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ESPECIAL/EMERGÊNCIA

ESPECIAL/EMERGÊNCIA BIOLÓGICA
BIOLÓGICA

AMEAÇA
BIOLÓGICA
TÂNIA RÊGO/ABr

Especialistas ressaltam o uso de EPI’s e a realização de treinamentos


para profissionais de APH no atendimento a emergências biológicas
24 Emergência
24 Emergência FEVEREIRO / 2016
A o longo dos anos a humanidade tem se
deparado cada vez mais com doenças
oriundas de fontes biológicas como Ebo-
la, H1N1, Gripe Aviária, HIV, Tuberculose, entre
outras. Estas patologias são transmitidas pelo san-
gue, por fluidos corpóreos ou até mesmo pelo ar.
Segundo especialistas, quando uma pessoa é infec-
tada, passa a alimentar uma cadeia de transmissão,
podendo dar início ao processo de infecção entre
humanos, resultando em uma epidemia. “Os paí-
ses desenvolvidos enfatizam o risco biológico co-
mo um dos mais importantes, considerando que
hoje o contexto favorece a expansão muito rápida
das doenças infecciosas”, ressalta Telma Abdalla de
Oliveira Cardoso, coordenadora do Núcleo de Bios-
segurança da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz),
vinculada ao Ministério da Saúde.
De acordo com o Decreto n° 7.616, de 17 de
novembro de 2011, da Presidência da República,
considera-se situação epidemiológica surtos que:
apresentem risco de disseminação nacional; sejam
produzidos por agentes infecciosos inesperados;
representem a reintrodução de doença erradicada;
e apresentem gravidade elevada ou extrapolem a
capacidade de resposta da direção estadual do SUS
(Sistema Único de Saúde).
Os riscos são inerentes a cada tipo de doença,
porém a maior parte dos vírus hemorrágicos são
transmitidos pelo contato direto com material bio-
lógico (sangue e secreções). Sendo assim, podemos
afirmar que os profissionais de Urgência e Emer-
gência estão muito expostos, pois geralmente re-
alizam procedimentos que exigem a manipulação
direta de pacientes e materiais contaminados. Se-
gundo Marco Aurélio Rocha, especialista em Ges-
tão de Emergências e Desastres, com capacitação
em Comando de Emergências e em Gerenciamento
de Emergências com Armas Químicas e Biológicas,
“a exposição dos trabalhadores aos fluidos biológi-
cos se deve, em parte, às formas de organização e
realização do trabalho. Frequentemente, estes tra-
balhadores se sobrecarregam com vários plantões
em turnos alternados, manipulam instrumentos in-
seguros, bem como não utilizam Equipamentos de
Proteção Individual adequadamente”.
Reportagem de Luana Cunha

