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DIVULGAÇÃO CBPMESP ESPECIAL/SISTEMA

ESPECIAL/SISTEMA DE
DE COMANDO
COMANDO DE
DE INCIDENTES
INCIDENTES

22 Emergência
22 Emergência OUTUBRO / 2017
GERENCIAMENTO
DE EMERGÊNCIA
Especialistas falam sobre se confuso no atendimento de emergências de
grandes proporções como, por exemplo, aci-
os modelos de Sistema de dentes automobilísticos envolvendo múltiplas
Comando de Incidentes vítimas, grandes incêndios florestais, acidentes
com produtos perigosos, desastres naturais,
presentes no país e sua entre outros. Isto porque, nas ocorrências de
importância para prevenir grandes proporções, encontram-se órgãos pú-
blicos e privados que, no dia a dia, não traba-
e minimizar danos lham juntos.
Diante da necessidade de uma estrutura na
Emergências são situações inesperadas que qual os órgãos de resposta trabalham em con-
exigem uma intervenção imediata de profissio- junto e de forma organizada, os Estados Uni-
nais qualificados e equipados adequadamente, dos criaram, na década de 70, o ICS (Incident
atendidas cotidianamente pelos órgãos de saúde Command System), conhecido no Brasil como
e segurança responsáveis pelo primeiro atendi- SCI (Sistema de Comando de Incidentes). Uma
mento e controle do sinistro. Entretanto, exis- ferramenta gerencial que utiliza um conjunto
tem as chamadas situações críticas, cujas carac- de princípios e regras para planejar, organizar,
terísticas de risco exigem, além de uma inter- integrar, dirigir e controlar as fases de uma ope-
venção imediata, uma postura organizacional ração de resposta a grandes emergências, com
não rotineira, para o gerenciamento integrado objetivo comum de prevenir e minimizar per-
das ações de resposta. Segundo especialistas, das humanas, ambientais e/ou materiais.
o que é eficaz e adequado nos atendimentos
a incidentes rotineiros, muitas vezes, mostra- Reportagem de Luana Cunha

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ESPECIAL/SISTEMA DE COMANDO DE INCIDENTES
cy Management Agency) e a USCG (United
DIVULGAÇÃO CBPMESP

State Cost Guard).


Segundo especialistas, o SCI (como é
conhecido no Brasil) foi desenvolvido
para atender qualquer tipo de emergên-
cia. A estrutura do sistema desenvolve-
se de cima para baixo (top-down), com a
delegação de funções e responsabilida-
des baseada na complexidade do evento.
“Quando analisamos os conceitos bási-
cos do SCI, as atividades relacionadas
com o planejamento, administração ou
finanças, logística e operações, enquanto
não são delegadas, são de responsabili-
dade integral do comando daquela ocor-
rência. Desta forma, mesmo em uma
emergência simples o sistema é neces-
O SCI é um processo de resposta sário para um adequado ordenamento
sistematizado, baseado no
estabelecimento de estratégias e táticas e sistematização das ações”, afirma Pe-
rez. Dentre os parâmetros organizacio-
“Uma das principais diferenças em rez, após uma Comissão do Congresso nais do SCI, as emergências/ocorrências
uma emergência no qual o SCI está im- Americano analisar os modelos de ge- podem ser classificadas em cinco tipos,
plantado, é quando na ocorrência exis- renciamento utilizados pelas equipes de ou níveis de complexidade, tais como:
tem diversas representações/institui- emergência em Nova Iorque (World Tra- tipo 1 (altamente complexa), de interes-
ções que necessitam estar integradas por de Center) e Washington (Pentágono), foi se nacional; tipo 2 (muito complexa), de
meio de um comando. A aplicação dos identificado que o evento em Washin- interesse regional/nacional; tipo 3 (não
conceitos e procedimentos operacionais gton obteve melhor resultado devido à rotineira), de interesse local; tipo 4 (ro-
para o desenvolvimento de um comando utilização do ICS, enquanto que a cidade tina); e tipo 5 (inicial). Cada um destes
integrado é uma das ferramentas mais de Nova Iorque não adotava o sistema. níveis possui uma detalhada caracteri-
poderosas em uma emergência com es- Após a análise, a Comissão criou o NI- zação que auxilia na operacionalização
tas características”, explica Rubens César MS (National Incident Management System de um sistema de gestão e preparação.
Perez, Engenheiro Químico, especialis- – Sistema Nacional de Gerenciamen- Vale destacar que o SCI não é uma es-
ta em Incêndios Industriais, mestre em to de Incidentes), difundindo o Incident trutura física pronta e sim um sistema
Processos Tecnológicos e Ambientais. Command System em todo o território que, diante de uma emergência, é utili-
Um dos eventos mais determinantes americano. Atualmente, os principais zado para definir estratégias e funções
para a consolidação do ICS no território elos de fortalecimento, divulgação e ca- que serão realizadas no gerenciamento.
americano, bem como sua projeção para pacitação do sistema nos Estados Uni- Geralmente é montado um posto de co-
o mundo, foram os atentados terroris- dos e em outros países que adotam esta mando, coberto ou ao ar livre, do qual
tas de setembro de 2001. Conforme Pe- doutrina são a FEMA (Federal Emergen- partem todas as ações coordenadas por

