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GESTÃO DE

RISCO
DE DESASTRES NO BRASIL:
Panorama atual e tendências
BANCO MUNDIAL
GLOBAL FACILITY FOR DISASTER REDUCTION AND RECOVERY (GFDRR)
FUNDAÇÃO DE AMPARO À PESQUISA E EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA (FAPEU)
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA (UFSC)
CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM ENGENHARIA E DEFESA CIVIL (CEPED)

GESTÃO DE
RISCO
DE DESASTRES NO BRASIL:
Panorama atual e tendências
Elaborado pela FAPEU
com apoio do Banco Mundial e CEPED UFSC
2020
FAPEU, Florianópolis|SC

As opiniões, interpretações e conclusões apresentadas neste documento são dos au-


tores e não devem ser atribuídas, de modo algum, ao Banco Mundial, às instituições
afiliadas, ao seu Conselho Diretor, ou aos países por eles representados. O Banco
Mundial não garante a precisão da informação incluída e não aceita responsabilida-
de alguma por qualquer consequência de seu uso. É permitida a reprodução total ou
parcial deste documento, para fins educacionais ou para fins não comerciais desde
que a fonte seja mencionada de forma completa.

B213r Banco Mundial. Global Facility for Disaster Reduction and Recovery.
Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão Universitária.
Universidade Federal de Santa Catarina. Centro de Estudos e
Pesquisas em Engenharia e Defesa Civil.

Gestão de risco de desastres no Brasil : panorama atual e tendências /


Banco Mundial. Global Facility for Disaster Reduction and Recovery.
Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão Universitária. Centro de
Estudos e Pesquisas em Engenharia e Defesa Civil. [Organização Rafael
Schadeck] – Florianópolis: FAPEU, 2020.
110 p. : il. color.; 30 cm.

Inclui Bibliografia.

1. Desastres – Brasil. 2. Desastres – danos e prejuízos. 3. Gestão de


risco de desastres. 4. Desastres – Dados. I. Banco Mundial. II. Global
Facility for Disaster Reduction and Recovery. III. Fundação de Amparo à
Pesquisa e Extensão Universitária. IV. Universidade Federal de Santa
Catarina. V. Centro de Estudos e Pesquisas em Engenharia e Defesa Civil.
VI. Título.
CDD 363.34
Catalogação na publicação por Graziela Bonin – CRB14/1191.
gestão de riscos de desastres no brasil: panorama atual e tendências

5
SU

CAP. 1
Desastres
no Brasil
RIO
14
Apresen
tação
CAP. 3
08 O Contexto
da Gestão
de Risco de
Desastres
66

Intro
dução
11

CAP. 2
Perfil
de Risco
42
CAP. 5
COVID-19,
uma
Pandemia
84
Referências
102

CAP. 4
Desafios
Sociais:
Igualdade
de Gênero e
Erradicação
da Pobreza
78
Conside

SU
rações
finais
100


RIO
APRE
SEN
TA
ÇÃO
gestão de riscos de desastres no brasil: panorama atual e tendências

Esta publicação é uma iniciativa do Banco Mundial com a co-


laboração do Centro de Estudos e Pesquisas em Engenharia
e Defesa Civil (Ceped) da Universidade Federal de Santa Ca-
tarina, por meio do contrato com a Fundação de Amparo à
Pesquisa e Extensão Universitária (FAPEU).
O conteúdo relata um breve panorama da Gestão de Ris-
cos de Desastres, apresentando os principais desastres ocor-
ridos no Brasil nas duas últimas décadas e uma análise sobre
o perfil de risco. Nesse sentido, esta publicação foi organiza-
da com o objetivo de fornecer informações e contextualizar
o cenário dos riscos e desastres no Brasil. Assim como servir
de instrumento de apoio aos gestores na análise do perfil de
risco em seus territórios.
Para isso, foram utilizados como fonte de informação os
dados coletados do Sistema Integrado de Informações sobre
Desastres (S2ID), estudos realizados pelo Centro de Estudos e
Pesquisas em Engenharia e Defesa Civil (Ceped) da Universi-
dade Federal de Santa Catarina (UFSC), pelo Banco Mundial,
órgãos oficiais nacionais, como o Instituto Nacional de Pes-
quisas Espaciais (Inpe), o Instituto Brasileiro do Meio Ambien-
te e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Instituo
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre outros.
Boa leitura!

9
IN
TRO
DU
ÇÃO
gestão de riscos de desastres no brasil: panorama atual e tendências

Fenômenos naturais (terremotos, tsunamis, inundações etc.) fazem parte da dinâmica do meio físi-
co. Quando ocorrem em áreas não ocupadas, caracterizam um fenômeno natural; porém, quando
impactam a população e propriedades, passam a ser desastres. O termo desastre natural pode ser
entendido como uma perturbação desencadeada por um fenômeno natural, provocando perdas
e/ou danos materiais, humanos, econômicos e ambientais (ALCÁNTARA-AYALA, 2002; UNDP, 2004).

Para a UNDRR (2017), desastre significa uma de técnicos e população. Apesar disso, a palavra
perturbação grave do funcionamento de uma co- desastre já designa que o ser humano é parte inte-
munidade ou sociedade, que testa ou excede sua grante, ao passo que os desastres se concretizam a
capacidade em lidar com as perdas e os danos cau- partir das perdas e danos, e, para tanto, é necessária
sados utilizando recursos próprios. Já, na legislação a presença humana. Desta forma, a palavra desas-
brasileira, desastre é definido como o resultado de tre já inclui o ser humano e o termo natural é um
eventos adversos, naturais ou provocados pelo ho- adjetivo que é utilizado apenas para identificar a ti-
mem sobre um cenário vulnerável, causando danos pologia do desastre, diferenciando-o, por exemplo,
humanos, materiais ou ambientais e consequentes daqueles que podem ser de origem tecnológica.
prejuízos econômicos e sociais. Nessa lógica, adota-se para este trabalho o termo
A temática em torno dos desastres naturais exi- desastre natural para todo e qualquer evento asso-
ge uma abordagem interdisciplinar e transdiscipli- ciado à dinâmica do meio físico e desastres tecno-
nar, cooperação técnico científica e das comunida- lógicos para eventos relacionados a produtos peri-
des, visto que os custos com prevenção e mitigação gosos, substâncias radioativas, biológicas, incêndios
são muito inferiores aos custos com reconstrução urbanos, passageiros e cargas e obras civis.
pós desastre. A fim de aproximar a população da No Brasil, os desastres podem ser classificados
temática, muitos estudiosos da área sugerem usar de acordo com a Codificação Brasileira de Desas-
o termo desastre socionatural, pois acreditam que tres (Cobrade), definida pela Instrução Normativa
o termo desastre natural coloca a natureza como 02/2016¹, do Ministério do Desenvolvimento Regio-
única responsável pelos desastres. Esta questão é nal (MDR), sendo a classificação padrão adotada
discutível, pois sabendo que a natureza não possui pelo Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil
intencionalidade, o termo desastre natural ainda é (SINPDEC). Ela define que os desastres são dividi-
o mais aceito e amplamente utilizado pelos estu- dos, quanto à sua origem, em dois grandes conjun-
diosos da área, principalmente no Brasil. tos: Naturais e Tecnológicos. Os quais são divididos
Embora a discussão sobre o significado do ter- em grupos, subgrupos, tipos e subtipos. No total
mo ainda não seja padronizada, é de comum acor- existem 65 códigos na Cobrade, que identificam 43
do que o essencial seja o avanço contínuo das in- desastres naturais e 22 desastres tecnológicos.
vestigações, estudos e programas de capacitação Seja definido como natural ou tecnológico, o
desastre é a concretização de um risco. Ou seja,
a ocorrência de um evento adverso em área que
combina os elementos: exposição (quantidade e
A palavra desastre já inclui o tempo de elementos expostos) e vulnerabilidade
(condições físicas, sociais, ambientais e econômicas
ser humano e o termo natural que aumentam a suscetibilidade aos impactos). A
é um adjetivo utilizado para vulnerabilidade aos desastres, na realidade brasi-
identificar a tipologia do leira, destaca-se ao se associar às condições finan-
ceiras da maior parte da população que, por ser fi-
desastre, diferenciando-o, por


nanceiramente precária, acaba tendo como opção
exemplo, daqueles de origem de moradia áreas consideradas de riscos naturais,
tecnológica. que, muitas vezes, pela falta de conhecimento das
características do meio físico, tendem a agravar a si-

11
tuação de risco. Logo, a gênese do desastre vai dire- Desastres relacionados à dinâmica geológica/
tamente de encontro à população financeiramente geomorfológica, bem como a dinâmica atmosféri-
precária, o lado mais vulnerável do país. ca e hidrológica são bastante comuns no território
Em todo o país, como em outras partes da brasileiro. Vários tipos de desastres como movi-
América Latina, as evidências sugerem que a ex- mentos de massa, inundações, enxurradas, secas,
ploração imobiliária, expansão urbana e serviços de entre outros, causam danos e prejuízos à popula-
transporte precários na periferia das cidades levam ção todos os anos. Mesmo com todo o esforço dos
as famílias de baixa renda a se instalarem em áreas órgãos competentes para a prevenção e mitigação
de risco e esses assentamentos informais são supe- dos desastres, esses fenômenos são recorrentes no
rexpostos e mais vulneráveis devido à sua localiza- país, a julgar pela sua extensão territorial e pelas di-
ção e aos materiais de baixa qualidade usados para ficuldades de um país que ainda está em desenvol-
habitação (HALLEGATE et al., 2017). vimento (BANCO MUNDIAL, 2012a).

¹ Instrução Normativa nº 02, de 20 de dezembro de 2016 – ANEXO VI

12 introdução
gestão de riscos de desastres no brasil: panorama atual e tendências

13
DE
SAS
TRES
NO BRASIL
gestão de riscos de desastres no brasil: panorama atual e tendências

Apesar dos desastres de grande magnitude terem uma fre-


quência menor no país que em outros países, eventos adver-
sos que ocasionam significativos danos humanos, ambien-
tais, econômicos e sociais têm sido mais notados nas últimas
duas décadas, como o Furação Catarina (2004); estiagem na
Região Sul (2005); inundações e deslizamentos no Vale do
Itajaí (2008); inundações em Pernambuco (2010); inundações
em Alagoas (2010); deslizamentos na Região Serrana no Rio
de Janeiro (2011); seca no Semiárido (2012); inundação no Rio
Acre (2012); inundações na Bacia Amazônica (2012); incêndio
na Boate Kiss (2013); inundações no Espírito Santo (2013); rom-
pimento da barragem de Mariana (2015); rompimento da bar-
ragem de Brumadinho (2019); e derramamento de óleo no
Nordeste (2019).
A seguir estão apresentados dados consolidados desses
desastres, seja em função do volume de danos e prejuízos,
por sua abrangência, ou ainda por sua excepcionalidade. Esta
lista, todavia, não é definitiva e poderia incluir outros desas-
tres, dependendo da abordagem desejada, sendo esta, por
fim, apenas a perspectiva dos autores.

15
DESASTRES RELEVANTES NO

BRASIL
RR

AM

INUNDAÇÕES NA BACIA AMAZÔNICA – 2012

386 mil 197 mil


AC
pessoas desabrigados
afetadas e desalojados
RO

MT

INUNDAÇÃO NO RIO ACRE – 2012 SECA NO SEMIÁRIDO – 2011

32 mil 165 mil 5 mi 2,6 bi


desabrigados pessoas pessoas danos e
e desalojados afetadas afetadas prejuízos (R$)

ROMPIMENTO DA ROMPIMENTO DA
BARRAGEM DE MARIANA – 2015 BARRAGEM DE BRUMADINHO – 2019

1 mi 333 mi 270 560 mi


pessoas danos e óbitos danos e
afetadas prejuízos (R$) prejuízos (R$)

ESTIAGEM NA REGIÃO SUL – 2004/2005 INCÊNDIO NA BOATE KISS – 2013

739 21 mi 4.23 bi 242 680


municípios pessoas danos e óbitos pessoas
afetados afetadas prejuízos (R$) afetadas

Furacão Estiagem Inundações Inundações em Inundações Deslizamento


Catarina na Região Sul no Vale do Pernambuco em Alagoas na Região
2004 2004/2005 Itajaí (SC) 2010 2010 Serrana (RJ)
2008 2011

Municípios afetados 38 739 37 67 35 16

Pessoas afetadas 250.000 21.000.000 559.959 740.001 76.485 319.696

Desabrigados e desalojados 26.443 - 107.455 105.984 69.379 300.000

Número de óbitos 10 - 135 20 25 1.192

Danos e prejuízos R$ 211.4 mi R$ 4.23 bi R$ 4 bi R$ 3.4 bi R$ 441 mi R$ 4.78 bi

16 desastres no brasil
gestão de riscos de desastres no brasil: panorama atual e tendências

DERRAMAMENTO DE ÓLEO
AP
NO LITORAL DO NORDESTE – 2019

130 3.6 mil


municípios km de costa afetada
afetados

PA
MA INUNDAÇÕES EM PERNAMBUCO – 2010
CE
RN

PB
740 mil 3.4 bi
PI pessoas dano e
PE
afetadas prejuízos
AL
SE
TO

BA INUNDAÇÕES EM ALAGOAS – 2010

69 mil 441 mi
desabrigados danos e prejuízos
DF e desalojados
GO

MG INUNDAÇÕES NO ESPÍRITO SANTO – 2013

MS
ES 3 mi 635 mi
pessoas danos e
RJ
afetadas prejuízos (R$)
SP

PR
DESLIZAMENTO NA REGIÃO SERRANA (RJ) – 2011

1.192 4.18 bi
SC
óbitos danos e
prejuízoz (R$)
RS

FURACÃO CATARINA – 2004 INUNDAÇÕES NO VALE DO ITAJAÍ (SC) – 2008

250 mil 211,4 mi 559 mil 4 bi


pessoas danos e pessoas danos e
afetadas prejuízos (R$) afetadas prejuízos (R$)

Seca no Inundação Inundações Incêndio na Inundações no Rompimento Rompimento Derramamento


Semiárido no Rio Acre na Bacia Boate Kiss Espírito Santo da barragem da barragem de Óleo no
2011 2012 Amazônica 2013 2013 de Mariana de Brumadinho litoral do NE
2012 2015 2019 2019

1.181 10 52 1 78 38 17 130

5.084.138 165.975 386.336 680 3.000.000 1.000.000 33.529 -

- 32.600 197.151 - 60.000 1360 198 -

- 1 6 242 24 25 270 -

R$ 2.6 bi R$ 255 mi R$ 491 mi - R$ 635 mi R$ 333 mi R$ 560 mi -

17
Fonte: Defesa Civil de Santa Catarina, 2008.

Furacão Catarina (2004)

Nos dias 27 e 28 de março de 2004, a Região Sul Os impactos nos municípios foram diferencia-
do Brasil foi afetada por um fenômeno atmosférico dos por intensidade de danos. Na planície costeira,
atípico, denominado de Furacão Catarina. O even- sendo classificados como severos, afastando do li-
to no litoral Sul do estado de Santa Catarina e no toral os danos foram classificados como modera-
litoral Nordeste do Rio Grande do Sul causou seve- dos (encostas da Serra Geral) e pequenos no Pla-
ros danos, elevados prejuízos, destruição e mortes. nalto (SANTOS et al., 2015). Os municípios litorâneos
Os danos mais frequentes foram relacionados às foram os mais impactados devido à grande força e
edificações (casas, galpões, estufas, posto de ga- velocidade dos ventos e o mar agitado, com picos
solinas etc.), infraestruturas urbanas (rede elétrica, de onda de até 5 metros, caracterizando ressaca em
telefonia, estradas etc.), flora e fauna, além de afetar boa parte do litoral sul catarinense e nordeste do
milhares de pessoas. Na área rural os maiores pre- Rio Grande do Sul (CALEARO et al., 2004).
juízos ocorreram na agricultura, afetando principal- Os municípios mais afetados foram Passos de
mente o cultivo de milho, arroz irrigado, banana e Torres, Balneário Gaivota e Balneário Arroio do Silva.
hortifruticulturas. Toda a Região Sul sofreu com a Conforme o Decreto Estadual nº 1691/2004, do to-
falta de energia elétrica, afetando a distribuição de tal de 38 municípios atingidos em Santa Catarina,
água potável e a comunicação (CEPED/UFSC, 2013). 14 municípios decretaram estado de calamidade
Em virtude de seu caráter inédito e de sua com- pública (ECP) e 24 situações de emergência (SE),
plexidade, a classificação do Catarina gerou grande 26.443 pessoas foram desabrigadas e desalojadas, e
controvérsia na comunidade científica. Em julho de registrados 10 óbitos. Mais de 250 mil pessoas foram
2005 os pesquisadores do Inpe concluíram que o afetadas. A soma dos danos e prejuízos alcançou
Catarina foi classificado como furacão (MARCELI- valores equivalentes a R$ 211,4 milhões (MARCELI-
NO et al., 2005), e passou a ser o primeiro registro NO et al., 2005).
oficial de um furacão no Atlântico Sul.

18 desastres no brasil
gestão de riscos de desastres no brasil: panorama atual e tendências

Estiagem na Região Sul (2005)

O termo estiagem é utilizado por vários pesquisa- municípios do estado, 450 foram atingidos pela es-
dores para caracterizar o período de seca na Região tiagem (S2ID, 2020).
Sul do País, devido as suas particularidades climá- Portanto, o monitoramento das estiagens é de
ticas. No entanto, esse termo ainda não apresenta fundamental importância, a julgar pela influência
um consenso, sendo o conceito elaborado por Cas- que exerce sobre a questão socioeconômica. Em
tro et al. (2003) o mais divulgado. Para ele, a estia- decorrência das incertezas climáticas, é importante
gem ocorre quando o início da temporada chuvosa trabalhar a resiliência por meio de ações de gestão
atrasa por quinze dias ou quando a média da pre- de risco de desastres.
cipitação mensal dos meses mais chuvosos alcança
limites inferiores a 60% das médias mensais de lon-
go período. O ano de 2005 foi significativo quanto
ao número de ocorrências de estiagem na Região
Sul, mas esse fenômeno climático começou de for-
ma gradativa a partir de 2004.
Em Santa Catarina, nos anos de 2004 e 2005,
163 municípios foram afetados pela estiagem, afe-
tando mais de 1.235.590 de pessoas. Quanto aos da-
nos e prejuízos, foram contabilizados mais de R$ 1,7
bilhões (BANCO MUNDIAL, 2016).

“O ano de 2005 foi


significativo quanto ao
número de ocorrências de
estiagem na Região Sul, mas
esse fenômeno climático


começou de forma gradativa
a partir de 2004.

No estado do Paraná, o número de municípios


afetados chegou a 126, enquanto o número de pes-
soas afetadas foi de 864.495. Nesse período, o total
de danos e prejuízos foi de R$ 3,47 bilhões (BANCO
MUNDIAL, 2020b).
No Rio Grande do Sul, em 2004, foram reali-
zados 416 registros de desastres, sendo que 346
referentes à estiagem, o que equivale a aproxima-
damente 83,17% dos registros. Já em 2005 houve
um aumento significativo, dos 459 registros de de-
sastres, 448 foram referentes à estiagem, ou seja,
aproximadamente 97,60% dos registros. Dos 497 Fonte: Agência de notícias do Paraná, 2012.

19
4/6/2020 about:blank

4/6/2020 about:blank

4/6/2020 about:blank

about:blank 1/1

about:blank 1/1

Fonte: Estadão, 2005.

“Dos três estados, 739 municípios foram atingidos,


21 milhões de pessoas afetadas, 10 óbitos e danos e
prejuízos de R$4,23 bilhões.

about:blank 1/1

20 desastres no brasil
gestão de riscos de desastres no brasil: panorama atual e tendências

Fonte: O município, 2017.

Inundações e deslizamentos Vale do Itajaí/SC (2008)

No ano de 2008, os moradores do Vale do Itajaí en- A principal causa dos movimentos de massa fo-
frentaram um dos piores desastres naturais da his- ram as chuvas que desde o mês de agosto, apesar de
tória de Santa Catarina, junto com as inundações não muito intensas, já eram constantes, assim como
de 1974, 1983, 1984, 1995 e 2005. O excesso de chu- nos meses de setembro e outubro. Em novembro,
vas entre os dias 20 e 24 de novembro provocaram precisamente nos dias 21 e 22, choveu quase cinco
inundações, enxurradas, fluxos de lama e detritos e vezes mais que o esperado para o mês inteiro, foram
deslizamentos de terra nas encostas dos morros. 283,1 mm e 212,1 mm, respectivamente.
Dentre os registros de desastres no Vale do Itajaí/ Os movimentos de massa transportaram gran-
SC, considera-se esse evento de novembro como o de quantidade de material encosta abaixo, seja ele
de maior magnitude, tendo em vista sua intensida- solo ou rocha, que se desprendeu por meio de rup-
de e enormes prejuízos causados. A população do turas. Em algumas situações, esse material teve o
Vale que, de certa forma, estava acostumada a en- acréscimo de água, no qual foi possível observar im-
frentar inundações, alagamentos e enchentes, teve pactos ainda maiores, pois a água tornou o material
que confrontar-se também com problemas prove- fluido, dando ainda mais velocidade ao movimento.
nientes dos movimentos de massa que ocorreram Tal diferença como tipo de material, geometria da
de forma generalizada. Levantamentos apontam massa, velocidade, modo de deformação e o con-
que havia na época mais de 3 mil pontos de desliza- teúdo de água são os critérios que diferenciam os
mentos em todo o Vale do Itajaí, desses, 1787 pontos deslizamentos dos fluxos de detritos (FERNANDES;
foram analisados somente no Complexo do Morro AMARAL, 2006).
do Baú (Gaspar, Ilhota e Luiz Alves) (HERRMANN, Muitos movimentos evoluíram de deslizamen-
2014, p. 177-178), sendo os deslizamentos e fluxos de to para fluxo de detrito durante o seu trajeto, fato
detritos os movimentos de maior ocorrência, tanto que contribuiu para mudanças significativas das
na área urbana quanto na área rural. formas de relevo. Alguns atingidos relataram des-

21
lizamentos de terra que atravessaram o rio e de- Segundo a Avaliação de Danos da Defesa Civil (Ava-
positaram material do outro lado da margem for- dan), o número de perdas humanas chegou a 135
mando um novo relevo; outros deslizamentos que mortes, sendo 97% dos óbitos resultantes de soter-
ao carrearem materiais foram tirando o suporte da ramento pós-deslizamento de encostas, e os danos
base das encostas, provocando, por vezes, novos e prejuízos foram estimados em R$ 4,75 bilhões
movimentos de massa. (BANCO MUNDIAL, 2012e).
Em todo o estado de Santa Catarina as chuvas Particularmente no Vale do Itajaí, o desastre
afetaram mais de 1,5 milhão de pessoas, deixando afetou 37 municípios e cerca de 600 mil pessoas,
mais de 120 mil pessoas desalojadas e desabriga- deixando mais de 107.455 mil desabrigados e desa-
das, 60 municípios em situação de
4/6/2020
emergência
about:blank
lojados. O valor das perdas econômicas superou 4
(SE) e 14 em estado de calamidade pública (ECP). bilhões (BANCO MUNDIAL, 2012e).
4/6/2020 about:blank

Fonte: Estadão, 2008.

No Vale do Itajaí, o desastre afetou 37 municípios


deixando 559.959 pessoas afetadas e 107.455
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about:blank 1/1

desabrigados e desalojados. O valor das perdas


econômicas superou 4 bilhões.

22 desastres no brasil
gestão de riscos de desastres no brasil: panorama atual e tendências

Inundações Pernambuco (2010)

Entre os dias 17 e 19 de junho de 2010, fortes chuvas Entre os 67 municípios afetados, 12 decretaram
atingiram o estado de Pernambuco, afetando 67 estado de calamidade pública (ECP) e 30 situações
municípios da Mata Pernambucana, do Agreste de de emergência (SE), depois que ondas formadas
Pernambuco e da Região Metropolitana de Recife, nos rios em alta velocidade e com alto poder de des-
a qual foi considerada a pior temporada chuvosa da truição derrubaram casas, hospitais, prédios da ad-
década (BANCO MUNDIAL, 2012c). ministração pública, escolas, estabelecimentos co-
A forte chuva nas cabeceiras dos rios causou en- merciais, pontes, estradas e outros equipamentos.
xurradas violentas ao longo das margens dos rios De acordo com a contagem populacional do
Una e Jaboatão, na Zona da Mata (Sul) e no Agreste IBGE de 2007, a área total afetada possuía 5.152.154
Pernambucano, e a força das águas destruiu cidades habitantes, o que significa que mais de 60% da
inteiras como os municípios de Palmares e Barreiros, população do estado de Pernambuco (total de
onde todo o seu território foi coberto pelas águas. 8.486.638) vivia nos municípios atingidos.
Como resultado do fenômeno conhecido por Segundo informações da Defesa Civil, 740.001 pes-
Onda Leste, caracterizado pela conjunção de ven- soas foram diretamente afetadas pelo desastre, o que
tos fortes do oceano em direção ao interior do es- representa 15% da população da área atingida, ou cer-
tado, por uma grande concentração de nuvens nas ca de 9% da população total do estado. O número de
cabeceiras dos rios e por um aquecimento acima pessoas desabrigadas e desalojadas chegou a 105.984,
do esperado da massa do Oceano Atlântico, em 24 e o número de óbitos foi de 20 pessoas (BANCO MUN-
horas choveu 180 mm na região, cerca de 70% do DIAL, 2012c). Contudo, devido ao registro por diferentes
volume esperado para o mês inteiro de junho. órgãos, a apuração dos números oficiais não é precisa.

Fonte: Antônio Cruz, Palmares/PE - Agência Brasil, 2010.

