais áreas de investigação são: História Política e Cultural, História dos Conceitos e das
Linguagens, História Contemporânea de Portugal (século XIX), História dos Movimentos Sociais, História
da Contra-revolução.
É actualmente senhora da casa de Sá, em Santa Eulália de Barrosas, Vizela, em compropriedade.
Outros Tempos, Outras Histórias
(As desventuras da Morgadinha de Laços)

Escreveu Alexandre Herculano: “Examina bem a consciência e diz-me qual é


para os corações puros e nobres o motivo imenso, irresistível das ambições de poder,
de opulência, de renome? É um só - a mulher: é esse o termo final de todos os nossos
sonhos, de todas as nossas esperanças, de todos os nossos desejos.”.
E, na verdade, o estudo que se segue tem muito a ver com essa constatação.
Uma fidalga, que por amor se entrega ao amado, contrariando (sem embora o
poder antecipar) o futuro da descendência familiar que lhe havia sido destinado pelos
progenitores.
E o que estava afinal em causa? Alguma espécie de desagrado em relação ao
amado ou à sua progénie? Não: somente problemas relacionados com a herança e
sucessão num morgadio: o da Casa de Laços, em Creixomil, Guimarães, que há muito
era violenta fonte de demandas judiciais, com os parentes senhores de Tora, Abreu e
Lima Sotomayor e Sousa e Castro.1
É que o amado, presuntivo herdeiro de vários morgadios, de uma herança que se
calculava em mais de 200.000 cruzados, com bens avultados também no Brasil, em que
se incluía, nomeadamente, uma grande fazenda no Serro Frio (Minas Gerais), bacharel
formado em Leis, pela Universidade de Coimbra, de uma Família de Cavaleiros da
Ordem de Cristo, Fidalgos da Casa Real, Familiares do Santo Ofício, em nada ficava a
dever em fortuna à sua amada.
De resto, como curiosidade, refira-se que entre as testemunhas do matrimónio de
D. Maria Gertrudes com o adolescente Francisco de Sousa e Castro, esteve presente o
pai do futuro amante da dama: Francisco Joaquim Moreira de Sá, Fidalgo da Casa de
Sua Majestade, Morgado de Sá, em Santa Eulália de Barrosas, do Outeiro, em S. Paio
dos Arcos e Paçô (Arcos de Valdevez), e de outros, senhor da Fazenda de Santo
António de Rio Abaixo, no Serro Frio (Minas Gerais, Brasil), Cavaleiro professo na
Ordem de Cristo, etc.
Afinal tudo se resumiu aos interesses materiais e decisão do progenitores dela e
dos pais dos presuntivos noivos. Mas não era, afinal, isto prática habitual desde sempre,
tendo ainda hoje algumas reminiscências, sendo mesmo prática corrente em certas
culturas?
O casamento começou por ser contratado tinha ela somente 12 anos, com seu
primo Francisco de Abreu de Sousa e Castro; mas não se concretizando, veio ela a casar
aos 20 anos, tendo então o jovem noivo escolhido, Francisco de Sousa e Araújo de
Castro e Noronha, apenas 14 anos mal cumpridos.
E tudo isto levou a um desfecho infeliz que em nada enobreceu os envolvidos,
nem deixou semente que ao menos justificasse um casamento de conveniência, decidido
sem que os noivos tivessem uma palavra a dizer.
E, cúmulo da irrisão, parecendo querer mostrar que Deus escreve direito por
linhas tortas: do casamento ajustado, nasceu um menino que logo morreu; da relação
espúria com o provável amado de longa data (julgo que antes mesmo do casamento
dela), nasceu e prosperou um outro menino que manteve na sua descendência o sangue

1
Veja-se o estudo de D. Maria Adelaide Pereira de Moraes, in “Velhas Casas” – IV (Freguesia de
Creixomil, Casa de Laços), embora a ilustre autora e presadíssima Amiga desconhecesse a existência
deste “romance ilegítimo” e da sucessão nos Moreira de Sá.

1
dos dois amantes. Mais do que isso: ele foi mesmo o único herdeiro do sangue da sua
mãe e avós maternos!
Mas não fica por aqui a curiosidade de tudo isto. D. Maria Gertrudes Rebelo
Peixoto de Azevedo e Castro, a dama em causa, quando faz o seu testamento cerrado,
afirma falsamente que não deixa filhos, mas logo de seguida encomenda ao seu herdeiro
universal, seu parente Dr. Bento Ferreira Cabral Pais do Amaral, a obrigação de pagar a
pensão anual e vitalícia de quatrocentos mil réis a “Valentim Brandão de Sá, filho de
António Zeferino de Sá”, nada mais, nada menos do que seu filho “natural” e o seu
amado, respectivamente.
Acham curioso? Pois então fiquem com mais esta curiosidade: o herdeiro
universal da senhora do Morgadio de Laços, em Creixomil, Guimarães (o morgadio que
estava em causa e justificou o sacrifício dos dois apaixonados), era da família dos
Ferreira Cabral Pais do Amaral, fidalgos da Casa de Penaventosa, em Baião, entre
outros vínculos e casas, os mesmos que haveriam de herdar também o vínculo e
morgadio da Casa da Caldeiroa, em Guimarães, ascendentes maternos do saudoso sogro
de quem escreve estas notas!
Vamos então contar melhor tudo isto e como se desenvolveu a vontade de Deus,
pois, estou tentado a acreditar – seja-me descontado, meramente como graça, algum
sabor a blasfémia - que se o Criador preferiu perdoar a ilegitimidade da fraqueza
humana dos jovens amantes, e não premiar um casamento de meros interesses
económicos, é porque Ele, de forma que não me compete julgar, quis favorecer o amor
entre os dois amantes sacrificados.

Brasão dos Farias, no “Livro do Armeiro-mor”

2
FARIA, GUIMARÃES, ANDRADE, REBELO, PEIXOTO
Casas de Recobelo e Marinhão, Morgadio de Laços e Casa de Fundevila

I- ANTÓNIO DE FARIA, que deverá ter nascido cerca de 1526 era, segundo os
nobiliaristas, filho de João de Faria, que depois de viúvo terá seguido a carreira
eclesiástica, sendo abade de Santa Leucádia de Geraz e cónego em Barcelos, e de sua
mulher Ana de Araújo.
Esta é a versão dos nobiliaristas. Como em muitas outras ocasiões, deverá ter-se
muito cuidado com tais afirmações, porque amiúde elas se destinam a ocultar uma
bastardia de clérigo.
Vejamos. Em 16/7/1486, tomou ordens menores em Braga “Johão de Faria, fº
de Fernão Royz da Cana e de sua molher legm.ª Tareija afõmº m.or na freg.ª de Santa
Maria de barcellos” 2.
Também referem os nobiliaristas que o Dr. Fernão Roiz da Cana foi muito
valido d’el-rei D. João II, pessoa de grande autoridade no seu tempo, e que sua mulher
Teresa Afonso de Faria foi senhora da casa da Barreta e do vínculo da Agrela, em
Barcelos 3.
Acontece, porém, que pela imensa generosidade e sentido de colaboração com
que sempre nos brinda o distinto historiador e investigador vimaranense, Dr. Rui
Jerónimo Lopes Mendes de Faria, tivemos acesso a documentação que prova, sem
qualquer dúvida, que “António de Faria, escudeiro fidalgo e genro de Cristóvão de
Guimarães morador nesta vila”, aparece já em 23/03/1557 como testemunha em certa
procuração de Isabel Pimenta.4
E que a 30/04/1588, na cadeia do castelo estando aí preso o licenciado João de
Valadares fazia seu bastante procurador a Diogo Sodré e a António de Faria, cavaleiro
fidalgo, cunhado dele constituinte para que possam comparecer perante o senhor doutor
Brás Fragoso, do conselho de sua majestade (...).5
Mais ainda, que a 05/06/1557, nas pousadas do tabelião Jerónimo Pires, estando
aí o reverendo senhor Cristóvão dos Guimarães, cónego de Nossa Senhora da Oliveira e
logo por ele foi dado e entregue a António de Faria, seu genro, em começo de pago do
dote que lhe tem prometido com sua filha Paula dos Guimarães, cem mil reis em
dinheiro de contado (...).6

2
Arquivo Distrital de Braga, Matrículas de Ordens Sacras, Livro IV, cad. 30, fls. 27.Lº de 21/12/1559-
01/03/1572, Cad. 10, fls. 118, pasta 12.
3
Vide Manuel José da Costa Felgueiras Gaio, “Nobiliário de Famílias de Portugal”, Titulo de Farias,
§13.
A verdade é que nada encontrei de documental acerca do pretenso Dr. Fernão Roiz da Cana, “muito
valido d’el-rei D. João II, pessoa de grande autoridade no seu tempo”. Se eventualmente existiu algum
“Fernão Roiz”, valido de D. João II (e o apelido “Cana” em nada ajuda a uma identificação familiar), ele
não deixou rasto na Chancelaria do monarca. Manuel Abranches de Soveral (in “Ensaio sobre a origem
dos Farias”) sugere a hipótese dele ser o Fernando Rodrigues que foi procurador (2.10.1483) e escrivão
das obras (3.10.1483) de Barcelos. Não o podemos confirmar, muito menos desmentir.
Era Teresa Afonso de Faria, segundo os mesmos autores, 4ª neta paterna do célebre alcaide-mor de
Faria, Nuno Gonçalves, ainda que no mesmo ensaio Abranches de Soveral sugira atribuir-lhe uma filiação
diferente (a nosso ver, fantasiosa e pouco credível) da que lhe é dada por Felgueiras Gaio e outros
autores, nomeadamente, Jorge de Faria Machado Vieira de Sampaio, in “Subsídios para a genealogia dos
Farias Machados das Casas da Bagoeira e das Hortas” (Lisboa. 1938).
4
Arquivo Municipal Alfredo Pimenta, Colegiada 931, tabelião Jerónimo Pires, fls. 59 vº a 61.
5
Arquivo Municipal Alfredo Pimenta, Notarial n.º 46, tabelião Cristóvão de Azevedo do Vale, fls. 152.
6
Arquivo Municipal Alfredo Pimenta, Colegiada 931, tabelião Jerónimo Pires, fls. 93vº e 94.

3
Parece, pois, depreender-se com alguma lógica e certeza de que este António de
Faria do nosso estudo seria filho espúrio, atendendo a que o pai recebe ordens menores
e o filho era já escudeiro fidalgo e casado em 1557, conforme nos informam os
documentos acima referidos.
António de Faria teria assim nascido cerca de 1530, por muito especial favor lhe
concederia a hipótese de 1540 (um pouco antes ou depois), pelo que seria naturalmente
filho espúrio do clérigo que já recebera ordens menores cerca de 50 anos antes.
Verdade seja dita, para completar o "quadro" exposto, que poderíamos admitir
ter o pai tomado ordens menores naquela data, vindo posteriormente a casar, ter filhos, e
somente após a morte da mulher ter decidido enveredado pela vida eclesiástica. Mas
parecem-me já conjecturas demasiado rebuscadas.
No arquivo da casa de Recobelo, consta acerca de António de Faria “q hera e se
intitulava Fidº do Prazo da Igrª. De Moure f.to na era de 1569 na Camª. Ecleziasttica
(o Prazo antiguo da Igrª. De Moure)” 7 .
Faleceu em 8/5/1615 em S. Martinho de Águas Santas, Póvoa de Lanhoso.8

Casou com PAULA DE GUIMARÃES, perfilhada pelo pai em 05/07/1557 e


falecida na mesma freguesia a 11/11/1613, herdeira da quinta de Recobelo, filha de
Cristóvão de Guimarães9 (falecido a 20/4/1566), que recebeu ordens menores em Braga
em 1505, cónego da 1ª Prebenda da Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira,
Guimarães, antes que fosse magistral em 1515 e 1516 (admoestado por D.
Baltazar Limpo, arcebispo e senhor de Braga, na sua visitação àquela colegiada em
3/10/1556), e de Margarida Luís, mulher solteira10.

Filhos:
1(II)- Marcos de Faria, segue

7
Vide ob. cit. adiante na nota 19, pág. 316, nota (370).
8
Idem, Livro Misto nº 1 da freguesia de S. Martinho de Águas Santas, fls 59.
9
Era filho de Lourenço Martins de Guimarães, que tomou ordens menores em Braga em 1485, escrivão
da Câmara d’el-rei e seu desembargador do Paço, prebendeiro do cabido em 1515 e 1516 (o cónego Luís
Anes, obteve para seu sobrinho Lourenço Martins a concessão de três vidas no ofício de Prebendeiro do
Cabido da colegiada de Nossa Senhora da Oliveira, em Guimarães), vereador de Guimarães em 1515,
comendador de S. Cosme e Damião de Garfe, na Ordem de Cristo, e de sua mulher Catarina Anes
(sobrinha do cónego Luís Anes, cónego da colegiada de Nossa Senhora da Oliveira).
Neto paterno de Martim Afonso de Guimarães (que alguns dizem filho do arcebispo D. Fernando da
Guerra e outros, mais certamente, o filiam no acima referido cónego da colegiada de Guimarães, Luís
Anes) e de Leonor Fernandes Chamiça (ver sobre este assunto, nomeadamente, Rui Moreira de Sá e
Guerra, Genealogia dos Guimarães, in “Estudos Históricos e Genealógicos”, Braga-1974). Esta filiação
no arcebispo de Braga é hoje muito contestada por alguns historiadores, nomeadamente o Prof. Doutor
José Marques.
10
Em 26/9/1516 trazia o casal de Recobelo, que era da igreja de S. Martinho de Águas Santas, João Luís
(A. D. B., Registo Geral, Tombo da igreja de Moure). O qual trazia igualmente outros casais naquela
freguesia e sua anexa de Moure, como os casais do Arrabalde, da Corujeira, de Rebuido, do Outeiro “que
he herdade de João Luis e seos irmãos”.
É bem possivel que este João Luís possa ser pai ou parente próximo de Margarida Luís, mãe de Paula
de Guimarães, tanto mais que sabemos por aqueles documentos que ele tinha filhos.

4
2(II)- Miguel de Faria, tomou a prima tonsura e as quatro menores em Braga a
4/6/1583 e foi abade de Santo Estêvão de Geraz, concelho de Lanhoso. C. g.
bastarda.
3(II)- Matias de Faria, casou a 26/1/1603 em Santa Maria da Oliveira,
Guimarães, com Maria de Azeredo, filha de Belchior do Canto Viegas, fidalgo
da Casa d’el-rei, tabelião do judicial em Guimarães, e de sua mulher Helena de
Azeredo (escritura de dote da mãe dela a 29/12/1602). C. g.
4(II)- D. Joana de Faria, casada com seu primo António Vaz Peixoto, filho de
Cristóvão Vaz Moutinho e mulher Leonor de Guimarães (Peixoto), moraram na
quinta de Recobelo, em Águas Santas, Póvoa de Lanhoso.11
5(II)- Ana de Faria, falecida a 1/6/1635 na quinta de Recobelo, com testamento
em que mandou que lhe dissessem trinta missas em três estados.12
6(II)- Francisco de Faria, padrinho de um baptismo na freguesia de Águas
Santas, em 10/2/1605, com a irmã Joana de Faria.
Casou com Catarina Cerqueira, filha de Bartolomeu Fernandes, do casal
do Bufo. C. g.
7(II)- João de Faria, padrinho de baptismo em Águas Santas, a 9/4/1607, com a
irmã Joana de Faria.
8(II)- Maria de Faria, madrinha de um baptismo na mesma freguesia, a
9/10/1619, com António Vaz Peixoto e era “sua cunhada”.
Casou com Manuel de Magalhães Machado, senhor da quinta de Real,
no vale de Geraz, concelho de Lanhoso. C. g.

Casa de Recobelo – fachada e portão armoreado

9(II)- Cristóvão de Faria, vigário de Santa Maria da Vinha da Areosa, Viana do


Castelo.

11
“Joana de Faria dona v.ª falleceo aos vinte hy dois dias do mês de março de mil e seiscentos e
cinquoenta e quatro annos ouve hum estado de trinta e tres padres coatro de trinta e seis e outro de trinta
e quatro, esta satisfeito” S. Martinho de Águas Santas, Livro Misto nº2, fls 72 vº.
O marido, António Vaz Peixoto serviu de padrinho de um baptismo nesta freguesia, em 21/12/1616,
juntamente com “sua irmã da Lavandeira, freg.ª de Monçullo”.
Veio a falecer a 16/12/1642, com testamento em que mandou se dissessem 45 missas (idem, Misto
nº1, fls 56 vº).
Pelo menos uma filha solteira, Inês Vaz, faleceu a 01/05/1627, em Águas Santas e moradora na quinta
de Recobelo.
12
Arquivo Distrital de Braga, Livro Misto nº 1 de S. Martinho de Águas Santas, fls 54.

5
10(II)- Margarida de Faria, casada com António Nogueira de Carvalho, de
Barcelos, onde viveram. C. g.

II- MARCOS DE FARIA, foi quem veio a herdar a casa de Recobelo, tendo mandado
erigir a capela de Nossa Senhora do Pilar, com sua mulher, conforme se lê ainda hoje na
inscrição colocada na fachada da mesma.13
Faleceu em 1651, entre os meses de Agosto e Dezembro.
Foi proprietário dos ofícios de tabelião público do couto de Moreira de Rei e
escrivão das sisas de Montelongo, desde pelo menos 1614 e até, pelo menos, 1647.
Obteve um alvará do rei D. Filipe III, passado em Lisboa a 10/12/1637,
autorizando-o em vida ou por morte, a renunciar o ofício de tabelião num filho ou filha,
ou para a pessoa que casasse com ela. O que de facto ele fez, nomeando o dito ofício no
filho Francisco Rebelo Peixoto, por escritura pública lavrada em 4/3/1647, nas notas do
tabelião Francisco Reis de Carvalho, do concelho de Montelongo.
Em 17/1/1643 o rei D. João IV passara-lhe um alvará permitindo igual mercê
relativamente ao ofício de escrivão das sisas de Montelongo, por “haver vinte e oito
anos que serve o dito ofício com verdade e inteireza”14.

Casa de Recobelo – pátio interior

Casou com sua parente D. MARIA DE ANDRADE PEIXOTO, falecida a


26/6/1665 em Moreira de Rei, sendo sepultada na sua sepultura dentro da igreja
paroquial, herdeira da casa Grande do Marinhão, nesta freguesia, filha de Francisco
Rebelo de Andrade, capitão-mor dos concelhos de Mondim, Cerva, Atey e Ermelo,
proprietário dos ofícios de seu pai (escrivão das sisas e órfãos de Montelongo, tabelião
do público, judicial e notas do couto de Moreira de Rei), senhor da casa Grande do
Marinhão, e de sua mulher Leonor de Guimarães; neta paterna de Rodrigo Rebelo de
Gouveia, moço de câmara dos reis D. João III e D. Sebastião, tabelião, escrivão da

13
Diz aquela inscrição: “ESTA CAPELA E DE N S DO PILAR FUNDADA NA ERA DE N S JESUS
CRISTO DE 1617 POR MARCOS DE FARIA E SUA MUL MARIA DE ANDRADE PEIXOTO”.
14
Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Mercês de D. João IV, Livro 22, fls 174 e Livro 15, fls 400
(Rui Moreira de Sá e Guerra, ob. cit. nota 9).

6
Câmara e almotaçaria do concelho de Montelongo, escrivão das sisas e órfãos do
mesmo concelho, e tabelião do público, judicial e órfãos do couto de Moreira de Rei 15, e
de sua mulher Camila de Magalhães Teixeira; neta materna de Álvaro de Freitas
Peixoto, administrador do morgadio das Lamelas, em Guimarães, e de sua mulher Isabel
Peixoto.16

Filhos:
1(III)- Francisco Rebelo Peixoto, segue
2(III)- D. Clara de Menezes Rebelo, falecida em Creixomil a 29/12/1618,

Pedras de armas da Casa Grande do Marinhão, colocadas de cada lado do portão de acesso

casada a 12/6/1661 (precedendo escritura de dote de 31/1/1661, nas notas do


tabelião de Guimarães, Bento da Cruz Lobato), na capela de Nossa Senhora do
Desterro, da quinta do Marinhão, com Paulo Borges, o “Pato”, senhor da
quinta de Laços, em S. Miguel de Creixomil, Guimarães, Infanção da
governança e vereador, falecido a 9/10/1691, na mesma freguesia, sendo
sepultado na sua capela de S. Paulo, que ele instituira em vínculo17, filho de Pero
Borges, senhor da quinta de Laços, e de sua mulher D. Margarida Moreira. C. g.
3(III)- Leonor de Guimarães Peixoto, falecida solteira.

15
Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Mercês de D. João III, Livro 54, fls 321 e Livro 71, fls 314;
Mercês de D. Sebastião, Livro 2, fls 184 vº e 186 vº.
Os mesmos ofícios exercera seu pai Cristóvão Rebelo, escudeiro da Casa d’el-rei D. João III, que por
sua vez os herdara por renúncia do pai, Fernão Nunes (de Meireles).
Para Cristóvão Rebelo, ver Mercês de D. João III, Livro 3, fls 9 e Livro 47, fls 76 vº e 147 vº. Para seu
pai, Fernão Nunes, ver Mercês de D. Afonso V, Livro 16, fls 46 e 134 (Arquivo Nacional da Torre do
Tombo).
Cristóvão Rebelo era casado com Maria de Andrade, dama da rainha D. Catarina, filha de Rui Pires de
Gouveia, moço fidalgo da Casa d’el-rei D. João III, que viveu em Santa Cruz de Lumiares (Armamar)
onde foi ouvidor das terras de D. Jorge, duque de Coimbra, a quem, em 1529, D. João III autorizou a
deixar 140 alqueires de pão meado de renda ao mosteiro de Requião, da Ordem de Santo Elói (A. N. T.
T., Chancelaria de D. João III, Livro 50, fls 9 v.º), e de sua mulher Leonor de Andrade.
16
Vide ob. cit. nota 3, nomeadamente no título de Farias, § 119 e no título de Meireles, § 3.
17
Vide Maria Adelaide Pereira de Moraes, Velhas Casas, IV (Creixomil)-Casa de Laços, pág.s 5 a 45.

7
III- FRANCISCO REBELO PEIXOTO, (falecido a 21/1/1677, na casa de Recobelo,
com testamento feito a 16/7/1665, pelo Padre João de Faria, abade de S. Pedro de
Figueiredo)18, capitão de infantaria auxiliar dos privilegiados de Nossa Senhora da
Oliveira, da vila de Guimarães19, justificou a sua nobreza em 6/3/1659, fidalgo de cota
de armas, escrivão do couto de Moreira de Rei, tendo o pai nomeado nele igualmente os
ofícios de escrivão das sisas de Montelongo e de tabelião público do couto de Moreira
de Rei, nomeações confirmadas por cartas de D. João VI passadas, respectivamente, em
14 e 15/3/165220, senhor das casas de Recobelo e do Marinhão.

Casa Grande do Marinhão

Casa Grande do Marinhão – capela de Nª Sª do Desterro

18
Vide ob. cit. nota seguinte, pág.s 318-319, nota (380).
19
“Achouse na tomada de Salvaterra com sua companhia da ordenança da qual hera capitão com que
servio a sua Magestade athe o anno de 59, e dahi por diante athe o anno das pazes lhe mandou El Rey
passar hua patente de Capitão de Inffanteria auxiliar que servio com muyta satisfacão e inteyreza athe o
dito anno das pazes”. Vide Artur Vaz Osório da Nóbrega, “Pedras de Armas e Armas Tumulares do
Distrito de Braga”, Vol. IV (concelhos de Vieira do Minho e Póvoa de Lanhoso), ed. da Junta Distrital de
Braga, 1974, pág. 308 a 334.
20
Rui Moreira de Sá e Guerra, ob. cit. nota 9.

8
Casou21com D. MARGARIDA DE AZEVEDO DE VASCONCELOS,
falecida a 21/7/1693 na casa de Recobelo22, filha de Belchior da Fonseca de Azevedo,
abade de Santa Maria de Moure e sua anexa de Águas Santas, falecido em Santa Maria
de Moure a 26/01/1670, com testamento e sendo sepultado no meio da capela-mor da
igreja (era senhor do prazo do casal de Recobelo, que emprazou a 2/3/1668 a Gonçalo
Gonçalves e mulher Ana Antónia23), e de Maria de Araújo de Vasconcelos24 (da casa de
Sinde, em Covelas, Póvoa de Lanhoso); neta paterna de Belchior de Azevedo, que
recebeu a prima tonsura a 19/12/1573 em Braga (filho de Francisco Borges e de sua
mulher Inês da Fonseca, da freguesia de S. Pedro de Figueiredo)25, senhor da quinta da
Torre de Vilar, nesta freguesia, e de sua mulher Antónia de Macedo, da quinta de
Adaúfe, em Lanhoso.26

Filho deste casamento:


1(IV)- Belchior Rebelo (Peixoto) de Azevedo, segue

Teve mais Francisco Rebelo Peixoto bastardos:

de Isabel de Faria, solteira do Marinhão:


2(IV)- Paula Peixoto (falecida a 12/3/1694 na freguesia de Moreira de Rei, com
testamento verbal, deixando uma missa na ermida de Nossa Senhora do
Desterro, da quinta do Marinhão, nomeando nesta capela sua filha Mariana),
casada a 13/7/1659 em Moreira de Rei com Pero da Silva, filho de Pero de
Freitas e de sua mulher Ana da Silva. C. g.
3(IV)- Leonor Peixoto, casada a 1/2/1671 na mesma freguesia com Tomé de
Sousa de Oliveira, filho de Pero Fernandes, já falecido à data, e de sua mulher
Maria de Sousa, de Redondelo, freguesia de Santa Maria de Ribeiros.

de Catarina Manuel, do lugar do Areal, na mesma freguesia:


4(IV)- Maria Peixoto, casada na mesma freguesia a 8/2/1671 com João
Antunes, filho de Pero Gaspar (já defunto à data) e de sua mulher Maria Pires,
do lugar dos Casais, na mesma freguesia.

Assento de óbito de Francisco Rebelo Peixoto

21
Busquei este casamento nas freguesias de Águas Santas, Santa Maria de Moure, Covelas (Póvoa de
Lanhoso), Moreira de Rei (Fafe) e S. Pedro de Figueiredo (Amares). Não o encontrei, pelo que
desconheço onde se realizou.
Em Inquirições de Genere de netos seus diz-se que ela era natural da freguesia de Águas Santas, do
lugar da Pertença.
22
D. Margarida, viúva, faleceu a 21/7/1693 em Águas Santas, com a Irmandade das Almas, tendo no
outro dia 32 clérigos, no segundo ofício 33 clérigos, morrendo abintestada (Livro Misto nº3, fls 36 vº).
23
Arquivo Distrital de Braga, Registo Geral, Livro 35, fls 174 vº.
24
Será a mesma Maria, familiar de Pº de Araújo de Vasconcelos, falecida a 19/4/1637 em Covelas,
tendo-lhe sido feito um ofício de três lições, de dez padres? (Livro Misto nº1 desta freguesia, fls 78 vº).
25
Arquivo Distrital de Braga, Matrículas das Ordens Sacras, Pasta XII (1550-1575), fls. 19 vº.
26
Vide Manuel José da Costa Felgueiras Gaio, Nobiliário, titº de Azevedos, § 133.

9
Assento de óbito de D. Margarida de Azevedo de Vasconcelos

Pedras de armas no portão principal da casa de Recobelo

de Joana Fernandes, do lugar da Tulha27:


5(IV)- Manuel Rebelo, casado a 16/9/1686, na mesma freguesia, com Maria
Gonçalves, filha de António Gonçalves e de sua mulher Ana Fernandes, do
lugar do Tourão.

de Maria Fernandes, do mesmo lugar:


6(IV)- Inácia Peixoto, casada a 30/1/1690, na mesma freguesia, com António
Gonçalves, irmão de sua cunhada acima (5(IV)).
7(IV)- António Rebelo, casado a 9/12/1691, na mesma freguesia, com Catarina
Gonçalves, irmã dos dois cunhados anteriores.
8(IV)- Clara Peixoto (falecida a 1/5/1701 em Moreira de Rei, sendo sepultada
na igreja), casou a 3/11/1692 na mesma freguesia com Frutuoso Antunes, filho
natural de Manuel Antunes e de Maria Carvalho.
9(IV)- Francisco Rebelo Peixoto, morador no lugar da Tulha, falecido a
14/12/1713 e foi sepultado na sepultura de seu irmão Belchior Rebelo de
Azevedo (onde fora sepultado seu pai), com testamento em que deixou três
ofícios de dez padres cada, mais a missa de S. Pedro e os ofícios de nove lições.

de Ana Antunes, do lugar de Marinhão:


10(IV)- Maria Peixoto, casada a 27/5/1674 na mesma freguesia com Manuel da
Cunha de Lima, filho de Pero Simões e de sua mulher Maria de Lima, já
defuntos, da freguesia de S. Tomé de Estorões.
27
Será a Maria Fernandes, do lugar da Tulha, de quem teve outros filhos?

10
de Isabel de Sousa, solteira (filha de João Manuel e de sua mulher Catarina
Durães, de S. Bartolomeu do Rego):
11(IV)- O Reverendo António Rebelo de Meireles (também aparece somente
com o nome de António de Meireles), natural da freguesia de S. Bartolomeu do
Rego, concelho de Celorico de Basto, que teve a sua inquirição de genere a
7/8/169028.
de mãe desconhecida:
12(IV)- Francisca Rebelo, solteira e moradora na casa de Recobelo, falecida a
25/1/1721 com testamento em que deixou três ofícios de vinte padres cada e
dezanove lições e três missas rezadas no altar de S. Pedro de Rates, mais duas no
altar de Nossa Senhora do Rosário, da mesma freguesia de Águas Santas, sendo
sepultada na nave das Chagas da capela de S. Bento.

Será muito provavelmente também seu filho natural:


13(IV)- João Rebelo Peixoto, que em 22/8/1680 tinha o ofício de “escrivão do
público e couto judicial e notas no couto de Moreira de Rey por Sua Alteza”29.
S.m.n.

IV- BELCHIOR REBELO (PEIXOTO) DE AZEVEDO, foi baptizado a 18/5/1669


em S. Martnho de Águas Santas, tendo por padrinhos Diogo da Fonseca e Azevedo e D.
Mariana, do Vilar. Veio a falecer a 22/7/1731, na mesma freguesia, sem testamento,
sendo sepultado na capela de S. Bento.
Foi senhor das casas de Recobelo e do Marinhão, teve a mercê dos ofícios de seu
pai, pelos alvarás régios para nomear nele os ofícios de tabelião e escrivão da Câmara e
órfãos do couto de Moreira de Rei e de escrivão das sisas do couto de Moreira de Rei,
respectivamente datados 02/05/1675 e 13/07/1675.30 Teve ainda a mercê do ofício de
escrivão do público e órfãos do concelho de Moreira de Rei, por provisão de
27/03/1730.31
Casou a seu gosto, a 28/7/1695, em Águas Santas, com D. CUSTÓDIA
FRANCISCA FERREIRA CALDEIRÃO, falecida na freguesia de Moreira de Rei a
25/2/1710, sem testamento, sendo sepultada em sepultura sua com os sacramentos da
Penitência e Eucaristia, mas sem a Extrema Unção, “por não avisar”32, filha de
António Ferreira, da freguesia de S. Paio de Pousada, e de sua mulher Maria Antónia
Caldeira, da freguesia de Águas Santas.

Pedra de armas num tanque da casa de Recobelo

28
Arquivo Distrital de Braga, Processos de Habilitação de Genere, Pasta 14, Proc.º 341.
29
No processo de inquirição de genere da nota anterior.
30
Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Registo Geral de Mercês, Mercês (Chancelaria) de D. Afonso
VI, liv.28, f.159 v; idem, ibidem, f.41v.
31
Idem, ibidem, Mercês de D. João V, liv. 21, f.250.
32
Arquivo Distrital de Braga, Moreira de Rei, Livro Misto nº 2, fls 15 vº.

11
A 20/2/1696 fez com sua mulher escritura de doação de bens para a capela de
Nossa Senhora do Pilar, da casa de Recobelo.33

Filhos:
1(V)- D. Rosa Maria dos Guimarães Peixoto, nasceu natural e foi baptizada a
10/3/1690 em Águas Santas, tendo por padrinhos Geraldo de Paiva Brandão e
Antónia de Macedo.
2(V)- D. Micaela Peixoto dos Guimarães, nasceu natural e foi baptizada a
28/10/1691, na mesma freguesia, tendo por padrinhos o Padre Francisco
Geraldes e Francisca Rebelo, solteira.
Veio a falecer solteira a 23/9/1746, com testamento vocal, sendo
sepultada na igreja paroquial. Tinha herdado de pai e mãe.
3(V)- Padre Alexandre Rebelo Peixoto de Azevedo, nasceu natural e foi
baptizado a 4/3/1693, na mesma freguesia, tendo como padrinhos o Padre Pedro
de Carvalho e Antónia de Macedo.
Teve a sua inquirição de genere, em Braga, a 12/08/1719. 34
Faleceu a 21/12/1767, na mesma freguesia, com ofício de trinta e quatro
padres e nove lições.
A 31/5/1739 fez doação de bens para a fábrica da capela de Nossa
Senhora do Pilar, da casa de Recobelo.35
4(V)- D. Maria Teresa Rebelo dos Guimarães Peixoto, nasceu natural e foi
baptizada a 16/12/1694, em Águas Santas, tendo por padrinhos o Padre Pedro de
Carvalho, abade de Águas Santas, e Antónia da Fonseca, familiar do Padre
Diogo da Fonseca.
Faleceu solteira a11/3/1797, sem testamento, mas fizera escritura de
doação ao sobrinho Belchior Rebelo Peixoto de Azevedo e Castro, sendo
sepultada na capela da casa de Recobelo.
5(V)- João Rebelo Peixoto de Azevedo e Castro, nasceu a 5/2/1696 e foi
baptizado no dia seguinte, na igreja de Águas Santas, tendo por padrinhos João
Lobato de S. Paio e Antónia da Fonseca.
Faleceu a 10/11/1763 na mesma freguesia, sendo sepultado na igreja
paroquial.
Foi senhor das casas de Recobelo e do Marinhão, proprietário encartado
dos ofícios de público, judicial, notas, câmara e órfãos, do couto de Moreira de
Rei, e das sisas de Montelongo, Sepães e Pedraído.
Teve a sua inquirição de genere, em Braga, a 30/8/1734.36
Casou a 22/09/1755, na freguesia de Águas Santas37, com D. Guiomar
Vaz Veloso, nascida a 03/03/1726, na mesma freguesia, e falecida na casa de
Recobelo a 11/3/1760, filha de Domingos Antunes e de sua mulher Isabel
Antunes, do lugar de Patos de Fora, da mesma freguesia; neta paterna de
Geraldo Fernandes, de Água Santas, e de sua mulher Maria Antunes, da
freguesia de S. Tiago de Lanhoso; neta materna de António Antunes, da
freguesia de S. Martinho de Monsul, no mesmo concelho da Póvoa de Lanhoso,
e de sua mulher Marta Fernandes, da freguesia de Santa Maria de Moure.

33
Idem, Registo Geral, Livro 31, fls 138 v.º.
34
Idem., Habilitações de Genere, Proc.º 1350, de Águas Santas, Póvoa de Lanhoso, Braga.
35
Idem, Registo Geral, Livro 98, fls 233 v.º.
36
Idem., Habilitações de Genere, Proc.º 21299, de Águas Santas, Póvoa de Lanhoso, Braga.
37
O assento de casamento aparece reproduzido no Processo de Inquirição de Genere de seu neto Leandro
Rebelo Peixoto de Azevedo e Castro, à frente referenciado na nota 42.

12
Na sua descendência se conservam as casas de Recobelo e Marinhão.
6(V)- António, baptizado a 13/1/1698 na mesma freguesia. Morreu criança.
7(V)- D. Bárbara, baptizada a 12/12/1698, na mesma freguesia, faleceu solteira
a 16/12/1763, sem testamento.
8(V)- D. Camila, baptizada a 20/1/1702, na mesma freguesia, onde faleceu a
17/5/1756, sendo sepultada diante do altar do Senhor das Chagas, sem
testamento, mas seu irmão o Padre Alexandre Rebelo mandou fazer dois ofícios
de trinta e três padres.
9(V)- Pero, nasceu a 29/6/1705 na mesma freguesia, tendo por padrinhos no
baptismo seus irmãos Alexandre e Micaela. Morreu criança.
10(V)- Rodrigo Rebelo Peixoto de Castro, segue
11(V)- D. Umbelina de Azevedo e Andrade, baptizada a 15/11/1712 na mesma
freguesia, tendo por padrinho o Padre Geraldo de Paiva Brandão, morador no
lugar da Loureira, e veio a falecer solteira a 27/1/1789, tendo feito doação ao
sobrinho Belchior, na escritura de dote, sendo sepultada na sua capela de Nossa
Senhora do Pilar, da casa do Recobelo.
12(V)- D. Antónia, falecida solteira na casa de Recobelo a 4/4/1770, sem
testamento.

V- RODRIGO REBELO PEIXOTO DE CASTRO, nasceu a 21/2/1710 na casa do


Marinhão, freguesia de Moreira de Rei e foi baptizado no dia seguinte, na igreja desta
freguesia, sendo seu padrinho o irmão Alexandre. Faleceu na casa de Fundevila, S.
Miguel do Paraízo (o assento não diz a data, por lapso) “e foi sepultado na sua
Cappella por ser sua ultima vontade e ter Despacho de Sua Exselencia o Senhor Dom
Frei Chaetano”.38
Foi o 4.º administrador do Morgadio de Laços, em S. Miguel de Creixomil, e 5.º
do Morgadio de Rio Mau, com capela de Nossa Senhora da Penha, na freguesia de S.
Miguel de Carreiras, junto à torre de Penegate, por doação de sua prima D. Rosa Maria
Peixoto dos Guimarães Valadares e Castro, de quem foi herdeiro universal39, senhor da
quinta do Arronso, em Santa Eulália de Nespereira, Guimarães. Teve habilitação de
genere em Braga, a 26/8/1733.40
Casou a 20/7/1768 na capela de S. Paulo, da sua casa de Laços, com D.
GERTRUDES MARIA DE CAMPOS FARIA PINHEIRO, senhora da casa de
Fundevila, em S. Miguel do Paraízo, no termo de Guimarães41, nascida a 9/1/1749 e
baptizada na freguesia de S. Sebastião, Guimarães, e falecida a 02/01/1830, com

38
Arquivo Municipal Alfredo Pimenta, Guimarães, Livro Óbitos, S. Miguel do Paraízo, 1773-09-27 –
1803-02-05.
39
Vide ob. cit. nota 17. O Morgadio de Rio Mau foi instituido pelo Padre António de Valadares, abade
de Rio Mau, filho do Licenciado João de Valadares e de sua mulher Inês de Guimarães (filha do cónego
Cristóvão de Guimarães).
O Morgadio de Laços foi instituido pelo Beneficiado Francisco Borges Peixoto, Familiar do Santo
Ofício, no seu testamento de 28/12/1722, lançado nas notas do tabelião José de Freitas, de Guimarães, em
17/8/1733.
40
Arquivo Distrital de Braga, Habilitações de Genere, Proc.º 4368, Águas Santas, Póvoa Lanhoso,
Braga.
41
“Reconhecimento do cazal de Fundevilla de sima que no tombo antecedente se chama da Capella sito
nesta frg.ª de S. Miguel do Paraizo de que he pessuidora Marianna Josefa dos Santos V.ª que ficou de
Fran.cº Roiz Alves”, em 5/11/1764 (Arquivo Municipal Alfredo Pimenta, Livro 10.º do Registo do
Almoxarifado de Guimarães, fls 257 a 265 v.º). E o “Reconhecimento do Cazal de Funde Villa de baixo
sito nesta freguezia de Sam Miguel do Paraizo de que he actual pessuhidora Getrudes Maria de Barboza
com assistencia de sua tutora e Mai Marianna Josefa dos Santos e Barboza de Faria”, em 7/11/1764
(idem, Livro 7.º, fls 9).

13
testamento, na sua casa de Fundevila, em cuja capela foi sepultada, filha herdeira de
Francisco Rodrigues Álvares, negociante, natural da freguesia de S. Cosme e S.
Damião, no termo dos Arcos de Valdevez42, e de sua mulher D. Mariana Josefa dos
Santos (Campos) Barbosa Pinheiro e Faria43, senhores da casa de Fundevila; neta
paterna de Manuel Álvares e de sua mulher Maria Rodrigues; neta materna de Luís
Ribeiro de Campos, mercador, e de sua mulher (casaram a 8/1/1725, na freguesia de S.
Tomé de Abação, no termo de Guimarães) Jerónima Barbosa de Faria, natural desta
última freguesia.

Assento de casamento de Rodrigo Rebelo Peixoto de Castro e D. Gertrudes Maria de Campos Faria
Pinheiro

42
No Processo de Habilitação de Genere de seu neto, Leandro Rebelo Peixoto de Azevedo e Castro
(Procº 18648), onde está reproduzido o assento de casamento deste seu avô, diz-se que ele era natural da
freguesia de Vilela, no mesmo termo dos Arcos. Francisco Rodrigues Álvares era já viúvo de Rosa Maria
da Veiga, falecida no Rio de Janeiro, onde foram moradores.
Casou em 2ªs núpcias, em Guimarães, freguesia de Nossa Senhora da Oliveira, a 12/06/1745, com
Mariana Josefa dos Santos Barbosa Ribeiro de Faria.
46
Mariana, f.ª de Luís Ribeiro de Campos e de sua mulher Jerónima Barbosa de Faria, moradores na rua
dos Mercadores, da vila de Guimarães, nasceu a 4/11/1725 e foi baptizada no dia 11 na igreja de S. Tomé
de Abação, “por suceder nascer a sobredita criança na tal freg.ª em uma fazenda dos sobreditos”, pelo
tio o Padre Bento Pinheiro de Faria, irmão da mãe da baptizada.
Jerónima Barbosa de Faria nasceu a 2/1/1702, em S. Tomé de Abação, e era filha de João Álvares (de
Faria), desta freguesia (onde foi baptizado a 27/2/1664) e de sua mulher Joana Antunes (filha de João
Gonçalves Pinheiro e mulher Ana Antunes, da fregª de Santo Estêvão de Urgeses)); neta paterna de Pero
de Faria, senhor do casal do Penedo Velho, em Salvador do Pinheiro, e de sua mulher Jerónima Álvares,
herdª deste casal do Penedo (casaram a 3/5/1663 em Abação).
Pero de Faria era filho de Tomé Pinheiro e de sua mulher Catarina Mendes, da freguesia de Salvador
do Pinheiro; neto paterno de Sebastião Gonçalves e de sua mulher Isabel de Faria, do casal do Assento,
em Pinheiro; e bisneto (por sua avó Isabel de Faria) de Gonçalo Pires, o Novo, e de sua mulher Margarida
de Faria (irmã de Violante de Faria casada com António Rebelo de Macedo e, como tal, filha de Salvador
(de Lemos) de Faria, em “Nobiliário” de Felgueiras Gaio, tit.º de Lemos, 29), senhores do casal do
Assento.
Uma das filhas de Sebastião Gonçalves e de sua mulher Isabel de Faria, Margarida de Faria, casou com
João Mendes d’Elvas, a quem os pais dela fizeram escritura antenupcial, em 16/5/1623, dotando-a com
trinta mil réis e com o casal de Soutelo, do mosteiro de Santa Marinha da Costa. A esta escritura
estiveram presentes o rev.º Gonçalo Lopes d’Elvas, reitor da igreja de Santa Maria de Infias, termo de
Guimarães, o revº Manuel Gonçalves Pinheiro, cónego da ínsigne e Real Colegiada de Nossa Senhora da
Oliveira, de Guimarães (irmão da mãe da noiva), Tomé Pinheiro e Manuel Pinheiro, irmãos da noiva
(Arquivo Municipal Alfredo Pimenta, Livro de notas com a cota antiga A-10-2-43, fls 84 v.º e seguintes).

14
Foram grandes e graves os desentendimentos por motivo da herança do
morgadio de Laços.
António de Abreu de Lima de Sotomayor e sua mulher D. Francisca Luísa de
Sousa e Castro, morgados de Tora, nos Arcos de Valdevez (esta era neta paterna de D.
Emerenciana Josefa dos Guimarães Peixoto, irmã do instituidor do vínculo e casada
com Pedro de Araújo de Sousa e Castro, fidalgo da Casa de Sua Majestade e morgado
de Tora), queixam-se que Rodrigo Rebelo Peixoto de Castro e sua mulher se haviam
disposto a restituir-lhes o vínculo de Laços, tratando de casar sua filha única e herdeira,
D. Maria Gertrudes Rebelo Peixoto de Azevedo e Castro, com o filho deles Francisco
de Abreu de Sousa e Castro.
Fora feita escritura antenupcial na nota do tabelião Domingos de Amorim
Soares, da vila dos Arcos de Valdevez, mas tal casamento não se veio a concretizar.
Casam-no com outra senhora. Morre António de Abreu de Lima a 6/10/1779 e o
filho herdeiro e noivo a 18/7/1783.
Por falecer sem descendentes da sua quase recém-casada viúva, D. Maria
Cândida Xavier de Moura Coutinho, deixa Laços, seus vínculos e direitos “sobre o que
corre pleito em Lisboa”, a seu tio materno Francisco José de Sousa e Castro, fidalgo da
Casa de Sua Majestade, casado com D. Maria Luisa de Castro e Sotomayor.
Vence este a demanda.
O primogénito, Francisco Alexandre de Sousa e Castro, fidalgo da Casa de Sua
Majestade, morgado de Tora e de Laços, casado com filhos de D. Margarida Luisa de
Sousa e Castro, trata de casar seu único varão, Francisco de Sousa e Araújo de Castro e
Noronha, com a filha de Rodrigo Rebelo Peixoto de Castro, D. Maria Gertrudes.
Tem o noivo 14 anos mal cumpridos e a noiva 20. Ela proclamando-se senhora
do morgadio de Laços e de todos os prazos “por doação e nomiação de meus pais”, ele
da mesma forma dizendo-se senhor de Laços, por nomeação dos progenitores44.
Terminaria assim o despique por causa deste morgadio. Mas...o homem põe e
Deus dispõe!
Vamos ver.

Filhos:
1(VI)- Francisco, nasceu a 07/06/1769, em S. Miguel de Creixomil e foi
baptizado a 21 do mesmo mês e ano, na capela de S. Paulo, da casa de Laços.
Faleceu menino.
2(VI)- D. Maria Gertrudes Rebelo Peixoto de Azevedo e Castro, segue

VI- D. MARIA GERTRUDES REBELO PEIXOTO (DOS GUIMARÃES) DE


AZEVEDO E CASTRO, nasceu a 29/5/1770 em S. Miguel de Creixomil, sendo
baptizada na capela de S. Paulo da casa de Laços, e veio a falecer a 24/2/1825, na rua do
Espírito Santo, em Guimarães, sendo sepultada na igreja das Capuchinhas. Fez
testamento cerrado45.
Foi administradora dos Morgadios de Laços, em S. Miguel de Creixomil, e do
Morgadio de Rio Mau, junto à torre de Penegate, em S. Miguel de Carreiras (Vila

44
Tudo isto consta do estudo sobre a casa de Laços, da autoria da consagrada e insígne investigadora D.
Maria Adelaide Pereira de Moraes, já referenciado atrás.
O autor quer aqui deixar uma palavra de enorme admiração e Amizade a uma personalidade que, pela
qualidade da obra realizada e pela sua inquestionável generosidade e simpatia, deverá ocupar um lugar de
destaque nos vultos ilustres da cidade de Guimarães.
45
“Registo do tt.º de D. M.ª Getrudes Peixoto de Azd.º”, Livro de Testamentos Cerrados, n.º 66 b (antiga
cota B-7-4-11), pág. 50, no Arquivo Municipal Alfredo Pimenta, de Guimarães.

15
Verde)46, senhora da casa de Fundevila e casal da Silveira, em S. Miguel do Paraíso, dos
prazos de S. Torcato, do Rebelo, da Veiga, das Escadarias, das Bouças, da Árvore, da
Madalena, do Alto e das Ubeiras, da rua Franca, da rua Nova das Oliveiras, e todas as
suas pertenças, na freguesia de Nespereira, freguesia onde possuia ainda a quinta do
Arronso.

Casas situadas na Rua de Santa Maria, que pertenciam ao morgadio de Rio Mau

Assento de nascimento de D. Maria Gertrudes

46
Prazo que faz D. Maria Gertrudes Rebelo Peixoto de Castro, desta vila de Guimarães, a Francisco
Ventura e mulher Maria da Silva, da vila de Guimarães.
Em 20-10-1807, nesta vila na Rua de Santa Maria, casas de morada da Preclaríssima Dona Maria
Gertrudes Rebelo Peixoto de Castro, ela de uma parte, e da outra Francisco Ventura Gonçalves e mulher
Maria da Silva, moradores na Rua de Santa Maria com frente para a Praça da Senhora da Oliveira, e por
ela D. Maria Gertrudes foi dito que era senhora e possuidora de uma morada de casas situadas na Rua de
Santa Maria perto da Praça da Senhora da Oliveira dízimas a Deus, pertencentes ao vínculo de Penagate
de que era actual administradora cujas casas por se acharem em estado de ruina e carecerem de ser
benfeitorizadas lhe era útil aforá-las do que andarem por mãos de caseiros de simples colonia e para assim
serem vinculadas requerera a Provisão para as aforar a qual lhe fora concedido por D. João Príncipe
Regente feita em Lisboa a 9-9-1807, e estava justa e contratada aforá-las e emprazá-las por prazo de vidas
ao dito Francisco Ventura e sua mulher pelo foro e pensão anual de doze mil reis.
Eram casas torres de dois andares de sobrados situada no princípio da Rua de Santa Maria pegadas ao
Terreiro da Senhora da Oliveira com a frente para esse lado e tem em baixo duas portas e por cima quatro
janelas e tem de largo na frente do poente seis varas menos uma quarta, confronta do norte e sul com
casas do Excelentíssimo Dom Prior da Colegiada, do nascente com a Capela da Sacristia da Colegiada, e
do poente com a Rua de Santa Maria e Praça da Senhora da Oliveira (Arq. Mun. Alfredo Pimenta, Secção
Notarial, N-1160, tabelião Nicolau António Pereira, fls. 80 vº).

16
Casa de Laços, em S. Miguel de Creixomil, Guimarães

Casa de Laços – capela de S. Paulo (pedra de armas de Borges)

Casa de Fundevila, em S. Miguel do Paraíso, Guimarães

17
Casa de Fundevila – varanda com colunas

Porta pintada com soldado armado capela da casa de Fundevila

Casou a 2/12/1790, na igreja de S. Miguel do Paraíso (casamento celebrado pelo


rev.º Dr. José de São Boaventura Botelho, abade de S. João Baptista de Gondar), com
FRANCISCO DE SOUSA E ARAÚJO DE CASTRO E NORONHA, fidalgo-
cavaleiro da Casa de Sua Majestade, vereador da Câmara de Monção em 1808, 1811 e
1820, morgado de Tora, natural da freguesia de Santa Eulália de Lara, onde nasceu a
4/10/1775, na quinta de Passos, nesta freguesia, e faleceu entre 1820-1823, filho
herdeiro de Francisco Alexandre de Sousa e Castro, fidalgo-cavaleiro da Casa de Sua
Majestade, herdeiro do morgadio de Tora, e de sua mulher e prima D. Margarida Luisa
de Sousa e Castro, senhora da quinta de Passos, em Lara; neto paterno de Francisco José
de Sousa e Castro, fidalgo-cavaleiro da Casa de Sua Majestade, herdeiro do morgadio
de Laços, por herança de seu sobrinho Francisco de Abreu de Sousa e Castro, e de sua
mulher e prima D. Maria Luísa de Castro Sotomayor, senhora da quinta da Gandra,
freguesia de Salvador de Mazedo, Monção; neto materno de António José Soares de
Castro e de sua mulher D. Quitéria de Sousa e Castro.
A este casamento estiveram presentes, como testemunhas, José Diogo de
Mascarenhas Neto, corregedor da comarca de Guimarães, José de Queirós, juiz de fora
da referida comarca, e Francisco Joaquim de Sá, e muitas outras pessoas.
18
Assinalámos as testemunhas presentes pelo facto de uma delas ter muito a ver
com a vida desta senhora.
Na verdade, trata-se de Francisco Joaquim Moreira de Sá, morgado de Sá, em
Santa Eulália de Barrosas, e do Outeiro, em S. Paio dos Arcos, fidalgo da Casa de Sua
Majestade, cavaleiro professo na Ordem de Cristo, proprietário do ofício de escrivão da
correição, casado em 1ªs núpcias com D. Josefa Antónia de Sotomayor Osório de
Menezes de Vasconcelos, herdeira do morgadio do Outeiro, com capela de Nossa
Senhora dos Remédios, na freguesia de S. Paio dos Arcos, teve primogénito ao Dr.
António Zeferino Moreira de Sá Sotomayor e Menezes.
O casamento foi precedido de convenção antenupcial de dote, lavrada a 8/7/1766
nas notas do tabelião Bento de Sousa Guimarães, da vila de Guimarães, que para o
efeito se deslocou à casa de Sá.
Os pais do noivo dotaram-no com a quinta de Sá e umas bouças a ela anexas, a
quinta do Monte, em Gondar, a do Pinheiro, com o seu privilégio das Tábuas Vermelhas
de Nossa Senhora da Oliveira e, além de outros bens, com os foros e medidas de
Margaride, foreiros ao convento de Belém, e os chamados do Boco, em Tagilde,
foreiros à igreja desta freguesia.
Também lhe dotaram uma morada de casas de sobrado, com quintal, na rua de
Santa Luzia (que tinham sido do pai da dotadora, o capitão Joaquim da Costa e Silva), a
quinta do Outeiro, em Regilde, de natureza de prazo foreiro ao convento de S. Gonçalo,
de Amarante, as quintas do Casal e Tigem, em Santo Adrião de Vizela, foreiras a D.
António de Lancastre e à igreja da freguesia, “cujos Bens e Prazos alguns delles sam
compra que elles fizeram e outros por titulo de Eranssa, que veio por parte della
dotadora”.
Os dotadores reservaram o usufruto daquelas propriedades (exceptuando as
medidas e foros de Margaride e Tagilde), “porem alem do rendimento das ditas
medidas, querendo elles noivos viver nesta caza e quinta de Saa com elles dotadores
comeram e se sustentaram dos rendimentos dos beis delles dotadores e viviram juntos
nas mesmas cazas e quinta ficando assim obrigados elles dotadores a sustentallos”.
Se os noivos pretendessem apartar-se logo lhes dotariam, para sua cómoda
sustentação e tratamento, as casas e quinta do Casal, com sua capela, e as quintas de
Tegem e Outeiro, “porem isto se intemde emquanto vivo for elle dotador somente, que
depois do seu fallessimento, e ficando ella dotadora atras rezerva para si emquanto
viva as ditas tres qiuntas do Casal, Tigem e Outeiro com todos os seus rendimentos, e
que alem dellas rezerva mais, no cazo de querer assistir nesta quinta com elles fecturos
noivos, as cazas qhe lhe pareser escolher, das que ha nesta mesma quinta, tanto as que
de novo se andam fazendo como das que se acham feitas”. Noutro passo da escritura, já
no final, declaram que as casas reservadas para viver da dotadora, na quinta de Sá, serão
somente as que novamente se acrescentam às antigas.
Outras cláusulas foram estabelecidas. Assim, o capitão-mor Francisco Moreira
Carneiro reservou toda a sua terça para dela dispor como lhe parecesse, com a
declaração que logo escolhia para a integrar somente todas as medidas e foros que
tinham sido herdados e dízimos a Deus, “em os quoais tambem desde llogo ha por
obrigado e instituido hum vincollo e para legitimo administrador e sosessor delle ha
por nomiado a elle fecturo noivo seu filho no cazo de não chegar a fazer a dita
dispozissam com declaraçam que este vincollo numqua em tempo algum sairá da
famillia dos Moreiras, sosedemdo sempre em varão; e não havendo este se siguirá nas
femeas”.

