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INTENSIVO II

Renato Brasileiro
Direito Processual Penal
Aula 1

ROTEIRO DE AULA

TEMA: COMUNICAÇÃO DOS ATOS PROCESSUAIS E CONTAGEM DE PRAZOS

Introdução:
- A citação: confere ao acusado o conhecimento da instauração do processo.

- A notificação se refere a ato futuro, ao passo que a intimação se refere a ato pretérito.

A comunicação dos atos processuais se relaciona com os princípios do contraditório e ampla defesa.

1. Citação
Conceito: é o ato de comunicação processual por meio do qual o acusado toma ciência do recebimento de uma denúncia
ou queixa em face de sua pessoa, ao mesmo tempo em que é chamado para se defender.

Obs.: O acusado é citado para apresentar defesa à acusação (art. 396-A, CPP) - princípios do contraditório e ampla defesa.

Constituição Federal, Art. 5, LV. “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são
assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.

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Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Dec. 678/92), Art. 8, §2º, b. “comunicação prévia e pormenorizada ao
acusado da acusação formulada”.

- Consequências decorrentes da ausência (ou de eventual vício) da citação: nulidade absoluta ab initio do processo.
A citação circunduta é o nome conferido à citação contaminada por nulidade.

CPP, Art. 564. “A nulidade ocorrerá nos seguintes casos:


(...)
III – por falta das fórmulas ou dos termos seguintes:
(...)
e) a citação do réu para ver-se processar, o seu interrogatório, quando presente, e os prazos concedidos à acusação e à
defesa;”

- Regra geral: as nulidades absolutas não estão sujeitas a convalidação.

- Exceção: citação - eventual vício pode ser convalidado com o comparecimento do acusado (princípio da
instrumentalidade das formas).

CPP, Art. 570. “A falta ou a nulidade da citação, da intimação ou notificação estará sanada, desde que o interessado
compareça, antes de o ato consumar-se, embora declare que o faz para o único fim de argui-la. O juiz ordenará, todavia,
a suspensão ou o adiamento do ato, quando reconhecer que a irregularidade poderá prejudicar o direito da parte.

1.1. Finalidade da citação:


- Antes da reforma processual de 2008: comparecimento em juízo para o interrogatório (o interrogatório era o primeiro
ato da instrução e, por esse motivo, o réu era citado para ser interrogado).

- Depois da reforma processual de 2008: apresentação da resposta à acusação (art.. 396-A do CPP) (atualmente o
interrogatório é o último ato da instrução e o réu é citado para apresentar resposta à acusação).

- Atenção para alguns procedimentos especiais em que há “previsão legal” do interrogatório como primeiro ato da
instrução processual e a controvérsia jurisprudencial acerca do assunto:
a) Procedimento originário dos Tribunais (Lei n. 8.038/90);
b) Processo Penal Militar (CPPM, art. 399, “c”);
c) Procedimento Especial da Lei de Licitações (Revogada Lei n. 8.666/93, art. 104);
d) Procedimento Especial da Lei de Drogas (Lei n. 11.343/06, art. 57, caput).

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De acordo com o entendimento dos tribunais superiores, o interrogatório deve ser o último ato da instrução de todos os
procedimentos penais (art. 400 do CPP).

CPP, Art. 396. “Nos procedimentos ordinário e sumário, oferecida a denúncia ou queixa, o juiz, se não a rejeitar
liminarmente, recebê-la-á e ordenará a citação do acusado para responder à acusação, por escrito, no prazo de 10 (dez)
dias.”

STF (Pleno): “(...) O art. 400 do Código de Processo Penal, com a redação dada pela Lei 11.719/2008, fixou o interrogatório
do réu como ato derradeiro da instrução penal. Sendo tal prática benéfica à defesa, deve prevalecer nas ações penais
originárias perante o Supremo Tribunal Federal, em detrimento do previsto no art. 7º da Lei 8.038/90 nesse aspecto.
Exceção apenas quanto às ações nas quais o interrogatório já se ultimou. Interpretação sistemática e teleológica do
direito. Agravo regimental a que se nega provimento”. (STF, Pleno, AP 528 AgR/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j.
24/03/2011, Dje 109 07/06/2011).

STF (Pleno): “(...) A exigência de realização do interrogatório ao final da instrução criminal, conforme o art. 400 do CPP, é
aplicável no âmbito de processo penal militar. (...) O Tribunal entendeu ser mais condizente com o contraditório e a ampla
defesa a aplicabilidade da nova redação do art. 400 do CPP ao processo penal militar. (...) Entretanto, o Plenário ponderou
ser mais recomendável frisar que a aplicação do art. 400 do CPP no âmbito da justiça castrense não incide para os casos
em que já houvera interrogatório. Assim, para evitar possível quadro de instabilidade e revisão de casos julgados
conforme regra estabelecida de acordo com o princípio da especialidade, a tese ora fixada deveria ser observada a partir
da data de publicação da ata do julgamento. Rel. Min. Dias Toffoli, 3.3.2016.” (HC-127.900)

BLOCO 02:
1.2. Efeitos da citação válida.
- Efeitos da citação no processo civil:
Novo CPC, Art. 240. “A citação válida, ainda quando ordenada por juízo incompetente, induz litispendência, torna litigiosa
a coisa e constitui em mora o devedor, ressalvado o disposto nos arts. 397 e 398 do Código Civil.”

Novo CPC, Art. 59. “O registro ou a distribuição da petição inicial torna prevento o juízo.”

- Efeito da citação válida no processo penal: estabelecer a angularidade da relação processual, fazendo surgir a instância.

CPP, Art. 363. “O processo terá completada a sua formação quando realizada a citação do acusado.”

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- Litispendência no processo penal: não depende da citação válida no segundo processo - caracterizada quando houver
o recebimento de uma segunda denúncia contra o mesmo acusado, versando sobre a mesma imputação.

Assim, a litispendência ocorre quando o agente responde a dois processos de forma concomitante que versam sobre a
mesma imputação.

- Prevenção do juízo no processo penal: ocorre com a prática do primeiro ato decisório, ainda que praticado na fase
investigatória.

Exemplo: extorsão mediante sequestro em que a vítima sequestrada é mantida em cativeiro nas cidades de Campinas,
Indaiatuba, Itatiba, Jundiaí etc. - nesse caso, o juízo competente será aquele que primeiro praticar um ato decisório.