23
Os municípios pequenos (com menos de 50 mil vos: R$ 3,4 bilhões, valor que corresponde a mais de
habitantes) foram os mais gravemente atingidos, 4% do PIB (Produto Interno Bruto) do estado. Os cus-
como os de Palmares, Barreiros e Maraial, com toda tos diretos foram estimados em R$ 2 bilhões (60%),
a população diretamente afetada, onde em alguns enquanto os custos indiretos somaram cerca de R$
casos a destruição foi quase total. Contudo, grandes 1,4 bilhão (40%). Os prejuízos no setor privado foram
municípios como Vitória de Santo Antão e Jaboatão estimados em R$ 1,35 bilhões, enquanto no setor pú-
dos Guararapes (com 120 mil e 600 mil habitantes blico os prejuízos chegaram a R$ 2,01 bilhões (cerca
respectivamente) também foram muito atingidos. de 60% do total), associados principalmente à popu-
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As perdas e danos estimados foram significati- lação de baixa renda (BANCO MUNDIAL, 2012c).

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Fonte: Estadão, 2010.

about:blank “67 municípios foram afetados, 740.001 pessoas afetadas, 1/1

105.984 pessoas desabrigadas e desalojadas e 20 óbitos.


As perdas e danos estimados foram de R$ 3,4 bilhões,
about:blank 1/1

valor que corresponde a mais de 4% do PIB do estado.

24 desastres no brasil
gestão de riscos de desastres no brasil: panorama atual e tendências

Inundações Alagoas (2010)

As chuvas do mês de junho de 2010 afetaram de for- ou situação de emergência (SE) possuem popula-
ma significativa o estado de Alagoas, o que gerou ção de 465.375 pessoas, o que significa que 15% da
grandes impactos econômicos e sociais nas comu- população do estado viviam nos municípios mais
nidades afetadas. No período de 17 a 19 de junho de afetados pelo desastre.
2010, o fenômeno Onda de Leste que atingiu o esta- Aproximadamente 270 mil pessoas foram direta-
do de Pernambuco dias antes, chegou ao estado de mente afetadas pelas inundações. Os municípios de
Alagoas e afetou 35 municípios, destes, 15 municípios União dos Palmares, Murici e São José da Laje concen-
decretaram estado de calamidade pública (ECP) e 4 traram, conjuntamente, quase metade da população
situação de emergência (SE), todos eles localizados afetada. O número de pessoas desabrigadas e desalo-
nas mesorregiões do Leste e do Agreste Alagoano. jadas chegou a 72.629 e o número de óbitos foi de 36.
De acordo com a Secretaria de Estado do Meio Tanto o setor público quanto o privado foram
Ambiente e de Recursos Hídricos de Alagoas, eleva- afetados pelas inundações. Porém, o desastre atin-
dos índices de precipitação culminaram nas cheias giu principalmente ativos públicos, especialmente
que atingiram as bacias do Paraíba e do Mundaú. no setor de transportes e nos setores sociais de edu-
Segundo o Banco Mundial (2020d), foram 35 mu- cação e saúde. As perdas e danos totalizaram R$ 1,89
nicípios atingidos, 76.485 pessoas afetadas, 69.379 bilhões, valor que corresponde a cerca de 8% do PIB
pessoas desabrigadas e desalojadas e 25 óbitos. No (Produto Interno Bruto) de Alagoas em 2009. Do to-
que se refere aos danos materiais, foram contabi- tal estimado, 83% são referentes aos danos (custos
lizados aproximadamente R$ 328 milhões e pre- diretos do desastre) e 17% correspondem aos custos
juízos totais de aproximadamente R$113 milhões, indiretos das inundações.
sendo R$96 milhões de prejuízos privados e R$ 16
milhões de prejuízos públicos.

“35 municípios foram


atingidos, 76.485 pessoas
afetadas, 69.379 pessoas
desabrigadas e desalojadas,


25 óbitos e danos e prejuízos
de R$ 441 milhões.

Dados da Defesa Civil do Estado de Alagoas (BAN-


CO MUNDIAL, 2012d) apontaram para a destruição de
diversos prédios públicos, 150 km de ferrovias, 3 pontes
ferroviárias, milhares de domicílios, entre outros ativos.
Segundo a contagem populacional do IBGE
de 2007, aproximadamente 1,5 milhão de pessoas
viviam nos municípios afetados pelas chuvas de
2010. Assim, estima-se que o evento tenha afetado
uma região que abriga cerca de 50% da popula-
ção do estado de Alagoas, que conta com um to-
tal de 3,1 milhões de pessoas. Os municípios que
decretaram estado de calamidade pública (ECP) Fonte: Antônio Cruz, Rio Largo/AL - Agência Brasil, 2010

25
Fonte: Tânia Rêgo - Agência Brasil, 2011.

Deslizamentos na Região Serrana do Rio de Janeiro (2011)

Os eventos de 11 e 12 de janeiro de 2011, no estado do segunda tipologia mais frequente no estado, com
Rio de Janeiro, caracterizaram um dos piores desas- 155 registros no período de vinte anos, o que cor-
tres na história do País. Chuvas torrenciais afetaram responde a 25% dos eventos registrados no Rio de
16 municípios da Região Serrana, causando a mor- Janeiro (CEPED/UFSC, 2013).
te e desaparecimentos de 1 .192 pessoas e afetando
mais de 300 mil pessoas, o que representou 42% da
população dos municípios atingidos. Além de Areal, “16 municípios foram
Bom Jardim, Nova Friburgo, São José do Vale do Rio afetados, resultando em 1.192
Preto, Sumidouro, Petrópolis e Teresópolis que de-
óbitos e desaparecidos, mais
cretaram estado de calamidade pública (ECP), tam-
bém foram afetados os municípios de Santa Maria de 300 mil afetados, 39.410
desalojados e desabrigados


Madalena, Sapucaia, Paraíba do Sul, São Sebastião
do Alto, Três Rios, Cordeiro, Carmo, Macuco e Canta- e danos e prejuízos de
galo (BANCO MUNDIAL, 2012b).
Grande parte dos impactos foi causada por
R$ 4,78 bilhões.
deslizamentos de terra, devido ao grande volume
de chuvas registrado na região. Inundações e desli- Ainda segundo o Atlas, entre os municípios mais
zamentos são recorrentes na região, de acordo com atingidos no estado, Petrópolis foi a cidade com o
o Atlas Brasileiro dos Desastres Naturais, entre 1991 maior número de registros oficiais: 28 registros, sendo
e 2010, 42% dos registros de desastres naturais (625, 17 movimentos de massa e 11 de inundações (bruscas
no total) correspondem a fenômenos de inunda- ou graduais). Em Teresópolis, dos 13 registros oficiais
ções bruscas (260 registros) e 22% a movimentos de de desastres, cinco são referentes a movimentos de
massa (140 registros). As inundações graduais são a massa e 8 de inundações (CEPED/UFSC, 2013).

26 desastres no brasil
gestão de riscos de desastres no brasil: panorama atual e tendências

Nos sete municípios que decretaram estado de R$ 1,62 bilhão são de propriedade privada. O impac-
calamidade pública (ECP) viviam cerca de 713.652 to ficou concentrado no setor social, representan-
pessoas, sendo 319.696 pessoas diretamente afeta- do 58% dos custos estimados. Esse número reflete
das, 342 pessoas desaparecidas, 15.526 desabriga- principalmente as perdas e danos no setor habita-
das e 23.884 desalojadas. O número de afetados cional, estimados em R$ 2,6 bilhões. Enquanto nos
representou 42,68% da população dos sete municí- setores de infraestrutura e produtivos, os custos
pios mais atingidos e 1,9% da população do estado diretos e indiretos do desastre foram estimados
do Rio de Janeiro (BANCO MUNDIAL, 2012b). em R$ 1 bilhão e R$ 896 milhões, respectivamente
A cidade de Nova Friburgo reportou 180 mil afe- (BANCO MUNDIAL, 2012b).
tados e, com isso, concentrou 60% da população Entre os municípios atingidos, Nova Friburgo,
atingida pelo desastre. A população desabrigada, Petrópolis e Teresópolis, juntos, sof reram 89% das
por sua vez, concentrou em Teresópolis (41%). Os perdas e danos, sendo que apenas Nova Friburgo
desabrigados em Nova Friburgo e Petrópolis repre- concentrou mais da metade (55%) do impacto es-
sentaram 23% e 17% do total, respectivamente. Es- timado total.
ses três municípios concentraram a maior parte do Em função da magnitude dos desastres, prin-
impacto das inundações e deslizamentos. cipalmente no que tange aos impactos humanos e
Em relação a perdas e danos, os custos totais fo- sociais, alguns dados divergem entre as fontes pes-
ram na ordem de R$ 4,78 bilhões, aproximadamen- quisadas, prejudicando a apuração de um número
te R$ 3,15 bilhões correspondem ao setor público e oficial definitivo.

Fonte: Folha de São Paulo, 2011.

27
Seca no Semiárido (2012)

As secas que afetam o semiárido brasileiro são um nada região, para que a falta de precipitação provo-
problema histórico relatado desde o século 16. Os que grave desequilíbrio hidrológico.
primeiros casos registrados ocorreram a partir de O ano de 2012 ganhou destaque pela forma
1615, com destaques para os desastres de maior in- generalizada que as secas ocorreram, contrastan-
tensidade até 1891, ano em que foi incluído na Cons- do com os anos anteriores de ocorrências graduais.
tituição Brasileira um artigo que obriga o Estado a O número total de registros realizados foi de 1.647,
socorrer áreas atingidas por desastres naturais, in- sendo 1.181 municípios afetados, o que acarretou
cluindo a seca. Esse tipo de evento pode ser carac- mais de 5 mil pessoas afetadas e prejuízos de mais
terizado por longos períodos de baixa ou ausência de 2 bilhões (S2ID, 2020). A tabela a seguir apresen-
de chuvas durante tempo suficiente, em determi- ta mais detalhes sobre os números do desastre:

“Dos 10 Estados que compõe o semiárido, foram afetados


1.181 municípios, mais de 5 mil pessoas afetadas e mais de
2 bilhões de prejuízos.

Seca no Semiárido 2012


TOTAL DE
TOTAL DE
TOTAL DE TOTAL DE MUNICÍPIOS
ESTADOS Nº REGISTROS MUNICÍPIOS NO
AFETADOS PREJUÍZO (R$) AFETADOS POR
SEMIÁRIDO
ESTIAGEM/SECA
Alagoas 40 179.234 9.607.070,87 38 37

Bahia 255 884.346 118.952.010,53 278 252

Ceará 349 1.818.158 300.588.344,20 175 173

Maranhão 1 23.100 0 2 1

Minas Gerais 100 389.004 15.567.238,59 91 84

Paraíba 376 119.074 29.531.414,80 194 189

Pernambuco 178 880.980 1.062.166.038,36 123 116

Piauí 178 662.233 830.907.779,96 185 174

Rio Grande do 142 102.438 240.276.101,38 147 138


Norte
Sergipe 28 25.571 1.138.538,62 29 17

Total 1.647 5.084.138 2.608.734.537.31 1.262 1.181

Tabela 1: Seca no semiárido 2012. Fonte: S2ID, 2020.

Paraíba e Ceará destacam-se pelo número de registros, o Estado do Ceará apresentou o maior número
de pessoas afetadas, enquanto Pernambuco obteve o maior valor em prejuízos.

28 desastres no brasil
gestão de riscos de desastres no brasil: panorama atual e tendências

O gráfico a seguir demonstra a evolução do cenário da seca durante o ano de 2012, em cada estado do
semiárido. Pode-se constatar que os picos de seca ocorreram, principalmente, nos meses de abril e maio.

Bahia

Pernambuco

Firgura 1: Semiárido - Distribuição mensal dos estados. Fonte: S2ID, 2020.

Cabe destacar que não é apenas a população


rural do semiárido que sofre com os impactos da
seca, mas também a população das áreas urbanas
que são consumidoras da produção daquela região
e sofrem com a redução da oferta de produtos e
aumento de preços. Segundo IBGE, em 2012, na Re-
gião Nordeste, foram perdidos 1,3 milhões de bovi-
nos, 696 mil caprinos, 784 mil ovinos e 755 mil aves,
havendo perdas também nos rebanhos de suínos
e equídeos. As perdas mais pronunciadas foram
nos estados nordestinos da Bahia (40%), da Paraíba
(28%) e de Pernambuco (24%).
Os efeitos da seca iniciada em 2012 perduraram
ao longo dos anos seguintes, em maior ou menor
intensidade, sendo os impactos sociais e econômi-
cos sentidos até os dias atuais.

Fonte: Marcello Casal Jr., Remanso/BA - Agência Brasil, 2015.

29
Inundação no Rio Acre (2012)

Em fevereiro de 2012, o nível do rio Acre atingiu a Além do município de Rio Branco, outros 9
marca de apenas 3 cm abaixo da marca histórica, municípios também foram afetados (Assis Brasil,
ocorrida em março de 1997, que foi de 17,66 metros, Brasileia, Manoel Urbano, Porto Acre, Santa Rosa
gerando enormes prejuízos à população, como o do Purus, Sena Madureira, Xapuri, Cruzeiro do Sul e
deslizamento de suas margens, desabrigando di- Epitaciolândia). Dos municípios afetados, 2 decreta-
versas famílias. Atingindo principalmente a capital ram estado de calamidade pública (ECP) e 6 situa-
Rio Branco (CPRM, 2020). ção de emergência (SE) (S2ID, 2020).
Os sistemas que ocasionaram as chuvas intensas Segundo a Avaliação de Danos da Defesa Civil
na Região do Vale do Acre foram: Zona de Convergên- (Avadan), o número de pessoas afetadas chegou a
cia do Atlântico Sul (ZCAS), a Zona de Convergência 165.975, destas 15.436 desabrigadas, 17.164 pessoas de-
Intertropical (ZCI - Bolívia) e o fenômeno La Ninã - res- salojadas e 1 óbito. Dos dois municípios mais atingi-
friamento das águas do Pacífico - associados com a dos pelas cheias, Rio Branco e Brasiléia, juntos soma-
estação chuvosa no estado do Acre. A precipitação na ram quase 144 mil pessoas afetadas, correspondendo
bacia do Rio Acre, nos meses de janeiro (526 mm) e 85% do total da população dos municípios afetados.
fevereiro (450 mm) de 2012, provocaram a elevação O município Brasiléia apresentou níveis críticos, cer-
dos níveis do Rio Acre e de seus afluentes, alcançando ca de 90% da cidade ficou submersa, mais de 20%
a segunda maior cota da história 17,63m, gerando da- dos domicílios foram comprometidos (S2ID, 2020).
nos e prejuízos aos municípios afetados (S2ID, 2020).

“10 municípios foram


atingidos, resultando
em 165.975 afetados e


danos e prejuízos de
R$ 255 milhões.

Diante da gravidade do impacto do evento, o ce-


nário dos municípios afetados era de precariedade,
miséria e ineficiência dos serviços vitais, registrando
sérios problemas de comunicação, abastecimento
de água e fornecimento de energia elétrica, apre-
sentando difícil processo de resposta e recuperação.
Com grandes danos ao comércio, agricultura, pecu-
ária, educação, infraestrutura e serviços básicos.
No município de Rio Branco, o mais impactado,
a inundação afetou mais de 100 mil pessoas, mais de
30 mil residências foram atingidas (soma de danifica-
das e destruídas), comprometeu edificações públicas
e privadas, equipamentos coletivos (saúde, educação
e comunitário). Impactou o comércio, agricultura de
subsistência, pecuária e serviços básicos, destruiu
pontes, estradas e rodovias. O montante dos danos
e prejuízos nos municípios afetados ultrapassou a
Fonte: Agência Brasil, 2015 soma de mais de 255 milhões de reais (S2ID, 2020).

30 desastres no brasil
gestão de riscos de desastres no brasil: panorama atual e tendências

Fonte: Edmar Barros, Amazônia Latitude, 2019.

Inundação na Bacia Amazônica (2012)

Eventos de inundações são bastante comuns em maio com um pico de 29,97 m, superando em 20
climas tropicais, principalmente na região Amazô- cm a cheia de 2009 e sendo considerado, portan-
nica, onde as elevadas temperaturas combinadas to, o maior nível de toda a série histórica que con-
ao clima equatorial proporcionam chuvas ao longo ta com 110 anos de coleta de dados diários. Foram
de todo o ano. O processo de inundação pode ser 230 dias no processo de enchente, o que equivale a
entendido como a submersão das áreas fora dos aproximadamente 63,01% do ano.
limites de um curso de água em zonas que normal- De acordo Banco Mundial (2020b), 52 muni-
mente não estão submersas (COBRADE, 2012). cípios foram afetados e reconhecidos em situação
No ano de 2012 o estado do Amazonas sofreu de emergência, 160.100 pessoas desalojados, 37.051
com a maior cheia já registrada na região, na qual desabrigados, 386.336 pessoas afetadas e 6 óbitos.
o nível do Rio Negro atingiu a cota máxima, supe- Quanto aos danos materiais, foram contabilizados
rando a cheia de 2009. Segundo a CPRM (2012), a em R$ 323 milhões e R$ 168 milhões de prejuízos,
média histórica dos níveis d’água máximos do Rio sendo R$ 122 milhões de prejuízos públicos e R$ 46
Negro em Manaus (médias das máximas) é 27,83m, milhões de prejuízos privados.
superada pela cheia que terminou no dia 29 de A inundação provocou escorregamentos de terra
associados à erosão de margem dos rios, principal-
mente no Rio Negro, e contaminação das águas por
“52 municípios foram lançamento de esgotos industrial e doméstico, águas
afetados, 386.336 pessoas


servidas e pela falta da coleta de lixo. Além disso,
afetadas, 197.151 desalojados e grande parte do lixo carregado pelo fluxo dos rios e
pelas enxurradas foi depositado ao longo das vias pú-
desabrigados e 6 óbitos.
blicas ou nos igarapés, transformado a paisagem da
cidade de Manaus em um cenário nunca visto antes.

31
Incêndio na Boate Kiss (2013)

Em 27 de janeiro de 2013, um incêndio atingiu a bo- espuma de isolamento acústico, o qual não tinha
ate Kiss, localizada na cidade de Santa Maria no Rio proteção contra fogo. Mesmo com a tentativa de
Grande do Sul, deixando 242 mortes e 680 feridos apagar as chamas, o fogo se espalhou e a fumaça
(S2ID, 2020). Pela Classificação e Codificação Bra- espessa tomou conta do lugar. Devido à falta de
sileira de Desastres (COBRADE), o evento é classi- comunicação entre os integrantes da equipe de
ficado como um desastre tecnológico relacionado segurança e o não conhecimento do que estava
a incêndio urbano, e considerado o segundo maior acontecendo no interior da boate, muitas pessoas
desastre de incêndio com mortes do Brasil, supera- foram impedidas de saírem sem pagar a consuma-
do apenas pelo incêndio no Gran Circo Americano, ção. Ainda, muitas vítimas, já desorientadas pela
em 1961, que deixou 503 mortos em Niterói (Rio de fumaça, confundiram as portas do banheiro com
Janeiro). É o terceiro maior desastre em casas no- a porta de emergência, que não existia na boate, o
turnas no mundo, segundo a Associação Nacional que provocou ainda mais a demora que as pessoas
de Proteção Contra Incêndios dos Estados Unidos. deixassem o local. No laudo técnico da perícia foi
O valor dos danos e prejuízos foram estimados em apontado a principal causa da morte das vítimas
R$ 9,8 milhões (S2ID, 2020). por ingestão de cianeto e monóxido de carbono
O incêndio iniciou durante a apresentação de contidos na fumaça do incêndio.
uma banda de música, quando um dos seus inte- Após o incêndio, foi realizada uma investigação
grantes utilizou um sinalizador de uso externo (co- para a apuração das responsabilidades dos envolvi-
nhecido pelo nome popular de Sputnik) que solta- dos, dentre eles os integrantes da banda, os donos
va faíscas, atingindo o teto que era coberto por uma da casa noturna e o poder público. As investigações

Fonte: Wilson Dias - Agência Brasil, 2014.

32 desastres no brasil
gestão de riscos de desastres no brasil: panorama atual e tendências

oficiais produziram um inquérito policial, um proces- uso de efeitos pirotécnicos em ambientes fechados.
so judicial e uma comissão parlamentar de inquéri- No ano de 2017 foi sancionada a Lei 13.425, chamada
to. O incêndio teve enorme repercussão midiática e de Lei Kiss, que define normas mais rígidas sobre se-
iniciou um amplo debate no Brasil sobre a seguran- gurança, prevenção e proteção contra incêndios em
ça de estabelecimentos de reunião de público e o estabelecimentos de reunião de público.

22 ZERO HORA QUINTA-FEIRA, 31 DE JANEIRO DE 2013 ZERO HORA QUINTA-FEIRA, 31 DE JANEIRO DE 2013 23

mANIpUlAçãO sObRE FOTO GERmANO RORATO, EspEcIAl, bD


Santa Maria, 27/01/2013

Uma imagem,
quatro dramas
A tragédia que enlutou os
gaúchos e comoveu o mundo
produziu uma cena que
uniu os destinos de quatro
homens, na madrugada de
domingo, em Santa Maria. Em
meio à fumaça venenosa que
tomava a Rua dos Andradas, o
personal trainer Ezequiel Corte
Real carregou o universitário
Bruno Kräulich nos braços,
correndo lomba acima (a
imagem foi publicada por ZH
na segunda-feira, reprodução
ao lado). Na tentativa de
salvamento, foi auxiliado pelos
soldados Thiago dos Santos
Flores e Luciano Antunes.
Tanta coragem foi em vão:
Bruno morreu.

Letícia costa, O santa-mariense Ezequiel estava ali Ezequiel tratou de escapulir. misturado ao personal trainer ergueu bruno – até en- pessoas de dentro da boate, antes de perder um rosto convulsionado pelos esgares do Altamir manobrou rápido. Acomodou o estava ao lado do carro de bombeiros. ca-
MarceLo Martins e
niLson Mariano por acaso. Não pretendia entrar na Kiss, as turbilhão de jovens embretados no corre- tão um estranho – pelos braços e iniciou a consciência. Ela acreditou, era próprio de pânico, de alguém que não achou a saída corpo de bruno e rumou para o hospital. minhava em sentido contrário, em direção

p
pernas lhe doíam em função dos repetidos dor da saída, sem enxergar na escuridão, a corrida rumo à ambulância mais próxi- bruno – descrito como quieto e prestativo para a rua. Não havia tempo de esperar o regresso de à viatura, para conduzir mais vítimas no
reste atenção à cena que irrom- exercícios que fizera no sábado como per- deu-se conta de que, no afã 14
de safar-se, der- ma. Intuiu que carregava quase cem quilos ZERO HORA– amparar
DOMINGO, os 3outros.
DE FEVEREIRO DE 2013 Ezequiel parou quando seus braços ador- uma ambulância. motoristas particulares e banco traseiro da blazer. ZERO HORA DOMINGO, 3 DE FEVEREIRO DE 2013 15
pe no meio da fotografia acima, sonal trainer. Não tinha disposição para rubara duas moças. mortificou-se, pensou – a sensação de peso agravada pela posição leyla ignorava que bruno estava na Kiss. mecidos não tinham mais a quem carregar. taxistas também apareceram para auxiliar – só cabia dois ou três. Alguns já estavam

Santa Maria, 27/01/2013


num dos testemunhos estreme- dançar. Acabara de jantar com amigos num em recuar, mas também era impelido pelo inerte do corpo da vítima. Ele havia comentado apenas que ia sair e Visitou um amigo no hospital, depois foi no transporte das vítimas. desmaiados – relataria Antunes, 35 anos.
cedores da tragédia que causou restaurante que oferece uma mescla de efeito dominó dos corpos em desequilíbrio. – Ele não dava sinal nenhum. Estava mo- dispunha de mais de uma opção de diversão. para casa. Antes de ser nocauteado pela Houve um momento em que o soldado O pm fazia a patrulha noturna, com mais
pelo menos 235 mortes em churrasco e pizza. Depois de saborear car- sem camisa – improvisou-a como más- le, mole – lembraria Ezequiel. Deve ter se decidido com os colegas perto da exaustão, desculpou-se no Facebook por Thiago asfixiou-se com os rolos de fumo três colegas do bOE, quando ouviu o alerta
santa maria, na madrugada de domingo. nes e saladas, rumou para a boate apenas cara –, Ezequiel voltou atrás das duas mu- Foram 40, 50 metros de subida pelo as- meia-noite. Na tarde de sábado, ao tomar não ter conseguido resgatar mais vítimas expelidos da boate. Na urgência de socor- de incêndio pelo rádio. Abalaram-se para
É ezequiel corTe real , para encontrar a galera. Queria conversar lheres que tombaram no movimento de falto ardente da Rua dos Andradas, sem chimarrão com a mãe e a irmã, combinara da boate Kiss. rer, esqueceu-se de colocar a máscara anti- a boate Kiss, sirene aberta, na intenção de
23 anos, que corre lomba acima, escapan- um pouco, iria para casa dormir. boiada. passou a recolher corpos estirados, parada de descanso. O personal não olhou o churrasco dominical. com a morte do pai gás. Afastou-se da Kiss, tentou aspirar um organizar o trânsito. logo, mãos de tenazes,
do do fumo pestilento e das labaredas que mas Ezequiel acabou ingressando no al- puxando-os pelas pernas ou pelos braços, para o rosto de bruno. Não olhou para ne- em um acidente de trânsito, em 2007, desve- l ll pouco de ar fresco, voltou à tarefa. de pais e amigos das vítimas, se agarraram
consomem a boate Kiss. Rosto contraído çapão convertido em braseiro – pouco de- até o meio da rua, onde ficariam livres das nhum dos rostos que socorreu. só ouvia lou-se ainda mais pela família. – só queria ajudar, ajudar e ajudar – re- ao colete de Antunes.
A –turma: semeadura
ADRIANA FRANCIOSI

