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ESPECIAL/SISTEMA DE
DE COMANDO
COMANDO DE
DE INCIDENTES
INCIDENTES
22 Emergência
22 Emergência OUTUBRO / 2017
GERENCIAMENTO
DE EMERGÊNCIA
Especialistas falam sobre se confuso no atendimento de emergências de
grandes proporções como, por exemplo, aci-
os modelos de Sistema de dentes automobilísticos envolvendo múltiplas
Comando de Incidentes vítimas, grandes incêndios florestais, acidentes
com produtos perigosos, desastres naturais,
presentes no país e sua entre outros. Isto porque, nas ocorrências de
importância para prevenir grandes proporções, encontram-se órgãos pú-
blicos e privados que, no dia a dia, não traba-
e minimizar danos lham juntos.
Diante da necessidade de uma estrutura na
Emergências são situações inesperadas que qual os órgãos de resposta trabalham em con-
exigem uma intervenção imediata de profissio- junto e de forma organizada, os Estados Uni-
nais qualificados e equipados adequadamente, dos criaram, na década de 70, o ICS (Incident
atendidas cotidianamente pelos órgãos de saúde Command System), conhecido no Brasil como
e segurança responsáveis pelo primeiro atendi- SCI (Sistema de Comando de Incidentes). Uma
mento e controle do sinistro. Entretanto, exis- ferramenta gerencial que utiliza um conjunto
tem as chamadas situações críticas, cujas carac- de princípios e regras para planejar, organizar,
terísticas de risco exigem, além de uma inter- integrar, dirigir e controlar as fases de uma ope-
venção imediata, uma postura organizacional ração de resposta a grandes emergências, com
não rotineira, para o gerenciamento integrado objetivo comum de prevenir e minimizar per-
das ações de resposta. Segundo especialistas, das humanas, ambientais e/ou materiais.
o que é eficaz e adequado nos atendimentos
a incidentes rotineiros, muitas vezes, mostra- Reportagem de Luana Cunha
CARACTERÍSTICAS
Macondo é a denominação dada à área no tando a configuração de um comando unificado.
Golfo de México (80 km da costa da Louisiana/ O quartel general das operações foi localizado Como pode ser observado, o SCI é um
EUA) onde a plataforma Deepwater Horizon es- na Louisiana. Cinco postos de comando foram processo de resposta sistematizado, ba-
tava instalada para perfurar o subsolo marinho estruturados em: Galveston, Houston, Houma, seado no estabelecimento de estratégias
para a extração de petróleo. Uma explosão, se- Mobile e Miami. Todas as operações seguiram e táticas, tendo como objetivos princi-
guida de incêndio, atingiu o local no dia 20 de as premissas estabelecidas pelo NIMS (Na- pais: melhoria dos aspectos de seguran-
abril de 2010. “O petróleo jorrou sem controle tional Incident Management System - Sistema ça operacional de todos os envolvidos;
por 87 dias. Relatos indicam que mais de 5 mi- Nacional de Gerenciamento de Incidentes)”, flexibilidade operacional, pois o modelo
lhões de barris de petróleo foram derramados afirma. No dia 28 de abril, oito dias após a ex- permite expandir ou contrair a estrutura
no Golfo do México, tornando-se um dos maio- plosão inicial, a equipe nacional de resposta
de maneira adequada a cada ocorrência;
res desastres ambientais da história atual dos americana (National Response Team) assu-
Estados Unidos”, ressalta Rubens César Perez, miu que o evento tinha interferências nacionais
utilização de um processo de comunica-
Engenheiro Químico, especialista em Incêndios e necessitava de ações na esfera federal. De ção integrado e padronizado; utilização
Industriais. No dia 15 de julho, especialistas acordo com os protocolos existentes, um Co- de procedimentos para estabelecimento
conseguiram conter o vazamento a quase 18 mandante Nacional do Incidente foi designado e transferência de comando; desenvol-
mil pés de profundidade (5,5 km) abaixo da su- pelo Secretário de Segurança Americano. “Até vimento de uma organização modular
perfície. Além do enorme desastre ambiental, o o evento de Macondo, as responsabilidades de com conceitos de cadeia de comando
acidente deixou 11 trabalhadores mortos e 17 um Comandante Nacional de Incidentes (Natio- e unidades de comando; desenvolvi-
feridos. Conforme Perez, o incidente no Golfo nal Incident Command) nunca haviam sido es- mento de planos de ação consolidados;
do México pode ser objeto de análise por meio tabelecidas nos Estados Unidos. A mobilização dentre outros.
