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A LAIA DE PRÓLOGO...
Santa Clara
Funchal, 2 de Agosto de 1949
Mas, seguindo o estudo do Dr. Rodrigues de Azevedo, nota-se que ele não
incluiu todos os intelectuais que menciona no período em que deviam
aparecer, segundo a época em que desenvolveram as suas actividades,
relacionando-os umas vezes pela era em que faleceram e outras pelo
nascimento.
Documentos coevos, dos períodos mais remotos, - como seja uma Carta
Régia de Dom Manuel I, com data de 6 de Dezembro de 1515 e ainda uma
Bula do Papa Leão X - mostram que já então existia a ideia fixa de
desenvolvimento intelectual no Arquipélago, organizando no Funchal um
núcleo educativo. E assim mandam criar a dignidade de «Mestre Escola» na
Sé, Catedral, constituindo este diploma a primeira manifestação clara a favor
da instrução pública na Ilha.
Também na defesa das Ilhas contra os assaltos temíveis dos «Corsários», que
se tornam em ameaça perigosa, os madeirenses praticavam actos de bravura
que os nobilitam.
mais ricas freguesias do Concelho de Santa Cruz, que pode bem ser uma
influência do romance de Vasco de Lobeira...
O Dr. Álvaro Rodrigues de Azevedo, ainda nas suas «Notas», visando este
assunto, reproduz várias composições, que provam esta observação, e ele
encontrou na tradição oral do norte da Madeira.
Na página 766 das «Notas» às «Saudades da Terra» afirma que «de uma só
pessoa, mulher analfabeta, da freguesia do Porto da Cruz» obtivera por
dictação de memória, além de muitos outros, três «romances» que ele
considerou mais característicos e que arquivou «sem correcções para lhes
conservar quanto possível o timbre e o sabor próprios».
As três produções que seguem foram aquelas que o Dr. Álvaro Rodrigues de
Azevedo colheu no Porto da Cruz e que são de tipo genuinamente
madeirense.
Dona Galdina
Dona Eurives
Fala ela:
- Por Deus vos peço, a vós, Sogra,
por Deus vos peço rogado,
que em vosso filho vindo
nada lhe seja contado:
que eu vou-me além, ao castelo,
carpir aquele finado.
Respondem eles:
São Senhoras e Donzelas,
cousa de grande estado;
uma carpe lo marido,
outras carpem cunhado...
História Literária da Madeira
Fala o marido:
Digam-me a essa Senhora
que seu amor é pagado...
Entre duas facas finas
seu pescoço degolado,
metido entre dois pratos
a seu pai será mandado...
Ouviu ela e disse
Matai-me, já que a meu pai
eu falar-lhe não sabia:
que este é que era o meu amor,
que eu a vôs não vos queria...
E diz:
- O meu amor não tem alteza;
eu vou arriscar quem sou,
vou arriscar minha fama,
História Literária da Madeira
Responde ele:
- Esta jóia, Dama minha,
de alviçara vos ofereço,
que eu hei-de vir a gozar
uma flor que mal conheço.
Diz a Dama
- Adeus, senhor Dom João,
haja segredo e cautela,
que eu lhe prometo ser sua
essa rica flor tão bela.
Ele:
- Ora adeus, querida Dama,
dize ao meu serafim
que à noite lá terei
à porta do seu jardim.
Diz a Princesa:
Chega o Príncipe:
-Vós estais hi, querida d'alma,
minha afeição adorada?
Responde ela:
- Eu cá estou, lindos meus olhos,
prenda minha, prenda amada!
Diz ele:
- Dai-me cá os vossos braços
que neles me quero ver,
História Literária da Madeira
Responde ela:
-Aqui tendes los meus braços,
juntamente o coração.
Também me pode receber
por Mulher a vossa mão.
Diz-lhe ele:
- Montai-vos aqui, Senhora,
nas ancas deste cavalo,
que aqui his bem segura
sem sofrer nenhum abalo.
Ela, a carpir:
- Mala fortuna me leva
mala fortuna me guia.
Não sei se me furta um Rei
se homem de baixa valia.
Fala ele
-Calai-vos, minha Senhora,
História Literária da Madeira
Ela
- Adeus janelas de vidros,
adeus palácios reais;
janelas onde eu via
os venturosos cristais,
Como se vê, a projecção do estilo e do sentir da escola dos tempos idos, com
o seu sabor e originalidade bem característicos mantêm-se ainda na poesia
popular.
«Dona Olinda» obtive-a há pouco mais de seis anos, mas julgo-a muito
característica, fazendo lembrar «A Nau Catarineta»,
História de Hermínia
- Generoso passarinho,
- a pastora assim dizia
não sabes como m'alegra
a tua doce harmonia!
Por isso mê passarinho
tu tens razão de cantar.
Só eu tenho o meu amor
que a mim me faz chorar.
- Já é tempo passarinho
de saberes o direito
que um amor quando se escreve
logo fica satisfeito.
Generoso passarinho
qu' és livre de meu tormento
que lindas novas sam essas
com tanto contentamento.
- Afasta-te oh Cavaleiro
afasta-te mais um tanto
que antes qu' eu daqui caminhe
quero fazer meu pranto.
Não se pode dizer que é uma «famosa» poesia nem que o romance de amor é
maravilhoso mas verifica-se que no gosto, no estilo e no sentimento pouco
difere daqueles que o Dr, Rodrigues de Azevedo colheu, concluindo-se que o
Povo guardou a tradição dos antigos romances.
Dona Olinda
Esta composição mostra como chegou até os nossos dias o gosto pelas
histórias cavalheirescas, no Arquipélago.
O Povo manteve o seu culto apaixonado pelos "romances", sem cuidar dos
entusiasmos das influências com que se deixaram ir para escolas estranhas os
Poetas-palacianos.