FEVEREIRO / 2016 Emergência 25


Emergência 25
SAMU RECIFE ESPECIAL/EMERGÊNCIA BIOLÓGICA

Profissionais de APH devem conhecer


os principais sintomas destas doenças

Em geral, os pacientes chegam ao EPIs no atendimento. pode ser empregado como arma de des-
pronto-socorro em ambulâncias do APH truição em massa. Os mais conhecidos
(Atendimento Pré-Hospitalar) como BIOTERRORISMO são o B. anthracis, o vírus da varíola, a
SAMU (Serviço de Atendimento Móvel Outra interface da emergência biológi- Yersinia pestis e a temida toxina do Clos-
de Urgência), GRAU-SP (Grupo de Res- ca e menos debatida é o Bioterrorismo, tridium botulinum. O vírus da varíola, por
gate e Atenção às Urgências e Emergên- ou seja, o terrorismo praticado por meio exemplo, já representou sérios proble-
cias do Estado de SP) e outras equipes da liberação ou disseminação intencional mas à saúde pública, e por isto, ele é o
de resgate. Portanto, este profissional da de agentes biológicos. Conforme Rocha, mais preocupante dos agentes biológi-
saúde é o primeiro a ter o contato direto a utilização destes agentes em massa po- cos, pois pode causar epidemias devas-
com a vítima sem ter diagnósticos pre- de comprometer uma população. Ainda tadoras, sendo que seu desaparecimen-
estabelecidos. “Todo paciente deve ser que limitado, há evidências do uso de ar- to não ocorreu de maneira natural, mas
considerado potencialmente contami- mas biológicas no mundo. “O grupo ul- por meio de forte e vasta campanha de
nado, e devido a isto, os riscos à saúde tranacionalista japonês, Aum Shinrikyo, erradicação internacional por meio da
destes trabalhadores que atuam no APH autor do ataque com gás Sarin no metrô vacinação”, ressalta Rocha.
podem se tornar elevados. A exposição de Tóquio, já havia empregado esporos Segundo o especialista, acredita-se que
aos riscos biológicos é preocupante, uma do B. anthracis, mas sem causar vítimas, os Estados Unidos e a Rússia tenham o
vez que são causadores de muitos pro- por isto, afirmamos que o Bioterrorismo vírus estocado, fato que preocupa, pois
blemas de saúde nos trabalhadores”, afir- é uma realidade”. Segundo estudiosos, o pode haver desvios para laboratórios de
ma Rocha. Para Gisele Rossi, diretora de Bioterrorismo existe desde a antiguida- outros países, envolvendo programas de
Enfermagem do GRAU-SP, para dimi- de quando, na busca pela conquista de armas biológicas. Para Rocha, o Brasil
nuir o risco de contágio, os profissionais um território ou como mecanismo de ainda não está preparado para evitar ata-
que trabalham no APH devem conhecer defesa, o ser humano descobriu e fez ques bioterroristas. “Diferente dos paí-
os principais sintomas destas doenças e, uso de instrumentos e agentes que, ao ses de primeiro mundo, não possuímos
principalmente, as queixas dos pacien- contaminar o ar, a água e os alimentos, laboratórios com a segurança necessária
tes que apresentam estas afecções, e na dizimou populações inteiras. “Em tese, para a manipulação e estudos de micro-
dúvida e/ou suspeita sempre utilizar os praticamente qualquer agente biológico -organismos como ebola, varíola, antraz
e outros agentes que podem ser utiliza-
ARQUIVO PESSOAL

ARQUIVO PESSOAL

VALDIR LOPES

dos como armas de destruição em massa.


Para prevenirmos e combatermos o Bio-
terrorismo, primeiro, temos que acreditar
que ele possa acontecer, posteriormente
é necessário a elaboração de estratégias
e a criação de várias medidas, tais como,
multiplicação de informações, dissemi-
nação de conhecimento, preparação e
aquisição de recursos tecnológicos, bem
como adequada preparação e capacita-
ção dos profissionais de segurança e de
Telma: expansão Gisele: uso de EPIs Rocha: Bioterrorismo primeira resposta”, conclui.
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Foco na proteção individual
Uso correto dos EPI’s é de extrema
importância no atendimento
Como dito anteriormente, os agentes tos); uso de luvas (quando houver con-
biológicos podem ser transmitidos pe- tato com sangue ou secreção), másca-
lo sangue, por fluidos corpóreos e pelo ras, protetor de olhos, protetor de face
ar. Cada forma de transmissão tem uma (principalmente em situação que ocor-
forma diferente de controle. Por isto, é ra respingos de sangue) e avental (para
de extrema importância que os profis- proteção de superfície corporal, em si-
sionais de emergência saibam o tipo de tuação de exposição a sangue e líquido
patologia e o que utilizar para se prote- corporal).
ger. Conforme Telma Abdalla de Olivei- O médico infectologista do Instituto
ra Cardoso, coordenadora do Núcleo de de Infectologia Emílio Ribas, Jessé Reis
Biossegurança da Fiocruz, é importante Alves, explica que não basta apenas uti-
destacar também que um mesmo agente lizar o EPI, e sim utilizá-lo corretamen-
pode ser transmitido por mais de uma te. “Os cuidados dizem respeito ao uso
via de contágio. “As medidas de precau- correto de EPI’s, treinamento constante
ção padrão são as mais básicas e devem de equipes para que todos estejam ap-
ser adotadas por todos os profissionais tos a usar os equipamentos e atuação
de saúde no manuseio de qualquer pa- de uma logística perfeita que garanta a
ciente ou amostra, inclusive quando a presença do material adequado dispo-
fonte é desconhecida e independente- nibilizado no momento certo e nos lo-
mente de diagnóstico, e no manuseio de cais necessários. Lembrando que o uso
artigos contaminados, quando houver correto dos EPI’s vai desde o acondi-
risco de contato com: sangue, líquidos cionamento e uso e descarte dentro das
corporais, secreções, pele não íntegra e normas, evitando assim a contaminação
membranas mucosas”, explica. Segundo dos profissionais, de outros pacientes e
especialistas, entre estas medidas pode- de terceiros”.
mos citar: a higienização das mãos (antes Outro fator determinante no uso dos
e após os procedimentos e atendimen- EPI’s é o cuidado que se deve ter ao
ERASMO SALOMÃO

