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REFERÊNCIA: GRAMSCI, Antonio. Cadernos do cárcere, volume 3.

– Edição e
tradução, Carlos Nelson Coutinho; co-edição, Luiz Sérgio Henriques e Marco Aurélio
Nogueira. – 3° ed. – Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.
1. Caderno 13 (1932-1934) – Breves notas sobre a política de Maquiavel
CITAÇÃO: “O caráter utópico do Príncipe consiste no fato de que o ‘príncipe’ não
existia na realidade histórica, não se apresentava ao povo italiano com características de
imediaticidade objetiva, mas era uma pura abstração doutrinária, o símbolo do líder, do
condottiero ideal; mas os elementos passionais, míticos, contidos em todo o pequeno
livro, com movimento dramático de grande feito, sintetizam-se e tornam-se vivos na
conclusão, na invocação de um príncipe ‘realmente existente’” (GRAMSCI, 2007, p.
14)
CITAÇÃO: “O moderno príncipe, o mito-príncipe não pode ser uma pessoa real, um
indivíduo concreto, só pode ser um organismo; um elemento complexo de sociedade no
qual já tenha tido início a concretização de uma vontade coletiva reconhecida e
afirmada parcialmente na ação” (GRAMSCI, 2007, p. 16)
CITAÇÃO: “É preciso também definir a vontade coletiva e a vontade política em geral
no sentido moderno, a vontade como consciência operosa da necessidade histórica,
como protagonista de um drama histórico real e efetivo” (GRAMSCI, 2007, p. 17)
CITAÇÃO: “Pode haver reforma cultural, ou seja, elevação civil das camadas mais
baixas da sociedade, sem uma anterior reforma econômica e uma modificação na
posição social e no mundo econômico? É por isso que uma reforma intelectual e moral
não pode deixar de estar ligada a um programa de reforma econômica; mais
precisamente, o programa de reforma econômica é exatamente o modo concreto através
do qual se apresenta toda reforma intelectual e moral” (GRAMSCI, 2007, p. 19)
CITAÇÃO: “O estudo sobre como se devem analisar as ‘situações’, isto é, sobre como
se devem estabelecer os diversos níveis de relações de forças, pode servir para uma
exposição elementar de ciência e arte política, entendida como um conjunto de regras
práticas de pesquisa e de observações particulares úteis para despertar o interesse pela
realidade efetiva e suscitar intuições políticas mais rigorosas e vigorosas” (GRAMSCI,
2007, p. 19)
CITAÇÃO: “A grande política compreende as questões ligadas à fundação de novos
Estados, à luta pela destruição, pela defesa, pela conservação de determinadas estruturas
orgânicas econômico-sociais. A pequena política compreende as questões parciais e
cotidianas que se apresentam no interior de uma estrutura já estabelecida em
decorrência de lutas pela predominância entre as diversas frações de uma mesma classe
política” (GRAMSCI, 2007, p. 21)
CITAÇÃO: “Como cada indivíduo singular conseguirá incorporar-se ao homem
coletivo e como ocorrerá a pressão educativa sobre cada um para obter seu consenso e
sua colaboração, transformando em ‘liberdade’ a necessidade e a coerção? Questão do
‘direito’, cujo conceito deverá ser ampliado, nele incluindo aquelas atividades que hoje
são compreendidas na fórmula ‘indiferente jurídico’ e que são de domínio da sociedade
civil, que atua sem ‘sanções’ e sem ‘obrigações’ taxativas, mas que nem por isso deixa
de exercer uma pressão coletiva e de obter resultados objetivos de elaboração nos
costumes, nos modos de pensar e de atuar, na moralidade, etc.” (GRAMSCI, 2007, p.
23-24)
CITAÇÃO: “A estrutura maciça das democracias modernas, seja como organizações
estatais, seja como conjunto de associações na vida civil, constitui para a arte política
algo similar às “trincheiras” e às fortificações permanentes da frente de combate na
guerra e às fortificações permanentes da frente de combate na guerra de posição: faz
com que seja apenas ‘parcial’ o elemento do movimento que antes constituía ‘toda’ a
guerra, etc.” (GRAMSCI, 2007, p. 24)
CITAÇÃO: “A guerra em ato é ‘paixão’, a mais intensa e febril, é um momento da vida
política, é a constituição, sob outras formas, de uma determinada política” (GRAMSCI,
2007, p. 25)
CITAÇÃO: “Numa filosofia da práxis, a distinção certamente não será entre os
momentos do Espírito absoluto, mas entre os graus da superestrutura; tratar-se-á,
portanto, de estabelecer a posição dialética da atividade política (e da ciência
correspondente) enquanto determinado grau superestrutural: poder-se-á dizer, como
primeira referência e aproximação, que a atividade política é precisamente o primeiro
momento ou primeiro grau, o momento no qual a superestrutura está ainda na fase
imediata de mera afirmação voluntária, indistinta e elementar” (GRAMSCI, 2007, p.
