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MAIO 2023 30ª EDIÇÃO

R E V I S T A
Foto: Kemalbas/Canva Pro

STF pode impor a regulação


das redes sociais mesmo
sem o PL das Fake News

Agro avança para dar adeus Coluna de estreia de


ao diesel e fabricar Roberto Motta: uma
combustível nas fazendas granada na janela
Índice
Editorial: O PL das Fake News e a supressão de
04
um dos lados do debate

Roberto Motta: Uma granada na janela 13

Luciano Trigo: STF: O campeão de xadrez e o


22
‘soft power’ chinês

STF pode impor a regulação das redes sociais


29
mesmo sem o PL das Fake News

PF liga caso de vacina de Bolsonaro a urnas e


44
milícias digitais para manter ação com Moraes

Um prefeito de 65 anos se casou com uma


53
menor de idade. As implicações legais e morais

Agro avança para dar adeus ao diesel e fabricar


64
combustível nas fazendas

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Gazeta do Povo Revista – Ed.30 Maio/2023


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Ministro da Justiça e Senacon apresentam medida cautelar ao Google por


“publicidade abusiva” contra o PL das Fake News.| Foto: Tom Costa/MJSP

| Editorial

Supremo endossa o abuso das


“denúncias genéricas”

O Projeto de Lei 2.630/20, também conhecido


como “PL das Fake News”, teve sua votação
adiada. O presidente da Câmara, Arthur Lira
(PP-AL), o havia incluído na pauta da sessão
desta terça-feira após se encontrar com líderes
partidários ao longo do dia, em um sinal de que,

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apesar de a oposição ao projeto ter aumentado


consideravelmente nos últimos dias, havia
grandes chances de ele passar pelo plenário –
pautar textos de interesse do governo apenas
quando há certeza de aprovação é uma das
maneiras de agradecer ao presidente Lula pelo
apoio da esquerda à avassaladora reeleição
conquistada por Lira. No entanto, algo mudou
em poucas horas, a ponto de o relator Orlando
Silva (PCdoB-SP) ter tomado a iniciativa de
pedir o adiamento; ele foi seguido por partidos
da base governista, enquanto legendas de opo-
sição insistiam em realizar a votação ainda na
terça-feira, indicando que a probabilidade de
derrota do PL era significativa. Lira, então,
optou por retirar o tema da pauta.

Independentemente do desfecho da sessão,


alguns dos últimos desdobramentos do debate
sobre o PL 2.630 deveriam preocupar todos os

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brasileiros, tanto favoráveis quanto contrários


ao projeto. Menos relevantes – embora dignas
de menção – são as denúncias de que algumas
big techs estariam apagando ou “escondendo”
publicações favoráveis ao projeto; a reclamação
evidenciou a hipocrisia dos denunciantes, entre
os quais estão influenciadores e milícias digitais
que figuram entre os maiores entusiastas da
moderação pesada de conteúdos quando feita
contra aqueles de quem discordam. Muito mais
grave foi o uso do braço estatal contra quem
tem apresentado seus argumentos contrários ao
projeto, caso de empresas como Google e Meta.

O Google, por exemplo, publicou em seu blog


um texto intitulado “Como o PL 2.630 pode
piorar sua internet”. Em resposta, ministros de
Estado como Flávio Dino (Justiça) e senadores
como Randolfe Rodrigues (Rede-AP)
defenderam que o governo adotasse medidas

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contra as big techs, argumentando que estava


em curso uma “tentativa imoral de inverter os
termos do debate”. O secretário nacional do
Consumidor, Wadih Damous, criticou o que
chamou de “um verdadeiro arsenal de guerra
contra o PL”, afirmando que as plataformas “se
transformaram em verdadeiras trincheiras da
extrema-direita no Brasil”. No fim, a pasta de
Dino e a secretaria de Damous anunciaram
medida cautelar e multa por “publicidade
enganosa e abusiva” contra o Google, que
retirou o texto do ar. Além disso, o Ministério
Público Federal de São Paulo também notificou
Google e Meta questionando se as empresas
haviam alterado seus algoritmos para privile-
giar conteúdos contrários ao PL 2.630 e reduzir
o alcance das publicações ou anúncios favorá-
veis, prática que ambas as empresas negam. E,
em uma terceira frente, o ministro do STF

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Alexandre de Moraes determinou que a Polícia


Federal ouça os presidentes de Google, Meta,
Spotify e da produtora Brasil Paralelo; ao
justificar sua decisão, alegou que as empresas
poderiam “impactar de forma ilegal e imoral a
opinião pública e o voto dos parlamentares”.

Ora, é bastante evidente que, em uma sociedade


democrática, todos têm o direito de emitir suas
opiniões e oferecer seus argumentos favoráveis
ou contrários a uma proposição em curso no
parlamento – e o objetivo desse esforço é
exatamente convencer os parlamentares. Neste
processo, os interessados são livres para usar os
instrumentos que têm à disposição para fazer a
defesa ou a crítica de um projeto de lei, e seria
absurdo pensar em cercear o debate negando
carta de cidadania a um dos lados. Para citarmos
outros temas que causam enorme discussão na
sociedade, aqueles que gostariam de ver o

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aborto legalizado, os defensores de pautas


identitárias ligadas à defesa de minorias, os
promotores da descriminalização do porte e uso
de drogas, ou os apoiadores do desarmamento
deveriam ter (como, aliás, têm) todo o direito a
promover sua posição na imprensa, na acade-
mia ou nas ruas; negar-lhes essa possibilidade
seria uma grave violação da liberdade de
expressão, uma negação da democracia.

Da mesma forma, é inconcebível pretender que


empresas diretamente afetadas pelo que venha
a ser aprovado não tenham o direito de dar sua
opinião contrária ao PL 2.630, ou só possam
fazê-lo de forma bastante limitada, sob o argu-
mento de que estariam cometendo “imoralida-
de” ou “abuso” caso se manifestassem
livremente. Assim como não faria o menor
sentido considerar “imoralidade” ou “abuso” o
fato de diversos veículos de imprensa, cujo

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alcance nacional é inegável, estarem apoiando o


PL 2.630 em editoriais – que refletem a posição
institucional de cada veículo, assim como o
Google havia feito – e reportagens; também não
há “abuso” nem “imoralidade” quando
influenciadores usam sua celebridade para
convencer seus milhões de seguidores a
respeito dos méritos que enxergam no projeto.
Os argumentos, seja favoráveis, seja contrários,
se depuram justamente por meio do debate, do
embate de ideias, do exame de sua razoabilidade
e de sua plausibilidade; jamais podem ser
coibidos nem desqualificados como fake news,
expressão que deveria designar apenas
afirmações factuais comprovadamente falsas, e
não opiniões, conjecturas ou prognósticos a
respeito do que pode ocorrer no futuro.

