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1° Seminário Nacional de

Universidade
Popular 2011 Porto Alegre (RS) - 2, 3 e 4 de SETEMBRO

L
M O NOPÓ I OS PO P

UNIVERSIDADE BRASILEIRA

POPULAR

senup2011@gmail.com
senup2011.blogspot.com Cartilha preparatória
FOTOS INDICE
APRESENTAÇÃO: Rumo ao 1° Seminário Nacional de Universidade Popular.........03

EIXO GERAL: Universidade Popular: objetivos, concepção, terminologia..........05

EIXOS ESPECÍFICOS: 1) Ciência e Tecnologia..................................................10


2) Autonomia e Democracia...........................................12
3) Formação Universitária..............................................14
4) Universidade e Sociedade..........................................16
Reunião Preparatória do SENUP 2011:
FOTOS................................................................................................................18
Florianópolis, 4 e 5 de Dezembro de 2010

Reunião Preparatória do SENUP 2011:


Porto Alegre, 19 e 20 de Março de 2011
18 3
EIXOS ESPECÍFICOS

estão intimamente ligados – a produção de presentes de ações locais e singulares de uma


tecnologia está orientada também pela forma idealizada universidade popular. Nesse eixo
de exploração dos meios de produção e da do SENUP teremos muitas contribuições
força de trabalho disponível. essenciais: como superar a fragmentação das
Temos consenso entre os que lutam pela ações universitárias do tripé, integrando todas
universidade popular da necessidade da e pensando nela como a totalidade de um
formação dessa unidade histórica pela disputa mesmo ser? E em que cada uma, não
do espaço universitário. Então, indagamos: deixando de fazer as ligações, podem
como, de que forma e com quem? contribuir para essa totalidade?
A universidade não mudará somente de Na busca por uma universidade pública,
dentro para fora e nem somente de fora pra de qualidade, democrática, crítica, criadora e
Realização: dentro devido à forte influência do sistema popular, vê-se um caminho estratégico que
FEAB - Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil vigente da sociedade (o mesmo que cria esse aponta um horizonte de transformação, não
ENESSO – Executiva Nacional dos Estudantes de Serviço Social muro funcional). Emancipar a produção de só da universidade, mas de toda a sociedade.
GTUP – Grupo de Trabalho Universidade Popular ciência e tecnologia, alterando essa ideologia
segregadora é o grande desafio. As experiênci-
MUP – Movimento por uma Universidade Popular
as no campo da pesquisa emancipadora
Levante Popular da Juventude (geralmente ligada aos movimentos sociais
Juventude LibRe – Liberdade e Revolução mais fortes), na extensão (como canal de
JCA – Juventude Comunista Avançando formulação e ligação com as demandas
UJC – União da Juventude Comunista populares) e no ensino que busque construir
CCLCP – Corrente Comunista Luiz Carlos Prestes conhecimento crítico, são as expressões mais
MAS - Movimento Avançando Sindical
Núcleo de Direito à Cidade – USP

Descrição:
Cartilha preparatória ao 1° Seminário Nacional de Universidade Popular. O objetivo dela é
orientar as contribuições que serão feitas ao SENUP por coletivos, organizações,
movimentos, entidades ou indivíduos, que abordarão a necessidade de construir um
projeto estratégico alternativo para disputar a universidade atual, bem como os meios de
atingi-lo.

Edição e Diagramação:
Diagramação e textos escritos pelas organizações que realizam o SENUP 2011.
Charges: Maiari Cruz Iasi (páginas 10 e 11), Fausto Moura Breda (capa), Latuff (12, 13 e
14).
Tiragem: 5.000 exemplares.