26)
CITAÇÃO: “Se todo Estado tende a criar e a manter um certo tipo de civilização e de
cidadão (e, portanto, de conivência e de relações individuais), tende a fazer desaparecer
certos costumes e atitudes e a difundir outros, o direito será o instrumento para esta
finalidade (ao lado da escola e de outras instituições e atividades) e deve ser elaborado
para ficar conforme a tal finalidade, ser maximamente eficaz e produtor de resultados
positivos” (GRAMSCI, 2007, p. 28)
CITAÇÃO: “Dado que se opera essencialmente sobre as forças econômicas, que se
reorganiza e se desenvolve o aparelho de produção econômica, que se inova a estrutura,
não se deve concluir que os fatos de superestrutura devam ser abandonados a si
mesmos, a seu desenvolvimento espontâneo, a uma germinação casual e esporádica”
(GRAMSCI, 2007, p. 28) – Base/superestrutura Prefácio a Contribuição e Estado e
forma política
CITAÇÃO: “Cabe distinguir não só entre ‘diplomata’ e ‘político’, mas também entre
cientista da política e político em ato. O diplomata tem de se mover apenas na realidade
efetiva, já que sua atividade específica não é a de criar novos equilíbrios, mas a de
conservar, dentro de determinados quadros jurídicos, um equilíbrio já existente. Assim,
também o cientista, como mero cientista, deve se mover apenas na realidade efetiva. [...]
Trata-se de ver se o ‘dever ser’ é um ato arbitrário ou necessário, é vontade concreta ou
veleidade, desejo, miragem. O político em ato é um criador, um suscitador, mas não cria
a partir do nada nem se move na vazia agitação de seus desejos e sonhos” (GRAMSCI,
2007, p. 34-35)
CITAÇÃO: “O ‘dever ser’ é algo concreto, ou melhor, somente ele é interpretação
realista e historicista da realidade, somente ele é história em ato e filosofia em ato,
somente ele é política” (GRAMSCI, 2007, p. 35)
CITAÇÃO: “É o problema das relações entre estrutura e superestrutura que deve ser
posto com exatidão e resolvido para que se possa chegar a uma justa análise das forças
que atuam na história de um determinado período e determinar a relação entre elas. É
necessário mover-se no âmbito de dois princípios: 1) o de que nenhuma sociedade se
põe tarefas para cuja solução ainda não existam as condições necessárias e suficientes,
ou que pelo menos não estejam em vias de aparecer e se desenvolver; 2) e o de que
nenhuma sociedade se dissolve e pode ser substituída antes que se tenham desenvolvido
todas as formas de vida implícitas em suas relações” (GRAMSCI, 2007, p. 36)
CITAÇÃO: “No estudo de uma estrutura, devem-se distinguir os movimentos
orgânicos (relativamente permanentes) dos movimentos eu podem ser chamados de
conjuntura (e que se apresentam como ocasionais, imediatos, quase acidentais).
