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O CPP, em seu artigo 1º, estabelece que o processo penal, em regra, reger-se-á,
em todo o território brasileiro, pelo citado Código. Diante disso, aplica-se o
PRINCÍPIO DA TERRITORIALIDADE ou da lex fori (lei do lugar), assim como no
Direito Penal – art. 5º, do CP.
Tal regra visa garantir a soberania nacional, pois o direito alienígena não é fruto
da vontade do povo brasileiro, mas de outro povo.
No entanto, esta regra não é absoluta. O artigo 1º do CPP prevê exceções:
a) Aplicação de tratados, as convenções e regras de direito internacional (art.
1º, I, do CPP).
🡪 Chefes de Governo estrangeiro ou de Estado estrangeiro, suas famílias e
membros das comitivas; embaixadores e seus familiares; funcionários estrangeiros do
corpo diplomático e seus familiares e funcionários de organizações internacionais em
serviço (ONU, OEA, etc.) gozam de imunidade diplomática, que se estende a todo o
território nacional, quando estiverem a serviço do país de origem, conforme a
Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas, de 1961. Logo, se qualquer um deles
cometer um crime em solo nacional, aqui não será punido.
O mesmo ocorre com o cônsul, também imune à jurisdição brasileira, desde que
cometa infração pertinente ao exercício de suas funções (crimes funcionais) e no
território do seu consulado, conforme a Convenção de Viena sobre Relações
Consulares, de 1963.
Atenção: 1) A imunidade não subtrai o diploma da investigação,
mas do processo e julgamento em território brasileiro; 2) É
possível ao país renunciar à imunidade do agente diplomático,
mas o agente não pode renunciar por iniciativa pessoal, pois a
imunidade se fundamenta no interesse da função.
🡪 Certos atos processuais que devam ser praticados no exterior (citação,
intimação, busca e apreensão, oitiva de testemunhas) devem obedecer a lei processual
do país onde forem realizados (locus regit actum), salvo se houver tratado firmado entre
os países dispondo de modo diverso. Com base nisso, o Brasil, ao receber uma sentença
estrangeira para homologação, poderá implicar no cumprimento, no Brasil, de decisão
de magistrado alienígena.
🡪 Submissão à jurisdição do Tribunal Penal Internacional (artigo 5º, §4º/CF).
Tribunal com jurisdição subsidiária.
Legislativo – atividade jurisdicional exercida por órgãos políticos (art. 52, inciso I e
II/CF).
🡪 Além das exceções previstas nas alíneas descritas acima, destaca-se que
existem leis especiais com previsão expressa de procedimento distinto dos previstos no
CPP. Logo, em razão do princípio da especialidade, as infrações de que tratam estas leis
serão julgadas conforme a respectiva legislação.
Exemplos: Lei nº 8.038/90 (crimes de competência originária dos Tribunais; Lei
9.099/95 (Lei dos Juizados Especiais); Lei nº 11.101/05 (Crimes falimentares);
Lei nº 11.340/06 (Lei Maria da Penha); Lei nº 11.343/06 (Lei de Drogas).
Inclusive, essa questão tem sido objeto de recente discussão nos Tribunais
Superiores. Desde a entrada em vigor do Pacote Anticrime (Lei 13.964/19), que alterou
o tipo de ação penal do crime de estelionato, de incondicionada para condicionada à
representação, tem-se discutido se é necessário que, nos processos em cursos, a vítima
seja intimada para se manifestar quanto ao interesse de representar contra o acusado, já
que trata-se de uma novatio legis mais benéfica para o acusado.
Num primeiro momento, o STJ e o STF decidiram que a nova regra da
representação deveria ser aplicada nos casos anteriores à nova lei que ainda não
tivessem denúncia. Havendo denúncia, a regra da representação não se aplicaria aos
casos antigos. Ou seja, segundo essa entendimento, a aplicação retroativa da "lex
mitior" vai além da mera impossibilidade material de sua aplicação ao passado, pois
ocorre, também, quando a lei posterior, malgrado retroativa, não tem mais como incidir
à falta de correspondência entre a anterior situação do fato e a hipótese normativa a que
subordinada a sua aplicação, ou quando a situação de fato, no momento em que essa lei
entra em vigor, não mais condiz com a natureza jurídica do instituto mais benéfico e,
portanto, com a finalidade para a qual foi instituído. (Informativo n° 995 do STF).
Inclusive, no julgamento do HC 610201, o Ministro Ribeiro Dantas, do STJ,
ponderou que a irretroatividade do parágrafo 5º do artigo 171 do Código Penal decorre
da própria mens legis (finalidade da lei), pois o legislador previu apenas a condição de
procedibilidade, nada dispondo – embora pudesse fazê-lo – sobre a condição de
prosseguibilidade, isto é, condição necessária para o prosseguimento do processo.
O Ministro ressaltou a necessidade de respeito aos princípios constitucionais do
direito adquirido e do ato jurídico perfeito quando já oferecida a denúncia. Além disso,
o relator acrescentou que, na jurisprudência do STJ, a representação do ofendido não
exige qualquer formalidade, sendo suficiente que a vítima leve o fato ao conhecimento
das autoridades. Segundo o Ministro, na quase totalidade dos processos, a persecução
penal apenas começou em razão da manifestação da vítima.
No entanto, esse entendimento foi alvo de críticas no meio jurídico. Veja abaixo
o entendimento defendido por Renato Brasileiro de Lima:
Com a devida vênia, queremos crer que o fato de o processo penal já
estar em andamento não é empecilho algum à incidência desse novo
regramento. (...) O fato de a Lei n. 13.964/2019 não trazer dispositivo
expresso acerca do assunto, como o fez, por exemplo, a Lei n.
9.099/95 (art. 91), não pode servir como impedimento para a
incidência do novo regramento. Afinal, como o direito de
representação está profundamente vinculado ao direito de punir, uma
vez que seu não exercício acarreta a decadência, que é causa de
extinção da punibilidade, e como tudo que impeça ou dificulte o ius
puniendi se insere no âmbito da lei penal, há que se aplicar a regra
constitucional do Direito Penal intertemporal, segundo a qual a lei
penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu (CF, art. 5º, XL, c.c
art. 2º, parágrafo único, do CP).
PENAIS
Incriminadoras Não se aplica a analogia nem a
interpretação extensiva