GE082002130203
pelo esforço, músculos das pernas retesa- pois da meia-noite de sábado, não lembra emanações da combustão. Foram um, dois, outras pessoas gritando, ao seu redor, para Ele se transferiu para santa maria após Agora repare nos outros protagonis- cordaria depois. Tira o meu amigo de lá – implorava

te – os corpos semidesnudos de jovens mor- na–Casa dotáEstudante


dos, transporta nos braços o universitário exatamente o horário. Foi então que seu três, 10, 15 corpos... desobstruir a pista: ter concluído o Ensino médio, em Tupa- tas que compõem a imagem na Rua dos Thiago penou para dormir na noite seguin- uma jovem.
Bruno Kräulich , 28 anos, já destino se cruzou ao de bruno Kräulich, – Não via rostos, nada. Acho que arras- – sai da frente, sai da frente! rendi. Fez cursinho pré-vestibular, morou Andradas. Ao pressentir que Ezequiel se A minha irmã lá dentro – berrava
desfalecido. que também não costumava se demorar tei umas 30 pessoas para fora da boate Ao se aproximar da ambulância, ela par- em pensão de estudantes. para manter a cansaria na corrida para salvar bruno, o tos assaltaram-lhe o sono. Evangélico, conse- outro familiar.
A imagem foi capturada pelo fotógrafo e havia prometido assar o churrasco de – narraria ele mais tarde. tiu acelerada, lotada de feridos. Então, Eze- família unida, pais e irmã foram depois. soldado Thiago dos san- guiu se acalmar depois de ir à igreja rezar. A maioria Antunes desdobrou-se,
dos colegas do segundomassemestre
se viu impo-
estava na
Germano Rorato, do Diário de santa ma- domingo para a mãe, a irmã e a sobrinha, movido pela adrenalina e pelo pavor, es- quiel acomodou bruno numa viatura da Apaixonado pela agricultura, trabalhou em Tos Flores, 27 anos, disparou na – Foi um trauma muito forte – comentou. parte do tente.
fundoNão sabia
da Kiss. se osBernich,
Emilio jovens que arrastava
18 anos, atravessou
ria (Dsm), um pouco antes das 4h, duran- com quem morava. quecera o desconforto nas pernas. Ao en- brigada militar e retornou para a maratona lavouras dos Estados Unidos e também fa- frente para abrir alas. para encurtar o ca- paraosacolegas
a boate com viaturaFábio
aindaCervinski
viviam. e Joel Berwanger.
te a cobertura do incêndio. A foto circulou – Ele era como um pai para a minha fi- contrar um rapaz desacordado – o único de salvamentos. zia pesquisas sobre soja. minho de Ezequiel, gritava para o motoris- l l l Quando–Bernich
Foi o inferno – descreveria
e Cervinski voltavamna segun-
para junto dos
pelo mundo, estampou a primeira página lha de sete anos – contaria leyla, 32 anos, que não lhe erguera as mãos –, concluiu – Não sei quem era. Não faço ideia do Ao deixar bruno na viatura, Ezequiel ta da patrulha Tático móvel (patamo) dar amigos, da-feira.
notaram que Berwanger continuava no sanitá- raio X da tragédia
do The New York Times, o mais influente irmã de bruno, na terça-feira. que não bastaria depositá-lo na rua. Era que aconteceu com ele depois – disse. retornou para buscar mais vítimas. só marcha à ré. No instante em que o soldado Thia- rio. Bernich concluiu que o colega ficara para trás por- na UFSM
jornal do planeta. Expôs o desespero dos Quando surgiu o fogo que se alastrou pe- bruno, mestrando de Agronomia pela Uni- bruno morreu. No velório, realizado em deparou com a face da morte quando ar- – Altamir, traz a viatura! A viatura! – pe- go cor r ia à frente de Ezequiel, queoestava passando mal. leticia.costa@zerohora.com.br
que tentavam salvar, a agonia dos feridos las paredes de espuma da boate, e a fumaça versidade Federal de santa maria (UFsm). Tuparendi (Região Noroeste), leyla soube rombaram as paredes da Kiss. O facho da dia Thiago, a sola dura da botina percutin- PM luciano anTunes , do –2ºVou voltar – disse. marcelo.martins@diariosm.com.br Como a festa da boate Kiss do dia 26
por sobreviver. tóxica começou a matar por sufocamento, com 1m80cm de altura e 92 quilos, o por amigos que o irmão teria retirado duas lanterna, cedida por um policial, iluminou do no asfalto. batalhão de Operações Especiais (bOE), nilson.mariano@zerohora.com.br
Encontrou o amigo saindo do banheiro no momento de janeiro era divulgada por seis cursos
em que começou a gritaria. Próximos da porta, conse- da Universidade Federal de Santa Maria
guiram sair, mas tiveram de ser internados. Mais distan- (UFSM), muitos estudantes da instituição
te da saída, Cervinski não escapou. figuram na lista de mortos no incêndio.
Os três amigos moravam na Casa do Estudante Univer- Veja como a tragédia afetou a UFSM*:
sitário, chamada de CEU. Criado no meio rural, Cervinski

115
tinha o hábito de decorar o quarto com os cultivos do cam-
po. Tinha um pé de batata em um vaso de flor e outro de
morreram, do total
bergamota em um pote, enfeitando o parapeito da janela.
de 27.083 alunos
– Por brincadeira, eu e o Joel (Berwanger) resolvemos
plantar um pé de milho em uma garrafa pet e deixar no

236
O número é mais da
quarto dele. Deve estar lá agora, crescendo – diz Bernich.
metade do total
de mortos no
A retomada: incêndio, que é de
um compromisso
Toshio Nishijima, coordenador do curso de Agronomia da UFSM, prevê dificuldades no reinício das aulas, nesta segunda-feira
O retorno às aulas e a continuidade do curso assom-
bram os estudantes da Agronomia atingidos pela tragé-
dia. Eles temem a volta a um espaço feito de lembranças
estilhaçadas. Na Casa do Estudante, do Centro, onde re-
Apesar da dor, muitos estão determinados a seguir até
o fim. Acreditam que devem isso aos que morreram.
– Temos de levar a turma adiante, não só por nós, mas
pelos 10 colegas que tinham o mesmo sonho – assegura
26 vítimas eram do
curso de Agronomia,
o mais afetado

side, Jonathas Wouthers, 18 anos, aponta para o compu- Mateus Lunkes, 24 anos, do segundo semestre. Dessas, quatro estavam no 1º semestre, 10 no 2º, oito
A retomada: A turma: A retomada: tador em cima da mesa e diz: Isadora Costaguta sente-se imbuída da mesma missão: no 3º, uma no 4º, duas no 5º e uma no 6º.
– Vou abrir meu Facebook e a cara deles vai aparecer – Pensei em mudar de faculdade, mas como posso
duas amigas a sobrevivente apoio psicológico ali, como se estivessem offline. Vai demorar pra cair a fi- abandonar os colegas? Temos de nos formar e dedicar Na sequência, aparecem os cursos de Tecnologia de
Melissa era um dos nove alunos do terceiro semestre cha de que eles jamais voltarão a ficar online. o diploma a quem perdemos. Não podemos abandonar Alimentos, com 17 mortes, Medicina Veterinária, com
JOãO BARCELLOS, REPRODUçãO SITE ZOOM

ADRIANA FRANCIOSI

de Agronomia que estavam na Kiss na madrugada de A colega Carina Marchezan, 19 anos, tem dificuldade uma turma que a gente chamava de família. 15, Zootecnia, com cinco e Odontologia, que perdeu
domingo. Oito morreram. A única sobrevivente foi Jéssi- para imaginar um retorno à sala de aula: Apesar de tudo, a Família 89 não morreu. quatro estudantes
ca Andrade, 20 anos. – Só penso que vou sentar na classe, olhar para o lado
– Eu saí da boate para fumar. Quando cheguei à calçada e e não vou encontrar a pessoa. Esse vai ser o maior de- itamar.melo@zerohora.com.br *Os números foram contabilizados até a noite de sexta-feira
peguei o cigarro, aconteceu tudo – conta Jéssica. sespero, meu e de todo mundo. vanessa.kannenberg@zerohora.com.br Fonte: Universidade Federal de Santa Maria
Jéssica era uma das organizadoras da Agrofarma, festa de
alunos da Agronomia e de Farmácia realizada no dia 12 ja-
neiro, na Kiss. Uma das fotos registradas naquela noite exibe,

ADRIANA FRANCIOSI
no interior da boate, lado a lado, suas colegas Melissa, Paula
Gatto e Andrise Nicoletti, 20 anos. Também posaram para o
clique Fernanda Malheiros, 18 anos, do 1º semestre de Agro-
nomia, e Júlia Saul, 21 anos, estudante de Medicina da Unisc.
Na madrugada do domingo passado, as cinco fotogra-
fadas se reencontraram na Kiss. Todas estão mortas (foto Nas cadeiras frias do auditório do Centro de Ciências
Na terça-feira passada, a formanda Elci Gubiani, 26 anos, abaixo). O autor da foto, João Barcellos, também. Rurais, professores de cabeças baixas e olhos inchados
entrou no prédio do curso de Agronomia e dirigiu-se ao la- Entre as vítimas do terceiro semestre estava também Lu- reuniram-se na manhã de quinta-feira para buscar aju-
boratório de química e fertilidade do solo. Ao entrar na sala, cas Foggiato, 21 anos. Ele era inseparável da colega Virgínia da na psicóloga Camila Schmitt Pires. O centro congrega
desandou a chorar. Não aguentou permanecer no mesmo Pillon, 23 anos. Sentavam lado a lado na sala de aula, comiam cinco cursos de graduação, com um total de 65 mortos.
ambiente em que convivia todos os dias com a bolsista Me- juntos no Restaurante Universitário, faziam os trabalhos O encontro foi marcado por causa dos temores que
lissa Correa, aluna do terceiro semestre morta na Kiss. Elci acadêmicos em parceria. Virgínia guarda da madrugada de rondam o reinício das aulas, na segunda-feira.
teve de virar as costas e voltar para casa. domingo uma última lembrança do amigo. Acordada às 5h – Não estamos preparados para isso. Quando eu en-
Uma semana antes, quando as duas amigas se encontra- por causa da tragédia, sua primeira atitude foi telefonar para tro em uma sala vazia, tenho uma sensação ruim. Pare-
ram no local de trabalho, Melissa disparara: o celular de Lucas. Discou três vezes, mas o telefone só cha- ce que vejo os alunos mortos ali – diz o coordenador da
– Tua orelha não ficou vermelha? mou. Às 5h46min, três horas depois do incêndio, o telefone Agronomia, Toshio Nishijima.
– Por quê? – questionou Elci. de Virgínia tocou. O nome de Lucas apareceu no visor. Thomas Martin preocupa-se com os pequenos deta-
– Porque passei o fim de semana falando bem de ti. – Eu disse: “Lucas!” E nada. Ninguém respondeu. lhes que podem colocar tudo a perder:
A amizade tinha mais de um ano, desde a entrada de Me- – De repente tu vais fazer a chamada e, sem perceber,
JOãO BARCELLOS, REPRODUçãO SITE ZOOM

lissa no laboratório. Em um dia de novembro, ela pulou so- diz o nome de um aluno que morreu. Estraga a aula.
bre a recém-chegada Elci e deu-lhe um abraço. Durante o encontro, um espaço foi aberto para o cor-
– Parabéns! po docente abrir o coração. Eles confessaram: não somos
Foi ali, por Melissa, que a formanda soube que havia se a fortaleza que os alunos esperam que sejamos. Camila,
saído bem nos testes de admissão para o mestrado. As a psicóloga, deu seu recado:
duas planejavam trabalhar juntas durante a pós-graduação – Não existe regra para enfrentar um momento como
da mais velha, com Melissa na função de bolsista. este. Só recomendo uma coisa: sejam sensíveis e aco-
Apesar da dor, Elci está convencida de que conseguirá lham os alunos, sem cobrar presença ou conteúdo. E não
trabalhar no laboratório, onde o jaleco branco manchado de façam nada que não queriam fazer.
terra de Melissa permanece com destino incerto: – Teremos um momento para conversar com os estu-
– O laboratório não vai ser um ambiente com sentimen- dantes, deixá-los desabafar – garante João Cesar Dias de
tos ruins. Ele vai me lembrar da Melissa sempre sorrindo. Oliveira, o coordenador do curso de Medicina Veterinária. Morador da casa do Estudante, no Centro de Santa Maria, Jonathas (D) Wouthers teme o retorno à universidade na segunda-feira

Fonte: Zero Hora, 2013.


“O incêncio deixou 242 mortes e 680 feridos.

33
Fonte: Assessoria de Comunicação do Governo - Agência Brasil, 2020.

Inundações no Espírito Santo (2013)

No final de 2013, o estado do Espírito Santo apre- verno do Estado declarou Situação de Emergência
sentou elevado volume de precipitação em curto em todo o território do estado do Espírito Santo. O
período de tempo, resultando em enxurradas, inun- número de pessoas afetadas ultrapassou os 3 mi-
dações e deslizamentos de terra. O fenômeno me- lhões de pessoas, o número de desabrigados che-
teorológico denominado de Zona de Convergência gou a mais de 60 mil e foram registrados 24 óbitos.
do Atlântico Sul (ZCAS) foi o principal sistema que A maioria das mortes registradas foram em con-
contribuiu para o acumulado de chuva, considera- sequência de deslizamento de encostas. As zonas
do o maior já registrado em sua história. mais atingidas foram a Região Central do estado,
Desde as primeiras medições datada de 1924, incluindo a Região Metropolitana de Vitória e Nor-
o acumulado de chuva superou valores históricos deste Serrano (PPDEC, 2019, pág. 12).
em vários municípios. Na capital totalizou 746,4 Os eventos isolaram bairros, impediram o re-
mm, sendo a média climatológica mensal igual a torno das pessoas para suas moradias, o que difi-
175,8mm. No extremo nordeste do estado os valores cultou que o socorro chegasse aos municípios mais
mensais de chuva ficaram entre 250 e 450mm, ul- afetados. Cerca de 20 mil km de estradas, rodovias
trapassando a média em mais de 100mm. Nas de- federais e estaduais que cortam o Estado foram da-
mais regiões, os valores acumulados foram de 300 a nificadas ou destruídas. Mais de R$ 150 milhões em
500mm. O somatório anual superou os 2.000mm no prejuízos no comércio, serviços e turismo, cerca de
setor Sul/Sudeste, não ultrapassando os valores de R$ 170 milhões de perdas na indústria, e aproxima-
1.300mm em parte do Nordeste (BRASIL, 2014). damente R$ 315 milhões em prejuízos na agricultu-
De um total de 78 municípios afetados, 55 de- ra e pecuária (CREA - ES, 2014).
cretaram situação de emergência (SE). Com isso,
conforme o Decreto Estadual nº 2924-S/2013, o Go-

34 desastres no brasil
gestão de riscos de desastres no brasil: panorama atual e tendências

Rompimento barragem de Mariana (2015)

Em 05 de novembro de 2015 ocorreu o rompimen- de de água; e sensação de perigo e desamparo da


to da barragem de rejeitos de mineração chamada população em diversos níveis (IBAMA, 2015).
Fundão, localizada no município de Mariana (MG), Mais de 1 milhão de pessoas foram atingidas,
provocando o maior desastre da mineração (em destas, 1360 pessoas ficaram desabrigadas e desa-
volume de rejeitos) na América Latina. O desastre lojadas, 256 feridos, 7 óbitos, e 18 ainda continuam
despejou na Bacia do Rio Doce mais de 50 milhões desaparecidos. Somente no município de Maria-
de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro, na os danos e prejuízos foram calculados em R$
entre outros. Em poucos dias a lama atravessou 663 332.932.361,22 (S2ID, 2020).
km de extensão, e atingiu 38 municípios nos esta- A captação de água foi comprometida, o que
dos de Minas Gerais (37) e Espírito Santo (1). Che- gerou uma escassez hídrica para grande parte da
gando à Vila de Regência no município de Linhares, população dos municípios afetados, impactando
onde atingiu a foz do rio no Oceano Atlântico. Os a economia dos municípios e a renda das famílias
rejeitos impactaram o meio ambiente e a qualidade atingidas, em especial, aquelas em situação de vul-
de vida em toda a Bacia do Rio Doce nos municí- nerabilidade social.
pios afetados (MPF/MG, 2019).

“Em poucos dias a lama


atravessou 663 km de
extensão, e atingiu 38
municípios nos estados de


Minas Gerais (37) e Espírito
Santo (1).

A onda de lama acarretou o transbordamento de


um grande volume de rejeitos, o que desencadeou
uma sucessão de eventos com efeitos negativos dire-
tos e indiretos em áreas rurais e urbanas. Segundo o
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais e Renováveis, foram identificados ao longo
do trecho atingido diversos danos socioambientais,
como: isolamento de áreas habitadas; desalojamen-
to de comunidades pela destruição de moradias e
estruturas urbanas; fragmentação de habitats; des-
truição de áreas de preservação permanente e ve-
getação nativa; mortandade de animais domésticos,
silvestres e de produção; restrições à pesca; dizima-
ção de fauna aquática silvestre em período de defe-
so; dificuldade de geração de energia elétrica pelas
usinas atingidas; alteração na qualidade e quantida-
Fonte: Antônio Cruz - Agência Brasil, 2019

35
Fonte: Folha de São Paulo, 2015.

“38 municípios foram atingidos, 1 milhão de pessoas


afetadas, 1.360 desalojados e desabrigados, 25 óbitos


e desaparecidos e danos e prejuízos de cerca de R$
333 milhões.

36 desastres no brasil
gestão de riscos de desastres no brasil: panorama atual e tendências

Rompimento barragem de Brumadinho (2019)

No dia 25 de janeiro de 2019, a barragem de rejeitos B-1 ca de 30 metros que invadiu parcialmente a área
da mina de minério de ferro do Córrego do Feijão, lo- da usina da Barragem B-1, soterrou o refeitório e os
calizada no município de Brumadinho/MG, sofreu um escritórios da mineradora, e três locomotivas, 132
grande rompimento, liberando cerca de 13 milhões de vagões, e cerca de 100 metros da ferrovia. O rompi-
metros cúbicos (m3) de rejeitos de minério de ferro, o mento destruiu grande parte do distrito do Córrego
que causou mortes e destruições com graves impac- do Feijão, atingiu casas, pousadas, comércio, pro-
tos sociais, ambientais e econômicos (FREITAS, 2019). priedades rurais, áreas agrícolas no vale abaixo da
Operada pela empresa Vale S.A., a barragem barragem, destruindo também pontes e estradas,
Córrego do Feijão está localizada na Bacia do Ri- e rapidamente chegou ao Rio Paraopeba, próximo
beirão Ferro Carvão, um afluente do Rio Paraopeba a Brumadinho (ROBERTSON, 2019).
pela margem direita, que, por sua vez, é afluente do O desastre afetou 17 municípios, acarretando um
Rio São Francisco, um dos formadores do reservató- grande número de danos humanos, destaca-se o nú-
rio de Três Marias. Os rejeitos da barragem impac- mero de óbitos de 270 pessoas, e outras 33.529 pes-
taram e destruíram mais de 130 hectares de vege- soas foram afetadas diretamente, o número de desa-
tação do bioma Mata Atlântica. A lama avançou por brigados chegou a 143 e desalojados 55 (S2ID, 2020).
cerca de 220 km na Bacia do Rio Paraopeba, até a Muitas áreas agrícolas foram destruídas, bem
Usina Hidrelétrica de Retiro Baixo, gerando grande como a pecuária, o comércio e o setor hoteleiro
impacto à fauna e flora aquáticas (CPRM, 2019). também foram comprometidos. Os danos e preju-
Com o rompimento, o material acumulado ízos somente no município de Brumadinho foram
criou uma onda de lama com uma altura de cer- estimados em R$ 559.932.281,11 (S2ID, 2020).

Fonte: Adriano Machado - Agência Brasil, 2019.

37
Fonte: Folha de São Paulo, 2019.


“17 municípios atingidos, 33.590 pessoas afetadas, 198
desalojados e desabrigados e 270 óbitos.

38 desastres no brasil
gestão de riscos de desastres no brasil: panorama atual e tendências

Fonte: Alisson Frazão - Agência Brasil, 2019.

Derramamento de Óleo no litoral do Nordeste (2019)

O derramamento de óleo ocorrido no litoral do Nor- em 2011; Baía de Guanabara, em 2000; Bacia do Rio
deste do Brasil, em agosto de 2019, pode ser con- Iguaçu, em 2000; e São José dos Campo, em 1998.
siderado o maior desastre ambiental em extensão Algumas hipóteses para a causa do derrama-
da história nacional. As manchas de óleo e os frag- mento de óleo foram levantadas, como: naufrágio
mentos de petróleo cru começaram a aparecer em de navio petroleiro; falha na transferência de pe-
setembro no litoral da Paraíba e rapidamente se tróleo entre embarcações piratas; ou ainda, des-
espalhou para os demais estados do Nordeste, que pejo criminoso.
chegou a atingir parte do litoral da Região Sudeste No balanço divulgado em janeiro de 2020, o Ins-
em novembro, afetando as praias do Espírito Santo tituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
e norte do litoral do Rio de Janeiro. Naturais Renováveis (IBAMA) informou que o der-
O petróleo é considerado um produto perigo- ramamento de petróleo tinha atingido um total 11
so e seu transporte e manuseio oferecem riscos ao estados, 130 municípios e 1.004 pontos (praias) e im-
meio ambiente e à segurança humana, portanto, no pactou mais de 3.600 km da costa brasileira.
caso da liberação deste produto há possibilidade de O Impacto do derramamento do petróleo afe-
danos humanos, ambientais, enfermidades ou até a tou unidades de conservação, provocou perdas de
morte, resultante da exposição de pessoas, animais muitos animais da fauna aquática marinha, além
e a vegetação a agentes ou condições ambientais da perda da biodiversidade, berçários de tartarugas
potencialmente perigosas. O risco da ocorrência de e bens ecológicos, contaminando os oceanos e rios,
acidente nunca é nulo, sendo por isso de grande im- entre outros bens da natureza. Os danos ambientais
portância o conhecimento dos processos que cer- comprometeram significativamente as atividades
cam estas atividades (SZEWCZYK, 2006). No Brasil econômicas como o turismo, a pesca e a maricul-
há registro de outras ocorrências de derramamento tura, a própria subsistência de comunidades tradi-
de petróleo, como os eventos da Bacia de Campos, cionais, populações ribeirinhas, quilombolas, entre

39
outras (IBAMA, 2020). Tanto os danos com a pesca os impactos causados pelo derramamento do óleo,
quanto com o turismo impactam sobre o emprego pois não foi localizada nenhuma grande mancha,
e a renda de famílias residentes nas áreas afetadas. mas sim manchas de forma pulverizadas, o que di-
Até o momento, não foi possível mensurar todos ficulta ainda mais a contabilização dos danos.

12/03/2020 about:blank

12/03/2020 about:blank

about:blank 1/1

Fonte: Estadão, 2019.

about:blank 1/1

“De 11 estados, 130 municípios foram atingidos e


1.004 pontos (praias) e impactou mais de 3.600
km da costa brasileira.

40 desastres no brasil
gestão de riscos de desastres no brasil: panorama atual e tendências

41
PER
FIL
DE
RIS
CO
gestão de riscos de desastres no brasil: panorama atual e tendências

Para avaliar adequadamente o risco, é necessário determinar a probabilidade de um perigo se


concretizar, bem como suas características, intensidade e prováveis impactos. É necessário definir
a sua abrangência e as pessoas, edifícios, ativos e serviços que podem ser afetados. Por fim, é pre-
ciso entender as características dos elementos expostos para determinar suas vulnerabilidades
sociais, físicas e ambientais.

Risco

Probabilidade de perdas, como consequência da exposição e vulnerabilidade diante de perigos/


ameaças. Os fatores geradores das circunstâncias de risco sempre resultam de um processo so-
cial. Sendo assim, os riscos e consequentes desastres são resultado da intervenção humana no
ambiente. Essa intervenção humana, compreende três fatores: perigo, exposição e vulnerabilida-
de; podendo ser contraposta pelo desenvolvimento de capacidades.

PERIGO
Probabilidade
de ocorrência do
evento
x
[ EXPOSIÇÃO
Quantidade + tempo
de elementos opostos
x
VULNERABILIDADE
Condições físicas, sociais,
econômicas e ambientais que
aumentam a suscetibilidade
aos impactos ]
Em um país como o Brasil, com extensão con- A considerar que os eventos de maior impacto
tinental e diferenças regionais e sociais acentua- ou pouco frequentes, apresentados no capítulo ini-
das, a avaliação de todos estes fatores é um desafio cial, não conseguem representar uma base histó-
no momento inviável. Modelos que dimensionem rica consistente, é necessário analisar os desastres
os perigos e seus impactos de forma abrangente recorrentes, de pequeno a médio porte.
e homogênea ao longo do território não se encon- As informações e análises aqui apresentadas
tram disponíveis, o que dificulta tanto a avaliação visam traçar um perfil geral dos riscos presentes
quanto a comparação dos níveis de risco, mesmo no Brasil, definindo suas características mais rele-
de forma regional. vantes à compreensão da origem, consequências
Neste contexto, as informações para construção e distribuição regional dos desastres. Conforme os
de um Perfil de Risco para todos o país têm que se dados são apresentados, é possível compreender
apoiar em dados de impactos sociais, danos e pre- que eles podem ser empregados para avaliações
juízos pretéritos, sendo as cartas de setorização de mais localizadas, principalmente no nível estadual,
risco elaboradas pelo Serviço Geológico do Brasil onde pode ser um relevante suporte à tomada de
(CPRM) uma exceção a esta condição. Mesmo que decisão e definição de estratégias para a redução
não alcancem todos os municípios, abrangem a de riscos de desastres.
maioria, se não a totalidade, daqueles com riscos
mais relevantes relacionados a inundações, enxur-
radas e movimentos de massa.

43
Primeiros estudos de caso

A metodologia DaLA (Damage and Loss Assessment) considera, além do valor de reposição
dos ativos físicos danificados pelo desastre (os danos), o valor das perdas nos fluxos econômicos
causados pelo evento (as perdas). A análise é feita em setores e são considerados setores sociais
(habitação, educação e saúde), produtivos (agropecuária, indústria, comércio e serviços) e de
infraestrutura (água e saneamento, energia, transportes e comunicações), além de áreas trans-
versais (meio-ambiente, gênero, emprego e renda e pobreza, por exemplo). Assim, pode-se
fazer análises comparativas entre setores e identificar a região e os setores mais afetados para
traçar prioridades para planos de reconstrução. A metodologia também faz distinção entre os
impactos no setor público e no setor privado, o que é fundamental para determinar as necessi-
dades de financiamento da reposta pós-desastre nos dois setores.

