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ARMAS E TROFÉUS

REVISTA DE HISTÓRIA, HERÁLDICA, GENEALOGIA E ARTE


Ficha Técnica

Título: ARMAS E TROFÉUS – Revista de História, Heráldica, Genealogia


e Arte – IX Série, Tomo XVII – 2015

Director: Miguel Metelo de Seixas

Redactor: João Bernardo Galvão Teles

Edição: Instituto Português de Heráldica


Largo do Carmo – 1200 Lisboa

Impressão e Acabamentos:

ISSN: 0518-6994
Depósito Legal:
Tiragem: 300 exemplares
ARMAS E TROFÉUS
REVISTA DE HISTÓRIA, HERÁLDICA, GENEALOGIA E ARTE

ÓRGÃO E PROPRIEDADE DO INSTITUTO PORTUGUÊS DE HERÁLDICA

IX SÉRIE
TOMO XVII
2015
Armas e Troféus
SUMÁRIO

Corpos sociais .................................................................................................. 9

Lista de Sócios ................................................................................................ 11

João António Portugal, Dr. Francisco de Simas Alves de Azevedo (1933-2014) .. 29

Faustino Menéndez Pidal de Navascués, Origen del emblema de los reyes de


Aragón .................................................................................................. 33

Christian de Mérindol, Références et pratiques à la cour royale du Portugal au


Moyen âge. XIIe-XVIe siècles ................................................................... 69

Tiago de Sousa Mendes e António de Castro Henriques, Ffeguras & Sinaees


III. Heráldica do Mosteiro de Almoster ................................................... 83

Alessandro Savorelli, Atlanti simbolici dello spazio politico. I Portolani e il


«Libro del Conocimiento de todos los Reinos» (s. XIV) ............................ 105

Paulo Catarino Lopes, O mundo como lugar de poderes no «Livro do Conhe-


cimento» ............................................................................................. 141

Duarte Vilardebó Loureiro, Um pormenor nas armas dos Noronhas ................ 197

Christovão de Avila, Heráldica da Casa da Torre de Garcia d’Ávila. Origens


e vínculos, no Brasil e Além-Mar .......................................................... 217

João Caetano de Carvalho Sameiro, Selos de lacre com armas portuguesas em


Kew .................................................................................................... 245

7
ArmAs e Troféus

Miguel Metelo de Seixas, Heráldica no Hospital Rainha Dona Estefânia......... 255

António Rei, O manuscrito heráldico de António Francisco Barata. O manus-


crito e considerações preliminares em torno do mesmo ............................. 271

Augusto Ferreira do Amaral, Revisão genealógica de algumas linhagens dos


primórdios portugueses. O conde D. Gomes Nunes ................................. 277

João Baptista Malta, Os Sobrinho, de Montemor-o-Novo. Tronco principal e


outras presumíveis linhas genealógicas ................................................... 307

Assunção Júdice e Leonor Calvão Borges, Famílias e relações familiares no


Arquivo da Quinta das Lágrimas ......................................................... 323

Eduardo Romano Arantes e Oliveira, O casamento baiano do sargento-mor


Elisiário Manuel de Carvalho, senhor da Quinta da Figoeira ................. 343

Luís Miguel Guapo Murta Gomes, Teixeiras infamados. Entre Chaves e o


termo de Valpaços ................................................................................ 373

Miguel Pinto de Resende, Pereiras de Sanfins. Subsídios para a sua genealo-


gia. Que relação familiar com o navegador Fernão de Magalhães? Parte
Segunda .............................................................................................. 401

Luís Miguel Pulido Garcia Cardoso de Menezes, Passaláquas da Madeira,


Índia e de Angola ................................................................................ 439

Miguel Metelo de Seixas e Lourenço Correia de Matos, Recensão crítica........ 457

Produção bibliográfica dos sócios do Instituto Português de Heráldica nas


áreas de Heráldica e Genealogia ......................................................... 463

Actas do Ano Académico 2014-2015............................................................ 481

8
CORPOS SOCIAIS

Conselho Director:
Presidente – Prof. Doutor Miguel Metelo de Seixas
Chanceler – Dr. Lourenço Correia de Matos
Secretário da Mesa – Arq. Jorge de Brito e Abreu

Conselho Administrativo:
Secretária Geral – Dra. Dona Leonor Calvão Borges
Tesoureiro – Dr. João António Portugal
1.ª Vogal – Dra. Dona Maria de Lourdes Calvão Borges
2.º Vogal – Dr. Lourenço Correia de Matos
3.º Vogal –Dr. Carlos da Câmara Bobone

Conselho Fiscal:
Presidente – Dr. Rui do Amaral Leitão
1.º Vogal – Arq. Segismundo Pinto
2.º Vogal – Dona Maria Zaida de Bivar Guerra

Comissão de Análise:
Dr. Pedro Sameiro
Dra. Dona Maria de Lourdes Calvão Borges
Dr. Lourenço Correia de Matos

Corpo Redactorial da Revista Armas e Troféus:


Prof. Doutor Miguel Metelo de Seixas (Director)
Dr. João Bernardo Galvão Teles (Redactor)
Dr. Pedro Sameiro
Dr. Augusto Ferreira do Amaral
Prof. Doutor José Augusto de Sottomayor-Pizarro

9
LISTA DE SÓCIOS

PRESIDENTE DE HONRA
S.A.R. o Senhor Dom Duarte João
Duque de Bragança

SÓCIOS HONORÁRIOS

Prof. Doutor Joaquim Veríssimo Serrão


Lisboa

Don Faustino Menéndez Pidal de Navascués


Av. América, 56 – Madrid 2 – Espanha

Doutor Nuno Daupiás de Alcochete


Rua São Filipe Neri, 16 – 3º dto – 1250-227 Lisboa

Artur Vaz-Osório da Nóbrega


Rua Santos Pousada, 1289 – 2º esq – 4000-490 Porto

Dona Maria Adelaide Cardoso de Menezes Pereira de Moraes


Casa de Caneiros – Santa Eulália de Fermentões – 4800 Guimarães

Baron Pinoteau
4 Bis Boulevard de Glatigny – F 78000 Versailles – França

11
ArmAs e Troféus

Dr. António Pedro de Sá Alves Sameiro


Av. Casal Ribeiro, 12 – 2º – 1000-092 Lisboa

SÓCIOS EFECTIVOS DE NÚMERO


por ordem de antiguidade

05 – Doutor Manuel Artur Norton


Casa de Vicente – Frades – 4830 Póvoa de Lanhoso

04 – Arq. Jorge Sebastião Mattos de Brito e Abreu


Rua do Olival, 142 – 1200-743 Lisboa
Secretário de Mesa do Conselho Director do I.P.H.

23 – Dr. Augusto Ferreira do Amaral


Travessa das Recolhidas, 10 – 1150-276 Lisboa

26 – Dr. D. Luís Manuel da Costa de Sousa de Macedo (Mesquitela)


Rua Ivens, 6 – 4º A – 1200-227 Lisboa

01 – Prof. Doutor António Costa de Albuquerque de Sousa Lara


Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas – Rua G – Pólo Universitário
da Ajuda – 1349-055 Lisboa

15 – Eng. António Luís Cansado de Carvalho de Mattos e Silva


Parque de Miraflores – Av. das Túlipas, 16 – 8º esq – 1495-159 Miraflores
– Algés

28 – Dona Maria Zaida Loureiro Dias de Bívar Guerra


Rua Dr. Manuel de Arriaga, 1 – 2º esq – 2775-602 Carcavelos

18 – Arq. Segismundo Manuel Peres Ramires Pinto


Rua Dona Estefânia, 124 – 3º – 1000-158 Lisboa

07 – Dr. José Krohn da Silva


Rua de Sant’Ana à Lapa, 71 – 5º dto – 1200-797 Lisboa

13 – Dr. Carlos Lourenço do Carmo da Câmara Bobone


Rua da Misericórdia, 147 – 1200-272 Lisboa

12
LisTA de sócios

08 – Dr. Francisco Luís Saraiva de Vasconcelos


Rua Dr. Mira Fernandes, 103 – Murtal – 2775-128 Parede

14 – João Diogo de Menezes e Alarcão de Carvalho Branco


Rua Sampaio e Pina, 72 – r/c – 1070-250 Lisboa

24 – Dra. Dona Maria de Lourdes Esteves Dias Calvão Borges


Rua das Praças, 80 – 2º esq – 1200-768 Lisboa

21 – Dr. Rui Alberto do Amaral Leitão


Rua Vítor Bastos, 4 – 2º dto – 1070-284 Lisboa

03 – Prof. Doutor José Augusto Pereira de Sottomayor-Pizarro


Rua Guilherme Braga, 161 – 4150-161 Porto

09 – Prof. Doutor D. Gonçalo Pinto de Mesquita da Silveira de Vasconcelos e


Sousa (Castelo Melhor)
Universidade Católica Portuguesa – Rua Diogo Botelho, 1327 – 4169-005
Porto

19 – Prof. Doutor António Manuel Reis de Bivar Weinholtz


Rua da Emenda, 37 – 2º – 1200-169 Lisboa

16 – Dr. António Luís de Torres Cordovil Pestana de Vasconcellos


Quinta de São Pedro – 7000-173 Évora

20 – Dr. Miguel Maria Telles Moniz Côrte-Real


Rua Manuel Costa e Silva, 7 – r/c A – 1750-335 Lisboa

22 – Dr. Lourenço de Figueiredo Perestrelo Correia de Matos


Rua Marquesa de Alorna, 32 – 3º dto – 1700-303 Lisboa

02 – Padre Doutor D. Gonçalo Nuno Ary Portocarrero de Almada – Visconde


de Macieira
Rua da Mata de São Mateus, 32 – 2795-237 Linda-a-Velha

06 – Prof. Eng. Eduardo Romano de Arantes e Oliveira


Rua Carlos José Barreiros, 14 – r/c – 1000-088 Lisboa

13
ArmAs e Troféus

10 – Prof. Eng. Armando Tavares da Silva


Rua Cidade de Cádis, 9 – 7º esq – 1500-156 Lisboa

25 – João Baptista de Carvalho Reis Malta


Rua Álvaro Castelões, 10 – 7050 Montemor-o-Novo

27 – Dra. Dona Leonor Faria Calvão Borges


Rua Estácio da Veiga, 6 – r/c esq – 1170-121 Lisboa

11 – Prof. Doutor Miguel Beirão de Almeida Metelo de Seixas


Rua Josefa de Óbidos, 20 – 3º – 1170-196 Lisboa

30 – Dr. Fernando M. de Abranches Tavares Correia da Silva


Rua da Penha de França, 121 – 2º esq – 1170-302 Lisboa

12 – Dr. João António Pereira M. Domingues Portugal


Rua do Recife, 11 – 4º esq – 2780-034 Oeiras

17 – Prof. Doutor Martim Eduardo Corte-Real de Albuquerque


Rua da Piscina, 15 – 10º esq – 1495-151 Miraflores

29 – Dr. João Bernardo Cassola de Sousa Galvão Teles


Quinta do Casal de Santo António – 2580-511 Carregado

SÓCIOS CORRESPONDENTES

Dra. Dona Helena Corrêa de Barros Cardoso de Macedo e Menezes (Margaride)


Rua do Barão de Forrester, 787 – hab. 2 – 4050-274 Porto

Embaixador Dr. Jorge Preto


Edifício Vista Mar – Rua dos Sobreiros, 11 B – 3º dto – Costa da Guia – 2750
Cascais

D. Sebastião de Sá Coutinho de Lancastre


Estrada da Torre, 73 C – 1750-294 Lisboa

Dr. Nuno Pereira Marramaque Machado de Andrade


Rua do Pinheiro Manso, 504 – r/c dto – 4100-410 Porto

14
LisTA de sócios

Embaixador Dr. José Bouza Serrano


Rua D. Jerónimo Osório, 3 – 1º dto – 1400-119 Lisboa

Dr. José Beleza de Carvalho


Av. Ressano Garcia, 32 – 1º – 1070-237 Lisboa

Dr. João Paulo Marques Sabido da Costa


Rua Silva Carvalho, 61 – 1250-247 Lisboa

Dr. Gonçalo Soares de Albergaria e Sousa


Rua Antero de Figueiredo, 12 – 1º esq – 1700-041 Lisboa

Dr. Gonçalo de Andrade Pinheira Monjardino Nemésio


Estrada da Torre, 63 – 1º esq – 1750-294 Lisboa

Com.te Sérgio Augusto Leal Pinto Barata de Avelar Duarte


Alameda António Sérgio, 12 – 8º E-A – Miraflores – 1495-132 Algés

Dr. António Maria Morgado de Assis Louro-Rodrigues


Casa do Correio Velho – Rua do Governador – 7830 Serpa

Dr. Armando Alexandre dos Santos


Rua Alferes José Caetano, 855 – ap. 192 A – 13400-120 Piracicaba SP Brasil

Carlos Miguel de Abreu de Lima de Araújo


Alameda das Linhas de Torres, 37 – 1º esq – 1750-139 Lisboa

Macário de Castro da Fonseca e Sousa Pereira Coutinho


Quinta das Palmeiras, 54 – 2780-145 Oeiras

Dr. Henrique Abranches Pinto Ramos da Costa


Praceta Maria Luísa Caneças, 9 – 5º esq – Damaia de Cima – 2720-367
Amadora

Dr. Francisco António de Simas Alves de Azevedo (†)

Dr. Manuel Maria Machado de Abranches de Soveral


Rua de São João Bosco, 15 – 72 – 4100-451 Porto

15
ArmAs e Troféus

Prof. Doutor Nuno Gonçalo de Carvalho Canas Mendes


Av. Visconde de Valmor, 30 – 2º dto – 1050-237 Lisboa

António Ilídio Lima Leite Lobo


Casa da Veiga – 4730 Coucieiro

Eng. João José Cordovil Fernandes Cardoso


Rua Rosa Damasceno, 20 – 1/c. – 1900-396 Lisboa

Prof. Doutor Lívio Pereira Correia


Rua da Alegria, 1880 – hab. 34 – 4200-024 Porto

Prof. Doutor João Manuel Vaz Monteiro de Figueiroa Rego


Praça Padre Moisés da Silva, 242 – 4 C – 2750-437 Cascais

Dr. José Carlos Lourinho Soares Machado


Travessa de São Bernardino, 4 – r/c dto – 1150-319 Lisboa

Dr. D. Pedro Miguel de Mesquita da Costa de Sousa de Macedo (Vila Franca)


Travessa de São Francisco de Borja, 5 – 2º – 1200-844 Lisboa

Luís Filipe de Lara Everard do Amaral


Rua do Guarda-Mor, 20 – 4º esq – 1200-682 Lisboa

Padre Dr. António Júlio de Faria Limpo Trigueiros, S.J.


Casa de escritores Brotéria – Rua Maestro António Taborda, 14 – 1293 Lisboa
Codex

Dra. Dona Marta Manuel Gomes dos Santos


Rua da Escola, 53 – Valongo – 3040-589 Antanhol

Prof. Doutor António José da Silva Botas Rei


Travessa de Cima, 6 – 7170-051 Redondo

Dra. Dona Ana Filipa de Sá e Serpa Gomes do Avellar


Rua da Esperança, 138 – 1º – 1200-659 Lisboa

Ten-Coronel João Manuel Patrocínio Pessoa de Amorim


Rua Assis Chateaubriand, 9 – 3º dto – 2780-197 Oeiras

16
LisTA de sócios

José António Severino da Costa Caldeira


Rua Principal 58 – Casa do Pinhal – Monte Arroio – 2705-701 S. João das
Lampas

Luís Filipe Tavares d’Abranches Correia da Silva


Rua do Sol à Graça, 44 – 1170-366 Lisboa

Doutor Miguel Maria Tavares Festas Gorjão-Henriques da Cunha


Rua António Andrade, 8 A – 1700-044 Lisboa

Dr. Duarte Francisco Léchaud Vilardebó Loureiro


Largo de São Sebastião da Pedreira, 44 – 1050-205 Lisboa

Eng. Pedro Miguel do Carmo Costa


Rua do Vale do Pereiro, 17 – 2º – 1250-270 Lisboa

Alfredo Caetano Machado de Madureira e Castro


Rua Almeida e Sousa, 41 – 1º dto – 1350-008 Lisboa

Ernesto Alexandre Pires Soares Bandeira de Mello Ferreira Jordão


Casa da Alcaidaria – Rua das Matanas – Casal do Louco – São Vicente
2000-678 Santarém

Major Fernando Manuel dos Santos Barrigas de Lacerda


Rua Prof. Dr. Francisco Gomes Teixeira, 3 – 9º esq – 2795-506 Carnaxide

Dr. José Eduardo Macedo Leão


Rua de S. Caetano, 36 – r/c – 1200-829 Lisboa

Dr. Paulo José Pimenta de Castro Damásio


Av. Duque de Loulé, 77 – 6º esq – 1050-088 Lisboa

SÓCIOS CORRESPONDENTES ESTRANGEIROS

D. Carlos Tasso de Saxe-Coburgo-Gotha e Bragança


Brasil

17
ArmAs e Troféus

William Hilton Jones


28 Ingram Road – Wahrooga, N.S.W. 2076 – Austrália

Don José Maria de Solá-Morales y Rosselo


P.O. Blay 4 – Olot – Gerona – Espanha

Cecil R. Humphery-Smith
Grã-Bretanha

Janet S. Ladner
4610 Connaught Dr. – Vancouver 9 – BC – Canadá

Don Arturo Nesci di Santa Agata – Barão Nesci de Santa Agata


62 Via Giulia – 89100 Reggio – Calabria – Itália

Dalmiro da Motta Buys de Barroa


Rua Com.te Cordeiro de Faria, 27 – CEP 20271 – Rio de Janeiro RJ – Brasil

Don Fernando del Arco Garcia


Atocha, 89 – 5º dcha – Madrid 12 – Espanha

Kurt Henrik Degerman


Irjala Gard, Irjalantie 304 – FIN 03400 Vichtis – Finlândia

Dr. Paulo Fernando de Albuquerque Maranhão


Av. Epitácio Pessoa, 3100/101 – Lagoa – CEP 22471 – Rio de Janeiro RJ –
Brasil

Doña Ofélia de Bérgia y Cervantes


Pasaje de la Mora, 2 – Pzuelo de Alarcón – 28023 Madrid – Espanha

Don Iñigo de Aranzadi y de Cuervas-Mons – Marquês de la Gandara Real


Paseo de la Castellana, 203 – 28045 Madrid – Espanha

Don José António Delgado y Orellana


Plaza de San Martin, 3 F – Bajo Izqda – Sevilla 3 – Espanha

Per Nordenvall
Borjegatan 8B, 4TR. – S 752, 24 Uppsala – Suécia

18
LisTA de sócios

Luís A. Mc. Garrell Gallo


Pueyrredon, 2386 – 3º – 1119 Buenos Aires – Argentina

Dr. Jean Marc Andre Charles Corrêa de Brito


Bourgoumont, 67 – 4987 La Gleize – Bélgica

Dr. Luc Duerloo


Adrinkhovenlaan, 34-B – 2210 Bonsbeek – Bélgica

Edgar Hans Brunner


Ahornweg 2 – 3074 Muri – Suíça

Fabio Scannapieco e Ali-Capece Minutolo


Via G. Rafaelle 7 – 90139 Palermo – Itália

Luís Edgard de Andrade Furtado


Rua Visconde de Itaúna, 65 – Jardim Botânico – CEP 22460 – Rio de Janeiro
RJ – Brasil

Hans Arne Kristian Torolf Cappelen


Monolitvein, 13 – N-0375 – Oslo – Noruega

Prof. Adilson Cezar


Rua Miranda Azevedo, 147 – ap. 61 – Ed. Santa Catarina – Centro – CEP
18035-090 – Sorocaba SP – Brasil

Carlos Abílio Valente Antunes


Rua Comendador Siqueira, 435 – Jacarepaguá – Rio de Janeiro RJ – Brasil

Dr. Adolfo de Salazar y Mir


Virgen de la Fuensanta, 7 – 41011 – Sevilla – Espanha

Eng. Marcelo Meira Amaral Bogaciovas


Rua Dr. Cid de Castro Pardo, 79 – Planalto Paulista – CEP 04064-040 – São
Paulo SP – Brasil

Doutor Washington Marcondes Ferreira Neto


Rua Visconde de Taunay, 111 – ap. 71 – CEP 13023-200 – Campinas SP –
Brasil

19
ArmAs e Troféus

Prof. Doutor Eduardo Pardo de Guevara y Valdés


Instituto de Estudos Galegos Padre Sarmiento – C/ Franco nº 2 – 15702
Santiago de Compostela – Espanha

Dr. Jaime de Salazar y Acha


Monte Esquinza, 16 – 28010 Madrid – Espanha

Malcolm Stewart Howe


31 King’s Court North – 189, King’s Road – Chelsea – London SW3 5EQ

Prof. Doutor Don Alfonso de Ceballos-Escalera y Gila – Marquês de La Floresta


Calle del Chopo, 1 – 28023 Madrid – Espanha

Eng. Christovão Dias de Avila Pires Junior


Av. Nossa Senhora de Copacabana, 395 – cobertura, Copacabana – Rio de
Janeiro – Brasil

Prof. Don Guglielmo de Giovanni Centeles, Duque de Precacore


Via di Caucaso, 19 – Roma – Itália

Doutor Don Amadeo Martin Rey y Cabieses

Prof. Doutora Dona Vera Lúcia Bottrel Tostes


R. Francisco Otaviano, 23 – bloco 2 – ap. 301 – Copacabana – CEP
22080-040 – Rio de Janeiro, RJ Brasil

Prof. Doutor José Antonio Guillén Berrendero


Calle Espino, 6 – 2º C – 28012 Madrid – Espanha

SÓCIOS AGREGADOS

Simão Pedro de Vasconcelos Bacelar de Aguiã


Casa da Torre de Aguiã – 4970 Arcos de Valdevez

Dr. Luís Maria Pessoa Castello Branco Cary


Largo Barreto Caldeira, 7 – 7440-022 Alter do Chão

20
LisTA de sócios

Dr. Miguel Horta e Costa


Rua do Pinhal Bravo, 5 – Quinta da Marinha – 2750-004 Cascais

Arq. Ricardo Ivens Ferraz Jardim – Conde de Valenças


Travessa de Santo António a Santos, 21 – 2º – 1200-805 Lisboa

António Monteiro Novais Sanhudo Portocarreiro


Rua Dr. João Leal, 49 – 4630 Marco de Canavezes

Alberto Carlos Contreiras de Magalhães e Menezes Azambuja


Praceta João Beltrão 12 – 7º esq-frt – 4710 Braga

João Tomaz Perestrello Pinto Ribeiro


Rua de São Bernardo, 20 – r/c – 1200 Lisboa

Eng. Carlos António de Magalhães Ferraz do Prado de Lacerda


Estrada de Benfica, 444 – 6º C – 1500-103 Lisboa

Dr. João Pedro de Castro Oliveira Soares


Praceta Poder Local, Lt. 207 A – 11º dto – 1675-155 Pontinha

Robert F. Illing
Rua Marechal Saldanha, 454 – 4150-652 Porto

João Evangelista Fiúza de Albuquerque Cabral da Silveira


Monte da Pereira – Apartado 99 – 7000 Évora

Luís António Corrêa de Sá


Rua António Granjo, 143 – 4300-029 Porto

Embaixador Dr. Manuel Henrique de Mendonça Côrte-Real


Estrada da Marginal, 5 – 2º – São João do Estoril – 2765 Estoril

Dona Maria Antonieta Teixeira Monteiro Sanhudo Portocarreiro de Novais


Cunha Coutinho
Rua Dr. João Couto, 9 – 2º dto – 1500-235 Lisboa

Dona Maria da Conceição da Costa Lobão de Mascarenhas


Rua Pereira e Sousa, 21 – 3º dto – 1350-240 Lisboa

21
ArmAs e Troféus

Dr. João José de Lemos da Cunha Matos


Rua Combatentes, 104 – 7º esq – 3030-181 Coimbra

Dr. Manuel José Serra de Sousa Cardoso


Rua Pereira Charula, 18 – 5340 Macedo de Cavaleiros

Dr. Jorge Miguel Alves Frazão de Mello-Manoel


Apartado 28 – EC Vasco da Gama – 9501-901 Ponta Delgada – São Miguel
– Açores

Dr. Francisco Sanches Osório Montanha Rebelo


Av. João Crisóstomo, 8 – 2º dto – 1000-178 Lisboa

D. Vasco Xavier Telles da Gama, Conde de Cascais


Rua das Adelas, 7 – 1200-007 Lisboa

Dr. José Augusto Perestrelo de Alarcão Troni


Av. da Liberdade, 262 – 4º dto – 1250-149 Lisboa

Eng. João Francisco Coelho da Fonseca Barata


Rua Luís Pastor de Macedo, 4 – 10º dto – 1750-156 Lisboa

Valdemar Mota de Ornelas da Silva Gonçalves


Rua de Miragaia, 28-30 – 9700-124 Angra do Heroísmo – Terceira – Açores

Dr. Fernando de Sousa Pinto Solari Allegro de Magalhães


Rua do Alto de Vila, 289 – Foz do Douro – 4150-059 Porto

Alberto Jaime Freitas Rosa Tavares Barreto


Largo do Ribeirinho, 15 – 4450-245 Matosinhos

Dr. Miguel Martins Cabral de Resende


Casa do Pinheiro – 4690-808 Cinfães

Dr. Vítor Escudero de Campos


Rua Andrade Corvo, 21 – 5º – 1050-008 Lisboa

Luís Alexandre Tavares Festas Gorjão-Henriques da Cunha


Av. Maria da Conceição, 4 – 2º dto – 2775-605 Carcavelos

22
LisTA de sócios

Dr. Francisco Manuel Prieto de Noronha Freire de Andrade


Av. Dr. Porfírio da Silva, 290 – 1º dto, trás – 4710-255 Braga

Dra. Dona Susana Maria Meave Zileri Teixeira de Sampayo


Rua de S. Caetano, 36 r/c – 1200-829 Lisboa

Eng. Gonçalo Maria Egydio Nobre Ayres de Abreu


Av. da República, 28 – 8º A, 1050-192 Lisboa

José Noronha Osório


Rua Marta Sampaio, 30 – 7º hab. 3 – 4250-282 Porto

Dra. Dona Maria das Dores Dias Egydio Nobre Galante de Carvalho
Av. Conselheiro Fernando de Sousa, 27 – 6º – 1070-072 Lisboa

Dra. Dona Maria Madalena Dias Egydio Nobre Ayres de Abreu


Av. Conselheiro Fernando de Sousa, 21 – 10º – 1070-072 Lisboa

Dra. Dona Isabel Constança Esteves de Calvão Borges


Rua das Praças, 80 – 2º esq – 1200-768 Lisboa

Dr. Fernando José Moniz Lopes


Rua Sebastião de Magalhães Lima, Torre 3 – r/c dto – 3810-188 Aveiro

Dr. Nuno António Torres de Sequeira Campos


Rua de São João de Brito, 351 – 4100-454 Porto

Dr. José Cardoso de Menezes Couceiro da Costa


Casa de Margaride – 4810 Guimarães

Dr. Luís Filipe Esquível Freire de Andrade


Rua de São João de Brito, 435 – 4º esq – 4100-453 Porto

Dr. António Francisco da Franca Ribeiro


Casa de Adão-Lobo – 2550 Cadaval

José Sesifredo Estevéns Colaço


Rua dos Lírios, 23 – 1º dto – 2725-362 Mem Martins

23
ArmAs e Troféus

Luiz António Alves de Abreu Cartarío


Av. Saraiva de Carvalho, 62 – 3080-055 Figueira da Foz

Dr. Fernando Henrique Louro da Penha Coutinho


Largo 5 de Outubro, 68 – 3º – Cova da Piedade – 2800-376 Almada

Dr. David José Fernandes da Silva


Rua Dr. Miguel Bombarda, 112 – 1º – 2600-191 Vila Franca de Xira

Dr. Augusto Victor de Sepúlveda Correia (†)

Prof. Doutor Manuel João de Azevedo Costa Calheiros Lobo


Rua António Aroso, 170 – 4150-060 Porto

Com.te António Manuel Farinha de Sena


Rua Dr. Joaquim Manso, 10 – 5º dto – 1500-241 Lisboa

José Maria Moniz Rebelo


Rua 31 de Janeiro, 7 – 4820 Fafe

D. João Eduardo de Noronha Menezes Osório


Rua da Bélgica, 356 – Lavadores – 4400 Vila Nova de Gaia

Dona Maria Manuela Blanc da Guerra de Sampaio Fernandes Alves Monteiro


Quinta do Feno – Aldeia Galega da Merceana – 2580-081 Alenquer

Dr. Luís Miguel Pereira Laforga Granjo


Praça António Nobre, Torre 5 – 10º esq – 2660-226 Santo António dos
Cavaleiros

Francisco Malafaya Oliveira Sá


Rua do Molhe, 680 – r/c – 4150-500 Porto

Dr. D. Augusto Duarte de Andrade Albuquerque Bettencourt de Athayde –


Conde de Albuquerque
Av. de Saboia 1418 – r/c dto – 2765-277 Estoril

Arq. António Luís Arêde Soveral Rodrigues Varella


Largo da Igreja, 1 – 7645 Vila Nova de Milfontes

24
LisTA de sócios

Eng. Miguel Maria de Sá Paula Soares Sameiro


Rua Domingos Sequeira, 38 – 3º dto – 2765-525 S. Pedro do Estoril

Ten-Coronel Dr. António Bernardo da Cunha Horta


Rua Dona Estefânia, 197 – 5º A – 1000-155 Lisboa

Arq. José Maria Alcoforado Pereira Corte-Real


Av. Marechal Gomes da Costa, 105 – Praia da Granja – 4405-371 S. Félix da
Marinha

Mestre Jofre de Lima Monteiro Alves


Rua Marquês de Pombal, 91 – 1º A – 2735-316 Cacém

Dr. Paulo Gabriel Falcão Silva Tavares


Quinta da Preta (Abrançalha) – 2200 Abrantes

Dr. Artur Monteiro de Magalhães


Rua da Piscina, 19 – 1º dto – Miraflores – 1495-150 Algés

Dr. João Maldonado Nunes Correia


Rua Diogo Bernardes, 21 – 1º esq – 1700-128 Lisboa

Dra. Dona Rita Maria Vasconcelos Bettencourt Pacheco


Rua de Miguel Bombarda, 145 – 4050-381 Porto

Major-General José Alfredo Ferreira de Almeida


Rua do Pescador Jacinto Tavares, 4 – 2º dto Sul – 9500-341 Ponta Delgada

Coronel Pil-Av Alfredo Jorge Chaumond da Rocha Peixoto


Rua Dr. Teófilo Braga, 6 – 1º – 1200-654 Lisboa

Dr. Benito Martinez Araújo


Rua de D. Estefânia, 90 – 6º esq – 1000-158 Lisboa

Dr. Álvaro António Magalhães Ferrão Castelo-Branco


Rua César das Neves, 74 – 4º hab. 4.1 – 4200-002 Porto

Dr. Marcos Manuel Guimarães de Sousa Guedes


Rua Alves Redol, 5 – 1º esq – 1000-029 Lisboa

25
ArmAs e Troféus

Dr. D. António Vasco Metello de Seixas Borges Coutinho


Rua Saraiva de Carvalho, 27 A – 1250-241 Lisboa

Dr. Luís Miguel Pulido Garcia Cardoso de Menezes


Rua Rodrigues Sampaio, 158 – 4º dto – 1150-282 Lisboa

Dr. Tomás Pinto de Albuquerque


Av. António Serpa, 22 – 5º – 1050-027 Lisboa

Prof. Doutora Dona Maria do Rosário Barbosa Morujão


Rua Francisco Ferrer, 6 – 2º dto, 1500-461 Lisboa

Dra. Dona Maria da Assunção Júdice


Alameda Fernão Lopes, 29 – 19º esq – 1495-136 Algés

Dr. Anísio Miguel de Sousa BemHaja Saraiva


Rua Joaquim Ferreira Gomes, Lote 19 – 5º dto – Urbanização Quinta da
Lomba – 3030-478 Coimbra

José António Santos Gouveia


Rua Cidade de Cardiff, 52 A – 2º – 1170-095 Lisboa

Doutora Dona Maria Alice Pereira dos Santos


Campo Grande, 336 – 2º dto – 1700-097 Lisboa

Prof. Doutor Vicente de Paiva Brandão


Rua de São Bernardo, 18 – 4º esq – 1200-825 Lisboa

Capitão-de-Fragata António Manuel Gonçalves


Rua do Arsenal – 1149-001 Lisboa

Dr. Francisco Maria Teixeira Malta Romeiras


Av. das Forças Armadas, 99 – 6º dto – 1600-077 Lisboa

Doutor Francisco Maria de Sousa Macedo Malta Romeiras


Av. Óscar Monteiro Torres, 42 – 3º esq – 1000-219 Lisboa

Davide Matias Afonso


Av. Capitão Salgueiro Maia, 14 – 6º C – 1885-091 Moscavide

26
LisTA de sócios

Dr. Nuno Maria de Mello e Castro Fernandes Thomaz


Rua dos Remédios à Lapa, 16 – 1200-784 Lisboa

Doutor Tiago Santos de Sousa Mendes


Rua Prof. Hernâni Cidade, 7 – 6 P – 1600-630 Lisboa

Prof. Doutor António Manuel de Melo Fernandes


Rua Porteladinha, 65 – Chão do Bispo – 3030-296 Coimbra

Dra. Dona Inês Morão Correia Matoso Ferreira


Av. Duque d’Ávila, 2 – 5º esq – 1000-079 Lisboa

Dr. João Caetano de Sá Melo de Carvalho Sameiro


Av. Casal Ribeiro, 12 – 2º – 1000-092 Lisboa

Dr. Lourenço Saldanha da Bandeira Botelho de Sousa


Rua Padre António Vieira, 20 – r/c dto – 1070-196 Lisboa

Dr. Luís Miguel Guapo Murta Gomes


Rua do Campo Alegre, 1502 – hab. 6.4 – 4150-176 Porto

Dr. Miguel de Barros Serra Cabral de Moncada


Av. Álvares Cabral, 40 – 6º esq – 1250-018 Lisboa

Dr. Tomás Themudo Caldeira Cabral


Rua Joaquim Casimiro, 17 – r/c dto – 1200-097 Lisboa

Dona Alexandra Maria Ferreira Braga de Sousa Louro Pereira de Castro


Quinta de Juste, Rua da Costa, 154 – 4710-742 Santa Lucrécia de Algeriz

Dra. Dona Isabel Filipa Theotónio Pereira Marques de Sousa


Av. António Augusto de Aguiar, 38 – 4º – 1050-016 Lisboa

Dr. José Filipe Dias da Costa Menéndez


Rua de Palhais, 11 – Ribamar – 2640 Santo Isidoro MFR

Doutor Miguel Nuno Santos Montez Leal


Rua Combatentes do Ultramar, 6-6ª – 2070-089 Cartaxo

27
ArmAs e Troféus

Dr. Nuno Miguel Marques Barata-Figueira


Rua António Feliciano de Castilho, 14 – 1º esq – 2675-473 Odivelas

28
DR. FRANCISCO DE SIMAS ALVES DE AZEVEDO
(1933-2014)

João António Portugal

Entendeu o Instituto Português de Heráldica dedicar à memória do


Dr. Francisco de Simas Alves de Azevedo o presente número da revista Armas e
Troféus, dizendo respeito ao primeiro ano civil após o seu desaparecimento.
Personalidade marcante da ciência heráldica, com obra cuja dimensão e
alcance por si assaz depõem, cumpre-se dever de elementar justiça a quem, em
relacionamento não isento de controvérsia, sempre acompanhou a história e o
percurso singrado pelo Instituto, desde que, após a dormência subsequente à
morte do seu impulsionador primeiro, Afonso de Dornelas, se alcançou retomar
a atividade académica.
Providencialmente, este ressurgimento foi literalmente presidido pelo
Marquês de São Paio, por via de cuja amizade com o Pai do nosso homenageado,
desde muito novo ocorreu contacto deste com quem, sempre e em quaisquer
circunstâncias, foi reconhecido e explicitamente designado pelo Dr. Simas Alves
de Azevedo como o seu Mestre.
Seria lícito, todavia, imaginar para o IPH um futuro, hoje passado, menos
afortunado, quiçá mais breve, em coerência com o destino de outras iniciativas
semelhantes, caso se tivesse limitado à realização das sessões de estudo.
Não é difícil considerar como fulcral, nesse horizonte, o reinício da publi-
cação da revista Armas e Troféus, com uma II série formalmente distinta da I, mas
com preocupação ainda mais reforçada a propósito da qualidade da produção
científica assim disponibilizada ao público de então e ao vindouro.
Verba volant, scripta manent. Nunca o Instituto poderá suficientemente
exprimir a sua gratidão a quem, cumprida já metade do século XX, tomou em

29
João AnTónio PorTugAL

mãos, não só a escrita como a produção material e divulgação do trabalho reali-


zado. E, de entre nomes como os do Marquês de São Paio, de Augusto Cardoso
Pinto, de José de Campos e Sousa, de Luís de Bivar Guerra e de Domingos de
Araújo Affonso, era Francisco de Simas Alves de Azevedo o derradeiro sobrevi-
vente da lista de sócios efectivos publicada no primeiro fascículo da II série de
Armas e Troféus, em 1959. 1
A qualidade particular de que se revestiu esta II série de Armas e Troféus,
potenciada pelo seu carácter inovador, muito ficou a dever à copiosa colaboração
prestada por Francisco de Simas Alves de Azevedo, subscrita com o seu nome e,
por vezes, com pseudónimo, tornando-se exemplares as suas “Meditações herál-
dicas”.
Interrompida a relação seminal com o Instituto nas três décadas seguintes,
por razões que nunca aqui e agora caberia, especialmente a quem as não viveu,
dirimir ou dissecar, feche-se este parêntesis com uma asserção que se reputa de
veraz com elevada probabilidade: este cisma, que afastou ou não permitiu maior
aproximação entre os maiores cultores da Heráldica no tempo que para todos é
breve, a todos, mas a todos sem excepção, foi prejudicial.
A superação deste desencontro, mercê da operosidade generosa de quem
assumiu papel profético na delimitação da via encetada, ainda permitiu que,
durante uma década mais, o Dr. Francisco de Simas Alves de Azevedo parti-
cipasse na vida académica, assistindo às sessões, apresentando comunicações e
publicando nas Armas e Troféus. A mais, não permitiu a progressiva doença.
Honra-se o Instituto Português de Heráldica e a sua história quase nonage-
nária, honra-se todos e cada um dos seus sócios, presentes e passados, ao lembrar
o nome e a obra de quem indubitavelmente construiu a Heráldica como verda-
deira ciência histórica, talhando-se como um dos refundadores da agremiação a
que pertencemos.

***

1
Felizmente ainda integrando os quadros associativos quatro dos então sócios correspondentes
aí igualmente nomeados: o Barão Pinoteau, Artur Vaz-Osório da Nóbrega, Nuno Daupiàs
d’Alcochete e Jorge Preto.

30
dr. frAncisco de simAs ALves de Azevedo (1933-2014)

Bibliografia indicativa, complementar à publicada pelo Arquitecto Segis-


mundo Pinto no n.º 1 da revista Tabardo, publicado em 2002 e consagrado ao
Dr. Francisco de Simas Alves de Azevedo. 2

1. “Heráldica em Fátima: apontamentos”, Genealogia & Heráldica, vol. 3,


2000.
2. “Médicis e os Portugueses (cont.)”, Raízes & Memórias, 16, 2000.
3. “O Brasão de Armas da Família de Fanny Owen”, Genealogia & Heráldi-
ca, 4, 2000.
4. “Meditações heráldicas. XXI – o leopardo real inglês, empresa dum rei de
Portugal?”, Armas e Troféus, IX série, 2000/2001, pp. 59-65.
5. “Meditações heráldicas. XXII – as duas mais antigas iluminuras das armas
de Portugal?”, Armas e Troféus, IX série, 2000/2001, pp. 66-74.
6. “Meditações heráldicas. XXIII – uma combinação de Heráldica (nobi-
liárquica e eclesiástica), Iconografia e simbolismo litúrgico”, Armas e Tro-
féus, IX série, 2000/2001, pp. 75-78.
7. “Quatro pedras de armas de estilo quatrocentista do património de Lis-
boa”, Arqueologia e História, n.º 53, 2001, pp. 91-97.
8. “Heráldica no Album Comemorativo de 1940”, Genealogia & Heráldica,
7/8, 2002.
9. “Meditações heráldicas. XXIV – o brasão de armas de D.ª Carlota Joa-
quina: interrogações e reflexões”, Armas e Troféus, IX série, 2002/2003,
pp. 379-384.
10. “Um parentesco: el-rei D. Luís I e George Sand”, Tabardo, n.º 2, 2003,
pp 45-46.
11. “Introdução a Nóbrega, Artur Vaz-Osório da”, Compêndio português de
heráldica de família. [S.l.]: MediaTexto, 2003.
12. “Monumento de Família de El-Rei D. António I”, Raízes & Memórias,
19, 2003.
13. “Alguma heráldica no Mosteiro da Batalha”, II.ªs Jornadas de História da
Vila da Batalha. Actas, Lisboa, Academia Portuguesa da História, 2003,
pp. 147-153.
14. “Ecos do Islão em heráldica familiar portuguesa quatrocentista-quinhen-
tista”, Svmmvs Philologvs Necnon Verborvm Imperator. Colectânea de es-
tudos em homenagem ao académico de mérito Professor Dr. José Pedro Ma-
chado no seu 90.º aniversário, Lisboa, Academia Portuguesa da História,
2004, pp. 143-149.

2
Já anteriormente divulgada em O Timbre, ano 2, n.º 2, 2014.

31
João AnTónio PorTugAL

15. “Uma homenagem a Cristóvão Colombo: comentário de heraldista”,


Anales de la Real Academia Matritense de Heráldica y Genealogía. Homena-
je a Don Faustino Menéndez Pidal, vol. VIII/1, 2004, pp. 131-136.
16. “Heráldica de duas Rainhas no exílio”, Armas e Troféus, IX série, 2005,
pp. 197-201.
17. “Ainda o dragão do rei de Portugal”, Tabardo, n.º 3, ano 2005, pp. 55-56.
18. “Mensagem heráldica de dois objectos do museu da Sociedade de Geo-
grafia de Lisboa”, Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, série 123.ª,
n.º 1-12 (número dedicado aos 130 anos da SGL), 2005, pp. 249-253.
19. “A Genealogia e um combatente do 31 de Janeiro”, Raízes & Memórias,
22, 2006, pp. 73-74.
20. “O brasão de armas bordado na casula de S. Francisco Xavier”, Armas e
Troféus, IX série, 2006/2007, pp. 387-392.
21. “Uma enigmática pedra de armas oitocentista em Lisboa”, Arqueologia e
História, n.º 58/59, 2006/2007 191 -194.
22. “Meditações heráldicas. XXV – Armas erradamente atribuídas a uma «in-
digitada futura rainha de Portugal»”, Armas e Troféus, IX série, 2008, pp.
415-417.
23. “Nota heráldica sobre a página de rosto dos Commentarios de Afonso
Dalboquerque”, Hidalguia, n.º 338, 2008, pp. 817-825.
24. “Brasões de armas na cidade de Lisboa”, Boletim da Sociedade de Geografia
de Lisboa, série 126, n.º 1-12, 2008, pp. 29-31.
25. “Os Brasões de Armas do 19º Duque de Bragança (depois El-Rei D. Car-
los I) e de sua esposa”, Lusíada História, 5/6, 2009.
26. “Relíquias emblemáticas da representação consular siciliana em Portu-
gal”, Lábaro, n.º 1, 2010.
27. “Meditações heráldicas. XXVI – Um texto de Eça de Queirós e uma fi-
gura das armas de S. S. Bento XVI”, Armas e Troféus, IX série, 2014, pp.
71-74.

32
ORIGEN DEL EMBLEMA DE LOS REYES DE ARAGÓN

Faustino Menéndez Pidal de Navascués

Pocos emblemas heráldicos habrá –acaso ninguno– cuyo origen haya


provocado tantos comentarios 1 como las armas que usaron los reyes de Aragón:
los bastones 2 de oro y gules. De estos comentarios, unos –los menos– se escri-
bieron con el laudable fin de averiguar la verdad, pero otros –los más– no buscan
sino apuntalar los prejuicios que apasionadamente sostiene cada autor. Prejui-
cios que se derivan del hecho de haber cambiado la dinastía –Ramiro el Monje,
Petronila, Alfonso II– precisamente en los años en los que nacían los emblemas

1
Incluyen bibliografía sobre los orígenes las obras de Armand de Fluvià, Els quatre pals: l’escut dels
comtes de Barcelona, Barcelona, 1994, y de Alberto Montaner Frutos, El señal del rey de Aragón:
historia y significado, Institución Fernando el Católico, Zaragoza, 1995.
2
Algo después de 1277 se encuentra ya la voz (bastonat) para describir el escudo de los Almoravid en
el poema de Guillén Anelier sobre la guerra de los burgos de Pamplona, en 1284-1285 la utiliza el
trovador Bernat d’Auriac (lo senhal del bastó) y tres años más tarde en un documento latino (baculi)
suscrito por varios caballeros aragoneses. La misma aparece también en la Crónica de San Juan de la
Peña, escrita en tiempo de Pedro el Ceremonioso. Y es aceptada por la cancillería real en la concesión a
la ciudad de Valencia en 1377. Poco antes, hacia 1370, se usa en una crónica castellana (sus armas que
eran bastones bermejos en escudo dorado). Parece ser ésta la voz castiza en castellano y en occitano. Se
aplicaba también a las franjas de los tejidos: ‘paño bastonado’. La denominación de ‘palos’ es tomada
del francés y difundida en ambientes más cultos; la emplea Bernat de So en 1382 para describir las
armas reales y a últimos del siglo XV Pedro Marcuello en su Cancionero. En las obra literarias se
utilizó así mismo, desde tiempo antiguo, la denominación de ‘barras’, aun en contradicción con su
acepción normal en el lenguaje del blasón. Para designar las franjas verticales se buscan, en definitiva,
objetos que las recuerdan: bastones, palos (de empalizada), estacas, varillas, … El término ‘barras’ no
expresa la posición vertical, de aquí su indefinición semántica. Sobre las denominaciones de las piezas
de las armas reales de Aragón vid. Martí de Riquer, Heràldica Catalana des de l’any 1150 al 1550, I.
Barcelona, 1983, pág. 125-128.

33
fAusTino menéndez PidAL de nAvAscués

heráldicos. Unos pretenden que el emblema fue propio de los condes de Barce-
lona, de Ramón Berenguer IV, el esposo de Petronila, y sus antepasados, y se
adscriben por consiguiente a Cataluña, algo que no existía entonces como unidad
administrativa. Otros, por el contrario, rechazan que lo hubiera usado Ramón
Berenguer IV y defienden que apareció en el reinado de Alfonso II, quien lo
habría tomado de algún uso de sus ascendientes por línea materna, Ramiro el
Monje y predecesores en el trono de Aragón. Estas posiciones contradictorias,
que buscan vincular el origen del emblema a un territorio excluyendo a otro
son, ambas, del todo absurdas. Según veremos más adelante, los testimonios
demuestran de manera irrefutable que los bastones de oro y gules no se adscribían
entonces a ninguna de las dos dignidades o territorios.
Además de la injerencia de este factor, de índole no científica, de las apasio-
nadas disputas y los más disparatados argumentos en total desacuerdo con lo que
ocurría en la época, para enturbiar y distorsionar el panorama de la desdichada
historia de este emblema se añade otro: las interpretaciones falsas de los testimo-
nios gráficos, unas veces por ignorancia, otras por falta de valentía para defender
la verdad frente a autores tenidos por intocables. De todo ello veremos ejemplos.

Anverso y reverso del sello de Alfonso II. Matriz de 1162-1172 (1170?), impronta de 1186.
(Sagarra, Sigillografía, núm. 3).

Por estas razones, creo necesario exponer la cuestión con detenimiento y


la mayor nitidez posible. Y seguiré el método recomendado por Ortega y Gasset:
no sólo enseñar cuál es la verdad, sino mostrar el camino para llegar a ella. Todos
admiten estas armas sin discusión en los sellos de Alfonso II, el primer rey de
la nueva dinastía, pero ¿de dónde le vinieron? Averiguaremos ese tan buscado

34
origen deL embLemA de Los reyes de ArAgón

origen por el único método lógico: examinando los testimonios anteriores. Son
todos testimonios figurados, porque no existen testimonios textuales de esa época
anterior a Alfonso II, los testimonios textuales que hay son muy posteriores.
Y algo importantísimo: interpretando esos testimonios figurados de acuerdo con
los modelos, los usos y costumbres de su misma época y región. Los signos en
general, y los emblemas en particular, por ser signos, siguen unas pautas generales
idénticas en la misma época y región, porque si se apartasen de ellas no serían
entendidos como signos. No existen, pues, casos únicos, que se aparten radical-
mente de lo que ocurre en el entorno. Esto no lo tuvieron en cuenta los creadores
de muchas de esas estrafalarias teorías acerca del origen de los bastones de Aragón.

Una cara de un sello de Ramón Berenguer IV. Dibujo de Blancard y fotografía de vaciado
de Sagarra.

Y esos testimonios figurados anteriores a Alfonso II los encontramos,


como no podía ser de otra manera, en los sellos de su padre. Se conservan siete
improntas 3 del sello de Ramón Berenguer IV, cuatro en los archivos de Marsella
y tres en el Archivo Histórico Nacional, de los años 1150, 1157, 1160, 1166,
1164, s. a. y 1170?. Corresponden a dos diferentes matrices que se usaron suce-
sivamente: la primera desde antes de 1150, fecha de la impronta más antigua,
hasta después del año 1160, la segunda debió grabarse inmediatamente después
de esta fecha y antes de la muerte de Ramón Berenguer en 1162. A partir de este
3
La primera vez que se relacionaron todas las existentes fue en 1991; clara demostración de la
falta de interés en la investigación. F. Menéndez Pidal, Palos de oro y gules, en Studia in Honorem
Prof. M. de Riquer, IV, Barcelona, 1991, pág. 669-704. La lista se repite en F. Menéndez Pidal,
El escudo de España, Madrid, 2004, pág. 105.

35
fAusTino menéndez PidAL de nAvAscués

año continuó usándola 4 su hijo mayor Alfonso II, cuyo primer sello propio se
grabó poco antes de 1172, quizá al alcanzar la mayoría de edad en 1170. Esta
utilización de la matriz de su padre es muy importante para nuestra investigación,
como veremos enseguida. Ambas matrices son bifaces y en cada cara presentan
la imagen ecuestre; las cuatro imágenes ecuestres de las dos matrices sólo difieren
en pequeños detalles, intrascendentes para nuestro objeto. Las primeras publica-
ciones con imágenes de estos sellos son las de Blancard, en 1860 5, con dibujos de
los ejemplares de Marsella, y la Fernando de Sagarra, en 1915 6, con fotografías de
vaciados en escayola, procedimiento que mejora el detalle al evitar los brillos de
la cera. Sagarra pretende incluir todas las improntas, pero omite la más antigua,
del año 1150, probablemente porque ya en su tiempo estaba fuertemente deterio-
rada, como se halla hoy, y no era posible obtener un molde. Además, su obra se
orienta como una colección de tipos; no le interesaba averiguar las fechas en que
fue utilizada cada matriz.
¿Cuándo se grabó la primera matriz? La leyenda que dice: + raimvndvs
berengarii comes barchinonensis et princeps regni aragonensis demuestra
que se grabó después del matrimonio con Petronila en el año 1137. Como hemos
dicho, la impronta más antigua es del año 1150. Todavía cabría atrasar algo más
el terminus ante quem. Según consta en un documento sin fecha cuya copia está
en el Archivo de la Corona de Aragón, datable a fines de 1141 o en 1142, el
Patriarca de Jerusalén y el Prior del Santo Sepulcro enviaron al Conde el convenio
sobre la herencia de Alfonso el Batallador sellada con sus sellos y le pidieron
que devolviera el documento sellado con el suyo 7. Luego este sello o ya existía
entonces o se hizo para la ocasión. Esta ultima hipótesis sería semejante a la que
se ha propuesto para el sello pendiente del emperador Alfonso VII, quien habría
adoptado este tipo de sello al sellar el tratado con Génova para conquistar Almería
en el año 1146 8.
¿Qué vemos en el escudo de Ramón Berenguer? Cualquier observador
libre de prejuicios ve unas finas líneas verticales en relieve, siete parece en lo ancho
4
Una de las causas pudo ser su antiguo nombre, el mismo que su padre.
5
Louis Blancard, Iconographie des sceaux et bulles conservés dans la partie antérieure à 1790 des
Archives départementales des Bouches-du-Rhône, Description des sceaux, Marsella, París, 1860.
(Existen diferentes versiones de esta obra con este mismo título, imprenta y año de impresión).
6
Ferràn de Sagarra, Sigillografía catalana, vol. I, Barcelona, 1915.
7
Próspero de Bofarull, Colección de documentos inéditos del Archivo General de la Corona de Aragón,
Volumen IV, núm. CXXXVII, pág. 325-326. (Varia I, liber feudorum Alfonsi I, n. 1, fol. 7).
«… Mandamus preterea et mandando rogamus quatenus privilegium sigillo vestro insignitum
quemadmodum vobis fecimus nobis de cunctis nostris faciatis atque eis deliberetis. Valete in Domino».
8
F. Menéndez Pidal, Los sellos de Alfonso VII, en J. M. Soto (coord.), Pensamiento medieval hispano,
Madrid, 1988, pág. 99-116.

36
origen deL embLemA de Los reyes de ArAgón

del escudo, y una bloca, refuerzo de pletinas metálicas formando una cruz y un
aspa sobre la armazón de tabla y cuero, refuerzo que no faltaba en ningún escudo
de guerra de la época.
¿Y cómo se interpreta esto que vemos? Blancard vio, naturalmente, los seis
rayos de la bloca, pero no sabía qué eran, porque el uso de la bloca en los escudos
de guerra fue dado a conocer por Bouly de Lesdain más tarde, en 1907 9. Y Blan-
card los interpretó como las armas de Navarra, un emblema que no existió hasta
ochenta años después, esto aparte de su injustificable presencia aquí.
Don Tomás Muñoz y Romero, en un artículo 10 publicado en 1866 sobre
ejemplares conservados en el Archivo Histórico Nacional, afirma, con toda la
razón, que estos sellos son los monumentos más antiguos en los que vemos los
bastones, en el escudo de la figura ecuestre. Pero incurre en un error al denominar
a este emblema. Aparte de lo que antes dijimos, Cataluña no existía como unidad
administrativa en tiempo de Ramón Berenguer IV, mal podía ser titular de un
emblema.
Fernando de Sagarra, en su discurso de ingreso en la Real Academia de
Bellas Letras de Barcelona 11 en 1890, cita como impronta más antigua la de
1160, omitiendo las de 1150 y 1157, y en cuanto a los emblemas dice que «en el
sello se notan trazas y señales evidentes de una divisa de los condes de Barcelona
anterior a la de las llamadas barras o palos». La explicación de tan extraña opinión
podría ser que tampoco reconocía entonces la bloca, cuyas líneas, junto con los
bastones, formarían esa rara divisa.
Por fin el mismo autor, en su Sigillografía catalana del año 1915, reconoce
acertadamente la bloca radiada de estos sellos, comparándola con la que aparece
en los escudos de los ecuestres de otros sellos extranjeros. Pero las finas líneas
verticales en relieve que ve tanto en el escudo de Ramón Berenguer como en el
de Alfonso II las interpreta de manera muy diferente en ambos casos. De las que
ve en el escudo de Alfonso II dice: «es veuen ben definides les barres encar que
estretes, a manera de ratlles verticals». Mientras que las ratlles idénticas del escudo
de Ramón Berenguer las califica como «unes ratlles verticals o barres molt rudi-
mentaries … No’s pot precisar, per consegüent, si aquestes ratlles constitueixen
divisa o són tan sols un motiu d’ornamentació de l’escut».
La clave de la diferente interpretación de cosas idénticas nos la dan las
últimas palabras de su comentario. Había leído en la obra de Demay, publicada
9
Louis Bouly de Lesdain, “Études héraldiques sur le XIIe. siècle”, en Annuaire du Conseil Héral-
dique de France, XX, 1907, pág. 185-244.
10
“Los sellos de Ramón Berenguer IV”, en El arte en España, IV, 1866, pág. 169 y ss.
11
“Discursos leídos ante la Real Academia de Bellas Letras de Barcelona en la recepción pública del Sr.
D. Fernando de Sagarra y de Siscar”, Boletín de la Real Academia …, Barcelona, 1890, pág. 259.

37
fAusTino menéndez PidAL de nAvAscués

en 1880 12, que en los sellos de los grandes feudatarios de Francia los emblemas
heráldicos no aparecen hasta las postrimerías del siglo XII. A pesar de la evidencia,
no se atrevió a publicar, rectificándole, que Ramón Berenguer los utilizaba veinte
años antes. Hoy se conocen sellos anglo-franceses con emblemas heráldicos ante-
riores al de Ramón Berenguer IV. Además, la fuente es de dudosa solvencia,
porque el objeto de la obra de Demay es la indumentaria y sólo de manera inci-
dental se ocupa de los emblemas heráldicos.
El juicio de Sagarra sobre el escudo de Ramón Berenguer carece de aquella
condición de coherencia con el entorno que antes señalamos: ¿dónde están, en
esa época otros escudos con “motivos de ornamentación” que no sean emblemas
heráldicos?. En ninguna parte, no existen. En cuanto al comentario sobre el
escudo de Alfonso II tampoco tiene razón: las finas líneas no son «barres estretes»;
son los bordes de los bastones, igual que ocurre en el escudo de su padre. Lo vemos
con toda claridad en los sellos del consulado de Milhau, unos sellos 13 del más alto
interés en el tema que tratamos y sobre los que más adelante volveremos.

Reversos de los sellos de los cónsules de Milhau, improntas de 1243 (matriz de 1187) y de 1269
(matriz de 1254-1259). (M. de Framond, Sceaux rouergats, núm. 370 bis y 371 bis). En el pri-
mero, escudo de guerra de Ramón Berenguer: cinco líneas marcan los bordes de los bastones,
dos amarillos y dos rojos. En el segundo, escudo heráldico, sin bloca: seis bastones, tres amarillo
y tres rojos.

12
Germain Demay, Le costume au moyen âge d’après les sceaux, París, 1880.
13
Sobre estos sellos véase Martin de Framond, Sceaux rouergats du Moyen-Âge, Rodez, 1982, y
sobre todo, del mismo autor “Aux origines du sceau de ville et de juridiction, les premiers sceaux
de la ville de Millau”, en la Bibliothèque de l’École des Chartes, 147, 1989, págs. 87-122.

38
origen deL embLemA de Los reyes de ArAgón

Como antes dijimos, Alfonso II no tuvo sello propio hasta algo antes de
1172; desde 1162 hasta esa fecha había venido usando el sello de su padre. Esto
explica que cuando el Rey concedió uso de sello a los cónsules de Milhau en
1187 se tomase como modelo para el escudo que allí se reprodujo no el que
vemos en el sello del Rey, sino el que hay en el sello de su padre el Conde. Lo
prueba que ese escudo del sello de Milhau lleve bloca, como en los de Ramón
Berenguer, elemento de refuerzo que no se grabó ya, por anticuado, en el sello de
Alfonso II. El sello de Milhau, grabado en cumplimiento del privilegio de 1187,
nos es conocido por una impronta del año 1243, aceptablemente conservada, en
la que podemos observar con claridad cómo eran los escudos de los deteriorados
sellos de Ramón Berenguer IV.
“Rayas” totalmente iguales –es decir, líneas rectas en relieve separadas por
espacios mayores que su grueso– se ven en los escudos, coberturas del caballo
y enseñas de las figuras ecuestres que se grabaron en los sellos de Alfonso II y
Pedro II. Nadie dirá que en los sellos de estos reyes no representan los bastones
que utilizaron como emblema heráldico, ellos y todos los reyes de Aragón sus
descendientes. Tales rayas figuran las líneas de separación de los colores; cada
bastón está limitado pues por dos de ellas. Más tarde, en algunos sellos de Jaime I
aparecerá otra técnica de representación de la diferencia de colores, que consiste
en figurar los bastones resaltados o rehundidos en toda su anchura sobre el campo.
Sin salir de los escudos con bastones y de la misma región, vemos idéntico cambio
de sistema de representación en los sellos de los Foix y de los Sévérac. La técnica
de las rayas en relieve separando campos precedió también en el área anglo-fran-
cesa a la de campos resaltados y permaneció durante el siglo XIII en muchos sellos
municipales, en general más arcaizantes por su larga vida.
No hay testimonios figurados de los bastones anteriores a los sellos de
Ramón Berenguer IV 14. De las investigaciones casi exhaustivas que practicó
Sagarra, dedujo que Ramón Berenguer III no usó sello y, según todos los indicios,
tampoco lo tuvieron ni su hijo menor ni su nieto, condes de Provenza, hermano
y sobrino de Ramón Berenguer IV. La figura ecuestre con el emblema de los
bastones que adoptó para su sello Ramón Berenguer IV y fue tan puntualmente
seguida por sus descendientes parece que no tuvo un precedente más antiguo.
Además, que entre 1137 y 1141 (en todo caso antes de 1150, fecha de la primera
impronta conocida) adoptase el uso del sello pendiente para validar documentos
14
Más adelante daremos noticia, para rebatirlo, del intento de datar en el siglo XI una representa-
ción. Ningún emblema aparece en la urna sepulcral de Ramón Berenguer III († 1131), conser-
vada en al monasterio de Ripoll. La urna antigua se presenta ahora insertada en una decoración
moderna llena de invenciones inexactas (el conde cabalgando con escudo y sin arma alguna, ni
lanza ni espada) y anacrónicas (forma de los escudos, estar coronados, cuatro bastones, …).

39
fAusTino menéndez PidAL de nAvAscués

concuerda perfectamente con lo que hoy nos es dado conocer acerca de la crono-
logía de la introducción del uso del sello en la España cristiana y en el sur de
Francia. De aquel insólito uso durante varios años del sello del padre del rey por
la cancillería de Alfonso II parece deducirse un escaso aprecio de este modo de
suscripción, que pudiera deberse a su reciente implantación. Un fuerte contraste
con lo que ocurría un siglo más tarde, cuando la práctica general era destruir las
matrices sigilares del difunto inmediatamente después de su muerte, para evitar
usos fraudulentos. Una práctica que después se seguiría en la corte de Aragón con
solemne ceremonial, en el que se destruían las matrices al pie del catafalco donde
yacía el cadáver del rey difunto.
Pero ¿Ramón Berenguer IV adoptó el emblema de los bastones a la vez
que el sello o existía antes el emblema en otros soportes? Para responder a esta
preguntas no existen testimonios; las respuestas han de consistir en hipótesis, en
hipótesis, eso sí, concordantes con lo que hoy sabemos sobre los usos emblemá-
ticos de la época, no hipótesis construidas sobre disparatadas fantasías en contra-
dicción con aquellos usos.
Poco es en verdad lo que sabemos, pero, sin apartarnos de esos conoci-
mientos, podemos afirmar que hay muy sólidos indicios de que el emblema exis-
tiese antes en una enseña 15. Se deduce de la especial relevancia que en la corona
de Aragón mantuvo la enseña, en acusado contraste con los usos de los demás
reinos peninsulares, manifestada tanto en las concesiones de esa enseña –vexillum
nostrum la llama la cancillería– a varias comunidades vecinales como a su cons-
tante presencia en las representaciones ecuestres de los sellos reales. La especial
relevancia de la bandera sigue advirtiéndose hoy en Cataluña y Valencia, con clara
diferencia del resto de España 16. Otro argumento más se explica luego: las franjas
horizontales (fajas) eran decididamente preferidas a las verticales, y más siendo
éstas disimétricas al principio al ponerse en número par; la procedencia de una
enseña –donde se disponían horizontales– justificaría su adopción.
La primera concesión por los reyes de Aragón del uso de su propia enseña
a una comunidad vecinal, considerando el emblema vinculado a la enseña, no
al escudo, data del año 1187. Alfonso II, como vizconde de Milhau, confirma y
concede varios privilegios a esta villa; entre ellos, el uso de sello y de la propia seña
real: concedimus namque sigillum commune consulibus et communi cum subcriptione
15
Ya lo mencionamos en 1976, en la comunicación presentada al XIII Congreso Internacional de
Genealogía y Heráldica celebrado en Londres, Les emblèmes héraldiques du royaume d’Aragon et
leur signification historique. (Fue el único en el que no se publicaron las actas; se distribuyeron en
microfilm).
16
Nos referimos a banderas tradicionales, excluyendo los modernos inventos jaleados por motivos
políticos.

40
origen deL embLemA de Los reyes de ArAgón

nostra et sua et eciam vexillum nostrum 17. La donación parece que quiere decir, con
más precisión, una enseña como la nuestra, dando así valor significante al emblema.
Si esto es así, en la cancillería real se consideraba a la enseña como soporte primor-
dial del emblema, antes que el escudo. Milhau era una importante posición de la
casa de Barcelona, de gran valor en las luchas con el conde de Tolosa. Poco antes,
en la época del conde de Provenza Sancho, se le había concedido un consulado
y al confirmar ahora Alfonso II este privilegio añade el uso de sello propio y de
la seña real. Ninguna población del entorno regional tenía entonces sello y muy
pocas en Occidente. El sello de Milhau es notabilísimo en más de un aspecto, no
sólo por su fecha temprana y por constar su origen en un acta escrita, caso quizá
único 18. Antes hablamos de él, porque reproduce con total claridad el escudo
que vemos muy deteriorado en los sellos de Ramón Berenguer IV. Subrayamos
ahora la segunda parte de la concesión: et eciam vexillum nostrum, que ha pasado
desapercibida, ocultada quizá por la presencia del escudo real en el sello. Tan rara
concesión se repetirá más tarde, en el siglo XIV, con Valencia y con Burriana
(1339). Se relaciona con la desusada frecuencia de la inclusión en épocas poste-
riores del emblema real en los escudos de armas de las villas y ciudades de los
diferentes territorios de la Corona de Aragón.
La vigencia de la seña –vexillum– se manifiesta también en 1288. En este
año, unos caballeros aragoneses, reunidos en Mallén, en la frontera de Navarra,
exponen al gobernador de ese reino cuáles eran sus condiciones para aceptar a
Carlos de Valois cuando recibió del Papa la investidura de Aragón. Sólo le reco-

17
Privilegio datado en Gerona en las calendas de abril de dicho año, conocido por un vidimus del
rey de Francia del año 1286 copiado en la Colección Doat (Bibliothèque Nationale, Paris, t. 145,
pág. 19-20). Varias veces publicado: por J. J. Champollion-Figeac, Documents historiques inédits
tirés des collections manuscrites de la Bibliothèque Royale, en Collection de documents inédits sur
l’Histoire de France, núm. 82, Paris, 1836; en Etudes historiques sur le Rouergue, por Marc. Ant.
François, Baron de Gaujal, Paris, 1858-1859, 4 vols., I, pág. 84, etc. Estudia este sello Martin
de Framond, “Aux origines du sceau de ville et de juridiction: les premiers sceaux de la ville de
Millau”, en Bibliothèque de l’École des chartes, 1989, 147, pág. 87-122. Publicado parcialmente en
España por J. Miret y Sans, “Itinerario del rey Alfonso I de Cataluña, II en Aragón”, en Boletín de
la Real Academia de Buenas Letras de Barcelona, tomo II, 1903-1904, pág. 441-442.
18
En este primer sello de Milhau se halla sin duda la más antigua representación del escudo de
armas de los bastones como emblema, no como escudo defensivo con emblemas llevado al brazo
por una persona. De esta misma manera (sin persona que lo sostenga) se usa en el año 1200
como signum de Alfonso de Provenza. También en Inglaterra los escudos solos no se encuentran
en los sellos hasta las cercanías del año 1200 R. H. Ellis, Catalogue of Seals in the Public Record
Office, 2 vols., London, 1978-1981, núms. 742, 787, 1053, etc. En Castilla hay un ejemplo
avanzado, de 1209, en el sello de Gonzalo Ruiz Girón, si creemos en la descripción de Gudiel,
seguido de la famosa –y sospechosa– bula de plata del señor de los Cameros, unos quince años
más tarde.

41
fAusTino menéndez PidAL de nAvAscués

nocerán como rey si usa las armas de los bastones sin mezcla de otras: Item quod
dictus Rex Aragonum habeat semper in scuto, vexillo, sigillis ac aliis locis ubi sua
signa pingenda seu ponenda sint, signum regni Aragonum, scilicet: bastones, unum
aureum et alium rubeum, nullo alio signo eisdem apponito vel adiuncto 19. Parece
que Carlos III de Navarra imitó estos usos aragoneses, porque en su privilegio
del año 1423 cifra en el pendón, no en un escudo, el emblema que concede a
la ciudad unificada de Pamplona. Pero este emblema se trasladó en el acto a un
escudo de armas para los nuevos sellos, porque entonces ya se admitía corriente-
mente que las ciudades poseyeran armerías.
El aditamento textil de la lanza (pendón en sentido genérico) puede ser
un simple adorno o, con mayor volumen y forma especial (fr. gonfanon, esp.
gonfalón), ser un signo de reunión de carácter colectivo y a la vez de recono-
cimiento, según revelan sus nombres: seña, connoissance que sirve para guiar la
hueste. Se relaciona así con aquellas figuras presentadas en alto, sostenidas por un
astil, propias de le época altomedieval y de antiquísimo origen. Por su función
de guía hubo necesidad de diferenciar las señas, incluyendo emblemas propios 20;
sobre ellas existieron antes, en tiempos preheráldicos, algunos emblemas. Como
hipótesis verosímil, cabe pensar que en soportes de este tipo –perecederos y
rara vez representados– se conservaron ciertos emblemas que reaparecen tras un
periodo “oculto”, como el águila de García Ramírez que vemos en las armas de
su nieto Sancho VII de Navarra y el león de Alfonso VII en el sello de la ciudad
de Zaragoza. Las enseñas constituyen uno de los soportes de emblemas preexis-
tentes, de cuya fusión resultó el sistema heráldico, según la comprobada hipótesis
formulada por D. L. Galbreath a principios del siglo pasado. Si de su función en
los hechos de guerra algo nos dicen las crónicas y la literatura de ficción, sobre
sus diseños y ornamentos, en la época que aquí nos importa, apenas quedan otros
testimonios que los sellos. En el área del Canal de la Mancha, en 1120-1150
comienza a ser representada en los sellos la ornamentación de los gonfalones que
llevan las figuras ecuestres. Parece indicar esto que se concedió ya valor emblemá-
tico a tales ornamentaciones, por haber alcanzado el grado de sencillez y relieve
cromático necesario para ser significativas y consiguientemente continuas. Estas
cualidades faltaban ordinariamente en las enseñas más antiguas, aunque tuvieron

19
Luis González Antón, Las Uniones aragonesas y las Cortes del reino (1283-1301), Zaragoza, 1975,
documento 252. El sello y la seña caudal eran los símbolos de la existencia diferenciada del
reino. En el Fuero Antiguo de Navarra (año 1234-1238) se exige al rey «que aya sieillo pora sus
mandatos, et moneda iurada en su vida, et alfériz, et seyna caudal …».
20
Lo recuerda hacia 1180 Robert Wace en su Roman de Rou: «N’i a riche home ne baron qui n’ait
lez lui son gonfanon». Los distintivos propios (divisas se decía entonces) de los ricoshombres y
barones se llevaban en los gonfalones, no en los escudos.

42
origen deL embLemA de Los reyes de ArAgón

adornos, como los gonfalones que llevan en los bordados de Bayeux el Conde de
Boulogne (las bolas emblemáticas) y Guillermo el Conquistador.
Según el testimonio de los sellos, se inicia seguidamente un proceso cuyas
muestras externas son la aparición sobre el escudo del caballero de los emblemas
que antes llevaba en el gonfalón y la simultánea desaparición de éste, sustituido
por la espada que llevan las figuras ecuestres de tipo anglo-francés. Este proceso ha
sido estudiado en los sellos de la Île de France, Valois, Vexin y Picardía, en la plena
área de las armerías clásicas y de las estructuras feudales típicas 21. Se ha citado el
sello de Raúl de Vermandois del año 1135, que lleva su jaquelado heráldico en
el gonfalón y luego, en el sello de 1146 prescinde del gonfalón, se arma con una
espada y presenta su emblema sobre el escudo. Con retraso, el mismo cambio se
observa en los sellos de Guillermo, conde de Ponthieu, de los años 1204 y 1212. A
la vista de estos hechos resulta muy probable que un proceso semejante ocurriese
en el caso del emblema de Ramón Berenguer IV. Al transferir los emblemas, el
borde de la seña se hace corresponder con la cabeza del escudo; por eso las franjas
que en la seña eran horizontales pasan a ser verticales en el escudo.
En los sellos del siglo XII y primer cuarto del XIII, las representaciones
ecuestres usadas desde Navarra y las tierras recién conquistadas del Ebro medio
(señorío de Molina) hasta Languedoc –que pertenece, entonces, al mismo espacio
cultural– son de tipo mediterráneo (figura vista por su lado izquierdo). El caba-
llero se arma con lanza que lleva una seña triangular, sujeta al asta por el lado
menor. Estas señas son las que llaman las Partidas pendones posaderos, «anchos
contra el asta e agudos facia los cabos», que convienen a los reyes y grandes señores
del espacio mediterráneo, según vemos en los sellos, y también al almocadén o
cabdiello de las peonadas, según dicen las Partidas. Son pendones específicos, con
significación; no los pendones ordinarios que adornaban las lanzas de la hueste
del Cid. Así la vemos en los sellos de Ramón Berenguer IV, en los de sus hijos
y nietos, en el de Sancho VI de Navarra de 1189 (probablemente el mismo que
usaba en 1157) y de su hijo Sancho VII, en el que se atribuye a Armengol VII
de Urgel (1154-1184) y en el de Pedro Fernández de Azagra, señor de Albarracín
(impronta de 1216). Muy probablemente, así era el sello que el conde Amalrico,
señor de Molina, usaba en 1153, porque la misma seña triangular vemos en el
sello de su hijo el conde Pedro, conocido por una impronta de 1179 (matriz quizá
diez años anterior). En las representaciones sigilares de estas señas, se aprecian
emblemas en las de Ramón Berenguer IV; en algunas pudieron haberse borrado
con el desgaste de la cera y otras parece que nunca las tuvieron, si sus portadores

21
Brigitte Bédos Rezak, “L’apparition des armoiries en Île-de-France et en Picardie (v. 1130-1230)”,
en Actes du IIe. Colloque International d’héraldique (Bressanone 1981), Paris, 1983, pág. 23-41.

43
fAusTino menéndez PidAL de nAvAscués

carecieron de emblema heráldico, como Sancho VI de Navarra y el conde Pedro


de Lara, señor de Molina.
Más tarde seguimos viendo la seña triangular en las figuras ecuestres (como
condes de Barcelona) de los sellos de los reyes de Aragón 22, en los sellos de los
condes de Provenza y de Urgel, de los Cervera, etc. Es notable la exclusión de
Mallorca: en el último cuarto del siglo XIII el rey Jaime II lleva en su sello un
pendón triangular, pero unido al asta por uno de los lados mayores, la forma
habitual entonces en Castilla, abundantemente representada en las miniaturas
de las Cantigas y a principios del XIV en el códice de la cofradía de Santiago
de Burgos, para pendones que no expresan guía de una hueste. En las mismas
miniaturas vemos señas cabdales (propias de los cabdiellos) de forma parecida a los
gonfalones, pero con las farpas muy cortas, de longitud equivalente a su anchura.
Por el poema de Mio Cid sabemos que un siglo antes eran desconocidos en
Castilla los gonfalones de largas colas que serpenteaban al viento: pendón a corcas
llama el juglar al que traía el francés Don Jerome.
Un testimonio muy notable queda inútil por su vaguedad. El obispo de
Tuy Don Lucas nos cuenta un hecho acaecido en Cardeña poco más de cincuenta
años antes, del que se deduce que la enseña del Cid –la que plantó en el alcázar de
Valencia a fines del siglo XI, según el Poema–, que se guardaba en aquel monas-
terio, era diferente de las que se usaban hacia 1185. Pudiera interpretarse en el
sentido de que las modernas tenían emblemas significantes, mientras que la orna-
mentación de las antiguas, falta de relieve visual, no tendría valor emblemático,
como la representada en el Liber Testamentorum de Oviedo. Otras descripciones
de enseñas son de valor muy escaso, por estar muy alejadas en el tiempo.
La seña que lleva en su sello Ramón Berenguer IV es del modelo conti-
nuado por sus descendientes y también usado en Languedoc. Su vuelo es pequeño
y los bordes describen una doble curva, convexa en la parte más cercana al asta y
cóncava al llegar a la punta. Parece que éste es el origen de una singular forma que
se desarrolla ya completamente en el siglo XIV: cuadrada con una ancha cola o
farpa central de extremo redondeado. Aparece dibujada en la edición del Tratado
de los rieptos e desafíos o Tratado de las armas de mosén Diego de Valera, en el que
recibe el nombre de palón 23 y se considera apropiada para las ciudades, villas y
comunidades. Sin embargo, en las pinturas murales del castillo de Alcañiz (siglo
22
El tipo de la representación ecuestre armada con lanza (de la que pende la enseña) permanece en
los sellos reales hasta Jaime I; su hijo Pedro III, que tantas novedades introdujo en los sellos, lo
sustituye en la segunda mitad del siglo XIII por el tipo más moderno del caballero armado con
espada.
23
Versión del fanon francés, equivalente a gonfanon. El Diccionario de la Real Academia da una
forma errónea para este nombre.

44
origen deL embLemA de Los reyes de ArAgón

XIV) hay representados palones que llevan las armas del rey de Aragón y en otros
vemos la media luna y campaña jaquelada de los Ferrench de Luna. Tanto en las
señas de los siglos XII y XIII como en estos palones, derivados de aquéllas, los
emblemas heráldicos se disponen como en los gonfalones: el lado junto al asta se
corresponde con la parte superior o jefe del escudo, como antes dijimos. Por eso
los bastones del rey de Aragón aparecen en ellos dispuestos horizontalmente.
El área de vigencia de la seña triangular se prolonga al otro lado de los
Pirineos. En Languedoc aparece en las representaciones ecuestres de los sellos de
los condes de Forcalquier, de los Sabrán, Simiane y Gavelín. Pero más allá del
Ródano, aunque se mantiene el mismo tipo ecuestre mediterráneo, los caballeros
no levan la seña triangular, sino el gonfalón con dos o tres largas colas o farpas.
Así se ve en los ellos de los condes de Saboya, de los normandos del sur de Italia y
de los magnates del Oriente latino. Este gonfalón es la única enseña que se repre-
senta en los sellos al norte del Loira desde el siglo XI.
Las fronteras tipológicas del uso de la seña triangular coinciden plenamente
con unos límites culturales netamente definidos entonces por varias costumbres
y usos. Al Oeste peninsular, en los reinos de León y Castilla, las representaciones
ecuestres son del tipo anglo-francés –una muestra más del influencia de la cultura
inglesa de la época Plantagenet– y la seña falta absolutamente, aunque el caballero
lleve lanza. Como ejemplos, el trasunto de sello de Fernando II pintado en el
llamado tumbo A de la catedral de Santiago: el hierro de la lanza se dejó fuera de
los límites del dibujo, como si no importara lo que allí había. Y el primer sello que
tuvo Alfonso VIII siendo niño, conocido por la impronta de 1163, cuya matriz
(posterior a 1158) le fue procurada por su tutor, el conde Amalrico, por eso la
figura ecuestre es del tipo mediterráneo, pero aunque se arma con lanza no lleva
seña. En los reinos de León y Castilla parece que en el siglo XII el pendón de la
lanza era un simple adorno, pues la enseña no la llevaba el jefe de la hueste, sino
su alférez 24. Sin embargo, según un verso del Poema de Almería, en 1147 la señal
del Emperador leonés Alfonso VII (el león) figuraba en sus señas: Sunt in armis et
in vexillis Imperatoris illius signa.
En Portugal no hay sellos ecuestres personales del siglo XII 25. Otras repre-
sentaciones ecuestres, como la del sepulcro de los Sousa en Coimbra, son del
tipo anglo-francés, como corresponde a su zona, y se arman con espada. Unas
24
Una explicación pudiera ser que sólo aquí se confiaba entonces la seña al alférez; recordemos los
versos 689 y 707 del Mio Cid: «E, vos, Pero Vermúdez, la mi seña tomad», «Vo meter la vuestra
seña en aquela mayor az». Pero en la tira de Bayeux vemos cómo el gonfalón de Guillermo el
Conquistador es llevado por su alférez.
25
En el sello de Évora, 1251, la figura ecuestre lleva una lanza con pendón (no seña) triangular
unido al asta por uno de los lados mayores.

45
fAusTino menéndez PidAL de nAvAscués

notables enseñas aparecen junto a la figura del rey –verosímilmente Sancho I– en


los dibujos (mediados del siglo XIII) del Foral de Pena Ruiva y de las Doações de
D. Afonso III, semejantes a los gonfalones del área anglo-francesa, con sólo las
colas, sin porción de tela llena que las una. Quizá sea de este tipo la seña que se
representa en el sello de Elvas en 1258 26. Del modo contrario, con ancha porción
lisa y seis pequeñas farpas, se representa en el sello 27 (¿de 1189?) el pendón de la
ciudad de Zamora, que modernamente se transforma a la manera de las repre-
sentaciones portuguesas como consecuencia de las leyendas tejidas en torno a la
seña bermeja.
El uso del pendón se mantuvo sólo en las ocasiones solemnes, especialmente
en los entierros. Lo vemos en el sepulcro del infante Don Felipe, en Villasirga,
labrado poco después de 1274, con sus armas, invertido en señal de duelo, prece-
diendo al caballo y acompañado por dos trompetas. Lo mismo atestigua el testa-
mento del comendador mayor de León Alonso Martínez de Olivera, de ilustre
linaje portugués, aunque establecido en Palencia, quien ordena en 1302 todas
las ceremonias de su sepelio con gran prolijidad: «Item mando que nos fagan (al
testador y a su mujer) dos sepolturas altas et que pongan sobrellas los escudos e
un pendón de nuestras armas» 28. Y algo más tarde lo menciona también el testa-
mento de Sancho de Eslava, otorgado en Tudela en 1448: «ordeno et mando que
sea puesto hun pendón según están los otros de mis antepasados, pintado segúnt
que por otros verán, et sea puesto con la sobre vesta e armas de cauallo» 29. Se haría
ya en el siglo XII, según una copia del testamento de Álvaro Fernández de Valla-
dares, que habría sido otorgado en 1187 y se tiene por apócrifo. Ordena «que no
dito día arrastren os meus pendones coas minhas armas» 30.
La concordancia de estos modelos formales –tipos– según áreas geográficas
y culturales –sentido de la marcha del caballero en los sellos, llevar o no seña en la
lanza, su forma– demuestran una vez más que debemos desconfiar de esos casos
que se nos quieren presentar como singulares y únicos. Los modelos formales
26
Luís Gonzaga de Lancastre e Távora, Marquês de Abrantes e de Fontes, O estudo da Sigilografia
medieval portuguesa, Lisboa, 1983, núm. 199. Este tipo de enseña, constituida sólo por farpas o
colas, sin porción llena, aparece también en las monedas del tipo lancea regis de San Esteban I de
Hungría alrededor del año 1000.
27
Juan Menéndez Pidal, Sellos españoles de la edad media, Madrid, 1921, núm. 480.
28
Dr. Fernández del Pulgar, Historias secular y eclesiástica de la ciudad de Palencia, Madrid, 1679-80,
t. II, lib. II, cap. XXII. También en A. Benavides, Memorias de Fernando IV de Castilla, t. II, doc.
CCVII.
29
Archivo Catedral de Tudela, caj. 8, let. T, núm. 10.
30
Eduardo Pardo de Guevara, P. Otero, X. A. García, “Las laudas armoriadas del monasterio de
Oseira”, en Galicia monástica, Homenaxe a María José Portela Silva, Universidad de Santiago de
Compostela, 2009, pág. 493-515.

46
origen deL embLemA de Los reyes de ArAgón

se siguen como se siguen las modas, por inercia y por no apartarse de su propio
grupo social en el que todos la siguen. Pero por este misma razón de ser modelos
formales o tipos que se difunden por modas hemos de ser muy cautos a la hora de
atribuir significaciones a su uso.

Beato de Fernando I.

Evidentemente, existían enseñas a franjas anteriores a la que se grabó en


1137-1141 (o 1150) en el sello de Ramón Berenguer IV. Una seña triangular con

47
fAusTino menéndez PidAL de nAvAscués

diez franjas horizontales –notemos el número par– vemos en el beato que guarda
la Biblioteca Nacional, llamado de Fernando I y Doña Sancha, terminado en
1047. Otra, llevada por Guillermo el Conquistador, aparece en su sello del año
1069 y los colores rojo y amarillo lleva la banderola que acompaña al emperador
Enrique VII en las pinturas del Codex Balduineum 31. Otra, rectangular, también
con franjas, se ve en el sello de Elvas del año 1258. Estos testimonios suscitan una
difícil cuestión: ¿de ellos hemos de deducir acaso que la postulada seña de Ramón
Berenguer IV pudo haberle llegado por herencia desde dos o más generaciones
atrás?
Caminando hacia atrás en el tiempo, hemos llegado a un campo desco-
nocido, con gran riesgo de extravío. Es el periodo, oscuro y difícil, que va desde
aquella primera eclosión de figuras emblemáticas en el siglo X 32 hasta que el
incremento de la comunicación y de la apertura a los demás que trajo el primer
renacimiento provocó en el siglo XII la difusión de la moda y la unificación de
caracteres que condujeron a la formación de un sistema, el heráldico. Hacia el
final de este periodo, en un momento impreciso, porque no fue instantáneo,
sino progresivo y sin apercibirse los protagonistas, los emblemas se adscriben
directamente al titular. El contenido gráfico de la enseña de la persona *N pasa
insensiblemente de ser lo que diferencia la enseña de *N de las demás enseñas a ser
el emblema de *N, que identifica y distingue a *N de las demás personas. Sería
cuando aquellos magnates del norte de Francia pasaban al escudo el emblema de
su gonfalón. Un proceso análogo se desarrolla más tarde con muchas de las figuras
de los sellos de villas y ciudades. Sólo distinguían, al principio, ese sello de otros
análogos; en el entorno de 1330 se presentan ya en el refectorio de la catedral de
Pamplona encerrados en un círculo, como emblema de la localidad y más tarde
muchos se presentarán en el campo de un escudo: se han convertido en el escudo
de armas que identifica al municipio. En el caso de Ramón Berenguer IV, en 1141
los bastones identifican al Conde en el escudo defensivo figurado en su sello; en
31
Acaso sean un eco de estas enseñas las que mencionan varias composiciones poéticas en el siglo
XIV, también con franjas, cuyo epíteto común podría marcar una relación: la bella insegna
de Florencia (Dante, La Divina Commedia, Paradiso, canto XVI, v. 127, año 1313-1321), la
bella baneyra con las franjas de Hungría, de los mismos colores blanco y rojo (Bernat de So, La
Vesiò, v. 592, años 1381-1382) y la bele baniere, ésta de argent e de asur burelee del Poema de
Caerlaverock, vv. 170-171, poco después del año 1300.
32
Citaremos, en la Península, la cruz de la monarquía asturiana, que tan larguísimo rastro dejó
hasta casi nuestro tiempo, y el águila de Abderramen III, en el resto de Occidente, el águila
del Imperio Romano Germánico, las monedas vikingas del reino de York, con una espada, el
martillo de Thor, un águila, etc. Les siguieron, a mediados del XI, el león de los reyes leoneses,
la espada con la que distinguían su moneda los condes de Ampurias, las bolas en las que emitían
los condes de Boulogne, etc.

48
origen deL embLemA de Los reyes de ArAgón

1187 ese escudo se toma ya como escudo de armas y representará a la persona de


Alfonso II en sustitución de su imagen. Se ha completado ese proceso de adscrip-
ción a la persona, proceso, como dijimos, lento y no percibido por los usuarios. Y
antes podemos intuir otro. El signo era primero la propia enseña, no su ornamen-
tación o contenido; es muy probable que el sutil paso a considerar como signo el
contenido de la enseña no podamos percibirlo hoy, pues hubo de ocurrir de modo
espontáneo, progresivo y sin percatarse el propio usuario.
La contestación a la pregunta planteada, ha de venir necesariamente –no
hay otros argumentos– de consideraciones cronológicas e históricas. La época de
la adopción: 1131-1141 (o 1150) es concordante en el conjunto que conocemos;
una data más temprana sería disonante. Y concuerda también con el panorama
político, sobre el que se teje, como una consecuencia, el emblemático. En los
extremos de los territorios cristianos peninsulares destacaban entonces dos grandes
centros de poder: en el occidente, Alfonso VII, rey en León y en Castilla, en
Galicia y en Toledo, coronado Imperator Hispaniae en 1135, representante de la
tradición asturiana, que se tenía por continuadora de la monarquía visigótica. En
el oriente peninsular, el nuevo (1131) conde de Barcelona Ramón Berenguer IV,
que domina Cerdaña, Conflent, Ausona, Besalú y Gerona 33; es el heredero de la
tradición carolingia vigente en una ancha franja que corre desde Aquitania y por
allí desborda ampliamente los Pirineos. Entre ambos centros se había formado,
desde fines del siglo X, un tercero, reconocido en Pamplona, en la comarca del
río Aragón, en Sobrarbe y Ribagorza, ocupado ahora por Alfonso el Batallador,
quien promueve, en el segundo decenio del XII, una cruzada para reconquistar
el tramo medio del Ebro con la ayuda de sus parientes de Normandía. Al morir
sin hijos en 1134 bajo un testamento imposible, el reino de Pamplona se da a
García Ramírez, ya señor de Tudela por su mujer, y el de Aragón al hermano
del rey difunto Ramiro, monje de San Pedro de Tomeras, al que hacen casarse
(1135) para lograr descendencia. Pero los dos grandes centros de poder colin-
dantes, tanto Alfonso VII como Ramón Berenguer IV, pugnan por apoderarse del
tramo medio del Ebro aprovechando el vacío. El proceso de concentración de los
ámbitos de poder por la acción centrípeta de los centros que lo poseen en mayor
grado es una constante en la historia y entonces la potencia guerrera tenía un claro
predominio frente al Derecho. Alfonso VII se hizo rápidamente presente en las
tierras del Ebro, ocupa el regnum Caesaraugustanum y pacta (1136) casar a su hijo
Sancho con la recién nacida hija de Ramiro. Pero Ramón Berenguer IV obtiene

33
En los límites, fuera de los dominios de Ramón Berenguer, estaban los condados de origen
carolingio de Urgell y Pallars, de Rosellón y Ampurias, cuyos poseedores se intitulan Dei gratia
comes.

49
fAusTino menéndez PidAL de nAvAscués

(1137) del rey clérigo que deje el reino en sus manos, bajo la fórmula de casarse
con su hija niña Petronila, y se retire a San Pedro el Viejo de Huesca. El Conde se
titula entonces princeps regni Aragonum y su potencia se acrecienta de modo muy
notable, prolongando su expansión hacia el sur por la costa mediterránea. Los
movimientos militares, las concentraciones, eran la ocasión propicia para lucir y
transmitir a los demás los emblemas de la nueva moda que llegaba. Según relata
la crónica de Lucas de Tuy, en aquella gran parada que preparó Alfonso VII en
la vega de Toledo, el año 1154, con el fin de impresionar a su yerno Luis VII de
Francia, que volvía de Compostela, se vieron diversorum insignium copia quod a
nullo poterat aestimari. Pero, según parece, la propagación rápida de la costumbre
todavía no despega. Sancho VI de Navarra no usa emblema heráldico alguno en
su sello durante toda su vida, pese a que en 1194, cuando murió, todos los demás
reyes peninsulares lo usaban. Sancho III de Castilla no tuvo emblema propio,
pues el león que usara su padre se consideró adscrito a la dignidad de rey de
León. Tampoco lo tuvo Alfonso VIII al comienzo de su reinado; no adoptará un
emblema hasta después de 1171, probablemente en 1175. Otros importantísimos
personajes de la época, los condes Amalrico y Pedro, señores de Molina, parece
seguro que nunca tuvieron emblema. Este panorama apoya sin duda la hipótesis
de la adopción del emblema por Ramón Berenguer IV en 1131-1141.
Los bastones de oro y gules no son algo singular en el conjunto de los
emblemas heráldicos, un extraño trasunto de ciertos objetos (gajos del conopeo
papal, cetros, hilos de los enlaces de las bulas, …), como algunos han supuesto.
El escudo bastonado (palé en el vocabulario francés de la primera época) es una
forma más del repertorio heráldico. El nombre de palado (del blasón francés de
mediados del XIII: palé o estachié), se refiere a las estacas de la empalizada 34 y llegó
a España probablemente en el siglo XV. Parece muy probable que el término palé
(empalizada) precediera en el lenguaje del blasón a pal como pieza individuali-
zada, abstracción elaborada a partir del primer concepto. Compárense en el voca-
bulario de Brault 35 el número de referencias en los artículos palé y pal. La misma
observación es válida fuera del área anglo-francesa.
Debemos, por eso, presentar algunos comentarios sobre los escudos
bastonados medievales, difíciles porque las armerías con bastones que
hoy conocemos son posteriores en más de un siglo al emblema de Ramón
Berenguer IV. Pero esas armerías son poco frecuentes en el periodo medieval,

34
El pal del blasón francés medieval se toma en la acepción de “estaca hincada en el suelo” (para
formar una empalizada), significación difícilmente atribuible al término castellano actual palo.
35
Gerard J. Brault, Early Blazon. Heraldic terminology in the twelfth and thirteenth centuries ...,
Oxford University Press, 1972. Dos referencias para pal, más de cuarenta para palé.

50
origen deL embLemA de Los reyes de ArAgón

lo que en cierta manera facilita el estudio. La media europea se sitúa alrededor


del 3%. Es análoga a la frecuencia de los cabrios. La de bandas y bandados es
casi el triple (8%) y cinco veces superior la de fajas y fajados (15%). Una razón
de la clarísima preferencia por las pautas horizontales podría buscarse, quizá,
en la costumbre impuesta por las telas con franjas transversales a la longitud
de la pieza, que quedan horizontales al utilizarse en vestidos y revestimientos
murales, y este mismo hecho apoya la teoría de que tuvieran sus orígenes
en señas (donde se mostraban horizontales) y de ellas pasasen a los escudos
(donde quedaban verticales). Entre las armerías paladas pueden presumirse
nexos de varias clases. En primer lugar, la evidente uniformidad de formas,
general a todas (como en las demás piezas y figuras heráldicas), implica una
red de contactos, ya sean fruto de una espontánea tendencia imitativa (que
juzgamos predominante), ya de una acción dirigida. Aparte de las transmi-
siones hereditarias, la proximidad, el pertenecer a una misma área de relación,
será un factor importante para la presunción de un nexo entre dos armerías
semejantes. Caso de existir, denotará una vinculación personal por homenaje
u otra causa o una simple inclinación imitativa.
En las inmediaciones de la casa de Barcelona hallamos los Foix y los Sévérac
con armas con bastones testimoniadas por sellos de 1210-1230; por noticias
posteriores sabemos que eran de oro y gules. Indudablemente en ambos casos hay
una transmisión de armas significante, no una coincidencia casual. Cuál fue exac-
tamente esa significación es cuestión que escapa a nuestros conocimientos. En el
caso de Foix no se puede pensar en una transmisión hereditaria por matrimonio
de Roger III en 1118. Es más probable la significación de homenaje, favorecida
por el parentesco. La baronía de Sévérac forma parte del vizcondado de Milhau,
Gui de Sévérac murió en 1181 junto a Ramón Berenguer de Provenza frente a los
partidarios del conde de Tolosa. En Ruerga, los bastones de los Entraygues son
probablemente los mismos de Sévérac. Las armas de los Bas, jueces de Arborea,
han sido propuestas como demostración de un origen de los bastones anterior a
Ramón Berenguer IV 36. Los testimonios más antiguos correspondientes a linajes
catalanes –Rocabertí y Requesens– son ya del siglo XIV.
Todos estos testimonios, muy posteriores a Ramón Berenguer IV, no
inducen a suponer una existencia más antigua del emblema. Y que exista una
antigua relación genealógica no supone necesariamente que date de ese momento
la transmisión de las armas, pues hubo transmisiones colaterales. Hay, para
demostrarlo, un indiscutible ejemplo dentro del mismo linaje. Guillermo de

36
Armand de Fluvià, obra citada, pág. 67; opinión refutada por Alberto Montaner Frutos, obra
citada, pág. 13.

51
fAusTino menéndez PidAL de nAvAscués

Saboya, obispo de Lieja, era hijo de Tomás, conde y marqués de Saboya, hermano
de Beatriz, esposa de Ramón Berenguer IV de Provenza (†1245). Sus armas nos
las da Mateo París: de gules, tres bastones de oro, el jefe de sable cargado de un
leopardo de oro 37. Las armas que adopta el obispo no son las de sus ascendencias:
recuerdan su parentesco por afinidad con los condes de Provenza y su conexión
con el rey de Inglaterra.

Dibujo original de Mateo París.

En Gascuña hay un notable grupo. Los de la Barta, los Esparrós, los Saint-
Brice ... se arman con bastones de oro y gules, según sellos y armoriales del siglo
XIV, pero ¿procedentes del rey de Aragón?. En 1298, el captal de Buch llevaba en
la batalla de Falkirk un bastonado de oro y gules, un cantón de armiños, bordura
de sable bezanteada. Salvo la bordura, muy inglesa, como armas de Poitu, los
bastones y el cantón fueron llevados por los Basset of Drayton, como veremos.
En Navarra los únicos bastones antiguos son los de Almoravid, testimoniados
en 1237 38, con los colores de plata y azul. En las regiones arriba mencionadas
existen naturalmente armas con bastones de ésta y otras combinaciones –Estissac,

37
T. D. Tremlett, H. S. London, “Aspilogia II”, Rolls of arms Henry III, London, 1967, MP I, núm. 45.
38
F. Menéndez Pidal, M. Ramos, E. Ochoa de Olza, Sellos medievales de Navarra, estudio y corpus
descriptivo, Pamplona, 1995, núm. 2/161. Los esmaltes en armoriales de los siglos XV-XVI.

52
origen deL embLemA de Los reyes de ArAgón

Bessora... – pero los grupos extensos y presumiblemente antiguos son de oro y


gules, como vemos. En Castilla, por el contrario, predomina el color azul en los
bastones 39.

Sepulcro de García Fernández de Valcárcer, adelantado mayor de Galicia, † 1366.


Monasterio de Carracedo.

Más al oeste, otro grupo notabilísimo y extenso con los bastones de oro y
gules. Se centra en el sur de Galicia, en el linaje de Limia (Lima). Tuvo interesantes
derivaciones en Portugal (Lima Batissela, Ribeira, Azevedo) y en el sur del reino
de León. Fernando Anes de Lima traía dos bastones en su sello de 1248 y Juan
Fernández de Lima, o Pão Centeio, tres bastones en 1305. Los Yáñez do Vinhal o
de Aguilar los llevan en el XIII a los sepulcros de los monasterios de Palazuelos
y Matallana (que hoy están en Barcelona y Valladolid) y al de una abadesa del
monasterio de Cañas y luego a Écija. Por complicados caminos llegaron a ser las
armas de Hernán Cortés y de la ciudad de Salamanca. El patronímico Rodríguez,
que usó otra línea de los Limia, es indicio de relación genealógica con los Rodrí-
guez de las Varillas o de Salamanca, los de Valcarce y Quiroga, los Rodríguez de
Palencia, los Biedma, etc., todos con bastones de oro y gules 40. Las armas se han

39
Entre los cofrades de Santiago de la Fuente en Burgos, en los años 1338-1378, los colores plata-
azul y oro-gules en las armas con bastones se hallan en la proporción 7 a 1. Recordemos además
a los Contreras (plata-azul) de Segovia, mientras que los de la Cueva (oro-gules) se tienen por
originarios de Languedoc.
40
Los testimonios de este grupo heráldico son numerosísimos; sólo señalaremos los esenciales.
Sello de Fernando Anes, Salazar y Castro, Casa de Lara, Pruebas, pág. 679. Marquês de Abrantes,
O estudo da Sigillografia medieval portuguesa, Lisboa, 1983, núms. 320 y 146; también 37,
208, 209, 266, etc. Los colores: Francisco de Simas Alves de Azevedo, “Les plus anciennes
armes portugaises timbrées”, en Archivum Heraldicum (Neuchâtel), LXXVI, 1962; Anselmo

53
fAusTino menéndez PidAL de nAvAscués

explicado como una concesión de Pedro II a Juan Fernández de Limia, de la que


no existe, naturalmente, ninguna prueba. También el bastón de los Biedma, con
los mismos colores, se han explicado mediante una concesión de los reyes de
Aragón.

Sellos de: Estevão Peres de Penela, 1242; Pedro Afonso da Ribeira, 1282, y Maria Anes,
esposa de João Fernandes de Lima, 1305. (Marquês de Abrantes).

Los bastones de oro y gules de los Berthout de Malinas se documentan


desde finales del siglo XII y forman un importantísimo grupo en Brabante.
A mediados del XIII llevaban los bastones los Ranst-Berchem, que se tienen por
una rama menor de los Berthout según la tradición, acaso basada en la similitud
de las armas (bastones de plata y gules). El poderío de los señores de Malinas
ocasionó una grandísima propagación de sus armas, brisadas de muchas maneras,
en ramas segundas y familias afines, con manifestaciones en Flandes, Juliers y
Westfalia (Bautersem, Duffel, Mérode, Erre, Puttelange, Sommerghem, Heule,
Broeck... ). Como en el caso de los Limia y los Biedma, también aquí existe la

Braancamp Freire, Brasões da sala de Sintra, Coimbra, 1921-1930, III, pág. 71-72; I, pág. 244.
Algunos testimonios gallegos fueron recogidos por Eduardo Pardo de Guevara y Valdés en su
obra Palos, fajas y jaqueles, la fusión de armerías en Galicia durante os siglos XIII al XVI, Lugo,
1996. Ya en la edad moderna, no es raro que la predilección popular por las figuras compren-
sibles transformen los bastones en troncos de árbol, tizones encendidos, tablas, losas, estacas,
lanzas, … en las armas de los Taboada, Noguerol, Saco, Losada, Lanzós, Isorna, Quiroga, etc.

54
origen deL embLemA de Los reyes de ArAgón

leyenda de su origen aragonés. Los bastones habrían sido concedidos por Jaime I
a Gauthier IV Berthout durante la reconquista de Mallorca 41.
Es curioso que todas las armerías con bastones (nueve) que recogió en sus
crónicas y notas el monje inglés Mateo París en 1245-1259 tengan los colores de
oro y gules. No sólo las de Provenza que traían el padre y el tío de la reina Leonor,
sino también las del conde de Huntingdon y las de Brewes 42. En los armoriales
de 1275-1280 aparecen los bastones, otra vez de oro y gules, de los Hathersage y
los Basset of Drayton. Quizá tomados de alguna de estas familias los llevan, con
los mismos esmaltes, los Brechin, Longford, Welles, etc. Aparte de alguna brisura
por cambio de colores, sólo parecen diferir de los de oro y gules las armas de los
escoceses condes de Fife, documentadas desde fines del siglo XII. En Francia del
norte las armerías con bastones no muestran predilección por esos colores. Su
representación está formada casi exclusivamente por las varias ramas de la casa de
Châtillon-sur-Marne, condes de Saint Pol y de Blois, etc.
En la región oeste de Suiza hallamos otro grupo de armerías con bastones,
de características singulares y muy especialmente interesantes para nuestro objeto.
Según el estudio de los emblemas de aquella región que realizó Léon Jéquier 43,
la proporción elevada de figuras sigilares y la ausencia de escudos con emblemas
heráldicos en los sellos ecuestres de principios del XIII parece indicar que el uso de
estos escudos se generalizó allí tardíamente. En la segunda mitad del XIII y prin-
cipios del XIV, en la mayor parte de las casas las figuras sigilares son reemplazadas
por escudos cargados de piezas heráldicas de tipo geométrico. En algunas, aque-
llas figuras sigilares comienzan a ser representadas en los sellos sobre escudos de
carácter perfectamente heráldico. Los escudos con piezas se reparten en tres tipos:
los bastones, una banda y la cruz llana. Con una clara diferencia de lo que ocurre
en las regiones colindantes y en la generalidad de los países, aquí los bastones
fueron adoptados por casi la mitad de las treinta principales familias. Sus genealo-
gías se remontan a épocas preheráldicas y no se descubre entre ellas ninguna rela-
ción agnaticia, aunque sí hay numerosos enlaces matrimoniales y probablemente
41
La noticia se halla en la crónica de Nicolás Steylaert, burgués de Malinas. Georges Le Beau de
Hemricourt, L’histoire d’une famille qui bâtit une principauté ..., Bruxelles, 1978, pág. 184.
42
Matthew Paris shields, II 19, IV 27 (T. D. Tremlett, H. S. London, obra citada). El conde de
Huntingdon es John le Scot (†1237). Sus armas, de oro, tres bastones de gules, las había llevado
su padre David (†1219), hermano del rey de Escocia Guillermo el León. En el siglo XV se
encuentran en Escocia escudos bastonados de oro y gules cuyo origen es probablemente éste.
En Inglaterra, en el siglo XIII, las armas constituidas por tres bastones se representaron frecuen-
temente como “tres pilas unidas por sus extremos en la punta del escudo”, porque se adaptan
mejor en el aspecto estético a los escudos triangulares que allí se usaban.
43
Léon Jéquier, “Le début des armoiries en Suisse romande”, en Mélanges de travaux offerts à Me.
J. Tricou, Lyon, 1972, pág. 172-192.

55
fAusTino menéndez PidAL de nAvAscués

relaciones feudales. Estos bastones son predominantemente de oro y gules desde


Neuchâtel, por el cantón de Friburgo hasta Saboya y Delfinado. Pero la combina-
ción de plata (u oro) y azul existe también en casas radicadas hacia el Jura, al oeste
(Neuchâtel, con sus ramas germánicas de Nidau, Arberg, Valangin, y Strasberg;
Faucigny, Montagny, Vozérier, Vufflens, y Estavayer. En Saboya y Delfinado llevan
el mismo bastonado de oro y gules los Ravoire, Greysier, Vesancy y Pierrecharve;
sustituyen el oro por plata los Vuippens y los Aubonne. Los bastones son de azul
en los Grandson, La Sarraz , Champvent, Belmont, Sallenove, Viry, Vaumarcus,
Vautravers y Saint Martin. Como diremos luego, de esta situación dedujo Jéquier
la probable existencia de una enseña bastonada a principios del siglo XI, que más
tarde otros señalarían como precedente del emblema de Ramón Berenguer IV.
En Turín, en Génova, en Venecia, la difusión de las armas bastonadas parece
superior a la media según colecciones de la edad moderna. Pero en este tiempo ya
las del reino de Aragón, desde Provenza, Sicilia y Nápoles, pudieran haber ejer-
cido una influencia perturbadora. También parecen abundar las armas bastonadas
entre los latinos de Acre y Chipre, según algunos testimonios aislados de los siglos
XIII y XIV que no permiten apreciar proporción. Es en Florencia donde nos
aportará muy importantes enseñanzas un grupo de armas bastonadas de gules y
plata pertenecientes a los Giandonati, Pulci, Nerli, condes de Gangalandi y della
Bella, enseñanzas que desmontarán la hipótesis deducida del estudio de Jéquier.
En los reyes de Aragón, el modo de representar el escudo es, en esta primera
época, muy variable. Aparecen como indistintas las formas del bastonado (número
impar de divisiones) y de los bastones (número impar) y en todos varía el número
de piezas. Poco a poco esta última forma acaba prefiriéndose, por reducción de las
vacilaciones. Todavía en tiempo de Jaime I se hallan junto al bastonado de seis,
los dos, tres y cuatro bastones. Sólo durante el reinado de Pedro el Ceremonioso
se impondrá definitivamente la forma de los cuatro 44.
De esta revisión de las principales armerías con bastones que existen en
diferentes países también podemos deducir interesantes enseñanzas en cuanto a
su tipología. En primer lugar, notaremos que por todas partes se verifica la exis-
tencia de unas pautas o formas gráficas que se superponen al emblema o señal
‘bastones’ para situarlo en un escudo de armas y que estas pautas siguen –es lo más
importante– una línea de evolución generalizada. Una vez más se nos confirma
que la actitud de imitación y la transmisión visual de las formas tuvieron una
parte esencial en los procesos de formación y sistematización de las armerías. Para
el emblema que nos ocupa, la forma preferida en el siglo XII y principios del XIII
fue la del bastonado, de un número par de piezas, variable según las proporciones

44
Martí de Riquer, obra citada, pág. 124.

56
origen deL embLemA de Los reyes de ArAgón

del escudo. Esta forma disimétrica y por ello en cierto modo discordante con las
tendencias generales de la estética heráldica, previamente sistematizada (como
los fajados, etc.) en seis piezas, da lugar a la forma de los tres bastones. Es ésta
la que predomina netamente desde la segunda mitad del XIII. En el caso de las
armas reales de Aragón, resulta curioso observar que la estabilización en tres de
los bastones de Foix no tendría el carácter de diferencia frente a los cuatro de
los reyes, sino al contrario justamente. Dentro de esta tendencia a la simetría y
al equilibrio, se idea en Inglaterra otra forma: las tres pilas que se juntan en la
punta del escudo. Esta forma se consideró equivalente a los tres bastones y tiene
la ventaja de llenar mucho más armónicamente los escudos en forma casi de trián-
gulo equilátero que allí se usaban entonces. En el paso del bastonado de seis a los
tres bastones, dentro de los grupos de oro y gules, también es tendencia general
que los bastones sean de gules y el campo de oro. La combinación contraria es
considerada claramente como una inversión.
Estas tendencias en cuanto a la forma de representar los bastones sobre
el escudo se acusan en todos los grupos de armerías bastonadas que hemos
citado, pero se desarrollan de diferente modo. En el grupo de Barcelona (Milhau,
Sévérac, Foix) y en el gallego-portugués (Limia) el ritmo es más lento y abundan
los bastonados todavía a principios del XIV. El grupo de Malinas es el más avan-
zado al conseguir ya en el último cuarto de siglo XIII la casi uniformidad en el
uso de los tres bastones. En los grupos con características más primitivas puede
apreciarse la existencia de otra pauta que debió estar en uso a principios del XIII:
los dos bastones y bastonados de cuatro piezas. Quizá constituye un eslabón de
enlace con formas aún anteriores, preheráldicas.
Las leyendas que nos presentan a las armas de Limia, Biedma, Berthout,
Mérode... como relacionadas con las reales de Aragón ¿serán el rastro de un nexo
auténtico, significante o simplemente imitativo?. Si aceptamos, como parece
evidente, la existencia de una transmisión de las formas mediante la imitación,
las armas de Ramón Berenguer IV y de sus tres hijos fueron sin duda un modelo
ampliamente conocido y estimado. Hay dos ejemplos muy significativos. Cuando
Adenet le Roi inventa hacia 1275-1285 un escudo de armas palado para un héroe
de sus poemas le asigna estos esmaltes: l’escu d’or palé de vermeill 45. El concejo
de Viana, en Navarra, tenía en su sello durante el último cuarto del siglo XIII
45
Li Roumans de Cléomadès par Adenès li Rois, ed. de André van Hasselt, Bruxelles, 1865-1866, v.
719. ¿Cuál fue el modelo para estas armas que Adenet atribuye a Agambart, uno de los perso-
najes centrales de su poema?. Adenet, brabanzón, conocía perfectamente sin duda las armas
de los Berthout de Malinas, pero hay también otras posibilidades. En 1270 había estado en
Sicilia con el rey Carlos de Anjou, quien como conde de Provenza usaba estos mismos colores.
Además, señala A. van Hasselt (obra citada, I, pág. XXII-XXIII), la coincidencia de la aparición

57
fAusTino menéndez PidAL de nAvAscués

cinco objetos de forma alargada con ensanchamientos en los extremos, probable-


mente vainas, como jeroglífico del nombre, colocados todos verticalmente en el
campo circular. En los primeros años del XIV, coincidiendo con un período de
reorganización del municipio, aparece un nuevo sello sobre el cual el emblema se
hace heráldico y se representa como un escudo con cinco bastones, que luego se
reducirán a cuatro. Muy probablemente entonces se le asignan los colores de oro
y gules que hoy tienen, imitando las armas de los reyes de Aragón 46. Una explica-
ción análoga tiene, en Castilla, el hecho de que una grandísima proporción de los
castillos de armerías familiares adopten los colores de las armas reales.
Hemos expuesto, hasta aquí, lo que consideramos sólido sobre el origen
del emblema de los bastones de oro y gules, unos hechos como ciertos y otros
como hipótesis fundadas y acordes con su entorno. Conocer con certeza y exac-
titud todo lo que ocurrió es imposible; nunca se alcanzará. Pero en ese conoci-
miento es mucho lo que se ha avanzado. Lo fundamental de este avance se logró
en la segunda mitad del siglo XIX y primera del XX 47; los últimos trabajos suelen
estar, lamentablemente, muy contaminados por los prejuicios políticos. Es suma-
mente improbable que aparezcan nuevos testimonios. Los avances futuros han de
producirse perfeccionando la interpretación de los que ya conocemos.
Debemos ahora examinar las opiniones contrarias, las que difieren de las
nuestras. Las que podíamos calificar de “divertidas” –y no nos detendremos a
refutar– pueden dividirse en dos épocas. Las más antiguas acusan el descono-
cimiento de la historia del sistema heráldico, pero no fueron concebidas con
intenciones sesgadas. Por ejemplo la interpretación de los bastones como cetros,
en número variable según los territorios dominados (1812, 1913, 1916), acaso
sugerida por el nombre de baculi aplicado a los bastones. O pensar que éstos
son un jeroglífico del nombre de Borrell a través de equivalencias en diferentes
lenguas (1935), o una transposición gráfica de las gradas de la cruz de las monedas
visigóticas (1941). Las más modernas juntan a ese desconocimiento el afán por
hallar los orígenes en los reyes de Aragón de la antigua dinastía. Son, generalmente,
obra de gentes que nunca habían frecuentado estos campos y acuden a “defender”

de Cléomadés, cuya acción transcurre en gran parte en España, con la tentativa de Felipe el
Atrevido de apoderarse de Rosellón y Cerdaña.
46
El último sello con “vainas” parece ser utilizado en 1300 y el primero con el escudo con bastones
en 1319. F. Menéndez Pidal, M. Ramos, E. Ochoa de Olza, Sellos medievales de Navarra, estudio
y corpus descriptivo, Pamplona, 1995.
47
Como ejemplo de la situación anterior puede verse la “Memoria sobre el incierto origen de
las barras de Aragón, antiguo blasón del condado de Barcelona, en que se demuestra ser falso
haberlas concedido el emperador Carlos Calvo …” leída por Juan Sans y de Barutell en la Real
Academia de la Historia en 1812 (Memorias de la Real Academia de la Historia, tomo VII).

58
origen deL embLemA de Los reyes de ArAgón

con ardor a Aragón frente a Cataluña sin importarles las más aberrantes inven-
ciones. Así suponen que habían sido “concedidas” a Pedro II por el Papa en 1204
como transposición de los gajos del ombrellino o conopeo papal. O que aquellos
reyes las adoptaron como signo de sujeción al Papa, inspiradas o copiadas de los
hilos rojos y amarillos que –algunas veces– servían para colgar las bulas de plomo.
En este grupo ha de incluirse también la aseveración de que las “rayas” verticales
que vemos en el escudo de Ramón Berenguer IV en sus sellos nada tienen que ver
con los bastones, porque son unos listoncillos de madera habituales en los escudos
(2007) y la sospecha de que los sellos de Ramón Berenguer IV hayan sido “mani-
pulados” (2000). La lista no acaba aquí, desde luego: el emblema fue adoptado
por Alfonso II en la toma de Cuenca (2002), etc., etc.

Sepulcro de la catedral de Gerona.

Sí comentaremos dos hipótesis que se presentaron con soporte científico. En


1982, al abrir los sepulcros de la Catedral de Gerona labrados en mármol en el siglo
XIV por mandato de Pedro IV 48, se dio gran importancia al descubrimiento de la
pintura a franjas verticales rojas y doradas en el exterior de los sarcófagos de piedra
lisa que contenían, uno de Ramón Berenguer II Cap d’Estopes († 1082) y otro atri-
buido a su esposa Ermesenda de Carcasona. Se intentó presentar el hallazgo como la
prueba definitiva del origen de los bastones en los condes de Barcelona anteriores a
Ramón Berenguer IV y de hecho se convenció a un ilustre literato catalán. Se hizo

48
Ricardo del Arco, Sepulcros de la Casa Real de Aragón, Madrid, 1945, pág. 155.

59
fAusTino menéndez PidAL de nAvAscués

un análisis de los pigmentos utilizados, que resultaron ser panes de oro y almagre
(óxido de hierro). Desde siempre se ha utilizado el oro batido para dorar y el almagre
se usó ya en Altamira y se sigue usando hoy día. A partir de estos materiales, ninguna
conclusión cabe hacer en cuanto a la época de ls pinturas. Pero el director del Museo
de Arte de Cataluña, sin más argumentos, emitió un informe en el que daba por
seguro que esas pinturas databan del tiempo de aquellos personajes 49 y eran la prueba
definitiva del origen de los bastones en los condes de Barcelona anteriores a Ramón
Berenguer IV. Lo que hubiera sido concluyente no es que esos pigmentos fuesen utili-
zados en el siglo XI, sino que no se usasen en el XIV, cuando se construyó el sepulcro
exterior. Sólo podría concluirse que tales pinturas no son posteriores a 1365, cuando
se cubrió el sarcófago con el sepulcro nuevo, lo que es intrascendente desde el punto
de vista heráldico. Además, las pinturas se hallan en buen estado de conservación y
sin retoques ¿cómo habrían resistido tres siglos en su antiguo emplazamiento de la
entrada del templo, desde el siglo XI al XIV? Es muy probable que los sarcófagos
fueran decorados por fuera, de la manera dicha, en tiempo de Pedro IV; hay noti-
cias 50 de haber procurado este rey en 1384 ornamentaciones heráldicas de sepulcros
antiguos de sus antepasados. Pero la objeción de más peso procede de otras conside-
raciones. Para valorar estas pinturas como se intentó al principio, además de admitir
la existencia del emblema de los bastones de oro y gules en el siglo XI, habría que
aceptar que se utilizaban entonces ornamentaciones emblemáticas en las tumbas 51,
lo que a nuestro juicio resulta aún más difícil, sobre todo para un emblema de tipo
geométrico. No existe, por supuesto, ningún caso semejante, sea conocido por prueba
material o por referencia. Ningún emblema hay en el sepulcro –posterior, evidente-
mente– de Ramón Berenguer III († 1131) que está en el monasterio de Ripoll. La
urna lleva en su frente, entre dos grecas, relieves repartidos en siete cuadros que repre-
sentan la muerte, entierro y traslación del difunto: en ellos había ocasión oportuna
para representar emblemas 52. Pedro IV aceptaba prolongar el uso de sus armas a los
ascendientes por varonía, por eso se figuraron los bastones en los sepulcros nuevos de
49
Informe de J. Ainaud de Lasarte, director del Museo de Arte de Cataluña, redactado en 1983 y
publicado por Federico Udina Martorell en su trabajo Problemática acerca del escudo de los palos
de gules, en I Seminario sobre heráldica y genealogía, Institución Fernando el Católico, Zaragoza,
1988, pág. 45-68.
50
Antonio Rubió y Lluch, Documents per l’historia de la cultura catalana mig-eval, II, Barcelona,
1921, pág. 296.
51
Un amplio resumen de las varias opiniones, así como las del autor, puede verse en: Alberto
Montaner Frutos, El señal del rey de Aragón: historia y significado, Institución Fernando el Cató-
lico, Zaragoza, 1995, pág. 8-13.
52
Esta ausencia no es argumento para negar la posibilidad de la existencia, entonces, de una enseña
con franjas rojas y amarillas, porque podía muy bien considerarse sólo un instrumento de guerra,
no –todavía– emblema adscrito a la persona.

60
origen deL embLemA de Los reyes de ArAgón

Gerona. No se recordaba cuándo había comenzado el uso de emblemas heráldicos:


hay abundante ejemplos de atribuciones tardías a personas anteriores al siglo XII en
Cardeña, Nájera, Oña, etc.

Sellos de: Ramón Berenguer (Pedro), conde de Provenza y Carcasona; Sancho, conde de Provenza,
Rosellón y Cerdaña; Nuño Sánchez, Conde de Rosellón y Cerdaña; Garsenda, viuda de Alfonso
de Aragón, Conde de Provenza. (Blancard).

Después de morir Ramón Berenguer IV en 1162, encontramos el emblema


difundido en toda su descendencia. Lo llevan su tres hijos varones: Alfonso, rey
de Aragón y conde de Barcelona; Pedro (llamado luego Ramón Berenguer),
conde de Provenza y de Carcasona 53, y Sancho, conde de Provenza, Rosellón y
Cerdaña 54. En la generación siguiente lo llevan Nuño Sánchez (hijo de Sancho),
conde de Rosellón y Cerdaña 55, y Garsenda, viuda de Alfonso (hijo de Alfonso II
de Aragón), conde de Provenza 56. Queda pues bien claro que, en esta época, el

53
Louis Blancard, obra citada, lám. 2, núm. 2, año 1178.
54
Louis Blancard, obra citada, lám. 2, núm. 3: Sagarra, obra citada, núm. 178; año 1182.
55
Louis Blancard, obra citada, lám. 4, núm. 4, año 1214, y Vic y Vaissette, Histoire Générale de
Languedoc, París, 1730-1745, sello núm. 37, año 1225.
56
Louis Blancard, obra citada, lám 5, núm. 1, año 1220. En el año 1200 lo usa como signum,
v. Ferdinand Benoît, Recueil des actes des comtes de Provence appartenant à la maison de Barcelone,
Mónaco y París, 1925. Los escudos de armas de los Cominges y de los Moncada aparecen por

61
fAusTino menéndez PidAL de nAvAscués

emblema no se adscribía de modo excluyente al condado de Barcelona; según


parece, tampoco al de Provenza, y mucho menos al reino de Aragón. Pero en
1288 algunos caballeros aragoneses lo consideraban signum regni Aragonum 57; la
designación como vexillum nostrum por la cancillería de Alfonso II se refiere a la
enseña, no a su emblema.
Fuera ya del ámbito emblemático, hemos de resaltar también que el hecho
de continuar usando los reyes de Aragón los bastones de sus antepasados por
varonía no refuerza esa idea de los comtes-reis, unos condes que habrían here-
dado un reino y seguían siendo, primero, condes. Es evidente que no es ésta la
imagen de sí mismos que deseaban proyectar, sino la de reyes-condes. Alfonso II
–y todos sus sucesores– abandonan los nombres de Berenguer Ramón y Ramón
Berenguer que habían llevado sus ascendientes por línea de varón durante seis
generaciones y los sustituyen por los de Alfonso, Pedro, Jaime, … 58. En el sello
mayor, la representación mayestática –como reyes– ocupa el anverso y la ecuestre
–como condes– el reverso. Expresión sigilar de la doble personalidad social que
ya venían usando el rex Anglorum, dux Normannorum y el rex Francorum, dux
Aquitanorum. Recordaremos también que Cataluña como unidad administra-
tiva nace desde dentro de ese reino –que tan eficazmente contribuyó a construir
Ramón Berenguer IV con la incorporación de Zaragoza– al lograr Jaime I el
dominio sobre los condados de Urgel y Ampurias.
Como ya se mostró, en 1172-1225 los tres hijos y un nieto de Ramón
Berenguer IV llevan los bastones en el escudo y en la enseña de la representación
ecuestre de sus sellos. Por esto, además de otras razones bien conocidas que no hay
por qué repetir, no se puede adscribir una hipotética enseña anterior ni al reino de
Aragón ni al condado de Barcelona antes de su unión en Ramón Berenguer IV. La
exclusión de Aragón como origen del emblema es unánime en los textos reales del
siglo XIV y ratificada por la existencia de armas atribuidas al reino desde fines del
XIII. Más complejo es el caso de Provenza, pues los cuatro primeros portadores del
emblema tuvieron mando en aquel territorio. Y en efecto, la adscripción inicial de

entonces usados como signum: José Ríus Serra, “Las suscripciones de los nobles en los docu-
mentos catalanes de la Edad Media”, Spanische Forschungen der Görresgesellschaft, Gesammelte
Aufsätze zur Kulturgeschichte Spaniens, 5, Münster in Westfalen, 1930, págs. 452-457.
57
V. la nota 18.
58
El nombre, junto con el emblema familiar, era la manifestación ante los demás de la persona-
lidad social; su continuidad era una garantía de la sucesión hereditaria sin traumas. Era inconce-
bible que un rey de Aragón se llamase Ramón Berenguer, por eso se le cambió por el de Alfonso
al hijo mayor del Conde de Barcelona. E igualmente inconcebible el de Pedro para un conde de
Provenza, y por eso se le cambió por el de Ramón Berenguer al hijo segundo del mismo Conde.
Otros ejemplos de cambio de nombre al variar las expectativas de sucesión hay, por ejemplo, en
los hermanos del primer Marqués de Santillana.

62
origen deL embLemA de Los reyes de ArAgón

los bastones a Provenza es la última de la larga lista de hipótesis propuestas para


su origen. En ella tiene un papel básico la atribución de los bastones de oro y
gules a los reyes de Borgoña que ya comentamos. Al contrario que la anterior, no
se presentó con fines ajenos a la ciencia y los que en ella intervinieron gozan de
merecida solvencia en la materia. Expondremos primero las hipótesis formuladas
y después nuestra opinión actual.
El origen de los bastones en Provenza ya había sido considerado por Michel
Bouille 59 aunque con argumentación diferente. En 1972, Léon Jéquier, en el trabajo
ya citado 60, expone que la Borgoña transjurana –actual Suiza Romanda– a comienzos
del siglo XI era la única porción del reino de Borgoña sometida al rey, siquiera parcial-
mente. Al sur se formaban los condados de Provenza, de Albón (Delfinado) y el
futuro de Saboya, y al noroeste el condado de Borgoña. A partir de esta situación
considera muy probable que la mayoría de las armas formadas por la cruz llana y
las que tienen la banda deriven de las enseñas de Saboya y del condado de Borgoña
respectivamente, mientras que el antecedente común para las armas bastonadas, sería,
de forma análoga, otra enseña o gonfalón bastonado que debió existir cuando esta
región estuvo sometida a una autoridad única, que no pudo ser otra que el reino
de Borgoña, desaparecido en 1032. De tal enseña sería un recuerdo –sigue diciendo
Jéquier– el escudo de armas: de oro, dos bastones de gules, atribuido a Rodolfo de
Borgoña en la Crónica de Strumpf en 1548 y que adoptó el cabildo de Soleure en
recuerdo del mismo rey, su fundador 61.
En 1976, en una comunicación al XIII Congreso Internacional de Genea-
logía y Heráldica celebrado en Londres 62, propusimos la hipótesis de que los
condes de Provenza, como parte del reino de Borgoña, podrían haber adoptado
la enseña postulada por Jéquier, que con el condado habría heredado Ramón
Berenguer III de Barcelona y transmitido luego a su hijo y descendientes.
En 1980, retoma la cuestión Michel Pastoureau 63. Presenta una teoría
que dice ser parcialmente la de los dos autores anteriores. Admite la existencia

59
Michel Bouille, “L’origine des armes d’or à quatre pals de gueules”, en Études Roussillonnaises,
2, Perpignan, V, 1956, pág. 185-196. Defiende también que la bloca de los escudos de Ramón
Berenguer IV es el emblema de Navarra.
60
Léon Jéquier, “Le début des armoiries en Suisse romande”, en Mélanges de travaux offerts à Me.
J. Tricou, Lyon, 1972, pág. 172-192.
61
L. et M. Jéquier, Armorial Neuchâtelois, Neuchâtel, 1939-1944. D. L. Galbreath, Armorial
Vaudois, Baugy, 1934-1936.
62
F. Menéndez Pidal, Les emblèmes héraldiques du royaume d’Aragon et leur signification historique.
(No se publicaron las actas; las comunicaciones se distribuyeron a los asistentes en microfilm).
63
Michel Pastoureau, “L’origine suisse des armoiries du royaume d’Aragon”, en Archives héral-
diques Suisses, 1980, pág. 3-10. Reimpreso en L’hermine et le sinople, Études d’héraldique medie-

63
fAusTino menéndez PidAL de nAvAscués

de la hipotética enseña antes del año 1032 y su relación con las que llama
inadecuadamente armoiries de la Catalogne 64.
Tres años más tarde, en 1983, recoge la teoría Léon Jéquier 65, introdu-
ciendo una modificación. Admite otra vez la existencia de la enseña de los reyes
de Borgoña y supone que toda la Provenza tenía un emblema propio: la cruz de
Tolosa. Ramón Berenguer IV habría adoptado el primero no por herencia, sino
recurriendo al símbolo de una soberanía superior a la del linaje bosónida (los
Baux) contra el que luchaba, cuyo distintivo era la cruz de Tolosa. En carta parti-
cular dirigida al autor de este artículo el 21 de Febrero de 1984, reconocía Jéquier
que dos obstáculos se oponen a su discurso. Primero la discrepancia cronológica,
pues los más antiguos testimonios de las armerías suizas con bastones son poco
anteriores a 1250, más de un siglo posteriores al sello de Ramón Berenguer IV.
El segundo, que las armas con bastones se hallan sólo en la Borgoña transjurana,
mientras que en la cisjurana (Saboya, Delfinado y Provenza) los bastones son
escasos. Ambos obstáculos se pueden paliar con diversas consideraciones; el retraso
de la aparición de las armas bastonadas se justificaría por la inercia ante el cambio,
pues los sellos ecuestres que las exhiben sustituyeron a otros con emblemas sigi-
lares no heráldicos. Añade que no se puede pensar en una transmisión inversa,
que las armerías suizas procedan de los bastones de Barcelona, por la falta de
relaciones entre los dos lejanos territorios.
En 1985 publicó el que esto escribe un nuevo trabajo 66 sobre aquel grupo
de armas florentinas bastonadas de gules y plata que citamos antes. De la exégesis
de unos versos de la “Divina Commedia” (Paradiso, canto XVI, vv. 124-132),
fundada en la crónica 67 que Giovanni Villani terminó en 1338, resulta que existía
una leyenda según la cual Hugo, establecido en Florencia como vicario imperial,
hizo caballeros a miembros de las casas de los Giandonati, Pulci, Nerli, condes de
Gangalandi y della Bella, «i quali tutti per suo amore ritennero e portaro la sua arme

vale, París, 1982, pág. 95-102. Con el título “L’origine des armoiries de la Catalogne”, en II
simposium Numismàtic de Barcelona, Barcelona, 1980, pág. 57-62.
64
Una vez más recordaremos que Cataluña no existía en ese tiempo como unidad administrativa.
La identificación de las posesiones de los condes de Barcelona en el siglo XII con Cataluña es
una de las falacias modernas.
65
Léon Jéquier, “À propos de la croix dite ‘de Toulouse’”, en Actes du IIe. Colloque international
d’héraldique (Bressanone, 1981), París, 1983, pág. 65-72, vid. pág. 67.
66
F. Menéndez Pidal de Navascués, “La bella insegna. Una leyenda heráldica en la Divina
Comedia”, en Estudios genealógicos y heráldicos, 1, Madrid, 1985, pág. 7-17. Resumido luego en
El escudo de España, Madrid, 2004, pág. 132-138.
67
“Croniche di Messer Giovanni Villani citadino fiorentino …”, in Vinetia, M. D. XXXVII, libro
IV, cap. 2, fol. 24; cap. 10, fol. 27. (Doga es la duela del tonel, addogata vale tanto como basto-
nada).

