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REAL GAZETA

DO ALTO MINHO
EDIÇÃO DO CENTRO DE ESTUDOS ADRIANO XAVIER CORDEIRO | N.º 34 DEZEMBRO 2022

DIRECTOR ENTREVISTA AO DR. ÁLVARO CASTELLO BRANCO


J O S É A N Í B A L PÁG. 29
MARINHO GOMES ‘Se olharmos para a Europa vemos que os países com
REDACTOR índices de qualidade de vida mais elevados e melhor
PORFÍRIO SILVA funcionamento das instituições, na sua maioria são
Monarquias.’
CONTEÚDO
PÁG. 6 - PELA PATAGÓNIA, NO
LEGADO DE FERNÃO DE
MAGALHÃES

PÁG. 16 - A INÉTICA
REPUBLICANA

PÁG. 25 - «SERÃO OS
PENSAMENTOS ERRADOS,
ILEGAIS?»

PÁG. 29 - ENTREVISTA DA
REAL GAZETA DO ALTO MINHO
AO EX.MO. SENHOR DR.
ÁLVARO CASTELLO BRANCO

PÁG. 35 - REINO DOS PAÍSES


BAIXOS

PÁG. 49 - A ALTERNATIVA
PORTUGUESA

PÁG. 52 - JANTAR DOS


CONJURADOS, MALVEIRA

PÁG. 57 - ROTEIROS PELO


ALTO MINHO

PÁG. 60 - NOIVADO DE SUA


ALTEZA A INFANTA
D. MARIA FRANCISCA DE
BRAGANÇA

PÁG. 62 - CERIMÓNIA
EVOCATIVA DO DIA DA
FUNDAÇÃO DE PORTUGAL

PÁG. 69 - JANTAR DOS


CONJURADOS, ARCOS DE
VALDEVEZ

PÁG. 81 - A ÉTICA
REPUBLICANA

DEZEMBRO 2022
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

EDITORIAL
PEDRO QUARTIN GRAÇA*

A CAUSA REAL, A POLÍTICA E O PROCESSO DE REVISÃO CONSTITUCIONAL

Gostaria em primeiro lugar de fazer chegar a Esta nossa linha de actuação, de uma clareza
todos os monárquicos portugueses os meus que reputamos de sibilina, teve desde o
melhores desejos de um ano de 2023 que possa Congresso da Causa e, meses passados, pelo
corresponder aos anseios de todos e cada um de decurso da nossa própria actividade regular,
vós e das respectivas famílias. exemplos claros revelados publicamente ao
Não será exagero voltar a frisar, porquanto, termos sido o primeiro movimento a nos termos
estranhamente, ainda existem monárquicos que, pronunciado sobre
ou não percebem ou ainda têm dúvidas, que a o eventual processo de revisão da Constituição
CAUSA REAL, como movimento político de tipo portuguesa o qual, como decerto os leitores
associativo que é, tem toda a legitimidade para sabem, é meramente de carácter facultativo, ou
se pronunciar sobre a actualidade política seja, não tem necessariamente de ter lugar.
nacional, indo pois mais longe do que a A existir, como defendemos, o mesmo deve ter
exclusiva defesa da restauração da monarquia. E em linha de conta o expurgar do texto da
isto porque a referida restauração só poderá ter Constituição de tudo o que sejam limites
lugar se um vasto conjunto de pressupostos materiais de revisão, que reputamos de
políticos se verificarem, desde logo no âmbito ultrapassados e antidemocráticos,
da possível revisão da Constituição portuguesa, nomeadamente a tão falada “forma republicana
o que torna absolutamente necessário que a de governo”, a qual se tem entendido como
CAUSA REAL possa acompanhar de forma crítica limitativa da restauração da monarquia.
a realidade política nacional. Mas tal expurgo não deve significar, muito pelo
Mas para que, de uma vez por todas, fique claro contrário, que o processo de revisão sirva para
que a CAUSA REAL pode, quer estatutariamente, mexer nos direitos, liberdade e garantias dos
quer politicamente, adoptar este tipo de portugueses, cerceando-os ou, pura e
postura, analisemos o Artigo 1º (Missão, natureza simplesmente, eliminando-os, colocando os
e objecto) dos Estatutos: 1. “A Causa Real é uma interesses nacionais não mãos de quaisquer
associação de direito civil, dotada de poderes ou forças não democráticas, não eleitas
personalidade e capacidade jurídica e tem por ou representantes de interesses obscuros como,
missão a defesa do ideal monárquico, da aparentemente, se propõem fazer, quer o
Instituição Real e no limite a Restauração da Presidente português, quer os representantes
Monarquia em Portugal (…)” e, no seu número 2: dos maiores partidos nacionais, desde logo no
campo sanitário a pretexto de possíveis
“Compete à Causa Real a coordenação, a nível
pandemias futuras.
nacional, do movimento monárquico,
Na próxima edição desta revista iremos
promovendo acções políticas (…), tendo como
pronunciar-nos sobre alguns aspectos
objectivo principal a restauração da Monarquia
importantes da revisão da Constituição, desde
em Portugal”.
logo a pergunta a que tentaremos responder e
A já extrema clareza deste preceito deve ser que se consubstancia da ideia de saber se faz
conjugada, como é evidente, com as linhas sentido existir, nos moldes actuais, um Tribunal
programáticas constantes dos documentos Constitucional, matéria polémica, é certo, ou se,
estratégicos (moções e outras) apresentados em ao invés, se justificará fazer uma opção diferente
Congresso electivo pelas equipas vencedoras das e, por exemplo, extinguir o Tribunal
eleições para os órgãos da Causa o que, no Constitucional e atribuir as suas competências
presente caso, sucedeu aquando do Congresso de fiscalização ao Supremo Tribunal de Justiça,
de Évora que teve lugar na Primavera do numa Secção Constitucional, ou outra, na qual
passado ano de 2022. as matérias fossem sobretudo apreciadas por
Espero que esta dupla explicitação formal afaste juízes de carreira e em razão do seu mérito.
de vez os fantasmas com que alguns, poucos é Voltaremos a este assunto pois. Até breve.
certo, ainda convivem no seio do movimento Saudações monárquicas.
monárquico e nos permita ir em frente sem
tibiezas. * PRESIDENTE DA DIRECÇÃO NACIONAL DA CAUSA REAL

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REIS DE PORTUGAL

D. Manuel II

Nascimento – 15 de Novembro de 1889,


Palácio de Belém, Lisboa.

Morte – 2 de Julho de 1932, Fulwell,


Londres. O seu corpo sepultado no
Panteão Real da Dinastia de Bragança,
Mosteiro de São Vicente de Fora, Lisboa.
D. Manuel II e sua mulher Augusta Victoria

Reinado – 1 de Fevereiro de 1908 a 5 de Títulos, estilos e honrarias


Outubro de 1910. “Sua Alteza, o Sereníssimo Infante
Manuel de Portugal, Duque de Beja” (15
Consorte – D. Augusta Vitória de de Novembro de 1889 — 1 de Fevereiro
Hohenzollern-Sigmaringen. de 1908).
“Sua Majestade Fidelíssima, o Rei” (1 de
Dinastia – Bragança. Fevereiro de 1908 — 5 de Outubro de
1910).
Cognome – "o Patriota" ou "o “Sua Majestade, o Rei D. Manuel II” (5 de
Desventurado". Outubro de 1910 — 2 de Julho de 1932).

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Filhos Sem descendência.

Pai D. Carlos I.
Mãe D. Amélia de Orleães.

D. Manuel II em pessoa
«Alto, elegante, robusto, sem ser
desproporcionado, crescêra-lhe o
bigode, que usava á americana. As
feições realçaram-se, o signalsinho, que,
do lado direito, Lhe aformoseava a face
descolorida, tomou o cunho de mais
pronunciada masculinidade, e em todo
o Seu ser, de tanto enlêvo, se notava a
superioridade de quem fora destinado
por Deus a occupar, no mundo, um
elevado, um preeminente logar. Até Lhe
dava graça o modo como feria os rr, ao
contrario de Seu Pae, que os
pronunciava, acentuadamente, á
portugueza. [...] Primorosamente
educado, nunca fazia sentir aos que
O estilo oficial de D. Carlos como Rei d’Elle se acercavam que era Rei.
era: “Pela Graça de Deus, Manuel II, Rei [...] Prudente, grave, reflexivo [...] Era
de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e dominadora a Sua paixão pelos livros. O
d'Além-Mar em África, Senhor da Guiné estudo e as investigações históricas, por
e da Conquista, Navegação e Comércio vezes o levavam ao exgotamento, com
da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc.” grave prejuízo da Sua precaria saúde.
[…] Commedido, moderado, adotando a
paz, a tranquillidade, a applicação [...]
Como Rei de Portugal, foi Grão- Trabalhava sempre, sem descanço,
Mestre das seguintes Ordens: quase freneticamente.» (Cabral, II, pp-
20-27)
Ordem dos Cavaleiros de Nosso Senhor
Jesus Cristo.
Ordem de São Bento de Avis.
Antiga, Nobilíssima e Esclarecida
Ordem de Sant'Iago da Espada.
Antiga e Muito Nobre Ordem da Torre e
Espada.
Real Ordem Militar de Nossa Senhora
da Conceição de Vila Viçosa.

Aclamação de Dom Manuel II

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PELA PATAGÓNIA, NO LEGADO


DE FERNÃO DE MAGALHÃES

MARIANA DE MAGALHÃES SANT’ANA

Abstract Résumé

The author describes the trip she made L’auteur décrit le voyage qu’elle a
with her brother to Patagonia in effectué avec son frère en Patagonie en
October 2022, as part of the 500th octobre 2022, dans le cadre des
anniversary celebrations on Magellan's célébrations du 500e anniversaire du
journey. voyage de Magellan.

Key words: Patagonia; Fernão de Mots clés: Patagonie; Fernão de


Magalhães; 500 years. Magalhães; 500 ans.

Em 2020 celebrou-se o 500º próxima do local onde a cerimónia


aniversário da chegada de Fernão de terá decorrido.
Magalhães à Patagónia e da Dois anos depois, com a situação
descoberta do Estreito que herdaria o pandémica controlada, pôde
seu nome. Estava previsto um extenso finalmente concretizar-se a viagem no
programa de eventos a decorrer na âmbito do Festival Magalhânico, um
província de Santa Cruz, na Patagónia evento internacional que pretende
Argentina, incluindo uma missa celebrar o legado de Fernão de
presidida pelo meu irmão António de Magalhães. Por impossibilidade de
Magalhães Sant’Ana s.j. no local onde, agenda do meu irmão António, foi
500 anos antes, fora celebrada missa convidado o Pároco de Ponte da
solene para toda a armada das Barca, Filipe Sá, para celebrar a missa
Especiarias. A Pandemia de Covid-19 em seu lugar. O meu irmão Manuel
veio trocar as voltas às comemorações Duarte aceitou também o desafio de
e a missa acabou por decorrer em ir falar sobre Fernão de Magalhães e
Ponte da Barca, com transmissão em Ciência. A comitiva ibérica incluía
directo para Puerto Santa Cruz. Deste ainda o Presidente da Câmara de
lado, também por meios digitais, Ponte da Barca, Augusto Marinho, e o
acompanhámos à distância a sub-director do Arquivo Geral das
colocação de uma bóia náutica Índias em Sevilha, Guillermo Morán.

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Com múltiplas deslocações agradável, onde se começaram a trocar


agendadas durante duas semanas, o impressões sobre as iniciativas que se
primeiro grande desafio foi fazer a avizinhavam.
mala apenas com bagagem de mão, Na manhã seguinte, dia 16 de Outubro,
sabendo que podia apanhar 30º em fomos recebidos pelo embaixador de
Buenos Aires e temperaturas Portugal José Ludovice e pelo cônsul
negativas na Patagónia. Não podia Francisco Calheiros. Entre outras
deixar de levar alguns presentes para propostas ficou a ideia de editar em
as pessoas que nos iam receber, roupa espanhol um livro recente de um autor
formal para as recepções, roupa barquense sobre Fernão de Magalhães.
prática e quente para explorar a Seguimos para o restaurante D. Júlio,
Patagónia, e claro, uns sapatos para onde almoçámos a deliciosa carne
dançar Tango. argentina, na excelente companhia do
Na noite de 14 de Outubro Francisco Calheiros, mulher e filhas.
embarcámos no Porto com destino a Depois de almoço, levaram-nos a
Buenos Aires, com escala em Madrid. conhecer a famosa livraria Ateneu, o
Depois de 15 horas de viagem, fomos Caminito com as suas casas coloridas, e
recebidos por Fernando Garcia o tradicional bairro de San Telmo.
Leyenda, responsável pelas relações
internacionais do município de Puerto
Santa Cruz e representante das
comemorações dos 500 anos da
viagem de Circunavegação no Senado
Argentino. Do aeroporto seguimos
para o Hotel Pestana, situado na
avenida 9 de Julho, considerada a
mais larga do mundo (140 metros!),
com 16 faixas de rodagem para
automóveis e quatro para autocarros.
O Hotel fica perto do famoso obelisco
erigido em 1806 no IV centenário da
fundação da cidade. No curto passeio
Na Embaixada de Portugal em Buenos Aires
que a chuva nos permitiu dar, demo-
nos conta dos problemas da economia No dia seguinte conhecemos a comitiva
Argentina, com câmbios no meio da que nos ia acompanhar na viagem até à
rua, e preços que descem Patagónia: para além do Embaixador de
consideravelmente se forem pagos “en Portugal, viajavam Santiago Cano,
efectivo”. especialista em Turismo Religioso, o
Ao fim da tarde dirigimo-nos para a Contra-almirante da Marinha Argentina
zona de Palermo, onde a mãe do Marcelo Tarapow, e o jornalista Juan
nosso anfitrião recebeu a comitiva Parengo. No aeroporto de Rio Gallegos
com empanadas, vinho argentino e fomos recebidos pela governadora da
“dulce de leche”, num apartamento província de Santa Cruz, Alicia Kirchner
com uma vista incrível para o Jardim (irmã da ex-presidente Cristina
Botânico. Foi um serão muito Kirchner), e pelo Intendente de Puerto

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Santa Cruz Nestor Gonzalez. Depois se conseguiu colonizar aquele lugar,


de almoço, fizemos um pequeno devido ao clima agreste e à aridez das
passeio de autocarro por aquela que é suas terras.
a maior cidade da Patagónia
Ficámos hospedados na Hosteria
Argentina e seguimos para norte até
Municipal, de onde seguimos para o
Puerto Santa Cruz, pela Ruta Nacional
3 - a mais longa estrada da Argentina Auditório Municipal. Na entrada do
- que acompanha a costa atlântica auditório via-se uma grande maquete
desde a Patagónia até Buenos Aires. A da proa de uma nau e ouvia-se música
viagem, de quase 3 horas, faz lembrar ao fundo. Eis que a proa se abre a meio
a mítica Route 66 dos Estados Unidos e aparece um homem vestido de
da América, uma estrada imensa que
Fernão de Magalhães a receber a
corta a direito a estepe patagónica.
comitiva num pavilhão cheio de gente
Pelo caminho não se vê qualquer
vestígio de presença humana, apenas que aplaudia a nossa chegada! Fomos
guanacos (animais semelhantes a surpreendidos pela qualidade do
lamas), choiques (uma espécie de Festival Magalhânico. Vimos danças
avestruz), flamingos, patos, e muitas tradicionais argentinas, danças da
ovelhas, trazidas pelos ingleses.
Bolívia, ballet clássico, um grupo de
cantores tradicionais da Patagónia,
ouvimos fado e vimos viras do Minho
dançados pelo grupo folclórico Raízes,
um grupo de argentinos com ligações a
Portugal. Houve discursos de boas-
vindas e trocas de presentes.
Recebemos um prato comemorativo do
Festival e uma placa de agradecimento
pelos veteranos de guerra das ilhas
Malvinas. Percebemos que este é um
tema sensível e, passados 40 anos,
ainda muito presente no coração dos
argentinos.

Guanacos na estepe patagónica

Puerto Santa Cruz é uma pequena


cidade, com cerca de 6000
habitantes, junto ao estuário com o
mesmo nome. Foi descoberta por
João Serrano que aí tinha ido explorar
uma possível passagem para o Mar do
Sul, com a Nau Santiago, no dia em
que a Igreja celebrava a Exaltação da
Santa Cruz, tendo-a por isso assim Grupo Raízes no Festival Magalhânico
baptizado. No entanto, só após 1870

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O dia 18 de Outubro incluiu diversas extensão territorial de 244 mil km²,


conferências. Guillermo Morán quase 3 vezes a de Portugal
enquadrou a viagem através dos continental), acompanhado pelo violino
documentos que passaram pelo que um dia sonha saber tocar.
Arquivo Geral das Índias em Sevilha, As conferências duraram todo o dia,
nomeadamente na exposição “El Viaje apenas interrompidas pela celebração
mas largo” que esteve patente em da missa comemorativa, presidida pelo
2019-2020. Manuel de Magalhães Padre Fabian Gilli, e concelebrada pelo
Sant’Ana começou por explicar a Pároco de Ponte da Barca Filipe Sá.
origem do apelido Magalhães e a Contou com a presença de várias
relação familiar dos Senhores da entidades civis e militares, e foi
Barca com o Navegador; depois enriquecida por um belíssimo grupo
abordou a importância da viagem de musical. O final da missa foi marcado
circunavegação para a ciência, seja na pelo tocar do sino da Igreja, que tinha
biologia, na astronomia, ou na acabado de ser restaurado e pela
cartografia. O Contra-almirante inauguração da sala-museu de arte-
Marcelo Tarapow enalteceu as sacra. Uma das presenças mais curiosas,
capacidades de Magalhães como tanto na missa, como nas conferências
marinheiro, à luz da sua própria foi um cão! Sim, um cão chamado Paco,
experiência nas expedições que fez que é uma espécie de mascote da
pela Antárctida e da imensa cidade. Anda por todo o lado e não
dificuldade que, ainda hoje, os mais incomoda ninguém.
modernos navios têm em navegar o
Estreito. O Professor Santiago Cano,
criador do Encontro Argentino de
Turismo Religioso, fez algumas
reflexões sobre o papel dos
monumentos e eventos religiosos no
turismo. O Professor Javier Garay, de
Punta Arenas (no Chile), mostrou o
trabalho que a ONG Nobeles Australes
faz com jovens desfavorecidos,
explorando as suas capacidades para
contarem a epopeia Magalhânica em
filmes de animação. O licenciado
Pablo Allende falou da evolução
cartográfica de Puerto Santa Cruz ao
longo dos 500 anos. O Presidente do
Centro de Veteranos de Guerra “Isla
Soledad” discursou sobre os 40 anos
da questão das Malvinas. O jornalista
Juan Parengo apresentou o seu
projecto El Señor de la Casa Santa
Cruz, um canal de Youtube onde
partilha as viagens que faz pela
província de Santa Cruz (que tem uma Missa Comemorativa em Puerto Santa Cruz

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O festival Magalhânico terminou com Na manhã de 19 de Outubro, fomos


uma mostra de comida tradicional. recebidos, mais uma vez, pelo
Aproveitámos o tempo até ao jantar Intendente Nestor Gonzalez, desta vez
para passear pela cidade. Vimos a na Intendência. Foi assinado um
enorme Cruz comemorativa do protocolo de colaboração com o
centenário da cidade, os velhos Presidente da Câmara de Ponte da
barcos abandonados que Barca, e fomos entrevistados para a
rádio local. Despedindo-nos do Contra-
transportavam víveres para abastecer
almirante Marcelo Tarapow e do
a cidade, o Mausoléu de Carlos María
jornalista Juan Parengo e seguimos
Moyano, primeiro governador da
para o Parque Nacional Monte Leon, a
Província de Santa Cruz, o Museu dos
54km. Aí pudemos ver várias espécies
pioneiros, e o monumento à primeira
de plantas autóctones, passear ao lado
missa com a bóia náutica. O jantar,
dos pinguins de Magalhães, ver lobos-
em jeito de festa de despedida,
marinhos, pegadas de puma, e avistar o
decorreu na Prefeitura de Santa Cruz. famoso monte que parece um leão
Comemos empanadas de robalo deitado. Os guias do parque levaram-
(Puerto Santa Cruz organiza nos ainda a um lugar arqueológico
anualmente a Festa Nacional do onde se encontram pedras talhadas
Robalo) e churrasco com as mais pelos habitantes pré-históricos e restos
variadas carnes, desde enchidos, de crustáceos que lhes serviam de
porco, vitela e cordeiro. alimento. O passeio culminou num
almoço inesquecível em pleno parque,
onde um grupo de locais estava há 2
horas a preparar para nós um cordeiro
assado na fogueira. De entrada
comemos choripan (pão com chouriço
assado na brasa) e acompanhámos com
um delicioso vinho tinto argentino.
De estômago cheio, fizemo-nos à
estrada numa viagem de 5 horas,
seguindo novamente pela RN 3, até
entrarmos na estrada que nos levaria a
El Calafate. A meio caminho, parámos
na estação de serviço de um lugar
perdido no meio do nada, com o
curioso nome de Esperanza. Já em El
Calafate, ficámos instalados no hotel
Tehuel Plaza, junto ao lago Argentino.
Também aí havia um cão
simpatiquíssimo que nos pedia festas à
entrada do hotel e nos acompanhava se
passeávamos por perto.
Leões marinhos no Parque Nacional Monte Leon

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bebem todo o dia e levam para todo o


lado). No regresso ao hotel, admirámos o
céu estrelado do hemisfério sul. Faltou-
nos o nosso irmão Diogo, astrónomo de
profissão, para nos apontar as nuvens de
Magalhães.
Na manhã de 21 de Outubro deixámos a
comitiva no aeroporto de El Calafate. Foi
com alguma nostalgia que nos
despedimos do cavalheirismo de
Santiago Cano, da imensa cultura do
Guillermo Morán, da diplomacia do
Glaciar Perito Moreno Augusto Marinho e das divertidas
histórias do Padre Filipe Sá. Para eles
Na manhã de 20 de Outubro, fomos
terminava a viagem, para nós começava a
recebidos pelo Intendente de El
segunda parte da aventura, em que
Calafate. Após uma pequena reunião
estaríamos (pensávamos nós) por nossa
e a protocolar troca de presentes,
conta. Fernando Leyenda e o motorista
seguimos para o Glaciar Perito do Município de Puerto Santa Cruz
Moreno. Para além dos passadiços, conduziram-nos durante 3 horas pela
fizemos um passeio de barco junto ao Ruta 40 a uma terra chamada Rio Turbio,
glaciar. Uma experiência soberba, conhecida pelas suas minas de carvão. Aí,
com uma paisagem de cortar a numa bomba de gasolina, passámos para
respiração! De regresso a El Calafate, o automóvel de um rapaz chileno,
tivemos algum tempo livre para chamado Benjamin, cuja família era
conhecer a cidade. Trata-se de uma conhecida do nosso anfitrião, e que
estância turística, que cresceu muito aceitou levar-nos até ao Chile, em troca
nos últimos anos, por ser a porta de de um depósito cheio de gasolina. Os
entrada do Parque Nacional dos combustíveis fósseis abundam na
Glaciares. Também aqui vimos vários Argentina, pelo que os preços são muito
cães de grande porte pelas ruas (e até mais baratos do que no Chile. Atravessar
a dormir dentro de lojas), com um a fronteira entre o Chile e a Argentina
implica uma complexa burocracia.
aspecto nutrido e cuidado,
Benjamin ajudou-nos a preencher os
aparentemente sem dono mas que
formulários e fomos autorizados a seguir
convivem pacificamente. À noite,
viagem rumo a Puerto Natales. Deixou-
jantámos com o Padre Filipe e
nos no terminal e apanhámos um
Guillermo Morán num restaurante
autocarro para Punta Arenas. Após quase
perto do hotel. Entre outras iguarias,
outras 3h de viagem, chegámos
provámos uma espécie de ravioli
finalmente ao destino, onde Javier Garay,
recheados com carne de guanaco. Os o professor chileno que conhecemos no
homens beberam cerveja (há boas festival Magalhânico, nos foi esperar ao
cervejas artesanais na Patagónia) e eu autocarro. Mostrou-nos a cidade desde
acompanhei o jantar com Mate (um Cerro de la Cruz e deixou-nos no hotel
chá de ervas que os Argentinos Isla San Jorge, perto da estátua de

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Fernão de Magalhães. Punta Arenas é Na manhã de 22 de Outubro, visitámos


uma cidade bonita, com alguns o Cemitério de Punta Arenas. Nos seus
monumentos cuja arquitectura quatro hectares, há jazigos que são
lembra as cidades europeias. Fica verdadeiras jóias, e as lápides
denunciam nomes de diversas
numa província chamada Magalhães,
proveniências, como Alemanha e Países
que tem uma bandeira própria, e o
Nórdicos. Javier Garay passou a buscar-
nome do navegador está em todo o
nos, e rumámos a sul, até ao Parque
lado. À noite, enquanto procurávamos Nacional do Estreito de Magalhães.
onde jantar, entrámos no Santuário Vimos o Museu do Estreito, e parámos
Maria Auxiliadora, que pertence ao para almoçar na cafeteria. Comemos
Colégio dos Salesianos. Ia começar sopa de tomate (que saudades
um concerto, e acabámos por ficar a tínhamos de sopa) e umas empanadas
ouvir a Orquestra Sinfónica da estupendas. Como fomos os primeiros
Universidade de Magalhães a clientes a inaugurar o serviço de
cozinha, pediram se nos podiam tirar
interpretar obras de Haendel, Purcell,
uma fotografia para colocar nas redes
Clarck e Mozart.
sociais. Javier contou-lhes que eramos
da família do navegador, e ficaram tão
contentes que nos ofereceram umas
recordações do parque. Da cafeteria
via-se o Puerto Del Hambre, local onde
houve uma primeira tentativa de
povoação que resultou na morte à fome
dos povoadores. Visitámos o Forte
Bulnes, que parece saído de um
western. Fundado em 1843, e
reconstruído 100 anos depois, foi a
primeira povoação chilena do território
desde a independência do país. Dali
passeámos até ao miradouro, de onde
de vê a Terra do Fogo e os recortes
intrincados do Estreito, com montanhas
geladas ao fundo.

