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Jurisprudência Esquematizada

Processo Civil

Professor
Caio Araújo
APRESENTAÇÃO

Olá, prezados alunos!


Este material foi elaborado para auxiliá-los nos estudos de revisão de
jurisprudência de processo civil, de modo que você perca o menor tempo
possível localizando conteúdos e identificando pontos principais. Por exemplo,
para acessar diretamente determinado tópico, basta clicar no título ou subtítulo
correspondente no sumário. Além disso, há um esquema próprio de cores para
destaques, que explico na próxima página.
Espero que façam bom proveito deste material. Fico à disposição para
quaisquer dúvidas ou ponderações no Instagram @caio_soutoa ou no Twitter
@caio_soutoa.
Bons estudos!

Data de fechamento desta versão: 09.11.2023.

Professor Caio Souto Araújo. Juiz Federal Substituto em


Serra/ES. Aprovado no XV Concurso do TRF2. Mestre em Direito
Processual. Pós-graduado em Direito Administrativo. Ex-Analista
Judiciário da Justiça Federal em São Paulo e no Espírito Santo.
Ex-Técnico Judiciário do Tribunal Regional Eleitoral do Espírito
Santo.

2
METODOLOGIA

 Revisão de jurisprudência de Direito Processual Civil do STF e do STJ


esquematizada e organizada por tópicos (títulos em destaque no
sumário).
 Cada tópico está dividido em duas partes; a primeira parte é dedicada aos
precedentes qualificados, e a segunda, à jurisprudência persuasiva.
Apesar das divergências existentes, para efeito desta sistematização,
consideram-se qualificados os precedentes listados no art. 927 do CPC.
Os demais são classificados como “jurisprudência persuasiva”.
 No campo “conexões e comentários”, as citações diretas estão em itálico,
distinguindo-se dos comentários do professor, que estão em texto padrão.
Nos demais campos, todo o conteúdo consiste em citações diretas dos
sites dos tribunais, sendo as supressões sinalizadas por (...)
 Este material não tem a pretensão de esgotar a disciplina, mas apenas
auxiliar na revisão dos temas em destaque.

LEGENDA – ESQUEMA DE CORES

 Títulos dos tópicos e subtópicos: VERDE


 Teses firmadas pelos tribunais (precedentes qualificados) e destaques
dos Informativos (jurisprudência persuasiva): AMARELO
 Destaques do professor (trechos de informativos/ementas, bem como
dicas e comentários do professor em destaque): AZUL

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SUMÁRIO

1. COMPETÊNCIA .......................................................................................... 6

1.1 PRECEDENTES QUALIFICADOS............................................................ 6

1.2 JURISPRUDÊNCIA PERSUASIVA ......................................................... 57

2. SUJEITOS DO PROCESSO...................................................................... 77

2.1 PRECEDENTES QUALIFICADOS.......................................................... 77

2.2 JURISPRUDÊNCIA PERSUASIVA ......................................................... 86

3. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS ............................................................ 102

3.1 PRECEDENTES QUALIFICADOS........................................................ 102

3.2 JURISPRUDÊNCIA PERSUASIVA ....................................................... 111

4. DESPESAS PROCESSUAIS ................................................................... 150

4.1 PRECEDENTES QUALIFICADOS........................................................ 150

4.2 JURISPRUDÊNCIA PERSUASIVA ....................................................... 157

5. ATOS PROCESSUAIS ............................................................................ 166

5.1 PRECEDENTES QUALIFICADOS........................................................ 166

5.2 JURISPRUDÊNCIA PERSUASIVA ....................................................... 170

6. TUTELA PROVISÓRIA ............................................................................ 189

6.1 PRECEDENTES QUALIFICADOS........................................................ 189

6.2 JURISPRUDÊNCIA PERSUASIVA ....................................................... 193

7. FORMAÇÃO, SUSPENSÃO E EXTINÇÃO DO PROCESSO .................. 196

7.1 PRECEDENTES QUALIFICADOS........................................................ 196

7.2 JURISPRUDÊNCIA PERSUASIVA ....................................................... 196

8. SENTENÇA E COISA JULGADA ............................................................ 200

8.1 PRECEDENTES QUALIFICADOS........................................................ 200

8.2 JURISPRUDÊNCIA PERSUASIVA ....................................................... 204

9. EXECUÇÃO E CUMPRIMENTO DE SENTENÇA ................................... 233

9.1 PRECEDENTES QUALIFICADOS........................................................ 233

4
9.2 JURISPRUDÊNCIA PERSUASIVA ....................................................... 283

10. RECURSOS E MEIOS DE IMPUGNAÇÃO .......................................... 360

10.1 PRECEDENTES QUALIFICADOS...................................................... 360

10.2 JURISPRUDÊNCIA PERSUASIVA ..................................................... 367

11. PROCEDIMENTOS ESPECIAIS .......................................................... 422

11.1 PRECEDENTES QUALIFICADOS...................................................... 422

11.2 JURISPRUDÊNCIA PERSUASIVA ..................................................... 428

12. PROCESSO COLETIVO ...................................................................... 458

12.1 PRECEDENTES QUALIFICADOS .................................................... 458

12.2 JURISPRUDÊNCIA PERSUASIVA ..................................................... 484

5
1. COMPETÊNCIA

1.1 PRECEDENTES QUALIFICADOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 787
DESTAQUE DO Tese fixada no IAC 15:
INFORMATIVO O art. 109, § 3º, da CF/1988, com redação dada pela EC
103/2019, não promoveu a revogação (não recepção) da regra
transitória prevista no art. 75 da Lei n. 13.043/2014, razão pela
qual devem permanecer na Justiça Estadual as execuções
fiscais ajuizadas antes da vigência da lei referida.
TRECHOS DO A controvérsia consiste em definir se a alteração do art. 109, §
INFORMATIVO 3º, da CF/1988 pela EC 103/2019 implicou a revogação da
legislação infraconstitucional que ainda mantinha a
competência estadual delegada para processar e julgar as
execuções fiscais relativas a entes federais, especialmente do
art. 75 da Lei n. 13.043/2014.
O art. 15, I, da Lei 5.010/1966 autoriza a propositura da
execução fiscal perante o juízo estadual quando não havia vara
da Justiça Federal na comarca do domicílio do devedor. No
mesmo sentido, a Súmula 40/TFR dispõe que: "A execução
fiscal da Fazenda Pública Federal será proposta perante o Juiz
de Direito da comarca do domicílio do devedor, desde que não
seja ela sede de vara da Justiça Federal".
Contudo, o art. 15, I, da Lei 5.010/1966, foi revogado pelo art.
114, IX, da Lei n. 13.043/2014, ou seja, a competência federal
delegada foi revogada no âmbito da execução fiscal. No
entanto, essa revogação não alcançou as execuções fiscais da
União e de suas autarquias e fundações públicas ajuizadas na
Justiça Estadual antes da vigência da lei revogadora, em razão
da regra de transição prevista no art. 75 da Lei 13.043/2014.

6
Portanto, a competência federal delegada foi suprimida e
acompanhada da regra de transição.
Nesse cenário, considerando que a edição da Emenda
Constitucional n. 103/2019 ocorreu 5 anos após a supressão da
hipótese de delegação referente à execução fiscal, fica
evidenciado que a intenção do legislador constitucional não era
pontual em relação aos processos de execução fiscal. Por
conseguinte, o fato de não haver uma regra constitucional
transitória - similar ao disposto no art. 75 da Lei 1.043/2014 -
não implica a revogação (não recepção) do artigo referido.
O simples fato de a EC 103/2019 ter limitado a uma única
hipótese a possibilidade de competência federal delegada não
demonstra incompatibilidade entre a regra transitória, relativa à
execução fiscal, sobretudo porque a respectiva regra era
prevista no inciso I do art. 15 da Lei 5.010/1966, cuja revogação
ocorreu em 2014.
Além disso, o disposto no art. 75 da Lei 13.043/2014 abarca as
execuções fiscais da União (e de suas autarquias e fundações
públicas) ajuizadas na Justiça Estadual antes da vigência da lei
mencionada. Trata-se de execuções fiscais que tramitam há
pelo menos nove anos na Justiça Estadual. Levando em
consideração tanto o período de tramitação, quanto razões de
política judiciária, não se mostra adequada a transferência
desses feitos para a Justiça Federal.

REFERÊNCIA CC 188.314-SC, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques,


DO ACÓRDÃO Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 13/9/2023 (IAC
15/STJ).
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STF

7
INFORMATIVO 1102
DESTAQUE DO A Justiça Comum é competente para julgar ação ajuizada por
INFORMATIVO servidor celetista contra o Poder Público, em que se pleiteia
parcela de natureza administrativa, modulando-se os efeitos da
decisão para manter na Justiça do Trabalho, até o trânsito em
julgado e correspondente execução, os processos em que
houver sido proferida sentença de mérito até a data de
publicação da presente ata de julgamento.
TRECHOS DO Compete à Justiça Comum o julgamento de ação na qual
INFORMATIVO servidor celetista demanda parcela de natureza administrativa
contra o Poder Público.
Por se tratar de parcela administrativa, a causa de pedir e o
pedido da ação fundamentam-se em norma estatutária. Assim,
embora o vínculo do servidor seja de natureza celetista, a
apreciação do litígio não compõe a esfera de competência da
Justiça do Trabalho, conforme entendimento fixado por esta
Corte ao interpretar o art. 114, I, da Constituição Federal de
1988.
Ademais, por razões de segurança jurídica, os efeitos da
decisão devem ser modulados, a fim de manter na Justiça
trabalhista, até o trânsito em julgado e correspondente
execução, os processos em que proferida sentença de mérito
até a data de publicação da ata do presente julgamento.

REFERÊNCIA RE 1.288.440/SP, rel. Min. Roberto Barroso, julgamento virtual


DO ACÓRDÃO finalizado em 30.6.23.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STF
INFORMATIVO 1092

8
DESTAQUE DO É inconstitucional a regra de competência que autoriza que
INFORMATIVO entes subnacionais sejam demandados em qualquer comarca
do País, pois a fixação do foro deve se restringir aos seus
respectivos limites territoriais.
TRECHOS DO A edição da Lei 13.105/2015, conhecida como Código de
INFORMATIVO Processo Civil de 2015 (CPC/2015), consagrou o entendimento
de que o processo não deve ser um fim em si mesmo, devendo-
se buscar uma adequada mediação entre o direito nele previsto
e a sua realização prática, a fim de torná-lo efetivo, exigindo-se
postura interpretativa orientada a reafirmar e reforçar esse
objetivo.
Nesse contexto, o caráter nacional e cogente do CPC/2015
impõe conferir tratamento uniforme a todos os jurisdicionados
submetidos a processo no território brasileiro, não se permitindo
que ele seja diverso em matéria processual conforme a unidade
federada na qual ocorre o litígio.
(...)
Deve ser conferida interpretação conforme a Constituição aos
artigos 46, § 5º, e 52, parágrafo único, ambos do CPC/2015 (1),
no sentido de que a competência seja definida nos limites
territoriais do respectivo estado ou do Distrito Federal, nos
casos de promoção de execução fiscal e de ajuizamento de
ação em que qualquer deles seja demandado.
A possibilidade de litigar em face da União em qualquer parte
do País (CF/1988, art. 109, §§ 1º e 2º) é compatível com a
estruturação nacional da Advocacia Pública federal.
Contudo, estender essa previsão aos entes subnacionais
resulta na desconsideração de sua prerrogativa constitucional
de auto-organização (CF/1988, arts. 18, 25 e 125) e da
circunstância de que sua atuação se desenvolve dentro dos
seus limites territoriais.
(...)

9
REFERÊNCIA ADIs 5.492/DF e 5.737/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgamento
DO ACÓRDÃO virtual finalizado em 24/4/23.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 770
DESTAQUE DO A) Nas hipóteses de ações relativas à saúde intentadas com o
INFORMATIVO objetivo de compelir o Poder Público ao cumprimento de
obrigação de fazer consistente na dispensação de
medicamentos não inseridos na lista do SUS, mas registrado na
ANVISA, deverá prevalecer a competência do juízo de acordo
com os entes contra os quais a parte autora elegeu demandar.
B) as regras de repartição de competência administrativas do
SUS não devem ser invocadas pelos magistrados para fins de
alteração ou ampliação do polo passivo delineado pela parte no
momento da propositura ação, mas tão somente para fins de
redirecionar o cumprimento da sentença ou determinar o
ressarcimento da entidade federada que suportou o ônus
financeiro no lugar do ente público competente, não sendo o
conflito de competência a via adequada para discutir
a legitimidade ad causam, à luz da Lei n. 8.080/1990, ou a
nulidade das decisões proferidas pelo Juízo estadual ou federal,
questões que devem ser analisada no bojo da ação principal.
C) a competência da Justiça Federal, nos termos do art. 109, I,
da CF/1988, é determinada por critério objetivo, em regra, em
razão das pessoas que figuram no polo passivo da demanda
(competência ratione personae), competindo ao Juízo federal
decidir sobre o interesse da União no processo (Súmula
150/STJ), não cabendo ao Juízo estadual, ao receber os autos
que lhe foram restituídos em vista da exclusão do ente federal
do feito, suscitar conflito de competência (Súmula 254/STJ).

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TRECHOS DO A controvérsia consiste em analisar se compete ao autor a
INFORMATIVO faculdade de eleger contra quem pretende demandar na
hipótese de medicamento não incluído nas políticas públicas,
mas devidamente registrado na ANVISA, considerando a
responsabilidade solidária dos entes federados na prestação de
saúde. E, em consequência, examinar se é indevida a inclusão
da União no polo passivo da demanda, seja por ato de ofício,
seja por intimação da parte para emendar a inicial, sem prévia
consulta à Justiça Federal.
Considerando que a obrigatoriedade de se formar litisconsórcio
é determinada pela lei ou pela natureza da relação jurídica, não
se vislumbram os requisitos para formação do referido instituto
nas demandas relativas à saúde propostas com o objetivo de
compelir os entes federados ao cumprimento da obrigação de
fazer consistente na dispensação de medicamentos não
inseridos na lista do SUS, mas registrados na ANVISA. Isso
porque, na solidariedade passiva, o credor tem direito a exigir e
receber de um ou de alguns dos devedores, parcial ou
totalmente, a dívida comum.
Embora seja possível aos entes federais organizarem-se de
maneira descentralizada com relação às políticas públicas na
área da saúde, essa organização administrativa não afasta o
dever legal de o Estado (lato sensu) assegurar o acesso à
medicação ou ao tratamento médico a pessoas desprovidas de
recursos financeiros, em face da responsabilidade solidária
entre eles. Em outras palavras, a possibilidade de o usuário do
SUS escolher quaisquer das esferas do Poder para obter a
medicação e/ou insumos desejados, de forma isolada e
indistintamente - conforme ratificado pelo próprio Supremo no
julgamento do Tema n. 793/STF -, afasta a figura do
litisconsórcio compulsório ou necessário, por notória antinomia
ontológica.

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A dispensação de medicamentos é uma das formas de atender
ao direito à saúde, que compõe a esfera dos direitos
fundamentais do indivíduo, mas não é, em si, o objeto principal
da obrigação de prestar a assistência à saúde, por força do
contido no art. 196 da Constituição Federal.
As regras de repartição de competência administrativa do SUS
não devem ser invocadas pelos magistrados para fins de
alteração do polo passivo delineado pela parte no momento do
ajuizamento da demanda, mas tão somente para redirecionar o
cumprimento da sentença ou determinar o ressarcimento da
entidade federada que suportou o ônus financeiro no lugar do
ente público competente, nos termos do decidido no julgamento
do Tema n. 793/STF.
No que diz respeito aos critérios definidores da competência da
Justiça Federal, o julgamento do Tema n. 793/STF não
modificou a regra de que compete à Justiça Federal decidir
acerca da existência de interesse jurídico que justifique a
presença, no processo, da União, suas autarquias ou empresas
públicas (Súmula 150 do STJ), bem como de que não cabe à
Justiça estadual reexaminar a decisão, manifestando-se
contrariamente (Súmula 254 do STJ).
Outrossim, nos conflitos de competência direcionados ao STJ,
observa-se que os juízes federais não afastam a legitimidade
da União, em face do disposto no art. 19-Q da Lei n. 8.080/1990,
tampouco a possibilidade de redirecionamento do cumprimento
da obrigação, conforme decidido no Tema n. 793, pelo STF,
mas apenas reconhecem a existência de litisconsorte
facultativo.
Diante disso, os juízes federais consideram inadequada a
decisão da Justiça estadual que determina a intimação da parte
autora para emendar a inicial, sob pena de extinção do feito,
bem como o ato do magistrado que, de ofício, inclui o ente

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federal na lide, visto que nenhum dos procedimentos encontra
amparo legal.
Portanto, deve-se respeitar a opção da parte autora, não
cabendo ao juiz estadual determinar que se proceda à emenda
da inicial para incluir a União no polo passivo da demanda, uma
vez que não se trata de litisconsórcio necessário, mas sim
facultativo para entrega de coisa certa (fornecimento de
medicação ou tratamento médico específico), cuja satisfação
não comporta divisão.
Quanto ao redirecionamento da demanda ao ente responsável
pela prestação do serviço de saúde e chamamento ao processo
do obrigado, entende-se que, no ônus financeiro da
dispensação do medicamento, insumos e tratamentos médicos,
nada impede que o ente demandado se valha do estatuído no
art. 35, VII, da Lei n. 8.080/1990. O dispositivo prevê a
possibilidade de "ressarcimento do atendimento a serviços
prestados para outras esferas de governo" caso, ao final,
demonstre não ser sua a atribuição para o fornecimento do
fármaco. Tal situação também encontra amparo no disposto nos
arts. 259, parágrafo único; 285 do Código Civil/2002 e 23 do
Decreto n. 7.508/2011.
Ainda que haja entraves burocráticos para o ressarcimento, a
solução para o problema não é transferir a demanda para a
Justiça Federal em situações em que isso não é cabível, ao
arrepio da legislação processual civil e da Constituição Federal,
sob pena de impor diversos obstáculos ao paciente que
depende de fármaco e/ou tratamento médico urgente para
evitar o agravamento de sua doença ou até mesmo o risco de
morte.
Por fim, a jurisprudência desta Corte, consolidada no REsp
1.203.244/SC, no sentido de inadmitir o chamamento ao
processo dos demais devedores solidários em demandas de
saúde contra o SUS, na forma do art. 130 do CPC/2015, deve

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ser mantida, exceto se houver posterior pronunciamento do STF
em sentido contrário.

REFERÊNCIA CC 188.002-SC, Rel. Ministro Gurgel de Faria, Primeira Seção,


DO ACÓRDÃO por unanimidade, julgado em 12/4/2023. (14/STJ).
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STF
TEMA 775 da Repercussão Geral
QUESTÃO Recurso extraordinário em que se discute, à luz dos arts. 108,
I, b, e II, e 109, I, da Constituição, a competência, ou não, da
Justiça Federal para processar e julgar ação rescisória proposta
pela União, na condição de terceira interessada em relação ao
processo originário, objetivando a rescisão de julgado prolatado
por juiz estadual não investido em competência federal.
TESE Compete ao Tribunal Regional Federal processar ação
rescisória proposta pela União com o objetivo de desconstituir
sentença transitada em julgado proferida por juiz estadual,
quando afeta interesses de órgão federal.
EMENTA (...) 1. Coloca-se em discussão, neste precedente com
RESUMIDA repercussão geral, o sensível problema da divisão de
competências entre Justiça Federal e Justiça Estadual. No
presente caso, trata-se de Ação Rescisória proposta pela
União, com o propósito de desconstituir sentença transitada em
julgado, proferida por Juízo Estadual. 2. A interpretação isolada
do art. 108 da Constituição indica que o Tribunal Regional
Federal não é competente para o julgamento da presente Ação
Rescisória, pois a) a ação não busca desconstituir julgado do
próprio Tribunal, nem dos juízes federais da região; e b) não se
trata de recurso em causa decidida por juiz estadual no
exercício da competência federal delegada. 3. Entretanto, o art.

14
109, I, submete à Justiça Federal as causas em que for parte a
União, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as
sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho, bem como
as previstas em seu parágrafo 3º (Lei poderá autorizar que as
causas de competência da Justiça Federal em que forem parte
instituição de previdência social e segurado possam ser
processadas e julgadas na justiça estadual quando a comarca
do domicílio do segurado não for sede de vara federal ). 4. Não
se trata de hipótese de colisão entre preceitos constitucionais,
mas sim de complementaridade entre as referidas disposições.
O art. 108, I, b , e II, não traz uma previsão fechada, taxativa. É
preciso ler tal norma em conjunto com o art. 109, I - que nada
mais é do que uma expressão do princípio federativo, que
impede a submissão da União à Justiça dos Estados, com
exceção das hipóteses acima mencionadas, autorizadas pela
própria Constituição. 5. Recurso Extraordinário a que se dá
provimento. Tema 775, fixada a seguinte tese de repercussão
geral: “Compete ao Tribunal Regional Federal processar ação
rescisória proposta pela União com o objetivo de desconstituir
sentença transitada em julgado proferida por juiz estadual,
quando afeta interesses de órgão federal".
(RE 598650, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/
Acórdão: ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal Pleno, julgado
em 11/10/2021, PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO
GERAL - MÉRITO DJe-216 DIVULG 03-11-2021 PUBLIC 04-
11-2021)
CONEXÕES E
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TRIBUNAL STF
TEMA 1166 da Repercussão Geral

15
QUESTÃO Competência para processar e julgar ação trabalhista contra o
empregador objetivando o pagamento de diferenças salariais e
dos respectivos reflexos nas contribuições devidas à entidade
previdenciária.
TESE Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar causas
ajuizadas contra o empregador nas quais se pretenda o
reconhecimento de verbas de natureza trabalhista e os reflexos
nas respectivas contribuições para a entidade de previdência
privada a ele vinculada.
EMENTA RECURSO EXTRAORDINÁRIO. TRABALHISTA.
RESUMIDA COMPETÊNCIA. PEDIDO DE CONDENAÇÃO DA EMPRESA
EMPREGADORA AO PAGAMENTO DE VERBAS
TRABALHISTAS E AO CONSEQUENTE REFLEXO DAS
DIFERENÇAS SALARIAIS NAS CONTRIBUIÇÕES AO PLANO
DE PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR. COMPETÊNCIA DA
JUSTIÇA DO TRABALHO. INAPLICABILIDADE DO TEMA 190
DA REPERCUSSÃO GERAL. PRECEDENTES.
MULTIPLICIDADE DE RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS.
CONTROVÉRSIA CONSTITUCIONAL DOTADA DE
REPERCUSSÃO GERAL. REAFIRMAÇÃO DA
JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.
RECURSO EXTRAORDINÁRIO DESPROVIDO.
(RE 1265564 RG, Relator(a): MINISTRO PRESIDENTE,
Tribunal Pleno, julgado em 02/09/2021, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-182 DIVULG 13-09-2021 PUBLIC 14-09-
2021)
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STF
TEMA 994 da Repercussão Geral

16
QUESTÃO Controvérsia relativa à competência para processar e julgar
demandas nas quais se discutem o recolhimento e o repasse
de contribuição sindical de servidores públicos regidos pelo
regime estatutário, questão não abrangida pela ADI n. 3.395.

TESE Compete à Justiça comum processar e julgar demandas em que


se discute o recolhimento e o repasse de contribuição sindical
de servidores públicos regidos pelo regime estatutário.
EMENTA RECURSO EXTRAORDINÁRIO REPRESENTATIVO DA
RESUMIDA CONTROVÉRSIA. TEMA 994. DIREITO DO TRABALHO.
DIREITO ADMINISTRATIVO. DISCUSSÃO SOBRE
COMPETÊNCIA. 1. Controvérsia relativa à competência para
processar e julgar demandas nas quais se discutem o
recolhimento e o repasse de contribuição sindical de servidores
públicos regidos pelo regime estatutário, questão não abrangida
pela ADI n. 3.395. 2. Competência da Justiça comum para
apreciar causas que sejam instauradas entre o Poder Público e
os servidores a ele vinculados por típica relação de ordem
estatutária ou de caráter jurídico-administrativo. 3. Fixação da
tese: Compete à Justiça comum processar e julgar demandas
em que se discute o recolhimento e o repasse de contribuição
sindical de servidores públicos regidos pelo regime estatutário.
Recurso extraordinário provido.
(RE 1089282, Relator(a): GILMAR MENDES, Tribunal Pleno,
julgado em 07/12/2020, PROCESSO ELETRÔNICO
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-021 DIVULG 03-02-
2021 PUBLIC 04-02-2021)
CONEXÕES E
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TRIBUNAL STF
TEMA 606 da Repercussão Geral

17
QUESTÃO a) reintegração de empregados públicos dispensados em face
da concessão de aposentadoria espontânea e consequente
possibilidade de acumulação de proventos com vencimentos; b)
competência para processar e julgar a ação em que se discute
a reintegração de empregados públicos dispensados em face
da concessão de aposentadoria espontânea e consequente
possibilidade de acumulação de proventos com vencimentos.

TESE A natureza do ato de demissão de empregado público é


constitucional-administrativa e não trabalhista, o que atrai a
competência da Justiça comum para julgar a questão. A
concessão de aposentadoria aos empregados públicos
inviabiliza a permanência no emprego, nos termos do art. 37, §
14, da CRFB, salvo para as aposentadorias concedidas pelo
Regime Geral de Previdência Social até a data de entrada em
vigor da Emenda Constitucional nº 103/19, nos termos do que
dispõe seu art. 6º.
EMENTA (...) 1. Trata-se, in casu, de empregado público da Empresa de
RESUMIDA Correios e Telégrafos (ECT) que impetrou mandado de
segurança em face de ato mediante o qual o Secretário
Executivo do Conselho de Coordenação de Empresas Estatais
e do Presidente da ECT determinou o desligamento dos
empregados aposentados que se mantinham na ativa, nos
termos da MP nº 1523/1996. 2. Compete à Justiça Federal
processar e julgar ação cujo objeto seja a reintegração de
empregados públicos dispensados em virtude de aposentadoria
espontânea, bem como a cumulatividade de proventos com
vencimentos, o que difere, em essência, da discussão acerca
da relação de trabalho entre os empregados e a empresa
pública, afastando-se a competência da Justiça do Trabalho. 3.
Segundo o disposto no art. 37, § 14, da CF (incluído pela EC nº
103, de 2019), a aposentadoria faz cessar o vínculo ao cargo,
emprego ou função pública cujo tempo de contribuição houver

18
embasado a passagem do servidor/empregado público para a
inatividade, inclusive quando feita sob o Regime Geral de
Previdência Social. 4. A mencionada EC nº 103/19, contudo, em
seu art. 6º, excluiu da incidência da regra insculpida no § 14 do
art. 37 da Constituição Federal as aposentadorias concedidas
pelo Regime Geral de Previdência Social até a data de sua
entrada em vigor, sendo essa a hipótese versada nos autos. 5.
Foi fixada a seguinte tese de repercussão geral: “A natureza do
ato de demissão de empregado público é constitucional-
administrativa e não trabalhista, o que atrai a competência da
Justiça comum para julgar a questão. A concessão de
aposentadoria aos empregados públicos inviabiliza a
permanência no emprego, nos termos do art. 37, § 14, da
CRFB, salvo para as aposentadorias concedidas pelo Regime
Geral de Previdência Social até a data de entrada em vigor da
Emenda Constitucional nº 103/19, nos termos do que dispõe
seu art. 6º.” 6. Recursos extraordinários não providos.
(RE 655283, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno,
julgado em 15/03/2021, PROCESSO ELETRÔNICO
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-078 DIVULG 26-04-
2021 PUBLIC 27-04-2021 REPUBLICAÇÃO: DJe-238 DIVULG
01-12-2021 PUBLIC 02-12-2021)
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STF
TEMA 944 da Repercussão Geral
QUESTÃO Alcance da imunidade de jurisdição de Estado estrangeiro em
relação a ato de império ofensivo ao direito internacional da
pessoa humana.

19
TESE Os atos ilícitos praticados por Estados estrangeiros em violação
a direitos humanos não gozam de imunidade de jurisdição.
EMENTA (...) 1. Controvérsia inédita no âmbito desta Suprema Corte,
RESUMIDA estando em questão a derrotabilidade de regra imunizante de
jurisdição em relação a atos de império praticados por Estado
soberano, por conta de graves delitos ocorridos em confronto à
proteção internacional da pessoa natural , nos termos do art. 4º,
II e V, do Texto Constitucional. 2. A imunidade de jurisdição do
Estado estrangeiro no direito brasileiro é regida pelo direito
costumeiro. A jurisprudência do STF reconhece a divisão em
atos de gestão e atos de império, sendo os primeiros passíveis
de cognoscibilidade pelo Poder Judiciário e, mantida, sempre,
a imunidade executória, à luz da Convenção de Viena sobre as
Relações Diplomáticas (Dec. 56.435/1965). Precedentes. 3. O
artigo 6, “b”, do Estatuto do Tribunal Militar Internacional de
Nuremberg, reconhece como “crimes de guerra” as violações
das leis e costumes de guerra, entre as quais, o assassinato de
civis, inclusive aqueles em alto-mar. Violação ao direito humano
à vida, incluído no artigo 6, do Pacto sobre Direitos Civis e
Políticos. Assim, os atos praticados em períodos de guerra
contra civis em território nacional, ainda que sejam atos de
império, são ilícitos e ilegítimos. 4. O caráter absoluto da regra
de imunidade da jurisdição estatal é questão persistente na
ordem do dia do direito internacional, havendo notícias de
diplomas no direito comparado e de cortes nacionais que
afastaram ou mitigaram a imunidade em casos de atos militares
ilícitos. 5. A Corte Internacional de Justiça, por sua vez, no
julgamento do caso das imunidades jurisdicionais do Estado
(Alemanha Vs. Itália), manteve a doutrina clássica, reafirmando
sua natureza absoluta quando se trata de atos jure imperii.
Decisão, no entanto, sem eficácia erga omnes e vinculante,
conforme dispõe o artigo 59, do Estatuto da própria Corte, e
distinta por assentar-se na reparação global. 6. Nos casos em

20
que há violação à direitos humanos, ao negar às vítimas e seus
familiares a possibilidade de responsabilização do agressor, a
imunidade estatal obsta o acesso à justiça, direito com guarida
no art. 5º, XXXV, da CRFB; nos arts. 8 e 10, da Declaração
Universal; e no art. 1, do Pacto sobre Direitos Civis e Políticos.
7. Diante da prescrição constitucional que confere prevalência
aos direitos humanos como princípio que rege o Estado
brasileiro nas suas relações internacionais (art. 4º, II), devem
prevalecer os direitos humanos - à vida, à verdade e ao acesso
à justiça -, afastada a imunidade de jurisdição no caso. 8.
Possibilidade de relativização da imunidade de jurisdição estatal
em caso de atos ilícitos praticados no território do foro em
violação à direitos humanos. 9. Fixação de tese jurídica ao
Tema 944 da sistemática da repercussão geral: “Os atos ilícitos
praticados por Estados estrangeiros em violação a direitos
humanos não gozam de imunidade de jurisdição.” 10. Recurso
extraordinário com agravo a que se dá provimento.
(ARE 954858, Relator(a): EDSON FACHIN, Tribunal Pleno,
julgado em 23/08/2021, PROCESSO ELETRÔNICO
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-191 DIVULG 23-09-
2021 PUBLIC 24-09-2021)
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STF
TEMA 550 da Repercussão Geral
QUESTÃO Competência para processar e julgar controvérsia a envolver
relação jurídica entre representante e representada comerciais.

TESE Preenchidos os requisitos dispostos na Lei 4.886/65, compete


à Justiça Comum o julgamento de processos envolvendo

21
relação jurídica entre representante e representada comerciais,
uma vez que não há relação de trabalho entre as partes.
EMENTA (...) 1. Recurso Extraordinário interposto contra decisão
RESUMIDA proferida pelo Tribunal Superior do Trabalho, em que se alega
afronta ao art. 114, incisos I e IX, da Constituição Federal, com
redação dada pela EC 45/2004. Na origem, cuida-se de ação
de cobrança de comissões sobre vendas decorrentes de
contrato de representação comercial autônoma, ajuizada pelo
representante, pessoa física, em face do representado. 2. As
atividades de representação comercial autônoma configuram
contrato típico de natureza comercial, disciplinado pela Lei nº
4.886/65, a qual prevê (i) o exercício da representação por
pessoa jurídica ou pessoa física, sem relação de emprego, que
desempenha, em caráter não eventual por conta de uma ou
mais pessoas, a mediação para a realização de negócios
mercantis e (ii) a competência da Justiça comum para o
julgamento das controvérsias que surgirem entre representante
e representado. 3. Na atividade de representação comercial
autônoma, inexiste entre as partes vínculo de emprego ou
relação de trabalho, mas relação comercial regida por
legislação especial (Lei n° 4.886/65). Por conseguinte, a
situação não foi afetada pelas alterações introduzidas pela EC
n° 45/2004, que versa sobre hipótese distinta ao tratar da
relação de trabalho no art. 114 da Constituição. 4. A proteção
constitucional ao trabalho não impõe que toda e qualquer
relação entre o contratante de um serviço e o seu prestador seja
protegida por meio da relação de trabalho (CF/1988, art. 7º).
Precedentes. 5. Ademais, os autos tratam de pedido de
pagamento de comissões atrasadas. O pedido e a causa de
pedir não têm natureza trabalhista, a reforçar a competência do
Juízo Comum para o julgamento da demanda. 6. Recurso
extraordinário a que se dá provimento, para assentar a
competência da Justiça comum, com a fixação da seguinte tese:

22
“Preenchidos os requisitos dispostos na Lei 4.886/65, compete
à Justiça Comum o julgamento de processos envolvendo
relação jurídica entre representante e representada comerciais,
uma vez que não há relação de trabalho entre as partes”.
(RE 606003, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/
Acórdão: ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em
28/09/2020, PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO
GERAL - MÉRITO DJe-248 DIVULG 13-10-2020 PUBLIC 14-
10-2020)
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STF
TEMA 1154 da Repercussão Geral
QUESTÃO Competência da Justiça Federal para processar e julgar causas
que versem sobre a expedição de diplomas de instituições de
ensino superior privadas.

TESE Compete à Justiça Federal processar e julgar feitos em que se


discuta controvérsia relativa à expedição de diploma de
conclusão de curso superior realizado em instituição privada de
ensino que integre o Sistema Federal de Ensino, mesmo que a
pretensão se limite ao pagamento de indenização.
EMENTA RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPRESENTATIVO DA
RESUMIDA CONTROVÉRSIA. CONSTITUCIONAL. COMPETÊNCIA.
INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR. SISTEMA FEDERAL
DE ENSINO. CONTROVÉRSIA RELATIVA À EXPEDIÇÃO DE
DIPLOMA DE CONCLUSÃO DE CURSO SUPERIOR.
INTERESSE DA UNIÃO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA
FEDERAL. ARTIGO 109, I, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
PRECEDENTES. ACÓRDÃO RECORRIDO DIVERGE DA
JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.

23
MULTIPLICIDADE DE RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS.
CONTROVÉRSIA CONSTITUCIONAL DOTADA DE
REPERCUSSÃO GERAL. REAFIRMAÇÃO DA
JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.
RECURSO EXTRAORDINÁRIO PROVIDO.
(RE 1304964 RG, Relator(a): MINISTRO PRESIDENTE,
Tribunal Pleno, julgado em 24/06/2021, PROCESSO
ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-166
DIVULG 19-08-2021 PUBLIC 20-08-2021)
CONEXÕES E 1. Súmula 570 do STJ: Compete à Justiça Federal o processo
COMENTÁRIOS e julgamento de demanda em que se discute a ausência de ou
o obstáculo ao credenciamento de instituição particular de
ensino superior no Ministério da Educação como condição de
expedição de diploma de ensino a distância aos estudantes.
(Súmula 570, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 27/04/2016, DJe
02/05/2016)

2. Tese firmada pelo STJ no julgamento do Tema Repetitivo


584: Em se tratando de demanda em que se discute a
ausência/obstáculo de credenciamento da instituição de ensino
superior pelo Ministério da Educação como condição de
expedição de diploma aos estudantes, é inegável a presença de
interesse jurídico da União, razão pela qual deve a competência
ser atribuída à Justiça Federal, nos termos do art. 109, I, da
Constituição Federal de 1988.
(REsp 1344771 PR, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL
MARQUES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 24/04/2013,
REPDJe 29/08/2013, DJe 02/08/2013)

TRIBUNAL STF
TEMA 820 da Repercussão Geral

24
QUESTÃO a) Competência para processar e julgar conflitos entre juizado
especial federal e juízo estadual no exercício da competência
federal delegada; b) Pressuposto fático para a incidência do art.
109, § 3º, da Lei Maior: a inexistência de juízo federal no
município ou a inexistência de juízo federal na comarca onde
reside o segurado ou beneficiário do INSS.

TESE A competência prevista no §3º do artigo 109 da Constituição


Federal, da Justiça comum, pressupõe inexistência de Vara
Federal na Comarca do domicílio do segurado.
EMENTA COMPETÊNCIA – AÇÃO PREVIDENCIÁRIA – JUSTIÇA
RESUMIDA FEDERAL E JUSTIÇA COMUM. A competência da Justiça
comum pressupõe inexistência, na comarca do domicílio do
segurado ou beneficiário da previdência, de Vara Federal,
sendo neutro o fator residência considerado certo distrito.
(RE 860508, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno,
julgado em 08/03/2021, PROCESSO ELETRÔNICO
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-055 DIVULG 22-03-
2021 PUBLIC 23-03-2021)
CONEXÕES E 1. Sobre a competência delegada federal, especialmente após
COMENTÁRIOS a Emenda Constitucional 103/19, confira o IAC 6 (STJ).

TRIBUNAL STF
TEMA 1092 da Repercussão Geral
QUESTÃO Competência para processar e julgar demandas sobre
complementação de aposentadoria instituída por lei, cuja
responsabilidade pelo pagamento recaia diretamente sobre a
Administração Pública direta ou indireta.

TESE Compete à Justiça comum processar e julgar causas sobre


complementação de aposentadoria instituída por lei cujo
pagamento seja, originariamente ou por sucessão, da

25
responsabilidade da Administração Pública direta ou indireta,
por derivar essa responsabilidade de relação jurídico-
administrativa.
EMENTA (...) Complementação de aposentadoria. Instituição por lei.
RESUMIDA Vínculo decorrente de regime de direito público. Modulação dos
efeitos do julgamento para manter, na Justiça do Trabalho, até
o trânsito em julgado e o final execução, todos os processos
dessa espécie em que já houver sido proferida sentença de
mérito até a data da publicação do acórdão do julgamento do
recurso no Plenário Virtual da Repercussão Geral do Supremo
Tribunal Federal (19/6/20). Embargos acolhidos, com
modulação dos efeitos do acórdão embargado. 1. A
competência para o processamento de ações em que se busca
a complementação de aposentadoria instituída por lei é da
Justiça comum, porque ela é decorrente de relação de direito
público. 2. Modulação dos efeitos da decisão em que se
reconheceu a competência da Justiça do Trabalho para
processar e julgar, até o trânsito em julgado e a correspondente
execução, todas as causas da espécie nas quais houver sido
proferida sentença de mérito até a data da publicação do
acórdão do julgamento do recurso no Plenário Virtual da
Repercussão Geral do Supremo Tribunal Federal (19/6/20). 3.
Embargos de declaração acolhidos, com modulação dos efeitos
do acórdão embargado.
(RE 1265549 RG-ED, Relator(a): DIAS TOFFOLI (Presidente),
Tribunal Pleno, julgado em 16/09/2020, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-280 DIVULG 25-11-2020 PUBLIC 26-11-
2020)

(...) Justiça comum estadual e Federal. Complementação de


aposentadoria. Instituição por lei. Vínculo decorrente de regime
de direito público. Existência de repercussão geral.
Reafirmação da jurisprudência da Corte sobre o tema. Recurso

26
extraordinário provido a fim de reconhecer a competência da
Justiça comum estadual para processar e julgar a ação
proposta pela parte ora recorrida. Tese de repercussão geral:
Compete à Justiça comum processar e julgar causas sobre
complementação de aposentadoria instituída por lei cujo
pagamento seja, originariamente ou por sucessão, da
responsabilidade da Administração Pública direta ou indireta,
por derivar essa responsabilidade de relação jurídico-
administrativa.
(RE 1265549 RG, Relator(a): MINISTRO PRESIDENTE,
Tribunal Pleno, julgado em 04/06/2020, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-154 DIVULG 18-06-2020 PUBLIC 19-06-
2020)
CONEXÕES E 1. Atenção para a modulação de efeitos nos embargos de
COMENTÁRIOS declaração (ementa transcrita acima).

TRIBUNAL STF
TEMA 992 da Repercussão Geral
QUESTÃO Discussão quanto à competência para processar e julgar
controvérsias nas quais se pleiteiam questões afetas à fase pré-
contratual de seleção e de admissão de pessoal e eventual
nulidade do certame, em face de pessoa jurídica de direito
privado.

TESE Compete à Justiça Comum processar e julgar controvérsias


relacionadas à fase pré-contratual de seleção e de admissão de
pessoal e eventual nulidade do certame em face da
Administração Pública, direta e indireta, nas hipóteses em que
adotado o regime celetista de contratação de pessoas, salvo
quando a sentença de mérito tiver sido proferida antes de 6 de
junho de 2018, situação em que, até o trânsito em julgado e a

27
sua execução, a competência continuará a ser da Justiça do
Trabalho.
EMENTA (...) 1. Inexistência de relação de trabalho na chamada fase pré-
RESUMIDA contratual a atrair a competência da Justiça do Trabalho. 2.
Prevalência do caráter público. Concurso público como ato de
natureza administrativa. 3. Fixação da tese: Compete à Justiça
comum processar e julgar controvérsias relacionadas à fase
pré-contratual de seleção e de admissão de pessoal e eventual
nulidade do certame em face da Administração Pública, direta
e indireta, nas hipóteses em que adotado o regime celetista de
contratação de pessoal. Recurso extraordinário não provido.
(RE 960429, Relator(a): GILMAR MENDES, Tribunal Pleno,
julgado em 05/03/2020, PROCESSO ELETRÔNICO
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-157 DIVULG 23-06-
2020 PUBLIC 24-06-2020)
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STF
TEMA 500 da Repercussão Geral
QUESTÃO Dever do Estado de fornecer medicamento não registrado pela
ANVISA.

TESE 1. O Estado não pode ser obrigado a fornecer medicamentos


experimentais. 2. A ausência de registro na ANVISA impede,
como regra geral, o fornecimento de medicamento por decisão
judicial. 3. É possível, excepcionalmente, a concessão judicial
de medicamento sem registro sanitário, em caso de mora
irrazoável da ANVISA em apreciar o pedido (prazo superior ao
previsto na Lei nº 13.411/2016), quando preenchidos três
requisitos: (i) a existência de pedido de registro do medicamento
no Brasil (salvo no caso de medicamentos órfãos para doenças

28
raras e ultrarraras);(ii) a existência de registro do medicamento
em renomadas agências de regulação no exterior; e (iii) a
inexistência de substituto terapêutico com registro no Brasil. 4.
As ações que demandem fornecimento de medicamentos sem
registro na ANVISA deverão necessariamente ser propostas em
face da União.
EMENTA (...) 1. Como regra geral, o Estado não pode ser obrigado a
RESUMIDA fornecer medicamentos não registrados na Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (ANVISA) por decisão judicial. O registro na
Anvisa constitui proteção à saúde pública, atestando a eficácia,
segurança e qualidade dos fármacos comercializados no país,
além de garantir o devido controle de preços. 2. No caso de
medicamentos experimentais, i.e., sem comprovação científica
de eficácia e segurança, e ainda em fase de pesquisas e testes,
não há nenhuma hipótese em que o Poder Judiciário possa
obrigar o Estado a fornecê-los. Isso, é claro, não interfere com
a dispensação desses fármacos no âmbito de programas de
testes clínicos, acesso expandido ou de uso compassivo,
sempre nos termos da regulamentação aplicável. 3. No caso de
medicamentos com eficácia e segurança comprovadas e testes
concluídos, mas ainda sem registro na ANVISA, o seu
fornecimento por decisão judicial assume caráter
absolutamente excepcional e somente poderá ocorrer em uma
hipótese: a de mora irrazoável da Anvisa em apreciar o pedido
(prazo superior ao previsto na Lei nº 13.411/2016). Ainda nesse
caso, porém, será preciso que haja prova do preenchimento
cumulativo de três requisitos. São eles: (i) a existência de
pedido de registro do medicamento no Brasil (salvo no caso de
medicamentos órfãos para doenças raras e ultrarraras); (ii) a
existência de registro do medicamento pleiteado em renomadas
agências de regulação no exterior (e.g., EUA, União Europeia e
Japão); e (iii) a inexistência de substituto terapêutico registrado
na ANVISA. Ademais, tendo em vista que o pressuposto básico

29
da obrigação estatal é a mora da agência, as ações que
demandem fornecimento de medicamentos sem registro na
ANVISA deverão necessariamente ser propostas em face da
União. 4. Provimento parcial do recurso extraordinário, apenas
para a afirmação, em repercussão geral, da seguinte tese: “1. O
Estado não pode ser obrigado a fornecer medicamentos
experimentais. 2. A ausência de registro na ANVISA impede,
como regra geral, o fornecimento de medicamento por decisão
judicial. 3. É possível, excepcionalmente, a concessão judicial
de medicamento sem registro sanitário, em caso de mora
irrazoável da ANVISA em apreciar o pedido de registro (prazo
superior ao previsto na Lei nº 13.411/2016), quando
preenchidos três requisitos: (i) a existência de pedido de registro
do medicamento no Brasil (salvo no caso de medicamentos
órfãos para doenças raras e ultrarraras); (ii) a existência de
registro do medicamento em renomadas agências de regulação
no exterior; e (iii) a inexistência de substituto terapêutico com
registro no Brasil. 4. As ações que demandem fornecimento de
medicamentos sem registro na Anvisa deverão
necessariamente ser propostas em face da União”.
(RE 657718, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/
Acórdão: ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em
22/05/2019, PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO
GERAL - MÉRITO DJe-267 DIVULG 06-11-2020 PUBLIC 09-
11-2020)
CONEXÕES E 1. Atenção para a parte final da tese (item 4), pois implica a
COMENTÁRIOS competência da Justiça Federal.

TRIBUNAL STF
TEMA 149 da Repercussão Geral
QUESTÃO Competência para processar e julgar causa que envolve
contribuição previdenciária instituída pelo Estado membro

30
incidente sobre complementação de proventos e de pensões
por ele paga.

TESE Compete à Justiça comum o julgamento de conflito de


interesses a envolver a incidência de contribuição
previdenciária, considerada a complementação de proventos.
EMENTA COMPETÊNCIA – COMPLEMENTAÇÃO DE
RESUMIDA APOSENTADORIA – INCIDÊNCIA DE CONTRIBUIÇÃO
SOCIAL. Compete à Justiça comum o julgamento de conflito a
envolver a incidência de contribuição previdenciária sobre
complementação de proventos de aposentadoria.
(RE 594435, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno,
julgado em 24/05/2018, PROCESSO ELETRÔNICO
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-181 DIVULG 31-08-
2018 PUBLIC 03-09-2018)

CONSTITUCIONAL E PROCESSO CIVIL. MODULAÇÃO DE


EFEITOS EM EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. VIABILIDADE.
DEMONSTRAÇÃO DE SITUAÇÃO DE EXCEPCIONALIDADE.
MODULAÇÃO DOS EFEITOS DO ACÓRDÃO PARA MANTER,
NA JUSTIÇA DO TRABALHO, ATÉ FINAL EXECUÇÃO,
TODOS OS PROCESSOS DESTA MATÉRIA EM QUE JÁ
TENHA SIDO PROFERIDA SENTENÇA DE MÉRITO, ATÉ O
DIA DA CONCLUSÃO DO JULGAMENTO DO RECURSO
EXTRAORDINÁRIO (24/5/2018). 1. O § 3º do art. 927 do
Código de Processo Civil de 2015 preconiza que, “na hipótese
de alteração de jurisprudência dominante do Supremo Tribunal
Federal e dos tribunais superiores ou daquela oriunda de
julgamento de casos repetitivos, pode haver modulação dos
efeitos da alteração no interesse social e no da segurança
jurídica”. 2. Tendo em vista a duradoura jurisprudência do
Tribunal Superior do Trabalho em sentido oposto ao decidido
pelo SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL neste precedente,

31
surge, inevitavelmente, o interesse em resguardar os atos
praticados ao longo de vários anos, enquanto perdurou a
indefinição acerca do Juízo competente para dirimir a
controvérsia. 3. Precedente: RE 586.453, Rel. Min. ELLEN
GRACIE, Rel. p/ Acórdão: Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno,
DJe de 6/6/2013, Tema 190 da Repercussão Geral. 4.
Embargos de Declaração acolhidos para efeitos de modulação.
(RE 594435 ED, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/
Acórdão: ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal Pleno, julgado
em 21/08/2019, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-205 DIVULG
20-09-2019 PUBLIC 23-09-2019)
CONEXÕES E 1. Atenção para a modulação de efeitos decidida nos embargos
COMENTÁRIOS de declaração (ementa transcrita acima).
O STF, por maioria, decidiu manter, na Justiça do Trabalho, até
final execução, todos os processos desta matéria em que já
tenha sido proferida sentença de mérito, até o dia da conclusão
do julgamento do recurso extraordinário (24/5/2018).

2. Correlato ao Tema 190 da Repercussão Geral (STF), que


trata da Competência para processar e julgar causas que
envolvam complementação de aposentadoria por entidades de
previdência privada. Nesse tema, foi fixada a seguinte tese:
Compete à Justiça comum o processamento de demandas
ajuizadas contra entidades privadas de previdência com o
propósito de obter complementação de aposentadoria,
mantendo-se na Justiça Federal do Trabalho, até o trânsito em
julgado e correspondente execução, todas as causas dessa
espécie em que houver sido proferida sentença de mérito até
20/2/2013.
(RE 586453, Relator(a): ELLEN GRACIE, Relator(a) p/
Acórdão: DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em
20/02/2013, REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-106

32
DIVULG 05-06-2013 PUBLIC 06-06-2013 EMENT VOL-02693-
01 PP-00001)

TRIBUNAL STF
TEMA 947 da Repercussão Geral
QUESTÃO Imunidade de jurisdição dos organismos internacionais
garantida por tratado firmado pelo Brasil.

TESE O organismo internacional que tenha garantida a imunidade de


jurisdição em tratado firmado pelo Brasil e internalizado na
ordem jurídica brasileira não pode ser demandado em juízo,
salvo em caso de renúncia expressa a essa imunidade.
EMENTA (...) RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ORGANISMO
RESUMIDA INTERNACIONAL. ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS
ONU. PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O
DESENVOLVIMENTO PNUD. CONVENÇÃO SOBRE
PRIVILÉGIOS E IMUNIDADES DAS NAÇÕES UNIDAS
DECRETO 27.784/1950. CONVENÇÃO SOBRE PRIVILÉGIOS
E IMUNIDADES DAS AGÊNCIAS ESPECIALIZADAS DAS
NAÇÕES UNIDAS DECRETO 52.288/1963. ACORDO BÁSICO
DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA COM AS NAÇÕES UNIDAS E
SUAS AGÊNCIAS ESPECIALIZADAS DECRETO 59.308/1966.
IMPOSSIBILIDADE DE O ORGANISMO INTERNACIONAL VIR
A SER DEMANDADO EM JUÍZO, SALVO EM CASO DE
RENÚNCIA EXPRESSA À IMUNIDADE DE JURISDIÇÃO.
ENTENDIMENTO CONSOLIDADO EM PRECEDENTES DO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. CONTROVÉRSIA
CONSTITUCIONAL DOTADA DE REPERCUSSÃO GERAL.
REAFIRMAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO
PROVIDO.

33
(RE 1034840 RG, Relator(a): LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado
em 05/06/2017, PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO
GERAL - MÉRITO DJe-143 DIVULG 29-06-2017 PUBLIC 30-
06-2017)
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STF
TEMA 544 da Repercussão Geral
QUESTÃO Competência para julgamento de abusividade de greve de
servidores públicos celetistas.

TESE A justiça comum, federal ou estadual, é competente para julgar


a abusividade de greve de servidores públicos celetistas da
Administração pública direta, autarquias e fundações públicas.
EMENTA (...) 1. É competência da justiça comum, federal ou estadual,
RESUMIDA conforme o caso, o julgamento de dissídio de greve promovida
por servidores públicos, na linha do precedente firmado no MI
670 (Rel. Min. MAURÍCIO CORRÊA, Rel. p/ acórdão Min.
GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, DJe de 30/10/2008). 2. As
Guardas Municipais executam atividade de segurança pública
(art. 144, § 8º, da CF), essencial ao atendimento de
necessidades inadiáveis da comunidade (art. 9º, § 1º, CF), pelo
que se submetem às restrições firmadas pelo Supremo Tribunal
Federal no julgamento do ARE 654.432 (Rel. Min. EDSON
FACHIN, redator para acórdão Min. ALEXANDRE DE
MORAES, Tribunal Pleno, julgado em 5/4/2017). 3. A
essencialidade das atividades desempenhadas pelos
servidores públicos conduz à aplicação da regra de
competência firmada pelo Supremo Tribunal Federal no MI 670,
mesmo em se tratando de servidores contratados pelo Estado
sob o regime celetista. 4. Negado provimento ao recurso

34
extraordinário e fixada a seguinte tese de repercussão geral: “A
Justiça Comum Federal ou Estadual é competente para julgar a
abusividade de greve de servidores públicos celetistas da
administração direta, autarquias e fundações de direito público”.
(RE 846854, Relator(a): LUIZ FUX, Relator(a) p/ Acórdão:
ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal Pleno, julgado em
01/08/2017, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO
GERAL - MÉRITO DJe-022 DIVULG 06-02-2018 PUBLIC 07-
02-2018)
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
TEMA IAC 6
QUESTÃO Efeitos da Lei nº 13.876/2019 na modificação de competência
para o processamento e julgamento dos processos que
tramitam na Justiça Estadual no exercício da competência
federal delegada.
TESE Os efeitos da Lei nº 13.876/2019 na modificação de
competência para o processamento e julgamento dos
processos que tramitam na Justiça Estadual no exercício da
competência federal delegada insculpido no art, 109, § 3º, da
Constituição Federal, após as alterações promovidas pela
Emenda Constitucional 103, de 12 de novembro de 2019,
aplicar-se-ão aos feitos ajuizados após 1º de janeiro de 2020.
As ações, em fase de conhecimento ou de execução, ajuizadas
anteriormente a essa data, continuarão a ser processadas e
julgadas no juízo estadual, nos termos em que previsto pelo §
3º do art. 109 da Constituição Federal, pelo inciso III do art. 15
da Lei n. 5.010, de 30 de maio de 1965, em sua redação original.
EMENTA (...) 1- Trata-se de incidente de assunção de competência,
RESUMIDA instaurado com fulcro nos arts. 947, § 2º, do CPC/2015 e 271-

35
B do RISTJ, que visa examinar o campo de vigência das
alterações promovidas pela Emenda Constitucional 103/2019 e
pela Lei nº 13.876/2019 no instituto da competência delegada
previsto no § 3º do artigo 109 da Constituição Federal de 1988.
2- O presente incidente foi proposto nos autos do conflito
negativo de instaurado entre o Juízo Federal da 21ª Vara da
Seção Judiciária do Estado do Rio Grande do Sul e o Juízo de
Direito da 1ª Vara Cível de Guaíba/RS, em autos de ação
previdenciária, ajuizada em 4/5/2018, por segurado em face do
Instituto Nacional do Seguro Social, objetivando o
restabelecimento de aposentadoria por invalidez com o
adicional de grande invalidez.
3- A controvérsia em questão está afeta ao instituto da
competência delegada conferida, pelo texto constitucional, à
Justiça Estadual para o julgamento de causas envolvendo o
Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, as quais, dada a
natureza jurídica envolvida e os interesses tutelados na lide,
deveriam ser julgadas pela Justiça Federal.
4- É fato que os Juízes Estaduais, por determinação
constitucional, recebem, excepcionalmente por delegação, e
não por assunção, competência previdenciária de matéria
federal. Tanto é assim que o art. 109, § 4º, da CF c/c 108, II da
CF/88 traz clara previsão de que o recurso cabível contra
decisão da Justiça Estadual será sempre encaminhado à
jurisdição do Tribunal Regional Federal na área de jurisdição do
juiz de primeiro grau. Nesse sentido, CC 114.650/SP, Rel.
Ministro Herman Benjamin, Primeira Seção, DJe 17/05/2011.
5- Outra importante observação, extraída de abalizada corrente
de processualistas capitaneado por Dinamarco, está no fato de
a hipótese tratar-se foros concorrentes, sendo de exclusivo
arbítrio do autor a propositura de ação no local de sua
preferência e sem possibilidade de a escolha ser impugnada
pelo adversário.

36
Consequências dessa asserção: 5.1 Sendo a Justiça Federal
organizada em Seções e Subseções, o Juiz Federal com
competência incidente sobre o domicílio da parte - ainda que
não haja uma sede de Vara Federal - terá competência
originária para julgamento da causa. E caso essa localidade não
seja sede de Vara Federal, o Juiz Estadual terá competência
delegada para julgamento da causa, não cabendo, pois, ao
INSS se insurgir contra a opção feita pelo autor da ação.
5.2 Haverá competência do Juízo Estadual somente quando
não existir sede de Vara Federal na localidade em questão.
Estar a comarca abrangida pela jurisdição de vara federal não
é o mesmo que ser sede de vara federal. Sobre o ponto, nos
autos do leading case CC 39.324/SP, Rel. Ministro Castro
Meira, julgado em 24/09/2003, esta Corte firmou compreensão
no sentido de que ulterior instalação de vara federal extingue a
competência delegada.
6- A questão de direito a ser dirimida restou assim delimitada:
"Efeitos da Lei nº 13.876/2019 na modificação de competência
para o processamento e julgamento dos processos que
tramitam na Justiça Estadual no exercício da competência
federal delegada". A propósito, cita-se a nova redação do
dispositivo: " § 3º Lei poderá autorizar que as causas de
competência da Justiça Federal em que forem parte instituição
de previdência social e segurado possam ser processadas e
julgadas na justiça estadual quando a comarca do domicílio do
segurado não for sede de vara federal." 7- Tese da Associação
Brasileira dos Advogados Previdenciários que na qualidade de
amicus curiae, aponta a ocorrência de inconstitucionalidade à
Lei nº 13.876/19 rejeitada. Conforme voto de Sua Excelência
Ministra Maria Thereza de Assis Moura, proferido em
procedimento administrativo no Conselho da Justiça Federal do
SEI 0006509-2019.4.90.8000 e que deu origem à Resolução
CJF 603/2019, enquanto tal argumento exige a ocorrência de

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modificação de competência absoluta prevista em norma
constitucional originária; a hipótese encerra apenas a
delimitação de seu alcance, permanecendo, pois, hígida, a
jurisdição da Justiça Federal.
8- As alterações promovidas pela Lei nº 13.876/19 são
aplicáveis aos processos ajuizados após a vacatio legis
estabelecida pelo art. 5º, I. Os feitos em andamento, estejam
eles ou não em fase de execução, até essa data, continuam sob
a jurisdição em que estão, não havendo falar, pois, em
perpetuação da jurisdição. Em consequência, permanecem
hígidos os seguinte entendimentos jurisprudenciais em vigor: i)
quando juiz estadual e juiz federal entram em conflito, a
competência para apreciar o incidente é do Superior Tribunal de
Justiça (CF, art. 105, I, d, in fine); ii) se o conflito se estabelece
entre juiz estadual no exercício da jurisdição federal delegada e
juiz federal, competente será o Tribunal Regional Federal.
9- Nos termos da Resolução 603/2019, CJF: i) definição de
quais Comarcas da Justiça Estadual se enquadram no critério
de distância retro referido caberá ao respectivo TRF (ex vi do
art. 3º da Lei nº 13.876/2019), através de normativa própri; ii)
por questão de organização judiciária, a delegação deve
considerar as áreas territoriais dos respectivos TRFs.
Consequentemente, à luz do art. 109, § 2º, da CF, o
jurisdicionado não pode ajuizar ação na Justiça Federal de outro
Estado não abrangido pela competência territorial do TRF com
competência sobre seu domicílio. Ainda que haja vara federal
em até 70km dali (porém na área de outro TRF), "iii) observadas
as regras estabelecidas pela Lei n. 13.876, de 20 de setembro
de 2019, bem como por esta Resolução, os Tribunais Regionais
Federais farão publicar, até o dia 15 de dezembro de 2019, lista
das comarcas com competência federal delegada." e iv)"As
ações, em fase de conhecimento ou de execução, ajuizadas
anteriormente a 1º de janeiro de 2020, continuarão a ser

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processadas e julgadas no juízo estadual." 10- Tese a ser fixada
no incidente de assunção de competência: "Os efeitos da Lei nº
13.876/2019 na modificação de competência para o
processamento e julgamento dos processos que tramitam na
Justiça Estadual no exercício da competência federal delegada
insculpido no art, 109, § 3º, da Constituição Federal, após as
alterações promovidas pela Emenda Constitucional 103, de 12
de novembro de 2019, aplicar-se-ão aos feitos ajuizados após
1º de janeiro de 2020.
As ações, em fase de conhecimento ou de execução, ajuizadas
anteriormente a essa data, continuarão a ser processadas e
julgadas no juízo estadual, nos termos em que previsto pelo §
3º do art. 109 da Constituição Federal, pelo inciso III do art. 15
da Lei n. 5.010, de 30 de maio de 1965, em sua redação
original." 11- Dispositivo: Como a ação fora ajuizada em
4/5/2018 deve ser reconhecida a competência do Juízo de
Direito da 1ª Vara Cível de Guaíba - RS, o suscitado, para
processar e julgar a ação.
(IAC no CC 170.051/RS, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL
MARQUES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 21/10/2021, DJe
04/11/2021)
CONEXÕES E 1. Sobre a competência delegada federal, confira também o
COMENTÁRIOS Tema 820 da Repercussão Geral (STF), ressaltando que o
acórdão foi proferido com base na redação anterior à Emenda
Constitucional 103/19.

TRIBUNAL STJ
TEMA Repetitivo 1030
QUESTÃO Possibilidade, ou não, à luz do art. 3º da Lei n. 10.259/2001, de
a parte renunciar ao valor excedente a sessenta salários
mínimos, aí incluídas prestações vincendas, para poder
demandar no âmbito dos juizados especiais federais.

39
TESE Ao autor que deseje litigar no âmbito de Juizado Especial
Federal Cível, é lícito renunciar, de modo expresso e para fins
de atribuição de valor à causa, ao montante que exceda os 60
(sessenta) salários mínimos previstos no art. 3º, caput, da Lei
10.259/2001, aí incluídas, sendo o caso, até doze prestações
vincendas, nos termos do art. 3º, § 2º, da referida lei, c/c o art.
292, §§ 1º e 2º, do CPC/2015.
EMENTA (...) 5. "Na hipótese de o pedido englobar prestações vencidas
RESUMIDA e vincendas, há neste Superior Tribunal entendimento segundo
o qual incide a regra do art. 260 do Código de Processo Civil,
que interpretado conjuntamente com o mencionado art. 3º, § 2º,
da Lei 10.259/2001, estabelece a soma da prestações vencidas
mais doze parcelas vincendas, para a fixação do conteúdo
econômico da demanda e, consequentemente, a determinação
da competência do juizado especial federal" (CC 91.470/SP,
Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, TERCEIRA
SEÇÃO, julgado em 13/8/2008, DJe 26/8/2008).
6. A jurisprudência desta Corte é pacífica quanto à natureza
absoluta da competência atribuída aos Juizados Especiais
Federais, a teor do art. 3º, § 3º, da Lei 10.259/2001,
observando-se, para isso, o valor da causa. Nesse sentido:
REsp 1.707.486/PB, Rel. Ministro OG FERNANDES,
SEGUNDA TURMA, julgado em 3/4/2018, DJe 9/4/2018; AgInt
no REsp 1.695.271/SP, Rel. Ministra REGINA HELENA
COSTA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 12/12/2017, DJe
15/12/2017.
7. Como também já deliberado pelo STJ, "Se o autor da ação
renunciou expressamente o que excede a sessenta salários,
competente o Juizado Especial Federal para o feito" (CC
86.398/RJ, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA,
TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 13/2/2008, DJ 22/2/2008, p.
161).

40
8. Se o legislador, na fase de cumprimento da decisão, previu
expressamente a possibilidade de renúncia ao crédito
excedente para fins de o credor se esquivar do recebimento via
precatório (art. 17, § 4º, da Lei 10.259/2001), não se
compreende como razoável vedar-se ao interessado, no ato de
ajuizamento da ação, a possibilidade de dispor de valores
presumidamente seus, em prol de uma solução mais célere do
litígio perante os Juizados Especiais Federais.
9. Nesse contexto, não pode, respeitosamente, prevalecer
entendimento contrário, tal como aquele cristalizado no
Enunciado 17 (aprovado no II FONAJEF, em 2005), segundo o
qual "Não cabe renúncia sobre parcelas vincendas para fins de
fixação de competência nos Juizados Especiais Federais".
10. Inexistem, em suma, amarras legais que impeçam o
demandante de, assim lhe convindo, reivindicar pretensão
financeira a menor, que lhe possibilite enquadrar-se na alçada
estabelecida pelo art. 3º, caput, da Lei 10.259/2001.
11. TESE REPETITIVA: "Ao autor que deseje litigar no âmbito
de Juizado Especial Federal Cível, é lícito renunciar, de modo
expresso e para fins de atribuição de valor à causa, ao montante
que exceda os 60 (sessenta) salários mínimos previstos no art.
3º, caput, da Lei 10.259/2001, aí incluídas, sendo o caso, as
prestações vincendas".
(...) (REsp 1807665/SC, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA,
PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 28/10/2020, DJe 26/11/2020)

(...) 2. A pretensão da embargante não se dirige ao mérito do


julgamento, cingindo-se à redação da tese, no intuito de que
nela fique expresso que as prestações vincendas que podem
ser objeto de renúncia são as compreendidas em uma
anuidade, isto é, doze meses, com base na aplicação
conjugada dos arts. 3º, § 2º, da Lei 10.259/2001 e 292 do
CPC/2015. Tal entendimento não se caracteriza como tentativa

41
de inovação no julgamento, tendo sido expressamente acolhido
no corpo do voto do relator, às e-STJ fls. 860-861.
(...)
10. Assim, a título de complementar o louvado voto do e.
Relator, e colaborar com o aperfeiçoamento do julgamento,
eliminando contradição interna entre o julgado e a tese firmada,
entendo que os embargos de declaração devem ser acolhidos,
propondo o acréscimo do trecho em negrito na tese, que segue
assim redigida: "Ao autor que deseje litigar no âmbito de
Juizado Especial Federal Cível, é lícito renunciar, de modo
expresso e para fins de atribuição de valor à causa, ao montante
que exceda os 60 (sessenta) salários mínimos previstos no art.
3º, caput, da Lei 10.259/2001, aí incluídas, sendo o caso, até
doze prestações vincendas, nos termos do art. 3º, § 2º, da
referida lei, c/c o art. 292, §§ 1º e 2º, do CPC/2015.".
11. Embargos de declaração acolhidos, sanando-se a
contradição no acórdão embargado, nos termos acima
expostos.
(EDcl no REsp 1807665/SC, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA,
Rel. p/ Acórdão Ministro OG FERNANDES, PRIMEIRA SEÇÃO,
julgado em 12/05/2021, DJe 01/07/2021)
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
TEMA Repetitivo 1053
QUESTÃO Saber se os Juizados Especiais da Fazenda Pública têm
competência para o julgamento de ações previdenciárias
decorrentes de acidente de trabalho em que o Instituto Nacional
do Seguro Social figure como parte.
TESE Os Juizados Especiais da Fazenda Pública não têm
competência para o julgamento de ações decorrentes de

42
acidente de trabalho em que o Instituto Nacional do Seguro
Social figure como parte.
EMENTA (...) 7. O STJ já se pronunciou não sobre o tema dos autos, mas
RESUMIDA acerca de questão correlata, que decorreu da previsão feita no
art. 109, § 3º, da Constituição de 1988. O preceito autoriza, na
hipótese de ausência de vara federal no domicílio do segurado,
a delegação legal para que a Justiça Estadual processe
demandas de natureza previdenciária. Decidiu-se no STJ, em
relevante precedente sobre o tema: "Em razão do próprio
regramento constitucional e infraconstitucional, não há
competência federal delegada no âmbito dos Juizados
Especiais Estaduais, nem o Juízo Estadual, investido de
competência federal delegada (artigo 109, parágrafo 3º, da
Constituição Federal), pode aplicar, em matéria previdenciária,
o rito de competência do Juizado Especial Federal, diante da
vedação expressa contida no artigo 20 da Lei nº 10.259/2001."
(REsp 661.482/PB, Relator p/Acórdão Ministro Hamilton
Carvalhido, DJe 5.2.2009).
8. O referido art. 20 da Lei 10.259/2001 - que veda a aplicação
do procedimento dos Juizados Especiais Federais no juízo
estadual que esteja no exercício de competência delegada (CF,
art. 109, § 3º) - também proíbe, pelo diálogo entre as fontes, a
aplicação do rito dos juizados no juízo estadual que processe
demandas acidentárias (CF, art. 109, I). Com isso se equilibra
o direito de acesso à Justiça com as normas relativas ao pacto
federativo, tanto nas demandas contra o INSS em que se
postula benefício previdenciário como nas que decorram de
acidente de trabalho.
9. A Lei dos Juizados Especiais da Fazenda Pública (Lei
12.153/2009) não conflita com esse entendimento, pois seu art.
2º estabelece expressamente que compete a esses órgãos
"processar, conciliar e julgar causas cíveis de interesse dos
Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios,

43
até o valor de 60 (sessenta) salários mínimos." Do preceito se
extrai que não estão incluídas nessa competência as causas de
interesse da União e suas autarquias.
10. Harmonicamente, o art. 5º, II, da mesma Lei define que
podem ser réus no Juizado Especial da Fazenda Pública "os
Estados, o Distrito Federal, os Territórios e os Municípios, bem
como autarquias, fundações e empresas públicas a eles
vinculadas."
11. Nessa linha, antes da afetação do tema, diversas decisões
monocráticas deram provimento a Recursos Especiais do INSS
em casos idênticos ao destes autos para reformar decisões
declinatórias do Tribunal de Justiça do Estado do Mato Grosso,
sob o argumento de que "não há previsão para a Autarquia
Federal ser parte em processo no Juizado Especial da Fazenda
Pública." (REsp 1.861.311/MT, Rel. Min. Francisco Falcão, DJe
20.3.2020). No mesmo sentido: REsp 1.859.885/MT, Rel. Min.
Regina Helena Costa, DJe 13.3.2020; REsp 1.859.958/MT, Rel.
Min. Sérgio Kukina, DJe 17.3.2020; REsp 1.860.105/MT,
Relator Min. Og Fernandes, DJe 31.3.2020. DEFINIÇÃO DA
TESE REPETITIVA 12. Fixa-se a seguinte tese repetitiva para
o Tema 1.053/STJ: "Os Juizados Especiais da Fazenda Pública
não têm competência para o julgamento de ações decorrentes
de acidente de trabalho em que o Instituto Nacional do Seguro
Social figure como parte." RESOLUÇÃO DO CASO
CONCRETO 13. O Tribunal de Justiça do Estado do Mato
Grosso declinou da competência para a Turma Recursal dos
Juizados Especiais do Estado.
(...) (REsp n. 1.859.931/MT, relator Ministro Herman Benjamin,
Primeira Seção, julgado em 10/3/2021, DJe de 1/7/2021.)

CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

44
TRIBUNAL STF
TEMA 505 da Repercussão Geral
QUESTÃO Aplicação imediata EC nº 20/98 quanto à competência da
Justiça do Trabalho para execução de contribuições
previdenciárias decorrentes de sentenças anteriores à sua
promulgação.

TESE A Justiça do Trabalho é competente para executar, de ofício, as


contribuições previstas no artigo 195, incisos I, alínea a, e II, da
Carta da República, relativamente a títulos executivos judiciais
por si formalizados em data anterior à promulgação da Emenda
Constitucional nº 20/1998.
EMENTA COMPETÊNCIA – CONTRIBUIÇÃO SOCIAL – SENTENÇA
RESUMIDA TRABALHISTA. A Justiça do Trabalho é competente para
executar, de ofício, as contribuições previstas no artigo 195,
incisos I, alínea “a”, e II, da Carta da República, relativamente a
títulos executivos judiciais por si formalizados em data anterior
à promulgação da Emenda Constitucional nº 20/1998.
(RE 595326, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno,
julgado em 24/08/2020, PROCESSO ELETRÔNICO
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-229 DIVULG 16-09-
2020 PUBLIC 17-09-2020)
CONEXÕES E 1. Súmula Vinculante 53: A competência da Justiça do Trabalho
COMENTÁRIOS prevista no art. 114, VIII, da Constituição Federal alcança a
execução de ofício das contribuições previdenciárias relativas
ao objeto da condenação constante das sentenças que proferir
e acordos por ela homologados.
(Aprovada em sessão plenária de 18/06/2015).

TRIBUNAL STF
TEMA 859 da Repercussão Geral

45
QUESTÃO Competência para processar e julgar ações de insolvência civil
nas quais haja interesse da União, entidade autárquica ou
empresa pública federal.

TESE A insolvência civil está entre as exceções da parte final do artigo


FIRMADA 109, I, da Constituição da República, para fins de definição da
competência da Justiça Federal.
EMENTA (...) 1. A questão constitucional em debate, neste recurso
RESUMIDA extraordinário com repercussão geral reconhecida (Tema 859),
é se a insolvência civil está, ou não, entre as exceções postas
na parte final do artigo 109, I, da Constituição da República,
para fins de definição da competência da Justiça Federal de
primeira instância. 2. A falência, no contexto do rol de exceções
à competência da Justiça Federal de primeira instância,
significa tanto a insolvência da pessoa jurídica, quanto a
insolvência da pessoa física, considerando que ambas
envolvem, em suas respectivas essências, concurso de
credores. 3. Assim sendo, diante do caso dos autos, fixa-se a
seguinte tese: “A insolvência civil está entre as exceções da
parte final do artigo 109, I, da Constituição da República, para
fins de definição da competência da Justiça Federal.” 4.
Recurso extraordinário a que se nega provimento.
(RE 678162, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/
Acórdão: EDSON FACHIN, Tribunal Pleno, julgado em
29/03/2021, PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO
GERAL - MÉRITO DJe-091 DIVULG 12-05-2021 PUBLIC 13-
05-2021)
CONEXÕES E 1. O art. 45, I, do CPC, prevê a hipótese expressamente,
COMENTÁRIOS inovando em relação ao CPC/73.

TRIBUNAL STF
TEMA 1011 da Repercussão Geral

46
QUESTÃO Controvérsia relativa à existência de interesse jurídico da Caixa
Econômica Federal para ingressar como parte ou terceira
interessada nas ações envolvendo seguros de mútuo
habitacional no âmbito do Sistema Financeiro de Habitação e,
consequentemente, à competência da Justiça Federal para o
processamento e o julgamento das ações dessa natureza.

TESE 1) Considerando que, a partir da MP 513/2010 (que originou a


Lei 12.409/2011 e suas alterações posteriores, MP 633/2013 e
Lei 13.000/2014), a CEF passou a ser administradora do FCVS,
é aplicável o art. 1º da MP 513/2010 aos processos em trâmite
na data de sua entrada em vigor (26.11.2010): 1.1.) sem
sentença de mérito (na fase de conhecimento), devendo os
autos ser remetidos à Justiça Federal para análise do
preenchimento dos requisitos legais acerca do interesse da
CEF ou da União, caso haja provocação nesse sentido de
quaisquer das partes ou intervenientes e respeitado o § 4º do
art. 1º-A da Lei 12.409/2011; e 1.2) com sentença de mérito (na
fase de conhecimento), podendo a União e/ou a CEF intervir na
causa na defesa do FCVS, de forma espontânea ou provocada,
no estágio em que se encontre, em qualquer tempo e grau de
jurisdição, nos termos do parágrafo único do art. 5º da Lei
9.469/1997, devendo o feito continuar tramitando na Justiça
Comum Estadual até o exaurimento do cumprimento de
sentença; e 2) Após 26.11.2010, é da Justiça Federal a
competência para o processamento e julgamento das causas
em que se discute contrato de seguro vinculado à apólice
pública, na qual a CEF atue em defesa do FCVS, devendo haver
o deslocamento do feito para aquele ramo judiciário a partir do
momento em que a referida empresa pública federal ou a União,
de forma espontânea ou provocada, indique o interesse em
intervir na causa, observado o § 4º do art. 64 do CPC e/ou o §
4º do art. 1º-A da Lei 12.409/2011.

47
EMENTA Recurso extraordinário. Repercussão geral. 2. Sistema
RESUMIDA Financeiro da Habitação (SFH). Contratos celebrados em que o
instrumento estiver vinculado ao Fundo de Compensação de
Variação Salarial (FCVS) – Apólices públicas, ramo 66. 3.
Interesse jurídico da Caixa Econômica Federal (CEF) na
condição de administradora do FCVS. 4. Competência para
processar e julgar demandas desse jaez após a MP 513/2010:
em caso de solicitação de participação da CEF (ou da União),
por quaisquer das partes ou intervenientes, após oitiva daquela
indicando seu interesse, o feito deve ser remetido para análise
do foro competente: Justiça Federal (art. 45 c/c art. 64 do CPC),
observado o § 4º do art. 1º-A da Lei 12.409/2011.
Jurisprudência pacífica. 5. Questão intertemporal relativa aos
processos em curso na entrada em vigor da MP 513/2010.
Marco jurígeno. Sentença de mérito. Precedente. 6.
Deslocamento para a Justiça Federal das demandas que não
possuíam sentença de mérito prolatada na entrada em vigor da
MP 513/2010 e desde que houvesse pedido espontâneo ou
provocado de intervenção da CEF, nesta última situação após
manifestação de seu interesse. 7. Manutenção da competência
da Justiça Estadual para as demandas que possuam sentença
de mérito proferida até a entrada em vigor da MP 513/2010. 8.
Intervenção da União e/ou da CEF (na defesa do FCVS)
solicitada nessa última hipótese. Possibilidade, em qualquer
tempo e grau de jurisdição, acolhendo o feito no estágio em que
se encontra, na forma do parágrafo único do art. 5º da Lei
9.469/1997.
(RE 827996, Relator(a): GILMAR MENDES, Tribunal Pleno,
julgado em 29/06/2020, PROCESSO ELETRÔNICO
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-208 DIVULG 20-08-
2020 PUBLIC 21-08-2020)
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

48
TRIBUNAL STJ
TEMA IAC 10
QUESTÃO Fixação da competência prevalecente para julgamento de
matérias de direitos coletivos e individuais quando haja conflito
entre norma infralegal ou lei estadual e a previsão de leis
federais, no que tange a foro especializado em lides contra a
Fazenda Pública.
TESE Tese A) Prevalecem sobre quaisquer outras normas locais,
primárias ou secundárias, legislativas ou administrativas, as
seguintes competências de foro:
i) em regra, do local do dano, para ação civil pública (art. 2º da
Lei n. 7.347/1985);
ii) ressalvada a competência da Justiça Federal, em ações
coletivas, do local onde ocorreu ou deva ocorrer o dano de
impacto restrito, ou da capital do estado, se os danos forem
regionais ou nacionais, submetendo-se ainda os casos à regra
geral do CPC, em havendo competência concorrente (art. 93, I
e II, do CDC).

Tese B) São absolutas as competências:


i) da Vara da Infância e da Juventude do local onde ocorreu ou
deva ocorrer a ação ou a omissão, para as causas individuais
ou coletivas arroladas no ECA, inclusive sobre educação e
saúde, ressalvadas a competência da Justiça Federal e a
competência originária dos tribunais superiores (arts. 148, IV, e
209 da Lei n. 8.069/1990; e Tese n. 1.058/STJ);
ii) do local de domicílio do idoso nas causas individuais ou
coletivas versando sobre serviços de saúde, assistência social
ou atendimento especializado ao idoso portador de deficiência,
limitação incapacitante ou doença infectocontagiosa,
ressalvadas a competência da Justiça Federal e a competência
originária dos tribunais superiores (arts. 79 e 80 da Lei n.

49
10.741/2003 e 53, III, e, do CPC/2015);
iii) do Juizado Especial da Fazenda Pública, nos foros em que
tenha sido instalado, para as causas da sua alçada e matéria
(art. 2º, § 4º, da Lei n. 12.153/2009);
iv) nas hipóteses do item (iii), faculta-se ao autor optar
livremente pelo manejo de seu pleito contra o estado no foro de
seu domicílio, no do fato ou ato ensejador da demanda, no de
situação da coisa litigiosa ou, ainda, na capital do estado,
observada a competência absoluta do Juizado, se existente no
local de opção (art. 52, parágrafo único, do CPC/2015, c/c o art.
2º, § 4º, da Lei n. 12.153/2009).

Tese C) A instalação de vara especializada não altera a


competência prevista em lei ou na Constituição Federal, nos
termos da Súmula n. 206/STJ ("A existência de vara privativa,
instituída por lei estadual, não altera a competência territorial
resultante das leis de processo."). A previsão se estende às
competências definidas no presente IAC n. 10/STJ.

Tese D) A Resolução n. 9/2019/TJMT é ilegal e inaplicável


quanto à criação de competência exclusiva em comarca
arbitrariamente eleita em desconformidade com as regras
processuais, especificamente quando determina a
redistribuição desses feitos, se ajuizados em comarcas diversas
da 1ª Vara Especializada da Fazenda Pública da Comarca de
Várzea Grande/MT. Em consequência:
i) fica vedada a redistribuição à 1ª Vara Especializada da
Fazenda Pública da Comarca de Várzea Grande/MT dos feitos
propostos ou em tramitação em comarcas diversas ou em
juizados especiais da referida comarca ou de outra comarca,
cujo fundamento, expresso ou implícito, seja a Resolução n.
9/2019/TJMT ou normativo similar;
ii) os feitos já redistribuídos à 1ª Vara Especializada de Várzea

50
Grande/MT com fundamento nessa norma deverão ser
devolvidos aos juízos de origem, salvo se as partes,
previamente intimadas, concordarem expressamente em
manter o processamento do feito no referido foro;
iii) no que tange aos processos já ajuizados - ou que venham a
ser ajuizados - pelas partes originalmente na 1ª Vara
Especializada da Fazenda Pública da Comarca de Várzea
Grande/MT, poderão prosseguir normalmente no referido juízo;
iv) não se aplicam as previsões dos itens (ii) e (iii) aos feitos de
competência absoluta, ou seja: de competência dos Juizados
Especiais da Fazenda, das Varas da Infância e da Juventude
ou do domicílio do idoso, nos termos da Tese B deste IAC n.
10/STJ.
EMENTA (...) 1. Prevalecem as leis processuais federais e a Constituição
RESUMIDA da República sobre atos normativos legislativos ou secundários
emanados dos Estados-Membros. Precedentes do STJ.
2. As normas processuais dão preferência à tutela dos
interesses dos cidadãos hipossuficientes ante à conveniência
da Administração do Estado, inclusive na gestão judiciária.
3. (...) A imposição da tramitação das demandas em uma única
comarca implica claro prejuízo aos cidadãos do Estado, que
serão forçados a longos deslocamentos para as audiências e
para a produção da prova necessária ao bom andamento do
feito.
4. Fixam-se as seguintes teses vinculantes no presente IAC:
Tese A) Prevalecem sobre quaisquer outras normas locais,
primárias ou secundárias, legislativas ou administrativas, as
seguintes competências de foro: i) em regra, do local do dano,
para ação civil pública (art. 2º da Lei n.º 7.347/1985);
ii) ressalvada a competência da Justiça Federal, em ações
coletivas, do local onde ocorreu ou deva ocorrer o dano de
impacto restrito, ou da capital do Estado, se os danos forem
regionais ou nacionais, submetendo-se ainda os casos à regra

51
geral do CPC, em havendo competência concorrente (art. 93, I
e II, do CDC).
Tese B) São absolutas as competências: i) da Vara da Infância
e da Juventude do local onde ocorreu ou deva ocorrer a ação
ou a omissão, para as causas individuais ou coletivas arroladas
no ECA, inclusive sobre educação e saúde, ressalvadas a
competência da Justiça Federal e a competência originária dos
tribunais superiores (arts. 148, IV, e 209 da Lei n.º 8.069/1990
e Tese 1.058/STJ);
ii) do local de domicílio do idoso nas causas individuais ou
coletivas versando sobre serviços de saúde, assistência social
ou atendimento especializado ao idoso portador de deficiência,
limitação incapacitante ou doença infectocontagiosa,
ressalvadas a competência da Justiça Federal e a competência
originária dos tribunais superiores (arts. 79 e 80 da Lei n.º
10.741/2003; e 53, III, e, do CPC/2015);
iii) do Juizado Especial da Fazenda Pública, nos foros em que
tenha sido instalado, para as causas da sua alçada e matéria
(art. 2º, § 4º, da Lei n.º 12.153/2009);
iv) nas hipóteses do item (iii), faculta-se ao autor optar
livremente pelo manejo de seu pleito contra o Estado no foro de
seu domicílio, no do fato ou ato ensejador da demanda, no de
situação da coisa litigiosa ou, ainda, na capital do Estado,
observada a competência absoluta do Juizado, se existente no
local de opção (art. 52, parágrafo único, do CPC/2015, c/c o art.
2º, § 4º, da Lei n.º 12.153/2009).
Tese C) A instalação de vara especializada não altera a
competência prevista em lei ou na Constituição Federal, nos
termos da Súmula n.º 206/STJ ("A existência de vara privativa,
instituída por lei estadual, não altera a competência territorial
resultante das leis de processo."). A previsão se estende às
competências definidas no presente IAC n.º 10/STJ.

52
Tese D) A Resolução n.º 9/2019/TJMT é ilegal e inaplicável
quanto à criação de competência exclusiva em comarca eleita
em desconformidade com as regras processuais,
especificamente quando determina a redistribuição desses
feitos, se ajuizados em comarcas diversas da 1ª Vara
Especializada da Fazenda Pública da Comarca de Várzea
Grande/MT. Em consequência: i) Fica vedada a redistribuição à
1ª Vara Especializada da Fazenda Pública da Comarca de
Várzea Grande/MT dos feitos propostos ou em tramitação em
comarcas diversas ou em juizados especiais da mesma ou de
outra comarca, cujo fundamento, expresso ou implícito, seja a
Resolução n.º 9/2019/TJMT ou normativo similar;
ii) Os feitos já redistribuídos à 1ª Vara Especializada de Várzea
Grande/MT com fundamento nessa norma deverão ser
devolvidos aos juízos de origem, salvo se as partes,
previamente intimadas, concordarem expressamente em
manter o processamento do feito no referido foro;
iii) No que tange aos processos já ajuizados - ou que venham a
ser ajuizados - pelas partes originariamente na 1ª Vara
Especializada da Fazenda Pública da Comarca de Várzea
Grande/MT, poderão prosseguir normalmente no referido juízo;
iv) Não se aplicam as previsões dos itens (ii) e (iii) aos feitos de
competência absoluta, ou seja: de competência dos Juizados
Especiais da Fazenda, das Varas da Infância e da Juventude
ou do domicílio do idoso, nos termos da Tese B do IAC n.º
10/STJ.
(...)
6. Recurso ordinário provido, com teses qualificadas fixadas em
incidente de assunção de competência (art. 947 do CPC/2015).
(RMS 64.525/MT, Rel. Ministro OG FERNANDES, PRIMEIRA
SEÇÃO, julgado em 21/10/2021, DJe 29/11/2021)

53
CONEXÕES E 1. A tese C reafirma a Súmula 206 do STJ: A existência de vara
COMENTÁRIOS privativa, instituída por lei estadual, não altera a competência
territorial resultante das leis de processo. (SÚMULA 206,
CORTE ESPECIAL, julgado em 01/04/1998, DJ 16/04/1998, p.
44).

TRIBUNAL STJ
TEMA Repetitivo 976
QUESTÃO Competência para processo e julgamento de demandas com
pedidos ilíquidos contra massa falida: se é competente o juízo
no qual se processa o feito falimentar ou o juízo cível em que
proposta a ação de conhecimento respectiva.
TESE A competência para processar e julgar demandas cíveis com
pedidos ilíquidos contra massa falida, quando em litisconsórcio
passivo com pessoa jurídica de direito público, é do juízo cível
no qual for proposta a ação de conhecimento, competente para
julgar ações contra a Fazenda Pública, de acordo as
respectivas normas de organização judiciária.
EMENTA [...] 2. A jurisprudência da Segunda Seção desta STJ é assente
RESUMIDA no que concerne à aplicação do art. 6º, § 1º, da Lei n.
11.101/2005 às ações cíveis ilíquidas - como no caso em exame
-, fixando a competência em tais casos em favor do juízo cível
competente, excluído o juízo universal falimentar. [...]
3. A Quarta Turma desta Corte Superior, por ocasião do
julgamento do AgRg no REsp 1.471.615/SP, Rel. Ministro
Marco Buzzi, julgado em 16/9/2014, DJe 24/9/2014, assentou
que se fixa a competência do juízo cível competente, por
exclusão do juízo universal falimentar, tenha sido, ou não, a
demanda ilíquida interposta antes da decretação da quebra ou
da recuperação judicial: "A decretação da falência, a despeito
de instaurar o juízo universal falimentar, não acarreta a

54
suspensão nem a atração das ações que demandam quantia
ilíquida: se elas já tinham sido ajuizadas antes, continuam
tramitando no juízo onde foram propostas; se forem ajuizadas
depois, serão distribuídas normalmente segundo as regras
gerais de competência. Em ambos os casos, as ações
tramitarão no juízo respectivo até a eventual definição de crédito
líquido".
4. Aplicada a jurisprudência da Segunda Seção desta Corte
Superior, no que concerne à relação jurídica prévia -
competência para resolver sobre demandas cíveis ilíquidas
propostas contra massa falida -, a resolução da segunda parte
da questão de direito se revela simples. É que, tratando-se de
ação cível ilíquida na qual, além da massa falida, são requeridos
o Estado de São Paulo e o Município de São José dos Campos,
pessoas jurídicas de direito público, será competente para
processar e julgar o feito o juízo cível competente para as ações
contra a Fazenda Pública, segundo as normas locais de
organização judiciária.
5. Tese jurídica firmada: A competência para processar e julgar
demandas cíveis com pedidos ilíquidos contra massa falida,
quando em litisconsórcio passivo com pessoa jurídica de direito
público, é do juízo cível no qual for proposta a ação de
conhecimento, competente para julgar ações contra a Fazenda
Pública, de acordo as respectivas normas de organização
judiciária.
[...]
7. Recurso julgado sob a sistemática do art. 1.036 e seguintes
do CPC/2015 e art. 256-N e seguintes do Regimento Interno
deste STJ.
(REsp 1643856 SP, Rel. Ministro OG FERNANDES, PRIMEIRA
SEÇÃO, julgado em 13/12/2017, DJe 19/12/2017)
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

55
TRIBUNAL STJ
TEMA Repetitivo 950
QUESTÃO 1) Saber se é possível à justiça estadual impor abstenção de
uso de marca registrada pelo INPI.
2) Saber se é cabível, em reconhecimento de concorrência
desleal, que a justiça estadual determine a abstenção de uso de
elementos que não são registrados no INPI, caracterizados pelo
"conjunto imagem" ("trade dress") de produtos e/ou serviços.
TESE As questões acerca do trade dress (conjunto-imagem) dos
FIRMADA produtos, concorrência desleal, e outras demandas afins, por
não envolver registro no INPI e cuidando de ação judicial entre
particulares, é inequivocamente de competência da justiça
estadual, já que não afeta interesse institucional da autarquia
federal. No entanto, compete à Justiça Federal, em ação de
nulidade de registro de marca, com a participação do INPI,
impor ao titular a abstenção do uso, inclusive no tocante à tutela
provisória.
EMENTA (...) 1. A tese a ser firmada, para efeito do art. 1.036 do
RESUMIDA CPC/2015 (art. 543-C do CPC/1973), é a seguinte: As questões
acerca do trade dress (conjunto-imagem) dos produtos,
concorrência desleal e outras demandas afins, por não envolver
registro no INPI e cuidando de ação judicial entre particulares,
é inequivocamente de competência da justiça estadual, já que
não afeta interesse institucional da autarquia federal. No
entanto, compete à Justiça Federal, em ação de nulidade de
registro de marca, com a participação do INPI, impor ao titular
a abstenção do uso, inclusive no tocante à tutela provisória.
2. No caso concreto, dá-se parcial provimento ao recurso
interposto por SS Industrial S.A. e SS Comércio de Cosméticos
e Produtos de Higiene Pessoal Ltda., remetendo à Quarta
Turma do STJ, para prosseguir-se no julgamento do recurso

56
manejado por Indústria e Comércio de Cosméticos Natura Ltda.
e Natura Cosméticos S.A.
(REsp 1527232/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,
SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 13/12/2017, DJe 05/02/2018)

CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

1.2 JURISPRUDÊNCIA PERSUASIVA

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 783
DESTAQUE DO Com o ajuizamento, pelo consumidor, de ação perante o Poder
INFORMATIVO Judiciário, presume-se a discordância dele em submeter-se ao
juízo arbitral, sendo nula a cláusula de contrato de consumo que
determina a utilização compulsória da arbitragem.
TRECHOS DO Conforme consignado pela Terceira Turma no REsp
INFORMATIVO 1.785.783/GO, apontado como paradigma, "com a promulgação
da Lei de Arbitragem, passaram a conviver, em harmonia, três
regramentos de diferentes graus de especificidade: (i) a regra
geral, que obriga a observância da arbitragem quando pactuada
pelas partes; (ii) a regra específica, aplicável a contratos de
adesão genéricos, que restringe a eficácia da cláusula
compromissória; e (iii) a regra ainda mais específica, incidente
sobre contratos sujeitos ao Código de Defesa do Consumidor,
sejam eles de adesão ou não, impondo a nulidade de cláusula
que determine a utilização compulsória da arbitragem, ainda
que satisfeitos os requisitos do art. 4º, § 2º, da Lei n.
9.307/1996" (REsp 1.785.783/GO, Terceira Turma, julgado em
5/11/2019, DJe 7/11/2019).
Na mesma oportunidade, definiu-se, ainda, que o ajuizamento,
pelo consumidor, de ação perante o Poder Judiciário caracteriza

57
a sua discordância em submeter-se ao juízo arbitral, não
podendo prevalecer a cláusula que impõe a sua utilização.
No âmbito desta Corte Superior, o referido entendimento
consolidou-se em ambas as Turmas que compõem a Segunda
Seção.
Nesse sentido, "Não há incompatibilidade entre os arts. 51, VII,
do CDC e 4º, § 2º, da Lei n. 9.307/1996. Visando conciliar os
normativos e garantir a maior proteção ao consumidor é que
entende-se que a cláusula compromissória só virá a ter eficácia
caso este aderente venha a tomar a iniciativa de instituir a
arbitragem, ou concorde, expressamente, com a sua instituição,
não havendo, por conseguinte, falar em compulsoriedade.
Ademais, há situações em que, apesar de se tratar de
consumidor, não há vulnerabilidade da parte a justificar sua
proteção" (REsp 1.189.050/SP, relator Ministro Luis Felipe
Salomão, Quarta Turma, julgado em 1º/3/2016, DJe 14/3/2016.)
Com efeito, ofenderia o sistema erigido para a proteção e
defesa do consumidor, e tampouco seria razoável exigir do
sujeito vulnerável que recorresse ao juízo arbitral tão somente
para ver declarada a nulidade de cláusula compromissória que
lhe impõe a utilização compulsória da arbitragem.
Impor tal ônus ao consumidor, do ponto de vista pragmático,
seria o mesmo que, por vias oblíquas, lhe impor a adoção
compulsória da arbitragem, fazendo letra morta tanto do art. 51,
VII, do CDC, quanto da jurisprudência sedimentada nesta Corte
Superior.
Desse modo, conclui-se que: a) é nula a cláusula de contrato de
consumo que determina a utilização compulsória da arbitragem;
e b) o ajuizamento, pelo consumidor, de ação perante o Poder
Judiciário caracteriza a sua discordância em submeter-se ao
juízo arbitral, não podendo prevalecer a cláusula que impõe a
sua utilização.

58
REFERÊNCIA EREsp 1.636.889-MG, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Segunda
DO ACÓRDÃO Seção, por unanimidade, julgado em 9/8/2023, DJe 14/8/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 775
DESTAQUE DO A ciência prévia da seguradora a respeito de cláusula arbitral
INFORMATIVO pactuada no contrato objeto de seguro garantia resulta na sua
submissão à jurisdição arbitral, pois o risco é objeto da própria
apólice securitária e constitui elemento objetivo a ser
considerado na avaliação da cobertura do sinistro pela
seguradora, nos termos do artigo 757 do Código Civil.
TRECHOS DO O cerne da controvérsia versa acerca da transmissão
INFORMATIVO automática ou não de cláusula arbitral, prevista em contrato de
transporte marítimo, às seguradoras sub-rogadas, em caso de
ação regressiva de ressarcimento.
A sub-rogação prevista no art. 786 do Código Civil (CC) - que
estabelece que, "paga a indenização, o segurador sub-roga-se,
nos limites do valor respectivo, nos direitos e ações que
competirem ao segurado contra o autor do dano" - possui
natureza jurídica de sub-rogação legal, pois independe de
previsão contratual, à luz do disposto no art. 346, III, do CC. A
quase totalidade dos contratos de seguro de dano repete a
referida disposição legal, o que, por si só, não transforma a
natureza jurídica da sub-rogação legal em convencional.
Com efeito, a sub-rogação legal não implica titularização da
posição contratual do segurado pelo segurador, pois, apesar de
relacionados, o contrato de seguro e o contrato segurado são
independentes, autônomos e, mais, referem-se a obrigações
distintas, ainda que equivalentes no montante indenizatório. No
contrato objeto de seguro garantia há a obrigação principal

59
inadimplida e demais pactos acessórios decorrentes da avença,
no contrato de seguro há tão somente um interesse protegido:
o risco de descumprimento do contrato assegurado, que o
segurador assume em troca dos prêmios pagos e do poder de
buscar o ressarcimento pela apólice indenizada.
Deve ser afastada a submissão à cláusula arbitral como efeito
direto e automático da sub-rogação legal, haja vista ser possível
a existência de sub-rogação convencional ou, ao menos, a
consideração da referida cláusula no risco a ser garantido nos
casos de seguro garantia, ainda que de forma implícita. A
diferenciação proposta mostra-se essencial em razão da
necessidade de a submissão de determinado conflito à
jurisdição arbitral ser fruto da autonomia das partes, nos termos
do art. 3° da Lei n. 9.307/96, bem como da ineficácia de
"qualquer ato do segurado que diminua ou extinga, em prejuízo
do segurador, os direitos a que se refere este artigo".
Entendimento diverso possibilitaria obrigar a seguradora a se
submeter ao compromisso arbitral decorrente de cláusula
compromissória celebrada posteriormente à contratação da
apólice securitária, não considerada no cálculo do risco
predeterminado (arts. 757, caput, 759, 765 e 766 do Código
Civil).
Por outro lado, notadamente nos casos de seguro garantia não
há como se afastar o conhecimento prévio da seguradora da
existência de cláusula compromissória no contrato de
transporte marítimo de cargas objeto da apólice securitária.
Como consequência da sub-rogação legal, há transferência de
"todos os direitos, ações, privilégios e garantias do primitivo, em
relação à dívida, contra o devedor principal e os fiadores", a teor
do disposto no art. 349 do CC.
Trata-se, portanto, de instituto de natureza mista, material e
processual, dado que são transferidas também "as ações que
competiriam ao segurado". Desse modo, tendo sido submetido

60
o contrato previamente à seguradora, a fim de que analisasse
os riscos provenientes do contrato garantido, entre os quais foi
ou deveria ter sido considerada a cláusula compromissória,
inafastável o entendimento de que tal cláusula deve ser
considerara como um dos elementos essenciais do interesse a
ser garantido e do risco predeterminado (arts. 757, caput, e 759
do CC).
A previsão do art. 786, § 2°, do CC, de que "é ineficaz qualquer
ato do segurado que diminua ou extinga, em prejuízo do
segurador, os direitos a que se refere este artigo", refere-se aos
atos praticados posteriormente à celebração do contrato de
seguro e/ou sem o conhecimento da seguradora, justamente
em virtude da exigência legal de ciência prévia para se estipular
os riscos predeterminados garantidos. Não há como incidir a
mencionada regra quando a disposição contratual integra a
unidade do risco objeto da própria apólice securitária, dado que
elemento objetivo a ser considerado nos cálculos atuariais
efetuados pela seguradora e objeto da autonomia das partes.
Nessa senda, em razão da presunção de paridade e simetria
entre as partes contratantes, bem como à luz do princípio da
intervenção mínima e da excepcionalidade da revisão
contratual, nos termos dos arts. 421, caput e parágrafo único, e
421-A, aquiescendo a seguradora em garantir o contrato de
transporte marítimo internacional, com previsão originária de
cláusula compromissória, igualmente não há que se falar em
violação à voluntariedade prevista na Lei de Arbitragem.
Afastar a sub-rogação na cláusula arbitral, previamente exposta
à aprovação da seguradora e de conhecimento de todos,
implicaria submeter as partes do contrato de transporte
marítimo ao arbítrio da contraparte na livre escolha da jurisdição
aplicável à avença, pois dependente única e exclusivamente da
seguradora escolhida pelo consignatário da carga.

61
Dessa forma, a despeito de a sub-rogação legal em favor da
seguradora não importar transmissão automática de cláusula
compromissória, a ciência prévia da seguradora a respeito de
sua existência no contrato objeto de seguro garantia resulta na
submissão à jurisdição arbitral.

REFERÊNCIA REsp 1.988.894-SP, Rel. Ministra Maria Isabel Gallotti, Quarta


DO ACÓRDÃO Turma, por unanimidade, julgado em 9/5/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 774
DESTAQUE DO A competência para julgamento de ação de indenização por
INFORMATIVO danos morais, decorrente de ofensas proferidas em rede social,
é do foro do domicílio da vítima, em razão da ampla divulgação
do ato ilícito.
TRECHOS DO O Tribunal de origem consignou que ações fundadas em direito
INFORMATIVO pessoal devem ser propostas no domicílio do réu, ponderando
que o ilícito praticado pela internet não constaria do rol das
exceções à regra da competência (art. 46 do Código de
Processo Civil).
Contudo, o STJ firmou o entendimento de que, havendo
divulgação de ofensas por redes sociais, a competência para
julgamento da ação é do foro do domicílio da vítima, em razão
da ampla divulgação do ato ilícito. Nesse sentido: (REsp n.
1.347.097/SE, Relator Ministro Paulo de Tarso Sanseverino,
Terceira Turma, julgado em 3/4/2014, DJe de 10/4/2014 e AgRg
no Ag 808.075/DF. Relator Ministro Fernando Gonçalves,
Quarta Turma, DJe 17/12/2007).
Da mesma forma, no julgamento do Conflito de Competência n.
154.928/SP, decidiu-se que "a competência para apreciar as
demandas que envolvam danos morais por ofensas proferidas

62
na internet é o local em que reside e trabalha a pessoa
prejudicada, local de maior repercussão das supostas ofensas".
Apesar de os precedentes citados terem sido proferidos sob a
égide do Código de Processo Civil de 1973 (art. 100, V, "a"), o
art. 53, IV, "a", do atual Código reproduziu idêntica norma
processual.