Que tudo isso ainda ocorra exatamente no


contexto de um debate sobre a regulamentação

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das mídias sociais e seu impacto sobre a


liberdade de expressão é algo que deveria
preocupar ainda mais os brasileiros –
repetimos, independentemente da posição que
tenham sobre o PL 2.630. Aqui, já estamos
muito além de um suposto combate à
“desinformação” ou ao “discurso de ódio”,
para citar alguns dos termos mais alegados para
restringir a liberdade de expressão no Brasil: o
que ocorreu ao longo desta segunda-feira com
as big techs e outras empresas contrárias ao PL
das Fake News foi a desqualificação e até a
supressão de um dos lados envolvidos em um
debate lícito. A oposição ao PL 2.630 se tornou
uma crimideia, e isso é incompatível com uma
nação que se pretende democrática.

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Roberto Motta

| Foto: Bigstock

Uma granada na janela

A melhor prevenção é a punição (Marcelo Rocha


Monteiro, Procurador de Justiça)

No dia 15 de abril, um sábado de sol, um dos


meus amigos foi assaltado. Para sua proteção,
vou chamá-lo de Pedro.

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Pedro estava com a esposa, dois filhos e dois


sobrinhos em seu carro. A criança mais velha
tinha 12 anos.

Pedro havia encostado o seu carro na calçada da


rua Raul Pompéia, na região do Posto 6, em
Copacabana. É uma das regiões turísticas mais
procuradas do Rio de Janeiro. Ele encostara o
carro justamente para orientar dois turistas
estrangeiros que pareciam perdidos.

Eram quase 13:00 de um sábado ensolarado.

Depois de orientar os turistas Pedro ligou o car-


ro, preparando-se para virar à direita, no rumo
de sua casa, a dois quarteirões dali. Nesse mo-
mento - como mostra um vídeo feito por uma
câmera de segurança, que já viralizou nas redes
sociais - um carro bloqueia o seu caminho.

O vídeo provoca um frio no estômago de todos


que o assistem.

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Do carro desconhecido descem quatro indiví-


duos, todos segurando armas de fogo. Não é
possível ver no vídeo, mas um deles encosta
uma granada na janela de trás do carro, justa-
mente no lado em que estava a filha de Pedro.

Meu amigo fez o que podia fazer: manteve a


calma diante da brutalidade inesperada, colocou
as mãos para o alto, entregou tudo o que tinha
com ele e, com muito sangue frio, certificou-se
que a esposa e as crianças já haviam saído do
carro. Ele fez isso tudo com armas apontadas
para ele, por criminosos que não paravam de
gritar ameaças

Enquanto isso, um dos assaltantes roubava uma


moto que estava próxima.

A polícia foi acionada e agiu prontamente, mas


os criminosos escaparam no trânsito de Copa-
cabana. O assalto aconteceu ali, mas poderia ter

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acontecido em qualquer cidade brasileira, a


qualquer hora, com qualquer pessoa.

A polícia do Rio de Janeiro tem alertado repeti-


damente que o estado virou um refúgio para
criminosos, desde que, em junho de 2020, uma
decisão do STF, em resposta à Ação por Des-
cumprimento de Preceito Fundamental 635
(impetrada por um partido de esquerda e ONGs
de “defesa dos direitos humanos”) proibiu a
realização de operações policiais nas favelas,
“exceto em casos excepcionais”.

A partir dessa restrição, as três facções do


narcotráfico que dividem o controle das comu-
nidades fortificaram suas posições, usando bar-
reiras de aço, criando casamatas de concreto
reforçado e treinando exércitos, armados com
fuzis e até metralhadoras antiaéreas, prontos
para entrar em combate com a polícia.

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A partir dessas cidadelas bandidos saem bus-


cando presas pela cidade, sabendo que podem
retornar a um refúgio seguro.

Naquele dia, os predadores encontraram meu


amigo e sua família.

Uma das linhas de investigação da polícia é que


os criminosos voltavam de um baile em uma fa-
vela de Copacabana, controlada por uma certa
facção criminosa.

A origem dessa suspeita é a localização do tele-


fone celular que estava no carro.

O rastreamento indicou que o aparelho estava


no Parque União, uma região do complexo de
favelas da Maré.

Foi nessa favela que aconteceu a visita de um


ministro do governo federal. Uma vista que,
curiosamente, dispensou qualquer escolta. Tudo
indica que o ministro foi visitar justamente uma

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das ONGs que participou do pedido da ADPF


635.

Na história da destruição da segurança pública


brasileira existem poucas coincidências. Meu
livro A Construção da Maldade apresenta dados,
fatos e a sequência desse processo. O resumo é
esse: tudo começa com a adoção, pelos legisla-
dores e pelo sistema de justiça criminal brasi-
leiro, de ideias absolutamente equivocadas. As
raízes dessas ideias estão na ideologia de
esquerda, no progressismo.

Há décadas, o discurso oficial do Estado – e da


cultura, do entretenimento, do jornalismo e das
escolas de Direito - trata bandidos como se fos-
sem pobres coitados, ou românticos revolucio-
nários que lutam contra a “desigualdade”.

Esse discurso – cuja origem está no pensamen-


to de ideólogos de esquerda como Antonio

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Gramsci e Michel Foucault, e de “juristas”


ativistas como Luigi Ferrajoli (teórico do
chamado “garantismo penal”) – infiltrou o
sistema de justiça criminal, transformando
juristas em militantes para os quais punir é um
erro, porque “não ressocializa”. Sentenças
judiciais são transformadas em manifestos, nos
quais prevalece a ideologia e um preconceito
profundo contra a atividade policial.

Há décadas, o discurso oficial do


Estado – e da cultura, do
entretenimento, do jornalismo e das
escolas de Direito - trata bandidos
como se fossem pobres coitados, ou
românticos revolucionários que
lutam contra a “desigualdade”

Tudo isso tem consequências.

As consequências foram enfrentadas por Pedro

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e sua família, em uma tarde de sábado, em um


dos principais locais turísticos do Rio.

Aconteceu com ele, mas poderia ter sido comigo


ou com você. Até ministros do STF, em missão
oficial, já foram assaltados no Rio.

A causa do assalto sofrido por Pedro não foi a


televisão, nem os jogos online, nem o bullying,
nem as redes sociais, nem a desigualdade, nem
a “falta de oportunidades”, nem o capitalismo,
nem o "modo como a sociedade contemporânea
se organiza", para citar literalmente uma das
falas de um certo ministro (que, só por acaso, é
filiado ao Partido Comunista do Brasil).

A causa daquele crime foi a decisão de quatro


marginais de apontar pistolas e ameaçar com
granadas uma família com crianças.

Eu conheço a polícia do Rio de Janeiro. Tenho


certeza de que os assaltantes estarão presos em

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breve. Também tenho a certeza de que todos,


provavelmente, já foram presos várias vezes.
Eles foram soltos, e serão soltos de novo, pela
leniência da legislação penal e pela ideologia
infiltrada no sistema de justiça criminal.

A origem da destruição de nossa segurança é a


infecção ideológica.

Combater essa doença é o único caminho para


que não nos tornemos uma nação de vítimas.

