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CADERNO DE FORMAÇÃO n.

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CUIDADOS
MILITANTES
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO 04
CULTURA 06
APRENDIZADOS 08
VALORES QUE 10
DEVAMOS CULTIVAR

INTELIGÊNCIA 19

CUIDADOS BÁSICOS 29

CUIDADOS COLETIVOS 30

CUIDADOS COM TELEFONE 45

CUIDADOS COM OS 50
COMPUTADORES
E REDES SOCIAIS

REFERÊNCIAS 60
PARA ESTUDO

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APRESENTAÇÃO
Companheiros e companheiras,

Estamos vivendo um período de grande


crise econômica, não apenas no Brasil, mas
internacionalmente. Para que possa recuperar sua
taxa de lucro, o Capital adota duas táticas: esgotar
os bens da natureza, extraindo os recursos naturais
dos países pobres ou em desenvolvimento para
se transformarem em mercadorias nos países
ricos; e retirar os direitos dos trabalhadores e os
investimentos sociais do Estado, para que eles
estejam disponíveis apenas para grandes empresas,
na forma do pagamento de juros aos bancos ou de
grandes incentivos. Estas medidas são impopulares e
agravam as contradições sociais.

Por isso, para realizar o seu projeto, o Capital e seus


governos precisam impor pela força seus interesses,
excluindo o povo. Esta imposição pode ser pela força
política, mas também pela repressão policial militar
para evitar manifestações, protestos e organização.

Por isso, usam ações como as infiltrações, prisões


arbitrárias, violência nas manifestações e instauração
de processos. No Plano Nacional de Inteligência,
apresentado em junho de 2016, está claro que os
sistemas de inteligência do Governo Federal devem
priorizar os “inimigos internos” e para isso sugerem
o monitoramento, a vigilância e a infiltração nos
movimentos populares. Por outro, seguindo as linhas
políticas dos Estados Unidos, praticam o desrespeito
aos direitos dos cidadãos em nome do “combate ao

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terrorismo”, e assim o legislativo e o judiciário brasileiro
também adotaram medidas que restringem o direito.

Por exemplo, a chamada lei das organizações


criminosas e trouxe técnicas de investigação dos
EUA, como a figura do agente infiltrado e a delação
premiada, e possibilitou a punição por “obstruir a
justiça” com a mesma pena de quem articula uma
organização criminosa. Essas novas leis penais, foram
aprovadas com a pressão das associações de órgãos
como do Judiciário, Ministério Público e Polícia Federal.

Na prática, o Judiciário quer considerar que a opinião
e a interpretação do Ministério Público e dos Juízes é
mais importante do que descreve a lei, além disso, o
Juiz está acima da sociedade e pode tomar a medida
que quiser porque os “fins justificam os meios”. Na
prática, o Poder Judiciário inverte a lógica do direito
e transforma todo o cidadão em culpado até que o
próprio acusado prove sua inocência.

Estas ações querem amedrontar e desmobilizar


aqueles que lutam pelos direitos sociais.

Este cenário exige que os lutadores e lutadoras


não procurem saídas mágicas como o heroísmo,
subestimar o adversário ou querer enfrentar combates
superiores as próprias forças. A nossa força está no
número de pessoas que tenhamos organizado! E assim
também evitarmos as provocações, as infiltrações e
as ações impensadas que só ajudam a criar a cena
para a criminalização e a repressão.

O objetivo desta cartilha é fornecer informações que


nos ajudem a enfrentar este momento difícil, protegendo
aquilo que temos de mais importante: a nossa militância.

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1 . C U LT U R A

Todo Movimento Popular deve estar preparado


para enfrentar a repressão e a violência. Entre as
intenções das classes dominantes estão criminalizar
as atividades do Movimento, perseguir lideranças pela
criminalização política, jurídica e moral.

Isto significa que a Organização como um todo e


cada militante deve adotar uma cultura de segurança.
Ou seja, adotar técnicas e comportamentos que evitem
que a repressão seja eficaz, construir hábitos que
garanta nossos direitos e nossa segurança individual
e coletiva, conhecer quais são os comportamentos
que por desconhecimento, esquecimento ou fraqueza
pessoal podem comprometer uma atividade ou
mesmo toda a Organização. Quando os militantes
assumem esta consciência da segurança, ela se
torna uma cultura e se multiplica e reproduz entre os
militantes mais novos e torna tanto as violações de
segurança inaceitáveis, como faz do nosso Movimento
mais forte e protegido.

Quanto mais avançarmos, menores serão as nossas


perdas humanas e materiais, mas principalmente mais
teremos avançado em nossa construção como como
militantes populares conscientes dos desafios que a
luta de classes nos coloca.

Para isso, é preciso ter clareza que a classe


dominante usa dos seguintes métodos:

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1. A inteligência: não existe pressa, eles vão pesquisar
exatamente quem é a liderança, onde ela vai, o que
faz. Inteligência é sempre o primeiro passo.

2. Infiltração: Método de colocar para dentro das


nossas mobilizações agentes deles, como policiais,
agentes da inteligência, que estudarão os nossos
métodos ou mesmo causar algum tipo de estrago.

3. Monitoramento.

4. Contrainformação

5. Desmobilização: A falta de conquistas, de vitórias


concretas desmobiliza a militância.

6. Repressão: quando as outras formas e métodos


não funcionam a repressão é o método de conter o
avanço dos movimentos.

Estes métodos têm como objetivos:


- Desmoralizar as lideranças
- Desmoralizar a organização
- Esvaziar as Bandeiras de luta.

Assim entendemos que estamos em um período
de defensiva contra a criminalização não estamos
em um período de ofensiva. Por isso, três pontos são
fundamentais para começar o debate da Segurança:
Segurança da Organização, de pessoas e das
mobilizações.

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2. APRENDIZADOS

Já aprendemos com Florestan Fernandes: Para


um movimento social resistir e sobreviver, é preciso
não se deixar cooptar, não se deixar dividir, não se
deixar esmagar e obter conquistas!

Nesta frase, Florestan conseguiu descrever quais


são as formas que as classes dominantes utilizam
para derrotar ou aniquilar definitivamente a luta dos
trabalhadores.

A cooptação é a tentativa das classes dominantes


em nos ganharem para o seu lado. Pode ser uma
cooptação coletiva, de toda a organização, quando
oferecem pequenas conquistas, benefícios ou migalhas
para que o Movimento não faça lutas. A cooptação
pode ser individual, convidando para cargos no governo,
bajulando para ganhar a amizade e até mesmo a
compra de lideranças com dinheiro. Enfrentamos a
cooptação com o princípio da direção coletiva.

A divisão é quando a classe dominante estimula


rachas, disputas internas e brigas para quebrar a
unidade do Movimento. Além da direção coletiva, o
Centralismo democrático é outro princípio, junto com a
disciplina, que nos ajuda a combater a esta ameaça. Ou
seja, no MST, discutimos o tempo que for necessário,
mas quando tomamos uma decisão, independente da
posição que tínhamos antes, todos assumimos esta
decisão e nos esforçamos para cumpri-la.

Para nos esmagar, a elite utiliza da criminalização,

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policial ou moral. A intenção é nos desmoralizar perante
a sociedade e justificar as ações contra o Movimento.
Uma das formas de desmoralização é acusar o
Movimento de violento, de desvios econômicos, de
criminoso, etc. Também fez parte desta ação, perseguir
as entidades que apoiam a luta, com Comissões
Parlamentares de Inquéritos (CPI) acusando estas
entidades de desvios de recursos públicos, para criar a
ideia de que o Movimento é fraudulento ou corrupto.
Para combater estas acusações, sempre foi necessário
fortalecer nossa relação com o conjunto da sociedade
para denunciar, esclarecer, construir ações simpáticas
e aproximar do Movimento.

A criminalização também pretende tirar a


liberdade das lideranças do Movimento, através de
ações de inquéritos, reintegração de posse, processos,
condenações e prisões. Assim, repetindo processos
sobre um mesmo grupo de lideranças, criando uma ficha
criminal das mesmas até sua prisão ou recuo na luta.

Quando a desmoralização e a criminalização


policial jurídica não é suficiente, então a burguesia parte
para a eliminação física, encomendando o assassinato
das lideranças ou atacando acampamentos e
assentamentos com jagunços ou policiais.

A ofensiva do inimigo vem sempre quando


o movimento demonstra força e entra na luta
econômica (mexendo com o capital ou patrimônio da
burguesia) e também quando o Movimento incorpora
lutas gerais, ganhando/fortalecendo o apoio que tem
na sociedade. A ofensiva vem em atos mais fortes
de enfrentamento do movimento, para caracterizá-lo
como violento.