64
origen deL embLemA de Los reyes de ArAgón

addogata rossa e bianca, con diverse intrasegne … dal marchese Ugo che fece la badia
di Firenze hebbero l’arme et la cavalleria». Completada la exégesis con los Discorsi
de Borghini 68, concluimos que, según la leyenda, esas armas bastonadas de gules
y plata eran las propias del marqués Hugo y aquellas familias las habían adoptado,
diferenciándolas de varias maneras.
Los hechos históricamente ciertos en cuanto a los dos elementos esenciales
del relato legendario –el marqués Hugo y las armas bastonadas– son los siguientes.
En el año 926 Hugo de Provenza o de Arles, hijo del conde de Arles y
Viena, fue elegido rey de Italia, en concurrencia con Rodolfo II de Borgoña.
Nueve años más tarde, Hugo cedió a su competidor el territorio de Provenza o
Borgoña cisjurana del que se había apoderado. Hugo se hizo dueño con malas
artes del marquesado de Toscana, que pertenecía a sus hermanos uterinos, y lo dio
a una de sus hijos naturales, Huberto. Es el padre del Hugo de nuestra historia,
que sucedió en el marquesado de Toscana antes del año 961 y luego en el gobierno
de Spoleto y Camerino, con títulos de duque y conde. Su madre, ya viuda, fundó
en 978 la Abadía de Florencia. Hacia el fin del siglo, abundan las donaciones y
fundaciones religiosas de Hugo, quien quizá sentía próximo su fin y no tenía hijos
varones a los que dejar sus bienes. Murió el día de Santo Tomás Apóstol del año
1001 y fue enterrado en la abadía que fundara su madre. En su sepulcro actual,
un templete renacentista construido en 1481, no hay, naturalmente, emblema
alguno. Poco después de su muerte comenzaron a formarse leyendas en torno a
Hugo. Toda su vida fue rodeándose de circunstancias maravillosas en los relatos
populares. Su sepulcro en la Abadía y la función conmemorativa el día de Santo
Tomás ayudaron a mantener viva su memoria. Todavía en el siglo XVII se publica
su historia legendaria 69.
En cuanto a las armas bastonadas de gules y plata que efectivamente
llevaron algunas familias florentinas, la explicación que juzgamos verdadera, por
no contener hechos anacrónicos ni inverosímiles, es la siguiente. La insignia de
las ciudades italianas en las acciones de guerra en los siglos XI-XII era el carroccio,
un gran carromato, visible desde lejos, adornado con colores y emblemas, repre-
sentativo de la ciudad en el campo de batalla. Del carroccio de Florencia queda la
descripción en la crónica de Villani y algún dibujo 70. Pendiente de un altísimo

68
“Discorsi di Monsignori Don Vincencio Borghini”, In Fiorenza, 1585, II, Dell’arme delle fami-
glie fiorentine. V. pág. 88 y 97-99. De aquí toma las noticias más tarde, en 1615, “Scipione
Ammirato”, Delle famiglie nobili fiorentini.
69
D. Plácido Pulcinelli, Historia d’Ugo, principe della Toscana, Venecia, 1643. En el frontis, Hugo
lleva un escudo con tres bastones. Hay varias ediciones de esta obra.
70
Giovanni Villani, obra citada, libro VI, cap. 39. Robert Davidsohn, Storia di Firenze, Florencia,
1956-1965, tomo I, lámina. Para la influencia de los carrocci en la heráldica véase Hannelore

65
fAusTino menéndez PidAL de nAvAscués

mástil se veía un largo estandarte que llegaba hasta el suelo, dell’arme del Comune di
Fiorenza, che era dimezzata bianca e vermiglia. La relación de aquellas dos grandes
fajas verticales blanca y roja con los bastonados de plata y gules es evidente.
La reina Blanca de Castilla, esposa de Luis IX de Francia, el futuro santo,
consigue Provenza al casar en 1246 al menos de su hijos, Carlos, conde de Anjou,
con Beatriz, la única hija que quedaba soltera al morir Ramón Berenguer V de
Provenza en 1245. Éste, como conde iure uxoris, se apresuró a tomar las armas de
los bastones de oro y gules. Estas armas continuaron presentes en Carlos y en su
hijo durante todo el siglo XIII; de la tradición provenzal queda también prueba
en al nombre de Ramón Berenguer que llevaba uno de sus nietos. Carlos asegura
la posesión pacífica de Provenza mediante pactos con Barral de Baux y el tratado
de Corbeil y acepta del Papa (1265) la investidura del reino de Sicilia. Comienza
aquí la presencia de los bastones de oro y gules en Italia, que si acaba desastrada-
mente en las Vísperas Sicilianas se reanudará luego gloriosamente con Pedro el
Grande. Carlos es ya vicario imperial en Toscana y podestà de Florencia. Allí se
apoya en el partido güelfo, al que favorece, y obtiene créditos de los banqueros
florentinos para financiar la conquista de Sicilia. Hombres del Languedoc: Jordán
d’Ilha, Amiel d’Agoult, gobiernan la ciudad en nombre del conde de Provenza.
Todas las familias citadas por Dante eran güelfas, el partido que apoyó a Carlos,
según consta del testimonio de Maquiavelo 71.
Carlos, vencedor de Manfredo (1266), ya rey efectivo de Sicilia, aparecería
como un nuevo Hugo redivivo. Era “del mismo linaje”, pues condes de Provenza
fueron los antepasados de Hugo, y era también vicario imperial en la Tuscia. Es
bien notable que la mayoría de los antiguos comentaristas del Dante identificasen
al gran barone mencionado en el poema con Carlos y no con Hugo. Los dos
personajes se mezclan en la imaginación popular. Juzgamos muy verosímil que
la leyenda de la bella insegna comenzara aquí, como un episodio más en torno a
las maravillas del Hugo legendario. Las armas bastonadas que la leyenda atribuye
a Hugo se supuso que eran las del reino de Borgoña Arles, pero con los nuevos
colores, derivados de las armas de Ramón Berenguer IV. Por eso la Crónica de
Strumpf (1548) atribuye a Rodolfo de Borgoña un escudo de armas –adoptado
luego por el capítulo de Soleure– con dos bastones de gules en campo de oro, los
colores de las armas de Provenza, no los que usaban las familias florentinas, gules
y plata, derivados de la enseña del carroccio

Zug Tucci, “Der Fahnenwagen in der mittelalterlichen italienischen Militäremblematik”, Actes


du Ie. Colloque International d’héraldique (Bressanone, 1981), París, 1983, pág. 163-172.
71
Nicola Machiaveli, Istorie Fiorentine, edición de Averardo Pippi, Torino, 1920, libro II, cap. IV,
pág. 68.

66
origen deL embLemA de Los reyes de ArAgón

Para terminar, unas breves reflexiones sobre lo aportado por estos cinco
últimos trabajos al tema que nos ocupa. Parece demostrado que la imaginada
enseña del último rey de Borgoña es una invención tardía, de la época de Carlos
de Anjou, consecuencia de la leyenda de Hugo, puesto que los colores que se le
asignan en sus manifestaciones del siglo XVI no son los de Florencia, sino los de
Provenza. En nuestra opinión, el primer trabajo de Jéquier presta escasa atención
al aspecto cronológico. No resalta suficientemente que todos los testimonios de
los grupos suizos de armerías con cruces, bandas y bastones son posteriores a
las cercanías de 1250, o supone implícitamente que existían, sin manifestarse,
desde mucho antes. Si para los dos primeros encuentra precedentes contempo-
ráneos y colindantes en los emblemas de los Saboya y los atribuidos al condado
de Borgoña ¿por qué recurrir a una hipotética enseña dos siglos anterior para los
bastones? Los condes de Provenza, igualmente colindantes, exhibían los bastones
de oro y gules –los colores frecuentes en las armerías suizas– con certeza desde
el tiempo de Ramón Berenguer IV de Barcelona y quizá desde el tiempo de su
padre. Estas armas son el antecedente más probable para el grupo suizo de arme-
rías bastonadas.
Al segundo trabajo de Jéquier también se oponen argumentos cronoló-
gicos, además de fundarse en la rechazada enseña del rey de Borgoña. Si Ramón
Berenguer IV hubiese adoptado los bastones como consecuencia de las guerras
bausencas, habría sido entre 1142 y 1162; no se compagina con que figuren en su
matriz sigilar, grabada muy probablemente antes. Además, muy raro parece que
recurriese a un emblema en desuso desde un siglo atrás.
La presencia del escudo y de la enseña bastonadas (testimonios inmedia-
tamente posteriores enseñan que eran de oro y gules) es indiscutible en el sello
de Ramón Berenguer IV, cuya matriz se grabó entre 1137 y 1141. Juzgamos
muy probable que esa enseña existiese anteriormente. Es posible que en tiempo
de Ramón Berenguer III. Hoy nos es desconocida la cronología y la distribu-
ción geográfica de la evolución de la manera de apreciar la enseña: como un
simple instrumento para guiar la hueste (sellos ecuestres con gonfalón sin detalle
y escudo vuelto o sin emblemas); como un distintivo propio, pero no traspasable
de soporte (gonfalón de Guillermo el Conquistador en el bordado de Bayeux);
como portadora de emblemas personales (sello de Ramón Berenguer IV).

67
RÉFÉRENCES ET PRATIQUES À LA COUR ROYALE DU
PORTUGAL AU MOYEN ÂGE. XIIe-XVIe SIÈCLES.

Christian de Mérindol

La conjoncture est heureuse. Après une visite, parfois prolongée, de grands


monuments – Batalha, Tomar, Sintra, Belém et autres lieux dans Lisbonne –
grâce aux organisateurs du colloque sur la devise tenu à Batalha en septembre
2014, puis à João Portugal, que nous remercions vivement, nous avons constaté
plusieurs échos à nos travaux publiés ou en cours de publication ou de recherche.
Ces échos nous ont semblé renouveler en partie l’approche notamment des
pratiques à la cour du Portugal à l’époque médiévale. Cet essai est un hommage
à cet accueil.
Les difficultés sont multiples, notre ignorance du pays, de son histoire et
de sa langue, après un long refus de nous y rendre pour des raisons historiques.
Une partie de ces difficultés a été comblée par l’acquisition de précieux travaux
et autres publications, parfois traduites, que nous ont remis ou signalés nombre
d’entre eux, notamment João Portugal, auprès de qui nous renouvelons notre
gratitude. Le temps ne nous a pas permis malheureusement de les exploiter en
leur totalité ou de poursuivre plusieurs approches, restées parfois trop concises,
sources éventuelles de nouvelles recherches.

Les références.

Deux références nous semblent majeures. Elles sont bien connues.


D’une part le Portugal est une terre de croisade, de l’autre de multiples signes
de la Providence ont été retenus comme tels par les souverains. La première

69
chrisTiAn de mérindoL

réunit deux moments de l’histoire du pays, la reconquête sur les Maures,


puis l’expansion outre-mer, de caractère messianique, fortement fondée sur la
notion de croisade –Ethiopie, Jérusalem, royaume du prêtre Jean, les Indes –
à laquelle se mêle le roi Arthur. Il s’agit de prendre à revers l’Islam. La seconde
rassemble les victoires sur les Maures et autres adversaires, considérées d’ori-
gine miraculeuse, dues à l’intervention de Notre-Dame. Pour nombre d’entre
elles, la part de la légende doit être retenue. Citons Ourique (1131), pour
l’origine de la royauté d’Alphonse 1er, premier roi. Alcobaça (1143), pour le
même Alphonse 1er, Tomar (1190) pour le château et le monastère du même
nom, Aljubarrota (début de la bataille le 14 août 1385) pour le monastère
de Batalha, puis, après la chute de Constantinople (1453), près de Belém
(Bethleem), à Lisbonne, l’autel dressé en l’honneur de Notre-Dame des Navi-
gateurs, devant lequel Vasco da Gama pria durant la nuit antérieure à son
départ pour les Indes (1498) – le thème des Mages, qui ont reconnu le Christ,
sera retenu dans le décor du monastère des hiéronymites, qui ont fondé un
monastère à Bethléem –. Vasco da Gama a exploité les méthodes et les tech-
niques mises au point par Henri le Navigateur (+ 1460). Le rôle de divers
ordres, en particulier l’ordre de la Croix, fut alors majeur dans le domaine
des signes, qui sont essentiellement en relation avec le Christ et la Vierge. Les
vocables des monastères, des églises et des ordres en sont les plus éloquents
témoignages.

Les pratiques.

Les armoiries.

Les précieux travaux d’Hervé Pinoteau peuvent être complétés. La croix


d’azur sur champ d’argent semble en relation avec la première croisade ; le bleu
évoque la lumière divine, la Vierge, selon Suger – nous l’avons relevé en particu-
lier à la Sainte-Chapelle et en la cathédrale d’Amiens –, pour devenir le symbole
de la fonction royale chez les Capétiens ; le bleu est la plus belle des couleurs dans
les romans de chevalerie, comme l’a montré, à nouveau, Michel Pastoureau dans
son dernier ouvrage sur une hypothèse des origines des emblèmes de la France.
La disposition en croix des cinq écus d’azur aux dix besants (une des
monnaies d’or de Byzance – Constantin ? –) d’argent – le nombre n’est pas neutre,
il est synonyme de perfection –, puis aux cinq besants – les cinq plaies du Christ
– disposés en quinois – une particularité portugaise, comme l’observe Michel
Pastoureau dans le même ouvrage, étrangère aux végétaux et aux animaux retenus

70
références eT PrATiques A LA cour royALe du PorTugAL Au moyen Age. Xiie-Xvie siècLes

respectivement par les Capétiens et autres dynasties, notamment les Plantagenêts


– quinois qui peut évoquer la croix de saint André, l’apôtre qui est particulière-
ment vénéré, parce qu’il passait pour avoir été le premier qui ait vu le Christ.
La bordure de châteaux (de Castille) d’or sur champ de gueules est plus
en rapport avec les Capétiens, auxquels appartient la branche Bourgogne de la
première dynastie (Henri, fils du duc de Bourgogne), et évoque également davan-
tage saint Louis et Blanche de Castille, le royaume de France, terre de paix – nous
l’avons proposé à l’issue d’une communication sur un témoignage méconnu de
la tentative de réconciliation entre Capétiens et Plantagenêts en 1259 –, que le
royaume d’Algarve, dont le roi de Portugal Alphonse III dut se séparer de la partie
orientale en faveur de son adversaire Alphonse XI de Castille.
L’addition de fleurs de lis de couleur verte est un double hommage à la Vierge
– le vert est la couleur de l’espérance de maternité, la couleur de la Vierge qui enfanta
le Christ, nous l’avons notamment montré dans notre ouvrage Images et à propos de
la Sainte-Chapelle et des cathédrales d’Angers, de Chartres, de Châlons-en-Cham-
pagne, de l’église Sainte-Radegonde de Poitiers et autres objets d’art – sous les Avis,
dont la croix, provenante de cet ordre militaire, est également de couleur verte aux
extrémités fleurdelisées. Leur disparition sous Jean II (1481-1495) s’explique, sans
doute, par la volonté de marquer une rupture, malgré le souci constant de continuité
dynastique.
L’évocation du royaume de saint Louis, et plus largement du royaume de
France, semble soutenue. Outre la brisure comparable (la bordure) utilisée par la
maison capétienne, retenons la croisade, le culte du Christ et de la Vierge, l’emploi du
vert, l’adresse à la Vierge pour la succession dynastique (un fils), les pratiques de paix,
de sagesse et d’utilisation des non nobles, le roi entouré de ses fidèles comme le Christ
entouré de ses apôtres, la recherche du pouvoir thaumaturgique, ici, exceptionnelle-
ment, nous le verrons, par l’intermédiaire de la monnaie. Les notices sur saint Louis
dans notre ouvrage Images éclairent tous ces points.

Les sceaux.

Les sceaux présentent une symbolique comparable  : une croix, sous le


premier roi Alphonse 1er (Alphonse Henriques), puis, assez régulièrement, des
sceaux armoriaux « à double face ». Deux sceaux équestres – dits « sceaux d’auto-
rité » – sont particulièrement éloquents par la direction du cavalier. Sur le « mara-
botin » d’Alphonse III (+ 1271), le cavalier est dirigé de gauche à droite, sur le
« marabotin » d’Alphonse IV (+ 1357) il est dirigé de droite à gauche. Le premier,
un moment comte de Boulogne, reprend l’exemple de tous les rois de France
sur leurs sceaux équestres, le second –le vainqueur à Salado (Tarifa), en 1340, en

71
chrisTiAn de mérindoL

soutien au roi de Castille, avec l’appui d’Aragon, qui permet le contrôle du détroit
de Gibraltar, une victoire décisive sur les Maures – utilise la direction des cavaliers
retenue par tous les croisés – nous le montrerons dans une publication prochaine.

Les monnaies.

Les signes sont éloquents  : la croix (de l’ordre d’Avis) qui surmonte la
couronne, le y (la littera Pythagorae) retenue par les deux rois Jean, la légende
Adiutorium Nostrum Qui Fe : ecit Ceelum Eteer (sous Jean 1er) – le maître d’Avis
est comparé au Christ par le chroniqueur Fernāo Lopes – l’écu doublement
marqué du nombre cinq (cinq écus en croix droite, cinq besants en croix de saint
André), la sphère armillère – associée à la croix du Christ, en particulier en les
décors monumentaux de Batalha –, le vocable des monnaies – le Cruzado (sous
Alphonse V et Jean II), le justo (avec la devise Justus ut Palma Florebit, sous Jean
II, et le pélican) –, enfin la devise de la reine Leonor, épouse de Jean II, le filet
de pêche, image du Salut que seul le juste peut atteindre, suivant les heureuses
observations des auteurs d’une étude sur la diplomatique royale portugaise sous le
roi Alphonse IV. Notons que les deux couleurs retenues para Jean II, suivant un
article de Miguel Metelo de Seixas qui vient de paraître, sont le violet e le vert, par
excellence de signification christique, comme nous l’avons montré dans plusieurs
travaux, notamment à propos de la cathédrale d’Amiens. Ajoutons que la titula-
ture de monnaies de Manuel 1er réunit la Guinée, l’Ethiopie, l’Arabie, la Perse et
l’Inde. L’article, récemment paru, de Miguel Metelo de Seixas nous a comblé, tant
il est en écho à nos observations sur d’autres supports.
Notons également, bien relevé par ce dernier auteur, l’effort d’Edouard 1er
de construire une société partant du roi et, rayonnant de la cour – famille royale,
officiers, noblesse –, sur l’ensemble des communautés, qui annonce, nous semble-
t-il, le décor de la salle des armoiries, sous Manuel 1er, au Palais de Sintra. Rele-
vons également – toujours sous la plume de Seixas – le souci des rois de rédiger
des traités de réflexion morale et politique, par Edouard 1er et son frère l’Infant
Pedro, le futur régent, que l’on peut rapprocher, nous semble-t-il, des relevés faits
par le successeur de Manuel 1er du château de Sintra.

Les emblèmes.

Parmi les emblèmes, outre la croix verte d’Avis, le bleu et les croix des armoi-
ries, ce sont le lierre, symbole d’éternité depuis l’Antiquité, retenu par Edouard
1er ; la bouée, présente à Tomar, emblème de Ferdinand de Beja, qui s’insère très
vraisemblablement dans l’expansion maritime ; le chêne (robur) d’Henri le Navi-

72
références eT PrATiques A LA cour royALe du PorTugAL Au moyen Age. Xiie-Xvie siècLes

gateur ; la légende, déjà citée, justus ut palma florebit – la justice est le devoir royal
par excellence, la palme évoque les terres lointaines (voir Jacques Cœur), mais
également symbole chrétien – la palme –, à laquelle s’ajoute le pélican christique,
retenus par Jean II ; enfin la sphère armillère, en relation, nous l’avons dit, avec
la croix d’Avis sous Jean III, accompagnée de Spera mundi sous Manuel 1er, qui
a pour couleur le rouge et le blanc, les couleurs de l’Eglise. Nous renvoyons aux
précieux travaux, mis en ligne, de Laurent Hablot sur la devise.

Les monuments. L’orientation.

Les bâtiments religieux.

La référence : le Saint-Sépulcre de Jérusalem.

La référence essentielle, au XIIe siècle, est le Saint-Sépulcre de Jérusalem. Faisons


le point. Selon les travaux d’Alain Demurger, deux collines marquaient le site de Jéru-
salem, à l’est le mont Moriah – les Templiers s’y installeront – et à l’ouest le mont du
Calvaire réunissant le rocher du Calvaire et le tombeau du Christ – les Hospitaliers
y élèveront leur hôpital –. Après la destruction des constructions de Constantin, fut
érigé, apparemment sur le même plan, un ensemble monumental réunissant à l’est
une basilique puis, séparée par un atrium, la rotonde contenant le tombeau du Christ.
C’est, selon toute vraisemblance, la référence directionnelle de l’est vers l’ouest des
basiliques romaines, Saint-Pierre, Sainte-Marie-Majeure et le Latran – repris plus tard
en la chapelle Sixtine –. Les relations du Portugal avec Jérusalem, au XIIe siècle, sont
relevées par le même historien. Gualdim Pais, maître de la province, qui obtint le
territoire de Tomar, au Portugal, vécut cinq ans en Orient. Fortun Garces Cajal et sa
femme, pour le salut de l’âme de leur fils qui venait de mourir, donnèrent leurs biens
de Saragosse « aux lieux saints de Jérusalem où nous voulons aller » ; il s’agissait de
l’hôpital de Jérusalem, des frères chevaliers du Temple, de Dieu et de Sainte-Marie de
Bethléem. Plus tard, la légende au revers d’une monnaie de Manuel 1er, le portugais,
« In Hoc Signo Vinces », évoque Constantin.

Les monuments portugais.

Le couvent du Christ de Tomar.

L’église du couvent-forteresse de Tomar est composée essentiellement d’une


rotonde, à l’est, et d’une nef, à l’ouest. Le premier bâtiment date, quant à ses débuts

73
chrisTiAn de mérindoL

de construction, du XIIe siècle ; l’entrée est à l’est – les peintures postérieures du XVIe
siècle, qui la décorent à l’intérieur, se déroulent précisément du sud vers le nord, de
la dextre vers la senestre par rapport à cette entrée – nous l’avons observé in situ trop
rapidement malheureusement, les ouvrages que nous avons consultés ne disent rien
sur ce point –, à l’inverse des décors dans les églises dirigées vers l’est. Cette inversion
se retrouve sur la façade occidentale du second bâtiment, au décor particulièrement
saisissant et complexe, construit sous Manuel 1er : au sud les symboles de la Terre, au
nord les symboles célestes que nous présenterons ultérieurement. Dans une église ou
un monastère, le sud est christique. Nous l’avons montré notamment à propos du
cloître de Moissac, du chœur de Saint-Bertrand de Comminges ou autres ensembles
princiers à Champmol, à Pavie ou à Brou, près de Bourg-en-Bresse. Comme à Tomar,
le nord sera également privilégié par rapport au sud en la chapelle Sixtine, la vie du
Christ au nord, celle de Moïse au sud. Il en est de même à Tomar, les cloîtres secon-
daires au sud, les cloîtres majeurs au nord – il en sera de même à Batalha –. Cependant
le portail dédié à la Vierge construit un peu plus tard (1515), comme dans les églises
dirigées vers l’est, est placé au sud, nous l’avons relevé – portail ou autel – en les cathé-
drales Notre-Dame de Paris, d’Amiens ou d’Angers par exemple.
Parmi les éléments du décor particulièrement complexe de la façade occi-
dentale de la nef, nous relevons, sous un oculus et la croix du Christ, l’écu royal,
soutenu par un fond fortement quadrillé – en écho à la verticalité des écus, qui
souligne la fermeté, le droit sur terre (l’orthogonalité) et la justice, qui est enca-
drée, de part et d’autre, d’une sphère armillère, l’ensemble étant cerné par un
chêne reposant sur la tête d’un homme barbu. La distinction du sud « terrestre »
et du nord « céleste » apparaît dans la représentation de quatre hommes de guerre
au sud, de trois anges, portant des cottes d’armes, au nord, ces derniers, contraire-
ment aux premiers, ne s’appuyant sur aucun support. Les nombres quatre et trois,
nous l’avons montré dans de nombreux travaux, notamment à la Sainte-Chapelle,
renvoient, l’un à l’homme, à l’Univers, au temporel, à la forme de la matière orga-
nisée, élevée – ce point est précieux – par l’Incarnation du Verbe à une dignité plus
haute, le symbolisme de la Croix ; le second à la transcendance, à Dieu, à l’éternel,
à la forme de l’Esprit, il est le nombre de Dieu. Relevons qu’au sud figure l’insigne
de l’ordre de la Jarretière – la plupart des rois du Portugal, sinon tous, en sont
membres – et au nord le chapelet comme au monastère hiéronymite de Belém à
Lisbonne, sous la statue du roi Manuel en prière. Quant à l’énorme arbre, posé
sur la tête d’un homme barbu, il suggère volontiers l’évocation de l’arbre de Jessé
– Isaïe annonce la venue du Christ, Manuel est le nouveau Emmanuel –. C’est
une représentation de la place de la maison royale au sein de l’histoire du monde.
Nous retrouverons ce thème majeur, ici même, au portail sud, et à Belém. Enfin
notons que la nef a cinq travées, le nombre des plaies du Christ.

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références eT PrATiques A LA cour royALe du PorTugAL Au moyen Age. Xiie-Xvie siècLes

D’autres signes célestiels sont présents à Tomar : la forme octogonale de la


rotonde, le nombre huit des piliers, la forme de polygone extérieur à seize côtés
– deux fois huit –. Le nombre huit est celui de la consommation du salut ou
du Nouveau Testament selon saint Augustin, Honorius Raban et Pierre le Véné-
rable, et celui de la pleine lumière et du solstice éternel selon saint Bernard. Nous
renvoyons à l’ouvrage essentiel d’Henri de Lubac et à nos travaux, notamment sur
la Sainte-Chapelle et la cathédrale d’Amiens.

Santa Maria da Vitória de Batalha.

D’après les travaux de Jean-Marie Guillouet, la construction de l’église du


couvent Sainte-Marie de la Victoire de Batalha s’est déroulée successivement ainsi :
le chœur et le transept, le vaisseau central et les collatéraux, les voûtes, puis les ailes
est et sud, les bâtiments conventuels. Une charte du 27 décembre 1401 précise le
« cloître où se tiennent les archiprêtres ». Ainsi le chantier de l’église se déroule de
l’est vers l’ouest, celui du cloître, l’aile orientale en premier, puis l’aile sud. Dans cette
église, orientée vers l’est, on retrouve la priorité « christique » accordée à l’est et au sud,
comme, par exemple, nous l’avons dit, au cloître de Moissac. Relevons que le chevet
réunit cinq chapelles, le nombre christique par excellence.
Dans cette orientation, on comprend la position du cloître «  royal  » au
nord – réservé aux princes, le sud étant davantage réservé aux membres de l’Eglise,
comme à Champmol ou à Pavie, par exemple, nous l’avons dit ; en revanche la
chapelle du fondateur est au sud. Toutefois il semble que des références anté-
rieures soient maintenues : à l’est du chevet de l’église l’ensemble de forme octo-
gonale réunissant sept chapelles et une entrée monumentale à l’ouest, commu-
niquant avec le chœur de l’église, n’est pas sans évoquer Tomar et Jérusalem.
L’ensemble voulu par Edouard 1er a été réalisé essentiellement par Manuel 1er, qui
soulignait ainsi, notamment, la continuité de la dynastie, par son allégeance à son
grand-père, duquel provenaient ses droits à la succession royale. Nous renvoyons
à l’étude citée sur les monnaies. Un autre indice souligne l’inversion des priorités
entre le nord et le sud, sans doute en écho à la même référence – nous renvoyons
à la belle étude de Pedro Redol – les vitraux du chevet de l’église réunissent,
à gauche, au nord, un ange portant l’étendard de l’ordre militaire, hérité des
Templiers, la croix de l’ordre du Christ, et à droite, au sud, un guerrier portant
l’étendard timbré de l’emblème de Manuel 1er, la sphère armillère – le cloître est
également marqué de ces deux signes – ; ne négligeons pas, en l’occurrence, que
l’ange peut être considéré comme le héraut de Dieu, ce qui n’est pas sans évoquer
les anges vêtus de cottes d’armes au nord de la façade occidentale de la nef de
l’église de Tomar. Nous renvoyons à notre étude sur les hérauts d’armes. Ajou-

75
chrisTiAn de mérindoL

tons, si la restauration est correcte, que l’aigle de saint Jean est placé à l’honneur,
à dextre, au portail occidental, non sans évocation au vainqueur Jean 1er, particu-
lièrement honoré dans cette fondation.

Quant à la symbolique des nombres et des formes, relevons le nombre


huit – les travées de la nef, la rotonde inachevée, la lanterne de la chapelle du
fondateur et la voûte de la salle du chapitre –, le nombre cinq – les cinq chapelles
du chevet – et le losange, ou un quadrillage losangé, symbole christique – nous le
montrerons dans une communication prochaine – qui timbre le siège du Christ
– la Maiestas Domini – en la façade occidentale, repris au sommet ; ce losange se
retrouve sur un custode eucharistique, heureusement rapproché de cette sculp-
ture par Jean-Marie Guillouet, et, non moins heureusement, retenu dans l’ou-
vrage récent sur l’abbaye de Clairvaux : un losange encadre le Christ en majesté.
Ce point est resté totalement inaperçu.
Le couronnement de la Vierge, représenté ici au-dessus du Christ en
majesté, par son isolement à cette date, a été rapproché par Jean-Marie Guillouet
de la cathédrale de Reims. Ce rapprochement, qui ne peut être totalement négligé,
doit être mesuré. La bataille d’Aljubarrota, nous l’avons dit, commence le 14 août
1385 ; l’attribution de la victoire à l’intervention de la Vierge exigeait de l’ho-
norer d’une manière particulière à Batalha. L’iconographie du Couronnement de
la Vierge, bénie, couronnée par le Christ – une iconographie nouvelle – convenait
parfaitement en ce monastère dédié à la Vierge. Michel Pastoureau le montre
très clairement dans son dernier ouvrage cité sur « Le roi tué par un cochon ».
Ne négligeons pas que l’ordre dominicain, présent à Batalha, en outre, honorait
particulièrement Notre-Dame. Il n’est pas toujours nécessaire de trouver une réfé-
rence iconographique. Par exemple, Michel Pastoureau a rappelé, toujours dans
cet ouvrage, que c’est en un vitrail (disparu) de la cathédrale de Chartres que
pour la première fois un vitrail a été retenu pour ce thème. La création in situ est
possible. Quant aux « transferts artistiques », aux apports extérieurs, ils paraissent
plutôt davantage se développer à la fin de l’époque médiévale. Le bel exemple
est, à propos des vitraux cités de Batalha, la présence sur le chantier de Pierre le
Picard, selon la belle étude citée de Pedro Redol.

L’abbaye hiéronymite de Sainte-Marie à Belém.

Des signes observés précédemment sont présents, notamment, en alter-


nance, des losanges et des cercles, évoqués partiellement à propos de Tomar et de
Batalha, dans les plates-bandes du cloître, en sa partie supérieure, contenant des
têtes et des bustes. Nous avons également relevé le thème des Mages, dans le cadre

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références eT PrATiques A LA cour royALe du PorTugAL Au moyen Age. Xiie-Xvie siècLes

de l’expansion Outre-Mer, qui, ici, est associée, au portail sud, tourné vers le port,
vers le Tage, à Notre-Dame, la « Vierge des trois rois ».
La composition de ce portail est riche de sens : le Portugal dans l’histoire du
monde notamment après la naissance du Christ. Du haut en bas, successivement,
au-dessus du tympan, l’archange Michel, la croix pattée des chevaliers du Christ, la
Vierge des trois rois, entourée d’anges  ; au tympan les armoiries du Portugal, des
scènes de la vie de saint Jérôme – que nous avons également évoqué à propos de
l’expansion outre-mer – ; puis, au bas de l’ensemble, Henri le Navigateur, adminis-
trateur des biens de l’ordre du Christ, dont s’est inspiré, nous l’avons dit, Vasco da
Gama, à propos de l’autel dressé en l’honneur de Notre-Dame des Navigateurs ; enfin
de part et d’autre du portail, au premier rang les prophètes, au second les apôtres.
Cette composition n’est pas éloignée de celle du portail sud de l’église de Tomar, qui
souligne la relation des deux Testaments : il est timbré de la Vierge à l’Enfant, du globe
armillère, placé sous la Vierge, accompagnés des prophètes, des sibylles et de quatre
pères de l’Eglise, et du saint Jean de l’Apocalypse.
Le portail occidental de l’église de Belém est non moins riche de sens  :
notamment, à la place d’honneur, au centre, au-dessus de la porte, la Nativité, et,
de part et d’autre de l’ensemble, Manuel 1er et Marie d’Aragon. Nous sommes
tentés d’y voir une sorte d’ex-voto en hommage à la Vierge, mère du Christ – nous
retrouvons la symbolique de la couleur verte – qui est particulièrement sollicitée
par les rois, les princes, les aristocrates et autres patriciens, pour une descendance
masculine. Nous avons développé ce point à propos notamment de saint Louis,
dans notre ouvrage Images. Manuel 1er, après l’échec de son premier mariage avec
Isabelle d’Aragon, morte en couches (Michel de la Paix, resté en Espagne, est
né le 3 août 1498 et mort le 20 juillet 1500) – le choix de cette alliance, bien
que veuve, s’explique, selon la juste observation de Michele Escamilla dans son
ouvrage récent, par le fait qu’elle était plus en âge de lui donner immédiatement
un héritier – épouse sa sœur cadette Marie le 30 octobre 1500 ; son fils Jean III
est né le 6 juin 1502. L’enjeu était de grande importance. Cette naissance ruinait
les espoirs de Jacques 1er qui, en 1500, avait été proclamé prince du Portugal et
héritier du trône. L’ouvrage cité de Michelle Escamilla nous éclaire sur ce point.
A ce propos, on peut peut-être retenir, avec cette signification dynastique,
la représentation des écus de Jean 1er et de Philippa de Lancastre sur la façade
occidentale de l’église de Batalha dans une composition à la gloire du Christ et
de sa mère. Un indice qui n’est peut-être pas à négliger. La composition de l’écu
de la reine – un parti des armoiries entières des deux époux, qui peut s’expliquer
par leur complexité (l’usage fréquent est un mi-parti) – est retenu par les couples
en attente d’un descendant mâle, comme nous le proposons dans une étude en

77
chrisTiAn de mérindoL

cours de publication. Cette composition emblématique souligne l’union des deux


époux et le fruit de leur alliance.

Un monument civil : le palais de Sintra.

Plusieurs signes relevés précédemment sont également présents dans


le palais de Sintra, en grande partie l’œuvre de Manuel 1er. L’encadrement des
portes, des cheminées, éléments structurant les espaces, éléments majeurs dans
un décor, avec les poutres, est constitué de suites de losanges de couleur verte, en
particulier dans la salle des cygnes ; des losanges de couleur rouge timbrés d’oi-
seaux blancs – signes célestiels – animent le chœur de la chapelle ; les murs des
cuisines sont animés d’un quadrillage losangé. Le nombre huit est celui des côtés
des médaillons timbrés des cygnes de la salle citée ainsi que des armoiries dans la
non moins fameuse salle des armoiries.
L’emplacement de cette salle et la distribution des armoiries sont riches
de signification. Cette salle est située dans l’axe de la chapelle ; en revanche l’écu
royal, placé au centre, est de direction nord-sud. Nous avons montré dans notre
ouvrage déjà cité Images l’importance de l’orientation des « salles » et de la posi-
tion du souverain en ces espaces, en l’occurrence Charlemagne à Aix-la-Chapelle
et le roi de France au Palais de la Cité : dans des salles tournées vers l’est, l’empe-
reur ou le roi est à l’ouest, face à l’Orient. En revanche les comtes et autres princes
disposent leur salle, signe de pouvoir par excellence, dans l’axe nord-sud. L’empe-
reur, le roi de France sont en relation directe avec le divin. La référence pour le roi
du Portugal est la papauté. On sait combien les relations, parfois tendues lors du
schisme, ont été soigneusement privilégiées avec Rome.
La distribution des écus des enfants du roi suit également l’orientation
nord-sud, puis ouest-est : l’écu du 1er fils au nord de l’écu royal, l’écu du 2e fils au sud
de cet écu, encadré, à l’ouest, de l’écu du 3e fils, et à l’est, du 4e, enfin de part et d’autre
de l’écu du 1er fils, à l’ouest le 5e puis le 6e fils, et, à l’est, la 1ère et la 2e fille.

1 ↑N
5 écu 1
6 royal 2
3 4
2 ← entrée

Tout autour de l’écu royal, sont disposées les armoiries, dans une orienta-
tion comparable, commençant au nord, de soixante-douze familles nobles portu-
gaises, sans doute écho aux efforts d’Edouard 1er, que nous avons évoqués à propos

78
références eT PrATiques A LA cour royALe du PorTugAL Au moyen Age. Xiie-Xvie siècLes

des monnaies. Il est d’usage, depuis plusieurs siècles, de réunir autour du prince
ou du seigneur – sans négliger un pape Clément VI, nous préciserons prochaine-
ment ce point –, ses vassaux, ses proches ou ses alliances. Plusieurs exemples sont
développés dans notre ouvrage Images. Nous devons la connaissance précise de cet
exceptionnel armorial monumental à l’obligeance, à nouveau, de João Portugal.
A propos de cet armorial monumental, se pose la question de la relation d’un
tel programme avec un héraut d’armes. Nous avons souligné leur importance
à la cour de Manuel 1er à propos des vitraux de Batalha. Nous avons tenté de
faire le point dans une étude en cours de publication. Notons, grâce à nouveau
à João Portugal, que le poursuivant Santarém, sous Manuel 1er, en 1514, est le
peintre Francisco Henriques (+ 1518), qui eut pour tâche l’exécution de drapeaux
pour l’entrée de sa troisième épouse, la reine Eléonore d’Autriche. On peut, à ce
propos, noter le nombre important d’armoriaux portugais à cette époque – grâce
à l’obligeance de João Portugal, nous en avons dénombré sept du début ou de
la première moitié du XVIe siècle –. Nous n’avons malheureusement pas eu le
temps de les étudier. On connaît le « livre des hérauts » composé en 1416, « De
ministerio Armorum » sous Ferdinand 1er. Les enquêtes – inquirições – se multi-
plient à partir de la seconde moitié du XIIIe siècle. Nous avons relevé, dans notre
étude sur les hérauts d’armes, que ces enquêtes sont menées précisément par ces
officiers d’armes. Nous avons notamment trouvé deux exemples précis de l’inter-
vention d’un héraut d’armes dans la création de programmes de décors peints et
armoriés en le royaume de France, quelques décennies avant la réalisation de cette
salle. Au début du XVIe siècle citons, à propos des enquêtes, Duarte de Armas,
Livro das Fortalezos, dont le fac-similé a été publié à Lisbonne en 1990.

*
* *

En guise de conclusion, le tombeau de Ferdinand 1er.

Nous achevons cette étude par un tombeau particulièrement symbolique


pour notre propos. Il s’agit du tombeau de Ferdinand 1er (+ 1383), provenant
de l’église Saint-François de Santarém, conservé au Musée archéologique des
Carmes à Lisbonne. Nous renvoyons aux deux ouvrages, notamment au cata-
logue du musée, très obligeamment offert par João Portugal. Sur les faces latérales
du couvercle, au visage du Christ, encadré des bustes de saint Pierre et de saint
Paul, répond le visage, enturbanné, de Ferdinand 1er. A l’écu royal, marqué du
nombre cinq et des deux croix, tenu par trois anges, répond, à l’autre extrémité

79
chrisTiAn de mérindoL

du tombeau, saint François d’Assise recevant les stigmates, au pied du Christ


crucifié. Dix écus – le nombre n’est pas neutre – timbrent les flancs et le couvercle
du tombeau.

Bibliographie et références

« A propos d’une activité méconnue des hérauts d’armes », RFHS (sous
presse).
« A propos de la paix de Paris (1259), un témoignage méconnu », Colloque
Saint Louis, roi de guerre, roi de paix, Amiens, 11-12 septembre 2014 (à paraître).
« A propos du double e de Philippe le Bon. Nouvelles données », Colloque
sur les chiffres et les lettres, Brou, 2015, sous la direction de Laurent Hablot.
« A propos du sceau équestre, l’orientation du cavalier de droite à gauche.
Nouvelles données », RFHS (à paraître).
Alain Demurger, Les templiers. Une chevalerie chrétienne au Moyen Age,
Paris, Le Seuil, (1985), dernière édition 2014 (bibliographie) (Saint-Sépulcre
p.  63, 76, 85-87, 92, 168-169, 277  ; ordre du Christ p. 84, 473  ; Tomar
p. 161-164, 245-249, 317).
André Vauchez dir., Christianisme. Dictionnaire des temps, des lieux, des
figures, avec la collaboration de C. Grémion et H. Madelin, Paris, 2010 (Emma-
nuel, p. 197 s.).
Carla Varela Fernandes, The Images of a King. Analyses of the tombs of King
D. Fernando I, Lisbonne, Carmo Archaeological Museum, 2009.
Christian de Mérindol, « Le cloître de Moissac. Trois enquêtes distribu-
tionnelles », Comptes rendus de l’Académie des Inscriptions et Belles-lettres (CRAI),
2009, p. 1689-1750.
Clairvaux, l’aventure cistercienne, Arnaud Baudin, Nicolas Dohrmann,
Laurent Veyssière (dir.), Paris, 2015 (fig. 108, p. 193 s.).
Construindo a Memória. As Colecções o Museu Arqueológico do Carmo,
José Morais Arnaud e Carla Varela Fernandez (coordinateurs), Lisbonne, 2005
(p. 315-335).
« De la signification de l’écu d’une femme – reine, princesse, aristocrate,
patricienne – parti de deux armoiries entières », Revue française d’héraldique et de
sigillographie (RFHS) (sous presse).
Henri de Lubac, Exégèse médiévale. Les quatre sens de l’Écriture, Paris, II, 2,
1964 (la symbolique des nombres).
Hervé Pinoteau, Héraldique capétienne, Paris, 1979 (réed.). D’autres
travaux ont suivi.

80
références eT PrATiques A LA cour royALe du PorTugAL Au moyen Age. Xiie-Xvie siècLes

Images du royaume de France au Moyen Age. Décors monumentaux peints


et armoriés. Art et histoire, Conseil général du Gard, Musée d’art sacré de Pont-
Saint-Esprit 2013 (bibliographie) (abrégé en Images).
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s., 146 s.).

81
FFEGURAS & SINAEES III. HERÁLDICA DO MOSTEIRO
DE ALMOSTER

Tiago de Sousa Mendes


António de Castro Henriques *

Introdução 1

É com doses iguais de admiração e de pesar que dedicamos à memória do


heraldista Francisco de Simas Alves de Azevedo este terceiro trabalho da nossa
série Ffeguras & Sinnaes. Pela erudição e perspicácia, a sua série de Meditações
Heráldicas continua a ser uma referência sempre actual. O estudo de heráldica em
contexto monumental, como a lápide de Fernão Gonçalves da Arca em Évora ou
as armas dos Azevedos no mosteiro de Alcobaça (AZEVEDO, 1964; AZEVEDO,
1967) permanece como um dos aspetos mais cativantes destes textos. Escolhemos
por isso trilhar este caminho e analisar dois conjuntos de representações herál-
dicas em relação com o monumento concreto que as abriga: o Mosteiro de Santa
Maria de Almoster.

*
FEP-UP.
1
Agradecemos a generosa e amiga colaboração do Comandante Sérgio Avelar Duarte que nos
autorizou a fazer uso das suas fotografias.

83
TiAgo de sousA mendes e AnTónio de cAsTro henriques

Quem hoje for a Almoster, freguesia do concelho de Santarém, depara-se


com o complexo arquitetónico do convento cisterciense de Santa Maria. Além da
igreja que conserva grande parte da sua
estrutura original, subsistem ruínas do
claustro trecentista e a sala do capítulo.
Para os interessados em heráldica,
este mosteiro oferece amplos motivos de
interesse. Logo no portal da igreja
(Fig.  1), o visitante encontra dois
pequenos escudos de cadeado de tipo
francês esculpidos no capitel da segunda
coluna da direita (Fig. 2). O  campo é
esquartelado, sendo o I e IV quartéis
alteados relativamente aos restantes,
sugerindo uma diferença de esmaltes.
Numa perspetiva heráldica é impossível
não reparar também num conjunto de
três flores-de-lis, em alto relevo lavradas
na aresta da fachada. Será esta associação
casual?
Figura 1 – Portal da igreja monástica de Franqueado o portal da igreja,
Almoster. O capitel armoriado está nas que foi aberto numa das extremas do
colunas da direita. Fotografia de Tiago de transepto, o visitante atento percebe que
Sousa Mendes. a flor-de-lis não tem uma função mera-

Figura 2 – Capitel do
portal da igreja. Fotogra-
fia de Miguel Jianu.

84
ffegurAs & sinAees iii. heráLdicA do mosTeiro de ALmosTer

mente ornamental. Os capitéis do arco que abre a capela absidal do lado da epís-
tola repetem as figuras do portal: do lado do altar o escudo em cadeado com o
campo esquartelado (Fig. 3) e do outro as flores-de-lis desta vez porém enxaque-
tadas (Fig. 4). Na configuração original, que facilmente se descobre por detrás
da azulejaria seiscentista, cada um dos cantos dos capitéis tinha os seus motivos
heráldicos.

Figura 3 – Escudo de cadeado no capitel da Figura 4 – Flores-de-lis enxaquetadas. Repro-


capela absidal. Reprodução de Imagem publi- dução de Imagem publicada por Francisco
cada por Francisco Teixeira (2008). Teixeira (2008).

A associação intencional entre estes dois motivos manifesta-se novamente num


dos capitéis do transepto. Aqui, a flor-de-lis subtilmente se entrelaça nos motivos
vegetalistas típicos da escultura de Duzentos (Fig. 5). Esta repetição confirma de vez a
intencionalidade da associação entre o esquartelado e a flor-de-lis.
No último arco da nave está hoje uma outra representação heráldica que
esclarece por fim quem estes sinais identificavam. Trata-se de um sino datado
de 1292 (Fig. 6) com uma inscrição já lida e estudada por Mário Barroca
(BARROCA, 2000: II-I, 1080-7):

Figura 5 – Pormenor
de capitel da nave.
Obtido a partir de
fotografia de Francis-
co Teixeira (2008).

85
TiAgo de sousA mendes e AnTónio de cAsTro henriques

+ SIGILLUM : BERENGARIE : ARIE :

As figuras que acompanham o visitante desde o portal são afinal as de


D. Berengária Aires de Gosende, a fundadora do Mosteiro. Mário Barroca sugere
que esta gravação foi feita a partir da matriz sigilar de D. Berengária e que a
composição representaria afinal as suas armas. Segundo a sua interpretação, esta
senhora usaria um esquartelado em que o I e IV quartéis teriam como figura
um escudo também esquartelado e os restantes quartéis uma flor flor-de-lis com
pétalas preenchidas por pequenas “pérolas”. No escudo esquartelado que serve de
figura os I e IV quartéis aparecem rebaixados com leve textura reticulada enquanto,
tal como no portal, os II e III quartéis aparecem mais elevados. Tal como sugerido
pelo capitel no portal, este tratamento diferente faz pensar numa diferença de
esmaltes ou, mais provavelmente, entre esmalte e metal como se tornou habitual
nos séculos seguintes.
A interpretação de Mário Barroca carece de um reparo: como a compa-
ração com o capitel da capela absidal demonstra (Fig. 4), a flor-de-lis não tem
pérolas mas sim um enxaquetado (cujas arestas foram suavizadas pelo desgaste
do suporte). Além do mais, não estamos de acordo a ideia que as armas de
D. Berengária devam ser entendidas como um esquartelado com um escudo e
uma flor-de-lis. É certo que as quinas de Portugal mostram como um escudo
podia já funcionar como peça heráldica no século XIII. No entanto, a ocorrência
da tipologia “de cadeado” por todo o mosteiro mostra que os escudos esquarte-
lados seriam umas armas independentes perante as quais as flores-de-lis (enxa-
quetadas ou não) assumiam um plano secundário, à maneira das “memórias
heráldicas” tão comuns na sigilografia feminina (ABRANTES, 1983: passim).
Várias senhoras ostentaram no centro do seu selo as armas do marido dentro de
escudos rodeados de sinais alusivos à linhagem paterna ou mesmo materna. São

Figura 6 – Selo de D. Berengá-


ria Aires no sino em Almoster.
Fotografia do Comandante Sérgio
Avelar Duarte, publicada com a
sua autorização.

86
ffegurAs & sinAees iii. heráLdicA do mosTeiro de ALmosTer

os casos de D. Fruilhe Anes de Briteiros (HENRIQUES e MENDES, 2012),


D. Isabel de Portugal (ABRANTES, 1983: n. 363) ou ainda de D. Constança
Gil (ABRANTES, 1980).
Estas manifestações heráldicas tornam-se menos intrigantes quando na
outra extremidade do transepto se lê uma lápide (Fig. 7) que explica a função
funerária da capela absidal. Rezava-se aí pelas almas da fundadora do mosteiro,
D. Berengária Aires de Gosende, e de seu marido D. Rodrigo Garcia de Paiva.
Repousariam nesta capela os corpos de D. Berengária, da sua mãe D. Sancha e
talvez de sua filha D. Maria (TEIXEIRA, 2008: 236; REPAS, 2006: 112), mas não
o do seu marido que se fizera enterrar anos antes em Vila Boa do Bispo (VENTURA,
1992: II, 680). Segundo Teixeira (1990), a lápide está sobre os sarcófagos de
D. Berengária e de D. Sancha que foram deslocados da capela absidal, dedicada a
S. João, para o lado junto da inscrição funerária, onde hoje se encontra (Fig. 7).

Figura 7 – Lápide e Túmulo de D. Berengária Aires. Fotografia de Tiago de Sousa Mendes

O sino mostra que o programa heráldico ainda hoje visível no templo era
centrado em D. Berengária e não na sua mãe (o que seria admissível uma vez

87
TiAgo de sousA mendes e AnTónio de cAsTro henriques

que esta interveio na fundação do mesmo) nem na sua filha (que foi abadessa
entre 1310 e 1321). Considerando o conjunto do monumento, o selo repre-
senta a combinação entre um escudo de armas (esquartelado) e de outras figuras
heráldicas. Considerados os aspectos materiais, é altura de conhecer melhor a
fundadora e o seu contexto familiar de forma a interpretar estas representações
injustamente esquecidas pelos heraldistas.

II

O mosteiro cisterciense de Almoster, felizmente para nós, já mereceu uma


diversificada bibliografia (TEIXEIRA, 1990; VARANDAS, 1995; BARROCA,
2000; REPAS, 2006; TEIXEIRA, 2008). A sua fundação deveu-se à vontade de
D. Sancha Peres da Vide 2 que no seu testamento de 2 de Julho de 1287 enco-
mendou à sua única filha D. Berengária Aires a edificação de um mosteiro no meu
logo de Almoster (REPAS, 2006: 105). Uma vez que é D. Berengária que aglutina
as representações heráldicas que se encontram na igreja do convento de Almoster,
interessa conhecer melhor a sua família de origem e o seu marido.
Acerca de D. Sancha Peres, mãe de D. Berengária, indica o Livro de Linha-
gens do Conde D. Pedro que era filha de D. Pero Martins da Vide e de D. Teresa
Afonso, neta materna de D. Afonso Teles de Córdova e de D. Maria Anes do Lima
(LLB3; PIZARRO, 1987: 251-3). As Linhagens Medievais Portuguesas de J. A.
Sottomayor Pizarro não incluem esta família. Se seguirmos as referências do Livros
de Linhagens, D. Pero Martins da Vide nascera do rousso de Martim Gil da Vide a
D. Guiomar Rodrigues de Nomães (LL33F2 e LL37E4). Ao contrário da família
paterna, que não mereceu qualquer desenvolvimento na bibliografia relevante, a
materna é bastante notável: a sua mãe era neta por varonia de D. Afonso Teles, O
Velho (fl. 1220), o que pobrou Albuquerque, antepassado dos Meneses, possivel-
mente a mais importante família em Portugal no final da primeira dinastia. O seu
irmão Martim Peres da Vide foi alferes de Sancho II em 1245 e em 1250 confirmou
um diploma da corte. Em altura incerta (VENTURA, 1992: II, 728-9) deteve
Arronches e Castelo de Vide, a fortaleza epónima da família. É de resto provável
que o lugar e o padroado de Almoster coubessem a D. Sancha por herança, já
que do defunto marido apenas se conhecem propriedades nas terras durienses

2
Note-se que Luís Miguel Repas (2006: 105) a indica erroneamente como sendo “de Vides”, uma
família diferente e melhor conhecida, o que pode induzir em erro até porque Sottomayor Pizarro
regista uma Sancha Pires de Vides, monja de Lorvão, viva em 1320 (PIZARRO, 1999: II, 653,
654, 662).

88
ffegurAs & sinAees iii. heráLdicA do mosTeiro de ALmosTer

(VENTURA, 1992, II, p. 662). Para acrescentar algo a estas curtas notas extraídas
da bibliografia, podemos ainda indicar a provável existência de um irmão (D. Aires
Peres) e sugerir que em 1249 o seu marido estava exilado, uma vez que D. Sancha
Peres dispôs sozinha dos seus bens num escambo com as freiras de Chelas no seu
lugar de Almoster nesse mesmo ano (ANTT, Chelas, n. 172). 3
À altura do seu testamento, D. Sancha Peres era já viúva pelo menos desde
1269 de D. Aires Nunes de Gosende (BARROCA, 2000: II-2, 1367). Este era
um discreto nobre da Corte de Afonso III que se encontra apenas documentado
em 1240, junto com os irmãos, e em 1265, ano em que aparece como tenente de
Abrantes (VENTURA, 1992: II, 662-3) e Sintra (VENTURA, 1992: II, 1028).
Segundo Leontina Ventura, D. Aires era filho de Nuno Fernandes de Orzelhom
(ou “de Gosende”, segundo Pizarro) e de Maria Vasques [de Bragança] (PIZARRO,
1999: II, 236) 4. As suas propriedades estavam concentradas entre o Tâmega e o
Douro (VENTURA, 1993: II, 662). Dele fora também a quintã de Gosende que
a sua filha repartia com Fruilhe, Sancha e Urraca Nunes de Chacim em 1290
(PIZARRO, 1999: II, 249). 5 A família deste cavaleiro deteve o padroado da igreja
de Leça até 1240, ano em que o transfere para a Sé do Porto (VENTURA, 1993:
II, 662) num documento em que, pormenor relevante, foi Martim Gil de Soverosa
a selar, presumivelmente com um selo com as flores-de-lis em sautor próprias da
sua linhagem (ABRANTES, 1980; PIZARRO, 1999: II, 815, nota 82).
Em 1287, quando recebeu o encargo fundacional, D. Berengária Aires
carregava mais de uma década de viuvez de D. Rodrigo (ou Rui) Garcia de Paiva
com quem casara em 1265 (ANTT, Almoster, 4, 12). O seu marido era um
destacado rico-homem da corte de Afonso III, cujo percurso é relatado na micro-
biografia que lhe dedicou Leontina Ventura (1992: II, 673-83). Deste casamento,
extinto com a morte de D. Rodrigo em 1274, ficara uma filha, Maria Rodrigues,
e um vasto património a Norte e a Sul com que D. Berengária e a própria herdeira
acabariam por dotar o mosteiro ideado por D. Sancha. Por estas materiais razões
se compreende que D. Sancha tenha cometido à filha a criação de um cenóbio
3
Testemunham este documento D. Aires Peres, Martim Gonçalves cavaleiro, João Viegas cava-
leiro, Pedro Eanes de Vale de Besteiros, Pedro Martins de Lisboa, cavaleiro, Gonçalo Eanes, prior
de S. Miguel de Lisboa e João Garcia escudeiro de D. Aires.
4
José Carlos L. Soares Machado (2004: 281) sustém, baseado no Livro Velho de Linhagens, que
Maria Vasques era filha de D. Vasco Peres de Braganca, o Veirom.
5
Tendo em conta que em 1307 a quintã de Gosende estava repartida entre a sua única filha
(D. Berengária Aires) e as irmãs Fruilhe, Urraca e Sancha Nunes de Chacim há um parentesco
próximo entre D. Aires e estas irmãs (PIZARRO, 1990: I, p. 251; FREIRE, 1906, p. 47). José
Carlos L. Soares Machado (2004) refere que estas três irmãs eram filhas de D. Nuno Martins de
Chacim, cujo avô materno (D. Nuno Peres de Bragança) seria irmão do avô materno de D. Aires
Nunes de Gosende, por nome D. Vasco Peres de Bragança.

89
TiAgo de sousA mendes e AnTónio de cAsTro henriques

no lugar de Almoster, onde certas estruturas antigas e o próprio étimo sugeriam a


existência de um mosteiro anterior à Reconquista (TEIXEIRA, 1990).
A construção da igreja, feita sob edificações anteriores (TEIXEIRA, 1990)
começaria em 1289 (REPAS, 2006: doc. 3) mas a fundação de Almoster revelou-se
muito exigente. Foi morosa a obtenção da licença para fundação do mosteiro
junto do bispo de Lisboa, exigindo longas diligências por parte de D. Beren-
gária. Apenas em 1294 conseguiu a fundadora obter a autorização episcopal para
constituir o Mosteiro e aplicar na sua construção a terça patronal dos dízimos de
Almoster (REPAS, 2006: 109). Mantendo-se embora pessoa leiga, D. Berengária
continuou à frente do convento como abadessa. Falecida em 1310 (BARROCA,
2000: II-2, 1367), a filha de D. Sancha não veria o fim da sua obra já que as
restantes construções, em particular o claustro, estavam ainda por completar em
1317 (Repas REPAS; TEIXEIRA, 1990; TEIXEIRA 2008).

III

Os escudos esquartelados apresentados na Parte I constituem uma figu-


ração inédita no armorial português. Considerando o contexto social da sua
presença esboçado na secção anterior, ela só pode dizer respeito a três famílias:
Vide, Gosende e Paiva. Tratando-se de linhagens das quais não se conhecem
outras manifestações heráldicas coevas, 6 a atribuição é problemática. Do mesmo
modo, não podemos dizer qual destas famílias se fazia representar através da flor-
de-lis enxaquetada No entanto, há um dado claro: a primazia pertence claramente
ao escudo esquartelado, sendo as flores-de-lis esquarteladas remetidas a um papel
secundário.
A possibilidade, à partida a mais remota, de o escudo esquartelado ser
da linha materna de D. Berengária não se pode excluir com facilidade. Como
referido, a iniciativa da fundação pertence a D. Sancha Peres da Vide que no seu
testamento de 1286 a encomendou a sua filha já viúva. O próprio lugar onde
o mosteiro se implantou correspondia ao “paço” de D. Sancha, possivelmente
herdado do seu pai e do qual a igreja recuperou algumas estruturas (TEIXEIRA,
1990). O padroado da igreja pertencia de resto a esta família e não seria surpreen-
dente que a detenção deste tipo de direitos pudesse influenciar a heráldica, como
6
As armas dos Paiva estão registadas pela primeira no Livro do Armeiro-Mor, datado de 1509.
Mas, como em outros casos, não sabemos se as armas aqui patentes dizem respeito às armas da
antiga linhagem dos Paiva, extinta há mais de duzentos anos. Despontavam em Lisboa nesta
altura outras famílias de apelido Paiva, como por exemplo a de Bartolomeu de Paiva, provedor
das obras do reino no início do séc. XVI e sogro de D. Álvaro da Costa.

90
ffegurAs & sinAees iii. heráLdicA do mosTeiro de ALmosTer

acontece com honras, morgadios e tenências (MENDES e HENRIQUES, 2009;


HENRIQUES e MENDES, 2012).
A possibilidade de o esquartelado representar as armas dos Gosende tem
também alguns argumentos. Antes de mais, seria difícil integrar nas práticas
heráldicas deste período a omissão das armas paternas, se as existissem, sem uma
razão patrimonial forte ou em caso de flagrante hipergamia por parte do pai.
Ora, D. Berengária Aires ainda herdou bens paternos, nomeadamente, metade
da quintã de Gosende. Aliás, no único documento que conhecemos em que a
fundadora do mosteiro é designada pelo apelido, ela é chamada “de Gosende”
(Gosendi) e não “de Paiva” e em 1301, já o mosteiro fundado, intitula-se “filha de
Don Ayras Nuniz”. No entanto, ao contrário da sua mulher e filha, D. Aires não
parece ter tido intervenção nesta fundação piedosa e o seu contributo material
apresenta-se menos evidente que o dos da Vide ou os de Paiva.
Por fim, apresentamos a hipótese que quanto a nós reúne de longe
melhores argumentos: a de o escudo representar a linhagem do marido de
D. Berengária. Em primeiro lugar, a tendência observável na heráldica feminina
portuguesa, em concreto na sigilografia, é a do emprego das armas do marido.
A amostra contemporânea é pequena e muitas das observações disponíveis
são apenas atribuições mais ou menos seguras. Ainda assim, pode-se afirmar
que nos selos de mulheres casadas, o escudo com as armas do marido ocupa o
centro, sendo as figuras da família de origem remetidas para o papel de, para
empregar uma expressão do Marquês de Abrantes, “memórias heráldicas”. Um
bom exemplo é o selo de D. Maria Anes, filha de D. João Peres de Aboim/Portel
que ostenta o escudo palado do seu marido D. João Fernandes de Lima rodeado
por pequenas lisonjas que remetem para o campo lisonjado do seu pai (Abrantes
1983: n. 320). Em trabalho anterior já aludimos a Sancha Rodrigues e a Fruilhe
Mendes de Briteiros (HENRIQUES e MENDES, 2012) que ostentam no selo
as armas do marido, mas podemos ainda elencar os selos de D. Teresa Martins
de Riba de Vizela (ABRANTES, 1983: n. 188), de D. Teresa Martins de Albu-
querque (ABRANTES, 1983: n. 349) e de D. Maria Raimundes de Sequeira
(ABRANTES, 1983: n. 208). Os casos de D. Leonor Afonso, senhora de
Mortágua e de D. Guiomar Anes de Berredo, constituem a proverbial exceção
que confirma a regra, na medida em que pertencem a linhas bastardas da casa real
e, como tal, protagonizam situações de clara hipergamia por parte do marido. É
de referir que no contexto europeu também parecem ser raras as exceções a esta
regra. Um artigo sobre o protagonismo feminino na heráldica acaba por fornecer
menos de uma dezena exemplos de ausência de protagonismo da heráldica do
marido (KEEN, 2003). A maior parte, aliás, são opções facilmente explicáveis,
como a de Devorguilla de Galloway, filha do Lorde de Galloway, neta por via

91
TiAgo de sousA mendes e AnTónio de cAsTro henriques

materna de David, Conde de Huntington, neto legítimo do Rei da Escócia. Ora


o seu marido, John de Balliol, era um nobre de menor estatuto que só por via
deste casamento foi pai de João I da Escócia.
O segundo argumento é de ordem material. Se da mãe D. Berengária
herdou a vontade e a ideia de erguer o mosteiro, foi do seu marido que herdou os
recursos materiais necessários para tão arrojado projeto. Com efeito, na lista das
terras e direitos de D. Rodrigo coligida por L. Ventura avultam grande parte dos
bens que ficariam a pertencer ao convento (VENTURA, 1992: II, 673-83). Era
um património importante cuja herança, para mais, tivera de ser disputada com
a Ordem do Hospital a quem caberiam alguns direitos. No plano patrimonial, a
figura de D. Rodrigo avulta claramente perante os pais de D. Berengária. D. Aires,
na verdade, nem sequer detinha a totalidade da Quintã de Gosende (repartida
com Fruilhe, Sancha e Urraca Nunes de Chacim). Aliás, na sua lápide funerária,
D. Berengária Aires é apresentada como quondam uxor Domini Roderici Garsie.
Uma terceira ordem de ideias é relativa ao emprego do escudo dito de
“cadeado”. Esta representação está longe de ser trivial e manifesta uma intencio-
nalidade específica. Com efeito, as mais antigas representações conhecidas de um
escudo com a sua correia encontram-se em contexto tumular masculino e leigo
(BARROCA, 2000: II, tomo 2, 1677, n. 613; 1811, n. 646; 1853, n. 657; 1862,
n. 659; 1927, n. 674). Se o escudo pleno pressupõe a sua plenitude funcional
e simbólica, a visibilidade da correia representa a contrario a ausência do seu
portador que deixou neste mundo as suas armas 7. Segundo esta interpretação o
emprego do escudo em cadeado representa a viuvez de D. Berengária que esta não
deixou de combinar com os seus sinais de nascimento.
O argumento final encontra-se na relação entre a própria figura do escudo
e o apelido da varonia de D. Rodrigo. O marido de D. Berengária era neto,
por via paterna, de Fernão Ramires “Quartela” (VENTURA, 1992, II, p. 673),
fazendo com que Pizarro chame a esta família “Quartela-Paiva”, distinguindo-a
dos “Paiva” oriundos de João Soares de Paiva (filho de Soeiro Pais, o “Romeu”).
Ora, “quartela” é precisamente o étimo do termo “esquartelado” que ainda hoje
empregamos em heráldica. Sem avançar qual a direção da casualidade entre o
nome e os sinais, parece aceitável que este apelido da família e a figura do escudo
estão associados, seja porque fossem as armas falantes ou porque o apelido descre-
vesse os sinais.
Um possível argumento contrário é a existência das três flores-de-lis em
contrabanda nas armas posteriores dos Paivas. No entanto, os armoriais quinhen-

7
O selo de D. Berengária gravado no sino que não apresenta a correia pode datar-se ainda de um
período anterior à sua viuvez.

92
ffegurAs & sinAees iii. heráLdicA do mosTeiro de ALmosTer

tistas nem sempre constituem fontes fidedignas sobre a heráldica de famílias


extintas séculos antes, sobretudo no caso de apelidos geográficos comuns 8.
Atribuído o esquartelado aos Quartela-Paiva, fica por esclarecer a flor-de-lis
enxaquetada. Admitindo que se trata de heráldica familiar, há duas principais
hipóteses: ou a flor-de-lis enxaquetada pertence a um dos pais de D. Berengária
ou representa uma combinação das figuras duas linhagens. Apesar da ausência
de mais testemunhos associáveis a estas famílias, aliás pouco conhecidas, não
é inteiramente arbitrário atribuir a flor-de-lis aos Gosendes e o enxaquetado à
linhagem materna. Com efeito, Aires Nunes tinha uma relação próxima com
Martim Gil de Soverosa que, como ficou argumentado pelo Marquês de Abrantes
(1980) e comprovado por J. A. Sottomayor Pizarro (1999: 2, 827, nota 82),
portava nos seus sinais a mesma figura heráldica. Por outro lado, há um discre-
tíssimo indício que liga D. Sancha Pires ao emprego do esquartelado: a vassa-
lagem (VENTURA, 1992: II, 681) entre D. Berengária e o cavaleiro Estevão
Raimundes de Portocarreiro. Ora, esta família viria a usar um enxaquetado, pelo
menos desde o segundo conde de Medellin (Juan Portocarrero y Pacheco, n.
1455). Na igreja da Graça em Santarém existe ainda um túmulo anepígrafo cujo
habitante provinha certamente desta linhagem. Uma vez que a flor-de-lis acom-
panha o escudo esquartelado, a possibilidade de as flor-de-lis enxaquetadas cons-
tituírem uma “fusão”, para usar uma expressão de Pardo de Guevara, dos sinais
dos Gosende e do esquartelado dos Quartela-Paiva é mais remota.

IV

Almoster contém outras representações heráldicas dignas de estudo que não


podemos passar em claro. Desde logo, avultam os sinais de D. Gil Eanes da Costa

8
Para certos apelidos, como Maia ou Valadares, não há coincidência entre as armas iluminadas
nos armoriais quinhentistas e as empregues nos século XIII e XIV. Este fenómeno poderá ser
explicado se considerarmos que as representações nestes armoriais dizem respeito às famílias suas
contemporâneas e não às vetustas linhagens homónimas. O caso das armas dos Valadares é para-
digmático. As armas desta linhagem sobreviveram no selo da comendadeira de Santos D. Joana
Lourenço de Valadares, datado de 1337 (ABRANTES, 1983: n. 374) e são distintas das armas
atribuídas aos Valadares no Livro do Armeiro Mor. Os sinais figurados neste armorial são idên-
ticos aos do túmulo do primeiro arcebispo de Lisboa D. João Anes (ABRANTES, 1982), pai
de Rodrigo Anes de Valadares, documentado como ouvidor de D. João I (HOMEM, 1985: II,
185), cuja carreira ocorreu no início do século XV. Julgamos que as armas no Livro do Armeiro
Mor correspondem às armas dos Valadares descendentes do arcebispo cuja ligação aos primeiros
é desconhecida e possivelmente inexistente. Um caso semelhante pode ter ocorrido com as armas
dos Paivas.

93
TiAgo de sousA mendes e AnTónio de cAsTro henriques

que constituíram objeto de um trabalho recente (SEIXAS e GALVÃO-TELLES,


2013). Também a sala do capítulo está ainda pavimentada por cinco túmulos
heráldicos de velhas abadessas, designadamente D. Maria Teixeira, D. Briolanja
(?) de Sousa, D. Isabel da Cunha e D. Brites de Mendonça, bem como uma
lápide anepígrafa com as armas de Fonseca (de Sancha Vasques ou da sua suces-
sora Maria Rodrigues). 9 Apesar de as inscrições não se encontrarem estudadas,
não nos vamos deter nestas lápides uma vez que estas pertencem a um período
posterior na vida do convento.
Já nas ruínas do claustro deparamos com um heráldica contemporânea
da fundação do mosteiro. Com efeito, numa das duas arcadas sobreviventes,
encontra-se ainda um par de capitéis armoriados (Fig. 12), caso único entre os 30
pares de capitéis que ainda existem. Apesar do desgaste do suporte e da rudeza do
traço, os quatro escudos permitem um leitura mínima:

– Capitel do lado do pátio


º Na face direita, escudo com campo com cinco faixas (Fig. 8)
º Na face esquerda, escudo com campo semeado de mosquetas de
arminho com contrabanda (Fig. 9)

– Capitel do lado do claustro


º Na face direita, cruz (florenciada? occitana?) vazia (com bordadura?)
(Fig. 10)
º Na face esquerda, campo com seis faixas (Fig. 11)

Figura 8 – Escudo faixado


no claustro. Fotografia de
Miguel Jianu.

9
Infelizmente, os motivos heráldicos da sepultura de D. Maria Teixeira encontram-se muti-
lados. No entanto, a inscrição não deixa dúvidas: AQ[U]I: IAZ: | D.: MARIA: TEIXEIR|A
ABADE|SA: DESTE: M[OSTEIR]º +.

94
ffegurAs & sinAees iii. heráLdicA do mosTeiro de ALmosTer

Ao contrário do que acontecia com os escudos da igreja, é possível atribuir


uma destas manifestações heráldicas, com segurança, a uma linhagem concreta.
A  contrabanda e os arminhos constituem inequivocamente os sinais contempo-
râneos dos Chacim (BARROCA, 1996); já a cruz, cujo formato é de difícil inter-
pretação, foi no século XIII empregue, pelo menos, pelas famílias Pereira, Riba de
Vizela, Briteiros (HENRIQUES e MENDES, 2012) e por uma linhagem nortenha
que se estabeleceu em Santarém: os Dades (ABRANTES, 1983: n. 173 e n. 270). O
uso de campos faixados durante os séculos XIV e XV está documentado ainda por
várias linhagens (Leitões, Silveiras/Pestanas, Ferreiras), além de outras que talvez já
as envergassem (Mascarenhas, Alvarenga, Avelar). Ainda no século XIII, os Fornelos
tinham o seu campo faixado (HENRIQUES e MENDES, 2009). De resto, na
sigilografia eclesiástica (v. g. SARAIVA, 2003: 217 e 277;) e na heráldica monu-
mental (v. g. os túmulos anepígrafos trecentistas em Santa Clara-a-Velha, São João
de Tarouca e na igreja de Santa Cristina de Serzedelo, Guimarães) são comuns os
escudos faixados. Ou seja, além destas, muitas outras linhagens terão usado faixas e
o mesmo se pode dizer das cruzes. Como tal, não vinga a possibilidade de a função
destes escudos ser ornamental ou simbólica, a exemplo do cavaleiro com o escudo
com cinco vieiras em sautor esculpido num capitel do mosteiro de Celas que foi
identificado como Santiago Matamouros (REAL, 1986: 73).

Figura 9 – Escudo de Cha-


cim no claustro. Note-se
como as mosquetas seguem
a orientação diagonal da
contrabanda e conservam
pequenos traços na ponta.
Fotografia de Miguel Jianu.

A tarefa de identificar os indivíduos que aqui recorreram à heráldica para


gravar a sua memória não é simples. Enquanto aguardamos estudos sobre a origem
social das cistercienses portuguesas, 10 podemos recorrer à enumeração das donas
mencionadas na documentação de Almoster criada por José Manuel Varandas

10
Aguardemos a dissertação de doutoramento em curso na Universidade de Coimbra do Mestre
Luís Miguel Repas sobre a sociologia das comunidades cistercienses femininas.

95
TiAgo de sousA mendes e AnTónio de cAsTro henriques

(1995: 46-7). É ainda possível expandir os nossos conhecimentos com os Livros


de Linhagens (que confirmam apenas duas destas donas: Dórdia Rodrigues “de
Carvalho” [da Fonseca] e a abadessa Guiomar Afonso Michom e fazem entrar
em Almoster duas outras monjas: Maria “Raimundes” [Esteves] Barreto e Sancha
Garcia de Pereira) e ainda com os trabalhos de J. A. Sottomayor Pizarro (1999:
2, 1011) que através dos documentos de Arouca encontrou como abadessa de
Almoster em 1303 D. Aldonça Anes de Molnes.
No entanto, não basta conhecer as cistercienses e suas linhagens para identi-
ficar os detentores dos sinais do claustro. Como o caso da igreja monástica ensina,
a presença heráldica no espaço sagrado, quando dissociada de manifestações fune-
rárias, pode estar associada ao patrocínio material. Ora, as dotações entregues pelas
famílias das monjas ao convento asseguravam as despesas regulares imputáveis a cada
monja mas não necessariamente a edificação do mosteiro. É deste modo provável
que estes escudos marquem atos de patrocínio para a construção do claustro, um
dos maiores do seu tempo. Certos testemunhos indicam aliás que a sua edificação
enfrentou consideráveis dificuldades. De acordo com Francisco Teixeira (2008:
240), a Rainha Santa reservou nos seus testamentos em 1314 e 1327 somas para
a sua construção. A duplicação do valor destes legados (de 500 para 1000 libras)
sugere que em 1327, a sua edificação ainda estaria longe de estar concluída.
A Rainha D. Isabel não foi decerto a única patrocinadora do claustro.
O próprio Afonso IV, em 1326 considerou que o “moesteiro era pobre” e auto-
rizou a compra de herdades no valor de 1000 libras (VARANDAS, 1995: 77).
Apesar da associação entre Santa Isabel e o mosteiro, é até admissível que este já
se encontrasse terminado aquando da sua morte em 1336. De resto, os escudos
armoriados encontram-se na galeria Sul que, correndo rente à parede da igreja,
terá sido a primeira a ser encetada e por isso não deverão ter sido custeados pelo
legado da Rainha Santa.
Como referido, o dado mais seguro é que o campo de arminhos com
contrabanda identifica a família Chacim. Há duas ligações possíveis desta família
a D. Berengária e a Almoster. Desde logo, como referido, havia um parentesco
próximo entre os Gosende e os Chacim e, em 1307 a quintã de Gosende parecia
estar em grande parte nas mãos das irmãs Fruilhe, Sancha e Urraca Nunes de
Chacim. Em segundo lugar, Maria Rodrigues de Chacim, a principal herdeira
desta família, era casada com Martim Fernandes Barreto. Ora este cavaleiro parti-
cipou na demarcação do couto de Almoster logo em 1298, como sabemos por
uma versão tardia da respetiva carta. 11 Uma sobrinha deste Martim Fernandes,

11
Na versão recolhida na Monarquia Lusitana (V Parte, fol. 151) por Fr. Francisco Brandão,
Martim Fernandes aparece entre os outorgantes por parte do concelho. No registo da chance-

96
ffegurAs & sinAees iii. heráLdicA do mosTeiro de ALmosTer

Maria “Raimundes” [Esteves] Barreto filha do seu irmão Estevão, haveria mesmo
de professar em Almoster.
A segunda relação parece mais promissora. Sabe-se que quase toda a quintã
de Gosende em 1307 estava de facto nas mão das “ordeens” (FREIRE, 1906:
47) mas as parentes Chacim tinham professado noutras casas (Santos-o-Novo
e Arouca) e não se encontra na dissertação de José Varandas qualquer menção à
posse desta quintã por parte de Almoster. Como tal, o apoio de Martim Fernandes
Barreto e de Maria Rodrigues à fundação da sua parente D. Berengária tem maior
plausibilidade.
Se as armas representam Martim Fernandes Barreto e Maria Rodrigues
Chacim ou a sua descendência, então o campo faixado que acompanha as
armas dos Chacim deve ser atribuído a Martim Fernandes. Ora, esta conjetura
choca com o uso de um campo pleno de arminhos, bastante invulgar na herál-
dica portuguesa, por parte dos Barretos. No entanto, parece mais provável que
os descendentes de Martim Fernandes Barreto tenham recorrido às armas dos
Chacim, pudicamente dispensando a contrabanda. Ao reclamarem os arminhos,
os Barreto reivindicavam não só a sua ligação a uma figura importante como
Nuno Martins de Chacim (BARROCA, 1996) como, por via dele, a uma das
cinco canónicas linhagens “que andaram a la guerra afilhar o reino de Portugal”:
os velhos Bragançãos. Com efeito, há razões para considerar que estas eram as
armas desta linhagem extinta.
É plausível que Nuno Martins de Chacim assumisse como armas as dos
Bragançãos, diferenciadas por uma contrabanda marcando a ilegitimidade da sua
mãe. Relativamente a esta linhagem tem vigorado a tese de que tinha por armas
um escudo com cinco crescentes (ABRANTES, 1983: p. 102-3; MACHADO,
2004: p. 218). Esta atribuição é, porém, alicerçada numa matriz sigilar encon-
trada em Adeganha (concelho de Torre de Moncorvo) que exibia cinco crescentes
em sautor e o nome do seu possuidor D. Pedro Garcia. Uma vez que o achado
teve lugar em Trás-os-Montes, este Pedro Garcia foi identificado pelo Marquês de
Abrantes como sendo o Braganção do mesmo nome documentado em 1218-35
(MACHADO, 2004: p. 215) e não o seu contemporâneo e homónimo Sousão
(PIZARRO, 1999: I, 220). Não é conhecida nenhuma reprodução desta matriz,
já que o Marquês de Abrantes não teve possibilidade de a fotografar. O facto de o
Livro do Armeiro-Mor conter as armas de uma família “Bravança” compostas por
cinco escudetes em sautor não constitui uma validação aceitável desta tese nem

laria de D. Dinis (ANTT, Chancelaria de D. Dinis, Lv. 3, fl. 3-3v) é omitida a lista de outor-
gantes do lado do concelho.

97
TiAgo de sousA mendes e AnTónio de cAsTro henriques

tão-pouco a atribuição não justificada dos mesmos cinco crescentes aos descen-
dentes de Fernão Mendes o Bravo (v.g. FERREIRA, 1920: p. 59).
Há alguns anos, Soares Machado aceitou a atribuição do Marquês de
Abrantes mas acrescentou uma hipótese sagaz relativa a D. Vasco Peres de
Bragança, apodado de O Veirom pelos Livros de Linhagens. Esta alcunha
explicar-se-ia pelo uso em vestes ou em escudos de peles de animais, o que Soares
Machado relaciona com os arminhos dos Chacim (MACHADO, 2004, p.
281-2), alegando que a palavra “veiros” designava indistintamente as duas peles
heráldicas. Contudo, há razões para crer que o uso de peles pelos Bragançãos e
pelos Chacim não era tão conjuntural: estes sinais evocavam a dignidade régia.
Com efeito, nas conhecidas iluminuras da I parte do Tumbo A, redigido em 1129
na Catedral de Santiago, encontramos Afonso VI, o Imperador e sua filha
D. Urraca com mantos cujo forro é veirado, enquanto o Conde Raimundo e o
seu filho (o  Imperador Afonso VII) ostentam capas forradas de arminhos (v.
MATTOSO, 1993, p. 10-11, 27, 49, 55). Nas adições a este cartulário, o mesmo
forro de arminhos é envergado por Afonso IX de Leão, neto por varonia de
Afonso VII. A associação entre os veiros e a dignidade real era reconhecida no
Portugal do século XIII, como mostra a representação alcobacense do Rei David
com manto veirado (MATTOSO, 1993: 268 e 270).
Ora, os Bragançãos tinham boas razões para ostentar as peles. Com efeito,
nas suas veias corria sangue real, já que Fernão Mendes de Bragança I casara com
uma bastarda de Afonso VI, o Imperador (PIZARRO, 1999: I, 228). Se aten-
dermos à iluminura compostelana de Afonso VI e ao apodo “Veirom”, as peles
seriam veiros. No entanto, a utilização das mosquetas de arminhos sublinhava a
ligação da família às suas (possivelmente lendárias) origens arménias. Com efeito,

Figura 10 – Escudo com


cruz de tipo não identifi-
cado. Fotografia de Miguel
Jianu.

98
ffegurAs & sinAees iii. heráLdicA do mosTeiro de ALmosTer

a pele de arminho (mus armenia no Latim tardio) evocava foneticamente a “filha


d’el rei de Armenia” em quem D. Alão fez dois filhos “domde vieram os linhagens
dos Bragançãos”. Considerando que o campo de arminhos é empregue por Nuno
Martins de Chacim, o herdeiro de parte do património desta linhagem, faz certa-
mente mais sentido que os arminhos, reclamados posteriormente pelos Barreto,
fossem afinal os dos Bragançãos. A transmissão deste motivo dos Bragançãos para
os Barretos por via dos Chacim constitui assim uma forte possibilidade.
Se o escudo dos Chacins é de fácil identificação, o mesmo já não pode ser
dito do escudo com uma cruz, vazia, cujo tipo não conseguimos identificar corre-
tamente (Fig. 10). Tanto pode corresponder às armas dos Pereiras quanto às armas
de outras linhagens ligadas à urbe escalabitana, como os Dades (ABRANTES,
1983: n. 173 e 270). A própria possibilidade de pertencer aos Teixeira não pode ser
excluída. É ainda, claro, tentador associá-lo a D. Sancha Garcia Pereira, viúva de
Francisco Martins e filha do cavaleiro Garcia Pires de Pereira, que professou inicial-
mente em Celas sendo posteriormente dona do Mosteiro de Almoster (PIZARRO,
1999: II, 302; MORUJÃO e SARAIVA, 2001-2002). Ao professar, D. Sancha
vendera ao seu primo, o arcebispo D. Goncalo Pereira, a sua parte na quintã de
Pereira (PIZARRO, 1999: II, 301; MORUJÃO e SARAIVA, 2001-2002). Neste
caso, contudo, não temos nenhuma hipótese forte para o escudo faixado que se
encontra ao lado deste (Fig. 11 e 12). Poderia ser do seu marido, de quem enviu-
vara, um certo Francisco Martins de Santarém, ou da sua linhagem materna, os
Fermoselhe/Urgeses. De nenhum destes se conhecem armas. 12
A cruz de tipo incerto poderia ainda representar os Teixeiras ou os Dades.
Estas famílias tiveram relações com os círculos familiares ligados a Almoster.
Maria Rodrigues Michom, sobrinha da abadessa Guiomar Afonso Michom
casou-se com João Lourenço de Urgeses, fruto do casamento de Maria Lopes
Teixeira com Lourenço Anes de Urgeses. Se aceitarmos a cruz como armas dos
Teixeira, de novo poderíamos interpretar o faixado como as armas de Urgeses. Por
outro lado, sabe-se que Martim Martins Dade, alcaide de Santarém e conselheiro
do rei (PIZARRO, 1999: II, 460–463) usava um escudo com três cruzes occi-
tanas (ABRANTES, 1983: n. 273) e o selo do seu pai Martim Pais Dade
(PIZARRO, 1999: II, 459) exibe a mesma cruz occitana (ABRANTES, 1983: n.
270). Ora, a isto podemos acrescentar que Teresa Martins Dade, filha de Martim
12
Caso se referissem a Francisco Martins “de Santarém”, seria tentador atribuir os faixados que se
repetem nos capitiéis a uma família com esse nome. Com efeito, segundo os Livros de Linhagens
uma dona de Almoster Maria “Raimundes” [Esteves] era filha de Estevão Fernandes Barreto e de
uma certa Joana Esteves “de Santarém”, sendo incerto se se trata realmente de um apelido. No
entanto, este Estevão Fernandes não é descendente dos Chacim, pelo que não deveria usar os tão
característicos arminhos.

99
TiAgo de sousA mendes e AnTónio de cAsTro henriques

Martins, casou com o cavaleiro Mem Pires Pestana (PIZARRO, 1999: II, 463;
VIANA, 2005: 2012). Teresa Martins terá morrido ainda em 1270, pelo que as
armas poderiam ser dos filhos deste casamento. De resto, uma das professas em
Almoster, chama-se Maria Gonçalves da “Silveira” (VARANDAS, 1995: 46),
família eborense cujas armas são idênticas às dos Pestanas. Nenhuma destas hipó-
teses avulta perante as outras.

Figura 11 – Escudo com seis


faixas. Fotografia de Miguel
Jianu.

Conclusão

A análise das manifestação heráldicas na igreja monástica de Almoster


permitiu identificar as armas até agora desconhecidas dos Paiva-Quartela.
Deixámos ainda como hipótese que as armas dos Gosende deveriam ser cons-
tituídas por flores-de-lis e que houve uma transmissão das armas dos velhos
Bragançãos para os Barretos. Parecem, à primeira vista, resultados modestos.
Contudo, Almoster permitiu também refletir sobre os usos da heráldica nos
séculos XIII e XIV. Desde logo, foi possível identificar dois casos em que há uma
relação de causalidade entre os sinais usados e alcunhas que permaneceriam obscuras
sem a luz emprestada pela heráldica (Veirom, Quartela). As propostas sobre a ligação
entre as práticas funerárias e a heráldica na viragem dos séculos XIII e XIV merecem
igual atenção. Ficou defendida a ideia de que o escudo “de cadeado” sinalizava a morte
do seu portador. Neste caso, as armas da nave e do portal comunicam o patrocínio
material que a herdeira de D. Rodrigo Garcia concedeu ao mosteiro, remetendo as
flores-de-lis da família da fundadora para uma posição marcadamente subordinada
(só na capela funerária se aproximando da paridade). Já na bem conservada lápide
funerária de D. Berengária não existem quaisquer sinais. Ora, esta decisão da funda-

100
ffegurAs & sinAees iii. heráLdicA do mosTeiro de ALmosTer

dora nada teve de extraordinário, já que lápides e túmulos armoriados são raros no
século XIII, sendo a maior parte da heráldica coeva conhecida por via da sigilografia e
não da tumulária. O contraste com as sepulturas armoriadas trecentistas e quatrocen-
tistas da sala do capítulo é grande. Num outro monumento cisterciense, Alcobaça,
encontramos uma situação semelhante: as peças dos Sousãos (os crescentes, tipica-
mente em caderna) estão em todo o lado mas a maior parte das lápides funerárias
consiste em inscrições simples. A exceção é a lápide daquele que podemos considerar
o “chefe” da família: D. Gonçalo Mendes. Por outras palavras, Almoster confirma
como a heráldica do século XIII ainda não assumiu em contexto fúnebre o protago-
nismo que ganhará mais tarde (SEIXAS e PORTUGAL, 2012; ROSAS, 2013) mas
que já se encontrava suficientemente bem difundida para reclamar para uma família
o patrocínio de um edifício. No claustro, a presença das armas dos Chacim e de outras
famílias sugere que a heráldica está também a marcar a contribuição material para a
construção ou algum outro favor (como a proteção junto do rei). Desta forma, as
nossas meditações heráldicas pelas ruínas de Almoster proporcionaram novas hipó-
teses para avançar nos caminhos abertos por autores como Francisco de Simas Alves
de Azevedo.

Figura 12 – Os capitéis armoriados do claustro de Almoster. Fotografia de Miguel Jianu.

Documentos Manuscritos

“Carta de Arras entregues por D. Rodrigo Garcia de Paiva para o casa-


mento com D. Berengária Aires de Gosende”, 1265, ANTT, Mosteiro de Santa
Maria de Almoster, maço 4, n. 12.

101
TiAgo de sousA mendes e AnTónio de cAsTro henriques

“Carta de Demarcação do Couto de Almoster”, 1298, ANTT, Chancelaria


de D. Dinis, Livro 3, fols. 3-3v.

“Carta de Escambo de propriedades em Almoster entre D. Sancha Peres da


Vide, senhora do lugar, e as freiras de Chelas”, 1249, ANTT, Mosteiro de Chelas,
maço 9, n. 172.

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104
ATLANTI SIMBOLICI DELLO SPAZIO POLITICO.
I PORTOLANI
E IL «LIBRO DEL CONOCIMIENTO DE TODOS
LOS REINOS» (S. XIV)*

Alessandro Savorelli

1.
La profonda trasformazione dell’imago mundi avvenuta tra il XIII e il XV s.
si coglie con chiarezza nell’evoluzione della cartografia. Alla vigilia delle scoperte
geografiche, la forma classica delle mappae mundi medievali, col loro corredo di
citazioni letterarie, religiose e classiche, dalla Bibbia al Romanzo di Alessandro, ai
bestiari, è tramontata da tempo, e su questo mutamento culturale avevano eser-
citato un’influenza decisiva i resoconti di viaggio, le carte nautiche e i portolani.
Quella delle mappae mundi era un’immagine mentale del mondo, un itinerario
di ‘salvezza’ 1, una mappa «plasmata dalla storia religiosa» prima che dallo «spazio
geografico» 2, nella quale anche gli elementi fisici, naturalistici, antropici, storici

* Questo saggio è stato presentato al convegno Entre idéel et matériel: espace, territoire et légiti-
mation du pouvoir (v.1200-v.1640), Pisa, Scuola Normale Superiore, 14-16 novembre 2013
(organizzato da Patrick Boucheron, Maria Monica Donato, Marco Folin, Jean-Philippe Genet,
in collaborazione con: Programme SAS, European Research Council; LAMOP, Université Paris
I-Panthéon-Sorbonne-CNRS; Scuola Normale Superiore di Pisa; École française de Rome). Gli
atti del convegno sono in corso di stampa: si ringraziano i curatori – Jean-Philippe Genet e
Marco Folin – per la cortese autorizzazione ad anticipare il testo su questa rivista.
1
Cfr. P.G. Dalché, «L’héritage antique de la cartographie médiévale», in Cartography in Antiquity
and the Middle Ages. Fresh perspectives, new methods, ed. by R.J.A Talbert and R. Unger, Leiden,
Brill, 2008, pp. 29-66.
2
J. Brotton, La storia del mondo in dodici mappe, Milano, Feltrinelli, 2013, p. 130.

105
ALessAndro sAvoreLLi

e religiosi sono inseriti in una struttura diacronica, creaturale e provvidenziale,


«omaggio della terra alla volontà divina» 3.
Lo spazio disegnato dai portolani è invece non solo tendenzialmente
oggettivo, ma in gran parte secolarizzato, e mirato principalmente sul segmento
temporale dell’attualità: è stato efficacemente detto che i mappamondi stanno ai
portolani nel rapporto di mythos a logos 4. Coi portolani nasce una imago mundi
alternativa: sono «le mappe geograficamente più realistiche del loro tempo» 5. Ciò
non toglie che alcuni di loro conservino accanto a finalità tecnico-pratiche, un
marcato carattere didattico-enciclopedico (rivolto semmai ad un pubblico laico) 6
e ostentino un ricco apparato testuale e iconografico che emula in parte quello
dei mappamondi 7. Questo apparato non forma tuttavia un sistema coerente e
finalizzato come nelle mappae mundi e implica invece forme e contenuti del tutto
nuovi, tra i quali un’inedita attenzione per lo ‘spazio politico’ del mondo, non
sempre messa adeguatamente in rilievo dalla critica, a petto della considerazione
per i dati geografici in senso stretto o per la superstite dimensione letteraria dei
mirabilia. A chi confronti i mappamondi e le carte fino al s. XVI inoltrato con
le carte moderne, dal XVII s. in poi, salta agli occhi una vistosa differenza: la
carta moderna è anche (e via via, soprattutto), una carta ‘politica’, in cui sono
segnati i confini degli stati e talora quelli delle loro ripartizioni interne. Le carte
antiche, portolani compresi, al contrario, sono prive di confini politici: lo spazio
del mondo vi appare come uno spazio fisico-naturale o culturale. Proprio nei

3
P. Zumthor, La misura del mondo. La rappresentazione dello spazio nel Medio Evo, Bologna, Il
Mulino, 1995, p. 313. Sull’evoluzione della cartografia medievale cfr. in generale: D. Wood-
ward, «The context and study of ‘Mappaemundi’», in The History of Cartography, ed. by J.B.
Harley and D. Woodward, vol. 1., Cartography in Prehistoric, Ancient and Medieval Europe and
the Mediterranean, Chicago-London, The University of Chicago Press, 1987 pp. 286-370; P.G.
Dalché, L’espace géographique au Moyen âge, Firenze, SISMEL-Edizioni del Galluzzo, 2013.
4
M. Quaini, «L’immaginario geografico medievale, il viaggio di scoperta e l’universo concettuale
del grande viaggio di Colombo», in Relazioni di viaggio e conoscenza del mondo fra Medioevo e
Umanesimo, Atti del 5. Convegno internazionale di studi dell’Associazione per il Medioevo e
l’Umanesimo Latini, Genova, 12-15 dicembre 1991, a cura di S. Pittaluga, Genova, Diparti-
mento di archeologia, filologia classica e loro tradizioni, 1993, pp. 266-267.
5
T. Campbell, «Portolan Charts from the Late Thirteenth Century to 1500», in The History of
Cartography, vol. 1, op. cit., pp. 373-465: 445.
6
Cfr. R.J. Pujades i Bataller, Les cartes portulanes. La representació medieval d’una mar solcada,
Barcelona, Institut Cartògrafic de Catalunya 2007, pp. 128-142 (ma cfr. anche il capitolo
sull’evoluzione degli ateliers e sulle tipologie dei prodotti, ibid., pp. 236-248, 278-289).
7
A questo aspetto specifico è dedicata l’opera di Ph. Billion, Graphische Zeichen auf mittelalter-
lichen Portolankarten. Ursprung, Produktion und Rezeption bis 1440, Marburg/Lahn, Tectum
Verlag, 2011, rielaborazione di una tesi di dottorato. Devo alla cortesia di Emmanuelle Vagnon
la segnalazione di questo volume.

106
ATLAnTi simboLici deLLo sPAzio PoLiTico

portolani trecenteschi si verifica però una prima svolta: i confini, come noi oggi
li concepiamo sono assenti, ma surrogati tuttavia dall’inserimento – a tratti inva-
dente e spettacolare – di elementi allegorici convenzionali (immagini dei sovrani),
e, soprattutto emblematici, araldici e vessillari (ossia stemmi e bandiere araldizzate)
che marcano i diversi territori 8. Il fenomeno si può analizzare originariamente in
un gruppo di portolani trecenteschi di ‘prima generazione’ e cioè i più antichi tra
quelli decorati con bandiere – dei circa trenta superstiti, italiani e catalani – tutti
realizzati nell’arco di un sessantennio, che servirono da prototipo per gran parte
della produzione posteriore. Si tratta, fra gli altri, dei portolani Vesconte (1321,
1327), Dalorto/Dulcert (1325 ca./1339), Pizzigani (1367), Soler (1380) e del
cosiddetto Atlante catalano (1375), destinato a Carlo V di Francia (dunque ad
una committenza alta), il primo esteso a tutta l’Asia e non solo al Mediterraneo 9.
Ad essi va aggiunto un testo assai singolare, come il Libro del conocimiento
del todos los reinos (Libro del conosçimiento de todos los rregnos et tierras e señoríos que
son por el mundo et de las señales et armas que han), compilato qualche decennio
dopo la metà del secolo e ritenuto a lungo, non diversamente dai Viaggi di John
Mandeville, letteratura d’evasione. In realtà, come ha scritto Patrick Gautier
Dalché, il Libro del conocimiento «s’emploie à réprésenter par la fiction du voyage,
l’unification du monde par le commerce», corrispondendo «aux goûts culturels
du milieu des marchands» 10.

8
Appare perciò erroneo quanto scrive a proposito dei portolani («non si interessano di suddi-
visioni politiche») A. Terrosu Asole, Il portolano di Grazia Pauli 1987, Cagliari, STEF, 1987,
p. XXXIX.
9
P. Vesconte (Roma, Biblioteca Vaticana, ms. Pal.Lat. 1362A; Firenze, Biblioteca Laurenziana,
Med. Palat. 248); A. Dalorto (Collezione Corsini, Firenze); A. Dulcert (Paris, Bibliothèque
nationale de France, GE B-696 /RES); D. e F. Pizzigani (Parma, Biblioteca Palatina, ms. Parm.
1612); Atlante catalano (attr. a Abraham Crescas; Paris, Bibliothèque nationale de France, ms.
Esp. 30); G. Soler (Paris, Bibliothèque nationale de France, GE B-1131 /RES). Sulle discus-
sioni relative all’identificazione e alla nazionalità di Dalorto/Dulcert, sulla storia della tradizione
manoscritta e altri aspetti filologici, v. ora G. Caraci, Segni e colori degli spazi medievali. Italiani
e catalani nella primitiva cartografia nautica medievale, a cura di I. Luzzana Caraci, Reggio E.,
Diabasis, 1993, e Pujades i Bataller, Les cartes portulanes, op. cit., pp. 254-256.
10
Dalché, L’espace géographique au Moyen âge, op. cit., pp. 377-378. Il Libro del conosçimiento
fu edito la prima volta da M. Jimenez de la Espada (Madrid, 1877) e tradotto in inglese da
C. Markham (London, 1912). Si tiene conto qui delle due edizioni più recenti: El Libro del
conoscimiento de todos los reinos (The Book of Knowledge of All Kingdoms), Edition, Translation
and Study by N.F. Marino, Tempe, Ar., Arizona Center for Medieval and Renaissance Studies,
1999, p. XLV (d’ora in poi: Libro-ed. Marino), e il Libro del conosçimiento de todos los rregnos et
tierras et señorios que son por el mundo, et de las señales et armas que han, edición facsimilar del
manuscrito Z, Múnich, Bayerische Staatbibliothek, cod. hisp. 150, con transcripción, estudio e
índices por M.J. Lacarra, M.d.C. Lacarra Ducay, A. Montaner, Zaragoza, Institución Fernando

107
ALessAndro sAvoreLLi

I portolani sopra citati esibiscono ciascuno mediamente 50-60 bandiere, le


cui presenze variano soprattutto in alcune zone del mediterraneo (Italia, Balcani,
Asia Minore, Maghreb). Quanto al Libro del conocimiento, che non contiene
mappe ma solo testo e illustrazioni,
si tratta di un viaggio immaginario,
fatto a tavolino, letterariamente
meno accattivante degli straordina-
riamente diffusi Viaggi di Mande-
ville, ma tendenzialmente più ogget-
tivo. Di fatto una enciclopedia
geografica, una descrizione del
mondo basata su portolani e altre
fonti dirette. Potremmo definirlo un
‘portolano scritto’, un ‘portolano
privo di mappe’ o un ‘portolano in
forma di racconto’, che costituisce,
con le circa 120 insegne araldiche e
vessillari dei suoi vari codici, il reper-
torio trecentesco più ampio che si
conosca dei segni dei sovrani e degli
stati del mondo, basato certamente
su un compendio dell’emblematica
dei portolani contemporanei, molti
Fig. 1: Frontespizio del Libro del conocimiento. dei quali non pervenutici 11.

el Católico (CSIC), Diputación Provincial, 1999 (d’ora innanzi: Libro-Ms. Z); questa edizione,
assai ben curata, è dotata di un apparato filologico molto ampio e di una buona bibliografia (pp.
257-267); contiene inoltre il facsimile dell’Atlante catalano del 1375 e le tavole con la raccolta
completa delle bandiere contenute nei vari mss. dell’opera. Una traduzione italiana del Libro è
apparsa come Il libro della conoscenza di tutti i regni paesi e signorie che esistono nel mondo e delle
bandiere e degli stemmi di ciascun paese e signoria come dei re e signori che li governano, a cura di
C. Astengo, Genova, Erga, 2000. Quanto ai Viaggi di Mandeville, è da condividere il giudizio di
T. Kohanski che invita a considerarli una «encyclopedia of geography», utile per le informazioni
che è in grado di trasmettere (The book of John Mandeville, an edition of the Pynson text, with
commentary on the defective version, Tempe, Ar., Arizona Center for Medieval and Renaissance
Studies, 2001, pp. IX-X).
11
Il lavoro più aggiornato sui portolani è Pujades i Bataller, Les cartes portulanes, op. cit., come
riconosce T. Campbell nella sua prefazione (ibid., pp. 15-17), che contiene fra l’altro un eccel-
lente apparato di illustrazioni e un censimento di carte, portolani e atlanti anteriori al 1470
(ibid., pp. 60-70): tra le sue tesi principali, sulla base di un’ampia documentazione d’archivio,
è la smentita del presunto carattere ‘non pratico’ dei portolani (cfr. T. Campbell, ibid., p. 16):
tesi tuttavia in parte contestata, con buone argomentazioni, da P.G. Dalché, «Les cartes marines:

108
ATLAnTi simboLici deLLo sPAzio PoLiTico

Vari autori hanno analizzato a più riprese il corpus emblematico-araldico


dei portolani, mettendone sì in rilievo il significato non meramente decorativo,
ma perlopiù con intenti filologici (come strumento per la datazione e l’identifi-
cazione di ‘scuole’) o in relazione a problemi interni al fenomeno araldico stesso,
come se i portolani fossero principalmente una fonte per lo studio dell’araldica o
un genere particolare di stemmari 12.
Il sistema emblematico dei portolani trecenteschi mostra in realtà qualcosa
di diverso: è certo un apparato decorativo, proporzionale alle caratteristiche di
pregio e della committenza, ma deve essere letto anche per gli elementi conoscitivi
che implica, non circoscritti all’aspetto tecnico-araldico. «Le bandiere che svento-
lano sopra una tenda o una città – scrive Tony Campbell – identificano, anche se
non sempre in modo accurato, una dinastia regnante, così come le figure coronate
rappresentano sovrani autentici». Questo non significa – egli sottolinea giusta-

origines, caractères, usages. À propos de deux ouvrages récentes», Geographia antiqua, XX-XXI,
2011-2012, pp. 215-227, che sottolinea la preminenza dell’aspetto culturale su quello tecni-
co-pratico. Resta un classico comunque il lavoro di Campbell, «Portolan Charts from the Late
Thirteenth Century to 1500», op. cit. (sul sito web http://www.maphistory.info/portolanref.
html si possono consultare studi e aggiornamenti bibliografici a integrazione della bibliografia
ivi contenuta), cui si devono aggiungere, tra l’ampia letteratura in argomento, almeno: M. de La
Roncière, M. Mollat du Jourdin, I portolani. Carte nautiche dal 13. al 17. secolo, presentazione
di O. Baldacci, Milano, Bramante arte, 1992; Relazioni di viaggio e conoscenza del mondo fra
Medioevo e Umanesimo, op. cit.
12
Cfr. in particolare: G. Gerola, «L’elemento araldico nel portolano di Angelino dall’Orto», Atti del
Reale Istituto Veneto di Scienze, Lettere ed Arti, 93, 1933-34, pp. 407-43; Id., «Le carte nautiche
di Pietro Vesconte dal punto di vista araldico», in Atti del Secondo Congresso di Studi Coloniali,
Napoli, 1-3 Ottobre 1934, Firenze, Olschki, 1935, vol. 2, pp. 102-23; di G. Pasch, si vedano i
vari contributi apparsi in Vexillologia. Bulletin de l’Association Française d’Etudes Internationales
de Vexillologie: «Les drapeaux des cartes-portulans. L’atlas dit de Charles V (1375)», 1, 1967, nn.
2-3, pp. 38-60; «Les drapeaux des cartes-portulans. Drapeaux du ‘Libro del Conoscimiento�»,
2, 1969, n. 12, pp. 8-32; «Les drapeaux des cartes-portulans (portulans du groupe Vesconte)»,
3, 1973, n. 2, pp. 52-62; N.F. Marino, “Introduzione", a Libro-ed. Marino, in particolare pp.
XLIII-XLVIII;. A.-D. von den Brincken, «Portolane als Quellen der Vexillologie», Archiv für
Diplomatik, Schriftgeschichte Siegel- und Wappenkunde, 24, 1978, pp. 408-26; A. Montaner, «El
“Libro del conosçimiento” como libro de armería», in Libro-Ms. Z, pp. 43-69. P.E. Russell, «La
heraldica en el Libro del conosçimiento», in Studia Riquer, vol. 2, Barcelona, Quaderns Crema,
1987, pp. 687-697; M. de Riquer, «La heráldica en el Libro del Conocimiento y el problema de
su datación», in Dicenda. Cuadernos de Filología Hispánica, vol. 6 di Estudios y textos dedicados a
Francisco Lopez Estrada, Madrid, Universidad Complutense, 1987; Id., «La heráldica en el Libro
del Conocimiento por tercera vez», in Letters and Society in Fifteenth-Century Spain. Studies
Presented to P.E. Russell on His Eightieth Birthday, London, Dolphin, 1993, pp. 149-151. Torna
invece ad una valutazione in chiave meramente decorativistica, come variabile di prezzo degli
esemplari di lusso, Pujades i Bataller, Les cartes portulanes, op. cit., pp. 224-234, meno interessato
agli aspetti ‘culturali’ inclusi nei portolani.

109
ALessAndro sAvoreLLi

mente, respingendo la tesi del mero significato «ornamentale» – avallare l’ingenua


tesi, opposta, che lo scopo delle bandiere sui portolani sia di fornire aggiornate
informazioni di tipo «politico» ai naviganti: tesi smentita fra l’altro dagli anacro-
nismi, dalle incertezze della collocazione sulla mappa, dalle varianti, dagli inevi-
tabili gap cronologici tra le informazioni e la data delle compilazione della carta
e delle sue copie 13. I portolani mirano dunque a descrivere per la prima volta un
altro spazio, quello politico, fornendo un’informazione di carattere enciclope-
dico sullo stato del mondo, sulle costellazioni di potenze politiche e dinastiche,
soprattutto per le aree più lontane e meno conosciute: l’araldica dei portolani
si presenta perciò come la prima tecnica premoderna della costruzione di una
cartografia geopolitica, non più attenta solo alle vetuste nationes della tradizione
letterario-erudita, ma alla costruzione di un atlante simbolico dello spazio politico
contemporaneo.
Questo fenomeno è stato definito da Philipp Billion, con una certa dose
di esagerazione un «grande passo in avanti nella storia spirituale dell'umanità» 14:
senza indulgere a questa enfasi, è indubbio che esso implichi un forte carattere di
novità. Le conclusioni cui è giunto questo interprete, in un volume che rappre-
senta la considerazione più estesa dell’apparato iconografico dei portolani 15,
collimano in parte con quelle di Campbell e con le nostre valutazioni. Anche
Billion contesta con ragione, sulla scia di Campbell, le tesi opposte del carattere
meramente decorativo dell’araldica dei portolani e, viceversa, del suo valore tecni-
co-pratico: stemmi e bandiere sui portolani rappresentano piuttosto il tentativo
di una nuova «visualizzazione dello spazio» che anticipa aspetti della cartografia
moderna 16.
Oltre questo consenso di massima, non si può invece più seguire Billion
nella sua ricostruzione complessiva dell’evoluzione del fenomeno. Egli propone
infatti la tesi di una lineare trasformazione dell’apparato araldico da una fase
decorativistica attenta principalmente ai simboli delle città portuali (come nei
portolani Vesconte), in un articolato «sistema gerarchico di rappresentazione del
13
Campbell, «Portolan Charts from the Late Thirteenth Century to 1500», art. cit., pp. 397-401:
da qui anche la sua cautela, del tutto giustificata, relativamente all’uso degli emblemi vessillari
come strumento per la datazione delle mappe.
14
Billion, Graphische Zeichen, op. cit., p. 146: «Symbole der Macht strukturieren als Bezugspunkte
den Raum; sie bilden ein eigenes Netzwerk von Entitäten der Herrschaft. Diese Visualisierung
von Netzwerken ist eine Kulturtechnik par excellence, und ihre bewusste Benutzung bedeutet
einen grossen Fortschritt in der Geistesgeschichte del Menschheit».
15
Cfr. in particolare Billion, Graphische Zeichen, op. cit., cap. 1.5 (“Herrschaftszeichen”), pp.
120-150, cap. 4.1 (“Ursprünge der visuellen Sprache und das mediterrane Judentum”), pp.
278-293 e cap. 5.2 (“Ortsunabhängige Traditionen”), pp. 307-315.
16
Ibid., p. 132.

110
ATLAnTi simboLici deLLo sPAzio PoLiTico

dominio». Ne conseguirebbe la natura ibrida dei portolani – sulla scorta delle


tesi di Montaner, v. den Brincken e Marino – ossia, di veri e propri «tentativi di
costruzione di uno stemmario universale, sotto il primato della strategia visiva
dominata dal principio dell’esatta rappresentazione geografica» 17. In realtà questa
tesi, applicabile già con molte riserve al Libro del conocimiento (che il suo più
recente editore definisce appunto «un armorial portulano») 18, è messa in discus-
sione da dati storici di diverso genere. In primo luogo da un’esatta valutazione
dell’araldica coeva, settore dell’iconografia dei portolani nel quale Billion si è inol-
trato palesemente con un bagaglio insufficiente di conoscenze (come mostrano
peraltro i suoi riferimenti bibliografici elementari e marginali e i numerosi errori
di interpretazione dei segni araldici in questione) 19. In secondo luogo, proprio
da un’analisi ravvicinata del corpus iconografico-araldico dei portolani, che non
mostra né l’evoluzione troppo schematicamente tracciata da Billion, né la siste-
maticità da lui individuata.
Il corpus araldico dei portolani è in realtà una costruzione largamente
empirica, che procede per tradizione di fonti, copie, periodici aggiornamenti,
aggregazioni e inserimenti, che non si pone intenti di carattere sistematico e
organico, ma che lavora invece solo per approssimazioni, talora relativamente
casuali, tese a fornire alla propria committenza colta un generale quadro di tipo
politico-eciclopedico. Una rigida dicotomia nel tempo tra attenzione al mondo
urbano/gerarchia del dominio 20, come ritiene Billion, non esiste, giacché l’icono-
grafia araldica dei portolani Vesconte, ad esempio, che egli considera rappresen-
tativi della fase decorativistica, non si limita al mondo urbano ma comprende
anche l’emblematica di potenze statali mediterranee, dalla Spagna e dalla Francia
fin verso Bisanzio; viceversa, il prodotto più maturo del genere, il portolano
Pizzigani, che apparterrebbe secondo Billion alla seconda fase connotata da una
presunta «rigorosa struttura gerarchica» 21, ha sì ampliato, sulla scia di Dalorto/
Dulcert, la raffigurazione dell’emblematica a tutti gli stati europei, compresi
quelli dell’Europa centrale e settentrionale, ma continua ad aggiungervi un
inedito, ampio gruppo di segni di città, italiane e non. L’evoluzione segna dunque
un arricchimento in direzione spaziale e quantitativa, ma non un cambiamento
di strategia visuale: l’emblematica cittadina, ovviamente concentrata dapprima

17
Ibid., pp. 145-146.
18
Montaner, «El “Libro del conosçimiento” como libro de armería», art. cit., p. 65.
19
A titolo d’esempio si vedano le erronee o incerte letture dei casi di Zara, Trebisonda, Fiandra
(Billion, Graphische Zeichen, op. cit., pp. 123-124, 132, 140): e ancor più quelle relative ad altre
località extraeuropee, sulle quali torneremo in seguito.
20
Cfr. p.e. Billion, Graphische Zeichen, op. cit., p. 309.
21
Ibid., p. 137.

111
ALessAndro sAvoreLLi

sulle repubbliche mediterranee, da Barcellona alla Dalmazia, passando per Marsi-


glia, Genova, Pisa, Firenze e Venezia, ossia sul mondo urbano in cui operano gli
atelier dei cartografi, si estende al resto degli stati d’Europa, ma non muta perciò
funzione. L’evoluzione è dunque legata a contingenze di informazione e produ-
zione e a sensibilità locali (relative ai luoghi di produzione), e non delinea affatto
due diverse e successive tipologie di prodotti. Per rendersene conto è sufficiente
dare uno sguardo alle tabelle in Appendice, qui di seguito, e considerare la relativa
casualità di inclusioni e omissioni nelle varie liste.
L’errore prospettico in cui è caduto Billion (e prima di lui altri autori,
alcuni dei quali ipotizzavano addirittura, senza alcun serio argomento, l’inter-
vento di uno specialista, un ‘araldo’, nella redazione del Libro del conocimiento),
dipende in parte anche dalla mancata comprensione del carattere degli «stemmari
universali» medievali e dalla sua astratta sovrapposizione a quello dei portolani.
Scopo primario degli stemmari medievali è la rappresentazione enciclopedica, o
autocelebrazione contingente, per segni, di una gerarchia del mondo feudale, di
tipo ‘piramidale’ (sovrani, vassalli, arrière-vassaux), estesa talora al mondo extra-
europeo: questa piramide esclude di regola – salvo rare eccezioni – l’emblematica
delle istituzioni religiose e cittadine, come sostanzialmente priva di interesse per i
compilatori. Quando il catalogo si estende a stati e paesi extraeuropei, ciò avviene
senza nessuna ambizione ad un benché minimo controllo fattuale di dati, ma
sulla base di informazioni di seconda mano o addirittura immaginarie. La genesi
di questi prodotti è sempre legata ad ambienti di corte o signorili-cavallereschi,
che vi riflettono la propria visione del mondo e la propria percezione di ceto, e
ciò ne determina le caratteristiche 22. Tutto al contrario, l’origine dei portolani,
come di altri prodotti, per esempio le cronache illustrate italiane e svizzere, è
saldamente iscritta in un ambiente e in una mentalità mercantile-borghese, che
altra volta abbiamo per parte nostra definito «cittadinesca» 23. L’araldica ricopre

22
Sugli stemmari cfr. almeno: M. Pastoureau, Traité d’héraldique, Paris, Picard, 19932, pp.
224-225; Id., L’art héraldique au Moyen Age, Paris, Seuil, 2010, pp. 192-200; Les armoriaux
médiévaux. Actes du colloque international "Les armoriaux médiévaux", CNRS, Paris 21-23 mars
1994, sous la direction de L. Holtz, M. Pastoureau, H. Loyau, Paris, Le Léopard d’or, 1997.
23
A. Savorelli, «L’araldica nel codice chigiano: un ‘commento’ alla “Cronica” del Villani», in Il
Villani illustrato. Firenze e l’Italia medievale, a cura di C. Frugoni, Firenze, Le Lettere, 2005,
pp. 53-59. Ma si veda anche, per qualche riscontro, l’iconografia delle Cronache di Giovanni
Sercambi (cfr. G. Sercambi, Le illustrazioni delle Croniche nel codice Lucchese, coi commenti
storico e artistico di O. Banti e M.L. Testi Cristiani, 2 voll., Genova, Basile, 1978), dei Regia
carmina di Convenevole da Prato (Convenevole da Prato, Regia carmina dedicati a Roberto
d’Angiò re di Sicilia e di Gerusalemme, a cura di un Gruppo Bibliofili pratesi, Prato, Gruppo
bibliofili pratesi, 1982), il codice senese della Sconfitta di Montaperti (su cui cfr.: A. Cavinato,
La sconfitta di Monte Aperto di Niccolò di Giovanni di Francesco di Ventura. Per l’edizione di una

112
ATLAnTi simboLici deLLo sPAzio PoLiTico

in questo ambito un ruolo puramente strumentale: non ha alcuna sensibilità per


la struttura del mondo signorile- cavalleresco, se non in relazione al ‘racconto’
e all’identificazione dei personaggi, e mette disinvoltamente sullo stesso piano i
segni del mondo feudale e di quello cittadino. La conferma viene dal fatto che sia
nei portolani, sia nelle cronache, non c’è nessuna attenzione alla gerarchia feudale
come tale: bandiere e segni di signorie o principati feudali vi compaiono anzi
in misura minima e del tutto occasionale (per esempio relativamente a qualche
grande feudo francese, non a caso situato in aree costiere, Bretagna, Fiandra,
Narbona) 24. La visuale dei portolani è costruita in funzione di chi arriva dal mare
su una nave: dalle isole, dalla costa e dai porti, segnandone in maniera più o
meno precisa le pertinenze politiche, essi prolungano lo sguardo, ma assai più
sporadicamente verso l’interno, e in misura sempre meno attenta via via che ci si
allontana dal Mediterraneo. Anche il Libro del conocimiento, che pure si sforza di
dar conto del rango delle varie entità politiche che descrive, si mantiene su questo
punto assolutamente nel generico, cercando, come vedremo subito, di colmare lo
spazio istituzionale tra segni di monarchie e di città in maniera molto imprecisa.
La definizione di una gerarchia e la compilazione di un catalogo araldico sono lo
scopo primario degli stemmari. Nei portolani e nelle cronache questi sono, vice-
versa, solo strumenti e l’araldica è il medium che serve a descrivere una situazione
fattuale. Del resto, ben più che negli stemmari, gli ‘errori’, i difetti di esecuzione
dell’iconografia araldica, le incerte attribuzioni e in generale l’approssimazione
difettosa dell’araldica dei portolani, che si tramanda poi in forma stereotipa da
un esemplare all’altro e da un atelier all’altro, testimonia della relativamente scarsa
attenzione al dettaglio di questi segni e della loro origine empirica, basata certa-
mente su informazioni di seconda mano, non sempre attendibili.

2.
Le bandiere dei portolani e del Libro del conocimiento vanno dunque consi-
derate, oltre che come elemento decorativo, come un corpus di segni di carat-

cronaca illustrata senese del Quattrocento, tesi di laurea, Università di Pisa, a.a. 2009-2010; Ead.,
«Stemmi a Siena e a Montaperti: i manoscritti di Niccolò di Giovanni di Francesco di Ventura»,
in corso di stampa in L’arme segreta. Araldica e storia dell’arte nel medioevo (secoli XIII-XV),
atti delle giornate di studio, Firenze-Pisa, Kunsthistorisches Institut/Scuola Normale Superiore,
24-26 novembre 2011). E infine le eloquenti descrizioni araldiche contenute nella Cronica
dell’Anonimo Romano sulla vita di Cola di Rienzo. Tra le cronache svizzere del Quattrocento,
di impareggiabile vivacità narrativa (delle quali è disponibile qualche buon facsimile), cfr.: Berner
Chronik (1470) di Benedikt Tschachtlan e i tre volumi (Amtlichen Berner Chronik, 1483; Spiezer
Chronik, 1484; Grosse Burgunderchronik, 1486) di Diebold Schilling il Vecchio.
24
Cfr. veda l’Appendice, alla fine di questo saggio, tabella c).

113
ALessAndro sAvoreLLi

tere enciclopedico, orientato alla descrizione e definizione visiva di spazi geopoli-


tici, frutto di una sensibilità di carattere urbano. Dalla fine del XIV s., e poi in
maniera sistematica nel secolo seguente, con la riduzione degli spazi commerciali
nel Mediterraneo e in Asia, questa sensibilità si attenua: bandiere e stemmi dimi-
nuiscono di numero e vengono applicati in maniera stereotipa, ricalcando i più
famosi esemplari trecenteschi, ma riproducendo in tal modo situazioni sempre
più anacronistiche, soprattutto in aree come i Balcani, l’Asia Minore e l’Africa. È
a questo punto che l’araldica della seconda generazione dei portolani si trasforma
in un apparato prevalentemente esornativo, destinato ad arricchire esemplari
di pregio. Il numero limitato di ateliers specializzati – tra Maiorca/Barcellona,
Genova e poi Venezia – e le caratteristiche ripetitive e seriali della produzione
spingono chiaramente in questa direzione 25. La funzionalità politico-enciclope-
dica cui sono attenti i primi catalani trecenteschi, tra Genova e Catalogna, si
ritroverà quasi solo sporadicamente nel Quattrocento – per esempio nella mappa
di Albino da Canepa (1489), attenta all’affermazione della sovranità genovese
sulle colonie del Mar Nero, quindici anni dopo la caduta di Caffa in mano turca
– 26, e poi a partire dalle scoperte scientifiche, con la indicazione, fortemente
controversa, come è noto, dei bacini coloniali spagnoli e portoghesi.
Prima di considerare più da vicino le caratteristiche della rappresentazione
spaziale-simbolica del quadro geopolitico, è utile un cenno ad elementi innova-
tivi presenti nei portolani e nel Libro del conocimiento, strettamente collegati col
corpus iconografico-araldico, come la toponomastica e la definizione del rango
istituzionale dei paesi trattati.
Il carattere generalmente empirico e non libresco degli elementi geografici
e politici di questi lavori si coglie già a partire dalla toponomastica, che si sforza di
essere ‘moderna’, pur nell’ovvia trascrizione, contaminazione o calco delle lingue
d’origine, che non sempre consentono l’identificazione di molte località e terri-
tori. In generale la deliberata, parziale rinuncia al ricorso alla terminologia latina
classica o ai toponimi letterari e tradizionali (salvo pochi casi: Africa, Caldea,
Nubia, Ircania, Scizia etc.), costituisce una cesura significativa 27. Nella cartografia
umanistica ‘colta’ la tendenza arcaicizzante appare infatti operante molto a lungo,
ed ancora almeno sino alla Cosmographia di Münster: in questa prassi erudita la
sovrapposizione a toponimi o territori moderni, soprattutto fuori d’Europa, della
25
L’evoluzione si coglie bene anche solo sfogliando le raccolte di portolani: per esempi omogenei
rispettivamente di area veneziana e maiorchina, cfr. Carte da navigar. Portolani e carte nautiche
del Museo Correr 1318-1732, a c. di S. Biadene, Venezia, Marsilio, 1990; Pujades i Bataller, Les
cartes portulanes, op. cit.
26
Cfr. Campbell, «Portolan Charts from the Late Thirteenth Century to 1500», art. cit., p. 401.
27
Cfr. Dalché, L’espace géographique au Moyen âge, op. cit., p. 59.

114
ATLAnTi simboLici deLLo sPAzio PoLiTico

terminologia classica o d’origine biblica, genera equivoci, errori, approssimazioni,


duplicazioni, moltiplicazioni di entità e anacronismi. Al contrario, la toponoma-
stica del portolani non è eternizzante, ma mira tendenzialmente a riprodurre uno
stato di fatto.
Più complesso è il tema della terminologia relativa al rango politico delle
entità descritte. Come si è già accennato, nei portolani questo problema non si
pone in forma sistematica. Nel portolano di Dulcert si usano qua e là espressioni
come «regno di»; in quello dei Pizzigani i segni di dominio comprendono occa-
sionalmente corone poste su toponimi e bandiere. Se la presenza delle bandiere
nei portolani non ambisce a riprodurre una gerarchia esaustiva dei domini, la
questione emerge nel Libro del conocimiento che, per la sua forma narrativa, che si
spinge dalle coste verso l’interno, si sente costretto ad attribuire un rango politico
ai vari territori: da qui l’uso, nella maggioranza dei casi, dei termini tipicamente
castigliani di reyno, reynado, rey de, che – par di capire – dovrebbero indicare loca-
lità o territori reputati indipendenti o largamente autonomi, ma che confonde
il lettore moderno. La qualifica di reyno per territori come la Frisia, l’isola di
Gotland, la Transilvania, i paesi balcanici e dell’Asia Minore etc., appare infatti
fuorviante: non è comunque un’imprecisione propria di questo testo, giacché
anche altri libri di viaggio – Mandeville, Johannes Schiltberger (primo quarto
del XV s.), etc. – o la Cronaca del Concilio di Costanza di Ulrich von Richental
(post 1420) usano una terminologia impropria ricalcata su quella occidentale.
In linea di massima il Libro del conocimiento cerca di stilare per il lettore una
gerarchia politica plausibile, con l’elencazione di «imperi» e «regni» (autonomi
o sottoposti agli imperi stessi). Al di sotto, reyno è usato anche nel senso di una
dominazione locale di modesta estensione: perlopiù importanti approdi marit-
timi e isole – raramente le località dell’interno – messi in evidenza dai portolani.
Il Libro del conocimiento reimpiega questi dati, selezionando però città dotate di
maggiore autonomia politica, espressa talora con la formula «regno di una città»
o «regno di un’isola», oppure «terra» o «provincia», per territori vassalli di entità
maggiori: il caso riguarda per esempio alcuni grandi feudi francesi. Per lo status
politico di alcune città italiane si ricorre così al termine ‘signoria’ (señorio), ma la
«Lombardia» è definita «regno» (come se coincidesse col Regnum Italiae), e Roma
«cabeça del inperio de los rromanos», senza menzione dello Stato della Chiesa 28.
Il Libro rinuncia però a raffigurare le bandiere di singoli porti europei (più abbon-
danti nei portolani), concentrandosi, par di capire, sulle ‘città-stato’ (Genova,
Firenze, Pisa, Venezia): tra le città dell’interno quasi solo Firenze, per il suo straor-

28
Libro-ed. Marino, pp. 24-26; Libro-Ms. Z, pp. 160-162. Per tutte queste definizioni, e in seguito
per i riferimenti alle varie aree geografiche, si veda l’Appendice, alla fine di questo saggio.

115
ALessAndro sAvoreLLi

dinario ruolo economico, è una presenza fissa in tutti i portolani a fronte di molte
assenze (solo il portolano Pizzigani aggiunge un numero consistente di emblemi
di città italiane di alta e media importanza). In Turchia il Libro del conocimiento
precisa che «en la provinçia de la Turquya, la qual antiguamente dezian Asia
la Menor», vi sono «muchas provinçias departidas et muchos señorios que son
graves de contar» 29, confessando in realtà la difficoltà di dare un quadro attendi-
bile delle dominazioni: le 5-6 effettivamente elencate, sulla base delle bandiere dei
portolani, danno comunque l’idea del sistema dei beylik (una ventina), esistenti
nel primo Trecento.
Talora il rapporto fra territori sembra stabilito con la ripetizione di
insegne uguali o simili, a significare una coordinazione politica: è il caso dell’Im-
pero bizantino, dell’Asia Minore, e dei suoi territori sottoposti a metà Trecento
a continue variazioni di dominio in seguito alla fine del Sultanato di Rum e
all’affermarsi della potenza ottomana. Un particolare rilievo ha in quest’ultimo
ambito l’uso dei vessilli, nei portolani, per i territori che si trovano in una situa-
zione complessa o frastagliata: qui il vessillo è replicato per significare le aree o
le località omogenee per dominazione. Ciò appare particolarmente evidente nel
Mediterraneo orientale, dove sono segnate località facenti parte di una costel-
lazione coloniale, come quella dei porti genovesi; o nel caso degli imperi asia-
tici (Cina, imperi mongoli, Persia, India etc.). Il Libro del conocimiento non è
sempre coerente: ora esplicita con insegne identiche o simili un’unione dinastica;
ora duplica arbitrariamente i domini, chiamandoli impropriamente «regni», o
viceversa, li frammenta, assumendo dati approssimativi dalle sue fonti scritte e
iconografiche; ora collega una bandiera al nome di una specifica città riportata dai
portolani, definendola ‘regno’, senza capire che la bandiera si riferisce a un’entità
politica più ampia, nella quale la città in questione è compresa. Tutti questi carat-
teri tradiscono immediatamente la stretta dipendenza dall’iconografia empirica e
relativamente disordinata dei portolani, che si tenta di ritrascrivere in un discorso
argomentato e coerente.
Abbiamo calcolato che il Libro del conocimiento descriva, illustrandone gli
emblemi, circa 120 entità politiche, delle quali forse un 70% sono ritenute indi-
pendenti (alcune variamente e assai dubbiosamente identificate dalla critica): le
rimanenti sono pertinenze, vassalli e domini a vario titolo. La lista è naturalmente
sbilanciata: prevalgono nettamente porti, località e territori mediterranei, europei
e non, a testimoniare, di nuovo, il carattere delle fonti impiegate dall’autore 30.

29
Libro-ed. Marino, p. 32.
30
Per la lista completa, cfr. l’Appendice.

116
ATLAnTi simboLici deLLo sPAzio PoLiTico

Con tutte queste imprecisioni e lacune, l’uso delle bandiere è un espediente


che anticipa, come sì è anticipato, ciò che nelle carte moderne diventeranno i
confini politico-statali. In generale, i confini così segnati testimoniano un’infor-
mazione relativamente aggiornata: a parte le ovvie deformazioni delle mappa e gli
errori o difetti d’informazione, chi sovrapponga i confini degli imperi asiatici dei
portolani, dell’Atlante catalano e del Libro del conocimiento con i confini riportati
dagli atlanti storici moderni, nota una sorprendente e sostanziale coincidenza 31.

IL MONDO POLITICO DEL LIBRO DEL CONOCIMIENTO


IN RAPPORTO ALL’ATLANTE CATALANO (1375) Gran Khan (Catay)
canati di Qipchak,
Europa: Impero bizantino Chagatai
Impero, Cipro, Rodi, stati russi regni di
Turchia
26 regni Armenia Minore, Buchara -
etc. Trebisonda Cato e Sçim

Impero persiano,
8 regni africani Mesopotamia, Sultanato di Delhi,
14 stati e 2 imperi in Bagdad e 3 regni indiani
berberi Etiopia Sultanato mamelucco:
(Prete Gianni) Siria, Egitto, Arabia

Fig. 2: Il mondo politico del Libro del conocimiento in rapporto all’Atlante catalano (1375).

Il punto di forza della rappresentazione dello spazio politico nei portolani


e nel Libro del conocimiento sta nella definizione delle potenze in alcune aree extra-
europee. In primo luogo il Maghreb, con la sua frammentazione politica e dina-
stica; quindi l’Africa nera, i cui regni, pur con nomi e collocazioni misteriose (il
che non significa necessariamente che si tratti di regni immaginari, come pensano
31
Cfr. quanto si osserva, a proposito dell’esattezza dei confini asiatici nell’“Atlante”, in Viaggi e viag-
giatori nel medioevo, a cura di F. Novoa Portela, F. Javier Villalba Ruiz de Toledo, Milano, Jaca
Book, 2008, p. 39.

117
ALessAndro sAvoreLLi

alcuni interpreti), hanno qualche fondamento reale nelle informazioni che veni-
vano dalle esplorazioni atlantiche partite dai porti spagnoli 32. In Asia l’Atlante e il
Libro del conocimiento elencano regni e imperi con notevole realismo: la Persia,
l’impero di Delhi, i tre grandi canati mongoli (Gran Khan, Orda d’Oro o
Kipchaq, e Chagatay); l’area del Turkestan appare divisa nell’Atlante tra Persia a

Atlante catalano: le bandiere segnano


i confini, a est del Mar Caspio, tra:

Gran Khan

Canato di Qipciaq
(Orda d’Oro)

Canato di Ciagatay

Persia

Fig. 3: Atlante catalano: le bandiere segnano i confini, a est del Mar Caspio, tra: Gran Khan;
Canato di Qipciaq (Orda d’Oro); Canato di Ciagatay; Persia.

canato di Chagatay, ma il Libro del conocimiento vi distingue anche dominazioni


intermedie, i regni di Buchara e «Cato», non troppo diversamente da Mandeville
e dalla sua fonte principale, Hayton di Corico, autore del Fiore delle storie d’Oriente
(1307) 33. Ovunque marginalizzata, in ogni caso, è l’area grigia del ‘mito’, che

32
Libro-ed. Marino, pp. 40-67; Libro-Ms. Z, p. 164-170.
33
Libro-ed. Marino, pp. 72-78; Libro-Ms. Z, pp. 173-176. Pujades i Bataller, Les cartes portulanes,
op. cit., p. 231, tenta di datare i dati politici contenuti nell’Atlante catalano, agli anni trenta del
Trecento.