19
O administrador deste vínculo ficava obrigado a mandar dizer e satisfazer todos
os domingos e dias santos de cada ano, uma missa na capela da casa de Sá, enquanto o
mundo durar, pela alma do instituidor e desde a data do seu falecimento.
O pai da noiva, Valentim Brandão Coelho de Abreu, cavaleiro professo na
Ordem de Cristo, juntamente com o revº Francisco Dantas Coelho, procurador da noiva
e da mãe, declarou que “atemdemdo ao gosto que faziam do prezente cazamento se
dava e dotava de si para si - em nome da dita fectura noiva, com a quinta do Outeiro e
suas pertemças e capella de Nossa Senhora dos Remedios çita na freguezia de Sam
Paio termo dos Arcos a quoal he de natureza de vincolo livre nomiassam, e lhe vem a
pertemçer por morte e fallesimento da Madre Donna Thereza Maria da Comceiçam
Relegioza no convento de Santa Anna da villa de Vianna”.
Por seu turno, os pais da noiva dotavam-na com todas as legítimas “que por
morte delles acomtesser, com comdissam de que o dote asima declarado da referida
quinta, que ella fetura noiva fazia, pello dito procurador, com authoridade dos ditos
seus Pais, se daria a quada huma de suas Irmãns Donna Anna e Donna Maria Ignacia
emquoanto viver no estado de solteiras, ou Rellegiozas, doze mil rreis, cada hum anno,
cuja rezerva se intemde depois de elle fectura noiva desfrutar a dita quinta”.
Por escritura pública lavrada em 27/9/1773 nas notas do tabelião Domingos
Fernandes da Rocha, de Guimarães, o capitão-mor, sua mulher e filho menor, Joaquim
José Moreira de Sá, outorgaram um contrato de doação com Francisco Joaquim Moreira
Carneiro Borges de Sá e mulher por desejarem estabelecer um vínculo para aumento da
casa de Sá, doando a estes as terças de alma e todos os bens móveis e de raiz. Os pais
desistiam das condições e obrigações estabelecidas na escritura antenupcial.
O irmão, Joaquim José Moreira de Sá, dotava-lhe as suas legítimas (paterna e
materna) em que houvesse de suceder, com a condição do doado se obrigar a alimentá-
lo e vesti-lo, bem como dar-lhe a quantia de duzentos mil reis enquanto ele quisesse
viver na sua companhia. E no caso de pretender apartar-se, Francisco Joaquim dar-lhe-ia
a quantia de quinhentos mil reis.
Apesar de menor, outorgando com representação legal, fazia-lhe esta doação não
só pela utilidade da instituição do vínculo, mas também por poder vir a suceder nele à
falta de descendência do irmão.
A instituição do vínculo foi autorizada por resolução da rainha D. Maria I, em
26/5/1778, tomada em consulta da Mesa do Desembargo do Paço.
Em 12/9/1778, nas notas do tabelião José Borges de Azevedo, de Guimarães, os
mesmos outorgantes, o capitão-mor, mulher e filho menor, ratificaram a escritura de
27/9/1773 de doação, contrato e instituição de morgado a favor do filho e irmão
Francisco Joaquim Moreira Carneiro Borges de Sá.
O pai reservou o usufruto das quintas de Sá, do Cabo, de Serzedelo, do Crasto e
prazo do Prado, da fazenda do Pinheiro, das casas do Toural, S. Dâmaso e Molianas, e
das medidas do Mourisco e S. Martinho do Conde “que para si tira na sua vida para
decente sustentação de sua caza e excepto tambem a dos sobreditos coatro mil cruzados
rezervados no seu tersso”.
Pela mãe “a Senhora Donna Eduarda Catherina Borges do Couto e Sá mulher
do dito Francisco Moreira Carneiro” foi declarado que também ratificava a escritura
de 27 de Setembro no referente à doação intervivos, irrevogável para sempre, dos terços
de todos os bens para o vínculo a favor do citado filho primogénito.
Reservava quinze mil reis para testar e deixava ao filho a obrigação de lhe fazer
os bens de alma “com a decencia que dele espera”.
Na doação estavam incluídos dois mil cruzados - dos seis mil cruzados das arras
- tendo a outorgante declarado que os restantes quatro mil cruzados, pertencentes às

20
legítimas dos dois filhos (Francisco Joaquim e Joaquim José), dois deles,
correspondentes à legítima do filho secundogénito, ficavam logo sujeitos ao vínculo
dada a renúncia que este fizera a favor do irmão para aquele efeito; os restantes dois mil
cruzados da legítima do doado dever-se-ia entender ter ela outorgante já cedido a este
seu filho através da escritura de 27 de Setembro, a fim de que ele dispusesse deles a seu
arbítrio desde aquela data.
A outorgante não só aprovou e ratificou a nomeação feita pelo marido ao filho
Francisco Joaquim dos prazos e direito de renovação, como também lhe nomeou todos
os prazos em que o pudesse fazer, dispondo somente do usufruto das quintas do Casal,
Tegem e Outeiro para seu decente sustento em caso de falecimento do marido.
D. Josefa Antónia de Sotomayor de Menezes e Vasconcelos doou para o vínculo
a parte que lhe pudesse vir a pertencer das legítimas do marido, apenas com a reserva de
poder dispor da metade da sexta parte reservada por ele.
Todos os outorgantes afirmaram que desde aquela data somente ficaria a valer
esta escritura e a de 27 de Setembro de 1773, revogando assim a convenção antenupcial
de dote de Francisco Joaquim Moreira Carneiro Borges de Sá e D. Josefa Antónia de
Sotomayor Osório de Menezes e Vasconcelos.
O Dr. Carlos António Cardoso de Figueiredo - procurador de Francisco Joaquim
Moreira de Sá - apresentou a provisão régia obtida em consulta da Mesa do Desembargo
do Paço concedendo licença para a instituição do vínculo.
De seguida passou a instituir o vínculo de morgado não só do valor dos terços
dotados pelos pais e irmão, mas igualmente do que a mulher pudesse vir a ter da
legítima dele, perfazendo a quantia líquida de 27:125$824 reis em bens estáveis.
Francisco Joaquim seria o 1º administrador e, por sua morte, suceder-lhe-ia o
filho varão mais velho ou o que dele descendesse, precedendo sempre o mais velho ao
mais moço e os varões às fêmeas.
As cláusulas referentes à descendência legítima verificar-se-iam, na falta dela,
na ilegítima, já que os descendentes legítimos ou ilegítimos do último administrador
teriam preferência sobre todos os transversais de qualquer grau, por mais próximos que
fossem em grau de consanguinidade.
Este vínculo de morgado teria os seguintes encargos: “todos os futuros
sucessores e Admenistradores do mesmo serão obrigados bem como ele Instituidor já o
fica sendo a uzarem dos Appelidos = de = Moreira e Sá =, e das Armas pertencentes
aos mesmos Appelidos, de modo que aquele que dele, e delas não uzar ficará privado
da Admenistração e passará ao Immediato, isto ainda no cazo que suceda em outro
vínculo, a que seja posto o gravame de uzar de outros Appelidos e Armas, porque então
uzará de todos”; a centésima parte do rendimento do vínculo seria distribuída
anualmente (e para sempre) em obras pias, a arbítrio do instituidor e futuros sucessores
no morgado; desta quantia o instituidor (e perpetuamente todos os sucessores) mandaria
dizer uma missa cantada de três padres, anualmente, em honra e louvor da Senhora
Santa Ana, onde for da sua vontade e devoção, mais as três missas do Natal, tudo
aplicado com as mais obras pias em que fosse distribuído o resto da centésima parte do
rendimento, pelas almas dos pais e irmão doadores, sua mulher e futuros
administradores.
As três missas do Natal deveriam ser oficiadas na capela da quinta de Sá,
enquanto pertença da casa, e na falta dela em capela que fosse cabeça deste vínculo,
qualquer capela ou oratório que existisse em casa do então administrador, ou na igreja
matriz da freguesia de habitação do mesmo “Bem entendido que á conta da dita
centessima parte do rendimento com respeito ao juro do cappital dos vinte e sete contos
cento e vinte e sinco mil oitocentos e vinte e coatro reis emquanto se não arecadarem

21
as dívidas que se devem à caza e depois de cobradas estas em parte ou em todo se
augmentará a sobredita conta à proporssão do que for recebido para o mensionado
vínculo”.
Também ficou estipulado não serem vinculados a este morgado os prazos da
casa de Sá, mas somente hipotecados e obrigados à sua segurança e estabilidade. E
como esta obrigação limitada daqueles prazos pudesse futuramente vir a ser prejudicial
aos directos senhores, dando motivo para dúvidas ou questões, declarava o procurador
do instituidor que este se obrigava a estabelecer em bens estáveis e aptos para o vínculo
o valor dele no termo de trinta anos, contados a partir do dia da instituição.
No caso do instituidor falecer antes de cumprir com o sobredito, passaria aquela
obrigação para os futuros sucessores e administradores do morgado de Sá.
Em 7/6/1770 Francisco Joaquim Moreira Borges de Sá Barreto e mulher, por
pretenderem demandar Valentim Brandão Coelho de Abreu (sogro e pai dos sobreditos)
e este ser “pessoa poderoza e Respeytada na villa dos Arcos de Val de Ves donde devia
ser demandado por ese mottivo amplora o Supplicante o Real patrocínio de Vossa
Magestade para que lhe faça a graça conceder provizão de comição para que qualquer
menistro das villas de Guimarais lhe tome conheceimento da cauza como tão bem
qualquer da villa de Vianna”.47

A secular Casa de Sá, em Santa Eulália de Barrosas,


em Vizela, solar dos Moreiras de Sá

D. Josefa Antónia de Sotomayor Osório de Menezes e Vasconcelos, mãe do Dr.


António Zeferino, que como deixámos dito era administradora do morgado do Outeiro e
capela de Nossa Senhora dos Remédios, em S. Paio dos Arcos de Valdevez 48, era filha
primogénita de Valentim Brandão Coelho e Abreu, cavaleiro professo na Ordem de
Cristo, com padrão de doze mil réis de tença (alvará de 17/11/1731), administrador do
morgado do Paço de Calvos, em Santa Maria de Távora, “que era Couto de seus
antepassados”, senhor da casa e quinta da Boavista, em S. Bartolomeu de Monte
Redondo, tudo no termo dos Arcos de Valdevez, Provedor da Santa Casa de
Misericórdia dos Arcos em 1761, e de sua mulher D. Luisa Maria Xavier de
Vasconcelos e Menezes de Sotomayor, senhora do prazo da Lapa e Barroças, no termo
de Monção; neta paterna de Francisco Brandão Coelho de Abreu, administrador do

47
Tudo isto consta in “Os Sás de Vizela – MOREIRAS DE SÁ, Memórias Históricas, Genealógicas e
Heráldicas”, manuscrito do autor. Vide no final, em ANEXO II - SÁS, da Casa de Sá, em Santa Eulália
de Barrosas, Vizela.
48
Vide no final, em apêndice, “Os Morgadios do Outeiro, em S. Paio dos Arcos e Paçô: Seus
instituidores, administradores e a extinção (a propósito de uma pedra de armas inédita)”. Este estudo foi
já publicado (com algumas alterações agora ao original) na revista “Hidalguia”, do Instituto Salazar y
Castro, Madrid, Año LIII, Nº 318 (Setiembre-Octubre), Madrid, 2006.

22
morgado de Calvos e senhor das quintas da Boavista, Longarela e Telhado, em Monte
Redondo, e de sua mulher Luzia Coelho Brandão, herdeira do morgado de Calvos; neta
materna de Leonel de Abreu de Vasconcelos de Sotomayor, senhor da casa e quinta do
Cotinho (desmembrada do morgado da Torre da Grade) e dos prazos de Farrão e
Outeiro e casal da Costa, tudo em Santa Maria de Grade, do prazo das Quintas e Taias,
em Troporiz, e da Lapa e Barroças, no termo de Monção, senhor “da Chave Principal
do Santo Lenho” da paroquial de Grade, Provedor da Santa Casa de Misericórdia dos
Arcos de Valdevez em 1721, e de sua 2ª mulher D. Luisa Maria de Sousa e Castro de
Araújo de Azevedo.
Seu avô materno, Leonel de Abreu de Vasconcelos e Sotomayor 49, justificou a
sua nobreza e limpeza de sangue, em 1757, provando ser bisneto em varonia de Don
Juan de Benavides y Abreu (de Sequeiros y Sotomayor), sendo este filho de Don
Rodrigo de Sequeiros Benavides y Sotomayor, e de sua 2ª mulher (segundo aquela
“informacion de filiación, limpieza y nobleza”) Doña Beatriz de Abreu.50
Era, pois, parente muito próximo dos Condes de Priegue, não sendo por
acaso que serviram de testemunhas desta justificação de nobreza, Don Juan Antonio
Ozores Silva Sequeiros Sotomayor y Aguiar, Conde de Priegue, Visconde de
Santo Tomé, Regedor perpétuo da cidade de Santiago de Compostela, Don Juan
Antonio González de Benavides, Don Félix Manuel Pérez de Porrúa e Don Matias
Moscoso y Romay. 51
Não cabe no âmbito deste ensaio traçar a história genealógica mais desenvolvida
destes Sás, senhores desde tempos imemoriais da medieva Quintã de Sá, em terras de

49
Este Leonel de Abreu Vasconcelos e Sotomayor foi autor genealógico, conservando-se no Arquivo
Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa, três tratados genealógicos, indicados por Francisco de
Vasconcelos na obra citada na nota seguinte: “Famílias Bracarenses ou Memórias genealógicas de
algumas famílias do Minho e Trás-os-Montes” e “Sequeiros e Pereiras” (manuscritos 21.E.20 e 21 e S.
16, nº 109).
50
Tínhamos algumas dúvidas acerca da veracidade desta informação genealógica. Expliquemo-nos.
Aponta-se este Don Juan de Benavides y Abreu (de Sequeiros y Sotomayor) como filho do Don
Rodrigo de Sequeiros, o velho. Acontece que vários autores genealógicos (nomeadamente Francisco de
Vasconcelos, no seus interessantes e valiosos escritos sobre os Sequeiros, publicados no “Arquivo de
Ponte de Lima”, em 1984, 1985 e 1992) dizem ser este Don Juan sobrinho (seria antes seu tio) de Frei
Don António de Sotomayor (personalidade bem conhecida e respeitada no país vizinho, dada a a sua
condição de confessor do rei Filipe III, da rainha D. Isabel de Bourbon, do príncipe Don Baltazar Carlos e
dos infantes Don Carlos e Don Fernando, Arcebispo titular de Damasco, membro do Conselho de Estado
e da Guerra, membro do Conselho da Santa Inquisição, Comissário Geral da Bula da Santa Cruzada e
abade das abadias de Santander e Alcalá La Real, Inquisidor Geral de Espanha, etc.).
Ora atendendo às datas que possuimos, temos que seu filho Francisco de Araújo de Azevedo terá
nascido cerca de 1590, já que o neto, Manuel de Araújo de Vasconcelos nasceu em 1623. Atendendo ao
facto de dois filhos do velho Don Rodrigo de Sequeiros e de sua mulher D. Briolanja Pereira da Silva
terem tomado ordens sacras em Braga em 21/3/1531 (Tristão e Baltazar), parecia-nos muito dificil,
cronologicamente, conciliar estas datas com o nascimento de Juan em 1560/70. Acontece que
recentemente, através do prestimoso amigo e distinto investigador galego, Don Breogán Amoedo
Villanueva, tomámos conhecimento de que, de facto, Rodrigo de Sequeiros teria tido três filhos de uma
Beatriz de Abreu (continuando ainda assim a dúvida se eles foram gerados fora de matrimónio): Juan de
Benavides, Ambrosio de Sequeiros e Justa de Abreu. E, na verdade, um documento (datado de
29/11/1589) relacionado com um pleito litigado pelo comendador de Morentán e Biade, Don Luís de
Ayala, contra os herdeiros de Rodrigo de Sequeiros parece confirmar essa filiação. Este pleito tinha por
objecto a reclamação de um lugar e casal, com todas as suas casas, moínhos, herdades, vinhas e restantes
anexos que os segundos tinham ocupados (Archivo de la Real Chancillería de Valladolid, Registro de
Ejecutorias, Caja 1655, 12). E nesse documento, entre os herdeiros de Rodrigo de Sequeiros, são
factualmente citados “Ambrosio de Sequeiros” e “Juan de Benavides”, que dificilmente poderemos
negar como prova da sua existência e filiação.
51
Vide “Linages Galicianos” de Pablo Pérez Costanti, ed. completa e ampliada de Eduardo Pardo de
Guevara y Valdés, ed. 1998 Ara Solis_consorcio de Santiago.

23
Vizela, reservando para posterior estudo esse mesmo desenvolvimento. Nomeadamente,
é nossa intenção propôr como tema principal desse futuro ensaio a indubitável e imensa

Facsimile da folha referente ao documento do Archivo de la Real Chancillería de Valladolid (Registro de


Ejecutorias, Caja 1655, 12), nomeado atrás na nota 50, em que são nomeados os herdeiros de Rodrigo de
Sequeiros e, entre eles, Ambrosio de Sequeiros e Juan de Benavides

24
Pazo de La Pastora, em Santo Tomé de Freixeiro (Vigo), dos Sequeiros de Sotomayor, mandado
construir pelo poderoso e influente Don Frai Antonio de Sotomayor, Arcebispo de Damasco, confessor de
Filipe III (de Espanha), Grande Inquisidor de Espanha, membro do Conselho de Estado, Comissário Geral
da Cruzada, etc., irmão de Don Rodrigo de Sequeiros y Sotomayor, pai do 1º conde de Priegue (Don
Baltazar de Sequeiros e Sotomayor) e sobrinho de Juan de Benavides y Abreu.

25
Torre da Silva, em S. Julião da Silva, Valença, que pertenceu aos condes de Priegue e viscondes de
Plugue (Pedra de armas: esquartelado de Silva, Sequeiros, Zúñiga e Sotomayor e sobre o todo Ozores)

26
influência que nela teve o ouro brasileiro, que através de consecutivos casamentos
trouxe para a família da casa de Sá uma opulência e riqueza assinaláveis.
Poderei ainda assim salientar, desde já, que o pai de Francisco Joaquim Moreira
de Sá, o capitão-mor Francisco Moreira Carneiro, oriundo da freguesia do Mosteiro de
S. Pedro de Ferreira52, passou ao Brasil, onde foi capitão-mor da vila de Nossa Senhora
da Conceição de Mato Dentro, no Serro Frio, província de Minas Gerais, tendo
alcançado notória fortuna nas minas de ouro. No processo instaurado para familiar do
Santo Ofício, em 1743, refere o comissário deste tribunal que ele atendendo á
escravatura e mais bens de que era titular poderia possuir cerca de 200.000 cruzados!
Conseguiu ainda o hábito de Cristo, vindo mais tarde a alcançar o foro de fidalgo
da Casa Real e carta de brasão de armas.
Na escritura antenupcial, lavrada em 10.03.1746, na vila de Guimarães, pelo
tabelião Paulo Mendes Brandão, para casar com D. Eduarda Catarina Borges do Couto e
Sá, herdeira da casa e quinta de Sá e muitas outras propriedades e vínculos, dotou-se ele
com 25.000 cruzados em dinheiro de contado, além dos inúmeros créditos que lhe eram
devidos por diversas pessoas, e as lavras, roças e engenho de cana que possuia em
sociedade com Manuel Moreira Maia, mais a terça parte de uma lavra em Minas Gerais,
nas minas do Caraça, com 15 negros. Dotava-se ainda com um hábito de Cristo com
cruz de diamantes e granadas e outros bens em ouro e pedras preciosas.
A casa de Sá atingira nesta época grande opulência.
Num inventário requerido em 1842 por D. Maria Marfida Moreira de Sá (neta de
Francisco Joaquim Moreira de Sá e de D. Josefa Antónia de Sotomayor e Menezes)
refere-se a “Grandeza, Riqueza e Esplendor em que se conservava a Casa de Sá” ao
tempo dos seus avós.
Na relação de bens aí contida relaciona-se, entre muitos outros, uma boa livraria,
as benfeitorias da casa e quinta de Sá - compreendendo “o grande Palácio” e todas as
mais casas que ali se achavam, muros, socalcos de toda a quinta, jogo da bola, pombal,
moinhos, viveiro, tanques e alcatruzes de água que rodeavam a casa e os portais da
mesma quinta, a grande casa da fábrica de papel, a herdade da quinta da Cascalheira
(em que se achava situada a sobredita fábrica) e as casas dos caseiros da mesma quinta;
seis faqueiros de prata inteiros, trinta e três cobertas de damasco de várias cores, vinte e
cinco catres de ensamblador (sendo dez de pau preto), sete dúzias de copos de vidro da
Índia, vinte dúzias de tigelas de louça da Índia, vinte dúzias de pratos grandes e
travessas da mesma louça, quatro dúzias de sopeiras e terrinas da mesma louça, seis
aparelhos de chá da mesma, de várias cores, dois santuários em pau preto, oito dúzias de
cadeiras forradas de damasco, catorze cómodas com ferragens amarelas, sendo oito em
pau preto, duas papeleiras em pau preto, dezoito mesas de chá ou jogo em pau preto,
duas carruagens com os aparelhos precisos, duas dúzias de castiçais de prata, seis

52
Era filho de Diogo Dias Moreira, senhor da quinta de Fundevila, em S. Pedro de Ferreira (Paços de
Ferreira) e de sua 3ª mulher Maria Carneiro, da freguesia de Sobrosa (ele fora casado 1º com Verónica
Pacheco e 2º com Catarina Ferreira Brandão); neto paterno de Diogo Dias (filho de outro Diogo Dias e
mulher Maria Vaz, de Fundevila), senhor da quinta de Fundevila, e de sua mulher Isabel Moreira, de
Louredo (filha de Belchior Moreira, natural de Castelões de Cepeda e casado em Louredo, onde viveu –
este era, a nosso ver, mais um filho, eventualmente bastardo, de Gervás Gaspar de Moreira, da casa da
Ponte de Cepeda, Paredes - e de sua mulher Maria João, da quinta de Miragaia, nesta freguesia); neto
materno de Jerónimo Henriques, senhor da quinta do Pedregal, em Sobrosa (fiho de Henrique Pires, do
Pedregal, e de sua 2ª mulher Maria Antónia) e de sua mulher Maria Carneiro, de Santa Eulália da Ordem,
Lousada (filha de Bartolomeu Gonçalves, senhor do casal de Ranhô, em Santa Eulália da Ordem, e de sua
mulher Maria Carneiro, falecida viúva na vizinha de Sousela, onde vivia em casa do filho Miguel
Carneiro, do lugar da Eira Vedra). No final deixaremos um ensaio genealógico – ANEXO I - sobre os
“Moreiras de Louredo e S. Pedro de Ferreira”, ascendentes do capitão-mor Francisco Moreira Carneiro.

27
relógios de algibeira (sendo três marchetados com pedras de diamantes, com caixas de
ouro, e os outros com caixas de prata), três grandes pentes de ouro com diamantes e seis
mais pequenos, dois pares de brincos de ouro, um hábito da Ordem de Cristo de ouro
com diamantes e um outro mais pequeno, também de ouro e diamantes, um colar, um
adereço, cinco cordões e seis anéis de ouro, sendo estes cravejados de diamantes, dois
cálices, patenas e colheres de ouro, seis cavalos de estado e sela e os montados de Pena
Besteira, de natureza de herdade, quinze juntas de bois, etc., “e a grande soma de
dinheiros do Brasil que o seu capital correspondia ao rendimento anual de meia arroba
de ouro”.
De igual modo, já seu sogro, o capitão Joaquim da Costa e Silva (prebendeiro da
colegiada de Nossa Senhora da Oliveira, almotacé e infanção da governança da vila de
Guimarães, proprietário do ofício de escrivão da mesma correição, senhor da casa e
quinta do Pinheiro, com o seu privilégio das Tábuas Vermelhas de Nossa Senhora da
Oliveira, na freguesia de Santa Eulália de Nespereira, no mesmo termo de Guimarães)
fora assistente nas minas de ouro do Serro Frio, de onde regressara muito rico, dotando-
se para casamento com a herdeira da casa de Sá, D. Teresa Maria Borges do Couto e Sá,
com 8.000 cruzados em dinheiro de contado, destinados ao pagamento das dívidas da
casa de Sá e para seu cunhado José Borges Barreto tomar estado. E “de si para si” com
mais 38.000 cruzados. E isto, saliente-se, em 1716!
Foi o capitão-mor Francisco Moreira Carneiro quem adquiriu a grande fazenda
de Santo António do Rio Abaixo, no Serro Frio, bem como muitos outros bens que seu
filho veio a herdar, maxime certas lavras no conhecido Morro de Gaspar Soares.
Este capitão-mor foi personalidade de grandes posses e influência no Serro Frio,
sendo citado como um dos maiores proprietários e o maior possuidor de escravos (42,
segundo se lê no estudo “Minas Gerais: escravos e senhores. Análise da Estrutura
Populacional e Econômica de Alguns Núcleos Mineratórios (1718-1804)”, São Paulo,
FEA-USP, 1980, 224 p. Tese não publicada, de Francisco Vidal Luna), tendo inclusive
alguns deles colaborado na construção da igreja matriz de Nossa Senhora da Conceição,
da vila do Príncipe, da qual ele foi Procurador. Igualmente foi o capitão-mor Francisco
Moreira Carneiro que dotou a construção do coro, da varanda alpendrada e da torre
sineira e a imagem de Nossa Senhora da Conceição, da capela de S. Francisco, em
Freamunde (Paços de Ferreira).
Francisco Joaquim Moreira de Sá foi poeta de mérito, tendo pertencido com o
irmão, o cónego magistral Joaquim José Moreira de Sá, à “Academia Vimaranense”.
Da sua actividade literária destacam-se “A Queda de Napoleão”, poema épico
em cinco cantos dedicado ao Príncipe Regente, e a “Proclamação aos Portugueses”,
em verso heróico solto, impressa em Coimbra, na Real Imprensa da Universidade.
Em 21/11/1776 promoveu uma sessão académica a ser realizada na sua casa de
Guimarães, a fim de comemorar o casamento do 2º filho varão do marquês de Pombal.
Esta sessão, secretariada por ele, não chegou a realizar-se por doença do monarca.
Foi publicado o códice das produções literárias e, segundo o coronel Baptista
Barreiros “também é de supor fosse o mesmo secretário da Academia quem, apesar
desta se não ter efectuado, fez reunir as respectivas peças literárias e copiar e
encadernar em volume, que pelo Dom Prior de Guimarães deve ter sido remetido ao
Marquês de Pombal, já então no termo da sua carreira que findou com o falecimento do
rei em 1777, como meio de provarem todos a Sebastião José e sua família o bem querer
dos académicos, seus amigos e admiradores” .
Com a oferta da “Pombalina” ao Estado pela família Pombal, veio o manuscrito
a constituir o códice 7 da Biblioteca Nacional de Lisboa.

28
Afirma ainda o coronel Baptista Barreiros que a sessão académica se realizou de
facto em Guimarães, a 5/5/1793, por ocasião dos festejos celebrando o casamento da
Princesa da Beira, mas esta em casa do cónego José Bernardo de Carvalho. Secretariou-
a o cónego Joaquim José Moreira de Sá, servindo de problemáticos o Dom Prior da
colegiada de Barcelos, António Fernandes de Araújo e Francisco Joaquim Moreira de
Sá.
Em 2/1/1792 apresentara-se Moreira de Sá, expontaneamente, no Tribunal do
Santo Ofício a “implorar a piedade” por ter aderido dois anos antes à sociedade dos
franco-maçons, persuadido por Henrique Correia de Vilhena que aí o introduzira.
No processo que lhe foi instaurado, relata Moreira de Sá que fora conduzido
certo dia, ao anoitecer, numa sege, pelo citado Henrique Correia de Vilhena, natural da
ilha da Madeira, a umas casas entre-muros da vila de Guimarães, onde o deixou fechado
numa casa com a recomendação de se portar com bravura no que acontecesse.
Decorrida cerca de uma hora, apareceu um desconhecido empunhando uma
espada e falando-lhe “com feia catadura” desarmou-o e conduziu-o a outra casa
“forrada de liaetas pretas”, onde o deixou fechado.
Passado algum tempo, apareceu outro homem que lhe deu papel e tinta, dizendo-
lhe para escrever o juízo que fazia da Maçonaria, o que ele fez em conformidade com as
boas informações que lhe haviam dado e ele próprio lera.
O homem afastou-se com o papel e em breve outros apareceram, armados de
espadas, tiraram-lhe as fivelas, a casaca, a bolsa e ataram-lhe as mãos e o pescoço com
uma corda. De seguida, vendaram-lhe os olhos com um lenço e levaram-no de um lado
para o outro tentando com mil estratagemas persuadi-lo do grande risco que a sua vida
corria.
Após terem-lhe destapado os olhos, exigiram um exótico juramento de não
revelar os segredos da Maçonaria que consistiam nos sinais de reconhecimento entre
eles.
Disseram-lhe então que tinha o 1º grau de maçon, entregando a espada, avental e
luvas.
Assistiu seguidamente à recepção de Francisco Maria Corvo, da cidade de
Lisboa, rindo com os outros à custa dele.
Um dos maçons recitou uma oração que pretendia dar uma ideia histórica da
Maçonaria, deduzindo-a das Cruzadas e inculcando aos membros a obrigação de se
socorrerem mutuamente.
No final cearam à custa dos dois novos membros e regressaram a suas casas.
Francisco Joaquim Moreira de Sá falou logo em seguida com o abade de
Gondar, José de S. Bernardino Botelho, acerca do misterioso segredo maçónico,
garantindo-lhe que nada era tratado contra a religião ou o Estado.
Facilitou a recepção daquele clérigo, tomando com ele, com Francisco Maria
Corvo e com Francisco da Silva de Queirós, cónego da basílica, os 2º e 3º graus.
Consistiam estes em diferentes sinais e palavras para conhecerem eles entre si os
graus que tinham e no formulário da recepção.
E deram os Mestres maçons a cerimónia por concluída já que em Portugal,
disseram, não se podia passar a outros graus por não haver lojas estabelecidas.
Moreira de Sá afirma que ficou com má impressão acerca de tudo aquilo, pois na
cerimónia, ao tirarem dinheiro para a recepção, faltara uma peça ao abade de Gondar,
dando a certeza de ter sido roubada por algum dos membros.
E recebendo posterior convite para novas recepções, sempre se desculpou com
alguma ocupação, esquecendo-se até da maior parte dos sinais de reconhecimento entre
eles.

29
Posteriormente tomou conhecimento da bula papal que proibia estas sociedades
e constituía os membros réus do tribunal do Santo Ofício. Comunicou, de imediato, ao
abade de Gondar e foram denunciar-se prontamente ao comissário João de Vasconcelos,
abade de S. Martinho do Campo, implorando a piedade do Santo Ofício e prontificando-
se a responder a tudo que deles quisessem saber.
Declarou Moreira de Sá ao tribunal que nunca usara os sinais que lhe tinham
ensinado. Como exemplo, relatou que num jantar a que assistira numa casa de pasto
com um francês vindo da Madeira - que dizia ser cirurgião e chamar-se Dovanhi - este
fizera-lhe sinais de maçon e ele não respondera, nem se dera a conhecer.
Nunca usara os sinais que lhe tinham ensinado, tais como: beber três vezes
debaixo da primeira intenção, precedendo três ou cinco pancadas na tampa da caixa ao
tomar tabaco (segundo a diferença correspondente do 1º ao 3º grau), sendo também
próprio deste um triângulo mostrado pelo accionar do braço na ocasião de fazer a
cortesia.
Não obstante, não se lembrava duma palavra usada no 2º grau nem da usada no
3º. Recordava, ainda assim, uma das duas proferidas no 1º grau que era “Jakin”.
Perguntaram-lhe os inquisidores como era possível que ele réu - homem de
literatura e conhecimentos - ignorasse a proibição e maldade que se ocultava naquela
sociedade, ao que ele respondeu que tinha “feito profissão de estudar ramos
inteiramente diferentes daqueles que lhe podiam dar socorro para vir no conhecimento
das Leis Eucaristicas, visto que política e belas letras fazem o Artigo da sua maior
aplicação, e que nunca suspeitou maldade nesta Sociedade, por não ter visto tratar
materia que ofendesse o mais levemente nem a Religião, nem o Estado”.
O tribunal do Santo Ofício julgou-o por acórdão publicado no próprio mês da
apresentação, em 31 de Janeiro:
“Acórdão os Inquiridores, Ordinario e Deputados da Santa Inquisição que
vistos estes auttos, culpas, e confissões de Francisco Joaquim Moreira de Sá, natural
da freguezia de Santa Eulalia de Barrozas, termo de Guimaraens, filho de Francisco
Moreira Carneiro, actoalmente morador nesta Corte, Reo appresentado, que presente
está. Por que se mostra que sendo Christão baptizado, e como tal obrigado a ter, e crer
tudo quanto tem, crê, e ensina a Santa Madre Igreja de Roma, elle o fez pelo contrario,
como confessou na Mesa do Santo Officio, apresentandose de suas culpas, e dizendo:
que elle entrara, e se congregara na Sociedade denominada dos Pedreiros Livres em
cuja Meza e Assemblea prestara juramento sobre a observancia e segredo de seus
Estatutos, convencido das persuassoes, com que para este fim o combatera certa
pessoa, que declarou e ignorando a Reprovação, condennação e Anathema, que contra
ella e seus Sectarios se achavão declarados e fulminados pela Igreja, de cuja culpa
sentindo-se sumamente arependido, da mesma fazia huma sincera confissão,
supplicando o perdão della, e que com elle se uzasse de Mizericordia. E visto como o
Reo uzando de bom conselho se appresentou confessando voluntariamente o seu delicto
nesta Meza, dando mostras, e sinaes de arependimento, e pedindo perdão, e piedade
com o mais que dos Auttos consta. Mandão que o Reo Francisco Joaquim Moreira de
Sá em pena, e penitencia de suas culpas ouça sua Sentença na Meza do Santo Officio
perante os Inquisidores, hum Notario, e duas Testemunhas, faça abjuração de
vehemente suspeito na Fé, cumpra as penas Spirituaes, que lhe forem impostas, e que
da Excumunhão em que se acha incurso seja absoluto in forma Eclesia”.53

53
Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Tribunal do Santo Ofício, PT/TT/TSO-IL/028/08595, data de
apresentação: 02/01/1792; sentença: auto-da-fé privado de 31/01/1792.

30
Homem empreendedor, a Francisco Joaquim Moreira de Sá se ficou a dever a
fundação em Portugal da 1ª fábrica de papel fabricado com massa de madeira, que foi
também a 1ª existente na Europa.
Foi, por este motivo, muito justamente considerada a pedra filosofal da
papelaria.
Em 1866, na Exposição Universal de Paris, apareceu uma máquina de invenção
alemã que fabricava aquele papel. E no início do ano seguinte os jornais portugueses
referiam-se elogiosamente a este invento.
De imediato o Dr. Pereira Caldas (professor no Liceu de Braga) publicou um
folheto de cinquenta páginas intitulado “Vindicação da prioridade do fabrico de papel
com massa de madeira, como descoberta portuguesa: sendo fabrico intentado no
princípio deste século, nas Caldas de Vizela, na província do Minho, na Fábrica da
Cascalheira, em S. João das Caldas, na margem esquerda do rio Vizela: sob iniciativa
de Francisco Joaquim Moreira de Sá, fidalgo da Casa Real, cavaleiro professo na
Ordem de Cristo, e Senhor da Quinta de Sá, em Santa Eulália de Barrosas, na mesma
Ribeira de Vizela”.
O folheto é datado de 10/7/1867 e dedicado à poetisa Ana de Sá (de seu nome
completo D. Ana Amália Moreira de Sá), neta de Francisco Joaquim Moreira de Sá e, à
data, senhora da casa de Sá.
Nele se refere o Dr. Pereira Caldas a um opúsculo muito raro, da autoria do juiz
Dr. José Raimundo de Paços de Proben e Barbosa (da casa de Caneiros, em Fermentões,
Guimarães), composto por uma ode exaltando o invento e o inventor, bem como por
dois sonetos da autoria do próprio Moreira de Sá, dedicados ao rei D. João VI e à rainha
D. Carlota Joaquina, sendo este opúsculo já impresso no novo papel produzido pela
fábrica.
De facto, desde 1797 que Moreira de Sá começara a tratar da realização da
aludida fábrica, a situar-se na sua quinta da Cascalheira, em S. João das Caldas de
Vizela.
E as inúmeras escrituras de compra e venda existentes no Arquivo Municipal
Alfredo Pimenta, em Guimarães, e no Arquivo Distrital do Porto, algumas delas
referindo-se expressamente à fábrica de papel, permitem-nos corroborar a veracidade
das afirmações do Dr. Pereira Caldas.
É ponto assente que para levar a cabo a construção daquela fábrica, Moreira de
Sá desfez-se de onze quintas, na distância de uma légua da sua casa de Sá, de treze
moradas de casas em Guimarães e de mil medidas sabidas ainda, pagáveis a maior parte
em Margaride e Montelongo.
Escreve ainda o Dr. Pereira Caldas nas “Notas Históricas das Caldas de
Vizela”:
“Conseguidos na Fábrica da Cascalheira bons ensaios do novo papel, foram
eles presentes, para amostra, na Real Junta do Comércio, Agricultura, Fábricas e
Navegação do Reino e seus domínios - como disso dá testemunho o referido alvará de
24 de Janeiro de 1805. E foi expedido então esse alvará, em vista da consulta oficial da
mesma Junta, em 9 de Outubro de 1804 - solicitada em requerimento do mesmo
Francisco Joaquim Moreira de Sá, endereçada ao governo em 1797 - achando-se
anexas ao mesmo alvará (registado na Secretaria do “Registro Geral” das Mercês, e
na Chancelaria Mór da Côrte e Reino, e condições - no “Livro dos Ofícios e Mercês”,
a fls. 132), as condições para as Fábricas de Papel de vegetais e de tinturaria de
Primeira Sorte, a favor de Francisco Joaquim Moreira de Sá e seus consócios -
agraciados todos com a mercê régia do Hábito de Cristo”.

31
O citado alvará de 24/1/1805 concede o privilégio da exploração da indústria
pelo prazo de vinte e cinco anos a Francisco Joaquim Moreira de Sá.
A sociedade constituiu-se em 28/4/1804, por escritura lavrada na nota do
tabelião Vitorino Alão de Macedo e Sousa, da cidade do Porto. Foram sócios de
Moreira de Sá: José Pereira Ferraz, José Ventura Fortuna, Manuel Luís da Costa, José
Pereira Ferraz de Araújo Ribeiro e Florido Rodrigues Pereira Ferraz.
Acrescente-se ainda o nome do engenheiro, director técnico da fábrica, o inglês
Thomas Beshop, vindo de Londres a pedido e por influência do diplomata António de
Araújo de Azevedo, futuro Conde da Barca, parente da 1ª mulher de Moreira de Sá.
Consta na tradição familiar que por ocasião das invasões napoleónicas a fábrica
foi saqueada e incendiada, sendo o próprio Moreira de Sá - alcunhado pela populaça de
“fero jacobino” - forçado a embarcar para o Brasil.
Não me alongarei mais sobre a fábrica de papel e respectivo invento já que sobre
a matéria se encontram publicados vários trabalhos, dos quais é mister que salientemos -
pela sua inegável importância - o da autoria do nosso primo Dr. Rui Moreira de Sá e
Guerra. Dada a relevância de que se reveste este estudo - aliada à competência e
seriedade que são apanágio deste investigador - para aí remetemos o leitor interessado
por esta matéria .54
Acontece, porém, que recentemente tivemos acesso a documentação de enorme
curiosidade.
Por este motivo, deixaremos no final deste estudo a digitalização do documento
em apreço (onde se fala da Fábrica de Papel a construir) e que data de 1797. 55
Afirma Francisco Joaquim Moreira de Sá no Doc. 1, que deixaremos
reproduzido no fim deste estudo: “A V. Exª a quem sempre sobeja o tempo quando se
trata do bem do Estado, eu aprezentarei hum catalogo das plantas, q há na America, e
que julgo poderem suprir a falta do trapo, pª V. Exª fazer recomendar algumas
averiguacoens a este respeito aos Naturalistas empregados por S. Mag.de pª os grd.es
fins de conhecerem as produções daq.le País. Francº Joaq.m Mor.ª de Sá”.
Curioso é ser referido no volumoso estudo “Efemérides Mineiras-1664/1897”,
da autoria de José Pedro Xavier da Veiga, que “Em companhia de El Rei D. João VI
emigrou para o Brasil um ilustre e velho fidalgo português, chamado Francisco
Joaquim Moreira de Sá. Esse fidalgo tinha uma grande fazenda em Minas no lugar
intitulado Santo António do Rio Abaixo. Uma vez chegado ao Brasil, em vez de, como
outros muitos, constituir-se pensionista do rei, tratou de retirar-se para lá. Era muito
influente no Paço, parente próximo de ministro; foi altamente recomendado para
Minas. Em consequência disso a sua casa tornou-se o ponto de reunião da elite e
melhor sociedade mineira.” .
E não me alargarei mais acerca desta família, deixando assim para um futuro
próximo o estudo em que toda esta matéria será versada com maior profundidade e
desenvolvimento.
Pois é do filho primogénito do casal Francisco Joaquim Moreira Carneiro
Borges de Sá Barreto e D. Josefa Antónia de Sotomayor Osório de Menezes e
Vasconcelos, o DR. ANTÓNIO ZEFERINO MOREIRA DE SÁ SOTOMAYOR E
MENEZES, nascido a 21/10/1769, na rua de Santa Luzia, freguesia de S. Paio, da vila
de Guimarães, e falecido “quaze de improvizo e immaturamente” a 25/3/1807, em
Lisboa, sendo sepultado no convento de S. Francisco da Cidade, bacharel formado em

54
Rui Moreira de Sá e Guerra, "A Prioridade do Fabrico de Papel de Madeira na Quinta de Sá",
"Revista de Guimarães", Vol. XCIX (1989)
55
Biblioteca Digital Luso-Brasileira, Projecto Resgate-Minas Gerais (1680-1832), Instituto de
Investigação Científica Tropical, Arquivo Histórico Ultramarino, Caixa 143, Doc. 74.

32
Leis pela Universidade de Coimbra, cadete do Regimento de Cavalaria nº 6, de Chaves,
o qual aparece em alguma documentação com o foro de Fidalgo da Casa Real (ainda
que o não tenhamos podido confirmar), que D. Maria Gertrudes Rebelo Peixoto dos
Guimarães de Azevedo e Castro teve um filho ilegítimo que, por morte em criança do
filho do seu casamento, veio a transformar-se no seu único representante, como iremos
ver abaixo.

Assento de baptismo de António Zeferino Moreira de Sá e Menezes

Assento de óbito de D. Maria Gertrudes Rebelo Peixoto de Azevedo e Castro

33
Filho do seu casamento com Francisco de Sousa e Castro:
1(VII)- Rodrigo, nasceu a 21/8/1791 na rua de Santa Maria, freguesia de Nossa
Senhora da Oliveira, em Guimarães, e morreu muito menino.

Filho da sua relação com o Dr. António Zeferino Moreira de Sá e Menezes:


2(VII)- Valentim Brandão Moreira de Sá Sotomayor e Menezes, segue

VII- VALENTIM BRANDÃO MOREIRA DE SÁ SOTOMAYOR E MENEZES,


nasceu a ocultas na casa e quinta do Pinheiro, em Santa Eulália de Nespereira,
privilegiada das Tábuas Vermelhas de Nossa Senhora da Oliveira, de Guimarães, em
13/2/1803, sendo entregue a uma ama em Barrosas, por ordem do pai.
Faleceu a 28/3/1870 na sua casa na rua Nova das Oliveiras, em Guimarães,
sendo sepultado na capela da Ordem Terceira de S. Domingos, da mesma vila.

Assento de baptismo de Valentim Brandão Moreira de Sá Sotomayor

Foi legitimado por carta régia de D. João VI, datada de 26/6/1824, a fim de
assentar praça de cadete, nela se dizendo que “o ditto Cadete já falecido Antonio
Zeferino Moreira de Sá sendo filho familia tivera o Recorrente de hua Senhora
cazada com hum homem fidalgo de quem hoje era viuva, a qual sempre com mão
oculta concorrera com as despesas da sua educação em caza de Jose Soares
Pereira...”, mais se dizendo que seu pai era “Cavalheiro de conhessida Nobreza e
filho de hum Fidalgo da minha Real Caza, Cavaleiro da Ordem de Christo...” 56.
Logo após o nascimento fora entregue, por ordem do pai, a uma ama (mulher de
José da Cunha, do lugar de Lamelas, em Santa Eulália de Barrosas, onde viveu até à
idade de dois anos.
Seguidamente, o progenitor deu ordens para ser entregue a Josefa Clara da
Sacramento (mulher de José Soares Pereira), da vila de Guimarães, a fim de ser educado
e lhe serem ministradas as primeiras letras, já que em casa dela, com mesmo fim, se
encontravam outros meninos “bem nascidos”.
Após a morte do pai, D. Maria Gertrudes (embora com alguma relutância) fê-lo
ingressar no Colégio da Graça, na cidade do Porto, “concorrendo com mão occulta”
nas despesas do ensino.

56
Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Registo Geral das Mercês de D. João VI, Livro nº 94, fls 154
v.º.

34
Projectava ela que o filho seguisse a “Academia de Coimbra” (seu pai formara-
se em Leis, na Universidade de Coimbra). Mas como ele mostrasse forte inclinação para
a carreira das armas, veio a assentar praça no Regimento de Infantaria nº 15, em
26/05/1823.
A 15/9/1823, por escritura lavrada nas notas do tabelião Nicolau António
Ferreira Guimarães, da vila de Guimarães, José de S. Boaventura Soares de Morais
Sarmento e sua mulher D. Teresa Joaquina Vieira Soares, obrigaram-se a pagar a
quantia de quatrocentos reis diários a Valentim Brandão Moreira de Sá “filho natural
de Antonio Zeferino Moreira de Sá Brandão, Morgado da Caza antiga e Quinta de
Sá, no termo desta villa”, que com eles fora criado e educado, passando a assentar
praça voluntariamente, “nas Vesporas da Feliz Restauração do Governo Monarquico
de El Rey Nosso Senhor, e dezejando-o beneficiar afim de seguir seos adiantamentos
e promover o seo Reconhecimento de Cadête atenta a qualidade da Nobreza que lhe
provem do falessido seo Pay”57.
Em 1828, tendo excedido a idade para ser reconhecido cadete, pela demora da
carta de perfilhação e legitimação do Tribunal do Desembargo do Paço, pediu licença à
rainha D. Maria II para fazer suas provanças de nobreza.
Por lhe ter sido recusada tal provança, voltou a requerer “com o mais profundo
respeito implora a Vossa Alteza se digne attender não só às suas qualidades
hereditárias como ao tempo de serviço que tem, pois que no decurço de quatro annos,
e oito mezes tem servido a Vossa Alteza com zêllo, honra e caracter, sem que tenha
notta alguma, já seguindo as forçádas marchas do seu Regimento na passada epoca
de disgraças, não se poupando ao Real Serviço; sendo sempre hum soldado fiel, e
obdiente aos seus Superiores espondo sua vida pello seu Rey o Senhor D. Pedro 4.º =
e hum acerimo defençôr pella esistençia da Carta Constitucional, que felizmente nos
Rege (...). O Supellicante Serenissima Senhora tem grande dezejo em continuar na
carreira Militar, e ser por este modo útil à sua Patria, e família distinta de que
procede, sendo huma grande prova desta verdade a sua boa conduta Civil e Melitar,
pois hé conhecido por todos os seus Superiores como distinto e caracterizado, e por
isso estimado, e admetido entre elles”.
Neste requerimento, à margem, está escrita a seguinte informação: “Hé filho
Natural, perfilhado e Legitimado de família Ilustre e conhecida, a sua conduta Civil e
Militar hé muito boa, tem abelidade para o Serviço e pela sua construção fizica e
intiligencia permite que delle se possa fazer hum bom Official, e os rendimentos que
pessui excedem ao determinado na Ley”58.

Assento de óbito de Valentim Brandão Moreira de Sá Sotomayor

57
Arquivo Municipal Alfredo Pimenta, secção notarial, antiga cota B-11-2-65, fls 122
58
Arquivo Histórico e Militar, Processo de Valentim Brandão Mor.ª de Sá Sotto Mayor.

35
Pública-forma da carta de legitimação de Valentim Brandão Mor.ª de Sá Sotomayor

A licença foi concedida.


Em 7/4/1836, na eleição do estado-maior do Batalhão da Guarda Nacional, era
tenente. E em 7/5/1847 é nomeado major do mesmo Batalhão.

Pormenor do decreto de D. Maria II nomeando Valentim Brandão Moreira


de Sá Sotomayor, Cavaleiro da Ordem da Torre e Espada

36
Por decreto de D. Maria II de 25/6/1838 é nomeado cavaleiro da “Antiga e
Muito Nobre Ordem da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito”, pelos
“serviços que durante o Cerco do Porto prestou a Cauza da Liberdade, e da
Legitimidade o voluntario do Batalhão Nacional, Movel do Minho”59.

Facsimile da assinatura de Valentim Brandão Mor.ª de Sá Sotomayor

Em 12/11/1838 foi nomeado escrivão de Direito da comarca de Guimarães.


Posteriormente, por portarias de 31/3/1859 e 9/4/1861, respectivamente, é
provido em tabelião do juizo de Direito das comarcas de Vila Nova de Famalicão e
Guimarães.
Por decreto de 6/12/1866 é despachado Contador Distribuidor do juizo da
correição de Guimarães, em sucessão ao sogro, tendo tomado posse em 17/1/1867.
Foi administrador de Guimarães durante a Patuleia60.

Primeira e última paginas de uma carta de Valentim Brandão Moreira de Sá Sotomayor 61

59
Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Registo das Mercês de D. Maria II, Livro nº 8, fls 249 e 249 vº.
60
Escreve a Profª Doutora Fátima Sá e Melo Ferreira, in “Modernização e conflito no mundo rural do
século XIX: politização e “política popular” na Maria da Fonte” (Revista da Faculdade de Letras do
Porto, História, Porto III Série, vol. 5, 2004, pág. 39): “Em Guimarães o ex-escrivão do judicial Valentim
Moreira de Sá, demitido pela administração Cabralista, foi “aclamado” administrador do concelho”.
Acabou por renunciar ao cargo por ser muito mal visto em Guimarães pelas pessoas principais da vila.
Em 10/08/1846 passou a ser administrador do concelho desta vila o Presidente da Comissão Municipal,
José Joaquim Cardoso (O Reboto), por o administrador interino, nomeado pelo povo da guerrilha do
Salgado (a maior parte salteadores), Valentim Brandão de Sá, não querer continuar a servir como
administrador, ficando a servir o Reboto, segundo a lei, por ser o Presidente da Câmara. (Efemérides
vimaranenses, de João Lopes de Faria, manuscrito da Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento).
61
Esta carta foi dirigida a sua tia, D. Maria do Carmo Moreira de Sá, residente em Campos, Brasil, em
20/08/1848, relacionada com a devida prestação de contas dos avultados bens familiares naquele Império,

37
Livro autobiográfico de Valentim Brandão Mor.ª de Sá (pormenor da 1.ª página)

Foi senhor da casa e quinta de Fundevila, com sua capela e mais pertenças, e do
casal da Silveira, tudo na freguesia de S. Miguel do Paraíso, na qualidade de herdeiro de

que incluíam a venda da grande Fazenda de Santo António de Rio Abaixo, no Serro Frio, de que os
Moreiras de Sá eram proprietários. Vide no final, o curioso Doc. V.
A carta é particularmente curiosa e valiosa em termos históricos por ser do ano (1848) em que se
verificaram as Revoltas Liberais, movimentos sediciosos que agitaram o Brasil, promovidos e
organizados pelo Partido Liberal, que contestava a elevação do Partido Conservador ao poder.
A queda do Gabinete Liberal e a ascensão do Gabinete Conservador e suas reformas são os factores que
provocaram a rebelião de 1842, em São Paulo e Minas Gerais.
A revolta dos liberais pretendia abalar e tumultuar a posição dos conservadores agora no poder, já que
estes mesmos liberais haviam sido afastados do comando político. Esse movimento começou em
Sorocaba, tendo como líder o Padre Feijó, e em Barbacena, onde era encabeçado por Teófilo Benedito
Ottoni.
Os revoltosos nomearam presidentes para as províncias de São Paulo e Minas Gerais.
Para combater os rebeldes, o governo imperial nomeou Luís Alves de Lima e Silva, então Barão de
Caxias, que os venceu com relativa facilidade, mais pelo poder das palavras do que pela força das armas,
ou seja, predominou a negociação e não a repressão. Mais tarde, em 1844, com a nomeação de outro
Ministério Liberal, foram todos amnistiados (vd. Wikipedia, Revoltas liberais de 1842).