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3. VALORES QUE
D E V E M O S C U LT I V A R

Muitas das informações que a repressão possui


sobre os movimentos é passada pelos próprios
militantes ou muitas vezes a postura equivocada
coloca a própria pessoa e sua organização em risco,
por descuido, por inexperiência ou por desvios. São
comportamentos de “quebra de segurança”.

O principal risco é o “exibicionismo”: O militante


que numa tentativa de tentar impressionar outras
pessoas, revela informações importantes sobre ações
e o funcionamento interno do Movimento. Pode
ocorrer para querer impressionar outros militantes
ou a imprensa; pode ocorrer para querer impressionar
numa negociação (a polícia, o latifúndio, etc) e se
apresentar como o representante dos trabalhadores;
para querer o reconhecimento de uma autoridade
(prefeito, governador, delegado, etc). As pessoas
mais propensas a quebrar a segurança são aquelas
que tem problemas de autoestima e desejam muito
a aprovação social de outra pessoa, da própria
organização ou não.

Outro comportamento comum é o militante


que expõe questões ou debates em lugares públicos
como em bares, no táxi ou no ônibus. Outro desvio
comum é a falta de planejamento e o despreparo
para ações coletivas. Há ainda o equívoco de estar
identificado como militante do Movimento em
situações que oferecem riscos, como estar sozinho.

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Alguns destes desvios podem ser cometidos por
inexperiência. Mas os mais graves são aqueles que
são fruto da sociedade em que vivemos. Lutamos pela
transformação da sociedade, mas nascemos e fomos
criados dentro desta sociedade e de seus valores
como individualismo, a competição, oportunismo,
etc. E estes valores permanecem dentro de nós e
muitas vezes movem nossas ações, consciente ou
inconsciente.
Já se disse que valores se combatem com
valores, quer dizer, a superação de comportamentos
negativos, prejudiciais ao desenvolvimento da luta e
da consciência somente pode ser feita com eficácia
se nos preocupamos em construir simultaneamente
exemplos de comportamentos positivos, com
fundamento na solidariedade, que é ao mesmo
tempo, nosso objetivo e nossa maior força.
Em outras palavras, o desafio que temos pela
frente está centrado principalmente na área da
formação do militante, pelo que as atividades a serem
realizadas deverão sê-lo em todos os momentos de
nossas atividades, de nossas vidas.

Entre os valores que devemos fortalecer


constantemente estão:

a) Disciplina

Para nós, a disciplina não é apenas o


cumprimento dos horários ou das tarefas. É muito
mais amplo do que isso: a disciplina é comprometer-
se com a decisão da maioria. Em nosso Movimento,

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temos a cultura de debater as decisões o tempo
que seja necessário e procurar construir consensos
para as decisões. Quando tomamos a decisão final,
independente da posição que defendíamos antes,
ser disciplinado é acatar e assumir a decisão coletiva.
Ser disciplina é, portanto, colocar em prática as linhas
políticas, as ações e as divisões de tarefas construídas
coletivamente. E não as vontades individuais.

b) Direção e ação coletiva

Vinculado a disciplina, está o valor da direção


e ação coletiva. O Movimento tem sua força nas
massas e em quanto mais gente participa e atua
nele. Ninguém tem sozinho as respostas para as
soluções, nem sabe de tudo. Por isso, as instâncias
coletivas são os espaços para construirmos nossas
decisões, reunindo a experiência de todos e todas, os
diferentes pontos de vista e tendo a maturidade de
construir sínteses coletivas. Mas não só a elaboração
e a decisão deve ser coletiva, uma instância só
funciona se há divisão de tarefas, se todos e todas tem
responsabilidades e funções nas decisões tomadas e
na sua implementação. Saber atuar em coletivo é um
valor importante para nossa organização.

c) Humildade

Muitos militantes mais jovens têm “pressa” e


“vontade de agir” e desconsideram as experiências dos
mais antigos. Muitos militantes mais velhos acham
que por já estarem há muito tempo na organização
não precisam aprender mais nada, já sabem de tudo.

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Outros querem que a realidade caiba na sua vontade,
querem realizar ações do jeito que gostariam e não
como é possível. Por tudo isso, os militantes devem
cultivar permanente a humildade, não se colocarem
acima de ninguém, de nenhuma instância, nem acima
da nossa Organização, dos coletivos e muito menos
da realidade. Ser humilde é reconhecer que estamos
sempre em construção, sempre há o que aprender
e portanto é preciso ouvir a todos e todas, respeitar
o tempo do povo e da formação da militância,
conhecer a realidade onde vai atuar (como vivem, o
que movimenta, que valores e que cultura tem neste
local).

d) Estudo

A luta de classes é dinâmica e permanente a


burguesia desenvolve novas formas de dominação,
de opressão e de combate aos trabalhadores
e trabalhadoras. Se estamos em construção
permanente, é preciso aprender e estudar. Desde os
livros, mas também com outras experiências, buscar
dados e informações daquela realidade ou daquela
situação. O militante que não estuda, vai ficando para
trás, porque não consegue entender as mudanças
que acontecem na luta e na conjuntura e por isso
também não consegue ter propostas coerentes com
os novos desafios.

Por outro lado, os elementos da ideologia burguesa


que prejudicam nosso trabalho e nossa segurança,
resumidamente, são:

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a) Individualismo

Assim como o valor da solidariedade é o mais


importante dos valores da ideologia dos trabalhadores,
o primeiro e mais importante elemento da ideologia
burguesa é o individualismo. É com base nele que
a burguesia justifica a exploração dos trabalhadores.
O individualismo é o valor burguês pelo qual se
privilegia o interesse do indivíduo em detrimento do
interesse da coletividade, do conjunto das pessoas.

É por isso – por não sermos capazes de sentir


como próprios, na própria carne as sensações alheias
– que as nossas sensações acabam sendo postas por
nós acima das dos demais. Esse elemento ideológico,
o mais central de todos, tem de ser, e é vendido a
toda a sociedade permanentemente, aparecendo
com as mais diversas roupagens.

Essa vertente primeira do individualismo está


muito presente em nós, quando nos esquivamos de
tarefas que temos condição de cumprir sabendo que
isso acarretará que outro a faça; quando achamos
que as ações e atividades não saem como queremos,
por culpa dos outros, quando não dividimos e
partilhamos as tarefas com os outros. É somente
essa consciência e esse enfrentamento permanente
e de ordem coletiva que poderemos superar.

b) Comodismo

Quantas vezes preferimos o caminho mais


curto, a opção mais simples, sem ter em conta os

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riscos que dela decorrem. Esse comodismo traz em
si o mesmo valor do individualismo, que põe o nosso
prazer ou o nosso lazer acima dos interesses de
nosso movimento.

c) Autorreferência

O individualismo se manifesta também como


o sentimento de que cada um de nós é mais
importante que os demais. Essa modalidade de
individualismo se manifesta quando companheiros se
tornam boquirrotos, contando vantagens, afirmando
que fez ou que vai fazer, ou que alguém fez ou vai
fazer tal ou qual coisa, buscando, assim, mostrar que
é importante, poderoso.

d) Oportunismo

Outra grave manifestação do individualismo é o


oportunismo, mecanismo pelo qual nos permitimos
tirar vantagens pessoais de determinadas situações
aparentemente de interesse coletivo. É o que
acontece quando companheiros, sob a desculpa de
que o fazem para proteger outros, apresentam-se
como os chefes, líderes, etc, favorecendo a atitude
inimiga de personalizar nossa luta, essencial para sua
criminalização.

e) Autossuficiência

O autossuficiente é aquele militante que acha


que já está pronto. Que já sabe tudo ou que está acima
de todos. Por isso é autossuficiente: quer fazer tudo

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sozinho e não depende de ninguém. Este militante
tem dificuldades de dividir as tarefas, porque no
fundo não confia em ninguém, e acaba centralizando
informações e estruturas.

f) Aventureirismo

O Aventureirismo é também uma forma de


individualismo. A pessoa não aceita a realidade e
quer entortá-la para caber nas sua vontades de
exibicionismo. Usa discursos radicais, quer provocar
os conflitos quando não são necessários ou quando
não há força suficiente. O aventureiro não pensa nas
consequências das suas ações, quer apenas aparecer.
Este comportamento pode por em risco negociações
em despejos e situações de violência, porque o
aventureiro prefere aparecer por alguns minutos
para a TV ou até para as autoridades do que pensar
no risco que as suas colocam às famílias acampadas.