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campeonatos esportivos, festas temáti-

OPERAÇÃO MACONDO cas, entre outros.

CARACTERÍSTICAS
Macondo é a denominação dada à área no tando a configuração de um comando unificado.
Golfo de México (80 km da costa da Louisiana/ O quartel general das operações foi localizado Como pode ser observado, o SCI é um
EUA) onde a plataforma Deepwater Horizon es- na Louisiana. Cinco postos de comando foram processo de resposta sistematizado, ba-
tava instalada para perfurar o subsolo marinho estruturados em: Galveston, Houston, Houma, seado no estabelecimento de estratégias
para a extração de petróleo. Uma explosão, se- Mobile e Miami. Todas as operações seguiram e táticas, tendo como objetivos princi-
guida de incêndio, atingiu o local no dia 20 de as premissas estabelecidas pelo NIMS (Na- pais: melhoria dos aspectos de seguran-
abril de 2010. “O petróleo jorrou sem controle tional Incident Management System - Sistema ça operacional de todos os envolvidos;
por 87 dias. Relatos indicam que mais de 5 mi- Nacional de Gerenciamento de Incidentes)”, flexibilidade operacional, pois o modelo
lhões de barris de petróleo foram derramados afirma. No dia 28 de abril, oito dias após a ex- permite expandir ou contrair a estrutura
no Golfo do México, tornando-se um dos maio- plosão inicial, a equipe nacional de resposta
de maneira adequada a cada ocorrência;
res desastres ambientais da história atual dos americana (National Response Team) assu-
Estados Unidos”, ressalta Rubens César Perez, miu que o evento tinha interferências nacionais
utilização de um processo de comunica-
Engenheiro Químico, especialista em Incêndios e necessitava de ações na esfera federal. De ção integrado e padronizado; utilização
Industriais. No dia 15 de julho, especialistas acordo com os protocolos existentes, um Co- de procedimentos para estabelecimento
conseguiram conter o vazamento a quase 18 mandante Nacional do Incidente foi designado e transferência de comando; desenvol-
mil pés de profundidade (5,5 km) abaixo da su- pelo Secretário de Segurança Americano. “Até vimento de uma organização modular
perfície. Além do enorme desastre ambiental, o o evento de Macondo, as responsabilidades de com conceitos de cadeia de comando
acidente deixou 11 trabalhadores mortos e 17 um Comandante Nacional de Incidentes (Natio- e unidades de comando; desenvolvi-
feridos. Conforme Perez, o incidente no Golfo nal Incident Command) nunca haviam sido es- mento de planos de ação consolidados;
do México pode ser objeto de análise por meio tabelecidas nos Estados Unidos. A mobilização dentre outros.
de várias perspectivas, uma delas é do ponto de de embarcações no processo de resposta a es- Conforme Perez, o SCI é compos-
vista logístico e das questões de gerenciamento te evento emergencial foi de tal magnitude que
to por cinco funções básicas de geren-
das operações. “Um adequado SCI (Sistema de superou o famoso dia “D” da Segunda Guerra
Comando de Incidentes) foi desenvolvido, ado- Mundial”, afirma Perez.
ciamento: Comando, que estabelece os
objetivos da ocorrência, estratégias e
prioridades, assumindo a responsabili-
dade global da emergência; Operações,
TOM ATKESON/U.S. COAST GUARD

