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31/03/2017 MARIANA, 

UMA TRAGÉDIA ANUNCIADA? RESPONSABILIDADE DE QUEM? | Antonio Brasiliano | Pulse | LinkedIn

MARIANA, UMA TRAGÉDIA ANUNCIADA?


RESPONSABILIDADE DE QUEM?
Publicado em 30 de novembro de 2015

Antonio Brasiliano Seguir


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CEO da Brasiliano & Associados Gestão de Riscos Corporativos

MARIANA, UMA TRAGÉDIA ANUNCIADA?
RESPONSABILIDADE DE QUEM? 

                                                                            Prof. Dr. Antonio Celso Ribeiro  
                                                          Brasiliano,CRMA,CES,DEA,DSE,MBS* 

O caso que aconteceu em Minas Gerais, com a Mineradora SAMARCO, nos deixa com
o coração na mão, pois como consultores na área de gestão de riscos, incluindo o
gerenciamento das emergências e crises, sabemos que no Brasil não existe cultura para
que haja investimentos preventivos e mitigatórios nesse sentido. Por esta razão que
afirmo que o caso de Mariana e de muitas outras situações existentes são tragédias
anunciadas.

 Mas a pergunta que não quer calar é a existência de tanta displicência? Vale tanto do
lado privado e como também do lado público! Não quero apenas apontar que faltou
estrutura e recursos, mas algo mais profundo, relacionado com a questão da
responsabilidade profissional, social e econômica. Será que precisamos realmente de
órgãos fiscalizadores ou de termos um forte contrapeso (legislação pesada, que
funcione), para responsabilizar de fato e de direito os verdadeiros avaliadores dos
projetos e respectivos planos? Vejamos então alguns pontos de reflexão.

 Segundo o Professor Engenheiro, com mestrado, autor de uma dissertação que analisou
125 barragens em Minas Gerais, Anderson Pires Duarte, afirmou em entrevista na
Revista Época de 16 de novembro de 2015, “ ser impossível a Samarco não saber o que

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estava prestes a acontecer. Uma barragem não se rompe de um dia para outro. Dá
avisos, sinais.... É como uma pessoa que adoece: percebem­se os sintomas. Não sei por
que rompeu, mas garanto que a Samarco tem esse monitoramento”.

 A segurança é um dos deveres básicos da Engenharia e deve constituir o objetivo
principal no projeto, construção e operação das obras construídas, em especial nas
barragens. Mesmo sendo o projeto e a construção adequados, existe um risco
remanescente a ser controlado através da avaliação de segurança das estruturas, definido
como o estabelecimento de mecanismos e procedimentos que permitam a detecção
prévia das situações de risco e as medidas para mitigá­las. Isto é um processo! Tem que
acontecer!!

 A ruptura de barragens é um evento considerado raro e estima­se que ocorra uma
ruptura para cada 10.000, ou até 100.000 barragens. De qualquer forma é uma situação
que o proprietário deve evitar a todo custo, mas que precisa ser prevista a fim de se
planejarem ações para reduzir os danos eventualmente provocados pela cheia potencial
resultante.      

Gerenciamento de Riscos e de Emergências

 O ciclo de gerenciamento do risco e das emergências, aplicável a rupturas e cheias
induzidas por barragens, é normalmente apresentado dividido nas fases de Mitigação
(Prevenção e Preparação), Resposta e Recuperação.

 Operacionalmente, pode­se dividir esse ciclo em três fases: antes, durante e após a
emergência. Segundo essa abordagem, a mitigação compõe a primeira fase
denominada “antes da emergência”. Essa fase consiste na adoção de procedimentos de
“prevenção” e “preparação” e seu funcionamento depende do estado de prontidão dos
envolvidos para agirem num momento de crise.