Maca “bolha” foi um dos inúmeros equipamentos de proteção adquiridos pela


Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo para enfrentar a ameaça do ebola no país

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ESPECIAL/EMERGÊNCIA BIOLÓGICA
306/2004”. tos de Proteção Individual necessários
VENILTON KÜCHLER

O grande pro- variam de situação para situação. Para


blema com o uso selecionar um vestuário adequado, os
destes equipamen- profissionais devem avaliar o seu risco
tos de proteção é no local de trabalho e, como um deter-
que as equipes de minado método de teste pode ser usa-
emergência reali- do para cumprir as suas obrigações com
zam procedimen- relação aos regulamentos”. Etore com-
tos simples e com- plementa dizendo que os profissionais
plexos com agili- devem verificar também se o EPI sele-
dade, o que, em cionado atende os padrões governamen-
algumas situações, tais e industriais relevantes. Além disto,
ocorrem sem o uso os indivíduos devem estar bem treinados
de todos os EPI’s. quanto à colocação, retirada, utilização e
“Apesar de conhe- eliminação do equipamento para evitar
cerem os riscos não a contaminação.
utilizam correta- Todas as informações a respeito do
mente os EPI’s, até uso correto e do tipo de Equipamen-
mesmo, em pro- to de Proteção Individual utilizado em
cedimentos como atendimentos com risco biológico po-
punções, acessos dem ser encontradas no site da Anvisa
venosos, passagem (Agência Nacional de Vigilância Sani-
de sonda ou outro tária - http://portal.anvisa.gov.br) e da
acesso invasivo que OMS (Organização Mundial de Saúde
envolva exposição - http://www.who.int/eportuguese/
e possível contato publications/pt/).
com secreções po-
tencialmente con- EBOLA
taminadas, muitas Existem algumas doenças que exigem
vezes condutas jus- uma proteção mais complexa, como o
tificadas pela auto- Ebola, por exemplo. Segundo Rocha, o
confiança, acomo- vírus Ebola tem uma taxa de letalidade
dação e até mesmo que pode ser superior a 90%, podendo
negligência”, desta- ser contraído quando uma pessoa entra
ca o especialista em em contato com carne crua, sangue, se-
Profissionais devem estar treinados para colocação,
retirada, utilização e eliminação do equipamento Gestão de Emer- creções e outros fluidos de um animal ou
gências e Desas- de uma pessoa contaminada, bem como
tres, com capacita- com superfícies e objetos contaminados,
ves­tir, com o intuito de não deixar uma ção em Comando de Emergências e em aumentando o nível de proteção. Des-
porta de entrada, e ao desvestir, cuidan- Gerenciamento de Emergências com ta forma, no atendimento ao paciente
do para não se contaminar involuntaria- Armas Químicas e Biológicas, Marco com suspeita de ebola, por exemplo, o
mente. Lembrando que os EPI’s devem Aurélio Rocha. recomendável é utilizar macacão imper-
ser colocados antes de o profissional en- Atualmente, há inúmeros fornece- meável com capuz, mangas compridas
trar em contato com o paciente. dores de EPI no Brasil, porém existem e reforço nas costuras e dupla selagem,
O capitão Alexandre Cardoso Bap- requisitos especiais para o material de avental impermeável, duas proteções
tista, médico do GSE/CBMERJ (Gru- vestuário utilizado neste tipo de atendi- impermeáveis para os calçados, máscara
pamento de Socorro e Emergência do mento. Segundo especialistas, uma ava- de proteção respiratória PFF2 ou N95,
Corpo de Bombeiros Militar do Estado liação do desempenho das vestimentas balaclava, óculos de proteção, duas lu-
do RJ), lembra que, devido ao risco acen- de proteção pode ajudar na escolha do vas cirúrgicas e uma luva de borracha
tuado de contaminação dos profissionais equipamento correto. De acordo com longa. “Estes equipamentos devem es-
de APH e do ambiente, os equipamentos Etore Frederici, gerente de Marketing tar disponíveis nas viaturas e todos os
e as vestimentas devem ser de uso exclu- da DuPont, empresa que produz ves- profissionais devem saber utilizá-los”,
sivo/único. “Deste modo, após sua utili- timentas de proteção a profissionais ressalta a diretora de Enfermagem do
zação, deverão ser acondicionados com de Emergência, Saúde e Segurança do GRAU-SP (Grupo de Resgate e Atenção
segurança em sacos plásticos lacrados e Trabalho, entre outros produtos, “não às Urgências e Emergências do Estado
devidamente identificados como resídu- existe um teste único que qualifica uma de SP), Gisele Rossi. Aliás, a ambulância
os biológicos. Em seguida, encaminha- peça de vestimenta para proteção con- usada no transporte deve ser envelopa-
dos para tratamento final (incineração), tra agentes infecciosos. As aplicações da com material especial para este tipo
conforme determina a RDC/Anvisa nº são muito diferentes e os Equipamen- de ocorrência.
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ESPECIAL/EMERGÊNCIA BIOLÓGICA