REFERÊNCIA REsp 2.032.427-SP, Rel. Ministro Antonio Carlos Ferreira,


DO ACÓRDÃO Quarta Turma, por unanimidade, julgado em 27/4/2023, DJe
4/5/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 773
DESTAQUE DO Não compete à Justiça comum processar e julgar causas
INFORMATIVO ajuizadas contra o patrocinador para recomposição de reserva
matemática, em cumulação sucessiva ao pedido de revisão do
benefício pela entidade fechada de previdência privada
complementar, em consequência da integração, ao salário de
participação, de verbas reconhecidas pela Justiça do Trabalho.
TRECHOS DO A questão suscitada no recurso diz respeito à legitimidade do
INFORMATIVO patrocinador para figurar no polo passivo de ação em que o
participante/assistido pede a condenação daquele à devida
recomposição da reserva matemática, em cumulação sucessiva
ao pedido de revisão do benefício pela entidade fechada de
previdência privada complementar, em consequência da
integração, ao salário de participação, de verbas reconhecidas
pela Justiça do Trabalho.
A despeito de não haver nos autos debate algum acerca da
competência para o processamento e julgamento da demanda,

63
a orientação da Segunda Seção é no sentido de que "tratando-
se de competência prevista na própria Constituição Federal,
nem mesmo o Superior Tribunal de Justiça detém jurisdição
para prosseguir no julgamento do recurso especial quanto ao
mérito, não lhe sendo dado incidir nas mesmas nulidades
praticadas pelos demais órgãos da Justiça Comum" (REsp
1.087.153/MG, relator Ministro Luis Felipe Salomão, Segunda
Seção, DJe de 22/6/2012).
Desse modo, a partir do julgamento, pelo STF, do RE
1.962.052/DF, com repercussão geral reconhecida, no qual se
estabeleceu a tese de que "compete à Justiça do Trabalho
processar e julgar causas ajuizadas contra o empregador nas
quais se pretenda o reconhecimento de verbas de natureza
trabalhista e os reflexos nas respectivas contribuições para a
entidade de previdência privada a ele vinculada" (DJe de
13/9/2021 - Tema 1166/STF), há de ser reconhecida, de ofício,
a incompetência da Justiça comum para processar e julgar a
demanda movida contra o patrocinador.
Assim, reconhecida a incompetência da Justiça comum para,
julgada a questão antes indicada, o processo deve ser extinto,
sem resolução do mérito, com relação ao patrocinador, nos
termos do art. 485, IV, do CPC/2015.

REFERÊNCIA EAREsp 1.975.132-DF, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Segunda


DO ACÓRDÃO Seção, por unanimidade, julgado em 12/4/2023, DJe 20/4/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 769
DESTAQUE DO Cabe à autoridade judiciária brasileira processar e julgar a ação
INFORMATIVO de rescisão contratual em que os autores pactuaram contrato

64
de adesão de prestação de serviços hoteleiros - sendo os
aderentes consumidores finais - com sociedade empresária
domiciliada em território estrangeiro e os autores domiciliados
no Brasil.
TRECHOS DO A controvérsia resume-se a saber se a Justiça brasileira é
INFORMATIVO competente para processar e julgar a ação de rescisão de
contrato de negócio jurídico celebrado em território mexicano
para ali produzir os seus efeitos, tendo como contratadas
pessoas físicas domiciliadas no Brasil.
O art. 22, II, do CPC/2015 contém norma específica acerca da
competência da autoridade judiciária brasileira para conhecer
de demandas decorrentes das relações de consumo, desde que
o consumidor tenha domicílio ou residência no Brasil.
Eis, por oportuno, a transcrição do referido dispositivo: "Art. 22.
Compete, ainda, à autoridade judiciária brasileira processar e
julgar as ações: (...) II - decorrentes de relações de consumo,
quando o consumidor tiver domicílio ou residência no Brasil".
No caso, observa-se que os autores celebraram negócio
jurídico com a Sol Meliá VC México S.A. que tem por objetivo o
uso das instalações do Hotel Paradisus Cancun em temporadas
expressamente previstas no contrato, mediante o pagamento
de cotas de manutenção.
É notório que as partes pactuaram contrato de adesão, haja
vista que as cláusulas foram unilateralmente elaboradas pela
Sol Meliá - fornecedora dos produtos e dos serviços - sem que
os aderentes pudessem discutir ou modificar substancialmente
o seu conteúdo.
A própria natureza do negócio, evidencia a sua natureza de
adesão.
Em outras palavras, o aderente apenas tem a faculdade de
escolher o plano a ser contratado, mas não tem ingerência
sobre as cláusulas que irão reger as relações entre as partes
negociantes.

65
Além do mais, os aderentes são nitidamente consumidores
finais dos produtos e dos serviços ofertados pelo Resort/Hotel,
enquanto a Sol Meliá VC México S.A. figura na condição de
prestadora dos serviços de hospedagem e fornecedora outros
serviços ofertados pelo clube, o que traz a aplicação do Código
de Defesa do Consumidor.
Idêntica conclusão pode ser extraída do julgamento do REsp
1.378.284/PB, no qual a Quarta Turma do STJ entendeu pela
aplicação do CDC a caso análogo envolvendo o Clube de
Turismo Bancorbrás.
Acrescenta-se que os autores têm domicílio no Brasil, motivo
pelo qual a Justiça brasileira é competente para conhecer da
demanda, nos termos da norma prevista no já citado art. 22, II,
do CPC/2015.
Nesse contexto, conforme previsão contratual, o negócio
jurídico foi realizado em território estrangeiro e teve por objeto
a utilização do Hotel Paradisus Cancun, no México. Desse
modo, fica clara a inaplicabilidade dos incisos II e III do art. 21
do CPC/2015, pois a obrigação, em linha de princípio, deveria
ter cumprimento no México, por fato e ato ali ocorrido e
praticado.
Quanto a existência de cláusula de eleição de foro estrangeiro
em contrato consumerista internacional, o art. 25 do CPC/2015
afasta a competência da autoridade judiciária brasileira para o
processamento e julgamento de ação.
O CDC, em seus arts. 6º, VIII, e 51, I, prescreve como garantia
do consumidor a facilitação da defesa dos seus direitos,
permitindo ao juiz a declaração de nulidade de cláusulas
consideradas abusivas. Tanto é assim que o Superior Tribunal
de Justiça orienta no sentido da nulidade de cláusula de eleição
de foro a partir da demonstração do prejuízo ao direito de defesa
e de acesso ao judiciário.

66
Nessa linha de raciocínio, nada impede que, em contrato
consumerista, o magistrado declare nulo o foro de eleição
diante do prejuízo e da dificuldade de o consumidor acionar a
justiça estrangeira para fazer valer o seu direito. Se assim não
fosse, restaria esvaziado o conteúdo normativo do art. 22, II, do
CPC/2015, já que, em sua ampla maioria, os contratos de (ou
por) adesão possuem cláusula que estabelece o foro
competente para dirimir eventuais conflitos.
Ademais, essa permissão de afastar o foro eleito não necessita
de esforço retórico ou argumentativo, nem do uso da
principiologia do microssistema consumerista, tendo em vista
que art. 25, § 2º, do CPC/2015 prevê a aplicação do art. 63 do
CPC/2015, que, em seu § 3º, determina que, "antes da citação,
a cláusula de eleição de foro, se abusiva, pode ser reputada
ineficaz de ofício pelo juiz, que determinará a remessa dos
autos ao juízo do foro de domicílio do réu".

REFERÊNCIA REsp 1.797.109-SP, Rel. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva,


DO ACÓRDÃO Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 21/3/2023, DJe
24/3/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 768
DESTAQUE DO Cabe à Justiça comum estadual e/ou distrital processar e julgar
INFORMATIVO as demandas oriundas de ações de repactuação de dívidas
decorrentes de superendividamento, ainda que exista interesse
de ente federal.
TRECHOS DO A discussão que abrange o presente caso consiste na
INFORMATIVO declaração do juízo competente para processar e julgar ação de
repactuação de dívidas por superendividamento do consumidor

67
em que é parte, além de outras instituições financeiras privadas,
a Caixa Econômica Federal.
A Lei n. 14.181/2021, ao alterar o Código de Defesa do
Consumidor, cuidou especificamente do instituto da
repactuação de dívidas por superendividamento, a saber: o juiz,
a requerimento do devedor, poderá instaurar processo de
repactuação de dívidas, tutelado pelo art. 104-A e seguintes da
legislação consumerista, com vistas à realização de audiência
conciliatória, presidida por ele ou por conciliador credenciado,
com a presença de todos os credores de dívidas, oportunidade
em que o consumidor apresentará proposta de plano de
pagamento com prazo máximo de 5 (cinco) anos, preservados
o mínimo existencial, as garantias e as formas de pagamento
originalmente pactuadas.
Em interpretação do art. 109, I, da Constituição Federal, que
trata da competência dos juízes federais, o Supremo Tribunal
Federal (STF), na oportunidade do julgamento do RE 678162,
relator para acórdão Ministro Edson Fachin, DJe 13/5/2021,
firmou tese no sentido de que "a insolvência civil está entre as
exceções da parte final do art. 109, I, da Constituição da
República, para fins de definição da competência da Justiça
Federal".
Anota-se que, uma vez identificada a existência de concurso de
credores, excepciona-se a competência da Justiça Federal
prevista no art. 109, I, da Constituição Federal. Tal circunstância
decorre da redação do art. 104-A do CDC, introduzido pela Lei
n. 14.181/2021, que estabelece a previsão de que, para
instaurar o processo de repactuação de dívidas, impõe-se a
presença, perante o juízo, de todos os credores do consumidor
superendividado, a fim de que este possa propor àqueles o
respectivo plano de pagamentos de seus débitos.
De fato, o procedimento judicial relacionado ao
superendividamento, tal como o de recuperação judicial ou

68
falência, possui inegável e nítida natureza concursal, de modo
que as empresas públicas federais, excepcionalmente,
sujeitam-se à competência da Justiça estadual e/ou distrital,
justamente em razão da existência de concursalidade entre
credores, impondo-se, dessa forma, a concentração, na Justiça
comum estadual, de todos os credores, bem como o próprio
consumidor para a definição do plano de pagamento, suas
condições, o seu prazo e as formas de adimplemento dos
débitos.
Eventual desmembramento ensejará notável prejuízo ao
devedor (consumidor vulnerável, reitere-se), porquanto,
consoante dispõe a própria legislação de regência (art. 104-A
do CDC), todos os credores devem participar do procedimento,
inclusive na oportunidade da audiência conciliatória. Caso
tramitem separadamente, em jurisdições diversas, federal e
estadual, estaria maculado o objetivo primário da Lei do
Superendividamento, qual seja, o de conferir a oportunidade do
consumidor - perante seus credores - de apresentar plano de
pagamentos a fim de quitar suas dívidas/obrigações
contratuais. Haverá o risco de decisões conflitantes entre os
juízos acerca dos créditos examinados, em violação ao
comando do art. 104-A do CDC.
Assim, adota-se a compreensão segundo a qual cabe à Justiça
comum estadual e/ou distrital analisar as demandas cujo
fundamento fático e jurídico possuem similitude com a
insolvência civil - como é a hipótese do superendividamento -,
ainda que exista interesse de ente federal, porquanto a exegese
do art. 109, I, da Constituição Federal, deve ser teleológica de
forma a alcançar, na exceção da competência da Justiça
Federal, as hipóteses em que existe o concurso de credores.

REFERÊNCIA CC 193.066-DF, Relator Ministro Marco Buzzi, Segunda Seção,


DO ACÓRDÃO por unanimidade, julgado em 22/3/2023.

69
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 766
DESTAQUE DO É competência da Justiça trabalhista processar e julgar o
INFORMATIVO cumprimento de sentença por ela proferida, ainda que tenha
ocorrido a cessão a terceiro da titularidade do crédito nela
reconhecido.
TRECHOS DO O Supremo Tribunal Federal, ao cuidar do Tema n. 361/STF
INFORMATIVO (transmudação da natureza de precatório alimentar em normal
em virtude de cessão do direito nele estampado), definiu que a
cessão de crédito não implica a alteração da sua natureza
(alimentar).
Em atenção ao princípio hermenêutico ubi eadem ratio ibi
eadem jus (onde há a mesma razão aplica-se o mesmo direito),
que seus fundamentos afiguram-se in totum aplicáveis à
discussão aqui travada. Isso porque o fundamento precípuo que
costuma embasar o deslocamento da competência da Justiça
trabalhista para a Justiça comum seria a insubsistência de sua
natureza trabalhista, provocada pela cessão a terceira pessoa.
Em favor da coerência do sistema jurídico, relevante anotar,
ainda, que a Lei n. 14.112/2020 revogou o § 4º do art. 83 da Lei
n. 11.101/2005 (que estabelecia o rebaixamento do crédito
trabalhista cedido à qualidade de quirografário) e incluiu o § 5º,
com a seguinte redação: para fins do disposto nesta lei, os
créditos cedidos a qualquer título manterão sua natureza e
classificação.
Em atenção ao princípio da perpetuatio jurisdictionis, adotado
no art. 43 do Código de Processo Civil, a efetivação da cessão
de crédito trabalhista, reconhecido em sentença transitado em
julgado, promove apenas a substituição processual da parte

70
exequente, sem nenhuma repercussão na competência
material da Justiça laboral, definida quando da distribuição do
feito, haja vista que o conteúdo trabalhista do crédito remanesce
incólume.
A hipótese é expressamente regulada pelo Código de Processo
Civil - aplicável subsidiária e supletivamente ao processo
trabalhista - no inciso III do art. 778, ao estabelecer ser dado ao
cessionário, quando o direito resultante do título executivo lhe
for transferido por ato entre vivos, promover a execução forçada
ou nela prosseguir, em sucessão processual ao exequente
originário, inexistindo qualquer repercussão nas regras de
competência. O dispositivo legal em comento, inclusive,
dispensa a concordância da parte executada.
Afigura-se, portanto, inderrogável pela vontade das partes a
competência funcional da Justiça trabalhista, única competente
para processar e julgar o cumprimento de sentença por ela
proferida, sendo, a esse propósito, irrelevante a alteração da
titularidade do crédito nela reconhecido.

REFERÊNCIA CC 162.902-SP, Rel. Ministro Marco Aurélio Bellizze, Segunda


DO ACÓRDÃO Seção, por unanimidade, julgado em 2/3/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 762
DESTAQUE DO É obrigatória a submissão de acordo de cooperação para o
INFORMATIVO desenvolvimento de novas tecnologias de sementes de milho
às autoridades antitruste brasileiras, ainda que firmado e
executado em território estrangeiro, quando as implicações
concorrenciais possam impactar mercados relevantes situados,
no todo ou em parte, no território nacional.

71
TRECHOS DO Inicialmente cumpre salientar que o art. 2º da Lei n. 8.884/1994
INFORMATIVO adota a teoria dos efeitos segundo a qual a legislação brasileira
antitruste aplica-se a fatos ocorridos no exterior cujas
implicações possam afetar, no todo ou em parte, o território
nacional.
A verificação empírica da produção de consequências locais de
acordos restritivos da concorrência praticados em solo
alienígena exige avaliação do grau de impacto de tais atos para
determinado mercado relevante, compreendido como o espaço
geográfico onde produtos podem ser produzidos, vendidos e
razoavelmente substituídos uns pelos outros, e no qual a
atuação dos agentes econômicos possui aptidão para influir na
conduta praticada pelos demais players do mercado.
A regra do art. 54, caput, da Lei n. 8.884/1994 constitui cláusula
geral cuja aplicação propicia às autoridades antitruste a
averiguação de qualquer espécie de ato cooperativo entre
agentes econômicos capaz de limitar ou prejudicar a livre
concorrência, ou, ainda, de que resulte dominação de mercados
relevantes, e cuja subsunção ao parâmetro normativo exige
análise casuística.
A par dessa orientação, o § 3º do art. 54 da Lei n. 8.884/1994
prescreve a necessária submissão de certos atos ou acordos
econômicos ao crivo do Sistema Brasileiro de Defesa da
Concorrência, presumindo a potencialidade lesiva para o âmbito
concorrencial. Nesse sentido, a lei estabelece como de
apresentação obrigatória os atos nos quais haja a participação
de empresa ou grupo de empresas detentores de mais de 20%
do mercado relevante, ou quando qualquer dos participantes
tenha registrado faturamento bruto anual no último balanço
equivalente a R$ 400.000.000,00 (quatrocentos milhões de
reais), montante a ser aferido no Brasil.
Nessas circunstâncias, resta clara a aptidão lesiva para
mercado relevante que abrange o território nacional, visto que

72
agentes econômicos brasileiros atuam diretamente no
desenvolvimento de sementes variadas mediante
melhoramento genético com o intuito de incrementar a
produção agrícola, atividade cuja notória participação no
Produto Interno Bruto - PIB dimensiona a relevância do
mercado de biotecnologia para o cenário local.
A obrigatoriedade de controle preventivo do contrato em tela
não implica a automática desaprovação do ato restritivo, uma
vez que, apesar de o art. 54, § 3º, da Lei n. 8.884/1994 presumir
a capacidade danosa do acordo para o mercado relevante, a
análise de mérito leva em consideração diretriz distinta para
avaliar o cariz dos efeitos concorrenciais, a exemplo do
incremento de produtividade, da melhora da qualidade de bens
ou serviços e dos ganhos de eficiência econômica e tecnológica
para o respectivo setor (art. 54, § 1º, da Lei n. 8.884/1994),
razão pela qual a apresentação compulsória do negócio jurídico
ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) é
calcada no princípio da precaução e diz com o caráter
preventivo da atuação da autarquia, cujas conclusões
substanciais podem caminhar no sentido da aprovação do ato
por ausência de consequências nocivas.

REFERÊNCIA REsp 1.975.739-DF, Rel. Ministra Regina Helena Costa,


DO ACÓRDÃO Primeira Turma, por unanimidade, julgado em 15/12/2022, DJe
20/12/2022.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 760

73
DESTAQUE DO Compete à Justiça Comum o julgamento de controvérsia
INFORMATIVO envolvendo direitos de servidor contratado para exercer cargo
em comissão regido pela CLT.
TRECHOS DO Quanto à competência para julgamento de controvérsia
INFORMATIVO envolvendo direitos de servidor contratado para exercer cargo
em comissão, o Supremo Tribunal Federal, provocado por meio
de reclamação, entende que a competência continua com a
Justiça Comum mesmo se o servidor ocupante de cargo em
comissão for regido pela CLT.
Nesse sentido: "(...) 1. Incompetência da Justiça Trabalhista
para o processamento e o julgamento das causas que envolvam
o Poder Público e servidores que sejam vinculados a ele por
relação jurídico-administrativa. 2. O eventual desvirtuamento da
designação temporária para o exercício de função pública, ou
seja, da relação jurídico-administrativa estabelecida entre as
partes, não pode ser apreciado pela Justiça do Trabalho. 3. A
existência de pedido de condenação do ente local ao
pagamento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS
não torna a Justiça do Trabalho competente para o exame da
ação. (...)" Rcl 7.039 AgR, Rel. Min. Cármen Lúcia, Tribunal
Pleno, DJe 8/5/2009.

REFERÊNCIA EDcl no AgInt no CC 184.065-SP, Rel. Ministro Herman


DO ACÓRDÃO Benjamin, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em
25/10/2022, DJe 4/11/2022.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 724
DESTAQUE Nas ações de improbidade administrativa, a competência da
Justiça Federal é definida em razão da presença das pessoas

74
DO jurídicas de direito público previstas no art. 109, I, da
INFORMATIVO Constituição Federal na relação processual, e não em razão da
natureza da verba federal sujeita à fiscalização da Tribunal de
Contas da União.
TRECHOS DO A competência para processar e julgar ações de ressarcimento
INFORMATIVO ao erário e de improbidade administrativa, relacionadas à
eventuais irregularidades na utilização ou prestação de contas
de repasses de verbas federais aos demais entes federativos,
estava sendo dirimida por esta Corte Superior sob o enfoque
das Súmulas 208/STJ ("Compete à Justiça Federal processar e
julgar prefeito municipal por desvio de verba sujeita à prestação
de contas perante órgão federal") e 209/STJ ("Compete à
Justiça Estadual processar e julgar prefeito por desvio de verba
transferida e incorporada ao patrimônio municipal").
(...)
Nesse contexto, a aplicação dos referidos enunciados
sumulares, em processos de natureza cível, tem sido mitigada
no âmbito deste Tribunal Superior. A Segunda Turma afirmou a
necessidade de uma distinção (distinguishing) na aplicação das
Súmulas 208 e 209 do STJ, no âmbito cível, pois tais
enunciados provêm da Terceira Seção deste Superior Tribunal,
e versam hipóteses de fixação da competência em matéria
penal, em que basta o interesse da União ou de suas autarquias
para deslocar a competência para a Justiça Federal, nos termos
do inciso IV do art. 109 da CF. Logo adiante concluiu que a
competência da Justiça Federal, em matéria cível, é aquela
prevista no art. 109, I, da Constituição Federal, que tem por
base critério objetivo, sendo fixada tão só em razão dos
figurantes da relação processual, prescindindo da análise da
matéria discutida na lide (REsp 1.325.491/BA, Rel. Ministro Og
Fernandes, Segunda Turma, julgado em 05/06/2014, DJe
25/06/2014).
(...)

75
O Supremo Tribunal Federal já afirmou que o fato dos valores
envolvidos transferidos pela União para os demais entes
federativos estarem eventualmente sujeitos à fiscalização do
Tribunal de Contas da União não é capaz de alterar a
competência, pois a competência cível da Justiça Federal exige
o efetivo cumprimento da regra prevista no art. 109, I, da
Constituição Federal.
Igualmente, a mera transferência e incorporação ao patrimônio
municipal de verba desviada, no âmbito civil, não pode impor de
maneira absoluta a competência da Justiça Estadual. Se houver
manifestação de interesse jurídico por ente federal que
justifique a presença no processo, (v.g. União ou Ministério
Público Federal) regularmente reconhecido pelo Juízo Federal
nos termos da Súmula 150/STJ, a competência para processar
e julgar a ação civil de improbidade administrativa será da
Justiça Federal.
Em síntese, é possível afirmar que a competência cível da
Justiça Federal é definida em razão da presença das pessoas
jurídicas de direito público previstas no art. 109, I, da CF na
relação processual, seja como autora, ré, assistente ou
oponente e não em razão da natureza da verba federal sujeita
à fiscalização da Corte de Contas da União.
No caso, não figura em nenhum dos pólos da relação
processual ente federal indicado no art. 109, I, da Constituição
Federal, o que afasta a competência da Justiça Federal para
processar e julgar a referida ação. Ademais, não existe
nenhuma manifestação de interesse em integrar o processo por
parte de ente federal e o Juízo Federal consignou que o
interesse que prevalece restringe-se à órbita do Município autor,
o que atrai a competência da Justiça Estadual para processar e
julgar a demanda.

76
REFERÊNCIA CC 174.764-MA, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Primeira
DO ACÓRDÃO Seção, por unanimidade, julgado em 09/02/2022.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

2. SUJEITOS DO PROCESSO

2.1 PRECEDENTES QUALIFICADOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 787
DESTAQUE DO Tese firmada no Tema Repetitivo 1150:
INFORMATIVO I) O Banco do Brasil tem legitimidade passiva ad causam para
figurar no polo passivo de demanda na qual se discute eventual
falha na prestação do serviço quanto a conta vinculada ao
PASEP, saques indevidos e desfalques, além da ausência de
aplicação dos rendimentos estabelecidas pelo Conselho Diretor
do referido programa;
II) A pretensão ao ressarcimento dos danos havidos em razão
dos desfalques em conta individual vinculada ao PASEP se
submete ao prazo prescricional decenal previsto pelo artigo 205
do Código Civil; e
III) O termo inicial para a contagem do prazo prescricional é o
dia em que o titular, comprovadamente, toma ciência dos
desfalques realizados na conta individual vinculada ao PASEP.

TRECHOS DO As questões a serem decididas nesse repetitivo são: a) o Banco


INFORMATIVO do Brasil possui, ou não, legitimidade passiva ad causam para
figurar no polo passivo de demanda na qual se discute eventual
falha na prestação do serviço quanto a conta vinculada ao
Pasep, saques indevidos e desfalques, além da ausência de
aplicação dos rendimentos estabelecidas pelo Conselho Diretor

77
do referido programa; b) a pretensão ao ressarcimento dos
danos havidos em razão dos desfalques em conta individual
vinculada ao PASEP se submete ao prazo prescricional decenal
previsto pelo artigo 205 do Código Civil ou ao prazo quinquenal
estipulado pelo artigo 1° do Decreto n. 20.910/1932; c) o termo
inicial para a contagem do prazo prescricional é o dia em que o
titular toma ciência dos desfalques ou a data do último depósito
efetuado na conta individual vinculada ao Pasep.
No tocante ao primeiro ponto, verifica-se que o Programa de
Formação do Patrimônio do Servidor Público (PASEP) foi
instituído pela Lei Complementar n. 8, de 3/12/1970, que prevê
a competência do Banco do Brasil para a administração do
Programa e manutenção das contas individualizadas para cada
servidor, recebendo comissão pelo serviço prestado. A Lei
Complementar n. 26, de 11/09/1975, unificou, a partir de
1º/7/1976, sob a denominação de PIS-Pasep, os fundos
constituídos com os recursos do Programa de Integração Social
(PIS) e do Programa de Formação do Patrimônio do Servidor
Público (Pasep), instituídos pelas Leis Complementares 7/70 e
8/70, respectivamente.
O art. 7º do Decreto 4.751/2003 previa que a gestão do Pasep
compete ao Conselho Diretor do Fundo, cujos representantes
são designados pelo Ministro de Estado da Fazenda. De igual
modo, o art. 10 do mesmo diploma normativo estabelecia que
ao Banco do Brasil, como administrador do Programa, além de
manter as contas individualizadas dos participantes do Pasep,
compete creditar, nas referidas contas, a atualização monetária,
os juros e o resultado das operações financeiras realizadas,
processar as solicitações de saque e de retirada e efetuar os
correspondentes pagamentos, conforme autorizado pelo
Conselho Diretor do Fundo PIS-Pasep.
Destaque-se que, desde a promulgação da Constituição
Federal de 1988, a União deixou de depositar valores nas

78
contas do PASEP do trabalhador, limitando-se sua
responsabilidade ao recolhimento mensal ao Banco do Brasil
S.A., nos termos do art. 2º da LC n. 8/1970. Por força do art. 5º
da referida Lei Complementar, a administração do Programa
compete ao Banco do Brasil S.A., bem como a respectiva
manutenção das contas individualizadas para cada trabalhador,
de modo que a responsabilidade por eventuais saques
indevidos ou má gestão dos valores depositados na conta do
Pasep é atribuída à instituição gestora em apreço.
O STJ possui entendimento de que em ações judiciais nas quais
se pleiteia a recomposição do saldo existente em conta
vinculada ao Pasep, a União deve figurar no polo passivo da
demanda. No entanto, no caso dos autos a demanda não versa
sobre índices equivocados de responsabilidade do Conselho
Gestor do Fundo, mas sobre responsabilidade decorrente da
má gestão do banco, em razão de saques indevidos ou de não
aplicação dos índices de juros e de correção monetária na conta
do Pasep. Conclui-se que a legitimidade passiva é do Banco do
Brasil S.A.
Em relação ao segundo debate, observa-se que o STJ possui
orientação pacífica de que o prazo quinquenal previsto no art.
1º, do Decreto-Lei n. 20.910/1932 não se aplica às pessoas
jurídicas de direito privado. No caso em espécie, sendo a ação
proposta contra o Banco do Brasil, sociedade de economia
mista, deve-se afastar a incidência do referido dispositivo, bem
como da tese firmada no julgamento do Recurso Especial
1.205.277/PB, sob a sistemática dos Recursos repetitivos, de
que: "É de cinco anos o prazo prescricional da ação promovida
contra a União Federal por titulares de contas vinculadas ao
PIS/PASEP visando à cobrança de diferenças de correção
monetária incidente sobre o saldo das referidas contas, nos
termos do art. 1º do Decreto-Lei 20.910/32".

79
Ressalte-se que não se emprega o prazo prescricional previsto
no art. 10 do Decreto n. 2.052/1983, o qual prevê que "A ação
para cobrança das contribuições devidas ao PIS e ao PASEP
prescreverá no prazo de dez anos, contados a partir da data
prevista para seu recolhimento". Isso porque não se estão
cobrando as contribuições, mas, sim, a indenização por danos
materiais decorrente da má gestão dos depósitos.
Assim, nas demandas ajuizadas contra a instituição financeira
em virtude de eventual má gestão ou descontos indevidos nas
contas do Programa de Formação do Patrimônio do Servidor
Público - Pasep, deve-se aplicar o prazo prescricional previsto
no art. 205 do Código Civil de 10 anos.
Por fim, no tocante ao dies a quo para a contagem do prazo
prescricional, o Superior Tribunal de Justiça entende que,
conforme o princípio da actio nata, o curso do prazo
prescricional do direito de reclamar inicia-se somente quando o
titular do direito subjetivo violado passa a conhecer o fato e a
extensão de suas consequências.
Verifica-se, portanto, que o termo inicial para a contagem do
prazo prescricional é o dia em que o titular toma ciência dos
desfalques realizados na conta individual vinculada ao Pasep.

REFERÊNCIA REsp 1.895.936-TO, Rel. Ministro Herman Benjamin, Primeira


DO ACÓRDÃO Seção, por unanimidade, julgado em 13/9/2023. (Tema 1150).
REsp 1.895.941-TO, Rel. Ministro Herman Benjamin, Primeira
Seção, por unanimidade, julgado em 13/9/2023 (Tema 1150).
REsp 1.951.931-DF, Rel. Ministro Herman Benjamin, Primeira
Seção, por unanimidade, julgado em 13/9/2023 (Tema 1150).

CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STF

80
INFORMATIVO 1100
DESTAQUE DO Tese fixada no Tema 1002 da Repercussão Geral:
INFORMATIVO 1. É devido o pagamento de honorários sucumbenciais à
Defensoria Pública, quando representa parte vencedora em
demanda ajuizada contra qualquer ente público, inclusive
aquele que integra; 2. O valor recebido a título de honorários
sucumbenciais deve ser destinado, exclusivamente, ao
aparelhamento das Defensorias Públicas, vedado o seu rateio
entre os membros da instituição.
TRECHOS DO Em razão da autonomia e da relevância institucional das
INFORMATIVO Defensorias Públicas, é constitucional o recebimento de
honorários sucumbenciais quando estas representarem o
litigante vencedor em demanda ajuizada contra qualquer
ente público, ainda que o litígio se dê contra o ente
federativo que integram.
As reformas trazidas pelas EC 45/2004, 74/2013 e 80/2014
atribuíram autonomia funcional, administrativa e financeira às
Defensorias dos estados e da União. Portanto, no contexto
atual, as Defensorias Públicas são consideradas órgãos
constitucionais independentes, sem subordinação ao Poder
Executivo. Como deixaram de ser vistas como órgãos auxiliares
do governo, que integram e vinculam-se à estrutura
administrativa do estado-membro, encontra-se superado o
argumento de violação do instituto da confusão (Código
Civil/2002, art. 381).
É vedado o rateio, entre os membros da Defensoria Pública,
do valor recebido a título de verbas sucumbenciais
decorrentes de sua atuação judicial. Essa quantia deve ser
destinada, exclusivamente, para a estruturação das
unidades dessa instituição, com vistas ao incremento da
qualidade do atendimento à população carente e à garantia
da efetividade do acesso à Justiça.

81
A devida alocação desses recursos financeiros para o
aparelhamento da respectiva Defensoria Pública viabiliza o
exercício da missão constitucional a ela conferido, que é
garantir o acesso à Justiça dos grupos mais vulneráveis da
população (CF/1988, art. 134, caput). Ademais, os honorários
hão de servir como desestímulo à oposição de resistência
injustificada, revelada por meio da interposição de recursos
inviáveis e protelatórios por parte do ente público sucumbente.

REFERÊNCIA RE 1.140.005/RJ, rel. Min. Roberto Barroso, julgamento virtual


DO ACÓRDÃO finalizado em 23.6.23.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STF
INFORMATIVO 1104
DESTAQUE DO É inconstitucional — por violar os princípios do juiz natural, da
INFORMATIVO razoabilidade e da proporcionalidade — o inciso VIII do art. 144
do Código de Processo Civil (CPC/2015), que estabelece que o
magistrado está impedido de atuar nos processos em que a
parte seja cliente do escritório de advocacia de seu cônjuge,
companheiro ou parente consanguíneo ou afim, em linha reta
ou colateral, até o terceiro grau, inclusive, ainda que essa
mesma parte seja representada por advogado de escritório
diverso.
TRECHOS DO As hipóteses de exceção de impedimento devem ser aferidas
INFORMATIVO objetivamente pelo magistrado, de forma a viabilizar uma
atuação imparcial e desinteressada. Nesse contexto, uma
cláusula aberta e excessivamente abrangente, como a prevista
no dispositivo impugnado, é irrazoável e inviabiliza,
sobremaneira, a efetividade da jurisdição, pois define causa de
impedimento sem dar ao juiz o poder ou os meios para
pesquisar a carteira de clientes do escritório de seu familiar,

82
limitando a sua averiguação às informações apresentadas por
terceiros. Ademais, a regra prevista pelo dispositivo impugnado
gera uma presunção absoluta de impedimento, em
contrariedade ao princípio do juiz natural (CF/1988, art. 5º,
XXXVII e LIII). Com base nesse entendimento, o Plenário, por
maioria, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade do inciso VIII do art. 144 do CPC (Lei
13.105/2015).

REFERÊNCIA ADI 5953/DF, Rel. Min. Edson Fachin, redator do acórdão Min.
DO ACÓRDÃO Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 21.8.23.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STF
INFORMATIVO 1104
DESTAQUE DO É constitucional a disposição do Conselho Nacional de Justiça
INFORMATIVO que prevê a facultatividade de representação por advogado ou
defensor público nos Centros Judiciários de Solução de
Conflitos e Cidadania (CEJUSCs).
TRECHOS DO É constitucional o art. 11 da Resolução 125/2010 do CNJ, que
INFORMATIVO permite a atuação de membros do Ministério Público,
defensores públicos, procuradores e advogados nos Centros
Judiciários de Solução de Conflito e Cidadania. Assim, fica
facultada a representação por advogado ou defensor público,
medida que se revela incentivadora para uma atuação mais
eficiente e menos burocratizada do Poder Judiciário para
assegurar direitos. A matéria tratada se insere na competência
do CNJ relativa ao controle da atuação administrativa dos
tribunais (CF/1988, art. 103-B, § 4º, I), a qual é interpretada de
forma ampliativa por esta Corte, de modo a fortalecer a atuação
do Conselho na gestão eficiente dos órgãos do Poder Judiciário.

83
Na espécie, a facultatividade da atuação do advogado ou do
defensor público, na fase pré-processual ou em procedimentos
jurisdicionais específicos e simplificados, não viola o
contraditório, a ampla defesa (CF/1988, art. 5º, LV), o acesso à
justiça (CF/1988, art. 5º, XXXV) ou a garantia da defesa técnica
(CF/1988, arts. 133 e 134). Isso porque a mencionada
Resolução não afasta a necessidade da presença de
advogados nos casos em que a lei processual a impõe. Essa
opção ocorre somente em procedimentos judiciais em que, por
força de lei, é desnecessária a atuação do procurador (Lei
13.140/2015, art. 26), como nos juizados e nos atos de
resolução consensual em momento pré-processual ou de mera
informação sobre direitos. A previsão constitucional de
indispensabilidade do advogado à administração da Justiça
(CF/1988, art. 133) não implica a assistência ou representação
por um profissional da área jurídica para todo ato de negociação
ou de disposição de direitos de uma pessoa maior e capaz. Com
base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou
improcedente a ação, a fim de assentar a constitucionalidade
do art. 11 da Resolução 125/2010 do CNJ.

REFERÊNCIA ADI 6.324/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgamento virtual


DO ACÓRDÃO finalizado em 21.8.23.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
TEMA Repetitivo 1057
QUESTÃO Possibilidade do reconhecimento da legitimidade ativa "ad
causam" de pensionistas e sucessores para, em ordem de
preferência, propor, em nome próprio, à falta de requerimento
do segurado em vida, ação revisional da aposentadoria do "de

84
cujus", com o objetivo de redefinir a renda mensal da pensão
por morte - quando existente -, e, por conseguinte, receber,
além das diferenças resultantes do recálculo do eventual
pensionamento, os valores devidos e não pagos pela
Administração ao instituidor quando vivo, referentes à
readequação do benefício originário, a teor do disposto no art.
112 da Lei n. 8.213/1991.
TESE I. O disposto no art. 112 da Lei n. 8.213/1991 é aplicável aos
âmbitos judicial e administrativo;
II. Os pensionistas detêm legitimidade ativa para pleitear, por
direito próprio, a revisão do benefício derivado (pensão por
morte) - caso não alcançada pela decadência -, fazendo jus a
diferenças pecuniárias pretéritas não prescritas, decorrentes da
pensão recalculada;
III. Caso não decaído o direito de revisar a renda mensal inicial
do benefício originário do segurado instituidor, os pensionistas
poderão postular a revisão da aposentadoria, a fim de auferirem
eventuais parcelas não prescritas resultantes da readequação
do benefício original, bem como os reflexos na graduação
econômica da pensão por morte; e
IV. À falta de dependentes legais habilitados à pensão por
morte, os sucessores (herdeiros) do segurado instituidor,
definidos na lei civil, são partes legítimas para pleitear, por ação
e em nome próprios, a revisão do benefício original - salvo se
decaído o direito ao instituidor - e, por conseguinte, de haverem
eventuais diferenças pecuniárias não prescritas, oriundas do
recálculo da aposentadoria do de cujus.
EMENTA (...) I - Consoante o decidido pelo Plenário desta Corte na
RESUMIDA sessão realizada em 09.03.2016, o regime recursal será
determinado pela data da publicação do provimento jurisdicional
impugnado. Aplica-se, no caso, o Código de Processo Civil de
2015.

85
II - Acórdão submetido ao rito do art. 1.036 e seguintes do
CPC/2015, fixando-se, nos termos no art. 256-Q, do RISTJ, as
seguintes teses repetitivas: (i) O disposto no art. 112 da Lei n.
8.213/1991, segundo o qual "o valor não recebido em vida pelo
segurado só será pago aos seus dependentes habilitados à
pensão por morte ou, na falta deles, aos seus sucessores na
forma da lei civil, independentemente de inventário ou
arrolamento", é aplicável aos âmbitos judicial e administrativo;
(ii) Os pensionistas detêm legitimidade ativa para pleitear, por
direito próprio, a revisão do benefício derivado (pensão por
morte) - caso não alcançada pela decadência -, fazendo jus a
diferenças pecuniárias pretéritas não prescritas, decorrentes da
pensão recalculada;
(iii) Caso não decaído o direito de revisar a renda mensal inicial
do benefício originário do segurado instituidor, os pensionistas
poderão postular a revisão da aposentadoria, a fim de auferirem
eventuais parcelas não prescritas resultantes da readequação
do benefício original, bem como os reflexos na graduação
econômica da pensão por morte; e (iv) À falta de dependentes
legais habilitados à pensão por morte, os sucessores
(herdeiros) do segurado instituidor, definidos na lei civil, são
partes legítimas para pleitear, por ação e em nome próprios, a
revisão do benefício original - salvo se decaído o direito ao
instituidor - e, por conseguinte, de haverem eventuais
diferenças pecuniárias não prescritas, oriundas do recálculo da
aposentadoria do de cujus.
III - Recurso especial do particular provido.
(REsp 1856967/ES, Rel. Ministra REGINA HELENA COSTA,
PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 23/06/2021, DJe 28/06/2021)
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

2.2 JURISPRUDÊNCIA PERSUASIVA

86
TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 793
DESTAQUE DO A manutenção do nome de devedor no cadastro de
INFORMATIVO inadimplentes, após a quitação do débito perante o credor
originário em favor do endossante, pode ser oposta ao
endossatário se for comprovado que este tinha conhecimento
sobre tais fatos, devendo ser afastada sua presunção de boa-
fé.
TRECHOS DO O STJ entende que é lícito eventual protesto realizado pelo
INFORMATIVO endossatário em razão do inadimplemento do devedor, pois,
uma vez endossada, a validade da duplicata condiciona-se à
observância dos requisitos de forma e não à regularidade do
saque. Por conseguinte, o endossatário também pode
providenciar os atos necessários para eventual inscrição do
nome do devedor no cadastro de inadimplentes.
Todavia, após a quitação da dívida, a demora excessiva em
retirar o nome de devedor do cadastro de órgão de proteção ao
crédito como ato ilícito que gera o dever de indenizar. A
jurisprudência do STJ é assente no sentido de que a
manutenção indevida do nome do devedor no cadastro de
inadimplentes enseja dano moral in re ipsa, ou seja, dano
vinculado à própria existência do fato ilícito, cujos resultados
são presumidos.
Quanto ao tema, a Segunda Seção do STJ, no julgamento do
Recurso Especial n. 1.424.792/BA, assentou o entendimento de
que "diante das regras previstas no Código de Defesa do
Consumidor, mesmo havendo regular inscrição do nome do
devedor em cadastro de órgão de proteção ao crédito, após o
integral pagamento da dívida, incumbe ao credor requerer a
exclusão do registro desabonador, no prazo de 5 (cinco) dias
úteis, a contar do primeiro dia útil subsequente à completa
disponibilização do numerário necessário à quitação do débito
vencido".

87
Este dever do credor ganha complexidade quando se trata de
títulos de crédito, pois o credor cambial é aquele que detém o
título de crédito, mas o credor original é o que figura como
credor do negócio jurídico que gerou o título, mas que pode não
mais deter a cártula por ter realizado endosso translativo a
terceiro.
A quitação pode ser realizada perante o credor original sem que
essa questão seja oponível ao terceiro de boa-fé que detém o
título. Contudo, há exceção quando o endossatário conhecer o
problema que o devedor alega ter ocorrido na relação jurídica
originária. Nessa situação, a matéria de defesa torna-se
oponível, pois constatada a má-fé.
Conforme a doutrina, a desconstituição da presunção de boa-fé
não depende de prova da ação combinada e má intencionada
(conluio) entre o exequente e o titular originário do mesmo
crédito. O simples conhecimento, pelo atual portador do título,
da existência de fato oponível ao anterior é suficiente para
afastar a boa-fé e, por conseguinte, o princípio da
inoponibilidade das exceções pessoais a terceiros.
Portanto, a depender da peculiaridade dos fatos da situação
concreta, a manutenção do nome do devedor no cadastro de
inadimplentes após a quitação do débito perante o credor
originário, pode ser oposta ao endossatário se for comprovado
que ele tinha conhecimento sobre tais fatos, porquanto será
afastada a sua presunção de boa-fé. Ademais, se o
endossatário tinha ciência que o devedor já havia quitado o
débito perante o credor originário e mesmo assim manteve a
inscrição do seu nome no cadastro de inadimplentes, é seu
dever responder pelos danos a que deu causa.
Nos termos do art. 114 do CPC/2015, "o litisconsórcio será
necessário por (I) disposição de lei ou quando, (II) pela natureza
da relação jurídica controvertida, a eficácia da sentença
depender da citação de todos que devam ser litisconsortes".

88
Ausente a determinação legal, o interesse de titulares de
direitos e obrigações relacionadas a questões debatidas no
processo não configura, por si só, a formação de litisconsórcio
necessário.
É exatamente essa a situação verificada nas ações
indenizatórias consumeristas, nas quais, conforme preconiza o
art. 7º do CDC, havendo responsabilidade solidária por ter a
ofensa mais de um autor, todos responderão solidariamente
pela reparação dos danos previstos nas normas de consumo.
Nessa situação, o fato de um dos responsáveis solidários não
ter figurado no polo passivo da ação originária não macula de
ineficácia a sentença proferida contra apenas um dos
devedores solidários.
Portanto, não há litisconsórcio obrigatório quando a eficácia da
sentença que condenou o endossatário a pagar a indenização
pela manutenção indevida do nome do devedor no cadastro de
inadimplentes não depende da citação credor originário.

REFERÊNCIA REsp 2.069.003-MS, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira


DO ACÓRDÃO Turma, por unanimidade, julgado em 17/10/2023, DJe
23/10/2023
CONEXÕES E
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 786
DESTAQUE DO É assegurado o pagamento de honorários sucumbenciais à
INFORMATIVO Defensoria Pública, independentemente do ente público com
que litiga.
TRECHOS DO O Superior Tribunal de Justiça, nos autos do REsp
INFORMATIVO 1.108.013/RJ, submetido à sistemática prevista no art. 543-C do
CPC/1973, firmou tese, descrita no Tema Repetitivo n. 129,

89
reconhecendo à Defensoria Pública o direito ao recebimento
dos honorários advocatícios quando a atuação se dá contra
ente federativo diverso do qual é parte integrante.
Por seu turno, o Supremo Tribunal Federal, no RE
1.140.005/RJ, de relatoria do Ministro Roberto Barroso,
reconheceu a repercussão geral da tese sobre a possibilidade
de os entes federativos pagarem honorários advocatícios às
Defensorias Públicas que os integram, correspondente ao
Tema 1002/STF, sob o argumento de que "as Emendas
Constitucionais n. 74/2013 e n. 80/2014, que asseguraram
autonomia administrativa às Defensorias Públicas,
representaram alteração relevante do quadro normativo, o que
justifica a rediscussão da questão".
Nesse panorama, o STF deu provimento ao recurso
extraordinário em discussão para condenar a União ao
pagamento de honorários em favor da Defensoria Pública da
União, nos termos do art. 85 do CPC, fixando-se as teses de
que "1. É devido o pagamento de honorários sucumbenciais à
Defensoria Pública, quando representa parte vencedora em
demanda ajuizada contra qualquer ente público, inclusive
aquele que integra; 2. O valor recebido a título de honorários
sucumbenciais deve ser destinado, exclusivamente, ao
aparelhamento das Defensorias Públicas, vedado o seu rateio
entre os membros da instituição".
Com efeito, constata-se que o Supremo Tribunal, por
unanimidade, ao considerar a autonomia administrativa,
funcional e financeira atribuída à Defensoria Pública, concluiu
pela ausência de subordinação ao poder executivo, e
consequente superação do argumento de confusão patrimonial.
Portanto, é assegurado o pagamento de honorários
sucumbenciais à instituição, quando represente a parte
vencedora, independentemente do ente público litigante.

90
REFERÊNCIA REsp 2.089.489-GO, Rel. Ministro Francisco Falcão, Segunda
DO ACÓRDÃO Turma, por unanimidade, julgado em 5/9/2023, DJe 8/9/2023.
CONEXÕES E
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 768
DESTAQUE DO A hipótese de impedimento de magistrado prevista no art. 144,
INFORMATIVO IX, do CPC é aplicável no caso de litígio entre o juiz e o membro
do Ministério Público baseada em suposta perseguição.
TRECHOS DO Cinge-se a controvérsia a definir se o impedimento do juiz,
INFORMATIVO "quando promover ação contra a parte ou seu advogado" (art.
144, IX, do CPC), é aplicável a caso em que o magistrado
ajuizou ação contra membros do Ministério Público, que tem
como causa de pedir suposta perseguição pessoal.
Nesse sentido, embora use as expressões "parte" e
"advogado", o art. 144, IX, do CPC, se destina a impedir a
atuação do juiz que esteja em contenda judicial com aqueles
que integrem a relação processual ou oficiem em quaisquer dos
polos do processo.
Assim, apesar de promotor de justiça não ser "parte" nem
"advogado" - ambos no sentido técnico - da ação na qual é
arguida a exceção, subscreve a inicial - no sentido subjetivo -,
afetando, assim a necessária impessoalidade do magistrado,
que se diz particularmente perseguido pelo promotor de justiça.
Por fim, vale considerar que não há impedimento para que o juiz
atue em qualquer ação ajuizada pelo Ministério Público do
estado, mas apenas naquelas em que, porventura, estejam
oficiando os membros do parquet contra os quais contende na
demanda judicial já referida.

91
REFERÊNCIA REsp 1.881.175-MA, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda
DO ACÓRDÃO Turma, por unanimidade, julgado em 14/3/2023.
CONEXÕES E
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 764
DESTAQUE DO Nas ações demolitórias de obra ajuizadas em face de
INFORMATIVO construções erguidas em desacordo com as regras urbanísticas
ou ambientais é prescindível a citação dos coproprietários do
imóvel para integrarem a relação processual, na qualidade de
litisconsorte passivo necessário.
TRECHOS DO Segundo o disposto no art. 114 do Código de Processo Civil de
INFORMATIVO 2015, "o litisconsórcio será necessário por disposição de lei ou
quando, pela natureza da relação jurídica controvertida, a
eficácia da sentença depender da citação de todos que devam
ser litisconsortes".
Dispõe o art. 116 do mesmo diploma legal que "o litisconsórcio
será unitário quando, pela natureza da relação jurídica, o juiz
tiver de decidir o mérito de modo uniforme para todos os
litisconsortes".
Nas ações demolitórias, como no caso, o Superior Tribunal de
Justiça já se manifestou no sentido que é imprescindível a
citação do cônjuge ou dos coproprietários do imóvel para
integrarem a relação processual, na qualidade de litisconsorte
passivo necessário, em razão de a demanda envolver direitos
reais imobiliários, visto que possuem a mesma natureza das
ações de nunciação de obra nova, distinguindo-se apenas em
razão do estado em que se encontra a construção.
Entretanto, a Terceira Turma desta Corte, ao julgar o REsp
1.721.472/DF, relator Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, DJe
25/6/2021, entendeu que, em ação para demolição de obra em

92
desacordo com a legislação urbanística ou ambiental, o fato de
o coproprietário sofrer os efeitos da sentença não é suficiente
para caracterizar o litisconsórcio necessário, porque o direito de
propriedade permanecerá intocado. A Segunda Turma segue o
mesmo entendimento.
Diante da divergência de entendimento, coaduna-se com a
segunda linha de pensamento exposta, no sentido de que, nas
ações demolitórias de obra ajuizadas em face de construções
erguidas em desacordo com as regras urbanísticas ou
ambientais, é prescindível a citação dos coproprietários do
imóvel para integrarem a relação processual, na qualidade de
litisconsorte passivo necessário, notadamente porque a
discussão central do feito não diz respeito ao direito de
propriedade ou posse.
Eventual diminuição do patrimônio do coproprietário do imóvel,
em razão da demolição da obra, seria apenas uma
consequência natural do cumprimento da decisão judicial, que
impôs a obrigação de demolir as construções erguidas
ilicitamente, vale dizer, em desacordo com a legislação de
regência.

REFERÊNCIA REsp 1.830.821-PE, Rel. Ministro Gurgel de Faria, Primeira


DO ACÓRDÃO Turma, por unanimidade, julgado em 14/2/2023.
CONEXÕES E
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 762
DESTAQUE DO Nas demandas em que se alega desequilíbrio econômico-
INFORMATIVO financeiro de contrato ou convênio firmado com hospitais
particulares para prestação de serviços de saúde em caráter
complementar, o polo passivo deve ser composto

93
necessariamente pela União e o contratante subnacional
(Estado ou Município).
TRECHOS DO Segundo o art. 24 da Lei n. 8.080/1990, o Sistema Único de
INFORMATIVO Saúde poderá recorrer aos serviços ofertados pela iniciativa
privada, visando a complementar a cobertura assistencial da
população de uma determinada área, por intermédio de
convênio ou contrato administrativo.
(...)
A definição de critérios e valores para a remuneração dos
serviços prestados nesse âmbito da Saúde Complementar é
competência da direção nacional do SUS, em harmonia com a
aprovação pelo Conselho Nacional de Saúde, conforme gizado
no art. 26 da mesma Lei n. 8.080/1990.
Nesse panorama normativo, então, resta evidente a
legitimidade passiva da União, em lide na qual se reivindique a
revisão de valores da tabela do SUS, que se aleguem
defasados.
Assim, nos casos em que a demanda busca a revisão da Tabela
de Procedimentos do SUS em relação à Tabela Única Nacional
de Equivalência de Procedimentos - TUNEP, a título de
preservação do equilíbrio econômico-financeiro de contrato ou
convênio firmado com hospitais particulares para prestação de
serviços de saúde em caráter complementar, o polo passivo
deve ser composto pela União.
Os instrumentos públicos, direcionados para a
complementação dos serviços oferecidos pela rede pública de
saúde, possuem um denominador comum, a saber: a realização
direta de compras e serviços junto à iniciativa privada, mas por
entes municipais ou estaduais, cabendo à União apenas a
fixação e o repasse de recursos.
O SUS é cofinanciado pela União, pelos Estados, pelo Distrito
Federal e também pelos Municípios, conforme percentuais
estabelecidos na Constituição Federal e na Lei Complementar

94
141/2012, cujas respectivos montantes formam o Fundo
Nacional da Saúde.
Essa complementariedade/sobreposição de recursos, somada
ao caráter contratual da relação estabelecida com os hospitais
privados, permite a conclusão de que, havendo alegação de
desequilíbrio na equação econômico-financeira, o polo passivo
da demanda deverá ser integrado não só pela União, a quem
compete o tabelamento de preços e a transferência de recursos,
mas, também e necessariamente, pelo contratante doméstico,
a saber, Estado, Distrito Federal ou Município que, sem a
presença da União na relação negocial, tenham contratado
hospitais particulares para a prestação de serviços de saúde em
regime complementar.

REFERÊNCIA AREsp 2.067.898-DF, Rel. Ministro Sérgio Kukina, Primeira


DO ACÓRDÃO Turma, por maioria, julgado em 15/12/2022, DJe 20/12/2022.
CONEXÕES E
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 725
DESTAQUE É juridicamente possível o pedido de exclusão do herdeiro em
DO virtude da prática de ato infracional análogo ao homicídio,
INFORMATIVO doloso e consumado, contra os pais, à luz da regra do art. 1.814,
I, do CC/2002.
TRECHOS DO O enquadramento da possibilidade jurídica do pedido, na
INFORMATIVO vigência do CPC/1973, na categoria das condições da ação,
sempre foi objeto de severas críticas da doutrina, que
reconhecia o fenômeno como uma questão de mérito, tendo
sido esse o entendimento adotado pelo CPC/2015, conforme se
depreende de sua exposição de motivos e dos dispositivos

95
legais que atualmente versam sobre os requisitos de
admissibilidade da ação.
O fato de a possibilidade jurídica do pedido ter sido realocada
como questão de mérito, conquanto provoque reflexos
significativos na forma como o processo será resolvido, com
mérito e aptidão para formar coisa julgada material, não
acarreta modificação substancial em seu conceito e conteúdo,
que continua sendo a ausência de vedação, pelo ordenamento
jurídico, à pretensão deduzida pelo autor, sob pena de, após o
CPC/2015, conduzir à improcedência liminar do pedido.
Para que haja o reconhecimento da impossibilidade jurídica do
pedido, há que se ter uma repulsa do sistema jurídico à
pretensão autoral, de tal maneira eloquente e contundente, que
seria capaz de resultar, de imediato e sem grande debate, na
improcedência liminar do pedido formulado, ainda que essa
situação, em específico, não tenha sido expressamente
contemplada pelo art. 332 do CPC/2015.
Na hipótese, a questão relativa à possibilidade de exclusão do
herdeiro que atenta contra a vida dos pais é objeto de severas
controvérsias doutrinárias, seja sob a perspectiva da
taxatividade, ou não, do rol do art. 1.814 do CC/2002, seja sob
o enfoque dos métodos admissíveis e apropriados para a
interpretação das hipóteses listadas no rol, razão pela qual as
múltiplas possibilidades hermenêuticas do referido dispositivo
induzem à inviabilidade do julgamento de improcedência liminar
do pedido.

REFERÊNCIA REsp 1.938.984-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma,


DO ACÓRDÃO por unanimidade, julgado em 15/02/2022, DJe 18/02/2022.
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96
TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 725
DESTAQUE O Município prejudicado é o legitimado para a execução de
DO crédito decorrente de multa aplicada por Tribunal de Contas
INFORMATIVO estadual a agente público municipal, em razão de danos
causados ao erário municipal.
TRECHOS DO (...) O STF julgou o Tema 642, no qual se fixou a seguinte tese:
INFORMATIVO "o Município prejudicado é o legitimado para a execução de
crédito decorrente de multa aplicada por Tribunal de Contas
estadual a agente público municipal, em razão de danos
causados ao erário municipal." (RE 1.003.433, Rel. Marco
Aurélio, Rel. p/ Acórdão Alexandre de Moraes, Tribunal Pleno,
julgado em 15/09/2021, DJe 11/10/2021)
Na hipótese, impõe-se a adequação do julgado, para ajustar ao
novo entendimento de caráter obrigatório. Assim, o Município
prejudicado, e não o Estado, é o legitimado para a execução de
crédito decorrente de multa aplicada por Tribunal de Contas
estadual a agente público municipal, em razão de danos
causados ao erário municipal.

REFERÊNCIA AgInt no AREsp 926.189-MG, Rel. Min. Herman Benjamin,


DO ACÓRDÃO Segunda Turma, por unanimidade, julgado em 15/02/2022.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 724
DESTAQUE A inexistência de responsabilidade solidária por fato do produto
DO entre os fornecedores da cadeia de consumo impede a
INFORMATIVO extensão do acordo feito por um réu em benefício do outro.

97
TRECHOS DO Cinge-se a controvérsia a definir se o acordo firmado por um
INFORMATIVO dos réus, em ação indenizatória ajuizada com base no Código
de Defesa do Consumidor, deve aproveitar aos demais corréus,
a teor do que dispõe o § 3º do art. 844 do Código Civil, ao
fundamento de se tratar de responsabilidade solidária.
(...)
Percebe-se que a regra geral acerca da responsabilidade pelo
fato do produto é objetiva e solidária entre o fabricante, o
produtor, o construtor e o importador, a teor do art. 12 do CDC.
Ou seja, todos os fornecedores que integram a cadeia de
consumo irão responder conjuntamente independentemente de
culpa.
Ocorre que, ao tratar da responsabilidade do comerciante pelo
fato do produto, o Código de Defesa do Consumidor disciplinou
de forma diversa, estabelecendo a responsabilidade
subsidiária, conforme se verifica do disposto no art. 13, incisos
I a III, do CDC.
Isto é, o comerciante somente será responsabilizado pelo fato
do produto ou serviço quando o fabricante, o construtor, o
produtor ou o importador não puderem ser identificados (incisos
I e II) ou quando não conservar adequadamente os produtos
perecíveis (inciso III).
Em conclusão, inexistindo responsabilidade solidária não há
que se falar em extensão do acordo feito por um réu em
benefício do outro, tendo em vista a inaplicabilidade da regra do
art. 844, § 3º, do Código Civil.

REFERÊNCIA REsp 1.968.143-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Terceira


DO ACÓRDÃO Turma, por unanimidade, julgado em 08/02/2022.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

98
TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 711
DESTAQUE Não é permitido ao outorgante da procuração restringir os
DO poderes gerais para o foro por meio de cláusula especial.
INFORMATIVO
TRECHOS DO Os atos para os quais são exigidos poderes específicos na
INFORMATIVO procuração encontram-se expressamente previstos na parte
final do art. 105 do CPC/2015 (art. 38 do CPC/1973) e entre eles
não está inserido o de receber intimação da penhora, razão pela
qual se faz desnecessária a existência de procuração com
poderes específicos para esse fim.
O poder de receber intimação está incluso, na verdade, nos
poderes gerais para o foro e não há previsão no art. 105 do
CPC/2015 quanto à possibilidade de o outorgante restringir tais
poderes por meio de cláusula especial. Pelo contrário, com os
poderes concedidos na procuração geral para o foro, entende-
se que o procurador constituído pode praticar todo e qualquer
ato do processo, exceto aqueles mencionados na parte final do
art. 105 do CPC/2015. Logo, todas as intimações ocorridas no
curso do processo, inclusive a intimação da penhora, podem ser
recebidas pelo patrono constituído nos autos.
Além disso, conforme estabelecido na norma veiculada pelo art.
841, §§ 1º e 2º, do CPC/2015 (art. 659, §§ 4º e 5º, c/c art. 652,
§ 4º, do CPC/1973), a intimação da penhora deve ser feita ao
advogado da parte devedora, reservando-se a intimação
pessoal apenas para a hipótese de não haver procurador
constituído nos autos.
REFERÊNCIA REsp 1.904.872-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma,
DO ACÓRDÃO por unanimidade, julgado em 21/09/2021, DJe 28/09/2021.

CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

99
TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 701
DESTAQUE DO Em ação demolitória, não há obrigatoriedade de litisconsórcio
INFORMATIVO passivo necessário dos coproprietários do imóvel.

TRECHOS DO De acordo com o disposto no artigo 114 do CPC, "o


INFORMATIVO litisconsórcio será necessário por disposição de lei ou quando,
pela natureza da relação jurídica controvertida, a eficácia da
sentença depender da citação de todos que devam ser
litisconsortes". Por sua vez, segundo o artigo 116 do mesmo
diploma, "o litisconsórcio será unitário quando, pela natureza da
relação jurídica, o juiz tiver de decidir o mérito de modo uniforme
para todos os litisconsortes".
A partir dessas regras, conclui-se que o litisconsórcio será
necessário quando a lei determinar ou quando for unitário.
A estreita relação entre o litisconsórcio necessário e o unitário
fez com que o CPC/1973, em seu artigo 47, tratasse de ambos
conjuntamente: "Há litisconsórcio necessário, quando, por
disposição de lei ou pela natureza da relação jurídica, o juiz tiver
de decidir a lide de modo uniforme para todas as partes; caso
em que a eficácia da sentença dependerá da citação de todos
os litisconsortes no processo".
Em ação demolitória, como na hipótese, não se discute a
propriedade do imóvel, caso em que, dada a incindibilidade do
direito material, os demais proprietários deveriam
necessariamente integrar a relação processual.
A diminuição do patrimônio é consequência natural da
efetivação da decisão judicial que impôs aos réus a obrigação
de demolir as benfeitorias e acessões erigidas ilicitamente.
Portanto, na condição de coproprietário, a parte sofrerá os
efeitos materiais da sentença, mas isso não é suficiente para

100
caracterizar o litisconsórcio necessário, até porque o direito de
propriedade permanecerá intocado.
Trata-se do que a doutrina denomina de efeito reflexo da
sentença, o que, a depender da intensidade, justifica o ingresso
de terceiro no processo, mas não a obrigatoriedade do
litisconsórcio.
REFERÊNCIA REsp 1.721.472-DF, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino,
DO ACÓRDÃO Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 15/06/2021.

CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 700
DESTAQUE Não cabe a aplicação de multa pelo não comparecimento
DO pessoal à audiência de conciliação, por ato atentatório à
INFORMATIVO dignidade da Justiça, quando a parte estiver representada por
advogado com poderes específicos para transigir.

TRECHOS DO A teor do art. 334, § 8º, do CPC de 2015, "O não


INFORMATIVO comparecimento injustificado do autor ou do réu à audiência de
conciliação é considerado ato atentatório à dignidade da justiça
e será sancionado com multa de até dois por cento da vantagem
econômica pretendida ou do valor da causa, revertida em favor
da União ou do Estado".
Ocorre que o § 10 do mesmo dispositivo legal abre a
possibilidade de a parte se fazer representar por meio da
outorga de procuração com poderes específicos para negociar
e transigir: "A parte poderá constituir representante, por meio de
procuração específica, com poderes para negociar e transigir".

101
Daí por que a doutrina considera suficiente para afastar a
penalidade a presença da parte ou do seu representante legal
(que pode ou não ser o seu advogado).
Desse modo, ficando demonstrado que os procuradores da ré,
munidos de procuração com poderes para transigir, estiveram
presentes na audiência, tem-se como manifestamente ilegal a
aplicação da multa por ato atentatório à dignidade da Justiça.
De fato, a ausência de conciliação, por si só, também não
autorizaria a aplicação da multa.

REFERÊNCIA RMS 56.422-MS, Rel. Min. Raul Araújo, Quarta Turma, por
DO ACÓRDÃO unanimidade, julgado em 08/06/2021.

CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

3. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

3.1 PRECEDENTES QUALIFICADOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 787
DESTAQUE DO Tese fixada no Tema 1175 dos Recursos Repetitivos:
INFORMATIVO a) antes da vigência do § 7º do art. 22 do Estatuto da OAB (5
de outubro de 2018), é necessária a apresentação dos
contratos celebrados com cada um dos filiados ou beneficiários
para que o sindicato possa reter os honorários contratuais sobre
o montante da condenação;
b) após a vigência do supracitado dispositivo, para que o
sindicato possa reter os honorários contratuais sobre o
montante da condenação, embora seja dispensada a
formalidade de apresentação dos contratos individuais e

102
específicos para cada substituído, mantém-se necessária a
autorização expressa dos filiados ou beneficiários que optarem
por aderir às obrigações do contrato originário.

TRECHOS DO A controvérsia refere-se à necessidade ou não de apresentação


INFORMATIVO do contrato celebrado com cada um dos filiados para que o
sindicato possa reter os honorários contratuais sobre o
montante da condenação.
Esta Corte compreende que, a despeito das conclusões
adotadas no Tema 823/STF (legitimidade extraordinária ampla
dos sindicatos), as obrigações decorrentes do contrato firmado
entre a entidade de classe e o escritório de advocacia não
poderiam ser oponíveis aos substituídos, já que estes não
participaram da sua celebração e não indicaram concordar com
suas disposições.
A inclusão do § 7º no art. 22 do Estatuto da OAB não torna
prescindível a autorização expressa dos substituídos, mas, ao
contrário, continua pressupondo a necessidade de anuência
expressa deles, visto que permite indicar somente os
beneficiários que, "ao optarem por adquirir os direitos,
assumirão as obrigações".
Não é possível cogitar que tal opção, a qual implicará assunção
de obrigações contratuais, possa se operar sem a aquiescência
da parte contratante, sob pena de violação da liberdade
contratual (art. 421 do CC).
O § 7º possibilitou apenas que a entidade de classe indicasse
(ou listasse) ? no momento da contratação ou após o contrato
? os substituídos que expressamente optaram em aderir às
cláusulas contratuais do ajuste firmado entre o sindicato e o
escritório de advocacia ("contrato originário", conforme consta
do texto legal).
Isto é, a referida norma dispensou a necessidade de que seja
instrumentalizado um contrato individual e específico para cada

103
substituído (como antes exigido), sendo facultada a adesão
"coletiva" aos termos do negócio jurídico principal; não
dispensou, porém, a autorização expressa dos integrantes da
categoria que optem, voluntariamente, por aderir às cláusulas
do ajuste, como pressuposto para retenção dos honorários
estabelecidos no contrato originário.
Por fim, a norma em destaque (art. 22, § 7º, do EOAB) ostenta
inegável natureza material, porque está a disciplinar a possível
vinculação de sujeitos de direito a obrigações contratuais
(relação jurídica de direito substantivo ? direitos e deveres). Ou
seja, não sendo norma exclusivamente
instrumental/processual, somente se aplica aos contratos
firmados após a vigência da nova lei (Lei n. 13.725, de 2018),
em razão da aplicação da máxima do tempus regit actum.

REFERÊNCIA REsp 1.965.394-DF, Rel. Ministro Gurgel de Faria, Primeira


DO ACÓRDÃO Seção, por unanimidade, julgado em 13/9/2023 (Tema 1175).
REsp 1.979.911-DF, Rel. Ministro Gurgel de Faria, Primeira
Seção, por unanimidade, julgado em 13/9/2023 (Tema 1175).
REsp 1.965.849-DF, Rel. Ministro Gurgel de Faria, Primeira
Seção, por unanimidade, julgado em 13/9/2023 (Tema 1175).

CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STF
INFORMATIVO 1100
DESTAQUE DO Tese fixada no Tema 1002 da Repercussão Geral:
INFORMATIVO 1. É devido o pagamento de honorários sucumbenciais à
Defensoria Pública, quando representa parte vencedora em
demanda ajuizada contra qualquer ente público, inclusive
aquele que integra; 2. O valor recebido a título de honorários

104
sucumbenciais deve ser destinado, exclusivamente, ao
aparelhamento das Defensorias Públicas, vedado o seu rateio
entre os membros da instituição.
TRECHOS DO Em razão da autonomia e da relevância institucional das
INFORMATIVO Defensorias Públicas, é constitucional o recebimento de
honorários sucumbenciais quando estas representarem o
litigante vencedor em demanda ajuizada contra qualquer
ente público, ainda que o litígio se dê contra o ente
federativo que integram.
As reformas trazidas pelas EC 45/2004, 74/2013 e 80/2014
atribuíram autonomia funcional, administrativa e financeira às
Defensorias dos estados e da União. Portanto, no contexto
atual, as Defensorias Públicas são consideradas órgãos
constitucionais independentes, sem subordinação ao Poder
Executivo. Como deixaram de ser vistas como órgãos auxiliares
do governo, que integram e vinculam-se à estrutura
administrativa do estado-membro, encontra-se superado o
argumento de violação do instituto da confusão (Código
Civil/2002, art. 381).
É vedado o rateio, entre os membros da Defensoria Pública,
do valor recebido a título de verbas sucumbenciais
decorrentes de sua atuação judicial. Essa quantia deve ser
destinada, exclusivamente, para a estruturação das
unidades dessa instituição, com vistas ao incremento da
qualidade do atendimento à população carente e à garantia
da efetividade do acesso à Justiça.
A devida alocação desses recursos financeiros para o
aparelhamento da respectiva Defensoria Pública viabiliza o
exercício da missão constitucional a ela conferido, que é
garantir o acesso à Justiça dos grupos mais vulneráveis da
população (CF/1988, art. 134, caput). Ademais, os honorários
hão de servir como desestímulo à oposição de resistência

105
injustificada, revelada por meio da interposição de recursos
inviáveis e protelatórios por parte do ente público sucumbente.

REFERÊNCIA RE 1.140.005/RJ, rel. Min. Roberto Barroso, julgamento virtual


DO ACÓRDÃO finalizado em 23.6.23.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 766
DESTAQUE DO Tese fixada no Tema Repetitivo 1105
INFORMATIVO Continua eficaz e aplicável o conteúdo da Súmula n. 111/STJ
(modificado em 2006), mesmo após a vigência do CPC/2015,
no que tange à fixação de honorários advocatícios.
TRECHOS DO A controvérsia que se traz à discussão, em regime repetitivo,
INFORMATIVO está em definir se, com o advento do CPC de 2015, ainda
continuará prevalecendo, ou não, a linha de corte trazida na
modificada redação da Súmula n. 111/STJ, no ponto em que
exclui da base de cálculo dos honorários advocatícios as
prestações vencidas após a sentença favorável ao segurado.
O inciso II do § 4º do art. 85 do CPC/2015 nada dispõe a
respeito da base de cálculo para a incidência da verba
advocatícia, limitando-se a postergar tão só a definição de seu
percentual (conforme as faixas econômicas dispostas no § 3º
do mesmo artigo) para depois de apurado o
correspondente quantum debeatur em procedimento
liquidatório.
Tem-se que o desenganado intuito da Súmula n. 111/STJ, com
a modificação que recebeu em 2006, foi o de desestimular o
indevido prolongamento da demanda, possibilitando que o
segurado demandante logo recebesse as prestações
judicialmente reconhecidas em seu favor. Assim é que a
jurisprudência da Terceira Seção, que precedeu e respaldou a

106
mencionada modificação sumular, passou a compreender que,
"Tomando-se o marco final das prestações vencidas como o
trânsito em julgado da decisão, tem-se uma situação inusitada,
na qual a morosidade no término do processo reverte em
maiores ganhos ao patrocinador do segurado" (EREsp
195.520/SP, relator Ministro Felix Fischer, Terceira Seção,
julgado em 22/9/1999, DJ 18/10/1999, p. 207).
Mais conveniente, por isso, que se antecipasse aquele marco
final para a mesma data da prolação da sentença condenatória.
Daí que, como asseverado em outro emblemático julgado,
proferido também em 1999, "Esta interpretação, além de
facilitar a execução da sentença, evita conflito de interesses
entre parte-autora e patrono, o que deve ser sempre buscado,
porquanto a este interessaria a delonga da causa, com vistas a
uma maior base de cálculo dos honorários, enquanto àquela o
seu apressamento, para ter satisfeita a pretensão deduzida"
(EREsp 198.260/SP, relator Ministro Gilson Dipp, Terceira
Seção, julgado em 13/10/1999, DJ 16/11/1999, p. 183).
Nesse sentido, a atual jurisprudência das duas Turmas que
integram esta Primeira Seção, que hoje detém atribuição
regimental para deliberar acerca de assuntos relativos a
benefícios previdenciários, inclusive os decorrentes de
acidentes do trabalho (art. 9º, § 1º, XIII, do RISTJ), mostra-se
convergente no sentido de que, mesmo após a vigência do
CPC/2015, continua aplicável o comando gizado na Súmula n.
111/STJ.

REFERÊNCIA REsp 1.880.529-SP, Rel. Ministro Sérgio Kukina, Primeira


DO ACÓRDÃO Seção, por maioria, julgado em 8/3/2023. (Tema 1105)
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

107
TRIBUNAL STJ
TEMA Repetitivo 1076
QUESTÃO Definição do alcance da norma inserta no § 8º do artigo 85 do
Código de Processo Civil nas causas em que o valor da causa
ou o proveito econômico da demanda forem elevados.
TESE I) A fixação dos honorários por apreciação equitativa não é
permitida quando os valores da condenação, da causa ou o
proveito econômico da demanda forem elevados. É obrigatória
nesses casos a observância dos percentuais previstos nos §§
2º ou 3º do artigo 85 do CPC - a depender da presença da
Fazenda Pública na lide -, os quais serão subsequentemente
calculados sobre o valor: (a) da condenação; ou (b) do proveito
econômico obtido; ou (c) do valor atualizado da causa.
II) Apenas se admite arbitramento de honorários por equidade
quando, havendo ou não condenação: (a) o proveito econômico
obtido pelo vencedor for inestimável ou irrisório; ou (b) o valor
da causa for muito baixo.

EMENTA PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL SOB O RITO


RESUMIDA DOS RECURSOS REPETITIVOS. ART. 85, §§ 2º, 3°, 4°, 5°, 6º
E 8º, DO CPC. HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS. VALORES
DA CONDENAÇÃO, DA CAUSA OU PROVEITO ECONÔMICO
DA DEMANDA ELEVADOS. IMPOSSIBILIDADE DE FIXAÇÃO
POR APRECIAÇÃO EQUITATIVA. (...)
1. O objeto da presente demanda é definir o alcance da norma
inserta no § 8º do artigo 85 do CPC, a fim de compreender as
suas hipóteses de incidência, bem como se é permitida a
fixação dos honorários por apreciação equitativa quando os
valores da condenação, da causa ou o proveito econômico da
demanda forem elevados.
2. O CPC/2015 pretendeu trazer mais objetividade às hipóteses
de fixação dos honorários advocatícios e somente autoriza a
aplicação do § 8º do artigo 85 - isto é, de acordo com a

108
apreciação equitativa do juiz - em situações excepcionais em
que, havendo ou não condenação, estejam presentes os
seguintes requisitos: 1) proveito econômico irrisório ou
inestimável, ou 2) valor da causa muito baixo. Precedentes.
(...)
16. É muito comum ver no STJ a alegação de honorários
excessivos em execuções fiscais de altíssimo valor
posteriormente extintas. Ocorre que tais execuções muitas
vezes são propostas sem maior escrutínio, dando-se a extinção
por motivos previsíveis, como a flagrante ilegitimidade passiva,
o cancelamento da certidão de dívida ativa, ou por estar o
crédito prescrito. Ou seja, o ente público aduz em seu favor a
simplicidade da causa e a pouca atuação do causídico da parte
contrária, mas olvida o fato de que foi a sua falta de diligência
no momento do ajuizamento de um processo natimorto que
gerou a condenação em honorários. Com a devida vênia, o
Poder Judiciário não pode premiar tal postura.
17. A fixação de honorários por equidade nessas situações -
muitas vezes aquilatando-os de forma irrisória - apenas
contribui para que demandas frívolas e sem possibilidade de
êxito continuem a ser propostas diante do baixo custo em caso
de derrota.
18. Tal situação não passou despercebida pelos estudiosos da
Análise Econômica do Direito, os quais afirmam com segurança
que os honorários sucumbenciais desempenham também um
papel sancionador e entram no cálculo realizado pelas partes
para chegar à decisão - sob o ponto de vista econômico - em
torno da racionalidade de iniciar um litígio.
19. Os advogados devem lançar, em primeira mão, um olhar
crítico sobre a viabilidade e probabilidade de êxito da demanda
antes de iniciá-la. Em seguida, devem informar seus clientes
com o máximo de transparência, para que juntos possam tomar
a decisão mais racional considerando os custos de uma

109
possível sucumbência. Promove-se, dessa forma, uma
litigância mais responsável, em benefício dos princípios da
razoável duração do processo e da eficiência da prestação
jurisdicional.
20. O art. 20 da "Lei de Introdução às Normas do Direito
Brasileiro" (Decreto-Lei n. 4.657/1942), incluído pela Lei n.
13.655/2018, prescreve que, "nas esferas administrativa,
controladora e judicial, não se decidirá com base em valores
jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as
consequências práticas da decisão". Como visto, a
consequência prática do descarte do texto legal do art. 85, §§
2º, 3º, 4º, 5º, 6º e 8º, do CPC, sob a justificativa de dar guarida
a valores abstratos como a razoabilidade e a proporcionalidade,
será um poderoso estímulo comportamental e econômico à
propositura de demandas frívolas e de caráter predatório.
(...)
24. Teses jurídicas firmadas: i) A fixação dos honorários por
apreciação equitativa não é permitida quando os valores da
condenação, da causa ou o proveito econômico da demanda
forem elevados. É obrigatória nesses casos a observância dos
percentuais previstos nos §§ 2º ou 3º do artigo 85 do CPC - a
depender da presença da Fazenda Pública na lide -, os quais
serão subsequentemente calculados sobre o valor: (a) da
condenação; ou (b) do proveito econômico obtido; ou (c) do
valor atualizado da causa. ii) Apenas se admite arbitramento de
honorários por equidade quando, havendo ou não condenação:
(a) o proveito econômico obtido pelo vencedor for inestimável
ou irrisório; ou (b) o valor da causa for muito baixo.
(...)
(REsp n. 1.850.512/SP, relator Ministro Og Fernandes, Corte
Especial, julgado em 16/3/2022, DJe de 31/5/2022.)

110
CONEXÕES E 1. No mesmo sentido, o Enunciado n. 6 da I Jornada de Direito
COMENTÁRIOS Processual Civil do Conselho da Justiça Federal - CJF: "A
fixação dos honorários de sucumbência por apreciação
equitativa só é cabível nas hipóteses previstas no § 8º, do art.
85 do CPC".

3.2 JURISPRUDÊNCIA PERSUASIVA

TRIBUNAL 790
INFORMATIVO STJ
DESTAQUE DO A base de cálculo dos honorários advocatícios sucumbenciais
INFORMATIVO deve ter como parâmetro a própria ação rescisória, e não a ação
originária cuja decisão se pretende rescindir.
TRECHOS DO A controvérsia consiste em definir a forma de arbitramento dos
INFORMATIVO honorários advocatícios sucumbenciais em ação rescisória, se
a base de cálculo dos honorários deve ter como parâmetro a
ação originária ou a própria ação rescisória.
Deve-se ressaltar que, do ponto de vista técnico-jurídico, os
honorários advocatícios sucumbenciais não devem ser
arbitrados sobre base de cálculo extraída da ação originária
cuja decisão se pretende rescindir, mas sim a partir dos
parâmetros da própria ação rescisória.
Isso porque a ação rescisória é ação autônoma e o julgamento
de procedência ou improcedência dos pedidos nela formulados
decorre de atividade jurisdicional exercida pelo juiz à luz dos
elementos desta nova demanda, que não se confunde com a
ação originária da qual advém a decisão rescindenda.
Como consectário lógico, por se tratar de ação autônoma, a
base de cálculo dos honorários deve seguir a regra geral do art.
85, §2º, do CPC/2015 como em qualquer outra ação.

111
Desse modo, a verba honorária na ação rescisória deve ser
fixada no patamar de dez a vinte por cento, subsequentemente
calculados sobre o valor: a) da condenação; b) do proveito
econômico obtido; ou c) do valor atualizado da causa.
Excepcionalmente, nas hipóteses em que for inestimável ou
irrisório o proveito econômico ou, ainda, quando o valor da
causa for muito baixo, será possível realizar o arbitramento por
equidade.
Quando se tomar o valor da causa da ação rescisória como
base de cálculo para os honorários o que apenas ocorrerá
subsidiariamente, nos termos do art. 85, §2º, do CPC/2015,
existirá relação entre os parâmetros da ação originária e a verba
honorária a ser arbitrada na ação rescisória. No entanto, trata-
se de influência meramente indireta, não sendo possível
concluir, a partir desta constatação, que os honorários a serem
fixados na própria ação rescisória devam ser arbitrados sobre
base de cálculo extraída da ação originária. Eventual identidade
é apenas contingencial.
Em outras palavras, tratando-se de ação autônoma, os
honorários devem ser fixados da mesma forma como são
fixados em qualquer outra ação, isto é, a partir do valor da
condenação, do proveito econômico obtido ou do valor
atualizado da causa da própria ação rescisória, não havendo
que se falar em arbitramento de honorários a partir de
informações da ação originária.
Desse modo, nos termos do art. 85, §2º, do CPC/2015,
inexistindo condenação ou proveito econômico, os honorários
advocatícios deverão ser calculados sobre o valor da causa
atribuído à ação rescisória, que corresponderá ao proveito
econômico pretendido com a rescisão do julgado.

REFERÊNCIA REsp 2.068.654-PA, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira


DO ACÓRDÃO Turma, por unanimidade, julgado em 12/9/2023, DJe 15/9/2023.

112
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 785
DESTAQUE DO Se a parte autora indica, na petição inicial, valor da causa
INFORMATIVO incompatível com o proveito econômico pretendido, não pode,
após o acolhimento do pedido em sentença, postular a
alteração da quantia por ela mesmo alegada, com o fim de
majorar a base de cálculos de honorários de sucumbência.
TRECHOS DO A controvérsia consiste em definir se o autor, ou o advogado
INFORMATIVO que o representa, pode, após atribuir à causa valor meramente
estimativo e sem nenhuma correspondência com o vultoso
proveito econômico pretendido, postular para que o Tribunal de
segundo grau proceda à alteração do valor da demanda, a fim
de majorar a base de cálculo dos honorários de sucumbência.
É certo que há muitos precedentes do Superior Tribunal de
Justiça apontando que constitui poder do magistrado
determinar, até mesmo de ofício, a correção do valor da causa,
para que possa exprimir, de forma adequada, o proveito
econômico pretendido.
No entanto, segundo a narrativa, foi a própria parte (em
recuperação judicial), já representada por advogado, quem
atribuiu ao incidente de impugnação de crédito o módico valor
de R$ 1.000,00 (mil reais), apesar de o crédito alcançar valor
superior a R$ 39.000.000,00 (trinta e nove milhões de reais),
certamente com o objetivo de pagar custas menores e de
prevenir grandes perdas, na hipótese de insucesso da
impugnação, já que os honorários, nesse cenário, seriam
fixados em valores baixos ou suportáveis.
Diante disso, a pretensão do advogado da autora para corrigir
o valor da causa apenas em embargos de declaração opostos

113
em segundo grau caracteriza nítida violação ao princípio da
boa-fé processual, tendo em vista que esperou a última fase do
procedimento nas instâncias ordinárias - isto é, apenas após ter
certeza da procedência da demanda - para apontar que a
própria parte teria se equivocado
A postura do advogado subscritor da petição inicial do incidente
de impugnação do crédito, caracteriza nítida tentativa de se
valer da própria torpeza, além de caracterizar comportamento
contraditório (tu quoque ou atos próprios), devendo ser
rechaçada pelo Poder Judiciário.

REFERÊNCIA AgInt no AREsp 1.901.349-GO, Rel. Ministro Raul Araújo,


DO ACÓRDÃO Quarta Turma, por unanimidade, julgado em 21/8/2023, DJe
25/8/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 783
DESTAQUE DO As ações de desapropriação observam na fase de cumprimento
INFORMATIVO de sentença, no que couber, o regime do art. 27, § 1º, do
Decreto-Lei n. 3.365/1941, o que inclui os seus limites
percentuais na fixação de honorários arbitrados com base em
proveito econômico.
TRECHOS DO A Corte Especial firmou entendimento, em regime de recurso
INFORMATIVO repetitivo (Tema 1076/STJ), a respeito de afastar o juízo de
equidade na fixação dos honorários advocatícios
sucumbenciais, no sentido de que o arbitramento de honorários
advocatícios sucumbenciais por juízo de equidade ocorrerá
quando, havendo ou não condenação, o proveito econômico
obtido pelo vencedor for inestimável (= de estimação inviável ou

114
impossível) ou irrisório (= demasiadamente insignificante), ou o
valor da causa for muito baixo.
Todavia, as ações de desapropriação por utilidade pública
orientam-se especialmente pelas disposições do Decreto-Lei n.
3.365/1941 e, nesse particular, destaca-se o texto do art. 27, §
1º, que estabelece base de cálculo e percentuais próprios e
distintos da ordenação geral do CPC.
O preceito contempla opção do legislador pela existência de
ônus de sucumbência apenas quando o valor indenizatório for
superior à oferta inicial. A base de cálculo dos honorários
corresponderá à diferença entre ambos, o que aparentemente
elege como critério não o valor condenatório propriamente,
porque este seria o equivalente à própria indenização arbitrada,
mas a um parâmetro ligado à condenação.
Apesar de o texto do dispositivo fazer remissão claramente à
fase de conhecimento - tanto que remete à definição da
indenização e à oferta inicial, que vem consignada na petição
inicial -, o Decreto-Lei disciplina a sucumbência para as ações
de desapropriação. Portanto, é devida a sua observância em
todas as suas fases, no que for cabível.
Sendo cabível a sucumbência no caso da fase de cumprimento
de sentença, a sua estipulação é regida com base na mesma
diferença entre indenização e oferta inicial, tendo em vista que
esses parâmetros já foram definidos na fase de conhecimento.
Nesse sentido, afasta-se a utilização da equidade - porque
ausentes as hipóteses autorizativas.
No caso, a pretensão recursal deduzida objetiva não apenas o
afastamento da regra de fixação por juízo de equidade, mas
desde logo a fixação dos honorários entre 10% e 20% desse
proveito econômico. Contudo, neste ponto, o recurso não
comporta provimento porque a regulação especial do Decreto-
Lei n. 3.365/1941 deve prevalecer sobre as regras gerais do
CPC e, nesse sentido, os percentuais aplicáveis são menores.

115
Por fim, dada a inexistência das hipóteses de aplicabilidade do
juízo de equidade, considera-se que o proveito econômico deve
servir de base de cálculo dos honorários devidos na fase de
cumprimento de sentença, a teor do art. 85, §§ 1º e 2º, do CPC,
uma vez inexistente a condenação propriamente dita.

REFERÊNCIA REsp 2.075.692-SP, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques,


DO ACÓRDÃO Segunda Turma, por unanimidade, julgado em 8/8/2023, DJe
17/8/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 781
DESTAQUE DO Incide a regra geral do art. 85, § 1º, do CPC, que autoriza o
INFORMATIVO cabimento dos honorários de sucumbência na fase de
cumprimento, quando a liquidação ostentar caráter litigioso.
TRECHOS DO Segundo orientação consolidada nesta Corte Superior, firmada
INFORMATIVO sob o rito dos recursos repetitivos, no julgamento dos Recursos
Especiais n. 1.850.512/SP, 1.877.883/SP, 1.906.623/SP e
1.906.618/SP - (Tema n. 1.076), a fixação de honorários
sucumbenciais por apreciação equitativa somente é admitida
em casos excepcionais, notadamente quando o proveito
econômico obtido pelo vencedor for inestimável ou irrisório, ou,
ainda, quando o valor da causa for muito baixo. Sendo assim,
nas causas de elevada monta em que for vencida a Fazenda
Pública, o julgador deve observar os percentuais previstos nos
§§ 2º e 3º do art. 85 do CPC/2015.
O art. 85, § 1º, do CPC regulou as exatas hipóteses de fixação
da verba honorária, não contemplando a fase de liquidação de
sentença por se tratar de procedimento que tem por finalidade
a definição do montante devido para possibilitar a satisfação do

116
título judicial. Todavia, a jurisprudência consolidou o
entendimento de que, constatada a litigiosidade na liquidação,
a efetiva sucumbência da parte implicará sua condenação nas
verbas sucumbenciais.
No caso, o Tribunal de origem consignou expressamente que a
fase de liquidação de sentença se revestiu de caráter litigioso,
o que autoriza a fixação da verba sucumbencial, nos termos do
entendimento jurisprudencial desta Corte Superior.
A Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça já consolidou
a orientação de que "a aplicação do art. 25 da Lei n.
12.016/2009 restringe-se à fase de conhecimento, não sendo
cabível na fase de cumprimento de sentença, ocasião em que
a legitimidade passiva deixa de ser da autoridade impetrada e
passa ser do ente público ao qual aquela encontra-se vinculada.
Mostra-se incidente a regra geral do art. 85, § 1º, do CPC, que
autoriza o cabimento dos honorários de sucumbência na fase
de cumprimento, ainda que derivada de mandado de
segurança" (AgInt na ImpExe na ExeMS n. 15.254/DF, relator
Ministro Sérgio Kukina, Primeira Seção, julgado em 29/3/2022,
DJe 1º/4/2022).
Portanto, tratando-se de liquidação individual de sentença
decorrente de ação coletiva, é devida a verba honorária, ainda
que proveniente de ação mandamental, a teor do disposto na
Súmula n. 345/STJ.

REFERÊNCIA AgInt no AgInt no REsp 1.955.594-MG, Rel. Ministro Paulo


DO ACÓRDÃO Sérgio Domingues, Primeira Turma, por unanimidade, julgado
em 29/5/2023, DJe 6/6/2023.
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TRIBUNAL STJ

117
INFORMATIVO 777
DESTAQUE DO É cabível a condenação em custas e honorários advocatícios
INFORMATIVO na hipótese de não conhecimento do recurso inominado.
TRECHOS DO Inicialmente, cumpre registrar que o tema de honorários
INFORMATIVO advocatícios é híbrido, isto é, tanto é processual, por haver
aplicação da rubrica no contexto da tramitação do processo,
quanto é material, por dizer respeito à verba alimentar do
patrono (AgInt no REsp 1.481.917/RS, relator p/ acórdão
Ministro Marco Buzzi, Quarta Turma, DJe de 11/11/2016).
A compreensão acerca da natureza material dos honorários
advocatícios é vertida no art. 85, § 14, do CPC, segundo o qual
"os honorários constituem direito do advogado e têm natureza
alimentar, com os mesmos privilégios dos créditos oriundos da
legislação do trabalho, sendo vedada a compensação em caso
de sucumbência parcial". Assim, pode ser processado o pedido
de uniformização de interpretação de lei federal nos termos do
art. 18, § 3º, da Lei n. 12.153/2009 quando se tratar de questão
alusiva à hipótese de incidência, ou não, de honorários
advocatícios de sucumbência quando não se conhece do
recurso.
Na análise do caso, ainda quando não conhecido o recurso
interposto, tem-se como vencido o recorrente, sendo cabível a
imposição dos ônus da sucumbência.
Ademais, conforme decidiu o Tribunal de origem: "a teor do
Enunciado 122 do FONAJE: 'é cabível a condenação em custas
e honorários advocatícios na hipótese de não conhecimento do
recurso inominado (XXI Encontro - Vitória/ES)".

REFERÊNCIA EDcl no AgInt no PUIL 1.327-RS, Rel. Ministro Paulo Sérgio


DO ACÓRDÃO Domingues, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em
24/5/2023, DJe 30/5/2023.
CONEXÕES E
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118
TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 775
DESTAQUE DO A extinção do cumprimento provisório de sentença por conta de
INFORMATIVO transação celebrada em ação coletiva entre o próprio devedor
e o legitimado extraordinário, em prejuízo do exequente, não
afasta o princípio da causalidade em desfavor da parte
executada, nem atrai a sucumbência para a parte exequente.
TRECHOS DO Em regra, a sucumbência de uma das partes é suficiente para
INFORMATIVO indicar quem foi o responsável pela instauração do processo e,
por conseguinte, pelos custos incorridos na efetivação do
direito, inclusive com honorários advocatícios. Todavia, há
situações em que se verifica que a parte que deu causa à
instauração do processo não foi aquela que sucumbiu. Assim,
o caso atrai a aplicação do princípio da causalidade.
O princípio da causalidade não se contrapõe ao princípio da
sucumbência. Antes, é este um dos elementos norteadores
daquele, pois, de ordinário, o sucumbente é considerado
responsável pela instauração do processo e, assim, condenado
nas despesas processuais. O princípio da sucumbência,
contudo, cede lugar quando, embora vencedora, a parte deu
causa à instauração da lide (REsp 303.597/SP).
Na hipótese, o cumprimento provisório individual de sentença
proferida em ação coletiva foi extinto sem atendimento da
pretensão satisfativa. O título executivo judicial que propiciou,
de início, a propositura da ação foi substituído, no decorrer do
processo, por uma transação, realizada entre a parte executada
e o legitimado extraordinário, excluindo-se o direito do
exequente, que não participou da negociação e da celebração
do acordo. Nesse sentido, a controvérsia consiste em verificar
a quem cabe arcar com os honorários advocatícios
sucumbenciais: se ao exequente, por força do princípio da
sucumbência, ou à parte executada.

119
Dentro dessas balizas, quanto ao encerramento do
cumprimento de sentença sem o atendimento da pretensão
satisfativa, a mera aplicação do princípio da sucumbência para
o arbitramento de honorários advocatícios mostra-se de todo
insuficiente.
A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça consolidou-se
no sentido de, em regra, não considerar o próprio exequente,
seja no cumprimento de sentença ou no processo de execução,
como sendo aquele que deu causa à instauração do processo,
simplesmente pelo fato de não ter obtido, ao final, a satisfação
de seu crédito.
Considera-se que o não adimplemento da obrigação contida no
título é o fato que dá causa ao ajuizamento da medida
executória. Assim, o credor dá início ao cumprimento ou
promove a execução porque teve seu patrimônio desfalcado - e
o faz devido à falta de satisfação da obrigação pelo devedor. A
provisoriedade do título que dá embasamento ao cumprimento
de sentença faz com que o exequente, em regra, assuma o risco
da reforma do título judicial.
Embora a atitude do legitimado extraordinário afete a esfera
jurídica do exequente, não é possível lhe atribuir a causa do
encerramento da ação, e nem é razoável que suporte o risco de
que a parte executada e a própria instituição voltada a defender
seus interesses acabem por encerrar acordo que fulmine sua
pretensão, obrigando-lhe ainda a cobrir os custos da
sucumbência.
Assim, em resumo: (i) se o cumprimento individual e provisório
de sentença extinto foi ajuizado antes da publicação de
homologação de acordo coletivo, deve ser aplicado o princípio
da causalidade em favor do poupador; e (ii) se o cumprimento
individual e provisório de sentença extinto foi ajuizado no dia da
homologação de acordo coletivo ou posteriormente a essa data,
deve ser aplicado o princípio da sucumbência, arbitrando-se

120
honorários sucumbenciais em favor dos patronos da instituição
financeira, pela proposição de execução carente de título
executivo judicial, mesmo que provisório.

REFERÊNCIA REsp 2.053.653-SP, Rel. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva,


DO ACÓRDÃO Terceira Turma, por maioria, julgamento em 16/5/2023.
CONEXÕES E
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 771
DESTAQUE DO A circunstância de a ação ter sido extinta sem resolução de
INFORMATIVO mérito, conquanto se trate de uma situação de fato, não é
suficientemente relevante para aplicar distinguishing em
relação ao precedente firmado no julgamento do Tema 1076,
especialmente porque essa circunstância fática também estava
presente em dois dos recursos representativos daquela
controvérsia e, ainda assim, a Corte Especial compreendeu se
tratar de hipótese em que a regra do art. 85, §§ 2º e 3º, do
CPC/2015, igualmente deveria ser aplicada de maneira literal.
TRECHOS DO O propósito recursal consiste em definir se, em embargos de
INFORMATIVO terceiro extintos sem resolução do mérito por ausência de
interesse processual, aplica-se o Tema repetitivo 1076,
impondo-se o arbitramento de honorários advocatícios
sucumbenciais ao patrono do vencedor no percentual de 10 a
20% sobre o valor atualizado da causa.
(...)
Registre-se, ainda, que o fato de a ação ser extinta sem
resolução de mérito foi expressamente considerado no
precedente, compreendendo a Corte Especial que a tese
firmada no julgamento do Tema 1076 seria aplicável também
nessa hipótese.

121
A distinção - que permite que os órgãos fracionários se afastem
de um precedente vinculante firmado no julgamento de recursos
especiais submetidos ao rito dos repetitivos somente poderá
existir diante de uma hipótese fática diferente daquela
considerada relevante para a formação do precedente.
Não se deve, portanto, reconhecer a existência de uma
distinção entre o precedente firmado no Tema 1076 e a
hipótese em exame, de modo a impor-se solução jurídica
diversa, razão pela qual é preciso dar balizas exatas ao que se
deve compreender como distinguishing. Quanto a esse ponto:
"ao contrário do que ocorre na revogação de precedentes, a
diferenciação de casos pode ser realizada por qualquer
magistrado, não existindo problemas atinentes à competência,
havendo a possibilidade de distinção de um precedente do STF
por um juiz de primeiro grau. É uma espécie de técnica que visa
o afastamento de um precedente não por ele ser injusto, mas
simplesmente por não se adequar à situação fática".
Não há que se falar em distinção pela injustiça, pela
desproporcionalidade, pela irrazoabilidade, pela falta de
equidade ou pela existência de outros julgados do Supremo
Tribunal Federal que não se coadunariam com o precedente,
pois tais circunstâncias importariam na eventual necessidade
de superação do precedente, mas não no uso da técnica de
distinção, que é lícito fazer, quando de sua aplicabilidade
prática, mas desde que presente uma circunstância fática
distinta. Tais circunstâncias, quando muito, importariam na
eventual necessidade de superação do precedente, mas jamais
no uso da técnica de distinção que se pode fazer quando de sua
aplicabilidade prática, desde que presente uma circunstância
fática distinta.
Assim, o art. 85, §§ 2º e 3º, do CPC/2015, deverá ser aplicado,
de forma literal, pelos órgãos fracionários desta Corte se e
enquanto não sobrevier modificação desse entendimento pelo

122
Supremo Tribunal Federal no julgamento do RE 1.412.073/SP,
do RE 1.412.074/SP e do RE 1.412.069/PR, todos em
tramitação perante o Supremo Tribunal Federal, ou se e
enquanto não sobrevier, nesta Corte, a eventual superação do
precedente formado no julgamento do Tema 1076.

REFERÊNCIA REsp 1.743.330-AM, Rel. Ministro Moura Ribeiro, Rel. para


DO ACÓRDÃO acórdão Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em
11/04/2023, DJe 14/04/2023.
CONEXÕES E
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 767
DESTAQUE DO A decisão a respeito do pedido de caução de crédito tributário
INFORMATIVO ainda não cobrado judicialmente para fins de obtenção de
certidão de regularidade fiscal tem natureza jurídica de
incidente processual inerente à execução fiscal, não guardando
autonomia a ensejar condenação em honorários advocatícios
em desfavor de qualquer das partes.
TRECHOS DO A controvérsia diz respeito à responsabilidade pelo pagamento
INFORMATIVO dos honorários advocatícios de sucumbência na hipótese em
que há extinção da ação cautelar prévia de caução diante do
ajuizamento da execução fiscal.
A Primeira Turma do STJ, ao julgar o AREsp 1.521.312/MS, da
relatoria do eminente Ministro Gurgel de Faria, entendeu que
não se pode atribuir à Fazenda a responsabilidade pelo
ajuizamento da ação cautelar por não ser possível imputar ao
credor a obrigatoriedade de imediata propositura da ação
executiva. Ademais, a ação cautelar de caução preparatória
para futura constrição possui "natureza jurídica de incidente
processual inerente à execução fiscal, não guardando

123
autonomia a ensejar condenação em honorários advocatícios
em desfavor de qualquer das partes".
No mesmo sentido: "(...) A questão decidida na ação ajuizada
com o objetivo de antecipar a penhora na execução fiscal tem
natureza jurídica de incidente processual inerente à própria
execução, não guardando autonomia a ensejar condenação em
honorários advocatícios em desfavor de qualquer das partes.
(...)" AgInt no REsp 1.960.482/DF, relatora Ministra Regina
Helena Costa, Primeira Turma, DJe 25/3/2022.

REFERÊNCIA AgInt no AREsp 1.996.760-SP, Rel. Ministro Herman Benjamin,


DO ACÓRDÃO Segunda Turma, por unanimidade, julgado em 14/3/2023.
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 767
DESTAQUE DO Quando devida a verba honorária recursal, e o relator deixar de
INFORMATIVO aplicá-la em decisão monocrática, poderá o colegiado arbitrá-
la, inclusive de ofício.
TRECHOS DO Nos termos do art. 85, § 1º, do Código de Processo Civil - CPC,
INFORMATIVO "são devidos honorários advocatícios (...) nos recursos
interpostos, cumulativamente". A fixação de honorários
recursais em favor do patrono da parte recorrida está adstrita
às hipóteses de não conhecimento ou de não provimento do
recurso, com o nítido propósito de desestimular a interposição
de recurso infundado pela parte vencida.
De acordo com a interpretação dada pelo STJ, a majoração
dessa verba ocorre sempre que inaugurada nova instância
recursal, e não em todos os recursos que tramitam nessa
mesma instância (por exemplo, é cabível a majoração no
julgamento monocrático do recurso especial, mas isso não

124
ocorre em caso de julgamento de agravo interno e embargos de
declaração no apelo nobre; de outro lado, é novamente
aplicável a majoração quando interpostos embargos de
divergência no recurso especial, etc.).
Assim, o entendimento firmado no STJ é de que o arbitramento
dos honorários recursais (art. 85, § 11, do CPC/2015) deve
ocorrer quando esta Corte julga o recurso, sujeito ao Código de
Processo Civil de 2015, que inaugure o grau recursal,
revelando-se indevida sua fixação em agravo interno e
embargos de declaração, por se tratar da mesma instância
recursal.
Este também o entendimento da Escola Nacional de Formação
e Aperfeiçoamento de Magistrados Ministro Sálvio de
Figueiredo Teixeira - Enfam adotado no seminário "O Poder
Judiciário e o Novo CPC", no qual se editou o enunciado 16,
com o seguinte teor: "Não é possível majorar os honorários na
hipótese de interposição de recurso no mesmo grau de
jurisdição (art. 85, § 11, do CPC/2015)".
Por outro lado, verifica-se no caso que não houve majoração
dos honorários nesta instância recursal, nem na decisão
monocrática, nem no julgamento do agravo interno. Assim, por
se tratar de matéria de ordem pública, cognoscível de ofício, é
possível sua majoração neste momento processual.
Nesse sentido: "(...) Quando devida a verba honorária recursal,
mas, por omissão, o Relator deixar de aplicá-la em decisão
monocrática, poderá o colegiado, ao não conhecer do
respectivo Agravo Interno ou negar-lhe provimento, arbitrá-la ex
officio, por se tratar de matéria de ordem pública, que independe
de provocação da parte, não se verificando reformatio in pejus.
(...)" (AgInt nos EAREsp 762.075/MT, relator Ministro Felix
Fischer, relator para acórdão Ministro Herman Benjamin, Corte
Especial, julgado em 19/12/2018, DJe de 7/3/2019).