Estes são apenas alguns exemplos, apenas


para ressaltar a necessidade de atentarmos para a
exigência de enfrentar também esses elementos de
ideologia burguesa que vivem em nós. Não esgota
as manifestações possíveis, nem as que a prática
política já detectou em nós e em outros momentos
da luta dos trabalhadores por sua emancipação.

g) Mecanismos de superação

A história dos movimentos demonstrou que,


mais do que nenhum outro, o método adequado para
a superação dos desvios ideológicos é o da crítica e

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da autocrítica. Considerados a mais poderosa arma
na formação do militante, o método da crítica e da
autocrítica parte de uma profunda interiorização de
princípios essenciais para a luta dos trabalhadores,
como o reconhecimento da solidariedade como valor
maior, do interesse coletivo, da organização, da defesa
dos companheiros, da luta permanente contra o
individualismo, contra a exploração em todas as suas
manifestações, da fraternidade. Está fundamentada
na orientação dos princípios políticos e dos valores
adotadas e defendidos pela organização.

Além disso, a militância precisa estar vigilantes para:

• Não aceitar provocações de todas as ordens, nem


falar de nós (de nosso movimento) para estranhos;

• Nunca falar das ações, estratégias em espaços públicos,


em especial bares/bodegas, festas, ônibus, táxi;

• Sempre sermos o exemplo pedagógico em nosso,


trabalho, atividades em todos os sentidos (disciplina,
cumprimento dos acordos coletivos, no cumprimento
e divisão das tarefas, na responsabilidade e
criatividade);

• Exercitar o espírito de sacrifício;

• No uso de aparelhos tecnológicos em especial em


nossas atividades (celulares,máquinas fotografias….).
Hoje é comum em todos os lugares, todos tirando
fotos, logo postando em redes sociais, falar de tudo nos
telefones, Saber que isso é brinde para nossos inimigos.

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• Cuidar com nossa postura e práticas nas relações
de gênero, em especial afetivas, não pelo viés da
moralidade, mas pelo princípio do respeito ao outro
ser. E também por que geralmente os inimigos sempre
usam destes casos para desmoralizar politicamente
a pessoa e consequentemente a organização;

• Cuidar com o uso da estrutura do movimento, saber


que é de responsabilidade coletiva, portanto se
alguém descuida, prejudica a todos. Esta deve servir
para facilitar o trabalho, não para criar intrigas, muito
menos perda de princípios e riscos de vida;

• Sempre organizar quem serão as pessoas que darão


entrevistas para imprensa oficial.

• Cuidar com uso de bebida alcoólica, já está provado


que esta altera as condições psicológicas e de
coordenação motora das pessoas (num estado de
embriagues o ser humano perde a capacidade da
racionalidade);

• Ter cuidado com o tipo de roupa que usamos,


ao mesmo tempo em que devemos ser simples,
precisamos nos apresentar bem.

• Nunca andar só, principalmente antes, durante ou


depois de manifestações.

• Não estabelecer uma rotina, evitar o mesmo caminho


de casa para a secretaria ou para o acampamento,
por exemplo.

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E, acima de tudo, cultivar na prática os novos
valores em que acreditamos; sempre acreditar na
organização em qualquer circunstância, confiar no
movimento: O movimento cuidara e protegerá seus
militantes, contratará advogados, avisará a família,
ajudará nos problemas pessoais. A melhor proteção
é estar organizado no movimento e unido.

4. INTELIGÊNCIA

Todas as instituições brasileiras que detém serviços


de inteligência devem centralizar as informações
fornecidas por meio de relatórios para a Agência
Brasileira de Inteligência (ABIN). As instituições são:

a) Serviços de Inteligência do Exército,


Marinha e Aeronáutica


São hábeis, não temos ao certo a quantidade de
agentes nos três serviços, nem os principais métodos
que eles têm usado recentemente. Pelo histórico do
regime militar, trabalham com a doutrina do inimigo
interno (movimentos sociais organizados que podem
vir a desestabilizar o estado de ordem do país; eles nos
associam como herdeiros das organizações da esquerda
militar dos anos 1960 e 1970). São uma caixa-preta.

Caso recente: o serviço de inteligência da


Marinha mantinha de fachada uma agência de

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jornalismo em Brasília, com um funcionário agente
que tinha a tarefa de cobrir a ação dos movimentos
sociais. A movimentação do agente gerou suspeita,
foi comprovado que a agência era uma estrutura de
espionagem da marinha.

b) Agência Brasileira de Inteligência

Há dois corpos de funcionários, os ex-agentes


do antigo Serviço Nacional de Inteligência (SNI), de
carreira militar, que atuaram na época da ditadura,
e hoje estão na cúpula da ABIN. E os agentes das
gerações mais novas, do período pós-ditadura, de
carreira civil, com forma de pensamento mais aberta,
mais democrática. Os mais novos têm interesse pelas
áreas de contra-terrorismo, espionagem internacional,
proteção de informações sigilosas, etc, e não gostam
da tarefa de monitoramento dos movimentos sociais,
o que não significa que não tenham que cumprir a
tarefa quando mandados.

A ABIN centraliza todas as informações dos


demais órgãos de inteligência e repassa para
o Gabinete de Segurança Institucional, ligado
diretamente ao Palácio do Planalto.

A estrutura da ABIN é pequena, até pouco


tempo a informação é de que eles teriam apenas
cerca de cem homens em campo, em atuação direta.
Caso recente: em 1997 agentes da ABIN disfarçados
de PMs solicitaram entrada na sede de campo da

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Contag, em Brasília, sob alegação de procura de um
marginal fugitivo naquelas redondezas. Enquanto um
conversava com o porteiro, o outro entrou na sala de
reuniões para revistá-la e em menos de 5 minutos
colocou um plug para escuta telefônica na tomada
da sala. Todas as reuniões que ocorreram naquele
espaço sobre a marcha foram monitoradas.

c) Serviços de inteligência das


polícias Militares e Civis Estaduais

Estão a mando político dos governadores. É mais


comum que a infiltração em nossas áreas partam de
agentes da PM, além da costumeira infiltração em
manifestações (P2). Os soldados da PM se envolvem
com frequência com milícias, e organizações
paramilitares de toda ordem. No interior dos estados
mais violentos, os soldados são recrutados como
matadores por políticos e fazendeiros.

Caso recente: nos anos anteriores à marcha de


1997 uma oficial de inteligência da PM do Paraná
foi infiltrada em um acampamento, se legitimou
internamente dando aulas de alfabetização para as
crianças, namorou o coordenador do acampamento,
e no momento de decisão do grupo que iria para
marcha ela se dispôs com ênfase que chamou a
atenção dos militantes. Sendo monitorada durante
a marcha descobriram que ela passava informação
para seus superiores, por telefone, sobre a rotina e o
rumo da marcha. Foi descoberta e expulsa.

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d) Polícia Federal

Muitos agentes reclamam da tarefa de


monitoramento de movimentos sociais, alegam
que isso deve ser de responsabilidade das polícias
estaduais. Mas não se pode descartar a hipótese de
infiltração e monitoramento dessa polícia, sobretudo,
quando as ações ocorrem em área de segurança
nacional.

e) Também fornecem informações


para este sistema

- Polícia Rodoviária Federal:


- Funai: Fazem relatórios sobre conflitos indígenas
com fazendeiros e garimpeiros. Não trabalham
propriamente com serviço de inteligência.
- COAF: Produzem relatórios sobre crimes
financeiros e repassam à ABIN.
- Banco Central: idem COAF. Sem informação da
especificidade de cada serviço.
- Receita Federal.

Da ABIN as informações filtradas são enviadas


ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI) que por
sua vez encaminha para a Presidência da República e
recebe posteriormente os encaminhamentos.

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Como funciona o monitoramento:

90% do monitoramento das agências de


espionagem vem das Redes Sociais: facebook, twitter,
etc. A militância de esquerda é bastante ingênua
no que expõem nas redes. Publicam fotos dos
integrantes de cursos de formação, de brigadas, etc.
Expõem suas agendas de atividade…. Facilitam, com
isso, o mapeamento dos serviços de inteligência.

E também de Fontes Abertas: atividades públicas


como seminários, debates e palestras, acompanhadas
por agentes. Entrevistas em jornais e revistas.

Outros 9% do monitoramento vem da chamada


Engenharia Social: a identificação mais precisa do
perfil e função do alvo, com monitoramento dos
contatos, da rotina, mapeamento de todas as relações
(inclusive das relações extraconjugais, para posterior
uso possível em chantagens, se necessário). Nesse
caso é possível a entrada em campo de agentes para
o levantamento de dados e para o acompanhamento
da rotina do alvo.

E 1% vem de colaboradores conscientes ou


inconscientes, quando o sujeito entrega informações
pela:

a) Ideologia: o sujeito é ganho pela ideologia


dominante, pela disposição de colaborar com o
aparelho de inteligência;
b) Cooptação: por motivos financeiros, em geral;
c) Chantagem: mediante ameça de revelação de

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algum segredo do indivíduo, ou de informação que
possa comprometê-lo com a justiça, com sua família,
ou com a organização a que faz parte.
d) Infiltração.