Maio de 2011
4 17
EIXOS ESPECÍFICOS APRESENTAÇÃO

4. Universidade e Sociedade Rumo ao 1º Seminário Nacional


de Universidade Popular!
A universidade brasileira, desde a
sua implementação, vem
cumprindo um papel impor-
tante na sociedade, configurando-se no
espaço de desenvolvimento de ciência e
contra-reforma universitária trouxe a tona a
“requerida” expansão das vagas nas universi-
dades públicas e a mudança dos padrões
pedagógicos. Eivada das condições atuais de
desenvolvimento do capitalismo, trouxe
O debate sobre Universidade
Popular ainda é pouco
trabalhado pelo movimento
universitário, que vem sendo absorvido por
1) Seminário de massas;
2) Articular politicamente as entidades,
movimentos e organizações políticas que vem debatendo
universidade popular;
disputas que nem sempre acumulam para um 3 ) A r t i c u l a r p r o f e s s o r e s, t é c n i c o -
tecnologia. Só que para tal análise da fragmentação quando prometia “grandes
horizonte de transformação. Para que administrativos, estudantes, movimentos sociais e
universidade, necessitamos também analisá- áreas”, precarização e sucateamento das
possamos construir um projeto estratégico trabalhadores na luta pela universidade popular;
la em sua dinâmica complexa com a socieda- vagas pela ausência de investimento quando
para a transformação da universidade, estamos 4) Socializar experiências que contribuam para
de. Para tanto, a ciência e tecnologia e suas prometia expansão. Além disso, trouxe
convocando organizações, coletivos, partidos, a luta por uma Universidade Popular;
aplicações práticas dependem, de modo diferenciação e desigualdades evidentes com
movimentos e indivíduos a se somarem na 5) Sistematizar referenciais teóricos para a
decisivo, do regime social, das forças que a perspectiva de centros de ensino e centros
construção do I Seminário Nacional sobre elaboração de um programa de Universidade Popular e
dominam essa determinada sociedade, dos de excelência. Diante disso, a grande
Universidade Popular (SENUP) que seus meios de implementação.
interesses a que o desenvolvimento social está interrogação desse eixo: o que essas políticas
ocorrerá nos dias 2, 3 e 4 de Setembro de
subordinado: em síntese, ao regime de classes aproximam e o que elas afastam da perspecti-
2011, na cidade de Porto Alegre. Essa será Para que o seminário seja produtivo na
em permanente luta. Mas também, assim va de uma universidade popular?
uma grande oportunidade para potencializar- elaboração política e teórica, sugerimos 5 eixos
como os antagonismos existentes na No plano ideológico a universidade é
mos e qualificarmos nossa atuação como força para serem trabalhados em contribuições
sociedade, a universidade também assim se reflexo da sociedade burguesa, instituição
progressista na disputa por uma universidade escritas:
revela. social com funções e objetivos bem claros no
democrática, pública, crítica, criadora e Eixo Geral:
Um dos fatores importantes para que tange aos interesses burgueses, hegemo-
popular. 1) Universidade Popular (princípios,
apreender esses antagonismos, é a verificação nicamente vindos dos países centrais. Para
Embora a luta por uma Universidade concepção, histórico, terminologia)
da origem social dos jovens que conseguem tanto, as lutas sociais emancipatórias dos
Popular permeie a história do movimento Eixos Específicos:
entrar na universidade. No início as universi- movimentos sociais organizados e “desorga-
universitário e popular, sua concepção vem a) Ciência e Tecnologia;
dades eram claramente restritivas para os nizados” das classes trabalhadoras, necessi-
amadurecendo com o tempo. Nos últimos b) Autonomia e Democracia;
jovens das classes subalternas (até porque os tam cada vez mais de uma unidade histórica
anos, a questão da formulação de um progra- c) Formação Universitária;
mesmos eram restritos a qualquer nível de na formação de um bloco que lute contra essa
