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2º BIMESTRE

Norma Processual
Penal no Tempo e no
Espaço

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Introdução
• A vigências e a eficácia da norma é a aptidão para a produção de
efeitos jurídicos;
• No processo penal, as normas processuais são limitadas, ou seja, tem
sua eficácia condicionada e reduzida em razão de fatores espaciais e
temporais, que serão analisados especificamente;
Lei Processual Penal no tempo
• Doutrina tradicional:
• Ensina que o processo penal é guiado pelo princípio da imediatidade
(art. 2º do CPP): A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem
prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior;
• Assim, as normas processuais penais teriam aplicação imediata,
independente de serem benéficas ou prejudiciais ao acusado, tão
logo passasse a vacatio legis, sem prejudicar, contudo, os atos já
praticados, eis que não retroagiria jamais.
Lei Processual Penal no tempo
• A doutrina tradicional costuma dividir a natureza das leis penais e
processuais da seguinte forma:
• a) lei penal pura;
• b) lei processual penal pura;
• c) leis mistas.
Lei Processual Penal no tempo
• a) A lei penal pura é aquela que disciplina o poder punitivo estatal. Diz respeito à
tipificação de delitos, pena máxima e mínima, regime de cumprimento etc. Para essa
natureza de lei vale a regra do Direito Penal, ou seja: retroatividade e ultratividade da lei
penal mais benéfica e irretroatividade da lei mais gravosa;
• b) Já a lei processual penal pura regula o início, desenvolvimento ou fim do processo e os
diferentes institutos processuais. Exemplo: perícias, rol de testemunhas, forma de
realizar atos processuais, ritos etc. Vale o princípio da imediatidade (não tem efeito
retroativo e não se questiona se a lei nova é mais gravosa ou não ao réu).
Lei Processual Penal no tempo
• c) As leis mistas possuem caracteres penais e processuais. Nesse caso, aplica-
se a regra do Direito Penal, ou seja, a lei mais benigna é retroativa e a mais
gravosa não. Alguns autores chamam de normas mistas com prevalentes
caracteres penais, pois disciplinam um ato realizado no processo, mas que diz
respeito ao poder punitivo e à extinção da punibilidade. Exemplo: as normas
que regulam a representação, ação penal, queixa-crime, perdão, renúncia,
perempção etc.;
• Exemplo muito recente: alteração do tipo de ação penal no crime de
estelionato (art. 171, § 5º, do CP);
• Enunciado da Súmula 501/STJ: veda a combinação de leis – fala
especificamente da atual lei de drogas (Lei 11.343/06) e da antiga (Lei
6.368/76).
Lei Processual Penal no tempo
• Doutrina mais abalizada com a CF (Aury Lopes Jr. e Alexandre Morais
da Rosa): proposta de releitura constitucional;
• O princípio da imediatidade contido no art. 2º do CPP, como aplicado
pela doutrina tradicional, não resistiria a uma filtragem constitucional
quando confrontado com o art. 5º, XL, da Constituição: a lei penal não
retroagirá, salvo para beneficiar o réu;
Lei Processual Penal no tempo
• A irretroatividade da lei penal, cf. consta na Constituição, deve
também compreender, pelas mesmas razões, a lei processual
penal: não há como se pensar o Direito Penal completamente
desvinculado do processo e vice-versa;
• Não pode haver punição sem lei anterior que preveja o crime e
um processo que o apure. Também não pode haver um
processo penal senão para apurar a prática de um fato
aparentemente delituoso e aplicar a pena correspondente;
• Deve-se prezar pela coesão do sistema penal, não podendo
considerar o direito penal como uma área completamente
apartada do processo penal.
Lei Processual Penal no tempo
• Assim, as regras da retroatividade da lei penal mais benéfica devem ser
compreendidas dentro da lógica sistêmica, ou seja, retroatividade da
lei penal ou processual penal mais benéfica e vedação de efeitos
retroativos da lei (penal ou processual penal) mais gravosa ao réu;
• Portanto, uma lei penal mais gravosa, por exemplo, que adota critérios
menos rígidos para a decretação de prisões cautelares ou amplia os
seus respectivos prazos de duração, restringe a participação do
advogado etc., limita-se a reger os processos após a sua entrada em
vigor;
• Exemplo: art. 387 do CPP, fixação de quantum indenizatório na
sentença.
Lei Processual Penal no tempo
• Desse modo, entende-se que sempre que a lei processual dispuser
de modo mais favorável ao réu, terá aplicação efetivamente
retroativa.
• A retroatividade implica na aplicação imediata da lei mais benéfica,
mas também na renovação de determinados atos processuais, a
depender da fase em que o processo se achar.
Lei Processual Penal no tempo
• Nesse mesmo sentido, o Professor Juarez Cirino dos Santos entende
que o princípio constitucional da lei penal mais favorável condiciona a
legalidade processual penal de duas formas:
• 1ª - as garantias do princípio da legalidade do direito penal devem ser
estendidas ao subsistema de imputação, porque a coerção processual
é a própria realização da coação punitiva;
• 2ª - o gênero lei penal abrange as espécies lei penal material e lei
penal processual, regidas pelo mesmo princípio fundamental.
Lei Processual Penal no tempo
• Apesar dessa filtragem constitucional, o princípio da imediatidade