- Interrupção da prescrição no processo penal: não é a citação que interrompe a prescrição. Nesse caso, o recebimento
da peça acusatória pelo juízo competente interrompe a prescrição.

CPP, Art. 117. “O curso da prescrição interrompe-se:


I - pelo recebimento da denúncia ou da queixa;”

1.3. Espécies de citação.


a) Real (ou pessoal): realizada na pessoa do próprio acusado (é a regra por conferir maior segurança jurídica). Ela pode
ser realizada por mandado, carta precatória, carta de ordem ou carta rogatória.

Obs.: Por se tratar de ato personalíssimo, a citação não pode ser realizada na pessoa da mãe do acusado ou pessoa que
possua procuração.

Cuidado: A citação da pessoa jurídica é realizada na pessoa de seu representante legal.

b) Ficta ou presumida: é excepcional por partir da presunção de que o acusado tomou conhecimento da citação. Ela é
realizada por edital ou por hora certa.

1.4. (Im) possibilidade de utilização da citação eletrônica no processo penal.


É possível a utilização do processo eletrônico no processo penal. Contudo, a citação eletrônica não é admitida.

Lei n. 11.419/06, Art. 1º. “O uso de meio eletrônico na tramitação de processos judiciais, comunicação de atos e
transmissão de peças processuais será admitido nos termos desta Lei.”

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Lei n. 11.419/06, Art. 6º. “Observadas as formas e as cautelas do art. 5º desta Lei, as citações, inclusive da Fazenda Pública,
excetuadas as dos Direitos Processuais Criminal e Infracional, poderão ser feitas por meio eletrônico, desde que a íntegra
dos autos seja acessível ao citando.”

O STJ admite a citação via WhatsApp desde que adotadas medidas suficientes para “atestar a autenticidade do número
telefônico e a identidade do destinatário do ato processual”:

STJ: “É possível a utilização de WhatsApp para citação de acusado, desde que sejam adotadas medidas suficientes para
atestar a autenticidade do número telefônico, bem como a identidade do indivíduo destinatário do ato processual”. (STJ,
5ª Turma, HC 641.877/DF, Rel. Min. Ribeiro Dantas, j. 09.03.2021).

“(...) A tecnologia em questão permite a troca de arquivos de texto e de imagens, o que possibilita ao oficial de justiça,
com quase igual precisão da verificação pessoal, aferir a autenticidade da conversa. É possível imaginar-se, por exemplo,
a exigência pelo agente público do envio de foto do documento de identificação do acusado, de um termo de ciência do
ato citatório assinado de próprio punho, quando o oficial possuir algum documento do citando para poder comparar as
assinaturas, ou qualquer outra medida que torne inconteste tratar-se de conversa travada com o verdadeiro denunciado.
De outro lado, a mera confirmação escrita da identidade pelo citando não nos parece suficiente. Necessário distinguir,
porém, essa situação daquela em que, além da escrita pelo citando, há no aplicativo foto individual dele. Nesse caso, ante
a mitigação dos riscos, diante da concorrência de três elementos indutivos da autenticidade do destinatário, número de
telefone, confirmação escrita e foto individual, entende-se possível presumir-se que a citação se deu de maneira válida,
ressalvado o direito do citando de, posteriormente, comprovar eventual nulidade, seja com registro de ocorrência de
furto, roubo ou perda do celular na época da citação, com contrato de permuta, com testemunhas ou qualquer outro
meio válido que autorize concluir de forma assertiva não ter havido citação válida. (...)”.

BLOCO 03:
2. Citação pessoal (real).
A citação pessoal é realizada na pessoa do acusado e não na pessoa de seu representante legal (não se aplica o art. 242
do CPC).

Obs.: A pessoa jurídica é citada na pessoa de seu representante legal.

CPC, Art. 242. “A citação será pessoal, podendo, no entanto, ser feita na pessoa do representante legal ou do procurador
do réu, do executado ou do interessado.”

- Citação imprópria:

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Alguns doutrinadores entendem que o inimputável (art. 26 do CP) deve ser citado pessoalmente mesmo após o
reconhecimento da inimputabilidade na fase investigatória. Entretanto, parte da doutrina defende que a citação do
inimputável deve ser realizada na pessoa de seu curador (citação imprópria).

De acordo com o art. 245 do CPC, deve ser instaurado o incidente de insanidade mental e nomeado um curador especial.

Novo CPC, Art. 245. “Não se fará citação quando se verificar que o citando é mentalmente incapaz ou está impossibilitado
de recebê-la.
§ 1o O oficial de justiça descreverá e certificará minuciosamente a ocorrência.
§ 2o Para examinar o citando, o juiz nomeará médico, que apresentará laudo no prazo de 5 (cinco) dias.
§ 3o Dispensa-se a nomeação de que trata o § 2o se pessoa da família apresentar declaração do médico do citando que
ateste a incapacidade deste.
§ 4o Reconhecida a impossibilidade, o juiz nomeará curador ao citando, observando, quanto à sua escolha, a preferência
estabelecida em lei e restringindo a nomeação à causa.
§ 5o A citação será feita na pessoa do curador, a quem incumbirá a defesa dos interesses do citando.”

2.1. Citação por mandado:


A citação por mandado funciona como regra quando o acusado reside na mesma comarca em que o processo está
tramitando.

CPP, Art. 351. “A citação inicial far-se-á por mandado, quando o réu estiver no território sujeito à jurisdição do juiz que a
houver ordenado.”

2.2. Requisitos intrínsecos do mandado:


Obs.: O mandado de citação possui requisitos intrínsecos (relacionados ao conteúdo do mandado) e extrínsecos
(formalidades que devem ser observadas por ocasião da citação).

CPP, Art. 352. “O mandado de citação indicará:


I - o nome do juiz;
II - o nome do querelante nas ações iniciadas por queixa;
III - o nome do réu, ou, se for desconhecido, os seus sinais característicos;
IV - a residência do réu, se for conhecida;
V - o fim para que é feita a citação;
VI - o juízo e o lugar, o dia e a hora em que o réu deverá comparecer;
VII - a subscrição do escrivão e a rubrica do juiz.”

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Atenção: O art. 352, VI, do CPP, foi tacitamente revogado (atualmente o interrogatório do réu é o último ato da instrução
e é realizado diante da impossibilidade de absolvição sumária).

