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SAMARA OLIVEIRA NASCIMENTO

JEQUIÉ
2024
SAMARA OLIVEIRA NASCIMENTO

Texto dissertativo-argumentativo sobre o sistema


processual penal brasileiro para a obtenção de nota da
matéria de Direito Processual Penal do docente Dr.
Luciano Santana.

JEQUIÉ
2024
Existem formas de sistemas processuais que vigoraram ao longo da história. Dentre
eles existem três principais, são eles: inquisitório, acusatório e misto. O código de processo
penal brasileiro foi criado em plena ditadura do Estado Novo em 1941 com forte inspiração
fascista. Sendo assim, algumas marcas deste movimento firmaram raízes nas legislações
brasileiras, na jurisprudência e na doutrina. Com isso, percebe-se que há perfis inquisitoriais
presentes no sistema, permitindo o magistrado agir de ofício. Destarte, há até hoje discussões
acerca do sistema processual penal do Brasil e sua caracterização.

Hodiernamente, é importante definir como se caracteriza cada um deles. No sistema


Acusatório, há a presença de um juiz imparcial, com a gestão de provas produzidas pelas
partes, além de possuir um processo público. Enquanto no sistema Inquisitório a investigação
se dá de forma sigilosa, e o juiz assume uma dupla função, ou seja, além de acusar, o mesmo
também julgará o réu. Já o sistema misto, se caracteriza por ter um pouco de cada sistema em
seu perfil.

O sistema inquisitório remete ao período da Reforma Religiosa do século XVI, na qual


o juiz inquisidor atuava como parte, investigava, dirigia, acusava e julgava. Além de que,
possuía total liberdade para coagir o acusado a se declarar culpado. O que nos dias atuais
levaria à nulidade, já que o processo necessita de um juiz imparcial e independente Nem
sequer havia constatação de inocência para o réu, o que hoje violaria o princípio da garantia
do estado de inocência, princípio este que garante a liberdade do cidadão diante do interesse
coletivo, tendo em vista que, em regra, todos são inocentes até que se prove o contrário.
Outro princípio que era extremamente violado era o do contraditório, uma vez que o sistema
delegava à investigação exclusivamente ao que o juiz estabelecia como verdade e aplicaria a
pena.

No que se refere ao sistema processual penal brasileiro e a sua caracterização, há


discussões sobre o seu respeito. Não há dúvidas que o Brasil se mostra drasticamente precário
em relação à produção de verdades judiciárias, ou seja, há obstáculos que impedem a
otimização de tal. Alguns processualistas afirmam que vigora um sistema misto,
predominantemente acusatório. Porém, é necessário entender o contexto histórico por trás
desta definição. Como foi anteriormente citado, o CPP brasileiro foi imposto em um período
ditatorial conhecido como Estado Novo, instaurado por Getúlio Vargas, na qual, muitos dos
direitos dos cidadãos foram brutalmente violados, e esses direitos fundamentais e a
democracia era vista como obra da oposição, e os seus defensores eram vistos como inimigos.
Deste modo, este governo foi refletido nos processos penais, considerando que os direitos dos
suspeitos, investigados e acusados foram colocados de lado. Essa ideologia queria construir
um homem novo, que serviria de exemplo, obediente, disciplinado e sem a possibilidade de
discutir.
Acerca disso, ainda vemos marcas inquisitoriais nos dias atuais. O imputado ainda é
tratado como um ser inferior perante a sociedade e no processo. Por exemplo, podemos que,
até nos dias atuais, fere-se o princípio do estado de inocência, já que deste modo o acusado já
nasce culpado e precisa se desdobrar para provar o contrário.

Após este período totalitarista houveram inúmeras tentativas de alterações no Código


de Processo Penal, algumas obtiveram sucesso, outras não. Uma dessas tentativas foi pelo
Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, abrangendo modificações desde o Inquérito Policial
até o Tribunal de Júri.

O antropólogo Kant de Lima afirma que o nosso sistema processual é autodenominado


misto, porém as práticas constituem uma verdadeira tradição inquisitorial (Kant de Lima,
1989, p. 75). Associando essa afirmação com o que percebemos da nossa realidade, podemos
ver claramente que a sujeição criminal envolve diversos fatores, tais como extensões sociais e
geográficas e traços sociais, remetendo a imagens postas por Cesare Lombroso.

Outro fato que motiva as afirmações de Kant de Lima é o da polícia justificar o seu
comportamento mais violento e fora da lei é a alegação de que ela estava lá, além de que será
necessário “fazer justiça com as próprias mãos” (Kant de Lima, 1989, p.76). Seguindo esta
lógica, é perceptível que traços do sistema inquisitório refletem em nossa sociedade. A
exemplo disso, em 2022 Genivaldo de Jesus Santos, de 38 anos, morreu depois de ficar mais
de 11 minutos exposto a gases tóxicos, após ser retido em uma viatura da Polícia Rodoviária
Federal (PRF) impedido de sair. O mesmo havia sido abordado por estar pilotando uma moto
sem capacete. A perícia realizada durante a investigação dos policiais aponta que Genivaldo
não esboçou reação e que mesmo assim houve uma violência desproporcional.

Consequentemente, o princípio da garantia do Devido Processo Legal tem de ser


acionado, considerando que esse princípio engloba todos os outros que garantem um processo
justo e respeitoso. Temos também a nossa Constituição Federal de 1998, que traz em seu
Artigo 1º, inciso III o princípio fundamental da Dignidade da Pessoa Humana, representando
uma existência humana adequada e digna. Para mais, também é possível sustentar no que diz
na Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) de 1948, assegurando que todos
têm capacidade de gozar dos seus direitos e de sua liberdade, garante também que todo ser
humano tem direito, em plena igualdade, a uma justa e pública audiência por parte de um
tribunal independente e imparcial, para decidir seus direitos e deveres ou fundamento de
qualquer acusação criminal contra ele, assim, deixando expressamente claro que é totalmente
antidemocrático e desumano o uso de práticas refletidas no sistema inquisitório.

Palavras-chave: Sistema; Processo; In


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GIACOMOLLI, Nereu José. Algumas marcas inquisitoriais do Código de Processo Penal


brasileiro e a resistência às reformas. Revista Brasileira de Direito Processual Penal, Porto
Alegre, vol. 1, n. 1, p. 143-165, 2015.
Disponível em: http://dx.doi.org/10.22197/rbdpp.v1i1.8.

Khaled Jr., Salah Hassan. O Sistema Processual Penal brasileiro Acusatório, misto ou
inquisitório? Civitas - Revista de Ciências Sociais, vol. 10, núm. 2, maio-agosto, 2010, pp.
293-308 Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul- Porto Alegre, Brasil.
Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=74221650008

Genivaldo Santos ficou mais de 11 minutos expostos a gases tóxicos dentro de viatura da
PRF antes de morrer em Sergipe, diz perícia. G1 SE, 2022.
Disponível em: https://g1.globo.com/se/sergipe/noticia/2022/10/09/genivaldo-dos-santos-
ficou-mais-de-11-minutos-exposto-a-gases-toxicos-dentro-de-viatura-da-prf-antes-de-morrer-
em-sergipe-diz-pericia.ghtml

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