Como parte dos primeiros esforços de compreensão um terço de todo o território do estado. O total de
dos riscos, o Banco Mundial aplicou a metodologia perdas e danos estimados pelo Banco Mundial é
DaLA (Damage and Loss Assessment) para avaliar da ordem de R$ 4,75 bilhões, com danos (impactos
com mais detalhes quatro desastres de grande re- diretos) estimados em R$ 3,28 bilhões e as perdas
percussão no Brasil: as inundações e deslizamentos (impactos indiretos) em R$ 1,46 bilhões. No caso de
no estado de Santa Catarina (2008), as inundações Santa Catarina, o desastre teve um maior impacto
em Pernambuco e em Alagoas em 2010 e as inun- no setor privado do que no público, contabilizando
dações e movimentos de massa na Região Serrana R$ 2,73 bilhões e R$ 2,01 bilhões, respectivamente.
do estado do Rio de Janeiro em 2011. Os valores das Tal fato é consequência da interrupção de uma sé-
perdas apresentados correspondem aos apurados rie de atividades econômicas que dependem de
nos anos de ocorrência de cada desastre. importantes infraestruturas que foram afetadas,
O grande volume de chuvas no final do mês de como o Porto de Itajaí e o Gasoduto Bolívia-Brasil.
novembro de 2008, em Santa Catarina, foi respon- As tabelas 2 a 5, a seguir, apresentam as perdas
sável pela superação do recorde histórico e afetou e danos públicos e privados por setor.

Impacto (R$) Propriedade (R$)

SETOR DANOS PERDAS SETOR PÚBLICO SETOR PRIVADO TOTAL (R$)

Infraestrutura 1.202.666.323,34 255.496.524,94 1.266.369.747,88 191.793.100,40 1.458.162.848,28

Setores Sociais 1.293.054.319,42 454.743.557,07 600.530.520,78 1.147.267.355,72 1.747.797.876,50

Setores 639.270.429,82 758.763.856,38 0,00 1.398.034.286,20 1.398.034.286,20


Produtivos
Meio Ambiente 152.209.210,00 0,00 152.209.210,00 0,00 152.209.210,00

Total 3.287.200.282,58 1.469.003.938,39 2.019.109.478,66 2.737.094.742,32 4.756.204.220,98

Tabela 2: Perdas e danos por setor em Santa Catarina em novembro de 2018. Fonte: Banco Mundial, 2012e.

44 perfil de risco
gestão de riscos de desastres no brasil: panorama atual e tendências

Entre os dias 17 e 19 de junho de 2010, o estado de mada em R$ 3,37 bilhões, valor que corresponde a
Pernambuco foi atingido por fortes chuvas sendo con- mais de 4% do PIB (Produto Interno Bruto) do esta-
siderada a pior temporada chuvosa da década (Rela- do naquele ano. Os custos diretos foram estimados
tório Ação, Pernambuco, 2011). Apesar da magnitude em R$ 2 bilhões (60% do total), enquanto os custos
do desastre, a rápida ação do estado minimizou os indiretos somaram cerca de R$ 1,35 bilhão (40% do
danos humanos e foram registradas 20 mortes como total). Os setores sociais foram os mais afetados pe-
consequência do evento (BANCO MUNDIAL, 2012c). las chuvas, concentrando 75% do impacto total, no
As perdas e danos foram significativas, esti- valor de R$ 2,43 bilhões.

Impacto (R$) Propriedade (R$)

SETOR DANOS PERDAS SETOR PÚBLICO SETOR PRIVADO TOTAL (R$)

Infraestrutura 398.211.571,24 45.577.664,37 434.863.540,89 8.925.694,72 443.789.235,61

Setores Sociais 1.196.316.661,97 1.239.877.553,93 1.514.462.682,42 921.731.533,48 2.436.194.215,90

Setores 350.763.872,74 74.071.544,82 0,00 424.835.417,56 424.835.417,56


Produtivos
Meio Ambiente 66.260.698,65 0,00 66.260.698,65 0,00 66.260.698,65

Total 2.011.552.804,60 1.359.526.763,12 2.015.586.921,96 1.355.492.645,76 3.371.079.567,72

Tabela 3: Perdas e danos por setor em Pernambuco em junho de 2010. Fonte: Banco Mundial. 2012c.

As chuvas do mês de junho de 2010 também 2009. Do total estimado, R$ 1,58 bilhões (83%) são
afetaram de forma significativa o estado de Alago- referentes aos danos (custos diretos do desastre) e
as, deixando 15 municípios em estado de calamida- R$ 304 milhões (17%) correspondem aos custos in-
de pública e 4 em situação de emergência (BANCO diretos das inundações. Assim como em Pernam-
MUNDIAL, 2012d). As perdas e danos totalizaram R$ buco, os setores sociais concentraram a maior parte
1,89 bilhões, valor que correspondente a cerca de do impacto em perdas e danos: 71% do total.
8% do PIB (Produto Interno Bruto) de Alagoas em

Impacto (R$) Propriedade (R$)

SETOR DANOS PERDAS SETOR PÚBLICO SETOR PRIVADO TOTAL (R$)

Infraestrutura 248.796.336,80 28.982.360,54 218.125.497,34 59.653.200,00 277.778.697,34

Setores Sociais 1.101.226.016,73 246.879.054,16 393.694.499,89 954.410.571,00 1.348.105.070,89

Setores 236.456.150,28 28.472.000,00 32.762.000,00 232.166.150,28 264.928.150,28


Produtivos
Total 1.586.478.503,81 304.333.414,70 644.581.997,23 1.246.229.921,28 1.890.811.918,51

Tabela 4: Perdas e danos por setor em Alagoas em junho de 2010. Fonte: Banco Mundial, 2012d.

Entre os dias 11 e 12 de janeiro de 2011, chuvas Serrana do Rio de Janeiro, evento que afetou mais
de grande intensidade deflagraram o que seria de 300 mil pessoas, cerca de 42% da população dos
considerado o pior desastre brasileiro dos últimos municípios atingidos (BANCO MUNDIAL, 2012b).
tempos: as inundações e deslizamentos da Região

45
As perdas e danos econômicos também foram correspondem aos danos, custos diretos das inunda-
significativos: estimados em R$ 4,8 bilhões, valor que, ções e deslizamentos. Por sua vez, as perdas (custos
no entanto, omite impactos relevantes em setores indiretos do desastre) foram estimadas em R$ 2,6
como o da educação e o da saúde, que não puderam bilhões (54% dos custos totais). O impacto também
ser considerados em função da indisponibilidade foi concentrado no setor social, cujas perdas e danos
de informações detalhadas. Aproximadamente dois representam 58% dos custos estimados. Esse núme-
terços das perdas e danos estimados são de proprie- ro reflete principalmente as perdas e danos no setor
dade pública. Dos custos totais, R$ 2,2 bilhões (46%) habitacional, estimados em R$ 2,6 bilhões.

Impacto (R$) Propriedade (R$)

SETOR DANOS PERDAS SETOR PÚBLICO SETOR PRIVADO TOTAL (R$)

Infraestrutura 1.106.312.344,44 16.426.518,04 1.038.839.939,38 83.898.923,10 1.013.585.000,00

Setores Sociais 721.817.200,00 1.973.754.827,97 2.047.382.327,97 648.190.300,00 2.695.572.627,97

Setores 294.724.415,61 601.376.475,88 2.000.000,00 894.100.891,49 896.100.891,49


Produtivos
Meio Ambiente 71.466.000,00 0,00 71.466.000,00 0,00 71.466.000,00

Total 2.194.320.560,05 2.591.557.821,89 3.159.688.267,35 1.626.190.114,59 4.785.878.381,94

Tabela 5: Perdas e danos por setor no Rio de Janeiro em janeiro de 2011. Fonte: Banco Mundial, 2012b.

Base de dados

O primeiro esforço para se obter um banco de da-


dos estruturado em nível nacional foi a construção O Sistema Integrado de
do Sistema Integrado de Informações sobre Desas- Informações sobre Desastres
tres (S2ID), que resultou na elaboração do Atlas Bra- (S2ID) integra diversos produtos da
sileiro de Desastres Naturais, publicado em 2011, que
Secretaria Nacional de Proteção e
trazia as informações dos desastres nacionais ocor-
Defesa Civil (SEDEC), com o objetivo
ridos no Brasil nas últimas duas décadas, de 1991 até
2010. Em 2013 foi elaborada uma atualização, con-
de qualificar e dar transparência
templando os dados até 2012. E, em 2015, foi iniciada à gestão de riscos e desastres no
a operação da nova versão do S2ID, modelo tal qual Brasil, por meio da informatização
conhecemos hoje. Vale lembrar que o sistema sem- de processos e disponibilização de
pre está em atualização, ao passo que é alimentado informações sistematizadas dessa
diariamente e passa por constantes melhorias. Atu-
gestão. Saiba mais acessando:
almente essa é a única base de dados sobre ocor-
https://s2id.mi.gov.br/
rência e impactos dos desastres no Brasil.
Um importante aspecto a ser enaltecido sobre
o sistema de informações brasileiro é o fato de ter
desenvolvimento previsto em lei e utilização obri-
gatória definida, desde 2013, por ato normativo do
Ministério do Desenvolvimento Regional. Como re-

46 perfil de risco
gestão de riscos de desastres no brasil: panorama atual e tendências

sultado, os dados são registrados no nível do mu- algum tipo de dano e/ou prejuízo ocorrido nos mu-
nicípio, o que proporciona uma boa granularidade nicípios em decorrência de desastre, dos quais 1.813
das análises, e tem apresentado um crescimento não avançam para qualquer tipo de solicitação de
no número de registro ano a ano. Em 2019 foram apoio posterior da União, ou seja, foram registrados
realizados 4.193 registros no sistema, informando para composição das informações.

Diretriz de Sendai sobre registro no nível local

PRIORIDADE 4.
“Aumentar a preparação para desastres para uma resposta eficaz e para ‘Reconstruir Melhor’ em
recuperação, reabilitação e reconstrução.
Contexto nacional e local:
Estabelecer um mecanismo de registro de casos e um banco de dados de mortalidade causada
por desastres a fim de melhorar a prevenção de morbidade e mortalidade.”

Dentre as referências empregadas para a com- normativas e procedimentos vigentes. Os registros


posição deste perfil encontra-se o Relatório de Da- empregados neste estudo são compostos por três
nos Materiais e Prejuízos Decorrentes de Desastres elementos básicos: local (município), identificação
Naturais no Brasil, 1995 a 2014², elaborado em coope- do desastre (Cobrade) e data do evento, informados
ração pelo Banco Mundial e o Ceped UFSC, com foco no Formulário de Informações do Desastre (FIDE)³.
nas perdas econômicas informadas pelos municí- A Codificação e Classificação Brasileira de De-
pios nos 20 anos da pesquisa. Esta soma-se à base sastres (Cobrade)4 é a classificação vigente a ser
de dados mantida pelo próprio Ceped, a partir da adotada para registrar o desastre e relacionar seus
atualização e complementação dos dados empre- impactos. Ela define que estes são divididos, quan-
gados para a elaboração do Atlas em 2012, realizada to à sua origem, em dois grandes conjuntos: Natu-
anualmente por meio do tratamento e consolidação rais e Tecnológicos. As análises apresentadas para
dos registros do S2ID, administrados pela Secretaria representar o perfil de risco do país se concentram
Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sedec). nos desastres com origem em eventos naturais,
Neste ponto é importante, então, compreen- que são divididos em cinco grandes grupos que
der o conceito de um registro de acordo com as reúnem os seguintes eventos mais representativos:

² Elaborado pelo Banco Mundial em parceria Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com base
nos dados da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (SEDEC) e dos órgãos estaduais de Defesa
Civil, 1995 – 2014, com valores corrigidos para 2014.
³ Instrução Normativa nº 02, de 20 de dezembro de 2016 – ANEXO I
4 Instrução Normativa nº 02, de 20 de dezembro de 2016 – ANEXO V

47
Figura 2: Grupos de Desastres.

48 perfil de risco
gestão de riscos de desastres no brasil: panorama atual e tendências

Caso os danos e prejuízos impliquem no com- são feitos diretamente pelos municípios ou estados,
prometimento parcial ou substancial da capacidade sem uma análise qualitativa posterior. O que soma-
do município de responder aos desastres e se recu- do à dificuldade inerente, em muitos casos, de iden-
perar dos seus efeitos, este poderá utilizar o registro tificar uma causa prevalente para um desastre com
realizado para declarar a Situação de Emergência ou diversos elementos presentes (alagamentos, inun-
Estado de Calamidade Pública (SE/ECP). Caso o go- dações, ventos, deslizamentos etc.) pode acarretar
verno subnacional necessite de apoio complemen- variações na interpretação de qual tipologia Cobra-
tar do Governo Federal, é necessário solicitar que de escolher para classificar o desastre do registro de
este reconheça o decreto em questão. O Reconhe- RF. Então, agrupar alguns eventos semelhantes em
cimento Federal (RF) é uma atribuição da Sedec, e grupos maiores (geológicos, hidrológicos, meteoro-
permite que os órgãos da estrutura federal atuem lógicos, climatológicos e biológicos) parece ser ade-
em diversas frentes de apoio. quado para entender a causa/origem do desastre.
Como explicado, os registros de RF estão vincu- Considerando o exposto, a seguir estão apresen-
lados à classificação da Cobrade, logo relacionados tados gráficos com a distribuição dos 35.563 RFs en-
diretamente ao evento adverso que originou os im- tre os anos de 2003 e 2019, disponíveis no S2ID, pri-
pactos. Assim, os dados sobre os reconhecimentos meiramente reunindo as tipologias mais próximas
realizados se tornam uma fonte oficial relevante para de forma a identificar os desastres mais recorren-
se analisar a origem dos desastres e sua distribuição tes e, em seguida, divididos os Naturais pelos cinco
geográfica. Cabe ressalvar, porém, que os registros grandes grupos apresentados anteriormente.

RF x registro
É comum que os usuários do S2ID realizem o registro de ocorrência
de um desastre não somente quando se tem a intenção de solicitar o
reconhecimento federal, mas também para informar eventos que possam
gerar impactos de alguma forma. Portanto, alguns registros retratam
eventos menores e não chegam nem a ser enviados para solicitação de
recursos ou, mesmo, reconhecimento federal. Então para fins de análise dos
gráficos, apenas processos reconhecidos servirão como base de dados.

Figura 3: Reconhecimentos federais por tipologia de desastres.

49
Figura 4: Distribuição de SE/ECP.

Ao analisar a distribuição dos Reconhecimentos Federais de SE/ECP apresentadas nos gráficos 3 e 4,


pode-se concluir que:

1 As ocorrências relacionadas a secas e es-


tiagens representam 72% do total de reco-
nhecimentos realizados. Dentre os fatores que
justificam esta proporção, cabe destacar que os
desastres relacionados a estes eventos são usu-
almente mais abrangentes, logo a contagem de
municípios vinculados a um único evento é maior.
As secas são fenômenos que perduram por mais
tempo, resultando na necessidade de novas de-
cretações de situação de emergência pelos entes
subnacionais5, e consequentes reconhecimentos,
ao longo da evolução do evento.

2 As inundações e enxurradas representam a


maior parte dos desastres com origem em fe-
nômenos hidrológicos. Ao avaliar os eventos defla-
grados por alto volume de chuva, é necessário con-
siderar ainda que os registros de chuvas intensas
representam mais da metade (55%) dos desastres
classificados como meteorológicos. Tendo em vista
a já mencionada dificuldade técnica em se classifi-
car adequadamente o desastre no nível municipal,
além do fato que a própria definição de Chuva In-
tensa6 induz a que esta seja empregada em eventos
com características mais diversificadas, é razoável

50 perfil de risco
gestão de riscos de desastres no brasil: panorama atual e tendências

considerar que estes eventos também têm origem à probabilidade de ocorrência e impactos de inun-
em fenômenos hidrológicos. Ressalta-se que para dações sazonais e graduais na Região Amazônica
entender o perfil do risco relacionado aos eventos é muito diferente de avaliar as inundações bruscas
hidrológicos é preciso observar suas características nas áreas urbanas localizadas nas margens dos rios,
regionais. Avaliar o perigo relacionado, por exemplo, recorrentes no Sul e Sudeste.

3 A considerar que os deslizamentos são noto-


riamente relevantes e recorrentes em vários
estados brasileiros, o número de registros é baixo.
Apesar de representar quase que a totalidade dos
desastres classificados como movimento de massa,
os deslizamentos e corridas de lama/solo foram uti-
lizados em apenas 164 registros entre 2003 e 2019.
Este fato se justifica na medida em que estes são,
normalmente, eventos mais pontuais que acabam
sendo inseridos no contexto de enxurradas e chu-
vas intensas. Outra questão importante é que este
tipo de desastres não está entre os elegíveis para o
saque do Fundo de Garantia (FGTS), conforme de-
termina art. 2 do Decreto n° 5.1137, de 22 de junho de
2014, o que causou, historicamente, a predileções
pelos órgãos municipais por enxurradas.

Ao analisar os dados de SE/ECP, conclusão que Brasil tem origem, fundamentalmente, em duas
será também corroborada pelas análises de impac- situações: elevado volume pluviométrico, concen-
to social e perdas econômicas apresentadas ao lon- trado ou persistente, e na ausência de chuva por
go deste capítulo, observa-se que os desastre no períodos consideráveis.

Dados SE/ECP
No decorrer do tempo, houve uma maior adesão dos entes ao S2ID, demonstrando aderência
do sistema à realidade administrativa municipal e estadual. E não somente devido à estratégia
de acesso a recursos. Por isso, como já abordado, é recorrente que os usuários do S2ID realizem o
registro de ocorrência de um desastre não somente para solicitar recursos, mas também registrar
eventos que possam gerar danos e perdas. Ainda em face disso, é importante destacar que o nú-
mero de desastres coincide, na realidade, com o número de declarações municipais e estaduais
de SE ou ECP, e não com a quantidade de registros de desastres.

5 A Instrução Normativa Nº 02 SEDEC/MDR determina que o decreto de SE/ECP tem validade máxima
de 180 dias a contar de sua publicação.
6 São chuvas que ocorrem com acumulados significativos, causando múltiplos desastres (ex.: inunda-
ções, movimentos de massa, enxurradas etc.).
7 O Decreto nº 5.113 de 22 de junho de 2004 regulamenta o inciso XVI do art. 20 da Lei n° 8.036, de 11 de
maio de 1990 que dispõe sobre o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço.

51
Estes desastres podem ser de grande impacto, Considerando que a simples contagem de
causado por eventos extremos e raros, como os já men- ocorrências de desastres pode não traduzir ade-
cionados desastres do Vale do Itajaí (2008) e Região quadamente a sua relevância e características, uma
Serrana do RJ (2011), mas tem sua principal caracterís- vez que um registro não diferencia a magnitude
tica relacionada à repetição de eventos de pequena e dos danos, as análises a seguir se baseiam nos da-
média intensidade somados à exposição e vulnerabili- dos históricos de impactos humanos e econômicos
dade da população, infraestrutura e propriedades. dos desastres no Brasil.

Análise dos danos humanos

A análise se baseia nos mais de 30 mil registros que Para facilitar a interpretação das informações, fo-
reportaram algum tipo de dano humano entre os ram ressaltados nas análises gráficas somente os
anos de 2000 e 2019. A opção por desconsiderar grupos mais representativos, climatológicos, hi-
os anos anteriores tem por base a disponibilida- drológicos e meteorológicos.
de e qualificação dos dados, uma vez que na dé- No período considerado foi informado que apro-
cada de noventa os relatórios ainda não seguiam ximadamente 239 milhões de pessoas foram afetadas
integralmente um padrão, bem como existe uma de alguma forma, dentre estas 7,2 milhões foram de-
notável subnotificação relacionada, provavelmen- sabrigados e desalojados, nomeados aqui como deslo-
te, à falta de sistemas de informação adequados. cados (REGO; LIMA, 2015), e 3.816 perderam suas vidas.

239 milhões
entre 2000 e 2019

7,2 milhões
entre 2000 e 2019

3.816
entre 2000 e 2019

52 perfil de risco
gestão de riscos de desastres no brasil: panorama atual e tendências

Segundo o Atlas Digital (BANCO MUNDIAL, afetados, onde é possível notar um incremento sig-
2020a), cerca de 65% do número de afetados são nificativo nos anos mais recentes. Isto se justifica
relacionados à seca e estiagem, representatividade pela seca histórica observada na região do semi-
que se explica pela abrangência e duração destes árido, que impacta centenas de município desde
eventos. Os impactos são sentidos, em muitos ca- 2012 até o momento. Esta é uma região de muita
sos, por toda a população do município, principal- debilidade e que ainda tem a pobreza rural como
mente naqueles de pequeno porte localizados no algo predominante. Fatores socioeconômicos, polí-
interior dos estados. São em sua maioria regiões ticos, culturais, dentre outros, influem e conferem
predominantemente rurais, voltadas à agricultura sentido aos fatores responsáveis pela origem, repro-
e pecuária, onde perdas econômicas são mais re- dução e sustentabilidade da pobreza9. Uma porção
levantes, e onde os sistemas de coleta e abasteci- significativa da população residente tem acesso à
mento de água são deficientes. água potável, em padrões básicos, garantido pela
Na Região Nordeste incide o maior número de Operação Carro-Pipa.

Fonte: Fernando Frazão - Agência Brasil, 2015.

8 O termo deslocado é uma opção dos autores para representar as pessoas que tiveram que deixar suas
casas temporariamente, seja para abrigos administrados pelo poder público ou para a casa de parentes
ou amigos, não abrangendo questões de imigração ou alteração permanente de residência.

53
SEMIÁRIDO BRASILEIRO

O Semiárido Brasileiro é composto por 1.262 mu-


nicípios, dos estados do Maranhão, Piauí, Ceará,
Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alago-
as, Sergipe, Bahia e Minas Gerais. Os critérios para
sua delimitação foram aprovados pelas Resoluções
do Conselho Deliberativo da Sudene nº 107, de
27/07/2017 e nº 115, de 23/11/2017:

Precipitação pluviométrica
média anual igual ou inferior a 800 mm;

Índice de Aridez de Thornthwaite


igual ou inferior a 0,50;

Percentual diário de déficit hídrico


igual ou superior a 60%, considerando
todos os dias do ano.

A Operação Carro-Pipa (OCP) é uma ação do Os dados apresentados abaixo representam a


Governo Federal e integra o Programa Emergencial população afetada e os gastos da Operação, segundo
de Distribuição de Água Potável no Semiárido, sen- o Portal da Operação Carro-Pipa, em maio de 2020.
do o Exército Brasileiro responsável pela execução, Em média, foram atendidas 3,6 milhões de pessoas
organização e fiscalização. anualmente com um custo de R$ 772,5 milhões/ano.

54 perfil de risco
gestão de riscos de desastres no brasil: panorama atual e tendências

Os óbitos relacionados a desastres reportados blica. A perda de uma vida é, obviamente, relevante
pelos municípios são, em grande maioria, asso- em qualquer circunstância e deve ter sua ocorrên-
ciados a eventos hidrológicos e concentram-se na cia devidamente identificada e analisada, porém
Região Sudeste (BANCO MUNDIAL, 2020b). Para não necessariamente na esfera de um desastre.
compreender este número é necessário conside- O segundo aspecto diz respeito à concentra-
rar dois aspectos. ção dos números na Região Sudeste. Além de mais
As perdas de vida contabilizadas são vinculadas populosa, o que já seria um fator, os deslizamentos
a desastres que fizeram jus ao registro pelo municí- que atingiram a Região Serrana do Rio de Janeiro
pio. Assim, estes números não contemplam, a prin- em 2011 são responsáveis, conforme números apre-
cípio, eventos mais localizados que ocasionaram sentados no primeiro capítulo, cerca de 25% dos
danos pontuais e que foram manejados no nível números registrados. O gráfico abaixo demonstra o
municipal pelos órgãos de saúde e segurança pú- número de óbitos por deslizamentos.

Óbitos por deslizamento

1000

800

600

400

200

Figura 5: Óbitos por deslizamento. Fonte: Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), 2020..

Perdas econômicas

As análises apresentadas neste tópico têm como naram-se consideráveis, principalmente nas últi-
base os 32.832 registros que deram origem ao Re- mas décadas. E mesmo que desastres de grande
latório de Danos Materiais e Prejuízos, citado ante- magnitude não ocorram no Brasil com a mesma
riormente, e buscam caracterizar as perdas econô- frequência que em outros países, a recorrência
micas decorrentes dos desastres no país, com base dos eventos resulta em uma soma de danos e pre-
nos dados reportados pelos municípios. juízos relevante. Nos 25 anos de abrangência do
Segundo os autores, os resultados do relató- estudo foram reportados R$ 333,3 bilhões em da-
rio demonstram como os impactos causados por nos materiais e prejuízos, o que representa uma
desastres com origem em eventos naturais tor- média anual superior a R$ 13 bilhões9.

9 Valores corrigidos para o ano de 2019.

55
Fonte: Elaborado pelo Banco Mundial em parceria Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com base nos dados da Secreta-
ria Nacional de Proteção e Defesa Civil (SEDEC) e dos órgãos estaduais de Defesa Civil, 1995 – 2019, com valores corrigidos para 2019.