Autor: Roberto Motta é pesquisador da área de segurança pública, ex-consultor


de tecnologia do Banco Mundial e ex-Secretário de Estado do Conselho de
Segurança do Rio de Janeiro. É autor de 4 livros: “Ou Ficar A Pátria Livre”,
“Jogando Para Ganhar: Teoria E Prática da Guerra Política”, “Os Inocentes do
Leblon” e "A Construção da Maldade: Como Ocorreu a Destruição da Segurança
Pública Brasileira". É graduado em engenharia pela PUC-RJ, tem mestrado em
gestão pela Fundação Getúlio Vargas. Foi um dos fundadores do Partido Novo e é
comentarista na Jovem Pan News.

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Luciano Trigo

Ding Liren, primeiro campeão mundial chinês de xadrez da História| Foto:


Divulgação

O campeão de xadrez e o ‘soft


power’ chinês

Pela primeira vez na História, o campeão


mundial de xadrez é chinês. O autor da façanha
é Ding Liren, um jovem tímido e magrelo de 30
anos, que derrotou ontem o russo Ian

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Nepomniachtchi de forma tensa e emocionante


– no tie-break de quatro partidas rápidas, após
um match de 14 partidas com o controle clássico
de tempo.

A vitória de Ding marca o fim do reinado do


norueguês Magnus Carlsen, que se recusou a
defender o título mundial e perdeu a coroa. É
representativa, também, do crescente poder da
China no planeta, já que a conquista tem um
importante peso simbólico e não deixa de ser
uma forma de soft power.

Basta lembrar que o xadrez era levado muito a


sério na União Soviética, que dominou o esporte
durante décadas – até que o americano Bobby
Fischer destronasse o campeão Boris Spassky
em 1972, no chamado match do século. Xadrez,
para os russos, era um assunto de Estado.

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Soft power, um termo cunhado pelo cientista


político Joseph Nye, significa "a capacidade de
um Estado de conseguir o que quer pela
atratividade da sua cultura, suas ideias, seus
ídolos, sua política doméstica e diplomacia".

Segundo Nye, "soft power é mais do que apenas


persuasão ou a capacidade de encorajar pessoas
pela arte do raciocínio: é também a capacidade
de atrair; e a atração frequentemente leva a uma
certa submissão. Concluindo, soft power é um
poder de atração".

Nye prossegue: “Um país encontrará bem


menos resistência para legitimar seu poder
sobre outros atores se sua ideologia e cultura
forem bem recebidas por eles. Assim, a
abordagem do soft power é baseada em uma
solução pacífica, indireta, sutil e mais ou menos
discreta, dentro do escopo do apelo de ideias; na

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capacidade de persuadir ao invés de vencer, em


termos de cultura e de ideologia.”

Os momentos finais da última


partida chegam a ser comoventes –
e são reveladores dos diferentes
temperamentos dois mestres

Isso posto, tensão e emoção foi o que não faltou


ao match encerrado ontem, realizado em
Astana, capital do Cazaquistão. Ding e Nepo
(como ele é compreensivelmente chamado, já
que seu sobrenome é impronunciável)
venceram três partidas cada um, com oito
empates.

É raro ver em competições desse nível uma


proporção tão grande de partidas decididas:
para citar apenas um exemplo, o primeiro e
histórico match entre Karpov e Kasparov, em

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1984/85, teve 40 empates e apenas oito partidas


decididas.

Isso porque, já há várias décadas, os grandes


mestres de xadrez se tornaram especialistas da
defesa, construindo posições inexpugnáveis no
tabuleiro a partir de diferentes aberturas, o que
tornou os empates cada vez mais frequentes - e,
muitas vezes, tediosos.

Mais importante ainda que o placar foi a forma


como os dois jogadores conduziram as partidas.
Kasparov e Carlsen jogavam como máquinas,
sem errar, mas também sem correr grandes
riscos. Derrotas dos dois enxadristas eram
raríssimas. Não eram humanos.

Já Ding Liren e Ian Nepomniachtchi devolveram


uma face humana à disputa pelo título mundial
de xadrez. E isso é bom.

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Para surpresa de todos os comentaristas, um e


outro jogaram de forma impetuosa e se
aventuraram em variantes e lances inesperados,
com a vantagem trocando de lado várias vezes
ao longo da mesma partida, o que também é
bastante incomum nesse nível.

Isso significa dizer que ambos cometeram


muitos erros, é verdade. Mas os erros tornaram
a disputa muito mais interessante. Pela
primeira vez em muito tempo, os aficionados do
xadrez tiveram a sensação de assistir a um
match pelo campeonato mundial disputado
entre dois indivíduos de carne e osso, sujeitos a
falhas, e não entre dois computadores
humanos.

Os momentos finais da última partida, no vídeo


acima, chegam a ser comoventes – e são

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reveladores dos diferentes temperamentos dois


mestres.

Nepo, que era o favorito, não esconde sua


frustração após abandonar a partida em uma
posição completamente perdida: ele sai
rapidamente de cena, gesticulando, irritado. Já
Ding Liren, em vez de comemorar o feito inédito
ou mesmo sorrir, cobre o rosto com as mãos por
longos segundos, contendo a emoção.

Autor: Luciano Trigo é escritor, jornalista, tradutor e editor de livros. Autor de 'O
viajante imóvel', sobre Machado de Assis, 'Engenho e memória', sobre José Lins
do Rego, e meia dúzia de outros livros, entre eles infantis.**Os textos do
colunista não expressam, necessariamente, a opinião da Gazeta do Povo.

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Dias Toffoli (à esq.) é relator de uma das ações que pode rever Marco Civil da Internet;
Alexandre de Moraes (à dir.) defende regras mais amplas de moderação das redes
sociais| Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

STF pode impor a regulação das


redes sociais mesmo sem o PL das
Fake News
Por Renan Ramalho

A decisão da Câmara de adiar a votação do projeto


de lei das “fake news” deverá apressar no Supremo
Tribunal Federal (STF) o julgamento de duas ações
que, pela via judicial, vai impor algumas das regras

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de regulamentação das redes sociais previstas na


proposta. Segundo apurou a Gazeta do Povo, o
ministro Dias Toffoli, relator de uma dessas ações,
poderá pautar o caso em junho para julgamento,
caso o Congresso não avance com a matéria neste
mês de maio.

Essa possibilidade foi comunicada pelo presidente


da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), defensor da
regulamentação, junto a líderes partidários, na
tentativa de convencê-los a aprovar o projeto.
Quando percebeu que não havia votos suficientes,
ele resolveu adiar a votação.

Para ocorrer de forma rápida, a regulamentação


das redes pelo STF poderá ocorrer em julgamento
realizado no plenário virtual, no qual os
integrantes da Corte proferem votos de forma
remota, sem discussão presencial, ao longo de uma
semana. Em julgamentos assim, o próprio relator

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da ação pode marcar a data, sem necessidade de


que isso seja feito pela presidente do STF, a
ministra Rosa Weber, que pauta as ações julgadas
no plenário físico.

