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CONTEMPORÂNEA
PALAVRAS CHAVE: Direito Penal. Escolas Penais. Direito Penal do Inimigo. Direito
Penal de Terceira Velocidade. Aplicações do Direito Penal do Inimigo no Brasil.
1 INTRODUÇÃO
1
Graduando em Direito pela Faculdade de Americana – Fam. E-mail: f.jelres@gmail.com.
2
Orientadora. Bacharel em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Mestre em
Direito pela Universidade Metodista de Piracicaba. Advogada. Professa Universitária. E-mail:
proflais.fam@outlook.com
ferir as garantias constitucionais do cidadão – ou ainda, a natureza íntima, seu âmago
como um ser humano e como ser racional – passa a ser um desafio.
O alemão Günther Jakobs, filósofo e professor de Direito Penal defende e
discute desde os anos oitenta, a teoria da divisão do Direito Penal em duas vertentes,
quais sejam: o Direito Penal do Cidadão, com a preservação dos direitos e garantias
constitucionais e humanas; e por outro lado, o Direito Penal do Inimigo – também
conhecido como Direito Penal de Terceira Velocidade – voltado para o combatente
reiterado e perigoso, com relativização dos referidos direitos e garantias outrora
chamadas de fundamentais.
Apesar de seu brilhantismo ao apresentar a referida teoria, levando a ser
conhecida mundialmente, Jakobs não foi o primeiro a abordar o assunto, visto que
Niklas Luhman, Rousseau, Fichte, Kant, Hobbes e outros já o tinham feito, entretanto,
certamente foi um dos autores considerados recentes em comparação aos demais, a
constatar e escrever de maneira fidedigna a importância da então denominada
Terceira Velocidade do Direito Penal.
Digno de ressalte é que, embora difundida ao redor do mundo, a teoria não é
bem recepcionada por ser considerada afrontosa ao Estado Democrático de Direito,
porém, é facilmente perceptível e astuciosamente observaremos a sua utilização – em
não raras vezes – na legislação pátria e em ordenamentos de civilizações
consideradas como “de primeiro mundo”.
Em síntese, busca o presente primariamente conceituar de maneira
aprofundada a Teoria do Direito Penal do Inimigo. Esse conceito aborda as suas bases
históricas, características, a abordagem de para quem seria o Direito Penal do
Cidadão e de para quem seria o Direito Penal do Inimigo e, foi examinado sobre a sua
presença no ordenamento jurídico.
Secundariamente há aproximação das visões filosóficas e políticas, análise
das pressões que causam os clamores sociais por mudanças no sistema penal e, por
fim, ilustrada a necessidade de ser discutido sobre uma Teoria considerada pelos
doutrinadores como desarraigada e encoberta, porém, que tem força de conduzir os
rumos da sociedade a um patamar desconhecido.
Este trabalho foi realizado através dos métodos dialético e dedutivo utilizando-
se, em sua maior parte, de pesquisas em livros antigos, meios digitais, artigos e teses,
tendo em vista que o tema é considerado uma ignomínia por grande parte dos
doutrinadores e assim, pouquíssimas vezes discutido.
2 DIREITO PENAL DO INIMIGO E DIREITO PENAL DO CIDADÃO
Por sua vez, o Direito Penal de Segunda Velocidade tem em seu arcabouço
como tendências, flexibilizar garantias penais e a adoção de penas diferenciadas das
privativas de liberdade – tais como as que restringem direitos e as penas em pecúnia
– garantindo sanções de menor potencial prejudicial ao sujeito infrator em
contrapartida a práticas de delitos com menor grau de severidade.
Já a Terceira Velocidade tem como característica a somatória das duas
velocidades anteriores, com utilização de penas privativas de liberdade e relativização
de garantias penais e processuais penais.
Com isso, as três velocidades que compõem o Direito Penal formam o alicerce
de ferramentas voltadas ao confronto de atitudes criminosas.
De forma geral, a definição de “inimigo” tratada nesta teoria não é recente, tão
pouco há evidências suficientemente comprobatórias da datação em que surgiu,
todavia, existem documentos que podem nortear as bases históricas e filosóficas,
conforme se pode extrair deste subtópico.
Podemos identificar no estudo do Direito três preceitos genuínos, cuja autoria
fora atribuída ao jurista romano Eneu Domitius Ulpiano e os tais constituem pedras
fundamentais para o Direito, sendo eles: “viver honestamente (honeste vivere), não
ofender ninguém (neminem laedere), dar a cada um o que lhe pertence (suum cuique
tribuere)”, ainda assim, vale ressaltar que um antigo brocardo jurídico – também
atribuído ao mesmo jurista – já estabelecia um do principais requisitos para existência
de uma sociedade na qual o homem conviva e se relacione, este requisito não é outro
senão, a existência do Direito (PINTO JÚNIOR, 1888).
Onde há o homem, há sociedade; onde existe sociedade, há Direito – assim
disse Ulpiano no Corpus Iuris Civilis: “Ubi homo ibi societas; ubi societas, ibi jus” – e
a submissão à essa ordem jurídica é a renúncia do estado de natureza ao qual Hobbes
(1983), supõe em sua teoria que é um período de caos e animalidade – os conflitos
de interesse levando os homens à barbárie, à maldade e ao domínio sobre a vida e a
liberdade dos outros – como bem foi definido em uma frase também de sua autoria na
qual diz “O homem é o lobo do homem”.
Uma espécie de ideal de sociedade provocou ideologias ao final do século
XVIII, refletindo na concepção da Revolução Francesa, surgindo uma questão de
como seria possível garantir segurança e bem-estar social, sem privar o homem de
sua liberdade natural?
Rousseau (2002), diz que isso é possível, através de um contrato social, onde
prevalece a soberania da sociedade e a soberania política da vontade coletiva, meio
pelo qual os homens abririam mão de sua liberdade natural para ganhar em troca o
que foi denominado como liberdade civil, recebendo a proteção e o bem-estar advindo
do Estado soberano – tal soberania decorrente do povo, da vontade geral – um pacto
legitimo de transferência das vontades particulares em prol de uma condição de
igualdade entre todos.
Ora, se um malfeitor agindo de modo reiteradamente a atentar contra os
princípios basilares – que dão a estruturação e sustentação – da sociedade,
abandonando o contrato de social, perderá os seus direitos como cidadão. Operando
contrariamente a isso estamos por colocar em cheque toda uma civilização com vistas
a proteção de direitos e garantias fundamentais individuais, em detrimento do coletivo.
Similarmente é a disposição de Fichte (JAKOBS; MELIÁ; 2012, apud FICHTE,
p.25):
[...] quem abandona o contrato cidadão em um ponto em que no contrato se
encontrava sua prudência, seja no modo voluntário ou por imprevisão, em
sentido estrito perde todos os seus direitos como cidadão e como ser humano
e passa a um estado de ausência completa de direitos [...].
4 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
PINTO JÚNIOR, João José. Curso Elementar de Direito Romano: Direito Romano
na Faculdade de Recife. Pernambuco: TYPOGRAPHIA ECONOMICA, 1888.
Disponível em: <http://www.stf.jus.br/bibliotecadigital/OR/47474/pdf/47474.pdf>.
Acesso em: 25 maio 2018.
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral, 1. 17. ed. rev.,
ampl. e atual. de acordo com a Lei n. 12.550, de 2011. – São Paulo: Saraiva, 2012.