56 perfil de risco
gestão de riscos de desastres no brasil: panorama atual e tendências

DANO PREJUÍZO
“Resultado de perdas humanas, “Medida de perda relacionada
materiais ou ambientais infligidas às com o valor econômico, social e
pessoas, comunidades, instituições, patrimonial, de um determinado
instalações e aos ecossistemas, como bem, em circunstâncias de
consequência de um desastre.” desastre. ”
(IN MI nº 02, ANEXO VI, inciso XXV) (IN MI nº 02, ANEXO VI, inciso XXVI)

Conforme apresenta o infográfico da página as perdas reportadas se intensificaram nas últimas


anterior (Danos e Prejuízos), a maior fração das duas décadas, sendo que em 2017 elas atingiriam
perdas econômicas está relacionada aos prejuí- o pico anual, muito em função do agravamento da
zos (80%), com destaque para a agricultura e pe- seca na Região do Semiárido. Porém, é necessário
cuária, com perdas da ordem de R$ 150 milhões considerar a melhoria dos sistemas de informação, o
e R$ 56 milhões, respectivamente. Ao observar a aumento da percepção sobre desastres e a consoli-
parcela de danos materiais (20%), destacam-se as dação de normativas sobre o tema, fatores que com
perdas nos setores de infraestrutura e habitação. certeza contribuem para o aumento no número e da
Ao observar a distribuição anual, conclui-se que qualidade dos registros realizados pelos municípios.

35bi 3500

28bi 2800

21bi 2100

14bi 1400

7bi 700

Figura 7: Danos materiais e prejuízos distribuídos anualmente. Fonte: BANCO MUNDIAL, 2020b.

57
Avaliação da exposição a processos hidrológicos

Ao observar as análises apresentadas, pode-se con- alto ou de muito alto risco, é um instrumento de
cluir que os desastres hidrológicos, resultantes do grande avalia ao desenvolvimento e priorização
excesso de chuva em cenários suscetíveis a enxur- de políticas públicas para RRD.
radas, inundações e deslizamentos, são responsá- Executada desde 2011 pelo Serviço Geológico
veis quase que pela totalidade dos danos relaciona- do Brasil (CPRM), a setorização foi realizada, até o
dos aos setores de infraestrutura e habitação, áreas presente momento, em 1.604 municípios, onde fo-
que têm um significativo impacto social, além das ram avaliados processos predominantes de alaga-
perdas de vidas e pessoas deslocadas. mento, deslizamento, enxurrada, erosão, fluxo de
A análise deste tipo de risco torna-se funda- lama, inundação e queda de blocos.
mental para entender e atuar na redução da ex- Nestes municípios foram identificados 14.386
posição e vulnerabilidade, uma vez que estes dois setores de risco, onde residem mais de 4 milhões
elementos estão diretamente relacionados à ocu- de brasileiros. Conforme ilustra o gráfico a seguir,
pação humana. Neste contexto, a setorização é a maior parte da população está na Região Sudes-
um instrumento de identificação e delimitação da te, com aproximadamente 1,6 milhões de pessoas,
área ocupada suscetível a um processo perigoso. seguida pela Região Nordeste.
Por ser representada em classes de baixo, médio,

Figura 8: Pessoas residentes em áreas de setores de risco por Região.

A figura 9 apresenta o número de municípios o maior número de residentes em áreas de risco.


mapeados por UF e a quantidade de pessoas re- Este último possui o maior número de municípios
sidentes nos setores identificados (em milhares). setorizados (295), que representa 100% dos muni-
Conforme os dados da CPRM, os estados de Mi- cípios do estado.
nas Gerais, São Paulo e Santa Catarina possuem

58 perfil de risco
gestão de riscos de desastres no brasil: panorama atual e tendências

População residente Municipios setorizados

700mil 350

600mil 300

500mil 250

400mil 200

300mil 150

200mil 100

100mil 50

0 0

Figura 9: População residente x Municípios setorizados.

Considerações sobre o perfil de risco

Os desastres listados no primeiro capítulo deste investimentos e intervenções, estruturais e não


panorama, tidos como mais relevantes, demons- estruturais, mais assertivas.
tram os impactos sociais e econômicos e que o A utilização de séries históricas de ocorrências,
país está exposto a desastres que podem prejudi- incluindo as perdas econômicas e sociais, pode
car seu desenvolvimento. Além destes episódios, apresentar-se como o instrumento mais viável para
a recorrência de eventos e a crescente exposição avaliar e classificar o risco no Brasil. Ainda que não
da população e infraestruturas a eventos natu- sejam séries históricas consideradas longas, varian-
rais é tão ou mais relevante que os desastres de do entre 25 e 30 anos, apresentam vantagens como
maior repercussão e impacto, como demonstram o nível de detalhe geográfico (município); padroni-
os dados de estudos recentes (BANCO MUNDIAL, zação em âmbito nacional (estabelecido por nor-
2020a; 2020b; CPRM, 2020). mativas legais); e atualizada de forma sistêmica,
Ao considerar esta recorrência, somadas às di- pelo órgão municipal ou estadual em um sistema
ferenças sociais e regionais inegáveis no país, fica informatizado (S2ID). Estes pontos fortes parecem
evidente a necessidade de se adotar estratégias ser aderentes às características do risco recorrente,
de RRD voltadas, principalmente, para reduzir a uma vez que favorecem o registro e a consolidação
exposição e a vulnerabilidade em suas dimensões também dos eventos de pequeno e médio impacto.
sociais e físicas. Para tanto, é necessário investir
em instrumentos que aumentem a compreen- Análise histórica: um banco de dados de danos
são do Risco em âmbito nacional, permitindo o e prejuízos de desastres passados, coletados
desenho de políticas públicas e planejamento de sistematicamente por um período razoavel-

59
mente longo, pode fornecer uma compreen- aumento de ocorrências na Região Norte e de
são valiosa dos riscos recorrentes. Esses ban- perdas econômicas no Centro-Oeste.
cos de dados podem ser usados para conduzir • Os fenômenos hidrológicos são os principais
uma análise histórica, fornecendo informa- responsáveis pelos danos humano diretos (óbi-
ções sobre a frequência da ocorrência, os im- tos e deslocados), e têm maior incidência nas
pactos potenciais e o risco geral associado a Regiões Sudeste e Sul, apesar de serem obser-
eventos frequentes. Uma análise histórica não vados registros relevantes em todas as regiões.
pode ser usada para riscos pouco frequentes, São também os que representam a parcela
como terremotos, e pode ser enganosa ao mais significativa dos danos materiais à infraes-
não revelar informações sobre eventos de alta trutura e habitação.
intensidade com baixa probabilidade (por Os mais de 2.000 registros de danos e prejuízos
exemplo, uma inundação de com período de realizados anualmente, em média, pelos estados e
retorno de 100 anos ou 1% de probabilidade de municípios demostram que os danos humanos e
ocorrência em um ano) (UNDRR, 2017). perdas econômicas no Brasil parecem mais repre-
sentativos a nível regional e local. A solicitação de
O Risco Recorrente, ou extensivo10, é uma ca- apoio complementar pelos entes subnacionais ao
racterística das áreas onde as comunidades estão Governo Federal é uma prática comum, e não se
expostas e vulneráveis a inundações frequentes, restringe aos grandes desastres. Segundo dados do
tempestades, deslizamentos ou secas. É usualmen- SIOP (2020), foram transferidos pela União entre os
te associado à pobreza, urbanização desordenada e anos de 2011 e 2019 aproximadamente R$ 13 bilhões
degradação ambiental. Em suma, diferentemente para ações de resposta e reconstrução.
do risco intensivo, está associado a fenômenos na-
turais recorrentes e mais intimamente à desigual-
dade social e pobreza (UNDRR, 2015).
Neste contexto, ao traçar um perfil do risco do Considerando os aspectos
Brasil, pode-se concluir que: apresentados neste estudo, pode-se
• Apesar da necessidade de uma análise mais concluir que o Risco de Desastre no
aprofundada dos dados, é possível concluir que
Brasil tem características recorrentes,
o somatório de eventos menores, mas com ele-
onde os eventos, principalmente
vada repetição, tem impacto tão ou mais signi-
ficativo que os grandes desastres. Por exemplo,
inundações, enxurradas e secas,
o montante das perdas econômicas resultante atingem populações e infraestruturas
dos eventos listados no capítulo inicial (aproxi- expostas e inalteravelmente
madamente RS 22 bilhões), tidos como os mais vulneráveis, causando um somatório
relevantes, representa menos que 10% dos R$ de danos e prejuízos relevante ao
333,4 bilhões apontados como as perdas rela-
longo dos anos.
cionadas com desastres nos últimos 25 anos
(UFSC, 2020).
• As secas e estiagens são os fenômenos mais
frequentemente registrados pelos municípios Além das séries históricas, é necessário desen-
e que somam o maior número de pessoas afe- volver ferramentas que possibilitem realizar uma
tadas. As áreas mais atingidas são o semiárido gestão prospectiva do risco de inundações, desli-
e a porção oeste dos estados do Sul do país, zamentos e enxurradas, evitando que estes se ins-
porém, pode-se observar na última década o talem ou se ampliem, que sirvam de bases para o

10
Definição adaptada do conceito “Extensive Risk”, UNDRR, 2009.

60 perfil de risco
gestão de riscos de desastres no brasil: panorama atual e tendências

desenvolvimento de políticas públicas de GRD mais Exemplo de análise probabilística do risco é o


eficientes e abrangentes. Os esforços neste sentido projeto executado em cooperação entre o Banco
ainda são insipientes, cabendo mencionar somente Mundial e o Governo de Santa Catarina, denomi-
o desenvolvido pela CPRM, que elaborou mapas de nado Estratégias de Desenvolvimento Econômico:
suscetibilidade para 510 municípios (CPRM, 2020) Análise da Exposição de Santa Catarina sob o en-
Obviamente, os esforços realizados individual- foque Mudanças Climáticas e Desastres Naturais.
mente para mapear as áreas de risco, bem como a Foi desenvolvido um modelo para inundações
já mencionada iniciativa de setorização de risco, são para o estado e, dentre outros resultados, foi deter-
extremamente necessários para a gestão de risco minada a Perda Anual Média, que determina a per-
corretiva e para o planejamento da resposta a de- da provável que o estado deve sofrer nos próximos
sastres. Porém, é notório que as ações corretivas são anos, em média e a cada dado ano. Mais detalhes
mais custosas e enfrentam, muitas vezes, obstácu- e atualizações dos principais resultados do estudo
los sociais intransponíveis. estão aparentados no tópico a seguir.

Modelo de Risco de Inundações: perda anual média

O estudo realizado em cooperação entre o Gover- Embora recuperar os registros históricos seja
no de Santa Catarina e o Banco Mundial combinou um passo extremamente importante no plane-
a caracterização dos padrões históricos de perigos jamento em GRD, o estado necessita conceber e
naturais (e os seus efeitos) em Santa Catarina com atualizar sua estratégia com uma visão de futuro,
um Modelo de Catástrofe (CAT) do risco de inunda- com base, pelo menos, nos seguintes pilares de
ções. Tal esforço teve por objetivo desenvolver uma ação: a) identificação de riscos; (b) redução de ris-
base robusta de conhecimentos para o planeja- cos; (c) preparação; (d) proteção financeira; e (e) re-
mento em GRD no estado. construção resiliente.

O estado de Santa Catarina em números

Localizado na Região Sul do Brasil, o estado de Área 95.734 km2


Santa Catarina é afetado por uma ampla varieda-
de de eventos naturais adversos: secas, inunda-
ções, enxurradas, granizo, movimentos de massa
gravitacionais, vendavais, tornados e erosão costei-
ra, além de ter sido atingido pelo único furacão já
registrado no Brasil.

População 7.252.502
IDH 0,774
PIB 277.192.000.000

61
Modelo de Suscetibilidade a Inundações

Com os resultados sistematizados, os mapas de Tal modelo auxilia a coordenar a resposta a


inundação são relevantes para visualizar as áreas desastres das diversas instituições envolvidas, em
suscetíveis a inundações. Tais mapas são produto apoio à Defesa Civil e subsidia processos decisórios,
do Modelo de Suscetibilidade a Inundações, que visando evitar a instalação de pessoas em áreas
visa melhorar a compreensão destas por meio suscetíveis a inundações, bem como reduzir o risco
de uma combinação de dados históricos e simu- em áreas já consolidadas. Implicando em melho-
lações geradas por computador. De forma geral, rias para Políticas Públicas e alternativas estruturais
qualquer que seja o nível, os mapas de inundação e não-estruturais para a gestão de inundações, vi-
podem ser usados em combinação com conjuntos sando a redução de danos e identificações de locais
de dados georreferenciados de vários tipos de ati- com melhor custo-benefício para investimento em
vos, como redes viárias, plantas industriais, infraes- obras de redução de inundações.
trutura pública, dentre outros.

Validação
O modelo foi validado
tendo como referência
os dados históricos de
inundações passadas
registradas no estado.

Fonte: adaptado de Banco Mundial, 2016.

Vulnerabilidade de vários tipos de edificações

Alguns tipos de construções são mais vulneráveis a a Razão Média de Danos (RMD) à intensidade de
inundações. O estudo pesquisou a vulnerabilidade inundações (profundidade). Isso possibilitou a pa-
de diferentes padrões construtivos em Santa Cata- rametrização de perfis de exposição que refletem
rina. Foi elaborada uma série de curvas associando as características dos bens e ativos expostos.

62 perfil de risco
gestão de riscos de desastres no brasil: panorama atual e tendências

Figura 10: Curvas de danos para tipos específicos de construção no Brasil. Fonte: adaptado de Banco Mundial, 2016.

Exposição

Os dados econômicos derivados do Censo Na-


cional de 2010, realizado pelo Instituto Brasilei-
ro de Geografia e Estatística (IBGE) para as áreas
regionais (delineadas em azul), foram associados
às áreas urbanizadas e adequados para processa-
mentos específicos. Posteriormente, o plano de in-
formação gerado foi relacionado geograficamente
com os mapas de suscetibilidade a inundações. Tal
processo teve como produtos a volumetria e a por-
centagem de alagamento de cada célula exposta,
assim como o tempo de retorno e profundidade
da inundação que afetou a célula.
Fonte: adaptado de Banco Mundial, 2016.

Inundações e Prejuízos Financeiros em SC

Um Modelo de Catástrofe (CAT) é um modelo auto- para determinar o volume de danos e calcular o va-
matizado que gera um conjunto de eventos simu- lor provável dos prejuízos causados por um evento
lados. Cada simulação fornece estimativas sobre a extremo (BANCO MUNDIAL, 2016).
magnitude, intensidade e localização de um evento

63
Valor (R$)

Itajaí

Palhoça

Blumenau

Navegantes

Gaspar

Jaraguá do Sul

Guaramirim

Joinville

Rio do Sul

Tijucas

Tubarão

0 20mi 40mi 60mi 80mi 100mi 120mi

Figura 11: Ranking de prejuízos por cidade. Fonte: adaptado de Banco Mundial, 2016.

A Perda Anual Média (PAM) representa o valor


PERDA
= R$ 645
médio das perdas anuais. É o valor mediano da
distribuição da Probabilidade de Perdas (PP). Re-
presenta o prejuízo projetado por ano, tomando a ANUAL
média de vários anos. Dessa forma, espera-se que
o prejuízo de um evento com período de retorno
MÉDIA MILHÕES
de um ano seja igualado ou excedido todo ano.

Fonte: Divulgação/CBMSC, 2019.

64 perfil de risco
gestão de riscos de desastres no brasil: panorama atual e tendências

65
O CONTEXTO DA

GES
TÃO
DE
RIS
CO
DE
DESASTRES
gestão de riscos de desastres no brasil: panorama atual e tendências

No que se refere à Gestão de Risco de Desastres (GRD), o Brasil ainda não segue o modelo inter-
nacional, definido como a combinação de cinco pilares de ação: 1) compreensão de risco; 2) redu-
ção de risco; 3) preparação; 4) proteção financeira; e 5) reconstrução resiliente, conforme prevê o
Quadro de Sendai. O país, que teve sua Política Nacional de Proteção e Defesa Civil atualizada em
2012, alinhou-se apenas às etapas do ciclo que incluem prevenção, mitigação, preparação, respos-
ta e recuperação, sem menção direta à GRD.

Conceitualmente, considera-se que compreen- dos. Essa é a base fundamental de informações neces-
der os perigos, a exposição e as vulnerabilidades é uma sárias para dimensionar e caracterizar o evento adver-
etapa fundamental da gestão de riscos. Diversos méto- so a ser tratado, isso porque, a partir do perfil de risco
dos podem ser utilizados na quantificação de riscos e identificado, é possível estabelecer as intervenções ne-
na antecipação dos possíveis impactos a eles associa- cessárias para uma melhor gestão dos riscos.

Para compreender o risco, é necessário determinar o estado atual da infraestrutura, ativos e ca-
pacidades das pessoas em um contexto de risco, considerando três fatores: exposição, vulnera-
bilidade e adaptabilidade. Isso pode contribuir a identificar estratégias e lacunas em recursos,
regulamentações e conhecimentos para enfrentar os impactos das ameaças naturais e dos riscos
associados às mudanças climáticas.
Esse conhecimento pode ser aproveitado para realizar uma avaliação de riscos pré-desastre con-
siderando os possíveis impactos, levando em conta que os padrões de risco podem ser alterados
pelas mudanças climáticas, portanto, devem sempre ser atualizados. No processo de gestão é
fundamental a comunicação do risco, isto é, o compartilhamento do conhecimento, assim como,
a forma que o conhecimento foi gerado. Essa etapa é essencial para o estabelecimento de priori-
dades e metas para a formulação de ações e políticas para prevenção e mitigação de riscos.

67
Seguindo esse modelo, de acordo com o perfil Outro pilar importante da gestão de riscos de
de risco de uma comunidade, ações podem ser to- desastres é o desenvolvimento de estratégias fi-
madas para reduzi-los. Por exemplo, se por um lado nanceiras que tornem o Estado financeiramente
a incorporação e a manutenção de estruturas críti- resiliente aos choques causados por eventuais de-
cas ou a construção de sistemas de alerta podem sastres e, ao mesmo tempo, estimulem a adoção de
diminuir o risco existente, por outro lado o planeja- medidas preventivas e o compartilhamento da res-
mento e o ordenamento territorial podem evitar a ponsabilidade pela gestão de riscos entre diversos
geração de novos riscos. Porém, como o risco não setores da sociedade, públicos e privados.
pode ser totalmente eliminado, governos, comuni- Após um desastre, a reconstrução é uma opor-
dades e indivíduos precisam estar preparados para tunidade para promover ações de recuperação que
responder aos eventos extremos e gerir seus im- aumentem a resiliência das comunidades e redu-
pactos ambientais, econômicos e sociais. Vale notar zam a vulnerabilidade de infraestruturas, habita-
que reforçar as capacidades de preparação das or- ções e instalações públicas quando a sensibilidade
ganizações locais deve estar entre as prioridades de dos governos e da população é mais elevada.
uma estratégia de GRD adequada, já que são estas
as primeiras instituições envolvidas na resposta.

Contexto Institucional, Político, Normativo e Financeiro


Compreensão do Risco Estabelecer metodologias para avaliação do risco;
Comunicação do risco.
Redução do Risco Medidas estratégicas, estruturais e não estruturais, por exemplo, infraestrutura, planeja-
mento do uso da terra, políticas e regulamentação.
Preparação Sistemas de alerta prévio;
Planejamento de contingência (resposta);
Modernização de capacidades institucionais.
Proteção Financeira Redução de passivos financeiros;
Apropriação e execução de orçamento;
Estabelecimento de camadas de risco;
Instrumentos financeiros ex-ante e ex-post.
Reconstrução Resiliente Recuperação resiliente e políticas de reconstrução;
Planejamento como precaução;
Investimento em pesquisa de soluções alternativas.

Quadro 1: Entendendo a Gestão de Risco de Desastres. Fonte: Ceped/UFSC (2020) adaptado de Ghesquiere e Mahul (2010).

Compreensão do Risco

O conhecimento do risco possibilita identificar, estabelece que as políticas e práticas para a GRD
avaliar e analisar os fatores de risco de um de- devem ser baseadas em uma compreensão clara
sastre a partir do amplo conhecimento do territó- do risco em todas as suas dimensões de vulnerabi-
rio. No Brasil, a importância desse conhecimento lidade, capacidade, exposição de pessoas e ativos,
é enfatizada, como diretriz da Política Nacional de características dos perigos e meio ambiente.
Proteção e Defesa Civil, segundo a Lei Federal nº De acordo com a Lei 12.608/2012, o Estado é
12.608/2012, ao dispor que as ações de proteção e responsável pela identificação e mapeamento de
defesa civil devem ser adotadas com base em “pes- áreas de risco. Os Estados, em articulação com a
quisas e estudos sobre as áreas de risco e incidência União e os Municípios, devem promover a identi-
de desastres”. Da mesma forma, o Marco de Sendai ficação e mapeamento dessas áreas, assim como

68 O CONTEXTO DA GESTÃO DE RISCO DE DESASTRES


gestão de riscos de desastres no brasil: panorama atual e tendências

das ameaças, suscetibilidades e vulnerabilidades, cunho social e econômico em relação à prevenção


para possibilitar a adoção de medidas de preven- de desastres naturais, por meio da disponibiliza-
ção e mitigação (BRASIL, 2017b). ção de sistemas de alertas que levam à mitigação
Cabe ao Estado prestar apoio aos municípios dos efeitos das cheias, inundações e secas, bem
para a avaliação das áreas de risco existentes, as- como a identificação e monitoramento de áreas
sim como realizar o monitoramento meteorológi- de risco geológico. Para isso, o site da CPRM, no
co, hidrológico, geológico, biológico e químico das setor de gestão territorial, elabora três mapas que
áreas de risco, também de forma articulada com auxiliam na prevenção de problemas relacionados
a União e os Municípios. Além disso, é importante aos desastres naturais de origem geológica:
destacar que os Estados também apoiam a elabo- 1. Cartas de suscetibilidade são documentos
ração dos Planos de Contingência de Proteção e cartográficos que representam a possibilidade
Defesa Civil e a divulgação de protocolos de pre- de ocorrência de um determinado evento, re-
venção e alerta e de ações emergenciais lacionado à ocorrência de movimentos gravita-
No Brasil, o mapeamento de risco é importan- cionais de massa e inundações;
te insumo para a estruturação do Sistema de Mo- 2. As Cartas de Perigo Geológico são docu-
nitoramento e Alerta. O governo federal atua de mentos cartográficos que representam a pro-
forma articulada com órgãos de diferentes minis- babilidade de um determinado risco geológico
térios. Os trabalhos do Serviço Geológico do Brasil ocorrer. Nelas são avaliadas áreas com perigo
(CPRM, Ministério de Minas e Energia) são trans- geológico a movimentos gravitacionais de mas-
mitidos ao Centro Nacional de Monitoramento e sa em áreas ocupadas e não ocupadas do terri-
Alerta de Desastres (Cemaden, Ministério de Ciên- tório municipal.
cia, Tecnologia, Inovações e Comunicações) para 3. A Setorização de Áreas de Risco Geológico
subsidiar a análise de potenciais desastres a partir corresponde a documentos cartográficos que
da junção dos dados do território com as infor- representam as áreas sob situação de perigo,
mações meteorológicas e climáticas. O Cemaden, perda ou dano, ao homem e suas propriedades,
por sua vez, de acordo com o seu regimento in- em razão da possibilidade de ocorrência de pro-
terno, tem entre suas competências emitir alertas cessos geológicos.
de desastres para o Centro Nacional de Gerencia- Vale destacar, entretanto, que os produtos da
mento de Riscos e Desastres (Cenad, Ministério do CPRM são por vezes subutilizados pelos municí-
Desenvolvimento Regional), auxiliando o Sistema pios por falta de equipe técnica capacitada para
Nacional de Defesa Civil. sua aplicação prática. Além disso, não são todos os
Segundo o Plano Estratégico da CPRM 2019- municípios brasileiros contemplados com os ma-
2023 (CPRM, 2018), baseado nas demandas na- teriais produzidos pela CPRM, havendo ainda ne-
cionais mais relevantes quanto ao planejamento, cessidade de mais investimentos em capacitação
gestão e ordenamento territorial, destaca-se o e gestão técnica local.

Redução do Risco

A redução do risco de desastres se refere a medidas atuação de todos os integrantes do Sistema Na-
que visam reduzir os danos causados por amea- cional de Proteção e Defesa Civil (SINPDEC). O pa-
ças, por meio de esforços e estratégias de preven- pel do Governo Federal e dos Estados em facilitar,
ção que reduzam a vulnerabilidade e aumentem orientar e coordenar ações é fundamental, mas é
a capacidade das comunidades de se adaptarem. necessário habilitar as comunidades locais para
No Brasil, a RRD é determinante para a Política reduzir o risco de desastres. Embora tenham sido
Nacional de Proteção e Defesa Civil e orienta a realizados progressos em aumentar a resiliência e

69
reduzir os prejuízos, o país ainda não atingiu um tantes estão sendo realizadas, como é o caso da
patamar ideal. Nesse sentido, iniciativas impor- cidade de Campinas.

Campinas, a Cidade Modelo

Em 2013, a cidade de Campinas foi reconhecida O propósito é aprofundar, por meio de ações
pelo Escritório das Nações Unidas para a Redução coordenadas e intersetoriais, as ações de resiliência
do Risco de Desastres (UNDRR) como Cidade Mo- que abrangem política habitacional, saúde pública,
delo de boas práticas na construção de resiliência meio ambiente, educação, comunicação, cultura,
para a redução de riscos e desastres. Campinas política social, engajamento cidadão, segurança
foi a primeira cidade brasileira a obter esse títu- alimentar, esporte e lazer, recursos humanos, entre
lo e com essa motivação a Prefeitura e a Defesa outros tópicos.
Civil de Campinas, com apoio da AISR – Iniciati- O plano abrange quatro grandes grupos: gover-
va Making Smart Cities e da UNISDR, elaboraram nos e administração pública, ONGs e sociedade, se-
o “Plano de Resiliência de Campinas 2017-2020” tor privado, e instituições de ensino e pesquisa. Para
(PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPINAS, 2017). envolver esses grupos, seis atividades macro foram
A estratégia geral do plano é criar programas para estabelecidas de forma multidisciplinar e multis-
evitar ou minorar situações adversas, combatendo a setorial: conscientização, comunicação interna, co-
situação de miséria, promovendo a saúde pública, municação externa, cooperação, gestão do conhe-
impedindo a ocupação humana em áreas de risco, cimento e documentação de casos de sucesso. E
entre outras medidas. Uma segunda linha de ação é utilizadas cinco ferramentas como área de atuação:
o desenvolvimento de medidas que garantam a re- 1) gestão do conhecimento; 2) gestão de inovação;
dução de danos em situações de desastres, por meio 3) gestão analítica de riscos; 4) participação comu-
de treinamentos e sistemas de alertas, além de uma nitária; e 5) gestão de proteção civil.
estratégia de restauração dos espaços afetados.