125
REFERÊNCIA EDcl no AgInt no AREsp 1.249.853-SP, Rel. Ministro Humberto
DO ACÓRDÃO Martins, Segunda Turma, por unanimidade, julgado em
6/3/2023, DJe 13/3/2023.
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 764
DESTAQUE DO Não são cabíveis honorários recursais na hipótese de recurso
INFORMATIVO que mantém acórdão que reconheceu error in procedendo e
anulou a sentença.
TRECHOS DO No caso analisado, embora a sentença tenha condenado a
INFORMATIVO parte embargante ao pagamento de honorários advocatícios
fixados em R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais), o Tribunal de
origem deu provimento à apelação para, "anulando a sentença,
determinar o retorno dos autos à vara de origem, para regular
prosseguimento do feito".
Nesse cenário, ainda que exista a prolação de uma sentença
com a condenação em honorários sucumbenciais, o
superveniente provimento de recurso, com o reconhecimento
de error in procedendo e a anulação de tal decisão, como
ocorreu na espécie, enseja o desfazimento também da
estipulação da sucumbência originária, de modo que, nessa
hipótese, se não subsiste a condenação em honorários na
origem, não há que se falar em sua majoração em sede
recursal.
Nesse sentido, confira-se o seguinte julgado: "(...) 3. Os
honorários recursais não têm autonomia nem existência
independente da sucumbência fixada na origem e representam
um acréscimo (o CPC/2015 fala em "majoração") ao ônus
estabelecido previamente, motivo por que na hipótese de
descabimento ou na de ausência de fixação anterior, não

126
haverá falar em honorários recursais. 4. Assim, não são
cabíveis honorários recursais na hipótese de recurso que
reconhece "error in procedendo" e que anula a sentença, uma
vez que essa providência torna sem efeito também o capítulo
decisório referente aos honorários sucumbenciais e estes, por
seu turno, constituem pressuposto para a fixação ("majoração")
do ônus em grau recursal. Exegese do art. 85, § 11, do
CPC/2015. 5. Recurso especial provido (REsp 1.703.677/PE,
Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma,
julgado em 28/11/2017, DJe de 1º/12/2017)".
Esse entendimento, ademais, guarda perfeita sintonia com a
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça no sentido de que
é devida a majoração da verba honorária sucumbencial, na
forma do art. 85, § 11, do CPC/2015, apenas quando estiverem
presentes os seguintes requisitos, simultaneamente: a) decisão
recorrida publicada a partir de 18.3.2016, quando entrou em
vigor o novo Código de Processo Civil; b) recurso não
conhecido integralmente ou não provido, monocraticamente ou
pelo órgão colegiado competente; e c) condenação em
honorários advocatícios desde a origem no feito em que
interposto o recurso (AgInt nos EAREsp 762.075/MT, Rel. p/
acórdão Ministro Herman Benjamin, Corte Especial, DJe
7/3/2019).

REFERÊNCIA AgInt nos EDcl no REsp 2.004.107-PB, Rel. Ministro Mauro


DO ACÓRDÃO Campbell Marques, Segunda Turma, por unanimidade, julgado
em 15/12/2022, DJe 19/12/2022.
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 763

127
DESTAQUE DO Não cabe a fixação de verba honorária decorrente do não
INFORMATIVO conhecimento do recurso de apelação manejado por consórcio,
em conjunto com as empresas que o compõem, quando ente
sem personalidade jurídica.
TRECHOS DO No caso, consórcio composto pelas empresas que ocupam o
INFORMATIVO polo passivo da demanda interpôs apelação em conjunto com
estas. A Corte local não conheceu deste apelo manejado por
ilegitimidade processual e falta de personalidade jurídica,
deixando de condenar o consórcio ao pagamento de honorários
em favor da parte adversa.
Esta conclusão atinente à impossibilidade de fixação de verba
honorária deve ser mantida, ante a ausência de personalidade
jurídica do consórcio, o qual, consiste, apenas na reunião de
esforços das empresas rés voltados à consecução dos objetivos
contratados entre as partes.
Inexistindo personalidade ao consórcio, sequer por ficção
jurídica, não há como condenar ente despersonificado ao
pagamento de quaisquer verbas.

REFERÊNCIA REsp 2.006.681-RJ, Rel. Ministro Marco Buzzi, Quarta Turma,


DO ACÓRDÃO por maioria, julgado em 7/2/2023.
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 761
DESTAQUE DO A sentença é o marco temporal para delimitação do regime
INFORMATIVO jurídico aplicável à fixação de honorários advocatícios, de
maneira que é indiferente a data do ajuizamento da ação e a
data do julgamento dos recursos eventualmente interpostos.
TRECHOS DO A Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça, no julgamento
INFORMATIVO dos Recursos Especiais n. 1.850.512/SP, 1.877.883/SP,

128
1.906.623/SP e 1.906.618/SP (Tema 1.076), firmou
entendimento, sob o rito dos recursos repetitivos, no sentido de
que o juízo de equidade na fixação dos honorários advocatícios
(art. 85, § 8º, do CPC/2015) incide apenas quando o valor da
causa for muito baixo, ou quando o proveito econômico
experimentado for irrisório ou inestimável.
Todavia, não se deve descurar do fato de que essa regra da
atual legislação processual civil é aplicável somente aos casos
em que a sentença tenha sido proferida já em sua vigência.
Registre-se que, nos termos da jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça, a sentença é o marco temporal para
delimitação do regime jurídico aplicável à fixação de honorários
advocatícios, de maneira que é indiferente a data do
ajuizamento da ação e a data do julgamento dos recursos
eventualmente interpostos, pois a lei aplicável para a fixação da
verba honorária é aquela vigente na data da sentença ou da
primeira decisão que a impõe.
(...)

REFERÊNCIA REsp 1.926.477-SP, Rel. Ministro Marco Aurélio Bellizze,


DO ACÓRDÃO Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 18/10/2022, DJe
27/10/2022.
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 761
DESTAQUE DO Em procedimento de jurisdição voluntária, quando a parte ré
INFORMATIVO concorda com o pedido formulado na inicial, mas formula pedido
autônomo: (I) se o Juiz não admitir o pedido autônomo como
reconvenção e julgar apenas a pretensão autoral, não serão
devidos honorários de sucumbência; (II) se o Juiz admitir o

129
pedido autônomo como reconvenção e julgar ambas as
pretensões, serão devidos honorários de sucumbência apenas
na reconvenção e desde que configurado litígio quanto à
pretensão reconvencional.
TRECHOS DO Inicialmente, anota-se que "esta Corte possui entendimento no
INFORMATIVO sentido de que, em procedimento de jurisdição voluntária, pode
surgir litígio, mudando-se, neste caso, a aplicação de princípios,
que passam a ser os mesmos da jurisdição contenciosa" (REsp
1.453.193/DF, Terceira Turma, DJe 22/8/2017).
Nessa linha de raciocínio, "a jurisprudência desta Corte está
assentada no sentido de que mesmo em procedimentos de
jurisdição voluntária a existência de litigiosidade excepciona a
regra de não cabimento de condenação em honorários
advocatícios" (REsp 1.924.580/RJ, Terceira Turma, DJe
25/6/2021).
Ocorre que não é qualquer atitude da parte no processo que
caracteriza litigiosidade, sendo necessário, para tanto, haver
inequívoca resistência à pretensão deduzida na inicial.
Por exemplo, esta Terceira Turma já decidiu que "a mera
alegação de ilegitimidade de parte citada como confrontante
não torna litigiosa a demanda, não lhe cabendo, portanto,
honorários sucumbenciais" (REsp 1.524.634/RS, Terceira
Turma, DJe 3/11/2015).
Na hipótese em exame, em ação de alienação de coisa comum,
a parte ré, em resposta à petição inicial, manifestou
concordância com a pretensão autoral, mas formulou pedido
autônomo ao Juízo, consistente em determinar a parte autora a
prestar contas da administração dos referidos imóveis.
Nesse contexto, para a hipótese em que há concordância com
a pretensão autoral, mas a parte ré formula pedido autônomo
nos autos, é preciso diferenciar as consequências em relação
aos honorários em dois possíveis desdobramentos: I) quando o
Juiz conhece do pedido autônomo como reconvenção e, ao

130
final, profere sentença julgando tanto o pedido formulado na
inicial, quanto a pretensão reconvencional; e II) quando o Juiz
não admite o pedido autônomo formulado pela parte ré e julga
apenas a pretensão autoral.
Em ambas as hipóteses não haverá condenação de honorários
na ação principal, porque não houve resistência à pretensão
autoral.
Isso porque, se o pedido é autônomo, ele não caracteriza
resistência à pretensão autoral, justamente por ser pretensão
distinta que não influencia no julgamento dos pedidos
formulados pelo autor. Assim, não forma litígio na ação principal
e, por conseguinte, não enseja a condenação de pagar
honorários sucumbenciais.
Ou seja, o que importa para haver condenação de honorários
de sucumbência na ação principal é tão somente a existência
de resistência à pretensão deduzida na inicial. O pedido
autônomo, no máximo, pode ser conhecido como reconvenção,
hipótese em que poderá haver fixação de honorários de
sucumbência, mas em razão da pretensão reconvencional, de
forma independente.
Não por outro motivo, "os honorários na reconvenção são
independentes daqueles fixados na ação principal,
independentes, inclusive, do resultado e da sucumbência desta"
(AgInt no AREsp 1.109.022/SP, Quarta Turma, DJe 2/5/2019; e
AgInt no AREsp 2.010.556/SP, Terceira Turma, DJe 11/5/2022).
Quanto ao cabimento de reconvenção em procedimento de
jurisdição voluntária, esta Terceira Turma, em hipótese de ação
de autorização judicial para alienação de imóvel, já decidiu que,
havendo "a transmutação do procedimento especial de
jurisdição voluntária em verdadeiro processo de jurisdição
contenciosa, [...] a ele devem ser aplicados os seus princípios,
admitindo-se a reconvenção" (REsp 1.453.193/DF, Terceira
Turma, DJe 22/8/2017).

131
Com efeito, havendo a propositura de reconvenção, se houver
resistência à pretensão reconvencional, mediante resposta pela
parte contrária, o julgamento dessa pretensão resultará em
sucumbência de uma das partes e a consequente condenação
do vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor.
Em síntese, em procedimento de jurisdição voluntária, quando
a parte ré concorda com o pedido formulado na inicial, mas
formula pedido autônomo: I) se o Juiz não admitir o pedido
autônomo como reconvenção e julgar apenas a pretensão
autoral, não serão devidos honorários de sucumbência; II) por
outro lado, se o Juiz admitir o pedido autônomo como
reconvenção e julgar ambas as pretensões, serão devidos
honorários de sucumbência apenas na reconvenção e desde
que configurado litígio quanto à pretensão reconvencional.

REFERÊNCIA REsp 2.028.685-SP, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira


DO ACÓRDÃO Turma, por unanimidade, julgado em 22/11/2022, DJe
24/11/2022.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 760
DESTAQUE DO Em se tratando de exceção de pré-executividade acolhida para
INFORMATIVO excluir sócio do polo passivo de execução fiscal, o proveito
econômico corresponde ao valor da dívida executada, devendo
ser esta a base de cálculo dos honorários advocatícios de
sucumbência com aplicação do art. § 3º do art. 85 do CPC/2015.
TRECHOS DO O Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do Tema 1.076,
INFORMATIVO a depender da presença da Fazenda Pública, reservou a
utilização do art. 85, § 8º, do CPC/2015, fixação por equidade,
para quando, havendo ou não condenação: (a) o proveito

132
econômico obtido pelo vencedor for inestimável ou irrisório; ou
(b) o valor da causa for muito baixo.
Também foi estabelecida uma sequência objetiva na fixação da
verba, devendo a fixação ser calculada subsequentemente
sobre o valor (a) da condenação; ou (b) do proveito econômico
obtido; ou (c) do valor atualizado da causa.
Em se tratando de exceção de pré-executividade acolhida para
excluir do polo passivo a parte recorrente, o proveito econômico
corresponde ao valor da dívida executada, tendo em vista o
potencial danoso que o feito executivo possuiria na vida
patrimonial do executado caso a demanda judicial prosseguisse
regularmente, devendo ser esta a base de cálculo dos
honorários advocatícios de sucumbência.
Observe-se que, a despeito da relação jurídica de
responsabilidade de caráter solidário previsto no art. 124 do
CTN, que obriga cada um dos devedores a se comprometer
pelo total da dívida, tal relação não afasta o direito de regresso
daquele que pagou em relação aos demais.
Assim, na hipótese de recebimento de honorários, o proveito
econômico é o valor da dívida dividido pelo número de
executados, devendo incidir os percentuais das gradações do §
3º do art. 85 do CPC/2015.

REFERÊNCIA AREsp 2.231.216-SP, Rel. Ministro Francisco Falcão, Segunda


DO ACÓRDÃO Turma, por unanimidade, julgado em 06/12/2022, DJe
9/12/2022.
CONEXÕES E 1. Atenção para a divisão do valor da dívida pela quantidade de
COMENTÁRIOS executados, mesmo em caso de dívida solidária, circunstância
não mencionada no destaque do Informativo, mas presente nas
informações do inteiro teor, transcritas acima.

133
TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 760
DESTAQUE DO O arbitramento de honorários advocatícios em caso de exclusão
INFORMATIVO de litisconsorte, ainda no início do trâmite processual, sem
qualquer oposição do autor, deve observar a regra do art. 338,
parágrafo único, do CPC/2015.
TRECHOS DO Cinge-se a discussão à fixação dos honorários advocatícios em
INFORMATIVO caso de julgamento parcial do mérito, excluindo-se da lide
litisconsorte considerada parte ilegítima na relação processual.
A regra do § 2º do art. 85 do CPC/2015 determina que os
honorários advocatícios sejam fixados entre o mínimo de dez e
o máximo de vinte por cento sobre o valor da condenação, do
proveito econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo,
sobre o valor atualizado da causa.
Já a disposição do § 8º do referido dispositivo legal prescreve
que, nas causas em que for inestimável ou irrisório o proveito
econômico ou, ainda, quando o valor da causa for muito baixo,
o juiz fixará o valor dos honorários por apreciação equitativa,
observando o disposto nos incisos do § 2º.
Efetivamente, a Segunda Seção deste Tribunal Superior, no
julgamento do REsp 1.746.072/PR, decidiu que os honorários
advocatícios de sucumbência devem ser fixados, via de regra,
sobre o valor do proveito econômico obtido ou, não sendo
possível quantificar o proveito econômico do vencedor da
demanda, sobre o valor atualizado da causa.
Excepcionalmente, poderão ser fixados por apreciação
equitativa, havendo ou não condenação, nas causas em que for
inestimável ou irrisório o proveito econômico, ou em que o valor
da causa for muito baixo.
Entretanto, no caso, trata-se de fixação de honorários
advocatícios em caso de exclusão de litisconsorte, ainda no
início do trâmite processual, sem oposição alguma da autora.

134
Sobreleva o recente julgado desta Terceira Turma concluir que
o juiz, ao reconhecer a ilegitimidade ad causam de um dos
litisconsortes passivos e excluí-lo da lide, não está obrigado a
fixar, em seu benefício, honorários advocatícios sucumbenciais
mínimos de 10% sobre o valor da causa.
Afastada a impossibilidade de fixação dos honorários
advocatícios abaixo do mínimo legal previsto na regra geral do
art. 85, § 2º, do CPC, a verba deve ser majorada, em razão da
possibilidade de distinção, com fundamento no art. 338 do
CPC/2015.

REFERÊNCIA REsp 1.935.852-GO, Rel. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino,


DO ACÓRDÃO Terceira Turma, por maioria, julgado em 4/10/2022, DJe
10/11/2022.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 759
DESTAQUE DO O termo inicial do prazo de prescrição da pretensão ao
INFORMATIVO recebimento de honorários advocatícios contratados sob a
condição de êxito da demanda judicial, no caso em que o
mandato foi revogado por ato unilateral do mandante antes do
término do litígio, é a data do êxito da demanda, e não a da
revogação do mandato.
TRECHOS DO A jurisprudência do STJ se firmou no sentido de ser cabível o
INFORMATIVO arbitramento judicial da verba honorária proporcional ao
trabalho exercido pelo advogado na hipótese de rescisão
antecipada unilateral do contrato de prestação de serviços
advocatícios por iniciativa do mandante (cliente), ainda que haja
previsão de remuneração exclusiva por honorários
sucumbenciais.

135
Referido entendimento se baseia na premissa de que o
rompimento unilateral da avença por iniciativa do mandante,
antes da conclusão da demanda, inviabiliza o recebimento dos
honorários sucumbenciais previstos como remuneração dos
serviços prestados, resultando em enriquecimento sem causa
do mandatário, caso não ocorra o arbitramento judicial.
Ocorre que, nos contratos de prestação de serviços
advocatícios com cláusula de remuneração ad exitum, a vitória
processual constitui condição suspensiva, cujo implemento é
obrigatório para que o advogado faça jus à devida
remuneração, ressalvadas as hipóteses expressamente
convencionadas. Isto é, a menos que haja previsão expressa
em contrário, a revogação do mandato do patrono originário
antes do julgamento definitivo da causa não confere direito
imediato de arbitramento de verba honorária proporcional ao
trabalho realizado, que somente é adquirido com a ocorrência
do sucesso na demanda.
Por essa razão, "O termo inicial do prazo de prescrição da
pretensão ao recebimento de honorários advocatícios
contratados sob a condição de êxito da demanda judicial, no
caso em que o mandato foi revogado por ato unilateral do
mandante antes do término do litígio judicial, à luz do princípio
da actio nata, é a data do êxito da demanda, e não a da
revogação do mandato" (AgInt no AREsp 1.106.058/RS, Rel.
Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, Terceira Turma, julgado em
14/10/2019, DJe de 16/10/2019).

REFERÊNCIA REsp 1.777.499-RS, Rel. Ministro Raul Araújo, Quarta Turma,


DO ACÓRDÃO por unanimidade, julgado em 22/11/2022.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

136
TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 756
DESTAQUE DO Os honorários advocatícios de sucumbência na primeira fase da
INFORMATIVO ação de exigir contas devem ser arbitrados por apreciação
equitativa, conforme disposto no § 8º do art. 85 do CPC/2015.
TRECHOS DO No âmbito da Segunda Seção, é uníssono o entendimento de
INFORMATIVO que, "com a procedência do pedido do autor (condenação à
prestação das contas exigidas), o réu fica vencido na primeira
fase da ação de exigir contas, devendo arcar com os honorários
advocatícios como consequência do princípio da sucumbência".
A divergência acerca do critério a ser empregado decorre do
fato de que, enquanto a Quarta Turma afirma que a parte
vencedora na primeira fase da ação de exigir contas obtém
proveito econômico estimável, a justificar o arbitramento dos
honorários com base no valor atualizado da causa, a Terceira
Turma afirma que o proveito econômico, nessa hipótese, se
mostra inestimável, a autorizar a fixação dos honorários por
equidade.
Por sua vez, a Corte Especial, no julgamento do REsp
1.850.512/SP (julgado em 16/3/2022, DJe de 31/5/2022), pelo
rito dos repetitivos, registrou que "quando o § 8º o do artigo 85
menciona proveito econômico 'inestimável', claramente se
refere àquelas causas em que não é possível atribuir um valor
patrimonial à lide (como pode ocorrer nas demandas ambientais
ou nas ações de família, por exemplo)". Não se deve confundir
'valor inestimável' com 'valor elevado'".
Na primeira fase da ação de exigir contas, reconhece-se a
obrigação de o réu prestá-las. Não se vislumbra a existência de
"elementos materiais ou de ordem econômica, pelos quais se
possa compor um valor monetário" que corresponda a um
proveito econômico obtido pelo autor. Noutras palavras, não é
possível atribuir, nesta fase, um valor patrimonial à pretensão

137
pura e simples de exigir as contas do réu, dissociada da análise
de adequação dos respectivos valores.
Só se haverá de falar em proveito econômico depois de iniciada
a segunda fase da ação de exigir contas, momento em que,
efetivamente, exsurgirá o benefício patrimonial em favor de uma
das partes, que será a medida de seu preço ou de seu custo,
como afirmado na doutrina.
Seguindo essa linha, a Primeira Seção entende que "nos casos
em que o acolhimento da pretensão não tenha correlação com
o valor da causa ou não permita estimar eventual proveito
econômico, os honorários de sucumbência devem ser
arbitrados por apreciação equitativa, com observância dos
critérios do § 2º do art. 85 do CPC/2015, conforme disposto no
§ 8º desse mesmo dispositivo".
Assim, a Terceira Turma tem decidido que, considerando a
extensão do provimento judicial na primeira fase da prestação
de contas, em que não há condenação, inexistindo, inclusive,
qualquer correspondência com o valor da causa, o proveito
econômico mostra-se de todo inestimável, a atrair a incidência
do § 8º do art. 85 do CPC/2015.

REFERÊNCIA
DO ACÓRDÃO REsp 1.874.920-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma,
por unanimidade, julgado em 04/10/2022, DJe 06/10/2022.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 756
DESTAQUE DO Aplicam-se as regras previstas no Código de Processo Civil de
INFORMATIVO 1973 para o arbitramento de honorários advocatícios quando a
sentença tenha sido proferida na vigência deste diploma, ainda

138
que este título judicial venha a ser reformado, com a inversão
da sucumbência, na vigência do Código de Processo Civil de
2015.
TRECHOS DO Consoante entendimento pacificado do STJ, a regra processual
INFORMATIVO aplicável, no que tange à condenação em honorários
advocatícios sucumbenciais, é aquela vigente na data da
prolatação da sentença.
Na hipótese, verifica-se haver sido a sentença proferida na
vigência do CPC/1973 e, portanto, os honorários advocatícios,
decorrentes da inversão dos ônus sucumbenciais, devem ser
fixados de acordo com o art. 20 daquele diploma, e não com o
art. 85 do CPC/2015.
Na vigência do CPC/1973, esta Corte firmou o entendimento de
que nas causas em que não houver condenação, os honorários
advocatícios devem ser fixados de forma equitativa, não
estando o julgador adstrito aos limites percentuais
estabelecidos no § 3º do art 20 do CPC/1973.
No caso, ao julgar parcialmente procedente a demanda, o
Juízo a quo determinou, em razão da sucumbência recíproca,
que cada parte arcasse com as custas processuais e honorários
advocatícios sucumbenciais. Por sua vez, o provimento do
recurso especial resultou na total improcedência dos pedidos
formulados pelo autor, tornando necessário o
redimensionamento dos ônus da sucumbência.
Dessa forma, tendo o presente processo sido sentenciado na
vigência do CPC/1973, e afastada a condenação quando do
provimento do recurso especial, a fixação dos honorários de
sucumbência não está adstrita aos limites percentuais de 10%
(dez por cento) e 20% (vinte por cento) do valor da causa,
devendo ser fixado segundo o critério de equidade.

REFERÊNCIA Processo sob segredo de justiça, Rel. Min. Raul Araújo, Quarta
DO ACÓRDÃO Turma, por unanimidade, julgado em 08/11/2022.

139
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 721
DESTAQUE DO A substituição, na fase de cumprimento de sentença, do
INFORMATIVO parâmetro da base de cálculo dos honorários advocatícios - de
valor da condenação para proveito econômico - ofende a coisa
julgada.

TRECHOS DO A doutrina majoritária reconhece que existe uma ordem de


INFORMATIVO preferência desses critérios na fixação dos honorários
advocatícios, de modo que, havendo condenação, devem os
percentuais de 10 a 20% incidir sobre esse montante. Apenas
na hipótese de não haver condenação, é que se cogita do
proveito econômico e, por último, não sendo possível mensurar
o proveito econômico, passa-se a considerar o valor atualizado
da causa como base de cálculo dos honorários.
Logo, a determinação contida no acórdão rescindendo de que
o cálculo da verba honorária abrangesse, além do valor da
condenação (correspondente à repetição do indébito), outra
parcela, de conteúdo declaratório (consistente no
reconhecimento de quitação de dívida), além de ofender o
comando expresso do § 3º do artigo 20 do CPC/1973, viola,
ainda, a coisa julgada formada com o trânsito em julgado da
referida sentença exequenda.
A jurisprudência desta Corte encontra-se consolidada no
sentido de que os critérios, os percentuais e a base de cálculo
da verba honorária são insuscetíveis de modificação na
execução ou na fase de cumprimento da sentença, sob pena de
indevida ofensa à coisa julgada.

140
Assim, fixados os honorários, no processo de conhecimento,
em percentual sobre determinada base de cálculo, não pode o
juízo, na fase de execução, a pretexto de corrigir erro material
ou eventual injustiça, modificar ou ampliar essa base de cálculo,
sob pena de ofensa à coisa julgada.

REFERÊNCIA AR 5.869-MS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Segunda


DO ACÓRDÃO Seção, por maioria, julgado em 30/11/2021.

CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 717
DESTAQUE Os honorários advocatícios devem ser fixados com base em
DO equidade fora das hipóteses do art. 85, § 2º, do CPC/2015.
INFORMATIVO
TRECHOS DO A Lei da Ação Popular, em seu art. 12, estabelece que "a
INFORMATIVO sentença incluirá sempre, na condenação dos réus, o
pagamento, ao autor, das custas e demais despesas, judiciais
e extrajudiciais, diretamente relacionadas com a ação e
comprovadas, bem como o dos honorários de advogado". Com
isso, a referida lei não explicita a forma de fixação da verba
honorária, motivo pela qual aplica-se subsidiariamente o
regramento da legislação processual civil (art. 22 da Lei n.
4.717/1965).
De início, cumpre ressaltar que "o marco temporal para a
aplicação das normas do CPC/2015 a respeito da fixação e
distribuição dos ônus sucumbenciais é a data da prolação da
sentença" (EDcl na MC 17.411/DF, Rel. Ministro Benedito

141
Gonçalves, Corte Especial, Julgado em 20/11/2017, DJe
27/11/2017).
(...)
No julgamento do Recurso Especial nº 1.746.072/PR, a
Segunda Seção desta Corte Superior assentou que a nova
codificação processual civil reduziu a subjetividade do julgador
no tocante à fixação da verba honorária e, em consequência,
estabeleceu a ordem de preferência da base de cálculo a ser
observada pelo magistrado, ficando o critério de equidade de
aplicabilidade excepcional e subsidiária (Rel. Ministra Nancy
Andrighi, Rel. p/ Acórdão Ministro Raul Araújo, Segunda Seção,
julgado em 13/2/2019, DJe 29/3/2019).
(...)
Quanto à possibilidade de incidência dos honorários sobre o
valor atribuído à causa na ação popular, nos termos dos arts.
258 e 259 do CPC/1973 - vigentes à época da propositura da
ação -, o valor da causa deve corresponder, em princípio, ao
conteúdo econômico a ser obtido na demanda. Entretanto, na
impossibilidade de mensuração da expressão econômica do
litígio, admite-se que seja fixado por estimativa, sujeito a
posterior adequação ao valor apurado na sentença (REsp
1.220.272/RJ, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma,
julgado em 14/12/2010, DJe 07/02/2011).
No caso de ações coletivas, o tema se mostra ainda mais
sensível, porquanto não raras vezes o proveito econômico da
demanda não está vinculado a benefícios patrimoniais diretos
ou imediatos, mas, sim, aos danos suportados de forma
individual por determinado conjunto de pessoas (direitos
individuais homogêneos) ou por titulares indeterminados ou
indetermináveis (direitos difusos).
Nesse contexto, cumpre ressaltar que a fixação muito elevada
do valor inicial da causa, destoante da verdadeira expressão
econômica da ação coletiva, implica em vultosa quantia a ser

142
arbitrada a título de honorários advocatícios, caso os pedidos
sejam julgados procedentes e o réu tenha que arcar com o ônus
da sucumbência.
Assim, em razão de todas as especificidades, no caso concreto,
não há falar em aplicação do § 2º do art. 85 do CPC/2015,
motivo pelo qual o julgador deve atribuir o valor dos honorários
com base em equidade.

REFERÊNCIA REsp 1.885.691-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,


DO ACÓRDÃO Terceira Turma, por unanimidade, jugado em 26/10/2021.

CONEXÕES E
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 714
DESTAQUE DO Na cumulação simples subjetiva de pedidos, o provimento do
INFORMATIVO recurso que apenas atinge o pedido de um dos litisconsortes
facultativos não impede a fixação de honorários recursais em
relação aos pedidos autônomos do demais litisconsortes, que
se mantiveram intactos após o julgamento.

TRECHOS DO Em suma, é correto dizer que as ações cumulativamente


INFORMATIVO ajuizadas pelos autores em litisconsórcio ativo facultativo
simples poderiam ser objeto de três ações distintas, mas o
foram em uma única ação porque a legislação assim autoriza,
em observância aos princípios da economia processual, da
celeridade e da razoável duração do processo.
Disso decorre o fato de que a autonomia e a independência dos
pedidos cumulativamente formulados também possui reflexos
na fase recursal, pois, ainda que o recorrido tenha apresentado,
do ponto de vista formal, uma única apelação em face da

143
sentença que julgou procedentes os pedidos em favor de todos
os autores, fato é que o resultado do julgamento daquele
recurso deve ser individualizado.
Por ocasião do julgamento, a apelação interposta pela recorrida
foi parcialmente provida, somente para reduzir o valor do dano
moral devido ao autor/pai. De outro lado, pode-se concluir que
o referido recurso de apelação foi, na realidade, integralmente
desprovido em relação à autora/mãe e integralmente
desprovido em relação ao autor/filho.
Diante desse cenário, a melhor interpretação da regra do art.
85, §11, do CPC/2015, bem como dos precedentes desta Corte,
é de que deve ser excepcionado desse entendimento a hipótese
em que, havendo cumulação simples e subjetiva de pedidos, o
provimento do recurso apenas atinja o pedido formulado por um
dos litisconsortes facultativos simples, caso em que deverá
existir a fixação de honorários recursais em relação aos pedidos
autônomos formulados pelos demais litisconsortes e que se
mantiveram absolutamente intactos após o julgamento.
Quanto ao ponto, anote-se que, por ocasião do julgamento dos
EDcl no AgInt no REsp 1.573.573/RJ, cujo acórdão foi publicado
no DJe de 08/05/2017, a Terceira Turma, após examinar o
histórico do projeto de lei que deu origem ao art. 85, §11, do
CPC/2015, consignou que "além da intenção de remunerar o
trabalho adicional realizado pelo advogado do vencedor, foi
restabelecido o propósito de desencorajar a interposição de
recurso pela parte vencida e de estimular a manutenção das
decisões judiciais", razão pela qual "há o propósito ínsito na
norma de inibir a interposição de recurso pelo vencido, ao criar
mais esse ônus financeiro à sua recalcitrância em aceitar a
prestação jurisdicional".
Aplicando-se essa premissa à hipótese, verifica-se que a parte,
diante da sentença de procedência de todos os pedidos
formulados pelos autores, poderia, a seu livre arbítrio, impugnar

144
toda a condenação que lhe fora imposta ou apenas parte dela,
inclusive apenas em relação a somente a algum ou alguns dos
autores.
Como optou por impugnar integralmente a sentença, a
recorrida, evidentemente, assumiu o risco de que o seu recurso
viesse a ser integralmente desprovido em relação a algum ou
alguns dos litisconsortes facultativos simples, o que confirma a
incidência, nessa hipótese, dos honorários advocatícios
recursais.

REFERÊNCIA REsp 1.954.472-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma,


DO ACÓRDÃO por unanimidade, julgado em 05/10/2021, DJe 08/10/2021.

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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 700
DESTAQUE DO A parte e o advogado possuem legitimidade recursal
INFORMATIVO concorrente quanto à fixação dos honorários advocatícios.
TRECHOS DO A questão cinge-se a discutir a legitimidade da parte, em nome
INFORMATIVO próprio, recorrer de decisão postulando a fixação de honorários
de advogado.
A jurisprudência desta Corte, contemporânea ao CPC de 1973,
reconhecia às partes e aos advogados legitimidade concorrente
para vindicar, em nome próprio, a fixação ou majoração dos
honorários advocatícios estipulados pelo órgão julgador, a
despeito de tal verba constituir direito autônomo do advogado.
O CPC/2015, no entanto, não alterou a legitimidade recursal em
matéria de honorários sucumbenciais. Com efeito, o seu artigo
99, especialmente o §5º, não versa acerca de legitimidade
recursal, mas do requisito do preparo, podendo-se dele extrair

145
que, mesmo interposto recurso pela parte que seja beneficiária
de gratuidade judiciária e que se limite a discutir os honorários
de advogado, o preparo deverá ser realizado acaso o advogado
também não seja beneficiário da gratuidade.
Ademais, reconheceu-se no art. 23 do Estatuto da Advocacia e
se reforçou no CPC de 2015 a titularidade dos honorários e a
possibilidade de o advogado, pois titular da verba a que o
vencido foi condenado a pagar na ação ajuizada pelo seu
representado, executá-la em nome próprio, mesmo não sendo
parte formal no processo em que ela foi originada e, assim, não
constando do título executivo base para o cumprimento de
sentença. Dessa forma, mesmo sendo titular da verba, ostenta
a qualidade de terceiro prejudicado.
Não é razoável, pois, reconhecer-se que o direito aos
honorários advocatícios sucumbenciais, que naturalmente se
origina de ação ajuizada por parte que, no mais das vezes, não
será a sua titular (à exceção de quando é ajuizada em causa
própria), não possa ser em seu nome discutido.

REFERÊNCIA REsp 1.776.425-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino,


DO ACÓRDÃO Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 08/06/2021.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 693
DESTAQUE DO Em sede de homologação de decisão estrangeira, aplica-se a
INFORMATIVO norma do § 8º do art. 85 do CPC, fixando-se os honorários
advocatícios por equidade.

146
TRECHOS DO Na vigência do Código de Processo Civil de 1973, a Corte
INFORMATIVO Especial entendia, ao menos na maioria dos casos encontrados
na base de dados da jurisprudência do STJ, que a aplicação da
norma do § 4º do art. 20 é que deveria nortear o julgador na
fixação, por equidade, de honorários do advogado em decisão
prolatada em homologação de sentença estrangeira, e não a
regra do § 3º do mesmo dispositivo legal.
De forma geral, a Corte Especial se inclinava no sentido de
entender que o arbitramento dos honorários advocatícios de
sucumbência nas decisões homologatórias de sentença
estrangeira, seja para deferir o pedido ou para indeferi-lo,
deveria ser feito com base na equidade, à luz do art. 20, § 4º,
do revogado CPC de 1973, norma correspondente à do § 8º do
art. 85 do atual Código de Processo Civil.
Após o advento do novo Código, a análise da base de dados da
jurisprudência do STJ revela que, para fins de fixação de
honorários advocatícios sucumbenciais na homologação de
decisão estrangeira (HDE), há acórdãos da colenda Corte
Especial que ora aplicam o § 2º do art. 85 do CPC de 2015, que
se refere às hipóteses de arbitramento no montante de 10% a
20% sobre o valor da condenação ou do proveito econômico ou
do valor atualizado da causa, ora assentam o § 8º do mesmo
artigo, o qual trata a respeito das hipóteses de arbitramento de
tal verba por equidade.
A segunda orientação alicerça-se, preponderantemente, no
fundamento de que o procedimento de homologação de
sentença estrangeira não tem natureza condenatória ou
proveito econômico imediato e, por essa razão, descabe
considerar os parâmetros de condenação, de proveito
econômico ou mesmo do valor da causa como bases de cálculo
dos honorários advocatícios, pois, afinal, o mérito da decisão
homologada não é objeto de deliberação nesta Corte. Assim, a

147
decisão a ser homologada é, em si, fator exógeno à decisão
homologatória a ser proferida.
Essa é a orientação que mais se coaduna com o instituto da
decisão de natureza predominantemente homologatória.
Assim, não se tem condenação, nem proveito econômico
imediato ou valor da causa aptos a dar legítimo respaldo à
aplicação das bases de cálculo previstas, respectivamente, no
citado § 2º do art. 85 do CPC de 2015, ou seja: 1º) o "valor da
condenação"; 2º) o valor "do proveito econômico obtido"; e 3º)
"valor atualizado da causa".
Contudo, não se pode olvidar que o valor da causa pode ser um
dos critérios norteadores do julgador no arbitramento, por
equidade, da quantia a ser paga a título de honorários
advocatícios sucumbenciais, quando a causa originária, tratar
de relações patrimoniais.
É o que expressamente dispõe o próprio § 8º do art. 85, que
manda o julgador atentar para que, no "valor dos honorários por
apreciação equitativa", seja observado "o disposto nos incisos
do § 2º", isto é: o grau de zelo do profissional; o lugar de
prestação do serviço; a natureza e a importância da causa; o
trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu
serviço.
Assim, quando a causa na qual proferida a decisão a ser
homologada envolve relações patrimoniais, o valor atribuído à
causa é indicativo do relevo, da importância que tem a causa
para as partes litigantes. Então, nessa hipótese, de ação
versando sobre relações patrimoniais, o valor da causa será
observado como um dos critérios norteadores do julgador no
arbitramento de honorários sucumbenciais por equidade,
conforme expressamente dispõe o próprio § 8º do multicitado
art. 85.

148
REFERÊNCIA HDE 1.809/EX, Rel. min. Raul Araújo, Corte Especial, por
DO ACÓRDÃO maioria, julgado em 22/04/2021.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 724
DESTAQUE DO É cabível condenação em honorários advocatícios no
INFORMATIVO julgamento de reclamação indeferida liminarmente na qual a
parte comparece espontaneamente para apresentar defesa.
TRECHOS DO Com a vigência do Código de Processo Civil de 2015, a
INFORMATIVO jurisprudência se firmou no sentido de que a reclamação possui
natureza de ação, prevendo o artigo 989, III, do referido Código,
a angularização da relação processual, com a citação do
beneficiário, que passou a ter um tratamento semelhante ao da
parte, podendo promover a defesa de seus interesses, com a
consequente condenação ao pagamento de honorários de
acordo com a sucumbência.
Assim, na hipótese de indeferimento inicial da reclamação, é
firme a jurisprudência do STJ no sentido de que a relação
processual não se aperfeiçoou, não sendo cabível a
condenação em honorários.
É preciso diferenciar, porém, o simples indeferimento da inicial
daquelas situações em que o reclamante ingressa com recurso
contra a decisão que indefere a petição inicial ou contra a que
julga o pedido improcedente liminarmente.
Com efeito, de acordo com o artigo 331 do CPC/2015, nas
hipóteses em que a petição inicial é indeferida e contra essa
decisão é interposta apelação, não havendo reconsideração, o
réu é citado ou, se já tiver comparecido aos autos, é intimado
para apresentar defesa e, sendo mantida a decisão, é cabível a
condenação em honorários.

149
Assim, trazendo a situação para a reclamação, uma vez
interposto recurso contra decisão que liminarmente indeferiu a
petição inicial, não sendo o caso de reconsideração, o
beneficiário que comparecer aos autos, apresentando
contrarrazões, faz jus ao recebimento de honorários
advocatícios.

REFERÊNCIA Rcl 41.569-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Segunda
DO ACÓRDÃO Seção, por unanimidade, julgado em 09/02/2022.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

4. DESPESAS PROCESSUAIS

4.1 PRECEDENTES QUALIFICADOS

TRIBUNAL STJ
TEMA Repetitivo 1044
QUESTÃO Responsabilidade pelo custeio de honorários periciais, em
ações acidentárias, de competência da Justiça Estadual,
adiantados pelo INSS, nos casos em que a parte autora,
beneficiária da gratuidade da justiça, é sucumbente.
TESE Nas ações de acidente do trabalho, os honorários periciais,
adiantados pelo INSS, constituirão despesa a cargo do Estado,
nos casos em que sucumbente a parte autora, beneficiária da
isenção de ônus sucumbenciais, prevista no parágrafo único do
art. 129 da Lei 8.213/91.
EMENTA (...) I. Recurso Especial interposto contra acórdão publicado na
RESUMIDA vigência do CPC/2015, aplicando-se, no caso, o Enunciado
Administrativo 3/2016, do STJ, aprovado na sessão plenária de
09/03/2016 ("Aos recursos interpostos com fundamento no
CPC/2015 (relativos a decisões publicadas a partir de 18 de

150
março de 2016) serão exigidos os requisitos de admissibilidade
recursal na forma do novo CPC").
II. Trata-se, na origem, de ação ajuizada por segurado contra o
Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, objetivando o
restabelecimento de auxílio-doença, decorrente de acidente de
trabalho, ou, alternativamente, a concessão de auxílio-acidente.
III. O Juízo de 1º Grau, após deferir o benefício da gratuidade
da justiça, sob a forma de isenção de ônus sucumbenciais,
prevista no art. 129, parágrafo único, da Lei 8.213/91, julgou
improcedente o pedido e dispensou a parte autora de tais ônus,
na forma do mencionado dispositivo legal. O INSS apelou e o
Tribunal de origem manteve a sentença, ao fundamento de que
a situação dos presentes autos é diversa daquela em que a
parte autora litiga sob o pálio da Lei 1.060/50, hipótese em que,
se vencida, caberá ao Estado o ressarcimento das despesas
relativas ao processo, incluindo os honorários periciais, pois tem
ele o dever constitucional de prestar assistência judiciária aos
hipossuficientes. Destacou que, no caso, trata-se de ação de
acidente do trabalho, julgada improcedente, incidindo, em favor
da parte autora, a isenção dos ônus sucumbenciais prevista no
art. 129, parágrafo único, da Lei.
8.213/91, pelo que será de responsabilidade exclusiva do INSS
o pagamento dos honorários periciais, independentemente de
sua sucumbência. Concluiu que o Estado não tem o dever de
ressarcir o INSS pelos honorários periciais que antecipou, por
ausência de previsão legal.
IV. No Recurso Especial sustenta o INSS violação aos arts. 8º,
§ 2º, da Lei 8.620/93, 1º da Lei 1.060/50, 15 e 16 da Lei
Complementar 101/2000, para concluir que, sendo sucumbente
o autor da ação acidentária, beneficiário da gratuidade de
justiça, sob a forma de isenção de ônus sucumbenciais de que
trata o art. 129, parágrafo único, da Lei 8.213/91, deve a
autarquia ser ressarcida, da despesa de honorários periciais

151
que antecipara, pelo Estado, que é responsável
constitucionalmente pela assistência jurídica aos necessitados.
V. A controvérsia ora em apreciação cinge-se em definir a quem
cabe a responsabilidade pelo custeio, em definitivo, de
honorários periciais antecipados pelo INSS, na forma do art. 8º,
§ 2º, da Lei 8.620/93, nas ações de acidente do trabalho em
curso na Justiça dos Estados e do Distrito Federal, nas quais a
parte autora, sucumbente, é beneficiária da gratuidade de
justiça, por força da isenção de custas e de verbas de
sucumbência, prevista no art. 129, parágrafo único, da Lei
8.213/91.
VI. Nas causas acidentárias, de competência da Justiça dos
Estados e do Distrito Federal, o procedimento judicial, para o
autor da ação, é isento do pagamento de quaisquer custas e de
verbas relativas à sucumbência, conforme a regra do art. 129,
parágrafo único, da Lei 8.213/91. Em tais demandas o art. 8º, §
2º, da Lei 8.620/93 estabeleceu norma especial, em relação ao
CPC/2015, determinando, ao INSS, a antecipação dos
honorários periciais.
VII. A exegese do art. 129, parágrafo único, da Lei 8.213/91 -
que presumiu a hipossuficiência do autor da ação acidentária -
não pode conduzir à conclusão de que o INSS, que, por força
do art. 8º, § 2º, da Lei 8.620/93, antecipara os honorários
periciais, seja responsável, em definitivo, pelo seu custeio,
ainda que vencedor na demanda, em face do disposto no art.
82, § 2º, do CPC/2015, que, tal qual o art. 20, caput, do CPC/73,
impõe, ao vencido, a obrigação de pagar, ao vencedor, as
despesas que antecipou.
VIII. Entretanto, como, no caso, o autor da ação acidentária,
sucumbente, é beneficiário de gratuidade de justiça, sob a
forma de isenção de ônus sucumbenciais de que trata o art. 129,
parágrafo único, da Lei 8.213/91 - que inclui o pagamento de
honorários periciais -, a jurisprudência do STJ orientou-se no

152
sentido de que, também nessa hipótese, tal ônus recai sobre o
Estado, ante a sua obrigação constitucional de garantir
assistência jurídica integral e gratuita aos hipossuficientes,
como determina o art. 5º, LXXIV, da CF/88.
IX. O acórdão recorrido sustenta a diferença entre a assistência
judiciária - prevista na Lei 1.060/50 e nos arts. 98 a 102 do
CPC/2015 - e a gratuidade de justiça, sob a forma de isenção
de ônus sucumbenciais, sobre a qual dispõe o art. 129,
parágrafo único, da Lei 8.213/91, concluindo que, na última
hipótese, o Estado não pode ser responsabilizado pelo custeio
definitivo dos honorários periciais, à míngua de previsão legal,
recaindo tal ônus sobre o INSS, ainda que vencedor na
demanda.
X. Contudo, interpretando o referido art. 129, parágrafo único,
da Lei 8.213/91, quando sucumbente o autor da ação
acidentária, firmou-se "a jurisprudência do STJ (...) no sentido
de que o ônus de arcar com honorários periciais, na hipótese
em que a sucumbência recai sobre o beneficiário da assistência
judiciária gratuita ou de isenção legal, como no caso dos autos,
deve ser imputado ao Estado, que tem o dever constitucional de
prestar assistência judiciária aos hipossuficientes" (STJ, AgInt
no REsp 1.666.788/SC, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO,
SEGUNDA TURMA, DJe de 13/05/2019). No mesmo sentido:
STJ, AgInt no REsp 1.720.380/SC, Rel. Ministro GURGEL DE
FARIA, PRIMEIRA TURMA, DJe de 07/08/2018; REsp
1.790.045/PR, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA
TURMA, DJe de 08/08/2019; REsp 1.782.117/PR, Rel. Ministro
HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, DJe de 29/05/2019;
AgInt no REsp 1.678.991/SC, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA,
PRIMEIRA TURMA, DJe de 05/12/2017.
XI. Tese jurídica firmada: "Nas ações de acidente do trabalho,
os honorários periciais, adiantados pelo INSS, constituirão
despesa a cargo do Estado, nos casos em que sucumbente a

153
parte autora, beneficiária da isenção de ônus sucumbenciais,
prevista no parágrafo único do art. 129 da Lei 8.213/91." XII.
Recurso Especial conhecido e provido, para determinar que
cabe ao Estado do Paraná o pagamento, em definitivo, de
despesa de honorários periciais adiantados pelo INSS, em ação
de acidente do trabalho na qual o autor, sucumbente, é
beneficiário da gratuidade de justiça, sob a forma de isenção de
ônus sucumbenciais, prevista no art. 129, parágrafo único, da
Lei 8.213/91.
XIII. Recurso julgado sob a sistemática dos recursos especiais
representativos de controvérsia (art. 1.036 e seguintes do
CPC/2005 e art. 256-N e seguintes do RISTJ).
(REsp 1823402/PR, Rel. Ministra ASSUSETE MAGALHÃES,
PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 21/10/2021, DJe 25/10/2021)
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
TEMA Repetitivo 1001
QUESTÃO Exigibilidade, ou não, do prévio pagamento de porte de remessa
e de retorno pelo Instituto Nacional do Seguro Social - INSS,
frente ao disposto no art. 27 do revogado CPC/73 (art. 91 do
CPC/15), nos casos de recursos dirigidos aos Tribunais de
Justiça.
TESE A teor dos arts. 27 e 511, § 1º, do revogado CPC/73 (arts. 91 e
1.007, § 1º, do vigente CPC/15), o Instituto Nacional do Seguro
Social - INSS, nos recursos de competência dos Tribunais de
Justiça, está dispensado do prévio pagamento do porte de
remessa e de retorno, enquanto parcela integrante do preparo,
devendo recolher o respectivo valor somente ao final da
demanda, acaso vencido.

154
EMENTA (...) 1. Delimitação da controvérsia: Exigibilidade, ou não, do
RESUMIDA prévio recolhimento do porte de remessa e de retorno pelo
Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, frente ao disposto
no art. 27 do revogado CPC/73 (art. 91 do CPC/15), nos casos
de recursos dirigidos aos Tribunais estaduais de Justiça.
(...) 3. A Corte Especial do STJ, no julgamento do Tema 16,
vinculado ao Recurso Especial Repetitivo 1.101.727/PR, firmou
entendimento no sentido de que, apesar de a Autarquia
Previdenciária não ser isenta de preparo em ações promovidas
perante à Justiça Estadual, nos termos da Súmula 178/STJ, não
há exigência de prévio depósito para fins de interposição de
recurso, podendo ser postergado o seu recolhimento para o
final da demanda, caso a autarquia resulte vencida, a teor do
art. 27 do CPC. (REsp 1.101.727/PR, Rel. Ministro HAMILTON
CARVALHIDO, CORTE ESPECIAL, julgado em 02/08/2010,
DJe 23/08/2010).
4. Posteriormente, veio a lume a Súmula 483/STJ, in verbis: "O
INSS não está obrigado a efetuar depósito prévio do preparo
por gozar das prerrogativas e privilégios da Fazenda Pública"
(CORTE ESPECIAL, julgada em 28/06/2012, DJe 01/08/12).
5. Nada obstante, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo
vem compreendendo que a ausência do prévio recolhimento do
porte de remessa e de retorno pelo INSS implica deserção do
recurso, ao fundamento de que, em se tratando de despesa
processual de natureza diversa de taxa judiciária, não há falar
em dispensabilidade de seu prévio recolhimento.
6. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE
594.116/SP, Rel. Min. Edson Fachin, com repercussão geral,
julgado em 3/12/2015, DJe 5/4/2016, assentou que o art. 511
do Código de Processo Civil dispensa o recolhimento do porte
de remessa e de retorno por parte do INSS, "pois se trata de
norma válida editada pela União, a quem compete dispor sobre

155
as receitas públicas oriundas da prestação do serviço público
postal".
7. Frente ao Código Buzaid, a abalizada doutrina sempre
compreendeu que os valores concernentes ao porte de
remessa e de retorno compõem o conceito de preparo. Nesse
sentido, LUIZ GUILHERME MARINONI e SÉRGIO CRUZ
ARENHART explicavam que "a interposição de recurso exige
que o interessado deposite os valores necessários à sua
tramitação, aí incluída a importância destinada a promover a
remessa e o retorno do recurso (ou mesmo dos autos) ao
tribunal" (Manual do processo de conhecimento. 5. ed. São
Paulo: RT, p. 528). Do mesmo modo, NELSON NERY JUNIOR
e ROSA MARIA DE ANDRADE NERY ensinavam que o preparo
"É um dos requisitos extrínsecos de admissibilidade dos
recursos e consiste no pagamento prévio das custas relativas
ao processamento do recurso, incluídas as despesas de porte
com a remessa e o retorno dos autos" (Código de Processo Civil
comentado e legislação extravagante. 9. ed. São Paulo: RT,
nota 2 ao art. 511, p. 733).
8. Da mesma sorte, revela-se longeva a compreensão do STJ
na linha de que o porte de remessa e de retorno integra o
conceito de preparo. Nesse sentido: EREsp 202.682/RJ, Rel.
Ministro EDSON VIDIGAL, CORTE ESPECIAL, julgado em
02/10/2002, DJ 19/05/2003, p. 107.
9. Sendo, portanto, o porte de remessa e de retorno elemento
desenganadamente integrante do preparo, faz-se de rigor
aplicar o entendimento firmado no Recurso Especial Repetitivo
n.º 1.101.727/PR, segundo o qual o recolhimento dos valores a
esse título deverá ser implementado pelo INSS apenas ao final
da demanda, caso resulte nela vencido (REsp 1.101.727/PR,
Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO, CORTE ESPECIAL,
julgado em 02/08/2010, DJe 23/08/2010).

156
(...) 11. Acórdão submetido ao regime do art. 1.036 e seguintes
do CPC/2015 (art. 256-I do RISTJ), fixando-se a seguinte TESE:
"A teor dos arts. 27 e 511, § 1º, do revogado CPC/73 (arts. 91 e
1.007, § 1º, do vigente CPC/15), o Instituto Nacional do Seguro
Social - INSS, nos recursos de competência dos Tribunais de
Justiça, está dispensado do prévio pagamento do porte de
remessa e de retorno, enquanto parcela integrante do preparo,
devendo recolher o respectivo valor somente ao final da
demanda, acaso vencido".
12. Recurso especial do INSS a que se dá provimento, para
anular o acórdão do Tribunal a quo, com a devolução dos autos
à origem, para julgamento do recurso voluntário interposto pela
autarquia previdenciária.
(REsp 1761119/SP, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, CORTE
ESPECIAL, julgado em 07/08/2019, DJe 14/08/2019)

CONEXÕES E 1. Súmula 483 do STJ: O INSS não está obrigado a efetuar


COMENTÁRIOS depósito prévio do preparo por gozar das prerrogativas e
privilégios da Fazenda Pública (CORTE ESPECIAL, julgada em
28/06/2012, DJe 01/08/12).

2. Tese firmada no Tema Repetitivo 16 do STJ: O INSS não está


obrigado a efetuar depósito prévio do preparo por gozar das
prerrogativas e privilégios da Fazenda Pública. (REsp
1.101.727/PR, Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO,
CORTE ESPECIAL, julgado em 02/08/2010, DJe 23/08/2010).

4.2 JURISPRUDÊNCIA PERSUASIVA

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 781

157
DESTAQUE DO A representação da criança ou adolescente por seus pais
INFORMATIVO vincula-se à incapacidade civil e econômica do próprio menor,
sobre o qual incide a regra do art. 99, § 3º, do CPC/2015, mas
isso não implica automaticamente o exame do direito à
gratuidade com base na situação financeira dos pais.
TRECHOS DO O propósito recursal consiste em definir se é admissível
INFORMATIVO condicionar a concessão da gratuidade de justiça a menor à
demonstração de insuficiência de recursos de seu
representante legal.
O CPC/2015, ao tratar do tema, estabelece que "a pessoa
natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com insuficiência
de recursos para pagar as custas, as despesas processuais e
os honorários advocatícios tem direito à gratuidade da justiça,
na forma da lei" (art. 98). Isto é, o direito à gratuidade de justiça
é previsto em termos amplos e abrangentes.
Embora a regra do art. 99, § 6º, do CPC/2015 limite-se a
enunciar que o benefício não é automaticamente extensível ao
litisconsorte, tampouco é automaticamente transmissível ao
sucessor, é da natureza personalíssima do direito à gratuidade
que os pressupostos legais para a sua concessão deverão ser
preenchidos, em regra, pela própria parte, não por seu
representante legal.
Em se tratando de direito à gratuidade de justiça pleiteado por
menor, é apropriado que, inicialmente, incida a regra do art. 99,
§ 3º, do CPC/2015, deferindo-se o benefício ao menor em razão
da presunção de insuficiência de recursos decorrente de sua
alegação. Fica ressalvada, entretanto, a possibilidade de o réu
demonstrar, com base no art. 99, § 2º, do CPC/2015, a ausência
dos pressupostos legais que justificam a concessão da
gratuidade, pleiteando, em razão disso, a revogação do
benefício.
Essa forma de encadeamento dos atos processuais privilegia,
a um só tempo, o princípio da inafastabilidade da jurisdição (art.

158
5º, XXXV, da Constituição Federal), pois não impede o imediato
ajuizamento da ação e a prática de atos processuais
eventualmente indispensáveis à tutela do direito vindicado, e o
princípio do contraditório (art. 5º, LV, da CF), pois permite ao
réu que produza prova, ainda que indiciária, de que não se trata
de hipótese de concessão do benefício.
Mais recentemente, com amparo, também, no caráter
personalíssimo do benefício da gratuidade de justiça, este
órgão julgador decidiu que a condição financeira do cônjuge não
obsta, por si só e necessariamente, o deferimento do benefício
da gratuidade da justiça, sendo necessário verificar se a própria
parte que o requer preenche os pressupostos específicos para
a sua concessão (REsp 1.998.486/SP, Terceira Turma, julgado
em 16/8/2022, DJe 18/8/2022).
Assim, é imperioso concluir que o fato de o representante legal
da parte auferir renda não pode, por si só, servir de empecilho
à concessão da gratuidade de justiça ao menor, que figura
como parte no processo.

REFERÊNCIA REsp 2.055.363-MG, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira


DO ACÓRDÃO Turma, por maioria, julgado em 13/6/2023, DJe 23/6/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 765
DESTAQUE DO A intimação pessoal do autor da ação é obrigatória para a
INFORMATIVO complementação das custas iniciais, restringindo-se à
aplicação do cancelamento de distribuição estabelecida no art.
290 do Código de Processo Civil às hipóteses em que não é
feito recolhimento algum de custas processuais.

159
TRECHOS DO A Corte de origem concluiu que, por se tratar de ausência de
INFORMATIVO complementação das custas iniciais, a hipótese não estaria
enquadrada no art. 290 do Código de Processo Civil, que
estabelece o prazo de 15 dias para o pagamento das custas e
despesas após a intimação da parte autora na pessoa de seu
advogado, sob pena de cancelamento da distribuição do feito.
Fundamentou o acórdão recorrido tratar-se o presente caso de
abandono da causa por falta de promoção de atos ou diligências
próprias do autor do feito, devendo-lhe aplicar a previsão do §
1º do art. 485 do CPC, que prevê a intimação pessoal para
oportunizar a regularização no prazo de 5 dias.
O referido entendimento está em consonância com a
jurisprudência desta Corte Superior, que é assente quanto à
necessidade de intimação pessoal do advogado no caso de
recolhimento parcial das custas ou despesas iniciais, sendo
prescindível apenas nos casos de ausência completa de
recolhimento. Confira-se: "1. A jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça orienta-se no sentido de que a intimação
pessoal do autor da ação é exigência apenas para a
complementação das custas iniciais, de modo que, em relação
às custas iniciais (em que não é feito recolhimento algum de
custas processuais), aplica-se a regra estabelecida no art. 290
do CPC/2015 (correspondente ao art. 257 do CPC/1973). (...)
(AgInt no REsp 1.842.026/SP, relatora Ministra Maria Isabel
Gallotti, Quarta Turma, julgado em 29/11/2021, DJe de
1/12/2021)".

REFERÊNCIA AREsp 2.020.222-RJ, Rel. Ministro Francisco Falcão, Segunda


DO ACÓRDÃO Turma, por unanimidade, julgado em 28/3/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

160
TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 762
DESTAQUE DO Não cabe a cobrança de custas processuais complementares
INFORMATIVO após homologação de pedido de desistência, formulado antes
da citação da parte adversa, por ocasião de sua intimação para
complementar as custas iniciais.
TRECHOS DO A controvérsia submetida está em saber se "é lícita a cobrança
INFORMATIVO de custas processuais complementares após homologação de
pedido de desistência formulado antes da citação da parte
contrária, na hipótese em que a parte autora não corrige o valor
da causa conforme determinado pelo juiz".
No caso, o autor da ação recolheu as custas iniciais, as quais
foram, de plano e de ofício, consideradas insuficientes pelo
Juízo, em razão da reconhecida incompatibilidade entre o valor
atribuído à causa e o conteúdo econômico da pretensão
expedida. Por tal razão, o juízo intimou o autor para emendar a
inicial para redimensionar o valor da causa e promover o
complemento do pagamento das custas iniciais. No prazo que
lhe foi ofertado, o autor da ação requereu a desistência da ação,
em momento anterior à citação.
As custas iniciais representam o tributo cobrado pelo Estado, na
modalidade taxa, pela prestação dos serviços judiciários, cujo
recolhimento, pela parte demandante, em sua integralidade,
constitui pressuposto processual de validade, indispensável ao
próprio recebimento da petição inicial.
Dispõe o art. 290 do Código de Processo Civil de 2015 que
"será cancelada a distribuição do feito se a parte, intimada na
pessoa de seu advogado, não realizar o pagamento das custas
e despesas de ingresso em 15 (quinze) dias". Desse modo, ao
analisar a petição inicial, incumbe ao juiz, entre outras
providências, certificar se o autor promoveu o recolhimento das
custas iniciais e, em caso negativo, antes de promover a citação
do réu, intimá-lo (o autor) para efetivar o pagamento das custas

161
de ingresso, no prazo de 15 (quinze) dias, sob pena de
cancelamento da distribuição.
O não recolhimento das custas iniciais em sua integralidade,
após a intimação do autor a esse propósito, enseja o imediato
indeferimento da petição inicial, com fulcro no art. 330, IV, c/c
485, I, do Código de Processo Civil de 2015, tendo o diploma
processual estabelecido, para esta específica hipótese, o
cancelamento do registro de distribuição, circunstância que tem
o condão de obstar a produção de todo e qualquer efeito, tanto
para o autor, como para a pessoa/ente indicada na inicial para
figurar no polo passivo da ação.
O autor da demanda não terá contra si a inscrição em dívida
ativa do valor das custas iniciais - afinal não houve a prestação
de nenhum serviço judiciário -, tampouco deverá arcar com
ônus sucumbenciais, aí incluída a verba honorária do advogado
da parte adversa. De igual modo, o cancelamento da
distribuição não repercutirá na esfera jurídica do réu, justamente
porque não houve o aperfeiçoamento da relação jurídica
processual triangular, sendo absolutamente imprópria sua
oitiva, por citação/intimação, para qualquer fim.
É certo, portanto, que, somente no caso de não ser identificada,
num primeiro momento, nenhuma inadequação do valor
atribuído à causa e verificada a regularidade do recolhimento
das correlatas custas judiciais, cabe ao juiz, ao receber a inicial,
determinar a citação, a fim de promover a angularização da
relação jurídica processual.
A inadequação do valor da causa e, por consectário, do
recolhimento das custas iniciais, imediatamente identificada
pelo magistrado já em seu nascedouro, caso não regularizada
no prazo legal pela parte demandante, impede o próprio
desenvolvimento válido do processo, a ensejar o cancelamento
da distribuição.

162
Na esteira do entendimento preconizado pela Primeira Turma
do STJ, por ocasião do julgamento AREsp 1442134/SP (Rel.
Ministro Gurgel de Faria, Primeira Turma, julgado em
17/11/2020, DJe 17/12/2020), "mostra-se desarrazoada a
cobrança destas (custas) nas hipóteses em que a máquina
estatal não houver sido movimentada sequer para as diligências
necessárias à citação da parte adversa".

REFERÊNCIA REsp 2.016.021-MG, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Rel. para


DO ACÓRDÃO acórdão Ministro Marco Aurélio Bellizze, Terceira Turma, por
maioria, julgado em 8/11/2022, DJe 24/11/2022.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 762
DESTAQUE DO Inexiste obrigação legal de que a remuneração do depositário
INFORMATIVO seja determinada com base na Tabela de Custas da Corte
Estadual.
TRECHOS DO O art. 149 do CPC define como auxiliares da justiça, além de
INFORMATIVO outros cujas atribuições sejam determinadas pelas normas de
organização judiciária, o escrivão, o chefe de secretaria, o oficial
de justiça, o perito, o depositário, o administrador, o intérprete,
o tradutor, o mediador, o conciliador judicial, o partidor, o
distribuidor, o contabilista e o regulador de avarias.
Quanto ao depositário, a lei não faz distinção entre o depositário
público ou o privado. Até mesmo porque são auxiliares da
justiça os funcionários, servidores públicos e até mesmo
cidadãos comuns, quando investidos de múnus público, e que,
no exercício de suas funções, atendam às determinações do
juiz a fim de dar sequência aos atos necessários para o

163
desenvolvimento do processo e para a garantia do exercício da
jurisdição.
O particular que aceita exercer o múnus público de depositário
judicial tem direito à remuneração como contrapartida pela
prestação de seus serviços e ao ressarcimento das despesas
que precisou efetuar para a guarda e conservação dos bens, tal
como o depositário público.
Somente o titular do direito sobre os bens, que continuou com
a posse mediata ou mesmo imediata, por ser parte no processo
ou proprietário da coisa, não fará jus a nenhuma remuneração,
porquanto não é depositário.
O Código de Processo Civil determina, em seu art. 160, que a
remuneração do depositário será fixada levando em conta a
situação dos bens, ao tempo do serviço e às dificuldades de sua
execução.
Dessa forma, a lei estabelece que cabe ao juiz arbitrar o valor
que entender cabível diante da hipótese dos autos, observando
as circunstâncias previstas no referido artigo legal.
Logo, inexiste obrigação legal de que a remuneração do
depositário seja determinada com base na Tabela de Custas da
Corte Estadual.

REFERÊNCIA Processo em segredo de justiça, Rel. Ministra Nancy Andrighi,


DO ACÓRDÃO Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 6/12/2022, DJe
9/12/2022.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 701
DESTAQUE O ajuizamento de um segundo processo de embargos à
execução é fato gerador de novas custas judiciais,

164
DO independentemente da desistência nos primeiros antes de
INFORMATIVO realizada a citação.

TRECHOS DO O art. 90 do CPC estabelece a responsabilidade pelas


INFORMATIVO despesas processuais e honorários advocatícios em caso de
desistência e renúncia, nos seguintes termos: Proferida
sentença com fundamento em desistência, em renúncia ou em
reconhecimento do pedido, as despesas e os honorários serão
pagos pela parte que desistiu, renunciou ou reconheceu.
Por seu turno, o art. 84 do CPC assim estabelece o que pode
ser incluído na categoria "despesa processual": As despesas
abrangem as custas dos atos do processo, a indenização de
viagem, a remuneração do assistente técnico e a diária de
testemunha.
Dessa forma, no gênero despesas, podem ser incluídas
diversas verbas: indenização de viagem, remuneração do
assistente técnico, diária de testemunha e as custas judiciais,
que têm natureza jurídica de taxa.
Portanto, as custas representam um tributo. A aparente
confusão ocorre por algumas legislações estaduais utilizarem o
termo genérico "custas", outro, porém, empregarem duas
rubricas: custas e taxa judiciária.
Como se sabe, o tributo taxa pode ser cobrado em razão do
exercício do poder de polícia ou em razão do serviço público
efetivamente prestado ou colocado à disposição do contribuinte.
Ora, ao se ajuizar determinada demanda, dá-se início ao
processo. O encerramento desse processo exige a prestação
do serviço público judicial, ainda que não se analise o mérito da
causa.
Assim, o fato de em um primeiro processo de embargos à
execução fiscal ter gerado desistência sem a citação da parte
contrária não afasta a necessidade de recolhimento das
"custas" com o ajuizamento de novos embargos porque o

165
serviço público foi prestado e estava à disposição do
contribuinte.
Além disso, com o ajuizamento da demanda, já existe relação
jurídica processual, ainda que linear. A citação da parte
apontada para figurar no polo passivo apenas tem o condão de
ampliar a relação jurídica. Logo, já há processo e já existe
prestação do serviço público. Por conseguinte, o ajuizamento
de um segundo processo de embargos gera um novo fato
gerador do tributo.

REFERÊNCIA REsp 1.893.966-SP, Rel. Min. Og Fernandes, Segunda Turma,


DO ACÓRDÃO por unanimidade, julgada em 08/06/2021, DJe de 16/06/2021.

CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

5. ATOS PROCESSUAIS

5.1 PRECEDENTES QUALIFICADOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 771
DESTAQUE DO A cópia de calendário obtido na página eletrônica do tribunal de
INFORMATIVO origem pode ser considerada documento idôneo para fins de
comprovação de interrupção ou suspensão de prazo
processual.
TRECHOS DO O STJ, a esse respeito, tem diversos julgados no sentido de que
INFORMATIVO a cópia de calendário obtido na página eletrônica do tribunal de
origem não pode ser considerada documento idôneo para fins
de comprovação de interrupção ou suspensão de prazo
processual, sendo necessária a juntada de cópia de lei ou ato
administrativo comprovando a ausência de expediente forense
na data.

166
Contudo, a questão está a merecer nova apreciação da Corte
Especial, tendo em vista a existência de precedente firmado no
âmbito da Primeira Turma do STF, consagrando entendimento
inverso, no RMS 36.114/AM. Em tal julgado reformou-se o
acórdão proferido por este Tribunal Superior, no julgamento do
MS 23.896/AM, reconhecendo-se, ao final, a idoneidade do
calendário judicial do tribunal de origem, extraído da internet,
como forma de comprovação da tempestividade recursal.
Infere-se, portanto, a existência, neste Tribunal Superior, de
duas orientações antagônicas: uma no sentido da idoneidade
do calendário judicial obtido pela parte junto ao site do tribunal
de origem como meio de prova da ocorrência de feriado local,
e, a outra, no sentido de não ser hábil à comprovação da
ausência de expediente forense a juntada de cópia de
calendário editado pelo Tribunal de origem, pois, para tanto, é
necessária a juntada de cópia de lei ou de ato administrativo
exarado pela Corte de origem.
Acerca da temática, deve prevalecer como correto o novo
entendimento veiculado pela Ministra Nancy Andrighi, no
mencionado AgInt no MS 28.177/DF, concluindo ser mais
adequado alinhar nossa jurisprudência àquela, mais liberal e
justa, firmada no STF, que, ao examinar recurso ordinário em
mandado de segurança, reformou o acórdão desta Corte
Superior nos MS 23.896/AM e REsp 1.643.652/AM, para
reconhecer como idônea a juntada de calendário judicial,
disponibilizado no site do Tribunal de Justiça, para fins de
demonstração de suspensão do expediente.
Entende-se que a comprovação de suspensão do expediente
no tribunal local pode ser realizada pelas partes e seus
advogados de forma mais ampla, inclusive por meio da
apresentação de documentos disponibilizados, via internet,
pelos próprios Tribunais, diante de sua confiabilidade e de seu
caráter informativo oficial.

167
Com efeito, à luz da Lei n. 11.419/2006, que dispõe sobre a
informatização do processo judicial, as informações
processuais disponibilizadas por meio da Internet, na página
eletrônica dos Tribunais de Justiça e/ou Tribunais Regionais
Federais, ostentam natureza oficial, gerando para as partes que
as consultam a presunção de correção e confiabilidade. A
referida norma confere caráter oficial às informações prestadas
pelos Tribunais em sua página na internet, de maneira que, uma
vez lançada a informação, no calendário judicial, da existência
de suspensão de prazo, deve esta ser considerada para fins de
contagem do lapso recursal.
O STJ já se pronunciou no sentido da oficialidade das
informações processuais divulgadas, via internet, pelos
Tribunais. No julgamento do REsp 1.324.432/SC (Rel. Ministro
Herman Benjamin, julgado em 17/12/2012, DJe 10/5/2013),
concluiu-se corretamente a respeito das informações acerca do
"andamento processual" provenientes de fonte oficial, que não
podem servir de meio para confundir/punir as partes, levando-
as a comportamentos equivocados e prejudiciais a seus
interesses formais e materiais, conduzindo-as à perda de
oportunidades processuais preclusivas.
Assim, conclui-se que não há como afastar a oficialidade e a
confiabilidade do calendário judicial disponibilizado pelos
Tribunais na internet, para fins de comprovação da suspensão
do expediente forense a influenciar na contagem dos prazos
processuais. Portanto, é devida a sua juntada aos autos pela
parte, oportunamente, para o fim de comprovar a
tempestividade do recurso.

REFERÊNCIA EAREsp 1.927.268-RJ, Rel. Ministro Raul Araújo, Corte


DO ACÓRDÃO Especial, por maioria, julgado em 19/4/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

168
TRIBUNAL STJ
TEMA Repetitivo 379
QUESTÃO Definir o termo inicial para contagem do prazo recursal quando
a intimação é feita por oficial de justiça ou por carta de ordem,
precatória ou rogatária (se da data da juntada aos autos do
mandado cumprido, à luz do artigo 241, incisos II e IV, do CPC*,
ou se da data da própria intimação,ex vi do disposto no artigo
242, caput, do CPC).
*ATENÇÃO: refere-se ao CPC/73.
TESE Nos casos de intimação/citação realizadas por Correio, Oficial
de Justiça, ou por Carta de Ordem, Precatória ou Rogatória, o
prazo recursal inicia-se com a juntada aos autos do aviso de
recebimento, do mandado cumprido, ou da juntada da carta.
EMENTA (...) 1. O art. 241, II do CPC/1973 (art. 231, II do Código Fux,
RESUMIDA CPC/2015) preceitua que começa a correr o prazo quando a
citação ou intimação for por oficial de justiça, da data da juntada
aos autos do mandado cumprido 2. No caso presente, o
acórdão recorrido (fls. 137/143) teria entendido que o prazo
recursal teve início na data do cumprimento do mandado
19.1.2009 (fls. 124) e não da sua juntada ao processo 22.1.2009
(fls. 122), o que ocasionou o reconhecimento da
intempestividade dos Declaratórios opostos no dia 30.1.2009.
3. Contudo, considerando que a parte recorrente tem prazo em
dobro para a interposição de recursos, e o prazo recursal se
inicia da juntada do mandado e não do seu cumprimento, os
Embargos de Declaração, opostos no dia 30.1.2009, seriam
tempestivos.
4. O Parecer do douto Ministério Público Federal é pelo
provimento do Recurso Especial.
5. Recurso Especial provido para determinar o retorno dos
autos ao Tribunal Regional Federal da 3a. Região para que
aprecie os Embargos de Declaração de fls. 126/135.

169
6. Acórdão submetido ao regime do art. 543-C do CPC/1973
(art. 1.036 do Código Fux, CPC/2015), fixando-se a tese: nos
casos de intimação/citação realizadas por Correio, Oficial de
Justiça, ou por Carta de Ordem, Precatória ou Rogatória, o
prazo recursal inicia-se com a juntada aos autos do aviso de
recebimento, do mandado cumprido, ou da juntada da carta.
(REsp 1632777/SP, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA
FILHO, CORTE ESPECIAL, julgado em 17/05/2017, DJe
26/05/2017)
CONEXÕES E 1. Acórdão proferido com base no CPC/1973. Porém, o mesmo
COMENTÁRIOS entendimento continua sendo aplicado sob a égide do
CPC/2015. Nesse sentido: AgInt no REsp 1837462/AP, Rel.
Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA, julgado em
25/05/2020, DJe 29/05/2020; AgInt nos EDcl na CR 14.431/EX,
Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, CORTE
ESPECIAL, julgado em 22/10/2019, DJe 25/10/2019.

Vale ressaltar que, nesse ponto, o art. 231 do CPC/2015


corresponde ao disposto no art. 241 do CPC/1973, não havendo
modificação capaz de causar a superação do precedente. No
entanto, com relação à intimação e à citação eletrônicas, o
CPC/2015 traz regras específicas (que não são objeto desse
precedente).

5.2 JURISPRUDÊNCIA PERSUASIVA

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 784
DESTAQUE DO A concessão da segurança em relação à impetração
INFORMATIVO do mandamus contra decisão em procedimento de produção
antecipada de provas requer a apreciação da eventual

170
teratologia, da manifesta ilegalidade ou do abuso de poder no
ato judicial atacado.
TRECHOS DO No caso, requereu-se a intimação do perito para prestar
INFORMATIVO esclarecimentos acerca de laudo pericial sem apresentar, na
ocasião, os quesitos a serem respondidos, conforme determina
o art. 477, § 3º, do CPC/2015.
Antes do decurso do prazo estabelecido, a recorrente
apresentou 6 quesitos. Todavia, um dia antes da data
designada para a nova audiência, apresentou 36 quesitos
adicionais. Diante disso, no mesmo dia, o perito requereu a
prorrogação do prazo para a análise desses novos quesitos,
ocasião na qual o magistrado a quo reconheceu a
intempestividade de todos os quesitos apresentados em ambas
as manifestações da agravante, mantendo, contudo, a
realização da audiência na data aprazada.
Durante a realização da audiência, entretanto, o magistrado
reconsiderou a decisão anterior e reputou tempestivos os
primeiros 6 quesitos apresentados, ocasião na qual a ora
agravante requereu a reabertura do prazo para apresentação
de quesitos, pedido que foi imediatamente rejeitado.
Em que pese a jurisprudência do STJ reconheça ser cabível a
impetração de mandado de segurança contra decisão proferida
em procedimento de produção antecipada de provas, contra a
qual não cabe recurso, nos termos do art. 382, § 4º, do
CPC/2015, tal circunstância, por si só, não enseja a concessão
da segurança, devendo ser apreciada a eventual teratologia, a
manifesta ilegalidade ou o abuso de poder no ato judicial
atacado (AgInt no RMS 63.075/SP, Relator Ministro Ricardo
Villas Bôas Cueva, Terceira Turma, julgado em 23/11/2020, DJe
1º/12/2020).
Isso, porque, nos termos do § 3º do art. 477 do CPC/2015, é
ônus da parte que requer a intimação do perito para prestar

171
esclarecimentos acerca do laudo apresentar, no momento do
requerimento, os quesitos complementares.
O simples fato de ter sido determinada nova data para a
realização da audiência não resulta na reabertura automática
de prazo que, sem respaldo legal e por liberalidade do
magistrado, foi concedido à agravante, não constituindo,
portanto, direito líquido e certo.
Ainda, não há falar em preclusão pro judicato no caso. Isso,
porque a decisão que, por liberalidade, concedeu prazo para a
apresentação de quesitos complementares, sem respaldo legal,
não está sujeita à vedação de novo pronunciamento judicial
acerca da questão, uma vez que tal impedimento limita-se às
decisões definitivas ou com força de definitivas, assim
entendidas como aquelas que põem fim à relação ou etapa
processual, o que não se verifica na hipótese.
Por fim, segundo o princípio da proibição do comportamento
contraditório (venire contra factum proprium), a ninguém é lícito
fazer valer um direito em contradição com a sua conduta
anterior ou posterior interpretada objetivamente, de modo que
afigura-se descabido que a agravante pretenda ser beneficiada
com a reabertura do prazo que nem sequer deveria ter sido
concedido e que fora por ela descumprido.

REFERÊNCIA AgInt no RMS 69.967-PR, Rel. Ministro Raul Araújo, Quarta


DO ACÓRDÃO Turma, por unanimidade, julgado em 16/5/2023, DJe 23/5/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 774
DESTAQUE DO O conhecimento técnico ou científico de juiz sobre determinado
INFORMATIVO mercado imobiliário não pode ser equiparado às regras de

172
experiência comum previstas no art. 375 do Código de
Processo Civil, sendo indispensável a realização de perícia para
avaliar bem imóvel objeto de penhora.
TRECHOS DO Discute-se nos autos se o imóvel penhorado para pagamento
INFORMATIVO da dívida deve ser avaliado necessariamente por perícia ou se,
ao contrário, pode seu valor ser fixado pelo próprio julgador com
base nas máximas da experiência de que trata o art. 375 do
Código de Processo Civil.
As regras (ou máximas) da experiência designam um conjunto
de juízos que podem ser formulados pelo homem médio a partir
da observação do que normalmente acontece. Reúnem
proposições muito variadas, que vão desde conhecimentos
científicos consolidados como o de que corpos metálicos
dilatam no calor até convenções mais ou menos generalizadas,
como a de que as praias são mais frequentadas aos finais de
semana.
Muito embora constituam um conhecimento próprio do juiz, não
se confundem com o conhecimento pessoal que ele tem a
respeito de algum fato concreto, em relação ao qual, exige-se,
de qualquer forma, a produção de prova específica, sob o crivo
do contraditório.
Conquanto se possa admitir que o julgador, por conhecer o
mercado imobiliário de determinada região e também o imóvel
penhorado, pudesse saber o seu real valor, não há como
afirmar que essa seja uma informação de conhecimento
público.
Impossível sustentar, nesses termos, que bem imóvel possa ser
avaliado sem produção de prova pericial, pelo próprio julgador,
com base no art. 375 do CPC.

REFERÊNCIA REsp 1.786.046-RJ, Rel. Ministro Moura Ribeiro, Terceira


DO ACÓRDÃO Turma, por unanimidade, julgado em 9/5/2023.

173
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 768
DESTAQUE DO Não é possível restabelecer prazo para apelação, sob alegação
INFORMATIVO de nulidade da intimação, após o decurso de mais de dois anos
do trânsito em julgado da sentença.
TRECHOS DO A controvérsia está na análise do vício oriundo da certificação
INFORMATIVO errônea do prazo recursal e as suas consequências.
Na hipótese, a intimação das partes no tocante à decisão que
rejeitara os embargos de declaração opostos contra a sentença,
feita por meio eletrônico, anotou o prazo recursal de 10 dias,
quando a lei revela que o prazo correto é de 15 dias. Decorrido
esse prazo sem a apresentação de recurso, foi certificado o
trânsito em julgado da sentença. Somente dois anos depois
seguiu-se, então, a apresentação da apelação, quando a ré
apresentou petição informando o erro na intimação eletrônica e
requerendo o restabelecimento do prazo recursal.
A questão posta trata, assim, de anotação de prazo errado em
intimação eletrônica, realizada nos termos do art. 5° da Lei n.
11.419/2006.
A parte não praticou o ato em nenhum dos prazos possíveis: o
errado, anotado na intimação, tampouco o correto, previsto
claramente em lei. Ao contrário, permaneceu inerte durante dois
longos anos, aproximadamente.
Nesse passo, salta aos olhos a má-fé da apelante, pois guardou
a suposta nulidade da intimação para suscitá-la apenas muito
tempo depois, no momento em que lhe pareceu mais
conveniente.
Essa estratégia de permanecer silente, reservando a nulidade
para ser alegada em momento posterior, vem sendo rechaçada

174
há muito tempo por esta Corte Superior, sob a alcunha de
"nulidade de algibeira".
Ademais, mesmo que a intimação pudesse ser considerada
nula, seria imperioso reconhecer que se operou o trânsito em
julgado.
Deveras, observe-se que, nos termos do art. 272, § 8°, do
Código de Processo Civil de 2015, já em vigor à época em que
a apelante invocou a nulidade da intimação, "A parte arguirá a
nulidade da intimação em capítulo preliminar do próprio ato que
lhe caiba praticar, o qual será tido por tempestivo se o vício for
reconhecido".
Trata-se de regra que vai ao encontro da celeridade processual,
evitando que a parte, eventualmente, se aproveite de vícios
processuais para retardar ainda mais a marcha processual.
Esse novel enunciado normativo deixou de ser observado, pois
a parte ora recorrida, em vez de apresentar o recurso de
apelação e, preliminarmente, sustentar a tempestividade do
recurso em virtude da suposta nulidade da intimação ocorrida
cerca de dois anos antes, optou por requerer a devolução do
prazo, retardando ainda mais o andamento do processo.

REFERÊNCIA REsp 1.833.871-TO, Rel. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino,


DO ACÓRDÃO Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 21/3/2023.

CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 763
DESTAQUE DO Ainda que se trate de processo eletrônico, a publicação da
INFORMATIVO decisão no órgão oficial somente será dispensada quando a
parte estiver representada por advogado cadastrado no sistema

175
do Poder Judiciário, ocasião em que a intimação se dará de
forma eletrônica.
TRECHOS DO O Código de Processo Civil de 1973, em seu art. 322, com a
INFORMATIVO redação dada pela Lei n. 11.280/2006, disciplinava que, "contra
o revel que não tenha patrono nos autos, correrão os prazos
independentemente de intimação, a partir da publicação de
cada ato decisório".
Interpretando o referido dispositivo legal, o Superior Tribunal de
Justiça passou a entender que os prazos contra o réu revel sem
advogado constituído nos autos corriam a partir da publicação
em cartório de cada ato decisório, não havendo necessidade de
publicação na imprensa oficial.
O Código de Processo Civil de 2015, no entanto, em atenção
aos princípios do contraditório e da publicidade dos atos
jurisdicionais, trouxe significativa mudança em relação à regra
de intimação do revel sem advogado constituído nos autos.
Assim, diante da nova regra estabelecida, passou-se a exigir a
publicação do ato decisório na imprensa oficial, para que se
inicie o prazo processual contra o revel que não tenha advogado
constituído nos autos, não sendo suficiente, portanto, a mera
publicação em cartório.
Segundo o art. 5º da Lei n. 11.419/2006, que dispõe sobre a
informatização do processo judicial, "As intimações serão feitas
por meio eletrônico em portal próprio aos que se cadastrarem
na forma do art. 2º desta Lei, dispensando-se a publicação no
órgão oficial, inclusive eletrônico".
Dessa forma, extrai-se que, ainda que se trate de processo
eletrônico, a publicação no órgão oficial somente será
dispensada quando as partes estiverem representadas por
advogados cadastrados no sistema eletrônico do Poder
Judiciário, ocasião em que a intimação se dará pelo respectivo
sistema.

176
Assim, a intimação somente será considerada realizada quando
o intimando - leia-se: o advogado cadastrado no sistema -
efetivar a consulta eletrônica. Logo, se a parte não está
representada por advogado cadastrado no portal eletrônico,
jamais haverá a possibilidade de consulta, o que impossibilita a
efetiva intimação do ato decisório.
Na hipótese, como não havia advogados constituídos no
processo e cadastrados no portal, a sua intimação do réu revel
deveria obrigatoriamente ocorrer por meio de publicação no
diário de justiça, razão pela qual a intimação da sentença
realizada apenas pelo sistema eletrônico do Tribunal de origem
violou os arts. 346 do CPC/2015 e art. 5º da Lei n. 11.419/2006.

REFERÊNCIA REsp 1.951.656-RS, Rel. Ministro Marco Aurélio Bellizze,


DO ACÓRDÃO Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 7/2/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 762
DESTAQUE DO A realização do julgamento na modalidade virtual, ainda que
INFORMATIVO haja expressa e tempestiva oposição de parte no processo, não
acarreta a sua nulidade.
TRECHOS DO É pacífica a jurisprudência desta Corte no sentido de que "não
INFORMATIVO há que se falar em nulidade do julgamento virtual porque ele
está em consonância com os princípios da colegialidade, da
adequada duração do processo e do devido processo legal"
(AgRg no AgRg no RE nos EDcl na APn 327/RR, Corte
Especial, DJe 30/6/2020).
Por ausência de previsão legal, a mera oposição da parte ao
julgamento virtual não tem o condão de determinar a ocorrência
do julgamento em sessão presencial ou telepresencial.

177
Em sua redação originária, o art. 945, §§ 2º e 3º, do CPC/2015
previa o direito de as partes apresentarem discordância do
julgamento por meio eletrônico, sem necessidade de motivação,
"sendo apta a determinar o julgamento em sessão presencial".
Ocorre que esses dispositivos foram revogados pela Lei nº
13.256/2016, ficando consignado no parecer da Comissão de
Constituição e Justiça e de Cidadania no respectivo Projeto de
Lei (PL nº 2.384/2015), que a revogação ocorreu porque
autorizava as partes, sem motivação, "solicitar julgamento
presencial, mesmo quando não houver previsão de sustentação
oral, o que pode ampliar sobremaneira o número de petições a
serem analisadas pelos tribunais superiores, inviabilizando a
Corte e o funcionamento do plenário virtual".
Desse modo, como não há, no ordenamento jurídico vigente, o
direito de exigir que o julgamento ocorra por meio de sessão
presencial, o fato de o julgamento ter sido realizado de forma
virtual, mesmo com a oposição expressa e tempestiva da parte,
não é, por si só, causa de nulidade.
Destaca-se que, segundo a jurisprudência desta Corte, a
decretação de nulidade de atos processuais depende de efetiva
demonstração de prejuízo da parte interessada (pas de nullité
sans grief), por prevalência do princípio da instrumentalidade
das formas.
Com efeito, a realização do julgamento por meio virtual, mesmo
com a oposição pela parte, não acarreta, em regra, prejuízo nas
hipóteses em que não há previsão legal ou regimental de
sustentação oral, sendo imprescindível, para a decretação de
eventual nulidade, a comprovação de efetivo prejuízo na
situação concreta.
Além disso, mesmo quando há o direito de sustentação oral, se
o seu exercício for garantido e viabilizado na modalidade de
julgamento virtual, não haverá qualquer prejuízo ou nulidade,
ainda que a parte se oponha a essa forma de julgamento,

178
porquanto o direito de sustentar oralmente as suas razões não
significa o de, necessariamente, o fazer de forma presencial.

REFERÊNCIA REsp 1.995.565-SP, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira


DO ACÓRDÃO Turma, por unanimidade, julgado em 22/11/2022, DJe
24/11/2022.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 761
DESTAQUE DO É válida a intimação realizada em nome de advogado
INFORMATIVO constituído nos autos se os poderes a ele outorgados tiverem
sido substabelecidos com reserva.
TRECHOS DO No caso, o advogado constituído pela parte substabeleceu, com
INFORMATIVO reservas, outros advogados, subsistindo mandato outorgado
àquele, que foi intimado de todos os atos do processo.
Não houve pedido de publicação exclusiva em nome de
nenhum dos advogados substabelecidos. Desse modo, foram
regulares as intimações feitas. A jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça é no sentido de que a intimação efetuada
em nome de um dos advogados constituídos nos autos é válida
quando o substabelecimento for feito com reserva de poderes;
e não houve pedido expresso para publicação exclusiva em
nome de um advogado específico (AgInt no AREsp n.
1.584.590/DF, relator Ministro Raul Araújo, Quarta Turma,
julgado em 2/8/2022, DJe 16/8/2022; AgInt no AREsp n.
2.022.165/RJ, relator Ministro Mauro Campbell Marques,
Segunda Turma, julgado em 16/5/2022, DJe 19/5/2022).

179
REFERÊNCIA AgInt no AREsp 2.098.573-GO, Rel. Ministro João Otávio de
DO ACÓRDÃO Noronha, Quarta Turma, por unanimidade, julgado em
14/11/2022, DJe 17/11/2022.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 730
DESTAQUE DO O erro do sistema eletrônico do Tribunal de origem na indicação
INFORMATIVO do término do prazo recursal é apto a configurar justa causa
para afastar a intempestividade do recurso.
TRECHOS DO Cumpre observar, desde logo, que a controvérsia não reside na
INFORMATIVO necessidade de o recorrente comprovar a existência de feriado
local no ato de interposição do recurso, questão já
exaustivamente examinada e decidida no âmbito desta Corte
Especial, no sentido de que a única exceção à regra da
obrigatoriedade de comprovação de feriado local no ato de
interposição do recurso é o da segunda-feira de carnaval.
A questão controvertida é se o erro do sistema eletrônico do
Tribunal a quo na indicação do término do prazo recursal seria
apto a configurar justa causa para afastar a intempestividade do
recurso ou se, a despeito da falha, seria ônus indeclinável do
advogado diligenciar sobre a comprovação do feriado local e,
por conseguinte, do prazo recursal.
(...)
Embora seja ônus do advogado a prática dos atos processuais
segundo as formas e prazos previstos em lei, o Código de
Processo Civil abre a possibilidade de a parte indicar motivo
justo para o seu eventual descumprimento, a fim de mitigar a
exigência. Inteligência do caput e § 1º do art. 183 do Código de

180
Processo Civil de 1973, reproduzido no art. 223, § 1º, do Código
de Processo Civil de 2015.
Considerando o avanço das ferramentas tecnológicas e a larga
utilização da internet para divulgação de dados processuais,
eventuais falhas do próprio Poder Judiciário na prestação
dessas informações não podem prejudicar as partes.
Dessa forma, a falha induzida por informação equivocada
prestada por sistema eletrônico de tribunal deve ser levada em
consideração, em homenagem aos princípios da boa-fé e da
confiança, para a aferição da tempestividade do recurso.
(...)
Daí a conclusão irretorquível: "A divulgação do andamento
processual pelos Tribunais por meio da internet passou a
representar a principal fonte de informação dos advogados em
relação aos trâmites do feito. A jurisprudência deve acompanhar
a realidade em que se insere, sendo impensável punir a parte
que confiou nos dados assim fornecidos pelo próprio Judiciário"
(REsp 1324432/SC, Rel. Ministro Herman Benjamin, Corte
Especial, DJe 10/05/2013).

REFERÊNCIA EAREsp 1.759.860-PI, Rel. Min. Laurita Vaz, Corte Especial,


DO ACÓRDÃO por unanimidade, julgado em 16/03/2022, DJe 21/03/2022.
CONEXÕES E 1. Informativo 697 STJ - A modulação dos efeitos da tese
COMENTÁRIOS firmada por ocasião do julgamento do REsp 1.813.684/SP é
restrita ao feriado de segunda-feira de carnaval e não se aplica
aos demais feriados, inclusive aos feriados locais.

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 728

181
DESTAQUE DO A juntada nos autos de simples manifestação da União
INFORMATIVO informando o envio de ofício, antes de despacho determinando
a sua citação para responder a ação, não configura
comparecimento espontâneo apto a suprir a falta de citação.
TRECHOS DO (...) Cinge-se a controvérsia a discutir a validade da sentença
INFORMATIVO em razão de a União não ter sido citada para responder a ação.
Na hipótese, a União manifestou-se nos autos tão somente para
informar que teria enviado ofício ao Ministério da Saúde para o
cumprimento da decisão liminar e, posteriormente, foi proferido
despacho no juízo monocrático determinando a citação dos
réus para responder a ação, o que não foi feito.
Diante da cronologia processual acima narrada, não há como
se reconhecer o suprimento da citação, haja vista que a simples
manifestação da União informando o envio de ofício não
configura comparecimento espontâneo ao processo.
É inafastável a conclusão de que houve quebra de legítima
expectativa da União de que seria citada para oferta da
contestação, mormente tendo em conta o despacho exarado
após sua manifestação sobre a tutela antecipada, em que se
determinou a expedição da citação.
Conclui-se que a situação não se enquadra no entendimento
jurisprudencial de que o comparecimento espontâneo da parte
nos autos supre a eventual falta de citação.

REFERÊNCIA REsp 1.904.530-PE, Rel. Min. Francisco Falcão, Segunda


DO ACÓRDÃO Turma, por unanimidade, julgado em 08/03/2022.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 697

182
DESTAQUE DO O termo inicial de contagem dos prazos processuais, em caso
INFORMATIVO de duplicidade de intimações eletrônicas, dá-se com a realizada
pelo portal eletrônico, que prevalece sobre a publicação no
Diário da Justiça (DJe).

TRECHOS DO A controvérsia cinge-se a aferir o termo inicial de contagem dos


INFORMATIVO prazos processuais quando houver duplicidade das intimações
eletrônicas previstas na Lei n. 11.419/2006 (Lei do Processo
Eletrônico), mais especificamente as intimações ocorridas no
Diário da Justiça Eletrônico (DJe) e no Portal Eletrônico.
A respeito da temática, coexistem nesta Corte Superior três
vertentes jurisprudenciais.
A corrente jurisprudencial defensora de que, se ambas as
formas de intimações forem feitas em relação ao mesmo ato
processual, deve prevalecer a realizada no Diário da Justiça
Eletrônico, afirma que a própria Lei do Processo Eletrônico, no
§ 2º do art. 4º, estabelece que a publicação dos atos judiciais e
administrativos, realizada no Diário da Justiça eletrônico,
disponibilizado em sítio da rede mundial de computadores,
substitui qualquer outro meio e publicação oficial, para
quaisquer efeitos legais, exceto nos casos que, por lei, se exigir
intimação ou vista pessoal.
A corrente jurisprudencial que defende deva prevalecer a
intimação realizada pelo Portal Eletrônico salienta que, nos
termos do art. 5º da Lei do Processo Eletrônico, as intimações
feitas por meio eletrônico em portal próprio a publicação no
órgão oficial, inclusive eletrônico. Argumenta-se, ademais, que
o Novo Código de Processo Civil, no art. 270, prestigia o meio
eletrônico, como forma preferencial de comunicação dos atos
processuais, e que a intimação pela publicação em órgão oficial
deve ser utilizada de forma subsidiária à intimação eletrônica
em face do disposto no art. 272 do NCPC.

183
Por sua vez, a terceira corrente jurisprudencial, segundo a qual,
havendo duplicidade de intimações, deve prevalecer a primeira
validamente efetuada, alicerça-se no fundamento de que, para
todos os efeitos, as partes e seus advogados tomam ciência do
ato judicial ou administrativo logo na primeira intimação
oficialmente realizada, que, normalmente, costuma ser a
publicação da imprensa eletrônica, podendo a partir de então
recorrer ou promover o ato processual adequado. Portanto, não
é concebível que se aguarde a ultimação da outra intimação
para se considerar devidamente cientificado.
Na sequência, convém diferenciar os dois tipos de comunicação
dos atos processuais previstos na Lei do Processo Eletrônico,
que aqui estão em debate - intimação pelo Portal Eletrônico e
intimação pelo Diário da Justiça Eletrônico.
De um lado, a intimação pelo Diário Eletrônico de Justiça
envolve a inserção da informação em diário publicado
periodicamente. O servidor insere a informação no jornal
eletrônico do Tribunal, o qual é disponibilizado, em regra, ao
final do dia. Há regra específica segundo a qual a publicação do
ato judicial é considerada no dia seguinte ao da
disponibilização, marcando o começo dos prazos processuais.
Os prazos são contados com a exclusão do dia do começo e
com a inclusão do dia do término. Logo, o primeiro dia do prazo
ocorre apenas no dia seguinte ao considerado como data da
publicação.
De outro lado, a intimação pelo Portal Eletrônico implica o envio
da comunicação por intermédio de um sistema eletrônico de
controle de processos, cada vez mais utilizado no âmbito do
Poder Judiciário. A comunicação do ato processual ocorre "por
dentro" do sistema informatizado. O advogado, devidamente
cadastrado, acessa o processo judicial eletrônico e é intimado.
Há um prazo de dez (10) dias para acesso à informação. Após
o envio da intimação pelo processo judicial eletrônico, a parte

184
tem dez (10) dias para consultar o teor da informação. Caso
consulte a informação dentro desse lapso temporal, o ato
judicial será considerado publicado no dia da consulta, dando-
se início ao cômputo do prazo a partir do primeiro dia
subsequente. Caso não consulte nos dez (10) dias previstos, a
intimação será automática, de maneira que será considerada
realizada na data do término desse prazo, independentemente
de consulta, iniciando-se, a seguir, a contagem do prazo
processual.
A respeito desta modalidade de notificação dos atos judiciais,
estabelece o aludido art. 5º da Lei do Processo Eletrônico que
as intimações feitas por meio de Portal Eletrônico dispensam a
publicação no órgão oficial, inclusive eletrônico.
Dito isso e partindo-se da premissa de que, diante de
procedimento do próprio Poder Judiciário que cause dúvida,
como no caso de duplicidade de intimações válidas, não pode
a parte ser prejudicada - mormente porque, em tais
circunstâncias, cria-se uma incerteza no tocante ao exato termo
inicial para contagem dos prazos processuais -, considera-se
que a melhor exegese é a que faz prevalecer a intimação no
Portal Eletrônico em detrimento da tradicional intimação por
Diário da Justiça, ainda que atualmente esta também seja
eletrônica.
Com efeito, levando-se em consideração os princípios da boa-
fé processual, da confiança e da não surpresa, atinentes ao
Direito Processual, deve a norma ser interpretada da forma
mais favorável à parte, a fim de se evitar prejuízo na contagem
dos prazos processuais.
Se a própria Lei do Processo Eletrônico criou essa forma de
intimação, dispensando qualquer outra, e tornou este
mecanismo hábil a promover, inclusive, as intimações pessoais
dos entes que possuem tal prerrogativa, não há como afastar a
conclusão de que esta regerá o prazo naturalmente em relação

185
ao advogado que esteja cadastrado no sistema eletrônico. Há,
pois, uma presunção de validade, que leva a exigir do Poder
Judiciário comportamento condizente com os ditames legais e
com a boa-fé processual.
Desse modo, entende-se que sempre que a modalidade de
intimação pelo Portal Eletrônico (art. 5º da Lei n. 11.419/2006)
for prevista e aplicável em determinado Tribunal para os
advogados devidamente cadastrados, deve esta prevalecer
sobre a tradicional intimação pelo DJe.

REFERÊNCIA EARESP 1.663.952, Rel. Min. Raul Araújo, Corte Especial, por
DO ACÓRDÃO maioria, julgado em 19/05/2021.

CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 697
DESTAQUE DO A modulação dos efeitos da tese firmada por ocasião do
INFORMATIVO julgamento do REsp 1.813.684/SP é restrita ao feriado de
segunda-feira de carnaval e não se aplica aos demais feriados,
inclusive aos feriados locais.

TRECHOS DO Durante os últimos anos de vigência do CPC/1973, vigorou


INFORMATIVO nesta Corte o entendimento de que "a comprovação da
tempestividade do recurso especial, em decorrência de feriado
local ou de suspensão de expediente forense no Tribunal de
origem que implique prorrogação do termo final para sua
interposição, pode ocorrer posteriormente, em sede de agravo
regimental". (AgRg no AREsp 137.141/SE, Corte Especial, Rel.
Min. Antonio Carlos Ferreira, DJe 15/10/2012).
(...)

