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CRICIÚMA,
ORGULHO
DE
CIDADE! II
Fragmentos da História de seus 120 Anos
2000
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Revisão:
“A luta contra erro tipográfico tem algo de homérico. Durante a revisão os erros se
escondem, fazem-se positivamente invisíveis”.
Monteiro Lobato
Para
Marcos Rovaris, José Gaidzinski e Francisco Meller;
Cincinato Naspolini;
Elias Angeloni e Hercílio Amante;
Addo Caldas Faraco;
Alfredo Bortoluzzi, João Carlos de Campos,
Carlos Octaviano Seára e Luiz Lazzarin;
Paulo Preis, Sinval Rosário Boherer e Napoleão de Oliveira:
Nery Jesuino da Rosa;
Arlindo Junkes;
Ruy Hülse;
Nelson Alexandrino e João Sônego;
Algemiro Manique Barreto e Fidelis Bach;
Altair Guidi, Mário Sônego e Ademir Uggioni;
José Augusto Hülse e Roseval José Alves;
Eduardo Pinho Moreira e Anderlei Antonelli;
Paulo Roberto Meller e Maria Dal Farra Naspolini
que, no exercício do cargo de Prefeito do Município não mediram esforços para fazer de
Criciúma, este orgulho de cidade!
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A TÍTULO DE PREFÁCIO
Ainda sob o impacto emocional experimentado há 25 dias, quando protagonizei um dos mais
memoráveis eventos literários da Região, retorno à atividade radiofônica que produziu o objeto
daquele acontecimento: o livro “Criciúma Orgulho de Cidade, Fragmentos da História de seus 120
anos”.
O livro retrata, exatamente, as crônicas trazidas ao rádio desde 1º de julho de 1999 até 06 de
janeiro do corrente ano. Lançado nesse dia, no calçadão da Praia do Rincão, teve sua edição
literalmente esgotada em menos de duas semanas.
No prefácio da obra epigrafada, falo da minha disposição de continuar este trabalho, haja vista que
significativa parcela de facetas da nossa História não fora ali contemplada. Cito, inclusive, três dos
tantos nomes de tantas pessoas que, a rigor, precisam ser mencionadas e que, por absoluta falta de
data, não o foram naquela edição.
Afora isto, sinto-me investido da responsabilidade de contar essa história fantástica pela resposta
recebida do povo criciumense que não só ouviu a produção radiofônica como, também, adquiriu o
livro.
Não bastassem estes motivos, considere-se o interesse da Rádio Eldorado que, através do seu
diretor José Adelor Lessa, insistiu na continuidade deste trabalho.
Assim, a partir de hoje e até 31 de agosto, estarei ocupando este espaço, neste horário, de segunda
a sexta-feira, radiofonizando perfis biográficos e narrando fatos que, na minha ótica, ajudaram a
construir a nossa história.
Para esta disposição, prezado ouvinte, faço-lhe dois pedidos:
o primeiro para que me acompanhe;
o segundo para que, na medida do possível, me auxilie nesta obra monumental, sugerindo temas e
fatos para a narrativa diária. Essa ajuda pode ser através do telefone, pessoalmente ou por carta no
endereço da Rádio Eldorado.
Feita esta (re) apresentação, colho a oportunidade para reiterar a todos os meus sentimentos da
mais alta estima e amizade.
Eu gosto de falar de Criciúma, de qualquer época, este orgulho de cidade!
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Publicado dia 02 de fevereiro – quarta-feira
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APRESENTAÇÃO
Não vou chamar a atenção para nenhum capítulo deste segundo livro, porque
todos, para mim, são maravilhosos, divertidos, instrutivos, conscientes, cultos
e atrativos. Archimedes em o condão de falar de coisas sérias e relatá-las de
forma tão cristalina que nos parecer ouvir as pessoas falando no bar ou no
local onde elas estiveram, na Igreja, na Prefeitura, na Câmara Municipal, nas
Delegacias de Polícia, nas Intendências e assim por diante, como se fosse ao
vivo.
Cesario Rogerio
Presidente do Grupo Cecrisa
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SUMÁRIO
I – A CIDADE
FALTA RAÇA NA QUERMESSE
OS NEGROS
NOSSOS PÁROCOS
CÓDIGO DE POSTURAS
POR QUE CRESCIUMA?
VIADUTO?
BR-59 E SEU TRAÇADO
O VIVEIRO DA PRAÇA
RUA DE SANTA BÁRBARA
NOSSA BIBLIOTECA
HORÁRIOS DE VÔOS
COMEU A DAMA DE COPAS
CIDADE DOS MINEIROS
CITY CLUB
NOMES DE RUAS
SOCIEDADE AMIGOS DE CRICIÚMA
GUARDA DE VIGILANTES NOTURNOS
CENTRO SOCIAL RURAL
PREVISÕES FUTURISTAS
S NÚMEROS DA ASSISTÊNCIA
COLÔNIA DE PESCADORES
CÂMARA JÚNIOR
CRICIÚMA 1965
JORNAL DO DIA
CRICIÚMA 2000
II – O CARVÃO
MESA REDONDA DO CARVÃO
CPI DO CARVÃO
SIDESC
METROPOLITANA E SÃO MARCOS
CARBONÍFERA PRÓSPERA
DNPM, CPCAN, CNP
III – A POLÍTICA
O PARTIDO DO PREFEITO
A CASA DOS VEREADORES
ENCRENCAS COM O EXÉRCITO
NOTÍCIAS COMUNISTAS E PROSPECTOS PORNOGRÁFICOS
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O NASCIMENTO DA ARENA
PTBosta
PARTIDO SOCIAL PROGRESSISTA
ELEIÇÕES DE 1958
ELEIÇÃO EXTEMPORÂNEA
PAGUEM O DÍZIMO
COMIDA PARA ELEITORES
ELEIÇÕES DE 1926
V – CARNAVAL
CARNAVAL DE ONTEM
O NOSSO CARNAVAL
TENENTES DA FOLIA
VILA ISABEL
VI – FUTEBOL
SURURU NO FUTEBOL
FUTEBOL DE SALÃO
OURO PRETO & BOA VISTA
OS CATARINA GANHARAM
DONA SISSI
ELEONORA – MINHA MÃE
FÁBIO SILVA
FIOBO MINATTO
FRANCISCO MARTIGNAGO
GILBERTO – JUJU – VIEIRA
HENRIQUE DAL SASSO
IDALINA MARIA DA SILVA GOULART
ILDEBRANDO DE LUCA
IRIA ZANDOMÊNEGO DE LUCA
JOÃO (MAGRO) BENEDET
JOÃO CECHINEL
JOÃO PAULO DE LUCA
JOÃO SORATTO
JOÃO SPILLERE
JOÃO ZANETT
JORGE DA CUNHA CARNEIRO
JORGE ELIAS DE LUCA
JOSÉ MANOEL ALVES
JOSÉ TARQUINO BALSINI
JOVITO ÁLVARO TIAGO DE CAMPOS
JÚLIO GAIDZINSKI
KARL, O HIPNOTIZADOR
LINDOMAR AGUIAR – DONA SANTA
LÍRIO ROSSO
MANOEL DILOR DE FREITAS
MANSUETO COSTA
MARIA JOSÉ NUNES PIRES CASTELAN
MARIA DE LOURDES HÜLSE LODETTI
MATIAS RICARDO PAZ
MIGUEL NAPOLI
NICOLAU DESTRI NAPOLEÃO
NOMES COMPARADOS
OCTÁVIA BÚRIGO GAIDZINSKI
OPHÉLIO BENETON
PROCÓPIO FERREIRA
VALDEMIRA ISABEL DE SOUZA
VITÓRIO E VIENIR
ZELINDO TRENTO
ZELY CYRINO
ZULEIMA BÚRIGO GUGLIELMI
I
A CIDADE
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OS NEGROS
Quando se fala na participação negra na sedimentação da “raça” criciumense, acho que se comete
pelo menos uma injustiça.
Raciocinemos: afirmamos que os italianos que, nos colonizaram, obviamente, são provenientes da
Itália, um país; que os alemães vieram da Alemanha, também um país; que os poloneses vieram da
sua Polônia, outro país; que os lusos vieram de Portugal, nosso país-mãe. Mas, quando falamos dos
negros, dizemos que são originários da África.
É verdade que toda a ascendência negra é africana. Isto nenhum inteligente vai discutir. Todavia, se
falamos de italianos, alemães, poloneses e portugueses, não há como se falar de africanos. O certo
seria mencionar o gentílico do país de onde são procedentes aqueles que aqui habitam. Por
exemplo, o congolês, numa referência ao Congo de onde, segundo é afirmado alhures, procedeu a
maior parte dos negros brasileiros.
E mais: a continuarmos afirmando que os africanos trabalharam na edificação de nossa cidade,
temos que corrigir o restante: seriam, então, os africanos e os europeus. O que não se pode é fazer
essa misturança que diuturnamente é ouvida por aqui.
Essa discussão de lado, falemos dos negros que também plantaram nosso município. As pesquisas
dão três prováveis datas para a chegada dessa raça; 1905, 1910 e 1912. Fiquemos, então, com o
interregno de 1905 a 1912. Naqueles sete anos, primeiro os solteiros e, depois, também os casados,
chegavam por aqui para serviços braçais: uns trabalhavam na indústria da extração do carvão, que
aflorava; outros, na abertura de estradas já que a própria mineração do carvão exigia vias de
escoamento. A origem deles era a vizinhança: uns de Tubarão, outros de Jaguaruna, alguns de
Araranguá e uns poucos de Laguna.
Dentre aqueles primeiros, que foram morar, praticamente todos, ali na Santa Bárbara, são citados:
Antonio Fidelis, Afonso José Cangeri, Aristides Lima, Bento Bibiano, Benjamin Cândido, Domingos
de Jesus, Ezaú José Cangeri, Francisco de Assis dos Santos, Família Lalau, Felisbino Santiago,
José Cangeri, José Sebastião, Lizoca Cândido, Manoel Bibiano, Manoel Estevão e Pedro Paulo dos
Santos.
Na indústria carbonífera e na construção civil, os negros revelaram-se a melhor mão de obra na
construção da cidade. Houve destaques no futebol e noutras profissões e são cultuados como
expressões máximas dessa raça, dentre outros, o Maestro Jacó Vitório, por muitos anos presidentes
da Banda Musical Cruzeiro do Sul e grande compositor; o Padre Manoel João Francisco, por
muitos anos vigário da Paróquia Nossa Senhora da Salete, da Próspera; Pedro Paulo dos Santos,
pai de 15 filhos todos com curso superior concluído, e Wilson Lalau, vocação tardia para o
magistério e primeiro diretor geral do Centro Interescolar de Segundo Grau de Criciúma Abílio
Paulo - CIS.
Eu gosto de falar de Criciúma, de todos os tempos, este orgulho de cidade!
NOSSOS PÁROCOS
Para alguns historiadores, o primeiro sacerdote a atender os colonos lá nos anos 80 do século XIX,
fora o padre Buona Cuore, de Tubarão. A maioria, todavia, registra que o primeiro guia espiritual
de nossos ancestrais foi o padre João Canônico então vigário de Araranguá.
A Paróquia São José foi criada em 1898 e seus primeiros vigários foram o Padre Ludovico
Coccollo, Padre João Canônico, José Francisco Bertero, João Casalli e Padre Pedro Baldoncini.
Marcaram época no pastoreio eclesiástico local, também, os padres Agenor Neves Marques,
Raymundo Ghizoni, Boleslau Smielewski, Osni Rosembrock, Estanislau Ciseski e Huberto Oening.
Ao todo, contados desde Ludovicco Coccollo até os dias de hoje, são mais de 40 os curas d’alma
que tiveram sob seus ombros os encargos da Paróquia São José que, hoje divide sua jurisdição com
as da Próspera, Operária, Pinheirinho, Bairro Michel, Cidade Mineira e Rio Maina.
De todos os sacerdotes que gerenciaram a São José, dois receberam a vestimenta púrpura destinada
aos bispos: Dom Wilson Laus Shmits e Dom Gregório Warmling. O primeiro foi sagrado Bispo
Auxiliar do Rio de Janeiro a 15 de dezembro de 1956, ainda convalescendo de um distúrbio
cerebral ocasionado por um choque elétrico sofrido no púlpito da Matriz São José durante o sermão
dominical. Dom Gregório, por sua vez, foi sagrado bispo na Igreja Santo Antonio dos Anjos em
Laguna da qual, agora, era seu titular. Natural de São Ludgero, Dom Gregório assumiu a diocese
de Joinville a 17 de julho de 1957 ali permanecendo até morrer.
Nossa Paróquia que, quando foi criada, fazia parte do arcebispado de Curitiba, depois à diocese de
Florianópolis, em 1955 à de Tubarão, desde 1998 é sede diocesana sob o cajado de Dom Paulo
Antonio de Conto.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
CÓDIGO DE POSTURAS
A Lei nº 48, de 09 de janeiro de 1928, editou amplas reformas do nosso primeiro Código de
Posturas baixado em dezembro de 1926. Essa nova lei dizia em seu artigo 1º que a Vila de
Cresciúma compreende a extensão dos lotes de nºs 1 a 23 do Rio Criciúma e de 01 a 04 de Linha
Anta, tendo por centro a estrada geral de Linha Anta para Nova Veneza e tomando 500 metros por
lado da referida estrada. No art. 2º dessa lei, lê-se: São considerados urbanos todos os prédios e
terrenos compreendidos dentro dos limites mencionados no art. 1º.
Notem os ouvintes que, ao longo da estrada que demandava de Linha Anta para Nova Veneza, num
raio de 500 metros de cada lado até o Lote 23 do Rio Criciúma (mais ou menos a Santa Augusta)
era tudo perímetro urbano.
O art. 59 daquele Código determinava que a largura das ruas a serem abertas na Vila ou na sede de
povoações terá, no mínimo, 12 metros de largura.
O art. 83, hoje, causa espanto. Reza, textualmente: “caprinos, ovinos, suínos, assim como todas as
espécies de aves que penetrarem na lavoura alheia, depois de avisados os respectivos donos, serão
mortas pelo proprietário da lavoura o qual comunicará, imediatamente, ao respectivo dono”.
O art. 84 diz que “lançar fogo às matas ou capoeiras alheias, não tendo licença do dono, além de
pagar os prejuízos, acarreta multa de 20 mil réis”. Resta saber como é que era descoberto o
incendiário...
Já o art. 86 aplicava multa de 50 mil réis para quem cortasse mata nas nascentes d’água. Era o
primeiro ensinamento ecológico da cidade...
Agora ouça o prezado ouvinte como era propagada a notícia de incêndio:
“Art. 94. As igrejas das localidades onde se manifestar incêndio, darão sinais por badaladas de
sino, lentas e sucessivas, até que as labaredas sejam dominadas”. Ah, esse artigo possui um
parágrafo que determinava multa de 20 mil réis e prisão por 24 horas àquele que, podendo, se
negasse a ajudar a debelar as chamas...
O art. 106 do nosso velho Código de Posturas diz: “Tirar esmolas para qualquer fim. Sem licença
da superintendência, além de perder a quantia já arrecadada, multa de cinco mil réis”.
Esse Código de Posturas é de janeiro de 1928 e leva as assinaturas do Superintendente Municipal,
Marcos Rovaris e do Secretário João Ângelo Gomes.
Eu gosto de falar de Criciúma, de todos os tempos, este orgulho de cidade!
VIADUTO?
Há algumas iniciativas que foram tomadas pela administração pública municipal que, embora já
tenham deixado de existir, merecem rememoração.
Como primeiro exemplo, cito o velho viaduto sobre os trilhos da Estrada de Ferro Dona Theresa
Christina, ao lado direito da estação ferroviária.
Nossa cidade sempre foi dividida em duas partes bem distintas: a do lado de cá dos trilhos e a do
lado de lá da ferrovia.
A cidade crescia e, com o crescimento, a travessia sobre os trilhos da referida ferrovia foi se
tornando cada vez mais perigosa. Não raras vezes, veículos e pedestres eram colhidos por comboios
que rodavam sobre ela, especialmente na passagem sobre o leito da Joaquim Nabuco/Anita
Garibaldi e ali na frente do templo da Assembléia de Deus. O restante da área, compreendido entre
a Anita Garibaldi/Joaquim Nabuco até a frente do Banco Real, era todo cercado com altos muros.
As duas únicas passagens de um para outro lado eram as mencionadas. Então, resolveu-se fazer a
passarela, juntando a Conselheiro João Zanette com a Desembargador Pedro Silva. Era só para
pedestres. Foi um sucesso. Por ali passavam todas as pessoas que necessitavam alcançar o outro
lado e, pasmem, a passarela tornou-se atração turística: vinha gente de todo lado para passar sobre
ela e nela ser fotografado. Dava status conhecer o viaduto. E se a passagem se desse durante o
traslado dos comboios, com as possantes máquinas expelindo fumaça a todo vapor, melhor ainda.
Hoje aquela passarela está servindo os moradores ali da Vila Milaneze. Ela foi transportada até ali
em 1974 quando todo o complexo ferroviário deixou o centro para dar lugar à avenida axial da
cidade que conhecemos como Avenida Centenário.
O Prefeito que construiu aquela passagem aérea foi Paulo Preis, em 1954. Mas o idealizador
daquela obra foi o senhor Hercílio Amante que, da década de 40 até a de 60 foi o secretário do
Paço municipal de Criciúma.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
O VIVEIRO DA PRAÇA
Na quinta-feira falei aqui de Hercílio Amante que, na condição de Secretário administrativo do
nosso Paço Municipal, apresentara a proposta da construção da nossa passarela sobre os trilhos da
Estrada de Ferro, denominada, popularmente, de viaduto.
Hoje quero falar de outra iniciativa acatada pela administração municipal.
Houve um tempo em que qualquer garoto, já em tenra idade, ganhava – ou fazia – uma funda, para
caçar passarinhos. E alardeava aos quatro cantos cada vez que um sabiá, uma rolinha, um tico-tico,
um sanhaço, um canário da telha ou qualquer outro pássaro era vitimado por uma pelota
arremessada por essa “arma”.
Paralelamente, possuir uma gaiola em casa, com um pássaro preso, era condição "sine qua" de
completar a mobília doméstica: havia a cômoda, a cristaleira, o guarda-comidas e a gaiola. Ou as
gaiolas. A variedade dos pássaros cativos começava no pintassilgo e não tinha limite a ser
alcançada. Quando a gaiola mostrava-se pequena, construía-se um viveiro no qual se misturavam
pássaros de todas as plumas, de todas as raças, de todos os tamanhos. Os que comiam alpiste, os
que se alimentavam de banana, os que só gostavam de laranja, os que comiam pendões de sementes
de capim, e vai por aí. Uma desgraceira total. Só que isto fazia parte da cultura de então.
Aí apareceu a novidade: no final dos anos 50, no Jardim da Praça Nereu Ramos, bem em frente da
Loja A Triunfante, foi construído um grande viveiro para pássaros. Agora, o viveiro é na praça, bem
público, para que todos possam apreciar a maravilhosa coleção de aves à disposição do Homem.
Umas, as primeiras, foram adquiridas de conhecidos colecionadores. Outras foram sendo trazidas,
aleatoriamente, por pessoas que,sabendo da existência do tal viveiro, entusiasmavam-se e traziam a
sua colaboração.
Ali conviviam pássaros de todos os tamanhos, cágados, galinhas garnisés e até um macaco que –
embora difícil de imaginar – foi preso ali com a passarada.
Evidentemente que, hoje, a sociedade condena este tipo de ação: sequer passa pela cabeça de
qualquer vivente, construir um viveiro para prender passarinhos. Mas, à época, o viveiro da Praça
Nereu Ramos se constituía numa das iniciativas mais louváveis da administração de então. Não há
registro de quem acabou com aquele viveiro, mas a idéia de sua construção, aplaudida por todos,
àquela época, foi também do nosso ex-secretário Hercílio Amante.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade.
NOSSA BIBLIOTECA
Era 1944. O dia era 29 de novembro. O Prefeito Elias Angeloni, atendendo ao pedido de alguns
professores das redes estadual e municipal de ensino, baixa um decreto criando a nossa Biblioteca
Pública. Dá-lhe o nome de Pereira Oliveira, numa homenagem ao governador catarinense que, em
1925, houvera sancionado a lei que criava o nosso Município.
Nossa Biblioteca foi instalada no dia 02 de dezembro, quatro dias depois de ter sido criada, em
cerimônia havida no gabinete do Prefeito onde se achavam, além do senhor Elias Angeloni, as
senhoras Dozola Rovaris e a Professora Gerda Becke Machado. Naquele dia foi criado, também, o
Conselho de Amigos da Biblioteca que teve a seguinte formação: presidente Dr. Euclides de
Cerqueira Cintra – que era o Juiz de direito da comarca, à época nosso único magistrado;
tesoureiro Hercílio Amante que era o secretário municipal para todos os assuntos; orador o
Professor Marcilio Dias de San Thiago; secretária Professora Gerda Becke Machado e diretora a
Sra. Donatila Teixeira Borba.
Os primeiros volumes da nossa Biblioteca foram emprateleirados numa sala de múltiplas funções no
próprio edifício do Paço Municipal, na Praça Nereu Ramos. Dois anos depois, todavia, o Prefeito
Addo Caldas Faraco transferiria seu acervo e, por conseguinte, sua sede, para a Praça do
Congresso, na esquina com a Rua Santo Antônio. Já em 1974, nossa biblioteca deixava aquele
endereço e era transportada para uma sala do Centro Comercial de Criciúma, na Rua Anita
Garibaldi, para onde também fora transferida a sede da municipalidade.
Em 1983, o nome de Pereira Oliveira é substituído pelo da poetisa maior, Donatila Borba,
denominação que ostenta até os dias de hoje e seu acervo foi levado para o Centro Cultural Santos
Guglielmi, anexa ao Teatro Municipal Elias Angeloni. O acervo bibliográfico da nossa biblioteca
pública é de mais de 11 mil volumes. Aproximadamente quatro mil volumes fazem parte da
biblioteca itinerante que percorre os bairros da cidade em duas unidades móveis: já que o povo não
vai à biblioteca, a biblioteca vai ao encontro do povo.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
HORÁRIOS DE VÔOS
Recém inaugurado, o aeroporto Leoberto Leal – cuja pista de pouso e estação de passageiros deram
lugar ao parque municipal que hospeda, hoje, o Paço, o Teatro, a Biblioteca e o Ginásio de
Esportes municipais e o novo Fórum da Comarca – mantinha extraordinário movimento de vôos e
passageiros, se considerarmos o tamanho da cidade há 43 anos.
As empresas que atendiam ao nosso aeródromo eram a TAC/Cruzeiro do Sul e a Real Aerovias –
mais tarde encampadas pela VARIG, e a própria empresa aérea dos gaúchos.
A TAC – Transportes Aéreos Catarinenses, com sede em Florianópolis, fazia, por exemplo, os
seguintes itinerários: Para o Sul: Porto Alegre e Livramento, às 13 horas e 15 minutos das quartas
feiras; para Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande, os vôos se davam as segundas e sextas-feiras,
também às 13 horas e 15 minutos.
Para o Norte, o Douglas DC-3 da TAC fazia as seguintes escalas: Laguna, Florianópolis, Itajaí,
Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro, às quintas-feiras, às 12 horas e 30 minutos. Mas, às terças
feiras e sábados, o vôo era semidireto: às 12horas e 30 minutos havia o roteiro Criciúma,
Florianópolis, São Paulo e Rio. Cada vôo destes permitia conexão para Chapecó, Videira, Lages,
Joinville, Mafra, Cuiabá e Norte do Paraná. Isto tudo apenas da TAC/Cruzeiro. Depois havia os
horários da Real Aerovias e os da Varig sempre mais freqüentes.