<< Infiltrados

Os infiltrados são agentes da repressão (Polícia,


Forças armadas ou empresas) que entram para o
Movimento para fornecer informações sobre as
ações e os dirigentes, se passam por militantes, para
ter acesso à dinâmica da organização, às decisões, a
estratégia das lutas.

Os órgãos militares de inteligência costumam


treinar cabos e soldados para infiltração, pois são
pessoas de aparência popular, que geram menos
desconfiança do que os agentes com formação de
nível superior. Outro perfil de infiltrados são os ex-
policiais: em geral os profissionais captados para
esse serviço são agentes que fizeram algo errado na
força militar, e por isso foram expulsos ou afastados.
São recrutados pelo mesmo pagamento que teriam
se estivessem na ativa.

O outro tipo de infiltrado é o militante que é


cooptado, comprado, e se torna informante dos
serviços de repressão.

Muitas vezes são difíceis de identificá-los, mas


há alguns comportamentos que podem revelar a
presença de um infiltrado:

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Algumas formas de infiltração para adquirir
informações podem se dar sem “entrar” no
movimento, mas se apresentando como jornalista,
por exemplo. Neste caso, é importante desconfiar se
o veículo que ele representa, existe, e se os outros
jornalistas o conhecem. Também é comum se passar
por estudantes que querem apoiar o Movimento.

Pessoas que estão na atividade ou em uma reunião,


mas não se envolvem. Ficam mais afastados, tomam
notas, podem até fotografar. Eles recolhem documentos,
ouvem conversas e observam quem é quem.

O “provocador” é um infiltrado que age apenas


na manifestação. Vem disfarçado como integrante do
Movimento, pode estar usando até mesmos símbolos
ou camisetas políticas. O objetivo é estimular a
radicalidade não combinada em uma ação, incentivar
outras ações que não foram construídas e que
coloquem os participantes em confronto com a polícia.
Outra possibilidade é se fingirem de manifestantes
e cometerem atos violentos para jogarem a opinião
pública contra a organização. O caso da Polícia
disfarçada de “black block” já são exemplos clássicos.

O “supermilitante”. Eles surgem do nada e, de


repente, eles estão por toda parte. Quer se trate de
uma reunião, protesto, ou uma ação, essa pessoa
estará bem no centro da atividade. Um agente
infiltrado vai fazer muitas perguntas sobre as ações,
sobre os militantes e dirigentes. Pode sugerir alvos e
inclusive ser voluntário para fazer o reconhecimento
de locais ou tomar parte na ação. Neste caso, pode

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assumir o papel de “provocador”. Outra forma de
atuar como “provocador” é internamente, criando
desordem e confusão, provocando brigas, numa
reunião ou atividade.

Outra variação deste disfarce é o “novato”,


um militante “novo” quer não assume tarefas tão
importantes, mas que sempre faz muitas perguntas,
demonstra “curiosidade”. De fato, militantes novos
ou despreparados podem ter comportamentos
semelhantes ao de um agente infiltrado. É preciso
cuidar e ter certeza para distingui-los. Não podemos
confundir um entusiasmo de um jovem ou de alguém
que está entrando na luta com infiltração. Para isso,
a pessoa deve ser conscientizada das medidas de
segurança e entender por que não deve ter acesso
a elas. Se a pessoa persiste em fazer perguntas,
existe um problema e devem ser tomadas medidas
apropriadas. Militantes que não conseguem entender
as necessidades de segurança devem ser evitados e
mantidos longe de atividades que possam causar
risco aos demais.

Alguns infiltrados tentarão ganhar as principais


formas de controle, tais como comunicações,
secretariado, ou finanças. Outros informantes podem
usar o charme e o sexo para ficar íntimos de ativistas
para obter informações e a confiança.

Infiltrados muitas vezes precisam construir


credibilidade e para isso podem apresentar referências
de outra pessoa ou afirmar terem participado de
mobilizações passadas.

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Para identificar o infiltrado é importante verificar
as informações que ele afirma, checar os seus
antecedentes. As pessoas que ele diz que conhecem
sabem quem é essa pessoa? Outras pessoas que
estavam na mesma mobilização lembram dele?
Foram registrados problemas envolvendo esta
pessoa em outras atividades? O infiltrado sempre
vai se esforçar para esconder as suas próprias
informações. É importante checar se são verdadeiras
as informações sobre de onde vem, aonde mora, de
onde tira o seu sustento (o infiltrado e o informante
normalmente tem dinheiro sem conseguir explicar
de onde ou com alguma explicação mágica para um
dinheiro que surge de repente). Questione sobre suas
ideias, sobre nossas pautas de luta, para perceber se
há contradição. Esta pessoa anda com amigos ou
aparece isolada?

Um militante pode se tornar um informante


da repressão de forma voluntária (ser comprado),
por coerção ou inconsciente. O militante que se
torna infiltrado e informante de forma voluntária é
aquele que é procurado (ou nos casos mais graves
que procura) a polícia e passa a prestar informações
sobre a organização, já estando dentro do Movimento.
Normalmente, são pessoas com dependência química
(álcool ou drogas), outras formas de vícios ou dívidas,
ainda podem ter históricos de desavenças internas
e que se vendem para resolver seus problemas
econômicos ou vingarem-se de um dirigente ou de
uma decisão tomada.

27
O informante por coerção é aquele que é
obrigado contra a vontade a colaborar com a
repressão. Por exemplo, quando a polícia ameaça
a família de um militante ou intimida a própria
pessoa; ainda pode ser chantageado caso a polícia
tenha alguma informação que seja delicada para a
pessoa, etc. A outra forma de coerção é a violência
e a tortura, que através dos castigos físicos força
que um militante entregue as informações que tem
conhecimento.

O informante inconsciente é aquele militante


que não consegue manter a boca fechada. É a
pessoa que “espalha” aos quatro cantos o que fez
ou o que a organização vai fazer, que se exibe ou que
não toma cuidado e discute ou trata de qualquer
questão em público.

28
5. CUIDADOS BÁSICOS

As três regras básicas


Existem quatro regras básicas que podem ser
aplicadas a qualquer situação como garantia de
segurança.

1º. Sigilo: O silêncio é ouro, já dizia o ditado. O


fundamental deve ser falado pessoalmente. O que
é estratégico deve ser sempre falado em ambiente
aberto, que não é alvo de suspeita de escuta,
ambiente neutro.

2º. Compartimentação: a informação deve circular


somente entre os que devem saber. As razões
para estas medidas de segurança são óbvias: se as
pessoas não sabem, elas não poderão falar sobre
isso. Quanto menos pessoas souberem, menos
evidências existirão em longo prazo. Portanto, é uma
medida de segurança para si e para os outros.

A compartimentação também diz respeito ao


registro de informações. Não manter as informações
num mesmo caderno, computador, e-mail ou local.
Tenha um e-mail para questões pessoais e outros
para diferentes tarefas. Não guarde informações
importantes em lugares óbvios (como a secretaria
estadual ou a sua casa). Distribua as informações em
diferentes locais. O que não é para ser tornado público,
de preferência, não deve ter nem cópia em papel.

3º. Princípio básico da doutrina de inteligência:


estamos sempre sendo monitorados.

29
6. Cuidados Coletivos
a) Nas Manifestações

A Segurança é para se proteger, não é a preparação


para ofensiva. Por isso, para toda atividade pública
tem que ter organicidade, tem que ter segurança.
E, justamente, são nas mobilizações é onde eles
tentam nos provocar. Assim como também temos
que evitar que o nosso pessoal provoque. Por isso,
se a segurança não tem treinamento, no calor dos
acontecimentos, ela entra no tumulto.

Algumas medidas básicas
devem ser permanentes:

- Todos da segurança devem estar identificados.


Não é permitido instrumentos para conflito, pedaços
de pau, etc….
- Cuidar para quem a grande imprensa entrevista ou
procura nas manifestações.
- Cuidar com o trânsito, fechamento das vias, com
provocadores ou mesmo motoristas mais exaltados
que possam causar tumultos e agressões.
- Às vezes os nossos militantes incorporam o
espírito policial, devemos evitar que isso aconteça,
priorizando a paciência e o diálogo.

b) Nos despejos

Num contexto de conjuntura conservadora e


de repressão, teremos um movimento combinado e
crescente de criminalização e despejos dos nossos

30
acampamentos. A realização dos despejos é uma
decisão política, combinada com elementos técnicos
e jurídicos para garantir a defesa e manutenção dos
latifúndios e da propriedade privada da terra. Para
resistirmos, é fundamental fazermos que outros
setores da sociedade se posicionem em defesa das
famílias e dos acampamentos.