186
Dado que a nova legislação processual passou a disciplinar
especificamente essa matéria, os órgãos fracionários desta
Corte voltaram a oscilar, agora à luz do CPC/2015, entre a
manutenção do referido entendimento ou a aplicação da regra
do art. 1.003, §6º, segundo a qual "o recorrente comprovará a
ocorrência de feriado local no ato de interposição do recurso".
Essa divergência jurisprudencial, todavia, perdurou apenas até
20/11/2017, quando esta Corte Especial concluiu o julgamento
do AgInt no AREsp 957.821/MS e fixou a tese de que "a
jurisprudência construída pelo STJ à luz do CPC/1973 não
subsiste ao CPC/2015: ou se comprova o feriado local no ato
da interposição do respectivo recurso, ou se considera
intempestivo o recurso, operando-se, em consequência, a coisa
julgada".
Formou-se, então, um precedente vinculante, nos estritos
termos do art. 927, V, do CPC/2015, que deveria, diz a lei, ser
respeitado por todos os órgãos fracionários, inclusive pela
própria Corte Especial, a partir daquele momento.
A despeito da solidez jurisprudencial desde então construída e
comprovada empiricamente, entendeu a 4ª Turma, por
unanimidade, em sessão de julgamento ocorrida em
16/05/2019, pela afetação do REsp 1.813.684/SP à Corte
Especial, com base no art. 16, IV, do RISTJ.
A questão jurídica que motivou a afetação era apenas uma:
dizer se a segunda-feira de carnaval seria ou não um feriado
notório, tese que, se porventura acolhida, poderia afastar a
incidência da regra do art. 1.003, §6º, do CPC/15 e,
consequentemente, a incidência da orientação fixada 18 meses
antes pela Corte Especial, por ocasião do julgamento do AgInt
no AREsp 957.821/MS.
Por ocasião da última sessão de julgamento do REsp
1.813.684/SP, ocorrida em 02/10/2019, sagrou-se vencedora a
tese formulada pelo e. Min. Luís Felipe Salomão, modulando os

187
efeitos da decisão para admitir a prova posterior da existência
do feriado nos recursos interpostos até a data da publicação do
respectivo acórdão, o que veio a ocorrer em 18/11/2019.
Como o e. Min. Luís Felipe Salomão havia proposto a tese
vencedora sem voto escrito previamente distribuído aos e.
Ministros que compõem a Corte Especial, constatou-se, apenas
posteriormente à publicação do acórdão, que o voto redigido por
S. Exa. não correspondia ao objeto da deliberação da Corte
Especial na sessão de julgamento ocorrida em 02/10/2019.
Em virtude disso, propôs-se Questão de Ordem, cujo
julgamento se iniciou e foi concluído em 03/02/2020, acolhida
pela maioria dos e. Ministros da Corte Especial "para
reconhecer que a tese firmada por ocasião do julgamento do
REsp 1.813.684/SP é restrita ao feriado de segunda-feira de
carnaval e não se aplica aos demais feriados, inclusive aos
feriados locais".
Embora a razão aparente desse resultado seja o fato de que o
voto redigido posteriormente à sessão pelo e. Min. Luís Felipe
Salomão não correspondia ao objeto de deliberação da Corte
Especial naquela assentada, não se pode olvidar que há,
naquele julgamento, uma razão subjacente: a tese jurídica
fixada pela Corte Especial no julgamento do AgInt no AREsp
957.821/MS não foi, em absolutamente nenhum momento,
implícita ou expressamente, superada pela Corte Especial.
(...)
O próprio resultado do julgamento do REsp 1.813.684/SP,
inclusive, confirma a manutenção da regra fixada no AgInt no
AREsp 957.821/MS, na medida em que a notoriedade do
feriado de segunda-feira de carnaval, conquanto reconhecida
pela maioria dos e. Ministros que compõem a Corte Especial,
não foi suficiente para desobrigar as partes da comprovação de
sua existência, mas, sim, somente teve o condão de permitir
que as partes comprovassem a existência a posteriori e, ainda

188
assim, somente em um determinado lapso temporal (até a
publicação do acórdão do REsp 1.813.684/SP, ocorrida em
18/11/2019), findo o qual voltou a valer a regra fixada no AgInt
no AREsp 957.821/MS.
A simples razão pela qual não se poderá estender o
entendimento fixado no REsp 1.813.684/SP para outros
feriados locais, pois, está no fato de que a orientação que
superou momentaneamente a regra geral prevista no AgInt no
AREsp 957.821/MS é excepcional e se fundou em uma razão
específica.
Ao que consta, o julgamento do REsp 1.813.684/SP apenas
superou momentânea e excepcionalmente a regra, mas não o
precedente anteriormente fixado na Corte Especial, inclusive
porque, para recursos especiais e agravos interpostos após
18/11/2019 (data da publicação do acórdão), a regra que está
sendo aplicada é aquela fixada pela Corte Especial no AgInt no
AREsp 957.821/MS.
(...)

REFERÊNCIA AREsp 1.481.810-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd.
DO ACÓRDÃO Min. Nancy Andrighi, Corte Especial, por maioria, julgado em
19/05/2021.

CONEXÕES E 1. Informativo 730 STJ - O erro do sistema eletrônico do Tribunal


COMENTÁRIOS de origem na indicação do término do prazo recursal é apto a
configurar justa causa para afastar a intempestividade do
recurso.

6. TUTELA PROVISÓRIA

6.1 PRECEDENTES QUALIFICADOS

189
TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 787
DESTAQUE DO Tese firmada no Tema Repetitivo 1199:
INFORMATIVO Nos procedimentos de demarcação de terrenos de marinha, é
válido o ato jurídico de chamamento de interessados certos ou
incertos à participação colaborativa com a Administração
formalizado exclusivamente por meio de edital, desde que o ato
tenha sido praticado no período de 31/05/2007 até 28/03/2011,
em que produziu efeitos jurídicos a alteração legislativa do art.
11 do Decreto-lei n. 9.760/1946 promovida pelo art. 5º da Lei n.
11.481/2007.
TRECHOS DO A controvérsia consiste em decidir acerca da validade, ou não,
INFORMATIVO dos procedimentos demarcatórios de terrenos de marinha nos
quais o chamamento de eventuais interessados, com
fundamento no art. 11 do Decreto-lei 9.760/1946, tenha ocorrido
somente por meio de notificação por edital. Compreendidos no
período entre o advento da Lei n. 11.481, de 31/05/2007, e
28/03/2011, data da publicação da ata da sessão de julgamento
do STF de 16/03/2011 no DJe (n. 57, p. 46) e no DOU (n. 59,
Seção 1, p. 2), quando deferida a medida cautelar na ADI
4.264/PE.
O art. 5º da Lei n. 11.481, de 31/05/2007, estatuiu que "para a
realização da demarcação, a SPU convidará os interessados,
por edital, para que no prazo de 60 (sessenta) dias ofereçam a
estudo plantas, documentos e outros esclarecimentos
concernentes aos terrenos compreendidos no trecho
demarcando".
Antes da Lei n. 11.481/2007, eventuais interessados "certos" -
conhecidos pela Administração Pública - tinham o direito
subjetivo de serem pessoalmente notificados acerca do início
do procedimento demarcatório dos terrenos de marinha
situados no município de seu domicílio. A partir da Lei n.
11.481/2007, esse direito foi suprimido, sendo todos os

190
potenciais interessados, certos ou indeterminados, notificados
por meio de simples chamamento editalício.
A modificação da posição jurídica dos particulares em contato
com a Administração Pública redundou na busca pela
invalidação da alteração legislativa introduzida pela Lei n.
11.481/2007, o que se deu, em 2009, por meio da propositura
de ação direta de inconstitucionalidade pela Assembleia
Legislativa do Estado de Pernambuco perante o Supremo
Tribunal Federal (ADI 4.264/PE). Nessa ação de controle
concentrado de constitucionalidade, requereu-se a concessão
de medida cautelar, com fundamento no art. 10 da Lei n.
9.868/1999, a fim de que o STF, liminarmente, promovesse a
suspensão da eficácia do art. 11 do DL n. 9.760/46, na redação
a ele conferida pelo art. 5º da Lei n. 11.481/2007.
O julgamento do pleito cautelar, no Plenário do STF, foi
concluído somente em 16/3/2011, oportunidade em que
prevaleceu, por apertada maioria, posição favorável ao pleito no
sentido de que "Ofende as garantias do contraditório e da ampla
defesa o convite aos interessados, por meio de edital, para
subsidiar a Administração na demarcação da posição das linhas
do preamar médio do ano de 1831, uma vez que o cumprimento
do devido processo legal pressupõe a intimação pessoal" (STF,
Pleno, ADI 4.264/PE-MC, Rel. Ministro Ricardo Lewandowski,
julgado 16/3/2011, DJe 28/3/2011).
Nesse sentido, há validade do ato de chamamento, no período
em exame e da forma como realizado, que decorre da
incidência na espécie do art. 11, § 1º-A, da Lei n. 9.868/1999,
que estabelece, como regra, a eficácia meramente prospectiva
("ex nunc") da medida cautelar concedida pelo Supremo
Tribunal Federal em ação direta de inconstitucionalidade.
Dessa forma, ainda que o STF tenha deferido a medida cautelar
no bojo da ADI 4.264/PE para o fim de suspender a eficácia da
nova redação conferida ao art. 11 do DL n. 9.760/1946 pelo art.

191
5º da Lei n. 11.481/2007, essa suspensão não afetou os atos
jurídicos realizados antes do deferimento da liminar, os quais,
portanto, por ela não foram invalidados.
Por fim, com a extinção da ADI 4.264/PE por "perda
superveniente do objeto" nos idos de 2018, deixou de existir, no
mundo jurídico, a medida cautelar antes deferida, não tendo
havido, portanto, pronunciamento definitivo pelo STF quanto à
constitucionalidade do art. 5º da Lei n. 11.481/2007. Deve
prevalecer, assim, ao menos no período anterior ao da
suspensão da eficácia da norma impugnada, a presunção de
constitucionalidade inerente a toda e qualquer lei ou ato
normativo.

REFERÊNCIA REsp 2.015.301-MA, Rel. Ministro Paulo Sérgio Domingues,


DO ACÓRDÃO Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 13/9/2023, DJe
15/9/2023 (Tema 1199).
REsp 2.036.429-MA, Rel. Ministro Paulo Sérgio Domingues,
Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 13/9/2023, DJe
15/9/2023 (Tema 1199).

CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STF
INFORMATIVO 1092
DESTAQUE DO São constitucionais os dispositivos legais (CPC/2015, arts. 9º,
INFORMATIVO parágrafo único, III; e 311, parágrafo único) que, sem prévia
citação do réu, admitem a concessão de tutela de evidência
quando os fatos alegados possam ser demonstrados
documentalmente e a tese jurídica estiver consolidada em
julgamento de casos repetitivos ou em súmula vinculante.
TRECHOS DO Assim, inexiste qualquer ofensa ao princípio do contraditório
INFORMATIVO caso haja justificativa razoável e proporcional para a

192
postergação do contraditório e desde que se abra a
possibilidade de a parte se manifestar posteriormente acerca da
decisão que a afetou, ou sobre o ato do qual não participou.

REFERÊNCIA ADIs 5.492/DF e 5.737/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgamento


DO ACÓRDÃO virtual finalizado em 24/4/23.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

6.2 JURISPRUDÊNCIA PERSUASIVA

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 780
DESTAQUE DO A previsão legal de manutenção da qualidade de segurado,
INFORMATIVO contida no art. 15, I, da Lei n. 8.213/1991, inclui os benefícios
deferidos por decisão de caráter provisório, ainda que seja
futuramente revogada.
TRECHOS DO Em regra, a tutela antecipada ou de urgência figura como
INFORMATIVO provimento judicial provisório e reversível (art. 273, § 2º, do
CPC/1973 e arts. 296 e 300, § 3º, do CPC/2015), pelo que, a
rigor, a revogação da decisão que concede o mandamento
provisório produz efeitos imediatos e retroativos, impondo o
retorno à situação anterior ao deferimento da medida, cujo ônus
deve ser suportado pelo beneficiário da tutela.
Como o cumprimento provisório ocorre por iniciativa e
responsabilidade do autor, cabe a este, em regra, suportar o
ônus decorrente da reversão da decisão precária, na medida
em que, a rigor, pode, de antemão, prever os resultados de
eventual cassação da medida, escolher sujeitar-se a tais
consequências e até mesmo trabalhar previamente para evitar
ou mitigar os impactos negativos no caso de reversão.

193
Essa regra (de total reversibilidade/restituição ao estado
anterior), porém, não pode ser aplicada em relação ao segurado
em gozo de benefício previdenciário por incapacidade
laborativa, concedido por meio de tutela de urgência
posteriormente revogada, na medida em que, nesses casos, o
ônus (de perder a condição de segurado) não é completamente
previsível, evitável ou mitigável.
Portanto, não é de todo previsível porque o art. 15, I, da Lei n.
8.213/1991 assegura que, independentemente de
contribuições, quem está em gozo de benefício (qualquer que
seja a natureza da concessão, porque o dispositivo não
diferenciou), mantém a qualidade de segurado, sem limite de
prazo, isto é, não seria razoável exigir do segurado de boa-fé
considerar que tal previsão expressa fosse afastada
automaticamente na ocasião da revogação da medida de
caráter precário.
Ademais, o ônus (de perder a qualidade de segurado) não é
mitigável ou evitável, pois enquanto o segurado está em gozo
de benefício previdenciário por incapacidade laborativa,
concedido por meio de tutela de urgência, não pode recolher
contribuições previdenciárias, uma vez que, em tal condição,
não se insere na previsão dos arts. 11 ou 13 da Lei n.
8.213/1991.

REFERÊNCIA AREsp 2.023.456-SP, Rel. Ministro Gurgel de Faria, Primeira


DO ACÓRDÃO Turma, por unanimidade, julgado em 20/6/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 763
DESTAQUE DO Não contraria o princípio da adstrição o deferimento de medida
INFORMATIVO cautelar que diverge ou ultrapassa os limites do pedido

194
formulado pela parte, se entender o magistrado que essa
providência milita em favor da eficácia da tutela jurisdicional.
TRECHOS DO De início, reafirma-se o entendimento - ratificado por esta
INFORMATIVO Quarta Turma - no sentido de que "o poder geral de cautela,
positivado no art. 798 do CPC/1973 [art. 297 do CPC/2015],
autoriza que o magistrado defira medidas cautelares 'ex officio',
no escopo de preservar a utilidade de provimento jurisdicional
futuro", e também que "não contraria o princípio da adstrição o
deferimento de medida cautelar que ultrapassa os limites do
pedido formulado pela parte, se entender o magistrado que
essa providência milita em favor da eficácia da tutela
jurisdicional" (AgInt no REsp 1.694.810/SP, julgado em
20/8/2019, DJe 26/8/2019).
No caso concreto, embora o Tribunal de origem tenha afirmado
a ausência dos requisitos para o deferimento da tutela de
urgência pleiteada - entendida essa como a abstenção total do
uso das invenções objeto do litígio - deferiu medida cautelar de
natureza alternativa e provisória para evitar o enriquecimento
indevido da agravada, que teria deixado de remunerar sua
contraparte pelo uso das patentes.
Evidenciada, contudo, a exorbitância do valor fixado para o
pagamento - correspondente à contratação global de
licenciamento, que envolve o uso de dezena de milhares de
patentes em todo o mundo -, é possível ajustá-lo, ainda de
forma provisória e com suporte no poder geral de cautela,
utilizando-se dos mesmos parâmetros avençados pelas partes
na contratação que outrora entabularam.

REFERÊNCIA Processo em segredo de justiça, Rel. Ministro Antonio Carlos


DO ACÓRDÃO Ferreira, Quarta Turma, por unanimidade, julgado em
6/12/2022, DJe 13/12/2022.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

195
7. FORMAÇÃO, SUSPENSÃO E EXTINÇÃO DO
PROCESSO

7.1 PRECEDENTES QUALIFICADOS

7.2 JURISPRUDÊNCIA PERSUASIVA

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 776
DESTAQUE DO A interrupção da prescrição, na forma prevista no § 1º do artigo
INFORMATIVO 240 do Código de Processo Civil, retroagirá à data em que
petição inicial reunir condições de se desenvolver de forma
válida e regular do processo.
TRECHOS DO A controvérsia consiste em determinar a que data deve retroagir
INFORMATIVO a interrupção da prescrição quando o juízo determina a emenda
da petição inicial, porque não foram preenchidos os requisitos
previstos no Código de Processo Civil (CPC).
O entendimento desta Corte Superior é no sentido de que a
interrupção da prescrição, na forma prevista no art. 240, § 1º,
do CPC, retroagirá à data em que petição inicial reunir
condições de desenvolvimento válido e regular do processo.
No caso, ao receber a petição inicial o magistrado ordenou sua
emenda, porque não foram preenchidos os requisitos do art.
319 do CPC. O autor apresentou a emenda e, assim, foi
ordenada a citação. Todavia, o ato somente ocorreu após o
decurso do prazo prescricional, impondo o reconhecimento da
prescrição.

REFERÊNCIA AgInt no AREsp 2.235.620-PR, Rel. Ministro Raul Araújo,


DO ACÓRDÃO Quarta Turma, por unanimidade, julgado em 8/5/2023, DJe
17/5/2023.

196
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 775
DESTAQUE DO Se o réu falecer antes do ajuizamento da ação, não havendo
INFORMATIVO citação válida, deve ser facultada ao autor a emenda à petição
inicial, para incluir no polo passivo o espólio ou os herdeiros,
nos termos do art. 329, I, do CPC/2015.
TRECHOS DO A questão controvertida cinge-se à possibilidade de facultar ao
INFORMATIVO autor o aditamento da inicial para regularização do polo passivo,
na circunstância de falecimento do réu anterior à propositura da
ação monitória. Inicialmente, é inquestionável que o autor não
possuía conhecimento da morte do devedor quando do
ajuizamento da ação monitória. Desse modo, não se trata de
hipótese de sucessão processual pelos herdeiros (art. 110 do
CPC/2015), a qual ocorre apenas quando a parte falece no
curso do processo.
Por outro lado, o aditamento da inicial deve ser permitido porque
a ação judicial foi proposta contra parte incapaz de figurar no
polo passivo. De fato, não havendo citação válida do réu, pois
previamente falecido à época do ajuizamento da ação, deve ser
facultada ao autor a emenda à petição inicial para incluir o
espólio ou os herdeiros, nos termos do art. 329, I, do CPC/2015.
Nesse mesmo sentido, a Terceira Turma firmou o entendimento
de que "o correto enquadramento jurídico da situação em que
uma ação judicial é ajuizada em face de réu falecido
previamente à propositura da demanda é a de ilegitimidade
passiva do de cujus, devendo ser facultado ao autor, diante da
ausência de ato citatório válido, emendar a petição inicial para
regularizar o polo passivo, dirigindo a sua pretensão ao espólio"
(REsp n. 1.559.791/PB, Relatora Ministra Nancy Andrighi,
Terceira Turma, julgado em 28/8/2018, DJe 31/8/2018).

197
REFERÊNCIA REsp 2.025.757-SE, Rel. Ministro Antonio Carlos Ferreira,
DO ACÓRDÃO Quarta Turma, por unanimidade, julgado em 2/5/2023, DJe
5/5/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 775
DESTAQUE DO A reconvenção promovida em litisconsórcio com terceiro não
INFORMATIVO acarreta a inclusão deste no polo passivo da ação principal.
TRECHOS DO A reconvenção tem natureza jurídica de ação e é autônoma em
INFORMATIVO relação à demanda principal (art. 343, § 2º, do CPC/2015). Por
meio dela, o réu deixa de ocupar uma posição simplesmente
passiva no processo e passa a formular pretensão contra o
autor, pleiteando um bem da vida.
O CPC/2015 inovou no procedimento relativo à reconvenção ao
prever que ela deve ser apresentada na própria contestação e
não mais de forma autônoma (art. 343, caput), como ocorria
durante a vigência do CPC/1973. Apesar disso, a reconvenção
continua sendo uma ação autônoma.
Além da ampliação objetiva, a reconvenção também pode
ocasionar a ampliação subjetiva, por meio da inclusão de um
sujeito que até então não participava do processo (art. 343, §§
3º e 4º, do CPC/2015). O art. 343, §§ 3º e 4º, do CPC/2015
autoriza que a reconvenção seja proposta contra o autor e um
terceiro ou pelo réu em litisconsórcio com terceiro.
Nessa hipótese, o juiz deve examinar cada um dos pleitos, vale
dizer, o pedido formulado na inicial e o pedido deduzido na
reconvenção, de forma autônoma, sem que haja a indevida
atribuição de obrigações à parte que não compõe a relação
processual.

198
Ante a autonomia e a independência da reconvenção, a
ampliação subjetiva do processo promovida pela reconvenção
não modifica os polos da ação principal, de modo que as
questões debatidas na ação ficam restritas às partes que já
integravam os polos ativo e passivo da demanda, não se
estendendo ao terceiro, que apenas é parte da demanda
reconvencional.

REFERÊNCIA REsp 2.046.666-SP, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira


DO ACÓRDÃO Turma, por unanimidade, julgado em 16/5/2023, DJe 19/5/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 726
DESTAQUE DO A prescrição somente obsta a compensação se for anterior ao
INFORMATIVO momento da coexistência das dívidas.
TRECHOS DO (...) A compensação é direito potestativo extintivo e, no direito
INFORMATIVO brasileiro, opera por força de lei no momento da coexistência
das dívidas. Para que as dívidas sejam compensáveis, elas
devem ser exigíveis. Sendo assim, as obrigações naturais e as
dívidas prescritas não são compensáveis.
Não se pode afirmar, no entanto, que a obrigação prescrita não
possa ser, em nenhuma hipótese, objeto de compensação.
Quer dizer que a prescrição somente obstará a compensação
se ela for anterior ao momento da coexistência das dívidas. Se
o prazo prescricional se completou posteriormente a esse fato,
tal circunstância não constitui empecilho à compensação dos
débitos.
(...)
Desse modo, nada impede que a parte que se beneficia da
prescrição realize, espontaneamente, a compensação. Por

199
essa razão, ainda que reconhecida a prescrição uma vez que a
compensação foi realizada voluntariamente pela parte, não há
óbice para que a perícia averigue se a compensação ensejou a
quitação parcial ou total do débito decorrente do contrato de
financiamento imobiliário. Assim, o indeferimento da produção
de prova pericial com fundamento na ocorrência de prescrição
configura cerceamento de defesa.

REFERÊNCIA REsp 1.969.468-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma,


DO ACÓRDÃO por unanimidade, julgado em 22/02/2022, DJe 24/02/2022.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

8. SENTENÇA E COISA JULGADA


8.1 PRECEDENTES QUALIFICADOS

TRIBUNAL STF
INFORMATIVO 1101
DESTAQUE DO Tese fixada no Tema 698 da Repercussão Geral:
INFORMATIVO 1. A intervenção do Poder Judiciário em políticas públicas
voltadas à realização de direitos fundamentais, em caso de
ausência ou deficiência grave do serviço, não viola o princípio
da separação dos Poderes. 2. A decisão judicial, como regra,
em lugar de determinar medidas pontuais, deve apontar as
finalidades a serem alcançadas e determinar à Administração
Pública que apresente um plano e/ou os meios adequados para
alcançar o resultado; 3. No caso de serviços de saúde, o déficit
de profissionais pode ser suprido por concurso público ou, por
exemplo, pelo remanejamento de recursos humanos e pela
contratação de organizações sociais (OS) e organizações da
sociedade civil de interesse público (OSCIP).

200
TRECHOS DO Na hipótese de ausência ou deficiência grave do serviço, a
INFORMATIVO intervenção do Poder Judiciário em políticas públicas
voltadas à realização de direitos fundamentais não viola o
princípio da separação dos Poderes (CF/1988, art. 2º),
devendo a atuação judicial, via de regra, indicar as
finalidades pretendidas e impor à Administração Pública a
apresentação dos meios adequados para alcançá-las.
A intervenção casuística do Poder Judiciário, definindo a forma
de contratação de pessoal e da gestão dos serviços de saúde,
coloca em risco a própria continuidade das políticas públicas, já
que desorganiza a atividade administrativa e compromete a
alocação racional dos escassos recursos públicos. Assim, a
participação judicial deve ocorrer em situações excepcionais e
ser pautada por critérios de razoabilidade e eficiência,
respeitada a discricionariedade do administrador em definir e
implementar políticas públicas.
Nesse contexto, para viabilizar uma atuação judicial efetiva e
organizada com vistas à concretização de direitos
fundamentais, esta Corte fixou os seguintes parâmetros a
serem observados: (i) a ausência ou a grave deficiência do
serviço público, decorrente da inércia ou excessiva morosidade
do Poder Público, devem estar devidamente comprovadas nos
autos; (ii) deve-se questionar se é razoável e faticamente viável
que a obrigação pleiteada seja universalizada pelo ente público
devedor, considerados os recursos efetivamente existentes; (iii)
determina-se a finalidade a ser atingida e não o modo como ela
deverá ser alcançada pelo administrador, prestigiando-se a
resolução consensual da demanda e o diálogo institucional com
as autoridades públicas responsáveis; (iv) na implementação de
políticas públicas, a decisão judicial deve apoiar-se em
documentos ou manifestações de órgãos técnicos, os quais
poderão acompanhar a petição inicial ou compor a instrução
processual; e (v) sempre que possível, deve-se permitir a

201
participação de terceiros no processo, com a admissão de
amici curiae e a designação de audiências públicas.

REFERÊNCIA RE 684.612/RJ, rel. Min. Ricardo Lewandowski, redator do


DO ACÓRDÃO acórdão Min. Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em
30.6.23.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STF
INFORMATIVO 1082
DESTAQUE DO Tese Temas 881 e 885 da Repercussão Geral:
INFORMATIVO 1. As decisões do STF em controle incidental de
constitucionalidade, anteriores à instituição do regime de
repercussão geral, não impactam automaticamente a coisa
julgada que se tenha formado, mesmo nas relações jurídicas
tributárias de trato sucessivo.
2. Já as decisões proferidas em ação direta ou em sede de
repercussão geral interrompem automaticamente os efeitos
temporais das decisões transitadas em julgado nas referidas
relações, respeitadas a irretroatividade, a anterioridade anual e
a noventena ou a anterioridade nonagesimal, conforme a
natureza do tributo.
TRECHOS DO Os efeitos temporais da coisa julgada nas relações
INFORMATIVO jurídicas tributárias de trato sucessivo são imediatamente
cessados quando o STF se manifestar em sentido oposto
em julgamento de controle concentrado de
constitucionalidade ou de recurso extraordinário com
repercussão geral.
A coisa julgada não pode servir como salvo conduto imutável a
fim de ser oponível eternamente pelo jurisdicionado somente
porque lhe é benéfica, de modo que, uma vez modificado o

202
contexto fático e jurídico — com o pronunciamento desta Corte
em repercussão geral ou em controle concentrado — os efeitos
das decisões transitadas em julgado em relações de trato
continuado devem se adaptar, aplicando-se a lógica da cláusula
rebus sic stantibus.
Na espécie, os contribuintes possuíam o direito de não recolher
a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) com
fundamento em decisões transitadas em julgado que
consideraram a inconstitucionalidade incidental da Lei
7.689/1998 (que institui a referida contribuição). Em 2007,
sobreveio o julgamento da ADI 15, na qual esta Corte declarou
a constitucionalidade da norma, retomando-se a cobrança da
contribuição. Assim, desde o julgamento de 2007, já estava
clara a posição do STF em relação à validade da Lei
7.689/1988, interrompendo automaticamente
(independentemente de ação rescisória) os efeitos temporais
das decisões transitadas em julgado que declararam a
inconstitucionalidade da incidência da CSLL (em relação a fatos
geradores posteriores a esse ano).
Caso mantidas essas decisões, haveria notável discrepância
passível de ofender a igualdade tributária e a livre concorrência,
pois, em se tratando de relação jurídica de trato continuado, o
contribuinte dispensado do pagamento da CSLL ostentaria
vantagem competitiva em relação aos demais, já que não
destinaria parcela dos seus recursos a essa finalidade.
Ademais, uma decisão da Corte, em controle concentrado ou
em repercussão geral, que seja contrária à coisa julgada
favorável ao contribuinte em relações jurídicas tributárias de
trato continuado produz para ele uma norma jurídica nova
(situação semelhante à criação de um novo tributo), motivo pelo
qual, a depender da espécie do tributo, deve-se observar a
irretroatividade, a anterioridade anual e a noventena (no caso

203
das contribuições para seguridade social, a anterioridade
nonagesimal).
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade,
(i) ao apreciar o Tema 885 da repercussão geral, negou
provimento ao recurso extraordinário da União; (ii) ao apreciar
o Tema 881 da repercussão geral, deu provimento ao recurso
extraordinário da União; e (iii) fixou, para ambos os casos, a
tese acima registrada. Por maioria, não modulou os efeitos da
decisão e entendeu aplicáveis as limitações constitucionais
temporais ao poder de tributar.

REFERÊNCIA RE 955.227/BA, relator Min. Roberto Barroso, julgamento


DO ACÓRDÃO finalizado em 8/2/2023.
RE 949.297/CE, relator Min. Edson Fachin, redator do acórdão
Min. Roberto Barros, julgamento finalizado em 8/2/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

8.2 JURISPRUDÊNCIA PERSUASIVA

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 785
DESTAQUE DO O entendimento fixado no tema repetitivo 995/STJ não obstou
INFORMATIVO a viabilidade de reconhecimento do direito à prestação
previdenciária nas hipóteses em que atendidas as regras de
concessão em momento anterior ao ajuizamento da ação,
apenas rechaçou-se a possibilidade de reafirmação da DER
para a data de implemento dos requisitos correspondentes ao
benefício, devendo o termo inicial, nessa hipótese, ser fixado na
data da citação válida do INSS.
TRECHOS DO A controvérsia cinge-se em determinar se: (a) a ausência de
INFORMATIVO renovação da postulação administrativa caracteriza ausência
de interesse de agir, atraindo a aplicação do entendimento

204
firmado no julgamento do Tema n. 350/STF; e (b) a tese fixada
no julgamento do Tema n. 995/STJ impossibilita o
reconhecimento do direito ao benefício no caso de implemento
dos requisitos em momento anterior à propositura da ação.
O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do Tema n.
350/STF, fixou orientação segundo a qual a concessão de
benefícios previdenciários depende de prévio requerimento do
interessado na seara administrativa, porquanto para configurar
o interesse de agir é preciso estar caracterizada a necessidade
de ir a juízo.
Portanto, para a configuração do interesse de agir, faz-se
indispensável a demonstração da necessidade da prestação
jurisdicional para a satisfação da pretensão do autor.
A reafirmação da DER é um instituto típico do Direito Processual
Civil Previdenciário que ocorre quando se reconhece o direito a
benefício por fato superveniente ao requerimento
administrativo, fixando-se a sua data de início (Data de Início do
Benefício - DIB) para o momento do adimplemento dos
requisitos legais.
A Primeira Seção, no julgamento do Tema n. 995/STJ, fixou
orientação segundo a qual é possível a reafirmação da DER
para o momento em que restarem implementados os requisitos
para a concessão do benefício, mesmo que isso se dê no
interstício entre o ajuizamento da ação e a entrega da prestação
jurisdicional nas instâncias ordinárias, nos termos dos artigos
493 e 933 do CPC/2015, observada a causa de pedir.
Em sede de Embargos de Declaração, a Primeira Seção
deliberou pela impossibilidade de reafirmação da DER para a
data de implemento dos requisitos de concessão quando o fato
superveniente for posterior à propositura da ação.
Do julgado apontado é possível extrair a compreensão de que
somente se poderá admitir o reconhecimento dos efeitos
financeiros desde o momento do implemento dos requisitos

205
para a concessão do benefício quando o fato superveniente for
posterior ao ajuizamento da ação.
Isso significa que não se obstou a viabilidade de
reconhecimento do direito à prestação previdenciária nas
hipóteses em que atendidas as regras de concessão em
momento anterior ao ajuizamento da ação, apenas rechaçou-se
a possibilidade de reafirmação da DER para a data de
implemento dos requisitos correspondentes ao benefício.
Desse modo, impõe-se a fixação do termo inicial, nessas
hipóteses, na data da citação válida do INSS.

REFERÊNCIA AgInt nos EDcl no REsp 2.004.888-RS, Rel. Ministro Gurgel de


DO ACÓRDÃO Faria, Rel. para acórdão Ministra Regina Helena Costa,
Primeira Turma, por maioria, julgado em 22/8/2023, DJe
31/8/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 772
DESTAQUE DO Em respeito ao princípio da não surpresa, é vedado ao julgador
INFORMATIVO decidir com base em fundamentos jurídicos não submetidos ao
contraditório no decorrer do processo.
TRECHOS DO O argumento fático novo apresentado em sustentação oral, em
INFORMATIVO segunda instância, foi a alegação de que a Lei municipal n.
17.337/2017, ato administrativo concreto, com roupagem de lei
formal, que tão somente deu uma denominação a uma área de
proteção ambiental, significou reconhecimento municipal da
ocorrência da desapropriação indireta.
Vê-se, então, que não foi apenas a alegação em plenário de
fundamento legal novo, mas sim de construção argumentativa
com conclusão de postura municipal de reconhecimento

206
administrativo de realização de desapropriação indireta, tudo
com base em fato jurídico apresentado de forma surpreendente,
sem prévia possibilidade, com antecedência devida, de
ponderação do argumento e construção de contra-argumento
no pleno exercício do contraditório e da ampla defesa.
Tal lei em sentido material configura, de forma inequívoca, um
ato administrativo que apenas deu nova denominação à área de
proteção ambiental em epígrafe, com característica
essencialmente individual, referindo-se a imóvel específico e
determinado, não regulamentando, assim, eventuais e futuras
relações jurídicas de forma geral e impessoal, particularidades
essenciais para caracterizá-lo como fundamento legal.
Dessarte, de acordo com o art. 933, em sintonia com o art. 10,
todos do CPC, veda-se a decisão-surpresa no âmbito dos
tribunais, tendo decidido de forma acertada, o Tribunal de
origem, no sentido de abrir vista às partes para que possam
manifestar-se, em respeito ao devido processo legal.
Nesse diapasão, o entendimento jurídico adotado nesta Corte
Superior é no sentido de respeito ao princípio da não surpresa,
o qual ensina que é vedado ao julgador decidir com base em
fundamentos jurídicos não submetidos ao contraditório no
decorrer do processo, com fulcro no art. 10 do CPC.
Dessa forma, é necessária a observância da cooperação
processual nas relações endoprocessuais e do direito à legítima
confiança de que o resultado do processo seja decorrente de
fundamentos previamente conhecidos e debatidos pelas partes
litigantes.

REFERÊNCIA REsp 2.049.725-PE, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda


DO ACÓRDÃO Turma, por unanimidade, julgado em 25/4/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

207
TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 771
DESTAQUE DO É extra petita a decisão que, em ação de reparação de
INFORMATIVO prejuízos supostamente causados pela compensação e
posterior depósito de cheque nominal endossado por quem não
tinha poderes para tanto, condena a instituição financeira ao
pagamento do valor das cártulas indevidamente compensadas.
TRECHOS DO A pretensão da parte autora era a restituição dos prejuízos
INFORMATIVO resultantes da desídia imputada à instituição financeira
demandada ao deixar de conferir a regularidade de endossos
lançados em cheques por ela compensados, equivalente aos
valores despendidos para pôr fim às demandas judiciais contra
ela ajuizadas pelos emitentes das cártulas, acrescido do
numerário que viesse a ser despendido nos demais feitos que
ainda estavam em curso.
Contudo, o Tribunal de origem julgou parcialmente procedentes
os pedidos formulados na petição inicial, para condenar a parte
ré ao pagamento de valores referentes às cártulas
indevidamente compensadas, com correção monetária e juros
de mora desde a data das respectivas compensações
bancárias.
Ao assim decidir, o órgão julgador concedeu providência
jurisdicional diversa da requerida, em flagrante desrespeito ao
princípio da congruência, impondo a devolução dos autos à
origem para novo julgamento da apelação.
Em que pese já ter sido concomitantemente examinado na
origem o pedido de reparação dos prejuízos alegadamente
sofridos em virtude da desídia imputada à instituição financeira,
que a autora não possuía, naquele momento, interesse recursal
para se irresignar contra o acórdão que, ao fim e ao cabo,
concedeu-lhe provimento jurisdicional distinto, daí a
necessidade de se determinar o retorno dos autos à origem de

208
modo a facultar o pleno exercício do direito fundamental à
jurisdição efetiva em todos os graus recursais.
É que, em regra, a decretação de nulidade é a sanção prevista
para a hipótese de decisão extra ou ultra petita, somente
podendo ser relativizada, mediante o decote da parte que
excede à pretensão manifestada, se não houver prejuízo para
as partes. Havendo prejuízo para uma das partes, como ocorre
na espécie, proclama-se a nulidade de todo o julgado.
Além disso, nas razões da apelação foi aventada a hipótese de
cerceamento de defesa em virtude do indeferimento do pedido
de produção de provas, de modo que, calcada a improcedência
do pedido de reparação de prejuízos na ausência de prova
quanto aos fatos constitutivos do direito da autora, impõe-se
mesmo determinar o rejulgamento da apelação em toda a sua
extensão.

REFERÊNCIA REsp 2.035.370-DF, Rel. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva,


DO ACÓRDÃO Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 18/4/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 771
DESTAQUE DO A ausência de intimação da decisão que implicou o provimento
INFORMATIVO parcial do recurso interposto pela parte contrária é sempre
prejudicial ao recorrido, sendo cabível o manejo de ação
rescisória.
TRECHOS DO Cinge-se a controvérsia a analisar a rescisão da decisão
INFORMATIVO impugnada por ausência de intimação válida do advogado na
ação originária.
Em caso versando sobre "a possibilidade do manejo da ação
rescisória, no caso de reconhecimento de nulidade absoluta,

209
pela falta de intimação do procurador do recorrente acerca dos
atos processuais praticados", esta Corte concluiu que "a
exclusividade da querela nullitatis para a declaração de
nulidade de decisão proferida sem regular citação das partes,
representa solução extremamente marcada pelo formalismo
processual. [...] A desconstituição do acórdão rescindendo pode
ocorrer tanto nos autos de ação rescisória ajuizada com
fundamento no art. 485, V, do CPC/1973 quanto nos autos de
ação anulatória, declaratória ou de qualquer outro remédio
processual" (STJ, REsp 1.456.632/MG, Rel. Ministra Nancy
Andrighi, Terceira Turma, julgado em 7/2/2017, DJe 14/2/2017).
Assim sendo, é admissível a presente ação rescisória para
declarar a nulidade da intimação do autor após o julgamento
unipessoal do recurso especial interposto pelo réu.
Na hipótese, após o julgamento unipessoal do AREsp
1.370.930/SP em 29/11/2018, a Secretaria desta Corte, em
virtude de equívoco na autuação, efetuou a publicação, em
7/12/2018, em nome de advogado que não tinha e nunca teve
representação nos autos e não em nome do único advogado
constituído pelo autor na ação originária.
O § 2º do art. 272 do CPC 2015 dispõe que: "Sob pena de
nulidade, é indispensável que da publicação constem os nomes
das partes e de seus advogados, com o respectivo número de
inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil, ou, se assim
requerido, da sociedade de advogados". Assim, a publicação da
decisão unipessoal desta Corte em nome de advogado que
nunca representou o autor nos autos da ação originária implicou
violação manifesta ao disposto no § 2º do art. 272 do CPC 2015.
Como decidido por esta Corte, em mais de uma oportunidade,
a ausência de intimação da parte em virtude de equívoco na
autuação autoriza a rescisão do julgado. "A ausência de
intimação do recorrido, por erro na autuação do recurso
especial, para a apresentação de contrarrazões e demais atos

210
da parte constitui violação literal ao disposto no § 1º do art. 236
do Código de Processo Civil de 1973, possibilitando-se a
rescisão do julgado com fundamento no art. 485, V, do mesmo
estatuto".
Em suma, a ausência de intimação da decisão que implicou o
provimento parcial do recurso interposto pela parte contrária é
sempre prejudicial ao recorrido. Nessa direção, esta Corte já
observou que "o defeito ou a ausência de intimação - requisito
de validade do processo (arts. 236, § 1º, e 247 do CPC/1973) -
impedem a constituição da relação processual e constituem
temas passíveis de exame em qualquer tempo e grau de
jurisdição, independentemente de forma, alegação de prejuízo
ou provocação da parte. Trata-se de vícios transrescisórios".
Impõe-se concluir pela procedência do primeiro pedido
rescisório (CPC 2015, art. 968, inciso I) para reconhecer que a
publicação da decisão rescindenda em nome de advogado que
nunca representou o autor nos autos da ação originária violou
literalmente o disposto no art. 272, § 2º, do CPC 2015.

REFERÊNCIA AR 6.463-SP, Rel. Ministra Maria Isabel Gallotti, Segunda


DO ACÓRDÃO Seção, por unanimidade, julgado em 12/4/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 765
DESTAQUE DO Não configura decisão extra petita a sentença que,
INFORMATIVO reconhecendo a usucapião, determina a liquidação para
individualizar a área usucapida, ainda que não haja pedido
expresso na inicial.
TRECHOS DO Nos termos do art. 492 do Código de Processo Civil, é vedado
INFORMATIVO ao juiz proferir decisão de natureza diversa da pedida, bem

211
como condenar a parte em quantidade superior ou em objeto
diverso do que lhe foi demandado.
Por sua vez, o mesmo diploma legal, no art. 141, dispõe que "o
juiz decidirá o mérito nos limites propostos pelas partes, sendo-
lhe vedado conhecer de questões não suscitadas a cujo
respeito a lei exige iniciativa da parte".
Daí se reconhece que a atuação de ofício do magistrado que
ultrapassa os limites do pedido inicial enseja decisão extra
petita.
Esta Corte já definiu que não há violação dos limites da causa
quando o julgador reconhece os pedidos implícitos formulados
na petição inicial, não estando restrito ao que está expresso no
capítulo referente aos pedidos, sendo-lhe permitido extrair da
interpretação lógico-sistemática da petição inicial aquilo que a
parte pretende obter, aplicando o princípio da equidade (AgInt
no REsp 1.823.194/SP, relator Ministro Luis Felipe Salomão,
Quarta Turma, julgado em 14/2/2022, DJe 17/2/2022).
Isso porque, para compreender os limites do pedido, é preciso
também interpretar a intenção da parte com a instauração da
demanda. Assim, não é extra petita o julgado que decide
questão que é reflexo do pedido deduzido na inicial. Supera-se
a ideia da absoluta congruência entre o pedido e a sentença
para outorgar a tutela jurisdicional adequada e efetiva à parte,
o que se verifica no caso concreto.
A conclusão pela necessidade de liquidação de sentença com
a produção de perícia técnica para determinar e individualizar a
área usucapida de imóvel maior e indiviso apenas outorga tutela
jurisdicional adequada e efetiva à parte, na medida em que
necessária para a expedição do mandado de registro da
usucapião para certificar e dar publicidade ao domínio no
cartório de registro de imóveis, mormente quando os arts. 1.238
e 1.241, parágrafo único, do Código Civil estabelecem que a

212
sentença de usucapião servirá de título para o registo no
cartório de imóveis.
Assim, a possibilidade de registro da sentença que reconheceu
a usucapião de imóvel (aí incluída a necessária individualização
da área usucapida) é reflexo do pedido deduzido na inicial,
sendo desnecessário pedido explícito da parte nesse sentido.
Logo, não há falar em julgamento extra petita, porquanto o
órgão julgador não desrespeitou os limites objetivos da
pretensão inicial nem concedeu providência jurisdicional
diversa da que fora requerida, em atenção ao princípio da
congruência ou adstrição.

REFERÊNCIA AgInt no REsp 1.802.192-MG, Rel. Ministro João Otávio de


DO ACÓRDÃO Noronha, Quarta Turma, por unanimidade, julgado em
12/12/2022, DJe 15/12/2022.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 762
DESTAQUE DO A apresentação de nova prova é um vício rescisório quando,
INFORMATIVO apesar de preexistente ao julgado, não foi juntada ao processo
originário pelo interessado por desconhecimento ou por
impossibilidade.
TRECHOS DO De início, ressalta-se que um novo documento apresentado à
INFORMATIVO lide pode conduzir a desconstituição do título judicial transitado.
Mas, como já declarado pelo Superior Tribunal de Justiça a
partir da norma contida no art. 485, VII, do CPC/1973, a
apresentação de nova prova é um vício rescisório quando,
apesar de preexistente ao julgado, não foi juntada ao processo
originário pelo interessado por desconhecimento ou por
impossibilidade.

213
No caso, a rescisória foi demandada com a apresentação de
documento anterior ao trânsito em julgado do acórdão
rescindendo que seria capaz de demonstrar o pagamento de
Gratificação pelo Regime Especial de Trabalho da
Administração Fazendária - RETAF sem distinções para os
servidores, inclusive para aqueles que ocuparam o mesmo
cargo do ex-servidor falecido.
Contudo, a requerente defendeu a existência de um documento
que lhe é favorável em dois parágrafos da petição inicial que
não são suficientes para explicar a razão pela qual não tinha
conhecimento desse documento ou, ainda, o motivo que a
impediu de apresentar essa prova ainda na fase de
conhecimento do processo original.
Dessa forma, o vício redibitório previsto no art. 966, VII, do
CPC/2015 não se faz presente, pois não houve demonstração
de que o documento indicado como novo, apesar de
preexistente à coisa julgada, era ignorado pelo interessado ou
de impossível obtenção para utilização no processo que formou
o julgado ora rescindendo.

REFERÊNCIA AR 5.196-RJ, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Primeira


DO ACÓRDÃO Seção, por unanimidade, julgado em 14/12/2022, DJe
19/12/2022.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 761
DESTAQUE DO A eficácia preclusiva da coisa julgada impede a apreciação de
INFORMATIVO questões deduzidas e dedutíveis, ainda que não tenham sido
examinadas, desde que atinentes à mesma causa de pedir.

214
TRECHOS DO A controvérsia cinge-se a verificar a existência de violação à
INFORMATIVO coisa julgada quando proposta nova demanda para pleitear
quantia paga a título de juros remuneratórios que incidiram
sobre tarifas bancárias declaradas nulas, com a consequente
devolução dos valores cobrados indevidamente, em sentença
proferida em ação anterior e já transitada em julgado.
A eficácia preclusiva da coisa julgada impede a apreciação das
questões deduzidas e dedutíveis, ainda que não tenham sido
examinadas, desde que atinentes à mesma causa de pedir.
No caso, em ambas as ações, o demandante pretende a
repetição em dobro de valores pagos indevidamente em razão
da incidência de tarifas bancárias abusivas (Tarifa de Abertura
de Crédito - TAC e Tarifa de Emissão de Carnê - TEC) com
base nos mesmos fatos e fundamentos jurídicos.
O fato de, em primeira demanda, o autor pleitear a restituição
em dobro de valor que alega ter sido cobrado indevidamente e
na segunda pedir especificamente que seja restituído, em
dobro, pelo cobrado em obrigações acessórias referentes as
mesmas tarifas, não é suficiente para autorizar a conclusão de
que se trata de lide diversa, pois a causa de pedir (próxima e
remota) das duas demandas é a mesma.
Trata-se de pedido reeditado, fundado no mesmo fato jurídico,
em que se ampara o ajuizamento da primeira demanda, qual
seja, a ilegalidade da cobrança das tarifas "TAC" e "TEC".
A quantia cobrada a título de juros remuneratórios incidentes
sobre as tarifas declaradas nulas, além de ser acessória do
principal (valor pago a título das referidas tarifas) discutido na
primeira ação ajuizada, também faz parte do montante total
cobrado indevidamente em razão da incidência das tarifas
declaradas ilegais.
Assim, a discussão acerca da quantia paga a título de juros
remuneratórios deveria ter sido levantada pelo autor na primeira
demanda, pois está contida no pedido formulado no referido

215
processo, no qual buscou restituir o montante cobrado
indevidamente em razão da aplicação das tarifas "TAC" e
"TEC".
O valor que o autor busca restituir na segunda demanda foi,
como a própria parte alega, pago em razão da ilegalidade das
tarifas declaradas ilegais na primeira demanda, que determinou
a restituição do montante cobrado indevidamente, razão pela
qual cabia à parte pleitear e discutir a repetição do montante
total cobrado indevidamente na primeira ação ajuizada, não
sendo possível propor nova demanda se deixou de pedir a
restituição de acessório relacionado a determinada quantia.
Na hipótese, o pedido formulado nas ações em cotejo, cuja
extensão se alega diferir entre si, encontra-se baseado nos
mesmos fatos e fundamentos jurídicos, verificando-se, portanto,
a tríplice identidade entre as demandas.

REFERÊNCIA REsp 1.989.143-PB, Rel. Ministra Maria Isabel Gallotti, Quarta


DO ACÓRDÃO Turma, por unanimidade, julgado em 6/12/2022.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 761
DESTAQUE DO Em ação rescisória, o depósito prévio não pode ser realizado
INFORMATIVO por outros meios senão em dinheiro.
TRECHOS DO O ajuizamento de ação rescisória pressupõe - além da
INFORMATIVO demonstração efetiva, concreta e objetiva de seus requisitos
legais - o cumprimento de condição de admissibilidade prevista
no art. 968, inciso II, do CPC/2015, consubstanciada na
necessidade de o autor realizar o depósito judicial da
importância de 5% (cinco por cento) por cento sobre o valor da
causa, que se converterá em multa caso a ação seja, por

216
unanimidade de votos, declarada inadmissível ou
improcedente.
A regra em análise representa, sem dúvida, a preocupação do
legislador em evitar o ajuizamento desmedido e temerário de
ações rescisórias, porquanto todo e qualquer postulante deve
litigar de forma responsável. Outra finalidade do comando
judicial é a de obstar a perpetuidade dos litígios, uma vez que a
demanda rescindenda não deve ser utilizada como sucedâneo
recursal.
A doutrina especializada, comentando a natureza jurídica do
depósito prévio da ação rescisória, estabelece que "a multa não
tem caráter indenizatório, não visa compensar a parte
vencedora de possíveis prejuízos, mas a reprimir uma forma de
abuso no exercício do direito de ação".
Da exegese do art. 968, II, do CPC/2015, especialmente o verbo
"depositar" e o objeto direto "importância" ali empregados,
pode-se concluir que se trata de quantia em espécie. Inviável,
portanto, a ampliação do referido requisito para outros meios
que não sejam em dinheiro, porquanto se essa fosse a intenção
do legislador, assim o teria feito, como o fez, por exemplo, na
redação do § 1º do art. 919 do CPC/2015.
Ressalta-se, por oportuno, ter o legislador utilizado o vocábulo
"importância" em outros dispositivos do Código de Processo
Civil de 2015, tais como: § 2º do art. 83; art. 266; § 1º do art.
524; § 8º do art. 528; § 2º do art. 833, entre outros. Em todas as
ocasiões, exceto quando utilizada no sentido de relevância, o
legislador emprega a referida palavra com o propósito de se
referir ao dinheiro em espécie, jamais a aplicando da forma
como almeja o ora recorrente.
Não se olvida que o acesso à justiça constitui direito
fundamental, positivado no art. 5º, XXXV, da Constituição
Federal, o qual prevê que "a lei não excluirá da apreciação do
Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito". Todavia, é

217
inconteste o caráter excepcionalíssimo atribuído ao pleito
rescisório, uma vez que já houve o acesso primário ao
Judiciário, assegurado pela Carta Magna, sob o crivo dos
princípios do contraditório e da ampla defesa.
Ademais, necessário ponderar que tal garantia restou
devidamente protegida ante a inovação legislativa trazida pelo
§ 1º do art. 968 do novo Codex, segundo o qual, além dos entes
públicos, eximiu-se do depósito todos aqueles que estiverem
amparados pelo manto da gratuidade de justiça, que não é o
caso analisado.
Nessas condições, impõe-se reconhecer que a exigência posta
pelo legislador no art. 968, II, do CPC/2015, acerca do depósito
ora em voga, seja inexoravelmente interpretada como dinheiro
em espécie, a fim de salvaguardar a segurança jurídica e a
natureza peculiar da demanda.

REFERÊNCIA REsp 1.871.477-RJ, Rel. Ministro Marco Buzzi, Quarta Turma,


DO ACÓRDÃO por unanimidade, julgado em 13/12/2022.
CONEXÕES E
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 760
DESTAQUE DO A indicação de julgado simples e isolado não ostenta a natureza
INFORMATIVO jurídica de "súmula, jurisprudência ou precedente" para fins de
aplicação do art. 489, § 1º, VI, do CPC.
TRECHOS DO O art. 489, § 1º, VI, do CPC entende que há negativa de
INFORMATIVO prestação jurisdicional quando o órgão julgador "deixar de
seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente
invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção
no caso em julgamento ou a superação do entendimento".

218
No caso, a parte interessada, antes da oposição de embargos
de declaração, indicou um único acórdão do Tribunal de origem
supostamente em confronto com a decisão recorrida, por tratar
de mesma questão.
Logo, a indicação de julgado simples e isolado não ostenta a
natureza jurídica de "súmula, jurisprudência ou precedente"
para fins de aplicação do art. 489, § 1º, VI, do CPC.
Não é jurisprudência, porque essa pressupõe multiplicidade de
julgamentos no mesmo sentido, raciocínio que, de boa lógica,
também exclui a hipótese de considerar um caso isolado como
súmula de entendimento.
Também não se pode considerar que a expressão "precedente"
abrange o julgamento de qualquer acórdão. Isso porque a
interpretação sistemática do Código de Processo Civil,
notadamente a leitura do art. 927, que dialoga diretamente com
o 489, evidencia que "precedente" abarca somente os casos
julgados na forma qualificada pelo primeiro comando normativo
citado, não tendo o termo abarcado de maneira generalizada
nenhuma decisão judicial.
A proteção conferida pelo Código de Processo Civil contra
decisões-surpresa não pode inviabilizar que o juiz conheça do
direito alegado e determine a exegese a ser aplicada ao caso.
Hipótese em que a causa foi decidida nos limites do objeto da
ação, não podendo ter causado surpresa à parte se era uma
das consequências previsíveis do julgamento.
Sobre o tema, esta Corte já entendeu que não se pode falar em
decisão-surpresa quando o magistrado, diante dos limites da
causa de pedir, do pedido e do substrato fático delineado nos
autos, realiza a tipificação jurídica da pretensão no
ordenamento jurídico posto, aplicando a lei adequada à solução
do conflito, ainda que as partes não a tenham invocado (iura
novit curia) e independentemente de ouvi-las, até porque a lei
deve ser de conhecimento de todos, não podendo ninguém se

219
dizer surpreendido com a sua aplicação (AgInt no AREsp
2.028.275/MS, rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma,
DJe 29/6/2022).

REFERÊNCIA AREsp 1.267.283-MG, Rel. Min. Gurgel de Faria, Primeira


DO ACÓRDÃO Turma, por unanimidade, julgado em 27/09/2022, DJe
26/10/2022.
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 759
DESTAQUE DO Não faz coisa julgada sobre a integralidade da relação jurídica
INFORMATIVO o pronunciamento judicial que aprecia relações de trato
continuado que sofrem modificações de ordem fática e jurídica
no tempo.
TRECHOS DO Cinge-se a controvérsia a definir se a questão do cumprimento
INFORMATIVO do contrato e da prestação do serviço está acobertada pela
coisa julgada e, se estiver, se o Tribunal de origem, ao manter
a sentença de extinção da execução, violou a imutabilidade
dessa decisão.
Sobre o tema, observa-se que o decidido pelo Tribunal foi que,
no momento em que analisada a relação jurídica existente entre
as partes, o contrato, que era de trato sucessivo, vinha sendo
cumprido. Isso não quer dizer, contudo, que as obrigações da
contratada seriam, para sempre, cumpridas. Não foi outro o
entendimento da Corte de origem na análise da apelação
interposta contra a decisão que julgou os embargos e extinguiu
a execução.
Verifica-se, portanto, que o pronunciamento original da Corte de
origem, nos autos da ação de rescisão, tem uma limitação de
ordem temporal, pois proferido de forma parcial, apenas com

220
base na situação fática delineada até ali, em nada decidindo a
respeito da execução completa do contrato, cujas obrigações se
protraíram no tempo, inclusive para período posterior à ação.
Desse modo, na ausência de pronunciamento judicial definitivo
acerca da integralidade da relação jurídica estabelecida entre
as partes, não há falar em imutabilidade ou coisa julgada sobre
a execução do contrato como um todo, mas apenas quanto à
parte analisada naquela oportunidade.
Como explica a doutrina, nesses casos de relações jurídicas de
trato continuado, não se pode falar em violação da coisa julgada
anterior, pois os procedimentos não são idênticos, visto que a
causa de pedir próxima será diferente na segunda ação, devido
às alterações fáticas e jurídicas supervenientes.
Ademais, se o pacto seguiu vigente, os fatos supervenientes,
alheios ao pronunciamento anterior e que têm aptidão para
alterar o contexto jurídico e a relação entre as partes, não
podem ficar imunes à jurisdição. Nesse sentido, o art. 505, I, do
CPC/2015.
Assim, não se mostra contraditório o julgamento posterior que
reconheceu a inexigibilidade e extinguiu a execução dos títulos
vinculados ao contrato se, a despeito do juízo inicial de
improcedência da rescisão, pois as obrigações vinham sendo
atendidas, não se formou juízo final e de certeza quanto à
inteireza da relação jurídica existente entre as partes.
Com efeito, novo pronunciamento, que leva em consideração
alteração fática superveniente, não ofende a imutabilidade da
decisão anterior, que, ao apreciar obrigações continuadas e
ainda não finalizadas, traz consigo, implicitamente, uma
cláusula rebus sic stantibus, que autoriza a adaptação de
eventual novo provimento à nova realidade.

221
REFERÊNCIA REsp 2.027.650-DF, Rel. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva,
DO ACÓRDÃO Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 25/10/2022, DJe
28/10/2022.
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 757
DESTAQUE DO É possível a compensação ser alegada em contestação, de
INFORMATIVO forma a justificar o não pagamento do valor cobrado ou a sua
redução, extinguindo ou modificando o direito do autor.
TRECHOS DO O princípio da demanda, decorrente dos arts. 128 e 460 do
INFORMATIVO CPC/1973 (arts. 141 e 492 do CPC/2015), impõe limites que
devem ser observados pela atividade jurisdicional, de modo que
ao processo interessa o litígio apenas nos limites em que foi
proposto pelas partes ao juiz, devendo existir uma estrita
correlação entre pedido, causa de pedir e sentença.
O mais usual é que os pedidos e a causa de pedir sejam
delimitados pelo autor na petição inicial, no entanto é possível
a ampliação destes pelo réu. Como já decidiu esta Terceira
Turma, "no tocante a eventuais pleitos realizados pelo réu
citado, a disciplina processual civil prevê que devem ser feitos
por meio de reconvenção. Isso porque, em contestação, o réu
deve apenas alegar todas as matérias de defesa que reputar
necessárias para ilidir o pedido do autor, mas não deve fazer
pedidos", ao menos quanto ao mérito (REsp 1.849.967/SP,
Terceira Turma, DJe 11/02/2021).
Segundo leciona a doutrina, a contestação é veículo para: (I)
defesas substanciais diretas, podendo o réu negar os fatos
alegados pelo autor ou a eficácia jurídica desses fatos; (II)
defesas substanciais indiretas, podendo o réu alegar fatos

222
novos, relevantes para o julgamento de mérito; e (III) defesas
processuais, que são sempre indiretas.
Na defesa substancial indireta, o entendimento doutrinário
enfatiza "o réu opõe à pretensão do autor a alegação de um fato
impeditivo, modificativo ou extintivo do direito que este alega ter.
Esses fatos atuam negativamente sobre o direito e, cada um
deles, a seu modo, todos comprometem a eficácia do fato
constitutivo alegado pelo autor - sendo todos eles, portanto,
dotados de eficácia favorável ao réu".
Nesse sentido, na presente hipótese, discute-se a possibilidade
de alegar, em contestação, a compensação entre o crédito da
autora e os prejuízos sofridos pela ré em valor a ser apurado
em liquidação de sentença, como forma de recomposição do
desequilíbrio contratual.
Como mencionado, a compensação é matéria possível de ser
alegada em contestação, de forma a justificar o não pagamento
do valor cobrado ou a sua redução, extinguindo ou modificando
o direito do autor. Todavia, é preciso observar que, conforme o
art. 369 do CC/2002, a compensação se dá apenas entre
dívidas líquidas, vencidas e de coisas fungíveis. Logo, a
alegação deve ser apreciada, mas o seu acolhimento
dependerá do preenchimento desses requisitos.

REFERÊNCIA REsp 2.000.288-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma,


DO ACÓRDÃO por unanimidade, julgado em 25/10/2022, DJe 27/10/2022.
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 757
DESTAQUE DO Não há como formular, na contestação, pedido de rescisão ou
INFORMATIVO revisão contratual.

223
TRECHOS DO A controvérsia consiste em definir se a rescisão ou revisão do
INFORMATIVO contrato por onerosidade excessiva pode ser alegada como
matéria de defesa em contestação.
Não há como formular, na contestação, pedido de rescisão ou
revisão contratual. Isso porque, sem reconvenção, o Juiz não
pode julgar pedidos do réu quanto ao mérito e, por
consequência, não pode decretar a rescisão do contrato e
reconstituir o status quo ante ou revisar o contrato para alterar
os direitos e as obrigações nele previstos.
Em outras palavras, o direito do autor só seria extinto ou
modificado após a decretação da rescisão ou da revisão por
sentença e, para tanto, seria necessária a realização de um
pedido em reconvenção ou em ação autônoma.
No entanto, o réu pode alegar, na contestação, que já ocorreu
o desfazimento do contrato, como na hipótese de cláusula
resolutiva expressa (art. 474 do CC/2002) ou de distrato (art.
472 do CC/2002). Ademais, a diferença é que nessa situação o
desfazimento já se operou, extinguindo o direito do autor no
plano do direito material, sem a necessidade de decisão judicial.

REFERÊNCIA REsp 2.000.288-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira


DO ACÓRDÃO Turma, por unanimidade, julgado em 25/10/2022, DJe
27/10/2022.
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 757
DESTAQUE DO Se a pretensão de cobrança deduzida na inicial é fundada em
INFORMATIVO cláusula contratual, a alegação de nulidade dessa cláusula ou
da própria cobrança pode ser manejada em contestação, por
caracterizar fato extintivo do direito do autor.

224
TRECHOS DO A controvérsia consiste em definir se a nulidade de cláusula
INFORMATIVO contratual ou da cobrança pode ser alegada como matéria de
defesa em contestação.
Quando se está diante de alegação de fatos novos pelo réu,
para avaliar se são possíveis de serem apresentados em
contestação, sem a necessidade de reconvenção, é preciso
apurar se são fatos impeditivos, modificativos ou extintivos do
direito do autor, como autoriza o art. 326 do CPC/1973 (art. 350
do CPC/2015). Nessa hipótese, haverá uma ampliação do
objeto de conhecimento do Juiz, mas não do processo e todas
as alegações servirão exclusivamente para fundamentar a
improcedência do pedido do autor.
A alegação de nulidade de cláusula contratual é matéria
possível de ser alegada em contestação sempre que consistir
em fato extintivo do direito do autor. Assim, o Juízo pode julgar
improcedente o pedido do autor que estiver baseado em
cláusula contratual tida como nula (v.g., por ausência dos
requisitos de validade do art. 104 do CC/2002, nas hipóteses do
art. 51 do CDC, por violação à boa-fé objetiva etc.).
Sob esse enfoque, se a pretensão deduzida na inicial é de
cobrança de débito e ela está fundada em cláusula contratual,
a alegação de nulidade dessa cláusula ou da própria cobrança
pode ser manejada em contestação, por caracterizar fato
extintivo do direito do autor.
Nesse sentido, a doutrina sustenta a possibilidade de alegar a
nulidade do negócio jurídico como matéria de defesa. Para o
autor, trata-se de uma hipótese de objeção substancial. De todo
o modo, sendo a alegação apenas em contestação, sem pedido
reconvencional, a sentença não declarará a nulidade, sendo
esta apenas um fundamento para a improcedência do pedido
do autor.

225
REFERÊNCIA REsp 2.000.288-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma,
DO ACÓRDÃO por unanimidade, julgado em 25/10/2022, DJe 27/10/2022.
CONEXÕES E
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 728
DESTAQUE DO Nos casos em que já executado o título formado na primeira
INFORMATIVO coisa julgada, ou se iniciada sua execução, deve prevalecer a
primeira coisa julgada em detrimento daquela formada em
momento posterior.
TRECHOS DO A Corte Especial deste Tribunal, ao julgar o EAREsp
INFORMATIVO 600.811/SP, firmou o entendimento de que havendo conflito
entre coisas julgadas deve prevalecer a última que se formou,
desde que não desconstituída por ação rescisória.
Contudo, a referida regra deve ser afastada nos casos em que
já executado o título formado na primeira coisa julgada, ou se
iniciada sua execução, hipótese , em que deve prevalecer a
primeira coisa julgada em detrimento daquela formada em
momento posterior, consoante expressamente consignado na
ementa e no voto condutor do referido julgado.
Assim, no presente caso houve a execução do título formado na
ação coletiva, primeiro a transitar em julgado. Logo, incide a
exceção prevista no EAREsp 600.811/SP, devendo prevalecer
a primeira coisa julgada formada, razão pela qual se mostra
indevida a execução do título formado em momento posterior,
ainda que se trate de período diverso, sobre o qual foi
reconhecida a prescrição na primeira execução.

REFERÊNCIA AgInt nos EDcl no REsp 1.930.955-ES, Rel. Min. Mauro


DO ACÓRDÃO Campbell Marques, Segunda Turma, por unanimidade, julgado
em 08/03/2022.

226
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 712
DESTAQUE O termo inicial do prazo para ajuizamento da ação rescisória,
quando há insurgência recursal da parte contra a inadmissão de
seu recurso, dá-se da última decisão a respeito da controvérsia,
salvo comprovada má-fé.

TRECHOS DO Registra-se que enquanto não estiver definitivamente decidida


INFORMATIVO a questão acerca da ocorrência ou não do trânsito em julgado,
o prazo decadencial da ação rescisória não se inicia, sob pena
de se causar grave insegurança jurídica.
Nessa mesma linha de entendimento, a Corte Especial do
Superior Tribunal de Justiça, por ocasião do julgamento do
EREsp 1.352.730/AM, de relatoria do Ministro Raul Araújo,
entendeu que não se pode admitir o início do prazo para a ação
rescisória antes do último pronunciamento judicial sobre a
admissibilidade do recurso interposto, sob pena de se gerar
"situação de inegável instabilidade no desenrolar processual".
Caso contrário, o recorrente deveria ter ajuizado uma ação
rescisória "condicional", juntamente com a interposição de
agravo de instrumento impugnando a decisão que tornou sem
efeito a apelação e reconheceu o trânsito em julgado.
Assim, caso o Poder Judiciário levasse mais de dois anos para
decidir se a sua apelação fora ou não anulada pelo acolhimento
dos embargos de declaração da parte interessada, como, de
fato, ocorreu, não haveria decadência para o ajuizamento da
ação rescisória, pois ela já estaria em tramitação.
Esse procedimento, contudo, além de atentar contra a
economia processual, não se mostra razoável, causando

227
insegurança jurídica e desnecessária sobrecarga ao Poder
Judiciário.
No julgamento do citado EREsp 1.352.730/AM, estabeleceu-se
uma exceção, qual seja, a existência de má-fé da parte
recorrente, hipótese em que a data do trânsito em julgado não
se postergaria.
Em outras palavras, caso fique demonstrado que a parte se
insurgiu contra a inadmissibilidade de seu recurso sem qualquer
fundamento, apenas para postergar o encerramento do feito,
em nítida má-fé processual, o entendimento aqui proposto não
prevaleceria.
REFERÊNCIA REsp 1.887.912-GO, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Terceira
DO ACÓRDÃO Turma, por unanimidade, julgado em 21/09/2021, DJe
24/09/2021.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 701
DESTAQUE A inversão do ônus da prova prevista no art. 6º, VIII, do CDC, é
regra de instrução e não regra de julgamento, motivo pelo qual
a decisão judicial que a determina deve ocorrer antes da etapa
instrutória, ou quando proferida em momento posterior, sob
pena de absoluto cerceamento de defesa.

TRECHOS DO (...) No caso, em que pese a matéria de fundo esteja vinculada


INFORMATIVO a contratos de seguro individual - os quais têm a incidência do
diploma consumerista, por constituírem em larga medida
ajustes padrão (de adesão), no âmbito dos quais o consumidor
tem mínima ou nenhuma ingerência -, tal não autoriza a
desmedida inversão do ônus probatório, haja vista que a
demanda é movida pelo Ministério Público, entidade que jamais

228
pode ser considerada hipossuficiente, notadamente quando
dotada de amplo poder investigatório de espectro administrativo
pré-processual, cercando-se de vasto aparato técnico e jurídico
para alcançar e reunir um conjunto probante para fazer frente
ao ônus de prova estabelecido na lei de regência.
Certamente, a inversão do ônus da prova como regra de
procedimento ocorrerá quando forem verificados os requisitos
cumulativos da verossimilhança das alegações do consumidor
ou a sua hipossuficiência. Assim, o magistrado poderia inverter
o ônus da prova, com base no artigo 6º, inciso VIII, do Código
de Defesa do Consumidor, transferindo ao réu o ônus que
inicialmente incumbia ao autor. Ou seja, a inversão probatória
não é regra, é mera faculdade. Com base nisso, é que se
fundamenta a necessidade de que a inversão do ônus da prova
ocorra em momento anterior ao da sentença, possibilitando à
parte onerada a plenitude do direito de produzir a prova
considerada necessária para a sua defesa.
Salienta-se que a jurisprudência desta Corte é no sentido de
que a inversão do ônus da prova prevista no art. 6º, VIII, do
CDC, é regra de instrução e não regra de julgamento, motivo
pelo qual a decisão judicial que a determina deve ocorrer antes
da etapa instrutória, ou quando proferida em momento
posterior, garantir a parte a quem foi imposto o ônus a
oportunidade de apresentar suas provas.
REFERÊNCIA REsp 1.286.273-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, Quarta Turma, por
DO ACÓRDÃO unanimidade, julgado em 08/06/2021.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 691

229
DESTAQUE DO É possível que o magistrado, a qualquer tempo, e mesmo de
INFORMATIVO ofício, revise o valor desproporcional das astreintes.
TRECHOS DO (...)
INFORMATIVO É possível a revisão do quantum fixado a título de multa
cominatória, na via do recurso uniformizador, por meio do
exame da questão de direito processual adjacente - preclusão
da discussão do valor da multa cominatória -, mormente diante
do flagrante exagero da quantia alcançada, em afronta aos
princípios da razoabilidade e da proporcionalidade e à vedação
do enriquecimento sem causa.
Ressalte-se que a finalidade das astreintes é conferir
efetividade ao comando judicial, coibindo o comportamento
desidioso da parte contra a qual foi imposta obrigação judicial.
Seu escopo não é indenizar ou substituir o adimplemento da
obrigação, tampouco servir ao enriquecimento imotivado da
parte credora, devendo, pois, serem observados os princípios
da razoabilidade e da proporcionalidade.
Nessa toada, a própria legislação que prevê a possibilidade de
imposição de multa cominatória autoriza o magistrado, a
requerimento da parte ou de ofício, alterar o valor e a
periodicidade da multa, quando, em observância aos referidos
princípios, entender ser esta insuficiente ou excessiva, nos
termos do art. 461, § 6º, do CPC/1973 e, atualmente, do art.
537, § 1º, do CPC/2015.
Interpretando as referidas normas processuais, o Superior
Tribunal de Justiça firmou orientação de que o valor
das astreintes, previstas no citado art. 461 do Código de
Processo Civil revogado (correspondente ao art. 536 do Código
vigente), é estabelecido sob a cláusula rebus sic stantibus, de
maneira que, quando se tornar irrisório ou exorbitante ou
desnecessário, pode ser modificado ou até mesmo revogado
pelo magistrado, a qualquer tempo, até mesmo de ofício, ainda
que o feito esteja em fase de execução ou cumprimento de

230
sentença, não havendo falar em preclusão ou ofensa à coisa
julgada. Considera-se que a multa não tem uma finalidade em
si mesma e assim como pode ser fixada de ofício pelo juiz, em
qualquer fase do processo, também pode ser
revista ex officio por este, a qualquer tempo.
A propósito, no julgamento do Recurso Especial 1.333.988/SP,
sob a sistemática dos recursos repetitivos, a Segunda Seção,
no Tema 706, consolidou a tese de que "a decisão que
comina astreintes não preclui, não fazendo tampouco coisa
julgada".
Por sua vez, a Primeira Seção, também julgando Recurso
Especial Repetitivo para analisar o Tema 98 (possibilidade de
imposição de multa diária a ente público, para compeli-lo a
fornecer medicamento a pessoa desprovida de recursos
financeiros), afirmou a não incidência do instituto da coisa
julgada na revisão do valor das astreintes.
Nesse contexto, com respaldo na legislação e na jurisprudência
desta Corte Superior, pode o julgador, a requerimento da parte
ou de ofício, a qualquer tempo, ainda que o feito esteja em fase
de cumprimento de sentença, modificar o valor das astreintes,
seja para majorá-lo, para evitar a conduta recalcitrante do
devedor em cumprir a decisão judicial, seja para minorá-lo,
quando seu montante exorbitar da razoabilidade e da
proporcionalidade, ou até mesmo para excluir a multa
cominatória, quando não houver mais justa causa para sua
mantença.
Nessa linha de intelecção, ainda que já tenha havido redução
anterior do valor da multa cominatória, não há vedação legal a
que o magistrado, amparado na constatação de que o total
devido a esse título alcançou montante elevado, reexamine a
matéria novamente, caso identifique, diante de um novo quadro,
que a cominação atingiu patamar desproporcional à finalidade
da obrigação judicial imposta.

231
Nesse diapasão, em atenção aos princípios da razoabilidade e
proporcionalidade, é recomendável a redução, quantas vezes
forem necessárias, do valor das astreintes, sobretudo nas
hipóteses em que a sua fixação ensejar valor superior ao
discutido na ação judicial em que foi imposta, a fim de evitar
eventual enriquecimento sem causa.
Desse modo, fixada a premissa de que as astreintes não se
sujeitam à preclusão ou à coisa julgada, deve-se definir os
critérios para a melhor adequação do valor da multa quando ele
se tornar excessivo ou irrisório.
Acerca da temática, a Quarta Turma, em importante
precedente, de relatoria do Ministro Luis Felipe Salomão (AgInt
no AgRg no AREsp 738.682/RJ), delineou que o julgador, na
fixação e/ou alteração do valor da multa cominatória, deve-se
balizar segundo dois "vetores de ponderação: a) efetividade da
tutela prestada, para cuja realização as astreintes devem ser
suficientemente persuasivas; e b) vedação ao enriquecimento
sem causa do beneficiário, porquanto a multa não é, em si, um
bem jurídico perseguido em juízo". Assim, lançou o eminente
Relator alguns parâmetros para nortear o magistrado na difícil
tarefa de fixar o quantum devido a título de astreintes: "i) valor
da obrigação e importância do bem jurídico tutelado; ii) tempo
para cumprimento (prazo razoável e periodicidade); iii)
capacidade econômica e de resistência do devedor; iv)
possibilidade de adoção de outros meios pelo magistrado e
dever do credor de mitigar o próprio prejuízo
(duty to mitigate de loss)".
Assim, entende-se que o magistrado, diante da desproporção
que alcançou o valor da multa diária originariamente arbitrada,
deve, com base nos referidos critérios, de ofício ou a
requerimento da parte, fazer novo balizamento do quantum,
garantindo, com isso, a eficácia da decisão judicial e, ao mesmo
tempo, evitando o enriquecimento sem causa do beneficiário.

232
REFERÊNCIA EARESP 650.536/RJ, Rel. Min. Raul Araújo, Corte Especial, por
DO ACÓRDÃO maioria, julgado em 07/04/2021.

CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

9. EXECUÇÃO E CUMPRIMENTO DE SENTENÇA

9.1 PRECEDENTES QUALIFICADOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 793
DESTAQUE DO Tese firmada no Tema Repetitivo 1141:
INFORMATIVO A pretensão de expedição de novo precatório ou requisição de
pequeno valor, fundada nos arts. 2º e 3º da Lei n. 13.463/2017,
sujeita-se à prescrição quinquenal prevista no art. 1º do Decreto
n. 20.910/1932 e tem, como termo inicial, a notificação do
credor, na forma do § 4º do art. 2º da Lei n. 13.463/2017.
TRECHOS DO A controvérsia consiste em definir se é prescritível a pretensão
INFORMATIVO de expedição de novo precatório ou RPV, após o cancelamento
da requisição anterior, de que tratam os arts. 2º e 3º da Lei n.
13.463, de 06/07/2017.
O art. 1º do Decreto n. 20.910/1932, em termos gerais, sujeita
à prescrição quinquenal as dívidas passivas da União, dos
Estados e dos Municípios, "bem assim todo e qualquer direito
ou ação contra a Fazenda federal, estadual ou municipal, seja
qual for a sua natureza".
Os termos amplos da previsão legal são reiterados pela
jurisprudência do STJ, segundo a qual "a prescrição quinquenal
prevista no art. 1º do Decreto n. 20.910/1932 deve ser aplicada
a todo e qualquer direito ou ação contra a Fazenda Pública, seja
ela federal, estadual ou municipal, independentemente da

233
natureza da relação jurídica estabelecida entre a Administração
Pública e o particular" (AgRg no AREsp 16.494/RS, Rel.
Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe de
3/8/2012).
Por outro lado, a jurisprudência do STJ não exige que cada
norma, ao consagrar um direito, estabeleça a específica
previsão do prazo prescricional a que ele se sujeita, pois, "como
regra geral, a prescrição é quinquenal, estabelecida pelo art. 1°
do Decreto n. 20.910/1932 (...)" (AgRg no REsp 862.721/PR,
Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe de
7/6/2010).
Quanto à compreensão de que se estaria, no caso, diante de
um direito potestativo, não é o que se infere da norma ora
examinada. Verifica-se que a Lei n. 13.463/2017, ao mesmo
tempo em que prevê a retirada do numerário depositado em
favor do credor da sua esfera de disponibilidade, permite-lhe
resguardar o seu direito mediante pedido de expedição de nova
ordem de cumprimento da obrigação de pagar. Nesse
momento, o credor volta a ter tão somente um crédito, cuja
satisfação, evidentemente, depende de prestação do devedor,
isto é, volta a ter uma pretensão. Essa alteração de posição
jurídica, segundo se decidiu na ADI 5.755/DF, decorre de um
ato ilícito, ofensivo ao devido processo legal em sua acepção
material.
A atribuição de efeitos ex nunc à declaração de
inconstitucionalidade não infirma essa conclusão, uma vez que,
nela, o STF não afirma que as disposições da Lei n.
13.463/2017 são lícitas até o ano de 2022. Em vez disso, limita-
se a manter, por razões de segurança orçamentária e de
interesse social, os cancelamentos já operados antes de
06/07/2022.
Nesse sentido, fica claro no seguinte excerto do voto da Ministra
Rosa Weber: "As disposições legais declaradas

234
inconstitucionais ao julgamento do presente feito, não obstante
viciadas na sua origem, ampararam a concretização de
inúmeros atos jurídicos que levaram ao cancelamento de
diversos precatórios e RPVs, praticados ao abrigo legal por
longo período". Tem-se, assim, configurado um direito que,
violado, ensejou pretensão, por sua vez, sujeita à prescrição, na
forma do art. 189 do Código Civil.
Por fim, cabe acrescentar que, se é o cancelamento do
precatório ou RPV que faz surgir a pretensão, figura jurídica que
atrai o regime prescricional do art. 1º do Decreto n. 20.910/1932,
deve-se concluir que o termo inicial do prazo é precisamente a
ciência desse ato de cancelamento, como indica a teoria
da actio nata.
O STJ aplica essa orientação da teoria da actio nata em seu
viés subjetivo, de modo que "a jurisprudência desta Corte é
firme no sentido de que, em conformidade com o princípio
da actio nata, o termo inicial da prescrição ocorre a partir da
ciência inequívoca da lesão ao direito subjetivo" (STJ, AgInt no
REsp 1.909.827/SC, Rel. Ministra Assusete Magalhães,
Segunda Turma, DJe de 19/4/2022).
No caso da Lei 13.463/2017, os §§ 3º e 4º do seu art. 2º
estabelecem que a instituição financeira, após proceder ao
cancelamento previsto na norma, dará ciência ao Presidente do
Tribunal respectivo, que comunicará o fato ao juízo da
execução, que, por sua vez, notificará o credor: "Art. 2º. (...). (...)
§ 3º. Será dada ciência do cancelamento de que trata o caput
deste artigo ao Presidente do Tribunal respectivo. § 4º. O
Presidente do Tribunal, após a ciência de que trata o § 3º deste
artigo, comunicará o fato ao juízo da execução, que notificará o
credor".
Essa cautela do legislador deve orientar, também, a fixação do
termo inicial da contagem do prazo quinquenal de que dispõe o
titular para requerer a expedição do novo ofício requisitório, que

235
deve coincidir com a notificação do credor, prevista no § 4º do
art. 2º da Lei 13.463/2017.
Assim, para fins do recurso repetitivo, firma-se a tese no sentido
de que "a pretensão de expedição de novo precatório ou
requisição de pequeno valor, fundada nos arts. 2º e 3º da Lei
13.463/2017, sujeita-se à prescrição quinquenal prevista no art.
1º do Decreto n. 20.910/1932 e tem, como termo inicial, a
notificação do credor, na forma do § 4º do art. 2º da referida Lei
n. 13.463/2017".

REFERÊNCIA
DO ACÓRDÃO REsp 1.961.642-CE, Rel. Ministra Assusete Magalhães,
Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 25/10/2023
(Tema 1141).
REsp 1.944.707-PE, Rel. Ministra Assusete Magalhães,
Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 25/10/2023
(Tema 1141).
REsp 1.944.899-PE, Rel. Ministra Assusete Magalhães,
Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 25/10/2023
(Tema 1141).

CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STF
INFORMATIVO 1109
DESTAQUE DO Tese firmada no Tema 598 da Repercussão Geral:
INFORMATIVO O deferimento de sequestro de rendas públicas para
pagamento de precatório deve se restringir às hipóteses
enumeradas taxativamente na Constituição Federal de 1988.
TRECHOS DO É inconstitucional o sequestro de verbas públicas para
INFORMATIVO pagamento de crédito a portador de moléstia grave sem a
observância das regras dos precatórios. A interpretação das

236
normas que definem regime excepcional do sequestro de
recursos financeiros necessários à satisfação de precatório não
pode ser ampliativa, sob pena de alcançar situações não
previstas de modo expresso no texto constitucional. Nesse
contexto, a medida deve ser deferida apenas quando não
verificada a alocação orçamentária do valor necessário à
satisfação do seu débito ou demonstrada a quebra da ordem de
preferência de pagamento (CF/1988, art. 100, § 6º), examinada
a partir de balizas observadas no próprio texto constitucional
(CF/1988, art. 100, caput e §§ 1º e 2º). Na espécie, a natureza
administrativa da decisão proferida no processamento do
precatório inviabiliza o conhecimento do recurso extraordinário
(1). Com base nesses entendimentos, o Plenário, por
unanimidade, ao apreciar o Tema 598 da repercussão geral,
negou seguimento ao recurso extraordinário e fixou a tese
acima registrada.

REFERÊNCIA RE 840.435/RS, rel. Min. Dias Toffoli, julgamento virtual


DO ACÓRDÃO finalizado em 22.9.2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STF
INFORMATIVO 1108
DESTAQUE DO Tese fixada no Tema 1262 da Repercussão Geral:
INFORMATIVO Não se mostra admissível a restituição administrativa do
indébito reconhecido na via judicial, sendo indispensável a
observância do regime constitucional de precatórios, nos
termos do art. 100 da Constituição Federal.
TRECHOS DO A restituição de indébito tributário reconhecido na via judicial
INFORMATIVO não pode ser efetivada administrativamente, eis que deve plena
observância ao regime constitucional de precatórios (CF/1988,
art. 100).

237
Os pagamentos devidos pela Fazenda Pública em decorrência
de pronunciamentos jurisdicionais devem ser realizados por
meio da expedição de precatório ou de requisição de pequeno
valor, conforme o valor da condenação.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade,
reconheceu a existência de repercussão geral da questão
constitucional suscitada (Tema 1.262 da repercussão geral) e
reafirmou a jurisprudência dominante sobre a matéria para dar
provimento ao recurso extraordinário.

REFERÊNCIA RE 1.420.691/SP, Rel. Min. Presidente, julgamento finalizado


DO ACÓRDÃO em 21.8.23.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STF
INFORMATIVO 1104
DESTAQUE DO Sociedades de economia mista, como o Metrô-DF, desde que
INFORMATIVO prestem serviço público essencial em regime de exclusividade
(monopólio natural) e sem intuito lucrativo, submetem-se ao
regime constitucional de precatórios para o adimplemento de
seus débitos.
TRECHOS DO O transporte público coletivo de passageiros sobre trilhos
INFORMATIVO configura serviço público essencial que não concorre com as
demais espécies de transporte coletivo. A sua atuação, dentro
do contexto da política pública de mobilidade urbana, é
complementar. A constituição de uma sociedade de economia
mista para gerenciar a prestação do serviço dos metrôs deve-
se, em essência, à maior agilidade e operabilidade
administrativa, mas a viabilidade econômica, normalmente,
depende do investimento do Poder Público, desde as
desapropriações até os bilionários subsídios. Nesse contexto, a

238
transferência de recursos deve estar condicionada à
observância dos princípios constitucionais de gestão fiscal e
orçamentária do erário, no que se inclui o regime de
pagamentos por precatórios. Entendimento diverso pode, entre
outros aspectos, subverter a programação orçamentária do ente
público, em prejuízo de despesas com manutenção,
investimento em novos equipamentos, recrutamento e
qualificação profissional.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou
procedente a arguição, com efeitos erga omnes e vinculantes,
para que, confirmando a medida cautelar oportunamente
deferida, a execução de decisões judiciais proferidas contra o
Metrô-DF ocorra exclusivamente sob o regime de precatórios
previsto no art. 100 da CF/1988.

REFERÊNCIA ADPF 524/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgamento virtual


DO ACÓRDÃO finalizado em 21.8.23.
CONEXÕES E Precedente citado: ADPF 890.
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STF
INFORMATIVO 1092
DESTAQUE DO É inconstitucional a obrigatoriedade de os depósitos judiciais e
INFORMATIVO de valores de RPVs serem realizados somente em bancos
oficiais (CPC/2015, arts. 535, § 3º, II; e 840, I).
TRECHOS DO Essa determinação viola os princípios da eficiência
INFORMATIVO administrativa, da livre concorrência e da livre iniciativa, assim
como cerceia os entes federados, notadamente as justiças
estaduais, quanto ao exercício de suas autonomias.

REFERÊNCIA ADIs 5.492/DF e 5.737/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgamento


DO ACÓRDÃO virtual finalizado em 24/4/23.

239
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 771
DESTAQUE DO Na hipótese de execução de dívida de natureza não alimentar,
INFORMATIVO é possível a penhora de salário, ainda que este não exceda 50
salários mínimos, quando garantido o mínimo necessário para
a subsistência digna do devedor e de sua família.
TRECHOS DO A divergência reside em definir se, na hipótese de pagamento
INFORMATIVO de dívida de natureza não alimentar, a impenhorabilidade está
condicionada apenas à garantia do mínimo necessário para a
subsistência digna do devedor e de sua família ou se, além
disso, há que ser observado o limite mínimo de 50 salários
mínimos recebidos pelo devedor.
De precedente da Corte Especial deste Superior Tribunal de
Justiça (EREsp 1.518.169/DF, Rel. Ministro Humberto Martins,
Rel. para acórdão Ministra Nancy Andrighi, Corte Especial,
julgado em 3/10/2018, DJe 27/2/2019), é possível extrair que a
exegese do dispositivo processual (art. 649, IV, do CPC/1973)
deve ser orientada também pela teoria do mínimo existencial,
admitindo a penhora da parcela salarial excedente ao que se
pode caracterizar como notadamente alimentar. Prosseguindo
e lançando o olhar sobre o critério previsto no § 2º do art. 833
do CPC/2015 - na parte alusiva às importâncias excedentes a
50 salários mínimos mensais - salientou-se o descompasso do
critério legal com a realidade brasileira, a implicar na sua
ineficácia.
Ao suprimir a palavra "absolutamente" no caput do art. 833, o
novo Código de Processo Civil passa a tratar a
impenhorabilidade como relativa, permitindo que seja atenuada
à luz de um julgamento principiológico, em que o julgador,

240
ponderando os princípios da menor onerosidade para o devedor
e da efetividade da execução para o credor, conceda a tutela
jurisdicional mais adequada a cada caso, em contraponto a uma
aplicação rígida, linear e inflexível do conceito de
impenhorabilidade.
Esse juízo de ponderação entre os princípios simultaneamente
incidentes na espécie há de ser solucionado à luz da dignidade
da pessoa humana, que resguarda tanto o devedor quanto o
credor, e mediante o emprego dos critérios de razoabilidade e
proporcionalidade.
A fixação desse limite de 50 salários mínimos merece críticas,
na medida em que se mostra muito destoante da realidade
brasileira, tornando o dispositivo praticamente inócuo, além de
não traduzir o verdadeiro escopo da impenhorabilidade, que é
a manutenção de uma reserva digna para o sustento do
devedor e de sua família. Segundo a doutrina, "Restringir a
penhorabilidade de toda a 'verba salarial' ou apenas permití-la
no que exceder cinquenta salários mínimos, mesmo quando a
penhora de uma parcela desse montante não comprometa a
manutenção do executado, pode caracterizar-se como
aplicação inconstitucional da regra, pois prestigia apenas o
direito fundamental do executado, em detrimento do direito
fundamental do exequente".
Portanto, mostra-se possível a relativização do § 2º do art. 833
do CPC/2015, de modo a se autorizar a penhora de verba
salarial inferior a 50 salários mínimos, em percentual condizente
com a realidade de cada caso concreto, desde que assegurado
montante que garanta a dignidade do devedor e de sua família.
Importante salientar, porém, que essa relativização reveste-se
de caráter excepcional e dela somente se deve lançar mão
quando restarem inviabilizados outros meios executórios que
garantam a efetividade da execução e, repita-se, desde que

241
avaliado concretamente o impacto da constrição sobre os
rendimentos do executado.

REFERÊNCIA EREsp 1.874.222-DF, Rel. Ministro João Otávio de Noronha,


DO ACÓRDÃO Corte Especial, por maioria, julgado em 19/4/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STF
INFORMATIVO 1083
DESTAQUE DO Tese Tema 390 da Repercussão Geral:
INFORMATIVO É constitucional o art. 40 da Lei 6.830/1980 (Lei de Execução
Fiscal – LEF), tendo natureza processual o prazo de um ano de
suspensão da execução fiscal. Após o decurso desse prazo,
inicia-se automaticamente a contagem do prazo prescricional
tributário de cinco anos.
TRECHOS DO É constitucional — por não afrontar a exigência de lei
INFORMATIVO complementar para tratar da matéria (CF/1988, art. 146, III,
“b”) — o art. 40 da LEF — lei ordinária nacional — quanto à
prescrição intercorrente tributária e ao prazo de um ano de
suspensão da execução fiscal. Contudo, o § 4º do aludido
dispositivo deve ser lido de modo que, após o decurso do
prazo de um ano de suspensão da execução fiscal, a
contagem do prazo de prescrição de cinco anos seja
iniciada automaticamente.
A competência privativa da União para legislar sobre direito
processual (CF/1988, art. 22, I), assim como a norma do art.
146, III, b, da CF/1988, garantem a uniformidade do tratamento
da matéria em âmbito nacional e, consequentemente, a
preservação da isonomia entre os sujeitos passivos nas
execuções fiscais em todo o País.

242
Nesse contexto, inexiste vício de inconstitucionalidade formal,
pois o dispositivo impugnado, embora positivado mediante lei
ordinária, não extrapola a norma constitucional a que atende.
Ao estabelecer o termo inicial para a prescrição intercorrente,
ele apenas prevê um marco processual para a contagem do
prazo, sem que deixe de observar o prazo de cinco anos,
estabelecido na Lei 5.172/1966 (Código Tributário Nacional -
CTN).
Em outras palavras, o legislador ordinário se limitou a transpor
o modelo estabelecido no art. 174 do CTN, adaptando-o às
particularidades da prescrição observada no curso de uma
execução fiscal.
No entanto, impedir o início automático da contagem do prazo
da prescrição intercorrente — após o término da suspensão —
pode acarretar a eternização das execuções fiscais, em
contrariedade aos princípios da segurança jurídica e do devido
processo legal, bem como à exigência da razoável duração do
processo, o que justifica a necessidade de se conferir
interpretação conforme a Constituição ao § 4º do art. 40 da LEF.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade,
ao apreciar o Tema 390 da repercussão geral, negou
provimento ao recurso extraordinário.

REFERÊNCIA RE 636.562/SC, relator Min. Roberto Barroso, julgamento virtual


DO ACÓRDÃO finalizado em 17/2/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STF
INFORMATIVO 1082
DESTAQUE DO São constitucionais — desde que respeitados os direitos
INFORMATIVO fundamentais da pessoa humana e observados os valores

243
especificados no próprio ordenamento processual, em especial
os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade — as
medidas atípicas previstas no CPC/2015 destinadas a
assegurar a efetivação dos julgados.
TRECHOS DO A duração razoável do processo, que decorre da
INFORMATIVO inafastabilidade da jurisdição, deve incluir a atividade satisfativa
(CF/1988, art. 5º, LXXVIII; e CPC/2015, art. 4º). Assim, é
inviável a pretensão abstrata de retirar determinadas medidas
do leque de ferramentas disponíveis ao magistrado para fazer
valer o provimento jurisdicional, sob pena de inviabilizar a
efetividade do próprio processo, notadamente quando inexistir
uma ampliação excessiva da discricionariedade judicial.

A previsão de uma cláusula geral, contendo uma autorização


genérica, se dá diante da impossibilidade de a legislação
considerar todas as hipóteses possíveis no mundo
contemporâneo, caracterizado pelo dinamismo e pelo risco
relacionados aos mais diversos ramos jurídicos.

Assim, as medidas atípicas devem ser avaliadas de forma


casuística, de modo a garantir ao juiz a interpretação da norma
e a melhor adequação ao caso concreto, aplicando ao devedor
ou executado aquela que lhe for menos gravosa, mediante
decisão devidamente motivada.

A discricionariedade judicial não se confunde com


arbitrariedade, razão pela qual qualquer abuso deverá ser
coibido pelos meios processuais próprios, que são os recursos
previstos no ordenamento processual.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou


improcedente a ação para assentar a constitucionalidade do art.
139, IV, do CPC/2015.

244
REFERÊNCIA ADI 5.941/DF, relator Min. Luiz Fux, julgamento finalizado em
DO ACÓRDÃO 9/2/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STF
INFORMATIVO 1081
DESTAQUE DO Os estados e municípios podem redefinir o valor limite da
INFORMATIVO Requisição de Pequeno Valor (RPV) visando à adequação de
suas respectivas capacidades financeiras e especificidades
orçamentárias.
TRECHOS DO Os entes federados, desde que respeitado o princípio da
INFORMATIVO proporcionalidade, gozam de autonomia para estabelecer o
montante correspondente às obrigações de pequeno valor e,
dessa forma, afastar a aplicação do sistema de precatórios.
Eles só não podem estabelecer valor demasiado além ou
aquém do razoável, tendo como parâmetro as suas
disponibilidades financeiras.
É inconstitucional — por violar a competência privativa da União
para legislar sobre direito processual (CF/1988, art. 21, I), uma
vez que as normas que dispõem sobre RPV têm caráter
eminentemente processual — legislação estadual que transfere
ao credor a responsabilidade pelo encaminhamento da
documentação necessária para solicitação do pagamento do
RPV diretamente ao órgão público devedor, bem como
determina a suspensão do prazo para pagamento. Ademais, a
lei estadual impugnada não se aplica aos processos judiciais de
competência da justiça federal, ainda que no exercício da
competência federal delegada, já que para eles prevalece o
conteúdo de norma editada pelo Conselho da Justiça Federal
(CJF), atualmente a Resolução 458/2017. Com base nesses

245
entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou
parcialmente procedente a ação para (i) declarar a
inconstitucionalidade do caput e do parágrafo único do art. 6º
da Lei 2015/14.757 do Estado do Rio Grande do Sul; e (ii) dar
interpretação conforme a Constituição aos incisos do mesmo
art. 6º, para limitar sua aplicação aos processos judiciais de
competência da justiça estadual, de modo que eles não deverão
ser aplicados aos processos julgados no exercício da
competência federal delegada, os quais devem ser regidos pela
Resolução do CJF.

REFERÊNCIA ADI 5.421/DF, relator Min. Gilmar Mendes, julgamento virtual


DO ACÓRDÃO finalizado em 16/12/2022.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STF
TEMA ADPF 219
DESTAQUE DO Não ofende a ordem constitucional determinação judicial de que
INFORMATIVO a União proceda aos cálculos e apresente os documentos
relativos à execução nos processos em tramitação nos juizados
especiais cíveis federais, ressalvada a possibilidade de o
exequente postular a nomeação de perito.
EMENTA ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO
RESUMIDA FUNDAMENTAL – ADEQUAÇÃO. Cumpre ao Supremo, ante o
objetivo da ação nobre que é a de descumprimento de preceito
fundamental, o implemento de visão interpretativa generosa,
contribuindo para a eficácia do Direito, a racionalização dos
trabalhos judiciários, alfim, a manutenção da paz social.
JUIZADOS ESPECIAIS – EXECUÇÃO – CÁLCULOS. A
interpretação teleológico-sistemática da ordem jurídica, calcada
na Constituição Federal como documento maior da República,

246
conduz a placitar-se a óptica segundo a qual incumbe ao órgão
da Administração Pública acionado, à pessoa jurídica de direito
público, apresentar os cálculos indispensáveis à solução rápida
e definitiva da controvérsia, prevalecendo o interesse primário
– da sociedade – e não o secundário – o econômico da Fazenda
Pública. Os interesses secundários não são atendíveis senão
quando coincidirem com os primários, únicos que podem ser
perseguidos por quem axiomaticamente os encara e representa
– Celso Antônio Bandeira de Mello – Curso de Direito
Administrativo 2010, página 23.
(ADPF 219, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno,
julgado em 20/05/2021, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-200
DIVULG 06-10-2021 PUBLIC 07-10-2021)
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STF
TEMA 1142 da Repercussão Geral
QUESTÃO Possibilidade de fracionamento da execução de honorários
advocatícios sucumbenciais fixados em ação coletiva contra a
Fazenda Pública, proporcionalmente às execuções individuais
de cada beneficiário substituído.

TESE Os honorários advocatícios constituem crédito único e


indivisível, de modo que o fracionamento da execução de
honorários advocatícios sucumbenciais fixados em ação
coletiva contra a Fazenda Pública, proporcionalmente às
execuções individuais de cada beneficiário, viola o § 8º do artigo
100 da Constituição Federal.
EMENTA RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPRESENTATIVO DA
RESUMIDA CONTROVÉRSIA. CONSTITUCIONAL. EXECUÇÃO CONTRA
A FAZENDA PÚBLICA. AÇÃO COLETIVA. FRACIONAMENTO

247
DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS EM RELAÇÃO AO
CRÉDITO DE CADA BENEFICIÁRIO SUBSTITUÍDO PARA
PAGAMENTO VIA REQUISIÇÃO DE PEQUENO VALOR -
RPV. IMPOSSIBILIDADE. ARTIGO 100, § 8º, DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. PRECEDENTES.
MULTIPLICIDADE DE RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS.
RELEVÂNCIA DA QUESTÃO CONSTITUCIONAL.
REAFIRMAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL. MANIFESTAÇÃO PELA EXISTÊNCIA
DE REPERCUSSÃO GERAL.
(RE 1309081 RG, Relator(a): MINISTRO PRESIDENTE,
Tribunal Pleno, julgado em 06/05/2021, PROCESSO
ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-117
DIVULG 17-06-2021 PUBLIC 18-06-2021)
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STF
TEMA 1037 da Repercussão Geral
QUESTÃO Incidência de juros da mora no período compreendido entre a
data da expedição do precatório ou da requisição de pequeno
valor (RPV) e o efetivo pagamento.

TESE O enunciado da Súmula Vinculante 17 não foi afetado pela


superveniência da Emenda Constitucional 62/2009, de modo
que não incidem juros de mora no período de que trata o § 5º
do art. 100 da Constituição. Havendo o inadimplemento pelo
ente público devedor, a fluência dos juros inicia-se após o
'período de graça.
EMENTA (...) 1. Em 10/11/2009, a jurisprudência do SUPREMO
RESUMIDA TRIBUNAL FEDERAL no sentido de que, “durante o período
previsto no parágrafo 1º do artigo 100 da Constituição, não

248
incidem juros de mora sobre os precatórios que nele sejam
pagos” atingiu o mais elevado grau de consolidação,
consubstanciando o Enunciado 17 da Súmula Vinculante desta
CORTE. 2. Pouco após, em 9/12/2009, foi promulgada a
Emenda Constitucional 62, que promoveu ampla reformulação
no art. 100 da Constituição, o qual versa sobre o regime de
precatórios. 3. Não obstante a norma à qual se refere a SV 17
tenha sido deslocada do parágrafo 1º para o parágrafo 5º do art.
100, tal modificação não altera o sentido do enunciado sumular
- que, aliás, não foi afetado por qualquer disposição da Emenda
62. 4. O período previsto no art. 100, parágrafo 5º, da
Constituição (precatórios apresentados até 1º de julho, devendo
ser pagos até o final do exercício seguinte) costuma ser
chamado de “período de graça constitucional”. 5. Nesse
interregno, não cabe a imposição de juros de mora, pois o ente
público não está inadimplente. 6. Caso não haja o pagamento
integral dentro deste prazo, os juros de mora passam a correr
apenas a partir do término do “período de graça”. 7. Recurso
extraordinário a que se nega provimento. Tese de repercussão
geral: "O enunciado da Súmula Vinculante 17 não foi afetado
pela superveniência da Emenda Constitucional 62/2009, de
modo que não incidem juros de mora no período de que trata o
§ 5º do art. 100 da Constituição. Havendo o inadimplemento
pelo ente público devedor, a fluência dos juros inicia-se após o
'período de graça'".
(RE 1169289, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/
Acórdão: ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal Pleno, julgado
em 16/06/2020, PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO
GERAL - MÉRITO DJe-165 DIVULG 30-06-2020 PUBLIC 01-
07-2020)
CONEXÕES E 1. Súmula Vinculante 17: Durante o período previsto no
COMENTÁRIOS parágrafo 1º do artigo 100 da Constituição, não incidem juros
de mora sobre os precatórios que nele sejam pagos.

249
(Aprovada em 29/10/2009).

TRIBUNAL STF
TEMA 792 da Repercussão Geral
QUESTÃO Possibilidade de aplicação da Lei distrital 3.624/2005, que
reduziu para 10 salários mínimos o teto para expedição de
requisição de pequeno valor, às execuções em curso.

TESE Lei disciplinadora da submissão de crédito ao sistema de


execução via precatório possui natureza material e processual,
sendo inaplicável a situação jurídica constituída em data que a
anteceda.
EMENTA EXECUÇÃO – FAZENDA – LEI – APLICAÇÃO NO TEMPO. Lei
RESUMIDA disciplinadora da submissão de crédito ao sistema de execução
via precatório possui natureza material e processual, sendo
inaplicável a situação jurídica constituída em data que a
anteceda.
(RE 729107, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno,
julgado em 08/06/2020, PROCESSO ELETRÔNICO
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-228 DIVULG 14-09-
2020 PUBLIC 15-09-2020)
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STF
TEMA 361 da Repercussão Geral
QUESTÃO Transmudação da natureza de precatório alimentar em normal
em virtude de cessão do direito nele estampado.

TESE A cessão de crédito alimentício não implica a alteração da


natureza.

250
EMENTA PRECATÓRIO – CRÉDITO – CESSÃO – NATUREZA. A
RESUMIDA cessão de crédito não implica alteração da natureza.
(RE 631537, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno,
julgado em 22/05/2020, PROCESSO ELETRÔNICO
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-137 DIVULG 02-06-
2020 PUBLIC 03-06-2020)
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STF
TEMA 521 da Repercussão Geral
QUESTÃO Quebra da ordem cronológica do pagamento de precatórios
alimentares para fins de sequestro de recursos públicos.