Para se ter idéia do número de passageiros do nosso velho Leoberto Leal, registre-se que, no mês
de julho de 1957 houve 341 embarques e 215 desembarques para um total de 50 vôos. Já no mês de
agosto daquele ano, 353 passageiros embarcaram e 376 desembarcaram nos 57 vôos que aquelas
empresas aéreas operaram em nosso aeroporto.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
CITY CLUB
Década de 1960. O referencial do social de Criciúma era o Mampituba e o Criciúma Clube. Havia
outro clube, mas de proporções quilometricamente mais modestas, chamado Ajato Futebol Clube. A
diferença é a de que no Ajato a juventude da época se reunia. Mas o clube era pequeno e mais
voltado para o futebol. Aliás, era um time de futebol. Tinha sua sede no andar superior do Edifico
São Joaquim, em cima do Café Rio, na Praça Nereu Ramos.
Nas eleições do Mampituba, de 1962, bem que a rapaziada tentou participar. Mas não logrou êxito.
E daí, nem certo dia – ou melhor, numa determinada noite – num dos bancos da Praça, Anastácio
da Silva, Aurélio Francisco Garcia, Eloi Martignago, João Luiz Pescador, José Dagostin, Mauro
Sonego, Olímpio Vargas, Olívio Zock, Romeu Santana e Wolnei Zaniboni, depois de muita troca de
idéias, resolveram levar adiante uma proposta ali semeada de constituir uma agremiação social
exclusivamente de jovens. Já naquela noite começaram a listar possíveis associados e o objetivo era
convidar uma centena deles. O pré-requisito era a idade e a condição civil: o associado deveria ser
jovem e solteiro. Ah, e o nome da associação era City Club.
Assim se propôs e assim passou a ser. Os jovens da cidade, de 18 a 28 anos, foram chamados para
se associarem.
No dia 8 de abril de 1962, o City Club era fundado e começava uma nova era social para Criciúma.
As grandes promoções daquela década sempre continham a assinatura do clube da juventude. Gente
de todos os lados da Região acorria para tomar parte de seus eventos. A Festa Junina daquele ano
marcou época. José Caetano Sobrinho, um dos homens que mais gostavam de festa naquela
Criciúma foi chamado para ser o Juiz de Paz do casamento caipira que, mercê de Deus e do amor
ali jurado, uniria para sempre José Dagostin e Bárbara Trento. O desfile dos convidados, em
carroças e carros de bois ainda continua na retina de seus participantes. Os acordes da gaita
tocada pelo João Luiz Pescador ainda permanecem no subconsciente dos festeiros. Depois veio a
Yeda Maria Vargas, Miss Internacional, num baile que decorou o clube com copos de leite jamais
imagináveis na cabeça da gente ali reunida.
Passados 38 anos da fundação, o City Club hoje, sob a direção do executivo celesquiano Estácio
Fagundes, continua exercendo seu papel na sociedade. Já não tão exigente como na época da
fundação, mas aberto a qualquer pessoa de bem que a ele queira se associar, se transformou no
Clube da Colina e continua a colher sucesso nos eventos sociais que programa.
E eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
NOMES DE RUAS
Uma das maneiras de se homenagear um vulto histórico, um desbravador, um colonizador, um
profissional de qualquer área de serviço é dar-lhe o nome de um próprio público. Vai de uma sala,
passa por um prédio e acaba num logradouro público. Assim, temos a sala Fulano de Tal. Temos a
Escola Beltrano de Tal. Temos a Travessa, a Servidão, a Ponte, a Rua, a Avenida, a Rodovia, a
Praça sempre recebendo uma denominação que passa a caracterizá-la prestando uma homenagem
a alguém. Até distrito e municípios, em alguns casos, são assim batizados. Esse alguém, não raras
vezes, fez absolutamente nada para receber tamanha honraria, mas a recebe.
Dentro deste raciocínio, a atual Avenida Getúlio Vargas passou a ser assim denominada nos anos
40, por decreto do ex-prefeito Elias Angeloni que trocou o nome original daquela artéria, que era
Seis de Janeiro, para o do estadista que se matou em 1954. Também a Praça Nereu Ramos, à
mesma época, teve o nome original de Jardim Etelvina Luz para o atual para homenagear o então
interventor federal. Uma pracinha triangular que havia ao lado da Nereu, bem em frente ao Café
São Paulo, era denominada de Praça da Imigração. Já em 1972, aquele triângulo receberia o nome
de Praça do Mineiro porque para ali fora transportada a estátua respectiva que, desde 1946, até
aquela data, encimava um monumento construído exatamente no centro da Praça Nereu. E deixou
de ser assim caracterizada, isto é, Praça do Mineiro, quando o Prefeito Altair Guidi construiu o
calçadão fazendo falecer as características triangulares daquele pedacinho singular. A imigração,
todavia, é homenageada pela pracinha triangular situada no final (ou início?) da Rua Seis de
Janeiro. E o mineiro recebe homenagem numa avenida no Bairro Próspera, um de seus berços.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
PREVISÕES FUTURISTAS
Ézio Lima, um dos mais completos comunicadores que Criciúma conheceu e prematuramente
falecido na década de 70, deixou escrito um prognóstico sobre o futuro de nossa cidade que foi
publicado em maio de 1955. Segundo aquele saudoso radialista, “empreendimentos de vulto
assinalarão a passagem de 1955 para a cidade de Criciúma”. Afirma, em seguida, que será
construído o nosso aeródromo. Da mesma forma, a implantação do ensino secundário com a
instalação de um ginásio misto o qual deverá se instalar nas dependências da Escola Normal Rural.
Ézio declara que a iluminação pública será totalmente reparada não só na Praça como também em
todas as ruas. Registra, ainda, que, até o final do ano de 1955, todas as ruas do perímetro urbano
serão calçadas. Da mesma forma, diz o jornalista Lima, nossa cidade receberá um importante
cinema. Dentre tantas previsões, estas merecem serem destacadas, passados 45 anos de sua
previsão. Vejamos:
O aeródromo foi construído, inaugurado, destruído, transferido. Hoje, nosso aeroporto está no
território de Forquilhinha.
O ensino secundário foi instalado: inicialmente o ginásio misto que atendeu pelo nome de Escola
Normal Madre Teresa Michel, posteriormente pelo Ginásio masculino Marista, mais tarde pelo São
Bento e, hoje, por mais de uma dezena de casas educadoras de nossa juventude, em nível de
segundo grau. Acrescente-se a criação da nossa UNESC – a Universidade do Extremo Sul de Santa
Catarina, cujo campus principal está aqui sediado.
A iluminação pública foi, é e continuará sendo precária. Não bastasse a falta de providências dos
responsáveis os atos de vandalismo contribuem sobejamente para a sua deficiência. O calçamento
pode não ter atingido todas as vias públicas em 1955, todavia, com certeza, nossa cidade é
referencial de sistema viário pavimentado. Relativamente ao cinema que se resumia na única casa
de espetáculos denominada Cine Rovaris, ganhamos o Milanez – que já cerrou suas portas – o
Ópera que foi transformado em templo evangélico e aqueles instalados nos shoppings da cidade.
São passados 45 anos. Muito pouco tempo para a transformação radical havida na nossa cidade da
qual ouso afirmar: tivesse calçadas para os pedestres e conservasse esses passeios extirpando a
sujeira que abunda suas vias públicas, viveríamos em cidade com extraordinária qualidade de vida.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
OS NÚMEROS DA ASSISTÊNCIA
Ao longo dos tempos ficou consagrado o pensamento de que a administração municipal deve ser
paternalista e resolver – ou tentar resolver, pelo menos – os problemas de cada munícipe. O
clientelismo sempre foi o carro chefe de administrações cujos métodos escondiam-se de um
planejamento mais sério. Bastava – até pouco tempo – dar remédios, fazer mudanças, doar
passagens para quem precisasse e, conforme o volume do auxílio o prefeito teria feito uma boa ou
ruim administração. Isto, todavia, tem sido abolido se não de todo, mas quase 100%.
Em 1960 o Prefeito Addo Caldas Faraco informava a população sobre o balanço do auxílio
prestado durante o ano de 1959. Orgulhosamente ele comunicava:
Doentes encaminhados para a Santa Casa de Misericórdia, em Porto Alegre, 98. Para o Hospital
São Pedro, também de Porto Alegre, 26. Um doente para o Hospital Nereu Ramos, de
Florianópolis. Para a Colônia Santana, em São José, foram encaminhados 43 dementes. No
Hospital São José de Criciúma, durante o ano de 1959, foram internados 876 doentes com despesas
pagas pela municipalidade e igual tratamento foi dado a 163 outras pessoas que não necessitaram
de internação.
Causava espécie o número de doentes mentais. O ouvinte deve ter notado o número assustador
dessas pessoas que o Município encaminhou para a Colônia Santana: foram 43, uma média de mais
de três por mês...
Se, por um lado, o analista político-administrtativo critica o administrador pela falta de
planejamento e atenção dispensada apenas a política de assistência imediatista do munícipe, há que
registrar, também, o zelo com que essa política era exercitada na busca do bem estar dos
governados.
Isto tudo também é parte da história de Criciúma, este orgulho de cidade!
CRICIÚMA 1965
É provável que, ao longo dos 120 anos que nos separam do início da nossa colonização, a data da
chegada dos primeiros imigrantes tenha sido festejada. Em alguns anos com programação maior,
noutros com menor, mas acredita-se, anualmente se fez alguma coisa para relembrar o grande
acontecimento de 1880.
Ainda que fosse apenas uma mensagem radiofônica lida pelo Prefeito da cidade nos microfones da
Rádio Eldorado, sempre foi relembrada a data de seis de janeiro, quando Cresciúma começou a ser
colonizada.
Em 1965, quando eram apagadas as primeiras 80 velinhas, foi escrito um pequeno elucidário
relacionado ao evento e dele saltam às vistas os números que nosso município então contava. A
extração do carvão mineral de nosso subsolo, por exemplo, alcançava a casa das 40 mil toneladas.
Essa montoeira de carvão resultava na quantia de 920 milhões de cruzeiros que Criciúma fazia
circular mensalmente no mercado local. Todavia, os criciumenses já davam amostras da
preocupação futura antevendo que, um dia, a hulha negra esgotaria as minas. Segundo se lê no
documento já referido, o parque industrial começava a receber unidades empresariais de calçados,
confecções, alimentos, móveis, ração e metalurgia.
Em 1965 Criciúma registrava como suas principais indústrias: o Pastifício Fio de Ouro, a Calçados
Crisul, Confecções Omega, Cerâmica Santa Catarina, Fábrica de ladrilhos, Frigorífico Santa
Catarina, Metalúrgica Criciúma, Fábrica de Balas São Luiz e uma fábrica de móveis de vime.
Repito: há 35 anos, esse era o parque industrial de nosso Município. Então vejamos: o Pastifício
Fio de Ouro continua exportando massas de qualidade para todo o Sul e a Sudeste do Brasil;
Calçados Crisul, lamentavelmente foi engolida pela sucessão de planos econômicos impostos pelo
governo; Confecções Omega, deu lugar a Calças Calcutá; a Cerâmica Santa Catarina, a CESACA,
cerrou suas portas; a Fábrica de ladrilhos, não pode competir com os pisos das cerâmicas e fechou;
o Frigorífico Santa Catarina deixou de abater e fabricar embutidos, dele só restando o prédio; a
Metalúrgica Criciúma – a MECRIL – continua produzindo as melhores conexões para o transporte
de energia elétrica do Brasil; a Fábrica de Balas São Luiz, deixou saudades; e a fábrica de móveis
de vime deve estar por aí abafada pelo elevado número de concorrentes.
Em 35 anos, uma transformação radical: o carvão foi pro espaço, vieram as confecções, vieram as
cerâmicas, as metalúrgicas, as fábricas de artefatos de plásticos, as de embalagens, as do setor
químico... Enfim, já é difícil enumerar a quantidade de unidades fabris ostentadas por Criciúma
que, acordando por volta dos anos 60, soube se organizar para ostentar o título de uma das mais
progressistas cidades do Brasil. Não é mesmo um orgulho de cidade?!
JORNAL DO DIA
A história de um povo, de uma civilização, de uma cidade, o homem constrói e conta
praticamente todos os dias. Há que haver dois agentes para que ela não se perca no
tempo: o contador das histórias e o veículo que as transmita.
Aqui no rádio, tenho comparecido todos os dias, há quase um ano, narrando fatos que os
homens que nos precederam protagonizaram. Alguns com maior outros com menor
interesse, mas todos desenhando um pedaço da nossa saga. Falei a respeito disto quando
me referi aos órgãos de imprensa que se sucederam ao longo do tempo em nosso
município. Ficou lá para trás, por exemplo, o nosso primeiro jornal quinzenal, O
MINEIRO, que o Marcos Rovaris e o Pedro Benedet montaram e que tinha como redator
Adolfo Campos, um misto de professor e secretário para todas as empreitadas.
Depois vieram outros tantos, alguns com vida efêmera, outros nem tanto e a todos se
juntando aqueles portadores de notícias de empresas, de colégios, de fábricas, de
sindicatos.
Jornal, mesmo, Jornal, uns poucos... E diários, apenas dois: o Jornal da Manhã e o
Tribuna Criciumense.
Agora um novo órgão de comunicação pede licença para adentrar a nossa casa e o nosso
ambiente de serviço. Num projeto audacioso de dois jovens empresários da comunicação,
surge o Jornal do Dia, a mais nova iniciativa do gênero em nosso Estado.
Tem o formato de tantos outros similares, mas trás, no seu ventre, um receituário
diferente: os ingredientes que fazem o seu corpo, de frente com a verdade, fazem a
diferença.
Nossa Região e a nossa cidade que têm experimentado tantas iniciativas que resultam na
certeza da afirmação de que a crise já faz parte do passado, vivem, hoje, um dia diferente:
o número um de um Jornal que vai se impor pela qualidade, pela credibilidade e pela
honradez e que, certamente contará a nossa história com caracteres maiúsculos.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade.
CRICIÚMA 2000
O editorial com o qual José Adelor Lessa abriu o seu programa no dia de ontem remeteu-me à
dissertação que faço hoje. Como nos recordamos, Lessa abriu os pulmões para afirmar que os
tempos de crise para o município de Criciúma já fazem parte do passado nada saudoso. Adelor
disse, com todas as letras, que o ar hoje respirado em nossa terra é de soerguimento da economia e,
com ele, o retorno do crescimento sócio-econômico desta que é a principal cidade da região sul
catarinense.
É evidente que atravessamos uns tempos bicudos, aí para traz, com alguns negócios sendo desfeitos,
algumas empresas cerrando suas portas, muitas pessoas sendo jogadas à margem do mercado
produtor. Mas também é verdade que, filtrada a competência dos que se estabeleceram por pura
aventura, a ordem volta a ser o imperativo norteador do processo evolutivo de nossa cidade. Todos
os dias – reconheçamos – novos empreendimentos são anunciados para tantas cidades da região,
com destaque para a nossa, catalisadora de tudo o que ocorre ao seu redor.
Demos um passeio no passado. Venham comigo a 1926. Querem ver o tamanho da penúria de uma
cidade? Pois ouçam: nosso Prefeito de então, Marcos Rovaris, respondia a um telegrama que lhe
fora transmitido pelo Inspetor Agrícola Federal, em Florianópolis, e informava que o município de
Cresciúma possuía 80 pequenos engenhos produzindo mais ou menos oito mil arrobas de açúcar e
60 alambiques que produziam aproximadamente 60 pipas de aguardente. Afora a extração mineral,
esse era o potencial da capacidade industrial de nosso Município.
Não é salutar remexer na história de Criciúma, este orgulho de cidade?
II
O CARVÃO
37
CPI DO CARVÃO
As crises do carvão eram tantas e tão sucessivas que, em 1957, a Câmara dos Deputados resolveu
instituir uma Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar as irregularidades havidas na
execução de sua política ou os óbices que arremessavam essa indústria às referidas crises.
O Jornal Tribuna Criciumense, na sua edição de 3 de junho daquele ano, publicava, em sua
primeira página, um edital assinado pelo Presidente daquela CPI, o deputado catarinense Elias
Adaime. No documento a população era informada de que nos próximos dias aquela Comissão
estaria em território criciumense para ouvir “quem quisesse depor, empregados e empregadores,
aos quais eram garantidas todos os direitos no sentido de livremente se expressarem como bem
quiserem e entenderem”.
O Deputado Adaime, ainda naquele Edital, fazia saber que, “se preciso for, determinará
diligências, ouvirá indiciados, inquirirá testemunhas, requisitará informações e documentos,
convocará funcionários públicos e autárquicos e, até, ministros de estado se preciso for, tomando,
ainda, depoimentos de quaisquer autoridades federais, estaduais ou municipais”.
Esse edital foi baixado dia 29 de maio e publicado, como já afirmei anteriormente, dia 3 de junho de
1957.
As CPIs já faziam história. E abriam largas avenidas para, por elas, trafegarem todas as demais
CPIs que, com raríssimas exceções, concluíram seus trabalhos relatando alguma coisa.
A Comissão Parlamentar de Inquérito que pretendeu buscar as razões das constantes crises da
indústria da extração do carvão do Brasil, conhecida como a CPI do Carvão, chegou a lugar
nenhum e, a exemplo das contemporâneas, acabou em pizza.
E eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
SIDESC
Faz algum tempo que a notícia da criação de uma siderúrgica em Santa Catarina povoa a massa
encefálica de alguns inescrupulosos políticos e, em decorrência, a de grande parte dos cidadãos
comuns. Os primeiros prometem e asseguram a sua construção e os segundos não desconfiam
absolutamente da seriedade da promessa. Ou melhor, não desconfiavam.
Ainda ecoa no ar a entrevista concedida à Rádio Eldorado, dia 5 de junho de 1958, pelo deputado
federal Leoberto Leal assegurando que o Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira viria a
Criciúma para, ao pé do monumento ao mineiro, na Praça Nereu Ramos, assinar a mensagem ao
Congresso Nacional criando a Siderúrgica Sul Catarinense. E ele dava detalhes: o Presidente viria
até a capital do Estado, Florianópolis, a bordo do “Viscount” presidencial e, da ilha até aqui, num
avião Douglas DC-3 devendo aqui pousar às 11h00min horas do dia 18 de junho. Depois de
assinada a tal mensagem o Presidente, sua comitiva e convidados participariam de uma
churrascada no Bairro da Juventude retornando em seguida para o Rio de Janeiro, então nossa
capital federal.
O Presidente não veio, a Siderúrgica não saiu do papel, mas os políticos continuaram a mentir. Nos
anos 60 foram comercializadas ações da Sidesc que era a Siderúrgica de Santa Catarina que seria
instalada na cidade de Laguna. Acreditava-se tanto no empreendimento que todos os homens que
tinham fonte de receita adquiriram pelo menos uma de suas ações. A Sidesc não saiu e o seu mentor
– e corretor – deputado Wilmar Dias, acabou ficando sem seus direitos políticos por dez anos. Já
nos anos 70, apareceu a Sidersul, com extensa área demarcada ao longo da BR-101, em Imbituba,
com escritório e canteiro de obras devidamente montado. Acabou em nada.
A siderurgia que nunca saiu do papel fez história em terras catarinenses, especialmente nas aqui de
nossas bandas.
Eu gosto de falar de Criciúma, este orgulho de cidade!
CARBONÍFERA PRÓSPERA
Em oportunidade anterior já fiz referência à Carbonífera Próspera S. A. o que, todavia, não me
impede de retornar ao assunto no dia de hoje.
Ao lado da CBCA, a Carbonífera Próspera foi a mais importante empresa mineradora de nossa
Região, extraindo o carvão mineral do subsolo do nosso município e nos de Içara e Siderópolis. A
Próspera foi fundada a 21 de janeiro de 1921, por um grupo de alemães com a característica de
sociedade por cotas limitadas. Só a partir de 1924 é que foi transformada em Sociedade Anônima.
Sua sede era a capital federal, Rio de Janeiro, de onde foi trazida para a nossa cidade no ano de
1937. Nesse ano eram seus diretores os senhores Júlio Gaidzinski e Jorge da Cunha Carneiro, os
quais, com outros criciumenses e empresários de Urussanga adquiriram o seu controle acionário.
Em seguida esse controle foi transferido ao grupo empresarial do Banco Inco, à frente Irineu
Bornhausen e Genésio de Miranda Lins. Posteriormente Bornhausen negociou praticamente todas
as ações com a Companhia Siderúrgica Nacional. Isto se deu em 1953 quando já produzia mais de
50 mil toneladas/mês.
A Carbonífera Próspera chegou a ter, como empregados, mais de duas mil pessoas aí contados os
seus diretores, os empregados dos escritórios e os mineiros e seus auxiliares.
Os empregados da Próspera eram aquinhoados com planos assistenciais especiais que os
distinguiam da massa trabalhadora regional. Uma cooperativa de consumo fazia o papel hoje
exercido por supermercados; uma farmácia vendia só para os prosperanos; um fundo rotativo
especial permitia que os mineiros construíssem suas casas. A Próspera sempre manteve jardim de
infância para as crianças filhas de seus empregados prestando-lhes toda assistência. A médica e
odontológica só eram alcançadas, gratuitamente, por empregados da referida Companhia. Para o
lazer, a Próspera mantinha duas sociedades recreativas: O Próspera Clube Recreativo e a
Sociedade Esportiva Sul do Estado, sem contar com o tradicional Esporte Clube Próspera com um
dos mais bem aparelhados estádios da época áurea da mineração.
Na década de 90, a Carbonífera foi privatizada deixando de minerar. Seu acervo patrimonial é
objeto de demanda judicial.
A Sociedade Carbonífera Próspera, a exemplo de tantas outras mineradoras, escreveu de forma
maiúscula a história de Criciúma, este orgulho de cidade!
III
POLITICA
44
O PARTIDO DO PREFEITO
Desde o tempo do Império brasileiro que os políticos abrigam-se em partidos na busca do poder.
Sempre que duas ou mais pessoas reúnem-se para discutir o bem comum, estão praticando um ato
político.
Via de regra ouvimos um interlocutor afirmar que odeia política; todavia, esse mesmo personagem
discute, em pé de igualdade e de interesse, a situação da associação do seu Bairro, a administração
do Município, a política econômica do governo. Nada mais está fazendo senão praticar um ato
severamente político.
Certamente o que ele odeia é a prática da política eleitoral ou partidária. Aí, pode até ser que ele
“odeie essa política”.
Clandestinamente, durante o Império, existia o Partido Republicano que deu sustentação ao golpe
militar de 15 de novembro de 1889 quando o Império foi derrubado.
Dali para cá, os partidos foram sendo criados e ou apoiavam os governantes ou faziam-lhes
oposição.
Em 1925, para eleger nossos primeiros mandatários, houve consenso geral entre os políticos que
dominavam a terrinha e uma chapa oficial foi sufragada sem oposição. Mas, já em 1930, os
Republicanos dividiam espaços com os Liberais.
Marcos Rovaris era Republicano; Cincinato Naspolini e Elias Angeloni eram do Partido Liberal. A
Constituinte de 1945 acabou com aquelas agremiações e, nas eleições daquele ano, o Partido Social
Democrático, PSD, elegia Addo Caldas Faraco. Seus sucessores confessavam as seguintes
ideologias partidárias: Alfredo Bortoluzzi, da União Democrática Nacional, UDN; João Carlos de
Campos, PSD; Carlos Octaviano Seara, PSD; Luiz Lazzarin, PSD; Paulo Preis, PSD; Sinval
Rosário Boherer, PSD; Napoleão de Oliveira, PSD; Nery Jesuíno da Rosa, Partido Trabalhista
Brasileiro, PTB; Arlindo Junkes, PSD; Ruy Hülse, UDN. Portanto, de 1945 a 1970, à exceção de
Alfredo Bortoluzzi – que foi substituto de Addo Faraco, na condição de Presidente da Câmara
Municipal – de Ruy Hülse, que eram da UDN e de Nery Jesuíno da Rosa que era do PTB, todos os
demais prefeitos pertenciam ao PSD. Em 1965, o Presidente Castello Branco extinguiu os partidos
existentes e nasceram a Aliança Renovadora Nacional – ARENA e o Movimento Democrático
Brasileiro – MDB. Dali para frente, os nossos mandatários era partidários: Nelson Alexandrino,
MDB; Algemiro Manique Barreto, ARENA; Altair Guidi, ARENA. No final da década de 70,
novamente foi modificada a lei orgânica dos partidos e novas agremiações puderam ser criadas. Aí
o resultado foi este: José Augusto Hülse, do Partido do Movimento Democrático Brasileiro, PMDB;
Altair Guidi, do Partido Democrático Social, PDS; Eduardo Pinho Moreira e Paulo Meller, do
PMDB e esta é a história político-partidária dos mais altos dignitários da administração pública do
Município.