38
sua avó materna D. Gertrudes Maria de Campos Faria Pinheiro (ou D. Gertrudes Maria
de Faria e Campos, como usou habitualmente), bens de que tomou posse a 16/10/1830.
Foi igualmente senhor da casa armoreada dos Moreiras de Sá, na rua Nova das
Oliveiras, em Guimarães, da quinta do Bairro de Cima, com todas as suas pertenças, na
freguesia de Santa Maria de Atães, por disposição testamentária de D. Mariana Luzia
Teixeira, moradora na rua da Fonte Nova62, do casal de Vila Meã, na freguesia de
Polvoreira, de que possuia o senhorio directo juntamente com a curaria da vila, do prazo
de Pedralonga, em S. Miguel das Caldas de Vizela, e de vários foros impostos em
inúmeras freguesias (S. Bartolomeu de Vila Cova, casal das Carvalhinhas, em Serafão,
ambas freguesias do concelho de Fafe, nas propriedades de Silvares, Valinhas e
Ubeiras, em Santo Adrião de Vizela).
A casa da (então) rua Nova das Oliveiras (hoje rua de Camões) foi adquirida na
constância de matrimónio, como acima se referiu.
Lê-se no “Inventário de Menores” aberto por decesso de D. Ana Rita de Faria
da Silva e Sá e incorporado no de seu marido, falecido em 1870: “Nº 178 Item hua
morada de cazas Nobres sitas na Rua Nova das Oliveiras desta cidade, que o
Inventariante e Inventariada comprarão, e reedificarão de novo na constancia de
matrimonio, de natureza de prazo fateozim perpetuo foreiro ao Morgado de Gervazio
Leite Rebelo e Araujo da Caza de Santo Ouvido, da freguesia d’Aveleda, Concelho de
Unhão, com o fôro anual de trinta mil reis em dinheiro que se paga ao dito Morgado,
Laudemio a quarentena, como consta do prazo primordial e fateozim perpetuo, que fes
o Administrador do Vínculo Gervazio Leite Rebelo e Araujo e sua mulher da dita Caza
de Santo Ouvido a Donna Joanna Maria Coelho de Araujo e Silva viúva de Dionizio da
Silva e Castro que foi desta cidade, na Nota do Tabelião que foi na mesma Nicolau
Teixeira d’Abreu, aos doze de Dezembro de mil oito centos vinte e dous; tendo
precedido Licença Regia por Provizão do Dezembargo do Paço de vinte e dous de
Novembro de mil oito centos vinte e dous, assignada pêlos Ministros Francisco Jose de
Faria Guião e Antonio Gomes Ribeiro, e subscripta pelo Secretario Bernardo Joze de
Foios Cabral...”. E logo adiante descreve-se a citada casa: “... a referida morada de
Cazas que são de dous andares de sobrados, com dous portaes e hum taboleiro da
parte da Rua, e três janelas rasgadas em cada andar, envidraçadas, de fronteira de
pedra fina athe sima, com sua pedra de Armas, e da parte das trazeiras também de
dous andares com suas varandas nos andares de baixo e de sima emdidraçadas (sic), e
com seu quintal, pôço e tanque...”.63
No testamento cerrado com que faleceu sua mãe, D. Maria Gertrudes Rebelo
Peixoto de Azevedo e Castro, legou ela ao filho, não nomeado como tal, “Valentim
Brandão de Sá filho de António Zeferino de Sá”, a pensão anual e vitalícia de
quatrocentos mil reis, imposta sobre vários prazos nomeados no parente Dr. Bento
Ferreira Cabral Pais do Amaral, que sempre cumpriu o legado.

62
No seu testamento cerrado, aprovado em 27/10/1841 pelo tabelião João Maria Lopes de Carvalho, de
Guimarães, aberto em 31/12/1842. A este respeito lê-se esta notícia deixada no blog “Pedra Formosa”:
“1842 — "Morreu nesta vila a Mariana Teixeira, moradora na Rua da Fonte Nova. Em seu testamento
(tido geralmente como falso, por não estar em seu juízo há muito tempo) instituiu por seu herdeiro
Valentim Brandão de Sá, escrivão do Juiz de Direito, homem sem moral e com uma ambição
desmarcada, sobrecarregando apenas a sua herança com uma morada de casas que deixou a José
Marques seu vizinho, e com uns pequenos legados. Foi depositada e sepultada no dia 2 do mês seguinte
na igreja de S. Domingos. O seu herdeiro esteve a receber visitas de pêsames, junto com o tal José
Marques, e convidou para assistir ao seu funeral a pessoas de bem da terra, estando até lacaios junto à
eça, e fechando o caixão o Juiz de Direito". P. L.”.
63
Tribunal Judicial de Guimarães, Inventário de Menores, Valentim Brandão Moreira de Sá Sottomayor,
Maço 189, Nº 5.

39
Sem embargo, em 1842 veio ele propor contra a viúva deste, D. Delfina
Margarida Pais do Amaral, na qualidade de meeira, e contra as filhas (então menores)
D. Sofia e D. Amélia (futura condessa do Juncal), na qualidade de únicas herdeiras, uma
acção a pedir o pagamento da pensão vencida em 24 de Fevereiro desse ano.
Instruiu os autos com as escrituras dos pagamentos realizados até áquela data,
das pensões impostas pela testadora, a “mãe natural” de Valentim Brandão Moreira de
Sá Sotomayor, como em muitas dessas escrituras é indicada.

Casa de Valentim Brandão Moreira de Sá Sotomayor,


na rua Nova das Oliveiras (hoje rua de Camões), em Guimarães

Pedra de armas da Casa da família Moreira de Sá, na rua de Camões,


em Guimarães, que pertenceu a Valentim Brandão Moreira de Sá Sotomayor e Menezes

40
Casa dos Moreira de Sá, na rua de Camões – frontaria e pátio interior; e lápide de homenagem a Bernardo
Valentim Moreira de Sá (neto paterno de Valentim Brandão Moreira de Sá Sotomayor), promovida pela
Câmara Municipal de Guimarães e pela Sociedade Martins Sarmento, no ano de 1957 (20 de Maio) 64

Tendo as rés deduzido oposição por negação, foi proferida a final sentença em
29/11/1842, condenando-as neste pedido e desatendendo um outro da extinção da fiança
constituida.
Interposto recurso para o Tribunal da Relação do Porto, foi confirmada a
sentença da 1.ª instância.
Não convencida, D. Delfina Margarida Pais do Amaral deduziu embargos ao
acórdão com o fundamento de que, pela escritura de 24/3/1842, fora paga a pensão
referente ao ano de 1842, posto aí fosse consignado reportar-se o pagamento ao ano de
1841. Estes embargos foram rejeitados.

64
Estas fotografias foram gentilmente cedidas pela Drª Célia Maria Vilela Pontes, e foram publicadas no
seu magnífico estudo "Casas Brasonadas do centro urbano de Guimarães-Um itinerário Turístico-
Cultural", Vol. II (Dissertação de Mestrado em Património e Turismo Cultural, Janeiro de 2013), a quem
agrademos penhoradamente.

41
Transitado em julgado o respectivo acórdão, instaurou Valentim Brandão
Moreira de Sá execução da sentença, nomeando á penhora os bens móveis e semoventes
da casa e quinta de Laços e do prazo do casal sito em S. Torcato.
Só assim as executadas cumpriram a obrigação pelo pagamento, sustando-se a
execução65.
Foi membro do Conselho de Família constituido após a morte de seu tio paterno
Miguel António Moreira de Sá, destinado a administrar os bens da casa de Sá e a
assegurar a subsistência dos filhos menores do falecido
Casou a 21/9/1825, na igreja de S. Tomé de Caldelas, no termo de Guimarães,
com D. ANA RITA DE FARIA E SILVA, assistente à data do casamento na sua
quinta das Espigaras, na mesma freguesia, nascida a 20/9/1803, na freguesia de Nossa
Senhora da Oliveira, Guimarães, e falecida a 15/4/1849 em S. Sebastião, da mesma vila,
sendo sepultada na igreja de S. Domingos, filha de Francisco José de Faria e Silva,
escrivão da correição, distribuidor, inquiridor e contador do juizo da correição de
Guimarães, senhor da quinta das Espigaras e dos casais do Souto, Assento, Quintã, Sepa
e Eira, bem como dos prazos do Pedraído e Pardelhas (este de natureza de prazo
reguengo) e da propriedade da Lameira, tudo em S. Tomé de Caldelas, etc. 66 (irmão do

65
Arquivo do Tribunal Judicial do Porto, Maço 277 – Santa Catarina.
66
Arquivo Municipal Alfredo Pimenta, tabelião Nicolau Teixeira de Abreu (N-1456), fls. 96 verso:
venda de Francisco José de Faria e mulher e tia Maria Luisa de Faria, viúva, desta vila, a Domingos José
Fernandes Guimarães em 22-4-1842.
Compareceram na Rua de S. Domingos de uma parte Francisco José de Faria e Silva e mulher D. Rosa
Angélica moradores na Rua do Gado e juntamente sua tia Maria Luisa de Faria viuva de António José
Vaz da Rua de Santa Luzia, e da outra Domingos José Fernandes Guimarães morador na sua casa e quinta
da Lage freguesia de S. Martinho de Gondomar.
Disseram os primeiros outorgantes Francisco José de Faria e mulher que ao falecimento de seu tio o
Reverendo Padre José António de Faria morador que foi na dita Rua do Gado entraram e se conservaram
na posse da Quinta do Paço e suas pertenças na freguesia de S. Martinho de Gondomar de que o mesmo
falecido era proprietário, foreira aos sucessores de D. Maria Leonor de Sousa Peixoto de Carvalho e a
Joaquim Aguiar Pimenta Carneiro; mas a segunda outorgante, Maria Luisa de Faria, que era irmã do
falecido padre também se considerava sucessora e com direito à mesma quinta e a sua reivindicação, que
ambos os outorgantes desejando evitar pleitos judiciais e a grandes despesas e incómodos, transigiam
entre si e juntamente vendiam a referida quinta e partir igualmente o seu preço. Que se ajustaram com o
terceiro outorgante Domingos José Fernandes Guimarães de lhe venderem a referida Quinta do Paço pelo
preço de dois contos e duzentos mil reis em dinheiro metal corrente neste Reino; que a vendedora Maria
Luisa de Faria por falta de vista mandou contar e examinar o seu respectivo preço.

42
A casa da quinta do Paço, em S. Martinho de Gondomar (Guimarães) - aspecto actual, após as obras
efectuadas pelos seus actuais proprietários

rev.º Manuel José de Faria e Silva, morador na rua dos Mercadores, em Guimarães), e
de sua mulher D. Rosa Angélica de Faria, natural da freguesia de Darque, Viana do
Castelo67; neta paterna de João Valentim de Santo António e Silva Lisboa, assistente

67
No assento de nascimento da aqui tratada filha Ana, diz-se que fora baptizada “na freguezia de Arche,
termo de Vianna”, pelo que se quererá referir à freguesia de Darque, embora não apareça o respectivo
assento. Mas no posterior assento de nascimento da irmã Maria, em 24/01/1806, diz-se que ela era natural
da freguesia de S. Sebastião, da vila de Guimarães onde, sem embargo, também não encontrei o
respectivo assento.
Segundo uma “Memória Familiar” manuscrita que possuo por herança, D. Mariana Patrícia, avó
materna de D. Ana Rita de Faria e Silva (nessa “Memória Familiar” chamada D. Ana Rita de Faria e
Silva de Menezes Mascarenhas e Bourbon), mulher de Valentim Brandão Moreira de Sá Sotomayor e
Menezes, seria filha bastarda de D. António Maria de Melo da Silva César e Meneses (Lisboa, 31 de
Janeiro de 1743/Lisboa, 4 de Junho de 1805), 7.º conde de S. Lourenço, 4.º conde e 1.º marquês de
Sabugosa, foi um alto aristocrata, oficial general do Exército Português e membro do Conselho de Guerra
e detentor de diversos ofícios e títulos da corte, e de D. Rosa Angélica de Menezes Mascarenhas de
Lancastre e Bourbon; neta paterna de D. Ana de Melo da Silva, a 6.ª condessa de São Lourenço, e de seu
marido D. João José Alberto de Noronha, 6.º conde de São Lourenço (jure uxoris), alcaide-mor de Elvas e
alferes-mor do reino.
A Senhora de quem ele teria tido aquela filha não perfilhada, D. Rosa Angélica de Menezes
Mascarenhas de Lancastre e Bourbon, seria filha bastarda de D. João José Luís Mascarenhas Barreto, 6º
marquês de Fronteira, 7.º conde da Torre, de juro e herdade, e 7.º conde de Coculim, 6.° donatário de
fronteira e 6.° do mordomado-mor de Faro; Vedor da Casa da Princesa D. Maria Francisca Benedita, 12.°
administrador dos morgados das Chantas em Santarém e do da Goucharia em Almeirim. 6.° Morgado da
Torre das Vargens e 6.° dos de Coculim e Verodá na India, comendador na Ordem de Cristo, de Nossa
Senhora do Rosmaninhal, São Tiago de Torres Vedras, São Nicolau de Carrazedo, São Tiago de Fonte
Arcada e de São Miguel de Linhares, Padroeiro dos conventos de São Domingos da Serra e do de Nossa
Senhora da Conceição de Torre das Vargens, e de uma Ana Rita da Costa.
Seria assim neta paterna de D. José Luís Mascarenhas, 6.° Conde da Torre, 6.° Conde de Coculim e
5.° Marquês de Fronteira, Veador da princesa D. Maria Benedita de Bragança, do conselho da rainha D.
Maria I de Portugal, senhor da vila de Fronteira, na Ordem de São Bento de Avis; senhor donatário do
mordomado de Faro, comendador das comendas de N. Senhora da Conceição de Rosmaninhal, etc. (tendo
principiado pela carreira eclesiástica, chegou a cónego da sé de Lisboa. Extinguindo-se a sucessão da casa
de Fronteira na morte em 1756 do 4.º Marquês, sem descendentes nem ascendentes, D. José I de Portugal
consentiu na renúncia do beneficio eclesiástico, e o proveu, por decreto de 21 de Março de 1769, no titulo
de Marquês de Fronteira em sua vida, e nas outras mercês de bens da Coroa e Ordens de que tinha mercê
sua casa), e de sua mulher a marquesa D. Mariana Josefa de Vasconcelos e Souza, filha do 1.º marquês e
4.º conde de Castelo Melhor. Sucedeu na Casa por não se haver ajustado o segundo casamento do irmão,
acima, com a prima, D. Ana Maria, filha do 3.º conde de Coculim.
Segundo esta mesma “Memória Familiar” manuscrita a filha Rosa Angélica teria nascido, de facto, a
ocultas, em Viana do Castelo, em freguesia que não é certa, eventualmente Darque, em propriedade de

43
que foi na freguesia de Santa Marinha da Costa, no termo de Guimarães, mas natural da
freguesia da Encarnação, em Lisboa, e de sua mulher Antónia Josefa Barbosa de Faria e
Paz, da freguesia de S. Paio, Guimarães68; neta materna de Mariana Patrícia, natural da
mesma freguesia de Darque, Viana do Castelo.
Deste casamento ficou geração de quem descendem todos os ramos da família
Moreira de Sá, da casa de Fundevila, e a varonia (e primogenitura portuguesa) da casa
de Sá (casa que veio a recair no ilustre ramo Moreira de Sá e Mello): Beleza de
Andrade Moreira de Sá, Carvalho Magalhães Moreira de Sá, Moreira de Sá e
Ferreira da Costa e Moreira de Sá da Silveira Tinoco.69

família amiga. Como não posso documentalmente prová-lo, deixo-o somente como mera "Memória
Familiar" com o valor que isso possa ter como fonte historiográfica credível.
68
João Valentim de Santo António e Silva, baptizado na fregª da Encarnação (Lisboa) a 26/02/1750, era
filho de António da Silva Lisboa (baptizado a 18/04/1709, na fregª da Sé de Lamego) e de sua mulher
Teresa Bernarda de Sousa (baptizada a 11/12/1710, na fregª do Monte da Caparica) e moradores na
freguesia da Encarnação, Lisboa (casados na fregª das Mercês a 07/01/1737); neto paterno de João da
Silva “Lisboa”(de alcunha), moleiro do lugar de Além da Ponte, fregª da Sé de Lamego, e de sua mulher
Ana Roiz; neto materno de Afonso de Sousa e de sua mulher Josefa Maria, da fregª do Monte da Caparica
(Setúbal).
Antónia Josefa Barbosa de Faria era filha de Manuel José Barbosa, natural da freguesia de S. Paio, de
Guimarães, que teve inquirição de genere em Braga para a prima tonsura e dois graus das quatro menores
(Processo nº 2470, Pasta 111), e de sua mulher (com quem casou em Nossa Senhora da Oliveira,
Guimarães, a 28/11/1740) Gertrudes Micaela de Faria da Paz.
Irmão de Antónia Josefa foi o rev.º José António de Faria, cuja inquirição de genere, foi realizada em
Braga a 14/12/1787, nela constando que quer seu tio paterno, António Barbosa Guimarães (Processo nº
6551), quer seu pai Manuel José Barbosa, se haviam habilitado igualmente.
Consta também que eram ambos filhos de António Barbosa de Oliveira, fiteiro da vila de Guimarães
(filho de João de Oliveira e de sua mulher Catarina Barbosa, da freguesia de S. Lourenço do Selho, termo
de Guimarães), e de sua mulher Mariana de Azevedo (esta filha de António Guedes Ferraz, alfaiate do
lugar do Arrabalde, moradores em Sanhoane, freguesia de Santo André e Medim, concelho de Penaguião,
e de sua mulher Domingas de Azevedo).
Gertrudes Micaela Maria de Faria e Paz era filha de Alexandre da Paz, morador no Terreiro da
Misericórdia, freguesia de S. Paio de Guimarães, ourives (filho do rev.º Cosme da Paz, da freguesia de S.
Martinho de Arosa, termo de Guimarães, e de Maria Jorge, da freguesia de Santa Maria do Souto de
Sobradelo, no mesmo termo) e de sua mulher (com quem casou a 21/11/1714 em S. Martinho de
Gondomar, no termo de Guimarães) Mariana Luisa de Faria Salgado (filha bastarda reconhecida do Dr.
Sebastião de Faria Salgado, bacharel formado em Leis pela Universidade de Coimbra, procurador às
cortes por Vila do Conde (de onde era natural) no ano de 1668 (A. N. T. T., Leitura de Bacharéis, Maço
5, N.º 50), e de Catarina Dias, da freguesia de Telhado, termo de Guimarães.
Sobre estes Farias Salgados, ver Manuel José Felgueiras Gaio, Nobiliário, Título de Farias, § 139 e
Cristóvão Alão de Morais, Pedatura Lusitana, Tomo IV, pág. 394 (Farias Machados, da Bagoeira, § 3 –
Desentroncados)
69
In ob. cit.atrás na nota 47.

44
Fig. 1 Fig. 2

Fig. 3 Fig. 4

Brasões de Armas de Nobreza e Fidalguia passados a ascendentes dos Moreira de Sá 70

70
Cartas régias de Brasão de Armas de Nobreza e Fidalguia: Fig. 1: CBA de Jorge Anes de Sá: Sás em
pleno, com uma merleta preta por diferença (25/02/1526); Fig. 2: CBA de Manuel Borges do Couto (1ª):
esquartelado de Borges e Couto (estas com erro, pois foi descrita e representada uma torre em vez de um
castelo), brica de prata com M de negro (04/04/1696); Fig. 3: CBA de Manuel Borges do Couto (2ª):
escudo esquartelado: Sá, Gonçalves, Borges, Couto (o mesmo erro na descrição e representação das
armas, como uma torre em vez de um castelo), brica de ouro com trifólio de negro; Fig. 4: CBA do
capitão-mor Francisco Moreira Carneiro (F.S.O., C.F.C.R., C.O.C): escudo esquartelado: Moreira (1º e 4º
quartéis), Carneiro, Henriques, brica de ouro com trifólio vermelho.
Estes desenhos são da autoria do Amigo e distinto artista heráldico, Miguel Ângelo Boto, a quem
agradecemos a gentil oferta.

45
Prato brasonado da Companhia das Índias, com as armas da Casa de Sá

Petição de Valentim Brandão Moreira de Sá Sotomayor ao juiz da comarca de Guimarães

46
Hábito de Cavaleiro da “Antiga e Muito Nobre Ordem da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito”,
com que foi galardoado Valentim Brandão Moreira de Sá Sotomayor, pelos “serviços que durante o
Cerco do Porto prestou à Causa da Liberdade, e da Legitimidade”, por decreto da rainha D. Maria II de
25/06/1838 (este da imagem pertenceu a Sir Charles Broke Vere)

Brasão de armas: Moreira, Sá, Brandão, Sotomayor. Timbre: Moreira (desenho do distinto Artista
heráldico e prezado Amigo, Miguel Ângelo Boto)

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APÊNDICE

Os Morgadios do Outeiro, em S. Paio dos Arcos e Paçô


Seus instituidores, administradores e a extinção
(a propósito de uma pedra de armas inédita) 

Em 19.11.1777 foi passada provisão régia de extinção dos vínculos da quinta do


Outeiro, com capela de Nossa Senhora dos Remédios, sita nas freguesias de S. Paio dos
Arcos e Paçô, no termos dos Arcos de Valdevez.
Estes vínculos de Morgado haviam sido instituidos, um por D. Isabel Coelho de
Vasconcelos em 01.02.1706, e o outro ela referia-o na escritura de instituição sem, no
entanto, saber nada mais do que a obrigação que tinha de uma missa semanária.
O autor da petição de extinção foi Francisco Joaquim Moreira de Sá, fidalgo da
Casa de Sua Majestade, cavaleiro professo na Ordem de Cristo e administrador do
morgadio de Sá, em Santa Eulália de Barrosas, no termo de Guimarães (hoje do
concelho de Vizela) e de inúmeros outros bens vinculados e de natureza de prazo (além
de senhor da grande fazenda de Santo António de Rio Abaixo, no Serro Frio, província
de Minas Gerais, no Brasil), por cabeça de sua mulher D. Josefa Antónia de Sotomayor
Osório de Menezes e Vasconcelos:
“Diz Fran.co Joaquim Moreira de Sa, por cabessa de sua M.er D. Josefa Ant.ª
Souto Mayor e Menezes, q elles sam Adeministradores de huma Capella sita no termo
da villa dos Arcos de Valdeves, comarca de Vianna, q se compoem de huma quinta
chamada do Outeiro q instituio Isabel Coelho de Vasconcellos, q pello seu tenue
rendim.to he das compreendidas em a Lei novissima de V.ª Mg.de e p.ª q se haja de
abulir e haver por dezembarassada e livre, e iludial; declara q a dita quinta esta
emposta nas freg.as de Sampaio e de Passou.
P A V.ª Mg.de seja servido mandar q se lhe pace alvara p.ª o Provedor da refr.ª
comarca emformar do refr.º, e sendo como rellata, se lhe passar provizam por honde se
haja a d.ª quinta por livre e iludial e dezembarassada de toda a pensam e emcargo. E
R. M.ce”71
O mesmo autor da petição havia já requerido certidão do teor da instituição do
morgado:
“Diz Fran.co Joaquim Moreira Borges de Sáa72 e sua m.er D. Josefa Antonia de
Vasconcellos e Menezes da villa de Guim.es, q para certos requerimentos q tem, fazem
a bem de sua justiça precizão de q o Esc.am Souza lhes passe por certidam o teor do
Vinculo q instituhio Isabel Coelho moradora q foi na sua Quinta do Outeiro sita nas


Este estudo foi já publicado (com alterações agora ao original) na revista “Hidalguia”, do Instituto
Salazar y Castro, Madrid, Año LIII, Nº 318 (Setiembre-Octubre), Madrid, 2006.
71
Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Desembargo do Paço (Minho e Trás-os-Montes), Maço 97, Nº
21 e “Chancelaria de D. Maria I”, Livro 2, fls. 212 v.º.
72
Ele usou vários nomes, aparecendo ora como Francisco Joaquim Moreira Carneiro Borges de Sá, ora
como Francisco Joaquim Moreira Borges de Sá Barreto, ora como Francisco Joaquim Moreira de Sá
Barreto e ainda Francisco Joaquim Moreira Carneiro Barreto do Couto e Sá. Finalmente terá adoptado o
nome de Francisco Joaquim Moreira de Sá, que veio a usar até final da sua vida, provavelmente logo após
a instituição do opulento Morgadio de Sá, de que foi o 1.º administrador, e que obrigava ao uso dos
apelidos e armas de Moreiras e Sás.

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freg.as de S. Paio e Passo deste termo cujos bens vinculados são pertencentes a m.ª
Quinta.
P. a V. M.de seja serv.º mandar-lhe passar a d.ª Certidam na forma requerida
em modo q faça fée E R. M.”
E assim, “Em cumprimento do despacho supra de Manuel Pereira Barreto e
Araujo, juiz ordinario nesta villa dos Arcos de Valdevez e seu termo por Sua Magestade
que Deus guarde etc. Certifico e Ponho fé eu Francisco Pires Barreiros, tabelião do
publico judicial e notas nesta ditta villa e todo o seu termo, em como em meu puder e
cartorio se acha hum libro ja findo que teve seu principio na hera de mil setecentos e
tres annos no qual libro de notas a folhas sento setenta e sinco v.º the folhas digo sento
setenta e seis verso the folhas sento setenta e nove se acha a escreptura digo se acha a
instituição do Morgado de que a petição retro faz menção de cujo seu theor de berbo
ade berbum hé o seuinte que se segue.
“Instituição de Morgado que fez Isabel Coelho de Vasconcellos Donna viuva de
Sam Payo da villa deste termo / Saibão quantos este Publico Instrumento de instituição
de vinculo e Morgado e de pura e irrevogavel Duação entre vivos valedora ou como de
direito milhor lugar aja e dizer supra virem que no Anno do Nacimento de Nosso
Senhor Jesus Christo de mil setecentos e seis annos ao primeiro dia do mês de fevereiro
do dito anno nas cazas de morada de Isabel Coelho de Vasconcellos Donna viuva que
sam na sua Quinta do Outeiro da freguezia de Sam Payo da villa termo da mesma villa
dos Arcos de Valdevez perante mim tabalião e testemunhas ao diante nomiadas
apareceo prezente a dita Isabel Coelho de Vasconcellos peçoa por mim tabalião e
testemunhas reconhecida ser a propria que aqui se nomeia de que dou fée, e por ella foi
dito e dice que queria fazer hum vinculo de Morgado como com effeito fazia pello
presente instrumento e ao tal Morgado avinculava a sua quinta do Outeiro assim como
a pessuhia e seu Pay e Irmão lhe dotarão e os bens que comprou a João de Guimarains
de Brito em Fontarcos com a qual quinta, digo em fontarcos a qual quinta consta de
cazas, pumares, campos, vinhas, devezas e montes e ermida de Nossa Senhora dos
Remedios e parte do nascente com terra do dito João de Guimaraens e Brito de
fontarcos e de poente com e estrada que vai pera a dita villa dos Arcos e do Norte com
Francisco Pereira Castro73 e do sul com o lugar da Avelenda e casa que foi de
Francisco Baz que ella oje pessue e não quer que esta casa entre no vinculo de
Morgado porque ... (palavra ilegível) delle, os coais Bens avinculava em Morgado para
que se não pudessem vender nem aliar nem partir, em tempo algum e andarão sempre
em hua só peçoa com obrigação de hua Miça todos os annos pella sua Alma e de Seos
Pais Irmão e pelas dos sucesores do Morgado que pelo tempo forem faltando, pelo
clerigo que ao admenistrador lhe paresser, e esmola custumada ad libitum e por ella
dizijava muito o aumento a conservação da casa e d.º Morg.do seu sobrinho Francisco
de Abreu de Lima filho de Rafael de Abreu de Lima74 e por lhe ter muito Amor, e

73
Da Casa de Andorinha, na mesma freguesia.
74
Rafael de Abreu de Lima era casado com D. Serafina de Lima de Vasconcelos, sendo esta filha de D.
Duarte de Lima, senhor da quinta e Morgado da Ponte Nova, e de sua mulher D. Maria de Araújo de
Vasconcelos (esta era irmã de Manuel de Araújo de Vasconcelos, senhor da quinta do Cotinho e da Chave
Principal do Santo Lenho de Santa Maria de Grade, na freguesia do mesmo nome, no termo dos Arcos,
bisavô materno de D. Josefa Antónia de Sotomayor Osório de Menezes e Vasconcelos, mulher de
Francisco Joaquim Moreira de Sá, autores do pedido de extinção dos vínculos).
D. Josefa Antónia era filha de Valentim Brandão Coelho e Abreu, cavaleiro professo na Ordem de
Cristo, administrador do Morgado de Calvos, em Santa Maria de Távora, e senhor da casa e quinta da
Boavista e outras, em S. Bartolomeu de Monte Redondo, tudo no termo dos Arcos, e de sua mulher D.
Luisa Maria Xavier de Vasconcelos e Menezes de Sotomayor; neta paterna de Francisco Brandão Coelho
e Abreu, administrador do Morgado de Calvos, senhor da casa e quinta da Boavista, etc., e de sua mulher

49
Afeição e delle ter reçebido bomas obras e esperar recebelas e por ser ainda solteiro
pera milhor tomar seu estado o nomeia e quer seja o primeiro admenistrador e suseder
no dito vinculo, a helle e a todos seus descendentes legitimos chama pera susederem no
dicto Morgado que susederão na forma que de direito se susede presedendo sempre o
varão a femia e os mais velhos aos mais novos e morrendo elle sem desendençia
legitima em tal caso chama para a sosesão do dito Morgado aos irmãos do mesmo
doado por sua ordem observandosse entre elles a mesma Preferensia...”.
Declarou ainda a mesma doadora que possuia muitos mais bens que não
entravam neste vínculo de morgado, quer de natureza de herdade, quer foreiros, assim
como bens móveis, dívidas que lhe eram devidas e escrituras de juro.
De tudo isto igualmente fazia doação ao mesmo sobrinho, tão somente
reservando o usufruto deles em vida e 300.000 reis, sendo 100 para o seu bem de alma e
os mais para testar à hora da sua morte como lhe parecesse.
Referia também a doadora que “o Campo da Cal e leira de Infesta e a de
Branpos (?) por tradição antiga sem que ella tenha noticia de ninhum docomento são
obrigados a hua missa semanaria que ella sempre mandou dizer e com a mesma
obrigação os passa ao doado e mais declara que a vinha de Cortes de Baixo e a
laboura lha deixou seu thio Francisco de Araujo de Vasconcellos75 sem nenhum
encargo, estes e os mais Bens lhe deixa libres sem obrigação algua e com estas
clausulas comdissoins e Reservas asima ditas desde logo ha por sidido e transferido no
doado todo o dominio posse direito e aução que nos Beins doados tem e lhe pertence
para que por Morte della doadora os entre a desfrutar e se constituie, por sua simples
colona...”.
O traslado do documento de instituição do vínculo de Morgado foi feito a
05.01.1771, pelo tabelião Franscisco Pires Barreiros, tabelião do público, judicial e
notas na vila dos Arcos e seu termo.76
Por se confirmar a veracidade do parco rendimento dos mesmos vínculos –
68.800 reis – depois de ouvido o tutor do imediato sucessor77(seu avô materno,
Valentim Brandão Coelho e Abreu, Cavaleiro professo na Ordem de Cristo), foi
atendida a pretensão de Francisco Joaquim Moreira de Sá e mulher, e declarados por
extintos os 2 vínculos, após informação do Provedor da comarca de Viana, António
Félix Contreiras da Silva:
“Francisco Joaquim Moreira d’Essa (sic) por cabeça de sua m.er D. Josefa
Antonia Souto Mayor e Menezes, administradores de huma Capella, sita no tr.º desta
Villa dos Arcos, que instituhio Isabel Coelho de Vasconcellos com a obrigação de huma
missa roga a V. Mag.e Provizam para ficarem livres, e aludiaes os bens, e tambem os
de outra que a mesma instituidora declarara possuhir com o encargo de huma missa
somanaria; com o fundamento de não renderem a taxa da Ley novissima sobre o que
me manda V. Mag.e informar com parecer.

e prima Luzia Coelho Brandão (herd.ª do Morgado de Calvos); neta materna de Leonel de Abreu e
Vasconcelos de Sotomayor, senhor da Chave Principal do Santo Lenho de Grade, senhor da quinta do
Cotinho, etc., que justificou a sua nobreza e ascendência em varonia dos Sequeiros de Sotomayor (que
foram condes de Priegue e viscondes de Plugue, em Espanha), e de sua 2.ª mulher D. Luisa Maria de
Sousa de Castro de Araújo e Azevedo.
75
Trata-se do lic.º Francisco de Araújo de Vasconcelos que foi abade de Oliveira.
76
Vide nota 74. A escritura original da instituição fora lançada na nota do tabelião Simão do Amaral, da
vila dos Arcos. Tentámos em vão descobrir o original, mas nas buscas a que procedemos no Arquivo
Distrital de Viana do Castelo, o livro respectivo não existe, pois que daquele tabelião só encontrámos um
que termina no ano de 1703.
77
Era António Zeferino Moreira de Sá Brandão Sotomayor e Menezes, ao tempo menor de 5 anos.

50
Da certidam da instituição consta a verdade do requerimento, as propriedades e
os encargos, e da declaração dos louvados que examinarão as fazendas em auto de
veitoria, a que mandei proceder, no estado de benfeitorizadas, se mostra ser o liquido
rendimento livre de hum e outro vinculo, deduzidos os encargos, sessenta e oito mil e
oito centos reis, e como seja insignificante, o que não duvida o Curador, e tutor do
menor imediato sucessor, parece por isso que a suplica hé digna de attenção.
V. Mag.de porem mandará o que for servido.
V.ª dos Arcos 3 de Nvbr.º de 1776
O Prov.or da Com.ª de Viana
Antonio Feliz Contreiras da Silva”

“A Francisco Joaquim Moreira de Sá se ha de passar Provisão de extinção de


huma Capella
Lx.ª 19 de Nvbr.º de 1777”

D. Isabel Coelho de Vasconcelos, instituidora do vínculo de Morgado atrás


referido, havia casado na sua capela de Nossa Senhora dos Remédios, a 10.09.1664,
com o seu parente Silvestre Borges Pacheco78, filho de Francisco Borges Pacheco e de
sua mulher Maria Fernandes de Oliveira79.
Teve vários irmãos. O referido por ela na escritura como sendo, juntamente com
o pai, quem lhe dotara a quinta do Outeiro em casamento, era o Rev.º Jácome Coelho
Pacheco80. Mas sabemos de, pelo menos, vários outros irmãos, não referenciados por
Felgueiras Gaio e abade de Prozelo81, mas cuja existência nos confirmam os respectivos
livros paroquiais da freguesia de Paçô.
Era ela filha de Lançarote Aranha de Araújo, nomeado pelo avô paterno como
sucessor do Morgado da torre e quinta do Outeiro, e de sua mulher Maria Borges
Pacheco; neta paterna de Diogo Aranha82 e de sua mulher Isabel de Sousa de Araújo83;
neta materna de Jácome Coelho Pacheco84, senhor da casa da Avelenda, em Paçô (que
78
Ele veio a falecer 06.02.1679, na freguesia de S. Paio, sendo sepultado na Misericórdia dos Arcos, com
testamento verbal e 50.000 reis de sufrágios.
79
Francisco Borges Pacheco era filho de João Barbosa da Rocha e de Ana Borges Pacheco (viúva de João
de Barros, o Mestre, por sua vez já viúvo de Maria de Barros Aranha); e neto materno de Silvestre Borges
Pacheco, senhor da casa e quinta de Campos de Lima, em Paçô, que instituiu em Morgado com capela de
S. Simão, e de sua mulher Isabel Coelho de Vasconcelos (que foram também pais, entre outros, de
Jácome Coelho Pacheco casado com Isabel de Barros Aranha, senhores da casa da Avelenda, que depois
veio a herdar sua neta Isabel Coelho de Vasconcelos; e que igualmente foram 4.ºs avós maternos de D.
Josefa Antónia de Sotomayor e Menezes, mulher de Francisco Joaquim Moreira de Sá).
Uma irmã de Francisco Borges Pacheco, de nome Serafina Coelho de Vasconcelos, casou com Matias
de Abreu de Barros e foi a progenitora de, pelo menos, Pedro Borges Pacheco, que foi morador na Baía
de Todos os Santos, Brasil, tendo tido Carta de Brasão de Armas em 05.09.16.. (ilegível) com as armas
dos Borges, Pachecos, Vasconcelos e Barros. Diferença uma brica de ouro com um trifólio de azul
(“Brasões Inéditos”, José de Sousa Machado, pág. 184; “Brasões Inéditos - Suplemento”, idem, pág. 39).
Este apontamento, como o referido à frente na nota 88, acerca da Carta de Brasão passada a Bento de
Brito Cação, foi-nos amavelmente fornecido pelo nosso querido Amigo e distinto investigador
pontelimense, Dr. José Aníbal Castro Marinho Soares Gomes, a quem agradecemos penhoradamente.
80
Deve tratar-se do que veio a falecer a 13.12.1685 em Paçô, mandando sepultar-se na igreja paroquial, o
que aconteceu pois que foi seu corpo sepultado na capela-mor, tendo deixado testamento por escrito.
81
Inácia, bapt.ª em Paçô a 24.07.1625 e falecida na mesma a 09.06.1659; Bento, bapt.º a 13.01.1628;
Ana, bapt.ª a 14.12.1630 e falecida a 24.061659; Diogo, bapt.º a 21.08.1633; e Ângela, falecida a
23.01.1659. Teve ainda, pelo menos, mais uma filha, seguramente bastarda, também de nome Ana de
Araújo, que casou a 02.03.1666, na freguesia de Oliveira, com Gaspar Gonçalves, de Merilhões, já viúvo.
82
Este deve ser o que faleceu a 20.09.1645 em Paçô.
83
Era filha de João de Amorim Cerqueira e de sua mulher Maria de Araújo de Azevedo.
84
Falecido em Paçô a 24.06.1636 com testamento escrito, em que mandava rezar 100 missas.

51
depois sua neta veio a possuir, como refere na instituição de Morgado acima85) e de sua
mulher Isabel de Barros Aranha86.
Diogo Aranha era filho do Rev.º Lançarote Dias Aranha, abade de Oliveira, no
termo dos Arcos, e provavelmente “da morata, m.er solt.ª “87
Lançarote Dias Aranha instituiu em 09.01.1609 novo Morgado na torre e quinta
do Outeiro, acrescentando bens ao Morgado instituido por seu pai em 1545, nomeando
neste a seu neto Lançarote Aranha de Araújo, e o de seu pai no sobrinho Francisco
Aranha.

Casa da quinta do Outeiro (hoje conhecida como casa dos Remédios) e Capela de Nossa Senhora dos
Remédios (há cerca de 40 anos e na actualidade)

85
A casa da Avelenda também pertencia a estes Aranhas, pois que desde o início do século XVII, pelo
menos, eles aí aparecem a viver.
86
Falecida a 03.03.1682, na freguesia do Salvador, Arcos, e filha de João Fernandes de Barros, o Mestre,
e de sua mulher Maria de Barros Aranha, e neta paterna de Duarte de Barros e e de sua mulher Ana Dias
Aranha, filha esta do comendatário de Ázere Diogo Anes Aranha.
87
Esta era, pelo menos, a mãe de outro dos filhos do abade, Francisco Aranha, que casou a 19.02.1612
em Santa Maria de Távora, no termo dos Arcos, com Catarina Fernandes, filha de Pero Fernandes de
Calvos e de sua mulher Isabel Pires.

52
O pai do abade de Oliveira foi Diogo Anes Aranha, comendatário do mosteiro
de Ázere, que fez a capela de Nossa Senhora dos Remédios e lhe colocou as armas dos
Aranhas, e que de Justa Anes teve vários filhos: o referido Lançarote Dias Aranha, Ana
Dias Aranha (já referida como bisavó de Maria Borges Pacheco, mãe de Isabel Coelho
de Vasconcelos, a instituidora do Morgado em 1706), Belchior Dias Aranha (casado
com Filipa da Lomba) e João Dias Aranha, casado com Francisca Gomes de Araújo, e
pai, entre outros, de Francisco Gomes Aranha88, que foi, como atrás dissemos, nomeado
por seu tio como sucessor no Morgado do avô.
Aqui há desencontro de opiniões entre os nobiliaristas Felgueiras Gaio e Abade
de Prozelo e o Padre Carvalho da Costa, na sua “Corografia Portuguesa”.89
Enquanto os dois primeiros referem ter sido Diogo Anes Aranha o fundador da
capela de Nossa Senhora dos Remédios, onde colocou a pedra de armas de Aranhas que
ainda hoje existe, o Padre Carvalho da Costa afirma ter sido seu filho, o abade de
Oliveira.

A casa conhecida hoje como dos Remédios, na quinta do Outeiro

O Rev.º Lançarote Dias Aranha veio a falecer a 12.07.1615, com testamento por
escrito que ficou em poder de seu neto Lançarote Aranha de Araújo.90
88
Felgueiras Gaio chama-o Francisco de Araújo, enquanto o abade de Prozelo lhe dá o nome de
Francisco Aranha. Penso que seja identificável com o Francisco Gomes Aranha, morador na Avelenda,
que faleceu a 07.11.1625 em Paçô, sendo sepultado na igreja da freguesia, tendo feito testamento escrito
em que deixou 20 cruzados para gastos, sem limitação do número de missas; ficaram testamenteiros
Belchior Aranha, abade de Cabreiro, Matias de Sousa e seu genro Pascoal Mendes, e seu sobrinho
Francisco Gomes (Paçô, L.º Misto nº 1).
Teve, pelo menos, um outro irmão, de nome Diogo Rodrigues Aranha, casado com Jerónima dos
Guimarães, pais de Bento de Brito Cação, morador na Bahia de Todos os Santos (Brasil), que teve carta
de brasão de armas em Janeiro de 1645 (Aranhas, Britos, Araújos e Guimarães; diferença: uma brica de
prata com um crescente “pardo”(?) – José de Sousa Machado, “Brasões Inéditos”, Braga, MCMVI, pág.
28).
89
FELGUEIRAS GAIO, Manuel José, “Nobiliário de Famílias de Portugal”, Tomo II, Araújos, $ 293;
ABADE DE PROZELO, “Nobiliário Alfabético” (manuscrito dos Reservados da B.P.M.Porto), Tomo
273, fls 244 e seguintes; CARVALHO DA COSTA, Padre António, “Corografia Portugueza”, 2.ª edição,
Braga-1868, Tomo I, pág.s 199-200.

53
Cerca de dois anos antes, em 12.05.1613, havia renunciado a metade com cura
da paroquial igreja de Nossa Senhora de Oliveira, em Bento Coelho de Araújo, morador
na casa da Avelenda, sita em Santa Maria de Paçô:
“Procurasão que fes o reveremdo abbade Lansarote diz aranha pera renunsiar
em roma a metade com cura da paroqueal Igreja de nosa snra doliveira termo da vila
dos arquos de valdevez
In dei nomine amem Saibam quoantos este prezente e pubriquo instromento de
poder he procurasão bastante virem que no ano do nasimento de noso snor Jhus xpo de
mil he seis semtos he treze annos aos doze dias do mes de maio do dito ano, nas
pouzadas da morada do muito reveremdo abbade lamsarote dias aranha veneravel
abbade da paroqueal Igreja de nosa Snr.ª doliveira as quais pouzadas estam sitas na
sua quintam do outeiro freiguezia de sampaio dos arquos termo da mesma vila e
diocese de Bragua, ahi em prezemsa de mim notario appostóliquo e das testemunhas
todas abaixo nomeadas paresseo o mesmo reveremdo lamsarote dias aranha
pesoalmente costitoido e por elle foi dito que elle hera abbade da dita paroqueal Igreja
de nossa snora doliveira que he partida em a metade com cura em a metade sem cura e
pessui os ditos benefisios e admenistra os sacramentos e mantem emcarguos e
obriguasois deles a mais de coremta annos he ora por ser muito vellho e de idade de
mais de oitemta annos e sobretudo muito emfermo de guota he outras doemsas que a
muita velhise custuma trazer he não poder sufisiemtemente satisfazer com a obriguasão
da cura das almas e admenistrasão dos sacramentos pelas ditas cauzas e por outros
muitos he onestos respeitos e deserviso de noso snor dise que era comtemte de fazer
costetoir e estabeleser como loguo defeito fes costetoio estabeleseo por seus sertos he
en todo bastamte procuradores numsios feitores e neguosearum jestores como vem a
saber ao muito magnifiquo snor Doutor Jm.º bramdam e ao snor manoel da fomsequa
he ao snor fernam gualvam e asi mais ao snor doutor Amt.º guomes e ao muito
manifiquo he nobelisicimo snor. Diguo e ao muito reverendo snor Amaro Fagundes
brabo, todos regidemtes na curia romana, pera que todos juntamente a cada hu possam
em nome dele costetoimte demitir he renumsiar nas mans de Sua Samtidade ou de quem
Seu poder pera iso tiver o dito Seu benefisio da metade com cura da dita Igreja
declarada e isto em favor de bemto coelho cleriguo Braquaremse natural e morador na
freiguezia de samta maria de paso do termo da mesma villa dos arquos diocese de
Bragua e isto com tal comdisão e declarasão que Sua Samtidade seja servido deixarlhe
rezervados nos fruitos do dito benefisio na dita a metade com cura simquoemta ducados
auri de camara anuatim persipiendas pera ajuda de sua sustemtasão porquamto os
fruitos do benefisio da dita ametade com cura valem bem cada ano semto he
simquoemta ducados auri da camara segumdo a mais comum he mais costumado valor
do dito benefisio, os quais simquoemta cruzados que asi pede lhe fiquem rezervados na
dita ametade com cura fiquam semdo com os fruitos da outra ametade sem cura de que
tambem he abbade sufisiente prosam pera Sua comgrua sustemtasão eles seus
procuradores he cada hu delles poderão fazer a dita renumsia com a dita rezerva nom
alias aliter neque aliomodo e declarou elle costetuinte que a dita metade com cura da
dita igreja hera da aprezentasão he padroado hecleziastiquo do prior e religiozos do
mosteiro de santa maria de villa nova de muia da ordem de samta cruz de Coimbra do
termo da vila de ponte da barqua diocese de Bragua, declarou mais elle costetoimte
que dava poder aos ditos seus procuradores he a cada huu deles pera soestabaleserem
hu ou mais procuradores com os mesmos poderes desta hou limitados he o revoguar
comprir que hus e outros posam he cada hu possa jurar por calquer honesto e lisito
90
A.D.Viana do Castelo, Secção Paroquial dos Arcos de Valdevez, freg.º de Paçô, Livro Misto n.º 1, fls
108 v.º

54
juramento na alma delle costetointe espesialmente pera declararem que nesta renumsia
não enterveio semonia algua pactu inlisito ou curutella nem se espera em servir he
poderam os ditos seus procuradores prestar todos os comsemsos nesecarios
acustumados pera o dito efeito espedir as bulas que forem nesecarias por que pera
todas as sobreditas couzas he cada hua delas em espesial comsedia a eles seus
procuradores e a seus suestabelesidos he a cada huu emsolido mostrador desta
comsedia e outroguava todo seu comprido poder quamto com dereito pode he deve com
libera he geral administrasão em quazo que pera o dito efeito falhe algua clauzula mais
he fiquar emportante que aqui se avia por espresa he declarada he se obriguava sua
pesoa bens he rendas a tudo o feito renumciado declarado jurado e comsemtido pelos
ditos seus procuradores com as comdisois asima declaradas aver por firme he valiozo
deste dia pera sempre e o relevava do emcargo da satisfasão que o dereito em tal cazo
requere em testemunho de verdade me requereo ele costetoimte metesse em meu livro
de notas...(ilegível por se encontrar a folha já corroída e incompleta) estando a todo por
testemunhas o Lesemsiado bernardo aranha abbade de prozelo he lamsarote aranha
daraujo neto delle costetuinte he joam pereira, criado he familiar do mesmo
lesemseado bernardo aranha que todos asinaram com elle costetoimte e eu dominguos
de melo de lima notario appostoliquo aprovado na forma do sagrado comsilio
tredentino he pelo ordinario da Sidade de Bragua he morador na villa dos arquos de
valdevez que este escrevi” 91

Fac-simile da assinatura de Lançarote Dias Aranha

Segue-se a este documento um outro, igualmente de procuração, elaborado “nas


pouzadas de Jacome Coelho que estam sitas na avelemda freiquezia de nossa snr.ª de
passo termo da villa dos arquos”, passada por Bento Coelho de Araújo “cleriguo
braquaremse”, a fim de aceitar as condições de renúncia que nele fora feita. Tem a data
de 16.05.1613.92
Do comendatário Diogo Anes Aranha descendem todos os sucessores dos
referenciados morgadios, instituidos na quinta e torre do Outeiro.

91
A. D. Viana do Castelo, Secção Notarial dos Arcos de Valdevez, Domingos de Melo de Lima, Lº 4-1-
1-1 (1613.05.12-1630.05.03), fls 2-3.
92
Este Bento Coelho de Araújo, a quem cedeu o rev.º Lançarote Dias Aranha a metade com cura do
benefício da paroquial de Oliveira, deve tratar-se de um filho de Jácome Coelho Pacheco (casado com
Isabel de Barros Aranha), senhor da casa da Avelenda, onde foi celebrada a escritura de procuração.
Possivelmente, tinha ele tomado ordens menores somente, pois que veio a casar em S. Paio dos Arcos
(o assento de casamento não tem data, mas situa-se entre os assentos de 17.10.1647 e 12.05.1648) com
Maria Soares, filha de João Roiz e de Catarina Gomes. Ele era filho bastardo de Jácome Coelho Pacheco,
já defunto, da freg.ª de Paçô, e de Maria Fernandes, de Fundevila, desta freguesia de S. Paio.

55
Para um melhor entendimento da forma de sucessão e do parentesco e diversas
alianças entre eles, deixaremos no final um resumido esquema genealógico.
Pela falta de geração de Francisco de Abreu de Lima, falecido, de resto, no
estado de solteiro, o Morgado do Outeiro passou a sua irmã Madre D. Teresa Maria da
Conceição, religiosa no Convento de Santa Ana, em Viana do Castelo.
Por morte desta, a quinta e morgadios passaram a sua prima D. Josefa Antónia
de Sotomayor Osório de Menezes de Vasconcelos, mulher de Francisco Joaquim
Moreira de Sá, autores do pedido de extinção dos vínculos.
Isto mesmo se constata pela escritura antenupcial de dote, lavrada em
08.07.1766, nas notas do tabelião Bento de Sousa Guimarães, da vila de Guimarães, que
para o efeito se deslocou à casa e quinta de Sá, em Santa Eulália de Barrosas, da família
do noivo.
Nessa mesma escritura, o pai da noiva, Valentim Brandão Coelho e Abreu,
cavaleiro professo na Ordem de Cristo, juntamente com o Rev.º Francisco Dantas
Coelho, procurador da noiva e da mãe dela, D. Luisa Maria Xavier de Vasconcelos e
Menezes de Sotomayor, declarou que “atemdendo ao gosto que faziam do prezente
cazamento se dava e dotava de si para si – em nome da dita fectura noiva, com a quinta
do Outeiro e suas pertemças e capella de Nossa Senhora dos remedios, çita na
freguezia de Sam Paio termo dos Arcos, a quoal he de natureza de vincolo livre
nomiassam, e lhe vem a pertemçer por morte e fallecimento da Madre Thereza Maria
da Comceiçam, Relegioza no Convento de Santa Anna, da villa de Vianna”.
Por seu turno, os pais da noiva dotavam-na com todas as legítimas “que por
morte delles acomtesser, com condissam de que o dote asima declarado da referida
quinta, que ella fetura noive fazia, pello dito procurador, com authoridade dos ditos
seus pais, se daria a quada huma de suas irmãns Donna Anna e Donna Maria Ignacia
emquanto viver no estado de solteiras, ou rellegiozas, doze mil reis, cada hum anno,
cuja rezerva se intemde depois de ella fectura noiva desfrutar a dita quinta”.93
Desconhecemos a data exacta em que a quinta do Outeiro foi alienada pelos
Moreiras de Sá, sendo embora nossa convicção que tal deverá ter ocorrido por meados
do século XIX. E esta nossa suposição prende-se com um curiosíssimo documento
judicial de suprimento de consentimento paterno para casamento, em que foi apelante
José Maria Coelho de Vasconcelos e apelada sua filha Angelina Angélica de
Vasconcelos Moreira e Sá.
O citado processo tem data de 28.08.1863, em que foi distribuido à Relação do
Porto, por recurso dos pais da citada Angelina Angélica, José Maria Coelho de
Vasconcelos e mulher D. Maria Marfida Moreira e Sá, senhores da casa da Sapateira, na
freguesia de S. Pedro de Torrados, concelho de Felgueiras.
A filha pretendia casar-se (como, com efeito, veio a fazer) com um Casimiro de
Sampaio, mestre ferreiro e serralheiro, do lugar de Pedra da Costa, freguesia de S.
Vicente de Sousa, do mesmo concelho.
Os pais eram contra este casamento. E para fundamentar a sua posição de não
autorização, o pai dela referia, nomeadamente, que a filha “he pessoa Nobre por seus
Ascendentes que erão Fidalgos com foro na Real Casa, como sempre foi, e he publico
por cujo motivo a mesma Justificada, as irmans, e a mãe, sempre forão tractadas com o
titulo de Dom”. E, logo adiante, refere ele que a filha “Havia de attender que seus pais
alem dos bens que actualmente possuem tem direito ao Vinculo constituido na quinta do
Outeiro cita na freguezia de Sampaio com.ª dos Arcos de Valdevez, que este vinculo
rende annualmente 400$000 e que tal rendimt.º se acha não pago a milhor de 30 annos.
93
Arquivo Municipal Alfredo Pimenta, Guimarães, Secção Notarial, Bento de Sousa Guimarães, L.º
respectivo, fls. 141 v.º.