na qual se determinam as táticas e os


recursos a serem utilizados para atin-
gir/alcançar os objetivos, executando
as operações táticas; Planejamento, que
coleta e analisa as informações, monito-
ra e rastreia os recursos e mantém todas
as documentações; Finanças e Adminis-
tração, que controla as despesas, contra-
tos e pagamentos e executa as compras
e aquisições de recursos necessários; e
Logística, que fornece os serviços e re-
cursos necessários durante a operação.
“O comando de uma emergência é o
responsável por todas as funções de ge-
renciamento até que haja as devidas de-
legações”, complementa Perez.
Conforme Rocha, o comando da ope-
ração é do primeiro ente público que
um comandante, junto com os repre- o SCI pode iniciar com uma estrutura chegar ao local, sendo repassado para
sentantes de cada órgão e instituição simples e passar para uma complexa ou o órgão envolvido diretamente na ação,
presente na operação. A estrutura de re- vice-versa. “Embora possua um modelo assim que o representante chegar. Existe
cursos materiais e humanos dependerá e estrutura básicos, este sistema permite também o comando unificado, compos-
do tipo de ocorrência, bem como dos a sua adaptação a qualquer característica to por representantes de entes públicos
recursos disponíveis. Caso os recursos de serviço e tipo de operação, de for- e empresas privadas envolvidos na ope-
do local sejam insuficientes, o coman- ma a ser uma ferramenta gerencial útil ração, no qual as decisões são realizadas
dante solicita reforço ao órgão federal. e adaptável, e não apenas um modelo por consenso. Quanto à estrutura de pla-
De acordo com Marco Aurélio Rocha, rígido a ser seguido”. nejamento e organização das operações,
mestre em Prevenção de Riscos, pós- Por ser um modelo de gestão, além de o sistema utiliza uma estrutura organi-
graduado em Gestão de Emergências e situações de emergência, o SCI também zacional padronizada, porém flexível na
Desastres e em Segurança Contra Incên- pode ser aplicado em eventos progra- sua implantação, definida como orga-
dio e Pânico, por ser dinâmico e flexível, mados como campanhas de vacinação, nização modular e flexível. No que diz
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respeito ao gerenciamento de recursos, mobilização e designação dos recursos
é orientado que todos os materiais utili- necessários para a solução da emergên-
zados na operação sejam gerenciados de cia, além de permitir que cada órgão en-
forma integrada. “Assim que cheguem volvido cumpra seu papel dentro de uma
próximos à cena da emergência, todos priorização coerente”, afirma o major
os recursos (operacionais ou logísticos), Carlos Alberto de Camargo Júnior, co-
devem ser imediatamente encaminha- ordenador Operacional do CBPMESP
dos para uma área de espera previamen- (Corpo de Bombeiros da Polícia Militar
te definida, no qual são recepcionados, do Estado de SP).
cadastrados e permanecerão disponíveis Um dos principais problemas eviden-
até seu emprego de acordo com o plano ciados pelos profissionais em eventos
de ação e sob controle do encarregado”, de grande complexidade, que envolvem
explica. Os recursos utilizados durante a diversos órgãos públicos e empresas
operação podem ser agrupados em duas privadas, é a integração das equipes e
categorias: operacionais como viaturas a definição de quem comanda. “A falta
e helicópteros devidamente equipados de um sistema de comando que integre
e com equipe de socorro e tripulação; e as operações como um todo, acaba per-
logísticos, necessários para dar suporte mitindo que as organizações envolvidas
como alimentação, colchões, travessei- atuem independentemente, sob coman-
ros e cobertores, equipamentos de co- do próprio, sem considerar recursos, ob-
municação, etc. jetivos e prioridades comuns. A adoção
Segundo Perez, no que diz respeito de um sistema de comando, tanto úni-
às emergências tecnológicas, é impor- co quanto unificado, pode permitir que
tante avaliar como os países desenvol- pessoas de diferentes organizações tra-
vidos adotam sistemas para gerenciar balhem de forma integrada, rápida e efi-
as operações. “Recentemente desen- caz em uma estrutura de gerenciamento
volvi uma pesquisa direcionada a cinco comum”, ressalta Rocha.
países (Estados Unidos, Reino Unido, Para o capitão Siwamy Reis dos An-
Japão, França e Alemanha). O estudo jos, membro do Comitê de Desenvolvi-
demonstrou que, mesmo cada um pos- mento de Atividades de Gerenciamen-
suindo sua própria doutrina, existe uma to de Emergências do CBMES (Corpo
direta e intensa relação entre o sistema de Bombeiros Militar do Espírito San-
adotado e as estruturas públicas, gover- to), o SCI auxilia os profissionais a or-
namentais, legislações e organizações de ganizarem-se em uma estrutura orga-
atendimento às emergências. Ou seja, o nizacional própria para a emergência,
engajamento de todos os representan- estabelecendo uma forma de atuação
tes envolvidos por meio de uma única padronizada, com uma consistente ter-
doutrina de comando e controle, inde- minologia comum, que fornece subsí-
pendente do modelo existente, é um dos dios para responder a um peculiar fluxo
fatores fundamentais para o processo de de demandas.
preparação e resposta”, afirma. Conforme Perez, “a integração é um
dos pontos importantes do sistema, mas
INTEGRAÇÃO não o único! Devemos considerar que
De acordo com especialistas e estu- o SCI possui outros elementos-chaves,
diosos, a integração é o ponto-chave do tais como: a designação de responsabili-
SCI. O conceito do sistema está exata- dades, um processo de comunicação efi-
mente na promoção da interação de di- ciente, sistematização do planejamento
ferentes agências com a padronização e a forma como os participantes devem
de procedimentos, terminologias e linha desenvolver a integração”. Segundo es-
de autoridade. “O Sistema de Comando pecialistas, utilizando as melhores prá-
de Incidentes surgiu da necessidade de ticas de administração, o sistema ajuda
se adotar uma estrutura organizacional a garantir maior segurança para as equi-
que pudesse integrar as diversas agên- pes de resposta e demais envolvidos
cias envolvidas nas ações de resposta na situação crítica, alcançar objetivos e
às emergências. Esta integração multia- prioridades previamente estabelecidas
gências, sob coordenação, proporciona e, sobretudo, fazer o uso eficiente e efi-
maior organização do cenário emergen- caz dos recursos (humanos, materiais,
cial, melhores níveis de segurança para financeiros, tecnológicos e de informa-
respondentes e vítimas, maior rapidez na ção) disponíveis.
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ESPECIAL/SISTEMA DE COMANDO DE INCIDENTES