Eu gosto de falar de Criciúma, de qualquer época, este orgulho de cidade!
O NASCIMENTO DA ARENA
Política é a arte do imponderável. Quem afirmar que política tem lógica corre o risco de ser
desmentido na primeira esquina. “Todas as verdades, na política, não duram mais de 24 horas”
afirmava o líder liberal Álvaro Valle, recentemente falecido.
Todos temos presente que os grandes partidos de Santa Catarina foram o Partido Social
Democrático, PSD, e a União Democrática Nacional, a UDN. Como terceira força, o Partido
Trabalhista Brasileiro, o PTB.
Se estes eram os grandes partidos, registre-se, também, que os grandes adversários políticos, entre
si, eram os pessedistas contra os udenistas. Os petebistas, por sua vez, eram disputados por uma e
outra agremiações que, ao coligarem-se com o PTB asseguravam praticamente a vitória eleitoral
daquela eleição.
Podemos afirmar, utilizando-nos do adágio popular, que a disputa entre udenistas e pessedistas era
igual a de gato e cachorro. E isto passava de pai para filho, geração a geração... Até que, em 1965,
extinta toda a vida partidária da Nação, por ato institucional do Presidente Castello Branco, o
Brasil entrou na era do bi partidarismo e foram criados dois partidos: a Aliança Renovadora
Nacional – ARENA, e o Movimento Democrático Brasileiro, o MDB. Enquanto este era criado para
fazer uma oposição “consentida” ao governo, a Arena nascia para dar sustentação a esse mesmo
governo reunido, no seu seio, os velhos adversários egressos do PSD e da UDN. E agora? Lá em
cima, tudo bem. Mas e aqui, nas bases?
Ainda não haviam sido cicatrizadas as feridas abertas com a eleição do ano anterior, quando Ivo
Silveira,do PSD, batera o udenista Antonio Carlos Konder Reis na disputa pelo governo do estado.
Reunir udenistas e pessedistas num partido só? De jeito nenhum, afirmavam uns e outros.
Mas, no restaurante Pigalle, do senhor Oliveira, nos fundos do seu prédio, Alina Travessa Padre
Pedro Baldoncini, udenistas e pessedistas, de pé, aplaudiram a entrada, as falas e a saída dos
grandes líderes Celso Ramos de braços dados com Irineu Bornhausen. Na entrada, os acenos. Nas
falas, o severo momento político que o Brasil enfrentava e a necessidade de serem deixados os
ressentimentos de lado, na saída, o sorriso – meio forçado, é bem verdade – que mostrava a
satisfação imposta do dever cumprido.
Nascia ali, a Arena de Criciúma que, Já na primeira eleição municipal, em 1969, amargava uma
derrota acachapante que lhe impôs o emedebista bissexto Nelson Alexandrino embora elegesse a
maioria absoluta dos senhores vereadores.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
PTBosta
Desde a sua fundação, havida no final de 1945, início de 1946, o Partido Trabalhista Brasileiro –
PTB – exerceu forte influência na vida operário-sindical de Criciúma. Dificilmente um líder
operário não tivesse vinculação estreita com o Partido de Getúlio Vargas. O PTB era tido como o
Partido de Vargas embora o estadista tivesse criado duas agremiações partidárias: o PTB para
fazer-lhe campanha junto aos humildes e o PSD – Partido Social Democrático que, composto por
fazendeiros e classe média alta, dar-lhe apoio nas camadas sociais de cima.
Aqui em Criciúma o PTB se constituía na terceira força e reunia esquerdistas, assim denominados
aqueles que enveredavam por caminhos contrários aos do governo e seu status quo.
Evidentemente que o Partido era disputado por fortes grupos políticos. E, numa dessas disputas, o
postulante à direção, Addo Vânio de Aquino Faraco, teria feito um comentário pejorativo à sigla
partidária. E o fizera publicamente.
Vânio teria chamado o PTB de PTBosta, qualificativo que enfureceu a massa trabalhista e
conseguiu reunir contra si todas as correntes do trabalhismo local.
Rodolfo Rufino de Souza, presidente da agremiação em 1957, chegou a publicar um anúncio, em
forma de “a pedido” comunicando aos trabalhadores de todo o Município que o PTB vetava o
ingresso do senhor Vânio Faraco em suas fileiras. Essa proibição era avalizada por próceres
petebistas do porte de Nero Fernandes, Otacílio Carolina e José Hector Parente.
Considere-se que, à época, Vânio Faraco era filho do Prefeito Municipal, pessedista Addo Faraco e
exercia o importante cargo de Agente local do IAPETC, uma das principais forças sócio-políticas
de toda a Região.
Naquele tempo, senhores, a militância partidária era um exercício sério da cidadania e
manifestações do tipo dessa feita pelo Sr. Faraco não eram assimiladas pelos homens de bem que
componham os respectivos diretórios municipais de agremiações partidárias.
Vânio Faraco, naquela, dançou.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
ELEIÇÃO DE 1958
Vimos, na semana passada, quando falei da composição do Diretório Municipal do PSP, que as
eleições não eram gerais no Brasil e que os pleitos não se davam no mesmo ano em todo o território
nacional. Assim, em 1958, tivemos eleição para senador, deputados federal e estadual e vereadores
em Santa Catarina. Naquele pleito, Criciúma somava 12.302 eleitores, enquanto Tubarão, por
exemplo, tinha um contingente eleitoral de 17.056. Ferido aquele pleito, no dia 3 de outubro, as
urnas revelaram estes números: para senador Carlos Gomes de Oliveira, do PTB, 3.863 votos;
Irineu Bornhausen, da UDN, 3.768 e Celso Ramos, do PSD/PRP 3.176. Para a Câmara dos
Deputados, os votos de Criciúma, na sua grande maioria, foram endereçados para Doutel de
Andrade, do PTB, 3.400 votos; Irineu Bornhausen, da UDN – que também disputava o senado –
2.859; Joaquim Ramos, do PSD, 2.523 sufrágios. Para a Assembléia Legislativa, os eleitores de
Criciúma, em 1958 sufragaram em maior quantidade: Ruy Hülse, da UDN, 3.546 votos; Paulino
Búrigo do PTB, 2.949; Paulo Preis, do PSD, 1.877. Registre-se que o PSD lançou dois nomes: o de
Paulo Preis e o de Napoleão de Oliveira. Este obteve 927 votos e os dois acabaram suplentes de
deputado, enquanto Ruy e Paulino foram eleitos. Para a Câmara Municipal o mais votado seria o
senhor Vânio Faraco, do PTB, com 959 votos; na UDN seria Nicolau Destri Napoleão, com 879;
pela coligação PSP/PRP, Ernesto Bianchini Góes, com 523 votos; no PSD Pedro Guidi com 422
votos. Dos onze vereadores, o PTB elegeu quatro: Vânio Faraco, Aryovaldo Machado, Dorizo
Francisco Rocha e Pedro Andrade; a UDN, três: Nicolau Destri Napoleão, Antonio Colonetti e
Wilmar Zózimo Peixoto; o PSD três: José Contin Portella, Nelson Alexandrino e Pedro Guidi, e o
PRP um: Ernesto Bianchini Góes.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
ELEIÇÃO EXTEMPORÂNEA
O clima pré-eleitoral da eleição que se avizinha me transporta para os idos de 1926 para, sobre
textos telegráficos que nosso arquivo mantém intactos. Dissertar dois minutos sobre o assunto
vivido há mais de 70 anos.
No dia 19 de agosto de 1926 nosso Superintendente Marcos Rovaris recebia a comunicação oficial
da morte do Senador Lauro Muller e, com ela, a notícia de que no ano seguinte seria feita a eleição
para a ocupação de sua cadeira já que não eram eleitos suplentes como ocorre nos dias de hoje. No
dia 16 de janeiro do ano seguinte, Marcos Rovaris e os demais Republicanos da cidade eram
cientificados de que o candidato à sucessão de Lauro Muller era o senhor Dr. Celso Bayma. Alguns
dias depois, a 3 de fevereiro de 1927, um novo telegrama, encaminhado pelo Governador Adolfo
Konder, concitava os republicanos criciumenses dizendo “Apelo amigos desse Município para que
envidem todos os esforços sentido eleição 24 de fevereiro tenha a maior concorrência possível. A
fim poder estabelecer estimativa próximo pleito preciso saber mínimo sufrágio que aí obterão
candidatos oficiais. Preciso esclarecer importância desse pleito para nós pois dela depende posição
nosso partido no cenário político nacional. Daí seu empenho para que a chapa oficial seja
fortemente e sem discrepância sufragada nesse setor política. Agradecendo antecipadamente
obséquio de uma breve resposta envia cordiais saudações Adolfo Konder, governador.”
Como o ouvinte deve ter percebido sempre houve a chapa oficial do governo e, conseqüentemente o
apelo veemente para que seus candidatos fossem sufragados.
Mais de 70 anos depois, tudo igual...
Não é fantástico poder rememorar a história de Criciúma, este orgulho de cidade?!
PAGUEM O DÍZIMO
A exemplo de ontem, busco, novamente, no arquivo de telegramas que faz parte do acervo da nossa
Câmara Municipal, a inspiração para as linhas de hoje.
É comum a gente ouvir: quem sustenta um partido político?
A resposta também é corriqueira: os próprios filiados. Os filiados que exercem mandatos ou cargos
administrativos, os diretorianos.
É também verdade que, desses, muitos “se esquecem” de tais compromissos e, não se sabe qual
toque de mágica as agremiações políticas não sucumbem.
E sempre foi assim.
Em 1926, um telegrama testemunha que o caixa do Partido Republicano – que mantinha o governo
do Estado – não andava bem das pernas. Para o seu caixa contribuíam os diretorianos que,
naqueles tempos, faziam parte das agremiações políticas em busca de status. Um Presidente de
partido era gente. E se o seu Partido estivesse no governo, em qualquer das esferas, o status era
ainda maior.
Ao apagar das luzes de 1926, exatamente no dia 31 de dezembro daquele ano, o Partido
Republicano de Criciúma recebia este telegrama: “Tendo comissão diretora última reunião
deliberado que também suplentes esse diretório também concorrem para caixa partido, peço-vos
providências com maior brevidade possível sentido recolher contribuições dos suplentes desse
diretório. Cordiais Saudações Adolpho Konder”.
Em outras palavras: os membros dos diretórios municipais, titulares e suplentes, eram obrigados a
contribuir com o caixa do Partido.
Isto também é parte da história de Criciúma, este orgulho de cidade!
ELEIÇÕES DE 1926
A exemplo de sexta-feira da semana passada volto ao livro de atas do Conselho Municipal de
Criciúma e extraio, da página 12, mais um espetacular pedaço da nossa fantástica história.
No dia 27 de novembro de 1926, às 12 horas, na sala de sessão do Conselho, reuniram-se o
Superintendente Marcos Rovaris e os conselheiros Pedro Benedet, Gabriel Arns,Olivério Nuernberg
e Henrique Dal Sasso e ainda os senhores Francisco Meller, 1º substituto de Superintendente,
Olympio Motta, vice-presidente do diretório municipal do Partido Republicano e Conselheiro eleito
para o futuro quatriênio,Leandro Crippa, Agente Fiscal Municipal em Nova Veneza e Adolfo
Campos, secretário municipal e da Junta Eleitoral. O Presidente Cel. Pedro Benedet designou os
conselheiros Gabriel Arns, Olivério Nuernberg e Henrique Dal Sasso para tratarem da apuração da
eleição de superintendente, substituto de superintendente, conselheiros e suplentes e juízes de paz e
seus suplentes para o distrito sede e para a vila de Nova Veneza. Feita a contagem dos votos
registrados nas respectivas atas de eleição, foi apurado o seguinte resultado: para Superintendente
Municipal o cidadão Marcos Rovaris contou 328 votos. Para Conselheiros Municipais: Pedro
Benedet, 320; Gabriel Arns, 326; Olivério Nuernberg, 324; Humberto Bortoluzzi, 328, Olympio
Motta, 322. Para suplentes: João Zanetta, 318; Frederico Minato, 316; Cincinato Naspolini, 314;
Manoel Herculano, 312 e Gervásio Teixeira Fernandes, 309. Para juízes de paz de Criciúma João
Mangilli, 204 votos, João Milioli, 202, Benjamin Bristot 200 e Elias Angeloni com 188 votos. Para
suplentes de juízes de paz: Fiorento Meller 186 votos, Henrique Lodetti 180 Hercílio Amante 175 e
Pedro Beneton 169 votos. Juízes de Paz de Nova Veneza: José Canella, 124 votos, Francisco Berti
122, Hildebrando Pessi 120 e Bernardo Kestering, 118 votos. Suplentes: Anacleto Girardi com 116
votos, Luiz Alessi com 114, Pedro Bortolotto 112 e Francisco Cirimbelli com 110 votos. O resultado
foi homologado pelo Presidente do Conselho e os candidatos declarados eleitos.
Esta é uma das belas páginas da história de Criciúma, este orgulho de cidade!
IV
EDUCAÇÃO & CULTURA
59
AJUDEM-ME!
Noutro dia fui abordado por uma senhora que me fez a seguinte reclamação: Archimedes, nas tuas
historinhas dificilmente entra episódios envolvendo mulheres. Será que na história de nossa cidade
elas não tiveram participação?
A surpresa da indagação daquela ouvinte transportou-me a uma reflexão necessária sobre todas as
linhas produzidas para este horário. E, da busca de tudo quanto se falou, a constatação e que,
realmente, muito pouco foi falado sobre o extraordinário trabalho desenvolvido pela mulher ao
longo dos 120 anos de existência da nossa Criciúma. E olha que elas merecem muito mais do pouco
que foi dito. A omissão é da própria história que sempre colocou na linha de frente o Homem.
Basta, contudo refletir um pouquinho para se concluir que, nas entrelinhas, o papel desempenhado
pela mulher deve ser destacado. E não no genérico, mas no particular também. Falei de algumas
mulheres, mas falta falar de uma porção de mulheres.
Então, colho a oportunidade deste horário e deste dia para fazer um apelo às pessoas que me dão a
honra da sintonia e que conhecem histórias vividas por grandes mulheres: coloquem esses fatos no
papel e, por favor, façam chegar às minhas mãos, através da Rádio Eldorado. Aliás, este apelo vale
também para grandes feitos de outros tantos homens que também estão no anonimato e que
precisam ser justiçados com um comentário, ainda que pequeno, sobre o seu trabalho.
Este é o sentido da crônica de hoje: para não dizerem, amanhã, que uma boa história ficou no
esquecimento, ajudem-me a narrá-la, neste espaço, avivando minha memória e escrevendo sobre um
parente seu: o bisavô, o tri avô, o próprio pai, um amigo, enfim uma pessoa que mereça ser aqui
destacada, sem nos esquecermos da mulher.
Porque é isto que merece Criciúma, este orgulho de cidade!
MACARRONADA
Faz muito tempo que os chineses inventaram uma massa alimentícia que, depois de levada para a
Europa, tornar-se-ia a mais tradicional comida dos italianos: o macarrão. Hoje existe uma
infinidade de tipos de macarrão e quase a sua totalidade originada em fábricas de todos os
tamanhos produzindo quantidades incomensuráveis e levados ao mercado consumidor com apelos
promocionais e de preços realmente convidativos.
Ontem, no entanto, não era assim.
Desde a colonização até os anos 40, 50 - não mais que isto – o macarrão era totalmente artesanal:
feito em casa. E sua confecção sempre lembrou o final da semana: fazia-se macarrão para o almoço
do domingo.
Então, em cada casa dos "oriundi", a mãe se ocupava da mistura dos ingredientes, com farinha de
boa procedência, ovos da galinha do terreiro, água fervida, um bom rolo de macarrão e os
condimentos finais. A massa era esticada sobre a mesa com o auxílio de farinha de trigo que ia
sendo aspergida generosamente sobre ela para evitar que grudasse nas mãos ou na própria mesa e,
quando dada por pronta, era colocada em descanso por algum tempo findo o qual era enrolada e,
com uma faca de bom fio, cortada em diminutas fatias as quais, abertas com muito carinho por
ágeis dedos, voltavam ao local do descanso para secar e, dali, para a panela.
Essa tarefa toda de esticar, enrolar e cortar, foi substituída, dali a pouco, por uma pequena
máquina, irmã gêmea daquela que moia carne. Aí, era necessária a participação de mão de obra
com força já que, para fazer aquele artefato funcionar, era preciso braço forte.
O macarrão nosso de cada dia, de hoje, é diferente daquele consumido nos dias de ontem. Deste,
sequer procuramos saber a procedência... Daquele, o aguçamento do paladar quando se sabia ter
sido feito pela nonna, ou pela comadre tal. Aliás, chegava-se a programar visita a alguma pessoa,
no domingo, por se saber que naquela casa, no almoço era servido aquele macarrão.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
FORMATURA NO PEDERNEIRAS
No final do ano de 1957, exatamente na sexta-feira dia 7 de dezembro, a cidade de Criciúma parou.
E o fez em homenagem aos formandos do Curso Normal Regional Nicolau Pederneiras à época o
ápice do ensino em nossa terra. A solenidade foi feita no Cine Milanez cuja capacidade foi
totalmente tomada pelos formandos, seus familiares e convidados constando que até nos corredores
muita gente se acomodou.
A mesa diretora dos trabalhos não poderia ser mais luzidia: Heriberto Hülse, vice-governador do
estado; Addo Caldas Faraco, prefeito municipal; Nicolau Destri Napoleão, delegado regional de
ensino, José dos Santos Maciel, inspetor escolar, Gerda Becke Machado, diretora do educandário e
mais uma dezena de notáveis que ali compareciam para prestigiar os novos normalistas. Da
programação do evento constou uma primeira parte com música e poesia: Brisa Nacional, cantada
pelo coral orfeônico do Nicolau Pederneiras; Canto à Bandeira, pela concluinte Quênia Maria
Correa; Querido Símbolo da Pátria, pela formanda Dorilda Soares da Rosa; Canção do Exílio, pelo
concluinte João Maria Ramos e A lágrima e a pérola, por Maria Robélia Kestering. Na segunda
parte, os magistrandos receberiam os seus diplomas depois de ouvirem Oração da Mestra recitada
por Maria Eliete Gomes e o discurso do orador da turma, o professorando Clésio Búrigo. Depois de
tudo isto se ouviu o discurso do Professor Nicolau Destri Napoleão que era o paraninfo da turma.
Terminada a cerimônia aconteceu uma soirée nos salões da Sociedade Recreativa Mampituba.
Daquela turma, além dos já citados, faziam parte, dentre outros: Altamiro Ernesto Milioli, Hugo
Zanette, Pedro Bernardino, Valmor Périco, Albina Milaneze, Edite Maria Cardoso, Emirene Paulo
dos Santos, Iria Maria Zilli, Maria Aldavir Antonelli, Myrian Luz, Vera Inez Damiani e mais uns
cinqüenta novos professores.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
NOSSA BIBLIOTECA
Era 1944. O dia era 29 de novembro. O Prefeito Elias Angeloni, atendendo ao pedido de alguns
professores das redes estadual e municipal de ensino, baixa um decreto criando a nossa Biblioteca
Pública. Dá-lhe o nome de Pereira Oliveira, numa homenagem ao governador catarinense que, em
1925, houvera sancionado a lei que criava o nosso Município.
Nossa Biblioteca foi instalada no dia 02 de dezembro, quatro dias depois de ter sido criada, em
cerimônia havida no gabinete do Prefeito onde se achavam, além do senhor Elias Angeloni, as
senhoras Dozola Rovaris e a Professora Gerda Becke Machado. Naquele dia foi criado, também, o
Conselho de Amigos da Biblioteca que teve a seguinte formação: presidente Dr. Euclides de
Cerqueira Cintra – que era o Juiz de direito da comarca, à época nosso único magistrado;
tesoureiro Hercílio Amante que era o secretário municipal para todos os assuntos; orador o
Professor Marcilio Dias de San Thiago; secretária Professora Gerda Becke Machado e diretora a
Sra. Donatila Teixeira Borba.
Os primeiros volumes da nossa Biblioteca foram emprateleirados numa sala de múltiplas funções no
próprio edifício do Paço Municipal, na Praça Nereu Ramos. Dois anos depois, todavia, o Prefeito
Addo Caldas Faraco transferiria seu acervo e, por conseguinte, sua sede, para a Praça do
Congresso, na esquina com a Rua Santo Antônio. Já em 1974, nossa biblioteca deixava aquele
endereço e era transportada para uma sala do Centro Comercial de Criciúma, na Rua Anita
Garibaldi, para onde também fora transferida a sede da municipalidade.
Em 1983, o nome de Pereira Oliveira é substituído pelo da poetisa maior, Donatila Borba,
denominação que ostenta até os dias de hoje e seu acervo foi levado para o Centro Cultural Santos
Guglielmi, anexa ao Teatro Municipal Elias Angeloni. O acervo bibliográfico da nossa biblioteca
pública é de mais de 11 mil volumes. Aproximadamente quatro mil volumes fazem parte da
biblioteca itinerante que percorre os bairros da cidade em duas unidades móveis: já que o povo não
vai à biblioteca, a biblioteca vai ao encontro do povo.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
A ESCOLA DA SATC
Um dos educandários mais respeitados do universo do ensino profissional do Brasil é a Escola
Técnica General Oswaldo Pinto da Veiga ou Escola da Satc como conhecemos popularmente.
Essa escola foi criada em 1955 e constituída com capital originário das companhias mineradoras
que operavam em Criciúma. Seu nascimento se deu no dia da padroeira dos mineiros, Santa
Bárbara, 4 de dezembro de 55.
Era o nascimento da Sociedade de Assistência ao Trabalhador do Carvão – Satc – entidade cujo
objeto era a prestação de assistência médico-farmacêutica, bem como aprendizado técnico aos
trabalhadores da indústria carbonífera sul catarinense, seus dependentes e filhos.
Naquele dia, presentes à solenidade de instalação, eram contadas as presenças do Dr. Aníbal Alves
Bastos, diretor executivo da Comissão do Plano do Carvão Nacional, um dos homens que mais
contribuiu com nossa cidade na esfera do governo republicano; o Dr. Paulo Mendes, diretor
secretário da Companhia Siderúrgica Nacional; do prefeito municipal Addo Caldas Faraco e várias
outras autoridades. A SATC resultava de estudos e propostas formuladas pelo minerador engº.
Sebastião Toledo dos Santos e contou com os préstimos do advogado Nery Jesuíno da Rosa como
seu diretor executivo.
Prontamente a escola foi instalada e nela só ingressavam filhos de mineiros. O corpo docente foi
triado no que existia de melhor por aqui e, havendo deficiência, eram buscados professores de
outras praças. A escola se impôs pela austeridade que lhe impôs a Ordem religiosa dos irmãos
maristas, seus primeiros administradores e a eficiente direção financeira do Sr. Woimer
Wasniewski. Não faltou muito tempo para ser cotejada pela população alheia à mineração para a
qual as portas foram abertas a partir dos anos 80. A Escola da SATC é um dos mais ricos celeiros
da cultura técnica de nossa juventude e os dali egressos são disputados por grandes empresas
brasileiras. Em Santa Catarina, Jaraguá do Sul, Joinville, Blumenau e, evidentemente, Criciúma,
disputam os profissionais que anualmente a nossa Escola da SATC joga no mercado.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
TEATRO AMADOR
Noutro dia tive a grata oportunidade de reportar-me sobre o grande ator do teatro nacional,
Procópio Ferreira. Noutra investida, falei da programação cívico-cultural patrocinada pela
Bandinha Filho do Mineiro que acontecera numa quarta-feira no Cine Milanez. Hoje, volto ao
assunto para relembrar, uma vez mais, a presença do teatro amador em nosso meio.