ma estratégico para a Universidade Brasileira d) Universidade e Sociedade.
educação pública). E hoje que temos hegemonia.
não tem estado no primeiro plano das
conquistas históricas do movimento Da universidade, temos as categorias
intervenções da esquerda no âmbito educacio-
universitário, como os direitos estudantis de dos técnicos, professores, e estudantes
nal, razão pela qual esse debate tem se
permanência e as cotas de acesso, será que constituindo o Movimento Universitário.
restringido a pequenos grupos, sem ainda uma
realmente fora conquistada a universalização Aliado a esses, a necessidade de todos os
identidade e uma articulação nacional.
desse acesso a universidade? A necessidade de movimentos sociais das classes trabalhadoras
A partir da Convenção Nacional de
processos seletivos e as dificuldades da de disputar o espaço da universidade. Já que,
Solidariedade a Cuba que ocorreu em Junho de
carestia crescente nos setores subalternos não em muitos movimentos sociais (do campo e
2010 na cidade de Porto Alegre, vários destes
nos revelam certos limites das determinações da cidade) existentes, pauta-se a transforma-
grupos debateram a necessidade de construir
do regime social à permanência? ção da sociedade, o povo deverá estar
um Seminário Nacional, a fim de afinar as
Devidamente ar mados com as preparado para superar tudo que foi imposto
concepções existentes. Essa articulação
bandeiras históricas do Movimento pelo sistema capitalista: desde as relações de
resultou na primeira reunião de organização
Universitário, os últimos governos provoca- produção na sociedade até a produção de
do SENUP, que ocorreu na cidade de
ram algumas mudanças estruturais e políticas ciência e tecnologia (orientada assim, por
Florianópolis em Dezembro de 2010. Após
que poderiam iludir os mais desavisados. O outro ideal, outra lógica de construção de
uma análise sobre a universidade hoje,
REUNI enquanto cartada do projeto total da todo o conhecimento) que são pontos que
discutimos os objetivos do seminário em si,
16 que são eles: 5
APRESENTAÇÃO EIXOS ESPECÍFICOS
Fizemos ainda uma segunda reunião, visão comum da necessidade de articular
em Porto Alegre, nos dias 19 e 20 de Março de dialeticamente as discussões e lutas imediatas
2011. Em torno de quarenta pessoas – entre à construção de um programa estratégico pelo perfil mais adequado ao mercado se como um bem social e coletivo e não uma
elas representantes de mais de 20 entidades, para a universidade brasileira. Entende-se que tornou uma obsessão, criando uma subser- aquisição individual, fazendo com que o
das quais 5 executivas e federações de curso, a construção da estratégia da Universidade viência quase religiosa em relação dos aprender, o fazer e o ensinar sejam partes
além de organizações políticas e movimentos Popular está articulada com a construção do desígnios e vontades do mercado, na busca inseparáveis de um todo.
– estiveram presentes na reunião. Muitos movimento que luta por ela a partir de um por “qualificar” a mão-de-obra. Muitos No debate da formação, esperamos que
ainda justificaram ausência. A discussão girou programa mínimo tático coerente (o êxito professores de universidades públicas e este seminário possa aportar perspectivas
em torno deste caderno de preparação do desta compreensão é demonstrado pela privadas utilizam a expressão “mercado” para críticas e criadoras, relatos e reflexões sobre a
Seminário, análise de conjuntura da universi- história) e que, por sua vez, possa contribuir se referir ao que espera o estudante do lado de dinâmica de sala de aula, os currículos, os
dade brasileira, perspectivas para a constru- para a reorganização do movimento fora da universidade. Soma-se a essa lógica a estágios e a docência, todos eles instigados
ção do Seminário, repasse das tarefas e universitário como um todo. massificação de bacharelados “genéricos” pela certeza de que a formação pode ser mais