História Literária da Madeira
Nas suas «Notas» afirma o Dr. Rodrigues de Azevedo que o primeiro poeta
insulano que foge a estas influências foi Tristão das Damas. Porém logo a
seguir, na página 772 da mesma obra encontramos a transcrição de uns
versos do mesmo Tristão das Damas em cuja critica o Dr. Azevedo diz que
esses versos «teem um artificio e subjectivismo próprios da tradição
provençal da Escola Aragoneza». E pois contraditório com o que antes
afirmara, assegurando que não sofrera influências estranhas.
História Literária da Madeira
Ora desde que entre 1379 e 1417 havia em Lisboa um Marítimo de certa
categoria com o nome de Machico, porque não admitir que outro homem
dessa família, ou mesmo ele, fizesse parte da frota de Zarco?
E não seria esse homem que, por qualquer circunstância desse o seu nome à
localidade de onde tem saído motivo para tanto lirismo? Como mais adiante
se verá e como já se fez referência anterior, a fantasia do romance de Robert
Machim e de Ana d' Arfet teve outras origens e outros propósitos, bem di-
versos das inspirações e devaneios de poetas e prosadores...
História Literária da Madeira
A rudeza dos costumes e dos impulsos brutais que marcam com traços fortes
a meia-idade, sucedem-se as etiquetas, os galanteios e os requebros fidalgos.
Assim também na literatura, que é sempre o reflexo da alma de uma época,
da poesia narrativa, adstrita aos tempos bélicos, se passou à poesia dis-
cursiva, cheia de argúcias e de críticas, ou repassada de erotismos. A vida
palaciana é o fulcro desta verdadeira transformação intelectual, As camadas
inferiores da população, sempre afectas ao tradicionalismo não encaram com
bons olhos as novas tendências que lhes levam o seu viver e o seu sentir de
séculos, pretendendo até arrancar-lhes as vibrações da Alma que em trovas,
em versos e canções se expande.
Desta arte, suplantada na vida palaciana a poesia narrativa, esta vai refugiar-
se no meio popular, onde até agora, mais ou menos, se tem conservado com
seus foros de poesia popular e tradicional. Ora é esta alma arreigada às
tradições e aos costumes da Raça Portuguesa, que passa ao Arquipélago da
Madeira e aqui, fundindo-se com as correntes estranhas, trazidas pelos
povoadores de diversas procedências, dá-nos esse tipo inconfundível que
caracteriza os insulanos. E seguindo esta ordem de ideias vê se que à poesia
de reminiscências medievais dos Povoadores juntaram-se harmonicamente,
formando um conjunto curioso, o figurado e a melopeia das composições
árabes.
É de justiça porque logo após a chegada dos portugueses à Madeira, ele, que
foi um dos companheiros mais íntimos de João Gonçalves Zarco, cuida, sem
perda de tempo, de fixar numa descritiva simples mas exacta tudo quanto ele
viu.
Diz o Padre Fernando Augusto da Silva que «Gonçalo Aires Ferreira foi o
mais distinto companheiro do primeiro Descobridor, não só pela sua nobre
ascendência mas ainda pela ilustração que possuía». Isto se encontra,
textualmente, na página 398 do Elucidário Madeirense, na informação sobre
«Ferreira (Gonçalo Ayres)».
Ilha da Madeira, o mais verdadeiro que até agora se achou; o qual dizem que
foi feito por Gonçalo Ayres Ferreira, que foi a descobrir a mesma Ilha com o
primeiro Capitam João Gonçalves Zarco, e como este Descobrimento
competia aos Capitães da mesma Ilha, eles o traziam no seu escritório como
cousa hereditária de descendentes em descendentes. E sendo pedida
informação desta Ilha da Madeira, de minha parte, ao Reverendo Cónego da
Sé do Funchal Jerónimo Dias Leite, tendo-o ele visto em poder do dito
Capitão João Gonçalves da Camara, lh' o mandou pedir a Lisboa, onde então
estava, e ele o mandou trasladar pelo seu Camareiro, Lucas de Sá e lh' o
mandou escrito em trez folhas de papel, da letra do dito Camareiro (porque o
Descobrimento não faz missão disso) lhe mandou dizer que Gonçalo Ayres
Ferreira, o qual fora um dos Creados que Zarco, primeiro Capitão, lá levara,
escrevera tudo que viu com seus olhos e como não era eurioso nem homem
docto, o notará com ruda minerva, sem ai composto».
Ora sendo o Cónego Jerónimo Dias Leite quem fornecia ao Doutor Gaspar
Frutuoso o melhor material que obtivera como fruto de constantes estudos e
História Literária da Madeira
Dizem ainda as «Saudades da Terra» que era ele tão amigo e considerado de
Zarco que «quando faleceu, Zarco o mandou sepultar em Nossa Senhora de
Cima, na Capela-Mor, que era o jazigo que para si e sua Mulher e Filhos
havia feito».
História Literária da Madeira
Por esta razão foi removido esse sumptuoso mausoléu não se sabe para onde,
pois que no Carneiro dessa Capela ainda se encontram numerosas sepulturas
dos Capitães Donatários, sucessores de Zarco e as Cinzas do Descobridor,
depois da remoção do sarcófago foram parar à sepultura de seu genro,
Martim Mendes de Vasconcelos, marido que foi de Dona Helena Gonçalves
da Câmara, que ali está, ao fundo da Igreja, com seus descendentes, havendo
uma lápide tumular com inscrição.
D. Francisco de Biveiro, que foi casado com uma neta de Zarco, deu sorte
com o motejo e por sua vez compôs resposta em verso dirigindo a «João
Gonçalves, Filho do Capitão».
Isto vem reforçar a tese de que o Poeta do Cancioneiro era o mesmo filho de
Zarco.