SCI no Brasil
especialista.
Diversos estados brasileiros adota-
ram oficialmente o SCI como sistema
de gerenciamento de emergências e,
 Com base no modelo americano, órgãos públicos apesar de nomeações diferentes, todos
implantam ferramenta em alguns estados brasileiros seguem os fundamentos do modelo
americano. Dentre eles, podemos citar:
Como visto anteriormente, o SCI é situações de emergências e desastres. o SiCOE (Sistema de Coordenação de
utilizado para responder diversas situ- Nas esferas estaduais, os Corpos de Operações de Emergência), utilizado
ações críticas como, por exemplo, aci- Bombeiros Militares estabelecem os pelo CBPMESP (Corpo de Bombei-
dentes com produtos perigosos, de- regulamentos internos para a seleção ros da Polícia Militar do Estado de SP);
sastres naturais, incêndios florestais, e operacionalização de um sistema de SICOE (Sistema Integrado de Coman-
acidentes com múltiplas vítimas, ocor- comando. “Atualmente, as normativas e do e Operações em Emergências), da
rências que exijam operações de busca legislações estaduais existentes que ver- CEPDEC (Coordenadoria Estadual de
e salvamento, entre outras. “O modelo sam sobre sistemas de gerenciamento Defesa Civil do PR); SCI (Sistema de
de gerenciamento adotado no Brasil é de emergências estão diretamente diri- Comando de Incidentes), utilizado pe-
aquele originado na década de 70 nos gidas e/ou vinculadas unicamente ao los estados do Rio de Janeiro e Distrito
Estados Unidos, especificamente no segmento governamental, em grande Federal; e SCO (Sistema de Comando
estado da Califórnia, e que evolui ao parte aos Corpos de Bombeiros Mili- em Operações), utilizado pela Defesa
longo dos últimos anos em decorrên- tares e Defesa Civil”, complementa o Civil e Corpo de Bombeiros Militar do
cia de inúmeros eventos (emergências
e desastres) e da necessidade dinâmi-
ca de atualização de padrões operacio-
nais”, explica o Engenheiro Químico,
especialista em Incêndios Industriais,
OPERAÇÃO ALEMOA
mestre em Processos Tecnológicos e
DIVULGAÇÃO/CBPMESP

Ambientais, Rubens César Perez.