articulações feitas, bem como visualização de Convidamos as organizações, entida- com salas superlotadas e a expansão do ampla, mais participativa, mais coletiva e
uma primeira proposta de programação para des, indivíduos a se somarem na construção ensino à distância puro ou mesclado com socialmente referenciada.
o encontro. Trabalhando sempre com o deste Seminário, seja participando dele em si, ensino presencial.
consenso, os presentes firmaram as linhas das reuniões preparatórias ou em contribui- A fragmentação do conhecimento
gerais de concepção do Seminário, em uma ções escritas. evidencia-se quando vemos cursos de exatas
e/ou tecnológicos com uma lógica bastante
tecnicista, onde a intervenção na realidade
deve limitar-se a execução e reprodução do
Criar, criar Universidade Popular! que já veio pronto “de cima”, e nos cursos de
humanas, uma tendência ao crescimento de
um tipo de formação “academicista”,
individual e desconexa de uma inter-relação
com os anseios de transformação da
realidade. A separação entre “bacharelados” e
“licenciaturas” também fortalece essa lógica
de fragmentação do conhecimento e
adequação à lógica do mercado. Tudo isso
força, nos diferentes campos de aprendizado,
a legitimação material e ideológica do poder
dominante.
No entanto, a tendência de privatização
e precarização do saber não se impõem de
maneira absoluta, pois sempre encontra
resistência nos setores mais avançados da
comunidade universitária que defendem o
caráter público e democrático do ensino e a
necessidade de um conhecimento crítico e
criador.
A construção de uma formação oposta
à lógica dominante exige não só o apetite pelo
conhecimento, mas também a ânsia por
transformação, colocando o conhecimento
6 15
EIXOS ESPECÍFICOS EIXO GERAL
3. Formação Universitária Universidade Popular:
objetivos, concepção, terminologia
E m uma compreensão mais
ampla, nossa for mação
enquanto seres humanos
abrange todos os espaços de nossa vida em
sociedade. Em uma sociedade onde a lógica
No contexto universitário, este
enquadramento fica cada vez mais explícito
com a crescente dissociação entre o ensino, a
pesquisa e a extensão e a busca por submeter
estes elementos da formação à lógica privada. D ebater Universidade Popular
está longe de ser uma questão
secundária, que poderia ser
acumulação do capital, com uma aceleração na
década de 90 e em especial no século XXI.
Este direcionamento se manifesta: na
do capital hegemoniza a produção e a Conforme a universidade orienta-se para o deixada para amanhã ou depois. Da mesma reestruturação político-pedagógica da maioria
reprodução da vida social, as instituições mercado, limita cada vez mais o protagonis- forma, não se trata de uma questão puramente dos currículos dos cursos de graduação,
educacionais e culturais bem como, os meios mo e a autonomia da comunidade universitá- teórica. Debater Universidade Popular subordinando as iniciativas da universidade às
de comunicação seguem em sua maioria os ria para a construção de um processo de significa compreender a necessidade de ligar necessidades do mercado, em detrimento das
ditames desta lógica, que necessitam garantir formação criador e voltado para as necessida- as tarefas imediatas de nosso movimento com demandas da população; na entrega da
o consenso de que os interesses de acumula- des humanas. a construção de um projeto de universidade estrutura física e de recursos humanos
ção das classes dominantes são interesses Nas universidades particulares e alternativo ao projeto do capital. públicos para a produção de ciência e
gerais de toda a sociedade. centros de ensino superior privados, a busca Temos, nos últimos tempos, um tecnologia de acordo com as necessidades da
direcionamento “lento e gradual” das iniciativa privada, o que compromete a
instituições educacionais às necessidades de autonomia didático-científica das universida-