Gaspar Frutuoso diz que foi Poeta engenhoso e guerreiro de grande valor,
tendo-se notabilizado nos combates de Arzila e Ceuta.
Gozava de tal prestígio que o Conde de Gijon não teve dúvidas em consentir
que casasse com sua filha, Dona Maria de Noronha, que era neta de El-Rei
Dom Henrique de Castela.
História Literária da Madeira
Diz o Dr. Ernesto Gonçalves «que no período em que viveu João Gonçalves
da Câmara fazer versos era unta prenda de educação, tal como hoje é de boa
sociedade jogar o «Bridge» e que em sua opinião o espírito poético de João
Gonçalves da Câmara lhe daria jus a ser considerado, quando muito, como
poeta medíocre.
«Folgo muito de vos ver, sei bem que vos quero bem,
pesa-me; quanda vos vejo. com quanto dano me traz.
Como pode aquisto ser,
se ver-nos é, meu desejo? Mas isto é para descrer,
ter, Senhora, tão grão pejo,
Isto não sei o que faz, morrer muito por vos ver,
nem de onde tal mal me vem, pesa-me quando Vos vejo».
só um dia,
salvo se Deus ordenasse,
que vos já mui cedo visse,
como queria»,
Não é lógico que o marido fosse usar-lhe o apelido. Seus filhos, a principiar
no Sucessor na Capitania e portanto o célebre Tristão das Damas, é que
usaram o apelido materno. Tristão Vaz - o primeiro Capitão Donatário de
Machico - tinha por brasão de armas uma Fénix em campo azul. Foi seu
filho e sucessor, esse Tristão Vaz Teixeira ou Tristão Teixeira, mais
conhecido por Tristão das Damas, quem juntou nas armas quarteadas uma
Cruz aberta e uma flor-de-lis, provindas de sua Mãe.
História Literária da Madeira
Diz ainda Frutuoso que Tristão das Damas foi guerreiro valoroso, «muito
cortezão e grande dizedor, que fazia muitos motes às damas».
Teve, como é natural, uma vida faustosa mas algumas vezes agitada.
Morreu em Machico onde jaz sepultado na Capela de S. João da Igreja
Paroquial, em cujo arco ele mandou esculpir o escudo com o seu brasão de
armas: - a Fénix, a Cruz aberta e a Flor de Liz.
Essa Capela foi igualmente construção sua e desde logo a destinou para
mausoléu dos Capitães Donatários de Machico,
Este neto de Zarco foi uma das figuras mais notáveis nos meios literários da
sua época. Era irmão do 3.º Capitão Donatário. Simão Gonçalves da Câmara,
conhecido na história insular pelo «Magnifico».
Os maridos destas duas fidalgas eram de facto palacianos mas não resma as
crónicas que fossem poetas.
Houve, é certo, netas de Zarco quê se casaram com Poetas palacianos - uma
com Duarte de Brito, outra com Ruy de Souza, uma outra com Ruy Gomes
da Grã, ainda outra com João Rodrigues de Sá é finalmente a quinta com D.
Luiz da Silveira.
Das poesias que chegaram até nós; posso apresentar algumas que me
facultou a amabilidade do meu talentoso amigo Doutor José Pedro Machado.
«De Manuel de Noronha a Dom António Valasco sobre o rifão que lhe fez»
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Rifão
«Antes que de chamalote
fizera desse rifão
ceroilas para verão.
De morrer desejaria, e seria grã razão pois que fez loba tão fria, tendo já feito
o «rifão».
«Se tivéssemos memórias para tudo nos lembrar, na dele cem mil histórias
notáveis para contar.
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É de Cristo cavaleiro, muitas vezes foi zombado, por gestos, trajos, coçado,
Pêro de Sousa Ribeiro».
Dos Poetas que o Dr. Rodrigues de Azevedo menciona como fazendo parte
no Ciclo Poético da Ilha da Madeira e do qual aparecem composições no
Cancioneiro de Garcia de Resende, valorizando O movimento literário do
Arquipélago, tem um certo relevo Ruy de Souza, de quem são as
composições que seguem:
Eu a vos pordoaria,
«mas foão»
não digo quem nem quem não».
«Que aqui não seja defeso, a ninguém não aconteça, fiar de sua cabeça cousa
de tamanho peso.
Antes me aconselharia,
porque não
desse com tudo no chão.
O meu grande amigo e ilustre camarada Dr. Ernesto Gonçalves - sem dúvida
um dos Escritores mais eruditos e com uma elegância de linguagem muito
sua - deu-me a honra de publicar no número de Junho de 1943 na «Revista
Portuguesa» - de que sou Director - um admirável estudo inédito até então
sobre Duarte de Brito. Com a autoridade e o brilho de Ernesto Gonçalves
não podia ser mais propriamente apresentado esse Poeta envolto em certo
mistério, não quanto ao seu valor literário e à sua vida no Arquipélago mas
em relação à sua origem.
Duarte de Brito ficou sempre um anónimo entre aqueles que Teófilo julgava
da sua Orei e só em livros de linhagens restava o seu nome como o de um
simples Morgado, avô de Morgadotes.
Mas qual o motivo porque Teófilo afirmou que Duarte de Brito pertencia à
Madeira?
Teria ele conhecido qualquer documento em que se baseasse para fazer uma
afirmação que só engrandecia a Ilha e lhe dava alta formosura de espírito?
Ele tinha uma visão poética das Ilhas que lhe vinha do sangue e da beleza
das novelas e romances medievais em que descobria a pureza primitiva do
génio nacional. Poderia ainda ver nestas terras isoladas em pleno Oceano
pátrias de Vates que lembravam obscuramente muitos antigos - e cantavam
na abstracção do mar e do Céu sentindo a realidade do tempo fugir entre
quimeras e neblinas de alma meditativa. Mas não foi sugestão deste género
História Literária da Madeira
Teria nascido na Ilha? Ignoramo-lo. Seria Santarém a sua terra natal? Note-
se porém que estavam no Funchal dois irmãos seus - Pêro de Brito e Joane
Mendes de Brito - o que nos permite supor um maior enraizamento na terra,
com casa paterna assente na nova Província. Simples conjectura, saliente-se.