O Brasil ainda possui uma estrutu-
ra bastante heterogênea e diversifica-
da com relação ao gerenciamento de
emergências, mas existem ações signi-
ficativas no sentido de acolher o siste-
ma americano como modelo em todo
o território brasileiro. Uma das mais
expressivas articulações de caráter na-
cional é a publicação do Manual de
Gerenciamento de Desastres – Siste-
ma de Comando em Operações, de-
senvolvido, em 2010, pelo Ministério
da Integração Nacional, por meio da
Sedec (Secretaria Nacional de Prote-
ção e Defesa Civil) e do Centro Uni-
versitário de Estudos e Pesquisas sobre
Desastres da Universidade Federal de
Santa Catarina. “A Sedec sabe que, mais
do que estar preparada para adaptar-se
Em 2 de abril de 2015, diversas explosões de forma conjunta com o CBPMESP, desconhe-
à novas formas de resposta aos desas-
atingiram um dos terminais de uma empresa ciam suas posições específicas, unidades de co-
tres, deve estar pronta para conceber brasileira de armazenamento de combustível, mando, cadeia de comando e demais premissas
e atuar a partir de um modelo único e localizado no Porto Alemoa, em Santos/SP. Inti- operacionais estabelecidas por um sistema de
torná-lo padronizado e conhecido por tulado como o maior incêndio industrial do Bra- comando de incidentes. Apesar de o CBPMESP
todos os que atuam em emergências e sil, a ocorrência, que durou nove dias, desafiou gerenciar este evento de acordo com a doutri-
situações críticas”, afirma Perez. Além os órgãos de emergência. Para controlar o si- na do SiCOE, o sistema de gerenciamento não
disto, a Senasp (Secretaria Nacional de nistro, um sistema de comando foi desenvolvido permeou as organizações privadas e governa-
Segurança Pública) possui uma Matriz de maneira internalizada pelo CBPMESP (Cor- mentais presentes na operação. A emergência
Curricular Nacional para a formação po de Bombeiros da Polícia Militar do Estado envolveu 19 organizações governamentais e 36
dos profissionais de segurança pública de São Paulo), com o objetivo de estabelecer entidades privadas, que atuaram de forma con-
(polícia militar, polícia civil e corpos um comando integrado entre as principais or- junta”, afirma Rubens César Perez, Engenheiro
ganizações envolvidas. “Entretanto, mesmo as Químico, especialista em Incêndios Industriais,
de bombeiros militares) que direcio-
mais ativas organizações privadas que atuaram que atuou na operação.
na o SCI como modelo de gestão para
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Estado de SC e pelo CBMES (Corpo