118
ATLAnTi simboLici deLLo sPAzio PoLiTico

avvolgeva in passato presunte realtà geopolitiche. Rimane sì nei portolani e nel


Libro del conocimiento, all’estremo confine del mondo, il misterioso popolo di
Atlante catalano.
Gog e Magog, al di là della muraglia cinese: si direbbe un inevitabile pegno
Potenze sul pagato
Mar Nero:

Canato di
Qipciaq

Possessi o
basi di
Genova

Impero di
Trebisonda

Impero
Bizantino

Fig. 4: Atlante catalano. Potenze sul Mar Nero: Canato di Qipciaq; Possessi o basi di Genova;
Impero di Trebisonda; Impero Bizantino.

al favoloso 34. E nell’Atlante, l’iconografia di pigmei, i cannibali, Alessandro


Magno, l’Anticristo, i Magi, Noè, le isole felici, etc. Ma si tratta di reminiscenze
colte e slegate dal contesto, prive di connotazione politica, mentre si nota la quasi
generale scomparsa del regno delle Amazzoni, che Mandeville invece conserva
caparbiamente e colloca a casaccio.
Esemplare è la ricollocazione politica e spaziale di un grande, mitico stato
medievale, quello del Prete Gianni. La sua leggenda perdura almeno fino a
Sebastian Münster: il quale per non rinunciarvi continuerà a duplicare l’Etiopia
in una Etiopia africana e una indiana, o in un’India africana e un’India asiatica,
come nel Medioevo 35. Del resto, per Ulrich von Richental l’Etiopia, come la
«Libia», era un misterioso impero a sovranità incerta, ma «unter dem Grossen

34
Ivi, p. 174-175.
35
S. Münster, Cosmographia universalis, Basileae, apud H. Petri, 1552, pp. 1145, 1159.

119
ALessAndro sAvoreLLi

Can» 36; persino Schiltberger – meno fantasioso di altri, per conoscenze dirette –
pone il Prete Gianni in una non meglio definita «enclosed Rumany» 37. Portolani
e Libro del conocimiento compiono invece un decisivo spostamento del Prete
Gianni: non più re in India, ma «patriarca» in Etiopia, protetto da un «impera-
tore» (a calco della situazione europea), in un’Etiopia finalmente solo africana –
dalla quale giungevano evidentemente notizie sulla chiesa copta 38. Rimangono in
India solo due regni tra Malabar e Bengala, cui l’Atlante catalano assegna emblemi

Atlante catalano.
Geopolitica dell’India:

Sultanato
di Delhi

Regno cristiano
di “Stefano”

Regno cristiano
di “Colombo”

Regno di Giava

Fig. 5: Atlante catalano. Sultanato di Delhi; Regno cristiano di “Stefano”; Regno cristiano di
“Colombo”; Regno di Giava.

36
Ulrich von Richental,  Das Concilium buch geschehen zů Costencz..., Augsburg, Anton Sorg,
1483, f. CXII (per l’ed. in facsimile dei mss. della cronaca, abbiamo consultato Das Konzil zu
Konstanz. 1414-1418, bearb. von O. Feger, Starnberg, Keller – Konstanz, Thorbecke, 1964; è
disponibile anche un’edizione in CD-ROM (2002), a cura del Rosgarten Museum di Costanza).
37
The Bondage and Travels of Johann Schiltberger... (1396-1327), ed. by J. Buchan Telfer, London,
Hakluyt Society, 1879, p. 52.
38
Libro-ed. Marino, pp. 60-64; Libro-Ms. Z, pp. 169-171. Billion, Graphische Zeichen, op. cit.,
p. 132, non stabilisce alcun legame tra la croce patriarcale che connota la Nubia nei portolani e
il Prete Gianni.

120
ATLAnTi simboLici deLLo sPAzio PoLiTico

‘cristiani’, forse per via della tradizione delle chiese che si dicevano fondate da San
Tommaso e della presenza dei Nestoriani.
Se si confrontano questi dati coi Viaggi di Mandeville o la Cronaca di
Richental, a parte il caso clamoroso del Prete Gianni, si constatano altre diffe-
renze: intanto il netto riferimento al sultanato di Delhi (l’unico che ne parla con
maggior chiarezza è Schiltberger, mentre in Mandeville c’è un vago cenno) 39.
Quanto alla Tartaria, ossia agli imperi mongoli, Mandeville – seguendo il Flos
Historiarum Terre Orientis di Hayton di Corico – descrive con altri nomi una
situazione vicina al Libro del conocimiento, ma vi aggiunge reami fantastici (forse
himalayani), mescolati all’arcaica terminologia degli scrittori latini 40. La geografia
politica del Libro del conocimiento rinuncia invece agli arcaismi linguistici, ma
sfuma nell’inverificabile via via che si sposta verso Est e Nord: i regni di «Sçim» e
«Oxueb» non sono identificabili con sicurezza 41, mentre, come nell’Atlante cata-
lano, non è attribuita ancora nessuna autonoma identità alla Cina meridionale
(Mancy, Mangi), sottrattasi all’impero mongolo nel 1368.
Ma peggio, certamente, avverrà poco dopo in Richental: l’immensa area
asiatica vi apparirà come un organismo indistinto, dagli incerti confini, domi-
nante su province dai nomi non identificabili e persino sull’Etiopia. Tutto ciò
avviene evidentemente in base a fonti libresche – Marco Polo e altri viaggiatori
– e senza alcun consapevolezza della confusa situazione in un momento del resto
in cui le vie dell’esplorazione europea dell’Asia, e dunque le informazioni, dopo
Tamerlano, si vanno chiudendo. I ‘regni’ vi sono moltiplicati artificialmente senza
riscontri, probabilmente per il gusto dell’ipertrofico che mescola nomi biblici,
classici moderni e ne inventa di altri: ne è un esempio l’area della Siria-Palesti-
na-Egitto. L’intera materia appare in Richental ormai fuori controllo 42. Il nesso
tra le cinque nationes del Concilio e l’assetto degli stati attraverso un compendio
universale degli emblemi dei sovrani della terra, dà luogo a un panorama farragi-
noso, nonostante lo sforzo di Richental di ottenere informazioni di prima mano
dalle delegazioni conciliari.
39
Jean de Mandeville, Le livre des merveilles du monde, éd. critique par Chr. Deluz, Paris, CNRS,
2000, p. 318; The Bondage And Travels, cit., p. 47.
40
Jean de Mandeville, Le livre des merveilles du monde, capp. XXVI-XXVII.
41
Libro-ed. Marino, pp. 74, 84; Libro-Ms. Z, pp. 173, 175.
42
Ulrich von Richental, Das Concilium buch zu Constencz, op. cit., ff. CIII-CIV, CXI-CVII. Un
regesto commentato del contenuto dell’opera, a cura di S. Clemmensen, si può consultare nella
sezione “German Armorials” del sito web: http://www.armorial.dk/. Più oggettiva è la descri-
zione, limitata però solo al alcune aree europee, di un altro partecipante al Concilio, contenuta
nel De ministerio armorum (cfr. A.A. Nascimento, Livro de arautos. De ministerio armorum,
script. anno 1416, ms. lat. 28, J. Rylands Library (Manchester), estudo codicológico, histórico,
literário, linguistico, texto crit. e trad., Lisboa, 1977; http://armorial.dk/german/Arautos.pdf ).

121
ALessAndro sAvoreLLi

ENTITÀ POLITICHE IN PALESTINA-SIRIA


secondo:

LIBRO ULRICH VON


DEL CONOCIMIENTO: RICHENTAL:
Impero di Antiochia
Regno di Jafet (Giaffa?) Regno di Aleppo
(Damasco) Regno di Siria
Regno di Tiro
“provincia di Siria” = Regno degli Esseni
ex regno franco Regno di Idumea
di Gerusalemme Regno di Betania ?
Regno di Betlemme ?
Regno di Ascalona
Vecchio della
Montagna, Assassini

Fig. 6: Entità politiche in Palestina-Siria secondo il Libro del conocimiento ed Ulrich von
Richental, Cronaca del Concilio di Costanza.

3.
Come si è osservato, nei portolani l’apposizione delle bandiere su punti
precisi della mappa non è sempre perspicua: né è esplicito di volta in volta, per la
generale assenza di legende di status, cosa la bandiera rappresenti, se una potenza
locale, un sovrano o il dominio che egli esercita su un territorio o località più
ristretta o su enclaves, teste di ponte, conquiste occasionali, domini dinastici o
coloniali. Il Libro del conocimiento si sforza, sulla base dei segni che gli offrivano i
portolani, di compilare una sintesi coerente. Anche la di poco successiva Cronaca
del Concilio di Costanza si pone il compito di tracciare un quadro dello stato del
mondo, sia per rapporto alle potenze mondane, sia alla gerarchia ecclesiastica, e di
chiarire il rapporto tra le cinque nationes rappresentate al Concilio e l’assetto dei
continenti e degli stati 43: senonché, il panorama del Concilienbuch risulta quanto
43
Ulrichs von Richental Chronik des Constanzer Concils 1414-1418, hrsg. von M.R. Buck,
Tübingen, gedrückt für den litterarischen Verein in Stuttgart, 1882, pp. 154 sgg.

122
ATLAnTi simboLici deLLo sPAzio PoLiTico

mai farraginoso, e lo diventa ancora di più quando l’elencazione e gerarchia di


potenze e territori – nonostante lo sforzo dichiarato di ottenere informazioni di
prima mano dalle delegazioni conciliari – avviene sotto forma di un catalogo
toponomastico ed emblematico-simbolico. L’impresa di un compendio univer-
sale degli emblemi dei sovrani della terra – genere diffuso negli stemmari dalla
fine del Duecento – sarà ritentata dopo il 1480 nello stemmario (Wappenbuch)
di Conrad Grünenberg, largamente dipendente da Mandeville e dalla cronica di
Richental e ancor più fantasioso 44.
Proprio questi esiti più tardi, che fanno vieppiù risaltare il modello empi-
rico-funzionale dell’emblematica dei portolani trecenteschi, rendono necessario
qualche cenno sul carattere dell’araldica di queste raffigurazioni, poiché anch’essa
marca significativamente la differenza d’approccio tra i portolani e il Libro del
conocimiento e i testi e le sintesi posteriori. La questione dunque non è indiffe-
rente, perché non si tratta di una questione tecnico-araldica, ma sta – per le sue
caratteristiche – in stretto rapporto alla nuova percezione degli spazi politici.
Le trattazioni quattrocentesce virano verso l’immaginario: forse consape-
volmente, poiché è abbastanza impensabile che ritenessero realmente usati da
sovrani e potenze lontane i simboli che vengono loro attribuiti. Sebbene il confine
tra araldica vera o d’invenzione nel medioevo sia labile, in base alla credenza
diffusa che un sistema di segni simile esistitesse in qualche forma e presso tutte
le latitudini e le culture, gli stemmi attribuiti ai territori extraeuropei appaiono
troppo ‘europei’ e troppo fantasiosamente estremi per essere credibili. Si tratta –
nella Cronaca di Richental e nel Wappenbuch di Grünenberg – di un repertorio di
emblemi che contengono o il calco di qualche figura araldica europea, o imma-
gini di esseri mostruosi e grotteschi. Attraverso questa simbologia tendenziosa
(che mima, radicalizzandola, quella malefica attribuita di consueto a pagani, infe-
deli ed ebrei nell’arte figurativa), lo spazio politico già fortemente irrealistico –
ben poco rispondente a confini e spazi autentici – sottolinea sfacciatamente (con
un ritorno alla logica delle antiche mappae mundi) la diversità religiosa, culturale
e morale dell’‘altro’. La geopolitica immaginata si trasforma così in un messaggio

44
Cfr. Armorial Grünenberg, édition critique de l’armorial de Conrad Grünenberg (1483), présenté
par M. Pastoureau, publié par M. Popoff, Milano, Orsini de Marzo, 2011, pp. 62-95 (tavv.
XXVI-XLIII): alle immagini Grünenberg aggiunge schede illustrative – in genere assai confuse –
con notizie storico-politiche desunte da Marco Polo, Mandeville, Richental e altre fonti. Si tratta
dell’ultimo grande ‘stemmario universale’ del medioevo, un genere molto diffuso fra Tre e Quat-
trocento e anche in seguito. Montaner, «El “Libro del conosçimiento” como libro de armería»,
art. cit., pp. 71-75, mette a confronto i dati del Libro con quelli di alcuni stemmari. Anche per il
Wappenbuch di Grünenberg cfr. l’edizione di S. Clemmensen nella sezione “German Armorials”
del sito web: http://www.armorial.dk/

123
ALessAndro sAvoreLLi

ideologico ed etico: la mappa morale del mondo è resa attraverso segni e simboli
ammiccanti e polemicamente orientati. Non è in fondo un caso che Sebastian
Münster, nella sua ideologia tradizionalistica e provvidenziale (messa in rilievo da
Matthew McLean), che lo lega ancora al Weltbild medievale, riprenda a corredo
delle sue descrizioni l’araldica apocrifa dei regni e imperi extraeuropei inventata
da Richental e Grünenberg e divenuta corrente in area tedesca 45.

Ulrich von Richental, Stemmi e paesi immaginari


Cronaca del Concilio di Costanza (fra cui Bethlem, Amazzoni, Etiopia,
Vecchio della Montagna,
Gog e Magog e altri regni indiani
Conrad Grünenberg, Wappenbuch e asiatici)

Fig. 7: Stemmi e paesi immaginari (fra cui Bethlem, Amazzoni, Etiopia, Vecchio della Montagna,
Gog e Magog e altri regni indiani e asiatici) secondo Ulrich von Richental, Cronaca del Concilio di
Costanza e Conrad Grünenberg, Wappenbuch.

A confronto con questi esiti, l’emblematica extraeuropea dei portolani e


del Libro del conocimiento, sebbene anch’essa in buona parte apocrifa, si segnala di
nuovo per un certo conato di modernità. Ritenuta a torto un corpus autoreferen-
ziale, quasi un miscuglio di tecnica e retorica, l’araldica dei portolani è il parallelo
di un nuovo atteggiamento tendenzialmente più oggettivo. I segni, qui, non sono

45
M. MacLean, The Cosmographia of Sebastian Münster. Describing the World in the Reformation,
Aldershot, Ashgate, 2007, pp. 322, 344.

124
ATLAnTi simboLici deLLo sPAzio PoLiTico

a b

Conrad Grünenberg, Wappenbuch, regni immaginari:

a) Mattembrione, re dei Cinocefali


b) la regina delle Amazzoni
c) Insegna tartara ripresa nella Cosmographia
di S. Münster (d)

Fig. 8: Conrad Grünenberg, Wappenbuch, regni immaginari: Mattembrione, re dei Cinocefali;


la regina delle Amazzoni; Insegna tartara ripresa nella Cosmographia di S. Münster.

invenzioni arbitrarie, né presentano le forzature ideologiche dei testi successivi di


cui abbiamo appena parlato. Si tende invece a dare un’idea delle trasformazioni
politiche recenti (come nelle bandiere dell’Asia Minore e della Turchia, l’uso di
una simbologia ibrida, bizantino-turca) o ad avvicinarsi a un quadro realistico.
I segni attribuiti in forma di bandiere ai paesi extraeuropei non presentano né il
pronunciato carattere di invenzione arbitraria, né le forzature ideologiche dei testi
successivi (salvo forse per il mondo africano, raffigurato emblematicamente con
figure antropomorfe etnicamente connotate).
In linea di massima l’emblematica politica dei portolani e del Libro del
conocimiento tende a dare un’idea, per simboli, delle trasformazioni politiche
recenti, o di aderire in maniera tutto sommato verosimile – e talora veridica
– a quella autentica. Per quanto riguarda, ad esempio, l’evoluzione politica,
è tipico, nelle bandiere dell’Asia Minore e della Turchia, l’uso di una simbo-
logia mista o ibrida, che allude a quella bizantina e insieme a quella delle
nuove dinastie turche, considerate in qualche modo provvisorie eredi della
sovranità imperiale.

125
ALessAndro sAvoreLLi

Interessanti gli emblemi autentici. Ce ne sono almeno tre, il primo è il


leone attribuito al Sultano mamelucco, che ha agganci nella tradizione locale

Sultano mamelucco
Regno di Granada

Fig. 9: Sultano mamelucco; Regno di Granada.

almeno dai tempi del sultano Baybars (1223-1277) 46 e che compare anche nella
monetazione siriaco-egiziana. L’emblema era così noto che venne ripreso in
decine di testimonianze iconografiche occidentali, per esempio nella Cronica di
Giovanni Villani o nell’affresco di Santa Croce a Firenze che rappresenta un
episodio della vita di San Francesco. Il secondo è lo stemma del regno mussul-
mano di Granata col verso coranico («non c’è dio eccetto Allah»), più volte atte-
stato. Il terzo è l’emblema del canato di Kipchaq, o Orda d’Oro, realmente atte-
stato e ben noto in Occidente per via dei contatti commerciali col Mar d’Azov e
46
Cfr. L.A. Mayer, Saracenic Heraldry, Oxford, University Press, 1999 [reprint dell’opera del
1933], p. 9; Libro-ed. Marino, p. 40; Libro-Ms. Z, p. 164. Billion, Graphische Zeichen, op. cit.,
pp. 286, 292, senza rendersi conto dell’origine mamelucca di questo segno, lo attribuisce fanta-
siosamente, insieme ad altri presenti sulla bandiere islamiche dei portolani, ad una tradizione del
«giudaismo egiziano»: si tratta di suggestioni palesemente infondate.

126
ATLAnTi simboLici deLLo sPAzio PoLiTico

le colonie genovesi. Si tratta di un tamga, ossia di un marchio tradizionale, tipico


della cultura simbolica delle popolazioni turche e delle steppe, riprodotto ad
esempio anche sulle monete dei porti del Mar Nero e della Crimea e attestato
persino come stemma vero e proprio della colonia genovese di Caffa, e perciò ben
noto in Occidente 47.

Canato di Qipchaq,
città di Caffa (Crimea)

Fig. 10: Canato di Qipchaq; città di Caffa (Crimea).

Ci sono poi altri casi ‘verosimili’. Alcuni dei segni impiegati, come
già il leone mamelucco o il verso coranico di Granata e dell’Arabia, trovano
corrispondenze con l’emblematica della «saracenic heraldry» attentamente
studiata da Leo A. Mayer, e nota perlopiù attraverso testimonianze d’ambito

47
Libro-ed. Marino, p. 86; Libro-Ms. Z, p. 176. Cfr. in proposito quanto osservano Pasch, «Les
drapeaux des cartes-portulans. L’atlas dit de Charles V», art. cit., pp. 57-58; Gerola, «L’elemento
araldico nel portolano di Angelino dall’Orto», art. cit., pp. 433-434; I. Lebedinski, «Tamgas:
flag emblems from the steppes», The Flag Bulletin, n. 184, 1998, pp. 216-232. Non riconosce
nella figura un tamga Billion, Graphische Zeichen, op. cit., p. 135, che si limita – erroneamente –
a considerarlo un non meglio precisato «monogramma».

127
ALessAndro sAvoreLLi

Bandiere (portolani, Libro del Conocimiento) a confronto con emblemi mamelucchi, monete e
motivi decorativi bizantini e islamici

Bandiere (portolani, Libro del Conocimiento)


a confronto con emblemi mamelucchi e monete islamiche

128
ATLAnTi simboLici deLLo sPAzio PoLiTico

Bandiere (portolani, Libro del Conocimiento) a confronto con


emblema mamelucco (buqya = tovaglia) e bandiere islamiche

Fig. 11: Bandiere (portolani, Libro del Conocimiento) a confronto con emblemi mamelucchi,
monete e motivi decorativi bizantini e islamici.

mamelucco. Un segno, in particolare, quello invariabilmente attribuito alla


città di Tolmeta, al confine tra Egitto e Libia, ha un significativo riscontro
nell’iconografia islamica: si tratta di una bandiera dall’aspetto molto singo-
lare e individualizzato, in forma di ‘sciarpe’ frangiate multiple appese a
un’asta 48. Anche lune, scacchiere, stelle di Salomone (o di David), e figu-
razioni analoghe si iscrivono in questo quadro e forse sono ispirate a vessilli
arabi o turchi realmente usati o reinterpretati dall’occhio occidentale. Le
stesse più generiche figure geometriche usate per la Persia, Delhi e il canato
di Chagatay, potrebbero echeggiare i classici rombi o buqia (‘tovaglia’) o i

48
Cfr. il dettaglio dell’immagine del ms. Arabe 5847 fol. 47v (Bibliothèque Nationale de France),
del 1237, che illustra la “processione del Ramadan”, ove si nota una bandiera identica. Ancora
una volta Billion, Graphische Zeichen, op. cit., pp. 289-291, si è fatto suggestionare da qualche
pallida analogia con certa simbologia ebraica, attribuendo tout court all’influenza di colonie
giudaiche l’origine di questo segno, così come delle varie ‘stelle di Salomone’ presenti sulle
bandiere attribuite ad altre città, come Semiso in Asia Minore (ibid., pp. 288-289). In entrambi
i casi si tratta di una lectio facilior, indimostrabile e di impianto filologicamente assai debole.

129
ALessAndro sAvoreLLi

‘quadrati’ contenenti versetti e formule coraniche estremamente diffusi nella


monetazione islamica (ma anche in certe raffigurazioni di vessilli militari),
o storpiare lettere alfabetiche o altre figure del repertorio simbolico arabo.
Che l’emblematica mamelucca abbia potuto costituire per i disegnatori dei
portolani un modello estendibile a terre più lontane, in fondo, non stupi-
rebbe, data la sua contiguità e vicinanza con l’Occidente. Ma il caso del leone
mamelucco e del tamga fa persino ipotizzare – è un’ipotesi tutta da verificare
e approfondire – che la monetazione islamico-turco-mongola potrebbe essere
stata per i portolani nati nell’ambiente dei mercanti e dei navigatori, uno
dei veicoli più immediati di segni (magari solo decorativi), reinterpretati in
Occidente, come emblemi veri e propri: per le bandiere, così frequenti, con
rosette stilizzate o stelle di Salomone, elementi ricorrenti della numismatica
d’oltremare, si tratta forse più che di un’ipotesi.
A proposito dell’araldica dei portolani non si può dunque parlare propria-
mente – come per gli stemmari – di «araldica immaginaria», come se si trattasse
di una variabile della pratica delle tecniche retoriche di invenzione o manipola-
zione di segni analoga a quella che porta ad attribuire insegne a Re Artù, ad Ales-
sandro, ai Re Magi o a Cristo: Nancy Marino, riassumendo la questione sbaglia
completamente su questo punto, assimilando pratiche completamente diverse 49.
Un esempio lampante lo danno gli stemmi dei Re Magi usualmente loro attri-
buiti in Germania, già dalla Cronaca del Concilio di Costanza e poi sempre copiati
per un secolo: qui siamo di fronte a una vera e propria araldica immaginaria, in
quanto i tre stemmi più o meno consapevolmente ricalcano, e non si sa certo per
quali canali e fonti, modelli usati per vari paesi dai portolani e dal Libro del cono-
cimiento, copiandoli cioè da una presuntiva attribuzione a stati reali per proiettarli
su personaggi del mito 50.
In conclusione, il caso dei portolani e del Libro del conocimiento è completa-
mente diverso. Non si tratta qui di un esercizio dell’immaginario, ma piuttosto di
un’araldica ‘imitativa’ o ‘interpretativa’, un espediente pratico di semplificazione
ottica o un possibile calco o trascrizione di un’emblematica tipica: islamico-turca,
maghrebina, vicino-orientale e perfino estremo-orientale (settore nel quale il
Libro del conocimiento diverge in parte dall’Atlante catalano). Una tecnica che
gioca sulla semplicità visiva, con sobri emblemi lineari, che identificano attraverso
‘famiglie’ di segni alcuni grandi spazi politico-culturali extraeuropei considerati

49
N.F. Marino, “Introduzione” a Libro-ed. Marino, p. XLVII.
50
Cfr quanto ne scrive A. Nagel (http://www.museenkoeln.de/home/bild-der-woche.aspx?bdw
=1998_02), mostrando il calco delle figure attribuite ai magi da quelle attribuite nel Libro del
conosçimiento a paesi africani e asiatici.

130
ATLAnTi simboLici deLLo sPAzio PoLiTico

Stemmi attribuiti ai Re Magi (U. von Richental) Bandiere attribuite a


paesi asiatici e africani
nel Libro del
Conocimiento

Fig. 12: Stemmi attribuiti ai Re Magi (U. von Richental) e bandiere attribuite a paesi asiatici e
africani nel Libro del Conocimiento.

omogenei: mezzelune e pochi altri segni relativamente comuni per l’area araba
(Siria, Egitto, Maghreb); ‘idoli’ tribali per quella africana; croci per gli stati afri-
cani e asiatici ‘cristiani’ (Etiopia, stati indiani, Georgia); quadrati, figure geome-
triche e tamga per quella turco-persiano-tartara (Turchia, canati tartari, Persia,
Sultanato di Delhi) 51. È un sistema emblematico che non ha niente a che vedere
con l’araldica immaginaria degli stemmari medievali o dei testi di Richental o
di Grünenberg, i quali costruiscono un improbabile catalogo di stemmi di pura
invenzione, attribuiti a sovrani e principi esotici, dall’aspetto «inquiétant ou
énigmatique» o addirittura «éminnement péjoratifs ou diaboliques», e in defini-
tiva concepito con intenti parodistici 52.

51
Il Catay resta più affidato all’immaginazione: l’Atlante catalano dà semplicemente tre mezzelune;
il Libro del conosçimiento la figura del Gran Khan in trono. Sulla valenza «culturale» della scelta
di questi segni apocrifi d’individuazione, ha correttamente insistito anche Billion, Graphische
Zeichen, op. cit., p. 126.
52
M. Pastoureau, «L’armorial universel de Conrad Grünenberg (1483)», in Armorial Grünenberg,
édition critique de l’armorial de Conrad Grünenberg (1483), pp. XVII, XXIII. Per un istruttivo

131
ALessAndro sAvoreLLi

Nel Libro del conocimiento e nei portolani trecenteschi, viceversa, lo


sforzo modernizzante di restituire un’immagine realistica dello spazio politico è
simmetrico al tentativo di connotare questo spazio con una simbologia speci-
fica esemplata su modelli autentici, e non demandata al bestiario e alle drôl-
eries o «grilli» – per dirla con Baltrušaitis – dell’imagérie gotica occidentale e del
«medioevo fantastico».

confronto con l’araldica propriamente ‘immaginaria’ degli stemmari europei, cfr. per es. gli stemmari
Vijnbergen e Vermandois: http://www.briantimms.fr/Rolls/wijnbergen/0wnintroduction.html
http://www.briantimms.fr/Rolls/vermandois/rois01.html

132
ATLAnTi simboLici deLLo sPAzio PoLiTico

Appendice

Il Libro del conocimiento, i portolani e i Viaggi di Mandeville: dati a confronto

Nelle tabelle che seguono è messo a confronto il quadro politico del mondo come risulta dal Libro
del conocimiento con altre fonti dell’epoca. Abbiamo raggruppato i territori in distinte aree geogra-
fico-storiche: all’interno di esse, sono considerati insieme territori e località indicati con sufficiente
chiarezza nel Libro come appartenenti alla medesima dominazione politica, ma il dato è dubbio per
la frequente ambiguità dell’esposizione, le incongruenze e le differenze tra i vari mss. dell’opera.

Nelle col. 1, 2, e 3 sono riportati i dati desunti dal Libro del conocimiento, e cioè:
col. 1) il rango attribuito a un territorio o località
col. 2) il nome di un territorio o località (principalmente secondo l’ed. Marino)
col. 3) il nome attuale o storico (si è tenuto solo parzialmente conto delle ipotesi di identificazione
di territori o città, variamente proposte dai vari editori del Libro del conocimiento).

Nella col. 4):


– i segni = o ≈ indicano territori o località cui sono attribuite bandiere uguali o simili a quella della
potenza o territorio che precede immediatamente (es.: Sardegna = Aragona, Maiorca ≈ Aragona)
– il segno l indica i vessilli sicuramente riferibili a una città (o città-stato) e non a uno stato o
signoria territoriale.

Le colonne seguenti (V, d, D, P, A, S) indicano la presenza di una bandiera attribuita allo stesso terri-
torio o località (indipendentemente dal fatto che la bandiera sia uguale o meno, a quella del Libro del
conocimiento) dai seguenti portolani: V = Perrino Vesconte, 1327; d = A. Dalorto, 1327; D = A. Dulcert,
1339; P = Pizzigani, 1367; A = Atlante catalano, 1375; S = G. Soler, 1380. I dati relativi al portolano
Pizzigani sono solo indicativi per la scarsa leggibilità dei vessilli, dovuta alle non buone condizioni di
conservazione. Le presenze nei portolani divergono in parte da quelle proposte nella tavola di concor-
danze compresa in A. Montaner, in Libro del conocimiento (Libro-Ms. Z), pp. 70-75.

Nell’ultima col. (JM), solo per i paesi extraeuropei, il segno » indica la menzione del territorio o
potenza politica nei Viaggi di J. Mandeville.

1 – Europa

a) Penisola iberica:

1 2 3 4 V d D P A S
reyno Castilla Castiglia x x x x x x

133
ALessAndro sAvoreLLi

1 2 3 4 V d D P A S
reyno Portogal Portogallo x x x x x
reyno Navarra Navarra
reyno Aragon Aragona x x x x x x
rey Çerdeña Sardegna = x x x x
rey Mayorca Maiorca ≈ x x x x x
reyno Granada Granada x x x x

b) Italia:

1 2 3 4 V d D P A S
señor de
çibdat Genova Genova l x x x x x x
isla Corçega Corsica = x x
reyno Lonbardia Lombardia
señor Pisa Pisa l x x x x x x
señor de
çibdat Florençia Firenze l x x x x x x
cabeza de
imperio Roma Roma l x x x x
reyno Napol Napoli x x x x
reyno Çeçilia Sicilia x x x x
señor Venecia Venezia l x x x x x

c) Francia:

1 2 3 4 V d D P A S
reyno Françia Francia x x x x x x
señor Bayona Bayonne
señor Tolosa Tolosa
señor Narbona Narbona = x x x x x
condado Flandes Fiandra x x

d) Isole britanniche:

1 2 3 4 V d D P A S
reyno Escoçia Scozia x x x x
reyno Inglaterra Inghilterra x x x x x

134
ATLAnTi simboLici deLLo sPAzio PoLiTico

1 2 3 4 V d D P A S
rey desta isla Irlanda/Ibernia Irlanda = x x x

e) Impero:

1 2 3 4 V d D P A S
ynperio Alemaña Germania x x x x
reyno Boemia Boemia x x

f ) Polonia:

1 2 3 4 V d D P A S
reyno Polonia Polonia x x
reyno Litefama Lituania ≈
reyno Leon Leopoli, Galizia ≈ x

g) Ungheria - Schiavonia:

1 2 3 4 V d D P A S
reyno Ungheria x x x x x
reyno Transilvania
reyno señ. des-
tos montes Exclavonia Schiavonia x x x x
Boxnia Bosnia =
rey desta terra Narent Narenta x x x x

h) Scandinavia:

1 2 3 4 V d D P A S
reyno Dacia Danimarca x x x x
Frisa Frisia =
reyno Suevia Svezia x x x x
rey destas
islas Gotlandia, Oxilia Gotland, Ösel ≈ x
reyno Gotia Götaland (Svezia) ≈
reyno Noruega Norvegia x x
rey desta isla Irlanda Islanda? = x
rey desta isla Salanda Shetland? Sjaelland? =

135
ALessAndro sAvoreLLi

2 – Bisanzio e stati cristiani nei Balcani, Asia Minore e Mar Nero

1 2 3 4 V d D P A S JM
rey desta isla Morea Morea
ynperio Costantinopla Costantinopoli x x x x x x
reyno Salonico Salonicco = x x x x x
reyno Lodomago ? ≈
reyno Meseber o Greçia ? Mesembria*, Grecia? ≈
reyno Castelle ? ≈ x
reyno Palolimen ? = x x
cabeza de
reyno Veçina Widdin ? (Bulgaria ?) x? x x
ynperio Trapesonda Trebisonda x x x x x x »
reyno Semiso Samsun x x x x x
Orden Rodas Rodi, Ord. di S.
Giovanni x x x x x
reyno Armenia Armenia (Minor) x x x x x x »
rey Chipre Cipro x x x x x
reyno, çibdat Feradelfia Filadelfia x x x
reyno Sant Estopoli Sebastopoli (Ge-
orgia) x x x x x
* oggi Nesebur (Bulgaria)

3 – Turchia

1 2 3 4 V d D P A S JM
çibdat Satalia Atalia (Panfilia) x x x x »
rey Turquia Turchia x x x »
reynado Savasco Sebaste, Sivas ? ≈ x x x x
rey Cunyo Iconio ≈ x x x x
reyno Antroçeta e Corincho Tarso e Corico x
reyno Atologo Aydin? x x

4 – Domini del Sultano mamelucco: Siria, Egitto, Arabia

1 2 3 4 V d D P A S JM
provinçia Iherusalem Gerusalemme »
terra, rey Jafet Giaffa ? (Siria)
(Damasco) x x x »

136
ATLAnTi simboLici deLLo sPAzio PoLiTico

1 2 3 4 V d D P A S JM
reyno Egipto Egitto x x x x x x »
rey (Soldan) Alixandria Sultano Mamelucco,
Alessandria x x x x x x »
reyno Arabia Arabia x »
ysla Sicroca Socrota =

5 – Maghreb/Africa mediterranea

1 2 3 4 V d D P A S JM
rey çibdat Luchon Lukk (Libia) x x x
rey Tolometa Tolmeta (Libia) x x x x x
rey, çibdat Tripul Tripoli (Libia) x x x x x
rey, çibdat Africa Mahdia (Tunisia) x
rey, çibdat Tunez Tunisi x x x x
rey, çibdat Bona Bona (Algeria) x x x x
rey, çibdat Costantina Costantina (Algeria)
rey, çibdat Bugia Bugia (Algeria) x x x x x
rey, çibdat Birschan Birshak* (Algeria) x x x x
reyno Tremecen Tlemcen (Marocco) x x x x
rey, çibdat Çepta Ceuta (Marocco) x x x
rey Benamarin Marocco x x x
rey, çibdat Marruecos Marrakesh x
tierra Çuçia Sous? (Marocco)
* città oggi scomparsa

6 – Africa nera

1 2 3 4 V d D P A S JM
rey, çibdat Sulgumença Sigilmasa*
reyno Guinoa Guinea x x
rey, çibdat Tocoron ? = x
reyno Tauser ? = x x
reyno Organa ? x x
reyno Tremisin ? x x
reyno Dongola Dunqula (Sudan) x
rey Ynsula Gropis ?
reyno Gotonie ?

137
ALessAndro sAvoreLLi

1 2 3 4 V d D P A S JM
rey Amenuam ?
ynperio Abdeselib, Prete
Gianni Nubia, Etiopia x x »
patriarca x
ynperio Magdasor Mogadiscio
* città in Algeria, oggi scomparsa

7 – Persia, Bagdad, Mesopotamia

1 2 3 4 V d D P A S JM
ynperio Persia x x »
reyno Saldania ? =
reyno Caraol ? =
rey, pro-
vinçias Bandach, Caldea Bagdad, Caldea x »

8 – India

1 2 3 V d D P A S JM
reyno Dilini Sultano di Delhi x
reyno Viguy ? =
reyno Oxanap ? =
reyno Java e Trapovana Giava e Sumatra? »

9 – Cina, Tartaria

1 2 3 V d D P A S JM
ynperio Catayo, Gran Can Cina, Impero
Mongolo x »
reyno Sçim ? =
ynperio Armalet Canato di Ciagatay x »?
reyes Bocarin e Cato Buchara e
Kattakurgan »
ynperio Uxbeco, imp. de Sara Saray, Canato di
Quipciaq x x x x x »
cabeça de
reyno Pidea ? (Ucraina), vassallo = x
reyno Canardi ? vassallo =

138
ATLAnTi simboLici deLLo sPAzio PoLiTico

1 2 3 V d D P A S JM
reyno Tana Tana (Ucraina),
vassallo = x x x*
reyno Comania Cumania, vassallo =
rey Dernent Derbent (Russia),
vassallo =
* Pizzigani: Tana = Venezia

10 – Russia

1 2 3 V d D P A S JM
reyno Sabur, Castrama ?, Kostroma =*
reyno Roxia Russia
reyno Xorman ?
reyno Sicça, Nogarado Scizia, Novgorod »
reyno Maxar ?
rey Ircania »
* = Canato di Quipciaq

Nei 6 portolani considerati si trovano altre bandiere di località che non compaiono nel Libro del
conocimiento: salvo eccezioni, si tratta di bandiere che identificano con certezza singole città e non
stati o territori.

V d D P A S
Almeria x
Galizia (Spagna) x x
Barcellona l x x x x x
Bretagna x x
Marsiglia l x x x x x x
Montpellier l x x x x x
Milano l x
Padova l x
Aquileia l x
Albenga l x
Bologna l x
Ravenna l x
Siena l x
Savona l x x x x x

139
ALessAndro sAvoreLLi

V d D P A S
Ventimiglia (o Monaco ?) l x x x x
Gaeta l x
Messina l x
Napoli (città) l x
Zara l x x? x
Ragusa l x x?
Durazzo x x? x
Varna (Bulgaria) x x x
Focea x x x x
Creta (=Venezia) x
Armenia (Maior) x
Gabes (Tunisia) x x
Orano x
Melilla x
Tripoli di Siria x
Aden x
Jaffa o Tiro ? x
Caffa (=Genova) x x
Maurocastro (Ucraina)* x
Mosca? (Russia)* x
Sinope (Asia Minore) x
Re Stefano (India) x
Re Colombo (India) x
* già Akkerman (in turco), oggi Bilhorod-Dnistrovsky.

140
O MUNDO COMO LUGAR DE PODERES
NO «LIVRO DO CONHECIMENTO»

Paulo Catarino Lopes*

Pelo seu conteúdo e estrutura narrativa, os livros de viagens constituem


uma fonte privilegiada quer para o estudo da concepção do mundo durante a
Idade Média, quer para a análise da realidade coeva da sua própria elaboração.
Autêntico guia prático para viajar, pois fornece preciosas informações geográficas
e históricas acerca das regiões visitadas, o Livro do Conhecimento 1 é um exemplo
paradigmático deste facto.
Para além de constituir uma compilação notável de bandeiras e escudos
heráldicos, e de conter uma preciosa componente de mirabilia, que inclui diversos
seres monstruosos, o LC destaca-se no contexto dos relatos de viagens medievais
pelo facto de o seu conteúdo oferecer uma mundividência que podemos imaginar
representativa dos homens ibéricos do século XIV. Trata-se de uma síntese histó-
rico-geográfica que expressa o modo como a península olhava o mundo, fazendo
com que não fosse já a Bíblia a dar sentido ao espaço, mas a viagem e tudo aquilo
que com ela se relaciona, seja o encontro com um meio estranho, seja a infor-
mação histórica, política ou geográfica dos territórios percorridos.

* Do Instituto de Estudos Medievais (IEM – FCSH/NOVA); Centro de História d’Aquém e d’Além


Mar (CHAM – FCSH/NOVA); Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). Artigo desenvol-
vido no âmbito de um Projecto de Pós-Doutoramento financiado pela Fundação para a Ciência
e Tecnologia (SFRH/BPD/97963/2013)
1
A partir deste ponto do texto, a designação do documento surgirá sempre de forma abreviada:
LC.

141
PAuLo cATArino LoPes

Noutra vertente, o LC é um texto de vanguarda que antevê o moder-


nismo, pois contém uma vertente utilitária (constitui uma perfeita relação entre
cartografia e conhecimentos letrados) e dá a ver o mundo como um conjunto de
poderes, claramente repartidos, e não de comunidades. É uma concepção nobi-
liárquica do espaço. Tudo é pertença de alguém.
Examinar as virtuosidades deste singular documento enquanto instru-
mento de apreensão, compreensão e representação, por um lado, da realidade
coeva do autor e, por outro, da forma como então se concebia o mundo na Penín-
sula Ibérica, constitui o principal objectivo do presente artigo.

1. Cópias manuscritas existentes

Actualmente existem quatro cópias de um original desconhecido, estando


duas, os manuscritos N e Z, incompletas:

• Manuscrito N (Madrid, Biblioteca Nacional, Ms. 9055)


• Manuscrito R (Salamanca, Bilioteca de la Universidad, Ms. 1890)
• Manuscrito S (Madrid, Biblioteca Nacional, Ms. 1997)
• Manuscrito Z (Munique, Bayerische Staatsbibliothek, Cod. Hisp. 150)

A primeira edição de um manuscrito do LC foi realizada por Marcos


Jiménez de la Espada, em 1877 2. Esta edição pioneira, e durante muito tempo
única, baseia-se no manuscrito S e anota algumas variantes de R e N. Partes desta
edição foram publicadas em várias obras, salientando-se o facto de a mesma ter
servido de base à tradução inglesa do LC por Clements Markham, em 1912 3.
De resto, em 1980, esta edição de 1877 foi reproduzida em fac-símile com uma
apresentação por Francisco López Estrada.
A edição da obra em microfichas, em 1993, por Nancy F. Marino, oferece
uma transcrição paleográfica de S, R e N, com as suas concordâncias, mas sem
ilustrações.

2
Cf. Libro del conosçimiento de todos los reynos et tierras et señoríos que son por el mundo et de las
señales et armas que han cada tierra et señorío por sy et de los reyes et señores que los proueen, escrito
por un franciscano español á mediados del siglo XIV, Marcos Jiménez de la Espada (ed.), Madrid,
T. Fortanet, 1877.
3
Cf. Book of the knowledge of all the kingdoms, lands, and lordships that are in the world, and the
arms and devices of each land and lordship, or of the kings and lords who possess them, Clements
Markham (ed.), London, Hakluyt Society, 1912; Kraus Reprint, Millwood, 1967.

142
o mundo como LugAr de Poderes no «Livro do conhecimenTo»

Finalmente, em 1999, com base na descoberta recente de uma quarta


cópia do LC, María Jesús Lacarra, María del Carmen Lacarra Ducay e Alberto
Montaner trouxeram à luz a edição do manuscrito Z 4.
Estes investigadores demonstraram nos seus estudos introdutórios à edição, as
diferenças paleográficas e codicológicas existentes entre os quatro manuscritos. Com
base nos dados aí fornecidos, concluímos que, ao nível do conteúdo literário válido
para uma análise historiográfica do LC, existe uma evidente linha comum entre os
manuscritos. O que, aliado ao facto de o manuscrito Z superar em interesse artístico,
heráldico e, consequentemente, crítico as cópias já anteriormente conhecidas, permite
avançar hipóteses no âmbito da temática da visão ibérica do mundo.
A existência actual de quatro cópias manuscritas de um original perdido
implicou, ao nível metodológico, algumas opções da nossa parte no estudo do
LC. Com efeito, neste contexto, optámos pela análise da edição de duas delas, as
respeitantes aos chamados manuscritos S e Z.
Esta opção fundamenta-se, sobretudo, no facto de ambos os manuscritos se
complementarem, o que é muito importante dada a existência de uma lacuna em Z.
Quando tomados em conjunto, S e Z permitem obter um modelo que consideramos
bastante próximo daquele que seria o manuscrito original. Por outro lado, o manus-
crito S, de proveniência castelhana, está completo e não difere substancialmente dos
códices N e R, igualmente castelhanos. As poucas diferenças existentes desaparecem
quase totalmente quando o manuscrito S é complementado com Z.
De salientar que o manuscrito Z – uma cópia tardia realizada em Aragão
na segunda metade do século XV sobre algum original castelhano perdido –
constitui o exemplar mais rico do ponto de vista artístico e heráldico (figuras,
bandeiras e escudos), ainda que esteja incompleto (falta cerca de 20% do texto
original). Para além disso, veio trazer uma nova luz sobre diversas problemáticas
fundamentais que rodeiam o LC, nomeadamente ao nível da datação e da autoria.

2. A autoria e a datação do LC

Enigmas que rodearam o LC desde que começou a ser alvo de estudo


prendem-se com a autoria e a datação do mesmo. Quem é, de facto, o autor do
texto? E quando foi redigido o LC?

4
Cf. Libro del conosçimiento de todos los rregnos et tierras et señorios que son por el mundo, et de
las señales et armas que han, María Jesús Lacarra, María del Carmen Lacarra Ducay y Alberto
Montaner (ed.), ed. facsimilar del Manuscrito Z (Múnich, Bayerische Staatsbibliothek, Cod.
Hisp. 150), Zaragoza, Institución “Fernando El Católico” (CSIC), 1999.

143
PAuLo cATArino LoPes

Em relação à autoria, avançamos a hipótese de o anónimo criador do


LC ser um letrado leigo e não, como durante muito tempo se defendeu, um
franciscano. Era, sem dúvida, bom conhecedor dos mapas da época e com
acesso quer a esses mapas, quer às obras literárias clássicas, bem como aos
armoriais coevos.
De salientar que, apesar de revelar em determinadas ocasiões um certo
conhecimento da Antiguidade, o autor evidencia mais segurança e amplitude no
conhecimento dos saberes da geografia, da cartografia, da política, do comércio e
da história do que nos da teologia ou das artes liberais.
Os dados extraídos da fonte fazem-nos assim avançar duas possibili-
dades. A primeira de que o autor do LC estaria de alguma forma ligado à
actividade comercial e ao mundo urbano, muito provavelmente através da
comunidade hebraica de Sevilha ou, sobretudo, de Maiorca, dada a proxi-
midade com o mundo mercantil da periferia não cristã, ou seja, o Norte de
África e o Médio Oriente, e dado o peso evidente da cartografia maiorquina
no LC. A segunda, tendo em conta o recurso que faz da heráldica e a visão do
mundo daí resultante, de que o autor é alguém eventualmente associado ao
universo aristocrático palaciano, ou seja, um cortesão. Também aqui a ligação
ao mundo urbano é pertinente.
No que concerne à datação da obra, e não colocando em dúvida a
data de nascimento apresentada pelo próprio autor no texto, a hipótese que
consideramos mais adequada é a de que em torno de 1385, o autor redigiu
um texto que teve por base a sua própria experiência, as informações que lhe
chegavam por terceiros, os dados fornecidos pelas obras literárias clássicas
que ia consultando e, sobretudo, os dados contidos em um ou mais mapas
concebidos entre 1350 e 1375. A partir de então e até pouco depois de 1390
efectua alguns acrescentos pontuais relativos a acontecimentos recentes de
que ia tendo notícia e que considerava fundamentais 5. Exemplos destes acres-
centos serão as referências ao Grande Cisma do Ocidente, à conquista da ilha
de Eubeia pela República de Veneza e à morte do genovês Lanzarotto.

5
Acerca desta questão veja-se “El Libro del Conosçimiento: un viaje alrededor de un mapa”, op.
cit., pp. 83-84; Martín de Riquer, “La heráldica en el Libro del conoscimiento, por tercera vez”,
op. cit., pp. 150-151; Maria Jesús Lacarra y Alberto Montaner, “Análisis codicológico y tradición
del manuscrito Z” in Libro del conosçimiento de todos los rregnos et tierras et señorios que son por el
mundo, et de las señales et armas que han, op. cit., pp. 22-23; Peter E. Russell, “La heráldica en el
Libro del conoscimiento”, op. cit., p. 690.

144
o mundo como LugAr de Poderes no «Livro do conhecimenTo»

3. Uma vertente didáctica

O LC é, antes de tudo, um relato de viagens, cujo esqueleto assenta na


narração de um vasto itinerário pelas partidas do mundo então conhecido. No
entanto, todo o desenvolvimento discursivo tem por alicerce uma clara intenção
didáctica, geográfica e histórica. Afinal, como o próprio título da edição de
Jiménez de la Espada indica, trata-se do «Libro del conosçimiento de todos los
reynos et tierras et señoríos que son por el mundo et de las señales et armas que
han cada tierra et señorío por sy et de los reyes et señores que los proueen» 6.
Diversos são os momentos em que a feição pedagógica do LC sobressai
como fundamento discursivo. No entanto, um existe que se destaca pela clareza
e objectividade ímpares, a saber quando o autor declara que «Los camjnos çiertos
para Catayo son dos: (…)» 7. Aqui a obra impõe-se como um genuíno guia
geográfico.
A este propósito, Joaquín Rubio Tovar assinala que «El título del Libro
señala bien claro que su objetivo es dar a conocer noticias de una determinada
realidad; lo importante parece, pues, la información que se transmite.» 8
Assim, na essência, o leitor do LC está perante uma síntese dos conheci-
mentos geográficos coevos da concepção da própria obra, complementada com
informações de história, política e heráldica.
Consideramos, no entanto, que o mais importante é a tudo isto estar
subjacente um forte propósito de dar a conhecer a forma nobiliárquica como
o mundo está organizado. Por outras palavras, é uma organização senhorial do
espaço que o autor pretende revelar.
Em suma, o LC é um relato de viagem e um compêndio geográfico no
sentido didáctico do termo. Nesta medida, o espaço é concebido de forma dual:
por um lado, surge-nos o espaço a percorrer, marcado pela nomeação de lugares
sucessivos de forma a induzir uma apropriação simbólica, conforme resulta da
utilização de artíficios discursivos do tipo “vine” e “llegamos”, já que tornam
verosímil a ilusão espacial de movimento; por outro, surge-nos o espaço enquanto
fonte de aprendizagem, que tem na apresentação dos escudos heráldicos dos prin-
cipais lugares visitados e na exposição dos caminhos certos para Cataio o seu
expoente máximo:
6
Libro del conosçimiento de todos los reynos et tierras et señoríos…, Marcos Jiménez de la Espada
(ed.), op. cit..
7
ms Z, escudo XCII in Libro del conosçimiento de todos los rregnos et tierras et señorios que son por el
mundo, et de las señales et armas que han, María Jesús Lacarra, María del Carmen Lacarra Ducay
y Alberto Montaner (ed.), op. cit..
8
Joaquín Rubio Tovar (ed.), Libros españoles de viajes medievales, Madrid, Taurus, 1986, p. 63.

145
PAuLo cATArino LoPes

«Los caminos ciertos para catayo son dos el vno es por costantinopla et
trauesar el mar mayor, et entra por el mar de letana et entra por tierra de
auegazia et dende entrar por tierra del Rey dauid et pasar apres de armenia
la mayor et atrauesar todo el reyno de armenia la mayor et yr al puerto del
fierro et de si entrar enel mar de sara et yr a la ysla de janula por el golfo de
monimenti et salir en la ciudad de de trastago et dende tomar camino para
norgancio. et desende trauesar los montes caspios et de si a la ciudad de
cato et dende al reynado de bocarin et atrauesar toda asia que non fallara
ciudades nin villas fasta el jmperio de catayo El otro camino es entrar enel
mar mediterraneo et yr a la ysla de chipre et dende a armenia la mayor et
dende a la ciudad de sauasto que es en la turquia et yr camino fasta el rio
eufrates et trauesallo en la ciudad de argot et trauesar el jmperio de meso-
potania et de si llegar al rio de ar et trauersalo por el reyno de la eglesia que
es el jmperio de persia et trauesar toda persia et yr por la ciudad de toris et
dexar el mar de sara a la parte de siniestra et trauesar todo el reyno de siras
que no ay ciudad nin villas et trauesar otrosi el reynado de sarmagant et yr
siempre contra el leuante por el reynado de sçim. Esta scim no es de la que
de suso fablamos porque la otra sçim es en jndia la alta et confina con el
mar oriental el qual confina con el jmperio de catayo.» 9

O tópico, a nível espacial, que torna o LC um documento único é o seu carácter


totalizador, ou seja, a intenção primordial de incorporar todo o espaço conhecido no
relato, ainda que seja apenas mediante simples menções 10. É por isso que o LC acaba
por funcionar como um relato cartográfico e um imenso mapa “cartografado” em
palavras. Como o próprio título indica, trata-se de compreender nada menos que
«todos los reinos e tierras e señoríos que son por el mundo». Mas aqui impõe-se uma
ressalva: não se trata de um mapa convencional, longe disso; ao invés, é um mapa
vivo, dinâmico e pleno de acção, que na figura do seu protagonista/viajante constan-
temente nos sugere lugares, acontecimentos, lendas e bandeiras.
Ele não fica à espera que o “visitem”, como acontece com os tradicionais
planos cartográficos. Antes interpela-nos, chamando a nossa atenção para este
ou aquele pormenor que distingue o lugar visitado. Raras vezes um documento
geográfico medieval foi tão interactivo: se desejar ir para Cataio pode ir por este
caminho, mas também pode optar por aquele… a decisão é sua.

9
ms. S, escudo LXXVIII in Libro del conosçimiento de todos los reynos et tierras et señoríos…,
Marcos Jiménez de la Espada (ed.), op. cit..
10
Cf. Miguel Ángel Pérez Priego, “Estudio Literario de los libros de viajes medievales” in Epos, vol.
I, 1984, pp. 217-239.

146
o mundo como LugAr de Poderes no «Livro do conhecimenTo»

Isto também faz com que o LC vá muito para além da tradicional concepção
religiosa do espaço, que se exprime na repartição simplista do mundo em terri-
tório cristão e território infiel. Esta concepção está obviamente presente – França
é território cristão, ao passo que o Egipto é muçulmano –, mas não é de forma
alguma um factor determinante, pois o mundo surge antes representado numa
perspectiva essencialmente nobiliárquica, ou seja, como um amplo conjunto de
senhorios simbolicamente diferenciados através da figuração armorial. Isto para
além de que muitos destes espaços de poder se encontram sob o domínio de
povos gentios, como acontece na África subsariana e no Extremo Oriente.
Neste ponto é pertinente evocar o tópico do público leitor dos livros de
viagens tardo medievais. Com efeito, nos finais do século XIV e ao longo do século
XV, o público ibérico a que se destinavam os livros de viagens pertencia sobretudo
aos círculos cavaleiresco e aristocrático 11. Isto porque estas obras correspondiam,
mais do que a uma ideologia clerical e letrada, à mentalidade e formas de vida
cavaleiresca que marcaram a sociedade peninsular do final de Trezentos e, sobre-
tudo, da centúria de Quatrocentos.
Dito de outro modo, os fiéis e entusiastas círculos nobiliárquicos, ávidos
de narrativas que inflamassem o seu espírito de aventura e que, em última análise,
legitimassem culturalmente o próprio ambiente vivido na época – no caso portu-
guês projectava-se a expansão para o Norte de África –, absorviam de forma parti-
cularmente intensa os testemunhos, reais ou imaginários, da prática dos cami-
nhos do mundo.
Enquanto livro de viagens detentor de uma determinada visão do mundo,
o LC está já imbuído deste fenómeno. Nele está patente a orientação e o gosto
cavaleirescos, expressos na intenção clara do texto circular como um tratado de
geografia política e como uma exposição heráldica das armas de cada um dos
lugares e senhorios do mundo 12.
A isto juntamos o facto de, os leitores coevos do LC interiorizarem os
textos de viagens de uma forma que nada tem a ver com o procedimento actual.
Centravam a sua atenção no todo da obra, não operando uma clara distinção
entre o facto e o ficcional. O texto tinha por função preencher um vazio e quebrar
uma rotina, projectando o leitor no próprio espaço e tempo do texto. Assim,
este não se limitava a simplesmente ler a obra; antes interiorizava-a fazendo das
referências fornecidas pelo autor as suas próprias referências. O autor, por sua
vez, era decisivamente influenciado no processo de criação da obra pelo horizonte
de expectativas do público a que esta se destinava. Um e outro influenciavam-se

11
Cf. Miguel Ángel Pérez Priego, op. cit., pp. 235-236.
12
Idem, ibidem, pp. 236-237.

147
PAuLo cATArino LoPes

reciprocamente, num processo que podemos definir como pendular de criação e


recepção literárias.

4. Viagem real ou viagem imaginária

O LC diz respeito a uma viagem real ou a uma viagem ficcional, mero


produto da imaginação do seu autor?
O estado actual da investigação 13 considera, de forma unânime, a viagem
descrita no LC como ficcional. Daqui resulta que a obra inscreve-se no género
específico dos livros de viagens medievais imaginárias 14 – livros em que a leitura
das auctoritas 15, o estudo dos mapas mais ou menos contemporâneos e a utili-
zação das lendas orais e dos testemunhos de viajantes coevos substituem, em
grande medida, os acontecimentos reais vividos pelo próprio autor.
Esta posição veio contrariar a tese, maioritariamente defendida ao longo
do século XIX, de que o relato apresentado no LC correspondia de facto a uma
viagem real. A encabeçar a fileira dos defensores desta premissa destacava-se
Marcos Jiménez de la Espada, o célebre investigador que, em 1877, editou pela
primeira vez o LC.
No entanto, consideramos também a possibilidade de o autor/narrador ter
ele próprio protagonizado várias das deslocações incluídas no todo do trajecto –
muito provavelmente em épocas diversas daquela a que corresponderá este relato
–, bem como a possibilidade de que tenha recebido informação directamente de
outros viajantes.
Por outras palavras, tomada como um todo, é certo que o autor não realizou
a viagem descrita no LC, impraticável, aliás, para a época. Contudo, é bastante
provável que tenha percorrido algumas das rotas descritas no texto ou então que
tenha recebido a informação sobre as mesmas em primeira mão. Desta forma,
esbate-se qualquer investida contra o valor do LC enquanto relato de viagem
e enquanto fonte preciosa para o estudo da história, da cultura, da geografia e,
sobretudo, da mentalidade medievais de meados e finais de Trezentos.
Alinhamos assim ao lado de Francisco López Estrada – autor do prólogo à
reimpressão fac-similar da edição de 1877 de Marcos Jiménez de la Espada 16 –,
13
Investigadores como, por exemplo, María Jesús Lacarra, Jean Richard, Joaquín Rubio Tovar e
Paul Zumthor.
14
Categoria de que fazem parte textos como o famoso relato de João de Mandeville.
15
Autores clássicos e medievais considerados a autoridade suprema em determinada matéria.
Exemplos maiores são Heródoto, Santo Agostinho e Santo Isidoro de Sevilha.
16
Cf. Libro del conosçimiento, Francisco López Estrada (ed.), Barcelona, El Albir, 1980.

148
o mundo como LugAr de Poderes no «Livro do conhecimenTo»

Jean Richard 17 e Martín de Riquer 18 contra as posições mais extremadas de


autores como Peter Russell 19. Francisco López Estrada defende que:

«esta reunión de notícias (…), algunas de las cuales pueden ser verídicas
y proceder incluso de su experiencia, otras verosímiles, comunicadas por
otros, y otras (sobre todo, las más lejas de África y Ásia) evidentemente
procedentes de relatos ficticios, através de tradiciones literarias, o inven-
tadas por la vía de la maravilha, propícia en todo viajero.» 20

Para além de cenários geográficos razoavelmente descritos e de pequenos


trajectos verosímeis, o texto apresenta diversos factos, personagens e aconteci-
mentos inequivocamente verídicos.
Neste ponto, e no sentido de consolidarmos a nossa posição, achamos
conveniente abordar a questão da distinção – e da própria classificação em
si – entre “real” e “fictício”. Sintetizando posições antes argumentadas por um
investigador português, Peter Russell afirma estar de acordo com Armando
Cortesão, que escreveu a respeito: «“Não me admira que o frade, homem
indubitavelmente lido e dotado de fértil imaginação, tivesse escrito a sua
fantástica história; o que me surpreende é que tenha havido pessoas cultas
que em tempos modernos pudessem ter acreditado em tão absurda e eviden-
temente impossível viagem”» 21.
Ora, ao falarem aqui de “tempos modernos”, Cortesão e, através dele,
Russell referem-se à primeira fase dos Descobrimentos e a figuras como Jean de
Bettencourt e D. Henrique, ou seja, à Baixa Idade Média, período onde esta
distinção não se colocava da mesma forma que a colocamos agora. Ou seja,
ambos expressam uma opinião «apropriada às realidades de hoje, mas que se
revela anacrónica e deformante quando aplicada à observação do passado.» 22

17
Cf. Jean Richard, “Voyages réels et voyages imaginaires, instruments de la connaisance
géographique au Moyen age” in Culture et travail intellectuel dans l’Occident médiéval, Paris,
Centre National de la Recherche Scientifique, 1981, pp. 211-220.
18
Cf. Martín de Riquer, “La heráldica en el Libro del conoscimiento, por tercera vez” in Letters
and Society in Fifteenth-Century Spain: Studies presented to P. E. Russell on his Eightieth
Birthday, Alan Deyermond and Jeremy Lawrance (ed.), Oxford, The Dolphin Book Co.,
1993, pp. 149-151.
19
Cf. Peter E. Russell, “La heráldica en el Libro del conoscimiento” in Studia in Honorem Prof.
Martín de Riquer, Jaume Vallcorba (ed.), Barcelona, Quaderns Crema, 1987, pp. 687-697.
20
Libro del conosçimiento, Francisco López Estrada (ed.), op. cit., pp. 5-6.
21
Peter E. Russell, op. cit., p. 696.
22
Georges Duby, Sociedades Medievais, Lisboa, Terramar, 1999, p. 8.

149
PAuLo cATArino LoPes

María Jesús Lacarra, Jean Richard 23, Francisco López Estrada 24 e Paul
Zumthor alertam para o facto desta distinção entre livros de viagem reais e fictí-
cios ser pouco operativa. María Jesús Lacarra salienta mesmo que «las categorías
de verdadero, falso, realidad y ficción, literatura e historia nunca han resultado
tan inoperantes como al intentar aplicarlas a este terreno» 25.
Estabelecer divisões estanques entre “real” e “imaginário” para a época
coeva da concepção do LC não só é um exercício anacrónico como é também um
procedimento nada proveitoso no que toca a compreender realmente o impacto
do texto junto do público receptor. A questão central não deverá estar em saber
se o autor realizou ou não tal viagem, mas sim em apreender o que é que ele
considera importante conhecer no mundo, isto é, o que é fundamental saber e
revelar. Em última análise, o objectivo deve consistir em perscrutar a forma como
o mundo está representado na descrição desse périplo; a mundividência do autor
e da sociedade coeva; a importância da viagem enquanto veículo por excelência
para informar e dar a conhecer os universos da ordem e da desordem, do Eu e do
Outro, do conhecido e do desconhecido.
Outro argumento que revela a fraca operatividade da divisão entre relatos
reais e fictícios, bem como o carácter simplista destas classificações, reside na
23
«Le voyage du Franciscain est imaginaire; mais il apporte une description du monde, plus complète
que bien d’autres et à laquelle l’itinéraire supposé donne une unité plus facile à suivre que celle
que donne, à la même époque, une description comme celle de l’Anonyme de Cologne. Et il a été
considéré comme une récit authentique par les hommes de la fin du XIVe siècle: lorsque Jean de
Béthencourt conçoit l’idée d’un empire africain d’où l’on aurait pu “avoir légèrement des nouvelles
du Prestre Jehan”, c’est à partir du “livre que fit un Frère Mendeant qui environna iceluy pays et fut
à tous les ports de mer, lesquels il devise et nomme, et alla par tous les royaumes chrestiens et des
payens et des sarrasins qui sont de ceste bende.”», Jean Richard, “Voyages réels et voyages imaginaires,
instruments de la connaisance géographique au Moyen age”, op. cit., p. 215.
24
«El libro del conoscimiento… constituye una de las primeras manifestaciones de los libros
españoles de viajes, grupo de difícil encuadre en los quadros literarios pues su valor fundamental
se encuentra en la noticia, válida en cualquier consideración de orden cultural, sin que importen
sus condiciones poéticas. Sin embargo, en el periodo medieval cualquier manifestación de orden
narrativo, bien sea relativa a situaciones reales o bien lo sea a las imaginadas, es un testimonio
más para documentar el gran esfuerzo que supuso lograr la condición literaria en las lenguas
vernáculas europeas. En este caso, dentro del propósito narrativo, el intento por contar un viaje,
establecer un itinerario y describir lo que el autor haya visto es paralelo al de redactar un relato
imaginardo en el que unos personajes se mueven por los mundos de la ficción; además, suele
ocurrir que a veces el dato percibido por el viajero se mezcla con el que recibió por la vía de los
libros y no es posible separarlos en el autor medieval. Toda esta confusión se encuentra en El
libro del conoscimiento…», Francisco López Estrada, op. cit., p. 5.
25
María Jesús Lacarra, “La imaginación en los primeros libros de viajes” in Actas del III Congreso
de la Asociación Hispánica de Literatura Medieval, Salamanca, Universidad de Salamanca, 1989,
p. 501.

150
o mundo como LugAr de Poderes no «Livro do conhecimenTo»

intensa interacção entre as obras geográficas e ligadas à viagem. Com efeito,


os textos mesclam-se. Uns inspiram-se, ou são até concebidos, com base em
outros 26. A mesma obra pode ter “diversas” origens, algumas das quais bastante
diferentes entre si. Veja-se o caso do famoso Atlas de 1375. O autor, Cresques
Abraham (1325-1387), que contou com a provável colaboração do seu filho,
Jafudà Cresques, serviu-se claramente do Livro de Marco Polo para constituir o
corpo das lendas. Por outro lado, apresenta no primeiro painel da sua obra uma
descrição do mundo de tipo isidoriano. Outro exemplo é o próprio LC, a respeito
do qual Joaquín Rubio Tovar assinala «En el mapa catalán de 1375 se lee una frase
reproducida literalmente en el Libro: “dizen que en esta ciudad [Syras] fue fallada
primeiramente la astronomía.”» 27
Mas a leitura de diversos outros textos, ora de carácter geográfico mais
teórico como as chamadas Ymago Mundi, ora mais ligados à prática das deslo-
cações como os relatos de viajantes e peregrinos, ajuda a consolidar esta ideia.
A estes dois grupos podemos somar as obras cartográficas, nas quais o mate-
rial visual é complementado com textos escritos (por exemplo, o portulano e
a carta-portulano), e os relatos dos viajantes denominados de “gabinete” como,
para além do próprio LC, o texto de Mandeville 28.
Um derradeiro argumento contra estas classificações e divisões reside na
possibilidade de o autor de um relato de viagem fictícia ter ele próprio realizado
parte dos percursos aí apresentados, ainda que numa época diferente da assina-
lada no texto. Poderá ser este, como já referimos, o caso do LC e, segundo Deluz,
do próprio texto de Mandeville 29.
Em síntese, os relatos ditos “reais” estão, na Idade Média, repletos de fanta-
sias, ao passo que os relatos classificados como “fictícios” contêm vastas passa-

26
Cf. María Jesús Lacarra, “El Libro del Conosçimiento: un viaje alrededor de un mapa” in Libro del
conosçimiento de todos los rregnos et tierras et señorios que son por el mundo, et de las señales et armas
que han, op. cit., p. 78.
27
Joaquín Rubio Tovar (ed.), op. cit., p. 64.
28
Christiane Deluz diz-nos a respeito desta obra que «Mais, bien évidemment, cette oeuvre devait
comporter une part, plus ou moins grande, de compilation» in Christiane Deluz, Le Livre de
Jehan de Mandeville une “Géographie” au XIV siécle, Louvain-la-Neuve, Publications de l’Ins-
titut d’Études Médiévales, Université Catholique de Louvain, 1988, p. 39. Mais adiante no seu
estudo, Deluz apresenta mesmo um quadro das fontes utilizadas por Mandeville (relatos de pere-
grinação e viagem [8 títulos], Histórias [3 títulos], enciclopédias [4 títulos], literatura religiosa
[5 títulos], literatura recreativa [3 títulos], tratados científicos [1 título], outras obras utilizadas
de forma pontual [9 títulos]).
29
«Mandeville a-t-il fait lui aussi partie de ces voyageurs sur les récits desquels il a bâti son ouvre?
L’examen du texte donne à penser que., pour plus d’un passage, il a été à lui-même sa propre
source.» Idem, Ibidem, p. 59.

151
PAuLo cATArino LoPes

gens recheadas de informações verídicas, fruto da experiência do próprio autor


ou então recebidas de alguém que viajou e registou, ou transmitiu oralmente, o
seu périplo.
Como assinala Paul Zumthor «(…) la realidade tiene sus zonas de sombra,
difíciles de integrar; la verdad no es tanto un dato natural como el producto de
reglas discursivas, en alguna medida aleatorias y sometidas a las irregularidades de
la historia. El discurso del relato de viajes nunca se comprueba — ni se puede
comprobar — de forma inmediata: es un rasgo único, parentesco innegable con
la ficción.» 30

4.1. O valor específico dos relatos de viagens imaginárias

Viajar é uma das necessidades mais antigas do homem. E as numerosas


obras literárias medievais que se serviram da viagem como motivo central
da sua intriga não são senão um pálido reflexo das contínuas peregrinações
e viagens protagonizadas pelos seres reais de então. Todavia, a literatura
converteu a simples acção de ir de um lugar a outro num acto espiritual de
enorme transcendência. Nesta medida, os relatos de viagens medievais adqui-
riram um estatuto muito especial, independentemente de reportarem a deslo-
cações reais ou imaginárias.
Fazendo recurso da sua própria experiência, de relatos de outros viajantes,
de enciclopédias e obras cartográficas que forneciam a informação necessária, os
falsos viajantes percorreram na ambiência dos seus gabinetes dezenas de regiões,
dando conta da geografia, das bandeiras, das lendas e mitos, dos habitantes e
respectivos costumes 31. Um todo informativo que visava possibilitar o acesso ao
conhecimento geográfico por outrem. A partilha era, com efeito, uma das grandes
motivações dos protagonistas das chamadas “viagens imaginárias”.
Um período reveste-se de singular importância na história das viagens e dos
descobrimentos medievais: a centúria que vai de entre 1245 e 1345. Pela primeira vez
entram em contacto Oriente e Ocidente. Os tártaros passam de inimigos a poten-
ciais aliados contra o Islão. Vislumbra-se a reconquista dos lugares santos. Em suma,

30
Paul Zumthor, La Medida Del Mundo – Representatión del espacio en la Edad Media, Madrid,
Cátedra, 1994, p. 291
31
Cf. Rafael Beltrán, “Los libros de viajes medievales castellanos” in Filología Románica, anejo 1,
1991, pp. 121-164; Pedro Cátedra, “La dimensión interior en la lectura de los libros de viajes
medievales” in Actas del primer congreso anglo-hispano, Alan Deyermond and Ralph Penny (ed.),
vol. II, Madrid, Castalia, 1993, pp. 41-58; María Jesús Lacarra, “El Libro del Conosçimiento: un
viaje alrededor de un mapa”, op. cit., pp. 77-93.

152
o mundo como LugAr de Poderes no «Livro do conhecimenTo»

durante mais de um século, vai-se estabelecer uma corrente que empurrará para os
caminhos da Ásia Central e do Oriente longínquo dezenas de ocidentais.
No entanto, em meados do século XIV, a Ásia fecha-se para os europeus.
O desmoronamento do império dos tártaros, a conversão ao Islão dos mongóis
do Turquestão e do Irão, juntamente com diversas outras causas, como a Peste
Negra e o Cisma, fazem com que terminem as missões. Uma consequência deste
fechamento está em que a recordação das viagens realizadas começa a desvanecer-
-se na memória dos ocidentais. É o momento em que, como salienta María Jesús
Lacarra, as lendas ancestrais recuperam terreno na mentalidade coeva e relatos
menos verídicos começam a impor-se como verosímeis: em torno de 1350, o
suposto John Mandeville escreve uma obra que combina um relato de peregri-
nação à Terra Santa com um livro das maravilhas da Ásia e em data não muito
posterior, outro autor desconhecido escreve o LC. Com efeito, não é por acaso
que estes textos são quase simultâneos. E também não é por acaso que conhe-
ceram uma grande divulgação.
Perante a falta de informação em primeira mão, as viagens imaginárias
contribuíram para saciar a sede de notícias dos leitores, os quais assimilavam
rapidamente estes relatos aos já conhecidos, e verídicos, de missionários e de
mercadores 32, operando assim uma complexa conexão entre dados autênticos e
imaginários, entre actualidade e tradição. Para nós, hoje, eles são diferentes, mas
na época coeva não. E o facto de o LC ter sido utilizado como fonte e apoio para
viagens reais é prova dessa circunstância. Como refere Paul Zumthor: «El autor y
su público eran indiferentes al criterio de credibilidad» 33.
María Jesús Lacarra defende que o princípio da credibilidade não funcio-
nava para os autores e leitores destas obras da mesma forma que para os actuais.
Os critérios que estavam na sua base eram inequivocamente distintos. Os leitores
de então liam a obra segundo uma pluralidade de perspectivas 34. Perspectivas
essas que, como assinala Hans Robert Jauss, determinavam a concepção das
32
Cf. María Jesús Lacarra, “La imaginación en los primeros libros de viajes”, op. cit., p. 501.
33
«No se puede decir, efectivamente, desde un punto de vista muy general, que lo que diferencia el
“viaje” de todos los desplazamientos humanos imaginables, es que culmina para el viajero en un
relato? Caso particular de un hecho más general todavía: cualquier toma de posesión territorial
se realiza a través de un relato, aunque sea el que produce o falsifica la prueba de un derecho. Se
agudiza una tensión entre la historia (el viaje tal y como fue, y como tal, inefable) y la geografía;
entre el tienpo irrecuperable y el espacio permanentemente disponible. Por esta razón resulta
inadmisible, en este nivel profundo, en este tema y en esta época, el criterio que opone, en
nuestra mente, lo “real” y lo “imaginario”. El autor y su público eran indiferentes al criterio de
credibilidad: se seguía ilustrando con dibujos fantásticos el texto de Marco Polo ciento veinte
años después de que fuera dictado!» in Paul Zumthor, op. cit., p. 290.
34
Cf. María Jesús Lacarra, “El Libro del Conosçimiento: un viaje alrededor de un mapa”, op. cit., p. 78.

153
PAuLo cATArino LoPes

próprias obras 35. A tese deste investigador baseia-se no conceito central de hori-
zonte de expectativas, o qual se define pelo conjunto de expectativas culturais,
éticas e literárias manifestadas pelos leitores no preciso momento histórico em
que a obra surge. Jauss defende que, para além da tradicionalmente aceite esté-
tica de produção e representação, existe outra ainda mais determinante, pois,
situada a um nível profundo, está na base dessa própria produção: uma estética
de recepção e influência. Esta estética tem por alicerces a precedente experiência
literária dos leitores e, sobretudo, o seu horizonte de expectativas relativamente à
obra que está para vir. Este estado mental predispõe e influencia o autor durante
o próprio processo de concepção da obra 36.
Por outras palavras, é tão importante conhecer o auditório e saber o que
este espera como conhecer o próprio significado da mensagem. O horizonte
de acolhimento e as expectativas do auditório impõem-se, assim, como funda-
mentais num estudo que pretenda abordar a relação entre uma obra literária de
carácter ficcional e as suas possíveis ligações com a realidade histórica.
No caso de textos como o LC, que mediante a utilização da primeira
pessoa fazem-se enquadrar no modelo autobiográfico, certamente que os leitores
operavam uma associação entre a obra e outras produções semelhantes, como
eram as relações de viagens dos missionários. Desta forma, os textos imaginários
ganhavam em autenticidade e credibilidade – o inverosímil do itinerário do LC
não impediu que fosse referência para os conquistadores das Canárias, ou até,
como defende Peter Russell, eventualmente para as expedições de D. Henrique
no litoral ocidental africano 37.

35
Cf. Hans Robert Jauss, “Literary history as a challenge to literary theory” in Toward an Aesthetic
of Reception, Paris, University of Minnesota Press, 1985, pp. 3-45.
36
«A literary work, even when it appears to be new, does not present itself as something absolutely
new in an informational vacuum, but predisposes its audience to a very specific kind of reception
by announcements, overt and covert signals, familiar characteristics, or implicit allusions. It awakens
memories of that wich was already read, brings the reader to a specific emotional attitude, and with
its beginning arouses expectations (…)»; «Reconstructed in this way, the horizon of expectations
of a work allows one to determine its artistic character by the kind and the degree of its influence
on a presupposed audience. (…) The way in wich a literary work, at the historical moment of its
appearance, satisfies, surpasses, disappoints, or refutes the expectations of its first audience obviously
provides a criterion for the determination of its aesthetic value. The distance between the horizon of
expectations and the work, between the familiarity of previous aesthetic experience and the “hori-
zontal change” demanded by the reception of the new work, determines the artistic character of a
literary work, according to an aesthetics of reception (…).» Idem, ibidem, p. 25.
37
Cf. Peter E. Russell, “A Quest Too Far: Henry the Navigator and Prester John” in The Medieval
Mind: Hispanic Studies in Honour of Alan Deyermond, Macpherson and R. Penny (ed.), London,
Tamesis, 1997, pp. 401-416; Idem, “The Infante Dom Henrique and the Libro del conoscimiento

154
o mundo como LugAr de Poderes no «Livro do conhecimenTo»

Paul Zumthor salienta também o facto de os autores medievais, até bem


dentro de Quinhentos, parecerem conscientes de estarem a relatar coisas difíceis
de crer. Daí a necessidade de se apoiarem nos autores antigos, nas autorictas 38,
como base legitimadora para a sua mensagem.
Não é por isso de estranhar que nos países da Cristandade os relatos de
viagem tivessem exercido sobre os seus leitores uma grande influência, quer pelos
factos que nomeavam, quer pela significação de que se revestiam na mentalidade
colectiva. Tratava-se, afinal, de responder a uma necessidade desse público 39.
É também fundamental não esquecer que os livros de viagens para além
de uma função informativa desempenhavam uma função pragmática: o leitor
fazia uma integração interior da viagem narrada, ou seja, esta leitura funcionava
também como um movimento escatológico do indivíduo, alterando e determi-
nando consequentemente a sua visão do mundo que o rodeava. Este fenómeno,
se bem que se verificasse sobretudo com textos relativos a peregrinações, como
salienta Pedro Cátedra, «también se puede aplicar a otros viajes, en especial en
momentos de pulsión escatológica, que decía Alphandéry; en tienpos en los que
la realidad histórica, social, o religiosa se percibe agonizante — o, al menos, así lo
quiere el lector —; en situaciones en las que el viajes es, desde la realidad geográ-
fica del lector, un espejismo, que empieza a cobrar sentido cuando se interioriza
(…).» 40

5. Itinerário

Viagem na sua maior parte fictícia, o LC contém os elementos que definem


e configuram o género literário específico dos relatos de viagens. O primeiro e
principal destes elementos tem a ver com o itinerário 41.
O itinerário é no LC o elemento estrutural, o esqueleto do texto. O discurso
articula-se basicamente sobre o espaço percorrido, que constituiu assim, a priori, a
matéria narrativa essencial para o autor. Este limitou-se a seguir o itinerário no seu
desenrolar único e linear, desde o seu começo até ao seu final. Podemos desta forma
afirmar que, ocupando toda a extensão da obra, o itinerário e, consequentemente, o
espaço funcionam quer como o alicerce, quer como o leitmotiv da mesma.

del mundo” in In memoriam Ruben Andressen Leitão, J. Sommer Ribeiro (ed.), vol. II, Lisboa,
Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1981, pp. 259-267.
38
Paul Zumthor, op. cit., p. 291.
39
Paul Zumthor, op. cit., pp. 285-303.
40
Pedro Cátedra, op. cit., p. 44.
41
Miguel Ángel Pérez Priego, op. cit., p. 220.

155
PAuLo cATArino LoPes

O recurso a fórmulas narrativas como «salli de (…) et fuy a (…)» ou


«party de (…) et fuy a (…)» sugerem ao leitor um itinerário, um percurso,
se bem que neste caso fictício, impossível. Tais fórmulas vão fazendo desfilar
cidades, reinos e lugares diversos onde pontualmente o autor se detém a
narrar este ou aquele acontecimento ou a apresentar alguma conclusão – com
maior ou menor pormenor.
O itinerário do LC é longo e complexo, quando tomado no seu todo.
Os lugares visitados tocam por vezes os pontos mais distantes do mundo então
conhecido. Com efeito, só quando observamos os mapas resultantes da aplicação
do itinerário e da construção da mancha toponímica referida ao longo do texto,
é que apreendemos a real dimensão da empresa. Todas as grandes regiões do
mundo (conhecido e imaginado), bem como os grandes centros urbanos, estão
aqui representados. Daí que o LC seja um dos relatos de viagens medievais mais
ambicioso em termos geográficos.
O autor assinala que iniciou o seu périplo «En onze dias del mes de
setienbre». Nada nos indica sobre o ano. E quanto à data de regresso, ainda
menos sabemos, pelo que nos fica vedada a possibilidade de calcular a duração
da viagem. No que respeita aos espaços de partida e chegada, o autor fornece-
-nos indicações mais precisas: afirma que partiu do reinado de Espanha e que
regressou a «seuilla donde sali primera mente». Podemos assim iniciar e concluir
com precisão o périplo.
É notório o recurso a cartas da época e a obras literárias de grande prestígio
e autoridade reconhecida, como as Etimologias de Isidoro, para a edificação do
texto que em alguns momentos se assemelha a um portulano.

5.1. Etapas

Com celeridade e num reduzido número de páginas, o autor do LC traça


um impressionante itinerário que podemos considerar dividir-se em três grandes
etapas:

1ª Etapa: do nº 1 (Sevilha) ao nº 62 (Pontevedra)


2ª Etapa: do nº 62 (Pontevedra) ao nº 242 (Damyat)
3ª Etapa: do nº 242 (Damyat) ao nº 396 (Sevilha)

A primeira e segunda etapas do percurso surgem dotadas de grande clareza e


consistência. Num primeiro momento, a Europa ocidental, com preferência para
o Norte e o litoral (primeira etapa). Depois, toda a bacia do mediterrâneo, a costa
atlântica de Marrocos e as Ilhas Atlânticas que dominam o estreito de Gibraltar

156
o mundo como LugAr de Poderes no «Livro do conhecimenTo»

e as rotas caravaneiras que atravessam o Sara de forma transversal – constituindo


uma linha do Atlântico ao Nilo (segunda etapa). Ambos os percursos são claros
e não se sobrepõem. Com epicentro no Mediterrâneo, o primeiro privilegia o
Norte até à Escandinávia e o segundo o centro e o sul até ao Sara.
Por fim, apresenta-se-nos a terceira etapa do percurso, de longe a mais
longa e complexa. Por um lado, abarca os três continentes conhecidos à época;
por outro lado, num triângulo audacioso, percorre os extremos desses mesmos
continentes: Escandinávia, Golfo da Guiné, China, Samatra, Himalaias.
De reter é que à medida que nos afastamos da Cristandade e do mundo
mediterrânico aumentam a falta de rigor geográfico e os casos de mirabilia. Por
outras palavras, quanto mais nos distanciamos dos limites do seguramente conhe-
cido e da ordem, mais perto ficamos do desconhecido, da desordem, do caos e,
portanto, do fabuloso. Estamos, por isso, perante uma lógica de centro-periferia
na distribuição dos lugares de partida/chegada presentes no LC.

5.2. Relação entre continentes na contabilização dos lugares de partida/


chegada

Quadro 1

Relação entre continentes na contabilização


dos lugares de partida/chegada presentes no LC
Continentes Lugares partida/chegada
Europa 191
África 121
Ásia 84
Total 396

Como podemos verificar pela observação do quadro 1, a Europa é de longe


o continente “preferido” – melhor dizendo, o mais conhecido – pelo autor. Com
efeito, num total de 396 lugares de partida/chegada, registam-se neste continente
191, ou seja, quase metade das ocorrências. Logo de seguida surge o continente
africano com 121 lugares e, por último, a Ásia com 84 lugares. Esta discrepância
entre continentes, principalmente entre a Europa e a Ásia, quando relacionada
com a mancha cartográfica relativa ao itinerário, confirma que à medida que nos
distanciamos do universo da Cristandade, ou seja da segurança e da ordem, enfra-
quece o rigor da descrição geográfica, bem como a evocação de lugares – agora
muito menos conhecidos, quer em quantidade, quer em riqueza descritiva.

157
PAuLo cATArino LoPes

Ao nível da relação entre continentes na contabilização dos lugares de


partida/chegada regista-se, igualmente, uma clara lógica de centro-periferia.

5.3. Tipologia dos lugares percorridos

Os lugares de partida/chegada que integram o itinerário protagonizado


no LC apresentam uma tipologia estruturada em 11 lugares-tipo (ver quadro 2 e
gráfico correspondente).
Como se pode observar em ambas as representações, os Centros Urbanos
(cidades e vilas), com 247 ocorrências num total de 396, constituem a grande
maioria dos lugares de partida/chegada presentes no itinerário apresentado pelo
LC. A discrepância é enorme, mesmo relativamente às duas categorias seguintes,
Ilhas e Reinos (respectivamente, com 69 e 36 ocorrências).
Tais valores revelam a preferência do autor pelos centros urbanos na
representação do mundo, em particular da Europa. Estes ocupam claramente
uma posição de privilégio, única mesmo, na sua mente enquanto elementos
estruturantes da realidade do mundo. Se nos reportarmos à temática especí-
fica da viagem então a sua importância é ainda maior, pois eles prefiguram os
pontos de apoio (autênticas encruzilhadas) e locais de paragem – e visita – por
excelência.
É a cidade que estrutura a viagem aqui apresentada. Ela constitui a espinha-
-dorsal do itinerário e do espaço a percorrer. Daí não ser de estranhar passagens
como:

«E fuy por la rribera adelante en vn panfilo fasta que llegue al cabo de


Sanbru e dende falle toda la marisma desabitada, que non ay çiudat njn
villa njn logar. E andude por la marisma muy grant camjno, e trauesse todas
las playas arenosas que non son habitadas de omnes, e llegue a la tierra de
los negros, a vn cabo que dizen Buyder, que es del rrey de Guyneya çerca
de la mar, e ally falle moros et judios» 42;

«Parti del jnperio de Armalec et fuyme por la tierra muy grant camjno,
et como qujer que es muy poblada de gentes et de ganados, pero non ay
çivdades njn villas porque todos biuen en los canpos. Et llegue al jnperio
de Catayo et todas las mas çivdades que ende son,» 43;

42
ms. Z, escudo LXVIII
43
ms. Z, escudo XCI

158
o mundo como LugAr de Poderes no «Livro do conhecimenTo»

«Parti del jnperio de Catayo contra el enorte al Flumen Magot arriba, e


andude sesenta et çinco jornadas que non falle vjlla njn çivdat,» 44.

Quadro 2

Tipologia dos lugares de partida/chegada presentes no LC


Tipologia Lugares partida/chegada
Centros Urbanos 247
Ilhas 69
Reinos 36
Províncias 15
Montanhas 10
Cabos 7
Rios / Golfos / Mares 6
Impérios 2
Condados 2
“Tierras” 1
Território não classificado (Caldea) 1
Total 396

Tipologia dos lugares de Partida/Chegada

396
Lugares Partida / Chegada

297 247

198

99 69
36
15 10 7 6 2 2 1 1
0

Tipologia

44
ms. Z, escudo XCII

159
PAuLo cATArino LoPes

Este privilegiar da cidade enquanto centro da vida social, política e cultural


surge naturalmente na linha das modificações estruturantes introduzidas, lenta-
mente, pelo Renascimento do século XII. Com efeito, a explosão da importância
urbana ocorrida neste século reformador já está completamente implantada na
Europa ocidental à época da redacção do LC 45. Por outro lado, a primazia atri-
buída à cidade é, em nossa opinião, reveladora da provável origem urbana do
autor e da sua eventual ligação ao mundo citadino em termos de enquadramento
e actividade social.
Outra das singularidades do itinerário percorrido no LC reside na impor-
tância atribuída pelo autor às ilhas. Com 69 ocorrências no desempenho da
função de lugares de partida/chegada, as ilhas constituem a segunda categoria
ao nível da tipologia dos lugares visitados durante a viagem. Posição tanto mais
importante quanto o facto de o itinerário abranger a quase totalidade do mundo
conhecido na época coeva da feitura do LC.
Igualmente de destacar são os valores apresentados pelas categorias Reinos (36
ocorrências), Províncias (15 ocorrências) e Cabos (7 ocorrências) – todos os cabos
referidos situam-se na zona Norte da costa atlântica africana; merecendo naturalmente
especial atenção o Cabo Juby, nomeado por três vezes, constituindo uma verdadeira
encruzilhada entre as ilhas atlânticas, a África equatorial e a África sariana.
As referências às ilhas no LC enquadram-se num nível diferenciado em
termos de mentalidade e mundividência, pois na maioria das vezes surgem inti-
mamente associadas ao universo do imaginário e da mirabilia. Daqui deriva
também que os reinos se apresentem, a seguir às cidades, classificados como a
grande referência da representação da vida medieval ao nível social e político.

6. Descrição do Mundo

Com o LC, o público-leitor está perante um mundo percorrido e a


percorrer, dentro do qual se destacam sobretudo as paisagens e os poderes – em
particular a cidade –, mas também os climas, as riquezas e os valores.

45
No século XII, as cidades com o seu florescente dinamismo económico e social romperam com
os rígidos quadros de uma sociedade predominantemente rural e tornaram-se, em simultâneo,
os principais centros de onde brotavam os avanços culturais da época. O despertar intelectual
do século XII teve, aliás, como base as escolas urbanas. Cf. Jacques Le Goff, “La fonction
économique” in Histoire de la France Urbaine. La ville médiéval, vol. II, Georges Duby (dir.),
Paris, Seuil, 1980, pp. 241-261; Idem, “O renascimento urbano” in A Civilização do Ocidente
Medieval, vol. I, Lisboa, Editorial Estampa, 1995, pp. 102-109; Paul Zumthor, op. cit., pp.
108-137.

160
o mundo como LugAr de Poderes no «Livro do conhecimenTo»

6.1. A paisagem natural

A paisagem natural é um elemento largamente focado ao longo de todo


o texto do LC. Ela apresenta-se sob duas vertentes principais: o relevo (montes,
montanhas, serras e ilhas) e o meio aquático (rios, lagos, mares, golfos e oceanos).
Os oceanos e as ilhas revestem-se, como é típico da Idade Média, de uma signi-
ficação especial.
As ilhas são o elemento de paisagem natural mais referenciado pelo autor
do LC, reflectindo-se tal proeminência ao nível do conteúdo: algumas das mais
importantes e emblemáticas passagens do texto em termos de descrição do mundo
têm por cenário as ilhas, principalmente as que ficam no âmbito do continente
africano e da Ásia, ou seja, os lugares dos limites, os lugares cujas extraordinárias
características dos habitantes e do próprio espaço merecem ser registadas e assi-
naladas.

6.2. A paisagem construída ou os espaços de poder

Na paisagem representada, o autor do LC tende sempre a individualizar os


poderes dominantes e respectivos territórios. Apesar de ligados, ele atribui clara-
mente mais importância aos poderes leigos dos que aos poderes eclesiásticos.
Na sua perspectiva, o mundo é inequivocamente um espaço dos senhores,
individualizado simbolicamente através da heráldica. Por outras palavras, é por
excelência um espaço político onde o poder senhorial acaba por se sobrepor ao
poder dos eclesiásticos.
Os valores apresentados no quadro 3 esclarecem-nos quanto ao espaço de
poder que, especificamente, predomina na mundividência veiculada pelo LC.
Com 556 referências num total de 770 (e 874 ocorrências), os centros urbanos
são de longe o espaço de poder privilegiado pelo autor do LC (ver gráfico corres-
pondente).

Quadro 3

Espaços de poder
Nº Classificação Europa África Ásia Ref.
1 Impérios 3 2 8 13
2 Reinos 48 26 32 106
3 Senhorios 11 0 12 23
continua...

161
PAuLo cATArino LoPes

Espaços de poder
Nº Classificação Europa África Ásia Ref.
4 Condados 4 0 0 4
5 Ducados 1 0 0 1
6 Arcebispados 3 0 0 3
7 Bispados 25 0 0 25
8 Províncias 32 2 5 39
9 Cidades / Vilas 296 95 165 556
Total 423 125 222 770

Espaços de poder

770
556
616
Referências

462
308
106
154 13 23 4 1 3 25 39
0

Naturalmente, a Europa é o continente com maior número de referências


aos centros urbanos (296). No entanto, os continentes asiático (165) e africano
(95) também apresentam valores bastante razoáveis em relação ao total deste
tópico (556 referências), sobretudo se tivermos em conta os valores expressos
pelos restantes espaços de poder.
Também aqui o autor do LC revela subordinar o seu texto a uma lógica de
centro-periferia. A Europa, a Cristandade, espaço mais conhecido do autor, é o
grande cenário da toponímia. À medida que nos afastamos da bacia do Mediter-
râneo, norte e sul, e da Ásia Menor, os topónimos começam a escassear e a perder
intensidade em termos de mancha.
Curiosamente, em termos de comparação entre os diversos espaços de
poder definidos no LC, o continente africano é o que apresenta maiores discre-
pâncias, pois aqui as cidades e os reinos abarcam a quase totalidade das referências.

162
o mundo como LugAr de Poderes no «Livro do conhecimenTo»

Apenas os impérios e as províncias, com respectivamente duas referências cada,


apresentam valores acima do zero.
Um dado fundamental a reter neste conjunto de valores, reside no facto
de o tópico impérios ter na Ásia o seu espaço privilegiado (8 ocorrências). Com
efeito, a Europa e a África ficam muito aquém da Ásia a este nível. O autor vê o
Oriente como um espaço por definição do poder imperial.
O espaço de poder que compreende os senhorios limita-se, de forma equi-
parável, à Europa e à Ásia. Por sua vez, os condados, ducados, arcebispados e bispados
restringem-se ao continente europeu, não apresentando quaisquer valores na
Ásia e em África. Este estado de coisas acaba por não estranhar, se tivermos em
conta que estamos a falar de conceitos de espaço de poder, cuja denominação está
intrinsecamente ligada à forma ocidental cristã de categorizar o universo social,
politico e religioso: duque-ducado, conde-condado, bispo-bispado, arcebispo-
-arcebispado. As noções de rei e imperador já são de facto universais, em termos
da mundividência medieval, claro está.
As províncias inscrevem-se na sua grande maioria na Europa (32 referên-
cias). Trata-se de um conceito muito pouco associado, na perspectiva do autor, à
espacialização do poder na Ásia e em África.
O espaço de poder com maior número de referências a seguir às cidades
e vilas são os reinos (106 referências). No entanto, apesar de igualmente bem
distante dos espaços seguintes, este tópico apresenta apenas cerca de 1/5 do valor
expresso pelos centros urbanos. O fosso é abismal.
Após a análise dos valores recenseados para os diversos espaços de poder
presentes no LC, torna-se claro o porquê do poder senhorial – materializado
sobretudo nas categorias da cidade e do reino –, ser claramente o “preferido” do
autor do LC. Esta regra é, aliás, corroborada pela própria tipologia dos espaços:
apenas dois, os arcebispados e os bispados, são declaradamente eclesiásticos.

6.3. O Mundo urbano

A proeminência dos centros urbanos no LC é tal, que justifica um olhar


mais aprofundado. Desde logo porque, efectivamente, os lugares não assumem
todos a mesma importância para o autor/viajante. Houve escolhas a fazer, por um
lado em relação aos marcos fundamentais do itinerário (a tipologia dos lugares de
partida/chegada), por outro, ao nível dos espaços de poder preferidos na estru-
turação da mundividência que se quer veicular. Em ambos os casos, a escolha
incidiu sobre os centros urbanos.
Com efeito, as cidades são os pontos privilegiados pelo autor. Elas
convertem-se desde o início da viagem no índice de referência essencial através

163
PAuLo cATArino LoPes

do qual se desenvolve a descrição do itinerário. Até ao extremo de verificar-se


uma súbita aceleração do tempo da narração e do espaço percorrido quando não
existem cidades numa determinada região (vendo-se então o narrador forçado a
dizer «non falle ciudades nin villas»).
A cidade é inequivocamente o elemento central, estruturante, do itinerário
e dos espaços veiculados no documento. A visão do autor em relação ao espaço e
ao mundo conhecido centra-se essencialmente na figura deste espaço de poder. Os
valores em termos de referências e de ocorrências não podiam ser mais expressivos.
O desfilar das urbes no LC veicula imediatamente a ideia da funcionali-
dade social e política da cidade. Regra geral, sempre que se chega a uma região
ou reino, existe a preocupação de assinalar quais as maiores e mais importantes
cidades, e, de entre estas, qual exerce as funções de capital (cabeça de reinado ou
de império) e de cenário para a coroação dos reis.
A cidade é um espaço superior. Necessário. Vital. E apesar de não decla-
rado, a extensa nomeação da cidade é acompanhada no LC de um intenso fervor,
como podemos, aliás, concluir do facto de 35 das 50 ocorrências relativas a acon-
tecimentos indicados no LC estarem associadas, directa ou indirectamente, à
cidade.
Também ao nível do maravilhoso presente na fonte podemos identificar a
preponderância da cidade: das 13 imagens de mirabilia que acompanham o texto,
5 são relativas a cidades 46.
Outro indicador desta supremacia reside na componente heráldica. Aqui,
ao nível dos sinais territoriais, a cidade ocupa o segundo lugar (5 referências, num
total de 27), sendo no entanto de referir que vários dos emblemas relativos ao
primeiro tópico, os reinos, referem-se igualmente a cidades (ver quadros 5 e 6).
Por tudo isto, podemos afirmar que o autor do LC partilha da consciência
urbana que invadiu a Europa a partir do século XII. Ao longo de todo o texto,
sente-se, aliás, a presença desta consciência. Uma consciência que determina
claramente a forma de o autor pensar e, sobretudo, dar a ver o mundo.
Zumthor chama a atenção para um pormenor que garante à cidade um
lugar muito específico na mundividência do homem medieval e que, de alguma
forma, ajuda a esclarecer esta clara preferência do autor do LC pelos centros
urbanos em detrimento dos restantes espaços de poder:

«Antes de estos modelos, y en parte gracias a ellos, actua sobre la percep-


ción y la representatión medieval de la ciudad una poderosa corriente

46
O paraiso terrenal vem ilustrado como se de uma fortaleza/cidade se tratasse. A imagem, aliás, é
idêntica – em termos de estilo – às restantes representações de cidades.

164
o mundo como LugAr de Poderes no «Livro do conhecimenTo»

arquetípica, que impone al pensamiento y al lenguaje un pequeño número


de formas matriciales que (a través de múltiples mediaciones) determinan
la imaginación y la palabra: cierre, es decir, aislaminento; solidez, es decir,
seguridad; verticalidad, es decir, grandeza y poder; teniendo en cuenta que
cada uno de estos rasgos y su conjunto remiten a la existência colectiva de
los hombres.» 47

A cidade medieval assenta assim em três alicerces fundamentais: isolamento


(no sentido de individualidade, demarcação e afastamento do que a rodeia), segu-
rança (protecção do que vem do exterior, materializada nas suas muralhas e no seu
exército “pessoal”) e imponência (no sentido de riqueza e poder).
Hoje, a cidade constitui um espaço amplamente aberto ao exterior, de
acesso fácil, mas onde reinam a insegurança e as formas extremas de miséria. Na
Idade Média, por sua vez, a cidade simboliza o oposto. Como assinala o mesmo
investigador, tiveram que passar «mil años para pasar, muy progresivamente, de la
primera imagen a la segunda.» 48
A cidade é a Ordem e a sua centralidade em relação à região que integra, afasta-
-a de alguma forma da ruralidade e do exterior selvagem, onde imperam a desordem,
a violência, o caos. O que fica para lá das suas muralhas é a antítese daquilo que os seus
habitantes procuram no seio das ruas, praças, campanários e mercados 49.
A cidade vem sempre associada ao saber, ao estudo e à ciência. Ela é o
espaço do conhecimento, pois é nela que se situa o maior de todos os centros de
saber: a universidade. O LC corrobora este princípio nas referências efectuadas
à cultura. O âmbito é, regra geral, a cidade, sobretudo na Europa: «et la noble
çivdad de Tolossa, do son los estúdios generales de las artes liberales.» 50; «Parti
de Escoçia et ffuyme para Jnglatierra. Sabet que es muy poblada, et falle en ella
onze çivdades grandes. (…) Grisna, do son los Estudios Generales» 51; «Bolonja,
morada de los filósofos» 52.

47
Paul Zumthor, op. cit., pp. 118-119.
48
Idem, ibidem, p. 119.
49
«La ciudad rechaza con todo su ser lo que he llamado en otra ocasión el nomadismo de la sociedad
medieval: a un universo parcelado, opone su carácter macizo; a la disgregación de las soledades
rurales, al aislamiento de los linajes feudales, la concentración de los seres y de sus recursos (…).
Espacialmente, la ciudad es multiple. A su espacio físico y topográfico se une, para lo mejor
y para lo peor, un espacio social, un espacio económico, un espacio religioso (…), y que se
unifican en una “cultura urbana”. (…) La ciudad se define por una forma de ser en el mundo.»
Idem, ibidem, p. 124.
50
ms. Z, escudo V
51
ms. Z, escudo XIX
52
ms. Z, escudo XXVI

165
PAuLo cATArino LoPes

Na Ásia as referências também são esclarecedoras:

«E parti de la armenia et fuy a la gran ciudad de toris, que es cabeça del


jmperio de los persinaos. E es vna de las grandes ciudades del mundo et
mucho abondada et rica et es tierra muy templada E por eso los omes de
persia son muy sabios et entendidos en todas las scientias. E han saberes
muy profundos en los juyzios de las estrellas.» 53; «llegue a la ciudad de
syras que los tartaros dizen sarax a do fenesce el jmperio de persia et es rica
ciudad et abondada et muy antigua et dizen que enesta ciudad fue fallada
primeramente la astronomia que quiere dezir ley de las estrellas porque esta
ciudad es en la linea de la meytad de lo poblado.» 54

A cidade é, de forma absoluta, um centro de poder. É o coração do terri-


tório onde se insere. É esta ideia que é proclamada do alto das muralhas, torres e
atalaias que dominam a urbe. Independentemente do que parece na sua realidade
empírica, a cidade concebe-se a anuncia-se de acordo com esta impressão “domi-
nante”.
A cidade medieval tem uma história, uma memória e uma linguagem
próprias. Uma “alma”, enfim, que garante identificação e individualidade às
diversas gerações que por ela vão passando. Algo tão intensamente etéreo quanto
palpável em termos físicos, seja no traçado das ruas, nos marcos dos edifícios
principais ou até nas ruínas que falam da sua glória passada. Esta “alma” fornece
aos habitantes o tão precioso sentimento de pertença e faz com que a cidade seja
o espaço de poder mais importante, mesmo em relação ao reino e ao império, aos
quais não raras vezes empresta o nome e aos quais fornece sempre a capital, isto
é, o coração e o cérebro.
De salientar que ao nível profundo da mentalidade tardo medieval
ocidental, já não é tanto a dualidade espaço cristão/espaço do infiel que comanda
as acções; mas sim, o binómio espaço rural/espaço urbano. O LC é um notável
exemplo desta transfiguração. Como assinala Luís Krus em relação ao espaço
português, mas que é passível de estender-se ao mundo ocidental cristão:

«Aos campos, ligados a uma economia rural, opõem-se a vila e a cidade,


que delimitam pelo termo o espaço abastecedor sujeito à sua influência, e
na qual se concentram as actividades artesanais, administrativas e comer-

53
ms. S, escudo LXXXI
54
ms. S, escudo LXXXII

166
o mundo como LugAr de Poderes no «Livro do conhecimenTo»

ciais, que delas fazem um espaço de comunicação ligado às principais redes


de tráfico regional, peninsular, mediterrânico e atlântico.» 55

6.4. Títulos político-religiosos

No que respeita aos títulos político-religiosos mais referenciados no LC


é de assinalar a inequívoca preponderância dos títulos de imperador e, sobre-
tudo, de rei (ver quadro 4) – ambos, saliente-se, títulos políticos. Os títulos mais
nomeados (apenas em termos de ocorrências) a seguir, os de Patriarca e Profeta,
remetem para um universo religioso.

Quadro 4

Nº Títulos Ref. Oc.


1 Enperador 6 26
2 Rey 14 21
3 Conde 2 2
4 Señor 1 1
5 Patriarca 1 4
6 Bispo 1 1
7 Profeta 1 4
8 Sultão 1 1
9 Mercador 1 1
10 Cônsul 1 1
Total 29 62

7. Heráldica

Desde já salientamos que, ao nível da heráldica, o presente artigo circuns-


creve-se à questão da distribuição geopolítica dos emblemas presentes no LC e
consequente interpretação da mundividência que a mesma encerra. Noutra
vertente, analisa-se também a problemática da diferenciação dos emblemas em
termos de classes de armas e de titulares.

55
Luis Krus, “Espaço na Idade Média” in Dicionário Ilustrado da História de Portugal, vol. I,
Lisboa, Publicações Alfa, 1985, p. 220.

167
PAuLo cATArino LoPes

Acreditamos que através da análise de ambos estes tópicos – o primeiro dos


quais sujeito a projecção cartográfica – é possível determinar, ao nível político,
uma visão do mundo específica da Península Ibérica no período coevo do autor
do LC.
Fica, desta forma, excluído o estudo semântico da heráldica contida no
documento. Afinal, a ciência que se ocupa dos brasões e escudos de armas é deten-
tora de um simbolismo específico que remete para um estudo próprio, de carac-
terísticas diferentes do nosso.
Após o levantamento de todos os sinais heráldicos presentes na fonte 56
(ver quadro 5), procedemos à sua aplicação cartográfica (mapa 1) e consequente
distribuição pelos continentes conhecidos (quadro 6).

Quadro 5

Heráldica

Nº Domínio Ms. Escudo Descrição Iconografia Iconografia


ms. S ms. Z
1 Reynado de S I Vn pendon con
Castilla et dos castillos et dos
León leones fechos en
quarterones

Reynado de Z I (…)
Castilla et
León
2 Reynado de S II Vn pendon con
Portogal castillos al derredor
et quynas en medio

Reynado de Z II (…)
Portogal
3 Señor de S III Vn pendon blanco
Bayona Con vna cruz
bermeja

Señor de Z III Vn pendon blanco


Bayona Con vna cruz
bermeja
continua...

56
ms S e Z

168
o mundo como LugAr de Poderes no «Livro do conhecimenTo»

Nº Domínio Ms. Escudo Descrição Iconografia Iconografia


ms. S ms. Z
4 Reynado de S IV (…)
Nauarra

Reynado de Z IV (…)
Navarra
5 Señor de S V Vn pendon bermejo
Tolosa con vna cruz de oro
pintada

Señor de Z V Vn pendon vermejo


Tolosa con vna cruz de oro
pintada
6 Rey de Françia S VI Vn pendon azul con
tres flores de lises
de oro

Rey de Francia Z VI Vn pendon verde


con flores de oro
7 Señor de S VII Vn péndon de oro
Flandes Con vn leon prieto

Señor de Z VII Vn pendon de oro


Flandes con vn leon prieto
luengo
8 Enperador de S VIII Vn pendon amarillo
Alemaña con vna aguila prieta
Coronada

Enperador de Z VIII Vn pendon amarillo


Alemaña con vna agujlla
prieta coronada
9 Rey de Frisa S IX Vn pendon de oro
con tres leones
prietos luengos

Rey de Frisa Z IX Vn pendon de oro


con tres leones
prietos
10 Rey de Daçia S =IX Vn pendon de oro
con tres leones
prietos

Rey de Dacia Z X Vn pendon de oro


con tres leones
prjetos
continua...

169
PAuLo cATArino LoPes

Nº Domínio Ms. Escudo Descrição Iconografia Iconografia


ms. S ms. Z
11 Rey de S X Vn pendon blanco
Boemia con vn leon bermejo
coronado

Rey de Z XI Vn pendon blanco


Boemia con vn leon bermejo
12 Rey de S XI Vn pendon blanco
Litefama et con esta señal Prieta
Catalant

Rey de Z XII Vn pendon blanco


Lyçefania et con esta senal prieta
Capellant en medio
13 Rey de S XII Vn pendon verde
Polonia con esta señal
bermeja

Rey de Palonia Z XIII Vn pendon blanco


con vna cruz vermeja
14 Rey de Leon S XIII Vn pendon verde
con vna cruz bermeja

Rey de León Z XIV (…)

15 Rey de Sueuia S XIV Vn pendon amarillo


con dos leones
bermejos vno contra
otro

Rey de Suevia Z XV Vn pendon con dos


leones bermejos, el
vno contra otro
16 Rey de S XV Vn pendon con
las Islas de vandas amarillas et
Gotlandia y cardenas atrauesadas
Oxilia

Rey de las Yslas Z XVI Un pendon de


de Golandia y bandas amarillas et
Oxilia cardenas
17 Reyno de S =XIV Vn pendon amarillo
Gotia con dos leones
Bermejos vno
Contra otro

continua...

170
o mundo como LugAr de Poderes no «Livro do conhecimenTo»

Nº Domínio Ms. Escudo Descrição Iconografia Iconografia


ms. S ms. Z
17 Reyno de Z XVII (…)
Gocia
18 Rey de S =VII Vn pendon de oro
Noruega con vn leon Prieto

Rey de Z XVIII Vn pendon de oro


Nuruega con vn leon prieto

19 Rey de la isla S XVI Un pendon de oro


Salanda con vn leon prieto
como el de noruega

Rey de la Z =XVIII Vn pendon de oro


Ínsula Salanda con vn leon prieto
atal commo el rrey
de Nuruega
20 Rey de Escoçia S XVII Vn pendon bermejo
con tres leones de
oro luengos

(…) (…) (…)

21 Rey de S XVIII Vn pendon a


Inglaterra quarterones en los
dos quartos a flores
de oro en canpo
azul por que es el
Rey de la casa de
françia en los otros
dos quartos ay en
cada vno tres onças
de oro luenguas et
el canpo bermejo

Rey de Z XIX Vn pendon a


Inglatierra quoarterones en
los dos coartos
ay flores de oro
en canpo azul,
porque el rrey de
la tierra es en la
casa Françia, et los
otros dos coartos
son vermejos et
en cada vno tres
leones de oro
luengos
continua...

171
PAuLo cATArino LoPes

Nº Domínio Ms. Escudo Descrição Iconografia Iconografia


ms. S ms. Z
22 Rey de la isla S =XVIII tales commo el Rey
de Irlanda de inglaterra

Rey de la Ysla Z XX atales commo el rrey


de Yrlanda de Jnglatierra

23 Rey de la isla S =VII Vn pendon de oro


de Ibernia con vn leon prieto
commo el Rey de
noruega

Rey de la Ysla Z XXI (…)


de Ybernia XXI bis

24 Reynado de S XIX Vn pendon bermejo


Granada con letras de oro
aravigas como las
traya mahomad su
profeta

Reynado de Z XXII Vn pendon vermejo


Granada con letras de oro
aravjgas commo las
traya Mahomad su
propheta
25 Rey de Aragon S XX Nueue bastones
amarillos et bermejos

Rey de Aragón Z XXIII (…)

26 Señor de S XXI Vn pendon blanco


Narbona com vna cruz bermeja
como la de tolosa et en
cada quarto vna tal
señal porque esta çibdat
fue de don RemonDo
conde de tholosa

26 Señor de Z XXIV Vn pendon blanco


Narbona com vna cruz
bermeja commo la
de Tolosa, et en cada
vn quarto tal señal
porque fue la çivdat
de don Rremon,
conde de Tolosa
continua...

172
o mundo como LugAr de Poderes no «Livro do conhecimenTo»

Nº Domínio Ms. Escudo Descrição Iconografia Iconografia


ms. S ms. Z
27 Señor de S XXII Vn pendon blanco
Genoua com vna cruz
bermeja ençima esta
escripto justiçia

Señor de Z XXV Vn pendon blanco


Génoa com vna cruz
vermeja et ençima
scripto esta “Justiçia”
28 Reyno de S XXIII (…)
Lonbardia

Tierra de Z XXVI (…)


Lonbardía

29 Señor de Pissa S XXIV Vn pendon todo


colorado

Señor de Pisa Z XXVII Vn pendon todo


vermejo

30 Señor de S =III Vn pendon blanco


Toscana con vna cruz bermeja

Señor de Z XXVIII Vn pendon blanco


Florençia con vna cruz vermeja

31 Çibdat de S XXV Vn pendon bermejo


Roma com vna vanda de
oro en que son letras

Ciudad de Z XXIX Vn pendon vermejo


Roma con vna banda de oro
en que son vnas letras
32 Rey de Napol S XXVI Vn pendon Cardeno
com flores de oro por
quel Rey es de la casa
de françia et ençima
es vna lista bermeja
que dizen el Restello

Rey de Nápol Z XXX Vn pendon cardeno


com flores de oro,
porquel rrey es de la
casa de Françia; et
ençima es vna lista
vermeja que dizen el
rrestello
continua...

173
PAuLo cATArino LoPes

Nº Domínio Ms. Escudo Descrição Iconografia Iconografia


ms. S ms. Z
33 Rey de la Isla S XXVII Vn pendon a
de Çeçilia quarterones los dos
quartos son blancos
con dos aguilas
prietas et los otros
dos quartos bastones
bermejos et amarillos
por que el Rey es de
la casa de Aragon

Rey de la Ysla Z XXXI Vn pendon a


de Çeçilia quoarterones, los dos
coartos blancos con
dos agujllas prietas et
los otros dos coartos
a bastones vermejos
et amarillos
34 Señor de S XXVIII Vn pendon blanco
Veneçia com vn leon bermejo
con alas commo
el euangelista sant
marcos

Señor de Z XXXII Vn pendon blanco


Venesçia com vn leon vermejo
con alas commo Sant
Marchos evangelista
35 Rey de S XXIX Vn pendon amarillo
Esclauonia a meitades en la
meitad bermeja que
esta çerca la vara esta
vna estrella blanca et
la outra meitad del
cabo es amarilla

Rey de Z XXXIII Vn pendon a


Esclavonia meatades; la meitad
que esta çerca la vara
es vermeja con vna
estrella blanca et la
otra meatad amarilla
36 Señor de S XXX Señales tales como el
Sierra Boxina Rey de la esclauonia

Señor de Z XXXIV Vn pendo atal


Sierra Vóxina commo el rrey de
Esclauonja
continua...

174
o mundo como LugAr de Poderes no «Livro do conhecimenTo»

Nº Domínio Ms. Escudo Descrição Iconografia Iconografia


ms. S ms. Z
37 Rey de la Isla S XXXI Vn pendon a
de Narent quarterones los dos
quartos cardenos et
los doss blancos

Rey de la Ysla Z XXXV Vn pendon a


de Narent quoarterones, los dos
blancos et los otros
dos azules
38 Reynado de S XXXII Vn pendon a
Vngria meitades La vna
meitat com flores
de françia por que
es el Rey de la casa
de françia et la
outra meitad bandas
bermejas et blancas

Reynado de Z XXXVI Vn pendon a


Ungría meatades, la vna
meatat com las flores
de Françia, porque
el rrey es de la casa
de Françia; la outra
meatad, vandas
vermejas et blancas
39 Prinçipe de S XXXIII (…)
la Ysla de la
Morea

Príncipe de Z XXXVII (…)


la Ysla de la
Morea
40 Isla de Rodas S XXXIV (…)

Ysla de Rodes Z XXXVIII (…)

41 Rey de Satalia S XXXV Vn pendon con


ondas blancas et
cardenas et çerca de
la vara vn signo

Rey de Satalia Z XXXIX Vn pendon con


ondas blancas et
cardenas et çerca de
la vara vn sygno
continua...

175
PAuLo cATArino LoPes

Nº Domínio Ms. Escudo Descrição Iconografia Iconografia


ms. S ms. Z
42 Rey de S XXXVI (…)
Turquia

Rey de Z XL Las senalles de


Turquia57 Satalia son estas
43 Rey de S XXXVII Vn pendon prieto
Corincho com çinco cruzes
blancas

Rey de Z XLI Vn pendon prieto


Antroceta et con çinco cruzes
Corinco blancas
44 Çibdat de S XXXVIII Vn pendon a
Feradalfia meytades la vna
(Turquia) meitad blanca con
vna cruz bermeja
tal et la otra meitat
amarilla con vna
quadra bermeja

Ciudad de Z XLII Vn pendon a


Feradelfia meatades, la vna
meatad blanca con vna
cruz bermeja atal, et la
otra meatat amarilla,
con vna carda vermeja
45 Rey de Cunio S XXXIX Vn pendon con ondas
blancas et bermejas

Rey de Canio Z XLIII Vn pendon con ondas


blancas et vermejas

46 Reynado de S XL Vn pendon blanco


Sauasto con çinco cruzes
bermejas

Reynado de Z XLIV Vn pendon blanco


Sanasco con cinco cruzes
vermejas
47 Rey de Armenia S XLI (…)
la menor

Rey de Armenia Z XLV Vn pendon blanco


la Menor con vn leon vermejo

continua...
57

57
Em relação a este escudo o copista do manuscrito Z comete um equívoco, pois relaciona-o com
a cidade de Satalia quando na realidade refere-se à Turquia.

176
o mundo como LugAr de Poderes no «Livro do conhecimenTo»

Nº Domínio Ms. Escudo Descrição Iconografia Iconografia


ms. S ms. Z
48 Rey de Chipre S XLII Vn pendon a
meytades la vna
meytad cardena con
flores de oro porque
el Rey es de la casa
de françia et la otra
meytad çinco cruzes
bermejas

Rey de Chipre Z XLVI Vn pendon a


meatades, la vna
meatad cardena con
flores de oro, porque
es el rrey de la cassa
de Françia, et la
otra meatad blanca
con çinco cruzes
bermejas
49 Prouinçia de S XLIII=XL Vn pendon todo
Suria blanco con cruzes
bermejas

Suria Z XLVII Las seynales son


çinco cruzes vermejas
en canpo blanco
50 Rey de la S XLIV Vn pendon amarillo
Tierra de Jafet con vna luna blanca

Rey de la Z XLVIII Vn pendon amarillo


Tierra de Jafet con vna luna blanca
51 Reinado de S XLV Vn pendon blanco
Egipto et en medio vna luna
de azul

Reynado de Z XLIX Pendon blanco en


Egipto medjo vna luna azul
52 Rey de S XLVI Vn pendon amarillo
Alixandria et en medio vna
Rueda prieta et en la
Rueda vn leon pardo

Rey de Z L Vn pendon amarjllo


Alexandría et en medio vna
rrueda prieta et
medio de la rrueda
vn leon pardo
continua...

177
PAuLo cATArino LoPes

Nº Domínio Ms. Escudo Descrição Iconografia Iconografia


ms. S ms. Z
53 Rey de S =XLIV Vna seña amarilla
Luchon con vna luna blanca

Rey de Z LI Vna sena amarilla


Luchon con vna luna blanca
54 Rey de S XLVII Vnos touajones
Tolometa amarillos ençima de
vna lança

Rey de Z LII Vnos tobajones


Tolomea amarillos encima de
vna lança
55 Rey de Tripul S XLVIII Vn pendon blanco
de la berberia con vna palma
verde et dos llaues
bermejas

Rey de Trípol Z LIII Vn pendon blanco


de la berberia con vna palma verde
et dos llaues vermejas
56 Rey de Africa S XLIX Vn pendon blanco
con vna luna cardena

Rey de Africa Z LIV Vn pendon blanco


con vna luna cardena

57 Rey de Tunez S L Vn pendon blanco


con vna luna prieta

Rey de Túnez Z LV Vn pendon con vna


luna prieta
58 Rey de S =XX Bastones del rey de
Çerdeña aragon

Rey de Z LVI Bastones del rrey de


Sardeña Aragon

59 Isla de S LI=III Vn pendon blanco


Corçega con vna cruz bermeja

Ysla de Z LVII Vn pendon blanco


Córcega con vna cruz vermeja

60 Rey de Bone S =L Vn pendon blanco


con vna luna prieta

Rey de Bona Z LVIII Vn pendon blanco


con vna luna prieta
continua...

178
o mundo como LugAr de Poderes no «Livro do conhecimenTo»

Nº Domínio Ms. Escudo Descrição Iconografia Iconografia


ms. S ms. Z
61 Rey de S LII Vn pendon a
Costantina meitades blanco et
amarillo

Rey de Z LIX Vn pendon a


Costantina meatades blanco et
amarillo
62 Rey de Bugia S LIII Vn pendon berjo
con vna ballesta
amarilla

Rey de Bugía Z LX Vn pendon vermejo


con vna ballesta
amarilla
63 Rey de S LIV Vn pendon blanco
Brischan con vn signo

Señor de Z LXI Vn pendon blanco


Brisca con vn signo

64 Rey de la isla S LV Bastones verdes e


de Mayorcas prietos

Rey de Z LXII Bastones atales


Mallorcas
65 Rey de S =XLV Vn pendon blanco
Tremeçen con vna luna azul

Reynado de Z LXIII Vn pendon blanco


Tremeçen con vna luna de azul
66 Rey de Çepta S LVI Vn pendon bermejo
con dos llaues
blancas

Rey de Çepta Z LXIV Vn pendon vermejo


con llaues blancas
67 Rey de Fez S LVII Vn pendon todo
blanco

Rey de Fez Z LXV Vn pendon todo


blanco
68 Rey de S LVIII Vn pendon bermejo
Marruecos con vn axedrez prieto
et blanco

Rey de Z LXVI Vn pendon vermejo


Marruecos con vn axedrex
prieto et blanco
continua...

179
PAuLo cATArino LoPes

Nº Domínio Ms. Escudo Descrição Iconografia Iconografia


ms. S ms. Z
69 Rey de Çuçia S LIX (…)

Rey de Çuçia Z LXVII Vn pendon blanco


con vn leon prieto

70 Rey de S LX Vn pendon blanco


Sulgumença con vna Raiz de
palma verde

Rey de Z LXVIII Vn pendon blanco


Sujulmença con vna rrayz de
palma verde
71 Rey de S LXI Vn pendon blanco et
Tocoron en medio vn monte
prieto commo el Rey
de guynoa

Rey de Z LXIX Vn pendon blanco et


Tocorón en medio vn monte
prieto, atal como el
rrey de Guynoya
72 Çibdat de S LXII Vn pendon blanco
Buda con vna luna
bermeja

Ciudad de Z LXX Vn pendon blanco


Buda con vna luna
vermeya
73 Rey de S LXIII Vn Pendon de oro et
Guinoa en medyo vn monte
Prieto

Rey de Z LXXI Vn Pendon de oro e


Guinoya en medio vn monte
prieto
74 Rey de S LXIV Vn pendon blanco
Organa Con vna palma verde
et dos llaues

Rey de Z LXXII Vn pendon blanco


Organa con vna palma verde
et dos llaues
75 Rey de Tauser S =LXIII Vn pendon de oro
con vn monte prieto
como el Rey de
guynoa

continua...

180
o mundo como LugAr de Poderes no «Livro do conhecimenTo»

Nº Domínio Ms. Escudo Descrição Iconografia Iconografia


ms. S ms. Z
75 Reynado de Z LXXIII Vn pendon de oro
Taniser con vn monte prieto
como lo ha el rrey de
Gujnoya
76 Rey de S LXV Vn pendon cardeno
Tremisin con vna luna blanca

Rey de Z LXXIV Vn pendon cardeno


Trimisén con vna luna blanca

77 Rey de S LXVI Vn pendon blanco


Dongola con vna cruz fecha

Rey de Don Z LXXV Vn pendon con vna


Gola cruz prieta

78 Rey de la S LXVII Vn pendon blanco


Ynsola Gropis con la figura de su idol

Rey de la Z LXXVI Vn pendon blanco


Ínsula Gropis con su ydolo

79 Reinado de S LXVIII=XLVII Vnos touajones de


Gotonye oro en vna lança

Reynado de Z LXXVII Vnos tobajones de


Geconie oro atados en vna
lança
80 Rey de S LXIX Vn pendon blanco
Amenuan con vna idola

Rey de Z LXXVIII Vn pendon blanco


Amemian con vna ydola

81 Graçiona S LXX Vn pendon de plata


(Enperador con vna cruz Prieta
abdeselib

Enperador Z LXXIX Vn pendon con vna


Abdeselib cruz prieta
82 Preste iohan S LXXI Vn pendon de plata
con vna cruz prieta
et de amas partes dos
blagos

Preste Johán Z LXXX Vn pendon de plata


con vna cruz prieta
e de amas partes dos
blancas
continua...

181
PAuLo cATArino LoPes

Nº Domínio Ms. Escudo Descrição Iconografia Iconografia


ms. S ms. Z
83 Enperador de S =LXVI Vn pendon blanco
Magdasor con vna cruz prieta

Enperador de Z LXXXI Vn pendon blanco


Magdasor con vna cruz prieta

84 Çibdat de S LXXII (…)


Bandacha

Señor de Z LXXXII Vn pendon de plata


Bandacha con esta señal

85 Rey de Z LXXXIII Las senalles que ha el


Mesopotamia rrey de Bandaca e de
Baldaque, que es tal
vn pendon de plata
con esta señal

86 Çibdat de S LXXIII Vn pendon bermejo


Mechan et enmedio letras de
oro arauigas

Çibdat de Z LXXXIV Vn pendon vermejo


Meca en medio letras de
oro araujgas
87 Çibdat de S LXXIV Vn pendon bermejo
Sicroca con letras araujgas

Ciudad de Z LXXXV Trae estas mjsmas


Sicroca senalles, que son
commo las de Meca
88 Rey de Delini S LXXV Vn pendon de plata
con vn baston de
oro

Reynado de Z LXXXVI Vn pendon de plata


Delini con vn baston de
oro
89 Rey de Viguy S =LXXV Vn pendon de plata
con vn baston de oro

Rey de Vyguya Z LXXXVII Vn pendon de plata


con vn baston de
oro por medio atal
commo el Diljni, asi
fecho
continua...

182
o mundo como LugAr de Poderes no «Livro do conhecimenTo»

Nº Domínio Ms. Escudo Descrição Iconografia Iconografia


ms. S ms. Z
90 Rey de S =LXXV Vn pendon de plata
Oxanap con vn baston de oro

Rey de Oxavat Z LXXXVIII Vn pendon de plata


con vn baston de oro

91 Jnsula de Jaua S LXXVI (…)

Ínsola de Java Z LXXXIX adoran al jnperador


de Catayo, cuyos
vasallos son, et traen
su ymagen en los
pendones
92 Jmperio de S =LXXV Vn pendon de plata
Armalec con vn baston de oro

Imperio de Z XC Vn pendon de plata


Almalec con vn baston de oro

93 Enperador de S LXXVII Vn pendon de oro


Catayo et en medio vn
emperador asentado
con paños blancos et
tiene corona jmperial
en la cabeça et en la
mano vn arco torqui
et en la otra mano
vna mançana de oro

Enperador de Z XCI Sus senalles son vn


Catayo o Gran enperador asentado
Can en vn pendon de
oro et vestido de
paños blancos, et
tiene corona jnperial
en la cabeça et en la
mano, vn arco turquj
e en la otra mano,
vna mançana
94 Rey de Sçim S LXXVIII Vn pendon de plata
et en medio la figura
del sol

Rey de Sçim Z XCII Vn pendon de plata


et en medio la figura
del sol
continua...

183
PAuLo cATArino LoPes

Nº Domínio Ms. Escudo Descrição Iconografia Iconografia


ms. S ms. Z
95 Reyes de S LXXIX Sendos pendones
Bocarin et amarilllos con
Cato estrellas blancas
muchas

Rey de Z XCIII vn pendon amarilllo


Bocarin con seys strellas
blancas

96 Rey de Cato Z XCIV Ha por senaççes


otras tales commo las
del rrey de Bocarin,
vn pendon amarilllo
con strellas

97 Rey de S LXXX Vn pendon blanco


Norgancia conestas señales
bermejas como
vxbeco emperador
de sara

Rey de Z XCV Vn pendon con


Norgançia esta senal vermeja
commo Vxtete,
jnperador de Sara

98 Emperador de S LXXXI Vn pendon de oro et


Persia en medio vna quadra
bermeja

Enperador de Z XCVI Vn pendon de oro et


Persia en medio vna quadra
vermeja
99 Rey de S =LXXXI Vn pendon de oro et
Saldania en medio vna quadra
bermeja

Rey de Z XCVII Vn pendon de oro


Saldena con vn quoadro
vermejo atal en
medio

100 Rey de S LXXXII Vn pendon bermejo


Salonico con vna cruz de oro
et quatro eslabones
de oro

continua...

184
o mundo como LugAr de Poderes no «Livro do conhecimenTo»

Nº Domínio Ms. Escudo Descrição Iconografia Iconografia


ms. S ms. Z
101 Emperador de S LXXXIII Vn pendon a
Costantinopla quarterones los dos
quartos blancos
con cruzes bermejas
et los otros dos
quarterones son
bermejos con sendas
cruzes de oro et con
quatro eslabones
de oro

102 Rey de S =LXXXII Vn pendon bermejo


Lodomago con vna cruz de oro
et quatro eslabones
de oro

103 Reino de S =LXXXII Vn pendon bermejo


Mesenbez con vna cruz de oro
con quatro eslabones
de oro

104 Ciudad Vecina S LXXXIV Vn pendon blanco


con estas señales
bermejas

105 Reynados de S =LXXX Pendones blancos


Comania, con señales bermejas
Tana et como las de vxleto
Canardi porque son sus
vasallos

106 Rey de Sant S LXXXV Vn pendon bermejo


Estropoli con vna mano blanca

107 Emperador de S LXXXVI Vn pendon bermejo


Trapesonda con vn aguila de oro
con dos cabeças

108 Rey de Semiso S LXXXVII Vn pendon blanco


con vn signo tal
como este

continua...

185
PAuLo cATArino LoPes

Nº Domínio Ms. Escudo Descrição Iconografia Iconografia


ms. S ms. Z
109 Reynado de S =LXXXII Vn pendon bermejo
Castelle con una cruz de oro
et quatro eslauones
de oro

110 Rey de S =LXXX (…)


Palolimen

111 Rey de S LXXXVIII Vn pendon con


Feradelfia vandas blancas et
cardenas et cerca de la
vara vna cruz bermeja
el campo blanco

112 Rey de S LXXXIX Vn pendon bermejo


Atologo et en medio una
rueda prieta

113 Rey de S =LXXX Ha por señales asi


Deruent como vxbeco porque
es su vasallo

114 Rey de Caraol S =LXXXI Vn pendon amarillo


con quadra bermeja

115 Emperador de S =LXXX Vn pendon blanco


Sara con vna señal
bermeja

116 Rey de Sebur S =LXXX Vn pendon blanco


et señales bermejas
como el emperador
de sara

117 Rey de Sicçia S XCI Vn pendon roxo con


vn castillo blanco

continua...