Estátua de Fernão de Magalhaães em Punta


Arenas
Réplica da Nau Victória em Punta Arenas

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De regresso a Punta Arenas, visitámos virou-se para o colega,


o museu da Nau Victória. Além de entusiasmadíssimo a dizer quem
uma réplica da Nau, há uma do navio éramos e pediu-me um contacto. Mais
Beagle, com o qual Charles Darwin tarde, escreveu-me a dizer que era um
explorou estas terras. entusiasta de Fernão de Magalhães e
Na manhã de dia 23 de Outubro, que tinha pena de não ter tirado uma
Punta Arenas estava em festa, com o fotografia connosco. Reentrámos no
cortejo dos alunos do principal autocarro para tornar a sair uns
Colégio da cidade a desfilar. metros à frente, junto à fronteira
Passeámos junto ao mar e sentimos Argentina. Desse lado da alfândega
nas mãos as águas do estreito, antes ouviam-se gritos. Quando entrei,
de apanharmos um autocarro de entendi o motivo, o Boca Juniors
regresso à Argentina. tinha acabado de ganhar o
campeonato! Já era noite quando
chegámos a Rio Gallegos. Ficámos
alojados no Hotel Patagónia.

Fuerte Bulnes

A viagem até Rio Gallegos dura mais


Pedras coloridas do Cabo Virgenes
de 4h, incluindo uma paragem de
quase 1h na fronteira entre os 2 Dia 24 de Outubro, tínhamos à nossa
países. Primeiro parámos na fronteira espera um miniautocarro do Turismo
chilena, o motorista do autocarro de Rio Gallegos com dois guias, para
levou a informação dos passageiros e uma excursão ao Cabo Virgenes, onde
só depois descemos todos para o inicia o estreito de Magalhães. A
controlo de passaporte. Quando viagem, de 127Km, demora quase 3h,
chegou a minha vez, diz o rapaz da uma vez que só os primeiros 15km são
alfândega “Mariana de Magalhães, é em estrada de alcatrão. A guia Lídia,
da família do Navegador?”, “Sou”, argentina de origem galesa, foi-nos
respondi. “E esteve ontem no Forte introduzindo à fauna e flora local,
Bulnes?”, “Sim, estive”, respondi pelo que o tempo pareceu mais curto.
admirada. “Ah, eu quando vi a sua Pelo caminho, passámos à porta da
cara reconheci-a logo das fotografias Estância Condor, uma autêntica
do Parque do Estreito!”. Depois disto aldeia privada que pertence aos

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donos da Benetton, e perto das cidade. Recordo o belíssimo pôr-do-


centrais de petróleo e gás natural. O sol na estepe patagónica (ao contrário
Contra-Almirante Marcelo Tarapow de nós, vêem o sol a nascer no mar e a
também tinha movido as suas pôr-se em terra), e o céu estrelado
influências e solicitado à Armada que se seguiu. Algures a meio do
Argentina para nos dar permissão de caminho, os telefones dos guias
subirmos ao Farol. Assim, quando começaram a tocar, bombardeados
chegámos, os Cabos Gutierrez e com mensagens e notificações de
Grageda levaram-nos ao topo do chamadas. Tínhamos chegado a uma
Farol, mostraram-nos o museu que zona com rede, e os responsáveis do
fica no mesmo edifício, e ainda Turismo de Rio Gallegos estavam há
fizeram questão de nos oferecer o horas a tentar contactá-los,
almoço, o incontornável cordeiro preocupadíssimos por ainda não
assado. Dali seguimos para a Reserva termos chegado. Na verdade, foi um
Provincial do Cabo Virgenes e a sua dia tão bem passado que ninguém
“Pinguinera”. Foi divertido ver os tinha pressa de voltar a casa (em vez
pinguins de Magalhães a deslocarem- de chegar às 17h como planeado,
se entre o mar e os ninhos. As guardas chegámos ao hotel pelas 22h30).
do parque juntaram-se a nós e Estivemos sempre em boas mãos e
levaram-nos até junto ao Cabo com um excelente motorista.
Dungenes, que faz fronteira com o
Chile. Para evitar algum acidente
diplomático, pedimos autorização aos
militares chilenos para nos deixarem
passear na praia partilhada pelos dois
países, em plena entrada do estreito.
A areia é grossa e polvilhada de seixos
de cores variadas. Mais uma vez,
juntou-se a nós um simpático cão,
que atravessou a fronteira sem pedir
licença e nos acompanhou no passeio.
Por fim, seguimos até um vale perdido
no meio do parque, onde há um
monumento de homenagem aos
primeiros colonos que tentaram
habitar neste local. Aqui, tal como no
Chile, acabaram por morrer à fome
pela incapacidade de cultivar as
terras. Já caía a noite quando saímos
do Parque, pela lenta estrada de terra
batida que nos levaria de volta à Pinguins de Magalhães no Cabo Virgenes

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PÁGINA 15 | REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Dia 25 de Outubro, demos um


pequeno passeio por Rio Gallegos, e
depois de almoço, apanhámos o avião
de regresso a Buenos Aires.
Terminávamos a nossa expedição à
Patagónia cansados, mas de coração
cheio. Para trás deixávamos um povo
extremamente acolhedor, habituado a
viver com pouco, numa terra que tem
tanto de belo quanto de desolador.
Dia 26 de Outubro aproveitámos para
passear a pé por Buenos Aires. A
cidade é gigante, mas o hotel Pestana
Colónia de Sacramento, Uruguai
é bastante central. Vimos o Teatro
Colón (apenas por fora, pois às 10h30 permanente com os espanhóis,
já não havia bilhetes para todo o dia), acabando por passar definitivamente
a zona da Faculdade de Medicina, a para estes. No entanto, os
Igreja del Salvador, a Praça do portugueses já navegavam estas águas
Congresso, a Praça de Mayo, a Casa desde 1512, e em 1520 também lá
Rosada e o Obelisco. Claro que a desembarcou a armada de Fernão de
passagem por Buenos Aires não podia Magalhães. No local onde na altura
passar sem Tango. Nessa noite, e por colocaram uma cruz de madeira,
sugestão de uma bailarina argentina, existe hoje um monumento. Afinal,
fui à Milonga La del Centro, no clube Fernão de Magalhães insistia em
Marabu (Milonga é o nome que se dá acompanhar-nos até o fim da viagem.
a um baile de Tango). Havia música ao A 28 de Outubro apanhámos o voo de
vivo, tocada pela orquestra Los Reyes Buenos Aires para Madrid, tendo
del Tango e a organizadora, Carolina regressado a Portugal na manhã de 29
Couto, tem ascendência portuguesa e de Outubro. Foi uma viagem
adora o nosso país. O meu irmão não extraordinária! Aprendemos que
dança, mas eu fui convidada para Fernão de Magalhães não é do Porto,
dançar várias vezes. Mais tarde, a de Gaia, de Ponte da Barca ou de
Carolina contou-me que um dos pares Sabrosa. Fernão de Magalhães é da
com quem dancei era um conhecido Argentina, é do Chile, é do Uruguai
actor argentino. tanto ou mais do que é português ou
Dia 27 de Outubro apanhámos um ao serviço de Espanha. Para nós
barco para a Colónia de Sacramento portugueses tem sido um personagem
no Uruguai, classificada como histórico polémico e nem sempre
património mundial pela UNESCO. bem-amado. Para as povoações da
Fundada pelos portugueses no final Patagónia, Fernão de Magalhães é a
do século XVII, foi motivo de disputa razão da sua existência.

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A INÉTICA REPUBLICANA

MIGUEL VILLAS-BOAS

Abstract Résumé

Kakistocracy is a government run by Kakistocratie c’est le gouvernement


the worst, least qualified, or most par les pires personnes, ou par des
unscrupulous citizens. personnes considérées comme
Always clinging to the old jargon of particulièrement medíocres.
Republican Ethics, they deny it with Toujours accrochés au vieux jargon de
their actions, because ethics must l’éthique républicaine, ils le nient par
precede politics, defining the concept leurs actions, car l’éthique doit
of republican ethics as the separation précéder la politique, définissant le
between the public and the private in concept d’éthique républicaine comme
order to constitute, in this line of la séparation entre le public et le privé
thought, the Republic as a space in afin de constituer, dans cette ligne de
which rulers must exercise their pensée, la République comme un
function for the people, taking care of espace dans lequel les dirigeants
public and common interests. So it’s doivent exercer leur fonction pour le
Inethics. peuple, prendre soin des intérêts
publics et communs.
Key words: Kakistocracy; Public and
Common Interest; Inethics. Mots clés: Kakistocratie; Intérêts
Publics et Communs; Inéthique.

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A Caquistocracia ou kakistocracia é o
sistema de governo onde os líderes
são os piores, menos qualificados e/ou
mais inescrupulosos cidadãos. Isto é,
caquistocracia é o antónimo de
meritocracia. Pelos facies, trejeitos e
modus vivendi e modus operandi esta
gente é o retrato polaroid do
lumpesinato alçado no poder.
Acumulam trapalhadas, erros de
casting, ineptidão, falta de moral,
mostram-se eticamente ineptos para
sobraçar cargos políticos e, no Catão, O Velho
entanto, catarreiam, para colocar a
voz de falsete, e libertam, naquele Ou seja, a ética deve preceder a
ufano de pesporrência que se lhes política, definindo o conceito de ética
conhece, o velho jargão da ‘ÉTICA republicana como a separação entre o
REPUBLICANA’. Ora, o jargão é velho público e o privado a fim de se
porque a ética que rege alguns dos constituir, nessa linha de pensamento,
políticos actuais faria corar e/ou a República como espaço no qual os
enfurecer um Catão, o Velho e/ou um governantes devem exercer sua
Bruto, o Antigo, que nessa longínqua função em prol do povo,
e inicial república romana, ainda livre cuidando dos interesses públicos e
de Catilinas e Caios Dolabelas, a ética comuns, cuja orientação das atitudes
republicana exigia que o funcionário se fundamenta na dimensão Ética.
servisse a República e proibia-o de se O conjunto do que é moralmente
servir da República para promover os aceitável (o legítimo) é mais restrito
seus fins pessoais ou os de um do que é juridicamente aceitável (o
determinado grupo. E essa república legal). Nem tudo o que a lei permite é
romana era uma oligarquia, ou moralmente legítimo, pois o Direito é
melhor, uma Aristodemocracia em o mínimo ético. Sim, porque ‘a mulher
que imperava o SPQR, Senatus de César assim como qualquer
Populusque Romanus, onde Senado e membro da sua família devem estar
Povo Romano, Senadores e Tribunos acima de qualquer suspeita’.
da Plebe, Aristocracia e Povo Dão-se, pois, alvíssaras a quem
governavam os destinos da Cidade encontrar a alegada ÉTICA
que seria eterna e o seu ainda REPUBLICANA!
pequeno império que se estendia por Mandatasse o maior detective do
pouco mais que o Lácio e a Península Mundo para tal demanda – a de
itálica. procurar a alegada Ética republicana -

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e mesmo ele teria uma dificuldade A mentira carinhosa diz-nos que eles
titânica em encontrar a flama. Como são melhores do que os que eles
procurar o que não existe sem servem e é então, responsabilidade
enveredar por uma iníqua caça aos deles guardar e proteger aqueles que
gambuzinos. são menos do que eles mesmos.
Assim, não precisava de ser indivíduo Distribuem pela sua camarilha, dentro
de poderosa imaginação – como o da sua Famiglia, os cargos de poder,
maior detective do mundo – para as sinecuras, as rendosas conezias,
concluir que a ´ética republicana’, porque se ufanam de serem os
hoje, só se pode tratar de ‘uma agulha prodígios, os especiais, e que tudo à
num palheiro!’ volta é um deserto de ideias, de
Qualquer mentira para parecer competência, de inteligência, e
verdadeira tem de ter nem que seja portanto sem eles o país cairia no
um elemento de verdade; ora se não abismo, no caos. Ora sabemos que
há aqui qualquer verosimilhança só não é assim, bem pelo contrário: saem
pode ser inexistente. Sou, então, da universitas e ocupam logo cargos
levado a concluir que ‘a ética de assessores (mais que) bem
republicana’ se trata tão-somente de remunerados, sem outro curriculum
um bordão linguístico: uma palavra ou vitae que não seja o Cartão do Partido
uma expressão usada com elevada e depois sem qualquer cursus
frequência no discurso oral que, por honorum, que até o próprio Júlio
ser repetida imensas vezes, acaba por César teve de cumprir, logo sobem a
se tornar uma espécie de vício na fala. secretários de estado e daí a serem
Ética republicana é uma expressão ministros é num ápice. Quosque
que serve de ‘bengala’ aos políticos tandem?!
quando estão a falar. Uma bengala,
Um governo que se rege sobre o
uma estaca que sustenta uma rotunda
princípio da benevolência para com o
treta.
seu Povo, à maneira de um pai
De facto, tornou-se um bordão
relativamente aos seus filhos, é um
linguístico tão comum como os
governo paternal, esse sim, que
conhecidos: ó pá….; quer dizer…;
entende os cidadãos como súbditos,
portanto…; não é…; pronto(s)…
crianças menores que ainda não
Dá vontade de rir, embora não se trata
podem distinguir o que lhes é
de uma comédia, mas sim de uma
verdadeiramente útil ou prejudicial, e
tragédia que assume proporções
por isso os obriga a comportar-se de
iguais ou semelhantes à grega.
maneira passiva, a fim de esperarem
O traço mais grave e mais geral desta
meramente do governo um juízo de
falta de Ética republicana é a falta de
apenas como devem ser felizes, na
carácter daqueles que vão sobraçar a
medida da bondade que ele o queira,
coisa pública. Os chefes da seita
pois eles são superiores - Síndrome de
contam-nos uma ‘mentira carinhosa.’
Superioridade Ilusória, só pode ser!

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Mas que superioridade é essa, comum - confiscando-lhes os


reclamada pelos políticos de serviço rendimentos mais diversos -, assiste-
que não consigo vislumbrar: não é se a uma complacência generalizada
intelectual, não é física, não é de com os grandes corsários seus amigos.
linhagem, não é de… Só se pode pois Quando saem à ‘caça ao incumpridor’,
contactar que seja o Efeito Dunning- é para caçar os que já são esfarelados
Kruger que é um fenómeno que leva pela carga da canga fiscal.
indivíduos a acreditarem saber mais Não é incomum, os interesses mais
que os outros; é a sua incompetência abusivos do Estado tomarem a forma
que restringe sua capacidade de e a cor do direito para se imporem,
reconhecer os próprios erros. pois o Legislador são eles.
Estas pessoas sofrem de Síndrome da ‘Os ladrões de bens particulares
Superioridade Ilusória, um viés passam a vida na prisão e
cognitivo cada vez mais comum. acorrentados; aqueles de bens
públicos, nas riquezas e nas
honrarias.’, Catão, O Antigo (234-149
a.C.).
‘Quis custodiet ipsos custodes?’,
satirizou Juvenal. ‘Quem guardará os
guardas?’. A resposta para esta
pergunta, já a havia dado Platão em
‘A República’ a sua obra sobre
‘governo’ e ‘moralidade’ e é que os
guardiões irão se proteger deles
próprios. Mas hoje há o escrutínio
público, que mesmo que queiram
ignorar não dá tréguas.
Responsabilidade, também, é dizer o
Sindrome da Superioridade Ilusória
que se pensa, e dizer o que se pensa
não é um exagero de personalidade,
‘Os incompetentes são muitas vezes
nem uma simples defesa de
abençoados com uma confiança
propaganda, mas o mais genuíno uso
inadequada, protegidos por algo que
do lídimo direito de expressão. Numa
lhes parece conhecimento’, Dunning
democracia a neutralidade é perigosa,
e Kruger, 1999.
pois esvazia a acção cívica, e sem
Por outro lado, há uma
diferenciação, com todos em uníssono
condescendência com os
cleptocratas, permitindo-se-lhes ‘uma a cantar a mesma melodia, as
vida airada!’, à custa dos sacrifícios do liberdades começam a sumir-se
contribuinte. Paralelamente, a uma lentamente e a própria democracia a
enorme sufocação com impostos a esmorecer. ‘Que continuemos a nos
que os verdugos submetem o cidadão omitir da política é tudo o que os

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malfeitores da vida pública mais as suas quixotadas - bazófias ridículas


querem’, lembrou Bertold Brecht. de quem não reconhece que falha a
Fernando Pessoa, monárquico toda a linha. 'Quando um palhaço se
convicto, exortava os portugueses e muda para um palácio, ele não se
lembrava: ‘Ora o dever de todo o torna um rei. Ele transforma o
homem que representa qualquer palácio num circo', filosofou
coisa em Portugal, hoje, é o de, Heráclito.
afastado de toda a malandragem O decorrer dos anos só tem
que faz política, prestar o seu auxílio, acentuado as contradições do regime.
pequeno que seja, a essa criação de Com o seu clubismo e caciquismo
Portugal.’ mergulharam as instituições do
É um exercício de cidadania, uma Estado numa agonia profunda;
obrigação mesmo, apontar assinaram os despachos da desgraça;
responsáveis pela situação caótica do e a todo custo, enclausurados numa
País e mesmo apurar-lhes as redoma de privilégios, tentam manter
responsabilidades! Há que derrubar o o status quo e mascarar a má
velho hábito de assistir passivamente qualidade do produto que vendem
ao correr da história mal contada, em tempos de eleições.
mesmo que em desespero de causa Manifestamente responsáveis pela
depois nos venham chamar de situação do País, nunca estiveram à
iliberais. Como se os Liberais de 1820 altura das enormes responsabilidades
quisessem alguma coisa com esta que assumiram sem qualquer
gente que enche o peito de preparação. E quando deixam de
democracia. onerar a coisa pública com a sua
Existe um enorme manicómio incompetência – se for só isso -, há
republicano repleto de Einsteins, sempre uma porta giratória para o
Napoleões, Cleópatras e candidatos a sector privado. Enquanto isso, as
Prémio Nobel, que perambulam, pessoas preparadas de fora do arco da
peripatéticos, dando-se ares de política e a governação as pessoas
importância que manifestamente não mais aptas e mais integras.
possuem. Enfatuam uma pose Não é preciso fazer um grande
institucional e calcorreiam exercício de imaginação para
periclitantes, um mais ombreado que interpretar os factos e corroborar as
outro por energúmenos, em potentes próprias conclusões; como escreveu o
limusinas bávaras. Fazem-se afectados príncipe das Letras, Eça de Queiroz:
por uma cultura que não têm mas que ‘Estamos perdidos há muito tempo...
supõem ter, ostentando, outrossim, O país perdeu a inteligência e a
uma ignorância efectiva, que não se consciência moral. Os costumes
inibem de mostrar publicamente estão dissolvidos, as consciências em
através da eloquência histérica. Que debandada. Os caracteres
alacridade mostram as criaturas com corrompidos. A prática da vida tem

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por única direcção a conveniência.