2.3. Requisitos extrínsecos do mandado:


CPP, Art. 357. “São requisitos da citação por mandado:
I - leitura do mandado ao citando pelo oficial e entrega da contrafé, na qual se mencionarão dia e hora da citação;
II - declaração do oficial, na certidão, da entrega da contrafé, e sua aceitação ou recusa.”

Obs.: A contrafé é uma cópia da peça acusatória (denúncia ou queixa).

2.4. Restrições à citação:


Atenção para as diferenças entre o processo civil e o processo penal: o art. 244 do CPC não se aplica ao processo penal.
A única restrição da citação no processo penal é a inviolabilidade domiciliar.

Novo CPC, Art. 244. “Não se fará a citação, salvo para evitar o perecimento do direito:
I - de quem estiver participando de ato de culto religioso;
II - de cônjuge, de companheiro ou de qualquer parente do morto, consanguíneo ou afim, em linha reta ou na linha
colateral em segundo grau, no dia do falecimento e nos 7 (sete) dias seguintes;
III - de noivos, nos 3 (três) primeiros dias seguintes ao casamento;
IV - de doente, enquanto grave o seu estado.”

2.5. Citação por carta precatória:


A citação por carta precatória ocorre quando o acusado reside em comarca diversa não contígua (ela tramita
eletronicamente).

CPP, Art. 353. “Quando o réu estiver fora do território da jurisdição do juiz processante, será citado mediante precatória.”

Requisitos da precatória:
CPP, Art. 354. “A precatória indicará:
I - o juiz deprecado e o juiz deprecante;
II - a sede da jurisdição de um e de outro;
Ill - o fim para que é feita a citação, com todas as especificações;
IV - o juízo do lugar, o dia e a hora em que o réu deverá comparecer.”

- Carta precatória itinerante:


A carta precatória itinerante circula entre diversos Estados e prestigia o princípio da economia processual.

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Exemplo: carta precatória expedida em BH para cumprimento em Niterói/RJ. Em Niterói, o oficial de justiça toma
conhecimento de que o acusado mudou-se para Campo Grande/MS - nesse caso, o juízo de Niterói pode remeter a carta
precatória para Campo Grande sem realizar sua devolução para BH.

CPP, Art. 355, §1º. “Verificado que o réu se encontra em território sujeito à jurisdição de outro juiz, a este remeterá o juiz
deprecado os autos para efetivação da diligência, desde que haja tempo para fazer-se a citação.”

Atenção para o disposto no art. 355, §2º, do CPP:


CPP, Art. 355, §2º. “Certificado pelo oficial de justiça que o réu se oculta para não ser citado, a precatória será
imediatamente devolvida, para o fim previsto no art. 362.”

Antes da reforma realizada em 2008, restando contratada a ocultação do réu pelo oficial de justiça, a carta precatória era
devolvida ao juízo deprecante para que fosse determinada a citação por edital.

De acordo com a atual redação do art. 362 do CPP, posterior a reforma de 2008, em caso de ocultação a citação do réu
deve ser realizada por hora certa pelo oficial de justiça do juízo deprecado e não há necessidade de devolução ao juízo
deprecante.

2.6. Citação do militar:


A citação do militar é realizada pessoalmente. Entretanto, o juiz requisita ao comandante o comparecimento do militar
na Justiça Militar para que ele seja citado pessoalmente pelo oficial de justiça.

CPP. Art. 358. “A citação do militar far-se-á por intermédio do chefe do respectivo serviço.”

CPPM. Art. 280. “A citação a militar em situação de atividade ou a assemelhado far-se-á mediante requisição à autoridade
sob cujo comando ou chefia estiver, a fim de que o citando se apresente para ouvir a leitura do mandado e receber a
contrafé.”

BLOCO 04:
2.7. Citação de funcionário público:
O funcionário público é citado pessoalmente. Existindo necessidade de comparecimento em juízo, seu superior deve ser
comunicado da data para impedir prejuízos à prestação e continuidade do serviço público.

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CPP, Art. 359. “O dia designado para funcionário público comparecer em juízo, como acusado, será notificado assim a ele
como ao chefe de sua repartição.”

2.8. Citação de acusado preso:


Antes da Lei 10.792/03, o acusado preso não era citado pessoalmente e bastava a requisição de sua apresentação em
juízo via ofício ao diretor do presídio. Atualmente, o acusado preso é citado pessoalmente.

Redação antiga do art. 360 do CPP: “Se o réu estiver preso, será requisitada a sua apresentação em juízo, no dia e hora
designados”.

Nova redação do art. 360 do CPP:


CPP. Art. 360. “Se o réu estiver preso, será pessoalmente citado.” (Redação dada pela Lei n. 10.792/03)

Pergunta: E se o acusado estiver preso em outra unidade da federação?


Súmula n. 351 do STF: “É nula a citação por edital de réu preso na mesma unidade da Federação em que o juiz exerce a
sua jurisdição”.

A Súmula 351 do STF permite a citação por edital do réu preso em unidade da federação diversa do juízo em que o
processo tramita.

Contudo, para a doutrina, a citação pessoal deve ser realizada independentemente da unidade da federação em que o
réu se encontra e defende que ocorreu o fenômeno “overruling” com a nova redação do art. 360 do CPP.

Obs.: A jurisprudência dos tribunais superiores é no sentido de que a Súmula 351 do STF continua válida

STJ: “(...) Esta Corte Superior de Justiça possui entendimento uniforme no sentido de que a Súmula 351 da Suprema Corte,
que prevê a nulidade da "citação por edital de réu preso na mesma unidade da Federação em que o juiz exerce a sua
jurisdição", só tem incidência nos casos de réu segregado no mesmo Estado no qual o Juiz processante atua, não se
estendendo às hipóteses em que o acusado se encontra custodiado em localidade diversa daquela em que tramita o
processo no qual se deu a citação por edital. (...)”. (STJ, 5ª Turma, HC 162.339/PE, Rel. Min. Jorge Mussi, j. 27/09/2011,
Dje 28/10/2011).
2.9. Citação de acusado no estrangeiro
A carta rogatória possibilita a comunicação entre dois países que possuem relações diplomáticas. Por ser morosa, a
prescrição é suspensa até o seu cumprimento, mas o processo pode continuar fluindo.

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CPP, Art. 368. “Estando o acusado no estrangeiro, em lugar sabido, será citado mediante carta rogatória, suspendendo-
se o curso do prazo de prescrição até o seu cumprimento.