TESE O pagamento parcelado dos créditos não alimentares, na forma


do art. 78 do ADCT, não caracteriza preterição indevida de
precatórios alimentares, desde que os primeiros tenham sido
inscritos em exercício anterior ao da apresentação dos
segundos, uma vez que, ressalvados os créditos de que trata o
art. 100, § 2º, da Constituição, o pagamento dos precatórios
deve observar as seguintes diretrizes: (1) a divisão e a
organização das classes ocorrem segundo o ano de inscrição;
(2) inicia-se o pagamento pelo exercício mais antigo em que há
débitos pendentes; (3) quitam-se primeiramente os créditos
alimentares; depois, os não alimentares do mesmo ano; (4)
passa-se, então, ao ano seguinte da ordem cronológica,
repetindo-se o esquema de pagamento; e assim
sucessivamente.
EMENTA RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL.
RESUMIDA DIREITO FINANCEIRO. PRECATÓRIOS. NATUREZA
ALIMENTAR. PREVALÊNCIA ABSOLUTA. ART. 78 DO ADCT.
SEQUESTRO DE VERBAS PÚBLICAS. PRETERIÇÃO.

251
ORDEM CRONOLÓGICA. 1. Fixação de tese jurídica ao Tema
521 da sistemática da repercussão geral: “É legítima a
expedição de ordem de sequestro de verbas públicas, por conta
da ordem cronológica de pagamento de precatórios, na
hipótese de crédito de natureza alimentar mais antigo ser
preterido em favor de parcela de precatório de natureza não
alimentar mais moderno, mesmo quando este integrar o regime
do art. 78 do ADCT.” 2. O artigo 100 da Constituição da
República traduz-se em um dos mais expressivos postulados
realizadores do princípio da igualdade, pois busca conferir, na
concreção do seu alcance, efetividade à exigência
constitucional de tratamento isonômico dos credores do Estado.
Precedente: ADI-MC 584, de relatoria do Ministro Celso de
Mello, Tribunal Pleno, DJ 22.05.1992. 3. O Supremo Tribunal
Federal possui entendimento iterativo no sentido de que a
ordem cronológica é o critério constitucional para a satisfação
dos débitos do Poder Público reconhecidos em juízo. 4.
Concebe-se o relacionamento entre o regime de pagamento
especial de débitos judiciais da Fazenda Pública, de acordo
com a natureza do crédito, alimentar ou não, com prevalência
absoluta do primeiro em relação ao último. Precedente: ADI 47,
de relatoria do Ministro Octávio Gallotti, DJe 13.06.1997.
Súmula 655 do STF. 5. O único caso de autorização do
sequestro de verbas públicas, previsto no art. 100 da
Constituição da República e aplicável aos precatórios de caráter
alimentar, consiste na hipótese de burla ao direito de
precedência do credor. Precedente: ADI 1.662, de relatoria do
Ministro Maurício Corrêa, DJ 19.09.2003. 6. O pagamento
parcelado de débitos antigos, nos termos do art. 78 do ADCT,
não infirma a prevalência dos créditos de natureza alimentar
sobre os demais, desde que respeitada a ordem cronológica. A
regra permanece hígida, mesmo diante da excepcionalidade
conjectural pressuposta pelo dispositivo precitado. Precedente:

252
RE 132.031, de relatoria do Ministro Celso de Mello, Primeira
Turma, DJ 19.04.1996. 7. Recurso extraordinário a que se nega
provimento.
(RE 612707, Relator(a): EDSON FACHIN, Tribunal Pleno,
julgado em 15/05/2020, PROCESSO ELETRÔNICO
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-222 DIVULG 04-09-
2020 PUBLIC 08-09-2020)
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STF
TEMA 137 da Repercussão Geral
QUESTÃO Prazo para a Fazenda Pública opor embargos à execução.

TESE É compatível com a Constituição da República de 1988 a


ampliação para 30 (trinta) dias do prazo de oposição de
embargos à execução pela Fazenda Pública.
EMENTA EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. AMPLIAÇÃO DO
RESUMIDA PRAZO PARA A FAZENDA PÚBLICA OPOR EMBARGOS À
EXECUÇÃO. CONSTITUCIONALIDADE. ART. 1º-B DA LEI
9.494/1997. RECURSO EXTRAORDINÁRIO PROVIDO PARA
AFASTAR A INTEMPESTIVIDADE DOS EMBARGOS À
EXECUÇÃO OPOSTOS PERANTE A JUSTIÇA DO
TRABALHO. 1. O estabelecimento de tratamento processual
especial para a Fazenda Pública, fixando-se prazo de 30 dias
para opor embargos à execução, não restringe de forma
desproporcional os direitos fundamentais das partes adversas,
mas, sim, busca dar máxima efetividade ao princípio de
proteção ao interesse público. (Precedentes: ADI 2.418, Relator
Ministro Teori Zavascki, DJe 09.06.2016; ADC 11, Relator
Ministro Gilmar Mendes, Plenário, J. 23.08.2019) 2. É
compatível com a Constituição da República de 1988 a

253
ampliação para 30 (trinta) dias do prazo de oposição de
embargos à execução pela Fazenda Pública. 3. Recurso
extraordinário provido para que a Justiça do Trabalho,
reconhecida a tempestividade dos embargos à execução
opostos pela Fazenda Pública no prazo que lhe foi facultado
pelo art. 1º-B da Lei 9.494/1997, julgue como entender de
direito.
(RE 590871, Relator(a): EDSON FACHIN, Tribunal Pleno,
julgado em 11/11/2019, ACÓRDÃO ELETRÔNICO
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-260 DIVULG 27-11-
2019 PUBLIC 28-11-2019)
CONEXÕES E 1. Tese firmada com base no CPC/73.
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STF
TEMA 112 da Repercussão Geral
QUESTÃO Conversão de precatórios expedidos antes da Emenda
Constitucional nº 37/2002 em requisições de pequeno valor.

TESE É harmônica com a normatividade constitucional a previsão no


artigo 86 do ADCT na dicção da EC 32/2002 de um regime de
transição para tratar dos precatórios reputados de pequeno
valor, já expedidos antes de sua promulgação.
EMENTA RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL.
RESUMIDA DIREITO CONSTITUCIONAL FINANCEIRO. EXECUÇÃO
CONTRA A FAZENDA PÚBLICA. PRECATÓRIO EXPEDIDO
ANTES DA EMENDA CONSTITUCIONAL 37/2002.
CONVERSÃO EM REQUISIÇÃO DE PEQUENO VALOR
(RPV). AUTOMATICIDADE. 1. A instituição de regime
transitório no artigo 86 do ADCT, com a finalidade de regular a
desigualdade criada pela EC 37/2002, mostra-se decisão
constituinte adequada e possível para conciliar a satisfação dos

254
débitos de pequena monta de credores da Fazenda Pública e o
planejamento da atividade financeira do Estado. 2. A alteração
formal do Texto Constitucional em questão não consiste em
discrímen arbitrário nem violação substancial à igualdade fática
entre os credores do Poder Público, tendo em vista a finalidade
constitucional de eficiência organizativa e continuidade do
Estado Fiscal. 3. Fixação da seguinte tese de julgamento ao
presente Tema da sistemática da repercussão geral: “É
harmônica com a normatividade constitucional a previsão no
artigo 86 do ADCT na dicção da EC 32/2002 de um regime de
transição para tratar dos precatórios reputados de pequeno
valor, já expedidos antes de sua promulgação.” 4. Recurso
extraordinário a que nega provimento.
(RE 587982, Relator(a): EDSON FACHIN, Tribunal Pleno,
julgado em 27/03/2019, PROCESSO ELETRÔNICO
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-076 DIVULG 11-04-
2019 PUBLIC 12-04-2019)
CONEXÕES E
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TRIBUNAL STF
TEMA 360 da Repercussão Geral
QUESTÃO Desconstituição de título executivo judicial mediante aplicação
do parágrafo único do art. 741 do Código de Processo Civil.

TESE São constitucionais as disposições normativas do parágrafo


único do art. 741 do CPC, do § 1º do art. 475-L, ambos do
CPC/73, bem como os correspondentes dispositivos do
CPC/15, o art. 525, § 1º, III e §§ 12 e 14, o art. 535, § 5º. São
dispositivos que, buscando harmonizar a garantia da coisa
julgada com o primado da Constituição, vieram agregar ao
sistema processual brasileiro um mecanismo com eficácia

255
rescisória de sentenças revestidas de vício de
inconstitucionalidade qualificado, assim caracterizado nas
hipóteses em que (a) a sentença exequenda esteja fundada em
norma reconhecidamente inconstitucional, seja por aplicar
norma inconstitucional, seja por aplicar norma em situação ou
com um sentido inconstitucionais; ou (b) a sentença exequenda
tenha deixado de aplicar norma reconhecidamente
constitucional; e (c) desde que, em qualquer dos casos, o
reconhecimento dessa constitucionalidade ou a
inconstitucionalidade tenha decorrido de julgamento do STF
realizado em data anterior ao trânsito em julgado da sentença
exequenda.
EMENTA EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. COISA JULGADA
RESUMIDA INCONSTITUCIONAL. ARTIGO 741, PARÁGRAFO ÚNICO, E
ARTIGO 475-L, PARÁGRAFO PRIMEIRO, DO CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL DE 1973. ARTIGO 525, PARÁGRAFO
PRIMEIRO, INCISO III, PARÁGRAFOS 12 E 14, E ARTIGO
535, PARÁGRAFO 5º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE
2015. 1. São constitucionais as disposições normativas do
parágrafo único do art. 741 do CPC, do § 1º do art. 475-L,
ambos do CPC/73, bem como os correspondentes dispositivos
do CPC/15, o art. 525, § 1º, III e §§ 12 e 14, o art. 535, § 5º. 2.
Os dispositivos questionados buscam harmonizar a garantia da
coisa julgada com o primado da Constituição, agregando ao
sistema processual brasileiro, um mecanismo com eficácia
rescisória de sentenças revestidas de vício de
inconstitucionalidade qualificado. 3. São consideradas decisões
com vícios de inconstitucionalidade qualificados: (a) a sentença
exequenda fundada em norma reconhecidamente
inconstitucional, seja por aplicar norma inconstitucional, seja por
aplicar norma em situação ou com sentido inconstitucionais; (b)
a sentença exequenda que tenha deixado de aplicar norma
reconhecidamente constitucional. 4. Para o reconhecimento do

256
vício de inconstitucionalidade qualificado exige-se que o
julgamento do STF, que declara a norma constitucional ou
inconstitucional, tenha sido realizado em data anterior ao
trânsito em julgado da sentença exequenda. 5. Recurso
extraordinário a que se nega provimento.
(RE 611503, Relator(a): TEORI ZAVASCKI, Relator(a) p/
Acórdão: EDSON FACHIN, Tribunal Pleno, julgado em
20/08/2018, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO
GERAL - MÉRITO DJe-053 DIVULG 18-03-2019 PUBLIC 19-
03-2019)
CONEXÕES E 1. Tese firmada com base no CPC/73.
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STF
TEMA 810 da Repercussão Geral
QUESTÃO Validade da correção monetária e dos juros moratórios
incidentes sobre as condenações impostas à Fazenda Pública,
conforme previstos no art. 1º-F da Lei 9.494/1997, com a
redação dada pela Lei 11.960/2009.

TESE 1) O art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada pela Lei
nº 11.960/09, na parte em que disciplina os juros moratórios
aplicáveis a condenações da Fazenda Pública, é
inconstitucional ao incidir sobre débitos oriundos de relação
jurídico-tributária, aos quais devem ser aplicados os mesmos
juros de mora pelos quais a Fazenda Pública remunera seu
crédito tributário, em respeito ao princípio constitucional da
isonomia (CRFB, art. 5º, caput); quanto às condenações
oriundas de relação jurídica não-tributária, a fixação dos juros
moratórios segundo o índice de remuneração da caderneta de
poupança é constitucional, permanecendo hígido, nesta
extensão, o disposto no art. 1º-F da Lei nº 9.494/97 com a

257
redação dada pela Lei nº 11.960/09; e 2) O art. 1º-F da Lei nº
9.494/97, com a redação dada pela Lei nº 11.960/09, na parte
em que disciplina a atualização monetária das condenações
impostas à Fazenda Pública segundo a remuneração oficial da
caderneta de poupança, revela-se inconstitucional ao impor
restrição desproporcional ao direito de propriedade (CRFB, art.
5º, XXII), uma vez que não se qualifica como medida adequada
a capturar a variação de preços da economia, sendo inidônea a
promover os fins a que se destina.
EMENTA Ementa: (...) 1. O princípio constitucional da isonomia (CRFB,
RESUMIDA art. 5º, caput), no seu núcleo essencial, revela que o art. 1º-F da
Lei nº 9.494/97, com a redação dada pela Lei nº 11.960/09, na
parte em que disciplina os juros moratórios aplicáveis a
condenações da Fazenda Pública, é inconstitucional ao incidir
sobre débitos oriundos de relação jurídico-tributária, os quais
devem observar os mesmos juros de mora pelos quais a
Fazenda Pública remunera seu crédito; nas hipóteses de
relação jurídica diversa da tributária, a fixação dos juros
moratórios segundo o índice de remuneração da caderneta de
poupança é constitucional, permanecendo hígido, nesta
extensão, o disposto legal supramencionado. 2. O direito
fundamental de propriedade (CRFB, art. 5º, XXII) repugna o
disposto no art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada
pela Lei nº 11.960/09, porquanto a atualização monetária das
condenações impostas à Fazenda Pública segundo a
remuneração oficial da caderneta de poupança não se qualifica
como medida adequada a capturar a variação de preços da
economia, sendo inidônea a promover os fins a que se destina.
3. A correção monetária tem como escopo preservar o poder
aquisitivo da moeda diante da sua desvalorização nominal
provocada pela inflação. É que a moeda fiduciária, enquanto
instrumento de troca, só tem valor na medida em que capaz de
ser transformada em bens e serviços. A inflação, por

258
representar o aumento persistente e generalizado do nível de
preços, distorce, no tempo, a correspondência entre valores real
e nominal (cf. MANKIW, N.G. Macroeconomia. Rio de Janeiro,
LTC 2010, p. 94; DORNBUSH, R.; FISCHER, S. e STARTZ, R.
Macroeconomia. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 2009, p. 10;
BLANCHARD, O. Macroeconomia. São Paulo: Prentice Hall,
2006, p. 29). 4. A correção monetária e a inflação, posto
fenômenos econômicos conexos, exigem, por imperativo de
adequação lógica, que os instrumentos destinados a realizar a
primeira sejam capazes de capturar a segunda, razão pela qual
os índices de correção monetária devem consubstanciar
autênticos índices de preços. 5. Recurso extraordinário
parcialmente provido.
(RE 870947, Relator(a): LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em
20/09/2017, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO
GERAL - MÉRITO DJe-262 DIVULG 17-11-2017 PUBLIC 20-
11-2017)
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STF
TEMA 45 da Repercussão Geral
QUESTÃO Possibilidade de execução provisória de obrigação de fazer
contra a Fazenda Pública.

TESE A execução provisória de obrigação de fazer em face da


Fazenda Pública não atrai o regime constitucional dos
precatórios.
EMENTA (...) 2. A jurisprudência do STF firmou-se no sentido da
RESUMIDA inaplicabilidade ao Poder Público do regime jurídico da
execução provisória de prestação de pagar quantia certa, após
o advento da Emenda Constitucional 30/2000. Precedentes. 3.

259
A sistemática constitucional dos precatórios não se aplica às
obrigações de fato positivo ou negativo, dado a
excepcionalidade do regime de pagamento de débitos pela
Fazenda Pública, cuja interpretação deve ser restrita. Por
consequência, a situação rege-se pela regra regal de que toda
decisão não autossuficiente pode ser cumprida de maneira
imediata, na pendência de recursos não recebidos com efeito
suspensivo. 4. Não se encontra parâmetro constitucional ou
legal que obste a pretensão de execução provisória de sentença
condenatória de obrigação de fazer relativa à implantação de
pensão de militar, antes do trânsito em julgado dos embargos
do devedor opostos pela Fazenda Pública. 5. Há
compatibilidade material entre o regime de cumprimento integral
de decisão provisória e a sistemática dos precatórios, haja vista
que este apenas se refere às obrigações de pagar quantia certa.
6. Recurso extraordinário a que se nega provimento.
(RE 573872, Relator(a): EDSON FACHIN, Tribunal Pleno,
julgado em 24/05/2017, PROCESSO ELETRÔNICO
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-204 DIVULG 08-09-
2017 PUBLIC 11-09-2017)
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STF
TEMA 877 da Repercussão Geral
QUESTÃO Submissão dos conselhos de fiscalização profissional à
execução pelo regime de precatórios.

TESE Os pagamentos devidos, em razão de pronunciamento judicial,


pelos Conselhos de Fiscalização não se submetem ao regime
de precatórios.

260
EMENTA EXECUÇÃO – CONSELHOS – ÓRGÃOS DE FISCALIZAÇÃO
RESUMIDA – DÉBITOS – DECISÃO JUDICIAL. A execução de débito de
Conselho de Fiscalização não se submete ao sistema de
precatório.
(RE 938837, Relator(a): EDSON FACHIN, Relator(a) p/
Acórdão: MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em
19/04/2017, PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO
GERAL - MÉRITO DJe-216 DIVULG 22-09-2017 PUBLIC 25-
09-2017)
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STF
TEMA 96 da Repercussão Geral
QUESTÃO Incidência de juros de mora no período compreendido entre a
data da conta de liquidação e a expedição do requisitório.

TESE Incidem os juros da mora no período compreendido entre a data


da realização dos cálculos e a da requisição ou do precatório.
EMENTA JUROS DA MORA – FAZENDA PÚBLICA – DÍVIDA –
RESUMIDA REQUISIÇÃO OU PRECATÓRIO. Incidem juros da mora entre
a data da realização dos cálculos e a da requisição ou do
precatório.
(RE 579431, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno,
julgado em 19/04/2017, ACÓRDÃO ELETRÔNICO
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-145 DIVULG 29-06-
2017 PUBLIC 30-06-2017)
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STF

261
TEMA 355 da Repercussão Geral
QUESTÃO a) Penhora de bens da Rede Ferroviária S.A. realizada
anteriormente à sucessão pela União; b) Possibilidade de
execução, pelo regime de precatório, dos bens da Rede
Ferroviária.

TESE É válida a penhora em bens de pessoa jurídica de direito


privado, realizada anteriormente à sucessão desta pela União,
não devendo a execução prosseguir mediante precatório.
EMENTA Recurso Extraordinário. 2. Constitucional, Processual Civil e do
RESUMIDA Trabalho. 3. Execução. Penhora de bens da extinta Rede
Ferroviária Federal S.A. - RFFSA. Sucessão posterior pela
União. 4. É válida a penhora em bens de pessoa jurídica de
direito privado, realizada anteriormente à sucessão desta pela
União, não devendo a execução prosseguir mediante precatório
(art. 100, caput e § 1º, da Constituição Federal). 5. Repercussão
geral. 6. Recurso extraordinário não provido.
(RE 693112, Relator(a): GILMAR MENDES, Tribunal Pleno,
julgado em 09/02/2017, ACÓRDÃO ELETRÔNICO
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-110 DIVULG 24-05-
2017 PUBLIC 25-05-2017)
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STF
TEMA 249 da Repercussão Geral
QUESTÃO Execução extrajudicial de dívidas hipotecárias contraídas no
regime do Sistema Financeiro de Habitação.

TESE É constitucional, pois foi devidamente recepcionado pela


Constituição Federal de 1988, o procedimento de execução
extrajudicial, previsto no Decreto-lei nº 70/66.

262
EMENTA Direito processual civil e constitucional. sistema financeiro da
RESUMIDA habitação. Decreto-lei nº 70/66. Execução extrajudicial. Normas
recepcionadas pela Constituição Federal de 1988.
Precedentes. Recurso extraordinário não provido. 1. O
procedimento de execução extrajudicial previsto pelo Decreto-
Lei nº 70/66 não é realizado de forma aleatória, uma vez que se
submete a efetivo controle judicial em ao menos uma de suas
fases, pois o devedor é intimado a acompanhá-lo e pode lançar
mão de recursos judiciais se irregularidades vierem a ocorrer
durante seu trâmite. 2. Bem por isso, há muito a jurisprudência
da Suprema Corte tem estabelecido que as normas constantes
do Decreto-lei nº 70/66, a disciplinar a execução extrajudicial,
foram devidamente recepcionadas pela Constituição Federal de
1988. 3. Recurso extraordinário não provido, propondo-se a
fixação da seguinte tese de repercussão geral: “É
constitucional, pois foi devidamente recepcionado pela
Constituição Federal de 1988, o procedimento de execução
extrajudicial previsto no Decreto-lei nº 70/66”.
(RE 627106, Relator(a): DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado
em 08/04/2021, PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO
GERAL - MÉRITO DJe-113 DIVULG 11-06-2021 PUBLIC 14-
06-2021)
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STF
TEMA 961 da Repercussão Geral
QUESTÃO Impenhorabilidade de propriedade familiar, localizada na zona
rural, que não é o único bem imóvel dessa natureza pertencente
à família.

263
TESE É impenhorável a pequena propriedade rural familiar constituída
de mais de 01 (um) terreno, desde que contínuos e com área
total inferior a 04 (quatro) módulos fiscais do município de
localização.
EMENTA (...) 1. As regras de impenhorabilidade do bem de família, assim
RESUMIDA como da propriedade rural, amparam-se no princípio da
dignidade humana e visam garantir a preservação de um
patrimônio jurídico mínimo. 2. A pequena propriedade rural
consubstancia-se no imóvel com área entre 01 (um) e 04
(quatro) módulos fiscais, ainda que constituída de mais de 01
(um) imóvel, e que não pode ser objeto de penhora. 3. A
garantia da impenhorabilidade é indisponível, assegurada como
direito fundamental do grupo familiar, e não cede ante gravação
do bem com hipoteca. 4. Recurso extraordinário não provido,
com fixação da seguinte tese: “É impenhorável a pequena
propriedade rural familiar constituída de mais de 01 (um)
terreno, desde que contínuos e com área total inferior a 04
(quatro) módulos fiscais do município de localização”.
(ARE 1038507, Relator(a): EDSON FACHIN, Tribunal Pleno,
julgado em 21/12/2020, PROCESSO ELETRÔNICO
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-049 DIVULG 12-03-
2021 PUBLIC 15-03-2021)
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
TEMA Repetitivo 1000
QUESTÃO Cabimento ou não de multa cominatória na exibição, incidental
ou autônoma, de documento relativo a direito disponível, na
vigência do CPC/2015.
TESE Desde que prováveis a existência da relação jurídica entre as
partes e de documento ou coisa que se pretende seja exibido,

264
apurada em contraditório prévio, poderá o juiz, após tentativa
de busca e apreensão ou outra medida coercitiva, determinar
sua exibição sob pena de multa com base no art. 400, parágrafo
único, do CPC/2015.
EMENTA (...) 1. Delimitação da controvérsia: exibição incidental ou
RESUMIDA autônoma de documentos requerida contra a parte 'ex adversa'
em demanda de direito privado.
2. Tese para os fins do art. 1.040 do CPC/2015: "Desde que
prováveis a existência da relação jurídica entre as partes e de
documento ou coisa que se pretende seja exibido, apurada em
contraditório prévio, poderá o juiz, após tentativa de busca e
apreensão ou outra medida coercitiva, determinar sua exibição
sob pena de multa com base no art. 400, parágrafo único, do
CPC/2015" (Tema 1000/STJ).
[...]
(REsp 1777553 SP, Rel. Ministro PAULO DE TARSO
SANSEVERINO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 26/05/2021,
DJe 01/07/2021)
(REsp 1763462 MG, Rel. Ministro PAULO DE TARSO
SANSEVERINO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 09/06/2021,
DJe 01/07/2021)

CONEXÕES E 1. Fica delimitada no tempo a aplicação da tese firmada no


COMENTÁRIOS Tema Repetitivo 705 do STJ, restrita aos casos regidos pelo
CPC/73: Descabimento de multa cominatória na exibição,
incidental ou autônoma, de documento relativo a direito
disponível.

2. Superada a Súmula 372 do STJ após o advento do CPC/15:


Na ação de exibição de documentos, não cabe a aplicação de
multa cominatória.

265
3. Permanece aplicável a tese firmada pelo STJ no Tema
Repetitivo 706: A decisão que comina astreintes não preclui,
não fazendo tampouco coisa julgada.

TRIBUNAL STJ
TEMA Repetitivo 98
QUESTÃO Possibilidade de ser imposta a multa a que alude o art. 461 do
CPC*, nos casos de descumprimento da obrigação de fornecer
medicamentos, imposta ao ente estatal.
*ATENÇÃO: refere-se ao CPC/73.
TESE Possibilidade de imposição de multa diária (astreintes) a ente
público, para compeli-lo a fornecer medicamento à pessoa
desprovida de recursos financeiros.
EMENTA [...] 2. A função das astreintes é justamente no sentido de
RESUMIDA superar a recalcitrância do devedor em cumprir a obrigação de
fazer ou de não fazer que lhe foi imposta, incidindo esse ônus
a partir da ciência do obrigado e da sua negativa de
adimplir a obrigação voluntariamente.
3. A particularidade de impor obrigação de fazer ou de não
fazer à Fazenda Pública não ostenta a propriedade de mitigar,
em caso de descumprimento, a sanção de pagar multa diária,
conforme prescreve o § 5º do art. 461 do CPC/1973. E, em se
tratando do direito à saúde, com maior razão deve ser
aplicado, em desfavor do ente público devedor, o preceito
cominatório, sob pena de ser subvertida garantia fundamental.
Em outras palavras, é o direito-meio que assegura o bem maior:
a vida.
[...]
4. À luz do § 5º do art. 461 do CPC/1973, a recalcitrância
do devedor permite ao juiz que, diante do caso concreto, adote
qualquer medida que se revele necessária à satisfação do bem

266
da vida almejado pelo jurisdicionado. Trata-se do "poder geral
de efetivação", concedido ao juiz para dotar de efetividade as
suas decisões.
5. A eventual exorbitância na fixação do valor das astreintes
aciona mecanismo de proteção ao devedor: como a cominação
de multa para o cumprimento de obrigação de fazer ou de
não fazer tão somente constitui método de coerção,
obviamente não faz coisa julgada material, e pode, a
requerimento da parte ou ex officio pelo magistrado, ser
reduzida ou até mesmo suprimida, nesta última hipótese,
caso a sua imposição não se mostrar mais necessária.
[...]
(REsp 1474665 SP, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES,
PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 26/04/2017, DJe 22/06/2017)

CONEXÕES E 1. Tese firmada com fundamento no CPC/1973. Porém,


COMENTÁRIOS continua aplicável após o advento do CPC/2015.

TRIBUNAL STJ
TEMA Repetitivo 291
QUESTÃO Incidência de juros moratórios entre a data da expedição da
Requisição de Pequeno Valor – RPV e seu efetivo pagamento.
TESE Tese firmada no julgamento da QO no REsp n. 1.665.599/RS,
na sessão da Corte Especial de 20/3/2019, nos termos da tese
fixada no Tema 96 do STF:

Incidem os juros da mora no período compreendido entre a data


da realização dos cálculos e a da requisição ou do precatório
(acórdão publicado no DJe de 2/4/2019).
EMENTA (...) 1. Esta Corte Especial, por ocasião do julgamento do REsp
RESUMIDA 1.143. 677/RS (DJe 4.2.2010), sob a Relatoria do ilustre

267
Ministro LUIZ FUX, fixou a tese (Tema Repetitivo 291/STJ) no
sentido de que não incidem juros moratórios entre a elaboração
dos cálculos e o efetivo pagamento da Requisição de Pequeno
Valor-RPV. Transcorridos aproximadamente sete anos, o
Supremo Tribunal Federal, em 19.4.2017, julgou o Recurso
Extraordinário 579.431/RS, sob a relatoria do ilustre Ministro
MARCO AURÉLIO (DJe 30.6.2017), com Repercussão Geral
reconhecida, quando fixou a tese de que incidem os juros da
mora no período compreendido entre a data da realização dos
cálculos e a da requisição ou do precatório (Tema 96/STF da
Repercussão Geral). As duas orientações são claramente
oposta, como se vê sem esforço. A partícula não no início do
Tema Repetitivo 291/STJ não deixa margem à dúvida.
2. Considerando os princípios da segurança jurídica, da
proteção da confiança e da isonomia, nos termos do art. 927,
§4o. do Código Fux, é patente e evidente a necessidade de
revisão do entendimento consolidado no enunciado de Tema
Repetitivo 291/STJ, a fim de adequá-lo à nova orientação fixada
pelo egrégio Supremo Tribunal Federal quando do julgamento
do RE 579.431/RS (Repercussão Geral - Tema 96/STF).
3. Nova redação que se dá ao enunciado de Tema Repetitivo
291/STJ: incidem os juros da mora no período compreendido
entre a data da realização dos cálculos e a da requisição ou do
precatório.
(...) (QO no REsp 1665599/RS, Rel. Ministro NAPOLEÃO
NUNES MAIA FILHO, CORTE ESPECIAL, julgado em
20/03/2019, DJe 02/04/2019)
CONEXÕES E 1. O STJ havia fixado tese no sentido da não incidência de juros
COMENTÁRIOS de mora no período compreendido entre a elaboração dos
cálculos e o efetivo pagamento da RPV (REsp 1.143.677, Corte
Especial, DJe 4/10/2010). Porém, em 2017, o STF julgou o
Tema 96 da Repercussão Geral e fixou tese em sentido
oposto. Diante disso, o STJ acolheu Questão de Ordem para

268
rever a tese do tema repetitivo 291, adequando-a ao
entendimento do STF, nos seguintes termos: Incidem os juros
da mora no período compreendido entre a data da realização
dos cálculos e a da requisição ou do precatório.

2. Tema de Repercussão Geral (STF) correlato: Tema 1037 –


Incidência de juros da mora no período compreendido entre a
data da expedição do precatório ou da requisição de pequeno
valor (RPV) e o efetivo pagamento. Tese fixada nesse tema pelo
STF: "O enunciado da Súmula Vinculante 17 não foi afetado
pela superveniência da Emenda Constitucional 62/2009, de
modo que não incidem juros de mora no período de que trata o
§ 5º do art. 100 da Constituição. Havendo o inadimplemento
pelo ente público devedor, a fluência dos juros inicia-se após o
'período de graça'".

3. Tema Repetitivo correlato: Tema 292 (STJ) – Incidência de


correção monetária entre a data da expedição da Requisição de
Pequeno Valor – RPV e seu efetivo pagamento. Tese firmada
pelo STJ: Incide correção monetária no período compreendido
entre a elaboração dos cálculos e o efetivo pagamento da RPV,
ressalvada a observância dos critérios de atualização
porventura fixados na sentença de liquidação.
Em resumo: incidem juros de mora no período compreendido
entre a elaboração dos cálculos e a expedição da requisição
(RPV/precatório). Expedida a requisição, paralisa-se o cômputo
de juros moratórios, que somente voltarão a ser contados caso
a requisição não seja paga no prazo constitucional e legal.
Já a correção monetária incide em todo o período até o efetivo
pagamento, ressalvada a observância de eventuais critérios
específicos fixados na própria sentença (ou decisão) de
liquidação.

269
TRIBUNAL STJ
TEMA Repetitivo 587
QUESTÃO Discute-se a possibilidade ou não de cumulação da verba
honorária fixada nos embargos à execução com aquela
arbitrada na própria execução contra a Fazenda Pública,
vedada a sua compensação.
TESE a) Os embargos do devedor são ação de conhecimento
incidental à execução, razão porque os honorários advocatícios
podem ser fixados em cada uma das duas ações, de forma
relativamente autônoma, respeitando-se os limites de
repercussão recíproca entre elas, desde que a cumulação da
verba honorária não exceda o limite máximo previsto no § 3º do
art. 20 do CPC/1973.
b) Inexistência de reciprocidade das obrigações ou de
bilateralidade de créditos: ausência dos pressupostos do
instituto da compensação (art. 368 do Código Civil).
Impossibilidade de se compensarem os honorários fixados em
embargos à execução com aqueles fixados na própria ação de
execução.
EMENTA (...) 1. O presente recurso atrai a incidência do Enunciado
RESUMIDA Administrativo n. 2/STJ, segundo o qual "aos recursos
interpostos com fundamento no CPC/1973 (relativos a decisões
publicadas até 17 de março de 2016) devem ser exigidos os
requisitos de admissibilidade na forma nele prevista, com as
interpretações dadas, até então, pela jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça".
TESES JURÍDICAS FIXADAS SOB VIGÊNCIA DO CPC/1973.
2. Os embargos do devedor são ação de conhecimento
incidental à execução, razão porque os honorários advocatícios
podem ser fixados em cada uma das duas ações, de forma
relativamente autônoma, respeitando-se os limites de
repercussão recíproca entre elas, desde que a cumulação da

270
verba honorária não exceda o limite máximo previsto no § 3º do
art. 20 do CPC/1973.
3. Inexistência de reciprocidade das obrigações ou de
bilateralidade de créditos: ausência dos pressupostos do
instituto da compensação (art. 368 do Código Civil).
Impossibilidade de se compensarem os honorários fixados em
embargos à execução com aqueles fixados na própria ação de
execução.
SOLUÇÃO DO CASO CONCRETO 4. Possibilidade de
cumulação da verba honorária fixada nos embargos à execução
com a arbitrada na própria execução contra a Fazenda Pública,
vedada a compensação entre ambas.
5. Recurso especial provido. Acórdão sujeito ao regime previsto
no art. 543-C do CPC/1973 c/c o art. 256-N do RISTJ.
(REsp 1520710/SC, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL
MARQUES, CORTE ESPECIAL, julgado em 18/12/2018,
REPDJe 02/04/2019, DJe 27/02/2019)
CONEXÕES E 1. Tese firmada com fundamento no CPC/73, porém,
COMENTÁRIOS permanece aplicável sob a égide do CPC/15. Inclusive, o teto
de 20% (vinte por cento) previsto no Código revogado foi
mantido na Codificação vigente, que veda expressamente a sua
extrapolação (art. 85, §§ 2º, 6º, 11 e 13). Nesse sentido já
decidiu o STJ, com fundamento no CPC/15:

(...) 4. A Corte Especial, no julgamento do recurso especial sob


o rito dos repetitivos (REsp 1520710/SC, Rel. Ministro MAURO
CAMPBELL MARQUES, CORTE ESPECIAL, julgado em
18/12/2018, REPDJe 02/04/2019, DJe 27/02/2019), firmou a
tese de que "os embargos do devedor são ação de
conhecimento incidental à execução, razão porque os
honorários advocatícios podem ser fixados em cada uma das
duas ações, de forma relativamente autônoma, respeitando-se
os limites de repercussão recíproca entre elas, desde que a

271
cumulação da verba honorária não exceda o limite máximo
previsto no § 3º do art. 20 do CPC/1973".
5. A entrada em vigor do atual Código de Processo Civil não
alterou a referida limitação máxima da verba honorária de
sucumbência, conforme se pode depreender da interpretação
sistemática das normas pertinentes à matéria.
6. Inviável, in casu, a elevação da verba de sucumbência a título
dos chamados honorários recursais se ultrapassam o limite
máximo estabelecido pelo Código de Processo Civil.
7. Agravo interno parcialmente provido para afastar os
honorários recursais.
(AgInt no AREsp 1248069/SP, Rel. Ministra MARIA ISABEL
GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em 23/03/2021, DJe
16/04/2021)

TRIBUNAL STJ
TEMA Repetitivo 961
QUESTÃO Discute-se a possibilidade de fixação de honorários
advocatícios, em exceção de pré-executividade, quando o sócio
é excluído do polo passivo da execução fiscal, que não é extinta.
TESE Observado o princípio da causalidade, é cabível a fixação de
honorários advocatícios, em exceção de pré-executividade,
quando o sócio é excluído do polo passivo da execução fiscal,
que não é extinta.
EMENTA (...) III. A controvérsia ora em apreciação, submetida ao rito dos
RESUMIDA recursos especiais representativos de controvérsia, nos termos
do art. 543-C do CPC/73, restou assim delimitada:
"Possibilidade de fixação de honorários advocatícios, em
exceção de pré-executividade, quando o sócio é excluído do
polo passivo da execução fiscal, que não é extinta." IV.
Construção doutrinária e jurisprudencial, a Exceção de Pré-

272
Executividade consiste em meio de defesa do executado, tal
qual os Embargos à Execução. Difere deste último, sobretudo,
pelo objeto: enquanto os Embargos à Execução podem
envolver qualquer matéria, a Exceção de Pré-Executividade
limita-se a versar sobre questões cognoscíveis ex officio, que
não demandem dilação probatória. Ato postulatório que é, a
Exceção de Pré-Executividade não prescinde da
representação, em Juízo, por advogado regularmente inscrito
nos quadros da Ordem dos Advogados do Brasil. Por isso,
antes mesmo da afetação do presente Recurso Especial ao rito
dos repetitivos, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça
pacificara o entendimento sobre a matéria, no sentido de serem
devidos honorários advocatícios, quando acolhida a Exceção de
Pré-Executividade para excluir o excipiente, ainda que não
extinta a Execução Fiscal, porquanto "a exceção de pré-
executividade contenciosa e que enseja a extinção da relação
processual em face de um dos sujeitos da lide, que para invocá-
la empreende contratação de profissional, torna inequívoca o
cabimento de verba honorária, por força da sucumbência
informada pelo princípio da causalidade. (...) a imposição dos
ônus processuais, no Direito Brasileiro, pauta-se pelo princípio
da sucumbência, norteado pelo princípio da causalidade,
segundo o qual aquele que deu causa à instauração do
processo deve arcar com as despesas dele decorrentes" (STJ,
AgRg no REsp 1.180.908/MG, Rel. Ministro LUIZ FUX,
PRIMEIRA TURMA, DJe de 25/08/2010). Precedentes do STJ:
(...)
V. O entendimento condiz com os posicionamentos do STJ em
matéria de honorários de advogado. De fato, quando
confrontado ou com a literalidade do art. 20 do CPC/73 ou com
a aplicação de regras isentivas dos honorários, este Tribunal
vem, de modo sistemático, interpretando restritivamente as
últimas normas, e extensivamente o primeiro dispositivo

273
processual, considerando o vetusto princípio de direito segundo
o qual a lei não pode onerar aquele em cujo favor opera. Tal foi
o raciocínio que presidiu a edição da Súmula 153 do STJ: "A
desistência da execução fiscal, após o oferecimento dos
embargos não exime o exequente dos encargos da
sucumbência".
VI. Semelhante razão inspirou o julgamento do Recurso
Especial 1.185.036/PE, sob o regime dos recursos repetitivos,
no qual se questionava a possibilidade de condenação da
Fazenda Pública ao pagamento de honorários sucumbenciais,
em decorrência da integral extinção da Execução Fiscal, pelo
acolhimento de Exceção de Pré-Executividade. No aludido
julgamento restou assentada "a possibilidade de condenação
da Fazenda Pública ao pagamento de honorários advocatícios
quando acolhida a Exceção de Pré-Executividade e extinta a
Execução Fiscal" (STJ, REsp 1.185.036/PE, Rel. Ministro
HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO, DJe de
01/10/2010).
VII. O mesmo se passa quando a Exceção de Pré-
Executividade, acolhida, acarreta a extinção parcial do objeto
da execução, ou seja, quando o acolhimento da objeção implica
a redução do valor exequendo. Precedentes do STJ: (...)
O mesmo entendimento, pelo cabimento de honorários de
advogado, firmou a Corte Especial do STJ, no REsp
1.134.186/RS, julgado sob o rito do art. 543-C do CPC/73,
quando acolhida, ainda que parcialmente, a impugnação ao
cumprimento da sentença, registrando o voto condutor do
aludido acórdão que "o acolhimento ainda que parcial da
impugnação gerará o arbitramento dos honorários, que serão
fixados nos termos do art. 20, § 4º, do CPC, do mesmo modo
que o acolhimento parcial da exceção de pré-executividade,
porquanto, nessa hipótese, há extinção também parcial da

274
execução" (STJ, REsp 1.134.186/RS, Rel. Ministro LUIS
FELIPE SALOMÃO, CORTE ESPECIAL, DJe de 21/10/2011).
VIII. As hipóteses de acolhimento, ainda que parcial, da
impugnação ao cumprimento de sentença e de acolhimento da
Exceção de Pré-Executividade, para reduzir o montante
exequendo, são em tudo análogas à hipótese ora em
julgamento, ou seja, acolhimento da Exceção de Pré-
Executividade, para excluir determinado executado do polo
passivo da execução fiscal, que não é extinta, prosseguindo, em
relação à sociedade executada e aos demais sócios. Nenhuma
delas põe fim ao processo, ou seja, a natureza dos
pronunciamentos não é outra senão a de decisão interlocutória.
A rigor, o que difere as primeiras hipóteses do caso em análise
é o objeto sobre o qual recaem. O caso em julgamento opera a
extinção parcial subjetiva do processo, aqueles, a extinção
parcial objetiva. Sendo as hipóteses espécies de extinção
parcial do processo, clara está a adequação de tratá-las por
igual: ubi eadem ratio ibi idem jus.
IX. Tese jurídica firmada: "Observado o princípio da
causalidade, é cabível a fixação de honorários advocatícios, em
exceção de pré-executividade, quando o sócio é excluído do
polo passivo da execução fiscal, que não é extinta." X. Caso
concreto: Recurso Especial conhecido parcialmente, e, nessa
extensão, improvido.
XI. Recurso julgado sob a sistemática dos recursos especiais
representativos de controvérsia (art. 543-C do CPC/73, art.
1.036 e seguintes do CPC/2015 e art. 256-N e seguintes do
RISTJ).
(REsp 1358837/SP, Rel. Ministra ASSUSETE MAGALHÃES,
PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 10/03/2021, DJe 29/03/2021)
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

275
TRIBUNAL STJ
TEMA Repetitivo 880
QUESTÃO Discute o prazo prescricional de execução de sentença em caso
de demora no fornecimento de documentação requerida ao ente
público.
TESE "A partir da vigência da Lei n. 10.444/2002, que incluiu o § 1º ao
art. 604, dispositivo que foi sucedido, conforme Lei n.
11.232/2005, pelo art. 475-B, §§ 1º e 2º, todos do CPC/1973,
não é mais imprescindível, para acertamento da conta
exequenda, a juntada de documentos pela parte executada,
ainda que esteja pendente de envio eventual documentação
requisitada pelo juízo ao devedor, que não tenha havido dita
requisição, por qualquer motivo, ou mesmo que a
documentação tenha sido encaminhada de forma incompleta
pelo executado. Assim, sob a égide do diploma legal citado e
para as decisões transitadas em julgado sob a vigência do
CPC/1973, a demora, independentemente do seu motivo, para
juntada das fichas financeiras ou outros documentos correlatos
aos autos da execução, ainda que sob a responsabilidade do
devedor ente público, não obsta o transcurso do lapso
prescricional executório, nos termos da Súmula 150/STF".

MODULAÇÃO DE EFEITOS:
"Os efeitos decorrentes dos comandos contidos neste acórdão
ficam modulados a partir de 30/6/2017, com fundamento no §
3º do art. 927 do CPC/2015. Resta firmado, com essa
modulação, que, para as decisões transitadas em julgado até
17/3/2016 (quando ainda em vigor o CPC/1973) e que estejam
dependendo, para ingressar com o pedido de cumprimento de
sentença, do fornecimento pelo executado de documentos ou
fichas financeiras (tenha tal providência sido deferida, ou não,
pelo juiz ou esteja, ou não, completa a documentação), o prazo

276
prescricional de 5 anos para propositura da execução ou
cumprimento de sentença conta-se a partir de 30/6/2017."
(acórdão que acolheu parcialmente os embargos de
declaração, publicado no DJe de 22/06/2018).
EMENTA (...) 1. Nos termos da Súmula 150/STF, o prazo prescricional da
RESUMIDA execução é o mesmo da ação de conhecimento. Dito
entendimento externado pelo STF leva em conta que o
procedimento de liquidação, da forma como regulado pelas
normas processuais civis, integra, na prática, o próprio processo
de conhecimento. Se o título judicial estabelecido no processo
de conhecimento não firmara o quantum debeatur, somente
efetivada a liquidação da sentença é que se poderá falar em
inércia do credor em propor a execução, independentemente de
tratar-se de liquidação por artigos, por arbitramento ou por
cálculos.
2. Esse termo inicial para contagem do prazo prescricional da
ação executiva, que se mantém para as modalidades de
liquidação por artigos e por arbitramento, sofreu sensível
modificação a partir da alteração da natureza jurídica da
"liquidação" por meros cálculos aritméticos. Tal ocorrera, em
parte, com a edição da Lei n. 8.898/1994, cuja redação somente
foi completada, a qual persiste até hoje - mesmo com a edição
do CPC/2015 -, com a inclusão do § 1º ao art. 604 do CPC/1973.
3. Com a vigência da Lei n. 10.444/2002, foi mantida a extinção
do procedimento de liquidação por cálculos, acrescentando o §
1º ao art. 604 do CPC/1973, permitindo sejam considerados
corretos os cálculos do credor quando os dados requisitados
pelo juiz do devedor não forem trazidos aos autos, sem
justificativa. A partir de então, extinto, por completo, qualquer
resquício de necessidade de uma fase prévia à execução para
acertamento da conta exequenda, tendo transcorrido o prazo de
cinco anos, quando devedora a Fazenda Pública, incidirá o
lapso prescricional quanto à execução.

277
4. No caso, consoante o acórdão recorrido, a sentença
prolatada na Ação Ordinária n. 97.0004216-2, que reconheceu
aos autores da demanda o direito ao reajuste de 28,86% a partir
de janeiro de 1993 até a efetiva implantação em folha de
pagamento, transitou em julgado em 25/3/2002. 5.
Considerando que a execução foi ajuizada em 17/5/2007,
mesmo após demora na entrega das fichas financeiras pela
parte devedora, não transcorreu o lustro prescricional,
porquanto a redação dada pela Lei n. 10.444/2002, que
introduziu o § 1º ao art. 604 do CPC/1973, somente entrou em
vigor em três meses depois, contados a partir do dia 85/2002
(data da sua publicação). Assim, por ocasião do ajuizamento da
execução, em 17/5/2007, ainda não havia transcorrido o lapso
quinquenal, contado da vigência da Lei n. 10.444/2002, diploma
legal que tornou desnecessário qualquer procedimento prévio
de efetivação da conta antes de a parte exequente ajuizar a
execução.
6. Tese firmada: "A partir da vigência da Lei n. 10.444/2002, que
incluiu o § 1º ao art. 604, dispositivo que foi sucedido, conforme
Lei n. 11.232/2005, pelo art. 475-B, §§ 1º e 2º, todos do
CPC/1973, não é mais imprescindível, para acertamento de
cálculos, a juntada de documentos pela parte executada ou por
terceiros, reputando-se correta a conta apresentada pelo
exequente, quando a requisição judicial de tais documentos
deixar de ser atendida, injustificadamente, depois de
transcorrido o prazo legal. Assim, sob a égide do diploma legal
citado, incide o lapso prescricional, pelo prazo respectivo da
demanda de conhecimento (Súmula 150/STF), sem interrupção
ou suspensão, não se podendo invocar qualquer demora na
diligência para obtenção de fichas financeiras ou outros
documentos perante a administração ou junto a terceiros".
(...) (REsp 1336026/PE, Rel. Ministro OG FERNANDES,
PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 28/06/2017, DJe 30/06/2017)

278
CONEXÕES E 1. Tese firmada com base no CPC/1973, a partir da vigência da
COMENTÁRIOS Lei n. 10.444/2002, que incluiu o § 1º ao art. 604, dispositivo que
foi sucedido, conforme Lei n. 11.232/2005, pelo art. 475-B, §§
1º e 2º, todos do CPC/1973.
Porém, há dispositivo correspondente no CPC/2015 (art. 524,
§§4º e 5º), dispondo no mesmo sentido. Assim, o mesmo
entendimento continua aplicável após o advento do CPC/2015.

TRIBUNAL STJ
TEMA Repetitivo 1050
QUESTÃO Possibilidade de computar as parcelas pagas a título de
benefício previdenciário na via administrativa no curso da ação
na base de cálculo para fixação de honorários advocatícios,
além dos valores decorrentes de condenação judicial.
TESE O eventual pagamento de benefício previdenciário na via
administrativa, seja ele total ou parcial, após a citação válida,
não tem o condão de alterar a base de cálculo para os
honorários advocatícios fixados na ação de conhecimento, que
será composta pela totalidade dos valores devidos.
EMENTA (...) 1. No recurso especial da autarquia federal discute-se a
RESUMIDA possibilidade de desconto da base de cálculos dos honorários
advocatícios dos valores recebidos administrativamente pela
parte autora.
2. (...) 3. A prescrição do art. 85, §2º, do CPC/2015 sobre os
critérios para o arbitramento dos honorários de sucumbência
prevê o conceito de proveito econômico. Com efeito, o proveito
econômico ou valor da condenação da causa não é sinônimo
de valor executado a ser recebido em requisição de pagamento,
mas sim equivale ao proveito jurídico, materializado no valor
total do benefício que foi concedido ao segurado por força de
decisão judicial conseguido por meio da atividade laboral
exercida pelo advogado.

279
4. O valor da condenação não se limita ao pagamento que será
feito do montante considerado controvertido ou mesmo
pendente de pagamento por meio de requisição de pagamento,
ao contrário, abarca a totalidade do proveito econômico a ser
auferido pela parte beneficiária em decorrência da ação judicial.
5. Consoante entendimento firmado por este Superior Tribunal
de Justiça, os valores pagos administrativamente devem ser
compensados na fase de liquidação do julgado; entretanto, tal
compensação não deve interferir na base de cálculo dos
honorários sucumbenciais, que deverá ser composta pela
totalidade dos valores devidos (REsp 956.263/SP, Rel. Min.
NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, QUINTA TURMA, DJ
3.9.2007, p. 219).
6. Os honorários advocatícios, nos termos do art. 85, § 2º, do
CPC/2015, são fixados na fase de conhecimento com base no
princípio da sucumbência, ou seja, em razão da derrota da parte
vencida. No caso concreto, conforme constatado nos autos, a
pretensão resistida se iniciou na esfera administrativa com o
indeferimento do pedido de concessão do benefício
previdenciário.
7. A resistência à pretensão da parte recorrida, por parte do
INSS, ensejou a propositura da ação, o que impõe a fixação dos
honorários sucumbenciais, a fim de que a parte que deu causa
à demanda assuma as despesas inerentes ao processo, em
atenção ao princípio da causalidade, inclusive no que se refere
à remuneração do advogado que patrocinou a causa em favor
da parte vencedora.
8. Tese fixada pela Primeira Seção do STJ, com observância do
rito do julgamento dos recursos repetitivos previsto no art. 1.036
e seguintes do CPC/2015: o eventual pagamento de benefício
previdenciário na via administrativa, seja ele total ou parcial,
após a citação válida, não tem o condão de alterar a base de
cálculo para os honorários advocatícios fixados na ação de

280
conhecimento, que será composta pela totalidade dos valores
devidos.
9. Recurso especial da autarquia federal a que se nega
provimento.
(REsp 1847731/RS, Rel. MIN. MANOEL ERHARDT
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF-5ª REGIÃO),
PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 28/04/2021, DJe 05/05/2021)
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
TEMA IAC 1
QUESTÃO 1.1. Cabimento de prescrição intercorrente e eventual
imprescindibilidade de intimação prévia do credor;
1.2. Necessidade de oportunidade para o autor dar andamento
ao processo paralisado por prazo superior àquele previsto para
a prescrição da pretensão veiculada na demanda.
TESE 1.1. Incide a prescrição intercorrente, nas causas regidas pelo
CPC/73, quando o exequente permanece inerte por prazo
superior ao de prescrição do direito material vindicado,
conforme interpretação extraída do art. 202, parágrafo único, do
Código Civil de 2002.
1.2. O termo inicial do prazo prescricional, na vigência do
CPC/1973, conta-se do fim do prazo judicial de suspensão do
processo ou, inexistindo prazo fixado, do transcurso de 1 (um)
ano (aplicação analógica do art. 40, § 2º, da Lei 6.830/1980).
1.3. O termo inicial do art. 1.056 do CPC/2015 tem incidência
apenas nas hipóteses em que o processo se encontrava
suspenso na data da entrada em vigor da novel lei processual,
uma vez que não se pode extrair interpretação que viabilize o
reinício ou a reabertura de prazo prescricional ocorridos na
vigência do revogado CPC/1973 (aplicação irretroativa da

281
norma processual).
1.4. O contraditório é princípio que deve ser respeitado em
todas as manifestações do Poder Judiciário, que deve zelar pela
sua observância, inclusive nas hipóteses de declaração de
ofício da prescrição intercorrente, devendo o credor ser
previamente intimado para opor algum fato impeditivo à
incidência da prescrição.
EMENTA (...) 1. As teses a serem firmadas, para efeito do art. 947 do
RESUMIDA CPC/2015 são as seguintes: 1.1 Incide a prescrição
intercorrente, nas causas regidas pelo CPC/73, quando o
exequente permanece inerte por prazo superior ao de
prescrição do direito material vindicado, conforme interpretação
extraída do art. 202, parágrafo único, do Código Civil de 2002.
1.2 O termo inicial do prazo prescricional, na vigência do
CPC/1973, conta-se do fim do prazo judicial de suspensão do
processo ou, inexistindo prazo fixado, do transcurso de um ano
(aplicação analógica do art. 40, § 2º, da Lei 6.830/1980).
1.3 O termo inicial do art. 1.056 do CPC/2015 tem incidência
apenas nas hipóteses em que o processo se encontrava
suspenso na data da entrada em vigor da novel lei processual,
uma vez que não se pode extrair interpretação que viabilize o
reinício ou a reabertura de prazo prescricional ocorridos na
vigência do revogado CPC/1973 (aplicação irretroativa da
norma processual). 1.4. O contraditório é princípio que deve ser
respeitado em todas as manifestações do Poder Judiciário, que
deve zelar pela sua observância, inclusive nas hipóteses de
declaração de ofício da prescrição intercorrente, devendo o
credor ser previamente intimado para opor algum fato
impeditivo à incidência da prescrição.
2. No caso concreto, a despeito de transcorrido mais de uma
década após o arquivamento administrativo do processo, não
houve a intimação da recorrente a assegurar o exercício
oportuno do contraditório.

282
3. Recurso especial provido.
(REsp 1604412/SC, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO
BELLIZZE, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 27/06/2018, DJe
22/08/2018)
CONEXÕES E 1. Tese firmada com fundamento no CPC/73. O CPC/15 dispõe
COMENTÁRIOS expressamente sobre a prescrição intercorrente na execução,
nos arts. 921 e 924, VI, de modo que não cabe mais a aplicação
analógica da Lei n. 6.830/80 – Lei de Execuções Fiscais).

2. Com relação à regra de transição do art. 1.056 do CPC/15, a


própria tese elucida a sua aplicação, que não pode retroagir
para reiniciar os prazos prescricionais já em curso ou exauridos
quando da sua entrada em vigor. Assim, ele se aplica somente
aos processos que estavam suspensos quando da vigência do
Código, e não aos já arquivados.

9.2 JURISPRUDÊNCIA PERSUASIVA

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 793
DESTAQUE DO A existência de hipoteca judiciária não isenta o devedor do
INFORMATIVO pagamento da multa e dos honorários de advogado previstos
no art. 523, § 1º, do CPC/2015.
TRECHOS DO No cumprimento de sentença que reconhece a obrigação de
INFORMATIVO pagar quantia certa, se o devedor não realizar o pagamento
voluntário no prazo de 15 (quinze) dias o débito será acrescido
de multa de 10% e de honorários de advogado de 10% (art. 523,
caput e § 1º, do CPC/2015).
São dois os critérios para a incidência da multa e dos honorários
previstos no mencionado dispositivo: a intempestividade do
pagamento ou a resistência manifestada na fase de
cumprimento de sentença.

283
A multa e os honorários a que se refere o art. 523, § 1º, do
CPC/2015 serão excluídos apenas se o executado depositar
voluntariamente a quantia devida em juízo, sem condicionar seu
levantamento a qualquer discussão do débito.
A hipoteca judiciária prevista no art. 495 do CPC/2015 visa a
assegurar futura execução, não ocasionando a imediata
satisfação do direito do credor. Essa modalidade de garantia
não equivale ao pagamento voluntário do débito, de modo que
não isenta o devedor da multa de 10% e de honorários de
advogado 10%.

REFERÊNCIA REsp 2.090.733-TO, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira


DO ACÓRDÃO Turma, por unanimidade, julgado em 17/10/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL 790
INFORMATIVO STJ
DESTAQUE DO É possível a inclusão das prestações alimentícias vencidas no
INFORMATIVO curso da execução, ainda que o credor opte pelo procedimento
da coerção patrimonial, previsto no art. 528, § 8º, do CPC/2015,
em observância dos princípios da efetividade, da celeridade e
da economia processual.
TRECHOS DO A controvérsia resume-se à possibilidade de inclusão no saldo
INFORMATIVO devedor das prestações não pagas que vencerem no curso da
execução de alimentos, ajuizada pelo rito da expropriação
patrimonial.
O rito da execução de alimentos por expropriação, não há
previsão específica de inclusão das prestações vincendas,
conforme depreende-se do disposto no art. 528, § 8º, do
CPC/2015.

284
Apenas no rito da prisão há previsão legal de incluir na
execução as prestações que vencerem no curso do processo:
art. 52, § 7º O débito alimentar que autoriza a prisão civil do
alimentante é o que compreende até as 3 (três) prestações
anteriores ao ajuizamento da execução e as que se vencerem
no curso do processo.
Contudo, deve-se conferir à norma uma interpretação lógico-
sistemática, a fim de compreender seu alcance no conjunto do
sistema jurídico. Sob esse aspecto, a inclusão das prestações
a vencer no curso da execução não deve ser restrita ao rito da
coerção pessoal, pois esse entendimento induziria o exequente
a optar pelo procedimento mais gravoso ao executado - o da
prisão.
Isso porque se o credor for obrigado a ajuizar nova ação cada
vez que a prestação alimentar vencer e não for paga, será para
ele muito mais célere e menos dispendiosa a execução dos
alimentos, desde logo, pelo rito da prisão, reclamando o
pagamento das últimas três prestações e das vencidas em seu
curso, ou, ainda, pelo ajuizamento da execução por ambos ritos
- coerção pessoal (prisão) e coerção patrimonial (penhora) -, por
ser possível a cumulação dos procedimentos, conforme
entendimento da Quarta Turma (REsp 1.930.593/MG, relator
Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em
9/8/2022, DJe 26/8/2022).
Por conseguinte, ao se permitir a inclusão das parcelas
vincendas no curso da execução de alimentos pelo rito da
constrição patrimonial, evita-se a propositura de novas
execuções com base na mesma relação jurídica, observando-
se os princípios da efetividade, da celeridade e da economia
processual.

285
REFERÊNCIA Processo em segredo de justiça, Rel. Ministro Antonio Carlos
DO ACÓRDÃO Ferreira, Quarta Turma, por unanimidade, julgado em
12/9/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 789
DESTAQUE DO Uma empresa do mesmo grupo econômico da parte executada
INFORMATIVO só pode ter seus bens bloqueados se o incidente de
desconsideração da personalidade jurídica for previamente
instaurado, não sendo suficiente mero redirecionamento do
cumprimento de sentença contra quem não integrou a lide na
fase de conhecimento.
TRECHOS DO A previsão de responsabilidade civil subsidiária, inerente ao
INFORMATIVO direito material, não exclui a observância das normas
processuais, garantidoras do contraditório e da ampla defesa,
incluindo, entre outras, o incidente de desconsideração da
personalidade jurídica.
Nesse aspecto, numa interpretação sistemática do Código de
Defesa do Consumidor, é possível observar que a previsão de
responsabilidade civil subsidiária das sociedades integrantes de
um mesmo grupo encontra-se inserida na seção que trata da
desconsideração da personalidade jurídica.
Dessa forma, para que uma empresa, pertencente ao mesmo
grupo econômico da executada, sofra constrição patrimonial, é
necessária prévia observância dos procedimentos específicos
da desconsideração da personalidade jurídica, que pode ser
instaurada, inclusive, na fase de cumprimento de sentença ou
na execução fundada em título executivo extrajudicial, nos
termos do art. 134 do CPC.

286
Ressalte-se que a instauração do incidente de desconsideração
é norma processual de observância obrigatória, como forma de
garantir o devido processo legal.
Nesse sentido, a Terceira Turma desta Corte manifestou-se
quanto à impossibilidade de mero redirecionamento do
cumprimento de sentença àquele que não integrou a lide na
fase de conhecimento: Uma vez formado o título executivo
judicial contra uma ou algumas das sociedades, poderão
responder todas as demais componentes do grupo, desde que
presentes os requisitos para a desconsideração da
personalidade jurídica, na forma do art. 28, § 2º, do CDC, sendo
inviável o mero redirecionamento da execução contra aquela
que não participou da fase de conhecimento. (AgInt no REsp
1.875.845/SP, relator Ministro Moura Ribeiro, Terceira Turma,
julgado em 16/5/2022, DJe 19/5/2022.)

REFERÊNCIA REsp 1.864.620-SP, Rel. Ministro Antonio Carlos Ferreira,


DO ACÓRDÃO Quarta Turma, por unanimidade, julgado em 12/9/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 789
DESTAQUE DO Embora a previsão da averbação premonitória seja
INFORMATIVO ordinariamente reservada à execução, pode o magistrado, com
base no poder geral de cautela e observados os requisitos
previstos no art. 300 do CPC, deferir tutela provisória de
urgência de natureza cautelar no processo de conhecimento,
com idêntico conteúdo à medida prevista para a demanda
executiva (art. 829 do CPC).
TRECHOS DO A medida executiva prevista no art. 828 do CPC possui duas
INFORMATIVO funções nítidas, a saber: I) de um lado, tornar pública a

287
existência de demanda executiva em face do devedor, de forma
a presumir de maneira absoluta que a alienação do bem, se o
conduzir à insolvência, constituirá fraude à execução e tornará
ineficaz o negócio jurídico praticado; II) ao tornar pública a
existência da demanda executiva, prevenir a dilapidação
patrimonial que possa levar o devedor à insolvência e, assim,
orientar outros credores quando negociarem com o devedor.
O caráter preventivo da medida, na forma disciplinada pelo novo
estatuto processual, dispensa até mesmo a deliberação judicial
sobre da expedição da certidão premonitória, porquanto atribui
a competência ao escrivão ou diretor de secretaria após a
aceitação da ação de execução.
Com isso, tão logo seja admitida a execução pelo magistrado
competente - única condição para a deflagração da posição
jurídica -, surge para o credor exequente o direito potestativo de
obter a certidão acerca da existência da demanda executiva
para averbá-la no registro competente, não havendo
necessidade de nenhuma cognição judicial acerca da existência
ou não do direito do exequente.
Assim, preenchidos os requisitos legais, a simples aceitação da
ação de execução já autoriza o desencadeamento do
procedimento legal para a expedição da certidão premonitória
para averbação na matrícula do imóvel de propriedade do
devedor, no registro de veículos ou de outros bens sujeitos a
penhora, arresto ou indisponibilidade.
A questão discutida, contudo, relaciona-se ao deferimento de
tutela provisória de urgência em processo de conhecimento
com a finalidade de averbar a existência da demanda na
matrícula de imóvel pertencente aos demandados, de forma
semelhante à averbação premonitória prevista no art. 828 do
CPC para as ações de execução.

288
A decisão foi proferida com base nos requisitos previstos no art.
300 do CPC, consubstanciados na probabilidade do direito e no
perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo.
O CPC prevê de maneira expressa o poder geral de cautela -
que já deflui do texto constitucional -, em seu art. 301, ao prever
que a tutela de urgência de natureza cautelar pode ser efetivada
mediante arresto, sequestro, arrolamento de bens, registro de
protesto contra alienação de bem e qualquer outra medida
idônea para asseguração do direito. O poder geral de cautela
assegura ao magistrado o deferimento de todas as medidas que
se revelarem adequadas ao asseguramento da utilidade da
tutela principal, ainda que sejam coincidentes com aquelas
previstas especialmente para a execução.
Embora o art. 301 do CPC preveja algumas medidas cautelares
(típicas ou nominadas no sistema processual de 1973), a
cláusula geral constante ao final no dispositivo legal qualquer
outra medida idônea para asseguração do direito autoriza que
sejam adotadas quaisquer medidas com a finalidade precípua
de garantia da eficácia do processo e da tutela jurisdicional a
ser concedida.
Nesse sentido, sobressai o caráter instrumental da providência
de natureza cautelar, que visa à garantia do próprio
instrumento, no exato sentido de assegurar a efetividade do
processo judicial.
A abrangência do dispositivo destina-se, pois, a dotar o
magistrado de instrumentos suficientes e adequados a garantir
a eficácia do processo e, assim, assegurar a utilidade da tutela
de mérito a ser ao final concedida.
A determinação judicial no presente processo, diferentemente
da averbação premonitória prevista no art. 828 do CPC, foi
concedida após deliberação judicial da sua adequação para a
garantia da eficácia do processo de dissolução de sociedade
em conta de participação, porquanto o imóvel em cuja matrícula

289
se averbou a certidão expedida seria o único de propriedade da
sócia ostensiva.
Por fim, a base legal para o deferimento da medida, em
verdade, não é o citado art. 828, senão os arts. 300 e 301 do
CPC, embora seja em tudo similar àquela prevista para a
execução, é dizer, a possível extensão da disciplina específica
da averbação premonitória aos processos de conhecimento
encontra seu assento no poder geral de cautela.

REFERÊNCIA REsp 1.847.105-SP, Rel. Ministro Antonio Carlos Ferreira,


DO ACÓRDÃO Quarta Turma, por unanimidade, julgado em 12/9/2023, DJe
19/9/2023
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 789
DESTAQUE DO Em execução por dívida condominial movida pelo condomínio
INFORMATIVO edilício, é possível a penhora do próprio imóvel que dá origem
ao débito, ainda que esteja alienado fiduciariamente, devendo
o condomínio exequente promover a prévia citação também do
credor fiduciário, a fim de que venha integrar a execução,
facultando-lhe a oportunidade de quitar o débito condominial.
TRECHOS DO A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça que entende
INFORMATIVO que não é possível a penhora do imóvel alienado
fiduciariamente em execução de despesas condominiais de
responsabilidade do devedor fiduciante, na forma dos arts. 27,
§ 8º, da Lei nº 9.514/1997 e 1.368-B, parágrafo único, do
CC/2002, uma vez que o bem não integra o seu patrimônio, mas
sim o do credor fiduciário. Admitindo-se, contudo, a penhora do
direito real de aquisição derivado da alienação fiduciária, de
acordo com os arts. 1.368-B, caput, do CC/2002, c/c o art. 835,

290
XII, do CPC (REsp 2.036.289/RS, relatora Ministra Nancy
Andrighi, Terceira Turma, julgado em 18/4/2023, DJe
20/4/2023). Tal solução se mostra correta para o contexto, para
um credor comum, o credor normal de um condômino, naquela
situação. O credor não poderá penhorar o imóvel do devedor,
por estar o bem alienado fiduciariamente ao credor fiduciário,
sendo este o titular da propriedade resolúvel da coisa imóvel.
Porém, quando o credor do condômino devedor é o próprio
condomínio a solução não se ajusta. É que relativamente ao
próprio condomínio-credor, dada a natureza propter rem das
despesas condominiais, nos termos do art. 1.345 do Código
Civil, haverá necessidade de se promover a citação, na ação de
execução, também do credor fiduciário no aludido contrato para
que venha integrar a lide, possibilitando ao titular do direito
previsto no contrato de alienação fiduciária quitar o débito
condominial existente e, em ação regressiva, tentar obter do
devedor fiduciante o retorno desses valores.
A razão para tanto está em que não se pode cobrir o credor
fiduciário de imunidade contra dívida condominial, outorgando-
lhe direitos maiores do que aqueles que tem qualquer
proprietário. Quer dizer, o proprietário fiduciário não é um
proprietário especial, detentor de maiores direitos do que o
proprietário comum de imóvel em condomínio edilício
A natureza propter rem se sobreleva ao direito do próprio credor
fiduciário, dado que não é justo que se coloque nos ombros dos
demais condôminos a obrigação de arcar com o rateio daquelas
despesas, tendo em vista que, de um lado, o devedor fiduciante
se sente confortável em não pagar, porque sabe que o
apartamento não poderia ser objeto de nenhuma constrição. E,
de outro lado, o credor fiduciário se sente tranquilo também,
porque, recebendo o dinheiro correspondente ao empréstimo
que realizou, não será importunado no seu direito de

291
propriedade, apesar da existência de débitos condominiais que
pairam sem uma definição de pagamento.
Dessa forma, é dever de o condomínio exequente promover a
citação do credor fiduciário a fim de que ele venha integrar a
execução, facultando-lhe a oportunidade de quitar o débito
condominial para não ver o imóvel ser arrematado em praça na
execução e, assim, se creditar para, em ação regressiva, buscar
o ressarcimento desse valor junto ao devedor fiduciante.

REFERÊNCIA REsp 2.059.278-SC, Rel. Ministro Marco Buzzi, Rel. para


DO ACÓRDÃO acórdão Ministro Raul Araújo, Quarta Turma, por maioria,
julgado em 23/5/2023, DJe 12/9/2023
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 789
DESTAQUE DO No cumprimento de sentença, na hipótese de o credor não
INFORMATIVO manifestar oposição aos termos do requerimento de
cumprimento espontâneo apresentado pelo devedor, cabe ao
juiz declarar satisfeita a obrigação e extinguir o processo em
razão da preclusão.
TRECHOS DO Trata-se, na origem, de cumprimento de sentença que tem por
INFORMATIVO objeto ação de reembolso julgada procedente para reembolsar
a sócio as ações a que tem direito em decorrência da sua saída
do quadro societário de sociedade anônima, conforme o valor
patrimonial destas, a serem avaliadas por ocasião do
pagamento.
A sociedade empresária deu início ao cumprimento espontâneo
da sentença, informando que o seu balanço patrimonial estava
negativo, motivo pelo qual nada haveria a ser reembolsado.

292
Intimado, o sócio retirante nada requereu, mesmo tendo feito
carga dos autos.
Nessa linha, apresentados os cálculos pela sociedade anônima,
ainda que negativos e conforme interpretação unilateral da
sentença, uma vez que devidamente intimado e silente o
recorrido, somente se apresentava uma solução ao magistrado:
a homologação dos cálculos.
Sendo assim, ainda que ausente a declaração de homologação
acima descrita, uma vez que não se poderia chegar a resultado
diverso, cumpre reconhecer haver-se operado a preclusão
temporal quanto a eventual direito de impugnação acerca dos
cálculos e termos do cumprimento de sentença apresentados,
o que, em última análise, convola-se em coisa julgada,
preclusão máxima.
Não por outro motivo, o CPC/2015 deu vida ao art. 526, §§ 1º e
3, do CPC, determinando que, não havendo oposição aos
termos do requerimento de cumprimento espontâneo
apresentado pelo devedor, cabe ao juiz declarar satisfeita a
obrigação e extinguir o processo.

REFERÊNCIA REsp 2.077.205-GO, Rel. Ministro Humberto Martins, Terceira


DO ACÓRDÃO Turma, por unanimidade, julgado em 26/9/2023.
CONEXÕES E
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 788
DESTAQUE DO A penhora, em execução, de saldo em conta de investimento
INFORMATIVO sujeita-se ao regramento do art. 833, X, do Código de Processo
Civil (impenhorabilidade até o montante de 40 salários-
mínimos) - que incide, inclusive, nas execuções de natureza
não alimentar -, ainda que o montante tenha sido transferido

293
(seja oriundo) de conta vinculada do FGTS, afastando-se,
assim, a impenhorabilidade absoluta de que trataria o art. 2º, §
2º, da Lei n. 8.036/1990.
TRECHOS DO O § 2º do art. 2º da Lei n. 8.036/1990 dispõe que "As contas
INFORMATIVO vinculadas em nome dos trabalhadores são absolutamente
impenhoráveis."
No caso, a instância de origem afastou a impenhorabilidade
absoluta ao fundamento de que o saldo da conta vinculada do
FGTS fora transferido para conta de aplicação financeira.
Nesse sentido, a jurisprudência desta Corte já decidiu que "A
ocorrência de transferência dos créditos para conta particular
do trabalhador desautoriza a aplicação do art. 2º, § 2º, da Lei n.
8.036/1990." (REsp 867.062/RS, Rel. Ministra Eliana Calmon,
Segunda Turma, DJe 5/9/2008).
Embora o saldo das contas vinculadas pertença aos seus
titulares, os recursos do FGTS não têm como única finalidade
indenizar o trabalhador. Dessa forma, é razoável o raciocínio de
que, enquanto não havida hipótese de saque, a
impenhorabilidade absoluta de que trata o § 2ª do art. 2º da Lei
n. 8.036/1990 tem por escopo assegurar a aplicação dos
recursos do FGTS nos termos do § 2º do art. 9º da mesma lei,
ou seja, em prol da coletividade.
Contudo, tendo havido saque e transferência do saldo da conta
vinculada, passa a incidir, no regramento sobre
impenhorabilidade do saldo na outra conta (conta-
investimento), o quanto disposto no inciso X do art. 833 do CPC,
o que afasta a regra da impenhorabilidade com base na Lei n.
8.036/1990. O entendimento desta Corte é pela incidência da
referida norma processual mesmo a contas de aplicação
financeira.
Nessa linha, "A jurisprudência desta Corte Superior é firme no
sentido da impenhorabilidade de valor até 40 salários mínimos
poupados ou mantidos pelo devedor em conta corrente ou em

294
outras aplicações financeiras, ressalvada a comprovação de
má-fé, abuso de direito ou fraude, o que não foi demonstrado
nos autos (AgInt nos EDcl no REsp 2.011.412/PR, relator
Ministro Moura Ribeiro, Terceira Turma, DJe de 5/5/2023).
Por fim, registre-se que a jurisprudência do STJ já admitia a
penhora de verba salarial para quitação de qualquer dívida (ou
seja, não somente de execução de alimentos) do montante
acima de 50 (cinquenta) salários mínimos recebidos pelo
executado. O entendimento evoluiu para, em avaliação a ser
feita no caso concreto, afastar até mesmo esse limite (EREsp
1.874.222/DF, Rel. Ministro João Otávio de Noronha, Corte
Especial, por maioria, julgado em 19/4/2023).

REFERÊNCIA REsp 2.021.651-PR, Rel. Ministro João Batista Moreira


DO ACÓRDÃO (Desembargador convocado do TRF1), Quinta Turma, por
unanimidade, julgado em 19/9/2023.
CONEXÕES E
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 785
DESTAQUE DO Quando a exceção de pré-executividade apresentada por
INFORMATIVO terceiro em ação executiva for acolhida, levando à exclusão
deste no polo passivo da execução, os honorários advocatícios
devem ser fixados por equidade, nos termos do art. 85, § 8º, do
CPC/2015, uma vez que não se pode vincular a verba
sucumbencial ao valor da causa dado na execução, sendo
inestimável o proveito econômico por ela auferido.
TRECHOS DO Nos termos da jurisprudência desta Corte, "a sentença (ou o ato
INFORMATIVO jurisdicional equivalente, na competência originária dos
tribunais), como ato processual que qualifica o nascedouro do
direito à percepção dos honorários advocatícios, deve ser

295
considerada o marco temporal para a aplicação das regras
fixadas pelo CPC/2015" (EAREsp n. 1.255.986/PR, Relator
Ministro Luis Felipe Salomão, Corte Especial, julgado em
20/3/2019, DJe de 6/5/2019).
No caso, a exceção de pré-executividade foi apresentada pela
esposa de um dos coobrigados foi acolhida. Isso levou à
exclusão da esposa do polo passivo, mas não implicou a
extinção da execução ou redução do valor cobrado, uma vez
que se manteve válida a fiança no tocante à codevedora.
Assim, os honorários advocatícios devem ser fixados por
equidade, nos termos do art. 85, § 8º, do CPC/2015, uma vez
que, não sendo a excipiente parte na ação executiva, não se
pode vincular a verba sucumbencial ao valor da causa dado na
execução, sendo inestimável, no caso, o proveito econômico
por ela auferido.

REFERÊNCIA AgInt no REsp 1.739.095-PE, Rel. Ministro Raul Araújo, Quarta


DO ACÓRDÃO Turma, por unanimidade, julgado em 14/8/2023, DJe 18/8/2023.
CONEXÕES E
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 785
DESTAQUE DO Na impugnação parcial ao cumprimento de sentença, é direito
INFORMATIVO da parte exequente prosseguir com os atos executórios sobre a
parte incontroversa da dívida, inclusive com realização de
penhora.
TRECHOS DO A impugnação ao cumprimento de sentença não possui, como
INFORMATIVO regra, efeito suspensivo, nada impedindo, portanto, que o
Magistrado determine a prática de atos executivos no
patrimônio do executado, inclusive os de expropriação.

296
A exceção, contudo, é quando o executado demonstrar a
presença do fumus boni iuris, consistente na relevância dos
fundamentos apresentados na impugnação, e do periculum in
mora, caso o prosseguimento da execução seja suscetível de
causar dano grave de difícil ou incerta reparação, além de
garantir o juízo, por meio de penhora, caução ou depósito.
A propósito, é o que dispõe o § 6º do art. 525 do Código de
Processo Civil de 2015, in verbis: "A apresentação de
impugnação não impede a prática dos atos executivos, inclusive
os de expropriação, podendo o juiz, a requerimento do
executado e desde que garantido o juízo com penhora, caução
ou depósito suficientes, atribuir-lhe efeito suspensivo, se seus
fundamentos forem relevantes e se o prosseguimento da
execução for manifestamente suscetível de causar ao
executado grave dano de difícil ou incerta reparação".
No caso, após a apresentação da impugnação ao cumprimento
de sentença, o Juízo a quo, em razão do impasse quanto ao
valor total da dívida executada, determinou a remessa dos
autos à perícia contábil para recalcular o débito. O Magistrado,
muito embora não tenha concedido o efeito suspensivo à
impugnação apresentada pelo executado, resolveu postergar o
prosseguimento do cumprimento de sentença em relação à
parte incontroversa, sob o fundamento de que não haveria
qualquer prejuízo à parte exequente.
Ocorre que, tratando-se de impugnação parcial ao cumprimento
de sentença, é direito da parte exequente prosseguir com os
atos executórios sobre a parte incontroversa da dívida, inclusive
com realização de penhora, nos termos do que dispõe o art.
525, § 6º, do CPC.
Com efeito, por se tratar de quantia incontroversa, não há razão
para se postergar a execução imediata, pois, ainda que a
impugnação seja acolhida, não haverá qualquer modificação
em relação ao valor não impugnado pela parte devedora.

297
REFERÊNCIA REsp 2.077.121-GO, Rel. Ministro Marco Aurélio Bellizze,
DO ACÓRDÃO Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 8/8/2023, DJe
15/8/2023.
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 783
DESTAQUE DO O fato de a instituição financeira ser responsável pela correção
INFORMATIVO monetária e pelos juros de mora após o depósito judicial não
exime o devedor de pagar eventual diferença sobre os
encargos, calculados de acordo com o título, que incidem até o
efetivo pagamento.
TRECHOS DO O Superior Tribunal de Justiça tem o entendimento de que os
INFORMATIVO encargos estabelecidos no título apenas cessam se não houve
óbice ao levantamento do valor pelo credor, sendo que, do
contrário, pode este pleitear as diferenças entre os encargos
pagos pela instituição financeira depositária e aqueles
resultantes da previsão no título.
No caso, o depósito foi realizado apenas para fins de
deferimento do pedido cautelar.
E de acordo com a jurisprudência do STJ "a satisfação da
obrigação creditícia somente ocorre quando o valor a ela
correspondente ingressa no campo de disponibilidade do
exequente; permanecendo o valor em conta judicial, ou mesmo
indisponível ao credor, por opção do devedor, por evidente,
mantém-se o inadimplemento da prestação de pagar quantia
certa" (REsp 1.175.763/RS, Rel. Ministro Marco Buzzi, Quarta
Turma, julgado em 21/6/2012, DJe 5/10/2012).

298
A responsabilidade pela correção monetária e pelos juros de
mora, após feito o depósito judicial, é da instituição financeira
onde o numerário foi depositado.
Nada obstante, tal exegese não significa que o devedor fica
liberado dos consectários próprios de sua obrigação, pois, no
momento em que a quantia se tornar disponível para o
exequente (data do efetivo pagamento), os valores depositados
judicialmente, com os acréscimos pagos pela instituição
bancária, deverão ser deduzidos do montante da condenação
calculado na forma do título judicial ou extrajudicial. Com isso,
evitar-se-á a ocorrência de bis in idem e será corretamente
imputada a responsabilidade pela mora (REsp 1.475.859/RJ,
Rel. Ministro João Otávio de Noronha, Terceira Turma, julgado
em 16/8/2016, DJe 25/8/2016).

REFERÊNCIA AgInt no REsp 1.965.048-SP, Rel. Ministra Maria Isabel Gallotti,


DO ACÓRDÃO Quarta Turma, por unanimidade, julgado em 12/6/2023, DJe
15/6/2023.
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 780
DESTAQUE DO É imprescindível a intimação do réu revel na fase de
INFORMATIVO cumprimento de sentença, devendo ser realizada por
intermédio de carta com Aviso de Recebimento (AR) nas
hipóteses em que o executado estiver representado pela
Defensoria Pública ou não possuir procurador constituído nos
autos.
TRECHOS DO Cinge-se a controvérsia a determinar se é necessária a
INFORMATIVO intimação da parte executada na fase de cumprimento de

299
sentença, quando, apesar de citada na fase de conhecimento,
não constitui procurador, verificando-se a revelia.
O artigo 513, § 2º, II, do Código de Processo Civil (CPC/2015)
dispõe que o devedor será intimado para cumprir a sentença
"por carta com aviso de recebimento, quando representado pela
Defensoria Pública ou quando não tiver procurador constituído
nos autos, ressalvada a hipótese do inciso IV".
A norma processual é clara e não permite nenhum outro
entendimento a respeito do tema, sendo, por conseguinte,
causa de nulidade a ausência de intimação da parte revel em
fase de cumprimento de sentença, não obstante ter sido
devidamente citada na ação de conhecimento.
Portanto, nas hipóteses em que o executado revel estiver sendo
representado pela Defensoria Pública ou não possuir
procurador constituído nos autos, a intimação deve ocorrer por
carta com Aviso de Recebimento (AR).

REFERÊNCIA REsp 2.053.868-RS, Rel. Ministro Antonio Carlos Ferreira,


DO ACÓRDÃO Quarta Turma, por unanimidade, julgado em 6/6/2023, DJe
12/6/2023.
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 780
DESTAQUE DO É possível a constrição judicial de bens de cônjuge de devedor,
INFORMATIVO casados sob o regime da comunhão universal de bens, ainda
que não tenha sido parte no processo, resguardada a sua
meação.
TRECHOS DO Cinge-se a controvérsia a determinar se é possível a penhora
INFORMATIVO de valores em conta corrente da esposa do devedor, casados
sob o regime da comunhão universal de bens, resguardando-se
a respectiva meação.

300
No regime da comunhão universal, todos os bens que os
cônjuges adquirirem antes e durante o matrimônio, bem como
as respectivas dívidas, pertencerão a ambos, com exceção do
disposto nos incisos I a V do art. 1.668 do Código Civil (CC).
(...)
Dessa maneira, formando-se um único patrimônio entre os
consortes, o qual engloba todos os créditos e débitos de cada
um individualmente, com exceção das hipóteses do art. 1.668
do CC, revela-se perfeitamente possível a constrição judicial de
bens do cônjuge do devedor, casados sob o regime da
comunhão universal de bens, ainda que não tenha sido parte no
processo, resguardada, obviamente, a sua meação.
Não há que se falar em responsabilização de terceiro (cônjuge)
pela dívida do executado, pois a penhora recairá sobre bens de
propriedade do próprio devedor, decorrentes de sua meação
que lhe cabe nos bens em nome de sua esposa, em virtude do
regime adotado.
Caso a medida constritiva recaia sobre bem de propriedade
exclusiva do cônjuge do devedor, o meio processual para
impugnar essa constrição, a fim de se afastar a presunção de
comunicabilidade, será pela via dos embargos de terceiro, a
teor do que dispõe o art. 674, § 2º, inciso I, do Código de
Processo Civil, cabendo à esposa o ônus de comprovar isso.

REFERÊNCIA REsp 1.830.735-RS, Rel. Ministro Marco Aurélio Bellizze,


DO ACÓRDÃO Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 20/6/2023.
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 775

301
DESTAQUE DO Admite-se a inclusão do fiador no polo passivo da fase de
INFORMATIVO cumprimento de sentença em ação renovatória, caso o locatário
não solva integralmente as obrigações pecuniárias oriundas do
contrato que foi renovado, ainda que não tenha integrado o polo
ativo da relação processual na fase de conhecimento.
TRECHOS DO A controvérsia consiste em definir se os fiadores de contrato de
INFORMATIVO locação que não participaram da fase de conhecimento na ação
renovatória podem ser incluídos no polo passivo do
cumprimento de sentença.
Como regra, o Código de Processo Civil não admite a
modificação do polo passivo com a inclusão, na fase de
cumprimento de sentença, daquele que esteve ausente à ação
de conhecimento, sem que ocorra a violação dos princípios da
ampla defesa, do contraditório e do devido processo legal.
No que tange à inclusão do fiador na fase de cumprimento de
sentença, o art. 513, § 5º, do CPC/2015 é categórico ao afirmar
que "o cumprimento da sentença não poderá ser promovido em
face do fiador, do coobrigado ou do corresponsável que não
tiver participado da fase de conhecimento". A norma positiva o
entendimento jurisprudencial desta Corte de Justiça,
consolidado na Súmula 268/STJ: "O fiador que não integrou a
relação processual na ação de despejo não responde pela
execução do julgado".
Esse entendimento, todavia, não se aplica às ações
renovatórias de locação comercial. Isso porque, além dos
requisitos da petição inicial dispostos na legislação processual
civil (art. 319 do CPC/15), a Lei do Inquilinato (Lei n. 8.245/1991)
prevê documentos específicos que devem instruir a ação
renovatória.
Para o ajuizamento da ação renovatória é preciso que o autor
da ação instrua a inicial com indicação expressa do fiador - seja
quem já garantia o contrato que se pretende renovar, seja
terceira pessoa que passará a garanti-lo - e com documento que

302
ateste que este aceita todos os encargos da fiança. A
declaração atesta a anuência dos fiadores com a renovação do
contrato e, justamente por isso, permite que sejam incluídos no
cumprimento de sentença, ainda que não tenham participado
do processo na fase de conhecimento.
Destarte, excepcionalmente, admite-se a inclusão do fiador no
polo passivo do cumprimento de sentença, caso o locatário não
solva integralmente as obrigações pecuniárias oriundas do
contrato que foi renovado - ou, como na espécie, ao pagamento
de alugueres decorrentes de ação renovatória.
Por fim, destaca-se que, na ação renovatória, o encargo que o
fiador assume não é o valor objeto da pretensão inicial, mas o
novo aluguel que será arbitrado judicialmente, até mesmo
porque "se ao final da ação renovatória uma nova avença será
estabelecida entre locador e locatário, é imperioso que a fiança
prestada no contrato que se pretende renovar continue a vigorar
em relação ao novo pacto estipulado em sentença, afinal, a
fiança é contrato que não admite a interpretação extensiva"
(REsp 682.822/RS, Sexta Turma, DJe 3/11/2009).

REFERÊNCIA REsp 2.060.759-SP, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira


DO ACÓRDÃO Turma, por unanimidade, julgado em 16/5/2023.
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 763
DESTAQUE DO É possível a substituição da fiança bancária pelo seguro
INFORMATIVO garantia, com base no art. 15, inciso I, da Lei n. 6.830/1980,
desde que observados os requisitos formais para a emissão do
instrumento de garantia no âmbito judicial, bem como
respeitadas as peculiaridades próprias do microssistema das

303
execuções fiscais do crédito tributário e o regramento previsto
no CPC/2015.
TRECHOS DO Embora estejam previstos sem ordem de preferência no inciso
INFORMATIVO I do art. 15 da Lei n. 6.830/1980, não é possível, via de regra, a
substituição da penhora em dinheiro pela fiança bancária ou por
seguro garantia. Todavia, no caso, trata-se de hipótese diversa,
em que se discute a possibilidade de substituição da fiança
bancária, oferecida em garantia ao juízo da execução fiscal, por
seguro garantia.
O art. 15 da Lei n. 6.830/1980 dispõe: "Art. 15: Em qualquer fase
do processo, será deferida pelo Juiz: I - ao executado, a
substituição da penhora por depósito em dinheiro, fiança
bancária ou seguro garantia; e (Redação da Lei n.
13.043/2014); II - à Fazenda Pública, a substituição dos bens
penhorados por outros, independentemente da ordem
enumerada no art. 11, bem como o reforço da penhora
insuficiente".
Do que se observa, o legislador garantiu ao executado,
independentemente da anuência do ente fazendário, o direito
de obter a substituição da penhora por depósito em dinheiro,
fiança bancária ou seguro garantia.
Essa é a orientação firmada pela jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça, segundo a qual "o art. 15, I, da LEF autoriza
ao executado a substituição de bens penhorados, mesmo sem
resposta positiva por parte da Fazenda, desde que realizado,
de modo integral, por depósito em dinheiro ou fiança bancária
(REsp 1.033.511/SP, Rel. Ministro Teori Albino Zavaski, DJ de
23/4/2008, AgRg no REsp 1.254.126/SP, Rel. Ministro Castro
Meira, DJe de 5/3/2012)" (AgRg no AREsp 163.815/SP, relator
Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, DJe de
15/6/2012).
Nesse sentido, tanto na fiança bancária quanto no seguro
garantia, o crédito tributário é garantido por terceiro à relação

304
processual, guardando a distinção de que a carta fiança é
emitida por instituição financeira, e o seguro garantia, por sua
vez, é contratado juntamente com empresa seguradora.
No caso, considerada a informação prestada pela parte
recorrente de que a despesa com o seguro garantia é inferior à
despendida com a fiança bancária, tem-se que o deferimento
da substituição nesse caso também atende o princípio da menor
onerosidade, sem infirmar a efetividade do processo executivo
que importe em prejuízo ao credor.
Nesse contexto, ainda que não seja possível aceitar em
substituição à fiança bancária o seguro garantia com o valor que
a devedora entende devido, deve-se deferir a ela o pedido
subsidiário para que lhe seja permitida a apresentação de
seguro garantia tendo como parâmetro a totalidade do crédito
executado.
Assim, deve-se reconhecer a possibilidade de substituição da
fiança bancária por seguro garantia com valor correspondente
ao valor integral o débito, cabendo ao juízo de primeiro grau
verificar se o seguro apresentado é suficiente à garantia do juízo
e, caso negativo, permitir à empresa devedora que apresente o
seguro garantia em valor suficiente à garantia integral do débito
exequendo.

REFERÊNCIA AgInt no AREsp 2.020.002-SP, Rel. Ministro Gurgel de Faria,


DO ACÓRDÃO Primeira Turma, por unanimidade, julgado em 20/3/2023, DJe
24/3/2023.
CONEXÕES E
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 772

305
DESTAQUE DO É de 10 anos o prazo prescricional aplicável à pretensão de
INFORMATIVO restituição de valores de benefícios previdenciários
complementares recebidos por força de decisão liminar
posteriormente revogada, tendo em vista não se tratar de
hipótese de enriquecimento sem causa, de prescrição
intercorrente ou de responsabilidade civil.
TRECHOS DO A ratio decidendi dos EAREsp 738.991/RS, no sentido de que
INFORMATIVO deve ser aplicada a regra geral, disposta no art. 205 do Código
Civil, à pretensão de restituição de cobrança indevida, no
contexto de uma relação de consumo, pois nessas situações há
uma causa, o contrato existente, inexistindo regra específica ao
caso, se amolda à hipótese em apreço, justificando o
afastamento do prazo prescricional previsto para a pretensão
de ressarcimento de enriquecimento sem causa e a incidência
do prazo prescricional geral de 10 (dez) anos na ausência de
prazo específico previsto em lei, notadamente tendo em vista
que ubi eadem ratio ibi eadem legis dispositio (onde existe a
mesma razão fundamental, prevalece a mesma regra de
direito).
O que se verifica é que, antes do pagamento da
complementação de aposentadoria por efeito de decisão
liminar, existe um contrato de previdência privada celebrado.
Desse modo, os pagamentos excedentes encontram-se
inseridos no contexto da relação jurídica previdenciária
existente entre as partes, que é fruto de um contrato que lhe
serviu de fundamento. Muito embora a decisão que deferiu a
tutela de urgência possa ser encarada como causa imediata dos
referidos pagamentos, é imperioso observar que, a rigor, a
verdadeira causa, isto é, a causa mediata do recebimento da
complementação de aposentadoria é o próprio contrato de
previdência privada entabulado entre recorrente e recorrida,
motivo pelo qual não há que se falar, na espécie, em
enriquecimento sem causa.

306
Com efeito, se não existisse o referido contrato de previdência
complementar, não haveria como se deferir a tutela de urgência
cuja revogação ora se discute, motivo pelo qual não incide na
espécie o prazo prescricional trienal previsto no art. 206, § 3º,
IV, do Código Civil, mas, sim, o prazo prescricional geral de dez
anos previsto no art. 205 do mesmo Diploma legal.
Também não são aplicáveis ao caso os prazos previstos no
parágrafo único do art. 103 da Lei n. 8.213/1991, no art. 75 da
Lei Complementar n. 109/2001 e nas Súmulas 291 e 427 do
Superior Tribunal de Justiça, que referem-se às pretensões dos
beneficiários em face da entidade de previdência para cobrar
valores que entendem devidos em virtude, diretamente, da
relação jurídica previdenciária estabelecida entre as partes. Não
há referência alguma a possíveis pretensões titularizadas pela
entidade previdenciária em face do beneficiário na específica
hipótese de revogação de decisão liminar outrora deferida. A
pretensão do autor, deduzida na inicial, é eficácia do contrato
de previdência complementar. É com base no contrato que o
autor veicula sua pretensão na exordial. Por outro lado, a
pretensão de ressarcimento do réu é eficácia da revogação da
tutela de urgência outrora deferida. São pretensões distintas,
titularizadas por sujeitos diversos e que representam a eficácia
de fatos jurídicos igualmente distintos. Não há aqui nenhuma
simetria, motivo pelo qual, rogando as mais respeitosas vênias,
não há que se falar em prescrição intercorrente.
Por sua vez, a doutrina aponta que o inciso III do § 5º do art.
206 do Código Civil, por sua vez, trata apenas da pretensão de
ressarcimento das verbas que a parte vencedora despendeu
em juízo em virtude do processo, abarcando custas, diligências
de oficiais de justiça, preparos, honorários de perito, etc, não
guardando, portanto, sequer similitude com a hipótese em
apreço.

307
Especificamente no que diz respeito ao art. 75 da Lei
Complementar n. 109/2001, no julgamento do REsp
1803627/SP, de relatoria do Ministro Paulo de Tarso
Sanseverino, afastou-se expressamente a sua incidência, ao
fundamento de que se trataria de previsão legal de aplicação
restrita à pretensão de recebimento de parcelas não pagas de
benefício de previdência complementar.
Não se pode olvidar, ademais, que, em matéria de prescrição,
a interpretação há de ser restritiva, tendo em vista se tratar do
encobrimento da eficácia da pretensão pelo decurso do tempo,
representando verdadeira restrição à esfera jurídica dos sujeitos
de direito. Há evidente prejuízo à segurança jurídica ao se
interpretar elasticamente as normas atinentes à prescrição com
base em princípios jurídicos, como o da simetria.
Outra questão fundamental para o deslinde da controvérsia diz
respeito à determinação do alcance interpretativo do art. 302 do
Código de Processo Civil. O que se discute, verdadeiramente,
portanto, é se o simples dever de restituir valores recebidos por
força de tutela antecipada decorre ou não de responsabilidade
civil. O fato jurídico que dá origem ao dever de restituir é o ato
jurídico processual, praticado pelo juiz, de julgar improcedentes
os pedidos, confirmando a revogação da liminar. Ao julgar
improcedentes os pedidos, confirmando a revogação da liminar,
nasce para aquele que foi beneficiado pela tutela antecipada o
dever de restituir aquilo que recebeu, pois a tutela provisória é,
por sua própria natureza, precária. Não se trata, portanto,
propriamente, de responsabilidade civil, mas de simples
restituição.
A distinção é sútil: uma coisa é o dever de restituir os valores
despendidos para cumprir a tutela antecipada deferida; outra, é
o dever de indenizar os danos causados pelo deferimento da
tutela. Em síntese, indenizam-se os danos causados pelo
deferimento da tutela antecipada quando se observa, na

308
hipótese concreta, que a simples restituição do que se recebeu
não é suficiente para o restabelecimento do status quo ante.
Nessa hipótese, ao lado da restituição, haverá indenização.
Em síntese, tendo em vista não se tratar de hipótese de
enriquecimento sem causa, de prescrição intercorrente ou de
responsabilidade civil, incide, na ausência de prazo específico
previsto em lei, o prazo prescricional geral de dez anos disposto
no art. 205 do Código Civil.

REFERÊNCIA REsp 1.939.455-DF, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Segunda


DO ACÓRDÃO Seção, por maioria, julgado em 26/4/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 772
DESTAQUE DO O termo a quo do prazo prescricional da pretensão de
INFORMATIVO restituição de valores de benefícios previdenciários
complementares recebidos por força de decisão liminar
posteriormente revogada é a data do trânsito em julgado do
provimento jurisdicional em que a confirma, pois esse é o
momento em que o credor toma conhecimento de seu direito à
restituição, em que não mais será possível a reversão do aresto
que revogou a decisão precária.
TRECHOS DO A determinação do termo inicial dos prazos prescricionais
INFORMATIVO demanda que se estabeleça a distinção entre os conceitos de
direito subjetivo e de pretensão.
A pretensão, posição jurídica de direito material encoberta pela
prescrição, é "a posição subjetiva de poder exigir de outrem
alguma prestação positiva ou negativa". Trata-se do chamado
grau de exigibilidade do direito, nascendo, portanto, tão logo
este se torne exigível.

309
Pode-se observar que, antes do advento da pretensão, já existe
direito e dever, mas em situação estática. Especificamente no
âmbito das relações jurídicas obrigacionais, por exemplo, antes
mesmo do nascimento da pretensão, já há crédito (direito) e
débito (dever) e, portanto, credor e devedor.
A dinamicidade surge, tão somente, com o nascimento da
pretensão, que pode ser, ou não, concomitante ao surgimento
do próprio direito subjetivo. Somente a partir desse momento, o
titular do direito poderá exigir do devedor que cumpra aquilo a
que está obrigado.
Assim, visando ao encobrimento da eficácia da pretensão, a
prescrição, como consequência lógica, possui como termo
inicial do transcurso de seu prazo o nascimento dessa posição
jurídica (pretensão).
Daí a tão propalada teoria da actio nata, segundo a qual os
prazos prescricionais se iniciariam no exato momento do
surgimento da pretensão. De fato, somente a partir do instante
em que o titular do direito pode exigir a sua satisfação é que se
revela lógico imputar-lhe eventual inércia em ver satisfeito o seu
interesse.
A jurisprudência desta Corte Superior, passou a admitir que, em
determinadas hipóteses, o início dos prazos prescricionais
deveria ocorrer a partir da ciência do nascimento da pretensão
por seu titular, no que ficou conhecido como o viés subjetivo da
teoria da actio nata.
Na hipótese dos autos, em que se discute o prazo prescricional
da pretensão restitutória fruto da revogação de tutela provisória
outrora deferida, importa consignar que o termo inicial do prazo
prescricional é, em regra, a data em que o credor tem
conhecimento da pretensão que lhe compete e da pessoa do
responsável, aplicando-se, portanto, o viés subjetivo da teoria
da actio nata.

310
Desse modo, é forçoso concluir que, na específica hipótese de
revogação de decisão liminar, o termo a quo do prazo
prescricional é a data do trânsito em julgado do provimento
jurisdicional em que se confirma a revogação da liminar, pois
esse é o momento em que o credor toma conhecimento de seu
direito à restituição, pois não mais será possível a reversão do
aresto que revogou a decisão precária.
É imprescindível aguardar-se o trânsito em julgado, pois, se a
tutela provisória concedida ao autor for revogada, mas a
pretensão autoral for, ao final, julgada procedente, nada haverá
que ser restituído, uma vez que aquilo que foi pago a título
precário revelou-se, ao final, realmente devido. Em síntese, se
nada deve ser restituído, sequer seria necessário discutir
acerca da prescrição da pretensão restitutória.

REFERÊNCIA REsp 1.939.455-DF, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Segunda


DO ACÓRDÃO Seção, por maioria, julgado em 26/4/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 771
DESTAQUE DO O crédito inscrito em precatório oriundo de ação previdenciária
INFORMATIVO pode ser objeto de cessão a terceiros.
TRECHOS DO A controvérsia consiste em definir se, à luz do art. 114 da Lei n.
INFORMATIVO 8.213/1991, o crédito inscrito em precatório decorrente de
parcelas vencidas de benefício previdenciário pode ser objeto
de cessão a terceiros.
Nos termos do art. 100, §§ 13 e 14, da Constituição Federal, na
redação conferida pela EC n. 62/2009, o titular de créditos

311
inscritos em precatório pode cedê-los a terceiros sem
necessidade de anuência da Fazenda Pública, sendo a
produção de efeitos do negócio jurídico condicionada apenas à
comunicação ao tribunal de origem e à entidade devedora.
Depreende-se que o legislador constituinte não restringiu a
cessão de precatórios em função da natureza do crédito da qual
se origina, alcançando, por conseguinte, os débitos alimentares,
definidos pelo § 1º do art. 100 da Lei Maior como "[...] aqueles
decorrentes de salários, vencimentos, proventos, pensões e
suas complementações, benefícios previdenciários e
indenizações por morte ou por invalidez, fundadas em
responsabilidade civil".
Nesses casos, por expressa previsão do destacado § 13,
conquanto preservada a natureza alimentar dos precatórios
cedidos, a transferência creditícia implica o afastamento das
preferências subjetivas arroladas nos §§ 2º e 3º do art. 100 da
Constituição Federal.
Além disso, a instituição de mecanismo de transmissão desses
créditos tem por escopo facultar ao credor, mediante
negociações entabuladas com eventuais interessados na sua
aquisição com deságio, a percepção imediata de valores que
somente seriam obtidos quando da quitação da dívida pelo
poder público, cujo notório inadimplemento fomenta a instituição
de mercado dos respectivos títulos.
Por essa sistemática, outorga-se ao credor juízo definitivo
acerca do interesse em receber os valores a que faz jus de
maneira expedita, embora com redução do montante em virtude
de acordos onerosos firmados com terceiros, ou aguardar a
quitação integral do título pela entidade devedora em momento
posterior. Trata-se de regramento favorável ao credor, maior
interessado na eventual formalização de ajustes privados para
permitir a satisfação de direito reconhecido judicialmente em
tempo hábil a suprir-lhe as necessidades financeiras.

312
Portanto, a cessão de créditos inscritos em precatórios,
autorizada pelo art. 100, §§ 13 e 14, da Constituição Federal,
permite ao credor, mediante negociações entabuladas com
eventuais interessados na aquisição do direito creditício com
deságio, a percepção imediata de valores que somente seriam
obtidos quando da quitação da dívida pelo poder público, cujo
notório inadimplemento fomenta a instituição de mercado dos
respectivos títulos, abrangendo, inclusive, as parcelas de
natureza alimentar.

