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Sistemas Processuais Penais

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Sistemas Processuais Penais
• Os Sistemas Processuais Penais (estruturas do processo) são conhecidos
e divididos pela dogmática processual penal em três espécies:
inquisitório, acusatório e misto;
• A estrutura do processo penal variou ao longo dos séculos, conforme o
predomínio da ideologia punitiva ou libertária da época;
• O sistema acusatório predominou até o séc. XII, sendo substituído pelo
modelo inquisitório (época das inquisições promovidas pela Igreja), o
qual prevaleceu até o final do séc. XVIII e início do séc. XIX, quando os
movimentos sociais, políticos e filosóficos trouxeram uma nova
perspectiva de direitos humanos/direitos fundamentais (época da
Revolução Francesa, do Iluminismo, do positivismo etc.).
Sistemas Processuais Penais
• Grande parte da doutrina entende que o processo penal
brasileiro adotou um modelo misto (predomina o inquisitório na
fase pré-processual e o acusatório na fase processual);
• Alguns professores, dentre eles Aury Lopes Jr., Jacinto Nelson de
Miranda Coutinho, Juarez Cirino dos Santos, Maurício Dieter,
afirmam categoricamente que o processo penal brasileiro é
inquisitório.
Sistema Inquisitório
• No transcurso do século XIII foi instituído o Tribunal da Inquisição ou
Santo Ofício: reprimir a heresia e tudo que fosse contrário ou que
pudesse criar dúvidas acerca dos Mandamentos da Igreja Católica;
• Com a Inquisição, são abolidas a acusação e a publicidade. O juiz-
inquisidor atua de ofício e em segredo;
• Essência do sistema inquisitório: aglutinação de funções na mão do juiz e
atribuição de poderes instrutórios ao julgador, senhor soberano do
processo.
• Não existe contraditório, não existe imparcialidade: uma mesma pessoa
(juiz-ator) acusa, busca a prova (iniciativa e gestão) e decide a partir da
prova que ela mesma produziu.
Sistema Inquisitório
• Principais características: gestão/iniciativa
probatória nas mãos do juiz (figura central);
ausência de separação das funções de acusar e
julgar; violação do princípio ne procedat iudex ex
oficio, pois o juiz pode atuar de ofício (sem
prévia invocação); juiz parcial; inexistência de
contraditório pleno; desigualdade de armas e
oportunidades.
Sistema Acusatório
• O sistema acusatório contrapõe-se frontalmente
ao sistema inquisitório;
• É o sistema mais afinado com o Estado
Democrático de Direito, pois é a estrutura
processual que respeita os direitos fundamentais
e as garantias individuais dos cidadãos.
• Sistema Acusatório
São características do sistema acusatório:
• A clara distinção entre as atividades de acusar e julgar;
• A iniciativa probatória é das partes;
• O juiz como um terceiro imparcial, alheio ao labor de investigação e passivo no que se
refere à coleta da prova, tanto de imputação (acusação) como de descargo
(normalmente da defesa);
• Tratamento igualitário das partes (igualdade de oportunidades no processo);
• Procedimento oral (em regra);
• Plena publicidade de todo o procedimento (em regra);
• Contraditório e possibilidade de resistência (defesa);
• Sentença dada pelo livre convencimento motivado do órgão jurisdicional;
• Segurança jurídica (e social) da coisa julgada;
• Possibilidade de impugnar as decisões e o duplo grau de jurisdição.
Sistema acusatório
• Quando o sistema aplicado mantém o juiz afastado da iniciativa
probatória (da busca de ofício), fortalece-se a estrutura dialética
(de troca entre as partes) e, acima de tudo, assegura-se a
imparcialidade do julgador;
• No processo penal regido pelo princípio da presunção de
inocência, quando o juiz “desce” da sua imparcialidade para
produzir ou buscar a prova, é sempre para condenar e não para
absolver;
• Juiz que vai atrás da prova está contaminado, prejuízo que
decorre dos pré-juízos ou metarregras.
Sistema processual misto e o CPP Brasileiro
• O “Sistema Misto” nasce com o Código Napoleônico de 1808 e a
divisão do processo em duas fases: fase pré-processual e fase
processual: a primeira de caráter inquisitório e a segunda, acusatório;
• É a definição geralmente feita para identificar o sistema processual
brasileiro, pois ainda permanece a ideia de que a mera separação das
funções de julgar e acusar (na fase processual) caracteriza o processo
acusatório;
• É lugar-comum na doutrina processual penal a classificação de
“sistema misto”, com a afirmação de que os sistemas puros seriam
modelos históricos sem correspondência com os atuais.