______________
(1) - Só depois de ter falecido é que o seu nome apareceu com o apelido Pestana. Tombo da Câmara
Municipal do Funchal. T. 1,° —fls. 331. Arquivo Distrital.
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(1) — «Nobiliário Genealógico das Famílias que passaram a viver nesta Ilha da Madeira» - por
Henrique Henriques de Noronha - T.« I fls. 41 a 43 Cópia da Biblioteca Municipal do Funchal.
(2) - Biblioteca Lusitana de Diogo Barbosa Machado Vol. I
pág. 98 Reedição 1930.
História Literária da Madeira
Mas tudo leva a conjecturar que por essa altura ele seria muito novo e por
ventura menor de 25 anos.
João Gomes, que fora da Casa do Infante D. Henrique, chegara à velhice: era
um «roupa-velha» - um homem antigo, que muito conhecera e trabalhara,
que fizera trovas líricas e de meditação moral—e agora já adiantado em
anos, tinha de pleitar, no terreiro das musas, com o fundibulário ágil,
ricamente apetrechado de rimas e mestre de melodia verbal que era Duarte
de Brito, contendor com perfeita ciência do seu passado e bem aceite no seu
convívio. Se Duarte de Brito nasceu na Madeira, teria ido para Portugal
seguir os estudos e frequentar a sua escola de Cortesão. Teria estudado o
latim? Os seus versos possuem um profundo carácter de vernaculidade na
linguagem, estão todos impregnados da essência portuguesa, mas há neles
uma luminosidade nova que talvez viesse do conhecimento do idioma latino.
E se também poetou em castelhano, assim o fez João Gomes, seu Camarada
mais velho na jornada pelo país das visões líricas. Foi durante esta
permanência em Portugal - se partirmos da hipótese de ser a Ilha a terra do
seu nascimento - que compôs aquelas soberbas trovas quando partia dos
campos de Santarém onde lhe ficara «a beldade por quem levava cheia a
memória». A «vida despreocupada de dores» libertou-se na Madeira de tanto
cuidado e aventura. À primeira vez que o vemos participar dos negócios da
Câmara Municipal do Funchal é em 1495 (1), o que não quer dizer que antes
não fosse metido nó rol dos «homens-bons» do Município cujo arquivo,
____________
(1) Livro das Vereações da C. M. F.1495-1496 fls, 67 V.º 71-73 V.º 74 V.° 213 217 V.° 221.
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Em 1496 deliberou a Câmara com o voto de João Gomes que ele partisse
como seu Procurador para expor ao Rei certos negócios de proveito comum
(2). Seu Tio em 1481 fizera também igual jornada com idêntica comissão.
Porém desta vez parece que Duarte de Brito não aceitou a incumbência de
boa vontade. O subsidio que lhe concederam os oficiais da Câmara não era
suficiente para despesa tamanha - ou ele, no foro do seu orgulho, achava-o
minguado para se ostentar na Corte com todas as galas de um verdadeiro
embaixador.
___________
O assunto arrastou-se um pouco, até que o Juiz Ordinário - João Luís, que
morara em Câmara de Lobos - lhe deu a ordem expressa, sob pena de dez
cruzados, se não seguisse para Portugal no primeiro navio. Casado,
conhecendo a realidade da vida, emissário de um Povo que trabalhava com
duro esforço em abrir terrenos novos, levando o encargo solene duma
procuração do Concelho - talvez não se esquecesse de matar saudades dos
campos de Santarém que o haviam envolvido em auras sentimentais de amor
e desespero. No meio dos problemas locais, de cuja defesa o investiram
perante El-Rei, apareciam as sombras antigas de donas da Corte, a quem
endereçara madrigais quando a sua lira era fresca e enamorada como flor de
Primavera.
Veio a acabar seus dias antes de 29 de Julho de 1514 (1). Estavam já no outro
mundo seus companheiros, embora mais velhos, nos maviosos enlevos da
poesia.
pô-lo de pé. Todas as circunstâncias que a bom título nós podemos aceitar,
coincidem com os escassos elementos biográficos que conhecemos de
Duarte de Brito, Poeta do Cancioneiro Geral. Se por uma questão de método
e como contra-prova separarmos cm dois indivíduos, este Duarte de Brito, -
o da Madeira e o da Colectânea de Resende -vemo-los como
contemporâneos, ambos novos nos fins do século XV, conhecidos de João
Gomes da Ilha - muito ao par do seu passado e íntimos das suas relações. O
Poeta seria parente de Álvaro de Brito Pestana e seguidor da sua
metrificação cuidada e fluência verbal; o outro era, como se presume, sem
exagero, aparentado com o Cortesão amigo de poetar. Tanta aproximação
obriga-nos, espontaneamente, a identifica-los, a justapor as duas imagens
que andam separadas. Nada se opõe a que se perfile honestamente esta
conclusão: não há o menor elemento contraditório. Do autor do «Inferno dos
Namorados» diz Diogo Barbosa Machado simplesmente que era Poeta jovial
e sentencioso - o que é irrisório como crítica literária - e ignora tudo no
respeitante a sua idede (1). Vê-lo, portanto, como um duplo da mesma per-
sonalidade - do que vivia na Madeira e emparelhava com João Gomes, não
nos parece demasia de interpretação e que possa ser condenado; antes o
julgamos como sentença implícita nos factos aqui trazidos para instruir um
processo que Teófilo Braga abriu há muitos anos. Recear ainda uma
homonímia, como já confessamos, é prudência que roça pelo medo de
concluir em face de documentos luminosos que lançam claridade nos
recantos ensombrados. Viemos agora em defesa de Teófilo Braga depois de
estudar velhos papeis e sentimo-nos contentes com à nossa consciência de
madeirense.