Não há princípio que não seja
desmentido. Não há instituição que
não seja escarnecida’.
De facto, em política, deixou de haver
- se alguma vez o houve em tempos
republicanos – sentido de missão. Há
uma desqualificação da classe
política. O regime coloca sempre no
poder os seus apaniguados, que não
ocupam os lugares de
responsabilidade por mérito, antes
sim, por privilégio de ‘casta’. Busto

Ora o ‘tu dás, eu recebo!’, não pode vão a banhos mergulhar para fora da
continuar. Tiram tudo para eles realidade enquanto, a realidade cai-
enquanto subministram o cidadão lhes, pesadamente, no colo.
comum. De facto, continuam a julgar-se
Com o actual sistema não dão pessoas de excepção, como se fosse
hipótese de pessoas com valor, fora nossa obrigação levá-los em ombros –
do sistema e do círculo do poder e essa honra apenas concedida aos
das famílias dos partidos, serem escassos heróis, reis-conquistadores e
chamados a servir o bem comum e a Césares que a história da humanidade
coisa pública. produziu. Mantê-los, pois, faz tanto
‘Democracia burguesa quer dizer sentido como um ciclista de cartola!
sistema constitucional em que a O economista norte-americano
política grande do bem comum e dos Thomas Sowell advertiu para o que
destinos nacionais, permanentes e hoje sabemos, malogradamente, de
imorredouros, é sobrepujada pela cor:
política pequena do interesse ‘Parece que estamos a rumar em
burguês. 'Burguês' quer dizer direcção a uma sociedade onde
indivíduo possuidor, egoísta e ninguém é responsável pelo que faz,
particularista, cujos horizontes de mas todos nós somos responsáveis
vida se fecham no gozo dos seus por aquilo que outras pessoas
haveres e na garantia das suas fizeram no presente e no passado’.
comodidades e seguranças’, escreveu Consequências gravíssimas atingem o
o Comandante Henrique de Paiva Povo sobrecarregado com inflação,
Couceiro, circa 1917. esbulhos, fome, penúria, falta de
Não tem graça, pois é cómico-trágico, saúde, emigração dos adultos jovens -
mas esses políticos continuam a ver desempregados e sem oportunidades
Hipogrifos, Fadas e Unicórnios onde –, quebra na natalidade dos naturais
todos os outros vêem, inquietados, o (enquanto se verifica um aumento
tormento da Nação. Mesmo quando galopante da chegada de imigrantes

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sem qualificações, incapazes de se deixa de ser preocupante a redenção


sustentar com este custo de vida e institucional que se fazem a figuras
que depois sobrecarregam o estado de má-memória!
social). E tudo isso pagámos nós, cidadãos
comuns, enredados na teia do
aranhiço que nos cerca preparando-se
sempre para dar o bote.
‘Acho uma moral ruim/ trazer o vulgo
enganado:/ mandarem fazer assim/ e
eles fazerem assado.’, escreveu o
poeta popular António Aleixo.
Mesmo os melhores programas de
reforma apresentados em tempo de
candidatura ao poder acabam por
converter-se num establishment
tecnocrático tão curto de vista como
Napoleão tentado a pegar na Coroa Real dos um Ciclope.
Bourbon
Recorde-se o pensamento de Correia
Afrontados que somos por esta falta dos Remolares: ‘Que sendo uma
de moral na política e na governança República governo de muitos e já tão
da coisa pública, por quem com o seu difícil encontrar Homem Bom para
clubismo imergiu as instituições Rei, mais difícil seria conseguir-se
estatais numa crise abissal ao juntar os tantos honrados para uma
contratarem aqueles que nunca República…’
estarão à altura das enormes O País precisa de uma mudança
responsabilidades que assumem sem profunda nas instituições que
qualquer preparação e rodeando-se supostamente representam os
com frequência de prevaricadores que cidadãos: não servem o País quem se
chamam para o seu círculo de poder, serve da república, como também não
distribuindo-lhes cargos, as tais bastam figuras que apenas discursam,
‘pingues sinecuras e rendosas mas não fazem a diferença.
conezias’, como lhes chamava o nosso Deixemos de ser não-emotivos de
Eça de Queiroz. Assim, com papel secundário, que mostram falsas
exuberância, os políticos estão cada indignações, e que por isso apenas
dia mais gordos e apertando as ficam na galeria dos portugueses
gentes cada dia mais magras. justamente esquecidos – temos voz.
Não poucas vezes, após um curto Demos-lhe uso!
período de nojo, impõem-nos os O republicanismo português reclama
caídos em desgraça, que, picados pela sempre uma complacência para as
ambição, retornam sem pudor. Não suas ideias que não possui quando

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ataca com radicalismo os que pensam ideias vazias, e nem de longe se


de maneira diferente. Encapotando a aproxima do desvendar da fórmula de
história, é que foi enganando os
salvação nacional da Nação de
portugueses com as suas falsas
filantropias e generosidades, e Navegadores - mergulhada em tal
instalando os seus filhos e saqueando caos que quase se afunda.
o País, livre e impunemente. Por tudo isto não devem falar em
De facto, volvido mais de um século, a
‘Ética Republicana’, mas em INÉTICA
ética república continua um ideal de
antanho, continua o no concurso das REPUBLICANA.

Ficou disponível este mês


de Dezembro, o Correio
Real n.º 26, revista
semestral da Causa Real
produzida pela Real
Associação de Lisboa, conta
com 36 páginas a cores, e
para além de diversos
artigos opinião, inclui
notícias de actividades do
nosso Movimento e da
Família Real Portuguesa,
um ensaio de José Adelino
Maltez sobre a génese da
Constituição de 1822, um
artigo sobre o Jubileu de
Ouro da rainha Margarida
da Dinamarca, e uma
entrevista ao Embaixador
José Bouza Serrano.
Receber comodamente o
Correio Real em casa é uma
das vantagens de estar
inscrito na Real Associação
de Viana do Castelo e ter as
suas quotas de associado
em dia.

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REAL GAZETA DO ALTO MINHO

NOTA INFORMATIVA
A Direcção da Real Associação de Viana do Castelo, com mandato para o triénio
2020-2023, cumprimenta V. Exas, desejando desde já a continuação de um bom
ano de 2022.
A Real Associação de Viana do Castelo tem um plano de actividades e orçamento
para 2022, que inclui diversas iniciativas, que vão desde a organização de
conferências à publicação da Real Gazeta do Alto Minho, órgão oficial de
comunicação da Real Associação de Viana do Castelo, do qual muito nos
orgulhamos, e que se pretende sejam executadas com a participação de todos os
associados, simpatizantes e entidades que entendam colaborar, com o intuito de
contribuir e ajudar a dinamizar o ideal Monárquico que todos nós abraçamos
convictamente. Atendendo à necessidade imperiosa que temos em angariar
recursos financeiros necessários ao normal funcionamento da Real Associação, e
tendo em conta que uma das competências da Direcção é a cobrança de quotas,
eu, em nome da Direcção e na qualidade de Tesoureiro, venho por este meio
solicitar a V. Exas. a regularização da QUOTA DE ASSOCIADO REFERENTE ao ano
de 2022, no valor de 20,00 € (vinte euros), preferencialmente por transferência
bancária, para:

Titular da Conta: Real Associação de Viana do Castelo


Entidade bancária: Caixa de Crédito Agrícola
Agência: Ponte de Lima
IBAN: PT 50 0045 1427 40026139242 47
Número de conta: 1427 40026139242
SWIFT: CCCMPTPL

Caso seja possível, pede-se o favor de enviarem por e-mail


(real.associacao.viana@gmail.com e amorim.afc@gmail.com) informação da
regularização da quota (ex: comprovativo), após o que procederemos de imediato
à emissão do recibo de liquidação.

Cordiais cumprimentos e saudações monárquicas,

Filipe Amorim
Tesoureiro da RAVC

FICHA TÉCNICA
TÍTULO: REAL GAZETA DO ALTO MINHO
PROPRIEDADE: REAL ASSOCIAÇÃO DE VIANA DO CASTELO
PERIODICIDADE: TRIMESTRAL
DIRECTOR: JOSÉ ANÍBAL MARINHO GOMES
REDACTOR: PORFÍRIO SILVA
WEB: WWW.REALVCASTELO.PT
EMAIL: REAL.ASSOCIACAO.VIANA@GMAIL.COM

TF agency
Agência de Marketing & Comunicação

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«SERÃO OS PENSAMENTOS
ERRADOS, ILEGAIS?»
«Tudo está ao serviço da barbárie iminente,
MÓNICA RODRIGUES tudo, incluindo a arte e a ciência deste tempo.»
Nietzsche, Considerações Extemporâneas, III, §4

Abstract Résumé

The beginning of this twentieth decade Le début de cette vingtième décennie


witnesses the end of the Euro-world marque le fin de l'Euro-monde et
and the identification of four l'identification de quatre tendances qui
tendencies that seem to lead the world semblent conduire le monde vers un
towards a neo-feudal techno- système techno-collectiviste néo-
collectivist system. A dystopia ready to féodal. Une dystopie prête à remplacer
replace the rule of law and to make the l'État de droit et à faire de l'être
human being an obsolete animal. humain un animal obsolète.

Key words: Euro-World; Neo-feudalism; Mots clés: Euromonde; Neofeodalisme;


techno-collectivist system. Techno-collectivisme.

Estaremos a assistir ao ocaso da geográfico-temporais onde a arte da


civilização ocidental? Esta parece ser a manipulação não é senão uma extensão
tese de Michel Onfray no seu livro da guerra convencional.
Decadência. O Declínio do Ocidente,
publicado em 2019. Citando-o «Toda a
gente conhece as pirâmides egípcias,
os templos gregos, o fórum romano e
concorda que estes vestígios de
civilizações mortas provam … que as
civilizações morrem – logo são mortais!
A nossa civilização judaico-cristã, já
com dois mil anos, não escapa a esta
lei.» (Onfray, 2019, 26) Em boa verdade,
vivemos um contexto de múltiplas
crises e no seio do qual se desenvolve
uma guerra híbrida que tem o cérebro
como campo de batalha. Qual é essa a
batalha? Simples, a batalha da
informação, mas com um nível Um novo ciclo que muitos analistas e
espectável de desinformação. E não é especialistas denominam como «neo-
de agora, pois a História é feudalismo». Ou seja, uma sociedade
particularmente fértil em quadros que tem sido rapidamente submetida a

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um Estado que ganhou poderes


exacerbados, embalado pela recente
conjuntura pandémica. Uma sociedade
que conhece o empobrecimento das
classes médias e baixas, uma tendência
planeada desde, pelo menos, os anos
oitenta do século XX, e ao qual não é
indiferente o desenvolvimento
tecnológico e a globalização
desregulada. Finalmente, uma
sociedade cuja transferência de riqueza
se joga para um novo capitalismo
supranacional tecno-oligárquico, sem
regras. A segunda tendência, com a afirmação
da «novilíngua», é o uso dos inversos
No ocaso deste ano de 2022, podemos
para vencer na guerra de palavras.
resumir quatro tendências
Isto é, de facto não é mais do que uma
fundamentais.
recalibração da linguagem a partir da
A primeira, registada pelo uso da
qual se estabelecem os limites do
linguagem como arma de guerra. Dito
pensamento e a discussão pública.
por outras palavras, em nome de um
Recalibração esta que só permite uma
«bem maior» - expressão
linguagem hiper controlada, que se
frequentemente presente em qualquer designa por método de «mind-
discurso atual bem-pensante, mas cujo bending»; e só permite uma rede
significado nunca fica clarificado -, conceptual, a da ortodoxia; assim como
limita-se o direito da liberdade de só permite um vocabulário restrito,
expressão. E, com a emergência de uma apenas para exprimir os conceitos
«novilíngua», emerge também toda ortodoxos. Mais ainda, não é mais do
uma cultura marginal, mas que se que uma limitação do pensamento e
pretende mainstream, como é a cultura uma criminalização de tudo o que sai
do cancelamento, agressiva e violenta. do normalizado. Por exemplo, conceitos
E, assim, através de uma engenharia como «identidade pessoal», «expressão
linguística, fixam-se crenças geradoras individual» ou «vontade livre»
de respostas emocionais, crenças estas constituem, nesta perspetiva, crimes de
que permitem a manipulação social pensamento. Outro exemplo desta nova
mediante a repetição de conceitos ou a linguagem é Youval Harari, o historiador
polarização da opinião. Por exemplo, só e um dos novos sacerdotes da religião
do «pós-pensamento».
existe uma visão para salvar o planeta -
Conhece?
«Só há um Planeta!» -, como ouvimos
A terceira tendência é a 4ª Revolução
repetidamente a John Kerry. Conclusão,
Industrial: aquela onde o senhor leitor
excluem-se todas as outras formulas de
e eu somos o produto, sim, é isso
salvação possíveis. E assim, sem se
mesmo. É também a revolução da
perceber bem como, desenvolve-se
guerra híbrida e a revolução da
uma relação de confiança e aceitamos
obsolescência humana. Isto é, como
pagar impostos verdes.

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sobejamente conhecido, todas as permitidos; por outro, fazer das crises


épocas têm os seus «gurus» assim como perpétuas a nova ideologia que
os falsos gurus, com narrativas próprias justifique a ascensão de um contexto
e escatologias associadas. Nesta tecno-oligárquico globalista em
revolução, e de acordo com os «novos prejuízo dos Estados nacionais.
contos futuristas de Silicon Valley» (um
novíssimo género literário em
expansão), existe um novo sonho – o
sonho de melhorar o homem. O único
problema é mesmo o seu corolário pois,
à custa de melhorar a performance
humana, catapultando-o para o nível
dos deuses, o homem surge reduzido
ao seu papel de animal consumidor, um
animal «hakeável», para usar a feliz
expressão do guru Youval Harari (se
ainda não o viu e o ouviu, procure no
Youtube). Trata-se do exemplo de um
sonho … mas, se calhar e afinal de
contas não tão melhorado assim, agora
pensando bem, porque entretanto Para finalizar, vivemos hoje entre o que
surgem as novas gerações de robots parecem ser duas propostas diferentes,
preparadas para o substituir … ficando o mas que, em nossa perspetiva,
homem, assim, exposto à sua sorte, pertencem ao mesmo «conto
como um animal, consumidor, progressista coletivista». Por um lado, o
«hackeável» e obsoleto. modelo sino-russo, dois sistemas um
regime; por outro lado, o modelo neo-
feudal tecno-coletivista das elites
globais supranacionais, e das quais o
«Homem de Davos» é a metáfora
perfeita. Não se iluda, porém, pois
ambas manifestam vocação globalista.
A quarta e última tendência, a E ambas têm como foco o homem
neurociência militar e a «era da neuro- enquanto animal consumidor e
guerra». Isto é, num contexto de «hakeável», substituível por máquinas
desocidentalização acelerada ou o «fim que aprendem e que «pensam». No
do euromundo», para utilizar uma feliz fundo, todos em direção a uma nova
expressão de Adriano Moreira, é preciso servidão – a servidão dos nossos dados.
capturar a atenção dos cidadãos e Como o jornalista Tucker Carlson
aprisiona-la num ciclo perpétuo de perguntou um dia, no seu programa na
crises, com dois objetivos principais, Fox News, «Serão os pensamentos
mas subliminares: por um lado, definir errados ilegais?».
os limites dentro dos quais o
pensamento e a discussão pública são Votos de boas entradas e feliz 2023!

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PÁGINA 29 | REAL GAZETA DO ALTO MINHO

ENTREVISTA DA REAL GAZETA DO ALTO


MINHO AO EX.MO. SENHOR DR. ÁLVARO
CASTELLO BRANCO

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PÁGINA 30 | REAL GAZETA DO ALTO MINHO

RGAM. - Face ao esboroar do regime Um Rei simboliza e une muito mais uma
republicano que tem exemplo Nação, do que um Presidente da
acabado, particularmente, no actual República.
governo em que se somam Depois, a existência de um Rei projecta
trapalhadas, erros de casting, falta de muito mais um país internacionalmente,
transparência de alguns actores do que a figura de um Presidente da
políticos, etc., ser Monárquico faz cada República. Se se efectuasse uma
vez mais sentido, verdade? sondagem, perguntado quem é o Rei de
Inglaterra, Espanha ou outro monarca, a
ACB. - Para mim, ser Monárquico, sempre maioria saberia. Mas se se perguntar
fez todo o sentido. Não tanto porque a quem é o Presidente da República da
República funcione muitas vezes mal, Alemanha, Itália ou de outro país, a
particularmente em Portugal nos tempos esmagadora maioria não saberia
actuais, mas porque a Monarquia responder.
funciona melhor. Por fim, e para não me alongar, os
Se olharmos para a Europa vemos que os
regimes Monárquicos da actualidade são
países com índices de qualidade de vida
muito menos dispendiosos do que os
mais elevados e melhor funcionamento
regimes Republicanos. Custam muito
das instituições, na sua maioria são
menos dinheiro ao Estado (logo aos
Monarquias. Como, por exemplo, o Reino
contribuintes).
Unido, a Bélgica, a Holanda, a Suécia, a
Para mim a Monarquia faz sentido. Não
Noruega, a Dinamarca, a Espanha ou o
apenas na actualidade. Fazia sentido no
Luxemburgo.
passado, faz no presente e fará no futuro.
Tomemos o exemplo do Luxemburgo. É,
actualmente, o país europeu com mais
rendimento per capita da Europa, sendo
também o país com o salário médio mais
elevado.
Por outro lado, um regime Monárquico
confere mais unidade nacional do que
um regime Republicano. Num Presidente
da República revêm-se aqueles que
votaram nele (e as mais das vezes nem
esses todos, pois muitos só votaram
nessa pessoa por falta de outra
alternativa. Votaram no mal menor).
Num Rei revê-se uma esmagadora
maioria de uma Nação.

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RGAM. - Ultimamente, tem-se ouvido RGAM. - É Presidente da Comissão


falar muito em “ética republicana”, Política Distrital do Porto do CDS-PP,
mas a ética que rege alguns dos já foi Vice-Presidente da Câmara
políticos actuais faria corar e/ou Municipal do Porto, Deputado, entre
enfurecer um Catão, o Velho e/ou um outros cargos políticos e públicos. Em
Bruto, o Antigo. Inversamente nas sua opinião, como se pode reforçar a
Monarquias europeias assiste-se a um representatividade democrática e a
escrutínio profundo e a uma ética transparência das nossas instituições
apuradíssima para quem exerce políticas?
cargos públicos. Concorda que essa
realidade confirma, pois, a vantagem ACB. - Actualmente não sou Presidente
da forma de governo monárquico? da Comissão Política Distrital do Porto
do CDS-PP. Fui-o efectivamente entre
ACB. - O conceito de “ética republicana” 1998 e 2018. Actualmente sou Vice-
é um conceito desvirtuado ao longo dos Presidente do CDS-PP.
tempos por quem o usa. Não existe um O reforço da representatividade
conceito de ética Republicana ou de democrática e da transparência das
ética monárquica. O conceito de ética nossas instituições é uma questão da
pública é só um e deve nortear quer os maior importância e que nos deve
regimes monárquicos, quer os regimes preocupar.
republicanos. A representatividade democrática, quer
A esquerda quis ao longo dos anos, de a nível legislativo, quer a nível
uma forma pouco séria e como autárquico, pode e deve ser melhorada.
propaganda, apropriar-se do papel de O actual regime de eleição para a
guardiã da ética, sob o conceito Assembleia da República fere em larga
teorizado pelo filósofo grego da medida, com o sistema de círculos
antiguidade Sócrates. eleitorais distritais baseados no método
Era uma ética na gestão da coisa de Hondt, a representatividade.
pública, a virtude na res publica, que Penso que a solução, seguindo o
não se pode confundir com nenhum exemplo das Regiões Autónomas da
regime político. Deve estar presente em Madeira e dos Açores, seria a criação de
todos. Tentar fazer crer que há alguma mais um círculo eleitoral, um círculo
ligação entre a virtude (ética) defendida nacional de compensação, que
e teorizada por Sócrates ( e mais tarde permitiria uma maior representatividade
por Platão) e a República Portuguesa é das populações (como referi já funciona
pouco sério e disparatado. na Madeira e nos Açores com excelente
Assim, em minha opinão, a ética na resultado).
gestão da coisa pública deve sempre Relativamente às autarquias, penso que
nortear quer os regimes monárquicos, deveria haver um reforço dos poderes
quer os regimes republicanos. das Assembleias Municipais,
nomeadamente em sede de fiscalização,
‘A REPÚBLICA FOI IMPOSTA POR UMA tornando o sistema menos
REVOLUÇÃO. NUNCA FOI DADA A “presidencialista” e como tal mais
OPORTUNIDADE AOS PORTUGUESES DE
SE PRONUNCIAREM.’
representativo da totalidade da
população.

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Tudo isto, obviamente dentro do sistema Neste particular momento em Portugal,


actual, o sistema do municipalismo, não penso que esse debate ainda faria mais
falando aqui de eventuais regionalizações. sentido, dadas as circunstâncias que
Quanto à transparência das instituições vivemos de enfraquecimento das
políticas, e penso que é apenas a essas estruturas democráticas e da visível
instituições que se refere esta questão, elas degradação dos valores morais da política
são o Governo, o Presidente da República, assim como das instituições.
a Assembleia da República e as Autarquias. Existe uma grande descrença nos
A transparência destas instituições terá portugueses quanto ao funcionamento de
sempre de ser garantida pelo Tribunal muitas das instituições e de muitos que as
Constitucional, pelo Tribunal de Contas e representam.
pelos eleitores. Por isso a o poder haver alternativa a este
Assim o que se me afigura pertinente para regime é positivo e merecedor de debate.
tal, é o melhoramento do funcionamento
destes dois Tribunais assim como as RGAM. - Qual acha que é a razão da
alterações para uma maior atração dos portugueses pela realeza e
representatividade democrática que atrás pelas monarquias estrangeiras e depois
referi. de tantas objeções a termos nós uma
Monarquia?

ACB.- Penso que eventualmente se deve ao


facto de, como já referi atrás, a Monarquia
ser um símbolo com muita mais força do
que a República, um símbolo de união
forte em volta de um conceito de Nação, e
que como tal galvaniza mais as pessoas.
Por outro lado, sem dúvida nenhuma, que
um Monarca tem muito mais carisma do
RGAM. - Não será este estado das
que um Presidente da República, isso
coisas republicano o momento
indicado para lançar um debate sobre muito devido as circunstâncias que
a vantagem de uma eventual rodeiam quer um quer outro.
restauração da Monarquia em Acresce que acredito que na maioria dos
Portugal? portugueses existe uma grande simpatia
pelos Regimes Monárquicos.
ACB.- Penso que sim. Todos os
momentos são bons para se debater das RGAM. - Veria com bons olhos uma
vantagens e desvantagens sobre os Monarquia Constitucional, isto é, uma
Regimes Políticos que são mais
forma de governo monárquico com
adequados, pois devemos sempre pôr
sistema de governo parlamentar e
em cima da mesa as alternativas
forma política democrática em
existentes para melhorar as nossas
vidas. Portugal?

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ACB.- Sim. Veria com bons olhos. portugueses merecem ter a


oportunidade de, pela primeira vez na
RGAM. - Que opinião tem sobre o sua História, esclarecidamente, se
Senhor Dom Duarte de Bragança? pronunciarem sobre o Regime político
que preferem.
ACB.- A minha opinião sobre o Senhor A República foi imposta por uma
Dom Duarte de Bragança é apenas revolução. Nunca foi dada a
fundada na sua figura pública, pois oportunidade aos portugueses de se
pessoalmente encontrei-o apenas duas pronunciarem.
ou três vezes. Penso ser uma regra elementar da
Enquanto figura pública e herdeiro democracia que essa oportunidade lhes
dinástico dos últimos Reis de Portugal, seja dada.
tenho sobre ele uma opinião positiva. Não E acredito que assim venha a ser.
é fácil o seu papel de herdeiro do trono
numa República. Mas tem Muito Obrigado!
desempenhado esse mesmo papel com
dignidade, “savoir faire”, seriedade e Entrevista realizada por Miguel Villas-
convicção. Boas para a Real Gazeta do Alto Minho
Diferentemente de alguns que da Real Associação de Viana do
representam a República, nada lhe pode Castelo.
ser apontado no que toca à ética.