No final do ano de 1959, a peça Pluft, o Fantasminha, era levado para a capital paulista, com
direção e atores de nossa terra. Era um festival nacional de Teatro Amador. O abnegado professor
Jocy Pereira, conhecido como Sérgio Luciano, um dos diretores da antiga Rádio Eldorado,foi o
responsável pelo feito.
A crítica especializada não poupou elogios aos nossos atores, jovens estudantes da cidade, na sua
maioria.
O sucesso premiou a apresentação de Júlio César Hülse, na condição de Pluft; Zulma Búrigo, como
Maribel; Delci Broleis, como mamãe fantasma; Daltro Rebello, como o pirata da perna de pau;
Carlos Gomes, como o marinheiro Julião; Luiz Gonzaga Amante, como marinheiro João; Wandick
Magno Garbelotto, como marinheiro Sebastião e Juarez Garbelotto, como o Tio Gerúndio.
Pluft, o Fantasminha, de Maria Clara Machado – a teatróloga que tanto escreveu para o nosso
teatro – é uma das peças que mais se viu no Brasil inteiro. E nós, aqui de Criciúma, podemos nos
orgulhar de ter participado daquele festival nacional encenando aquele trabalho. A
responsabilidade dos nossos atores era enorme haja vista que muitos já teriam tido a oportunidade
de presenciar sua apresentação.
O Teatro Amador da Região Mineira, como era chamado aquele grupo e o Teatro Amador
Próspera, que veio logo a seguir, marcaram época e fazem falta no cotidiano de nossa gente.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
E CRIOU-SE A UNESC
Desde os primeiros tempos, nossos ancestrais tiveram como ideal de vida para seus filhos o estudo,
a escolaridade, um curso de nível superior – se possível.
Das primeiras pequenas escolas destinadas umas ao sexo masculino e as outras ao sexo feminino,
passou-se para as escolas mistas, as reunidas, os grupos escolares, as escolas básicas, os colégios,
as escolas técnicas.
Já no final da primeira metade deste século as famílias mais abastadas e esclarecidas reclamavam
pela instalação de escolas de segundo grau.
Criou-se a Escola Rural que, com recursos federais alocados no orçamento da União pelo então
deputado federal Joaquim Fiúza Ramos, foi construída na colina do Bairro Olaria. Nunca
funcionou para responder à justificativa de sua criação, isto é, nunca foi uma Escola Rural com
currículo voltado às ciências agrárias. Seu objeto era de ensinar a técnica da produção agrícola
aos filhos dos colonos por aqui residentes. Aquela escola seria transformada no Colégio Estadual
Joaquim Ramos assim como aquele bairro seria repartido: uma parte Bairro São Luiz e outra,
Bairro Michel.
Em 1964, acolhendo pedido que lhe fazia a classe estudantil, o então Prefeito Arlindo Junkes propôs
– e a Câmara Municipal aprovou – a lei de criação de uma faculdade municipal de Direito. A lei foi
publicada e jamais revogada o que importa em afirmar que, no papel, a faculdade municipal de
direito, existe.
Em 1968, o Prefeito Ruy Hülse proporia e a Câmara daria seu aval e Criciúma ganhava a
Fundação Educacional de Criciúma, a Fucri que, instalando as primeiras unidades de ensino
superior imediatamente, buscaria o seu reconhecimento como Universidade o que acabou por
ocorrer a dois anos com a criação da Unesc, a Universidade do Extremo Sul de Santa Catarina.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
E FUNDARAM A UESC
12 de março de 1960. Um punhado de estudantes criciumenses resolve se unir em torno de ideais
comuns e funda a entidade representativa da classe: nascia a União dos Estudantes Secundários de
Criciúma, conhecida pela sigla Uesc. Na sua grande maioria, todos os alunos da Escola Técnica de
Comércio de Criciúma, à época o único estabelecimento escolar que funcionava à noite em nossa
cidade.
Da sua diretoria faziam parte: Fúlvio Naspolini como presidente; Francisco Faraco, como vice-
presidente; José Vitório, Julio Wessler e Júlio César Hülse, na secretaria; Olimpio Vargas, Daltro
Rabello e Adilson Faraco, na tesouraria; Sebastião Humberto Pieri como orador. Os membros
titulares do Conselho Fiscal eram Gilberto de Oliveira, Alberto Abreu e Arlindo Junkes; os
suplentes: Nilo de Oliveira, Anastácio Gonçalves da Silva e Haroldo Roque.
A Uesc foi uma das mais atuantes entidades estudantis de Santa Catarina e teve funcionamento
pleno até 1964 quando, por recomendação não se sabe de quem, cerrou suas portas para ficar na
história.
Não houve nenhuma grande campanha comunitária, no interregno de 1960 a 1964, que não tenho
recebido a participação da Uesc, tamanha era a sua representatividade junto às forças vivas do
Município.
Ocupei-me dela, na primeira rodada destas histórias, mas faço questão de a ela retornar haja vista
ter descoberto a composição de sua primeira diretoria à qual são endereçadas nossas homenagens.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
V
CARNAVAL
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CARNAVAL DE ONTEM
Dentro de um mês estaremos vivendo o feriado do Carnaval de 2000, um dos mais tardios dos
últimos anos. Sob o império do Rei Momo, primeiro e único, a população fica às voltas com os
folguedos momescos direta ou indiretamente. Os que gostam, vão para os salões, para as avenidas,
fazem blocos, fantasias, se esbaldam... Os que não gostam, ou dão u, ma olhadinha nas reportagens
da televisão ou se enclausuram em retiros que vão desde os balneários até casas de orações.
Lá pelos anos 30, 40, também era assim.
Aqui em Criciúma, por exemplo, não havia carnaval de rua, mas a moçada fazia – à sua moda – um
carnaval de rua. Blocos exclusivamente masculinos, cujos integrantes vestiam roupa de mulher e
como elas caracterizavam-se, saiam às ruas cantando as marchinhas da época para cá trazidas pela
potência dos aparelhos de rádio.
Em 1939, por exemplo, Gilberto Vieira, de nós todos conhecido pelo apelido de Juju, comandava
um desses blocos tocando o seu trombone. Dele faziam parte, dentre outros, Ademar Costa, Mário e
Lauro da Cunha Carneiro, Antenor Longo, Manoel Gonçalves de Farias – o Bá -, Wilson Barata,
Jorge Frydberg, Mário Penna, Dino Campos, José Caetano Sobrinho, Antonio Balthazar e Abelardo
Scheidt. Brincavam em volta da Praça Nereu Ramos e, depois, iam visitar os salões de danças dos
bairros como o Vinte (que tinha este nome porque a casa era assim numerada), o 25 (que tinha este
nome porque a Sociedade era denominada de Clube 25 de Dezembro), o União Mineira, o
Metropolitano de Nova Veneza e até o Clube de Urussanga.
Nessa época, brincava-se, também, de entrudo e de limão d’água. O entrudo consistia em
surpreender alguém lhe atirando um balde de água para molhar, mesmo. Não raras vezes, o banho
era dado com seringa d’água feita de bambu: tomava-se um gomo de bambu, enchia-se do líquido e,
com o auxílio de uma pequena vara com uma borracha à ponta, pressionava-se e a água era
lançada à distância. E o limão, era uma brincadeira no mínimo trabalhosa: tomava-se uma laranja,
ou um limão, passava-se sabão e, sobre ele, uma pequena camada de cera de abelha, derretida.
Quando a cera endurecia, cortava-se essa película com uma gilete e tinha-se, ali, um cítrico de cera
cujas metades eram soldadas novamente com cera derretida com o auxílio de uma pena de asa de
galinha. Enchia-se de água comum, ou água de cheiro, elegia-se o folião ou o transeunte e, sem
perguntar se a roupinha estava passada, se ia pra missa ou para o clube, atirava o artefato sobre o
mesmo que, arrebentando contra o corpo, molhava-o de cima a baixo.
Era o carnaval dos anos 30, 40 e até 50, quando, em nome do moderno, acabaram com essas
inofensivas e gostosas brincadeiras.
Eu gosto de falar de Criciúma, de qualquer época, este orgulho de cidade!
O NOSSO CARNAVAL
A partir de hoje – e até terça-feira – nossa cidade – como de resto todo o Brasil – vive sob o império
de Rei Momo, Primeiro e Único.
Poderíamos dizer que o ano está preste a começar, haja vista que, para significativa parcela da
população, as festas de final de ano começam lá em dezembro e só terminam na quarta-feira de
cinzas.
Carlos Lacombe, um dos mais fervorosos amantes do carnaval (de ontem), disse, na letra de uma
marcha-rancho, ter saudade do carnaval da Operária e da Praia do Rincão. Qualquer cidadão na
faixa etária dos 60 anos, ou mais, confirma o que compôs o carnavalesco Carlinhos Lacombe: o
carnaval, quando entrou na vida dos criciumenses, notabilizou-se, mesmo, com os bailes do União
Mineira e, de alguma forma, lá da Praia do Rincão, por incrível que isto possa parecer.
Os grã-finos da cidade, que se afugentavam na Praia nos dias de Momo, faziam lá a festa
carnavalesca que deveriam fazer aqui. E havia, ali na Rua da Igrejinha da Praia, mais ou menos a
uns 50 metros do calçadão, um salão de bailes que, nessa época, recebia decoração especial,
orquestra especial e dê-lhe carnaval. Fotografias que são exibidas hoje mostram os carnavalescos
em cordões percorrendo, inclusive, a única rua daquele balneário.
Já o União Mineira, mesmo antes de receber essa denominação, fazia os grandes bailes do carnaval
aqui da terra. Hoje, ainda, mantém a tradição e oferece um dos melhores carnavais de salão da
terra do carvão.
Só que os tempos evoluíram e, nas ruas e avenidas, veremos, a partir de hoje, blocos de sujos –
fazendo crítica despudorada a autoridades e costumes – blocos carnavalescos e escolas de samba
desfilando com a desenvoltura das grandes congêneres das grandes cidades brasileiras que o
mundo conhece através da televisão.
Este é o último carnaval do Século XX e, pelo desenho que é mostrado, fechará com chave de ouro
os folguedos dos criciumenses que começaram há muito tempo com os blocos patrocinados pelo
Mampituba Esporte Clube, o mais sofisticado dos clubes carnavalescos de toda a Região, àquela
época.
E eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
TENENTES DA FOLIA
Hoje, quarta-feira de cinzas. Dia de reflexão introspectiva inclusive sobre os festejos que acabam de
ir para a história: os últimos do Século XX. Se foi bem ou não o carnaval que as cinzas de hoje
estão sepultando, só a história dirá.
E é na história que vamos escudar as linhas de hoje. Regressemos no tempo. Vamos a 1957, 43 anos
atrás. No mês de maio era fundado o Clube Carnavalesco Tenentes da Folia que, nos anos
imediatamente seguintes, ditaria o tom do nosso carnaval. Pela nominata que compunha a sua
diretoria já dá para se concluir que aquela entidade viera para encarar os folguedos momescos com
responsabilidade: sob a presidência de Wilmar Peixoto estes eram os “tenentes” da corporação:
José Caetano Sobrinho, Ayrton Nogueira César, Balthazar Gomes, Jairo Jacy Campos, Jaime
Martins, Napoleão de Oliveira, Ézio Lima, Eloy Búrigo, Dino Campos, Ondino Castro Alves,
Sebastião Humberto Pieri, João Fernandes dos Reis, Mário Gregório dos Reis e Wairton Peixoto.
Já no carnaval de 1958 era feito o primeiro concurso para a escolha da Rainha do Carnaval com as
candidatas do Próspera Clube Recreativo, do Mampituba, do União Mineira e do União Operária.
Foi eleita Emilia Nazaré Gomes que, naquele carnaval, seria a atração principal dos bailes de
salão e do desfile havido na Praça Nereu Ramos envolvendo inúmeros blocos e cinco carros
alegóricos: o primeiro deles levava a rainha do Próspera Alzira Correa e fora denominado de
Jardim de Infância com adereços de gangorra e balanços; o segundo, de nome Cacique, carregando
verdadeira tribo de índias e índios, homenageava o Prefeito da cidade, Addo Caldas Faraco; o
terceiro era o Pagode Chinês, transportava a Srta. Iolanda Sonego, rainha da S. R. União Mineira;
o quarto recebeu o nome de Águia, homenageava o político Ruy Hülse e transportava a rainha do
carnaval Emília Nazaré Gomes. O último carro alegórico do carnaval de1958 fora da
responsabilidade do Esporte Clube Metropol. Consta que milhares de pessoas originárias de todos
os cantos do Município (que começava lá no pé da Serra e ia até o Atlântico) acorreram à Praça
Nereu Ramos para os desfiles organizados pela Sociedade Carnavalesca Tenentes da Folia.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
VILA ISABEL
Dentre tantas entidades associativas que deixaram de existir em nosso meio, quero me referir a uma
que, com toda certeza, é lembrada por todas as pessoas maiores de 40 anos: a Escola de Samba
Vila Isabel. Das entidades estritamente carnavalescas que Criciúma conheceu – e conhece – a Vila
Isabel é a mais antiga.
Com seu chão cobrindo o perímetro geográfico da velha Vila Operária – hoje Bairro santa Bárbara
– a Vila Isabel era a coqueluche dos carnavais de ontem. Todos íamos às ruas para ver e aplaudir
seus componentes garbosamente desfilando pelas vias públicas de Criciúma, com concentração
apoteótica na Praça Nereu Ramos.
Em 1960 a diretoria da Escola de Samba Vila Isabel era formada por Romeu Lopes de Carvalho
como presidente reeleito; José Bento Borges, como vice também reeleito; Onélia Alano da Rosa
como secretária geral; José Farias e Luiz Valentin como tesoureiros. Seu comandante era o senhor
Luis Valentin, auxiliado por Aldo Domingos e assistidos por Carlos Alexandre. O departamento
feminino era comandado por Carmen de Carvalho, a primeira dama da escola.
Depois da Vila Isabel, surgiram outras agremiações carnavalescas: umas estão aí, enriquecendo o
nosso carnaval; outras, a exemplo da Vila, também fazem parte do passado. Todas, todavia, fizeram
e fazem a história da maior festa popular do Brasil em nosso território.
Lamenta-se, evidentemente, que – uma escola com tamanha tradição e composta de nomes tão fortes
como a Vila Isabel – já não brinde mais os aficionados dos folguedos momescos com suas
apresentações. Criciúma lamenta seu desaparecimento.
E eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
VI
FUTEBOL
76
SURURU NO FUTEBOL
Nas páginas do Jornal Tribuna Criciumense, edição de 26 de maio de 1958, busco as linhas da
crônica de hoje. A cidade vivia o clima forte do início de um novo campeonato de futebol, o da Liga
Atlética da Região Mineira que, àquele tempo, era o que de melhor havia nas competições
futebolísticas da Região. A notícia a que me reporto começa com a manchete O PAU COMEU
GROSSO. TREMENDO SURURU NO INICIO DO CAMPEONATO DA LARM NA PELEJA
ATLÉTICO ZERO VERSUS BOA VISTA ZERO.
E segue: Na tarde de ontem tivemos o início do campeonato da Larm com a partida Atlético x Boa
Vista, no estádio Waldemar de Brito. A pugna foi iniciada às 15h e 30minutos com saída dada pelo
Boa Vista que dominou seu adversário até os 20 minutos do jogo quando, então, o Atlético começou
a se encontrar. Na segunda etapa, o jogo pertenceu ao Atlético Operário diz o Jornal que prossegue
assim: “Grande chance de ganhar a peleja perdeu o Boa Vista, por intermédio de Almerindo
quando, sozinho, frente a frente com Zezé, não teve calma suficiente para atirar a pelota nas redes
atleticanas. As equipes formaram assim: Boa Vista: Itamar, Zabot, Biroide e Doroci; Nesio e
Panca; Foguinho, Alamiro, Almerindo, Santos e Costinha. O Atlético Operário com Zezé, Paulo,
Djalma e Daltro; Dal Bó e Carrasco; Edson Santinho, Aldo, Gelson e Camisa.
Quando transcorriam 25 minutos de jogo, na primeira etapa, verificou-se tremendo sururu com a
participação de atletas e assistentes. O mesmo foi ocasionado por Costinha que saiu da ponta
esquerda para agredir Gelson porque este dera um ponta-pé em Itamar. Foi árbitro da partida o
senhor Adamastor Martins da Rocha com uma atuação calamitosa, servindo-lhe de auxiliares
Pachá e Antonio Santana, estes com desempenho regular. Renda da partida: 7.528 cruzeiros sendo
de notar que os sócios do Atlético não pagaram.”
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
FUTEBOL DE SALÃO
A prática de se buscar um barzinho para jogar conversa fora, muito utilizada nos dias de hoje,
sequer era imaginada pela juventude de outros tempos. Nos anos 60, por exemplo, nem se
imaginava que isso pudesse ocorrer. Nossos jovens divertiam-se em festinhas familiares de 15 anos
ou de outras idades quaisquer, ouvindo Ray Caniff, orquestra e coral e dançando suas composições,
fazendo festinhas americanas, indo ao cinema e estamos conversados. Mas havia, na década a que
reporto, um esporte que reunia significativa parcela das mulheres e homens jovens da época: era o
futebol de salão, recém introduzido em nosso meio cujas disputas eram havidas numa quadra aos
fundos de um imóvel da família Benedet, na quadra central da cidade. Ficava aos fundos da
Livraria Fátima. Era alcançada tanto pela própria Praça Nereu Ramos como por um magro
caminho perpendicular à Rua Cel. Pedro Benedet, ao lado do Hotel Palace.
Naquela quadra, havia jogos de futebol de salão todas as noites, todos os dias, o ano inteiro. Em
sua volta, uma tosca arquibancada de quatro ou cinco lances, não mais do que isto, construída com
taboas refugadas em construção de nível. Um alambrado de um metro de altura (será que era tão
alto?) separava os jogadores dos torcedores. A iluminação era parca, mas o suficiente para
iluminar a bola e os pés dos atletas na disputa de cada partida. Se chovesse, não havia jogo, pois
não havia um centímetro de cobertura para ninguém.
Houve noite em que a Escola Técnica de Comércio – que funcionava no Grupo Escolar Professor
Lapagesse – viu-se às moscas haja vista que quase cem por cento de seus alunos tinham ido ver uma
determinada partida do futebol ali praticado. Somem-se a isto, tantos outros torcedores que se
obrigavam a retornar para suas casas, em bairros distantes da cidade, a pé, por terem perdido o
último ônibus que, à época, partia por volta das 23 horas.
É provável que o romantismo da empírica quadra contribuísse para a freqüência de tantos que a
procuravam para o lazer de ontem já que, hoje, sofisticadas quadras instaladas em modernos
ginásios de esportes já não levam torcedores nem atletas como então.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
OS CATARINAS GANHARAM
Esta eu fui buscar na página 8 da edição do dia 11 de janeiro de 1960 do velho Tribuna
Criciumense. A manchete anuncia: Carnaval Catarinense em pleno coração de Porto Alegre. E a
nota é assim escrita:
“Sensacional, espetacular, magnífico, monumental, inédito, emocionante... são vocábulos que temos
de usar para melhor explicar, dizer, o que tenha sido a extraordinária vitória da equipe catarinense
em pleno estádio Olímpico frente à seleção campeã pan-americana.
Dois gols para a história do nosso futebol, de autoriza do vovô Teixeira deram a vitória à equipe
dirigida por Saul de Oliveira, e o direito de enfrentar os conterrâneos do Presidente Jocélio.
Vitória clara, técnica, clássica e disciplinada dos barrigas-verdes que ganharam nova vida e
colocação no ranking nacional.
Primeiro o tabu dos paranaenses; agora, o dos homens que chegaram a jurar que carregariam
sacos de milho se perdessem para Santa Catarina.
Frases que ficaram gravadas nas páginas esportivas do nosso estado, como esta, pronunciada pelos
locutores, após o jogo: Enquanto os gaúchos deixam o campo debaixo de tremenda vaia, os
catarinenses saúdam a torcia barriga-verde dando uma volta olímpica em pleno estádio Olímpico.
Detalhes técnicos: 1º tempo Santa Catarina um a zero, Teixeirinha aos 24 minutos;
Final, Santa Catarina dois a zero, Teixeirinha aos 30 minutos. Juiz: Gama Maucher, ótimo. Renda:
450 mil cruzeiros. Quadros: Santa Catarina: Gainete, Roberto, Ivo e Antoninho; Zilto e Nelinho;
Galego, Teixeirinha, Edésio, Valério e Almerindo.
Rio Grande do Sul: Suly, Augusto, Osvaldo e Jacy; Cléo e Canário; J. Borges, Negrito, Lelo,
Naninho (depois Mauro) e Zé Francisco.”Como disse no início, esta reportagem foi escrita dia 11
de janeiro de 1960 e faz parte da feliz memória de Criciúma, este orgulho de cidade!”.
VII
HOMENS & MULHERES
81
ANIBAL SÔNEGO
Seu Caetano Sônego e Dona Amábile Milaneze Sônego tiveram oito filhos: Giácomo (o Seu Jaqui, da
Cooperativa Agrícola), o Anibal, o Albino, o João, a Adélia, a Albina e as gêmeas Maria e Santa.
Vou falar, hoje, do Anibal, nascido dia 11 de janeiro de 1911. Um homem comum que viveu como
quase todos os comuns de sua época: da honradez e do trabalho. Aos nove anos já trabalhava: era
o entregador de água para os operários da CBCA empresa na qual viria a se aposentar depois de
41 anos de efetivo trabalho. Passou pela oficina mecânica e dela foi o seu chefe, função na qual
passou para a inatividade.
Em 1929 contraiu núpcias com Elzira Vieira Maciel de cuja união nasceriam os filhos João (o Jota
Sônego) casado com Ortenila Piovesan; a Maria, casada com João Marcos de Oliveira Filho;a
Ana, casada com Alberto Fernandes, o “Camisa”;Isabel, casada com Paulo Philippe; o Caetano
Neto e a Maria Bernardete, esta casada com José Spillere.
Seu Anibal gostava muito de futebol. Foi um dos fundadores do Mampituba Futebol Clube; foi um
dos fundadores e jogadores do Fortaleza Futebol Clube; foi um dos fundadores e presidiu o
Atlético Operário Futebol Clube.
Além do futebol teve atuação marcante na fundação da Sociedade Recreativa União Mineira, da
qual foi presidente.
Tinha seus valores religiosos, mas não foi muito de igreja. Julgava-se no direito, todavia, de
reclamar ao vigário da paróquia São José a suspensão das batidas dos sinos nos horários das
12h00 e 18h00.
Anibal Sônego faleceu dia 14 de fevereiro de 1996, depois de ter contribuído, à sua maneira, com o
progresso de Criciúma, este orgulho de cidade!
ANTONIO BALTHAZAR
Ele voltava de Florianópolis, com seu veículo rodando sobre o leito da futura BR-101, quando,
repentinamente, ali nas proximidades do trevo de acesso a Imbituba, de uma transversal, corta-lhe a
frente um outro veículo. O choque dos dois carros foi inevitável e ele veio a falecer, ali mesmo.
Era 20 de agosto de 1970. Falo de Antonio Balthazar que a família chamava de Iço. Fora a
Florianópolis cuidar de interesses comerciais haja vista a sua condição de agente regional da
Companhia de Seguros Sul América.
Gostava de carnaval. Foi até coordenador de festejos carnavalescos, especialmente aqueles de rua.