Preparação do Brasil
Para garantir a segurança dos profis-
sionais de emergência de São Paulo, a
Secretaria de Saúde do Estado investiu
na aquisição de EPI’s para as equipes do
GRAU-SP e do CBPMESP (Corpo de Após alerta sobre o vírus Ebola,
Bombeiros da Polícia Militar do Esta- país tenta alinhar setores da área
do de SP). “Adquirimos roupas nível B
e C, máscaras com filtros, botas e luvas Para garantir a segurança da popula- tendo como princípio a utilização de um
de borracha, detectores de cargas bioló- ção e, principalmente, dos profissionais sistema de coordenação e de controle das
gicas e nervosas (para usar em caso de de saúde, deve haver uma preparação de operações de resposta em situações críti-
ataques terroristas), barracas e chuveiros todos os setores ligados à área, no país. cas. Foram ainda estabelecidos e imple-
de descontaminação, duas macas ¨bolha¨ Após o alerta mundial da OMS (Organi- mentados protocolos e procedimentos
e envelopamento de duas Unidades de zação Mundial de Saúde), em 2014, pa- específicos, além da elaboração de alguns
Resgate”, afirma Gisele. Segundo a en- ra o risco de epidemia do vírus Ebola, planos de contingência, como: Plano de
fermeira, todos estes equipamentos são o Brasil começou a se preparar melhor. Contingência para Emergência em Saú-
utilizados pelos grandes países que aju- Hoje, por meio do Ministério da Saúde de Pública por Agentes Químicos, Bio-
daram os acometidos pelas epidemias e das Secretarias Estaduais e Municipais, lógicos, Radiológicos e ­Nuclear; Plano
de ebola. há um protocolo de abrangência nacio- de Contingência Nacional para Epide-
No que diz respeito ao desempenho nal que é acionado em casos de todas as mias de Dengue; Plano de Contingên-
da vestimenta, no caso de vírus como o emergências biológicas. “Aprendeu-se cia - Doença pelo Vírus Ebola; Plano
ebola, o tipo de costura e robustez de- muito desde o começo da epidemia de de Contingência Nacional para a Febre
vem ser levados em consideração. “Para ebola na África e os Planos de Contin- Chikungunya; Plano de Eliminação da
atender este tipo de patologia, o produto gência desenvolvidos no Brasil para esta Malária no Brasil; Plano Brasileiro de
deve possuir ISO 16604 (Clothing for Pro- eventualidade continuam em prática. A Preparação para Enfrentamento de uma
tection Against Contact with Blood and Body prova disto, foi o caso suspeito da doen- Pandemia de Influenza; dentre outros”.
Fluids - Vestuário de Proteção Contra ça que ocorreu, recentemente, em Belo Estes documentos vêm sendo utilizados
Contato com Sangue e Fluidos Corpo- Horizonte/MG e que foi prontamente no monitoramento de grandes eventos
rais) ”, exalta Etore. identificado e conduzido até o hospital como a Copa do Mundo e Olimpíadas
de referência na Fundação Oswaldo Cruz de 2016.
PARCERIA no RJ”, exalta Jessé Reis Alves, médico Além de enfatizar a importância dos
Pensando na segurança dos profis- infectologista do Instituto de Infectologia protocolos, Marco Aurélio Rocha, es-
sionais de saúde, a DuPont fez uma Emílio Ribas. Segundo Telma Abdalla de pecialista em Gestão de Emergências e
parceria com a Johns Hopkins, maior Oliveira Cardoso, coordenadora do Nú- Desastres, com capacitação em Coman-
universidade de pesquisa e ciência do cleo de Biossegurança da Fiocruz, insti- do de Emergências e em Gerenciamento
mundo, com o objetivo de melhorar o tuição para onde são encaminhados os de Emergências com Armas Químicas e
material das vestimentas utilizadas em pacientes com suspeita do vírus Ebola, Biológicas, ressalta também os programas
atendimentos a emergências biológicas. “a infraestrutura de saúde pública deve de prevenção. “Sabemos que o melhor
Ambas as partes estão trabalhando na estar preparada para a prevenção de do- caminho é a prevenção, pois onde a pre-