Fonte: Defesa Civil de Santa Catarina, 2008.

70 O CONTEXTO DA GESTÃO DE RISCO DE DESASTRES


gestão de riscos de desastres no brasil: panorama atual e tendências

Nessa última ferramenta, gestão de proteção


civil, a cidade conta com uma série de iniciativas
tecnológicas, metodológicas e institucionais, entre
elas: a TerraMA² - Plataforma de Monitoramento
Análise e Alerta a Extremos Ambientais (INPE); o
Sistema de Gerenciamento de Ações Humanitárias
(DONARE); o Sistema de alerta da Defesa Civil de
Campinas (SIADEC); a Gestão de Ocorrências da
Defesa Civil (GODC); o 156 – Sistema de Informações
e Solicitação de Serviços Públicos; a AISR OpenRisk;
o Sistema Integrado de Defesa Civil (SIDEC CEDEC
SP); o Sistema de Radiocomunicação Digital/Tele-
fone Celular; o Portal Campinas Resiliente; a Central
Integrada de Monitoramento de Campinas (CIM-
Camp); o Observatório da Cidade Resiliente; e o
Aplicativo COLAB.
O grande destaque da iniciativa de Campinas,
que a fez ser referência para mais de 900 municí-
pios brasileiros para adesão à Campanha Cidades
Resilientes, foi de organização a integração de
ações e políticas públicas entre diferentes setores e
esferas de governo, colocando em prática a premis-
sa de organizar os órgãos de proteção e defesa civil
como órgãos de articulação e atuação estratégica. Fonte: Antônio Cruz - Agência Brasil, 2019

Preparação

Outro pilar é a preparação, necessária para uma rochosos e processos erosivos) e/ou decorrentes de
resposta eficaz e para reconstrução resiliente. São processos hidrológicos (inundações, enxurradas,
medidas e atividades que acontecem antes da grandes alagamentos). Em complemento, os mu-
ocorrência de um desastre, destinadas a otimizar nicípios monitorados devem ter as áreas de riscos
as ações de resposta e minimizar os danos e as para processos hidrológicos e geológicos identifica-
perdas decorrentes do desastre. dos, mapeados e georreferenciados.
No cenário nacional, a preparação se refere às O Cemaden atua de forma integrada ao Centro
ações destinadas a capacitar os órgãos do Sistema Nacional de Gerenciamento de Risco e Desastres
Nacional de Defesa Civil e comunidades a fim de (Cenad) que consolida as informações sobre riscos
garantir uma resposta adequada aos desastres, no País, tais como mapas de áreas de risco de des-
tendo em vista objetivos claros e/ ou cenários es- lizamentos e inundações, além dos dados relativos
pecíficos. Atualmente, visando atender o Plano Na- à ocorrência de desastres naturais e tecnológicos
cional de Gestão de Riscos e Respostas a Desastres, e os danos associados. O gerenciamento destas
o Cemaden monitora 958 municípios em todas as informações possibilita ao Cenad apoiar estados e
regiões brasileiras. Esses municípios apresentam municípios nas ações de preparação para desastres
um histórico de registros de desastres naturais de- junto às comunidades mais vulneráveis, bem como
correntes de movimentos de massa (deslizamentos realizar o monitoramento das situações de risco
de encosta, corridas de massa, solapamentos de junto aos Estados e Municípios.
margens/terras caídas, queda/rolamento de blocos Um exemplo de preparação que contempla um

71
sistema de monitoramento e alerta, apoio a medi- e Desastres de Santa Catarina (Cigerd), inaugurado
das de emergência e planejamento de contingência em 2018 na capital catarinense, Florianópolis.
é o Centro Integrado de Gerenciamento de Riscos A intenção da Defesa Civil de Santa Catarina foi

Fonte: Julio Cavalheiro - Secom, 2020.

integrar os setores governamentais para o geren- gistas façam um acompanhamento mais apurado
ciamento de crise, proporcionando uma resposta da formação, desenvolvimento e enfraquecimento
mais rápida, em que todas as secretarias envolvidas das tempestades. A estrutura também conta com
trabalham de forma integrada. Para a construção o Centro Integrado de Operações (CIOP), espaço
do Centro Integrado Estadual foram investidos R$ equipado com três videowalls; por uma mesa táti-
44 milhões, com recursos do Pacto por Santa Cata- ca utilizada para simulados e definição de cenários;
rina e do Fundo Estadual de Proteção e Defesa Civil. a sala de imprensa com espaço para a realização de
A estrutura administrativa e operacional do Ci- entrevistas coletivas e estúdio de gravação; e a sala
gerd ganha destaque devido seu aporte tecnológi- de crise onde são definidas as ações estratégicas e
co, que conta com um Centro de Monitoramento realizadas as reuniões do staff regional sem deslo-
que funciona 24h por dia e sete dias por semana; camento à capital.
Alerta; Meteorologia; Sistema de Hidrometeorolo- O centro também atua de forma integrada
gia; Geologia; Mapeamento de Áreas de Risco; Pla- com os 20 Cigerds Regionais distribuídos pelo es-
nos de Contingência; Planos de Ações Emergen- tado, levando em conta a localização geográfica,
ciais; Gestão de Crise e Respostas a Desastres; e a a população e a recorrência de fenômenos da na-
antena do Satélite GOES (Geostationary Operatio- tureza. Além disso, profissionais passam por capa-
nal Environmental Satellite). Esse equipamento traz citação com o apoio da estrutura onde ocorrem
um avanço para o monitoramento meteorológico, treinamentos, seminários, palestras, simulados e
pois suas imagens permitem que os meteorolo- videoconferências, o que resulta, inclusive, na oti-

72 O CONTEXTO DA GESTÃO DE RISCO DE DESASTRES


gestão de riscos de desastres no brasil: panorama atual e tendências

mização do tempo e na economia de recursos em


deslocamentos e diárias.
Por todas essas questões, o Cigerd já se tornou
referência quando o assunto é gerenciamento de
riscos e desastres, atuando com base no conceito
de agência integradora em diversas situações, por
exemplo, a Operação Rota Segura, a Operação Áto-
mo, a Operação Eleições, o Monitoramento Ciclone
Extratropical, a Operação Primavera, entre outras.

Proteção Financeira

Além de preparação técnica, as ações de resposta


e reconstrução demandam ainda a disponibilida-
de de recursos orçamentários e financeiros. Nesse
sentido, a preparação de uma estratégia de prote-
ção financeira tem como objetivo garantir o aces-
so à liquidez imediata durante a fase emergencial,
bem como a otimização da gestão do financia-
mento da recuperação e da reconstrução.
Fonte: Antônio Cruz - Agência Brasil, 2019

Custos dos desastres e necessidades de financiamento

A partir da realização dos primeiros estudos de caso habitação social. Em Alagoas, por exemplo, as per-
sobre os impactos dos desastres no Brasil e da com- das e danos causados pelas inundações de 2010
pilação dos dados oficiais pelo S2ID ficou eviden- foram equivalentes a quase 9% do PIB estadual e
te que as perdas e danos causados por desastres os custos ao setor público estimados em mais de
geram altos custos ao setor público. Sendo assim, 25% das receitas totais do estado. Em Santa Ca-
a adequada gestão do financiamento da reposta, tarina, os custos públicos das enchentes e desli-
recuperação e reconstrução é fundamental para zamentos de 2008 superaram 20% das receitas
garantir a capacidade de atuação do poder público totais estaduais. Ambos os casos indicam que os
em todos os níveis de governo. governos locais não têm capacidade de resposta
Os relatórios DaLA indicaram que até metade financeira para gerenciar tais eventos sem o apoio
das perdas e danos causados por desastres po- das transferências feitas pelo Governo Federal. Por
dem se tornar passivos do setor público, que com sua vez, o custo agregado dos eventos localizados
frequência assume a responsabilidade pela repo- para o Governo Federal também é significativo.
sição de parte dos ativos do setor privado, como

73
Estratégias de Proteção Financeira

Uma estratégia de proteção financeira tem como frequência e na severidade dos desastres impli-
objetivo estabelecer, de forma custo-eficiente, um cam diferentes necessidades de financiamento.
conjunto de fontes de recursos que considerem o Idealmente, orçamentos e instrumentos financei-
perfil de risco do país e as necessidades de finan- ros devem ser estabelecidos antes da ocorrência
ciamento esperadas ao longo de todo o ciclo dos dos desastres, de modo que a disponibilidade de
desastres. É preciso considerar o perfil das amea- recursos seja rápida para o período emergencial e
ças a que o País está exposto, já que diferenças na incentive a reconstrução resiliente no longo prazo.

Figura 12: Estratégia financeira de três camadas contra desastres naturais.

Conforme indicado na figura 14, vários instru- de instrumentos financeiros adequados para o fi-
mentos diferentes podem ser combinados em nanciamento de cada camada. Em linhas gerais, a
uma cesta de produtos que atenda as necessida- ideia é que os eventos de alta frequência sejam fi-
des identificadas. A abordagem desenvolvida pelo nanciados com instrumentos de retenção de risco,
Banco Mundial para o desenvolvimento de estraté- ao passo que os riscos dos desastres raros e de alto
gia de proteção financeira contra desastres define impacto sejam transferidos para o setor privado por
diferentes camadas de risco e identifica os tipos meio de seguros e títulos de catástrofe.

Primeiros diagnósticos

O primeiro passo para o estabelecimento de uma zado principalmente por eventos frequentes e
estratégia de proteção financeira é a realização localizados, combinados com desastres menos
de diagnóstico sobre o perfil de risco do país e frequentes e de maior escala, significativos em
sobre as práticas e mecanismos em vigor para a nível estadual. Segue que, embora a maior parte
mobilização de recursos pós-desastre. Em 2012, o dos eventos tenha impactos limitados em relação
primeiro diagnóstico desse tipo para o Brasil foi à economia nacional, como proporção dos recur-
preparado pelo Banco Mundial e publicado no es- sos municipais ou estaduais os custos podem ser
tudo “Lidando com Perdas: Opções de Proteção bastante elevados e, além disso, o impacto agre-
Financeira contra Desastres no Brasil”. Segundo gado de todos os eventos em território nacional
o relatório, o perfil de risco do Brasil é caracteri- gera custos significativos para o Governo Federal.

74 O CONTEXTO DA GESTÃO DE RISCO DE DESASTRES


gestão de riscos de desastres no brasil: panorama atual e tendências

Em relação aos instrumentos financeiros, as da enfrenta dificuldades para executar os recursos


principais fontes de recursos utilizadas no Brasil são alocados, o que resulta em déficits de financiamen-
ex post, isto é, mobilizadas apenas após a ocorrên- to e atrasos na resposta e reconstrução, exacerbando
cia dos desastres. As exceções são alguns fundos de os impactos negativos dos desastres sobre a trajetó-
calamidades locais e orçamentos de contingência ria de crescimento das comunidades afetadas.
de alguns setores específicos, mas com alocação Em suma, o Brasil ainda não possui uma estra-
de recursos frequentemente abaixo de suas neces- tégia de proteção financeira contra desastres que
sidades de financiamento. seja abrangente e leve em consideração as dife-
No Brasil também é importante considerar as rentes camadas de risco que fazem parte de seu
implicações da estrutura federativa para a organiza- perfil. Além disso, os arranjos institucionais para a
ção da resposta a desastres e a necessidade de coor- alocação e execução dos recursos mobilizados ain-
denar as ações em todos os níveis de governo. Nesse da possuem gargalos que podem resultar em dé-
sentido, ainda existem gargalos institucionais e pro- ficits de financiamento e atrasos no atendimento
blemas no planejamento da despesa com desastres às populações afetadas. Finalmente, a abordagem
e na distribuição dos recursos entre setores, regiões de financiamento atual não incentiva a prevenção
e níveis de governo. Consequentemente, o País ain- e reconstrução resiliente em nível local.

Opções para consideração

Dado o perfil de risco do Brasil, o aprimoramento desastres e transferir parte dos riscos para o setor
da gestão financeira do gasto com desastres de- privado. Em linhas gerais, as opções de transferên-
verá otimizar a camada de baixo risco (eventos de cia de risco são os seguros soberanos, seguros de
pequena escala e alta frequência). O tratamento propriedade (por exemplo, residenciais e agrícolas)
dessa camada requer uma estratégia para sua re- e títulos de calamidade. No Brasil, embora existam
tenção que pode ser baseada em fundos de reser- seguros agrícolas com cobertura contra desastres
va, dotações orçamentárias anuais ou orçamentos naturais vinculados a operações de crédito, em ge-
de contingência. Eventos recorrentes como secas, ral a penetração dos seguros contra calamidades
inundações e cheias, por exemplo, precisam ser ainda é muito baixa e a infraestrutura de risco dis-
levados em consideração no planejamento do or- ponível para o desenvolvimento de novos produtos
çamento anual do governo. é bastante limitada.
Para os eventos menos frequentes e de maior Por fim, vale ressaltar que o desenvolvimento
magnitude existem opções como emissão de dívida de uma estratégia de proteção financeira abran-
após o desastre ou a contratação de crédito contin- gente para o Brasil necessitará de análises especí-
gente antes do evento. Empréstimos contingentes ficas para identificar, em detalhes, os gargalos téc-
são operações pré-negociadas que podem ser de- nicos e institucionais prioritários de cada uma das
sembolsadas rapidamente após o desastre. Os crité- camadas de risco. Assim será possível avaliar diver-
rios para liberação dos recursos também são pré-de- sas opções de reformas institucionais, considerar os
finidos e, uma vez acionado o gatilho, o desembolso custos e benefícios dos diferentes instrumentos fi-
é rápido o suficiente para financiar a resposta emer- nanceiros disponíveis, bem como priorizar as ações
gencial. Além disso, ajuda a preservar o orçamen- para atacar os gargalos técnicos. Trata-se de uma
to de outros programas de investimento e custeio, agenda de longo prazo, multidisciplinar e multise-
uma vez que diminui a necessidade de realocações torial, mas que tem potencial para criar um círculo
orçamentárias para responder ao desastre. virtuoso de prevenção, preparação e reconstrução
Além de aprimorar os instrumentos para re- resiliente que ao longo do tempo poderá diminuir a
tenção de riscos, no médio e longo prazo há espa- exposição e a vulnerabilidade da população e ativos
ço para desenvolver o mercado de seguros contra físicos às ameaças naturais.

75
Reconstrução Resiliente

A resposta, a reabilitação e a reconstrução devem A legislação brasileira que trata especificamen-


ser consideradas antes que um evento ocorra, para te de reconstrução é recente, sendo os primeiros
que seja possível promover a resiliência das comu- dados do final da década de 2000. Um exemplo
nidades afetadas e estas retornem ao caminho do é a implantação de procedimentos a serem ado-
desenvolvimento planejado. Nesse sentido, a re- tados para transferência de recursos da União aos
construção sempre é uma oportunidade para “re- Entes Federados é a portaria MI nº 624/2017. No ca-
construir melhor”, com foco na redução dos riscos pítulo II, sobre solicitações de recursos para ações
de desastres, no combate à pobreza, no aumento de recuperação em áreas atingidas por desastres,
da educação e na sensibilização da sociedade sobre o § 3º estabelece que a ação de recuperação vise
o risco de desastres. resolver um problema de forma definitiva. Assim,
Devido à necessidade de reduzir os riscos, pro- a concepção da ação proposta poderá divergir da
cessos de reconstrução são fundamentais à im- infraestrutura afetada com o objetivo de promover
plantação de infraestruturas capazes de absorver a segurança necessária para a devida funcionalida-
fisicamente os possíveis impactos dos diferentes de da obra, não cabendo alterações geométricas
riscos identificados. Assim, políticas de reconstru- ou estruturais com o objetivo de atendimento a de-
ção devem alterar positivamente os ambientes mandas futuras ou meramente estéticas.
afetados, bem como impedir a aplicação de recur-
sos para reconstrução em áreas de riscos não miti-
gáveis ou sem a contemplação clara das interven-
ções de engenharia necessárias ao controle dos
processos naturais.
Uma reconstrução resiliente deve ter foco,
ainda, em ações que assegurem a redução da po-
breza e o desenvolvimento local. As infraestruturas
reconstruídas devem poder oferecer a comunida-
des e economias, que delas dependam, a realização
de atividades que tenham elevada capacidade de
geração de desenvolvimento socioeconômico. É
preciso ter a participação da sociedade na tomada
de decisões, e ter como foco que os processos de
“recuperação” são oportunidades únicas de cons-
trução de sociedades resilientes, de maneira parti-
cipativa e sustentável.

76 O CONTEXTO DA GESTÃO DE RISCO DE DESASTRES


gestão de riscos de desastres no brasil: panorama atual e tendências

77
DESAFIOS
SOCIAIS:

IGUAL
DADE
DE

NERO
E
ERRADICAÇÃO
DA POBREZA
gestão de riscos de desastres no brasil: panorama atual e tendências

A redução de riscos de desastres é definida pelas Nações Unidas como um processo sistemático
de execução de políticas, estratégias e capacidades para diminuir os impactos adversos de possí-
veis desastres (UNISDR, 2009). Apoiada nessa definição está a prerrogativa de Allan Lavell de que
os desastres correspondem a uma construção social e que as iniciativas engendradas para evitar
riscos futuros só podem ser vistas à luz de projeções para redução ou controle da pobreza, sejam
elas atuantes nos fatores associados a ameaça, exposição ou vulnerabilidade (LAVELL, 2008).

Por sua vez, o conceito de gênero segue em gênero implica uma atenção explícita ao empode-
construção, sendo ainda um aspecto sensível de ramento das mulheres (UNDP, 2010).
trabalhar, ao que não se espera que este seja um Assim é que a inserção da perspectiva de gê-
espaço de produção conceitual, mas de observação nero na temática de redução de riscos de desastres
de impactos. Assim, assume-se a ideia de associa- recai sobre dois conceitos importantes: pobreza e
ção ao que é esperado, permitido ou valorizado em vulnerabilidade, condições sociais que se reforçam
uma mulher ou em um homem em determinado mutuamente. Isto porque os desastres contribuem
contexto. Isso determina oportunidades, responsa- para manter os grupos desprivilegiados na pobreza
bilidades e recursos, bem como poderes associados devido a sua maior exposição, maior vulnerabilida-
a ser homem ou mulher. Gênero também define as de e menor capacidade de resposta e recuperação.
relações entre homens e mulheres e entre meninos Muitos são os estudos que demonstram que
e meninas. São atributos, oportunidades e relações mulheres representam a maioria das vítimas de de-
construídas socialmente e aprendidas ao longo do sastres, quer porque são maioria também da popu-
processo de socialização. Pertencem, portanto, a lação em situação de pobreza, quer por condições
contexto e tempo específicos, podendo alterar-se. culturais que as impedem de reagir ao impacto de
Gênero não significa “mulher”. Entretanto, conside- um desastre de maneira tão eficiente quanto ho-
rando que as mulheres geralmente estão em posi- mens, tornando-se mais vulneráveis. Os números
ção de desvantagem, a promoção da igualdade de são assustadores: mulheres somaram 61% das fata-

79
lidades causadas pelo Cyclone Nargis em Myanmar É preciso registrar ainda que além de serem
em 2008; entre 70% e 80% pelo tsunami no Oceano mais gravemente afetadas pelos desastres, os es-
Índico em 2004, e 91% pelo ciclone em Bangladesh tudos apontam que mulheres são mais exigidas
em 1991 (UNDP, 2013). psicológica e fisicamente no pós-desastre e pos-
As mulheres também enfrentam riscos especí- suem menos recursos para absorver os impactos
ficos à saúde. Durante a gravidez ou amamentação, dos desastres. São situações em que mulheres, com
gestantes e lactantes são mais vulneráveis a secas renda mais baixa e muitas vezes informal, possuem
ou outros eventos que causem choques nutricio- menos poupança e acesso mais limitado aos me-
nais. Frequentemente responsáveis pela coleta de canismos de proteção social (como seguro-desem-
água em áreas sem rede de distribuição, a carga prego) e crédito para ações de reconstrução, por
de trabalho das mulheres também pode aumentar exemplo; ou em que a violência doméstica e sexual
com as secas. Ao mesmo tempo, diante da escassez se tornam recorrentes em abrigos; ou ainda em que
de alimentos elas tendem a reduzir o consumo de prevalecem as inequidades na divisão de trabalho
calorias em favor das crianças e dos homens. entre homens e mulheres para o atendimento das
Ao apresentar os principais fatores que tornam vítimas. “Na maioria dos casos, os desastres consti-
as mulheres mais vulneráveis aos desastres, a publi- tuem uma carga adicional para mulheres e meni-
cação do PNUD de 2013 afirma que: i) as mulheres nas, pois é sobre elas que recai a responsabilidade
tendem a viver e trabalhar em estreita colaboração do trabalho não remunerado” (ZULAIKA, 2017). Essa
com os recursos naturais e os recursos geográficos discussão reflete como as presenças de homens e
mais afetados por desastres; ii) alguns padrões so- mulheres estão divididas entre as esferas pública e
cioculturais podem causar restrições no movimen- privada, incidindo sobre elas maior responsabilida-
to para escapar de desastres (particularmente ris- de em tarefas de reconstrução e assistência quan-
cos relacionados à água); e iii) elas têm níveis mais do não ofertadas oficialmente pelos governos. Nes-
baixos de acesso a recursos econômicos em geral te caso sim, são os homens que estão empregados,
e, em particular, níveis mais baixos de educação e atuando profissionalmente no atendimento de víti-
informação para acessar, ler e agir com base em mas. “Em países em desenvolvimento, por conta de
avisos de desastre. seu papel como fornecedoras primárias de comida,
Além disso, frequentemente as condições de água e combustível para suas famílias, as mulheres
vulnerabilidade das mulheres são sutis e por isso são duplamente mais afetadas: pelos impactos das
desqualificadas. A sutileza está, por exemplo, em cul- mudanças climáticas em si e por ser a força pivotal
turas em que mulheres não aprendem a nadar ou nas ações de resposta” (BECKER; EHLES, 2010).
subir em árvores, habilidades importantes em situa-
ções de tsunamis, cheias e inundações. Ou nas per-
das materiais a que mulheres estão expostas, mas
que não são mensuradas. Ou seja, enquanto os ho-
“Na maioria dos casos,
mens possuem títulos de propriedade e terras agrí-
colas, possibilitando que suas perdas sejam regis- os desastres constituem
tradas, as perdas materiais das mulheres envolvem uma carga adicional para
utensílios de cozinha, eletrodomésticos, máquinas
de costura etc., que não sendo avaliados, tornam-se mulheres e meninas, pois
é sobre elas que recai a


invisíveis e ampliam sua dependência da renda mas-
culina, o que pode levar a impactos a longo prazo, e
inclusive influenciar meninas a interromper seus es-
responsabilidade do trabalho
tudos em consequência dessas condições. não remunerado.

80 DESAFIOS SOCIAIS: IGUALDADE DE GÊNERO E ERRADICAÇÃO DA POBREZA


gestão de riscos de desastres no brasil: panorama atual e tendências

Ora, convencionou-se tratar os desastres e no Brasil. Políticas públicas devem, portanto,


como uma função entre ameaça, exposição e vul- considerar que a assimetria de gênero está enrai-
nerabilidade, fica claro que estando mais expostas zada em desequilíbrios geográficos, econômicos,
e mais vulneráveis, as mulheres merecem atenção sociais, educacionais, informacionais e políticos
especial nos processos de redução de risco de de- em todos os níveis. Vale destacar que a produção
sastres. A importância das dimensões de gênero de dados e diagnósticos específicos com recortes
para o desenho de políticas de gestão de riscos de de gênero é necessária para o desenho de políti-
desastres já foi demonstrada em diversos contex- cas de gestão de riscos de desastres focalizadas,
tos e reconhecida pela comunidade internacional mais eficazes e eficientes.

Pobreza, um ponto chave

Sabidamente, em situações de desastres, os pobres em maior diversificação dos problemas de saúde;


sofrem desproporcionalmente em todo o mundo e maior perda de dias de trabalho e empregos; e
no Brasil não é diferente. Estudo do Banco Mundial11 maior dificuldade em acessar serviços básicos em
em comunidades vulneráveis de Porto Alegre, Rio situações pós-desastre.
Grande do Sul trazem evidências dessa condição. Uma comparação da renda mensal entre gru-
O estudo envolveu duas comunidades afetadas pos afetados e não afetados revelou que as pesso-
em outubro de 2015, por uma combinação de inun- as mais pobres nas duas comunidades de estudo
dação (transbordamento do Lago Guaíba) e alaga- eram mais propensas a serem afetadas. As famílias
mento (nível da chuva ultrapassando os limites da mais pobres perderam12 mais devido a mais dias de
infraestrutura de drenagem urbana local). Segundo trabalho perdidos em termos relativos. Ao analisar
o S2ID, o impacto estimado causado pelo desastre separadamente a perda de empregos após o even-
foi de 9.500 pessoas afetadas, incluindo 235 desa- to, verificou-se que as famílias que declararam ren-
brigadas, 8.419 deslocadas e outras 1.000 afetadas. da mensal de até dois salários mínimos relataram
No que diz respeito aos danos materiais, foram re- 90% das perdas de empregos, e 59% dessas perdas
latados 2.800 domicílios danificados, 30 instalações ficou concentrado em famílias de baixa renda, com
públicas de saúde danificadas, 61 instalações pú- renda mensal de até um salário mínimo.
blicas de ensino danificadas, e 5 outras instalações Por fim, o tempo de recuperação dos danos às
públicas e 34 obras de infraestrutura pública foram moradias mostra as dificuldades que os moradores
reportadas como danificadas. O valor total aproxi- das comunidades estudadas enfrentaram após as
mado de danos materiais iniciais (público e privado) inundações de 2015. Uma parcela significativa das
foi estimado em R$ 73 milhões. famílias (31% em Humaitá-Navegantes e 41% nas
Os resultados demonstraram que a comunida- Ilhas) declarou que sua casa não estava totalmente
de mais pobre, chamada de Ilhas, sofreu impactos recuperada no momento da pesquisa (mais de dois
sociais desproporcionais decorrentes do desastre anos após o evento) e 6% disseram que suas casas
em todos os critérios estabelecidos, resultando sofreram danos irreparáveis.

