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É interessante observarmos que nos anos 80, enquanto o filósofo alemão dava
forma aos primeiros escritos da teoria considerada como extremamente
punitivista e totalitária, o mundo seguia para caminhos democráticos
priorizando as garantias e liberdades individuais. No Brasil, por exemplo,
promulgávamos a Carta Magna de 1988, conhecida até hoje como Constituição
Cidadã.
Na Alemanha, no entanto, embora se construísse um caminho de reunificação
com a queda do muro de Berlim, tal caminhada trazia consigo as inseguranças
entre ocidentais e orientais. Tal receio justificava o temor de Jakobs e a sua
tendência de separar e categorizar as pessoas como cidadãos ou inimigos.
Afinal, o clima da Guerra Fria era recente e sentido no mundo inteiro.
Ocorre que a teoria de Jakobs ficou esquecida por anos do contexto mundial.
Porém, com o aumento massivo de ataques terroristas e extremistas como o
de 11 de setembro de 2001 ao World Trade Center, nos Estados Unidos da
América, voltou a ganhar força.
Quem é o inimigo?
um Direito que reconheça, mas que também respeite, a autonomia moral da pessoa
jamais pode penalizar o ser de uma pessoa, mas somente o seu agir, já que o direito é
uma ordem reguladora de conduta humana. Não se pode penalizar um homem por ser
como escolheu ser, sem que isso violente a sua esfera de autodeterminação.”
Leia também: O que é considerado cárcere privado e qual a pena – Art. 158 CP!
Desde o início, impõe-se ao inimigo a perda dos seus direitos por não restar
enquadrado como cidadão. Tira-se as garantias processuais de ampla defesa,
duplo grau de jurisdição, e sendo viável nesse modelo até práticas de tortura
para se obter os fins condenatórios ou anteceder eventuais atos terroristas.
Ao inimigo, aplicar-se-iam, entre outras, algumas das seguintes medidas: não é punido
com pena, mas com medida de segurança; é punido conforme sua periculosidade e não
culpabilidade; no estágio prévio ao ato preparatório; a punição não considera o
passado, mas o futuro e suas garantias sociais; para ele, o direito penal é prospectivo
ou de probabilidade; não é sujeito de direitos, mas de coação como impedimento à
prática de delitos, para o inimigo, haverá a redução de garantias como o sigilo
telefônico, o ônus da prova, o direito de ficar calado, o processo penal em liberdade e
outras garantias processuais.”
A essa altura, o leitor deve estar pensando: “mas esse tipo de entendimento deve
ter ficado restrito ao campo teórico e não deve ter sido aproveitado em lugar nenhum
do mundo.”
Ledo engano. Em 26 de outubro de 2001, logo após os atentados em Nova
York, o então Presidente dos Estados Unidos assinou o famoso “USA
PATRIOT Act” (Uniting and Strengthening America by Providing Appropriate
Tools Required to Intercept and Obstruct Terrorism).
O USA PATRIOT Act é uma lei antiterrorista que, com inspiração no modelo de
Jakobs, impunha exatamente essas restrições de direitos e legalizou inclusive
a tortura, talvez o mais grave abuso de liberdades civis na história dos Estados
Unidos.
O ponto de atenção sobre esse tipo de lei é que geralmente é abarcada por um
viés populista, respaldada no medo da população diante da ineficiência do estado
em propiciar uma efetiva política de combate ao crime. Movimentos assim podem
acontecer gradativamente ou de maneira abrupta, como diante de ataques
terroristas, por exemplo.
O que se viu posteriormente é que a lei americana abriu as portas para que o
governo violasse as liberdades de todos fundamentando em qualquer ilação
mínima que chegasse ao seu conhecimento. Os resultados dessa guerra só o
tempo trará as reais respostas.