186
o mundo como LugAr de Poderes no «Livro do conhecimenTo»

Nº Domínio Ms. Escudo Descrição Iconografia Iconografia


ms. S ms. Z
118 Reynado de S XCII (…)
Xorman

119 Rey de Maxar S XCII Vn pendon cardeno


con estrellas blancas

120 Rey de Siluana S XCIV Vn pendon verde


con vn alfanje
bermejo

121 Rey de Yrcania S XCV (…)


et Gotia

O resultado é inequívoco: o autor do LC concebe o mundo conhecido


como uma vasta área sob governação senhorial – individualizada pelo recurso à
representação heráldica –, que tem por base uma lógica de centro-periferia, isto é,
uma lógica onde impera o princípio do descentramento.
À medida que nos afastamos da região considerada como espaço de Ordem,
segurança e harmonia, ou seja, o espaço conhecido – o mundo de influência
mediterrânica, sobretudo o europeu –, os poderes perdem a sua força e perdem,
inclusive, a capacidade de representação (ver mapa 1).
A aplicação cartográfica dos sinais heráldicos presentes no LC, revela-
-nos um mundo político que podemos dividir em três anéis ou zonas de
influência, cuja importância vai diminuindo à medida que nos afastamos do
epicentro, isto é o Mar Mediterrâneo. Assim, em primeiro lugar, temos a
bacia do mare nostrum, em especial a margem europeia, que se estende da
Península Ibérica à Ásia Menor. Fora deste primeiro e principal perímetro
destaca-se uma vasta região que abrange (em forma elíptica horizontal) o
Norte da Europa (Ilhas Britânicas, França, Frísia, Alemanha, Polónia), as
regiões circundantes ao Mar Cáspio e as regiões do Norte do Sara. Final-
mente, numa terceira zona de influência, surgem o extremo norte da Europa
(Islândia, Escandinávia, Rússia), a Ásia central e extremo-oriental, e a África
subsariana, com particular incidência na região da Etiópia e da Somália. Para

187
Mapa 1
188

23 N
121
17
18

117 119
15 116
20 19
10 16
12
22
21
14 13 118
9
8
7 115
11 120
105
6 36 38
28
34 35
27 102
29
3 5 104 97
4 30 37 106 113
26 31 109 108
103 101 96
1 59 32 100 107 92
2 25 110 114
46 47 95
64 58 42 112 94
45

PAuLo cATArino LoPes


24 33 44/111
57 39 41 43 99
66 60 49
62 56 40 98
63
67 48 50
65 61
85
68 55 54 84
53 93
70 75 52
69
51 88
72
71
74 77
76 89

86

90

73
81

87

78
79
82

83
80

91

Escala 1: 35 000 000

0 350 700 1050 1400 1750 Km


o mundo como LugAr de Poderes no «Livro do conhecimenTo»

lá destes três anéis, que através dos emblemas heráldicos representam o poder
senhorial no mundo, fica o desconhecido, o caos, a desordem, o anti-mundo.
A distribuição dos sinais heráldicos pelos três continentes conhecidos (ver
quadro 6 e gráfico correspondente), acaba por corroborar esta visão do mundo:
a Europa abarca 58 sinais, aproximadamente metade do total de 121. A Ásia e a
África apresentam valores aproximados, o que confirma a tese dos anéis/zonas de
influência.

Quadro 6

Continentes Sinais Heráldicos


Europa 58
África 30
Ásia 33
Total 121

Relação entre continentes

121
Sinais Heráldicos

58

30 33

0
Europa África Ásia

Continentes

No que respeita à diferenciação entre classes de armas e respectivos titulares


há que assinalar que a classe de dignidade, com 93 ocorrências, é sem dúvida a
preferida do autor do texto (ver quadro 7). Em seguida, apresenta-se a classe de
armas territoriais, com 27 ocorrências, e só depois, com apenas 1 ocorrência, a
classe de armas pessoais.

189
PAuLo cATArino LoPes

Quadro 7

Classes de Armas Titulares Oc. Totais


Pessoais Preste João 1 1
De dignidade Imperadores 8
Reis 74
Príncipes 1
Senhores 10 93
Territoriais Impérios 1
Reinos 16
Terras 1
Ilhas 3
Províncias 1
Cidades 5 27
Total geral 121

Estes valores confirmam a tese de que para o autor do LC o mundo é um


espaço de poderes senhoriais. Todos os territórios estão subordinados à autori-
dade de um potentado.
Ao nível dos titulares, seja em termos gerais, seja em termos da classe em
que se insere, a supremacia cabe de forma inequívoca aos reis (74 ocorrências).
De resto, no âmbito da classe de armas territoriais, os titulares mais referenciados
“voltam” a ser os reinos (16 ocorrências).
O LC é um documento, simultaneamente, pioneiro e único no quadro da
Europa ocidental em termos de sinais heráldicos — a sua colecção de armas de
soberanos é a mais ampla de todas as que, nos séculos XIV e XV, se fizeram no
espaço europeu. Com efeito, uma das suas maiores originalidades reside no facto
de apresentar emblemas sob a forma de um livro de viagens e de, neste âmbito das
viagens, recolher um vasto elenco heráldico relativo aos soberanos mundiais e aos
principais espaços de poder do mundo conhecido 58.
Ao nível da Península Ibérica, o LC é inequivocamente o primeiro docu-
mento a funcionar como relato de viagens e repertório heráldico. É, igualmente, o
primeiro documento a conjugar de forma, podemos dizer, maximizada, a vertente
estética e utilitária 59.

58
Cf. Maria Jesús Lacarra y Alberto Montaner, “Análisis codicológico y tradición del manuscrito Z”, op. cit..
59
Cf. Alberto Montaner “El Libro del conoscimiento como libro de armería” in Libro del conosçimiento
de todos los rregnos et tierras et señorios que son por el mundo, et de las señales et armas que han, op. cit.,
pp. 43-75.

190
o mundo como LugAr de Poderes no «Livro do conhecimenTo»

Um aspecto a reter é que a presença de tão ampla componente heráldica


funcionava exemplarmente como garante da veracidade e aplicabilidade do docu-
mento – qualidades reforçadas pelo facto de o autor se apresentar como teste-
munha pessoal desses «señales». Daí, aliás, que a relação estética/funcionalidade/
utilidade tenha certamente constituído uma das suas principais preocupações
aquando da feitura do texto.
Como é natural, os sinais heráldicos mais distantes da Cristandade possuem
algum grau de fantasia 60; no entanto, esta resulta mais do conceito de espaço do
que da vertente simbólica propriamente dita. Ou seja, o emblema não é fantástico
per se, mas porque simboliza uma remoto e exótico senhorio asiático ou africano.
O autor do LC concebe o mundo (por ele conhecido e/ou imaginado)
como uma entidade global. Comprova-o a representação heráldica que faz do
mesmo. Ora, como grande fundamento teórico desta concepção espacial de
carácter globalizante sobressai a alteridade.
Imaginários ou reais, o autor opera sempre uma avaliação dos espaços,
por forma a integrá-los na ordenada mundividência que constrói, inclusive os
territórios longínquos e exóticos, onde predomina o habitante das periferias do
mundo, que tanto encantou e excitou a imaginação do homem medievo. Falamos
dos lugares da desordem e do caos (os quais, afinal, também podem ser pensados
e enquadrados).
O conhecimento desse Outro espaço é sempre obtido através de um racio-
cínio analógico – “identifico/conheço o outro lugar por analogia com o meu,
aquele que melhor concebo e compreendo”. Vejam-se, a título de exemplo, os
casos da «Jnsula de Jaua» (nº 91 no quadro 5) e do «Enperador de Catayo» (nº 93
no quadro 5), cuja descrição textual e iconográfica reflecte de forma inequívoca
este processo cognitivo.
Na base do exercício de alteridade sobressai, pois, o olhar do anónimo
viajante enquanto portador dos seus próprios padrões culturais e geográficos;
padrões que condicionam inevitavelmente o seu juízo. Estamos, assim, perante
uma avaliação geográfica e antropológica que funciona consoante o Outro (espaço
e respectivo habitante), na imagem que dele o autor constrói, se aproxima ou
afasta do padrão que a priori definiu para si mesmo e de que não abdica.
A partir do seu código de valores referencial, ou seja, o vigente no seu
espaço de origem – a Península Ibérica – o autor avalia e concebe, enfim, o espaço
Outro.

60
Afirmamos “algum”, pois existem excepções flagrantes como comprovam os nos 91 e 93 do
quadro 5.

191
PAuLo cATArino LoPes

8. Repercussões do LC

Desde logo, a utilização das informações contidas no texto pelos conquis-


tadores das Canárias. Com efeito, o LC foi eleito por João Verrier e Pedro Bontier,
capelão e cronista de João Bethencourt, para facilitar ao seu senhor notícias sobre
as costas do Cabo Bojador, que este pensava incorporar nos seus domínios cerca
do ano de 1404.
Para além desta consequência, a única realmente provada, há que ter em
conta a validade da hipótese levantada por Peter Russell 61 em relação à even-
tual utilização do LC pelo Infante D. Henrique na preparação das expedições ao
litoral ocidental africano. Afinal, o inverosímil do itinerário do LC não impediu
que a obra fosse escolhida para guiar uma exploração com a envergadura da de
Bethencourt.
No capítulo VII da Crónica da Guiné 62 é facilmente identificável o conhe-
cimento do LC quando se noticia o desejo do Infante D. Henrique de entrar em
contacto com o Preste João, já que se afirma ser possível, através da foz do Rio
do Ouro, enquanto braço do Nilo, um tal objectivo, ou seja, a partir da costa
ocidental africana atingir a África oriental e, mais especificamente, o reino do
Preste João. De facto, o LC é bastante claro e positivo em relação a esta possibi-
lidade:

«E llegamos al rrio del Oro, de que ya conte de suso, que se parte del
Billo, el qual nasçe de las altas sierras del polo Antarico, do dizen que es el
Paraiso Terrenal, e traujesa toda tierra de Nubia et de Etyopia e partese en
dos braços, el vno ba contra el el desierto de Egipto por Damjaco, e el otro
braço mayor biene al ponjente et metese en el mar Oçidental et djzenle el
rrio del Oro.» 63

Por outro lado, ainda na Crónica da Guiné, no capítulo XVI, também se


refere como, chegados ao Rio do Ouro, procuraram os homens do Infante averi-
guar se havia do Preste João qualquer notícia.
De resto, no LC surge ainda uma segunda possibilidade de atingir a África
oriental pelo litoral ocidental:

61
Cf. Peter E. Russell, “A Quest Too Far: Henry the Navigator and Prester John”, op. cit.; Idem,
“The Infante Dom Henrique and the Libro del conoscimiento del mundo”, op. cit..
62
Cf. Gomes Eanes de Zurara, Crónica da Guiné, Lisboa, Civilização, 1998.
63
ms. Z, escudo LXXVI

192
o mundo como LugAr de Poderes no «Livro do conhecimenTo»

«Et en este rreynado Amemjan entra vn braço del rrio Eufrates el que nasçe
de ças altas syerras del polo Antarico, do dizen que es el paraiso Terrenal.
E este rrio Eufrates fazese tres braços; el vn braço entra por medio del
rreyno de Amemjan, e los otros dos braços çercan todo el rreyno que han
en ancho en algunos lugares dos jornadas. E asy es el rreyno muy grande.
E dende trabese el dicto rrio et andude muy grant camjno en su rribera
que es mucho poblada, e llegue a vna grand çivdat que le dizen Graçiona,
que es cabeça del jnperio [de] Abdeselib que qujere dezir sieruo de la cruz.
E este Abdeselib es de la ygleia de Nubia e de Ethyopia e este defiende al
Preste Johan, que es patriarcha de Nubia et de Ethyopia, e señorea muy
grandes tierras et muchas çivdades de christianos» 64.

Outra repercussão, desta feita de carácter mais abstracto, provocada pelo


LC inscreve-se na teoria defendida por Hans Robert Jauss de que uma obra lite-
rária determina e é determinada pelo auditório que a recebe. Por outras palavras,
o texto não atinge o auditório como se tivesse surgido do nada. Há uma aclima-
tação provocada por obras precedentes da mesma índole, a qual vai ser reforçada
pela chegada do novo documento, que assim, por sua vez, contribui e determina
a forma como o texto seguinte será recebido por esse mesmo auditório 65.
Esta tese de Jauss vai de encontro à forma como os relatos de viagens
eram recebidos na transição do século XIV para o século XV. Com efeito,
estas narrativas tiveram inevitavelmente repercussões na vivência das socie-
dades que as viram nascer. Por um lado, porque contribuíam para a ampliação
do horizonte de conhecimentos dessas mesmas sociedades; por outro lado,
porque satisfaziam uma necessidade escatológica de fugir à monotonia do
quotidiano e, consequentemente, alimentavam, sobretudo em termos do
grupo social cavaleiresco, um desejo de percorrer os caminhos do mundo.
De facto, o fascínio pelo novo e o desconhecido transmitido por estes relatos,
aliado à própria experimentação do viajante que sempre desejava ir mais além,
constituíam um permanente incentivo para novas empresas que, no caso do
mundo peninsular, culminaria com os descobrimentos geográficos dos finais
da Idade Média.
Não surpreende, por tudo isto, que na primeira metade do século XV,
o LC tenha alcançado grande popularidade, sobretudo em Castela. Afinal,
como já assinalámos, a sua singularidade e aparente verosimilhança fizeram

64
ms. Z, escudo LXXIX. De salientar que neste ponto do itinerário, o autor do LC engana-se ao
evocar o rio Eufrates.
65
Cf. Hans Robert Jauss, op. cit. p. 23 e 25.

193
PAuLo cATArino LoPes

com que nos inícios de Quatrocentos, os cronistas da expedição francesa às


Canárias tivessem recorrido ao seu conteúdo, considerando-o uma fonte rigo-
rosa e fidedigna.

Conclusão

Relação apresentada como verídica, na qual o autor descreve, na primeira


pessoa, as suas deslocações por vastas e longínquas regiões – que, ao fim e ao cabo,
abarcam todo o mundo conhecido à época 66 –, o LC impõe-se como um dos
textos ibéricos mais significativos ao nível da representação do espaço enquanto
lugar de poderes 67.
Prova maior desta premissa é a atenção dedicada ao tópico da heráldica.
Uma atenção tão criteriosa quando abrangente: o mundo apresenta-se organi-
zado como uma vasta rede de poderes devidamente classificados e estabelecidos,
cabendo à iconografia heráldica ordenar esta classificação mediante a identificação
dos grandes protagonistas do poder (neste processo destaca-se o papel determi-
nante do exercício da alteridade).
Por outras palavras, é o escudo heráldico per se que garante a lógica orga-
nizativa do mundo e, consequentemente, a compreensão do mesmo enquanto
espaço integrado de poderes.
Noutra vertente, o princípio intrínseco que marca e define a visão do
mundo presente no LC reside na combinação harmoniosa de dois tópicos: uma
estruturante lógica de centro-periferia e uma concepção integral do espaço que
compõe o mundo. É com base em tal combinação que o autor pode, com segu-
rança, avançar o itinerário e a cidade como grandes eixos do relato – em relação
a esta última, especificamente, sobressai o estatuto central na definição de terri-
tórios e na qualidade de centro organizador de toda a vida política, económica e
cultural.
Daqui resulta uma visão do mundo nobiliárquica, unitária e totalizadora:
o mundo é um espaço senhorial, simbolicamente identificado por via da herál-
dica. Por outras palavras, é por excelência um espaço político onde o poder dos
senhores leigos se sobrepõe ao poder dos eclesiásticos. Não há terra de ninguém.
Tudo tem um senhor. É o primado do mundo como um conjunto de poderes,

66
Cf. María Jesús Lacarra, “La imaginación en los primeros libros de viajes”, op. cit..
67
Prova de que o LC corresponde a uma determinada mundividência e, mais especificamente,
a uma determinada concepção do espaço pelo homem coevo da sua redacção, são, em última
análise, as já enunciadas repercussões da obra.

194
o mundo como LugAr de Poderes no «Livro do conhecimenTo»

claramente repartidos. Estamos então perante uma poderosa antevisão do que


será Tordesilhas 68 e a concepção geopolítica que marcará o modernismo.
A vertente didáctica e utilitária do LC é particularmente reveladora da
forma como este acompanha o espírito de inovação e mudança que caracteriza
a Europa ocidental da Baixa Idade Média. Por um lado, o LC constitui uma
perfeita relação entre cartografia e conhecimentos letrados, como é caracterís-
tico das cartas náuticas ibéricas coevas, em particular as portuguesas. Por outro,
configura-se como um precioso instrumento de apreensão, compreensão e repre-
sentação da realidade que se poderia deparar ao narrador/viajante ao percorrer
vias terrestres e marítimas, reais ou imaginárias.
Nesta medida, o LC reflecte a emergência do homem renascentista, aquele
que não receia utilizar a experiência pessoal e que concebe a escrita e o elemento
imagético como um meio fundamental para preservar, acrescentar e inclusive
manipular o saber adquirido.
Se ao longo dos seus fólios o mundo surge descrito em função do itine-
rário, da toponímia e dos espaços percorridos, então a viagem impõe-se neces-
sariamente como uma grande via para o conhecimento. Um conhecimento que
permite reflectir e questionar o sentido do mundo, traduzindo-se, enfim, numa
nova forma de encarar os problemas tradicionais da humanidade.
No seu conjunto, a visão do mundo que o LC apresenta deve relacionar-se
com o espaço que serviu de berço ao seu autor: a Península Ibérica dos finais do
século XIV.
Com efeito, o LC não é apenas uma original compilação de bandeiras e
escudos heráldicos, nem só uma notável enciclopédia de mirabilia. Vai muito
para além disso. Na essência, é uma fonte única no contexto dos relatos de viagens
medievais, expressando o modo como a Península Ibérica olhava o mundo – o
qual, por sua vez, apresenta-se essencialmente como um conjunto de espaços a
percorrer.
Situada numa zona periférica da Cristandade e da sua ordem e segurança,
a Ibéria percepcionava o desconhecido, isto é, o antimundo, a terra do Outro e
o diferente, onde reinavam o caos e a desordem, como um espaço que não era
necessariamente negativo. Via-o antes como uma realidade passível de ser conhe-
cida e descoberta.
Apresentado frequentemente como um mapa feito com palavras, o LC não
se contrai nos limites estáticos da carta cartográfica. Mediante a ordem narrativa

68
Referimo-nos ao Tratado de Tordesilhas, assinado na povoação castelhana de Tordesilhas em 7 de
junho de 1494, celebrado entre o reino de Portugal e o recém-formado reino da Espanha para
dividir as terras descobertas e por descobrir por ambas as Coroas fora da Europa.

195
PAuLo cATArino LoPes

ele conduz-nos por um mundo que tem coisas importantes a mostrar na e pela
viagem. E em todo este processo, o espaço assume-se como grande motor de
descoberta e reflexão.

196
UM PORMENOR NAS ARMAS DOS NORONHAS

Duarte Vilardebó Loureiro

1. Introdução

Há muito tempo, quando colaborava como “discípulo” do Mestre Bénard-


-Guedes, no seu atelier 19, no Palácio dos Coruchéus, reparei na publicação
luxuosa das edições INAPA do “Livro da Nobreza e perfeiçam das armas...”, de
António Godinho. 1 Comecei a folhear o livro para frente e para trás, maravilhado
com os desenhos. De repente, parei no fólio IX e, no último desenho daquela
página, estavam as armas de “Chefe Noronha”. Apesar de ter algumas diferenças
com a descrição que conhecia de Braamcamp Freire na Armaria Portuguesa, 2
houve um pormenor que se destacou: sob o virol estava uma coroa de espinhos,
de prata, de onde saía o leão do timbre.
Nessa altura, disse ao meu Mestre que seria interessante escrever um artigo
sobre este pormenor. Pensei que, exceptuando os coordenadores daquela edição,
Martim de Albuquerque e João Paulo de Abreu e Lima, mais ninguém deve ter
reparado neste pormenor, ou não lhe deu importância. Assim, tinha um bom
tema para abordar... mas como referi em cima, isto foi há muito tempo, já lá vão
quase duas décadas, e só agora sai da gaveta.
1
GODINHO, António, Livro da Nobreza e Perfeiçam das Armas; introdução, coordenação e
direcção gráfica de Martim de Albuquerque e João Paulo de Abreu e Lima, Lisboa, Edições
Inapa, 1987, folio IX.
2
FREIRE, Anselmo Braamcamp, Armaria Portuguesa, Lisboa, Cota d’Armas Editores e Livreiros,
1989, pp. 354 a 357.

197
duArTe viLArdebó Loureiro

Fig. 1 – Armas dos


Noronhas, fólio IX.

Fig. 2 – Pormenor do
timbre das armas dos
Noronhas onde se pode
observar a coroa de
espinhos, fólio IX.

198
um Pormenor nAs ArmAs dos noronhAs

2. Armorial do século XVI

A obra de António Godinho, com o seu longo título Livro da Nobreza e


perfeiçam das armas dos Reis christãos e nobres linhagens dos reinos e senhorios de
Portugal, foi escrita e iluminada na primeira metade do século XVI e concluída
já no reinado de D. João III. Veio completar ou suprir as insuficiências do ante-
rior armorial da autoria do rei-de-armas, João do Cró, conhecido como Livro do
Armeiro-Mor, 3 realizado no tempo de D. Manuel I que tinha entretanto orde-
nado a regulamentação da heráldica no seu reinado. 4
Segundo Braamcamp Freire, havia naquela altura três livros dos brasões
ordenados por D. Manuel, sendo o de António Godinho o terceiro. Começou
o escrivão da câmara de El-Rei “antes de 13 de Dezembro de 1521; e findou-o
depois do ano de 1528, antes porém de 16 de Setembro de 1541”. 5
Como foi mencionado anteriormente, no “Livro da Nobreza e perfeiçam
das armas...”, encontram-se no fólio IX, os desenhos com as armas da família
Noronha e também dos Noronha-Menezes (Vila Real). Na página 54 do Livro do
Armeiro-mor, na mesma disposição na folha, estão iluminadas as armas destes dois
ramos, mas sem o timbre e as armas dos Menezes de Vila Real com uma coroa
encimando o elmo. 6
Para o nosso estudo, vamos basear-nos no livro de António Godinho onde
aparece o pormenor que podemos observar na figura 2.

3. Contexto familiar e histórico

Os Noronhas em Portugal descendem todos de D. Afonso, Conde


de Noroña e de Gijon, nas Astúrias, filho bastardo de D. Henrique II, Rei de
Castela e Leão, e de sua mulher, D. Isabel, filha bastarda do Rei D. Fernando I de
Portugal. Foi um casamento de conveniência para manter a paz e as boas relações
entre os dois reinos, na mesma sequência do casamento da Infanta D. Beatriz,

3
BORGES, José Calvão (Estudo de), Livro do Armeiro-Mor, Lisboa, Academia Portuguesa da
História / Edições INAPA, 2007.
4
SOUSA, D. António Caetano de, Historia Genealogica da Casa Real Portugueza, TOMO III,
Lisboa, Edição QuidNovi/Público – Academia Portuguesa da História, 2007, p. 111.
5
FREIRE, Anselmo Braamcamp, Brasões da Sala de Sintra, volume I, Lisboa, Imprensa Nacional
- Casa da Moeda, 1996, pp. 7-23.
6
BORGES, José Calvão (Estudo de), Livro do Armeiro-Mor, Lisboa, Academia Portuguesa da
História / Edições INAPA, 2007, pág. 54.

199
duArTe viLArdebó Loureiro

irmã d’el-Rei, com D. Sancho, Conde de Albuquerque e irmão de D. Henrique


de Castela. 7
Apesar deste matrimónio não ter sido do agrado do Conde D. Afonso,
que andou foragido durante uns tempos e só por pressão de seu pai é que o acto
foi realizado e consumado, teve vários filhos com a sua mulher. 8 Após uma vida
atribulada de “desobediência e rebeldias”, os seus bens e senhorios foram confis-
cados e condenado com pena de prisão e exílio. Depois da morte do seu marido,
a Condessa D. Isabel veio para Portugal com os seus seis filhos sob a protecção do
Rei D. João I, Mestre de Avis. 9
Desta ligação, houve pelo menos seis filhos, mas apenas quatro tiveram
descendência:

1) D. Pedro de Noronha, Arcebispo de Lisboa de 1424 a 1452, teve vasta


descendência legitimada por Carta Régia, de Branca Dias Perestrelo,
filha de Bartolomeu Perestrelo, Senhor da ilha de Porto Santo;
2) D. Fernando de Noronha, Conde de Vila Real, pelo seu casamento
com D. Brites de Menezes, também com vasta descendência;
3) D. Sancho de Noronha, Conde de Odemira, cuja a descendência cai
por linha feminina, apesar de alguns ramos usarem o apelido Noronha;
4) D. Henrique de Noronha, que teve descendência ilegítima e que
também cai por linha feminina;
5) D. João de Noronha, sem descendência;
6) D. Constança de Noronha, Duquesa de Bragança, pelo seu casamento
com D. Afonso I, Duque de Bragança, mas sem geração.

Interessa-nos para este estudo, debruçar-mo-nos apenas sobre as seguintes


linhas principais e as suas primogenituras: os descendentes do Arcebispo de
Lisboa, do Conde de Vila Real e do Conde de Odemira, para podermos, por
exclusão de partes, identificar o ramo a qual pertence as armas iluminadas no
fólio IX da obra de António Godinho. São estes os três ramos, ou casas, principais
dos descendentes do Conde D. Afonso e de D. Isabel de Portugal.

7
FREIRE, Anselmo Braamcamp, Brasões da Sala de Sintra, volume I, Lisboa, Imprensa Nacional
- Casa da Moeda, 1996, pp. 47.
8
SEIXAS, Miguel Metelo de; GALVÃO-TELLES, João Bernardo, “A pedra de armas do paço
dos alcaides-mores de Óbidos: uma memória heráldica”, in Casa Nobre – Um património para o
futuro, Arcos de Valdevez: Município de Arcos de Valdevez, 2011, pp. 125-174.
9
FREIRE, Anselmo Braamcamp, Brasões da Sala de Sintra, volume I, Lisboa, Imprensa Nacional
- Casa da Moeda, 1996, pp. 48.

200
um Pormenor nAs ArmAs dos noronhAs

Não é intenção fazer-se uma análise aprofundada da evolução e diferenças


que existem nas armas dos Noronhas em relação à bordadura ou à ordem dos
quartéis. Esses pormenores apenas nos poderão ajudar a identificar o possuidor ou
confirmar o ramo a que pertencem as armas. Por isso, é conveniente começarmos
por fazer uma descrição das armas desta família como vulgarmente a conhecemos.
Na obra de Braamcamp Freire, Brasões da Sala de Sintra, as armas dos Noronha
aparecem descritas da seguinte maneira:

Fig. 3 – Armas dos Noronhas (Desenho do Autor).

“Esquartelado: o I e IV de prata, cinco escudetes de azul em cruz, cada


um carregado de cinco besantes do campo, bordadura de vermelho carre-
gada de sete castelos de oiro (Portugal); o II e III de vermelho, castelo de
oiro (Castela), o campo mantelado de prata, com dois liões batalhantes de

201
duArTe viLArdebó Loureiro

pûrpura, linguados de vermelho (Lião), bordadura de escaques de oiro e


de veirado de vermelho e prata, de vinte peças. Timbre: lião nascente de
pûrpura, armado de vermelho.”

Braamcamp refere ainda algumas diferenças que aparecem descritas


nas armas nas seguintes obras: Livro do Armeiro mor, Livro da Tôrre do Tombo,
Thesoura da nobreza, de Francisco Coelho e Thesouro da nobreza, de Frei Manuel
de Santo António.

3.1 – Vila Real

O título de conde de Vila Real foi criado por D. João I, entre 1415 e 1424,
a favor de D. Pedro de Menezes, que depois de suceder ao seu pai foi também 2º
Conde de Viana do Alentejo, 7º Almirante de Portugal, Alferes-mor do Reino,
Capitão e Governador de Ceuta, onde morreu em Setembro de 1473 e está sepul-
tado no Convento da Graça em Santarém. 10
O Conde de Vila Real foi casado três vezes. Do seu primeiro matrimónio
com D. Margarida de Miranda 11, filha ilegítima de D. Martim Afonso Charneca,
que foi Bispo do Porto e Arcebispo de Braga, 12 13 nasceram duas filhas:

1) D. Brites de Menezes, que segue;


2) D. Leonor de Menezes, que faleceu a 7 de Maio de 1452 e foi sepultada
no Mosteiro de Santo Agostinho, em Santarém. Casou a 14 de Agosto
de 1447, com D. Fernando II, 3º Duque de Bragança, sem geração.

D. Brites de Menezes, 2ª Condessa de Vila Real em vida de seu pai por este
ter cedido o título a favor da sua filha depois de ter recebido o título de Conde de

10
ZÚQUETE, Doutor Afonso Eduardo Martins (Direcção e Coordenação), Nobreza de Portugal
e do Brasil, Volume Terceiro, Lisboa, Edições Zairol. Lda, 2000, pp. 523-528.
11
D. Margarida de Miranda, ao que parece, estará sepultada no túmulo de seu marido, D. Pedro
de Menezes, no Convento da Graça, juntamente com D. Beatriz Coutinho, sua terceira mulher,
de quem descendem os Condes de Penela. Nos topos e na face lateral do túmulo estão represen-
tadas as armas do Conde de Vila Real. Na face lateral oposta, estão representados dois escudos:
o do lado esquerdo (de quem olha) partido com as armas de Menezes, Vila Real, com as armas
de Miranda. O que está à direita, também partido com as armas de Menezes, Vila Real, com as
armas de Coutinho.
12
ZÚQUETE, Doutor Afonso Eduardo Martins (Direcção e Coordenação), Nobreza de Portugal
e do Brasil, Volume Terceiro, Lisboa, Edições Zairol. Lda, 2000, p. 525.
13
FREIRE, Anselmo Braamcamp, Brasões da Sala de Sintra, volume I, Imprensa Nacional - Casa
da Moeda, Lisboa, 1996, p. 126.

202
um Pormenor nAs ArmAs dos noronhAs

Viana, veio a casar com D. Fernando de Noronha, 2º Conde de Vila Real, 14 pelo
seu casamento, irmão de D. Pedro de Noronha, Arcebispo de Lisboa, os quais
tiveram apenas dois filhos: D. Pedro de Menezes e D. João de Noronha.
O primeiro filho, homónimo de seu avô materno, D. Pedro de Menezes,
foi 1º Marquês de Vila Real e teve vasta descendência através do seu casamento
com D. Beatriz de Bragança e, também, descendência ilegítima. O ramo de Vila
Real usou por armas a dos Noronha, por ser a varonia, com um acrescentamento
honroso das armas do primeiro Conde de Vila Real colocadas em sobre-o-todo,
por ter caído a representação desta casa na varonia de D. Fernando de Noronha.

Portanto, as armas usadas pelos Noronha-Menezes (Vila Real), que variam


em alguns pormenores entre cada reprodução nos diversos armoriais, são aquelas
que vêm descritas na página 355 da Armaria Portuguesa. Estas pequenas variações
também acontecem nas diversas representações das armas plenas de Noronha.
Escolheu-se como critério tomar como base para este estudo, e julgamos que seja
para a maioria dos heraldistas, a descrição que consideramos a mais correcta e que
são aquelas que vêm descritas na Armaria Portuguesa de Braamcamp Freire.

Fig. 4 – Armas dos Condes de Vila Real e de seus descendentes (Desenho do Autor).

14
Apesar de D. Fernando já ter o tratamento de Conde de Vila Real no princípio do ano de 1434,
a Carta de Mercê só foi dada por D. Duarte a 18 de Abril de 1434, onde nela faz referência do
“desejo que o seu defunto pai D. João I tivera de lhe fazer mercê da dita vila, com esse título”. In
ZÚQUETE, Doutor Afonso Eduardo Martins (Direcção e Coordenação), Nobreza de Portugal
e do Brasil, Volume Terceiro, Lisboa, Edições Zairol, Lda, 2000, pp. 523-524.

203
duArTe viLArdebó Loureiro

“Esquartelado: o I e IV de prata, cinco escudetes de azul em cruz, cada


um carregado de cinco besantes do campo, bordadura de vermelho carre-
gada de sete castelos de oiro, e por diferença um filete de negro sobreposto
em banda; o II e III de vermelho, castelo de oiro, com portas, frestas e
lavrado de azul, o campo mantelado de prata, com dois leões batalhantes
de púrpura, armados e linguados de vermelho, bordadura de escaques de
oiro e de veiros de dezoito peças. Sobre o todo: cortado de uma traço,
partido de dois, o que faz seis quartéis: o I, III e V de ouro, dois lobos
passantes e sotopostos de púrpura; o II, IV e VI de ouro, quatro palas de
vermelho; sobre o todo, de ouro liso. Timbre: leão nascente de púrpura,
armado e linguado de vermelho.” 15

Como refere Braamcamp Freire em nota de rodapé do artigo “NORONHA,


da Casa de Vila Real”, na página 355 e 356, este ramo usou estas armas, apesar
dos filhos segundos e seus descendentes terem optado por manter o apelido
Noronha. Os chefes da Casa de Vila Real usaram o apelido Menezes e nas suas
armas “traziam no primeiro quartel do escudete sobreposto, em vez de lobos, um
estoque pela capitania de Ceuta”. 16 Isto é, “o estoque era privativo unicamente
do senhor da casa, na qualidade de capitão hereditário de Ceuta; e mais adver-
tirei ainda que só aquele e o seu imediato sucessor se apelidavam de Menezes”. 17
Assim, não só se diferenciavam entre si, mas também dos outros membros da
família.
Ainda podemos encontrar estas armas num selo que pertenceu a
D.  Fernando de Menezes, 4º Conde e 2º Marquês de Vila Real, 4º Capitão-
-mor e Governador de Ceuta e filho do antecedente. 18 Este fabuloso exemplar,
foi trabalhado com uma minúcia delicada, própria da época, e parafraseando o
autor, o Marquês de Abrantes, estamos “perante um dos mais belos trabalhos de
gravação sigilar português conhecidos”. 19 Nelas não está representada a diferença
que cabe ao titular da casa de Vila Real.

15
FREIRE, Anselmo Braamcamp, Armaria Portuguesa, Lisboa, Cota d’Armas Editores e Livreiros,
1989, p. 355.
16
FREIRE, Anselmo Braamcamp, Armaria Portuguesa, Lisboa, Cota d’Armas Editores e Livreiros,
1989, p. 357.
17
FREIRE, Anselmo Braamcamp, Brasões da Sala de Sintra, volume I, Lisboa, Imprensa Nacional
- Casa da Moeda, 1996, pp. 123-124.
18
ABRANTES, Marquês de, O Estudo da Sigilografia Medieval Portuguesa, Instituto de Cultura e
Língua Portuguesa, Lisboa, Ministério da Educação, 1983, pp. 104-106 (EXEMPLAR Nº 20).
19
ABRANTES, Marquês de, O Estudo da Sigilografia Medieval Portuguesa, Instituto de Cultura e
Língua Portuguesa, Lisboa, Ministério da Educação, 1983, p. 104.

204
um Pormenor nAs ArmAs dos noronhAs

Podemos concluir que as armas plenas de Noronha que aparecem no fólio


IX do livro de António Godinho, não dizem respeito ao ramo dos Noronha e
Menezes, nem foram usadas por nenhum descendente. Tanto mais que este ramo
está representado no mesmo fólio em cima, no lado esquerdo da página, com
a epígrafe “de Vila Real Marquês”, com a diferença exclusiva aos titulares desta
casa. 20 Os ramos colaterais usaram estas armas sem a diferença.
O ramo principal e titular extinguiu-se com D. Luís de Noronha e
Menezes, 7º Marquês de Vila Real e seu filho D. Miguel de Noronha e Menezes,
2º Duque de Caminha, que “foram justiçados e degolados em Lisboa, no dia 29
de Agosto de 1641, pelo crime de traição para com D. João IV, que, além da vida,
lhes tirou todos os bens, e com eles fundou a Casa do Infantado”. 21

Fig. 5 – Armas dos No-


ronha e Menezes e as de
Castro, da Casa de Cascais
e Monsanto (Desenho do
Autor).

O filho secundogénito dos Condes de Vila Real, D. João de Noronha,


cognominado “o Dentes”, senhor de Sortelha, foi casado com D. Joana de Castro,
senhora de Cascais e Monsanto. Dos seus seis filhos, cinco tiveram descendência
e várias vezes entroncaram na descendência de D. Pedro de Noronha, Arcebispo
de Lisboa, como é o caso de D. Guiomar de Castro casada com D. Henrique de
Noronha, entre outros, como se vai verificar mais adiante.
O seu filho mais velho, D. Pedro de Castro, foi feito 3º Conde de Monsanto,
e do seu segundo casamento com D. Inês de Ayala, teve descendência varonil nos

20
“[…] de azul, estoque de prata, empunhado de ouro, posto em pala.” in GODINHO, António;
op cit., p. 25.
21
PINTO, Albano da Silveira; SANCHES DE BAÊNA, Visconde de, Resenha das Familias Titu-
lares e Grandes de Portugal, Tomo II, 2ª Edição, Lisboa, Editora de Francisco Arthur da Silva,
Lallemant Frères, Typ., 1991, p. 180.

205
duArTe viLArdebó Loureiro

condes de Monsanto e marqueses de Cascais, títulos que se extinguiram em 1745


com a morte do último titular e foram mais tarde incorporados noutra casa que é
hoje representada pelos Marqueses de Niza.
Os dois irmãos do Conde de Monsanto, D. Simão de Castro e D. Jorge de
Castro, não tiveram descendência. Por sua vez, a sua irmã, D. Brites de Noronha
foi casada com o 2º Conde da Feira, D. Diogo Pereira, com descendência. Uma
outra sua irmã, D. Margarida de Noronha, foi casada com Francisco da Silveira,
2º Senhor de Sarzedas e também com vasta descendência. O apelido Noronha
foi usado esporadicamente por algumas senhoras descendentes de D. João de
Noronha, o Dentes, e de sua mulher D. Joana de Castro, “que veio a ser herdeira
da Casa de Castro, e Condado de Monsanto, e por isso seus filhos usarão do
apelido, e Armas de Castro”. 22 A sua filha mais nova, D. Guiomar de Castro, foi
casada com D. Henrique de Noronha, da linha do Arcebispo de Lisboa e de onde
provêm os condes dos Arcos.
Como conclusão, os descendentes de D. Fernando de Noronha, 2º Conde
de Vila Real, não usaram as armas plenas de Noronha em nenhuma destas duas
vias, ou seja, nem pelo Marquês de Vila Real nem pelo seu irmão, o Senhor de
Sortelha.

3.2 – Odemira

Ao terceiro filho do Conde D. Afonso e de D. Isabel de Portugal,


D. Sancho de Noronha, foi-lhe concedido o título de conde de Odemira, por
carta de D. Afonso V, passada a 9 de Outubro de 1446. 23 Casou com D. Mécia
de Sousa, 4ª senhora de Mortágua, de quem teve apenas uma filha.
D. Maria de Noronha, 2ª Condessa de Odemira, foi casada com D. Afonso
de Bragança, 1º Conde de Faro e 2º Conde de Odemira, pelo seu casamento, com
vasta geração.
O ramo dos Condes de Odemira usaram primitivamente o brasão de
armas dos Noronha. Mas, com a integração desta Casa com a do Conde de Faro,
através do casamento, passaram a usar as armas dos Bragança (Faro). 24 Ainda que

22
SOUSA, D. António Caetano de, Memorias Historicas, e Genealogicas dos Grandes de Portugal,
Segunda impressaõ, continuada até o presente, Lisboa, Na Regia Officina Sylviana, e da
Academia Real, MDCCLV, pp. 97-111.
23
PINTO, Albano da Silveira; SANCHES DE BAÊNA, Visconde de, Resenha das Familias Titu-
lares e Grandes de Portugal, Tomo II, 2ª Edição, Lisboa, Editora de Francisco Arthur da Silva,
Lallemant Frères, Typ., p. 760.
24
FREIRE, Anselmo Braamcamp, Armaria Portuguesa, Lisboa, Cota d’Armas Editores e Livreiros,
1989, p. 356. FARO, Condes de – de prata, aspa de vermelho carregada de cinco escudetes do

206
um Pormenor nAs ArmAs dos noronhAs

todos os descendentes legítimos tenham vindo por linha feminina, alguns desses
ramos usaram o apelido Noronha e assim dando-lhe continuidade. 25
Podemos também excluir este ramo porque não é aquele que está represen-
tado no “Livro da Nobreza e perfeiçam das armas...”, pelos motivos expostos em
cima e porque na época em que foi elaborado o dito armorial, já não se represen-
tavam com o brasão de armas dos Noronha.

Fig. 6 – Armas dos Noro-


nhas, usadas por D. Sancho
de Noronha, Conde de
Odemira, e as armas de
Faro de D. Afonso de Bra-
gança (Desenho do Autor).

3.3 – Arcos

Voltamos agora ao filho mais velho do Condes D. Afonso e D. Isabel, o


Arcebispo de Lisboa, D. Pedro de Noronha, com a sua descendência. Nasceu
D. Pedro em Gijon, nas Asturias, em 1379. Foi Bispo de Évora de 1421 a 1423,
Arcebispo de Lisboa em 1423, enviado por D. João I como embaixador à corte
de Aragão propor o casamento do infante D. Duarte com D. Leonor de Aragão,
irmã de D. Afonso V de Aragão. Teve direito ao tratamento real de Sobrinho,
Primo e Tio. Faleceu a 4 de Agosto de 1452 e foi sepultado na Capela do Santís-
simo Sacramento na Sé de Lisboa, onde se pode ler numa campa rasa a seguinte
inscrição:

campo sobrecarregados cada um doutros cinco escudetes de azul, postos em cruz e em cada um
cinco besantes de prata; bordadura dos escudetes, de vermelho carregada de sete castelos de ouro.
Timbre: cavalo nascente de prata, bridado de vermelho, enfreiado de ouro, com três lançadas em
sangue no pescoço.
25
FREIRE, Anselmo Braamcamp, Brasões da Sala de Sintra, volume I, Lisboa, Imprensa Nacional
- Casa da Moeda, 1996, p. 48.

207
duArTe viLArdebó Loureiro

“AQUI JAZ O R.MO EM XP.º O S.R


DOM PEDRO ARCEBISPO Q FOY
DESTA CIDADE, NETO DO NOBRE
REY D. FERNANDO DE PORTUGAL,
E NETO DE ELREY D. HENRIQUE
DE CASTELLA, CUJA ALMA DEOS
HAJA, O QUAL FINADO A 4
DE AGOSTO, ANNO 1452.” 26

Para estudarmos as armas usadas pelo Arcebispo D. Pedro, o melhor é


basear-mo-nos em uns exemplares sigilográficos e em algumas pedras de armas.
Existem dois selos muito semelhantes que estão representados na obra do Marquês
de Abrantes. Um primeiro exemplar, de 30 de Janeiro de 1427, pendente em
um documento a favor da colegiada de Santo Estêvão de Alfama, 27 tem no I e
IV quartéis as armas de Castela-Leão e no II e III, as de Portugal e uma borda-
dura com veiros e castelos. O escudo é encimado por uma cruz pometada ou
florenciada. 28 A disposição dos quartéis é a mesma da pedra de armas 29 (fig. 7)
seiscentista que está situada no Convento do Carmo, em Lisboa. Neste selo é
curioso observar a forma como as peças foram dispostas na bordadura, estando
esta mal representada como se poderá observar na fig. 8. 30 No entanto, Marquês
de Abrantes faz uma má leitura deste selo afirmando que a bordadura é carregada
com dezassete grades sarracenas. 31

26
CASTILHO, Júlio de, Lisboa Antiga, volume VI, 2ª Edição, Lisboa, S. Industriais da C.M.L.,
1936, p. 135.
27
ABRANTES, Marquês de, O Estudo da Sigilografia Medieval Portuguesa, Lisboa, Instituto de
Cultura e Língua Portuguesa, Ministério da Educação, 1983, p. 303 (EXEMPLAR Nº 438).
28
Não se consegue distinguir devido ao desgaste do selo.
29
Descrição heráldica da pedra de armas que se encontra no Convento do Carmo, em Lisboa: Escudo
esquartelado: no I e IV de vermelho, castelo de ouro, com portas, frestas e lavrado de azul, o campo
mantelado de prata, com dois leões batalhantes, com as patas dianteiras cruzadas de púrpura, armados
e linguados de vermelho, bordadura de escaques de ouro e veiros de dezoito peças; no II e IV de prata,
cinco escudetes de azul postos em cruz, cada um carregado com cinco besantes do campo; bordadura
de vermelho, carregada de oito castelos no II quartel e de sete no III quartel, de ouro.
30
Ainda acerca deste selo, Armando de Mattos, no seu estudo sobre a Heráldica dos Noronhas, faz
também uma má leitura, afirmando que a bordadura é composta unicamente por veiros, como
sinal de bastardia e, como se pode confirmar, após uma observação mais cuidada, a bordadura
é composta por veiros e castelos. In MATTOS, Armando de (Director dos Museus Municipais
e Biblioteca Pública de Gaia), “A Heráldica dos Noronhas”, Separata da Revista Brotéria, Vol.
XXVI, Fasc. 3, Lisboa, 1938.
31
Braamcamp Freire em nota de roda pé faz a descrição de uma selo semelhante a este, encontrado
numa sentença de 4 de Janeiro de 1427, passada a Vasco Esteves, onde refere que a bordadura

208
um Pormenor nAs ArmAs dos noronhAs

Fig. 7 – Pedra de
armas dos Noronhas,
que se encontra no
Convento do Carmo,
em Lisboa.

O outro exemplar, um pendente num documento de 15 de Maio de


1452, autorizando o aforamento de uma propriedade pela Colegiada de Santa
Marinha, de Lisboa, tem um escudo igual ao anterior, encimado por um busto
representando um santo (?) com uma cruz florenciada à dextra e, sobre o escudo,
à sinistra, a roda de Santa Catarina. Ao descrever as armas, Marquês de Abrantes
volta a cometer o mesmo erro dizendo que o escudo tem uma bordadura carre-
gada com dezoito castelos. 32

está carregada de dezassete castelos. Devido à proximidade nas datas das sentenças, penso que
também deve haver aqui um equívoco em relação às peças na bordadura. In FREIRE, Anselmo
Braamcamp, Brasões da Sala de Sintra, volume I, Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da Moeda,
1996, p. 48.
32
ABRANTES, Marquês de, O Estudo da Sigilografia Medieval Portuguesa, Lisboa, Instituto de
Cultura e Língua Portuguesa, Ministério da Educação, 1983, p. 310 (EXEMPLAR Nº 450).

209
duArTe viLArdebó Loureiro

Fig. 8 – Representação
gráfica das armas que estão
nos selos referentes ao do-
cumento de 1427, perten-
centes ao Arcebispo de Lis-
boa, D. Pedro de Noronha
(Desenho do Autor).

É óbvio que, pelas regras de transmissão, 33 neste brasão de armas, no


primeiro quartel se encontrem as armas de Castela-Leão, visto ser a varonia
do Arcebispo, através do seu pai, D. Afonso, e avô paterno, D. Henrique II de
Castela. E também pelo facto de sua mãe ter vindo para Portugal só depois da
morte de seu pai em 1395.
Um terceiro exemplar aparece num estudo sobre heráldica em selos ecle-
siásticos referindo o selo de D. Pedro de Noronha, Arcebispo de Lisboa como o
primeiro caso da representação da mitra com as suas ínfulas encimando o escudo.
Este selo é posterior aos outros dois exemplares visto que neste caso a disposição
do esquartelado altera-se estando no I e IV as armas de Portugal e no II e III o
mantelado de Castela e Leão. A bordadura é composta por catorze castelos. 34
Podemos comparar este selo com a pedra de armas que está colocada no Palácio
do Salvador, em Lisboa, com a diferença que o número de castelos é de sete (fig. 9).

De D. Branca Dias Perestrelo, filha, dizem uns, de Bartolomeu Perestrelo,


Senhor da Ilha de Porto Santo, ou de Filipe Perestrelo, dizem outros, teve os
seguintes filhos, legitimados 35 por Carta Régia de 13 de Agosto de 1444, com
todos os direitos dos filhos legítimos:
33
SEGRAIS, René Le Juge de, Resumo da Ciência do Brasão, Trad. de Ruy Travassos Valdez,
Livraria Bertrand, MCMLI.
34
SARAIVA, Anísio Miguel; MORUJÃO, Maria do Rosário; SEIXAS, Miguel Metelo de, “L’hé-
raldique dans les sceaux du clergé séculier portugais (XIIIe – XVe siècles)”, in LOSKOUTOFF,
Yvan (coord.), Héraldique et Numismatique II – Moyen Âge – Temps Modernes, Le Havre, Presses
Universitaires de Rouen et du Havre, 2014, pp. 153-176, figure 167.
35
FELGUEIRAS GAYO, Manuel José da Costa, Nobiliário de Famílias de Portugal, VII Volume,
Braga, Edição de Carvalhos de Basto, 1992, p. 588.

210
um Pormenor nAs ArmAs dos noronhAs

1) D. João de Noronha, 36 o Velho, Alcaide-mor de Óbidos, casado duas


vezes, mas com geração extinta;
2) D. Pedro de Noronha, que segue;
3) D. Isabel de Noronha, casada com D. João, Marquês de Montemor e
Condestável do Portugal, sem geração;
4) D. Inês de Noronha, casada com D. João de Almeida, 2º Conde de
Abrantes, com vasta descendência;
5) D. Catarina de Noronha, casada com Lopo de Albuquerque, 1º Conde
de Penamacor, com vasta descendência;
6) D. Leonor de Noronha, não casou;
7) D. Fernando de Noronha, casado com D. Constança de Albuquerque,
filha de Gonçalo de Albuquerque, 3º Senhor de Vila Verde dos Francos,
e de sua mulher D. Leonor de Menezes, também com vasta descen-
dência.

D. Pedro de Noronha foi Senhor do Cadaval, Mordomo-mor do Rei


D. João II, Comendador-mor da Ordem de Santiago e Embaixador ao Papa
Inocêncio VIII. Casou com D. Catarina de Távora, filha herdeira de Martim de
Távora e de sua mulher D. Brites de Ataíde. Deste matrimónio teve três filhos:

1) D. Henrique de Noronha, que segue;


2) D. Martinho de Noronha, casado e com descendência nos Condes de
Vila Verde e Marqueses de Angeja;
3) D. Guiomar de Noronha casada com Rui Teles de Menezes, 5º Senhor
de Unhão, com geração.

D. Henrique de Noronha foi herdeiro da Casa de seu pai, Comendador-


-mor da Ordem de Santiago e Padroeiro do Mosteiro do Salvador. Foi casado com
D. Guiomar de Castro, filha de D. João de Noronha, o Dentes, do ramo de Vila
Real. Deste matrimónio nasceram D. Leão de Noronha, casado com D. Branca
de Castro, D. Joana de Noronha, sem geração, e D. Maria de Noronha, casada
com Nuno Fernandes Cabral, alcaide-mor de Belmonte, com geração.
O Mosteiro do Salvador de Lisboa está situado no Largo do Salvador,
na freguesia de Santo Estêvão, em Alfama, e pertencia à Ordem dos Pregadores
36
Existem algumas dúvidas acerca da mãe de D. João de Noronha havendo alguns autores que
declaram ser filho de uma senhora de nome Isabel. In SEIXAS, Miguel Metelo de; GALVÃO-
-TELLES, João Bernardo, “A pedra de armas do paço dos alcaides-mores de Óbidos: uma
memória heráldica”, in Casa Nobre – Um património para o futuro, Arcos de Valdevez: Município
de Arcos de Valdevez, 2011, p. 165.

211
duArTe viLArdebó Loureiro

Dominicanos. Foi fundado em 1392 pelo Bispo do Porto, D. João de Azam-


buja. 37 A história do Mosteiro assenta-se com grande influência na imagem de
Nosso Senhor Jesus Cristo e para além de inúmeras relações com as relíquias
para justificar a devoção do Convento ao Salvador, existe uma em particular que
nos interessa: “Tambem a Coroa de Eƒpinhos, que eƒtaua na cabeça do ƒancto
Crucifixo, fez sépre, & fz ainda muitos milagres em doentes da cabeça, esta Coroa
he propria que as Religioƒas deƒte Moƒteiro tem dentro na ƒua Sancriƒtia,
aonde eƒtâ guardada com muita veneração, & com a meƒma a mandão a muitos
doentes.” 38

É de referir também que no Paço dos Alcaides-mores de Óbidos existe


uma pedra de armas dos Noronhas colocada por cima da porta da entrada, sob
as armas reais. O filho mais velho do Arcebispo de Lisboa, D. João de Noronha,
foi alcaide-mor da Vila de Óbidos, sendo sepultado na era de 1492, na Igreja
de Santiago dessa vila, “em magnífico túmulo de pedra, […], com diferentes
emblemas militares e o seu escudo de armas por cima”. Na porta, apenas existe o
escudo 39 exactamente com descrição das armas que estão mencionadas em cima
e referidas por Anselmo Braamcamp Freire. O número de peças das bordaduras
diferem dos dois primeiros quartéis com os seus opostos. 40

4 – Coroa-de-Espinhos

A Coroa-de-Espinhos posta em Jesus Cristo aquando da sua crucificação, é


um dos símbolos máximos relacionados com a imagem do Salvador. Como atrás
se disse, representa o sofrimento, a humildade e a Paixão de Cristo, assim como
o símbolo da cruz onde Jesus foi pregado. Esta relíquia que tem tanto poder

37
BAPTISTA, Madre Soror Maria do (Prioresa do Mesmo Mosteiro), Livro da Fundação do
Mosteiro do Salvador da Cidade de Lisboa, Lisboa, Pedro Crasbeeck, 1618, p. 14.
38
BAPTISTA, Madre Soror Maria do (Prioresa do Mesmo Mosteiro), Livro da Fundação do
Mosteiro do Salvador da Cidade de Lisboa, Lisboa, Pedro Crasbeeck, 1618, p. 4.
39
Parece-me um pouco forçado e não se percebe bem se este escudo não terá sido colocado nesta
porta posteriormente. O estudo de Miguel Metelo de Seixas e João Bernardo Galvão-Telles
refere que o túmulo de D. João de Noronha foi destruído ou desapareceu com o terramoto de
1775 (sic). A pergunta que se coloca é a seguinte: Será que a pedra pertencia ao túmulo e foi
colocado em cima da porta depois deste terramoto?
40
SEIXAS, Miguel Metelo de; GALVÃO-TELLES, João Bernardo, “A pedra de armas do paço
dos alcaides-mores de Óbidos: uma memória heráldica”, in Casa Nobre – Um património para o
futuro, Arcos de Valdevez: Município de Arcos de Valdevez, 2011, pp. 125-174.

212
um Pormenor nAs ArmAs dos noronhAs

simbólico, que no decorrer da primeira metade do século XIII a Coroa francesa


procurou aproveita-la como símbolo do seu próprio poder. 41
A relíquia do Santo Espinho foi adquirida pelo Rei Luís IX (1214-1270)
– São Luís – ao Imperador de Constantinopla. Tal como Roma, Jerusalém ou
Constantinopla, Paris passava também a ser considerada, depois da trasladação,
uma “cidade santa”. A Coroa-de-Espinhos, que fazia parte do Tesouro do Palácio
Real de Constantinopla, veio para a Sainte-Chapelle, em Paris, onde lhe foi dada
um lugar de destaque. A Coroa-de-Espinhos foi vista como fonte de legitimidade
para a casa real francesa – é o Rei que a guarda “até aos tempos últimos” – e a
relíquia, por sua vez, também guarda a casa real. Desta forma, a posse da relíquia
insere e legitima a casa real francesa na “descendência” dos reis David e Salomão,
uma vez que Jesus descende da casa de David. Passa a haver também um para-
lelismo entre a Sainte-Chapelle, que guarda a coroa de espinhos (a nova Arca) e
o templo de Salomão, que guardava a Arca da Aliança, isto é, Paris como a nova
Jerusalém. 42

5 – Padroeiros do Mosteiro e Palácio do Salvador

O Palácio do Salvador, ao lado do Mosteiro com o mesmo nome, foi


fundado pela família do Arcebispo-Cardeal D. João Esteves de Azambuja,
no século XVI, que dele era padroeira. Uma herdeira da casa, D. Catarina de
Távora, casou com D. Pedro de Noronha, Senhor do Cadaval. Foram seu filho,
D. Henrique de Noronha e seus descendentes, padroeiros do dito Mosteiro do
Salvador. 43
Por curiosidade e dada a ligação familiar, damos notícia que teve funções
como madre soror do Mosteiro do Salvador, D. Mariana de Jesus, filha de
D. António de Noronha, terceiro neto por varonia (ilegítima) de D. Sancho de
Noronha, Conde de Odemira, e de sua mulher D. Briolanja de Vasconcelos.
Tendo falecido no dito Mosteiro no dia 26 de Março de 1613. 44

41
MERCURI, Chiara, “Stat inter spinas lilium : le Lys de France et la couronne d’épines”, Le
Moyen Age, tome CX, De Boeck Université, 2004, pp. 497-512, p. 499.
42
MERCURI, Chiara, “Stat inter spinas lilium : le Lys de France et la couronne d’épines”, Le
Moyen Age, De Boeck Université, 2004, pp. 504-507.
43
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, livro X, 2ª Edição, Colecção Conhecer, Lisboa,
Editora Veja, 1993, p. 76.
44
BAPTISTA, Madre Soror Maria do (Prioresa do Mesmo Mosteiro), Livro da Fundação do
Mosteiro do Salvador da Cidade de Lisboa, Lisboa, Pedro Crasbeeck, 1618, p. 108.

213
duArTe viLArdebó Loureiro

O Palácio do Salvador, ou dos Arcos, como também é conhecido, tem a


meio da sua fachada um portal barroco encimado por uma pedra de armas, 45
assente sobre uma elegante cartela de volutas. Os descendentes de D. Henrique
de Noronha viveram neste palácio e o seu terceiro neto por varonia, D. Tomás de
Noronha veio a ser 3º Conde dos Arcos, pelo seu casamento com D. Madalena
de Brito e Bourbon, filha de D. Luís de Lima Brito e Nogueira, 1º Conde dos
Arcos, e de sua mulher, Victoire de Cardaillac.

Fig. 9 – Pedra de armas que está por cima do portal do Palácio do Salvador, com a representação
das armas dos Condes dos Arcos.

45
Escudo esquartelado: no I e IV de prata, cinco escudetes de azul postos em cruz, cada um carre-
gado com cinco besantes do campo; no II e IV de […], torre torreada de […] entre dois leões
assaltantes de […], armados e lampassados de […]; bordadura de vermelho, carregada de sete
castelos de ouro (NORONHA, dos Condes dos Arcos). Coronel de Duque.

214
um Pormenor nAs ArmAs dos noronhAs

D. Henrique II D. Fernando I
Rei de Castela e Leão Rei de Portugal
(* 1333, Andaluzia, Sevilha - † 30.05.1379, S. Domingos de la Calzada) (* 31.10.1345, Santarém - † 22.10.1383, Lisboa)
Teve de:
Infanta D. Beatriz
(† 1381, Ledesma)
fª de D. Pedro I, Rei de Portugal e de D. Inês de Castro

∞ Burgos, 1378
D. Fernando Enriquez D. Alfonso D. Isabel de Portugal
1º Senhor de las Alcáçovas Conde de Noroña e de Gijon (* 1364 - † 04.04.1435)
(*1365 - † 1438) (ca. 1350 - † 27.08.1395, França, Marans)
∞ 1406
D. Leonor Sarmiento
C.g.

D. Pedro de Noronha D. Fernando de Noronha, 2° Conde de Vila Real D. Sancho de Noronha


Arcebispo de Lisboa (ca. 1380) 1º Conde de Odemira
(* 1379, Asturias, Gijón - † 20.08.1452) ∞ (ca. 1390)
Teve de D. Brites de Menezes ∞
Branca Dias Perestrelo 2ª Condessa de Vila Real Mécia de Sousa
4ª Senhora Mortágua

D. Pedro de Noronha D. Pedro de Menezes D. João de Noronha D. Maria de Noronha


Senhor do Cadaval 1º Marquês de Vila Real o Dentes 2ª Condessa de Odemira
(ca. 1420 - † 1491) (ca. 1425 - † 1499) Senhor de Sortelha (ca. 1440 - † ca. 1523)
∞ ∞ ∞ ∞
D. Catarina de Távora D. Beatriz de Bragança D. Joana de Castro D. Afonso de Bragança
c.g. Sra. de Cascais e Monsanto 1° Conde de Faro, 2º Conde de Odemira

D. Henrique de Noronha D. Martinho de Noronha D. Guiomar de Castro D. Sancho de Noronha


Comendador-mor da Ordem de Santiago ∞ (ca. 1470) 3º Conde de Odemira
Padroeiro do Mosteiro do Salvador D. Guiomar de Albuquerque (ca. 1470 - † 1520)
em Alfama, Lisboa 5ª Senhora de Vila Verde dos Francos ∞
Francisca da Silva

D. Leão de Noronha D. Pedro de Noronha D. Afonso de Noronha


(ca. 1490 - † 18.08.1572) 6º Senhor de Vila Verde dos Francos 3º Conde de Odemira
∞ ∞ (ca. 1490)
D. Branca de Castro D. Violante de Noronha ∞
neta materna de D. João de Noronha Maria de Ataíde, Senhora de Penacova

D. Tomás de Noronha D. Pedro de Noronha D. Sancho de Noronha


(ca. 1525) 7° Senhor de Vila Verde dos Francos 4° Conde de Odemira
∞ ∞ (ca. 1515 - † 1573)
D. Helena da Silva D. Catarina de Ataíde ∞
D. Margarida de Vilhena

D. Marcos de Noronha D. Francisco Luís de Noronha e Albuquerque D. Afonso de Noronha


(ca. 1560) 8° Senhor de Vila Verde dos Francos 5° Conde de Odemira
∞ ∞ Lisboa, Sacramento 1588 (ca. 1535 - † 04.08.1573, Alcácer Quibir)
D. Maria Henriques D. Catarina de Vilhena e Sousa ∞
D. Violante de Castro

D. Tomás de Noronha D. Pedro de Noronha e Sousa D. Sancho de Noronha


3º Conde dos Arcos 9º Senhor de Vila Verde dos Francos 6º Conde de Odemira
Padroeiro do Mosteiro do Salvador ∞ (* 1579 - † 12.12.1641)
(*1593) D. Juliana de Noronha ∞
∞ Lisboa, Salvador D. Juliana de Lara
D. Madalena de Brito e Bourbon (Arcos)
D. António de Noronha
1º Conde de Vila Verde

D. Maria de Menezes

D. Pedro António de Noronha


1º Marquês de Angeja

D. Isabel Maria Antónia de Mendonça

Fig. 10 – Esquema genealógico com a ascendência e descendência do Conde D. Afonso e de


D. Isabel com os principais ramos (Elaborado pelo Autor).

215
duArTe viLArdebó Loureiro

Apesar do 6º Conde dos Arcos, D. Marcos José de Noronha e Brito, casado


com D. Maria Xavier de Lancastre (São Miguel), ter tido uma única filha que
deixou descendência, D. Juliana Xavier de Lancastre, 7ª Condessa dos Arcos, esta
foi casada com D. Manuel José de Noronha e Menezes (Marialva), tendo assim
mantido a varonia Noronha porque o seu marido era descendente por varonia
de D. Martinho de Noronha, irmão de D. Henrique. Somente no século XIX,
com o 10º Conde dos Arcos é que a chefia das armas passa para outra família,
mudando assim o apelido.

6 – Conclusão

Para descortinar a quem pertencem as armas que estão iluminadas na obra


de António Godinho, foi necessário perceber que armas usaram os diversos ramos
dos descendentes do Conde D. Afonso e D. Isabel. Percebemos que apenas os
diversos ramos representantes do Arcebispo de Lisboa, através dos seus descen-
dentes, usaram as armas da família Noronha que estão desenhadas no fólio IX.
Os outros ramos usaram as armas dos Vila Real ou caíram por via feminina, como
é o caso dos descendentes dos Condes de Odemira. E depois de chegar às conclu-
sões supra mencionadas, concluímos também que existe uma relação entre os
padroeiros do Mosteiro do Salvador com a coroa de espinhos. Na época em que o
“Livro da Nobreza e perfeiçam das armas...” foi encomendado por D. Manuel, era
o representante da família Noronha, D. Henrique de Noronha, Comendador da
Ordem de Santiago e Padroeiro do Mosteiro do Salvador em Alfama.

Assim, existe uma grande probabilidade de podermos afirmar que estas


armas pertencem a D. Henrique de Noronha e seus descendentes e que a coroa
de espinhos no seu timbre é uma diferença pessoal que distingue este de outros
ramos, mas que nunca deve ter sido usado em outras situações.

216
HERÁLDICA DA CASA DA TORRE DE GARCIA D’ÁVILA.
ORIGENS E VÍNCULOS, NO BRASIL E ALÉM-MAR

Christovão de Avila

Na manhã de 22 abril de 1500, a frota comandada por Pedro Álvares


Cabral chegara ao Brasil, desembarcando no que ele inicialmente achou tratar-se
de uma grande ilha à qual deu o nome de Vera Cruz
(Verdadeira Cruz), depois passando a Terra de Santa
Cruz.
Ao partir, em 2 de maio de 1500, Cabral deixara
em solo brasileiro dois degredados, registrando a carta
de Pero Vaz de Caminha que, além deles, teriam ficado
dois grumetes desertores, sendo que estes, assim como
outros, teriam sido os primeiros povoadores, mas que
não conseguiram criar convívios familiares com as
índias, nem criaram seus filhos em ambiente de inte-
gração cultural das duas raças.
Não apenas os filhos de portugueses, mas
também os filhos de comerciantes clandestinos, que
visitaram o litoral brasileiro, nasceram, viveram e
morreram, sem nunca se terem dado conta da condição
de descendentes diretos de europeus.
Contendo símbolos heráldicos portugueses, em
Figura 1: Marco de Terra Brasilis, encontramos preservado, no Salão Nobre
Cananéia. do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, no Rio
Fonte: (ADONIAS, 1990, de Janeiro, o Marco de Cananéia (Figura 1), fincado
p. 34) pelos primeiros navegadores portugueses, no litoral

217
chrisTovão de AviLA

brasileiro. Datado do primeiro terço do século XVI, em pedra lioz, bastante


carcomida pelas intempéries, apresenta na face dianteira, em baixo relevo, a Cruz
de Cristo, na parte superior, e um escudo com as Quinas portuguesas, na metade
inferior.

Origens no Brasil

A primeira fase da colonização brasileira foi marcada por um processo de


miscigenação, entre europeus e índias, a que se adicionou, a partir da metade do
século XVI, a componente africana.
Nas primeiras décadas, vivendo ao completo abandono de Portugal, o
conhecimento apenas do pau-brasil não justificava maior investimento, quando
o Oriente com todas as suas riquezas aguardava as naus portuguesas. Aparente-
mente não havia ouro nem prata ou pedras preciosas, embora a terra fosse gene-
rosa, como afirmara Caminha.
As expedições que chegavam eram conquistadoras e não colonizadoras.
Entre elas, são de maior importância as de 1509 e 1512, nas quais apareceram,
respectivamente, as figuras de Diogo Álvares, o Caramuru e João Ramalho, a
quem se devem os firmes estabelecimentos da Bahia e de São Paulo.
Em missões oficiais destacam-se, em 1535 e 1549, respectivamente, Duarte
Coelho com quem veio seu cunhado Jerônimo de Albuquerque, no Nordeste,
e Garcia d’Ávila, na Bahia, este vindo com Tomé de Souza, para fundação da
primeira Capital do Brasil Colônia – a Cidade fortificada do Salvador da Bahia
de Todos os Santos.

Diogo Álvares, o Caramuru

Um português (c. 1475-1557), que viveu em Viana da Foz do Lima, hoje


Viana do Castelo, de onde partiu para o Novo Mundo, naufragou em 1509 1, na
costa da Bahia, atual bairro do Rio Vermelho, em Salvador, quando muitos de
seus companheiros foram mortos pelos tupinambás.
Sobrevivendo ao massacre ocorrido, Diogo Álvares passou a conviver com os
índios e o conhecimento adquirido dos costumes nativos em muito contribuiu para
facilitar o contato com os primeiros missionários e a administração portuguesa.

1
CALMON, Pedro, Apenas quanto a Diogo Alvares a cronologia é precisa: 1509 ..., in (CALMON,
Pedro, 1959, vol. I, p. 106).

218
heráLdicA dA cAsA dA Torre de gArciA d’áviLA.

Certamente, como mareante, comerciando na Foz do Lima, em Viana,


Caramuru conheceria a estratégia utilizada por outros navegadores para defender-
-se dos nativos bravios, com tiros de arcabuz, o que lhe valeu um convívio pacífico
e de respeito sem o que, poderia não ter sobrevivido.
Caramuru, considerado o formador da primeira família brasileira docu-
mentada, com a Índia Catarina Paraguaçu fundou a primeira fixação comprovada
contínua, do colonizador europeu, denominando-a Vila Velha, no local do atual
bairro da Graça, na Cidade do Salvador, onde se estabeleceram, além de Cara-
muru e sua família, outros de além-mar, alguns dos quais se casaram com seus
próprios filhos.
Desde os primeiros tempos, Caramuru tornou-se o maior comerciante inter-
nacional de sua época, tanto no abastecimento de navios, com frutos da terra, como
no comércio do pau-brasil com os franceses, pelo porto de Tatuapara, aonde mais
tarde viria ser construída a Torre de Garcia d’Avila, nomeada “Torre Singela de São
Pedro de Rates”, primeiro sistema de comunicações do Novo Mundo.

Figura 2: Armas: Cidade de Ávila, Reino de Galícia, Cidade de Vianna do Castelo,


Vila de São Pedro de Rates, Município de Mata de São João. 2
Fonte: Fotografias realizadas pelo autor.

Por volta de 1526, Diogo Álvares foi levado à Europa, acompanhado da


Índia do Brasil – Paraguaçu, filha de um principal tupinambá, conduzidos por
Jacques Cartier, o descobridor do Canadá, marido de Marie-Catherine Guyon
des Granches.
Em 1528, no penúltimo dia do mês de julho, em Saint Malo, na Bretanha,
a Índia Paraguaçu recebeu as águas lustrais do batismo, tomando o nome cristão
de Katherine du Brésil e tornando-se esposa de Caramuru, sendo padrinho do
batismo o nobre senhor Guyon Jamyn, reitor de Sain-Jagu, e madrinhas Katherine

2
Todos os brasões de armas aqui apresentados, foram executados pelo heraldista baiano Victor
Hugo Carneiro Lopes, sendo parte integrante do Armorial Histórico da Casa da Torre de Garcia
d’Ávila, in (AVILA, 2014, pp. 89-135) e (AVILA, digital, 2014, pp. 91-137).

219
chrisTovão de AviLA

des Granches e Franczoise Le Gobien, filha do procurador de Saint-Malo, tendo


servido como oficiante monsenhor Lancelot Ruffier, vigário geral do referido
lugar − P. Trublet, formando a primeira família brasileira, documentada.

Figura 3: Armas: Cartier, Des Granches, Le Gobien, Guyon Jamyn, Cidade de Saint Malo.
Fonte: Fotografias realizadas pelo autor.

Certidão de Batismo de Catarina Paraguaçu

“Le pénultième jour dud moys (juliet 1528) surdit fut baptisée Catherine du
Brésil, et fut compère noble homme Guyon Jamyn, recteur de Saint-Jagu, et
commère Katherine de Granches et Françzoise Le Gobien, fille de l’aloué de
Saint-Malo, et fut baptisée par Me Lancelot Ruffier, vicaire curé dud. lieu, led.
jour que dessur. − P. Trublet”. 3

Figura 4: Original da Certidão de Batismo de Catarina Paraguaçu.


Fonte: Livro de Registro Paroquial de Saint-Malo (1526-1533).

3
OBRY, Olga, Catarina do Brasil – A Índia que Descobriu a Europa, Rio de Janeiro, Atlântica,
1945, p. 39.

220
heráLdicA dA cAsA dA Torre de gArciA d’áviLA.

A volta ao Brasil, de Diogo e Catarina Álvares Caramuru

Retornando à Bahia, após cerca de quatro anos na Europa, a Índia Paraguaçu


teve um singular sonho, por diversas vezes, terminado por encontrarem uma
imagem da Virgem Maria, que um índio recolhera na praia.

“Reza a lenda contada pelos nossos primeiros historiadores que, por diversas
noites, o sono de Catarina era perturbado pela visão de uma mulher muito
alva, que afirmava ter vindo numa nau, pedindo que a mandasse buscar e
lhe fizesse uma casa. Inundada de piedade, espalhara a notícia dessa visão,
confessando que nunca deitara olhos a mais lindo rosto. Não lhe esquecia
a alvura, a majestade, o generoso sorriso, iluminado de candura angélica.
Catarina implora ao marido para que vá em busca dela. Da primeira vez,
Caramuru não a encontra, mas devido à insistência da mulher, obtém
sucesso na segunda diligência. Quando então a caixa foi aberta, Cata-
rina não tem dúvida e disse emocionada: Esta é a mulher que me aparece
em sonhos. E de joelhos, numa comoção indizível, a índia cristã venerou a
imagem, considerando-a uma visita milagrosa”. 4

A Ermida de Nossa Senhora da Graça

A pedido de Paraguaçu, Caramuru constrói uma Ermida de taipa, que


posteriormente passou a ser de pedra e cal, para onde foi transladada e começou a
ser venerada a Imagem, sob a invocação de Nossa Senhora da Graça, em atenção à
prodigiosa graça da aparição em sonhos da Mãe de Deus, à Catarina ou, em razão
da graça que fizera a náufragos espanhóis, salvos por Caramuru, revelando-lhe o
paradeiro dos mesmos.
Ao dar este título à Mãe de Deus Caramuru teria se lembrado da imagem
milagrosa encontrada por pescadores na praia de Cascais – Portugal, em 1362, à qual
denominaram Nossa Senhora da Graça, pela mercê de ter ela aparecido junto com um
lanço de peixes, que eles haviam oferecido à Virgem Maria, na Vigília da Assunção.
No dia imediato, dia da gloriosa Assunção de Nossa Senhora, a milagrosa
imagem partiu, em procissão até Lisboa, cerca de cinco léguas, para ser confiada à
guarda dos agostinianos religiosos do Convento de Santo Agostinho, que até aos

4
PAIXÃO, Dom Gregório, OSB. O Mosteiro de São Bento da Bahia, Prêmio Odebrecht Clarival
do Prado Valadares, Rio de Janeiro e São Paulo, Versal, 2011, p. 218.

221
chrisTovão de AviLA

nossos dias mantém o nome de Igreja e Convento da Graça, Paróquia de Santo


André e Santa Marinha, no Largo da Graça, em Lisboa, Portugal.

Figura 5-6: Igreja e Convento da Graça, Lisboa


Fonte: Fotografias realizadas pelo autor, em 2012.

Em Vila Velha, Paraguaçu cuida de


instruir não somente os filhos e membros de
sua família, como as irmãs de raça. É ela, então
a verdadeira senhora da Bahia, onde Caramuru
é o legítimo rei.
Sinceramente religiosa esforça-se para
converter as índias, preservando a Ermida de
Nossa Senhora da Graça, que é uma das constru-
ções históricas mais antigas e mais expressivas,
de que a Bahia se pode orgulhar, muito justa-
mente, onde o Brasil começou.

Fundação da primeira capital do


Brasil Colônia

Em 29 de março de 1549, na Povoação


do Pereira, ao lado do morro de Santo Antônio
Figura 7: Gravura de 1861. desembarcou o primeiro governador-geral Tomé
Fonte: (TORRES, 2008, p. 18) de Souza e o Padre Manoel da Nóbrega, com seus

222
heráLdicA dA cAsA dA Torre de gArciA d’áviLA.

companheiros e fundadores da Cidade do Salvador, dentre eles um Garcia d’Ávila,


sendo recebidos por Diogo e Catarina Álvares Caramuru e os tupinambás.
Subindo a encosta, acamparam em Vila Velha, a povoação de Caramuru,
onde encontraram a Ermida da Graça, assim descreve o Jesuíta Manoel da
Nóbrega:

“Chegamos a esta Bahia a 29 dias de Março de 1549. Andámos na viagem


oito semanas. Achamos a terra de paz, e quarenta ou cincoenta moradores na
povoação que antes era. Receberam-nos com grande alegria. E achamos uma
maneira de igreja junto da qual logo nos aposentamos os Padres e Irmãos em
umas casas a par dela, que não foi pouca consolação para nós, para dizermos
missa e confessarmos. E n’isto nos ocupamos agora.” 5
“Nessa maneira de igreja – da Senhora da Graça – se fez a primeira festa reli-
giosa três dias depois, quarta dominga da quadragésima, 31 de março. Disse a
missa o padre Nóbrega, aos pés do altar ele e os companheiros confirmaram os
votos; e andou entre a multidão que enchia a ermida e o terreiro assombreado
de grandes árvores”. 6

Primeiro Santuário Mariano do Brasil

Memória do passado, a igreja da Graça está intimamente unida à história


da família brasileira. Em sua nave os filhos de Diogo e Catarina Álvares Caramuru

Figura 8: Aquarela de
Victor Hugo Carneiro
Lopes. Igreja e Mostei-
ro de Nossa Senhora da
Graça, São Salvador,
Bahia, 1660.
Fonte: Acervo parti-
cular. Fotografia reali-
zada pelo autor.

5
VASCONCELOS, Simão, Chrónica da Companhia de Jesus do Estado do Brasil, Lisboa, J.
Fernandes Lopes, 1865, p. 19.
6
CALMON, Pedro, História da Fundação da Bahia, Secretaria de Educação e Saúde, Salvador,
1949, p. 155.

223
chrisTovão de AviLA

receberam o batismo da Fé, que os portugueses deixaram como a mais valiosa


herança. Foi nela que se realizaram os primeiros enlaces de que procederam
muitas das mais distintas famílias da Bahia e do Brasil.

Figura 9: Tela O Sonho de Paraguaçu, na sacristia da Igreja da Graça.


Figura 10: Altar-mor. Figura 11: Imagem sagrada de N. Sra. da Graça, no altar-mor.
Fonte: Fotografias realizadas pelo autor.

Figura 12: Retrato de Catarina Álvares Paraguaçu, Visão de Paraguaçu. Encontra-se


no Museu Histórico Nacional, desde 1940. Figura 13: Grande lápide brasonada,
na Igreja de Nossa Senhora da Graça.
Fonte: Fotografias realizadas pelo autor.

224
heráLdicA dA cAsA dA Torre de gArciA d’áviLA.

Com base na inscrição existente na tela Visão de Paraguaçu (figura 12), repetida
na grande lápide (figura 13): “D. Catharina Alz’ Paraguasú Snr.a qe foi desta Capitania
da Ba. aq. deo aos Serenissimos Snres. nossos Reys de Portugal; fundou e deo, esta Igreja da
Virgem SS. e Snra. da Graça e estas terras annexas ao Principe dos Patriarcas S. Bento.
No anno de 1582” (AVILA, 2014, p. 55), a Academia Brasílica dos Renascidos, em
1759, discutiu com jurisprudência, a posição de Catarina Paraguaçu, concluindo que
a “doação que fez da Terra da Bahia, de que era Senhora Legítima, ao Rei de Portugal, foi
Valiosa, Sincera e Verdadeira, por cuja causa lhe mandou fazer a honra da visita aniver-
sária pelo Senado da Câmara, à Igreja da Graça, no dia em que a Igreja celebra o nasci-
mento de São João Batista.” (OBRY, 1945, p. 12-15).

Genealogia e Heráldica

Sucessores de Diogo e Catarina Álvares Caramuru, primeira família brasi-


leira, documentada, entrelaçaram-se, não só na descendência de Jerônimo de
Albuquerque com a filha da aldeia de Olinda, Muira-Ubi – Maria do Espírito-
-Santo Arcoverde, considerados “primeira sociedade brasileira” como na de Garcia
d’Avila com a Índia Francisca Rodrigues, fundador da Casa da Torre, irradiados
para todo o Brasil e para o mundo. Segundo genealogistas, descendem de Cara-
muru, mais 20 milhões de brasileiros.

Figura 14: Armas: Albuquerque, Ávila, Visconde da Torre de Garcia d’Ávila, Barão de Jaguaripe
e Visconde de Pirajá.
Fonte: Fotografias realizadas pelo autor.

Os Albuquerques

Jerônimo de Albuquerque (c. 1514, Portugal − 25.dez.1584, Olinda), trazendo


o sangue das Casas Reais da Espanha, França, Inglaterra, Itália e Portugal, entre
outras, além das cores raciais comuns aos ibéricos, situa-se nas origens de Pernam-

225
chrisTovão de AviLA

buco. Era o 3º filho de Lopo de Albuquerque, que por sua vez era primo legítimo
do grande Afonso de Albuquerque, o maior nome português na expansão para a
África, Índia e Ásia. Era irmão de D. Brites de Albuquerque, mulher de Duarte
Coelho Pereira, primeiro donatário, vindo em companhia deste, a quem o rei
D. João III fez a doação da Capitania de Pernambuco.

Figura 15: Armas: Dom Afonso Henriques, Henry II − Rei da Inglaterra, Afonso X de Castela,
Casa Real Portuguesa, Casa Imperial Brasileira.
Fonte: Fotografias realizadas pelo autor.

Os genealogistas Antonio Henrique da Cunha Bueno e Carlos Eduardo


de Almeida Barata, autores do Dicionário das Famílias Brasileira 7, no verbete
Albuquerque, dão destaque ao descendente da Casa Real Portuguesa, Jerônimo
de Albuquerque, cognominado Adão Pernambucano, por sua vastíssima descen-
dência, de inúmeras mulheres, com 35 filhos, 125 netos e 220 bisnetos, encon-
trados em todo o território brasileiro e além-mar.

A Casa da Torre de Garcia D’Ávila

Garcia d’Ávila 1º fundou uma dinastia de pioneiros, perpetuada nas majes-


tosas ruínas de sua casa sua fortificada, o Castelo da Torre de Garcia d’Avila, a
Casa da Torre brasileira, que teve um importante papel na defesa territorial e
no povoamento dos sertões do Nordeste do Brasil, durante três séculos, por dez
gerações, sucedendo-se naquela Torre dez gerações, com 4 Garcias de Ávila, inter-
calados por três Franciscos de Ávila, unindo-se o Morgado da Torre com o dos
Pires de Carvalho e Albuquerque, até 1835, quando da extinção, no Brasil, do
regime de morgadio.

7
BARATA, Carlos Eduardo de Almeida e BUENO, Antônio Henrique da Cunha, Dicionário das
Famílias Brasileiras, São Paulo, Originis-X, 1999.

226
heráLdicA dA cAsA dA Torre de gArciA d’áviLA.

Figura 16: Castelo da Torre de Garcia d’Ávila, na colina de Tatuapara, Praia do Forte,
litoral norte da Bahia, Mata de São João, propriedade da Fundação Garcia D’Ávila.
Fonte: Fotografia realizada pelo autor.

O Castelo da Torre de Garcia d’Ávila

No Nordeste do Brasil, litoral norte do Estado da Bahia, encontram-se


as majestosas Ruínas do Castelo da Torre de Garcia d’Avila, ou Torre de Garcia
d’Avila ou ainda Torre de Tatuapara. Fica distante 80 km ao norte de Salvador,
e 55 km do Aeroporto Deputado Luís Eduardo Magalhães, seguindo-se pela
Estrada do Coco, Município de Mata de São João, próximo à Praia do Forte.
Primeira grande edificação portuguesa no Brasil (1551), principal sede
da Casa da Torre de Garcia d’Avila, integrava um conjunto residencial-militar,
compreendido pelo próprio Castelo, com a sua Torre e seu Muro de circunva-
lação, o Forte Garcia d’Ávila, o Porto do Açu da Torre, um Estaleiro, a primeira
Armação de Baleias e as construções de apoio aos seus Batalhões de Milícia e
Marinha da Torre.

Expansão territorial − O Morgado da Casa da Torre

Daquela Torre partiram sucessores de Paraguaçu e Caramuru, conquis-


tadores e povoadores dos sertões do nordeste do Brasil, implantando currais de

227
chrisTovão de AviLA

gado e agricultura de subsistência, alargando seus vastos domínios, num extenso


processo de miscigenação, tornando-se o Morgado da Torre o maior latifúndio
do mundo, dentro de uma área de cerca de 800.000 km2, o que representa
um décimo de todo o território brasileiro e equivale à soma das áreas totais de
Portugal, Espanha, Itália, Suíça e Holanda.
Participaram, por dez gerações, da defesa da terra ao norte da Capital, com
relevante destaque nas lutas ferozes pelo combate aos piratas e invasores, concorrendo
com a sua gente, suas armas, sua produção de mantimentos e o seu gado para vencê-
-los, à custa de enormes sacrifícios, para a consolidação do Brasil português.

A Heráldica em Apoio à História e ao Patrimônio

Promovendo pesquisas genealógicas e heráldicas, constatamos a inexis-


tência no Brasil, de uma coleção de Brasões de Armas, histórica e abrangente e
que servisse de contributo ao estudo da Heráldica e do Patrimônio da Casa da
Torre de Garcia d’Ávila.
Frente a esta razão, partindo de uma pequena coleção que pertenceu ao
descendente da Casa da Torre, Ministro do Exército General Walter Pires de
Carvalho e Albuquerque, ofertada pelo próprio, ainda em vida, coordenamos a
execução de um armorial histórico, técnico, visual e fundamentado, que, em face
do seu alto valor histórico-cultural, fomos incentivados a ampliá-lo, estendendo-
-o às famílias e instituições nacionais e estrangeiras, com vínculos importantes
para com a Casa da Torre, passando a rastrear a Heráldica Internacional do Brasil.

Figura 17: Armas Reis de Jerusalém, Papa Adriano VI, Cardeal Arcoverde, Arquidiocese de São
Salvador da Bahia, Padre Frederico White Guerra.
Fonte: Fotografia realizada pelo autor.

Foi iniciado o Armorial Histórico, em 1977, com as Armas do Barão da


Torre de Garcia d’Ávila, primeiro titular do Império do Brasil, título criado em 1º
de dezembro de 1822, dia da coroação de D. Pedro I, primeiro Imperador do

228
heráLdicA dA cAsA dA Torre de gArciA d’áviLA.

Brasil, homenageando a Casa da Torre de Garcia d’Ávila, único título brasileiro


por quase dois anos, depois elevado a Visconde, com Grandeza.

“...pelos relevantes serviços que tem prestado


com a maior honra, patriotismo, decidido
entusiasmo em bem do Estado e gloriosa
causa da Independência e Constituição do
Império; e considerando também ser a Casa
tal, por sua antiguidade e nobreza que os que
nela sucederem me poderão sempre servir e
aos meus Augustos Sucessores tão honrada-
mente como deles espero, e o fizeram os de
quem ele descende, cuja memória Me é muito
presente. etc.”

Em 1994 foi retomada a elaboração do


Armorial Histórico, resultando um empreendi-
Figura 18: Armas: Visconde mento monumental e inédito no Brasil, dadas
da Torre de Garcia d’Ávila. as suas características de uniformidade, correção
Fonte: Armorial Histórico da Casa heráldica e fundamentação genealógica, tendo
da Torre de Garcia d’Ávila. Fotogra- suas coleções iniciais submetidas a exames,
fia pelo autor obtido pareceres favoráveis e incentivadores da
sua continuidade.

Pareceres e referências sobre o Armorial Histórico: 8

• Do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Salvador, Bahia, em


18.ago.1995: Renato Berbert de Castro − Presidente em exercício.

“Examinando detidamente os brasões do Armorial da Casa da Torre, sepa-


radamente e em grupo, e levando em consideração os esclarecimentos da
Nota Explicativa sobre o nominado Armorial, concluímos pela sua plena
aprovação, baseada nos diversos enfoques − Apresentação, Técnica Herál-
dica, Amparo Bibliográfico e Finalidades. etc.”

8
Reproduções dos documentos originais, com as referências sobre o Armorial Histórico estão
publicados. Fotografias realizadas pelo autor. (AVILA, 2014 pp. 142-144).

229
chrisTovão de AviLA

• Do Instituto Genealógico da Bahia. Salvador, Bahia, em 05.nov.1995:


Jorge Calmon Moniz de Bittencourt − Presidente em exercício.

“Conheço há longos anos o trabalho do Senhor Victor Hugo Carneiro


Lopes, inicialmente como discípulo do saudoso Irmão Paulo Lachen-
mayer, OSB e, após o falecimento deste, como seu competente continu-
ador. O Senhor Victor Hugo é, hoje, um dos principais heraldistas brasi-
leiros, além de notável artista, que faz dos brasões de sua lavra notáveis
peças de arte. etc.”

• Do acadêmico da Académie Internationale d’Héraldique. Rio de Janeiro,


20.jun.1996: Rui Vieira da Cunha.

“Trata-se, o Armorial Histórico da Casa da Torre de Garcia d’Ávila, de um


trabalho heráldico sem precedentes que exprime, plasticamente, em sua
herança heráldica, um rico patrimônio histórico, das raízes europeias às
alianças contraídas nos séculos vividos neste lado do Atlântico.
Tenho a grata satisfação de informar que estou comunicando, oficial-
mente, à Académie Internationale d’Héraldique, o desenvolvimento no
Brasil deste projeto, antevendo o Armorial adventício que desponta, um
fabuloso e ilustrativo documento histórico, de forte apelo pátrio, cujo
vulto estimado é outro fator importante, uma muito louvável iniciativa
de seu coordenador Christovão de Avila, que merece todo o incentivo e
apoio. etc.”

• Da Académie Internationale d’Héraldique: Jean-Claude Loutsch − Le


Président. Bridel. Luxembourg, 02.jan.1997.

“Le relevé des armoiries de la Casa da Torre est certainement du plus grand
intérêt. Il entre dans le programme de ce qui est prévu en Europe, mais
a en plus l’avantage d’être probablement un des plus importants recueils,
non seulement du Brésil, mais de tout le Nouveau Monde. etc.” 9

9
Ofício ao presidente do Centro Cultural e de Pesquisas do Castelo da Torre, Christovão de Avila,
nomeando o acadêmico brasileiro Dr. Rui Vieira da Cunha, para supervisionar e assegurar o
nível técnico da Exposição, no Museu Histórico do Exército e Forte de Copacabana.

230
heráLdicA dA cAsA dA Torre de gArciA d’áviLA.

• Do Colégio Brasileiro de Genealogia: Redação Victorino Chermont de


Miranda.

“O Armorial Histórico da Casa da Torre de Garcia D’Avila foi tema da


palestra de nosso confrade Christovão de Avila Pires Junior, na última de
nossas sessões do ano passado. O Armorial é agora tema de bela exposição
no Museu Histórico do Exército e será em breve transformado em livro,
há muito esperado pelos heraldistas e desde já festejado pela Académie
Internationale d’Héraldique.” 10

• Do Museu Histórico do Exército e Forte de Copacabana, Rio de Janeiro,


02.jul.1997: Valmor Falkemberg Boelhouwer – Coronel, Diretor e Coman-
dante.

“O Museu Histórico do Exército apresentou, entre 6 de março e 11 de


junho de 1997, uma Exposição Temática Militar do Armorial Histórico da
Casa da Torre de Garcia d’Avila – parte da coletânea de Brasões de Armas
de personalidades e instituições desse Morgado e a ele vinculados, tendo a
supervisão heráldica da Académie Internationale d’Héraldique. Esta Expo-
sição, que teve inauguração oficial em 5 de março, sendo aberta por S.A.I.
o Príncipe Dom Pedro de Orleans e Bragança, foi visitada por inúmeras
autoridades nacionais e estrangeiras e por um público de mais de 15.000
(quinze mil) pessoas, e, após encerrada, com os mais veementes aplausos,
em 11 de junho p.p., foi transferida para o Palácio Duque de Caxias -
Ministério do Exército. etc.”

• Do Museu da Imperial Irmandade de Nossa Senhora da Glória do Outeiro,


Rio de Janeiro, jan.2003: C.I. Jorge Paes de Carvalho. Provedor da Imperial
Irmandade.

“Por ocasião do Sesquicentenário do Falecimento do Visconde da Torre de


Garcia d’Avila (1852/2002), que foi o primeiro Provedor desta Imperial
Irmandade, após a Independência, foi realizada uma Exposição do Armo-

10
Colégio Brasileiro de Genealogia, Carta Mensal n. 44, Ano VIII, Rio de Janeiro, I/ II/ 1997,
p. 6.

231
chrisTovão de AviLA

rial Histórico da Casa da Torre de Garcia d’Avila, amplamente noticiada


nos Jornais Glória do Outeiro. 11

Exposições do Armorial Histórico

Ao longo dos últimos anos o Armorial Histórico da Casa da Torre de


Garcia d’Ávila vem participado de exposições temáticas, em datas comemora-
tivas, valorizando o relacionamento com as demais regiões do Brasil e com os
inúmeros países que têm vínculos heráldicos e culturais com Diogo e Catarina
Álvares Caramuru e a Casa da Torre de Garcia d’Ávila.

Exposição Temática Militar, do Armorial


Histórico da Casa da Torre de Garcia d’Ávila.
MUSEU HISTÓRICO DO EXÉRCITO E FORTE
DE COPACABANA, Rio de Janeiro.

Da Ermida da Graça – à Igreja de Nossa


Senhora da Glória do Outeiro. MUSEU DA
IMPERIAL IRMANDADE DE NOSSA SR.A DA
GLÓRIA DO OUTEIRO, Rio de Janeiro.

11
Imperial Irmandade de Nossa Senhora da Glória do Outeiro, Glória do Outeiro, Rio de Janeiro,
Ano II, Nº 14 – jan./2003, p. 3.

232
heráLdicA dA cAsA dA Torre de gArciA d’áviLA.

Caramuru 500 anos – das Origens do Brasil


à Independência – o Heróico Vianense e uma
Princesa Índia – “Katherine du Brésil”.
MUSEU HIST. DO EX. E FTE. COPACABANA.

Das Origens do Brasil ao Erário Régio.


PALÁCIO DO MINISTÉRIO DA FAZENDA,
como parte das comemorações do Bicentenário do
Ministério da Fazenda, Rio de Janeiro.

Caramuru 500 anos – o Heróico Vianense


nas Origens do Brasil – em Tatuapara. Centro
de Visitação do CASTELO DA TORRE DE
GARCIA d’ÁVILA, Pr. Forte, Mata de S. João-BA.

Caramuru 500 anos – das Origens do Brasil


à Independência – o Heróico Vianense e uma
Princesa Índia – “Katherine du Brésil”.
MUSEU HIST. DO EX. E FTE. COPACABANA.

233
chrisTovão de AviLA

Catarina Paraguaçu
Mãe das Mães Brasileiras
e a Casa da Torre de Garcia d’Ávila
EXPOSIÇÃO NA IGREJA E MOSTEIRO DA GRAÇA DA BAHIA

Foto: CDAvila
Exposição inaugurada em 31.mar.2012, comemorativa dos 500 Anos do Nascimento de Catarina Paraguaçu e 650 anos da Nossa
Senhora da Graça, em Cascais, Portugal, acervo doado ao Mosteiro de São Bento da Bahia.
In: AVILA, Christovão de, BRASÕES DE ARMAS – Armorial Histórico da Casa da Torre de Garcia d’Ávila. Edição digital Apple. São Paulo: Europa, 2012.

Exposição comemorativa dos 250 anos da transferência da sede


do governo do Estado do Brasil para o Rio de Janeiro
EXPOSIÇÃO NO MUSEU HISTÓRICO NACIONAL

Foto: CDAvila
Apresenta acervos do MHN – pinturas, aguarelas, documentos, panoramas, mapas e plantas, louças brasonadas, armaria, etc. – e de
colecionadores particulares, a exemplo do “Armorial de Garcia d’Ávila”, pertencente a Christovão de Avila.
In: Boletim Informativo da AAMH – Associação de Amigos do Museu Histórico Nacional, Ano XVI – nº 36 – junho 2013, p. 8.

Figuras 19 a 26: 8 Exposições temáticas do Armorial Histórico.


Fonte: Fotografias realizadas pelo autor, expositor.

234
heráLdicA dA cAsA dA Torre de gArciA d’áviLA.

Figuras 27: Conjunto escultórico Caramuru e Paraguaçu, da autoria do Mestre José Rodrigues,
na Praça da República, em Viana do Castelo, inaugurado na passagem do ano 2008/2009.
Fonte: Fotografia oferecida pelo fotógrafo vianense Carlos Rocha, em 2009.

Viana do Castelo homenageou Diogo Álvares, o Caramuru

Na Exposição do Museu Histórico do Exército − Forte de Copacabana, em


2009, foi destaque uma imagem apresentada num banner de grande tamanho,
captada pelo fotógrafo vianense Carlos Rocha, do conjunto escultórico da autoria
do Mestre José Rodrigues (figura 27), inaugurado na Praça da República na noite
festiva da virada do ano 2008−2009, retratando a homenagem que a Câmara
Municipal de Viana do Castelo prestou a “Caramuru − O Vianense criador da
Brasilidade”.

Livro BRASÕES DE ARMAS

Lançado em 2014 no Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro, no


Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, em Salvador, e no Castelo a Torre de

235
chrisTovão de AviLA

Garcia d’Ávila, em Praia do Forte, Bahia, homenageando a Princesa Índia Cata-


rina Paraguaçu, transcorridos 500 anos do seu nascimento e 500 anos da chegada
do seu esposo Diogo Álvares, o Caramuru, mais antiga raiz genealógica da Casa
da Torre, no Brasil, vem despertando grande interesse, por parte de estudiosos
de Heráldica e Genealogia, e de instituições históricas e culturais, nacionais e
estrangeiras, sendo a 1.ª edição impressa (AVILA, 2014), revisada e ampliada da
primeira versão digital Apple (AVILA, 2012).

Figura 28: BRASÕES DE ARMAS – Armorial Histórico da Casa da Torre de Garcia d’Ávila.
Fonte: (AVILA, 2014) e (AVILA, digital, 2014).

Esta obra, uma publicação da Editora HEXIS com o apoio do Museu


Histórico Nacional e o patrocínio da Petrobras, documenta a riqueza histórica e
artística do Armorial da Casa da Torre de Garcia d’Ávila, reproduzindo as imagens
de 188 Brasões de Armas, transcrevendo vínculos genealógicos e institucionais,
complementado por textos de destacadas personalidades no cenário cultural.
O relato sobre a Heráldica é de autoria do único acadêmico brasileiro
da Académie Internationale d’Héraldique, o saudoso heraldista Rui Vieira da
Cunha, complementado pela heraldista Vera Bottrel Tostes, diretora do Museu
Histórico Nacional, que apresenta um olhar aguçado sobre o Armorial Histórico
e a atualidade, ficando por conta da saudosa presidente do Instituto Geográfico e
Histórico da Bahia, Consuelo Pondé de Sena, o registro dos que aportaram, nas
origens do Brasil.
É apresentada uma nota explicativa, do saudoso executor do Armorial,
Victor Hugo Carneiro Lopes, ficando documentados os pareceres oficiais, de
análise e aprovação, nacional e internacional.
O Prefácio é do Rev.mo Dom Emanuel d’Able do Amaral, OSB, Arquia-
bade do Mosteiro de São Bento da Bahia, complementada a obra pelo autor

236
heráLdicA dA cAsA dA Torre de gArciA d’áviLA.

e coordenador, com imagens, textos e a reprodução de documentos históricos,


numa síntese cultural e patrimonial, destacando as mais antigas raízes, na Igreja
da Graça da Bahia e no Castelo da Torre de Garcia d’Ávila, até a Independência e
constituição do Império do Brasil. O Posfácio é do heraldista Miguel Metelo de
Seixas, presidente do Instituto Português de Heráldica.

Catarina Paraguaçu – Mãe das Mães Brasileiras

Trata-se de um marco esquecido, dos primórdios da colonização portu-


guesa no Novo Mundo “a mais antiga da figura feminina da história do Brasil”,
como lembra Pedro Calmon, esposa que foi de Diogo Álvares Caramuru, “deste
Adão de Massapé” como celebrou Gregório de Matos, e assim registrou o Rev.
mo. Dom Emanuel d’Able do Amaral, OSB, Arquiabade do Mosteiro de São
Bento da Bahia, ao presidir uma cerimônia memorativa, nos idos de 1999, na
Igreja da de Nossa Senhora da Graça: “Uma cultura machista impede que os brasi-
leiros conheçam um pouco mais sobre a vida de Catarina Paraguaçu. Se olharmos a
história do Brasil, é ela quem dá origem ao nosso povo. Catarina foi uma presença
marcante, um paradigma para todas as mulheres por sua iniciativa, sua obra e sua
vida. Por muitos anos, entretanto, a princesa índia, que viveu até 26 de janeiro
de 1589 tinha seu santuário visitado pelos governadores-gerais e nobreza da época”.
(DANEMANN, 1999).
Não foi somente o Deus do esposo que a tupinambá fez seu, adorando-o,
venerando-o com todo o sentimento e com toda abnegação. Também o rei de
Diogo Álvares.
A Metrópole não esqueceu a lealdade, a sinceridade e a dedicação de Cata-
rina Álvares, como um símbolo de Congraçamento racial, e esta, ainda viva,
“concedeu-lhe muitas regalias, ordenando aos seus Governadores que lhe fizessem
guardar” (Rocha Pita) homenageando-a depois “com o retrato sobre a casa da
pólvora ao lado das armas reais” (Santa Rita Durão) por fim “mandando fazer-lhe
também a visita aniversária pelo Senado da Câmara” (Pedro Calmon).
Lembrada pelos tempos afora, no poema épico, “Caramuru” de Santa Rita
Durão, na ilíada, “Paraguassu” de Santos Titara, depois recordada entre aplausos,
“no navio de guerra, no jornal de combate e na nobiliarquia imperial” (Pedro
Calmon).
Diogo Álvares Caramuru, faleceu em 5 de abril de 1557, sendo sepultado
na Igreja do Colégio dos Jesuítas e Catarina Álvares Caramuru (Paraguaçu), fale-
cida no dia 26 de Janeiro de 1589, foi sepultada, segundo derradeira vontade, na
sua “Hermida de Nossa Senhora da Graça”.

237
chrisTovão de AviLA

Figura 29: Armas: Navio Paraguaçu G-15, Ermida de N. Sra. da Graça, Cidade do Salvador,
Dom Emanuel d’Able do Amaral, OSB, Belonave Garcia d´’Ávila.
Fonte: Fotografias realizadas pelo autor.

Vínculos genealógicos e heráldicos, nas Origens Além-Mar

A Espanha

Dentre os vínculos resgatados, destacamos no século XI, o Rei D. Afonso


VI de Leão e Castela que mandou povoar a cidade de Ávila, conquistada, depois
passando a Portugal, destacando-se os Ávilas do Continente, os Ávilas (dos
Açores), os Ávilas (outros) e os Ávilas do Duque de Ávila e Bolama. (ZUQUETE,
p. 36).

Figura 30: Armas: Cidade de Ávila, Ordem dos Carmelitas, Santa Teresa de Ávila, no Museu
de Arte Sacra da Bahia, Armas: Ávila, Visconde da Torre de Garcia d´Ávila. 12.
Fonte: Fotografias realizadas pelo autor.

Os Ávilas do Continente usaram por armas: De ouro, com treze arruelas


de azul, postas 3, 3, 3,3 e 1. Timbre: um leão sainte de ouro, carregado das
arruelas do escudo. Armas da família de Santa Teresa de Ávila, nascida em 1515,

12
LOPES, Victor Hugo Carneiro, executor dos brasões de armas, in (AVILA, 2014, pp. 89-135).

238
heráLdicA dA cAsA dA Torre de gArciA d’áviLA.

na província de Ávila, na Espanha. Primeiro Brasão de Armas da Casa da Torre,


concedido, a Garcia d’Ávila Pereira, o 3º.
Os Ávilas Outros usaram: Esquartelado: o primeiro e o quarto de ouro,
com uma águia estendida de negro; o segundo e o terceiro de prata, com três
faixas de vermelho acompanhadas de sete olhos sombreados de azul postos 2, 2,
2 e 1. Timbre: a águia do escudo. Armas do Visconde da Torre de Garcia d’Ávila.
(AVILA, Brasões de Armas, p. 100)

A Itália

Em pesquisas sobre as raízes da Casa de Ivrea, nas origens da Itália, foi


encontrado Arduíno de Ivrea como Rei da Itália em 1002, cuja descendência
segue na linha dos Reis de Portugal, nas Casas de Borgonha, Aviz e de Bragança,
seguindo nos Albuquerques de Portugal e do Brasil, integrantes da Casa da Torre
de Garcia d’Ávila. (AVILA, 2014, p. 150-151).
No Santuario Basilica della Consolata, em Turim, Itália, foi descoberto um
grande quadro beneditino do século XVI, de pintor ignorado (c. 350 x 200 cm),
uma alegoria da Ordem Beneditina, que representa o nascimento e propagação da
Ordem, no mundo, a partir de seu fundador São Bento de Núrsia (século V-VI).

Figura 31: Em Turim, na Itália, tela do século XVI. Armas do Mosteiro de São Bento
e da Casa Real de Ivrea.
Fontes: Imagens e fotografias realizadas pelo Segretario Marco Chiolerio. Armas: Armorial
Histórico da Casa da Torre de Garcia d’Ávila. Fotografias realizadas pelo autor.

239
chrisTovão de AviLA

Um detalhe desta tela representa a chegada dos Beneditinos ao Brasil,


primeiros fora da Europa e das Américas, recebidos pelos índios brasileiros da
Bahia, com a Princesa índia Katherine du Brésil, Catarina Paraguaçu, filha do
principal tupinambá, com cocar de penas e colar de pérolas à moda europeia,
recebendo o Abade Ventura, OSB, ela que foi a doadora aos Beneditinos, da
Ermida da Graça, com as terras adjacentes. 13

A França

O Conde de Villeneuve – Júlio Constancio Villeneuve, nascido em Santa


Teresa, Rio de Janeiro, (1834-1910), vinculou-se à Casa da Torre, por casamento
com Anna Cavalcanti de Albuquerque. Era filho do francês Junius de Villeneuve
(1804-1863) e foram proprietários do Jornal do Commercio do Rio de Janeiro,
por mais de 40 anos, pertencendo ao grupo de homens de negócio, que em 1834,
juntamente com o Visconde de Mauá, integrou a “Sociedade dos Assinantes da
Praça”, mais tarde Associação Comercial do Rio de Janeiro.
Em homenagem à Catarina Álvares Caramuru, a Índia Paraguaçu, Junius
de Villeneuve escreveu o poema lírico – PARAGUASSÚ – em 3 partes, música
dele e de O’Kelly. Escrito o poema lírico em homenagem a D. Pedro II, veio a
ser representado no Teatro Lírico de Paris em 1855, no Rio de Janeiro, dia 29 de
julho de 1860 (Data de aniversário da Princesa Isabel), em Mônaco no ano de
1888 e na Itália.

Figura 32: Armas: Conde de Villeneuve, Conde de Pedroso de Albuquerque, Visconde de Mauá,
Dornelles, D. André Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti. 14
Fonte: Fotografias realizadas pelo autor.

13
Laura Borello. Fotografias e participação pelo Segretario Marco Chiolerio −. Resgate histórico
e apoio da Fundação Lorenzato. Armas: Mosteiro de São Bento da Bahia e Casa Real de Ivrea.
(AVILA, 2014, p. 150-151).
14
LOPES, Victor Hugo Carneiro, executor dos brasões de armas, in (AVILA, 2014, pp. 89-135).

240
heráLdicA dA cAsA dA Torre de gArciA d’áviLA.

Preservação do Armorial Histórico da Casa da Torre

O Armorial Histórico da Casa da Torre de Garcia d’Ávila teve sua preser-


vação garantida, com a doação do precioso acervo particular, ao Museu Histórico
Nacional brasileiro, reconhecido guardião da memória e da cultura nacionais,
formalizada a entrega dos originais, no MHN, na data do lançamento do livro
(AVILA, 2014).

Armorial Histórico – Nas Origens do Brasil e Além-Mar

Estamos comunicando que um segundo Armorial Histórico, que veio


sendo desenvolvido paralelamente desde 1999, pelo mesmo saudoso heraldista
Victor Hugo Carneiro Lopes, com as mesmas características, e sob nossa coor-
denação, contendo mais de 400 Brasões de Armas, encontra-se em preparação o
projeto de publicação do Livro: BRASÕES DE ARMAS II – Das Origens no Novo
Mundo às Raízes e Vínculos Além-Mar.

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243
SELOS DE LACRE COM ARMAS PORTUGUESAS EM KEW

João Caetano de Carvalho Sameiro

No decurso de investigações nos National Archives em Kew (UK) encon-


trámos uma série de selos lacrados com motivos heráldicos portugueses, prove-
nientes de correspondência, de natureza diplomática, trocada por personalidades
das duas potências no século XVII. Parece-nos importante proceder à recensão e
análise desses selos como fontes para o estudo da heráldica portuguesa.

Armas da Rainha D. Maria Francisca de Sabóia-Nemours

Figs. 1 e 2 – Selos de lacre vermelho, circulares com as armas de D. Maria Francisca de Sabóia.

245
João cAeTAno de cArvALho sAmeiro

As duas imagens acima apresentadas são duas representações de selos


provenientes da mesma matriz 1 com figuração das seguintes armas:
Selo de lacre vermelho, circular, fragmentado, com orla perlada, tendo ao
centro o seguinte brasão de armas. Escudo presumivelmente de ponta redonda
[parte inferior danificada], dividido ao meio por uma linha vertical; a primeira
e na parte aparente, de … com quatro escudetes de … [falta o quinto da ponta]
em cruz sobrecarregados cada um de cinco besantes/arruelas de …. postos em
aspa; bordadura de … com cinco torres de … [faltam duas]; na segunda metade
esquartelado: I – esquartelado: 1.º de … com cruz potenciada de …; 2.º faixado
de … e de … com leão brocante de …; 3.º de … com leão de …; 4.º de …
com leão de …; II – terciado em mantel, 1.º de … com cavalo empinado de
… contornado; 2.º faixado de … e de … com crancelim brocante de … em
banda; em ponta [ilegível]; III e IV ilegíveis por falta de substância do selo.
Sobre o todo escudete de … com cruz firmada de ….. O escudo encimado por
coroa fechada [são apenas visíveis quatro arcos do fecho da coroa] nascentes de
cinco flores de lís (duas de perfil) e intervalados com uma pérola; aro coberto
de pedras.
Interpretamos do modo que se segue as armas representadas:
No primeiro do partido são as armas de Portugal, cuja ordenação é: escudo
de prata com cinco escudetes de azul em cruz sobrecarregados cada um de cinco
besantes de prata, bordadura de vermelho carregada de sete torres (castelos) de
ouro. No segundo as armas de Sabóia: no primeiro do esquartelado as armas dos
Lusignan, que são esquarteladas no primeiro de prata com cruz potenteia de ouro
com quatro cruzetas do mesmo entre os braços da cruz (Jerusalém); segundo
faixado de prata e azul de oito peças com leão brocante de vermelho armado e
coroado de ouro (Lusignan); o terceiro de ouro com leão de vermelho armado,
lampassado e coroado de azul (Arménia); o quarto de prata com leão de vermelho
armado, lampassado e coroado de ouro (Ducado de Limburg, antigo Luxem-
burgo). II – terciado em mantel: o primeiro de vermelho com cavalo de prata
empinado e contornado (Vestefália); o segundo faixado de preto e ouro de dez
peças brocante crancelim de verde em banda (Saxe); ponta de prata com três
bouteroles de vermelho em roquete (Angria); III – partido, primeiro de prata
bilhetado de negro com leão do mesmo armado e lampassado de vermelho
(Chablais); segundo de negro com leão de prata armado e lampassado de vermelho
(Aosta). IV – partido, primeiro equipolado de ouro e azul (Geneve), no segundo

1
National Archives, Kew, SP 89/6, Fólio 72: Queen of Portugal to Charles II. Thanking him
for the friendly assurances sent by Sir Peter Wych, which she heartily reciprocates, não datada,
Lisboa.

246
seLos de LAcre com ArmAs PorTuguesAs em Kew

de prata com chefe de vermelho (Monferrat). Sobre todo Sabóia, de vermelho


com cruz firmada de prata. 2
No Museu Arqueológico
do Carmo encontra-se uma pedra
de armas com as referidas armas
de D.  Maria Francisca de Sabóia-
-Nemours, desta vez mais completas
apesar de se detectarem algumas faltas.
Esta pedra de armas encontrava-se em
Lisboa no Convento de Santa Cruz ou
do Crucifixo, também designado das
Francesinhas, da fundado pela dita
Rainha e onde veio a ser sepultada. 3
Estas armas terão sido esculpidas nos
finais do século XVII, sendo realizadas
Fig. 3 – Pedra de Armas da Rainha D. Maria com recurso a pedra policromada e
Francisca Isabel de Sabóia-Nemours, dourada. 4
Museu Arqueológico do Carmo (Sala 5). Outro exemplar das mesmas
armas encontra-se pintado num coche
que pertenceu à referida Rainha D.  Maria Francisca, hoje parte integrante do
espólio do Museu Nacional dos Coches.
Foi D. Maria Francisca de Sabóia-Nemours também apelidada de Made-
moiselle d’Aumale, Rainha de Portugal por via do seu casamento com D. Afonso
VI, concertado pelas acções diplomáticas do Marquês de Sande em 1665. 5
D. Maria Francisca era filha de Carlos Amadeu, Duque de Nemours, e de sua
mulher Isabel de Vendôme. Por sua vez, a Casa de Nemours era uma linha cola-
teral à de Sabóia, cujo centro de poder se situava em França. 6
Foi costume dos Duques de Nemours usarem as armas dos Sabóias sobre
o todo tendo por diferença uma bordadura denticulada 7, diferenciação que não
2
BASCAPÈ, Giacomo C., PIAZZO, Marcello del, Insegne e Simboli: Araldica Publica e Privata
Medievale e Moderna, Roma, ed. Ministeri Per I Beni Culturali E Ambientali, 1983, pp. 681-682.
3
A sua filha D. Isabel Luísa Josefa foi igualmente sepultada no dito convento. Mais tarde seriam ambas
trasladadas para o Mosteiro de São Vicente de Fora. Cf. SERRÃO, Joaquim Veríssimo, História de
Portugal: A restauração e a monarquia absoluta (1640-1750), vol. V, Lisboa, ed. Verdo, 1980, p. 446.
4
SAMEIRO, Pedro, “Heráldica”, in Roteiro da Exposição Permanente: Museu Arqueológico do
Carmo, Lisboa, ed. Museu Arqueológico do Carmo, 2002, p. 110.
5
XAVIER, Ângela Barreto, CARDIM, Pedro, D. Afonso VI, ed. Temas e Debates, 2008, p. 211.
6
MACLAGAN, Michael, LOUDA, Jiří, Lines of Succession: Heraldry of the Royal Families of
Europe, London, ed. Orbis, 1981, tables 117, 120 e 123, e p. 241.
7
Idem, p. 241.

247
João cAeTAno de cArvALho sAmeiro

é visível nos selos de lacre, muito provavelmente por dificuldade de representação


da mesma em tão pequena escala. Já na pedra de armas do Museu do Carmo o
brasão dos Sabóias apresenta uma bordadura, todavia esta não é denticulada.
O uso de armas em que as Rainhas de Portugal partiam as armas próprias
com as dos Reis seus maridos documenta-se frequentemente. São exemplo disto
os selos da Rainha D. Maria Ana de Áustria, 8 onde foram também usadas armas
adossadas. 9

Armas de D. Manuel, Príncipe de Portugal

Fig. 4 – Selo de lacre negro circular com armas de D. Manuel,


Príncipe de Portugal

O selo acima apresentado encontra-se numa carta de D. Manuel, Prín-


cipe de Portugal, para Sir Nicholas Edwards, escrita em Haia e datada de 12 de
Novembro de 1660. 10
Selo de lacre negro oval com orla perlada, tendo ao centro o seguinte
brasão de armas: escudo ponta redonda de … com cinco escudetes de … em

8
SOUSA, D. António Caetano de, História Genealógica da Casa Real Portugueza, vol. IV, Lisboa,
ed. QuidNovi/Público, 1947, f. 46, estampas cxi.
9
Idem, estampas cxi e cxiii.
10
National Archives, Kew, SP 89/4, Fólio 183: Don Emanuel, self-styled Prince of Portugal, to Sir
Nicholas Edwards. Begging letter.

248
seLos de LAcre com ArmAs PorTuguesAs em Kew

cruz sobrecarregados cada um de cinco besantes/arruelas de ….; bordadura de


… com sete torres de …. O escudo encimado por coroa aberta com três trevos
(dois de perfil) e intervalados com três conjuntos de pérolas em roquete. Aro
coberto de pedras.
As armas interpretam-se do seguinte modo:
Escudo de prata com cinco escudetes de azul em cruz, sobrecarregados
cada um de cinco besantes de prata, bordadura de vermelho carregada de sete
torres (castelos) de ouro, coroa de Infante. As armas pertencem a D. Manuel,
auto-intitulado Príncipe de Portugal.
Foi este D. Manuel Eugénio de Portugal (1633-1687) descendente de
D. António I, Prior do Crato. Segundo filho de D. Luís William e de Amália de
Nassau, foi capitão de infantaria das Províncias Unidas. Usou o título de Marquês
de Tramoso e intitulou-se Príncipe de Portugal e Duque de Beja. 11
A Coroa de Infante usada por D. Manuel de Portugal no século XVII
corresponde a um modelo mais simplificado em relação ao que viria a ser usado
no século XVIII pelos Infantes D. Pedro, D. Francisco, D. António e D. Manuel,
que comportava cinco florões aparentes, 12 modelo este mais próximo do das
coroas de Príncipe e Infante representadas nos Tropheos Lusitanos. 13

Armas de D. Francisco de Mello Torres, 1.º Marquês de Sande

A aproximação da Casa Real Portuguesa com a Casa Real Inglesa, por


via do casamento de D. Catarina de Bragança com Carlos II, deu azo a uma
prolífera correspondência diplomática entre as duas potências. D. Francisco de
Mello Torres seria indigitado pela Coroa com a missão de chefiar a embaixada
portuguesa que iria levar D. Catarina ao seu novo país.
A carreira diplomática do Marquês de Sande ficou naturalmente marcada
pela expedição de cartas para com a Corte inglesa, das quais recolhemos três
lacres, cada um com representações heráldicas distintas das suas armas.

11
DUERLOO, Luc, “Peregrinations of a Pretender, D. Manuel of Portugal (1568-1638) and
his Offspring in the Netherlands”, Armas e Troféus, IX Série – Tomo I, Lisboa, ed. Instituto
Português de Heráldica, 1990.
12
SOUSA, D. António Caetano de, História Genealógica da Casa Real Portugueza, vol. IV, ed.
QuidNovi/Público, 1947, p. 46, estampas cxiv a cxviii.
13
SOARES DE ALBERGARIA, António, Tropheos Lusitanos, Lisboa, Impresso por Jorge
Rodrigues, 1632, pp. 11-12.

249
João cAeTAno de cArvALho sAmeiro

O primeiro selo de lacre vermelho surge associado a uma carta datada de


1663 , onde se encontram representadas as seguintes armas:
14

Escudo partido, o primeiro


de ... com doble-cruz de … acom-
panhada de seis besantes/arruelas de
… e bordadura de …; o segundo
de … com cinco torres de … postas
em aspa. Sobre o escudo apenas se
percebe o timbre, constituído por
uma águia estendida de ... besantada/
arruelada de ....
Figuram, portanto, as armas
dos Mellos e dos Torres, que se
descrevem da seguinte forma:
Escudo partido, o primeiro de
vermelho com doble-cruz de ouro
acompanhada de seis besantes de
Fig. 5 – Selo de lacre vermelho com as armas de
prata, bordadura de ouro; o segundo
Francisco de Mello e Torres.
de vermelho com cinco torres de
ouro, lavradas de negro, postas em
sautor. Sobre o escudo o timbre dos
Mello, uma águia estendida de negro
besantada de prata.
Como podemos comprovar
pela imagem, o selo encontra-se
bastante danificado. Ainda assim
podemos afirmar com segurança
que o escudo seria encimado por
um elmo. Tal afirmação sustenta-se
no facto de encontrarmos pequenos
vestígios daquilo que seria o paquife.
O segundo selo de lacre
vermelho, presente numa carta de
Fig. 6 – Selo de lacre vermelho com as armas de Sande para Lord Arlington datada
Francisco de Mello e Torres. de 2 de Janeiro de 1665, escrita em

14
National Archives, Kew, SP 89/6, Fólio 115: Marquis de Sande to Secretary Bennet. Asks that Mr
John Green, merchant of London, may be prevented from going abroad until he has paid the duties
due to the King of Portugal, 14 Maio 1663 Londres.

250
seLos de LAcre com ArmAs PorTuguesAs em Kew

Paris, 15 encontra-se igualmente danificado. Tem ao centro o seguinte brasão de


armas:
Escudo francês antigo partido: o primeiro de … com cinco torres de …
postas em aspa ; o segundo de … com seis besantes/arruelas de … contidos entre
uma doble-cruz e bordadura de …. Parte superior ilegível.
O último exemplar, também um selo de lacre vermelho oval, está anexado
a uma carta datada de 26 de Janeiro de 1667 para Lord Arlington, 16 onde encon-
tramos representado o seguinte brasão de armas:
Escudo português partido
envolvido por dois ramos de palmeira
com os pés passados em aspa e atados;
I – de ... com cinco torres de … postas
em aspa; II – de … com seis besantes/
arruelas de … contidos entre uma
doble-cruz e bordadura de …. Sobre
o escudo um coronel com três trevos
(dois de perfil) intervalados com três
pérolas em roquete. Aro coberto de
pedras.
Por volta das mesmas datas
em que usou os três selos acima apre-
sentados, entre 1662 e 1667, Sande
adoptou por ex-libris um escudo Fig. 7 – Selo de lacre vermelho com as armas de
partido com as armas de Torres e Francisco de Mello e Torres.
Mello, encimado por um coronel de
marquês. 17 Assim, dos três selos apresentados apenas o primeiro revela um orde-
namento heráldico dissonante em relação aos restantes, a colocação no primeiro
quartel das armas dos Mellos e no segundo, das dos Torres.
São os Torres de Sande originários de Jaen. Passariam a Portugal no início
do século XVI entrando ao serviço de D. Manuel I como negociantes. O trato
da Guiné e o negócio do açúcar trariam aos Torres fortuna e a cidadania portu-

15
National Archives, Kew, SP 89/6, Folio 299: Marquis de Sande to Lord Arlington. Commends
Bishop Russell and the Portuguese envoy to Arlington, and asks latter to support their efforts to bring
about a stricter alliance between the two Crowns.
16
National Archives, Kew, SP 89/8, Fólio 8: Marquis de Sande to Lord Arlington. After profuse
compliments, gives a pessimistic impression of the abortive Anglo-Spanish negotiations at Madrid.
His own health has been very bad for the last four months, 26 Jan. 1667 Lisboa.
17
DUARTE, Sérgio Avelar, Ex-Libris Portugueses Heráldicos, Porto, ed. Civilização,1990, p. 453.

251
João cAeTAno de cArvALho sAmeiro

guesa. 18 Os Mellos vêm por parte de D. Violante de Mello, avó paterna de Sande,
que foi filha de João de Mello, família de Évora associada ao Morgado do Freixial. 19

Armas de António Sousa de Macedo

O último lacre a que fazemos referência é de António Sousa de Macedo,


encontrando-se numa carta sua a Joseph Williamson datada de Setembro de
1669. 20 Nele estão representadas as seguintes armas:
Escudo português esquarte-
lado; I-IV – quartel de … com cinco
quinas de …, dispostos em cruz, cada
uma com cinco besantes/arruelas de
… postas em aspa; II-III – de … com
um leão rompante de …. Sobre o
escudo duas volutas.
Trata-se do brasão de armas
dos Sousas do Prado:
Escudo português esquar-
telado: I e IV – de prata com cinco
escudetes de azul em cruz sobrecar-
regados cada um de cinco besantes
de prata; II e III – de prata com leão
rompante de púrpura.
Fig. 8 – Selo de lacre vermelho com as armas de A ligação de António Sousa de
António Sousa de Macedo. Macedo aos Sousas do Prado é feita
por via da sua avó paterna D. Filipa
de Sousa que era descendente de Martim Afonso Chichorro (seu sétimo avô),
filho ilegítimo de D. Afonso III 21.

18
CASTELO BRANCO, Theresa Schedel, Vida de Francisco Mello Torres 1.º Conde da Torre –
Marquês de Sande Soldado e Diplomata da Restauração 1620-1667, Lisboa, ed. Livraria Ferin,
1971, pp. 13-19.
19
Idem, p. 20.
20
National Archives, Kew, SP 89/10, Fólio 127: Antonio de Sousa de Macedo to Joseph Williamson.
Asks him to induce Arlington to favour the business on which he has written the latter, Setembro
1669.
21
GAYO, Manuel José da Costa Felgueiras, Nobiliário de Famílias de Portugal, vol. X, Braga, ed.
Carvalhos de Basto, 1989-1990, pp. 324, 342-343, 369-370 e 446.

252
seLos de LAcre com ArmAs PorTuguesAs em Kew

António Sousa de Macedo possui uma forte ligação a Inglaterra no que


toca às acções diplomáticas portuguesas nesta país. Parte para Inglaterra no
contexto da Guerra da Restauração, juntamente com D. Antão Vaz de Almada
e o Dr. Francisco de Andrade Leitão, no ano de 1641, procurando defender os
direitos de D. João IV à Coroa de Portugal. Acabaria por ficar em Inglaterra ao
serviço de Carlos I, sendo que com a morte deste e consequente estabelecimento
da Commonwealth, Sousa de Macedo perde a sua influência junto do governo
inglês. Para o efeito, passou a servir a causa dos realistas. 22 Regressando a Portugal
foi feito Secretário de Estado, tendo continuado a expedir correspondência para
Carlos II e a Corte inglesa. Os laços de lealdade de Sousa de Macedo para com o
monarca inglês seriam mantidos, tanto por si como pelo seu filho, lealdade essa
que ficaria associada à baronia de Mullingar que lhes foi conferida.

22
MARTINEZ, Pedro Soares, História Diplomática de Portugal, Coimbra, ed. Almedina, 2010,
pp. 194-196.

253
HERÁLDICA NO HOSPITAL RAINHA DONA ESTEFÂNIA

Miguel Metelo de Seixas *

Este estudo é dedicado aos membros da Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais


e à Equipa de Cirurgia do Hospital Rainha D. Estefânia, com gratidão

Circunstâncias pessoais levaram-me a contemplar por tempo dilatado a


heráldica presente no Hospital Rainha Dona Estefânia, surgindo-me então a
ideia de vir a publicar um dia o resultado das reflexões decorrentes. Uma feliz
coincidência fez com que eu pudesse integrar tal estudo no volume da revista
Armas e Troféus de homenagem à memória do Dr. Francisco de Simas Alves de
Azevedo. Na sua geração, em Portugal, ninguém como ele se bateu, ao longo
de uma vida inteira de erudição e de indagação, pelo alargamento das fron-
teiras epistemológicas da heráldica, como ficou bem patente na diversidade de
temas abrangidos pela sua pena 1. Para evidenciar precisamente a necessidade de
subtrair os estudos heráldicos ao confinamento de uma convivência demasiado
próxima, porventura abafadora, com a genealogia e a nobiliarquia, Simas Alves
de Azevedo multiplicou os artigos sobre todo o género de heráldica, criando
mesmo uma série intitulada “Temas de Heráldica Estatal”. Atraíam-no em parti-

* Doutor em História; professor da Universidade Lusíada de Lisboa; investigador integrado do


Instituto de Estudos Medievais e do Centro de História d’Aquém e d’Além-Mar, ambos da
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa; bolseiro de pós-
-doutoramento da Fundação para a Ciência e Tecnologia; sócio de número e presidente do
Instituto Português de Heráldica.
1
PINTO, Segismundo, “Bibliografia de Francisco de Simas Alves de Azevedo”, Tabardo¸ n.º 1,
2002, pp. 17-30; este levantamento bibliográfico encontra-se agora completado por João
Portugal em artigo integrado no presente volume de Armas e Troféus.

255
migueL meTeLo de seiXAs

cular os temas da heráldica régia e, dentro desta, não descurou a emblemática


das rainhas de Portugal, entre as quais D. Estefânia 2. Procurando outrossim
combater um certo preconceito contra a heráldica oitocentista, dedicou-lhe
alguns estudos notáveis 3. Por fim, teve uma atenção especial pelas manifesta-
ções heráldicas existentes na cidade de Lisboa, de que era natural e onde sempre
viveu. Por todos estes motivos, creio que a análise da heráldica do Hospital
Rainha Dona Estefânia se situa na continuidade do caminho traçado por este
precursor dos estudos heráldicos em Portugal.
Este hospital faz parte da memória citadina lisboeta, já que é o mais antigo
e único hospital pediátrico da capital. Daí a importância de lembrar a sua história
num tempo em que critérios economicistas põem em risco a sua continuidade:
porque as instituições, além das capacidades técnicas dos que nelas trabalham,
do mérito administrativo da sua organização e dos meios colocados à sua dispo-
sição, vivem também da sua capacidade de criar uma identidade própria, que
identifique e estimule os que aí trabalham tanto como os que aí são acolhidos.
Essa identidade demora a construir-se e, quando devidamente cultivada, pode
constituir um elemento relevante para o sucesso de uma instituição, nem que seja
pela mística e pela motivação criadas. Ainda mais no caso de uma instituição que
reúne características marcantes, como a antiguidade, o prestígio e a singularidade.
Por isso, mesmo quando se tem em conta critérios de mera eficácia, o factor
identitário deveria ser tido em conta.
O hospital insere-se no espaço urbano lisboeta, mas dentro de um perí-
metro gradeado que mantém os edifícios apartados das ruas limítrofes, rodeados
por um jardim. Este encontra-se, é certo, bastante alterado pela invasão de cons-
truções recentes. O próprio edifício principal, tal como se apresenta hoje em dia,
mal pode ser reconhecido como herdeiro da planta original 4. A fundação e a
história do hospital ligam-se pois à memória da rainha D. Estefânia. Dela partiu
efectivamente o projecto da sua construção: a rainha pensou aplicar nesse sentido
as verbas remanescentes do montante que os comerciantes de Lisboa haviam

2
AZEVEDO, Francisco de Simas Alves de, “Dois monumentos heráldicos de Estefânia de
Hohenzollern, Rainha de Portugal”, Hoja Informativa del Instituto Internacional de Genealogia e
Heráldica, nº 255, 1968, p. 2.
3
Veja-se sobretudo AZEVEDO, Francisco de Simas Alves de, “Apontamentos sobre algumas
armas dinásticas portuguesas oitocentistas e sua mensagem” in Fraternidade e Abnegação – a
Joaquim Veríssimo Serrão os amigos, Lisboa, Academia Portuguesa da História, 1999, vol. I,
pp. 453-466.
4
As obras de requalificação do hospital foram objecto de publicação própria: Hospital de D. Este-
fânia, em Lisboa. Inauguração das suas instalações depois de remodeladas e ampliadas, Lisboa,
Ministério das Obras Públicas, 1962.

256
heráLdicA no hosPiTAL rAinhA donA esTefâniA

oferecido para os festejos do seu casamento com D. Pedro V, com o fito de criar
um hospital para crianças carentes, a cargo de uma congregação religiosa 5.
A morte prematura da rainha impediu-a de levar por diante a sua determi-
nação. O rei viúvo procurou dar seguimento ao projecto, no qual investiu igual-
mente verbas da sua dotação, procurando por essa via homenagear a memória da
sua consorte. Não quis porém D. Pedro V entregar a administração do hospital
a uma congregação religiosa, mas mantê-la inteiramente civil; para delinear a
arquitectura do edifício, pediu conselho ao seu tio Alberto de Saxónia-Coburgo-
-Gotha, marido da rainha Vitória da Grã-Bretanha, que lhe enviou um projecto
elaborado pelo arquitecto Albert Jenkins Humbert; e para balizar o seu funcio-
namento, recorreu entre outros a Florence Nightindale, fundadora da escola
moderna de enfermagem. Para efectivar a criação do hospital, D. Pedro V nomeou
uma comissão cuja presidência foi entregue a seu irmão D. Luís, a qual tomou
posse a 30 de Janeiro de 1860. O terreno escolhido para a edificação foi destacado
da Real Quinta da Bemposta, que reunia “todas as condições que se requerem
para estabelecimentos de semelhante natureza, pois que, a uma exposição elevada
e ao norte da cidade, reúne a abundância de água e suficiente isolamento das
habitações” 6. Após a morte prematura do rei, o seu irmão e sucessor D. Luís deu
sequência aos trabalhos e investiu também recursos próprios na obra. Mas estes
continuavam a ser insuficientes e só a intervenção directa do Estado permitiu
finalmente a conclusão dos trabalhos e a inauguração em 1877, volvidos 18 anos
sobre a morte da rainha. O hospital destinou-se originalmente a atender apenas
mulheres, com excepção de uma enfermaria votada ao atendimento de crianças
de ambos os sexos, colocada sob invocação de Santa Estefânia.
Todo este longo processo ligou-se à construção da imagem póstuma da
rainha, de certo modo subsidiária da imagem do malogrado rei D. Pedro V: na
imprensa da época, como na historiografia, eles formavam um casal cercado
de uma aura romântica pela acumulação de expectativas deixadas incumpridas
pela dupla morte, precoce e trágica, do casal régio. Acresce que D. Pedro V
havia sido o primeiro soberano constitucional devidamente aclamado, sobre
quem recaíram as expectativas de regeneração da monarquia e da pátria num
momento que se queria de acalmia política, de endireitamento moral, de bem-
-estar material. O jovem monarca catalisava, amiúde a contragosto, a esperança
de um modelo político: o de uma monarquia inscrita num liberalismo mode-
rado. O seu casamento com D. Estefânia foi também o primeiro da monarquia

5
Para a história do hospital, segue-se a obra de BRANCO, Nuno Miguel Jacob, Hospital Dona
Estefânia. Um sonho de rainha, Lisboa, s.n., 1997 (texto mimeografado).
6
Proposta de Lei de 20 de Julho de 1860, apud BRANCO, Nuno Miguel Jacob, op. cit., p. 29.