_____________
Quanto necessita a Ilha que a sua alma culta desvende a formosa face
poética—e de uma profunda lição de orgulho e de compreensão de si própria
a todos os que nela nasceram.
Ó Campos de Santarém
Ó campos de Santarém O' ventura malfadada,
lembranças tristes de mira, cabo de toda crueza!
onde começou sem fim, O' memorea retrocada
desesperança sem bem. em dôr de minha tristeza !
Ó gran beldade por quam
levo cheia a memores, 0' desejo sem folgança (2)
com tal cuidado que tem tristura de meu folgar!
a morte volta com grorea (1) Õ' querer de meu pesar,
do meu descanço tardança
O vida desesperada do meu coração cadeia!
de dores e sentimento! O' vida sem esperança,
O' lembrança de tormentos de tristezas toda cheia !
qu' em pesares és tornada!
Vi as Serras descobertas
História Literária da Madeira
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(1) - «Com tal cuidado que tem a morte volta com grorea» isto é: com prazer e tristeza à mistura.
(2) - «folgança» prazer.
(3) - A ideia parece ser esta: - de nada prestada ao coração ser lembrado de quem não pode, com
suas lágrimas, deixar de desejar seu cuidado.
(4) - Curiosa imagem: refrescar as penas, ou seja traze-las pela imaginação a seu primitivo viço.
(5) - Folguras, ou folganças.
(6) - Raivoso, quer dizer, desesperado.
(7) - Coita, ou pena mágoa.
(8) - raivas, quer dizer desesperos
(9) - por em vez de para
(10) – querelas ou queixas
(11) - trespassando quer dizer: passando através
História Literária da Madeira
O Dr. José Luís de Canavial de Brito Gomes opina que podia bem ter sido o
pai, o poeta dos «Campos de Santarém» dada as suas idas com a Corte
àquela terra Ribatejana.
Embora fosse muito mais velho que Duarte de Brito manteve com ele larga
polémica literária, deglandeando-se no campo das musas sem recear o génio
eruptivo e a pujança do adversário, já então considerado como Poeta de
História Literária da Madeira
muito valor. João Gomes da Ilha morreu em 1495, no Funchal, tendo dei-
xado o seu nome cheio de prestígio, não só pelo muito que lidou as letras,
mas também pela larga colaboração que teve no Governo do Arquipélago,
naqueles tempos recuados. As suas poesias, que foram reunidas por Garcia
de Resende no Cancioneiro, são provas do génio poético de João Gomes,
mais conhecido no Reino por João Gomes da Ilha.
Cantiga do Condel-Mór
Porque lhe foi dito que sendo ele ausente de onde o feito se tratava, que a
parte do cuidado não ia bem e com elas lhe mandou outras que oferecesse
por parte do cuidado.
Não nasceu na Madeira João Rodrigues de Sá, que nas «Saudades da Terra»
vem mencionado como um dos Poetas da época, que casou com uma bisneta
de Zarco, filha dos Condes de Vila Nova de Portimão.
Dom Luís da Silveira, Conde de Sortelha, foi casado com Dona Maria de
Noronha, descendente de Gonçalves Zarco.
Foi considerado Poeta palaciano. O Tenente-Coronel Alberto Artur de
Sarmento diz que D. Luís da Silveira não teve o valor de outros Poetas deste
ciclo.
Foi então que El-Rei Dom João III o chamou a Lisboa e o nomeou Lente da
Universidade de Coimbra. Mas como eram necessários na Corte o seu saber
e a sua inteligência, o Monarca determinou que viesse para Lisboa, tendo
então ascendido aos mais altos cargos no Paço. A «Biblioteca Lusitana»
menciona os seus trabalhos mais notáveis. A sua obra-prima foi escrita em
latim. Os seus trabalhos literários tiveram numerosas edições, saindo a
última 140 anos após o seu falecimento. Essa obra denomina-se: «De Juribus
quibus Lusitanum Imperium in África, índia ac Guinea. Decisiones supremi
regni Lusitaniae». Este trabalho foi também editado em Cremona, na
Antuérpia, em Frankfurt e em Veneza. Tanto no estrangeiro como no País
foi o Doutor António da Gama considerado com um dos principais
Professores de Leis da sua época. Em 30 de Março de 1595 faleceu em
Lisboa, com 75 anos de idade, dos quais 40 passou na Corte portuguesa, este
homem eminente que foi Um dos madeirenses mais ilustres e que maior
brilho deu à literatura insulana.
História Literária da Madeira
Foi sepultado na Igreja de Santo Eloy onde existia uma lápide tumular com
honrosa inscrição.
Escreveu, com o seu próprio punho, o Tomo 1.° do Registo Geral da Câmara
Municipal do Funchal fazendo ali interessantes assentos sobre coisas
relativas à vida insulana.
Embora não haja a certeza de ter nascido na Madeira, aqui passou a sua vida
e aqui morreu. Mas tão acendrado regionalismo só o podia ter um
madeirense.
De Ruy Moniz
A avaliar pelo estudo dos textos e pela comparação dos factos, pelas datas e
pelo estilo e ainda por outros detalhes; conclui-se que a hipotética história do
Descobrimento de Alcoforado é obra apócrifa e que a «Relation Historique»
não passa de uma tradução da Epanafora de Dom Francisco Manuel de
Melo. Assim a razão de que o relato se baseia num manuscrito cuidadosa e
misteriosamente guardado, que de Francisco de Alcoforado fora para a posse
de D. Francisco Manuel não encontra alicerces, caindo como um castelo de
cartas.