segue tendo plena aplicação nos casos de leis meramente
procedimentais, de conteúdo neutro (a ser aferido no caso concreto),
na medida em que não geram gravame para a defesa.
Lei Processual Penal no tempo
• E o juiz das garantias (art. 3º-B do CPP – suspenso)?
• É lei processual penal mais benéfica, segundo foi visto até aqui, deveria retroagir
em todos os casos;
• Posição inicial do STF: Min. Dias Toffoli (Medida Cautelar na Ação Direta de
Inconstitucionalidade n. 6.298/DF) decidiu liminarmente que: a) as ações penais
que já tiverem sido instauradas no momento da efetiva implementação do juiz
das garantias, a eficácia da lei não acarretará qualquer modificação do juízo
competente. O fato de o juiz da causa ter atuado na fase investigativa não
implicará seu automático impedimento; b) as investigações que estiverem em
curso no momento da efetiva implementação do juiz das garantias, o juiz da
investigação tornar-se á o juiz das garantias do caso específico. Nesse caso,
cessada a competência do juiz das garantias, com o recebimento da denúncia ou
queixa, o processo será enviado ao juiz competente para a instrução e o
julgamento da causa.
Lei Processual Penal no tempo
• Posição divergente do STF (Aury Lopes Jr. e Alexandre Morais da
Rosa):
• No campo do Processo Penal (que é forma e GARANTIA) não há
direito processual adquirido do Estado em manter normas restritivas
de Direitos Humanos e de Direitos Fundamentais;
• Portanto, se pendente o ato de instrução e julgamento, a
aplicabilidade será imediata, com a anulação dos atos realizados e a
remessa ao Juiz de Julgamento, sem contato com os atos anteriores;
• Não haverá retroatividade, no entanto, nos casos em que as
instruções foram finalizadas conforme a regra em vigor.
Lei Processual Penal no espaço
• Ao contrário do Direito Penal, no qual existe a figura da
extraterritorialidade da lei penal (art. 7º do CP), no processo penal
vige o princípio da territorialidade. As normas processuais penais
brasileiras só se aplicam no território nacional, não tendo qualquer
possibilidade de eficácia extraterritorial (art. 1º do CPP – princípio da
territorialidade ou lex fori);
• A questão da territorialidade está vinculada ao fato de a jurisdição
constituir um exercício de poder, condicionado aos limites impostos
pela soberania. Assim, o poder jurisdicional brasileiro somente pode
ser exercido no território nacional.
Lei Processual Penal no espaço
• A regra é a aplicação das normas processuais brasileiras aos
procedimentos aqui instaurados, não fazendo o CPP qualquer exceção
à territorialidade, mas sim à aplicação do CPP em determinados casos
em que terão preferência normas nacionais especiais;
• Quando houver, em outras leis, a previsão de procedimentos
especiais, segue-se a previsão especial e o CPP será aplicado de
maneira subsidiária (art. 1º, parágrafo único);
Lei Processual Penal no espaço
• Exceções à aplicação do CPP:
• Art. 1º, incisos: I - os tratados, as convenções e regras de direito internacional (p.
ex. Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas);
• II - as prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros de
Estado, nos crimes conexos com os do Presidente da República, e dos ministros
do Supremo Tribunal Federal, nos crimes de responsabilidade (art. 86 da CF);
• III - os processos da competência da Justiça Militar (aplicação subsidiária do CPP);
• IV - os processos da competência do tribunal especial (revogado pela CF);
• V - os processos por crimes de imprensa (Vide ADPF nº 130, não recepcionado
pela CF).
Lei Processual Penal no espaço
• Eventualmente, no campo teórico (especialmente em alguns concursos públicos),
criam-se complexas questões envolvendo a prática de atos processuais no exterior,
como, por exemplo, o cumprimento de uma carta rogatória;
• Ainda que realizado no exterior, o ato processual (a oitiva de uma testemunha,
vítima etc.) deve observar a forma e o ritual exigido pelo nosso CPP? Se for
praticado de outra forma, segundo as regras do sistema daquele país, o ato é nulo?
• A resposta é negativa. O ato processual será realizado naquele país segundo as
regras lá vigentes. Não têm nossas leis processuais penais extraterritorialidade, para
regrar os atos praticados fora do território nacional;
• Também não se pode falar em nulidade. Ao necessitar da cooperação internacional,
deve o País conformar-se com a forma como é exercido, lá, o poder jurisdicional.
Imunidade
• Situações previstasProcessual
expressamente na legislação que fazem com que
determinadas pessoas, em razão do exercício de alguma função, não se
submetam à autoridade do Poder Judiciário;
• Presidente da República: não pode ser preso por crimes comuns (não
relacionados à função) enquanto estiver no exercício da função, salvo por
sentença condenatória com trânsito em julgado (art. 86, § 3º, da
Constituição Federal), bem como não poderá ser responsabilizado, na
vigência do seu mandato, por atos estranhos ao exercício de suas funções
(art. 86, § 4º, da CF);
• Parlamentares Federais: inviolabilidade civil e penal por suas opiniões,
palavras e votos (art. 53 da Constituição Federal) e imunidade processual.

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