257
migueL meTeLo de seiXAs

constitucional a decorrer em circunstâncias “normais”, isto é, sem a pressão ou


a ameaça da guerra civil. Também neste consórcio se depositavam esperanças
infrenes: dele dependia a constituição de uma família real que servisse de modelo
comportamental às demais famílias do reino, assegurando outrossim a continui-
dade dinástica.
Coube portanto a D. Estefânia a fixação de um novo modelo de rainha: já
não inteiramente conforme ao das rainhas de Antigo Regime, tampouco similar
ao da defunta rainha D. Maria II, que o era de direito próprio e exercia efectiva-
mente a função 7. Destes antecedentes, a rainha constitucional retomava apenas
parcialmente o elenco de virtudes características de uma soberana dos tempos
passados. Além do seu contributo essencial para o prolongamento da dinastia,
esperava-se que D. Estefânia constituísse exemplo de dedicação ao cônjuge e à
prole que se futurava, de modo a que o casal pudesse servir de esteio moral ao
conjunto da dinastia e ao reino. Importava por isso que a rainha espelhasse as
qualidades domésticas que deveriam ser reproduzidas pelas suas súbditas: pureza,
fidelidade, honestidade, obediência, afecto, abnegação e, quando fosse caso disso,
espírito de sacrifício. Extravasando para lá dos limites restritos da sua família, tais
qualidades deveriam conduzir a rainha à assistência aos seus súbditos, sobretudo
os mais desprotegidos e necessitados.
A princesa alemã recebera aliás formação cristã fervorosa, que a levava a
promover naturalmente a causa da caridade, sempre em comunhão com o ideário
religioso e em colaboração próxima com determinadas instituições eclesiásticas,
sobretudo ordens regulares. Como a rainha veio a descobrir com surpresa e mágoa,
essa sua colagem à esfera religiosa revelava-se porém desajustada com o que se
aguardava dela no quadro da monarquia constitucional portuguesa. Com efeito,
embora se considerasse porventura meritório o sentimento religioso, importava
manter, no caso das figuras régias, bem nítidas as fronteiras entre a esfera privada
e a dimensão pública. O rei ou a rainha podiam decerto nutrir devoções particu-
lares (de preferência sem excessos), mas no desempenho das suas funções públicas
havia que separar as águas: a esfera de actuação política da monarquia não devia
sobrepor-se nem muito menos subordinar-se à dimensão religiosa. Nesse sentido,
esperava-se que a rainha de Portugal se dedicasse à assistência aos necessitados,
porém num quadro de filantropia laica, compaginável com a benemerência prati-
cada na época pelos privilegiados, desligada da doutrinação católica; era de evitar
7
As considerações sobre a rainha seguem a sua mais recente biografia, para a qual se remete o
leitor que queira colher outras indicações bibliográficas: LOPES, Maria Antónia, Rainhas que
o povo amou. Estefânia de Hohenzollern. Maria Pia de Sabóia, s.l., Círculo de Leitores, 2011,
sobretudo pp. 77-85 para as questões relacionadas com o pensamento político da rainha e com
a questão da beneficência.

258
heráLdicA no hosPiTAL rAinhA donA esTefâniA

a caridade ostensivamente cristã, voltada para a evangelização, exercida com a


parceria activa de instituições eclesiásticas. Sobretudo quando estas eram de natu-
reza regular, dado o passado problemático das relações entre a monarquia consti-
tucional e as ordens religiosas.
Em pouco mais de um ano de casamento, D. Estefânia teve ensejo de
compreender as limitações impostas ao seu modelo de actuação enquanto rainha;
em certo sentido, passou a partilhar com o marido o desgosto face ao quadro
institucional e político, para não dizer moral, no qual se via obrigada a viver. E o
casal régio revia-se sem dúvida na comunhão desse desconsolo, acrescido pela
infertilidade que ferira o matrimónio. Coube à sua sucessora, D. Maria Pia de
Sabóia, personificar com sucesso o modelo de uma rainha dedicada à beneficência
mas com plena consciência do quadro irreligioso em que se devia mover 8. Para
além de ter, ela sim, assegurado a tão ansiada continuidade dinástica.
Tal perpetuação não se limitava aos aspectos biológicos de reprodução
da família, mas também à capacidade de construir uma série de referências
que permitissem apresentar a permanência da Casa de Bragança no trono de
Portugal como uma sequência necessária e lógica. Só assim se lograria erguer uma
cultura dinástica capaz de conferir sentido à manutenção da Casa Real, permi-
tindo sustentar o ideário da monarquia constitucional. Tal revelara-se difícil nos
primeiros reinados: o de D. Pedro IV pouco mais fora que um repente, ainda que
se procurasse cultivar a sua imagem cívica como fundador do regime e do ramo
liberal da Casa de Bragança; D. Maria II fora obrigada a envolver-se directa-
mente em conjunturas políticas instáveis e controversas, ao passo que seu marido
D. Fernando, manifestamente inábil no terreno político e militar, se dedicara
ao mundo das artes (sem descurar contudo a dimensão pedagógica em relação
aos filhos); quanto ao reinado de D. Pedro V, revelara-se breve e inconclusivo,
em consonância com a efemeridade do seu consórcio com D. Estefânia. Neste
quadro, caberia portanto a D. Luís e a D. Maria Pia o resgate da memória dos
seus antecessores para edificação de uma imagem conjunta da dinastia, auto-
-representação baseada no passado mas de claro valor prospectivo.
O casal formado por D. Pedro V e D. Estefânia inseria-se com proveito
nessa construção imagética: par romântico fortemente idealizado, podia ser
apresentado como modelo de virtudes cívicas e pessoais. No caso da rainha, tal
herança centrou-se inevitavelmente na prossecução da sua acção caritativa, com
pleno destaque para o seu projecto de construção de um hospital para acolher
crianças, mas isentando tal instituição da carga religiosa que tivera nos planos
originais. Em 1873, enquanto decorria a fase final das obras do hospital, foi

8
LOPES, Maria Antónia, op. cit., pp. 231-259.

259
migueL meTeLo de seiXAs

publicada em Portugal uma biografia da rainha, apresentada em tom elegíaco


como modelo de virtudes 9. Assim, D. Estefânia servia como prova da conti-
nuidade da benemerência das rainhas de Portugal, assumindo o lugar de precur-
sora de D. Maria Pia; o que explica naturalmente a escolha da denominação do
hospital cujo projecto tinha efectivamente partido dela mas que só foi, como se
viu, concluído no reinado de D. Luís.
Para que o investimento simbólico na edificação desse elemento de repre-
sentação póstuma da rainha fosse eficaz, contava-se com os instrumentos de
criação de opinião pública típicos do século XIX, nomeadamente a imprensa.
A difusão da denominação do novo hospital trataria de aludir ao papel da rainha
na sua criação. Era contudo necessário que o próprio edifício exprimisse de forma
evidente a sua ligação a essa memória por via de sinais visuais, observáveis por
qualquer transeunte e sobretudo pelos utentes, de forma a potenciar o estabele-
cimento de relações afectivas com a memória da rainha instituidora 10. Para esse
efeito, havia que recuperar a sua heráldica.
A princesa pertencia ao ramo católico da antiga Casa de Hohenzollern, cujo
título principal era o de príncipes de Sigmaringen, na época bem menos poderoso
do que o ramo protestante da mesma dinastia, que ascendera ao margraviato de
Brandeburgo e ao trono régio da Prússia (e viria depois a ocupar o trono imperial
da Alemanha reunificada). Conforme o hábito germânico, a heráldica da Casa de
Hohenzollern-Sigmaringen compreendia os sinais dos vários territórios subme-
tidos à sua autoridade e de um cargo palatino hereditário, sobre os quais figu-
ravam, em escudete sobre-o-todo, as armas originais desta dinastia: esquartelado
de negro e de prata 11.

9
Estephania Rainha de Portugal. Vida de uma Princeza alemã dos nossos dias, Lisboa, Lallemant
Frères, 1873.
10
A ligação a D. Estefânia podia ter, à data das obras finais do hospital, uma relevância acrescida,
na medida em que o outro ramo da dinastia de Hohenzollern, reinante na Prússia, se mostrara
capaz de reunificar a Alemanha em 1870, elevando-a novamente à condição de Império, tendo
então passado a chefiar uma das mais importantes potências europeias.
11
O escudo completo era partido de um traço e cortado de dois, o que perfazia seis campos: 1) de
ouro, um leão de negro, bordadura componada de prata e de vermelho (armas do burgravado
de Nuremberga); 2) de vermelho, dois ceptros de ouro passados em aspa (dignidade hereditária
de camareiro-mor do Império); 3) cortado de prata e de vermelho (senhorio de Heigerloch e
Wehrstein); 4) de vermelho, um veado de ouro (condado de Sigmaringen); 5) de ouro, três
hastes de veado postas em faixa e dispostas em pala (condado de Veringen); 6) de prata, um leão
de vermelho armado, lampassado e coroado de ouro, bordadura de negro carregada de besantes
de ouro (condado de Berg). Sobre esta composição complexa assentava então o escudete sobre-
-o-todo esquartelado de negro e de prata, correspondente às armas medievais do condado de
Hohenzollern.

260
heráLdicA no hosPiTAL rAinhA donA esTefâniA

Foram estas armas essenciais, na sua simplicidade medieva, as escolhidas


para representar D. Estefânia em Portugal. Estiveram patentes ao público pela
primeira vez logo por ocasião da cerimónia religiosa que teve lugar na capital do
reino a 18 de Maio de 1858 para celebrar a chegada da rainha, que já tinha
casado por procuração com D. Pedro V em Berlim no anterior dia 29 de Abril 12.
Lisboa engalanara-se para receber a nova soberana. Desde o desembarque no
Terreiro do Paço até à igreja de São Domingos, a rainha pôde vislumbrar por
diversas vezes, entre a multidão entusiástica, os escudos com as armas régias
portuguesas e as de Hohenzollern, cuja justaposição assinalava heraldicamente o
consórcio. Tais escudos adornavam voltas de arcos festivos, panejamentos
suspensos, postes de iluminação; a fachada da igreja recebera uma galilé em que
as armas de aliança Portugal-Hohenzollern eram completadas pelo monograma
PE coroado, numa alusão directa aos nomes próprios dos recém-casados (fig. 1);
até mesmo os altares haviam sido decorados com os escudos das duas dinastias,
como assinala a condessa de Rio Maior 13.
A fugacidade da permanência de
D. Estefânia no seu reino não permitiu,
contudo, que as suas armas se repe-
tissem em outras manifesta-
ções de  carácter mais estável.
Exceptuam-se os aponta-
mentos armoriados da deco-
ração dos aposentos prepa-
rados por D.  Pedro V para
sua noiva no paço das Neces-
sidades, em cujas sobreportas
figuram os escudos de aliança

Fig. 1: “O templo de São Domingos


nos festejos reaes”, O Panorama,
n.º 55, 28/8/1858, p. 273.

12
LOPES, Maria Antónia, op. cit., p. 49.
13
Apud LOPES, Maria Antónia, op. cit., p. 50.

261
migueL meTeLo de seiXAs

Portugal-Hohenzollern 14. Teria sido natural que as mesmas armas ornassem, por
exemplo, as fachadas de instituições fundadas ou protegidas pela rainha; e que,
numa dimensão menos pública, figurassem também em objectos encomendados
e usados por D. Estefânia nas diversas residências da família real 15.
A heráldica de D. Estefânia, tão escassa em edifícios construídos em sua
vida, estava porém prometida a uma exibição póstuma de relevo. O edifício
projectado para o hospital dedicado à sua memória ostenta ainda hoje uma
monumental pedra de armas na sua fachada. Trata-se de um escudo partido de
Portugal e Hohenzollern, esculpido em alto-relevo e com a figuração dos esmaltes
conforme o código heráldico de tracejados (fig. 2).
O escudo assenta sobre uma discreta cartela de acantos, ao gosto das
gravuras heráldicas da época, sendo
contido num amplo manto ligado
em cima pela coroa real fechada,
repuxado por um cordão de cada
lado. Dos lados deste conjunto
irrompem duas largas volutas flan-
queadas por urnas, que permitem
integrar de forma harmoniosa a pedra
de armas no topo da fachada, sobre a
qual este conjunto forma um frontão
(fig. 3). A qualidade escultórica desta
peça heráldica é notável, sobretudo
para as realizações costumeiras na
época: basta atentar no cuidado com
que é figurado o relevo das partições e
figuras dos escudos, de modo a
Fig. 2: Pormenor da pedra de armas da fachada salientá-las; ou na tridimensionali-
principal do Hospital D. Estefânia. dade da coroa, que se recorta contra o

14
CÔRTE-REAL, Manuel H., O Palácio das Necessidades, Lisboa, Ministério dos Negócios
Estrangeiros, 1983, p. 102. Indica este Autor que nos mesmos aposentos se encontram também
monogramas coroados do casal régio, que diferem dos da igreja de São Domingos por serem
constituídos pelas letras S (de Stephanie) e P (de Pedro).
15
Existem no paço real da Ajuda dois quadros, da autoria de Johann Adolf Lasinsky, que repre-
sentam os castelos de Hohenzollern e de Sigmaringen, berços respectivos da linhagem e do seu
ramo católico. As molduras exibem as armas dinásticas. A tradição quer que estes quadros tenham
sido oferecidos a D. Estefânia pelos seus pais, como forma de recordação das suas origens, tendo
porém chegado a Portugal após a morte da rainha. GODINHO, Isabel Silveira (coord.), D. Luís,
Duque do Porto e Rei de Portugal, Lisboa, Palácio Nacional da Ajuda, 1990, p. 141.

262
heráLdicA no hosPiTAL rAinhA donA esTefâniA

Fig. 3: Frontão armoriado da fachada principal do Hospital D. Estefânia.

céu 16; ou ainda na delicadeza dos laços que retêm o manto, e no tratamento
gráfico dos seus bordados, dobras, franjas e forro. Hoje em dia, o efeito cenográfico
da pedra de armas encontra-se obnubilado pelas reformas que o edifício sofreu,
desastrosas do ponto de vista estético (fig. 4). Mas a sua aparência original é

Fig. 4: Fachada principal do Hospital D. Estefânia na actualidade.


16
A coroa encontra-se hoje desprovida da sua cruz cimeira, ainda bem visível nas fotografias da
fachada original.

263
migueL meTeLo de seiXAs

conhecida por fotografias, que mostram como o conjunto heráldico encimava um


pórtico avançado, flanqueado por colunas e encimado por uma janela com
varandim (fig. 5).

Fig. 5: Fachada principal do Hospital D. Estefânia na sua versão primitiva (Arquivo Municipal de
Lisboa, cota PT/AMLSB/BOB/000058, fotografia de Beatriz Chaves Bobone).

Dentro do edifício, as armas de D. Estefânia voltam a estar presentes na


capela, onde figuram no fecho do arco triunfal (fig. 6). A composição é seme-
lhante à da pedra de armas da fachada, mas mais simples: o mesmo escudo
partido de Portugal e Hohenzollern com manto e coroa real fechada, porém
sem volutas nem urnas laterais (fig. 7). Também neste espaço sagrado sobressai
a qualidade técnica e estética da manifestação heráldica, aliás em consonância
com o inquestionável valor arquitectónico da capela, infelizmente tolhido
pelas reformas utilitárias que lhe cortaram o primeiro tramo da nave (hoje
transformado em corredor de circulação). A memória da rainha encontra-se
igualmente presente na pintura que ornamenta a capela-mor, em que ela é
figurada rodeada de crianças em adoração à imagem de Nossa Senhora da
Conceição, devoção tradicional da Casa de Bragança, na companhia do Anjo

264
heráLdicA no hosPiTAL rAinhA donA esTefâniA

Protector da Infância 17 (fig. 8). A  escolha desta última localização heráldica


coadunar-se-ia decerto com o espírito devoto de D. Estefânia.

Fig. 6: Arco triunfal


armoriado da ca-
pela do Hospital
D. Estefânia.

Fig. 7: Pedra de armas da capela Fig. 8: Altar da capela do Hospital


do Hospital D. Estefânia. D. Estefânia.

17
BRANCO, Nuno Miguel Jacob, op. cit., p. 33. Assinala este Autor que a pintura foi encomendada
à Escola de Artes Plásticas de Düsseldorf, cidade onde a rainha passara a maior parte da sua
infância e onde continuavam a residir os seus pais.

265
migueL meTeLo de seiXAs

Além dessas duas pedras de armas, não se conhecem outras manifestações


da heráldica da rainha no hospital que lhe foi dedicado. Na verdade, a heráldica
parece ter sido reservada para as identificações visuais mais ostentativas, ao passo
que escolha de um sinal para usos mais quotidianos recaiu sobre o monograma
“HRE” (Hospital Rainha Estefânia)
coroado, como é visível por exemplo nos
antigos marcos de delimitação da proprie-
dade (fig. 9). Este sinal acabou por
funcionar como marca visual do hospital
até aos nossos dias, estando presente
numa grande quantidade de objectos,
quer fixos, quer móveis (fig. 10). Mais
recentemente, o emblema do hospital
tendeu a ser substituído (nas peças de
vestuário, por exemplo) pela designação
da entidade agregadora “Centro Hospi-
talar de Lisboa”, cujo logótipo é consti-
tuído pelo monograma “OS”, designa-
tivo de “Omni Sancti” em referência ao
Hospital de Todos os Santos, fundado
nesta cidade pelo rei D. João II.
Existe, por fim, outro aponta-
mento heráldico insuspeito no hospital
Rainha D. Estefânia. Não se trata, neste
caso, de uma forma de homenagear esta
figura régia, mas sim de uma alusão algo
críptica ao papel que dois reis sucessivos
Fig. 9: Marco do Hospital D. Estefâ- da Casa de Bragança tiveram na fundação
nia, hoje num canteiro do jardim. do hospital. No seu plano original, este

Fig. 10: Logótipo actual do Hospital D. Estefânia, numa placa comemorativa da fundação da
Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais.

266
heráLdicA no hosPiTAL rAinhA donA esTefâniA

possuía um amplo pátio interno, rodeado de arcadas (fig. 11). No extremo oposto
ao da entrada principal do edifício (sobre a qual, como vimos, se erguia a pedra
de armas), a fachada da capela deitava para esse mesmo pátio, ao centro do qual
se erguia uma bela fonte, hoje transposta para o meio de um espaço ajardinado à
direita da fachada (fig. 12). Esta fonte é enquadrada por duas esculturas assentes
sobre plintos, representando dragões (fig. 13), que se encontram ambos muti-
lados (um com muito maior gravidade que o outro, figs. 14 e 15). Naturalmente,
eles poderiam ter um sentido apotropaico comum à sua figuração; mas há indí-
cios que permitem vislumbrar-lhes outra interpretação.
O dragão (ou, mais correctamente, a serpe alada) fora adoptado em finais
do século XIV como timbre ou cimeira das armas reais, isto é, como figura que
encimava o elmo do rei 18. O sucesso deste timbre das armas reais portuguesas

Fig. 11: Pátio e fonte dos dragões na sua localização original (Arquivo Municipal de Lisboa, cota
PT/AMLSB/TAV/000010, fotografia de Manuel Tavares).
18
AZEVEDO, Francisco de Simas Alves de, “A cimeira do Rei de Portugal”, in Estudios Genealó-
gicos, Heráldicos y Nobiliarios en Honor de Vicente de Cadenas y Vicent, Madrid, Hidalguía, 1978,
tomo I, pp. 315-328; veja-se também IDEM, “Ainda o dragão do rei de Portugal”, Tabardo,
n.º 3, 2006, pp. 55-56; LIMA, João Paulo de Abreu e, Armas de Portugal. Origem. Evolução.
Significado, Lisboa, Inapa, 1998, pp. 102-106.

267
migueL meTeLo de seiXAs

Fig. 12: Fonte dos dragões na sua localização actual.

Fig. 13: Dragão e tanque da fonte.

268
heráLdicA no hosPiTAL rAinhA donA esTefâniA

Fig. 14: Um
dos dragões,
em relativo
bom estado.

Fig. 15:
Outro dos
dragões,
mutilado.

269
migueL meTeLo de seiXAs

levou à sua ampla divulgação, não só como cimeira mas também, a partir da
época moderna, como suporte (ou seja, o escudo era por vezes representado com
um dragão de cada lado, na posição de o suster) em substituição dos tradicio-
nais anjos. Mas mais curioso ainda foi o uso do dragão como «fera emblemá-
tica»: este animal fabuloso passou a funcionar como emblema livre da Casa Real,
sendo amiúde figurado de forma isolada, desligado dos demais componentes da
emblemática régia 19. E acabou mesmo por ser incorporado nas insígnias do poder
real, como se pode ver no ceptro hoje conservado no Palácio da Ajuda, em que
aparece carregado com um escudete de Portugal-Antigo (as quinas), a suster a
Carta Constitucional sobre a qual repousa a coroa real fechada 20.
O tema do dragão de tal forma foi divulgado que em 1833 D. Pedro IV,
querendo premiar a cidade do Porto pela fidelidade ao longo da guerra civil,
concedeu às armas deste município diversos acrescentamentos honrosos, entre os
quais o uso do dragão que era timbre da própria Casa Real 21. Para compreender
como o tema do dragão se havia tornado num emblema consagrado da Casa Real,
basta percorrermos o interior do paço da Ajuda para verificar a abundância deste
animal como elemento decorativo nos mais variados materiais. De resto, o navio
a vapor em que D. Luís costumava atravessar o Tejo para ir até ao Alfeite fora
crismado… Dragão.
A presença dos dragões a ladear a fonte do hospital, neste contexto, dificil-
mente seria desprovida de significado. Tanto mais que, do ponto de vista simbólico
e estético, as três manifestações heráldicas monumentais ficavam assim literalmente
alinhadas umas com as outras: o visitante que chegasse ao edifício veria primeiro a
pedra de armas solene da fachada, alusiva a D. Estefânia; depois de entrar, deparar-
-se-ia no pátio com os dragões brigantinos da fonte; penetrando por fim na capela,
voltaria a encontrar uma referência heráldica àquela rainha. Percurso simbólico,
portanto, inserível no uso da heráldica como instrumento de auto-representação e
de comunicação política da Casa Real portuguesa nesta componente essencial de
dedicação à causa do bem-estar dos seus súbditos, que fora tão cara a D. Estefânia.

19
AZEVEDO, Francisco de Simas Alves de, “Fizeram os Reis de Portugal e os Imperadores do
Brasil uso de «King’s Beast»?”, in Genealogica & Heraldica. Lisboa 1986. Actas do 17.º Congresso
Internacional das Ciências Genealógica e Heráldica, Lisboa, Instituto Português de Heráldica,
1989, vol. Heráldica, pp. 21-38.
20
GODINHO, Isabel Silveira (Coord.), Tesouros Reais, Lisboa, Palácio Nacional da Ajuda / Insti-
tuto Português do Património Cultural, 1992, pp. 134.
21
Cfr. SEIXAS, Miguel Metelo de, “A heráldica municipal portuguesa na transição do Antigo Regime
para a monarquia constitucional: reflexos revolucionários”, in RODRIGUES, José Damião
(Coord.), O Atlântico Revolucionário: circulação de ideias e de elites no final do Antigo Regime. Ponta
Delgada, Universidade dos Açores / Centro de História de Além-Mar, 2012, pp. 59-88.

270
O MANUSCRITO HERÁLDICO DE ANTÓNIO
FRANCISCO BARATA. O MANUSCRITO E
CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES EM TORNO
DO MESMO

António Rei *

1 – O mito do «Dicionário Heráldico» – ponto de situação

Relativamente à bibliografia de António Francisco Barata, aparece, tardia-


mente, a referência de que ele “colaborou no Dicionário Heráldico” 1.
Dizemos, tardiamente, pois nunca tal informação apareceu em vida
daquele investigador e homem de letras, falecido em março de 1910. E, apesar de
a mesma se encontrar várias vezes repetida, não se conhece, da parte de quem tal
transmitiu, que alguma vez tivessem procurado saber de que «Dicionário Herál-
dico» se trataria, para se tentar aquilatar, por um lado, o teor e os conteúdos da
colaboração de Barata; e por outro, também identificar a época em que a obra em
causa tivesse sido dada a lume, e o coordenador da obra, uma vez que Barata teria
sido apenas um Colaborador naquela empresa.
Vamos colocar algumas questões prévias, que entendemos pertinentes para
procurar esclarecer esta questão.

* Ph.D. do IEM / FCSH – UNL; EEA – CIC (Granada); FCT Scholarship.


1
Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira (GEPB), Lisboa – Rio de Janeiro, Ed. Enciclopédica,
1936 ss., vol. 4, pp. 161-162: “António Francisco Barata”.

271
AnTónio rei

Entre 1869 (quando A.F. Barata começou a trabalhar na Biblioteca Pública


de Évora), e 1909, (quando produziu as suas últimas publicações de maior teor,
visto ter falecido em março de 1910) 2, quantos Dicionários Heráldicos foram
compostos e publicados em Portugal ?
Constatámos que em 1872 Sanches de Baena publicou o seu Archivo
Heráldico-Genealógico 3, e só mais de um quarto de século depois, entre 1899 e
1905 é que Braamcamp Freire publicou a 1ª edição dos Brasões da Sala de Sintra 4.
Assim, uma obra de cariz heráldico, usando aquele mesmo termo no título
e adjetivando a palavra Dicionário, não nos foi possível encontrar.
Barata publicou em 1909, no seu último ano de vida, à laia de súmula de
todo o seu trabalho, Escritos e publicações de António Francisco Barata (1860-1909),
Évora, Minerva Comercial, Ldª, 1909, 8 pp. 5.
Neste trabalho deixou informações sobre alguns manuscritos, em relação
aos quais já não teria condições de acabar, pelas suas condições gerais de saúde,
mas principalmente pelo facto de a sua falta de visão já lhos tornar extremamente
penosos 6.
E entre os manuscritos inéditos refere Primeiros trabalhos para um diccio-
nario heráldico, ao alcance de todos poderem ler um brasão de armas.
Encontramos depois aquela informação retomada por Brito Aranha quando
deu continuação ao Dicionário Bibliográfico Português, 7 em 1911. Na  entrada
relativa a António Francisco Barata, Brito Aranha fez um longo aditamento, aliás
bem mais longo do que a notícia inicial de 1867, e onde constam mais 81 publi-
cações de Barata. O facto de serem amigos, facto que Brito Aranha assume no seu
texto 8, e terem também outros amigos comuns, fez dele um conhecedor privi-
legiado de muitas, ou quase todas, das obras de Barata. Daí ter conhecimento
mesmo de alguns manuscritos inéditos.
Desconhecemos, no entanto, quem produziu a notícia relativa a António
Francisco Barata que consta na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira
2
Sobre estes momentos da vida de A.F. Barata, v. REI, António, António Francisco Barata – Vida
e Obra (Góis, 1836 – Évora, 1910), respectivamente p. 64 e p. 90.
3
BAENA, Visconde de Sanches de, Archivo heraldico-genealogico, Lisboa, Typ. Universal, 1872.
4
FREIRE, Anselmo Braamcamp, Brasões da Sala de Sintra, 3 vols., Lisboa, Francisco Luís
Gonçalves, Augusto Lima & Parceiro, 1899-1905.
5
REI, António, ob. cit., p. 90.
6
RAMOS, Mário Paredes, António Francisco Barata – notícia bio-bibliográfica com alguns inéditos,
1945, p. 45.
7
Dicionário Bibliográfico Português (DBP), por SILVA, Inocêncio Francisco da, e ARANHA,
Pedro W. Brito, Lisboa, INCM, 1858-1923, “António Francisco Barata”: vol. 8 (1867), p. 152,
e vol. 20 (1911), pp. 214-220.
8
DBP, vol. 20 (1911), pp. 215.

272
o mAnuscriTo heráLdico de AnTónio frAncisco bArATA.

(GEPB) 9. Quem a redigiu parece ter tido acesso, grosso modo, às informações do
dicionário Portugal (1904) 10, às do Dicionário Bibliográfico Português, naquela
versão de 1911, mas eventualmente terá tido mais algumas informações, porven-
tura orais, que terão contribuído para a contaminação onomástica que trans-
formou os Primeiros trabalhos para um diccionario heráldico…, da autoria de
Barata, num «Dicionário Heráldico» e do qual ele apenas teria sido um colabo-
rador.
As informações que se transformaram naquela reacção transformadora,
reportar-se-ão, de facto, a uma colaboração levada a cabo por Barata; colabo-
ração aquela que acabou integrando uma obra heráldica de outrem; e tudo
ocorreu nos primeiros anos da presença de Barata em Évora e na Biblioteca
Pública de Évora.
António Francisco Barata começou a trabalhar na Biblioteca Pública de
Évora (BPE) ainda no final do ano de 1869, o mesmo ano em que fixou resi-
dência na capital alentejana. Era então Director da BPE o Dr. Augusto Filipe
Simões, amigo de Barata e que o chamara para Évora e lhe conseguira trabalho no
Liceu e na Biblioteca 11.
Logo nos anos seguintes, em 1870 e 1871, teve Barata um primeiro
contacto documental e laboral com material heráldico e genealógico em depósito
naquela Biblioteca, pois foi-lhe incumbida a produção do traslado de um códice,
o CXVII / 2-16, e no qual se encontra um extenso conjunto de 74 Cartas de
Brasões de Armas.
O objectivo desse traslado era vir a integrar uma obra então em elabo-
ração pelo Visconde de Sanches de Baena, o renomado e já referido Archivo
Heraldico-Genealogico, que saiu a público em 1872. Esse material proveniente
da Biblioteca de Évora, e que Barata copiou, ocupa 89 páginas do Archivo, mais
exactamente as páginas entre 597 e 686, e intitula-se “Supplemento em que vão
trasladadas na integra as Cartas de Brazões d’Armas cujas copias ou registros
existem entre os manuscriptos da Bibliotheca Eborense (códice CXVII / 2-16)”.
Cremos, desta forma, ter conseguido identificar alguns conjuntos de factos
e factores que por serem ambas de natureza heráldica, acabaram por, mais tarde,
produzir uma fusão, e confusão, onomástica, e dar origem a um título que foi
criado por quem escreveu a notícia da GEPB.

9
V. supra n. 1.
10
Dicionário «Portugal», Lisboa, J. Romano Torres Ed., vol. II (1906): “Barata, António Francisco”,
pp. 75-76
11
Sobre esta amizade, v. REI, António, ob. cit., p. 46.

273
AnTónio rei

2 – A verdadeira obra heráldica: Primeiros trabalhos para um


diccionario heráldico, ao alcance de todos poderem ler um brasão
de armas, de António Francisco Barata

Há cerca de um quarto de século que temos vindo a estudar a vida e a obra


de António Francisco Barata, e desde que encontrámos esta informação relativa
ao manuscrito heráldico, há quase duas décadas, que vínhamos procurando o seu
paradeiro. Sabíamos, no entanto, que o mesmo já poderia ter-se degradado ou
extraviado, até porque desde a década de 40 que não havia uma referência à sua
localização efectiva.
Aquele extenso título do manuscrito, que Barata referiu em 1909, Brito
Aranha repetiu em 1911, Nogueira Ramos em 1945, Poiares em 1950 12, e por
fim Gil do Monte em 1966 13, a despeito do que a GEPB transmitia desde 1936.
No entanto, esta outra informação, a do «Dicionário Heráldico», não foi inócua
e teve consequências neste âmbito.
Um claro exemplo do que acabámos de dizer é o facto de Gil do Monte,
conhecendo o que diziam (ou melhor, repetiam), os autores goienses, Ramos
e Poiares, por um lado; e o que constava na GEPB, por outro, na sua primeira
obra sobre Barata publicada em 1965 14, tenha omitido qualquer referência ao
manuscrito. Numa segunda obra, datada de 1966, já o refere como “inédito”,
embora sem dizer, como dissera Ramos 15, e repetira Poiares 16, que «existe
manuscrito na Biblioteca de Évora». É admissível, portanto, que em meados da
década de 60 o paradeiro do manuscrito em causa já fosse incerto, ou mesmo
desconhecido.
Felizmente o manuscrito heráldico da autoria de António Francisco Barata
foi localizado na BPE em maio do presente ano de 2015, mercê do empenho de
duas Senhoras, a Diretora da BPE, Dr.ª Zélia Parreira, e da Drª. Ana Miranda,
Técnica Superior de Documentação da mesma Biblioteca, a quem manifesto
publicamente o meu agradecimento.

12
POIARES, José Maria Neves da Silva, António Francisco Barata – O Homem e a Obra, Tese de
Licenciatura em Filologia Românica, apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de
Lisboa, 1950, 119 pp., dactilog.
13
MONTE, Gil do, Catálogo Geral Ilustrado das Obras de António Francisco Barata, Évora, ed.
Autor, 1966.
14
MONTE, Gil do, Bibliografia Periódica de António Francisco Barata na Imprensa Eborense, Évora,
ed. Autor, 1965.
15
RAMOS, Mário P., ob. cit., p. 30.
16
POIARES, José Maria N.S., ob. cit., p. 28.

274
o mAnuscriTo heráLdico de AnTónio frAncisco bArATA.

O manuscrito em causa está incorporado num códice encadernado, desig-


nado como “Barata – Obras várias”, e onde constam também vários outros estudos,
relativos a concelhos do distrito de Évora e que foram produzidos no início da
década de 90 do século XIX. O conjunto monográfico municipal, acabou tendo
diferentes destinos, tendo alguns, a maioria, sido publicados, embora outros não
tenham chegado a tomar letra de forma 17.
O título do manuscrito heráldico é de um teor claramente provisório, e
de trabalho, e que poderia, certamente, ter tido outra formulação final, se tivesse
chegado a ser concluído.
Ao dizer querer colocar “ao alcance de todos poderem ler um brasão de armas”,
parece propor-se à divulgação geral do saber heráldico, e dessa forma contribuir
para que aquela linguagem deixasse de ser restrita apenas a uma elite.
O manuscrito é composto por 139 fólios, de papel almaço pautado, dos
quais alguns em branco. Existe alguma numeração, aparentando ser posterior,
a lápis. No início do manuscrito, no fólio de rosto, onde consta o título, surge
também a menção cronológica “Abril de 1897”. É a data em que começou a
redação do mesmo.
No início do manuscrito, numa “Introdução” António Francisco Barata dá
duas informações importantes:

– uma primeira, relativa ao objetivo do trabalho, que é o de estabelecer


uma espécie de manual que ajudasse a ler armas, principalmente em
suporte de pedra: em pedras de armas e em sepulturas armoriadas, uma
vez que nestas (ou em outras, em suportes diferentes), não constam,
regra geral, representações nem de metais nem de esmaltes;
– e a segunda informação, é a de enunciar a principal fonte escrita utili-
zada e que foi a Nobiliarchia Portugueza, de António de Villasboas e
Sampayo. Embora, sempre que tal se justificou, tenha deixado, em
notas, informação sobre alguma outra bibliografia entretanto utilizada.

Daquela obra, e para o objectivo que se propôs, Barata retirou elementos


dos seguintes capítulos, em especial do capítulo XXVI em diante:

17
Algumas pequenas monografias municipais (Portel, Redondo, Reguengos e Viana) foram
publicadas em conjunto, em 1893, sob o título Alemtejo Histórico…; outros, como Alandroal,
Arraiolos, Borba e Estremoz, foram publicados em periódicos; e Mora, Montemor-o-Novo e
Mourão terão permanecido inéditos. No códice constam os manuscritos dos três últimos, mais
Arraiolos e Estremoz.

275
AnTónio rei

CAP. XXIII
DeclaraSe quaes Sam as Armas dos Reynos de Hespanha aSSi antiguas,
como modernas, & em que tempo comeSaram a usar dellas nesta Provincia
os Principes, & familias particulares. (p. 187);

CAP. XXIV
Declarase a origem,&principio das Armas do Reyno de Portugal &
explicase a profecia do Hermitam do Campo de Ourique Sobre a decima
Sexta geraSam (p. 192);

CAP. XXVI
Da ordem com que Se ha de formar o Escudo das Amas, das cores,&
metaes & sua Significaçam, do Elmo, Paquife & Tymbre, porque cauSas se
perdem, & que seja Chefe de linhagem (p. 215);

CAP. XXVII
ExplicãoSe alguas palavras & modos de falar praticados no uso da armeria
& formatura dos EScudos das Armas (p. 224);

CAPS. XXVIII a XLVII


Das Armas de Familia [por ordem alfabética], pp. 226-342.

Assumimos aqui o compromisso de, se Deus quiser, num futuro, que


pretendemos não muito alongado no tempo, fazer a edição deste manuscrito,
cuja notícia sumária temos neste momento entre mãos.

276
REVISÃO GENEALÓGICA DE ALGUMAS LINHAGENS
DOS PRIMÓRDIOS PORTUGUESES. O CONDE
D. GOMES NUNES

Augusto Ferreira do Amaral

Introdução

É oportuno rever criticamente a genealogia de algumas das linhagens da


alta nobreza do tempo da formação e inícios de Portugal. Uma delas é a do conde
D. Gomes Nunes personagem importante que colaborou na tendência autono-
mista que conduziu à independência do novo reino, estava ligado pelo parentesco
a alta nobreza portuguesa e que veio a ser enterrado no mosteiro de Pombeiro.
Apresenta-se pois uma proposta para a sua ascendência, o seu casamento e a sua
descendência.

***

É tempo de rever, sob um prisma estritamente genealógico, a prosopografia,


reportada aos tempos anteriores ao séc. XIV, de algumas estirpes da primeira
nobreza de Portugal.
Ou seja, é oportuna uma revisão dos resultados do notabilíssimo labor
prosopográfico de José Mattoso e da sua escola, que tão fecundo foi para a
história medieval portuguesa. Há, em matéria de Idade Média, uma historiografia
anterior a Mattoso, e uma outra, posterior a Mattoso, representada por ele e
por autores como Luís Krus, Leontina Ventura, Maria Helena Cruz Coelho,

277
AugusTo ferreirA do AmArAL

Bernardo Vasconcelos e Sousa, José Augusto Sottomayor Pizarro, Rita Costa


Gomes, António Resende de Oliveira, Luís Carlos Amaral e outros, que prati-
cando sabiamente aquele método, permitiram um novo conhecimento histórico
da fundação da nacionalidade e da Idade Média portuguesa, muito mais esclare-
cido e profundo.
Aqueles autores muito tiveram de fazer para reconstituírem linhagens e
darem fundamento sólido e científico às genealogias mediévicas.
No entanto, as fontes utilizadas, se são quase exaustivas quanto a docu-
mentos portugueses, deixaram de fora alguma documentação de fundos e
arquivos espanhóis e diversos trabalhos estrangeiros de aproveitamento dessas
fontes, entretanto publicados.
Por outro lado, ainda continua a atribuir-se demasiada fiabilidade aos
nobiliários medievais. Ora estes, na versão em que chegaram aos nossos dias,
mormente o chamado “Livro do Deão” e o chamado “Livro de Linhagens do
Conde D. Pedro”, não justificam tanta confiança. Pelo contrário, devem ser
usados com cautelas semelhantes às da obra de qualquer genealógico de renome
da época moderna.
Os ditos nobiliários são fontes que, quando distantes do tempo dos
factos a que se reportam, se revelam pouco rigorosas e demasiado dependentes
de pseudo-tradições orais; e aqueles dois, na versão em que chegaram aos nossos
dias, são mesmo, em grande parte, genealogias encomendadas, retocadas e
mesmo patranheiras (como é o gritante caso da ascendência dos Pereiras do
arcebispo de Braga). Recomenda-se por isso, a meu ver, um muito apertado
crivo na aceitação dos dados que transmitem, sempre que figuram apenas nessas
fontes.
Essa reforçada reserva sobre os nobiliários e uma revisão e ampliação do
uso de fontes e estudos estrangeiros conduz, segundo proponho, a algumas subs-
tanciais alterações da genealogia das famílias da alta nobreza dos dois primeiros
séculos da nacionalidade. Tive já ocasião de reunir tópicos para uma substancial
revisão de uma meia dúzia dessas linhagens, entre as quais a do conde D. Gomes
Nunes, a dos Bragançãos, a dos Pereiras e a dos Trastâmaras.
E creio que em alguma medida tais alterações se repercutirão em conclusões
que alteram as consagradas para a história dessa época, apontando para algumas
novidades não destituídas de relevância.
O assunto merece, pelo menos, reponderação. O estudo que tenho vindo
a fazer e cujo primeiro capítulo agora vem a lume no presente número da Armas
e Troféus, vai tentar provocá-la. É esse o seu primordial objectivo.

***

278
revisão geneALógicA de ALgumAs LinhAgens dos Primórdios PorTugueses

1 – A linhagem do conde D. Gomes Nunes

Eis uma personagem que em Portugal não tem mobilizado a atenção que
mereceria. Parece ter sido muito relevante para a formação do reino português.
Não só teria tradição familiar apontada à autonomia do ocidente hispâ-
nico, como o seu poder, sobretudo militar, se revelou várias vezes decisivo para
a sorte dos confrontos internos que tiveram lugar neste ocidente no decurso dos
reinados de D. Urraca e de D. Afonso VII, como ainda porque da sua última
grande opção política decorreu a consolidação da independência levada a cabo
por D. Afonso Henriques. Não vou porém agora desenvolver estes pontos de
vista, por isso que a minha abordagem não é aqui predominantemente histórica,
senão genealógica, óptica na qual se faz mister corrigir erros e juntar informação,
hoje disponível, que não tem sido aproveitada.

1.1 – O conde D. Mido Peres

Quando o rei Fernando o “Magno” morreu, em fins de 1065, o seu extenso


reino foi dividido em três partes, conforme as disposições que ele deixou: Castela
ficou para o primogénito varão, Sancho II; Leão para o secundogénito, Afonso
VI; e a Galiza para o mais novo dos filhos varões, Garcia II.
Logo em 17 de Fevereiro de 1066 tratou Garcia de conseguir a confiança
de três poderosos vultos do reino que lhe coubera, emitindo um documento no
qual declarou:

«Este é o juramento que juro eu, Garcia, pela graça de Deus Rei, a vós
meus fiéis Dom Vestriário, Conde Dom Mido, Conde Dom Sancho. Juro
a vós – em primeiro lugar – por Deus Pai Omnipotente que fez o céu e a
terra, o mar e todas as coisas que existem, e pelos doze Apóstolos e doze
profetas e por quantos repousam no paraíso de Deus, que serei para vós, eu
– o Rei Dom Garcia – senhor bom com boa-fé e verdade e não vos retirarei
da vossa honra que tendes, quer esvaziando a vossa honra quer espalhando
o vosso mal, e que não o consentirei a nenhum homem, nem varão nem
mulher, que vos queira fazer mal. E se nisto eu desmentir o que está escrito,
seja perjuro e confundido por Deus do céu». 1

1
A tradução é por mim proposta para o texto, que foi publicado por LÓPEZ Sangil, J. L.,
e VIDÁN Torreira, M., “El Tumbo Viejo de Lugo (Transcripción completa)”, Estudios
Mindonienses, n.º 27, 2011, pp. 168-169; e também por PORTELA Silva, Ermelindo, Garcia

279
AugusTo ferreirA do AmArAL

Quem seriam estas personagens tão importantes no reino da Galiza, o


qual, naquele curto reinado de Garcia II, abrangia também Portugal?
Dom Vestriário foi o bem conhecido bispo de Lugo entre 1060 e 1086.
Dom Sancho era provavelmente o conde D. Sancho Ordonhes 2, que morreu
entre 1080 e 1082, filho de Ordonho Bermudes e neto paterno do rei Bermudo II
de Leão 3.
E Dom Mido? Aparentemente é ainda hoje quase desconhecido, não só
em Portugal mas também em Espanha. O que não deixa de ser estranho, tal o
destaque que por aquele documento lhe é dado.
Portela Silva observa que ele se movia na circunvizinhança do titular de sé
de Lugo 4.
Pouco mais de um mês depois do mencionado juramento, em 24 de março
do mesmo ano de 1066, recebeu Garcia II a doação de numerosos bens imóveis,
com reserva de usufruto vitalício, que lhe foi feita por Garcia Moniz e mulher,
Elvira. O respectivo instrumento documental teve a confirmação, entre outros,
do bispo Vistruário, dum conde António, de Mendo Gonçalves, de Nuno Soares,
de Paio Soares, de Mito Petriz e do bispo do Porto 5.
Este Mito Petriz era pois, provavelmente, o mesmo acima dito conde
D. Mido.
É certo que na confirmação ele não é nomeado por comes, nem leva o
domnus. Mas por vezes tais qualificativos eram então omissos nos documentos em
que os condes eram mencionados. E o facto é que Mito Petriz foi um dos poucos
confirmantes dum instrumento de tanto valor para o rei, para mais juntamente
com próceres dos mais importantes. Além do que o acto era praticado pouco mais
de um mês depois do aludido juramento régio.

II de Galicia. El Rey y el reino (1065-1090), série Corona de España, Burgos, 2001, n.º XXXIV,
p. 181.
2
Para estes nomes, mesmo relativos a personagens leonesas que pouca ou nenhuma ligação tinham a
Portugal, utilizo, não obstante, a forma correspondente em língua portuguesa, porque nas fontes da
época eles figuram em latim, pelo que, ao traduzi-los, não sou obrigado a apontá-los em castelhano
e é lógico que o faça em português, a língua do presente estudo; por outro lado aponho o tratamento
de “Dom” ou de “Dona” quando conheço algum documento fidedigno da época, em que tal
tratamento seja dado à personagem, norma que considero preferível quando exponho genealogias.
3
Esta identificação compagina-se com o que sobre ele recolheu e publicou TORRES Sevilla,
Margarita, Linajes nobiliarios de León y Castilla. Siglos IX-XIII, Junta de Castilla y León, 1999,
pp. 112-120.
4
PORTELA Silva, Ermelindo, ob. cit., p. 65.
5
PORTELA Silva, Ermelindo, ob. cit., pp. 62-64 e nota 153, e RIBEIRO, João Pedro, Dissertações
Chronologicas e Criticas, Academia Real das Sciencias de Lisboa, tomo I, 1860, p. 229.

280
revisão geneALógicA de ALgumAs LinhAgens dos Primórdios PorTugueses

1.2 – Outros Midos e Mides

O nome Mito ou Mido não era dos mais raros naquelas paragens e naquele
século, mesmo na nobreza próspera, como foi o caso de uma Aragunti prolix
Mitiz, casada com Petro Lovesendiz, depois de 1034 tratada quase sempre como
domna Aragunti, que entre 1028 e 1056 comprou muitos imóveis na região de
Braga, os quais veio a deixar, por testamento de 1073-04-04, à respectiva sé 6.
Luís Carlos Amaral estudou-os e ao seu avultado património, «avançando com
a seguinte hipótese: este casal que estudamos utilizou, muito provavelmente,
o poder senhorial, mais exactamente uma autoridade pública privatizada para
criar fortuna e aumentá-la. Ora, tal interpretação pressupõe, obviamente, que os
nossos protagonistas fossem membros da aristocracia» 7. Sabe-se por outro lado,
porque o revelou Avelino de Jesus da Costa, que «D. Aragunte excluiu [da deixa
à sé de Braga] os bens adquiridos em nome próprio depois de viúva, uma vez que
doou apenas a vila “Fontes de Aliste” que lhe tocou em partilha com os filhos» 8.
Ela teve pois filhos, para os quais, por morte de Pedro Lovesendo, ficou parte dos
bens que o casal possuía.
Muitas décadas depois, em 1101-02-10, um Gomizo Midiz doou à mesma
sé parte de várias propriedades em Penso, Ribanhos e Tenões, também no
concelho de Braga. Nessa escritura confirmaram Onoricus Mitiz, Godinus Mitiz e
Tota Mitiz, provavelmente seus irmãos 9.
E em 1122-01-06 Toda Midiz, que é certamente a mesma a que acabei de
referir-me, doou também à dita sé a quinta parte do que lhe pertencia em Penso,
concelho de Braga. Possuía tal hereditate de aviorum et parentum. Confirmou a
escritura, além de outros, um Mido Villamondiz, e entre as testemunhas figura um
Onorigus Midiz, que parece ser o confirmante na escritura de 1101.
É possível que o pai destes Midiz, um Mido, tivesse próximo parentesco
com a referida Aragunte. Pai não era, evidentemente; mas poderia ser seu filho.
Se foi esse o caso, teria recebido o praenomen do avô materno, o que era prática
bastante frequente.

6
Liber Fidei, publicado por COSTA, Avelino de Jesus da, tomo I, Junta Distrital de Braga, 1965,
pp. 57, 62-63, 63-64, 64, 65-66, 66-67, 68-69, 69-70, 73-74, 74, 75, 76, 77, 77-78, 79, 80-81,
82, 83, e 83-84; e, tomo III, Junta Distrital de Braga, 1990, pp. 27-28.
7
AMARAL, Luís Carlos, “Um património laico do Norte de Portugal no século XI: os bens
fundiários de Pedro Lovesendes e de D.ª Aragunte Mides”, Actas do Congresso Histórico 150 Anos
do Nascimento de Alberto Sampaio, Câmara Municipal de Guimarães, 1995, pp. 203-294.
8
COSTA, Avelino de Jesus da, O Bispo D. Pedro e a organização da diocese de Braga, Universidade
de Coimbra, 1959, vol. I, p. 366.
9
Liber Fidei cit., tomo III, pp. 110-111.

281
AugusTo ferreirA do AmArAL

E chamar-se-ia Mido Peres, por ser filho de um Pedro, o que acerta com o
nome do citado confirmante do documento de março de 1066.
Noutro contexto encontro um João Mides, cavaleiro de Coimbra pelos
anos de 1110, filho de Mido Crescones 10. Mas à primeira vista não se revelam
indícios de parentesco deles com os de Braga. Por isso não vou mais além.
Entretanto, numa carta de agnição com que terminou um litígio movido
pelo já referido bispo de Lugo D. Vistrário, exarada em 1062-09-05 e relativa aos
moradores de algumas vilas do concelho de Braga, figura, entre os sapitores que,
com os juízes do caso, apuraram a verdade passada sobre essas vilas, um Mito
Petriz de Leomar 11.
Não é impossível que fosse o mesmo de quem vimos tratando. Mas,
contra, será de salientar que parece muito longe de ter qualidade condal, não
só pelas funções que lhe são atribuídas, como também pelo apelido geográfico,
que aponta para uma pequena povoação nos arredores de Braga – Lomar. E isto
passava-se três anos e alguns meses antes de, como acima disse, um D. Mido
ser designado como conde e ser tão poderoso ou tão importante para o novo rei
Garcia, que este lhe destinou – a ele, a um bispo e a um neto de rei – um jura-
mento de que respeitaria as suas honras.
Mesmo assim Ermelindo Portela Silva admitiu muito dubitativamente que
se trate da mesma pessoa 12. E eu louvo-me dessa opinião, para não rejeitar por
completo a hipótese.
Por último registe-se uma importante carta de agnição de 1025-08-30,
com a qual terminou um litígio com os servos da igreja de Braga, movido pelo
bispo D. Pedro. Nela figuram, entre numerosos outros confirmantes, um Mitu
Arias, um Petrus Leovesindiz e um Gutier Leovesindiz 13.
É provável que estes dois últimos fossem irmãos, como sustenta Antonino
Fernandes 14 e que o Petrus Leovesindiz fosse o mesmo que em 1028 era marido
da acima referida Aragunte Mitiz. E perfeitamente possível que o Mitu Arias fosse
pai desta.
Se assim for, proponho o seguinte hipotético sumário genealógico desta
família que, apesar do praenomen Mido e do patronímico Mides, pode não ter que
ver com o conde D. Gomes Nunes:

10
GOUVEIA, Mário de, “O essencial sobre a analística monástica portucalense”, Lusitania Sacra,
Universidade Católica Portuguesa, Lisboa, 2.ª série, tomo XXV, p. 213.
11
Liber Fidei cit., tomo I, pp. 51-53.
12
PORTELA Silva, Ermelindo, ob. cit., pp. 64-65.
13
Liber Fidei cit., tomo I, p. 51.
14
FERNANDES, Maurício Antonino, Silvas – Históricos – Patronos dos Mosteiros de Stº Antonino
e de Tibães, Oliveira de Azemeis, 2005, p. 9.

282
revisão geneALógicA de ALgumAs LinhAgens dos Primórdios PorTugueses

I – MIDO ARIAS
Confirmou em 1025 um documento relativo a Braga.
Filha:
II – ARAGUNTE MIDES
Adquiriu, quer com seu marido quer depois de viúva, numerosos imóveis
em S. Mamede de Este, concelho de Braga, os quais deixou à respectiva sé.
Morreu em 1073 ou pouco depois.
Casou, em 1028 ou pouco antes, com PEDRO LOVESENDES, irmão de
Gutierre Lovesendes, genearca dos Silvas segundo Antonino Fernandes, e
filhos ambos de LOVESENDO ABOAZAR 15, que Mattoso menciona
como filho de ABOAZAR LOVESENDES 16.
Filho:
III – MIDO PERES
Em setembro de 1062 apoiou, como sapitor 17, uma inquirição feita
por um juiz suscitado pelo bispo de Lugo D. Vistrário.
Não é impossível, mas sim pouco provável, que fosse um dos três
magnates a quem, em Fevereiro de 1066, o rei Garcia da Galiza jurou que
respeitaria as suas honras e o mesmo que, em março de 1066, confirmou
um instrumento de aceitação, pelo dito rei, duma importante doação.
Filhos:
1(IV) – GOMES MIDES
Em Fevereiro de 1101 doou à sé de Braga vários bens imóveis
2(IV) – HONORICO MIDES
Ele e os dois seguintes confirmaram na referida doação. Hono-
rico testemunhou a doação de sua irmã Toda em 1122.
3(IV) – GODINHO MIDES
4(IV) – TODA MIDES
Em 1122 fez uma doação à sé de Braga.

1.3 – D. Gomes Nunes e D. Fernando Nunes

O conde D. Rodrigo Peres “Veloso”, de Trava, irmão consanguíneo do


célebre amigo ou marido da nossa D. Teresa e bem conhecido dos medievalistas,
era casado com D. Fronilde Fernandes 18 que, em 10 de Fevereiro de 1187, fez
15
Ibidem
16
MATTOSO, José, A nobreza medieval portuguesa, a família e o poder, Editorial Estampa, Lisboa,
1981, p. 206.
17
Não é claro se este termo tem em vista uma mera situação concreta, se uma instituição.
18
TORRES Sevilla, Margarita, ob. cit., pp. 339-341.

283
AugusTo ferreirA do AmArAL

uma doação ao mosteiro de Ferreira de Pallares 19, filha de D. Fernando Nunes e


de D. Maior Rodrigues.
Este D. Fernando Nunes era irmão do conde D. Gomes Nunes, filhos
ambos do conde D. Nuno Mídiz 20.
Com efeito, em 26 de julho de 1126, “domnus Gomes Nunides nutu Dei
comes”, e seu irmão D. Fernando Nunides, ao doarem ao mosteiro de Cluny o
mosteiro, situado na terra de Toroño, confinante a sul com o rio Minho 21, decla-
raram:

«Hoc autem monasterium nos habuimus de genere et genere nostro ab


ipso sui exordio, in tantum omni alio herede remoto, ut post mortem
patrui mei, comitis domno Fernandi, medietas illius cum inquisitione
veritatis in jus regium deveniente, medietas vero patris nobis remansit. Ego
autem medietatem illam que patrui mei fuerat a rege domno Adefonso
prescriptione firmitatem adquisivi» 22.

1.4 – D. Nuno Mides e D. Fernando Mides

Os doadores eram filhos de um “Nuno” e sobrinhos direitos de um “conde


D. Fernando”.
Trata-se decerto dos condes “Nunno Mitis” e “Fernando Mitiz”, que terão
outorgado como confirmantes na doação de Afonso VI de 8 de maio de 1080 ao
mosteiro de Sahagún 23.
Este documento – deve notar-se – é considerado suspeito e terá sido retocado,
conforme entende o seu editor, o reputado diplomatista Andrés Gambra. E uma

19
BARTON, Simon, The aristocracy in twelfth-century León and Castille, Cambridge University
Press, 1997, p. 297, nota 3.
20
VAQUERO Díaz, María Beatriz, e PÉREZ Rodríguez, Francisco, Colección documental del
Archivo de la Catedral de Ourense, I, (888-1230), Centro de Estudios e Investigación «San
Isidoro», León, 2010, p. 70.
21
BERNARD, Auguste, e BRUEL, Alexandre, Recueil des chartes de l’Abbaye de Cluny, Paris, 1894,
vol. II, p. 345.
22
Proponho para este trecho a seguinte tradução: «No entanto possuímos hereditariamente este
mosteiro e da nossa linhagem desde a própria origem, tal como todo outro herdeiro remoto, de
forma que, depois da morte do meu tio o conde D. Fernando, a metade dele, com inquirição da
verdade recorrendo ao direito régio, continuasse realmente metade do nosso pai. Não obstante,
eu adquiri a el-rei D Afonso, por cláusula para reforço, aquela metade que fora do meu tio».
23
HERRERO DE LA FUENTE, Marta, Colección diplomática del Monasterio de Sahagún
(957-1230), III (1073-1109), León, Centro de Estudios e Investigación «San Isidoro», 1988.

284
revisão geneALógicA de ALgumAs LinhAgens dos Primórdios PorTugueses

das anomalias é justamente a de figurarem entre os condes (que aliás aparecem


em número demasiado elevado) alguns que ele entende muito improvável que o
tenham sido, como é o caso de Nuno e de Fernando Mitis 24. No entanto Gambra
não exclui um fundo de veracidade no conteúdo desse documento.
Parece plausível que o retoque tivesse a ver com a dignidade de “conde” atri-
buída aos dois irmãos Mitiz, mas não com a intervenção deles como confirmantes.
No mínimo, não afecta portanto a sua existência como pessoas e com qualidade
para confirmarem documentos régios.
Assim, admito que, em 1080, dois irmãos Nuno e Fernando Mitiz faziam
parte dos nobres confirmantes de documentos de Afonso VI.
Quem poderia então ser o pai deles?
Tudo aponta para que fosse o acima tratado D. Mido, um dos destinatários
do juramento de Garcia II em 1066. Não sei de alternativa melhor.
Será por isso de inferir que os dois irmãos Gomes Nunes e Fernando Nunes,
assim como seu pai Nuno Mides e o irmão deste Fernando Mides eram de linhagem
condal. Os primeiros eram netos paternos do conde Mido Peres, terratenente no
efémero reino da Galiza; e os últimos eram filhos do mesmo conde.
Na versão que chegou aos nossos dias do juramento de Garcia II feito
perante D. Mido, foi lançada, em relação a este nome Mido, uma nota do seguinte
teor: «correcto Menendo». Isto inculca, pelo menos, que desde muito cedo o dito
nome próprio daquele D. Mido veio a ser confundido com Mendo.
E especialistas contemporâneos da craveira de Jaime de Salazar y Acha,
Simon Barton e Margarita Torres Sevilla, parecem admitir, neste caso, a equiva-
lência dos nomes Mides e Mendes 25.
No entanto, não vejo fundamento sólido para tal equivalência, a qual
contrariaria a forma constante dos documentos.
Chegados a este ponto, seria útil saber mais alguma coisa da família do
referido D. Mido.

1.5 – A condessa D. Gontinha

Sabe-se que a avó do conde D. Gomes Nunes atrás referido era a condessa
D. Gontinha. E, como logo se verá, trata-se da avó paterna.
24
GAMBRA, Andrés, Alfonso VI. Cancillería, Curia e Imperio, León, Centro de Estudios e
Investigación «San Isidoro», 1998, vol. II, pp. 167-168.
25
SALAZAR Acha, Jaime de, “Los descendientes del conde Ero Fernández, fundador del
monasterio de Santa María de Ferreira de Pallares”, Galicia en la Edad Media, Madrid, Sociedad
Española de Estudios Medievales, 1990, p. 76; BARTON, ob. cit., p. 256, e TORRES Sevilla,
Margarita, ob. cit., pp. 294-295, e nota 1491.

285
AugusTo ferreirA do AmArAL

Já António Brandão dera notícia duma doação do futuro Afonso VII, em


20 de setembro de 1118, a D. Gomes Nunes, que ele traduziu do latim, na parte
que ora interessa, do seguinte modo:

«faço carta de doação a vos Dom Gomes Nunez de todas aquellas herdades
que foraõ de vossa avò a Condessa Donna Gontinha e de vosso tio o
Conde Dom Fernão Mendez em toda aquella terra que de mim tendes
em Toronho, com toda a criação, a saber escrauos, e escrauas, arvores, e
bemfeitorias: e douuos estas terras, assi da jurisdição secular, como a dos
Mosteiros, as que estaõ ermas e pouoadas, as parrochias, e ermidas, como
milhor as possuiraõ os que foraõ da vossa geração, e da estranha. E alem
disso vos dou a minha palavra, que se Deos me der a terra, em qualquer
parte da qual se acharem herdades de vossos pães, que todas desde agora
vos prometo, pelo bom serviço, e agradauel fidelidade que ate agora
tiuestes:» 26.

Brandão anunciou que se reservava para o apêndice a versão em latim,


mas não o fez, pelo que desconheço tal versão. De qualquer modo, João Pedro
Ribeiro aludiu ao documento e sobre ele lançou a seguinte referência: «A Doação
de D. Affonso VII de Leão ao Conde Gomez Nunez data deste modo.

«Facta Karta in Socobia redeunte Regina D. Urraca cum filio suo Rege
D.  Adfonso a Toletana obsidione cum Galiciano exercitu sub era 1156, et
quotum XII. Kalendar. Octobris.» 27

Existe um documento de 1138-07-22, que exara uma doação do conde


D. Gomes Nunes ao mosteiro de Celanova, Nele se declara que D. Gontinha era
avó paterna dele:

«… hereditatem meam propriam pernominatam Bustarenga que habeo de


parte comitisse domna Goncina que fuit mater de pater meus …» 28.

Quem seria esta condessa D. Gontinha ou Goncinha?

26
BRANDÃO, frei António, Terceira parte da Monarchia Lusitana, Lisboa, 1632, p. 113.
27
RIBEIRO, João Pedro, Dissertações Chronologicas e Criticas, cit., tomo II, Lisboa, 1857, p. 108.
28
ANDRADE Cernadas, José Miguel, O Tombo de Celanova, Santiago de Compostela, Consello
de Cultura Gallega, 1995, tomo II, p. 749.

286
revisão geneALógicA de ALgumAs LinhAgens dos Primórdios PorTugueses

Pelo nome, pela época e pela qualidade, cabe a dúvida de saber se é a


mesma D. Goncinha mulher do conde portugalense D. Nuno Mendes 29, o tal
que, revoltando-se contra o rei Garcia II da Galiza, com este se bateu na batalha
de Pedroso e nela foi morto, em fins de Fevereiro de 1071 30.
Por ser avó paterna de Gomes e de Fernando Nunes, era a mãe de Nuno
Mides (pai deles). E não podia ser avó materna, pelas razões que seguem.
Nuno Mides, como adiante se verá, casou seguramente com D. Ximena
Fernandes, filha de D. Fernando Ordonhes e de D. Fronilde Gutierres e, prova-
velmente também, com D. Sancha Gomes, filha de D. Gomes Échegues, da
linhagem dos Sousas, e de D. Gontrode Nunes 31. Este último casamento terá até
sido o primeiro na ordem cronológica. Desse matrimónio terá nascido D. Gomes
Nunes; do segundo, o dito D. Fernando Nunes.
De qualquer forma, mesmo que os dois irmãos Nunes fossem filhos da
mesma mãe, e não de mães diferentes (o que considero mais provável) em nenhum
dos casos a avó materna deles se chamou Goncinha.
Que a condessa Goncinha era avó paterna parece, além disso, deduzir-se
dum outro documento. Sabe-se com efeito que um Fernando Nunniz (obvia-
mente o irmão de Gomes Nunes), e sua mulher Maior Ruderiquiz, doaram em 29
de dezembro de 1127, à igreja de Ourense a 6ª parte do mosteiro de Santa María
da Porqueira, na comarca de Xinzo de Limia, na Galiza (no sul da Galiza, relati-
vamente próximo de Chaves), que ele havia herdado da avó, “domna Goncina”
e de seu pai, o [no genitivo] “comitis Nunnonis Midiz” 32. A parte doada viera a
pertencer-lhe por herança da referida avó, a condessa D. Goncinha, e do pai, o
conde Nuno Mides. Não havendo qualquer indicação de que essas duas prove-
niências não tivessem a mesma origem, parece preferível a hipótese de que a parte
recebida de Nuno Mides provinha, por sua vez, da mãe deste.
Mas seria essa D. Goncinha, mulher de Mido Peres, a mesma que se sabe
ter sido também mulher do conde portugalense Nuno Mendes?
Vejamos a cronologia.

29
Como hipotetiza Barton, loc, cit.
30
E não em 18 de janeiro como consta da Chronica Gothorum, o que foi evidenciado por COSTA,
Avelino de Jesus da, O bispo D. Pedro … etc. cit., vol. I, p. 31.
31
“‘Livro Velho’, Portugaliae Monumenta Historica, Nova Série”, vol. I, Livros Velhos de Linhagens,
edição crítica de Joseph PIEL e de José MATTOSO, Academia das Ciências de Lisboa, 1980,
p. 25.
32
VAQUERO Díaz, María Beatriz, e PÉREZ Rodríguez, Francisco J., Colección documental
del Archivo de la Catedral de Ourense. I (888-1230), Centro de Estudios e Investigación «San
Isidoro», León, 2010, pp. 70-71.

287
AugusTo ferreirA do AmArAL

Uma D. Goncinha era casada com o dito conde Nuno Mendes em 17 de


Fevereiro de 1071 33. E pouco tempo depois, esse seu marido morreu na batalha
de Pedroso, como é praticamente consensual 34.
Os irmãos Nuno e Fernando Mides terão nascido antes de 1055, uma vez
que Nuno Mides, aparentemente o mais velho, não seria decerto armiger do rei
(como era em 1075) sem ter pelo menos 20 anos de idade.
Mido Peres ainda era vivo em 1066, como se viu.
O casamento de D. Goncinha com o conde portugalense não poderia
portanto ter sido posterior a um primeiro que ela, se fosse a mesma, tivesse cele-
brado com Mido Peres.
Mas, para ter sido casada primeiro, desde antes de 1055, com este Mido
Peres, teria de ter enviuvado deste depois de 1066, ano em que este ainda era vivo.
Do conde D. Nuno Mendes foi filha – a única conhecida – uma Loba
“Aurovelido” Nunes que, com seu marido, Sisnando Davides, doou em 29 de
abril de 1074 bens que herdara de seu pai 35. Nasceu portanto antes de 1062.
Então de duas, uma: ou Loba Nunes, sendo embora filha de D. Nuno
Mendes, não era porém filha de D. Goncinha; ou a D. Goncinha mulher de
D. Nuno Mendes não era a mesma que a mãe de Nuno e de Fernando Mides.
Nada, que eu saiba, obsta à primeira alternativa. Não conheço documento
em que aquela Loba seja considerada, directa ou indirectamente, filha duma
D. Goncinha.
Pelo contrário, na doação acima referida, que D. Nuno Mendes e
D. Goncinha fizeram em 17 de Fevereiro de 1071, não há qualquer alusão a que
tivessem filhos desse matrimónio entre ambos – o que quase sugere a presunção
de que os não tinham.
Acresce que a doação, também já mencionada, que Loba Nunes e seu
marido fizeram em 29 de abril de 1074, assim como uma referência a ela feita
num documento de 1103 36, não aludem à mãe dela – que, se fosse viva, prova-
velmente teria uma palavra a dizer tratando-se de bens da herança do defunto
conde Nuno Mendes. E a D. Goncinha mãe de Nuno e de Fernando Mides terá
certamente morrido depois do conde Nuno Mendes seu marido, ou seja depois
de 1071, e até possivelmente muitos anos depois; e terá deixado em herança bens
valiosos a seu filho Nuno e a seus netos, filhos deste, Gomes e Fernando Nunes,
como parece resultar dos termos da escritura de 1127-12-29 acima citada. Tais
33
Liber Fidei, cit., tomo I, pp. 334-336.
34
COSTA, Avelino de Jesus da, Liber Fidei, notas ao documento anteriormente mencionado, pp.
334-336.
35
MATTOSO, José, A nobreza … etc. cit., p. 115, e Liber Fidei, cit., tomo I, p. 233.
36
Liber Fidei, cit., tomo I, p. 203.

288
revisão geneALógicA de ALgumAs LinhAgens dos Primórdios PorTugueses

bens, aliás, eram decerto seus próprios, antes do casamento com o conde Nuno
Mendes. Quando não, é possível que fossem confiscados pelo rei, como parece ter
acontecido com outras propriedades deste 37.
Sabe-se que a mulher de Mido Peres era condessa. No entanto, não é obri-
gatório que tal qualidade se devesse ao seu casamento com D. Nuno Mendes.
Podia provir-lhe também do seu consórcio com o próprio Mido Peres, que era
conde em 1066.
Por outro lado não encontro notícia de qualquer outra condessa Goncinha que,
naquela época pudesse corresponder à mulher de Mido Peres ou de Nuno Mendes.
Parece preferível portanto a hipótese de que a D. Goncinha mãe de Nuno
e de Fernando Mides fosse a mesma que, já viúva de seu primeiro marido, o
conde Mido Peres, casou com o conde Nuno Mendes, de quem não terá tido
descendência que lhes sobrevivesse. E de que o mesmo Nuno Mendes, quando
com ela casou, fosse já pai de Loba Nunes, possivelmente também dum primeiro
casamento dele.
Desejaria ir mais além. Mas não disponho de dados que permitissem
saber quem foram os pais de D. Goncinha. Nem a mãe da referida Loba Nunes.
É matéria que, para mim permanece incógnita.

1.6 – Nuno Mides e Nuno de Celanova, que era Vasques

Uma outra precisão cabe fazer sobre esta linhagem.


O Nuno Mides de quem venho tratando, pai de Gomes Nunes, era pessoa
diferente do conde Nuno Vasques, conhecido mais frequentemente como Nuno
de Celanova 38.
E sempre os dois andaram confundidos na genealogia e na historiografia
portuguesas, confusão que está na origem de muitos erros ainda hoje praticados
nessas áreas.
Nuno de Celanova foi o documentado pai do conde D. Afonso, de Mendo,
de Sancho e de Elvira Nunes. E este seu filho Sancho Nunes foi o que apoiou
D. Afonso Henriques em S. Mamede e casou com uma irmã deste.
Foi Barton quem detectou o erro. Viu bem que estes quatro irmãos Nunes
não eram irmãos de Gomes Nunes, contrariamente ao que têm suposto os medie-
valistas portugueses 39, nem de Fernando Nunes, cujo pai (de ambos) era o refe-

37
MATTOSO, José, A nobreza … etc. cit., p. 115.
38
BARTON, ob. cit., p. 256, nota 2.
39
FERNANDES, Almeida, “Guimarães, 24 de Junho de 1128”, Revista de Guimarães, vol.
LXXXVIII, 1978, p. 79; MATTOSO, José, Identificação de um país, Lisboa, 1985, vol. I, p. 155,

289
AugusTo ferreirA do AmArAL

rido Nuno Mides, a que ele chama Mendes. Os quatro irmãos Afonso, Mendo,
Sancho e Elvira Nunes eram, sim, filhos do dito D. Nuno Vasques de Celanova e
este, por sua vez, é tido por filho dum conde Vasco e de D. Gontrode Nunes, de
Portucale, tia do conde portugalense Nuno Mendes 40.
Barton tem manifesta razão em entender que o pai do conde D. Gomes
Nunes e de D. Fernando Nunes não foi Nuno de Celanova. Só falha, como se viu,
na medida em que chama Nuno Mendes a Nuno Mides e admite a identificação
dele como o conde português morto na batalha de Pedroso.
Mas no resto aquela descoberta veio pôr termo a um erro importante – a
confusão dos referidos dois Nunos – que até agora afectava em alguma medida o
conhecimento da actuação dos vários intervenientes no processo de gestação do
reino português.
Na base do erro está, ao que parece, o Livro do Deão. Deste nobiliário,
datado da primeira metade do séc. XIV, consta que o conde D. Gomes Nunes
era irmão de D. Sancho Nunes (o que casou com a infanta D. Sancha Henriques,
irmã de D. Afonso Henriques) 41.
O Livro de Linhagens do Conde D. Pedro, nos títulos 22 e 37, acompanha
tal versão 42. E os autores posteriores foram induzidos nesse erro por confiarem
nas ditas fontes. António Brandão 43, Frei Leão de São Tomás 44, Frei António da
Assunção Meireles 45, João Pedro Ribeiro, Luís Gonzaga de Azevedo 46, Manuel
Fernández Rodríguez 47, Almeida Fernandes 48, e até José Mattoso 49 e Sottomayor
Pizarro 50 creram que D. Gomes Nunes era irmão de D. Sancho Nunes.

e PIZARRO, J. A. de Sottomayor, Linhagens medievais portuguesas, Universidade Moderna,


Porto, 1999, vol. I, p. 529.
40
MATTOSO, José, A nobreza … etc. cit., pp. 113-114.
41
“Livro do Deão”, cit., p. 65.
42
Livro de Linhagens do Conde D. Pedro, cit., vol. I, pp. 270 e 435.
43
BRANDÃO, Frei António, Terceira Parte da Monarchia Lvsitana, Lisboa, 1632, Livro IX,
capítulo XXVIII, p. 112v.
44
SANTO THOMAS, Frei Leão de, Benedictina Lvsitana, tomo 2º, Coimbra, 1651, p. 53.
45
MEIRELES, Frei António da Assunção, Memórias do Mosteiro de Pombeiro, publicadas por
BAIÃO, António, Lisboa, Academia Portuguesa da História, 1942, p. 13.
46
AZEVEDO, Luís Gonzaga de, História de Portugal, Lisboa, Edições Bíblion, 1940, vol. 3,
p. 108.
47
FERNÁNDEZ Rodríguez, Manuel, Toronium. Aproximación a la historia de una tierra medieval,
Santiago de Compostela, Instituto de Estudios Gallegos, 2004, p. 72.
48
FERNANDES, A. de Almeida, “Guimarães, 24 de Junho de 1128”, Revista de Guimarães, vol.
LXXXVIII, Guimarães, 1978, pp. 51 e 79-81.
49
MATTOSO, José, Ricos-Homens Infanções e Cavaleiros, Lisboa, Guimarães Editores, 1982,
pp. 118 e 123.
50
PIZARRO, J. A. de Sotto Mayor, Linhagens … etc. cit., vol. I, pp. 254 e 511.

290
revisão geneALógicA de ALgumAs LinhAgens dos Primórdios PorTugueses

A verdade, contudo, é que nem mesmo pode asseverar-se com total segu-
rança que os pais de um e de outro – que ambos eram Nunos e tinham dignidade
condal na Galiza – fossem parentes.

1.7 – A(s) mulher(es) de D. Nuno Mides

De D. Mido, magnate galego em 1066, foram portanto filhos D. Nuno


Mides e D. Fernando Mides.
D. Nuno aparece duas vezes em documentos de Afonso VI: num, repor-
tado a 1075 em Santiago de Compostela, em que o rei declarara extinta a juris-
dição dos saiões reais no lugar de San Isidoro 51; e noutro, de 1080-05-14, já
acima citado, em que o rei mandou ao mosteiro de Sahagún que seguisse a regra
beneditina e isentou o abade de qualquer outra autoridade e tributo ao fisco
real 52. No primeiro, que parece ter sido um diploma reportado a algum tempo
antes, Nuno Mitiz confirmou como tunc armiger regis; no segundo, Nunno Mitis
confirma como comes. Em 1075 seria portanto uma espécie de alferes do rei e, em
1080, teria já a dignidade condal.
Gambra, como acima disse, considera ambos os documentos suspeitos,
mas não a ponto de entender que o seu conteúdo não correspondesse, no essen-
cial, à realidade. Não descarta a existência de Nuno Mides como armiger do rei
em janeiro de 1075, não obstante apor reservas, «porque su presencia en los
diplomas reales es escassa y se produce siempre en diplomas de autenticidade
problemática» 53.
A personagem não foi contudo inventada, além do mais porque, como
acima se viu, está irrefragavelmente mencionada como conde na doação de
1127-12-29, por seu filho, à igreja de Ourense.
Tinha pois qualidade para confirmar documentos régios ou para o exer-
cício de cargo tão destacado como o de armiger.
De qualquer forma, põe-se o problema de saber com quem casou. Como
atrás disse, os filhos afirmaram serem netos duma condessa D. Goncinha. Mas
não revelaram o nome da mãe deles, nora daquela.
Há porém base documental para a sua identificação.
Com efeito, em 11 de março de 1108 o abade do mosteiro de Sahagún,
por um lado, e Xemena Fernandiz com seu filho Fernando Nunniz, pelo outro,
fizeram uma permuta de vários imóveis, sendo que os recebidos por este, por sua

51
GAMBRA, ob. cit., vol. II, p. 55.
52
Ibidem, p. 170.
53
Ibidem, vol. I, pp. 566 e 577.

291
AugusTo ferreirA do AmArAL

morte, reverteriam para o mosteiro 54. A dita Ximena era, conforme Margarita
Torres Sevilla, a filha de Fernando Ordonhes e de Fronilde Gutierres 55.
É quase imperioso identificar este Fernando Nunes com o irmão do conde
Gomes Nunes, ambos filhos do conde Nuno Mides.
Não se acha pelas regiões em causa, outro qualquer magnate ou prócere
disponível para ser marido da referida Ximena e pai do dito Fernando Nunes.
Depois porque na escritura de 29 de dezembro de 1127, já acima citada,
Fernando Nunniz (filho do comitis Nunnoniz Midiz e neto da comitissa domna
Goncina) com sua mulher Maiore Ruderiquiz, fez uma doação à igreja de Ourense.
Ora estes Fernando Nunes e Maior Rodrigues foram os pais de D. Fronilde
Fernandes, mulher do conde Rodrigo Peres de Trava, o “Veloso”.
Tudo isto é reconhecido por Jaime de Salazar 56.
Nuno Mides casou portanto, pelo menos, com D. Ximena Fernandes, filha
de D. Fernando Ordonhes e de Fronilde Gutierres, neta paterna de D. Ordonho
Bermudes (filho ilegítimo de Bermudo II, rei de Leão) e de D. Fronilde Pais (filha
do conde Paio Rodrigues); e neta materna do conde Gutierre Afonso e de sua
mulher Goto 57.
E D. Fernando Nunes era filho da referida D. Ximena Fernandes.
Ora, como D. Fernando Nunes era irmão do conde D. Gomes Nunes, pare-
ceria à primeira vista que este último seria também filho da mesma D. Ximena.
Mas isso choca com a versão que os nobiliários medievais fornecem para a
ascendência do dito D. Gomes Nunes.
Todos eles dão este como filho de um conde D. Nuno e de D. Sancha
Gomes, filha dum Sousa – D. Gomes Egas – e irmã de D. Egas Gomes 58.
Tal filiação encontra apoio indirecto numa escritura de doação de
1102-02-10, na qual um Gomes Echegues e sua mulher Goldregodo Sandines,
com os filhos de ambos Paio Gomes, Egas Gomes e Frodilhe Gomes, doaram
Vila Boa, no concelho actual de Celorico de Basto, ao mosteiro de Pombeiro 59.
E noutra, de escambo, de 1103-07-11, pela qual Mendo Viegas, Gomes Nunes

54
HERRERO DE LA FUENTE, Marta, ob. cit., vol. III, pp. 538-539.
55
Ver TORRES Sevilla, Margarita, ob. cit., pp. 119-128.
56
SALAZAR y Acha, Jaime de, “Los descendientes … etc.” cit., p. 76.
57
Para a ascendência de Jimena Fernández, ver TORRES Sevilla, Margarita, ob. cit., pp. 119-128.
58
“Livro Velho”, cit., p. 25; “Livro do Deão”, cit., p. 65, e “Portugaliae Monumenta Historica, Nova
Série”, Academia das Ciências de Lisboa; Livro de Linhagens do Conde D. Pedro, publicado por
MATTOSO, José, vol. II/1, 1980, pp. 269-270.
59
Documentos Medievais Portugueses, Documentos Particulares, vol. III, publicado por AZEVEDO,
Rui Pinto de, Lisboa, Academia Portuguesa da História, 1940, p. 49, e MEIRELES, Frei
António da Assunção, Memórias … etc., cit., pp. 118-120.

292
revisão geneALógicA de ALgumAs LinhAgens dos Primórdios PorTugueses

e Toda Eitat dão ao conde D. Henrique certos bens em Pousada em troca de um


quinhão no mosteiro de Pombeiro 60. Na verdade, embora D. Sancha Gomes
não haja intervindo na escritura, pode encontrar-se uma explicação para isso no
facto de ter já morrido e haver muito antes casado com o conde D. Nuno Mides
(visto que seria filho de ambos o dito Gomes Nunes). Mas não deve esquecer-se
que, segundo se vê no citado Livro Velho, ela teve um irmão Egas Gomes, que
pode ser o co-outorgante da escritura e que por esta era efectuada uma doação
ao mosteiro de Pombeiro, ao qual D. Gomes Nunes estava tão ligado que nele
foi enterrado.
Subsiste no entanto a discrepância entre a dita versão dos nobiliários para
a progenitora de D. Gomes e a que está documentalmente atestada para a de seu
comprovado irmão Fernando.
Mas há uma hipótese de conciliar tal discrepância: será atribuir mães dife-
rentes a estes irmãos. Eles seriam apenas irmãos consanguíneos.
É de notar que Gomes Nunes não interveio na acima citada escritura de
1108, de permuta, outorgada por seu irmão Fernando e com a mãe deste, Ximena.
Se os bens que foram dados em troca ao mosteiro de Sahagún provinham
da família desta, está aí um forte argumento de que a mãe de Gomes Nunes não
seria Ximena, mas outra mulher de Nuno Mides.
No entanto, se os ditos bens tivessem provindo de Nuno Mides, então a
ausência de Gomes Nunes naquela escritura nada provará. Com efeito, os bens
em causa poderiam, pelo falecimento de Nuno Mides, ter ficado em partilha à
viúva e apenas a um dos filhos – Fernando.
Fernando Nunes era já maior em 1108, como se conclui da referida escri-
tura de Sahagún.
Gomes Nunes terá nascido entre 1070 e 1075, como é de supor pela sua
intervenção como confirmante de documentos régios e pelo facto de ter morrido
em 1141, como adiante se verá.
A mãe de Gomes, se não foi a dita Ximena, haveria de ter morrido antes de
1090, salvo na hipótese muito improvável de ser uma concubina.
Por outro lado, o nome próprio Gomes corresponde ao do pai da dita
Sancha Gomes – Gomes Egas. E, assim, ao conde Gomes Nunes teria sido dado
o nome do avô materno, o que era frequente naquelas circunstâncias e terá acon-
tecido com seu irmão Fernando Nunes.
É certo que há mais Gomes pela região, pertencentes à nobreza terra-
-tenente. Como atrás se viu, havia mesmo, por exemplo, no início do séc. XII
um Gomes Mides, proprietário em Braga. E que não é portanto por aí que haverá

60
Ibidem, p. 109.

293
AugusTo ferreirA do AmArAL

prova decisiva de que a mãe do conde Gomes Nunes fosse a mencionada Sancha
Gomes, e não a mesma Ximena Fernandes que era mãe de seu irmão Fernando
Nunes.
Há os nobiliários medievais, replicar-se-á.
Por aí também não fico eu bem convencido. Eles confundem o Nuno, pai
deste Gomes Nunes, com o de Celanova. Por que não teriam também confun-
dido a mãe? E o Livro do Deão e o Livro de Linhagens do Conde D. Pedro contêm,
para épocas anteriores ao séc. XIII, tantos erros e mesmo patranhas, que pouca
credibilidade por si sós merecem, à partida.
Pela cronologia, é admissível que essa Sancha Gomes tivesse procriado
Gomes Nunes entre 1070 e 1075 e morrido antes de 1090.
Com efeito, o irmão dela está referenciado em documentos entre 1094 e
1120 e o pai entre 1049 e 1072.
Contudo há um argumento mais forte no sentido de se apontar esta mãe
a Gomes Nunes, que não tenho dúvidas de ser o conde D. Gomes Nunes de
Pombeiro bem conhecido dos medievalistas.
É que ele foi enterrado e, ao que parece, por vontade própria, no mosteiro
de Pombeiro 61.
Ora não há melhor explicação para o facto senão a de entender que ele era
também da linhagem dos Sousas, patronos do dito mosteiro.

2 – Dados para a biografia de D. Gomes Nunes

2.1 – Menções documentais

O conde D. Gomes Nunes é referido, pelo menos, nos seguintes docu-


mentos que conheço.

Do conde D. Raimundo:
1094 – doação do mosteiro da Vacariça à sé de Coimbra (confirmante) 62

Do conde D. Henrique:
1096 – foral a Constantim de Panóias (testemunha)
61
A acreditarmos em SANTO THOMAS, Frei Leão de, ob. cit., p. 54.
62
Livro Preto. Cartulário da Sé de Coimbra, publicado por COSTA, Avelino de Jesus da, e
RODRIGUES, Manuel Augusto, Arquivo da Universidade de Coimbra, 1999, p. 133; o nome,
Gumece Nuniz, havia sido mal lido em Portugaliae Monumenta Historica, Diplomata et Chartae,
1968, p. 485 (Gunterti nuniz).

294
revisão geneALógicA de ALgumAs LinhAgens dos Primórdios PorTugueses

1110-03-25 – couto ao mosteiro de Tibães (confirmante)


1110-07-21 – confirmação de couto a Viseu (confirmante)
1111-05-09 – foral a Sátão (confirmante)
1111-05-26 – foral a Coimbra (confirmante)
1112-04-12 – couto à sé de Braga (confirmante)

De D. Teresa:
1112?-05-10 – venda de uma parte na igreja de Santa Leocádia (confirmante)
1112-08-01 – couto ao mosteiro de Pombeiro (doador duma parte)
1114-07-31 – doação duma ermida à sé de Viseu (confirmante)

De D. Urraca:
1115-11-26 – doação à sé de Santiago (confirmante) 63
1117-03-01 – couto à sé de Mondoñedo

De Afonso VII e D. Urraca


1118-09-22 – recebe doação relativa ao mosteiro de Pombeiro 64

De D. Teresa:
1120-04-18 – doação do burgo do Porto aos respectivo bispo (confirmante)
(1121-1128)-04-06 – couto ao mosteiro de S. Pedro de Cete (confirmante)
1122-02-17 – protecção aos moradores de Orense (confirmante)
1125-03-04 – foral a Ponte de Lima (confirmante)
1125-09-04 – doação de igrejas à sé de Tuy (confirmante)
1126-07-26 – doação à Ordem de Cluny, com seu irmão Fernando, do
mosteiro de Budiño (autor)

De Afonso VII:
1127-11-13 – couto à igreja de Compostela (confirmante) 65
1128-03-26 – doação de Vila Nova ao conde D. Suero (confirmante) 66
1128 – doação à Ordem do Templo (autor)
1128-05-27 – couto à sé de Braga (confirmante)

63
LÓPEZ Ferreiro, Antonio, Historia de la Santa A. M. Eglesia de Santiago de Compostela, Santiago
de Compostela, 1900, vol. III, Apêndices, p. 105.
64
RIBEIRO, João Pedro, Observações historicas e criticas para servirem de memorias ao systema da
diplomatica portugueza, Lisboa, 1798, p. 21.
65
FERNÁNDEZ Rodríguez, Manuel, ob. cit., p. 83.
66
Ibidem.

295
AugusTo ferreirA do AmArAL

1131-03-18 – privilégios aos oficiais de obra da igreja de Santiago de Compos-


tela (confirmante) 67
1137-07-17 – doação de bens à igreja de Santiago de Compostela (confir-
mante) 68
1138-12-17 – couto ao mosteiro de Las dueñas de Genrozo (confirmante) 69
1140-06-27 – doação, feita em Zamora, ao mosteiro de Oya (confirmante) 70.
Note-se, contudo, que este documento é considerado falso por Reilly 71.

Em 1110 e 1111 era tenente de S. Cristóvão, junto a Cerveira.


Em 1112-04-12 era mordomo do palácio do Conde D. Henrique.

2.2 – (In)Fidelidades

D. Gomes Nunes governou a terra de Toroño durante o reinado de


D. Urraca e manteve-se fiel a Afonso VII até que se passou para o lado português,
em cuja órbita passou a girar até que foi firmada a paz entre aquele rei e D. Afonso
Henriques.
Data de 1145 um documento em que ele parece compartilhar a tenência
de Toroño com seu genro Fernando Yánez, que veio a suceder-lhe por morte 72.
Segundo a Historia Composteliana, em Toroño

«estava Gomes Nunes que apoiava o rei menino e era rebelde à rainha,
poderoso pela situação dos seus castelos e pela multidão de soldados a pé
e a cavalo» 73.

67
LÓPEZ Ferreiro, ob. cit., vol. IV, Apêndices, p. 17.
68
Ibidem, p. 29.
69
DAVIÑA Sáinz, Santiago, “El monasterio de las Cascas (Betanzos)”, Anuario Brigantino, Betanzos,
21, 1998, p. 100.
70
FLÓREZ, Enrique, España Sagrada, edição da Revista Agustiniana, tomo XXII, Guadarrama,
2006, pp. 254-256.
71
REILLY, Bernard F., The Kingdom of León-Castilla under King Alfonso VII 1126-1157,
Philadelphia, 1998, p. 352.
72
CALDERÓN Medina, Inés, “Cum magnatibus regni mei”. La nobleza y la monarquia leonesas
durante los reinados de Fernando II y Alfonso IX (1157-1230), Madrid, Consejo Superior de
Investigaciones Cientificas, 2011, p. 319.
73
Versão minha, para português, da tradução para castelhano de FALQUE Rey, Emma, Historia
Compostelana, Madrid, 1994, p. 261, tendo o texto em latim sido publicado por FLÓREZ,
Enrique, ob. cit., tomo XX, Guadarrama, 2006, p. 333.

296
revisão geneALógicA de ALgumAs LinhAgens dos Primórdios PorTugueses

Dele diz Bishko 74:

«as fontes diplomáticas revelam que de facto este poderoso senhor das
terras galegas do Minho manteve habilidosas ligações com os governantes
de Portugal não menos do que com os partidários do jovem Afonso, e
desviou a sua lealdade de um lado para o outro do rio segundo os seus
próprios interesses e sobrevivência ditavam.»

E mais adiante:

«quando, cerca de 1138-1140, o rei Afonso Henriques invadiu a Galiza


num esforço para realizar o sonho da sua querida mãe de um Além-Minho
português, o Conde Gomes quebrou com Afonso VII e uma vez mais
tomou armas sob uma bandeira portuguesa, mas desta vez para ruina da
sua sorte, pois o rei-imperador, depois de ter derrotado Afonso e os seus
aliados galegos, desapossou Gomes Nunes do Condado de Toroño e todas
as suas terras. O velho guerreiro fugiu para salvar a vida, não para Portugal
mas para a Borgonha, para aí acabar os seus dias no hábito de S. Bento
como um monge de Cluny.»

A crónica do imperador Afonso VII relata, sobre as opções finais de


D. Gomes Nunes:

«o rei de Portugal veio à Galiza e tomou a cidade de Tuy e outros castelos.


O conde Gomes Nunes, que possuía em tenência numerosos castelos e
o território que chamam Toroño, e o conde Rodrigo Peres Veloso, que
possuía em tenência castelos em Límia e um domínio recebido do impe-
rador, enganaram ambos o seu senhor o imperador e deram os seus castelos
e domínios ao rei de Portugal; e isto não lhes bastou, pois além disso prepa-
raram a guerra para seu próprio prejuízo.» 75

E mais adiante:

74
BISHKO, Charles Julian, “The Cluniac Priories of Galicia and Portugal: Their Acquisition and
Administration”, Spanish and Portuguese Monastic History. 600-1300, na Internet, http://libro.
uca.edu/monastic/monastic, pp. 7-8, a tradução é minha.
75
Versão minha, para português, da tradução para castelhano de PÉREZ González, Maurilio,
Cronica del Emperador Alfonso VII, Universidad de León, p. 86, tendo presente o texto em latim
da “Chronica Adefonsi Imperatoris" publicada em FLÓREZ, Enrique, España Sagrada, cit., tomo
XX, pp. 327-330.

297
AugusTo ferreirA do AmArAL

«depois que [Afonso VII] se chamou imperador, como anteriormente


dissemos, o conde Gomes Nunes e o conde Rodrigo, que foi chamado
Velloso, rebelaram-se na Galiza e ofereceram os seus domínios e castelos ao
rei de Portugal, que os fortificou e regressou ao seu território.»

Afonso VII reuniu um grande exército do território de Leão, marchou


para Portugal, tomou castelos, destruiu e saqueou vasto território. Por sua parte,
D. Afonso Henriques juntou as suas forças para o combater. Foi ao encontro
do conde Ramiro, que atacava o seu território, ambos travaram combate, tendo
Ramiro sido vencido e feito prisioneiro.
Depois o imperador acampou frente ao castelo chamado Penha da Rainha,
no lugar denominado Portela de Vez. Por sua parte, o rei de Portugal instalou as
suas tendas frente ao acampamento do imperador num lugar bastante elevado e
abrupto, e havia um vale entre eles. Então muitos duques e cavaleiros sem ordem
do imperador e dos cavaleiros do rei baixaram do acampamento e travaram
combate entre si; e foram apresados muitos de uma e outra parte ao caírem os
seus cavalos por terra.
Foi este o recontro de Valdevez (por alguns considerado um simples
“bofordo”), que tanto tem sido tratado na historiografia portuguesa.
As partes beligerantes chegaram a acordo, ao que parece com a intervenção
mediadora de D. João Peculiar.
D. Afonso Henriques devolveu os castelos que havia tomado na Galiza,
e por seu turno, foram-lhe, a si e aos seus partidários, devolvidos os que os fiéis
do imperador tinham arrebatado. Foram postos em liberdade o conde Ramiro e
todos os cavaleiros que por ambas as partes haviam sido capturados.
Como diz a citada crónica:

«Fez-se a paz entre eles por muitos anos, a qual, uma vez que era boa para os cris-
tãos, também lhes pareceu conveniente. O rei apartou do seu serviço o conde
Rodrigo e o conde Gomes Nunes porque eles haviam provocado a discórdia
entre o imperador e o rei. O conde Gomes Nunes, quando compreendeu que
era culpado, envergonhou-se e, atravessando em sua retirada os montes Piri-
neus, de boa ou má gana, uma vez que em nenhuma parte encontrava um
lugar para residir, fez-se monge num mosteiro cluniacense. Por outra parte,
movido o imperador por compaixão pelo conde Rodrigo, mandou-lhe comer
pão junto de si em sua cúria e que se lhe dessem presentes de ouro e prata como
a qualquer dos seus principais nobres que lhe assistiam na cúria.» 76

76
Ibidem, p. 89.

298
revisão geneALógicA de ALgumAs LinhAgens dos Primórdios PorTugueses

Frei Leão de S. Tomás informou 77:

«Entre os benfeitores, e afeiçoados desta casa [mosteiro de Santa Maria de


Pombeiro] podemos com razão contar a Rainha D. Teresa porque ela lhe
deu, e demarcou o Couto que hoje tem ao 1 de agosto da era de 1150 que
é ano de Cristo 1112, e a seu filho El-Rei Dom Afonso Henriques. Porque
sendo Infante, e não tendo ainda o título de Rei, deserdou do muito, que
possuía em Portugal o Conde Dom Gomes Nunes filho do Conde Dom
Nuno de Celanova, parente de S. Rosendo, por respeito dele seguir a el-Rei
de Castela Dom Afonso VII, na guerra, e dúvidas que teve com o mesmo
Infante Dom Afonso Henriques seu Cunhado sobre terras, que cada um
pretendia serem suas. E deserdou-o de sorte, que entregou todos seus bens
ao Conde Dom Gonçalo de Sousa, que era Primo do mesmo Dom Gomes
sobrinho de sua Mãe, com tal condição, que os havia de deixar todos ao
mosteiro de Pombeiro; no que bem se deixa ver o amor, e desejo, que
tinha de o enriquecer. Sucedeu depois, que assentadas pazes entre o Infante
D. Afonso, e seu cunhado Rei de Castela, tornou o Conde Dom Gomes
Nunes para o Reino, e restituindo-lhe os bens, que nele tinha, não quis
encontrar o gosto, e ordem do Infante D. Afonso. Porque fazendo seu
testamento, instituiu por seu herdeiro universal ao mesmo Mosteiro de
Pombeiro, mandando-se sepultar na Galilé dele, aonde se conservou seu
túmulo até o tempo de nossos maiores à parte esquerda da dita Galilé,
quando entram para a igreja, e depois pelo tempo adiante se trasladou para
dentro dela. Donde nasceu chamarem-lhe Conde Dom Gomes Nunes o
de Pombeiro, sendo desta sorte mais conhecido pelo muito, que deu, do
que antes era pelo muito, que tinha.»

2.3 – O confisco e o exílio

Uma dúvida importante decorre das fontes. Que rei confiscou os bens e
retirou o poder ao conde Gomes Nunes? Afonso VII ou D. Afonso Henriques?
Não há razões para duvidar de que tal ocorreu na sequência do combate de
Arcos de Valdevez, o qual se deu nos inícios de 1141 78.

77
SANTO THOMAS, Frei Leão de, ob. cit., pp. 53-54; trecho transcrito para a ortografia actual.
78
MATTOSO, José, D. Afonso Henriques, série Reis de Portugal, Rio de Mouro, Círculo dos
Leitores, pp. 136-137.

299
AugusTo ferreirA do AmArAL

O conde, em 1140 ou pouco antes, terá tomado o partido do rei português.


Ele era tradicionalmente um campeão da autonomia galega face a Leão. Mais
especificamente essa autonomia, nele, imbricava-se com os interesses do antigo
reino da Galiza de Garcia II, ou seja, pendia para o sul. Assim se explica a sua
fidelidade ao conde D. Henrique de Portucale. Não obstante, aquando da batalha
de S. Mamede ainda não alinhava com D. Afonso Henriques contra D. Teresa e
contra o Trava, que era, de resto, seu cunhado. Mas a vitória, aí, do jovem infante,
a morte alguns anos depois de D. Teresa e a assunção do poder como imperador,
com sede em Leão, de Afonso VII, a juntar aos êxitos do português, tê-lo-ão
aproximado deste último. Assim, quando D. Afonso Henriques enfrentou deci-
didamente o poder central leonês, avançando numa tentativa de expansão para
as regiões vizinhas de Portugal, a norte, em linha com os de Celanova e com os
Bragançãos, D. Gomes Nunes terá também optado por aderir ao partido da inde-
pendência portuguesa, pondo o seu condado de Toroño ao serviço dessa causa e
apoiando-a decididamente por ocasião do recontro de Valdevez.
E se, como afirmam os nobiliários, ele era filho duma Sousa, ainda melhor
se entenderá que o haja feito, por isso que os Sousas eram dos principais promo-
tores do novo reino.
Foi-lhe porém nefasta tal decisão. O pacto de tréguas de Tuy, conseguido
pela mediação do bispo de Porto D. João Peculiar 79, envolveu, possivelmente, o
definitivo destino do condado de Toroño como terra submetida à soberania de
Leão. E, nessas condições, ele era persona non grata para Afonso VII, pelo que foi
irremediavelmente destituído de todo o condado. Essa destituição terá arrastado
consigo também a retirada de herdades em Portugal, talvez por imposição das
cláusulas de paz.
Eis porque lhe restou apenas o ostracismo e o refúgio conventual em
França. Tendo-se exilado em 1141 para a abadia de Cluny 80, aí morreu pouco
tempo depois.
O seu coração ficara no entanto com Portugal, já que, por seu desejo, veio
a ser sepultado no mosteiro de Pombeiro.
O que não pode negar-se é que a sua actuação como senhor de Toroño
influiu bastante nos acontecimentos que conduziram à fundação da nacionali-
dade portuguesa.

79
Ibidem, p. 138.
80
BARTON, ob. cit., p. 256.

300
revisão geneALógicA de ALgumAs LinhAgens dos Primórdios PorTugueses

3 – Casamento e descendência de D. Gomes Nunes

Não se afigura contestável que tenha casado com D. Elvira Peres, filha
do magnate da Galiza o conde D. Pedro Froilaz de Trava, e de sua 2ª mulher,
D. Maior Rodrigues, e portanto irmã consanguínea do conde D. Fernando Peres
de Trava. Isto é o que resulta de todas as fontes, incluindo documentos coetâneos.
O que está longe de esclarecido é qual foi a descendência de D. Gomes
Nunes.
Não se sabe de documento da época que aluda a filhos, o que é de estra-
nhar em conde tão poderoso, para mais fundador, pelo menos, dum importante
mosteiro.
Por outro lado, se é verdade o que afirmou frei Leão de S. Tomás – que ele
legou os seus bens, por sua morte, ao mosteiro de Pombeiro – isso pode constituir
um indício de que não teria herdeiros forçados.
Acresce que há fontes que aludem à sua própria deserdação, seja por Afonso
VII, seja por D. Afonso Henriques, sem que fossem contemplados com alguma
atenção régia os seus descendentes, como por vezes aconteceu, quando os reis
fulminavam algum súbdito com o confisco de património.
Estes argumentos não têm porém grande peso nem podem considerar-se
decisivos por isso que são, todos, ex silentio.
Existem ponderosas indicações de que terá tido pelo menos uma filha.
E,  ao que parece, D. Fernando Eanes, fiel e importante membro da cúria de
Afonso VII, que veio a ser tenens de Montoro, era genro de D. Gomes Nunes,
por ser casado com uma filha deste, chamada D. Teresa Gomes 81 ou talvez Maria
Gomes.
Este Fernando Anes foi senhor de Puente Sampayo, tenente de Talavera
e Maqueda, e do castelo de Montoro. Era filho dum João Ramires e consta de
diversos documentos régios até a morte de Afonso VII, a quem sempre serviu 82.
Fernando Anes e sua mulher, filha de D. Gomes Nunes, foram pais de Paio
Fernandes Curvo, membro da cúria de Afonso VII e de Fernando II, casado, com
descendência, e de um Varela Fernandes de quem há notícia ter combatido por
Afonso VII contra D. Afonso Henriques em 1140.

Outras fontes medievais, posto que bastante tardias em relação aos aconte-
cimentos (cerca de século e meio, ou mais), apontam outra descendência para o
conde D. Gomes Nunes.

81
FERNÁNDEZ Rodríguez, Manuel, ob. cit., p. 93.
82
ibidem, pp. 93 a 98.

301
AugusTo ferreirA do AmArAL

O Livro Velho atribui-lhe duas filhas e um filho: D. Châmoa Gomes,


D.  Fernando Gomes, que teria sido abade de Pombeiro, e D. Maria Gomes,
que teria casado, sem geração, com D. Lourenço Viegas, o “Espadeiro”. Só da
referida D. Châmoa haveria descendência, não apenas legítima mas também
ilegítima 83.
O Livro do Deão aponta-lhe duas filhas, D. Châmoa Gomes, casada com
D. Mem Rodrigues de Tougues, e D. Loba Gomes, casada com D. Fernando
Álvares de Montor, o que parece confusão com o mencionado Fernando Anes,
senhor de Montoro, com o patronímico estropiado. E parece descortinar ainda
uma terceira filha, casada com D. Godinho Viegas 84.
O Livro de Linhagens do Conde D. Pedro é mais magnânino: concede-lhe
um filho – Fernando Gomes, abade de Pombeiro – e quatro filhas – D. Loba
Gomes, freira, D. Châmoa Gomes, casada com D. Mem Rodrigues de Tougues,
D. Maria Gomes, casada sem geração com D. Lourenço Viegas, o “Espadeiro”, e
D. Urraca Gomes 85.
Prefiro à partida, de qualquer modo, a versão do Livro Velho, que se supõe
relacionado com o conde Martim Gil que, pela mãe pertencia à linhagem dos
Sousas 86 e, portanto, poderia conhecer melhor o entorno familiar de D. Gomes
Nunes, que terá sido também filho de uma Sousa. Os outros dois nobiliários,
aliás, uma vez mais aqui são pouco de fiar, não só porque se não acha documen-
tação que abone as suas novidades, como também porque estão mais distantes no
tempo e a sua versão poderá ter sido, também neste particular, influenciada pelo
engrandecimento fictício da linhagem dos Pereiras, mal de que ambos padecem.
Mas não vou ao ponto de considerar completamente segura a versão do
Livro Velho, que também não encontra arrimo em qualquer documento coevo
que seja conhecido.

4 – Fernando Nunes

O segundo filho documentado de D. Nuno Mides foi Fernando Nunes.


É provável que tenha partido para a Terra Santa em 1128, pois na escritura de
29 de dezembro de 1127, já acima citada, Fernando Nunniz (filho do comitis Nunnoniz
Midiz e neto da comitissa domna Goncina) com sua mulher Maiore Ruderiquiz, doou à

83
“Livro Velho”, cit., pp. 25 e 51.
84
“Livro do Deão”, cit., pp. 66 e 125.
85
Livro de Linhagens do Conde D. Pedro, cit., vol. II/1, pp. 175, 188, 270, 287, 405 e 435.
86
MATTOSO, José, Naquele Tempo, Rio de Mouro, Círculo dos Leitores, 2009, pp. 270-271.

302
revisão geneALógicA de ALgumAs LinhAgens dos Primórdios PorTugueses

igreja de Ourense a 6ª parte, que de seu pai e avó havia herdado, no mosteiro de Santa
Maria de Porqueira, sob condição de que, se Deus o fizesse regressar são e salvo das
partes de Jerusalém, teria opção de recomprar a dita quota-parte 87.

5 – D. Sancha Nunes

Além dos dois irmãos filhos de D. Nuno Mides, acima estudados, suscita-
-se a dúvida sobre se não seria também irmã deles uma D. Sancha Nunes, mãe de
D. Sancha Ponce de Cabrera que se sabe ter sido filha de D. Ponce de Cabrera,
prócere de Afonso VII, depois conde e magnate, mas se separou dele cerca de
1141. Admite-o, entre outras hipóteses e sem no entanto optar por nenhuma,
Fernández Xesta, que profundamente estudou esta importante personagem catalã
que tão influente foi na história dos reinos de Leão e Castela 88.
O Livro Velho que, como disse acima, nomeia uma D. Sancha Gomes [de
Sousa] como mãe de D. Gomes Nunes. O nome Sancha não enfraquece, antes
reforça, a hipótese de Sancha Nunes ser irmã deste.
Por outro lado, sabendo nós que o combate de Valdevez, que ditou a queda
em desgraça e o exílio de D. Gomes Nunes, por parte do rei Afonso VII, coincide
com a data aproximada em que D. Ponce de Cabrera e D. Sancha se separaram.
Ora Ponce fora feito prisioneiro naquele combate pelos guerreiros de D. Afonso
Henriques 89. Era já nessa altura um dos principais partidários de Afonso VII, e
a sua libertação deve ter feito parte das cláusulas da paz que então foi negociada.
E Ponce de Cabrera foi, a partir de então, alçapremado pelo monarca leonês e
castelhano até os cumes do poder. Há portanto uma talvez significativa coinci-
dência entre os destinos, marcados a partir dessa data: o de D. Gomes Nunes, o
de D. Ponce de Cabrera, e o do casamento deste com D. Sancha Nunes.
A ser assim, antes de se separarem, D. Ponce e D. Sancha teriam tido uma
filha, a referida D. Sancha Ponce de Cabrera, que se sabe ter casado primeiro com
D. Vela Guterres, com quem terá tido cinco filhos e, após a morte deste, uma
segunda vez com um conde Mendo, ainda não seguramente identificado, mas
que pode ter sido o português conde D. Mendo Gonçalves de Sousa 90.

87
VAQUERO Díaz, e PÉREZ Rodríguez, ob. cit., pp. 70-71.
88
FERNÁNDEZ-XESTA y Vázquez, Ernesto, Un magnate catalán en la Corte de Alfonso VII,
Prensa y Ediciones Iberoamericanas, Madrid, 1999, pp. 61-62.
89
Fontes Medievais da História de Portugal, publicadas por PIMENTA, Alfredo, vol. I, Clássicos Sá
da Costa, 2.ª edição, Lisboa, 1982.
90
FERNÁNDEZ-Xesta, ob. cit., p. 68.

303
AugusTo ferreirA do AmArAL

6 – Proposta genealógica

Proponho portanto a seguinte genealogia para estes descendentes do conde


Mido.

I – MIDO PERES
Era conde na Galiza, quando o rei Garcia, no início do reinado, lhe prometeu
respeitar os seus direitos.
Casou com D. GONCINHA que talvez seja a mesma que, depois da morte
dele, contraiu novo matrimónio com o conde Nuno Mendes, de Portucale.
Filhos:
1(II) – NUNO MIDES, que segue.
2(II) – FERNANDO MIDES
Não terá deixado descendência.

II – NUNO MIDES
Foi conde
Casou duas vezes: uma com D. SANCHA GOMES, filha de GOMES
ÉCHEGUES e de GONTRODE NUNES; a 2ª com D. XIMENA
FERNANDES filha de FERNANDO ORDONHES e de FRONILDE
GUTIERRES.

Filho do 1º casamento:
1(III) – D. GOMES NUNES, que segue.

Filho do 2º casamento de Nuno Mides:


2(III) – D. FERNANDO NUNES
Casou com D. MAIOR RODRIGUES, filha do conde D. RODRIGO
MUNHOZ, morto na batalha de Zalaca.
Filha:
IV – D. FRONILDE FERNANDES
Casou com o conde D. RODRIGO PERES DE TRAVA, o “Veloso”,
irmão do conde Fernando Peres de Trava, amigo de D. Teresa, e filhos
ambos do conde galego D. PEDRO FROILAZ DE TRAVA e de
D. MOR GONTRODA RODRIGUES.

Possível filha de um dos casamentos de Nuno Mides:


3(III) – D. SANCHA NUNES

304
revisão geneALógicA de ALgumAs LinhAgens dos Primórdios PorTugueses

Casou, mas ter-se-á separado cerca de 1141, com D. PONCE DE


CABRERA, mais tarde conde, magnate da corte de Afonso VII. Com
geração, entre a qual D. Sancha Ponce, que casou duas vezes (a 1ª com
D. Vela Guterres e a 2ª talvez com o conde D. Mendo Gonçalves de
Sousa), e teve descendência do primeiro matrimónio.

III – D. GOMES NUNES


Foi conde, senhor de Toroño e prócere do Conde D. Raimundo de Borgonha
e depois do Conde D. Henrique de Portucale. Tendo este morrido, em 1112,
apoiou por vezes D. Urraca, outras resistiu-lhe. Por morte dela, em 1126,
passou para a corte de Afonso VII e mateve-se fiel a ele até depois da batalha
de S. Mamede. Mas Afonso VII retirou-lhe bens e direitos, em consequência
de ele ter ajudado D. Afonso Henriques em incursões militares na região
de Tuy, as quais terminaram com um acordo entre o imperador e este, após
o recontro de Arcos de Valdevez, em 1141. Exilou-se então para França,
tendo morrido pouco tempo depois. Por seu desejo veio a ser sepultado no
mosteiro de Pombeiro.
Casou com D. ELVIRA PERES, filha do mencionado conde D. PEDRO
FROILAZ DE TRAVA e de D. MOR GONTRODA RODRIGUES.
Filhas do casamento:
1(IV) – D. TERESA GOMES
Casou com FERNANDO ANES, senhor de Puente Sampayo, tenente
de Talavera e Maqueda, e do castelo de Montoro. Com geração. Foram
seus filhos PAIO FERNANDES CURVO, que pertenceu à cúria de
Afonso VII e de Fernando II, casado, com descendência, e VARELA
FERNANDES, que combateu contra Portugal em 1140, sob Afonso
VII.
2(IV) – D. CHÂMOA GOMES
Casou com D. PAIO SOARES, com geração. Em “drudaria” com
D. MENDO RODRIGUES DE TOUGUES teve um filho e em
“drudaria” com D. AFONSO HENRIQUES teve outro.
3(IV) – D. MARIA GOMES
Terá casado com D. LOURENÇO VIEGAS, o “Espadeiro”, sem
geração.

Filho ilegítimo de D. Gomes Nunes:


4(IV) – FERNANDO GOMES
Foi abade do mosteiro de Pombeiro.

305
OS SOBRINHO, DE MONTEMOR-O-NOVO. TRONCO
PRINCIPAL E OUTRAS PRESUMÍVEIS LINHAS
GENEALÓGICAS

João Baptista Malta

FERNÃO SOBRINHO, o mais antigo que encontramos nesta família,


nasceu em Montemor-o-Novo pelos anos de 1450. Foi fidalgo honrado, Vereador
da Câmara no ano de 1503 1, e pai de JOÃO SOBRINHO nascido na mesma
vila aprox. em 1475, onde exerceu o cargo de Procurador em 1521 2. Ainda
nascido nesta terra, por volta de 1500, filho do anterior foi outro FERNÃO
SOBRINHO. Desconhecemos o percurso deste ramo familiar dos Sobrinho, mas
possivelmente pelo exercício de funções vamos encontrar as últimas duas gera-
ções a viverem na nortenha cidade da Guarda, onde nasceriam pelo menos dois
filhos deste Fernão Sobrinho, que foram ANDRÉ BUGALHO SOBRINHO,
cavaleiro-fidalgo, como os seus ascendentes referidos, e fidalgo de cota de armas
no ano de 1561 3, e ANTÓNIO SOBRINHO que teve o mesmo foro que seu
irmão e obteve igualmente carta de brasão de Sobrinho a 20 de Março de 1569 4.
De notar ter sido irmã de Fernão Sobrinho (neto), D. MARGARIDA MENDES
SOBRINHO, mulher, bem mais nova que seu marido, de DIOGO NUNES

1
Santos, Cláudia Valle, “A vila quinhentista – Montemor-o-Novo quinhentista e o foral manue-
lino”, Câmara Municipal de Montemor-o-Novo, 2003.
2
Idem.
3
Idem, pág. 18, nº 71.
4
Baena, Visconde de Sanches de, Archivo Heráldico-Genealógico, Typographia Universal, Lisboa,
1872, volume I, pág. 86, nº 340. No texto da carta de brasão o pai e avô do armigerado são
dados como moradores na cidade da Guarda, e ele natural dessa cidade, como o nosso estudo
sugere.

307
João bAPTisTA mALTA

INFANTE, o qual fora armado cavaleiro em 1471, na tomada de Tânger. Ao


filho deste casal – SIMÃO NUNES INFANTE – seria concedida, como a seus
primos maternos, uma carta de armas de Sobrinho, no dia 8 de Julho do ano de
1571 5. Continuaram porém na vila alentejana, onde instituíram e administraram
os seus morgadios e gozaram dos foros de cavaleiros-fidalgos, outros ramos, quase
de certeza do mesmo tronco dos Sobrinho, de quem falaremos depois.
Na Biblioteca Pública de Santarém, no Espólio que tem o nome do seu
antigo dono, o grande e nunca esquecido Braamcamp Freire, na prateleira com o
nº 5, encontrei, já há bons anos, uma carta do Mestre para seu sobrinho o Barão
de Almeirim – Manuel, a qual resumi e era resposta a outra carta do agora desti-
natário. Assunto: Genealogia dos Infante da Câmara. Dizendo-lhe que estes não
tinham armas próprias e explicando-lhe depois: “De Nuno Tristão, se os Nobi-
liários não mentem, foi 3º neto Simão Nunes Infante, cavaleiro-fidalgo, morador
em Santarém, que em 8 de Julho de 1571 teve carta de brasão de armas dos
Sobrinho por ser filho de Margarida Mendes Sobrinho e neto de João Sobrinho,
da Guarda. Os Sobrinho eram naturais desta cidade para onde haviam ido de
Montemor-o-Novo, e a dois deles, primos co-irmãos de Simão Nunes Infante, se
haviam passado a 12 de Setembro de 1561 e a 20 de Março de 1569, cartas de
brasão, também das armas de Sobrinho. São elas: escudo esquartelado: 1º e 4º
de vermelho, tôrre de prata com portas, frestas, e lavrado de negro; o 2º e 3º de
verde, elmo de prata, aberto, posto de perfil, e sobrepujado por uma flôr de liz de
oiro. Timbre: leão de vermelho com o elmo das armas na cabeça, e carregado de
uma flôr de liz de oiro na espádua. Estas e não outras, por as não terem próprias,
são as armas dos Infante, e os dos ramos segundos as usam”.
Nota: Quereria Braamcamp concerteza dizer não terem usado os vários
ramos desta família Infante da Câmara o mesmo brasão, isto é fixado o seu brasão,
entre as diversas e antigas armas dos fidalgos seus antepassados.

Carta de Brasão de André Bugalho Sobrinho

“Dom Sebasteam Per graça de deos Rey de Portugal & dos algarves d aque´
e d´alem mar em Affríca, Snór de Guine e da comquista navegação comercío de
Ethíópía Arabía, Persia & da Indía ect: faço saber a quantos esta minha Carta
viré q´ Amdré bugalho Sobrinho natural da cidade da Guarda me fes petiçao é

5
Idem, pág. 684, LXXIII, Diogo Nunes Infante terá nascido por 1455 e casado, por ex. em 1510,
com D. Margarida Mendes Sobrinho, nasc.ª aprox. em 1490. Assim o filho do casal – Simão
Nunes Infante – seria fidalgo de cota de armas na idade de 60 anos.

308
os sobrinho, de monTemor-o-novo

como êlle descédia por linha dereita mascolina e sam bastardia por parte de seu
pai e avós da geraçã e linhagé dos Sobrinhos q´nestes Reinos são fidalgos de cota
darmas e q´de dereíto as suas armas lhe pertemcé, pedimdome por merçé q´ por
a memoría de seus antesesores se não perder, & êle gouvir & húzar da homrra
das armas q´pelos merescimentos de seus sirvíços ganharão, & lhes forão dadas,
& asi dos prevílegíos homrras, Graças e merçes q´por dereito e por bem delas
lhé pertéçem, lhe mãdase pesar minha Carta das ditas armas q´ estavã Registadas
nos livros do Registos das armas dos nobres e fídalgos de meos Reinos q´tem
portugal meo príncipal Rey darmas, a qual petícão vista per mi mandei sobre ella
tirar Inquíricão de testemunhas a qual foi tirada na dita Cidade da Guarda pelo
doutor pero fernandes, do meo desembargo q´por meo mãdado estava tomãdo a
Resídêmcia ao Corregedor q´ fora da comarqua, e por Diogo do Soveral escrivão
da residêmcía aos quatorze días de Mayo de mil e quinhétos e sesemta e hu e na
vila de Sãtaré pello Doutor Luís da Guarda Coregedor da comarcua dela e per
Framcisco Cordeíro esprívão damte elle aos vite e oito dias de março da ditta
era e pello Doutor Simão de Mírãda amriques do méu cóselho e desembargador
das pítiçoés do paço q´cõ Luis filgeira escrivão dante o mesmo desembarguo
a tirou & despachada por elle e pelo doutor Símão Glz` Cardoso outrosi do
meu cõselho e desembargador das dítas píticoes do paco, pella qual prova de
testemunhas se mostra elle supricamte descemder da díta linhagé dos Sobrinhos
como filho legítimo q´hé de Fernão Sobrínho, e neto de Jão Sobrínho, moradores
q´ forão na dita Cidade da Guarda & bísneto de Fernão Sobrinho morador q´
foi na villa de montemoronovo os quais todos forão bus homés fidalgos muito
omrrados e do verdadeíro tromco desta geraçõ dos Sobrínhos e por tais forão
tídos e conhecidos e se tratarão trazemdo algús deles as ditas armas q´de dereito
ao dito Amdré bugalho Sobrinho pertemcem as quais lhe mãdeí dar é esta minha
Carta cõ seu brazão elmo e tímbre como aquí são devísadas & asi como fiel e
verdaderãmemte se acharão devizadas e registadas nos livros dos Registos do dito
portugal meu Rei darmas as quais armas são as sígimtes: S o escudo esquartelado
Ao primeíro de vermelho e húa torre de prata cõ portas e frestas e lavradade
preto & ao segundo de verde e hú casco de prata & em cimadele húa frol de líx
d´ouro é así os contrãiros e sem deferéça Como chife q´hé delas elmo de prata
aberto guarnido douro paquífe de prata e vermelho e ouro e verde e por timbre
hú lião vermelho com o casco das armas na quabeca e a frol de líx na espadoa o
qual escudo, armas e sínais posa traze e traga O dito Amdre bugalho Sobrinho asi
como as trouxerão e delas husarão seus amtesesores em todolos lugares de homrra
e q´os ditos seus Antecesores e os nobres e amtigos fidalgos sépre as costumarão
trazer é tempo dos muito esclarecidos Reis meus anteçeçores e cõ elas posa étrar
é batalhas campos duelos Rectos escaramucas e desafios & exercitar com ellas

309
João bAPTisTA mALTA

todollos outros autos licít 9. de gerra & de paaz & así as posa trazer em seus
fírmaís aneís e sinetes e devísas e as poer é suas casas edefícíos deixalas sobre sua
propria sepultura finalmete se sírvír & homrrar & gouvir & aproveitar delas é
todo e por todo como a sua nobreza convem por q´quero e me praz que goze de
todalas homrras e liberdades q´por bem delas lhe pertécé e mando a todos meus
Coregedores, Desembargadores Juizes e Justicas Alcaydes,meírínhos & é espicial
aos meus Reix darmas Arautos & pasavates e a quaís quer outros ofícíais. e pessoas
a q´esta minha Carta for mostrada & o conhecímeto dela pertemçer q´em todo
lho cumprã e guardé e facão Inteíramente cumprir & guardar como nella heé
contheudo sem duvida né embargo algú lhe é ella seja posto porq´asi hé minha
mercé
Dada é a minha mui nobre e sempre leal cidade de Lixboa aos, doze de
Setebro el Rey nosso Snõr o mamdou por Gaspar Velho seu portugal e príncipal
Rey darmas Amtonio Frz´por Iheronímo de matos escrivã da nobreza a fez anno
do nascímeto de nosso Snõr Jhú Xpõ mil e quinhemté 9 sesemta e hú Jeronimo
de Matos...
Portugal (p p)
Rey darmas
Assinatura

Conserva-se ligado ao documento o selo em chumbo, contendo as armas


reais rodeadas por pequenas frases em latim sobre os títulos reais do Rei D. Sebas-
tião.

FERNÃO SOBRINHO
de Montemor-o-Novo

JOÃO SOBRINHO
morador na cidade da Guarda

D. MARGARIDA MENDES FERNÃO SOBRINHO


SOBRINHO, casou com morador na cidade da Guarda
DIOGO NUNES INFANTE

SIMÃO NUNES ANDRÉ BUGALHO ANTÓNIO


INFANTE FCA SOBRINHO FCA SOBRINHO FCA

310
os sobrinho, de monTemor-o-novo

Pertence esta Carta de brasão ao meu primo e amigo Luis Cabral Barata
Laboreiro de Villa Lobos e a seu filho José Luis Correia Laboreiro de VillaLobos, a
quem muito agradecemos a permissão de a termos publicado. Foi o meu saudoso
primo Dr. António Maria Malta Laboreiro de Villa-Lobos, pai e avô dos mencio-
nados, quem me ofereceu a cópia do texto da Carta de Brasão de André Bugalho
Sobrinho, agora publicada.

Ramos da Família Sobrinho que ficaram em Montemor-o-Novo

O manuscrito com o nº 958 da Biblioteca Nacional (Reservados) da autoria


de Manuel Botelho Tibao, intitulado “Notícias de Montemor” explica-nos nas
suas ultimas páginas 6 a história desta família, através da análise do processo de
sucessão no seu morgado da Quinta do Vidigal, situado na freguesia de S. Gens
em Montemor-o-Novo. Assim começa com a leitura parcial do testamento de um
fidalgo de apelido Sobrinho o qual explica estar a testar os seus bens, no ano de
1523, sendo destinatários os quatro filhos de sua irmã Inês Fernandes, os sobrinhos:

a) Gil Freire – o futuro padre, que seria nomeado por El Rei administrador da
Capela de Fernão de Lamego 7. Parece-nos ser este o mais velho dos sobrinhos,
a quem o tio deixa uma fazenda.
b) António Freire – moço de Câmara no ano de 1524 8, cujo legado de seu tio foi
um pomar.
c) o padre Francisco Sobrinho – contemplado apenas nominalmente no testa-
mento do tio.
d) Duarte Sobrinho – seguindo nós o texto com a linha deste ultimo, que foi
fidalgo ligado à Casa do Capitão de Ginetes da vila D. João de Mascarenhas 9
podemos assim continuar (e mesmo, consideramos ser a sua descendência
quem representou a família em Montemor-o-Novo) através da instituição que
ele fez do vinculo da Quinta do Vidigal. Foram seus filhos:

1 Diogo Sobrinho – será concerteza este o primogénito de Duarte Sobrinho


– que segue

6
Bib Nac Lisboa (Reservados), Tibao, Manuel Botelho, “Notícias de Montemor”, mns 958, págs.
472 a 473v.
7
Santos, Cláudia Valle, o.c., pág. 48.
8
Idem.
9
Sousa, D. Frei Flamínio de, listagem de fidalgos.

311
João bAPTisTA mALTA

2 Inês Sobrinha – falecida a 25 de Janº de 1590 sendo sepultada na capela-


-mór de Sta. Maria da Vila, casada com Gaspar Lobo, falecido a 11 de Junº
de 1575 e sepultado na mesma Igreja, pais de:

A – Filipe Sobrinho baptº a 6 de Junº de 1549. Casou a 12 de Março de


1608 com Brites Rodrigues 10
B – Padre Vicente Lobo Sobrinho baptº a 2 de Fevº de 1557 11. Recebeu
Ordens. Instituiu uma Capela com quinhões nas herdades da
Repoula (S. Geraldo), Lage (termo da vila), Barbosa, Outeiro do
Carvalhal (termo de Montemor), Chaminé (Mora) e Corte Velha
(Alcáçovas) e casas junto à ermida de S. Vicente, por baixo da praça
Nova, que era administrada a 4 de Fevº de 1654 por Lourenço Freire
Sobrinho. Essa Capela continha também bens provenientes da
renúncia do Padre João Rosado Homem (filho de Francisco Rosado
Homem, já falecido), e também bens que pertenceram a Ana de
Oliveira Sobrinha.
C – Maria bapt. a 13. Fevº de 1563

3 André Sobrinho 12, fidalgo igualmente ligado à Casa do Capitão de Ginetes.

1 Diogo Sobrinho foi o instituidor do morgado da Quinta do Vidigal 13 e casou


com Suzana Dias. Tiveram:

10
ADE, Registos Paroquiais, Montemor-o-Novo, Livro Misto 1, Sta. Maria da Vila, Óbitos; Bib
Nac Lisboa (Reservados), Tibao, Manuel Botelho, o.c., pág. 3v, Filipe Sobrinho bapt. a 6 de Junº
de 1549; ADE, Registos Paroquiais, Montemor-o-Novo, Casamentos, o mesmo Filipe Sobrinho
casou a 12 de Março de 1608 com Brites Rodrigues.
11
ADE, Registos Paroquiais, Montemor-o-Novo, Sta. Maria da Vila, Liv. M 2, Baptismos, Vicente
Lobo Sobrinho baptº a 2 de Fevº de 1557; ADE, o dito Vicente receberia Ordens Menores e de
Epístola no ano de 1579 e de Evangelho e de Missa em 1581.
12
Sousa, D. Frei Flamínio de, listagem de fidalgos.
13
Bib Nac de Lisboa (Reservados), Tibao, Manuel Botelho, o.c., na mesma Qta. do Vidigal
também foi instituído outro morgado por André Freire, regressado da Índia, tendo sucedido
nele o seu irmão João Freire de Andrade, Cavaleiro da Casa d´El-Rei e marido de Inês de Faria.
Herdou-o a filha destes Isabel Freire mulher de André de Villa-Lobos, com geração, em especial
a família Villa-Lobos e Vasconcellos, de Montemor e outras, mas também tendo recebido dotes
do mesmo instituidor as duas sobrinhas: Guiomar Freire de Andrade que foi mulher de Pedro
Gomes Pretto, o qual foi fidalgo da C.R., em 1587 e Suzana Freire de Andrade, que seria Reli-
giosa em Sta. Catarina de Évora no ano de 1581.

312
os sobrinho, de monTemor-o-novo

A – Filipa Sobrinha, e esta será certamente a que foi casada primeira vez com
António de Oliveira e segunda vez com Jerónimo Freire Porcel, cavaleiro-
-fidalgo, com geração de ambos os casamentos.
B – Manuel Sobrinho, Comendador do Hábito de Cristo e sucessor do vínculo
da Quinta do Vidigal, o qual acrescentou com a própria terça. Casado com
Maria Travassas, passaria depois o vínculo a sua filha Catarina Sobrinha 14
mulher de Alexandre Ribeiro, e tendo esta morrido sem deixar descen-
dência, sucedeu então na administração do morgado a antes referida Filipa
Sobrinha e a sua geração, até terminar na ultima das suas descendentes, a
Religiosa chamada Soror Joana Teresa de Santo António.Foi a partir do
falecimento desta freira que concorreram outros seus primos à posse do
morgado dos Sobrinho também chamado da Quinta do Vidigal.