56
E finalmente que se vai intentar acção de reivindicação contra o injusto possuidor por
assim se ter Julgado em outras acções, e que a questão pode terminar em quatro
annos...”.94
A mãe dela, D. Maria Marfida Moreira e Sá era filha natural, perfilhada e
legitimada de Rodrigo António Moreira de Sá95, filho dos citados Francisco Joaquim
Moreira de Sá e D. Josefa Antónia de Sotomayor Osório de Menezes e Vasconcelos.
A quinta do Outeiro, como foi já referido, estendia-se pelas freguesias de S. Paio
dos Arcos e e Paçô.
A actual igreja de Nossa Senhora dos Remédios é construção de meados do
século XIX, bem como a casa que lhe fica contígua e que deverá remontar,
sensivelmente, à mesma época de construção (e que agora é ocupada por um
restaurante). Ficou-se a dever a uma família Carvalho que, muito provavelmente, terá
sido quem adquiriu a quinta aos Moreiras de Sá.96
Estamos também convictos de que a antiga capela do vínculo estaria aí
localizada e que terá sido nesse mesmo local que se ergueu a nova igreja, de resto com a
mesma invocação.
Vários autores referem que fora na capela de Nossa Senhora dos Remédios que o
responsável pela sua erecção (Diogo Anes Aranha, segundo uns, Lançarote Dias
Aranha, seu filho, segundo outros) mandara colocar as armas dos Aranhas. Outros, no
entanto, afirmam que teria sido na torre que a pedra de armas fora colocada.
A ter sido na capela, a pedra de armas, ainda existente, parece ter sido
deslocalizada do seu paradeiro inicial, pois o que resta ali assemelha-se muito mais a
vestígios da antiga torre do Outeiro, tanto mais que eles ficam anexos à casa
oitocentista.

Casa da quinta do Outeiro, vista do pátio interior da casa dos Remédios (actual restaurante)

94
Arquivo Distrital do Porto, Secção Judicial de Felgueiras, DF 3922.
95
Rodrigo António Moreira de Sá perfilhou a filha por escritura pública lavrada a 24.02.1821, nas notas
do tabelião João Lucino Machado, de Felgueiras (Arquivo Distrital do Porto, Secção Notarial de
Felgueiras, L.º 231, flis 80) e legitimada por carta do Desembargo do Paço de 12.05.1823.
96
Lê-se no “Portugal Dicionário Histórico”, de Esteves Pereira e Guilherme Rodrigues, no seu Vol. I,
pág. 684, que o actual santuário de Nossa Senhora dos Remédios fora construido pelos anos de 1852 a
1856, à custa de esmolas, sendo o seu maior benfeitor Manuel José de Carvalho.

57
Mas é também nossa convicção que esta quinta terá tido duas casas. Uma delas,
provavelmente a que existiria anexa à torre, terá desaparecido para dar lugar à casa que
referimos e que hoje é ocupada pelo restaurante.
Curiosamente é conhecida como quinta dos Remédios, contrariamente à que
ainda hoje detem o nome de quinta do Outeiro, esta sim casa de construção
inegavelmente do século XVII e que fica situada mais acima, no seguimento da estrada
que vai dos Arcos para a freguesia de Paçô e já dentro dos limites desta.
Relativamente à pedra de armas dos Aranhas, é curioso constatar que o escudo
com as armas desta progénie possui aquilo que entendemos ser facilmente identificável
com uma brica e, dentro dela, uma merleta. Diferença que poderia corresponder à
concessão de uma carta de armas a quem a mandou colocar naquele local.

Pedra de armas dos Aranhas

Acontece, porém, que se desconhece a existência de tal carta de brasão, não


sendo, ainda assim, de excluir a hipótese dela ter factualmente existido e desaparecido o
seu registo no Cartório da Nobreza como, de resto, aconteceu com tantas outras.
Regressando aos sucessores desta velha quinta e morgados, acrescentaremos que
ela se manteve na família Moreira de Sá até, pelo menos, meados do século XIX.
Poder-se-á acrescentar que “o injusto possuidor” referido naquele instrumento
de suprimento de consentimento paterno para casamento, a que atrás fizemos referência,
era naquela data o Doutor António Secioso Moreira de Sá, doutor em Medicina pela
Universidade do Rio de Janeiro, onde vivia e onde veio a falecer (sem nunca ter
regressado a Portugal) e com descendência. Pessoa de mérito e de enorme prestígio,
com inúmeros trabalhos publicados, quer na área da Medicina, quer na Religião, o
Doutor António Secioso Moreira de Sá veio a ser agraciado pelo Papa Leão XIII com a
comenda da Ordem Pontifícia de S. Gregório Magno.

58
Ele fora reconhecido como sucessor no opulento Morgadio de Sá, em sucessão a
seu irmão Francisco Manuel Moreira de Sá, falecido solteiro e repentinamente. E eram
(junto com as restantes irmãs), os filhos órfãos de Miguel António Moreira de Sá97, que
fora nomeado pelo pai (Francisco Joaquim Moreira de Sá, o autor do pedido de extinção
do Morgado do Outeiro) como sucessor em todos os bens, quer de natureza de prazo,
quer nos vinculados.

Localização da pedra de armas, no pátio interior da “casa dos Remédios”

Acontece que este Miguel António Moreira de Sá era filho do 2.º casamento de
Francisco Joaquim Moreira de Sá com D. Ana Peregrina Pinto Pereira Velho de
Carvalho e, como tal, sem sangue dos morgados do Outeiro. Restava, ainda assim,
descendência do casamento com D. Josefa Antónia de Sotomayor Osório de Menezes e
Vasconcelos, a herdeira da citada quinta e vínculos.
Primeiramente, um filho natural, perfilhado e legitimado por carta régia, do Dr.
António Zeferino Moreira de Sá Sotomayor e Menezes, bacharel formado em Leis pela
Universidade de Coimbra98, Fidalgo da Casa de Sua Majestade (segundo diversos
documentos), e de D. Maria Gertrudes Rebelo Peixoto de Azevedo dos Guimarães e
Castro99: Valentim Brandão Moreira de Sá Sotomayor e Menezes, cavaleiro da Ordem
da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, pelos serviços prestados durante o
Cerco do Porto, que veio a ser membro do Conselho de Família criado após a morte do
tio Miguel António e para subsistência dos órfãos que deste ficaram.

97
Miguel António Moreira de Sá era casado com D. Maria Bebiana de Carvalho e Oliveira (casamento
realizado a 12.03.1822 no Rio de Janeiro), filha do conselheiro Dr. Jacinto Manuel de Oliveira, bacharel
formado em Leis, pela Universidade do Rio de Janeiro, conselheiro e do desembargo de Sua Majestade,
comendador da ordem de Cristo, e de sua mulher D. Joana Maria Angélica de Carvalho, da família dos
compradores do mosteiro de Landim, no termo de Vila Nova de Famalicão.
98
Referido como legítimo sucessor no Morgado do Outeiro, quando seu pai requer a extinção do vínculo.
99
Administradora do Morgadio de Laços, em S. Miguel de Creixomil, Guimarães, do Morgadio de Rio
Mau, junto à torre de Penegate, em S. Miguel de Carreiras (Vila Verde), senhora da casa de Fundevila,
em S. Miguel do Paraizo, no mesmo termo, etc. (casada, sem sucessão, com seu primo Francisco de
Sousa de Araújo de Castro e Noronha, Morgado de Tora).

59
Depois, o rev.º Dr. Miguel Joaquim de Sá Brandão Sotomayor e Menezes,
bacharel formado em Leis pela Universidade de Coimbra (em 1796)100, abade de S.
Miguel das Caldas de Vizela, no termo de Guimarães, que sempre se houve como
sucessor legítimo dos prazos da quinta e casa de Sá, do prazo de Silvares e da quinta da
Cascalheira, em S. João das Caldas de Vizela, reservando-se o direito a nomear em
alguma das suas sobrinhas órfãs a sucessão nesses mesmos bens. O que veio a acontecer
com a escolha que recaiu em D. Eduarda Emília Moreira de Sá, casada com seu primo
Dr. Francisco Joaquim Moreira de Sá101.
Finalmente, também as filhas de Rodrigo António Moreira de Sá, nascidas
naturais, mas perfilhadas pelo pai e legitimadas por carta régia: D. Maria Marfida
Moreira e Sá, casada, como vimos, com José Maria Coelho de Sousa e Vasconcelos,
senhor da casa da Sapateira, em Torrados, Felgueiras (pais daquela que pediu o
suprimento do consentimento paterno para casar com um serralheiro); e D. Josefa
Antónia Moreira de Sá, casada com geração com António José Imenes.
Assinale-se que, com excepção do citado Valentim Brandão Moreira de Sá
Sotomayor e Menezes, todos os restantes tiveram violentas demandas com os filhos
órfãos de Miguel António Moreira de Sá e, de igual modo, com o sucessor nos bens, o
Doutor António Secioso Moreira de Sá, transformando a subsistência da casa de Sá em
algo de bem difícil administração.
Estamos crentes que terá sido mesmo o Doutor António Secioso quem alienou a
quinta do Outeiro, cerca de meados do século XIX, tal como fez com outros bens da
herança paterna.
E também é verdade que há mais de 30 anos que D. Maria Marfida e seu marido
perseguiam a herança de seus avós, com inúmeras demandas, quer ainda em vida de seu
tio Miguel António Moreira de Sá, quer já no tempo dos filhos órfãos, maxime o Doutor
António Secioso.
Por isso, nada de estranhar na afirmação de “que se vai intentar acção de
reivindicação contra o injusto possuidor por assim se ter Julgado em outras acções, e
que a questão pode terminar em quatro annos...”102
Acontece que, se por um lado era legítima a revolta por constatarem que os bens
de herança de D. Josefa Antónia de Sotomayor e Menezes se haviam transmitido para
quem não possuia qualquer pinga de sangue dos antigos Morgados do Outeiro, também
não é menos verdade que insistiam com a defesa duma mentira, para assegurar os seus
direitos, já que sabiam que o vínculo de Morgado da quinta do Outeiro fora há muito
extinto, como aqui se tem vindo a descrever.
Deixarei aqui uma curiosidade acerca do casamento de Francisco Joaquim
Moreira de Sá com D. Josefa Antónia.

100
Na carta de Francisco Joaquim Moreira de Sá publicada no final como Doc. IV, datada de 1797,
afirma ele a dado passo que seu filho mais velho, António Zeferino, acabara de se formar na Universidade
e assentara praça de Cadete num dos Regimentos de Cavalaria de Trás-os-Montes; e que seu filho Miguel
se havia formado no ano transacto. Desejava o pai que para o filho mais velho fosse conseguido um lugar
de Ajudante de Ordens do General de Minas Gerais; e que seu filho Miguel fosse despachado num dos
lugares da magistratura de Minas Gerais.
101
Bacharel formado em Leis pela Universidade de Coimbra, delegado do Procurador Régio nas
comarcas da Graciosa, Lagos, Portalegre e Lousada, e juiz de Direito em Cabeceiras de Basto (filho varão
primogénito do acima referido Valentim Brandão Moreira de Sá Sotomayor e Menezes e de sua mulher
D. Ana Rita de Faria da Silva e Sá, senhores da casa e quinta de Fundevila, em S. Miguel do Paraizo, da
casa brasonada dos Moreiras de Sá, em Guimarães, e da quinta das Espigaras, em S. Tomé de Caldelas,
no mesmo termo).
102
Vide nota 97.

60
No registo feito tardiamente, na freguesia do Salvador dos Arcos, lê-se o
seguinte:
“Aos vinte e sete dias do mes de Junho de mil e sete centos e oitenta e sinco
annos nesta villa dos Arcos freguezia do Salvador nas cazas de minha rezidencia me foi
aprezentada hua ordem do Senhor Doutor Dezembargador Pedro Paulo de Barros
Pereira, Provizor deste Arcebispado de Braga Primaz para effeito de abrir acento do
recebimento que nesta freguezia celebraram os contrahentes abaixo declarados em
vertude de huma justeficaçam que os mesmos fizeram perante mim por ordem do dito
Senhor; e da mesma justeficaçam consta que no anno de mil setecentos sesenta e sete se
receberam por marido e molher na Igreja matriz desta freguezia do Salvador desta villa
dos Arcos de Valdeves comarca de Valença deste Arcebispado na prezença de meu
antessessor Abbade que era nesse tempo nesta freguezia Miguel de Souza, a saber se
receberam por marido e molher na forma que determina o Sagrado Concilio
Tredentino Francisco Joaquim Moreira Carneiro Borges de Sá, Fidalgo da Caza de
Sua Majestade e Cavalleiro professo na Ordem de Christo da villa de Guimaraens, por
procuraçam sua feita a seu cunhado Manoel Maria, com Dona Josefa Anttonia de
Souto Mayor Menezes e Vasconcellos moradora nesse tempo em esta villa e freguezia
do Salvador (sic)103 de Valentim Brandam Coelho de Abreu e de sua molher Dona
Luiza Xavier de Vasconcellos e Menezes, o que justeficou perante mim na forma da
sobredita comissam com as testemunhas que tambem aqui assignaram, Francisco de
Barros o Padre Jozé Luis de Araujo ambos desta freguezia de Sam Payo e o Padre
Costodio Mendes da freguezia de Sam Payo desta villa que todos asignaram este
assento pus huma cotta e declaração para melhor clareza e constar onde este assento
foi feito e por verdade me assignei. Arcos de Valdevês dia mes e era ut supra. O Abb.e
Jozé Ger.s Ferr.ª Soares”104.
Sem embargo, no assento lavrado na freguesia de Santa Eulália de Barrosas, no
termo de Guimarães (que foi do concelho de Lousada e hoje pertence ao nóvel concelho
de Vizela), lê-se o seguinte e que contraria frontalmente aquela data:
“Aos vinte e seis dias do mes de Novembro do anno de mil e sete sentos sesenta
e seis, annos, na Capella de Sá dei as Benssaos Nupciais a Francisco Joachim Moreira
Carneiro Barreto do Couto e Sá e a Donna Josefa Antonia Souto Maior Menezes e
Vasconcellos, por se terem ja ressevido na villa dos Arcos donde a contrahente he
natural o que fizerão por Procurassão, as quais lhe dei na sobredita Capella por
lissenssa que me aprezentarão do Serenissimo Senhor Arcebispo Primaz e de como as
resseberão forão testemunhas o Padre Dionizio Pereira da Costa morador digo
asistente na mesma Caza de Sá, e João Lopes do Assento, e o Padre Joze Ferreira
cuadjutor desta freguezia que todos aqui comigo asignarão e para constar fiz este
assento era ut supra.”105.
Afigura-se-nos óbvio que o lapso está contido na primeira das transcrições que
aqui deixámos. E também parece líquido que aquele casamento se terá efectivamente
realizado nos Arcos, freguesia do Salvador, no ano de 1766.

103
Faltou a palavra “filha”.
104
Arquivo Distrital de Viana do Castelo, Registo Paroquial, Arcos de Valdevez, Salvador dos Arcos,
Livro 1 de Casamentos, fls. 71 v.º e 72.
105
Arquivo Distrital do Porto, Registo Paroquial, Lousada, Santa Eulália de Barrosas, Bobine nº 137;
item Livro C-1, fl. 69v.

61
Esquema genealógico das sucessões nos Morgadios do Outeiro e seus parentescos

Diogo Anes Aranha


teve de Justa Anes
_________________________________|________________________________
| | |
Lançarote Dias Aranha Ana Dias Aranha João Dias Aranha
abade de Oliveira x Duarte de Barros x Franc.ª Gomes de Araújo
Teve de “a mourata” | |
|
Diogo Aranha Maria de Barros Aranha Francisco Gomes Aranha
x Isabel de Sousa x João Frz de Barros, “o Mestre” herd. do vínculo do avô
| | s.g.
Lançarote Aranha de Araújo D. Isabel de Barros Aranha
x Maria Borges Pacheco x Jácome Coelho Pacheco
| |
| ________________________________
| | |
Isabel Coelho de Vasconcelos Maria Borges Pacheco Ângela Coelho Pacheco
Herd.ª do Outeiro e instituidora x Lançarote Aranha de Ar.º x Franc.º de Araújo de Azevedo
do novo vínculo (ao lado, linha superior) |
_________________________________ |____
| |
Manuel de Ar.º de Vasconcelos D. Mª de Ar.º de Vasconcelos
x D. Rufina de Abreu Soares e Brito x D. Duarte de Lima
| |
Leonel de Abreu Vasconcelos Sotomayor D. Serafina de Lima
x D. Luisa M.ª de Sousa e Castro x Rafael de Abreu de Lima
| ____________|_______
| | |
D. Luisa M.ª Xavier de Vasconcelos Menezes Franc.º Abreu Lima Madre Teresa
x Valentim Brandão Coelho Abreu 1.º administrador do suc., deixou
| Morgado instituido por sua o Morgado
tia-avó a sua prima
D. Josefa Ant.ª de Sotomayor O. Menezes Vasconcelos
Herd.ª do Morgado do Outeiro
x Francisco Joaquim Moreira de Sá

Brasão dos Aranhas no “Livro do Armeiro-mor”

62
ANEXO I

MOREIRAS, de Louredo e S. Pedro de Ferreira


Um breve ensaio genealógico

1- GERVÁS GASPAR (MOREIRA), nasceu na casa da Lousa, no lugar de Moreira em


S. Miguel da Gandra, Paredes, e veio a falecer em Castelões de Cepeda, do mesmo
concelho, a 04/01/1592, com testamento em que ordenou lhe mandassem dizer por sua
alma 30 missas no dia do enterro, mais 30 ao mês e ano.
Era filho de Gaspar Gonçalves “de Moreira” 106, tronco conhecido desta família,
falecido em S. Miguel da Gandra a 02/02/1588, com manda e testamento (escrita por
Domingos Ferraz, escrivão) em que ficaram por testamenteiros seus filhos Gervás
Gaspar e Miguel Gaspar, e de sua mulher Beatriz Duarte, da quinta da Lousa, na mesma
freguesia, onde faleceu a 26/10/1590, com manda que escreveu André Coelho, ficando
por testamenteiro Gaspar Moreira, seu filho.

Assento de óbito de Gonçalo Gonçalves, de Moreira

106
Acerca destes Moreiras, ver o “Nobiliário de Famílias de Portugal”, Manuel José da Costa Felgueiras
Gaio, titº de Moreiras; e o manuscrito da autoria do Padre Henrique Moreira da Cunha, intitulado "Livro
da Árvore da Antiga e Nobre Família dos Moreiras" (ano de 1730), guardado no Arquivo Municipal de
Penafiel. Ainda acerca dos Moreiras da casa da Lousa, em S. Miguel da Gandra, Paredes, leia-se, com
interesse (ainda que com algumas reservas a certas afirmações), o contributo de Manuel Abranches de
Soveral, in "Meirelles Barreto de Moraes das Casas do Pinheiro de Cête, Sermanha de Sedielos e
Outeiro de Mouriz", na sua nota 44, ensaio publicado na revista "Raízes e Memórias", órgão oficial da
Associação Portuguesa de Genealogia, nº 14, Outubro de 1998, (largamente corrigido e aditado no seu
estudo online). Por motivos que desconhecemos, Manuel Abranches de Soveral insiste, várias vezes, em
chamar a esta casa como “casa da Lousã”, nome que em nenhum documento se lhe atribui.
Ainda assim, permito-me salientar, que entre os vários indivíduos que surgem no livro misto nº 1 da
freguesia de S. Miguel da Gandra, e moradores no lugar de Moreira, alguns poderão ser parentes dos aqui
estudados. Entre estes, afigura-se-me como muito provável o Belchior Gaspar de Moreira, casado com
Maria Gonçalves, o qual pela data de falecimento poderia ser um filho bastardo de Gaspar Gonçalves ou
um parente muito próximo. Ele teve pelo menos dois filhos falecidos solteiros e jovens: Isabel, falecida
em 10/09/1612; e Gonçalo, falecido “mancebo”, a 09/10/1612. O pai, Belchior Gaspar, de Moreira,
faleceu a 19/12/1629, com testamento nuncupativo; e a mulher Maria Gonçalves, faleceu a 03/01/1623.

63
Assento de óbito de Beatriz Duarte, viúva de Gonçalo Gonçalves de Moreira

Gervás Gaspar era, nomeadamente, irmão do doutor Amaro Moreira, que


mandou fazer à sua custa a Misericórdia de Penafiel, em cuja capela-mor instituiu
morgadio e onde se mandou sepultar por testamento de 11/01/1646, vinculando ao
morgadio a sua casa de Marnel, em Bitarães. O doutor Amaro Moreira licenciou-se na
Universidade de Coimbra, serviu depois no Desembargo do Paço e foi ouvidor da Casa
de Cantanhede e tutor do conde D. Pedro de Menezes. Tendo recebido a 17/02/1595 as
ordens de subdiácono em Coimbra, foi apresentado por aquele conde como abade de S.
Vicente de Ermelo (Mondim de Basto)107.
Gervás Gaspar (Moreira) casou em Castelões de Cepeda, na casa da Ponte, com
ISABEL PIRES, falecida nesta freguesia a 12/12/1627, abintestada, talvez filha de
João Pires, da Ponte, que faleceu nesta freguesia a 28!01/1593, sem testamento “por ser
caduco avia anos”.108

Assentos de óbito de Gervás Gaspar (Moreira) e da sua mulher Isabel Pires, respectivamente

107
Manuel Abranches de Soveral, in “Reflexões sobre a origem dos Rocha, dos Aguiã, dos Calheiros e
dos Jácome”, in revista “Raízes & Memórias”, nº 29, Dezembro de 2012, 47 páginas (da 149 à 196).
108
No estudo de Manuel Abranches de Soveral referido na nota 106, diz-se erradamente que ele se
chamava Jerónimo Pires e que não fizera testamento “mas tinha feito cédula havia muitos anos”. Não
entendemos como o este investigador e prezado amigo fez semelhante leitura, pois que o assento é
perfeitamente legível.

64
Assento de óbito de João Pires, da Ponte

Filhos:
2.1- Ildefonso de S. Bernardo, frade bento de grande autoridade, foi Dom abade
do Mosteiro de Arnóia e a ele se refere a “Beneditina Lusitana” (Tomo 2, folhas
240).
2.2- Maria Gaspar (Moreira), casou a 24/03/1608, em Castelões de Cepeda,
com António (Pantaleão) Gaspar109, da freguesia de S. João de Guilhufe (assim
é dito no assento de casamento), que seria irmão de Pero Gaspar, capitão-mor do
concelho de Lousada, ambos oriundos da quinta de Sequeiros, em Santa Marinha
de Lodares, neste concelho. C. G., entre a qual a filha Catarina Moreira, casada
com Estácio Duarte, baptizado em Louredo a 13/11/1622, filho de Baltazar
Duarte (de Meireles) e de sua mulher Maria André, dos quais ficou igualmente
geração.
2.3- Joana Moreira, casada em Castelões de Cepeda, a 15/10/1592, com Adão
Luís, capitão de ordenanças, senhor da casa do Marnel, em S. Tomé de Bitarães,
Paredes. Deste casal foi filho, nomeadamente, Constantino Moreira, nascido a
11/11/1611, em Bitarães, capitão de infantaria, que serviu com valor e valentia
no ano de 161 e até 1644, tendo sustentado à sua custa a Companhia em algumas
ocasiões. Ele veio a herdar os morgadios de seu tio, o rev.º abade Amaro
Moreira, de um dos quais era cabeça a capela-mor da igreja da Misericórdia de
Penafiel, a quinta de Louredo e a de Vila Pouca. Casou com D. Joana Teixeira
da Rocha, filha do licº Inácio Teixeira da Rocha, e de sua mulher D. Maria
Moreira, sendo moradora na rua da Reboleira, da cidade do Porto, nas suas
torres guarnecidas com argolas de ferro, que antigamente tiveram o privilégio de
livrar da Justiça os condenados que a elas se agarrassem. C. g.
2.4- Beatriz Moreira, falecida a 23/12/1656, em Castelões de Cepeda, sem
estado, com voto absoluto de perpétua castidade, com testamento por
apontamentos, ficando por testamenteira sua sobrinha Clara Pinto. S. g.
2.5- Ângela Moreira, falecida em Castelões de Cepeda, a 14/05/1655, com
testamento, casou a 02/09/1607, na mesma freguesia, com Gaspar Pinto (da
Fonseca), natural da freguesia de S. João de Guilhufe, Penafiel, falecido em
Castelões de Cepeda, no lugar da Ponte, a 07/06/1656, com testamento, filho
bastardo do rev.º Cristóvão Pinto (da Fonseca), abade de Guilhufe. C. g. que
sucedeu na casa da Ponte, em Castelões de Cepeda.

109
No assento de casamento, bem como nos assentos de baptismo de alguns dos filhos, o pai é chamado
António Gaspar, mas posteriormente já aparece sempre como Pantaleão Gaspar. Não sabemos a razão
desta diferença, mas afigura-se-me possível que ele tenha optado pelo nome com que ficou depois
conhecido e lhe é dado nos nobiliários: Pantaleão Gaspar.

65
2.6- Isabel Gaspar (Moreira), falecida na freguesia de Santa Maria da
Madalena, Paredes, a 05/08/1618, abintestada, casou a 29/02/1594, em Castelões
de Cepeda, com António da Rocha, natural de Baltar, senhor da quinta de
Vilela, em Santa Maria da Madalena, falecido a 20/02/1632, na mesma
freguesia, irmão de João da Rocha, tabelião do público e escrivão das apelações
de Penafiel e escrivão dos órfãos de Aguiar de Sousa, senhor da quinta da Mó,
na mesma freguesia da Madalena.110 C. g.

Filhos bastardos:
2.7- Belchior Moreira, segue
2.8- Grácia Moreira, filha de Maria, solteira, da freguesia de Castelões de
Cepeda, foi baptizada a 25/07/1590 e veio a falecer a 01/01/1664, solteira, tendo
feito seus apontamentos. Teve um filho bastardo de nome António Moreira.

2- BELCHIOR MOREIRA, natural da freguesia de Castelões de Cepeda, onde terá


nascido cerca do ano de 1585111, veio a falecer em Louredo a 22/03/1661, com
testamento vocal, deixando para gastos com sua alma, dez mil e sessenta réis que lhe
ficara devendo Francisco de Sousa, do mesmo lugar, e mais onze mil réis que lhe devia
seu genro António Gonçalves, do Casal. Teve no dia do enterro um ofício de 21 padres,
mais um de 13 e oferta de duzentos réis, outro de 20 e duzentos réis de oferta e mais
outro de 13.
A filiação que lhe atribuímos, com grande grau de fiabilidade, conserva somente
a dúvida da ilegitimidade no nascimento, atendendo ao facto de ele não ser referido
pelos nobiliaristas que estudam esta família, já que em termos de estatuto social ele em
nada fica a dever aos presumidos parentes.
De resto, não só vários dos filhos e genros de Gervás Gaspar (Moreira), da casa
da Ponte, em Castelões de Cepeda, aparecem amiudadamente a apadrinhar descendentes
dele, com ele mesmo aparece a apadrinhar uma filha (de nome Clara) de Pantaleão
Gaspar e de sua mulher Maria Gaspar (Moreira). E a coincidência dos nomes adoptados
pelos descendentes de Belchior Moreira parecem ainda mais confirmar esta filiação,
ainda mais porque na freguesia de Castelões de Cepeda são os Moreiras da casa da
Ponte que pontificam e os únicos aí existentes.
No processo do Santo Ofício, que referimos na nota 111, ele é referido como
“rendeiro”, o que poderá significar que procedia à cobrança de rendas da honra e
beetria de Louredo.
Casou a 18/04/1611 em S. Cristóvão de Louredo, com MARIA JOÃO,
baptizada a 13/08/1587, na mesma freguesia, filha de João Fernandes e de sua mulher
Maria Duarte, da quinta e lugar de Miragaia, e onde veio a falecer abintestada a
08/04/1645.

110
Vide ob. cit. nota 107.
111
Teve processo do Santo Ofício, em 28/09/1645, por proposições heréticas, saindo somente com uma
admoestação (Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Coimbra,
proc. 6554). Aí se refere que o réu tem à data 60 anos, pouco mais ou menos).

66
Assento de casamento de Belchior Moreira e Maria João

Assentos de óbito de Belchior Moreira e sua mulher Maria João, respectivamente

Filhos:
3.1- António Moreira, baptizado em Louredo a 25/03/1612, sendo padrinhos
Gaspar Pinto (da Fonseca), da casa da Ponte, em Castelões de Cepeda, e Isabel
Gonçalves, mulher d Estácio Duarte. S. m. n.
3.2- Maria Moreira, que desconhecemos o local do nascimento e baptismo, mas
veio a falecer em Louredo, a 10/07/1694, com testamento.
Casou a 14/11/1639, em Louredo, com António Gonçalves, do lugar e
quinta do Casal, na mesma freguesia, onde faleceu viúvo a 16/03/1702, com
testamento na escritura de doação que fez a seu filho o Padre Manuel Moreira de
Meireles; era filho de Belchior Gonçalves, do Casal, e de sua mulher Isabel

67
Pedro; neto paterno de Belchior Gonçalves, da quinta do Casal, e de sua mulher
Isabel Pedro; neto materno de Gonçalo Pedro e de sua mulher Isabel Gonçalves,
“molher muito riqua”.

Filhos:
3.2.1- Gaspar Moreira, baptizado a 25/11/1640, em Louredo. Casou em
Sobrosa, Paredes, a 17/01/1665, com Maria Antónia, filha de António
João, do lugar de Ferreiros, e de sua mulher Catarina Dias. C. g.
3.2.2- Maria Moreira, baptizado a 23/02/1643, na mesma freguesia,
onde casou a 16071674, com Manuel da Rocha, filho de Belchior da
Rocha, de S. Miguel de Beire, e de sua mulher Ângela Dias. S. m. n.
3.2.3- Catarina Moreira, baptizada na mesma freguesia a 21/05/1645,
onde casou a 16/11/1681, com Francisco Pereira, filho de Gaspar
Duarte, do lugar de Louredo, e de sua mulher Antónia Roiz. S. m .n.
3.2.4- Agostinho Moreira, baptizado a 01/09/1647, na mesma freguesia,
e faleceu viúvo a 06/02/1730, abintestado, onde casou a 13/07/1690, com
Maria Ana Coelho, filha de Belchior Coelho e de sua mulher Maria
Gaspar, da freguesia de Vila Nova de Carros. C. g.
3.2.5- Isabel Moreira, baptizada na mesma freguesia a 24/02/1650, onde
faleceu a 27/10/1726, com testamento. Casou a 21/10/1671, em Louredo,
com seu primo co-irmão João Moreira de Meireles, filho de Gaspar
Moreira, capitão-mor de Beire, e de sua mulher Francisca de Robles
(Soares). C. g.
3.2.6- Rev. Manuel Moreira de Meireles, baptizado em Louredo a
08/12/1652. Foi religioso, sendo referido no assento de óbito dos pais,
como tendo sido comtemplado com uma doação e testamento deles.
3.2.7- Francisco Moreira, baptizado na mesma freguesia a 09/05/1655,
onde casou a 18/10/1667, com Maria Pereira, filha de Gaspar Duarte e
de sua mulher Antónia Roiz, cunhada de sua irmã Catarina Moreira,
como acima referimos em 3.2.3.

3.3- Isabel Moreira, segue


3.4- Gaspar Moreira, baptizado em Louredo a 24/01/1627. Foi capitão-mor da
honra de Beire.
Casou em Louredo a 28/06/1643, com Francisca de Robles (Soares),
baptizada a 14/04/1608, na mesma freguesia, falecendo a 13/07/1691, no estado
de viúva, em S. Miguel de Beire, filha de Pero de Robles Soares, capitão-mor de
Beire, e de sua mulher Jerónima de Meireles Barbosa (irmã de Jerónimo de
Meireles Barbosa, capitão em Arrifana de Sousa); neta paterna de Gonçalo Vaz,
capitão da honra de Meinedo, e de sua mulher N. de Robles Soares 112; neta
materna de Jerónimo de Meireles, cavaleiro fidalgo da Casa de Sua Majestade,
capitão-mor de Arrifana de Sousa, e de sua mulher Águeda Barbosa (Cabral).

112
Desconhecemos o nome mas era irmã de Isabel Soares de Robles, mulher de Belchior de Brito Cação,
ascendentes dos senhores da casa de Alentém, em Lousada, e de Briolanja Soares de Robles, mulher de
Francisco de Azeredo Cerqueira (filho de Francisco de Azeredo Pinto, de Penalva), ascendentes dos
condes de Azevedo, Alvos Brandões, do Porto, etc.

68
Filhos:
3.4.1- Maria de Meireles Barbosa, baptizada em Louredo, a 28/04/1644,
tendo por padrinhos Gaspar Pinto de Miranda, da freguesia de Sobrosa, e
D. Maria Carneiro Rangel Pamplona, filha de João Álvares Pamplona
Carneiro Rangel. Faleceu criança.
3.4.2- João Moreira de Meireles, baptizado a 24/08/1645, tendo recebido
os Santos Óleos, vindo a falecer na mesma freguesia a 31/12/1712, com
testamento vocal. Casou a 21/10/1671, em Louredo, com sua prima co-
irmã Isabel Moreira, filha de António Gonçalves, do Casal, e de sua
mulher Maria Moreira, referidos acima em 3.2.5. C. g.
3.4.3- Jerónimo de Meireles Barbosa, gémeo do anterior, baptizado a
24/08/1645, vindo a falecer a 21/03/1665, na Fonte de Gaião. S. g.
3.4.4- Maria de Meireles Barbosa, baptizada a 06/01/1648, em S.
Miguel de Beire, estando o pai ausente no Brasil, tendo como padrinhos
Constantino Moreira, capitão de infantaria, administrador dos morgados
instituídos pelo tio, o rev.º Amaro Moreira, padroeiro da igreja da
Misericórdia de Penafiel, e Maria de Meireles Barbosa, tia materna da
baptizada. Casou com António João, sendo herdeiros do casal de Cabo
de Vila, em Beire. C. g.

3- ISABEL MOREIRA, foi baptizada a 18/07/1623 em Louredo, vindo a falecer na


mesma freguesia a 17/04/1668, abintestada.
Casou a 03/04/1642, na mesma freguesia, com DIOGO DIAS, senhor da quinta
de Fundevila, em S. Pedro de Ferreira, que veio a falecer no estado de viúvo a
04/11/1686, nesta última freguesia, filho de Diogo Dias, o Novo, senhor da quinta de
Fundevila, e de sua mulher Maria Vaz.

Assento de casamento de Diogo Dias e Isabel Moreira

69
Assento de óbito de Isabel Moreira

Assento de óbito de Diogo Dias, de Fundevila

Filhos:
4.1- Maria Dias Moreira, baptizada a 04/02/1643, em S. Pedro de Ferreira, onde
casou a 08/05/1662, em 1ªs núpcias, com António Dias de Sousa, senhor da
quinta de Orge, na mesma freguesia, onde nasceu a 11/06/1641 e faleceu a
11/05/1685, abintestado, filho de Diogo Dias, senhor da mesma quinta, e de sua
mulher Isabel de Sousa. Casou em 2ªs núpcias, na mesma freguesia, a
06/05/1703, com Luís Pacheco, filho de Jerónimo Pacheco e de sua mulher
Maria da Cunha, do lugar da Fonte, da mesma freguesia. C. g.
4.2- Catarina Dias Moreira, baptizada a 06/05/1644, na mesma freguesia. S. m.
n.
4.3- Diogo Dias Moreira, segue
4.4- Luís Moreira, de quem desconhecemos o local de nascimento e baptismo,
mas faleceu a 23/12/1686, em S. Pedro de Ferreira. Casou nesta freguesia, a
28/10/1676, com Maria Ferreira Leal, filha de João Ferreira, de Quintela, e de
sua mulher Maria Leal, da mesma freguesia; neta paterna de João Ferreira, de
Quintela, e de sua mulher Francisca Gonçalves; neta materna de Luís Ferreira,
do mesmo lugar, e de sua mulher Maria Leal. C. g.
4.5- Manuel Moreira, baptizado em S. Pedro de Ferreira, a 03/04/1651, falecido
a 29/05/1687 e aí casado a 22/12/1674, com Maria Roiz, baptizada na mesma
freguesia a 11/02/1646, filha de João Roiz e de sua mulher Catarina Pedro, do
lugar da Costa. C. g.
4.6- Pedro Moreira, baptizado na mesma freguesia a 05/08/1657, faleceu no
lugar da quintã em Sobrosa, a 03/11/1700, abintestado, com ofício de 50 padres.
Casou em Sobrosa, a 01/10/1696, com Senhorinha Nunes Neto, herdeira de
seus pais e da quintã da Varziela, nascida em Sobrosa a 04/09/1665 e faleceu
viúva a 14/01/1737, com testamento, filha de João Nunes Neto, homem nobre e
rico, e de sua mulher Maria Luís, moradores na sua casa e quintã da Varziela,
nesta freguesia. Foi filho único Manuel Moreira Nunes Neto, homem nobre e
muito rico, senhor da casa e quinta da Portela, em Sobrosa, onde nasceu a
10/06/1699, falecido em Guilhufe a 14/04/1735, com testamento, casado a

70
03/01/1719, em Guilhufe, Penafiel, com Ana Clara Vieira Barbosa de S.
Miguel, baptizada nesta freguesia a 02/06/1692 e falecida a 27/03/1766, em
Sobrosa, filha do lic.º Manuel Vieira de Sousa, médico, e de sua mulher Clara
Barbosa de S. Miguel, da casa e quinta da Portela; neta paterna de António de
Sousa e de sua mulher Madalena Vieira, do lugar de Ordins, da freguesia de S.
Martinho de Lagares, Penafiel; neta materna de Gonçalo Barbosa de S. Miguel,
senhor da casa e quinta da Quintela, que “vivia à lei da nobreza”, e de sua 2ª
mulher Maria Jerónima (era viúvo de Úrsula Moreira, sem geração, filha de
Adão Luiz, capitão-mor de Bitarães, e de sua mulher Joana Moreira, já acima
referidos em 2.3). C. g.

4- DIOGO DIAS MOREIRA, nasceu a 30/12/1646 em S. Pedro de Ferreira, Paços de


Ferreira, sendo baptizado a 03/01/1647, tendo como padrinhos o tio Gonçalo Dias, de
Fundevila, e sua mulher Catarina Dias. Desconhecemos embora a data e local do
falecimento, sendo certo que o era já em 30/11/1730, à data do óbito da sua 3ª
mulher.113
Foi senhor da quinta de Fundevila, em S. Pedro de Ferreira, e viveu “à lei da
nobreza”, tratando-se com seus criados e a quinta de Fundevila era boa.
Casou em 1.ªs núpcias114 com VERÓNICA PACHECO, que nasceu a
26/11/1628, em S. Pedro de Ferreira e faleceu de parto a 14/01/1669, abintestada, filha
de Luís Pedro e de sua mulher Maria Gonçalves, do lugar da Fonte, na mesma
freguesia.
Casou em 2.ªas núpcias, a 05/08/1669, em Paços de Ferreira, com CATARINA
FERREIRA BRANDÃO, natural desta freguesia 115 e falecida a 04/03/1678, em S.
Pedro de Ferreira, com ofício de 20 padres e “música de canto de órgão”, filha do
capitão Pedro Ferreira Pinto, das ordenanças de Aguiar de Sousa, senhor da casa e
quinta das Quintãs, na freguesia de Paços de Ferreira, homem nobre e cristão velho, e de
sua mulher Francisca Brandão, natural de Sobrosa, Paredes; neto paterno de Baltazar
Ferreira, capitão das ordenanças de Aguiar de Sousa, senhor da casa das Quintãs, onde
“viveu de suas fazendas e rendas, sem trato algum”, sendo nobre e cristão velho, e de
sua mulher Maria Pinto (talvez irmã de Gonçalo Pinto, tabelião e escrivão da câmara de
Sobrosa); neta materna de Agostinho Brandão, que depois foi padre e subchantre da
Colegiada de Guimarães, falecido no Brasil (irmão de Manuel Brandão, Juliana
Brandão e do padre Brás Sanches, cura de Santa Eulália de Passos e ainda de Gonçalo
Brandão Sanches, descendentes dos nobres Brandões Sanches, do Porto) e de Catarina
Rangel, mulher solteira e nobre.116

113
Também não encontrámos o óbito nas buscas que fizemos nas freguesias de Louredo, Sobrosa ou
Paços de Ferreira. Na verdade, aparece um assento de óbito de um Diogo Dias Moreira, do lugar
do Açougue, falecido a 08/04/1743; mas atendendo à data, confirma-se a impossibilidade de se tratar
do mesmo, já que a 3ª mulher, falecida em 1730, se afirma então já como viúva.
114
O assento de casamento não aparece, mas a noiva era natural da mesma freguesia, onde viviam seus
pais.
115
Também não conseguimos encontrar o assento de nascimento, ao contrário dos irmãos nascidos na
freguesia de Paços de Ferreira.
116
Sobre esta Família, ver com muito interesse o valioso estudo de Manuel Abranches de Soveral,
“Ferreira Pinto Brandão, de Paços de Ferreira, Cête e Mouriz - uma família de militares e padres”.

71
Casou em 3.ªs núpcias, a 01/07/1684, em Sobrosa, Paredes, com MARIA
CARNEIRO (HENRIQUES),117 falecida viúva em S. Pedro de Ferreira, a 30/11/1730,
abintestada, sendo sepultada no mosteiro de Ferreira, no dia 1 de Dezembro, e sua filha
então solteira, Maria, obrigada aos bens de alma, filha de Jerónimo Henriques, senhor
da quinta de Pedregal, em Sobrosa, e de sua mulher Maria Carneiro, natural da freguesia
de Santa Eulália da Ordem (falecida viúva em Sobrosa, a 04/01/1686, com testamento
na nota do tabelião João Luís, deixando como herdeiros seus filhos Domingos
Henriques e Maria Carneiro); neta paterna de Henrique Pires, senhor da quinta de
Pedregal (filho de Jerónimo Henriques – irmão de Diogo Henriques, tabelião do
público, judicial e notas na honra de Sobrosa - e de sua mulher Maria Luís, senhores da
mesma quinta) e de sua mulher Maria Antónia; neta materna de Bartolomeu Gonçalves,
senhor do casal de Ranhõ, em Santa Eulália da Ordem, e de sua mulher Maria Carneiro,
a qual depois de viúva vivia no lugar da Eira Vedra, em Sousela, em casa de um filho e
nora (Miguel Carneiro e Maria Garcia).

Filha do 1º casamento:
5.1- Maria, baptizada a 19/01/1669, em S. Pedro de Ferreira, sendo sua mãe
falecida. S. m. n.

Filhos do 2º casamento:
5.2- Agostinho Ferreira Brandão, nasceu a 09/09/1670, em S. Pedro de
Ferreira. S. m. n.
5.3- Maria Moreira Brandão, nasceu a 14/04/1672, na mesma freguesia. S. m.
n.
5.4- Paulo Ferreira Brandão, nasceu a 12/02/1674, na mesma freguesia, sendo
padrinho o tio Paulo Ferreira Brandão, e veio a falecer viúvo, na quinta de
Fundevila, a 29/02/1744.
Foi senhor da quinta de Fundevila.
Casou a 07/01/1699, em S. Pedro de Ferreira, com Catarina Nunes, filha
de Miguel Nunes, e de sua mulher Catarina Antónia. C. g.
5.5- Manuel Ferreira Brandão, nasceu a 03/12/1675 na mesma freguesia. S. m.
n.
5.6- Catarina Ferreira Brandão, nasceu a 02/02/1678 na mesma freguesia. S.
m. n.
1674

Filhos do 3º casamento:
5.7- Isabel Moreira Carneiro, nasceu a 17/12/1684, em S. Pedro de Ferreira e
foi baptizada em casa por nascer moribunda pelo tio Pedro Moreira.
Casou a 26/08/1703, com Domingos Pinto Ferreira, nascido a
17/09/1674, na mesma freguesia, filho de Baptista Ferreira e de sua mulher
Catarina Manuel, do lugar de Ferreiró, já defuntos à data.

117
Mais um caso em que não encontrámos o assento de nascimento, em Sobrosa, ao contrário de vários
dos seus irmãos.

72
Filhos:
5.7.1- Maria Pinto Moreira, nasceu a 13/11/1704, em S. Pedro de
Ferreira, onde casou a 14/07/1731, com Bernardo Pereira de Sousa
Lousada, (viúvo de Brites de Sousa), que nasceu a 10/04/1709, em
Arrifana de Sousa (hoje Penafiel), filho de Manuel de Sousa Lousada e
de sua mulher Felícia Pereira da Rocha, da mesma freguesia; neto
paterno de Pero de Sousa e de sua mulher Anastácia Nunes, do lugar do
Outeiro, freguesia de Santa Marinha de Lodares, Lousada; neto materno
de Manuel Pereira e de sua mulher Catarina da Rocha, do lugar do Muro,
freguesia de Santo André de Marecos, Penafiel.
5.7.2- Manuel Pinto Ferreira, nasceu a 22/06/1706. S. m. n.
5.7.3- Isabel Moreira Pinto, nasceu a 22/07/1707 em S. Pedro de
Ferreira, onde casou a 01/09/1726 118, com Manuel Ribeiro Ferreira,
filho de António Ferreira e de sua mulher Catarina Ferreira, da mesma
freguesia. C. g.
5.7.4- Domingos Pinto Ferreira, nasceu a 07/04/1710 e veio a falecer a
18/02/1742, abintestado, sendo sepultado na capela-mor do Mosteiro de
Ferreira.
Foi capitão de ordenanças e cavaleiro professo na Ordem de
Cristo, por carta de padrão de 06/05/1741, com tença de 12.000 réis e
hábito, por renúncia de Isabel da Costa.119 Faleceu solteiro.
5.7.5- Catarina Moreira Pinto, nasceu a 25/11/1712, na mesma
freguesia, onde casou 19/08/1739, com João Peixoto Brandão (viúvo de
Maria Nunes), filho de Manuel Ferreira Peixoto e de sua mulher Luísa
Ferreira, do lugar de Moinhos.
5.7.6- João Pinto Ferreira, nasceu a 05/02/1715, na mesma freguesia. S.
m. n.
5.7.7- Manuel Pinto Ferreira, nasceu na mesma freguesia a 06/09/1717,
casou com Catarina Pacheco. C. g.
5.7.8- Ana Maria, nasceu a 09/10/1721, na mesma freguesia. S. m. n.
5.7.9- Francisco, nasceu a 09/10/1721, na mesma freguesia. S. m. n.
5.7.10- Ana, nasceu a 05/12/1724, na mesma freguesia. S. m. n.

5.8- Maria Moreira Carneiro, nasceu em S. Pedro de Ferreira, a 25/12/1686.


Casou a 15/04/1739, na mesma freguesia, com Bernardo Luís Pacheco,
nascido a 02/05/1708, na mesma freguesia, filho de Manuel Pacheco e de sua
mulher Maria Pedro, do lugar de Casal da Boda; neto paterno de Luís Pacheco
de Santiago e de sua mulher Ângela Pacheco; neto materno de Adão Pedro e de
Maria Gonçalves, “a Longa”, mulher solteira. S. m. n.
5.9- Francisca, nasceu a 26/09/1688, na mesma freguesia. S. m. n.
5.10- Francisco Moreira Carneiro, segue

118
Cremos que por lapso no assento de casamento indica-se o ano de 1720, entre casamentos de 1726,
data que entendemos ser a correcta.
119
Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Registo Geral de Mercês, Mercês de D. João V, liv. 32, f.169.

73
5- FRANCISCO MOREIRA CARNEIRO, nasceu em S. Pedro de Ferreira a
17/04/1690, sendo baptizado no dia 24, tendo como padrinhos Manuel Duarte e sua
mulher Maria Moreira, de Paços.
Faleceu a 16/11/1778, na casa de Sá, em Santa Eulália de Barrosas, sem
sacramentos por ter uma morte apressada, com testamento, em que deixou vários
legados, esmolas e missas, sendo sepultado na capela da mesma casa.
Foi cavaleiro-fidalgo da Casa de Sua Majestade (por decreto régio de
23/2/1750),120 cavaleiro professo na Ordem de Cristo (mercê de 22/6/1741)121, familiar
do Santo Ofício (carta de Outubro de 1743)122, fidalgo de cota de armas, com carta de
brasão de armas de 16/4/1750123, senhor da quinta do Assento, na comenda de Santa
Cristina de Serzedelo, da Ordem de Cristo124. Teve ainda carta da propriedade do ofício
de escrivão da correição da vila de Guimarães. 125

Brasão de armas passado ao capitão-mor Francisco Moreira Carneiro


(desenho da autoria do Amigo e distinto artista heraldista, Miguel Ângelo Boto)

Casou a 2/10/1746, na capela de S. Joaquim e Santa Ana, da casa de Sá, em


Santa Eulália de Barrosas, no termo de Guimarães (hoje concelho de Vizela), com D.
EDUARDA CATARINA BORGES DO COUTO E SÁ, nascida a 13/10/1727 em
Barrosas e solenemente baptizada no dia seguinte, tendo por padrinhos o tio, revº
Manuel Borges de Sá, e Catarina Pinto de Azevedo, mulher de Bento Teixeira Borges,
da quinta do Casal, em Santo Adrião de Vizela, seu primo.

120
Idem, Registo Geral de Mercês, Mercês de D. João V, liv. 41, f. 108v.
121
Idem, Registo Geral de Mercês, Mercês de D. João V, liv. 24, f.435. E teve ainda Carta de Padrão e
tença de 12$000 réis com o Hábito.
122
Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Tribunal do Santo Ofício, Conselho Geral, Habilitações,
Francisco, mç. 63, doc. 1211
123
O registo no Cartório da Nobreza perdeu-se, mas a carta de brasão de armas (cujo original, ainda que
incompleto, se conserva no Arquivo da casa de Sá) está registada no livro 6º do Registo Geral da Câmara
Municipal de Guimarães (cuja cota antiga era A-5-5-37), fls. 135 vº.
124
Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Chancelaria da Ordem de Cristo, Lº 259, fls. 195 vº.
125
Idem, Registo Geral de Mercês de D. José I, liv. 8, f. 400.