 A prevenção, pelo lado do dono da barragem, consiste na redução da probabilidade de
ocorrer um acidente através de medidas estruturais, como obras de reforço, ou de
manutenção. Pode­se também implementar medidas não estruturais que permitam
detectar eventos perigosos em tempo hábil, como monitoramento, ou que reduzam o
risco através de medidas operativas preventivas, como criação de volume de espera no
reservatório ou seu deplecionamento emergencial. Os procedimentos operacionais
relativos a essa etapa de prevenção geralmente são compilados nos “Planos de
Segurança das Barragens”, nas “Normas de Exploração ou de Operação”, guias e
instruções técnicas de manutenção, entre outros documentos adotados por cada
proprietário de barragem. Pelo lado da Defesa Civil, consiste no monitoramento de
eventos causadores de desastres, na elaboração e aplicação de leis de uso e ocupação
dos solos, da remoção de estruturas localizadas em área de risco, na criação de
programas educativos e de conscientização e outras medidas de segurança. Pergunto:
isto existia de ambas as partes?

 A preparação atua mais na redução do fator vulnerabilidade. Consiste essencialmente
na implementação de medidas não–estruturais para reduzir os danos produzidos pela
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cheia induzida. Ao mantenedor da barragem compete comunicar as ocorrências
excepcionais a todos os envolvidos nas ações de emergência e se manter preparado e de
prontidão ao ser detectada uma anomalia. Aos responsáveis pela segurança da
população a jusante compete atuar na redução da vulnerabilidade
das pessoas ao longo do vale. As principais medidas “preparadas” nesta etapa,
por ambos planejadores, são a implantação de sistemas de alerta e aviso, elaboração de
planos de ações emergenciais e mapeamento das áreas de risco. Pergunto: isto
existia de ambas as partes?

 A fase de resposta ocorre quando a emergência é declarada. Uma anomalia foi
detectada, as tentativas de controlar o incidente se mostram ineficazes e o acidente é
iminente ou já foi detectado, avaliado e tomou­se a decisão de agir. Aplica­se o
planejamento preparado anteriormente para orientar os envolvidos nas ações a serem
tomadas daí por diante. Nessa fase são dados os avisos, os recursos são mobilizados, os
Centros de Operações de Emergência (COEs) são ativados, iniciando­se a evacuação e
socorro da população. Pergunto: isto foi realizado?

 Após a fase de emergência, iniciam­se os processos de recuperação do que foi
atingido, a começar pela restauração dos serviços essenciais, como água, energia e
saúde pública, seguida da reconstrução, seja dos bens destruídos, seja da barragem, se
julgar viável. Isto nem começou a ser planejado!

Ciclo do Gerenciamento de Riscos e de Emergência

(Monografia de Diego Antonio Fonseca Balbi, Metodologias para Elaboração de
Planos de Ações Emergenciais para Inundações Induzidas por
Barragens ESTUDO DE CASO: BARRAGEM DE PETI – MG; página 35) 

Escrevi em outros artigos que qualquer tipo de planejamento, seja preventivo ou
emergencial, não pode ser elaborado sem uma boa análise de riscos. Sem a construção
de cenários de riscos para que se possa criar condições operacionais de reações
exequíveis, caso contrário estaremos simplesmente nos iludindo. A negação é um fator
psicológico que deve ser combatido pelos executivos, pois sempre irão negar ou afirmar
que o cenário catastrófico nunca irá acontecer!

 O gerenciamento do risco abrange processos de avaliação e mitigação e busca
assegurar que um certo nível de risco relacionado a acidentes com barragens seja
controlado e socialmente aceitável. O processo deve ser contínuo para ser eficaz.

 A avaliação do risco, corresponde aos riscos associados à barragem que devem ser
gerenciados internamente através de procedimentos de segurança de barragens e de
redução de riscos, e riscos no vale a jusante que requerem procedimentos externos.

 Considerando a barragem, o gerenciamento consiste na adoção de um plano de
segurança que visa identificar e caracterizar situações que ameacem as suas estruturas e,
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quando o risco é considerado inaceitável, promover a sua reabilitação através da adoção
de medidas estruturais ou não.