Em alguns estados, a realidade já tem sido há


muitos anos de despejo imediato, dias ou até mesmo
horas depois da ocupação, como em casos ocorridos
em São Paulo, onde vale somente a decisão
judicial do cumprimento da reintegração de posse,
a presença do oficial e a mobilização da tropa, que
muitas vezes chega junto com o oficial, sem prazo,
sem nada. Mas há ainda uma situação pior, que é da
aplicação da auto tutela, baseado numa interpretação
equivocada do artigo 1210, do Código Civil que trata da
possibilidade de uso de força própria para restituição
ou manutenção da posse.

Com isso, o Estado não move pedido judicial de


reintegração de posse e a própria polícia militar faz
o despejo, colocando as famílias numa exposição
direta, sem mediações. Em realidades como as
mencionadas aqui, a atenção especial da tática de
resistência é do Acampamento na área de recuo, que
exige também grande mobilização e defesa para inibir
ataques e criar as condições políticas para incursões
massivas e no tempo certo da luta.

Na maioria dos estados, são muitos


acampamentos de resistência dentro das áreas e a

31
exemplo do que já temos vivenciado, nossa tática
precisa combinar:

Ações no próprio Acampamento – Pelo tempo


de existência dos acampamentos (dez, doze, vinte
anos) e o acumulo na reforma agrária popular, nossos
acampamentos se transformaram em territórios com
casas melhores estruturadas com acesso a energia, com
escolas de educação básica funcionando e produção
agrícola suficientes para garantir a subsistência e
comercialização local. Na luta contra os despejos, nosso
esforço é evidenciar essa conquista, articulando o apoio
local com audiências e manifestações escritas em favor
da permanência das famílias e do acampamento, pelas
contribuições sociais, mas, sobretudo econômica para
aquela localidade.

Outro caminho incluir nos processos de decisão


judicial, articulando a defensoria pública e ministério
público (se há abertura para isso) que há toda uma
demanda de infra e tempo para caso se mantenha
a decisão de despejo ser levado em consideração,
inclusive de responsabilização do estado e do próprio
latifúndio quem irá arcar com as possíveis perdas
econômicas das famílias.

Por fim, intensificar o trabalho com as famílias,


construindo a resistência coletiva de como atuar nas
audiências de conciliação, na recepção do oficial
de justiça e das forças policiais; a organicidade é
o instrumento que baliza as decisões até onde e
como esticar a corda.

32
Neste processo é preciso cuidar para evitar a
perda do acampamento e a exposição e identificação
da militância. Lembremos que há um processo de
criminalização dos sujeitos, com penalidades rígidas
para prender ou mesmo em liberdade estabelecer
um controle rígido para impedir que nossa militância
participe das mobilizações e organização das famílias
nos acampamentos.

Saber recuar e deixar que o agente mediador,


no caso o advogado atue no dialogo com os agentes
do Estado, poderá garantir que sigamos travando
em outros momentos as batalhas necessárias para
nossas conquistas.

Articulação política e de solidariedade – O


momento é buscarmos com que outros venham na
defesa das famílias e manutenção do acampamento
é fundamental. Devemos ter clareza do seguinte,
juízes e governos não gostam quando politizamos
suas decisões que como comentamos também é
decisão política de defesa da propriedade privada
da terra. Por eles os despejos se realizariam sem
resistência e o mais rápido e silencioso possível. Daí
porquê de decisões judiciais que são tomadas hoje e
em 5 dias a polícia vai lá executar.

Neste sentido, nossa luta pela suspensão do despejo


precisa desenhar linhas de ações junto a sociedade,
sobretudo alguns setores estratégicos de opinião pública,
como religiosos, acadêmicos e parlamentares ou mesmo
setores do poder judiciário. Levar que estes se posicionem
e questionem formalmente o juiz e o governo.

33
Todas as iniciativas são válidas audiências públicas
nas assembleias legislativas estaduais; celebrações
religiosas; ida ao acampamento das comissões
parlamentares de direitos humanos, de mediações de
conflitos fundiários, de comissões de direitos humanos
da OAB; atos políticos e culturais em solidariedade
as famílias nas cidades e no acampamento; feiras
e doação de alimentos e mesmo se mantendo a
decisão de despejar, fazer a convocação que estes
setores estejam junto às famílias nas audiências e no
dia do despejo, pode ser um elemento que agrega
boas possibilidades da resistência, pois contribui para
que as famílias compreendam que não estão só na
luta pelo direito a ter acesso à terra.

É fundamental a articulação da comunicação


para influir na opinião publica. Temos instrumentos
consolidados no Movimento através do Setor de
Comunicação que podem tanto incidir nos veículos
externos de imprensa como colaborar para esta
ampliação da solidariedade em rede. Campanhas de
engajamento e solidariedade nas redes sociais têm
dado resultados surpreendentes, como a exemplo do
que temos feita em Minas Gerais, diante da ameaça
de despejo em Campo do Meio. Outra dimensão da
comunicação que deve necessariamente ser utilizada
é a Assessoria de Imprensa, denunciando por meio
de releases para a grande imprensa a situação das
famílias, ressaltando a lógica da função social da
terra, da produção das famílias, sociabilidades do
território como escolas, celebrações etc e associando
a presença do acampamento ao desenvolvimento
econômico das famílias e do município, que

34
comercializam alimentos saudáveis. Muitas vezes, em
cenários de ameaças aos acampados, a divulgação
na imprensa do nome do fazendeiro ajuda a inibir a
efetivação de atos de violência. Temos que articular a
comunicação nas diversas dimensões, em campanhas,
imprensa burguesa e de esquerda, redes sociais,
rádios e um sem número de outras alternativas. Isso
pode ser questão de vida ou morte, de permanência
ou de expulsão.

Outra frente importante de solidariedade é a


internacional, tanto no sentido de divulgação,
campanhas de envio de cartas as autoridades etc,
mas também de denúncia das empresas e marcas
comerciais envolvidas com o despejo. Numa realidade
de capital transnacionalizado, medidas como essa
são muito importantes e produzem impacto.

Articulação jurídica para suspensão das


reintegrações de posse – Temos um grande desafio, pois
nossa estratégia jurídica terá que enfrentar a outra
parte que é o advogado de defesa do latifundiário
e o próprio juiz favorável pela manutenção da
propriedade privada da terra. Devemos congregar
todos os esforços possíveis para garantir o direito das
famílias em permanecerem na ocupação até resolver
o destino final com a criação do assentamento.
A estratégia jurídica demanda realizar várias
iniciativas (e que precisa ser decidida de acordo com
cada realidade), no entanto pelo momento e pelo
comportamento do poder judiciário a articulação
jurídica terá que ser combinada em caráter nacional,
consolidando efetivamente o coletivo nacional

35
de advogados/as. A articulação jurídica precisa
instrumentalizar nossos dirigentes sobre quem é e
como se comporta as forças locais e estaduais do
poder judiciário.

Exige atuação articulada e permanente junto


à defensoria, ministério público, ouvidorias agrárias
dos Estados, buscando condicionar a decisão do
juiz às garantias dos direitos humanos e prevenção
em situações de conflitos fundiários conforme
instrumentos legais consolidados no conselho
nacional dos direitos humanos. Nossos advogados/
as precisam combinar o pragmatismo frio de uma
decisão judicial com a solidariedade as famílias e
aos acampamentos ameaçados de despejos para
que nossas famílias compreendam a importância
política de qualificarmos essa frente de defesa
jurídica. Assim, será possível desenvolver iniciativas
de formação e orientação junto às famílias que vivem
nos acampamentos, como instituir mecanismos de
defesa coletiva que previna a exposição da militância
e produza provas que levem a derrota política do
acampamento.

Outro desafio colocado para a frente jurídica está


em articular organismos internacionais para denunciar
e responsabilizar o papel do Estado nas violações dos
direitos humanos e dos sujeitos do campo. Por fim e
não menos importante, seguir refletindo e combinando
iniciativas jurídicas e políticas para desenvolver uma
ampla e articulada campanha que lutar não é crime e,
que é legitima as formas de organização e luta para
efetivar os direitos humanos fundamentais.

36
Recomendações diante da abordagem da polícia
e dos agentes do poder judiciário para cumprimento
de decisões de despejos:

Nossos cuidados precisam ser redobrados,


estarmos muito atentos e planejar junto com nossa
base social todos os passos da resistência;

Em reintegrações de posse é importante


articularmos os agentes mediadores como os
advogados e aliados para discutir com as forças
policiais, com o oficial de justiça, ministério público
e defensoria pública, para demonstrar força de
articulação política e evitar exposição da militância
que coordenam os acampamentos;

Durante o cumprimento de uma reintegração


de posse é possível a exaltação de quem conduz
o processo de negociação, e por outro lado os
agentes do Estado (policiais e oficial de justiça)
nem sempre estão preparados pra lidar com essas
situações, de modo que uma simples manifestação
de inconformismo de um militante em relação a
decisão judicial, possa ser interpretado como um ato
de agressão e de desacato, o que pode ocasionar
a detenção de uma pessoa e desdobrar em um
processo judicial.