RGAM. - Quer deixar uma mensagem


final aos Monárquicos Portugueses?

ACB. - Sim. Uma mensagem de


esperança. Penso que em Portugal
existem condições para um dia voltar a
ser uma Monarquia parlamentar, tal como
existe em muitos dos países europeus
mais desenvolvidos.
Depende de todos nós o esforço de trazer
este debate para a ordem do dia, pois os

‘O CONCEITO DE “ÉTICA REPUBLICANA” É UM CONCEITO DESVIRTUADO AO LONGO DOS TEMPOS


POR QUEM O USA. (…) A ESQUERDA QUIS AO LONGO DOS ANOS, DE UMA FORMA POUCO SÉRIA E
COMO PROPAGANDA, APROPRIAR-SE DO PAPEL DE GUARDIÃ DA ÉTICA, SOB O CONCEITO
TEORIZADO PELO FILÓSOFO GREGO DA ANTIGUIDADE SÓCRATES.
ERA UMA ÉTICA NA GESTÃO DA COISA PÚBLICA, A VIRTUDE NA RES PUBLICA, QUE NÃO SE PODE
CONFUNDIR COM NENHUM REGIME POLÍTICO.’

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REINO DOS PAÍSES BAIXOS


- DA REPÚBLICA A UMA MONARQUIA PARLAMENTAR
DOTADA DE UMA SÓLIDA DEMOCRACIA -

ANTÓNIO PINHEIRO MARQUES

Abstract Résumé

The evolution of the Monarchy of the L’évolution de la Monarchie des Pays-


Netherlands. An European Bas. Une monarchie constitutionnelle
constitutional monarchy and a strong européenne et une forte democratie
parliamentary democracy, with deep parlementaire. Un moderne état
roots in its history. A modern welfare providence.
state.
Mots clés: République; monarchie;
Key words: Republic, monarchy; absolutisme; constitutionalisme;
absolutism; constitutionalism; démocratie parlementaire; état-
parliamentary democracy; welfare providence.
state.

povoados por tribos germânicas e


também por celtas e francos. A região
costeira da Frísia sofreu, do século IX ao
início do século XI, sucessivas incursões
dos viquingues na sua expansão para o
sul. Relativamente à implantação do
Cristianismo, Maastricht já contaria com
um bispo no século IV, tendo os
missionários, provenientes da Irlanda e
ainda os anglo-saxões, chegado a partir
do século VIII, procedendo à conversão
de frísios e saxões. Só duzentos anos
depois desapareceram os cultos pagãos,
embora ainda se mantivessem alguns
focos residuais no interior rural. As
ordens monásticas, e também a Ordem
Teutónica, estabeleceram-se no
Da República à Monarquia território no decurso do século XIII.
Os primeiros tem Toda esta região se dividia numa
Os territórios que abrangiam o delta multiplicidade de senhorios, condados
formado por três importantes rios e ducados, alguns com origens nos
europeus, o Reno, o Mosa e o Escalda, finais da Alta Idade Média, integrando
na sua saída para o Mar do Norte, foram o império carolíngio e posteriormente o

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Santo Império. De entre estes senhores, A Reforma chegou às Províncias Unidas


que frequentemente se guerreavam, ainda na primeira metade do século XVI
destacavam-se o duque de Brabante e o abrindo um período sangrento, com as
conde da Holanda e também o bispo de várias denominações protestantes a
Utreque. oporem-se umas às outras. Ao mesmo
O ducado da Borgonha viria a incluir tempo decorria a Guerra dos Oitenta
territórios onde hoje se situam os Países Anos, motivada pela revolta holandesa
Baixos, a Bélgica e o Luxemburgo e uma contra o domínio espanhol, a que viria a
pôr termo o Tratado de Münster, parte
parte do norte de França e era formado
da Paz de Vestefália, que concluiu
por uma série de feudos em união
outro conflito, a Guerra dos Trinta Anos.
pessoal, com um mesmo soberano, o
Entre os pensadores e teólogos da
Duque Filipe, o Bom, casado com a
Reforma, sobressai pela sua moderação
nossa Infanta Dona Isabel, filha de D.
Erasmo de Roterdão, pois embora
João I. Por aliança matrimonial o
propondo mudanças na Igreja Católica
ducado passaria à Casa de Áustria e mantinha distâncias com outros, como
integraria o império de Carlos V. É Lutero. O luteranismo teve menos êxito
contra o seu filho, Filipe II, que as sete do que o calvinismo nos Países Baixos e
províncias do norte, protestantes, se viria a tornar-se de facto na religião
revoltaram tendo como motivação estatal. De notar que apesar das
tanto os impostos como a questão perseguições aos católicos, os Países
religiosa. Foi Guilherme de Orange, dito Baixos ofereceram refúgio, pelo menos
o Taciturno, formado no calvinismo, que em certos momentos, a alguns deles e
liderou a revolta, período a partir do são bem conhecidos pelo acolhimento
qual se estabeleceram fortes laços entre a judeus sefarditas, muitos dos quais
o povo holandês e a sua família. foram úteis parceiros no comércio.

A República das Sete Províncias


Unidas
A revolta, iniciada em 1568, das sete
províncias do norte contra o domínio
espanhol, consolidou-se em 1579 com a
formação da União de Utreque, e levou
em 1581 à substituição de Filipe II pelos
Estados Gerais, como autoridade
suprema e consequente instituição da
República. Cada província contava até
então com um estatuder (stadtholder),
designação dos representantes dos
duques, condes e demais senhores.
Com a abolição destes, o cargo foi
mantido como máxima autoridade
provincial, exercendo funções de
governo. Embora qualquer cidadão
Guilherme, o Taciturno, Príncipe de orange e Pai
da Nação
pudesse, em teoria, aceder ao cargo, na

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PÁGINA 37 | REAL GAZETA DO ALTO MINHO

prática os estados provinciais escolhiam Ibérica, durante a guerra dos Oitenta


frequentemente membros da Casa de Anos entre a Espanha e as Províncias
Orange. Várias províncias tinham o dos Países Baixos (período em que
mesmo estatuder e estes acabaram por, decorreu igualmente a guerra dos
na prática, se tornarem hereditários. As Trinta Anos), os holandeses em luta
Sete Províncias Unidas declararam em com o império espanhol, atacaram as
1788 que os cargos de almirante da possessões ultramarinas portuguesas,
armada e de capitão-general do tanto como reflexo desses conflitos
exército seriam hereditários. Ainda como para consolidar as rotas
assim, nos séculos XVII e XVIII marítimas de comércio das Províncias
verificaram-se dois períodos de 22 e 45 Unidas. Daí resultariam as bases do que
anos respetivamente, sem estes viria a ser o império colonial holandês,
estatuderes, por imposição dos embora tanto no Brasil como em
Estados-Gerais. Angola os holandeses tivessem acabado
A República das Sete Províncias Unidas por ser expulsos.
findou em 1795, período em que o país Portugal perdeu no Oriente territórios
ficou sob a hegemonia francesa com a para as Províncias Unidas, que ficaram
proclamação da República Batava, no sob administração da companhia das
seguimento da Revolução Francesa. Índias Orientais e posteriormente, no
Este regime foi de curta duração e já início do século XIX, integraram as
em 1806 foi criado o Reino da Holanda Índias Orientais Holandesas. A ilha de
por Napoleão (imperador desde 1804) Ceilão, com grande importância
para o irmão Luís Bonaparte. Luís I estratégica na rota entre o arquipélago
abdicou em 1810 e o país foi anexado indonésio e o sul da África, e Malaca
ao Império Francês. Com a derrota de foram conquistadas aos portugueses no
Napoleão, e depois da libertação do seu século XVII. As Províncias Unidas
país, Guilherme de Orange foi detiveram igualmente o território
proclamado, em 1813, Príncipe ocidental da Austrália então designado
Soberano. Entretanto o Congresso de por Nova Holanda. O domínio
Viena criou o Reino Unido dos Países neerlandês nas Índias Orientais,
Baixos, abrangendo as províncias do sul essencialmente correspondentes ao
(o que é hoje a Bélgica) e tendo o vasto arquipélago da Indonésia (17 000
Luxemburgo recebido como soberano o ilhas e quase 2 000 000 de quilómetros
Rei Guilherme I dos Países Baixos. A quadrados) prolongou-se do início do
Bélgica viria a fazer secessão e a século XIX até 1949 e foi exercido de
proclamar a independência em 1830 e forma mais ou menos intensa em certos
as leis diferentes de sucessão nos períodos e de acordo com a região.
tronos dos Países Baixos e do Como noutras paragens, os entrepostos
Luxemburgo puseram termo à união comerciais da Companhia das Índias,
pessoal entre os dois países em 1890. neste caso Orientais, serviram de base
para a estrutura colonial. A Indonésia
Expansão ultramarina foi ocupada pelos japoneses na II
No século XVII, no período da União Guerra Mundial e inicialmente
acolhidos como libertadores do jugo

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colonial. Finda a guerra, a nas artes e nas ciências e de


independência foi proclamada em 1945 desenvolvimento do poderio marítimo e
e apesar das tentativas holandesas de militar. O cultivo das tulipas,
manter a colónia o reconhecimento da provenientes do Império Otomano,
sua independência deu-se em 1949. desenvolveu-se rapidamente nos anos
Na América, as Províncias Unidas trinta do século XVI, com o seu
através da Companhia das Índias mercado a atingir níveis
Ocidentais detiveram os Novos Países exageradíssimos de especulação e uma
queda brutal de preços, em poucos
Baixos, compreendendo diversos
anos. A túlipa viria a permanecer como
estabelecimentos no rio Hudson (os
a flor, símbolo por excelência, dos
Fortes Nassau e Orange) e também
Países Baixos.
Nova Amesterdão, depois Nova Iorque,
Como se pode verificar o estatuto
ao passar ao domínio inglês. Também
colonial dos territórios dominados pelos
Forte Cristina foi tomado pelas
holandeses só viria a ser consolidado no
Províncias Unidas aos suecos, pondo fim século XIX, depois da derrota de
à presença destes na América do Norte. Napoleão e do estabelecimento do
Em África, dos inícios de século XVII até Reino dos Países Baixos. O grupo de
ao século XIX, cabe destacar a Costa do ilhas nas Caraíbas que passou do
Ouro, no golfo da Guiné, possessão domínio espanhol a colónias
portuguesa que passou aos holandeses holandesas, no século XVII,
(e no século XIX aos britânicos) e transformou-se em 1954 num país com
também a formação, no que é hoje a estatuto de autonomia dentro do Reino
África do Sul, da colónia holandesa do dos Países Baixos. Por sua vez Aruba,
Cabo, de meados do século XVII a o em 1986, separou-se das Antilhas
início do século XIX, bem como da Neerlandesas obtendo o estatuto de
república conhecida por Estado Livre de país constituinte do Reino dos Países
Orange, fundada pelos “boers”, Baixos, em igualdade (e mantendo o
principalmente de origem holandesa e direito de secessão) com os Países
provenientes da colónia do Cabo, e que Baixos europeus.
viria a ficar sob suserania britânica. O
Sistema político
Estado Livre de Orange é atualmente
Constituição
uma das províncias da África do Sul e o
A Constituição dos Países Baixos
“afrikaans”, idioma com origem no
encontra-se entre as mais antigas do
holandês, com o qual continua manter
mundo, datando de 1814, a seguir às de
proximidade, é uma das línguas oficiais
S. Marino, Estados Unidos, Polónia e
da República da África do Sul.
Noruega. A reforma constitucional de
O século de Ouro dos Países Baixos, de
1848 estabeleceu as bases da
fins do século XVI a meados do século responsabilidade plena dos ministros,
XVII (aproximadamente de 1580 a 1670), abrindo caminho à democracia
foi um período de grande parlamentar. Escrevia então o jornalista
preponderância das suas companhias e crítico literário Conrad Busken Huet:
comerciais, tanto nas Índias Ocidentais "Podemos queixar-nos ou estar
como nas Orientais, e de enorme fulgor orgulhosos disso, mas desde 1848 os

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Países Baixos têm sido de facto uma Adotada em 1954, a Carta do Reino dos
república democrática com um Países Baixos estabelece o
príncipe da Casa de Orange como relacionamento constitucional dos
presidente hereditário”. diferentes países que o integram, na
A versão atual da lei fundamental data base da igualdade e da cooperação
de 1983. Trata-se de uma constituição entre estes e de completa autonomia
flexível que pode ser alterada pelo em matéria interna. As relações
Parlamento, por duas votações, externas, a manutenção da
independência e da defesa são
devendo na segunda obter uma maioria
reservados ao governo do Reino. Todos
qualificada de dois terços. Ao longo da
os assuntos que a este não estejam
sua vigência já sofreu mais de uma
expressamente reservados são
dezena de revisões.
competência dos países componentes,
A Constituição estabelece os direitos
que devem respeitar os direitos
fundamentais dos cidadãos, entre os
humanos e reger-se pelos princípios de
quais as liberdades de expressão e de boa governação.
religião, o direito à privacidade, o O Rei, encontrando-se à frente do
direito ao trabalho e a igualdade de governo do Reino, está representado
tratamento e a proteção contra nos governos de Aruba, Curaçau e São
qualquer tipo de discriminação, bem Martim pelos respetivos governadores,
como os direitos ao alojamento e a que nomeia por seis anos renováveis
cuidados de saúde. Abrange também o por outros seis, existindo uma
ordenamento do sistema de governo. representação única dos Países Baixos,
com gabinetes nas capitais dos três
O Reino dos Países Baixos e a Carta países. Estes, por sua vez, estão
do Reino dos Países Baixos representados por um ministro
O Reino dos Países Baixos é formado plenipotenciário em Haia, os quais, em
por quatro países: na Europa, os Países conjunto com os ministros do governo
formam o Conselho de Ministros do
Baixos e, na América, por Aruba,
Reino.
Curaçau e São Martim, estes três
últimos situados nas Caraíbas, tal como
O Rei
as ilhas de Bonaire, Sint Eustatius e
A Constituição estabelece que a
Saba, as quais depois da dissolução, em
sucessão no Trono se verifica
2010, das Antilhas neerlandesas (que
hereditariamente na descendência do
constituíam até então um país
Rei Guilherme I. Sendo necessário o rei
autónomo dentro do Reino dos Países pode apresentar ao parlamento uma
Baixos) se converteram em municípios proposta de nomeação de um sucessor.
especiais deste estado, votando nas Neste caso, as duas câmaras são
suas eleições. De mencionar igualmente dissolvidas e, após eleições, as novas
que Aruba e Curaçau mantêm um câmaras, em sessão conjunta, devem
ministro plenipotenciário próprio na aprovar por maioria de dois terços a
Embaixada do Reino dos Países Baixos escolha do sucessor. O mesmo se
em Washington. Desde 2011 adotaram o verifica em caso de morte ou abdicação
dólar americano, e não o euro, como do monarca sem sucessor.
moeda oficial.

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envolvido no processo da sua formação


deste é sempre informado da sua
evolução.
Os militares prestam juramento de
lealdade ao rei, mas este não exerce o
comando supremo das Forças Armadas
confiado desde 2003 ao governo.
A família real, tradicionalmente,
pertence à Igreja Reformada
(calvinista), que deixou de ser Igreja do
Estado, com a queda da República em
1795. Depois da fusão da Igreja
Reformada com outras denominações
protestantes (calvinistas e luteranos)
em 2004, a designação passou a ser
“Igreja Protestante dos Países Baixos”.
Num país de evidentes raízes
calvinistas, é de notar que apenas cerca
de 25% dos neerlandeses manifestem a
sua fé cristã, existindo uma maioria de
católicos de cerca de 12% e tendo a
Igreja Protestante cerca de 8%.
Guilherme I Rei dos Países Baixos e Grão-Duque Embora a lei não determine a que
do Luxemburgo religião deve pertencer o rei e depois
A maioridade real está fixada nos de a reforma constitucional de 1983 ter
dezoito anos. No caso de ser necessária eliminado a proibição de casamento
uma regência é regulada por lei dos dinastas, com pessoa de fé católica,
aprovada para o efeito. Quando se apenas permanece a necessidade de
verifique a sucessão, o novo rei deve aprovação do casamento pelos Estados-
prestar juramento em sessão conjunta Gerais.
das duas câmaras dos Estados-Gerais,
Poder legislativo
em Amesterdão, a capital.
Os Estados Gerais (Staten-Generaal) são
O rei, símbolo da unidade nacional,
o parlamento do Reino dos Países
representa o Reino dos Países Baixos
Baixos e têm origem na assembleia,
nas relações externas, acredita e recebe
existente já no século XV, em que
os Chefes de Missão Diplomática e
estavam representados todos os
ratifica os tratados internacionais.
estados provinciais. O parlamento é
Internamente, assina os decretos e é
constituído por duas câmaras, o Senado
mantido ao corrente de todos os (Eerste Kamer) ou Primeira Câmara e a
assuntos de interesse nacional, através Câmara dos Representantes (Tweede
das audiências com o primeiro-ministro, Kamer) ou Segunda Câmara.
os ministros e os secretários de estado. O Presidente do Senado assume a
O rei nomeia e dá posse aos membros presidência dos Estados-Gerais, quando
do governo. Embora não esteja as duas câmaras reúnem em sessão

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conjunta, o que habitualmente sucede Poder Executivo


quando da prestação de juramento de A Constituição estabelece que o Rei e
um novo monarca ou para a votação de os Ministros formam o governo, na
autorização do casamento de pessoas atualidade doze ministros titulares de
na linha de sucessão. ministérios, oito outros ministros sem
O Senado tem 75 membros, eleitos por pasta e nove secretários de estado. Os
quatro anos, e atualmente conta com ministros são responsáveis perante o
catorze partidos políticos, enquanto na parlamento.
Câmara de Representantes os 150 O processo de formação de governo é
membros, eleitos igualmente por complexo, dado o sistema
quatro anos, se dividem por dezassete multipartidário fragmentado (nenhum
partidos. Nas duas câmaras existem partido tem obtido a maioria desde
eleitos independentes. 1900) e a necessidade de serem
Os membros do Senado são escolhidos formadas coligações.
por forma indireta, sendo eleitos pelos Desde 2012 a Câmara dos
conselhos das províncias (Provinciale Representantes (e não o monarca)
Staten), os Estados Provinciais. As procede à escolha do “informateur” que
eleições para a Segunda Câmara são avalia as possibilidades de acordo para
pelo sistema de representação a formação de uma coligação.
proporcional. O país tem uma notável Posteriormente é escolhido um
participação eleitoral. Nos últimos “formateur”, possivelmente a pessoa
cinquenta anos esta foi sempre superior que virá a ser designada como
aos 73 %, tendo em 8 das 15 eleições primeiro-ministro. Uma vez obtido um
realizadas nesse período superado os acordo de governo com o qual os
80%. futuros ministros devem todos
concordar, e que garante o apoio dos
Referendos vários partidos envolvidos, o Rei
A Constituição não menciona a procede à nomeação formal do novo
realização de referendos. De 2002 a governo.
2005 esteve vigente uma lei temporária
que permitia a realização de referendos
não vinculativos, sobre leis previamente O Conselho de Estado
aprovadas pelo parlamento, designados Conforme estabelecido pela
como consultas populares, mas nenhum Constituição o Conselho de Estado, de
referendo foi convocado ao abrigo desta remotas origens no século XVI, é
lei. O referendo de 2005 para a formado por duas divisões: uma de
aprovação do tratado que estabelecia aconselhamento e outra de jurisdição
uma constituição europeia foi administrativa, que funciona como
convocado ao abrigo de uma outra lei supremo tribunal administrativo.
temporária. Em 2016, o acordo de O Conselho de Estado é ouvido
associação com a Ucrânia teve um previamente à apresentação de
resultado desfavorável noutro projetos de lei no parlamento.
referendo, mas um novo acordo foi Atualmente tem cerca de oitenta
finalmente aprovado por lei no membros, nomeados vitaliciamente
parlamento em 2017.

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pelo rei, embora os membros da divisão organizações profissionais e outros) e


de aconselhamento possam ser que em termos políticos se traduzia na
nomeados por períodos de tempo fixos. procura de consensos para a formação
Os membros da divisão de jurisdição de governos desapareceu nos anos 60
administrativa são nomeados tendo em do século passado.
conta a sua experiência jurídica. Os Conselhos Provinciais, os
Este órgão é presidido pelo rei e nas Comissários do Rei e os Conselhos da
suas ausências pelo vice-presidente. A Água. Os conselhos são eleitos por
Rainha Máxima e a Princesa de Orange
quatro anos, nas doze províncias, com
fazem parte do Conselho de Estado.
um número variável de membros (de 39
a 55), de acordo com a população. Têm
Poder judicial
essencialmente funções de fiscalização
O sistema judicial é encabeçado pelo
do executivo provincial, que é eleito
Supremo Tribunal de Justiça, formado
pelo próprio conselho provincial. Os
por um presidente e trinta e cinco
Comissários do Rei, por este nomeado
juízes, nomeados pelo Rei sob proposta
por seis anos, são os representantes do
da Câmara dos Representantes que tem
governo central e presidem os
de ouvir o próprio Supremo Tribunal. As
nomeações são vitalícias, com o limite conselhos das províncias bem como os
de idade de setenta anos. respetivos executivos. Os Conselhos da
Existem três jurisdições especiais, Água (Waterschap) são a autoridade
segurança social, administração regional de gestão da água, rios, canais
pública, comércio e indústria e e os pólderes, área de governação
questões administrativas. verdadeiramente importante num país
A Constituição determina que os em que cerca de um quarto do
tribunais não podem decidir da território se situa abaixo do nível do
constitucionalidade das leis aprovadas mar. Os vinte e um conselhos são
pelo Parlamento ou estabelecidas nos eleitos por quatro anos, no mesmo dia
tratados. das eleições provinciais, e são
independentes de outras estruturas
Partidos políticos administrativas, podendo impor taxas
Os Países Baixos têm um sistema para financiamento do que for
partidário muito fragmentado. Para
necessário na sua área de gestão. Estes
além dos partidos com representação
conselhos estão associados na
parlamentar, existem mais 20 sem
Autoridade de Água (Unie van
nenhum eleito e ainda quinze partidos
Waterschappen).
regionais ou locais e oito específicos
das ilhas das Caraíbas que integram o
A monarquia contemporânea
Reino.
O sistema de “pilarização” da sociedade holandesa – As três rainhas
holandesa, caraterizado pelo Nos Países Baixos sucederam no trono
entendimento das cúpulas dos pilares três rainhas reinantes consecutivas: a
existentes na sociedade (partidos, Guilhermina, Juliana e Beatriz e, se

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incluirmos a regência da Rainha Ema A jovem Rainha Guilhermina enfrentou


de 1890 a 1898 em nome de sua filha, o período difícil da Grande Guerra, em
esta monarquia teve rainhas durante que os Países Baixos mantiveram a sua
cento e vinte e três anos. Um longo neutralidade, as duas décadas de
período em que se desenvolveu e tensão entre guerras e viu a invasão
consolidou a democracia parlamentar alemã do seu país, tendo partido para a
na monarquia holandesa, onde o Grã-Bretanha a bordo de um navio da
sufrágio universal foi instituído em 1919. Royal Navy. Em Londres, manteve um
governo no exílio e através das emissões
da BBC, com o programa Radio Oranje,
Guilhermina pôde dirigir mensagens
aos seus compatriotas, tornando-se um
símbolo muito admirado da resistência
ao invasor nazi. Visitou os Estados
Unidos, tendo discursado no Congresso,
e também o Canadá onde a Princesa
Juliana se tinha estabelecido com a
família. Finda a guerra fez um regresso
triunfal ao seu país, que iniciou um
período de reconstrução e
desenvolvimento. A soberana ofereceu
ao Canadá, num gesto de
agradecimento carregado de
simbolismo, 100 000 bolbos de tulipas
e ainda hoje se celebra naquele país um
importante Festival das Tulipas. Devido
a problemas de saúde, a popular Rainha
Guilhermina abdicou em 1948.