74
Faleceu no estado de viúva a 30/11/1780, em Guimarães, abintestada, sendo
sepultada no Convento de S. Domingos, numa sepultura do arco do cruzeiro, ao pé da
grade do meio.
Foi senhora da casa e quinta de Sá, da casa e quinta do Pinheiro, privilegiada das
Tábuas Vermelhas, em Santa Eulália de Nespereira, das quintas de Tegem e do Casal,
com o vínculo da capela de Santa Cruz, em Santo Adrião de Vizela, da quinta do
Outeiro, em Santa Comba de Regilde, da quinta do Monte, em Gondar, da quinta do
Requeixo, etc., filha de Joaquim da Costa e Silva, capitão de ordenanças, prebendeiro da
colegiada de Guimarães, almotacé e infanção da governança da mesma vila, proprietário
do ofício de escrivão do público, judicial e notas da correição, senhor da quinta do
Pinheiro, com o privilégio das Tábuas Vermelhas de Nossa Senhora da Oliveira, em
Santa Eulália de Nespereira, e de sua mulher D. Teresa Maria Borges do Couto e Sá,
senhora da casa e quinta de Sá, da quinta do Requeixo (ambas de prazo foreiro ao
Convento da Costa), do prazo das bouças de Silva Verde (de que era senhorio directo D.
Lourenço de Almada), tudo em Barrosas, da quinta das Queirosas, em Santo Estêvão de
Barrosas (dízima a Deus), da quinta do Monte, em S. João de Gondar (prazo foreiro à
comenda de Santa Cristina de Cerzedelo e S. Martinho do Conde, da Ordem de Cristo),
dos moinhos do Esquerdo, de seis rodas, em Santa Eulália de Fermentões (de prazo
foreiro a S. Domingos, de Guimarães), e de inúmeras casas de morada em Guimarães.
Francisco Moreira Carneiro foi capitão-mor da vila de Nossa Senhora da
Conceição de Mato Dentro, distrito do Serro Frio, província de Minas Gerais, Brasil.
No processo de habilitação para a Ordem de Cristo, constata-se que teve
dificuldades em recebê-lo por ter sido carpinteiro de engenhos em Minas Gerais e ter
entrado a minerar com os escravos, embora fosse já capitão de ordenança.
Entre as testemunhas a seu favor aparece um tio, Luís António Cação de Sousa
(filho de António Rodrigues Cação, natural de Maiorca), de quem constam igualmente
as habilitações para o hábito de Cristo.
No processo de habilitação para a Ordem de Cristo do capitão-mor, não se
encontra em conjunto com a habilitação de Francisco Moreira Carneiro nenhuma
habilitação à ordem de Cristo de Luís António Cação de Sousa. Existem sim dois
documentos datados de 23/01/1738, com um conteúdo muito próximo, embora
apresentando pormenores distintos.
Dado o interesse da análise que incide sobre a figura de Luís António Cação de
Sousa, a sua ascendência e o universo que o rodeia, transcrevo integralmente os dois
documentos.
A transcrição foi feita aquando da leitura pelo que não segue nenhum critério
científico de transcrição.
Documento 1 – “Por despacho de sua majestade de 15 de Novembro de 1735 – e de 15
de Janeiro de 1738
El rey nosso Senhor tendo respeito aos serviços de Luis António Cassão de Sousa filho
de Francisco Rodrigues Cassão natural de Mayorca feitos por espaço de dois anos e
vinte e quatro dias em praça de Soldado de Cavallo continuados desde dez de
Dezembro de mil seiscentos e noventa e três – até Janeiro de Mil seiscentos e noventa e
seis – e aos de Valério e Mauritio (sic) Cassão filho de Francisco Rodrigues Cassão
natural de Maorca feitos neste Reino e no estado da India por espaço de dezassete
anos, sete meses e vinte e seis dias servindo neste Reino em praça de Soldado
embarcandosse em varias armadas e passando a India servir de Soldado de Cabo de
75
esquadra e sargento e ser nomeado pelo Rey Ajudante de tenente General e embarcar
em duas armadas continuados até ao ano de mil setecentos e quinze – em que faleceu; e
aos de Henrique Cassão de Sousa filho do dito Francisco Rodrigues Cassão natural de
mayorca feitos neste reino e na India por espaço de vinte anos, quatro meses em praça
de soldado cabo de esquadra e sargento e nos postos de Ajudante da fortaleza de
Mossambique e capitão de infantaria daquele, e se embarcar em três armadas
continuados de 11 de Mayo de mil seiscentos e noventa e três – até Dezembro de mil
setecentos e treze - e pertenceram por sentença do juízo de justificações do Reino as
acções destes serviços a sua May Francisca Correia com satisfação de tudo; há por
bem fazer fazer-lhe mercê de cinquenta mil reys de tença efectiva em hum dos
almoxarifados do Reino em que cuberem sem prejuízo de terceiros e não houver
proibição com o vencimento na forma das ordens de Sua Majestade dos quaes serão
para seu sobrinho o capitam mor Francisco Moreira Carneiro doze para os lograr a
título do hábito de Christo que lhe tem mandado lançar e os trinta e oito que restam
serão dezouto mil reys para a D. Zeferina Maria Gramza e outro para D. Francisca
Barboza Gramza e seis para D. Filicia Joana Gramza e os outros seis que restam para
D. Josefa antónia filha de Francisco Xavier Ferraz de Oliveira Lisboa Occidental a
vinte e três de Janeiro de Mil setecentos e trinta e outo. Pedro da Motta e Silva –
Jerónymo Godinho de Niza”.
No “Documento 2” – Tudo igual até – “ Dos quais serão para seu sobrinho o Capitam
Mor Francisco Moreira Carneiro, filho de sua irmã Mariana Correia os ter a título do
hábito da Ordem de Christo que lhes tem mandado lançar, Lisboa Ocidental a 23 de
Janeiro de mil setecentos e trinta e oito. Pedro da Motta e Silva – Jerónimo Godinho de
Niza”126
O estranho em toda aquela informação é não só não se vislumbrar qualquer
ligação familiar entre estes Cações (tanto Francisco Rodrigues Cação, como seu
sobrinho Luís António Cação de Sousa) mas, pior ainda, a falsidade na atribuição de
uma Mariana Correia como mãe do capitão-mor Francisco Moreira Carneiro, o qual,
como sabemos documentalmente, era filho de Maria Carneiro (Henriques), 3ª mulher de
Diogo Dias Moreira, da quinta de Fundevila, em S. Pedro de Ferreira.
Terá aquela Mariana Correia, eventualmente viúva sem filhos, perfilhado o
capitão-mor para este poder herdar?
Cremos existir aqui qualquer espécie de venda camuflada do hábito de Cristo,
tentando disfarça-la como uma desistência a favor de um “sobrinho”. Mas não deixa de
ser estranho, muito estranho mesmo, que os comissários da Ordem de Cristo não
detectassem esta anomalia e falsidade. E talvez resida também aqui a demora acima

126
Os elementos aqui recolhidos, devemos à generosidade e amizade do nosso prestável Amigo e distinto
investigador, medievalista, historiador e filósofo, Prof. Doutor Tiago de Moura Leitão Cerejeira Fontes,
que amavelmente as colheu no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, a meu pedido. Por este motivo não
podemos deixar de o mencionar, com a consideração e agradecimento que se impõe.
Existiu um Doutor Francisco Rodrigues Cação, falecido em Coimbra, S. Cristóvão (Sé Velha), em
1666, igualmente natural de Maiorca, Figueira da Foz, que foi lente da Faculdade de Medicina da
Universidade de Coimbra, Familiar do Santo Ofício (carta de 1625), médico ilustre, tendo sido médico do
infante D. Pedro e deixando também urna rica biblioteca. Um outro seu homónimo e certamente seu
familiar próximo, Francisco Rodrigues Cação, foi lente da Fac. de Leis, Colegial de S. Paulo e cónego
doutoral de Lamego.
Creio não haver dúvidas do eventual parentesco dos dois aqui acima referenciados com o tratado no
texto, muito provavelmente descendente de um desses homónimos. O médico aqui tratado era filho de
António Lourenço e Maria Rodrigues Cação, de Maiorca, e era casado com Maria Leal.

76
referida para a concessão do hábito que tanta estranheza e má reputação causava em
Minas Gerais.
Francisco Moreira Carneiro apresentou uma petição ao rei a fim de obter a
mercê, embora todos considerassem difícil a aprovação do monarca.
Além do testemunho daquele tio, tinha uma certidão de recomendação vinda de
Minas Gerais, asseverando que o requerente ajudara o governador contra um
levantamento do povo daquela província brasileira.
Pormenor curioso é o de dizer-se que o requerente tinha já má reputação entre os
vizinhos por não obter a mercê, já que demorou cerca de cinco anos a consegui-la
(1735-1740).
Constam igualmente várias cartas de testemunhas, nomeadamente do governador
de Minas Gerais, aprovando os diversos bons serviços prestados pelo requerente e a sua
boa reputação.
Certo é que em 1736 já ele era um dos Juizwa Ordinários que compunham o
Senado da Câmara da Vila do Príncipe, capital da comarca do Serro Frio, o que se veio
a repetir no ano de 1738.127
Em Outubro de 1743 obteve carta de familiar do Santo Ofício. Quando a
requereu era solteiro e capitão-mor da vila de Nossa Senhora da Conceição de Mato
Dentro. Fora moço para o Brasil.
Uma testemunha, Miguel Francisco de Carvalho, afirmou desconhecer se o
capitão tinha filhos, somente lhe constara por várias pessoas que ele tinha um filho
mulato (é provável que tenha tido pelo menos dois, pois aparecem um Alexandre
Moreira Carneiro, preto forro, falecido em 1788, “sepultado ao pé do Altar do Rosário
em cova do Rosário”, e uma Francisca Moreira Carneira, falecida em 1782).
Outra testemunha declarou que ele tinha em sua casa um mulato de pouca idade
(em 1742, data do depoimento), que uns diziam ser seu filho e outros não
(provavelmente o acima referido Alexandre Moreira Carneiro, preto forro).
O comissário do Santo Ofício, Simão de Sousa, informou que o requerente ao
tempo em que se ausentara para o Brasil era oficial de carpinteiro e seus pais e avós
lavradores cristãos velhos, honrados e de boas fazendas.
Em Nossa Senhora de Mato Dentro diziam ser homem com capacidade bastante
para qualquer negócio de importância, sempre se tendo tratado com toda a limpeza
conforme o estado da terra e que, atendendo à escravatura e mais bens de que era titular,
poderia possuir perto de duzentos mil cruzados.
A 24/12/1746 foram aprovadas pelo Santo Ofício as diligências que requerera
com vista a casar com D. Eduarda Catarina.
O casamento foi precedido de convenção antenupcial de dote lavrada em
10/3/1746, nas notas do tabelião Paulo Mendes Brandão, da vila de Guimarães, que para
o efeito se deslocou à quinta de Sá “nas cazas de Thereza Maria Borges do Couto Dona
veuva que ficou de Joaquim da Costa e Sylva”.
Pela mãe da noiva foi dito “que ella para haver de selebrar este contrato como
tutora e adeministradora de seus filhos requerera ao juiz dos orfãos da vila de
guimaraens perante quem tinha feito inventario pelo fallecimento do dito seu marido

127
Vide o importante estudo “A arte da crônica e suas anotações, História das Minas do Serro do Frio à
atual cidade do Serro em notas cronológicas (14/03/1702 a 14/03/2003)”, Danilo Arnaldo Briskievicz,
pág. 67.

77
para que lhe desse liçença para fazer o prezente cazamento e contracto para o que fez
petiçam”.
Eis o teor da petição:
“Diz Thereza Maria Borges do Couto e Sá Donna Veuva que ficou de Joaquim
da Costa e Silva moradora na sua quinta de Sá freguezia de Santa Eulalia de Barrozas
termo desta vila de Guimaraens, que ella suplicante tem ajustado de cazar sua filha
orfã D. Eduarda Catherina com o Capitam mor Francisco Moreira Carneiro Cavaleiro
profeço da Ordem de Cristo, natural do mosteiro de Ferreira comarqua do Porto o
qoal dá de entrada para a quinta e mais bens vinte e sete mil cruzados, no coal
cazamento tem a orfã muita utilidade por ser o espozado de bom sangue. Pede me
merce seja servido admectir a suplicante a justificar a utilidade do cazamento e
justificado que seja dada Licença para celebrar e receberá merçe”.
Conseguida a autorização requerida dota a filha com os seguintes bens de raiz: a
quinta de Sá, constituída por três prazos de vidas, foreiros ao Convento de Santa
Marinha da Costa; o prazo das bouças da Silva Verde, de que era directo senhorio D.
Lourenço de Almada; a fazenda do Requeixo, de natureza de prazo foreiro a Santa
Marinha da Costa; o prazo de S. Domingos de Guimarães e o de S. Gonçalo de
Amarante; a propriedade chamada das Queirosas, em Santo Estêvão de Barrosas, dízima
a Deus; a fazenda do Monte, de prazos de vidas foreiros à comenda de Santa Cristina de
Serzedelo e S. Martinho de Sande; a fazenda do Pinheiro, com seu privilégio das
Tábuas Vermelhas de Nossa Senhora da Oliveira, também de natureza enfitêutica, cujo
senhorio do domínio directo era o cabido da vila de Guimarães; os moinhos do
Esquerdo, de seis rodas, de natureza de prazo foreiro a S. Domingos de Guimarães.
Entre os mais bens dotados constavam uma morada de casas de sobrado na rua
Nova do Muro, duas no Toural e todas as que tinha na rua de Santa Luzia da dita vila
“exssetto aquellas em que está feito patrimonio a seu sobrinho o Padre Dionizio
Pereira da Silva cujos bemiz e propriedades atraz declarados outrossim lhe dota como
dito tem com todas as suas pertenças e na mesma forma em que ella dotadora as está
pesuindo e pesuhirão seus pais e avós e delles está de posse de tempos emmemoreais
sem contradiçam de pessoa alguma em cujos bemiz asim havia por dotados e nomiados
em a dita sua filha para ella haver de cazar com elle futuro noivo”.
De igual modo dotou a filha com três camas aparelhadas de roupas e todos os
bens móveis de matéria sólida existentes nas casas da quinta de Sá “cujos bemiz se nam
emtemde pessas de ouro e prata nem bemiz semoventes”.
A dotadora reservou em vida os seguintes bens, que os noivos lhe dariam
anualmente pelo S. Miguel: cinco carros de pão, a saber, quatro de milho grosso e um
de milho miúdo e centeio, tudo limpo e seco; cinco pipas de vinho e três almudes de
azeite; toda a castanha, fruta e landre da fazenda do Pinheiro, livre da parte do caseiro;
semear-lhe-iam anualmente quatro alqueires de linhaça dada por ela, entregando-lhe o
linho espadado e limpo “cuja reserva lhe darão e pagarão na vila de Guimarães
adonde ella dotadora nella morar exssepto as fruitas da fazenda do Pinheiro e por sua
morte della dotadora rezerva para suas filhas ou coalquer dellas as mesmas cazas da
Rua de Santa Luzia, hum carro de pão e huma pipa de vinho emcoanto não thomarem
estado”.
D. Teresa Maria Borges do Couto e Sá dotava-lhes todos estes bens com a
condição dos futuros esposados liquidarem os vinte e cinco mil cruzados de dívidas a
que ela e os bens dotados se encontravam obrigados a vários credores.
78
O capitão-mor Francisco Moreira Carneiro dotava-se com vinte e cinco mil
cruzados em dinheiro de contado, de entrada para os bens dotados e com os créditos que
lhe eram devidos, tais como: de Jorge Pinto de Azevedo, morador na cidade de Lisboa,
por créditos vencidos ao juro de 6 e 4%, quinze mil cruzados; de Manuel Moreira Maia,
nas minas de ouro no Serro Frio, vinte e um mil e quinhentos cruzados; o litigioso de
um conto seiscentos e dezanove mil réis, fora de juros, pendente na ouvidoria de Vila-
Requa de Ouro Preto, em dívida por José da Silva Zuzarte; de Manuel Moreira Maia,
por uma escritura, a metade das lavras, roças e engenho que lhe vendera, além da dívida
que o mesmo também tinha com ele de cinquenta e um mil cruzados, vinte e seis mil
novecentos e quarenta réis; de Manuel Moreira (filho de Domingos Moreira Duarte),
nas minas de Ouro Preto, catorze mil cruzados; de Francisco Fernandes Abelha, seis mil
cruzados; do capitão Roberto de Herédia e Vasconcelos, duzentos e quarenta mil réis;
de João da Mota dos Santos, por uma execução que lhe instaurara, um conto novecentos
e cinquenta mil réis, dívida essa que se achava com pouca esperança de se cobrar.
Tinha ainda a metade das lavras, roças e engenho de cana, de sociedade com
Manuel Moreira Maia, como constava de uma escritura em seu poder, a qual metade,
vendida a pagamentos por dez anos, valeria setenta e cinco mil cruzados; e igualmente a
terça parte duma lavra em Minas Gerais, nas minas do Caraça, com quinze negros, que
valeria, ao menos fiada por seis anos, a pagamentos, dezoito mil cruzados.
O capitão-mor dotava-se ainda com um hábito de Cristo, com cruz de diamantes
e granadas, uma medalha de ouro com diamantes, um faqueiro com doze facas, talheres
e garfos de prata, um anel com pedra de diamantes, um copo de cristal, peças que lhe
haviam custado um conto e trezentos mil réis.

Hábito da ordem de Cristo, de meados do século XVIII

No caso de dissolução do casamento, cada um ficaria com o dote próprio e a


metade dos adquiridos, pagas as dívidas. Os bens da dotada manter-se-iam hipotecados
enquanto não fosse restituído ao dotado outorgante a sua parte. No caso de ele falecer
primeiro a esposa ou os herdeiros tinham o prazo de dois anos para a restituição aos

79
herdeiros dele e, decorrido esse tempo, pagariam os juros de 5% sobre os bens em
dívida.
Disse ainda Francisco Moreira Carneiro que “suposto tenha filhos deste
matrimonio e morram ou coalquer delles sem que lhe fiquem dsendentes legitimos e
depois destes outros desendentes por linha reta que bem a ser athe o treseiro grao da
mesma linha não teram parte na terça delle dotado mas pertemserá a quem delle
dispuzer e senão dispuzer a quem de direito pertemser segundo as regaras de morgado
familiar e que nam teria vigor este contrato emcoanto os direitos senhorios dos prazos
dotados que exzistam e moram na villa de Guimaraenz e seus arabaldes nam derem
authoridade a esta escreptura como tambem que havendo filhos deste matrimonio
sempre sussederão nos bemis delles dotados e declarou elle dito futuro noivo que
desiluto o matrimonio por morte delle ou fiquem ou não fiquem filhos ficará ella futura
noiva milhorada em seis mil cruzados de arras que se abaterão na restetuição de dote e
que protestava elle dito futuro noivo que pello tratado desta escreptura e cazamento
não rezulta obrigação de esponçaiz”.
Foi o capitão-mor Francisco Moreira Carneiro quem adquiriu a grande fazenda
de Santo António do Rio Abaixo, no Serro Frio, bem como muitos outros bens que seu
filho veio a herdar, maxime certas lavras no conhecido Morro de Gaspar Soares.
O capitão-mor foi personalidade de grandes posses e influência no Serro Frio,
sendo citado como um dos maiores proprietários e o maior possuidor de escravos (42,
segundo se lê no estudo “Minas Gerais: escravos e senhores. Análise da Estrutura
Populacional e Econômica de Alguns Núcleos Mineratórios (1718-1804)”, São Paulo,
FEA-USP, 1980, 224 p. Tese não publicada, de Francisco Vidal Luna), tendo inclusive
alguns deles colaborado na construção da igreja matriz de Nossa Senhora da Conceição,
da vila do Príncipe, da qual ele foi Procurador.
Mas a verdade é que no interessantíssimo e importante estudo “História Viva -
Morro do Pilar” (encontra-se online para consulta), a pág. 67, se afirma que ele
possuía registados 87 escravos, adiantando o autor que “era um número surpreendente,
levando em conta que o plantel médio de escravos em Minas Gerais girava em torno
de quatro a sete escravos por dono”.
E ainda no interessante estudo “PINTURAS DE TREZENTOS ANOS
DESCOBERTAS NAS PARIETAIS DA CAPELA-MOR DA IGREJA MATRIZ DE
CONCEIÇÃO DO MATO DENTRO”, da autoria de Dulce Azeredo Senra e Sandra
Godoy, apresentado no IX Colóquio Luso-Brasileiro de História da Arte, lê-se citando
Carlos del Negro, in “Nova contribuição ao Estudo da Pintura Mineira (Norte de
Minas): pintura dos tetos de igrejas. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional”, Rio de Janeiro, 1979 (Publicações do IPHAN; 29): “(...) No livro primeiro
do Registro dos Quintos da Vila do Príncipe, do ano de 1715, já existe a seguinte
referência: “o capitão Francisco Moreira Carneiro debaixo do juramento registrou
os seus escravos junto ao Provedor do que possuía e mais cinco que trabalham nas
obras da Igreja de Conceição do Mato Dentro.”.
De igual modo foi o capitão-mor Francisco Moreira Carneiro que dotou a
construção do coro, da varanda alpendrada e da torre sineira e a imagem de Nossa
Senhora da Conceição, da capela de S. Francisco, em Freamunde (Paços de Ferreira).
No processo instaurado para familiar do Santo Ofício, em 1743, refere o
comissário deste tribunal que ele atendendo á escravatura e mais bens de que era titular
poderia possuir cerca de 200.000 cruzados!
80
E mais tarde, num inventário para partilhas de 1842, fala-se na “grande soma de
dinheiros do Brasil que o seu capital correspondia ao rendimento anual de meia arroba
de ouro”.
Em 1/9/1763 renovou o convento de Santa Marinha da Costa ao capitão-mor e
mulher o emprazamento da quinta de Sá, à época constante de quatro prazos de vidas,
que o cenóbio reuniu num só a pedido dos enfiteutas.128
Deste casamento descendem todos os diversos ramos da família Moreira de Sá,
da casa de Sá, em Santa Eulália de Barrosas, Vizela, da casa de Fundevila, em S.
Miguel do Paraíso, no termo de Guimarães (hoje fora da família) e ainda da casa dos
Moreiras de Sá, na rua de Camões, freguesia de S. Sebastião, Guimarães (igualmente
fora da família), além de outras casas e ramos brasileiros de Minas Gerais e Rio de
Janeiro (nomeadamente os diversos ramos Herédia de Sá, os Vasconcelos Moreira e Sá
descendentes da Casa da Sapateira, em Torrados, Felgueiras - do qual destaco pela
amizade que nos une, o parente engº Humberto Rodrigues de Sá -, e os descendentes
do Doutor António Secioso Moreira de Sá).

128
Todos estes elementos e citações documentais foram retirados no estudo dactilografado do autor,
intitulado “Os Sás de Vizela – Memórias Históricas, Genealógicas e Heráldicas”.
No final deste estudo, em DOC. VI, deixaremos a súmula (atendendo à enorme extensão do
documento) dos Autos de Habilitação de seu filho e sucessor, Francisco Joaquim Moreira Carneiro
Borges de Sá, Fidalgo da Casa Real, Cavaleiro professo na Ordem de Cristo, etc.

81
ANEXO II

SÁS, da Casa de Sá, em Santa Eulália de Barrosas, Vizela

*
Após um interregno de cerca de dois séculos, é com o alvorecer dos anos de
quinhentos que começam a surgir-nos dados documentais acerca de Sá, em Santa
Eulália de Barrosas, através do tombo do mosteiro hieronimita de Santa Marinha da
Costa (este cenóbio era dos cónegos regulares de Santo Agostinho, dando-se a
substituição pelos monges de S. Jerónimo a partir do ano de1528).
Assim, no ano de 1530, verifica-se o emprazamento pelo seu directo senhorio,
de três casais denominados de Sá: Sá de cima, Sá do meio e Sá do cabo. E parece
legítimo presumir que a medieval “vila Sala” tenha ficado incluída no espaço
geográfico ocupado por estes três casais.
As renovações dos citados prazos foram feitas a Jorge Anes de Sá e mulher Inês
Álvares, do casal de Sá do cabo; a Cristóvão Pires e mulher Maria Rodrigues, do casal
de Sá do meio; e a João Álvares e mulher Guiomar Gonçalves, do casal de Sá de cima
(com a obrigação de ampararem a mãe dele, Brites Rodrigues).
Mas interessa-nos particularmente dedicar a nossa atenção àquele Jorge Anes de
Sá, senhor em 1530 (por herança de seus pais) do casal de Sá do cabo.
Tentemos, no seguimento do que deixámos no nosso estudo sobre a linhagem
dos Sás (UMA LINHAGEM MEDIEVAL PORTUGUESA – OS SÁS, separata da
Revista Hidalguia (do Instituto Salazar y Castro), Año LIV, Número 324, Madrid,
2008) reconstruir a provável ascendência do nosso Jorge Anes de Sá.
Genebra de Sá, filha de Inês Anes, viúva129, e de João Rodrigues de Sá, “o
das Galés”, foi dona professa no mosteiro de S. Pedro de Cister para quem o tio, em
1437, pediu ao abade de Florença, D. Gomes, que servisse de intermediário junto do
bispo do Porto para que a sobrinha fosse abadessa de Vairão, já que a irmã Mécia
Rodrigues de Sá, abadessa de Arouca (e que havia sido confirmada pelo papa para
aquele convento) não queria mudar-se.130

129
Era irmã de Afonso Anes, mercador e contador d’el-rei no Porto, ambos bisnetos de Afonso Anes de
Beire, abade de Lousada, aos quais nos referimos ao tratar de João Afonso de Sá.
Afonso Anes. contador d’el-rei no Porto em 1438, era casado com Catarina Gonçalves, de quem teve
pelo menos os seguintes filhos: João Afonso, escudeiro, criado do infante D. Henrique, provedor em 1475
do hospital de Rocamador e morador no Porto, na rua Nova, onde testou em 1477; Luís (que o pai refere
mandar a Florença e para quem pede que o abade de Santa Maria de Florença, D. Gomes, receba a ele e a
mais dois filhos que deixou na cidade do Porto).
Era irmão de Inês Anes, solteira, moradora na rua das Eiras; e de Senhorinha Anes, mulher de Álvaro
Anes Cernache, cavaleiro, que em 12/2/1449, no estado de viúva, doou com seus irmãos ao hospital de
Rocamador o quinhão que possuia em casas da rua Chã (Lº I dos Pergaminhos da Misericórdia do Porto,
fls. 13 (informação do Dr. Eugénio da Cunha e Freitas).
Esta doação foi confirmada por sentença de Diogo Lourenço, juiz ordinário, em 3/12/1450, desistindo
dos seus direitos Catarina Gonçalves, mulher que fora de Afonso Anes, contador, e Inês Anes, por mão de
seu genro Álvaro Fernandes Evangelho (Lº 2 dos Pergaminhos da Misericórdia do Porto, fls. 16).
António Domingues de Sousa Costa, OFM, “Mestre André Dias de Escobar, figura ecuménica do séc.
130
XV – Estudos e Textos da Idade Média e Renascimento”, ed. Franciscana, Porto –1967, pág.s 376, 378 e
386, doc.s 180, 181 e 191.

82
Teve ela, pelo menos, um irmão inteiro que é nomeado nas chancelarias régias:
Afonso Anes de Sá, que foi vereador da cidade do Porto e aí nomeado homem da
Moeda, por carta de D. João I, confirmada pelo filho, o rei D. Duarte (por carta de
30/12/1434) e por D. Afonso V (em 26/7/1442).131
É, sem margem para qualquer dúvida, o mesmo Afonso Anes de Sá, homem da
Alfândega do Porto (“homē do almazem”), a quem D. João I deu de foro, em
16/1/1395, uma casa térrea na cidade do Porto, “a par do almazem”. 132
Casou com Margarida Gomes, a quem foi confirmado, em 6/4/1451, o
aforamento de casas na rua Formosa dadas a Afonso Anes de Sá (já falecido nesta data),
em troca das que lhe haviam derrubado quando da abertura daquela rua, por instrumento
de 30/11/1428.133
Vejamos a sucessão conhecida, recuperando genealogicamente os elementos
acima reproduzidos.

GENEALOGIA DOS SÁS DE VIZELA

João Rodrigues de Sá, “o das Galés”,134 teve de Inês Anes, viúva, irmã de Afonso
Anes, mercador e contador d’el-rei no Porto, 135
Esta doação foi confirmada por sentença de Diogo Lourenço, juiz ordinário, em
3/12/1450, desistindo dos seus direitos Catarina Gonçalves, mulher que fora de Afonso
Anes, contador, e Inês Anes, por mão de seu genro Álvaro Fernandes Evangelho (Lº 2
dos Pergaminhos da Misericórdia do Porto, fls. 16).

Filhos ilegítimos:
1- Brites de Sá, moradora na freguesia da Sé do Porto e casada com Diogo Gil 136,
nomeada como sobrinha de Inês Vasques, viúva de seu tio Gonçalo de Sá, senhor de

131
Arquivo Histórico Português, Vol. II, pág. 464 (Brito Rebelo, “Um Parente de Francisco de Sá de
Miranda”); Carlos de Passos, “Os brios portuenses em 1580 e 1640”, pág. 53.
132
Idem, ibidem.
133
ANTT, Chancelaria de D. Afonso V, Lº 3º de Além Douro, fls. 49 vº.
Convirá aqui destacar uma confusão que tem levado a uma identificação errada entre pessoas
diferentes. Assim, nomeadamente numa obra de responsabilidade como “D. Duarte e as responsabilidades
de Tânger”, da autoria de Domingos Gomes dos Santos, S. J., este autor refere-se ao contador Afonso
Anes como Afonso Anes de Sá, afirmando mesmo que ele fora “Contador da moeda da cidade do Porto”
por cartas de D. João I, D. Duarte e D. Afonso V. Ora, como referimos, tais cartas dizem, na verdade,
respeito a um Afonso Anes de Sá, apelido que nunca o contador usou, nem é referido nas missivas citadas
pelo autor. De resto, o cargo de “contador d’el rei” na cidade do Porto, nada tem a ver com o “homē do
almazem” ou “homem da moeda da casa do Porto”.
Temos assim que distinguir duas pessoas diferentes, na nossa perspectiva tio e sobrinho: um o
contador Afonso Anes, que se intitula a si mesmo como mercador, pertencente à família dos Beire, casado
com Catarina Gonçalves; e seu sobrinho Afonso Anes de Sá, o homem da moeda e “do almazem”do
Porto, casado com Margarida Gomes. De resto, esta constatação seria suficiente para confirmar não se
tratar da mesma pessoa: ambos eram, pela mesma época, referenciados com mulheres diferentes.
134
Começamos esta genealogia dos Sás no famígero Sá das Galés, sem mais referências quer da sua
biografia histórica, cargos exercidos, benesses, etc., bem como acerca da sua ascendência, atendendo a
que todos esses elementos se encontram largamente estudados e desenvolvidos no nosso estudo a que
acima fizemos referência: “UMA LINHAGEM MEDIEVAL PORTUGUESA – OS SÁS”, separata da
Revista Hidalguia (do Instituto Salazar y Castro), Año LIV, Número 324, Madrid, 2008).
135
Vide nota 129.

83
Aguiar de Sousa (e, como tal, sua tia por afinidade, atendendo a que o parentesco lhe
vinha pelo 1º marido dela, Álvaro Afonso Diniz, a qual morreu em 1458, tendo feito
testamento a 18/6/1457, em que instituiu capela em S. Domingos, da mesma cidade,
deixando por administrador o sobrinho João Álvares Ribeiro). Ora Brites de Sá era meia
irmã do senhor de Aguiar de Sousa, Gonçalo de Sá, igualmente filho de João Rodrigues
de Sá, “o das Galés”.

Filho:
II(1)- João de Sá, que tomou ordens menores, em Braga, em 1465 . Talvez seja este o
vedor da fazenda da alfândega do Porto, de largos proveitos. S. m. n.

II(2)-Gonçalo de Sá, referido como sobrinho de Gonçalo de Sá, senhor de Aguiar,


viveu na cidade do Porto, desconhecendo-se com quem casou e mais fastos da sua vida.
Não será de excluir, porém, tratar-se do Gonçalo de Sá que em 1432 aparece
como vereador da cidade do Porto, posto que, com o mesmo nome e na mesma época,
vivia nessa cidade seu tio e homónimo.
Casou com N., de quem não possuímos informações.

Filho:
III(1)- João de Sá, era muito certamente o fidalgo da Casa de D. Manuel I e corregedor
no Porto, que em 19/5/1496 vende uma quinta no julgado da Maia, na freguesia de
Santa Maria de Vilar, a Nuno Álvares, cidadão do Porto, e a sua mulher Maria
Domingues .
E, obviamente, o João de Sá, fidalgo da Casa d’el-rei D. João III, a quem este
monarca concedeu em Fevereiro de 1527 a capitania da fortaleza de Cananor.
Casou com Senhorinha Jorge, que poderá ser uma filha de Jorge Gonçalves,
servidor do Infante D Henrique, com ele tendo participado na exploração comercial da
costa de África.137

Filhos:
IV(1)- João de Sá, que poderá ser identificável com o que, nos inícios do século XVI,
era senhor da quinta de Sá, em S. Paio de Riba de Vizela. S. m. n.
IV(2)- Jorge Anes de Sá, seguirá adiante no $ 1 N I

136
Não sabemos documentalmente a filiação deste Diogo Gil. Sugere-nos, porém, a possibilidade de se
tratar de um descendente (neto?) de Diogo Gil de Outiz, vassalo d’el-rei, que foi casado com Teresa
Vasques de Altaro, à qual, no estado de viúva, emprazou em 17/7/1386 umas casas que possuía acima da
Ribeira, na cidade do Porto (Lº 2 dos Pergaminhos, nº 95).
A mesma Teresa Vasques, em 19/6/1386, por instrumento lavrado pelo tabelião Rui Gonçalves,
instituiu uma capela no mosteiro de S. Domingos, na cidade do Porto, que o marido, Diogo Gil, lhe
deixara em testamento, imposto nas suas casas junto à Ribeira, na rua da Reboleira.
Outros muitos documentos se referem a este Diogo Gil de Outiz, nomeadamente o da confirmação da
terra de Prado, em 12/4/1405, na qualidade de filho mais velho de Guiomar Gil de Outiz, mulher de João
Gil, vassalo d’el-rei, moradores no Porto, e ela filha mais velha de Gil Esteves de Outiz, cavaleiro, alcaide
de Guimarães, senhor da vila do Prado, de Trazariz, Cãs e Segade, Ulveira, etc., e de sua mulher Joana
Pais.
Esta documentação foi-nos gentilmente cedida pelo sempre lembrado Dr. Eugénio de Andrea da
Cunha e Freitas, saudoso e insigne historiógrafo, e retirada do seu valiosíssimo espólio manuscrito.
137
Vd. “Crónica dos feitos da Guiné”, cap 93, Gomes Eanes de Zurara; e “A Casa Senhorial do Infante D.
Henrique-Organização social e distribuição regional”, pág. 258, Revista da Faculdade de Letras da
Universidade do Porto, Maria Cristina Almeida e Cunha e Maria Cristina Gomes Pimenta).

84
Sem embargo, no desenvolvimento do estudo desta família, viemos a recolher
elementos que nos permitem admitir ela descender dos Sás históricos, através duma
linha nunca correctamente investigada.
O linhagista Felgueiras Gaio, em título de Sás, no § 36, desenvolve a
descendência de Fernão de Sá, filho - segundo ele bastardo - de João Rodrigues de Sá,
fronteiro-mor de Entre Douro e Minho, camareiro-mor de D. Afonso V, alcaide-mor do
Porto, senhor de Sever, Bouças, Baltar, Paiva, Aguiar de Sousa, vedor da Fazenda do
Porto, etc. (neto do seu homónimo, o célebre Sá das Galés).
Deste Fernão de Sá seria filho Martim de Sá, que o tratadista diz senhor da
quinta de Sá, em Barrosas, “quinta antiga deste apelido”, e casado com Catarina dos
Guimarães.
Como filho deste é referido Afonso de Sá, cavaleiro professo na Ordem de
Cristo, morador em Guimarães, casado com Luisa Peixoto, filha bastarda do Dr.
Gonçalo Vaz Peixoto, desembargador na Índia, cavaleiro-fidalgo da Casa d’el-rei e
morgado de Pousada, e de Joana da Costa, de Pencelo.
O Afonso de Sá seria o progenitor de Sebastião Vaz de Sá, que foi vereador em
Guimarães, o que fez o padrão que cerca a Oliveira de Nossa Senhora, senhor da quinta
do Selho, em Creixomil, e progenitor dos Vaz Vieira de Melo e Alvim, da casa do
Toural, e dos senhores da velha Torre de Candoso, na freguesia de S. Martinho de
Candoso, no termo de Guimarães.
Acontece, porém, que o mesmo tratadista, agora em título de Vieiras, §121, filia
este Sebastião Vaz em Domingos Vaz e mulher Maria Gonçalves.
Como iremos ver mais adiante, esta segunda paternidade é que será a correcta,
ainda que a mãe não se chamasse Maria, mas sim Hilária.
De resto, num manuscrito genealógico do século XIX, ainda inédito e intitulado
“Memórias Históricas e Genealógicas da Família da Torre de Candoso”, existente no
Arquivo Municipal Alfredo Pimenta, em Guimarães, fala-se de Sebastião Vaz sem, no
entanto, lhe atribuir qualquer filiação.
O que é salientado, é o parentesco dos Rochas de que procedem os senhores da
Torre de Candoso com os Sás de Vizela, “como se vê da sua Genealogia”.
Á margem vem escrito: “Desta Casa de Sá he o Abb.e de S. Miguel de Vizella
Miguel J.m de Sá e o Sr. da Caza do Pinheiro de Nespereira, o Ten.e Coronel J.e J.m
Moreira de Sá por bastardia, e Valentim Moreira de Sá, e hum Menino que he Sr. da
Caza com irmãos”.
No texto, logo de seguida, diz-se: “dos quais Sás de Vizella procede o já
mencionado Sabastião Vaz de Sá, Sr. da Q.ta do Selho, Progenitor dos Vaz do Toural -
Bugalhos - Veiga de S. Theago de Candozo - e Torre de Candozo”.
Ora, não será sem fortes motivos que Felgueiras Gaio, em título de Araújos, no
§311 - e sob a epígrafe “Quinta de Sá e Torre de Candoso” - ao tratar do casamento de
um Moreira de Sá com uma dama da estirpe dos Araújo de Azevedo, refere este
parentesco, bem assim como o dos senhores da casa da Madalena, em Nespereira.
E na ascendência do Moreira de Sá aí contida, recua até Beatriz (Brites) Afonso
de Sá, da quinta de Sá, em Santa Eulália de Barrosas.
Não se ficam por aqui os elementos que pareceriam corroborar esta ascendência.
De facto, numa das cartas de brasão concedidas a um dos senhores da casa de Sá
(Manuel Borges do Couto), onde figuram as armas desta estirpe (no 1º quartel),
juntamente com as dos Gonçalves, Borges e Coutos, de quem também procedia o
armoriado, na ascendência dele recua-se precisamente até à citada Brites Afonso de Sá e
seu marido.

85
Todos estes factores apontariam para Beatriz Afonso de Sá poder ser filha desse
casal Afonso de Sá e Luisa Peixoto.
Para o leitor que, ainda assim, mantenha algumas reticências, adiantaremos que
uma tia do Dr. Gonçalo Vaz Peixoto (pai de Luisa Peixoto) se chamou Beatriz Afonso; e
uma tia desta, Beatriz (Gonçalves) Peixoto, tendo como irmã uma Leonor Afonso!
Serão meras coincidências? De resto, a confusão de Felgueiras Gaio ao referir
Martim de Sá como senhor da quinta de Sá, em Barrosas, poderia ficar a dever-se,
precisamente, ao facto de sua neta ter casado com o herdeiro desta casa.
Ou então - hipótese também a ponderar - ser este Martim de Sá aparentado com
o referido Jorge Anes de Sá, senhor do casal de Sá, eventualmente seu tio.
Cronologicamente tudo isto seria conciliável.
O que nos leva, porém, a conservar muitas reticências acerca desta ascendência é
o facto de não aparecer em Guimarães qualquer fonte documental que confirme a
existência daqueles Martim de Sá e seu hipotético filho Afonso de Sá. Mais: é
igualmente desconhecido qualquer enfiteuta chamado Martim de Sá na documentação
existente no tombo do Convento de Santa Marinha da Costa, que detinha o directo
senhorio dos prazos de Sá, em Santa Eulália de Barrosas; e igualmente se verifica a
inexistência documental de qualquer Afonso de Sá que tenha obtido o hábito da Ordem
de Cristo na época em que aquele teria vivido.
E o parentesco com Sebastião Vaz, dito de Sá, interrogámo-nos se não viria
antes pelos Rochas, de Guimarães, de quem descendem os Moreiras de Sá, tanto mais
que foi este o apelido que perdurou nos senhores da Torre de Candoso.
O que parece impossível confirmar é aquela ascendência de Sebastião Vaz pelos
Sás.
De facto, existe um documento que parece derrubar por completo tal pretensão.
Num livro de notas do tabelião Mateus de Freitas, de Guimarães, deparamos
com a seguinte escritura: “Fiança q. da Seb.am Vaz de selho da fregª de creixomill”.
É datada de 28/1/1625 e nela se faz referência a Sebastião Vaz e sua mulher
Margarida Gonçalves, bem assim como aos irmãos e cunhados.
A mãe era já falecida (“per fallecimento de illaria glz sua mai defunta”),
ficando-lhe do seu casamento (não é referido o nome do marido, à data também já
falecido) o citado Sebastião Vaz, Simão Vaz (ausente há mais de trinta anos, sem dele
saberem o paradeiro, solteiro e sem descendência), o revº Diogo Vaz, Gonçalo Vaz,
Margarida Vaz (casada com Domingos Jorge), Isabel Gonçalves (mulher de Gonçalo
Vaz), Cecília Gonçalves (casada com João Pires), Catarina Domingues (viúva, com
filhos, de Brás Francisco) e Ana Gonçalves (casada com António Fernandes).
Sebastião Vaz, além de ser o mais velho e mais abastado, era o tutor do irmão
ausente, pretendendo que lhe fosse entregue a importância de setenta e seis mil e tantos
reis, da legítima dos pais que cabia àquele irmão, para o que daria fiança.
E ficámo-nos por aqui na leitura deste documento, já que se nos afigura ser
suficiente para o fim a que nos propusemos: demonstrar, de facto, a verdadeira
ascendência de Sebastião Vaz.
Resta-nos salientar que o pai se deveria chamar, efectivamente, Domingos Vaz
(como refere Felgueiras Gaio em título de Vieiras), só assim se entendendo o
patronímico daquela filha Catarina Domingues.
Não restam dúvidas de que até pela tradição (embora esta se mostre, muitas
vezes, uma faca de dois gumes para os investigadores) os Sás de Vizela são
apresentados como um ramo descendente do famígero camareiro-mor de D. João I.

86
Até a pena de Camilo Castelo Branco - ainda que genealogicamente suspeita -
refere serem os Moreiras de Sá descendentes “dos Sás das Crónicas, menestréis e
cavaleiros”.
É irrefragável que os fidalgos da casa de Sá tinham este apelido em tanta monta,
que ao estabelecerem em 1778 um opulento morgado determinaram a obrigatoriedade
dos administradores o usarem (unido ao de Moreira), bem como das suas armas (ainda
que sucedessem em bens vinculados nos quais fosse imposta a mesma obrigação para
outros apelidos e armas, pois, em tal caso, teriam de usar todos), sob pena de perderem a
administração do mesmo.

$1

I- Jorge Anes de Sá, filho (como deixamoa atrás na pág. 84, in IV(II)) de João de Sá,
muito certamente o fidalgo da Casa de D. Manuel I e corregedor no Porto, que em
19/5/1496 vende uma quinta no julgado da Maia, na freguesia de Santa Maria de Vilar,
a Nuno Álvares, cidadão do Porto, e a sua mulher Maria Domingues. E, obviamente, o
João de Sá, fidalgo da Casa d’el-rei D. João III, a quem este monarca concedeu em
Fevereiro de 1527 a capitania da fortaleza de Cananor.
Damos-lhe esta filiação com um grau de certeza muito elevado. Recorde-se, por
ser nota que se pode mostrar conclusiva, que a ser esta a filiação ele vinha a ser
descendente de João Esteves de Beire e de sua mulher D. Urraca Fernandes, sendo esta
filha de Fernão Reimondo de Canedo e de D. Alda Martins Botelho (esta descendente,
por seu pai, da linhagem dos Mogudos de Sandim, e por sua mãe dos Soverosas),
referenciados no “Nobiliário do Conde D. Pedro de Barcelos”.
Ora os Mogudos de Sandim possuiam inúmeros bens nos julgados de Gaia,
Santa Maria da Feira, Felgueiras e até em Riba de Vizela (um João de Sá – que poderia
ser o mesmo a que nos referimos acima como seu pai, ou um outro filho com o mesmo
nome – era, no princípio do século XVI, senhor da quinta de Sá, em S. Paio de Riba de
Vizela, segundo nos informa o Engº José Ernesto de Menezes e Sousa Fontes, em
estudo manuscrito sobre os Sás que há anos quis ter a amabilidade de oferecer ao autor).
Vejam-se as Inquirições de D. Afonso III que referem a posse por eles do direito
de apresentação da igreja de Santo Adrião de Lourosa (trata-se da freguesia de Santo
Adrião de Vizela, vizinha, como é sabido, da freguesia de Santa Eulália de Barrosas e
cujos limites confrontam, bem de perto, com a quinta de Sá), além de terem feito
avultadas doações ao vizinho mosteiro de Pombeiro.
Note-se que precisamente uma filha de Jorge Anes de Sá se chamou igualmente
Senhorinha Jorge, nome da suposta avó paterna, o que alicerça a nossa tese de filiação.
Casou com Senhorinha Jorge, que poderá ser uma filha de Jorge Gonçalves,
servidor do Infante D Henrique, com ele tendo participado na exploração comercial da
costa de África nomeado como “fidalguo de cota darmas” na carta de brasão de armas
que lhe foi passada em 25/12/1526, dizendo-o descendente dos Sás “per linha
mascolyna”.

87
Brasão de armas passado a Jorge Anes de Sá
(desenho da autoria do Amigo e distinto Artista heráldico, Miguel Ângelo Boto)

Terá nascido cerca de 1490 e veio a falecer antes de 1576.


Foi senhor em 1530 (por herança de seus pais) do casal de Sá, sito na quinta de
Sá, em Santa Eulália de Barrosas, termo de Guimarães (a medieva quintã de Sá
encontrava-se no século XVI repartida por três casais com essa denominação, de que era
directo senhorio o convento de Santa Marinha da Costa).
Era casado com Inês Álvares.
Teve carta de brasão de armas de Sás, em 20/12/1526, de que se conserva o seu
registo por transcrição feita na Chancelaria de D. João III. É a mais antiga carta de
brasão de Sás que se conhece.
Sendo, logo de início, qualificado como “fidalguo de cota darmas” (o que, neste
caso, deverá ter o mesmo sentido de fidalgo de linhagem ou fidalgo de geração, não se
conhecendo qualquer outra carta de brasão que lhe tenha sido atribuida anteriormente),
não revela aquela carta de armas, elementos factuais do agraciado, como a naturalidade
e a ascendência.
Mas não deixa de ser importante o facto de lhe ter sido passada carta de brasão
de Sás, em pleno, com uma merleta preta por diferença. O que, em matéria de
Heráldica, indica, sem qualquer dúvida, ser ele descendente por varonia desta linhagem
(o que, de resto, é salientado naquele documento) e por linha legítima.
A própria diferença (uma merleta) indica heraldicamente as jornadas de além-
mar, nas quais terá participado e, pelas quais, seria recompensado com terras na
Madeira.
É que, em 25/3/1525 o rei D. João III concedeu a Jorge Anes de Sá, então
morador na ilha da Madeira (mas com a família no continente), licença para o uso de
armas ofensivas e defensivas, por este temer que os parentes de Garcia da Câmara (filho
bastardo de João Gonçalves da Câmara, 2º capitão donatário do Funchal e neto de João
Gonçalves Zarco) e Gil Barradas (cavaleiro-fidalgo da Casa d’el-rei e fidalgo de cota de

88
armas, filho de Lourenço Luís de Bem, fidalgo, morador em Monforte, e de sua mulher
Filipa Barradas Matoso) atentassem contra a sua vida, por considerá-lo causa da morte
daquele neto do Zarco.
Embora morador na ilha da Madeira, afirma não ter na ilha “parentes com que
pudese andar seguro”. E porque tinha muita fazenda que prover e visitar “asy sua como
das filhas dallvaro estevez que deos aja mio feitor e mynistrador” e andava de dia e de
noite “quando faziam seus asuqueres”, não podia prover sua fazenda por ser fora das
povoações e temer ser atacado por aqueles fidalgos que eram “seus imigos capitaes” e
“pessoas primcipaes na Ilha e muito validos em todo o Reyno”, pelo que pedia a el-rei
fosse autorizado a usar armas para sua defesa.
Não se nos afigura situação singular para a época que Jorge Anes de Sá tivesse
sofrido fortes represálias, em termos sociais, pelo crime de que era acusado pelos
Câmaras e Barradas e, de resto, provado (conforme também consta neste diploma régio)
por um alvará assinado por Diogo Vaz, cidadão e juiz do cível na cidade de Lisboa, e
inserto num público instrumento de certidão “com os ditos de certas t.as dado por
mandado e autoridade de justiça que parecia ser feito e asynado por gonçalo aº de
bragua publico t.am em a minha cydade de lixboa a xb dias do mes de fev.ro do ano
presemte de mill bxxb annos”.
Por outro lado, o facto de Jorge Anes de Sá acentuar que tinha de prover a
fazenda das filhas do falecido Álvaro Esteves, feitor e administrador d’el-rei na ilha da
Madeira, parece indiciar um vínculo familiar ou de amizade muito estreito.
Ora uma daquelas filhas não seria exactamente Inês Álvares, a mulher de Jorge
Anes de Sá?
Note-se que um pouco mais tarde, em 1547, era juiz no Funchal um Garcia de Sá
que poderia ser filho deste Jorge Anes de Sá (A.R.M., C.M.F., Vereações, nº 1308, ano
de 1547).
São elementos falíveis quando desacompanhados de outros dados, mas de
considerar quando coadjuvados por factores de ponderação.

Filhos:
1(II)- Gervásio Jorge de Sá, segue
2(II)- Senhorinha Jorge de Sá, casou em 1559 com António Álvares,
almocreve.
O casamento foi precedido de escritura dotal, lavrada a 25/10/1559 nas
notas de Gonçalo de Freitas, tabelião de Felgueiras.
Em 23/7/1576 o Mosteiro de Santa Marinha da Costa renovou a António
Álvares e mulher Senhorinha Jorge o emprazamento de umas casas com sua
horta e serrado, que lhes haviam sido dotadas pelos pais dela, Jorge Anes de Sá e
Inês Álvares .

Filhos (segundo cremos):


1(III)- Senhorinha Jorge de Sá, falecida a 7/5/1634 em Santa Eulália de
Barrosas, casada com Gonçalo João, “o cigano”, que veio a falecer a
3/5/1631 na mesma freguesia.

Filhos:
1(IV)- Domingos João de Sá, casado em Santa Eulália de Barrosas a
26/2/1628 com Maria Fernandes, filha de Francisco Carneiro e de
sua mulher Maria Fernandes. C.g.

89
2(IV)- Sabina de Sá, falecida solteira a 7/7/1670, teve renovação do
prazo a 27/4/1640, com a irmã Catarina de Sá.

Teve bastardos:
1(V)- Domingos de Sá, baptizado em Barrosas a 20/1/1639,
sendo padrinhos Baltazar Gonçalves de Sá e Isabel Vaz, de
Portelas.
2(V)- António de Sá, gémeo do anterior, baptizado na
mesma data, tendo por padrinhos Gaspar Vaz, da Ribeira e
Maria, solteira, das Bouças.

3(IV)- Catarina de Sá, falecida solteira em Barrosas a 8/4/1669,


nomeada em 2ª vida no prazo de 1640.

2(III)- Isabel Álvares de Sá, viveu no casal de Sá (do meio) onde veio a
falecer a 31/1/1628.
Casou com Gonçalo Gonçalves, senhor do casal de Sá (do meio)
onde faleceu a 26/5/1640, com um codicilo em que nomeava herdeira a filha
Margarida de Sá, filho de Salvador Gonçalves, senhor do casal de Sá (do
meio), onde faleceu a 30/1/1625 no estado de viúvo, e de sua mulher
Catarina Martins (ou Gonçalves); neto paterno de Gonçalo Anes e de sua
mulher Cecília Pires, senhores do casal de Sá (do meio) (por dote feito pelos
pais dela, Cristóvão Pires e sua mulher Maria Rodrigues, senhores deste
casal, com prazo feito em 1/2/1530).
O casal de Sá (do meio) havia sido emprazado a 4/2/1568 a Salvador
Gonçalves, lavrador, e a sua mulher Catarina Gonçalves que disseram “que
trazião ho dito casall da mão delles prioll e padres e do dito seu mosteiro
sem delle terem prazo nem titollo por ho dito casall estar vaguo ao dito
mosteiro”.

Filhos:
1(IV)- Eulália Gonçalves de Sá, falecida a 8/9/1663 em Barrosas, com
testamento, ficando por testamenteiro seu filho Domingos Coelho,
morador em S. Pedro de Roriz.
Sucedeu no casal de Sá (do meio), cuja renovação do prazo foi
feita a ela e seu marido em Outubro de 1635. Em 29/11/1652 foi-lhe
renovado o prazo do casal de Sá (do cabo), por falecimento do marido,
última vida no prazo anterior.
Casou a 6/8/1623 em Barrosas com Baltazar Gonçalves de Sá,
senhor do casal de Sá (do cabo), filho de Miguel Gonçalves e de sua 2ª
mulher Beatriz Afonso, que seguem abaixo no nº V, onde continua a sua
descendência.
2(IV)- António Gonçalves de Sá, casado a 13/2/1624 em Barrosas com
Maria Gonçalves, filha de Frutuoso Gonçalves e de sua mulher Catarina
Fernandes, da mesma freguesia. C.g.
3(IV)- Maria de Sá, casada a 9/5/1636 em Barrosas com Agostinho
Ribeiro, filho de Gonçalo Vaz, senhor do casal da Porteladinha, em S.
João das Caldas de Vizela, e de sua mulher Maria Ribeiro. C. g.
4(IV)- Margarida de Sá, solteira, herdeira do pai.

90
5(IV)- Revº Frutuoso de Sá, morador no lugar do Telhado, onde faleceu
a 22/12/1695 com testamento.
6(IV)- Isabel de Sá, solteira, falecida a 2/8/1661 em Barrosas.

3(III)- Catarina de Sá, falecida solteira em Barrosas a 7/5/1648.

II- Gervásio Jorge de Sá, sucedeu no casal de Sá (do cabo), onde veio a falecer antes
de 1580.
Casou com Isabel Antónia.