Toffoli considera que já existe maioria de ao menos


6 votos, entre os 11 ministros da Corte, favoráveis a
uma revisão de uma regra do Marco Civil da
Internet que, fora algumas exceções, retira das
plataformas digitais a responsabilidade pelo
conteúdo postado por seus usuários.

Trata-se do artigo 19 da lei, segundo o qual as


empresas de tecnologia só podem ser punidas por
uma postagem ofensiva – pagando indenização à
vítima da ofensa –, caso descumpram uma ordem
judicial de remoção daquele conteúdo. Significa que
caberá ao juiz, após ser acionado pela vítima,
averiguar se de fato determinada postagem viola a
honra ou a imagem da pessoa ofendida. O objetivo

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da norma é proteger a liberdade de expressão e a


reservar ao Judiciário o papel de avaliar se
publicações feitas pelos usuários das redes são ou
não ilícitas.

O STF, no entanto, tem sido provocado a


determinar que, em algumas situações específicas,
a plataforma também poderá responder – e
portanto, ser punida – independentemente de
ordem judicial caso mantenha no ar conteúdos que
incentivem “atos antidemocráticos”, que
representem ofensas ou supostas ameaças a
autoridades e instituições; que divulguem “fatos
sabidamente inverídicos” ou “gravemente
descontextualizados” sobre o processo eleitoral;
que contenham “discursos de ódio”, que
promovam racismo, homofobia, preconceito de
origem, raça, sexo, cor e idade; bem como
divulguem ideologias “odiosas”, como nazismo e
fascismo.

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Esses termos, apesar de vagos, já vêm sendo


usados pelo ministro Alexandre de Moraes como
base para remover, mediante provocação ou
mesmo por sua própria iniciativa, postagens que
ele considera ilícitas, ou “contrárias ao Estado
Democrático de Direito”, no âmbito dos inquéritos
das fake news e das milícias digitais, focados
sobretudo em investigar políticos, influenciadores
e jornalistas de direita e apoiadores do
ex-presidente Jair Bolsonaro.

As mesmas expressões foram usadas, por exemplo,


na decisão desta terça-feira (2) na qual Moraes
determinou que o Google, a Meta (dona do
Facebook, Instagram e WhatsApp), o Spotify
(tocador de música e podcasts) e a produtora de
vídeos Brasil Paralelo apagassem todos os
anúncios, textos e informações publicadas num
blog institucional do Google críticos ao projeto de
lei das fake news. Ele ainda mandou a Polícia

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Federal interrogar os executivos das empresas,


dizendo que elas teriam ampliado o alcance das
críticas à proposta em discussão no Congresso.

Dentro do STF, Moraes é um dos maiores


defensores da regulamentação das redes sociais. Na
própria decisão, ele escreveu que “é urgente,
razoável e necessária a definição – LEGISLATIVA
e/ou JUDICIAL –, dos termos e limites da
responsabilidade solidária civil e administrativa
das empresas; bem como de eventual
responsabilidade penal dos responsáveis por sua
administração” (as letras maiúsculas e grifadas são
da própria decisão). Era o recado claro de que, caso
o Congresso não legisle, o próprio Supremo poderá
regulamentar as redes.

Além de fiscalizar o conteúdo de postagens, Moraes


também tem imposto multas pesadas e prazos
apertados para cumprimento de suas decisões por

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parte das empresas. Esses procedimentos foram


criados por ele no Tribunal Superior Eleitoral
(TSE), e na semana passada, foram propostos,
também por ele, para serem incorporadas ao PL das
Fake News. Outro interesse do ministro e que
também é objeto da proposta do Congresso, é
desvendar como as plataformas distribuem o
conteúdo, promovendo certas postagens e
reduzindo o alcance de outras, a depender do perfil
do usuário. Na decisão contra Google e Facebook,
ele requisitou explicações sobre como elas usaram
seus algoritmos para impulsionar conteúdos
críticos ao projeto de lei.

Do que tratam as ações em andamento no STF

As ações que podem revisar a regra do Marco Civil


da Internet estão prontas para julgamento. Além do
caso relatado por Dias Toffoli, há outra ação sob
relatoria de Luiz Fux – a diferença é que esta foi

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proposta antes da lei, editada em 2014. Mas o tema


é o mesmo: a possibilidade de punir as plataformas
pelo fato de deixarem no ar conteúdos
considerados ofensivos.

As ações em discussão no STF foram ajuizadas pelo


Google e pelo Facebook. Elas basicamente
recorreram de outras decisões judiciais que
impuseram a elas multas, de R$ 10 mil cada, por
causa de postagens ofensivas a pessoas inseridas
nas plataformas por terceiros.

No primeiro caso, uma professora de Belo


Horizonte acionou a Justiça em 2010, após se
deparar com um grupo, criado no antigo Orkut,
cheio de comentários de alunos contra ela. No
segundo caso, uma dona de casa do interior de São
Paulo notou que, em 2014, alguém criou um perfil
falso com seu nome e foto no Facebook que
disparava xingamentos contra seus familiares.

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Nos dois processos, as empresas concordaram em


remover essas postagens após uma ordem judicial,
mas não a pagar pelo tempo em que elas
permaneceram no ar antes de sua avaliação pelo
Judiciário, daí o recurso ao STF.

Nos últimos anos, porém, a discussão se ampliou e


agora se cogita responsabilizar diretamente as
plataformas não apenas por conteúdos ofensivos à
honra de uma pessoa, mas também aqueles
considerados nocivos ou danosos a autoridades,
instituições, minorias sociais, ou mesmo políticas
públicas.

O que há de comum entre as ações no STF e o PL


das Fake News

A hipótese de responsabilização das empresas por


manter no ar conteúdos desse tipo está prevista no
PL das Fake News. Ele diz que elas seriam obrigadas
a adotar um “dever de cuidado”, de modo que

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atuem de “diligentemente para prevenir ou mitigar


práticas ilícitas no âmbito de seus serviços”.

Pelo texto da proposta, para não serem punidas


com multas ou até suspensão de suas atividades, as
plataformas deverão provar ao poder público, com
relatórios e dados internos, que se esforçam para
combater a disseminação de conteúdos de terceiros
que possam configurar crimes contra o Estado
Democrático de Direito, terrorismo, racismo,
violência contra a mulher, infração sanitária,
instigação ao suicídio e violência contra crianças e
adolescentes.

Algo semelhante poderia ser feito no âmbito das


ações no STF. O Marco Civil da Internet já prevê que
as empresas podem ser punidas, independente-
mente de ordem judicial, caso mantenham no ar
conteúdo que viole direitos autorais ou divulguem
imagens íntimas não consentidas (os conhecidos

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“nudes” ou cenas de sexo não autorizadas). Há


bastante interesse da maior parte dos ministros em
abrir novas exceções, de modo que as próprias
plataformas sejam punidas caso não removam, por
iniciativa própria, aqueles outros conteúdos.
Bastaria que fossem notificadas extrajudicialmente
por usuários ou terceiros sobre eles.