des; uso do dinheiro público para salvar
empreendimentos universitário privados; na
diminuição dos recursos públicos relativos a
quantidade de vagas abertas nas universidades
públicas, que aumenta a precarização e
intensificação do trabalho, diminui a qualidade
de ensino, inviabiliza a manutenção do tripé
ensino-pesquisa-extensão voltado aos
interesses populares e incentiva as instituições
a buscar outras fontes de financiamento
paralelas ao Estado; nos parcos mecanismos
democráticos que permitam à comunidade
universitária interferir nos rumos tomados
pelas instituições; etc.
A formalização deste conjunto de
medidas tem aparecido em decretos,
medidas provisórias, leis, todos aprova-
dos paulatinamente, de modo a ofuscar o
projeto estruturante do capital, que é a
espinha dorsal de transformação de um direito
em um mero serviço, a ser comprado e
vendido. Exemplos desses projetos são o
decreto das Fundações, o SINAES, a Lei de
Inovação Tecnológica, a Universidade Aberta
do Brasil, o PROUNI, o REUNI, o chamado
“Pacote da Autonomia”, e mais recentemente
projetos como a lei 7.423, a MP 520 e a MP 525
14 7
EIXO GERAL EIXOS ESPECÍFICOS
que tratam, respectivamente, da relação das estabelecidas. Tanto mais ativa será esta
universidades com as Fundações “ditas” de aceitação, quanto mais elevado o nível de
Apoio, da gestão dos HU´s e da possibilidade complexidade de que estamos falando. Na conselhos decisórios, mesmo com a vantagem Diante desse quadro conjuntural
de ampliação dos contratos temporários nas universidade, chegamos ao entendimento numérica de dirigentes indicados, foram (descenso das lutas e ascenso de medidas
IFES. inclusive da gênese abstrata de conceitos e palcos de “referendamento” das políticas autocráticas), necessitamos incorporar essa
Este processo nos leva a concluir que o categorias que favorecem e asseguram os governamentais para as universidades. Foi temática nas análises sobre os rumos dos
projeto do capital é projeto global, constante- parâmetros reprodutivos gerais do sistema do assim na aceitação do programa do REUNI (em embates de um movimento que lute por uma
mente aprofundado, aperfeiçoado, expandido, capital. todas as universidades), firmada com força Universidade Popular. Muitas das reivindica-
e a nossa tarefa de negá-lo vem necessariamen- A mediação entre os dois pontos acima já policial e deslocamento das reuniões previa- ções táticas dessa temática serão fundamentos
te com a possibilidade e a necessidade histórica nos leva a outro elemento necessário para mente indicadas para locais mais afastados; na de uma universidade popular, pois indicam as
de afirmar um projeto popular. Isto nos exige balizar as contribuições que serão feitas para o tentativa de aprovação no Conselho possibilidades democráticas, progressistas e
repensar desde as linhas mais gerais às mais Seminário Nacional sobre Universidade Universitário da UFRGS de um Parque classistas da inserção de movimentos sociais
específicas das instituições postas dentro de Popular: a luta por uma universidade popular Tecnológico, sem consulta a comunidade ignorados pela universidade.
um projeto também global. se insere dentro da luta social em geral, o que universitária; na invasão ao campus da USP
É necessário, por isso, situar em que faz com que as universidades não possam ser pela Policia Militar para conter os movimentos Para tanto, levantamos sub-temas que
patamar se encontra a luta por uma transformadas de forma permanente por si só, que lutavam contra os projetos privatistas de podem indicar contribuições valiosas para o
Universidade Popular. Antes de mais nada, a assim como elas, por si só, não podem Serra; e nos inúmeros processos com movimento universitário:
educação não é determinada somente pelas empreender uma alternativa emancipadora expulsões e multas a estudantes que ocuparam,