Teve pelo menos:


1(III)- Maria Jorge de Sá, segue
2(III)- Gonçalo Jorge, talvez casado com Ana Pires filha de Afonso Pires,
senhor do casal das quintas reguengo da freguesia de Santa Maria de Infias.
3(III)- Domingos Jorge, casou com Maria Gonçalves, filha de Gonçalo
Francisco e de sua mulher Inês Pires, senhores do casal de Paradela, da freguesia
de São Miguel de Vilarinho, que aqueles levaram em dote.138

138
Secção Notarial de Guimarães, elementos colhidos e fornecidos amavelmente pelo investigador
Doutor Rui Faria: Fl. 53 v a 56 Aos 13 de Novembro de 1603 Dote de casamento que dá Helena Pires do
casal de Paradela de Vilarinho a sua filha Maria Gonçalves com Domingos Jorge Em nome de Deos
Amem saibham quantos este estromento de contrato de dote de casamento he hobriguação vi/rem que no
anno do nacimento de nosso senhor IHU Xpo de / mil e seiscentos e três annos aos treze dias do mês de
novembro do dito anno na villa de Guimarães / na Rua de São Paio della nas pousadas de mim t.am p.co
pareceo ahi de presente Helena Pires viúva molher / que ficou de Gonçalo Francisco do casal da
Poradela freguesia / de São Miguel de Vilarinho dfo termo desta villa / loguo por ella foi dito presente
mim t.am e as test.as / ao deante nomeadas que ela com a ajuda de Deus Nosso Se/nhor que tinha
assentado de casar sua filha Maria Gonçalves com / Domingos Jorge filho que ficou de Gervaz Jorge / e
de sua mulher Isabel Antónia já defuntos moradores que foram no casal de Saa do Cabo freguesia de
Santa // (fl. 54) Eulália de Barrosas outrossi do termo desta / villa que presente estava e qye cazando ele
com ha / dita sua filha e recebendo-a por palavras de presente / segundo forma do sagrado concílio
tridentino lhes prometia de dar em dote / he cazamento ho seguinte §§ disse ela dotadora / que ela tinha
e pessuia o dito casal da Paradela que he de / prazo cujo senhorio dele he de Manuel Rebello / de
Tourilhe em que ela he a derradeira vida e que ela / dava como deu em dote e cazamento à dita sua /
filha e genro o dito casal de paradella assi he / de maneira que ela até agora o trouxe e possuía / e
melhor he eles espozados o melhor poderem aver / e achar do qual casal se pagua ao dito senho/rio de
foro e renda e penção trezentos e vinte reais em / dinheiro de contado, e assi se paga dele mais de / senso
cada ano sento e vinte reais e uma galinha / a Catarina Aranha moradora em Felgueiras e que ela
/trespassava o direito da sua derradeira vida ne/la espozada e la nomeava naquela vida em que / de
direito a pode nomear e a faz sua procuradora / bastante e assi ao dito seu marido pera que eles po/ssão
emprazar novamente com ho direito senhorio he / fazer novo prazo por o que ela renunciava como /
renunciou o direito da sua derradeira vida nas / mãos do dito senhorio pera efeito de fazer o dito pra/zo
a eles espozados com sua justa vedoria, e que / como dito he lhes dava o dito casal hem hem dote he
caza/mento contanto que apraz ao dito senhorio a quem / pede por mercê de seu consentimento e
autoridade / por ser pera cazamento e ser cousa pia reservando / ela dotadora para si em sua vida a
metade dos usos / e fruitos do dito casal de tudo o que o dito casal der he / eles espozados e dotadora
queimaraõ igualmente // (fl. 54 v) a lenha do dito casal e vendendo-se algua ou algua / madeira todos
partirão de permeio e os gastos he / rendas se tiraõ de todo o monte do mais partirão na / heira e na
biqueira §§ e e por seu falecimento o dito casal /ficará desembargado a eles esposados / he eles
espozados e raparaõ podarão o dito casal / sem ela dotadora ser obrigada a cousa / algua e ela dita
dotadora ajudará com suas filhas / a grangear o dito casal tendo as ditas filhas / e não as tendo ajudará
com a sua pessoa ho que puder / e isto se entenderá nas cousas acima declaradas / que no mais se tirará
de todo o monte como atrás di/to he reservando ela dotadora pera sua filha Catarina ha casa que está
nas leiras velhas e um castanheiro que está na Bouça da banda de fora e assim mais cinco alqueires de
pão terçado e chão para uma horta e semearão uma rasa de linhaça onde semearem a sua a qual linhaça
se semará na ponta do campo e isto em vida de Catarina pois por seu falecimento ficará livre e
desembargado e isto se entenderá depois do falecimento dela dotadora e sendo caso que a dita moça se

91
III- Maria Jorge de Sá, sucessora no casal de Sá (do cabo) de que lhe foi feito prazo a
28//11/1580.
Casou cerca de 1570 com Miguel Gonçalves, lavrador honrado e dos principais,
foi senhor dos casais de Sá (de cima e do cabo), onde veio a falecer a 18/4/1641. S. g.139

case então eles esposados lhe darão seis mil reis em dinheiro de contado e ela moça alargará tudo acima
declarado e lhe dota mais # duas cobertas de burel dois lençóis e um cabeçal e a metade de toda a
apiairia do casal e mais serventias do dito casal e por o esposado estar presente foi dito que pela dita
sua sogra lhe dotar o casal lhe aprazia de lhe dar vinte e cinco mil reis […]
139
Reproduzo aqui os importantes elementos recolhidos nos notariais de Guimarães, pelo prezado
Amigo, distinto investigador e historiador, Doutor Rui Jerónimo Lopes Mendes deFaria, que gentilmente
nos cedeu e a quem muito agradecemos.

Sá de Barrosas nos Notariais de Guimarães:


Fl. 115 a v
Ano de 1567 a 18 de Julho
Procuração bastante
No castelo desta vila casas onde estão as presas estado aí Francisco Pires morador que disse ser em Vila
Franca […] test.. João Vaz de Sá freguesia de Barrosas
Fl. 182 a 184
Ano de 1567 a 20 de Outubro
Na casa onde estão os presos estando aí preso Gervaz Gonçalves de Sá lavrador e assim estando aí solta
Margarida Pires sua mulher lavradores e moradores no Casal de Sá e assim estando aí presente Frutuoso
Gonçalves lavrador morador no casal da senra da freguesia de Santa Eulália de barrosas e logo por ele
Gervaz Gonçalves preso foi dito foi dito que era verdade que ele saíra condenado em um certo crime de
ser Livramento da relação […] Test.. Pedro Martins e Manuel Pires lavradores e moradores e moradores
na freguesia de Santiago de Castelões e Gonçalo Mendes lavrador e morador no Assento da Igreja de
santa Eulália de Pentieiros
Fl. 11 v a 12 v.
Ano de 1592 a 30 de Abril
Dote que deram António Gil e sua mulher Catarina Francisca do casal de Telhado de Barrosas a sua filha
Senhorinha Antónia com Gaspar Pires Mancebo solteiro Testemunhas: Miguel Gonçalves da Aldeia de Sá
de Barrosas e Belchior Gonçalves de Santa Maria de Revinhade do Casal do Sisto e Gonçalo Francisco do
casal da Gandara da freguesia de São Tiago de Lustosa
Fl. 119 a 121
1598 a 27 de Janeiro
Dote que deram Gonçalo Gil e sua mulher Maria Gonçalves a sua filha Maria Gonçalves com Domingos
António filho de António Gil e de sua mulher Catarina Francisca
Na venda de Sá sita na freguesia de Santa Eulália de Barrosas onde moram Gonçalo Gil e sua mulher
Maria Gonçalves e sua filha Maria Gonçalves estando eles aí e bem assim estando aí António Gil e sua
mulher Catarina Francisca e seu filho Domingos António lavradores e moradores no casal do Telhado e
logo por eles Gonçalo Gil e mulher foi dito que estavam contratados de casar sua filha com o mancebo e
casando lhe dotavam (…).
1598 a 27 de Janeiro
Distrato entre Francisco Gonçalves e Paula Monteiro a Isabel Pacheca
Na Eira da Venda de Sá na freguesia de Santa Eulália de Barrosa estando aí Francisco Gonçalves e sua
mulher Paula Monteiro lavradores e moradores no casal do Carvalho da freguesia de Santo Estêvão de
Barrosas e bem assim estando aí Isabel Pacheca viúva de Gonçalo Gonçalves moradora no casal da Pia
freguesia de Santa Eulália de Barrosas […]
Fl. 91
Ano de 1601 a 9 de Fevereiro
Concerto entre Gonçalo Gonçalves e Miguel Gonçalves do casal de Sá em Barrosas
Nas pousadas do tabelião apareceram Salvador Gonçalves casado com Catarina Martins e seu filho
Gonçalo Gonçalves casado com Isabel Álvares e Miguel Gonçalves casado com Maria Jorge […]
Fl. 113 v a 114
Ano de 1601 a 1 de Abril
Procuração de Gonçalo Gil da Venda de Sá de Santa Eulália de Barrosas a Gaspar Gonçalves Nogueira e
a Pedro Mendes e a Lucas Manuel e a Diogo Vaz Mendes estantes na cidade de Sevilha para que possam

92
Casou Miguel Gonçalves em 2ªs núpcias, cerca de 1590 com Beatriz Afonso,
falecida em Barrosas a 22/3/1647, com testamento comum com o marido, da qual se
desconhece documentalmente a filiação.
Seria ela filha de Afonso de Sá, cavaleiro professo na Ordem de Cristo, morador
em Guimarães (existiu um “Afonso de Sáa, Meirinho das terras de D. Duarte de

cobrar e receber todas as dívidas que lhe são devidas na cidade de Sevilha e em outras quaisquer e que
possam arrecadar de Manuel Rodrigues mercador trinta mil reis que lhe deve por um conhecimento […]
Fl. 50 v a 51
Ano de 1603 a 7 de Maio, tabelião Cristóvão de Azeredo do Vale.
Dote que dá Miguel Gonçalves de Sá a António Álvares: “Em nome de Deus amem Saibaõ quantos este
instrumento de dote e casamento virem que no anno do nascimen/to de nosso s.or IHU X.o de mil
seiscentos e três anos / aos sete dias do mês de Maio do dito ano em o casal do Ei/do sito na freig.a de
St.a Eulália de Barrosas termo / da Villa de G.es estando ahi Miguel Gonçalves e sua mulher Beatriz
Afonso mo.res no casal de Saa da mesma freg.a disse/raõ que eles com ajuda de Deos estavam
contrata/dos de casarem Catarina Gonçalves irmaa delle Miguel Gonçalves com / António Álvares m.or
em Mandamentos da dita freg.a e que ca/sando elle com ella e recebendo-a em face da igre.a como /
Deos manda lhe prometem em dote huas casas terreiras / de quorenta palmos de cumprido e desoito de
larguo / em que os esposados bem possaõ viver na dita freig.a de Barr/osas e chão pera hua horta e
terreiro pera fazer hua/ corte e hum enxido em que esteja seu despejo de lenha / ao qual dote obrigavam
suas p.as e bens móveis e de raiz avidos e por aver e enquanto não lhe derem as ditas / casas lhes daraõ
casas em que vivaõ sem aluguel / e falecendo a esposada sem filho nem filha tornará tudo a / ficar a elle
Miguel Gonçalves ou seus herdeiros com todas as / benfeitorias que esteverem feitas em fé do que
man/daraõ fazer o presente estromento e outorguaraõ e / os esposados por estarem presentes aceitaraõ e
desta nota pediraõ hum e m.tos estrom.tos e os mandaraõ / dar estando a todo presentes por testemunhas
Manuel Ribeiro / do Eido que assinaraõ por ellas a seu rogo e M.el Pedrosa / e FR.co Tomé da ventozela
que todos assinaraõ aqui – De azeredo o escrevi Miguel + Gonçalves – António + Álvares – Francisco +
Tomé – Manuel Ribeiro – Manuel Pedrosa”.
Fl. 94 a 95
Ano 1587 a 4 de Fevereiro
Quitação de Maria Gonçalves de Barrosas a Gonçalo Gonçalves
Na Rua de São Paio nas pousadas do tabelião apareceu Maria Gonçalves filha que ficou de Domingos
Gonçalves defunto moradora na freguesia de Santa Eulália de Barrosas e por ela foi dito que dela houvera
sua honra e virgindade Gonçalo Gonçalves morador no casal de Sá de Santa Eulália de Barrosas e dele
houve uma menina por nome de Isabel que é de idade de três anos pouco mais ou menos e porquanto ela
estava satisfeita e paga de sua honra o dava por quite.
Notarial n.º 16 – Salvador de Faria
Fl. 182 a 184 Ano de 1567 a 20 de Outubro
Saibam quantos este publico instrumento de procuração virem como no ano do nascimento de nosso
s.or ISU XPO de mil quinhentos e sessenta e sete /anos aos vinte dias do mês / d’outrubro em esta vila de
G.es / na casa honde estam os presos estando / hahi presente em ferros Jaravaz Gonçalves de Saa /
lavrador e assi estando hi solta Margarida / Pires sua mulher lavradores moradores / no casal de Saa e
assim estando ahi / preso presente Frutuoso Gonçalves lavrador morador no / eido do casal da Senra da
dita freg.a de Santa/ Hovaia de Barrosas do termo da dita / villa logo por elle Jaravaz / Gonçalves preso
foi dito em presença de mim publico / t.am e das testemunhas ao diante espritas que / hera verdade que
elle saira conde/nado em hum feito crime de ser li/vramento da relação por ell rey /nosso s.or porque fora
acusado por ba/rregueiro casado em dous anos de degredo pera afriqa com […] (purgançaa) / segundo se
mais largamente contem / na sentença de seu livramento e para ha / dita sua mulher saber que elle não /
tinha qullpa na dita barreguia / disse queria perdoar e a Ana Luís moradora // em o arrabalde desta villa
mulher / solteira não presente e llogo por ella / dita Margarida Pires sua mulher foi dito / que ella de seu
próprio modo e livre / vontade perdoava como logo / de feito perdoou a elle Jeravaz / Gonçalves de Saa
seu marido e a dita Ana Luís toda sua inteira justiça / livremente e deles não queria / nada e perdoava a
dita / barreguesa e deles não queria nada / e pedia por mercê a el rei nosso s.or / e a seus desembargadores
e hospedosa (?) / sua justiça livramento porque delles / não queria nada nem os queria aqu/sar nem
demandar por nada / e assim o quis e outorgou […] E logo por elle Frui/toso Gonçalves da senra foi dito
que ele / aprazia como disse logo defeito / aprazou que no tempo em que / el rei Nosso senhior e suas
justiças ho manda/ram ir viver a áfriqa os ditos / dous anos de degredo que ele pera isso o fiava fiqa
apresentar // livre ho fiava como logo de / feito ho fiou a ele Jaravaz preso […] manda livrar sobre pena
de pagar de pena / e em nome dela aos oficiais / de sua alteza vinte mil reis com todas as […].

93
Menezes” a quem se refere certo diploma da Chancelaria de D. João III, mas nada
deverá ter a ver com o aqui tratado), casado em Guimarães com Luísa Peixoto, filha
bastarda do Dr. Gonçalo Vaz Peixoto (desembargador na Índia e na Casa da Suplicação,
cavaleiro-fidalgo da Casa d’el-rei, morgado de Pousada, em S. Pedro de Azurém,
Guimarães), e de Joana da Costa, de Pencelo (os senhores de Pousada possuíam, de
facto, bens nesta freguesia), ainda que somente Felgueiras Gaio refira a existência
destes membros da linhagem dos Sás?
Outra hipótese a considerar, eventualmente mais verosímil, será a de Beatriz
Afonso ser filha, isso sim, de um dos casamentos de Bastião Afonso, senhor do casal do
Cabo, em Santa Eulália de Barrosas (ele casou em 1ªs núpcias com Inês Gonçalves e em
2ªs núpcias com Isabel de Faria).140
“Saibam quantos este instrumento de trensação e ami/gável composição deste
dia pera todo o sempre virem / que no anno do nascimento de Nosso S.or Jesu X.o de
mil / e seiscentos e um anos aos nove dias do mês de / fevereiro do dito ano em há villa
de Gu.es nas pou/sadas de mim t.am ao diante nomeado estando ahi / Salvador
Gonçalves e sua mulher Catarina Martins e seu filho Gonçalo Gonçalves e sua mulher
Isabel Álvares e bem assim Miguel Gonçalves e sua mulher Maria Jorge todos
lavradores e moradores na aldeia de Saa da freg.a de Santa Olaia de Barro/sas deste
termo e logo por eles em minha presença e / das T.as ao diante nomeadas foi dito que
porquanto / eles entre si trouxeraõ demanda sobre o caminho do lameiro / da Ribeira
pelas regadas a quoal causa se sem/tenceara em favor de Miguel Gonçalves, e eles
sahirão / condenados nas custas segundo se poderá ver pelos / autos e que hora eles
por escusarem demandas e gas/tos, ódios e manquerenças eles por via e modo de /
transação e amigável composição se conser/tavaõ e contratavam da maneira seguinte:
que eles Salvador Gonçalves e Gonçalo Gonçalves e suas mulheres querem es/tar pella
sentença e pagar a s custas dos autos e que / a sentença se cumpra assi e da maneira
como se nella com/tém se obrigavaõ de nunca irem contra ella em / parte nem em todo,
sob pena de pagarem de pena / e em nome de pena sincoenta tt.os para a parte tente e /
nam tente os quais levados ou não desta valha / e se cumpra como se nela contém, e o
dito Miguel / Gonçalves e sua mulher disseraõ que eraõ contentes e / lhes aprazia de
darem em serventia aos ditos Sal/vador Gonçalves e Gonçalo Gonçalves do lameiro da
ribeira prlo rio abai/xo que vem ter ao rexio delles Salvador Gonçalves e / Gonçalo
Gonçaklves, e voraõ pelo dito rexio sair ao pe da / uveira branca e dahi iraõ ter ao pe
do castanheiro / onde está o pertello antíguo na reguada delle / Miguel Gonçalves pela
qual serventia se serviraõ com / bois em carro tomado, e tirarão suas novidades por
el/le com tal condição que o dito portello que abrirem / no mesmo dia o tornaraõ a
tapar logo da maneira que / pelos ditos portelos elle Miguel Gonçalves não receba /
perda alguma, porque além de lhe pagar a perda / ou dano em dobro,m lhe pagará
cinco tostões por cada vez nos quais são contentes que sejaõ / condenados pelo juiz que
for nesta villa com o dito / de hua testemunha de como as viu abertos para o que des
agora / se dão por citados para a ver jurar, e para a serventia / acima dita o dito

140
Prazo do casal do Cabo, em Santa Eulália de Barrosas, feito em 08/02/1600 a Gonçalo Ribeiro, filho
de Bastião Afonso e de sua 1ª mulher Inês Gonçalves (casou depois com Isabel de Faria). Diz-se que ao
tempo que seu pai Bastião Afonso casou com sua 1ª mulher Inês Gonçalves ela dita sua mãe casara com
seu dote no dito casal. E porque do qual se fez prazo em outros herdeiros e as vidas desse prazo se haviam
acabado em Pero Vaz de Faria, ele como herdeiro legítimo de seu pai Bastião Afonso requeria a
renovação do prazo. Este Pero Vaz de Faria aparece num outro prazo do século XVI como escudeiro-
fidalgo.
Em 1601 (agora não tenho aqui a data exacta) aparece um novo prazo do casal do Cabo a André Vaz,
filho de Pero Vaz de Faria e Maria Fernandes, sua mulher. (AMAP, Tombo do Convento de Santa
Marinha da Costa, Lº 13, B-174-36, fls 107).

94
Gonçalo Gonçalves será obrigado a fazer / hum socalco de pedra na entrada do campo
delle / Miguel Gonçalves, no mesmo rexio, e será de maneira que fique / em igual passo
como o campo dele Miguel gon/çalves que não o será necessário cavar no dito campo /
nem fazer damno aos pés das uveiuras e se servirão de / maneira que não façam damno
huns aos outros e por / esta maneira se ouveraõ por contratados e concer/tados e pera
todo terem e cumprirem obrigua/vam seus bens móveis e de raiz havidos e por haver /
em testemunho do qual mandaraõ fazer o presente estro/mento e assim o outorgaraõ e
aceiptaraõ cada hum o que / por ele fazia estando a todo presentes por testemunhas /
Gonçalo Peixoto morador nesta villa que assinou por ellas a / seu rogo e Cristóvão de
Azevedo do Valle morador nesta Villa e Gervaz Pires morador em Pouzada da mesma
freg.a que / todos assinaraõ aqui – X.o Azevedo t.am o escrevi”.141

Filhos do 2º casamento:
1(V)- Gervásio Gonçalves de Sá, sucessor no casal de Sá (de cima), faleceu a
15/7/1657 em Barrosas, com testamento.
Casou a 6/2/1612 em Regilde com Maria Duarte, falecida a 14/1/1650
em Barrosas, com testamento, deixando por herdeira sua irmã Margarida
Duarte, mulher de Bartolomeu Francisco, de Água Levada, e era filha de
Amador Duarte.

Filhos:
1(VI)- Margarida Duarte, baptizada a 8/12/1619 em Barrosas, tendo por
padrinhos Baltazar Leitão, do Cabreiro, e Maria Álvares, mulher de
Gonçalo Pires. S.g.
2(VI)- Maria Duarte, baptizada a 10/4/1628 em Barrosas. S.g.

2(V)- Baltazar Gonçalves de Sá, segue


3(V)- Maria Gonçalves de Sá, casada a 6/8/1623 em Barrosas com Manuel Vaz
Ribeiro, filho de Álvaro Vaz e de sua mulher Isabel Ribeiro, senhores do casal
da Senra, na mesma freguesia. C.g.
4(V)- Gonçalo Gonçalves de Sá, falecido a 9/5/1685 em S. Miguel de Lousada,
com testamento, “enterrou-se numa sepultura grande que está ao comprido da
pia da agua benta da parte da Epístola”.
Casou, em 1ªs núpcias, a 10/11/1629 em S. Miguel de Lousada com Ana
Antónia, falecida na mesma freguesia a 21/3/1638, filha de Amador António e
de sua mulher Maria Francisca. S. g.
Casou, em 2ªs núpcias, a 22/6/1638 na mesma freguesia com Maria Vaz,
herdeira do casal do Souto, falecida a 22/7/1666 abintestada, filha de João Vaz,
senhor do mesmo casal, e de sua mulher Ana Antunes.

Filhos do 2º matrimónio:
1(VI)- António, baptizado em S. Miguel de Lousada a 10/4/1639. S.m.n.
2(VI)- João, baptizado a 11/1/1643, idem. S.m.n.
3(VI)- Maria, baptizada a 14/2/1644, idem. S.m.n.
4(VI)- Ana, baptizada a 27/5/1646, idem (foi madrinha Eulália Gonçalves
de Sá). S.m.n.
5(VI)- Maria, baptizada a 14/4/1650, idem. S.m.n.
141
Mais uma informação e resumo da escritura facultado amavelmente pelo ilustre investigador Doutor
Rui Faria.

95
Filha bastarda de Miguel Gonçalves de Sá:
5(V)- Catarina Gonçalves, casada a 22/2/1631 em Barrosas com Francisco
Fernandes, filho de Afonso Fernandes e de sua mulher Maria Gonçalves,
senhores do casal do Souto, em Santo Adrião de Vizela.

V- Baltazar Gonçalves de Sá, nasceu cerca de 1600 em Barrosas e veio a falecer a


21/6/1650 sem sacramentos “por o matarem em hua briga em Villarinho”.
Foi senhor do casal de Sá (do meio), cuja renovação de prazo foi feita em
Outubro de 1635 e do casal de Sá (do cabo), renovado á viúva em 29/11/1652.
Casou a 6/8/1623 em Barrosas com Eulália Gonçalves de Sá, filha de Gonçalo
Gonçalves, senhor do casal de Sá (do meio), e de sua mulher Isabel Álvares de Sá; neta
paterna de Salvador Gonçalves e de sua mulher Catarina Martins, do casal de Sá; neta
materna de António Álvares, almocreve, e de sua mulher Senhorinha Jorge de Sá, do
casal de Sá (o casamento destes foi precedido de escritura dotal, lavrada a 25/10/1559
nas notas de Gonçalo de Freitas, tabelião de Felgueiras; e em 23/7/1576 o Mosteiro de
Santa Marinha da Costa renovou a António Álvares e mulher Senhorinha Jorge o
emprazamento de umas casas com sua horta e serrado, que lhes haviam sido dotadas
pelos pais dela, Jorge Anes de Sá e Inês Álvares) .

Filhos:
1(VI)- Domingos, baptizado a 27/5/1624 em Barrosas.
2(VI)- Miguel, baptizado a 7/12/1625, idem.
3(VI)- Baltazar Gonçalves de Sá, segue
4(VI)- Marta Gonçalves de Sá, baptizada a 4/9/1633 e casada a 25/5/1656,
ibidem, com Domingos Álvares Borges, baptizado a 17/8/1631, idem, filho de
João Álvares, senhor do casal de Vila Pouca, e de sua mulher Vitória Borges.
C.g.
5(VI)- Domingos Coelho, baptizado a 11/3/1635, idem, e falecido a 5/5/1685
em S. Pedro de Roriz.
Casou a 8/5/1661 em Roriz com Maria Martins, filha de Roque Dias e de
sua mulher Catarina Martins. C.g.
6(VI)- Margarida, baptizada a 21/12/1636, idem.
7(VI)- Gonçalo, baptizado a 7/4/1638, idem.
8(VI)- Domingas, baptizada a 11/1/1643, idem.

Filhos bastardos de Baltazar Gonçalves de Sá:


9(VI)- Ângela de Sá (ou Gonçalves), filha de Maria Luís, mulher solteira de
Barrosas, casou nesta freguesia a 2/5/1669 com Paulo Carneiro, filho de Pero
Gonçalves, senhor do casal de Alfeixim, em Santo Adrião de Vizela, e de sua
mulher Maria Carneiro. C.g.
10(VI)- Cecília Gonçalves, madrinha de baptismo do irmão Miguel em 1625.

E talvez ainda:
11(VI)- Maria de Sá, solteira, que teve bastardos:

1(VII)- Baltazar, baptizado a 22/2/1640, idem, sendo padrinho Baltazar


Gonçalves de Sá.
2(VII)- Ângela, baptizada a 10/11/1651, idem.

96
VI- Baltazar Gonçalves de Sá, nasceu a 12/9/1630 em Barrosas, onde foi baptizado no
dia 15, e faleceu a 5/10/1659 em Tagilde, sendo enterrado em Barrosas.
Foi senhor do casal de Sá (do meio), como 3ª vida no prazo de Outubro de 1635,
e do casal de Sá (do cabo), como 2ª vida do prazo feito à mãe a 29/11/1652.
Em 3/12/1662 foi renovado na viúva Maria do Couto Borges (então casada com
Domingos da Costa) o casal de Sá (de cima), por falecimento de Gervás Gonçalves, e a
ela “lhe pertenser a renovasão do dito prazo a ella em primeira vida e a segunda vida
em hum filho ou filha demtre ella e do dito seu primeiro marido Baltezar Gomçalves já
defumto”.
Casou a 8/3/1656 em Meinedo com Maria Borges do Couto, falecida em
Barrosas a 8/9/1714 e sepultada na igreja “numa sepultura que estava no meio partida”,
sem testamento, mas tinha reservado, (irmã germana do capitão André Borges do
Couto, familiar do Santo Ofício, fidalgo de cota de armas e senhor da casa de Ronfe, em
Meinedo), filha do capitão André Borges (Barreto), escrivão do público, judicial e
notas na honra de Meinedo, capitão de ordenanças, senhor da casa de Ronfe, e de sua
mulher Maria do Couto; neta paterna do capitão André Borges Barreto, familiar do
Santo Ofício, escrivão do público, judicial e notas na honra de Meinedo, capitão de
ordenanças, senhor da quinta de Ronfe, e de sua mulher Margarida Vaz; neta materna de
Pero Simão e de sua mulher Paula do Couto.
Maria Borges do Couto casou em 2ªs núpcias a 2/5/1661 em Barrosas com
Domingos da Costa, o qual faleceu a 3/6/1664, e era filho de Gaspar da Costa, do
Quinteiro, e de sua mulher Catarina Francisca. S.g.
A 29/12/1665 Maria Borges do Couto casou em 3ªs núpcias, na mesma
freguesia, com Lourenço Ribeiro Homem, filho de Fernão Teles da Silva, senhor da
casa de Valmelhorado, em Santa Maria de Pombeiro, e de sua mulher Leonor Ribeiro da
Silva (ou de Sousa). C.g. (Vaz Guedes de Sousa Bacelar).

Filhos:
1(VI)- Manuel Borges do Couto, segue
2(VI)- Maria Borges do Couto, nasceu a 29/12/1659 em Barrosas e faleceu a
10/1/1684 em S. Vicente de Sousa.
Casou a 15/5/1684 em Barrosas com António Dias de São Paio, familiar
do Santo Ofício (carta de 7/4/1695), senhor da quinta da Lamosa, em S. Vicente
de Sousa, filho de António Dias, senhor da mesma quinta, e de sua mulher Maria
de São Paio; neto paterno de Matias António, senhor da mesma quinta, e de sua
mulher Isabel Gonçalves, da quinta da Lama, em S. Cibrão, no termo de
Guimarães; neto materno de António Martins Ribeiro, de S. Pedro de Torrados,
e de sua mulher Isabel de São Paio, de S. Jorge da Várzea.

Filho:
VII- António, baptizado a 12/12/1685 em S. Vicente de Sousa e falecido
menino.

Filhos bastardos de Baltazar Gonçalves de Sá:


3(VI)- Ana Gonçalves, filha de Francisca, solteira, moradora em Bouçó, casada a
15/9/1678 em Barrosas com Manuel Vaz, filho de António Vaz e de sua mulher
Maria Fernandes. C.g.
4(VI)- Francisca de Sá, irmã germana da anterior, solteira à data do casamento da
irmã.

97
VI- Manuel Borges do Couto, foi baptizado a 19/5/1658 em Barrosas.
Foi fidalgo de cota de armas, com cartas de brasão de armas passadas a 4/4/1696
(para Borges e Coutos) e 18/1/1733 (para Sás, Gonçalves, Borges e Coutos),
respectivamente, encontrando-se ainda habilitado para os apelidos Gomes e Barreto.

Foi senhor da quinta de Sá: do casal de Sá (de cima) e do casal de Sá (do meio)
em 3ª vida; do casal de Sá (do cabo) que lhe foi emprazado em 10/11/1695; e no prazo
feito em 1640 a Sabina de Sá e Catarina de Sá, em 3ª vida.
Em 9/1/1715 foi-lhe encabeçado o prazo de Silvares, em Santo Adrião de
Vizela, por Domingos Duarte da Fonseca, meirinho dos cónegos de Nossa Senhora da
Oliveira, da vila de Guimarães, como procurador de D. Lourenço de Almada e de sua
mulher D. Catarina Henriques, administradores do morgado do Paço Velho, da ribeira
de Vizela.
Casou entre 1680 e 1683, na freguesia de Santo Adrião de Vizela, com sua
parente Adriana Borges da Rocha, baptizada a 29/1/1661 em Santo Adrião de Vizela e
falecida a 1/6/1721 em Barrosas, sem testamento porque tinha dotado, filha do capitão
Mateus Borges da Silva, capitão de infantaria de um terço de auxiliares, senhor da
quinta de Tegem, que lhe foi dotada pelos pais, e da quinta do Casal (com capela de
Santa Cruz que vinculou em 1/12/1661), ambas em Santo Adrião de Vizela, e de sua
mulher Bárbara da Rocha; neta paterna de Simeão Ribeiro da Silva, senhor do casal de
Silvares, e de sua mulher Filipa Borges Barreto, herdeira da quinta de Tegem; neta
materna do Revº Jerónimo Lopes (da Rocha), abade de Santo Adrião de Vizela.
Em 23/6/1680, na quinta de Tegem, onde se deslocou o tabelião Nicolau de
Abreu, da vila de Guimarães, Simeão Ribeiro da Silva e sua mulher Filipa Borges
Barreto doaram a sua neta “Adriana Borges da Silva” umas casas de sobrado, com
todas as suas pertenças, sitas na cidade de Lisboa, a “Nossa Senhora do Tejo”, assim
como os seus terços, com a obrigação de lhes fazer os bens de alma conforme o uso e
costume da freguesia de Santo Adrião de Vizela “a coal doação asi lhe fazião com
condição que ella caze a seu prazer e contento delles doadores e da mai della doada e
coando asi não não seja hão antão a dita doação por nulla e a fazem á dita sua mai” .
No caso de Adriana Borges da Silva não ter filhos de legítimo matrimónio, as
casas doadas, bem como o resto do dote, tornariam aos da sua geração.

98
Filhos:
1(VII)- Ana Maria Borges do Couto e Sá, baptizada a 29/10/1683 e falecida a
28/6/1708 em Barrosas, solteira.
2(VII)- Maria Ana Borges do Couto e Sá, baptizada a 19/5/1687 e falecida a
19/3/1713, idem, solteira, “indo na Via Sacra com a freguezia, na 3ª Estação,
dum acidente de apoplexia, sendo sepultada na debaixo do taburno de Nossa
Senhora da Purificação. Era de grande procedimento e virtudes”.
3(VII)- Revº Manuel Borges de Sá (também chamado Manuel Borges do Couto
e Manuel Borges Barreto), nasceu a 22/1/1690, idem, e faleceu a 11/7/1763 em
Santa Eulália de Trute, no termo de Monção, com testamento, sendo sepultado
na capela-mor da igreja desta freguesia.
Fez habilitação de genere em Braga em 27/8/1711.
Foi vigário de Barrosas e abade de Trute.
Em 29/11/1721 reconheceu ao Convento da Costa o prazo de vidas feito
em 27/4/1640 a Sabina de Sá e Catarina de Sá, constando ainda que os padres
conventuais haviam consentido que ele constituísse o seu património sobre os
bens do prazo em 4/11/1713.
Na visitação realizada em 1725 à freguesia de Barrosas verificou o
visitador que este pároco não exarava quem pusera os Santos Óleos, conforme
lhe havia sido advertido na visitação anterior. E embora merecesse comitação do
facto, relevou-lhe a falta com a recomendação de não consentir a clero algum a
feitura dos assentos, pois os deveria fazer por sua mão ou de cura (se o tivesse)
na forma da Constituição.
4(VII)- D. Teresa Maria Borges do Couto e Sá, segue
5(VII)- Revº José Borges Barreto, baptizado a 1/11/1697 e faleceu a 9/9/1751
“de hum esturpor que durou quatro horas, que lhe tomou o falar e os sentidos”
em Barrosas, de cuja freguesia foi pároco.
Fez habilitação de genere em Braga a 6/4/1728.
6(VII)- Francisco Borges da Rocha (ou de Sá), falecido a 11/9/1726 em
Barrosas, abintestado e no estado de solteiro.
Deve ser este que nasceu em 1701, já que o assento de baptismo não está
completo por falta da folha 79 do livro respectivo de Barrosas.

VII- D. Teresa Maria Borges do Couto e Sá, nasceu a 1/1/1694 em Barrosas, sendo
baptizada no dia 16, e veio a falecer a 3/12/1760 em Trute, onde assistia à data em casa
do irmão, o abade Revº Manuel Borges de Sá, sendo sepultada na igreja desta freguesia,
na sepultura do meio, entre o altar de Nossa Senhora e o de Santo António.
Foi senhora da casa e quinta de Sá, da quinta do Requeixo (ambas de prazo
foreiro ao Convento da Costa), do prazo das bouças de Silva Verde (de que era senhorio
directo D. Lourenço de Almada), tudo em Barrosas, da quinta das Queirosas, em Santo
Estêvão de Barrosas(dízima a Deus), da quinta do Monte, em S. João de Gondar (prazo
foreiro à comenda de Santa Cristina de Cerzedelo e S. Martinho do Conde, da Ordem de
Cristo), dos moinhos do Esquerdo, de seis rodas, em Santa Eulália de Fermentões (de
prazo foreiro a S. Domingos, de Guimarães), e de inúmeras casas de morada em
Guimarães.
Casou a 5/6/1720 em Barrosas com o capitão Joaquim da Costa e Silva,
almotacé e infanção da governança da vila de Guimarães, prebendeiro da Colegiada de
Nossa Senhora da Oliveira, proprietário do ofício de escrivão do público, judicial e
notas da correição, senhor da quinta do Pinheiro, com o privilégio das Tábuas
Vermelhas de Nossa Senhora da Oliveira, em Santa Eulália de Nespereira, baptizado a

99
11/12/1678 em S. Sebastião e falecido a 17/4/1742 em S. Paio, na mesma vila, com
testamento, filho de Manuel Fernandes, sapateiro na rua de Pelames, freguesia de S.
Tiago, da cidade de Braga (de onde era natural e onde faleceu na sua casa de morada
nas travessas do Colégio dos Apóstolos), e de sua mulher Rufina da Costa (e Silva)
(com quem casou a 2/8/1673 em S. Sebastião, de Guimarães, freguesia de que era
natural a noiva); neto paterno do Revº Diogo Vaz dos Santos, morador na Barca,
arrabalde de Braga, e de Ângela Fernandes, da freguesia de S. Tiago; neto materno de
Domingos da Costa, sapateiro, e de sua mulher Isabel da Silva, moradores em S.
Sebastião, na vila de Guimarães, junto às escadas do Toural.
O casamento foi precedido de convenção antenupcial de dote, na qual os pais da
noiva dotaram “sua unica filha fetura espozada” com a quinta de Sá, constituída por
três prazos foreiros ao Convento de Santa Marinha da Costa, em dois dos quais o pai da
noiva era a última vida e no outro ele e sua mulher primeira e segunda vidas “que todos
vieram e adequeriram por parte delle dotador”.
Os dotadores reservaram em vida a metade de todas as propriedades da quinta de
Sá. No caso dos noivos não quererem a metade, então reservariam da mesma sorte o
quarto do pão, o terço do vinho e legumes, bem como a casa de sobrado, loja, cortes e o
terço da terra que servia de horta, por baixo da eira, um pedaço de lameiro, etc.
Também dotaram a filha com duas camas aparelhadas “a uzo de sua coalidade”,
assim como todos os móveis possuídos à data, com reserva de metade e do usufruto.
Quanto ao ouro “que ao prezente ha na Caza será ella dotadora somente
senhora emquanto viva do seu uzo e por morte della ficará tambem a elles ditos feturos
espozados”.
O noivo dotou-se com oito mil cruzados em ouro, a saber: cinco mil contados e
entregues aos dotadores seus futuros sogros, os quais de imediato se comprometeram a,
com eles, pagarem todos os empenhos, dívidas, heranças e tudo o mais a que os bens de
raiz se encontrassem obrigados (no caso daqueles cinco mil cruzados não serem
suficientes eles próprios satisfariam pessoalmente); e os restantes três mil cruzados
obrigava-se o noivo a dá-los ao futuro cunhado José Borges Barreto quando ele tomasse
estado.
Os noivos comprometeram-se ainda a concorrer com os gastos necessários para
o irmão dela Francisco Borges se ordenar, fazendo-lhe o património por força da
legítima, conquanto que o mesmo ficasse, por morte do beneficiário, a quem possuísse a
quinta de Sá.
O capitão Joaquim da Costa e Silva dotava-se ainda “de si para si” com trinta e
oito mil cruzados, dos quais reservava seis mil para despender com as suas obrigações,
da forma que lhe parecesse, empregues em bens de raiz, dinheiro a juro, etc., “que tudo
adquerio por sua industria e trabalho alem mar nas quoais partes do Brazil tinha desta
dita coantia dezasete mil cruzados”.
Outorgante também neste contrato o Revº Manuel Borges de Sá, irmão da noiva,
que declarou “elle pello grande dezejo que tinha em se selebrar este cazamento que
tendo beneficio collado cede loguo e largua mão de hoje para sempre tanto do seu
patrimonio como do que pessue da dita Quinta de que tem escreptura que lhe fizerão
para os ditos seos pais aos ditos espozados ou a seos susesores e não tendo Beneficio
como asima dis desde loguo por sua morte faz doação gratuita e remuneratoria entre
vivos valledoura do dito patrimonio a elles ditos espozados ou a seos herdeiros
legitimos para tudo se tornar a unir a dita quinta”.
Deu-lhes também, desde logo, paga rasa e pleníssima quitação de todas as
legítimas que lhe coubessem por morte dos pais.

100
O capitão Joaquim da Costa e Silva requereu provisão para a fábrica duma
capela de invocação de S. Joaquim e da Senhora Santa Ana, na sua quinta de Sá, para a
qual procedeu à aquisição de diversos bens de raiz que obrigou à mesma. A provisão
para a edificação foi-lhe concedida em 2/5/1732 e a benção em 24/2/1733.
Em 4/4/1716 requerera em Braga um instrumento de genere comprovando que
seus pais eram inteiros cristãos velhos, sem fama de judeu, mouro ou mulato.

Filhos:
1(VIII)- Madre D. Teresa Josefa Borges do Couto e Sá, nasceu a 17/3/1721 em
Barrosas e foi baptizada no dia 24, tendo por padrinhos Pedro Vaz Cirne de Sousa
(por procuração passada a Bento Teixeira Borges, primo da baptizada) e Engrácia
Maria, solteira, do lugar de Pedra Maria, freguesia de Varziela.
Foi freira no Convento da Conceição, em Braga.
2(VIII)- Manuel, nasceu a 1/12/1722 e foi baptizado no dia 23, idem, tendo como
padrinhos Manuel Lobato de Palhares, morador na sua quinta do Costeado, em
Creixomil, Guimarães, e D. Luisa Catarina de Sá Peixoto (mulher do capitão
Alexandre de Palhares Coelho de Brito, fidalgo da Casa de Sua Majestade,
cavaleiro professo na Ordem de Cristo, comendador de S. Tiago de Mourilhe e
morgado dos Cordeiros), assistente com o marido em Lisboa (por procuração
passada ao beneficiado Manuel de Sá Peixoto, morador no prazo da freguesia da
Oliveira, em Guimarães).
Não é nomeado no testamento do pai, pelo que podemos presumir ser já
falecido à data, solteiro e s.g.
3(VIII)- Revº Bento Custódio Borges de Sá, nasceu a 28/7/1725 na freguesia de S.
Paio, da vila de Guimarães, onde foi baptizado no dia 5 de Agosto pelo tio, o revº
Manuel Borges de Sá, tendo como padrinhos o revº cónego Bento da Silva Teles,
da cidade de Braga, e Feliciano da Silva Machado, por procuração de sua mulher
D. Maria Teresa da Silva, da rua de Santa Maria.
Veio a falecer abintestado a 1/5/1783 em Santa Eulália de Trute, no
termo de Monção, em cuja igreja foi sepultado na capela-mor.
Foi abade de Trute.
Teve habilitação de genere em Braga a 4/11/1750.
Nela declara o habilitando “que elle se acha iniciado em prima tonsura e
dezeja continuar as mais ordens tanto para no Estado ecccleziastico servir a Deos
como para se poder aproveitar da Renuncia da Igreja de Trute, que seo tio o Rº
Manuel Borges de Sá Abbade da dita Igreja quer renunciar nelle para o que tem
já promesa do Padroeyro da dita Igreja e juntamente com a tal Igreja e renuncia
de hum officio da correyção de Guimaraes de que o Supplicante he proprietário
recolher em alguã religião suas Irmãns donzelas e pobres que não tem outro
patrocinio mais que o do Supplicante”.
Numa escritura pública de 7/4/1756 lavrada nas notas do tabelião André
da Silva, em Guimarães, o revº Dionísio Pereira da Costa e Silva, como
procurador do capitão-mor Francisco Moreira Carneiro, fidalgo da Casa de Sua
Majestade, cavaleiro professo na Ordem de Cristo e familiar do Santo Ofício, e
mulher, declarou que os seus constituintes se haviam ajustado com o revº João dos
Santos Monteiro, arcipreste da Sé de Braga, de pagarem e satisfazerem todo o
importe das bulas da renúncia que no cunhado e irmão deles (o revº Bento
Custódio Borges de Sá) fazia o revº Doutor José da Silva Chaves, provisor da
corte e arcebispado de Braga, do benefício da abadia de S. Julião de Calendário,
no termo de Barcelos.

101
Por esse motivo, o procurador citado obrigou, em nome dos
constituintes, todos os seus bens móveis e de raiz, bem como os terços de alma,
como hipoteca do pagamento ao arcipreste do importe das bulas de Roma.
4(VIII)- D. Eduarda Catarina Borges do Couto e Sá, segue
5(VIII)- Madre D. Teresa de Jesus Borges do Couto e Sá, nasceu a 21/3/1731 em
Barrosas.
Foi religiosa.
6(VIII)- D. Ana Maria Borges do Couto e Sá, nasceu a 27/1/1736 em Barrosas,
s.m.n.

VIII- D. Eduarda Catarina Borges do Couto e Sá, nasceu a 13/10/1727 em Barrosas e


foi solenemente baptizada no dia seguinte, tendo por padrinhos o tio, revº Manuel
Borges de Sá, e Catarina Pinto de Azevedo, mulher de Bento Teixeira Borges, da quinta
do Casal, em Santo Adrião de Vizela, seu primo.
Faleceu no estado de viúva a 30/11/1780, em Guimarães, abintestada, sendo
sepultada no Convento de S. Domingos, numa sepultura do arco do cruzeiro, ao pé da
grade do meio.
Foi senhora da casa e quinta de Sá, da casa e quinta do Pinheiro, privilegiada das
Tábuas Vermelhas, em Nespereira, das quintas de Tegem e do Casal, com o vínculo da
capela de Santa Cruz, em Santo Adrião de Vizela, da quinta do Outeiro, em Santa
Comba de Regilde, da quinta do Monte, em Gondar, da quinta do Requeixo, etc.
Casou a 2/10/1746 na sua capela de S. Joaquim e Santa Ana, da casa de Sá, com
o capitão-mor Francisco Moreira Carneiro, capitão-mor da vila de Nossa Senhora da
Conceição de Mato Dentro, distrito do Serro Frio, província de Minas Gerais, Brasil,
cavaleiro-fidalgo da Casa de Sua Majestade (por decreto régio de 23/2/1750), cavaleiro
professo na Ordem de Cristo (mercê de 22/6/1741), familiar do Santo Ofício (carta de
Outubro de 1743), fidalgo de cota de armas, com carta de brasão de armas de 16/4/1750,
senhor da quinta do Assento, na comenda de Santa Cristina de Serzedelo, da Ordem de
Cristo, etc., nascido a 17/4/1690 em S. Pedro de Ferreira, concelho de Aguiar de Sousa,
e falecido a 16/11/1778 em Barrosas, sem sacramentos por ter uma morte apressada,
com testamento, sendo sepultado na capela da casa de Sá.
Era filho de Diogo Dias Moreira, senhor da quinta de Fundevila, em S. Pedro de
Ferreira, e de sua 2ª mulher Maria Carneiro (Henriques); neto paterno de Diogo Dias,
senhor da mesma quinta, e de sua 1ª mulher Isabel Moreira, da quinta de Miragaia, em
Louredo; neto materno de Jerónimo Henriques, senhor da quinta do Pedregal, na
freguesia e honra de Lourosa, e de sua mulher Maria Carneiro, do casal de Ranhõ, em
Santa Eulália da Ordem (vide atrás Anexo I – MOREIRAS, de Louredo e S. Pedro de
Ferreira, Um breve ensaio genealógico).

Filhos:
1(IX)- Francisco Joaquim Moreira Carneiro Borges de Sá Barreto, segue
2(IX)- José Severino Moreira Carneiro Borges de Sá, cavaleiro-fidalgo da
Casa de Sua Majestade (alvará régio de 29/8/1752), nasceu a 31/3/1750 em
Barrosas e foi baptizado a 12 de Abril pelo tio, revº Manuel Borges de Sá, abade
de Trute, sendo padrinhos o revº Gonçalo de Azevedo e Moura, do lugar de
Fundevila, freguesia do mosteiro de Ferreira, e D. Josefa Teresa, tia do
baptizado.
Faleceu criança, segundo supomos.

102
3(IX)- D. Teresa Florença, nasceu a 7/11/1752, idem, e foi baptizada no dia 19
pelo tio, revº Manuel Borges de Sá, sendo padrinhos o Dr. Custódio Vieira da
Rocha, da freguesia de Torrados, e a avó materna.
Deve ter falecido menina.
4(IX)- Revº Joaquim José Moreira Borges de Sá Barreto, cónego magistral da
insigne Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira, de Guimarães, fidalgo da Casa
de Sua Majestade, cavaleiro professo nas Ordens de Cristo e Nossa Senhora da
Conceição de Vila Viçosa, secretário da “Academia Vimaranense”, nasceu a
25/5/1758 em Barrosas.
Fez habilitação de genere em Braga a 18/12/1772, em cuja inquirição se
diz que “para além de saber bem gramática já cursou filosofia na ditta villa de
Guimaraens”.
Em 20/12/1799, por escritura lavrada nas notas do tabelião Nicolau
António Pereira, de Guimarães, comprou ao irmão Francisco Joaquim Moreira
de Sá a quinta do Pinheiro, com todas as suas pertenças, pelo preço de seiscentos
mil réis.
Foi nomeado sucessor do irmão na administração do vínculo de Santa
Cruz, em Santo Adrião de Vizela, embora mais tarde o dito irmão viesse a
requerer a sua extinção em virtude dos bens a ele obrigados não renderem a
quantia estipulada pela lei.
Teve de D. Catarina Bernarda Ferreira de Eça e Leiva, filha do Dr.
Francisco Ferreira de Eça e Leiva (nascido bastardo e reconhecido e legitimado
pelo pai a 6/3/1727, juntamente com o irmão Martinho), bacharel formado em
Leis pela U. C., natural da freguesia da Oliveira, em Guimarães (habilitou-se de
genere em Braga a 7/6/1731, com o irmão Martinho Ferreira de Eça de Leiva), e
de sua mulher D. Ana Leonor de Santa Rita de Azevedo, da freguesia de Santo
Ildefonso, da cidade do Porto; neta paterna do revº Pedro Ferreira de Leiva,
cónego prebendado da insigne Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira,
comissário do Santo Ofício, instituidor do morgado dos Leivas (com a obrigação
do uso deste apelido), senhor da quinta de Antemil, e de D. Maria Ferreira de
Eça, filha natural reconhecida de Manuel Ferreira de Eça, fidalgo da Casa de Sua
Majestade, familiar do Santo Ofício, provedor da Santa Casa da Misericórdia de
Guimarães (eleito em 1689, 1702, 1718 e 1719), administrador dos morgados de
Cavaleiros e do Arco, e de Catarina da Silva “a Loureira”, solteira,

Filhos legitimados por carta régia de 1/12/1814:


1(X)- José Joaquim Moreira de Sá, tenente-coronel de Cavalaria, cavaleiro
da Ordem Militar de Avis, de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa e
condecorado com a insígnia da Guerra Peninsular, comandante da Guarda
Nacional, em Guimarães, vereador da Câmara (eleição de 1/1/1840), senhor
da casa do Pinheiro, em Nespereira, falecido a 16/2/1853 em Guimarães,
onde foi sepultado no convento da Madre de Deus, solteiro e s.g.
2(X)- D. Henriqueta Emília de Sá Moreira Ferreira de Eça, sucessora
com a irmã na casa do Pinheiro, por óbito do irmão, faleceu a 11/7/1878 e
foi sepultada em Nespereira, solteira e s.g.
3(X). D. Maria Leonor Moreira de Sá e Eça, senhora da casa do Pinheiro,
falecida solteira e s.g.

IX- Francisco Joaquim Moreira Carneiro Borges de Sá Barreto ou Francisco


Joaquim Moreira de Sá, como passará a assinar-se mais tarde, cavaleiro-fidalgo da

103
Casa de Sua Majestade (alvará régio de 29/8/1752), cavaleiro professo na Ordem de
Cristo (alvará de 18/3/1767), proprietário do ofício de escrivão do público, judicial e
notas da correição de Guimarães (cargo que renunciou em José António de Freitas,
autorizado por alvará régio de 7/5/1799), 1º administrador do morgado de Sá,
administrador do vínculo de Santa Cruz, em Santo Adrião de Vizela e do morgado do
Outeiro, com capela de Nossa Senhora dos Remédios, em S. Paio dos Arcos de
Valdevez, senhor da casa e quinta de Sá, das quintas do Requeixo, Eira e Crasto e prazo
das bouças da Silva Verde, em Barrosas, da quinta das Queirosas, em Santo Estêvão de
Barrosas, da quinta do Monte, em Gondar, das quintas do Mosteiro e Assento, em
Serzedelo, das quintas de Tegem, Casal e prazo de Silvares, em Santo Adrião de Vizela,
da quinta do Outeiro, em Regilde, das quintas da Cascalheira e Mourisco, em S. João
das Caldas de Vizela, da casa e quinta do Pinheiro, privilegiada das Tábuas Vermelhas
de Nossa Senhora da Oliveira de Guimarães, em Nespereira, da fazenda de Santo
António, na província de Minas Gerais, no Brasil, dos moinhos do esquerdo (de seis
rodas), em Fermentões, etc.
Nasceu a 14/4/1748 em Barrosas, sendo baptizado no dia 28 pelo revº José
Borges Barreto, seu tio-avô materno, tendo por padrinhos o tio-avô revº Manuel Borges
de Sá e a tia materna D. Teresa de Jesus Borges do Couto e Sá.
Veio a falecer em 1832: “O Cavalheiro Francisco Joaquim Moreira de Sá da
Caza de Sá desta freguezia de Santa Eulália de Barrozas, termo de Guimarãens,
Arcebispado de Braga, faleceo de vida prezente com todos os Sacramentos da Sancta
Madre Igreja aon vinte e dois dias do Mes de Febreiro do Anno de mil oito centos e
trinta e dois e foi sepultado na Capella da mesma Quinta de Sá em sepultura propria
aos vinte e tres dias do mesmo Mes e Anno”.
Francisco Joaquim Moreira de Sá foi poeta de mérito, tendo pertencido com o
irmão, o cónego magistral Joaquim José Moreira de Sá, à “Academia Vimaranense”.
Da sua actividade literária destacam-se “A Queda de Napoleão”, poema épico
em cinco cantos dedicado ao Príncipe Regente, e a “Proclamação aos Portugueses”,
em verso heróico solto, impressa em Coimbra, na Real Imprensa da Universidade.
Em 21/11/1776 promoveu uma sessão académica a ser realizada na sua casa de
Guimarães, a fim de comemorar o casamento do 2º filho varão do marquês de Pombal.
Esta sessão, secretariada por ele, não chegou a realizar-se por doença do monarca.
Foi publicado o códice das produções literárias e, segundo o coronel Baptista
Barreiros “também é de supor fosse o mesmo secretário da Academia quem, apesar
desta se não ter efectuado, fez reunir as respectivas peças literárias e copiar e
encadernar em volume, que pelo Dom Prior de Guimarães deve ter sido remetido ao
Marquês de Pombal, já então no termo da sua carreira que findou com o falecimento
do rei em 1777, como meio de provarem todos a Sebastião José e sua família o bem
querer dos académicos, seus amigos e admiradores”.
Com a oferta da “Pombalina” ao Estado pela família Pombal, veio o manuscrito
a constituir o códice 7 da Biblioteca Nacional de Lisboa.
Afirma ainda o coronel Baptista Barreiros que a sessão académica se realizou de
facto em Guimarães, a 5/5/1793, por ocasião dos festejos celebrando o casamento da
Princesa da Beira, mas esta em casa do cónego José Bernardo de Carvalho. Secretariou-
a o cónego Joaquim José Moreira de Sá, servindo de problemáticos o Dom Prior da
colegiada de Barcelos, António Fernandes de Araújo e Francisco Joaquim Moreira de
Sá.
Em 2/1/1792 apresentara-se Moreira de Sá, expontaneamente, no Tribunal do
Santo Ofício a “implorar a piedade” por ter aderido dois anos antes à sociedade dos
franco-maçons, persuadido por Henrique Correia de Vilhena que aí o introduzira.