É o que defenderam recentemente, numa manifes-


tação enviada à Corte, professores e pesquisadores
da FGV Direito Rio, instituição bastante influente
em discussões sobre direito digital. Como o Supre-
mo não pode reescrever a lei, a ampliação das
hipóteses de responsabilização direta das redes
seria feita por meio de uma técnica decisória
conhecida como “interpretação conforme a
Constituição”. Na prática, sem mexer no texto
legal, o STF decide como determinada regra – no
caso, o artigo 19 do Marco Civil da Internet – deve
ser aplicada.

Gazeta do Povo Revista – Ed.30 Maio/2023


39

“A ampliação do poder político-econômico das


grandes empresas de plataformas digitais e o
aprimoramento de suas técnicas de moderação de
conteúdo justificam a necessidade de imposição de
maiores deveres de diligência”, diz a manifestação
da FGV Direito Rio. Assim como o texto do PL das
Fake News, os autores dizem que elas devem
prevenir “riscos sistêmicos” consistentes na
violação de liberdades e direitos fundamentais que
possam conflitar com a liberdade de expressão dos
usuários.

O que dizem as plataformas no STF

Nos recursos junto ao STF, Google e Facebook


alegam que já removem, por iniciativa própria,
uma série de outros conteúdos que, além de ilegais,
também ferem seus termos e condições de uso,
sobretudo de incitação à violência e, recentemente,
também aquelas que lançam suspeitas sobre as

Gazeta do Povo Revista – Ed.30 Maio/2023


40

urnas eletrônicas – política adotada após pressão


do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no ano
passado. Mas consideram que o ideal é que o
Judiciário avalie e aponte o que deve ser removido,
de forma específica, caso a caso.

Se essa tarefa for imposta a elas, o risco é que,


diante da obrigação de retirar do ar conteúdos
proibidos com termos vagos, subjetivos e mutáveis,
a depender do contexto – tais como “antidemo-
cráticos”, “extremistas”, “odiosos”, etc. – a
tendência é que, para eliminar qualquer risco de
serem punidas com multas pesadas, elas passem a
apagar uma enorme quantidade de conteúdos que
possam ser interpretados assim, mesmo que sejam
perfeitamente lícitos – como uma crítica a alguma
autoridade ou política pública por exemplo –; daí
vem o risco de censura numa eventual revisão do
Marco Civil da Internet.

Gazeta do Povo Revista – Ed.30 Maio/2023


41

“Trocar a segurança do artigo 19 por um regime de


responsabilização baseado em critérios abertos ou
pouco precisos levaria a um cenário extremamente
problemático, com uma série de consequências
negativas. Incentivaria as plataformas a presumir a
ilegalidade de todo conteúdo controverso, porque
essa é a forma mais racional de evitar o risco de
responsabilidade civil. Desestimularia o comporta-
mento responsável das pessoas, na medida em que
a conta de sua irresponsabilidade seria transferida
para as empresas. E incentivaria uma enxurrada de
novas ações judiciais de indenização contra as
plataformas, muitas vezes motivadas pela facilida-
de de litigar sem custos”, disse, em recente
audiência pública sobre o tema no STF o advogado
e representante do Google Guilherme Sanchez.

Na mesma audiência, em nome do Facebook, o


advogado Rodrigo Ruf Martins alertou que eventual
revisão do artigo 19 do Marco Civil da Internet

Gazeta do Povo Revista – Ed.30 Maio/2023


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levaria as plataformas a um aumento expressivo de


remoção de “conteúdos críticos tão importantes
para o debate público e para a democracia”. “Eles
acabariam removidos, mesmo sem violar a lei ou as
políticas, mas como forma de mitigação de riscos
jurídicos. O efeito inibidor já é conhecido e poderia
levar ao comprometimento do exercício da
liberdade de expressão e tornaria a internet no
Brasil menos dinâmica e inovadora”, afirmou.

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Gazeta do Povo Revista – Ed.30 Maio/2023


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O ministro do STF Alexandre de Moraes.| Foto: Rosinei Coutinho/SCO/STF

PF liga caso de vacina de Bolsonaro


a urnas e milícias digitais para
manter ação com Moraes
Por Silvio Ribas e Renan Ramalho

O pedido da Polícia Federal que levou o ministro


Alexandre de Moraes, do STF, a determinar busca e
apreensão contra o ex-presidente Jair Bolsonaro
(PL), por suposta participação na inserção de dados
falsos de vacinação contra a Covid no Ministério da
Saúde, apontou uma possível ligação dos suspeitos

Gazeta do Povo Revista – Ed.30 Maio/2023


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com grupos que lideraram manifestações a favor do


governo em 7 setembro de 2021. O ato contou com
protestos contra o STF, o próprio ministro e tam-
bém contra as urnas eletrônicas. Por isso, a PF
pediu que o novo caso fosse investigado por Moraes
no âmbito do inquérito das "milícias digitais".

O caso também deveria tramitar no STF, conforme


a PF, porque a investigação constatou que o depu-
tado federal Gutemberg Reis (MDB-RJ) também
teria se beneficiado do esquema de falsificação. Ele
também foi alvo de busca e apreensão.

O inquérito das milícias digitais foi aberto por


Moraes em 2021, após o arquivamento, a pedido da
PGR, do inquérito dos "atos antidemocráticos".
Desde então, tem sido usado por Moraes para
investigar diversos fatos relacionados a um grupo
ligado ao ex-presidente que promoveria, nas redes
sociais, "ataques" às instituições.

Gazeta do Povo Revista – Ed.30 Maio/2023


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Para manter o caso do cartão com Moraes, a PF


afirmou que haveria agora uma "materialização no
mundo real dos objetivos" desse grupo, "transbor-
dando sua atuação para além da esfera virtual".
"Seja nas redes sociais, seja na realização de
inserções de dados falsos de vacinação contra a
Covid-19, ou no planejamento de um golpe de
Estado, o elemento que une seus integrantes está
sempre presente, qual seja, a atuação no sentido de
proteger e garantir a permanência no poder das
pessoas que representam a ideologia professada".

Depois, faz menção ao chamado "gabinete do


ódio", que é a forma como opositores de Bolsonaro
se referem a um grupo de assessores da Presidência
que defendiam o governo e criticavam adversários
nas redes. Os investigados no caso da falsificação
de comprovantes de vacinas, no entanto, são
outros: basicamente, militares que tinham cargos
de ajudantes de ordens do ex-presidente. Ainda

Gazeta do Povo Revista – Ed.30 Maio/2023


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assim, o delegado do caso, Fábio Shor, apontou


uma relação em razão da "difusão de notícias falsas
envolvendo a pandemia e ataques à vacinação
contra covid-19".