 No vale, dados os riscos a que está sujeito – grau de perigo da onda, vulnerabilidade e
exposição – pode­se reduzir o risco investindo no preparo. Esse preparo é feito,
essencialmente, através da implementação de medidas não estruturais como o
planejamento das ações de resposta, os sistemas de comunicação, alerta e aviso,
treinamentos, e a preparação de mapas de zoneamento de risco para planejamento e
ordenamento do uso e ocupação do solo.

Processo de Análise de Riscos em Barragens

(Monografia de Diego Antonio Fonseca Balbi, Metodologias para Elaboração de
Planos de Ações Emergenciais para Inundações Induzidas por Barragens

ESTUDO DE CASO: BARRAGEM DE PETI – MG; página 36) 

 Gestão das Emergências

 A gestão de crises e de emergências é constituída por um conjunto de metodologias e
ações coordenadas de resposta para minimizar a magnitude dos danos devidos a
incidentes e acidentes com barragens (impacto), bem como as perdas potenciais na
barragem e no vale a jusante, assegurando a melhor resposta durante e após o acidente.
Nessa fase, espera­se que as medidas adotadas na fase de mitigação tenham sido
eficientes na redução das consequências e que todos os procedimentos preparados na
fase anterior ao impacto sejam adequados e seguidos pelos responsáveis por sua
execução.

 A resposta implica a ativação e a implementação dos planos e procedimentos de
emergência, bem como a coordenação dos esforços de resposta, designadamente, na
emissão de alertas e avisos; disponibilidade de informação adequada ao público;
assistência durante e após o desastre, inclusive no cuidado a mortos e feridos, provendo
abrigos de emergência e locais para evacuação, cuidados médicos, alimentação e
vestuário.

Conclusão

 Creio que as respostas que coloquei como pontos de reflexão servem como suporte
para que os profissionais façam uma autoanálise nos projetos e planos que estamos
entregando para nossos clientes e que os responsáveis pelos empreendimentos também
reflitam sobre as responsabilidades.

 Na minha opinião não há necessidade de órgãos fiscalizadores, mas sim legislações
mais rígidas e que de fato sejam aplicadas para que os profissionais possam ser
penalizados por suas IRRESPONSABILIDADES, tanto os executivos como também os
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gestores, consultores, técnicos. Desta forma e, somente desta forma é que haverá
projetos serem elaborados com maior cunho de profissionalismo e realidade. Quem
assina o Plano de Gestão de Riscos, O Plano de Resposta a Emergência tem e deve ter
consciência que estes devem funcionar, ou não coloquem suas assinaturas no
documento!!

 Infelizmente, ainda teremos inúmeros eventos sendo negligenciados pelos
administradores públicos e privados, pela simples falta de operacionalização de
processos estruturados de gestão de riscos.

 Vamos torcer para que Deus seja brasileiro de fato!!!

  

* Prof. Dr. Antonio Celso Ribeiro Brasiliano é Doutor em Science et Ingénierie de
L’Information et de L’Intelligence Stratégique ( Ciência e Engenharia da
Informação e Inteligência Estratégica) pela UNIVERSITÉ EAST PARIS ­
MARNE LA VALLÉE – Paris – França, e Diretor Presidente da Brasiliano &
Associados.   

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Antonio Brasiliano
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7 comentários Mais recentes

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Adilson Alvares, CICS 1a


Operador do Mercado de Capitais
Prof. Dr. Brasiliano

Parabens pelo excelente artigo.

Importante para que possamos refletir sobre como estamos planejando as nossas atividades, sejam
elas profissionais ou até mesmo pessoais.
Gostei Responder

Marcos Casquel 1a
South America Security and Compliance Investigation
Professor Brasiliano, considero sua análise perfeita!

A algum tempo atrás dizíamos que os executivos brasileiros tinham uma visão míope sobre segurança
e riscos, mas hoje, com a globalização e profissionalização do setor no Brasil, temos oferta de
profissionais qualificados, portanto, não vejo outra resposta para esta catástrofe que não, a ganância!

Infelizmente as empres… Visualizar mais


Gostei Responder

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