104
No processo que lhe foi instaurado, relata Moreira de Sá que fora conduzido
certo dia, ao anoitecer, numa sege, pelo citado Henrique Correia de Vilhena, natural da
ilha da Madeira, a umas casas entre-muros da vila de Guimarães, onde o deixou fechado
numa casa com a recomendação de se portar com bravura no que acontecesse.
Decorrida cerca de uma hora, apareceu um desconhecido empunhando uma
espada e falando-lhe “com feia catadura” desarmou-o e conduziu-o a outra casa
“forrada de liaetas pretas”, onde o deixou fechado.
Passado algum tempo, apareceu outro homem que lhe deu papel e tinta, dizendo-
lhe para escrever o juízo que fazia da Maçonaria, o que ele fez em conformidade com as
boas informações que lhe haviam dado e ele próprio lera.
O homem afastou-se com o papel e em breve outros apareceram, armados de
espadas, tiraram-lhe as fivelas, a casaca, a bolsa e ataram-lhe as mãos e o pescoço com
uma corda. De seguida, vendaram-lhe os olhos com um lenço e levaram-no de um lado
para o outro tentando com mil estratagemas persuadi-lo do grande risco que a sua vida
corria.
Após terem-lhe destapado os olhos, exigiram um exótico juramento de não
revelar os segredos da Maçonaria que consistiam nos sinais de reconhecimento entre
eles.
Disseram-lhe então que tinha o 1º grau de maçon, entregando a espada, avental e
luvas.
Assistiu seguidamente à recepção de Francisco Maria Corvo, da cidade de
Lisboa, rindo com os outros à custa dele.
Um dos maçons recitou uma oração que pretendia dar uma ideia histórica da
Maçonaria, deduzindo-a das Cruzadas e inculcando aos membros a obrigação de se
socorrerem mutuamente.
No final cearam à custa dos dois novos membros e regressaram a suas casas.
Francisco Joaquim Moreira de Sá falou logo em seguida com o abade de
Gondar, José de S. Bernardino Botelho, acerca do misterioso segredo maçónico,
garantindo-lhe que nada era tratado contra a religião ou o Estado.
Facilitou a recepção daquele clérigo, tomando com ele, com Francisco Maria
Corvo e com Francisco da Silva de Queirós, cónego da basílica, os 2º e 3º graus.
Consistiam estes em diferentes sinais e palavras para conhecerem eles entre si os
graus que tinham e no formulário da recepção.
E deram os Mestres maçons a cerimónia por concluída já que em Portugal,
disseram, não se podia passar a outros graus por não haver lojas estabelecidas.
Moreira de Sá afirma que ficou com má impressão acerca de tudo aquilo, pois na
cerimónia, ao tirarem dinheiro para a recepção, faltara uma peça ao abade de Gondar,
dando a certeza de ter sido roubada por algum dos membros.
E recebendo posterior convite para novas recepções, sempre se desculpou com
alguma ocupação, esquecendo-se até da maior parte dos sinais de reconhecimento entre
eles.
Posteriormente tomou conhecimento da bula papal que proibia estas sociedades
e constituía os membros réus do tribunal do Santo Ofício. Comunicou, de imediato, ao
abade de Gondar e foram denunciar-se prontamente ao comissário João de Vasconcelos,
abade de S. Martinho do Campo, implorando a piedade do Santo Ofício e prontificando-
se a responder a tudo que deles quisessem saber.
Declarou Moreira de Sá ao tribunal que nunca usara os sinais que lhe tinham
ensinado. Como exemplo, relatou que num jantar a que assistira numa casa de pasto
com um francês vindo da Madeira - que dizia ser cirurgião e chamar-se Dovanhi - este
fizera-lhe sinais de maçon e ele não respondera, nem se dera a conhecer.

105
Nunca usara os sinais que lhe tinham ensinado, tais como: beber três vezes
debaixo da primeira intenção, precedendo três ou cinco pancadas na tampa da caixa ao
tomar tabaco (segundo a diferença correspondente do 1º ao 3º grau), sendo também
próprio deste um triângulo mostrado pelo accionar do braço na ocasião de fazer a
cortesia.
Não obstante, não se lembrava duma palavra usada no 2º grau nem da usada no
3º. Recordava, ainda assim, uma das duas proferidas no 1º grau que era “Jakin”.
Perguntaram-lhe os inquisidores como era possível que ele réu - homem de
literatura e conhecimentos - ignorasse a proibição e maldade que se ocultava naquela
sociedade, ao que ele respondeu que tinha “feito profissão de estudar ramos
inteiramente diferentes daqueles que lhe podiam dar socorro para vir no conhecimento
das Leis Eucaristicas, visto que política e belas letras fazem o Artigo da sua maior
aplicação, e que nunca suspeitou maldade nesta Sociedade, por não ter visto tratar
materia que ofendesse o mais levemente nem a Religião, nem o Estado”.
O tribunal do Santo Ofício julgou-o por acórdão publicado no próprio mês da
apresentação, em 31 de Janeiro:
“Acórdão os Inquiridores, Ordinario e Deputados da Santa Inquisição que
vistos estes auttos, culpas, e confissões de Francisco Joaquim Moreira de Sá, natural
da freguezia de Santa Eulalia de Barrozas, termo de Guimaraens, filho de Francisco
Moreira Carneiro, actoalmente morador nesta Corte, Reo appresentado, que presente
está. Por que se mostra que sendo Christão baptizado, e como tal obrigado a ter, e crer
tudo quanto tem, crê, e ensina a Santa Madre Igreja de Roma, elle o fez pelo contrario,
como confessou na Mesa do Santo Officio, apresentandose de suas culpas, e dizendo:
que elle entrara, e se congregara na Sociedade denominada dos Pedreiros Livres em
cuja Meza e Assemblea prestara juramento sobre a observancia e segredo de seus
Estatutos, convencido das persuassoes, com que para este fim o combatera certa
pessoa, que declarou e ignorando a Reprovação, condennação e Anathema, que contra
ella e seus Sectarios se achavão declarados e fulminados pela Igreja, de cuja culpa
sentindo-se sumamente arependido, da mesma fazia huma sincera confissão,
supplicando o perdão della, e que com elle se uzasse de Mizericordia. E visto como o
Reo uzando de bom conselho se appresentou confessando voluntariamente o seu delicto
nesta Meza, dando mostras, e sinaes de arependimento, e pedindo perdão, e piedade
com o mais que dos Auttos consta. Mandão que o Reo Francisco Joaquim Moreira de
Sá em pena, e penitencia de suas culpas ouça sua Sentença na Meza do Santo Officio
perante os Inquisidores, hum Notario, e duas Testemunhas, faça abjuração de
vehemente suspeito na Fé, cumpra as penas Spirituaes, que lhe forem impostas, e que
da Excumunhão em que se acha incurso seja absoluto in forma Eclesia”.
Homem empreendedor, a Francisco Joaquim Moreira de Sá se ficou a dever a
fundação em Portugal da 1ª fábrica de papel fabricado com massa de madeira, que foi
também a 1ª existente na Europa.
Foi, por este motivo, muito justamente considerada a pedra filosofal da
papelaria.
Em 1866, na Exposição Universal de Paris, apareceu uma máquina de invenção
alemã que fabricava aquele papel. E no início do ano seguinte os jornais portugueses
referiam-se elogiosamente a este invento.
De imediato o Dr. Pereira Caldas (professor no Liceu de Braga) publicou um
folheto de cinquenta páginas intitulado “Vindicação da prioridade do fabrico de papel
com massa de madeira, como descoberta portuguesa: sendo fabrico intentado no
princípio deste século, nas Caldas de Vizela, na província do Minho, na Fábrica da
Cascalheira, em S. João das Caldas, na margem esquerda do rio Vizela: sob iniciativa

106
de Francisco Joaquim Moreira de Sá, fidalgo da Casa Real, cavaleiro professo na
Ordem de Cristo, e Senhor da Quinta de Sá, em Santa Eulália de Barrosas, na mesma
Ribeira de Vizela”.
O folheto é datado de 10/7/1867 e dedicado à poetisa Ana de Sá (de seu nome
completo D. Ana Amália Moreira de Sá), neta de Francisco Joaquim Moreira de Sá e, à
data, senhora da casa de Sá.
Nele se refere o Dr. Pereira Caldas a um opúsculo muito raro, da autoria do juiz
Dr. José Raimundo de Paços de Proben e Barbosa (da casa de Caneiros, em Fermentões,
Guimarães), composto por uma ode exaltando o invento e o inventor, bem como por
dois sonetos da autoria do próprio Moreira de Sá, dedicados ao rei D. João VI e à rainha
D. Carlota Joaquina, sendo este opúsculo já impresso no novo papel produzido pela
fábrica.
De facto, desde 1797 que Moreira de Sá começara a tratar da realização da
aludida fábrica, a situar-se na sua quinta da Cascalheira, em S. João das Caldas de
Vizela.
E as inúmeras escrituras de compra e venda existentes no Arquivo Municipal
Alfredo Pimenta, em Guimarães, e no Arquivo Distrital do Porto, algumas delas
referindo-se expressamente à fábrica de papel, permitem-nos corroborar a veracidade
das afirmações do Dr. Pereira Caldas.
É ponto assente que para levar a cabo a construção daquela fábrica, Moreira de
Sá desfez-se de onze quintas, na distância de uma légua da sua casa de Sá, de treze
moradas de casas em Guimarães e de mil medidas sabidas ainda, pagáveis a maior parte
em Margaride e Montelongo.
Escreve ainda o Dr. Pereira Caldas nas “Notas Históricas das Caldas de
Vizela”:
“Conseguidos na Fábrica da Cascalheira bons ensaios do novo papel, foram
eles presentes, para amostra, na Real Junta do Comércio, Agricultura, Fábricas e
Navegação do Reino e seus domínios - como disso dá testemunho o referido alvará de
24 de Janeiro de 1805. E foi expedido então esse alvará, em vista da consulta oficial da
mesma Junta, em 9 de Outubro de 1804 - solicitada em requerimento do mesmo
Francisco Joaquim Moreira de Sá, endereçada ao governo em 1797 - achando-se
anexas ao mesmo alvará (registado na Secretaria do “Registro Geral” das Mercês, e
na Chancelaria Mór da Côrte e Reino, e condições - no “Livro dos Ofícios e Mercês”,
a fls. 132), as condições para as Fábricas de Papel de vegetais e de tinturaria de
Primeira Sorte, a favor de Francisco Joaquim Moreira de Sá e seus consócios -
agraciados todos com a mercê régia do Hábito de Cristo”.
O citado alvará de 24/1/1805 concede o privilégio da exploração da indústria
pelo prazo de vinte e cinco anos a Francisco Joaquim Moreira de Sá.
A sociedade constituiu-se em 28/4/1804, por escritura lavrada na nota do
tabelião Vitorino Alão de Macedo e Sousa, da cidade do Porto. Foram sócios de
Moreira de Sá: José Pereira Ferraz, José Ventura Fortuna, Manuel Luís da Costa, José
Pereira Ferraz de Araújo Ribeiro e Florido Rodrigues Pereira Ferraz.
Acrescente-se ainda o nome do engenheiro, director técnico da fábrica, o inglês
Thomas Beshop, vindo de Londres a pedido e por influência do diplomata António de
Araújo de Azevedo, futuro Conde da Barca, parente da 1ª mulher de Moreira de Sá.
Por ocasião das invasões napoleónicas a fábrica foi saqueada e incendiada,
sendo o próprio Moreira de Sá - alcunhado pela populaça de “fero jacobino” - forçado a
embarcar para o Brasil.
Não me alongarei mais sobre a fábrica de papel e respectivo invento já que sobre
a matéria se encontram publicados vários trabalhos, dos quais é mister que salientemos -

107
pela sua inegável importância - o da autoria do nosso prezado primo Dr. Rui Moreira de
Sá e Guerra. Dada a relevância de que se reveste este estudo - aliada à competência e
seriedade que são apanágio deste investigador - para aí remetemos o leitor interessado
por esta matéria.
Francisco Joaquim Moreira de Sá casou em 1ªs núpcias, na freguesia do Divino
Salvador, nos Arcos de Valdevez - tendo recebido as bênçãos nupciais a 26/11/1766, na
capela da casa de Sá - com D. Josefa Antónia de Sotomayor Osório de Menezes de
Vasconcelos, nascida a 15/4/1736 naquela freguesia e falecida a 7/11/1800, sendo
sepultada na igreja do convento dos Capuchos, em Guimarães, administradora do
morgado do Outeiro e capela de Nossa Senhora dos Remédios, em S. Paio dos Arcos de
Valdevez, filha primogénita de Valentim Brandão Coelho e Abreu, cavaleiro professo
na Ordem de Cristo, com padrão de doze mil réis de tença (alvará de 17/11/1731),
administrador do morgado do Paço de Calvos, em Santa Maria de Távora, “que era
Couto de seus antepassados”, senhor da casa e quinta da Boavista, em S. Bartolomeu
de Monte Redondo, tudo no termo dos Arcos de Valdevez, e de sua mulher D. Luisa
Maria Xavier de Vasconcelos e Menezes de Sotomayor, senhora do prazo da Lapa e
Barroças, no termo de Monção; neta paterna de Francisco Brandão Coelho de Abreu,
administrador do morgado de Calvos e senhor das quintas da Boavista, Longarela e
Telhado, em Monte Redondo, e de sua mulher Luzia Coelho Brandão, herdeira do
morgado de Calvos; neta materna de Leonel de Abreu de Vasconcelos de Sotomayor,
senhor da casa e quinta do Cotinho (com o seu morgado da Torre da Grade) e dos
prazos de Farrão e Outeiro e casal da Costa, tudo em Santa Maria de Grade, do prazo
das Quintas e Taias, em Troporiz, e da Lapa e Barroças, no termo de Monção, senhor
“da Chave Principal do Santo Lenho” da paroquial de Grade, e de sua 2ª mulher D.
Luisa Maria de Sousa e Castro.
O casamento foi precedido de convenção antenupcial de dote, lavrada a 8/7/1766
nas notas do tabelião Bento de Sousa Guimarães, da vila de Guimarães, que para o
efeito se deslocou à casa de Sá.
Os pais do noivo dotaram-no com a quinta de Sá e umas bouças a ela anexas, a
quinta do Monte, em Gondar, a do Pinheiro, com o seu privilégio das Tábuas Vermelhas
de Nossa Senhora da Oliveira e, além de outros bens, com os foros e medidas de
Margaride, foreiros ao convento de Belém, e os chamados do Boco, em Tagilde,
foreiros à igreja desta freguesia.
Também lhe dotaram uma morada de casas de sobrado, com quintal, na rua de
Santa Luzia (que tinham sido do pai da dotadora, o capitão Joaquim da Costa e Silva), a
quinta do Outeiro, em Regilde, de natureza de prazo foreiro ao convento de S. Gonçalo,
de Amarante, as quintas do Casal e Tegem, em Santo Adrião de Vizela, foreiras a D.
António de Lancastre e à igreja da freguesia, “cujos Bens e Prazos alguns delles sam
compra que elles fizeram e outros por titulo de Eranssa, que veio por parte della
dotadora”.
Os dotadores reservaram o usufruto daquelas propriedades (exceptuando as
medidas e foros de Margaride e Tagilde), “porem alem do rendimento das ditas
medidas, querendo elles noivos viver nesta caza e quinta de Saa com elles dotadores
comeram e se sustentaram dos rendimentos dos beis delles dotadores e viviram juntos
nas mesmas cazas e quinta ficando assim obrigados elles dotadores a sustentallos”.
Se os noivos pretendessem apartar-se logo lhes dotariam, para sua cómoda
sustentação e tratamento, as casas e quinta do Casal, com sua capela, e as quintas de
Tegem e Outeiro, “porem isto se intemde emquanto vivo for elle dotador somente, que
depois do seu fallessimento, e ficando ella dotadora atras rezerva para si emquanto
viva as ditas tres qiuntas do Casal, Tigem e Outeiro com todos os seus rendimentos, e

108
que alem dellas rezerva mais, no cazo de querer assistir nesta quinta com elles fecturos
noivos, as cazas qhe lhe pareser escolher, das que ha nesta mesma quinta, tanto as que
de novo se andam fazendo como das que se acham feitas”.
Noutro passo da escritura, já no final, declaram que as casas reservadas para
viver da dotadora, na quinta de Sá, serão somente as que novamente se acrescentam às
antigas.
Outras cláusulas foram estabelecidas. Assim, o capitão-mor Francisco Moreira
Carneiro reservou toda a sua terça para dela dispor como lhe parecesse, com a
declaração que logo escolhia para a integrar somente todas as medidas e foros que
tinham sido herdados e dízimos a Deus, “em os quoais tambem desde llogo ha por
obrigado e instituido hum vincollo e para legitimo administrador e sosessor delle ha
por nomiado a elle fecturo noivo seu filho no cazo de não chegar a fazer a dita
dispozissam com declaraçam que este vincollo numqua em tempo algum sairá da
famillia dos Moreiras, sosedemdo sempre em varão; e não havendo este se siguirá nas
femeas”.
O administrador deste vínculo ficava obrigado a mandar dizer e satisfazer todos
os domingos e dias santos de cada ano, uma missa na capela da casa de Sá, enquanto o
mundo durar, pela alma do instituidor e desde a data do seu falecimento.
O pai da noiva, Valentim Brandão Coelho de Abreu, cavaleiro professo na
Ordem de Cristo, juntamente com o revº Francisco Dantas Coelho, procurador da noiva
e da mãe, declarou que “atemdemdo ao gosto que faziam do prezente cazamento se
dava e dotava de si para si - em nome da dita fectura noiva, com a quinta do Outeiro e
suas pertemças e capella de Nossa Senhora dos Remedios çita na freguezia de Sam
Paio termo dos Arcos a quoal he de natureza de vincolo livre nomiassam, e lhe vem a
pertemçer por morte e fallesimento da Madre Donna Thereza Maria da Comceiçam
Relegioza no convento de Santa Anna da villa de Vianna”.
Por seu turno, os pais da noiva dotavam-na com todas as legítimas “que por
morte delles acomtesser, com comdissam de que o dote asima declarado da referida
quinta, que ella fetura noiva fazia, pello dito procurador, com authoridade dos ditos
seus Pais, se daria a quada huma de suas Irmãns Donna Anna e Donna Maria Ignacia
emquoanto viver no estado de solteiras, ou Rellegiozas, doze mil rreis, cada hum anno,
cuja rezerva se intemde depois de elle fectura noiva desfrutar a dita quinta”.
Por escritura pública lavrada em 27/9/1773 nas notas do tabelião Domingos
Fernandes da Rocha, de Guimarães, o capitão-mor, sua mulher e filho menor, Joaquim
José Moreira de Sá, outorgaram um contrato de doação com Francisco Joaquim Moreira
Carneiro Borges de Sá e mulher por desejarem estabelecer um vínculo para aumento da
casa de Sá, doando a estes as terças de alma e todos os bens móveis e de raiz. Os pais
desistiam das condições e obrigações estabelecidas na escritura antenupcial.
O irmão, Joaquim José Moreira de Sá, dotava-lhe as suas legítimas (paterna e
materna) em que houvesse de suceder, com a condição do doado se obrigar a alimentá-
lo e vesti-lo, bem como dar-lhe a quantia de duzentos mil reis enquanto ele quisesse
viver na sua companhia. E no caso de pretender apartar-se, Francisco Joaquim dar-lhe-ia
a quantia de quinhentos mil reis.
Apesar de menor, outorgando com representação legal, fazia-lhe esta doação não
só pela utilidade da instituição do vínculo, mas também por poder vir a suceder nele à
falta de descendência do irmão.
A instituição do vínculo foi autorizada por resolução da rainha D. Maria I, em
26/5/1778, tomada em consulta da Mesa do Desembargo do Paço.
Em 12/9/1778, nas notas do tabelião José Borges de Azevedo, de Guimarães, os
mesmos outorgantes, o capitão-mor, mulher e filho menor, ratificaram a escritura de

109
27/9/1773 de doação, contrato e instituição de morgado a favor do filho e irmão
Francisco Joaquim Moreira Carneiro Borges de Sá.
O pai reservou o usufruto das quintas de Sá, do Cabo, de Serzedelo, do Crasto e
prazo do Prado, da fazenda do Pinheiro, das casas do Toural, S. Dâmaso e Molianas, e
das medidas do Mourisco e S. Martinho do Conde “que para si tira na sua vida para
decente sustentação de sua caza e excepto tambem a dos sobreditos coatro mil cruzados
rezervados no seu tersso”.
Pela mãe “a Senhora Donna Eduarda Catherina Borges do Couto e Sá mulher
do dito Francisco Moreira Carneiro” foi declarado que também ratificava a escritura de
27 de Setembro no referente à doação intervivos, irrevogável para sempre, dos terços de
todos os bens para o vínculo a favor do citado filho primogénito.
Reservava quinze mil reis para testar e deixava ao filho a obrigação de lhe fazer
os bens de alma “com a decencia que dele espera”.
Na doação estavam incluídos dois mil cruzados - dos seis mil cruzados das arras
- tendo a outorgante declarado que os restantes quatro mil cruzados, pertencentes às
legítimas dos dois filhos (Francisco Joaquim e Joaquim José), dois deles,
correspondentes à legítima do filho secundogénito, ficavam logo sujeitos ao vínculo
dada a renúncia que este fizera a favor do irmão para aquele efeito; os restantes dois mil
cruzados da legítima do doado dever-se-ia entender ter ela outorgante já cedido a este
seu filho através da escritura de 27 de Setembro, a fim de que ele dispusesse deles a seu
arbítrio desde aquela data.
A outorgante não só aprovou e ratificou a nomeação feita pelo marido ao filho
Francisco Joaquim dos prazos e direito de renovação, como também lhe nomeou todos
os prazos em que o pudesse fazer, dispondo somente do usufruto das quintas do Casal,
Tegem e Outeiro para seu decente sustento em caso de falecimento do marido.
D. Josefa Antónia de Sotomayor e Menezes doou para o vínculo a parte que lhe
pudesse vir a pertencer das legítimas do marido, apenas com a reserva de poder dispor
da metade da sexta parte reservada por ele.
Todos os outorgantes afirmaram que desde aquela data somente ficaria a valer
esta escritura e a de27 de Setembro de 1773, revogando assim a convenção antenupcial
de dote de Francisco Joaquim Moreira Carneiro Borges de Sá e D. Josefa Antónia de
Sotomayor e Menezes.
O Dr. Carlos António Cardoso de Figueiredo - procurador de Francisco Joaquim
Moreira de Sá - apresentou a provisão régia obtida em consulta da Mesa do Desembargo
do Paço concedendo licença para a instituição do vínculo.
De seguida passou a instituir o vínculo de morgado não só do valor dos terços
dotados pelos pais e irmão, mas igualmente do que a mulher pudesse vir a ter da
legítima dele, perfazendo a quantia líquida de 27:125$824 reis em bens estáveis.
Francisco Joaquim seria o 1º administrador e, por sua morte, suceder-lhe-ia o
filho varão mais velho ou o que dele descendesse, precedendo sempre o mais velho ao
mais moço e os varões às fêmeas.
As cláusulas referentes à descendência legítima verificar-se-iam, na falta dela,
na ilegítima, já que os descendentes legítimos ou ilegítimos do último administrador
teriam preferência sobre todos os transversais de qualquer grau, por mais próximos que
fossem em grau de consanguinidade.
Este vínculo de morgado teria os seguintes encargos: “todos os futuros
sucessores e Admenistradores do mesmo serão obrigados bem como ele Instituidor já o
fica sendo a uzarem dos Appelidos = de = Moreira e Sá =, e das Armas pertencentes
aos mesmos Appelidos, de modo que aquele que dele, e delas não uzar ficará privado
da Admenistração e passará ao Immediato, isto ainda no cazo que suceda em outro

110
vínculo, a que seja posto o gravame de uzar de outros Appelidos e Armas, porque então
uzará de todos”; a centésima parte do rendimento do vínculo seria distribuída
anualmente (e para sempre) em obras pias, a arbítrio do instituidor e futuros sucessores
no morgado; desta quantia o instituidor (e perpetuamente todos os sucessores) mandaria
dizer uma missa cantada de três padres, anualmente, em honra e louvor da Senhora
Santa Ana, onde for da sua vontade e devoção, mais as três missas do Natal, tudo
aplicado com as mais obras pias em que fosse distribuído o resto da centésima parte do
rendimento, pelas almas dos pais e irmão doadores, sua mulher e futuros
administradores.
As três missas do Natal deveriam ser oficiadas na capela da quinta de Sá,
enquanto pertença da casa, e na falta dela em capela que fosse cabeça deste vínculo,
qualquer capela ou oratório que existisse em casa do então administrador, ou na igreja
matriz da freguesia de habitação do mesmo “Bem entendido que á conta da dita
centessima parte do rendimento com respeito ao juro do cappital dos vinte e sete contos
cento e vinte e sinco mil oitocentos e vinte e coatro reis emquanto se não arecadarem
as dívidas que se devem à caza e depois de cobradas estas em parte ou em todo se
augmentará a sobredita conta à proporssão do que for recebido para o mensionado
vínculo”.
Também ficou estipulado não serem vinculados a este morgado os prazos da
casa de Sá, mas somente hipotecados e obrigados à sua segurança e estabilidade. E
como esta obrigação limitada daqueles prazos pudesse futuramente vir a ser prejudicial
aos directos senhores, dando motivo para dúvidas ou questões, declarava o procurador
do instituidor que este se obrigava a estabelecer em bens estáveis e aptos para o vínculo
o valor dele no termo de trinta anos, contados a partir do dia da instituição.
No caso do instituidor falecer antes de cumprir com o sobredito, passaria aquela
obrigação para os futuros sucessores e administradores do morgado de Sá.
Em 7/6/1770 Francisco Joaquim Moreira Borges de Sá Barreto e mulher, por
pretenderem demandar Valentim Brandão Coelho de Abreu (sogro e pai dos sobreditos)
e este ser “pessoa poderoza e Respeytada na villa dos Arcos de Val de Ves donde devia
ser demandado por ese mottivo amplora o Supplicante o Real patrocínio de Vossa
Magestade para que lhe faça a graça conceder provizão de comição para que qualquer
menistro das villas de Guimarais lhe tome conheceimento da cauza como tão bem
qualquer da villa de Vianna”.
A casa de Sá atingira nesta época grande opulência.
Num inventário requerido em 1842 por D. Maria Marfida Moreira de Sá (neta de
Francisco Joaquim Moreira de Sá e de D. Josefa Antónia de Sotomayor e Menezes)
refere-se a “Grandeza, Riqueza e Esplendor em que se conservava a Casa de Sá” ao
tempo dos seus avós.
Na relação de bens aí contida relaciona-se, entre muitos outros, uma boa livraria,
as benfeitorias da casa e quinta de Sá - compreendendo “o grande Palácio” e todas as
mais casas que ali se achavam, muros, socalcos de toda a quinta, jogo da bola, pombal,
moinhos, viveiro, tanques e alcatruzes de água que rodeavam a casa e os portais da
mesma quinta, a grande casa da fábrica de papel, a herdade da quinta da Cascalheira
(em que se achava situada a sobredita fábrica) e as casas dos caseiros da mesma quinta;
seis faqueiros de prata inteiros, trinta e três cobertas de damasco de várias cores, vinte e
cinco catres de ensamblador (sendo dez de pau preto), sete dúzias de copos de vidro da
Índia, vinte dúzias de tigelas de louça da Índia, vinte dúzias de pratos grandes e
travessas da mesma louça, quatro dúzias de sopeiras e terrinas da mesma louça, seis
aparelhos de chá da mesma, de várias cores, dois santuários em pau preto, oito dúzias de
cadeiras forradas de damasco, catorze cómodas com ferragens amarelas, sendo oito em

111
pau preto, duas papeleiras em pau preto, dezoito mesas de chá ou jogo em pau preto,
duas carruagens com os aparelhos precisos, duas dúzias de castiçais de prata, seis
relógios de algibeira (sendo três marchetados com pedras de diamantes, com caixas de
ouro, e os outros com caixas de prata), três grandes pentes de ouro com diamantes e seis
mais pequenos, dois pares de brincos de ouro, um hábito da Ordem de Cristo de ouro
com diamantes e um outro mais pequeno, também de ouro e diamantes, um colar, um
adereço, cinco cordões e seis anéis de ouro, sendo estes cravejados de diamantes, dois
cálices, patenas e colheres de ouro, seis cavalos de estado e sela e os montados de Pena
Besteira, de natureza de herdade, quinze juntas de bois, etc., “e a grande soma de
dinheiros do Brasil que o seu capital correspondia ao rendimento anual de meia arroba
de ouro”.
Ficando viúvo de D. Josefa Antónia de Sotomayor e Menezes, casou em 2ªs
núpcias a 1/6/1801 na paroquial de Santa Eulália de Barrosas com D. Ana Peregrina
Pinto Pereira Velho de Carvalho e Almeida, nascida a 11/7/1761 em Santo Ildefonso,
Porto, onde foi baptizada no dia 23, e falecida a 10/9/1839 na casa de Sá, filha de
Manuel Pinto Pereira Velho, administrador do vínculo da Santíssima Trindade e senhor
das casas e quintas da Capela e do Burgo, em Sernande, Felgueiras, e de sua 2ª mulher
D. Maria Leonarda de Carvalho e Almeida; neta paterna de Manuel Velho Pinto,
administrador do mesmo vínculo e senhor das casas e quintas da Capela e do Burgo,
familiar do Santo Ofício (carta de 3/5/1701), e de sua mulher D. Serafina Pereira de
Almeida; neta materna de Domingos Mendes de Carvalho, escrivão do eclesiástico na
cidade do Porto, e de sua mulher D. Leonarda Maria de Almeida e Andrade.

Filhos do 1º matrimónio:
1(X)- Dr. António Zeferino Moreira de Sá e Menezes, segue no § 2
2(X)- Rodrigo António Moreira de Sá Brandão, teve duas filhas que perfilhou e
para as quais requereu legitimação régia que foi conseguida. C. g.
nomeadamente no Brasil (é um dos seus descendentes actuais o Engº Humberto
Rodrigues de Sá, engenheiro da Empresa de Obras Públicas do Estado do Rio de
Janeiro). C. g.
3(X)- Revº Miguel Joaquim Moreira de Sá Brandão Sotomayor e Menezes,
nasceu a 4/8/1772 em Barrosas, em cuja paroquial foi baptizado no dia 12 pelo
revº Dionísio Pereira da Costa e Silva, primo de seu pai, sendo padrinhos o
desembargador Dr. Miguel de Arriaga Brum da Silveira e sua mulher D.
Mariana Joaquina de Vilhena Coutinho, moradores na cidade de Lisboa, por
procuração feita aos avós paternos do baptizado.
Faleceu a 3/6/1853 em S. Miguel das Caldas de Vizela, freguesia de que
possuiu a abadia, e onde foi sepultado.
Acérrimo partidário do rei D. Miguel, contrariamente ao pai e irmãos,
recusou-se a prestar-lhes auxílio quando - no auge das lutas entre os adeptos de
um e outro dos reais irmãos - a casa de Sá foi assaltada e sequestrada por ordem
do governo miguelista.
De resto, o seu comportamento, em várias fases da vida, indiciam
uma personalidade bem controversa.
Como exemplo, refira-se que em 6/7/1838, por escritura pública
lavrada nas notas do tabelião Nicolau Teixeira de Abreu, da vila de
Guimarães, o revº abade de S. Miguel das Caldas, residente na sua quinta
do Carvalhal, na freguesia de Santa Maria de Infías, declarou que “como
filho Legitimo que era de Francisco Joaquim Moreira de Sá, e de Dona Josefa
Antónia de Vasconcelos Sotto maior e Menezes falecidos, e moradores que
forão na sua Caza e Quinta
112
de Sá da freguezia de Santa Eulalia de Barrozas, declarava, e havia por
declarado, que não tinha recebido depois da sua morte couza algua da sua
herança, nem fôra ou queria ser seu herdeiro, antes se abstinha desso, para não
responder por dívidas, ou acçoens passivas da mesma herança: cuja declaração
fazia agora, e não tinha feito mais cedo, porque nem seu pai fizera Inventário
por morte de sua Mai, nem por falecimento delle o fizera seu Irmão Miguel
António Moreira de Sá, que fora doado na Caza, e ficára na posse e Cabeça de
Cazal: protestando por isso de não responder pelas dívidas e obrigaçoens em
que se considere a predita sua Caza natal”.
De resto, já em 1828, quando do sequestro ordenado pelo governo
miguelista à casa de Sá, então já desfrutada pelo irmão Miguel António Moreira
de Sá, o revº abade não alegou qualquer direito a ela.
Mas, intervindo na transacção efectuada por escritura pública de
3/9/1844, entre os sobrinhos (António Cecioso Moreira de Sá e irmãs) e os
primos (o coronel José Joaquim Moreira de Sá e irmã D. Henriqueta Emília
Moreira de Sá e Ferreira de Eça), ressalvou o direito que tinha aos prazos de Sá
e Silvares e de os nomear no sobrinho que mais lhe aprouvesse, tendo - apesar
de tudo - os restantes intervenientes aceitado esta condição e ressalva.
Assim, em 24/9/1851, por escritura lavrada nas notas do tabelião
Joaquim Silvestre de Sousa, de Guimarães, doou a casa e quinta de Sá e o casal
de Silvares aos sobrinhos D. Eduarda Emília Moreira de Sá e marido, o Dr.
Francisco Joaquim Moreira de Sá.
Viveu maritalmente desde 1820 com Ana Dias Pereira de Freitas
(casada mais tarde com António Dâmaso Monteiro Osório) e de quem não
sabemos se terá tido filhos.
De qualquer modo, doou por escrituras de 10/7/1850 e 30/8/1851, nas
notas do tabelião Torres, de Barrosas, os bens do Mourisco a esta sua antiga
manceba e marido.
4(X)- Manuel António Moreira de Sá, de quem desconhecemos a data e local
de nascimento, mas veio a falecer heroicamente no ataque da Ponte de Amarante
em 1809, na Guerra Peninsular, mal ferido.
Distinguiu-se ainda na defesa do Douro, em Castro Daire e nas baterias
do Porto.
Era cadete do Regimento nº 18 da 2ª Brigada da Divisão do Norte.
A “Gazeta de Lisboa” de 15/12/1809 (nº 169) refere-se-lhe deste modo:
“Entre os muitos rasgos de entusiasmo Patriótico, que deram a conhecer
a Lealdade Portuguesa na justa defesa contra os bárbaros satélites do
aventureiro Corso, tem distinto lugar o seguinte: Manuel António Moreira de
Sá, filho de Francisco Joaquim Moreira de Sá, Fidalgo da Casa Real, tendo-se
distinguido na defesa do Doiro contra a furiosa agressão do General Loison,
sendo un dos que o perseguiram até às vizinhanças de Castro d’Aire, assentou
depois praça de Cadete com seu irmão José Xavier Moreira de Sá, no
Regimento nº 18 da Segunda Brigada da Divisão do Norte: veio à restauração
de Lisboa; distinguindo-se nas baterias da cidade do Porto, quando foi
investida pelo Exército de Soult, e em todas as acções em que foi empregado;
consumando a sua gloriosa carreira na Ponte de Amarante, aonde comandava
uma partida de atiradores, e foi atravessado por uma bala. Nas poucas horas
que sobreviveu, deu provas evidentes de valor intrépido; e conhecendo em fim
que a sua ferida era mortal, foram as seguintes as suas últimas palavras:

113
Paguei o que devia ao meu Soberano, e à minha Pátria. Peço perdão a Deus e a
benção a meus Pais. Nimguém me chore, imitem-me”. S.g.
5(X)- José Xavier Moreira de Sá, de quem também desconhecemos a data e
local do nascimento, veio a falecer no Rio de Janeiro, solteiro.
Foi, como o irmão Manuel António, cadete do Regimento nº 18, da 2ª
Brigada da Divisão do Norte.
Comportou-se igualmente com bravura na Guerra Peninsular como, de
resto, foi atestado por instrumento lançado na nota do tabelião Manuel da Cunha
Vale, da cidade do Porto, em 29/7/1808:
“O Monsenhor Miranda; Mestre Escola; o Magistral da Colegiada
Fortunato Cardoso Menezes Barreto e os mais abaixo assignados moradores na
mesma Vila, Atestamos e juramos sendo necessario, em como os Ilustríssimos
Manuel António Moreira de Sá e seu irmão José Xavier Moreira de Sá, quando
tocou à sahida para atacar, ou repelir a Coluna Franceza, que estava no Dezejo
e caminhava a esta Província sahira com animo valeroso, e athe de pé por falta
de cavalgaduras, direitos a Amarante e dahi atravessarão ao Douro Lamego e
athe perto de Castro Daire não desamparando nunca as Bandeiras Portuguezas
avançandose a portos arriscados animando o Povo na sua frente e com as
Armas, que adquirirão e mostrando em tudo não só valor mas amor ao Princepe
e à Patria que defenderão não se recolhendo senão depois que o inemigo se
perdeu de vista”.
Além dos já referidos acima (monsenhor Pedro Machado de Miranda, o
mestre escola João Machado da Guerra e o capitão Fortunato Cardoso de
Menezes Barreto) assinam mais esta atestação o capitão magistral Manuel de
Gusmão Machado da Cunha, António Clemente Cardoso, Henrique José Vieira,
o cirurgião da expedição e o porta-estandarte do referido ataque, José Maria
Borges da Cunha Gaivoso, Pedro Machado de Miranda da Maia Pereira de
Azevedo e o alferes Lourenço António Vieira. S.g.

Filhos do 2º matrimónio:
6(X)- Miguel António Moreira de Sá, embora não fosse o primogénito (era
filho, como vimos, do 2º matrimónio de seu pai), veio a tornar-se o herdeiro do
morgadio e dos restantes bens patrimoniais de seus pais, pelo que foi o 2º
administrador do morgado de Sá, senhor da casa e quinta de Sá, da quinta da
Cascalheira, do prazo de Silvares, da quinta do Outeiro, de Tegem, do vínculo de
Santa Cruz e quinta do Casal, etc.
Nasceu a 14/11/1801 em Santa Eulália de Barrosas e veio a falecer a
27/7/1836 em Lisboa, sendo sepultado no cemitério do Alto de S. João.
Foi combatente da causa liberal, sendo distinta a sua folha de serviços em
defesa do seu monarca.
Em 1821 e 1822 era cadete da 1ª Companhia do 1º Batalhão do
Regimento de Infantaria nº 15.
Em 1826 era já tenente do Batalhão de Voluntários Nacionais, em
Guimarães, onde serviu até 1828. Neste mesmo ano, passou a servir no Porto e,
após a derrota das forças constitucionais, acompanha a divisão de Sá da
Bandeira na sua ida para a Galiza e depois para Inglaterra.
No ano seguinte, em 1829, regressa a Portugal.
Sendo descoberto em Monção é preso e conduzido sob prisão para o
castelo de Guimarães.

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Julgado em tribunal de guerra, é condenado à morte por enforcamento,
juntamente com outros combatentes liberais.
Em 19/11/1830 é protagonista de uma espectacular evasão, com mais
cinco companheiros seus igualmente condenados à pena capital.
Segundo ele próprio relata num curioso livro de memórias (com a
narração das aventuras e sofrimentos como exilado e prisioneiro de guerra), ter-
se-á servido dos lençóis das camas rasgados em tiras, atadas umas às outras,
sendo a primeira presa às grades da prisão. Por elas desceram os fugitivos até ao
largo do Cano.
Embarcou no Porto para o Brasil onde, posteriormente, se lhe foi juntar a
família, enquanto a casa de Sá era sequestrada pelo governo do rei D. Miguel.
Durante a sua permanência no Brasil escreveu e publicou uma “História de D.
João VI”, no seguimento de uma tendência literária que se manifestou desde a
infância e relatada ufanamente pelo pai.
Regressou a Portugal em Abril de 1834, alistando-se no Batalhão
Nacional fixo, de Guimarães, em que teve o posto de capitão.
Em 4/8/1834 foi eleito vereador da Câmara de Guimarães, eleição que se
repetiu em 15/2/1835.
Nos finais de 1835 partiu com a família para a capital a fim de ocupar o
cargo de redactor de “O Nacional”, órgão oposicionista a Agostinho José Freire,
vindo a falecer no ano seguinte.
Casou a 12/3/1822 na cidade do Rio de Janeiro, com D. Maria Bebiana
de Carvalho e Oliveira, nascida a 12/12/1803 na mesma cidade e falecida em
20/11/1840 em Santa Eulália de Barrosas, na sua casa de Sá, filha do conselheiro
Dr. Jacinto Manuel de Oliveira, bacharel formado em Leis, dezembargador no
Rio de Janeiro, do conselho de Sua Majestade, comendador da Ordem de Cristo,
natural do Serro Frio, província de Minas Gerais, e de sua mulher D. Joana
Maria Angélica de Carvalho, natural da freguesia de Landim, concelho de Vila
Nova de Famalicão; neta paterna de Custódio Barbosa de Oliveira, de S.
Salvador de Bente, Vila Nova de Famalicão, e de sua mulher D. Jacinta Teresa
de Jesus, da vila do Príncipe, no Serro Frio; neta materna do tenente-coronel
Bento Dias de Carvalho Landim, mercador, familiar do Santo Ofício (carta de
6/3/1767), natural de S. Salvador de Bente, e de sua mulher D. Ana Gonçalves
de Jesus.
O casamento foi precedido de convenção antenupcial de dote, lavrada a
9/3/1822 e lançada na nota do tabelião José Peres Garcia no dia 14, da cidade do
Rio de Janeiro, “nas Cazas de morada de Dona Jacinta Thereza de Jesus, na
rua de São Lourenço desta Corte”.
O pai da noiva, o conselheiro Jacinto Manuel de Oliveira, dotava-lhe a
quantia de 200.000 reis anuais de arras, enquanto fosse viva, além do enxoval
decente e legítima que lhe ficou pertencendo por morte da mãe, D. Joana Maria
Angélica de Carvalho, “cujo formal lhe seria entregue no dia do seo
Despozario”.
Os pais do noivo dotavam-no com 400.000 reis anuais, além de casas,
mesa, criados e bestas para o seu serviço, enquanto fosse vivo o dotador, pois à
sua morte “sendo o dito seo filho unico” (sic), entraria na posse e domínio dos
bens vinculados, prazos e todos os mais bens existentes no casal, sem qualquer
reserva.
No caso, não esperado, de discórdias “ficaria ao arbitrio do Pai escolher
a ficar este na admenistração dos bens vinculados, prazos, e mais bens, e dar

115
em Arras ao dito seo filho, a quantia de quatro centos mil reis annuaes, para
elle e sua fuctura espoza os disfrutarem aonde, e como bem quizerem; e vice
verse ficaria o sobredito seo filho admenistrando os bens mencionados com a a
obrigação de dar ao Pai a quantia de quatro centos mil reis annuaes, para os
disfrutar aonde e bem quizer, e emquanto vivo for, e que depois de sua morte
ficaria o mesmo seo filho obrigado a dar a sua Mai a Illustrissima Dona Anna
Peregrina Pinto de Carvalho annualmente a quantia de trezentos mil reis, para
ella os disfrutar, e para se tractar aonde, e como bem quizer. Igualmente
disserão que no Cazo de ser Deos servido levar a seo filho da vida prezente
antes de haver entre elle e sua fuctura Esposa sucessão se obrigavão a dar em
Arras a sua nora a Illustrissima Dona Maria Bebiana de Carvalho e Oliveira,
annualmente a quantia de trezentos mil reis para os disfrutar aonde, e como
bem quizer e isto emquanto fosse viva, porque dipois da sua morte os bens
devião passar a quem Legitimamente pertencer sem onus, ou encargo algum.”.
Regressando a Portugal, Francisco Joaquim Moreira de Sá e sua mulher
D. Ana Peregrina, doaram a este seu filho e nora, inter-vivos, com transferência
de domínio e sem reserva de usufruto todos os seus bens, incluindo os prazos de
vidas da quinta de Sá e prazo de Silvares, por escritura pública de 12/5/1824.
C.g. na Casa de Sá (ainda hoje pertença do ilustre ramo Moreira de Sá e Mello)
e Casa de Fundevila (esta fora da Família por venda).
7(X)- D. Maria do Carmo Moreira de Sá, não sabemos a data e local do
nascimento, mas veio a falecer viúva em Campos de Goytacazes, a 17/5/1859.
Foi professora de primeiras letras na freg. de S. Salvador de Campos
onde residia.
Casou na cidade de Campos de Gaytacases, na província do Rio de
Janeiro, com António Lino de Herédia, falecido a 25/12/1867, em Campos dos
Goytacazes, sendo sepultado na Ordem Terceira da Boa Morte, na mesma
cidade, foi professor de canto e piano, em Campos dos Goytacazes. filho de
Joaquim Francisco de Sales e de sua mulher D. Maria Desidéria de Herédia e
Vasconcelos (esta muito certamente neta paterna do capitão Roberto de Herédia
e Vasconcelos, moço fidalgo da Casa de Sua Majestade, cavaleiro professo na
Ordem de Cristo, e de sua mulher e prima D. Úrsula de Herédia e Vasconcelos -
estes Herédias vêm largamente tratados no estudo atrás referido “MORRO DO
PILAR”142).
Teve:

142
Ob. cit., publicação idealizada, organizada, coordenada e editada pelo Instituto Espinhaço, História
Viva: “MORRO DO PILAR – CULTURA, MEMÓRIA, SUSTENTABILIDADE E A ANTECIPAÇÃO
DO FUTURO, Morro do Pilar, 2014. Este capitão Roberto de Herédia e Vasconcelos, que obteve em
1744 a mercê régia de sesmarias nas margens do rio do Cipó, na zona de Minas Gerais, Brasil, foi pai,
pelo menos, de D. Sancho Bernardo de Herédia, sargento-mor e depois capitão-mor da vila do Príncipe,
cavaleiro professo na Ordem de Cristo, casado com D. Maria Senhorinha Frémiot de Chantal, gente
fidalga e de vastos e poderosos bens no Serro Frio, o qual, cronologicamente, deverá ser o pai de D.
Maria Desidéria Herédia de Vasconcelos referida no texto. Note-se que em 31/12/1802 houve um
requerimento do sargento-mor Sancho Bernardo de Herédia sobre o assentamento de seus filhos Roberto
de Herédia Nascimento (é o Roberto de Herédia Vasconcelos que em 1827 era cavaleiro professo na
Orem de Cristo) e Sancho Bernardo de Herédia Athoughia no regimento regular de cavalaria de linha,
com atestado da mesma data da vila do Príncipe (Casa dos Contos, CC - CX. 65 – 30654).
Pelas datas, admitimos do mesmo modo que pudesse ser familiar próximo do capitão Roberto de
Herédia e Vasconcelos, talvez até seu irmão, o D. João José de Herédia, que foi tenente-coronel da
cavalaria dos dragões auxiliares dp regimento da via de Pitangui, para o qual pediu a confirmação régia
em 1770. Este terá nascido em 1724. Tinha vastos bens no Serro Frio, sendo já falecido em 1789.

116
XI (1) - Doutor Miguel António Herédia de Sá. Nasceu a 4/3/1823, no
Rio de Janeiro. Faleceu a 10/12/1879, em Campos dos Goytacazes. Foi
Médico pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, jornalista,
redactor do jornal “Gazeta de Campos” (1872-1875), em Campos dos
Goytacazes. Em 1851 figurava como professor de Retórica do Liceu de
Campos dos Goytacazes. Encabeçou os nomes dos ilustres fundadores de
“A Emancipadora Campista”, uma sociedade fundada em Campos de
Goytacazes em Março de 1870, com o fim de alforriar escravos.143 Foi
Cavaleiro da Imperial Ordem da Rosa. 144 Casou com D. Maria Antónia
Herédia de Sá, que em 1909, por ocasião do casamento de seu filho
Cícero, residia no Rio de Janeiro, à Rua Uruguaiana, nº 26. C. g. ilustre
no Brasil.
XI (2) - Francisco. Nasceu a 4/6/1824 em Campos de Goytacazes e já
era falecido em 1867. S. g.
XI (3) - Doutor José Joaquim Herédia de Sá, nasceu a 5/1/1830, em
Campos dos Goytacazes, onde residiu na freg. de São Salvador. Foi
cavaleiro e oficial da Imperial Ordem da Rosa, deputado à Assembleia
Provincial do Rio de Janeiro, delegado de Polícia em Campos dos
Goytacazes, Doutor em Medicina pela Faculdade do Rio de Janeiro.
Casou em 1ª.s núpcias com D. Ambrosina Carneiro da Silva, nascida em
1840, falecida a 28/3/1873, em Campos dos Goytacazes, sepultada na
Ordem Terceira de São Francisco. Casou em 2ª.s núpcias, a 2/10/1875
com D. Francisca Dutra da Silva Medeiros, filha de António José de
Medeiros e de sua mulher D. Inácia Dutra da Silva. Em 1871, ainda
sextanista exerceu papel importante no combate a uma epidemia que
grassava em povoados nos arredores de Campos. 145 C. g. ilustre em que
se destacam oficiais superiores da Guarda Nacional, funcionários
públicos da perfeitura do Rio de Janeiro, deputados federais, etc.

$2

Casa de Fundevila

X- Dr. António Zeferino Moreira de Sá e Menezes, filho primogénito de Francisco


Joaquim Moreira de Sá, fidalgo da Casa de Sua Majestade, cavaleiro professo na Ordem

143
Vd. “Dicionário da escravidão negra no Brasil”, de Clóvis Moura.
144
A Imperial Ordem da Rosa é uma ordem honorífica brasileira. Foi criada em 27/2/1829 pelo imperador
D. Pedro I para perpetuar a memória de seu matrimónio, em segundas núpcias, com Dona Amélia de
Leuchtenberg e Eischstädt. De 1829 a 1831 D. Pedro I concedeu apenas cento e oitenta e nove insígnias.
O seu filho e sucessor, D. Pedro II (1840-1889), ao longo do segundo reinado, chegou a agraciar 14.284
cidadãos. Além dos dois imperadores, apenas o duque de Caxias foi grande-colar da ordem durante sua
vigência.
A Imperial Ordem da Rosa premiava militares e civis, nacionais e estrangeiros, que se distinguissem
por sua fidelidade à pessoa do Imperador e por serviços prestados ao Estado, e comportava um número de
graus superior às outras ordens brasileiras e portuguesas então existentes.
145
Alberto Lamego, o grande historiador da região, in “Terra Goytacá”, vol. V, pág. 391, 392, 393.