Rainha Guilhermina

Rainha Guilhermina dos Países Baixos no Regresso da Rainha Guilhermina aos Países
Congresso dos Estados Unidos Baixos

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A Princesa Beatriz com a família

A Princesa Beatriz estudou na


Universidade de Leiden onde se formou
A Rainha Juliana na Indonésia
em Direito. À semelhança das duas
Pouco tempo depois da subida ao trono anteriores rainhas, também se casou
de Juliana, foi reconhecida a com um alemão, o primeiro fora do
independência da Indonésia pelos círculo das famílias reais, o diplomata
Países Baixos, em 1949, pondo termo a Claus von Amsberg. Em 1966, o
quatro anos de conflito. Durante os seus casamento foi celebrado no meio de
trinta e dois anos de reinado, deu-se a manifestações hostis uma vez que o
consolidação do BENELUX (como é Príncipe Claus fora, na sua
sabido, a união económica e adolescência, membro da juventude
alfandegária dos Países Baixos, Bélgica hitleriana. Claus von Amsberg tinha sido
e Luxemburgo) de certa forma mobilizado em 1944 e feito prisioneiro
antecedente próximo das de guerra em Itália. A sua participação
Comunidades, fundadas nos anos como príncipe consorte na vida
cinquenta. O Reino dos Países Baixos foi holandesa, granjeou-lhe a aceitação e o
estado fundador da OTAN, em 1949, e afeto popular.
também da Comunidade Europeia do
Carvão e do Aço, em 1952, e da
Comunidade Económica Europeia e da
Comunidade Europeia de Energia
Atómica, ambas criadas em 1957. Nos
anos sessenta, o ambiente de
contestação por movimentos juvenis e
os problemas de carater familiar que a
Rainha Juliana teve de enfrentar não
pareceram abalar a sua grande
popularidade, que continuou a manter
mesmo depois de abdicar em 1980. Rainha Beatriz e Príncipe de Orange

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Do ponto de vista interno, verificou-se encontra-se em destaque a “Gestão das


uma modificação de relevo, na Águas”, tendo sido presidente durante
estrutura territorial do Reino dos Países nove anos do Comité Consultivo da
Baixos, com a alteração do estatuto das Água, do Ministério holandês do
Antilhas Holandesas e a independência Ambiente, e também presidente do
de Suriname. A Rainha Beatriz, que Conselho Consultivo das Nações Unidas
atuou sempre dentro dos limites da Água e Saneamento, durante sete
impostos por uma democracia anos. Entre outras atividades, foi
parlamentar, desempenhou um papel (sempre que podia e cerca de duas
estabilizador na formação dos governos, vezes por semana) piloto da KLM
questão muito sensível devido à durante vinte e um anos.
fragmentação política do parlamento e,
à semelhança da anterior rainha,
manteve uma grande proximidade com
os seus concidadãos. Abdicou em 2013,
tendo-lhe sucedido o Príncipe de
Orange, seu filho mais velho.

O Rei dos Países Baixos pilotando um avião

O Rei Guilherme-Alexandre chegou a


Lisboa num avião por ele pilotado, para
a visita de Estado realizada em 2018,
durante a qual foi inaugurada a
exposição “Elos Perdidos”, com a
cooperação Museu Nacional de Arte
Antiga e do Reiksmuseum, de
Amesterdão e das Coleções Reais dos
Juramento do Rei Guilherme-Alexandre
Países Baixos. A exposição incluía um
O Príncipe Guilherme-Alexandre, antes quadro de Rembrandt, vários retratos e
de se formar em História pela correspondência, estes pertencentes à
Universidade de Leiden (onde família real, evocando as ligações da
apresentou uma tese sobre a resposta descendência de D. António, Prior do
holandesa à decisão francesa de se Crato, com os Orange-Nassau. Como é
retirar do comando integrado da OTAN), sabido, D. Manuel de Portugal, um dos
prestou serviço militar durante dois filhos do efémero rei D. António, fizera
anos na Marinha Real. um casamento secreto com a Condessa
Aos dezoito anos foi nomeado para o Emilia de Nassau, filha de Guilherme,
Conselho de Estado, como sucessor na dito o Taciturno, príncipe de Orange,
Coroa. Entre as suas áreas de interesse, uma vez que era católico e os Orange
para além do desporto (foi membro do protestantes, casamento com
Comité Olímpico Internacional) descendência.

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Guilherme-Alexandre casou com a Os soberanos incentivam e colaboram


argentina Máxima Zorreguieta, de com várias instituições da sociedade
religião católica. O anúncio do noivado civil, entre as quais o Fundo Orange,
levantou reações adversas em certos presente de casamento do povo do seu
setores da opinião pública, uma vez que país, dedicado ao bem-estar social e à
o pai da noiva tinha sido secretário da coesão e em cujos projetos participam
Agricultura num governo da ditadura maioritariamente voluntários.
militar. A rainha estudou Economia na
Universidade Pontifícia da Argentina A família real na sociedade holandesa
(de que foi grande chanceler o Papa contemporânea
Francisco, quando era arcebispo de Desde a reforma de 2002 que está
Buenos Aires) e efetuou estudos limitada a inclusão na Casa Real aos
complementares nos Estados Unidos, membros da família que estão na linha
tendo obtido experiência na banca. A de sucessão e que são parentes até
soberana tem colaborado com as segundo grau do soberano reinante
Nações Unidas na área do (com excepções, como os adultos que já
desenvolvimento e das finanças pertenciam à Casa Real antes da revisão
inclusivas (projetos para contribuir para da lei e que se mantêm na linha de
a literacia financeira) e com o Comité sucessão), assim como do anterior
dos Países Baixos para a Empresa. monarca (no caso de ter abdicado),
Considerando-se ela própria, bem como os cônjuges ou viúvos de
inicialmente, uma imigrante nos Países quaisquer dos anteriores. A Casa Real
Baixos, a Rainha Máxima tem dado compõe-se na atualidade, além dos reis
particular atenção à questão dos Guilherme-Alexandre e Máxima, das três
imigrantes, preocupando-se com a sua princesas suas filhas, da Princesa
integração social e cultural. Beatriz, anterior rainha, e de mais
quatro familiares. Excluídos estão dez
outros familiares do atual rei, tanto pelo
parentesco mais afastado como por
terem perdido o lugar na ordem de
sucessão devido a casamento não
autorizado pelo parlamento.

A Rainha Máxima nas Nações Unidas


Os Reis em reunião do Conselho de Estado

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Popularidade da monarquia A popularidade de Guilherme-


A monarquia dos Países Baixos, Alexandre ronda os 67%, superada com
submetida a um forte escrutínio pelos facilidade pela da Rainha Máxima e
políticos e pela opinião pública, sempre com mais de 60% a apoiar a monarquia.
muito sensível à questão do seu A participação popular nas
financiamento, continua a ser uma comemorações do “King’s Day”, a festa
instituição com uma muito razoável nacional ou Dia do Rei, é de cerca de
aceitação na sociedade deste país. Os 55% da população, quando uma onda
Países Baixos que, depois de mais de de laranja (a conhecida e óbvia cor da
dois séculos de república, evoluíram Família Orange) parece espalhar-se por
para a monarquia, encontram-se em 6º todo o país. Por outra parte, 35% da
lugar nas classificações mundiais população apoiaria que o rei tivesse
quanto a inovação, mantêm-se fiéis ao uma maior influência política. Em
seu tipo de chefia de estado. Ao mesmo dezembro de 2021, o Primeiro-Ministro
tempo, é interessante verificar que, no Mark Rutte, em entrevista ao jornal “De
índice das democracias, ocupam o 11º Telegraaf”, mencionou que poderia ser
lugar entre vinte e uma “democracias útil contar de novo com o monarca no
plenas”, bem como no 5º lugar no processo de formação do governo,
índice dos Estados de Direito, e no 4º tendo recordado o conhecido papel da
lugar nas classificações de anterior rainha, Beatriz, nesta matéria.
transparência. Após mais de cem anos, os Países
Baixos voltaram a ter um rei, ao qual
naturalmente sucederá a princesa de
Orange, Catarina-Amália, o que, se se
mantiver o costume dos três anteriores
reinados, virá acontecer por abdicação
do Rei Guilherme-Alexandre.

Dia Nacional dos Países Baixos (Koningsdag)

Quanto aos indicadores económicos, é


interessante observar que se destacam
por uma renda nacional per capita de
52 é de 50,70% do PIB, continuando a
manter o estado de bem-estar social,
implementado na sequência da
segunda guerra mundial.
Coroa dos Países Baixos

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A ALTERNATIVA PORTUGUESA
RICARDO ALVES GOMES

Abstract Résumé

The President of Portugal, a corollary of Le Président du Portugal, corollaire de


the decrepitude of the already almost la décrépitude de la Troisième
quinquenary Third Republic, which is République déjà presque
in its forty-eighth year in advance, quinquennaire, qui est dans sa
therefore about to double in time from quarante-huitième année d'avance,
the previous regime, has given us donc sur le point de doubler dans le
plenty of reasons for the Portuguese temps par rapport au régime
People to welcome the monarchic précédent, nous a donné plein de
option, since the opportunity to raisons pour le Peuple Portugais saluer
propose it is wide open. l'option monarchique, puisque
l'opportunité de la proposer est grande
Key words: Republic, Portuguese ouverte.
alternative; monarchy.
Motes Clés: Republique; Alternative
portugaise; monarchie.

O Chefe do Estado, corolário da


decrepitude da já quase quinquenária
III República, que vai no seu
quadragésimo oitavo ano adiantado,
prestes, pois, a dobrar em tempo do
regime anterior, tem-nos dado sobejas
razões para os Portugueses acolherem a
opção monárquica, escancarada que
está a ocasião de ser proposta.
É claro que a monarquia democrática,
seja a constitucional ou do common
law, não é perfeita nem resolve todos os
problemas às Nações, que isso de mares
de rosas é coisa de totalitários.
Porém, a opção republicana em
Portugal está a revelar-se pior que a sua A ideia de um Povo, a ideia uma
alternativa, por duas ou três grandes caminhada na História; a ideia de uma
razões que podemos sintetizar numa; independência a guardar; a ideia de
Portugal perdeu as virtudes uma comunidade de comunidades; a
monárquicas. ideia de uma matriz e de um desígnio; a

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ideia de uma unidade que abrange e Marcelo” com toda a mescla de figuras
promove pluralidades; a ideia de um que transporta no subconsciente, veio,
Estado, de um Governo e de uma assim, trazer à evidência que primeiro
administração que apesar da normal quis ser Rei e não conseguiu, que
disputa política de correntes, partidos, depois quis ser Presidente e não
movimentos, corporações e sectores, conseguiu, e que, por fim, já só quer ser
todavia tem um referencial, um poder “lui-même” e também não consegue,
moderador, que não brota desse boião, penoso que está a ser o caminho de
que não está refém da balbúrdia nem quem tudo quer todos os dias e a toda
da anemia, que está escolhido a a hora, sendo que tudo mais tudo, mais
montante e a jusante dos ciclos, dos e mais, redunda em nada. Nada. É uma
contextos e das conjunturas, num caricatura de Rei. É uma deformação de
patamar mais alto que o das Presidente. É um barco de papel. No
intendências e dos novelos correntes; a fundo, somos nós, enquanto Povo
ideia, se quisermos, que acima de uma perdido sem bússola e sem rumo.
ideologia ou de uma equação político- Acontece que se a questão fosse
partidária estão a dignidade, a unipessoal, exclusiva do próprio,
liberdade, a solidariedade e a sempre teria o regime capacidade de se
democracia, e que acima destas está regenerar, como normalmente
Portugal; a ideia que há alguém acontece nas sucessões de cargos
independente e soberano no topo do unipessoais, seja qual a fórmula.
Estado que a todos representa e que, Porém, se virmos tudo em perspectiva,
em última análise, é a quem se recorre, com o distanciamento necessário, se o
por causa de um compromisso que Presidente Soares veio complementar o
nenhum eleito pode oferecer - o Presidente Eanes, estamos aqui na fase
compromisso da sua própria vida. da normalização democrática e da
adesão à então CEE; se o Presidente
Sampaio veio complementar o
Presidente Soares, estamos aqui já na
fase de uma certa “recriação”, que é a
panaceia de quando as coisas se
esgotam; se o Presidente Cavaco veio
complementar o Presidente Sampaio,
Marcelo, que iniciou funções de Chefe estamos aqui na fase do claro declínio
de Estado um tanto inspirado na social, político e económico do País; se
instituição monárquica, nomeadamente o Presidente Marcelo veio
no Papa Francisco, aduzindo também complementar o Presidente Cavaco
uns toques do Rei São Luís de França e (quem não se lembra do júbilo que foi,
do nosso Rei D. Carlos, veio revelar com pois teríamos um Presidente culto, fino
essa sua pretensão, posteriormente e divertido em Belém?), uma vez aqui
substituída pelos Presidentes da I chegados, o que há mais para
República, especialmente Manuel “continuar”, para “complementar” para
Teixeira Gomes, mas também pelo “reinventar”, para “recriar”, enfim, para
Presidente Craveiro Lopes, este já na II “regenerar”? O quê? Alguém sabe dizer?
República, ou ainda, lá fora, por Não é, assim, por acaso, que muitos
Salvador Allende, Nelson Mandela, portugueses vejam com bons olhos um
Macron ou Lula da Silva, que apesar de militar em Belém, um misto de Sidónio
se dizer “eu show simplesmente com Eanes. De facto, esse é o maior

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contraponto possível com Marcelo. Uma Desde levar a Constituição ao limite,


farda. É claro que tal remake é uma passando por assumir a Protecção Civil
farsa, mas compreende-se que a em calamidades; desde estados de
desorientação e a orfandade sejam tais emergência de todas as maneiras e
que muita gente assim represente a feitios, passando por se meter sem se
seriedade que imagina dever ser. É um meter na revisão constitucional; desde
logro, inclusive no plano do que seria declarações ao País que pararam o País,
expectável numa República passando por declarações ao País que o
amadurecida. País já ninguém ouve; desde grandes
Tal como outros portugueses há, (e não intervenções na política externa,
nos esqueçamos da revisão passando por “pontapés na gramática”
constitucional em curso), que querem de estarrecer qualquer simples cidadão;
mudar o regime para desde juras de amor eterno a Portugal
“neopresidencialista”, um remake meio de fazer chorar as pedras da calçada,
americano meio francês, pontificando o passando por ser o Califa dos nómadas
Presidente Macron como a grande digitais; desde comentador e treinador
referência de “La République”, uma da Selecção Nacional, passando por ir
patusca caricatura de Charles de ao Panamá exclamar “Conseguimos!” o
Gaulle, mas muito caricata mesmo, que que já estava conseguido.
não tem nada a ver, aliás é a sua Donde, ainda que o cargo seja
perversão. Mas lá está a sofisticada unipessoal, o problema não pode ser de
encenação do poder que a agenda um homem só. Não pode. Marcelo foi
globalista via “centro extremista” tem eleito e reeleito à primeira. A Marcelo
para arrastar as massas, o que tem popularidade não lhe falta. O PR emana
adeptos em Portugal. É a do voto. Como emana da opinião
desconstrução. Construir actualmente é publicada. Como emana dos partidos.
desconstruir e bater palmas ao feito. Como emana dos sectores sociais.
Se podemos retirar algo de bom do Como emana das organizações
mau, é que o Presidente da República internacionais. Como emana, afinal, do
tem sido um inestimável caldo disso tudo junto.
experimentalista. Por isso, a questão está em saber se
Marcelo já interpretou, já copiou, já queremos um Chefe de Estado que
representou, já adaptou, já reinventou, emane de um conjunto de forças
já recriou, enfim, já experimentou tudo políticas, económicas e sociais e que
em Portugal, isto, diga-se, com as depois seja submetido a sufrágio de
complacências quando não inventivos e resultado anunciado (sim, claro, alguém
rasgados elogios do Parlamento e do acha que não é assim?), ou se queremos
Governo. alguém que não seja Chefe de Estado
para prazer dos interesses revestidos de
legitimidade formal democrática e
deleite das demagogias e modas que
passam, mas sim para ser o primeiro e
último guardião do essencial da “res
publica”, não dependente do
populismo, da propaganda, da ilusão e
do triste espectáculo em que o País
está enredado sem remédio. Que assim
fenece diante dos nossos olhos.

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JANTAR DOS CONJURADOS


MALVEIRA, 30 DE NOVEMBRO 2022

Realizou-se no dia 30 de Novembro, na


Quinta dos Rouxinóis, situada na antiga
Praça de Touros da Malveira, o
tradicional Jantar dos Conjurados,
promovido pela Causa Real.
Este evento que assinalou a
importância e o significado da
Restauração da Independência de
Portugal e, como é da tradição, Sua
Alteza Real o Senhor Dom Duarte, leu
uma Mensagem aos Portugueses, após o
que se seguiu o jantar com a Família
Real.

A ideia de um Povo, a ideia uma


caminhada na História; a ideia de uma
independência a guardar; a ideia de
uma comunidade de comunidades; a
ideia de uma matriz e de um desígnio; a

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INTERVENÇÃO DE PEDRO E foram esses 40 patriotas que, pondo


QUARTIN GRAÇA em risco posses, posição, família e até a
sua própria vida, enfrentaram um
contingente muitíssimo superior de
castelhanos e que, unidos com o povo
de Lisboa, estiveram na génese da
reconquista do país e da aclamação de
D. João IV como Rei.
Hoje, como no passado, e num
momento em que a crise que
actualmente atravessamos, mais do que
política é, sobretudo, uma crise de
identidade, é de novo hora de
abandonar a passividade, a miopia e a
mediocridade e de tomar uma atitude
Altezas Reais, semelhante aos portugueses de 1640. É
Senhor D. Rafael de Orleans e Bragança com esse mesmo espírito de coragem,
Minhas senhoras e meus senhores, determinação, convicção e união à
Caros amigos, volta de uma causa maior do que cada
um de nós deve enfrentar o presente
Cabe-me agradecer a Vas. Altezas Reais para construir o futuro.
a possibilidade de partilharmos com a E o futuro existe apenas se formos
Família Real esta data de celebração na livres. É essa a nossa causa maior.
véspera de um dia e de um momento É esse combate pela liberdade que hoje
que amanhã mesmo se comemora, o 1 nos deve mover.
de Dezembro de 1640, data marcante Dentro desta lógica também a Causa
da história pátria. Real tem procurado levar para a frente
Uma data que, recordo, deixou essa mensagem numa mudança de
tristemente de ser feriado nacional atitude para a qual a Família Real é
durante alguns anos e para cuja difícil absolutamente determinante.
restauração muitos patriotas aqui Para além de vermos no nosso Rei e na
presentes tiveram ocasião de contribuir. Família Real uma ligação directa e
Agradeço também a todos quantos, ininterrupta à nossa história milenar, ao
monárquicos ou não, aqui se desenvolvimento da nossa consciência
encontram hoje e a todos os que enquanto portugueses e à nossa
tornaram possível este jantar. Faço-o na independência enquanto Nação, vemos
figura de três pessoas que representam também no Senhor Dom Duarte, hoje
o empenho de muitas dezenas de como no passado, esse espírito de luta,
outras: o José Lobão, a Maria João de defesa da liberdade, de que deu
Lencastre e a Juventude Monárquica sempre provas.
Portuguesa. O nosso obrigado a todos. Quem não se recorda do papel
Foram 40, bem menos dos que aqui se absolutamente determinante que o
encontram presentes, os homens que Duque de Bragança teve na libertação
em 1640 permitiram que hoje aqui de Timor-Leste do jugo indonésio e de
estejamos como Portugueses. todos os esforços que desenvolveu para
São 40 os que nós hoje homenageamos permitir a continuação da integração
e cujo espírito temos de honrar e de Timor num espaço lusófono de que
continuar a seguir: os Conjurados realmente faz parte?

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Quem esquece o único português que Peço que se juntem a mim bebendo à
deu esperança e apoio aos refugiados saúde de SS.AA.RR. os Duques de
timorenses e que sempre esteve de Bragança, ao Príncipe, aos Infantes de
forma desinteressada à disposição dos Portugal e à Casa Imperial do Brasil
Portugueses? Os portugueses não o que, encarnando a nossa história,
esquecem! representam uma instituição que será
Contam, os Portugueses, portanto com sempre um símbolo de esperança para
a Família Real nessa “conspiração pela o futuro de Portugal.
liberdade”. Viva Portugal!
Permitam-me que dedique breves
palavras à Causa Real e na sua posição
de apresentação de uma alternativa
política de regime para o País.
Estamos no nosso primeiro ano de um
mandato de três.
Não somos nem pretendemos ser um
partido político, mas não abdicamos
dos nossos princípios de defesa da
Pátria e, claro, de restauração da
monarquia.
O nosso projecto, o das Reais
Associações e da Juventude que
federamos é claro: temos de ser mais
conhecidos, fazer melhor comunicação,
apresentar propostas aos Portugueses,
de que o combate pelo fim dos limites
materiais existentes nas Constituição é
exemplo; pugnar pelos direitos,
liberdades e garantias e pela
possibilidade dos portugueses fazerem
escolhas através de legislação eleitoral
que permita a real representação dos
eleitores.
Defendemos, pois, a dignificação do
Homem, da vida e da Nação
Portuguesa.
Mas essa só é possível com o Rei. Só
com a restauração da Monarquia
seremos livres e independentes.
Termino citando o apelo contido nas
palavras de Pessoa: (...) "Tudo é incerto
e derradeiro. Tudo é disperso, nada é
inteiro! Ó Portugal, hoje és nevoeiro... É
a hora!"