de várias perspectivas, uma delas é do ponto de de embarcações no processo de resposta a es- Conforme Perez, o SCI é compos-
vista logístico e das questões de gerenciamento te evento emergencial foi de tal magnitude que
to por cinco funções básicas de geren-
das operações. “Um adequado SCI (Sistema de superou o famoso dia “D” da Segunda Guerra
Comando de Incidentes) foi desenvolvido, ado- Mundial”, afirma Perez.
ciamento: Comando, que estabelece os
objetivos da ocorrência, estratégias e
prioridades, assumindo a responsabili-
dade global da emergência; Operações,
TOM ATKESON/U.S. COAST GUARD
SCI no Brasil
especialista.
Diversos estados brasileiros adota-
ram oficialmente o SCI como sistema
de gerenciamento de emergências e,
Com base no modelo americano, órgãos públicos apesar de nomeações diferentes, todos
implantam ferramenta em alguns estados brasileiros seguem os fundamentos do modelo
americano. Dentre eles, podemos citar:
Como visto anteriormente, o SCI é situações de emergências e desastres. o SiCOE (Sistema de Coordenação de
utilizado para responder diversas situ- Nas esferas estaduais, os Corpos de Operações de Emergência), utilizado
ações críticas como, por exemplo, aci- Bombeiros Militares estabelecem os pelo CBPMESP (Corpo de Bombei-
dentes com produtos perigosos, de- regulamentos internos para a seleção ros da Polícia Militar do Estado de SP);
sastres naturais, incêndios florestais, e operacionalização de um sistema de SICOE (Sistema Integrado de Coman-
acidentes com múltiplas vítimas, ocor- comando. “Atualmente, as normativas e do e Operações em Emergências), da
rências que exijam operações de busca legislações estaduais existentes que ver- CEPDEC (Coordenadoria Estadual de
e salvamento, entre outras. “O modelo sam sobre sistemas de gerenciamento Defesa Civil do PR); SCI (Sistema de
de gerenciamento adotado no Brasil é de emergências estão diretamente diri- Comando de Incidentes), utilizado pe-
aquele originado na década de 70 nos gidas e/ou vinculadas unicamente ao los estados do Rio de Janeiro e Distrito
Estados Unidos, especificamente no segmento governamental, em grande Federal; e SCO (Sistema de Comando
estado da Califórnia, e que evolui ao parte aos Corpos de Bombeiros Mili- em Operações), utilizado pela Defesa
longo dos últimos anos em decorrên- tares e Defesa Civil”, complementa o Civil e Corpo de Bombeiros Militar do
cia de inúmeros eventos (emergências
e desastres) e da necessidade dinâmi-
ca de atualização de padrões operacio-
nais”, explica o Engenheiro Químico,
especialista em Incêndios Industriais,
OPERAÇÃO ALEMOA
mestre em Processos Tecnológicos e
DIVULGAÇÃO/CBPMESP
DIVULGAÇÃO CBMSC
de Bombeiros Militar do ES).