Atenção para o art. 222-A do CPP:


Cuidado: A doutrina entende que a comprovação prévia da imprescindibilidade prevista no art. 222-A do CPP não se aplica
à citação realizada por carta rogatória.

CPP, Art. 222-A. “As cartas rogatórias só serão expedidas se demonstrada previamente a sua imprescindibilidade, arcando
a parte requerente com os custos de envio.”

Atenção para a citação por rogatória nos Juizados: não é cabível, a semelhança do que ocorre com a citação por edital
nos Juizados Especiais diante da incompatibilidade com os critérios orientadores da Lei 9.099/95 (informalidade,
celeridade e economia processual).

2.10. Citação em legações estrangeiras:


As legações estrangeiras são Embaixadas/Consulados; a representação de um país no território nacional.

CPP. Art. 369. “As citações que houverem de ser feitas em legações estrangeiras serão efetuadas mediante carta
rogatória.”

As citações que devem ser realizadas em legações estrangeiras são efetivadas por meio de carta rogatória.

Como o art. 369 do CPP, ao contrário do art. 368, nada menciona sobre a suspensão da prescrição, existe controvérsia na
doutrina quanto a suspensão da prescrição nas citações em legações estrangeiras via carta rogatória:

- 1ª corrente: a suspensão da prescrição deve ser aplicada.

- 2ª corrente: a suspensão da prescrição prevista no art. 368 do CPP não pode ser aplicada por se tratar de analogia in
malan partem.

2.11. Citação mediante carta de ordem:


A carta de ordem é uma espécie de comunicação realizada entre juízos subordinados.
Exemplo: comunicação entre juízos de igual hierarquia = carta precatória;
Exemplo: comunicação entre o TJ e uma comarca = carta de ordem.

Exemplo:

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Lei n. 8.038/90. Art. 9, §1º. “O relator poderá delegar a realização do interrogatório ou de outro ato da instrução ao juiz
ou membro de tribunal com competência territorial no local de cumprimento da carta de ordem”.

BLOCO 05:
3. CITAÇÃO POR EDITAL
A citação por edital é uma espécie de citação presumida em que se presume que o acusado tomou conhecimento do
edital publicado. Ela é utilizada de forma excepcional.

3.1. Requisitos do edital de citação:


CPP, Art. 365. “O edital de citação indicará:
I - o nome do juiz que a determinar;
II - o nome do réu, ou, se não for conhecido, os seus sinais característicos, bem como sua residência e profissão, se
constarem do processo;
III - o fim para que é feita a citação;
IV - o juízo e o dia, a hora e o lugar em que o réu deverá comparecer;
V - o prazo, que será contado do dia da publicação do edital na imprensa, se houver, ou da sua afixação.
Parágrafo único. O edital será afixado à porta do edifício onde funcionar o juízo e será publicado pela imprensa, onde
houver, devendo a afixação ser certificada pelo oficial que a tiver feito e a publicação provada por exemplar do jornal ou
certidão do escrivão, da qual conste a página do jornal com a data da publicação.”

O prazo de dilação mencionado no art. 365, V, do CPP é o prazo dentro do qual o edital permanece publicado, sendo, em
regra, de 15 dias (art. 361 do CPP).

Exemplo: publicação de edital com prazo de dilação de 15 dias. A contagem do prazo de 10 dias para apresentação de
resposta à acusação se inicia apenas após os 15 dias.

CPP, Art. 361. “Se o réu não for encontrado, será citado por edital, com o prazo de 15 (quinze) dias.”

Pergunta: Há necessidade de transcrição da denúncia no edital de citação?


- 1ª corrente: sim, como a contra-fé é entregue na citação pessoal, a transcrição da denúncia deve ser realizada na citação
por edital.

- 2ª corrente: não há necessidade de transcrição da denúncia porque basta a indicação do dispositivo em que delito se
enquadra (posição majoritária).

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- Súmula 366 do STF: “Não é nula a citação por edital que indica o dispositivo da lei penal, embora não transcreva a
denúncia ou queixa, ou não resuma os fatos em que se baseia”.

- (Im) possibilidade de citação por edital nos Juizados:


Em se tratando de processo que tramita nos Juizados, a citação por edital é realizada pelo juízo comum. O processo é
encaminhado para a Justiça Comum e não retorna ao Juizado ainda que o acusado seja localizado/compareça em juízo.

Lei n. 9.099/95, Art. 66. “A citação será pessoal e far-se-á no próprio Juizado, sempre que possível, ou por mandado.
Parágrafo único. Não encontrado o acusado para ser citado, o Juiz encaminhará as peças existentes ao Juízo comum para
a adoção do procedimento previsto em lei.”

3.2. Hipóteses que Autorizam a Citação por Edital.


a) Acusado em local inacessível: o art. 256, §1º, do CPC é aplicado subsidiariamente.

Novo CPC, Art. 256. “A citação por edital será feita:


(...)
II - quando ignorado, incerto ou inacessível o lugar em que se encontrar o citando;
§ 1o Considera-se inacessível, para efeito de citação por edital, o país que recusar o cumprimento de carta rogatória.
§ 2o No caso de ser inacessível o lugar em que se encontrar o réu, a notícia de sua citação será divulgada também pelo
rádio, se na comarca houver emissora de radiodifusão.

Exemplo: se o Brasil não possui relações diplomáticas com a Coréia do Norte, ela é considerada como lugar inacessível.

Obs.: Uma comunidade dominada pelo tráfico de drogas não pode ser considerada como local inacessível para fins de
citação por edital.

b) Acusado em local incerto ou não sabido: a citação por edital é admitida como medida de “ultima ratio”, de forma que
todos os meios de localização do acusado precisam ser esgotados. Nesse caso, o art. 256, §3º, do CPC é aplicado por
analogia:

Novo CPC, Art. 256. “A citação por edital será feita:


(...)
§ 3o O réu será considerado em local ignorado ou incerto se infrutíferas as tentativas de sua localização, inclusive mediante
requisição pelo juízo de informações sobre seu endereço nos cadastros de órgãos públicos ou de concessionárias de
serviços públicos.”

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c) Acusado que se oculta para não ser citado:
- Antes da Lei 11.719/08: era citado por edital.

- Depois da Lei 11.719/08: passou a ser citado por hora certa (art. 362, CPP).

CPP, Art. 362. “Verificando que o réu se oculta para não ser citado, o oficial de justiça certificará a ocorrência e procederá
à citação com hora certa, na forma estabelecida nos arts. 227 a 229 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de
Processo Civil. (Redação dada pela Lei n. 11.719/08).