DIVULGAÇÃO CBMSC
de Bombeiros Militar do ES).
O CBMSC (Corpo de Bombeiros
Militar de Santa Catarina) vem traba-
lhando o tema e a doutrina há vários
anos, estabelecendo na Diretriz nº 15,
de 8 de abril de 2010, como procedi-
mento permanente, SCO (Sistema de
Comando em Operações) como ferra-
menta gerencial para administração de
desastres. “A doutrina e padronizações
de atendimentos, procurando integrar
as agências que irão apresentar a reso-
lutividade das demandas nos eventos
adversos são uma busca constante no
CBMSC, com capacitações curriculares
permanentes, onde o Curso de SCO faz
parte do Plano Geral de Ensino, assim
como nos cursos de formação, aper- CBMSC adota o SCO
feiçoamento e especializações”, expli- como ferramenta gerencial
ca o coronel Edupércio Pratts, chefe
do Estado-Maior Geral do CBMSC, poderá se desdobrar em sucessivos ní- instituição. “A partir deste ponto, co-
instrutor SCO/SCI. Conforme ele, a veis de autoridade e responsabilidade, meçamos a olhar com mais atenção pa-
estrutura principal do SCO é consti- de acordo com a necessidade determi- ra o gerenciamento dos desastres que
tuída por Comando, Staff de Assesso- nada pela situação crítica. assolavam o Estado. O grande marco
ria do Comando (Segurança, Ligações, O primeiro contato do CBMES com para o CBMES foram as chuvas que se
Informações ao Público e Secretário) e o Sistema de Comando de Incidentes iniciaram em dezembro 2013 e perdura-
Staff Geral/Principal (Operações, Pla- ocorreu por meio da Defesa Civil de ram até janeiro de 2014. Nesta ocasião,
nejamento, Logística e Administração/ SC, em 2004, no qual o SCO foi ado- toda nossa experiência em gestão de
Finanças). Cada uma destas funções tado como modelo padronizado pela emergências foi posta à prova”, ressalta

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ESPECIAL/SISTEMA DE COMANDO DE INCIDENTES
o capitão Siwamy Reis dos Anjos, mem- Defesa Civil do Estado. A implantação ção, reforçando o conteúdo difundido
bro do Comitê de Desenvolvimento de do sistema na corporação se deu por nos cursos de formação e especializa-
Atividades de Gerenciamento de Emer- meio da capacitação em instituições ção com a organização de simulados.
gências da corporação. Segundo ele, no americanas e, posteriormente, houve Os simulados, realizados anualmente,
início apenas o corpo de bombeiros uti- a inclusão da disciplina nos cursos de seguem premissas como a utilização
lizava o SCO, porém, com o passar do formação. de formulários padronizados e estabe-
tempo, o sistema foi se disseminando Em São Paulo, o SCI foi oficialmen- lecimento de toda estrutura do SiCOE,
pelo Estado. “Por conta das ações de te adotado pelo CBPMESP em 1995 reunindo várias agências de resposta
Defesa Civil, a prática se propagou en- com o nome de SiCOE (Sistema de como Planos de Auxílio Mútuo, Redes
tre outros órgãos públicos e privados Coordenação de Operações de Emer- Integradas de Emergências, brigadas
que trabalhavam em cooperação na res- gência). Desde então, o sistema tem de incêndio e demais profissionais de
posta a desastres. Hoje, vários órgãos sido utilizado para subsidiar ações de segurança das empresas envolvidas, de
públicos conhecem o modelo e o utili- planejamento de operações progra- modo que todos os participantes rece-
zam quando necessário. Entretanto, na madas e ações de gerenciamento de bem instrução básica sobre o sistema”,
iniciativa privada, esta utilização ainda emergências. “Pode-se dizer que todas diz Camargo. Para garantir a implanta-
está bem restrita a grandes projetos in- as emergências atendidas propiciaram ção do SiCOE e orientar as ações do
dustriais”, acrescenta. a realização de autoavaliações sobre a primeiro respondedor em todo Estado
No Rio de Janeiro, além de ser utiliza- eficiência dos atendimentos e sobre as de São Paulo, foi elaborado e distribu-
do em resposta a desastres, o CBMERJ vantagens da implantação do SiCOE, ído para todo o efetivo, um manual de
(Corpo de Bombeiros Militar do Esta- contribuindo no processo de melhoria bolso contendo informações sobre a
do do RJ) também utiliza o SCI para contínua do gerenciamento de emer- estrutura básica e as principais respon-
estruturação e planejamento das opera- gências, resultando em adequações no sabilidades de cada função pré-definida.
ções de grandes eventos como réveillon suporte material, na devida preparação Desde que começou a ser implanta-
e carnaval. “Nas operações na qual se e treinamento do efetivo e na inclusão do no Brasil, o SCI vem sendo utiliza-
faz necessário um planejamento especí- de outras agências nos programas de do em diversos eventos programados
fico para emprego de recursos, seja da treinamentos e simulados”, ressalta o como Carnaval, Copa do Mundo (2014)
Defesa Civil ou do CBMERJ, é comum coordenador Operacional do CBP- e Jogos Olímpicos (2016), e inúmeras
que se transfira a gestão das funções- MESP, major Carlos Alberto de Ca- emergências, das quais podemos desta-
chave do SCI aos órgãos análogos das margo Júnior. car: a explosão do Shopping Osasco/
duas estruturas. Cada função do sis- Com a promulgação da Lei Comple- SP (1995), os dois acidentes aéreos no
tema pode ser plenamente absorvida mentar nº 1.257/2015, que institui o aeroporto de Congonhas/SP (1996 e
pelos respectivos órgãos federais, esta- Código Estadual de Proteção contra 2007), o desabamento das obras do
duais, municipais e instituições públi- Incêndios e Emergências, o CBPMESP Metrô (2007), a tragédia na Região
cas e privadas, conforme necessidade recebeu, oficialmente, a incumbência Serrana/RJ (2011), as enchentes que
específica, sendo que todos os recursos de estabelecer, difundir e fomentar o atingiram o estado de Santa Catarina
humanos e materiais dos órgãos supra- emprego da doutrina e dos princípios (2008) e Espírito Santo (2013/2014), o
citados serão utilizados conforme a ne- do SiCOE. No mesmo ano, foi organi- incêndio de tanques no Porto de San-
cessidade”, afirma o coronel Marcelo zado um Estágio de Atualização Profis- tos/SP (2015), e o incêndio no termi-
Hess, superintendente Operacional da sional para todo o efetivo da corpora- nal alfandegário no Guarujá/SP (2016),