37
O que diz a lei:

Em uma manifestação

- Antes de utilizar a força, a Polícia deve avisar quem


protesta, seja por megafones ou outras formas de
comunicação.

- A polícia deve respeitar o uso de equipamentos de


gravação (celular, câmera, máquina fotográfica, etc).
Tirar pertences de uma pessoa durante um protesto
constitui crime de roubo, apesar de poder existir uma
ordem direta para isso. Portanto, qualquer ato ilícito
praticado por uma autoridade deve ser denunciado.

- A Polícia não pode impedir a livre circulação


de pessoal e o atendimento médico das pessoas
lesionadas ou afetadas por atos de violência durante
o protesto.

- A Polícia não pode impedir o trabalho de cobertura


da imprensa durante os protestos e manifestações
públicas.

- Os policiais devem estar devidamente identificados.

Em caso de detenção

De acordo com a legislação brasileira, você tem


direito a:

1. Ser revistado(a) por policial do mesmo sexo para


averiguação. Qualquer revista da polícia, em você ou

38
em mochilas, deve ser feita na presença de todos. A
polícia não pode pegar a sua mochila e verificá-la
longe dos olhos de todos. A polícia pode te deter,
por alguns minutos, para “averiguação”. Ou seja, para
verificar se você está carregando bombas, armas,
drogas, etc. A polícia não pode te prender ou te
colocar em um camburão, e te levar para a delegacia
para averiguação.

2. Aqueles que realizam a detenção devem se


identificar, explicando as razões de tal detenção.
Você só pode ser preso em flagrante ou por ordem
judicial, por isso, pergunte o motivo da prisão,
demonstrando que não está resistindo, levante a
mão e diga literalmente que não está resistindo.
Ao abordá-lo o policial deve identificar-se. Ele também
deve ter em sua farda seu nome (normalmente é
o sobrenome), graduação e lotação. Se ele não se
identificar e você não conseguir identificá-lo com
base no que está no uniforme, você tem o direito de
perguntar o nome do policial, sua matrícula, lotação,
posto, graduação ou cargo.

3. Serviço médico desde os primeiros instantes


da detenção. Se você estiver machucado, exija
atendimento médico imediato, mesmo antes de
ir para a delegacia. A sua saúde deve ser mais
importante do que a sua prisão. Se você foi agredido
fisicamente, você deve pedir para ser encaminhado
ao IML (Instituto Médico Legal) para fazer exame
de corpo de delito. Esse exame é essencial se você
pretende, mais adiante, mover uma ação de reparação
contra o Estado.

39
4. Ao ser levado à delegacia, responder apenas às
perguntas que se referem aos seus dados pessoais.
Não argumente com a PM, o trabalho deles é apenas
conduzi-lo até a DP (Polícia Civil). Se você estiver
sendo preso arbitrariamente isso será discutido
depois, não xingue os policiais e não reaja.

5. Manter o seu celular bloqueado para evitar que


seus vídeos e fotos sejam apagados. Você não é
obrigado a fornecer senha ou liberar o conteúdo sem
ordem judicial.

6. Ser informado de seus direitos quando chegar à


delegacia, como o de ter um representante legal (se
você não tiver dinheiro para pagar por um, você deve
requisitar um defensor público).

7. Não estar incomunicável. É seu direito poder


comunicar-se com um advogado/a, um familiar,
amigo/a ou qualquer pessoa de sua confiança em
particular. Seus pertences podem ser entregues ao
seu advogado ou familiar caso você queira.

8. Conhecer os fatos ou a causa da acusação. Se for


autuado, você tem direito a uma defesa adequada e
gratuita.

9. Negar-se a depor, e caso deponha, fazê-lo


perante o delegado sob a presença obrigatória
de seu advogado ou defensor público. Relate os
possíveis abusos, porém apenas na presença do seu
advogado ou defensor público. Você tem o direito de

40
permanecer calado diante de qualquer pergunta, de
qualquer autoridade. Caso não permitam a presença
de um advogado ou defensor, dê como declaração o
seguinte: “permanecerei em silêncio, porque me foi
negado o direito de ter um advogado acompanhando
este ato”. Isso tem que ficar documentado no papel.
Se o delegado ou o agente da polícia civil se negar
a colocar isso no papel, não assine nada. Ninguém
deve ser obrigado a produzir provas contra si.

10. Ser colocado em liberdade se não há elementos


suficientes para ser registrado perante um juiz.

11. Ter a prisão em flagrante comunicada ao juiz e à


Defensoria Pública em 24 horas.
- Se estiver sendo preso sem alguém da organização
por perto, deixe as pessoas saberem seu nome, que
está sendo preso e que é integrante do MST e não
cometeu crime.

Se houve violência no ato da prisão, da condução ou na


delegacia:
Ir para outra delegacia (local dos fatos ou próxima da
residência da vítima) registrar BO.
Ir ao IML fazer exame de Corpo delito.

IMPORTANTE: Pressionar para que conste no BO


todas as agressões sofridas e apontar os abusos da
polícia.

12. Não ser maltratado física nem psicologicamente.


A tortura é proibida, você não deve ser golpeado, ficar
sem comer, ser ameaçado e não pode ser obrigado,

41
por nenhum meio, a depor contra si mesmo. O uso de
algemas é restrito para o risco de fuga ou resistência.
Durante o ato de condução para a delegacia e na própria
delegacia não se faz necessário o uso de algemas, nos
termos da Súmula Vinculante n. 11 do STF.

13. Ser alojado em condições dignas.

14. Ter a sua prisão e local comunicados imediatamente


à família ou pessoa por ele indicada, à autoridade
judicial, ao Ministério Público e, se for o caso, à
Defensoria Pública.

15. Menores de idade: não deve ser algemado, nem


transportado em compartimento fechado (art. 105
do ECA). Anotar nome do policial responsável pela
condução e exigir que algum responsável (acima de
18 anos) acompanhe.

16. Delegacia – regrinha geral (para capitais e grandes


cidades):

Prisão entre 8 h as 20 h – seria conduzido para o


DP mais próxima da ocorrência. Mas isso depende da
conveniência da Polícia.

Prisão entre 20 h as 08 h – será encaminhado para


a Central de Flagrante, mas também depende da
conveniência da PM.

Importante: a pessoa deve ser conduzida para a


delegacia da circunscrição do ato. Mas nem sempre
ocorre. Tenha em mãos meios para pesquisar: a

42
polícia nunca passa o endereço, só o número da DP.

Outras recomendações:

• Não debater com a polícia e demais agentes do


estado conteúdos políticos da ação. Não caia em
provocações, tampouco tente convencer os agentes
da correção da sua ação. Quando muito isso gerará
mais volume de informações para a repressão,
situações de tensão com o debate (com os agentes
cavando uma situação de “desrespeito” aos agentes,
agravando o quadro). Isso NÃO se aplica para
casos em que há grande presença da imprensa e
curiosos, quando a denúncia pode ajudar a difundir
o que estiver ocorrendo – prisão arbitrária, repressão,
violência, tortura, maus-tratos, etc.

• Nunca ir a delegacia, promotor, forum, sem antes


saber do que se trata, ou sem estar acompanhado
de um advogado. Nunca vá a uma delegacia sem
advogado de confiança e sem saber o que te espera.
Na pior hipótese, direito de permanecer calado.

• Nunca receber (assinar intimações) em nome de


outras pessoas.

• Cuidados ao telefone (nas secretarias). Primeiro


saber quem está falando e de onde, depois dizer
quem fala e de onde é.

• Primeiro saber quem é. Depois fazer contato com


advogado. Somente depois disso fornecer endereço
de nossos militantes procurados com intimações.

43
Fornecer o endereço as vezes é importante para a
defesa, as vezes entregamos o ouro para o bandido.

• Todos temos direito de ser intimados pessoalmente


(aviso embaixo da porta não vale, por telefone não
vale, avisar a mulher/marido ou vizinho/a não vale).
Sempre que deixaram um aviso, procurar nosso
advogado para descobrir o que é.

44
7. Cuidados com
o telefone
Segundo especialistas, o telefone celular é um
aparelho fabricado para permitir espionagem. Não
existe nenhuma prática 100% segura no uso do
aparelho.

<< Ligações

Hoje em dia não é mais necessário pegar um


telefone para que ele seja grampeado.
As ligações feitas por telefone celular ou
conversas pessoais podem ser interceptadas pela
polícia usando um gravador de longa distância. Há
uma distância de 150 metros é possível gravar com
qualidade a conversa.
As ligações também podem ser gravadas através
de grampo. A Constituição brasileira diz que toda
correspondência e a comunicação são invioláveis, mas a
lei 9.196 de 1996, determina que um órgão de investigação
criminal podem ter permissão para interceptar dados
através das empresas de telecomunicação com uma
ordem de um juiz para isso.
Neste caso, as empresas de telefonia podem
fornecer acesso à lista de chamadas e contatos,
mensagens de texto, mensagens de programas de
chat, como Whatsapp e Skype, e o conteúdo de
e-mails.
Falar em códigos não resolve o problema.
Normalmente, a Polícia coleta um grande número
de ligações e passa a analisar as conversas para

45
identificar o cada código significa combinando com
outras ligações ou cruzando com dados das ações e
atividades que ocorreram naquele período.