3.3. Aplicação do art. 366 do CPP ao acusado citado por edital.


Cuidado: A Lei 11.719/08 não revogou tacitamente o caput do art. 366 do CPP, mas apenas seus dois parágrafos.

CPP, Art. 366. “Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão suspensos o processo
e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção antecipada das provas consideradas urgentes e,
se for o caso, decretar prisão preventiva, nos termos do disposto no art. 312. (Redação dada pela Lei n. 9.271/96).
§ 1o (Revogado pela Lei n. 11.719/08).
§ 2o (Revogado pela Lei n. 11.719/08).

3.3.1. Lei n. 9.271/96 e o direito intertemporal.

O “caput” do art. 366 do CPP foi alterado pela Lei 9.271/96 quando o Brasil passou a se sujeitar à Corte Interamericana
de Direitos Humanos. A alteração foi realizada porque o prosseguimento do processo nos termos anteriormente previstos
violava a Convenção, que assegura o conhecimento da acusação pelo acusado.

Atualmente, o art. 366 do CPP prevê a suspensão do processo e da prescrição quando o acusado citado por edital não
comparece nos autos nem constitui advogado.

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A suspensão do processo isoladamente considerada se trata de norma processual, de forma que à luz do art. 2º do CPP o
art. 366 do CPP teria aplicação imediata. Por outro lado, a suspensão da prescrição se trata de norma de direito material
prejudicial, que gera a irretroabilidade da “lex gravior”.

Diante desse cenário, prevalece o entendimento de que o art. 366 se trata de norma processual mista/material/híbrida,
devendo ser aplicado aos crimes praticados após a vigência da Lei 9.271/96.

STF: “(...) Citação por edital e revelia: L. 9.271/96: aplicação no tempo. Firme, na jurisprudência do Tribunal, que a
suspensão do processo e a suspensão do curso da prescrição são incindíveis no contexto do novo art. 366 CPP (cf. L.
9.271/96), de tal modo que a impossibilidade de aplicar-se retroativamente a relativa à prescrição, por seu caráter penal,
impede a aplicação imediata da outra, malgrado o seu caráter processual, aos feitos em curso quando do advento da lei
nova. Precedentes. (...)”. (STF, 1ª Turma, HC 83.864/DF, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, j. 20/04/2004, DJ 21/05/2004).

3.3.2. Pressupostos para aplicação do art. 366 do CPP:


a) Citação do acusado por edital;
b) Não apresentação da resposta à acusação.

Obs.: O art. 366 do CPP não se aplica à citação por hora certa.

BLOCO 06:
3.3.3. Consequências da Aplicação do art. 366 do CPP
1) Suspensão do processo e da prescrição (é última das consequências e deve ser realizada após as demais);
2) Produção antecipada de provas urgentes;
3) Possibilidade de decretação da prisão preventiva;

*3.3.4. Limitação Temporal do Prazo de Suspensão da Prescrição.


Súmula 415 do STJ: “O período de suspensão do prazo prescricional é regulado pelo máximo da pena cominada”.

Exemplo: no crime de furto, com a citação por edital sem apresentação de resposta o processo e a prescrição ficam
suspensos por oito anos.

Após o decurso dos oito anos, o STJ entendia que o processo e a prescrição voltavam a fluir. Ocorre que a orientação do
STF é no sentido de ser constitucional a fixação do prazo máximo de suspensão da prescrição e do processo de acordo
com o prazo de prescrição da pretensão punitiva em abstrato, mas a prescrição volta a fluir após o prazo máximo de
suspensão e o processo continua suspenso.

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Tese de Repercussão Geral fixada no tema n. 438: Em caso de inatividade processual decorrente de citação por edital,
ressalvados os crimes previstos na Constituição Federal como imprescritíveis, é constitucional limitar o período de
suspensão do prazo prescricional ao tempo de prescrição da pena máxima em abstrato cominada ao crime, a despeito de
o processo permanecer suspenso. Paradigma: STF, Pleno, RE 600.851, Rel. Min. Edson Fachin, j. 07.12.2020, DJ
23.02.2021.

3.3.5. Produção Antecipada de Provas Urgentes.


- 1ª corrente: a prova testemunhal é considerada urgente (MP - posição minoritária);
- 2ª corrente: a prova testemunhal isoladamente considerada não é prova urgente, pelo menos em regra (STJ);

Súmula 455 do STJ: “A decisão que determina a produção antecipada de provas com base no art. 366 do CPP deve ser
concretamente fundamentada, não a justificando unicamente o mero decurso do tempo”.

Atenção: A fundamentação da decisão que determina a produção antecipada de provas com base no art. 366 do CPP deve
ser realizada à luz do art. 225 do CPP (exemplo: testemunha doente, idosa etc.)

CPP, Art. 225. “Se qualquer testemunha houver de ausentar-se, ou, por enfermidade ou por velhice, inspirar receio de
que ao tempo da instrução criminal já não exista, o juiz poderá, de ofício ou a requerimento de qualquer das partes,
tomar-lhe antecipadamente o depoimento.

Exceção: alguns julgados do STJ consideram a oitiva de policiais como prova urgente:

STJ: “(...) O atuar constante no combate à criminalidade expõe o agente da segurança pública a inúmeras situações
conflituosas com o ordenamento jurídico, sendo certo que as peculiaridades de cada uma acabam se perdendo em sua
memória, seja pela frequência com que ocorrem, ou pela própria similitude dos fatos, sendo inviável a exigência de
qualquer esforço intelectivo que ultrapasse a normalidade para que estes profissionais colaborem com a Justiça apenas
quando o acusado se submeta ao contraditório deflagrado na ação penal. Este é o tipo de situação que justifica a produção
antecipada da prova testemunhal, pois além da proximidade temporal com a ocorrência dos fatos proporcionar uma
maior fidelidade das declarações, possibilita o registro oficial da versão dos fatos vivenciada pelo agente da segurança
pública, o qual terá grande relevância para a garantia à ampla defesa do acusado, caso a defesa técnica repute necessária
a repetição do seu depoimento por ocasião da retomada do curso da ação penal. Recurso desprovido”. (STJ, 5ª Turma,
RHC 51.232/DF, Rel. Min. Jorge Mussi, j. 02/10/2014).