Um dos idealizadores do Mampituba Campestre. Nas horas vagas, escrevia versos. Um de seus
poemas, intitulado Esperança, diz assim:
Antonio Balthazar, de saudosa memória, também ajudou a escrever a história de Criciúma, este
orgulho de cidade!
DEFENDE CASAGRANDE - I
Quem não conheceu Defende Casagrande? A menos que o ouvinte seja muito novo para responder
afirmativamente à indagação que acabo de formular, haja vista a cotidiana presença de seu
Defende nos mais diversos pontos do centro de nossa cidade.
Ele nasceu aqui em Criciúma no dia 4 de março de 1910, 13º dos 15 filhos de Augusto Casagrande
e de dona Cecília Daros Casagrande, um e outra grandes figuras da nossa história e, ambos,
imigrantes colonizadores de Criciúma.
Conheceu o trabalho cedo: já aos sete anos de idade tinha como dever de família o trato dos
animais domésticos: vacas, terneiros e cavalos. Travesso, gostava de correr sobre tijolos recém
fabricados na olaria da família, para ver os pés afundar sobre a massa de barro. Cada vez era uma
surra. Aos dez anos, transportava tijolos para as construções que a cidade ia construindo. A casa de
Pedro Benedet, a Fábrica de banha e a oficina do Marcos Rovaris e a igreja matriz, hoje nossa
catedral tiveram seus tijolos transportados pelo jovem Defende.
O Martim Milioli tinha uma rinha de briga de galos, “esporte” a que o Defende, gurizote, era
apaixonado. Só que ele não tinha um galo para a briga. Então levava uma galinha inglesa. Aos 12
anos foi para a fazenda da família, ali em Tubarão, onde permaneceu durante seis anos. Cuidava de
50 cabeças de gado, ordenhava oito vacas, era o responsável pelo fabrico de queijo e manteiga.
Nunca estudou. Não que não quisesse fazê-lo; pelo contrário. Faltava-lhe tempo para as letras...
Aos 18 anos, embarcou num navio, no Porto de Imbituba e navegou até São Francisco do Sul.
Queria ir mais pra frente, mas o enjôo do mar fez com que desistisse do intento. Ali, na cidade
histórica da ilha de São Francisco, tomou um trem e viajou para o planalto norte catarinense, indo
para Porto União.
Daquela cidade catarinense, em cima de um caminhão, rumaria para o Paraná indo trabalhar em
São João dos Pobres, ajudando a abrir estradas tendo como ferramentas picaretas e pás. Nessa
atividade, passaria por Butiazal, Irati, Papua, Horizonte e Palmas. A empresa construtora era
comandada pelos irmãos Denis e Adhemar por sua vez irmãos de Irineu Bornhausen que,
futuramente, governaria nosso Estado.
Amanhã eu volto a falar de Defende Casagrande, um dos mais ilustres personagens da história
contemporânea de Criciúma, este orgulho de cidade!
DEFENDE CASAGRANDE - II
Falemos um pouco mais de Defende Casagrande. Nas linhas de ontem, fizemos uma pausa quando
ele estava trabalhando lá no sudeste paranaense, abrindo estradas. Quando contava com 300 mil
réis para receber da empreiteira – uma verdadeira fortuna para um jovem à sua época – resolveu
voltar. Só que os patrões não lhe quiseram pagar. Precisou certa negociação para que o dinheiro
lhe fosse entregue.
Era 1929. Defende Casagrande sobe a Serra com seus irmãos Vitório, Abel e José e mais o amigo
Martin Milioli e constroem uma Olaria em Bom Jesus com a finalidade de fabricar os tijolos para a
construção da igreja daquela Vila.
No ano seguinte, lá estava Defende Casagrande trabalhando na fábrica de cerveja Pérola, em
Caxias do Sul. Seu ofício era distribuir cerveja e gelo que eram transportados numa carroça de dois
eixos e quatro cavalos.
Depois resolveu retornar para Criciúma. Acompanhado de Virgílio Conti, pagou um tropeiro que os
trouxe até Maracajá. De trem, retornaram a nossa cidade só que Defende desceu em Sangão e, dali,
a pé, seguiu até a Primeira Linha para passar à frente da casa de sua namorada. Que decepção!
Ela não o viu.
Com o dinheiro que trouxe de seu trabalho no Paraná e no Rio Grande do Sul, comprou um terreno
em Morrinhos, Tubarão para onde levou sua mulher, Henriqueta Meller e seus dois filhos Victor e
Viemar. Atividades agropecuárias mantiveram a família até 1942 quando, por conselho do amigo
Francisco Meller, que fora visitá-lo, resolveu retornar a Criciúma. Agora foram residir com os pais,
na casa que hoje aloja o museu da cidade. Nicolau Machado vendeu-lhe 11 hectares e meio de terra
numa mata ao lado da cidade que, paulatinamente foi sendo derrubada e nela construídas casas
dando origem ao Bairro São Cristóvão. Agora sim achou tempo para estudar: pagou o Sr. Polidoro
José da Silva que, por vinte mil réis por mês, abriu a cabeça de seu Defende para o saber. Aqui
nasceriam seus dois outros filhos: Valda e Varlei.
Da vida comunitária, participava com invulgar vontade. Doou o terreno para a construção da
igreja do Bairro. Doou o terreno para a construção da escola. Doou o terreno para a construção do
Neblina Clube. Doou o terreno para a construção da Casa da Amizade do Rotary Club. Doou terra
para a reserva de área verde. Doou terra para a abertura da Rua Chile. Abriu as ruas Manoel
Alves, Antonio Gabriel Machado e Henrique Dalssasso cobrindo todos os custos.
Dia 2 de setembro de 1998, não resistindo a doenças, faleceu. Partiu mas deixou esse legado
precioso de amor à Criciúma, este orgulho de cidade!
DINO GORINI - I
Hoje falo de Dino Gorini, um simpático médico que se fez respeitar pólo amor ao ofício e ao
paciente. Certamente um dos mais respeitados médicos que clinicou em nossa região. Valho-me das
informações que me foram transmitidas por sua filha Brigite para dizer que a vida de Dino Gorini,
nascido em Pavia, Itália, a 28 de outubro de 1909, se constitui uma verdadeira epopéia. A par das
injunções próprias da Europa conturbada politicamente por disputas filosóficas e territoriais que
culminaram com a Primeira Guerra, Gorini vivenciou experiências que enriqueceram sua vida
numa trajetória plena de trabalho, realizações e muitas emoções.
Dino era filho de Carlos Triulzi Gorini e Giuseppina Celé Gorini. Seu pai, médico, veio para o
Brasil em 1910 indo para Urussanga a fim de substituir seu primo, também médico, Dr. Mário
Vecchio que empreendera viagem à Itália, em lua de mel. Esse primo acabou não retornando e o
Dr. Carlos acabou por se fixar ali em Urussanga. Nesse meio tempo eclodiu a Guerra a que já fiz
menção. Sua mulher, com os filhos Mário e Dino, resolveu vir ao encontro do marido e,
embarcando no navio Formose, no Porto de Gênova, emigra para o Brasil. Depois de 19 dias de
viagem, desembarcam no porto do Rio de Janeiro e tomam outra embarcação, agora o navio
Itaipava, e vêm até Imbituba. Dessa cidade, de trem, viajam até Tubarão onde permaneceram
durante três dias a espera de um comboio de passageiros que os trouxesse até Criciúma. Acabaram
viajando em vagão prancha, desses que transportam carga. Aqui em Criciúma os esperava o marido
e pai, Dr. Carlos Gorini que, numa charrete puxada por quatro cavalos, os transporta até Nova
Veneza, onde fixariam residência.
Como não havia escola primária na região, Dino Gorini inicialmente aprendeu português numa
escola em Nova Veneza subvencionada pelo governo italiano. Em 1924 fez o curso equivalente ao
quarto ano primário, no Grupo Escolar Jerônimo Coelho, na cidade de Laguna. Em 1925, fez o
admissão ao ginásio no Gynásio Catharinense, em Florianópolis onde estudou até 1928. Em 1929
foi levado a São Paulo onde estudou no famoso Instituto Brasileiro Dante Alighieri. Em 1930,
ingressou na faculdade de medicina de Porto Alegre onde colou grau em 1935, o festejado ano do
Centenário da Revolução Farroupilha. Para registrar seu diploma e poder clinicar, foi obrigado a
naturalizar-se brasileiro e, já casado, a cumprir o serviço militar. Este, Dino Gorini o fez no Tiro de
Guerra na cidade de Turvo, aqui no Sul do estado.
Amanhã darei seqüência ao perfil biográfico do médico Dino Gorini que tanto ajudou a medicar
gente da nossa Criciúma, este orgulho de cidade!
DINO GORINI - II
Ontem revelamos algumas particularidades da via de Dino Gorini prometendo dar seqüência no dia
de hoje. Lembro que todas as informações me foram transmitidas por sua filha Brigite a quem
renovo os agradecimentos pela colaboração.
Já vimos a paternidade, a naturalidade, a emigração e a instrução do nosso personagem.
Dino Gorini casou com Augusta Trento, urussanguense, a 17 de junho de 1937, de cuja união
nasceriam sete filhos: dois homens e quatro mulheres.
A profissão de médico ele a exercitou plenamente em Nova Veneza. Para os parâmetros da época,
foi sempre um médico atualizado já que, permanentemente, comparecei a eventos de natureza
médica. Fez pós-graduação em cirurgia e ginecologia na Universidade de São Paulo e em Buenos
Aires.
Único médico de Nova Veneza foi obrigado a abrir mão de domingos e feriados. Nos domingos,
especialmente, os colonos traziam seus doentes para a missa e, depois desta, levavam-nos a
presença do médico para a consulta. Montado a cavalo, a pé, de jipe, no afã de levar conforto para
seus pacientes, conheceu caminhos, trilhas, picadas e velhas estradas. A geografia local a conhecia
como poucos. Durante 28 anos trabalhou em Nova Veneza e, de 1931 a 1961 foi diretor médico do
Hospital São Marcos. Introduziu exames laboratoriais no Hospital os quais ele mesmo os fazia
numa pequena sala daquele nosocômio.
Paralelamente, Dino Gorini participava da vida comunitária. Em 1942, juntamente com alguns
amigos, fundou a Carbonífera Catarinense tendo sido cotista também das carboníferas Rio Maina e
São Marcos. Foi fundador do Metropolitano Clube de Nova Veneza e seu presidente durante muitos
anos. Membro do Rotary Clube de Criciúma, clube de serviço que presidiu e de cuja entidade foi
Governador distrital para todo o estado barriga-verde. Maçom da Loja Presidente Roosevelt foi seu
venerável e representante da Grande Loja do Grande Oriente da Itália para o Estado de Santa
Catarina. Com a emancipação do distrito de Nova Veneza, foi Vereador e presidiu a Câmara
Municipal. Em 1962, transferiu residência para Criciúma ajudando a fundar o Hospital Santa
Catarina do qual foi diretor. Em 1977 a Câmara de Criciúma outorgou-lhe o título honorífico de
Cidadão Honorário do Município.
Seu conceito profissional e de homem de bem podem ser constatados pelos inúmeros amigos que
deixou e pelas muitas crianças que receberam o seu nome, modo com que as famílias da colônia o
homenageavam.
Dino Gorini faleceu a 21 de julho de 1988 e seus restos repousam no cemitério de Nova Veneza
plantado numa de suas colinas de onde continua olhando a cidade que ajudou a construir.
É um orgulho ter vivido com Dino Gorini em Criciúma, este orgulho de cidade!
DONA SISSI
Ela nasceu na Palhoça, ali na Grande Florianópolis. Seu Alberto Scheidt e Dona Leopoldina Sharf
Scheidt batizaram-na com o nome de Araci, mas desde o nascimento recebeu o apelido de Sissi e
assim foi conhecida até a morte.
Nasceu dia 16 de outubro de 1927.
Sempre estudou na cidade de Florianópolis e, o curso de educação física, o fez no Quartel da
Polícia Militar de Santa Catarina.
No final dos anos 40 – em 1948 ou 49 – seus pais resolveram adquirir o Hotel Palace, aqui em
Criciúma. Era aquele hotel que estava localizado na Rua Cel. Pedro Benedet, onde hoje temos as
Lojas Fretta. E, adquirido o hotel, toda a família veio residir em nossa cidade. A partir daquele ano,
dona Sissi começou a lecionar educação física no Grupo Escolar Professor Lapagesse e, mais tarde,
no Curso Particular Póvoas Carneiro.
Notabilizou-se pela severidade com que lecionava. No preparo do desfile de Sete de Setembro não
descansava sem que todos perfilassem harmonicamente e em uníssono: “Peito pra fora, barriga pra
dentro, um dois, um dois...” lá ia ela acompanhando um a um os desafinados...
Paralelamente, nessa mesma época, um caixeiro-viajante de nome Nator, freqüentava nossa cidade,
com assiduidade, para vender os produtos que representava. E tinha, no Hotel Palace, a sua
hospedaria. Costumeiramente, reparava na presença daquela mocinha desenvolta, esguia e muito
simpática. Desse reparo ao flerte, foi um piscar de olhos... E, do piscar de olhos ao namoro, um já.
Depois de quatro anos, a 15 de dezembro de 1955, sob o severo olhar do vigário Estanislau Ciseski,
a professora Sissi tornava-se a mulher de Nator Arjona com quem viveu até a morrer.
Desse casamento nasceriam a Raquel, a Regina, o André e o Luiz.
Dona Sissi faleceu a 24 de maio de 1996 depois de intenso sofrimento que lhe ocasionou um câncer
em seu útero.
Há uma legião de pessoas em nossa região que não sabia que o nome de dona Sissi é Araci. Mas,
essa legião, somada a mais uma grande porção de catarinenses, sabe que muito se deve àquela
guerreira que, no magistério, ensinando ginástica para tantos jovens desajeitados, ajudou a dar
mais saúde para muita gente.
Com humildade, é verdade, e com desajeitadas linhas – com certeza - na condição de seu ex aluno,
junto-me a tantos e presto esta homenagem à Dona Sissi em nome de Criciúma, este orgulho de
cidade!
FÁBIO SILVA
Fábio da Silva nasceu e morreu na cidade de tubarão. Veio ao mundo em 1883, no dia 11 de maio e
partiu para a eternidade em 1954, dia 10 de dezembro. Fez, contudo, grande parte do seu projeto de
vida, aqui em Criciúma para onde transferiu residência em 1918, estabelecendo-se com armazém de
secos & molhados na Vila Operária. Escolheu a Vila Operária porque ali residia a maior parte da
massa operária que trabalhava nas minas de carvão e o seu estabelecimento tinha esse endereço:
vender para os mineiros. Era casado com Maria Soares da Silva, de cuja união nasceriam os filhos
Antonio Thomaz (que foi prefeito de Araranguá por duas vezes), Lindomar, Maria, Ranulfa, Nair,
Zanzi, Bernardete e Efi Sueli.
Destacava-se como um homem culto, de ótima caligrafia e de um relacionamento extraordinário.
Isto lhe valeu uma cadeira de Conselheiro na primeira legislatura do nosso Município assumindo
em1º de janeiro de 1926 e já guindado à condição de Secretário da corporação. Foi delegado de
polícia. Foi também feitor de estradas. Como tal, foi abrir o caminho da Serra da Garganta, lá em
São Bonifácio. A época era 1930. Ferrenho adepto do Partido Republicano, não admitia o
movimento revolucionário encabeçado por Getúlio Vargas. Ali, no canteiro de obras para a
abertura do caminho da Serra, cercava os getulistas não permitindo que seguissem à frente. Uns
bugreiros (matadores de índios) que habitavam a redondeza procuraram os getulistas, agora
vencedores do movimento revolucionário, e indicaram a localização do acampamento de Fábio
Silva. A polícia foi mobilizada e o nosso Conselheiro acabou sendo preso e transportado para
Florianópolis. Aos parentes, aqui residentes, enviaram a notícia de que Fábio Silva havia falecido.
A família enlutou-se a própria comunidade lamentava a perda daquele homem público naquelas
condições. Durante sete dias, a viúva e os filhos trancaram-se em casa para melhor refletir sobre a
vida do extinto haja vista que esse era o costume da época.
Mas, passados uns quinze dias do desenlace, eis que chega à cidade o feitor de estradas dado por
morto. Morrera coisa nenhuma. Foi tudo armação da polícia para penalizar, ainda mais, o nosso
ex-conselheiro e sua família. Esta arrancou o luto que portava e chamou amigos de todos os lados
para, durante três dias, festejarem a ressurreição de Fábio Silva.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade.
FIOBO MINATTO - I
Hoje vou falar de um dos maiores personagens folclóricos de nossa cidade. Falo de FIOVO
MINATTO ou FIOBO MINATTO.
Filho de Frederico Minatto e de Narcisa Dandolini Minatto.
Nunca trabalhou, no sentido clássico do trabalho...
Vivia de jogos, de dinheiro que arrancava dos pais e daquele proveniente de aluguéis de imóveis
que possuía.
Nos jogos, era o mais exímio nas roletas, nas tampinhas e no pula-macaco. Nestes dois últimos,
ganhou praticamente todo o dinheiro que o sustentou.
Se o policial enveredasse em sua direção, fazia o jogo da tampinha com cascas de nozes. Proibido
era com tampinhas, mas não com cascas da fruta.
Com a idade aproximada de 20 anos, depois de trapacear uma dezena de incautos lagunenses, na
cidade de Laguna, arrumou uma confusão monumental: brigou com um cabo e dois soldados. Um
deles apanhou tanto que cuspiu sangue por mais de uma semana. Foi preso. Na cadeia, um dia,
recebeu a visita que um amigo que lhe levou, dentro do pão, um pedaço de serra para aço. Com
aquela ferramenta, foi serrando as varas de ferro que faziam a grade da sua cela. Aparava as
limalhas do metal e as misturava com sabonete. Se algum guarda, por acaso, viesse fazer vistoria
das celas, imediatamente “soldava” os ferros já serrados cobrindo as fendas com a mistura de
limalha com sabonete dando a aparência de que tudo estava intacto. Até que, numa certa noite,
conseguiu o intento: a grade da cela serrada fugiu. Foi até o pátio de manobra da estação da
Estrada de Ferro Dona Theresa Christina e ali furtou um trolley (uma espécie de vagão, sem teto,
de – mais ou menos dois por 3 metros – que é acionado com um remo de bambu, cuja extremidade
inferior é empurrada contra a terra e, impulsionado pelo condutor é arremessado para frente ou
para traz).
Pela ferrovia, embarcado naquele veículo, alcançou a estação da Barranca, em Araranguá. Fez
todo o trajeto (Laguna/Araranguá) sem ser admoestado por ninguém. Como a estação da Barranca
fica do lado de cá do Rio, utilizou um caíque que estava amarrado na margem deste lado do Rio e
fez a travessia. Já no outro lado, a pé, dirigiu-se ao pé da Serra Geral, lá na Rocinha e, pela trilha
dos tropeiros, subiu aquela cadeia de montanhas. Alcançou Bom Jesus.
Em Bom Jesus, conheceu Maria Antonia Camargo, por quem se apaixonou. Esqueceu sua
companheira Carolina Perplau, sua primeira mulher que lhe dera a filha Marta. Com Maria
Antonia viria a se casar, de papel passado e tudo. Houve festa na Serra. Desse matrimônio nasceria
Frederico Lucas, o Riquinho.
Com ela conviveria durante três anos findos os quais mãe e filho seriam abandonados para, no
lombo de um burro, descer a Serra. Mas não suportou a saudade do filho. Retornou a Bom Jesus,
subornou seu cunhado Jango (irmão de sua mulher) e este roubou o filhote Riquinho da mãe
entregando-o ao pai saudoso. Estes, apressadamente – agora no lombo de uma mula – vieram para
Criciúma.
Retornarei a falar de Fiobo Minatto, em futuras crônicas.
Eu gosto de falar de Criciúma, de todas as épocas, este orgulho de cidade!
FIOBO MINATTO - II
FIOBO MINATTO – IV
Fiobo Minatto brigava muito. Por qualquer coisa. Até por ser chamado de Fiobo e não
Fiovo, como fora registrado, era motivo de uma boa briga.
Nos cafés, dava tiro a esmo.
Nestes, era costume pedir o seu almoço à base de verde. Até salada de urtiga com bastante
azeite de oliva. Enchia o prato de azeite e, finda a refeição, o local ocupado estava
invariavelmente sujo de azeite que escorria do prato quando a verdura era levada à boca.
Por causa dessa sujeirada, os donos de bares não gostavam de fornecer-lhe a tal
“refeição”. Num dia, no Café Ouro Preto (hoje uma loja de calçados) ele viu, ao entrar, à
hora do almoço, que esconderam o azeite que estava sobre o balcão, num gesto inequívoco
de que não queriam servi-lo. Ele olhou para a prateleira, cheia de latas do óleo e, sacando
o revólver, atirou em cada uma, fazendo chover azeite...
No dia seguinte mandou um emissário conhecer o estrago e pagar os danos. Aliás, esta
prática esteve sempre presente em sua vida: qualquer estrago provocado por brigas
resultantes de bebedeiras (ou não), sempre foi indenizado, centavo por centavo.
A propósito: Fiobo tinha três amores: o burro, as mulheres e a cachaça. Gostava desta
última e, praticamente, vivia bêbado. Mas consciente, sempre. Muitas vezes, simulava o
estado de embriagues, mas para tirar vantagem. Por exemplo, ia à casa do pai, seu
Frederico, para pedir dinheiro. Era impossível dizer que não estava tomado. Que nada!
Era só para engambelar o pai e a mãe: - Ou me dão dinheiro ou quebro tudo aqui dentro.
E lá vinham as pelegas, pelas mãos do pai e pelas da mãe, também. Era a maneira de
verem-se livres daquele estorvo.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
FIOBO MINATTO - V
Arno Amboni, lá no Rio Cedro – hoje Nova Veneza – mostrava aos seus amigos e,
especialmente para as crianças, que o sapo é um batráquio que não faz mal a ninguém,
não morde e é limpo. Para isso, apanhava um sapo e colocava metade do seu corpo em sua
boca. Cena no mínimo repugnante...
Fiobo ia chamar o Amboni para fazer uma demonstração por aqui, mas, achou melhor
economizar o tempo do traslado e ele mesmo começou a fazer tal demonstração. “E
quando as patinhas dianteiras não entravam na boca, ao natural, ele as fazia penetrar
ajudando com as mãos”. Cansou de fazer isto.
Aliás, gostava muito de sapo. Buscava-os em balaios ao pé de postes com lâmpada acesa.
E os levava e soltava dentro de casa. - Para matar insetos, dizia. Realmente na sua casa
não havia barata e outros insetos rasteiros; os sapos encarregavam-se de banquetear-se
com elas...
Um dia um valente lá do Rio Morto deixou um recado para ele, com sua irmã, a viúva
Júlia Minatto. “Bala trocada não dói” dizia o recado.
Tratava-se, na realidade, de uma provocação.
- Vou mostrar se bala trocada não dói.
Ficou dois dias em jejum completo. Com estômago vazio é mais difícil morrer...
Naquele estado, foi procurar o valente. Encontrou o dito cujo que num de repente se viu
presa e recebeu a maior surra de que se tem notícia. Apanhou de rabo de tatu. Fiobo
cansou de tanto surrar aquele infeliz que acabou caindo por sobre a vítima. Este,
inesperadamente, puxou um punhal que trazia às costas e o feriu, mortalmente, à altura do
estômago. Fiobo só não morreu porque seu estômago estava vazio. Montou no seu burro e
alcançou o Hospital São Marcos, de Nova Veneza, a ponto de receber todos os
indispensáveis socorros. Não foi desta vez!
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
FIOBO MINATTO – VI
Lampião, o Cangaceiro, aprontava no Nordeste. Sua fama de valentia invadia o Sul.