MODELOS BRASILEIROS
No Brasil, várias experiências foram desen- Defesa Civil do Estado do Paraná); (Corpo de Bombeiros Militar do Espírito Santo);
volvidas a partir do modelo ICS norte-america-
no. Algumas delas se encontram bem desen-  Rio de Janeiro e Distrito Federal – SCI  Ministério do Meio Ambiente – SCI (Siste-
volvidas em alguns Estados da Federação, nos (Sistema de Comando de Incidentes) - baseado ma de Comando de Incidentes) - baseado no pa-
quais destacam-se: no padrão OFDA – USAID (United States Agency drão NIMS (National Incident Management System);
for International Development / Office of Foreign
 São Paulo – SiCOE (Sistema de Coor- Disaster Assistance);  Secretaria Nacional de Segurança Pú-
denação de Operações de Emergência) - ba- blica – SCI (Sistema de Comando de Inciden-
seado no padrão do ICS com acolhimento de  Espírito Santo e Santa Catarina – SCO tes) - baseado no padrão da USCG (United Cost
ferramentas operacionais desenvolvidas pela (Sistema de Comando de Operações) - baseado Guard) e amplamente disseminado pela Senasp
USCG (Guarda Costeira dos Estados Unidos) e na diretriz da FEMA (Federal Emergency Manage- (Secretaria Nacional de Segurança Pública) pra-
regulamentado para uso no CBPMESP (Corpo ment Agency) e do SEMS (Standardized Emergen- ticamente em todo território nacional.
de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de SP); cy Management System) da Califórnia, apoiado
pelo CEPED/UFSC (Centro Universitário de Estu- Fonte: Manual de Gerenciamento de Desastres - Sistema
 Paraná – SICOE (Sistema Integrado de dos e Pesquisas sobre Desastres da Universidade de Comandos em Operações/Ministério da Integração
Nacional; Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil;
Comando e Operações em Emergência) - ado- Federal de SC), utilizado pela Defesa Civil e Corpo Centro Universitário de Estudos e Pesquisas sobre
tado pela CEPDEC (Coordenadoria Estadual de de Bombeiros Militar de SC e também pelo CBMES Desastres da UFSC

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dentre outras.