confecção de uma vestimenta com ca- enças e dos danos que poderão resultar venção falha o sinistro acontece. Pensan-
racterísticas inovadoras que ajude a pro- das ameaças biológicas. A detecção pre- do nisto, algumas medidas preventivas/
teger as pessoas na linha de frente da coce e controle das consequências, de- educativas foram desenvolvidas, visan-
crise ebola e futuros surtos de doenças pende da solidez e flexibilidade do sis- do tentar mitigar e orientar a população.
infecciosas mortais. Segundo a empresa, tema de saúde pública. É necessário o No caso relativo ao ebola, o Ministério
a intenção é que as primeiras peças es- estabelecimento de sistema de vigilância da Saúde divulgou medidas de monito-
tejam disponíveis no mercado ainda no epidemiológica que proporcione infor- ramento de viajantes vindos de países da
primeiro semestre deste ano. mações em tempo real e de uma intensa África Ocidental afetados pelo vírus co-
De acordo com a DuPont, o macacão educação dos profissionais de saúde e da mo Libéria, Serra Leoa e Guiné, na che-
contará com um zíper traseiro e uma população de um modo geral”. gada ao Brasil. Depois de passar por uma
remoção “de estilo casulo”, ou doffing, A partir da portaria do Ministério da triagem, os passageiros receberam mate-
processo que requer muito menos me- Saúde nº 1.378, de 9 de julho de 2013, riais informativos em português, inglês,
didas para reduzir o risco. A peça Du- que determina como competência da espanhol e francês com orientações sobre
Pont pode incluir uma capa integrada Secretaria de Vigilância em Saúde a co- sinais da doença. Os passageiros também
com uma grande viseira transparente. ordenação da preparação e resposta das tinham informações de origem colhidas
Mais informações sobre o acordo em ações de vigilância em saúde, nas emer- e temperatura aferida”, diz.
http://www.dupont.com/products-an- gências de saúde pública de importância Todo este contexto também faz parte
d-services/personal-protective-equip- nacional e internacional, foi elaborado e da Biossegurança, ou seja, um conjun-
ment/chemical-protective-garments/ publicado em 2014 o Plano de Prepara- to de ações cuja finalidade é prevenir,
press-releases/dupont-johns-hopkins- ção e Resposta às Emergências em Saú- controlar, minimizar ou extinguir riscos
-ebola.html. de Pública. “Este Plano foi estruturado existentes ao trabalhador. “A adesão de
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medidas de Biossegurança é fundamental das informações sobre os fatores de ris- co no intra-hospitalar, porém, perante o
para que ocorra a prevenção de acidentes co, colocando em prática os métodos e Ministério do Trabalho, os profissionais
biológicos. Não esquecendo que a educa- procedimentos de prevenção. do APH podem se basear em alguns as-
ção continuada auxilia para que os pro- Outro documento que serve de re- pectos da norma que se adequam ao seu
fissionais executem suas atividades com ferência aos profissionais de APH é a ambiente de trabalho e atividade, destaca
confiança e qualidade, estabelecendo um Norma Regulamentadora NR 32 que o médico Marcelo Pustiglione, professor
padrão de segurança operacional”, afir- tem como finalidade estabelecer as di- da disciplina de Medicina do Trabalho, da
ma Rocha. O especialista ainda comple- retrizes básicas para a implementação Faculdade de Medicina da Universidade
menta dizendo que todo o programa de de medidas de proteção à segurança e à de São Paulo.
gestão de segurança e prevenção de aci- saúde dos trabalhadores dos serviços de
dentes com agentes biológicos só será saúde, bem como daqueles que exercem TREINAMENTOS
viável e eficaz se todos os envolvidos se atividades de promoção e assistência à Para garantir o sucesso no atendimen-
engajarem e se tornarem multiplicadores saúde em geral. O texto foi feito com fo- to às emergências biológicas, inúmeros