Filipa Sobrinha e seu primeiro marido tiveram Manuel Sobrinho de


Oliveira casado com Catarina Henriques, pais de João Sobrinho e de António
de Oliveira Sobrinho, e tiveram ainda Suzana de Oliveira e Ana de Oliveira
casada com Francisco Rosado Homem. Com todos estes herdeiros faria acordo o
segundo marido de sua mãe com o fim de dividirem a herança após o seu faleci-
mento, sucedendo posteriormente outras doações e divisões entre os dois grupos
de irmãos maternos. Filipa Sobrinho morreu a 29 de Junho de 1641 e de Jerónimo
Freire Porcel, teve ela nove filhos que foram: 1) Joana, baptª a 1 de Novº de 1597,
2) Julião Freire Porcel, Clérigo, falecido a 7 de Abr. de 1619 15, 3) Filipe Sobrinho
Freire, baptº a 3 de Maio de 1601 e que viria a casar com Joana Freire, com quem
recebeu bens doados pelo herdeiro de seu irmão materno Manuel Sobrinho de
Oliveira e mulher Catarina Henriques, 4) Diogo Freire Porcel baptº a 25 de Jul.
de 1602 que casou com Bárbara de Abreu, 5) Lourenço Freire Sobrinho baptº a
18 de Ago. de 1604 que figurou na partilha dos bens de sua mãe a 21 de Abr. de
1649 como herdeiro, representado pelo lic. Francisco de Pina da Silveira para em
conjunto com um seu sobrinho João Freire Sobrinho e com Manuel de Ávila e
Manuel Mendes Sala, comporem a herança que sobrou após a parte recebida por
Manuel Sobrinho de Oliveira 16 e que viria a testar a 6 de Fevº de 1653 (renun-

14
AMMN, 8K1, Notariais de Montemor-o-Novo, Catarina Sobrinho moradora na rua das Escadas
para a Praça Nova, arrendou a sua Qta. do Vidigal no ano de 1655, e no ano anterior, já viúva
de Alexandre Ribeiro, arrendou outra Qta. no termo de Mora. De notar que a casa deste ramo
dos Sobrinho em Montemor é a mesma ou perto da casa dos Ávila.
15
ADE, Registos Paroquiais, Montemor-o-Novo, Óbitos, Liv. 70, f. 68, sepultado em S. Fran-
cisco.
16
Bib Nac Lisboa (Reservados), o.c., pág. 53v, Tocou-lhes metade da herança, mas também da
mesma receberam Ana de Oliveira e Filipe Sobrinho Freire, e uma parte, que antes ficara ao

313
João bAPTisTA mALTA

ciando à administração da Capela instituída pelo padre Vicente Lobo) para seus
sobrinhos Filipa Sobrinho e D. Jerónima, filhas do irmão Cristóvão Freire, para a
filha do irmão Simão Freire e também para João Sobrinho, filho do irmão Manuel
Sobrinho, e ainda para a irmã Ana de Oliveira, tendo falecido a 11 de Dezº de
1657, 6)Simão Freire Sobrinho baptº a 5 de Dezº de 1606 que casou na Índia
com Joana Maria de Andrade Castelo Branco e tiveram a filha Filipa Sobrinha,
7) Manuel Sobrinho pai de João Freire Sobrinho, 8) António Sobrinho e 9) Cris-
tóvão Freire Porcel Sobrinho, baptº na Matriz em 1611 e marido de Isabel d´Eça
ou de Sá, pais de Maria, freira, Filipa Sobrinha, referida no testamento do tio
Lourenço Freire Sobrinho e de Jerónima Freire de Sá, vindo esta filha a casar com
seu primo o Capitão António Porcel de Barbuda. Foi entre o António Porcel de
Barbuda como procurador de seu primo e sogro Cristóvão Freire Porcel Sobrinho,
ausente na Índia, e António de Oliveira Sobrinho marido de Leonor de Arês, feito
contrato no dia 20 de Novº de 1662 sobre os bens de capela e morgado que
haviam vagado por morte de Catarina Sobrinha. Por entender o segundo inter-
veniente que lhe pertenciam tomou posse de alguns como a herdade da Parreira
no termo de Monsaraz e casas na rua de S. Mamede, outras na rua da Selaria em
Évora e quinta no termo, e, para o primeiro interveniente ficaram a Quinta do
Vidigal e metade da vizinha herdade do Vidigal em S. Gens, Montemor-o-Novo
e a metade dos rendimentos dos bens de António de Oliveira Sobrinho, o qual
porém conservaria a outra parte dessas rendas 17.
De notar que no dito manuscrito de Manuel Botelho Tibao se acha a escri-
tura feita nas notas do tabelião Marcos Dias com data de 5 de Junº de 1613
– compra que Tomé Alvares faz por 60r. a Manuel Sobrinho, solteiro, filho de
Manuel de Oliveira, de 40 alq. de pão terçado na herdade do Zambujal que parte
com a herdade dos Pelomes, na freg. de S. Tiago do Escoural18.
E, no mesmo livro 18, por escritura de 31 de Jul. de 1623, o Convento
de São João de Deus fez contrato com Manuel Sobrinho casado com Maria
Travassas. Ele, Comendador do Hábito de Cristo e morador em Évora, filho de

viúvo Jerónimo Freire Porcel, foi para o filho Lourenço e deste passou aos referidos herdeiros, a
21 de Abr. de 1649; idem, o.c., pág. 40; idem, o.c., pág. 47v, Composição entre Jerónimo Freire
Porcel e António de Oliveira Sobrinho e mulher Leonor de Arêz dos bens de Filipa Sobrinho,
avó de António de O. Sobrinho, por este António ser filho de Manuel Sobrinho de Oliveira,
já defunto, e ainda da herança de Suzana de Oliveira sua tia. Eram ambos filhos do primeiro
casamento de Filipa Sobrinho; idem, o.c., pág. 157v, O testamento diz que possuía: a courela
Carrola, a Qta. de Sta. Margarida e rendas na herdade do Vidigal.
17
Malta, João Baptista, “A Família Porcel, de Montemor-o-Novo” in Raízes e Memórias nº 28,
Associação Portuguesa de Genealogia, 2011.
18
Bib Nac Lisboa (Reservados), Tibao, Manuel Botelho, o.c., págs. 105v e 106.

314
os sobrinho, de monTemor-o-novo

Diogo Sobrinho e de Suzana Dias sua mulher, os quais no seu testamento se


queriam sepultar no dito Convento, tendo-se a mãe obrigado à capela de S. Paulo
no mesmo Convento.

FAMÍLIA SOBRINHO,
DE MONTEMOR-O-NOVO

F. SOBRI- INÊS P.e FRANCISCO DUARTE


NHO FERNANDES SOBRINHO SOBRINHO

P.e GIL ANTÓNIO FREIRE DIOGO INÊS ANDRÉ


FREIRE Cas. c INÊS FREIRE SOBRINHO SOBRINHO SOBRI-
BARRETA (instituiu vinculo) Cas. c GASPAR NHO
(casou 1 vez c Cas. c SUSANA LOBO
ANTÓNIO DA SIL- DIAS
VEIRA DE BRITO
c ger. LOBO DA
SILVEIRA)

MAR- BRITES FILIPA MANUEL FILIPE P.e VI- MARIA


GARIDA FREIRE SOBRI- SOBRI- SOBRI- CENTE SOBRI-
FREIRE Cas. c NHO NHO NHO LOBO NHO
Cas. c seu primo Cas. 1 vez Cas. c SOBRI-
o tio mat. em 2, 3 e c ANTÓ- MARIA NHO
GOMES 4 graus, NIO DE TRAVAS-
FREIRE MANUEL OLIVEI- SAS
BARRE- FREIRE RA c ger.
TO Cas. 2 vez
c JERÓ-
NIMO
FREIRE
PORCEL
c ger.

CATARI-
NA SO-
BRINHO
Cas. c
ALEXAN-
DRE
RIBEIRO
s ger.

315
João bAPTisTA mALTA

Nada consta da família Ávila Sobrinho no processo que vimos seguindo


acerca da sucessão regular do morgado da Quinta do Vidigal, mas faremos aqui
algumas considerações, as quais colhemos da genealogia no Nobiliário de D. Frei
Flamínio 19 e está sob o título “Ávilas, de Montemor-o-Novo” acrescentando
sempre outras notas. Foi deste ramo dos Sobrinho que sairia depois a segunda
razão genealógica da pretensão de Filipe Lobo da Silveira para receber o vínculo
da Qta. do Vidigal.

1 – Francisco de Ávila (seguiria p. a Índia) casou com Isabel Nunes Sobrinho 20


tiveram:

A) Pedro de Ávila Sobrinho foi cavaleiro-fidalgo, vereador da Câmara de


Montemor nos anos de 1625 e 1639 21, e na vila casou em 1605 com
Margarida Freire (cujo inventário por sua morte foi feito a 4 de Maio de
1611) 22 , irmã de Inês de Seixas de Queiroz e de Isabel Freire, as três irmãs
filhas de Bernardim Freire e de sua segunda mulher Iria de Queiroz, e
tiveram:

a) Matias de Ávila recebeu Primeira Tonsura (1631) em Évora 23, foi


vereador da Câmara de Montemor nos anos de 1641, 1642 e 1645
e Procurador a Côrtes pela vila em 1653 24. Era Irmão da Miseri-
córdia 25 e fez testamento a 25 de Novº de 1653, pedindo que o sepul-
tassem em Nª Sª da Vila junto a seu pai. Já era então extinta a sua
geração. Era tio de Luis Gavião Freire e de Manuel Pereira e de Isabel
Clara Pereira, este dois últimos, filhos de Estevão Freire Pereira e de
Lourença de Ávila sua irmã, e Luis Gavião Freire 26, filho de Martim

19
Sousa, D. Frei Flamínio de, pág. 221 ou 144 de outra numeração.
20
Bib Nac Lisboa (Reservados), Tibao, Manuel Botelho, o.c., pág. 373v, escritura nas notas do tab.
Marcos Dias de 26 de Novº de 1563. Esta escritura será referida adiante no texto, mas explica
que Francisco de Ávila saiu para a Índia, onde assistia nesta data.
21
AMMN, Actas das vereações.
22
Bib Nac Lisboa (Reservados), Tibao, Manuel Botelho, o.c., pág. 38 v. Foi sepultado na igreja de
Nª Sª da Vila.
23
ADE, maço 4 nº 91, 1632.
24
AMMN, Actas das vereações.
25
ASCMMN, listas dos Irmãos.
26
Bib Nac Lisboa (Reservados), Tibao, Manuel Botelho, o.c., pág. 132v, testamento de Luis
Gavião Freire, em 19 Outº 1691, no qual deixa casas na rua dos Caldeireiros, outras em q vive e
outras na rua de S. Vicente junto à praça; idem, o.c., pág. 400, inventário por óbito de Catarina

316
os sobrinho, de monTemor-o-novo

Gavião (filho de Lopo Gavião e de Margarida Sobrinho) e de Isabel


Vidal 27. Casara ele testador com Catarina Gavioa Sobrinho em 1643
e tiveram geração (extinta) 28. Tiveram:

1) Pedro nasceu no ano de 1650, em Montemor, mas faleceu menor 29.

b) Bernardim Freire de Ávila, cavaleiro-fidalgo da Casa d´El Rei. Casou


com Inês de Freitas Salema.
c) Francisco Freire de Ávila baptº a 5 de Janº de 1614 em Nª Sª da
Vila 30.
d) Lourença de Ávila casou a 29 de Setº de 1614 na Matriz 31 com
Estevão Freire Pereira, filho do casal João Freire e Inês de Cáceres e
neto paterno de Estevão Freire, baptº na Matriz de Montemor a 27 de
Novº de 1599, e de sua mulher Isabel de Sande e tiveram:

1) Manuel Pereira de Mello testou a 24 de Jul. de 1667 para sua


irmã 32
2) Isabel Clara Pereira vivia na Qta. da Capela onde passou procu-
ração a 16 de Janº de 1668 para casar com João de Brito Botelho,
morador em Évora 33. Já viúva fez uma petição ao Dr. Julião de

Gavioa, mulher de Luis Gavião Freire, sendo os filhos do casal: Bernardim Freire de Carvalho,
de 23 anos, Brites Freire de Andrade, de 17 anos e Francisco Freire (faleceu depois da mãe), de
18 anos. A fazenda somava 7.854,31 r., metade do viúvo e cabeça de casal, ocorrendo a data do
inventário a 18 de Abr. 1678.
27
Bib Nac Lisboa (Reservados), Tibao, Manuel Botelho, o.c., pág. 392v, inventário por óbito de
Isabel Vidal, mulher que foi de Martim Gavião, nomeado cabeça de casal o filho Luis Gavião de
22 anos e tinham mais filhos: Brites, de 20 anos, Maria de Jesus, de 18 anos (os quais receberam
a terça por testamento, no valor de 228.903 r.), Francisco Gavião, de 16 anos e Margarida
Sobrinho, de 12 anos. O total da sua fazenda somava 684.280 r. sendo a data deste inventário
20 Jul. de 1609.
28
Bib Nac Lisboa (Reservados), Testamentos, Mss. 150 nº 73, testamento de Matias de Ávila Freire.
29
Bib Nac Lisboa (Reservados), Tibao, Manuel Botelho, o.c., pág. 403; ADE, Registos Paroquiais
de Montemor-o-Novo, Nª Sª da Vila, Baptismos, Padrinhos: Miguel da Frota Carvalho e Soror
Sebastiana da Assunção, Religiosa do Paraíso de Évora.
30
ADE, Registos Paroquiais, Montemor-o-Novo, Nª Sª da Vila, Baptismos, Padrinhos: Cristóvão
Freire Porcel e Isabel Freire.
31
ADE, Registos Paroquiais, Montemor-o-Novo, Sta. Mª do Bispo, Casamentos, Testemunhas:
João Baptista, escrivão, lic. Vicente de Paiva, juiz de Fora, Cristóvão Freire Porcel, Jerónimo
Freire e Nuno de Antas de Brito.
32
AMMN, Liv. 10 k1.
33
Bib Nac Lisboa, (Reservados), Tibao, Manuel Botelho.

317
João bAPTisTA mALTA

Moura Coutinho e a João Andrade, moradores em Lisboa, no ano


de 1676 34.
3) Joana Pereira, baptª na Matriz a 17 de Ago. de 1619.

B) Lourenço de Ávila Sobrinho.


C) Joana de Ávila casou com Luis do Rêgo Freire, filho de Simão Freire e de
Catarina da Veiga sua mulher. Tiveram:

a) Rodrigo de Ávila.
b) Lourença de Ávila. Foi seu tutor, nomeado no testamento de seu pai,
que era já viúvo de sua mãe, o tio Padre Julião Freire.

D) Padre Julião Freire Clérigo de missa dentro da cerca. Testou a 11 de Outº


de 1606 e foi sep. em São Francisco. No ano de 1608 a 17 de Novº aforou
casas de sua sobrinha, de quem era tutor, Lourença de Ávila, sitas na rua dos
Calados e que parte com a travessa que vai da 1ª rua para a praça nova 35.
Numa passagem do seu testamento há referência a uma obrigação sobre a
herdade da Chaminé, no termo de Mora, datada de 12 de Janº de 1641 36.

Também em “Notícias de Montemor” encontramos a escritura do tabe-


lião Marcos Dias, datada de 26 de Novº de 1563, pela qual em casas de Gaspar
de Frias, tabelião do Judicial, Isabel Nunes (Sobrinha) sua cunhada e mulher
de Francisco de Ávila assistente na Índia, faz procuração a Nuno Fernandes
Sobrinho, morador em Coina, para cobrar de Jorge Rodrigues, morador na praia
da Boavista, em Lisboa, certa quantia 37.

No entanto não foi este ramo dos Ávila Sobrinho quem recebeu o morgado
da Quinta do Vidigal, mas sim Filipe Lobo da Silveira, nascido em 1716 em
Montemor-o-Novo, 14º senhor do morgado dos Lobos e fidalgo da Casa Real,
que para isso juntou – e assim consta da respectiva chancelaria – os apelidos
Freire e Sobrinho e Porcel – aos seus próprios apelidos 38. Desenvolveu-se então a
questão da seguinte maneira:

34
Idem.
35
Idem, fl. 149 v.
36
AMMN, Testamentos, Liv. 2k3.
37
Bib Nac Lisboa (Reservados), Tibao, Manuel Botelho, o.c., pág. 374.
38
ANTT, Chanc. de D. Maria I, Liv. 14, 4 de Setº de 1780, pedido de união do vínculo que fora
instituído por Isabel Freire de Carvalho ao vínculo instituído por Fernão Lopes Lobo em 1422.

318
os sobrinho, de monTemor-o-novo

Fez-se assim a habilitação ao vínculo pela linha genealógica de um dos


filhos da referida irmã de Duarte Sobrinho, o António Freire, cavaleiro-fidalgo
da Casa d´El Rei, falecido a 14 de Abril de 1593 39 que foi o segundo marido
de Inês Freire Barreta 40 e do casal nasceram filhos, entre eles Margarida Freire 41
baptizada a 1 de Setº de 1565 e casada a 19 de Junº de 1594 com seu tio materno
Gomes Freire Barreto, baptizado a 29 de Março de 1536 42 e Brites Freire bapti-
zada a 6 de Março de 1564, 43 que viria a casar com seu primo Manuel Freire,
mas sendo necessária a dispensa eclesiástica em 2º, 3º e 4º graus de parentesco,
sendo um deles, dado a entender mas não claramente explicado, pelo costado
dos Sobrinho. Se assim foi, a mãe Inês Barreta transmitiu o costado aos descen-
dentes, e tendo ela Inês Barreta casado em primeiras núpcias com António da
Silveira de Brito, fidalgo da Casa Real e o instituidor do morgado de S. Fran-
cisco ou dos Antas, nascera deles o sucessor e igualmente fidalgo da Casa Real,
Nuno de Antas de Brito da Silveira que com sua primeira mulher Jerónima Loba
eram 4º avós de Filipe Lobo da Silveira 44. Logo, ele era Sobrinho pelo ramo
do seu bisavô paterno Luis Lobo de Brito neto do ultimo casal, mas também
o era pelo ramo de Isabel Freire Barreto Porcel, a mulher deste Luis Lobo de
Brito e sua bisavó paterna, por ela ser 5ª neta da antes mencionada Margarida
Sobrinho – cujo entroncamento nos Sobrinho apesar de ser muito provável não
se determinou – e de seu marido Lopo Gavião, de quem foi filho Gaspar Gavião,
cavaleiro da Casa d´El Rei que de sua mulher Isabel Freire teve Ana Freire a qual
por sua vez casou com Julião Porcel, que gozou de igual foro como seu sogro e
foram eles os pais de Cristóvão Freire Porcel, cavaleiro-fidalgo e marido de Filipa
Barreta. Deste casal foi filha a acima referida Isabel Freire Barreto Porcel, bisavó
de Filipe Lobo da Silveira, sucessor que então foi do morgado dos Sobrinho

39
ADE, Registos Paroquiais, Montemor-o-Novo, Nª Sª da Vila, Óbitos, Liv. 1 f. 172, sepultado
nesta igreja na cova de seu pai.
40
Bib Nac Lisboa (Reservados), Tibao, Manuel Botelho, o.c., pág. 320v, faleceu a 19 de Fevº de
1568, com os sacramentos e o testamenteiro foi Gomes Freire Barreto. Usou ela também o nome
de Inês Barreta.
41
ADE, Registos Paroquiais, Montemor-o-Novo, Nª Sª da Vila, Baptismos, Liv. 2, f. 147, padri-
nhos: Cristóvão Freire e Maria Barreta; ADE, Registos Paroquiais, Montemor-o-Novo, Nª Sª da
Vila, Óbitos, Liv. 1, f. 168.
42
ADE, Registos Paroquiais, Montemor-o-Novo, Nª Sª da Vila, Baptismos, Liv. 3, fl. 14, padri-
nhos: André Freire,Cristóvão Freire e Isabel Dórdia e a parteira Isabel Vaz. Fora ele dotado a 22
de Abr. de 1563 para casar com uma das sua sobrinhas.
43
ADE, Registos Paroquiais, Montemor-o-Novo, Nª Sª Vila, Baptismos, padrinhos: Cristóvão
Freire, Cosme Carvalho, Margarida Freire e Joana da Silva.
44
Sameiro, Pedro e Malta, João Baptista, “A Carta de Brasão de Luis de Antas de Brito”, in Armas
e Troféus, IX Série, Janeiro / Dezembro de 2002/2003, Instituto Português de Heráldica.

319
João bAPTisTA mALTA

da Quinta do Vidigal, por se ter apresentado como tal, expondo as duas razões
genealógicas apontadas nesta publicação, mas cuja consistência não seria muito
esclarecida.
Nas genealogias apresentadas da família dos Sobrinho, de Montemor-o-
-Novo, além dos nossos apontamentos, foram levados em conta vários outros da
autoria do nosso primo e amigo Arq. António Pimenta de Aguiar. Ao primo e
amigo Dr. Pedro Sameiro agradeço, também nesta publicação genealógica, como
em outras, não só as sugestões para o texto como a sua revisão.

A Carta de Brasão de Armas de André Bugalho Sobrinho pertence à


família Laboreiro de Villa-Lobos, por a terem herdado – é esta a nossa convicção
– da antepassada D. Mécia Augusta Botelho Lobo da Silveira, herdeira de parte
dos morgados paternos e do solar em Montemor-o-Novo no qual se guardava
o arquivo familiar. Este arquivo passaria a pertencer ao ramo Lobo da Silveira
Nunes Barata e posteriormente a António Lobo da Silveira morador em Évora,
e, desde o seu falecimento há poucos anos, são os filhos os seus detentores.
Apesar deste percurso as duas Cartas de Brasão terão ficado na descendência da
primeira herdeira referida, a família Lobo da Silveira Malta. Com toda a certeza
assim sucedeu com a Carta de Luis de Antas de Brito que ficou pertencente à
linha Lobo da Silveira Malta da Costa e muito possivelmente esta de André
Bugalho Sobrinho terá entrado assim para a família Lobo da Silveira Malta
Laboreiro de Villa-Lobos. A possibilidade desta família ter herdado a Carta dos
antepassados André de Villa-Lobos e mulher Isabel Freire, que foi herdeira de
um outro vinculo instituído na mesma Qta. do Vidigal, não nos parece muito
provável, pois que a instituição desse vinculo provinha de André Freire e nada
nos fala que fosse da família Sobrinho, à qual realmente pertencia o instituidor
do outro morgado dos Sobrinho na mesma propriedade, no qual sucederiam
os Lobo da Silveira. No caso da Carta ter sido mesmo um dos documentos do
arquivo Lobo da Silveira, vem dar força à tese da possível ligação dos Sobrinho
mais antigos, nela mencionados como a chefia da família, com os sucessores
da família que ficaram em Montemor-o-Novo. Não há porém a total certeza
da Carta de André Bugalho Sobrinho ter sido herdada dos ramos referidos,
pois será de equacionar mais remotamente (pelas razões mencionadas), que a
mesma tenha vindo a ser pertença da culta e interessada família Laboreiro de
Villa-Lobos por outra via, mesmo até por herança de outros seus antepassados.
É igualmente opinião da família a quem pertence esta Carta, que a mesma terá
sido transmitida dos seus ascendentes, pois sempre a conheceram como docu-
mento familiar.

320
os sobrinho, de monTemor-o-novo

Habilitação ao vinculo dos Sobrinho

BERNARDIM FREIRE

GOMES FREIRE DE ANDRADE CATARINA SOBRINHO


Cas. c. INÊS FERNANDES CÉSAR (muito provavelmente entroncada
na família Sobrinho)
Cas. c LOPO GAVIÃO
BRITES FREIRE DE ANDRADE
Cas. c PEDRO BARRETO
GASPAR GAVIÃO
Cas. c ISABEL FREIRE
INÊS FREIRE BARRETA
(Talvez descendente da família Sobrinho)
Cas. 1 vez c ANTÓNIO DA SILVEIRA ANA FREIRE
DE BRITO Cas. c JULIÃO PORCEL

NUNO DE ANTAS DE BRITO CRISTOVÃO FREIRE PORCEL


DA SILVEIRA Cas. c FILIPA BARRETO
Cas. 1 vez c JERÓNIMA LOBO

MARIANA DA SILVEIRA LOBO


Cas. c ANTÓNIO DE ALMEIDA

LUÍS LOBO DE BRITO


Cas. c ISABEL FREIRE BARRETO PORCEL

FILIPE LOBO DA SILVEIRA


Cas. c BRITES CARRILHO MOUZINHO

VALENTIM LOBO DA SILVEIRA


Cas. c ISABEL TERESA HENRIQUES
DE MENEZES

FILIPE LOBO DA SILVEIRA


Recebeu o morgado dos Sobrinho
na Quinta do Vidigal

321
João bAPTisTA mALTA

Bibliografia

BAENA, Visconde de Sanches de, Archivo Heráldico-Genealógico, Lisboa,


Typographia Universal, Lisboa, 1872.
SANTOS, Cláudia Valle, A Vila Quinhentista – Montemor-o-Novo quinhen-
tista e o foral manuelino, Montemor-o-Novo, Câmara Municipal, 2003.

Carta de Brasão de André Bugalho Sobrinho

322
FAMÍLIAS E RELAÇÕES FAMILIARES NO ARQUIVO
DA QUINTA DAS LÁGRIMAS

Assunção Júdice
Leonor Calvão Borges*

É consensual no seio da comunidade arquivística que o Arquivo Familiar é


o reflexo documental da evolução de uma família ou famílias ao longo das várias
gerações 1 e o espelho da sua história, que tem de ser entendido no seio da família
que o gerou, o que pressupõe uma organização baseada na reconstituição genea-
lógica patrimonial da linhagem e família, bem como nas atividades de cada um
dos indivíduos que a formam 2.
Assim, e numa primeira fase do tratamento do Arquivo é importante
a produção de uma genealogia simples, para definir as sucessivas gerações de
progenitores e descendentes da linhagem, deixando para uma segunda fase
a contextualização dos produtores da informação na sua atividade pessoal e
pública, definir o seu papel no sistema de informação, na família e na época

* Fundação Inês de Castro.


1
Vejam-se, a título de exemplo, as publicações de BORJA DE AGUINAGALDE, F. – El Archivo
da la Casa de Zavala [Em linha] In http://www.snae.org/pdf/zavala.pdf, [consult. 2012-08-01],
p. 299-311; Casa de Mateus: catálogo do Arquivo. Vila Real, Fundação da Casa de Mateus, 2005,
p. 215; GALLEGO DOMINGUEZ, Olga – “Archivos familiares: organización”. In A Integração
europeia: um desafio à informação. Congresso Nacional de Bibliotecários, Arquivistas e Docu-
mentalistas, 2, Coimbra, 1987, p. 320.
2
SILVA, Armando B. Malheiro da – “Arquivos de Família e Pessoais: bases teórico-metodológicas
para uma abordagem científica”. In Seminário sobre Arquivos de Família. Vila Real, BAD, 1997,
p. 89-90.

323
Assunção Júdice e Leonor cALvão borges

em que viveram, em suma, produzir uma biografia de cada um dos produ-


tores 3.
O projeto de reorganização do Arquivo da Quinta das Lágrimas tem como
objetivo principal a reconstituição dos contextos orgânico-funcionais e temporais
da produção da documentação que foi conservada e chegou até nós, e a construção
da memória da família. Esta última é possível através da leitura de documentos –
Genealogias, Nobiliários e Árvores de costado (necessários à ratificação do direito à
posse de vínculos e morgados e ao conhecimento das relações de parentesco tendo
em vista a realização de casamentos e a resolução de contendas sucessórias), Testa-
mentos, Inventários de Partilhas e também de representações heráldicas quer ainda
se encontrem nas antigas casas, quer em objetos de uso da família 4.
O conhecimento deste arquivo e a leitura dos seus documentos poderá
possibilitar um maior conhecimento sobre as relações e vivência duma família,
entre meados do século XVI e o século XX, que, mercê das suas uniões familiares,
ficaram detentoras de um grande património móvel e imóvel e dos respetivos
arquivos.
A sua investigação permite-nos, assim, ir à procura das ligações sociais, do
papel cultural, económico, político ou religioso da família no contexto de um deter-
minado local (cidade, vila ou aldeia), tentando encontrar sempre os “porquês”.
E, de facto, no Arquivo da Quinta das Lágrimas, a documentação de
cariz genealógico tem, em grande parte, um carácter instrumental, tendo sido
coligida com o fim de informar as pretensões dos vários membros da família à
posse de bens. Estão neste caso os apontamentos genealógicos da descendência
de Manuel Homem Freire casado com D. Luísa Francisca de Almeida com refe-
rência aos administradores do Morgado de Ázere, pela reivindicação da Capela do
Morgado 5, ou pela posse do Morgado de Santiago do Cacém 6, ou mesmo para
averiguar do grau de parentesco em razão do casamento de Dom João de Alarcão
Velasques Sarmento com Maria da Conceição de Castro e Lemos 7.
3
Para a produção da genealogia foram utilizados documentos genealógicos existentes no AQL e
a obra de GONÇALVES, Eduardo Osório – Raízes da Beira – Genealogia e Património da Serra
da Estrela ao Vale do Mondego. Lisboa, Dislivro Histórica, 2006, 2 vol.
4
Sobre esta temática é de toda a importância o artigo de SEIXAS, Miguel Metelo de – “A heráldica
e os arquivos de família: formas de conservação e gestão da memória”. In ROSA, Maria de
Lurdes, org. – Arquivos de família, séculos XIII-XIX: que presente, que futuro? Lisboa, IEM [et al],
2012, p. 449-462.
5
Escrito como foram as demandas do Morgado de Ázere. AQL, cx 27.
6
Várias relações de bens deste Morgado e deveras interessantes: genealogias, e linhagens por onde vem
este Morgado. AQL, Genealogia, cx 27, nº 40.
7
Projeto de árvore genealógica para prever o grau de parentesco em que está meu sobrinho D. João com
a sua futura esposa D. Mª da Conceição de Castro, 11/5/77, AQL, Cx 27, doc. 70.

324
fAmíLiAs e reLAções fAmiLiAres no Arquivo dA quinTA dAs LágrimAs

O arquivo chegou, até nós, organizado em redor das três grandes Casas:
Águeda, Ázere e Guarda, que estão na base da família Homem Freire de Figueiredo
e Osório Cabral de Castro que se radicou em Coimbra, na Quinta das Lágrimas,
no final do século XVIII. Foi seu primeiro proprietário o 7º Morgado de Ázere,
Manuel Homem Freire, que a adquiriu a Pedro Correia de Lacerda em 1730.
Vejamos então as pessoas/famílias e as suas relações familiares:

A CASA DE ÁGUEDA 8 era formada pelo Vínculo


da Casa da Rua de S. Pedro em Águeda, instituído em 1681,
por Bartolomeu da Fonseca Chucre 9, filho de Domingos
João (?-1644) e em 1684, por seu sobrinho Manuel da Serra
Chucre 10, com a Capela do Menino Jesus, sita na Igreja de
Santa Eulália, em Águeda.
Esta capela foi fundada em 1644 por Domingos
João (?-1644). Herdou este Vínculo João Álvares de Figuei-
redo Brandão (1692-1752), filho de Bento de Figueiredo
Fig. 1 – Josefa Luísa Brandão (1661-1752) e de Ângela Josefa da Fonseca Serra
Freire de Figueiredo Chucre (Sousa Pinto) (1665-1738), neta de Domingos João
Brandão Deusdará (?-1644).

Domingos João ?-1644


cc Catarina Antónia

Bartolomeu da Pedro da Fonseca António Fernandes Francisca da Fonseca


Fonseca Chucre Chucre cc António João
da Serra

Francisca Fonseca Serra João Alvares Brandão,


cc Simão Pinto de Almeida 1629-1677
Magalhães cc Maria Afonso Costa,
1629-1686

continua...

8
Árvore de costados de D. Josefa Luísa Freire de Figueiredo Deosdará, AQL, cx. 27, doc. 7; Escritura
de instituição de Vínculo ou Morgado que fizeram os Reverendos Doutores Manuel do Souto e Simão
Vidal do lugar de Águeda, 1746. AQL, Águeda, cx. 7, doc. 478.
9
Traslado do testamento de Bartolomeu da Fonseca requerido por Bento de Figueiredo Brandão.
1702-05-16. AQL. Águeda, cx. 2, doc. 191.
10
Testamento do Dr. Manuel da Serra Chucre, 1684. AQL, Águeda, cx. 3, doc. 209.

325
Assunção Júdice e Leonor cALvão borges

continuação...

Ângela Josefa da Fonseca cc Bento de Figueiredo


Serra Chucre Brandão, 1661-1752
(Sousa Pinto), 1665-1738

João Álvares de Figueiredo Brandão,


1692-1752
cc Ana Maria Micaela de Almeida

Fig. 2 – Casa de Águeda – Chucre

Vínculo da Casa da Rua de Cima 11, instituído pelo Capitão António de


Almeida e sua mulher, em 1721, o Vínculo da Casa do Pe. Simão Vidal 12, instituído
por este e seus irmãos Manuel do Souto Vidal e Brites Maria de Jesus, em 1727 e pelo
Prazo do Espinhel 13 que era foreiro à Comenda de Santa Maria do Espinhel, vendido
por Marcos Sanhudo, ao Capitão António de Almeida, em 1709.
Ana Maria Micaela de Almeida, filha do capitão Manuel Nunes de Almeida
e de Maria da Assunção Vidal, foi dotada por seus tios maternos e paternos, com
estes bens para casar com o Dr. João Alvares de Figueiredo Brandão (1692-1752),
ca de 1722 14. Sua filha, Rita Bernarda de Figueiredo Brandão (?-1820) e seu
marido Luís Pedro de Homem de Figueiredo Deusdará (?-1802), da Casa de
Ázere, herdam estes vínculos e alguns bens livres em Vila Cova e Sazes (perto
de Coimbra) 15, após Sentença de divisão de morgados, Alvará de 1788 16 da
contenda entre D. Rita Bernarda e sua irmã D. Sancha Eugénia.

11
Traslado da escritura de dote e vínculo do Morgado que fez o Cap. António de Almeida, 1721. AQL,
Águeda, cx. 6, doc. 360.
12
Certidão da escritura de dote e instituição do vínculo, pela qual os Doutores Manuel do Souto Vidal,
Simão do Souto Vidal e sua irmã Brites Maria de Jesus, dotaram, em 7 de Novembro de 1727, o
mencionado Dr. João Álvares com o mesmo vínculo. 1755. AQL, Águeda, cx. 6, doc. 406.
13
Doação do Prazo de Espinhel em D. Ana da Assunção que casava com João Alvares, 1717. AQL,
Espinhel, cx. 25, doc. 10.
14
Traslado da escritura de dote e vínculo do Morgado que fez o Cap. António de Almeida, 1721. AQL,
Águeda, cx. 6, doc. 360.
15
Ver sobre esta sentença: Árvore de costados com a descendência de João Álvares de Figueiredo
Brandão e parecer do Dr. António do S. P. Jardim. AQL, Águeda, cx. 7, doc. 484 e o artigo de
REGO, João de Figueiroa – “A propósito de um Alvará setecentista (nótulas genealógicas)”. In
Armas e Troféus, VI série, tomo I (Jan-Dez 1987-88), p. 243-257, onde analisa a sucessão dos
vínculos de D. Sancha Eugénia de Figueiredo Brandão e as relações familiares e de consanguini-
dade dos descendentes de Rita Bernarda e sua irmã Sancha Eugénia.
16
Alvará de confirmação e roboração da Rainha das sentenças. 1788. AQL, Águeda, cx. 7, doc. 475.

326
fAmíLiAs e reLAções fAmiLiAres no Arquivo dA quinTA dAs LágrimAs

André Gaspar Francisco Vidal Silvestre


Simões Fernandes cc Gonçalves
cc Ana de cc  Maria Martins cc Ana
Almeida Maria Lopes André

António António Gaspar Ana de Assunção António


Nunes do Souto Fernandes cc (Ascensão) Gonçalves
cc cc Maria cc Sabina
Domingas Domin- de
André gues Almeida

Maria de Manuel Maria da Simão Manuel Brites Isabel da Cata- Ana da Cap.
Almeida Domin- cc Ascensão Vidal do Souto Maria Ascensão rina da Assunção cc António
cc Manuel gues Vidal Vidal de Jesus Ascensão Vidal de
Nunes Almeida

Manuel Maria da Ângela Josefa da Fonseca Serra


Nunes de cc Assunção Chucre (Sousa Pinto)
Almeida (Ascensão) cc Bento de Figueiredo
Vidal Brandão

Ana Maria Micaela cc João Álvares


de Almeida de Figueiredo Brandão

Fig. 3 – Casa de Águeda – Almeida e Vidal

CASA DE ÁZERE 17 – Era formada por diversas Casas que se uniram


entre si através de alianças matrimoniais, de que fazia parte o Morgado de Ázere,
os Vínculos da Bobadela e de Vila Cova de Subavô e os Prazos de Viseu. Ocupa
uma zona da Beira, entre Viseu, Trancoso, Oliveira do Hospital, Santa Comba
Dão e Arganil.
Em 1584 João Afonso de Figueiredo (ca 1519-?) e sua mulher Catarina
Anes Homem, instituíram, “com a terça dos seus bens no Couto do Mosteiro e
mais concelhos do Mondego”, a Capela ou Morgado na igreja de S. Mamede de
Ázere 18. Seu filho Manuel Homem, instituiu com sua segunda mulher D. Luísa
de Faria, em 1629, o Morgado de Ázere, vinculando toda a sua fazenda e incluindo

17
Ascendência de Josefa Luísa Freire de Figueiredo Brandão, 9ª neta de Gonçalo Garcia de Figueiredo.
AQL, cx 27, doc. 72.
18
Cópia dos papeis que têm os do Espinhal e motivos dados por elles pelo que dizem que lhes pertence o
meu Vínculo de Azere. AQL, Ázere, cx. 17, doc. 14.

327
Assunção Júdice e Leonor cALvão borges

os bens vinculados por seus pais e alterando as condições de sucessão impostas


pelos instituidores 19.
Chamaram seus netos, filhos de Nuno
da Fonseca Homem, filho natural de Manuel
Homem, para administradores, do Morgado,
Manuel Homem Freire (1615-?) e, da Capela,
João Nunes Homem (?-1667). A posse da
capela foi alvo de uma grande contenda
com sua prima Maria da Cunha casada com
António Alves da Costa 20.
Sucede no Morgado de Ázere, Manuel
Homem Freire de Figueiredo (1640-1688),
Doutor em Leis, Lente da Universidade de
Coimbra, Corregedor em Coimbra e Leiria,
Provedor na Guarda, Cavaleiro da Ordem
de Cristo que casa com D. Luísa Francisca
de Almeida, filha de Damião Gonçalves de
Chaves, senhora dos Prazos em Viseu, Tran-
Fig. 4 – Descendentes de Gonçalo coso e Castro Daire.
Garcia de Figueiredo Sucede-lhe o 6º morgado de Ázere,
capitão Manuel Homem Freire de Figueiredo
(1675-1724) que casou, em 1705, com Maria Nunes de Figueiredo (1674-1724).

Gonçalo de Figueiredo ca 1460

Afonso Gonçalves de Figueiredo


ca 1485 cc Agostinho Lourenço

João Afonso de Figueiredo ca 1519


cc (1572) Catarina Anes Homem

Manuel Homem de Figueiredo Francisca de Figueiredo Branca Fernandes Homem,


cc Madalena Viegas, cc Luísa de Faria, cc Mateus da Cunha 1543 cc (1558) Simão
teve com Isabel da Fonseca Nunes de Figueiredo

continua...

19
Instituição de Morgado de Manoel Homem, Desembargador da Casa da Suplicação, e de sua mulher
D. Luisa de Faria, em 1629. AQL, Ázere, cx. 6, doc. 1.
20
Entre outros documentos a Sentença entre João Nunes Homem e António Alves da Costa, 1653.
AQL, Ázere, cx. 17, doc. 6.

328
fAmíLiAs e reLAções fAmiLiAres no Arquivo dA quinTA dAs LágrimAs

continuação...

Nuno da Fonseca Homem


cc Catarina Freire de Sequeira

Manuel Homem Freire, 1615-? João Nunes Homem


cc Isabel Nunes de Figueiredo ?-1692 ?-1667

Manuel Homem Freire


de Figueiredo, 1640-1688
cc Luísa Francisca de Almeida

Cap. Manuel Homem Freire de Des. João Homem Freire


Figueiredo, 1675-1774 ?-1729
cc Maria Nunes de Figueiredo, 1674-?

Manuel Homem Freire Maria, 1708 José Caetano Homem


de Figueiredo, 1706-? Freire de Figueiredo,
cc (1750) Maria Joana Pita Deusdará 1712-1767(?)

António Joaquim Luís Pedro Homem de Figueiredo Ana Aldonça de Figuei-


Homem Freire Deusdará ?-1802 redo Deus-Dará
cc Rita Bernarda de Figueiredo cc (1750) Silvério
Brandão ?-1820 Correia Fonseca de
Andrade, 1732

Josefa Luísa Freire de Figueiredo


Brandão Deusdará, ?-1811
cc Miguel Osório Cabral Borges
da Gama e Castro

Fig. 5 – Casa de Ázere

VÍNCULO DA BOBADELA 21 – este vínculo foi dote de Maria Nunes


de Figueiredo (1674-1724), para casar com o Capitão Manuel Homem Freire de
Figueiredo (1675-1724) em 1705.
Era formado pela Capela de Nª Sª do Socorro, instituída em 1682, pelo
Prior da Bobadela Pedro Nunes de Sequeira (1638-1711) e seu irmão Manuel
Homem de Figueiredo (1642-1684), casado com Maria Borges de Figuei-

21
Pública-forma da instituição da capela e morgado que fizerão o Reverendo Pedro Nunes de Sequeira,
Prior da Bobadela e seu irmão Manuel Homem de Figueiredo, 1682. AQL, Bobadela, cx. 15,
doc. 22.

329
Assunção Júdice e Leonor cALvão borges

redo (1636-1715), que foi herdada por José Caetano Homem de Figueiredo
(1712-1767), segundo filho dos dotados, que a deixou em testamento a seu
sobrinho Luís Pedro Homem de Figueiredo Deusdará (?-1802).

Pedro Nunes de Figueiredo, ca 1500


cc (1545) Margarida Gil, 1531

Simão Nunes de Figueiredo, 1537-1597


cc (1624) Branca Fernandes Homem
(Ázere)

Agostinho Nunes Homem, 1570-? cc


Catarina Alves Brandão,
cc Isabel Nunes de Figueiredo

Isabel Nunes Pe. António Agostinho Nunes Pe. João Nunes


de Figueiredo, Nunes Homem, Homem, Homem de
1602-1648 1608-1636 1608-1644 Figueiredo,
cc António cc Isabel Brito 1619-1675,
Nunes de Barreto Morgado de Vila
Sequeira, 1604-? Cova

Isabel Nunes Pe. Pedro Nunes Manuel Homem Maria de Brito Isabel de Brito, Ana Barreto,
de Figueiredo, de Sequeira, de Figueiredo, 1640-1659 1641-1659 1643-1677
1632-? 1638-1711, prior 1642-1684
cc Marcos de de Bobadela (Manuel Nunes de
Figueiredo Sequeira)
Brandão, cc Maria Borges
1631-1655 de Figueiredo,
cc Manuel Nunes 1636-1715
de Abranches

Luísa, 1670-? Manuel Homem Maria Nunes de


de Figueiredo, Figueiredo, 1674
1672-1703 cc (1705) Capitão
Manuel Homem
Freire de Figuei-
redo, 1675-?

Fig. 6 – Vínculo da Bobadela

CASA DE VILA COVA – Nome com que aparece organizada a documen-


tação relativa aos bens de Vila Cova de Subavô, que herda Maria Nunes de Figuei-
redo (1674-1724), mulher do sexto Morgado de Ázere, Capitão Manuel Homem
Freire (1675-1724). É chamada por sua tia Isabel Nunes de Figueiredo (?-1692),
para administradora da Capela, Albergaria ou Hospital em Vila Cova, a qual

330
fAmíLiAs e reLAções fAmiLiAres no Arquivo dA quinTA dAs LágrimAs

tinha sido chamada por suas tias Bárbara e Margarida Madeira, por testamento
datado de 13 de Março de 1681, no qual também deixaram umas terras a seu
marido Manuel Homem de Figueiredo (1675-1724) 22.
O Pe. João Nunes Homem de Figueiredo (1619-1675), filho de Agostinho
Nunes Homem (1570-1599), instituiu o Morgado de Vila Cova em 1674 para o
qual chamou, em primeiro lugar, seu sobrinho-neto Manuel Homem de Figueiredo
Brandão (1654-1683), filho de sua sobrinha Isabel Nunes de Figueiredo (1632-?) e,
em segundo lugar, seu sobrinho Manuel Homem de Figueiredo (1642-1684), filho
de sua irmã Isabel, que instituiu com seu irmão
Reverendo Pedro Nunes de Sequeira (1638-
1711), o Morgado de Bobadela 23.
A estes bens vai-se juntar, com D.  Rita
Bernarda de Figueiredo Brandão (?-1820), o
Vínculo e Capela de Nª Sª da Assunção, que
herdou de seu pai, Dr. João Álvares de Figuei-
redo Brandão (1692-1752).
Por morte de Bernardo Abranches de
Figueiredo (1632-1650), administrador deste
vínculo, sucede o seu irmão João Álvares de
Figueiredo (1629-1677), casado com Maria
Afonso da Costa (1629-1686). A estes sucedeu
Bento de Figueiredo Brandão (1661-1752), que
casou com Ângela Josefa da Fonseca (Chucre)
Serra Pinto (1665-1738) e foi pai de João
Álvares de Figueiredo Brandão (1692-1752) e Fig. 7 – Ascendência de Josefa
avô de Rita Bernarda de Figueiredo Brandão Luísa Freire de Figueiredo Brandão
(?-1820). Deusdará

Simão Nunes de Marcos de Abranches


Figueiredo, 1537-1597 Brandão, 1569-1608
cc (1624) Branca cc Isabel Marques de
Fernandes Homem (Ázere) Figueiredo, 1572-1626

Isabel Nunes cc Marcos de Abranches


de Figueiredo, Brandão,
1592-1646 1589-1670

continua...

22
Testamento de Barbara Madeira e Margarida Madeira, 1681. AQL, Vila Cova, cx. 9, doc. 178.
23
Pública-forma dos bens vinculados pelo Reverº Pedro Nunes Sequeira, requerida por Manuel Homem
Freire em 1712. AQL, Bobadela, cx. 15, doc. 19.

331
Assunção Júdice e Leonor cALvão borges

continuação...

João Álvares Brandão, Marcos de Figuei- Bernardo de Pe. Manuel Mateus Álvares
1629-1677 redo Brandão Abranches de de Abranches de Figueiredo
cc Maria Afonso Costa, cc Isabel Nunes Figueiredo, de Figueiredo, Brandão, b. 1637
1629-1686 Figueiredo 1632-1650 b. 1635

Bento de Figueiredo Brandão,


1661-1752
cc Ângela Josefa da Fonseca
Serra Pinto (Chucre),
1665-1738

João Álvares de Figueiredo


Brandão, 1692-1752
cc Ana Maria Micaela de
Almeida

Nuno Luís Soror Teresa Rita Bernarda de Figueiredo Sancha Teresa de


Álvares de Figuei- Sancha Brandão Brandão ?-1820 Figueiredo Brandão
redo Brandão cc (1750) Luís Pedro Homem de cc Diogo Henriques Coelho
Figueiredo Deusdará, ?-1802 de Almeida

Josefa Luísa Freire de Figueiredo


Brandão Deusdará, ?-1811
cc (1784) Miguel Osório Cabral
Borges da Gama e Castro

Fig. 8 – Casa de Vila Cova

É herdeira destas Casas Josefa Luísa Freire


de Figueiredo Brandão Deusdará (?-1811), filha
de Rita Bernarda e Luís Pedro, senhora da Quinta
das Lágrimas e do Vínculo e Capela de Nª Sª do
Socorro, na Bobadela, das Casas de Águeda, Ázere,
Vila Cova e Viseu e que casou, em 1784, com
Miguel Osório Cabral Borges da Gama e Castro
(?-1835), da Casa da Guarda.

CASA da GUARDA – com propriedades nas


regiões de Alvalade, Arcozelo, Celorico da Beira,
Guarda, Ratoeira, Sabugal, Santiago do Cacém e
Setúbal, e um âmbito cronológico de 1532 até ao
Fig. 9 – Miguel Osório Cabral fim do século XIX, pertencia à Família Osório da
Borges da Gama e Castro Gama e Castro e foi sendo recebida à medida que,

332
fAmíLiAs e reLAções fAmiLiAres no Arquivo dA quinTA dAs LágrimAs

por casamentos, partilhas ou heranças, as correspondentes propriedades entram


na posse da família.

Diogo Gonçalves Cabral cc Beatriz Osório Jerónimo Osório da Fonseca


(c 1480-?) da Fonseca, senhora do Prazo do (1505-1580), bispo do Algarve
Vilhagre

Francisco Osório Cabral (c 1540-1597)


cc Beatriz de Aguiar da Gama (c 1540-1582)

António Osório Cabral (1560-?)


cc 1ª Beatriz de Brito Andrade s.g.,
cc 2ª Maria de Aragão Cabral (c 1590-?)

António Osório da Gama (1615-1658) Tomás da Gama Osório (1617-1692)


cc 1ª Maria Antónia Coutinho de Castro (c 1630-?) Institui o Morgado da Ratoeira

Jerónimo Osório de Castro (1657-1714)


cc Arcângela Maria de Melo Coutinho (c 1660-1715?)

António José Osório de Castro (1687-?)


cc Inácia Xavier Caetana Castelo Branco (c 1685-?)

Jerónimo Bernardo Osório de Castro (1726-1811)


cc Francisca Eugénia Borges da Fonseca Cerqueira (1715-?)

Miguel Osório Cabral Borges da Gama e Castro (1749-1835)


cc Josefa Luísa Freire de Figueiredo Brandão DeusDará
(?-1811)

Fig. 10 – Casa da Guarda ou Morgado da Ratoeira

Como se vê, o tronco começa em Diogo Gonçalves Cabral, que, mercê


do seu casamento com Beatriz Osório da Fonseca, junta às suas propriedades
o Prazo do Vilhagre. Será o seu trineto, António Osório Cabral que herda o
Morgado da Ratoeira, que seu irmão Tomás da Gama Osório institui. Por sua vez,
a sua mulher, Maria Antónia Coutinho de Castro recebe de herança o vínculo de
Santiago do Cacém.
Umas gerações mais abaixo, Francisca Eugénia Borges da Fonseca
Cerqueira, mulher que foi de Jerónimo Bernardo Osório de Castro, traz à família
o morgado dos Borges e, finalmente, Miguel Osório Cabral Borges da Gama

333
Assunção Júdice e Leonor cALvão borges

Fig. 11 – 2ª Árvore dos Osórios Cabrais


de Celorico da Beira

e Castro, o vínculo dos Velhos, este último,


mercê do seu casamento une os Osórios Cabrais
aos Freire de Figueiredo.

Morgado da Ratoeira

O Morgado da Ratoeira foi instituído


a 15 de Agosto de 1692, pelo testamento de
Tomás da Gama Osório (1617-1692) 24, Cónego
e Arcediago da Sé da Guarda, composto por
títulos dos bens de raiz que deixa vinculados,
com a obrigação de que os seus administradores
usem o apelido de Osório, e do qual faz cabeça a Quinta da Ratoeira, Casa da
Guarda e Capela de Santo Estevão.
O morgado e capela são deixados a seu herdeiro universal e sobrinho
Jerónimo Osório de Castro (1657-1714), fidalgo da Casa de sua Majestade
(1699), cavaleiro professo da Ordem de Cristo e procurador às Cortes (1697),
filho de seu irmão António Osório da Gama (1615-1658), fidalgo da Casa Real,
capitão de Infantaria nas guerras da Restauração, capitão-mor de Celorico da
Beira e superintendente da comarca da Guarda, morador na Ratoeira.
O morgado vinculava uma série de pequenas propriedades na zona da Guarda,
às quais Tomás da Gama Osório determinava, como cláusula testamenteira, que cada
sucessor juntasse 200 mil reis de fazenda de raiz livre. Aquando do pedido de registo
vincular solicitado por Miguel Osório Cabral de Castro ao Governo Civil da Guarda
em 1862, é apresentada uma descrição pormenorizada de todos os bens.

Santiago do Cacém

Este morgadio foi instituído por Fernão Sardinha (152?-?) e sua mulher
D. Brites Vaz Raposa por testamento feito aos 25 dias de Julho de 1582 25.

24
1692-08-22, Testamento de Tomás da Gama Osório. AQL, cx. 22, doc. 8.
25
Certidão autêntica do seguinte título existente no cartório de Jorge de Cabedo de Vasconcelos Sardinha
referente à instituição do Morgado feito por Fernão Sardinha e Brites Vaz Raposa: Testamento e
instrumento de compromisso de morgado e dotação de capelas de Fernão Sardinha e Brites Vaz Raposa,

334
fAmíLiAs e reLAções fAmiLiAres no Arquivo dA quinTA dAs LágrimAs

Foi primeira administradora D. Maria da Silva, sobrinha de D. Brites


Vaz Raposa, casada com João de Sousa Falcão Coutinho, Fidalgo da Casa Real e
Comendador na Ordem de Cristo.
A administração passa para a filha de ambos, D. Joana Coutinho, casada
com Rui Pires da Veiga Carvalho, Fidalgo da Casa Real, Contador da Fazenda e
Marechal de Campo.
Foi terceiro administrador o filho
de ambos, Baltasar de Sousa Coutinho e
Carvalho, Fidalgo da Casa Real, que por
sua vez o deixou a seu filho Bernardo de
Sousa Coutinho, Moço Fidalgo da Casa
Real. O quinto administrador será Baltasar
de Sousa Coutinho, filho do antecedente.
Não tendo descendência, deixou Baltasar
a administração a sua irmã, D. Micaela do
Nascimento, Freira no Mosteiro de Santa
Clara de Alenquer, a que se seguirá a outra
irmã, D. Maria Cristina de Sousa Coutinho,
Freira no mesmo Mosteiro 26.
A sua entrada na família dá-se em
1786, através da herança de D. Maria Caetana
de Sousa Coutinho, tia de Maria Antónia
Fig. 12 – Morgado de Santiago
Coutinho e Castro, mulher de António
do Cacém
Osório da Gama. D.  Maria Caetana solicita
uma certidão da sua administração no ano de
1760 27, sendo este vínculo posteriormente registado por Miguel Osório Cabral
de Castro em 1863 28.

feito a 1582-07-25 para fazer, das suas fazendas e patrimónios dois morgados para conservação das
suas famílias. AQL, Santiago do Cacém, cx. 12, mç. 1, doc. 1.
26
Veja-se o Tombo dos Morgados de Santiago de Cacém e Guarda: contém indicação dos seus
instituidores, possuidores, bens e rendimentos. AQL, Guarda, cx. 4, doc. 1.
27
Certidão passada pelo Escrivão da Provedoria de Setúbal, na qual consta que as missas da Capela no
Altar de Nossa Senhora da Piedade, que instituiu Brites Vaz Raposa na Igreja de São Julião e estão a
cargo da administradora Dona Maria Caetana de Sousa Coutinho. AQL, Santiago do Cacém, cx.
12, mç. 6, doc. 1.
28
Certidão extraída do Registo Vincular, para título do Digno Par do Reino Miguel Osório Cabral de
Castro, referente à instituição do Morgado de Santiago de Cacém. AQL, Santiago do Cacém, cx.
12, mç. 1, doc. 7.

335
Assunção Júdice e Leonor cALvão borges

Casa dos Borges

Nome com que aparece organizada a documentação relativa ao vínculo


instituído por José de Cerqueira Borges, António Borges de Azevedo (que vincu-
laram metade dos seus bens) e Cipriano da Fonseca (que vinculou um terço dos
seus bens) por via da escritura de contrato de casamento de Francisca Eugénia
Felizarda Borges de Azeredo Cerqueira, filha do último.
O conjunto de bens vinculados distribui-se geograficamente entre a cidade
da Guarda, as vilas de Vela, Benespera, Casal da Metela, Porcas, Casal do Veloso,
Faia, Porco, Póvoa de Mileu, Várzea do Pinheiro, Ramalhosa, Monte Barro, Gata
Velha e Lomba dos Palheiros 29, sendo descritos pormenorizadamente quando
Miguel Osório Cabral de Castro, em 1864 os apresenta no Governo Civil da
Guarda para registo de vínculos.
Estes bens entram assim na posse da família Osório da Gama através do
casamento de Francisca Eugénia Felizarda Borges de Azeredo Cerqueira, com
Jerónimo Bernardo Osório de Castro (1726-?), Fidalgo da Casa Real e Superin-
tendente das Coudelarias da Comarca da Guarda.
O casamento dá-se a 1 de Outubro de 1744, e dele nasce Miguel Osório
Cabral Borges da Gama e Castro, que juntará em si a posse das diferentes casas
pertencentes à família Osório da Gama e Castro. É aliás este membro da família
que tratará, em 1813, de fazer o registo das partilhas amigáveis 30 com D. Teresa
Leonor Efigénia de Sousa Borges, dos bens que ficaram por morte dos “seus tios
Borges”.

Vínculo dos Velhos

Nome com que aparece organizada a documentação relativa ao vínculo


instituído por Manuel Borges de Cerqueira, Lente de Cânones na Universidade
de Coimbra, Deputado do Santo Ofício e Cónego Doutoral da Sé do Porto
através do seu testamento datado de 8 de Julho de 1734 31.

29
Veja-se o Tombo dos Morgados de Santiago de Cacém e Guarda: contém indicação dos seus
instituidores, possuidores, bens e rendimentos. AQL, Guarda, cx. 4, doc. 1.
30
Carta de Partilhas amigáveis entre o Sr. Miguel Osório Cabral Borges da Gama e Castro e a Sra.
D. Teresa Leonor Efigénia de Sousa Borges dos bens que ficaram por falecimento de seu tio Borges e
outros. AQL, Borges, cx. 10, doc. 35.
31
Treslado passado a rogo de Miguel Osório Borges Cabral da Gama e Castro de várias certidões dos
títulos da Casa dos Velhos, incluindo aquela onde se faz menção das fazendas que forão aforadas pelo

336
fAmíLiAs e reLAções fAmiLiAres no Arquivo dA quinTA dAs LágrimAs

O vínculo é constituído por bens dotais 32 de que tinha dotado sua irmã
D. Isabel Ângela (ou Augusta) de Cerqueira, para se casar com Agostinho de
Mesquita Castelo Branco. No testamento, faz assim vínculo de todos os bens
discriminados na escritura dotal feita em Lisboa a 10 de Abril de 1715, onde
são discriminadas as propriedades da Quinta de São Mateus mais o usufruto do
prazo do Conde de Alva, cujas fazendas estão no termo da Guarda, vila de Pinhel,
Celorico da Beira e vila do Touro.
O vínculo é deixado a sua sobrinha D. Maria Josefa Brandão de Mesquita,
sua herdeira universal, casada com o desembargador António Velho da Costa 33,
assistente na cidade de Lisboa, e nela nomeando todos os seus prazos.
De referir ainda que, entre os bens de Mateus Borges de Cerqueira, se
encontra a capela de Nossa Senhora da Anunciada na Sé da Guarda, mandada
fazer por Luiz de Abreu Castelo Branco, de Arcozelo, morgadio dos Abreu
Castelo Branco, casado com D. Francisca de Pina, a que se deu natureza vincular
por testamento de 2 de Julho de 1582 34.

CASA DE COIMBRA – nome com que aparece organizada a documen-


tação relativa à Casa e Quinta das Lágrimas, bens na Cidade e nos arredores de
Coimbra.
A Quinta das Lágrimas, ou do Pombal, foi comprada, em 1730 35, por
Manuel Homem Freire de Figueiredo (1706-?), com o dinheiro que lhe tinha sido
deixado por seu tio João Homem Freire (?-1729), irmão do pai, que foi Corre-
gedor da Baía, com obrigação de unir ao Vínculo e Morgado de seu filho Luís
Pedro, pelo que fazia parte do Morgado de Ázere.

Conde Alva de Espanha ao Cónego Matheos Borges de Sequeira. 2 de Dezembro de 1830. AQL,
Guarda, cx. 3, doc. 1.
32
Escriptura de dote feita em 10 de Abril de 1715 pelo Drº Manuel Borges de Sequeira, lente de
cânones na Universidade, Deputado do Santo Ofício e Cónego da Sé do Porto para casar sua irmã
D. Isabel Angela Luísa de Sequeira com Agostinho de Mesquita Castel Branco, fidalgo da Casa Real
e lhe dota todos os seus bens, do seu património, as suas legítimas, a Quinta de S. Matheus e uso fruto
do prazo foreiro ao Conde de Alva e Castella. AQL, Guarda, cx. 3, doc. 2.
33
Testamento com que faleceu o Conselheiro António Velho da Costa, em que nomeou e chama para
suceder em todos os prazos foreiros ao Conde de Alva d’Hespanha a Miguel Osório Cabral. Em 25 de
Maio de 1816. AQL, Guarda, cx. 3, doc. 4.
34
Certidão do testamento e codicilhos de Luis de Abreu Castelo Branco datado de 1584. Nele
discrimina, para além das fazendas que possui, a capela de nossa senhora da Anunciação, por ele
fundada na Sé da Guarda e onde repousam os ossos de sua mulher D. Francisca de Pina e que
deixa a D. Fernando Neto da Silva, filho de D. António Neto da Silva, seu sobrinho e neto de
D. Brites de Abreu, sua prima, casada com Fernão Neto da Silva. AQL, Guarda, cx. 10, doc. 29.
35
Certidão de teor da escritura de compra, de 21 de Julho de 1730, que fez Manuel Homem Freire e
sua mulher, da Quinta das Lágrimas. AQL Coimbra, cx. 17.

337
Assunção Júdice e Leonor cALvão borges

É primeiro Senhor da Quinta das Lágrimas, Manuel Homem Freire de


Figueiredo (1706-?) cc (1750) Maria Joana Pita Deusdará, 7º Morgado de Ázere.
Senhor da Capela de Nª Sª do Socorro na Bobadela, Fidalgo da Casa Real e Cava-
leiro da Ordem de Cristo.
Seu filho Luís Pedro Homem de Figueiredo Deusdará (?-1802) casa com
D. Rita Bernarda de Figueiredo Brandão (?-1820). É única filha destes D. Josefa
Luísa Freire de Figueiredo Brandão Deusdará (? -1811), que casa, em 1784, com
Miguel Osório Cabral Borges da Gama e Castro (?-1835).
Tiveram vários filhos, sendo herdeiro dos vínculos e morgados de seus pais
António Maria Osório Cabral da Gama e Castro (1785-1856) que casou com
D. Maria da Conceição Pereira da Silva Forjaz de Meneses (1798-1878), da casa
de Bertiandos.

Fig. 13 – António Maria Osório Cabral Fig. 14 – Maria da Conceição Pereira da


da Gama e Castro Silva Forjaz e Meneses

A estes sucede seu filho Miguel Osório Cabral de Castro (1830-1890), Par
do Reino, que morreu solteiro e deixa como herdeiro universal, seu sobrinho neto
D. Miguel Osório Cabral de Alarcão (1884-1968), neto de sua irmã Maria do
Ó Cabral Pereira de Forjaz e Meneses (1824-?) e filho de D. Duarte de Alarcão
Velasques Sarmento Osório (1854-?) e de D. Maria da Assunção de Meneses Pita
de Lemos e Nápoles (1865-1887).

338
fAmíLiAs e reLAções fAmiLiAres no Arquivo dA quinTA dAs LágrimAs

Fig. 15 – Miguel Osório Cabral Fig. 16 – D. Miguel Osório Cabral


de Castro de Alarcão

Manuel Homem Freire de Figueiredo, 1706-?


cc (1750) Maria Joana Pita Deusdará

Luís Pedro Homem de Figueiredo Deusdará ?-1802


cc Rita Bernarda de Figueiredo Brandão ?-1820

Josefa Luísa Freire de Figueiredo Brandão Deusdará, ?-1811


cc (1784) Miguel Osório Cabral Borges da Gama e Castro ?-1835

António Maria Osório Cabral da Gama e Castro, 1785-1856


cc Maria da Conceição Pereira da Silva Forjaz e Menezes, 1798-1878

Maria do Ó Cabral Pereira Forjaz e Menezes, 1824-? Miguel Osório Cabral de Castro,
cc D. José de Alarcão Sarmento Correia da Fonseca 1830-1890
Andrade e Vasconcelos

D. Duarte de Alarcão Velasques Sarmento Osório, 1854-?


cc Maria da Assunção de Menezes Pita de Lemos Nápoles,
1865-1887

continuação...

339
Assunção Júdice e Leonor cALvão borges

continuação...

D. Miguel Osório Cabral de Castro Pereira Homem de


Alarcão, 1884-1968
cc Maria Brígida Bressane Leite Perry de Sousa Gomes,
1884-1958

Fig. 17 – Casa de Coimbra

Fontes

Arquivo da Quinta das Lágrimas


Águeda, cxs. 2, 3 e 7
Ázere, cx. 17
Bobadela, cx. 15
Borges, cxs. 10 e 16
Coimbra, cx. 17
Genealogias, cx. 27
Guarda, cxs. 3 e 4
Santiago do Cacém, cx. 12
Testamentos, cx. 22
Vila Cova, cx. 9

Bibliografia

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3 Vols.
BORJA DE AGUINAGALDE, F. – El Archivo da la Casa de Zavala [Em
linha] In http://www.snae.org/pdf/zavala.pdf, [consult. 2012-08-01].
Casa de Mateus: catálogo do Arquivo. Vila Real, Fundação da Casa de
Mateus, 2005.
GALLEGO DOMINGUEZ, Olga – “Archivos familiares: organización”.
In A Integração europeia: um desafio à informação. Congresso Nacional de Biblio-
tecários, Arquivistas e Documentalistas, 2, Coimbra, 1987.
GONÇALVES, Eduardo Osório – Raízes da Beira – Genealogia e Patri-
mónio da Serra da Estrela ao Vale do Mondego. Lisboa, Dislivro Histórica, 2006,
2 vol.

340
fAmíLiAs e reLAções fAmiLiAres no Arquivo dA quinTA dAs LágrimAs

REGO, João de Figueiroa – “A propósito de um Alvará setecentista


(nótulas genealógicas)”. In Armas e Troféus, VI série, tomo I (Jan-Dez 1987-88).
SEIXAS, Miguel Metelo de – “A heráldica e os arquivos de família: formas
de conservação e gestão da memória”. In ROSA, Maria de Lurdes, org. – Arquivos
de família, séculos XIII-XIX: que presente, que futuro? Lisboa, IEM [et al], 2012.
SILVA, Armando B. Malheiro da – “Arquivos de Família e Pessoais:
bases teórico-metodológicas para uma abordagem científica”. In Seminário sobre
Arquivos de Família. Vila Real, BAD, 1997.

341
O CASAMENTO BAIANO DO SARGENTO-MOR
ELISIÁRIO MANUEL DE CARVALHO, SENHOR DA
QUINTA DA FIGOEIRA

Eduardo Romano Arantes e Oliveira

1 – Introdução

O presente trabalho retoma a história da Quinta da Figoeira, sita na


freguesia da Azueira do termo de Torres Vedras, que foi tema de um anterior
artigo do autor, publicado na Revista DisLivro Histórica (nº 2, 2009) e intitulado
“Sobre os Carvalhos da Quinta da Figoeira, no termo de Torres Vedras”. O ponto
culminante desse artigo é o casamento, celebrado na Capela do Ramalhão, em
Sintra, do Sargento-mor Elisiário Manuel de Carvalho, Senhor da dita Quinta,
com D. Joaquina Clara da Silva, aristocrata baiana, filha de José Alves da Silva,
nascido em Viana do Minho, que foi Mestre de Campo da Baía, e de D. Águeda
Maria do Sacramento, uma “Moniz Barreto”, membro de um clã de senhores de
engenho cujo geriarca chegou ao Brasil com os fundadores da 1ª Capital.

2 – Os Monizes Barretos e a fundação da Baía

2.1- O Catálogo Genealógico das Principais Famílias

Foi em 29 de Março de 1549 que o 1º Governador-Geral do Brasil,


Tomé de Souza 1, desembarcou solenemente na Baía de Todos os Santos para

1
Nomeado em 17 de Dezembro de 1548.

343
eduArdo romAno ArAnTes e oLiveirA

aí fundar, a mando de D. João III, a Cidade de S. Salvador da Baía, primeira


capital do Brasil.
Já quarenta anos antes, por volta de 1509, Diogo Álvares Correia, a quem
os Índios chamaram o Caramuru, se estabelecera na Baía e fundara, com a “prin-
cesa” nativa Paraguaçu, a primeira família registada no Brasil, da qual viria a
descender grande parte da aristocracia da Baía e Pernambuco.
No capítulo “The planters: Masters of Men and Cane” da sua obra monu-
mental Sugar Plantations in the Formation of Brazilian Society 2, o historiador
norte-americano Stuart B. Schwartz descreveu a evolução da sociedade baiana
desde a fundação da cidade, chamando a atenção para os “senhores de engenho”,
entre os quais havia um número apreciável de cristãos-novos 3. A sociedade local
era de facto mais aberta que a metropolitana, sobretudo no que se referia a casa-
mentos. Entre 1680 e 1725, 22% dos “senhores de engenho” eram filhos de
imigrantes. Destes, cerca de 70% tinham nascido no Brasil, mas algumas famílias
mantinham os seus senhorios havia já 4 ou 5 gerações.
Schwartz menciona, entre as famílias mais antigas, os Monizes Barretos 4,
os Argolos (de origem espanhola) e os Dias d’Ávila 5. O Catálogo Genealógico das
Principais Famílias da autoria de Frei António de Santa Maria Jaboatão 6, francis-
cano, e o mais notável dos genealogistas setecentistas que intentaram estudar as
“principais famílias” da Baía e Pernambuco, é um instrumento fundamental para
o estudo dessas famílias.

2.2 – Origens europeias dos Monizes Barretos

Segundo o Catálogo Genealógico…, “Egas Moniz Barreto” (Gayo, NFP,


“Monizes”, §5, N6) 7, geriarca dos Monizes Barretos da Baía, “era natural da

2
Publicada pela Cambridge University Press em 1985. A versão em língua portuguesa, co-editada
no Brasil pela “Companhia das Letras” e pelo CNPq, intitula-se Segredos Internos.
3
Embora não tantos como pensavam os cronistas do século XVII.
4
Seria absurdo relacionar a Família Moniz com Egas Moniz de Riba Douro, o “Aio” de D. Afonso
Henriques. Segundo os nobiliários, a geração mais antiga dos Monizes que viriam fixar-se na
Baía é contemporânea de D. João I. Dela descendiam os Alcaides-mores de Silves e os Senhores
de Angeja.
5
Que se dizia descender, embora por bastardia, do próprio Tomé de Sousa.
6
Frei António de S. Maria Jaboatão, Catálogo Genealógico das Principais Famílias, datado de 1768
e impresso pela primeira vez pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro em 1889.
7
No NFP, ttº de “Monizes”, Gayo alude a indivíduos chamados Egas em §2 N4, §5 N6 e §6
N4. O segundo destes, filho de Guilherme Moniz e neto de Sebastião Moniz, é o que se concilia
mais perfeitamente com a “Introdução” do capítulo sobre os “Monizes Barretos da Baía” do
Catálogo de Jaboatão, apesar de Gayo negar que este Egas tenha tido geração (refere-se-lhe como

344
o cAsAmenTo bAiAno do sArgenTo-mor eLisiário mAnueL de cArvALho

Ilha Terceira dos Açores e foi morgado” 8. Escreveu Jaboatão: “foi este Egas Moniz
Barreto ‘o primeiro que veio à Bahia no tempo em que só havia a Vila-Velha e a
povoação do Pereira junto à Vitória’”. Era: “filho de Guilherme Moniz Barreto (§5,
N5), também morgado, e de sua mulher D. Jerónima da Silva; neto de Sebastião
Moniz Barreto (§5, N4), também morgado”, que fez testamento a 25/V/1571, “e
de sua mulher D. Joana da Silva (filha de Henrique Moniz, o Velho, Alcaide-mor
de Silves, e de sua mulher D. Francisca da Silva, filha de Gonçalo da Silva, Senhor
de Abiul); bisneto de Guilherme Moniz Barreto (§5, N3), Alcaide-mor de Silves, e
de sua 2ª mulher D. Inês Barreto (filha de Gonçalo Nunes Barreto, Fronteiro-mor
do Algarve e Alcaide-mor de Faro, que casou com D. Joana da Costa Corte-Real,
filha de João Vaz da Costa Corte Real, Capitão de toda a Ilha Terceira, e de
sua mulher D. Maria da Barca); trineto de Henrique Moniz (§1, N3) 9, o Velho,
Alcaide-mor de Silves 10; tetraneto de Vasco Martins Moniz” (§1, N2) 11 e de sua
mulher D. Beatriz Pereira, filha de Paio Pereira.

“Egas Moniz s.g.”, o que pode ter sido lapso, ou significar que não teve geração em Portugal ou
na Madeira sem negar que a tivesse tido nos Açores ou na Baía). Se se admitir que Egas nasceu
na Madeira, e não na Terceira, é possível optar pela hipótese Egas em §2 N4, isto é, a de Egas
ter sido fº de Vasco Martins Moniz e de Joana Teixeira (dos “Teixeiras, capitães do Machico”).
Sua mulher seria assim (v. Gayo), uma D. Maria, fª de Afonso Roiz, “hum homem de bem no
Machico”.
8
A instituição do morgadio era uma forma de organização familiar que criava, não só uma linhagem,
mas códigos para regulamentar a sucessão e procedimentos dos que estivessem vinculados a um
determinado “morgado”, assim garantindo a continuidade do estatuto económico e social da
referida linhagem. A instituição dos morgados era objecto de legislação específica incluída nas
Ordenações do Reino, mas Jaboatão parece referir-se-lhe num sentido informal.
9
Henrique Moniz, o Velho (§1, N3) era irmão de Vasco Moniz, o Moço (§7, N2), que
foi comendador de Panoias e Garvão na Ordem de Santiago e Guarda-mor do Infante
D. Henrique. Casou com D. Aldonça Cabral, filha de Fernão Álvares Cabral (avô de Pedro
Alz. Cabral, Descobridor do Brasil), Senhor de Azurara e Alcaide-mor de Belmonte. Dona
Joana (ou Inácia) Pereira, filha de Vasco Moniz, o Moço, e de Dona Aldonça Cabral, casou com
D. Francisco de Almeida, 1º Vice-Rei da Índia. Quanto aos Barretos, estavam ligados, ainda
que por bastardia, à Casa de Vila Real, a 2ª do Reino, só ultrapassada em importância pela Casa
de Bragança.
10
Henrique Moniz, o Velho, casou duas vezes: I – com D. Isabel da Costa, bastarda legitimada de
Vasco Anes Corte-Real, Alcaide-mor de Tavira; II – com D. Inês Barreto, fª de Gonçalo Nunes
Barreto (NFP, ttº de Barretos §1, N18), filho de outro com o mesmo nome e de D. Inês de
Meneses, bastarda de D. Pedro de Meneses, 1º Conde de Vila Real, que, embora pareça nunca
ter sido legitimada, era certamente olhada com o respeito devido a uma filha de um dos maiores
fidalgos do Reino.
11
“M.to honrado fidalgo”, que viveu no Algarve e foi Vedor da fazenda do Infante D. Henrique
com quem foi à tomada de Ceuta.

345
eduArdo romAno ArAnTes e oLiveirA

No que se refere às gerações dos Monizes que, no Reino (Continente e


Ilhas), precederam a de Egas Moniz Barreto, tanto o NFP de Gayo como o recém-
-impresso Livro de Linhagens de Portugal, da autoria de Damião de Gois 12, que
viveu no século XVI, se afastam do Catálogo Genealógico em aspectos importantes,
nomeadamente no de Egas ter sido natural, não da Terceira (Açores), mas da
Madeira 13 onde teria casado com uma D. Maria, filha de Afonso Roiz, “homem
de bem no Machico”.
Ora, segundo Jaboatão, Egas Moniz Barreto “foi casado na mesma Ilha
Terceira com D. Maria da Silveira 14 de quem teve 3 filhos (Duarte, Henrique e Jeró-
nimo, que trouxe consigo para a Baía), sendo certo que se casou com uma D. Ana
como consta do assento do seu enterro, que diz assim: ‘Faleceu Egas Moniz Barreto a
4/XI/1582, sendo sepultado em Nossa Senhora da Ajuda. Testamenteira sua mulher
D. Ana, a qual por outro assento consta faleceu a 4/IX/1596. Testamenteiro seu filho
Duarte Moniz, sepultada em Nossa Senhora da Ajuda’”. Acrescenta Jaboatão que
“nem se deve dizer que na Bahia casou 2ª vez este Egas Moniz com outra mulher
chamada D. Ana; porque a ser assim não diria o tal assento do seu enterro, que fora
testamenteiro seu filho Duarte Moniz; porque os outros filhos foram nascidos na Ilha
Terceira, e eram filhos de D. Maria da Silveira, podendo ser erro da escrita o pôr
D. Maria em lugar de D. Ana, como se acha no seu testamento feito a 3/XI/1595”.
Segundo Jaboatão, Egas Moniz Barreto teve ao todo 5 filhos (dos quais os
3 primeiros vieram com ele do Reino):

1. Duarte Moniz Barreto (ou Telles Barreto);


2. Henrique Moniz Barreto (ou Telles Barreto);
3. Jerónimo Moniz Barreto (ou Telles Barreto);
4. e 5. Diogo Moniz Barreto e D. Inês Barreto (mulher de Diogo da
Rocha de Sá).

2.3 – As primeiras gerações brasileiras de Monizes Barretos

As linhas de Monizes e Barretos que deram origem aos Monizes Barretos


da Baía seguiram, até se cruzarem, percursos similares. A necessidade de garantir

12
Damião de Gois, Livro de Linhagens de Portugal, ttº de Monizes, IV 13, ed. pelo Instituto
Português de Heráldica, Lisboa, 2014.
13
De qualquer modo, Stuart B. Schwartz, na sua obra Sugar Plantations in the Formation of
Brazilian Society, Bahia, 1550-1835, afirma que Egas Moniz Barreto chegou à Baía em 1549, na
própria expedição de Tomé de Sousa.
14
Segundo Damião de Goes e Felgueiras Gayo, Egas Moniz Barreto casou com uma D. Maria,
filha de Afonso Roiz, “homem de bem no Machico”.

346
o cAsAmenTo bAiAno do sArgenTo-mor eLisiário mAnueL de cArvALho

a defesa do Reino do Algarve, ainda ameaçado pelos mouros, levou, designada-


mente, a que sucessivos Monizes fossem Alcaides-mores de Silves, sucessivos
Barretos (ou Telles Barretos) fossem Alcaides-mores de Faro e Fronteiros-mores
do Algarve, e o mais antigo dos Corte-Reais, Vasco Anes Corte-Real, fosse
Alcaide-mor de Tavira.
Os chamados “Monizes Alcaides-mores de Silves” (ou “Monizes de
Angeja”), descendentes de um casal Martim Fagundes/Branca Lourenço contem-
porâneo d’El-Rei D. Fernando, ilustraram-se ao serviço do Infante D. Henrique.
Descendentes deste casal casaram na Família dos Teles Barreto, Senhores do
Morgado de Santa Catarina da Quarteira, gerando descendência no Continente
europeu, na Madeira, nos Açores, e sobretudo no Brasil, onde usaram os apelidos
Moniz Barreto, Telles Moniz, e outros.
João Vaz Corte-Real, irmão do sobredito Vasco Anes, foi incumbido de
dotar os Açores de uma capital condigna. Ele e sua mulher, D. Maria de Abarca,
desembarcaram pois em Angra, no ano de 1474. Seguiu-os brilhante compa-
nhia, já que a sua sedução de nobres e opulentos senhores da Renascença atraiu
à Terceira muitos fidalgos, não só do Reino, mas também da Madeira e de países
estrangeiros. Vasco Martins Moniz, um dos filhos de Henrique Moniz, o Velho,
passou à Madeira onde estabeleceu laços de família com Tristão Teixeira, o Velho,
2º Capitão Donatário do Machico. Mas um irmão inteiro de Vasco Martins
Moniz, Guilherme Moniz, passou aos Açores onde casou, na Ilha Terceira, com
D. Joana, filha de João Vaz Corte Real, capitão da dita Ilha e irmão de Vasco
Anes Corte Real, o que foi Alcaide-mor de Tavira e, nesta Vila, Vedor d’El-Rei
D. Manuel. Lembra-se 15 que os Monizes Barretos do Brasil tinham no Conti-
nente notabilíssimos parentes.
O Egas Moniz Barreto que foi para o Brasil faleceu na Baía a 4 de
Novembro de 1582. Obtivera, por carta régia, a sesmaria da Ilha dos Franceses
no Rio Paraguaçu, em frente de Maragogipe (no chamado “Recôncavo da Baía”)
e fora nomeado, em 1578, Ouvidor da Capitania da Baía.
Duarte Moniz Barreto, seu primogénito, foi o 2º Alcaide-mor da Baía
“em virtude da doação 16 que lhe fez seu sogro, António de Oliveira do Carvalhal”
(o 1º Alcaide-mor da Baía, casado com D. Luísa de Mello 17), por Duarte ser
seu genro, “casado com sua filha D. Helena de Mello” que faleceria a 28/XII/1630.
Duarte e Helena foram pais de Jorge Barreto de Mello (falecido em 1638), seu
primogénito e 3º Alcaide-mor da Baía que, casando em Paripe com D. Maria

15
Ver a nota de pé de página 10.
16
Autorizada por D. João III.
17
Da qual procedem os Melos da Baía.

347
eduArdo romAno ArAnTes e oLiveirA

da Lomba (filha de Pedro da Lomba, dos Lombas da Madeira), foi pai de Fran-
cisco Moniz Barreto (ou Telles Barreto), 4º Alcaide-mor da Baía, que casou em
Angola mas não teve filhos. Neste se extinguiu a “varonia” 18 dos Alcaides-mores
da Baía na linhagem dos Monizes Barretos, “isto por incúria de seus irmãos que por
ela não se interessaram” (palavras de Jaboatão). O 5º Alcaide-mor, António da
Silva Pimentel, já não foi um Moniz Barreto 19 e os 9 Alcaides-mores que a este
sucederam pertenciam a outras linhagens.
O terceiro filho de Egas Moniz Barreto, Jerónimo Moniz Barreto, falecido
por volta de 1606, casou com D. Mécia Lobo de Mendonça, filha de Francisco
Bicudo e de sua 1ª mulher (com nome igual ao da filha), “uma das três irmãs órfãs
que a Rainha Senhora Dona Catarina mandou para a Baía para casar com pessoas
principais”. Tiveram um filho, também chamado Egas Moniz Barreto, nascido
por volta de 1580, que foi fidalgo escudeiro e casou 3 vezes, a 1ª das quais com
D. Águeda de Lemos, a 2ª com D. Joana Pereira de Aguiar, e a 3ª com D. Juliana
Rangel, irmã do padre jesuíta António Rangel.
Jerónimo e Mécia tiveram ainda, entre outros filhos, Diogo Moniz Barreto,
fidalgo da Casa Real, de alcunha “o Gordo” (baptizado em Paripe a 6/VI/1602),
que casou com D. Mécia de Aragão de Meneses, sua sobrinha (baptizada a
22/VII/1644), filha de Francisco Barreto de Meneses, irmão de Diogo Moniz,
“o  Gordo”, e da mulher deste, D. Isabel de Aragão (casamento pelo qual os
Monizes Barretos se aliaram aos Aragões, da Baía) 20.

18
D. Afonso VI concedeu-a a Bernardo de Miranda Henriques, que a vendeu, com autorização
régia, a Francisco Teles de Meneses.
19
No Reino, o ofício de Alcaide-mor era antiquíssimo. Vinha dos tempos da reconquista. Juravam
fidelidade nas mãos dos monarcas e a mais leve omissão na defesa do seu território era crime de
lesa-majestade. Exigia-se, desde o tempo de D. Afonso V, que fossem fidalgos tanto do lado do
pai como da mãe.
20
Segundo Schwartz, “as Famílias Argolo, Moniz Barreto, Aragão, Bulcão, Rocha Pita e Vilas Boas
eram as mais tradicionais, reconhecidas como tal, não só pelos contemporâneos, mas até aos nossos
dias. Estavam ligadas umas às outras por uma trama de relações endogâmicas, como casamentos
entre primos em gerações sucessivas, para já não falar na rede secundária de apadrinhamentos em
baptizados, casamentos e crismas”. Com o tempo, algumas linhagens mais recentes juntaram-se a
essa elite. Foi, por exemplo, em fins do século XVII, o caso dos Calmons. Já perto do fim da era
colonial, tomaram a vanguarda as duas grandes Casas que dominavam os sertões baianos: a Casa
da Torre, fundada por Garcia d’Ávila (um hipotético bastardo de Tomé de Sousa), que iniciou a
dinastia dos Dias d’Ávila a que se seguiu a dos Pires de Carvalho e Albuquerque (prestigiada por
uma aliança matrimonial com os Cavalcanti de Albuquerque), e a Casa da Ponte, fundada pelos
Guedes de Brito, que, contra toda a tradição (que vedava a fidalgos portugueses o casamento
com brasileiras), se aliou à “grandeza do Reino” mercê de um casamento com um irmão do 4º
Conde da Ponte.

348
o cAsAmenTo bAiAno do sArgenTo-mor eLisiário mAnueL de cArvALho

Diogo e Mécia foram pais de António Moniz Barreto, Sargento-mor e


fidalgo da Casa Real, que casou, em primeiras núpcias, com D. Maria, sua prima,
filha de Francisco de Barros Lobo e da mulher deste, D. Ana de Meneses (filha do
casal Egas Moniz Barreto/Juliana Rangel). Em segundas núpcias, casou António
Moniz Barreto com D. Ana de Almeida, filha do Capitão Domingos Monteiro
de Sá e de sua mulher, D. Juliana de Almeida 21 (alcunhada “a mãe dos Calmões”
porque, quando do seu matrimónio com Domingos Monteiro de Sá, era já viúva
do Capitão João Calmon 22, o Velho, deste lhe ficando vários filhos, conhecidos
como “os Calmões”). António Moniz Barreto e D. Ana de Almeida casaram
em casa a 24/IV/1697, sendo o acto testemunhado por D. João de Lancastre 23,
2º Governador-Geral do Brasil. De Ana de Almeida, teve António Moniz Barreto
uma filha, Antónia de Almeida, que casou com um Francisco Pires que, por
ser natural de Viana do Minho, tomou o nome Francisco Pires Viana. Assim o
designa uma das testemunhas do processo de familiar do Santo Ofício do Capitão
Bartolomeu da Costa que obteve carta a 13/III/1725.
A então Vila de Viana do Minho foi uma das mais importantes fontes da
emigração para o Brasil. Daí resultou que vários emigrantes tomaram os apelidos
Viana, ou Bandeira (porque a Rua da Bandeira era a mais importante da Vila).
Frei Luís de Souza 24, que em Viana se demorou durante o ano de 1619 para
imprimir a sua “Vida de Dom Frei Bartolomeu dos Mártires”, deixou escrito que
era “terra de gente rica e muito nobre, de grande tracto e comércio por uma parte
com as conquistas de Portugal, Ilhas e terras novas do Brasil, por outra com França
e Flandres, Inglaterra e Alemanha...; para os quais tractos traziam os moradores
no mar grande número de naus e caravelas, com grossas despesas a que respondiam
iguais retornos e proveitos, que tinham a vila florentíssima e em estado de uma nova
Lisboa. Mas nenhum comércio lhe tem montado tanto como o das terras novas do

21
Casada com João Calmon em 5/V/1659, Juliana de Almeida era filha de Martinho Ribeiro e de
Maria de Almeida.
22
A Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira dedica-lhe a seguinte menção: “Militar, nascido
em Lisboa a 8/XI/1620, falecido em Pernambuco a 22/IV/1674, filho do francês Beltrão Calmon,
natural de Calmon-Quercy, na Baixa Aquitânia, e da portuguesa D. Maria de Tovar. Foi para o
Brasil em 1638, na armada do Conde da Torre, voltando a Portugal para entrar nas campanhas da
Restauração, dirigindo-se para o Alentejo, onde combateu valentemente e foi ferido. Como capitão-de-
mar-e-guerra, ajudou bastante na restauração de Pernambuco, comandando as duas naus ‘Conceição’
e ‘Bom Jesus de Bouça’. Em 1655, contribuiu muitíssimo para a expulsão dos holandeses, tanto na
armada de Francisco de Brito Freire, como na qualidade de ‘superintendente geral das fortalezas’”.
23
O sacerdote que recebeu os nubentes foi outro João Calmon, filho do primeiro, nascido em
1668 na Cidade do Salvador. Formado pela Universidade de Coimbra, viria a ser Chantres da Sé
da Baía, Vigário-geral da Arquidiocese e Comissário do Santo Ofício.
24
O Frei Luís de Sousa cuja vida inspirou a obra mais famosa de Almeida Garrett.

349
eduArdo romAno ArAnTes e oLiveirA

Brasil, que vai em tamanho crescimento, que no tempo que isto escrevíamos traziam
no mar setenta navios de toda a sorte, com que a terra está mossiça de riqueza, porque
se estendem os proveitos a todos, sucedendo nos mais dos navios serem armadores e
marinhagem tudo da mesma terra”. Acrescenta: “Não só Viana mas toda a terra
de Entre Douro e Minho é uma feira contínua de comprar e vender e embarcar e
mercadejar”.
Francisco Pires Viana e Antónia de Almeida fixaram-se, como lavradores
de mandioca e tabaco, no Engenho de Sergipe do Conde (que nada tinha a ver
com o actual Estado de Sergipe, antigo Sergipe d’El-Rei). Localizava-se junto
da actual Cidade de S. Francisco do Conde, no Recôncavo da Baía, freguesia de
Nossa Senhora da Purificação, relativamente perto da capital da capitania. Aí lhes
nasceu uma filha chamada Joana de Almeida 25.

3 – Caldas e Andrades

A família Pires de Almeida ainda morava no Acupe quando, a 4 de Maio de


1662, Joana de Almeida casou com Henrique de Caldas, natural da freguesia de
Nossa Senhora da Vitória da Cidade de Sergipe d’El-Rei. O noivo não pôde estar
presente na cerimónia e foi representado pelo sogro. O já mencionado processo
de Bartolomeu da Costa contém cópia do registo do casamento, mas a única
informação que dá sobre os baptismos dos noivos é que não foi possível encontrar
nem achar os respectivos assentos.
Afirma o Capitão Álvaro Nogueira da Silva, uma das testemunhas do refe-
rido processo, que Henrique de Caldas era filho de Fernando Correia de Caldas,
natural de Ponte de Lima 26, e de Isabel de Andrade, natural da Ilha de Santa
Maria: “... disse que conheceu a Anrique de Caldas nascido nesta mesma freguesia de
Nossa Senhora da Vitória da Caxindumba (Nossa Senhora da Vitória da Cidade de
S. Cristóvão de Sergipe d’El-Rei) o qual era filho de Fernando Correya de Caldas que
se dizia ser natural da Vila de Ponte de Lima ou seus arredores (noutra passagem do
processo os inquisidores afirmam que era do lugar de Coura, talvez por os Caldas
de Portugal terem solar em S. Martinho de Vascões, junto de Coura) o qual foi
casado com Isabel de Andrade natural da Ilha de Santa Maria donde veio menina
para esta capitania e freguesia que nesse tempo toda a capitania era uma freguesia de
25
Sabe-se, por duas testemunhas (Gaspar Martim do Couto e Francisco Aranha de Araújo) do
precioso processo de habilitação de Bartolomeu da Costa, que Joana de Almeida teve, pelo
menos, um irmão, Francisco Pires de Almeida, capitão de infantaria na Baía.
26
Razão por que aparece, por vezes, com o nome de Fernão Correia de Caldas e Lima, ou Fernão
Correia de Lima.

350
o cAsAmenTo bAiAno do sArgenTo-mor eLisiário mAnueL de cArvALho

qual matrimónio ficaram muitos filhos a saber o Padre Antonio Correya de Andrade,
Fernando Correya de Caldas, Simão Correya, Bernardo Correya, Anrique de Caldas
e Severim de Andrade, o qual Fernando Correya de Caldas era lavrador honrado que
vivia das suas fazendas (de mandioca, precisam outras testemunhas) e criação de gado
de toda a sorte o qual conhecimento tem esta testemunha do tempo que era menino e
nesse mesmo tempo conheceu ele testemunha a Isabel de Andrade mulher de Fernando
Correya de Caldas, pais do dito Anrique de Caldas”.
Não nos foi possível entroncar os Caldas de Sergipe d’El-Rei na Família
Caldas de Portugal, cujo solar era a Quinta de S. Martinho de Vascões, em Coura,
lugar de onde algumas das testemunhas declararam que Fernando era natural 27.
Muito provavelmente, poderia aplicar-se aos Caldas e Andrades de Sergipe o que
um autor brasileiro contemporâneo 28 escreveu sobre muitos dos que fizeram o
Brasil: “Porque os que aqui desembarcaram, com nobreza provada, pertenciam em
geral à periferia dos respectivos clãs, que embora os conhecessem e reconhecessem, não
lhes estendiam o ‘golden parachute’ que os prenderia à elite europeia. Aliás, se tivessem
tal protecção, não teriam passado da Europa à colónia”.
Dos Andrades de Santa Maria, bem como do seu relacionamento com os
primeiros povoadores dessa Ilha açoriana, tratam largamente as Saudades da Terra
de Gaspar Frutuoso, cujo Livro III a ela é dedicado. Nas Anotações ao mesmo
Livro (publicadas na edição do “Instituto Cultural de Ponta Delgada”), Manuel
Monteiro Velho Arruda dedica-lhes a Anotação 19, intitulada “Dos Andrades”.
Vale a pena transcrever o que Frei Diogo das Chagas escreveu, na sua obra Espelho
Cristalino: “Foi povoada esta Ilha de Santa Maria de gente mui principal, e de nobres
apelidos como são os Velhos, parentes do primeiro capitão e povoador, Souzas, Soares,
Quentais, Lemos, Rodrigues, Coelhos, Melos, Cabraes, Carvalhos, Corvelos, Nunes,
Costas, Andrades, Oliveiras, Gomes, Carneiros, Columbreiros, Gonçalves, Lopes,
Faleiros, Pires, Fernandes, e outros que ainda hoje em dia nela há, por serem todos
descendentes destes apelidos”.

27
Entre os Caldas, Henrique era frequentemente adoptado como nome de baptismo. No Brasil,
além do Henrique Caldas já referido, sabe-se de um outro com o mesmo nome, padre jesuíta e
licenciado, seu descendente, que adiante será referido. Na lista dos acompanhantes de Tomé de
Souza, que Pedro Calmon fornece na sua História da Fundação da Bahia, aparecem também dois
homens de armas de apelido Caldas. Há que mencionar ainda outro Caldas: o Capitão Vasco
Rodrigues de Caldas, sertanejo famoso que acompanhou o Governador Mem de Sá quando este,
em 28/IX/1559, subindo o Rio Paraguaçu, chegou ao local onde mais tarde se ergueria a Vila da
Cachoeira.
28
Francisco António Dória, Os Herdeiros do Poder, p. 60 da 2ª edição, Edit. Revan, Rio de
Janeiro,1995.

351
eduArdo romAno ArAnTes e oLiveirA

Foi de facto importante a contribuição dos marienses para a formação do


Nordeste brasileiro. Diz Jaime de Figueiredo, na sua obra Ilha de Gonçalo Velho,
que, “por exemplo, em 1579, ano de negra fome (em Santa Maria), muita gente
abalou para a América. Diogo Faleiro, só da sua fazenda, deu 200 mil reis para
ajudar o transporte de parentes e vizinhos, que foram tentar fortuna no Brasil”. Coisa
semelhante aconteceu noutras ocasiões. O próprio 7º Capitão Donatário, Braz
Soares de Souza, foi para o Brasil em 1631 na poderosa esquadra do almirante
basco D. Antonio de Oquendo, “Almirante-General da Armada do Mar Oceano”,
e lá morreu em Março de 1633, lutando contra os holandeses no ataque ao
Engenho de João de Mendonça, na Capitania de Pernambuco 29. Fez-se certa-
mente acompanhar por outros, talvez numerosos, marienses.
Outras testemunhas do processo de Bartolomeu da Costa, declaram-
-se parentes próximos, ou contraparentes, dos Caldas ou Andrades. É o caso do
Capitão António da Rocha Pita 30, de 65 anos de idade, natural e morador na
freguesia de Nossa Senhora da Vitória, de Sergipe d’El-Rei, que se diz neto de
Jácome-Tomé de Andrade, irmão de Isabel de Andrade, do Alferes António Vaz
de Souza, de 56 anos de idade, genro de Fernando Correia de Caldas (irmão de
Henrique de Caldas), o já referido Capitão Álvaro Nogueira de Silva, de 72 anos
de idade, que revela ser sua avó, Maria de Gamboa (certamente dos Gamboas da
Ilha de Santa Maria) prima de Isabel de Andrade, e Miguel Soares de Souza, de
74 anos, natural de Sergipe d’El-Rei, que fora ainda criança para a freguesia de
S. Domingos de Saubara. Este último (que era possivelmente aparentado com os
Soares de Souza, Capitães Donatários de Santa Maria, herdeiros e sucessores de
Gonçalo Velho Cabral, Descobridor dos Açores 31), declara-se parente em 3º grau
de Geralda Correia de Caldas, mãe da habilitanda 32. E o Alferes Valério Coelho

29
Veja-se o artigo “O Combate Naval de 1631 junto à Costa do Brasil”, por Francisco Leite de
Faria, na Revista Brasília, Vol. X, Coimbra, 1958; o Inventário dos Livros das Portarias do Reino,
existente no ANTT, informa, por outro lado, que a 16/VIII/1639 foi concedida uma tença a
“Maria Baptista, mãe dos filhos de Braz Soares de Souza, fidalgo da Casa Real”.
30
É oportuno lembrar que a Família Rocha Pita, importante também em Portugal, veio a ser
uma das mais poderosas da Baía (no século XIX, os Rochas Pitas eram considerados os mais
importantes proprietários fundiários do Recôncavo). Pertenceu a essa linhagem o famoso
historiador baiano do século XVIII Sebastião da Rocha Pita. Vários ramos de Rochas Pita
fixaram-se em Sergipe d’El-Rey (que então pertencia à Baía), sendo difícil relacioná-los com os
ramos mais conhecidos da Cidade e seu Recôncavo.
31
Nenhuma relação se descortina, porém, com o famoso Gabriel Soares de Souza, historiador,
senhor de engenho e explorador da Baía, nascido em Portugal continental (não nos Açores) cerca
de um século antes.
32
Justifica-se chamar-lhe “habilitanda” porque as mulheres dos familiares eram, tal como estes,
minuciosamente inquiridas.

352
o cAsAmenTo bAiAno do sArgenTo-mor eLisiário mAnueL de cArvALho

de Almeida, de 50 anos, que não era natural de Sergipe d’El-Rei mas da freguesia
de S. Domingos de Saubara, no Recôncavo da Bahia, onde morava, diz-se parente
em 4º grau de Antónia de Almeida.
A colonização de Sergipe, então chamado Sergipe d’El-Rei, começou após a
fundação, por Cristóvão de Barros, da Cidade de S. Cristóvão, a 4ª mais antiga do
Brasil. Mas, quase até ao final do século XVI, muito poucos, só alguns missionários
(nomeadamente os jesuítas, que chegaram em 1575), se atreviam a ultrapassar o Rio
Real que separava Sergipe da Bahia. A colonização da capitania, em pleno século
XVII, não foi pois fácil. Não só, durante 9 longos anos (de 1636 a 1645), S. Cris-
tóvão esteve nas mãos dos holandeses (a própria Cidade da Baía o estivera durante
quase um ano, a partir de 1/V/1625), como há provas documentais de que, uma
vez terminada a ocupação que igualmente sofreu, Sergipe foi foco de desordens 33.
Entre os filhos de Fernando Correia de Caldas e Isabel de Andrade,
salientam-se pelo menos dois: o já mencionado Henrique de Caldas, de cuja
descendência tratarão os capítulos seguintes, e Simão Correia de Lima, ascen-
dente de João António Salter de Mendonça, nascido em 1746 na Vila de Goiana,
fidalgo-cavaleiro da Casa Real, cavaleiro de Cristo e 1º Visconde de Azurara 34,
um dos Governadores deixados pelo Príncipe Regente D. João no exercício do
Governo do Reino durante a ocupação francesa. Da sua habilitação para a Ordem
de Cristo, consta que era filho de Jorge Salter de Mendonça e de D. Antónia
Francisca Pessoa de Lima, Senhora do Engenho de Goiana a Grande, em Pernam-
buco, filha de “Bento Correia de Lima, que foi pessoa mui nobre sustentando-se do
rendimento das suas fazendas, o qual foi natural de Itapicurú e baptizado na freguesia
de Nazaré, Arcebispado da Bahia” 35, e neta de Simão Correia que serviu nas guerras
do Brasil”.

33
É o que se conclui, por exemplo, da leitura de um documento conservado no Arquivo Histórico
Ultramarino de Lisboa que relata uma violenta desordem verificada em 1656 na Cidade de
S.  Cristóvão. Espanta ver os apelidos dos principais responsáveis, muito dos quais tipicamente
minhotos e marienses. Entre eles, são assinalados, como parentes uns dos outros, Vicente de
Amorim, Cosme de Amorim, Francisco Corvelo, Manuel Corvelo, António Correia Dantas, João
da Rocha, Miguel de Macedo, Pedro Pinto, Francisco de Rezende, e Fernando Correia de Lima.
Todos eles seriam excomungados por terem agredido gravemente o Padre Sebastião Pedroso de
Goes, Vigário da Paroquial de Sergipe d’El-Rei. Além deles, outros seguiram presos para a Baía,
como um Jácome-Tomé (nome próprio que não é raro nos registos de Santa Maria, pelo que não
podemos afirmar tratar-se do irmão de Isabel de Andrade) e um António de Caldas.
34
No Palácio que foi dos Viscondes de Azurara, situado no Largo das Portas do Sol, em Alfama
(Lisboa), está hoje instalado o Museu Escola de Artes Decorativas que faz parte da Fundação
Ricardo Espírito Santo.
35
No Tomo I de Costados de Gayo (“Árvore nº 7”), Bento Correia de Lima é apresentado como
Capitão-mor de Pinhanços, Senhor do Engenho de Goiana Grande e Padroeiro da Capela

353
eduArdo romAno ArAnTes e oLiveirA

Segundo Felgueiras Gayo 36, Simão Correia de Lima era filho de “Fernão
Correia de Lima, capitão de Sergipe d’El-Rei, e de Dona Isabel de Andrade natural
da Ilha da Madeira, ou D. Ana Faleiro”. Tudo aponta para que Fernando Correia
de Lima fosse o Fernando Correia de Caldas, natural do termo de Ponte de
Lima, casado com Isabel de Andrade da Ilha de Santa Maria (a menção à “Ilha
da Madeira” foi provavelmente um lapso de Gayo 37), e pai de um Simão Correia
(ou Simão Correia de Lima). A referência a uma D. Ana Faleiro, pode indiciar
um casamento em 2as núpcias de Fernando Correia. Mas não se esqueça que ao
filho mais novo deste, Severim, foi dado o apelido Andrade que era o de D. Isabel.
De qualquer modo, e embora também existissem Andrades na Ilha da Madeira,
Andrade e Faleiro eram apelidos tipicamente marienses.

4- Magalhães da Casa de Refalcão

Henrique de Caldas e sua mulher D. Joana de Almeida moraram na freguesia


de S. Domingos de Saubara que, no tempo em que Joana nasceu, era parte da de
N.  Sra. da Purificação de Sergipe do Conde. Foram pais de Geralda Correia de
Caldas que, em 18/III/1690, casou, na Ermida de Santo António de Tibirim, com
Francisco de Magalhães, nascido no Reino, no lugar do Barreiro da freguesia de
Santa Senhorinha do Concelho de Cabeceiras de Basto, filho natural, baptizado em
17/III/1647, de Domingos de Magalhães, de Refalcão, lugar da mesma freguesia,
nesta baptizado em 8/IV/1621, e de Marta Dias, moça solteira do Barreiro 38, ambos
de “famílias muito limpas de sangue, com muitos clérigos e frades”.

das Maravilhas, casado com D. Cosma Pessoa, prima de Jorge Cavalcanti de Albuquerque.
Os Cavalcanti provieram de Florença, onde eram patrícios. Cosma é a forma feminina de Cosme,
nome tipicamente florentino. No ttº de “Cavalcantes” do NFP de Gayo, §1, N4, é referido
o casamento entre um Jerónimo Cavalcanti de Albuquerque e uma “sua parenta”, D.  Maria
Pessoa. A partir desta aliança, os apelidos Cavalcanti e Pessoa passaram a ser usados em conjunto
com alguma frequência.
36
Na referida “Árvore nº 7”, do Vol. II dos Costados.
37
Quanto a Ana Faleiro, o respectivo apelido é tipicamente mariense. O seu aparecimento neste
contexto parece sugerir que Fernando Correia enviuvou no Brasil e contraiu matrimónio em
segundas núpcias com outra mariense chamada Ana Faleiro. Mas não se esqueça que o mais
novo dos filhos de Fernão Correia se chamou Severim de Andrade, pelo que é praticamente certo
que, mesmo que tenha havido um 2º casamento, Severim era filho de Isabel, não de Ana.
38
Esta, além de Francisco teve, mais tarde, do Abade da Faia, uma filha natural, Senhorinha
Barbosa, que o irmão, já emigrado na Baía, dotou a 6/IV/1693 com 400 mil reis para casar com
Francisco Barros, também de Refalcão.

354
o cAsAmenTo bAiAno do sArgenTo-mor eLisiário mAnueL de cArvALho

4.1 – Ascendentes de Francisco de Magalhães

A partir dos registos paroquiais da freguesia de Santa Senhorinha e do


Nobiliário de Felgueiras Gayo, foi possível conseguir constituir a seguinte lista
de ascendentes (de apelido Magalhães) do Francisco de Magalhães que foi para
a Baía:
I – O Padre Domingos de Magalhães, ordenado presbítero e vigário de
Vila Nune, termo de Cabeceiras de Basto, já depois do nascimento de Francisco
de Magalhães, seu filho natural, nascido de Marta Dias.
II – Francisco de Magalhães Machado, Senhor da Casa de Refalcão (ou de
Ribafalcão), que a 6/IX/1609 casou com Maria Braz.
III – Antónia Braz de Magalhães, de Santa Senhorinha, que casou com
Francisco Gonçalves (trata-se da geração mais antiga cujo assento de casamento
foi possível achar nos livros paroquiais de Sta. Senhorinha).
IV – Afonso Pires de Basto, escudeiro fidalgo, Senhor da Quinta de Barri-
falcão 39 na freguesia de Santa Senhorinha, da qual alguns dos seus descendentes
tomaram o apelido Falcão. Casou com Suzana de Magalhães Machado (Gayo,
“Magalhães”, §119, N2).
V – Branca de Magalhães (Gayo, “Magalhães”, §104, N1), bastarda de
João de Magalhães. Casou com João de S. Pedro Machado, que foi Juiz ordinário
e vereador em Braga.
VI – João de Magalhães (Gayo, “Magalhães”, §34, N8), bastardo de Rui
Pires de Magalhães. Casou em Amarante com Maria de Basto, filha de um Abade
de Louredo chamado Gonçalo de Basto, e viveu na Vila de Amarante, na sua casa
da Rua da Retorta. Foi fidalgo da Casa Real. Segundo Gayo (“Magalhães”, §34,
N10 e §35, N11), nasceu e criou-se na casa dos Senhores da Barca: “Francisco de
Magalhães Cap.am morreo na India, e fez hua justificação da sua família em que
jurarão os Senhores da Casa da Barca que o seu 2º avô João de Magalhães nascera e se
criara em sua casa como os demais filhos dela”.
VII – Rui Pires de Magalhães, clérigo, Prior na Lousã, Deão em Coimbra
(v. Gayo, NFP, Vol. VII, p. 180, nota de pé de página 2), cujos filhos 40 foram
legitimados por El-Rei em Estremoz, em 24/VIII/1475.
VIII – D. Violante de Magalhães, filha de Gil de Magalhães e de sua 1ª
mulher, D. Maria de Meneses (Gaio, NFP, Vol. VII, §1, N7).

39
Diz Gayo, em ttº de “Magalhães”, §119, N2, em nota de pé de página: “que hoje se chama de
Refalcão, e são seus descendentes os Senhores dela e outros muitos”.
40
João de Magalhães e Meneses e Filipe de Magalhães.

355
eduArdo romAno ArAnTes e oLiveirA

IX – Gil de Magalhães, filho de João de Magalhães, que foi Senhor de


todas as terras de seu Pai. Casou c. I – D. Maria de Meneses, filha de Rui Gomes
da Silva (Alcaide-mor de Campo Maior) e de D. Isabel de Meneses, sua mulher;
II – D. Isabel de Meneses, filha de Gonçalo Nunes Barreto, Alcaide-mor de Faro
e Sr. do Morgado da Quarteira, e de Dona Isabel Pereira, filha de Diogo Pereira,
Comendador-mor de Santiago e governador da Casa do Infante D. João, fº de
D. João I.
X – João de Magalhães, filho de Rui Afonso de Magalhães e de Dona Inês
Vasques de Urrô, Senhores de Vila Chão e Larim, da Quinta e Torre de Maga-
lhães e Couto de Rebordões, e da Vila de Ponte da Barca (de que foi 1º Senhor)
por doação de D. Afonso V, feita em Ceuta a 14/XI/1458, bem como do Castelo
da Nóbrega, e foi fidalgo muito honrado. Viveu pelos tempos de D.  Duarte
e D.  Afonso V. Casou com Dona Isabel de Sousa de Vasconcelos 41, filha de
Rui Vaz Ribeiro de Vasconcelos, Sr. de Figueiró e Pedrógão e de sua mulher
D. Violante de Sousa, filha do Mestre de Cristo D. Lopo Dias de Sousa, bisneta
de D. Álvaro Dias de Sousa, trisneta de D. Diogo Afonso de Sousa, tetraneta do
Infante D. Afonso Dinis (bastardo de D. Afonso III, havido em Maria Pires
de Enxara) e de sua Mulher, D. Maria Pais Ribeira (15ª Senhora da Casa de
Sousa 42).
XI – Rui Afonso de Magalhães, fº de Afonso Rodrigues de Magalhães,
Senhor da Torre de Magalhães, de Vila Chão e Larim, Castelo da Nóbrega e
Fonte Arcada que lhe confirmou o Rei D. João I em 1387. O mesmo Rei lhe fez
mercê em 1425, em Zamora de Touro, da Torre de Lindoso. Casou com D. Isabel
(ou Inês) Vasques, Sra. do Couto de Rebordões (do qual se tinha feito mercê a
Rui Afonso em 1404, como consta do Livro da Chancelaria de D. João I), filha
herdeira de Álvaro Gil Duro (ou de Urrô), Sr. do Couto de Rebordões, fidalgo
inglês que veio a este Reino com o Duque de Lancastre.
XII – Afonso Rodrigues de Magalhães, que foi Senhor da Casa de seu Pai.
Foi Alcaide-mor do Castelo da Nóbrega pelos anos de 1372 e Senhor de Vila
Chão e Larim por mercê do Rei D. Fernando em 1367. Casou com D. Teresa
Freire de Andrade, filha de Nuno Freire de Andrade Sotomaior, Mestre da Ordem
de Cristo.
XIII – Rodrigo Afonso de Magalhães, Senhor da Torre de Magalhães e da
Casa de seus Pais (Gayo, NFP, Vol. VII, p. 161). Casou com D. Inês Vasques que
parece ter sido filha de Vasco Mendes de Sousa, Rico Homem.

41
Segundo Manuel de Sousa da Silva (Nobiliário das Gerações de Entre-Douro-e-Minho, ed. dos
Carvalhos de Basto).
42
Gayo, NFP, ttº de “Sousas”, p. 323-325.

356
o cAsAmenTo bAiAno do sArgenTo-mor eLisiário mAnueL de cArvALho

XIV – Afonso Rodrigues de Magalhães 43, o 1º que usou o apelido Maga-


lhães, por ser Senhor da Torre de Magalhães na freguesia de S. Martinho de Paço
Vedro, termo da Barca, na antiga Terra da Nóbrega 44. Tinha o dito Afonso de
Magalhães, no ano de 1312, reção no Mosteiro de Tibães. Casou com D. Alda
Martins de Castelões, filha de João Martins de Castelões, o Moço, e foram pais
de Rodrigo Afonso de Magalhães.

4.2 – Gerações posteriores, em Portugal, dos Magalhães da Casa de Refalcão

O Padre Domingos de Magalhães, pai de Francisco de Magalhães, era irmão


de outro Francisco de Magalhães, nascido em 20/XI/1615, falecido em 17/I/1677,
que casou com Senhorinha Braz falecida em 20/VIII/1695. Foram pais de Luiz
de Magalhães de Araújo (baptizado a 10/VI/1658 em Santa Senhorinha 45) que
foi Senhor da Casa de Refalcão e casou com D. Fabiana Pinto, filha de Roque
Pinto (Sr. da Quinta do Prado) e de D. Ângela Ribeiro. A estes últimos se refere
Gayo (NFP, títulos de “Ribeiros”, §33, N7, Coutinhos, §298, N12, e Vascon-
celos, §150, N24) como Senhores da Casa de Refalcão. Sucederam-lhes Manuel
Pinto de Mesquita, nascido por volta de 1675 (que, em 6/XII/1706, casou com
D. Ana Leal de Sousa), Paulo Pinto de Magalhães (n. 1700) e Luís Pinto de Maga-
lhães e Gouveia (n. 1730). Seguiu-se Maria Angélica Pinto Falcão de Mesquita e
Magalhães, nascida por volta de 1760 e falecida em 1799, que foi mãe de Vicente
Machado Pinheiro de Melo (1798/1865), pai de João Machado Pinheiro Lobo da
Figueira Correia de Melo e Almada que D. Pedro V fez 1º Visconde de Pindela,
título usado por várias gerações. O 2º filho do 1º Visconde de Pindela, homem
de letras conhecido nos meios literários sob o nome de Bernardo Pindela (um dos
“Vencidos da Vida”), foi amigo íntimo e Secretário d’El-Rei D. Carlos e por este
agraciado com o título de 1º Conde de Arnoso.

4.3 – Gerações brasileiras dos Magalhães da Casa de Refalcão

O Francisco de Magalhães que foi para o Brasil e morou na freguesia de


São Gonçalo dos Campos da Cachoeira era primo do sobredito Luiz de Maga-
lhães, Senhor da Casa de Refalcão.
43
Filho de Afonso Vaz (que veio de França para o Condado Portucalense com o Conde
D. Henrique) e de Sancha Novaes, fª herd. de Afonso de Novaes, Senhor da Torre de Magalhães
e da Terra de Nóbrega (ver em Gayo, NFP, ttº de “Magalhães”, §1, N1).
44
Mais tarde, Concelho de Ponte da Barca.
45
Sendo padrinhos um Miguel de Magalhães e o Padres Domingos de Magalhães e Abade da Faia,
os dois eclesiásticos que foram pais dos filhos de Marta Dias.

357
eduArdo romAno ArAnTes e oLiveirA

Foram suas filhas D. Caetana de Magalhães, D. Antónia de Almeida de


Magalhães (baptizada a 13/VI/1699) e D. Maria dos Santos e Magalhães. O casal
teve ainda dois filhos, ambos jesuítas: o Reverendo Doutor Henrique de Caldas
e outro sacerdote, a que se encontrou referência mas cujo nome se desconhece.
As três filhas casaram com maridos nascidos no Reino: as duas primeiras,
respectivamente, com Manuel Ferreira Guimarães e com o Capitão Bartolomeu
da Costa (já largamente mencionado ao longo deste artigo), ambos familiares do
Santo Ofício, e a terceira com o Tenente-Coronel Lourenço Correia Lisboa.
Os Coronéis António de Aragão e Bernardino Cavalcanti de Albu-
querque, Senhor este último do famoso Engenho do Embiara, bem como o
Capitão Jerónimo Pereira Sodré, ambos da melhor nobreza da Baía, foram teste-
munhas do casamento de D. Caetana de Magalhães e Manuel Ferreira Guima-
rães que não se sabe se geraram filhos. Mas, do de D. Antónia de Almeida
de Magalhães com o Capitão Bartolomeu da Costa, tem-se conhecimento dos
seguintes: D. Maria de Jesus, casada com Manuel de Mello e Lima, familiar do
Santo Ofício, D. Quitéria da Purificação, casada com Francisco de Amorim e
Silva, também familiar, D.  Jerónima Clara, casada com o Sargento-mor José
Gonçalves Fiúza, que não era familiar mas filho de um familiar (Luiz Gonçalves
Fiúza), e D. Maria da Assunção, casada com Manuel Álvares de Carvalho, outro
familiar do Santo Ofício. Dos maridos, só não foi familiar o de D. Maria dos
Santos e Magalhães, Lourenço Correia Lisboa, homem voluntarioso, capaz de
obrigar uma filha a professar contra sua vontade. Só não o conseguiu porque a
dita filha, D. Maria da Encarnação, revelou ter uma personalidade pelo menos
tão forte como a dele.
O Capitão Bartolomeu da Costa e sua mulher passaram a morar na freguesia
de Nossa Senhora de Mujães que foram pais de Jerónimo da Costa e Almeida 46,
Capitão-mor de Maragogipe, cavaleiro professo da Ordem de Cristo, Senhor
do Engenho de Santo António de Capanema e das Fazendas de Pitumahuma,
da Luz, da Volta do Pratigi (na freguesia de Sta. Ana do Camisão), etc., que
casou com D. Leandra Maria de Sant’Ana dos Reis Leça falecida na Cachoeira a
19/VIII/1812. Desta, teve o Desembargador Doutor Luís da Costa e Almeida,
fidalgo cavaleiro da Casa Real, cavaleiro da Ordem de Cristo, lente de Leis na
Universidade de Coimbra, etc., nascido em Capanema (Baía) a 7/XI/1774, fale-
cido em Lisboa a 5/XII/1843, que casou com D. Maria José Chaves de Sá Pereira.
Foram pais do Doutor Luís da Costa e Almeida, nascido em Lisboa a 27/III/1841,
lente de prima, decano e director da Faculdade de Ciências e director do Obser-

46
Os Costa e Almeida eram outra importante família da Baía. Ver a obra de Stuart B. Schwartz
citada mais adiante.

358
o cAsAmenTo bAiAno do sArgenTo-mor eLisiário mAnueL de cArvALho

vatório Astronómico da Universidade, etc., casado com D. Ermelinda de Castro


Freire de Vasconcelos. Foram pais do célebre poeta Eugénio de Castro e Almeida,
mais conhecido por Eugénio de Castro 47, nascido em Coimbra em 1869 e aí
falecido em 1944.

5 – Os Correia Lisboa

D. Maria dos Santos e Magalhães casou com o Tenente-Coronel Lourenço


Correia Lisboa em 8/XII/1711, na freguesia de S. Gonçalo dos Campos da
Cachoeira.
Do processo de habilitação de genere, datado de 1737, do Reverendo
Doutor Jorge Correia Lisboa, filho de Lourenço, baptizado a 12/V/1712 na
freguesia de Nossa Senhora do Rosário da Vila da Cachoeira onde os pais
foram residir, e que se tornou familiar do Santo Ofício (carta de 13/V/1734)
enquanto estudante da Universidade de Coimbra, lê-se que Lourenço Correia
Lisboa nasceu em Lisboa, na freguesia de Santos-o-Velho, filho de Luiz Correia,
natural de Palmela, e de sua mulher Francisca Falcão (na época dizia-se Falcoa),
moradores na freguesia de Santos, em Lisboa, onde tinham casado a 12/X/1671.
O filho, Lourenço, foi baptizado, nessa mesma freguesia, a 17/VIII/1680.
O processo de familiar do Santo Ofício de Jorge Correia Lisboa revela que Luiz
Correia era mestre-alfaiate em Palmela, sendo aí baptizado, em 14/XII/11646,
na freguesia de Santa Maria.
O já mencionado processo de Jorge Correia Lisboa fala da riqueza de
Lourenço Correia Lisboa, “que foi mui rapaz para as partes do Brasil”. Afirma “...
ser seu pai (entenda-se: o pai de Jorge) lavrador muito rico de fazendas e negócios
que tem um navio seu para a Costa da Mina (o que sugere que o tráfego de escravos
foi uma das fontes da sua riqueza) para onde navega da mesma Bahia e tem ainda
outros que navegam para esta Cidade (entenda-se: Lisboa) e entre eles o Nogueira
Grande, além de muitos negócios e fazendas...”.
Do processo de habilitação para a Ordem de Cristo, datado de 1759, de
outro filho, o Doutor António de Magalhães Correia, conclui-se ter sido pública
e notória a humildade dos princípios de Lourenço no Brasil, ao serviço de João
Rodrigues Adorno, Senhor e Donatário da Vila da Cachoeira, descendente de
Diogo Álvares Correia, o Caramuru, e da índia Paraguaçu, sua mulher. Estes prin-
cípios, bem como o facto de Luiz Correia, seu pai, ter sido alfaiate (observa-se que

47
Ver o preâmbulo da notícia relativa à Família Costa e Almeida que consta do Vol. III, Tomo II,
p. 605, do Anuário da Nobreza de Portugal, 1985.

359
eduArdo romAno ArAnTes e oLiveirA

Isabel Falcoa é tida, no mesmo processo, como “bem nascida”), não o impediram
de ser nomeado sucessivamente capitão e tenente-coronel, respectivamente em
1718 e em 1722, e de, a 18/8/1736, lhe ter sido dada a propriedade dos ofícios
de Tabelião e Escrivão dos Órfãos da Vila da Cachoeira, mas levantaram dificul-
dades à admissão do filho na Ordem de Cristo. Do processo de habilitação para
a mesma Ordem dos netos, irmãos de D. Joaquina Clara da Silva, consta que ele
chegou a ser “o homem mais rico da riquíssima Vila da Cachoeira”. Em 1734,
construiu à sua custa a Capela do Sacramento do Convento do Carmo da mesma
Vila, onde se encontra enterrado.
Sabe-se também onde se situavam as suas casas. Dos “Termos de Vereação
da Cachoeira” (1741/1745) consta efectivamente, com data de 11/III/1741, a
propósito das obras do Cais da Cachoeira, a seguinte passagem: “deve o Cais ser
desmantelado das pedras grandes para cima e refeito com pedras grandes e arrumadas,
argamassa de cal, como consta do termo de arrematação. O desmanche deve ir da
lingueta grande até à pequena que está junto às casas do Tenente-Coronel Lourenço
Correia”. Era o ponto mais central da Vila, junto ao rio.
Na obra Recantos, Encantos e Prantos da Bahia de René Lefèvre e Fernando
Luiz da Fonseca (edição da Universidade de S. Paulo, 1977), observa-se a propó-
sito da Cachoeira no século XVIII: “O amontoado irregular de casebres em volta da
pequena capela de Nossa Senhora do Rosário e do grande sobrado acastelado, reedifi-
cados em 1678 por Gaspar Rodrigues Adorno, passaria agora a ser um núcleo agru-
pado de edificações dignas, umas em frente às outras, arrumadas, embora nascidas
espontaneamente. Os engenhos de açúcar das vizinhanças prosperavam, as minas
estavam sendo descobertas nas gerais e em breve o reflexo dessas riquezas seria sentido
na Cachoeira, entreposto comercial com a cidade capital. A vila, confinada entre os
rios Caquende e Pitanga, entre os morros e o rio Paraguaçu, começaria a crescer com
a chegada de novos moradores. Uns que iam ou vinham das minas, outros que se
fixariam em busca de trabalho ou fazer comércio. Assim a vila foi crescendo, fazendo-
-se bela por seu aspecto pitoresco, por seus sobrados, por suas igrejas, por sua paisagem
encantadora, e por sua gente querida. Quem por ali passasse em pleno século XVIII
não se espantaria de encontrar portugueses, espanhóis, italianos e franceses, até gente
vinda do Oriente, ao lado dos naturais e escravos. A arquitectura vai mesclar-se de
várias culturas, despontando, aqui e ali, os mezaninos de sobrados graves, nas pinturas
com motivos chineses, ou nas jóias exóticas criadas por seus ourives. A vila vai pros-
perando. Nos seus limites territoriais nasciam outras povoações com notáveis monu-
mentos”.
Lourenço Correia Lisboa e D. Maria dos Santos e Magalhães tiveram três
filhos e oito filhas. Dois dos filhos, o já mencionado Reverendo Doutor Jorge
Correia Lisboa, que celebrou a primeira missa no Convento de Odivelas (onde

360
o cAsAmenTo bAiAno do sArgenTo-mor eLisiário mAnueL de cArvALho

quatro irmãs suas foram freiras, e outra, D. Luzia, foi Abadessa) e foi cónego e
Chantre da Sé da Baía 48, e o Padre Lourenço Correia, foram eclesiásticos.
O terceiro foi o já referido Doutor António de Magalhães Correia, bapti-
zado em 1725, habilitado pela Mesa do Desembargo do Paço e pelo Conselho
Ultramarino, fidalgo de cota de armas (4/I/1754), cavaleiro professo na Ordem
de Cristo (habilitado em 5/IX/1759), o qual, além de outros cargos, desempe-
nhou os de Juiz de Fora de Monforte, magistrado na Corte (“admitido ao serviço
de Sua Majestade no Ministério das Letras”), Tabelião e Escrivão dos Órfãos na
Vila da Cachoeira (ofícios que estavam na família), Juiz do Crime no Bairro do
Mocambo (hoje Bairro da Madragoa, de Lisboa), Desembargador da Baía (cargo
de que tomou posse a 5/8/1746) e Secretário da “Companhia Geral de Pernam-
buco e Paraíba”.
A carta de brasão de armas de António de Magalhães Correia reza o
seguinte: “...por ser o suplicante de antiga nobreza, sangue limpo, e legitimo descen-
dente das ditas famílias dos Magalhães, Corrêas, Falcões e Caldas ... e que os ditos seus
paes, e avós foram pessoas muito nobres, e legítimos descendentes das ditas familias,
e como taes se trataram sempre á lei da nobreza, servindo-se com creados, escravos,
cavallos, e armas, como pessoas nobres que eram, sem que nas ditas gerações houvesse
raça alguma de judeu, mouro, ou mulato, nem de outra infecta nação, e assim lhe
pertencem de direito as suas armas, as quaes lhe mando dar em esta minha carta com
seu brazão, elmo, e timbre, como aqui são divisadas, e assim como fiel, e verdadeira-
mente se acharam illuminadas e registadas em os livros dos registos do dito Portugal
meu principal rei de armas. A saber: Um escudo esquartelado, no primeiro quartel
as dos Magalhães, que são em campo de prata tres fachas xadrezadas de vermelho, e
prata, cada uma de tres peças em palla. No segundo as dos Corrêas, são em campo de
ouro fritado de corrêas sanguinhas de seis peças repassadas umas por outras. No terceiro
as dos Falcões, que são em campo azul três bordões de Sant’Iago, de prata postos em
três pallas, com os nós vermelhos, e os ferros de ouro. No quarto as dos Caldas, que são
em campo de prata cinco cyprestes de sua côr postos em santor. Elmo de prata aberto
guarnecido de ouro; paquife dos metaes, e côres das armas, e por differença uma brica
de ouro com um trifolio verde. Timbre o dos Corrêas, que são dois braços armados
postos em aspa atados com uma corrêa sanguinha das próprias armas”.
As 8 filhas do casal foram:

• D. Maria da Purificação, que casou com Maurício Carvalho da Cunha,


familiar do Santo Ofício;

48
Morreu pouco antes de 19/I/1786, data em que o Arcebispo da Baía, D. António Correia,
comunicou o seu repentino falecimento ao Secretário de Estado Martinho de Mello e Castro.

361
eduArdo romAno ArAnTes e oLiveirA

• D. Maria da Encarnação Correia, futura Senhora da Quinta do Rama-


lhão, em Sintra, que, em 17/I/1735, casou com João Dias da Cunha,
procurador (1743) e vereador (1747) da Câmara Municipal da Baía
(cargos estes que famílias de entre as mais poderosas da Cidade, como
os Pires de Carvalho, os Dias de Ávila, os Aragões, os Cavalcanti de
Albuquerque, os Rocha Pita, se interessavam em exercer através dos
seus membros 49) e também familiar 50 do Santo Ofício, de quem teve
D. Ana Joaquina Inácia da Cunha que foi a mulher de Joaquim Inácio
da Cruz Sobral 51;

• D. Ana Maria de Jesus Magalhães Correia Lisboa, que, casando (em


segundas núpcias) com o Capitão Pedro Rodrigues Bandeira, deu
origem aos Bandeiras da Baía 52;

• D. Águeda Maria do Sacramento, a mãe de D. Joaquina Clara da Silva,


que adiante seguirá;

• D. Clara, D. Caetana e D. Rosa, freiras de Odivelas, que professaram


simultaneamente a 21/III/1730;

• Outra freira de Odivelas, D. Luzia da Conceição, que professou a


7/IX/1736 e vem referida no Memorial de Ministros de Frei Luiz de
S.  Bento (ver nos reservados da BNL que foram transferidos para o
ANTT), a propósito do sobrinho Francisco Álvares da Silva, como
Abadessa do grande Convento, um dos mais ricos de Portugal. Fale-
cida em 2 ou 3 de Abril de 1789 53, D. Luzia da Conceição foi de facto

49
Consultar: Affonso Ruy, A Câmara da Cidade do Salvador – Relação dos que foram feitos ou
nomeados para a administração municipal do século XVI ao século XX.
50
Sabe-se pelo respectivo processo de habilitação que o casamento foi realizado “apressadamente”,
isto é, sem que tivessem sido feitas as inquirições exigidas a quem casava com um familiar, com
base no facto de a noiva ser irmã de um outro familiar, Jorge Correia Lisboa, e porque “o pai da
contraente tinha disposto mandá-la na primeira frota para Lisboa a ser religiosa contra sua vontade
e não se recebendo esta ficava exposta a sua violência”.
51
Foi um dos maiores argentários portugueses durante o consulado do Marquês de Pombal e
continuou a sê-lo quando da Viradeira. Leia-se no artigo do autor intitulado “Sobre os Carvalhos
da Quinta da Figoeira, no termo de Torres Vedras”, publicado na Revista DisLivro Histórica,
nº 2, 2009.
52
Ver no último capítulo do presente trabalho.
53
Reza o assento de óbito: “Aos Dois de Abril de mil sete centos outenta e noue, faleçeo a Religiozissima
M. e Snr.ª D. Luzia da Conceiçaõ…”.

362
o cAsAmenTo bAiAno do sArgenTo-mor eLisiário mAnueL de cArvALho

Abadessa de Odivelas, uma das três Abadessas que tiveram a honra de


ser enterradas na cova e sob a lápide funerária da terceira Abadessa,
Dona Urraca, falecida em 16/III/1340 (as duas restantes que tiveram
tal honra foram D. Teresa de Macedo, em 1760, e D. Luiza Antónia
de Souza, em 1778). O epitáfio, gravado na lápide (“Aqui jas a muito
religioza madre D. Luzia da Conceição, exzabadessa deste mosteiro Amou
a todas com maternal caridade; viveo com singular ezemplo de zelo e de
santidade, e nela moreo aos 3 de Abril de 1789”) quase apagou um outro
epitáfio, muito lacónico, de uma simples freira também sepultada na
mesma cova: D. Paula-Teresa da Silva, a célebre Madre Paula amada de
D. João V 54 e provável progenitora do bastardo real D. José de Portugal,
um dos chamados “Meninos de Palhavã”.

6 – José Alves da Silva e seus Filhos

D. Águeda Maria do Sacramento (mãe de D. Joaquina Clara da Silva, que


casaria com Elisiário Manuel de Carvalho, Sargento-mor da Vila de Torres Vedras
e Senhor da Quinta da Figoeira, no termo da dita Vila), nasceu na freguesia de
Nossa Senhora do Rosário do Porto da Vila da Cachoeira a 2/X/1727 (sendo
padrinhos José Correia Homem e Maria de Sousa de Oliveira, filha de Bento
de Souza Guimarães, familiar do Santo Ofício, e mulher do Sargento-mor
da Cachoeira Sebastião Álvares da Fonseca, também familiar). Casou com o
Capitão, futuro Mestre-de-Campo, José Alves (ou Álvares) da Silva, familiar do
Santo Ofício (carta de 7/IX/1752), nascido na freguesia de Santa Maria Maior de
Viana do Minho a 26/XI/1701, filho de Francisco Álvares de Carvalho, natural
da freguesia de Souto de Rebordões, termo de Ponte de Lima (filho de António
Álvares e de Isabel Esteves, lavradores, moradores no lugar do Carvalhal) e de
Maria Alves (ou Álvares) da Silva (filha de Gaspar Álvares da Silva, natural do lugar
do Pregal da freguesia de São Tomé da Correlhã, e de Maria Fernandes, natural
de Viana, moradores em Viana, na freguesia de Santa Maria Maior). Eram estes
avós, “lavradores limpos e dos principais da freguesia”, certamente primos de um
Francisco Álvares da Silva (cujo avô materno era também do Pregal), que recebeu
carta de familiar do Santo Ofício em 1701 quando morava em Lisboa; Gayo
menciona-o em título de “Barbosas”, §199, N26, indicando que foi vereador em
Ponte de Lima e Senhor da Quinta da Garrida, junto desta mesma Vila; Gaspar e

54
Veja-se O Mosteiro de Odivelas; Casos de Reis e Memórias de Freiras, por A. C. Borges de
Figueiredo, publicado em 1889; páginas 99, 138 e 296.