(CESPE – PROMOTOR DE JUSTIÇA – MPE/RR -2017). O não cumprimento de procedimento previsto em lei pode gerar
múltiplas nulidades, além de ofensas ao devido processo legal. A respeito desse assunto, assinale a opção correta de
acordo com o entendimento dos tribunais superiores.

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(A) A oitiva de policiais de forma antecipada, sob a alegação de que a atuação frequente em situações semelhantes leva
ao esquecimento de fatos específicos, não configura constrangimento ilegal.
(B) O acesso do MP a recibos e comprovantes de depósitos bancários entregues espontaneamente pela ex companheira
do investigado, que tiverem sido voluntariamente deixados sob a guarda dela pelo próprio investigado, é considerado
meio de prova nulo.
(C) A gravação ambiental realizada por um dos interlocutores, sem o consentimento do outro e sem prévia autorização
judicial, é ilícita e, por isso, acarreta nulidade da prova.
(D) A técnica de depoimento sem dano nos crimes sexuais contra criança e adolescente configura-se vedada no
ordenamento brasileiro, por trazer cerceamento de defesa, devido ao fato de o defensor não poder fazer a inquirição
direta da testemunha.
Gabarito: A

3.3.6. Decretação da Prisão Preventiva:


A decretação da prisão preventiva não é uma consequência automática. A doutrina entende que as hipóteses dos arts.
312 e 313 do CPP devem ser observadas pelo magistrado: o delito deve admitir a prisão preventiva + deve estar presente
o “fumus comissi delicti” e o "periculum libertatis”.

3.3.7. Aplicação do art. 366 do CPP da Lei de Lavagem de Capitais:


O art. 366 do CPP não se aplica à Lei de Lavagem de Capitais.

Lei 9.613/98, Art. 2º, §2º. “No processo por crime previsto nesta Lei, não se aplica o disposto no art. 366 do Código de
Processo Penal, devendo o acusado que não comparecer nem constituir advogado ser citado por edital, prosseguindo o
feito até o julgamento, com a nomeação de defensor dativo.” (Redação dada pela Lei n. 12.683/12)

Obs.: Parte da doutrina entende que o dispositivo acima é inconstitucional.

3.3.8. Aplicação do art. 366 do CPP na Justiça Militar:


Não é possível a aplicação do art. 366 do CPP à Justiça Militar porque nela a suspensão da prescrição configura analogia
“in malam partem”.

CPPM, Art. 412. “Será considerado revel o acusado que, estando solto e tendo sido regularmente citado, não atender ao
chamado judicial para o início da instrução criminal, ou que, sem justa causa, se previamente cientificado, deixar de
comparecer a ato do processo em que sua presença seja indispensável.”
(TRF – 5ª REGIÃO – JUIZ FEDERAL SUBSTITUTO- 2017) Em razão de não ser localizado para a citação pessoal, o réu foi
citado por edital e constituiu advogado nos autos, fazendo o processo transcorrer normalmente. Um mês após ser
constituído, o advogado renunciou ao mandado outorgado; o juiz intimou novamente o réu por edital para que

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comparecesse em juízo e constituísse novo advogado. O acusado permaneceu silente. Nessa situação hipotética, de
acordo com o entendimento majoritário do Superior Tribunal de Justiça, o juiz deverá
(a) declarar o réu revel e dar continuidade ao processo, nomeando defensor público ou dativo.
(b) intimar o acusado por hora certa.
(c) suspender o processo e a prescrição penal com efeito retroativo à citação editalícia.
(d) suspender o processo e manter o trâmite regular da prescrição.
(e) suspender o processo e a prescrição penal a partir do término do prazo transcorrido da nova intimação por edital.
Gabarito: A

4. CITAÇÃO POR HORA CERTA (CPP, art. 362)


A citação por hora certa foi introduzida no CPP em 2008.

CPP, Art. 362. “Verificando que o réu se oculta para não ser citado, o oficial de justiça certificará a ocorrência e procederá
à citação com hora certa, na forma estabelecida nos arts. 227 a 229 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de
Processo Civil. (Redação dada pela Lei n. 11.719/08).
Parágrafo único. Completada a citação com hora certa, se o acusado não comparecer, ser-lhe-á nomeado defensor
dativo.”

Obs.: O regramento da citação por hora certa é realizado de acordo com os arts. 252 a 254 do CPC, de forma que o art.
362 do CPP se trata de norma processual penal em branco.

O acusado citado por por edital que não comparece nos autos tem seu processo e prescrição suspensos, ao passo que o
não comparecimento do acusado citado por hora certa gera o curso normal do processo, a decretação de sua revelia e a
nomeação de defensor dativo.

- Art. 362 do CPP como exemplo de norma processual penal em branco:

Novo CPC, Art. 252. “Quando, por 2 (duas) vezes, o oficial de justiça houver procurado o citando em seu domicílio ou
residência sem o encontrar, deverá, havendo suspeita de ocultação, intimar qualquer pessoa da família ou, em sua falta,
qualquer vizinho de que, no dia útil imediato, voltará a fim de efetuar a citação, na hora que designar.
Parágrafo único. Nos condomínios edilícios ou nos loteamentos com controle de acesso, será válida a intimação a que se
refere o caput feita a funcionário da portaria responsável pelo recebimento de correspondência.”

CPC, Art. 253. “No dia e na hora designados, o oficial de justiça, independentemente de novo despacho, comparecerá ao
domicílio ou à residência do citando a fim de realizar a diligência.

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§ 1o Se o citando não estiver presente, o oficial de justiça procurará informar-se das razões da ausência, dando por feita
a citação, ainda que o citando se tenha ocultado em outra comarca, seção ou subseção judiciárias.
§ 2o A citação com hora certa será efetivada mesmo que a pessoa da família ou o vizinho que houver sido intimado esteja
ausente, ou se, embora presente, a pessoa da família ou o vizinho se recusar a receber o mandado.
§ 3o Da certidão da ocorrência, o oficial de justiça deixará contrafé com qualquer pessoa da família ou vizinho, conforme
o caso, declarando-lhe o nome.
§ 4o O oficial de justiça fará constar do mandado a advertência de que será nomeado curador especial se houver revelia.”

CPC, Art. 254. “Feita a citação com hora certa, o escrivão ou chefe de secretaria enviará ao réu, executado ou interessado,
no prazo de 10 (dez) dias, contado da data da juntada do mandado aos autos, carta, telegrama ou correspondência
eletrônica, dando-lhe de tudo ciência.”