"A estrutura criminosa criada no município de


Duque de Caxias/RJ foi utilizada para propiciar que
pessoas do círculo próximo do ex-Presidente da
República Jair Bolsonaro pudessem burlar as regras
sanitárias impostas na Pandemia da covid-19 e por
outro lado, manter coeso o elemento identitário do
grupo em relação às suas pautas ideológicas, no
caso, sustentar o discurso voltado aos ataques à
vacinação contra a Covid-19", diz o pedido da PF,
assinado por Shor.

"A recusa em suportar o ônus do posicionamento


contrário à vacinação, associada à necessidade de
manter rígida, perante seus seguidores, a ideologia
professada (não tomar vacina contra a Covid-19),

Gazeta do Povo Revista – Ed.30 Maio/2023


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motivaram a série de condutas criminosas


perpetradas", complementou o delegado.

Manutenção do caso com Moraes

A investigação da PF tem como um dos alvos prin-


cipais o coronel Mauro Cid, auxiliar direto de
Bolsonaro, que cuidava de assuntos pessoais do
ex-presidente. Em 2021, conforme as investiga-
ções, Cid teria acionado servidores para inserir
dados falsos de vacinação em favor de sua mulher
e, posteriormente, articulado o mesmo artifício
para outros ajudantes de Bolsonaro, para que
pudessem viajar ao exterior. A investigação desco-
briu que foi inserido no sistema do Ministério da
Saúde a informação que o ex-presidente e sua filha,
Laura, teriam sido vacinados, o que não ocorreu.

Na tentativa de justificar a manutenção do caso


com Moraes, Shor ainda disse, no pedido de busca e
apreensão, que a "milícia digital" também estaria

Gazeta do Povo Revista – Ed.30 Maio/2023


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ligada às manifestações nas portas de quartéis que


protestaram contra a eleição do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, resultando, em Brasília, na
invasão das sedes dos Poderes em 8 de janeiro. O
caso também é investigado por Moraes no STF.

O pedido da PF relaciona o caso dos dados falsos de


vacinação às chamadas milícias digitais ao citar
mensagens de áudio e mensagens de texto do celu-
lar de Ailton Gonçalves Barros, ex-militar e
advogado que também teria participado da fraude
ao sistema de registro de imuninzação. A PF diz que
conversas captadas em seu WhatsApp "constata-
ram que o investigado tinha proximidade com
integrantes de grupos que lideraram as manifesta-
ções ocorridas no dia 07 de setembro, possivel-
mente do ano de 2021, se colocando à disposição
para inserir pautas de ataque ao STF, ao Ministro
Alexandre de Moraes e ao sistema eletrônico de
votação".

Gazeta do Povo Revista – Ed.30 Maio/2023


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"As imagens capturadas de diálogos indicam


inclusive que Ailton Barros trocava mensagens
sobre os referidos temas com o contato registrado
como 'PR01', chamado pelo investigado de 'PR',
possivelmente se referindo ao ex-Presidente da
República Jair Messias Bolsonaro, revelando sua
atuação como um dos propagadores da ideologia
professada pela milícia digital investigada nos
autos do Inq. 4874/DF", diz ainda a PF, em
referência ao inquérito das milícias digitais.

Ao acatar o pedido da PF, Moraes considerou que as


condutas dos auxiliares de Bolsonaro são "ilícitas e
gravíssimas", pois "buscaram por meios ilícitos as
benesses advindas da política pública de vacina-
ção". Para o ministro, haveria uma organização
criminosa "com divisão de tarefas e de múltiplos
objetivos, tanto no âmbito particular dos investi-
gados, como em aspectos relacionados ao interesse
público, em detrimento da credibilidade interna e

Gazeta do Povo Revista – Ed.30 Maio/2023


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externa do exemplar controle de vacinação


nacional em pleno período pandêmico". Nisso
residiria a ligação, na visão de Moraes, com os
inquéritos das fake news e das milícias digitais.

Na visão de Moraes, o envolvimento de Bolsonaro


estaria no "notório posicionamento público do
político contra a vacinação e da investigação em
curso na CPI da Pandemia e na Suprema Corte".
Assim, seria "plausível e lógica" a linha investiga-
tiva que apura a possibilidade do ex-presidente, de
maneira velada, "ter buscado vantagens próprias e
para terceiros por meio da inserção de dados falsos
nos sistemas do SUS, visando à efetiva imunização,
especialmente considerado o fato de não ter
conseguido a reeleição nas Eleições Gerais de
2022".

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Gazeta do Povo Revista – Ed.30 Maio/2023


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O prefeito de Araucária, Hissam Hussein Dehaini, de 65 anos, com a esposa, Kauane


Rode Camargo, de 16 anos. | Foto: Reprodução

Um prefeito de 65 anos se casou com


uma menor de idade. As implicações
legais e morais deste caso
Por Tiago Cordeiro

Do ponto de vista da legislação, não há nada de


ilegal em casamentos de adolescentes com 16 a 18
anos de idade — desde que os responsáveis legais
tenham autorizado a união em cartório; se, um dos
dois, o pai ou a mãe, não concordarem, apenas um

Gazeta do Povo Revista – Ed.30 Maio/2023


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juiz pode autorizar o enlace. O que é estritamente


proibido, sem exceção alguma, desde março de
2019, é o casamento de menores de 16 anos.

Até quatro anos atrás, era possível se casar com


meninas menores de 16, desde que elas estivessem
grávidas ou concordassem em se unir a um homem
que tenha abusado delas — assim, ele se livrava da
acusação de estupro, passível de pena de até 15
anos de reclusão.

Atualmente, manter relações sexuais ou atos


libidinosos com crianças e adolescentes, meninos
ou meninas, antes que eles completem o 14º
aniversário, configura estupro de vulnerável,
mesmo que tenha havido consentimento verbal.
Para os 14 aos 16 anos, o consentimento ainda é
levado em consideração para julgar se houve crime.

Foi nesse contexto que a notícia de que o prefeito


de Araucária (PR), Hissam Hussein Dehaini, de 65

Gazeta do Povo Revista – Ed.30 Maio/2023


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anos, se casou com Kauane Rode Camargo, de 16


anos, correu o Brasil e repercutiu em dezenas de
veículos de imprensa. Por que isso acontece?
Afinal, por que este casamento provoca tanta
controvérsia?

Prejuízo para o futuro

Existe um movimento global para combater o


casamento de jovens menores de 18 anos. Para o
Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF),
qualquer união, formal ou informal, de menores
desta idade, é considerada casamento infantil. A
UNICEF argumenta que esta situação precisa ser
combatida porque, em geral, ele reduz o acesso das
meninas a oportunidades em escolaridade e
trabalho — o mais comum é elas atuarem como
mães e donas de casa, em uma idade em que
poderiam estar trabalhando ou estudando.

Gazeta do Povo Revista – Ed.30 Maio/2023


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Ainda assim, esta continua sendo uma tendência


mundial, especialmente nos países
subdesenvolvidos ou em desenvolvimento. A
UNICEF estima que 26% das adolescentes
brasileiras se casaram ou foram morar com seus
parceiros antes de alcançar 18 anos.