ATENDIMENTO PARA SUSPEITA DE EBOLA


Médico Regulador da Central do APH Suporte Básico ou Avançado de Vida, minimizando capacidade, identificados pelo símbolo de subs-
 Avaliar e acionar os recursos necessários ao máximo as intervenções e manipulações duran- tância infectante, com rótulos de fundo branco,
e adequados para o atendimento nos casos por te o transporte; desenho e contornos pretos;
ele classificados como Casos Suspeito, Provável  Evitar o uso de altas pressões de água e
ou Confirmado; Equipe de APH – Durante o transporte não pulverizar o produto químico desinfetante de
 Informar à equipe de intervenção sobre a  Garantir um transporte seguro e confortável procedimentos que gerem aerossóis e respingos,
suspeita do caso destinando-a para a ambulância para o paciente e para a equipe; quando estiver fazendo a limpeza da ambulância;
definida pelo gestor;  Monitorar o paciente e prestar assistência  No caso de haver matéria orgânica (san-
 Entrar em contato com o Hospital de Refe- quando necessária; gue, vômito, fezes, secreções) visíveis no interior
rência para informar as condições clínicas do pa-  Evitar manipulações desnecessárias para da ambulância, deve-se inicialmente proceder à
ciente antes de encaminhá-lo (Veja a lista na ta- evitar possibilidade de contaminação da equipe/ retirada do excesso com papel/tecido absorvente
bela hospitais de referência estaduais para ebola); material; e posteriormente realizar a limpeza (com água e
 Em caso de óbito será acionada a vigilância  Oferecer oxigenioterapia se necessário; sabão) e a desinfecção;
epidemiológica e será realizado o isolamento da  Realizar somente os procedimentos invasivos  Todos os itens com os quais o paciente ti-
área pela equipe assistencial no local; estritamente necessários à manutenção da vida. Ca- ver contato e as superfícies das bancadas e piso
 Realizar a notificação compulsória de acordo so utilize o respirador deve-se utilizar filtro de bar- da ambulância devem ser submetidos à desinfec-
com a portaria nº 1.271, de 6 de junho de 2014, às reira biológica com eficiência de filtração de 95%; ção com álcool a 70% ou hipoclorito de sódio 10
autoridades de saúde das Secretarias Municipais,  Identificar todos os materiais que entraram em mil ppm ou 1% de cloro ativo (com dez minutos
Estaduais e à Secretaria de Vigilância em Saúde contato diretamente com o paciente; Evitar manipu- de contato);
pelos seguintes meios: telefone 0800.644.6645; e- lar caneta, telefone celular, óculos de grau ou outro  Uma vez terminada a limpeza e desinfecção
mail: notifica@saude.gov.br ou formulário eletrôni- objeto pessoal para evitar contaminação; da ambulância, a equipe deverá fazer a remoção
co no site da SVS: http://formsus.datasus.gov.br/  Restringir o acesso da cabine ao salão da dos EPI’s de acordo com a técnica adequada (vide
site/formulario.phd?id_aplicação=6742. ambulância; anexo) e acondicionar em sacos vermelhos identi-
 Fazer a entrega do paciente no hospital de ficados pelo símbolo de sustância infectante. Estes
Equipe de APH – Antes da remoção referência garantindo os cuidados de proteção às EPI’s deverão ser deixados no hospital para os pro-
 Tomar conhecimento das condições clíni- equipes receptoras; cedimentos de descarte. A equipe deve proceder a
cas do paciente a ser transportado ou atendido;  Caso ocorra óbito na ambulância durante o higienização das mãos imediatamente após a re-
 Realizar o check list da ambulância, verifi- transporte: colocar o paciente em saco plástico im- moção do EPI, utilizando o álcool-gel ou soluções
cando se todos os itens de Biossegurança e pre- permeável e à prova de vazamentos, observando degermantes (clorexidina a 2% ou PVPI 10%).
caução de contato necessários estejam disponí- as precauções de segurança, caso o paciente já
veis e retirar os materiais (equipamentos, excesso esteja “envelopado” manter o dispositivo de prote- Transporte aeromédico
de descartáveis e insumos estratégicos, etc.) que ção; não deixar orifícios no saco que possibilitem  Devem ser utilizadas as mesmas orientações
não serão utilizados; contato com o corpo da vítima; colocar o corpo da para o transporte de ambulância, observando as
 Utilizar os EPI’s padronizados e em boas vítima no necrotério do hospital; seguir os proces- seguintes peculiaridades:
condições de uso antes de abordar o paciente; sos de desinfecção descritos a seguir.  O transporte deve ser feito em aeronave
Envelopar com plástico filme os equipamentos de exclusiva e dedicada para remoção aeromédica;
suporte avançado que poderão ser utilizados no Após o transporte  O piloto e co-piloto, sempre que houver a
atendimento (oxímetro, desfibrilador, ventilador);  Imediatamente após o paciente ser entre- possibilidade de contato com a vítima ou fluidos,
 Ao acessar o paciente, isolá-lo com bata/ gue ao hospital de referência, realizar a limpeza deverão utilizar os EPI’S;
avental de abertura posterior – a equipe deve au- da ambulância, de todos os materiais, superfícies  Após o término do transporte, efetuar a lim-
xiliá-lo a vestir-se, ou Manta Térmica/TNT, ou saco e equipamentos, com os EPI’s utilizados durante peza utilizando os mesmos padrões da limpeza
plástico impermeável, resistente, para “envelopa- o transporte; das ambulâncias.
mento” do paciente;  Os materiais descartáveis utilizados deverão
 Preparar o paciente para transporte, rea- ser acondicionados em sacos vermelhos, que de- Fonte: MS (http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/com-
lizando todos os procedimentos necessários de vem ser substituídos quando atingirem 2/3 de sua ponent/content/article?id=14228)