REFERÊNCIA REsp 1.896.515-RS, Rel. Ministra Regina Helena Costa,


DO ACÓRDÃO Primeira Turma, por unanimidade, julgado em 11/4/2023, DJe
17/4/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 771
DESTAQUE DO A possibilidade de cessão de precatórios decorrentes de ações
INFORMATIVO previdenciárias não impede o juiz de controlar ex officio a
validade de sua transmissão, negando a produção de efeitos a
negócios jurídicos eivados de nulidade, independentemente de
ajuizamento de ação própria.
TRECHOS DO Apesar da viabilidade de cessão de precatórios decorrentes de
INFORMATIVO ações previdenciárias, ressalva-se o controle judicial ex
officio de acordos entabulados entre segurados e cessionários,
notadamente para afastar eventuais transações abusivas
firmadas em casos de premente necessidade econômica de
pessoas vulneráveis.
As transferências de precatórios são perpetradas mediante
instrumentos públicos ou particulares, qualificando-se como
negócios jurídicos por meio dos quais o credor cede o seu

313
direito obrigacional a terceiro, denominado de cessionário, que
assume a posição daquele na relação havida com a Fazenda
Pública, a qual não pode se opor à transação, nos termos do
citado art. 100, § 13, da Constituição Federal.
Dessa maneira, tratando-se de acordos firmados entre
particulares para a transmissão de direitos, aplicam-se a eles as
causas de nulidade dos negócios jurídicos privados (arts. 166 e
167 do Código Civil).
Essas hipóteses revelam nulidade absoluta, razão pela qual,
tratando-se de matéria de ordem pública, pode o juiz, de ofício,
reconhecer a invalidade e negar a produção de efeitos aos
respectivos negócios jurídicos sempre que tiver conhecimento
da avença, independentemente de ajuizamento de ação
própria, nos termos do art. 168, parágrafo único, do Código
Civil.
Outrossim, a possibilidade de controle judicial dos negócios
jurídicos relativos à cessão de precatórios não contraria o
princípio da demanda previsto nos arts. 42 e 141 do CPC/2015,
porquanto, a par da expressa autorização prevista no art. 168,
parágrafo único, do Código Civil, tais transferências creditícias
são praticadas na fase de cumprimento de sentença, na qual
incumbe ao magistrado identificar o destinatário da ordem de
pagamento, certificando-se da regularidade da transmissão dos
respectivos créditos, de modo a garantir a escorreita satisfação
do título judicial.
Além disso, sendo vedado à Fazenda Pública opor-se à cessão
de precatório, impedir o magistrado de aferir a regularidade da
transação abre margem a abusos praticados por agentes
econômicos que, ante necessidade financeira de parcela dos
segurados do Regime Geral de Previdência Social - RGPS,
podem impor condições excessivamente gravosas a pessoas
socioeconomicamente vulneráveis para a obtenção imediata de
recursos financeiros.

314
Dessa forma, embora possível a cessão de precatórios
decorrentes de ações previdenciárias, pode o juiz controlar, de
ofício, a validade das respectivas transferências creditícias,
negando a produção de efeitos a negócios jurídicos eivados de
nulidade.

REFERÊNCIA REsp 1.896.515-RS, Rel. Ministra Regina Helena Costa,


DO ACÓRDÃO Primeira Turma, por unanimidade, julgado em 11/4/2023, DJe
17/4/2023.
CONEXÕES E
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 770
DESTAQUE DO Não compete ao juízo estatal, em execução de título executivo
INFORMATIVO extrajudicial que contenha cláusula compromissória ajuizada
por credor sub-rogado, analisar questões alusivas às
disposições do contrato em si, o que deve ser discutido na
jurisdição arbitral.
TRECHOS DO De início, é relevante anotar que, salvo situações excepcionais
INFORMATIVO de manifesta ilegalidade (cláusula patológica), é da jurisdição
arbitral a atribuição para apreciar as controvérsias em torno da
validade e dos efeitos da cláusula inserida pelas partes nos
negócios jurídicos que formalizam.
Entretanto, no caso de execução, no julgamento do REsp
1.373.710/MG, esta Turma assentou que a existência de
cláusula de arbitragem não pode impedir a execução de título
extrajudicial perante a Justiça, justamente porque esta é a única
competente para o exercício de medidas que visem à
expropriação de bens do devedor.
Sendo assim, mostra-se correta a iniciativa de credora sub-
rogada que ajuizou a execução do título perante o Poder

315
Judiciário, pois outro modo não haveria de receber seu crédito
na hipótese de renitência no cumprimento voluntário das
obrigações contratuais.
Assim, a execução de título executivo que contenha cláusula
compromissória por credor sub-rogado deve ser processada na
jurisdição estatal, que, contudo, não tem competência para
analisar as questões alusivas às disposições do contrato em si
invocadas em embargos à execução.
Nessas situações, cabe ao executado que pretende questionar
a própria exequibilidade do título dar início ao procedimento
arbitral respectivo, nos termos do art. 8º, parágrafo único, da Lei
n. 9.307/1996.
Não pode haver discussão, no processo executivo e em seus
respectivos embargos, acerca da sub-rogação ou não da
cláusula de arbitragem, pois as questões ligadas à sua validade
e aos seus efeitos perante a exequente devem ser discutidas
na jurisdição adequada, que seria a arbitral.
Caso julgue necessário, a embargante pode pleitear, perante o
juízo, e desde que atendidos os requisitos legais (como, por
exemplo, o oferecimento de garantia - art. 919, § 1º, do
CPC/2015), a suspensão da execução até que as questões
relativas à avença sejam definidas na jurisdição competente.

REFERÊNCIA Processo em segredo de justiça, Rel. Ministro Moura Ribeiro,


DO ACÓRDÃO Rel. para acórdão Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, Terceira
Turma, por maioria, julgado em 11/4/2023.
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 769

316
DESTAQUE DO Sempre que a apreciação do excesso de execução ou da
INFORMATIVO inexigibilidade da obrigação exigir dilação probatória que vá
além do simples documento, a observância do procedimento da
ação incidental de embargos se tornará obrigatória.
TRECHOS DO Apesar da força executiva que caracteriza o título executivo
INFORMATIVO extrajudicial, capaz de viabilizar a execução forçada
independentemente de acertamento judicial do crédito, fato é
que não se pode falar em "imutabilidade" como atributo daquele
documento, próprio do título judicial passado em julgado.
E, como leciona a doutrina, justamente por essa "variabilidade"
do título extrajudicial, o ordenamento permite ao executado
sejam refutadas questões ligadas aos pressupostos e
condições da execução, assim como quaisquer defesas que lhe
seria lícito opor ao credor num processo de conhecimento.
Dessa forma, os embargos à execução revelam-se como
verdadeiro "juízo incidental cognitivo", que, no regime do
Código de Processo Civil atual, é amplo e "pode atingir tanto os
fatos anteriores à formação do título (a causa debendi) como os
posteriores, que possam provocar a modificação ou extinção do
crédito ou o impedimento à sua exigibilidade".
Nas execuções por quantia certa, o diploma processual
incumbe ao credor o dever de instruir a petição inicial com o
demonstrativo do débito atualizado até a data da propositura da
ação (art. 798, I, b). De maneira simétrica, o art. 917, em seu §
3º, "imputa igual ônus ao executado, quando seus embargos
fundarem-se na arguição de excesso de execução. E, sob pena
de não serem conhecidos os embargos de tal natureza, o
executado deverá juntar à inicial a memória de cálculo do débito
que entende correto".
Entretanto, haverá casos em que a apuração do excesso
alegado pode ficar comprometido pela necessidade de
conhecimento técnico contábil, do qual não disponha a parte.
Nessas hipóteses, jurisprudência e doutrina têm admitido a

317
mitigação daquela previsão legal, tornando mesmo imperativa
a dilação probatória para se alcançar o valor realmente devido,
evitando-se, assim, cerceamento de defesa.
Assim, em situações como a referida, reconhece-se que, ainda
com mais acerto, o devedor deve se valer dos embargos à
execução, meio de oposição à pretensão do credor por
excelência, mormente pela viabilidade do contraditório,
excepcional no expediente executório.

REFERÊNCIA REsp 1.987.774-CE, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta


DO ACÓRDÃO Turma, por unanimidade, julgado em 21/3/2023.
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 769
DESTAQUE DO É possível a substituição da penhora em dinheiro por seguro
INFORMATIVO garantia judicial, observados os requisitos do art. 835, § 2º, do
CPC/2015, independentemente da discordância da parte
exequente, ressalvados os casos de insuficiência, defeito formal
ou inidoneidade da salvaguarda oferecida.
TRECHOS DO O seguro-garantia pode ser definido como o contrato pelo qual
INFORMATIVO a seguradora presta garantia de proteção aos interesses do
credor (segurado) relativos ao adimplemento de uma obrigação
(legal ou contratual) do devedor, nos limites da apólice. Nessa
espécie contratual, o devedor é o tomador da garantia junto à
seguradora, com a indicação de seu credor como segurado e
beneficiário direto da prestação ou indenização a ser
implementada pela seguradora, se o sinistro, ou seja, o
inadimplemento, se concretizar.
No Código de Processo Civil de 2015, o legislador, ao dispor
sobre a ordem preferencial de bens e a substituição da penhora,

318
expressamente equiparou a fiança bancária e o seguro-garantia
judicial ao dinheiro, nos seguintes termos: "para fins de
substituição da penhora, equiparam-se a dinheiro a fiança
bancária e o seguro garantia judicial, desde que em valor não
inferior ao do débito constante da inicial, acrescido de trinta por
cento" (art. 835, § 2º, do CPC/15).
Assim, nesse novo cenário, dada a equiparação legal da fiança
bancária e do seguro garantia judicial ao dinheiro, o anterior
entendimento do STJ não mais sustenta, haja vista que estes
três instrumentos agora precedem, lado a lado, quaisquer
outros bens na ordem estabelecida nos incisos do art. 835 para
a constrição judicial.
Em outras palavras, a circunstância de a penhora em dinheiro
ser prioritária em relação a outros bens de menor liquidez não
constitui, por si só, fundamento hábil para não admitir a fiança
bancária e o seguro garantia judicial como meios válidos de
garantia no processo executivo, ante a opção expressamente
feita pelo legislador.
A respeito da equiparação, a doutrina esclarece que se trata de
técnica utilizada pelo legislador quando pretende tratar de forma
igual elementos que a princípio guardam diferenças entre si,
essenciais ou secundárias. Desse modo, em que pese institutos
distintos, passam a ser considerados, mediante uma técnica
material de assimilação, iguais para fins de direito, com vistas a
um melhor rendimento do sistema jurídico.
Sob essa perspectiva, entende-se que, pretendeu o legislador
equiparar o seguro garantia judicial com a penhora em dinheiro
- apesar das diferenças essenciais entre esses institutos -, cabe
ao intérprete conferir a máxima uniformidade possível no
tratamento jurídico de ambos, aproximando os seus efeitos no
processo de execução civil.
A propósito, a Terceira Turma, em precedente de Relatoria do
e. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, manifestou-se acerca da

319
viabilidade, e, até mesmo, conveniência, da substituição da
penhora em dinheiro pelo seguro garantia judicial (REsp
1.691.748/PR, Terceira Turma, DJe 17/11/2017).
Na ocasião, destacou o e. Relator que "dentro do sistema de
execução, a fiança bancária e o seguro garantia judicial
produzem os mesmos efeitos jurídicos que o dinheiro para fins
de garantir o juízo, não podendo o exequente rejeitar a
indicação, salvo por insuficiência, defeito formal ou inidoneidade
da salvaguarda oferecida".
De fato, o seguro garantia judicial constitui, na atualidade,
importante instrumento de preservação do capital circulante das
sociedades empresárias, que, em um ambiente de mercado
competitivo, muitas vezes não podem correr o risco de
imobilização de seus ativos financeiros durante um processo de
execução.
Ademais, esse modo de garantia da execução se apresenta
interessante ao credor/exequente, pois lhe é assegurado, com
considerável grau de confiança, o recebimento do valor devido,
haja vista a integridade patrimonial das sociedades
seguradoras, inclusive com fiscalização por parte da
Superintendência de Seguros Privados - SUSEP.

REFERÊNCIA REsp 2.034.482-SP, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira


DO ACÓRDÃO Turma, por unanimidade, julgado em 21/3/2023, DJe 23/3/2023.
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 766
DESTAQUE DO A norma contida no art. 19, § 1º, I, da Lei n. 10.522/2002, que
INFORMATIVO dispensa o pagamento de honorários advocatícios na hipótese
de o exequente reconhecer a procedência do pedido veiculado

320
pelo devedor em embargos à execução fiscal ou em exceção
de pré-executividade, é dirigida exclusivamente à Fazenda
Nacional, não sendo aplicável no âmbito de execução fiscal
ajuizada por Fazenda Pública estadual.
TRECHOS DO A controvérsia diz respeito ao cabimento da condenação da
INFORMATIVO Fazenda Pública exequente em honorários advocatícios na
hipótese de ela concordar com a defesa apresentada pelo
devedor em sede de exceção de pré-executividade.
A regra geral disposta no caput do art. 90 do CPC/2015 é a de
que "proferida sentença com fundamento em desistência, em
renúncia ou em reconhecimento do pedido, as despesas e os
honorários serão pagos pela parte que desistiu, renunciou ou
reconheceu".
Cumpre destacar que, para o caso retratado, a jurisprudência
desta Corte Superior já sedimentou a orientação de que o
acolhimento de exceção de pré-executividade, ainda que
parcial, enseja a condenação da Fazenda Pública exequente ao
pagamento da verba honorária. A esse respeito, confira-se a
tese firmada no julgamento do Tema 410 do STJ: "O
acolhimento ainda que parcial da impugnação gerará o
arbitramento dos honorários, que serão fixados nos termos do
art. 20, § 4º, do CPC/1973, do mesmo modo que o acolhimento
parcial da exceção de pré-executividade, porquanto, nessa
hipótese, há extinção também parcial da execução".
Ocorre que a Lei n. 10.522/2002 contém uma regra que afasta
a condenação da Fazenda Nacional exequente ao pagamento
da verba honorária quando ela não se opuser à defesa
apresentada pelo devedor em sede de embargos à execução
fiscal ou exceção de pré-executividade acerca de determinados
temas.
Do que se observa, essa regra é mesmo de direito processual
civil, de competência legislativa privativa da União (art. 22, I, da
Constituição Federal), visto que excepciona a aplicação de

321
norma geral prevista expressamente no estatuto processual
vigente que cuida do cabimento dos honorários advocatícios.
Ocorre que, por se tratar de norma de exceção, deve ela ser
interpretada restritivamente, não comportando aplicação
extensiva, seja por analogia ou equidade.
E, para o caso vertente, a literalidade do disposto no art. 19, §
1º, I, da Lei n. 10.522/2002 somente prevê a dispensa da verba
honorária para os casos de reconhecimento da procedência do
pedido manifestada por Procurador da Fazenda Nacional, ou
seja, em execuções fiscais de créditos federais.
O almejado reconhecimento judicial desse direito à Fazenda
Pública estadual implica indevida integração da mencionada
norma pelo poder judiciário, pois acaba por adicionar como
destinatário do benefício processual pessoa de direito público
não contemplada no texto do projeto de lei aprovado por ambas
as casas do Congresso Nacional, afrontando assim o postulado
constitucional da separação dos poderes da República.
Acresce-se, por oportuno, que eventual vício de
inconstitucionalidade da citada norma processual pela alegada
afronta aos princípios da isonomia e simetria entre os entes
federados justificaria, quando muito, a nulidade desse artigo de
lei a impedir a utilização desse benefício processual pela
Fazenda Nacional, mas não a extensão desse direito à pessoa
de direito público não contemplada no dispositivo legal.

REFERÊNCIA REsp 2.037.693-GO, Rel. Ministro Gurgel de Faria, Primeira


DO ACÓRDÃO Turma, por unanimidade, julgado em 7/3/2023.
CONEXÕES E
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 764

322
DESTAQUE DO Na vigência do antigo Código de Processo Civil, os honorários
INFORMATIVO da fase de cumprimento de sentença eram fixados no
recebimento da inicial, sendo devidos desde o esgotamento do
prazo para pagamento voluntário, inclusive na hipótese de
parcelamento prevista no art. 745-A do CPC/1973.
TRECHOS DO Cuida-se, na origem, de cumprimento de sentença arbitral -
INFORMATIVO título executivo judicial, conforme previsão do art. 475-N, inc. IV,
do CPC/1973, vigente à época. O valor exequendo foi
parcelado, na forma do artigo 745-A do CPC/1973, cingindo-se
a controvérsia recursal ao cabimento de honorários
sucumbenciais relativos à fase de execução.
O referido dispositivo enuncia: "Art. 745-A. No prazo para
embargos, reconhecendo o crédito do exequente e
comprovando o depósito de 30% (trinta por cento) do valor em
execução, inclusive custas e honorários de advogado, poderá o
executado requerer seja admitido a pagar o restante em até 6
(seis) parcelas mensais, acrescidas de correção monetária e
juros de 1% (um por cento) ao mês".
Imperioso ressaltar que o referido dispositivo encontrava-se em
capítulo dedicado à execução por título extrajudicial - tendo sido
aplicado por analogia ao cumprimento de sentença de
obrigação de pagar quantia certa. Tal ressalva é necessária
para que se compreenda a quais valores de custas e honorários
o dispositivo se refere. Ora, se o dispositivo foi originalmente
previsto para execução por título extrajudicial, somente poderia
se referir às custas e honorários da própria execução, pois
inexistente prévia fase cognitiva na hipótese a qual o dispositivo
se dedica. Portanto, ao aplicar-se o dispositivo, por analogia, ao
cumprimento de sentença, deve-se incluir, no parcelamento, as
custas e honorários da fase de execução - não sendo viável a
exclusão da verba honorária relativa a essa fase por pagamento
voluntário.

323
Nos termos da jurisprudência desta Corte, são cabíveis
honorários advocatícios na fase de cumprimento de sentença
quando não há pagamento voluntário no prazo de 15 (quinze)
dias, previsto no art. 475-J do CPC/1973. O referido pagamento
deve ser integral - sob pena de incidir a verba honorária sobre
a parcela restante.
Ainda, na fase de execução, a verba é fixada já no recebimento
da petição inicial (ou seja, do pedido de instauração de
cumprimento de sentença) - sendo devida desde o esgotamento
do prazo de 15 (quinze) dias para o pagamento.

REFERÊNCIA AgInt nos EDcl no AREsp 920.284-SP, Rel. Ministro Marco


DO ACÓRDÃO Buzzi, Quarta Turma, julgado em 14/2/2023, DJe 27/2/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 764
DESTAQUE DO É relativa a nulidade advinda da não suspensão do feito em
INFORMATIVO virtude da morte de coexecutado, sendo imprescindível a
comprovação do prejuízo processual sofrido pela parte a quem
a nulidade aproveitaria.
TRECHOS DO Nos termos do art. 313, I, do Código de Processo Civil, a
INFORMATIVO superveniência do óbito de uma das partes enseja a imediata
suspensão do processo - desde o evento morte, portanto -, a
fim de viabilizar a substituição processual da parte por seu
espólio. O objetivo é preservar o interesse particular do espólio,
assim como dos herdeiros do falecido.
Sendo esse o propósito da norma processual, a nulidade
advinda da inobservância dessa regra é relativa, passível de
declaração apenas no caso de a não regularização do polo
ensejar real e concreto prejuízo processual ao espólio. Do

324
contrário, os atos processuais praticados, a despeito da não
suspensão do feito, hão de ser considerados absolutamente
válidos.
Em face disso, não se pode deixar de reconhecer que a
caracterização de prejuízo processual, advindo da não
suspensão do feito, mostra-se absolutamente incoerente
quando a parte a quem a nulidade aproveitaria, ciente de seu
fato gerador, não a suscita nos autos logo na primeira
oportunidade que lhe é dada, utilizando-se do processo como
instrumento hábil a coordenar suas alegações e trazendo a
lume a correlata insurgência, ulteriormente, no caso de prolação
de decisão desfavorável, em absoluta contrariedade aos
princípios da efetividade, da razoabilidade e da boa-fé
processual.
A pretensão de anular a avaliação do bem penhorado, em razão
de nulidade cujo fato gerador - morte do executado - era de
pleno conhecimento da coexecutada, a qual deliberadamente
deixou de suscitar a questão em Juízo num primeiro momento,
não pode ser admitida, a posteriori, para beneficiar a própria
parte executada, sem vulneração do princípio da boa-fé
processual.

REFERÊNCIA REsp 2.033.239-SP, Rel. Ministro Marco Aurélio Bellizze,


DO ACÓRDÃO Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 14/2/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 764
DESTAQUE DO O teto mínimo para ajuizamento de execução fiscal independe
INFORMATIVO do valor estabelecido como anuidade pelos Conselhos de
fiscalização profissional.

325
TRECHOS DO A simples leitura dos arts. 4º, 6º e 8º da Lei n. 12.514/2011
INFORMATIVO permite concluir que o teto mínimo para ajuizamento de
execução fiscal independe do valor estabelecido pelos
Conselhos de fiscalização profissional, pois o legislador optou
pelo valor fixo do art. 6º, I, da Lei n. 12.514/2011, com a redação
dada pela Lei n. 14.195/2021.
O pleito para que o montante a ser considerado como limite
mínimo para ajuizamento de execução fiscal seja de cinco
vezes o valor definido por cada conselho profissional para a
cobrança de anuidades - até o limite máximo constante do
inciso I do art. 6º da Lei n. 12.514/2011, deve ser rejeitado por
contrariar a literalidade do disposto no art. 8º, caput, da Lei n.
12.514/2011, com redação dada pela Lei n. 14.195/2021, que é
explícito ao se referir ao "valor total inferior a 5 (cinco) vezes o
constante do inciso I do caput do art. 6º desta Lei", em vez de
referir-se ao "valor cobrado anualmente da pessoa física ou
jurídica inadimplente", tal como estabelecia o mesmo
dispositivo, em sua redação original.

REFERÊNCIA REsp 2.043.494-SC, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda


DO ACÓRDÃO Turma, por unanimidade, julgado em 14/2/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 763
DESTAQUE DO É possível a conversão da prisão civil em regime fechado, em
INFORMATIVO virtude de dívida de natureza alimentar, para regime domiciliar
quando a devedora de alimentos for responsável pela guarda
de outro filho de até 12 anos de idade.
TRECHOS DO Cinge-se a controvérsia a definir se a prisão civil da devedora
INFORMATIVO de alimentos pode ser convertida, do regime fechado para o

326
domiciliar, na hipótese em que tenha ela filho de até 12 anos de
idade, aplicando-se, por analogia, o art. 318, V, do Código de
Processo Penal.
Quanto ao ponto, é importante destacar, inicialmente, que se
trata de regra introduzida à legislação processual penal por
força da Lei nº 13.257/2016, que "Dispõe sobre as políticas
públicas para a primeira infância". Em razão dessa lei, foram
alteradas inúmeras disposições do Estatuto da Criança e do
Adolescente.
O art. 318, V, do Código de Processo Penal, que se pretende
seja aplicado por analogia à hipótese do devedor de alimentos,
não é uma regra isoladamente criada com o fim específico de
atender ao direito processual penal, mas, ao revés, compõe um
conjunto de regras destinadas à promoção de uma política
pública de proteção à primeira infância.
Uma das faces dessa ampla política pública diz respeito à
relação entre os pais em situação de cárcere e os seus filhos,
especialmente aqueles que ainda estão nos primeiros anos de
vida, diante da necessidade do desenvolvimento infantil, da
personalidade e do ser humano. Pretende-se, com esse
conjunto de regras, minimizar os riscos e diminuir os efeitos
naturalmente nocivos que o afastamento parental produz em
relação aos filhos.
Tratando especificamente da regra do art. 318, V, do Código de
Processo Penal, compreende a jurisprudência desta Corte que
"a concessão de prisão domiciliar às genitoras de menores de
até 12 anos incompletos não está condicionada à comprovação
da imprescindibilidade dos cuidados maternos, que é
legalmente presumida". Nesse sentido: AgRg no HC
731.648/SC, 5ª Turma, DJe 23/06/2022, HC 422.235/MS, 6ª
Turma, DJe 19/12/2017 e HC 383.606/RJ, 6ª Turma, DJe
08/03/2018.

327
Trata-se, aliás, de entendimento que se alinha ao pretérito
posicionamento do Supremo Tribunal Federal por ocasião do
julgamento do HC 143.641/SP, em que adequadamente se
diagnosticou o problema do encarceramento das mães e os
reflexos nocivos à vida dos filhos.
A presunção de necessidade de cuidado materno que justifica
a prisão domiciliar das mães de filhos de até 12 anos, aliás,
decorre da própria observação da realidade, em que o
encarceramento atinge, sobremaneira, as mães solo, únicas
responsáveis pela criação da prole.
Desse modo, se a finalidade essencial da regra do art. 318, V,
do CPP, é a proteção integral da criança, minimizando-se as
chances de ela ser criada no cárcere conjuntamente com a mãe
ou colocada em família substituta ou em acolhimento
institucional na ausência da mãe encarcerada, mesmo diante
da hipótese de possível prática de um ilícito penal, não há razão
para que essa mesma regra não se aplique às mães
encarceradas em virtude de dívida de natureza alimentar,
observada a necessidade de adaptação desse entendimento às
particularidades dessa espécie de execução.
Nesse contexto, anote-se que a prisão domiciliar prevista no art.
318, V, do CPP, possui natureza de medida cautelar alternativa
à prisão preventiva em regime fechado e tem por finalidade
segregar a pessoa do convívio social, ao passo que a prisão em
decorrência da dívida de natureza alimentar possui a natureza
de medida coercitiva que tem por finalidade dobrar a renitência
da devedora e compeli-la a adimplir rapidamente a obrigação
em virtude da necessidade de suprimento das necessidades
básicas do exequente.
Desse modo, não há dúvida de que, na hipótese de
inadimplemento da dívida, deve haver a segregação da
devedora de alimentos, com a finalidade de incomodá-la a
ponto de buscar todos os meios possíveis de solver a

328
obrigação, mas essa restrição ao direito de ir e vir deve ser
compatibilizada com a necessidade de obter recursos
financeiros aptos não apenas a quitar a dívida alimentar em
relação ao exequente, mas também suprir as necessidades
básicas do filho que se encontra sob a sua guarda.

REFERÊNCIA Processo em segredo de justiça, Rel. Ministra Nancy Andrighi,


DO ACÓRDÃO Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 7/2/2023.
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 762
DESTAQUE DO O Juízo da Recuperação Judicial não pode anular ou
INFORMATIVO simplesmente desconsiderar ou suspender os atos de
constrição determinados pelo Juízo da Execução Fiscal, porque
o novo regramento da questão exige dele postura proativa,
cooperativa, que também contemple os interesses da Fazenda
Pública, somente se opondo aos atos constritivos de forma
fundamentada e razoável.
TRECHOS DO (...)
INFORMATIVO Nos termos tanto da legislação tributária quanto da própria Lei
Falimentar e de Recuperações, a execução fiscal e os créditos
tributários não perdem sua autonomia e privilégios na
recuperação judicial. Tanto é assim que, para que seja deferida
a recuperação judicial, a lei exige que a sociedade interessada
apresente, após a aprovação do plano pela assembleia-geral de
credores, as certidões negativas de débitos tributários,
conforme previsto no art. 57 da Lei n. 11.101/2005.
(...)
Por sua vez, a redação do assinalado § 7º-B admitiu a
competência do juízo da recuperação judicial apenas para

329
determinar a substituição dos atos de constrição que recaiam
sobre bens de capital essenciais à manutenção da atividade
empresarial até o encerramento da recuperação judicial.
Nesses termos, compete ao Juízo da execução fiscal
prescrever os atos executivos que considerar adequados e
comunicar (iniciativa que também cabe a terceiros
interessados) a decisão ao Juízo recuperacional, que terá a
faculdade de substituir o bem constrito por outro ou de formular
proposta alternativa de satisfação do crédito, em procedimento
de cooperação judicial.
Desse modo, esclarece-se que, segundo a jurisprudência da
Segunda Seção, o Juízo da Recuperação Judicial não poderá
anular (ou simplesmente desconsiderar ou suspender) os atos
de constrição, porque o novo regramento da questão exige dele
postura proativa, cooperativa, que também contemple os
interesses da Fazenda Pública, somente se opondo aos atos
constritivos de forma fundamentada e razoável. Assim, o Juízo
da Recuperação Judicial poderá, ainda, formular proposta
alternativa de satisfação do crédito, em procedimento de
cooperação judicial, em atenção ao que preconiza o art. 69, §
2º, IV, do CPC.
Portanto, à luz do art. 6º da Lei n. 11.101/2005 e do § 7º-B, dos
arts. 67 a 69 do CPC/2015, e da jurisprudência desta Corte (CC
181.190/AC, Relator Ministro Marco Aurélio Belizze), compete:
1.1) ao Juízo da Execução Fiscal, determinar os atos de
constrição judicial sobre bens e direitos de sociedade
empresária em recuperação judicial, sem proceder à alienação
ou levantamento de quantia penhorada, comunicando aquela
medida ao juízo da recuperação, como dever de cooperação; e
1.2) ao Juízo da Recuperação Judicial, tomando ciência
daquela constrição, exercer juízo de controle e deliberar sobre
a substituição do ato constritivo que recaia sobre bens de capital
essenciais à manutenção da atividade empresarial até o

330
encerramento do procedimento de soerguimento, podendo
formular proposta alternativa de satisfação do crédito, em
procedimento de cooperação recíproca.

REFERÊNCIA CC 187.255-GO, Rel. Ministro Raul Araújo, Segunda Seção, por


DO ACÓRDÃO unanimidade, julgado em 14/12/2022, DJe 20/12/2022.
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 762
DESTAQUE DO Havendo manifestação do Juízo da recuperação judicial no
INFORMATIVO sentido de que determinado crédito não integra o patrimônio da
recuperanda ou não está submetido aos efeitos da recuperação
judicial, cabe ao Juízo a que vinculada a conta judicial em que
depositado este crédito ultimar os atos de pagamento.
TRECHOS DO A controvérsia consiste em definir o Juízo competente para a
INFORMATIVO destinação de valores oriundos de precatórios expedidos pela
União para pagamento de indébito tributário em favor de
empresa em recuperação judicial.
No cumprimento de sentença, esclareceu-se que dos valores a
serem depositados, 85% (oitenta e cinco) por cento seria de
titularidade da recuperanda e 15% (quinze por cento), dos
advogados que a representaram. Não fora apresentada
impugnação ao cumprimento de sentença, sendo homologados
os valores apresentados pela exequente e expedidas
requisições de pagamento. Em sequência foi noticiado que a
recuperanda ingressou com pedido de recuperação judicial.
O Juízo responsável pelo cumprimento de sentença determinou
que todos os valores existentes em favor da recuperanda
fossem depositados em conta judicial para posterior

331
encaminhamento a conta indicada pelo Juízo da Recuperação
Judicial.
Na sequência, o Juízo da recuperação, no exercício de sua
competência, manifestou-se no sentido de que o crédito relativo
aos honorários contratuais não se submete aos efeitos da
recuperação judicial nem tampouco os valores integram o
patrimônio da recuperanda. Recebidos os valores, o Juízo da
recuperação judicial determinou sua devolução ao Juízo
originário.
No que se refere à competência do Juízo da recuperação, vale
destacar que: "A deliberação acerca da natureza concursal ou
extraconcursal do crédito se insere na competência do Juízo
universal, cabendo-lhe, outrossim, decidir acerca da liberação
ou não de bens eventualmente penhorados e bloqueados, uma
vez que se trata de juízo de valor vinculado à aferição da
essencialidade do bem em relação ao regular prosseguimento
do processo de recuperação"(AgInt no CC 178.571/MG, relator
Ministro Luis Felipe Salomão, Segunda Seção, julgado em
15/2/2022, DJe 18/2/2022).
Diante disso, tendo o Juízo da recuperação determinado a
devolução desses valores, compete ao Juízo responsável pelo
cumprimento de sentença dar prosseguimento aos atos de
pagamento.

REFERÊNCIA CC 185.966-AM, Rel. Ministo Ricardo Villas Bôas Cueva,


DO ACÓRDÃO Segunda Seção, por unanimidade, julgado em 14/12/2022, DJe
19/12/2022.
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 761

332
DESTAQUE DO É possível que o advogado penhore parte dos valores
INFORMATIVO depositados como caução por seu cliente, a título de
contracautela, para satisfação de seu crédito (honorários
sucumbenciais).
TRECHOS DO A controvérsia consiste em definir se o advogado, titular de
INFORMATIVO honorários sucumbenciais arbitrados em demanda na qual
atuou como representante de uma das partes, pode penhorar
parte dos valores depositados como caução pelo cliente, nos
termos do art. 804 do CPC/1973 (§ 1° do art. 300 do CPC/2015).
Na sistemática processual pátria, é certo que o instituto da
caução, por vezes, é forma de viabilizar o exercício do direito de
ação, ao mesmo tempo em que resguarda o direito da parte
contrária e de seus procuradores de receberem as custas e os
honorários sucumbenciais, caso seja essa última vencedora.
Noutro ponto, sob o mesmo viés garantidor, nas hipóteses em
que haja requerimento de uma tutela provisória cautelar, pode
ser exigida a prestação de caução, a fim de preservar, nesse
caso, o ressarcimento de eventuais danos advindos da
execução da providência antecipada. Isso, porque, se por um
lado, a proteção cautelar visa garantir utilidade ao processo
principal na promoção da escorreita composição da lide, em
certas ocasiões, a concessão da medida pode significar risco
de prejuízo para aquele que suportará a tutela.
Nesse sentido, leciona a doutrina que, para a execução de
medida antecipatória/acautelatória, mesmo quando se tratar de
provimento de natureza reversível, há o dever de salvaguardar
o núcleo essencial do direito fundamental à segurança jurídica
do réu; "não fosse assim, o perigo de dano não teria sido
eliminado, mas apenas deslocado da esfera do autor para a do
demandado".
Em casos como o cogitado no parágrafo antecedente, a caução
se revela como medida de contracautela, porque visa,
essencialmente, "a ressarcir os danos que a concessão da

333
medida acautelatória possa vir a causar ao réu ou requerido
(CPC, arts. 799 e 804); nesse caso, ela possui inequívoca
função de contracautela - o que já não ocorre com a referida no
art. 805 do mesmo Código, que, como dissemos, é prestada
pelo réu com o objetivo de substituir a providência acautelatória
outorgada em benefício do autor".
Acerca do assunto, em voto proferido no REsp 1.340.236/SP,
em julgamento sob o rito repetitivo, foi salientado que a cautela
é poder implícito da jurisdição, de modo que a prestação
jurisdicional seja realizada de modo adequado, evitando
sentenças tardias ou providências inócuas, que redundariam no
descrédito e, em muitos casos, na inutilidade da própria justiça;
por isso as medidas de natureza cautelar "servem, na verdade,
ao processo e não ao direito da parte. Visam dar eficiência e
utilidade ao instrumento que o Estado engendrou para
solucionar os conflitos de interesse entre os cidadãos".
Quanto ao ponto, no julgamento do REsp 1.548.749/RS, restou
consignado que eventuais danos causados pela execução da
tutela antecipada (assim também a tutela cautelar e a execução
provisória) são disciplinados pelo sistema processual à revelia
da indagação de culpa ou má-fé da parte.
Conforme decidido no âmbito da Terceira Turma, no julgamento
do REsp 55.870/SP, "A própria literalidade da norma releva a
finalidade ressarcitória da caução. Vale dizer, ela não tem o
propósito de saldar eventual débito objeto do litígio na hipótese
de improcedência do pedido formulado pelo autor. Tanto é
assim que o réu somente terá direito à indenização se
comprovar o dano e o nexo de causalidade entre a execução da
tutela de urgência o prejuízo alegado".
Com efeito, basta a existência do dano decorrente da pretensão
deduzida em juízo para que sejam aplicados os arts. 273, § 3º,
475-O, incisos I e II, e art. 811 (arts. 297, parágrafo único, 520,
I e II, e 302 do CPC/2015). Cuida-se de responsabilidade

334
processual objetiva, conforme há muito constatado por
doutrinadores e entendimentos jurisprudenciais.
Como já assentado pela doutrina e jurisprudência, para efeito
da responsabilidade a que se refere, não se deve confundir o
pleito ilícito com o pedido injusto. A obrigação de indenizar por
dano causado por execução de tutela cautelar decorre somente
dos ônus ou riscos inerentes à própria antecipação. Se a
cautelar não se confirma devido à extinção do processo
principal, surge o dever de responder pelo prejuízo. Não importa
se a cautelar era pertinente e se havia requisitos autorizadores
para sua concessão.
Dessarte, há de se reconhecer a possibilidade de o advogado,
para satisfação de seu crédito (horários sucumbenciais),
penhorar valores caucionados por seu cliente como medida de
contracautela, de natureza ressarcitória, mormente porque
estes são reservados à satisfação dos danos eventualmente
causados à parte que suportou os efeitos da medida cautelar
executada.

REFERÊNCIA REsp 1.796.534-RJ, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta


DO ACÓRDÃO Turma, por unanimidade, julgado em 13/12/2022.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 759
DESTAQUE DO Após a alteração do art. 921, § 5º, do CPC/15, promovida pela
INFORMATIVO Lei n. 14.195/2021, o reconhecimento da prescrição
intercorrente e a consequente extinção do processo obstam a
condenação da parte que deu causa à ação ao pagamento de
honorários sucumbenciais.

335
TRECHOS DO A Lei n. 14.195/2021, originada da conversão da Medida
INFORMATIVO Provisória n. 1.040/2021, alterou substancialmente o conteúdo
e o procedimento a ser adotado para o reconhecimento da
prescrição intercorrente. Após sua entrada em vigor, quando
não localizado o executado ou bens penhoráveis, o processo e
o prazo prescricional são suspensos somente uma vez e pelo
prazo máximo de 1 ano (art. 921, III, e §§ 2º e 4º, do CPC/2015).
A novel disposição é categórica: o reconhecimento da
prescrição intercorrente acarreta a extinção do processo sem
ônus algum para as partes, exequente ou executada.
Dessa maneira, a prescrição não é mais motivada apenas pela
inércia do exequente, seja em encontrar bens penhoráveis, seja
em solicitar a prorrogação do prazo suspensivo, mas também
pela ausência de localização do executado ou de bens sujeitos
à penhora.
No caso, vislumbra-se, pois, hipótese singular: há processo,
mas não há condenação em custas e honorários.
Sobre o ponto, inclusive, informa-se que tramita no STF a Ação
Direta de Inconstitucionalidade n. 7.005/DF, por meio da qual,
entre outras pretensões, postula-se a inconstitucionalidade
formal e material do art. 44 da Lei n. 14.195/2021 (que dispõe
sobre as alterações acerca da prescrição intercorrente).
Referida ADI encontra-se, desde 25/3/2022, conclusa para o
julgamento do Min. Relator Roberto Barroso.
Dessa forma, enquanto eventual inconstitucionalidade não for
declarada, deve imperar a interpretação coerente com a
legislação ora vigente.
Ainda, para a devida fixação da tese jurídica, importa considerar
o tema sob a ótica do direito intertemporal e estabelecer a partir
de quando a referida norma terá aplicabilidade.
Nos termos do art. 58, caput e V, da Lei n. 14.195/2021, o
diploma legal entrou em vigor na data de sua publicação, em
26/8/2021, e as alterações promovidas no artigo

336
supramencionado começaram a produzir efeitos também no
mesmo momento.
Quanto ao ponto, esta Corte já apreciou questão similar ao
comparar os regramentos do CPC/1973 e CPC/2015 no que
tange aos honorários sucumbenciais.
No debate, assentou-se a premissa de que a legislação que
trata de honorários advocatícios possui natureza híbrida
(material-processual), uma vez que tem reflexos imediatos no
direito substantivo da parte e de seu advogado. Assim sendo,
não se mostra possível sua aplicação imediata e irrestrita aos
processos em curso (REsp 1.113.175/DF, Corte Especial, DJe
7/8/2012).
No ponto, porém, firmou-se entendimento no sentido de que o
marco temporal para a aplicação das regras sucumbenciais do
novo diploma deve ser a data da prolação da sentença (ou ato
jurisdicional equivalente, quando diante de processo de
competência originária de Tribunal). Isso porque, tais atos
correspondem ao "nascedouro do direito à percepção dos
honorários advocatícios" (EAREsp 1.255.986/PR, Corte
Especial, DJe 6/5/2019).
Antes da prolação da sentença, destarte, a parte tem apenas a
expectativa do direito (REsp 729.021/RS, Quarta Turma, DJe
06/02/2015 e REsp 1.133.638/SP, Terceira Turma, DJe
20/8/2013).
Por fim, importa salientar que o marco temporal fixado é
unicamente para a análise dos honorários, e não para a
averiguação da própria prescrição intercorrente.

REFERÊNCIA REsp 2.025.303-DF, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira


DO ACÓRDÃO Turma, por unanimidade, julgado em 8/11/2022, DJe
11/11/2022.

337
CONEXÕES E
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 759
DESTAQUE DO A aplicação da garantia de impenhorabilidade do valor
INFORMATIVO depositado em conta corrente, sem repercussão alguma acerca
do atributo do valor executado, evidencia erro de percepção,
autorizando a rescisão do julgado, consoante o previsto no art.
485, IX, do CPC/1973.
TRECHOS DO O erro de fato pressupõe duas representações contraditórias
INFORMATIVO sobre um mesmo fato: uma constante na decisão e a outra
contida nos autos; admitindo-se a rescisão do julgado, desde
que a primeira representação não decorra de juízo ou de
valoração de prova, mas de erro de percepção, e a segunda
derive incontestavelmente dos autos, e não tenha sido
controvertida pelas partes.
No caso, a conclusão alcançada no julgado rescindendo, no
sentido de que o crédito executado não envolvia cobrança de
verba alimentar, não é precedida de nenhum exame acerca do
atributo desse mesmo crédito, o que seria impositivo,
considerada a natureza distinta dos créditos executados: o valor
principal, referente ao pagamento do mútuo, e os honorários
sucumbenciais.
Ressalte-se que, à época da prolação do julgado rescindendo,
a jurisprudência consolidada nas Turmas de Direito Privado do
STJ era no sentido de que a norma prevista no § 2º do art. 649
do CPC/1973 (que excepcionava a impenhorabilidade dos
vencimentos, dos salários ou dos proventos de aposentadoria
em caso de execução de "prestação alimentícia") compreendia
a cobrança de honorários advocatícios sucumbenciais.

338
Diante desse quadro, caso inexistisse erro de percepção no
julgado rescindendo, deveria ter sido explicitada a posição
pessoal do julgador contra a natureza alimentar dos honorários
advocatícios sucumbenciais, uma vez que tal orientação refletia
a jurisprudência do STJ no tempo em que proferida a decisão
rescindenda.
Impende ressaltar que a orientação jurisprudencial que se
consolidou no STJ a respeito da natureza meramente alimentar
da verba honorária não se aplica ao presente caso, sob pena
de violação do princípio tempus regit actum.
Não se pode olvidar o precedente da Corte Especial, segundo
o qual as exceções destinadas à execução de prestação
alimentícia não se estenderiam aos honorários sucumbenciais,
sob pena de "eventualmente termos que cogitar sua aplicação
a todos os honorários devidos a quaisquer profissionais liberais,
como médicos, engenheiros, farmacêuticos, e a tantas outras
categorias" (REsp 1.815.055/SP, relatora Ministra Nancy
Andrighi, Corte Especial, julgado em 3/8/2020, DJe de
26/8/2020).
Todavia, a guinada jurisprudencial operada com o julgamento
do REsp 1.815.055/SP teve como referencial a norma prevista
no § 2º do art. 833 do CPC/2015, enquanto no caso sob exame
controverte-se acerca de penhora realizada anteriormente à
vigência do novo CPC.
De fato, a norma prevista no § 2º do art. 833 do CPC/2015
apresenta redação equivalente à do § 2º do art. 639 do CPC/73,
de modo que, em ambos os casos, haveria controvérsia sobre
a extensão a ser dada à expressão "prestação alimentícia", no
sentido de incluir ou não os honorários sucumbenciais dentro
dessa categoria.
Em todo caso, na vigência do CPC/1973, o entendimento
majoritário é no sentido da penhorabilidade de verbas
remuneratórias para o pagamento de honorários advocatícios,

339
em razão da indistinção da natureza alimentar ou alimentícia
dessa verba.
Ressalte-se que a distinção da prestação alimentícia de elevada
monta, para o fim de afastar a penhora das verbas
remuneratórias, só se consolidou na vigência do atual
CPC/2015, conforme previsão expressa no § 2º do art. 833.
Desse modo, a aplicação da garantia de impenhorabilidade do
valor depositado em conta corrente, sem repercussão alguma
acerca do atributo do valor executado, evidencia erro de
percepção, autorizando a rescisão do julgado, consoante o
previsto no art. 485, IX, do CPC/1973.

REFERÊNCIA AR 5.947-DF, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, Segunda


DO ACÓRDÃO Seção, por unanimidade, julgado em 14/9/2022, DJe
1º/12/2022.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 757
DESTAQUE DO O inadimplemento de alimentos compensatórios, destinados à
INFORMATIVO manutenção do padrão de vida de ex-cônjuge em razão da
ruptura da sociedade conjugal, não justifica a execução pelo rito
da prisão, dada a natureza indenizatória e não propriamente
alimentar.
TRECHOS DO Conforme entendimento desta Corte Superior, "A autorização
INFORMATIVO constitucional e legal para que se utilize a prisão civil como
técnica de coerção do devedor de alimentos não significa dizer
que se trata de medida de deferimento obrigatório e irrefletido,
devendo ser examinado, sempre, as circunstâncias que
permeiam a hipótese em juízo de ponderação entre a máxima
efetividade da tutela satisfativa e a menor onerosidade da

340
execução" (HC 422.699/SP, Relatora Ministra Nancy Andrighi,
Terceira Turma, julgado em 26/6/2018, DJe de 29/06/2018).
No caso, o paciente foi condenado ao pagamento de alimentos
à sua ex-companheira no valor de cinco salários mínimos. A
referida fixação prevaleceu por mais de nove anos, quando, por
ocasião do julgamento da apelação, o Tribunal de origem
majorou os alimentos para quinze salários mínimos, com a
finalidade de manter o padrão de vida ao qual estava
acostumada a alimentante durante a união.
Nos termos do art. 5º, LXVII, da Constituição Federal, somente
quando houver o inadimplemento inescusável e voluntário por
parte do responsável pelo pagamento de prestação alimentícia,
afigura-se possível e cabível a sua prisão civil.
A prisão por dívida de alimentos é medida drástica e
excepcional, que somente é admitida excepcionalmente,
quando imprescindível à subsistência do alimentando, não
estando atrelada a uma possível punição por inadimplemento,
ou mesmo à forma de remição da dívida alimentar, tendo como
escopo coagir o devedor a pagar os alimentos devidos a fim de
preservar a sobrevivência do alimentando.
Ainda, no julgamento do RHC 117.996/RS, a Terceira Turma
firmou o entendimento de que o inadimplemento dos alimentos
destinados à manutenção do padrão de vida do ex-cônjuge, que
sofreu drástica redução em razão da ruptura da sociedade
conjugal - alimentos compensatórios - não justifica a execução
pelo rito da prisão, em razão de sua natureza indenizatória, e
não propriamente alimentar.
Por fim, o STJ também possui o entendimento de que, "quando
o credor de débito alimentar for maior e capaz, e a dívida se
prolongar no tempo, atingindo altos valores, exigir o pagamento
de todo o montante, sob pena de prisão civil, é excesso gravoso
que refoge aos estreitos e justificados objetivos da prisão civil
por dívida alimentar, para desbordar e se transmudar em

341
sanção por inadimplemento" (HC 392.521/SP, Relatora Ministra
Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 27/06/2017, DJe
de 01/08/2017).

REFERÊNCIA Processo sob segredo judicial, Rel. Min. Raul Araújo, Quarta
DO ACÓRDÃO Turma, por unanimidade, julgado em 13/09/2022, DJe
20/09/2022.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 756
DESTAQUE DO É admissível a cumulação, em um mesmo processo, de
INFORMATIVO cumprimento de sentença de obrigação de pagar alimentos
atuais, sob a técnica da prisão civil, e alimentos pretéritos, sob
a técnica da penhora e da expropriação.
TRECHOS DO Em se tratando de cumprimento de sentença condenatória ao
INFORMATIVO pagamento dos alimentos no qual se pleiteiam as 03 últimas
parcelas antes do requerimento e as que se vencerem no curso
dessa fase procedimental, é lícito ao credor optar pela cobrança
mediante a adoção da técnica da prisão civil ou da técnica da
penhora e expropriação.
Em relação às parcelas vencidas mais de três meses antes do
requerimento, contudo, essa fase procedimental se
desenvolverá, necessariamente, mediante a adoção da técnica
de penhora e expropriação.
Na legislação processual em vigor não há regra que proíba, mas
também não há regra que autorize o cumprimento das
obrigações alimentares pretéritas e atuais de modo conjunto e
no mesmo processo.
O art. 531, § 2º, do CPC/2015, que trata especificamente do
cumprimento da sentença condenatória ao pagamento de

342
alimentos, estabelece que o cumprimento definitivo ocorrerá no
mesmo processo em que proferida a sentença e não faz
nenhuma distinção a respeito da atualidade ou não do débito,
de modo que essa é a regra mais adequada para suprir a lacuna
do legislador no trato da questão controvertida.
Por sua vez, o art. 780 do CPC/2015 trata especificamente das
partes na execução de título executivo extrajudicial, de modo
que é correto afirmar que se destina, precipuamente, à fixação
das situações legitimantes que definirão os polos ativo e
passivo da execução de título extrajudicial, mas não ao
procedimento executivo ou, mais precisamente, às técnicas
aplicáveis à execução na fase de cumprimento da sentença.
Sublinhe-se, ainda, que o art. 780 do CPC/2015 proíbe a
cumulação de execuções fundadas em títulos de diferentes
naturezas e espécies, desde que para elas existam diferentes
procedimentos, o que não se aplica à hipótese, em que se
pretende cumprir sentença condenatória de idêntica natureza e
espécie (pagar alimentos fixados ou homologados por
sentença).
Embora seja lícita, razoável e justificada a opção do legislador
pela necessidade de unidade procedimental na hipótese de
cumulação de execuções de título extrajudicial, uma vez que se
trata de relação jurídico-processual nova, autônoma e que se
inaugura por petição inicial, não há que se falar em inauguração
de uma nova relação jurídico-processual. O cumprimento de
sentença é apenas uma fase procedimental do processo de
conhecimento, de modo que o controle acerca da
compatibilidade procedimental (incluída aí a formulação de
pretensões cumuladas que poderão resultar execuções
igualmente cumuladas) é realizado por ocasião do recebimento
da petição inicial, observado o art. 327, §§ 1º a 3º, do CPC/2015.
Se é admissível que haja, no mesmo processo e
conjuntamente, o cumprimento de sentença que contenha

343
obrigações de diferentes naturezas e espécies, ainda que
existam técnicas executivas diferenciadas para cada espécie de
obrigação e que impliquem em adaptações procedimentais
decorrentes de suas respectivas implementações, com muito
mais razão deve ser admissível o cumprimento de sentença que
contenha obrigação da mesma natureza e espécie no mesmo
processo, como na hipótese em que se pretenda a cobrança de
alimentos pretéritos e atuais.
Ademais, o art. 528, § 8º, do CPC/2015, não é pertinente para
a resolução da questão controvertida, pois o referido dispositivo
somente afirma que, no cumprimento de sentença processado
sob a técnica da penhora e da expropriação, não será admitido
o uso da técnica coercitiva da prisão civil, o que não significa
dizer que, na hipótese de cumprimento de sentença parte sob a
técnica da coerção pessoal e parte sob a técnica da penhora e
expropriação, deverá haver, obrigatoriamente, a cisão do
cumprimento de sentença em dois processos autônomos em
virtude das diferentes técnicas executivas adotadas.
Nesse cenário, não se afigura razoável e adequado impor ao
credor, obrigatoriamente, a cisão da fase de cumprimento da
sentença na hipótese em que pretenda a satisfação de
alimentos pretéritos e atuais, exigindo-lhe a instauração de dois
incidentes processuais, ambos com a necessidade de intimação
pessoal do devedor, quando a satisfação do crédito é
perfeitamente possível no mesmo processo.

REFERÊNCIA Processo sob segredo de justiça, Rel. Min. Nancy Andrighi,


DO ACÓRDÃO Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 18/10/2022, DJe
21/10/2022.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

344
TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 756
DESTAQUE DO A multa e honorários advocatícios a que se refere o § 1º do art.
INFORMATIVO 523 do CPC/2015 serão excluídos apenas se o executado
depositar voluntariamente a quantia devida em juízo, sem
condicionar seu levantamento a qualquer discussão do débito.
TRECHOS DO Nos termos do art. 523, § 1º, do CPC/2015, não ocorrendo o
INFORMATIVO pagamento voluntário do débito no prazo de 15 (quinze) dias, o
mesmo será acrescido de multa de 10% (dez por cento) e,
também, de honorários de advogado no percentual de 10% (dez
por cento).
Na hipótese, a parte manifestou a sua intenção de depositar o
valor executado como forma de garantia do juízo, destacando
expressamente que não se tratava de cumprimento voluntário
da obrigação.
Não se pode admitir que a executada beneficie-se de sua
própria torpeza, tampouco pode-se admitir que, ao revés da
vontade externada pela parte, o julgador receba como
pagamento o depósito efetuado unicamente em garantia do
juízo - e com expressa manifestação da parte de que não se
trataria de cumprimento voluntário da obrigação.
A propósito, ainda com fundamento no CPC/1973, vinha sendo
decidida por esta Corte Superior no sentido de que o executado
não estaria isento da multa prevista no art. 475-J do CPC/1973
quando o depósito judicial era efetivado com o fim de garantir o
juízo para a apresentação de impugnação ao cumprimento de
sentença.
E, com efeito, não há justificativa para a modificação de tal
entendimento quando a própria redação do novo Código de
Processo Civil preceitua, em clara redação, que haverá o
acréscimo de multa e honorários advocatícios quando não
ocorrer o pagamento voluntário do débito.

345
Por oportuno, a doutrina leciona que "em tal caso juridicamente
não se operou o pagamento; não houve adimplemento ou
vontade de extinguir o procedimento executivo, mas, ao
contrário, de lhe dar sequência para discussão do todo ou
parte".

REFERÊNCIA REsp 2.007.874-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma,


DO ACÓRDÃO por unanimidade, julgado em 04/10/2022, DJe 06/10/2022.
CONEXÕES E 1. Acórdão alinhado com a revisão da tese firmada no Tema
COMENTÁRIOS Repetitivo 677 do STJ.

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 755
DESTAQUE DO Na execução, o depósito efetuado a título de garantia do juízo
INFORMATIVO ou decorrente da penhora de ativos financeiros não isenta o
devedor do pagamento dos consectários de sua mora,
conforme previstos no título executivo, devendo-se, quando da
efetiva entrega do dinheiro ao credor, deduzir do montante final
devido o saldo da conta judicial.
TRECHOS DO Trata-se de proposta de revisão de tese repetitiva acerca dos
INFORMATIVO efeitos do depósito judicial em garantia do Juízo (Tema 677).
No julgamento do REsp 1.348.640/RS foi firmada a tese
repetitiva no sentido de que "na fase de execução, o depósito
judicial do montante (integral ou parcial) da condenação
extingue a obrigação do devedor, nos limites da quantia
depositada".
Em que pese tenha constado, na redação final do Tema, a
referência expressa à extinção da obrigação do devedor por
causa do depósito judicial, observa-se que, àquela ocasião, a
Corte Especial não se debruçou, pontualmente, acerca do efeito
do depósito sobre a mora do devedor, isto é, sobre a sua

346
liberação quanto ao pagamento dos consectários decorrentes
do retardamento no adimplemento da obrigação.
Tanto o é que, em paralelo à tese firmada no recurso
representativo da controvérsia, em 21/05/2014, consolidou-se
na jurisprudência do STJ o entendimento de que o mero
depósito para garantia do juízo, a fim de viabilizar a impugnação
do cumprimento de sentença, não perfaz adimplemento
voluntário da obrigação, porquanto a satisfação desta somente
ocorre quando o valor respectivo ingressa no campo de
disponibilidade do credor. Por isso, passou esta Corte a
diferenciar o "pagamento" da "garantia do juízo", para o efeito
de incidência da multa prevista no então art. 475-J do CPC/1973
(art. 523 do CPC/2015).
A obrigação da instituição financeira depositária pelo
pagamento dos juros e correção monetária sobre o valor
depositado convive com a obrigação do devedor de pagar os
consectários próprios de sua mora, segundo previsto no título
executivo, até que ocorra o efetivo pagamento da obrigação ao
credor.
No plano de direito material, considera-se em mora o devedor
que não efetuar o pagamento na forma e tempo devidos,
hipótese em que deverá responder pelos prejuízos a que sua
mora der causa, mais juros e atualização dos valores
monetários, além de honorários de advogado, nos termos dos
arts. 394 e 395 do Código Civil. Outrossim, tem-se por
caracterizada a mora do devedor até que este a purgue,
mediante o efetivo oferecimento ao credor da prestação devida,
acrescida dos respectivos consectários (art. 401, I, do
CC/2002).
A purga da mora na obrigação de pagar quantia certa, assim
como ocorre no adimplemento pontual desse tipo de prestação,
não se consuma com a simples perda da posse do valor pelo
devedor; é necessário, deveras, que ocorra a efetiva entrega da

347
soma de valor ao credor, ou, ao menos, a entrada da quantia na
sua esfera de disponibilidade.
Embora o Código Civil tenha sido lacunoso a respeito do tema,
limitando-se a tratar das obrigações de dar coisa certa ou
incerta - com o que não se confunde a obrigação de pagar -, o
Código de Processo Civil, ao dispor sobre o cumprimento
forçado da obrigação, deixa claro que a satisfação do crédito se
dá pela entrega do dinheiro ao credor, ressalvada a
possibilidade de adjudicação dos bens penhorados, nos exatos
termos do art. 904 do CPC/2015.
Na mesma linha, o art. 906 do CPC, expressamente vincula a
declaração de quitação da quantia paga ao momento do
recebimento do mandado de levantamento pela parte
exequente, ou, alternativamente, pela transferência eletrônica
dos valores.
Assim, tem-se que somente o depósito judicial efetuado
voluntariamente pelo devedor, com vistas à imediata satisfação
do credor, sem qualquer sujeição do levantamento à discussão
do débito, tem a aptidão de fazer cessar a mora do devedor e
extinguir a obrigação, nos limites da quantia depositada. Se o
depósito é feito a título de garantia do juízo ou se é coercitivo,
decorrente da penhora de ativos financeiros, não se opera a
cessação da mora do devedor, haja vista que, em hipóteses
tais, não ocorre a imediata entrega do dinheiro ao credor, cujo
ato enseja a quitação do débito.
Consequentemente, se o depósito não tem a finalidade de
pronto pagamento ao credor, devem continuar a correr contra o
devedor os juros moratórios e a correção monetária previstos
no título executivo, ou eventuais outros encargos contratados
para a hipótese de mora, até que ocorra a efetiva liberação da
quantia ao credor, mediante o recebimento do mandado de
levantamento ou a transferência eletrônica dos valores.

348
Evidentemente, no momento anterior à expedição do mandado
ou à transferência eletrônica, o saldo da conta bancária judicial
em que depositados os valores, já acrescidos da correção
monetária e dos juros remuneratórios a cargo da instituição
financeira depositária, há de ser deduzido do montante devido
pelo devedor, como forma de evitar o enriquecimento sem
causa do credor.
Não caracteriza bis in idem o pagamento cumulativo dos juros
remuneratórios, por parte do Banco depositário, e dos juros
moratórios, a cargo do devedor, haja vista que são diversas a
natureza e finalidade dessas duas espécies de juros. De fato,
enquanto os juros remuneratórios têm por finalidade a simples
remuneração ou rendimento pelo uso do capital alheio (são os
frutos civis do capital), os juros moratórios têm natureza
indenizatória e sancionadora, que deriva do retardamento
culposo no cumprimento da obrigação.
Há de se destacar que o depósito judicial na execução não se
confunde com o depósito na ação de consignação em
pagamento, que é ação com procedimento especial cabível nas
estritas hipóteses do art. 335 do CC/02, em especial quando há
recusa do credor em receber o pagamento ou dar-lhe quitação,
sem justa causa (inc. I), ou, ainda, quando pende litígio sobre o
objeto do pagamento (inc. V). Este apenas tem o condão de
extinguir a obrigação do devedor quando para ele concorrer os
mesmos requisitos de validade do pagamento, como tempo,
modo, valor e lugar (arts. 336 e 337 do CC/2002), sendo que,
de todo modo, a Lei Processual garante ao credor a imediata
disponibilidade da quantia, como dispõe o art. 545, § 1º, do
CPC/2015.
Assim, não se pode atribuir o efeito liberatório do devedor por
causa do depósito de valores para garantia do juízo, com vistas
à discussão do crédito postulado pelo credor, nem ao depósito

349
derivado da penhora de ativos financeiros, porque não se tratam
de pagamento com animus solvendi.
Entendimento em sentido diverso teria o nefasto condão de
estimular a perpetuidade da execução, porquanto, uma vez
ultrapassado o prazo para o pagamento da dívida - com isenção
de multa e honorários advocatícios, no cumprimento de
sentença judicial (art. 523 do CPC/2015), ou com o pagamento
dos honorários pela metade, na execução de título extrajudicial
(art. 827 do CPC) - a menor ou maior duração do processo
executivo em nada influenciaria o valor final do débito, se sua
atualização (lato sensu) ocorresse apenas mediante o
pagamento dos juros remuneratórios e da correção monetária,
devidos por força do contrato de depósito mantido com a
instituição financeira.
Assim, na execução, o depósito efetuado a título de garantia do
juízo ou decorrente da penhora de ativos financeiros não isenta
o devedor do pagamento dos consectários de sua mora,
conforme previstos no título executivo, devendo-se, quando da
efetiva entrega do dinheiro ao credor, deduzir do montante final
devido o saldo da conta judicial.

REFERÊNCIA REsp 1.820.963-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, Corte Especial,


DO ACÓRDÃO por maioria, julgado em 19/10/2022. (Tema 677)
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 727
DESTAQUE DO A escolha entre a ação de nulidade e a impugnação ao
INFORMATIVO cumprimento de sentença em nada interfere na cristalização ou
não da decadência, de modo que, escoado o prazo de 90 dias
para o ajuizamento da ação de nulidade, não poderá a parte

350
suscitar as hipóteses de nulidade previstas no art. 32 da Lei de
Arbitragem pela via da impugnação.
TRECHOS DO Instaurada a arbitragem, cumpre destacar que, da mesma
INFORMATIVO forma que ocorre no processo judicial, a formação da coisa
julgada no âmbito do procedimento arbitral está sujeita à
imutabilidade da decisão proferida após as etapas necessárias
do procedimento, sendo bastante limitadas as possibilidades de
afastá-la.
Assim, após o trânsito em julgado, a sentença proferida pelo
juízo arbitral faz coisa julgada material e, constitui, por força de
lei, título executivo judicial (art. 525, VII, do CPC/2015).
Ademais, no que diz respeito ao exame das sentenças arbitrais,
o STJ perfilha o entendimento de que o controle judicial sobre a
validade das sentenças arbitrais está relacionado a aspectos
estritamente formais, não sendo lícito ao magistrado togado
examinar o mérito do que foi decidido pelo árbitro.
Nesse contexto, as vias predispostas para impugnar sentenças
arbitrais são, sobretudo, duas, a saber: a) a impugnação ao
cumprimento de sentença (art. 33, § 3º, da Lei n. 9.307/1996);
e b) a ação de nulidade (art. 33, § 1º, da Lei n. 9.307/1996).
Com efeito, sobre os instrumentos predispostos à impugnação
das sentenças arbitrais, esclarece a doutrina, que é lícito ao
vencido, na arbitragem, a utilização "das duas vias para
questionar a nulidade da sentença arbitral: ação de invalidação
ou impugnação ao cumprimento da sentença arbitral,
cumulando nesta os fundamentos daquela. Esse parece ser,
realmente, o melhor entendimento. Ou seja, a matéria passível
de ser invocada na 'impugnação' ao cumprimento da sentença
não se limita à contida no art. 525, § 1º, do CPC/2015, podendo
ser trazido, por este instrumento processual no caso de
execução de sentença arbitral, também o quanto previsto no art.
32 da Lei de Arbitragem".

351
Deve-se ressaltar que, se a declaração de nulidade com
fundamento nas hipóteses previstas no art. 32 da Lei de
Arbitragem for pleiteada por meio de ação própria, impõe-se o
respeito ao prazo decadencial de 90 dias, contado do
recebimento da notificação da respectiva sentença, parcial ou
final, ou da decisão do pedido de esclarecimentos (Art. 33, § 1º).
Ocorre, no entanto, que o § 3º, do art. 33 da Lei de Arbitragem
permite que, proposta a execução de sentença arbitral, se
alegue a nulidade da sentença também em sede de
impugnação, sendo imperioso, portanto, verificar se o referido
prazo decadencial de 90 (noventa) dias também deve ser
aplicado nessa hipótese.
Tratando-se de instituto de Direito Material, a caracterização ou
não da decadência não pode ficar à mercê do instrumento
processual escolhido pela parte para veicular a alegação de
nulidade.
Em outras palavras, a escolha entre a ação de nulidade ou a
impugnação ao cumprimento de sentença em nada interfere na
cristalização ou não da decadência, de modo que, escoado o
prazo de 90 (noventa) dias para o ajuizamento da ação de
nulidade, não poderá a parte suscitar as hipóteses de nulidade
previstas no art. 32 da Lei de Arbitragem pela via da
impugnação ao cumprimento de sentença arbitral, pois o poder
formativo já haverá sido fulminado pela decadência.
Desse modo, é imperioso concluir que, uma vez esgotado o
prazo de 90 (noventa) dias previsto no § 1º, do art. 33, da Lei
de Arbitragem, estará fulminado pela decadência o poder
formativo de pleitear a nulidade da sentença arbitral com
fundamento nas hipóteses do art. 32 da Lei de Arbitragem.

REFERÊNCIA REsp 1.928.951-TO, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma,


DO ACÓRDÃO por unanimidade, julgado em 15/02/2022, DJe 18/02/2022.

352
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 726
DESTAQUE DO Apenas a prescrição superveniente à formação do título pode
INFORMATIVO ser alegada em cumprimento de sentença.
TRECHOS DO No caso, a parte assevera que não há impeditivo para que a
INFORMATIVO prescrição seja alegada em cumprimento de sentença,
mormente porque a cobrança quanto ao período prescrito
somente surgiu com o laudo pericial. Ressalta-se, ainda, que se
trata de matéria de ordem pública, podendo ser alegada em
qualquer fase processual.
No entanto, nos termos da jurisprudência do STJ, a prescrição
não pode ser alegada depois do trânsito em julgado do título
exequendo, com exceção daquela superveniente à sentença.
Assim, "em observância ao instituto da coisa julgada e sua
eficácia preclusiva, apenas a prescrição consumada após a
formação do título judicial exequendo é passível de
conhecimento em impugnação do cumprimento de sentença,
nos termos dos arts. 475-L, VI, do CPC/1973 e 525, § 1º, VII, do
CPC/2015." (AgInt no AREsp 1.828.492/SP, Rel. Ministro Raul
Araújo, Quarta Turma, julgado em 7/6/2021, DJe 1º/7/2021).
(...)
REFERÊNCIA REsp 1.931.969-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,
DO ACÓRDÃO Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 08/02/2022, DJe
11/02/2022.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ

353
INFORMATIVO 719
DESTAQUE DO À luz do novo Código de Processo Civil, não se aplica a tese
INFORMATIVO firmada no julgamento do REsp 1.200.856/RS, porquanto o
novo Diploma inovou na matéria, permitindo a execução
provisória da multa cominatória mesmo antes da prolação de
sentença de mérito.

TRECHOS DO De início, deve-se ressaltar que a tese fixada no julgamento do


INFORMATIVO REsp 1.200.856/RS, o foi à luz das disposições do Código de
Processo Civil de 1973, que não continha dispositivo
semelhante ao § 3º do art. 537 do Código de Processo Civil de
2015.
Da simples leitura do dispositivo em comento, exsurge a
conclusão de que o novo Diploma Processual inovou na
matéria, autorizando, expressamente, a execução provisória da
decisão que fixa as astreintes, condicionando, tão somente, o
levantamento do valor ao trânsito em julgado da sentença
favorável à parte.
Ademais, importa destacar que não mais subsiste, no novo
Código de Processo Civil, a redação que constava do art. 475-
N, I, do CPC/1973, que serviu de fundamento para o acórdão
proferido no julgamento do REsp 1.200.856/RS.
De fato, o atual art. 515, I, considera título executivo judicial "as
decisões proferidas no processo civil que reconheçam a
exigibilidade de obrigação de pagar quantia, de fazer, de não
fazer ou de entregar coisa", tendo sido substituída, portanto, a
palavra "sentença" por "decisões".
A mencionada alteração redacional harmoniza-se com o
disposto no § 3º do art. 537 do CPC/2015, que autoriza a
execução provisória da decisão que fixa a multa cominatória,
sendo certo que, na linha das boas regras de hermenêutica, não
se pode olvidar que "verba cum effectu, sunt accipienda" (não
se presumem, na lei, palavras inúteis).

354
A inovação legislativa em mote, portanto, amolda-se, à
perfeição, à própria finalidade do instituto, na medida em que,
ao permitir a execução provisória da decisão que fixa a multa
mesmo antes da sentença de mérito, acentua o seu caráter
coercitivo e inibitório, tornando ainda mais oneroso ou arriscado
o descumprimento de determinações judiciais.
REFERÊNCIA REsp 1.958.679-GO, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma,
DO ACÓRDÃO por unanimidade, julgado em 23/11/2021, DJe 25/11/2021.

CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 711
No cumprimento provisório de decisão condenatória ao
DESTAQUE pagamento de quantia certa, o executado não pode substituir o
DO depósito judicial em dinheiro por bem equivalente ou
INFORMATIVO representativo do valor, salvo se houver concordância do
exequente, como forma de se isentar da multa e dos honorários
advocatícios com base no art. 520, §3º, do CPC/2015.

Contrariando a jurisprudência que se firmou na vigência do


TRECHOS DO CPC/1973, a nova legislação processual civil passou a prever,
INFORMATIVO expressamente, que a multa e os honorários advocatícios,
previstos para a hipótese de descumprimento da decisão
definitiva que condena ao pagamento de obrigação de quantia
certa, também serão devidos na hipótese de cumprimento
provisório.
Diante da aparente contradição entre as regras do art. 520, §2º
e 3º, do CPC/2015, é correto afirmar que, em se tratando de
cumprimento definitivo da decisão, a multa será excluída
apenas se o executado depositar voluntariamente a quantia

355
devida em juízo, sem condicionar seu levantamento a qualquer
discussão do débito.
Entretanto, se se tratar de cumprimento provisório da decisão,
a multa e os honorários advocatícios não serão devidos se
houver o simples depósito judicial do valor (que não se
confunde com o pagamento voluntário da condenação), de
modo a compatibilizar a referida regra com a preservação do
interesse recursal do executado que impugnou a decisão
exequenda.
O depósito judicial do valor previsto no art. 520, §3º, do
CPC/2015, tem por finalidade isentar o executado da multa e
dos honorários advocatícios, funciona como uma espécie de
garantia de que não haverá a prática de atos de invasão
patrimonial na fase provisória da execução e poderá ser
levantado, como regra, mediante prestação de caução
suficiente e idônea.
(...)
Como não há que se falar em direito subjetivo do executado em
depositar ou satisfazer uma obrigação por quantia certa com o
oferecimento de bem móvel ou imóvel, ainda que equivalente,
representativo ou superior ao valor da execução, a tutela
executiva deve se direcionar para o sentido inverso, de modo
que, em verdade, o que há é o direito subjetivo do exequente
em obter a satisfação nos moldes e termos da decisão que a
fixou.
Assim, o depósito judicial do valor a que se refere o art. 520,
§3º, do CPC/2015, deve ocorrer apenas em dinheiro, salvo na
hipótese em que houver o consentimento do exequente para a
sua substituição por bem equivalente ou representativo do valor
executado, pois, na execução por quantia certa, a finalidade e
o objetivo a ser perseguido e alcançado é apenas, ou
primordialmente, a tutela pecuniária, isto é, a tutela do provável
ou definitivo crédito a que faz jus o exequente.

356
É absolutamente irrelevante investigar, para fins de incidência
da multa e dos honorários advocatícios, se o executado possui
ou não condição material ou intenção de satisfazer a obrigação
de pagar quantia certa, pois ambos os acréscimos decorrem
objetivamente do descumprimento da ordem de depósito
judicial do valor executado provisoriamente.
Por fim, a substituição do depósito judicial do valor executado
em dinheiro por bem de titularidade do executado está
condicionada a aceitação pelo exequente também porque, em
se tratando de execução por quantia certa, em que é direito do
exequente receber dinheiro, não se pode impor unilateralmente
que ele receba coisa distinta daquela estipulada na decisão
judicial provisória ou definitivamente executada, especialmente
em virtude do comprometimento da liquidez do título executivo
e da amplificação dos debates acerca da suficiência do bem, de
sua disponibilidade e capacidade de transformação em dinheiro
e do valor apropriado para sua alienação ou adjudicação.

REFERÊNCIA REsp 1.942.671-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma,


DO ACÓRDÃO por unanimidade, julgado em 21/09/2021, DJe 23/09/2021.

CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 709
DESTAQUE DO Não é cabível a impugnação ao cumprimento da sentença
INFORMATIVO arbitral, com base nas nulidades previstas no art. 32 da Lei n.
9.307/1996, após o prazo decadencial nonagesimal.

(...)

357
TRECHOS DO À parte sucumbente é possível veicular, perante o Poder
INFORMATIVO Judiciário, a pretensão de anular sentença arbitral, desde que
fundada nas hipóteses taxativas - todas de ordem pública -,
especificadas no art. 32 da Lei n. 9.307/1996, e desde que o
faça de imediato, no prazo decadencial de 90 (dias).
Sob o signo da celeridade, da efetividade e da segurança
jurídica especialmente perseguidas pelas partes signatárias de
um compromisso arbitral, a pretensão de anular a sentença
arbitral deve ser intentada de imediato, sob pena de a questão
decidida tornar-se imutável, porquanto não mais passível de
anulação pelo Poder Judiciário, a obstar, inclusive, que o Juízo
arbitral profira nova decisão sobre a matéria.
Sem respaldo legal, e absolutamente em descompasso com a
inerente celeridade do procedimento arbitral, supor que a parte
sucumbente, única interessada em infirmar a validade da
sentença arbitral, possa, apesar de não promover a ação
anulatória no prazo de 90 (noventa) dias, manejar a mesma
pretensão anulatória, agora em impugnação à execução
ajuizada em momento posterior a esse lapso, sobretudo porque,
a essa altura, o direito potestativo (de anular) já terá se esvaído
pela decadência.
(...)
Assim, embora a nulidade possa ser suscitada em sede de
impugnação ao cumprimento de sentença arbitral, se a
execução for ajuizada após o decurso do prazo decadencial da
ação de nulidade, a defesa da parte executada fica limitada às
matérias especificadas pelo art. 525, § 1º, do CPC, sendo
vedada a invocação de nulidade da sentença com base nas
matérias definidas no art. 32 da Lei 9.307/1996.

REFERÊNCIA REsp 1.862.147-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Terceira


DO ACÓRDÃO Turma, por unanimidade, julgado em 14/09/2021, DJe
20/09/2021.

358
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 702
DESTAQUE DO O prazo de cumprimento da obrigação de fazer possui natureza
INFORMATIVO processual, devendo ser contado em dias úteis.

O Superior Tribunal de Justiça, ao examinar a natureza do


TRECHOS DO prazo fixado para o cumprimento das obrigações de pagar
INFORMATIVO quantia certa, concluiu que "a intimação para o cumprimento de
sentença, independentemente de quem seja o destinatário, tem
como finalidade a prática de um ato processual, pois, além de
estar previsto na própria legislação processual (CPC), também
traz consequências para o processo, caso não seja adimplido o
débito no prazo legal, tais como a incidência de multa, fixação
de honorários advocatícios, possibilidade de penhora de bens e
valores, início do prazo para impugnação ao cumprimento de
sentença, dentre outras. E, sendo um ato processual, o
respectivo prazo, por decorrência lógica, terá a mesma natureza
jurídica, o que faz incidir a norma do art. 219 do CPC/2015, que
determina a contagem em dias úteis" (REsp 1.708.348/RJ, Rel.
Ministro Marco Aurélio Bellizze, Terceira Turma, julgado em
25/6/2019, DJe 1º/8/2019).
A mesma ratio contida no precedente indicado acima deve ser
aplicada ao momento a partir do qual se considera que houve o
descumprimento das obrigações de fazer constantes do título
judicial. Ainda que a prestação de fazer seja ato a ser praticado
pela parte, não se pode desconsiderar a natureza processual
do prazo judicial fixado para o cumprimento da sentença, o que
atrai a incidência da regra contida no art. 219 do CPC.

359
Não se desconsidera que essa questão é controversa na
doutrina. No entanto, a melhor interpretação é conferida por
aqueles que defendem a contagem do prazo em dias úteis.
REFERÊNCIA REsp 1.778.885-DF, Rel. Min. Og Fernandes, Segunda Turma,
DO ACÓRDÃO por unanimidade, julgado em 15/06/2021, DJe de 21/06/2021.

CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

10. RECURSOS E MEIOS DE IMPUGNAÇÃO

10.1 PRECEDENTES QUALIFICADOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 778
DESTAQUE DO Não há prorrogação do término do prazo recursal se ocorrer
INFORMATIVO eventual indisponibilidade do sistema eletrônico no Tribunal no
meio do curso do prazo para interposição do recurso, sendo
admitida a prorrogação apenas nas hipóteses em que a
indisponibilidade do sistema coincida com o primeiro ou o último
dia do prazo recursal, caso em que o termo inicial ou final será
protraído para o primeiro dia útil seguinte.
TRECHOS DO No tocante à indisponibilidade do sistema do Tribunal e a
INFORMATIVO prorrogação de prazo recursal, há importante distinção fática
entre duas hipóteses que demandam soluções diversas. No
primeiro caso, a indisponibilidade do sistema ocorre durante o
curso do prazo recursal, enquanto, no segundo caso, tal
indisponibilidade dá-se no último dia do prazo.
Efetivamente, nos termos da jurisprudência já consolidada
nesta Corte de Justiça, a prorrogação automática de tal prazo,
em caso de indisponibilidade do sistema, somente ocorrerá
quando tal coincidir com o último dia do prazo recursal.

360
Com efeito, nos termos do art. 224, § 1º, do CPC, não há falar
em prorrogação do término do prazo recursal se ocorrer
eventual indisponibilidade do sistema eletrônico no Tribunal no
curso do período para interposição do recurso. A prorrogação
do prazo processual é admitida apenas nas hipóteses em que
a indisponibilidade do sistema coincida com o primeiro ou o
último dia do prazo recursal, caso em que o termo inicial ou final
será protraído para o primeiro dia útil seguinte.
A propósito: "(...) 3. A jurisprudência do Superior Tribunal de
Justiça é no sentido de que, nos termos do art. 224, § 1º, do
CPC/2015, não há falar em prorrogação do término do prazo
recursal se ocorrer eventual indisponibilidade do sistema
eletrônico no Tribunal de origem no curso do período para
interposição do recurso. A prorrogação do prazo processual é
admitida apenas nas hipóteses em que a indisponibilidade do
sistema coincida com o primeiro ou o último dia do prazo
recursal, caso em que o termo inicial ou final será protraído para
o primeiro dia útil seguinte. Precedentes. (...)" (AgInt no AREsp
n. 1.912.954/RJ, relator Ministro Raul Araújo, Quarta Turma,
julgado em 30/5/2022, DJe de 24/6/2022).

REFERÊNCIA AgInt nos EAREsp 1.817.714-SC, Rel. Ministro Raul Araújo,


DO ACÓRDÃO Corte Especial, por unanimidade, julgado em 7/3/2023, DJe
15/3/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STF
INFORMATIVO 1092
DESTAQUE DO É constitucional presunção de repercussão geral de recurso
INFORMATIVO extraordinário que impugna acórdão que tenha declarado

361
inconstitucionalidade de tratado ou lei federal (CPC/2015, art.
1.035, § 3º, III).
TRECHOS DO Essa previsão se fundamenta, em especial, na necessidade de
INFORMATIVO uniformizar a aplicação de lei federal em todo o território
nacional.

REFERÊNCIA ADIs 5.492/DF e 5.737/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgamento


DO ACÓRDÃO virtual finalizado em 24/4/23.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STF
INFORMATIVO 1092
DESTAQUE DO É constitucional a determinação de vincular a Administração
INFORMATIVO Pública à efetiva aplicação de tese firmada no julgamento de
casos repetitivos relacionados à prestação de serviço delegado
(CPC/2015, arts. 985, § 2º; e 1.040, IV).
TRECHOS DO Ao ampliar os diálogos institucionais entre as entidades
INFORMATIVO públicas, essa medida assegura maior efetividade no
cumprimento de decisão judicial ao mesmo tempo em que
densifica direitos garantidos constitucionalmente.
REFERÊNCIA ADIs 5.492/DF e 5.737/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgamento
DO ACÓRDÃO virtual finalizado em 24/4/23.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STF
TEMA 679 da Repercussão Geral
QUESTÃO Validade da exigência do depósito recursal como pressuposto
de admissibilidade do recurso extraordinário na Justiça do
Trabalho.

362
TESE Surge incompatível com a Constituição Federal exigência de
depósito prévio como condição de admissibilidade do recurso
extraordinário, no que não recepcionada a previsão constante
do § 1º do artigo 899 da Consolidação das Leis do Trabalho,
sendo inconstitucional a contida na cabeça do artigo 40 da Lei
nº 8.177 e, por arrastamento, no inciso II da Instrução Normativa
nº 3/1993 do Tribunal Superior do Trabalho.
EMENTA RECURSO EXTRAORDINÁRIO – DEPÓSITO –
RESUMIDA INCONSTITUCIONALIDADE. Surge incompatível com a
Constituição Federal exigência de depósito prévio como
condição de admissibilidade do recurso extraordinário, no que
não recepcionada a previsão constante do § 1º do artigo 899 da
Consolidação das Leis do Trabalho, sendo inconstitucional a
contida na cabeça do artigo 40 da Lei nº 8.177 e, por
arrastamento, no inciso II da Instrução Normativa nº 3/1993 do
Tribunal Superior do Trabalho.
(RE 607447, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno,
julgado em 22/05/2020, PROCESSO ELETRÔNICO
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-137 DIVULG 02-06-
2020 PUBLIC 03-06-2020)
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STF
TEMA 946 da Repercussão Geral
QUESTÃO Legitimidade dos Ministérios Públicos dos Estados e do Distrito
Federal para propor e atuar em recursos e meios de
impugnação de decisões judiciais em trâmite no Supremo
Tribunal Federal e no Superior Tribunal de Justiça, oriundos de
processos de sua atribuição, sem prejuízo da atuação do
Ministério Público Federal.

363
TESE Os Ministérios Públicos dos Estados e do Distrito Federal têm
legitimidade para propor e atuar em recursos e meios de
impugnação de decisões judiciais em trâmite no STF e no STJ,
oriundos de processos de sua atribuição, sem prejuízo da
atuação do Ministério Público Federal.
EMENTA Recurso extraordinário. 2. Repercussão Geral.
RESUMIDA Reconhecimento. Reafirmação da jurisprudência dominante. 3.
Constitucional. Ministério Público dos Estados e do Distrito
Federal e Territórios. Legitimidade para postular perante o STF
e o STJ. 4. Preliminares. Argumentos do Ministério Público
Estadual não considerados pelo STJ, e embargos de
declaração não conhecidos. A falta de prequestionamento e a
intempestividade do recurso extraordinário decorreriam da
recusa do Tribunal em conhecer das razões do MPE. A
legitimidade do MPE depende da interpretação das regras
constitucionais sobre o Ministério Público art. 127, § 1º, e art.
128, art. 129, CF. Questão que prescinde da apreciação de
matéria de fato. Preliminares rejeitadas. 5. Repercussão geral.
A avaliação da legitimidade dos Ministérios Públicos dos
Estados para pleitear perante o STF e o STJ é relevante dos
pontos de vista político, jurídico e social. Repercussão geral
reconhecida. 6. Legitimidade de MPE para postular no STF e no
STJ. Os Ministérios Públicos dos Estados e do Distrito Federal
e Territórios podem postular diretamente no STF e no STJ, em
recursos e meios de impugnação oriundos de processos nos
quais o ramo Estadual tem atribuição para atuar. Precedentes.
7. Jurisprudência consolidada do STF no sentido da
legitimidade do MPE. Reafirmação de jurisprudência.
Precedentes: Rcl 7.358, Rel. Min. Ellen Gracie, Tribunal Pleno,
j. 24.2.2011; MS 28.827, Rel. Min. Cármen Lúcia, 1ª Turma, j.
28.8.2012; RE-QO 593.727, Rel. Min. Cezar Peluso, Redator
para acórdão Min. Gilmar Mendes, Tribunal Pleno j. 21.6.2012;

364
ARE-ED-segundos 859.251, de minha relatoria, Tribunal Pleno,
j. 22.10.2015. 8. Fixação de tese: Os Ministérios Públicos dos
Estados e do Distrito Federal têm legitimidade para propor e
atuar em recursos e meios de impugnação de decisões judiciais
em trâmite no STF e no STJ, oriundos de processos de sua
atribuição, sem prejuízo da atuação do Ministério Público
Federal. 9. Caso concreto. Legitimidade do Ministério Público
do Estado do Rio Grande do Sul para oferecer razões e
embargos de declaração em habeas corpus afastada pelo STJ.
Cassação da decisão. 10. Recurso extraordinário a que se dá
provimento. Determinação de retorno dos autos ao STJ, para
que prossiga no julgamento do habeas corpus, considerando as
razões do MPRS.
(RE 985392 RG, Relator(a): GILMAR MENDES, Tribunal Pleno,
julgado em 25/05/2017, PROCESSO ELETRÔNICO
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-256 DIVULG 09-11-
2017 PUBLIC 10-11-2017)
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
TEMA Repetitivo 988
QUESTÃO Definir a natureza do rol do art. 1015 do CPC/2015 e verificar
possibilidade de sua interpretação extensiva, para se admitir a
interposição de agravo de instrumento contra decisão
interlocutória que verse sobre hipóteses não expressamente
versadas nos incisos do referido dispositivo do Novo CPC.
TESE O rol do art. 1.015 do CPC é de taxatividade mitigada, por isso
admite a interposição de agravo de instrumento quando
verificada a urgência decorrente da inutilidade do julgamento da
questão no recurso de apelação.

365
EMENTA (...) 1- O propósito do presente recurso especial, processado e
RESUMIDA julgado sob o rito dos recursos repetitivos, é definir a natureza
jurídica do rol do art. 1.015 do CPC/15 e verificar a possibilidade
de sua interpretação extensiva, analógica ou exemplificativa, a
fim de admitir a interposição de agravo de instrumento contra
decisão interlocutória que verse sobre hipóteses não
expressamente previstas nos incisos do referido dispositivo
legal.
2- Ao restringir a recorribilidade das decisões interlocutórias
proferidas na fase de conhecimento do procedimento comum e
dos procedimentos especiais, exceção feita ao inventário,
pretendeu o legislador salvaguardar apenas as "situações que,
realmente, não podem aguardar rediscussão futura em eventual
recurso de apelação".
3- A enunciação, em rol pretensamente exaustivo, das
hipóteses em que o agravo de instrumento seria cabível revela-
se, na esteira da majoritária doutrina e jurisprudência,
insuficiente e em desconformidade com as normas
fundamentais do processo civil, na medida em que sobrevivem
questões urgentes fora da lista do art. 1.015 do CPC e que
tornam inviável a interpretação de que o referido rol seria
absolutamente taxativo e que deveria ser lido de modo restritivo.
4- A tese de que o rol do art. 1.015 do CPC seria taxativo, mas
admitiria interpretações extensivas ou analógicas, mostra-se
igualmente ineficaz para a conferir ao referido dispositivo uma
interpretação em sintonia com as normas fundamentais do
processo civil, seja porque ainda remanescerão hipóteses em
que não será possível extrair o cabimento do agravo das
situações enunciadas no rol, seja porque o uso da interpretação
extensiva ou da analogia pode desnaturar a essência de
institutos jurídicos ontologicamente distintos.
5- A tese de que o rol do art. 1.015 do CPC seria meramente
exemplificativo, por sua vez, resultaria na repristinação do

366
regime recursal das interlocutórias que vigorava no CPC/73 e
que fora conscientemente modificado pelo legislador do novo
CPC, de modo que estaria o Poder Judiciário, nessa hipótese,
substituindo a atividade e a vontade expressamente externada
pelo Poder Legislativo.
6- Assim, nos termos do art. 1.036 e seguintes do CPC/2015,
fixa-se a seguinte tese jurídica: O rol do art. 1.015 do CPC é de
taxatividade mitigada, por isso admite a interposição de agravo
de instrumento quando verificada a urgência decorrente da
inutilidade do julgamento da questão no recurso de apelação.
7- Embora não haja risco de as partes que confiaram na
absoluta taxatividade com interpretação restritiva serem
surpreendidas pela tese jurídica firmada neste recurso especial
repetitivo, eis que somente se cogitará de preclusão nas
hipóteses em que o recurso eventualmente interposto pela parte
tenha sido admitido pelo Tribunal, estabelece-se neste ato um
regime de transição que modula os efeitos da presente decisão,
a fim de que a tese jurídica somente seja aplicável às decisões
interlocutórias proferidas após a publicação do presente
acórdão.
8- Na hipótese, dá-se provimento em parte ao recurso especial
para determinar ao TJ/MT que, observados os demais
pressupostos de admissibilidade, conheça e dê regular
prosseguimento ao agravo de instrumento no que tange à
competência.
9- Recurso especial conhecido e provido.
(REsp 1704520/MT, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, CORTE
ESPECIAL, julgado em 05/12/2018, DJe 19/12/2018)
CONEXÕES E
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10.2 JURISPRUDÊNCIA PERSUASIVA

367
TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 790
DESTAQUE DO A aplicação do art. 942 do CPC/2015 deve ser observada no
INFORMATIVO julgamento não unânime dos embargos de declaração na
hipótese em que, do julgamento dos embargos de declaração
opostos contra o acórdão de apelação unânime, surge
divergência que altera o resultado inicial.
TRECHOS DO De início, cabe ressaltar que a aplicação do art. 942 do CPC é
INFORMATIVO restrita aos casos de julgamento não unânime de recurso de
apelação, ação rescisória e agravo de instrumento, razão pela
qual, a princípio, a ampliação do quórum não deve ser
observada no julgamento não unânime dos embargos de
declaração, por falta de previsão legal.
Nesse sentido, a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça
defendeu que "as hipóteses de ampliação do quórum para o
julgamento do órgão colegiado são restritas, incidindo apenas
em caso de pronunciamento não unânime em apelação, em
ação rescisória ou em agravo de instrumento, sendo que,
quanto a este último, tão somente quando houver reforma da
decisão que julgar parcialmente o mérito (§ 3º, II, do art. 942 do
CPC). Especificamente no que se refere ao agravo de
instrumento, a interpretação restritiva do dispositivo impõe
concluir que a regra se dirige apenas às ações de
conhecimento, não se aplicando ao processo de execução e,
por extensão, ao cumprimento de sentença, como no caso".
(AgInt nos EDcl no REsp 1.942.440/SP, relator Ministro Raul
Araújo, Quarta Turma, julgado em 12/9/2022, DJe de
29/9/2022).
Por outro lado, há julgados que têm se consolidado
favoravelmente à ampliação do quórum na hipótese em que, do
julgamento dos embargos de declaração opostos contra o
acórdão de apelação unânime, surge divergência que altera o
resultado inicial. Ou seja, diante do efeito integrativo dos

368
embargos de declaração, o acórdão do recurso de apelação
deixaria de ser unânime, impondo a observância do art. 942 do
CPC.
Nesse sentido, veja-se: "a técnica de julgamento ampliado,
positivada no art. 942 do CPC, deve ser observada nos
embargos de declaração não unânimes decorrentes de acórdão
de apelação, quando a divergência for suficiente à alteração do
resultado inicial, pois o julgamento dos embargos constitui
extensão da própria apelação, mostrando-se irrelevante o
resultado majoritário dos embargos (se de rejeição ou se de
acolhimento, com ou sem efeito modificativo)" (AgInt no AREsp
n. 1.728.618/MS, relator Ministro Raul Araújo, Quarta Turma,
julgado em 26/10/2022, DJe de 17/11/2022).
Por fim, no caso, o julgamento dos embargos de declaração não
alterou o resultado do acórdão do recurso de apelação, desde
sempre não unânime, tanto que foi reconhecida neste voto a
possibilidade de interposição de embargos infringentes,
conforme defendido pelo recorrente. Logo, inaplicável o art. 942
do CPC.

REFERÊNCIA AREsp 2.214.392-SP, Rel. Ministro Francisco Falcão, Segunda


DO ACÓRDÃO Turma, por unanimidade, julgado em 3/10/2023, DJe 5/10/2023.
CONEXÕES E
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 788
DESTAQUE DO Não é cabível agravo interno contra decisão que indefere o
INFORMATIVO ingresso de terceiro na qualidade de amicus curiae em recurso
especial representativo de controvérsia.
TRECHOS DO Cinge-se a controvérsia a analisar o cabimento de agravo
INFORMATIVO interno contra decisão que indefere o ingresso de terceiro na

369
qualidade de amicus curiae em recurso especial representatitvo
de controvérsia.
Na doutrina, verifica-se que o cabimento do agravo interno
contra decisão que indefere o ingresso do amicus curiae no
feito tem encontrado defensores em dois sentidos: ora em favor
da irrecorribilidade, defendendo que "o art. 138, caput,
generalizou a inadmissibilidade do recurso próprio contra o ato
admitindo, ou não, a intervenção do amicus curiae,
excepcionando, nesse caso, o art. 1.015, IX, do NCPC", ora em
defesa da recorribilidade, firme no sentido de que "o juiz ou
relator poderá, 'por decisão irrecorrível', 'solicitar ou admitir' a
intervenção de amicus curiae. Vê-se, assim, que a lei
processual não estabelece a irrecorribilidade da decisão que
não admite a intervenção de amicus curiae, mas apenas
daquela que o admite.
De igual modo, nesta Corte, em um primeiro momento, a
Primeira Seção do STJ, sem maiores embates, em 22/3/2017,
no julgamento do AgRg na PET no REsp 1.336.026/PE (Rel.
Ministro Og Fernandes, Primeira Seção, DJe de 28/3/2017),
conheceu do agravo interno, interposto contra decisão que
inadmitira o ingresso no feito de amicus curiae, negando-lhe,
contudo, provimento.
Na mesma linha, no julgamento do AgInt na Pet no REsp
1.657.156/RJ (Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira
Seção, DJe de 3/10/2017), após amplo debate, em 27/9/2017,
a Primeira Seção também concluiu, por unanimidade, ser
cabível a interposição de agravo interno contra a decisão que
não admite a participação de terceiro como amicus curiae,
considerando irrecorrível apenas a decisão que solicita ou
admite tal participação, nos termos da interpretação literal dada
ao art. 138 do CPC.
Todavia, ainda que tal posição tenha sido vencedora, em um
primeiro momento, existem precedentes ? inclusive posteriores

370
aos mencionados julgamentos da Primeira Seção, ora no
sentido do não cabimento do recurso contra decisão que
indefere o pedido de ingresso de amicus curiae, ora no sentido
de seu cabimento.
A dissipar dúvidas sobre o tema, a Corte Especial do STJ, por
unanimidade, em 1º/8/2018, no julgamento da Questão de
Ordem no REsp 1.696.396/MT, afetado sob o rito dos recursos
repetitivos, decidiu que "a leitura do art. 138 do CPC/2015, não
deixa dúvida de que a decisão unipessoal que verse sobre a
admissibilidade do amicus curiae não é impugnável por agravo
interno, seja porque o caput expressamente a coloca como uma
decisão irrecorrível, seja porque o §1º expressamente diz que a
intervenção não autoriza a interposição de recursos, ressalvada
a oposição de embargos de declaração ou a interposição de
recurso contra a decisão que julgar o IRDR" (QO no REsp
1.696.396/MT, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Corte Especial,
DJe de 19/12/2018).

REFERÊNCIA AgInt na PET no REsp 1.908.497-RN, Rel. Ministra Assusete


DO ACÓRDÃO Magalhães, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em
13/9/2023, DJe 20/9/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 787
DESTAQUE DO É cabível agravo de instrumento contra a decisão que acolhe
INFORMATIVO embargos à monitória para excluir a parte dos litisconsortes
passivos, remanescendo o trâmite da ação monitória em face
de outro réu.
TRECHOS DO A controvérsia cinge-se ao exame de qual é o recurso cabível
INFORMATIVO contra decisão que acolheu os embargos à monitória de parte

371
dos litisconsortes passivos, para excluí-los da relação
processual, permanecendo, contudo, em trâmite a ação
monitória em relação a um dos réus.
No caso, a parte interpôs recurso de apelação, em razão da
previsão do art. 702, § 9º, do CPC/2015, segundo a qual, o
recurso cabível contra sentença que acolhe ou rejeita os
embargos à monitória, é a apelação. Entretanto, o Tribunal de
origem entendeu que, não encerrada a ação monitória, a parte
deveria ter interposto agravo de instrumento, nos termos dos
arts. 1.009, § 1º, e 1.015, VII, do CPC/2015.
De fato, não encerrada a fase de conhecimento da ação
monitória, o recurso cabível seria o agravo de instrumento. Isso
porque, segundo a jurisprudência do STJ, os embargos à
monitória - diversamente dos embargos do devedor - não são
uma ação autônoma, possuindo natureza jurídica de defesa,
semelhante à contestação.
Por conseguinte, tratando-se de peça defensiva e não uma
ação autônoma, seu julgamento, por si, não necessariamente
extingue o processo ou encerra a fase de conhecimento. Nessa
perspectiva, apenas é cabível o recurso de apelação, nos
termos do art. 702, § 9º, do CPC/2015, quando o acolhimento
ou a rejeição dos embargos à monitória ensejar um desses
resultados - extinguir a ação monitória ou encerrar a fase de
conhecimento.
Logo, contra decisão interlocutória excludente de alguns dos
litisconsortes passivos, cabe apenas agravo de instrumento.
Contudo, na situação em análise, a interposição de recurso de
apelação, em vez do agravo de instrumento não decorreu de
erro grosseiro. Com efeito, diante da previsão inserta no art.
702, § 9º, do CPC, cabe admitir a existência de dúvida objetiva
do aplicador do direito, em cujo favor milita o princípio da
fungibilidade recursal.

372
REFERÊNCIA REsp 1.828.657-RS, Rel. Ministro Antonio Carlos Ferreira,
DO ACÓRDÃO Quarta Turma, por unanimidade, julgado em 5/9/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 785
DESTAQUE DO Para a aplicação do art. 1.025 do CPC/2015 e para o
INFORMATIVO conhecimento das alegações da parte em sede de recurso
especial, é necessário: a) a oposição dos embargos de
declaração na Corte de origem; b) a indicação de violação do
art. 1.022 do CPC/2015 no recurso especial; e, c) a matéria
deve ser: i) alegada nos embargos de declaração opostos; ii)
devolvida a julgamento ao Tribunal a quo e; iii) relevante e
pertinente com a matéria.
TRECHOS DO Trata-se, em suma, de controvérsia relacionada à aplicação do
INFORMATIVO art. 1.025 do CPC, que assim dispõe: "Art. 1.025. Consideram-
se incluídos no acórdão os elementos que o embargante
suscitou, para fins de pré-questionamento, ainda que os
embargos de declaração sejam inadmitidos ou rejeitados, caso
o tribunal superior considere existentes erro, omissão,
contradição ou obscuridade".
Cumpre registrar que a previsão do art. 1.025 do Código de
Processo Civil de 2015 não invalidou o enunciado n. 211 da
Súmula do STJ (Inadmissível recurso especial quanto à questão
que, a despeito da oposição de embargos declaratórios, não foi
apreciada pelo Tribunal a quo).
Para que o art. 1.025 do CPC/2015 seja aplicado, e permita-se
o conhecimento das alegações da parte recorrente, é
necessário que haja a oposição dos embargos de declaração
na Corte de origem (e. 211/STJ) e indicação de violação do art.
1.022 do CPC/2015, no recurso especial (REsp n.

373
1.764.914/SP, relator Ministro Herman Benjamin, Segunda
Turma, julgado em 8/11/2018, DJe 23/11/2018). Além disso, a
matéria deve ser: i) alegada nos embargos de declaração
opostos (AgInt no REsp n. 1.443.520/RS, relator Ministro
Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Turma, julgado em
1º/4/2019, DJe 10/4/2019); ii) devolvida a julgamento ao
Tribunal a quo (AgRg no REsp n. 1.459.940/SP, relatora
Ministra Assusete Magalhães, Segunda Turma, julgado em
24/5/2016, DJe 2/6/2016) e; iii) relevante e pertinente com a
matéria (AgInt no AREsp n. 1.433.961/SP, relator Ministro
Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, julgado em
17/9/2019, DJe 24/9/2019).

REFERÊNCIA EDcl no AgInt no AREsp 2.222.062-DF, Rel. Ministro Francisco


DO ACÓRDÃO Falcão, Segunda Turma, por unanimidade, julgado em
21/8/2023, DJe 23/8/2023.
CONEXÕES E
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 783
DESTAQUE DO Não cabe recurso ordinário constitucional em sede de execução
INFORMATIVO em mandado de segurança.
TRECHOS DO O art. 105, II, b, da Constituição Federal prevê o cabimento de
INFORMATIVO recurso ordinário para o STJ, em "mandados de segurança
decididos em única instância pelos Tribunais Regionais
Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e
Territórios, quando denegatória a decisão".
As hipóteses de cabimento de recurso ordinário para o STJ,
delineadas no art. 105, II, da Constituição Federal, bem como
no art. 1.027, II, do CPC - que reproduz fielmente o texto
constitucional -, constituem rol taxativo. A mesma orientação é

374
adotada pelo STF, em relação ao recurso ordinário previsto no
art. 102, II, da Constituição Federal (RMS 36.462 AgR, Rel.
Ministro Luiz Fux, Tribunal Pleno, DJe de 23/4/2020).
Como já decidiu o STF, em situação análoga à dos autos, o "rol
de hipóteses de cabimento do recurso ordinário, do art. 102,
II, a, CF, é taxativo", razão pela qual deve-se reconhecer o "não
cabimento de recurso ordinário constitucional em sede de
execução em mandado de segurança" (STF, Pet 5.397 AgR,
Rel. Ministro Gilmar Mendes, Segunda Turma, DJe de
9/3/2015).
Por fim, tem-se entendido no STJ que o princípio da
fungibilidade recursal não é aplicável à situação em que o
recurso ordinário constitucional é manejado fora das hipóteses
taxativamente enumeradas no art. 105, II, do texto
constitucional.