O percentual se mantém ao longo dos últimos 25


anos e é semelhante aos 25% de média da América
Latina. Um levantamento realizado pela Associação
Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais
(Arpen) a pedido do jornal O Globo reforça o quanto
a prática permanece corriqueira: entre 2021 e
março deste ano, 7.228 menores de idade se
casaram no Brasil.

“Apenas proibir o casamento não resolve, muitas


das uniões acabariam acontecendo da mesma
forma. Mas, do ponto de vista de igualdade de
oportunidades entre homens e mulheres, o

Gazeta do Povo Revista – Ed.30 Maio/2023


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casamento de meninas adolescentes é muito


ruim”, avalia Raul Araújo, presidente do Instituto
Brasileiro de Direito da Criança e do Adolescente
(IBDCRIA).

Ele lembra também que a faixa de idade de


consentimento, de 14 a 16 anos, é foco de intensos
debates no mundo. “Há uma linha de pensamento
que defende que, nestes casos, mesmo com o
consentimento declarado, a diferença de idade dos
dois envolvidos seja de no máximo cinco anos. Na
Suíça, por exemplo, é assim”.

Além disso, para evitar as situações em que


meninas jovens saem de casa por falta de opções ou
arranjos familiares em busca de um maior conforto
financeiro, ele recomenda que esta faixa etária seja
alvo de ações específicas, sociais, educacionais e
econômicas. “Também é importante aplicar a
legislação que coíbe o abuso. Em casos de

Gazeta do Povo Revista – Ed.30 Maio/2023


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concessão da menor, por parte da família, em troca


de ganhos econômicos, a motivação financeira
pode configurar exploração sexual”.

Ainda que a humanidade tenha avançado em uma


série de questões morais nas últimas décadas, as
mulheres continuam sendo vítimas de conceitos
morais antiquados, como lembra Kwame Anthony
Appiah no livro O código de honra: Como ocorrem
as revoluções morais.

Ele argumenta: “A prática da morte por questão de


honra — que, embora também seja teoricamente
aplicável aos homens, na imensa maioria das vezes
volta-se contra as mulheres — serve não só para
aterrorizar muitas mulheres e obrigá-las a aceitar
abusos conjugais, como também para oferecer aos
homens uma forma de se livrar impunemente de
mulheres inconvenientes”.

Gazeta do Povo Revista – Ed.30 Maio/2023


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Ações sob investigação

No caso de Araucária, rapidamente o debate migrou


para as acusações de nepotismo, já que a mãe da
menina, que já era diretora-geral na Secretaria
Municipal de Educação, foi nomeada secretária de
Cultura e Turismo, com aumento significativo de
salário, 24 horas após o casamento — ela foi
exonerada diante da repercussão do caso.

Existe a possibilidade de o episódio ser investigado,


considerando que ele conheceu a jovem quando ela
tinha 15 anos e eles se casaram exatamente um dia
após ela ter completado 16. É possível que o
relacionamento tenha se iniciado antes de ela
completar a idade autorizada por lei? “O Ministério
Público do Paraná informa que há procedimentos
em andamento sobre o caso. Como envolve
adolescente, por força de lei, todas as informações

Gazeta do Povo Revista – Ed.30 Maio/2023


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referentes ao fato em apuração são sigilosas”,


responde o MPF, via assessoria de imprensa.

No passado, o prefeito chegou a ser detido, em


março de 2000, por 60 dias, acusado por uma
Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) de
envolvimento com narcotráfico. Foi indiciado por
envolvimento com tráfico de drogas, furto e
desmanche de veículos, concussão, extorsão,
corrupção ativa e passiva, mas inocentado pelo
Ministério Público por falta de provas em 2010.

"Dilemas morais complexos"

No momento em que o casamento começou a


ganhar repercussão, a cobertura jornalística se
dividiu quanto à escolha das imagens que
acompanhavam a notícia. Alguns veículos optaram
por utilizar apenas fotos do prefeito, outros
publicaram um registro do casal, inclusive nas
capas de seus portais.

Gazeta do Povo Revista – Ed.30 Maio/2023


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Expor a menina representaria um descumprimento


do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)?
Afinal, em seu artigo 17, a lei estabelece: “A
promoção dos direitos e proteção da criança e do
adolescente deve ser efetuada no respeito pela
intimidade, direito à imagem e reserva da sua vida
privada”.

Silvana do Monte Moreira, presidente da Comissão


Nacional de Adoção do Instituto Brasileiro de
Direito de Família (IBDFAM), especialista no
Estatuto da Criança e do Adolescente, explica que,
neste caso, nenhum crime foi cometido. “Em
termos legais a idade núbil, ou seja, a idade mínima
para contrair matrimônio, é de 16 anos. Assim, os
pais ou responsáveis pela adolescente que se casou
com o idoso, obrigatoriamente deram autorização
para o casamento. Com a autorização concedida à
referida adolescente de 16 anos ocorre o casamento
e a consequente emancipação”.

Gazeta do Povo Revista – Ed.30 Maio/2023


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Emancipada, a jovem não se enquadra mais nos


critérios do ECA em relação à proteção de sua
imagem. E o casamento representa uma forma de
alcançar a emancipação, explica Moreira. “O
Código Civil prevê três espécies de emancipação: a
voluntária, feita em cartório pelos pais e independe
de homologação judicial, a judicial, pleiteada
judicialmente pelo tutor em favor de seu tutelado
ou pupilo, e a legal, resultado de casamento,
colação de grau em instituição de ensino superior e
se a(o) adolescente, aos 16 anos, já possui renda ou
economia própria”.

Para o professor de filosofia e colunista da Gazeta


do Povo Francisco Razzo, à parte questões legais,
há em curso uma mudança na percepção a respeito
do casamento. Se o matrimônio até há poucas
décadas era validado por instituições religiosas,
hoje tem majoritariamente status civil — que por
sua vez reforça um aspecto antigo, o de arranjo

Gazeta do Povo Revista – Ed.30 Maio/2023


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social entre famílias diferentes, que


tradicionalmente utilizam a instituição para criar
vínculos.

Mas, para ele, há uma certa hipocrisia em


questionar o casamento de uma adolescente de 16
anos, quando esta é a idade mínima para escolher
governantes. “A reação ao caso de Araucária revela
dilemas morais complexos. Ao mesmo tempo em
que os adolescentes são cada vez mais sexualizados
nas redes sociais, a internet tem se tornado um
tribunal de exceção, em que é possível julgar e
condenar, destruindo reputações e carreiras”.

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Gazeta do Povo Revista – Ed.30 Maio/2023


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Trator movido a biometano ao lado de estação de abastecimento da fazenda SF, em


Brasilândia (MS).| Foto: Divulgação/New Holland

Agro avança para dar adeus ao


diesel e fabricar combustível nas
fazendas
Por Marcos Tosi

O óleo diesel consumido por tratores, caminhões e


colhedeiras é um dos insumos que mais pesam na
planilha de custos dos agricultores brasileiros,
chegando a responder por até 30% dos gastos de
colheita. A guerra da Ucrânia e as instabilidades do

Gazeta do Povo Revista – Ed.30 Maio/2023


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mercado só têm feito essa conta aumentar. “Tenho


64 anos e pela primeira vez na vida eu vejo o preço
do diesel mais caro que o da gasolina”, diz Fábio
Pimentel de Barros, sócio-proprietário da granja de
suinocultura da SF Agropecuária em Brasilândia,
no Mato Grosso do Sul.