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Mensagem 1º Dezembro 2022


S.A.R. o Senhor D. Duarte, Duque de Bragança

Portugueses,

Durante este ano fomos confrontados com uma realidade que todos
considerávamos improvável: uma Guerra na Europa. A guerra entre a Rússia e a
Ucrânia tem-se traduzido numa verdadeira tragédia humanitária, mas também
económica. Todos os dias assistimos a uma destruição massiva da Ucrânia que
deixará marca por várias gerações entre os dois povos.
Gostava de salientar a mobilização do povo português, que desde a primeira hora
tudo fez para atenuar o sofrimento de milhares de refugiados. Tivemos todos
conhecimento de inúmeras iniciativas consertadas ou espontâneas por parte dos
portugueses mostrando uma vez mais que o nosso povo se mobiliza de forma
solidária nos momentos mais importantes.
Recentemente tive a possibilidade de visitar a Ucrânia e inaugurar, nos subúrbios
de Kiev, uma casa que pode hospedar até duzentas pessoas em trânsito,
especialmente para a Hungria ou Polónia. Esta é uma iniciativa da Real Ordem de
São Miguel da Ala, em cooperação com os Bispos Católicos Ucranianos e com o
apoio dos membros da Ordem em Portugal e vários países.
A guerra vem agravar a nossa situação económica, que já era bastante frágil. A
inflação, a escassez de produtos, o aumento exponencial dos combustíveis e
energia, vai dificultar ainda mais a nossa vida. Começamos a assistir a algumas
situações que poderão causar grandes dificuldades durante o próximo ano.
Em consequência, existe cada vez mais a necessidade de acorrermos às famílias
mais desfavorecidos.
Esta crise obriga-nos a acabar de uma vez com todas as situações de gritante
corrupção que temos vindo a ter conhecimento nos últimos tempos. Esta é uma
situação que sistematicamente produz uma sombra pesada sobre o país.
Necessitamos de uma classe política forte e séria, e que esteja também decidida a
fazer face aos desafios que se colocam a Portugal.
A melhoria gradual das condições de vida e da economia portuguesa nas últimas
décadas são, felizmente, inegáveis. No entanto, é um facto incontestado que
crescemos mais devagar do que a maioria dos outros países, pelo que os
rendimentos das empresa e famílias também se mantem em níveis inferiores aos
que desejaríamos obter.

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PÁGINA 56 | REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Considerando que temos vindo a perder competitividade e oportunidades, tanto


nos períodos internacionais favoráveis, como nos desfavoráveis, esta evolução só se
pode atribuir opções políticas e económicas erradas. Ao contrário dos países mais
prósperos, na República Portuguesa as pessoas e as empresas que obtêm sucesso,
são vitimas de inveja social e de perseguição fiscal. Em contrapartida, aquelas que
são inactivas ou pouco produtivas, são continuamente promovidas e incentivadas,
criando um país de subsídio-dependentes, viciadas em pedir e receber favores do
estado e fundos da europa. Espera-se sobretudo do estado e das múltiplas
instituições ligadas á economia que criem um envolvente propicia a uma maior
criação de riqueza em Portugal.
Entre estes desafios, alerto para o crescente problema do envelhecimento da
população, pois que de acordo com estatísticas recentes, seremos o país mais velho
da Europa em 2050. Em consequência desta situação e da estagnação económica
que vivemos, cada vez mais, os nossos jovens procuram trabalho fora do país –
longe das suas famílias e suas comunidades. Actualmente, mais de 40% dos nossos
emigrantes estão na faixa etária entre os 20 e os 29 anos. São números
impressionantes.
Este caminho, leva ao fim da esperança, o que não podemos deixar acontecer de
forma alguma.
Cada vez mais precisamos de um projecto de Nação, que cada vez menos existe.
Como defendia o nosso saudoso Gonçalo Ribeiro Telles, de quem se celebram os
cem anos do seu nascimento, passo a citar: “O novo modelo de desenvolvimento”—
a que chamamos “ecodesenvolvimento” - tem por objectivo a dignificação do
Homem, a Justiça, a defesa da Vida, a humanização criativa do território e o melhor
aproveitamento, em cada momento, de todos os recursos garantindo-se a
permanência da capacidade de regeneração dos que são renováveis. (…) É
absolutamente necessário, ao procurarmos viabilizar Portugal, fazer uma reflexão
sobre o nosso passado (as raízes) e futuro como Nação livre e independente.”
Defendia Ribeiro Telles já então uma “ecologia integral”. E continuando a citá-lo
“acima da legítima liberdade de opinião de todos os portugueses, do poder efectivo
das repúblicas municipais,
acima das divisões sociais e políticas e dos poderes locais, terá que existir uma
instituição permanente e histórica (o Rei), que garanta a unidade nacional, a
liberdade, a diversidade de opinião e de propósitos e o prestígio no contexto
internacional. Só assim podemos continuar a ser uma Nação livre e independente e
a desempenhar no mundo o papel a que a nossa história e civilização nos obrigam.”
Gostaria de terminar esta mensagem com uma referência à Jornada Mundial da
Juventude que se vai realizar em Portugal em Agosto do próximo ano e que deverá
juntar no nosso país mais de um milhão de jovens de todo o mundo. A Igreja dá-
nos esta oportunidade única de afirmar Portugal junto dos jovens num inspirador
encontro de culturas que será com certeza inesquecível.
Como sempre, a minha família eu próprio estamos à disposição dos portugueses
para servir no que for entendido como necessário.
Desejamos a todos um feliz Natal e um ano de 2023 abençoado por Deus!

Viva Portugal!

DEZEMBRO 2022
PÁGINA 57 | REAL GAZETA DO ALTO MINHO

ROTEIROS PELO ALTO MINHO


"CIRCUITO PELAS TERRAS DE DEU-LA-DEU"

Após 2 anos de interregno, no dia 5 de retrata a história da gente e do


Novembro de 2022, a Real Associação território. Aqui, o grupo pode apreciar o
de Viana do Castelo, retomou os viver e o sentir do povo monçanense, ao
Roteiros pelo Alto Minho, desta vez em longo dos séculos, através de meios
Monção com o "Circuito pelas terras de interativos, maquetes, fotografias e
Deu-la-Deu”. vídeos, relevando-se a “Monção no
A visita começou com um encontro às Feminino”, onde se destaca o papel da
9h30m, na praça de Deu-la-Deu, junto à mulher na criação e desenvolvimento
estátua com o mesmo nome, do do município.
escultor Cutileiro, após o que se No exterior, foi possível apreciar uma
seguiram, visitas ao Museu do obra de arte da autoria de Bordalo II, a
Alvarinho, Museu Monção & mítica Coca, dragão do imaginário
Memórias, Igreja da Misericórdia e monçanense, feita a partir de objetos
Igreja Matriz, terminando a parte da deitados ao lixo.
manhã com uma visita ao centro Seguiu-se a visita ao Museu Alvarinho,
histórico. na Casa do Curro, imóvel do século XVII
No Museu Monção & Memórias, localizado na Praça Deu-la-Deu, cuja
instalado no Edifício Souto D’El Rei, função é dar a conhecer a quem o visita
imóvel datado do século XVII, o “Berço do Alvarinho”, o seu território e
localizado na Rua da Independência, as suas gentes.

DEZEMBRO 2022
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Distribuído por diferentes áreas o


museu oferece aos visitantes uma
viagem pelo mundo do vinho Alvarinho,
fornecendo informação interativa sobre
a origem, evolução e empresas
dedicadas à sua produção.
Igreja da Misericórdia, alvo de
profunda intervenção e restauro, é um
templo de transição do maneirismo
para o barroco, tendo-se iniciado a sua
construção por volta do final do século
XVII, sofrendo modificações nos séculos
XVIII e XIX.
Tem um adro florido e um nicho que
abriga a imagem de Nossa Senhora da
Misericórdia. No século XVII, foi-lhe adicionada outra
No seu interior, o grupo contemplou o capela tumular manuelina, dedicada a
tecto com caixotões barrocos pintados, Deu-la-Deu e no século XVIII, após
o coro-alto sobre arco abatido, o algumas obras surge uma nova capela,
púlpito no lado do Evangelho e o onde, actualmente, se pode contemplar
retábulo-mor barroco de estilo a imagem do Sagrado Coração de
nacional. Jesus.

O Almoço ocorreu no restaurante


"Lagoa Verde" após o que se seguiu a
visita guiada ao Palácio da Brejoeira,
interior do Palácio, Jardins, Adega
Antiga e Capela.
Igreja Matriz, um templo românico,
datado do século XIII, também
conhecido como Igreja de Santa Maria
dos Anjos. No interior pode-se admirar
as capelas que, ao longo dos séculos,
lhe foram sendo acrescentadas, com
particular destaque para a Capela de
São Sebastião, datada do século XVI,
onde se destaca o túmulo de Dom
Vasco Marinho – secretário e confessor
do Papa Leão X –, datado de 1521.

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Mandado construir no início do século O Palácio da Brejoeira, é uma


XIX, por Luís Pereira Velho de Moscoso, construção em estilo neoclássico e com
Fidalgo da Casa Real e Cavaleiro da registos de barroco, e uma planta em
Ordem de Cristo, casado com D. Maria forma de "L", dos princípios do século
Cleófa Pereira Caldas, de Badim. XIX, classificado como Monumento
Foi Simão Pereira Velho de Moscoso, de Nacional, desde 1910. Tem quatro
que pouco se sabe, quem terminou a fachadas limitadas por três torreões
obra de seu pai, faleceu em 1881, sem que acrescentam uma presença
descendência. O Palácio foi herdado distintiva e que recorda o Palácio
pelas famílias Caldas e Palmeirim de Nacional da Ajuda, em Lisboa. O corpo
Lisboa, tendo sido colocado á venda, central é quase totalmente revestido a
em hasta pública, 20 anos depois, granito e apresenta ao centro um portal
sendo adquirido pelo Conselheiro de alargado e feito saliente dos corpos
Estado Pedro Maria da Fonseca Araújo laterais, este corpo central é ainda
(1862-1922), presidente da Associação coroado pelo brasão de armas familiar
Comercial do Porto, que lhe realizou entre duas balaustradas.
amplas obras de restauro, projetadas No seu interior, a decoração é
pelo arquiteto Ventura Terra. O imóvel neoclássica, destacando-se os luxuosos
foi enriquecido com uma capela salões com valiosas pinturas (entre as
palatina e um teatro, as paredes do quais um retrato de D. João VI
átrio e da escadaria foram revestidas resguardado por um dossel com
com azulejos, os jardins e o bosque sanefas e cortinas laterais), frescos e
foram reformados, além da construção notada decoração.
de um lago. As obras nos jardins e Logo à entrada, há uma grande
diferentes zonas da quinta foram escadaria nobre, lançada de um
realizadas por Jacinto de Matos, espaçoso átrio. Nas paredes painéis de
horticultor e jardineiro portuense. azulejo de Jorge Pinto, executados já
Em 1937 o Palácio foi de novo vendido, no século XX.
sendo adquirido pelo Comendador Possui uma capela e um teatro, de forte
Francisco de Oliveira Paes para o influência classicista, marcado pelo uso
oferecer a sua filha Maria Hermínia Silva de colunas caneladas. O pano de fundo
d’Oliveira Paes, nascida em 1918. Foi cénico apresenta uma perspetiva da
esta quem reestruturou a propriedade e fachada do Palácio da Brejoeira, sendo
procedeu à plantação e ladeado por rompimentos vegetalistas.
comercialização do prestigiado vinho O Palácio está rodeado de frondejante
da casta Alvarinho, “PALÁCIO DA mata e deslumbrantes jardins com
BREJOEIRA”. magnólias e japoneiras.
Aqui se produz o famoso vinho
Alvarinho, assim como, uma genuína
aguardente bagaceira.
No Palácio se reuniram em 1950
António de Oliveira Salazar e o General
Franco.

DEZEMBRO 2022
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NOIVADO DE SUA ALTEZA A INFANTA


D. MARIA FRANCISCA DE BRAGANÇA

Comunicado

Suas Altezas Reais os Duques de Bragança tem o prazer de anunciar o


noivado de sua filha, Sua Alteza a Infanta D. Maria Francisca de Bragança,
Duquesa de Coimbra, e do Senhor Duarte de Sousa Araújo Martins.
Sua Alteza e o Senhor Duarte de Sousa Araújo Martins ficaram noivos em
Timor, no início deste mês. A Infanta D. Maria Francisca informou Suas
Altezas Reais os Duques de Bragança e outros membros próximos da sua
família.
Mais detalhes sobre o dia do casamento serão anunciados oportunamente.

Sintra,
15 de Dezembro de 2022.

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Nota Biográfica Nota Biográfica

Duarte Maria de Sousa Araújo Martins, nasceu D. Maria Francisca Isabel de Herédia de
em Lisboa a 14 de Maio de 1992, filho de Pedro Bragança, nasceu em Lisboa, no dia 3 de Março
Martins e de D. Maria do Carmo de Sousa Araújo. de 1997 e foi batizada a 31 de Maio de 1997, em
Tem três irmãos. Neto materno do conhecido Vila Viçosa, pelo Arcebispo de Évora, D. Maurílio
arquitecto e pintor de arte sacra João de Sousa Jorge Quintal de Gouveia, tendo sido seus
Araújo. padrinhos a princesa Maria de Liechtenstein
O Senhor Duarte de Sousa Araújo Martins é (prima por via materna de S. A. R. o Senhor Dom
licenciado em Direito pela Universidade Católica Duarte) e o Infante D. Henrique de Bragança.
Portuguesa e possui um Master of Laws (Banking Após dois anos de estudos em comunicação e
and Finance Law) pela Queen Mary University, marketing digital na Universidade Católica de
em Londres. Lisboa, a Infanta passou seis meses em Roma no
É advogado, actualmente Associado Sénior na âmbito do programa Erasmus, que lhe permitiu
sociedade de advogados Uría Menéndez Proença aprender italiano, além do inglês, que domina
de Carvalho especializado em mercados de perfeitamente.
capitais e fusões e aquisições. Terminado o curso universitário, D. Maria
Desenvolveu trabalho voluntário ao longo da sua Francisca passou vários meses em Paris, onde
vida, nomeadamente como Chefe Geral das aperfeiçoou os seus conhecimentos da língua de
Missões da Faculdade de Direito da Universidade Molière, trabalhando num café, sem revelar a sua
Católica. identidade.
Realizou por diversas vezes missões
Sintra, 15 de Dezembro de 2022 humanitárias, nomeadamente nos antigos
territórios ultramarinos portugueses, como a
Guiné-Bissau ou Timor-Leste.
No dia 4 de julho de 2018, Sua Alteza Real o
Senhor Dom Duarte, conferiu à Infanta o título
histórico de Duquesa de Coimbra, título por
criado por D. João I em 1415, a favor do seu
segundo filho, o Infante D. Pedro. Dona
Francisca é também Dama da Real Ordem de
Santa Isabel, Ordem Dinástica honorífica,
privativa da Casa Real Portuguesa.
A mão da Infanta foi pedida no início de
Dezembro no alto do monte Ramelau, uma
montanha em Timor-Leste onde se ergue uma
estátua da Virgem.
D. Maria Francisca ocupa o terceiro lugar na
linha de sucessão ao trono de Portugal, depois
do irmão mais velho D. Afonso, príncipe da
Beira, e do irmão mais novo, D. Dinis, duque do
Porto.

DEZEMBRO 2022
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CERIMÓNIA EVOCATIVA DO DIA


DA FUNDAÇÃO DE PORTUGAL
5 DE OUTUBRO DE 1143

No dia 5 de Outubro, a Direcção da Causa Real, contou com a presença


Nacional da Causa Real reuniu em de S.A.R o Senhor D. Duarte de
Coimbra, antes da cerimónia evocativa Bragança, assim como do Sr. Presidente
do dia da fundação de Portugal. da Câmara Municipal de Coimbra, Dr.
José Manuel Silva, para além de várias
individualidades.

Do programa oficial das comemorações


do Tratado de Zamora, que ocorreu há
879 anos, constou uma celebração
eucarística na Igreja de Santa Cruz,
seguida da deposição de coroas de flores
nos túmulos de D. Afonso Henriques e de
D. Sancho I.
Foi uma iniciativa conjunta da Causa Real
e do Movimento Independência de
Portugal e para além de vários dirigentes

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Mensagem do dia 5 de Outubro de S. A. R. o Senhor Dom Duarte, Duque de


Bragança, lida em Coimbra, no Mosteiro de Santa Cruz, nas Comemorações do dia
da Fundação de Portugal.

Portugueses
O presente ano tem sido particularmente difícil para toda a humanidade.
Logo após uma pandemia, que mal foi esquecida, a economia mundial entra em
grave crise agravada por uma guerra, de algum modo inesperada, onde
precisamente se luta pela independência de um estado soberano.
Em 1143, precisamente no dia 5 de Outubro é assinado o Tratado de Zamora entre
D. Afonso Henriques e seu primo, Afonso VII de Leão. É verdadeiramente a
declaração de independência do Condado Portucalense e a fundação de Portugal.
A partir daí, Afonso I e os outros reis da dinastia afonsina, começam a sua empresa
político-militar, de expandir para sul uma fronteira terrestre que se estendia então
do Minho ao Mondego, com a capital em Coimbra.
Esta reconquista que estabilizou as fronteiras mais antigas da Europa foi terminada
por Afonso III, um grande rei que mudou a sede do reino para Lisboa e a quem
tanto devemos.
Não foi tarefa fácil mas foi a vontade de um povo e dos seus reis. A nação foi-se
consolidando apesar da instabilidade causada por conflitos entre a nobreza e a
burguesia urbana que os reis procuraram arbitrar.
Em 1383 surge a primeira grande crise que põe em causa a soberania nacional, com
a morte de Dom Fernando. A rainha Leonor Teles, então regente, não tem a
simpatia do povo e o casamento da Infanta Beatriz com o rei de Castela põe em
perigo a independência do reino.
O povo, revolta-se. O mestre de Avis invade o palácio e mata o Conde Andeiro. Os
tumultos de Lisboa são apenas os aspectos exteriores de uma luta muito mais
profunda de uma nação que não se quer deixar submeter ao domínio castelhano.
Destaca-se no plano político Álvaro Pais “homem honrado e de boa fazenda”
segundo Fernão Lopes. Da nobreza, o jovem Nuno Álvares Pereira, torna-se o líder
carismático e uma espécie de cavaleiro da távola redonda com a auréola de pureza
e um campeão de coragem inabalável. O Mestre de Avis é aclamado Defensor e
Regedor do Reino.
Para garantir a independência era então necessário preencher o trono. Reúnem as
Cortes em Coimbra.
Segundo João das Regras não havia herdeiros legítimos. Apenas o Mestre, com 26
anos de idade, entre todos os putativos candidatos, tinha as qualidades necessárias
para Rei. O debate de Coimbra trava-se em torno de dois princípios em conflito: de
um lado o respeito pela aplicação
das leis de sucessão, e do outro a soberania e a independência nacional. Vence o
segundo, o trono como emanação do povo. Ganhou Portugal.

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PÁGINA 64 | REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Inicia-se com a dinastia de Avis a época mais gloriosa da história de Portugal.


Portugal expande-se e com a conquista de Ceuta e a colonização das ilhas
atlânticas inicia-se a construção do império português. Este pequeno país na
extremidade da Europa mostra a sua vocação de descobrir o mundo e de se
relacionar com os outros povos e com as outras culturas em África, na América, na
Ásia e na Oceânia.
Com a morte de D. Sebastião e de seu tio o Cardeal D. Henrique, cria-se uma nova
crise dinástica que põe novamente em risco a Independência Nacional. Filipe II de
Espanha, pela força e pelo suborno, consegue impor-se como rei num sistema de
monarquia dualista. Como consequência Portugal viu-se então envolvido em
querelas europeias que eram prejudiciais aos seus interesses.
Foram sessenta anos muito difíceis. Mas a nação ansiava por restaurar a sua
autonomia. Mais uma vez a vontade de um povo, liderado pelo Duque de Bragança
e por “homens de “quid facimus” (que fazemos)”, como disse o Padre António Vieira,
e contra tudo o que era previsível Portugal recuperou a sua Independência e boa
parte do império.
Mais recentemente, com as invasões francesas, e graças à existência do império que
permitiu que a coroa se instalasse no Brasil, conseguimos manter a Independência
e com a ajuda dos aliados ingleses repelir os ocupantes.
Ao longo dos nove séculos de história demonstramos um saber especial em
relacionar-nos com outras nações. São disto exemplo a mais antiga aliança entre
dois países, como a que temos com Inglaterra, a aliança com mais de 500 anos
entre o reino de Portugal e o reino do Sião, ou ainda o tratado Simulambuco em
que os príncipes e mais chefes declaram voluntariamente, reconhecer a soberania
de Portugal, colocando sob protectorado desta nação o território de Cabinda.
Mas o tempo passa e o mundo muda. Como escreveu Fernando Pessoa: “Cumpriu-se
o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!”
Somos hoje um país da Europa, bem integrados numa Europa de nações,
respeitando a cultura e a autonomia de cada uma. Temos uma ligação privilegiada
com quase todos os povos do mundo. O excelente relacionamento que mantemos
com as nações que fizeram parte do nosso território ultramarino é um exemplo
único.
Os portugueses, através da sua diáspora, estão praticamente em todo o mundo e
são provavelmente em maior número os que estão fora do que os que residem no
território nacional.
Mas temos de estar atentos às novas ameaças que põem em risco a nossa
Independência. O decréscimo da população pela baixa natalidade é um drama que
tem de ser encarado muito a sério e que tem de ter uma solução.
Outros factores fundamentais para garantirmos a nossa soberania são por exemplo
a água e a energia. A água é um bem fundamental que temos de aproveitar. Sem
água, com o clima que temos, não temos segurança alimentar. Precisamos saber
guardar a água da chuva e armazená-la no Inverno. A energia é outra condição
absolutamente necessária à soberania da nação.
Portugueses, mais uma vez vos desafio a não desistir da nossa Pátria e da nossa
identidade como povo.
Temos de cumprir Portugal!