<< Microfone

Existem aplicativos espiões, que podem acionar


o microfone do celular - e transformá-lo num grampo
que captura os sons do ambiente.

Como resolver: Evite baixar aplicativos (jogos, por


exemplo) de origem suspeita. Muitos programas
espiões são instalados pelo próprio usuário
disfarçados de outros programas.
O celular deve ser separado da bateria quando
estiver numa reunião importante e de preferência
colocado dentro de uma geladeira ou bem longe do
espaço da reunião.

<< Bluetooth
O serviço de bluetooth também pode ser utilizado
por uma pessoa a distância para entrar no celular e
manipulá-lo de longe (bater fotos, ligar o microfone,
realizar gravações).

Como resolver: deixar esta opção desligada nos


celulares. Não entrar contatar redes bluetooth
desconhecidas.

<< Wi-Fi

Um truque para acessar um celular é criar uma


falsa rede de wi fi grátis. Ao conectar com ela, está

46
na verdade dando acesso para que o espião entre
escondido no seu telefone.

Como resolver: evitar redes públicas, suspeitas ou


desconhecidas.

<< GPS
A função GPS do celular registra a sua localização.
No caso dos celulares, esta localização é enviada
para a empresa google e pode ser disponibilizada
por ordem judicial para a polícia.

Como resolver: no celular, entre em Definições/


Localização e desmarque os itens Utilizar redes
e Utilizar satélites (isso afetará serviços como o
Google Maps). Conforme o seu celular se movimenta
e “contata” as antenas das operadoras, também
fornecem sua localização para a empresa que
operam.

Câmera

A câmera registra o local e a data onde cada foto
foi tirada. Se você publicar as imagens na internet,
outras pessoas terão acesso a esse dado.

Programas espiões também pode manipular a sua
câmera do computador ou do celular sem o seu
conhecimento para registrar as ações que está
fazendo.

Como resolver: transfira as fotos para o seu computador.


Clique nelas com o botão direito, selecione
Propriedades e Detalhes e clique em Remover.

47
<< Whatsapp

Teoricamente, as mensagens trocadas


atualmente dentro do Whatsapp são criptografadas
(“embaralhadas”), de maneira que só quem envia e
recebe tem acesso ao seu conteúdo. Porém, todas as
mensagens ficam armazenadas na empresa Facebook,
que é dona do Whatsapp, e não há garantias que de
eles não saibam o conteúdo das mensagens e que
não arquivem o conteúdo.

Ao mesmo tempo, áudios e fotografias não


são criptografadas e podem ser acessadas pelo
Whatsapp/facebook ou por um órgão de polícia que
conseguir uma autorização judicial.

Como resolver: um aplicativo que criptografa as


mensagens e não arquiva é o Signal.

<< Sinais de que o celular pode


estar grampeado

1. Perceba se o volume da chamada está mais alto ou


mais baixo que o comum ou se você tem problemas
para discar. Programas espiões causam defeitos,
quebras, na transmissão.

2. Preste atenção ao uso e à energia da bateria —


parece que está acabando mais rápido do que o
normal? Isso pode indicar que o seu celular está
sendo usado enquanto você não sabe.

48
3. Confira e veja se o telefone está quente mesmo
quando não é usado. Celulares esquentam com o uso,
mas não devem estar quentes quando não utilizados.

4. Teste o celular GSM (a maioria dos celulares usa


a tecnologia GSM no Brasil) posicionando-o perto
de alto-falantes quando não estiver sendo utilizado.
Um zumbido de curta duração normalmente ocorre
quando os celulares estão próximos a alto-falantes
e, às vezes, mesmo quando não estão em uso; no
entanto, um zumbido contínuo que demore mais de
alguns segundos é algo fora do normal.

5. Preste atenção caso o telefone continue iluminado


após o desligamento ou se você tem dificuldades
para desligá-lo — isso pode indicar um grampo. Outro
sinais podem ser o celular acendendo sem ser usado
ou sons de clique estranhos e ruídos incomuns
quando não está sendo utilizado.

6. Verifique o código IMEI do seu aparelho, no teclado


numérico do aparelho digite: *#06# conte se tem 15
numero se tiver mais certamente esta grampeado.
Obs: Lembrando que são numeros na frente do IMEI
e que depois deles não tem problemas.

49
8. Cuidados com os
computadores e
redes sociais

Na atualidade, a comunicação tem ocupado um


espaço central na vida de nossa militância. Nossas
relações são mediatizadas por diversas plataformas
e ferramentas que nos bombardeiam de conteúdos,
mas também que garantem velocidade na troca de
informações, seja no campo pessoal ou coletivo. Nesse
período histórico aprendemos que fortalecer nosso
debate de segurança acontece nas organizações a
partir das mobilizações e enfrentamentos políticos
direto, mas também, no campo digital, das tecnologias.

A informação se tornou o ativo mais valioso
das organizações, podendo ser alvo de uma série
de ameaças com a finalidade de explorar as
vulnerabilidades e causar prejuízos consideráveis. Por
isso, faz-se necessária a implementação de políticas
de segurança da informação que busquem reduzir as
chances de fraudes ou perda de informações.

A Política de Segurança da Informação é uma


declaração sobre o nosso compromisso com a
proteção das informações de nossa organização e/ou
sob sua guarda, devendo ser cumprida por todos, com
o objetivo de garantir a integridade, confidencialidade,
legalidade e autenticidade da informação necessária
para a realização de um bom trabalho dentro da
organização, protegendo toda a militância.

50
A segurança da informação é aqui caracterizada pela
preservação de:

a) Confidencialidade, a garantia de que a informação


é acessível somente a pessoas com quem se
compartilha a informação;

b) Integridade, garantia de medidas de proteção da


informação e dos métodos utilizados;

c) Disponibilidade, a Política de Segurança da


Informação deve ser divulgada a toda militância,
apresentada de maneira que seu conteúdo possa ser
consultado a qualquer momento.

Para assegurar esses três itens mencionados,


devemos adotar a cultura de segurança, entendida
aqui como um comportamento diário que busca
proteger nossas informações, por meio de ações
ativas cotidianas.

Computadores podem ser controlados por um


programa espião de três maneiras:
a) Um agente tem acesso ao computador e infecta
com o programa através de um USB/pen drive.

b) Criando uma falsa rede de wi fi, que a pessoa


conecta e sem perceber baixa o programa para seu
computador

c) Através de um e-mail falso, que leva a pessoa a


clicar num link e que este leva a baixar o programa
de forma oculta.

51
E os programas espiões podem:

- Acessar sua câmera e filmar o seu movimento.

- Acessar seu teclado e copiar os textos e mensagens


que forem digitadas.

- Copiar, manipular, apagar mensagens, documentos,


históricos de navegação na internet, etc.

Mas, além dos programas espiões existem situações


em que a própria pessoa fornece informações
pessoais para as redes sociais:

- Assim como o celular, quando acessamos wi-fi é


possível que o servidor de e-mail, como o google,
defina sua localização.

- As fotos possuem meta-dados (informações sobre


data, local, horário em que a foto foi tirada) e por
onde é possível localizar a pessoa.

- Todos os e-mails ficam guardados, mesmo os que


apagamos, nos computadores dos servidores de
e-mail e não há garantias de que eles não possam
ser vistos.

Se você tiver uma conta do gmail, um exemplo de


tudo o que o google sabe sobre você está aqui:
https://myaccount.google.com/

Para ter uma ideia sobre o que qualquer site recebe


de informação sobre a sua pessoa, apenas de você

52
entrar numa página, clique aqui: http://webkay.
robinlinus.com/

Atribuições e responsabilidades da militância:

a) Sempre armazene seus dados em um disco externo:


(preferencialmente com opção de embaralhamento
de dados e/ou criptografia (Que nada mais é que um
conjunto de técnicas pensadas para proteger uma
informação ou arquivo, embaralhando o conteúdo
de modo que apenas emissor e receptor consigam
abrir a mensagem. É o modo mais eficaz para ocultar
comunicações através da informação). Desta forma,
quando for levar o equipamento para conserto, você
só levará o computador e seus dados estarão seguros
em sua casa, escola, secretaria ou no escritório;

b) Nunca forneça a sua senha a ninguém. Caso


seja necessário, crie um usuário temporário em seu
sistema para que o técnico possa utilizar;

c) Utilize um bom anti-virus e antispyware/malware.