Fiobo Minatto, ao mesmo tempo, auto intitulou-se de Lampião do Sul. Pintou esta frase na
borda dobrada de um chapelão que nunca saia de sua cabeça, vestiu uma capa preta,
tomou uma espingarda 16 à mão direita e, vamos que vamos...
Fiobo possuía sua residência na Rua Henrique Lage, mais ou menos onde, posteriormente,
foi construído o Atacado Althoff. Aquela quadra ali, era dele. Sua casa estava construída
dentro de uma chácara: Chácara Regina Helena. Assim denominada em homenagem a
uma de suas mulheres e um grande amor de sua vida. No quintal havia um pé de caqui. O
único pé de caqui de Criciúma. Ninguém sequer sabia o que era caqui. Pois o homem tinha
um pé dessa fruta no seu quintal. E quando as frutas estavam maduras, encheu uma cesta,
chamou o Luiz Português (taxista) e saiu a vender caqui nas casas do centro da cidade.
Ninguém comprava, pois ninguém sabia que fruta era aquela. Voltava para casa, pagava o
táxi – e não era pouco – devolvia as frutas para o consumo caseiro e estamos
conversados...
Certa vez Fiobo contratou o táxi do Luiz Português (um Mercury, 46) e ficou por aí
durante 16 dias corridos. Gastou 60 contos de réis, o valor de uma Mercury daquelas.
Rodou sem destino, ou melhor, com o destino das casas de prostituição do litoral.
Acompanhava-o, sempre, a gaita e o cachorro Dodge. Este era o nome do seu fiel amigo. A
primeira visita foi na de Laguna; depois Imbituba; depois Florianópolis. Na capital, bebeu
até não poder mais e voltou. Mas perdeu o seu cachorro Dodge na ilha...
Já se passavam 15 dias do retorno daquela aventura e eis que, bebendo com um amigo no
Café São Paulo, o Dodge lhe pula sobre o colo, esfregando a língua em seu rosto. Chorou
de alegria ao ter seu amigo novamente ao colo. E ficaram ali no bar até que este fechasse,
já de madrugada, a trocar carinhos... (Aquele cachorro retornou de Florianópolis a pé e
sozinho).
Conta que era costume Fiobo ser recebido, ainda distante de sua casa, pelos cães que
faziam a guarda de sua moradia. É que estes conheciam o som da gaita. Essa gaita, Fiobo
a tocava até não poder mais. Então, pendurava-a as costas deixando que caísse até os pés.
Ao contatar com os calcanhares, as teclas dos baixos entoavam o foommm, foommm,
foommm fazendo com que os cães despertassem para a volta do patrão... Não é
fantástico?!
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
FRANCISCO MARTIGNAGO
No último dia 3 de maio, ele teria completado seus 103 anos de vida haja vista ter nascido, ali em
Urussanga, a 03 de maio de 1897. Era filho de Ferdinando Martignago e de dona Rosa Fagotto
Martignago.
Hoje vou me reportar ao Seu Chico Martignago, batizado como Francisco, mas de todos conhecido
como Seu Chico, um dos mais velhos e respeitados moradores da Mina do Mato. Seu Chico faleceu
dia 26 de junho de 1985, contando 88 anos de idade. Seus restos repousam no jazigo da família, no
Cemitério Municipal de Criciúma.
Em junho de 1918 contraiu casamento com Catarina Dário. Tanto ele quanto ela, filhos de
imigrantes e trabalhadores na agricultura. Ele sempre foi da roça, de onde buscou o sustento para a
sua numerosa família constituída pelos filhos João, que casou com a Tomázia; Adelina, casada com
Paulo Demétrio; Líbera casada com Manoel Galdino Vieira; Gracioso, casado com Maria Nely;
Zeferino, casado com Adail Waldira; Ascendino, casado com Tereza; Amélia, casada com Antonio
Artismo e Nair, casada com Mário Lodetti.
Seu Chico viveu sempre numa simplicidade franciscana. Além dos afazeres da agricultura, cangava
seus bois a um carro e fazia frete transportando carvão das minas da Mina do Toco e da Mina do
Mato para o embarque nos vagões da Estrada de Ferro Dona Theresa Christina. Puxava, também,
com seus valentes bovinos, toras de madeira que eram derrubadas da mata virgem que circundava a
cidade, para as serrarias que se multiplicavam na região.
Não sabia ler nem escrever, mas desenhava o seu nome e com esse desenho autenticava os
documentos que lhe diziam respeito.
Magnânimo, era o partícipe número um das campanhas comunitárias da Mina do Mato e da própria
cidade de Criciúma. Lá no Bairro, doou o terreno para a construção da sua capela católica; foi
dele, também, a doação de toda a madeira empregada para erguer o templo; não bastassem essas
doações, seu Chico fez uma última: doou a imagem de Nossa Senhora Auxiliadora, padroeira da
localidade.
Seus netos carregam sobre os ombros a responsabilidade de prosseguir com a família e honrar os
postulados de honradez e de trabalho que Seu Chico transmitiu como Norte de vida. Seu nome é
perpetuado com a denominação de uma via pública no Bairro onde viveu a maior parte de sua vida:
a Mina do Mato.
Francisco Martignago – ou, simplesmente, Seu Chico – é mais um dos nomes que não podem deixar
de ser citado na história de Criciúma, este orgulho de cidade!
ILDEBRANDO DE LUCA
Ildebrando de Luca, filho de Guerino Lourenço de Luca que era filho de imigrantes italianos,
nasceu aqui em Criciúma e executou seu projeto de vida aqui e em municípios do Vale do
Araranguá. Hoje, reside em Maracajá.
E o que é o seu Ildebrando tem a ver com a nossa Criciúma?
A primeira vista parece que nada, diria o menos avisado. Todavia seu Ildebrando é um dos
propulsores do nosso progresso. Querem ver?
Em 1946, ele fundou uma empresa de transporte coletivo que ligava Meleiro a Içara fazendo o
seguinte trajeto: Meleiro, Araranguá, Maracajá, Forquilhinha, Mãe Luzia, Criciúma e Içara. A
frota era constituída por quatro ônibus, um Ford adquirido dos Irmãos Amin e três Chevrolet,
adquiridos de Carlos Hoepcke S.A., ambos em Florianópolis.
Já no ano seguinte, em conseqüência de injunções políticas, seu Ildebrando perderia aquela
concessão para terceiros que, obedecida à sucessão, transformou-se na Araranguaense.
Em 1947, comprou, do senhor Basílio Aguiar, a linha de ônibus que fazia o trajeto Nova Veneza,
Criciúma, Içara e Mineração de Içara e, não raras vezes, Praia do Rincão.
Eram seus motoristas, dentre outros, os senhores Dorciso de March e Marcos Zanette e, dentre os
condutores, isto é os cobradores de passagens, os senhores Ézio Lima e Lilá Casagrande, ambos de
saudosa memória.
Enquanto ele operava a linha transportando gente de lá pra cá e de cá pra lá, o Senhor Luiz
Lazzarin acenava-lhe com a possibilidade de adquirir aquele negócio. Em 1950 o desejo do senhor
Lazzarin solidificou quando realmente adquiriu a Empresa de Transportes Coletivos de Luca Ltda.
No contrato social constavam como proprietários os senhores Névio Lazzarin, Arno Hertel e
Valdemar Machado.
No ato da transferência do capital para os novos sócios, a empresa tomaria o nome de Auto Viação
São Cristóvão que, nos anos 90, foi vendida para uma empresa nacional do ramo, a União
Cascavel.
Durante todo esse lapso de tempo, a São Cristóvão – que chegou a ser uma das mais importantes
empresas concessionários do transporte de passageiros de Santa Catarina - manteve sua sede na
esquina da Rua Marechal Floriano Peixoto com a Travessa Padre Pedro Baldoncini. Ali, num
prédio que imitava um palacete, a são Cristóvão mantinha seus escritórios, balcão de venda de
passagens e encomendas, pátio de embarque/desembarque, garagens e oficinas.
Ao tempo da Transportes Coletivos de Luca Ltda., só operavam em nossa cidade, com ela, a
Transportes Coletivos Naspolini, de Cincinato Naspolini que, a rigor, foi a primeira empresa
genuinamente criciumense a operar no transporte de passageiros e a Auto Viação São José, de
Urussanga.
Notaram como senhor Ildebrando de Luca tem muito a ver com a nossa história?!
Eu gosto de falar de Criciúma, de todos os tempos, este orgulho de cidade!
JOÃO CECHINEL
Era 22 de setembro de 1952. Criciúma chorava a morte de João Cechinel que, nascido em
Urussanga Baixa, a 2 de agosto de 1887, contava 65 anos.
João Cechinel foi um dos primeiros a nascer em solo criciumense, haja vista a sua
condição de filho de italianos imigrantes aqui chegados sete anos antes do seu nascimento.
Notabilizou-se como abridor de estradas. Não era engenheiro, aliás, mal sabia ler e
escrever. Todavia, tomou gosto pelos afazeres de abrir caminhos e passou a ser disputado
como feitor das estradas que interligavam os municípios e localidades da região.
São contabilizados para ele os serviços de abertura das velhas estradas que ligavam
Criciúma a Jaguaruna. Nós, uma pequena comunidade encravada aqui no Sul, mas
Jaguaruna já um importante ponto comercial do sul catarinense. A estrada partia daqui,
passava por Morro da Fumaça, Rua da Palha (hoje Sangão) e Jaguaruna.
Também a ligação rodoviária entre Mãe Luzia e Nova Veneza, foi feita por João Cechinel
que, além dessas, ajudou a desbravar muitas outras localidades de nosso território.
Não bastassem estas atividades, João Cechinel era, também, agricultor, panificador, agro
pecuarista e minerador na indústria da extração do carvão mineral.
No dia do seu falecimento a comoção tomou conta da cidade e foram notadas as bandeiras
do Mampituba e do Olímpico Basquete Clube hasteadas a meio pau e os alto falantes da
velha Eldorado – instalados na Praça Nereu Ramos – ficaram mudos durante alguns
minutos tudo creditado a homenagem póstuma ao ilustre falecido.
João Cechinel, hoje nome de importante via pública de nossa cidade, era casado com
Galdino Minatto de cujo matrimônio nasceriam os filhos Amélio, Achelina (conhecida
como Dona Nini, a precursora das funerárias da cidade), Amélia, Livio, Almiro, Aldo,
Pedro, Diógenes e Silvio.
Seria uma falha irreparável não falar de João Cechinel quando o assunto é a história do
nosso Município.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
JOÃO SORATTO - I
No início desta semana reportei-me acerca dos noventa anos que fará, no próximo dia 12, a
professora Iria Zandomênego de Luca. Noventa anos, não é todo dia.
Hoje, falo do nonagésimo aniversário de outro baluarte de nossa cidade: reporto-me a João
Soratto.
Fui visitá-lo, na sexta-feira, véspera do seu monumental aniversário. Monumental não pelo tamanho
da festa. Monumental pelo número de anos completados. Quando muitos se dão por satisfeitos com
seus 75/80 anos, seu João completou 90. E, ao adentrar em seu quarto e cumprimenta-lo pelos 90,
ele reclamou:
- Noventa, não! Faltam 10 para os cem!
Noventa anos, prezado ouvinte, é o mesmo que 1.080 meses. 90 anos são o mesmo que 64.800 dias.
90 anos equivalem a um milhão, 555 mil e duzentas horas. Horas de amargura, horas de saudade,
horas de alegria, horas de aflição, horas de angústia, horas de circunspeção, horas de
extravagâncias, horas de aborrecimentos, horas de orações, horas de doação, horas de prazer,
horas de felicidade. 90 anos são tempo suficiente para educar pelo menos uma geração e meia. São
tempos de registro de um largo lapso de nossa história especialmente para ele que veio para cá
quando a Criciúma ainda era Cresciúma e tudo estava por ser feito.
Há noventa anos, no dia 24 de junho de 1910, lá no Ribeirão da Areia, interior do interior da
interiorana Urussanga, nascia João, o mais velho de todos os descendentes de imigrantes da família
Soratto. Seus pais foram Luiz Soratto e Regina Salvador Soratto, ambos naturais da Itália.
A casa onde nasceu era de pau a pique, coberta de folhas de palmeiras e assoalho de chão batido.
Os afazeres da família, a roça e a agropecuária de subsistência. O abc que lhe abriu os olhos para
as letras, foi-lhe ensinado pelo seu pai, que se auto-alfabetizou para poder acudir aos desafios da
época. Depois, freqüentou uma escola isolada e particular cujo professor, um jovem de raça negra,
fora contratado para ensinar a ler e escrever direito e a fazer contas decorando a tabuada. De
lanche, batata e aipim assados e amendoim.
Assim começava a vida de João Soratto que, no dia 24 de junho passado, completou 90 anos de
idade muitos dos quais dedicados a Criciúma, este orgulho de cidade!
JOÃO SORATTO - II
A exemplo de ontem, vou falar de João Soratto, um jovem cidadão que completou 90 anos de vida
no último dia 24.
Seu João sempre foi temente a Deus e confesso seguidor da Igreja Católica Apostólica Romana.
Diz, com todas as letras, que todas as religiões endereçam a um mesmo fim: Deus, criador do
mundo. E acrescenta: basta seguir os 10 mandamentos e todos os deveres para com a religião serão
cumpridos.
Ao ser perguntado sobre as alegrias e tristezas experimentadas ao longo de 90 anos, não hesita em
afirmar: as coisas tristes são esquecidas; não vale a pena relembra-las.
Agora, a maior alegria da vida foi quando vestiu sua primeira calça e sua primeira camisa. E ele
mesmo se apressa em explicar: é que, naquele tempo, o costume era vestir os garotos com uma
espécie de camisola comprida a fim de facilitar o serviço das mães. Então se sabia quando a
criança deixava de ser um pirralho, sujador de roupa, quando abandonava aquela camisola e vestia
calças e camisa de homem. Deste fato – ele afirma – jamais haverá de esquecer.
Dançar aprendeu em domingueiras que eram feitas nas casas dos próprios colonos da localidade
aonde vivia. Esporte, lá nos primeiros anos, só corrida com salto em distância. Com seus 10/12
anos, chegou a pular 1 metro e 4o centímetros. Já, quando contava seus 15 anos, apareceu o futebol.
De pronto, com seus colegas, foi construir e demarcar o campo. Depois, com a arrecadação
envolvendo a todos, comprou a primeira bola que chamavam de “bola de pneu”. “Furava uma
barbaridade. Era preciso sempre ter uma bomba para enchê-la e michelin para consertá-la” -
complementa. Depois daquela primeira, todas as demais bolas foram de sua exclusiva propriedade.
Era o dono da bola, o capitão do time, o juiz das partidas, o todo poderoso...
Seu pai vislumbrou novos horizontes e veio a São Rafael, hoje interior da Içara, adquiriu vasta
gleba de terra, construiu sua casa e trouxe a família para cá. Seu João, evidentemente, veio junto.
Era 1928. Ele deixara a puberdade e passava à condição de homem feito.
Ali em São Rafael, Roberto Maier e Balduino Réus eram donos de uma serraria movida a vapor,
através de um locomóvel. Num determinado dia o operador da engenhoca não compareceu ao
serviço. Foram à casa de seus pais e pediram para que João fosse substituir o faltante. Seu João foi,
gostou e ficou. Logo em seguida era promovido a serrador daquela indústria.
E assim começava a trabalhar profissionalmente na construção de Criciúma, este orgulho de
cidade!
JOÃO SORATTO - IV
Já falamos de João Soratto, o jovem nonno que completou nove décadas de vida no último dia 24 de
junho, desde o último dia 29. Pode ser que hoje demos por completada esta magnífica tarefa.
Porque é muito bom falar de pessoas como o nosso homenageado...
Junto ao posto Atlantic, cuja bomba contava o consumo automaticamente, seu João montou a nossa
primeira borracharia. Quem quisesse consertar um pneu tinha de viajar ou para Araranguá ou para
Tubarão. Agora não: já tínhamos nossa primeira borracharia. Ah, e o nosso primeiro posto de
lavação e lubrificação de veículos automotores. A frota era pequena, é verdade. Mas quem quisesse
ter veículo limpo tinha que arregaçar as mangas... Agora, ufa! Criciúma já contava com esse
serviço. Outro pioneirismo de seu João foi a solda elétrica. Imaginem: não havia solda elétrica na
cidade. Somente em Tubarão. Nosso personagem instalou a primeira.
Todavia, a energia elétrica era escassa e de péssima qualidade. Aí Seu João comprou um gerador
para atender aos seus misteres. Era um conjunto a diesel de 24 cavear de potência. Um luxo só!
Num belo dia o locomóvel da Jugasa, que fornecia energia para a cidade, queimou. Seu conserto
dependia de peças que deveriam ser buscadas em Porto Alegre ou São Paulo. A cidade foi socorrida
pelo gerador de Seu João que forneceu energia para a fábrica de camisas Aguiar, para a Farmácia
são José, para a Igreja Matriz São José, para a Rádio Eldorado, para o Café Rio e para o Cine
Rovaris. O resto ficou às escuras...
Seu João Soratto foi o nosso primeiro concessionário de veículos automotores. Eram dele as
revendas dos automóveis Citroen, da indústria francesa e Vanguard Stander, do Reino Unido. Foi
dele, também, a revenda de caminhões e tratores agrícolas americanos da International Harvester.
Como o tempo esgotou, retornarei a falar de João Soratto, amanhã, neste mesmo horário. Ele faz
por merecer, tanto ajudou a escrever a história de Criciúma, este orgulho de cidade!
JOÃO SORATTO - V
Hoje encerro a série de crônicas que falam da vida de João Soratto que, no último dia 24 de junho,
completou a idade de 90 anos.
Seu João era proprietário de grandes áreas de terras, aqui na cidade. No Bairro da Mina Brasil,
promoveu um dos maiores loteamentos da época.
Um belo dia procuraram-lhe os médicos Olavo de Assis Sartori e Lourenço Cianti Filho. Os
facultativos queriam construir uma casa de saúde. E propuseram negócio ao senhor João. Este
entraria com o terreno e os médicos com o capital. Daquela proposta nascia o Hospital São João
Batista, este mesmo que se tornou referencial da moderna medicina regional. Pois o nosso Hospital
foi fundado pelos médicos Sartori e Cianti Filho e pelo João Soratto. Aliás, o nome do nosocômio
homenageia seu João, proprietário das terras sobre as quais o hospital foi construído. Sob essa
composição societária funcionaria durante seus primeiros três anos findos os quais seria vendido às
empresas Metropolitana que gerem seus negócios até os dias atuais.
Em 1950, João Soratto acompanhou Primo Mazzucco e Leonildo Nervo e se mandou para o Paraná,
na febre de colonizar a terra roxa daquele estado. E colonizaram. E a cidade que fundaram está lá
para testemunhar o grande feito: Ivatuba, lá em cima, na região de Londrina.
João Soratto casou com Helena Salvador Soratto e dessa união nasceram a Maria, o Mário, a Marli
Teresa, a Marcolina e o Mauro Luiz.
Não fossem teimosas gripes que lhe visitam esporadicamente, poder-se-ia afirmar que João Soratto
é um homem de saúde de ferro. Vai ao sítio da família com a desenvoltura de um jovem de 30 anos.
Na conversa é sábio para ouvir e respeitado quando fala. Possui memória fotográfica dos anos
compreendidos entre a sua juventude até os dias atuais. Sabe como poucos.
Ao completar seus noventa anos de idade, não poderíamos deixar de prestar-lhe uma homenagem –
ainda que humilde – pois homem de sua têmpera, fazendo o que fez, e disposto a fazer cada vez
mais, precisa do reconhecimento de Criciúma, este orgulho de cidade!
JOÃO SPILLERE
Ele nasceu na localidade de Caravaggio, no então distrito de Nova Veneza, município de Criciúma.
Isto se deu a 7 de novembro de 1919. Era filho do italiano Valentin Spillere e de dona Teresa
Ronchi Spillere. Falo de João Spillere, o seu João, ali do Pinheirinho.
Teve infância igual a de todas as crianças do primeiro quarto de tempo do século XX. Foi
alfabetizado e estudou em Nova Veneza sob o severo olhar do professor Guido Costa.
Trabalhou na roça, como acontecia com praticamente toda a juventude de sua época. Imensas
lavouras contavam com sua ajuda na capina, no plantio e na colheita. No dia 8 de agosto de 1942,
levava a senhorita Ana Zanardo à igreja e, perante a Deus e ao padre, tomava-a como sua mulher.
Ficaram residindo em Caravaggio, com seus pais, dividindo a casa com todos os demais filhos num
total de 14 pessoas. A roça do seu Spillere ganhava, agora, os braços de Ana que só foi descobrir
que não era Anita – como fora batizada – ao reunir os documentos para o matrimônio.
Em 1944, seu Valentin resolveu comprar terras ao Sul de Cresciúma escolhendo dez hectares
cobertos de mato num lugarejo chamado Pinheirinho. Aqui construiu uma casa, de madeira, e nela
João e sua mulher vieram a residir. Seus únicos vizinhos eram as famílias de Jácomo Peruchi, João
e José Milanez. O resto era mato...
João cortava mato para fazer lenha e esta atividade dava o sustento para sua casa. Mais tarde,
montou uma padaria, bem ao lado de sua casa e tocou esse negócio por mais ou menos três anos.
Em seguida, construiu uma caieira, isto é, uma fábrica de cal. Ia buscar conchas na praia de
Imbituba e as transportava pela ferrovia Thereza Christina, sempre contando com a participação de
sua mulher. A cal era vendida, na sua totalidade, para a Companhia Siderúrgica Nacional, em
Siderópolis. Mais tarde, associou-se a João Zanette, na mineração de carvão de uma mina a céu
aberto localizada mais ou menos onde temos hoje a Carroçaria Becker. Seguiu-se a exploração de
carvão na Santa Augusta, associado a Pascoal Meller e Fortunato Biléssimo. Depois foi minerar em
São Marcos onde experimentou dissabores tão grandes que abandonou o negócio de mineração de
carvão. Montou um posto de gasolina, o Atlantic, o primeiro da zona sul de Criciúma, mais tarde
transformado no Posto Barp que todos conhecemos nos dias atuais.
De seu casamento com Ana, nasceram os filhos Nério, Nelson, Neri, Elza, Nereu e Nilton, que lhe
teriam presenteado com 16 netos e oito bisnetos.
Católico praticante, não se furtou em contribuir magnanimamente com as obras do Seminário
Rogacionista e com a própria Paróquia Nossa Senhora das Graças. Político, sua residência era
endereço certo para a visita de qualquer candidato que quisesse sucesso nas urnas do seu Bairro. O
PSD e Nereu Ramos eram as suas paixões
No dia 4 de maio de 1975, contando apenas 56 anos de idade, falecia por complicações pós-
operatórias ocasionadas por uma intervenção cirúrgica que lhe extirpou uma úlcera estomacal.
João Spillere partiu muito cedo e poderia estar ainda conosco ajudando a escrever a bela história
de Criciúma, este orgulho de cidade
JOÃO ZANETTE - I
No ano da graça de 1911, exatamente no dia 18 de junho, dona Perpétua trazia à luz dois
garotinhos, gêmeos. Serviu de parteira aparadora, Dona Úrsula. Faz, portanto, 89 anos. Foi ali no
Santo Antonio, numa casa bem próxima da igrejinha de então, ao lado da antiga residência de
Caetano Sonego. Um desses garotinhos, o mais velho, deveria receber o nome do pai que já tinha o
nome do avô. Essa prática era comum nas famílias mais antigas. Todavia, o que viera em primeiro
lugar, era muito fraquinho e os pais temeram pela sua sobrevivência. Deveria ser chamado Gabriel
e, o outro, João. Para não correr o risco da quebra da corrente nomástica, inverteram os nomes: o
que seria João passou a ser Gabriel e o que seria Gabriel ficou sendo o João. Capito?
Pois bem, vou falar de João – o que deveria ser Gabriel. João Zanette, filho de Etore Zanette e de
Perpétua Serafim Zanette. É, do seu João Zanette, da CCU...