Sistema processual misto e o CPP Brasileiro
• São muito críticos dessa concepção mista os professores Aury
Lopes Jr. e Jacinto de Miranda Coutinho:
• é reducionista, na medida em que atualmente todos os sistemas
são mistos, sendo os modelos puros apenas uma referência
histórica;
• por ser misto, é crucial analisar qual o núcleo fundante para
definir o predomínio da estrutura inquisitória ou acusatória;
• a noção de que a (mera) separação das funções de acusar e
julgar seria suficiente e fundante do sistema acusatório é uma
concepção reducionista;
• a concepção de sistema processual não pode ser pensada de
Sistema processual misto e o CPP Brasileiro
• O processo penal tem por finalidade buscar a reconstituição de um fato
histórico (o crime sempre é passado, logo, fato histórico), de modo que a
gestão da prova é erigida à espinha dorsal do processo penal, estruturando
e fundando o sistema a partir de dois princípios informadores: dispositivo
ou acusatório, que funda o sistema acusatório, pois a gestão da prova está
nas mãos das partes (juiz-espectador); e inquisitivo, pois a gestão da prova
está nas mãos do julgador (juiz-ator [inquisidor]);
• Não basta ter uma separação inicial (MP acusando e juiz julgando) se ao
longo do procedimento for permitido ao juiz assumir um papel ativo na
busca da prova;
• Todas essas questões giram em torno do tripé sistema acusatório,
contraditório e imparcialidade, porque a imparcialidade é garantida pelo
modelo acusatório e sacrificada no sistema inquisitório;
Sistema processual misto e o CPP Brasileiro
• A Constituição, apesar de não expressamente mencionar que
o sistema processual penal é acusatório, desenha todo este
sistema por meio das normas que tratam do devido
processo, do juiz natural, do contraditório e da ampla defesa,
do processo de partes, entre outros, inseridos no art. 5º,
incisos LIII, LIV, LV, LVII, e art. 129, inciso I, todos da
Constituição Federal;
• No entanto, de outro lado, quando analisamos diversos
dispositivos contidos no CPP, podemos chegar ao
entendimento que o processo penal brasileiro é
essencialmente inquisitório, uma vez que o princípio
Sistema processual misto e o CPP Brasileiro
• Exemplos:
• a possibilidade de decretação da prisão preventiva de ofício
(art. 311 – recentemente alterado pela Lei Anticrime, mas
ainda remanesce entendimento de que pode);
• a decretação, de ofício, da busca e apreensão (art. 242);
• a iniciativa probatória a cargo do juiz (art. 156);
• a condenação do réu sem pedido do Ministério Público,
violando também o Princípio da Correlação (art. 385).
Sistema processual misto e o CPP Brasileiro
• Diante dos inúmeros traços inquisitórios do processo penal
brasileiro, isso porque o CPP foi inspirado no (ou quase
copiado do) Código de Processo Penal Italiano de 1930,
conhecido como Codice Rocco, elaborado durante o regime
fascista – com premissas extremamente autoritárias,
inquisitoriais e punitivistas, é necessário fazer uma “filtragem
constitucional” dos dispositivos incompatíveis com o princípio
acusatório, pois são “substancialmente inconstitucionais”.
Assumido o problema estrutural do CPP, a luta passa a ser pela
acoplagem constitucional e pela filtragem constitucional.
Alterações da Lei nº 13.964/2019
• A Lei nº 13.964/2019, conhecida como Lei Anticrime, promoveu diversas
alterações no CPP, algumas de importante relevância para o sistema acusatório:
• Art. 3º-A. O processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a iniciativa do juiz
na fase de investigação e a substituição da atuação probatória do órgão de
acusação (cristalizou no CPP as normas constitucionais que desenham o sistema
acusatório) – SUSPENSO POR DECISÃO MONOCRÁTICA DO STF (FUX);
• Art. 3º-B ao Art. 3º-F: instituiu o juiz das garantias e dispôs sobre a
impossibilidade de admissão do IP (atos de investigação) na ação penal -
SUSPENSOS POR DECISÃO MONOCRÁTICA DO STF (FUX);
• Art. 282 e 283: impossibilidade de decretação de medidas cautelares de ofício;
• Art. 310: audiência de custódia;
• Art. 311: impossibilidade de decretação de prisão preventiva de ofício;
• Art. 315: adequada motivação de fundamentação das decisões.

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