4.2. Requisitos para Citação por Hora Certa:


Na citação por hora certa o acusado precisa ser procurado por duas vezes e deve exigir suspeita de ocultação. Além disso,
ela independe de autorização judicial.

4.3. Citação por Hora Certa: compatibilidade com a CF/88 e com a CADH.
- 1ª corrente: a citação por hora certa é inconstitucional por violar o direito ao contraditório e ampla defesa (doutrina);

- 2ª corrente: a citação por hora certa é constitucional (STF).

Tese de Repercussão Geral fixada no tema n. 613: 1 – É constitucional a citação por hora certa, prevista no art. 362, do
Código de Processo Penal; 2 – A ocultação do réu para ser citado infringe cláusulas constitucionais do devido processo
legal e viola as garantias constitucionais do acesso à Justiça e da razoável duração do processo. Paradigma: STF, Pleno, RE
635.145/RS, Rel. Min. Luiz Fux, j. 01.08.2016, DJ 13.09.2017.

5. Intimação, notificação e contagem de prazos.


- Intimação: é a comunicação feita a alguém no tocante a ato processual já realizado.
- Notificação: é a comunicação feita a alguém no tocante a ato processual a ser realizado.

CPP, Art. 798. “Todos os prazos correrão em cartório e serão contínuos e peremptórios, não se interrompendo por férias,
domingo ou dia feriado. (em regra)
§1º Não se computará no prazo o dia do começo, incluindo-se, porém, o do vencimento.
§2º A terminação dos prazos será certificada nos autos pelo escrivão; será, porém, considerado findo o prazo, ainda que
omitida aquela formalidade, se feita a prova do dia em que começou a correr.
§3º O prazo que terminar em domingo ou dia feriado considerar-se-á prorrogado até o dia útil imediato.

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§4º Não correrão os prazos, se houver impedimento do juiz, força maior, ou obstáculo judicial oposto pela parte contrária.
§5º Salvo os casos expressos, os prazos correrão:
a) da intimação;
b) Da audiência ou sessão em que for proferida a decisão, se a ela estiver presente a parte;
c) Do dia em que a parte manifestar nos autos ciência inequívoca da sentença ou despacho.”

CPP, Art. 798-A. “Suspende-se o curso do prazo processual nos dias compreendidos entre 20 de dezembro e 20 de janeiro,
inclusive, salvo nos seguintes casos: (Incluído pela Lei n. 14.365, de 2022).
I - que envolvam réus presos, nos processos vinculados a essas prisões;
II - nos procedimentos regidos pela Lei n. 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha);
III - nas medidas consideradas urgentes, mediante despacho fundamentado do juízo competente.
Parágrafo único. Durante o período a que se refere o caput deste artigo, fica vedada a realização de audiências e de
sessões de julgamento, salvo nas hipóteses dos incisos I, II e III do caput deste artigo.”

Obs. 1: A regra constante do art. 798, caput, do CPP diz respeito ao início do prazo, o que não se confunde com o início
da contagem do prazo. O marco inicial do prazo é, em regra, aquele em que ocorre a intimação; a contagem, que é coisa
distinta, obedece a regras diversas. Com efeito, quanto à contagem do prazo, há de se lembrar que o dia do começo não
é computado, incluindo-se, porém, o do vencimento. Ademais, o prazo que terminar em domingo ou feriado considerar-
se-á prorrogado até o dia útil imediato.

Súmula 310 do STF: “Quando a intimação tiver lugar na sexta-feira, ou a publicação com efeito de intimação for feita
nesse dia, o prazo judicial terá início na segunda-feira imediata, salvo se não houver expediente, caso em que começará
no primeiro dia útil que se seguir.”

Súmula 710 do STF: “No processo penal, contam-se os prazos da data da intimação, e não da juntada aos autos do
mandado ou da carta precatória ou de ordem.”

- Contagem dos prazos exclusivamente em dias úteis: os prazos penais não são contados em dias úteis por expressa
previsão em sentido contrário no art. 798 do CPP.

Novo CPC, Art. 219. “Na contagem de prazo em dias, estabelecido por lei ou pelo juiz, computar-se-ão somente os dias
úteis.
- Suspensão dos processos entre os dias 20 de dezembro e 20 de janeiro (Lei n. 14.365 - vigência em data de 3 de junho
de 2022):

- Antes da entrada em vigor da Lei nº 14.365/22: não era aplicado no processo penal diante do art. 798 do CPP.

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- Depois da entrada em vigor da Lei nº 14.365/22: o art. 798-A do CPP passa a permitir a suspensão do prazo processual.

CPP, Art. 798-A. “Suspende-se o curso do prazo processual nos dias compreendidos entre 20 de dezembro e 20 de janeiro,
inclusive, salvo nos seguintes casos: (Incluído pela Lei nº 14.365, de 2022)
I - que envolvam réus presos, nos processos vinculados a essas prisões; (Incluído pela Lei nº 14.365, de 2022)
II - nos procedimentos regidos pela Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha); (Incluído pela Lei nº
14.365, de 2022)
III - nas medidas consideradas urgentes, mediante despacho fundamentado do juízo competente. (Incluído pela Lei nº
14.365, de 2022)
Parágrafo único. Durante o período a que se refere o caput deste artigo, fica vedada a realização de audiências e de
sessões de julgamento, salvo nas hipóteses dos incisos I, II e III do caput deste artigo.” (Incluído pela Lei nº 14.365, de
2022)

Cuidado: Os prazos de direito material não são suspensos e a suspensão prevista no art. 798-A do CPP se aplica a todos,
inclusive ao Jecrim, mas não aos inquéritos policiais.

Obs. 2: intimação e notificação do Ministério Público:


A intimação e a notificação do Ministério Público é realizada pessoalmente.

Tese de Recurso Especial Repetitivo fixada no tema n. 959: O termo inicial da contagem do prazo para impugnar decisão
judicial é, para o Ministério Público, a data da entrega dos autos na repartição administrativa do órgão, sendo irrelevante
que a intimação pessoal tenha se dado em audiência, em cartório ou por mandado. Paradigma: STJ, 3ª Seção, REsp
1.349.935/SE, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 23.08.2017.

Se a intimação é realizada em audiência, ainda que o Promotor dela participe, o prazo só se inicia com a entrega dos
autos.