instituições formais (escolas, universidades, radical. No entanto, isso tampouco nos leva a protestaram e reivindicaram os seus direitos A disputa de “dentro pra fora” e de” fora pra
escolas técnicas etc). Estas são uma parte dizer que a universidade é um “caso perdido”, nos últimos 8 anos. Ou seja, a Autonomia que dentro” da universidade (no processo de transição):
importante na totalidade dos processos pois sendo a universidade um reflexo de toda a o Estado garante às universidades é apenas “romper os muros” e inserir movimentos
educacionais, mas somente uma parte. A estrutura social de classes e seu processo para a captação de recursos junto à iniciativa sociais, populares, sindicais e demais estudan-
universidade, então, é apenas uma parte da educativo, isso significaria abdicar da possibili- privada e cobrança de “serviços” (taxas e tes no contexto geral da disputa pelos rumos
parte. Temos, assim, a seguinte equação: dade de transformar a própria estrutura social. mensalidades), privatizando o destino e a da universidade brasileira. Em que medida
1) temos os processos educacionais Aqui já temos alguns reflexos táticos impor- função do conhecimento produzido. podemos fazer isso, com quem podemos
como um todo. Falamos de um sistema de tantes da teoria na práxis transformadora: a contar, quais as potencialidades e necessidades
internalização de valores, hábitos, princípios universidade deve ser disputada tanto “de dessa tática?
morais e éticos da sociedade vigente, especial- dentro para fora” quanto “de fora para
mente de sua classe dominante. Isto significa dentro”.
Luta por democracia interna: voto universal,
que estamos falando de indivíduos sociais que, Outra questão fundamental diz respeito
ou proporcionalidade, para escolha de
mesmo não tendo qualquer nível de escolari- à orientação programática para a ciência. A
dirigentes? Paridade entre as categorias, nos
dade, também são educados pela sociedade e difusão de uma ideologia tecnocrática criou a
conselhos deliberativos? Utilização do recurso
levados a assumir seu ponto de vista de forma ilusão de que a solução dos problemas da
das assembleias gerais, para debate e decisão
“natural”. O egoísmo, o individualismo, que se humanidade viria exclusivamente por meio do
de políticas gerais? Fim da lista tríplice? Inserir
afirmam na tendência a resolver problemas avanço da ciência e da tecnologia produtiva.
o debate das políticas pelo projeto e programa,
sociais de forma privada, a desumanização, Esta ilusão surge da orientação ideológica que
ou pela meritocracia? Qual o conteúdo e a
indiferença em relação à barbárie social e o atua no sentido de desviar o foco de interven-
forma dessa democracia?
sofrimento humano são apenas exemplos de ção humana do plano da estrutura social de
como a sociedade nos educa a aceitar um classes. O ofuscamento, ou completa exclusão
Autonomia Universitária: Autonomia de
modo de vida social tão absurdo, e isto da dimensão social, leva a uma orientação da
gestão financeira ou autonomia financeira
independe da escolaridade; problemática social ao âmbito da “gestão” e da
(financiamento privado)? Autonomia
2) e temos as instituições educaciona- “responsabilidade individual”, inclusive a
didático-científica, a serviço das causas
is. Aí os indivíduos sociais já são induzidos a administração ganha um caráter “científico” e,
populares: de que forma? Como reverter à
uma aceitação ativa das normas sociais pré- por assim dizer, “neutro” e “autojustificado”.
tendência a privatização do conhecimento e da
8 universidade? 13
EIXOS ESPECÍFICOS EIXO GERAL
2. Autonomia e Democracia Na verdade, a própria expansão produtiva por
meio da ciência é inseparável da conformidade
Ademar Bogo (org.) São Paulo: Expressão Popular, 2006,
p. 354 e 355). Na realidade brasileira, é funda-
mental a resignificação que ganha a palavra
ideológica ajustada segundo os parâmetros do