REFERÊNCIA Pet 15.753-BA, Rel. Ministra Assusete Magalhães, Segunda


DO ACÓRDÃO Turma, por unanimidade, julgado em 15/8/2023.
CONEXÕES E
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 782
DESTAQUE DO A preclusão consumativa pela interposição de recurso enseja a
INFORMATIVO inadmissibilidade do segundo inconformismo interposto pela
mesma parte e contra o mesmo julgado, pouco importando se
o recurso posterior é o adequado para impugnar a decisão e
tenha sido interposto antes de decorrido o prazo recursal.
TRECHOS DO A controvérsia visa definir se a interposição do recurso correto
INFORMATIVO antes de decorrido o prazo recursal contra decisão já
impugnada anteriormente pela mesma parte, mas por meio de
recurso descabido - e que, por isso, não mereceu conhecimento

375
-, teria o condão de suplantar o malferimento ao princípio da
unirrecorribilidade.
O sistema recursal do ordenamento jurídico pátrio é regido pelo
princípio da singularidade (unirrecorribilidade ou unicidade
recursal). Por outro lado, a doutrina leciona que há violação ao
princípio em voga quando a parte interpõe, sucessiva ou
concomitantemente, duas espécies recursais contra a mesma
decisão.
No âmbito da jurisprudência do STJ, é pacífica a encampação
do mencionado princípio, asseverando-se que, havendo a sua
violação, pela interposição de dois recursos de natureza
diversas contra a mesma decisão e pela mesma parte, ficará
caracterizada a preclusão consumativa quanto ao segundo
recurso interposto.
No caso, o Tribunal de origem consignou que "não há se cogitar
de violação ao princípio da unirrecorribilidade, tendo em vista
que, conquanto a recorrente tenha anteriormente impugnado a
sentença por meio de recurso impróprio (Agravo de
Instrumento), que não foi conhecido, o recurso de apelação foi
interposto tempestivamente".
Todavia, impende destacar que o teor do parágrafo único do art.
932 do CPC/2015 não ampara a interposição de um novo
recurso, em substituição ao anterior que se revelou descabido,
por inequívoca ocorrência da preclusão consumativa. Os vícios
passíveis de saneamento, que se atêm aos aspectos
estritamente formais, devem se referir ao mesmo recurso, não
possibilitando a interposição de um novo, em substituição ao
recurso anterior que tenha se revelado descabido para
impugnar a decisão combatida.
Nesse contexto, ressai incontestável a inadmissibilidade da
apelação interposta no caso. Houve violação ao princípio da
unirrecorribilidade pela interposição de agravo de instrumento

376
anterior contra a mesma decisão que extinguiu o cumprimento
de sentença, a caracterizar a preclusão consumativa.
Portanto, é de se concluir que a antecedente preclusão
consumativa proveniente da interposição de um recurso contra
determinada decisão enseja a inadmissibilidade do segundo
recurso, simultâneo ou subsequente, interposto pela mesma
parte e contra o mesmo julgado, haja vista a violação ao
princípio da unirrecorribilidade, pouco importando se o recurso
posterior seja o adequado para impugnar a decisão e tenha sido
interposto antes de decorrido, objetivamente, o prazo recursal.

REFERÊNCIA REsp 2.075.284-SP, Rel. Ministro Marco Aurélio Bellizze,


DO ACÓRDÃO Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 8/8/2023.
CONEXÕES E
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 782
DESTAQUE DO É desnecessário aguardar o trânsito em julgado para a
INFORMATIVO aplicação do paradigma firmado em sede de recurso repetitivo.
TRECHOS DO Havendo decisão firmada pelo STJ para o tema debatido em
INFORMATIVO recurso especial, invoca-se a compreensão já estabelecida, no
sentido de que é desnecessário aguardar o trânsito em julgado
para a aplicação do decisum paradigma. Nesse sentido, veja-
se o seguinte precedente:
"PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO
ESPECIAL. ENUNCIADO ADMINISTRATIVO N. 3/STJ.
SERVIDOR PÚBLICO. SUSPENSÃO DO PROCESSO EM
RAZÃO DA AUSÊNCIA DE TRÂNSITO EM JULGADO DO RE
N. 870.947/SE. DESNECESSIDADE. PRECEDENTES.
PRETENSÃO DE SOBRESTAMENTO DO PROCESSO ATÉ O
JULGAMENTO DOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO

377
OPOSTOS NO RE N. 870.947/SE PARA MODULAÇÃO DOS
EFEITOS DA DECISÃO. AFASTADA A MODULAÇÃO DOS
EFEITOS PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL NA
SESSÃO REALIZADA EM 3/10/2019. AGRAVO INTERNO
NÃO PROVIDO. 1. A orientação do STJ é no sentido de ser
desnecessário aguardar o trânsito em julgado para a aplicação
do paradigma firmado em sede de recurso repetitivo ou de
repercussão geral. Precedentes. 2. Ademais, importante
destacar que o Supremo Tribunal Federal, na sessão realizada
em 3/10/2019, rejeitou todos os embargos de declaração e
afastou, por maioria, o pedido de modulação dos efeitos da
decisão proferida no RE n. 870.947/SE. 3. Agravo interno não
provido" (AgInt no AREsp n. 1.346.875/PE, Rel. Ministro Mauro
Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 29.10.2019).

REFERÊNCIA AgInt no REsp 2.060.149-SP, Rel. Ministro Herman Benjamin,


DO ACÓRDÃO Segunda Turma, por unanimidade, julgado em 8/8/2023.
CONEXÕES E
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 781
DESTAQUE DO Não cabe agravo interno contra decisão que, ao reconhecer que
INFORMATIVO houve em agravo em recurso especial a integral refutação dos
fundamentos adotados no juízo de admissibilidade feito na
origem, determina a sua reautuação como recurso especial.
TRECHOS DO A decisão que, ao reconhecer que houve, em agravo em
INFORMATIVO recurso especial, a integral refutação dos fundamentos
adotados no juízo de admissibilidade feito na origem, determina
a sua reautuação como recurso especial não importa prejuízo à
parte contrária na medida em que se circunscreve a determinar,
em última análise, o processamento regular do apelo raro, certo

378
de que esse processamento pode resultar, inclusive, em nova
análise da admissibilidade e, com isso, em novo juízo
denegatório.
Assim, ante a inexistência de lesividade da decisão não se
conhece do consequente agravo interno: "(...) 3. Nos termos do
art. 258, § 2º, do RISTJ, não cabe 'agravo regimental da decisão
do relator que der provimento a agravo de instrumento, para
determinar a subida de recurso não admitido'. A disposição se
aplica, por analogia, aos casos em que determinada a
conversão de agravo em recurso especial. 4. A jurisprudência
do STJ apenas admite que a regra seja mitigada quando restar
comprovada a existência de vícios relativos à admissibilidade
do próprio agravo, hipótese não configurada no caso dos autos.
5. Agravo interno não conhecido" (AgInt no AREsp n.
2.190.540/RS, relator Ministro Mauro Campbell Marques,
Segunda Turma, julgado em 20/3/2023, DJe de 23/3/2023).

REFERÊNCIA AgInt no AgInt no AREsp 2.119.020-CE, Rel. Ministro Mauro


DO ACÓRDÃO Campbell Marques, Segunda Turma, por unanimidade, julgado
em 22/5/2023, DJe 24/5/2023.
CONEXÕES E
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 780
DESTAQUE DO Os embargos de declaração interrompem o prazo apenas para
INFORMATIVO a interposição de recurso, não sendo possível conferir
interpretação extensiva ao art. 1.026 do Código de Processo
Civil a fim de estender o significado de recurso a quaisquer
defesas apresentadas.

379
TRECHOS DO Cinge-se a controvérsia a determinar se a oposição de
INFORMATIVO embargos de declaração interrompe o prazo para apresentação
de qualquer defesa, em interpretação extensiva do art. 1.026 do
Código de Processo Civil, segundo o qual, "os embargos de
declaração não possuem efeito suspensivo e interrompem o
prazo para a interposição de recurso".
Essa espécie de interpretação decorre da carência de amplitude
da lei, que não abrange o necessário para atender o caso
concreto. Trata-se de uma técnica interpretativa na qual o
magistrado amplia o sentido da norma, de forma a alcançar uma
situação que, a princípio, não seria objeto dela. Ela não cria
direito novo, mas apenas identifica o verdadeiro conteúdo e
alcance da lei, que não teria sido suficientemente expresso no
texto normativo.
Nessa perspectiva, é forçoso concluir pelo não cabimento de
interpretação extensiva da regra contida no art. 1.026 do CPC,
sob pena de verdadeira usurpação da função legislativa pelo
Poder Judiciário, tendo em vista que o termo "recurso" não dá
margem para o intérprete validamente extrair o sentido de
"defesa ajuizada pelo devedor".
No mais, esta Corte Superior possui entendimento pacífico de
que o rol de recursos, previsto no art. 994 do CPC, é taxativo.
Assim, por serem taxativas as hipóteses legais de recurso, não
é possível atribuir interpretação extensiva ao texto normativo.
Desse modo, confere-se previsibilidade e coerência na
aplicação da lei, em observância à segurança jurídica que deve
permear a hermenêutica das normas processuais.

REFERÊNCIA REsp 1.822.287-PR, Rel. Ministro Antonio Carlos Ferreira,


DO ACÓRDÃO Quarta Turma, por maioria, julgado em 6/6/2023.
CONEXÕES E
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380
TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 780
DESTAQUE DO A oposição de embargos de divergência fundado em acórdão
INFORMATIVO paradigma do mesmo órgão julgador que proferiu a decisão
embargada somente é admitida quando houver a alteração de
mais da metade dos seus membros.
TRECHOS DO Os embargos de divergência não foram admitidos, diante da
INFORMATIVO impossibilidade de se discutir dissídio jurisprudencial no âmbito
da própria Turma julgadora que prolatou o acórdão embargado.
Isso porque o requisito da diversidade orgânica exige que os
acórdãos embargado e paradigma tenham sido julgados por
órgão fracionário diverso do que proferiu a decisão embargada.
Desse modo, os embargos de divergência se revelaram
incabíveis, aplicando-se, por analogia, o óbice do enunciado da
Súmula n. 353 do STF, que proclama a inadmissibilidade dessa
espécie recursal quando deduzida com fundamento em
divergência entre decisões da mesma Turma do Supremo
Tribunal Federal.
Como se sabe, somente é possível a oposição de embargos de
divergência fundado em acórdão paradigma da mesma Turma
que proferiu a decisão embargada quando houver a alteração
de mais da metade dos seus membros (art. 1.043, § 3º, do
CPC), o que não ocorreu.

REFERÊNCIA AgInt nos EAREsp 2.095.061-SP, Rel. Ministro Moura Ribeiro,


DO ACÓRDÃO Segunda Seção, por unanimidade, julgado em 30/5/2023, DJe
1º/6/2023.
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 778

381
DESTAQUE DO Em consonância com o princípio da cooperação processual, é
INFORMATIVO indispensável ao reconhecimento da deserção que o juiz intime
a parte para regularizar o preparo - especificando qual o
equívoco deverá ser sanado.
TRECHOS DO O Código de Processo Civil de 2015, inspirado no princípio da
INFORMATIVO primazia do julgamento de mérito (art. 4º), voltado à superação
de vícios processuais sanáveis, passou a admitir a
regularização do preparo não só na hipótese de recolhimento a
menor do respectivo valor, mas, também, nos casos de
ausência de comprovação do recolhimento no ato da
interposição do recurso. É o que dispõem os §§ 2º e 4º do art.
1.007 do CPC/2015.
Nesse caso, o recorrente será intimado para realizar o
recolhimento em dobro; naquele, a intimação será apenas para
complementar o respectivo valor. Ademais, nos termos do § 5º
do art. 1.007 do CPC/2015, "É vedada a complementação se
houver insuficiência parcial do preparo, inclusive porte de
remessa e de retorno, no recolhimento realizado na forma do §
4º".
Dessa forma, caso o recorrente, no momento da interposição
do recurso, não comprove o recolhimento do preparo ou efetue
o pagamento de valor insuficiente, terá o direito de ser intimado,
antes do reconhecimento da deserção.
Em tal circunstância, houve interposição de apelação e,
passadas duas horas desse ato, o recorrente juntou o
comprovante de pagamento do preparo relativo a outro recurso
interposto no processo conexo.
Antes de qualquer intimação, o recorrente protocolou petição
juntando o comprovante de pagamento do preparo do processo
correto, o qual foi realizado também na data do protocolo da
apelação, ou seja, em momento posterior à interposição do
recurso. Assim, como não houve o recolhimento do preparo no
ato da interposição do recurso, pois o pagamento do valor foi

382
feito após o protocolo da apelação, seria o caso de intimação
da parte para recolher em dobro, nos termos do § 4º do art.
1.007 do CPC/2015.
O Tribunal de origem, por sua vez, não oportunizou a intimação
para regularizar a situação, sob o fundamento de que "a parte
apelante interpôs o recurso desacompanhado de comprovação
de qualquer valor a título de preparo e, posteriormente, efetuou
o recolhimento em valor insuficiente, visto que não procedeu
com o recolhimento com base no proveito econômico
pretendido e nem sequer recolheu na forma dobrada", sendo o
caso, portanto, de aplicação da regra do § 5° do art. 1.007 do
CPC/2015, que estabelece ser "vedada a complementação se
houver insuficiência parcial do preparo, inclusive porte de
remessa e de retomo, no recolhimento realizado na forma do §
4º".
Ocorre que a parte recorrente tem o direito de ser intimada para
regularizar eventual vício no recolhimento do preparo, nos
termos do que dispõe o art. 1.007, §§ 2º e 4º, do CPC/2015,
devendo o Magistrado esclarecer, inclusive, o que deverá ser
feito para regularizar a situação, em consonância com o
princípio da cooperação processual, estabelecido no art. 6º do
CPC/2015 ("Todos os sujeitos do processo devem cooperar
entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de
mérito justa e efetiva").
Logo, a manifestação espontânea da apelante, ao juntar o
comprovante pertinente ao recurso correto, ainda que em valor
insuficiente, não tem o condão de suprir a necessidade de
intimação para regularização do vício, que constitui direito da
parte, o qual não deve ficar submetido a juízo de
discricionariedade do magistrado.

383
REFERÊNCIA REsp 1.818.661-PE, Rel. Ministro Marco Aurélio Bellizze,
DO ACÓRDÃO Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 23/5/2023, DJe
25/5/2023.
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 778
DESTAQUE DO O ato judicial que determina o sobrestamento e o retorno dos
INFORMATIVO autos à Corte de origem, a fim de que exerça o juízo de
retratação/conformação (arts. 1.040 e 1.041 do CPC/2015), não
possui carga decisória e, por isso, constitui provimento
irrecorrível.
TRECHOS DO Trata-se de agravo interno interposto contra decisão
INFORMATIVO monocrática que decidiu pelo retorno dos autos para
rejulgamento do recurso integrativo, considerando que o
Supremo Tribunal Federal, no RE 1.317.982, Rel. Ministro
Nunes Marques, apreciará sob o Tema n. 1170/STF. A
controvérsia, para tanto, consiste em definir se aplicável a
"validade dos juros moratórios nas condenações da Fazenda
Pública, em virtude da tese firmada no RE 870.947 (Tema 810),
na execução de título judicial que tenha fixado expressamente
índice diverso", à luz dos arts. 5º, XXXV, XXXVI e LIV, da
Constituição Federal.
A admissão desse apelo impõe que os recursos interpostos na
Corte de origem que tratem da mesma questão central fiquem
suspensos até o pronunciamento definitivo daquele Tribunal,
para que, após, possa a Corte a quo, caso haja necessidade,
proceder ao juízo de retratação previsto na legislação
processual.
Nos termos da jurisprudência do STJ, a decisão atacada não é
recorrível. Nesse sentido, a Quarta Turma desta Corte já decidiu

384
que "A decisão de sobrestamento, com determinação de
retorno dos autos ao tribunal de origem, a fim de que lá seja
exercido o juízo de conformidade (arts. 1.040 e 1.041 do
CPC/2015), não possui carga decisória, sendo portanto
irrecorrível, salvo se demonstrado, efetivamente, erro ou
equívoco patente" (AgInt nos EDcl no REsp 1.996.955/RS,
relator Ministro Marco Buzzi, Quarta Turma, julgado em
14/11/2022, DJe de 21/11/2022).

REFERÊNCIA AgInt no AgInt no AREsp 2.208.198-AM, Rel. Ministro Mauro


DO ACÓRDÃO Campbell Marques, Segunda Turma, por unanimidade, julgado
em 15/5/2023, DJe 18/5/2023.
CONEXÕES E
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 778
DESTAQUE DO Argumentos em obiter dictum não se prestam a caracterizar
INFORMATIVO divergência jurisprudencial para fins de embargos de
divergência.
TRECHOS DO Os embargos de divergência têm por escopo uniformizar a
INFORMATIVO jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, em razão da
adoção de teses conflitantes por seus órgãos fracionários,
cabendo ao embargante a comprovação do dissídio, com a
demonstração da identidade fática entre os casos confrontados
e a adoção de soluções jurídicas díspares, nos moldes
estabelecidos no art. 266 combinado com o art. 255, § 1º, do
RISTJ.
Conforme aponta o acórdão embargado da Segunda Turma, no
caso, discute-se "o critério legal de repartição das receitas
tributárias aos Municípios de Igrejinha e Três Coroas,
especificamente em relação à distribuição dos valores

385
recolhidos a título de ICMS, IPI, IR e IPI (FPM), e ISS,
decorrentes do exercício da atividade empresarial pela
Schincariol, tendo em vista que está situada entre os dois
municípios".
O recurso especial, todavia, não foi conhecido, por incidência
da Súmula 211/STJ. Considerou-se, também, que não foi
impugnado fundamento do acórdão local, fazendo incidir
também a Súmula 283/STF. Verifica-se, ainda, a ausência de
similitude fática para fins de conhecimento do recurso pela
alínea c do permissivo constitucional.
No entanto, na decisão, em análise preliminar, foi considerado
que o voto-vista lançado no acórdão proferido pela Segunda
Turma adentrou nas considerações de mérito sobre a questão
controvertida, nos termos da hipótese encartada no inciso III do
art. 1.043 do CPC/2015, segundo o qual: "É embargável o
acórdão de órgão fracionário que [...] em recurso extraordinário
ou em recurso especial, divergir do julgamento de qualquer
outro órgão do mesmo tribunal, sendo um acórdão de mérito e
outro que não tenha conhecido do recurso, embora tenha
apreciado a controvérsia."
Em sede de cognição exauriente, todavia, verifica-se que, de
fato, o recurso não pode ser conhecido, haja vista que a
manifestação a respeito do mérito da controvérsia se deu em
caráter de obiter dictum, restando prejudicada a efetiva análise,
pelo colegiado embargado, da controvérsia levantada. Apesar
de ter aventado tese distinta daquela adotada no acórdão do
Tribunal local, o voto-vista se alinhou integralmente ao voto do
relator no sentido de que a apreciação efetiva da controvérsia
restou impossibilitada pela incidência dos óbices processuais
das Súmulas 211/STJ e 283/STF.
Portanto, não se encontra satisfeita a condição para o
conhecimento dos embargos de divergência prevista no art.
1.043, III, do CPC.

386
REFERÊNCIA EREsp 1.695.521-RS, Rel. Ministro Benedito Gonçalves,
DO ACÓRDÃO Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 24/5/2023, DJe
1º/6/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 777
DESTAQUE DO A oposição de embargos de declaração não interrompe o prazo
INFORMATIVO para a interposição de agravo em recurso especial, único
recurso cabível contra decisão que não admite o seguimento
deste último.
TRECHOS DO Cinge-se a controvérsia a determinar o cabimento da oposição
INFORMATIVO de embargos de declaração contra decisão que, em exame
prévio de admissibilidade, não admite o recurso especial e
definir se ocorre a interrupção do prazo para a interposição de
posteriores recursos, em particular, do agravo em recurso
especial.
A questão jurídica decorre do fato de o legislador ter promovido
a inclusão expressa do termo "qualquer decisão judicial" na
redação do artigo 1.022 do Código de Processo Civil ao tratar
das hipóteses de cabimento dos embargos de declaração.
Mesmo após a entrada em vigor do Código de Processo Civil
de 2015, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça
manteve-se no sentido de não admitir o cabimento dos
embargos de declaração contra decisões denegatórias do
seguimento de recurso especial em exame de prelibação e,
nessa esteira, de refutar o efeito interruptivo dos embargos para
a interposição de novos recursos.

387
Além disso, a Corte Especial já se debruçou sobre o tema em
apreço em mais de uma oportunidade, sempre concluindo pela
prevalência da orientação jurisprudencial supramencionada.

REFERÊNCIA AgInt no AREsp 1.216.265-SE, Rel. Ministro Ricardo Villas Bôas


DO ACÓRDÃO Cueva, Terceira Turma, por unanimidade, julgado em
22/5/2023, DJe 25/5/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 777
DESTAQUE DO Interposto recurso especial ou recurso extraordinário contra o
INFORMATIVO acórdão que julgou o Incidente de Resolução de Demanda
Repetitiva - IRDR, os efeitos deste ficam suspensos enquanto
não julgado o recurso excepcional (art. 982, § 5º, do CPC),
hipótese em que não cabe reclamação.
TRECHOS DO Interposto recurso especial ou recurso extraordinário contra o
INFORMATIVO acórdão que julgou o Incidente de Resolução de Demanda
Repetitiva - IRDR, a suspensão dos processos só cessará com
o julgamento dos referidos recursos, não sendo necessário,
entretanto, aguardar o trânsito em julgado (REsp 1.869.867/SC,
Rel. Ministro Og Fernandes, Segunda Turma, DJe 3/5/2021).
A decisão que não aplica de imediato o comando do IRDR
desafiado por apelo especial não ofende a autoridade daquele,
uma vez que os efeitos do incidente se encontram suspensos
enquanto não julgado o recurso excepcional (art. 982, § 5º, do
CPC), ou seja, não havendo IRDR com força obrigatória em
vigor, não se estaria diante de nenhuma das hipóteses de
reclamação (art. 988 do CPC).
Embora haja decisões do STJ no sentido de não ser necessário
aguardar o trânsito em julgado de matéria firmada em IRDR

388
para sua aplicação, esse entendimento é mais adequado aos
casos em que a coisa julgada só não se formou porque
pendente o exame de embargos de declaração ou petição
autônoma, mas não nas hipóteses em que pendente o
julgamento do próprio recurso excepcional (art. 982, § 5º, do
CPC).

REFERÊNCIA REsp 1.976.792-RS, Rel. Ministro Gurgel de Faria, Primeira


DO ACÓRDÃO Turma, por unanimidade, julgado em 18/5/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 770
DESTAQUE DO É manifesto o prejuízo causado pelo julgamento, por Órgão
INFORMATIVO Colegiado, de embargos declaratórios opostos contra decisão
monocrática, pois desrespeitou a competência legalmente
estabelecida para o julgamento do recurso (art. 1.024, § 2.º, do
CPC) e inviabilizou o exaurimento da jurisdição ordinária
(Súmula n. 281/STF).
TRECHOS DO No silêncio do Código de Processo Penal, o Código de
INFORMATIVO Processo Civil é aplicado de forma subsidiária, e este dispõe,
expressamente, em seu art. 1.024, § 2º, que: "quando os
embargos de declaração forem opostos contra decisão de
relator ou outra decisão unipessoal proferida em tribunal, o
órgão prolator da decisão embargada decidi-los-á
monocraticamente".
Por isso, o julgamento, por Órgão Colegiado, dos embargos de
declaração opostos contra decisão monocrática, evidencia
notório desrespeito da competência legalmente prevista para o
julgamento do recurso integrativo.

389
Destaca-se, ainda, que tal erro procedimental não foi o único e,
no caso, a inobservância das formas legais causou nítido
prejuízo à Defesa, não sendo possível o seu aproveitamento.
Outrossim, observa-se que o julgamento dos embargos de
declaração não se limitou a mencionar os fundamentos
empregados na decisão monocrática embargada para concluir
pela ausência de omissão do julgado, mas também declinou
argumentação própria no sentido de demonstrar o acerto
do decisum, como um todo.
Assim, apesar de a defesa ter se restringido a alegar a
ocorrência de omissão - sem impugnar todos os fundamentos
da decisão monocrática -, o Órgão Colegiado, claramente, foi
muito além do estreito âmbito de discussão dos aclaratórios,
pois, em vez de se limitar à análise do suposto vício apontado,
adentrou no mérito da controvérsia para revisar a matéria e
referendar a conclusão adotada monocraticamente. Portanto,
em que pese isso não tenha sido dito expressamente pelo
Tribunal de origem, os embargos de declaração foram
nitidamente julgados como agravo regimental, sem que fosse
oportunizada à defesa a complementação das razões recursais.
Houve, assim, flagrante cerceamento de defesa, na medida em
que os aclaratórios foram julgados como agravo regimental,
mas sem a observância do art. 1.024, § 3º, do Diploma
Processual Civil, segundo o qual: "[o] órgão julgador conhecerá
dos embargos de declaração como agravo interno se entender
ser este o recurso cabível, desde que determine previamente a
intimação do recorrente para, no prazo de 5 (cinco) dias,
complementar as razões recursais, de modo a ajustá-las às
exigências do art. 1.021, § 1º ".
Nesse contexto, é manifesto o prejuízo causado pelo
julgamento dos embargos declaratórios como agravo interno
pelo Órgão Colegiado, que, de uma só vez, cerceou o direito de
defesa, ao não oportunizar a complementação das razões

390
recursais (art. 1.024, § 3º, do CPC), bem assim ao impedir o
acesso às instâncias extraordinárias, na medida em que
inviabilizou o necessário exaurimento da jurisdição ordinária
(Súmula 281/STF). Isso porque, o julgamento colegiado dos
embargos de declaração, opostos contra a decisão monocrática
que julgara improcedente a revisão criminal, inviabilizou a
interposição de agravo regimental na origem, uma vez que esse
recurso não é cabível contra acórdãos, mas tão somente contra
decisões unipessoais.
Por fim, explica-se, a esse respeito, que o julgamento colegiado
de embargos de declaração opostos contra decisão
monocrática não tem sido aceito pela jurisprudência desta Corte
Superior para efeito de esgotamento das vias ordinárias, no
juízo de admissibilidade do recurso especial.

REFERÊNCIA AgRg no AREsp 2.173.912-RJ, Rel. Ministra Laurita Vaz, Sexta


DO ACÓRDÃO Turma, por unanimidade, julgado em 21/3/2023, DJe 28/3/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 770
DESTAQUE DO É irrecorrível o pronunciamento jurisdicional que, no Superior
INFORMATIVO Tribunal de Justiça, delibera acerca do pedido de retirada do
feito da sessão de julgamento virtual.
TRECHOS DO É assente, neste Superior Tribunal de Justiça, que o
INFORMATIVO pronunciamento jurisdicional que, nesta Corte, delibera acerca
da inclusão, ou não, do feito em sessão de julgamento virtual
(arts. 184-C e 184-F, § 2º, ambos do Regimento Interno do
Superior Tribunal de Justiça) tem natureza jurídica de
despacho, sendo, por isso mesmo, irrecorrível.

391
Ainda que o pronunciamento do juiz verse a respeito de um
requerimento da parte, tal circunstância não o torna,
automaticamente, uma decisão. Não por acaso, prevê o art.
203, § 3º, do Código de Processo Civil, aplicável, in casu, que
"[s]ão despachos todos os demais pronunciamentos do juiz
praticados no processo, de ofício ou a requerimento da parte".
Não havendo carga decisória no ato praticado pelo magistrado,
ou seja, não se decidindo sobre nenhum aspecto da pretensão
veiculada pela parte, o pronunciamento jurisdicional só pode ser
classificado como despacho. Assim sendo, o ato não será
objeto de recurso, consoante prevê a norma insculpida no art.
1.001 do Código de Processo Civil ("[d]os despachos não cabe
recurso").
Tal compreensão é matéria pacífica no âmbito das Cortes de
Vértice. Deste Superior Tribunal de Justiça, a título ilustrativo,
destaca-se o julgamento do AgRg no RtPaut no AREsp
2.186.572/RJ, Rel. Ministro Joel Ilan Paciornik, Quinta Turma,
DJe 15/12/2022.
De todo modo, não se constata prejuízo no julgamento virtual
do agravo regimental interposto contra a decisão monocrática
que julgou prejudicado o habeas corpus, sobretudo pela
possibilidade do encaminhamento de memoriais e de
sustentação oral (art. 184-B, § 1º, do RISTJ), ambos acessíveis
a todos os integrantes do Órgão Colegiado.

REFERÊNCIA AgRg no HC 707.060-RS, Rel. Ministra Laurita Vaz, Sexta


DO ACÓRDÃO Turma, por unanimidade, julgado em 21/3/2023, DJe 28/3/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 766

392
DESTAQUE DO O julgamento dos embargos de declaração, quando opostos
INFORMATIVO contra acórdão proferido pelo órgão em composição ampliada,
deve observar o mesmo quórum (ampliado), sob pena de o
entendimento lançado, antes minoritário, poder sagrar-se
vencedor.
TRECHOS DO Cinge-se a controvérsia a examinar se o julgamento dos
INFORMATIVO embargos de declaração opostos contra acórdão proferido pelo
colegiado ampliado também deve observar a sistemática do art.
942 do Código de Processo Civil.
De acordo com a doutrina, "dispõe o art. 942 que, não sendo
unânime o resultado da apelação, o julgamento não se
encerrará com a coleta dos votos dos três juízes que formam a
turma julgadora. Terá prosseguimento em nova sessão para a
qual serão convocados outros julgadores, na forma do
regimento interno, em número suficiente para 'garantir a
possibilidade de inversão do resultado inicial'. Assim, no
julgamento por turma de três juízes, dois serão convocados
para o prosseguimento do julgamento, em sessão que
assegurará às partes o direito de sustentar oralmente suas
razões perante os novos julgadores".
Como já exaustivamente afirmado por esta Corte e pela
doutrina, a técnica disciplinada no art. 942 do CPC não
disciplina um novo recurso, mas um simples incidente de
ampliação do julgamento iniciado, a ser aplicado de ofício,
independentemente de requerimento, com o objetivo de
aprofundar a discussão a respeito da questão jurídica
controvertida.
De forma uníssona, cita-se, ainda, os seguintes enunciados das
Jornadas do Centro de Estudos Judiciários - CEJ (Conselho da
Justiça Federal - CNJ) e do Fórum Permanente de
Processualistas Civis - FPPC: Jornada CEJ/CJF, Enunciado
137: "Se o recurso do qual se originou a decisão embargada
comportou a aplicação da técnica do art. 942 do CPC, os

393
declaratórios eventualmente opostos serão julgados com a
composição ampliada". FPPC, Enunciado 700: "O julgamento
dos embargos de declaração contra o acórdão proferido pelo
colegiado ampliado será feito pelo mesmo órgão com colegiado
ampliado".
É esse o entendimento que deve prevalecer no caso. À luz do
que disciplina o art. 942 do CPC, é inegável que o julgamento
pela maioria determina, nas hipóteses legais, uma nova
composição para o órgão julgador.
Desse modo, há que se frisar que, em razão da precípua
finalidade integrativa, os embargos de declaração devem ser
julgados pelo mesmo órgão que prolatou a decisão recorrida.
Assim, conclui-se que o julgamento dos embargos de
declaração, quando opostos contra acórdão proferido pelo
órgão em composição ampliada, deve observar o mesmo
quórum (ampliado), sob pena de, por outro lado, a depender da
composição do órgão julgador, o entendimento lançado, antes
minoritário, poder sagrar-se vencedor se, excepcionalmente,
forem atribuídos efeitos infringentes aos aclaratórios.

REFERÊNCIA Processo em segredo de Justiça, Rel. Ministro Paulo de Tarso


DO ACÓRDÃO Sanseverino, Terceira Turma, por maioria, julgado em 7/3/2023.
CONEXÕES E
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 765
DESTAQUE DO Não possui legitimidade para a propositura da ação rescisória
INFORMATIVO de título judicial condenatório o terceiro, pessoa jurídica distinta
daquela que sucedeu a parte ré no processo originário,
indevidamente incluído no polo passivo na fase de cumprimento
de sentença.

394
TRECHOS DO A controvérsia resume-se a saber se o banco que integra o
INFORMATIVO mesmo conglomerado econômico de pessoa jurídica que
incorporou outra instituição financeira possui legitimidade para
o ajuizamento de ação rescisória visando à desconstituição de
título judicial condenatório proferido contra esta.
No caso, em que pese ter sido admitida a existência de
documento oficial emitido pelo Banco Central do Brasil por meio
do qual se conclui que a instituição financeira não foi
incorporada pelo banco, mas por outra pessoa jurídica que
integra o mesmo conglomerado econômico, foi reconhecida a
legitimidade do banco, pois teria sido quem foi indicado como
parte executada no pedido de cumprimento de sentença.
A legitimidade para a propositura da ação rescisória não pode
ser definida a partir da constatação de quem está respondendo,
ainda que indevidamente, ao pedido de cumprimento de
sentença, senão pela averiguação de quem foi diretamente
alcançado pelos efeitos da coisa julgada formada na decisão
rescindenda, ou seja, quem integrava a relação jurídico-
processual na demanda originária da qual resultou o título
judicial que se busca rescindir.
Nos termos do art. 967 do Código de Processo Civil de 2015,
são legitimados para a propositura de ação rescisória quem foi
parte no processo ou o seu sucessor a título universal ou
singular, o terceiro juridicamente interessado, o Ministério
Público e aquele que não foi ouvido no processo em que lhe era
obrigatória a intervenção.
O fato de ter sido apresentado pedido de cumprimento de
sentença contra pessoa jurídica distinta daquela que sucedeu a
parte ré no processo originário não serve ao propósito de lhe
conferir legitimidade para a propositura da ação rescisória, nem
sequer sob a condição de terceiro interessado, tendo em vista
que o interesse capaz de conferir legitimidade ativa ao terceiro
é apenas o jurídico, e não o meramente econômico.

395
Ainda sob a disciplina do revogado art. 487, II, do Código de
Processo Civil de 1973, que também conferia legitimidade ao
terceiro juridicamente interessado para propor ação rescisória,
esta Corte Superior de Justiça bem delimitou o conceito de
"interesse jurídico" para fins de aplicação do referido preceito
legal, no sentido de que "revela-se pela titularidade de relação
jurídica conexa com aquela sobre a qual dispôs sentença
rescindenda, bem como pela existência de prejuízo jurídico
sofrido".
Assim, deve ser julgada extinta a ação rescisória ajuizada pelo
banco, por ilegitimidade ativa ad causam.

REFERÊNCIA REsp 1.844.690-CE, Rel. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva,


DO ACÓRDÃO Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 14/2/2023.
CONEXÕES E
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 764
DESTAQUE DO Não é cabível a instauração de incidente de assunção de
INFORMATIVO competência (IAC) enquanto a questão de direito não tiver sido
objeto de debates, com a formação de um entendimento firme
e sedimentado, nos termos do § 4º do art. 927 do Código de
Processo Civil.
TRECHOS DO Foi suscitada questão de ordem para instauração de incidente
INFORMATIVO de assunção de competência (IAC) para decidir acerca da
"obrigação de custeio, pelo plano de saúde, de exame ou
tratamento, que não conste do rol da Agência Nacional de
Saúde (ANS), prescrito por médico especialista como melhor
opção para o restabelecimento da saúde do paciente", ante a
promulgação da Lei n. 14.454/2022.

396
Em 8/6/2022, a Segunda Seção, ao julgar os EREsps
1.886.929/SP e 1.889.704/SP (DJe 3/8/2022), uniformizou a
jurisprudência, concluindo pela natureza taxativa, em regra, do
rol da ANS. Esse julgamento teve grande repercussão social,
provocando reações de diversos segmentos da sociedade e a
mobilização do Congresso Nacional.
Foi, então, apresentado o Projeto de Lei n. 2.033/2022, para
alterar a Lei n. 9.656/1998, estabelecendo hipóteses de
cobertura de exames ou tratamentos de saúde não incluídos no
rol de procedimentos e eventos em saúde suplementar. O
projeto foi aprovado na Câmara e no Senado e seguiu para
sanção presidencial, tendo sido a Lei n. 14.454 sancionada em
21/9/2022, sem vetos.
Essa Lei, ao afastar a natureza taxativa mitigada do rol da ANS
e estabelecer a sua natureza exemplificativa mitigada, trouxe
outra perspectiva a respeito da matéria, exigindo, de fato, um
novo pronunciamento desta Corte, agora à luz da recente
inovação legislativa.
Todavia, a superveniência desse diploma não tem o condão de
alterar o objeto da multiplicidade de recursos referentes à
mesma questão de direito que já tramitavam nesta Corte, senão
apenas de provocar, eventualmente, a adequação na
interpretação e no alcance das teses fixadas pela Segunda
Seção, a depender do contexto fático-probatório delineado em
cada hipótese concreta.
Dessa forma, a despeito da vigência da Lei 14.454/2022, é
possível concluir que há, no Superior Tribunal de Justiça,
repetição em múltiplos processos da questão de direito a ser
submetida a julgamento e, por conseguinte, falta, para o
acolhimento da questão de ordem, o requisito objetivo que
autoriza a admissão da assunção de competência, consoante
exige o art. 947 do Código de Processo Civil (CPC) e o art. 271-

397
B do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça
(RISTJ).
Noutra toada, a instauração desse incidente, ao menos por ora,
mostra-se prematura. Com efeito, assim como na afetação ao
rito dos repetitivos, a assunção de competência, em
homenagem à segurança jurídica, deve ser admitida somente
quando a questão de direito tiver sido objeto de debates, com a
formação de um entendimento firme e sedimentado no âmbito
das Turmas da Segunda Seção, evitando, com isso, a fixação
de tese de observância obrigatória que não reflita uma decisão
amadurecida desta Corte ao longo do tempo, a partir do
sopesamento dos mais variados argumentos em uma ou outra
direção.
Na espécie, entretanto, não há aqui pronunciamentos
suficientes, tampouco conflitantes, a respeito da controvérsia
posta em análise sob o enfoque da recente alteração legislativa
e seus efeitos, inclusive para que se possa cogitar em
prevenção ou composição de divergência jurisprudencial entre
as Turmas da Segunda Seção (§ 4º do art. 947 do CPC).

REFERÊNCIA QO no REsp 1.882.957-SP, Ministra Nancy Andrighi, Segunda


DO ACÓRDÃO Seção, por maioria, julgado em 8/2/2023.
CONEXÕES E
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 763
DESTAQUE DO Não ofende o art. 10 do CPC/2015 o provimento jurisdicional
INFORMATIVO que dá classificação jurídica à questão controvertida apreciada
em sede de embargos de divergência.
TRECHOS DO Inicialmente, impende assinalar que, "na linha dos precedentes
INFORMATIVO desta Corte, não há ofensa ao princípio da não surpresa quando

398
o magistrado, diante dos limites da causa de pedir, do pedido e
do substrato fático delineado nos autos, realiza a tipificação
jurídica da pretensão no ordenamento jurídico posto, aplicando
a lei adequada à solução do conflito, ainda que as partes não a
tenham invocado (iura novit curia) e independentemente de
oitiva delas, até porque a lei deve ser do conhecimento de
todos, não podendo ninguém se dizer surpreendido com a sua
aplicação." (AgInt no REsp 1.799.071/PR, Rel. Min. Moura
Ribeiro, Terceira Turma, julgado em 15/8/2022).
Ainda no tocante ao conteúdo de tal princípio, este Superior
Tribunal já assentou que "não possui dimensões absolutas que
levem à sua aplicação automática e irrestrita [...]" (AgInt no
AREsp 1.778.081/PR, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda
Turma, julgado em 21/2/2022).
É firme a compreensão desta Corte segundo a qual não há
ofensa ao art. 10 do CPC/2015 "[...] se o Tribunal dá
classificação jurídica aos fatos controvertidos contrários à
pretensão da parte com aplicação da lei aos fatos narrados nos
autos" (AgInt no AREsp 1.889.349/RJ, Rel. Min. Mauro
Campbell Marques, Segunda Turma, julgado em 16/11/2021).
À vista da dimensão relativa do apontado princípio, equivocada
a interpretação que conclua pela sua aplicação automática e
irrestrita, mormente no bojo da tomada de votos em julgamento
de embargos de divergência.

REFERÊNCIA EDcl nos EREsp 1.213.143-RS, Rel. Ministra Regina Helena


DO ACÓRDÃO Costa, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 8/2/2023.
CONEXÕES E
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 763

399
DESTAQUE DO A decisão que declara a inexigibilidade parcial da execução é
INFORMATIVO recorrível mediante agravo de instrumento, configurando erro
grosseiro a interposição de apelação, o que inviabiliza a
aplicação do princípio da fungibilidade recursal.
TRECHOS DO A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é no sentido de
INFORMATIVO que, sob a égide do Novo Código de Processo Civil, a apelação
é o recurso cabível contra decisão que acolhe impugnação do
cumprimento de sentença e extingue a execução.
Ainda, o agravo de instrumento é o recurso cabível contra as
decisões que acolhem parcialmente a impugnação ou lhe
negam provimento, por não acarretarem a extinção da fase
executiva em andamento, portanto, com natureza jurídica de
decisão interlocutória.
A inobservância desta sistemática caracteriza erro grosseiro,
vedada a aplicação do princípio da fungibilidade recursal,
cabível apenas na hipótese de dúvida objetiva.
Na hipótese, verifica-se que a decisão ora apelada reconheceu
a ilegitimidade da União em relação aos exequentes que
tenham vínculo com autarquia ou fundação pública, contudo
determinou o prosseguimento da execução. Assim,
considerando que não há extinção da execução, o recurso
cabível seria o agravo de instrumento, o que inviabiliza a
aplicação do princípio da fungibilidade.

REFERÊNCIA REsp 1.947.309-BA, Rel. Ministro Francisco Falcão, Segunda


DO ACÓRDÃO Turma, por unanimidade, julgado em 7/2/2023.
CONEXÕES E
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 763

400
DESTAQUE DO Compete às Câmaras Reunidas ou à Seção Especializada dos
INFORMATIVO Tribunais de Justiça a competência para processar e julgar as
Reclamações destinadas a dirimir divergência entre acórdão
prolatado por Turma Recursal Estadual e a jurisprudência do
Superior Tribunal de Justiça, consolidada em incidente de
assunção de competência e de resolução de demandas
repetitivas, em julgamento de recurso especial repetitivo e em
enunciados das Súmulas do STJ.
TRECHOS DO Da leitura da íntegra da Lei n. 9.099/1995, percebe-se que o
INFORMATIVO legislador não definiu um mecanismo de revisão das decisões
das Turmas Recursais, nem de uniformização de
jurisprudência, menos ainda de adequação à jurisprudência do
Superior Tribunal de Justiça.
Essa lacuna ensejou, no âmbito do STJ, a partir do julgamento
pelo Supremo Tribunal Federal dos EDcl no RE 571.572/BA
(Tribunal Pleno, Rel. Min. Ellen Gracie, DJe de 27/11/2009), a
criação de procedimentos com relação a acórdãos de Turma
Recursais Estaduais previstos na Lei n. 9.099/1995, para
adequá-los à jurisprudência, súmula ou orientação adotada na
sistemática dos recursos repetitivos do STJ.
Era a ratio essendi da Resolução n. 12/2009 do STJ, a qual
dispunha sobre o processamento, no Superior Tribunal de
Justiça, das reclamações destinadas a dirimir divergência entre
acórdão prolatado por turma recursal estadual e a
jurisprudência desta Corte.
Ocorre que referida resolução foi expressamente revogada pela
emenda ao Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça
n. 22, de 16/3/2016.
Com a edição da Resolução STJ/GP n. 3, de 7/4/2016, foi
atribuída às Câmaras Reunidas ou à Seção Especializada dos
Tribunais de Justiça a competência para processar e julgar as
Reclamações destinadas a dirimir divergência entre acórdão
prolatado por Turma Recursal Estadual e a jurisprudência do

401
Superior Tribunal de Justiça, consolidada em incidente de
assunção de competência e de resolução de demandas
repetitivas, em julgamento de recurso especial repetitivo e em
enunciados das Súmulas do STJ.

REFERÊNCIA AgInt na Rcl 41.841-RJ, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques,


DO ACÓRDÃO Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 8/2/2023.
CONEXÕES E
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 762
DESTAQUE DO Extintos os embargos de declaração em virtude de desistência
INFORMATIVO posteriormente manifestada, não é possível sustentar a
interrupção do prazo recursal para a mesma parte que desistiu,
tampouco a reabertura desse prazo a contar da intimação do
ato homologatório.
TRECHOS DO Na hipótese, foram opostos embargos de declaração ao
INFORMATIVO acórdão da apelação por ambas as partes da relação
processual, ambos julgados na mesma assentada, o que deu
ensejo à oposição de novos aclaratórios pela recorrente. Não
obstante iniciado o julgamento virtual do recurso integrativo,
sobreveio petição em que se manifestou a desistência em
relação aos segundos aclaratórios, informando-se que o
recurso cabível seria interposto no prazo legal.
Por decisão singular, foi homologada a desistência requerida,
ordenada a retirada do feito da pauta de julgamentos e
determinada a baixa dos autos à origem, decisão sobre a qual
se operou a preclusão, haja vista o decurso do prazo legal sem
a interposição de agravo interno.
A recorrente então interpôs o recurso especial sustentando, em
preliminar, a sua tempestividade, ao argumento de que "(...) a

402
contagem do prazo recursal se deu a partir da intimação da
aludida homologação do pedido de desistência, nos termos do
art. 231 c/c art. 538 do CPC e da pacífica jurisprudência do
STJ".
No ordenamento processual vigente (art. 998 do CPC/2015), a
disciplina conferida à desistência recursal é absolutamente
idêntica àquela estabelecida na legislação processual revogada
(art. 501 do CPC/1973), à exceção dos recursos extraordinários
ou especiais repetitivos e daqueles em que a repercussão geral
já tiver sido reconhecida.
De todo modo, já sob a disciplina do Código de Processo Civil
de 2015, a doutrina acentua que a desistência é "(...) causa de
não conhecimento do recurso, pois um dos requisitos de
admissibilidade dos recursos é a inexistência de fato impeditivo
ou extintivo do poder de recorrer, como é o caso da desistência
do recurso".
Assim, extintos os segundos embargos de declaração em
virtude da desistência manifestada pela então embargante, que
se opera de imediato, independentemente de homologação
judicial, não é possível sustentar a interrupção do prazo
recursal, tampouco a reabertura desse prazo a contar da
intimação do ato homologatório.

REFERÊNCIA REsp 1.833.120-SP, Rel. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva,


DO ACÓRDÃO Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 18/10/2022, DJe
24/10/2022.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 760

403
DESTAQUE DO A procuração juntada em outro processo conexo ou incidental,
INFORMATIVO não apensado ao principal, não produz efeito em favor do
recorrente no Superior Tribunal de Justiça.
TRECHOS DO O art. 76, § 2º, I, do CPC/2015 prevê que não se conhece do
INFORMATIVO recurso quando a parte recorrente, apesar de intimada, deixa
de sanar vício na representação processual no prazo fixado.
A alegação da existência de procuração nos autos principais
pelo recorrente não é capaz de sanar o vício.
A jurisprudência do STJ é no sentido de que "a procuração
juntada em outro processo conexo ou incidental, não apensado,
não produz efeito em favor do recorrente neste Tribunal
Superior. O entendimento uniforme é de que cabe ao recorrente
diligenciar, nos autos do recurso a ser julgado nesta Corte, a
regularidade da representação processual mediante a juntada
do respectivo instrumento de mandato e da cadeia de
substabelecimentos existente, passada ao subscritor da peça
recursal. Sem isso, não se pode, de fato, conhecer do recurso"
(AgInt nos EAREsp 416.557/RJ, Rel. Ministro Luis Felipe
Salomão, Segunda Seção, julgado em 28/9/2016, DJe
07/10/2016).

REFERÊNCIA Processo sob segredo judicial, Rel. Ministro Antonio Carlos


DO ACÓRDÃO Ferreira, Quarta Turma, por unanimidade, julgado em
14/11/2022, DJe 21/11/2022.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 760
DESTAQUE DO É manifestamente incabível pedido de reconsideração em face
INFORMATIVO de acórdão, bem como o seu recebimento como embargos de
declaração ante a inadmissibilidade da incidência do princípio

404
da fungibilidade recursal quando constatada a ocorrência de
erro inescusável.
TRECHOS DO Afigura-se descabido formular pedido de reconsideração contra
INFORMATIVO acórdão, ante a ausência de previsão legal ou regimental, só se
vislumbrando a sua possibilidade em face de decisão
monocrática.
Deve ser destacado, ainda, ser inviável a incidência do princípio
da fungibilidade recursal, a fim de receber o pedido como
embargos de declaração, diante da existência de erro
inescusável, conforme entendimento assente nesta Corte
(AgRg nos EDcl no AgRg no HC 570.813/RJ, Relator Ministro
Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, julgado em
15/9/2020, DJe de 21/9/2020).

REFERÊNCIA RCD no AgRg no HC 746.844-SP, Rel. Ministro Jorge Mussi,


DO ACÓRDÃO Quinta Turma, por unanimidade, julgado em 8/11/2022, DJe
11/11/2022.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 760
DESTAQUE DO Não cabe novo recurso especial contra o acórdão que julga
INFORMATIVO agravo interno em face de decisão de inadmissibilidade fundada
na aplicabilidade de precedente qualificado do Supremo
Tribunal Federal que tem o condão de impedir o seguimento
não apenas de recurso extraordinário como também de recurso
especial.
TRECHOS DO O caso concreto trata de uma ação rescisória que foi
INFORMATIVO devidamente julgada e que teve o seu acórdão desafiado por
via de recurso especial e de recurso extraordinário.

405
Ao proceder ao exame de admissibilidade de ambos, o Tribunal
da origem aplicou a técnica de julgamento que consiste na
verificação de que o Supremo Tribunal Federal enfrentou a
controvérsia - direito à nomeação por candidato aprovado em
concurso público como excedente (cadastro de reserva) - sob o
regime da repercussão geral e sendo assim não apenas o
recurso extraordinário deve ser obstado como também o
recurso especial, isso porque o precedente qualificado deve
prevalecer.
Em seguida a isso foram interpostos agravo em recurso
especial e agravo em recurso extraordinário, mas no lugar de
se determinar o processamento deles, com a remessa aos
respectivos Tribunais, houve uma nova decisão monocrática em
razão da qual se compreendeu que como a razão de
inadmissibilidade estava fundada na aplicação de precedente
qualificado o recurso cabível era o agravo interno em ambos os
casos, e desse modo não se conheceu de ambos os agravos
em recurso especial e em recurso extraordinário.
Isso ensejou uma nova impugnação, dessa feita de agravo
interno, e é justamente o acórdão prolatado em tal recurso, no
qual se manteve o teor da decisão de não conhecimento, que
vem ao exame do Superior Tribunal de Justiça mediante novo
recurso especial interposto, o que já indica o descabimento
aventado inicialmente.
A sistemática do processamento do recurso especial não
contempla previsão em razão da qual uma vez trancado o seu
processamento, e obstada na origem a remessa do
consequente agravo, haja a interposição de um novo recurso
especial com a finalidade única de destravar o agravo.
Não há no sistema recursal essa possibilidade de atuação
"circular" da parte, nem se admitira hipoteticamente que em
havendo a negativa de seguimento ao presente apelo raro

406
houvesse um segundo agravo em recurso especial para
destrancar o seu processamento.
Essa hipótese de cabimento é inexistente, e quando muito há
duas outras soluções processuais possíveis para a hipótese sob
exame, quais sejam, ou a reclamação, conforme admitido, por
exemplo, no AgInt na Rcl n. 43.030/SP (Relatora Ministra
Regina Helena Costa, Primeira Seção, julgado em 16/8/2022,
DJe de 18/8/2022) e na Rcl n. 41.229/DF (Relator Ministro
Marco Aurélio Bellizze, Segunda Seção, julgado em 11/5/2022,
DJe de 17/5/2022), ou ainda uma ação rescisória em se
considerando que a decisão na origem supostamente fundara-
se na aplicação de precedente qualificado, e aqui se teria a
hipótese do art. 966, inciso V, § 5.º, do CPC/2015.

REFERÊNCIA REsp 2.028.321-RN, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques,


DO ACÓRDÃO Segunda Turma, por unanimidade, julgado em 06/12/2022.
CONEXÕES E
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 760
DESTAQUE DO Não há previsão legal acerca do ajuizamento de embargos de
INFORMATIVO divergência contra acórdão do Superior Tribunal de Justiça
proferido em pedido de tutela provisória para agregar efeito
suspensivo a conflito de competência.
TRECHOS DO De acordo com o art. 266 do Regimento Interno do Superior
INFORMATIVO Tribunal de Justiça, "cabem embargos de divergência contra
acórdão de Órgão Fracionário que, em recurso especial,
divergir do julgamento atual de qualquer outro Órgão
Jurisdicional deste Tribunal".
O art. 1.043 do Código de Processo Civil também regula as
hipóteses de cabimento dos embargos de divergência, previstos

407
para impugnar acórdão proferido em recurso extraordinário ou
especial.
O acórdão embargado, no caso, não foi proferido em recurso
especial, mas em pedido de tutela provisória, cuja decisão não
desafia os embargos de divergência, não previstos para tal
hipótese.
Nesse sentido é o entendimento do STJ: "somente é possível a
interposição dos embargos de divergência contra acórdão que
aprecia recurso especial ou recurso extraordinário,na dicção
clara do art. 1.043, caput e incisos I e III, do Código de Processo
Civil; o art. 266, caput, do RISTJ também é claro ao limitar tal
modalidade recursal aos recursos especiais." (EDv nos EDcl na
SEC n. 3.687/EX, relator Ministro Humberto Martins, Corte
Especial, julgado em 18/10/2017, DJe de 27/10/2017).
Por fim, ressalte-se que, em tema de recursos, vigora o princípio
da tipicidade, de modo que cada recurso é cabível nas
hipóteses taxativamente previstas.

REFERÊNCIA AgInt na Pet 14.925-TO, Rel. Ministra Maria Isabel Gallotti,


DO ACÓRDÃO Corte Especial, por unanimidade, julgado em 11/10/2022, DJe
17/10/2022.
CONEXÕES E
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 758
DESTAQUE DO É descabida a reclamação ao Superior Tribunal de Justiça com
INFORMATIVO fundamento em inobservância de acórdão proferido em recurso
especial em Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
- IRDR.
TRECHOS DO (...)
INFORMATIVO

408
A reclamação fundamentada em inobservância de acórdão
proferido em recurso especial em IRDR não foi abarcada, em
princípio, pelo legislador ordinário, relegando-se ao intérprete a
análise acerca de sua subsunção ao supracitado dispositivo
legal, em interpretação sistemática e teleológica do
ordenamento jurídico.
Tanto o recurso especial em IRDR (arts. 976 e 987 do
CPC/2015), quanto o recurso especial repetitivo (art. 1.036 do
CPC/2015) possuem a mesma finalidade de pacificar a
interpretação da legislação federal infraconstitucional sobre
questões jurídicas idênticas que sejam objeto de uma
multiplicidade de processos, atribuindo-lhes força vinculante em
relação aos juízes e tribunais subordinados a esta Corte
Superior (art. 927 do CPC/2015).
Nesse sentido, as disposições do CPC/2015 e do RISTJ
buscam dar ao acórdão proferido no recurso especial interposto
contra julgamento de mérito de IRDR os mesmos efeitos do
acórdão em julgamento de recurso especial repetitivo,
precedente qualificado nos termos do art. 121-A do RISTJ, c/c
o art. 927 do CPC/2015. Ou seja, para fins de processamento
do recurso especial em julgamento de mérito do IRDR,
necessariamente, deverá ser seguido o rito previsto para os
recursos representativos de controvérsia.
A reclamação proposta com fundamento em suposta
inobservância, pelo tribunal reclamado, de acórdão do Superior
Tribunal de Justiça proferido no âmbito de recurso especial em
IRDR, não se amolda à hipótese legal descrita no art. 988, IV,
do CPC/2015, não correspondendo ao IRDR em si, mas sim ao
recurso especial repetitivo, por equiparação, que, a seu turno,
não se insere nas hipóteses de cabimento da reclamação
constantes do art. 988 do CPC/2015.
A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça está
sedimentada na esteira de ser incabível a reclamação proposta

409
neste Superior Tribunal com o intento de impugnar julgado do
tribunal reclamado supostamente contrário a tese do STJ
definida em recurso especial repetitivo, conforme decidido pela
Corte Especial no julgamento da Rcl 36.476/SP (DJe
06/03/2020).
(...)
Portanto, harmonizando as ideias expostas, extrai-se a
conclusão de ser descabida a reclamação dirigida ao Superior
Tribunal de Justiça com fundamento em inobservância de
acórdão proferido em recurso especial em IRDR, aplicando-se-
lhe o entendimento da Corte Especial exarado na Rcl
36.476/SP, devido à equivalência da natureza, regramento e
efeitos daquele recurso com o recurso especial repetitivo.

REFERÊNCIA Rcl 43.019-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Segunda


DO ACÓRDÃO Seção, por unanimidade, julgado em 28/09/2022, DJe
03/10/2022.
CONEXÕES E
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 757
DESTAQUE DO Na fase de cumprimento de sentença, não há óbice à
INFORMATIVO interposição direta do recurso de agravo de instrumento contra
decisão que determina a penhora de bens sem a prévia
utilização do procedimento de impugnação previsto no art. 525,
§ 11, do CPC/2015.
TRECHOS DO Do exame do § 11, do art. 525, do CPC/2015, infere-se que este
INFORMATIVO faculta ao devedor-executado insurgir-se, por "simples petição",
no prazo de 15 dias, contra questões relativas: a) a fatos
supervenientes ao término do prazo para a apresentação da

410
impugnação e; b) à validade e adequação da penhora, da
avaliação e dos atos executivos subsequentes.
Nesse contexto, extrai-se da literalidade do referido dispositivo
legal que, ao dispor que as questões nele elencadas "podem
ser arguidas por simples petição" não estabelece um dever ou
ônus ao executado - muito menos uma condição de
admissibilidade de eventual recurso -, mas sim uma faculdade,
que pode ou não ser utilizada pelo devedor na medida do seu
interesse.
Ademais, do ponto de vista da interpretação teleológica, impõe-
se ressaltar, outrossim, que o §11, do art. 525, do CPC/2015
tem por escopo garantir uma posição mais favorável ao
devedor, na medida em que facilita a veiculação de
determinadas teses defensivas no âmbito da fase de
cumprimento de sentença.
De fato, o novo Código de Processo Civil, em dispositivo que
não possui correspondente no Diploma anterior, permite que o
devedor, por meio de simples petição, impugne, entre outras
matérias, a validade e adequação da penhora determinada pelo
juiz, mitigando, portanto, conforme destaca a doutrina, as
formalidades processuais em prol da "obtenção dos efeitos
substanciais dos atos do processo".
Nessa esteira de intelecção, reconhecer o não cabimento do
recurso de agravo de instrumento, impondo ao executado o
dever de se defender, previamente, por meio de simples
petição, significaria, a rigor, interpretar o dispositivo legal
contrariamente à sua própria finalidade, o que não se deve
admitir. Dito de outro modo, se a finalidade do texto legal é
tutelar a posição do executado, cabe a ele o exame da
conveniência da utilização do instrumento processual ali
previsto antes da interposição de eventual recurso.
Desse modo, considerar a prévia apresentação de "simples
petição", na forma do §11 do art. 525 do CPC/2015, como

411
requisito indispensável à interposição do recurso de agravo de
instrumento significaria, mediante interpretação ampliativa, a
criação de requisito de admissibilidade não previsto na lei, o que
afronta a regra de hermenêutica acima mencionada segundo a
qual as exceções devem ser interpretadas restritivamente.

REFERÊNCIA REsp 2.023.890-MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma,


DO ACÓRDÃO por unanimidade, julgado em 25/10/2022, DJe 27/10/2022.
CONEXÕES E
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 726
DESTAQUE DO É cabível a interposição de agravo de instrumento contra
INFORMATIVO decisões que versem sobre o mero requerimento de expedição
de ofício para apresentação ou juntada de documentos ou
coisas, independentemente da menção expressa ao termo
"exibição" ou aos arts. 396 a 404 do CPC/2015.
TRECHOS DO O art. 1.015, VI, do Código de Processo Civil de 2015 autoriza
INFORMATIVO a interposição de agravo de instrumento contra decisão
interlocutória que versa sobre exibição ou posse de documento
ou coisa.
Acerca do tema, a Corte Especial deste Tribunal Superior, em
precedente sujeito ao rito dos recursos especiais repetitivos,
rejeitou a possibilidade de interpretação extensiva, e firmou tese
segundo a qual "o rol do art. 1.015 do CPC é de taxatividade
mitigada, por isso admite a interposição de agravo de
instrumento quando verificada a urgência decorrente da
inutilidade do julgamento da questão no recurso de apelação".
(...)

412
O pedido de exibição pode ser formulado: I) no curso de uma
ação, instaurando incidente processual; ou, II) não havendo
processo em andamento, como produção antecipada de prova,
segundo os arts. 396 a 404 do CPC/2015 que disciplinam o
procedimento para a exibição de documento ou coisa.
Por sua vez, a expedição de ofício é o meio pelo qual,
comumente, a própria ordem de exibição de documentos ou
coisas se aperfeiçoa, razão pela qual é irrelevante perquirir se
a parte pediu a exibição do documento ou coisa - resultado
almejado com a diligência -, ou a expedição de ofício - meio
utilizado para alcançar o resultado. Ambos os pedidos possuem
o mesmo objetivo, qual seja, trazer aos autos prova documental
ou coisa necessária à instrução do feito.
Dessa maneira, o pleito que reivindica a expedição de ofício
para apresentação ou juntada de documento ou coisa possui
natureza de pedido de exibição de documento ou coisa,
independentemente da menção expressa ao termo "exibição"
ou aos arts. 396 a 404 do Código de Processo Civil de 2015.
Assim, é cabível agravo de instrumento contra decisão
interlocutória que versa sobre a exibição de documento ou
coisa, seja ela objeto de incidente processual instaurado
conforme os arts. 396 a 404 do CPC/2015, de pedido de
produção antecipada de provas, ou de requerimento singelo de
expedição de ofício para apresentação ou juntada de
documento ou coisa.

REFERÊNCIA REsp 1.853.458-SP, Rel. Min. Regina Helena Costa, Primeira


DO ACÓRDÃO Turma, por unanimidade, julgado em 22/02/2022, DJe
02/03/2022.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

413
TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 725
DESTAQUE DO Para comprovação de prequestionamento, não se admite que a
INFORMATIVO certidão de julgamento, de caráter administrativo, subscrita por
servidor desprovido de poder jurisdicional, sirva como
integrante do acórdão para aferição dos fundamentos do
julgado.
TRECHOS DO O prequestionamento da matéria configura-se pela
INFORMATIVO consideração pela origem do tema objeto da lide. Ausente o
enfrentamento ao menos implícito na instância ordinária da
controvérsia cuja compreensão divergente se pretende
apresentar a esta Corte, o recurso especial é obstado pela
ausência do requisito constitucional de cabimento da via
excepcional.
A fundamentação per relationem (por remissão, por referência
ou relacional) é admitida quando o órgão julgador refere-se a
anterior decisão ou documento constante nos autos, apontando
de forma expressa, ainda que minimamente, a ligação entre ele
e o julgamento presente .
A mera referência, em certidão de julgamento, subscrita
unicamente por servidor sem função judicante, a decisão de
órgão colegiado diverso em outra causa não se presta a
configurar a legítima técnica de fundamentação por referência.

REFERÊNCIA AgInt no REsp 1.809.807-RJ, Rel. Min. Og Fernandes, Segunda


DO ACÓRDÃO Turma, por unanimidade, julgado em 15/02/2022.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 725

414
DESTAQUE DO A interposição de agravo de instrumento contra decisão que, em
INFORMATIVO ação de exclusão de sócio, homologa transação quanto à saída
da sociedade e fixa critérios para apuração dos haveres
constitui erro grosseiro, inviabilizando a aplicação do princípio
da fungibilidade recursal.
TRECHOS DO No entanto, o pronunciamento judicial que homologa transação
INFORMATIVO (art. 487, III, "b" do CPC/2015), pondo fim à fase cognitiva do
processo com resolução de mérito, possui natureza jurídica de
sentença, conforme disposto expressamente no art. 203, § 1º,
da lei adjetiva.
Ainda que estivesse ausente a especificidade da presente
demanda - sentença homologatória de transação -, o
pronunciamento judicial que decreta a dissolução parcial da
sociedade em casos como o dos autos possui natureza de
sentença, e não, como afirma a recorrente, de decisão parcial
de mérito, de modo que o recurso contra ela cabível é a
apelação (art. 1.009 do CPC/2015).
Veja-se, ademais, que sequer se poderia cogitar da ocorrência
de julgamento parcial de mérito no particular, uma vez que a
sentença - além de expressamente ter julgado integralmente
extinto o processo, com resolução de mérito - já definiu as
premissas necessárias à apuração dos haveres (art. 604 do
CPC/2015), não havendo espaço para qualquer outra
deliberação judicial nesta fase da ação.

REFERÊNCIA REsp 1.954.643-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma,


DO ACÓRDÃO por unanimidade, julgado em 15/02/2022, DJe 18/02/2022.
CONEXÕES E
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TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 723

415
DESTAQUE DO A ausência de assinatura na petição de ratificação do recurso
INFORMATIVO de apelação interposto prematuramente não o torna inexistente,
mas revela irregularidade formal que pode ser sanada pela
parte peticionante, nos termos do art. 13 do CPC/1973.
TRECHOS DO O STJ possui consolidado entendimento no sentido de que os
INFORMATIVO recursos dirigidos à instância especial sem assinatura do
signatário da petição são considerados inexistentes, não sendo
possível, nesta instância, a abertura de prazo para a
regularização.
No caso, após o julgamento dos aclaratórios, sem efeito
modificativo, a Fazenda Pública apresentou petição de
ratificação da apelação interposta prematuramente no primeiro
grau de jurisdição, não havendo assinatura do referido
documento.
Hipótese, portanto, em que cabe a distinção dos precedentes
deste Tribunal: em primeiro lugar, não se cuidava de petição
dirigida à instância especial, porque dirigida ao juízo a quo; em
segundo, a petição apócrifa não se tratava do recurso
propriamente dito, que, pelo que consta do acórdão, teria
atendido todos os requisitos formais; por fim, a petição sem
assinatura foi a de ratificação da apelação interposta
prematuramente, sendo certo, ainda, que nem sequer houve
modificação da sentença após o julgamento dos aclaratórios
opostos pela parte contrária.
Na espécie, a petição de ratificação teria tão somente a função
de confirmar a recurso anteriormente interposto, o qual, este
sim, havia atendido todos os requisitos formais, existindo,
portanto, uma relação de complementariedade/integração entre
as peças, sendo que a primeira já atendia a condição de
existência, e a segunda seria somente confirmatória.
Deste modo, a ausência de subscrição da segunda petição não
a tornaria inexistente, mas revelaria irregularidade formal que

416
poderia ser sanada pela parte peticionante, nos termos do art.
13 do CPC/1973.

REFERÊNCIA REsp 1.712.851-PA, Rel. Min. Gurgel de Faria, Primeira Turma,


DO ACÓRDÃO por unanimidade, julgado em 14/12/2021.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 715
DESTAQUE DO As decisões interlocutórias sobre a instrução probatória não são
INFORMATIVO impugnáveis por agravo de instrumento ou pela via
mandamental, sendo cabível a sua impugnação diferida pela via
da apelação.

TRECHOS DO Isso porque é salutar atinar para a compreensão firmada com o


INFORMATIVO julgamento do REsp 1.704.520/MT, rel. Min. Nancy Andrighi,
quando este Tribunal Superior fixou a tese de que a
interpretação do rol das hipóteses de cabimento do agravo de
instrumento, conforme a previsão do art. 1.015 do CPC/2015, é
taxativa, mas sujeita à mitigação diante de situação concreta em
que ocorra urgência na pronta resolução da controvérsia, sob
pena de o aguardo do julgamento da apelação, em que se
incluem as matérias não sujeitas à preclusão e não impugnáveis
pela via do agravo de instrumento, poder ensejar a inutilidade
do provimento vindouro da pretensão.
O que está pontuado no precedente evidencia que haverá, de
fato, dois tipos de decisões interlocutórias classificáveis
segundo a forma de impugnação, de maneira que aquelas que
versarem conteúdo inserto no rol do art. 1.015 do CPC/2015
estão sujeitas à preclusão e desafiam imediata impugnação
pela via do agravo de instrumento, todas as demais, no entanto,

417
não se sujeitando a isso porque plenamente refutáveis pela via
da apelação.
A "taxatividade mitigada", segundo apreendo, incide nessa
segunda espécie, de maneira que apesar de uma determinada
controvérsia não estar "prima facie" sujeita à inquinação pela
via do agravo de instrumento, o uso deste dependerá quando
presentes (a) a urgência da medida e (b) o risco de inutilidade
do proveio judicial decorrente do julgamento da questão apenas
por ocasião da apelação.
(...)
Assim, em linha de princípio as questões referentes ao direito
probatório parecem excluídas das matérias sujeitas a
impugnação pela via do agravo de instrumento. Isso, contudo,
por si não legitima a impetração da ação de mandado de
segurança.
Não há, como visto, decisão interlocutória irrecorrível no caso
concreto: o CPC/2015 não tornou as matérias não previstas no
art. 1.015 infensas a recurso, mas apenas indicou que não
seriam impugnáveis pela via do agravo de instrumento, mas sim
da apelação, vez que não mais sujeitas ao regime de preclusão
processual.
Em se admitindo a impetração da ação de mandado de
segurança, além de não se observar essa prescrição, se
admitiria por via oblíqua um procedimento que o legislador do
CPC/2015 quis justamente evitar, que é a massificação de
recursos - embora se trate aqui de ação - em prejuízo à razoável
duração do processo.
Com isso, verifica-se que as decisões sobre a instrução
probatória, e, portanto, sobre o exercício do direito à ampla
defesa, estão em tese imunes ao sistema de preclusão
processual, e tampouco se inserem nas hipóteses do art. 1.015
do CPC/2015, daí por que cabível a sua impugnação diferida
pela via da apelação, não se aviando a ação mandamental tanto

418
por isso quanto porque a sua impetração implicaria indireta
ofensa a essa sistemática de impugnação.
REFERÊNCIA RMS 65.943-SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Segunda
DO ACÓRDÃO Turma, por unanimidade, julgado em 26/10/2021.

CONEXÕES E 1. Conexo ao Tema Repetitivo 988 (STJ) – tese da taxatividade


COMENTÁRIOS mitigada.

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 712
DESTAQUE DO A decisão que deixa de homologar pedido de extinção
INFORMATIVO consensual da lide retrata decisão interlocutória de mérito a
admitir recorribilidade por agravo de instrumento, interposto
com fulcro no art. 1.015, II, do CPC/2015.

TRECHOS DO Na hipótese de rejeição de ato autocompositivo das partes, o


INFORMATIVO juiz proferirá decisão que versa inequivocamente sobre o mérito
do processo, posto que, se o chancelar, resolve o mérito,
mediante ato judicial qualificado como sentença e passível de
apelação (arts. 203, §1º e 1.009 do CPC/2015).
O indeferimento do pedido de extinção consensual do conflito
manifesta pronunciamento jurisdicional que encarna, em sua
essência, natureza decisória, sem, no entanto, enquadrar-se
como sentença. Esta é, aliás, a definição de decisão
interlocutória atribuída pelo legislador.
Assim, por não extinguir o processo, admite perfeitamente a
interposição de agravo de instrumento, hipótese taxativamente
prevista no inciso II do art. 1.015 do Código de Processual Civil,
segundo o qual cabe agravo de instrumento contra as decisões
interlocutórias que versarem sobre o mérito do processo.

419
REFERÊNCIA REsp 1.817.205-SC, Rel. Min. Gurgel de Faria, Primeira Turma,
DO ACÓRDÃO por unanimidade, julgado em 05/10/2021.

CONEXÕES E 1. Conexo ao Tema Repetitivo 988 (STJ) – tese da taxatividade


COMENTÁRIOS mitigada.

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 705
DESTAQUE DO O recurso especial interposto contra acórdão em ação
INFORMATIVO rescisória pode atacar diretamente os fundamentos do acórdão
rescindendo, não precisando limitar-se aos pressupostos de
admissibilidade da rescisória.

TRECHOS DO Inicialmente, anota-se que no acórdão embargado concluiu-se


INFORMATIVO pelo não cabimento do recurso especial interposto em sede de
ação rescisória, com base no art. 485, V, do Código de
Processo Civil de 1973, porque não se limitara aos seus
pressupostos de admissibilidade, impugnando, assim,
diretamente o mérito do acórdão rescindendo.
O aresto paradigma da Corte Especial, diversamente do aresto
embargado, considerou que é viável recurso especial interposto
contra acórdão proferido em ação rescisória, baseada no art.
485, V, do CPC/1973, que se insurge contra os fundamentos do
acórdão rescindendo.
O entendimento do acórdão paradigma mostra-se correto,
especialmente quando relacionado ao disposto no art. 485, V,
do Código de Processo Civil de 1973 (atualmente art. 966, V,
do CPC de 2015), pois se há alegação de violação a literal
disposição de lei no acórdão recorrido, o mérito do recurso
especial se confunde com os próprios fundamentos para a
propositura da ação rescisória, autorizando o STJ a examinar
também o acórdão rescindendo.

420
É de se concluir, portanto, que, em relação a ações rescisórias
ajuizadas com base no art. 485, V, do CPC de 1973, o recurso
especial poderá ultrapassar os pressupostos da ação e chegar
ao exame do seu mérito.

REFERÊNCIA EREsp 1.434.604-PR, Rel. Min. Raul Araújo, Corte Especial,


DO ACÓRDÃO por unanimidade, julgado em 18/08/2021.

CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 705
DESTAQUE DO É cabível agravo de instrumento para impugnar decisão que
INFORMATIVO define a competência.

TRECHOS DO Na origem, o Tribunal a quo não conheceu do agravo de


INFORMATIVO instrumento, ao entendimento de que "não é cabível o manejo
de agravo de instrumento contra decisão que declina
competência, uma vez que não prevista esta hipótese no rol
taxativo do art. 1.015 do Código de Processo Civil".
Por seu turno, no julgamento do recurso especial, a Segunda
Turma consignou, in verbis: "4. A interpretação do art. 1.015 do
CPC/2015 deve ser, em regra, restritiva, não sendo possível o
alargamento das hipóteses para contemplar situações não
previstas taxativamente na lista estabelecida para o cabimento
do Agravo de Instrumento; 5. As decisões relativas à
competência, temática discutida nos presentes autos, estão fora
do rol taxativo do art. 1.015 do CPC/2015, não se enquadrando
nas hipóteses dos incisos II e XIII. [...]".
Ao revés, no acórdão paradigma, ficou consignado que "A
decisão que define a competência relativa ou absoluta é

421
semelhante à decisão interlocutória que versa sobre rejeição da
alegação de convenção de arbitragem, prevista no art. 1.015,
III, do CPC/2015 (porquanto visa afastar o juízo incompetente
para a causa) e, como tal, merece tratamento isonômico a
autorizar o cabimento do agravo de instrumento." (AgInt nos
EDcl no REsp 1.731.330/CE, Rel. Ministro Lázaro Guimarães -
Desembargador Convocado do TRF da 5.ª Região, Quarta
Turma, DJe 27/08/2018).
Como se vê, há patente dissidência entre as teses jurídicas
adotadas no acórdão embargado e no paradigma, acerca da
possibilidade em se recorrer de decisão que define competência
por meio de agravo de instrumento.
A propósito, a controvérsia foi objeto de julgamento desta Corte,
sob o Rito dos Repetitivos, que adotou entendimento contrário
ao esposado no acórdão embargado: "Assim, nos termos do art.
1.036 e seguintes do CPC/2015, fixa-se a seguinte tese jurídica:
"O rol do art. 1.015 do CPC é de taxatividade mitigada, por isso
admite a interposição de agravo de instrumento quando
verificada a urgência decorrente da inutilidade do julgamento da
questão no recurso de apelação." (REsp 1.704.520/MT, Rel.
Ministra Nancy Andrighi, Corte Especial, DJe 19/12/2018).
Por fim, conclui-se ser cabível a interposição de agravo de
instrumento para impugnar decisão que define a competência.
REFERÊNCIA EREsp 1.730.436-SP, Rel. Min. Laurita Vaz, Corte Especial, por
DO ACÓRDÃO unanimidade, julgado em 18/08/2021.

CONEXÕES E 1. Conexo ao Tema Repetitivo 988 (STJ) – tese da taxatividade


COMENTÁRIOS mitigada.

11. PROCEDIMENTOS ESPECIAIS

11.1 PRECEDENTES QUALIFICADOS

422
TRIBUNAL STF
INFORMATIVO 1113
DESTAQUE DO Tese fixada no Tema 865 da Repercussão Geral:
INFORMATIVO No caso de necessidade de complementação da indenização,
ao final do processo expropriatório, deverá o pagamento ser
feito mediante depósito judicial direto se o Poder Público não
estiver em dia com os precatórios.
TRECHOS DO Na hipótese em que o ente federativo expropriante estiver
INFORMATIVO em mora com a quitação de seus precatórios (CF/1988, art.
100), o pagamento da diferença entre o valor das avaliações
final e inicial do imóvel desapropriado pelo Poder Público
deve ser feito por meio de depósito judicial direto ao então
proprietário, em respeito à natureza prévia da indenização
(CF/1988, art. 5º, XXIV).

A submissão da desapropriação ao regime de precatórios não


viola o comando constitucional de indenização prévia e justa,
pois se revela medida razoável para organizar as finanças
públicas do ente público.

Contudo, a realidade da maioria dos entes expropriantes é


caracterizada pelo constante atraso no pagamento das
referidas dívidas, circunstância que deslegitima o Poder
Público, desnatura a natureza prévia da indenização e esvazia
o conteúdo do direito de propriedade.

Nesse contexto, a medida excepcional, na qual a


complementação é paga mediante depósito judicial, objetiva
não prejudicar injustamente o antigo proprietário do imóvel pela
demora exagerada no recebimento do montante que lhe é
devido, em especial porque, além da longa tramitação usual das
ações de desapropriação, ele perdeu a posse do bem ainda no

423
início do processo, mediante depósito dissociado do correto
valor de mercado.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, ao


apreciar o Tema 865 da repercussão geral, deu provimento ao
recurso extraordinário e limitou a eficácia temporal da decisão
para que as teses ora fixadas sejam aplicadas somente às
desapropriações propostas a partir da publicação da ata deste
julgamento, ressalvadas as ações judiciais em curso em que se
discuta expressamente a constitucionalidade do pagamento da
complementação da indenização por meio de precatório judicial.

REFERÊNCIA RE 922.144/MG, relator Min. Luís Roberto Barroso, julgamento


DO ACÓRDÃO finalizado em 19.10.2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 782
DESTAQUE DO Para a comprovação da mora nos contratos garantidos por
INFORMATIVO alienação fiduciária, é suficiente o envio de notificação
extrajudicial ao devedor no endereço indicado no instrumento
contratual, dispensando-se a prova do recebimento, quer seja
pelo próprio destinatário, quer por terceiros.
TRECHOS DO A controvérsia cinge-se a definir se, para a comprovação da
INFORMATIVO mora nos contratos garantidos por alienação fiduciária, é
suficiente, ou não, o envio de notificação extrajudicial ao
endereço do devedor indicado no instrumento contratual e se é
dispensável, por conseguinte, a prova de que a assinatura do
Aviso de Recebimento (AR) seja do próprio destinatário.
O art. 2º, § 2º, do Decreto-Lei n. 911/1969 é expresso ao prever
que a mora nos contratos de alienação fiduciária decorrerá do

424
simples vencimento do prazo para pagamento e poderá ser
comprovada por carta registrada com Aviso de Recebimento,
não exigindo que a assinatura constante do referido aviso seja
a do próprio destinatário.
Consequentemente, uma interpretação literal do dispositivo
enseja a conclusão de que, para a constituição do devedor em
mora, exige-se tão somente o vencimento do prazo para
pagamento, não havendo dúvida sobre isso, porquanto o texto
da lei utiliza a expressão "simples vencimento", que, nesse
caso, quer literalmente dizer tão somente ou nada mais que o
vencimento do prazo para pagamento.
(...)
Observa-se, ainda, que o entendimento pacífico da Segunda
Seção já é no sentido de que, na alienação fiduciária, a mora
constitui-se ex re, isto é, decorre automaticamente do
vencimento do prazo para pagamento. Ou seja, a mora decorre
do simples vencimento do prazo. Naturalmente, tal
particularidade significa que o devedor estará em mora quando
deixar de efetuar o pagamento no tempo, lugar e forma
contratados (arts. 394 e 396 do Código Civil).
Então, se o objetivo da lei é meramente formal, deve ser
igualmente formal o raciocínio sobre as exigências e, portanto,
sobre a própria sistemática da lei, concluindo-se que, para
ajuizar a ação de busca e apreensão, basta que o credor
comprove o envio de notificação por via postal ao endereço
indicado no contrato, não sendo imprescindível seu
recebimento pessoal pelo devedor.
Por fim, frisa-se que essa conclusão abarca como consectário
lógico situações outras igualmente submetidas à apreciação
deste Tribunal, tais como quando a notificação enviada ao
endereço do devedor retorna com aviso de "ausente", de
"mudou-se", de "insuficiência do endereço do devedor" ou de
"extravio do aviso de recebimento", reconhecendo-se que

425
cumpre ao credor demonstrar tão somente o comprovante do
envio da notificação com Aviso de Recebimento ao endereço do
devedor indicado no contrato.

REFERÊNCIA REsp 1.951.662-RS, Rel. Ministro Marco Buzzi, Rel. para


DO ACÓRDÃO acórdão Ministro João Otávio de Noronha, Segunda Seção, por
maioria, julgado em 9/8/2023. (Tema 1132).
REsp 1.951.888-RS, Rel. Ministro Marco Buzzi, Rel. para
acórdão Ministro João Otávio de Noronha, Segunda Seção, por
maioria, julgado em 9/8/2023 (Tema 1132).

CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STF
TEMA ADI 4296
QUESTÃO Inconstitucionalidade de dispositivos da Lei nº 12.016/09 (Lei do
Mandado de Segurança).
TESE 1. Não cabe mandado de segurança contra atos de gestão
comercial praticados por administradores de empresas
públicas, sociedades de economia mista e concessionárias de
serviço público (Lei 12.016/2019, art. 1º, §2º).
2. O juiz tem a faculdade de exigir caução, fiança ou depósito
para o deferimento de medida liminar em mandado de
segurança, quando verificada a real necessidade da garantia
em juízo, de acordo com as circunstâncias do caso concreto.
3. É inconstitucional ato normativo que vede ou condicione a
concessão de medida liminar na via mandamental.
EMENTA (...) 1. O mandado de segurança é cabível apenas contra atos
RESUMIDA praticados no desempenho de atribuições do Poder Público,
consoante expressamente estabelece o art. 5º, inciso LXIX, da
Constituição Federal. Atos de gestão puramente comercial

426
desempenhados por entes públicos na exploração de atividade
econômica se destinam à satisfação de seus interesses
privados, submetendo-os a regime jurídico próprio das
empresas privadas. 2. No exercício do poder geral de cautela,
tem o juiz a faculdade de exigir contracautela para o
deferimento de medida liminar, quando verificada a real
necessidade da garantia em juízo, de acordo com as
circunstâncias do caso concreto. Razoabilidade da medida que
não obsta o juízo de cognição sumária do magistrado. 3.
Jurisprudência pacífica da CORTE no sentido da
constitucionalidade de lei que fixa prazo decadencial para a
impetração de mandado de segurança (Súmula 632/STF) e que
estabelece o não cabimento de condenação em honorários de
sucumbência (Súmula 512/STF). 4. A cautelaridade do
mandado de segurança é ínsita à proteção constitucional ao
direito líquido e certo e encontra assento na própria Constituição
Federal. Em vista disso, não será possível a edição de lei ou ato
normativo que vede a concessão de medida liminar na via
mandamental, sob pena de violação à garantia de pleno acesso
à jurisdição e à própria defesa do direito líquido e certo protegida
pela Constituição. Proibições legais que representam óbices
absolutos ao poder geral de cautela. 5. Ação julgada
parcialmente procedente, apenas para declarar a
inconstitucionalidade dos arts. 7º, §2º, e 22º, §2º, da Lei
12.016/2009, reconhecendo-se a constitucionalidade dos arts.
1º, § 2º; 7º, III; 23 e 25 dessa mesma lei.
(ADI 4296, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/
Acórdão: ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal Pleno, julgado
em 09/06/2021, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-202 DIVULG
08-10-2021 PUBLIC 11-10-2021)
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

427
TRIBUNAL STJ
TEMA Repetitivo 1040
QUESTÃO Possibilidade de apreciação da contestação oferecida antes da
execução da liminar de busca e apreensão deferida com base
no Decreto-Lei 911/1969.
TESE Na ação de busca e apreensão de que trata o Decreto-Lei nº
FIRMADA 911/1969, a análise da contestação somente deve ocorrer após
a execução da medida liminar.
EMENTA (...) 1. Controvérsia acerca do momento em que a contestação
RESUMIDA apresentada na ação de busca e apreensão que tramita sob o
rito do Decreto-Lei nº 911/1969 deve ser apreciada pelo órgão
julgador (Tema 1.040/STJ).
[...]
3. Tese para os fins do art. 1.040 do CPC/2015: Na ação de
busca e apreensão de que trata o Decreto-Lei nº 911/1969, a
análise da contestação somente deve ocorrer após a execução
da medida liminar.
[...] (REsp 1799367 MG, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS
CUEVA, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 16/09/2021, DJe
04/11/2021)

CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

11.2 JURISPRUDÊNCIA PERSUASIVA

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 785
DESTAQUE DO Em exibição incidental de documentos, cabe a presunção
INFORMATIVO relativa de veracidade dos fatos que a parte adversa pretendia
comprovar com a juntada dos documentos solicitados, sendo
que, no julgamento da lide, as consequências dessa veracidade

428
serão avaliadas, em conjunto com as demais provas
produzidas.
TRECHOS DO No caso, pretende-se a extinção da execução sob o argumento
INFORMATIVO de iliquidez do título, ante a não juntada dos extratos que
demonstrariam a evolução da dívida.
No entanto, ao realizar o distinguishing, a Corte local consignou
que não há falar em iliquidez do título, pois a não juntada dos
extratos não enseja a extinção da execução, sobretudo porque
a parte exequente juntou os contratos, os quais permitiram
verificar a higidez do título exequendo.
Com efeito, "em exibição incidental de documentos, cabe a
presunção relativa de veracidade dos fatos que a parte adversa
pretendia comprovar com a juntada dos documentos
solicitados, nos termos do art. 359 do CPC/1973 (atual art. 400
do CPC/2015), sendo certo que, no julgamento da lide, as
consequências dessa veracidade serão avaliadas, pelo Juízo
de origem, em conjunto com as demais provas produzidas nos
autos" (AgInt no AREsp 1.646.587/PR, Rel. Ministro Raul
Araújo, Quarta Turma, julgado em 24/8/2020, DJe 15/9/2020).
Portanto, não há falar em iliquidez do título executivo ante a não
juntada dos extratos bancários, pois a presunção (relativa) daí
decorrente pode ser afastada pelo órgão julgador, como no
caso, em que os contratos celebrados foram juntados e
permitiram aferir a higidez da execução.

REFERÊNCIA AgInt no AREsp 2.102.423-PR, Rel. Ministro Marco Buzzi,


DO ACÓRDÃO Quarta Turma, por unanimidade, julgado em 21/8/2023, DJe
24/8/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 777

429
DESTAQUE DO À falta de baliza normativo-conceitual específica, tem-se que a
INFORMATIVO locução "jurisprudência dominante", para fins do manejo de
pedido de uniformização de interpretação de lei federal (PUIL),
deve abranger não apenas as hipóteses previstas no art. 927,
III, do CPC, mas também os acórdãos do STJ proferidos em
embargos de divergência e nos próprios pedidos de
uniformização de lei federal por ele decididos.
TRECHOS DO O Pedido de Uniformização de Interpretação de Lei Federal -
INFORMATIVO PUIL é um meio de impugnação de decisão judicial muito
peculiar e próprio do microssistema dos juizados especiais, cujo
juízo de admissibilidade se dá por critérios assemelhados aos
que esta Corte emprega para a admissão do recurso especial.
Nos termos do art. 14 da Lei n. 10.259/2001, o pedido dirigido a
esta Corte Superior somente será cabível "quando a orientação
acolhida pela Turma de Uniformização, em questões de direito
material, contrariar súmula ou jurisprudência dominante no
Superior Tribunal de Justiça - STJ".
À falta de baliza normativa específica, revela-se viável que o
conceito de jurisprudência dominante, para efeito do manejo do
pedido de uniformização de interpretação de lei federal, busque
parâmetros na dicção do art. 927 do CPC, adotando-se, como
paradigmas utilizáveis pela parte requerente, decisões
proferidas pelo STJ, originariamente, no âmbito de IRDRs, de
IACs e de seus recursos especiais repetitivos.
Nessa linha de raciocínio, já decidiu esta Primeira Seção:
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO EM PEDIDO DE
UNIFORMIZAÇÃO DE INTERPRETAÇÃO DE LEI FEDERAL.
LEI N. 10.259/2001. PREQUESTIONAMENTO.
INDISPENSABILIDADE. JURISPRUDÊNCIA DOMINANTE.
NÃO OCORRÊNCIA. JULGADO ÚNICO. PEDIDO NÃO
CONHECIDO. AGRAVO INTERNO NÃO PROVIDO. 1. Não se
conhece do pedido de uniformização de interpretação de lei
federal se a matéria apresentada ao STJ para exame não foi

430
objeto de deliberação pela TNU. Necessidade de
prequestionamento. Precedente: AgInt no PUIL n. 679/RS,
relator Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Seção, DJe de
19/6/2018. 2. Nos termos do art. 14 da Lei n. 10.259/2001, o
pedido dirigido a esta Corte Superior somente é cabível "quando
a orientação acolhida pela Turma de Uniformização, em
questões de direito material, contrariar súmula ou jurisprudência
dominante no Superior Tribunal de Justiça -STJ". 3. O conceito
de "jurisprudência dominante", para efeitos do manejo do
pedido de interpretação de lei federal, deriva da dicção do art.
927 do CPC e pressupõe, como paradigmas, decisões
proferidas em IRDR instaurado nas ações originárias do STJ,
do IAC, de recursos especiais repetitivos (inciso III); de súmulas
do STJ (inciso IV); ou, ainda, de julgamentos em plenário ou por
órgão especial (inciso V). 4. Não se pode ter por "jurisprudência
dominante" a compreensão encontrada em um único julgado de
órgão fracionário, não consolidada em reiteradas decisões
posteriores. Precedentes: AgInt na Pet n. 10.963/PE, relator
Ministro Gurgel de Faria, Primeira Seção, DJe de 22/2/2018; e
Pet n. 10.239/RS, relator Ministro Mauro Campbell Marques,
Primeira Seção, DJe de 19/5/2015. 5. Agravo interno não
provido. (AgInt no PUIL n. 1.799/DF, relator Ministro Sérgio
Kukina, Primeira Seção, DJe de 7/10/2022).

REFERÊNCIA PUIL 825-RS, Rel. Ministro Sérgio Kukina, Primeira Seção, por
DO ACÓRDÃO unanimidade, julgado em 24/5/23.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 777

431
DESTAQUE DO O Pedido de Uniformização de Interpretação de Lei somente é
INFORMATIVO cabível no âmbito de processos de competência dos Juizados
Especiais da Fazenda Pública dos Estados, do Distrito Federal,
dos Territórios e dos Municípios, os quais são regulados pela
Lei n. 12.153/2009, e aqueles relacionados aos Juizados
Especiais Federais, regidos pela Lei n. 10.259/2001.
TRECHOS DO O Pedido de Uniformização de Interpretação de Lei foi
INFORMATIVO manejado em demanda ajuizada com esteio no procedimento
definido pela Lei n. 9.099/1995, tendo o acórdão impugnado
sido proferido pela Turma Recursal do Grupo Jurisdicional do
Estado.
Inviável, portanto, o conhecimento do incidente, já que a
hipótese não se refere à pretensão de uniformização de
interpretação de lei tomada em processos de competência dos
Juizados Especiais da Fazenda Pública dos Estados, do Distrito
Federal, dos Territórios e dos Municípios, os quais são
regulados pela Lei n. 12.153/2009, muito menos daqueles
regidos pela Lei n. 10.259/2001, relacionados aos Juizados
Especiais Federais.
Nessa linha de consideração: "O Pedido de Uniformização de
Interpretação de Lei somente é cabível no âmbito de processos
de competência dos Juizados Especiais da Fazenda Pública
dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos
Municípios, os quais são regulados pela Lei 12.153/09, e
aqueles relacionados aos Juizados Especiais Federais, regidos
pela Lei 10.259/01" (AgInt no PUIL 1.751/BA, relator Ministro
Paulo de Tarso Sanseverino, Segunda Seção, julgado em
1º/9/2020, DJe 4/9/2020).

REFERÊNCIA AgInt no PUIL 3.272-MG, Rel. Ministro Paulo de Tarso


DO ACÓRDÃO Sanseverino (in memorian), Segunda Seção, por unanimidade,
julgado em 14/3/2023, DJe 16/3/2023.

432
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 777
DESTAQUE DO Excepcionalmente, admite-se o conhecimento da impetração
INFORMATIVO de mandado de segurança nos tribunais de justiça para fins de
exercício do controle de competência dos juizados especiais.
TRECHOS DO Nos termos do Enunciado Sumular 376/STJ, em regra, compete
INFORMATIVO à Turma Recursal processar e julgar o mandado de segurança
contra ato de juizado especial.
Contudo, excepcionalmente, admite-se o conhecimento da
impetração de mandado de segurança nos tribunais de justiça
para fins de exercício do controle de competência dos juizados
especiais, conforme o precedente RMS 48.413/MS, relator
Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, Terceira Turma, julgado em
4/6/2019.
Na hipótese em análise, trata-se de questionamento a respeito
do qual é a parte legitimada para fornecimento de medicamento
no caso concreto, conforme a legislação de regência, questão,
enfim, que perpassa a conclusão meritória da demanda judicial
em apreço, mas diz respeito ao exercício do controle de
competência dos juizados especiais, porquanto a inclusão, ou
não, da União no feito poderá levar o trâmite e consequente
julgamento do processo à Justiça Federal.
Desse modo, a extinção sem julgamento do mérito do processo
em decorrência da não inclusão da União na demanda judicial
implica, necessariamente, debate acerca da definição da
competência, justificando o exercício do controle pelo tribunal
de justiça.

433
REFERÊNCIA AgInt no RMS 70.750-MS, Rel. Ministro Francisco Falcão,
DO ACÓRDÃO Segunda Turma, por unanimidade, julgado em 8/5/2023, DJe
10/5/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 774
DESTAQUE DO O termo inicial dos juros de mora, em ação de cobrança de
INFORMATIVO valores pretéritos ao ajuizamento de anterior mandado de
segurança que reconheceu o direito, é a data da notificação da
autoridade coatora no mandado de segurança, quando o
devedor é constituído em mora (arts. 405 do Código Civil e 240
do CPC).
TRECHOS DO A controvérsia consiste em definir se o termo inicial dos juros de
INFORMATIVO mora, em ação de cobrança de valores pretéritos ao
ajuizamento de anterior mandado de segurança, deve ser
contado a partir da citação, na ação de cobrança, ou da
notificação da autoridade coatora, quando da impetração do
mandado de segurança.
O pressuposto básico para configuração da mora é a viabilidade
no cumprimento da obrigação: em que pese a impossibilidade
transitória de satisfazê-la, a prestação ainda é possível e útil.
Na questão jurídica posta incide a mora solvendi, uma vez que
é concernente ao não pagamento, pelo Estado de São Paulo,
de Adicional de Local de Exercício - ALE, devido a policiais
militares inativos, no caso, no período que antecedeu à
impetração da ação mandamental coletiva, na qual foi
reconhecido o direito. Tem-se, portanto, obrigação de natureza
positiva e ilíquida, exigível por força de decisão judicial.
A impetração de mandado de segurança repercutirá na ação de
cobrança sob os seguintes aspectos: I) interromperá o prazo

434
prescricional para ajuizamento do feito; II) delimitará o pedido
formulado, a partir do quinquênio que antecedeu à propositura
do writ, e III) constituirá em mora o devedor.
A partir do regramento previsto para a constituição em mora do
devedor, nas obrigações ilíquidas (art. 405 do Código Civil c/c
art. 240 do CPC/2015), extrai-se que a notificação da autoridade
coatora em mandado de segurança cientifica formalmente o
Poder Público do não cumprimento da obrigação (mora ex
persona). É, portanto, irrelevante, para fins de constituição em
mora, a via processual eleita, pelo titular do direito, para pleitear
a consecução da obrigação.
Desse modo, em se tratando de ação mandamental, cujos
efeitos patrimoniais pretéritos deverão ser reclamados
administrativamente, ou pela via judicial própria (Súmula
271/STF), a mora é formalizada pelo ato de notificação da
autoridade coatora, sem prejuízo da posterior liquidação
do quantum debeatur da prestação.
No ponto, cumpre esclarecer que a aludida limitação sumular
apenas tem por escopo obstar o manejo do writ of
mandamus como substitutivo da ação de cobrança (Súmula
269/STF), em nada interferindo na aplicação da regra de direito
material referente à constituição em mora, a qual ocorre uma
única vez, no âmbito da mesma relação obrigacional.
A citação válida da Fazenda Pública, entre outros efeitos, tem o
condão de constituí-la em atraso no tocante ao direito que a
parte autora entende titularizar (art. 405 do Código Civil de
2002), sendo desimportantes as eventuais limitações impostas
pelo meio processual eleito para fazer valer, concretamente, o
bem jurídico em discussão. Entender de modo contrário
implicaria admitir que o instrumento processual manejado (no
caso, ação de cobrança) é o parâmetro adequado para a
fixação do termo inicial dos respectivos juros de mora, em
detrimento do arcabouço normativo previsto pelo Código Civil

435
de 2002, o qual, via de regra, considera a natureza da obrigação
para a constituição formal do devedor em mora.
Portanto, em relação às parcelas pretéritas, cujo direito foi
reconhecido, na via mandamental, o termo inicial dos juros de
mora, na ação de cobrança, deve ser fixado na data da
notificação da autoridade coatora, pois é o momento em que,
nos termos do art. 405 do Código Civil c/c art. 240 do Diploma
Processual, houve a interrupção do prazo prescricional e a
constituição em mora do devedor.

REFERÊNCIA REsp 1.925.235-SP, Rel. Ministra Assusete Magalhães,


DO ACÓRDÃO Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 10/5/2023 (Tema
1133).
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 773
DESTAQUE DO A parte, ao escolher demandar junto ao juizado especial,
INFORMATIVO renuncia o crédito excedente, incluindo os pedidos
interdependentes (principal e acessório) que decorrem da
mesma causa de pedir, e não só o limite quantitativo legal.
TRECHOS DO O pedido de devolução dos valores referentes às tarifas
INFORMATIVO bancárias - declaradas abusivas em outra demanda ajuizada
em sede de juizado especial cível - abrange, por corolário
lógico, os juros remuneratórios, pois estes são acessórios
àqueles (principal), havendo, portanto, nítida identidade entre
as partes, a causa de pedir e o pedido, o que impõe o
reconhecimento da coisa julgada.
À luz de uma interpretação teleológico-sistemática do disposto
no § 3º do art. 3º da Lei n. 9.099/1995, a parte, ao escolher
demandar junto ao juizado especial, renuncia o crédito

436
excedente, incluindo os pedidos interdependentes (principal e
acessório) que decorrem da mesma causa de pedir, e não só o
limite quantitativo legal, como é o caso dos autos.

REFERÊNCIA AgInt no REsp 2.002.685-PB, Rel. Ministro Marco Buzzi, Quarta


DO ACÓRDÃO Turma, por unanimidade, julgado em 27/3/2023, DJe 31/3/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 772
DESTAQUE DO É ônus do credor não admitido no inventário o ajuizamento da
INFORMATIVO ação de conhecimento, não competindo ao juiz a conversão do
pedido de habilitação de crédito em ação de cobrança, em
substituição às partes.
TRECHOS DO Cinge-se a controvérsia a definir a possibilidade de conversão,
INFORMATIVO de ofício, de pedido de habilitação de crédito em inventário em
ação de cobrança.
Dessume-se da leitura dos arts. 1.017 do Código de Processo
Civil de 1973 (CPC/1973), 642 do Código de Processo Civil de
2015 (CPC/2015) e 1.997 do Código Civil (CC) que,
concordando as partes interessadas (credores e herdeiros) com
o pedido, o juiz, ao declarar habilitado o credor, mandará que
se faça a separação de dinheiro ou, em sua falta, de bens
suficientes para o seu pagamento, determinando, em seguida,
a sua alienação ou, caso requeira o credor, lhe sejam
adjudicados os bens já reservados para o seu pagamento, em
vez do recebimento em dinheiro, desde que a esse respeito
concordem todas as partes (arts. 1.017, §§ 2º ao 4º, do
CPC/1973; e 642, §§ 2º ao 4º, do CPC/2015).
Havendo discordância de alguma parte quanto ao crédito, será
o credor remetido às vias ordinárias, afigurando-se possível ao

437
juiz, na oportunidade, a reserva, em poder do inventariante, de
bens suficientes para pagar o credor quando a dívida constar
de documento que comprove suficientemente a obrigação e a
impugnação não se fundar em quitação, nos termos dos arts.
1.018 do CPC/1973 e 643 do CPC/2015.
Nessa situação, o credor excluído deverá ajuizar a ação
ordinária cabível (cobrança, monitória, execução etc), no prazo
de 30 (trinta) dias contados da data em que foi intimado da
decisão (arts. 1.039, I, do CPC/1973; e 668, I, do CPC/2015),
sob pena de perda de eficácia da reserva de bens
eventualmente decretada pelo magistrado.
Denota-se, assim, que a própria lei confere ao credor excluído
do inventário o ônus de ajuizar a ação de conhecimento
respectiva (com o propósito de recebimento do seu crédito),
sobretudo dentro do trintídio legal quando pretender manter a
eficácia da tutela assecuratória eventualmente concedida - de
reserva de bens -, sendo defeso ao juiz determinar a conversão
da habilitação de crédito em ação de cobrança, em substituição
às partes.
É de se registrar que a impugnação ao pedido de habilitação de
crédito por alguma parte interessada, a ensejar a remessa aos
meios processuais ordinários e a possível concessão pelo juiz
da reserva de bens do espólio em favor do habilitante, confere
feição contenciosa ao incidente, consistindo em verdadeira
"medida cautelar que o juiz toma, ex officio, em defesa do
interesse do credor que não detém sucesso na habilitação: se
o crédito estiver suficientemente comprovado por documento e
a impugnação não se fundar em quitação, o magistrado
mandará reservar, em poder do inventariante, bens suficientes
para pagar o credor, enquanto se aguarda a solução da
cobrança contenciosa".
É consabido que o foro sucessório é universal, afigurando-se
competente o juízo do inventário para conhecer e decidir "todas

438
as questões de direito e também as questões de fato, quando
este se achar provado por documento, só remetendo para os
meios ordinários as que demandarem alta indagação ou
dependerem de outras provas" (art. 984 do CPC/1973,
equivalente ao art. 612 do CPC/2015).
Entretanto, no que concerne à habilitação de crédito em que
haja impugnação, não recai essa regra da universalidade, pois,
com base em expressa disposição legal (arts. 1.018 do
CPC/1973 e 643 do CPC/2015), para que o pleito seja remetido
às vias ordinárias e sujeito à competência do juízo cível da ação
de cobrança, monitória ou de execução, conforme o caso,
"basta a discordância, ainda que o fundamento não seja
adequado, constituindo-se, portanto, regra especial".
De acordo com a doutrina, "não cabe nesse incidente um juízo
de valor do juiz do inventário sobre a questão posta, não
constituindo ela uma daquelas a respeito da qual ele estaria
autorizado a decidir em caso de conflito (art. 612 do CPC).
Todavia, o juiz, de ofício, desde que entenda que o documento
apresentado pelo credor requerente comprove suficientemente
a obrigação e, ainda, desde que a alegação de qualquer das
partes do inventário não seja fundada em pagamento, e esteja
acompanhada de prova valiosa, poderá determinar a reserva
em poder do inventariante de bens suficientes para pagar o
credor, se vitorioso na ação a ser proposta".
Logo, conclui-se que, havendo impugnação, por alguma parte
interessada, à habilitação de crédito em inventário, impõe-se ao
juízo do inventário a remessa das partes às vias ordinárias,
ainda que sobre o mesmo juízo recaia a competência para o
inventário e para as demandas ordinárias (tal como ocorre nos
juízos de Vara única), pois, nos termos dos fundamentos
apresentados, constitui ônus do credor excluído o ajuizamento
da respectiva ação ordinária, não competindo ao juiz a

439
conversão do pedido de habilitação na demanda a ser proposta
pela parte.