ASCOM CBMES
COMANDO
As principais atribuições do coman-
do, que pode ser único ou unificado, do
SCI no Brasil são: instalar o sistema; de-
signar o Posto de Comando e a área de
reunião; dimensionar o evento e avaliar
as prioridades; determinar os objetivos
estratégicos; determinar os objetivos
táticos (desdobramento dos objetivos
maiores – estratégicos); desenvolver um
Plano de Ação; desenvolver uma estru-
tura organizacional adequada; gerenciar
os recursos disponíveis; coordenar as
atividades como um todo; garantir a se-
gurança da equipe; coordenar as ativi-
dades com outros órgãos; divulgar in-
formações para a mídia; e registrar as
informações referentes à operação e à Comando de operações
situação crítica. Vale ressaltar que, um nas chuvas de 2013 no ES
Posto de Comando deve ser instalado
todas as vezes em que for utilizado um me Perez, as ações de sistematização bém são relatadas como dificuldades
Sistema de Comando de Incidentes, de um SCI para o gerenciamento de ainda existentes no processo.
independentemente do tamanho e da emergências no Brasil ainda são difu- Para o capitão Anjos, a integração
complexidade da operação. sas e incipientes, limitando-se apenas entre equipes de diversos setores e es-
No caso de uma operação reunir mui- às entidades governamentais. Uma das tados é algo que deve ser melhorado
tos recursos operacionais, o comando dificuldades relatadas pelos especialis- para que o SCI funcione efetivamente
deve designar alguém para instalar uma tas, diz respeito à disseminação, utili- diante de uma grande emergência. “Os
Área de Espera. “A Área de Espera é zação e acolhimento do SCI por parte órgãos investem bastante energia na di-
um local, delimitado e identificado, pa- do setor privado. “A utilização do Sis- vulgação de modelos de gerenciamen-
ra onde se dirigem os recursos opera- tema de Comando de Incidentes como to, por meio de capacitação na forma
cionais que se integrarem à operação. filosofia de gestão permite que institui- de cursos e eventos simulados. Porém,
Na Área de Espera deve ser realizado ções privadas façam parte do processo todos passam por problemas para efe-
um procedimento de recepção (check-in) de resposta como parte da solução, ao tivamente se integrar com outros ór-
em que os recursos são cadastrados. Os invés de ficarem fora dele, como parte gãos, pois se utilizam de terminologia
profissionais responsáveis pelos recur- do problema. Entretanto, a maioria das e rotinas próprias, possuindo questões
sos devem receber informações básicas normas e legislações brasileiras que ver- divergentes”.
sobre o sistema (no caso de não possu- sam sobre Planos de Emergência, por A implementação e disseminação do
írem treinamento) e sobre a situação e exemplo, nada citam sobre a adoção SCI no Brasil ainda apresenta grandes
o plano de ação. Caso os recursos não de um SCI no contexto interno da or- desafios, principalmente, no que diz
sejam necessários imediatamente, eles ganização/empresa ou na necessidade respeito à integração do setor públi-
permanecem em condições de pron- de integrar as instituições/órgãos no co com o privado. Entretanto, este é
to emprego, aguardando o seu aciona- processo”, ressalta. um tipo de ferramenta que vem auxi-
mento (reserva tática)”, explica Pratts. Conforme especialistas, a falta de pa- liando de forma positiva na resposta a
Além disto, o comando também deve dronização e obrigatoriedade legal, bem grandes emergências. O envolvimen-
classificar as áreas de trabalho (quente, como a inexistência de um órgão regu- to das instituições/órgãos nas etapas
morna e fria), estabelecendo corredo- lador e gestor de emergências como a de preparação e planejamento de uma
res e pontos de acesso às áreas quente FEMA (Federal Emergency Management emergência é necessário para que haja
e morna, controlando a entrada de re- Agency), nos Estados Unidos, dificultam uma otimização de recursos e poten-
cursos materiais e humanos e verifican- o desenvolvimento e a implantação do cialização de esforços na busca das so-
do se os profissionais que estão aces- SCI no Brasil. Problemas de comunica- luções. Vale ressaltar que conhecer os
sando estão devidamente equipados e ção entre as equipes em campo e o pos- princípios básicos do SCI não garante
conhecem as medidas de segurança re- to de comando, devido a sistemas de co- seu adequado funcionamento, sendo
comendadas. municação não adequados, falta de re- imprescindível que a organização que
cursos necessários para o atendimento, irá aplicar o sistema como ferramenta
DIFICULDADES desconhecimento de um modelo de SCI gerencial utilize desde os primeiros mi-
Apesar das diversas experiências exis- por parte dos profissionais com poder nutos da situação crítica e tenha pleno
tentes no território brasileiro, confor- de decisão, entre outras questões, tam- domínio de sua aplicação.
OUTUBRO / 2017 Emergência 31

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