Há, contudo, um pequeno lapso no relato de Edgar Prestage, que foi mais
leal para com o valor e os feitos dos portugueses, do que o seu briografado,
que aceitou a lenda de Machim dando-lhe com o seu concurso foros de
exactidão histórica, que não tem razões nem fundamento.
Ao que me informam, o meu amigo e ilustre camarada nas letras, Dr. João
Franco Machado numa viagem de estudo que fez a Madrid, antes da
«dominação Vermelha» tinha fotografado o manuscrito atribuído a Francisco
de Alcoforado, conservando dele as provas fotográficas que é quanto hoje se
pode haver e sendo isso portanto um elemento precioso. Mas neste caso do
manuscrito de Madrid há que considerar se será ou não aquele a que se
referia Dom Francisco Manuel, que o tinha guardado com grande mistério..
A avaliar pelo que tenho estudado, seja ou não, e sendo embora apócrifo,
tem contudo interesse.
autel fut offert à Dieu par isle, auquel semblent contredire les
Foi pois o misticismo que civilizou os novos mundos que Portugal deu ao
mundo.
Era natural da Ilha de São Miguel e foi um dos valores intelectuais mais
notáveis da sua época.
Foi da modéstia da sua vida na Ribeira Grande que ele escreveu esse
verdadeiro monumento da História e do movimento literário das Ilhas
Adjacentes -«Saudades da Terra».
História Literária da Madeira
Ainda hoje esta obra é o mais rico repositório de dados essenciais à História
do Arquipélago da Madeira, nos períodos mais chegados à Descoberta. Tudo
quanto é possível ainda hoje reconstituir sobre a vida, as figuras e os factos
dos séculos XV e XVI, na Madeira e no Porto Santo, deve-se às inves-
tigações e aos escritos deste clérigo erudito e virtuoso.
É pois no livro 2.° da autoria do douto açoreano que ele faz «A História das
Ilhas do Porto Santo, Madeira, Desertas e Selvagens», desde a Descoberta de
Zarco.
A Diocese do Funchal passou a reger-se desde então por essas regras. A obra
do Bispo D. Jerónimo Barreto revela o alto grau de inteligência e o muito
saber do prestigioso Prelado, o acerto dos critérios e a rigidez da sua Alma.
Começaram a vigorar as regras das «Constituições Diocesanas» em 18 de
Outubro de 1578. O Bispo do Funchal D. Jerónimo Barreto foi pessoa muito
ilustrada, que deu à vida literária da sua época no Arquipélago uma curiosa
orientação. Faleceu em 1589, em pleno vigor da vida, durante uma estadia
que fez no Algarve.
Nos capítulos XLIV e XLV das «Notas» do Dr. Rodrigues de Azevedo vem
a descrição desse assalto à mão armada, levado a efeito por piratas franceses,
useiros e vezeiros nestas barbaras «façanhas», assim como se regista da parte
de britânicos e mouros, também. O Dr. Rodrigues de Azevedo opina que a
Relação de Simão Nunes Cardoso deve ter sido copiada pelo Cónego
Jerónimo Dias Leite para a remeter ao Doutor Gaspar Frutuoso, para os
Açores. O que interessa é registar o relato de um Escritor madeirense que em
bom estilo, claro e detalhado, deixou a história da tragédia desse assalto dos
Corsários franceses, que assolaram o Arquipélago, deixando uma triste
lembrança, assinalada pelo sangue inocente que derramaram e pelas
violências praticadas contra uma população pacífica e indefesa, nesse ano de
1566.
História Literária da Madeira
Simão Nunes Cardoso pertencia, sem dúvida à nobre Família dos Cardosos
de Gaula, na Capitania de Machico, pois nessa época não eram conhecidos
no Arquipélago outros Cardosos.
Tristão das Damas, o Poeta do Cancioneiro, teria, por ventura, depois das luz
idas cavalgadas, que organizava na sede dos seus domínios, festas no seu
«Paço» onde repetia a sua «Corte» as famosas produções literárias, as trovas
e madrigais que lhe granjearam renome.
tal ficaram de posse dela, quase duzentos portugueses e dos seus morreram
cincoenta e o Capitão-Mór».
Mas seja como for é incontestável pelo que se aprende na curiosa narração
do fidalgo Escritor, que foi terrível o assalto e o saque do Funchal pelos
Corsários franceses.
Foi ainda este relato de Simão Nunes Cardoso que forneceu a Gaspar
Frutuoso, por meio do Cónego da Sé do Funchal, Jerónimo Dias Leite, os
elementos precisos com que depois organizou a circunstanciada descritiva
das «Saudades da Terra».
Barbosa Machado tem para este Padre Jesuíta madeirense palavras bem
elogiosas, referindo-se à sua obra literária.
Teria sido esse manuscrito cópia do que ele remeteu em 1590 a Gaspar
Frutuoso»? A Biblioteca Municipal do Funchal possui também um
manuscrito do Cónego Jerónimo Dias Leite.
A obra literária deste Clérigo tinha um grande valor, pelo que a «Biblioteca
Lusitana» dá um enorme relevo às produções literárias deste madeirense
ilustre. Escreveu em português e em latim.
Nas buscas a que procedi não me foi dado ir mais longe, mas pelos apelidos,
que ainda hoje são vulgares no Porto da Cruz e Machico, inclino-me a que
pertencesse a família com raízes na Capitania de Machico.
O motivo e o estilo da obra estão bem dentro de uma corrente desse período.
Foi o seu poema épico «A Insulana» que o ligou tão intimamente à História
da Madeira. A maior parte dos 80 anos de existência de Manuel Tomas
passou-os na Madeira. Mereceu-lhe especial interesse a lenda de Machim e
seguindo o progressivo desenvolvimento insular, descreveu as figuras e os
feitos mais notáveis do Arquipélago, conseguindo dar relevo à História da
portuguesíssima Ilha da Madeira.