363
eduArdo romAno ArAnTes e oLiveirA

Maria, moradores em Viana, na Rua da Bandeira, devem ter sido os avós paternos
de Estêvão Álvares Bandeira, natural de Viana e homem de negócios em Lisboa,
cavaleiro professo da Ordem de Cristo e familiar do Santo Ofício com carta a
4/X/1708.
Os processos de habilitação para a Ordem de Cristo dos filhos de José Alves
da Silva informam que os pais deste “sempre se trataram com nobreza, vivendo de
rendas e negócios e se comunicaram com as principais pessoas de Viana”, e ainda que
“eram bem aparentados, com alguns parentes condecorados”.
José Alves da Silva (que era irmão inteiro do Reverendo Doutor Gaspar
Álvares da Silva, morador na Rua da Bandeira da freguesia de Santa Maria Maior
de Viana) aparece retratado de corpo inteiro no respectivo processo do Santo
Ofício: “Almotacé da República, mercador com negócios por várias partes e tem parte
em um navio e vive com bom trato, limpa e abastadamente, e terá de cabedal 40 mil
cruzados, é capaz de ser encarregado de negócios de importância e segredo, ágil e de
boa expedição para tudo de que dará boa conta, como o tem feito sendo secretário da
venerável ordem terceira do Seráfico São Francisco desta cidade (da Bahia) e irmão
terceiro, sabe bem ler e escrever, é gramático e bom latino. Nenhum filho ilegítimo”.
Informa mais o processo que “serviu de Deputado à Mesa de Inspecção e de Vereador
e que exerceu outros mais empregos honoríficos”. O seu nome não consta da lista
de vereadores da Baía dada por Afonso Ruy no seu artigo “A Câmara da Cidade
do Salvador”, publicado na Revista do Instituto Genealógico da Baía, Ano 5, nº 5.
Era porém membro do Senado da Câmara da Bahia em 27/III/1756, quando foi
votado o donativo a favor da reconstrução de Lisboa, destruída pelo Terramoto.
Em 1750, passou a exercer as funções de Tesoureiro da Santa Casa da Miseri-
córdia da Baía 55.
Menciona ainda o processo que o dote de D. Águeda Maria, com quem ele
casara às 9 horas da manhã do dia 13/I/1744, em pousadas do sogro, “com facul-
dade do Arcebispo da Bahia para ser na dita casa, e estando esta com todo o decoro
e asseio necessário para nela se celebrar o Santo Sacrifício da Missa”, recebendo a
bênção do Reverendo Doutor Jorge Correia Lisboa, irmão da noiva, foi de 14 mil
cruzados. Teria sido essa uma substancial contribuição para a que terá sido uma
enorme fortuna.
Os processos da “Leitura de Bacharéis” dos filhos Francisco e José, arqui-
vados no ANTT, dão conhecimento de que o respectivo Pai exerceu as honrosas
funções de Mestre de Campo na Baía. Foi nomeado para o cargo já depois de
8/XII/1781, data em que aparece, ainda como capitão, a apadrinhar a neta D. Ana

55
Ver Fidalgos and Philantropists, The Santa Casa da Misericórdia of Bahia, 1550-1755, por A. J. R.
Russell-Wood, Macmillan, 1968.

364
o cAsAmenTo bAiAno do sArgenTo-mor eLisiário mAnueL de cArvALho

José de Carvalho e Silva. Não há dúvida, no entanto, de que exerceu o cargo de


Mestre de Campo, ainda que por pouco tempo, dado que, não só é mencionado
com essa qualidade nos processos da “Leitura de Bacharéis” relativos aos filhos,
como um ofício do Governador D. Rodrigo José de Meneses para o Secretário
de Estado Martinho de Melo e Castro (datado de 15/XII/1784) refere “a viúva e
herdeiros do Mestre de Campo José Álvares da Silva”.
Disse-se já que, das filhas de José Alves da Silva e de D. Águeda Maria do
Sacramento, a mais velha, D. Joaquina Clara da Silva, casou com Elisiário Manuel
de Carvalho, Sargento-mor de Torres Vedras e Senhor da Quinta da Figoeira na
freguesia da Azueira. Fora baptizada na freguesia de Nossa Senhora da Conceição
da Praia, no coração do bairro de negócios da Cidade de S. Salvador da Baía,
entre 3 e 5 de Outubro de 1745. Foram padrinhos seu avô, o Tenente-Coronel
Lourenço Correia Lisboa, e sua tia, D. Maria da Encarnação.
Duas irmãs de D. Joaquina Clara, D. Maria, baptizada a 6/IV/1748
(de que não se tem mais notícia), e D. Ana Rosa, baptizada a 20/VII/1749, foram
afilhadas de Jorge Salter de Mendonça e de D. Antónia Francisca Pessoa de Lima,
o que revela que os dois ramos, o baiano e o pernambucano, dos Correia de
Caldas mantinham entre si um estreito relacionamento. D. Ana Rosa casou em
1776, na freguesia das Mercês de Lisboa, com o Dr. Domingos de Gamboa e
Liz. Tiveram uma filha, D. Maria Joaquina de Gamboa e Lis, que casou com um
primo seu, o Capitão-mor Bartolomeu de Gamboa e Liz, mais tarde agraciado
com o título de 1º Barão da Arruda.
D. Joaquina Clara da Silva tinha cinco irmãos:

• Francisco Álvares da Silva, o primogénito (baptizado a 26/X/1744 pela


mão e no oratório do Arcebispo da Bahia, D. José Botelho de Matos,
famoso pela sua resistência ao Marquês de Pombal que o forçaria a
resignar em Janeiro de 1760);

• Lourenço Correia da Silva (baptizado a 20/III/1747);

• José Álvares da Silva (baptizado a 28/X/1750);

• Gaspar Álvares da Silva e

• Simão Álvares da Silva (estes últimos gémeos), aos quais o Rei D. José
concedeu como armas, em 1771 56 “um escudo esquartelado: no primeiro

56
Ver, no ANTT, Processos de Justificação de Nobreza, Maço 7, nº 19.

365
eduArdo romAno ArAnTes e oLiveirA

quartel as armas dos Carvalhos, no segundo as dos Silvas, no terceiro as dos


Correias e no quarto as dos Magalhães”. Consta do processo respectivo
que “seus pais e avós maternos foram pessoas que sempre se trataram à lei
da nobreza, exercendo ministérios públicos e honoríficos da República e
que é voz corrente que os avós paternos foram pessoas que sempre tiveram
tratamento distinto, nobres, naturais de Viana”.

A geração que sucedeu a José Álvares da Silva representou uma viragem na


história da Família. De facto, pela primeira vez desde a fundação da Cidade da
Baía e a instalação dos Monizes Barreto na nova Capital, integrados no escolhido
grupo dos fundadores, uma geração quase completa (todos, excepto os gémeos
Simão e Gaspar) regressou ao Reino, de onde mais de 2 séculos antes tinham
partido os seus antepassados 57.
Mas antes de falar dos que se fixaram no Reino, tratemos dos que ficaram
na Baía, ou à Baía regressaram.
Simão Álvares da Silva, um dos que, como Gaspar e José, se fixaram na
Baía, foi Capitão-mor agregado ao terço das ordenanças da Bahia. Pediu em
1794 confirmação régia da respectiva carta patente, a qual lhe foi concedida
em 1796. Já em 1785 entrara para Irmão da Santa Casa da Misericórdia da
Bahia. Em 1789 e em 1797 exerceu funções de vereador. Casou a 9/I/1800,
na Capela de Nossa Senhora do Desterro, filial da Matriz de Nossa Senhora da
Purificação e Santo Amaro, com D. Maria Joaquina Pereira de Andrade, filha
única e herdeira de Manuel Pereira de Andrade a quem o Governador Conde
de Povolide concedeu de sesmaria, a 14/X/1772, “21 braças de terra na parte
da marinha entre o caes do Dourado e o Trapiche do Barnabé, com a obrigação de
construir o respectivo caes do lado do mar” (ver a obra Inventário dos Documentos
relativos ao Brasil existentes no Arquivo da Marinha e Ultramar, um exemplar
da qual existe no ANTT). Simão Alves da Silva que, “por ser cabeça de casal”,
veio a pedir confirmação régia da sesmaria, faleceu a 17/IV/1811. Adquirira
em 28/VI/1791, por 6 milhões e 400 mil reis, um dos mais belos palácios
brasileiros, o famoso “Paço do Saldanha”, que fora propriedade dos “Guedes de
Brito”, Senhores da Casa da Ponte 58.
Nas palavras de Waldemar de Matos, “a edificação do Palácio do Saldanha,
morada onde a fidalguia, a grandeza e o luxo medraram durante mais de um século
e meio, foi custeada com os cabedais acumulados pelos Silva Pimentel e os Guedes de

57
Na realidade, o retorno começara na geração anterior, com filhos de Lourenço Correia Lisboa.
58
Ver o artigo intitulado “Paço Saldanha”, da autoria de Waldemar de Mattos, publicado em 1948
na Revista do Instituto Genealógico da Bahia, Ano 3, Nº 3.

366
o cAsAmenTo bAiAno do sArgenTo-mor eLisiário mAnueL de cArvALho

Brito, bandeirantes e intrépidos guerreiros”. António da Silva Pimentel, filho do


V Alcaide-mor da Baía, casou com D. Isabel Guedes de Brito, filha natural de
António Guedes de Brito. Os serviços prestados pelo sogro durante muitos anos e
o “grande dispêndio em gados, farinhas e comboios que deu para o sustento das guerras
(contra os holandeses) que tantos anos duraram neste Estado” não foram esque-
cidos. Ainda em 1638, lutou encarniçadamente contra as tropas do Príncipe de
Nassau que vieram sitiar a Baía. Foi pois autorizado, antes de morrer, a instituir
um Morgado com os seus bens, o que, no Brasil, constituía uma raríssima mercê
régia. Segundo Waldemar de Mattos, “as suas terras, dilatadas pelos sertões entre a
Baía e Minas, valiam um Império: era senhor de extensíssimas terras e de muito gado
que saía do sertão baiano para abastecer as minas de ouro”. Falecido ele, sua filha,
D. Joana da Silva Caldeira Pimentel Guedes de Brito, “a mais opulenta senhora
de toda a Colónia, mameluca tisnada de cristã-nova”, viúva de D. João Masca-
renhas, fez constar na Corte que procurava um segundo marido. Achou o que
pretendia na pessoa de D. Manuel de Saldanha da Gama de Melo e Torres, filho
do 41º Vice-rei da Índia, D. João de Saldanha da Gama, e irmão do 4º Conde
da Ponte, D. Luís de Saldanha da Gama Melo e Torres. Consta que, quando
D. Manuel de Saldanha da Gama se despediu do Rei D. José, este lhe segredou,
“fazendo olho de inveja, que bem menor dote lhe trouxera a Raínha” (que, como é
sabido, era uma Infanta de Espanha, primogénita de Carlos IV).
A “Mameluca” morreu mais cedo que este 2º marido (15 anos mais novo
do que ela) que nunca chegou a ser Conde da Ponte, mas simplesmente irmão
do 4º Conde (D. Luís de Saldanha da Gama de Melo e Torres 59), D. Manuel
de Saldanha da Gama, que voltou ao Reino e casou com uma fidalga que foi a
mãe do 6º Conde, D. João 60. Tendo dissipado muito do que os Guedes de Brito
haviam acumulado, D. Manuel teve que pedir ao Rei autorização para a venda do
Palácio dos Guedes de Brito, “verdadeiro ícone da arquitectura colonial brasileira”
(nas palavras de Waldemar de Mattos), que lhe foi comprado por Simão Álvares
da Silva.

59
Joana Guedes de Brito consentiu em deixar ao viúvo todos os seus bens com a condição de ele
acrescentar aos seus apelidos o apelido “Guedes de Brito” que ele passou aos seus sucessores.
Daí ter-se passado a falar em “Casa da Ponte” a propósito da dos “Guedes de Brito”.
60
D. Manuel de Saldanha da Gama nunca chegou a ser Conde. O título de 6º Conde da Ponte
passou por via feminina para o filho, D. João (que não deixou de usar o apelido Guedes de
Brito). Este exerceu o cargo de Governador da Baía entre 1805 e 1809 e lá fez construir o
opulento “Teatro de S. João”, inaugurado mais de um ano antes do teatro do mesmo nome, no
Rio de Janeiro. Como Governador, foi o responsável máximo pela recepção à Família Real que,
a caminho do Rio, objectivo final da sua viagem, tocou inesperadamente na antiga capital do
Brasil.

367
eduArdo romAno ArAnTes e oLiveirA

Uma vez falecido Simão, foi o Palácio herdado por sua viúva, D. Maria-
-Joaquina Pereira de Andrade da Silva. Morta esta (a 8/X/1856), passou para
a filha, D. Águeda Zeferina da Silva, e para o genro, José-Joaquim Pires de
Carvalho e Albuquerque, o 2º Barão de Pirajá (título concedido por uma vida
a 14/III/1849), que seria elevado à grandeza a 14/III/1860. Observa-se que o
2º Barão de Pirajá era filho do 1º Barão e Visconde do mesmo título, com gran-
deza, Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque (filho de João Pires de Carvalho e
de D. Maria Francisca), que casou com D. Maria Luísa Queiroz de Teive e Argolo
(o título de Barão foi-lhe concedido a 5/IV/1826 e o de Visconde, com gran-
deza, a 12/X do mesmo ano), e irmão do primeiro titular do Império do Brasil
(cujo título de Barão com grandeza da “Torre de Garcia de Ávila” foi concedido
a 1/XII/1822 pelo Imperador D. Pedro I no próprio dia da sua coroação, e o de
Visconde com grandeza do mesmo título a 12/X/1826; ambos os irmãos foram
pois grandes do Império).
António Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque foi o último Senhor
e Administrador do morgado da lendária “Casa da Torre”, que assim ficou asso-
ciada à “Casa da Ponte”. Casou com a sua sobrinha, filha do Visconde de Pirajá
(e portanto cunhada de D. Águeda Zeferina da Silva), D. Ana Maria de São José
e Aragão, de quem teve D. Teresa de Jesus Pires Cavalcanti e Albuquerque que,
pelo seu casamento com António Moniz Barreto de Aragão (um Moniz Barreto,
pois), foi Baronesa de Mataripe.
É a esta luz que podem entender-se as informações que constam do “Apên-
dice A” (“The problem of Engenho Sergipe do Conde”) da já mencionada obra Sugar
Plantations in the Formation of Brazilian Society – Bahia, 1550-1835 de Stuart
B. Schwartz. O Engenho Sergipe do Conde, cuja história começou nos meados
do século XVI com a chegada do 3º Governador-Geral, Mem de Sá, a cujos
filhos pertenceu (chamou-se “do Conde” porque Dona Filipa de Sá, filha de Mem
de Sá, casou com o Conde de Linhares), foi o mais famoso engenho do Brasil.
Passou mais tarde para a posse da Companhia de Jesus, na qual se manteve até à
expulsão dos jesuítas em 1759. Diz Schwartz: “In the 1790s, they (os Engenhos
Sergipe e o vizinho Engenho Petinga que os jesuítas tinham adquirido em 1745)
were held by the brothers of Gaspar Álvares de Sá (tratava-se do irmão de Gaspar
Álvares da Silva; o engano ter-se-á devido a que Sª., abreviatura de Silva, facil-
mente se confunde com Sá 61). By 1812, they, along with three other mills, belonged
to Simão Álvares da Silva (terá havido aqui outro engano, já que Simão parece ter

61
O autor escreveu a Stuart B. Schwartz , chamando-lhe a atenção para o erro, que lhe parecia mais
que provável. Este admitiu-o como tal, lamentando não ter tido oportunidade de o corrigir na
versão brasileira da obra (Segredos Internos), editada em 1995.

368
o cAsAmenTo bAiAno do sArgenTo-mor eLisiário mAnueL de cArvALho

morrido um pouco antes, em 1811), and in 1817 they were listed as the property of
Dona Maria Joaquina Pereira de Andrade (a viúva de Simão), one of the wealthiest
slave-owners in the Recôncavo (da nota 34 da pág. 542 da obra em questão consta
que Dona Maria-Joaquina possuía mais de 700 escravos nas suas 7 propriedades)
... Conde and Petinga, by the mid-nineteenth century, had become the property of the
baron of Pirajá (o genro de Simão)”.
Os Álvares da Silva que optaram por permanecer na Baía tornaram-se pois
Senhores de duas das peças mais significativas do património histórico do Brasil:
o Paço do Saldanha e o Engenho Sergipe do Conde.

7 – Os regressados

Na data em que lhes foram concedidas cartas de Brazão, o Doutor Fran-


cisco Álvares da Silva era já cavaleiro professo na Ordem de Cristo (alvará de
15/X/1769) e Juiz de Fora da Cidade de Leiria (11/IX/1769), Lourenço, cavaleiro
professo na Ordem de Cristo (alvará de 16/X/1769), e José, também cavaleiro
na Ordem de Cristo, e Juiz de Fora do Concelho de Lafões apesar da sua juven-
tude. Gaspar e Simão, que voltariam ao Brasil, são referidos como estudantes da
Universidade de Coimbra da qual Francisco e José tinham já recebido o grau de
bacharéis.
Formado pela Universidade de Coimbra, Francisco foi, sucessivamente,
Juiz de Fora de Leiria, Provedor de Obras, Órfãos, Capelas, Hospitais, Confra-
rias e Albergarias, Contador de Terras e Resíduos da Comarca de Torres Vedras
(12/X/1772), Ouvidor da Alfândega (1/XI/1774), Deputado da Junta do Exame
do Estado Actual e Melhoramento Temporal das Ordens Regulares (12/X/1805),
Administrador-Geral da Alfândega do Açúcar (31/V/1806) e Administrador-
-Geral da Alfândega do Porto Franco de Lisboa (6/VI/1806), sucedendo neste
último cargo, que exercia quando da 1ª Invasão Francesa, ao 1º Barão de Porto
Covo, Jacinto Fernandes Bandeira, outro Bandeira que deveu o apelido ao facto
de ter nascido na Rua da Bandeira, em Viana. Foi Desembargador e membro dos
Conselhos de Sua Majestade Fidelíssima e Ultramarino. Em 25/X/1803, foi-lhe
atribuída (apesar de viver em Portugal), por falecimento de seu tio António
Correia de Magalhães, a propriedade dos ofícios de Tabelião e Escrivão dos
Órfãos da Vila da Cachoeira que, como se viu, estavam na família desde o tempo
de Lourenço Correia Lisboa. Casou a 27/VII/1800, na freguesia da Arruda,
com D. Ana Teodora de Gamboa e Liz, irmã do Barão da Arruda e, portanto,
sobrinha de sua irmã Ana Rosa. Era ainda vivo em 19/VIII/1817, data em que foi
padrinho por procuração de sua sobrinha-neta D. Maria Emília de Carvalhosa e

369
eduArdo romAno ArAnTes e oLiveirA

Silva. Tendo morrido pouco depois, sua viúva casou em segundas núpcias com o
Desembargador do Paço João de Carvalho Martens da Silva Ferrão, descendente
dos Condes da Ponte.
No que se refere aos irmãos Lourenço e José, não se sabe se contraíram
matrimónio. O processo de habilitação de Lourenço para a Ordem de Cristo
informa que não frequentou a Universidade: cursou simplesmente, a “Aula de
Comércio” fundada pelo Marquês de Pombal e estabeleceu “casa própria em
Lisboa correspondendo às remessas de negócios de seu Pai”. Quanto a José, sabe-se
que, em Agosto de 1778, foi nomeado Desembargador da Baía, o que obrigava
a frequentar a Universidade de Coimbra e desta receber um grau universitário.
Só depois, terá voltado à sua terra natal.

8 – Os Bandeiras da Baía

Vale a pena lembrar outro ramo da Família que permaneceu na Baía: o dos
“Bandeiras”.
O Capitão Pedro Rodrigues Bandeira (já atrás mencionado como marido
de D. Ana Maria de Jesus Magalhães Correia Lisboa) nasceu em Viana do Minho
a 19/VII/1709, filho de Luiz Fernandes de Carvalho e de Maria Rodrigues.
Morava na Rua da Bandeira, o que explica o apelido que adoptou. É possível que
tenha conhecido em Viana o seu futuro cunhado, José Alves da Silva 62, oito anos
mais velho do que ele.
Pedro Rodrigues Bandeira e D. Ana Maria de Jesus Magalhães Correia
Lisboa foram pais de:

• D. Joaquina Josefa de Santana Bandeira;

• D. Clara Caetana do Sacramento Bandeira;

• D. Maria da Encarnação Bandeira e

• Pedro Rodrigues Bandeira, que foi fidalgo-cavaleiro da Casa Real.

A mais velha das filhas, D. Joaquina Josefa de Santana Bandeira, casou com
Custódio Ferreira Dias. Foram avós paternos de Alfredo Ferreira Bandeira, o qual,
desposando D. Maria Luísa Viana, foi pai de D. Maria Augusta Viana Bandeira,

62
Ver no Capítulo 5.

370
o cAsAmenTo bAiAno do sArgenTo-mor eLisiário mAnueL de cArvALho

a mulher de Rui Barbosa, o célebre jurista, político, diplomata, filólogo e orador,


considerado o maior advogado da causa da abolição da escravatura no Brasil.
A segunda filha, D. Clara Caetana do Sacramento Bandeira, foi a 1ª
Baronesa de Rio das Contas 63, por ter casado, em 1795, com o 1º Barão do
mesmo título, Francisco Vicente Viana (nascido em Salvador em 1754), que em
1824 ocupou a presidência da Bahia. Foram pais do 2º Barão do Rio das Contas
(Frutuoso Vicente Viana) e do 1º Barão de Viana (Francisco Vicente Viana),
da Baronesa de Paraguaçu (D. Teresa Clara do Nascimento Viana, mulher de
Salvador Moniz Barreto de Aragão de Sousa e Meneses, 1º Barão desse título) e da
Viscondessa dos Fiais (D. Maria Clara Bandeira Viana que, casando com o Barão
e Visconde dos Fiais, Luís Paulo de Araújo e Basto, nascido em 1797, foi bisavó
do Conde de Saldanha da Gama, D. José Luís de Saldanha da Gama 64).
As relações de parentesco com os titulares brasileiros não ficaram aqui.
De facto, o 2º Barão do Rio das Contas, elevado à Grandeza em 1860, casou
com a filha do Barão de Itapororoca (D. Maria Amália Ferrão Moniz Barreto de
Aragão), e duas filhas deste último casal casaram, em sucessivos matrimónios,
com o 3º Barão de São Francisco (António de Araújo de Aragão Bulcão, que era
um Cavalcanti de Albuquerque pelo lado da mãe) o qual, em 1867, ocupou a
presidência de Sergipe. Uma outra, D. Ana Francisca Viana, casada com Pedro
Ferreira Bandeira, foi mãe do Barão e Visconde de Ferreira Bandeira que, ante-
riormente, fora Barão dos Fiais.
Era a nata da sociedade da Baía. Desta tratou a Condessa de Barral,
D. Luísa Portugal de Barros, dama da Imperatriz, nas suas Cartas a Suas Majes-
tades (1859-1890), destinadas a informar o Imperador e a Imperatriz sobre a
aristocracia local, na perspectiva de uma visita do Casal Imperial à Província da
Bahia. Na sua obra Bahia, século XIX. Uma Província no Império, a historiadora
Katia de Queirós Mattoso cita uma passagem dessas cartas que pode considerar-se
típica da ferocíssima Condessa: “D. Ana Bandeira, irmã da Tété (D. Teresa Clara
do Nascimento Viana), dizem coisas dela com o cunhado Visconde dos Fiais, homem
imoral em fingimentos de Santo”.

Agradecimentos – Agradeço o apoio do Arquivo Nacional da Torre do


Tombo e da Biblioteca Nacional de Lisboa, onde encontrei grande parte dos docu-
mentos mencionados ao longo do texto e utilizados na elaboração deste trabalho. Agra-
deço também aos Arquivos Distritais de Braga e Viana. O Dr. Inácio Guerreiro,

63
Observa-se que os títulos nobiliárquicos do Império do Brasil eram concedidos por uma só vida.
64
Título concedido pelo Arquiduque Otto de Habsburgo, na sua qualidade de herdeiro do
Império Austro-Húngaro.

371
eduArdo romAno ArAnTes e oLiveirA

quando vice-presidente do Instituto de Investigação Científica Tropical, forneceu-me


informações sobre a colonização de Sergipe recolhidas em documentos do Arquivo
Histórico Ultramarino. O Dr. José Krohn da Silva, genealogista e membro da Família
Braamcamp Sobral, deu-me preciosos conselhos e copiosa informação. Não  esqueço
também a inesquecível visita à Cachoeira que me foi dado realizar guiado pelo fale-
cido Professor Doutor Cid Gesteira, caro amigo e colega da Universidade Federal da
Baía, já falecido, que me facultou ainda publicações relativas ao Tenente-Coronel
Lourenço Correia Lisboa. O Doutor Paulo César Garcês Marins, de São Paulo, deu-me
a conhecer obras de historiadores brasileiros contemporâneos. Registo finalmente, com
gratidão, que devo a uma prima já falecida, D. Eugénia Cecília de Carvalho, as
primeiras referências relativas aos Álvares da Silva, bem como uma cópia da própria
escritura de dote de D. Joaquina Clara da Silva, documento a partir do qual toda a
investigação veio a desenvolver-se.

372
TEIXEIRAS INFAMADOS.
ENTRE CHAVES E O TERMO DE VALPAÇOS

Luís Miguel Guapo Murta Gomes

Capítulo I
Da Família e da Fama

Os TEIXEIRA são uma antiga linhagem da nobreza, cujo berço é anterior


à Fundação da Nacionalidade. Esta progénie tem início com o Conde D. Fafes
Sarrazim de Lanhoso, homem principal e valoroso que se distinguiu no seu
tempo; estávamos nos finais do século XI, em plena Alta Idade Média.
Deste Conde, atrás citado, descende D. Ermígio Mendes de Teixeira – que
também usou o nome de Hermigo –, o primeiro que usou o nome TEIXEIRA

373
Luís migueL guAPo murTA gomes

e que foi Senhor de Teixeira,


Gestaçô e de Sequeiros. Esteve este
no Cerco de Ceuta e foi contem-
porâneo de El-Rei Dom Sancho I
de Portugal, etc. Foi D. Ermígio
Mendes de Teixeira casado com
D.  Maria Pais, a qual era filha de
D. Paio de Novais, Alcaide-Mor de
Vila Nova de Cerveira, etc. e de sua
mulher D. Maria Soares Velho.
Fig. 1 – Cartografia1: «Província de Traz os Montes». Linhagem de alta estirpe,
proeminente, grave e importante,
fez alianças matrimoniais com as principais Casas de antanho, o que permitiu o
grande destaque da mesma. Traz por Armas, as seguintes: escudo de azul, com uma
cruz potenteia de ouro, vazia do campo; por timbre: um unicórnio de prata, sainte.
A partir de certa altura, em consequência de casamentos entre famílias, grande
parte da sua posteridade torna-se descendente de El-Rei Dom Afonso Henriques,
«o Conquistador», primeiro Rei de Portugal. 1

Uma vez que é Casa tão vetusta, ramificou-se por todo o nosso País e uma
parte desta família aportou em Aquæ Flaviæ. Nessa então vila, uniu-se à principal
nobreza, dando origem a vários ramos, sendo possivelmente os Teixeira Homem,
da Casa de Samaiões, considerados como o ramo mais sonante desta linhagem,
em Chaves e seu termo. Com a evolução do tempo, a linhagem foi-se disper-
sando para várias localidades e povoações: de Chaves a Valpaços e de Valpaços a
terras do distrito de Bragança, entre outras do Reino de Portugal. Em Chaves, o
primeiro de que há memória é Vasco Gonçalves Teixeira, Senhor da Casa e Honra
de Teixeira, herdada de seus maiores, o qual parece ter sido casado com D. Cata-
rina Anes de Berredo.
A análise do nosso artigo, sobre a fama atribuída a membros desta nobre
família, provém da investigação, estudo e averiguação apurados, nas Inquirições
De Genere e nos registos Paroquiais. Os três justificantes são: Caetano Teixeira
Diniz (ou: Teixeira de Niz), Caetano Teixeira, primo-irmão do anterior, e
António Teixeira, tio-avô paterno dos precedentes.
A consciência puritana e austera da época, não admitia fama de cristã-
-novice em qualquer indivíduo – muito menos em famílias tidas por gradas,
afidalgadas, da principalidade e de bons costumes, que se queriam habilitar
para algo. Era totalmente impensável! O opróbrio aplicado levava as partes, em

1
CARPINETTI, João Silvério. Reprodução parcial do mapa 3. Escala [ca 1: 770 000].

374
TeiXeirAs infAmAdos. enTre chAves e o Termo de vALPAços

Tribunal Eclesiástico, a denúncias e penas pecuniárias, mesmo com «custos para


o injuriador, a causa fosse decidida em favor do injuriado podia a família deste vir
a sofrer os efeitos de tal injúria à distância de mais de um século» 2, o que veio
a manifestar-se. Entrava em acção o Tribunal do Santo Ofício da Inquisição e
tudo era perscrutado. Uma família da nobreza, proveniente de uma boa estirpe
e, sobretudo, de cristãos-velhos que necessitavam de justificar a sua limpeza de
sangue para vários cargos, não podia ter – na época apontada – esta mancha. Num
período de forte poder e soberania, por parte do Santo Ofício, era demolidor de
qualquer esperança para as pessoas se habilitarem a diversos cargos. A prova de
puritate sanguinis era mais que imprescindível para mostrar a clareza da família
em causa.
O Padre CAETANO TEIXEIRA DINIZ, nascido em São Mamede de
Argeriz, concelho de Valpaços, no dia 21 de Dezembro de 1704, fez Inquirição
De Genere e nela declara que: «dezeja servir ao Sñor no estado Sacerdotal, e porque
na Igr.ª do lugar e circumvezinhas hâ. falta de clérigos que ajudem aos parochos
a-adeministraçam dos Sacram.tos» 3. A Inquirição, deste justificante, foi principiada
em 26 de Agosto de 1728 e finalizada em 9 de Agosto de 1729. Sobre a fama de
ascendência de cristão-novo, negro, ou mulato, encontra-se na Inquirição deste
habilitando, umas notas anexas sobre a reputação da família, na pessoa do tio
paterno do inquirido: P.e António Teixeira. As testemunhas ouvidas reportam-
-se ao justificante, e aos seus antepassados, como sendo pessoas sem fama e, de
uma forma geral, acrescentam que é filho legítimo e por todos é assim reputado;
quando inquiridas sobre os Pais e Avós, indicam que eram: lavradores que viviam
de suas fazendas e trabalho. Por exemplo, uma testemunha – por nome: Joana – sai
em defesa deste suplicante e refere sobre ele, e toda a sua família, que era «Limpo,
e de limpo sangue, e geraçam sem ter raça alguma de Judeo, negro, mulato…» 4, etc.
O Padre CAETANO TEIXEIRA, nasceu em Argeriz no dia 21 de Março
de 1713 e fez Inquirição De Genere e nela declara que: «dezeja seguir o estado Ecc.º,
e para isso ser admitido a ordenz; E por que se acha com os requezitos necessários» 5.
A Inquirição, deste justificante, foi iniciada e terminada Abril de 1734. Neste
processo há referências a dados relativos ao seu tio materno, P.e António Pires,
através da «Justificação de confraternidade do supplicante Caetano Teixeyra com seu

2
BORGES, J. C. Calvão, “Fazer Genealogia – IV. Os DOMINGUES, de Pereira de Selão
(Nobres e infamados, Santo Ofício e Estatuto Social no Traz-os-Montes dos séculos XVII e
XVIII), Raízes & Memórias, n.º 4, (Janeiro 1989), p. 17”.
3
Processo n.º 32382, fólio 2. O processo encontra-se no Arquivo Distrital de Braga e no primeiro
fólio surge a data de 1727.
4
Idem, fólio 48 verso.
5
Processo n.º 4044, fólio 3. O processo encontra-se no Arquivo Distrital de Braga.

375
Luís migueL guAPo murTA gomes

Tio o Padre Antonio Pires Irmão de sua may» 6. É uma inquirição cheia de depoi-
mentos acusatórios sobre a fama. A testemunha Joana, supracitada, já alude que
há fama de mulato através do bisavô deste inquirido.
O Padre ANTÓNIO TEIXEIRA, que deve ter nascido circa 1658 e que
teve por alcunha, «o Judeu», nasceu no lugar de Paradela, freguesia de São Mamede
de Argeriz, concelho de Valpaços; na Inquirição deste embargante, a data mais
antiga de início do dito processo, é a de 8 de Fevereiro de 1678 e termina em
1682. É curioso anotar e referir que a Inquirição De Genere deste justificante,
já o classifica como Cura em diversos locais e há depoimentos mui interessantes
sobre a vida deste Padre e sua ascendência; provas que merecem a atenção de
transcrição, no que toca às testemunhas acusatórias e, neste caso em particular, às
de defesa – sendo que estas últimas em muito contribuem para clarificar a genea-
logia da família e para elucidar e esclarecer que eram cristãos-velhos. Ouvidas as
testemunhas, muitas delas mencionam e participam que o P.e António Teixeira
admite ser descendente de uma negra, escrava que foi de Gaspar de Queiroga
Teixeira, e que entretanto ganhou o estatuto de mulher livre, o que significa que
foi alforriada.
A primordial inquietação do impetrante, António Teixeira, era demons-
trar, certificar e comprovar inequivocamente que estava a ser caluniado – e por
conseguinte toda a sua família – por pessoas contrárias a ele, que por ódio lhe
tinham posto fama de cristão-novo. O malicioso «estorvo que se lhe punha», por
parte de muitos inimigos figadais, foi o motivo de todo este impedimento ao
P.e  António Teixeira e o «mal intencionado rumor que dizem se levantou de q o
embargte tinha pella p.te materna fama de Christão novo, e pella outra de seu avô
paterno, era descendente de hũa negra» 7.
Há, aqui, claramente duas situações a salientar no que toca ao P.e António
Teixeira, aos seus sobrinhos-netos e restante ascendência:

Primeira: A fama de cristão-novo – a mais importante aqui pela situação


de ultraje que é imputada à família – que incrivelmente perdura por mais
de cinquenta anos, sendo ainda referida;
Segunda: A fama de ser descendente de uma escrava – aspecto aludido
por algumas testemunhas, mas de cariz secundário.

Quanto à primeira acusação – e vistas todas as provas e indícios docu-


mentais, pelos depoimentos das testemunhas arroladas – é esta inteira e abso-

6
Idem, fólio 5.
7
Processo n.º 91, fólio 37 verso. O processo encontra-se no Arquivo Distrital de Braga.

376
TeiXeirAs infAmAdos. enTre chAves e o Termo de vALPAços

lutamente falsa. O justificante, P.e António Teixeira, foi até Braga para atestar a
sua pureza de sangue, durante mais de seis meses – como narram as testemunhas
– e de lá trouxe uma sentença comprovativa de cristão-velho e da qual todos
tiveram conhecimento e informação; na jornada até BRACARA AVGVSTA, foi
com autos, instrumentos e meios comprovantes, o que acarretava o seu tempo
e dinheiro, com tudo o que isso comprometia, para quem se podia apelidar de
provir dos principais, gente honrada e afidalgada, numa longa viagem de «carros
puxados por bois, cavalos, malas, documentos probatórios, algum tipo de viatura,
semelhante a uma carruagem, e as peripécias de dias e dias de viagem até arribar a
Braga» 8.
Como é absolutamente difamatória e afrontosa tal acusação, provou e
comprovou, ele justificante, que é inteiro cristão-novo, limpo e de limpo sangue
e geração, sem raça de qualquer infecta nação; mais relata e expõe, para tornar
clara a evidência e certeza deste facto, que por parte de sua avó materna – Maria
Gonçalves –, teve «tios clérigos, curas de almas» e que não usa de conjecturas e
presunções e somente «argumenta com o cristalim da verdade pura, para nella luzir
sem a mancha q seus capitaes enimigos lhe levantarão de mui pouco tempo a esta
p.te» 9, referindo-se a Francisco Gomes Pequeno – o qual tinha por epíteto: «o Pé
de Pau», outrossim chamado: «o Perna de Pau» – médico em Chaves, de onde era
natural, como sendo o principal responsável pela afronta e ultraje de lhe apontar
a fama.
Esta ofensa e desonra surgiram, porque nem ele, suplicante, nem seu pai,
António Teixeira, quiseram perdoar e absolver o crime que se cometeu sobre a
pessoa de Francisco Teixeira, primo e sobrinho de ambos, respectivamente, uma
vez que o citado médico era primo do criminoso, como intimam as testemunhas.
Corroborando este facto, acresce que muitas vezes surgem difamações, male-
dicências e detracções que fazem nascer uma falsa fama através de uma «pessoa
malevola, e mal intencionada» – como foi o caso –, sendo que o referido médico
«andou machinando esta ceita contra o embarg.te» 10 e que «dos enimigos se pode
nunca esperar menos, nem elles podem chegar a mais, do que este medico chegou no
cazo presente» 11 e que aqueles que nada temem nas suas alegações de pureza e
limpeza de sangue, são pessoas credíveis, tidas, havidas e reputadas por honradas
e nestas situações, «costumão milhares de vezes ser afrontados, e infamados, pellos

8
GOMES, Luís Miguel Guapo Murta, Santo Estevam de Fayoens: Um Morgadio Flaviense, Lisboa,
Edições Vieira da Silva, 2012, p. 28.
9
Idem, fólio 37 verso.
10
Ibid., fólio 39.
11
Ibid., fólio 39 verso.

377
Luís migueL guAPo murTA gomes

seus enimigos» 12, acabando por influenciar, negativamente, as outras testemunhas


auscultadas no processo.
Contribuindo para este facto da fama de cristão-novo, que se patenteou
ser falsa, está que o justificante, P.e António Teixeira, era bisneto de Francisco
Luís – casado com Antónia Gonçalves – e que tinha tido por tios-bisavôs, Pedro
Rodrigues e Domingos Gonçalves, moradores em Chaves, os quais se casaram
com «mulheres infamadas de christãs novas, e dahi se arguio ao embarg.te que tinha
a mesma fama» 13 e assim se espalha o rumor inexacto e enganador às restantes
pessoas, atravessando gerações!
Quanto à segunda acusação, alega o habilitando que tem tios clérigos e
que tal obstáculo e estorvo «lhe não impede o ser cura de almas» 14 e pedia dispensa
do caso; verifica-se que os Padres e escrivães responsáveis por indagar, escrever
e dar parte, às Ordens Superiores Eclesiásticas responsáveis pela averiguação de
todo o processo em causa, não dão assinalável importância ao facto, nem mesmo
as testemunhas – na sua grande maioria – se impressionam com tal ascendência.

***

Capítulo II
Das Inquirições

Três são aqueles que fizeram as Inquirições De Genere e que são alvo do
nosso estudo. Um processo destes implicava a presença de Comissários do Santo
Ofício, de um ou mais Escrivães nomeados e o juramento, sobre os Santos Evan-
gelhos, pelas testemunhas a depor, além de sigilo por parte das mesmas; estas
inquirições eram feitas para averiguar a limpeza de sangue dos candidatos e eram
«convocadas várias testemunhas – geralmente não eram convocados parentes do inqui-
rido, pois poderiam enfatizar as origens familiares – que indagadas por várias ques-
tões, respondiam sobre a Família do candidato, falando sobre a existência, ou não, da
"fama" de cristãos-novos, mouriscos, mulatos, judeus» 15 ou como se dizia à época, se
eram de infecta nação. O processo era depois fechado e lacrado, sendo remetido
a quem de direito.

12
Ibid., fólio 39 verso.
13
Ibid., fólio 21 verso.
14
Ibid., fólio 22.
15
GOMES, Luís Miguel Guapo Murta, op. cit., p. 40.

378
TeiXeirAs infAmAdos. enTre chAves e o Termo de vALPAços

As testemunhas intimadas deviam ser as mais velhas e probas das loca-


lidades de naturalidade dos: justificante, seus pais e todos os seus quatro avós.
Todos os processos, relativos a este estudo, estão no Arquivo Distrital de Braga
e são extremamente importantes no que concerne à genealogia da família e aos
depoimentos das testemunhas. Estas relatam significativos e relevantes detalhes
sobre os três Padres desta família e, muitas vezes, contraditórios. Umas afirmam e
alegam que dizem a verdade, outras ouviram dizer e umas não têm bem a certeza,
mas imputam a fama.
Uma, já mencionada, por nome Joana – vide Capítulo I –, que não sabe
bem a sua idade, muda de orientação: de abonatória para acusatória; todavia é
bem marcante na posição desta Joana – solteira e lavradora, filha de Gregório
Pires – natural de Santiago da Ribeira de Alhariz, que de testemunha de defesa
passa, cinco anos depois, na outra Inquirição, esta de Caetano Teixeira, primo-
-direito de Caetano Teixeira de Niz, a depor como testemunha de acusação. Por
vezes é-nos difícil perceber qual a verdadeira posição, das testemunhas, nas inquiri-
ções: se acusativas, ou de defesa.
Outra testemunha, Ana Carneiro da Fontoura, cita que ouvira dizer – pela
parte de sua mãe –, que ao P.e António Teixeira chamavam de «o Judeu» e que
tal nomeada tinha sido posta ao «dito Padre por compaixam porque era christam
velho» 16. Se isto era compaixão, dó e comiseração por uma pessoa caluniada e
humilhada de cristão-novo, numa época em que era inconcebível ter-se fama é,
no mínimo, bizarro e muito estranho!
Tudo isto vem melhor aclarado e comentado nos pareceres das Ordens
Superiores Eclesiásticas, que chegam a citar e indicar ser bastante estranho pessoas
da mesma povoação, e vizinhas dos inquiridos, desconhecerem a família em causa
e outras – de localidades onde os justificantes tinham ascendência, mas sem
conhecerem a família e os impetrantes –, referirem que conhecem perfeitamente
os inquiridos e toda a sua ascendência e sabem muito bem, bem como ouviram dizer
por certo, aos seus progenitores e restante parentela, sem nunca terem tido trato
directo com os habilitandos, nem os conhecerem pessoalmente – e a todos os
antepassados dos mesmos! – fazendo crer, às restantes testemunhas, que a fama é
tida por certa e autêntica.
Há uma clara admoestação, por parte das Ordens Superiores Eclesiásticas,
no que concerne a esta situação, mostrando ser evidente a posição de intriga
e injúria, feita pelos caluniadores e a sua propagação a terceiros – como se de
verdade se tratasse –, estando a Igreja bem consciente do perigo destas ocorrências

16
Processo n.º 4044, fólio 28.

379
Luís migueL guAPo murTA gomes

e a sua disseminação. Há uma grande discrepância, nos depoimentos, e a fama


estender-se-á por mais de cinquenta anos, sem que seja verdadeira!
Neste processo de avaliação das Inquirições, apenas nos debruçamos
sobre as testemunhas que invocam e atribuem fama aos três inquiridos.
No caso do P.e António Teixeira, a menção e os depoimentos das testemunhas de
defesa, sobre a verdadeira causa da fama é tida em consideração, como foi referido
atrás (vide Capítulo I); esta fama é atribuída à linhagem paterna dos supli-
cantes, pelo que das inúmeras pessoas intimadas a depor, apenas apresentaremos
os relatos de algumas, por serem muitas as testemunhas nestes três processos de
Inquirição.

1) Principiemos por CAETANO TEIXEIRA DINIZ – Processo n.º 32382.

Como testemunhas de ARGERIZ, foram intimadas as seguintes:

• Domingos Teixeira Morais, Capitão de Infantaria, com a idade de 48


anos;
• Serafina Gomes, viúva de João Gomes, com a idade de 72 anos;
• Manuel Pereira, filho de Gonçalo Fernandes, solteiro, lavrador, com a
idade de 45 anos;
• Domingos Gomes, lavrador, com a idade de 70 anos;
• Isabel Fernandes, viúva de Domingos Vaz, com a idade de 60 anos;
• Domingos Fernandes, viúvo, lavrador, com a idade de 105 anos «pouco
mais, ou menos»;
• António Rodrigues, casado, lavrador, com a idade de 55 anos;
• Francisco Gonçalves, casado, cirurgião, com a idade de 50 anos;
• Francisco Vaz, viúvo, lavrador, com a idade de 70 anos;
• João Lopes, casado, lavrador, com a idade de 60 anos.

Como testemunhas de SANTIAGO DA RIBEIRA DE ALHARIZ, natu-


ralidade de João Teixeira, avô paterno do justificante, foram notificadas as
seguintes:

• Domingos Pires, casado, lavrador, com a idade de 60 anos;


• Baltazar Fernandes, lavrador, com a idade de 60 anos;
• Catarina Gonçalves, lavradora e viúva de António Álvares, com a
idade de 70 anos;
• Pedro Fernandes, lavrador, casado, com a idade de 58 anos;
• Francisco Fernandes, lavrador, casado, com a idade de 60 anos;

380
TeiXeirAs infAmAdos. enTre chAves e o Termo de vALPAços

• João Lopes, lavrador, viúvo, com a idade de 68 anos;


• Gregório Teixeira, lavrador, com a idade de 50 anos;
• Gonçalo Vaz, lavrador, com a idade de 57 anos;
• Joana, solteira e lavradora, filha de Gregório Pires e com 56 anos de
idade;
• Isabel Gonçalves, casada com Bento da Costa, lavradora, com a idade
de 45 anos.

Depoimentos de algumas testemunhas

ARGERIZ

Iniciemos pela atestação de algumas testemunhas.

Domingos Teixeira Morais, natural e morador em Argeriz, refere


que: «…sabe que o dito justificante por si, e pelos ditos seus pais e avós paternos
e maternos, excepto pela parte de seu avô João Teixeira, natural do lugar de
Paradela, freguesia de Santiago da Ribeira [de Alhariz], o qual fora sempre tido,
e havido pela parte de seu pai, descendente de um negro, e pela parte de sua mãe,
descendente de uma Genoveva Luís, natural que se dizia ser do Reino de Castela,
e fora sempre tida, e havida e infamada de cristã-nova, e se dizia sem fundamento
certo viera fugida ao Santo Ofício, o que é público, e voz comum, e sempre o ouviu
dizer a seus pais, e avós, e a muitas pessoas que tinham notícia de o saber…» 17,
enganando-se no posicionamento de Genoveva Luís, na árvore genealógica do
habilitando (vide Capítulo III).

Manuel Pereira, natural e morador em Argeriz, cita que: «…o justifi-


cante pela parte de seu avô paterno, João Teixeira, padecia de fama de ser descen-
dente de negro, e disse esta testemunha [que] conhecera de vista ao pai do sobredito
João Teixeira vir a este lugar com uns botins calçados, e que era tão negro como os
mesmos botins o que é pública voz e fama nesta freguesia, e circunvizinhas…» 18.

Francisco Gonçalves, natural do lugar de Ribas, da freguesia de São


Mamede de Argeriz, acusa o avô paterno do justificante, embora não saiba
se, de facto, tal fama existe e consigna o seguinte: «Sabe que o justificante, pela
parte de seu avô paterno João Teixeira, padece sua infâmia de ser descendente de

17
Processo n.º 32382, fólio 7 verso.
18
Idem, fólio 10.

381
Luís migueL guAPo murTA gomes

negro, ainda que não sabe se é certo, ou não o que diz pelo ter ouvido; e pelas mais
partes é tido, e havido por cristão-velho inteiro…» 19.

João Lopes, natural e morador em Argeriz, infama João Teixeira,


embora não tenha a certeza e não sabe se é verdadeira a acusação que lhe
fazem, indicando que: «Ao quinto [artigo] disse [que] sabe que o justificante,
pela parte de seu avô paterno João Teixeira, é infamado de descendente de negro
sem saber em que grau, nem o saber com certeza, nem de ciência certa, mas só por
se assim dizer…» 20.

SANTIAGO DA RIBEIRA DE ALHARIZ

Comecemos por registar o que intimam algumas das testemunhas.

Baltazar Fernandes, natural e morador na freguesia de Santiago da


Ribeira de Alhariz, refere-se a João Teixeira e ao justificante, do seguinte
modo: «…o dito justificante pela parte de seu avô paterno, João Teixeira, padece
sua infâmia de ser descendente de um negro, o que é público nesta freguesia e ainda
desavindo-se com alguns seus primos, [estes mesmos] lho chamam na cara e não
sabe que padeça outra fama…» 21.

Francisco Fernandes, natural e morador em Santiago da Ribeira de


Alhariz, acusa João Teixeira, relatando o imediato: «…sabe que o justificante
padece sua fama de ser descendente de negro, ainda que teve um irmão clérigo,
chamado António Teixeira, [o qual era] irmão do dito João Teixeira […] e não
sabe tenha mais coisa alguma de infecta nação, das reprovadas em direito contra a
nossa Santa Fé Católica…» 22, etc.

Gonçalo Vaz, natural do lugar de Paradela e morador na freguesia de


Santiago da Ribeira de Alhariz, expõe que: «…padece [de] uma fama de ser
descendente de negro […] ainda que um irmão do dito João Teixeira, chamado
António Teixeira, Cura nesta mesma freguesia, e imputando-lhe esta mesma fama
de descendente de negro, se aclarou por sentença onde tornou o clérigo a dizer
missa, sendo Cura ainda quando morreu nesta mesma freguesia de Santiago da

19
Ibid., fólio 16.
20
Ibid., fólio 18.
21
Ibid., fólio 42 verso.
22
Ibid., fólio 45.

382
TeiXeirAs infAmAdos. enTre chAves e o Termo de vALPAços

Ribeira…» 23, sendo que Caetano Teixeira Diniz – o examinado nesta prova de
inquirição – e seu avô paterno, não eram infamados de cristãos-novos, nem
de outra infecta nação e nunca tinham sido presos, nem penitenciados, pelo
Santo Ofício e não pagavam finta.

***

2) Seguidamente CAETANO TEIXEIRA – Processo n.º 4044.

Como testemunhas de ARGERIZ, foram intimadas as seguintes:

• Francisco Lopes, casado, com a idade de 62 anos;


• Sebastião Gonçalves, casado, lavrador, com a idade de 60 anos;
• Pedro de Andrade, viúvo, lavrador, com a idade de 68 anos;
• Francisco Vaz, viúvo, lavrador, com a idade de 73 anos;
• Isabel Fernandes, viúva, com a idade de 30 anos;
• António Rodrigues, casado, com a idade de 60 anos;
• Domingos Teixeira Morais, «homem que vive de suas fazendas»,
Capitão de Ordenanças, com a idade de 52 anos;
• João Gonçalves, Padre, com a idade de 60 anos;
• Domingos Gomes, viúvo, lavrador e com 80 anos de idade;
• João Lopes, casado, lavrador, com a idade de 80 anos.

Como testemunhas de SANTIAGO DA RIBEIRA DE ALHARIZ, natu-


ralidade de João Teixeira, avô paterno do habilitando, foram notificadas as
seguintes:

• Maria Vaz, viúva de Domingos Magalhães, com a idade de 66 anos;


• Bernardino Carvalho, «homem que vive de suas fazendas», Capitão de
Ordenanças, com a idade de 24 anos;
• Catarina da Conceição, casada com Bernardino Carvalho 24, com a
idade de 22 anos;
• António Dinis, sapateiro, com 45 anos de idade;
• Catarina Gonçalves, mulher de Gonçalo Vaz 25, com a idade de 50 anos;

23
Ibid., fólio 47 verso.
24
Que supomos ser o Capitão de Ordenanças que aqui é arrolado como testemunha.
25
Que nos parece ser o mesmo que depõe na Inquirição De Genere de Caetano Teixeira Diniz
(Processo de Inquirição De Genere n.º 32382).

383
Luís migueL guAPo murTA gomes

• Madalena Rodrigues, casada com Silvestre Lopes, com a idade de 60


anos;
• Ana Carneiro da Fontoura, «Donna viuva», com 60 anos de idade;
• Joana, mulher solteira e filha de Gregório Pires, com a idade de 50
anos 26;
• Gonçalo Vaz, casado, lavrador, com a idade de 62 anos 27;
• Jacinto Teixeira, lavrador, com a idade de 84 anos;
• Pedro Fernandes, lavrador, com a idade de 68 anos;

Depoimentos de algumas testemunhas

ARGERIZ

Constatemos as declarações de algumas testemunhas.

Pedro de Andrade, natural e morador em Argeriz, declara que o justi-


ficante Caetano Teixeira: «…tem raça de mulato pelo dito seu pai e avô paterno,
João Teixeira, natural do lugar de Paradela, porque este era filho de António
Teixeira, morador que foi no mesmo lugar de Paradela que ele, testemunha,
conheceu muito bem de vista, o qual era mulato, tanto na cor do rosto como no
cabelo, que o tinha escuro à semelhança de negro, e diziam que este era filho de um
negro, e de uma mulher que chamavam Genoveva Luís, que diziam ser natural do
lugar de Celeirós, freguesia de Friões, desta comarca, e que como filho desta tinha
também parte de cristão-novo, o que ele testemunha assim ouviu dizer a muitas
pessoas e […] a Gonçalo da Costa natural da vila de Chaves, já falecido e morador
que foi neste lugar, o qual lhe dizia que a dita Genoveva Luís, e o dito negro com
quem esta casara, foram criados de sua avó no lugar e freguesia de Santiago da
Ribeira…» 28 e que sem embargo disso, ainda certificou que: «…conheceu, ele
testemunha, ao Padre António Teixeira, irmão inteiro do dito João Teixeira, avô
paterno do habilitando…» 29.

26
Parece-nos ser a mesma Joana, que é intimada no processo de Caetano Teixeira Diniz, pois a sua
filiação, estado civil e naturalidade corresponde. Contudo, na Inquirição De Genere de Caetano
Teixeira (Processo n.º 4044), a sua idade é inferior à indicada no Processo 32382. Julgamos ser
a mesma pessoa.
27
Que supomos ser o mesmo que depõe na Inquirição De Genere de Caetano Teixeira Diniz.
28
Processo n.º 4044, fólio 13.
29
Idem.

384
TeiXeirAs infAmAdos. enTre chAves e o Termo de vALPAços

António Rodrigues, natural e morador em São Mamede de Argeriz,


afirma que pelo pai e avô paterno: «…tem alguma raça de mulato […] porque
este era filho de António Teixeira, que muito bem conheceu, ainda morador no
mesmo lugar de Paradela, o que se dizia ser negro, e com efeito era amulatado
[e] que mostrava ser filho ou neto de homem preto, sendo que ele testemunha
lhe conheceu um filho sacerdote, que se chamava o Padre António Teixeira…» 30,
fazendo referência, tal como Pedro de Andrade, supra, que em Argeriz se tinha
ordenado um primo deste habilitando, há uns anos – que era o P.e Caetano
Teixeira Diniz (vide atrás).

Domingos Teixeira Morais, de Argeriz, onde era morador e natural,


expõe que o embargante é mulato, por ser filho de António Teixeira – o qual
conheceu «sendo ainda rapaz» – e que padece de fama de cristão-novo, uma
vez que ao dito António Teixeira: «…se dizia ser neto de um preto que casou
com uma mulher branca, a qual se não sabia donde era natural, e vinha fugindo
à Inquisição […] [e] tem o dito António Teixeira um filho sacerdote […] o qual
fora muitos anos Cura na freguesia de Santiago da Ribeira [de Alhariz], e também
hoje se acha sacerdote, neste lugar, o Padre Caetano Teixeira […] primo carnal do
habilitando [e] neto do mesmo João Teixeira em cuja habilitação jurou também
ele, testemunha…» 31.

O P.e João Gonçalves, Sacerdote do hábito de «Sam Pedro», natural


de Argeriz onde era domiciliado, indagado, enuncia o seguinte: «…tem raça
de mulato, e assim é fama constante por este ser filho de António Teixeira, que ele
testemunha conheceu de vista […] o qual se dizia ser filho ou neto de um preto, o
que ele testemunha não sabe averiguar com certeza…» 32.

SANTIAGO DA RIBEIRA DE ALHARIZ

Comecemos por averiguar as exposições de algumas testemunhas.

Maria Vaz, natural do lugar de Aveleda, freguesia de Serapicos e mora-


dora em Santiago da Ribeira de Alhariz, cita que o avô paterno do suplicante,
Caetano Teixeira, era: «…inteiro e legítimo cristão-velho, sem raça de judeu, cristão-
-novo ou mouro, e por tal havido geralmente sem fama nem rumor em contrário […]

30
Ibid., fólios 15 verso e 16.
31
Ibid., fólio 17.
32
Ibid., fólio 18.

385
Luís migueL guAPo murTA gomes

Porém tinha alguma raça de negro porque era filho de António Teixeira e sua mulher
Comba Diniz, moradores que foram no mesmo lugar de Paradela, o qual António
Teixeira que ela testemunha conheceu muito bem de vista e se dizia geralmente ser
filho, ou neto de um mulato, e com efeito a cor do rosto, e o cabelo dele davam indí-
cios ou sinais…» 33, sendo que teve um filho, António Teixeira, que foi Padre.

Bernardino Carvalho, natural e morador em Paradela, narra que: «…o


justificante por parte do dito seu avô paterno João Teixeira tem alguma raça de
negro, ou mulato, ainda que em grau remoto, e disse foi sempre o dito seu avô
geralmente infamado, por parte do dito seu Pai, António Teixeira [que era], bisavô
do justificante, por se dizer que este era filho de outro António Teixeira, natural
da vila de Chaves de onde veio para este lugar de Santiago da Ribeira […] e
entende que o justificante é descendente do dito negro em quinto grau […] e o
Padre António Teixeira […] o capitulavam como descendente de negro, e também
quiseram dizer que tinha parte de cristão-novo, porém foi então nesse tempo à
cidade de Braga onde se demorou coisa de seis, ou sete, meses e se disse na freguesia
que fora dispensar-se da raça de mulato e [a fama] desvaneceu…» 34, e em Braga,
o aludido P.e António Teixeira, caluniado de cristão-novo, provou ser falsa tal
denúncia, sendo que o pai desta testemunha em questão, lhe contava que: «…
ao dito Padre se lhe não podia opor coisa alguma na pureza de seu sangue…» 35.

Catarina da Conceição, natural do lugar de Campo de Égua, da


freguesia de Santiago da Ribeira de Alhariz, e moradora em Paradela, justifica
que: «…sendo Cura nesta freguesia o dito Padre António Teixeira, irmão do avô
paterno do habilitando, se levantou fama que tinha raça de mulato e deixando
de ser Cura se foi à cidade de Bragança, digo à cidade de Braga, onde esteve coisa
de meio ano em cujo tempo foi público que se fora dispensar [da fama imposta e]
[…] que era cristão-velho…» 36.

Ana Carneiro da Fontoura, natural e moradora em Santiago da Ribeira


de Alhariz, relata que: «…o habilitando, por parte do dito seu avô paterno João
Teixeira, tem raça de mulato, ainda que em grau remoto em razão de se dizer geral-
mente que o dito António Teixeira, pai dele, e bisavô paterno do habilitando, era filho
de um mulato natural da vila de Chaves…» 37, e que ao Padre António Teixeira,
33
Processo n.º 4044, fólio 21 verso.
34
Idem, fólios 22 verso e 23.
35
Ibid., fólio 23.
36
Ibid., fólio 23 verso.
37
Ibid., fólio 27 verso.

386
TeiXeirAs infAmAdos. enTre chAves e o Termo de vALPAços

tio paterno do inquirido, lhe chamavam de «judeu sendo ja sacerdote» – segundo


narra a testemunha, que ouvira dizer de sua mãe – e que sobre esta matéria: «…a
dita sua mãe lhe dizia que o chamarem de judeu ao dito Padre fora compaixão,
porque era cristão-velho [e] nem ela testemunha, ouviu em algum tempo que o sobre-
dito Padre, ou o dito seu pai padecessem fama de outra alguma nação infecta…» 38.

Gonçalo Vaz, natural e morador em Paradela, conta que o avô paterno,


João Teixeira, tinha: «…alguma raça de mulato em razão de ser filho de António
Teixeira, que ele testemunha conheceu de vista e a sua mulher Comba Diniz, o
qual António Teixeira se dizia ser neto de um negro […] e também ele testemunha
conheceu de vista ao Padre António Teixeira […] ao qual sendo já sacerdote capitu-
laram alguns inimigos na cidade de Braga, dizendo que ele tinha parte de cristão-
-novo, por cujo motivo foi o mesmo Padre à dita cidade onde se demorou coisa de sete
meses, e voltando para a freguesia trouxe uma sentença por onde se desvaneceu a nota
de cristão-novo que queriam pôr-lhe os inimigos e se contava, nesse tempo de que está
muito bem lembrado ele testemunha, que capitularam ao dito Padre em ódio do dito
seu pai António Teixeira, por este acusar uma morte feita a um seu sobrinho de que
não quiseram dar perdão as partes, e é sem dúvida que os sobreditos João Teixeira
e seu pai, António Teixeira, avô e bisavô do habilitando, eram inteiros e legítimos
cristãos-velhos [e] nem de judeus, cristãos-novos, mouros ou hereges foram em algum
tempo infamados; antes sempre foram geralmente havidos por pessoas de limpo
sangue, e geração, sem raça […] menos que fosse a de mulato, de modo que acima
tem deposto sendo que entende que o habilitando já fica fora do quarto grau…» 39.

Jacinto Teixeira, natural do lugar de Vila Nova do Monte, da freguesia


de Santiago da Ribeira de Alhariz, intimado a depor na habilitação de Caetano
Teixeira, relata que o: «…habilitando, pelo dito seu avô paterno, é inteiro cristão-
-velho, sem raça de judeu, cristão-novo, mouro [ou] herege […] menos que seja a
de mulato, em razão de o dito António Teixeira, bisavô paterno do habilitando,
se dizer geralmente que era filho de um mulato, e descendente de um negro, e com
efeito o mesmo António Teixeira era bem amulatado na cor, e tinha os beiços e
cabelo à semelhança de negro…» 40.

***

38
Ibid., fólio 28.
39
Ibid., fólios 29 e 29 verso.
40
Ibid., fólio 30 verso.

387
Luís migueL guAPo murTA gomes

3) Terminemos com ANTÓNIO TEIXEIRA – Processo n.º 91.

Como testemunhas de SANTIAGO DA RIBEIRA DE ALHARIZ, foram


convocadas as subsequentes:

• João Fernandes, lavrador, com a idade de 63 anos;


• António Gonçalves, lavrador, com a idade de 67 anos;
• Francisco Fernandes, ferreiro e com 73 anos de idade;
• Pedro Martins, lavrador, com a idade de 60 anos;
• Gregório Pires, lavrador, com a idade de 100 anos «pouco mais ou menos»;
• Domingos Lopes, Padre, com a idade de 66 anos;
• Gaspar Gomes, com a idade de 57 anos;
• António Fernandes, lavrador e com a idade de 77 anos;
• Francisco Gralho, lavrador, com 80 anos de idade;
• António Vaz, lavrador, com a idade de 60 anos;
• António Fernandes, lavrador, com a idade de 60 anos;
• Brás Pires, lavrador, com a idade de 60 anos;
• João Fernandes, lavrador e com 60 anos de idade;
• Domingos Fernandes, lavrador, com a idade de 56 anos;
• Domingos Gomes, lavrador, com a idade de 70 anos;
• Pedro Fernandes, lavrador, com a idade de 60 anos;
• Domingos Pires, lavrador e com 60 anos de idade;
• Pedro Pires, lavrador, com a idade de 77 anos.

Como testemunhas de CHAVES, foram notificadas as seguintes:

• Gregório Rodrigues, «homem que vive de suas fazendas», com a idade


de 80 anos;
• Pedro Cabral, «homem que vive de suas fazendas», com a idade de 72
anos;
• Álvaro Garcia, trabalhador e com 87 anos de idade;
• António Álvares, lavrador, com a idade de 80 anos;
• Gaspar de Melo, «homem que vive de sua fazenda», com a idade de 66
anos;
• Dionísio de Matos, Padre, com a idade de 81 anos;
• António Pires, ferrador, com a idade de 57 anos;
• João Rodrigues Chaves, Padre, com a idade de 60 anos;
• André Martins Teixeira, lavrador e com 83 anos de idade;
• Pedro Rodrigues, Padre, com a idade de 76 anos.

388
TeiXeirAs infAmAdos. enTre chAves e o Termo de vALPAços

Depoimentos de algumas testemunhas

SANTIAGO DA RIBEIRA DE ALHARIZ

a) Comecemos pelos depoimentos de algumas testemunhas acusatórias.

João Fernandes, natural do lugar de Campo de Égua (Santiago


da Ribeira de Alhariz), menciona que o justificante: «…pela parte de
seu pai e avô paterno, é de casta e geração de negros e o mesmo justificante
o confessa geralmente e ainda no mesmo pai se mostra a mesma nação,
porquanto o dito seu avô Francisco Teixeira nasceu de uma negra na vila
de Chaves, e pela parte se sua avó materna, Maria Gonçalves, ouviu ele
testemunha uma fama vaga de cristã-nova…» 41.

António Gonçalves, natural e morador em Campo de Égua,


cita que o avô paterno do suplicante, era de «casta de negros» e «…
pela parte de Maria Gonçalves, avó materna, ouviu ele testemunha uma
fama vaga de cristã-nova, mas entende que lhe foi levantada com ódio e
má vontade por, António Teixeira, pai do justificante, não querer perdoar
uma morte de um seu sobrinho que lhe mataram nesta freguesia [umas]
pessoas da freguesia de Serapicos, como é Gonçalo Cardoso e outro seu irmão
e outras mais pessoas…» 42.

Gregório Pires, outrossim natural do lugar de Campo de Égua,


intimado pelo Comissário do Santo Ofício a depor, expõe que: «…o
justificante, por si e seu pai e avô paterno, é de nação de negros porquanto
seu avô paterno […] Francisco Teixeira foi filho de Gaspar de Queiroga dos
principais da vila de Chaves e de uma sua negra…» 43.

b) Seguidamente, algumas declarações de testemunhas de defesa 44.

O P.e Domingos Lopes, natural e morador no lugar de Vila


Nova, da freguesia de Santiago da Ribeira de Alhariz, alude que: «…é
de nação de negros porquanto o dito seu avô nasceu de uma negra […]
41
Processo n.º 91, fólio 12.
42
Idem, fólio 13.
43
Ibid., fólio 15 verso.
44
Mais elucidativas sobre os factos apontados ao habilitando e à família, e assim consideradas e
tidas neste processo, para entender a origem – falsa – da cristã-novice.

389
Luís migueL guAPo murTA gomes

e pelas mais partes, é limpo e de limpo sangue e geração [e] suposto lhe
levantaram uma fama de cristão-novo e essa foi falsa e por contemplação de
inimigos, porquanto acusando o pai do justificante a Gonçalo Cardoso, de
Serapicos, e a seu irmão Gaspar Gonçalves e a outros por lhe matarem um
seu sobrinho, estando [este] na cama, e por lhe não perdoar lhe levantaram
esta fama, porquanto o justificante, na opinião de todos, tirado a fama e
nação que é de negro, sempre foi tido por cristão-velho inteiro sem haver
fama de mouro, nem judeu…» 45.

Gaspar Gomes, morador no lugar de Vila Nova, freguesia


de Santiago da Ribeira de Alhariz, refere que o justificante, António
Teixeira, era por parte de seu pai e avô paterno de: «…nação de negros,
porquanto o dito seu avô Francisco Teixeira foi filho de uma negra e de um
fulano de Queiroga, da vila de Chaves e ainda hoje, no pai do justificante,
se mostra a mesma nação, e pela parte de sua mãe e avós maternos, houve
uma fama vaga de cristão-novo, mas esta lhe levantaram Gonçalo Cardoso
e seu irmão Gaspar Gonçalves e outros que, em sua companhia, foram a
matar a um primo do justificante, a sua casa, a ferro frio e pelo pai do
justificante lhe ser parte, lhe levantaram esta fama […] sempre foram tidos
por cristãos-velhos…» 46.

Francisco Gralho, morador no lugar de Esturãos, da referida


freguesia de Santiago da Ribeira de Alhariz, relata que: «…sempre teve
ao embargante e a seus pais e avós paternos e maternos por cristãos-velhos,
sem ter raça de judeu nem de cristão-novo, e somente disse que Francisco
Teixeira, avô paterno do embargante, sempre ele testemunha ouviu dizer
que era filho de uma negra que se dizia ser livre […] somente houvera
[dizer e sabia que há] seis ou sete anos que mataram a Francisco Teixeira,
primo do embargante, pelo embargante e seu pai não quererem perdoar a
dita morte [a] um médico de Chaves, que se chamava o pé de pau, que era
primo do matador [e desta forma] levantara ao embargante a fama de
cristão-novo, que até este tempo, ele testemunha, não tinha ouvido…» 47.

António Vaz, morador no lugar de Vila Nova, de Santiago da


Ribeira de Alhariz, notifica que são todos cristãos-velhos, sem fama ou

45
Ibid., fólio 16 verso.
46
Ibid., fólio 17 verso.
47
Ibid., fólio 32.

390
TeiXeirAs infAmAdos. enTre chAves e o Termo de vALPAços

rumor em contrário, e que devido a um crime, cometido há «sete ou


oito annos a esta parte»: «…sucedeu matarem Francisco Teixeira, primo do
embargante, pelo embargante e seu pai e irmãos não quererem perdoar a
dita morte [a] um médico de Chaves, chamado Francisco Gomes Pequeno
[que era] parente do matador [e assim se] levantara fama que o embar-
gante era cristão-novo, porém que até esse tempo estava o embargante tido
e havido por cristão-velho…» 48 e que tinha sido Padre em São Pedro
Velho, Bispado de Miranda.

Brás Pires, morador no lugar de Esturãos, argumenta que: «…


teve aos pais e avós paternos e maternos por cristãos-velhos inteiros e nunca
ele testemunha ouviu rumor, nem fama alguma em contrário. Somente
depois que sucedeu a morte de Francisco Teixeira, que era primo do embar-
gante, por ele e seu pai não quererem perdoar a dita morte [a] um médico
de Chaves, que chamam o perna de pau, e outros parentes do matador,
levantaram que o embargante tinha raça de cristão-novo, porém isto não
tinha ele testemunha ouvido dizer e só [o] ouviu depois que sucedeu a dita
morte…» 49, a qual, segundo Brás Pires, tinha acontecido há oito anos.

CHAVES

c) Comecemos por relatar a confissão daquele que nos parece ser o único
tido por testemunha acusatória, nesta fase do processo, em particular,
sobre o habilitando P.e António Teixeira.

O P.e Pedro Rodrigues, natural de Chaves e «morador na rua


direita desta Villa de Chaves», descreve que: «…somente conheceu os avós
paternos do embargante que era Francisco Teixeira e Genoveva Luís, aos
quais teve sempre por cristãos-velhos e somente ouviu dizer que eram de
casta de negros…» 50.

d) Decifremos os depoimentos de algumas das testemunhas de defesa.

Pedro Cabral, morador na Rua Nova, em Chaves, expõe que:


«…perguntado pelo segundo artigo disse ele testemunha [que] não sabe

48
Ibid., fólio 33.
49
Ibid., fólio 35.
50
Ibid., fólio 53 verso.

391
Luís migueL guAPo murTA gomes

nem ouviu dizer nunca, que os pais e avós paternos e maternos do embar-
gante fossem cristãos-novos e se foram, ou tiveram essa fama, haveria ele
testemunha de sabê-lo…» 51 e que sempre ouvira contar ao seu pai – que
tinha conhecimento certo quais eram as famílias de cristãos-novos –
que «…esta família, de onde descende o embargante, nunca teve fama de
[serem] cristãos-novos…» 52.

Álvaro Garcia, morador na Ribeira das Avelãs, termo de


Chaves, relata o seguinte sobre o embargante, fazendo menção que:
«…é filho legítimo de António Teixeira e de sua mulher Comba Diniz,
os quais ele testemunha muito bem conheceu [e] que foram moradores no
lugar de Paradela […] E perguntado pelo segundo artigo, disse que os pais
e avós paternos e maternos do embargante teve ele testemunha por cristãos-
-velhos de todos os quatro costados […] [e] ele testemunha nunca sabe, nem
ouviu o contrário e se houvera em algum tempo fama, haveria de sabê-la
[…] e conheceu muito bem ao Padre António Gonçalves, o qual foi muitos
anos Vigário na Igreja de Santiago de Alhariz, o qual era tio de Maria
Gonçalves, avó materna do embargante…» 53.

Gaspar de Melo, morador na Madalena, arrabaldes de Chaves,


refere que o justificante é filho: «…legítimo de António Teixeira e de
sua mulher Comba Diniz, aos quais ele, testemunha, conheceu muito bem
[…] E perguntado pelo segundo artigo de embargo, disse que sempre ele
testemunha teve ao embargante e a seus pais e avós […] por cristãos-velhos
e nunca soube nem ouviu dizer que o embargante, nem a sua ascendência,
fosse infamado de cristão-novo […] E perguntado ao quinto artigo, disse
que sabe [que] o embargante foi Cura na freguesia de Santiago [da Ribeira]
de Alhariz alguns anos e sabe, ele testemunha, pelo ouvir dizer geralmente
que a fama que se levantou ao embargante, de cristão-novo, fora levantada
falsamente pelo licenciado Francisco Gomes, médico que foi desta vila, por
uma morte que se fez a um primo do embargante, pelo embargante e seu
pai não quererem perdoar a dita morte…» 54.

***

51
Ibid., fólio 28.
52
Ibid., fólio 28 verso.
53
Ibid., fólios 28 verso e 29.
54
Ibid., fólio 30.

392
TeiXeirAs infAmAdos. enTre chAves e o Termo de vALPAços

CAPÍTULO III
Da Genealogia

§ 1.º

I – MARTIM TEIXEIRA, nasceu circa 1490 e era conhecido como:


«o  Velho». Está sepultado na Colegiada de Chaves, perto da sepultura
do primeiro Duque de Bragança, o Senhor Dom Afonso. Este Martim
Teixeira foi, provavelmente, natural de Monforte de Rio Livre – onde teria
considerável e valiosa fortuna – e Alcaide das Sisas de Monforte de Rio
Livre, por nomeação de El-Rei Dom Manuel I de Portugal 55. Foi Cava-
leiro Fidalgo e residiu, como alguns dos seus antepassados, em Chaves. No
burgo Flaviense instituiu Capela. Teve um prazo em Carrazedo de Monte-
negro. Era f.º de Vasco Anes Colmieiro e de D. Branca Teixeira – a qual
descendia do verdadeiro tronco e linhagem dos TEIXEIRA 56. Neto pat.
de Álvaro Anes Colmieiro 57, Alcaide de Monforte de Rio Livre e Escrivão
das Sisas da mesma povoação e de Filipa Gomes, que era natural da Galiza
e neto mat. de Gonçalo de Novais e de D. Branca Teixeira. C. c. FRAN-
CISCA RODRIGUES REBELO, f.ª de Rui Martins Zamora 58, que mais
tarde se tornou sacerdote, o qual era natural do Alentejo, tendo residido
na Corte. Acompanhou o Arcebispo de Braga Primaz das Espanhas a
Roma; este, no regresso, doou-lhe em mercê, a Abadia de Vale Freixoso.
Foi, outrossim, pelo mesmo Arcebispo indicado como Vigário-Geral da
Arquidiocese de Bracara Augusta e Visitador de duas das suas comarcas e,
com este cargo, aprovou os estatutos da Colegiada de Chaves. Neta pat.
de Martim Rodrigues e de Beatriz Pires.

55
SÃO PAYO, Luiz de Mello Vaz de, “Fazer Genealogia – XII. Famílias de Chaves (séc. XV
a XVII)”, Raízes & Memórias, n.º 12 (Junho 1996), p. 159; GAYO, Manuel José da Costa
Felgueiras, Nobiliário das Famílias de Portugal, Braga, Carvalhos de Basto, 1992, Tomo XXVII,
Título de TEIXEIRAS, p. 185.
56
SÃO PAYO, Luiz de Mello Vaz de, “Fazer Genealogia – XII. Famílias de Chaves (séc. XV a
XVII)”, Raízes & Memórias, n.º 12 (Junho 1996), pp. 157-159; GAYO, Manuel José da Costa
Felgueiras, Nobiliário das Famílias de Portugal, Braga, Carvalhos de Basto, 1992, Tomo XXVII,
Título de TEIXEIRAS, pp. 178, 184-185. FORJAZ, Jorge, Os Teixeira de Sampaio da Ilha
Terceira, Porto: Centro de Estudos de Genealogia, Heráldica e História da Família Universidade
Moderna, 2001, pp. 26, 31.
57
Que tinha por alcunha: «o Ronca», sendo que este cognome lhe foi posto, por se ter distinguido
nas Guerras de África.
58
SÃO PAYO, Luiz de Mello Vaz de, “Fazer Genealogia – XV. Famílias de Chaves (séc. XV a
XVII)”, Raízes & Memórias, n.º 15 (Outubro 1999), pp. 101-103.

393
Luís migueL guAPo murTA gomes

Filhos:
II – ROQUE TEIXEIRA, s.m.n.
II – LEONARDO TEIXEIRA, s.m.n.
II – JÁCOME TEIXEIRA, que segue:
II – CRISTÓVÃO TEIXEIRA, s.m.n.
II – INÊS GOMES TEIXEIRA, s.m.n.
II – FILIPA TEIXEIRA, s.m.n.
II – ISABEL GOMES TEIXEIRA, s.m.n.

II – JÁCOME TEIXEIRA, nasceu «antes de 1522, pois recebeu ordens menores


em 1529» 59. Esteve degredado em Ceuta. C. c. FILIPA DINIZ.
Filhas:
III – D. FRANCISCA RODRIGUES TEIXEIRA, c.g., s.m.n.
III – D. MERÊNCIA TEIXEIRA, que segue:

III – D. MERÊNCIA TEIXEIRA – que também usou Emerenciana Teixeira –


nasceu circa 1545. Foi várias vezes madrinha em Chaves 60. C. c. DIOGO
DE QUEIROGA 61, f.º legitimado, por Carta Régia de 20 de Novembro
de 1550 (El-Rei Dom João III), do L.do Álvaro de Queiroga 62, natural da
Galiza, fidalgo, tendo vindo para Portugal em 1514, Abade de Nogueira
da Montanha e de Filipa de Matos.
Tiveram, pelo menos:
IV – GASPAR DE QUEIROGA TEIXEIRA, que segue:

IV – GASPAR DE QUEIROGA TEIXEIRA, nasceu entre 1570-1580, pessoa


nobre e «dos principais da Villa de Chaves» 63. C. c. D. ANA DE VARGAS
CAMPILHO 64, f.ª de Diogo Campilho Teixeira e de Antónia de Morais.
C.g.
59
Raízes & Memórias, n.º 12, op. cit., p. 160.
60
Idem, p. 161.
61
Ibid., p. 161; FONTOURA, Manuel de Queiroga Correia Carneiro da, Memorias Genealogicas,
ou Apparato…, 1816, MS 1345, BPMP, fólios 210 e 210 verso.
62
Surge como Álvaro de Quiroga e como Bacharel. Era f.º de Garcia de Quiroga, Senhor da Vila,
Solar e da nobre Honra de Quiroga – na Galiza – e de D. Teresa Sarmiento. Em 1533 mandou
edificar a Capela de Santa Marinha, em Nogueira da Montanha, onde se encontra sepultado.
Morreu em 1567. Vide MS n.º 1345, fólio 210.
63
Processo n.º 91, fólio 15 verso. Para o período cronológico apresentado e para as pessoas da
nobreza de Chaves, apenas é referenciado e conhecido, um único Gaspar de Queiroga Teixeira,
ou Gaspar de Queiroga, nos Nobiliários. Vide MS n.º 1345, fólio 210 verso.
64
Vide Felgueiras Gayo, op. cit., Tomo VIII, Título de CAMPILHOS, p. 105.

394
TeiXeirAs infAmAdos. enTre chAves e o Termo de vALPAços

De uma escrava sua, que foi alforriada, «livre, e não mulata» 65, teve:
V – FRANCISCO TEIXEIRA, que segue:

V – FRANCISCO TEIXEIRA, natural de Chaves, nasceu entre 1600-1620.


Foi lavrador e sapateiro e pessoa que viveu em bons costumes. Usou o
nome de seus maiores: TEIXEIRA, que transmitiu à sua descendência.
Viveu em Aquæ Flaviæ e foi, de Chaves, viver para Santiago da Ribeira
de Alhariz, termo de Valpaços. C. c. GENOVEVA LUÍS, moradora
em Santiago da Ribeira de Alhariz, f.ª de Francisco Luís e de Antónia
Gonçalves.
Tiveram, pelo menos:
VI – ANTÓNIO TEIXEIRA, que segue:

VI – ANTÓNIO TEIXEIRA, nasceu entre 1630-1640 e foi morador em


Santiago da Ribeira de Alhariz. C. c. COMBA DINIZ, moradora,
com seu marido, na mesma povoação. Era f.ª de Gaspar Diniz e de
Maria Gonçalves, a qual senhora tinha por irmão inteiro ao P.e António
Gonçalves.
Tiveram, pelo menos:
VII – P.e ANTÓNIO TEIXEIRA, que deve ter nascido circa 1658.
Nasceu no lugar de Paradela, freg.ª de Santiago da Ribeira de
Alhariz, Valpaços. Fez Inquirição De Genere – Processo n.º 91 –
na localidade de onde era natural. Tinha por alcunha: «o Judeu».
Foi justificar a Braga a sua puritate sanguinis, bem como a de seus
antepassados, mostrando ser falsa a infâmia, calúnia e desonra
que inimigos lhe tinham posto. Em Braga esteve – conforme as
testemunhas – mais de seis ou sete meses, para aclarar toda a sua
condição de verdadeiro e efectivo cristão-velho e, de lá, trouxe uma
sentença probatória da sua condição de limpo sangue. Foi Padre
em Santiago da Ribeira de Alhariz, onde está enterrado, Argeriz e
em São Pedro Velho (Mirandela); na sua Inquirição, muitas teste-
munhas mencionam que a avó materna do justificante – Maria
Gonçalves – era ainda viva e de idade de «cem anos», colocando-a
nascida por volta de 1580. (Vide, atrás, os depoimentos das teste-
munhas na sua Inquirição De Genere – Capítulo II).
VII – JOÃO TEIXEIRA, que segue:

65
Processo n.º 91, fólio 22.

395
Luís migueL guAPo murTA gomes

VII – JOÃO TEIXEIRA, natural de Paradela, freguesia de Santiago da Ribeira


de Alhariz, deve ter nascido perto de 1660. Lavrador que «vivia de suas
fazendas» e de «seus bens e trabalho». C. c. MARIA GONÇALVES,
natural da freg.ª de Argeriz e irmã inteira do P.e António João e sobrinha
do P.e António Gonçalves, tendo este último sido Pároco em Santiago da
Ribeira de Alhariz. Maria Gonçalves foi moradora, com seu marido, em
São Mamede de Argeriz.
Tiveram, pelo menos:
VIII – DOMINGOS TEIXEIRA, natural da freg.ª de Argeriz, Valpaços.
Foi Capitão e deve ter nascido circa de 1680. C. c. MARIA LOPES,
moradora em Argeriz com seu marido. Era f.ª de Pedro Lopes,
natural de Vassal (Valpaços) e de Domingas Diniz – ou Domingas
de Niz – que era natural de Sanfins (termo de Valpaços). Pedro
Lopes e Domingas de Niz foram moradores no lugar de Vale de
Espinho, pertencente à freg.ª de Argeriz.
Tiveram, pelo menos:
IX – P.e CAETANO TEIXEIRA DINIZ, nasceu no dia 21 de
Dezembro de 1704 em Argeriz. Fez Inquirição De Genere
(Processo n.º 32382), iniciado em 1727, data que consta
na página de rosto do processo 66. Foi Bacharel em Cânones
na Universidade de Coimbra 67. Entregou-se livremente ao
Tribunal do Santo Ofício da Inquisição de Coimbra 68. Foi,
depois do episódio ocorrido na Inquisição, nomeado Provisor
66
Vide, atrás, os depoimentos das testemunhas na sua Inquirição De Genere – Capítulo II.
67
O qual também usou Caetano Teixeira de Niz, Caetano Teixeira Niz e Caetano Teixeira
Deniz. Formado na citada Universidade de Coimbra no ano de 1732, pediu a revalidação do
seu Certificado Académico à mesma Universidade, em 1759, por este se ter perdido com o
Terramoto de 1755 e porque «se lhe queimaram as suas Cartas m.o porq.o o Supp.te pertende se lhe
passem outras». (SR: Processos de Cartas de Curso, 1.ª série, cx. 17, AUC-IV-2.ªD-12-1-17)
68
Apresentou-se no dia 14 de Março de 1743 espontaneamente e sem acusações aludidas
por terceiros, ao Tribunal do Santo Ofício de Coimbra, para confessar que tinha actuado
erradamente nas denúncias e acusações de superstição e feitiçaria. Arrependido pelo que tinha
feito, agiu em sua consciência, e bons costumes, de forma exemplar e como devia para com
a Santa Madre Igreja, da qual era Religioso Secular do Hábito de São Pedro. Não lhe foram
colocados obstáculos e embargos pelos Inquisidores que, examinando a honesta conduta e
carácter do réu, o libertaram sem qualquer suplício, dando-lhe termo de ida e soltura no dia 23
de Março de 1743 e porque – vide fólio 21 – «nam tinha mais Culpas que confessar, nem tivera
outra tenção mais do que a que tem declarado, foi […] admoestado em forma, e que por hora lhe
davão Licença para ir para a Sua Ocupação», e agora – vide fólio 20 – «está provido na ocupação
de Provizor, e Vigario Geral de Lessa da Religião de Malta por provimento do Balio Dom Lopo de
Almeida, ocupação que vay agora exercitar». (PT-TT-TSO-IC-25-3420).

396
TeiXeirAs infAmAdos. enTre chAves e o Termo de vALPAços

e Vigário-Geral de Leça do Balio e Religioso da Ordem Sobe-


rana Militar de São João de Jerusalém de Rodes e de Malta,
por D. Lopo de Almeida 69. S.m.n.
VIII – ANTÓNIO TEIXEIRA, que segue:

VIII – ANTÓNIO TEIXEIRA, morador que foi, com sua mulher, em Argeriz e
deve ter nascido entre 1680-1690. C. c. ANA GONÇALVES, f.ª de Pedro
Pires, de Sanfins, e de Comba Gonçalves, natural de Argeriz e moradores
em São Mamede de Argeriz. Era irmã do P.e António Pires. Foram lavra-
dores.
Tiveram, pelo menos:
IX – P.e CAETANO TEIXEIRA, natural de São Mamede de Argeriz,
onde nasceu no dia 21 de Março de 1713. A Inquirição, deste
justificante, foi iniciada e terminada Abril de 1734. Na página de
rosto do seu processo 70, consta a data de 1732 (Processo n.º 4044).
IX – MANUEL GONÇALVES TEIXEIRA, que c. c. D. ARCÂN-
GELA GONÇALVES TEIXEIRA, f.ª de João Teixeira e de
D. Domingas Gonçalves. C.g.

Quadro Genealógico – Descendência, abreviada, de Martim Teixeira, «o Velho», e de Francisca


Rodrigues Rebelo.

Martim Teixeira, «o Velho»


c. c.
Francisca Rodrigues Rebelo

Jácome Teixeira
c. c.
Filipa Diniz

D. Merência Teixeira
c. c.
Diogo de Queiroga

Gaspar de
Queiroga Teixeira

continua...

69
Filho de D. Pedro de Almeida, 1º Conde de Assumar, e de D. Margarida André de Noronha.
70
Vide, atrás, os depoimentos das testemunhas na sua Inquirição De Genere – Capítulo II.

397
Luís migueL guAPo murTA gomes

continuação...

Francisco Teixeira
c. c.
Genoveva Luís

António Teixeira
c. c.
Comba Diniz

P.e ANTÓNIO João Teixeira


TEIXEIRA c. c.
Maria Gonçalves

Domingos Teixeira António Teixeira


c. c. c. c.
Maria Lopes Ana Gonçalves

P.e CAETANO P.e CAETANO Manuel Gonçalves Teixeira


TEIXEIRA DINIZ TEIXEIRA c. c.
D. Arcângela
Gonçalves Teixeira
C. g.

***

Bibliografia

– BORGES, J. C. Calvão, “Fazer Genealogia – IV. Os Domingues, de


Pereira de Selão (Nobres e infamados, Santo Ofício e Estatuto Social no Traz-os-
-Montes dos séculos XVII e XVIII)”, Raízes & Memórias, n.º 4, (1989), p. 17.
– CARPINETTI, João Silvério, Província de Traz os Montes. Escala [ca
1: 770 000]. In: Mapas das províncias de Portugal novamente abertos, e estam-
pados em Lisboa… / oferecidos ao ilustríssimo e excelentíssimo Senhor Marquês de
Pombal […] por João Silvério Carpinetti Lisbonense, Lisboa, Francisco Manuel
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– GAYO, Manuel José da Costa Felgueiras, Nobiliário das Famílias de
Portugal. Braga, Carvalhos de Basto, 1992.

398
TeiXeirAs infAmAdos. enTre chAves e o Termo de vALPAços

– GOMES, Luís Miguel Guapo Murta, Santo Estevam de Fayoens: Um


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– FORJAZ, Jorge, Os Teixeira de Sampaio da Ilha Terceira, Porto: Centro de
Estudos de Genealogia, Heráldica e História da Família Universidade Moderna,
2001.
– SÃO PAYO, Luiz de Mello Vaz de, “Fazer Genealogia – XII. Famílias de
Chaves (séc. XV a XVII)”, Raízes & Memórias, n.º 12, (1996), pp. 154, 159-161.
– __________, “Fazer Genealogia – XV. Famílias de Chaves (séc. XV a
XVII”, Raízes & Memórias, n.º 15, (1999), pp. 101-103.

FONTES MANUSCRITAS:
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de Genere, Processo n.º 91, fol. 12, 13, 15v, 16v, 17v, 21v, 22, 28-28v, 30, 32, 33,
35, 39-39v, 53v.
– Inquirição De Genere de Caetano Teixeira, 1734, ADB, Inquirições
de Genere, Processo n.º 4044, fol. 3, 5, 13, 15v-16, 17, 18, 21v, 22v, 23-23v,
27v-29v, 30v.
– Inquirição De Genere de Caetano Teixeira Diniz, 1728-1729, ADB,
Inquirições de Genere, Processo n.º 32382, fol. 2, 7v, 10, 16, 18, 42v, 45, 47v.
– Memorias Genealogicas, ou Apparato para o Tractado das Genealogias da
Provincia de Tras os Montes, 1816, BPMP, MS 1345, fol. 210 e 210v.
– Processos de Cartas de Curso, 1.ª série, cx. 17, Processo de Caetano Teixeira
Diniz, 1732, AUC-IV-2.ªD-12-1-17.
– Tribunal do Santo Ofício, Processo do Padre Caetano Teixeira Diniz, 1743,
DGLAB/ ANTT, PT-TT-TSO-IC-25-3420.

399
PEREIRAS DE SANFINS. SUBSÍDIOS PARA A SUA
GENEALOGIA. QUE RELAÇÃO FAMILIAR COM
O NAVEGADOR FERNÃO DE MAGALHÃES?
PARTE SEGUNDA

Miguel Pinto de Resende *

8. MANUEL FERREIRA OSÓRIO, natural da Quinta de Pindelo,


freguesia de Santo Irício de Nespereira, concelho de Sanfins, em Riba Douro
e Bispado de Lamego, filho de D. Maria Josefa da Silva Maldonado, no n.º 7
da Parte Primeira, e de André Ferreira Banhos, seu marido. Foi Senhor da Casa
e Quinta dos Cedros, em Valbom, na contígua freguesia de São Cristóvão de
Nogueira, antigo concelho deste nome. Aí fundou a Capela da invocação de Nosso
Senhor Jesus Cristo, para benefício do povo, sem missas vinculadas, cuja escri-
tura de fábrica se registou na Câmara Eclesiástica de Lamego, a 22.03.1695 194.
A 06.03.1703, possuía, conjuntamente com sua segunda mulher, D. Mariana
de Noronha, uma propriedade denominada Quebrada de Valbom, foreira ao
Mosteiro de São Bento de Avé-Maria, da cidade do Porto, de que então lhes foi
feito “auto de reconhecimento” 195.
Casou duas vezes, sendo a primeira, em São Cristóvão de Nogueira, a
23.09.1684, com MARIA DA FONSECA OSÓRIO, sua parente no 4.º grau de

* Continuação e conclusão do trabalho iniciado no anterior número de Armas e Troféus. Para uma
visão sequencial das gerações expostas, respectivamente, nas Partes Primeira e Segunda, juntar-
-se-ão, a final, dois esquemas genealógicos – ANEXOS IV e V.
194
COSTA, Manuel Gonçalves da, História do Bispado e Cidade de Lamego, ob. cit., Lamego, Vol.
IV, 1984, p. 406.
195
ADP, Mosteiro de São Bento de Avé-Maria, L. 183 - K/19/2-1, fól. 164.

401
migueL PinTo de resende

consanguinidade, para o que foram dispensados por Bula de Sua Santidade e


Sentença do Provisor de Lamego, Frei Nicolau Rodrigues Rebelo 196. Por esta sua
mulher, foi Senhor da sobredita Casa dos Cedros, ou de Valbom; a qual Senhora
era filha de Diogo Homem Soares 197 e de Ana da Costa 198, sua mulher, Senhores
da dita Casa; neta paterna de Francisco da Costa Soares, Sargento-Mor de Sanfins,
e de Marta Moreira, sua mulher e prima co-irmã; neta materna de Gaspar da
Costa 199 e de Margarida Moreira, sua mulher 200. Foram testemunhas da cerimónia
Luís Gomes Soares, Sebastião da Cunha de Noronha e o P.e Manuel Moreira, de
Valbom, e celebrante o Coadjutor, P.e Manuel Pinto de Lemos (fig. 1).
Casou segunda vez, entre 15.10.1700 e 25.09.1703, com D. MARIANA
DA SILVA DE NORONHA, sua prima, natural do lugar de Avitoure, freguesia e
concelho de São João Baptista de Cinfães, filha de 201 António da Silva de Magalhães,

196
Este casamento, a par de outros reciprocamente realizados entre descendentes desta linhagem
de Pereiras, revela, a nosso ver, uma estratégia matrimonial. A mesma destinar-se-ia a reforçar a
representatividade linhagística entre os vários ramos da Família, tendo a Quintã de Antemil como
epicentro e, seguramente também, a concentrar património fundiário. O texto da Justificação
de Nobreza de Francisco de Lacerda (cfr. nota n.º 21, na Parte Primeira) acha-se profundamente
imbuído deste espírito. Cfr., a respeito, a árvore de parentesco ínsita nessa Justificação, de que se
junta imagem – ANEXO III.
197
GAIO, Manuel José da Costa Felgueiras, Nobiliário, ob. cit., Tit.º de Homens, § 15, n.º 4 –
Homens Costas Dezentruncados, Vol. VI, p. 87.
198
Ibidem, Idem, no já cit. Tit.º de Pereiras, § 130, n.os 1 e 2, Vol. VIII, p. 242. Na Justificação
de Nobreza de Francisco de Lacerda, diz-se que o Bispo do Porto, D. Fernando Correia de
Lacerda, tratava Ana da Costa Soares por sua sobrinha “e com ela despendeu bastante, mas nada
aproveitou-se porque seu marido, Diogo Homem, não só isto dissipou, mas também vendeu a
Quinta de Aveleda e a de Bouço Nafonso (sic) e muitas terras da Ribeira de Oleiros, e os campos
de Vila Verde e as Herdades de Mogus, e os foros de Vila Chã (…) e empenhou as Quintas de
Roção, que por negligência também se perderam”.
199
Filho de Álvaro Pereira, Senhor da Quinta de Rebolho, em Piães, e de Joana da Costa Soares, sua
mulher, e neto de Diogo Álvares Pereira, Senhor da Casa da Quintã, todos mencionados supra.
200
Irmã de Marta Moreira, sobredita, ambas filhas de Maria Moreira, a Sagaz, e de Manuel Afonso de
Carvalho, seu marido, Cavaleiro-Fidalgo da Casa Real, Juiz das Sisas de São Cristóvão de Nogueira
– RESENDE, Miguel Pinto de, Casa do Outeiro e Barões do Valado…, ob. cit., § 1.º, pp. 32-33.
201
A filiação de D. Mariana da Silva de Noronha, à míngua do assento do seu casamento, infere-se
da conjugação dos apelidos que usou, do tratamento de Dona, que lhe provinha de sua mãe,
da circunstância de ser dada como natural de Avitoure, Cinfães, morada de seus pais, de outros
assentos paroquiais de onde resulta a filiação de forma indirecta, nomeadamente do baptismo
celebrado em Cinfães, a 06.11.1689, de Maria, filha de D. Juliana da Silva, irmã de D. Mariana,
e em que esta interveio como madrinha, a par de António da Silva, seu irmão, solteiro e residente
em Avitoure, Cinfães e, ainda, do parentesco, por sua via, entre Miguel José de Lacerda, seu
filho, e a mulher deste, D. Marcelina de Noronha, que foram dispensados no 3.º e 4.º graus de
consanguinidade, o que apenas é possível, atentos os respectivos costados, pelos Noronhas de
Cinfães e pelo modo como se indica.

402
PereirAs de sAnfins. subsídios PArA A suA geneALogiA

Fig. 1: Cfr., imagens do assento respectivo, in Museu-Arquivo Diocesano


de Lamego (MADL), data e loc. cit..

“homem nobre”, Tabelião do Público, Judicial e Notas no concelho de Cinfães,


natural de Marcelim, freguesia e concelho de Tendais, o qual se fez clérigo, depois

403
migueL PinTo de resende

de viúvo, e foi Reitor da freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Ermida de


Paiva 202, e era “da descendência de Miguel da Silva Maldonado, Fidalgo da Casa
Real” 203, e de D. Isabel Correia de Noronha, sua mulher, moradores que foram em
Avitoure, freguesia de Cinfães; neta paterna de António Francisco e de sua mulher,
Isabel da Silva, moradores em Marcelim, Tendais; neta materna de João de Mesquita
Pimentel e de D. Maria de Noronha, sua mulher, moradores na vila de Cinfães 204.
De sua primeira mulher, que faleceu em São Cristóvão de Nogueira, a
15.10.1700, nasceram os seguintes filhos:
9. D. Maria, que foi baptizada em São Cristóvão de Nogueira, a
30.08.1685, tendo sido seus padrinhos Diogo da Silveira Pereira e
Marta da Costa, esta sua tia-avó, moradores em Piães. Sem mais notícia.
9. O Capitão Manuel de Lacerda de Vasconcelos Pereira 205, Senhor da
Quinta dos Cedros, em Valbom; Senhor do Casal de Valbom, foreiro a
Alpendurada, por Prazo de 02.05.1735, “por falecimento de Ana da
Costa, sua avó” 206. Foi baptizado em São Cristóvão a 01.06.1687, sendo
madrinha aquela sua avó, por si e como procuradora de seu marido,
Diogo Homem Soares. Fez Justificação da sua Nobreza, de que foi

202
O que se depreende de vários assentos paroquiais de Cinfães.
203
Como consta da Justificação de Nobreza de Francisco de Lacerda. Na verdade, António da Silva de
Magalhães, filho de Isabel da Silva, seria neto materno do já referido Miguel da Silva Maldonado,
o que resulta de indícios seguros. Cfr., também, supra, nota n.º 160, e RESENDE, José Pinto de, e
RESENDE, Miguel Pinto de, Famílias Nobres..., ob. cit., Tít.º de Silvas Maldonados, §§ 1.º e 3.º.
204
Senhora natural de São Martinho de Fareja, termo da vila de Guimarães, filha legitimada e
herdeira de D. Nuno Álvares de Noronha, Moço-Fidalgo da Casa Real, oriundo da Casa das
Corujeiras, em Vila Nova das Infantas, Guimarães (casado em Cinfães com D. Jerónima Malheiro
de Melo), e de Catarina Cardoso. Cfr., RESENDE, José Pinto de, e RESENDE, Miguel Pinto
de, Famílias Nobres, cit., Tít.º de Noronhas, §§ 1.º, 9.º e 10.º. D. Maria de Noronha foi tirada à
mãe e criada pela dita D. Jerónima Malheiro de Melo, sua madrasta, como se fora sua filha – cfr.
o testamento desta e o que a respeito resulta da Habilitação para Familiar do Santo Ofício de
Bernardo Correia de Noronha e Meneses, seu neto.
205
Terá sido o primeiro que usou, nesta Família, o apelido Lacerda, o que deu origem a que seu
filho, Francisco de Lacerda, obtivesse o direito a ostentar as respectivas armas. No entanto, tudo
indica que não descendessem da antiga família dessa linhagem. O uso do nome, generalizou-se
todavia, e acabou por substituir, ao longo das gerações, o menos altisonante Pereira. Honra
seja feita, em local algum da extensa Justificação de Nobreza de Francisco de Lacerda, pretendeu
demonstrar-se o entroncamento nos Lacerdas. É patente aí, ao invés, que o uso do sobrenome
foi adoptado por simpatia e deferência para com D. Fernando Correia de Lacerda, Bispo do
Porto, por ter sido companheiro de estudos, parente e benfeitor dos ascendentes do armigerado,
Costa Soares, oriundos de Lamego. Este facto é, aliás, curioso. Na verdade, apesar de não faltarem
a Francisco de Lacerda costados nobres, justificou as armas deste nome que usava, mas ao qual
saberia não ter direito e a cuja descendência, seriamente, não quis arvorar-se pertencer.
206
ADP, Mosteiro de Alpendurada, L. 147 - K/17/5-10, fól. 291.

404
PereirAs de sAnfins. subsídios PArA A suA geneALogiA

passado instrumento a 06.10.1754 por António da Fonseca Chaves,


Escrivão do concelho de São Cristóvão de Nogueira 207. Casou em
Cinfães, a 21.03.1709, com D. Maria da Silva de Vasconcelos e Meneses,
sua parente 208, sobrinha e afilhada de sua Madrasta filha de Manuel
Barbosa Coutinho da Costa e de D. Juliana da Silva e Vasconcelos, sua
mulher, de Souto do Rio, freguesia de Cinfães; neta paterna de Bernardo
Cardoso e de Catarina Barbosa, sua mulher; neta materna de António da
Silva de Magalhães e de D. Isabel Correia de Noronha, melhor identifi-
cados supra 209. Foi testemunha do consórcio o P.e António Correia (de
Noronha), e celebrante o Reitor de Cinfães, P.e Manuel Mendes (de
Oliveira). Era ainda vivo a 07.09.1767. Com geração 210 (fig. 2).

Fig. 2: Cfr., imagem do assento respectivo, in MADL, data e loc. cit..

207
Cujo teor se acha referenciado na Justificação de Nobreza de Francisco de Lacerda, seu filho.
208
No assento de casamento não se diz qual o grau do parentesco, mas esclarece-se que “apresentaram
sentença”. O parentesco apenas se explica por serem ambos descendentes de Miguel da Silva
Maldonado, e é um dos principais argumentos para o que se disse supra, na nota n.º 204, posto
que D. Juliana da Silva e Vasconcelos era irmã inteira de D. Mariana da Silva de Noronha,
madrasta de seu genro, Manuel de Lacerda.
209
RESENDE, José Pinto de, e RESENDE, Miguel Pinto de, Famílias Nobres..., ob. cit., Tít.º de
Cardosos, § 1.º, n.º 4, p. 37, e Tít.º de Noronhas, § 9.º, n.º 3, pp. 86 e 87.
210
Pais que foram, entre outros, do já muito referido Francisco de Lacerda Pereira de Vasconcelos,
Sargento-Mor de Cinfães, Fidalgo de Cota de Armas. Bem assim foram progenitores do P.e Fernando
António de Lacerda, Abade de São Cosmado, o qual coligiu umas “Notícias genealógicas”, que foram
utilizadas na referida Justificação de Nobreza de Francisco de Lacerda, seu irmão, que datou e assinou,
nelas mencionando que as baseou numa Árvore da Geração, assim como em papéis autênticos da Casa

405
migueL PinTo de resende

E do segundo matrimónio, com D. Mariana da Silva de Noronha, que


por sua vez morreu em Valbom, a 22.05.1712, com todos os sacramentos, sendo
sepultada no interior da Igreja de São Cristóvão de Nogueira, houve Manuel
Ferreira Osório, ainda, filhos:
9. Miguel José de Lacerda Pereira de Vasconcelos, que segue.
9. D. Antónia Josefa de Lacerda e Vasconcelos, que casou, a 30.04.1730,
em São Cristóvão de Nogueira, com o Capitão Manuel de Melo e
Fonseca, Senhor e Administrador do Morgado e Quinta da Porta, nessa
freguesia, com a Capela do Presépio, sita no Mosteiro de Monchique,
da cidade do Porto, Juiz Ordinário e dos Órfãos, no ano de 1754,
no concelho de São Cristóvão 211, parente seu por Caldeiras, filho do
Alferes António Caldeira da Fonseca, que era Administrador do dito
Vínculo a 18.08.1691 212 e Alferes, a essa época, da 1.ª Companhia de
Auxiliares do Terço de que era Mestre de Campo Luís Pinto de Sousa
Coutinho, do Bispado de Lamego, e de Inês de Melo, sua mulher e
prima; neto paterno de Gonçalo da Costa e de Margarida Moreira da
Fonseca, sua mulher 213; neto materno de António Caldeira Botelho
e de Maria de Melo, sua mulher, moradores no lugar de Mourilhe,
mesma freguesia. Foram testemunhas do casamento António Moreira
Pereira, Manuel de Lacerda e Vasconcelos, João da Fonseca Chaves,
Fernando António – filho de Manuel de Lacerda, Manuel Vieira dos
Santos – do lugar da Porta, e António Teixeira – criado de Manuel
Barbosa, e celebrante o Cura-Coadjutor, P.e Celestino Cardoso da
Costa. Faleceu D. Antónia, na Quinta da Porta, a 11.03.1788. Com
geração 214.
9. D. Catarina, baptizada a 25.09.1703, em São Cristóvão de Nogueira.
Teve como padrinhos Diogo Álvares Pereira, de Santiago de Piães, e
D.  Isabel da Silva, do Souto do Rio, Cinfães. Sem mais notícia
(fig. 3).

de Antemil, e também em “notícias e conhecimento próprio que ‘meu pai’, Manuel de Lacerda,
teve dos ditos seus parentes e Casa da Quintã, por ficar na sua vizinhança e ser homem já de
oitenta e tantos anos, hoje Sete de Setembro de Mil e Setecentos e Sessenta e Sete anos”.
211
Como se identificou no Instrumento de Justificação de Nobreza do Capitão Manuel de Lacerda e
Vasconcelos, feito a 06.10.1754, em que depois foi substituído, em virtude de o Justificante ser
seu cunhado.
212
ADP, Convento de Monchique, L. 1 - K/18/4-79, Tit.º 3.º.
213
Filha de outra Margarida Moreira, e de Simão de Medeiros, seu marido – RESENDE, Miguel
Pinto de, Casa do Outeiro e Barões do Valado…, cit., § 1.º, p. 36.
214
Entre a qual avulta, já no séc. XIX, a figura distinta de D. Pedro Maria de Lacerda, Bispo do Rio
de Janeiro, Conde de Santa Fé, no Império.

406
PereirAs de sAnfins. subsídios PArA A suA geneALogiA

Fig. 3: Cfr., imagem do assento respectivo, in MADL, data e loc. cit..

9. MIGUEL JOSÉ DE LACERDA PEREIRA DE VASCONCELOS 215,


Senhor, por casamento, da Quinta da Chamusca, em Sequeiro Longo, freguesia e
concelho de São João Baptista de Cinfães.
Casou, nessa freguesia de São João de Cinfães, a 16.08.1737, mediante
dispensa, com D. MARCELINA EULÁLIA DE NORONHA E MENESES DE
BRITO DE ANDRADE E MOUTA 216, sua parente nos 3.º e 4.º graus de
consanguinidade, pelos Noronha e Meneses de Cinfães, Administradora dos
Morgados de Nossa Senhora do Desterro, de Sequeiro Longo, em Cinfães, e de
Santo António da Torre de Chã, em Ferreiros de Tendais, e da demais Casa de
seus pais, pelo falecimento, sem descendência, de todos os seus irmãos; filha de
António de Brito Pinto da Costa, Administrador do Morgado de Santo António
da Torre de Chã, em São Pedro de Ferreiros de Tendais, e de sua mulher, D. Maria
de Noronha e Meneses de Andrade e Mouta; neta paterna de Gonçalo de Oliveira
de Brito e de Isabel Pinto da Costa, sua mulher, Senhores da Torre de Chã, onde
instituiram o Morgado de Santo António; neta materna de Bernardo Correia de

215
A quem foram atribuídos, em registos paroquiais que lhe dizem respeito, combinações diversas
de apelidos. O nome Lacerda, não o detectámos em assentos, mas antes nos Apontamentos
Genealógicos de seu bisneto, o P.e Francisco Mendes de Lacerda e Vasconcelos, assim como na
Justificação de Nobreza do Capitão António Pinto de Lacerda e Vasconcelos, seu neto.
216
A quem foram atribuídos, em registos paroquiais que lhe dizem respeito, combinações diversas
de nomes e apelidos, e cuja ascendência pode ver-se in RESENDE, José Pinto de, e RESENDE,
Miguel Pinto de, Famílias Nobres..., Tít.º de Pintos, § 11, pp. 126-127 e Tít.º de Noronhas, § 1,
pp. 80-81.

407
migueL PinTo de resende

Noronha e Meneses 217, Cavaleiro da Ordem de Cristo, Familiar do Santo Ofício,


Senhor do Morgado de Nossa Senhora do Desterro e da Quinta da Chamusca,
em Sequeiro Longo, Cinfães, e de D. Madalena de Andrade, sua mulher, Senhora
do Morgado de São Bento de Louredo, em São Cristóvão de Nogueira. Foram
testemunhas dos recebimentos o Capitão Alexandre Correia de Noronha e seu
filho – o P.e António Correia, de Travassos (freguesia de Cinfães), e o P.e Cura
Francisco Rodrigues, e celebrante o Reitor, P.e António da Costa (fig.4).
Por efeito da aplicação da Lei Novíssima, de 03.08.1770, requereu
D. Marcelina Eulália a El-Rei D. José a extinção das referidas capelas, o que lhe
foi concedido, pelo seguinte alvará, datado de 15.01.1774 218: “Dom José, etc.,
faço saber que Dona Marcelina de Noronha e Mouta, do lugar e concelho de
Cinfães, comarca de Lamego, me requereu por sua petição que ela era Senhora
e Administradora de duas Capelas, a saber: uma de Nossa Senhora do Desterro,
sita no limite de Sequeiro Longo, do mesmo concelho, com obrigação de uma
missa e doze responsórios no oitavário dos defuntos, instituída pelo P.e António
da Mouta; e outra de Santo António, sita no lugar de Chã, freguesia de Ferreiros
de Tendais, instituída por Gonçalo de Oliveira de Brito e por sua mulher, Isabel
Pinta da Costa, com obrigação de cinco missas cada ano. E porque as ditas
capelas não chegavam a render a quantia determinada da Lei Novíssima, ela
pedia fosse servido havê-las por extintas e os bens por livres. E porquanto seu
seguimento e informação se houve pelo Provedor da comarca de Lamego, ouvida
a imediata sucessora, que não teve dúvida, e por constar que as ditas capelas
não tinham o rendimento de 100$000 réis, hei por bem declarar por abolidas
as capelas de que se trata e os bens delas por livres e alodiais, por serem insigni-
ficantes e não chegar o seu rendimento à quantia da Lei Novíssima, de três de
Agosto de 1770, e mando às justiças a que pertencer cumpram e guardem esta
provisão como nela se contém, e valerá, posto que seu efeito haja de durar mais
de um ano…”.
Miguel José morreu em Cinfães, a 17.03.1771, com testamento, sendo
sepultado no interior da Igreja Matriz.
D. Marcelina Eulália faleceu, também em Cinfães, a 09.12.1792, no
estado de viúva daquele seu marido, com todos os sacramentos e com testamento,
tendo sido sepultada no interior da Capela de Nossa Senhora dos Prazeres, anexa
à dita Matriz, local onde jazia seu Quarto-Avô, D. Nuno Álvares de Noronha 219.

217
Sobrinho de D. Isabel Correia de Noronha, mulher de António da Silva de Magalhães, supra
mencionada, sendo por esta ligação o parentesco entre os nubentes.
218
ANTT, Chancelaria de D. José, Extinções, L. 11, fól. 256.
219
Que foi Tronco da família Correia de Noronha e Meneses, em Cinfães.

408
PereirAs de sAnfins. subsídios PArA A suA geneALogiA

Fig. 4: Cfr., imagem do assento respectivo, cedida pelo Arquivo Distrital de Viseu (ADV),
data e loc. cit. (PT/ADVIS/PRQ/PCNF03/002/0001_16).

Viveram na sua Quinta da Chamusca, em Sequeiro Longo, e foram seus


filhos, todos baptizados em Cinfães:
10. D. Engrácia Pinto de Noronha Pereira de Vasconcelos, solteira. Foi
baptizada a 19.07.1738, tendo como padrinhos o P.e António Correia
de Noronha, do lugar de Travassos, e sua irmã, Engrácia. Morreu na
Vila de Cinfães, com testamento, a 31.07.1807.
10. José, baptizado a 21.12.1739. Foram seus padrinhos o P.e Fernando
António de Lacerda, que viria a ser Abade Encomendado de Santiago de
Piães e, posteriormente, Abade de São Cosmado, também no Bispado
de Lamego, e D. Clemência, da Quinta da Porta. Sem mais notícia.
10. Francisco Pereira Pinto de Vasconcelos, baptizado a 22.09.1741.
Casou, a 07.02.1773, em São Cristóvão de Nogueira, com D. Maria
Cardoso do Rosário, filha de Manuel Cardoso da Costa, do Casal, dessa
freguesia, e de Joana Maria Pinto da Fonseca, sua mulher, da freguesia

409
migueL PinTo de resende

de Nossa Senhora de Almacave, da cidade de Lamego. Viveram em


Casal, São Cristóvão de Nogueira, com geração, que se extinguiu 220.
10. D. Mariana Margarida de Brito Pinto de Noronha Pereira de
Lacerda e Vasconcelos, que segue.
10. D. Maria de Vasconcelos, baptizada a 07.07.1749. Foi seu padrinho
seu tio, Diogo António de Brito, “assistente nas partes do Brasil”, por
procuração passada a José Carlos (de Serpa) Pinto, de Boassas. Solteira,
morou na vila e concelho de Cinfães. “Fez testamento a 20.11.1818, na
nota n.º 47 do Tabelião Cristóvão de Sousa Cirne Araújo e Brito, pelo
qual instituiu seus universais herdeiros seus sobrinhos, P.e José Pinto
Brochado de Brito e irmã, D. [Ana] Benedita, residentes no Casal de
São Cristóvão de Nogueira e deixou legados a seus sobrinhos Joaquim
José Pinto e Doutor Francisco Pinto Brochado de Brito” 221 (fig. 5).

10. D. MARIANA MARGARIDA DE BRITO PINTO DE NORONHA


PEREIRA DE LACERDA E VASCONCELOS 222, baptizada na Igreja e freguesia
de São João Baptista de Cinfães, a 11.11.1743, tendo sido seus Padrinhos o
P.e Heitor Pereira de Miranda e sua irmã, D. Antónia Josefa de Vasconcelos, do
lugar do Souto do Rio, dita freguesia.
Casou a primeira vez, nas mesmas Igreja e freguesia, a 26.09.1765, com
JOSÉ ANTÓNIO DE OLIVEIRA, Juiz Ordinário e dos Órfãos 223, Senhor da

220
Foi seu filho único o Capitão António Pinto de Lacerda e Vasconcelos, Capitão de Ordenanças
do concelho de São Cristóvão de Nogueira, por Carta-Patente de D. João, Príncipe-Regente,
dada em Lisboa (Arquivo do Autor), Juiz Ordinário, Almotacé e Juiz dos Órfãos no mesmo
concelho. Serviu com valor contra os franceses, de 1809 em diante, já no posto de Capitão,
tomando parte, nomeadamente, nas acções da Farrapa, em Arouca, e de Entre-os-Rios. Também
se chamou e usou o nome de António Osório Ferreira Pinto da Mouta Brito e Vasconcelos.
Senhor da Casa e Quinta de Nogueira, pelo seu casamento, alcançou Sentença em Instrumento
de Justificação Cível da sua nobreza, a 14.10.1816, de que foi Escrivão José Moreira da Fonseca
Chaves (Arquivo do Autor). Casou em São Cristóvão de Nogueira, a 16.05.1814, com D. Maria
Pereira de Macedo, sua parente, Senhora da dita Casa e Quinta, filha de Luís Correia de Noronha
e de sua mulher, D. Delfina Correia de Noronha. Viveram na sua Casa de Nogueira, e tiveram
filhos, todos solteiros e sem geração.
221
Informação recolhida em fotocópia de um de vários exemplares existentes do ms. da autoria do
Dr. António Cardoso Pinto de VASCONCELOS, intitulado Memórias da Comarca de Cinfães.
Cfr. RESENDE, José Pinto de, e RESENDE, Miguel Pinto de, in nota n.º 2, de p. 37, tit.º de
Cardosos, da cit. ob. Famílias Nobres….
222
A quem foram atribuídas, em registos paroquiais que lhe dizem respeito, combinações diversas
de nomes e apelidos.
223
José António de Oliveira, sendo morador na sua Quinta da Porta, servia, em 1773, os cargos
de Juíz Ordinário, Órfãos e Sisas, e de Todo o Cível e Crime, “neste concelho de São Cristóvão

410
PereirAs de sAnfins. subsídios PArA A suA geneALogiA

Fig. 5: Cfr., imagem do assento respectivo, in MADL, data e loc. cit..

Quinta do Coval, no lugar da Porta, freguesia de São Cristóvão de Nogueira, o


qual, em solteiro, a 14.11.1741, teve Carta de Confirmação de terras foreiras à
Comenda de São Cristóvão de Nogueira 224; filho de José Mendes de Oliveira 225,

de Nogueira, pelo Ex.mo Senhor donatário deste senhorio”. Cfr. doc. do Arquivo Particular da
Quinta da Granja, em São Cristóvão de Nogueira, cuja consulta agradeço à Família Montenegro.
224
ANTT, Chancelaria da Ordem de Cristo, L. 34, fól. 423.
225
Irmão de Serafina, baptizada em São Cristóvão de Nogueira, a 17.01.1716, e de quem foram
padrinhos Serafina, solteira, da Porta, e Manuel Rodrigues, de Mourilhe.

411
migueL PinTo de resende

do Bacelo, São Cristóvão, e de Helena de Pinho, sua mulher, Senhora da Quinta


do Coval; neto paterno de António Mendes e de Jerónima Pinto, sua mulher, do
Bacelo; neto materno de Manuel Pereira, de Ervilhais, freguesia de Nespereira, e
de sua mulher.
Enviuvando, casou em segundas núpcias, em São Cristóvão de Nogueira,
a 19.06.1775, com o seu parente consanguíneo, por Caldeiras 226, em grau
remoto, e por afinidade no 3.º e 4.º grau, para o que obtiveram dispensa, FRAN-
CISCO VIEIRA DOS SANTOS BROCHADO 227, filho de Manuel Vieira dos
Santos, Senhor da Quinta do Casal, na mesma freguesia, e de Esperança de
Sousa dos Santos, sua mulher; neto paterno de Manuel Vieira e de Mariana
Caldeira, sua mulher, do lugar da Porta; neto materno de Domingos de Sousa e
de Margarida Moreira, sua mulher, Senhora da Quinta do Casal, todos da mesma
freguesia, o qual foi baptizado a 13.02.1744, em São Cristóvão de Nogueira, e
de quem foram padrinhos José António (o qual viria a ser o primeiro marido de
sua mulher, D.  Mariana, supra) e sua irmã Catarina, solteira, filhos de José
Mendes de Oliveira, da Porta. Foram testemunhas do casamento o P.e José Pereira
de Carvalho, da Quinta do Outeiro, e o Dr. Cristóvão Vieira dos Santos
Brochado, da Porta (fig. 6).
Francisco Vieira morreu a 13.01.1820, com testamento.
D. Mariana faleceu a 17.02.1827, igualmente com testamento, e foi sepul-
tada no interior da Igreja de São Cristóvão de Nogueira.
Viveu no referido lugar da Porta 228.
Teve, do primeiro casamento, o filho seguinte:
11. Joaquim José Pinto de Vasconcelos, Monteiro-Mor do concelho
de São Cristóvão de Nogueira, onde foi Senhor da Quinta do Coval.
Baptizado nessa freguesia a 02.05.1769, foi seu padrinho o P.e José
da Cunha de Gouveia. Casou com D. Teresa Maria Joaquina Pereira
de Carvalho, filha de António Marques Pinto da Costa Ramos e de
226
Família sobre cuja Genealogia se prevê para breve uma publicação, de nossa autoria, que será
desenvolvimento de trabalho já saído a lume, a que se referirá, infra, a nota n.º 265.
227
Irmão germano do Dr. Cristóvão Vieira dos Santos Brochado, Licenciado em Cânones pela
Universidade de Coimbra (curso que frequentou entre 1764 e 1769), Provedor Comissário da
Provedoria de Lamego, casado, sem filhos, com D. Rafaela Angélica Pereira de Vasconcelos,
também descendente desta família, porque filha dos supra mencionados D. Antónia Josefa de
Lacerda e Vasconcelos e seu marido, o Capitão Manuel de Melo e Fonseca, Senhor do Morgado
da Porta.
228
No lugar da Porta, freguesia e concelho de São Cristóvão de Nogueira, há três Quintas, com
suas boas e antigas Casas: A Casa dos Morgados da Porta, já referida supra, a Quinta do Coval,
que era do primeiro marido de D. Mariana Margarida, e a Casa e Quinta da Porta, da família
Caldeira Brochado, a que pertenceu o segundo marido de D. Mariana.

412
PereirAs de sAnfins. subsídios PArA A suA geneALogiA

D. Teresa Maria Joaquina de Carvalho, sua mulher, da Quinta das


Bouças, na freguesia de São Clemente de Paços de Gaiolo, antigo

Fig. 6: Cfr., imagens do assento respectivo, in MADL, data e loc. cit..

413
migueL PinTo de resende

concelho de Benviver, esta falecida em São Cristóvão, em Casa da


dita sua filha, a 11.11.1793, no estado de viúva. Por escritura de
01.07.1794, lavrada na nota do Tabelião José da Fonseca Chaves, a
fól. 5 e seguintes, Joaquim José Pinto de Vasconcelos e a referida sua
mulher, “declararam que eram Senhores e Possuidores da sua Capela
da invocação de São José, sita na sua Quinta do Coval, mandada
edificar por seu pai e sogro, José António de Oliveira, morador que
foi na mesma Quinta, e porque ele em vida vendera o dote que fizera
à mesma Capela, agora lhe queriam fazer dote e património para o
seu ornato e decente culto, e se comprometiam por si e herdeiros
para sempre a terem prontos dezasseis mil réis para fábrica da mesma
capela com um livro para contas rubricado que apresentarão nas
respectivas visitas, ao que hipotecavam todos os seus bens em geral,
e em especial os prédios seguintes: o Campo do Valado, Souto e
Leira da Fonte da Dona, mais o Campo da Herdade, o Campo de
Chão das Cabras, a Leira das Traves, a Leira dos Salgueiros, o Souto
dos Fundilhos, a Leira de Chão D. Pedro, o Souto da Seixosa, a
Coutada de Chão de Babo, a Tapada dos Salgueiros, o Campo da
Arcela, chamado da Oliveira Grande, livres, descritos e confrontados
na dita escritura. E mais dotaram à dita Capela os seus Campos e
olivais do Monte, e um cântaro de azeite que anualmente lhe pagava
José Gomes, do lugar do Bacelo” 229. Viveram na referida Quinta do
Coval. Com geração.
Do seu segundo matrimónio, nasceram a D. Mariana os filhos que se
seguem, todos baptizados em São Cristóvão de Nogueira, a saber:
11. Cristóvão Pinto Brochado, baptizado a 30.10.1776. Foram seus
padrinhos o Dr. Cristóvão Vieira dos Santos Brochado e sua mulher,
D. Rafaela Angélica Pereira de Vasconcelos. Morreu a 12.11.1799, no
lugar da Porta, sem testamento.
11. O Dr. Francisco Pinto Brochado de Brito, Licenciado em Direito
pela Universidade de Coimbra, em 1801. Deputado às Cortes Cons-
tituintes, em 1822 230, “Advogado Muito Distinto” 231. Baptizado a

229
VASCONCELOS, António Cardoso Pinto de, ob. cit..
230
COSTA, M. Gonçalves da, Lutas Liberais e Miguelistas em Lamego (documentos inéditos), Lamego,
Gráfica de Lamego, 1975, p. 15, onde se relata que a Câmara de Lamego reuniu, a 08.10.1822,
para anunciar o envio da lista dos Deputados “para a Divisão eleitoral de Lamego”, tendo sido
eleito, entre outros, Francisco Pinto Brochado de Brito, que agradeceu, de São Cristóvão de
Nogueira, três dias volvidos.
231
No dizer de VASCONCELOS, António Cardoso Pinto de, ob. cit..

414
PereirAs de sAnfins. subsídios PArA A suA geneALogiA

04.08.1778. Foram seus padrinhos Francisco de Lacerda Pereira de


Vasconcelos, Sargento-Mor de Cinfães e a filha deste, D. Maria Rosa
de Lacerda Pinto de Vasconcelos, mulher de Diogo da Silveira Pereira,
da Quinta de Antemil, freguesia de Piães. Foram testemunhas do
sacramento: D. Engrácia Pinto Pereira de Vasconcelos, tia do neófito,
o P.e José Pereira de Carvalho, da Quinta do Outeiro, e o Dr. Cristóvão
Vieira dos Santos Brochado. Casou em São Cristóvão de Nogueira, a
23.05.1802, com D. Maria Rafaela Pereira de Vasconcelos de Melo
e Alvim, sua parente por estes Pereiras, e por Caldeiras, filha de João
Bernardo Pereira de Vasconcelos e de D. Joaquina Felizarda de Melo
e Alvim, sua mulher, Senhores da Quinta e Morgado da Porta; neta
paterna do Capitão Manuel de Melo e Fonseca, Senhor do Morgado
da Porta, Juiz Ordinário e dos Órfãos no concelho de São Cristóvão de
Nogueira, e de D. Antónia Josefa de Lacerda e Vasconcelos, sua mulher,
acima mencionados; neta materna de José Pereira Vieira de Melo, e
de D. Teresa Angélica de Melo, sua mulher, residentes na Quinta da
Bona Vista (sic), freguesia de Santo Ildefonso, Extra-Muros, na cidade
do Porto. Para esse casamento, foi feito dote por D. Rafaela Pereira
de Vasconcelos, tia da noiva, por escritura lavrada a 13.07.1801, na
morada da dotadora e de seu marido, Dr. Cristóvão Vieira dos Santos
Brochado, pelo Tabelião do concelho de São Cristóvão, José Moreira
da Fonseca Chaves 232. Viveram na Quinta da Porta, em São Cristóvão
de Nogueira, com geração. O Dr. Francisco Pinto Brochado morreu
em São Cristóvão de Nogueira, a 19.05.1845, com a extrema-unção,
com testamento de mão comum com a dita sua mulher, e codicilo
“da sua parte”, e foi sepultado na Capela-Mor da Igreja Matriz 233. Sua
mulher havia já falecido, a 23.08.1834, com todos os sacramentos, e
também fora inumada na referida Capela-Mor.
11. António, baptizado a 11.11.1779. Foram seus padrinhos António
Caldeira e sua irmã Ana, filhos solteiros do Avô paterno. Deve ter
morrido menino.
11. O Padre José Pinto Brochado de Brito, Arcipreste do Distrito do
Douro, baptizado a 19.03.1781, teve por padrinhos o Dr. Cristóvão
Vieira dos Santos Brochado e sua mulher, D. Rafaela Pereira de

232
ADV, Notarial, Cinfães, José Moreira da Fonseca Chaves, L. 185-2, fól. 74.
233
Cfr. o assento respectivo, in ADV, consultado ex vi: http://geneall.net/pt/nome/469013/
francisco-pinto-brochado-de-brito/, referência colhida em linha, a 25.10.2015.

415
migueL PinTo de resende

Vasconcelos. Foram testemunhas Joaquim José de Melo, da Porta, e


João Vieira, tio do baptizando.
11. António Pinto Brochado, baptizado a 05.03.1782. Teve como padri-
nhos José Manuel Vaz Leitão e Catarina Joaquina Pereira, sua mulher,
do Lugar Grande de Ervilhais, freguesia de Santo Irício de Nespereira.
Morreu na freguesia de São João Baptista de Cinfães, em casa de sua
tia, D. Engrácia Pinto de Noronha, a 01.12.1805.
11. D. Ana Benedita Pinto Brochado, baptizada a 05.12.1783 (fig. 7).
Foram seus padrinhos José António Pinto da Costa e sua irmã,
D. Mariana Cláudia Teodora Pinto da Costa, solteiros, naturais “do
Solar da Quinta e Torre de Chã, freguesia de Ferreiros de Tendais (sic)”.
Morreu solteira, a 28.06.1862.
11. D. Maria Pinto Brochado, baptizada a 22.07.1785. Foram seus
padrinhos o Beneficiado José António de Lacerda Pinto Cardoso, do
lugar (e Casa) de Castro de Cio, freguesia de Ferreiros de Tendais, e sua
irmã, D. Maria Angélica de Lacerda Pinto. Foram testemunhas o P.e
José Pereira de Carvalho, da Quinta do Outeiro, e o Capitão Manuel
de Melo e Fonseca, do lugar da Porta. Faleceu solteira, na Quinta da
Porta, a 23.02.1804.
11. D. Joaquina Margarida de Brito Pinto Pereira de Lacerda, que segue.

11. D. JOAQUINA MARGARIDA DE BRITO PINTO PEREIRA DE


LACERDA 234, Irmã da Confraria das Almas e do Santíssimo Sacramento, de
Santa Marinha de Nespereira 235. Foi baptizada em São Cristóvão de Nogueira,
a 04.02.1788. Teve como padrinhos o Alferes António Caldeira de Sousa
Brochado e a irmã deste, Ana, seus tios paternos, então solteiros, da Quinta do
Casal e mesma freguesia. Foram testemunhas o Dr. Cristóvão Vieira dos Santos

234
A quem foram atribuídos, em registos paroquiais que lhe dizem respeito, e em outros
documentos, combinações diversas de nomes e apelidos.
235
Arquivo da Confraria das Almas e do Santíssimo Sacramento, de Santa Marinha de Nespereira,
Livro dos Irmãos. O qual Arquivo, em 11.11.1989, quando lhe tivemos acesso, achava-se
arrecadado em uma antiga arca, na posse do Senhor José Leitão, de Valinhas, Nespereira,
que havia sido Secretário da mesma Confraria, e que gentilmente nos facultou a consulta dos
documentos. Relata Manuel Gonçalves da COSTA, que “[e]m 1978 teimava em sobreviver, no
adro da matriz [de Santa Marinha], exibindo apenas um ramo verde, vetusto cedro de tronco
carcomido, o qual segundo a tradição, fora trazido da Índia pelo abade de Santa Marinha, em
1646, data da fundação da irmandade dos escravos do Senhor. Ora, como se viu, esta existia já
umas décadas atrás, de modo que o ano referido deve ligar-se à nova denominação adoptada para
aquela associação, de irmandade das Almas e do Santíssimo Sacramento” – História do Bispado e
Cidade de Lamego, ob. cit., Lamego, Vol. IV, 1984, p. 430.