O CBMSC (Corpo de Bombeiros
Militar de Santa Catarina) vem traba-
lhando o tema e a doutrina há vários
anos, estabelecendo na Diretriz nº 15,
de 8 de abril de 2010, como procedi-
mento permanente, SCO (Sistema de
Comando em Operações) como ferra-
menta gerencial para administração de
desastres. “A doutrina e padronizações
de atendimentos, procurando integrar
as agências que irão apresentar a reso-
lutividade das demandas nos eventos
adversos são uma busca constante no
CBMSC, com capacitações curriculares
permanentes, onde o Curso de SCO faz
parte do Plano Geral de Ensino, assim
como nos cursos de formação, aper- CBMSC adota o SCO
feiçoamento e especializações”, expli- como ferramenta gerencial
ca o coronel Edupércio Pratts, chefe
do Estado-Maior Geral do CBMSC, poderá se desdobrar em sucessivos ní- instituição. “A partir deste ponto, co-
instrutor SCO/SCI. Conforme ele, a veis de autoridade e responsabilidade, meçamos a olhar com mais atenção pa-
estrutura principal do SCO é consti- de acordo com a necessidade determi- ra o gerenciamento dos desastres que
tuída por Comando, Staff de Assesso- nada pela situação crítica. assolavam o Estado. O grande marco
ria do Comando (Segurança, Ligações, O primeiro contato do CBMES com para o CBMES foram as chuvas que se
Informações ao Público e Secretário) e o Sistema de Comando de Incidentes iniciaram em dezembro 2013 e perdura-
Staff Geral/Principal (Operações, Pla- ocorreu por meio da Defesa Civil de ram até janeiro de 2014. Nesta ocasião,
nejamento, Logística e Administração/ SC, em 2004, no qual o SCO foi ado- toda nossa experiência em gestão de
Finanças). Cada uma destas funções tado como modelo padronizado pela emergências foi posta à prova”, ressalta
MODELOS BRASILEIROS
No Brasil, várias experiências foram desen- Defesa Civil do Estado do Paraná); (Corpo de Bombeiros Militar do Espírito Santo);
volvidas a partir do modelo ICS norte-america-
no. Algumas delas se encontram bem desen- Rio de Janeiro e Distrito Federal – SCI Ministério do Meio Ambiente – SCI (Siste-
volvidas em alguns Estados da Federação, nos (Sistema de Comando de Incidentes) - baseado ma de Comando de Incidentes) - baseado no pa-
quais destacam-se: no padrão OFDA – USAID (United States Agency drão NIMS (National Incident Management System);
for International Development / Office of Foreign
São Paulo – SiCOE (Sistema de Coor- Disaster Assistance); Secretaria Nacional de Segurança Pú-
denação de Operações de Emergência) - ba- blica – SCI (Sistema de Comando de Inciden-
seado no padrão do ICS com acolhimento de Espírito Santo e Santa Catarina – SCO tes) - baseado no padrão da USCG (United Cost
ferramentas operacionais desenvolvidas pela (Sistema de Comando de Operações) - baseado Guard) e amplamente disseminado pela Senasp
USCG (Guarda Costeira dos Estados Unidos) e na diretriz da FEMA (Federal Emergency Manage- (Secretaria Nacional de Segurança Pública) pra-
regulamentado para uso no CBPMESP (Corpo ment Agency) e do SEMS (Standardized Emergen- ticamente em todo território nacional.
de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de SP); cy Management System) da Califórnia, apoiado
pelo CEPED/UFSC (Centro Universitário de Estu- Fonte: Manual de Gerenciamento de Desastres - Sistema
Paraná – SICOE (Sistema Integrado de dos e Pesquisas sobre Desastres da Universidade de Comandos em Operações/Ministério da Integração
Nacional; Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil;
Comando e Operações em Emergência) - ado- Federal de SC), utilizado pela Defesa Civil e Corpo Centro Universitário de Estudos e Pesquisas sobre
tado pela CEPDEC (Coordenadoria Estadual de de Bombeiros Militar de SC e também pelo CBMES Desastres da UFSC
ASCOM CBMES
COMANDO
As principais atribuições do coman-
do, que pode ser único ou unificado, do
SCI no Brasil são: instalar o sistema; de-
signar o Posto de Comando e a área de
reunião; dimensionar o evento e avaliar
as prioridades; determinar os objetivos
estratégicos; determinar os objetivos
táticos (desdobramento dos objetivos
maiores – estratégicos); desenvolver um
Plano de Ação; desenvolver uma estru-
tura organizacional adequada; gerenciar
os recursos disponíveis; coordenar as
atividades como um todo; garantir a se-
gurança da equipe; coordenar as ativi-
dades com outros órgãos; divulgar in-
formações para a mídia; e registrar as
informações referentes à operação e à Comando de operações
situação crítica. Vale ressaltar que, um nas chuvas de 2013 no ES
Posto de Comando deve ser instalado
todas as vezes em que for utilizado um me Perez, as ações de sistematização bém são relatadas como dificuldades
Sistema de Comando de Incidentes, de um SCI para o gerenciamento de ainda existentes no processo.