Com o irmão gêmeo, Gabriel, são o terceiro e o quarto filhos do casal Etore e Perpétua que são
pais, também, da Maria, da Luiza, de outra Maria (já que a primeira falecera ainda menina), do
Pedro, do Ângelo, do Luiz, do Antonio e do Batista.
Aos cinco anos de idade, João acompanhou a família indo residir no Morro Estevão, onde seu pai já
mantinha negócios com plantio de banana e cana de açúcar. Aliás, a cana de açúcar se constituiria
num dos mais prósperos negócios de João, na sua juventude, no fabrico de aguardente.
Aprendeu a ler e a escrever com o professor Fermo Mangilli que morava no caminho da cidade,
bem em frente ao local onde temos hoje o 28 GAC. Posteriormente foi estudar com Romildo
Lombardi que ensinava em língua italiana. Mas só estudou mais quatro meses já que o professor
Lombardi veio a falecer e a sua escolinha foi desativada.
Aos sete, oito anos, acompanhou os colegas de infância, se preparou e fez a primeira comunhão,
prática religiosa indispensável nas famílias dos “oriundi”. O sacramento lhe foi ministrado pelo
vigário da paróquia São José, Padre Ludovico Coccollo.
Com oito anos de idade, tanto ele quanto Gabriel já possuíam o seu cavalo encilhado, um luxo para
aqueles anos. No lombo desses animais os gêmeos compareciam a todas as festas religiosas da
região. As de Santo Antonio, no bairro do mesmo nome; São Pedro (na Santa Augusta); São
Donato, na Içara e São José da centenária Cresciúma, deixaram saudade.
Com 12 anos já ia às domingueiras e arrastava os pés. E como dançava. E gostava de namorar. Em
cada localidade, uma namorada...
Amanhã voltarei a falar de João Zanette, uma testemunha viva que ainda ajuda a escrever a história
de Criciúma, este orgulho de cidade!
JOÃO ZANETTE - II
Dou seqüência, hoje, a alguns traços da rica biografia de um jovem industrial criciumense que
acaba de completar 89 anos de idade. Continuo a falar de João Zanette, o da CCU.
Quando contava 24 anos de idade, resolveu entrar no “rol dos homens sérios”: contraiu núpcias
com Carmela Dal Toé. Aqui, mais uma coincidência com seu irmão gêmeo: Carmela é irmã de
Maria, mulher de Gabriel. O casamento foi feito na capela de Morro Estevão sem grande aparato.
Chovia muito, mas chovia muito, mesmo. Poucas pessoas compareceram à cerimônia religiosa. Os
dois, cada um montando seu cavalo, cobertos por grossas e pesadas capas impermeáveis, assim
compareceram à igreja. Mas, em casa, a festa foi igual a de tantos outros casamentos da época:
muita comida, muita bebida e muita música, com baile.
João e Carmela trabalhavam na agricultura. Cuidavam das lavouras de banana e de cana de
açúcar. Ele permaneceu nesse ofício até 1938 e dona Carmela até 1940.
Em 1938, convidado pelos sócios Batista Pirolla e Vitório Garbelotto – dentre outros co-
proprietários de uma empresa mineradora de Rio Maina – associou-se ao negócio e passou a
trabalhar na mina. Ali permaneceu até 1944, quando a reserva de carvão se exauriu. Desfeita a
sociedade, João amealhou alguns cruzeiros e ficou com a quota de carvão destinada àquela
mineração. Com o dinheiro quis comprar grande área de terra no Olaria, hoje Bairro São Luiz.
Seus proprietários, todavia, não aceitaram a proposta. Já, com relação à cota de carvão, a
Metropolitana, através de seu diretor Albino de Almeida Cirino, ofereceu uma concessão para
preencher a referida tonelagem e juntar o carvão com a da Metropolitana. João aceitou e abriu
uma das primeiras minas de carvão a céu aberto. Ficava em Siderópolis. Todo o trabalho extrativo
era feito a picaretas e pás já que, na época, não havia qualquer equipamento para o referido mister.
João Zanette começava, agora sim, a se estabelecer como minerador.
Amanhã eu retornarei a falar de João Zanette, uma testemunha viva que ainda ajuda a escrever a
história de Criciúma, este orgulho de cidade!
JOÃO ZANETTE - IV
Como nos outros dias desta semana, retorno aos traços biográficos do empresário João Zanette, o
jovem industrial criciumense que acaba de apagar a octogésima nona velinha de sua vida.
Depois do pioneirismo da instalação de uma fábrica de pregos, nosso ilustre personagem instalou
uma fábrica de garrafões de vidro em sociedade dom Zalmir Piazza. Para quem imagina que só no
Vale do Itajaí se produzem artefatos de vidro, a surpresa: aqui também já tivemos uma fábrica de
garrafões de vidro.
Nos anos de 1955 e 56, João Zanette enveredou suas aplicações em estabelecimentos comerciais de
gêneros alimentícios: pelos menos dois supermercados receberam injeção pecuniária de seu bolso.
Associado a Artur de Almeida Cirino, Silvino Dal Bó e Sebastião Toledo dos Santos, adquiriu a
Carbonífera Palermo Ltda. empresa que, em seguida, foi transferida para o sócio Artur Cirino.
Engenho para fabricar cachaça, Fábrica de pregos, fábrica de garrafões, mineração de carvão...
agora entra a malharia. Com Primo Silvestre e o irmão Gabriel, montou uma malharia no ano de
1956. Nesse mesmo ano, com Nelo Satiro e outros, montou uma fábrica de molas. No ano seguinte,
com Giglio Spillere e Olavo de Assis Sartori, comprou a Carbonífera Santa Bárbara.
Num dia qualquer do ano de 1957, João Zanette encontrava-se na agência local do Banco Inco
quando foi surpreendido com a visita do ex-governador Heriberto Hülse. Este lhe comunicou que ali
comparecera para ofertar-lhe a Carbonífera Monte Negro Ltda. João Zanette falou do seu interesse,
mas que não possuía a quantia de três milhões e 700 mil cruzeiros, valor pedido pela transação.
Heriberto acabou vendendo a mina em prestações mensais de 100 mil cruzeiros.
Em 1959, João Zanette resolveu incorporar todas as minerações numa só. Aí foram juntadas a Rio
Maina, a Santa Bárbara, a Monte Negro, a Carlota e a Rio Salto. Nesse momento participam da
sociedade Sebastião Toledo dos Santos e Jorge Cechinel.
Amanhã retornarei aos traços da biografia de João Zanette, personagem marcante da história de
Criciúma, este orgulho de cidade!
JOÃO ZANETTE - V
Comecei e termino esta semana falando de João Zanette.
A Cia. Carbonífera Urussanga era de propriedade de uns empresários de Minas Gerais e tinha seu
escritório do Rio de Janeiro. Um de seus prepostos era Tasso Aquino que, no dia 22 de junho de
1960, comparecia à reunião dos mineradores aqui em Criciúma. Ao final da mesma, Tasso convida
João Zanette para uma conversa reservada e, nessa, mostra-lhe um telegrama originário do Rio
solicitando que a CCU fosse oferecida ao Senhor João. Seriam seis milhões de cruzeiros de entrada
e 263 mil cruzeiros por mês. João ouviu e, de pronto, fechou o negócio. No dia seguinte embarcou
para o Rio de Janeiro aonde o negócio foi concretizado. A CCU passou para o seu controle
acionário repartido com Tasso de Aquino, Sebastião Toledo dos Santos, Gabriel Zanette e Jorge
Cechinel. Com esses mesmos sócios, em 1962, adquiriu a Carbonífera Boa Vista e em 1967, a
Mineração Geral do Brasil.
João Zanette ainda teria incursões de investimento nos capitais da Cerâmica Santa Catarina, da
Madeireira São Jorge, da Metalúrgica e Mecânica Milano, da Maggiore Eletrotécnica, da Indústria
de Pescados Madeira, de fábricas de coque e de inúmeras outras empresas. Ao seu lado, sempre, o
irmão gêmeo, Gabriel, com quem dividiu suas alegrias e tristezas.
João Zanette, o da CCU como costumeiramente é reconhecido, recebeu vários títulos e
condecorações. Merecem destaque o Diploma de Mérito Mineral, a Ordem do Mérito do
Engenheiro Militar e a Ordem Mérito Industrial de Santa Catarina recentemente conferida pela
Federação das Indústrias de nosso Estado.
João Zanette foi vereador à Câmara Municipal de Criciúma na legislatura de 1951 a 1954.
João Zanette é pai do Heitor que é casado com Maria Goretti Pagnan Zanette e avô do Giovani e do
João Gabriel.
Foi muito salutar falar estes dias todos desse ilustre empresário que elegeu a simplicidade e a
humildade como marcas de sua vida ela toda dedicada ao progresso do nosso município que ele viu
ser instalado quando contava 15 anos de idade.
João Zanette, um dos esteios de Criciúma, este orgulho de cidade!
JÚLIO GAIDZINSKI
Na segunda metade do século IX, lá do interior da Polônia, emigraram dois jovens com destino ao
Brasil, ou melhor, a Santa Catarina, ou – para ser mais preciso – para o sul catarinense. Vieram
para se juntar a outros compatriotas que, por aqui, se ocupavam dos afazeres da roça. Eram
Vicente e Margarida Gaidzinski, casados em 1884. Sua residência primitiva era ali no Morro da
Palha, ao pé da Serra do Corvo Branco, em Grão Pará, à época município de Tubarão. Desse
casamento nasceriam os filhos José, Júlio, Joana, Rosa, Ema, Helena, Lídia, Francisco, Valdina,
Maximiliano e Ana.
Essa numerosa família, nos anos 10 deste século, transferiu residência para Criciúma e, desses
filhos todos, vou me reportar a um que, certamente, colecionou conquistas ao longo de sua vida.
Falo de Júlio Gaidzinski nascido a 9 de abril de 1900. Teve uma mocidade igual à dos moços de sua
época: estudou em escola isolada, chutou bola, dançou bastante... Seu primeiro ofício foi ajudar o
pai e os irmãos na oficina de conserto de sapatos localizada na Rua Conselheiro João Zanette,
esquina com a Praça Nereu Ramos. Namorou, e desse idílio surgiria o casamento com a filha de
Pedro Benedet, Angélica. Dessa união nasceriam o Dorival, o Diniz e a Diana.
De sapateiro foi ser minerador, uma das condições sócio-empresariais mais cobiçadas de então:
com seus irmãos e alguns amigos, fundou a Carbonífera Ouro Preto que extraia carvão ao pé do
Morro Cechinel, mais ou menos onde hoje está localizado o Hospital São João Batista.
Paralelamente tocava uma fábrica de balas de banana e uma fábrica de café.
Quando a Carbonífera Próspera se mostrou mal das pernas a ponto de quase sucumbir, chamou –
novamente – seus irmãos e amigos e comprou aquela empresa que, mais tarde, seria negociada
para terceiros.
No final dos anos 30, início da década de 40, adquiriu o locomóvel a vapor do Dr. Pite, o transferiu
da Av. Getúlio Vargas para o terreno onde hoje está construída a JUGASA, e passou a ser o
distribuidor de energia elétrica à população do centro urbano de Criciúma. Nessa época, também,
foi gerenciar os negócios da Companhia de Mineração Geral do Brasil.
No ano de 1941 – sempre na companhia dos irmãos e de amigos – fundou a Júlio Gaidzinski e Cia.
Ltda., objetivando a exploração de oficina mecânica, ferraria para ferrar patas de cavalos,
comércio de peças e acessórios para veículos e fornecimento de combustível. Essa empresa se
transformaria na JUGASA de hoje sendo instalada, preliminarmente, no terreno que agora abriga o
Banco Bradesco. Nas eleições de 1946 tentou a Câmara Municipal, pelo velho PSD ficando na
suplência, mas sendo convocado inúmeras vezes para o exercício do mandato. Em 1947 – com o
pessoal que sempre o acompanhou nas empreitadas societárias – fundou a nossa primeira
cerâmica: a Cerâmica Santa Catarina de nós todos conhecida como CESACA. No final dos anos 40,
adquiria, de Cincinato Naspolini, a empresa de transportes coletivos que fazia as linhas de
Criciúma a Rio Maina, São Marcos e Siderópolis denominando-a de Transportes Coletivos Jugasa.
O bangalô que construiu na Rua Seis de Janeiro, para residência de sua família, no final dos anos
30, tornar-se-ia a curiosidade da época haja vista ter sido a primeira moradia cujos sanitários
ficavam dentro de casa. Um absurdo, diziam...
Júlio Gaidzinski que completaria cem anos de vida dia 9 deste mês, fez por merecer este humilde
registro com as homenagens desta emissora e deste articulista.
KARL, O HIPNOTIZADOR
O ano, salvo traição da memória, era 1961. A cidade, Criciúma. O local, o Cine Teatro Milanez e a
Praça Nereu Ramos. O horário: no cinema, às 20h00min horas, numa programação dupla; na
Praça, às 12 horas.
Reporto-me a um dos mais comentados espetáculos de hipnose pública havido em nosso meio.
Um tal de Karl Maya, vindo Deus sabe de onde, aportou em nossa cidade e auto promoveu, com o
auxílio da Rádio Eldorado, uma sessão de hipnotismo no Cine Milanez depois da exibição de um
filme cujo nome o tempo devorou. A casa cinematográfica ficou lotada: nenhuma poltrona vazia.
Logo depois da película, começou o trabalho do artista.
No primeiro momento, sua exibição envolvia pessoas que a cidade não conhecia e a desconfiança
foi geral. Aos poucos, todavia, foi mexendo com o público envolvendo uma mulher daqui, um jovem
dali, um cidadão de acolá e a platéia indo ao delírio.
Chamou ao palco um jovem estudante do Ginásio Marista, Darci Althoff, hoje alto funcionário da
EPAGRI, em Urussanga, onde exerce a profissão de Engenheiro Agrimensor. Darci estava numa
das primeiras poltronas. Ia subindo os primeiros degraus do palco quando Karl pediu que parasse e
perguntou seu nome: ele respondeu, alto e bom som: Darci Althoff. Ainda naquele degrau Karl
Maya voltou a perguntar-lhe pelo nome. E Darci respondeu: Benito Mussolini. E foi assim, em toda
a subida ao palco e andando sobre este. Instantaneamente nosso amigo Darci era o próprio e, ao
mesmo tempo, o ditador italiano.
Lá de trás Maya chamou outro expectador. Seu sobrenome era Garbelotto, de profissão rádio-
técnico. Trabalhava numa oficina se conserto de aparelhos de rádio que se localizava ao lado da
velha Jugasa, hoje Banco Bradesco. Garbelotto assomou o palco e lá ouviu do hipnotizador:
quando ouvires esta música (e o sonotécnico fez rodar uma determinada composição musical, do
repertório da música clássica), quando ouvires esta música, repetiu o artista, você vai reger a
orquestra. Isto vale a partir de agora. E o Garbelotto passou a reger a orquestra como se aqueles
acordes fossem resultado do seu comando. E mais: Karl Maya sentenciou: amanhã (seria uma
segunda-feira) ao meio dia, quando ouvires os sinos da matriz badalar às 12 horas, irás ao coreto
da Praça Nereu Ramos e regerás a orquestra sinfônica de Criciúma. Em seguida o espetáculo foi
dado por encerrado restando a expectativa do dia seguinte. Cedo, lá estava o Garbelotto na oficina
rodeado de pessoas que não se cansavam de comentar o grande feito da noite anterior. E as horas
foram passando. E os céticos e curiosos procurando um melhor local próximo ao coreto. Será que
vem? Será que a hipnose continua?
Repentinamente, chegada a hora, os sinos começam a bater as 12 horas. E lá vem o Garbelotto,
correndo feito maluco, subiu no coreto e fez a regência da orquestra. Não havia música nem
instrumentistas. Mas o Garbelotto regeu a orquestra fictícia ainda sob o impacto da hipnose havida
12 horas antes. Ficaram na história: o hipnotizador e os hipnotizados.
E eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
LÍRIO ROSSO
Uma das grandes dificuldades da Criciúma até o final dos 70 era manter seus filhos estudando nas
capitais haja vista que, por aqui, não havia ensino superior. E uma das grandes dificuldades dos
que se atreviam a residir na capital catarinense, por exemplo, para estudar, era a alimentação.
Em 1958, todavia, numa iniciativa ousada da União Catarinense de Estudantes, foi criado e
instalado o restaurante universitário, cuja sede estava localizada na Rua Álvaro de Carvalho, quase
à esquina da Felipe Schmidt. Recordemo-nos que a nossa Universidade Federal data de 1960 e que,
ainda assim, suas unidades educacionais se esparramavam por toda a cidade florianopolitana.
Pois o RU – restaurante universitário, como ficou conhecido – recebeu a participação direta de
Criciúma já que um dos maiores propugnadores para a sua realização foi o estudante de
odontologia Lírio Rosso.
Data daquele ano um comunicado assinado pelo jovem acadêmico comunicando, na condição de
secretário geral da UCE, que o valor da refeição fora estipulado no da metade de um almoço
popular e que a ele também teriam acesso os secundaristas do interior que residissem na capital.
O Restaurante Universitário, da Rua Álvaro de Carvalho, fez história. Além das refeições de todos
os dias (exceto domingos), aquele local mantinha a sede da UCE e nele eram feitas as assembléias
envolvendo estudantes e operários numa época em que o debate sócio-comunitário fazia a ordem do
dia.
Como se viu, Criciúma emprestou a sua colaboração direta na construção daquele próprio e por
isso estas linhas foram escritas. Por esse feito Lírio Rosso recebe a nossa homenagem.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
MANSUETO COSTA
Meu personagem de hoje nasceu no ano da graça de 1900, no dia 22 de fevereiro. Era natural de
Urussanga e filho de José e Amábile Costa.
Aos 22 anos, veio morar em Criciúma. Já em 1933 era contratado pela CBCA, empresa mineradora
na qual desenvolvia a profissão de escriturário. Cinco anos depois era guindado à função de guarda
livros que, hoje, conhecemos como Contador. Agora era também chefe do escritório da maior
empresa mineradora de carvão do Brasil. Ali permaneceu até 1948 quando, por livre vontade, pediu
o afastamento.
Nesse mesmo ano, juntamente com diversos amigos, ajudaria a fundar a primeira cerâmica de
revestimento da cidade: a Cerâmica Santa Catarina Ltda., a conhecida CESACA, "velha de
guerra”. Trabalhou na CESACA, na função de diretor gerente, até 1957.
Durante toda a sua permanência na CBCA e na própria CESACA, desenvolvia atividades paralelas
com destaque para os ofícios de empreiteiro das minas de carvão de Archimedes Naspolini, de 1946
a 1950, e de Elias Angeloni, em 1951.
No comércio, foi sócio quotista das firmas Faraco Costa & Cia. Ltda., Zilli & Angeloni & Cia. Ltda.
e Carneiro e Faraco & Cia. Ltda.
Com vários companheiros, dentre os quais Leandro Martignago, trabalhou na construção da
estrada de ferro de Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul.
Associado, presidiu a Sociedade Recreativa Mampituba no ano de 1939.
Casou, em 1921, com Irene Búrigo, com a qual teve sete filhos: Adhemar, Aracy, Rubens, Valmor,
Zoyde, Terezinha e Marly.
Faleceu dia 6 de setembro de 1957, aos 57 anos de idade.
Falei de Mansueto Costa, um dos baluartes do desenvolvimento de Criciúma, este orgulho de
cidade!
MIGUEL NAPOLI - I
Os comentários que farei nesta semana, são calcados no livro História de Nova Veneza, dos primos
Zulmar e Newton Bortolotto, um dos mais completos elucidários do pedaço de história de nossa
gente, ou, mais propriamente, desse simpático município de Nova Veneza que, até os anos 60, fazia
parte do território da nossa Criciúma.
Falemos de Miguel Napoli, italiano de Palermo, capital da ilha de Sicília, onde nasceu em 13 de
abril de 1854, portanto há 146 anos. Contando vinte anos de idade já era nomeado subtenente da
infantaria italiana, através de ato do imperial assinado por sua majestade o Rei Vittorio Emanuele
II. Fez os cursos de ciências naturais, matemática, topografia e desenho para construções e
ornamentos. Em 1878 recebia o certificado que o considerava arquiteto e agrimensor.
Com essa capacitação, veio ao Brasil, em 1890, para inteirar-se da política de colonização, a
serviço da empresa Ângelo Fiorita & Cia – que seria sucedida pela Companhia Metropolitana.
Resolveu-se, naquele instante, que Nova Veneza seria colonizada. A empresa Ângelo Fiorita aceitou
os termos de contrato que o Brasil lhe propusera e a colonização do burgo de Nova Veneza seria
implantada a partir de agora. Esse contrato contemplava cláusulas extraídas da Lei Glicério – que
dispunha sobre a colonização de pedaços do Brasil – e o núcleo de Nova Veneza foi o único que deu
certo em todo o território nacional. O sucesso foi, sempre, creditado à capacidade de trabalho e à
inteligência de Miguel Napoli, de quem estamos a nos ocupar no dia de hoje e nos dias que se
seguem.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
MIGUEL NAPOLI - II
Continuemos a falar de Miguel Napoli, o italiano da Sicília que tem seu nome diretamente vinculado
à colonização de Nova Veneza e, por extensão, de Criciúma.
Miguel Napoli, contando 44 anos de idade, casou-se com Otilia Saüer, de ascendência alemã,
nascida em território russo Era uma jovem de 24 anos e a cerimônia se deu na casa de Domenico
Fontanella, no povoado de Nova Veneza. Dessa união nasceria a prole de seis filhos, todos no velho
distrito: Luiz, Filipo, Arnaldo, Luiza, Leônidas e Manfredo, cujos descendentes continuam,
enriquecendo a população de nossa região.
Alem de colonizar, Miguel Napoli foi, também, jornalista e escritor tendo deixado inúmeros artigos
publicados em diversos jornais do país. Foi amigo de vários governadores, dentre os quais Hercílio
Luz e Lauro Müller. Este, inclusive, quando ministro do exterior, levou Miguel Napoli para ser o seu
secretário particular.
Em 1898, Napoli fundou, ao norte da colônia de Nova Veneza, um burgo agrícola que denominou de
Trinácria, em homenagem à sua Sicília. Todavia, esse burgo deu em nada haja vista seríssimos
problemas na aquisição das glebas de terra para tal assentamento.
Miguel Napoli, o criado de Nova Veneza, faleceu desgostoso – por causa da Trinácria – em 5 de
setembro de 1926, no ano da emancipação de Criciúma. Contava 72 anos de idade e o passamento
se deu na capital federal, cidade do Rio de Janeiro, onde seus restos estão sepultados.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
Para o dia 13 de abril – quinta-feira
Como ontem e antes de ontem, reporto-me – também hoje – ao criador de Nova Veneza, o siciliano
Miguel Napoli.
Esse italiano era uma figura polêmica. Amado e temido. Muito trabalhador, conseguiu plantar Nova
Veneza nomeio da floresta obedecendo a linhas imaginárias de um mapa assentador de um burgo
colonial. Por isso era extremamente admirado. Nas eleições para a legislatura de 1901/1903,
candidatou-se a deputado ao congresso de Santa Catarina, nossa então Assembléia Legislativa, pelo
Partido Republicano. Foi um dos menos votados daquele pleito: apenas 84 votos enquanto o mais
votado, cel. José Maurício dos Santos, amealhava 6.680 sufrágios. Isso demonstra que Miguel
Napoli era trabalhador, sim, mas nada popular.
Amigo do governador Hercílio Luz, recebeu desse governante a concessão para a construção da
estrada da serra em São Bento Alto, além de duas visitas do mais alto dignitário catarinense à sua
Colônia. Hercílio Luz o admirava às sobras, mas o seu sucessor, Felipe Schmidt, nem lhe
cumprimentava e acabou revogando aquela transação imobiliária para o assentamento do burgo
Trinácria, sepultando de vez o maior sonho daquele grande colonizador.