416
PereirAs de sAnfins. subsídios PArA A suA geneALogiA

Fig. 7: Cfr., imagem do assento respectivo, in MADL, data e loc. cit..

Brochado, também seu tio paterno, e Joaquim José Pinto de Vasconcelos, seu
irmão uterino.

417
migueL PinTo de resende

Casou na freguesia de São Cristóvão de Nogueira, a 17.10.1816, com o


Tenente LUÍS MENDES DE VASCONCELOS, parente seu 236, Oficial de Fuzi-
leiros no Regimento de Milícias de Arouca, Combatente Legitimista 237; Senhor
da Casa de Valinhas, no lugar do seu nome, sito no Vale de Nespereira, do extinto
concelho de Sanfins 238, outrossim Irmão da dita Confraria das Almas e do Santís-
simo Sacramento 239, filho de Manuel Mendes Ribeiro de Vasconcelos, Senhor da
mesma Casa 240, e de D. Bernarda Maria Pereira de Vasconcelos, sua mulher; neto
paterno de Francisco Mendes Ribeiro de Vasconcelos, Senhor da Casa de Cabo de
Vila, em São Cristóvão de Nogueira, e de D. Maria Francisca, sua mulher; o qual
Luís Mendes nasceu na Casa de Valinhas, no ano de 1794, assentou Praça e Jurou
“as Bandeiras” em 13.08.1815; Alferes em 30.12.1817; Tenente da 8.ª Compa-
nhia de Fuzileiros, por decreto de 13.03.1825; foi reformado, na conformidade
da Lei, juntamente com vários outros oficiais, por Decreto de 29.08.1832 241.
Do  casamento foram testemunhas o Monteiro-Mor Joaquim José Pinto de
Vasconcelos, da Porta, e Manuel Pinto de Faria, do lugar de Mourilhe, e cele-
brante o Reitor, Manuel da Cunha Pinto da Fonseca.
Luís Mendes morreu em Nespereira, a 02.04.1852, com todos os sacra-
mentos e com testamento. Teve ofício de corpo presente no dia 4 e o seu corpo
foi sepultado na Igreja Matriz de Santa Marinha. D. Joaquina Margarida faleceu
a 16.10.1864, com testamento, e foi também inumada na Paroquial de Santa
Marinha.

236
Porque ambos descendentes dos Silvas Maldonados da Casa de Cinfães; mas mas também pelos
Pereiras históricos, embora em grau remoto, como se demonstra em gráfico.
237
Que era Alferes, ao tempo do seu casamento; Cfr. os dados relativos ao seu percurso militar, in AHM
(Arquivo Histórico-Militar), Regimento de Milícias de Arouca, “Livro Mestre” 1.16.L, fól. 438.
238
Lugar Meado entre as freguesias de Santo Irício e Santa Marinha de Nespereira – v.g., supra, nota
n.º 122. Valinhas pertencia, nos anos pares, à Igreja de Santa Marinha e, nos anos ímpares, à de
Santo Irício.
239
Cfr. supra, nota n.º 236.
240
Em que sucedeu ao anterior Senhor dela, seu tio paterno, o Dr. Manuel Mendes Ribeiro de
Vasconcelos, Licenciado em Cânones pela Universidade de Coimbra, em 1768, Capitão e Juiz
dos Órfãos do concelho de Sanfins, o qual era casado, sem filhos, com D. Angélica Caetana
da Silva Pereira de Vasconcelos, sua prima. O Dr. Manuel Mendes de Vasconcelos morreu
em Valinhas, a 27.06.1809, lendo-se, a propósito, no assento do seu óbito: “fez testamento
pelo qual instituiu por universal herdeiro a seu sobrinho, Manuel Mendes”. A ascendência de
Manuel Mendes Ribeiro de Vasconcelos pode ver-se, em parte, in RESENDE, José Pinto de, e
RESENDE, Miguel Pinto de, Famílias Nobres... cit., Tit.º de Vasconcelos, § 2.º, n.º 7.
241
Declarado na Ordem do Dia n.º 60, de 03.09; Cfr. “Livro Mestre do Regimento”, cit. supra na
nota n.º 237, e Gazeta de Lisboa, n.º 210, Ano de 1832, Quarta-Feira, 05 de Setembro, fól. 1015.

418
PereirAs de sAnfins. subsídios PArA A suA geneALogiA

Álvaro Pereira, Marechal do Reino

João Álvares Pereira – 1.º grau – D. Isabel Pereira

Martim Pereira – 2.º grau – Rui Mendes de Vasconcelos

Pero Gonçalves Monteiro – 3.º grau – Jácome Rodrigues de Vasconcelos

Álvaro Pereira – 4.º grau – D. Filipa Pereira de Vasconcelos

Diogo Álvares Pereira – 5.º grau – Jácome Rodrigues de Vasconcelos

Leão Pereira Osório – 6.º grau – Miguel de Vasconcelos de Melo

Catarina Monteiro Osório – 7.º grau – Francisco da Silva Pereira

D. Maria Josefa da Silva Maldonado – 8.º grau – Aires da Silva Pereira

Manuel Ferreira Osório – 9.º grau – D. Antónia Caetana da Silva Pereira


de Vasconcelos

Miguel José de Lacerda Pereira – 10.º grau – Francisco Mendes Ribeiro de Vasconcelos
de Vasconcelos

D. Mariana Margarida de Brito Pinto de – 11.º grau – Manuel Mendes Ribeiro de Vasconcelos
Noronha Pereira de Lacerda e Vasconcelos

D. Joaquina Margarida de Brito Pinto – 12.º grau – Luís Mendes de Vasconcelos


Pereira de Lacerda

Gráfico do parentesco, por Pereiras, entre:


D. Joaquina Margarida de Brito Pinto Pereira de Lacerda e Luís Mendes de Vasconcelos,
seu marido, conforme o método de contagem do Direito Canónico 242.

242
Este gráfico, quanto à filiação de Martim Pereira, baseia-se no entroncamento que subjaz ao
presente estudo – cfr. Parte Primeira; Já no que respeita à parte mais recuada da ascendência de

419
migueL PinTo de resende

Viveram na sua Casa de Valinhas, em Nespereira, e tiveram filhos:


12. O Padre Luís Mendes Pinto de Noronha e Vasconcelos, Capelão da
Irmandade das Almas e do Santíssimo Sacramento, de Santa Marinha de
Nespereira, o que servia já em Julho de 1850, ainda apenas com ordens
menores 243; nasceu em Valinhas, a 01.10.1817, tendo sido baptizado a
12.10 do mesmo ano na Igreja de Santo Irício. Foram seus padrinhos
Luís do Amaral Semblano, Capitão-Mor, e D. Ana Rita de Serpa Pinto.
Foi ordenado Presbítero, sub conditione, a 08.12.1850 244. Viveu no lugar
do Castro, em Nespereira, onde morreu a 18.03.1888, sem testamento.
12. D. Ricardina Amélia Mendes de Lacerda, nascida a 17.12.1818,
baptizada a 23 dos mesmos mês e ano, em Santa Marinha. Foram seus
padrinhos o Dr. Francisco Pinto Brochado de Brito, seu tio materno, e
D. Maria Pereira, sua tia paterna, e testemunhas José António de Brito e
João Ribeiro, tios paternos. Casou com o seu parente, Felisberto Vieira
Mendes, filho de António Vieira dos Santos 245, do lugar de Ferreira,
freguesia de São Cristóvão de Nogueira, e de sua mulher, D. Maria
Mendes de Vasconcelos, de Cabo de Vila, da freguesia de São Cris-
tóvão 246; neto paterno de João Vieira dos Santos e de Maria Joaquina,
sua mulher; neto materno de José Mendes Pereira de Vasconcelos, e de
D. Custódia Maria Valente, sua mulher. Faleceu na Casa de Valinhas,
em Nespereira, a 01.07.1907, no estado de viúva. Não teve geração.
12. José Mendes Pinto Brochado, nascido a 11.11.1820, baptizado a 22
dos mesmos mês e ano, em Santa Marinha, de quem foram padri-
nhos o P.e José Pinto Brochado e Brito e sua irmã, D. Ana Benedita,
de Casal, São Cristóvão de Nogueira, e testemunhas o Dr. Francisco
Pinto Brochado de Brito e José Mendes de Vasconcelos, tios. Morreu
solteiro, em Valinhas, a 06.05.1888, sem testamento.
12. Joaquim Mendes Pinto de Vasconcelos de Lacerda Brochado, que
segue.
12. O Padre Francisco Mendes de Lacerda e Vasconcelos, Abade
de São Pelágio de Fornos de Paiva, por Carta d´El-Rei D. Luís  I,

Luís Mendes de Vasconcelos, assenta no que enuncia Felgueiras GAIO. E relativamente à parte
mais recente desta, resulta do que a respeito escrevemos, em co-autoria com José Cabral Pinto
de RESENDE, em Famílias Nobres, ob. cit., tít.º de Vasconcelos.
243
MADL, Ordenações.
244
MADL, Ordenações.
245
VASCONCELOS, António Cardoso Pinto de, ob. cit..
246
Casados em São Cristóvão de Nogueira, a 05.05.1817.

420
PereirAs de sAnfins. subsídios PArA A suA geneALogiA

de 28.02.1877 247. Antes havia sido Vigário de Santa Maria de


Sardoura, também no concelho de Paiva, por Carta do mesmo Rei,
de 27.05.1868 248. Para tomar Ordens Sacras, foi habilitado por inqui-
rição de genere, vitae et moribus, de 03.07.1845 249. Ordenado Pres-
bítero a 01.09.1850 250. Foi Genealogista e mandou reimprimir, em
1898, o trabalho genealógico de José Gomes Anes Amado de Azam-
buja, Família dos Pintos de Riba Bestança, Senhores da Torre de Chã,
ao qual aditou uns “Apontamentos Genealógicos”, de sua autoria, de
apêndice ou actualização àquele 251. Nasceu em Valinhas, a 30.06.1826,
e foi baptizado a 09.07 do mesmo ano, em Santa Marinha, tendo
como padrinhos seu avô, Manuel Mendes de Vasconcelos, e D. Josefa
Tomásia Pereira de Vasconcelos, esta por procuração a seu marido, José
Manuel Vaz Leitão. Morreu em Nespereira, na Casa de Valinhas, a
13.01.1907, com os sacramentos e com testamento.
12. D. Maria José de Lacerda, solteira; nasceu a 08.04.1830, Baptizada a
15 dos mesmos mês e ano, em Santa Marinha, tendo sido seus padrinhos
o Capitão José Pereira de Brito, seu tio, e a filha deste, Maria, solteira.
“Viveu na companhia de seu irmão, P.e Francisco Mendes de Lacerda e
Vasconcelos, Abade de Fornos, na comarca de Paiva, solteira” 252.
12. D. Ana, gémea com a anterior e baptizada no mesmo dia que a irmã.
Foram seus padrinhos seus tios paternos, João Ribeiro e sua mulher,
D. Maria Pereira de Vasconcelos. Morreu a 30.11.1834.
12. Gregório, que morreu menino 253.

12. JOAQUIM MENDES PINTO DE VASCONCELOS DE LACERDA


BROCHADO 254, Senhor, por sua mulher, da Casa do Cabo, em Ervilhais, Nespe-
reira; Juiz de Paz, em Nespereira, de 1854 a 1858 255, Irmão da Confraria das

247
ANTT, Registo Geral de Mercês, D. Luís I, L. 30, fól. 81 v.º.
248
ANTT, Registo Geral de Mercês, D. Luís I, L. 17, fól. 139.
249
MADL, Habilitações de Genere, E.1, P.A., M.4.
250
MADL, Ordenações.
251
Cfr. exemplar do mesmo, no Arquivo do Autor.
252
VASCONCELOS, António Cardoso Pinto de, ob. cit..
253
Segundo os Apontamentos Genealógicos de seu Irmão, P.e Francisco Mendes de Lacerda e
Vasconcelos.
254
Que usava comummente apenas o nome Joaquim Mendes Pinto de Vasconcelos, embora lhe
tenham sido atribuídos os apelidos Lacerda e Brochado, que aliás transmitiu a seus filhos, em
vários assentos paroquiais que lhe dizem respeito.
255
COSTA, M. Gonçalves da, “O Juízo de Paz de Nespereira”, O Nespereirense, n.º 135, Maio de
1986, pp. 1 e 5.

421
migueL PinTo de resende

Almas e do Santíssimo Sacramento de Nespereira 256. Nasceu na Casa de Valinhas,


freguesia de Nespereira, a 13.09.1823, e foi baptizado, a 23 dos mesmos mês e
ano na paroquial de Santo Irício, tendo sido Padrinhos seu tio, o Monteiro-Mor
Joaquim José Pinto de Vasconcelos, e a filha deste, D. Ana de Pádua, solteira,
moradores na Quinta do Coval, freguesia de São Cristóvão de Nogueira.
Casou com D. JOAQUINA MARIA PEREIRA DOS SANTOS, filha
herdeira de Tomás Pereira Leitão, Senhor da Casa do Cabo, e de sua mulher,
Maria Ribeiro (Pereira) de Brito, neta paterna de Manuel Leitão, Senhor da Casa
do Cabo, e de Maria Pereira dos Santos, sua mulher; neta materna de António
Ribeiro de Brito e de Luísa Maria, sua mulher, do lugar do Castelo, de Ervilhais.
Joaquim Mendes morreu a 16.04.1894 e D. Joaquina a 14.02.1895, esta
com 75 anos de idade. Ambos faleceram em Ervilhais, Nespereira, com todos os
sacramentos, sem testamento, e foram inumados no cemitério público, na sepul-
tura n.º 22.
Viveram em Ervilhais, no denominado Lugar Pequeno, ou do Castelo, na
sua Casa do Cabo, aí sita.
Tiveram filhos:
13. D. Ricardina Maria Mendes de Lacerda Pinto Brochado 257, nascida
a 21.09.1844, baptizada a 30 dos mesmos mês e ano, em Santa
Marinha, por seu tio, P.e Luís Mendes Pinto de Noronha e Vasconcelos,
sendo seus padrinhos o P.e Coadjutor e Josefa, solteira, tia da menina.
Casou com José Soares Correia de Noronha 258, 259, Senhor da Casa da
Vila, em Santa Cruz de Alvarenga, do actual concelho de Arouca, onde
nasceu a 01.07.1827 e foi baptizado a 08 dos mesmos mês e ano 260,
filho do Alferes António Soares Correia de Noronha e de D. Joaquina

256
Cfr. supra, nota n.º 236.
257
A quem foram atribuídos, em registos paroquiais que lhe dizem respeito, combinações diversas
de nomes e apelidos.
258
Que seria seu parente, pelo apelido Noronha, o que não foi possível ainda apurar, todavia, com
o necessário rigor.
259
Cfr., quanto à sua filiação: VASCONCELOS, António Cardoso Pinto de, ob. cit. – informação
agora completada por dados mais detalhados, quanto aos respectivos nascimento, baptismo,
filiação e avoenga, gentilmente prestados pelo nosso estimado Parente, Dr. João Bernardo
GALVÃO-TELLES, Genealogista e Heraldista, Editor actual de Armas e Troféus, que do mesmo
José Soares Correia de Noronha é sobrinho-trisneto.
260
Teve como “... padrinhos, por procuração de Manuel Pereira Gonçalves, tio materno do
baptizado, outro tio, paterno,  José Soares (Correia de Noronha), das Eiras, em Alvarenga, e
Joaquim Gonçalves Pinheiro, por procuração de sua mulher Teresa de Jesus Maria José, do lugar
de Portela de Cortegaça, freguesia de Fornelos”.

422
PereirAs de sAnfins. subsídios PArA A suA geneALogiA

Rosa de Jesus Pereira da Cunha 261, sua mulher, natural de Macieira, da


freguesia de Fornelos, concelho de Cinfães 262; neto paterno de Manuel
João Soares e de Maria Joaquina Correia (de Noronha), sua mulher,
da Casa da Vila, em Alvarenga; neto materno de Manuel Pereira
Gonçalves e de Joana Maria da Cunha, sua mulher, do referido lugar
de Macieira, de Fornelos. Com geração.
13. D. Ana Ermelinda Mendes de Lacerda Pinto Brochado, que segue.
13. António Mendes Pinto Brochado, Senhor da Casa do Cabo, em
sucessão a seus pais. Nasceu a 18.10.1853, baptizado a 01.11, do
mesmo ano, sendo seus padrinhos António Pereira de Brito, seu
primo, e D. Maria José de Lacerda, sua tia. Casou em Nespereira,
a 08.09.1877, com D. Maria Pereira Pinto, sua parente, para o que
foram dispensados, Senhora da denominada Casa dos Pereiras, no
Castelo, Ervilhais, filha de José Pereira de Resende e de sua mulher,
D. Ana Pinto Pereira de Vasconcelos; neta paterna de Manuel Pereira
de Resende e de Josefa Maria de Moura, sua mulher, do Castelo, Ervi-
lhais; neta materna de José Manuel Vaz Leitão e de D. Josefa Tomásia
Pereira de Vasconcelos, sua mulher. Foram testemunhas da cerimónia
o P.e Manuel Pinto Brochado e Brito e Francisco Flavínio. Viveram no
Cabo, em Ervilhais, com geração.

13. D. ANA ERMELINDA MENDES DE LACERDA PINTO


BROCHADO 263, que nasceu no lugar do Castelo de Ervilhais, a 02.11.1846, e
foi baptizada a 09 dos mesmos mês e ano na Igreja Paroquial de Santa Marinha
de Nespereira, tendo sido seus padrinhos José Pereira de Resende, e D. Ricardina
Amélia (Mendes) de Lacerda, esta sua tia paterna.
Casou, mediante licença especial, no Oratório Particular da Casa do
Pinheiro, em São João de Cinfães, a 27.11.1869, com ALEXANDRE FERREIRA
PINTO DE OLIVEIRA 264, parente seu, Senhor da mesma Casa do Pinheiro,

261
A quem foram atribuídos, em registos paroquiais que lhe dizem respeito, combinações diversas
de nomes e apelidos.
262
Antigamente do concelho de Sanfins.
263
A quem foram atribuídos, em registos paroquiais que lhe dizem respeito, combinações diversas
de nomes e apelidos.
264
Sobre cuja ascendência pode ver-se: VASCONCELOS, António Cardoso Pinto de, ob. cit.,
Tít.º de Ferreiras do Pinheiro. E, por Caldeiras: RESENDE, Miguel Pinto de, “Apontamentos
Genealógicos Sobre a Casa do Pinheiro”, Miradouro, ano XXII, n.os 562 a 566, 16.05.1986 a
13.06.1986. Este estudo foi depois reeditado, com alterações, mas com algumas incorrecções de
impressão, in MENDES, Nuno Miguel Jorge Mendes, Retratos da Terra e da Família, Câmara

423
migueL PinTo de resende

em Joazim, freguesia de Cinfães, da Casa da Quebrada, em Bouças, na mesma


freguesia, da Quinta de Vila Pouca, no lugar desse nome, e mesma freguesia, da
Quinta do Lameirão, em Boassas, freguesia de São Miguel de Oliveira, e de outras
terras, nas freguesias de Cinfães, São Cristóvão de Nogueira, Santiago de Piães,
Nespereira e Oliveira do Douro, o qual nasceu no Pinheiro, a 01.12.1845, e foi
baptizado na Igreja de Cinfães, a 21 dos mesmos mês e ano; filho do Tenente
José Ferreira Pinto de Oliveira, Senhor da Casa do Pinheiro e demais Casa de
seus maiores, Oficial de Fuzileiros no Regimento de Milícias de Arouca, Juiz de
Direito substituto – primeiro nomeado –, na comarca de Cinfães, por mercê
régia 265, Juiz da Irmandade de Nosso Senhor dos Passos, da vila e freguesia de São
João Baptista de Cinfães 266, e de D. Ana Ermelinda Correia de Jesus 267, Senhora
da Quinta de Ruivas, no lugar do seu nome, e da Casa da Quebrada, em Bouças,
ambas em Cinfães, sua primeira mulher; neto paterno de José Caetano de Oliveira
(Pinto) e de D. Josefa Maria Ferreira (Pinto), Senhora da Casa do Pinheiro 268,
sua mulher; neto materno de João Cardoso de Sá, Senhor da Casa da Quebrada,
e de D. Maria Rodrigues Cardoso, sua mulher e prima. Foram testemunhas do
matrimónio o Dr. Manuel do Nascimento de Azevedo Coutinho, da freguesia
de Tarouquela, Máximo Pereira, Procurador da Igreja, e celebrante o Abade de
Cinfães, José do Amaral de Sousa Pinto.
D. Ana Ermelinda Mendes e Alexandre Ferreira, seu marido, faleceram
ambos na Casa do Pinheiro, este com testamento, a 20.07.1927 e 29.10.1922,
respectivamente.
Viveram na dita sua Casa do Pinheiro, e tiveram filhos, todos aí nados, e
baptizados na Igreja e freguesia de Cinfães:
14. D. Maria da Glória Ferreira de Oliveira, Senhora de parte da Casa
do Pinheiro. Nascida a 22.08.1870, baptizada a 25.09 desse ano, teve
como padrinhos o Dr. Manuel do Nascimento de Azevedo Coutinho
e D. Josefa Augusta Ferreira de Oliveira, esta tia paterna da menina.
Morreu solteira, no Pinheiro, a 29.04.1944, com testamento cerrado

Municipal de Cinfães, 1997 – cfr. Capítulo VIII, da autoria de RESENDE, Miguel Pinto de,
pp. 107 a 121.
265
In “Decreto que nomeia os substitutos dos juízes de direito das comarcas do districto judicial da
relação do Porto, para servirem no corrente anno segundo a ordem das suas nomeações, assinado
pelo Visconde de Seabra, dado no Paço, em 31.01.1868”, Jornal de Jurisprudência, 3.º Anno,
N.º 47, de 18.03.1868; ibidem, idem, N.º 48, de 21.03.1868.
266
VASCONCELOS, António Cardoso Pinto de, ob. cit
267
Que foi sucessora de seus tios maternos, P.e Frutuoso José Cardoso Correia (de Noronha), e
Teresa Maria, solteira, de Joazim.
268
Em compropriedade com seus irmãos, P.e José Alexandre Ferreira, Alexandre José Ferreira,
Vereador em Cinfães, solteiro, e D. Maria Ferreira, solteira.

424
PereirAs de sAnfins. subsídios PArA A suA geneALogiA

de 05.03.1936, aprovado na mesma data pelo Notário da cidade do


Porto, José Guilherme Pinto Ponce de Leão 269.
14. D. Emília Cândida Ferreira de Oliveira, nascida a 09.07.1872,
baptizada, a 23 dos mesmos mês e ano, teve como padrinhos o Abade
de Cinfães, José do Amaral de Sousa Pinto, e D. Cândida Augusta do
Amaral. Morreu a 19.03.1953. Casou em Cinfães, a 29.07.1895, com
Jerónimo Vieira Mendes, seu parente, Senhor da Quinta de Cabo de
Vila, na freguesia de São Cristóvão de Nogueira, de 34 anos de idade,
filho de Bernardino Vieira Mendes de Vasconcelos, e de D. Joana de
Sousa, sua mulher. Foram testemunhas da cerimónia Eduardo José
Carneiro, Empregado da Fazenda, e José Ferreira Pinto de Oliveira,
Estudante, irmão da nubente. Viveram na sua Casa de Cabo de Vila,
em São Cristóvão de Nogueira, com geração, que se extinguiu.
14. José Ferreira Pinto de Oliveira, Professor Oficial do Ensino Primário,
Empresário. Nasceu a 01.11.1874 e foi baptizado a 17 dos mesmos mês
e ano, tendo como padrinhos o Dr. Manuel Cardoso de Azevedo Pinto
e sua mulher, D. Maria Augusta Fernandes Pinto. Cursou Direito, na
Universidade de Coimbra, sem ter chegado a graduar-se 270. Casou
na cidade de Lamego, a 01.10.1944, com D. Maria de Jesus Correia,
natural da freguesia de São Miguel de Oliveira, mesmo concelho de
Cinfães, sem filhos. Viveu na Vila de Cinfães. Teve geração fora do
matrimónio.
14. Manuel, que nasceu a 09.12.1876 e foi baptizado a 25 dos mesmos
mês e ano. Foram seus padrinhos o Dr. Manuel do Nascimento de
Azevedo Coutinho e D. Josefa Augusta Ferreira de Oliveira, esta sua
tia paterna. Morreu a 22.01.1881.
14. D. Ricardina Arminda Ferreira de Oliveira, que nasceu a
10.11.1878, e foi baptizada a 12.12 desse ano, tendo sido seus padri-
nhos o Dr. Manuel António Pinto de Resende e D. Joaquina Augusta
de Gouveia Pinto. Morreu solteira, na Rua do Bonfim, na cidade do
Porto, a 17.02.1942, com testamento cerrado datado de 05.03.1936,
aprovado na mesma data pelo Notário do Porto, José Guilherme Pinto
Ponce de Leão 271.
14. D. Augusta Adelaide Ferreira de Oliveira, que segue.

269
Arquivo do Autor.
270
Aí se matriculou a 13.10.1892 – AUC – Sumários de Matrículas.
271
Arquivo do Autor.

425
migueL PinTo de resende

14. D. Amélia Sofia Ferreira de Oliveira, que nasceu a 19.12.1882 e


que foi baptizada a 25.01.1883, tendo sido seus padrinhos seus avós
maternos. Casou com escritura antenupcial de 21.11.1923, lavrada
pelo Notário do Porto, José Guilherme Pinto Ponce de Leão, com
António Libório da Rocha, natural da freguesia da Sé, dessa cidade
do Porto, Poeta, Músico, Fotógrafo-Amador e Bibliófilo, filho de
António Libório Frederico da Rocha e de D. Adelina de Jesus Cardoso,
esta natural da freguesia de São Cristóvão de Nogueira, concelho de
Cinfães; o qual faleceu no Porto, com testamento cerrado, aprovado
a 03.07.1954 por Alexandre Henriques Torres, Notário na mesma
cidade. Viveram na cidade do Porto e, em períodos estivais, na Praia
da Granja, onde morreu D. Amélia Sofia. Não tiveram geração.
14. Alberto Ferreira Pinto de Oliveira, Senhor de parte da Casa do
Pinheiro, onde nasceu a 27.11.1885. Foi baptizado a 21.12 desse
ano, sendo seus padrinhos José Ferreira Pinto de Oliveira, seu irmão,
e D. Josefa Augusta Ferreira de Oliveira, sua tia paterna. Morreu a
10.08.1960. Casou em Cinfães a 27.04.1943, com D. Conceição
Pereira Vaz, do lugar de Joazim, filha de Custódio Pereira Vaz e de sua
mulher, D. Quitéria de Jesus. Com geração.
14. D. Laura Ferreira de Oliveira, nascida a 10.11.1888, foi baptizada a
02.01.1889, tendo como padrinhos seus irmãos, José Ferreira Pinto de
Oliveira e D. Maria da Glória Ferreira de Oliveira. Morreu de juvenil
idade e solteira.

14. D. AUGUSTA ADELAIDE FERREIRA DE OLIVEIRA, que nasceu


na Casa do Pinheiro, na freguesia de São João Baptista de Cinfães, a 21.12.1880,
e que aí foi baptizada, na Igreja Matriz, a 14.02.1881, tendo tido por padrinhos
seus tios de Alvarenga, José Soares Correia de Noronha e mulher, D. Ricardina
Maria Mendes de Lacerda Pinto Brochado.
Casou na mesma Igreja Paroquial de São João Baptista, a 21.02.1906,
com contrato antenupcial lavrado na nota de António Pinto da Costa, Notário
de Cinfães 272, com BERNARDINO DA ROCHA DE RESENDE DE PAIVA,
parente seu, filho de Manuel Augusto Pinto de Resende de Paiva e de D. Flora
Josefina Amélia da Rocha Pinto de Figueiredo, sua mulher e parente, moradores
em Cidadelhe, freguesia de Cinfães, Senhores da Casa do Rego e da Capela de
Nossa Senhora dos Remédios, que lhe é anexa 273, na freguesia de Santa Cristina de

272
Arquivo do Autor.
273
Que D. Flora cedeu, sendo viúva, a Albano Pinto da Rocha, seu irmão.

426
PereirAs de sAnfins. subsídios PArA A suA geneALogiA

Tendais; neto paterno de José de Resende de Figueiredo 274, e de D. Josefa Maria


de Jesus Rodrigues de Paiva (Pinto de Resende), sua mulher e parente 275; neto
materno de Casimiro Rodrigues Pinto da Rocha e Figueiredo 276, Recebedor no
concelho de Tendais, Escrivão do Juízo de Paz do “Distrito” de Cinfães, por mercê
d´El-Rei D. Pedro V, de 24.07.1854 277; Escrivão e Tabelião do Juízo Ordinário
do Julgado de Armamar, por mercê do mesmo Rei, de 29.05.1855 278; Vereador
na Câmara Municipal de Cinfães; e de D. Joaquina Correia Pinto da Fonseca,
sua mulher e parente, Senhora da Casa do Rego, em Santa Cristina de Tendais, e
da Capela de Nossa Senhora dos Remédios, que lhe é anexa 279; a favor dos quais
foi passado, a 14.01.1861, pelo Escrivão de Cinfães Vitorino Pinto Correia, um
Instrumento Cível de Justificação de Testemunhas, que correu termos ante o Juiz
de Direito dessa comarca de Cinfães, pelo qual os justificantes demonstraram

274
Cuja ascendência, em parte, pode ver-se in RESENDE, José Pinto de, e RESENDE, Miguel
Pinto de, Famílias Nobres..., cit., Tít.º de Resendes, § 6.º, p. 162, com ressalva dos respectivos avós
paternos, em que ocorreu lapso, uma vez que eram Luís de Resende de Figueiredo e Aurência
Maria Rodrigues, sua mulher, e não os ali apontados.
275
Cuja ascendência, em parte, pode ver-se in RESENDE, José Pinto de, e RESENDE, Miguel
Pinto de, Famílias Nobres..., cit., Tít.º de Pintos, § 8.º, p. 121.
276
Cuja ascendência, em parte, pode ver-se in RESENDE, José Pinto de, e RESENDE, Miguel
Pinto de, Famílias Nobres..., cit., Tít.º de Moutas Destroncados, § 4.º, p. 68, e Tít.º de Pintos,
§ 25.º n.º 11, p. 148-149, com a ressalva de que D. Maria Pinto da Rocha, mãe de Casimiro,
não era filha de quem se declara no referido Tít.º de Pintos, mas sim de Francisco da Rocha
de Figueiredo e de D. Ana Gertrudes Pinto da Silva, sua mulher, também mencionados nos
mesmos tít.º e §, sob o n.º 10.
277
ANTT, Registo Geral de Mercês, D. Pedro V, L. 4, fól. 177.
278
ANTT, Registo Geral de Mercês, D. Pedro V, L. 3, fól. 184v.º.
279
Filha sucessora, por morte, sem filhos, de seu irmão, o Dr. Manuel António Pinto da Fonseca, dos
pais de ambos, o Tenente José António Pinto da Fonseca Amado, Senhor da Casa do Rego, em Santa
Cristina de Tendais, Administrador do Vínculo e Capela de Nossa Senhora dos Remédios, que lhe
é anexa (Morgado instituído, em 1716, pelo P.e Manuel da Fonseca Amado, Abade Encomendado
de Santa Maria de Freigil, no concelho de Aregos – cfr. respectivo Tombo, no Arquivo do Autor);
Senhor de propriedades pertencentes ao Casal de Meridãos, de que teve Prazo, pelo Real Mosteiro
de Santa Maria de Salzedas, em 29.05.1797, Senhor da Casa de Campo Benfeito, na Vila e Honra
de Campo Benfeito, freguesia de Gozende, concelho de Castro Daire, de que teve Prazo, juntamente
com sua mulher, infra, a 19.09.1816, pelo Conde de Tarouca e Marquês de Penalva; Tenente de
Granadeiros, nos regimentos de Milícias de Lamego, e depois de Arouca, em que serviu contra os
franceses nas Guerras Peninsulares, tendo sido reformado “no mesmo posto com as honras que lhe
são devidas”, por Carta-Patente do Príncipe-Regente, Dom João, passada no Rio de Janeiro, em
30.01.1812; Juiz Ordinário e Vereador na vila e concelho de Tendais, e de D. Maria Correia, sua
mulher, Senhora da Casa de Campo Benfeito – cujas biografias, mais desenvolvidas, irão constar de
trabalho do foro genealógico, resultado de nossa investigação, que se espera venha a ser publicado
em breve, sobre a família Caldeira, de Cinfães, e a que já supra se aludiu, desenvolvimento do estudo
publicado inicialmente em 1986 – cfr. supra, nota n.º 265.

427
migueL PinTo de resende

e provaram a sua nobreza, e serem ambos legítimos descendentes, para além de


outras famílias, da “muito ilustre e antiga Casa de Chã, de Riba Bestança, antigo
concelho de Ferreiros de Tendais”. Bernardino Resende nasceu em Cidadelhe,
freguesia de Cinfães, morada de seus pais, a 29.03.1874, tendo sido baptizado na
Igreja de Cinfães, a 03.05 do mesmo ano. Foram seus padrinhos sua Avó materna,
D. Joaquina Correia Pinto da Fonseca, e Bernardino Correia de Resende Rego,
viúvo, primo coirmão daquela avó do menino.
D. Augusta Adelaide Ferreira faleceu na Vila de Cinfães, a 04.10.1945.
Bernardino Resende morreu no Hospital de Santo António, na cidade do Porto, a
30.10.1952. Sendo viúvo, havia outorgado, juntamente com seus filhos, escritura
para a partilha dos bens que ficaram por falecimento de sua mulher, D. Augusta,
que foi lavrada a 14.10.1948, nas notas do Dr. Isidro Pinto da Costa, Notário de
Cinfães 280.
Viveram na Vila de Cinfães, e tiveram filhos, todos aí nados e baptizados:
15. O Prof. Doutor Flávio Ferreira Pinto de Resende, Professor Cate-
drático da Faculdade de Ciências de Lisboa; Licenciado em Ciências
Naturais, pela Universidade do Porto, em 1928; Doutor em Ciências,
pela Universidade de Hamburgo, na Alemanha, em 1937; Professor
Extraordinário de Botânica, na Faculdade de Ciências do Porto, em
1942; tomou depois a sua cátedra, em 1943; Director da Secção de
Botânica, da mesma Faculdade de Ciências de Lisboa, e Director do
Instituto Botânico e do Jardim Botânico, que lhe são anexos, a partir
do mesmo ano; um dos principais mentores da criação do Centro de
Biologia da Fundação Calouste Gulbenkian, de que veio a ser Director.
Foi Autor de 85 memórias e comunicações, publicadas em numerosas
revistas, a maior parte das quais estrangeiras, e, de parceria com outros
colaboradores, co-autor de mais 28 trabalhos. Dedicou-se, sobretudo,
ao estudo de citologia vegetal e fisiologia do desenvolvimento. Alguns
dos seus últimos trabalhos versaram sobre aspectos relacionados com
a origem do cancro. Cientista de renome, em Portugal e além-fron-
teiras, “nunca tendo aceitado quaisquer condecorações, ou títulos
honoríficos, pertencia, por eleição, à Leopoldina German Academy
of Science” 281. Alcançou, em 1958, o Prémio Artur Malheiros, da
Academia das Ciências de Lisboa 282. Nasceu a 27.01.1907 e foi bapti-
280
Arquivo do Autor, certidão extraída de fól. 30 e ss. do L. 18-A.
281
Prestigiada instituição, fundada em 1652.
282
Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Vol. 25, p. 235; idem, Vol. 40 (Apêndice),
pp. 444-445 e vol. X da Actualização, nos artigos respeitantes ao visado. Cfr., ainda, Terras de
Serpa Pinto – Revista da Câmara Municipal de Cinfães, n.º 1, Dezembro de 1982, pp. 36-42;

428
PereirAs de sAnfins. subsídios PArA A suA geneALogiA

zado a 25.03 do mesmo ano, tendo sido seus padrinhos os seus avós
maternos, Alexandre Ferreira Pinto de Oliveira e D. Ana Ermelinda
Mendes de Lacerda Pinto Brochado. Casou na cidade de Breslau, na
Silésia Alemã 283, a 21.09.1942, com D. Martha Ângela Saenger, de
nacionalidade alemã e de credo católico, nascida na mesma cidade a
16.04.1915, filha de Georg Paul Marie Saenger e de Helena Ângela
Anna Iankowsky, sua mulher. Flávio Resende morreu em Lisboa, a
01.01.1967. D. Marta Ângela viria a falecer em Cascais, a 07.07.2009.
Viveram em Cascais, com geração.
15. Afonso Carlos de Resende, que nasceu a 23.08.1908, e que foi bapti-
zado a 01.11 do mesmo ano, tendo como padrinhos Afonso Augusto
da Rocha de Resende, seu tio paterno, e D. Flora Josefina Amélia da
Rocha Pinto de Figueiredo, sua avó paterna. Faleceu a 16.07.1909.
15. O Monsenhor Dr. Carlos Alberto Pinto de Resende, Reitor do Semi-
nário Maior de Lamego; Sacerdote ordenado a 15.06.1933; Licenciado
em Filosofia pela Universidade Gregoriana, em Roma, em 1937 284;
Cónego Capitular da Sé de Lamego, desde 1945, Vice-Reitor (1948)
e, depois, Reitor do Seminário Maior de Lamego (1954 a 1971), Arci-
preste, Arcediago e Chantre do Cabido Lamecense, Prelado Doméstico
de Sua Santidade, pelo Papa Paulo VI, em 10.06.1964, com o trata-
mento de Monsenhor 285; Senhor da Casa do Pinheiro, em Cinfães,
em compropriedade com seu irmão, P.e Manuel Resende e com outros
familiares. Nasceu a 12.02.1910 286e foi baptizado a 14.06 do mesmo
ano, tendo como padrinhos Afonso Augusto da Rocha de Resende, seu
tio paterno, e D. Flora Josefina Amélia da Rocha Pinto de Figueiredo,
sua avó paterna. Faleceu em Cinfães, a 23.08.1991, com testamento.
15. D. Maria de Lourdes de Resende Ferreira, nascida a 15.02.1912,
foi baptizada a 05.05 do mesmo ano, e teve como padrinhos Alberto

idem, n.º 2, Primavera de 1992, pp. 17-22; Escola Secundária/3 Prof. Doutor Flávio F. P.
Resende, Cinfães, Retalhos da Vida do Prof. Doutor Flávio Resende – revista avulsa comemorativa
do centenário do seu nascimento, 27.01.2007.
283
Esta cidade designa-se hoje Wroclaw, e fica situada em território polaco.
284
Durante a estadia em Roma, foi membro do Pontifício Colégio Português.
285
Cfr. doc.s relativos às nomeações eclesiásticas, no Arquivo do Autor.
286
No centenário do seu nascimento, e por iniciativa dos seus antigos alunos do Seminário Maior
de Lamego, foi levada a efeito uma simbólica homenagem à sua pessoa, na vila de Cinfães, a
13.02.2010, que se iniciou com sessão solene, na Câmara Municipal, com as presenças dos
Bispos de Aveiro, Lamego e Bragança, passando por descerramento de placa alusiva, na Casa em
que viveu com seus pais, e terminando com missa, presidida pelo Bispo de Lamego – cfr. Revista
Municipal de Cinfães, n.º 41, 2010, p. 20.

429
migueL PinTo de resende

Ferreira Pinto de Oliveira e sua irmã, D. Ricardina Arminda Ferreira


de Oliveira, ambos seus tios maternos. Faleceu solteira, a 28.02.1933.
15. O General Fernando Ferreira Pinto de Resende, Oficial General
da Força Aérea Portuguesa 287; Piloto-Aviador 288, foi brevetado como
Alferes de Aeronáutica, em 1936, e iniciou a sua vida de piloto
numa unidade de aviões de caça, em Tancos, em 1937, onde voou
em Hawker Fury; após as sucessivas promoções, foi nomeado General
em 1962. Comandante da 2.ª Região Aérea (Angola), em 1961,
enquanto ainda Brigadeiro, encontrava-se a servir este posto, quando
do início da revolta, pelo que teve a honra de ser “o primeiro oficial
da Força Aérea a comandar as forças em operações de guerra” 289.
Comandante da 1.ª Região Aérea, em 1963; Professor do Instituto
de Altos Estudos Militares, desde 1965 a 1968, ano em que passou à
situação de Reserva. Condecorado com os Serviços Distintos, Meda-
lhas de Prata e de Ouro, esta última com Palma; Agraciado, ainda,
com a Medalha Comemorativa das Campanhas das Forças Armadas
do Norte de Angola e com a Medalha de Mérito Militar – 1.ª Classe –;
Grande-Oficial da Ordem Militar de Avis; Cavaleiro da Ordem da
Coroa, no que foi contemplado pelo Governo Italiano, Comendador
da Legion of Merit, em que foi nomeado pelo Governo dos E.U.A.,
portador da Medalha de Mérito Aeronáutico (Brasil); Comendador da

287
Sobre cuja biografia poderá consultar-se o sentido testemunho do Coronel Piloto-Aviador
Augusto Cândido Pinto Coelho Soares de Moura, falecido em 2011, que serviu sob as ordens
do biografado na guerra da Província de Angola – cfr: “Epicédio por um General”, in Mais Alto
– Revista da Força Aérea Portuguesa, Ano XXXVII, n.º 321 (1999), pp. 50-51.
288
Fez toda a sua carreira de piloto na caça. Pilotou, ainda na época dos monomotores, Hawker
Fury, Gloster Gladiator, Spitfire, Hurricane, Fiat C.R.32 e Breda 65; já no tempo dos motores de
reacção: Vampire e F.84.
289
A sua acção como Comandante da Força Aérea, em Angola, valeu-lhe um Louvor, pelo
Governador e Comandante-Chefe das Forças Armadas dessa Província, datado de 14.06.1963,
“pelas magníficas qualidades de comando evidenciadas no desempenho das suas funções, que
agora termina ao fim de dois anos de excepcional importância para a Força Aérea, para as Forças
Armadas, para a Província de Angola e para a Nação. O General Pinto Resende havia apenas
iniciado a implantação dos primeiros elementos da Força Aérea de guarnição quando eclodiram
os acontecimentos de 1961. Foi assim obrigado a iniciar imediatamente operações de guerra em
muito para além do que seria normal com as reduzidas forças à sua disposição. Da forma como
a situação foi enfrentada e do rendimento operacional conseguido, a História falará quando
apontar esta acção como a mais valiosa e decisiva para a manutenção da soberania nacional em
certo momento de um largo troço de território angolano” – Cfr. Extracto da Folha de Serviço do
General Fernando Ferreira Pinto Resende.

430
PereirAs de sAnfins. subsídios PArA A suA geneALogiA

Legião de Honra (França) 290. Nasceu a 24.03.1913 e foi baptizado a


28.09 do mesmo ano, sendo seus padrinhos Afonso Augusto da Rocha
de Resende, seu tio paterno, e a mulher deste, D. Maria Emília de
Resende. Casou na Igreja de Santa Isabel, em Lisboa, a 18.09.1939,
com D. Jacqueline Jamet Alvarez, que nasceu a 09.07.1920 na Póvoa
de Santa Iria, filha de Joaquim Cruces Alvarez, natural da freguesia de
Belém, da cidade de Lisboa e de D. Augustine Jamet, sua mulher, de
nacionalidade francesa, natural de Paris. Morreram, respectivamente,
em Lisboa e Cascais, a 13.07.1999 e a 15.04.2009, ambos com testa-
mento e sem geração.
15. D. Maria Bernardette de Resende Ferreira, Senhora da Casa do
Pinheiro, em compropriedade, por sucessão a seus irmãos, P.e Carlos
e P.e Manuel Resende, Nasceu a 13.02.1915. Foi baptizada a 08.08
do mesmo ano, tendo sido padrinhos Júlio César Gomes da Silva e
D. Joaquina da Rocha Gomes, sua mulher, esta prima coirmã da avó
paterna da baptizada. Viveu solteira, na Vila de Cinfães, onde faleceu,
a 09.03.1999, com testamento.
15. O Padre Manuel Ferreira Pinto de Resende, Sacerdote ordenado em
13.08.1939; Professor do Seminário Menor de Resende, a partir de
1945; Director Espiritual do mesmo Seminário, de 1946 a 1961, ano
em que partiu para Angola como Capelão da Força Aérea; Missionário
nessa Província, de 1966 a 1975. Estando em Negage, foi o principal
promotor e mentor da construção da Igreja de São José Operário, da
qual foi feita a benção solene por D. Manuel Nunes Gabriel, Bispo-
-Coadjutor da Arquidiocese de Luanda, a 10.03.1964. Regressando
à Metrópole, desempenhou vários cargos na Diocese de Lamego e
promoveu a edificação de uma Capela, da Invocação de Nossa Senhora
da Conceição, Padroeira de Portugal, em Joazim, Cinfães, por sua
devoção e serviço dos povos desse lugar. Nasceu a 14.05.1916 e foi
baptizado a 19.11 do mesmo ano, tendo como padrinhos Alexandre

290
Cfr., ainda, a sua biografia sumariada, na brochura comemorativa da Cerimónia de Integração dos
Novos Alunos e Compromisso do Código de Honra, presidida por Sua Excelência o Comandante da
Academia da Força Aérea, Major General Joaquim Borrego, 30.10.2013: “A Cerimónia assinalou
o início do ano escolar onde os alunos do 1.º ano do Curso de Mestrado em Aeronáutica Militar
e os alunos do Estágio Técnico-Militar 2013/2014 efectuaram o Compromisso Solene do
Código de Honra do aluno da Academia da Força Aérea e conheceram o seu Patrono – General
Fernando Ferreira Pinto de Resende, cujo exemplo de bem servir a Pátria e as Forças Armadas,
possa constituir um referencial e que por isso contribua para orientar e motivar as novas vocações
e efectuaram o Juramento do Código de Honra”.

431
migueL PinTo de resende

Ferreira Pinto de Oliveira, seu avô materno, e D. Maria da Glória


Ferreira de Oliveira, sua tia materna. Senhor da Casa do Pinheiro, em
Cinfães, em compropriedade com outros familiares; Senhor da Quinta
de Ruivas, na freguesia de Cinfães, por legado da referida sua tia e
madrinha, D. Maria da Glória Ferreira de Oliveira, solteira, que por sua
vez a havia recebido de D. Josefa Augusta Ferreira de Oliveira, tia sua,
paterna, também solteira. Faleceu na Vila de Cinfães, a 14.08.1988,
com testamento.
15. O Dr. Alexandre Ferreira Pinto de Resende, Licenciado em Medi-
cina e Cirurgia, pela Universidade do Porto, em 1945; Médico Espe-
cialista em Pneumotisiologia, foi Director de Serviço do Sanatório
D. Manuel II, em Vila Nova de Gaia, no Monte da Virgem; em 1949,
encetou a sua carreira médica – hospitalar como Segundo Assistente
do referido Sanatório, que havia sido inaugurado a 11.06 desse ano;
Primeiro Assistente do mesmo Sanatório, desde 1956; aí foi Chefe
dos Serviços Clínicos, desde 1968; em 15.04.1970, foi integrado nas
Carreiras Médicas do Instituto de Assistência Nacional aos Tuber-
culosos, como Director do Serviço Central do I.A.N.T., passando a
desempenhar as funções de Director de Serviço no referido Sanatório;
em 1967, havia sido nomeado, por despacho ministerial, sanciona-
tório de concurso efectuado, Director do Dispensário da Constituição,
na cidade do Porto, de que não chegou a tomar posse, atenta a sua
preferência pela permanência no Sanatório D. Manuel II 291. Entre
outros, frequentou, em 1958, o Curso de Tuberculose Infantil, no
Centro Internacional da Infância, em Paris. Enquanto bolseiro da
Organização Mundial de Saúde, frequentou o Curso de Epidemo-
logia e luta contra a Tuberculose, no Instituto Forlanini, em Roma,
em 1961-1962; Membro da União Internacional contra a Tuber-
culose; Médico da Empresa Carbonífera do Douro, etc. Nasceu a
06.04.1918 e foi baptizado no primeiro Domingo de Agosto desse
ano, tendo sido padrinhos seu irmão, Flávio Ferreira Pinto de Resende,
e sua tia paterna, D. Amélia Adelaide da Rocha de Resende. Casou na
Igreja Paroquial de São Martinho de Mozelos, no concelho da Feira, a
19.11.1949, com D. Amália Olinda de Amorim Martins, sua parente
291
Sobre o serviço e permanência do Dr. Alexandre Pinto Resende no Sanatório D. Manuel II,
cfr., AMARAL, Anabela, e ALMEIDA, António Ramalho de, e outros, Hospitais de Gaia – Um
Século de História, Fronteira do Caos Editores, 2008, p. 43, bem como fotografias alusivas. Cfr.,
ainda: ALMEIDA, António Ramalho de, Sanatório de D. Manuel II – Alguns Contributos para a
Sua História, Gaia, ed. do Autor, 1998, pp. 51, 55, 61 e 88.

432
PereirAs de sAnfins. subsídios PArA A suA geneALogiA

em grau remoto, que nasceu na freguesia de São Cristóvão de Nogueira


da Regedoura, do mesmo concelho da Feira 292, no lugar de Pousadela,
a 30.12.1926; filha de Carlos Francisco Martins, Industrial, proprie-
tário nos concelhos da Feira e de Vila Nova de Gaia, mormente nas
freguesias de Mozelos, Argoncilhe, Nogueira da Regedoura e Grijó,
e de D. Arminda Pereira Coelho de Amorim, Senhora da Casa de
Aldeia de Baixo, em Nogueira da Regedoura 293, sua mulher e parente,
os quais foram inicialmente moradores em Pousadela e, posterior-
mente, durante longos anos, na sua Casa da Igreja, em Mozelos; neta
paterna de António Francisco Martins e de D. Maria Ferreira Leite da
Conceição, sua mulher 294, moradores que foram em Gôda, Mozelos;
neta materna de Manuel Pereira Coelho, Senhor da Casa de Aldeia de
Baixo 295, e de D. Maria Fernandes Coelho de Amorim, sua mulher
e parente, esta natural da Casa da Quintã, em Mozelos 296. O Dr.
Alexandre Resende morreu no Hospital de Santo António, na cidade
do Porto, a 15.01.1993. D. Amália havia já falecido, a 28.11.1986, na
cidade de Londres, em Inglaterra. Viveram na freguesia de Lordelo do
Ouro, na cidade do Porto 297, com geração.

292
A freguesia pertenceu, à época, e por um curto período, ao concelho de Espinho.
293
Por herança de seus pais. Irmã germana de Ricardo Pereira Coelho de Amorim, Senhor da Casa
da Quintã, em Mozelos, por sucessão de seus tios maternos, todos solteiros, Dr. José Fernandes
Coelho de Amorim, D. Emília Fernandes Coelho de Amorim, Manuel Fernandes Coelho de
Amorim, Francisco Fernandes Coelho de Amorim e Paulino Fernandes Coelho de Amorim.
294
Filha de Pedro Rodrigues de Azevedo e de D. Josefa Teresa Maria Ferreira Leite de Oliveira, sua
mulher e parente, esta Senhora que foi da Casa da Fonte, em Ermilhe, Mozelos. Sobre a família
de Pedro Rodrigues de Azevedo irá brevemente sair a lume um trabalho do foro genealógico,
fruto de nossa investigação.
295
Em que sucedeu ao P.e António Pereira Coelho, seu irmão. Este, por sua vez, foi herdeiro do
P.e António Coelho Carreira, seu primo, natural de Lourosa, Feira, Frade Franciscano que passou
a clérigo secular aquando da extinção das ordens religiosas masculinas; Egresso do convento de
Santo António de Castelo-Branco, da Província da Soledade e, depois, Pároco da Igreja de Santo
André de Gião, na Feira, por Decreto da Rainha D. Maria II, de 26.09.1845, in ANTT, Registo
Geral de Mercês, D. Maria II, L. 27, fól. 119-119v.º.
296
Filha de António Fernandes de Amorim (irmão do P.e Manuel Fernandes de Amorim, Capelão
da Santa Casa da Misericórdia do Porto) e de D. Ana Francisca Coelho, sua mulher e parente,
aquele Senhor da Casa da Quintã, em Mozelos, em que sucedeu ao Alferes de Milícias António
de Amorim Aranha, seu tio, e esta Senhora da Casa de Seitela, também em Mozelos, em que por
sua vez sucedeu ao Major José Pereira da Silva, tio seu, Vice-Comandante do Quarto Batalhão
da Guarda Nacional da Corte Imperial, no Rio de Janeiro, o qual foi, no Brasil, Cavaleiro da
Ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo e Cavaleiro da Imperial Ordem da Rosa.
297
À Rua Paulo Dias de Novais, n.º 43.

433
migueL PinTo de resende

15. Bernardino Augusto Ferreira Pinto de Resende, Funcionário Público,


Primeiro Ajudante na Conservatória do Registo Predial de Cinfães.
Nasceu a 29.05.1921, baptizado a 05.07 do mesmo ano, tendo como
padrinhos seu irmão, Carlos Alberto Pinto de Resende, e a tia paterna,
D. Amélia Adelaide da Rocha de Resende. Casou a 05.05.1946, na
Capela de Vila Nova, freguesia de São Miguel de Oliveira do Douro,
do mesmo concelho de Cinfães, com D. Maria Celeste do Amaral,
sua remota parente, que nasceu no mesmo lugar de Vila Nova, a
02.07.1926, filha de Cassiano do Amaral Campelo, Senhor da Casa
de Cimo de Vila, em Vila Nova, e de D. Carlota Augusta, sua mulher;
neta paterna de Joaquim do Amaral Pinto Botelho Tojal, Senhor da
mesma Casa, Tabelião de Notas do Julgado de Ferreiros de Tendais,
por Carta d´El-Rei D. Luís I, de 12.04.1866 298, e de D. Ermelinda
de Jesus de Magalhães Campelo, sua mulher e prima; neta materna de
António Ferreira e de D. Isabel Augusta, sua mulher, moradores em
Vila Nova, mesma freguesia de São Miguel de Oliveira. Faleceram em
Cinfães, a 02.08.2003 e a 17.01.2000, respectivamente. Viveram na
Casa do Pinheiro, em Cinfães, com geração.

298
ANTT, Registo Geral de Mercês, D. Luís I, L. 14, fól. 61.

434
PereirAs de sAnfins. subsídios PArA A suA geneALogiA

ANEXO III:

ANTT, Feitos Findos, Justificações de Nobreza, Maço 11, N.º 15, fól. 25.
“Imagem cedida pelo A.N.T.T.”.

435
436

ANEXO IV
1. Martim
Pereira

2. Pero
Gonçalves
Monteiro

3. Álvaro 3. Fernão 3.Diogo


Pereira Pereira Pereira

4. Diogo 4. Luísa 4. Justa 4. … 4. …


Álvares Pereira Pereira

migueL PinTo de resende


Pereira

5. Gonçalo 5. Gil Dias 5. Álvaro 5. Leão 5. Baltasar 5. Damião 5. Eulália 5. Genebra 5. Fernão 5. Alexandre 5. António
da Fonseca Pereira Pereira Pereira Pereira Pereira Osório Pereira Pereira Simões Pires
Pereira Osório

6. Inácio 6. Catarina 6. P.e 6. Eulália 6. Maria 6. Filipe 6. Maria 6. Luísa 6. Paula


Monteiro Monteiro Diogo Osório Pereira Osório Pereira Pereira
Pereira Osório Álvares
Pereira

7. Diogo 7. Miguel 7. D. Maria 7. Isabel 7. Helena 7. Catarina 7. Leão


da Silva Josefa da Silva da Silva da Silva Pereira
da Silva Pereira Osório
Maldo-
nado

8. João 8. Manuel 8. Diogo 8. D. Maria 8. D…


Ferreira Ferreira Álvares Josefa
Osório Osório Pereira Osório

(Com quem se inicia


a Parte Segunda)
8. Manuel Ferreira Osório

ANEXO V
9. D. Maria 9. Manuel de 9. Miguel José 9. D. Antónia 9. D. Catarina
Lacerda de de Lacerda Josefa de
Vasconcelos Pereira de Lacerda e
Pereira Vasconcelos Vasconcelos

PereirAs de sAnfins. subsídios PArA A suA geneALogiA


10. D. Engrácia Pinto 10. José 10. Francisco 10. D. Mariana Margarida de 10. D. Maria
de Noronha Pereira de Pereira Pinto Brito Pinto de Noronha Pereira de de Vasconcelos
Vasconcelos de Vasconcelos Lacerda e Vasconcelos

11. Joaquim 11. Cristóvão 11. Dr. Fran- 11. António 11. P.e 11. António 11. D. Ana 11. D. Maria 11. D.Joaquina
José Pinto de Pinto Brochado cisco Pinto José Pinto Pinto Benedita Pinto Pinto Margarida de
Vasconcelos Brochado de Brochado de Brochado Brochado Brochado Brito Pinto
Brito Brito Pereira de
Lacerda

12. P.e Luís 12.D. Ricar- 12. José 12. Joaquim Mendes 12. P.e Francisco 12. D. Maria 12. D. Ana 12. Gregório
Mendes Pinto dina Amélia Mendes Pinto Pinto de Vasconcelos de Mendes de Lacerda e José de
de Noronha e Mendes de Brochado Lacerda Brochado Vasconcelos Lacerda
Vasconcelos Lacerda

13. D. Ricardina Maria 13. D. Ana Ermelinda 13. António


Mendes de Lacerda Mendes de Lacerda Pinto Mendes Pinto
Pinto Brochado Brochado Brochado

14. D. Maria 14. D. Emília 14. José 14. Manuel 14. D. Ricar- 14. D. Augusta 14. D. Amélia 14. Alberto 14. D. Laura
da Glória Cândida Ferreira Pinto dina Arminda Adelaide Sofia Ferreira Ferreira Pinto Ferreira de
Ferreira de Ferreira de de Oliveira Ferreira de Ferreira de de Oliveira de Oliveira Oliveira
Oliveira Oliveira Oliveira Oliveira

15. Prof. Dr. 15. Afonso 15. Monse- 15. D. Maria 15. General 15. D. Maria 15. P.e Manuel 15. Dr. 15. Bernar-
Flávio Ferreira Carlos de nhor Carlos de Lourdes Fernando Bernardette Ferreira Pinto Alexandre dino Augusto
437

Pinto de Resende Alberto Pinto de Resende Ferreira Pinto de Resende de Resende Ferreira Pinto Ferreira Pinto
Resende de Resende Ferreira de Resende Ferreira de Resende de Resende
PASSALÁQUAS DA MADEIRA, ÍNDIA E DE ANGOLA

Luís Miguel Pulido Garcia Cardoso de Menezes

Preâmbulo

Leopoldo Massa Saluzzo, na sua


monografia “Notizie per servire alla storia
della Chiesa di Tortona pubblicate dal conte
Giacomo Carnevale” 1, refere que a família
Passalacqua, veio de Cosenza, comuna italiana
da região da Calábria, nos tempos mais
remotos e estabeleceu-se em Tortona, donde
passou para outros locais como Génova.
O primeiro membro desta família, que
se estabeleceu em Portugal foi Nicolao Andrea
Passalacqua e sua mulher Cecília César, natu-
rais de Génova, que passaram à Madeira em
meados do século XVIII, andando nesta
família o emprego e cargo de Tesoureiro da
Figura 1 – Armas Passalacqua
alfândega do Funchal, desde 1792 a 1830. 2

1
cf. SALUZZO, Leopoldo Massa, Notizie per servire alla storia della Chiesa di Tortona pubblicate
dal conte Giacomo Carnevale, Lugano, 1844, p. 101.
2
cf. A Provedoria e Junta da Real Fazenda do Funchal, foi decretada por resolução régia de
6-4-1775, sendo constituída pelo Governador e Capitão General, com funções de presidente,
pelo corregedor da comarca, pelo juiz de fora, como procurador da Fazenda, por um tesoureiro
geral, eleito pela Junta, e um escrivão da Fazenda e da receita e despesa da Tesouraria Geral.

439
Luís migueL PuLido gArciA cArdoso de menezes

Génova, era uma cidade e comuna italiana da região da Ligúria e província


de Génova, detendo um importante porto marítimo e centro industrial, que teve
um grande desenvolvimento nos séculos XII e XIV. Existe hoje em dia uma cidade
de Passalacqua, pertencente ao município de Tortona, província de Alexandria e
região de Piemonte. O município de Tortona, distava apenas 52 km de Génova e
a região do Piemonte era vizinha à da Ligúria.
Por decreto de 25-11-1926 e carta patente régia de 17-3-1927, recebeu o
título de Conde Joseph, que juntou ao sobrenome o apelido adicional honorífico
“de Passalacqua”. Com a mesma data, foi concedido o título de conde de pessoal
para seu filho, Pier Alfredo Guazzone di Passalacqua, conte di Passalacqua, desco-
nhecendo-se a sua ligação aos Passalacquas portugueses.

§1

I – NICOLAO ANDREA PASSALACQUA, que se encontrava radicado na


Madeira no século XVIII.
* em Génova, Itália.
= com Cecília César, * em Génova, Itália.
Filho:

1 (II) Paulo Maria Passaláqua, que segue.

II – PAULO MARIA PASSALÁQUA, Tesoureiro na Alfândega do Funchal «das


receitas dos rendimentos dos novos direitos e seguros da ilha da Madeira e Porto Santo»
(1792-1793, 1800-1801, 1805-1808) 3, Procurador-Geral e Apostólico dos fran-
ciscanos da Custódia dos Menores Observantes de S. Francisco da Madeira (em
1807). A 29-4-1807, envia uma carta a Lorenzo Caleppi (1741-1817), Núncio
Apostólico em Lisboa (1801-1808) e Arcebispo de Nísibi (desde 1801) 4, refe-

Nesta instituição, encontramos os registos de cobrança de impostos do Funchal, Calheta, Ponta


do Sol, Porto Santo, Santa Cruz, S. Vicente, Câmara de Lobos, Machico, Porto do Moniz,
Santana, entre os quais os direitos do açúcar, a décima, a dízima, a redízima, o papel selado, a
imposição do vinho, a sisa, o subsídio literário, folhas de pagamento civil, eclesiástica e militar.
A alfândega do Funchal, dependia directamente e hierarquicamente da Provedoria e Junta.
3
cf. Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Provedoria e Junta da Real Fazenda do Funchal, livro 565,
567, 568, 569; FORJAZ, Jorge e José Francisco de Noronha, Os Luso-Descendentes da Índia Portu-
guesa, vol. III, Lisboa, Fundação Oriente, 2003, pp. 219-220; e ROSÁRIO, Morais do, Genoveses
na História de Portugal, Lisboa, [s.n.], 1977 [Lisboa:– Tip. Minerva do Comércio], p. 311.
4
cf. Lorenzo Caleppi (1741-1817), presbítero e diplomata da Santa Sé, Arcebispo de Nisibi
(eleito a 23-2-1801) e Cardeal, Núncio Apostólico em Lisboa (1801-1808), que nasceu em

440
PAssALáquAs dA mAdeirA, índiA e de AngoLA

rindo que trabalhava ao serviço de Portugal, como Tesoureiro na Madeira, e igual-


mente que estava encarregue do trabalho de Procurador-Geral e Apostólico dos
franciscanos da Custódia dos Menores Observantes de S. Francisco da Madeira.
Referia que desde há muito tempo, os religiosos não obedeciam à regra da Ordem
e daí a sua dissolução. Salientava ainda, que a falta de prelados não sucedia desde
o tempo de D. Luís Rodrigues Villares (1745-1810), Bispo do Funchal
(1796-1810), mostrando-se extremamente grato com o regresso deste bispo como
Visitador e Reformador daquela Custódia. 5
A 3-6-1807, Lorenzo Caleppi (1741-1817),
Núncio Apostólico em Lisboa e Arcebispo de
Nísibi, acusa a recepção da carta anterior de
29 de Abril, acerca da Custódia dos Religiosos
Franciscanos, referindo-lhe que o assunto era
de extrema importância, mas que o Bispo do
Funchal, encontrava-se de má saúde, o que não
o permitia tomar conta novamente do cargo,
apesar de todo o zelo que dedicava à Custódia. 6
A 17-7-1807, Paulo Maria Passaláqua, envia
uma carta a Lorenzo Caleppi (1741-1817),
Núncio Apostólico em Lisboa, agradecendo-lhe
a missiva recebida a 3 de Junho e informando-
-o que em toda a Custódia dos Menores Obser- Figura 2 – Lorenzo Caleppi
vantes de S. Francisco da Madeira, haviam 50 (1741-1817), Núncio Apostólico
irmãos, 14 ou 15 leigos, um pequeno número em Lisboa (1801-1808) e Arcebispo
de Nísibi (desde 1801)

Cervia, Ravenna, na costa adriática da Itália em 29-4-1741 e morreu no Rio de Janeiro, Brasil
a 10-1-1817, sendo filho do Conde Nicola Caleppi e Luciana Salducci. Foi ordenado padre
em 1772 e em 22-2-1797, esteve presente e assinou o Tratado de Tolentino, com que a Igreja
capitulou de vez perante o Directório francês e Napoleão. Em 23-2-1801, foi eleito Arcebispo
de Nisibi, sendo consagrado na catedral de Frascati. Nomeado Núncio Apostólico para Lisboa
nos finais desse mesmo ano, chega a Lisboa no dia 22-5-1802. Partiu com as invasões francesas
em Portugal, clandestinamente para o Rio de Janeiro, onde se juntou à corte portuguesa ali
refugiada. Em 8-3-1816, já com a guerra terminada na Europa e uma prestes a decorrer no Rio
da Prata, é criado Cardeal, embora nunca tenha recebido o solidéu vermelho. A 10-1-1817,
o Arcebispo de Nisibi, falece com quase 76 anos de idade. Como sua última vontade, é sepultado
no Convento franciscano de Santo António, Rio de Janeiro.
5
cf. FRANCO, José Eduardo, Arquivo Secreto do Vaticano: Expansão Portuguesa – Documentação,
Tomo I – Costa Ocidental de África e Ilhas Atlânticas, Esfera da Caos Editores, 2011, pp. 287
e Archivo Secreto Vaticano, Arch. Nunz. Lisbona, 77 (1), fl. 184.
6
cf. FRANCO, José Eduardo, op. cit., p. 287 e Archivo Secreto Vaticano, Arch. Nunz. Lisbona, 77
(1), fl. 185.

441
Luís migueL PuLido gArciA cArdoso de menezes

de religiosos que chegaria para regular o seu instituto, todavia a maior parte
encontrava-se doente, insubordinada e vivendo como seculares.
Fazia ainda a listagem dos diversos nomes e cargos da Custódia, dando o seu
parecer sobre cada um dos religiosos. 7
A 10-11-1807, recebe uma carta do Núncio Apostólico em Lisboa, que lhe agra-
decia a missiva de 17 de Julho passada, relativa à Custódia, referindo-lhe as notí-
cias acerca do Visitador e Presidente do futuro Capítulo. 8
* em S. Martino de Rapallo, arcebispado de Génova, Itália cerca de 1750, † na
Madeira.
= na freguesia da Sé, Funchal, Madeira a 2-6-1779 com Rosa Maria [Betten-
court] Tello de Menezes, * na Sé, Funchal, Madeira, filha de Manuel Roiz de
Souza Spínola e de s.m. D. Perpétua Maria Manuel Tello de Menezes. 9
Filhos:

1 (III) Nicolau Maria Passaláqua, que segue.

2 (III) Manuel Justino Passaláqua, Tesoureiro na Alfândega do Funchal


«das receitas dos rendimentos dos novos direitos dos ofícios e Seguros»
(1809-1812, 1813-1814) 10, Administrador efectivo do concelho da
Calheta (1835, 22-8-1839, 6-8-1841 e a 2-8-1847). 11
* na Sé, Funchal, Madeira.
= na capela de S. Luís, anexa ao Paço Episcopal, Sé, Funchal a
28-7-1809 com D. Helena Margarida Telo Câmara, * na Sé,
Funchal, Madeira, filha de Francisco José de Macedo, natural da
Ribeira Brava e de s.m. D. Leonor Silveira Telles da Câmara, natural
do Arco da Calheta. 12
Filha:

7
cf. FRANCO, José Eduardo, op. cit., p. 287 e Archivo Secreto Vaticano, Arch. Nunz. Lisbona, 77
(1), fls. 182-183.
8
cf. FRANCO, José Eduardo, op. cit., p. 286 e Archivo Secreto Vaticano, Arch. Nunz. Lisbona, 77
(1), fl. 181.
9
cf. Arquivo Regional da Madeira, Sé, Funchal, Livro de Casamentos n.º 61, fl. 97 v.º.
10
cf. Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Provedoria e Junta da Real Fazenda do Funchal, livro
570, e 571.
11
cf. Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico N.º 1, Ano 2009, Coimbra, Impressão
de Coimbra Lda, 2009, p. 625, Arquivo Regional da Madeira, Câmara Municipal da Calheta,
Vereações n.º 431, fl. 106 v.º, Governo Civil n.º 656, fl. 24, 138 e v.º e n.º 657, fl. 122.
12
cf. Arquivo Regional da Madeira, Sé, Funchal, Livros de Casamentos n.º 63, fl. 24 v.º

442
PAssALáquAs dA mAdeirA, índiA e de AngoLA

2.1 (IV) D. Helena Margarida Passaláqua 13


* em S. Pedro, Funchal, Madeira.
= na igreja paroquial de S. Brás, Arco da Calheta a 26-11-1842
com Francisco Ladislau de França, Administrador efectivo
do concelho da Calheta (de 6-4-1858 a 30-4-1867) 14, * no
Estreito da Calheta, filho de Francisco João da França e de
s.m. Maria Ludovina, naturais do Estreito da Calheta, c.g.
de quem são descendentes por via feminina os Freitas do Vale
da Bica. 15

III – NICOLAU MARIA PASSALÁQUA, Tesoureiro na Alfândega do Funchal


«das receitas dos rendimentos dos novos direitos dos ofícios e Seguros» (1814-1817,
1821, 1822-1825, 1826-1830) 16, maçon pertencente a uma das lojas do Funchal
(em 1828) 17, liberal perseguido e julgado à revelia em 1829.
Em 27-11-1828, Maciel Monteiro, mostrava a lista nominal das pessoas pronun-
ciadas na devassa da alçada aberta por dois desembargadores no Funchal,
Madeira, sobre o crime de rebelião contra a «auctoridade soberana de D. Miguel
em 22 de junho (…)», que «cumpriram o seu melindroso encargo com extremo rigor,
mandando encerrar nas cadeias ou a bordo dos navios de guerra todos aquelles que
suppunham partidarios do liberalismo». Contudo, muitos indivíduos contra quem
se procedeu a devassa e onde constava o seu nome, como seja o caso de Nicolau
Maria Passaláqua, estavam homiziados ou no exílio, e por isso a primeira leva dos
presos conduzidos para Lisboa a bordo da charrua “Orestes”, foi apenas de setenta
e quatro. 18
13
cf. A Helena Margarida Passaláqua está na obra de Jorge Forjaz como filha de Paolo Maria
Passaláqua, o que está incorrecto, pois na sua certidão de casamento vem como filha de Manuel
Justino Passaláqua.
14
cf. Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico N.º 1, Ano 2009, Coimbra, Impressão
de Coimbra Lda, 2009, p. 625, Arquivo Regional da Madeira, Governo Civil n.º 8, fl. 82 v.º e
83 e n.º 10, fl. 75.
15
cf. Arquivo Regional da Madeira, Arco da Calheta, Livros de Casamentos n.º 1034, fl. 126 e
Clode, Luiz Peter, Registo Genealógico de famílias que passaram na Madeira, Funchal, Tip. Comer-
cial, 1952, p. 245. Deste casal foi filho Francisco Justino da França, que casou em 1866 com
Maria Severiana de Bettencourt.
16
cf. Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Provedoria e Junta da Real Fazenda do Funchal, livro
572, 571, 572, 573, 574, 575.
17
cf. MARQUES, A. H. Oliveira, História da Maçonaria em Portugal: Política e Maçonaria
1820-1869 (2ª parte), Lisboa, Editorial Presença, 1997, p. 569. A loja a que aderiu seria ou a
Constância, Fidelidade ou a União.
18
cf. Documentos para a história das Cortes Geraes da Nação Porugueza, 1828, vol. 5, Lisboa,
Imprensa Nacional, 1888, pp. 478-481.

443
Luís migueL PuLido gArciA cArdoso de menezes

* na Sé, Funchal, Madeira a 12-1-1783. 19


= 1ª vez com D. Helena Smith
= 2ª vez em Goa, Índia com Pulquéria Senhorinha Pereira, * em Benaulim,
Índia
= 3ª vez «in articulo mortis» por estar gravemente enfermo na rua da Cabouqueira
em S. Pedro, Funchal, Madeira em 19-4-1860 com D. Constantina Vieira
Cabral, * em S.ta Luzia, Funchal, Madeira em 1825, filha de João (ou José)
Vieira Cabral [e Brito] e de s.m. Joaquina da Encarnação; neta paterna de
António Vieira Cabral e de s.m. Maria das Neves; neta materna de António
Martins Caldeira e de s.m. Maria Ferreira. 20 Depois de viúva passou a 2as
núpcias na igreja paroquial de S.ta Maria Maior, Funchal, Madeira a 8-8-1877
com Claudino António da Câmara, residente no Bico da Rochinha, freguesia de
S.ta Maria Maior, * no Porto Santo, Madeira em 1838, filho de Thomaz António
da Câmara e de s.m. D. Maria da Câmara de Vasconelos, naturais de Porto
Santo, Madeira. 21
Filho do 1º Casamento:

1 (IV) Adriano Maria Passaláqua, Governador interino de S. Tomé-e-


-Príncipe (de 28-7-1855 a 21-3-1857), Comandante do Depósito
da Estação Naval de Angola (a 17-10-1853), Capitão do Porto de
Luanda (decretos de 5-7-1854 a 14-3-1855), 1º Tenente da Armada
(em 1855) e Oficial da Armada, frequentou o Curso de Artilharia
Naval da Academia da Marinha (entre 1835-1837), Aspirante a
Oficial da 7ª Companhia do 1º Batalhão da Brigada da Marinha (em
1-8-1835), Cavaleiro da O. de S. Bento de Avis (decreto de 11-9-
1855), etc.

19
cf. Arquivo Regional da Madeira, Sé, Funchal, Livro de Baptismos n.º 30, fl. 295.
20
cf. Arquivo Regional da Madeira, S. Pedro, Funchal, Livros de Casamentos n.º 1398, fl. 3 v.º e 4.
O pároco não lhes lançou as bênçãos nupciais por a nublente ser viúva. Essa designação de casa-
mento “in articulo mortis”, significava que um dos nubentes se encontrava, às portas da morte
e um dos objectivos dessa celebração, prendia-se, quase sempre, com o facto de por esse acto
religioso e contractual se pretender legitimar os filhos havidos fora da constância matrimonial,
de uma união de facto, mas não legítima, que de outra forma poderiam sempre ser perfilhados e
declarados sucessores da casa de seus pais, mas nunca legitimados, a não ser pelo seu casamento.
Além de legitimar os filhos, protegia economicamente o futuro da noiva.
21
cf. Arquivo Regional da Madeira, S.ta Maria Maior, Funchal, Livros de Casamentos n.º 2129,
fl. 26. Nesta certidão de casamento refere que sua avó paterna se chamava D. Angélica Pusich
Bessone, o que contradiz com a certidão de casamento de seu pai, onde vem citada Cecília
César.

444
PAssALáquAs dA mAdeirA, índiA e de AngoLA

Em 18-10-1834, pedia a S.M. a Rainha D. Maria II de Portugal, a


graça de lhe mandar assentar praça de Aspirante a Guarda Marinha,
não obstante exceder a idade da lei, alegando para tal, a perseguição do
governo usurpador contra a sua família. 22
Em 6-8-1835, embarcava na fragata D. Maria II, a fim de completar a
instrução prática de que carecia. 23
A 17-7-1837, a Rainha D. Maria II, concedia-lhe a passagem que
pedia para o Corpo da Marinha, na qualidade de Aspirante a Guarda
Marinha, com a condição «porem de não poder embarcar sem ter feito o
exame do primeiro anno Mathematico, na conformidade da lei (…)». 24
A 7-7-1846, sua mãe Helena Smith Passaláqua, requeria a S.M. a
Rainha para que o seu filho e 2º Tenente da Armada, fosse rendido do
brigue “Mondego”, estacionado em Angola, visto achar-se gravemente
doente no hospital de Luanda, à saída da charrua Princesa Real. 25
A 15-2-1850, a Rainha D. Maria II, tendo em consideração o que lhe
havia representado sua mãe e visto que Adriano Maria Passaláqua, se
achava servindo há mais de 4 anos na estação Naval da África Ocidental,
mandava que fosse mandado regressar a Lisboa. 26
A 17-10-1853, recebia ordens do ministério da Marinha e Ultramar,
para seguir viagem para Angola e para aí tomar conta do Depósito da
Estação Naval de Angola, como seu comandante. 27
Entre 5-7-1854 a 14-3-1855, exerce as funções de Capitão do Porto de
Luanda em Angola. 28
Pouco tempo depois, foi nomeado Governador interino de S. Tomé-
-e-Príncipe de 28-7-1855, que exerceu até a sua morte ocorrida a
21-3-1857.

22
cf. Arquivo da Marinha, Adriano Maria Passaláqua (1823-1856), Caixa 763, documento n.º ?,
de 15-2-1850.
23
cf. Arquivo da Marinha, Adriano Maria Passaláqua (1823-1856), Caixa 763, documento
n.º 493, do ministro da Marinha, António Aloísio Jérvis de Atouguia de 6-8-1835.
24
cf. Arquivo da Marinha, Adriano Maria Passaláqua (1823-1856), Caixa 763, documento
n.º 390, do ministério da Marinha de 17-7-1837.
25
cf. Arquivo da Marinha, Adriano Maria Passaláqua (1823-1856), Caixa 763, documento n.º 32,
de 3-7-1846.
26
cf. Arquivo da Marinha, Adriano Maria Passaláqua (1823-1856), Caixa 763, documento n.º ?,
de 15-2-1850.
27
cf. Arquivo da Marinha, Adriano Maria Passaláqua (1823-1856), Caixa 763, ministério da
Marinha e Ultramar, documento n.º 791, do ministério da Marinha de 17-10-1853.
28
cf. Arquivo da Marinha, Adriano Maria Passaláqua (1823-1856), Caixa 763, documento n.º 96,
do ministério da Marinha de 17-7-1854 e documento 43 de 17-3-1855.

445
Luís migueL PuLido gArciA cArdoso de menezes

A 6-10-1855, era-lhe conferido o grau de Cavaleiro da O. militar de


S. Bento de Avis (decreto de 11-9-1855). 29
* na ilha da Madeira em 1816, † em S. Tomé-e-Príncipe a 21-3-1857,
s.m.n.

Filho do 2º Casamento:

2 (IV) António Maria Passaláqua, Director do Correio de Mapucá, Índia. 30


* em Goa, Índia cerca de 1840.
= em Mapucá, Índia cerca de 1870 com D. Ana Joaquina Correia
Ribeiro, * em S. Lourenço de Linhares, filha de João Correia Picanço,
* em Gaspar Dias e de s.m. Leopoldina Martins, * em Mapucá, Índia.
Filhos:

2.1 (V) Francisco Xavier Nicolau Maria da Silva Passaláqua.


* em Mapucá, Índia a 15-10-1872.
= em Margão, Índia com D. Laura Maria Ana Miranda
Marques, filha de Augusto Marques, 1º Sargento do Batalhão
de Caçadores e de s.m. D. Ana Maria Vitória de Miranda.
Filha:

2.1.1 (VI) D. Leopoldina Aida Marques Passaláqua.


* em Margão, Índia a 26-4-1904, † em Lisboa a
13-3-1989.
= em Conceição, Lourenço Marques, Moçam-
bique a 14-10-1922 com Fernando Carlos de
Melo Xavier, * Panguim, Índia a 2-9-1900, filho
de José Pedro Francisco de Melo Xavier e de s.m.
D. Maria Joaquina Tomásia Marta da Fonseca,
c.g. em Passaláqua de Melo Xavier, Amaral Xavier,
Guimarães de Aragão Xavier, Correia Martins
Passaláqua de Melo Xavier. 31

29
cf. Arquivo da Marinha, Adriano Maria Passaláqua (1823-1856), Caixa 763, documento
n.º 202, do ministério da Marinha e Ultramar de 6-10-1855 e Livro 7, Cartas, Alvarás e Patentes
da Secretaria dos Negócios do Reino em 30-10-1855, fl. 282.
30
cf. FORJAZ, Jorge e José Francisco de Noronha, Os Luso-Descendentes da Índia Portuguesa, vol.
III, N-Z, Passaláqua, Lisboa, Fundação Oriente, 2003, pp. 219-220.
31
cf. FORJAZ, Jorge e José Francisco de Noronha, op. cit., pp. 953-955 e MARQUES, Oliveira,
op. cit., pp. 533-534.

446
PAssALáquAs dA mAdeirA, índiA e de AngoLA

2.2 (V) João Bernardo Maria da Silva Passaláqua.


* em Mapucá, Índia a 23-5-1873.

2.3 (V) D. Adelaide Senhorinha Leopoldina da Silva Passaláqua.


* em Mapucá, Índia a 22-9-1876.
= em Margão, Índia a 29-5-1909 com João Marcos Moreno
Heliodoro António Lobato de Faria, * Panguim, Índia a
25-11-1864, † em Margão, Índia em 1910, filho de Caetano
António Manuel Lobato de Faria, Alferes (a 19-3-1862) e de
s.m. D. Maria Isabel de Souza Malaquias.
Filho:

2.3.1 (VI) José Hugo Bento Lobato de Faria, Mestre


Florestal da Secretaria Provincial de Agricultura e
Florestas de Moçambique.
* em Mapucá, Índia a 21-3-1910, † no Campo
Grande, Lisboa.
= 1ª vez em Navelim a 2-5-1929 com D. Horminda
Inês Campos de Barbuda Carvalho e Sousa, c.g.
em Lobato de Faria, Lobato de Faria da Silva,
Lobato de Faria da Graça, Lobato Lopes da Silva,
Pires Lopes da Silva, Lobato Lopes Azevedo.
= 2ª vez em Saguém a 1-7-1942 com D. Maria
Berta da Silva, * em Panguim, Índia, c.g. em Silva
Lobato de Faria, Lima Lobato de Faria, Pereira
Lobato de Faria. 32

2.4 (V) D. Leopoldina Carolina Maria da Silva Passaláqua


* em Mapucá, Índia a 13-2-1879

Filho do 3º Casamento:

3 (IV) Viriato Zeferino Passaláqua, General de Brigada reformado (28-5-1910),


Governador Provincial do Namibe (1903-1904), Governador de
Benguela (de 15-12-1902 a 3-2-1903, de 8-2-1904 a 10-3-1905, de
4-4-1905 a 20-5-1905, de 14-5-1906 a 3-7-1906), Presidente do

32
cf. FORJAZ, Jorge e José Francisco de Noronha, Os Luso-Descendentes da Índia Portuguesa, vol.
II, Lobato de Faria, Lisboa, Fundação Oriente, 2003, pp. 395-398.

447
Luís migueL PuLido gArciA cArdoso de menezes

1º  Congresso Nacional de Espírita Português (de 15 a 18-5-1925),


Oficial da O. Militar de S. Bento de Avis, com a Medalha de Prata da
classe de Comportamento Exemplar, Medalha de Ouro de Assiduidade
de Serviço no Ultramar e com a Medalha de Prata Comemorativa da
Campanha do Humbe em 1898, etc.

Figura 3 – De pé da esquerda para a direita: Eduardo Anapaz


(1875-1928), Viriato Zeferino Passaláqua (1850-1926), General re-
formado e José Vicente Mangueira Anapaz (1866-1935), sentadas da
esquerda para a direita, Mariana da Conceição Anapaz (1865-1913)
e Isabel Augusta Pires (1869-1896)

448
PAssALáquAs dA mAdeirA, índiA e de AngoLA

Assentou praça em 19-1-1867 e prestou serviço nos postos inferiores até


ser promovido a Alferes em 29-8-1878, fazendo toda a sua carreira de
oficial nas forças ultramarinas. Foi Tenente em 26-1-1882, Capitão em
14-4-1886, Major em 30-3-1898, Tenente-Coronel em 20-3-1903  e
Coronel em 11-1-1910, quando prestava serviço em Angola. Tomou
parte na Campanha de Pacificação do Humbe, levada a cabo no ano de
1898. Passou à reforma no posto de General de Brigada em 28 de Maio
do mesmo ano de 1910. Durante a sua vida, interessou-se pelo Espiri-
tismo e foi um dos impulsionadores do Movimento Espírita Português,
que começou a tomar forma nos primeiros anos do século XX. Em 1925
ainda era vivo, pois aparece como Presidente de Honra do 1º Congresso
Espírita Português realizado em Maio desse ano, na cidade de Lisboa. 33
Foi considerado um dos mais cultos exegetas do Velho e Novo Testamento
bíblicos do seu tempo. Integrou a sub-comissão pró-Federação para a
realização do 1º Congresso Espírita Português (1925), colaborando com
a apresentação de teses sobre o “Espiritualismo e Espiritismo” e “Loucura
Espírita”, este último sobre a obsessão; foi colaborador das revistas “Luz
e Caridade” de Braga, “Estudos Psíquicos” e do jornal “O Mensageiro
Espírita” da Federação Espírita Portuguesa. Ao morrer a revista “Luz e
Caridade” afirmou «O seu lugar nas hostes espíritas fica vago, porque não
há ninguém que possa substitui-lo. Batalhador incansável, homem de uma só
têmpera, forte na sua crença, iluminado pelo fulgor da sua fé, ele foi um dos
mais ardorosos propagandistas da religião de Jesus – do Cristianismo primi-
tivo. Em toda a sua pureza, em toda a sua grandiosidade (…)».
Δ na Sé, Funchal, Madeira 27-8-1850 34, † em Lisboa em 1926.
= com Mariana da Conceição Anapaz, * em Luanda, Angola a
18-10-1865, sendo baptizada em N. S.ra dos Remédios, Luanda, Angola
em 29-10-1866, † de tuberculose pulmonar no Albergue dos Invá-
lidos do Trabalho em Lisboa em S.ta Isabel, Lisboa a 7-7-1913 35, filha

33
cf. COSTA, Coronel António José Pereira da, Os Generais do Exército Português, II Volume –
Das invasões francesas à queda da Monarquia, II Tomo (1864-5 de Outubro de 1910), Lisboa,
Biblioteca do Exército, 2005, p. 592.
34
cf. Arquivo Regional da Madeira, Sé, Funchal, Livros de Baptismos de Expostos, n.º 45, fl. 104
v.º e Legitimação de Viriato, encontra-se no Livro n.º 1262 dos Expostos da Sé, Funchal, fl. 21
v.º a 23, registo de 26 /27-8-1850.
35
cf. Sobre ela consulte-se: Registos Paroquiais, Baptismos, N. S.ra dos Remédios, Luanda, Angola,
1866, fl. 68; CML / Câmara Municipal de Lisboa, Departamento de Ambiente e Espaços Verdes,
Divisão de Gestão Cimeterial, Cemitério dos Prazeres, jazigo n.º 4409 da Família Annapaz e
Conservatória do Registo Civil de Lisboa, Óbitos (1913), freguesia Santa Isabel, n.º 680.

449
Luís migueL PuLido gArciA cArdoso de menezes

de João Florêncio Ferreira Anapaz, 1º Sargento-Ajudante e Alferes do


Batalhão de Voluntários de Luanda (1844 e 3-5-1845), Escriturário da
Contadoria da Junta da Fazenda da província de Angola (por carta da
Rainha D. Maria II de 6-9-1851 e Boletim Oficial da Província n.º 316),
Amanuense da Junta da Fazenda (a 13-3-1844), 2º Escriturário da Junta
de Fazenda da Província de Angola (a 6-12-1845), Escrivão da Delegação
da Junta da Fazenda de Benguela (por portaria do Governador Geral de
Angola de 9-8-1855 e Boletim Oficial da Província n.º 515) e Presidente
da Delegação da Fazenda do mesmo distrito (a 1-3-1859), Cavaleiro da
Ordem de Cristo (por mercê do Rei D. Luís I de 27-6-1866), etc., que
nasceu em Luanda, Angola a 7-9-1823, e faleceu em Nossa Senhora do
Carmo, Luanda, Angola a 9-8-1881 (jaz em jazigo no cemitério do Alto
das Cruzes em Luanda) e de s.m. Ana Luísa Mangueira, que residia na
rua Visconde de Valmor n.º 63 rch. na freguesia de Nossa Senhora de
Fátima em Lisboa em 1928, natural de Luanda, Angola, filha de José
Vicente Mangueira, fabricante de traineiras e pequenas barcas natural
do Reino de Espanha e de sua mulher Joana Luísa.
Filho:

3.1 (V) Eduardo Virgílio da Conceição Passaláqua.


* em N. S.ra dos Remédios, Luanda, Angola a 15-10-1895. 36

§2
Passaláquas desentroncados

I – João Baptista Passaláqua, morador em S.ta Maria Maior de Calhau, Madeira.


* na matriz de Roma, Itália.
= com Cahimba Passaláqua, * na matriz de Roma, Itália.
Filho:

1 (II) António Passaláqua, viúvo que ficou de Maria Antónia.


* na matriz de Roma, Itália.
= em S. Pedro, Funchal, Madeira a 30-4-1820 com Clara Maria, viúva
que ficou de António Pestana, filha de Manuel dos Santos e de s.m.
Clara Maria, naturais de S.ta Maria Maior de Calhau. 37

36
cf. Registos Paroquiais, Assentos de Baptismo, N. S.ra do Carmo, Luanda, Angola, 1896, n.º 153.
37
cf. Arquivo Regional da Madeira, S. Pedro, Funchal, Livro de casamentos n.º 128, fl. 23 v.º

450
PAssALáquAs dA mAdeirA, índiA e de AngoLA

§3
Passaláquas desentroncados

I – D. Maria José Jovita Passalaqua


* cerca de 1884
= com António da Costa Godinho do Amaral, funcionário do ministério da
Justiça e deputado, * em 1875, † em 1959, neto do 1º visconde de Correia
Godinho e sobrinho do 2.º visconde do mesmo título, do visconde de Rio Sado
e do 3º Barão de Samora Correia.

Anexo A
Certidão de casamento entre Nicolau Maria Passaláqua e D. Constantina Vieira
Cabral «in articulo mortis» na rua da Cabouqueira em S. Pedro, Funchal, Madeira
em 19-4-1860

Aos dezoito dias do mez de Abril do anno de mil oitocentos e secenta pelas dez
e meia hora da manhã, eu Presbytero Gregorio João Moniz, Vigario Collado
da Egreja Parochial de São Pedro, Concelho do Funchal, Districto Eclesias-
tico da Provincia da Madeira, em caza da residencia de Nicolau Maria Passa-
laqua, morador na rua da Cabouqueira onde eu proprio fui, e alli tendo-se
elle confessado e comungado por Viatico visto estar gravemente enfermo in
articulo mortis, e depois de receber tambem os Sacramentos de moribundos,
com licença e autorização do Excellentissimo Prelado Diocesano o Senhor Dom
Patricio Xavier de Moura a quem Communiquei a urgencia do cazo e as circu-
mstancias que o acompanharão, depois de proclamados, sem impedimento
algum que constasse para o cazamento dos nublentes; elle Nicolau Maria Passa-
laqua de setenta e sete annos, viuvo, baptizado na Freguesia da Sé, filho legi-
timo de Paulo Maria Passalaqua e de sua mulher Dona Rosa Maria Bettencourt
Tello de Menezes; neto paterno de Nicolau Maria Passalaqua e de D. Angelica
Pasich Bessone, e materno do Doutor Manoel Rodrigues de Sousa Spinola e
de Dona Perpetua Maria Manoel Tello de Menezes; e ella Constantina Vieira
Cabral d`edade trinta e cinco annos, solteira baptizada em Santa Luzia, filha de
João Vieira Cabral e de Joaquina da Conceição, neta paterna de Antonio Vieira
Cabral e de Maria das Neves Cabral, e materna de Antonio Martins Caldeira e
de Maria Ferreira, aos quaes interroguei e havendo o seu mutuo consentimento,
por palavras de presente, se receberão por marido e mulher, e os uni em Matri-
monio e seguidamente lhes lancei a bênção nupcial procedendo em todo este
acto conforme o rito da Santa Madre Egreja Catholica Romana, sendo teste-

451
Luís migueL PuLido gArciA cArdoso de menezes

munhas as presentes que conheço serem os proprios, Miguel Gomes da Silva,


Alferes do Regimento de Infantaria numero dez, destacado nesta ilha, cazado,
morador na mesma rua da Cabouqueira, e Hypolito Cassandro d`Ornellas,
Proprietario, cazado, morador na rua de São Paulo. E para assim constar lavrei
em duplicado o presente assento, que depois de ser lido e conferido perante os
cônjuges e testemunhas, com todos assignei. Era XXX supra.

O Vigario Gregorio João Moniz

Hypolito Cassandro d`Ornellas = Miguel Gomes da Silva

Declaro que não lancei a bênção nupcial,


o que por lapso se acha escripto no contexto
deste termo. O Vig.º Moniz

(in Arquivo Regional da Madeira, S. Pedro, Funchal, Livros de Casamentos


n.º 1398, fl. 3 v.º e 4)

Anexo B
Legitimação de Viriato Zeferino Passaláqua na Sé, Funchal a 2-6-1860

Em os dous dias do mez de Junho do anno de mil oitocentos e sessenta nesta


Pia da Se Guerra Cathedral, Concelho e Diocese do Funchal, foi-me apre-
sentado pelo Illustrissimo e Reverendissimo Conego Florencio Januario Tello
de Menezes um requerimento de Nicolau Maria Passalaqua, despachado por
Sua Excellencia Reverendissima o Prelado Diocesano, em que pede autorisação
para reconhecer e abrir termo de reconhecimento de um filho natural, que foi
baptizado como exposto, com o nome de Veriato, nesta Se Cathedral, a vinte
e sete d`Agosto de mil oitocentos e cincoenta, o qual requerimento é do teor
seguinte: Excellentissimo e Reverendissimo Senhor = Diz Nicolau Maria Passa-
laqua, que a vinte e seis ou vinte e sete d`Agosto de mil oitocentos e cincoenta
foi baptizado na Pia da Sancta Se desta cidade, um exposto, a que mandaram
por o nome de Veriato, exposto, digo Viriato, e como esta criança seja seu
filho, e filho de Constantina Vieira Cabral, natural da freguesia de Santa Luzia,
com quem ha pouco, em Abril próximo passado, o supplicante se desposara,
e o supplicante o reconheça por tal, querendo fazel-o educar quanto nas suas
circunstancias possivel seja, pretende e hoje requer o supplicante a Vossa Exce-
llencia se sirva mandar que averbado aquelle termo se faça pelo Reverendo

452
PAssALáquAs dA mAdeirA, índiA e de AngoLA

Conego Cura de semana, outro em que fique o dito exposto reconhecido por
filho do supplicante e assim declarando se lhe dê certidão para fazer registar
no livro competente da parochial Egreja de San Pedro, onde se acha com seus
paes, e para constar onde mais convier pede a Vossa Excellencia Reverendissima
se digne fazer graça de deferir-lhe. E receberá mercê. Funchal vinte e cinco
de Maio de mil oitocentos e sessenta. Nicolau Maria Passalaqua = despacho =
O Reverendo Cura da Nossa Se Cathedral lavre novo termo na forma requerida
pelo supplicante, mas não permittimos que este termo se transcreva nos livros
da Parochial Egreja de San Pedro. Paço Episcopal do Funchal vinte e cinco
de Maio de mil oitocentos e sessenta. B. F.al. Em virtude do requerimento e
despacho aqui exarado, não podendo comparecer o dito Nicolau Maria Passa-
laqua por estar gravemente enfermo, declarou o ja mencionado Muito Conego
Florencio Januario Tello de Menezes perante mim e perante as testemunhas
abaixo assignadas o Reverendo Luiz Albino Nunes, Cura desta Se Cathedral
e João Rodrigues da Costa, sota sacristhão d`ella que o requerente lhe pediu
para fazer lavrar este termo em que reconhece como seu filho o exposto que
nesta Se foi baptizado com o nome de Veriato, e de Constantina Vieira Cabral,
com quem ha pouco contrahiu legitimo matrimonio, e que por consequencia
aquelle seu filho se ache hoje legitimado e como tal havido para todos os efeitos
legaes. E fiz o averbamento competente á margem do termo respectivo a folhas
cento e quatro, verso, do livro oitavo dos expostos. E para constar lavrei em
duplicado este termo de reconhecimento, eu o presbytero Fillipe Nunes, Cura
Collado nesta Se Cathedral com o segue Guerra rente e com as testemunhas,
tendo-lhe este livro sido levado a casa para este fim.

Nicolau Maria Passalaqua Constantina Vieira Cabral

O C.º Flor.cio Januario Tello de Menezes

O C.ª Luiz Alves de Souza

Tª João Rodrigues da Costa

O cura Fillippe José Nunes

(in Arquivo Regional da Madeira, Livro n.º 1262 dos Expostos da Sé, Funchal,
fl. 21 v.º a 23)

453
Luís migueL PuLido gArciA cArdoso de menezes

Bibliografia

1 – MANUSCRITAS E NÃO PUBLICADAS

1.1 – Arquivo Distrital de Lisboa:


– Conservatória do Registo Civil de Lisboa, Óbitos (1913), freguesia
S.ta Isabel, n.º 680

1.2 – Arquivo Nacional da Torre do Tombo:


– Provedoria e Junta da Real Fazenda do Funchal, livros 565, 567, 568,
569, 570, 571, 572, 571, 572, 573, 574, 575

1.3 – Arquivo Regional da Madeira:


– Câmara Municipal da Calheta, Vereações n.º 431, fl. 106 v.º
– Governo Civil: n.º 8, fl. 82 v.º e 83, n.º 10, fl. 75, n.º 656, fl. 24, 138
e v.º e n.º 657, fl. 122
– Registos Paroquiais, Arco da Calheta, Livros de Casamentos n.º 1034,
fl. 126
– Registos Paroquiais, Livro n.º 1262 dos Expostos da Sé, Funchal,
fl. 21 v.º a 23, registo de 26 /27-8-1850
– Registos Paroquiais, S.ta Maria Maior, Funchal, Livros de Casamentos
n.º 2129, fl. 26
– Registos Paroquiais, Sé, Funchal, Livro de Baptismos n.º 30, fl. 295,
Livros de Baptismos de Expostos, n.º 45, fl. 104 v.º
– Registos Paroquiais, Sé, Funchal, Livro de Casamentos n.º 61, fl. 97 v.º,
Casamentos n.º 63, fl. 24 v.º

1.4 – Câmara Municipal de Lisboa:


– Departamento de Ambiente e Espaços Verdes, Divisão de Gestão Cime-
terial, Cemitério dos Prazeres, jazigo n.º 4409 da Família Annapaz

1.5 – Registos Paroquiais de Angola:


– Registos Paroquiais, Assentos de Baptismo, N. S.ra do Carmo, Luanda,
Angola, 1896, n.º 153
– Registos Paroquiais, Baptismos, N. S.ra dos Remédios, Luanda, Angola,
1866, fl. 68

454
PAssALáquAs dA mAdeirA, índiA e de AngoLA

2 – MONOGRAFIAS

– Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico N.º 1, Ano 2009,


Coimbra, Impressão de Coimbra Lda, 2009
– BARATA, Carlos Eduardo de Almeida, Antônio Henrique da Cunha
Bueno; pref. Rui Vieira da Cunha; posfácio Luiz Fernando Veríssimo,
Dicionário das famílias brasileiras, S. Paulo, IberoAmérica, [1999]
– CLODE, Luiz Peter, Registo Genealógico de famílias que passaram na
Madeira, Funchal, Tip. Comercial, 1952
– COSTA, Coronel António José Pereira da, Os Generais do Exército
Português, II Volume – Das invasões francesas à queda da Monarquia, II
Tomo (1864-5 de Outubro de 1910), Lisboa, Biblioteca do Exército,
2005
– Documentos para a história das Cortes Geraes da Nação Porugueza, 1828,
vol. 5, Lisboa, Imprensa Nacional, 1888
– FORJAZ, Jorge e José Francisco de Noronha, Os Luso-Descendentes da
Índia Portuguesa, vol. II e III, Lisboa, Fundação Oriente, 2003
– FRANCO, José Eduardo, Arquivo Secreto do Vaticano: Expansão Portu-
guesa – Documentação, Tomo I – Costa Ocidental de África e Ilhas
Atlânticas, Lisboa, Esfera da Caos Editores, 2011
– MARQUES, A. H. Oliveira, História da Maçonaria em Portugal: Política
e Maçonaria 1820-1869 (2ª parte), Lisboa, Editorial Presença, 1997
– ROSÁRIO, Morais do, Genoveses na História de Portugal, Lisboa, [s.n.],
1977 [Lisboa:– Tip. Minerva do Comércio]
– SALUZZO, Leopoldo Massa, Notizie per servire alla storia della Chiesa di
Tortona pubblicate dal conte Giacomo Carnevale, Lugano, 1844
– SERRÃO, Joel, dir., Nova História da espansão Portuguesa, vol. X:
O império africano: 1825-1890, coordenação de Valentim Alexandre e
de Jill Dias, Lisboa, Estampa, 1998

455
RECENSÃO CRÍTICA

Miguel Metelo de Seixas e Lourenço Correia de Matos

MELLO, José António de (coordenação); NEVES, Pedro Mascarenhas


Cassiano (textos); ALVIM, Ana Luísa da Cunha de (fotografia), Casas e Palácios de
Lisboa. Pedras d’Armas, Lisboa: Scribe, 2014, 287 pp.

Há muito que a cidade de Lisboa carece de um inventário das suas pedras


de armas. As escassas obras gerais existentes até à presente edição, bastante datadas,
forneciam apenas um ponto de partida para tal levantamento, pois limitaram-se a
arrolar exemplares um pouco a esmo, descrevendo-os e identificando-os de forma
sintética. O único projecto de arrolamento sistemático da heráldica de exterior
olisiponense e do seu estudo aprofundado, desenvolvido no âmbito do Centro
Lusíada de Estudos Genealógicos e Heráldicos, publicou em 2005 um primeiro
volume dedicado à freguesia de Santa Maria de Belém – e ficou por aí, deixando
por estudar as outras 53 freguesias (hoje 23, mercê da última reforma adminis-
trativa territorial).
Uma dessas obras gerais deveu-se à iniciativa de José de Mello (Sabugosa),
que entre 1945 e 1946 publicou uma série de estudos sobre 77 pedras de armas,
sempre acompanhados de desenhos, reunidos em livro como apêndice à Revista
Municipal de Lisboa. A obra de José de Mello serviu como ponto de partida para
que, volvido mais de meio século, o seu parente José António de Mello nutrisse
o escopo de a retomar para, como explica na Introdução (pp. 9-13), lhe poder
dar continuidade e, em simultâneo, provê-la de actualização. Longe porém de se
limitar a completar a obra original com exemplares heráldicos que aí não haviam
sido contemplados, o coordenador da nova obra quis inovar em diversos outros
sentidos: substituindo os textos algo lacónicos da primeira obra por outros mais

457
migueL meTeLo de seiXAs e Lourenço correiA de mATos

complexos, que dessem conta da história dos edifícios abrangidos e das famí-
lias ou instituições a que se encontram ligados; procurando incluir para cada
caso o testemunho de pessoas que de uma forma ou de outra representassem tais
ligações; organizando os exemplares por zonas da cidade, formando assim um
roteiro; dotando o volume de fotografias de cada exemplar, em vez dos desenhos
anteriores; e, por fim, dando a este conjunto o formato de um livro de arte, cuida-
dosamente paginado e impresso.
Tais alterações correspondem também ao projecto editorial tal como vem
definido por Manuel de Bragança e Pedro Maria de Alvim nas suas “Duas notas,
algumas pistas e um convite do editor” (pp. 6-7): o entendimento da obra na
sua dupla natureza de tombo histórico-cultural e de guia turístico, o que justi-
fica igualmente a sua publicação em duas línguas (uma edição portuguesa, outra
inglesa); e a inclusão dos depoimentos de uma série de pessoas que, por via fami-
liar ou institucional, participam na qualidade de representantes actuais da história
de cada edifício. A escolha da Scribe para editora revela-se acertada, na medida
em que a publicação beneficia de uma qualidade gráfica modelar. Quanto às foto-
grafias de Ana Luísa da Cunha de Alvim, pode dizer-se que dificilmente poderiam
atingir grau mais elevado de competência; em muitos casos, é mesmo surpreen-
dente que a fotógrafa tenha conseguido alcançar resultados tão meritórios, dado
o estado de conservação das pedras e a distância ou o ângulo ingrato a que se
situam. O inventário heráldico propriamente dito e os textos que o acompanham
ficaram a dever-se a Pedro Mascarenhas Cassiano Neves, com base no estudo das
casas nobres lisboetas que vem conduzindo há cerca de quinze anos, como explica
na sua “Nota prévia” (p. 15).
Em relação ao levantamento heráldico olisiponense, há que assinalar que
esta é sem dúvida a obra mais completa produzida até hoje, assumindo desde
logo, como faz o autor, que trata apenas de armas de família, de eclesiásticos ou
de ordens militares, excluindo todos os restantes tipos de heráldica. Na verdade, o
livro retoma os arrolamentos existentes e completa-os de forma a atingir cerca de
uma centena de exemplares. Os casos que ficaram de fora serão pois aqueles mais
recônditos, a que o autor dificilmente poderia ter acesso Lembremos aqui, por
exemplo, a pedra de armas actualmente encastrada na entrada da Vila Rodrigues,
a Sapadores, divulgada no volume de Olisipo referente ao ano de 2010 mas só
recentemente publicado; ou a pedra de armas de Silvas guardada no palácio dos
marqueses de Vagos, a São Cristóvão. Nas omissões, referimos ainda a quinta do
Beau Séjour – hoje Gabinete de Estudos Olisiponenses, espaço indispensável a
quem trabalha a história da cidade – onde se encontra o timbre dos Allen, barões
da Regaleira (além de um monograma do barão da Glória encimado pelo coronel
deste título); e a quinta do Monteiro-mor, hoje Museu do Teatro, no Paço do

458
recensão críTicA

Lumiar, com a pedra de armas de Avelar. No Museu do Carmo, poderiam ter-se


referido algumas das pedras de que se conhece a origem e localização na cidade,
nomeadamente aquelas retiradas de casas que ainda existem, e outras, de imóveis
já demolidos mas perfeitamente identificados, como seja a da quinta da Nazaré,
ou da Palma de Cima, dos condes de Oliveira dos Arcos.
Omite-se ainda o caso interessantíssimo dos lintéis armoriados das janelas
do palácio dos guarda-mores da Casa da Índia (Sousa da Silva d’Alte) a São
Sebastião, dotados de elementos soltos da heráldica desta família; aliás compa-
rável ao exemplar com a caderna dos Sousas na casa nobre do Calhariz à Ajuda
(pp. 31-33), posteriormente sede da Câmara Municipal de Belém, que o autor
aponta como único deste género na cidade de Lisboa (mas cita depois também
o caso da janela do palácio dos condes de Vila Nova e marqueses de Abrantes, a
Santos, que nos parece em tudo comparável). Acrescentemos ainda a janela com
armas de Faria, no prédio de gaveto da Rua de Santa Marta com a Travessa do
Enviado de Inglaterra.
Alguns dos casos arrolados na obra constituem em contrapartida verda-
deiras descobertas, como a pedra de armas dos condes de Alvor conservada no
Museu Nacional de Arte Antiga, vestígio raro da heráldica dos Távoras. Outros
consistem em exemplares apeados e mantidos no interior ou nos jardins de palá-
cios, e por isso inacessíveis ao olhar dos transeuntes como à atenção dos inves-
tigadores. Só a possibilidade que os autores da obra tiveram em aceder a esses
espaços interiores lhes permitiu contabilizar também estes exemplares, numerosos
e significativos, como a pedra de armas de Silvas, condes de São Lourenço, prove-
niente da quinta da Praia e hoje no palácio de Santo Amaro, pp. 21-23; a de
Saldanhas no palácio Alcáçovas, pp. 82-85; as de Sousas, condes de Redondo,
proveniente do palácio de Santa Marta e hoje na quinta de Bonjardim, em Belas,
pp. 132-134; a de Botelhos, condes de São Miguel, proveniente do palácio de
Arroios, e outra, ambas hoje no palácio do Salvador, pp. 178-181; a de Vieira e
Teles da Silva do palácio Teles de Meneses, pp. 200-202; a de Sousas, duques de
Lafões, no palácio do Grilo, pp. 230-233; a de Borges e Coutinho, marqueses de
Praia e Monforte, no respectivo palácio, pp. 250-253; as de Tavares e Sousa, e de
Velhos, Pegados e Freires, na casa nobre do visconde de Monforte, pp. 258-261;
e a de Meneses, marqueses de Louriçal, proveniente da casa de Santa Isabel e hoje
na quinta de Nossa Senhora da Paz, pp. 271-273. Não se faz referência à pedra
que então existia na casa dos Arriagas (pp. 38-39), que José de Mello desenhou
no seu trabalho (escudo cortado, I partido, 1 Queirós, 2 Pinto, II Ataíde) e foi
posteriormente substituída pela que hoje aí se encontra.
Os textos que acompanham as imagens das pedras de armas incidem por
um lado na história dos edifícios, por outro na história dos seus detentores, elo de

459
migueL meTeLo de seiXAs e Lourenço correiA de mATos

ligação quer com os testemunhos actuais, quer com a própria manifestação herál-
dica. Os depoimentos dos descendentes dos proprietários das casas, que fizeram
uso das armas nelas apostas, têm naturalmente valor variável; de qualquer forma,
poderiam ter sido revistos de forma a evitar que se propagassem alguns erros,
fruto de um conhecimento menos profundo da história das famílias e dos espaços
que estas habitaram. Muitos dos textos do autor do livro são ainda completados
com judiciosas observações no campo da história da arte, tanto na apreciação dos
edifícios como na caracterização estilística das representações heráldicas.
A bibliografia é escassa, não tendo sido consultados – ou pelo menos refe-
ridos – títulos monográficos de relevo para o conhecimento das casas estudadas,
como sejam, por exemplo, o texto sobre o palácio dos Guiões de Manuel Bobone
(1968), o estudo sobre o palácio Marialva, de Agostinho Araújo (1993), o livro
sobre os Condes de Bobone (1996) para o palácio Mendia, ou trabalhos impor-
tantes publicados na fundamental revista Olisipo, como o dedicado ao palácio
do Manteigueiro – Condeixa –, por Mário Costa (1958), o dos palácios dos
Marqueses de Gouveia, da autoria de Abílio Mendes do Amaral (1969), ou ainda
o de Paulo Caratão Soromenho sobre o palácio de Pedro Roxas e Azevedo – Trofa
(1980). De referir também a ausência, no que respeita às inúmeras representações
heráldicas do 1.º marquês de Pombal e da sua família, de qualquer referência aos
diversos trabalhos já publicados sobre o assunto.
O ponto fraco da obra reside porém na sua dimensão heráldica propria-
mente dita, ou seja, na análise do conteúdo das pedras de armas. Os textos que
acompanham cada exemplar incidem, como dissemos, na história do edifício e
dos seus detentores; a heráldica encontra-se presente, na maior parte dos casos,
apenas no parágrafo final de cada texto, resumindo-se à mera identificação dos
sinais. Esta cita amiúde as descrições realizadas por Luiz Ferros, revelando uma
certa falta de domínio da matéria, nomeadamente quando é necessário tratar
de casos não arrolados ou não inteiramente descritos por este autor: assim, por
exemplo, o erro na leitura da pedra da casa do marquês de Pereira Coutinho,
trocando o III pelo IV quartéis, p. 46; a confusão das armas de Ribeiro com
um esquartelado de Lima e Vasconcelos, no palácio dos barões de Barcelinhos,
p. 108; a incapacidade em identificar a pedra de armas da Rua do Milagre de
Santo António (já devidamente tratada por José Bénard Guedes), p. 192; a difi-
culdade em descrever de forma precisa a pedra de armas do palácio dos Guiões,
p. 254; ou a falta de observação de pormenores heráldicos relevantes, como a
presença inusitada das armas primitivas da Casa de Bragança em substituição
de Portugal-antigo no esquartelado de Albuquerques do palácio da Ega, p. 29.
A descrição heráldica pauta-se aliás por um modelo um pouco obsoleto no que se
refere à intenção de mostrar os lapsos de execução dos exemplares em desconfor-

460
recensão críTicA

midade com a norma, sem dar o devido valor ao carácter flutuante desta, ou à sua
eventual não-aplicabilidade; assim, ao tratar das pedras do palácio Oldenburg/
Barbacena, o autor retoma a menção que Luiz Ferros fizera quanto a um abusivo
coronel de duque, quando os estudos entretanto publicados permitem explicar
tal tipo de usos em função do exercício de cargos governativos ultramarinos ou
diplomáticos.
Mas, para além destas pequenas falhas pontuais, é sobretudo pela falta de
análise heráldica que a obra peca. A bibliografia heráldica portuguesa tem vindo a
aumentar exponencialmente nos últimos anos; os estudos sobre heráldica olisipo-
nense são hoje numerosos, ainda que dispersos por uma miríade de publicações
nem sempre fáceis de encontrar. Muitos dos exemplares arrolados já se encontram,
assim, estudados de forma mais ou menos aprofundada; ora, na maior parte dos
casos, não se vislumbra influência das respectivas conclusões ou interrogações na
presente obra. Embora fosse empreendimento porventura trabalhoso, não teria
sido difícil proceder à inclusão do conjunto de informações heráldicas disponível;
e sobretudo, teria sido essencial para a obra ganhar um valor heráldico que fosse
além da qualidade inquestionável do arrolamento. Mais ainda, a dimensão do
universo heráldico tratado permitiria realizar uma caracterização global, quer no
que se refere a tipologias heráldicas e artísticas, como à análise do diálogo esta-
belecido entre a heráldica, a história da nobreza, a arquitectura, o urbanismo, a
cidade. Uma primeira visão geral, em suma, da heráldica nobiliárquica lisboeta.
Assim, as pedras de armas, longe de constituírem o cerne da obra, assumem
nela apenas um carácter ilustrativo. Servem como elo de ligação meramente visual
entre os edifícios, a sua história e a história dos seus detentores, sem conseguirem
elevar-se a objecto de estudo pelo qual tal ligação se construa e se explique. Como
assinalam os editores nas suas notas, na p. 7, “os brasões de armas não só identi-
ficam com precisão as famílias que representam, como constituem um riquíssimo
manancial de informação histórica e cultural, em grande medida por explorar”.
É precisamente esta dimensão interpretativa que a obra deixa em aberto. Trata-
-se pois de um belo livro, manifestamente realizado com cuidado e partindo de
um projecto louvável, com o mérito de constituir um ponto de partida para uma
obra que seja verdadeiramente um roteiro heráldico de Lisboa. Terminemos por
onde começámos: há muito que a cidade de Lisboa carece de um inventário das
suas pedras de armas; este livro constitui um passo importante para atingir tal
objectivo. Falta agora passar da listagem para a análise.

461
PRODUÇÃO BIBLIOGRÁFICA DOS SÓCIOS DO
INSTITUTO PORTUGUÊS DE HERÁLDICA NAS ÁREAS
DE HERÁLDICA E GENEALOGIA

Ano de 2014

AMARAL, Augusto Ferreira do, Macedos. Subsídios genealógicos, Lisboa, edição


do autor, 2014.

AMORIM, João Manuel P. Pessoa de, “Relação das Primeiras Alunas do Instituto
de Odivelas (Infante D. Afonso), Raízes & Memórias, n.º 31 (2014), pp.
419-440.

AVILA, Christovão de, Brasões de Armas − Armorial Histórico da Casa da Torre de


Garcia d’Ávila [2.ª Edição Digital iPad – Apple], São Paulo, Brasil, Editora
Europa, 2014.

AVILA, Christovão de, Brasões de Armas − Armorial Histórico da Casa da Torre de


Garcia d’Ávila, Rio de Janeiro, Brasil, Hexis Editora, 2014.

AZEVEDO (†), Francisco de Simas Alves de, “Meditações Heráldicas – XXVI –


Um texto de Eça de Queirós e uma figura das armas de S. S. Bento XVI”,
Armas e Troféus, IX série, tomo XVI (2014), pp. 71-73.

BARATA-FIGUEIRA, Nuno Miguel Marques; MENEZES, Luís Miguel


Pulido Garcia Cardoso de, “Uma Família inglesa em Viana do Castelo
– Os Norton de Dartmouth”, Raízes & Memórias, n.º 31 (2014), pp.
17-60.

463
ArmAs e Troféus

BARREIRA, Catarina Fernandes; SEIXAS, Miguel Metelo de (coord.), D. Duarte


e a sua época. Arte, cultura, poder e espiritualidade, Lisboa, Instituto de
Estudos Medievais / Centro Lusíada de Estudos Genealógicos e Heráldicos
e Históricos, 2014.

BOGACIOVAS, Marcelo Meira Amaral; FARIA, Rui Jerónimo Lopes Mendes


de, “Cantos e Rochas, de Guimarães, São Gens e Santana de Parnaíba”,
Revista da ASBRAP [Em linha], n.º 21 (2014), pp. 83-578, disponível
em http://asbrap.org.br/areavip/arquivos/i-%20Cantos-%20Marcelo%20
e%20Rui.pdf.

BRAGANÇA, Dom Carlos Tasso de Saxe-Coburgo e, Dom Pedro II na Alemanha.


Uma amizade tradicional, São Paulo, Brasil, SENAC, 2014.

CORREIA, Lívio, “Herança de família”, Raízes & Memórias, n.º 31 (2014), pp.
61-66.

FERNANDES, António de Melo, “Pedras de armas da oficina de João de Ruão


e dos irmãos Castilho”, Armas e Troféus, IX série, tomo XVI (2014), pp.
119-155.

GALVÃO-TELLES, João Bernardo – vd. SEIXAS, Miguel Metelo de.

GALVÃO-TELLES, João Bernardo, O palácio do Fiúza: memória de uma residência


nobre em Alcântara, no termo de Lisboa, Lisboa, LMT Consultores, 2014.

“L’héraldique, la sigillographie et l’emblématique au regard de l’histoire de l’art:


nouvelles perspectives de recherches”. Débat mené par Marc GIL. Points
de vue  de Laurent HABLOT, Robert A. MAXWELL, Maria do Rosário
MORUJÃO, Markus SPÄTH, Ambre VILAIN,  Perspective. Revue de
l’INHA, n.º 2 (2014), pp. 293-312.

LIMA (†), João Paulo de Abreu e, “A heráldica dos primeiros duques de Beja”,
Armas e Troféus, IX série, tomo XVI (2014), pp. 235-244.

MALTA, João Baptista, “Os Zuzarte Maldonado, do Alto Alentejo (II) – Velhas
raízes genealógicas”, Raízes & Memórias, n.º 31 (2014), pp. 285-334.

MATOS, Lourenço Correia de – vd. PINTO, Segismundo.

464
Produção bibLiográficA dos sócios do insTiTuTo PorTuguês de heráLdicA

MATOS, Lourenço Correia de, “A ascendência portuguesa de Don Manuel de


Godoy y Alvarez de Faria, Príncipe da Paz e Conde de Évora Monte”, in
António Pedro Vicente – Estudos em homenagem, Casal de Cambra, Calei-
doscópio, 2014, pp. 355-366.

MENEZES, Luís Miguel Pulido Garcia Cardoso de – vd. BARATA-FIGUEIRA,


Nuno Miguel Marques.

MENEZES, Luís Miguel Pulido Garcia Cardoso de, “O Capitão-de-Mar-e-


-Guerra Manuel Peixoto Martins Mendes Norton: A atividade profissional
e o seu percurso político”, Anais do Clube Militar Naval, ano 144, vol.
CXLIV, tomos 1-6 (Jan.-Jun. 2014), pp. 139-174.

MENEZES, Luís Miguel Pulido Garcia Cardoso de, “Gente Singular: Apon-
tamentos familiares e biográficos de José Maria do Prado (1824-1893),
capitalista, comerciante, fazendeiro, autarca, benemérito e filantropo luan-
dense da 2.ª metade do século XIX”, Armas e Troféus, IX série, tomo XVI
(2014), pp. 345-379.

MENEZES, Luís Miguel Pulido Garcia Cardoso de, “O império Júdice Fialho”,
Cadernos Barão de Arêde, n.º 2 (Out.-Dez. 2014), pp. 57-91.

MENEZES, Luís Miguel Pulido Garcia Cardoso de, “O vínculo da capela de São
Simão do Bunheiro e a família Ruela do concelho da Murtosa”, Raízes &
Memórias, n.º 31 (2014), pp. 335-382.

MORUJÃO, Maria do Rosário Barbosa – vd. SARAIVA, Anísio Miguel de


Sousa.

MORUJÃO, Maria do Rosário Barbosa; SARAIVA, Anísio Miguel de Sousa,


“O selo como símbolo e representação do poder no mundo das catedrais”,
in  SARAIVA, Anísio Miguel de Sousa; MORUJÃO, Maria do Rosário
Barbosa (eds.), O clero secular medieval e as suas catedrais: novas perspectivas
e abordagens, Lisboa, CEHR-UCP, 2014, pp. 205-264.

MORUJÃO, Maria do Rosário Barbosa; LIRA, Sérgio; SARAIVA, Anísio


Miguel de Sousa; PINTO, Pedro, “The Portuguese sigillographic heritage:
SIGILLVM, a new research project on a remarkable and mostly neglected
heritage”, in AMOÊDA R., LIRA, S., PINHEIRO, C. (eds.),  Heritage

465
ArmAs e Troféus

2014 – Proceedings of the 4th International Conference on Heritage and


Sustainable Development, Barcelos, Green Lines Institute, 2014, pp.
583-590.

OLIVEIRA, Eduardo Romano de Arantes e, “Sobre a varonia da Família Arantes


e Oliveira”, Armas e Troféus, IX série, tomo XVI (2014), pp. 313-344.

PINOTEAU, Hervé, “Le ciel dans la symbolique capétienne au XIIe siècle. Les
solutions française et portugaise”, Armas e Troféus, IX série, tomo XVI
(2014), pp. 61-70.

PINTO, Segismundo; MATOS, Lourenço Correia de, “A Carta de Brasão de


Armas de António Freire de Andrade”, Ex-Líbris, nova série, n.º 1 (2014),
pp. 66-78.

REI, António, “Ascendencias árabes e islámicas en la sociedad portuguesa (siglos


X a XVI)”, in Actas del Congreso Internacional “Los descendientes andalusíes
«moriscos» en Marruecos, España y Portugal, Fundación Al-Idrisi Hispa-
no-Marroquí / Câmara Municipal de Tânger / Delegação da UNESCO de
Tânger, 2014, pp. 153-163.

REI, António, “Os Condes de Coimbra no século VIII. Ascendências e descen-


dências”, Armas e Troféus, IX série, tomo XVI (2014), pp. 295-311.

REI, António, “Elementos Proféticos na Cronística Moçárabe (séculos VIII-XI)”,


Revista Diálogos Mediterrânicos [Em linha], n.º 7 (Dez. 2014) 153-179,
Disponível em http://www.dialogosmediterranicos.com.br/index.php/
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REI, António, “Sepulturas Armoriadas do Claustro do Convento de Nª Srª. dos


Remédios – Évora”, Raízes e Memórias, n.º 31 (2014), pp. 67-76.

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SOTTOMAYOR-PIZARRO, José Augusto de, “Cap. 3. Antecedentes.


O  Noroeste Peninsular da Antiguidade ao Final da Alta Idade Média”,
in FONSECA, Luís Adão da (coord.), Entre Portugal e a Galiza (Sécs. XI
a XVII). Um olhar peninsular sobre uma região histórica, Porto, CEPESE/
Fronteira do Caos, 2014, pp. 51-58.

SOTTOMAYOR-PIZARRO, José Augusto de, “Cap. 4. Portugal e a Galiza na


Ibéria Ocidental”, in FONSECA, Luís Adão da (coord.), Entre Portugal e
a Galiza (Sécs. XI a XVII). Um olhar peninsular sobre uma região histórica,
Porto, CEPESE/Fronteira do Caos, 2014, pp. 59-80.

SOTTOMAYOR-PIZARRO, José Augusto de, “Cap. 5. A Galiza nas suas


Relações com Portugal”, in FONSECA, Luís Adão da (coord.),
Entre Portugal e a Galiza (Sécs. XI a XVII). Um olhar peninsular
sobre uma região histórica, Porto, CEPESE/Fronteira do Caos, 2014,
pp. 81-89.

SOTTOMAYOR-PIZARRO, José Augusto de, “Cap. 9. O Espaço Social”, in


FONSECA, Luís Adão da (coord.), Entre Portugal e a Galiza (Sécs. XI a
XVII). Um olhar peninsular sobre uma região histórica, Porto, CEPESE/
Fronteira do Caos, 2014, pp. 153-170.

477
ArmAs e Troféus

SOTTOMAYOR-PIZARRO, José Augusto de, “Cap. 10. A Nobreza: de um


passado comum a um tempo de contrastes”, in FONSECA, Luís Adão da
(coord.), Entre Portugal e a Galiza (Sécs. XI a XVII). Um olhar peninsular
sobre uma região histórica, Porto, CEPESE/Fronteira do Caos, 2014, pp.
171-188.

SOTTOMAYOR-PIZARRO, José Augusto de, “Cap. 16. Nome, Representações


Heráldicas e Intitulações Régias”, in FONSECA, Luís Adão da (coord.),
Entre Portugal e a Galiza (Sécs. XI a XVII). Um olhar peninsular sobre uma
região histórica, Porto, CEPESE/Fronteira do Caos, 2014, pp. 303-324.

SOTTOMAYOR-PIZARRO, José Augusto de, “Cap. 22. A Historiografia”, in


FONSECA, Luís Adão da (coord.), Entre Portugal e a Galiza (Sécs. XI a
XVII). Um olhar peninsular sobre uma região histórica, Porto, CEPESE/
Fronteira do Caos, 2014, pp. 413-436.

SOVERAL, Manuel Abranches de, História genealógica dos Correa Manoel de


Aboim. Administradores da capela de S. Lourenço de Óbidos (1319), senhores
do palácio dos Aboim (Lisboa), viscondes de Idanha e Vila Boim, Porto,
Caminhos Romanos, 2014.

TAVARES, Paulo Falcão, O Real Convento de S. Domingos de Abrantes, Abrantes,


Tubucci, 2014.

TAVARES, Paulo Falcão, Peça do mês no Mosteiro de Santa Clara-a-Velha.


31/1/2014 a 28/2/2014 [Em linha], Direcção Regional de Cultura do
Centro, Disponível em http://culturacentro.pt/evento.asp?id=1772.

TOSTES, Vera Lucia Bottrel, “Conhecer Heráldica, decifrar mistérios: De


viatura fúnebre a coche real”, Armas e Troféus, IX série, tomo XVI (2014),
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VARELLA, Luís Soveral, “A Arte Milenar da Armaria, A História de uma Espada


do Rei Dom António”, Cadernos Barão de Arêde, n.º 1 (2014), pp. 89-97
(também disponível em www.arede.eu).

VARELLA, Luís Soveral, “Artistas e Artesãos na Arte de Fabrico de Armaria”,


Cadernos Barão de Arêde, n.º 2 (2014), pp. 50-51 (também disponível em
www.arede.eu).

478
Produção bibLiográficA dos sócios do insTiTuTo PorTuguês de heráLdicA

VARELLA, Luís Soveral, “O Foral Novo de Carvalhais, Ferreiros, Fontemanha e


Vale de Avim”, Cadernos Barão de Arêde, n.º 1 (2014), pp. 23-63 (também
disponível em www.arede.eu).

VARELLA, Luís Soveral, “Os Furtado e os Barbuda de Monchique”, Cadernos


Barão de Arêde, n.º 2 (2014), pp. 195-220 (também disponível em www.
arede.eu).

VARELLA, Luís Soveral, “Os Heredia. E a Varonia dos Herédia de Sua Alteza
Real a Senhora Dona Isabel, Duquesa de Bragança”, Cadernos Barão de
Arêde, n.º 1 (2014), pp. 64-101; “Os Heredia (continuação)”, Cadernos
Barão de Arêde, n.º 2 (2014), pp. 94-117; “Os Heredia (continuação)”,
Cadernos Barão de Arêde, n.º 3 (2014), pp. 212-264 (também disponível
em www.arede.eu).

VARELLA, Luís Soveral, “O Sangue dos Arêde”, Cadernos Barão de Arêde, n.º 1
(2014), pp. 102-113 (também disponível em www.arede.eu).

479
ACTAS DO ANO ACADÉMICO 2014-2015

15-X-2014
Reunião Geral
Comunicação da sócia agregada Dr.ª Maria Alice Pereira dos Santos, com o título:
A empresa de Gil do Sem e de João do Sem

18 Presenças 

20-XI-2014
Reunião Geral
Comunicação do sócio efectivo Dr. João Portugal, com o título: Tríptico de Sousas

11 Presenças

18-XII-2014
Reunião Geral
Comunicações:
do sócio efectivo Dr. João Bernardo Galvão Teles, como o título: O palácio do
Fiúza: memória de uma residência nobre em Alcântara, no termo de Lisboa
das sócias Drª Assunção Júdice e Dr.ª Leonor Calvão Borges, com o título: Famí-
lias e relações familiares no Arquivo da Quinta das Lágrimas

15 Presenças

15-I-2015
Conselho Director
Ordem de Trabalhos:
1) Apresentação do relatório da actual administração para o triénio 2011-2014;

481
ArmAs e Troféus

2) Apresentação de relatório e contas do ano de 2014;


3) Eleições dos órgãos sociais para o triénio 2015-2018;
4) Constituição do júri para o Prémio do Instituto Português de Heráldica refe-
rente ao ano de 2015;
5) Publicações do Instituto Português de Heráldica;
6) Admissão de novos sócios e alteração de estatuto de sócios.

13 Presenças

28-I-2015
Reunião Geral
Comunicação do convidado Prof. Doutor Paulo Lopes, com o título: Um portu-
guês na Itália do Renascimento. Imagens da Europa num manuscrito inédito
do século XVI

26 Presenças (22 sócios e 4 convidados)

19-II-2015
Reunião geral
Comunicação do Presidente do IPH Prof. Doutor Miguel Metelo de Seixas, com
o título: Revivalismos emblemáticos oitocentistas. Empresas brigantinas e
sabaudas num tecido de parede do paço real da Ajuda

22 Presenças

18-III-2015
Reunião Geral
Comunicação do sócio efectivo Dr. Carlos Bobone, com o título: Privilégios dos
Familiares e Oficiais do Santo Ofício

18 Presenças

16-IV-2015
Visita a Évora

12 Presenças

482
AcTAs do Ano AcAdémico 2014-2015

21-V-2015
Reunião Geral
Comunicação do Presidente do IPH Prof. Doutor Miguel Metelo de Seixas, com
o título:  Heráldica Tropical: a construção de um sistema identitário visual da
nobreza brasileira oitocentista

30 Presenças (29 sócios e um convidado)

24-VI-2015
Reunião Geral
Comunicação da convidada Prof. Doutora Alicia Miguélez, com o título:
A linguagem gestual na iconografia românica em Portugal

21 Presenças

483

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