117
de Cristo, 1º administrador do morgado de Sá, do morgado do Outeiro, etc., e de sua 1ª
mulher D. Josefa Antónia de Sotomayor Osório de Menezes de Vasconcelos, nasceu a
21/10/1769 na rua de Santa Luzia, freguesia de S. Paio, da vila de Guimarães, sendo
baptizado no dia 7 de Novembro na capela de Santa Luzia, com licença de Sua Alteza
Real o Senhor D. Gaspar, arcebispo de Braga, tendo por padrinhos os avós paternos.
Faleceu “quaze de improvizo e immaturamente” na cidade de Lisboa, a
25/3/1807, sendo sepultado no convento de S. Francisco da Cidade.
Fez habilitação de genere em Braga a 14/12/1786.
Foi bacharel formado em Leis pela Universidade de Coimbra (em 21/6/1797),
cadete do Regimento de Cavalaria nº 6, de Chaves, aparecendo em alguma
documentação com o foro de fidalgo da Casa Real.
Foi nomeado sucessor no morgadio do Outeiro, em S. Paio dos Arcos de
Valdevez, que era herança de sua mãe.
Não veio a suceder na administração do morgadio de Sá e restantes bens de seu
pai, por morrer em vida deste.
Porém, por ser pública fama que o pai lhe fizera doação de todos os bens, passou
a este, em 8/6/1798, a seguinte procuração:
“Ao tempo em que meu Pay o Senhor Francisco Joaquim Moreira de Sá he
obrigado a celebrar varias escrituras de compras, vendas e promutas de bens de rais
afim de por em execução os seus bem combinados projectos tence espalhado a vaga e
falça noticia delle me ter feito Doação de seus bens e como a ser verdade lhe seria isto
indecorozo não declarar esta Circunstancia as pessoas que com elle tem de Celebrar
semilhantes Contratos para sucego destas e para desmentir hua semilhante Callumnia
eu Concedo ao dito meu Pay todos os poderes em direito necessarios com Livre e geral
administração para asignar em meu nome as ditas Escrituras. Quinta de Sá, oito de
Junho de mil sete centos e noventa e oito. António Zeferino Moreira de Sá”.
Teve de D. Maria Gertrudes Rebelo Peixoto (dos Guimarães) de Azevedo e
Castro, administradora dos morgados de Laços, em S. Miguel de Creixomil,
Guimarães, e de Rio Mau (com capela de invocação de Nossa Senhora da Penha), em S.
Miguel de Carreiras, senhora da casa e quinta de Fundevila, em S. Miguel do Paraíso,
da quinta do Arronso, em Santa Eulália de Nespereira e dos prazos do Rebelo, Veiga,
Campo das Ubeiras, Escadarias, rua Franca e rua Nova das Oliveiras, em Guimarães,
nascida a 29/5/1770 em Creixomil e falecida viúva e com testamento a 24/2/1825 na rua
do Espírito Santo, sendo sepultada na igreja das Capuchinhas, filha única e herdeira de
Rodrigo Rebelo Peixoto de Castro, fidalgo da Casa de Sua Majestade, administrador
dos morgadios de Laços e de Rio Mau, senhor da quinta do Arronso, em Santa Eulália
de Nespereira, etc., e de sua mulher D. Gertrudes Maria de Campos Faria Pinheiro,
senhora da casa de Fundevila; neta paterna de Belchior Rebelo Peixoto de Azevedo,
senhor das casas de Recobelo, em S. Martinho de Águas Santas (Póvoa de Lanhoso) e
do Marinhão (chamada Casa Grande do Marinhão), em Moreira de Rei (Fafe), e de sua
mulher D. Custódia Francisca Ferreira Caldeirão; neta materna de Francisco Rodrigues
Álvares, negociante, e de sua mulher D. Mariana Josefa dos Santos Barbosa Pinheiro e
Faria, senhora da quinta de Fundevila,

Filho legitimado:
XI- Valentim Brandão Moreira de Sá Sotomayor e Menezes, segue

XII- Valentim Brandão Moreira de Sá Sotomayor e Menezes, nasceu a 13/2/1803, a


ocultas, na quinta do Pinheiro, em Nespereira, onde foi baptizado, e veio a falecer a

118
28/3/1870 na sua casa da rua Nova das Oliveiras, em Guimarães, sendo sepultado na
capela da Ordem Terceira de S. Domingos, da mesma cidade.
Foi legitimado por carta régia de 26/6/1824, como filho do cadete António
Zeferino Moreira de Sá “Cavalheiro de conhessida Nobreza e filho de hum Fidalgo da
minha Real Caza, Cavaleiro da Ordem de Christo”, o qual sendo filho-família tivera o
agora legitimado “de hua Senhora Cazada com hum homem fidalgo de quem hoje era
viuva, a qual sempre com mão oculta concorrera com as despesas da sua educação em
caza de José Soares Pereira”.
Logo após o nascimento fora entregue por ordem do pai a uma ama em Barrosas
(mulher de José da Cunha, do lugar de Lamelas), onde viveu até à idade de dois anos.
Seguidamente, o progenitor deu ordens para ser entregue a Josefa Clara do
Sacramento (mulher de José Soares Pereira) da vila de Guimarães, a fim de ser educado
e lhe ministrar as primeiras letras, já que em sua casa se encontravam - para o mesmo
fim - outros meninos “bem nascidos”.
Após a morte do pai, sua mãe (embora renitentemente) fê-lo ingressar no Real
Colégio de Nossa Senhora da Graça dos Meninos Órfãos, na cidade do Porto, (hoje
desaparecido e onde foi construído o edifício onde funciona a Reitoria da Universidade
do Porto). concorrendo “com mão occulta” nas despesas do ensino.
Este colégio permitia saídas profissionais às crianças abandonadas. Dividia-se
entre a Música, a Náutica, o Desenho e, claro, o Latim.
Desta Escola saiu muita gente formada que ocuparia importantes lugares na
Sociedade. Daqui saiu, por exemplo, um Bispo.
Em 1789 sabemos que lá viviam e cursavam 70 meninos em regime interno,
havendo também alunos externos que, ao pagar as propinas, asseguravam a
continuidade da obra.
Os alunos internos, para além das tarefas de aprendizagem, executavam
trabalhos vários que rendiam mais-valias necessárias ao mesmo fim.

Desenho da igreja e Colégio dos Órfãos de Nª Sª da Graça e placa evocativa do Real Colégio dos
Meninos Órfãos, que lhe foi dedicada pela Câmara Municipal do Porto, em 25 de Março de 1952

Projectava ela que o filho seguisse a “Academia de Coimbra”, mas como este
mostrasse forte inclinação para a carreira das armas, veio a assentar praça no Regimento
de Infantaria nº 15, em 26/5/1823.
A 15/9/1823, por escritura lavrada nas notas do tabelião Nicolau António
Ferreira Guimarães, da vila de Guimarães, José de S. Boaventura Soares de Morais
Sarmento e sua mulher D. Teresa Joaquina Vieira Soares, obrigaram-se a pagar a
quantia de quatrocentos reis diários a “Valentim Brandão Moreira de Sá filho natural
de António Zeferino Moreira de Sá Brandão, Morgado da Caza antiga e Quinta de Sá
no termo desta Villa”, que com eles fora criado e educado, passando a assentar praça no

119
citado Regimento de Infantaria nº 15, voluntariamente, “nas Vesporas da Feliz
Restauração do Governo Monarquico de El Rey Nosso Senhor, e dezejando-o
beneficiar afim de seguir seos adiantamentos e promover o seo Reconhecimento de
Cadête atenta a qualidade da Nobreza que lhe provem do falessido seo Pay”.
Em 1828, tendo excedido a idade para ser reconhecido cadete, pela demora da
carta de perfilhação e legitimação do Tribunal do Desembargo do Paço, pediu licença à
rainha D. Maria II para fazer suas provanças de nobreza.
Por lho ter sido recusado, voltou a requerer: “com o mais profundo respeito
implora a Vossa Alteza se digne attender não só às suas qualidades hereditárias como
ao tempo de serviço que tem, pois que no decurço de quatro annos, e oito mezes tem
servido a Vossa Alteza com zêllo, honra e caracter, sem que tenha notta alguma, já
seguindo as forçádas marchas do seu Regimento na passada epoca de disgraças, não se
poupando ao Real Serviço; sendo sempre hum soldado fiel, e obdiente aos seus
Superiores espondo sua vida pello seu Rey o Senhor D. Pedro 4º = e hum acerimo
defençôr pella esistençia da Carta Constitucional, que felizmente nos Rege (...) O
Supellicante Serenissima Senhora tem grande dezejo em continuar na carreira Militar,
e ser por este modo útil à sua Pátria, e família distinta de que procede, sendo huma
grande prova desta verdade a sua boa conduta Civil e Melitar, pois hé conhecido por
todos os seus Superiores como distinto e caracterizado, e por isso estimado, e admetido
entre elles”.
Neste requerimento, à margem, encontra-se escrita a seguinte informação: “Hé
filho Natural, perfilhado e Legitimado de família Ilustre e conhecida, a sua conduta
Civil e Militar hé muito boa, tem abelidade para o Serviço e pela sua construção fizica
e intiligencia permite que delle se possa fazer hum bom Official, e os rendimentos que
possui excedem ao determinado na Ley”.
A licença foi concedida.
Em 7/4/1836, na eleição do Estado Maior do Batalhão da Guarda Nacional, era
tenente. E em 7/5/1847 é nomeado major do mesmo Batalhão.
Por decreto da rainha D. Maria II de 25/6/1838 é nomeado cavaleiro da “Antiga
e Muito Nobre” Ordem da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, pelos
“serviços que durante o Cerco do Porto prestou à Causa da Liberdade, e da
Legitimidade”.
Em 12/11/1838 fora nomeado escrivão de Direito da comarca de Guimarães.
Posteriormente (por portarias de 31/3/1859 e 9/4/1861) é provido em tabelião do juízo
de Direito das comarcas de V. N. de Famalicão e Guimarães, respectivamente.
Por decreto de 6/12/1866 é despachado contador distribuidor do juízo da
correição de Guimarães, em sucessão a seu sogro, tendo tomado posse em 17/1/1867.
Parece ter pertencido à administração da vila de Guimarães durante a Patuleia.
Foi senhor da casa e quinta de Fundevila, com sua capela e mais pertenças e
casal da Silveira, em S. Miguel do Paraíso (na qualidade de herdeiro de sua avó materna
D. Gertrudes Maria de Campos Faria Pinheiro) de que tomou posse em 16/10/1830.
Foi igualmente senhor da casa armoriada dos Moreiras de Sá, na rua Nova das
Oliveiras, em Guimarães, da quinta do Bairro de cima, com todas as pertenças, na
freguesia de Santa Maria de Atães (por disposição testamentária de D. Mariana Luzia
Teixeira, da rua da Fonte Nova), do casal de Vila Meã, em Polvoreira (de que possuía o
senhorio directo com a curaria da vila de Guimarães), do prazo da Pedralonga, em S.
Miguel das Caldas de Vizela, de vários foros impostos em diversas propriedades e
freguesias (em S. Bartolomeu de Vila Cova, Fafe, casal das Carvalhinhas, em Serafão,
prazos de Silvares, Valinhas e Ubeiras, em Santo Adrião de Vizela).

120
No testamento cerrado com que faleceu sua mãe, D. Maria Gertrudes Rebelo
Peixoto de Azevedo e Castro, aprovado em 27/1/1825 pelo tabelião João Teixeira de
Araújo, de Guimarães, esta legou ao filho (não nomeado como tal - “Valentim Brandão
de Sá filho de António Zeferino de Sá”) a pensão anual e vitalícia de quatrocentos mil
reis, imposta sobre vários prazos por ela nomeados no parente Dr. Bento Ferreira Cabral
Pais do Amaral, que sempre cumpriu o legado.
Em 1842, no entanto, Valentim Brandão Moreira de Sá Sotomayor propôs contra
a viúva (D. Delfina Margarida Pais do Amaral), na qualidade de meeira, e contra as
filhas então menores (D. Sofia e D. Amélia - esta futura condessa do Juncal), na
qualidade de únicas herdeiras, uma acção a pedir o pagamento da pensão vencida em 24
de Fevereiro desse ano.
Instruiu os autos com as escrituras dos pagamentos realizados até aquela data,
das pensões impostas pela testadora, a sua “mãe natural”, como em muitas dessas
escrituras é nomeada.
Tendo as rés deduzido oposição por negação, foi proferida a final sentença em
29/11/1842, condenando-as neste pedido e desatendendo um outro da extinção da fiança
constituída.
Interposto recurso para o Tribunal da Relação do Porto, foi confirmada a
sentença da 1ª instância.
Não convencida, D. Delfina Margarida Pais do Amaral deduziu embargos ao
acórdão com o fundamento de que pela escritura de 24/3/1842 fora paga a pensão
referente ao ano de 1842, posto aí fosse consignado reportar-se o pagamento ao ano de
1841.
Estes embargos foram rejeitados.
Transitado em julgado o respectivo acórdão, instaurou Valentim Brandão
execução da sentença. Nomeou à penhora os rendimentos móveis e semoventes da casa
e quinta de Laços e do prazo sito em S. Torcato.
Só assim as executadas cumpriram a obrigação pelo pagamento, sustando-se a
execução.
Valentim Brandão Moreira de Sá Sotomayor e Menezes foi membro do
Conselho de Família constituído após a morte do tio Miguel António Moreira de Sá,
destinado a administrar os bens da casa de Sá e a assegurar a subsistência dos filhos
menores do falecido.
Casou a 21/9/1825 na igreja de S. Tomé de Caldelas, no termo de Guimarães,
com D. Ana Rita de Faria e Silva, assistente à data na sua quinta das Espigaras, na
mesma freguesia, nascida a 20/9/1803 em Nossa Senhora da Oliveira e falecida a
15/4/1849 em S. Sebastião, da vila de Guimarães, onde foi sepultada na igreja de S.
Domingos, filha de Francisco José de Faria e Silva, escrivão, distribuidor, contador e
inquiridor do juízo da correição de Guimarães, senhor da quinta das Espigaras e dos
casais do Souto, Assento, Quintã, Sepa e Eira, dos prazos do Pedraído e Pardelhas (este
de natureza de prazo reguengo), bem como da propriedade da Lameira, tudo em S.
Tomé de Caldelas, e de sua mulher D. Rosa Angélica de Faria, natural da freguesia de
“Arche” (sic) (deverá tratar-se da freguesia de Darque), no termo de Viana (noutro
assento se diz natural de Guimarães146; neta paterna de João Valentim de Santo António

146
Segundo uma “Memória Familiar” manuscrita que possuo por herança, D. Mariana Patrícia, avó
materna de D. Ana Rita de Faria e Silva (nessa “Memória Familiar” chamada D. Ana Rita de Faria e
Silva de Menezes Mascarenhas e Bourbon), mulher de Valentim Brandão Moreira de Sá Sotomayor e
Menezes, seria filha bastarda de D. António Maria de Melo da Silva César e Meneses (Lisboa, 31 de
Janeiro de 1743/Lisboa, 4 de Junho de 1805), 7.º conde de S. Lourenço, 4.º conde e 1.º marquês de
Sabugosa, foi um alto aristocrata, oficial general do Exército Português e membro do Conselho de Guerra

121
e Silva Lisboa, natural da freguesia da Encarnação, em Lisboa, e assistente em Santa
Marinha da Costa, no termo de Guimarães, e de sua mulher Antónia Josefa Barbosa da
Paz (e Faria), da freguesia de S.Paio, da mesma vila; neta materna de Mariana Patrícia,
da freguesia de Darque (?), no termo de Viana.
Em 6/12/1853, na cidade de Guimarães, nas casas de morada do juiz ordinário
do julgado, Dr. José António de Castro Meireles, por este foi dito que ao seu
conhecimento chegara a notícia do decesso de Francisco José de Faria e Silva, viúvo de
D. Rosa Angélica de Faria e Silva, proprietário e morador que foi na rua do Gado,
daquela cidade, o qual deixara netos menores que herdavam por cabeça de uma filha
anteriormente falecida (D. Ana Rita de Faria e Silva), pelo que se deveria proceder a
inventário, citando-se para comparecer naquele juízo e no tríduo da lei a cabeça de casal
a fim de prestar juramento e as informações necessárias.
Desse modo, a 9 de Dezembro desse mesmo ano, compareceu D. Antónia de
Faria e Silva, solteira, de 45 anos, moradora na rua do Gado, desta cidade, cabeça de
casal por morte de seu pai.
Declarou a mesma que ele falecera com testamento a 30/11/1853, sem que o
casamento dele com sua mãe tivesse sido precedido de escritura dotal, tendo deixado
por herdeiros a citada cabeça de casal, seu irmão José António de Faria e Silva, solteiro,
maior de 43 anos e com ela morador, D. Engrácia de Faria e Silva casada com José
Francisco Pereira de Sepúlveda, da mesma rua da Tulha, e os filhos de sua irmã falecida
D. Ana Rita de Faria e Silva, casada com Valentim Brandão Moreira de Sá Sotomayor,
à data morador em Vila Nova de Famalicão.
A herança vinha, desse modo, a ser dividida em quatro partes iguais, sendo três
para os filhos do inventariado e uma para os nove netos.

Filhos:

e detentor de diversos ofícios e títulos da corte, e de D. Rosa Angélica de Menezes Mascarenhas de


Lancastre e Bourbon; neta paterna de D. Ana de Melo da Silva, a 6.ª condessa de São Lourenço, e de seu
marido D. João José Alberto de Noronha, 6.º conde de São Lourenço (jure uxoris), alcaide-mor de Elvas e
alferes-mor do reino.
A Senhora de quem ele teria tido aquela filha não perfilhada, D. Rosa Angélica de Menezes
Mascarenhas de Lancastre e Bourbon, seria filha bastarda de D. João José Luís Mascarenhas Barreto, 6º
marquês de Fronteira, 7.º conde da Torre, de juro e herdade, e 7.º conde de Coculim, 6.° donatário de
fronteira e 6.° do mordomado-mor de Faro; Vedor da Casa da Princesa D. Maria Francisca Benedita, 12.°
administrador dos morgados das Chantas em Santarém e do da Goucharia em Almeirim. 6.° Morgado da
Torre das Vargens e 6.° dos de Coculim e Verodá na India, comendador na Ordem de Cristo, de Nossa
Senhora do Rosmaninhal, São Tiago de Torres Vedras, São Nicolau de Carrazedo, São Tiago de Fonte
Arcada e de São Miguel de Linhares, Padroeiro dos conventos de São Domingos da Serra e do de Nossa
Senhora da Conceição de Torre das Vargens, e de uma Ana Rita da Costa.
Seria assim neta paterna de D. José Luís Mascarenhas, 6.° Conde da Torre, 6.° Conde de Coculim e 5.°
Marquês de Fronteira, Veador da princesa D. Maria Benedita de Bragança, do conselho da rainha D.
Maria I de Portugal, senhor da vila de Fronteira, na Ordem de São Bento de Avis; senhor donatário do
mordomado de Faro, comendador das comendas de N. Senhora da Conceição de Rosmaninhal, etc. (tendo
principiado pela carreira eclesiástica, chegou a cónego da sé de Lisboa. Extinguindo-se a sucessão da casa
de Fronteira na morte em 1756 do 4.º Marquês, sem descendentes nem ascendentes, D. José I de Portugal
consentiu na renúncia do beneficio eclesiástico, e o proveu, por decreto de 21 de Março de 1769, no titulo
de Marquês de Fronteira em sua vida, e nas outras mercês de bens da Coroa e Ordens de que tinha mercê
sua casa), e de sua mulher a marquesa D. Mariana Josefa de Vasconcelos e Souza, filha do 1.º marquês e
4.º conde de Castelo Melhor. Sucedeu na Casa por não se haver ajustado o segundo casamento do irmão,
acima, com a prima, D. Ana Maria, filha do 3.º conde de Coculim.
Segundo esta mesma “Memória Familiar” manuscrita a filha Rosa Angélica teria nascido, de facto, a
ocultas, em Viana do Castelo, em freguesia que não é certa, eventualmente Darque, em propriedade de
família amiga. Como não posso documentalmente prová-lo, deixo-o somente como mera "Memória
Familiar" com a credibilidade que isso possa ter ou não como fonte historiográfica credível.

122
1(XII)- Dr. Francisco Joaquim Moreira de Sá, segue
2(XII)- D. Teresa, nascida a 31/7/1829 na quinta das Espigaras, em S. Tomé de
Caldelas, onde foi baptizada no dia 1 de Agosto, tendo como padrinhos José de S.
Boaventura Soares de Morais Sarmento e sua mulher D. Teresa Joaquina Vieira
Soares.
Faleceu com apenas 9 dias.
3(XII)- D. Rosa Angélica de Faria Moreira de Sá, nasceu a 23/12/1830 em S.
Paio, Guimarães, onde foi baptizada no dia 30, sendo padrinhos José de S.
Boaventura Soares de Morais Sarmento e D. Rosa Angélica de Faria e Silva, sua
avó materna.
Faleceu de maior idade solteira.
4(XII)- António Zeferino Moreira de Sá, nasceu a 12/2/1832 em Nossa Senhora
da Oliveira, Guimarães, e foi baptizado nos claustros da colegiada no dia 16, tendo
por padrinhos António José Lopes da Silva, capitão reformado do Regimento de
Milícias de Guimarães, cavaleiro professo na Ordem de Cristo (por procuração
passada ao avô materno) e D. Mariana Teixeira, da rua da Fonte Nova (assistiu em
seu nome Antónia Ramalho, da rua das Pretas)
Foi escrivão de Direito e faleceu na ilha da Graciosa.
Casou a gosto D. Albina Rosa de Belém Ferreira. C. g. que se extinguiu.
5(XII)- José Fortunato Moreira de Sá, nasceu a 19/11/1834 em S. Sebastião,
Guimarães, onde foi baptizado, tendo por padrinhos o conselheiro José Fortunato
Ferreira de Castro e D. Joana, residente na casa do Priorado.
Faleceu em S. José de Paraíba, no Brasil, onde residia.
Casou no Brasil com D. N. C.g.
6(XII)- João Manuel Moreira de Sá, nasceu a 16/3/1836 em Oliveira, Guimarães,
onde foi baptizado no dia 28, sendo padrinhos o cónego João Manuel da Guerra,
mestre-escola da colegiada de Nossa Senhora da Oliveira, Guimarães, e D. Rita
Clara Cândida Fernandes, viúva do desembargador do Supremo Tribunal de
Justiça, Dr. Manuel Baptista Felgueiras, da casa das Hortas.
Faleceu solteiro, de maior idade, em Guimarães.
Foi contador-distribuidor substituto (e depois interino) de Vila Nova de
Famalicão, por falecimento do irmão Venâncio.
7(XII)- Venâncio Valentim Moreira de Sá Brandão, nasceu a 8/4/1837 na casa
do terreiro das Lamelas e foi baptizado na igreja de Nossa Senhora da Oliveira no
dia 22, tendo como padrinhos o revº José Bento da Mota, capelão das religiosas do
convento das Domínicas e D. Maria Clara Rita de Sousa e Menezes Ataíde de
Vasconcelos, da casa das Lameiras, em Creixomil, e residente na rua Nova das
Oliveiras.
Faleceu solteiro em 1874.
Foi nomeado ajudante interino do contador de Vila Nova de Famalicão
(seu pai) por despacho e posse de 11/2/1867; idem em 9/12/1868; idem em
14/1/1869.
Por alvará e posse de 9/4/1870, foi nomeado contador distribuidor
interino por três meses e despachado efectivo por decreto de 10/9/1870, de que
tomou posse em 19/9/1870.
8(XII)- Valentim Moreira de Sá de Menezes (que também aparece, enquanto
jovem, com o nome Valentim Brandão Moreira de Sá Sotomayor Júnior),
nasceu a 23/4/1840 e foi baptizado no dia 11 de Maio na igreja de S. Paio, sendo
seus padrinhos o conselheiro António Manuel Lopes Vieira de Castro, de
conselho de Sua Majestade, ministro e secretário de Estado honorário, guarda-

123
mor da Torre do Tombo, da casa do Ermo, em S. Vicente de Passos e residente
na cidade de Lisboa, por procuração passada ao avô materno do baptizado, e D.
Antónia Joaquina Luisa de Ataíde de Menezes e Vasconcelos, da casa das
Lameiras, por procuração passada ao irmão Francisco Joaquim Moreira de Sá
Sotomayor e Menezes.
Foi no Brasil jornalista distinto e temido polemista e director do Colégio
de S. Luís, no Rio de Janeiro.
Foi também autor de um drama em três actos, “Sombras e Luz”,
aprovado pelo Conservatório Nacional e colaborou no jornal “A Glória”,
editado em Guimarães.
Casou no Rio de Janeiro em 1ªs núpcias com D. Maximiana Amália de
Sá e Menezes.
Casou em 2ªs núpcias, na mesma cidade, com D. Maria Carolina de
Moraes.

Filho do 1º matrimónio:
1(XIII)- Heitor Moreira de Sá e Menezes, morreu recém-nascido.

Filha do 2º matrimónio:
2(XIII)- D. Maria Valentina Moreira de Sá de Moraes, nasceu a
13/2/1876 no Rio de Janeiro, onde veio a falecer solteira a 16/11/1899.

9(XII)- D. Joaquina Máxima Moreira de Sá, nasceu a 17/9/1841 e foi baptizada a


3 de Outubro na igreja de S. Paio, sendo padrinhos Mariano Barroso de Sousa,
barão de Almargem, comendador das Ordens da Torre e Espada e de Nossa
Senhora da Conceição de Vila Viçosa, oficial da Torre e Espada, cavaleiro da
Ordem de Cristo, marechal de campo graduado, etc., por procuração passada ao
irmão Francisco Joaquim Moreira de Sá Brandão Sotomayor, e D. Joaquina
Máxima de Faria Freire de Andrade, da casa do Costeado, em Creixomil.
Faleceu de maior idade em Guimarães.
Era boa executante de clavicórdio.
10(XII)- D. Emília Angélica Moreira de Sá Sotomayor, nasceu a 14/10/1843 e foi
baptizada a 9 de Novembro na igreja de S. Sebastião, tendo como padrinhos o
conselheiro João Baptista Felgueiras, do conselho de Sua Majestade, fidalgo da
Casa Real, membro do Supremo Tribunal de Justiça, ministro e secretário de
Estado honorário, comendador da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila
Viçosa, e D. Emília Angélica Guimarães Vieira de Castro, mulher do
desembargador da Relação do Porto Dr. Luís Lopes Vieira de Castro, por
procurações passadas aos irmãos Francisco Joaquim e António Zeferino Moreira
de Sá. Faleceu solteira a 5/6/1925 em Braga, onde vivia com o sobrinho Dr.
Francisco Joaquim Moreira de Sá da Silveira Tinoco.
Sofria de perturbações mentais.

124
XII- O juiz de Direito Dr. Francisco Joaquim Moreira de Sá, que também aparece
enquanto jovem com os nomes Francisco Joaquim Moreira de Sá Sotomayor e
Menezes e Francisco Joaquim Moreira de Sá Brandão Sotomayor, nasceu a
31/7/1828 na vila de Almeida, distrito da Guarda (em cuja praça seu pai se encontrava a
prestar serviço) onde foi baptizado no dia 7 de Agosto, tendo como padrinhos o avô
materno (por procuração passada a Domingos José do Couto, alferes de ordenanças,
morador na mesma praça de Almeida) e Nossa Senhora das Neves (por quem pôs a mão
Luisa Tomásia das Neves, solteira e aí moradora).
Veio a falecer a 11/5/1882 em Cabeceiras de Basto, deixando expressa a vontade
de ser sepultado em Guimarães, no Cemitério da Atouguia, como de facto aconteceu.
Foi bacharel formado em Direito pela Universidade de Coimbra (na qual se
matriculou em 16/10/1844, concluiu o bacharelato em 11/10/1848 e a formatura em
17/6/1850).
Nos primeiros anos da sua carreira advogou em Guimarães, onde praticou
durante um ano com o conceituado advogado Dr. Bento António de Oliveira Cardoso.
Seguidamente, veio a ser, respectivamente, delegado do Procurador Régio na
ilha da Graciosa (Açores), em Lagos, Portalegre e Lousada, concluindo a sua carreira
de magistratura como juiz de Direito em Cabeceiras de Basto.
Foi senhor da casa de Fundevila, em S. Miguel do Paraíso, e da casa brasonada
dos Moreiras de Sá, em Guimarães (na então rua Nova das Oliveiras, hoje rua de
Camões).
Casou a 10/12/1850 na igreja de S. Miguel das Caldas de Vizela (cerimónia
presidida pelo tio e padrinho da noiva, o revº Miguel Joaquim de Sá) com sua prima D.
Eduarda Emília Moreira de Sá, senhora de vasta cultura e muito inteligente, falando e
escrevendo o latim primorosamente, nascida a 4/1/1823 em Santa Eulália de Barrosas,
na casa de Sá, e falecida a 15/12/1912 em Braga, filha primogénita de Miguel António
Moreira de Sá, capitão de infantaria, vereador da Câmara de Guimarães, redactor de “O
Nacional”, poeta de mérito, 2º administrador do morgado de Sá, etc., e de sua mulher
D. Maria Bebiana de Carvalho e Oliveira.
Em 24/9/1851, por escritura lavrada na nota do tabelião de Guimarães Joaquim
Silvestre de Sousa, o revº Miguel Joaquim de Sá doou aos sobrinhos D. Eduarda Emília
Moreira de Sá e marido, o licenciado Dr. Francisco Joaquim Moreira de Sá, a casa e
quinta de Sá e o prazo de Silvares.
Em consequência desta doação intentou D. Eduarda Emília acção judicial de
reivindicação contra o irmão, o Dr. António Secioso Moreira de Sá, que se encontrava
então na posse do morgado e de todos os bens de raiz, por falecimento sem
descendência do irmão mais velho, Francisco Manuel Moreira de Sá.
Vencida a acção pela autora, recorreu o irmão da sentença que veio a ser anulada
e ele confirmado na posse e cabeça de casal.
Em 1873 o Dr. Francisco Joaquim Moreira de Sá, delegado do Procurador Régio
na comarca de Portalegre, seus irmãos e sobrinhas menores D. Elvira de Belém Moreira
de Sá e D. Elisa Maria Moreira de Sá, representadas por sua mãe, D. Albina Rosa
Ferreira de Sá, viúva da cidade de Guimarães, como herdeiros de seu pai e avô
Valentim Brandão Moreira de Sá Sotomayor, fizeram citar D. Delfina Cabral Pais do
Amaral, viúva, e sua filha e genro, D. Amélia Augusta Ferreira Cabral Pais do Amaral e
o Dr. Carlos Vieira da Mota, para responderem a um libelo móvel de dívida em que os
autores exigiam o pagamento da quantia de 311.108 reis, da prestação de 400.000 a que
eles estavam obrigados pelo testamento da avó e bisavó paterna dos primeiros, D. Maria
Gertrudes Rebelo Peixoto dos Guimarães de Azevedo e Castro.

125
Tendo sido julgada procedente e os réus condenados ao pagamento, por sentença
de 18/8/1873, apelou D. Delfina Cabral Pais do Amaral para a Relação do Porto, onde
voltou a perder em 1ª e 2ª instância. C. g. (Beleza de Andrade Moreira de Sá,
Carvalho Magalhães Moreira de Sá, Moreira de Sá e Ferreira da Costa e Moreira
de Sá da Silveira Tinoco). 147

147
Todos os elementos constantes deste ANEXO II foram retirados do estudo manuscrito do autor, “Os
Sás de Vizela: MOREIRAS DE SÁ, Memórias Históricas, Genealógicas e Heráldicas”, em
preparação para publicação mas sem data prevista.

126
DOC. I

Requerimento do capitão-mor Francisco Moreira Carneiro para


confirmação da carta de sesmaria de uma terra em Rio de Santo
António de Mato Dentro

127
128
129
130
131
132
133
134
135
136
DOC. II

Requerimento do capitão-mor Francisco Moreira Carneiro solicitando


a mercê de o confirmar na serventia do posto de capitão-mor das
Ordenanças da freguesia de Nossa Senhora da Conceição,da comarca
do Serro Frio

137
138
139
140
DOC. III

Requerimento de Francisco Joaquim Moreira Carneiro Borges de Sá, filho do


capitão-mor Francisco Moreira Carneiro, solicitando ao Rei que os credores de seu
pai, das dívidas feitas na vila do Príncipe e em outros sítios de Minas Gerais, sejam
citados

141
142
143
144
145
DOC. IV

146
147
148
149
150
151
152
153
154
DOC. V

155
DOC. VI

Autos de Habilitação de Francisco Joaquim Moreira Carneiro


Borges de Sá, Fidalgo da Casa Real, Cavaleiro professo na
Ordem de Cristo, como herdeiro universal de seus pais, o
Capitão-mor Francisco Moreira Carneiro, Fidalgo da Casa
Real, Cavaleiro professo na Ordem de Cristo e Familiar do
Santo Ofício, e de sua mulher a Senhora Dona Eduarda
Catarina Borges do Couto e Sá.

Nota: Neste extenso Processo são nomeados os bens móveis e imóveis


herdados não somente no reino mas igualmente nos possuídos no Império
do Brasil, além das inúmeras dívidas de que aí é exequente.
Da mesma forma é, nomeadamente, reproduzida na íntegra a escritura da
instituição do vínculo de morgado de Sá.

(Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Juizo da Índia e Mina (IM)-Juizo


das Justificações Ultramarinas (JU)/004)

Nota: Atendendo à enorme extensão do documento (195


páginas) não é possível a sua digitalização.

156
DOC. VII

PORTAL DE LEGISLAÇÃO

Decreto nº 8514 de 06/05/1882 / PE - Poder Executivo Federal


(D.O.U. 31/12/1882)

Concede ao Dr. Antonio Secioso Moreira de Sá patente de invenção para o - Motor


pneumo-hydraulico e propulsor a roldanas.

DECRETO N. 8514 - DE 6 DE MAIO DE 1882

Concede ao Dr. Antonio Secioso Moreira de Sá patente de invenção para o - Motor


pneumo-hydraulico e propulsor a roldanas.

Attendendo ao que Me requereu o Dr. Antonio Secioso Moreira de Sá, e de


conformidade com o parecer do Conselheiro Procurador da Corôa, Soberania e
Fazenda Nacional, Hei por bem Conceder-lhe privilegio por 15 annos para o -
Motor pneumo-hydraulico e propulsor a roldanas, cuja descripção e modelo
acham-se depositados no Archivo Publico, sob a clausula de que sem o exame
prévio não será effectivo o privilegio, cessando a patente nos casos previstos no
art. 10 da Lei de 28 de Agosto de 1830.

Manoel Alves de Araujo, do Meu Conselho, Ministro e Secretario de Estado dos


Negocios da Agricultura, Commercio e Obras Publicas, assim o tenha entendido e
faça executar. Palacio do Rio de Janeiro em 6 de Maio de 1882, 61º da
Independencia e do Imperio.

Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.

Manoel Alves de Araujo.

157
OS PARENTES BRASILEIROS DA ACTUAL DUQUESA DE
BRAGANÇA

HERÉDIAS DE VASCONCELOS, do Serro Frio

Tem sido algo complicado conseguir estabelecer o parentesco existente entre a


poderosa Família Herédia de Vasconcelos, do Serro Frio, que possuía extensas
propriedades na zona, bem como na mineração dos diamantes, com os Herédias
madeirenses, de quem descende a actual Duquesa de Bragança.
Cedo me apercebi da coincidência de se contar entre os maiores devedores do
capitão-mor Francisco Moreira Carneiro, precisamente na zona onde ambos possuíam
avultados bens, sendo o capitão-mor o que mais escravos possuía em toda a extensão de
Minas Gerais (e isto já na primeira metade do século XVIII), um Roberto de Herédia e
Vasconcelos.
Logo de seguida aparece o casamento de uma neta daquele capitão-mor, D.
Maria do Carmo Moreira de Sá, com António Lino de Herédia, filho de José Francisco
de Sales e de sua mulher D. Maria Desidéria de Herédia e Vasconcelos.

158
Tomando em conta que António Lino de Herédia deverá ter nascido cerca de
1800 ou ainda antes (sua mulher nasceu cerca de 1803) tendo falecido em 1867,
poderemos com alguma segurança estabelecer o nascimento de sua mãe, D. Maria
Desidéria de Herédia e Vasconcelos cerca de 1770/1780, senão ainda antes.
Ora cronologicamente será quase certo ela ser filha do capitão-mor D. Sancho
Bernardo de Herédia, cavaleiro da Ordem de Cristo, morador na vila do Príncipe (antigo
Serro Frio)148 e este filho – provado por documento que adiante reproduziremos (Anexo
A) – do capitão Roberto de Herédia e Vasconcelos, moço fidalgo da Casa de Sua
Majestade e cavaleiro professo na Ordem de Cristo, conforme o mesmo documento o
identifica, sendo também a este que foi confirmada carta de sesmaria nas margens do rio
Ció, em 28/11/1743. Mas esse documento é ainda mais descritivo e, por esse motivo,
tão importante para este breve ensaio: ele era natural da Ilha da Madeira!
Ora aqui chegados não temos dúvida em identificar o Roberto de Herédia e
Vasconcelos com o devedor do capitão-mor Francisco Moreira Carneiro, tanto mais que
quando o filho herdeiro do capitão-mor, Francisco Joaquim Moreira Carneiro Borges de
Sá Barreto (fidalgo da Casa de Sua Majestade, cavaleiro professo na Ordem de Cristo,
administrador do opulento morgadio de Sá, em Barrosas, Vizela, e do Outeiro, em S.
Paio e Paçô, nos Arcos de Valdevez, além de muitos outros), dirige uma petição ao
monarca, no seguimento do que já fizera seu pai sem resultados, para que sejam citados
os devedores apara um acordo de pagamento das inúmeras dívidas que lhe eram devidas
e que prejudicavam a sua intenção de construção de uma grande Fábrica de Papel (que
foi construída e laborou, tendo sido a 1ª na Europa a fabricar papel a partir da massa de
madeira, pelo que a Francisco Joaquim Moreira de Sá foi concedido alvará régio de
24/1/1805 o monopólio e privilégio da exploração da indústria do fabrico pelo prazo de
25 anos) é citado o herdeiro do capitão Roberto de Herédia e Vasconcelos, o qual é,
nada mais, nada menos, do que o capitão-mor D. Sancho Bernardo de Herédia e
Vasconcelos.
Assim sendo, teremos que concluir que o capitão Roberto de Herédia e
Vasconcelos é o primeiro madeirense desta Família a assentar-se no Serro Frio. E assim
sendo, e até pela coincidência das datas, seria muito certamente seu irmão o D. José
João de Herédia, tenente-coronel de cavalaria dos Dragões Auxiliares do Regimento do
termo da vila de Pitangui, da comarca do Rio das Velhas, Minas Gerais (o que lhe
confirmado pelo monarca em 6/11/1770 – vide à frente o Anexo B), que aparece em
diversa documentação, com extensos bens na mesma zona do Serro Frio, o que seria
coincidência excessiva para não haver parentesco muito próximo.
Mas ainda existe mais um documento (de que infelizmente só possuímos a
súmula) que nos atesta o parentesco muito próximo que deveria existir entre eles: em
19/10/1787, uma carta expedida do Morro do Pilar, de D. José João de Herédia dirigida
a João Rodrigues de Macedo sobre o requerimento do sargento-mor Sancho Bernardo
de Herédia (Casa dos Contos, Caixa 42-30185, Rolo 513).
A nosso ver, o que é confirmado por documentos, Roberto de Herédia e
Vasconcelos já seria falecido em data aproximada àquela carta/requerimento; e assim
sendo, ou mesmo que o pai ainda fosse vivo, pela maior posição na hierarquia social do
irmão, nada mais natural que o tio intercedesse a favor do sobrinho. Provavelmente o
documento acima citado deverá poder confirmar esse parentesco, o que não nos é
permitido fazer por a ele não termos acesso.

148
Vide à frente o Anexo A, com excertos de documento referente a este D. Sancho Bernardo de Herédia
(e Vasconcelos), que foi casado com D. Maria Senhorinha Francisca Fremiot de Chantel.

159
Casa dos Contos, residência do contratador João Rodrigues de Macedo em Vila Rica 149

Agora compulsando vários estudos sobre os Herédias madeirenses,150 confirma-


se a filiação do tenente-coronel José João de Herédia, falecido em Angola, segundo
afirmam aqueles estudos, nascido a 14/2/1724, na Ilha da Madeira, sendo um dos vários
filhos de Don Sancho Bernardo de Herédia, administrador do morgadio de Nossa
Senhora da Apresentação, na Ribeira Brava, e de sua 2ª mulher D. Francisca Maria de
Menezes.
Provavelmente Roberto de Herédia e Vasconcelos seria mais um dos filhos deste
casal.
Mas as coincidências não ficam por aqui. Senão vejamos: a mãe de D. Sancho
Bernardo de Herédia foi D. Maria de Brito de Bettencourt (Athouguia), herdeira do
morgadio de Nossa Senhora da Apresentação da Ribeira Brava, filha herdeira de Pedro
de Bettencourt de Athouguia e de sua mulher D. Isabel de Mendonça.
Este apelido “Athouguia” foi, de resto, usado por várias filhas do casal Herédia.
Pois curiosamente, ou não, um dos filhos do capitão-mor D. Sancho Bernardo de
Herédia e Vasconcelos, chamou-se precisamente Sancho Bernardo de Herédia
Athouguia, indo assim repescar este apelido à sua antepassada e parentes próximos.
Obviamente que não caberá neste brevíssimo ensaio deixar todos os elementos
(e eventualmente serão muitos) que caberiam a um mais amplo e completo estudo desta
interessante e poderosa Família do Serro Frio, os Herédias de Vasconcelos. Deixarei
apenas pistas para quem se interessar em desenvolver, máxime os vários parentes ainda
hoje existentes no Brasil, quer na zona do Rio de Janeiro, quer noutras paragens daquele
imenso e poderoso país irmão.

149
A Casa dos Contos está localizada em Ouro Preto. Construída entre 1782 a 1784, serviu inicialmente
como residência a João Rodrigues de Macedo, proprietário da casa, e Casa dos Contratos, do arrematante
da Arrecadação Tributária das Entradas e Dízimas. Durante a repressão à Inconfidência Mineira, a casa
serviu para acomodar as tropas do vice-rei, e de prisão para os inconfidentes com elevados títulos sociais.
Em 1792, Macedo, em grande dívida com a Real Fazenda, transferiu a casa para esta, que a transformou
em sede da administração e contabilidade pública da Capitania de Minas Gerais e mudou seu nome para
Casa dos Contos.
150
Vide Henrique Henriques de Noronha, “Nobiliário da Ilha da Madeira”, e o estudo desta linhagem
nos Cadernos Barão de Arêde (Julho/Setembro 2914), da autoria de Luís Soveral Varella.
Não fique o leitor admirado pelo título de “Dom” que é usado muitas vezes por alguns destes
Herédias e noutros documentos o não seja referido. É que este título era meramente de cortesia,
atendendo à Família Herédia ser originária de Espanha.

160
Posso ainda assim referir, como finalização, e com a ajuda preciosa que me foi
fornecida pelo Amigo, Parente e distinto investigador, José Roberto Vasconcelos
Nunes, autor de diversos estudos genealógicos brasileiros, a existência de avultada
descendência de Herédias de Sá, descendentes de António Lino de Herédia e de sua
mulher D. Maria do Carmo Moreira de Sá, alguns deles eventuais descendentes dos que
aparecem numa fotografia tirada no Rio de Janeiro, no ano de 1897, quando o violinista
e musicólogo Bernardo Valentim Moreira de Sá (bisavô do autor deste estudo) efectuou
uma das suas diversas tournés artísticas (esta um das que fez com o pianista e
compositor Viana da Motta).
Na fotografia salienta-se o Dr. Artur Ambrosino Herédia de Sá, filho do médico
e fazendeiro Dr. José Joaquim Herédia de Sá (já atrás referido na genealogia da Casa de
Sá), que sabemos por uma biografia que nasceu em Campos (RJ) no dia 20 de
novembro de 1864. Seu pai, após a proclamação da República, foi deputado estadual.

Dr. Artur Ambrosino Herédia de Sá

Iniciou seus estudos em Campos, mas depois mudou-se para o Rio de Janeiro,
então capital do Império, e fez três anos de curso preparatório no Seminário Episcopal
de São José.
Em 1881 ingressou na Escola Militar do Rio de Janeiro, na Praia Vermelha,
onde foi contemporâneo, entre outros, de Serzedelo Correia, Lauro Sodré, Clodoaldo da
Fonseca, Morais Rego e Barbosa Lima. Deu baixa do serviço do Exército em 1886 e fez
concurso para a antiga Secretaria do Império. Apesar de aprovado, não conseguiu ser
nomeado e passou a dedicar-se ao comércio. Participou ativamente do movimento
republicano, ao lado de seus antigos companheiros da Escola Militar.
Logo após a proclamação da República, foi nomeado delegado da Candelária, no
Rio de Janeiro. Posteriormente, foi primeiro e quinto delegado de polícia. Em 1891, foi
nomeado segundo oficial da Diretoria Geral de Estatística, então reorganizada por
Aristides Lobo, e em seguida foi promovido a primeiro oficial por merecimento. Foi
convidado a ser oficial de gabinete de José Higino Duarte Pereira quando este assumiu
interinamente o Ministério da Justiça durante a presidência do marechal Floriano
Peixoto (1891-1894). Opositor de Floriano, cujo governo foi marcado pelo
autoritarismo, por fortes tensões políticas e por uma perseguição implacável aos
opositores, acabou sendo exonerado, juntamente com muitos outros colegas, quando
ocupava interinamente o lugar de chefe de seção.
De 1895 a 1897, foi intendente no Conselho Municipal do Distrito Federal. Em
1897 (ano da fotografia aqui reproduzida) foi eleito deputado federal pelo Distrito
Federal e tomou posse em maio, com mandato até dezembro de 1899. Presenciou o

161
rompimento do Partido Republicano Federal com o então Presidente da República,
Prudente de Morais (1894-1898), e participou da fundação de uma nova facção, como
representante dos diretórios políticos do Distrito Federal. Reeleito para as legislaturas
1900-1902 e 1903-1905, fez parte da Comissão de Petições e Poderes da Câmara dos
Deputados e ocupou sucessivamente, por três anos, os cargos de quarto, terceiro e
segundo-secretário da casa.
Foi também comandante de brigada da Guarda Nacional.151
Actualmente salientarei, pela amizade através das redes sociais, os parentes
Valério e Rui Herédia de Sá Martins, Warley Herédia de Sá, Eduardo Loukides Herédia
de Sá, a simpática e bonita Samily A. Herédia de Sá Duarte, além de Paulo Sérgio
Herédia de Sá, com quem mais frequentemente existe contacto.
Ainda será de referir o Doutor Miguel Anderson Herédia de Sá, doutorado em
Ciências Sociais, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e Mestre em
Economia, pela Universidade Federal Fluminense.
O nome “Herédia de Sá” foi dado a uma estação ferroviária inaugurada em
1908. Como estava na linha original, que foi desactivada há anos por causa da
construção do trecho final da linha cargueira Japeri-Arará, a estação não existe mais.
Esse trecho de linha, que corre em grande parte do trecho paralelo à linha cargueira, está
hoje debaixo de terra em diversos pontos, passando dentro de uma imensa favela.

Além do consagrado violinista e musicólogo Bernardo Moreira de Sá (à frente sentado de pernas


cruzadas), podem ver-se seu tio, o respeitado médico e escritor católico, Doutor António Secioso Moreira
de Sá, usando a Comenda da Ordem de S. Gregório Magno que lhe foi atribuída pelo Papa Leão XIII
(mesmo por trás do sobrinho) e de um outro tio (este paterno), o respeitado jornalista, escritor e director
do Colégio de S. Luiz, no Rio de Janeiro, Valentim Moreira de Sá e Menezes (de pé, na ponta esquerda
da foto), são identificados vários Herédias de Sá e respectivas mulheres.

151
ABRANCHES, J. Governos; ASSEMB. LEGISL. RJ. Inventário analítico.

162
ANEXO A

Requerimento do sargento-mor (D.) Sancho Bernardo de Herédia, cavaleiro da


Ordem de Cristo, morador na vila do Príncipe, pedindo para ser provido no posto
de capitão-mor do termo da dita vila (em anexo vários documentos)152

152
Requerimento do sargento-mor (D.) Sancho Bernardo de Herédia, cavaleiro da Ordem de Cristo,
morador na vila do Príncipe, pedindo para ser provido no posto de capitão-mor do termo da dita vila (em
anexo vários documentos).
Dada a extensão do documento apenas extraímos alguns excertos do mesmo, de forma algo aleatória,
aqueles onde se confirma a filiação dele a naturalidade madeirense de seu pai.

163
164
165
166
167
168
ANEXO B

Requerimento de D. José João de Heredia, tenente-coronel de Cavalaria de


Dragões Auxiliares do Regimento do termo da Vila de Pitangui, solicitando a
D. José I a mercê de o confirmar no exercício do referido cargo. - Em
anexo: 1 carta patente.

169
170
171
172
FOTOGRAFIAS DIVERSAS

Fac-simile da capa do opúsculo


“Proclamação aos Portuguezes”, da autoria
de Francisco Joaquim Moreira de Sá

Casa de Sá, em Santa Eulália de Barrosas,


Vizela

Casa dos Moreiras de Sá, na rua de Camões,


na cidade de Guimarães

Casa de Fundevila, em S. Miguel do


Paraíso (Guimarães)

Àrvore Genealógica da Família Moreira de


Fazenda do Engenho de Santo António de


Rio Abaixo, no Serro Frio, Conceição de
Mato Dentro, Minas Gerais (aspecto actual)

173
Fac-simile da capa do opúsculo “Proclamação aos Portuguezes”, em verso heróico
solto, impresso em Coimbra, na Real Imprensa da Universidade, no ano de 1809, da
autoria de Francisco Joaquim Moreira de Sá (Francisco Joaquim Moreira Carneiro
Borges de Sá)

174
Casa de Sá, Santa Eulália de Barrosas,
Vizela (solar da Família Moreira de Sá)

175
176
177
Casa dos Moreiras de Sá, na rua de Camões,
Guimarães

178
MOREIRA DE SÁ

Casa de Fundevila, em S. Miguel do Paraíso - aspecto


exterior actual
(com as obras efectuadas pelo actual proprietário a pedra de armas da capela, que se encontrava
picada, foi “recuperada” com um brasão inventado de fantasia) 153

FARIA DOS GUIMARÃES REBELO PEIXOTO


153
A Casa e Quinta de Fundevila foi herdada por Valentim Brandão Moreira de Sá Sotomayor de sua avó
materna, D. Gertrudes Maria de Campos Barbosa Pinheiro e Faria, que por sua vez a herdou de sua mãe,
D. Mariana Josefa dos Santos e Campos Barbosa Pinheiro e Faria.

179
180
Fazenda do Engenho de Santo António de
Rio Abaixo, no Serro Frio, Conceição de
Mato Dentro, Minas Gerais (aspecto actual) 154

154
Não podemos garantir, em absoluto, tratar-se da “Fazenda de Santo António de Rio Abaixo” como era
identificada em alguns documentos. Acontece que ao descrever na Carta de Sesmaria a sua
propriedade, o capitão-mor Francisco Moreira Carneiro, chama-lhe o “Engenho que fabricava no Ryo
de Santo António de Mato Dentro localizado em hum córrego chamado o Engenho cito na
Arrayal Velho”. Ora esta ainda hoje esta propriedade é denominada como a Fazenda do Engenho,
em Santo António de Rio Abaixo, pelo que arriscamos a identificá-la como a Fazenda que pertenceu aos
Moreiras de Sá até, pelo menos, meados do século XIX, quando foi alienada.

181
FINIS LAUS DEO

182
RECENSÃO BIBLIOGRÁFICA DO AUTOR:

SÁS – Subsídios para uma Genealogia – separata do Boletim de Trabalhos Históricos (do
Arquivo Municipal Alfredo Pimenta), Guimarães, 1982.

Apontamentos Genealógicos sobre D. Francisco de Sá de Menezes, Conde de Matosinhos (in


“O Poeta e Conde de Matosinhos, D. Francisco de Sá de Menezes”, da autoria do Dr. Francisco
Miranda de Andrade) – separata do Boletim da Biblioteca Municipal de Matosinhos,
Matosinhos, 1983.

Os Sás e as suas origens – separata da revista Armas e Troféus (do Instituto Português de
Heráldica), Lisboa, 1983.

Bernardo Moreira de Sá – in O Tripeiro, Série Nova, Ano II, Porto, 1983.

Diálogo com o Leitor – A propósito da Legenda das Armas do Porto, da autoria de Horácio
Marçal – algumas rectificações históricas – in O Tripeiro, Série Nova, Ano III, N.º 8, Porto
1984

In Memoriam do Engº Fernando Moreira de Sá – in O Tripeiro, Série Nova, Ano III, Porto,
1984.

SÁS – Subsídios para uma Genealogia (II) – separata do Boletim de Trabalhos Históricos (do
Arquivo Municipal Alfredo Pimenta), Guimarães, 1985.

CASTROS E SOUSAS, Senhores de Parderrubias, da honra de Remoães e morgados do Peso –


separata do Boletim de Trabalhos Históricos (do Arquivo Municipal Alfredo Pimenta),
Guimarães, 1988.

SÁS, Condes de Penaguião, e ALMEIDAS, Condes de Abrantes (à Memória de D. Luiz


Gonzaga de Lancastre e Távora, Marquês de Abrantes e Fontes) – in Arquivos Histórico-
Culturais de Matosinhos (Boletim do Forum Matosinhense), Matosinhos, 1996.

SÁS – As origens e a ascensão de uma linhagem – separata da Revista de Genealogia e


Heráldica nº 3 (do Centro de Estudos de Genealogia, Heráldica e História da Família da
Universidade Moderna do Porto), Porto, 2000.

SARMIENTOS DE SOTOMAYOR – Os Morgados do Pazo de Borza, em Santa Cristina de


Valeixe, no bispado de Tui – in Boletin da Asociación de Genealogia, Heráldica y Nobiliaria de
Galicia, 2003

Outros tempos, outras histórias – Um estudo genealógico – in Boletin da Asociación de


Genealogia, Heráldica y Nobiliária de Galicia, 2004

Os Morgadios do Outeiro, em S. Paio dos Arcos e Paçô - Seus instituidores, administradores e a


extinção (a propósito de uma pedra de armas inédita), separata da Revista Hidalguia (do
Instituto Salazar y Castro), Año LIII, Nº 318 (Setiembre-Octubre), Madrid, 2006

UMA LINHAGEM MEDIEVAL PORTUGUESA – OS SÁS, separata da Revista Hidalguia (do


Instituto Salazar y Castro), Año LIV, Número 324, Madrid, 2008

SARMIENTOS DE SOTOMAYOR – Apontamentos histórico-genealógicos e a sua


descendência no Morgadio do Pazo de Borza em Santa Cristina de Valeixe, em A Cañiza

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(Pontevedra) - Novas achegas documentais, com a valiosa colaboração do investigador galego
Breogán Amoedo Villanueva, ed. própria, 2015

MEMÓRIAS FAMILIARES E GENEALÓGICAS, ed. própria, 2017

EM PREPARAÇÃO PARA PUBLICAÇÃO:

O COMPORTAMENTO DA ARISTOCRACIA PORTUGUESA EM 1580 (Uma análise


histórica ao posicionamento das elites perante o Poder) - Em elaboração como estudo/tese de
História (Idade Moderna)

DON JUAN DE BENAVIDES Y ABREU, um membro ilegítimo da estirpe dos Sequeiros de


Sotomayor, do Pazo de La Pastora, em Santomé de Freijeiro, Vigo, e da Torre da Silva, em S.
Julião da Silva, Valença - aditamentos e rectificações aos tratados genealógicos de seu
descendente Leonel de Abreu Vasconcelos Sotomayor, dos Arcos de Valdevez

A HONRA E QUINTÃ DE SÁ – a sua verdadeira localização, que era “de sua avoengua” e foi
de João Afonso de Sá, "omde leva o nome”

OS MOREIRA DE SÁ NO BRASIL - o Serro Frio, Minas Gerais, e a influência do ouro do


Brasil, nas famílias portuguesas nos séculos XVIII e XIX

LOPES DA ROCHA, de Guimarães, administradores da capela de Santa Ana, na Colegiada da


Oliveira, “que tem por armas duas ventosas”

Os Sás de Vizela: MOREIRAS DE SÁ – Memórias Históricas, Genealógicas e Heráldicas

Aditamentos aos “CASTROS E SOUSAS, senhores de Parderrubias, da honra de Remoães e


morgados do Peso” – novas achegas para a verdadeira origem dos Castros de Melgaço

BRANDÕES COELHOS, dos Arcos de Valdevez – suas origens e descendência

VELHOS – administradores do vínculo da Santíssima Trindade, em Sernande, concelho de


Felgueiras

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