O preço do combustível, contudo, já não tira o sono


de Barros. Ele largou na frente e poderá se tornar o
primeiro produtor brasileiro a declarar indepen-
dência em relação ao óleo diesel. Os dejetos da
granja de suínos já produziam biogás para gerar
energia elétrica. Agora, o gás passa por mais um
estágio de transformação, e agregação de valor, por
meio da separação do metano, que é usado para
mover um trator de 180 cavalos da New Holland.
Barros é o primeiro agricultor do país a comprar o
modelo T6 180 Methane Power, que reduz a
emissão de poluentes em até 80% na comparação
com um motor diesel padrão.

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À parte os benefícios ambientais do uso do


biometano – se livrar de um passivo de excremen-
tos, produzir adubo orgânico e sequestrar um
poderoso gás de efeito estufa –, o resultado econô-
mico fala por si só. A começar pela elegibilidade
para créditos de descarbonização do programa
Renovabio, que as distribuidoras são obrigadas a
comprar. Mas também na comparação financeira
direta entre biometano e óleo diesel.

Economia perto de 90% em relação ao diesel

“O preço do litro de óleo diesel e do metro cúbico


do gás (GNV), na bomba, se equivalem. Mas devido
à redução do consumo do trator movido a metano,
você já sai com uma vantagem de 40%. Só que o gás
está aqui, eu vou vender para mim mesmo. E o
preço do gás produzido na fazenda é de apenas R$ 1
o metro cúbico. Daí a vantagem econômica passa a
ser de 90%”, sublinha Barros.

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O biometano, assim, seria “três vezes mais vanta-


joso” em termos de economia do que o próprio
biogás, usado na geração de energia elétrica.

Barros investiu cerca de R$ 1 milhão na compra do


trator T6 da New Holland, movido a biometano,
cujos protótipos estava em testes no país há seis
anos. Para viabilizar a inovação tecnológica, contu-
do, o empresário precisou implantar o seu próprio
posto de combustível. No caso, uma estação com-
pacta de purificação e compressão do gás natural
desenvolvida em parceria da New Holland com as
empresas Sebigas Cotica (instalação do biodiges-
tor), Air Liquide (purificação do biogás) e FPT
(motor a gás cogerador de energia elétrica).

Joint-ventures assim já ocorreram na Europa, onde


a tecnologia do biometano está mais madura, mas
nunca tinham chegado à redução de escala obtida
no Brasil, nem a uma solução integrada. Enquanto

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aqui a estação já pode ser movida com produção de


50 m3 de gás por hora, na Europa o mínimo exigido
costuma variar entre 1 mil e 5 mil m3 por hora. Isso
abre a possibilidade de que a tecnologia para
geração de energia e combustível próprios, já
utilizada por gigantes como a Raízen, chegue
também para milhares de suinocultores,
avicultores, criadores de gado de leite e de corte.

“É diferente de qualquer lugar do mundo. Essa


solução antes não tinha escala nem estava integra-
da. Se você quisesse ter um equipamento, tinha que
comprar um sistema de purificação e um sistema
de compressão e fazer a interligação pela sua
própria lógica. Aqui nós temos tudo integrado, de
forma viável, segura e robusta para o produtor
rural”, diz Caio Mogyca, diretor de desenvolvimen-
to da Air Liquide para a América do Sul.

A diminuição de escala representa democratização

Gazeta do Povo Revista – Ed.30 Maio/2023


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e oferta de biometano no país inteiro, na avaliação


de Alessandro Garnemann, presidente da Associa-
ção Brasileira de Biogás (Abiogas).

“É economia circular na veia, agrega a substituição


de combustíveis caros como o diesel e o GLP,
trazendo segurança energética. A gente não pode
esquecer que o biometano foi regulado não faz nem
cinco anos. E só o projeto de infraestrutura, e seu
desenvolvimento, leva dois a três anos. A oferta do
trator a gás é a grande prova da viabilidade e da
importância deste combustível. Acho que o ciclo
todo está se fechando, tem tecnologia, tem
matéria-prima disponível, tem oferta de equipa-
mento. Agora passam a surgir os projetos de
referência, tais como esse que a New Holland
inaugurou”, enfatiza Garnemann.

O investimento do produtor pioneiro do Mato


Grosso do Sul na estação foi de R$ 1,7 milhão, que

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deve se pagar em dois a quatro anos, em função da


economia com o diesel. Em paralelo, o empresário
começou um projeto para substituir os caminhões
por modelos movidos a gás. O biometano tem a
mesma especificação e se equivale ao gás natural
extraído do petróleo.

Biometano poderia substituir 70% do diesel

Atualmente existem no país mais de mil plantas de


biogás, utilizado prioritariamente para geração de
energia. Isso coloca o país no quinto lugar mundial
neste mercado, atrás apenas de Alemanha, China,
Estados Unidos e Itália. Apesar disso, o Brasil
utiliza apenas 3% das matérias-primas orgânicas
disponíveis para produção de gás renovável, como
dejetos de animais, descartes de frigoríficos e
resíduos agrícolas. Se todo o potencial fosse
aproveitado, seria possível substituir 70% do
consumo nacional de óleo diesel.

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O desafio agora é expandir esse ecossistema do


biometano. O que depende tanto da propaganda
boca a boca dos produtores como do incentivo de
governos e entidades para adoção da tecnologia.
Segundo a Abiogás, há 41 projetos de usinas que
devem decolar até 2027, elevando a produção atual,
de 400 mil m3 diários, para quase 3 milhões.

“As expectativas são as melhores possíveis. Não se


trata de apenas um trator, mas de todo um
ecossistema. Tecnologia nós já temos. O potencial é
muito grande pelo lado da sustentabilidade, da
substituição dos combustíveis fósseis, da
autossuficiência energética”, diz Claudio Calaça,
diretor de mercado da New Holland no Brasil.

*O jornalista viajou a convite da New Holland.

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PARA SE APROFUNDAR

● Transferência de tecnologia da Embrapa para a


África pode criar concorrentes para o agro do
Brasil

● Governo quer usar CPMI do 8 de janeiro para


investigar parlamentares da oposição

● Promessas de Lula, despesas sem limite e falta de


punição jogam contra meta fiscal

● País do Mensalão e do Petrolão, Brasil é um dos


piores colocados em ranking da impunidade

● O que você precisa saber sobre a nova variante da


Covid-19, a Arcturus

● Sudão foi só o começo: como o clima pode acirrar


conflitos na região do Nilo

● Filme sobre poeta Bruno Tolentino fecha trilogia


conservadora de Josias Teófilo

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71

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