independentemente do tamanho e da emergências no Brasil ainda são difu- Para o capitão Anjos, a integração
complexidade da operação. sas e incipientes, limitando-se apenas entre equipes de diversos setores e es-
No caso de uma operação reunir mui- às entidades governamentais. Uma das tados é algo que deve ser melhorado
tos recursos operacionais, o comando dificuldades relatadas pelos especialis- para que o SCI funcione efetivamente
deve designar alguém para instalar uma tas, diz respeito à disseminação, utili- diante de uma grande emergência. “Os
Área de Espera. “A Área de Espera é zação e acolhimento do SCI por parte órgãos investem bastante energia na di-
um local, delimitado e identificado, pa- do setor privado. “A utilização do Sis- vulgação de modelos de gerenciamen-
ra onde se dirigem os recursos opera- tema de Comando de Incidentes como to, por meio de capacitação na forma
cionais que se integrarem à operação. filosofia de gestão permite que institui- de cursos e eventos simulados. Porém,
Na Área de Espera deve ser realizado ções privadas façam parte do processo todos passam por problemas para efe-
um procedimento de recepção (check-in) de resposta como parte da solução, ao tivamente se integrar com outros ór-
em que os recursos são cadastrados. Os invés de ficarem fora dele, como parte gãos, pois se utilizam de terminologia
profissionais responsáveis pelos recur- do problema. Entretanto, a maioria das e rotinas próprias, possuindo questões
sos devem receber informações básicas normas e legislações brasileiras que ver- divergentes”.
sobre o sistema (no caso de não possu- sam sobre Planos de Emergência, por A implementação e disseminação do
írem treinamento) e sobre a situação e exemplo, nada citam sobre a adoção SCI no Brasil ainda apresenta grandes
o plano de ação. Caso os recursos não de um SCI no contexto interno da or- desafios, principalmente, no que diz
sejam necessários imediatamente, eles ganização/empresa ou na necessidade respeito à integração do setor públi-
permanecem em condições de pron- de integrar as instituições/órgãos no co com o privado. Entretanto, este é
to emprego, aguardando o seu aciona- processo”, ressalta. um tipo de ferramenta que vem auxi-
mento (reserva tática)”, explica Pratts. Conforme especialistas, a falta de pa- liando de forma positiva na resposta a
Além disto, o comando também deve dronização e obrigatoriedade legal, bem grandes emergências. O envolvimen-
classificar as áreas de trabalho (quente, como a inexistência de um órgão regu- to das instituições/órgãos nas etapas
morna e fria), estabelecendo corredo- lador e gestor de emergências como a de preparação e planejamento de uma
res e pontos de acesso às áreas quente FEMA (Federal Emergency Management emergência é necessário para que haja
e morna, controlando a entrada de re- Agency), nos Estados Unidos, dificultam uma otimização de recursos e poten-
cursos materiais e humanos e verifican- o desenvolvimento e a implantação do cialização de esforços na busca das so-
do se os profissionais que estão aces- SCI no Brasil. Problemas de comunica- luções. Vale ressaltar que conhecer os
sando estão devidamente equipados e ção entre as equipes em campo e o pos- princípios básicos do SCI não garante
conhecem as medidas de segurança re- to de comando, devido a sistemas de co- seu adequado funcionamento, sendo
comendadas. municação não adequados, falta de re- imprescindível que a organização que
cursos necessários para o atendimento, irá aplicar o sistema como ferramenta
DIFICULDADES desconhecimento de um modelo de SCI gerencial utilize desde os primeiros mi-
Apesar das diversas experiências exis- por parte dos profissionais com poder nutos da situação crítica e tenha pleno
tentes no território brasileiro, confor- de decisão, entre outras questões, tam- domínio de sua aplicação.
OUTUBRO / 2017 Emergência 31