DEZEMBRO 2022
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COMUNICADO
Sobre um próximo procedimento de revisão constitucional

Na expectativa da abertura de um há muito aguardado procedimento de revisão


constitucional, a Causa Real, instituição suprapartidária que reúne os monárquicos
portugueses organizados em Reais Associações de base local e na Juventude
Monárquica Portuguesa, não poderia deixar de exortar a classe política a escutar
razoáveis anseios de mudança por parte da sociedade civil, no que concerne aos
seguintes aspectos fundamentais do sistema constitucional e do sistema político:
Em nome de uma integral democratização da democracia portuguesa, impõe-se,
desde logo, corrigir enunciados ultrapassados ou pouco exactos, em sede de
enumeração de limites materiais à revisão constitucional, muito em especial no
que toca à equivocamente denominada forma republicana de governo [alínea b) do
artigo 288.º da Constituição da República Portuguesa/CRP]:
É que só poderá estar em causa um verdadeiro e próprio limite material à revisão
constitucional (ou seja, uma insuperável barreira protectora da identidade
constitucional e não um mero limite impróprio ou inautêntico, superável via revisão
constitucional), caso onde se lê «forma republicana de governo» se passe a ler
forma democrática de governo. A essência da actual ordem constitucional, a qual
parece ter estado subjacente aos grandes desenvolvimentos de realização da
constituição em sucessivas revisões constitucionais, está e não pode deixar de estar
no estabelecimento e na garantia de uma forma de governo democrática.
A Causa Real sublinha também a necessidade de superar persistentes limitações
constitucionais à(s) liberdade(s) política(s) dos portugueses que a democracia
realmente existente mantém ou vai mantendo:
Referimo-nos, desde logo e por exemplo, ao monopólio partidário na apresentação
de candidaturas às eleições legislativas, consagrado no artigo 151.º, n.º 2 da CRP.
A Causa Real aproveita ainda a ocasião favorável para se associar às vozes da
sociedade e da academia que crescentemente clamam mudanças fundamentais
de aproximação do sistema político ao país real, as quais não implicam
fatalmente alteração do texto constitucional. É o caso, por exemplo, da alteração à
lei eleitoral no sentido da criação de círculos uninominais (eventualmente
acompanhada da definição de um círculo nacional de compensação). A Causa toma
boa nota da existência de um projecto, já cabalmente articulado e sufragado por
várias entidades socialmente relevantes,
prevendo um esquema de representação proporcional personalizada, com
círculo de compensação nacional (adaptação ao caso português do modelo
alemão, com uma componente de círculos uninominais).
Tudo sem prejuízo de uma ulterior reflexão profunda no espaço público sobre
eventuais possibilidades de enriquecimento renovador da representação político-
institucional dos portugueses (discussão sobre a previsão de uma segunda câmara,
designada, em parte, pelo menos, segundo esquemas de representação de
instituições sociais livres – universidades, sindicatos, ordens profissionais, etc…).

Coimbra, 5 de Outubro de 2022, em memória do 5 de Outubro de 1143

DEZEMBRO 2022
PÁGINA 66 | REAL GAZETA DO ALTO MINHO

COMUNICADO
A Causa Real e a Revisão Constitucional

Na sequência do Comunicado de 05 de Outubro passado - em Coimbra, por ocasião


da memória do 05 de Outubro de 1143 - e considerando que se confirma a abertura
do processo de revisão constitucional que estava iminente, vem a Causa Real dizer
o seguinte:
1. Reiterar o teor do Comunicado emitido a 05 de Outubro passado, sublinhando
que uma vez que se as forças políticas estão dispostas a rever o artigo 288.º da
Constituição (limites materiais), intento inédito em vai para cinco décadas de
Democracia Constitucional, têm, assim, o dever de abrir a Constituição à
possibilidade dos Portugueses se pronunciarem sobre o fecho até aqui feito a
outra forma de governo que não a republicana, como tem estado plasmado na
alínea b) do dito artigo 288.º da CRP;
2. Reiterar o teor do Comunicado de 05 de Outubro pretérito passado, no que
tange ao monopólio reservado aos partidos, quanto à possibilidade vedada de
apresentação de candidaturas independentes, nos termos do disposto no artigo
152.º, n.º 1 do actual texto constitucional.
3. Reiterar o teor do Comunicado de 05 de Outubro passado quanto ao facto da
abertura de uma “revisão alargada” da Constituição, como tem sido noticiado,
proporcionar uma reflexão sobre os círculos eleitorais e o método de eleição dos
mandatários do Povo Português no Parlamento, para tanto convocando os
contributos públicos há muito ponderados na matéria (círculos uninominais,
para aproximação do eleito ao eleitor, combinado com círculo nacional de
compensação, para garantia de possibilidade de representatividade e pluralismo
das diversas forças políticas concorrentes).
4. Finalmente vem a Causa Real manifestar a sua extrema preocupação ante o
quadro posto, de pretensão assumida de desenquadramento de compressão ou
suspensão de “direitos, liberdades e garantias”, incluindo direitos fundamentais
inalienáveis, para fora das balizas previstas no artigo 19.º da Lei Fundamental, o
qual, a confirmar-se a possibilidade de delegação de tão suma matéria a
autoridades administrativas por via de lei ordinária, não apenas constituirá grave
possibilidade de abusos e injustiças, como constituirá denegação do princípio
da separação de poderes, dada a supressão do judiciário, tal como, e mais
importante que tudo, significará um trilho sem regresso ao caminho de valores e
princípios cujos pressupostos nem os próprios poderes democráticos
constituídos poderão eliminar, sob pena de estarem a eliminar o pacto social, a
unidade do Estado, a liberdade, a democracia, a solidariedade e a paz.

Lisboa, 14 de Novembro de 2022

DEZEMBRO 2022
PÁGINA 67 | REAL GAZETA DO ALTO MINHO

COMUNICADO
A Causa Real e o futuro de Portugal

Em 2023 iremos confrontar-nos em Portugal com grandes desafios, que a Causa


Real acompanha e a que está atenta, assim intervindo no âmbito da sua missão
perante as questões concretas do tempo concreto que estamos a atravessar:
1. A questão da independência nacional no quadro da União Europeia e da defesa
do princípio da subsidiariedade, para preservação do respeito e promoção da
cooperação, do diálogo e da paz.
2. Fruto da independência, a questão da liberdade, enquanto emancipação da
sociedade civil, mas também das liberdades democráticas individuais e
comunitárias, cabendo referir e apontar, uma preocupação com a revisão
constitucional em curso, que merece fundadas preocupações, como temos vindo
a expressar.
3. A defesa inalienável da vida, da saúde e da solidariedade, de que não podemos
abrir mão, pelo que é com especial preocupação que vemos o País caminhar
para uma inversão dos nossos valores mais profundos, ante a possibilidade de
“normalizar” a morte humana enquanto “medida sanitária”, assim se ceifando a
confiança colectiva, a coesão social e a própria identidade nacional.
Para além destes desafios de suma importância, temos pela frente a grande tarefa
de restaurar Portugal nas múltiplas vertentes que o País tanto carece, a começar
pelo combate à pobreza e à exclusão, passando pela demografia, pela saúde e
segurança social, pela adequada exploração dos recursos naturais, pela
sustentabilidade económica, pela coesão territorial, até à questão da vitalidade da
democracia e das instituições do Estado.
É tempo de o País acertar o passo com os seus desígnios e dos Portugueses
poderem escolher, democrática e livremente, o modelo da Monarquia
Constitucional com o Rei como Chefe de Estado, moderador e garante da unidade
na pluralidade, da nacionalidade na universalidade e de probidade no descaminho.
Que 2023 seja um ano de reconciliação e de discernimento, de paz, de restauração
e de amor a Portugal.

A Comissão Executiva
31.12.2022

DEZEMBRO 2022
PÁGINA 68 | REAL GAZETA DO ALTO MINHO

COMUNICADO
Nota de Condolências

A Causa Real curva-se perante o Papa Emérito Bento XVI falecido neste dia último
de Dezembro de 2022, associando-se ao luto da Igreja Católica, do Povo Cristão e
aos Homens de boa vontade.
O Papa Bento XVI foi um grande professor e teólogo, grande homem do
pensamento e da cultura, uma grande figura da Igreja, porém foi, acima de tudo,
um grande apóstolo da Fé e testemunha exemplar da centralidade de Cristo, nestes
tempos inquietantes, de grande desorientação humana e de enormes convulsões
sociais, políticas e culturais que a Europa e o Mundo atravessam.
Assim se torna, pois, ainda mais valioso o legado filosófico, teológico e eclesial de
Bento XVI, cuja vida consagrada nos aponta uma linha de rumo sempre renovada às
circunstâncias da realidade presente, sempre leal às verdades da Fé de sempre,
também muito em particular para nós Portugueses, cuja visita Papal de 2010
lembramos com saudade, onde teve também o Papa ocasião de se encontrar com
meio cultural do nosso País, como habitualmente fazia nas suas visitas.
Portugal perdeu hoje, assim também, um grande amigo, mestre e guia.
É nosso pois nosso elementar dever evocarmos Sua Santidade o Papa Bento XVI,
cuja dolorosa perda sentimos como um dos nossos e um dos maiores do nosso
tempo, acompanhando as homenagens e orações de todos quantos se irmanam na
despedida, nomeadamente de Sua Eminência o Cardeal Patriarca de Lisboa, dos
Bispos e consagrados Portugueses, assim como do Povo em geral.

A Comissão Executiva
31.12.2022

DEZEMBRO 2022
PÁGINA 69 | REAL GAZETA DO ALTO MINHO

JANTAR DOS CONJURADOS


ARCOS DE VALDEVEZ, 30 DE
NOVEMBRO 2022
Socialista e actual Presidente da Câmara
Municipal de Valença, Eng.º José Manuel
Carpinteira; o Presidente da Câmara
Municipal de Arcos de Valdevez, Dr. João
Manuel Esteves; Dr. Paulo Sousa, Vice-
Presidente da Câmara Municipal de Ponte
de Lima e Presidente da Comissão Distrital
de Viana do Castelo do CDS/PP; Eng.º
Mário João Araújo e Silva, Coordenador
Autárquico do CDS/PP; Dra. Maria Judite
Meira da Cruz, do Conselho de
Administração da Fundação Caixa Agrícola
do Noroeste; Dra. Anabela Ramalhinho
Flora de Araújo, Directora do
Agrupamento de Escolas de Valdevez; Dra.
Madalena Macedo, Directora do
Agrupamento de Escolas de Ponte de
Lima; Prof. Jorge Dias, Director do
Agrupamento de Escolas de Freixo; Prof.
José António Silva, Director do
Agrupamento de Escolas de António Feijó.
Marcaram também presença, D. José de
Almada, ilustre representante dos
Conjurados de 1640; Dr. Gonçalo Pimenta
de Castro, Presidente da Real Associação
Decorreu no dia 30 de Novembro, na de Braga; António Aguiar, Presidente da
Estação Vitivinícola Amândio Galhano / Direcção do GEPA; e Arq. José Bastos, Vice-
Quinta de Campos do Lima, Arcos de Presidente da Real Associação do Porto.
Valdevez, o Jantar dos Conjurados, O evento contou com a cerimónia de
organizado pelas Reais Associações de entrega dos prémios dos Concursos
Viana do Castelo e Braga, onde estiveram Escolares que decorreram no ano lectivo
presentes diversos convidados de várias 2021/2022, organizados pela Real
áreas políticas e sociais, no qual o Prof. Dr. Associação de Viana do Castelo em
Pedro Bacelar de Vasconcelos, professor colaboração com o GEPA – Grupo de
de Direito Constitucional na Escola de Estudos do Património Arcuense, sobre o
Direito da Universidade do Minho, fez uma tema "A Importância do Recontro de
intervenção sobre o tema “Da Valdevez para a Formação de Portugal”,
Autodeterminação à Independência intitulados “Viagem no Tempo”, para os
Nacional – o Jantar dos Conjurados”. alunos do 1.º e 2.º Ciclos e “Um Concurso
Entre os convidados presentes, para Ti”, para os alunos do 3.º Ciclo e
destacamos o ex-deputado do Partido Secundário, cujos patrocinadores foram os

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seguintes: Parlamento Europeu/eurodeputado Agradeceu ao Director da Casa das Artes,


Dr. Nuno Melo, Fundação Caixa Agrícola do Dr. Nuno Soares, pela disponibilidade
Noroeste, Fundação D. Manuel II e Casa da demonstrada para a exposição dos
Terra/Minho Fumeiro. trabalhos dos alunos do distrito, trabalhos
António Aguiar, Presidente da Direcção do bons e difíceis de classificar, enumerando
GEPA, regozijando-se por estar perante as complexidades que o júri teve na
uma sala cheia, começou por classificação dos mesmos.
cumprimentar todos os presentes, na Concluiu a sua intervenção referindo o
pessoa do Senhor Presidente da Câmara quão importante foi para o GEPA esta
Municipal de Arcos de Valdevez, Dr. João partilha com a Real Associação de Viana
Manuel Esteves, agradecendo também à do Castelo, agradecendo a todos os
D. Fernanda Sá, responsável pela presentes a atenção com que ouviram a
decoração da sala e do catering. sua intervenção.
Agradeceu à Real Associação de Viana do
Castelo, na pessoa do seu presidente, Dr.
José Aníbal Marinho, a iniciativa do
concurso escolar, evocando as diversas
reuniões entre as duas instituições,
destinadas ao lançamento do Concurso,
congratulando-se com todo o trabalho
realizado.

Seguiu-se a intervenção do Dr. José Aníbal


Marinho Gomes, Presidente da Direcção da
Disse ainda que foram muitos os alunos Real Associação de Viana do Castelo e
que responderam, nomeadamente de Vice-Presidente da Direcção Nacional da
Viana do Castelo, Ponte de Lima, Monção, Causa Real que começou por saudar todos
Arcos de Valdevez, com trabalhos em os presentes e ilustres convidados,
texto, desenho, pintura, escultura, centrando a sua comunicação na
maquetes, barro, em vídeo, fotografia, etc., importância do 1.º de Dezembro para a
trabalhos estes, mais de meia centena que independência Nacional, dando particular
estão expostos, na Casa das Artes, em destaque a João Pinto Ribeiro, tema que
Arcos de Valdevez, para que possa ver e referiu não ser fácil, destacando que Pinto
apreciar. Ribeiro era defensor da tese, do duplo

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contrato e do consequente direito de Parlamento Europeu/eurodeputado Dr.


resistência e da soberania popular, Nuno Melo, Fundação Caixa Agrícola do
opondo-se desta forma à teoria da origem Noroeste, Fundação D. Manuel II, Casa da
divina do poder real, uma vez que os reis Terra/Minho Fumeiro e apoio do Município
recebiam o poder do povo para de Arcos de Valdevez.
governarem bem e correctamente. Para o Concurso “Viagem no Tempo”, 1.º e
Realçou o importante papel de João Pinto 2.º Ciclos, os Primeiros Classificados foram:
Ribeiro, que, em Vila Viçosa, convenceu o João Pedro Nunes, 9 anos; Madalena
Duque D. João a aderir à revolução, e Araújo, 9 anos; e Melissa Araújo, 9 anos, da
consequentemente viria a ser mandatado EB Ponte de Lima, Agrupamento de
com plenos poderes para o avanço da Escolas António Feijó, Ponte de Lima. O
conjura. Segundo Classificado foi Maria Vitória
O Dr. José Aníbal Marinho Gomes Azevedo, 8 anos, do 3.º ano, da EB Pe.
terminou a sua intervenção, recordando Himalaya, Agrupamento de Escolas de
que a ocupação espanhola permanecia Valdevez, Arcos de Valdevez. O terceiro
em território nacional, uma vez que classificado foi Pedro Alves Dantas, 9 anos,
Olivença, concelho português do extinto 4.º ano da Eb1 de Freixo, Agrupamento de
Distrito de Portalegre, foi, há 221 anos Escolas de Freixo.
anexado a Espanha.
Apelou aos governantes portugueses para
não reconhecerem a soberania espanhola
sobre este território, bem como a maior
atenção para a disputa com a Espanha,
que já está a decorrer sobre as Ilhas
Selvagens, as ilhas mais a sul do território
português, localizadas a 250 quilómetros
do Funchal.
Seguidamente, pela voz da Dra. Mariana
Magalhães Sant’Ana, Vice-Presidente da
Direcção da Real Associação de Viana do
Castelo, deu-se início à cerimónia de No Concurso “Um concurso para Ti”,
entrega dos prémios dos Concursos destinado aos alunos dos 3.º Ciclo, Ensino
Escolares* que decorreram no Ano Lectivo Secundário e profissional, os Primeiros
2021/2022, nas Escolas do Alto Minho, Classificados foram: Martim Cerqueira (14
organizados pela Real Associação de Viana anos); Diogo Brito (15 anos); e Guilherme
do Castelo em colaboração com o GEPA – Gomes (15 anos), todos do 10.º ano do
Grupo de Estudos do Património Arcuense, Agrupamento de Escolas de Valdevez. Os
sobre o tema "A Importância do Segundos Classificados foram: Patrícia
Recontro de Valdevez para a Formação Certal Anjos (18 anos) e Mara Pereira
de Portugal”, intitulados “Viagem no Rodrigues Duarte (17 anos), do 12.º Ano do
Tempo”, para os alunos do 1.º e 2.º Ciclos Agrupamento de Escolas de Valdevez. O
do Ensino Básico e “Um Concurso para Ti”, Terceiro Classificado (ex-aequo) Maria
para os alunos do 3.º Ciclo do Ensino Luísa Vieites Amaro Rodrigues Pimenta, 12
Básico, Secundário e Profissional, cujos anos, do 7.º ano do Agrupamento de
patrocinadores foram os seguintes: Escolas de Monção e Simão Pedro da
Rocha Cerqueira Leite, (17 anos), do 10.º
* Os trabalhos encontram-se publicados no suplemento à presente ano do Agrupamento de Escolas de
RGAM disponível no seguinte endereço https://bit.ly/3HZ0WzE
Valdevez.

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Finalmente, no Concurso “Um concurso diferente, igual, muito pelo contrário, nós
para Ti” – Prémio Europeu de Excelência”, devemos valorizar aquilo que é específico
destinado aos alunos do 3.º Ciclo, Ensino em cada país e nessa especificidade, no
Secundário e Profissional, foram somatório dessas diferenças e dessas
premiados os seguintes alunos: Manuel especificidades, a nossa grande riqueza.
Luís de Carvalho Pereira, 16 anos; Matilde Isto para dizer que Portugal não entra na
Varajão Calheiros, 17 anos; Rosana Amorim União Europeia por favor. Quando
Dias, 16 anos, todos do 11.º ano do Portugal ingressa neste projeto comum já
Agrupamento de Escolas de Ponte de
leva muitos séculos de história que
Lima.
ajudaram a transformar toda a
Antes da entrega deste prémio e através
humanidade. Realmente demos mundos
de um vídeo, foi ouvida a mensagem do
ao mundo, e, é essa singularidade, são
Eurodeputado Dr. Nuno Melo, que por
essas nossas características que fazem
afazeres no Parlamento Europeu, não
pode estar presente: com que, através de Portugal, a União
Europeia seja mais rica. Daí a felicidade
na ideia, dos projectos que foram postos
a concurso, porque olham para a Europa
a partir de Portugal, querendo
demonstrar aquilo que melhor temos.
Vários foram os concorrentes.
Infelizmente, nem todos podem ser
premiados. Aquilo que lhes posso dizer é
que fico muito satisfeito, pela entrega e
pela vontade de discutirem Portugal
através da vossa criatividade e aqui em
Bruxelas, com muito gosto, cá estarei
para vos receber. E aos professores
naquilo que será apenas o culminar de
O Parlamento Europeu é o Centro um trabalho que foi muito maior e
Democrático do nosso projecto comum, começou precisamente no vosso
sendo um projecto comum, significa a Concelho e neste país tão extraordinário
circunstância que muitos países estão que é o nosso e que se chama Portugal.
agregados numa ideia que é de se
conseguir melhor através da política o Após esta mensagem, entregaram o
que antes se discutia normalmente prémio, em representação do Dr. Nuno
recorrendo às armas. Hoje, o nosso Melo, o Eng.º Mário João Araújo e Silva,
projeto comum garante o mercado Coordenador Autárquico do CDS/PP, Dr.
interno, que é de muitos países, com Paulo Sousa, Presidente da Comissão
Distrital de Viana do Castelo do CDS/PP e
muitos milhões de consumidores, onde
Dr. Gonçalo Pimenta de Castro, Presidente
todos realmente contam, mas se todos
da Real Associação de Braga.
contam, isso significa que um aspecto
Depois da entrega dos prémios, seguiu-se
fundamental desta União está na
a intervenção do Sr. Presidente da Câmara
diversidade. A União Europeia é um
Municipal de Arcos de Valdevez, Dr. João
mosaico, significa que nós não devemos Manuel Esteves, que começou com um
defender uma ideia de padronização Viva Portugal, por já ser o dia 1 de
através de Bruxelas, fazendo o que é Dezembro, após o que deu as boas vindas

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a todos por estarem em: “Arcos de absolutamente essencial, porque pode


Valdevez, onde Portugal se fez!” haver muitos recontros pelo mundo fora,
Felicitou a Real Associação de Viana do mas nunca serão este recontro de
Castelo por ter organizado o Jantar dos Valdevez. Pode haver muita gente a fazer
Conjurados no Concelho de Arcos de outro tipo de abordagem, mas nunca será
Valdevez, e pela deste concurso, após o esta abordagem que nós temos a forma
que cumprimentou todos os presentes, como nós vivemos, a forma como nós nos
designadamente, os seus colegas de tornamos diferentes.
Valença, o Vice-Presidente da Câmara Por fim seguiu-se a tão esperada
Municipal de Ponte Lima, o Professor intervenção do Prof. Dr. Pedro Bacelar de
Pedro Vasconcelos, o Presidente da Vasconcelos, cuja apresentação esteve a
Assembleia Municipal de Arcos de cargo do Eng.º José Manuel Carpinteira,
Valdevez bem como as muitas Presidente da Câmara Municipal de
individualidades presentes. Valença, que começou por agradecer à
Referiu que o concurso, tinha valido Real Associação de Viana do Castelo o
mesmo a pena, e que existiam 3 palavras convite para participar neste evento e
que lhe ocorriam quando via todo este apresentar o palestrante, que viria a
envolvimento: a primeira liberdade; a abordar o tema “Autodeterminação e
segunda educação e a terceira cultura. Independência Nacional”, referindo que o
A liberdade tem a ver exactamente com a Prof. Pedro Bacelar de Vasconcelos, antes
celebração que se estava a fazer, retirando de mais, é um amigo com quem teve o
a lição de 1640, referiu que os Portugueses prazer de partilhar a dedicação à causa
não estavam bem, estavam oprimidos, pública, enquanto deputados na
congratulando-se por ter havido um Assembleia da República.
grupo, que se juntou e deu manifestação Referindo-se ao Prof. Doutor Pedro Bacelar
àquilo que o povo e todos queriam− de Vasconcelos apresentou-o como sendo
libertar-se do jugo de alguém que natural do Porto, Doutor em Direito pela
subjugava, pelo que pediu uma enorme Faculdade de Direito da Universidade de
salva de palmas para os Homens de 1640, Coimbra, professor de Direito
o que foi correspondido por todos os Constitucional e ex-deputado à
presentes. Assembleia da República entre 2015 e
Quanto à educação, referiu que esta é a 2022. Acrescentou ainda que foi
melhor herança que se pode dar aos filhos, Governador Civil do Distrito de Braga entre
a capacidade de se poder pensar, a 1995 e 1999 e Vice-Presidente da
capacidade de se poder transformar a Convenção para a Carta dos Direitos
sociedade, concluindo que a educação Fundamentais da União Europeia, entre
permite fazer isso e que neste dia e neste 1999 e 2000, Director dos Assuntos
local, se tinha assistido a um enorme Constitucionais e Eleitorais na
momento, uma vez que estes jovens Administração Transitória das Nações
fizeram olhar de uma maneira diferente, Unidas em Timor Leste (UNTAET – 2000).
estes acontecimentos que são um marco Foi também consultor do Banco Mundial
na nossa história. Agradecendo de novo à de Programa das Nações Unidas para o
Real Associação de Viana do Castelo e ao Desenvolvimento, Presidente da Comissão
GEPA, a oportunidade de terem lançado Parlamentar de Assuntos Constitucionais,
este concurso. Direitos, Liberdades e Garantias e
Relativamente à cultura, afirmou que Presidente da Presidente da ACOA –
define a identidade, identidade local, Associação dos Amigos do Parque e Museu
regional, nacional, algo que é do Coa. Continuando, referiu que

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acompanhou de perto o excelente agradecer de novo à Real Associação de


trabalho realizou, mencionando que era Viana do Castelo, a oportunidade de
uma personalidade muito conhecida e estar presente neste evento.
valorizada pelos colegas. Referiu ainda que A terminar, um agradecimento muito
era autor de diversas obras, tendo especial aos membros do Júri dos
publicado em 2021 “Mudar o mundo, Concursos Escolares sobre o "A
Mudar de Vida, Crónicas de Uma Década Importância do Recontro de Valdevez
(2011-2021)”, realçando que o apresentado para a Formação de Portugal”,
continua a colaborar nos meios de constituído pelo Prof. Dr. Armando
comunicação social, designadamente no Malheiro da Silva, Professor Catedrático
Jornal de Notícias. da Faculdade de Letras e Investigador
A concluir a sua intervenção, o Eng.º José do CETAC. Media (Centro de Estudos
Manuel Carpinteira agradeceu a em Tecnologia e Ciências da
disponibilidade do Prof. Pedro Bacelar de Comunicação); Doutor Luís Pimenta de
Vasconcelos para estar presente neste Castro Damásio, Investigador do CITEM
evento e que como os presentes estava (Centro de Investigação Transdisciplinar
ansioso por ouvi-lo, passando-lhe de Cultura, Espaço e Memória da
imediato a palavra, não sem antes Faculdade de Letras da Universidade do
Porto); Dra. Mariana de Magalhães
Sant’Ana, Médica, Vice-Presidente da
Direcção da Real Associação de Viana
do Castelo; Dr. Nuno Soares,
Arqueólogo, Chefe da Divisão de
Desenvolvimento Sociocultural da
Câmara Municipal de Arcos de Valdevez
/ Diretor da Casa das Artes de Arcos de
Valdevez; e António Queiroz Aguiar,
Artista Plástico, Presidente da Direção
do GEPA, aos quais a Real Associação
de Viana do Castelo agradece
penhoradamente a dedicação com que
aceitaram esta árdua tarefa, sem a qual
não teria sido possível a concretização
desta iniciativa.