Eles ajudam bastante caso a tentativa de obter seus
dados seja feita através de uma execução remota, ou
seja, pela internet;

d) Utilize embaralhamento de dados e/ou criptografia


nos diretórios onde há informações sensíveis;

e) Escolha senhas de qualidade, com 8 ou mais


caracteres; o ideal é que tenham no mínimo 14
caracteres. Combine letras, números e símbolos.
Quanto maior a variedade de caracteres da senha,

53
mais difícil será adivinhá-la. Utilizar um método
próprio para lembrar-se da senha, de modo que
ela não precise ser anotada em nenhum local, em
hipótese alguma;

f) Troque sua senha em 45 dias/60 dias;

g) Somente acesse endereços de sites confiáveis,


verifique se o link demonstrado é realmente o link
que o endereço está sendo apontado. Ao entrar no
site, veja se todos os links funcionam corretamente.
Muitos fraudadores usam páginas reais para fazer
uma cópia, e nestas páginas clonadas a maior parte
dos links não funciona;

h) Exclua e-mails que chegam para você com


propagandas não solicitadas, de modo a evitar
alguma possível contaminação da sua máquina por
vírus;

i) Não executar ou abrir arquivos anexados enviados


por pessoas desconhecidos ou suspeitas. Exemplo
de extensões que não devem ser abertas: .bat, .exe,
.src, .lnk e .com, ou de quaisquer outros formatos
alertados pela área de TI;

j) Todos os arquivos devem ser gravados na rede,


pois arquivos gravados no computador (local) não
possuem cópias de segurança (backup) e podem ser
perdidos, isso em caso das secretarias e escritórios
que terem Servidor de Dados.

54
Boas práticas de comunicação:

a) Cuidado ao tratar de assuntos da organização em


qualquer ambiente, em locais públicos, ou próximos
a visitantes, seja ao telefone ou com algum militante,
ou mesmo fornecedor;

b) Evite nomes e combinações de assuntos


confidenciais em situações que esteja fora da
organização ou próxima a pessoas desconhecidas;

c) Caso seja extremamente necessária a comunicação


de assuntos sigilosos em ambientes públicos, ficar
atenta as pessoas à sua volta que poderão usar as
informações com o intuito de prejudicar a imagem da
organização, e/ou colocar em risco a sua integridade;

d) Em Conferência Online em coletivo, recomenda-


se o uso do Software https://meet.jit.si/ para
videochamadas, pois tem criptografia de ponta a
ponta e não precisa se identificar legalmente – pode-
se usar codinome;

e) Recomenda-se a utilização do Software Livre


(Ubuntu, debian, etc.) na perspectiva socialista em
nossos espaços secretarias, escritórios, armazém do
campo, escolas, etc;

f) Recomenda-se a navegação anônima (ou privada)


dentro dos navegadores da internet, se possível
utilizar o navegador TOR, sempre optar por conexões
HTTPs;

55
g) Cuidado com as Campanhas: presentes “gratuitos”
online, na verdade, não são gratuitos. Toda semana
aparece um concurso tentador nas redes sociais
com o sorteio de vários produtos de tecnologia – a
maioria deles bem caros, como tablets, smartphones,
videogames e TVs. Cibercriminosos usam esses
ataques para coletar informações que podem ser
usadas em ataques de roubo de identidade;

h) Cuidado ao acessar rede Wi-Fi pública: muitos


estabelecimentos, como bares, restaurantes e
padarias, oferecem Wi-Fi de graça aos clientes. O
acesso gratuito à internet desses locais públicos
pode ser muito arriscado se estiver acessando
dados confidenciais do trabalho ou sites de banco.
O mais seguro é usar uma conexão do seu celular e
compartilhá-la com outros dispositivos que também
sejam seus.

i) Celulares: essa é uma ferramenta imprescindível


em nosso dia a dia e com certeza contribuiu – e
continua contribuindo – para avanços nas rotinas,
planejamentos e em todo o universo da nossa
organização. Para mandar, receber ligações e
mensagens, o telefone celular deve constantemente
se comunicar com torres de telefonia celular. Essa
atividade é monitorada e registrada pela provedora
de serviço. Informações de localização coletadas
ao longo do tempo podem contar uma história
surpreendentemente bem detalhada de quem somos
e como é a vida. Adicione a isso os endereços públicos
disponíveis, tweets, fotos publicada e/ou registros
de ligações e a história ficará ainda mais completa.

56
Não só revelam onde moramos e trabalhamos, mas
também as idas ao médico, bares, casa de amigos,
pode mostrar em quais manifestações estivemos,
em qual organização política ou grupos com os quais
estamos envolvidos. Por isso recomendamos que
desative sempre os serviços de localização;

j) Recomenda-se a usar um gerenciador de senhas.


Gerenciadores de senhas são ferramentas que criam
e armazenam senhas para você, de maneira que você
possa utilizar senhas diferentes para cada serviços na
internet ou no computador, sem precisar memorizá-
las. O que faz um gerenciadores de senhas:
Geram senhas fortes que um ser humano dificilmente
poderá adivinhar.
Armazenam diversas senhas de maneira segura.
Protegem todas as suas senhas com uma única
senha-mestre (ou frase-chave).

***Indicamos o software KeePass para android, o


código dele é de fonte aberta e gratuito. Você pode
manter esta ferramenta em seu desktop ou integrá-
lo ao seu navegador de internet.***

Cuidados nas Redes Sociais:

O uso das redes sociais tem sido um hábito que


vem carregado de questões que envolvem nossa
segurança individual e coletiva. Seja no WhatsApp,
Facebook, Instragram, Twitter ou demais, é
fundamental zelarmos pelo cuidado, segurança e
bom senso.

57
Além da orientação em torno da segurança das
senhas e usuários, é preciso seguirmos atentos e
atentas ao que publicamos nas redes. Devemos
atentar às publicações que expõem a nossa militância
e a nossa organização como um todo. Sejamos
cautelosos e cautelosas com a exposição exagerada
no uso abusivo das redes por nossa parte.

Logo, é importante evitarmos fazer postagens “em


tempo real”, que possam expor nossas lutas, espaços
de formação, reunião e etc; evitar a utilização da
ferramenta de “localização” nas postagens; ter
cuidado e atenção especial com a exposição da
nossa militância durante as atividades, mas também
em outros diversos momentos.

Devemos impulsionar a utilização das redes,


principalmente, para disputar as ideias da sociedade
que utiliza as diversas redes, por isso o cuidado e zelo
individual e coletivo são fundamentais para preservar
nossa militância e o conjunto do nosso Movimento.
Todo o cuidado é fundamental.

Recomenda-se a utlização do SIGNAL e a migração


de grupos do zap para lá. O Signal é um aplicativo de
software livre e de código aberto (FOSS) para Android,
iOS, e Desktop que faz uso de embaralhamento de
dados e/ou criptografia de ponta a ponta, permitindo
que os usuários enviem mensagens de grupo, texto,
imagens, áudios e vídeos, e também chamadas
telefônicas mais seguras entre seus usuários. (o
whastsApp e Telegram não utilizam embaralhamento
de dados e/ou criptografia nos áudios, videos e

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chamadas, somente em modo texto, o Telegram só
funciona esse mecanismo de segurança se entrar no
chat secreto);

Recomenda-se a filtrar regularmente seus contatos


no Facebook, Twitter e em outras páginas de
relacionamento social, aceitar solicitações de
amizade de pessoas que você não conhece ou confia
põe sua segurança em risco;

Por fim, qualquer dúvida ou questões, converse


sempre com algum outro/a companheiro/a, ou
procure o Setor de Comunicação antes de tomar
qualquer atitude que possa colocar você ou o coletivo
em risco nas redes.

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9. Referências para
estudo:
>> Sobre a repressão e a resistência:

A Hora Obscura. Vários autores. Editora Expressão


Popular.

Repressão Militar no Brasil – O livro chamado João.


Vários autores. Editora Expressão Popular.

>> Sobre as táticas da direita usando redes sociais

Guerras Híbridas de Andrew Korybtiko. Editora


Expressão Popular.

>> Sobre segurança digital

Autodefesa no e-mail: https://emailselfdefense.fsf.


org/pt-br/

Caderno de Planejamento estratégico: https://ativismo.


o r g . b r / p ro j e c t / c a d e r n o - d e - p la n e j a m e n to - e -
estrategia/

Ferramentas e Oficinas: https://antivigilancia.org/pt/


oficinas-e-ferramentas-beta/

Guia prático de combate a vigilância: http://temboinalinh.


org/

Autodefesa contra vigilância: dicas, ferramentas e


tutoriais para uma maior segurança nas comunicações
online: https://ssd.eff.org/pt-br/

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“Lutar, construir Rerforma Agrária Popular!”

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