A luta por uma Universidade


Popular terá o grande desafio de
construir as mediações
democráticas para a organização coletiva de
nosso povo na gerência do trabalho social
mos e reivindicarmos os nossos projetos por
uma universidade crítica, criadora e popular,
temos que reconhecer que fomos implacavel-
mente derrotados. A ausência de democracia
interna e autonomia de gestão universitária
“avanço social” impostos pelos monopólios e
pelo imperialismo. Por isso mesmo, no campo
da luta pela universidade popular, nos
interessa a ligação entre o conhecimento
povo. Em um país onde a revolução burguesa
ocorreu de cima para baixo, divorciada de uma
revolução nacional e democrática, combinan-
do autocracia e dependência com uma
produzido e transmitido nas instituições de modernização conservadora e uma democra-
produzido no espaço universitário. Para tanto, foram constantes nesse período. cia restrita e para as elites, as alternativas
ensino superior com os interesses e as
os mesmos produtores do trabalho social (e da A orientação autocrática do Estado populares se divorciaram completamente do
necessidades das massas populares e dos
ciência) devem ter autonomia sobre seu Burguês brasileiro reflete-se na forma de bloco de poder dominante, que se tornaram
trabalhadores. Assim, um dos papéis funda-
trabalho, não sendo determinados por outra implementar as demandas do Capital em antagônicos entre si. É nesse bojo que se
mentais da luta pela universidade popular é
força (o lucro, por exemplo). tempos de crise estrutural. Se aprovar toda encontram lutas fundamentais de nosso povo,
revitalizar o papel intelectual crítico e criador
Hoje encontramos as universidades com uma contra-reforma universitária de uma só como pela reforma agrária, reforma urbana,
dentro da universidade atual, rompendo com
poucos espaços abertos para a discussão, para vez no primeiro governo de Lula poderia gerar pela estatização de empresas estratégicas, etc.
os parâmetros da educação que tem o mercado
a interferência dos setores progressistas da mais problemas, o recurso às medidas A luta pela Universidade Popular, então, se liga
como condição e o lucro como fim.
sociedade como um todo, para a livre escolha provisórias, decretos e aprovação de leis, sem o a um conjunto de tarefas imediatas da “dentro
Deve ser também um dos objetivos do
de dirigentes pela comunidade universitária e necessário debate nas universidades, foi da ordem”, de abertura de espaço democrático
Seminário Nacional e das contribuições feitas
para o exercício da transparência democrática implantado. Projetos do início do Governo e conquista de hegemonia popular e que,
resgatar o histórico da luta pela Universidade
nos processos de construção de planos Lula já estão consolidados. E notem que a ganhando vitalidade enquanto movimento,
Popular. O movimento universitário e a
políticos pedagógicos bem como nas proposta mais avançada da dita “reforma” – o deverá caminhar para uma luta “contra a
sociedade brasileira há um bom tempo debate
definições sobre a pesquisa e a extensão, entre fim da escolha dos reitores pelo presidente da ordem”. Através do protagonismo dos
este tema e é possível ver um amadurecimento
outros. Nessas condições, é praticamente república (lista tríplice) inserindo eleições trabalhadores, seria possível abarcar todos os
da concepção em questão. Sistematizar essas
impossível avançar em um projeto estratégico diretas e não mais “consultas públicas” – não explorados e oprimidos neste processo. Por
contribuições e fazê-las avançar vem a ser um
que garanta esses dois eixos propostos – só ficou na promessa como parece já estar isso, Universidade Popular não pode ser um
dos papéis de nosso seminário. Além disso, há
autonomia e democracia. esquecida. debate deixado somente para a construção de
diversas experiências de construção de
No Brasil, a universidade é criada dentro Em vários momentos os outro sistema social – embora tenda e
Universidades Populares em outros países que
da ordem burguesa e desenvolve-se com as necessite avançar para o socialismo.
devemos conhecer pois podem contribuir
transformações requeridas pela “moderniza- Todo esse debate acerca de concepção,
para a luta do movimento de massas em nossa
ção conservadora”, que extirpa os elementos histórico, terminologia, objetivos, são
realidade.
progressistas na ditadura civil militar de 1964. fundamentais para construir no SENUP 2011
Por último, é fundamental refletir: por
Com a redemocratização “lenta, gradual, um entendimento mínimo comum que possa
que “universidade popular”? Não nos
segura e consentida” referendada pela caminhar junto e contribuir com o processo de
interessa discutir a terminologia por si mesma.