Também os fenômenos de conjuntura dependem, certamente, de movimentos orgânicos,
mas seu significado não tem um amplo alcance histórico: eles dão lugar a uma crítica
política miúda, do dia-a-dia, que envolve os pequenos grupos dirigentes e as
personalidades imediatamente responsáveis pelo poder. Os fenômenos orgânicos dão
lugar à crítica histórico-social, que envolve os grandes agrupamentos, para além das
pessoas imediatamente responsáveis e do pessoal dirigente” (GRAMSCI, 2007, p. 36-
37)
CITAÇÃO: “O erro em que se incorre frequentemente nas análises histórico-políticas
consiste em não saber encontrar a justa relação entre o que é orgânico e o que é
ocasional: chega-se assim ou a expor como imediatamente atuantes causas que, ao
contrário, atuam mediatamente, ou a afirmar que as causas imediatas são as únicas
causas eficientes. Num caso, superestimam-se as causas mecânicas; no outro, exalta-se
o elemento voluntarista e individual” (GRAMSCI, 2007, p. 37)
CITAÇÃO: “O nexo dialético entre as duas ordens de movimento e, portanto, de
pesquisa dificilmente é estabelecido de modo correto; e, se o erro é grave na
historiografia, mais grave ainda se torna na arte política, quando se trata não de
reconstruir a história passada, mas de construir a história presente e futura: os próprios
desejos e as próprias paixões baixas e imediatas constituem a causa do erro, na medida
em que substituem a análise objetiva e imparcial e que isto se verifica não como ‘meio’
consciente para estimular à ação, mas como auto-engano” (GRAMSCI, 2007, p. 38)
CITAÇÃO: “Com base no grau de desenvolvimento das forças materiais de produção,
têm-se os agrupamentos sociais, cada um dos quais representa uma função e ocupa uma
posição determinada na própria produção” (GRAMSCI, 2007, p. 40) – Análise das
relações de força sociais; nesse momento, é possível verificar o grau de realismo e
viabilidade das ideologias geradas no terreno das contradições existentes no
próprio desenvolvimento das forças produtivas
CITAÇÃO: “O momento seguinte é a relação das forças políticas, ou seja, a avaliação
do grau de homogeneidade, de autoconsciência e de organização alcançado pelos vários
grupos sociais. Este momento, por sua vez, pode ser analisado e diferenciado em vários
graus, que correspondem aos diversos momentos da consciência política coletiva, tal
como se manifestaram na história até agora. O primeiro e mais elementar é o
econômico-corporativo: um comerciante sente que deve ser solidário com outro
comerciante, um fabricante com outro fabricante, etc. [...] Já se põe neste momento a
questão do Estado, mas apenas no terreno da obtenção de uma igualdade político-
jurídica com os grupos dominantes, já que se reivindica o direito de participar da
legislação e da administração e mesmo de modificá-las, de reformá-las, mas nos
quadros fundamentais existentes” (GRAMSCI, 2007, p. 40-41) – Relação das forças
políticas, grau de organização, inserção da questão do Estado não para
transformá-lo estruturalmente, mas para participar dele, administrá-lo, realizar
reformas.
CITAÇÃO: “Um terceiro momento é aquele em que se adquire a consciência de que os
próprios interesses corporativos, em seu desenvolvimento atual e futuro, superam o
círculo corporativo, de grupo meramente econômico, e podem e devem tornar-se os
interesses de outros grupos subordinados. Esta é a fase mais estritamente política, que
assinala a passagem nítida da estrutura para a esfera das superestruturas complexas; é a
fase em que as ideologias geradas anteriormente se transformam em ‘partido’, entram
em confrontação e lutam até que uma delas, ou pelo menos uma única combinação
delas, tenda a prevalecer, a se impor, a se irradiar por toda a área social, determinando,
além da unicidade dos fins econômicos e políticos, também a unidade intelectual e
moral, pondo todas as questões em torno das quais ferve a luta não no plano
corporativo, mas num plano ‘universal’, criando assim a hegemonia de um grupo social
fundamental sobre uma série de grupos subordinados” (GRAMSCI, 2007, p. 41)
CITAÇÃO: “O terceiro momento é o da relação das forças militares, imediatamente
decisivo em cada oportunidade concreta. (O desenvolvimento histórico oscila
continuamente entre o primeiro e o terceiro momento, com a mediação do segundo.)
Mas também esse momento não é algo indistinto e identificável imediatamente de forma
esquemática; também nele podem-se distinguir dois graus: o militar em sentido estrito,
ou técnico-militar, e o grau que pode ser chamado de político-militar. No curso da
história, estes dois graus se apresentaram numa grande variedade de combinações”
(GRAMSCI, 2007, p. 43)
CITAÇÃO: “A observação mais importante a ser feita sobre qualquer análise concreta
das relações de força é a seguinte: tais análises não podem e não devem ser fins em si
mesmas (a não ser que se trate de escrever um capítulo da história do passado), mas só
adquirem um significado se servem para justificar uma atividade prática, uma iniciativa
de vontade” (GRAMSCI, 2007, p. 45)
CITAÇÃO: “

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