11 World Bank (2018). Living with Floods: A Study to Build Resilience with Porto Alegre’s Communities. I
– Social Aspects. World Bank (forthcoming). Convivendo com as Inundações: Um Estudo para Construir
Resiliência com as Comunidades de Porto Alegre. II - Aspectos Econômicos. Análise preliminar de ju-
nho de 2019. O projeto foi pioneiro em uma metodologia para medir a amplitude dos impactos sociais
de desastres naturais em termos de vida familiar; saúde; habitação; bens e meios de subsistência; aces-
so a itens básicos; qualidade de vida, além da metodologia de análise de danos e perdas amplamente
utilizada; e um novo método de mapeamento de vulnerabilidades, levando em consideração aspectos
físicos/ambientais, socioeconômicos, institucionais, relações comunitárias e percepção de risco.

81
Uma análise dos impactos na moradia por ní- ográfica geral dos bairros mais vulneráveis em termos
vel de renda mostra uma correlação direta entre de exposição ao risco de inundação; vulnerabilidade
o tempo de recuperação e os níveis de renda. Em social e econômica; vulnerabilidade da infraestrutura
termos de custos de recuperação, metade das fa- física e urbana a inundações; e vulnerabilidade institu-
mílias com renda mensal declarada abaixo de R$ cional/qualidade das relações comunitárias. Por outro
1.000 (um salário mínimo) gastou mais que esse va- lado, os indicadores de vulnerabilidade à percepção
lor para recuperar; 11% gastaram entre uma e duas de risco de desastres eram altos independentemen-
vezes o equivalente a sua renda mensal; 10% entre te do bairro, sugerindo a necessidade de investir na
duas e três vezes; outros 10% entre três e quatro ve- conscientização e no fortalecimento da educação em
zes e 19% acima de cinco vezes. Esse fenômeno é re- risco de desastres em toda a cidade.
corrente em outras faixas de renda, principalmente Os dados da pesquisa realizada pelo Banco
nas mais pobres: 53% das famílias com renda entre Mundial em Porto Alegre reforçam a noção de que
R$ 1.000,00 e R$ 2.000,00 e 52% dos domicílios com a redução de riscos de desastres passa, necessaria-
renda entre R$ 2.000,00 e R$ 3.000,00 tiveram que mente, pela redução da pobreza. Além disso, redu-
investir uma quantia superior à sua renda mensal zir a pobreza é também atuar em direção à promo-
para se recuperarem desse desastre. ção da equidade de gênero, visto que as mulheres
Por fim, o estudo mostrou uma sobreposição ge- são maioria nesses grupos.

Conclusão

As políticas internacionais começam a abrir-se Um marco nesse sentido foi a adoção, em


para a discussão do tema, e a inclusão de pactos 2014, do Programa de Trabalho sobre Gêne-
que favoreçam a abertura de espaços para que as ro de Lima, Peru (LWPG) adotado na COP20
mulheres possam fortalecer-se. Os 17 Objetivos do e prolongado na COP22; bem como o Plano
Desenvolvimento Sustentável (ODS) são a principal de Ação de Gênero (GAP) em 2017, adotado
referência internacional para tais políticas, definin- na COP23. Seu objetivo era avançar na im-
do o objetivo 5 como igualdade de gênero. Paralela- plementação dos mandatos de igualdade
mente, pode-se destacar o objetivo 1 de erradicação de gênero que já existem sob a UNFCCC, ins-
da pobreza, uma vez que mulheres são também a titucionalizar em todas as áreas da UNFCCC
maioria da nessa situação. e apoiar a implementação de uma ação cli-
Entretanto, embora os números sejam taxativos mática sensível a gênero (BIRK; BOHLAND;
em relação aos desastres, os reflexos em suas polí- CARDOSO, 2020).
ticas em específico ainda são incipientes. Resulta-
dos mais práticos devem vir como desdobramento O GAP, por exemplo, possui cinco áreas prioritá-
das políticas que tratam de mudanças climáticas e rias, que são: a) capacitação, gestão do conhecimento
por pressão social, com destaque para o movimen- e comunicação; b) equilíbrio de gênero, participação
to Gender CC – Women for Climate Justice, e dos e liderança das mulheres; c) coerência; d) implemen-
acordos anunciados nas últimas Conferências das tação e meio de implementação responsivos ao gê-
Partes (COP) que incluem o Programa de Trabalho nero; e) monitoramento e elaboração de relatórios.
sobre Gênero (LWPG, na sigla em inglês) e o Plano Entretanto, quando se busca um olhar foca-
de Ação de Gênero (GAP, na sigla em inglês). do para a realidade da América Latina ou do Brasil,

12
Perda total devido ao evento dividida pela renda anual declarada de cada família.

82 DESAFIOS SOCIAIS: IGUALDADE DE GÊNERO E ERRADICAÇÃO DA POBREZA


gestão de riscos de desastres no brasil: panorama atual e tendências

percebe-se a ausência de estudos quantitativos que estudos mais tarde fica reduzido, o que resulta em
explicitem dados, números e características específi- “ganhos de suavização de curto prazo com perdas
cos. Os documentos oficiais de desastres no Brasil, de capital humano a longo prazo”. Ou seja, ao dei-
por exemplo, disponibilizados no Sistema Integra- xarem os estudos para ampliar a renda da família
do de Informações sobre Desastres (S2ID) e por emergencialmente, mulheres e meninas tornam-se
meio do Formulário de Informações do Desastre mais pobres e vulneráveis a longo prazo.
(FIDE), registram os danos humanos em número A lição de casa deve começar, portanto, na
total de pessoas, sem estratificação por idade ou produção de dados estatísticos confiáveis que
gênero. Daí que, sem dados oficiais, a demanda retratem claramente as mulheres como gru-
por pesquisas de campo que possam recolher es- po mais vulnerável a desastres e que apontem,
sas informações torna-se relevante e premente. para gestores públicos e tomadores de decisão,
Algum esboço pode ser traçado na análise de os principais aspectos para desenvolvimento de
dados econômicos brasileiros que estabelecem políticas públicas efetivas. Algumas questões já
correlações entre pobreza e mulheres e meninas. foram lançadas, mas ainda precisam de respostas.
Apesar de não serem dados diretos sobre desas- Freitas (2010) considera importante responder, por
tres, confirmam que são elas as mais afetadas em exemplo, sobre como e de que forma as relações de
situações de enfraquecimento de atividades pro- gênero, os padrões de desenvolvimento e as mu-
dutivas que levam ao aumento da pobreza. Estu- danças do clima afetam as mulheres e as expõem
do citado pelo Banco Mundial (2017), por exemplo, aos impactos de desastres socioambientais. Ou,
afirma que no Brasil das décadas de 1980 e 1990 “as sobre como as mulheres, diante das perdas e dos
crianças brasileiras, principalmente as meninas, ti- danos, estão organizadas politicamente a fim de
veram maior probabilidade de abandonar a escola contribuírem para a prevenção dos desastres socio-
e ingressar na força de trabalho”. Além disso, uma ambientais e a recuperação face à sua ocorrência.
vez fora da escola a probabilidade de prosseguir os Se as políticas forem cegas às diversas dimen-
sões sociais e de gênero, elas tendem a exacerbar a
inequidades ao invés de realmente contribuir para
o desenvolvimento sustentável. Nesse sentido, as
ações devem respeitar e promover igualdade de gê-
“É preciso também nero, bem como garantir que direitos das mulheres
reconhecer que a igualdade sejam efetivos. É preciso também reconhecer que
a igualdade de gênero é vital para alcançar mais
de gênero é vital para metas de longo prazo no que diz respeito ao clima
alcançar mais metas e à redução de riscos de desastres. Tal entendimen-
de longo prazo no que to só se obtém por meio de um conjunto de ações

diz respeito ao clima e que incluam pesquisa, advocacy e atuação prática,


para demonstrar que a abordagem de gênero ade-
à redução de riscos de quada é crucial para garantir que as medidas de re-
desastres. dução de riscos de desastres sejam efetivas.

83
CO
VID-
19
UMA
PANDEMIA
gestão de riscos de desastres no brasil: panorama atual e tendências

Em 31 de dezembro de 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recebeu uma notificação de


alerta de vários casos de pneumonia ocorridos na cidade de Wuhan, província de Hubei, na Re-
pública Popular da China. Tratava-se de uma nova cepa (tipo) de coronavírus que ainda não havia
sido identificada em seres humanos. Uma semana depois, em 7 de janeiro de 2020, as autoridades
chinesas confirmaram que haviam identificado um novo tipo de coronavírus. Os coronavírus estão
por toda parte. Eles são a segunda principal causa de resfriado comum (após rinovírus) e, até as últi-
mas décadas, raramente causavam doenças mais graves em humanos do que o resfriado comum.

Até o presente momento, sete tipos de coro- o nome oficial de SARS-CoV-2). Esse novo corona-
navírus humanos (HCoVs) já foram identificados: vírus é responsável por causar a doença COVID-19.
HCoV-229E, HCoV-OC43, HCoV-NL63, HCoV-HKU1, Em 30 de janeiro de 2020, a OMS declarou que o
SARS-COV (que causa síndrome respiratória aguda surto da doença causada pelo novo coronavírus (CO-
grave), MERS-COV (que causa síndrome respirató- VID-19) configurava uma Emergência de Saúde Públi-
ria do Oriente Médio) e, mais recente, o novo coro- ca de Importância Internacional (ESPII), ou seja, atingiu
navírus (que no início foi temporariamente nomea- o mais alto nível de alerta da Organização, conforme
do 2019-nCoV e, em 11 de fevereiro de 2020, recebeu previsto no Regulamento Sanitário Internacional (RSI).

O Regulamento Sanitário Internacional (RSI) é um instrumento jurídico internacional vinculativo


para 196 países em todo o mundo, que inclui todos os Estados Membros da Organização Mundial
da Saúde (OMS). Seu objetivo é o de ajudar a comunidade internacional a prevenir e responder
a graves riscos de saúde pública que têm o potencial de atravessar fronteiras e ameaçar pessoas
em todo o mundo. O regulamento que entrou em vigor no dia 15 de junho de 2007, exige que os
países notifiquem certos surtos de doenças e eventos de saúde pública à OMS.

Uma ESPII de acordo com o RSI é caracterizada • 18 maio de 2018 (devido ao surto de ebola na
como “um evento extraordinário que pode consti- República Democrática do Congo).
tuir um risco de saúde pública para outros países Vale destacar que a responsabilidade de se
devido a sua disseminação internacional e que po- determinar se um evento constitui, ou não, uma
tencialmente requer uma resposta internacional ESPII cabe ao diretor-geral da OMS e requer a con-
coordenada e imediata”. Segundo a OPAS Brasil vocação de um comitê de especialistas, conhecido
(2020), essa é a sexta vez na história que uma ESPII como Comitê de Emergências do Regulamento Sa-
foi declarada pela OMS. As vezes anteriores aconte- nitário Internacional.
ceram em: Em 11 de março de 2020, a COVID-19 foi caracte-
• 25 de abril de 2009 (devido a pandemia de rizada pela OMS como uma pandemia. A expressão
H1N1); refere-se à distribuição geográfica de uma doença
• 05 de maio de 2014 (devido a disseminação in- e não à sua gravidade. Logo sua designação reco-
ternacional de poliovírus); nhece que, no momento, existem surtos de CO-
• 08 agosto de 2014 (devido ao surto de Ebola na VID-19 em vários países e regiões do mundo.
África Ocidental);
• 01 de fevereiro de 2016 (devido ao vírus Zika e o
aumento de casos de microcefalia e outras mal-
formações congênitas);

85
ENFRENTAMENTO À

COVID-19
NO BRASIL (2020)
03 DE FEVEREIRO

Portaria MS n° 188
Declarou Emergência de
Saúde Pública de Importância
Nacional (ESPIN) e estabeleceu

JANEIRO
o COE-nCoV como mecanismo
nacional da gestão coordenada
da resposta à emergência no
âmbito nacional.

FEVEREIRO
16 DE JANEIRO

Ministério da Saúde divulga as


primeiras informações sobre o
que se sabia do novo coronavírus
em um Boletim Epidemiológico.

31 DE JANEIRO
22 DE JANEIRO
Brasil acionou o Grupo Executivo
Ativação do Centro de Operações Interministerial e realizou a primeira
de Emergências em Saúde Pública reunião do Grupo Executivo
para o novo Coronavírus (COE- Interministerial em Saúde Pública
nCoV), em nível 1 de alerta. Não (GEI-ESPII)
haviam casos suspeitos no Brasil.

27 DE JANEIRO

Divulgação do primeiro
caso suspeito de COVID-19
no Brasil. COE-nCoV 30 DE JANEIRO
passou a atuar em nível 2
(perigo iminente). casos investigados
9 no Brasil

casos confirmados
7,7 mil na China
OMS declarou que o surto configurava
uma Emergência de Saúde Pública de
Importância Internacional (ESPII)

86 COVID-19, UMA PANDEMIA


gestão de riscos de desastres no brasil: panorama atual e tendências

04 DE FEVEREIRO
03 DE ABRIL
Congresso Nacional aprova a Ministério da Saúde avaliou o risco
Lei sobre Quarentena. nacional como muito alto. Determinou
que as Unidades da Federação
que implementaram medidas de
07 DE FEVEREIRO distanciamento social ampliado
deveriam manter essas medidas até
O Presidente da República sancionou
que o suprimento de equipamentos e
a Lei de Quarentena
equipes de saúde estivessem disponíveis
em quantitativo suficiente, de forma a
26 DE FEVEREIRO promover, com segurança, a transição
para a estratégia de distanciamento
Confirmado o primeiro caso de social seletivo.
Coronavírus no Brasil, no Estado
de São Paulo, sendo também o
primeiro da América Latina

ABRIL
11 DE MARÇO

MAIO
OMS declara pandemia do novo
coronavírus.

13 DE MARÇO
31 DE MAIO
Primeiro paciente
brasileiro diagnosticado 24.111 484.627
MARÇO com covid-19 foi curado.
óbitos por Covid-19
no Brasil
casos confirmados
no Brasil

31 DE MARÇO

8.946
casos confirmados
no Brasil

JUNHO
31 DE JUNHO

24.600
óbitos no Brasil

31 DE JUNHO

394 mil
31 DE JUNHO

casos confirmados 159.600


no Brasil casos recuperados

87
Contexto da gestão de riscos de desastres

No contexto da gestão de riscos de desastres, a ca- sas virais, conforme prevê a Classificação e Codifica-
racterização da pandemia COVID-19 no Brasil pode ção Brasileira de Desastres (Cobrade) e a Portaria nº
ser traçada a partir dos dados obtidos pelo Siste- 743, de 26 de março de 2020 que, no âmbito do Mi-
ma Informatizado de Informações sobre Desastres nistério do Desenvolvimento Regional, estabeleceu
(S2ID) que, como fonte oficial do governo federal, rito específico para o reconhecimento federal das
registra as declarações de anormalidade munici- situações de anormalidade decretadas pelos entes
pais, seja por Situação de Emergência (SE) ou Es- federados nestes casos.
tado de Calamidade Pública (ECP). A situação de Os dados mostram 66,34% (3695) dos municí-
emergência define um cenário em que um muni- pios brasileiros em situação de anormalidade reco-
cípio tem sua capacidade de resposta parcialmente nhecida pelo governo federal no primeiro semestre
comprometida, enquanto o estado de calamidade de 2020, sendo que as regiões Nordeste e Sudeste
pública refere-se a uma capacidade de resposta somam 77% dos municípios com registros, confor-
substancialmente comprometida. Para os casos de me ilustra o gráfico seguinte.
COVID-19, utiliza-se o registro de doenças infeccio- Pelos dados obtidos no S2ID é possível também

6mil

5mil

4mil

3mil

2mil

1mil

Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul Brasil

Figura 13: Municípios com reconhecimento de SE ou ECP por região entre janeiro e junho de 2020.

observar a evolução dos registros municipais mês a ranhão e Paraíba decretaram estado de calamida-
mês, ou ainda semana a semana, sendo o primeiro de pública para todos os seus municípios. O gráfico
registro realizado no dia 13 de fevereiro pelo municí- seguinte mostra os dados em percentual de muni-
pio de Cachoeirinha no Rio Grande do Sul. cípios, auxiliando a análise comparativa entre as re-
Quando observados os picos de registros por giões, visto que a quantidade de municípios é vari-
região brasileira, vê-se que ocorreram entre a tercei- ável em cada uma delas. Assim, ao final do primeiro
ra e quarta semana de março, sendo que a Região semestre de 2020 o cenário é de 91% dos municípios
Nordeste teve um segundo pico distribuído no mês da Região Nordeste com registros; 72% no Sudeste;
de abril, quando os estados da Bahia, Alagoas, Ma- 56% no Norte; 39% no Sul; e 33% no Centro Oeste.

88 COVID-19, UMA PANDEMIA


gestão de riscos de desastres no brasil: panorama atual e tendências

Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul Brasil

150 35

120 28

90 21

60 14

30 7

0 0


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il

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ço

ço

ço

ço
ei
ro

Figura 14: Percentual de municípios com registros no S2ID, semana a semana Fonte: S2ID (2020).

Considerando os dados consolidados para o conhecimento, os dados por município ficam au-
Brasil, o pico de municípios com declaração de si- sentes dos documentos, prejudicando os processos
tuação de anormalidade ocorreu na terceira sema- de gestão da informação. Além disso, pode ocorrer
na do mês de março, registrando mais da metade a banalização das declarações de SE ou ECP, in-
das declarações de todo o primeiro semestre (1918 cluindo municípios que não estejam de fato com
dos 3695 municípios) para 18 estados brasileiros. estrutura de resposta comprometida. Exemplo dis-
Vale destacar que, a critério dos governos estadu- so são sete estados que incluíram todos os muni-
ais, é possível realizar um registro único para um cípios em seus decretos de situação de anormali-
grupo de municípios, ou mesmo todos os municí- dade, reconhecidos pelo governo federal, sem que,
pios de uma única vez. efetivamente, todos eles tivessem registro de casos
Entretanto, a estratégia, adotada por 15 das 27 de COVID-19. Assim, ao cruzar dados de julho do Mi-
Unidades Federativas brasileiras, é questionável. nistério da Saúde com dados até junho do S2ID, ob-
Isso porque, ao preencher um único pedido de re- servamos o seguinte cenário por estado brasileiro:

Cenário brasileiro por estado


Porcentagem de municípios com SE
Quantidade de municípios sem casos de
ESTADOS ou ECP reconhecida pelo governo
COVID-19 (MS, julho)
federal (MDR, junho)
Alagoas 100.00%

Amazonas 100.00%

Bahia 100.00% 1,92%

Distrito Federal 100.00%

Espírito Santo 100.00%

Maranhão 100.00%

Minas Gerais 100.00% 10,08%

Mato Grosso 100.00%

89
Cenário brasileiro por estado
Paraíba 100.00% 0,90%

Pernambuco 100.00% 0,54%

Piauí 100.00% ,45%

Rio de Janeiro 100.00%

Santa Catarina 100.00% 3,39%

Sergipe 100.00%

Tocantins 100.00% 1,44%

Ceará 63.59%

Rio Grande do Norte 40.12%

Amapá 37.50%

Roraima 26.67%

São Paulo 26.51% 0,31%

Paraná 22.31% 0,50%

Pará 20.83%

Rondônia 19.23% 1,21%

Rio Grande do Sul 16.70%

Acre 13.64%

Mato Grosso do Sul 10.13% 2,53%

Goiás 1.22% 1,63%

Brasil 66.34% 2,26%

Tabela 6: S2ID, 2020.

Que outros aspectos da gestão de risco podem ECP reconhecida sem nenhum caso de COVID-19?
ser discutidos a partir desses dados? Em primeiro Se os recursos disponibilizados pelo governo fede-
lugar é preciso lembrar que os dados do S2ID não ral nessas situações não podem ser aplicados em
tratam dos casos de COVID-19 nos municípios, mas medidas preventivas, mas apenas em resposta
de uma estratégia de gestão de risco adotada, que emergencial, qual a finalidade de se ter um pro-
é a declaração de anormalidade. Assim, consideran- cesso aberto no S2ID?
do que 99,24% dos registros foram de ECP, perce- Por outro lado, se na avaliação de municípios
be-se o quão gravemente os municípios avaliaram e Unidades Federativas a pandemia provocou um
que a pandemia afetou sua possibilidade de ação, estado de calamidade pública, seria possível avaliar
sendo necessário apoio do governo federal para dar comparativamente ao número de casos ou óbitos
suporte às ações de resposta. Esse suporte é, sabi- registrados, quando tal condição foi definida por
damente e na maior parte das vezes, representado cada agente público? Ou seja, a pergunta é: Quan-
por recursos financeiros. tos casos ou quantos óbitos foram necessários para
Entretanto, já tendo constatado que há muni- que fosse decretada uma situação de anormalida-
cípios sem nenhum caso de COVID-19 em estado de? A resposta poderia ser esboçada comparando
de calamidade pública reconhecido pelo governo as datas de decretação ao número de casos ou de
federal, algumas reflexões se apresentam. Os crité- óbitos. Entretanto, percebe-se que não há padrão
rios adotados pelo governo federal para proceder entre as regiões, conforme informações elaboradas
com o reconhecimento são efetivos? Qual o inte- nos gráficos e tabelas que se seguem.
resse de estados e municípios em ter uma SE ou

90 COVID-19, UMA PANDEMIA


gestão de riscos de desastres no brasil: panorama atual e tendências

Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul

35

30

25

20

15

10

Figura 15: Óbitos por milhão de habitantes e porcentagem de municípios com declaração de SE ou ECP, por semana de mar-
ço e abril de 2020. Fontes: S2ID, 2020; MS, 2020.

MARÇO JUNHO
Municípios Municípios
Número de Casos por Número de Casos por
REGIÃO com SE ou com SE ou
casos milhão casos milhão
ECP ECP
Norte 51,33% 1.567 85,02 56,44% 130.292 7.069,18

Nordeste 39,02% 2.295 40,21 90,69% 297.863 5.219,11

Centro Oeste 32,12% 493 30,25 32,76% 85.594 5.252,11

Sudeste 63,01% 3.729 42,20 71,58% 297.856 3.370,50

Sul 32,16% 862 28,76 39,21% 57.505 1.918,37

Tabela 7: Comparativo de declarações e número de casos. Fontes: S2ID, 2020); MS, 2020.

MARÇO JUNHO
Municípios Municípios
Número de Casos por Número de Casos por
REGIÃO com SE ou com SE ou
casos milhão casos milhão
ECP ECP
Norte 51,33% 1 0,05 56,44% 3.666 198,90

Nordeste 39,02% 13 0,23 90,69% 9.860 172,77

Centro Oeste 32,12% 2 0,12 32,76% 1.212 74,37

Sudeste 63,01% 97 1,10 71,58% 12.826 145,14

Sul 32,16% 6 0,20 39,21% 911 30,39

Tabela 8: Comparativo de declarações e número de óbitos. Fontes: S2ID, 2020; MS, 2020.