A partir de 1894, a Cia. Metropolitana começou a deixar de lado os negócios de colonização e a
enveredar pelos da extração do carvão mineral e teve seu nome trocado para Companhia
Carbonífera Metropolitana, denominação que sustenta até os dias atuais. Em 1896 o governo
federal suspendeu o contrato para a introdução de imigrantes e indenizou a Metropolitana com a
quantia de oito milhões e quinhentos mil réis.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
NOMES COMPARADOS
A imprensa sempre dedicou algumas linhas ou comentários a respeito das pessoas que fazem o dia-
a-dia da cidade. Sempre foi assim. Chegou-me às mãos, num dia desses, uma pérola produzida em
1958 que julguei oportuna para ser trazida ao ar a fim de que, lendo-a, lembremos e relembremos
ilustres personagens da Criciúma de ontem. Confiram a criatividade produzida em cima dos nomes
de algumas pessoas:
Uso Café Castro, os irmãos, Borges; Uso cavanhaque, o Waldemar, Bigode; chupo laranja, o Ézio,
Lima; Eu te apalpo, o Nelson, Te(i)xeira; eu uso cinto, o Lindolfo, Corrêa; Tenho passo curto, o
Antenor, Longo; eu apito, o Adolfo, Silva; eu sou napolitano, o Pedro, Milanez; se eu não fizesse, o
Izauro, Faria; eu corto pedra, o Adamastor Rocha; eu vim do Cairo, o Hermílio, Delavi; eu sou da
plebe, o Mário, dos Reis; eu tenho teco-teco, o Faustino, Zappelini; eu sou tio, o Caetano, Sobrinho;
eu sou irmão, o Zé, Parente; eu tenho cara de mau, o Otacílio, de Bem; eu compro caminhão, o
Jacy, Fretta; eu sou a treva, o Mário, Luz; eu sou ovelha, o Mário, Carneiro; eu marco os anos, o
Tolentino, Dias; eu adoro os campos, o Waldemar Matos;eu cultivo lírios, o Agostinho, Flores; eu
tenho filha, o Dr. Lourenço, Filho; eu planto pinheiro, o Milton, Carvalho; eu tenho casa pequena,
o Modesto, Casagrande; eu uso boina, o Manique, Barreto; eu possuo florestas,o Jairo, Campos; eu
só uso pudim Royal, o Venâncio, Medeiros; eu uso martelo, o Valdemar, Machado; eu sou goleiro, o
Aluízio, Back; eu sou caseiro, o Primo, Silvestre; eu digo some,o David Conti; eu tenho medo dos
diabos, o Sebastião Toledo, dos Santos; eu sou do mar, o Rubens, Costa; eu sou brasileiro, o
Luiz,Português;eu uso inseticida, o Wilson, Barata; eu sou marisqueiro, o Artur, Pescador; eu
possuo faca, o Atílio, Bainha; o avião levanta vôo,o Cyro, Bacha; eu faço pouso e o Antonio, Bate
Asa; eu sou honesto, o Argenário, Virtuoso; eu sou rubro-negro, o Ruy, Esmeraldino; eu me trajo a
rigor, o Germano, Amorim; eu uso franja, o Osny, Kok; eu fujo do capeta,o Jacó,da Cruz; eu sou
católico, o Nereu, Batista.
E vai em frente, fazendo essa brincadeira sadia com os nomes da cidade, tantos deles já falecidos.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
OPHELIO BENETTON
Hoje interrompo a série de crônicas fiobinas que retratam um pedacinho da vida de Fiobo
Minatto, o mais festejado personagem do nosso folclore, para falar de um parente seu que,
exatamente no dia de hoje, troca idade. E que idade: 80 anos.
Tendo vivido estas oito décadas, ele faz por merecer estas linhas especialmente pela vida
que viveu, está vivendo e ainda haverá de viver.
Neto de imigrantes italianos foi educado segundo os costumes lá dos anos 20 deste século
que caminha para o fim...
Jovem, aprontou todas que pudessem ser contabilizadas a um rapaz de sua época, se
considerarmos que a cidade oferecia quase nada de lazer para a juventude.
Trabalhou numa fábrica de bebidas, de seu pai. Aí se revelou um bom profissional de ramo
e o mais sarcástico dos aprontadores. Se vivos, o Amélio Cechinel e o "Maneca Já Te
Pego", confirmariam. É que estes dois, todos os dias, invariavelmente, visitavam a fábrica
para tomar um traguinho.
Certo dia, vendo que lá vinha o Amélio, ele fez um preparado com vários produtos que são
diluídos em grandes porções de bebida e deixou o copo com essa “farmácia” sobre o
balcãozinho. O Amélio entrou e já perguntando, gaguejando como ele só: que bebida é
essa primo? – “Uma bebida inglesa melhor que Uisque, respondeu-lhe.” Amélio não teve
dúvidas: esvaziou o copo na sua boca. Imediatamente sentiu a reação: as tripas queriam
enozar... Quase morreu.
O Maneca Já Te Pego além de gostar de um bom trago, usava um chapéu de palha que
nunca tirava da cabeça. Naquele dia, chovia. E lá vem o Maneca.
Para este, o nosso personagem reservou uma colher de um pigmento corante usado para
dar cor às bebidas. O normal seria uma grama desse produto para cada 500 litros de
líquido.
O homem entrou na fábrica e sobre seu chapéu foi derramada uma colher desse corante.
Tudo bem, até a hora em que o Maneca Já Te Pego tomou a rua para ir ao seu destino. A
chuva que caía sobre seu chapéu foi diluindo o corante e este esparramando sobre seu
corpo um líquido encarnado que deixou o homem vermelho dos pés à cabeça...
De outra feita, o seu caminhão Chevrolet que atendia pelo apelido de Carmelito, negou
fogo, isto é, não quis pegar. Aí o nosso personagem tomou uma atitude singular no mundo:
aplicou uma surra de manivela no velho veículo amassando-lhe todo o capô...
Casado há quase cinqüenta anos com a ex-professora Inês Daminelli, estou falando de
Ophélio Beneton, que a gente escreve com PH porque ele é mesmo PHd. Minerador
146
Nossa história possui pedaços que só foram escritos assim por causa do Ophélio Beneton
que, no dia de hoje, ao completar 80 anos de vida, recebe a homenagem deste humilde
escriba e de toda a Rádio Eldorado.
PROCÓPIO FERREIRA
Um dos mais extraordinários atores do teatro brasileiro, sem qualquer sombra de dúvidas, foi
Procópio Ferreira. Nossa cidade teve a oportunidade de festejá-lo, pelo menos em duas
oportunidades: em 1959 e em 1971. Na primeira, esteve no palco do Cine Milanez, que lhe
homenageou com a afixação de uma placa de bronze numa das paredes do seu hall de entrada,
certificando sua passagem por aquela casa de espetáculos. Na segunda, a apresentação foi no Cine
Ópera que, naquela noite, lotou todas as suas poltronas para assistir o velho ator desempenhar seu
papel. Aproveitando a passagem do artista maior, o vereador Ney de Aragão Paz, de saudosa
memória, apresentou um projeto de resolução pelo qual o município outorgaria a Procópio Ferreira
o título honorífico de Cidadão Honorário de Criciúma. A Câmara – num dos processos mais velozes
havidos em nosso parlamento municipal. Proposta feita, proposta aceita. No dia seguinte – era uma
quarta-feira – Procópio chegava à cidade, se hospedaria no Hotel Criciúma do Abelardo Scheidt,
ali na Praça Nereu e, às 19h00minh, era conduzido à Câmara Municipal – que se localizava no
primeiro andar da Galeria Benjamin Bristot – e ali receberia o certificado do título honorífico de
nosso cidadão honorário.
É verdade que, especialmente para Criciúma, Procópio Ferreira muito pouco fizera, mas,
indiretamente, no sacerdócio do exercício de sua atividade profissional, espargindo cultura por
todos os quadrantes do Brasil, o pai da Bibi também contribuíra com a formação de nossa gente.
Daí as razões da proposta do Dr. Ney de Aragão Paz e da aprovação unânime dos vereadores
daquela época.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
VITÓRIO E VIENIR
Aquele oito de dezembro foi singular. E triste. Muito triste.
Como ocorre nos dias atuais, também ali atrás os criciumenses já mantinham o costume de passar
finais de semana e feriados no Balneário Rincão.
Pois bem, naquele oito de dezembro, feriado religioso, significativa parcela da população foi para a
Praia do Rincão. Incluam-se aí, o comerciante Vitório Serafim e sua família (a mulher, a filha e o
filho).
Vitório Serafim era comerciante da Rua Henrique Lage. Com seu irmão, Antoninho, dividia a
propriedade da Casa Globo, um dos mais prósperos estabelecimentos comerciais da época.
Localizava-se um pouco antes da Sociedade Agrícola Ltda. sucedida pela União Comercial S.A.,
que acaba de cerrar suas portas e destruir seu edifício.
Seu Vitório era um cidadão de postura, elevado conceito moral, de fina educação, exemplar marido
e extremoso pai. Contava 45 anos de idade.
Naquela manhã de oito de dezembro, como todos os que se encontravam na Praia, seu Vitório, dona
Vitalina – sua mulher, Maria Vienir – sua filha e Vilney, seu filho, foram ao mar. E eis que uma
onda traiçoeira leva Maria Vienir. Não adiantaram seus esforços para desprender-se da força
daquele vagalhão e até mesmo sem poder soltar gritos de socorro, Maria Vienir sucumbia. O pai,
seu Vitório, vendo a filha sendo tragada pelo mar foi ao seu encontro para socorrê-la. Um
redemoinho – no qual se contorcia sua filha – acabou levando-o também mar adentro e ambos
acabaram por falecer, afogados.
A população praiana concentrou-se naquele pedaço de praia, mais ou menos à frente do tradicional
salva-vidas e, por todos os meios, todos se jogaram mar adentro na busca dos corpos que,
finalmente, foram resgatados.
Presentes, a esposa e o filho menor a tudo assistiram.
Vitório Serafim e sua filha Maria Vienir, esta com 17 anos de idade, mortos, comoveram a cidade.
Pararam a cidade. Fizeram a cidade chorar.
Muito conhecidos e relacionados com a população criciumense, ele na condição de comerciante, ela
como estudante concluinte do curso secundário na Escola Normal Madre Teresa Michel, Vitório
Serafim e Maria Vienir foram pranteados pela unanimidade de nossa gente que, no dia 9 de
dezembro de 1959, às 11 horas, apinhou-se no cemitério municipal para o sepultamento precedido
por concorrida missa de corpos presentes na então matriz São José, sob a presidência do vigário
Padre Estanislau Ciseski.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
ZELINDO TRENTO
Hoje falo de um empresário que, faz muito tempo, muito tem contribuído para o desenvolvimento de
nossa cidade e de nossa região. Filho de Pedro Trento e Joana Fontanella Trento nasceu em 21 de
maio de 1924, em Rio Carvão, Urussanga, onde viveu até seus 21 anos. Falo de Zelindo Trento.
Único filho homem – teve mais quatro irmãs – trabalhou na serraria e na marcenaria do pai e, com
apenas 15 anos, ganhou (de seu pai) um automóvel Ford, ano 1934, se transformando no motorista
da família.
Em 1944 foi para Siderópolis trabalhar na Companhia Siderúrgica Nacional – CSN. Depois foi
consertar máquinas de costura e relógios. Montou uma locação de bicicletas.
Diversificou os negócios: passou a vender também materiais de construção, peças de automóveis e
uma linha completa de parafusos. Em dezembro de 1948 casou com Begair Delorenzi, a Bega com a
qual constituiu a família composta pelos filhos Edson, Edna, Everton e Júlio César. Em 1950, com o
incentivo de Arlindo Cesa, criou uma linha de ônibus entre Siderópolis e Urussanga, quando
Siderópolis era ainda distrito de Urussanga. Dia 13 de junho, data de Santo Antônio, foi feita a
primeira viagem do ônibus da sociedade chamada Cesa, Trento Cia Ltda. A viagem inaugural foi
feita entre Siderópolis e Rio Caeté para a festa de Santo Antônio, por isso a empresa foi batizada de
Empresa Santo Antônio Ltda. Ainda naquele ano adquiriu a Transportes Coletivos Jugasa e tomou o
nome de Zelindo Trento & Cia – ZTL. Em dezembro de 1966 comprou a Transportes Coletivos
Capivari Ltda, em Tubarão. Em 1985 a São Bonifácio e a Braçonortense que faz a linha São
Bonifácio e Florianópolis. Todas as terças-feiras, no período da manhã, faz reunião de trabalho em
sua casa com seus filhos. Nela são tomadas todas as decisões que envolvem as empresas. Deve-se
acrescentar o seu veio político. Com a redemocratização do Brasil, em 1946, filiou-se ao Partido
Social Democrático – PSD – agremiação política adversária da esposada por seu pai, a UDN –
União Democrática Nacional. No pleito daquele ano era eleito vereador à Câmara Municipal de
Urussanga como representante dos habitantes de Siderópolis, distrito daquele município. Nunca
disputou com seu pai. Pelo contrário: através dele sempre contou com o apoio dos udenistas... Em
1965, quando os partidos políticos foram extintos, filiou-se à Aliança Renovadora Nacional –
ARENA – e, por essa agremiação, seria eleito Prefeito Municipal de Siderópolis governando os
sideropolitanos de 1976 a 1982.
Na noite de hoje, Zelindo Trento reúne três centenas de amigos para comemorar o jubileu áureo de
sua ZTL – Zelindo Trento & Cia. Ltda., uma empresa que muito tem contribuído para o
desenvolvimento da Região e, de modo especial, de Criciúma, este orgulho de cidade!
ZELY CYRINO
Hoje, busco nas linhas de Castro de Alencar, pseudônimo que escondia a pena brilhante de
Sebastião Humberto Pieri, publicadas em junho de 1958, a razão da minha crônica. Falo de Zely
Cirino, esposa de Artur Albino de Almeida Cyrino, diretor comercial da Carbonífera Metropolitana
a qual, no dia 26 de abril daquele ano, falecia lá no interior de Minas Gerais. Moravam aqui e aqui
realizaram o seu projeto familiar de vida. Ela fora uma mulher extremamente religiosa, vivo
exemplo de caridade cristã espargindo o bem por todos os recantos do nosso município nos longos
anos em que viveu entre nós. Raras foram as instituições de caridade ou religiosas que deixaram de
ser aquinhoadas pela mão benéfica daquela ilustre dama. Dentre as obras de caridade patrocinadas
por Dona Zely destaca-se a capela do Rio Maina Alto junto às minas da Carbonífera Metropolitana.
Sem bem tenha sido uma construção financiada por essa carbonífera, sua realização é devida,
quase que exclusivamente, aos seus esforços e persistência da referida senhora que não descansou
enquanto não viu sua iniciativa concretizada. Nossa igreja matriz, as diversas capelas da paróquia,
o colégio das Irmãs de Forquilhinha, o Hospital São José e muitas outras obras assistenciais e de
ensino sempre mereceram a atenção e o auxílio de dona Zely.
Nosso escritor Castro de Alencar assevera, contudo que “quando de sua morte, porém, todos
responderam com o silêncio, com o frio e gélido silêncio do esquecimento”. E complementa:
“Infeliz e cega humanidade que apenas sabe seguir a filosofia do interesse! Olhos fitos no princípio
do “do ut des” – dôo para que me retribuas – segue ela avante à espera de novos benefícios
demonstrando reconhecimento somente quando dele pode auferir novos lucros. Depois da morte, o
esquecimento, o olvido absoluto é o que resta”.
Os tantos criciumenses que me ouvem e que conheceram dona Zely Cyrino têm ainda presente o
quanto de colaboração e doação pessoal aquela senhora despendeu a favor das obras sociais e da
Criciúma dos anos 40 e 50.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
POST SCRIPTUM
154
Não me perdoaria se, em dois volumes de minha lavra, narrando biografias e fatos que marcaram a
história de nossa cidade, deixasse de mencionar meu pai. Não tivesse ele sido o agricultor, o
industrial, o político, o homem de religião que foi, ainda assim aqui teria de comparecer pela
família que constituiu. Os 16 filhos que nasceram de sua união com a mãe Eleonora, bastariam para
afirmar que muito contribuiu para a formação da “raça criciumense”.
Registro, então, um breve relato do perfil biográfico de meu pai
Archimedes Naspolini
nascido em 28 de janeiro de 1899 em Cocal do Sul, penúltimo dos cinco filhos de Stefano Naspolini
e Giovanna Scott Naspolini. Órfão do pai aos cinco anos foi educado por sua mãe e pelo irmão mais
velho, Fortunato Brasil – que contava 16 anos de idade. Trabalhou na lavoura até ir servir ao
Exército Brasileiro, na capital do Paraná, Curitiba, no qual aprendeu a ler e a escrever. Depois de
retornar a Cocal, a 1º de março de 1924 casava com Eleonora Búrigo. Herdeiro do pai recebeu a
colônia nº 15, da Linha Ex Patrimônio, para onde levou sua mulher. Trabalhou com Joaquim Dal
Pont, na Mina do Toco. Começou sua vida profissional (1927?) ao arrendar a serraria de madeira,
tipo vertical, que funcionava com força hidráulica e era de propriedade do Sr. Felix De Luca e seus
filhos Alberto e Luca De Luca, atividade que funcionou, aproximadamente, vinte e dois anos. Seu
sonho, na realidade, era efetuar a compra do referido imóvel, fato este que veio a acontecer em
junho de 1949, pelo valor de CR$ 110.000,00 (cento e dez mil cruzeiros), que foram divididos assim:
50% de entrada e o restante em três pagamentos semestrais, com juros de 6% ao ano. No ato da
compra, foi adquirida uma gleba de terra com 33 hectares de área.
No ano de 1937, conseguiu grande façanha; fez considerável venda de madeiras de lei para a Cia.
Docas de Imbituba, com a finalidade de construir o Porto daquela cidade.
Em 1939 fundou a Sociedade Carbonífera Naspolini Ltda, que contava com os seguintes sócios:
Archimedes Naspolini, Antônio João Zanatta, Antônio Liberal De Luca, Pedro Dal Pont, Quintino
Dal Pont, Maria Pelegrin Zanette, Basílio Zilli, Francisco Martignago, Antônio Sartor, Sociedade
Agrícola Ltda - hoje União Comercial S.A, e outros. Permaneceu na gerência até 31 de janeiro de
1946.
Fundou a Sociedade Carbonífera Ex-Patrimônio Ltda, mais conhecida como Mina do Toco, no ano
de 1941, com os sócios que seguem: Sociedade Carbonífera Naspolini Ltda, Archimedes Naspolini,
Antônio João Zanatta, Fortunato Brasil Naspolini, Antônio Liberal De Luca, Ítalo Naspolini,
Arcângelo Sartor, e outros. Ali exerceu o cargo de Sócio Gerente até 31 de janeiro de 1946.
No mês de agosto de 1942, fundou a Sociedade Carbonífera Rio Branco Ltda, onde tinha como
sócios: Antônio João Zanatta, Mansueto Costa, Addo Caldas Faraco, Dr. José Tarquinio Balsini,
Leandro Martignago, Frederico Zanette, Gílio Zanette e irmãos. Também ocupou o cargo de Sócio
Gerente até 31 de janeiro de 1946.
A feliz história de quem queria ainda mais empreender no ramo carbonífero cessou em 31 de
janeiro de 1946, quando o governo federal encampou as carboníferas relacionadas, só efetivando o
pagamento no segundo semestre do ano de 1953, com desconto advocatício de 23,5%.
A partir do mês de fevereiro de 1946, passou a ser o empreiteiro Archimedes Naspolini, da
C.B.C.A., momento em que selou sociedade com os senhores Antônio João Zanatta, Antônio De
Luca, Mansueto Costa, José Passos da Mota e Fortunato Brasil Naspolini. Permanecem nesta
sociedade até o dia 23 de junho de 1955, quando mudou a razão social para Naspolini Filhos Cia
Ltda, conforme registro na Junta Comercial do Estado de Santa Catarina, sob o n.º 15.832, com os
seguintes acionistas: Archimedes Naspolini, Ascendino Naspolini, Egídio Naspolini, José Lauro
Naspolini, Alôncio Búrigo Naspolini, Leides Naspolini, Gílio Zanette, Antônio De Luca, Fortunato
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Brasil Naspolini, Fiorento Pavan, Luiz Zanette I, permanecendo Sócio Gerente até 3 de março de
1965, quando faleceu.
Foi fundador da Sociedade Recreativa e Esportiva Naspolini, no dia 6 de janeiro de 1945, ocupando
a presidência por alguns anos.
Com muita força de vontade, construiu a estrada da Rua João Pessoa, no Morro do Bainha, até a
Soc. Carbonífera Naspolini Ltda., interligando-a a Soc. Carbonífera Ex-patrimônio Ltda., e, mais
tarde, à Soc. Carbonífera Rio Branco Ltda., mais conhecida pelo apelido de “Mina do Gílio”. Era
por esta estrada, que atualmente leva o nome de Rodovia Archimedes Naspolini, construída
braçalmente, que se transportava o carvão mineral para a estação férrea, que estava situada onde
se encontra, hoje, o Terminal Urbano no centro da cidade
Foi designado Inspetor de Quarteirão, durante vários anos, tempo em que procurou amenizar os
problemas da melhor maneira possível.
De 1946 a 1950, exerceu a vereança pelo partido PSD.
Tinha como esportes preferidos, a canastra, o futebol, a bocha. Detestava a briga de galo.
Gostava da agricultura e da pecuária. Possuía um cavalo mouro cujo apelido era “Trem”.
Comprou do Sr. Pedro Dal Pont, em 1937, a melhor junta de bois da redondeza, por exatos
630$000 (seiscentos e trinta mil réis), com a finalidade de arrastar madeiras do mato. Os nomes dos
bois eram “Salvino” e “Bonito”, verdadeiros tratores.
Em 1930, foi fundador da Sociedade Agrícola Ltda, sita à Rua Henrique Lage, 99, sendo o maior
cotista, com o montante de 1.124 cotas. Ocupou o cargo de Sócio Presidente por alguns anos; mais
tarde, a Sociedade passou a ser chamada de União Comercial S.A., como foi conhecida até
recentemente.
No ano de 1948, surgiu a Cerâmica Santa Catarina Ltda, da qual também foi acionista, vendendo
suas ações, mais tarde, ao Sr. Jorge Cechinel. Ainda no ramo da cerâmica, Archimedes Naspolini
foi acionista da Cerâmica Cocal Ltda, que foi à falência e hoje leva o nome de Cerâmica Eliane.
Um corretor da Cia. de Seguros Sul América, no ano de 1941, fez-lhe uma visita, oferecendo-lhe
seguro de vida, que seria pago durante 20 anos. Se permanecesse vivo após o vencimento, em 1961,
seria ressarcido de todo capital com seus juros respectivos. Porém, depois de vencido, o resgate não
foi pago, haja vista a apólice do seguro estar com o nome de Archimedes com “qu” e não com
“ch”.
Do seu casamento com Eleonora Búrigo Naspolini nasceriam 16 filhos, a saber: Ascendino, Egídio
José, José Lauro, Maria Laura, Alôncio, Leides, Maria Nely, Dorly, Maria Jandira, Olga, Antenor
Manoel, Archimedes Filho, Edeval, Elésio, Valter e Analdo Carlos.
No dia, 03 de março de 1965, quarta-feira de cinzas, estava no Clube que fundara, às 17h30min,
jogando canastra com os amigos e operários Osli Serafin Neto, Clementino Alano Teixeira,
Domingos Aristides Teixeira, Manoel Luiz De Bem Neto e Luiz Zanette I quando foi acometido de
um mau súbito. Contorcendo-se de dor conseguiu falar: “joguem vocês”. E morreu. De um colapso
cardíaco.
Estou convicto de que meu pai também fez muito por Criciúma, este orgulho de cidade!