- Havendo requerimento próprio neste sentido, a intimação efetivada por meio eletrônico do Ministério Público não viola
sua prerrogativa de ser pessoalmente intimado. Destarte, se o órgão ministerial foi incluído, a requerimento próprio, no
Portal de Intimação, por exemplo, do STJ, e, em razão disso, foi intimado, pessoalmente e de forma eletrônica, não há
falar em ausência de intimação pessoal ou de violação da prerrogativa do Ministério Público, pois, conforme o disposto
no art. 5º, §§ 1º e 3º, da Lei n. 11.419/2006, “a intimação eletrônica considera-se realizada no dia em que efetivada a
consulta eletrônica, em até 10 dias, contados da data do seu envio, sob pena de considerar-se realizada automaticamente
na data do término do prazo, regras aplicáveis ao Ministério Público, em observância aos princípios da igualdade das

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partes e do devido processo legal”. Enfim, cumpre lembrar que a tese acima exposta, fixada no julgamento do REsp
1.349.935/SE, não foi construída sob a perspectiva das intimações realizadas nos processos eletrônicos, conforme os
regramentos do art. 5º, §§1º e 3º, da Lei n. 11.419/2006”.

A citação pessoal pode ser realizada por meio eletrônico.

Obs. 3: intimação e notificação dos Defensores Públicos: o MP, os Defensores Públicos e os Dativos possuem direito à
intimação pessoal.

Obs. 4: prazo em dobro: direito reservado aos Defensores Públicos (MP e defensor dativo não possuem prazo em dobro).

Obs. 5: intimação e notificação do defensor dativo, do defensor constituído e dos advogados do querelante e do
assistente.
A intimação de defensor dativo deve ser pessoal, ao passo que é realizada por meio de publicação a intimação dos
defensores constituídos e dos advogados do querelante e do assistente.

CPP, Art. 370. “Nas intimações dos acusados, das testemunhas e demais pessoas que devam tomar conhecimento de
qualquer ato, será observado, no que for aplicável, o disposto no Capítulo anterior.
§1º A intimação do defensor constituído, do advogado do querelante e do assistente far-se-á por publicação no órgão
incumbido da publicidade dos atos judiciais da comarca, incluindo, sob pena de nulidade, o nome do acusado.
§2º Caso não haja órgão de publicação dos atos judiciais na Comarca, a intimação far-se-á diretamente pelo escrivão, por
mandado, ou via postal com comprovante de recebimento, ou por qualquer outro meio idôneo.
§3º A intimação pessoal, feita pelo escrivão, dispensará a aplicação a que alude o §1º.
§4º A intimação do Ministério Público e do defensor nomeado será pessoal.

Obs. 6: intimação e notificação por hora certa:


É cabível a intimação e a notificação por hora certa.

CPP, Art. 370. “Nas intimações dos acusados, das testemunhas e demais pessoas que devam tomar conhecimento de
qualquer ato, será observado, no que for aplicável, o disposto no Capítulo anterior.”
Obs. 7: intimação e notificação por meios eletrônicos: é cabível a intimação e a notificação por meio eletrônico.

Lei n. 11.419/06, Art. 1º. “O uso de meio eletrônico na tramitação de processos judiciais, comunicação de atos e
transmissão de peças processuais será admitido nos termos desta Lei.

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- A Lei do Processo Eletrônico prevê dois tipos de comunicação dos atos processuais: intimação pelo Portal Eletrônico e
intimação pelo Diário da Justiça Eletrônico.

- A intimação pelo Diário Eletrônico de Justiça envolve a inserção da informação em diário publicado periodicamente. O
servidor insere a informação no jornal eletrônico do Tribunal, o qual é disponibilizado, em regra, ao final do dia. Há regra
específica segundo a qual a publicação do ato judicial é considerada no dia seguinte ao da disponibilização, marcando o
começo dos prazos processuais. Os prazos são contados com a exclusão do dia do começo e com a inclusão do dia do
término. Logo, o primeiro dia do prazo ocorre apenas no dia seguinte ao considerado como data da publicação.

- A intimação pelo Portal Eletrônico implica o envio da comunicação por intermédio de um sistema eletrônico de controle
de processos, cada vez mais utilizado no âmbito do Poder Judiciário. A comunicação do ato processual ocorre “por dentro”
do sistema informatizado. O advogado, devidamente cadastrado, acessa o processo judicial eletrônico e é intimado. Há
um prazo de 10 dias para acesso à informação. Após o envio da intimação pelo processo judicial eletrônico, a parte tem
10 dias para consultar o teor da informação. Caso consulte a informação dentro desse lapso temporal, o ato judicial será
considerado publicado no dia da consulta, dando-se início ao cômputo do prazo a partir do primeiro dia subsequente.
Caso não consulte nos 10 dias previstos, a intimação será automática, de maneira que será considerada realizada na data
do término desse prazo, independentemente de consulta, iniciando-se, a seguir, a contagem do prazo processual.

- Na visão da Corte Especial do STJ (EAREsp 1.663.952/RJ, Rel. Min. Raul Araújo, j. 19.05.2021), em caso de duplicidade de
intimações eletrônicas previstas na Lei n. 11.419/06, o termo inicial de contagem dos prazos processuais dá-se com aquela
realizada pelo portal eletrônico, que prevalece sobre a publicação no Diário da Justiça (DJe).

Obs. 8: (Des) necessidade de observância de prazo mínimo entre a publicação da pauta e o julgamento dos recursos e
das ações autônomas de impugnação e realização de audiências;

Súmula n. 431 do STF: “É nulo o julgamento de recurso criminal, na segunda instância, sem prévia intimação, ou publicação
da pauta, salvo em habeas corpus.”

Súmula 117 do STJ: “A inobservância do prazo de 48 horas, entre a publicação da pauta e o julgamento sem a presença
das partes, acarreta nulidade.”
O prazo de 48 horas previsto na Súmula 117 do STJ estava previsto no art. 552, §1º do CPC/73. O art. 935 do CPC/15
estabelece prazo de cinco dias e a doutrina entende que ele deve ser aplicado no Processo Penal.

REVOGADO CPC, Art. 552, §1º. “Entre a data da publicação da pauta e a sessão de julgamento mediará, pelo menos, o
espaço de 48 horas.”

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NOVO CPC, Art. 935. “Entre a data de publicação da pauta e a da sessão de julgamento decorrerá, pelo menos, o prazo
de 5 dias, incluindo-se em nova pauta os processos que não tenham sido julgados, salvo aqueles cujo julgamento tiver
sido expressamente adiado para a primeira sessão seguinte.”

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