FEVEREIRO / 2016 Emergência 31


ESPECIAL/EMERGÊNCIA BIOLÓGICA
treinamentos e simulados são realizados termunicipal SAMU Oeste), em 9 de ou- tes realizados pelo NEP às equipes ope-
pelos órgãos de Urgência e Emergência tubro de 2014, a um paciente com suspei­ racionais no decorrer do ano para situa-
de todo o Brasil. Segundo Gisele Rossi, ta de ebola. Na ocasião, o órgão seguiu o ções de risco biológico que vão desde as
diretora de Enfermagem do GRAU-SP, protocolo do Ministério da Saúde (dispo- rotineiras até as mais complexas”.
o treinamento prático consiste em colo- nível em http://portal.saude.pe.gov.br/ O fato é que o atendimento a um pa-
car e retirar os EPIs de forma adequada sites/portal.saude.pe.gov.br/files/proto- ciente com suspeita de ebola ainda pre-
(prevendo a não contaminação no mo- colo-de-vigilancia-ebola-26-08-versao-5-. ocupa bastante os profissionais de saú-
mento do atendimento) e realizar a lim- pdf) e informou a Secretaria de Saúde do de. Também em 9 de outubro de 2014,
peza da viatura e dos equipamentos. “Ou- Estado. Uma equipe do MS foi enviada uma equipe do SAMU Porto Alegre/RS
tra importante ação dos treinamentos é até o local, por meio da FAB (Força Aé- se negou a atender uma vítima com sus-
a formação do profissional a identificar rea Brasileira), realizando o transporte peita do vírus. Na ocasião, mesmo confir-
sinais e sintomas precoces das doenças, do paciente para a Fiocruz, hospital de mando que não se tratava de um paciente
prevenindo a equipe e utilizando preco- referência nacional, localizado no Rio de com a doença, o órgão teve que encami-
cemente os equipamentos de proteção”, Janeiro/RJ. “O preparo dos profissionais nhar outra equipe. Após o ocorrido, ini-
complementa. e do serviço, tanto nos treinos referen- ciaram as capacitações dos profissionais,
Na parte teórica, o médico capitão Ale- tes à utilização e importância dos EPI’s, bem como a aquisição de equipamentos
xandre Cardoso Baptista, do GSE/CB- quanto o preparo dos médicos regula- e ambulância envelopada.
MERJ (Grupamento de Socorro e Emer- dores no reconhecimento da situação e Para o médico infectologista, Celso S.
gência do Corpo de Bombeiros Militar do acionamento da cadeia de colaboradores Alves, coordenador do Serviço de Epi-
Estado do RJ), ressalta a importância da responsáveis pelo apoio em situações de demiologia e Controle de Infecção Hos-
disseminação do conhecimento sobre as alta complexidade, foi fundamental para pitalar do HMIPV (Hospital Materno In-
patologias. “O treinamento para atuação vencermos a situação de alto potencial fantil Presidente Vargas) e emergencista
em emergências biológicas também deve de gravidade com tranquilidade e sem do HNSC (Hospital Nossa Senhora da
capacitar quanto às particularidades desta intercorrências”, afirma Carlos Augus- Conceição), de Porto Alegre, os treina-
atividade, provendo conhecimento sobre to Pereira, diretor de Enfermagem do mentos são fundamentais para o suces-
os riscos implicados e as normas de se- CONSAMU-PR. so das operações. Porém ele defende a
gurança. Isto significa familiarizar os pro- De acordo com Pereira, todo profissio- ideia de que se deve ter equipes especí-
fissionais com os agentes biológicos mais nal admitido pelo órgão passa por uma ficas para realizar tais capacitações. “Na
comuns e consequências à saúde após capacitação promovida pela equipe do minha opinião, devemos restringir os trei-
exposição. A capacitação também inclui NEP (Núcleo de Educação Permanen- namentos mais específicos a uma equipe