História Literária da Madeira
«A Insulana» tem «dez livros», como diz o próprio autor - página 16. No 2.º
livro é que dá largo curso à lenda de Machim, falando de João de Amores,
Piloto Castelhano que confidenciaria a Zarco a posição da Ilha. Mas ainda
mais que a fantasia de que tinham sido os companheiros de Machim, presos
pelos Mouros, que tinham feito chegar até os portugueses a notícia da
formosa Ilha da Eterna Primavera, havia no Poema de Manuel Tomas o
entusiasmo romântico da aventura amorosa dos amantes Machim e Ana d'
Harfet.
«Teve na Corte vários pretendentes, que a seu querer renderam
liberdades umas secretas, e outras aparentes que são varias de
amor as qualidades corno a Pandôra graças, acidentes lhe
ofereciam de amantes mil vontades, mas só Machim, de todos
escolhido, foi pêra ser da dama mais querido».
História Literária da Madeira
britânicos, o que não tem consistência histórica mas que serviu de motivo
para enriquecer a literatura regional.
Muito embora o Dr. Rodrigues de Azevedo tivesse escrito que «dessas obras
de Escritores eclesiásticos bastam os títulos delas para se reconhecer que
eram na quase totalidade místicas e estéreis aos progressos do espírito
humano», o certo é que o elemento eclesiástico deu um maravilhoso
contingente intelectual e literário para essa época e mesmo o «Tesouro de
Virtudes» de Frei Afonso da Ilha cujo nome exacto era Afonso da Costa
tinha tal valor que alguns anos após a morte do Autor foi traduzida em
língua italiana.
Não era orador mas escrevia com natural elegância e um cunho muito
interessante. Escreveu o «Diário das Acções de St. Inácio de Loyola» e
«Pratica a El-Rei D. João III sobre o Colégio de Coimbra», obras que estão
na Crónica da Companhia de Jesus. Morreu novo, em 1575.
O Padre Manuel Alvares era natural da Vila da Ribeira Brava, onde nasceu
em Junho de 1526.
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Durante a sua vida esforçou-se sempre por bem servir a sua Pátria e honrar a
Ilha onde nasceu e à qual consagrou devotado amor.
Dom Sebastião de Morais, foi outro Jesuíta ilustre, que nasceu no Funchal
em 1534. A sua inteligência e a sua cultura tornaram-n1 o uma figura de
grande destaque na sua época.
Tanto o Papa como o Geral dos Jesuítas tinham em alta conta os grandes
méritos deste escritor madeirense.
História Literária da Madeira
Este Bispo e Jesuíta muito ilustre honrou as letras pátrias e a fama que criou
pelo seu saber e pelo seu prestígio e a contribuição que deu para a vida
literária da época contribuem para o prestígio madeirense.
Frei Gregório Baptista, que nasceu no Funchal nos fins do século XVI,
notabilizou-se como Escritor e Orador Sagrado. Foi Frade franciscano na
Província da Catalunha.
Não encontrei registo sobre a data do seu falecimento mas é de crer que se
houvesse finado depois de 1640.
Através das suas obras verifica-se a poderosa inteligência de que era dotado
e a vasta cultura que possuía.
O seu saber, o seu carácter e a sua vasta cultura deram lugar a ser convidado
para Professor da Universidade de Sapiência e ali brilhou como homem de
invulgar erudição.
O trabalho literário que lhe deu mais celebridade foi a Biografia de Dom
Luís de Figueiredo e Lemos, VIII Bispo do Funchal».
Deste folheto saiu uma 2.ª edição, em Ponta Delgada, no ano de 1884.
É curiosa esta nota que traz esse livro - «Imprimiram-se unicamente CEM
exemplares e todos levam nesta página o competente número, os quais serão
distribuídos pelas principais Bibliotecas da Europa e da América».
Possuía uma grande erudição e cultivou as boas letras com esmero. Diz a
Crónica que exerceu o modesto cargo de Guardião do seu Mosteiro.
Muitas obras dessa época mencionam Belchior de Teive como sendo um dos
homens mais preponderantes e de maior valor no seu tempo.
Estes estudos foram publicados num volume em 1660. Muito embora tivesse
passado a maior parte da sua vida nos Açores nunca apartou da Madeira o
seu interesse, como bem o provam os seus trabalhos literários. Como
Jurisconsulto foi reputado como um dos mais notáveis do seu tempo. Era um
estudioso e como característica dos seus trabalhos salienta-se a
meticulosidade com que analisava os assuntos de que se ocupava.
Faleceu em 1681.
Baltazar Dias, foi Poeta c cego. Nasceu na Madeira nos fins do Século XV.
O meu amigo e ilustre camarada Dr.: Ernesto Gonçalves deu a este cultor
das letras pátrias o maior brilho, com a elegância inconfundível da sua pena,
num artigo publicado em Julho de 1942 na «Revista Portuguesa», da minha
modesta direcção. A propósito deste poeta confirma Ernesto Gonçalves que
ele foi «cego e pobre. Teria ele vindo ao mundo sem a luz dos olhos?»
«Em qualquer lagar da Madeira - não se sabe onde, nem há o menor vestígio
documental que nos permita uma presunção documentada - nasceu Baltazar
Dias».
Num requerimento que dirigiu a El-rei Dom João 111 para publicar os seus
autos e trovas, declara que é a Ilha da Madeira a terra de sua naturalidade
«Cantou vidas de Santos, que animou na técnica gótica dos seus autos;
celebrou feitos de heróis portugueses, como Dom João de Castro; riu dos
disparates da época e da variedade das mulheres...