REFERÊNCIA REsp 2.045.640-GO, Rel. Ministro Marco Aurélio Bellizze,


DO ACÓRDÃO Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 25/4/2023, DJe
28/4/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 771
DESTAQUE DO Em ação de dissolução parcial de sociedade por cotas, a
INFORMATIVO sociedade empresária possui legitimidade para figurar no polo
passivo da fase executiva, ainda que não tenha sido citada e
não tenha integrado a fase de conhecimento, quando todos que
participavam do quadro social integraram a lide e não se
constata prejuízos às partes.
TRECHOS DO A parte, sociedade empresária (pessoa jurídica), argumenta
INFORMATIVO que não seria parte legítima para figurar no polo passivo da
demanda executiva, pois, não tendo sido citada e não tendo
integrado a ação de conhecimento - Dissolução Parcial de
Sociedade por Cotas -, da qual participaram apenas os sócios
(pessoas físicas), não poderia ser responsabilizada pelo
pagamento dos haveres na fase de cumprimento de sentença.
Precedentes desta Casa indicavam que "Na ação de dissolução
parcial de sociedade limitada, é desnecessária a citação da
pessoa jurídica se todos os que participam do quadro social
integram a lide" (REsp 1.121.530/RN, Rel. Ministro Marco Buzzi,
Quarta Turma, julgado em 13/9/2011, DJe 26/4/2012).
Por outro lado, julgados mais recentes, ainda sob a égide do
Código de Processo Civil de 1973, apontam que "A
jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que, em

440
regra, na ação para apuração de haveres de sócio, a
legitimidade processual passiva é da sociedade e dos sócios
remanescentes, em litisconsórcio passivo necessário" (REsp
1.015.547/AM, Rel. Ministro Raul Araújo, Quarta Turma, julgado
em 1º/12/2016, DJe 14/12/2016).
Contudo, nesse mesmo julgado ponderou-se que seria possível
mitigar esse entendimento diante de especificidades do caso
concreto, em que não se constate prejuízos às partes
demandadas, às quais tenha sido assegurada a ampla defesa
e o contraditório.
Nesse contexto, no caso ora em análise, verifica-se que eram
partes na ação de dissolução parcial da sociedade todos os
sócios da empresa. Trata-se de sociedade empresária
pequena, com apenas uma sócia remanescente, após o
falecimento do outro sócio, a qual foi citada e integrou a ação
de dissolução parcial da sociedade, em que o interesse da sócia
se confunde com o da própria sociedade.
No decorrer da ação, houve ampla defesa e contraditório,
inclusive com apresentação de contestação, reconvenção,
réplica e outras petições, agravo de instrumento e apelação.
Deve ser aplicado, portanto, o princípio pas de nullité sans
grief ("não há nulidade sem prejuízo").

REFERÊNCIA AgInt no AgInt no REsp 1.922.029-DF, Rel. Ministro Marco


DO ACÓRDÃO Buzzi, Quarta Turma, por unanimidade, julgado em 18/4/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 769

441
DESTAQUE DO As alterações introduzidas pela Lei n. 14.195/2021 no art. 8º da
INFORMATIVO Lei n. 12.514/2011 tem aplicação imediata nas ações em
trâmite.
TRECHOS DO Trata-se, na origem, de execução ajuizada por Conselho de
INFORMATIVO Fiscalização Profissional em 21/5/2019 para cobrança de
crédito de valor inferior a cinco vezes o valor previsto no inciso
I do art. 6º da Lei n. 12.514/2011.
Nos termos da jurisprudência pacífica do Superior Tribunal de
Justiça, as regras processuais têm aplicação imediata aos
processos em curso.
Com base nessa jurisprudência, a Segunda Turma, no
julgamento do REsp 2.009.763/RS, relator Ministro Herman
Benjamin, firmou o entendimento segundo a qual se aplica a
nova regra disciplinada pelo art. 8º da Lei n. 12.514/2011, com
as alterações da Lei n. 14.195/2021, às ações em trâmite
porquanto "se a lei estabelece valor mínimo como condição
para a instauração do processo executivo e, por norma legal
superveniente, altera-se o patamar do respectivo valor, com a
determinação de arquivamento das execuções com valor
inferior, sem baixa na distribuição, não há como entender pela
não observância da imposição legal em razão de a execução
ter sido ajuizada anteriormente ao início de vigência da lei
modificadora, porquanto regras processuais têm aplicação
imediata aos processos em curso".

REFERÊNCIA AgInt no REsp 2.037.876-RS, Rel. Ministro Humberto Martins,


DO ACÓRDÃO Segunda Turma, por unanimidade, julgado em 6/3/2023, DJe
13/3/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ

442
INFORMATIVO 767
DESTAQUE DO O art. 382, § 4º, do Código de Processo Civil não pode ser
INFORMATIVO interpretado em sua acepção literal, de modo a obstar qualquer
manifestação da parte adversa no procedimento de antecipação
de provas, em detida observância do contraditório.
TRECHOS DO A controvérsia posta centra-se em saber se, no procedimento
INFORMATIVO de produção antecipada de prova, a pretexto da literalidade do
§ 4º do art. 382 do Código de Processo Civil, há espaço para o
exercício do contraditório, e se caberia ao Juízo a quo,
liminarmente - a despeito da ausência do requisito de urgência
- e sem oitiva da parte demandada, determinar-lhe, de imediato,
a exibição dos documentos requeridos na petição inicial,
advertindo-a sobre o não cabimento de nenhuma defesa.
O chamado processo civil constitucional é garantia individual e
destina-se a dar concretude às normas fundamentais
estruturantes do processo civil, utilizadas, inclusive, como
verdadeiro vetor interpretativo de todo o sistema processual
civil.
Os valores e as normas fundamentais estabelecidos na
Constituição Federal consistem no fundamento de validade - e
mesmo de legitimidade - de todo e qualquer regramento
processual. Com o propósito de reforçar essa concepção
jurídico-positiva, há muito internalizada na doutrina e na
jurisprudência processualista nacional, o Código de Processo
Civil, em seu art. 1º, estabeleceu que: "o processo civil será
ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as
normas fundamentais estabelecidos na Constituição da
República Federativa do Brasil, observando-se as disposições
deste Código".
As normas fundamentais de conteúdo principiológico -
estruturantes e, portanto, superiores aos demais regramentos -
, que traduzem e asseguram o tratamento isonômico das partes
no processo, o direito de defesa, bem como o contraditório, hão

443
de ser necessariamente observadas na aplicação e na
interpretação de todos os dispositivos legais previstos no
Código de Processo Civil.
É possível que as normas processuais estipulem o modo como
o contraditório deve ser exercido, diferindo-o eventualmente. É
possível que, em função das especificidades de determinado
procedimento, possam restringir as matérias passíveis de
serem nele arguidas. A restrição do direito de defesa,
estabelecida em lei, encontra justificativa, portanto, nas
particularidades e, principalmente, na finalidade do
procedimento por ela regulado. Não há, obviamente, nenhuma
vulneração ao princípio do contraditório em tais disposições
legais. Todavia, eventual restrição legal a respeito do exercício
do direito de defesa da parte não pode, de maneira alguma,
conduzir à intepretação que elimine, por completo, o
contraditório.
A vedação legal quanto ao exercício do direito de defesa
somente pode ser interpretada como a proibição de veiculação
de determinadas matérias que se afigurem impertinentes ao
procedimento nela regulado. Logo, as questões inerentes ao
objeto específico da ação em exame e do correlato
procedimento estabelecido em lei poderão ser aventadas pela
parte em sua defesa, devendo-se permitir, em detida
observância do contraditório, sua manifestação,
necessariamente, antes da prolação da correspondente
decisão.
Por conseguinte, o § 4º do art. 382 do CPC - ao estabelecer
que, no procedimento de antecipação de provas, "não se
admitirá defesa ou recurso, salvo contra decisão que indeferir
totalmente a produção da prova pleiteada pelo requerente
originário" - não pode ser interpretado em sua acepção literal.
Importa, nesse passo, bem identificar o objeto específico da
ação de produção antecipada de provas, bem como o conflito

444
de interesses nela inserto, a fim de delimitar em que extensão
o contraditório pode ser nela exercido.
Como é de sabença, o Código de Processo Civil de 2015
buscou reproduzir, em seus termos, compreensão há muito
difundida entre os processualistas de que a prova, na verdade,
tem como destinatário imediato não apenas o juiz, mas também,
diretamente, as partes envolvidas no litígio.
Reconhece-se, assim, à parte o direito material à prova, cuja
tutela pode se referir tanto ao modo de produção de
determinada prova (produção antecipada de prova, prova
emprestada e a prova "fora da terra"), como ao meio de prova
propriamente concebido (ata notarial, depoimento pessoal,
confissão, exibição de documentos ou coisa, documentos,
testemunhas, perícia e inspeção judicial).

REFERÊNCIA REsp 2.037.088-SP, Relator Ministro Marco Aurélio Bellizze,


DO ACÓRDÃO Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 7/3/2023, DJe
13/3/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 767
DESTAQUE DO Para cumprimento dos requisitos arrolados no art. 16, caput, I e
INFORMATIVO II, e § 4º, II, da LRF é necessário instruir a petição inicial da ação
expropriatória de imóveis com a estimativa do impacto
orçamentário-financeiro e apresentar declaração a respeito da
compatibilidade das despesas necessárias ao pagamento das
indenizações ao disposto no plano plurianual, na lei de diretrizes
orçamentárias e na lei orçamentária anual.
TRECHOS DO Nos termos do art. 182, caput, da Constituição Federal,
INFORMATIVO incumbe aos municípios, mediante os diversos instrumentos

445
jurídicos previstos em lei, a execução da política urbana com o
escopo de ordenar o pleno desenvolvimento das funções
sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes.
A desapropriação de imóveis urbanos estampada no art. 182, §
3º, da Constituição se insere precisamente no contexto do
aprimoramento da política de ordenamento municipal,
porquanto outorga aos entes locais a prerrogativa de incorporar,
de maneira compulsória, imóveis privados ao patrimônio estatal
para permitir sua posterior afetação ao desenvolvimento de
projetos e programas eleitos pelos atores políticos como
essenciais para as respectivas comunidades.
(...)
Nesse contexto, buscando equacionar o descompasso entre a
normatividade constitucional e a realidade empírica, o art.
16, caput, I e II, e § 4º, II, da Lei de Responsabilidade Fiscal
passou a condicionar a validade das desapropriações de
imóveis urbanos à prévia estimativa do impacto orçamentário-
financeiro, bem como à declaração de compatibilidade das
despesas necessárias ao pagamento das indenizações ao
disposto no plano plurianual, na lei de diretrizes orçamentárias
e na lei orçamentária anual.
(...)
Outrossim, como o inciso II do § 4º do art. 16 da LRF estabelece
que o cumprimento do requisitos do caput do dispositivo
consiste em condição prévia à desapropriação de imóveis
urbanos, a verificação do atendimento a suas disposições deve
ser aferida em momento anterior ao ajuizamento de ações
expropriatórias, porquanto após a expedição do ato declaratório
de utilidade pública incumbe à Administração avaliar os bens a
serem incorporados ao patrimônio público para quantificar o
valor reputado devido a título de justa indenização.
(...)

446
Dessarte, a adequação formal da ação de desapropriação de
imóveis para o desenvolvimento da política urbana é vinculada
à prévia observância das exigências previstas no art.
16, caput e § 4º, II, da LRF, cujo descumprimento, a par de
invalidar o ato expropriatório, implica a irregularidade das
despesas e lesividade ao patrimônio público (art. 15 da LRF),
tratando-se, portanto, de formalidade específica da petição
inicial das respectivas ações expropriatórias que se soma às
disposições gerais arroladas no Decreto-Lei n. 3.365/1941 e no
CPC/2015, as quais convivem harmonicamente e devem ser
comprovadas pela Administração Pública ao ajuizar a demanda.

REFERÊNCIA REsp 1.930.735-TO, Rel. Ministra Regina Helena Costa,


DO ACÓRDÃO Primeira Turma, por unanimidade, julgado em 28/2/2023, DJe
2/3/2023.

CONEXÕES E 1. Requisito específico da ação de desapropriação de imóveis


COMENTÁRIOS para o desenvolvimento da política urbana, de que trata o art.
182, §4º, da CF, de competência dos Municípios.

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 767
DESTAQUE DO A ausência do depósito previsto no art. 15 do Decreto-Lei n.
INFORMATIVO 3.365/1941 para o deferimento de pedido de imissão provisória
na posse veiculado em ação de desapropriação por utilidade
pública não implica a extinção do processo sem resolução do
mérito, mas, tão somente, o indeferimento da tutela provisória.
TRECHOS DO A disciplina normativa acerca da desapropriação por utilidade
INFORMATIVO pública está radicada, no plano infraconstitucional, no Decreto-
Lei n. 3.365/1941, cuja normatividade estabelece incumbir ao
expropriante, após expedição do ato declaratório e superada a

447
fase administrativa de composição amigável, provocar o poder
judiciário mediante ação de desapropriação com o objetivo de
fixar o montante devido a título de justa indenização.
O art. 13 do Decreto-Lei n. 3.365/1941 estabelece os seguintes
requisitos para a petição inicial da ação expropriatória: "Art. 13.
A petição inicial, além dos requisitos previstos no Código de
Processo Civil, conterá a oferta do preço e será instruída com
um exemplar do contrato, ou do jornal oficial que houver
publicado o decreto de desapropriação, ou cópia autenticada
dos mesmos, e a planta ou descrição dos bens e suas
confrontações".
Assim, a par de instruir a petição inicial com exemplar do jornal
no qual publicado o decreto de utilidade pública e de indicar a
oferta do preço, incumbe ao expropriante atender aos requisitos
genéricos previstos nos arts. 319 e 320 do CPC/2015,
notadamente a juntada dos documentos indispensáveis à
propositura da ação.
Por sua vez, como a incorporação do bem ao patrimônio público
exige, nos termos do art. 5º, XXIV, da Constituição Federal,
prévia e justa indenização em dinheiro - cujo adimplemento
somente ocorre quando definitivamente fixado o valor da
compensação financeira e quitado o respectivo precatório -, a
legislação autoriza o expropriante, em casos urgentes, a
pleitear sua imissão provisória na posse da área objeto de
desapropriação, de modo a permitir a tempestiva satisfação do
interesse público que fundamenta tal forma de intervenção
estatal na propriedade privada.
Nesses casos, o art. 15 do Decreto-Lei n. 3.365/1941
estabelece dois requisitos para possibilitar a imissão provisória
na posse, quais sejam, a alegação de urgência e o depósito de
quantia ofertada pelo expropriante.
Ademais, em ações dessa natureza, o instituto da imissão
provisória na posse não detém autonomia, porquanto possui

448
natureza jurídica de pedido de tutela antecipada voltado a
permitir, antes da transferência definitiva da propriedade ao
patrimônio estatal ao final da demanda, a realização das obras
e serviços inadiáveis.
Assim, embora o depósito da quantia estimada pelo ente
público para o pagamento de indenização constitua
pressuposto legal para o deferimento de pedido de imissão
provisória na posse, sua ausência não implica a extinção da
ação expropriatória sem resolução do mérito, mas, tão somente,
o indeferimento da tutela antecipada, cuja rejeição não obsta a
continuidade do processo para viabilizar a incorporação do bem
ao patrimônio estatal.

REFERÊNCIA REsp 1.930.735-TO, Rel. Ministra Regina Helena Costa,


DO ACÓRDÃO Primeira Turma, por unanimidade, julgado em 28/2/2023, DJe
2/3/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 764
DESTAQUE DO Em mandado de segurança, é vedada a oportunização ao
INFORMATIVO impetrante de emenda à inicial para a indicação da correta
autoridade coatora, quando a referida modificação implique na
alteração da competência jurisdicional.
TRECHOS DO O Superior Tribunal de Justiça tem jurisprudência pacífica no
INFORMATIVO sentido da vedação à oportunização ao impetrante, da emenda
à inicial para a indicação da correta autoridade coatora, quando
a referida modificação implique na alteração da competência
jurisdicional.
No mesmo sentido, confira-se: "PROCESSUAL CIVIL E
TRIBUTÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. ICMS. GLOSA

449
DE CRÉDITOS. SECRETÁRIO DE ESTADO DA FAZENDA.
ILEGITIMIDADE PASSIVA. 1. Os recursos em mandado de
segurança dirigidos ao Superior Tribunal de Justiça são
apreciados em sede de jurisdição ordinária, o que enseja o
conhecimento de ofício de questões de ordem pública, entre
elas a alusiva às condições da ação, no caso, especificamente,
a relacionada com a legitimidade passiva da autoridade
apontada como coatora. 2. O Superior Tribunal de Justiça tem-
se pronunciado no sentido de que o Secretário de Fazenda do
Estado não é parte legítima para figurar como autoridade
coatora em mandados de segurança em que se discute a
exigibilidade de tributos, não havendo falar, de outro lado, na
possibilidade de encampação nem em eventual poder
hierárquico sobre seus subordinados, uma vez que sua
presença indevida no mandamus altera a competência para o
julgamento da ação mandamental. 3. 'A jurisprudência deste
STJ compreende não ser possível autorizar a emenda da inicial
para correção da autoridade indicada como coatora nas
hipóteses em que tal modificação implica em alteração de
competência jurisdicional. Isso porque compete originariamente
ao Tribunal de Justiça Estadual o julgamento de mandado de
segurança contra Secretário de Estado, prerrogativa de foro não
extensível ao servidor responsável pelo lançamento tributário'
(AgInt no RMS 54.535/RJ, Rel. Ministro Sérgio Kukina, Primeira
Turma, DJe 26/9/2018). (...) (AgInt no RMS n. 53.867/MG,
relator Ministro Gurgel de Faria, Primeira Turma, julgado em
21/3/2019, DJe de 3/4/2019)".

REFERÊNCIA REsp 1.954.451-RJ, Rel. Ministro Francisco Falcão, Segunda


DO ACÓRDÃO Turma, por unanimidade, julgado em 14/2/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

450
TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 762
DESTAQUE DO Em operações de financiamento imobiliário garantidas por
INFORMATIVO alienação fiduciária, não é possível a flexibilização do
percentual da taxa de ocupação de imóvel estabelecido no art.
37-A da Lei n. 9.514/1997 a critério do julgador.
TRECHOS DO O art. 37-A da Lei n. 9.514/1997, com a redação que lhe foi dada
INFORMATIVO pela Lei n. 13.465, de 2017, é posterior ao art. 402 do Código
Civil e, também, específico, cuidando exatamente da
consequência jurídica aplicável às hipóteses de ocupação
indevida de imóvel pelo devedor fiduciário.
Cumpre relembrar que esta Corte já decidiu que "a mens legis,
ao determinar e disciplinar a fixação da taxa de ocupação, tem
por objetivo compensar o novo proprietário em razão do tempo
em que se vê privado da posse do bem adquirido, cabendo ao
antigo devedor fiduciante, sob pena de evidente enriquecimento
sem causa, desembolsar o valor correspondente ao período no
qual, mesmo sem título legítimo, ainda usufrui do imóvel" (REsp
1.328.656/GO, relator Ministro Marco Buzzi, Quarta Turma,
julgado em 16/8/2012, DJe 18/9/2012).
Nesse cenário, havendo mais de uma norma incidente sobre um
mesmo fato jurídico, devem ser observados os critérios de
especialidade e de cronologia estabelecidos no art. 2º, caput e
§1º, da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro.
A partir desses parâmetros, é pacífica na jurisprudência desta
Corte a compreensão de que, em face de uma (aparente)
antinomia normativa, a existência de lei posterior e especial
regendo o tema determina a norma aplicável à hipótese
concreta. A Terceira Turma reafirmou esse entendimento,
afastando, com fundamento no critério da especialidade, o
Código de Defesa do Consumidor (CDC) em favor da própria
Lei n. 9.514/1997.

451
Não se pode olvidar, ainda, que o panorama deflagrador do
diálogo das fontes na esfera das relações de consumo,
pressupõe a existência de uma norma mais benéfica fora do
diploma consumerista. Nessa circunstância, então, seria
possível a relativização do critério da especialidade para,
afastando-se eventual regra específica contida no CDC, aplicar-
se uma norma extravagante mais vantajosa para o consumidor,
de modo a realizar o comando disposto no art. 7º do CDC.
Na hipótese, contudo, a norma do art. 402 do Código Civil, além
de não ser específica, também não integra o CDC, o que afasta
o mencionado diálogo das fontes e a possibilidade de
relativização do critério de especialidade legalmente
estabelecido.

REFERÊNCIA REsp 1.999.485-DF, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Rel. para


DO ACÓRDÃO acórdão Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, Terceira Turma,
por maioria, julgado em 6/12/2022, DJe 16/12/2022.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 761
DESTAQUE DO É lícito ao impetrante desistir da ação de mandado de
INFORMATIVO segurança, independentemente de aquiescência da autoridade
apontada como coatora, e a qualquer tempo, mesmo após
sentença de mérito, desde que antes do trânsito em julgado,
ainda que lhe seja desfavorável.
TRECHOS DO O Supremo Tribunal Federal, no RE 669.367/RJ, firmou tese
INFORMATIVO segundo a qual a desistência do mandado de segurança é
prerrogativa da parte impetrante. Pode ser manifestada a
qualquer tempo, mesmo após o julgamento de mérito, desde

452
que antes do trânsito em julgado; e sua homologação não
depende da anuência da parte contrária.
Nessa linha, o STJ tem homologado as desistências, mesmo
após o julgamento de eventuais recursos pelo órgão colegiado.
E, ainda, tem entendido que a desistência da ação não implica
renúncia ao direito discutido, sendo incidente a regra processual
que determina a extinção do processo sem julgamento de
mérito.
No caso, deve ser homologada a desistência do mandado de
segurança e, por consequência, ficam sem efeito os
julgamentos anteriores.

REFERÊNCIA DESIS nos EDcl no AgInt no REsp 1.916.374-PR, Rel. Ministro


DO ACÓRDÃO Benedito Gonçalves, Primeira Turma, por unanimidade, julgado
em 18/10/2022, DJe 27/10/2022.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 726
DESTAQUE DO É inviável a subsunção de dirigentes, unidades ou órgãos de
INFORMATIVO entidades de administração do desporto ao conceito de
autoridade pública ou exercício de função pública, sobressaindo
o caráter privado dessas atividades, declarando-se a
ilegitimidade passiva a obstar o exame de mérito do mandado
de segurança.
TRECHOS DO Inicialmente cumpre salientar que, a par das discussões
INFORMATIVO doutrinárias suscitadas em relação à legitimidade passiva no
mandado de segurança, mormente no que se refere à
controvérsia acerca de recair sobre a própria pessoa jurídica ou
sobre a autoridade coatora, é assente a necessidade de que o
ato impugnado seja emanado de autoridade pública ou esteja

453
vinculado a funções/atividades públicas (delegadas ou
concedidas) exercidas por particulares.
Na hipótese, a pessoa jurídica interessada - Federação
Esportiva - detém natureza de direito privado (art. 44, II, do
Código Civil).
Conforme disposto no artigo 16 da Lei n. 9.615/1998 (Lei Pelé),
as entidades de prática desportiva e as entidades de
administração do desporto, bem como as ligas de que trata o
art. 20, são pessoas jurídicas de direito privado, com
organização e funcionamento autônomo, e terão as
competências definidas em seus estatutos ou contratos sociais.
Especificamente no que se refere à autonomia, à gestão e à
natureza das funções desempenhadas, o artigo 82 da referida
lei assim preceitua: "os dirigentes, unidades ou órgãos de
entidades de administração do desporto, inscritas ou não no
registro de comércio, não exercem função delegada pelo Poder
Público, nem são consideradas autoridades públicas para os
efeitos desta Lei".
Deste modo, é inviável a subsunção ao conceito de autoridade
pública ou exercício de função pública, sobressaindo o caráter
privado da atividade desempenhada, declarando-se a
ilegitimidade passiva, a obstar o exame de mérito do mandado
de segurança.

REFERÊNCIA REsp 1.348.503-SE, Rel. Min. Marco Buzzi, Quarta Turma, por
DO ACÓRDÃO unanimidade, julgado em 22/02/2022.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 726

454
DESTAQUE DO O Habeas corpus não constitui via própria para impugnar
INFORMATIVO Decreto de governador de Estado sobre adoção de medidas
acerca da apresentação do comprovante de vacinação contra a
COVID-19 para que as pessoas possam circular e permanecer
em locais públicos e privados.
TRECHOS DO Trata-se de Habeas Corpus preventivo apontado como coator o
INFORMATIVO Decreto de Governador de Estado que dispõe sobre a
necessidade de apresentação de documento que comprove a
vacinação contra a Covid-19 para que as pessoas possam
circular e permanecer em locais públicos e privados.
O Superior Tribunal de Justiça é firme no sentido de que a
impetração em análise se mostra evidentemente descabida, na
linha do que prescreve a Súmula n. 266/STF, seguindo-se o
entendimento jurisprudencial de que o habeas corpus não
constitui via própria para o controle abstrato da validade de leis
e atos normativos em geral.
(...)
REFERÊNCIA RDC no HC 700.487-RS, Rel. Min. Francisco Falcão, Segunda
DO ACÓRDÃO Turma, por unanimidade, julgado em 22/02/2022.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 701
DESTAQUE DO É vedado o ajuizamento de ação de imissão na posse de imóvel
INFORMATIVO na pendência de ação possessória envolvendo o mesmo bem.

TRECHOS DO Nos termos do art. 557 do CPC/15, "na pendência de ação


INFORMATIVO possessória é vedado, tanto ao autor quanto ao réu, propor
ação de reconhecimento do domínio, exceto se a pretensão for
deduzida em face de terceira pessoa".

455
O mencionado dispositivo legal estabelece a impossibilidade de
debater-se o domínio enquanto pende discussão acerca da
posse, deixando evidente, assim, a clássica concepção de que
a posse é direito autônomo em relação à propriedade e,
portanto, deve ser objeto de tutela jurisdicional específica.
(...)
Apesar de seu nomen iuris, a ação de imissão na posse é ação
do domínio, por meio da qual o proprietário, ou o titular de outro
direito real sobre a coisa, pretende obter a posse nunca
exercida. Semelhantemente à ação reivindicatória, a ação de
imissão funda-se no direito à posse que decorre da propriedade
ou de outro direito real (jus possidendi), e não na posse em si
mesmo considerada, como uma situação de fato a ser protegida
juridicamente contra atentados praticados por terceiros (jus
possessionis).
Assim, a ação petitória ajuizada na pendência da lide
possessória deve ser extinta sem resolução do mérito, por lhe
faltar pressuposto negativo de constituição e de
desenvolvimento válido do processo.
REFERÊNCIA REsp 1.909.196-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma,
DO ACÓRDÃO por unanimidade, julgado em 15/06/2021, DJe 17/06/2021.

CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 698
DESTAQUE DO É inadmissível a cumulação de pedidos estranhos à natureza
INFORMATIVO constitutivo-negativa dos embargos de terceiro.

TRECHOS DO (...)
INFORMATIVO

456
A peculiaridade dos embargos de terceiro é que, a despeito de
se tratar de ação de conhecimento, a sua única finalidade é a
de livrar da constrição judicial injusta os bens pertencentes a
quem não é parte do processo, tanto que o art. 681 do
CPC/2015 afirma que, "acolhido o pedido inicial, o ato de
constrição judicial indevida será cancelado, com o
reconhecimento do domínio, da manutenção da posse ou da
reintegração definitiva do bem ou do direito ao embargante".
Em outras palavras, os embargos de terceiro possuem cognição
restrita, pois a sua análise limita-se tão somente ao exame da
legalidade do ato judicial que culminou na constrição ou ameaça
de constrição sobre bens de terceiro, não possuindo, assim,
natureza condenatória.
Não se ignora que o art. 327, § 2º, do CPC/2015, ao permitir a
cumulação de pedidos em um único processo, estabelece que,
"quando, para cada pedido, corresponder tipo diverso de
procedimento, será admitida a cumulação se o autor empregar
o procedimento comum, sem prejuízo do emprego das técnicas
processuais diferenciadas previstas nos procedimentos
especiais a que se sujeitam um ou mais pedidos cumulados,
que não forem incompatíveis com as disposições sobre o
procedimento comum".
Ocorre que a referida norma processual, que permite a
conversão de procedimento especial para o rito comum, não se
aplica em todo e qualquer caso.
Com efeito, conforme já decidido por esta egrégia Terceira
Turma, "a partir de uma análise sistemática do CPC, conclui-se
que a regra do art. 292, § 2º [correspondente ao art. 327, § 2º,
do CPC/2015], não se aplica indiscriminadamente, como
procura fazer crer a recorrente, alcançando apenas os pedidos
sujeitos a procedimentos que admitam conversão para o rito
ordinário" (REsp 993.535/PR, Relatora a Ministra Nancy
Andrighi, DJe de 22/4/2010).

457
Assim, considerando a cognição limitada dos embargos de
terceiro, cuja finalidade é tão somente de evitar ou afastar a
constrição judicial sobre bens de titularidade daquele que não
faz parte do processo correlato, revela-se inadmissível a
cumulação de pedidos estranhos à sua natureza constitutivo-
negativa, como, por exemplo, o pleito de condenação do réu a
indenização por danos morais, sob pena, inclusive, de tumultuar
a marcha processual célere dos embargos de terceiro, em nítida
contradição com o próprio escopo do art. 327 do CPC/2015.

REFERÊNCIA REsp 1.703.707-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Terceira


DO ACÓRDÃO Turma, por unanimidade, julgado em 25/05/2021.

CONEXÕES E
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12. PROCESSO COLETIVO


12.1 PRECEDENTES QUALIFICADOS

TRIBUNAL STF
INFORMATIVO 1101
DESTAQUE DO Tese fixada no Tema 1043 da Repercussão Geral:
INFORMATIVO É constitucional a utilização da colaboração premiada, nos
termos da Lei 12.850/2013, no âmbito civil, em ação civil pública
por ato de improbidade administrativa movida pelo Ministério
Público, observando-se as seguintes diretrizes: (1) Realizado o
acordo de colaboração premiada, serão remetidos ao juiz, para
análise, o respectivo termo, as declarações do colaborador e
cópia da investigação, devendo o juiz ouvir sigilosamente o
colaborador, acompanhado de seu defensor, oportunidade em
que analisará os seguintes aspectos na homologação:
regularidade, legalidade e voluntariedade da manifestação de
vontade, especialmente nos casos em que o colaborador está

458
ou esteve sob efeito de medidas cautelares, nos termos dos §§
6º e 7º do artigo 4º da referida Lei 12.850/2013; (2) As
declarações do agente colaborador, desacompanhadas de
outros elementos de prova, são insuficientes para o início da
ação civil por ato de improbidade; (3) A obrigação de
ressarcimento do dano causado ao erário pelo agente
colaborador deve ser integral, não podendo ser objeto de
transação ou acordo, sendo válida a negociação em torno do
modo e das condições para a indenização; (4) O acordo de
colaboração deve ser celebrado pelo Ministério Público, com a
interveniência da pessoa jurídica interessada e devidamente
homologado pela autoridade judicial; (5) Os acordos já firmados
somente pelo Ministério Público ficam preservados até a data
deste julgamento, desde que haja previsão de total
ressarcimento do dano, tenham sido devidamente
homologados em Juízo e regularmente cumpridos pelo
beneficiado.
TRECHOS DO É constitucional o uso do instituto da colaboração
INFORMATIVO premiada em ação civil pública por ato de improbidade
administrativa ajuizada pelo Ministério Público se a pessoa
jurídica interessada participar como interveniente e se
forem observadas as diretrizes ora fixadas pelo Supremo
Tribunal Federal, cuja finalidade é favorecer a efetiva tutela
do patrimônio público, da legalidade e da moralidade
administrativas, e evitar a impunidade de maneira eficiente,
com a priorização do combate à corrupção.
O art. 6º da Lei 13.964/2019, ao dar nova redação ao § 1º do
art. 17 da Lei 8.429/1992 (Lei de Improbidade Administrativa -
LIA), introduziu uma nova espécie de justiça
consensual/negocial, permitindo, de modo expresso, a
celebração de acordo — de não persecução cível — no âmbito
da ação civil pública por ato de improbidade administrativa.
Contudo, antes mesmo da derrogação da proibição dos

459
referidos modelos de justiça, já se verificava a possibilidade de
utilização da colaboração premiada com base no restante da
legislação vigente. Nesse contexto, atendidos os parâmetros
legais, o acordo de colaboração poderá ser homologado pelo
juiz, desde que não isente o colaborador de ressarcir
integralmente os danos causados, ainda que a forma de como
se dará a indenização possa ser objeto de negociação.
Ademais, como a LIA prevê a legitimidade ativa concorrente
entre o órgão ministerial e a pessoa jurídica de direito público
lesada para o ajuizamento da ação, deve ser permitida a sua
participação, como interveniente, na celebração do acordo de
não persecução cível. O posicionamento do interveniente não
impedirá a celebração da colaboração premiada pelo Ministério
Público, porém deverá ser observado e analisado pelo
magistrado no momento de sua homologação.

REFERÊNCIA ARE 1.175.650/PR, rel. Min. Alexandre de Moraes, julgamento


DO ACÓRDÃO virtual finalizado em 30.6.23.
CONEXÕES E
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TRIBUNAL STF
INFORMATIVO 1082
DESTAQUE DO Não se aplica às associações genéricas — que não
INFORMATIVO representam qualquer categoria econômica ou profissional
específica — a tese firmada no Tema 1.119 da sistemática da
repercussão geral, sendo insuficiente a mera regularidade
registral da entidade para sua atuação em sede de mandado de
segurança coletivo, pois passível de causar prejuízo aos
interesses dos beneficiários supostamente defendidos.
TRECHOS DO No julgamento do aludido Tema, o STF considerou que a
INFORMATIVO substituição processual pelas associações teria sede direta no

460
art. 5º, LXX, b, da CF/1988, e fixou a seguinte tese: “É
desnecessária a autorização expressa dos associados, a
relação nominal destes, bem como a comprovação de
filiação prévia, para a cobrança de valores pretéritos de
título judicial decorrente de mandado de segurança
coletivo impetrado por entidade associativa de caráter
civil”.
Contudo, ao apreciar os embargos de declaração opostos
contra o acórdão que fixou a tese, esta Corte ressalvou,
expressamente, não ter analisado se as associações genéricas
poderiam ter seus associados beneficiados por decisões em
mandado de segurança coletivo.
Nesse contexto, a mera criação e o registro da associação não
impõem ou autorizam, no aspecto da atuação processual, a
automática e autêntica legitimidade ativa das associações,
sendo necessário à regular substituição processual, que se
determine, minimamente, o seu objeto social, a partir do qual
definido o conjunto de seus associados.
Com base nesse e em outros entendimentos, a Segunda
Turma, por maioria, deu provimento ao agravo regimental da
União (Fazenda Nacional) para negar provimento ao agravo em
recurso extraordinário da Associação Brasileira de
Contribuintes Tributários (ABCT).

REFERÊNCIA ARE 1.339.496 AgR/RJ, relator Min. Edson Fachin, redator do


DO ACÓRDÃO acórdão Min. André Mendonça, julgamento em 7/2/2023.
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TRIBUNAL STF
TEMA 1075 da Repercussão Geral

461
QUESTÃO Constitucionalidade do art. 16 da Lei 7.347/1985, segundo o
qual a sentença na ação civil pública fará coisa julgada erga
omnes, nos limites da competência territorial do órgão prolator.

TESE I - É inconstitucional a redação do art. 16 da Lei 7.347/1985,


FIRMADA alterada pela Lei 9.494/1997, sendo repristinada sua redação
original. II - Em se tratando de ação civil pública de efeitos
nacionais ou regionais, a competência deve observar o art. 93,
II, da Lei 8.078/1990 (Código de Defesa do Consumidor). III -
Ajuizadas múltiplas ações civis públicas de âmbito nacional ou
regional e fixada a competência nos termos do item II, firma-se
a prevenção do juízo que primeiro conheceu de uma delas, para
o julgamento de todas as demandas conexas.
EMENTA (...) 1. A Constituição Federal de 1988 ampliou a proteção aos
RESUMIDA interesses difusos e coletivos, não somente
constitucionalizando-os, mas também prevendo importantes
instrumentos para garantir sua pela efetividade. 2. O sistema
processual coletivo brasileiro, direcionado à pacificação social
no tocante a litígios meta individuais, atingiu status
constitucional em 1988, quando houve importante
fortalecimento na defesa dos interesses difusos e coletivos,
decorrente de uma natural necessidade de efetiva proteção a
uma nova gama de direitos resultante do reconhecimento dos
denominados direitos humanos de terceira geração ou
dimensão, também conhecidos como direitos de solidariedade
ou fraternidade. 3. Necessidade de absoluto respeito e
observância aos princípios da igualdade, da eficiência, da
segurança jurídica e da efetiva tutela jurisdicional. 4.
Inconstitucionalidade do artigo 16 da LACP, com a redação da
Lei 9.494/1997, cuja finalidade foi ostensivamente restringir os
efeitos condenatórios de demandas coletivas, limitando o rol
dos beneficiários da decisão por meio de um critério territorial
de competência, acarretando grave prejuízo ao necessário

462
tratamento isonômico de todos perante a Justiça, bem como à
total incidência do Princípio da Eficiência na prestação da
atividade jurisdicional. 5. RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS
DESPROVIDOS, com a fixação da seguinte tese de
repercussão geral: "I - É inconstitucional a redação do art. 16 da
Lei 7.347/1985, alterada pela Lei 9.494/1997, sendo
repristinada sua redação original. II - Em se tratando de ação
civil pública de efeitos nacionais ou regionais, a competência
deve observar o art. 93, II, da Lei 8.078/1990 (Código de Defesa
do Consumidor). III - Ajuizadas múltiplas ações civis públicas de
âmbito nacional ou regional e fixada a competência nos termos
do item II, firma-se a prevenção do juízo que primeiro conheceu
de uma delas, para o julgamento de todas as demandas
conexas".
(RE 1101937, Relator(a): ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal
Pleno, julgado em 08/04/2021, PROCESSO ELETRÔNICO
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-113 DIVULG 11-06-
2021 PUBLIC 14-06-2021)
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TRIBUNAL STF
TEMA 858 da Repercussão Geral
QUESTÃO Aptidão, ou não, da ação civil pública para afastar a coisa
julgada, em particular quando já transcorrido o biênio para o
ajuizamento da rescisória.

TESE I - O trânsito em julgado de sentença condenatória proferida em


sede de ação desapropriatória não obsta a propositura de Ação
Civil Pública em defesa do patrimônio público, para discutir a
dominialidade do bem expropriado, ainda que já se tenha
expirado o prazo para a Ação Rescisória; II - Em sede de Ação

463
de Desapropriação, os honorários sucumbenciais só serão
devidos caso haja devido pagamento da indenização aos
expropriados.
EMENTA (...) 1. Possibilidade de propositura de ação civil pública, pelo
RESUMIDA Ministério Público, para discutir a titularidade de imóvel objeto
de ação de desapropriação, em que já formada coisa julgada.
2. Inexistência de coisa julgada sobre o domínio na ação de
desapropriação, de modo que tal princípio constitucional não é
desrespeitado, em face do ajuizamento de ação civil pública
pelo Ministério Público, com o propósito de reconhecer a
propriedade da União sobre terras localizadas em faixa de
fronteira. Inaplicabilidade do prazo bienal para ajuizamento de
ação rescisória. 3. Os honorários advocatícios fixados na
sentença da ação de desapropriação somente serão devidos
caso seja efetivamente paga a indenização aos demandados.
Por se tratar de verba acessória, os honorários sucumbenciais
estão associados ao efetivo êxito da parte. 6. Recurso
Extraordinário a que se nega provimento. Tema 858, fixada a
seguinte tese de repercussão geral: “I - O trânsito em julgado
de sentença condenatória proferida em sede de ação
desapropriatória não obsta a propositura de Ação Civil Pública
em defesa do patrimônio público, para discutir a dominialidade
do bem expropriado, ainda que já se tenha expirado o prazo
para a Ação Rescisória; II - Em sede de Ação de
Desapropriação, os honorários sucumbenciais só serão devidos
caso haja devido pagamento da indenização aos expropriados".
(RE 1010819, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/
Acórdão: ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal Pleno, julgado
em 26/05/2021, PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO
GERAL - MÉRITO DJe-194 DIVULG 28-09-2021 PUBLIC 29-
09-2021)
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464
TRIBUNAL STF
TEMA 850 da Repercussão Geral
QUESTÃO Legitimidade do Ministério Público para a propositura de ação
civil pública em defesa de direitos relacionados ao FGTS, tendo
em vista a vedação contida no art. 1º, parágrafo único, da Lei
7.347/1985.

TESE O Ministério Público tem legitimidade para a propositura de


ação civil pública em defesa de direitos sociais relacionados ao
FGTS.
EMENTA (...) 1. No julgamento do RE 631.111 (Rel. Min. TEORI
RESUMIDA ZAVASCKI, DJe de 30/10/2014), sob o regime da repercussão
geral, o PLENÁRIO firmou entendimento no sentido de que
certos interesses individuais, quando aferidos em seu conjunto,
de modo coletivo e impessoal, têm o condão de transcender a
esfera de interesses estritamente particulares, convolando-se
em verdadeiros interesses da comunidade, emergindo daí a
legitimidade do Ministério Público para ajuizar ação civil pública,
com amparo no art. 127 da Constituição Federal, o que não
obsta o Poder Judiciário de sindicar e decidir acerca da
adequada legitimação para a causa, inclusive de ofício. 2. No
RE 576.155 (Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI, DJe de
1º/2/2011), também submetido ao rito da repercussão geral, o
PLENÁRIO cuidou da questão envolvendo a vedação constante
do parágrafo único do art. 1º da Lei 7.347/1985, incluído pela
MP 2.180-35/2001, oportunidade em que se reconheceu a
legitimidade do Ministério Público para dispor da ação civil
pública com o fito de anular acordo de natureza tributária
firmado entre empresa e o Distrito Federal, pois evidente a
defesa ministerial em prol do patrimônio público. 3. A demanda
intenta o resguardo de direitos individuais homogêneos cuja
amplitude possua expressiva envergadura social, sendo

465
inafastável a legitimidade do Ministério Público para ajuizar a
correspondente ação civil pública. 4. É o que ocorre com as
pretensões que envolvam tributos, contribuições
previdenciárias, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço -
FGTS ou outros fundos de natureza institucional cujos
beneficiários podem ser individualmente determinados
(parágrafo único do art. 1º da Lei 7.347/1985). 5. Na hipótese, o
Tribunal Regional Federal da 5ª Região, pautado na premissa
de que o direito em questão guarda forte conotação social,
concluiu que o Ministério Público Federal detém legitimidade
ativa para ajuizar ação civil pública em face da Caixa
Econômica Federal, uma vez que se litiga sobre o modelo
organizacional dispensado ao FGTS, máxime no que se refere
à unificação das contas fundiárias dos trabalhadores. 6.
Recurso Extraordinário a que nega provimento. Tese de
repercussão geral proposta: o Ministério Público tem
legitimidade para a propositura de ação civil pública em defesa
de direitos sociais relacionados ao FGTS.
(RE 643978, Relator(a): ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal
Pleno, julgado em 09/10/2019, PROCESSO ELETRÔNICO
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-232 DIVULG 24-10-
2019 PUBLIC 25-10-2019)
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TRIBUNAL STF
TEMA 499 da Repercussão Geral
QUESTÃO Limites subjetivos da coisa julgada referente à ação coletiva
proposta por entidade associativa de caráter civil.

466
TESE A eficácia subjetiva da coisa julgada formada a partir de ação
coletiva, de rito ordinário, ajuizada por associação civil na
defesa de interesses dos associados, somente alcança os
filiados, residentes no âmbito da jurisdição do órgão julgador,
que o fossem em momento anterior ou até a data da propositura
da demanda, constantes da relação jurídica juntada à inicial do
processo de conhecimento.
EMENTA EXECUÇÃO – AÇÃO COLETIVA – RITO ORDINÁRIO –
RESUMIDA ASSOCIAÇÃO – BENEFICIÁRIOS. Beneficiários do título
executivo, no caso de ação proposta por associação, são
aqueles que, residentes na área compreendida na jurisdição do
órgão julgador, detinham, antes do ajuizamento, a condição de
filiados e constaram da lista apresentada com a peça inicial.
(RE 612043, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno,
julgado em 10/05/2017, PROCESSO ELETRÔNICO
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-229 DIVULG 05-10-
2017 PUBLIC 06-10-2017)
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TRIBUNAL STJ
TEMA Repetitivo 973
QUESTÃO Análise acerca da aplicabilidade da Súmula 345* do STJ diante
da superveniência do art. 85, § 7º, do CPC/2015.

*Súmula 345: São devidos honorários advocatícios pela


Fazenda Pública nas execuções individuais de sentença
proferida em ações coletivas, ainda que não embargadas.
(SÚMULA 345, CORTE ESPECIAL, julgado em 07/11/2007, DJ
28/11/2007, p. 225)

TESE O art. 85, § 7º, do CPC/2015 não afasta a aplicação do


entendimento consolidado na Súmula 345 do STJ, de modo que

467
são devidos honorários advocatícios nos procedimentos
individuais de cumprimento de sentença decorrente de ação
coletiva, ainda que não impugnados e promovidos em
litisconsórcio.
EMENTA (...)2. Sob a égide do CPC/1973, esta Corte de Justiça pacificou
RESUMIDA a orientação de que são devidos honorários advocatícios pela
Fazenda Pública nas execuções individuais de sentença
proferida em ações coletivas, ainda que não embargadas
(Súmula 345), afastando, portanto, a aplicação do art. 1º-D da
Lei n. 9.494/1997.
3. A exegese do art. 85, § 7º, do CPC/2015, se feita sem se
ponderar o contexto que ensejou a instauração do
procedimento de cumprimento de sentença, gerará as mesmas
distorções então ocasionadas pela interpretação literal do art.
1º-D da Lei n. 9.494/1997 e que somente vieram a ser corrigidas
com a edição da Súmula 345 do STJ.
4. A interpretação que deve ser dada ao referido dispositivo é a
de que, nos casos de cumprimento de sentença contra a
Fazenda Pública em que a relação jurídica existente entre as
partes esteja concluída desde a ação ordinária, não caberá a
condenação em honorários advocatícios se não houver a
apresentação de impugnação, uma vez que o cumprimento de
sentença é decorrência lógica do mesmo processo cognitivo.
5. O procedimento de cumprimento individual de sentença
coletiva, ainda que ajuizado em litisconsórcio, quando almeja a
satisfação de direito reconhecido em sentença condenatória
genérica proferida em ação coletiva, não pode receber o mesmo
tratamento pertinente a um procedimento de cumprimento
comum, uma vez que traz consigo a discussão de nova relação
jurídica, e a existência e a liquidez do direito dela decorrente
serão objeto de juízo de valor a ser proferido como pressuposto
para a satisfação do direito vindicado.

468
6. Hipótese em que o procedimento de cumprimento de
sentença pressupõe cognição exauriente - a despeito do nome
a ele dado, que induz à indevida compreensão de se estar
diante de mera fase de execução -, sendo indispensável a
contratação de advogado, uma vez que é necessária a
identificação da titularidade do exequente em relação ao direito
pleiteado, promovendo-se a liquidação do valor a ser pago e a
individualização do crédito, o que torna induvidoso o conteúdo
cognitivo dessa execução específica. 7. Não houve mudança no
ordenamento jurídico, uma vez que o art. 85, § 7º, do CPC/2015
reproduz basicamente o teor normativo contido no art. 1º-D da
Lei n. 9.494/1997, em relação ao qual o entendimento desta
Corte, já consagrado, é no sentido de afastar a aplicação do
aludido comando nas execuções individuais, ainda que
promovidas em litisconsórcio, do julgado proferido em sede de
ação coletiva lato sensu, ação civil pública ou ação de classe.
8. Para o fim preconizado no art. 1.039 do CPC/2015, firma-se
a seguinte tese: "O art. 85, § 7º, do CPC/2015 não afasta a
aplicação do entendimento consolidado na Súmula 345 do STJ,
de modo que são devidos honorários advocatícios nos
procedimentos individuais de cumprimento de sentença
decorrente de ação coletiva, ainda que não impugnados e
promovidos em litisconsócio." 9. Recurso especial desprovido,
com majoração da verba honorária.
(REsp 1648238/RS, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, CORTE
ESPECIAL, julgado em 20/06/2018, DJe 27/06/2018)
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STF
TEMA 1119 da Repercussão Geral

469
QUESTÃO Necessidade de juntada da autorização expressa dos
associados, da relação nominal, bem como da comprovação de
filiação prévia, para a cobrança de valores pretéritos de título
judicial decorrente de mandado de segurança coletivo
impetrado por entidade associativa de caráter civil

TESE É desnecessária a autorização expressa dos associados, a


relação nominal destes, bem como a comprovação de filiação
prévia, para a cobrança de valores pretéritos de título judicial
decorrente de mandado de segurança coletivo impetrado por
entidade associativa de caráter civil.
EMENTA RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO.
RESUMIDA ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. DIREITO
RECONHECIDO EM MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO
IMPETRADO POR ASSOCIAÇÃO. AÇÃO DE COBRANÇA DE
VALORES PRETÉRITOS. CONTROVÉRSIA QUANTO À
LEGITIMIDADE ATIVA. TEMAS 82 E 499 DA REPERCUSSÃO
GERAL. INAPLICABILIDADE. SUBSTITUIÇÃO
PROCESSUAL. DESNECESSIDADE DE AUTORIZAÇÃO
EXPRESSA. PRECEDENTES. MULTIPLICIDADE DE
RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS. ENTENDIMENTO
CONSOLIDADO NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL. CONTROVÉRSIA CONSTITUCIONAL
DOTADA DE REPERCUSSÃO GERAL. REAFIRMAÇÃO DA
JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.
AGRAVO CONHECIDO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO
DESPROVIDO.
(ARE 1293130 RG, Relator(a): MINISTRO PRESIDENTE,
Tribunal Pleno, julgado em 17/12/2020, PROCESSO
ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-001
DIVULG 07-01-2021 PUBLIC 08-01-2021)
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

470
TRIBUNAL STF
TEMA 561 da Repercussão Geral
QUESTÃO Legitimidade do Ministério Público para ajuizamento de ação
civil pública que visa a anular ato administrativo com
fundamento na defesa do patrimônio público.

TESE O Ministério Público é parte legítima para o ajuizamento de ação


coletiva que visa anular ato administrativo de aposentadoria que
importe em lesão ao patrimônio público.
EMENTA (...) 1. O Ministério Público ostenta legitimidade para a tutela
RESUMIDA coletiva destinada à proteção do patrimônio público, mormente
porque múltiplos dispositivos Constitucionais evidenciam a
elevada importância que o constituinte conferiu à atuação do
parquet no âmbito das ações coletivas. 2. O Ministério Público,
por força do art. 127, caput, da Carta Magna, tem dentre suas
incumbências a “defesa da ordem jurídica, do regime
democrático e dos interesses sociais e individuais
indisponíveis”, mercê de o art. 129 da Lei Maior explicitar as
funções institucionais do Ministério Público no sentido de “zelar
pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de
relevância pública aos direitos assegurados” na Constituição
(inciso II), “promover o inquérito civil e a ação civil pública, para
a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e
de outros interesses difusos e coletivos” (inciso III) e “exercer
outras funções que lhe forem conferidas, desde que
compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe vedada a
representação judicial e a consultoria jurídica de entidades
públicas” (inciso IX). 3. A tutela coletiva exercida pelo Ministério
Público se submete apenas a restrições excepcionais, como,
verbi gratia a norma que veda ao Ministério Público a
representação judicial e a consultoria jurídica de entidades

471
públicas (art. 129, IX, in fine, da CRFB), sendo certo que a Carta
Magna atribui ao parquet ampla atribuição no campo da tutela
do patrimônio público, interesse de cunho inegavelmente
transindividual, bem como que sua atuação na proteção do
patrimônio público não afasta a atuação do próprio ente público
prejudicado, conforme prevê o art. 129, § 1º, da Constituição:
“A legitimação do Ministério Público para as ações civis
previstas neste artigo não impede a de terceiros, nas mesmas
hipóteses, segundo o disposto nesta Constituição e na lei”. 4. O
parquet, ao ajuizar ação coletiva para a tutela do Erário, não
age como representante da entidade pública, e sim como
substituto processual de uma coletividade indeterminada, é
dizer, a sociedade como um todo, titular do direito à boa
administração do patrimônio público, da mesma forma que
qualquer cidadão também poderia fazê-lo por meio de ação
popular (art. 5º, LXXIII, da CRFB). 5. O combate em juízo à
dilapidação ilegal do Erário configura atividade de defesa da
ordem jurídica, dos interesses sociais e do patrimônio público,
sendo todas essas funções institucionais atribuídas ao
Ministério Público pelos artigos 127 e 129 da Constituição, de
modo que entendimento contrário não apenas afronta a textual
previsão da Carta Magna, mas também fragiliza o sistema de
controle da Administração Pública, visto que deixaria a
persecução de atos atentatórios à probidade e à moralidade
administrativas basicamente ao talante do próprio ente público
no bojo do qual a lesão ocorreu. 6. A jurisprudência do Plenário
deste Supremo Tribunal Federal reconhece a legitimidade do
Ministério Público para o ajuizamento de ação coletiva
destinada à proteção do patrimônio público: RE 225777,
Relator(a): Min. EROS GRAU, Relator(a) p/ Acórdão: Min. DIAS
TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 24/02/2011; RE 208790,
Relator(a): Min. ILMAR GALVÃO, Tribunal Pleno, julgado em
27/09/2000. 7. In casu: a) O Ministério Público do Estado de

472
Rondônia ajuizou ação civil pública contra o Estado de
Rondônia e um policial militar, postulando a anulação do ato
administrativo que transferiu o referido policial para a reserva,
porquanto ele não contava com tempo de serviço suficiente
para esse fim, mercê de pleitear também exclusão do
pagamento de gratificações e limitação da remuneração ao teto
salarial estadual. b) A alegação recursal de impossibilidade de
exercício de controle de constitucionalidade incidental no bojo
de ação civil pública demanda interpretação do art. 103 do
Código de Defesa do Consumidor, o qual versa sobre os limites
subjetivos da coisa julgada nas ações coletivas, revelando-se
incabível o Recurso Extraordinário para “rever a interpretação
dada a normas infraconstitucionais pela decisão recorrida”, nos
termos da Súmula n.º 636 deste Supremo Tribunal Federal. c)
Por sua vez, a causa de pedir recursal que sustenta o direito à
incorporação da gratificação por cargo de gerenciamento
superior aos proventos do Recorrente demanda o exame da
legislação local, não havendo questão propriamente
constitucional a ser apreciada, de modo que incide o óbice da
Súmula n.º 280 desta Corte, verbis: “Por ofensa a direito local
não cabe recurso extraordinário.” 8. Recurso Extraordinário
parcialmente conhecido e, na parte conhecida, desprovido,
fixando-se a seguinte tese para aplicação a casos idênticos, na
forma do art. 1.040, III, do Código de Processo Civil de 2015: “O
Ministério Público tem legitimidade para ajuizar Ação Civil
Pública que vise anular ato administrativo de aposentadoria que
importe em lesão patrimônio público”.
(RE 409356, Relator(a): LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em
25/10/2018, PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO
GERAL - MÉRITO DJe-187 DIVULG 28-07-2020 PUBLIC 29-
07-2020)
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

473
TRIBUNAL STF
TEMA 262 da Repercussão Geral
QUESTÃO Legitimidade do Ministério Público para ajuizar ação civil pública
que tem por objetivo compelir entes federados a entregar
medicamentos a portadores de certas doenças.

TESE O Ministério Público é parte legítima para ajuizamento de ação


civil pública que vise o fornecimento de remédios a portadores
de certa doença.
EMENTA LEGITIMIDADE – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – FORNECIMENTO
RESUMIDA DE REMÉDIOS – MINISTÉRIO PÚBLICO – O Ministério
Público possui legitimidade para ajuizar ação civil pública com
objetivo de compelir entes federados a entregarem
medicamentos a portadores de certa doença.
(RE 605533, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno,
julgado em 15/08/2018, ACÓRDÃO ELETRÔNICO
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-028 DIVULG 11-02-
2020 PUBLIC 12-02-2020)
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
TEMA Repetitivo 1056
QUESTÃO Definição acerca dos limites subjetivos da coisa julgada
formada no Mandado de Segurança Coletivo
2005.51.01.016159-0 (impetrado pela Associação de Oficiais
Militares do Estado do Rio de Janeiro - AME/RJ), presente o
quanto decidido no EREsp 1.121.981/RJ, em ordem a demarcar
o efetivo espectro de beneficiários legitimados a executar

474
individualmente a Vantagem Pecuniária Especial/VPE prevista
na Lei nº 11.134/05.
TESE A coisa julgada formada no Mandado de Segurança Coletivo
2005.51.01.016159-0 (impetrado pela Associação de Oficiais
Militares do Estado do Rio de Janeiro - AME/RJ, enquanto
substituta processual) beneficia os militares e respectivos
pensionistas do antigo Distrito Federal, integrantes da categoria
substituída - oficiais, independentemente de terem constado da
lista apresentada no momento do ajuizamento do mandamus ou
de serem filiados à associação impetrante.
EMENTA (...) 1. No julgamento do ARE 1.293.130/RG-SP, realizado sob
RESUMIDA a sistemática da repercussão geral, o Supremo Tribunal Federal
reafirmou a sua jurisprudência dominante, estabelecendo a tese
de que "é desnecessária a autorização expressa dos
associados, a relação nominal destes, bem como a
comprovação de filiação prévia, para a cobrança de valores
pretéritos de título judicial decorrente de mandado de segurança
coletivo impetrado por entidade associativa de caráter civil".
2. Também sob a sistemática da repercussão geral, no
julgamento do RE 573.232/RG-SC, o STF - não obstante tenha
analisado especificamente a possibilidade de execução de título
judicial decorrente de ação coletiva sob o procedimento
ordinário ajuizada por entidade associativa - registrou que, para
a impetração de mandado de segurança coletivo em defesa dos
interesses de seus membros ou associados, as associações
prescindem de autorização expressa, que somente é
necessária para ajuizamento de ação ordinária, nos termos do
art. 5º, XXI, da CF.
3. O STJ já se manifestou no sentido de que os sindicatos e as
associações, na qualidade de substitutos processuais, têm
legitimidade para atuar judicialmente na defesa dos interesses
coletivos de toda a categoria que representam, por isso, caso a
sentença do writ coletivo não tenha uma delimitação expressa

475
dos seus limites subjetivos, a coisa julgada advinda da ação
coletiva deve alcançar todas as pessoas da categoria, e não
apenas os filiados.
4. No título exequendo, formado no julgamento do EREsp
1.121.981/RJ, esta Corte acolheu embargos de divergência
opostos pela Associação de Oficiais Militares Estaduais do Rio
de Janeiro - AME/RJ "para que a Vantagem Pecuniária Especial
- VPE, criada pela Lei n.
11.134/2005, seja estendida aos servidores do antigo Distrito
Federal em razão da vinculação jurídica criada pela Lei n.
10.486/2002", não havendo nenhuma limitação quanto aos
associados da então impetrante.
5. Acolhidos os embargos de divergência, nos moldes do
disposto no art. 512 do CPC/1973 (vigente à época da prolação
do aresto), deve prevalecer a decisão proferida pelo órgão
superior, em face do efeito substitutivo do recurso.
6. Nos termos do art. 22 da Lei n. 12.016/2009, a legitimidade
para a execução individual do título coletivo formado em sede
de mandado de segurança, caso o título executivo tenha
transitado em julgado sem limitação subjetiva (lista, autorização
etc), restringe-se aos integrantes da categoria que foi
efetivamente substituída.
7. Hipótese em que, conforme registrado pelo Tribunal de
origem, de acordo com o Estatuto Social, a Associação de
Oficiais Militares Estaduais do Rio de Janeiro - AME/RJ tem por
objeto apenas a defesa de interesses dos Oficiais Militares, não
abarcando os Praças.
8. Para o fim preconizado no art. 1.039 do CPC/2015, firma-se
a seguinte tese repetitiva: "A coisa julgada formada no Mandado
de Segurança Coletivo 2005.51.01.016159-0 (impetrado pela
Associação de Oficiais Militares do Estado do Rio de Janeiro -
AME/RJ, enquanto substituta processual) beneficia os militares
e respectivos pensionistas do antigo Distrito Federal,

476
integrantes da categoria substituída - oficiais,
independentemente de terem constado da lista apresentada no
momento do ajuizamento do mandamus ou de serem filiados à
associação impetrante." 9. Recurso especial provido para
cassar o aresto recorrido e reconhecer a legitimidade ativa da
parte recorrente para promover a execução, e determinar o
retorno dos autos ao Tribunal a quo, a fim de que dê
prosseguimento ao feito, julgando-o como entender de direito.
(REsp 1845716/RJ, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, Rel. p/
Acórdão Ministro GURGEL DE FARIA, PRIMEIRA SEÇÃO,
julgado em 21/10/2021, DJe 14/12/2021)
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
TEMA Repetitivo 766
QUESTÃO Legitimidade ad causam do Ministério Público para pleitear, em
demandas contendo beneficiários individualizados, tratamento
ou medicamento necessário ao tratamento de saúde desses
pacientes.
TESE O Ministério Público é parte legítima para pleitear tratamento
médico ou entrega de medicamentos nas demandas de saúde
propostas contra os entes federativos, mesmo quando se tratar
de feitos contendo beneficiários individualizados, porque se
refere a direitos individuais indisponíveis, na forma do art. 1º da
Lei n. 8.625/1993 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público).
EMENTA (...) 1. Os dispositivos legais, cuja aplicação é questionada nos
RESUMIDA dois recursos especiais e a tramitação se dá pela sistemática
dos repetitivos (REsp 1.681.690/SP e REsp 1.682.836/SP),
terão sua resolução efetivada em conjunto, consoante
determina a regra processual.

477
2. A discussão, neste feito, passa ao largo de qualquer
consideração acerca da legitimidade ministerial para propor
demandas, quando se tratar de direitos difusos, coletivos ou
individuais homogêneos, até porque inexiste qualquer dúvida
da sua legitimidade, nesse particular, seja por parte da
legislação aplicável à espécie, seja por parte da jurisprudência.
De outra parte, a discussão também não se refere à
legitimidade de o Ministério Público postular em favor de
interesses de menores, incapazes e de idosos em situação de
vulnerabilidade. É que, em tais hipóteses, a legitimidade do
órgão ministerial decorre da lei, em especial dos seguintes
estatutos jurídicos: arts. 201, VIII, da Lei n. 8.069/1990 e 74, II
e III, da Lei 10.741/2003.
3. A fronteira para se discernir a legitimidade do órgão
ministerial diz respeito à disponibilidade, ou não, dos direitos
individuais vindicados. É que, tratando-se de direitos individuais
disponíveis e uma vez não havendo uma lei específica
autorizando, de forma excepcional, a atuação do Ministério
Público (como no caso da Lei n. 8.560/1992), não se pode falar
em legitimidade de sua atuação. Todavia, se se tratar de direitos
ou interesses indisponíveis, a legitimidade ministerial já
decorreria da redação do próprio art. 1º da Lei n. 8.625/1993
(Lei Orgânica Nacional do Ministério Público).
4. Com efeito, a disciplina do direito à saúde encontra na
jurisprudência pátria a correspondência com o próprio direito à
vida, de forma que a característica da indisponibilidade do
direito já decorreria dessa premissa firmada.
5. Assim, inexiste violação dos dispositivos dos arts. 1º, V, e 21
da Lei n. 7.347/1985, bem como do art. 6º do CPC/1973, uma
vez que a atuação do Ministério Público, em demandas de
saúde, assim como nas relativas à dignidade da pessoa
humana, tem assento na indisponibilidade do direito individual,

478
com fundamento no art. 1º da Lei n. 8.625/1993 (Lei Orgânica
Nacional do Ministério Público).
6. Tese jurídica firmada: O Ministério Público é parte legítima
para pleitear tratamento médico ou entrega de medicamentos
nas demandas de saúde propostas contra os entes federativos,
mesmo quando se tratar de feitos contendo beneficiários
individualizados, porque se refere a direitos individuais
indisponíveis, na forma do art. 1º da Lei n. 8.625/1993 (Lei
Orgânica Nacional do Ministério Público).
7. (...) (REsp 1682836/SP, Rel. Ministro OG FERNANDES,
PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 25/04/2018, DJe 30/04/2018)
CONEXÕES E 1. Correlato ao Tema de Repercussão Geral/STF n. 262, no
COMENTÁRIOS qual foi firmada a seguinte tese pelo STF: O Ministério Público
é parte legítima para ajuizamento de ação civil pública que vise
o fornecimento de remédios a portadores de certa doença.

2. Também sobre a legitimidade do MP em matéria de direitos


individuais, cf. Súmula 601 do STJ:
O Ministério Público tem legitimidade ativa para atuar na defesa
de direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos dos
consumidores, ainda que decorrentes da prestação de serviço
público. (SÚMULA 601, CORTE ESPECIAL, julgado em
07/02/2018, DJe 14/02/2018)
Note-se que, na hipótese versada na súmula, a legitimidade do
MP pode se apresentar mesmo diante de direitos individuais
homogêneos disponíveis, pois a defesa do consumidor ostenta
relevância social.
Na mesma linha, em outras hipóteses de direitos individuais
homogêneos dotados de relevância social, interesse social
qualificado ou hipervulnerabilidade dos sujeitos envolvidos, a
jurisprudência STJ tem reconhecido a legitimidade ativa do MP.

TRIBUNAL STJ

479
TEMA Repetitivo 1029
QUESTÃO Aplicabilidade do rito dos Juizados Especiais da Fazenda
Pública (Lei 12.153/2009) ao Cumprimento de Sentença
individual oriundo de Ação Coletiva que seguiu o procedimento
ordinário em Vara da Fazenda Pública, independentemente de
haver Juizado Especial instalado no foro competente.
TESE Não é possível propor nos Juizados Especiais da Fazenda
FIRMADA Pública a execução de título executivo formado em Ação
Coletiva que tramitou sob o rito ordinário, assim como impor o
rito sumaríssimo da Lei 12.153/2009 ao juízo comum da
execução.
EMENTA (...) IDENTIFICAÇÃO DA CONTROVÉRSIA 1. O tema repetitivo
RESUMIDA ora controvertido (1.029/STJ) consiste em estabelecer a
"aplicabilidade do rito dos Juizados Especiais da Fazenda
Pública (Lei 12.153/2009) ao Cumprimento de Sentença
individual oriundo de Ação Coletiva que seguiu o procedimento
ordinário em Vara da Fazenda Pública, independentemente de
haver Juizado Especial instalado no foro competente".
EXAME DO TEMA REPETITIVO 2. Na hipótese tratada no
presente tema repetitivo, o Tribunal de origem assentou que,
por ser absoluta a competência dos Juizados Especiais da
Fazenda Pública (§ 4º do art. 2º da Lei 12.153/2009), o
cumprimento de sentença oriundo de Ação Coletiva em que o
valor da causa seja inferior a 60 (sessenta) salários mínimos
deve seguir o rito sumaríssimo da Lei 12.153/2009,
independentemente de haver Juizado Especial instalado na
comarca competente.
3. Com relação à execução de sentenças coletivas, o STJ
firmou a compreensão, sob o rito do art. 543-C do CPC/1973,
de que "a liquidação e a execução individual de sentença
genérica proferida em ação civil coletiva pode ser ajuizada no
foro do domicílio do beneficiário, porquanto os efeitos e a
eficácia da sentença não estão circunscritos a lindes

480
geográficos, mas aos limites objetivos e subjetivos do que foi
decidido, levando-se em conta, para tanto, sempre a extensão
do dano e a qualidade dos interesses metaindividuais postos
em juízo (arts. 468, 472 e 474, CPC e 93 e 103, CDC.)" (REsp
1.243.887/PR, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, Corte
Especial, julgado em 19.10.2011, DJe de 12.12.2011).
4. Também está sedimentado na jurisprudência do STJ o
entendimento de que, uma vez instalado Juizado Especial
Federal ou da Fazenda Pública, conforme o caso, e se o valor
da causa for inferior ao da alçada, a competência é absoluta.
Apenas como exemplo: REsp 1.537.768/DF, Rel. Ministro
Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Turma, julgado em
20.8.2019, DJe de 5.9.2019.
5. A questão que emerge do tema repetitivo é indagar se é
possível ajuizar ação executiva no Juizado Especial da Fazenda
Pública relativa a título judicial oriundo de Ação Coletiva, em
que se seguiu rito próprio desse tipo de ação.
6. O art. 2º, § 1º, I, da Lei 12.153/2009 dispõe que não se
incluem na competência do Juizado Especial da Fazenda
Pública as demandas sobre direitos ou interesses difusos e
coletivos, o que é argumento suficiente para excluir a
competência executória de sentenças exaradas em Ações
Coletivas.
7. Na mesma lei não há disposição expressa acerca da
competência executória dos Juizados da Fazenda Pública,
havendo apenas regramento (arts. 12 e 13) do rito da execução
de seus próprios julgados.
8. O art. 27 da Lei 12.153/2009 fixa a aplicação subsidiária do
CPC, da Lei 9.099/1995 e da Lei 10.259/2001, os quais se
examinam a seguir.
9. A Lei 9.099/1995, no art. 3º, § 1º, delimita a competência dos
Juizados Especiais Cíveis e, por aplicação subsidiária, dos
Juizados Especiais da Fazenda Pública para promoverem a

481
execução "dos seus julgados" e "dos títulos executivos
extrajudiciais, no valor de até quarenta vezes o salário mínimo".
10. Já o art. 3º, caput, da Lei 10.259/2001, também de aplicação
subsidiária aos Juizados Especiais da Fazenda Pública,
delimita a competência executória a "executar as suas
sentenças".
11. Por fim, a terceira lei de regramento de aplicação
subsidiária, o CPC, estabelece (grifos acrescentados): "Art.
516. O cumprimento da sentença efetuar-se-á perante: I - os
tribunais, nas causas de sua competência originária; II - o juízo
que decidiu a causa no primeiro grau de jurisdição; III - o juízo
cível competente, quando se tratar de sentença penal
condenatória, de sentença arbitral, de sentença estrangeira ou
de acórdão proferido pelo Tribunal Marítimo.
Parágrafo único. Nas hipóteses dos incisos II e III, o exequente
poderá optar pelo juízo do atual domicílio do executado, pelo
juízo do local onde se encontrem os bens sujeitos à execução
ou pelo juízo do local onde deva ser executada a obrigação de
fazer ou de não fazer, casos em que a remessa dos autos do
processo será solicitada ao juízo de origem".
12. (...) 13. Nota-se que a Lei 12.153/2009 e as respectivas
normas de aplicação subsidiária determinam que os Juizados
Especiais da Fazenda Pública têm competência para apreciar
apenas as execuções de seus próprios julgados ou de títulos
extrajudiciais.
14. Por derradeiro, o Código de Defesa do Consumidor, norma
que rege a tutela coletiva não só no direito do consumidor, mas
de forma subsidiária de todos os tipos de direitos, fixa a
competência, para a execução, do juízo da liquidação da
sentença ou da ação condenatória, no caso de execução
individual, valendo aqui a regra do domicílio do exequente no
caso de juízos com a mesma competência.

482
15. Na mesma linha de compreensão aqui traçada, cita-se
precedente da Primeira Turma que examina a Lei 10.259/2001
(Juizado Especial Federal), aplicada subsidiariamente à Lei
12.153, ora em exame: "Nos termos do art. 3º, caput, da Lei
10.259/2001, 'Compete ao Juizado Especial Federal Cível
processar, conciliar e julgar causas de competência da Justiça
Federal até o valor de sessenta salários mínimos, bem como
executar as suas sentenças.' Extrai-se do referido dispositivo
legal que a fixação da competência do JEF, no que se refere às
execuções, impõe a conjugação de duas condicionantes: (a) o
valor da causa deve ser inferior a 60 (sessenta) salários
mínimos;
(b) o titulo executivo judicial deve ser oriundo do próprio JEF.
(...)
16. Assim, não é possível propor nos Juizados Especiais da
Fazenda Pública a execução de título executivo formado em
Ação Coletiva, muito menos impor o citado rito sumaríssimo ao
juízo comum.
17. O Cumprimento da Sentença coletiva deve obedecer o rito
previsto nos arts. 534 e seguintes do CPC/2015; e o fato de o
valor da execução ser baixo pode apenas resultar, conforme a
quantia, em Requisição de Pequeno Valor para o pagamento do
débito (art. 535, § 3º, II, do CPC/2015).
DEFINIÇÃO DA TESE REPETITIVA 18. Fixa-se a seguinte tese
repetitiva para o Tema 1.029/STJ: "Não é possível propor nos
Juizados Especiais da Fazenda Pública a execução de título
executivo formado em Ação Coletiva que tramitou sob o rito
ordinário, assim como impor o rito sumaríssimo da Lei
12.153/2009 ao juízo comum da execução." (...)
CONCLUSÃO 22. Recurso Especial provido, sob o rito dos arts.
1.036 e seguintes do CPC/2015.
(REsp 1804186/SC, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN,
PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 12/08/2020, DJe 11/09/2020)

483
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

12.2 JURISPRUDÊNCIA PERSUASIVA

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 788
DESTAQUE DO O Ministério Público possui legitimidade para requerer, em ação
INFORMATIVO civil pública, medida protetiva de urgência em favor de mulher
vítima de violência doméstica.
TRECHOS DO A controvérsia refere-se à legitimidade, ou não, do Ministério
INFORMATIVO Público para requerer, em ação civil pública, medida protetiva
de urgência em favor de mulher vítima de violência doméstica.
O art. 25 da Lei n. 11.343/2006 determina que o Ministério
Público é legítimo para atuar nas causas cíveis e criminais
decorrentes da violência doméstica e familiar contra a mulher.
A Primeira Seção desta Corte Superior, em recurso repetitivo,
firmou a tese de que o Ministério Público é parte legítima para
pleitear tratamento médico ou entrega de medicamentos nas
demandas de saúde propostas contra os entes federativos,
mesmo quando se tratar de feitos contendo beneficiários
individualizados, porque se trata de direitos individuais
indisponíveis.
Segundo este Tribunal, o limite para a legitimidade da atuação
judicial do Ministério Público vincula-se à disponibilidade, ou
não, dos direitos individuais vindicados, isto é, tratando-se de
direitos individuais disponíveis, e não havendo uma lei
específica autorizando, de forma excepcional, a atuação dessa
instituição permanente, não se pode falar em legitimidade de
sua atuação. Contudo, se se tratar de direitos ou interesses
indisponíveis, a legitimidade ministerial decorre do art. 1º da Lei
n. 8.625/1993.

484
Outrossim, esta Corte entende que é viável a ação civil pública
não apenas para tutelar conflitos de massa (direitos
transindividuais), mas também se revela como o meio
pertinente à tutela de direitos e interesses indisponíveis e/ou
que detenham suficiente repercussão social, aproveitando, em
maior ou menor medida, toda a coletividade.
A medida protetiva de urgência requerida para resguardar
interesse individual de mulher vítima de violência doméstica tem
natureza indisponível, e, pela razoabilidade, não se pode
entender pela disponibilidade do direito, haja vista que a Lei
11.340/2006 surgiu no ordenamento jurídico brasileiro como um
dos instrumentos que resguardam os tratados internacionais de
direitos humanos, dos quais o Brasil é parte, e assumiu o
compromisso de resguardar a dignidade humana da mulher,
dentre eles, a Convenção sobre a Eliminação de Todas as
Formas de Discriminação contra as Mulheres.
A Lei Maria da Penha foi criada como mecanismo para coibir e
prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos
termos do §8° do art. 226 da Constituição da República, da
Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Violência contra a Mulher, da Convenção Interamericana para
Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher e de
outros tratados internacionais ratificados pela República
Federativa do Brasil; dispõe sobre a criação dos Juizados de
Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; e estabelece
medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de
violência doméstica e familiar.
Portanto, conclui-se que, no âmbito do combate à violência
doméstica e familiar contra a mulher, por se tratar de direito
individual indisponível, o MP possui legitimidade para atuar
tanto na esfera jurídica penal, quanto na cível, nos termos do
art. 1º da Lei n. 8.625/1993 e art. 25 da Lei n. 11.340/2006.

485
REFERÊNCIA REsp 1.828.546-SP, Rel. Ministro Jesuíno Rissato
DO ACÓRDÃO (Desembargador convocado do TJDFT), Sexta Turma, julgado
em 12/9/2023, DJe 15/9/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 785
DESTAQUE DO A eficácia subjetiva da sentença coletiva abrange os
INFORMATIVO substituídos domiciliados em todo o território nacional desde
que proposta por entidade associativa de âmbito nacional, em
desfavor da União, na Justiça Federal do Distrito Federal.
TRECHOS DO O Supremo Tribunal Federal - STF, em julgamento realizado
INFORMATIVO pela sistemática da repercussão geral, fixou a tese de que "a
eficácia subjetiva da coisa julgada formada a partir de ação
coletiva, de rito ordinário, ajuizada por associação civil na
defesa de interesses dos associados, somente alcança os
filiados, residentes no âmbito da jurisdição do órgão julgador,
que o fossem em momento anterior ou até a data da propositura
da demanda, constantes da relação jurídica juntada à inicial do
processo de conhecimento". Nesse sentido, veja-se o seguinte
precedente:
PROCESSO CIVIL. EXECUÇÃO INDIVIDUAL DE SENTENÇA
COLETIVA. AÇÃO COLETIVA ORDINÁRIA PROPOSTA POR
ASSOCIAÇÃO. LIMITAÇÃO TERRITORIAL DOS EFEITOS DA
DECISÃO. TEMA N. 499 DO STF. RECURSO ESPECIAL
PROVIDO PARA RECONHECER A ILEGIMIDADE DE
EXEQUENTE NÃO ABRANGIDO PELA LIMITAÇÃO
TERRITORIAL. AGRAVO INTERNO. DECISÃO MANTIDA. [...]
IV - A Suprema Corte, no julgamento do RE n. 612.043/PR
(Tema n. 499), em regime de repercussão geral, fixou o
entendimento no sentido de que a eficácia subjetiva da coisa

486
julgada, formada a partir de ação coletiva, de rito ordinário,
ajuizada por associação civil na defesa de interesses dos
associados, somente alcança os filiados, residentes no âmbito
da jurisdição do órgão julgador, que o fossem em momento
anterior ou até a data da propositura da demanda, constantes
da relação jurídica juntada à inicial do processo de
conhecimento. V - Nessa linha, está bem delimitado e
evidenciado no referido acórdão do STF que a tese relativa à
limitação territorial dos efeitos da decisão coletiva diz respeito
apenas às ações coletivas de rito ordinário, ajuizadas por
associação civil, que agem em representação processual, não
se estendendo tal entendimento aos sindicatos, que agem na
condição de substitutos processuais, nem a outras espécies de
ações coletivas, como, por exemplo, o mandado de segurança
coletivo ou a ação civil pública. [...] (AgInt no REsp n.
1.993.350/RN, relator Ministro Francisco Falcão, Segunda
Turma, julgado em 19/9/2022, DJe de 21/9/2022.).
O Superior Tribunal de Justiça - STJ entende que a eficácia
subjetiva da sentença coletiva abrange os substituídos
domiciliados em todo o território nacional desde que proposta
por entidade associativa de âmbito nacional, em desfavor da
União, na Justiça Federal do Distrito Federal. Confira-se o
precedente:
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVOS
REGIMENTAIS NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO.
AÇÃO COLETIVA. LIMITAÇÃO SUBJETIVA. ART. 2º-A DA LEI
9.494/97. AÇÃO PROPOSTA NO DISTRITO FEDERAL
CONTRA A UNIÃO POR ENTIDADE ASSOCIATIVA DE
ÂMBITO NACIONAL. EFICÁCIA SUBJETIVA DA SENTENÇA
COLETIVA A TODOS OS SUBSTITUÍDOS DOMICILIADOS NO
TERRITÓRIO NACIONAL. CORREÇÃO MONETÁRIA A
PARTIR DE 29/6/2009. IPCA. DECLARAÇÃO DE

487
INCONSTITUCIONALIDADE. APLICAÇÃO DE IMEDIATO.
PENDÊNCIA DE MODULAÇÃO DOS EFEITOS.
SOBRESTAMENTO. DESNECESSIDADE. 1. A jurisprudência
desta Corte se firmou no sentido de que a sentença proferida
em ação coletiva somente surte efeito nos limites da
competência territorial do órgão que a proferiu e exclusivamente
em relação aos substituídos processuais que ali eram
domiciliados à época da propositura da demanda. Aplicação do
disposto no art. 2º-A da Lei n. 9.494/1997. Precedentes. 2. A
eficácia subjetiva da sentença coletiva abrange os substituídos
domiciliados em todo o território nacional desde que: 1)
proposta por entidade associativa de âmbito nacional; 2) contra
a União; e 3) no Distrito Federal. Interpretação do art. 2º-A da
Lei n. 9.494/1997 à luz do disposto no § 2º do art. 109, § 1º do
art. 18 e inciso XXI do art. 5º, todos da CF. [...](AgRg nos EDcl
no AgRg no Ag n. 1.424.442/DF, relator Ministro Benedito
Gonçalves, Primeira Turma, julgado em 20/3/2014, DJe de
28/3/2014).

REFERÊNCIA AgInt no AREsp 2.122.178-SP, Rel. Ministro Gurgel de Faria,


DO ACÓRDÃO Primeira Turma, por unanimidade, julgado em 21/8/2023, DJe
24/8/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 774
DESTAQUE DO Não é cabível promover a liquidação do título executivo judicial
INFORMATIVO coletivo em foro aleatório, sem nenhuma relação com as
comarcas de domicílio dos beneficiários, ainda que se trate do
foro de domicílio do substituto processual extraordinário, sob
pena de afronta ao princípio do Juiz natural.

488
TRECHOS DO A controvérsia está em definir se o foro de domicílio do
INFORMATIVO substituto processual é competente para processar e julgar a
liquidação de sentença coletiva.
Depreende-se dos autos que determinada associação privada
promoveu, na comarca de Maceió, a liquidação do título
executivo judicial constituído em Ação Civil Pública que
tramitara perante a 12ª Vara Cível de Brasília, em que fora
condenado o Banco do Brasil S.A. aos expurgos inflacionários
de 42,72% decorrentes de plano econômico. A Primeira
Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Alagoas reconheceu a
incompetência do Juízo de primeiro grau.
O voto condutor do aresto a quo destacou que nenhum dos
beneficiários representados pelo instituto agravado no processo
em trâmite na primeira instância é domiciliado na cidade de
Maceió ou qualquer outra cidade do Estado de Alagoas, sendo
incontroverso o fato de que todos eles possuem domicílio no
Estado de São Paulo.
A despeito de se oportunizar ao consumidor que promova a
liquidação no foro de seu domicílio ou no foro em que o título
executivo judicial foi proferido, não caberia, de outro lado, a
eleição de uma comarca aleatória, sem nenhuma justificativa
plausível.
Quanto ao tema, importante destacar que a Segunda Seção do
Superior Tribunal de Justiça, em julgamento de recurso especial
repetitivo, que versava sobre o cumprimento individual da
sentença proferida no julgamento da Ação Civil Pública pela 12ª
Vara Cível de Brasília/DF, possibilitou o ajuizamento do
cumprimento de sentença tanto no Distrito Federal quanto no
domicílio dos beneficiários da referida decisão coletiva.
Portanto, o entendimento prevalente nesta Corte Superior é de
que a competência poderá ser do foro em que prolatada a
decisão da ação civil pública ou do domicílio dos beneficiários

489
ou seus sucessores, e não do local de domicílio de legitimado
extraordinário.
A competência da Comarca de Maceió não pode ser amparada
nos arts. 46, 53, III, b, 516, parágrafo único, 711 e 781 do
Código de Processo Civil, ao argumento de que o banco
também teria domicílio naquela Comarca.
Isso porque, conforme exposto, a competência territorial para
processar e julgar a execução coletiva está subordinada à regra
legal específica, não sendo aplicáveis as regras gerais do
Código de Processo Civil de 2015, haja vista que a fixação da
competência territorial em função de um dos domicílios do réu
deverá ser observada somente quando a agência ou sucursal
esteja diretamente relacionada com o dano, o que não se
observa na hipótese.

REFERÊNCIA REsp 1.866.440-AL, Rel. Ministro Marco Aurélio Bellizze,


DO ACÓRDÃO Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 9/5/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 773
DESTAQUE DO O sindicato possui legitimidade ativa para substituir os
INFORMATIVO sucessores de servidores falecidos, independentemente de o
óbito ter ocorrido antes do ajuizamento da execução.
TRECHOS DO A jurisprudência desta Corte é firme no sentido de que "o
INFORMATIVO sindicato possui legitimidade ativa para substituir os sucessores
de servidores falecidos, independentemente de o óbito ter
ocorrido antes do ajuizamento da execução" [...] (AgInt no REsp
1.881.628/RS, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda
Turma, julgado em 23/11/2020, DJe 1°/12/2020).

490
Em reforço, confira-se: "[...] 2. O sindicato possui legitimidade
ativa para substituir os sucessores dos servidores públicos
falecidos. Por isso, ainda que o óbito tenha ocorrido no curso da
ação de conhecimento, é possível o ajuizamento da execução
pelo ente sindical" [...] (REsp 1.848.480/PE, Rel. Ministro Og
Fernandes, Segunda Turma, julgado em 22/9/2020, DJe
9/10/2020).

REFERÊNCIA AgInt no REsp 2.026.557-PE, Rel. Ministro Sérgio Kukina,


DO ACÓRDÃO Primeira Turma, por unanimidade, julgado em 20/3/2023, DJe
23/3/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 764
DESTAQUE DO Em caso de dissolução, por decisão judicial, da associação
INFORMATIVO autora de ação civil pública, é possível a substituição processual
pelo Ministério Público.
TRECHOS DO Cinge-se a controvérsia a determinar a possibilidade de
INFORMATIVO interpretação extensiva do art. 5º, § 3º, da Lei de Ação Civil
Pública (LACP) no caso em que a associação que ajuizara a
ação é dissolvida por decisão judicial em que se reconhece a
ausência de representatividade adequada e o desvio de
finalidade, permitindo-se a sua substituição pelo Ministério
Público.
Como não cabe ao intérprete estabelecer distinções onde a
própria lei não distinguiu, é irrelevante ao deferimento da
substituição processual a circunstância da associação haver
sido extinta por decisão judicial. Nesse sentido, também esta
Corte já deixou claro que "se o dispositivo não restringiu, não
pode o aplicador do direito interpretar a norma a ponto de criar

491
uma restrição nela não prevista" (REsp 1.113.175/DF, Rel.
Ministro Castro Meira, Corte Especial, julgado em 24/5/2012,
DJe 7/8/2012). O que importa é que tanto nos casos de
desistência infundada ou de abandono da ação quanto na
hipótese de extinção da associação por decisão judicial, o
objetivo legítimo consiste em não deixar desprotegidas as
pessoas que de fato tinham o interesse naquela tutela e até
então eram substituídas pela associação. Assim sendo, o
fundamento para o deferimento da substituição processual não
depende de se tratar de desistência infundada ou de abandono
da ação, mas, sim, da necessidade de proteger os
consumidores.
Nesse sentido, "consoante previsão dos arts. 9º da Lei n.
4.717/65 e 5º, § 3º, da Lei n. 7.347/85, tendo ocorrido a
dissolução da autora coletiva originária, deve ser possibilitado
aos outros legitimados coletivos a assunção do polo ativo, como
forma de se privilegiar a coletividade envolvida no processo e a
economia dos atos processuais" (REsp 1.800.726/MG, Rel.
Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 2/4/2019,
DJe 4/4/2019).

REFERÊNCIA AgInt no REsp 1.582.243-SP, Rel. Ministra Maria Isabel Gallotti,


DO ACÓRDÃO Quarta Turma, por unanimidade, julgado em 14/2/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 764
DESTAQUE DO Ainda que o processo esteja em curso no Superior Tribunal de
INFORMATIVO Justiça, o Ministério Público Federal não possui legitimidade
para substituir associação extinta por decisão judicial em ação
civil pública proposta perante a Justiça estadual.

492
TRECHOS DO A associação que ajuizara a ação civil pública foi extinta por
INFORMATIVO decisão judicial, requerendo a intimação do Ministério Público
para manifestar-se acerca da substituição no polo ativo. O
Ministério Público Estadual, a despeito de ter sido intimado, não
se manifestou, razão pela qual o processo foi julgado extinto,
sem resolução do mérito, diante da ausência de capacidade
para ser parte da associação.
O Ministério Público Federal (MPF) opôs embargos
declaratórios contra essa decisão, afirmando que, "de acordo
com o art. 37, I, e 66 da Lei Complementar nº 75, de 20/5/1993,
é atribuição do Ministério Público Federal atuar nas causas de
competência do Superior Tribunal de Justiça, por seus
Subprocuradores-gerais da República".
A pretensão do MPF de substituir a associação civil é
inadmissível porquanto a presente ação tramitou na Justiça do
Estado de Minas Gerais. Embora tenha legitimidade para oficiar
nos processos em curso nesta Corte, essa legitimidade não se
estende à assunção do polo ativo de ação civil pública proposta
perante a Justiça estadual e que nela teve tramitação por não
se enquadrar na competência da Justiça Federal (CF, art. 109).

REFERÊNCIA REsp 1.678.925-MG, Rel. Ministra Maria Isabel Gallotti, Quarta


DO ACÓRDÃO Turma, por maioria, julgado em 14/2/2023.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 759
DESTAQUE DO Não havendo limitação subjetiva no título executivo em razão
INFORMATIVO das particularidades do direito tutelado, é indevida a limitação
de sua abrangência aos filiados relacionados na inicial da ação
coletiva proposta por sindicato.

493
TRECHOS DO Acerca da substituição processual pelos sindicatos em relação
INFORMATIVO aos integrantes da categoria que representam, o Supremo
Tribunal Federal fixou, sob o rito da repercussão geral, o
entendimento segundo o qual é ampla a legitimidade
extraordinária dos sindicatos para defenderem em juízo os
direitos e interesses coletivos ou individuais dos integrantes da
categoria que representam, independentemente de autorização
dos substituídos (RE 883.642- RG, Relator Ministro Presidente,
julgado em 18/6/2015, Acórdão Eletrônico Repercussão Geral -
Mérito DJe-124 Divulg. 25/6/2015 Public. 26/6/2015).
Na esteira da tese cogente fixada pela Suprema Corte, a
jurisprudência do STJ firmou-se na compreensão de que a
listagem dos substituídos não se faz necessária na propositura
da ação coletiva pelo sindicato, e de que a eventual juntada de
tal relação não gera, por si só, a limitação subjetiva da
abrangência da sentença coletiva aos substituídos nela
indicados.
Situação diversa, e excepcional, é aquela em que o título
executivo limita expressamente a sua abrangência subjetiva
diante de particularidades do direito tutelado. Nessas situações,
a jurisprudência desta Corte compreende que é indevida a
inclusão de servidor que não integrou a ação coletiva, sob pena
de ofensa à coisa julgada.
Na espécie, trata-se de cumprimento individual de sentença
decorrente de ação coletiva em que se reconheceu o direito à
correção do enquadramento funcional dos servidores da
UFRGS em decorrência do afastamento da proibição da soma
das cargas horárias para fins de enquadramento inicial por
capacitação.
Em casos idênticos, no qual se discute a legitimidade de
servidores não listados na inicial da ação coletiva para integrar
o polo ativo do cumprimento de sentença baseado no título
executivo ali firmado, esta Corte Superior, com fundamento no

494
que fora decidido no REsp 1.473.052/RS, compreendeu que
não havia limitação subjetiva no título judicial em questão, que
assim alcançava todos os integrantes da categoria substituída
pelo sindicato. Nesse sentido: (AgInt no REsp 1.964.459/RS,
relatora Ministra Assusete Magalhães, Segunda Turma, DJe de
15/9/2022).

REFERÊNCIA
DO ACÓRDÃO AgInt no REsp 1.956.312-RS, Rel. Ministro Manoel Erhardt
(Desembargador convocado do TRF5), Primeira Turma, por
unanimidade, julgado em 29/11/22, DJe 2/12/22.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 756
DESTAQUE DO É de cinco anos o prazo prescricional para ajuizamento da
INFORMATIVO execução individual de sentença proferida em Ação Civil
Pública.
TRECHOS DO Cinge-se a controvérsia a determinar qual o prazo prescricional
INFORMATIVO para pretensão de cumprimento individual de condenação
constante de sentença coletiva.
O Tribunal de origem condenou a parte recorrente ao
ressarcimento dos valores despendidos pelos beneficiários com
o custeio das lentes intraoculares. Nas razões de seu recurso
especial, pleiteia que "(...) o ressarcimento aos consumidores
se oriente pela prescrição ânua prevista no arts. 178, § 6°, II, do
Código Civil de 1916 e 206, §1°, II, do Código Civil de 2002",
ou, subsidiariamente, pela prescrição trienal.
Ocorre que a hipótese trata de pretensão de cumprimento
individual de condenação constante de sentença coletiva, de
modo que não se aplicam os prazos prescricionais ânuo ou

495
trienal, mas a prescrição quinquenal, conforme tese firmada
pela Segunda Seção do STJ no julgamento do Recurso
Especial 1.273.643/PR, julgado pelo rito dos recursos
repetitivos (Tema 515).

REFERÊNCIA EDcl no REsp 1.569.684-SP, Rel. Min. Raul Araújo, Quarta


DO ACÓRDÃO Turma, por unanimidade, julgado em 25/10/2022.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 722
DESTAQUE O Ministério Público não possui legitimidade para promover a
execução coletiva do art. 98 do Código de Defesa do
Consumidor por ausência de interesse público ou social a
justificar sua atuação.
TRECHOS DO Inicialmente, cumpre salientar que os direitos individuais
INFORMATIVO homogêneos, por sua própria natureza, comportam execução
individual na fase de cumprimento de sentença, conforme
previsto no art. 97 do CDC.

Além da execução individual, surgem ainda duas outras


possibilidades, a execução "coletiva" do art. 98, e a execução
residual (fluid recovery) prevista no art. 100, ambos do CDC.

Embora o art. 98 do CDC faça referência aos legitimados


elencados no art. 82 do CDC, cumpre observar que, na fase de
execução da sentença coletiva, a cognição judicial se limita à
função de identificar o beneficiário do direito reconhecido na
sentença (cui debeatur) e a extensão individual desse direito
(quantum debeatur), pois, nessa fase processual, a controvérsia

496
acerca do núcleo de homogeneidade do direito já se encontra
superada.

Essa particularidade da fase de execução constitui óbice à


atuação do Ministério Público na promoção da execução
coletiva, pois o interesse social, que justificaria a atuação
do parquet, à luz do art. 129, inciso III, da Constituição Federal,
está vinculado ao núcleo de homogeneidade do direito, sobre o
qual não se controverte na fase de execução.

Segundo a doutrina, "a legitimidade do Ministério Público fica


reservada para as hipóteses de direitos difusos ou de direitos
coletivos em sentido estrito ou, subsidiariamente, para a
hipótese de 'coletivização' do resultado do processo, o que se
dá quando a quantidade de habilitações individuais é
inexpressiva (art. 100 do Código de Defesa do Consumidor).
Essa excepcionalíssima hipótese, em que admitimos a
legitimidade do Ministério Público em causas que versem
direitos individuais homogêneos, decorre justamente dessa
nova destinação do resultado concreto da ação".

Nessa linha de entendimento, impõe-se declarar a ilegitimidade


ativa do Ministério Público para o pedido de cumprimento da
sentença coletiva, sem prejuízo da legitimidade para a
execução residual prevista no art. 100 do CDC.

REFERÊNCIA REsp 1.801.518-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino,


DO ACÓRDÃO Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 14/12/2021, DJe
16/12/2021.
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 712

497
DESTAQUE O Ministério Público possui legitimidade para promover a tutela
coletiva de direitos individuais homogêneos, mesmo que de
natureza disponível, desde que o interesse jurídico tutelado
possua relevante natureza social.

TRECHOS DO A controvérsia jurídica diz respeito à legitimidade do Ministério


INFORMATIVO Público para promover ação civil pública em defesa dos direitos
de proprietários de imóveis, devido à cobrança de taxas por
associação de moradores.
Segundo a jurisprudência desta Corte Superior, o Ministério
Público possui legitimidade para promover a tutela coletiva de
direitos individuais homogêneos, mesmo que de natureza
disponível, desde que o interesse jurídico tutelado possua
relevante natureza social.
Em recente decisão da Quarta Turma foi firmado o
entendimento de que, na hipótese de defesa do direito do
consumidor, a relevância social é intrínseca, por possuir relação
direta com o próprio desenvolvimento e bem-estar da
sociedade.
Sob a ótica objetiva e subjetiva da relevância social, verifica-se
que, no caso, não se busca defender bens ou valores
essenciais à sociedade, tais como o direito ao meio ambiente
equilibrado, à educação, à cultura ou à saúde, nem se pretende
tutelar direito de vulnerável, como o consumidor, o portador de
necessidade especial, o indígena, o idoso ou o menor de idade.
Assim, a ação civil pública tem por finalidade apenas evitar a
cobrança de taxas, supostamente ilegais, por específica
associação de moradores. Nessa perspectiva, não transcende
a esfera de interesses puramente particulares e,
consequentemente, não possui a relevância social exigida para
a tutela coletiva.

498
REFERÊNCIA REsp 1.585.794-MG, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, Quarta
DO ACÓRDÃO Turma, por unanimidade, julgado em 28/09/2021, DJe
01/10/2021.

CONEXÕES E 1. Também sobre a legitimidade do MP em matéria de direitos


COMENTÁRIOS individuais, cf. Súmula 601 do STJ:
O Ministério Público tem legitimidade ativa para atuar na defesa
de direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos dos
consumidores, ainda que decorrentes da prestação de serviço
público. (SÚMULA 601, CORTE ESPECIAL, julgado em
07/02/2018, DJe 14/02/2018)

TRIBUNAL STJ
INFORMATIVO 700
DESTAQUE DO O beneficiário de expurgos inflacionários pode promover o
INFORMATIVO cumprimento individual de sentença coletiva para cobrança
exclusiva de juros remuneratórios não contemplados em ação
civil pública diversa, também objeto de execução individual pelo
mesmo beneficiário.
TRECHOS DO A controvérsia consiste em analisar se o beneficiário de
INFORMATIVO expurgos inflacionários pode promover o cumprimento
individual de sentença coletiva, mas apenas para cobrança
exclusiva de juros remuneratórios não contemplados em ação
civil pública diversa, também objeto de execução individual pelo
mesmo beneficiário.
Inicialmente, em relação aos juros remuneratórios, consta do
REsp 1.392.245/DF, submetido ao regime dos recursos
repetitivos, que enquanto os juros moratórios, em sua acepção
estritamente jurídica, são juros legais, para cuja incidência se
dispensa pedido expresso ou mesmo condenação, os juros

499
remuneratórios, no mais das vezes, são contratuais, cujo
reconhecimento depende de pedido expresso e, para ser
executado, de condenação na fase de conhecimento.
De outra parte, especificamente em relação à incidência dos
juros remuneratórios envolvendo expurgos inflacionários, a
jurisprudência consolidada do STJ, de há muito, consignou que
as verbas referidas somente poderão ser objeto de liquidação
ou execução individual quando expressamente previstas no
título judicial.
Nesse contexto, a questão passa pela análise dos efeitos
preclusivos das demandas coletivas, perquirindo-se, no caso
concreto, se o trânsito em julgado da primeira execução implica
a ocorrência de eficácia preclusiva apta a impedir o ajuizamento
do cumprimento de execução com base no novo título.
No caso, não houve pedido expresso quanto aos juros
remuneratórios na [primeira] ação civil pública proposta [pelo
IBDCI], estando a execução individual, portanto, submetida tão
apenas ao que constou do título.
Por sua vez, somente na sentença oriunda da [segunda] ação
civil pública ajuizada [pelo Pro-Just], os juros foram inseridos,
circunstância que motivou a propositura do cumprimento do
novo título judicial, que, embora tenha condenado a Caixa
Econômica Federal ao pagamento de expurgos coincidentes da
primeira execução, previu, de maneira inédita, a incidência dos
juros remuneratórios.
Nessa linha de intelecção, levando em conta as diretrizes do
processo coletivo referidas, bem como os efeitos da "res
iudicata secundum eventum litis", nos termos do art. 103, §§ 2°
e 3° e 104, do CDC, não há como concluir que o trânsito em
julgado da primeira ação civil pública - cuja execução individual
estava adstrita aos exatos termos do título judicial nesta
formado - tenha o condão de espraiar os efeitos preclusivos da
coisa julgada de pedido não deduzido.

500
Por tudo quanto apresentado, no regime próprio das demandas
coletivas envolvendo direitos individuais homogêneos, a
ausência de pedido expresso em ação civil pública ajuizada por
instituição diversa, na qualidade de substituta processual, não
impede a propositura do cumprimento provisório de sentença
pelo mesmo beneficiário individual com base em novo título
coletivo formado em ação civil pública diversa, exclusivamente
para o alcance de verbas cuja coisa cuja jugada somente tenha
se operado a partir do novo título proferido e do qual o autor
seja também beneficiário.

REFERÊNCIA REsp 1.934.637-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta


DO ACÓRDÃO Turma, por unanimidade, julgado em 08/06/2021
CONEXÕES E
COMENTÁRIOS

501

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