conteúdos sobre as formas de contami- te), no qual o tema atendimento de ocor- de profissionais habilitados e disponíveis
nação e os efeitos agudos e crônicos nos rências com risco biológico e químico para esta função. Os treinamentos para
indivíduos expostos, bem como os méto- é previsto na grade do curso. “Além da estas atividades são árduos, repetitivos
dos e protocolos de tratamento eficazes”. instrução inicial, o tema faz parte da lista e a permanência de um programa deste
Devido aos grandes eventos que vêm de simulados e treinamentos permanen- porte requer investimentos em recursos
acontecendo no país, diversos órgãos humanos e materiais e os recursos dispo-
realizam treinamentos e simulados. Em HOSPITAIS DE REFERÊNCIA níveis hoje no SUS não suportariam esta
Pernambuco, por exemplo, o SAMU Re- ESTADUAIS PARA EBOLA estrutura para treinar todos os profissio-
cife realizou diversas capacitações com o UF Nome do Hospital de Referência nais, durante todo o tempo”.
apoio do Exército Brasileiro, Corpo de PA Hospital Universitário João de Barros Barreto Apesar de algumas deficiências, o Brasil
Bombeiros Militar e Ministério da Saú- PB Hospital Clementino Fraga vem buscando melhorar gradativamente
de. “Estas capacitações e treinamentos PE Hospital Universitário Oswaldo Cruz no que diz respeito às emergências biológi-
estavam em conformidade com a por- PI Instituto de Doenças Tropicais Natan Portela - IDTNP cas. Atualmente, existem hospitais de refe-
taria 2.048 do MS que institui a Política PR Hospital Municipal de Foz do Iguaçu rência espalhados pelos estados brasileiros
Nacional de Atenção as Urgências. Du- Hospital Regional do Litoral e a Fiocruz em nível ­nacional, equipados
rante a atividade, treinamos as equipes Hospital do Trabalhador para receber pacientes vítimas de agentes
sobre o uso correto de EPI’s, embarque Hospital de Clínicas da UFPR biológicos. Além disto, existem laborató-
e desembarque da equipe e das vítimas, RJ Instituto Nacional de Infectologia - IPEC rios em condições de realizar exames de
acesso aos hospitais de referência com RN Hospital Giselda Trigueiro confirmação de casos suspeitos, sem falar
paciente contaminado, descarte do ma- RO Hospital Centro de Medicina Tropical de Rondônia de alguns treinamentos realizados pelos
terial utilizado, higienização das viaturas RR Hospital Geral de Roraima órgãos de Urgência e E­mergência. Segun-
e materiais permanentes. Montamos kits RS HNSC do especialistas, esta melhora é um legado
de EPI’s e preparamos ambulâncias es- SC Hospital Nereu Ramos (Infec. Adulto) dos grandes eventos que vêm acontecen-
pecificamente para uso em um possível Hospital Joana Gusmão (Infec. Infantil) do no país. “Por conta da expectativa em
acidente biológico”, ressalta o coordena- SE Hospital de Urgência de Sergipe Gov. João Alves Filho receber milhares de turistas e esportistas,
dor do órgão, Leonardo Gomes Menezes. SP Hospital Emílio Ribas o Brasil vem se preparando para garantir
Para reforçar a importância da capacita- TO Hospital Geral de Palmas Dr. Francisco Ayres a segurança de todos, inclusive no que diz
ção, podemos citar o atendimento realiza- Fonte: MS (http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/com- respeito a emergências biológicas”, con-
do pelo CONSAMU-PR (Consórcio In- ponent/content/article?id=14228)
cluiu capitão Cardoso.
32 Emergência FEVEREIRO / 2016

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