Madre de misericórdia,
«Salve, Senhora benigna, paz da nossa gran discórdia,
História Literária da Madeira História Literária da Madeira
São gerais os louvores ao Poeta cego que tão belo concurso deu para o
engrandecimento da Literatura da Madeira. No entanto o Dr. Rodrigues de
Azevedo referindo-se, com o seu sectarismo lamentável, ao período de
História Literária da Madeira
Escritores que ele denomina de «clericais», diz que «esta sucinta resenha de
Escritores deste período demonstra a infecundidade da instrução clerical e
Jesuíta».
Estas edições bastam como Índice do sucesso que teve este Poeta popular.
A História é a lição dos factos e estes quando se fixam para o Futuro devem
representar a verdade, com imparcial exactidão.
O cuidado do dizer, que tudo abastardou neste período na vida literária e que
bem se pode definir por cultismo, representando um sintoma de decadência,
aparece, pois, como resultado do que o Dr. Azevedo quis apresentar como
benefício por estar livre da educação Jesuítica...
Quem ler «Os Burros» de José Agostinho de Macedo tem uma ideia do que
seria a confusão da vida política e literária daquela época, porque através do
espírito crítico e verrinoso do inteligente e culto Frade Graciano, sente-se a
verdade flagrante dos seus juízos.
Ele descreveu, melhor que nenhum outro, esse período transitório da vida
Literária no País.
Mais tarde veio para Lisboa onde se notabilizou no foro e como Escritor. Em
1724 publicou «Puro e afectuoso Sacrifício». Foi membro da Academia Real
de História, tendo-lhe sido confiado o estudo e publicação da «História das
Inquirições» que não chegou a completar porque a morte o surpreendeu em
17 de Agosto de 1754.
António José de Jesus Lamedo, foi autor do Índice Alfabético dos Tombos
da Câmara do Funchal, onde desempenhava o cargo de Guarda-livros. O
autógrafo deste trabalho, ao tempo que o Dr. Rodrigues de Azevedo
escreveu as suas «Notas» às «Saudades da Terra», estava nos Arquivos
Municipais.
Atacou-o na prisão o terrível mal da lepra, parece que por contagio de outro
preso, e então, sabendo que a sua desgraça não tinha remédio, estando em
casa do livreiro Manuel José Moreira Pinto Baptista, em Lisboa, suicidou-se
ingerindo laudano. Tomou Francisco Alvares de Nóbrega esta resolução
desesperada em 1806, contando apenas 34 anos de idade.
Soneto
A' Pátria do Autor (1)
Este opúsculo tem apenas quatro páginas, o que não impediu o Autor de o
oferecer a Suas Majestades a Rainha Dona Maria I e Dom Pedro III.
iniciais : I. F. D. S.. Esta obra é curiosa e até útil, não só à escola médica
deste Arquipélago mas também aos costumes da época. A ortografia fónica e
a agressiva dicção desta carta denunciam ser produção de algum afoito
inovador da escola de Luís António de Verney».
Temos assim D. Diogo Pinheiro, que foi o primeiro Bispo desta Diocese do
Funchal.
Foi uma grande figura da Ordem de Cristo, tendo ascendido ao grau de Dom
Prior e Vigário de Tomar. Interessou-se pelo seu Bispado e como
Conselheiro de El-Rei Dom Manuel I. pude trazer à vida madeirense grandes
benefícios. Em 1483 escreveu o «Manifesto da Inocência do Duque de
Bragança, Dom Fernando 11».
Padre António Cordeiro, era natural dos Açores, autor de várias obras que
escreveu em português e em latim.
Foi o autor da «História Insulana».
- Luigi Cadamosto, Itália, 1507. Trad. portug. 1812. «Colecção de Noticias para
História & Geografia»,
- Alemanio Fini, Itália, 1574, «Descrittione della Isola d' illa Madera, scritta nella
lingua latina, del Conte Giulio Landi».
- Monquet, Inglês, 1601.
- Norborough, Ingl., 1669 «Yoyage to the Straits of Magellan».
- Barbot, Ingl. 1681, Churehill's Collection».
- John Ovington, 1696, Ingl., «A voyage to Suratt in the year 1689».
- Sawaire, Franc., 1721. «Description Nautique des Açores»
- D. H. Sloane, Irland. 1725. «A voyage to the Islands Madeira, Barbados, Jamaica
&».
- Thom. Nichols, Ingl. 1745. «Astley's General Collection of Voyages and
Traveis».
- Dr. Thom. Heberden, lngl. 1763. «Observations of immersions and emersions of
Jupiter's first Satellite made at Funchal, in Madeira- ».
- J. Banks, Ingl. 1768. No relatório da 1.ª expedição de Cook ocupou-se da Flora
madeirense.
- Robins, Ingl. 1774, Bot. Maderense.
- Dr. Fotkergill, lngl. 1775. «On consumptien medical observations».
- De Bory, Franc. 1776. «Histoire et Memoires de 1' Academie Royale des
Sciences par lan 1772».
- Downe, Ingl. 1776. Flora of Madeira.
- J. Reinhold Forster, Alem. Estud. Bot. 1787.
- William Johnston, Ingl. 1788. Geo-Hydrographic survy of the Isle of Madeira.
- Dr. J. J. de Orquigny, Franc. 1789. Flore de Madére.
- James Bruce, Ingl. 1791.
- G. George Forster, Alem. 1787. «Plantae Atlanticae», 1797, «Herbarum
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- Maria Riddell, Ingl 1792. Critic.
- J. Adams, Ingl. 1801. «A Guide to Madeira with an account of the climate».
- Robert Brown, Ingl. 1802. «Physicalische Beschreibung der Canarichen
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- Dr. William Gourlay, Ingl. 1811. «Observations on the Natural History, Climate
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(col. civon Buch) River Zaire».
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- Leopold von Buch - Alem. 1818, «Narrative of an Expedition to explore the River
Zaire in 1861 under the direction of Capitain J. K. Tukey».
- William Mudge – 1820, Ing. A survy of the Island of Porto Santo.