91
Para além de discutir a veracidade dos dados, tro-Oeste. No Brasil, os 330 óbitos da primeira sema-
seja por confiabilidade das fontes, subnotificação na de abril estavam assim distribuídos: Sudeste, 235;
ou número insuficiente de testes, o objetivo aqui é Nordeste, 53; Sul, 18; Norte, 15; e Centro-Oeste 9.
questionar a existência, ou não, de um padrão de O que se observa, portanto, é que as ações de
comportamento entre os gestores para assumir resposta à pandemia devem ser pensadas de ma-
que municípios e estados estavam em estado de neira estratégica, inclusive partindo de uma refe-
calamidade pública. A análise dos números, po- rência nacional a ser replicada regional e localmen-
rém, demonstra que em cada região o modo e o te. O Brasil, entretanto, não desenvolveu um plano
momento em que os gestores estabeleceram suas nacional para a pandemia, levando à falta de ali-
ações de resposta à pandemia, e seus métodos de nhamento. O apoio do governo federal, em relação
análise para a tomada de decisão não se equivalem. aos órgãos de proteção e defesa civil, resume-se,
Em dois extremos estão, de um lado, a Região Su- ao que foi possível observar, ao reconhecimento de
deste onde mais de 60% dos municípios tiveram re- situação de anormalidade permitindo que os mu-
conhecida a situação de anormalidade, ainda com nicípios que precisam de apoio possam receber in-
poucos casos e mesmo sem registro de óbito. De sumos referentes à estrutura de atendimento em
outro lado, a Região Nordeste, onde muitos muni- saúde pública, como ampliação do número de lei-
cípios realizaram a decretação somente após o re- tos, aquisição de respiradores, máscaras, EPIs para
gistro de óbitos. Ao final de junho, a Região Sudes- equipes médicas etc. O processo de gestão de risco,
te apresenta números um pouco melhores, com entretanto, vai muito além da resposta para aten-
cerca de 3300 casos por milhão de habitantes e dimento médico dos pacientes infectados e facili-
145 óbitos por milhão, enquanto a Região Nordeste tação logística. E o que muda para os gestores de
possui cerca de 5200 casos por milhão e 172 óbitos proteção e defesa civil quando o cenário de pande-
por milhão. mia passa a ser seu foco de atuação?
Está claro que os números não são resultado Mais acostumados a lidar com ocorrências
unicamente da decretação de situação de anor- como inundações, deslizamentos e estiagens, os
malidade, e outras variáveis interferem no avanço gestores de proteção e defesa civil brasileiros po-
da pandemia em cada localidade. O objetivo aqui dem ser levados a refletir sobre novas variáveis que
é refletir sobre como o gestor de proteção e defesa interferem nos modelos e processos de gestão de
civil deve analisar os dados e qual a melhor forma risco diante das características de uma emergência
de trabalhar com eles. de saúde pública.
Assim, percebe-se claramente como a análise Nesse contexto, considera-se que apesar dos
pode se alterar quando os números são vistos de parâmetros de gestão não se alterarem, incluindo
forma absoluta ou relativizados. Exemplo disso está ações importantes como análise de risco, sistemas
na Região Norte, quando analisados os números de monitoramento e alerta, comunicação de ris-
absolutos, observa-se que em março de 2020, sua co etc.; suas variáveis, fontes de informação e pú-
posição estava abaixo das regiões Sudeste e Sul em blico tendem a adaptar-se diante do novo tipo de
número de casos e em número de óbitos. Ao verifi- ocorrência. E ainda que estejamos em meio à pan-
car os números por milhão de habitantes, entretan- demia, alguns aspectos podem ser observados e
to, percebe-se a inversão e o distanciamento entre apontados em tom de ensaio:
elas. Esse cenário pode ter resultado, por exemplo, • Protagonismo das áreas de saúde pública;
no fato de Manaus, maior município da Região Nor- • Prevenção e resposta atreladas à credibilidade
te, ter sido o primeiro do Brasil a ter seu sistema de dos órgãos oficiais;
saúde colapsado. O anúncio foi feito pelo prefeito no • Nova compreensão sobre serviços essenciais;
início de abril, quando todo o estado do Amazonas • Recuperação de longo prazo e em etapas.
tinha, segundo dados do Ministério da Saúde, um
total de 11 óbitos e a Região Norte 15. Ou seja, no iní-
cio de abril, quando o sistema de saúde de Manaus
colapsou, a Região Norte não tinha destaque em
números absolutos à frente apenas da Região Cen-

92 COVID-19, UMA PANDEMIA


gestão de riscos de desastres no brasil: panorama atual e tendências

Protagonismo das áreas de saúde pública

Trata-se de um modelo de gestão que, no Brasil, miriam a liderança das ações de resposta durante
pouco estamos acostumados a ver tão claramente uma ocorrência.
em situações de desastres. Neste caso, a centraliza- Uma vez fortalecido um modelo em que a dis-
ção da primeira resposta está nos órgãos de saúde, tinção de atribuições aparece muito bem estabele-
que são os que possuem atuação mais direta e ge- cida, suas implicações práticas poderiam levar a que
renciam a maior parte dos recursos. São esses ór- os gestores de proteção e defesa civil revissem suas
gãos também que promovem campanhas de pre- formas de atuação, buscando respostas a questões
venção e esclarecimento a respeito da COVID-19 e como: Qual a importância de seu papel de articu-
divulgam dados oficiais com número de infectados lação entre instituições, comunidade e mídia? Que
e óbitos. E, ainda, cabe ao Ministério da Saúde os diferentes instituições atuam em diferentes tipos
encaminhamentos legais como portarias e decre- de desastres? Sua atuação seria mais estratégica
tos, devendo alinhar-se à Organização Mundial da que operacional? Qual seu papel nas fases de pre-
Saúde (OMS) em suas orientações globais. venção, mitigação, preparação, resposta e recupe-
Assim, ao contrário de outras situações de de- ração? Por outro lado, estudiosos e pesquisadores
sastres, aqui não é o órgão de proteção e defesa civil poderiam contribuir para a temática avaliando qual
que centraliza todo o processo de gestão. Quais os tem sido o papel das instituições de proteção e de-
benefícios e as dificuldades desse modelo? Poderia fesa civil enquanto as instituições de saúde pública
ser adotado de forma tão explícita para outros tipos assumem o protagonismo na resposta à COVID-19.
de ocorrências? Contribuiria para solucionar uma As respostas a essas perguntas poderiam con-
confusão de atribuições que por vezes se observa tribuir para o fortalecimento institucional dos ór-
entre as instituições envolvidas? A sugestão é que gãos de proteção e defesa civil brasileiros, em mui-
esse modelo reforçaria o papel de proteção e defe- tos municípios acionados apenas em situações de
sa civil como órgão de articulação, devendo prever desastres sem que tenham estrutura de atuação
para cada tipo de desastre, as instituições que assu- adequada para esses momentos.

Fonte: Rovena Rosa/Agência Brasil, 2020.

93
Prevenção e resposta atreladas à credibilidade dos
órgãos oficiais

As reflexões sobre o papel dos órgãos de proteção longo prazo? Como incluir os setores produtivos
e defesa civil nos levam a considerar o segundo as- como parte do processo decisório, garantindo que
pecto observado que trata das ações de prevenção não ocupem o ponto central e único de uma avalia-
e resposta, ao considerá-las, mais que nunca, atrela- ção? Quais efeitos de curto e longo prazo pode ter
das à credibilidade dos órgãos oficiais. Por se tratar a ausência desses parâmetros? Há relação com o
de uma ocorrência cujo controle depende, em gran- que se tem visto em muitos municípios e estados
de medida, da colaboração e participação conscien- brasileiros, de que repetidos ciclos de fechamento e
te da população, a credibilidade dos órgãos oficiais é reabertura de espaços públicos e privados, poderia
de extrema importância. Isso pois, se as orientações culminar em um tempo de resposta prolongado se
– como de isolamento, distanciamento social e uso comparado a um fechamento de forma mais rígida,
de máscaras – não forem percebidas como críveis, uma única vez? Ceder à pressão dos setores contrá-
seu controle estará seriamente comprometido. rios ao temido lockdown, se não tomada a partir de
A maior implicação dessa condição é que a uma visão estratégica de longo prazo, pode resultar
construção de credibilidade das instituições é um em prejuízos ainda maiores?
processo de longo prazo, sendo raro alcançar em As perguntas são muitas, as respostas virão
meio a uma emergência. O que pode ocorrer nes- com o tempo. Por hora, é possível começar a esbo-
sas ocasiões é que a credibilidade ganhe ou perca çar algo com base no que já se tem estruturado de
reforço conforme o sucesso da gestão, comparativo situações anteriores, não exatamente semelhantes
a outras regiões e gestões, por exemplo. Mais uma à pandemia. Assim, embora focada na recupera-
vez, vale refletir sobre como esse aspecto pode in- ção, a PDNA – metodologia do Banco Mundial para
fluenciar a rotina dos gestores de proteção e defesa avaliação de necessidades pós desastre – pode ser
civil, visto que são eles os responsáveis em facilitar, tomada como ponto de partida para definição de
orientar e coordenar ações, além de garantir condi- parâmetros que devem ser considerados quando
ções para que as populações se engajem na redu- se fala dos impactos de uma pandemia. Nesse sen-
ção de riscos de desastres, reduzindo vulnerabilida- tido, algumas pesquisas internacionais específicas
des e aumentando capacidades de adaptação. para este caso da COVID-19 começam a apontar
No que diz respeito aos impactos econômicos, a necessidade de avaliar a macroeconomia junto
os tomadores de decisão ficam expostos a todo tipo aos impactos sociais, ampliando a abrangência ao
de pressão social, e quando não bem articulados considerar além dos aspectos de emprego e ren-
anteriormente a uma situação de desastre, podem da, também aspectos relativos a condições de vida,
perder parte de sua autonomia também por falta consumo, segurança alimentar e nutricional, in-
de credibilidade, cedendo a pressões do momento. clusão social, igualdade de gênero e migração, por
Assim, ao mesmo tempo em que é preciso conside- exemplo. Há que se questionar, entretanto, se as
rar que perdas e danos causados por todo tipo de equipes de defesa civil estão hoje preparadas para
desastre podem se tornar passivos do setor público, esse processo, a conduzi-lo de forma transparente e
sendo necessário gerir esse aspecto de forma dire- multidisciplinar. E se não estão, quais as tendências
ta; também é preciso adotar critérios bem defini- que se configuram para um órgão de proteção e
dos para a tomada de decisão. defesa civil nesse contexto? Mais uma vez a visão de
A pergunta que fica é, quais parâmetros estão um órgão de articulação acima da função de res-
sendo adotados especificamente no caso da CO- posta direta parece fortalecer-se.
VID-19? Houve um processo de avaliação de risco Além disso, indicações das Nações Unidas so-
para atuação de forma estratégica ou as decisões bre o papel dos governos apontam para o fortale-
foram sendo tomadas sem planejamento? Qual cimento da comunicação de risco e para utilização
a importância de garantir soluções sustentáveis a de ferramentas de governo eletrônico como ten-

94 COVID-19, UMA PANDEMIA


gestão de riscos de desastres no brasil: panorama atual e tendências

dências pós pandemia e, principalmente, como desenvolvimento de um novo cenário que conside-
instrumentos para recuperação. Publicação recen- re pandemias ou situações em que a ausência de
te afirma que os países que ainda não possuem contatos presenciais se faça necessária. É, portan-
formalizadas plataformas de governo abertas ou to, de se refletir quais novos aspectos deveriam ser
canais de comunicação digital bem estabelecidos incluídos em um plano de contingência, conside-
devem aproveitar a oportunidade e investir nessas rando as ferramentas necessárias para gerar com-
tecnologias, que têm potencial de “apoiar tremen- promisso da população em cumprir com deter-
damente a resiliência futura para o setor da saúde e minações emergenciais. Uma das soluções, para a
prestação de serviços públicos” (IRP, 2020). qual gestores de proteção e defesa civil costumam
De forma mais prática, entende-se que os pla- ser resistentes, é o envolvimento direto da popula-
nos de contingência são um bom exemplo dessa ção desde sua elaboração – de forma coletiva e par-
possibilidade de envolvimento via governo eletrô- ticipativa – havendo hoje ferramentas e tecnologia
nico e de construção de credibilidade das institui- suficiente para realizar todo o processo a partir do
ções. O contexto da COVID-19 remete, inclusive, ao modelo de governo eletrônico.

Nova compreensão sobre serviços essenciais

Vê-se surgir, portanto, uma série de novos aspectos Os serviços de tecnologia e internet, entretan-
que influenciam nos processos de gestão de risco, to, não deixam dúvidas. A pandemia reforçou sua
e, consequentemente, na atuação dos órgãos de característica de serviços essenciais, inclusive para
proteção e defesa civil. Entre esses aspectos, des- garantir condições de isolamento e trabalho remo-
taca-se também uma nova compreensão sobre os to. Há até exemplos de municípios que estipularam
serviços essenciais. protocolos de atendimento em saúde para casos
Se até o momento, os serviços de fornecimento suspeitos de COVDI-19 de forma não presencial,
de água e saneamento, energia elétrica, segurança condição possível apenas quando o acesso à inter-
pública e mobilidade eram os principais conside- net é garantido como serviço essencial.
rados quando da ocorrência de um desastre, hoje Assim, caberá aos gestores de proteção e defe-
esse conjunto passa por questionamentos. A dis- sa civil considerar o acesso à internet como serviço
cussão pode se alongar, a fim de garantir, por exem- essencial em seus processos de atuação, inserindo
plo, que cultos religiosos e atividades físicas sejam as prestadoras desse serviço em seu trabalho de ar-
garantidas como serviços essenciais em momentos ticulação institucional. Deverão também identificar
de isolamento social. Ou que atividades produtivas de que outras formas sua rotina de atuação será
sejam incluídas para garantir um suporte à econo- afetada a partir da revisão de quais são os serviços
mia ameaçada pelos impactos do fechamento. São essenciais, auxiliando no estabelecimento de crité-
discussões que permeiam a arena cultural de cada rios consistentes que os definam.
sociedade e difíceis de definir em curto prazo.

Processo de recuperação de longo prazo e em etapas

Por fim, percebe-se que esta pandemia explicita local devem ser focos das estratégias de recupera-
um processo de recuperação de longo prazo e em ção. Isso porque, embora as condições de infecção
etapas, sem perder de vista que, como em outras não tenham relação direta com questões sociais,
situações de desastres, pobreza e desenvolvimento não há como negar que a exposição ao risco está

95
diretamente relacionada às desigualdades sociais e ser divulgados. Em um webinário realizado dia 3 de
raciais. O acesso aos serviços essenciais, por exem- junho pelo Fundo de População das Nações Unidas
plo, é um dos pontos que definem os grupos vul- (UNFPA), Astrid Bant, representante da instituição
neráveis. Condições de falta de saneamento, e até no Brasil, destacou que pandemia tem resultado no
falta de informação, podem levar à maior dissemi- agravamento de doenças, na maior letalidade fren-
nação do vírus. Além disso, ao considerar que os te à COVID-19 e em mais desemprego e pobreza
serviços domésticos e de atendimento ao público, para a população negra. No mesmo evento, o pro-
por exemplo, não permitem execução remota e são fessor adjunto do Departamento de Saúde Coletiva
executados pela parcela menos privilegiada da po- da Faculdade de Medicina de Jundiaí, Alexandre da
pulação, também se vê aí a instalação de condições Silva, apresentou números de óbitos comparativos
mais favoráveis à propagação da COVID-19. entre negros, pardos e brancos, reproduzidos na
Os resultados dessa exposição já começam a imagem seguinte.

Preta e Parda

Figura 16: Número de óbitos comparativos entre negros, pardos e brancos.

Assim, em comum com qualquer desastre, po- longa duração, a pandemia requer também uma
de-se dizer que a pandemia COVID-19 expõe as recuperação de longo prazo. O Departamento de
fragilidades de um sistema que, em situações de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas
normalidade, estão menos perceptíveis ou proposi- indicam três estágios de atuação, um primeiro de
talmente esquecidos. E também como em qualquer curto prazo destinado às ações reativas à pandemia;
desastre, as ações de recuperação são uma oportu- um segundo de médio prazo, focado na resolução
nidade de fazer melhor que antes, seguindo a reco- dos problemas decorrentes da COVID-19; e final-
mendação da prioridade 4 do Quadro de Sendai, mente o terceiro, de longo prazo, que se propõem a
qual seja, “aumentar a preparação para desastres reinventar soluções com características definitivas.
para uma resposta eficaz e para Reconstruir Melhor Outra publicação que trata sobre os processos
em recuperação, reabilitação e reconstrução”. de recuperação foi produzida pela Plataforma Inter-
Quais são então, os pontos de reflexão para os nacional de Recuperação (IRP, na sigla em inglês) e
gestores de proteção e defesa civil nesse contexto? remete a oito princípios e nove ações governamen-
Será preciso considerar, por exemplo, que por sua tais para recuperação, apresentados a seguir.

96 COVID-19, UMA PANDEMIA


gestão de riscos de desastres no brasil: panorama atual e tendências

OITO PRINCÍPIOS PARA


RECUPERAÇÃO
Deve ter início já durante as ações de resposta. Deve preservar as conquistas de desenvolvimento.

Deve ser inclusiva e centrada nas pessoas. Deve ampliar a solidariedade regional e global.

Os processos decisivos devem ser transparen- Deve institucionalizar mecanismos eficazes de


tes e baseados em evidências. enfrentamento.

Deve considerar os princípios de reconstrução me- Deve investir em uma comunicação de riscos
lhor e respeito ampliado ao ambiente (Greener). efetiva.

NOVE AÇÕES CHAVE


GOVERNAMENTAIS
Estabelecer acordos de coordenação e imple- Promover recuperação e expansão dos meios
mentação da recuperação. de subsistência.

Avaliar os impactos socioeconômicos mais am- Reabilitar e fortalecer os setores médico e de


plos da crise e as capacidades para gerenciar saúde pública.
necessidades.
Apoiar a reconstrução psicossocial.
Garantir locais de trabalho seguros e saudáveis.
Expandir a utilização de tecnologias emergen-
Instituir ou fornecer orientação sobre recupera- tes e de governo eletrônico na recuperação.
ção social.

Planejar uma recuperação econômica abrangente.

Fonte: Adaptado de IRP, 2020.

Considerações finais sobre a pandemia

Ainda que a pandemia de COVID-19 esteja em an- tores, buscando responder inclusive demais ques-
damento e se tenha mais perguntas que respostas, tões de características locais. Espera-se ainda que
espera-se que cada um dos aspectos aqui desen- o entendimento de que a COVID-19 possui uma
volvidos de forma especulativa, possa contribuir natureza sistêmica e, portanto, exige uma aborda-
para uma reflexão aprofundada por parte de ges- gem colaborativa, tenha reflexo nas mudanças que

97
deverão ser feitas no futuro para a gestão de riscos talecer a capacidade de enfrentamento e resposta
de desastres. Com seus efeitos devastadores e em nacional ao problema, não só a partir de medidas e
cascata, o impacto da COVID-19 reflete nas interco- ações no setor de saúde, como também nas várias
nexões existentes na configuração do risco atual, outras áreas e setores envolvidos, tais como econo-
destacando a necessidade urgente de mobilizar mia, educação, transporte, segurança pública, defe-
um esforço global conjunto para acelerar as ativida- sa civil, água e saneamento, meio ambiente, prote-
des de redução de risco. Desde a sua origem zoonó- ção social, agricultura etc.
tica até seu amplo impacto em todos os setores da Tais medidas exigem o fortalecimento da go-
sociedade a pandemia ilustra bem a natureza sis- vernança dos riscos, pois ainda que as primeiras
têmica do risco, exigindo uma abordagem ampla, ações de resposta tenham sido protagonizadas
com participação de toda a sociedade para mitigar pelo setor da saúde, o gerenciamento dos riscos de
e responder seus efeitos. desastre não será efetivo sem uma ampla participa-
Sobretudo, entende-se que seus fatores sub- ção de outros setores e atores da sociedade, o que
jacentes, vulnerabilidades, condições de exposi- requer o fortalecimento da governança. A gover-
ção e impactos diretos e indiretos vão muito além nança envolve a coordenação e cooperação vertical
das questões de saúde pública e refletem proble- e horizontal entre os diferentes níveis de governo e
mas atuais resultantes de processos históricos. setores envolvidos na resposta, com participação
Logo, a crise promovida pela pandemia desta- ativa da sociedade civil, assim como o papel e a res-
ca aspectos críticos que devem ser revisados para ponsabilidade das autoridades locais no combate
o alcance da redução do risco de desastres (RRD) às emergências e na garantia da prestação dos ser-
de forma mais eficaz e obrigando a refletir sobre a viços essenciais. Nesse sentido, pode-se considerar
revisão do atual modelo de proteção e defesa civil que a boa governança inclui ações de:
brasileiro. Faz-se necessário examinar seus impac- • Coordenação e cooperação entre os diferentes
tos negativos, a fim de compreender os diferentes níveis de governo e os setores envolvidos nas di-
elementos que o originaram, através do olhar es- ferentes ações do ciclo de atuação em proteção
pecializado do conhecimento e experiências acu- e defesa civil.
muladas, incluindo estudos sociais e naturais inter • Ampla participação da sociedade civil nos pro-
e transdisciplinares. Isso implica na análise dos as- cessos de GRD.
pectos causais, bem como, no gerenciamento de • Transparência e definição clara do papel e res-
riscos de desastres guiados por questões de susten- ponsabilidades das entidades envolvidas na GRD.
tabilidade e equidade. Portanto, baseando-se na premissa de que os
Significa dizer que é preciso compreender a desastres não conhecem fronteiras, não distin-
nova realidade imposta pela pandemia que amplia guem entre setores e grupos sociais e geram efei-
as condições de vulnerabilidade e exposição, crian- tos em cascata que afetam todas as esferas da so-
do novos riscos presentes e futuros, impactando ciedade, a COVID-19 representa um cenário de risco
todos sem distinção, mas especialmente os mais que exige atuação articulada, principal papel dos
pobres e vulneráveis. órgãos de proteção e defesa civil, que deverá ser
Assim, como referência metodológica, um mo- fortalecido e aprimorado num futuro próximo.
delo de gestão que atue sob três âmbitos – correti-
vo, prospectivo e compensatório – poderia dar con-
ta dessa reflexão. Nesse caso, as medidas de ação
imediatas para o gerenciamento dos riscos do de-
sastre representado pela COVID-19 teriam foco na
gestão corretiva dos riscos (para a redução/mitiga-
ção dos riscos já existentes), mas atuariam também
de forma integrada na gestão prospectiva (para a
prevenção de novos riscos) e na gestão compensa-
tória de riscos (para o gerenciamento de riscos re-
siduais e para reforçar a resiliência), de forma a for-

98 COVID-19, UMA PANDEMIA


gestão de riscos de desastres no brasil: panorama atual e tendências

99
CON
SIDE
RA
ÇÕES
FINAIS
gestão de riscos de desastres no brasil: panorama atual e tendências

A Gestão do Risco de Desastres no Brasil é um tema complexo que ainda necessita de critérios de
análise mais adequados e precisos, para o qual esta publicação buscou focar e contribuir apon-
tando lacunas e características do país. Assim, para ampliar a compreensão da realidade brasileira
parece ser necessário investir mais recursos na determinação do estado atual da infraestrutura,
ativos e capacidades das pessoas em um contexto de risco, com base em três fatores: a exposição, a
vulnerabilidade e a adaptabilidade. Esses fatores podem contribuir na identificação de estratégias e
lacunas em recursos, regulamentações e conhecimentos para enfrentar os impactos das ameaças
naturais e dos riscos associados às mudanças climáticas.

Ao traçar o perfil do panorama nacional, desta- desastres implicam diferentes áreas de investimen-
ca-se os dados recentes do Sistema Integrado de to. O desenvolvimento de uma estratégia de pro-
Informações sobre Desastres – S2ID que possibili- teção financeira abrangente para o Brasil necessita
tou a análise dos desastres mais relevantes do ter- de análises específicas para identificar os gargalos
ritório nacional. A partir dele, pode-se inferir que o técnicos e institucionais prioritários. Por exemplo,
risco de desastres de origem natural no Brasil tem os produtos da CPRM são por vezes subutilizados
características recorrentes, principalmente inunda- pelos municípios por falta de equipe técnica capa-
ções, enxurradas e secas que atingem populações e citada para sua aplicação prática. Além do fato, que
infraestruturas, causando um somatório de danos e nem todos os municípios brasileiros são contem-
prejuízos consideráveis ao longo dos anos. A análise plados com seus materiais.
dos riscos recorrentes, conforme visto nos desastres Por fim, a partir do ponto de vista que a pande-
mais relevantes apresentados no primeiro capítu- mia causada pela COVID-19 permitiu obter, perce-
lo, demonstra que os fenômenos hidrológicos são be-se que a realidade brasileira na gestão de riscos
mais significativos nas regiões Sul, Sudeste e Nor- de desastres demanda uma maior articulação ins-
te, como as inundações e deslizamentos no Vale do titucional, pautada em regulamentações legais e
Itajaí (2008), as inundações ocorridas em Pernam- prática direta da administração pública. Ao ponde-
buco (2010) e no Espírito Santo (2013), enquanto os rar que a pandemia como qualquer desastre expõe
climatológicos são mais representativos na Região as fragilidades de um sistema, ela representa um
Nordeste, no chamado Semiárido Brasileiro, como cenário de risco que exige atuação articulada com
a seca ocorrida em 2012, mas também estão pre- a participação de diferentes setores e atores da so-
sentes na porção oeste do Sul, como a estiagem de ciedade e requer o fortalecimento da governança.
2005 e em parte do Norte do Brasil. Todos esses pontos, portanto, inter-relacionam-
Além disso, para melhor identificar as neces- -se e devem fazer parte de uma agenda de longo
sidades de financiamento no país é preciso consi- prazo, multidisciplinar e multisetorial, mas com
derar o perfil das ameaças a que está exposto, já grade potencial para criar um círculo virtuoso de
que diferenças na frequência e na severidade dos prevenção, preparação e recuperação resiliente.

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lis: CEPED/UFSC, 2013.

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Créditos

ORGANIZAÇÃO ILUSTRAÇÃO
Rafael Schadeck, Me. Jéssica Rodrigues Esteves, Ma
Sofia Moreira Pacheco de Souza
SUPERVISÃO BANCO MUNDIAL Maria Eduarda Hanoff Amaral de Oliveira
Joaquin Toro, Me.
Frederico Ferreira Fonseca Pedrosos, Dr. FOTOGRAFIAS
Fernanda Senra de Moura Vanessa Bumbeers (Unsplash) CAPA E SOBRECAPA
Pauline Cazaubon Rodrigo Kugnharski (Unsplash) 5
Sergio Souza (Unsplash) 8-10
SUPERVISÃO FAPEU Andrea Xavier (Unsplash) 13
Prof. Amir Mattar Valente, Dr. Edmar Barros (Amazônia Latitude) 14
Anderson Stevens 41
SUPERVISÃO CEPED UFSC (colaboração) Adriano Machado (Agência Brasil) 42
Prof. Amir Mattar Valente, Dr. O município 64
Cigerd 66
EQUIPE TÉCNICA Gilson Machado 77
Adriana Landim Quinaud, Ma Felipe Ferreira (Instituto de Ecologia Humana/FF-
Bárbara D'oro fotografia.com) 78
Christine Bencciveni Franzoni, Dra Marcelo Casal Jr (Agência Brasil) 84
Leticia Dalpaz De Azevedo Marcelo Casal Jr (Fiocruz) 99
Maicon Basso Dos Santos Matheus Betat (Unsplash) 100
Marcos de Oliveira, Me.
Sarah Marcela Chinchilla Cartagena, Ma.

REVISÃO TEXTUAL
Patrícia Leonor Martins, Ma.

PROJETO GRÁFICO
Ana Letícia Oliveira do Amaral, Ma.
Igor Freitas Flores

DIAGRAMAÇÃO
Ana Letícia Oliveira do Amaral, Ma.
Diego Borges, Me.

GRÁFICOS
Diego Borges, Me.
Giuliano Marcus Bianco

INFOGRÁFICOS
Alexandre Ladvig
Diego Borges, Me.

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