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JOSÉ ANÍBAL MARINHO GOMES


INTERVENÇÃO NO JANTAR DOS CONJURADOS

Exmo. Senhor
Prof. Dr. Pedro Bacelar de Vasconcelos,
ilustre convidado e palestrante;

Exmos(as). Senhores(as)
Dr. João Manuel Esteves, Presidente da
Câmara Municipal de Arcos de Valdevez;
Eng.º José Manuel Carpinteira, Presidente
da Câmara Municipal de Valença;
Dom José Vaz de Almada, ilustre representante
de D. Antão de Almada;
Eng.º Mário João Araújo e Silva,
Coordenador Autárquico do CDS/PP
Dr. Paulo Sousa, Vice-presidente da Câmara Municipal de Ponte de Lima e
Presidente da Comissão Distrital de Viana do Castelo do CDS/PP;
Dr. Gonçalo Pimenta de Castro, Presidente da Direcção da Real Associação de
Braga;
Arq. José Bastos, Vice-Presidente da Direcção da Real Associação do Porto;
Dra. Maria Judite Meira da Cruz, do Conselho de Administração da Fundação
Caixa Agrícola do Noroeste;
Dra. Anabela Ramalhinho Flora de Araújo, Directora do Agrupamento de Escolas
de Valdevez;
Dra. Madalena Macedo, Directora do Agrupamento de Escolas de Ponte de Lima;
Prof. Jorge Dias, Director do Agrupamento de Escolas de Freixo;
Prof. José António Silva, Director do Agrupamento de Escolas de António Feijó;
Senhores Professores, aqui presentes;
Caros alunos, vencedores dos prémios dos Concursos Escolares "A Importância
do Recontro de Valdevez para a Formação de Portugal”.

Minhas Senhoras e meus Senhores:


Portugal nasceu de uma forte vontade de autonomia política face a Leão. A
criação do reino de Portugal passou por várias fases, pelo que, encontrando-me
em terras de Valdevez, não posso deixar de referir uma das etapas e passo
decisivo, que contribuiu para a solidificação da nossa independência: O Recontro
de Valdevez, antecedente da celebração do Tratado de Zamora em 5 de Outubro
de 1143.
Após a vitória alcançada na batalha de Ourique em 1139, D. Afonso Henriques
invade a Galiza e como resposta, o exército de Afonso VII de Leão e Castela,
invade as terras do condado portucalense, descendo até às
montanhas do Soajo, em direcção a Arcos de Valdevez, acabando os dois
exércitos por se encontrar, naquele que ficou conhecido como Torneio de
Valdevez ou Recontro de Valdevez.

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No Recontro ou Bafordo de Valdevez, saem vencedores os cavaleiros de D.


Afonso Henriques. Aproveitando as boas graças da Igreja, D. Afonso
Henriques, por intermédio do Arcebispo de Braga, D. João Peculiar, faz
com que o Papa Inocêncio II, aceita a sua vassalagem contra o
pagamento anual de um censo de quatro onças de ouro.
A importância do Recontro de Valdevez para a formação de Portugal, foi,
pois, o tema escolhido pela Real Associação de Viana do Castelo e pelo
GEPA – Grupo de Estudos do Património Arcuense, para os concursos
escolares cujos alunos premiados, estão hoje aqui presentes.
Assim nasceu Portugal!
Mas ao longo dos séculos, a independência de Portugal foi ameaçada
algumas vezes.
Estamos hoje aqui presentes, para comemorar a Restauração da
Independência de Portugal, que ocorreu no dia 1 de Dezembro de 1640,
após 60 anos de domínio castelhano.
Já nos tempos da monarquia constitucional o Primeiro de Dezembro ou
Dia da Restauração, era entusiasticamente comemorado em Portugal e
assim continuou após a implantação da república.
Na noite de 30 de Novembro de 1640, um grupo de corajosos portugueses
reuniu-se no Palácio de D. Antão de Almada, em Lisboa, para ultimar os
preparativos da revolta que iriam perpetrar no dia seguinte, no sentido de
libertarem o Reino de Portugal do jugo de uma dinastia estrangeira e
usurpadora dos legítimos direitos da Casa de Bragança.
A vitória alcançada no dia 1 de Dezembro de 1640 veio finalmente
permitir, que Portugal fosse devolvido à sua plena independência de
nação livre e soberana.
Convém referir que se não fosse a Restauração da independência, a
agenda dos feriados oficiais Portugueses coincidiria com a espanhola.
Um dos gloriosos conspiradores de então foi João Pinto Ribeiro, que
residiu aqui mesmo ao lado, em Ponte de Lima.
Falar de João Pinto Ribeiro, não é tarefa fácil, nem pretendo aqui fazer a
sua biografia, mas tão somente traçar algumas linhas sobre a sua pessoa e
pensamento.
Foi em Ponte de Lima que terá redigido o seu primeiro escrito, o
“Discurso sobre os fidalgos e soldados portugueses não militarem em
conquistas alheias”, obra publicada em Lisboa em 1632, e na qual critica
o governo filipino, por encorajar, a troco de promessas e dinheiro, os
fidalgos e soldados portugueses para guerras no estrangeiro, que nada
tinham a ver com Portugal, designadamente a guerra entre a Espanha e
França, e que originavam o enfraquecimento das defesa portuguesas
sobretudo na Índia, onde os holandeses, comercialmente, começavam a
penetrar.

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Filipe IV quando teve conhecimento deste escrito, para além de querer


saber quem era o autor, ordena que o Desembargo do Paço impeça,
daqui por diante, a publicação de textos de natureza análoga, sem a sua
prévia aprovação. Em virtude desta publicação, João Pinto Ribeiro é
demitido por despacho régio das suas funções.
Entretanto, passa a ser representante da Casa de Bragança em Lisboa, e
seu agente em Madrid, cargo que vai fazer dele um importante
mensageiro entre o Duque de Bragança e os conjurados.
Foi João Pinto Ribeiro, que em Vila Viçosa convenceu o Duque D. João a
aderir à revolução, após o que foi mandatado com plenos poderes para o
avanço da conjura, que rapidamente os fez chegar a D. Miguel de Almeida
e Pedro de Mendonça, através de duas cartas.
Seguindo o princípio do dominicano Ptolomeu de Luca, discípulo de S.
Tomás de Aquino, para quem “regnum non est propter rex, sed rex
propter regnum”, os reis existem para o reino e não o reino para o rei,
defendeu a tese, do duplo contrato e do consequente direito de
resistência e da soberania popular, propagando que: “A Monarquia vale
por virtude própria, independentemente da figura que a encarna”. Uma
vez que só os portugueses reunidos em Cortes podem conceder
legitimidade suprema ao poder real, logo o juramento do rei terá de ser
legitimado pelo juramento de Fidelidade dos três Estados.
Aliás, como escreveu na “Usurpação, Retenção e Restauração de Portugal”,
está nos povos a eleição e criação dos seus Reis, através de um contrato
com os mesmos no qual se estabelece como administrar a conservação e
utilidade do Reino.
Ou seja, para si, sempre que os reis não cumpram com as suas obrigações,
fossem indignos e tirânicos (exercendo um poder ilegítimo) o povo tinha
o direito de resistência, inclusive de desobediência civil, ficando como tal
desligado da obrigação de obediência, uma vez que o poder exercido
pelos reis, resultava do facto de primitivamente, o povo ter transferido
esse poder aos reis para os governar.
Desta forma, Pinto Ribeiro opõe-se à teoria da origem divina do poder
real, pois os reis recebem o poder do povo para governarem bem e
correctamente, uma vez que não existem para proveito próprio, mas para
benefício em prol do reino.
Importa referir, que as cortes, que se reuniram logo em Janeiro de 1641,
consagraram este tipo de doutrinas.
Ao comemorarmos esta data, 382 anos depois, não podemos esquecer
que a ocupação espanhola permanece em território nacional, uma vez
que Olivença, concelho português do extinto Distrito de Portalegre, foi, há
221 anos anexado a Espanha por Manuel Godoy, ao comando de tropas
espanholas, na sequência daquela que ficou conhecida como “Guerra das
Laranjas” e a 14 de Agosto de 1805 era lavrada a última acta da Câmara de

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Olivença em língua portuguesa.


Desde o Congresso de Viena, que decorreu entre 1814-1815, Portugal
continua à espera do cumprimento da resolução que obriga o Estado
espanhol a devolver este território a Portugal.
Com que moralidade reclama a Espanha o território de Gibraltar aos
britânicos, quando nega esse direito a Olivença? É que Gibraltar, foi
«reconquistada aos mouros» em 1462 por Castela e este território foi
cedido à Inglaterra em 1713, pelo Tratado de Utreque (e este tratado
permanece válido à luz do Direito Internacional), enquanto Olivença foi
ocupada… Além disso Gibraltar esteve na dependência de Espanha
durante cerca de 250 anos, e já está sob administração inglesa há 303
anos. E Olivença era portuguesa desde tempos imemoriais – por mais de
500 anos…
Neste território, foi durante muitas décadas a cultura portuguesa alvo de
repressão e violência, designadamente em 1840 com a proibição do uso
da língua portuguesa, incluindo nas igrejas. É, pois, um imperativo
patriótico, exigir que os governantes portugueses não reconheçam a
soberania espanhola sobre este território, assim como devem estar muito
atentos à disputa com a Espanha, que já está a decorrer sobre as Ilhas
Selvagens, as ilhas mais a sul do território português, localizadas a 250
quilómetros do Funchal.
A finalizar um apelo, como podem os partidos políticos representados na
Assembleia da República, abrir uma revisão constitucional, sem que os
deputados tenham recebido qualquer mandato popular para o efeito?
O que irá acontecer ao estado de direito democrático baseado na
soberania popular, já evocada por João Pinto Ribeiro?
Porque é que os partidos que concorreram às eleições de 30 de Janeiro
não disseram aos portugueses que iam propor uma revisão
constitucional? Propostas estas, que passam por restrições, no campo dos
direitos, liberdades e garantias dos cidadãos.
Não me recordo de uma revisão constitucional como esta, feita por uma
oligarquia…

Viva Portugal!

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PEDRO BACELAR DE VASCONCELOS


INTERVENÇÃO NO JANTAR DOS CONJURADOS

Autodeterminação e Independência Nacional

1 – O fim de um ciclo imperial

No prefácio à 3ª edição do “Portugal Contemporâneo”, de 1895, Oliveira


Martins assinalava a importância da Restauração da Independência, em
1640, como sendo o primeiro momento da história moderna em que
Portugal se confrontou com a “interrogação vital”: “Há ou não há recursos
bastantes (...) para subsistir como povo autónomo”?
É verdade que até 1580, aquando da funesta união dinástica com Castela,
os herdeiros de Carlos V ainda podiam acreditar que o Universo estava
dividido ao meio segundo um meridiano definido, com força da
autoridade papal, pelo Tratado de Tordesilhas. Portugueses e espanhóis
tinham congeminado até ao século XVI sucessivos projetos de unificação,
sob o mesmo trono, dos dois impérios. Porém, a união dinástica com
Castela iria marcar o princípio do fim da hegemonia ibérica, pioneira do
processo de globalização moderna. Em Alcácer Quibir, a tragédia de um
rei incauto sepultou os sonhos de grandeza e cobriu de luto famílias
arruinadas pelo resgate dos reféns.

2 – A Guerra da Restauração

Em 1640, já tudo tinha mudado e as possessões imperiais ibéricas


estavam comprometidas sob o assédio permanente de ingleses e
holandeses nas Américas, África e Ásia. A Reforma Protestante e a Contra-
Reforma exprimiam já a alteração em curso do mapa político da Europa e
com a publicação do “Mare Liberum” de Hugo Grócio, em 1609, anunciava-
se a invenção, por holandeses e ingleses, de uma nova ordem
internacional que iria desenhar o quadro jurídico moderno das relações
internacionais. Ao contrário do Torneio de Valdevez - segundo a narrativa
que dele nos legaram os monges de Santa Cruz de Coimbra, 500 anos
antes - a Restauração de 1640 já não foi movida por uma necessidade de
ruptura de antiquíssimos vínculos de vassalagem feudal nem foi sequer
determinada pela competição de ambições senhoriais incompatíveis. Na
Guerra da Restauração aflora já um desejo de autodeterminação
indissociável da necessidade de assegurar a sobreviência do império, em
pé de igualdade com as potências europeias concorrentes, disponível
para procurar, no exterior, as indispensáveis alianças militares e

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económicas, e capaz de construir, internamente, novos consensos sociais


mais adequados ao conceito moderno de um “estado soberano”. Neste
sentido, é muito sugestiva a mobilização de judeus e ciganos para o
esforço da Guerra da Restauração que, pela primeira vez, foram de algum
modo reconhecidos como parte integrante da comunidade nacional.
Jerónimo Costa, comandante de uma companhia de 250 ciganos que ele
próprio armou e sustentou às suas custas para defender as fronteiras
nacionais, relata o antropólogo José Bastos, foi feito “Cavaleiro Fidalgo”
por D. João IV.

3 – A monarquia constitucional

Foi a mesma ideia de liberdade dos conjurados de 1640 que inspirou


também a Revolução de 1820 contra a tutela britânica então exercida em
Lisboa, com mão de ferro, pelo General Beresford. A revolução de 1820
inaugurou a era da monarquia constitucional que iria operar a mais
radical transformação da sociedade portuguesa, garantindo a entrada do
reino de Portugal na idade contemporânea como um Estado
Independente e soberano - um propósito que nas décadas seguintes foi
capaz de operar as mais profundas transformações económicas, sociais,
políticas, administrativas e culturais de toda a nossa história, até que,
pelos finais do século XIX, a bancarrota, o ultimato britânico e a ditadura
de João Franco precipitassem o fim do nosso primeiro ciclo
constitucional.

4 – Autodeterminação e independência nacional

Hoje, a sobrevivência da democracia portuguesa como comunidade


política soberana, com uma estratégia autónoma e voz própria no
“concerto das nações”, é o desafio essencial que nos confronta em tempos
tão incertos e adversos. Perante a magnitude dos constrangimentos
atuais, as velhas clivagens do passado - tal como a que opôs outrora a
monarquia ao regime republicano - tornaram-se obsoletas. Do passado,
deve a memória coletiva preservar as repetidas lições que herdamos, de
insubmissão e triunfo sobre todos os opressores. Não por acaso, Bracara
Augusta foi capital de uma província do Império Romano. E é certo que
uma singularidade étnico-cultural já se evidenciou no território do
Noroeste peninsular, a partir do início da Idade Média, desde logo, com o
Reino dos Suevos e, mais tarde, com a participação da Galiza e do
Condado Portucalense nas campanhas militares da “Reconquista”. Só
nesta fase surgiram os primeiros documentos que atestam a existência
também de uma identidade linguística entre os povos deste território. E
foi assim que chegamos ao Torneio de Valdevez, em 1141, onde a
diplomacia se substituiu à guerra como método adequado para assegurar
a independência do novo reino, logo confirmada em Zamora, dois anos
depois, pelo imperador Afonso VII, de Leão e Castela, e Afonso Henriques,
primeiro rei de Portugal.

DEZEMBRO 2022
PÁGINA 81 | REAL GAZETA DO ALTO MINHO

A ÉTICA REPUBLICANA
ANTÓNIO DE SOUZA-CARDOSO

Abstract Resumé
L'éthique républicaine au Portugal a
Republican ethics in Portugal emerged émergé pour justifier une action
to justify a political action that, in the politique qui, au nom de tout ordre
name of any moral order, could not be moral, ne pouvait être ni contrôlée ni
scrutinized or sanctioned by law, but sanctionnée par la loi, mais plutôt
rather legitimized by the motivation or légitimée par la motivation ou la
collective purpose of this action. finalité collective de cette action.

Key Words: Republican ethics, political Mots Clés: Éthique républicaine,


system, Portugal. système politique, Portugal.

O sistema político português está


doente. Nunca como agora assistimos a
tantas saídas do espaço publico e, em
especial, de lugares de chefia e
governação como agora. O rodopio de
cadeiras, com gente que parece ser
cada vez de mais baixa qualidade, mina
a confiança do eleitor no eleito, do
cidadão na sua democracia.
Estas declinações hoje escrutinadas
pela comunicação social que com o
Ministério Público fazem lembrar os
piores censores da Idade Antiga, são
muitas vezes causadas por questões do
foro legal e outras tantas por
motivações meramente éticas ou
morais. O que dizer da ética republicana? Ela
Ferido pelas circunstâncias também talvez tenha existido mais no discurso
nunca como hoje o sistema político se do que na prática nos Países onde a
tem coberto com o manto indecifrável República veio substituir monarquias
da ética republicana que ninguém sabe decadentes e autoritárias chamadas de
bem o que é, mas todos evocam com poder absoluto. O que não ocorreu
devoção no momento do aperto. seguramente em Portugal. Que era uma

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monarquia constitucional, com partidos A ética republicana em Portugal surge


políticos que disputavam o poder entre da necessidade de auto-legitimação de
os quais o partido republicano que nas actos que estavam para lá da Lei, desde
ultimas eleições em que participou teve que feitos em nome do interesse
uma votação a rondar os 9%. Seria mais colectivo. A virtude, a moral e a ética
ou menos como o Chega ou o Bloco de tinham origem nesse sentido
Esquerda em nome de uma ética colectivista da coisa publica que
qualquer fazerem uma revolução legitimou a criação dos principais
violenta para a conquista do poder. partidos socialistas e comunistas no
Revolução que como todos recordam se Mundo com os resultados que a História
iniciou com o assassinato do Chefe de veio a aclarar, para além de qualquer
Estado – O Rei Dom Carlos I. dúvida. É aliás hoje um mistério
É verdade que há ainda um aditivo que constatar que ainda existem partidos
fez com que a ética republicana fizesse socialistas e comunistas, numa europa
parte do léxico político da primeira supostamente humanista, democrática
República e constituísse uma espécie e de inspiração cristã. Só a inépcia do
de legado do nosso partido socialista. deserto ideológico do último século
Esse aditivo era personificado pelo permite que se continue a dar a
primeiro Presidente da República partidos democráticos os designativos
depois da revolução de 1910 - Joaquim que sobraram de ideologias políticas de
Teófilo Braga que era, para além de um cariz marxista-leninista que devastaram
velho patusco, um filosofo proeminente. os princípios da liberdade individual e
E vendo o desvario que atravessava a do Estado de direito. A ética
actuação do partido republicano, republicana em Portugal surgiu para
preocupado em dissolver os partidos justificar uma acção política que em
monárquicos e em perseguir a Igreja, nome de uma ordem moral qualquer
lançava mão da ética republicana que não podia ser escrutinada ou
estudara e aprendera desde Cícero ou sancionada pela lei, mas antes
Platão e muitos seculos depois em legitimada pela motivação ou o
Montesquieu ou Jean Jacques propósito colectivo desta acção.
Rousseau. Perceberam já que estávamos bem
arranjados se hoje o sistema político se
orientasse por uma ética desta
natureza: vaga, imprecisa, caracterizada
pela ideia diferente que pessoas
diferentes têm do bem comum. E
protegida da lei por essa impercetível e
irónica razão.
Por isso que a ética republicana de
Teófilo Braga decaiu no caos e na
desagregação política da primeira
república que legitimou uma segunda
república ditatorial e de partido único
também ela legitimada pela mesma
ética de servir.

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E, finalmente, a terceira República que E nas escolhas de regime – a república é


refém de um sistema partidário em isso porque nunca foi uma ordem
moral, continuo a preferir um Chefe de
degenerescência, viu empobrecer
Estado acima dos interesses,
paulatinamente a qualidade intelectual
independente dos partidos. Para quem
e moral dos seus membros, a história, a cultura e a identidade
preocupados como diz António Barreto contam e que por contarem se afirma
em tirar da Democracia o que ela lhes perante os seus concidadãos como um
puder dar. referencial permanente e seguro desses
princípios fundamentais que garantem
Fica assim desmitificada esta ética que
a nossa coesão e a nossa soberania.
em nome de um evasivo sentido de
Um Rei que a todos represente e que
interesse colectivo, se projecta para com o seu exemplo restaure uma ética
além da lei, justificando o que não é e um sentido de responsabilidade e de
justificável num Estado de Direito. serviço no exercício da cidadania que
devem ser valores permanentes de
Eu continuo a preferir a ética dos
todos os portugueses.
homens bons. Aqueles que faltam hoje
Para que a politica seja de facto o
à nossa sociedade ou que não se exercício consciente e responsável da
sentem atraídos por um sistema defesa da coisa publica. Tal como no
político ferido pela corrupção e pela passado o Rei foi o garante da Res
falta de responsabilidade moral. Publica!

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