Constituição de 1988, é permanentemente reorganização do movimento universitário em
Florestan Fernandes colocava que em uma
requerida pela lógica de mercado. Os nosso país. São questões sugeridas para serem
sociedade de classes não existem “simples
governos de FHC expandem o ensino desenvolvidas e debatidas na construção,
palavras”. Ele dizia que “se a massa dos
privado e sucateiam as públicas; na era durante e após o Seminário.
trabalhadores quiser desempenhar tarefas
Lula, outras recomendações nefastas do
práticas específicas e criadoras, ela tem de se
Banco Mundial se realizam.
apossar primeiro de certas palavras-chave (...).
É evidente que o movimento
Em seguida, deve calibrá-las cuidadosamente,
universitário tem ficado na defensiva: na luta
porque o sentido daquelas palavras terá de
contra a “Reforma Universitária” (PL
confundir-se, inexoravelmente, com o sentido
7200/06) e suas medidas “fatiadas” implan-
das ações coletivas envolvidas pelas mencio-
tadas nos últimos anos. Em todos os casos,
nadas tarefas históricas” (Florestan Fernandes, “O
além das muitas dificuldades de apresentar- que é Revolução?”, em Teoria da Organização Política II.
12 9
EIXOS ESPECÍFICOS 1. Ciência e Tecnologia
A universidade vem se transfor-
mando profundamente com sua
associação ao setor produtivo.
Esse é um processo que se inicia na fase de
industrialização brasileira, se desenvolve com
universidades nas sociedades pré-capitalistas,
o conhecimento era restrito pelo baixo nível de
desenvolvimento das forças produtivas. Após
a industrialização, o conhecimento passou a
ser restrito por direitos de propriedade
ser o núcleo de certificação do conhecimento
válido, o que serviu para deslegitimar saberes
populares, indígenas, orais, religiosos e
comunitários. Ao mesmo tempo em que
consolidava o cânone científico como
por esse desafio: é possível um conhecimento
crítico e emancipatório?
Para fomentar o debate, vale mencionar
alguns pontos básicos: quais são os caminhos
da produção científica nas universidades?
o advento do capitalismo monopolista no intelectual e tornou-se altamente cobiçado por hegemônico, a universidade pôs a ciência e a Qual tem sido a relação entre quem financia a
Brasil, fase na qual também se consolida. ser instrumental e necessário no processo tecnologia como mecanismos de acumulação pesquisa e quem se beneficia dela? O financia-
Antes, a academia era uma instituição pequena reprodutivo do capital e de expansão do privada de riqueza e reprodução da ordem mento público não é sinônimo de apropriação
e auto-referenciada, voltada à formação de mercado. existente. Ela não só se voltou à criação de pública do conhecimento; nesse sentido, há
profissionais liberais e de quadros para a Com o desenvolvimento capitalista, o novos direitos de propriedade intelectual, mas que se discutir mecanismos efetivos de
burocracia estatal. A produção, por sua vez, conhecimento se tornou muito dinâmico. Os também forjou um ambiente ideológico que apropriação social, e inclusive sua viabilidade
era desenvolvida pelo senso prático de alguns países centrais colocaram a produção de legitima essa como sua função única e ideal. sob o sistema vigente. Contudo, a ciência e
indivíduos, pela intuição e pelo empirismo. A conhecimento (e, assim, as universidades) Dessa forma, a produção de conheci- tecnologia construíram para si um estatuto de
organização do saber tecno-científico e sua como pilares de seu projeto de desenvolvi- mento revela a universidade como uma conhecimento válido que esteriliza certas
associação à produção gerou um processo mento, criando e aprofundando uma estratifi- instituição social e ideologicamente conserva- iniciativas de empoderamento popular; assim,
inesgotável de renovação e transformação da cação internacional de conhecimento. Nesse dora. Por trás das inovações, dos títulos e das a reversão dessa tendência é possível e
base material da sociedade, no que se conven- novo cenário, as elites passaram a respaldar sua patentes, revela-se o profundo comprometi- desejável? É a própria universidade que deve
cionou chamar de sociedade industrial. A condição de elite não só na riqueza ou no mento com o mundo atual e a silenciosa destronar essa hegemonia? Uma universidade
universidade cumpriu um papel decisivo nesse Estado, mas também em uma pretensa renúncia em transformá-lo. Sendo assim, a de múltiplos saberes ainda é uma universida-
processo, e, para isso, colocou-se a serviço da superioridade intelectual. A universidade, reflexão sobre ciência e tecnologia se pauta de?
inovação tecnológica. Nas faculdades e controlada por esse segmento social, passou a

Universidade
Brasileira

10 11

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