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Universidade Federal de Minas Gerais

Faculdade de Direito
Controle de Constitucionalidade
Turma D
Acadêmicos: André Augusto Silva Marques, Luiza Linhares Costa, Marcelo
Henrique Oliveira, Nathalia de Araújo D’ambrósio, Reberth Carolino de Oliveira e
Valentina Nogueira Camilo.

3º Trabalho – Controle de Constitucionalidade

1) Disserte sobre a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI), enfatizando,


especificamente: a) Natureza dos legitimados ativos; b) Objeto; c) Efeitos
possíveis da decisão definitiva de procedência da ADI; d) Hipóteses de
cabimento ou não de uma ADI.

A Ação Direta de Inconstitucionalidade é uma ação de controle concentrado


abstrato de constitucionalidade (art. 102, I, a, CR/88), que tem como objeto lei ou ato
normativo federal ou estadual, cuja inconstitucionalidade se buscará. Abrangidas
nesse objeto estão as espécies normativas primárias (como as leis ordinárias,
emendas constitucionais, medidas provisórias) – que, conforme o STF, tenham
caráter abstrato e geral, embora tal Tribunal venha paulatinamente mudando esse
requisito, admitindo ADI também contra atos de efeito concreto –. Também cabe ADI
contra resoluções e regimentos dos Tribunais, casas legislativas, CNJ e CNMP,
decretos autônomos, tratados internacionais. Em regra, não cabe ADI contra
espécies normativas secundárias, quando apenas dão fiel execução à lei e não
inovam o ordenamento jurídico. Além disso, não é cabível ADI contra normas
constitucionais originárias, leis ou atos normativos anteriores à Constituição de 1988
ou já revogados, proposta de emenda à Constituição e projeto de lei, leis e normas
municipais, súmulas, atos normativos privados.
Quanto à legitimidade, o artigo 103 da Constituição elenca o rol taxativo dos
legitimados para propor uma ADI. Quanto à sua natureza, são classificados em
especiais aqueles que precisam demonstrar pertinência temática (instituto
desenvolvido pelo STF) no ajuizamento da ação, e em universais aqueles que não
precisam fazê-lo. São legitimados ativos universais: o Presidente da República, as
Mesas do Senado e da Câmara, o Procurador-Geral da República, o Conselho
Federal da OAB e os partidos políticos com representação no Congresso; e são
legitimados ativos especiais: a Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara
Legislativa do Distrito Federal, o Governador de Estado ou do DF, e as
confederações sindicais ou entidades de classe de âmbito nacional.
Quanto a seus efeitos, a decisão de procedência da ADI tem, em regra, os
efeitos ex tunc – ab initio, retroativo – e erga omnes – geral, contra todos –, tendo
também efeito vinculante. Entretanto, pode o STF conferir à decisão efeitos ex nunc
– a partir da decisão proferida –, ou modular esses efeitos temporais, estabelecendo
uma retroatividade limitada ou um marco temporal futuro para a
inconstitucionalidade (efeitos pro-futuro).

2) O que é a denominada “Teoria da Transcendência dos Motivos


Determinantes”? O STF admite essa citada tese interpretativa? Justifique.

A teoria da transcendência dos motivos determinantes se refere à ideia de


que não só a parte dispositiva da decisão judicial, como também as suas razões de
decidir ou motivos determinantes, devem ultrapassar os limites objetivos da causa,
atingindo outros casos de igual fundamentação. Assim, a fenomenologia da
transcendência reflete uma preocupação com a integralidade normativa da CF,
posto que para garantir a supremacia formal e material, seria necessário reconhecer
que a eficácia vinculante diz respeito não somente à parte dispositiva do julgado,
estendendo-se aos fundamentos determinantes da decisão proferida pelo STF1.
Nessa medida, a citada teoria se baseia tanto no conceito de efeito vinculante
quanto no de eficácia erga omnes, sustentando que não se restrinjam ao dispositivo,
mas alcancem também os fundamentos da decisão. Logo, consagra-se a

1 “A questão que se coloca quanto ao ponto é, portanto, se seria possível extrair do precedente
produzido em âmbito concentrado um comando mais geral, que pudesse se referir não apenas à
norma infraconstitucional objeto de discussão, mas igualmente a outras normas e atos dentro de uma
mesma categoria de similitude. […] Por “eficácia transcendente da fundamentação” designa-se a
possibilidade de extensão dos efeitos vinculantes e erga omnes aos “motivos determinantes da
decisão”, em lugar de sua restrição ao dispositivo do julgado.” MELLO, Patrícia Perrone Campos.
Precedentes – O desenvolvimento judicial do direito no constitucionalismo contemporâneo. Rio de
Janeiro: Renovar, 2008, pp. 146-149
observância dos precedentes judiciais exarados pela Corte Constitucional, vedando-
se a violação do conteúdo essencial das decisões.
A mencionada teoria possui grande importância prática, tendo como
consequência a valorização dos precedentes judiciais, ao propor que a
argumentação jurídica empreendida nos Tribunais seja também considerada para
fins de uniformização da jurisprudência, gerando maior segurança jurídica no próprio
controle de constitucionalidade. No entanto, o Supremo possui entendimento de que
apenas o dispositivo da decisão, no controle concentrado, e principalmente no
controle difuso, de constitucionalidade, produzirá efeitos ultra partes. Assim, a ratio
decidendi ou os motivos invocados pelos ministros durante a fundamentação não
teriam o condão de vincular terceiros estranhos ao processo.
Apesar de o STF ter tido decisões no sentido de acolher a teoria, como e.g.
na ADI 3.345/DF, que declarou constitucional a Resolução do TSE que reduziu o
número de vereadores de todo o país, o STF conferiu efeito transcendente aos
próprios motivos determinantes que deram suporte ao julgamento do RE 197.917,
que declarou a inconstitucionalidade, incidenter tantun, de lei local do município de
Mira Estrela/SP que fixava em 11 o número de vereadores, dado que sua população
de pouco mais de 2.600 habitantes somente comportaria 9 representantes.
O entendimento mais atual do STF tem refutado a aplicação da aludida teoria,
em especial no controle difuso, já que no julgamento da Rcl 4.335/AC, entendeu-se
que não seria possível ao Judiciário invadir competência constitucional do Senado,
prevista no artigo 52, X, da CF. Sendo corroborado esse entendimento pela
publicação do Informativo nº 887 do STF, constatou-se que no julgamento da Rcl
2.2012/RS reiterou-se o não acolhimento da teoria por parte da Corte, afirmando que
o Plenário se manifestou contrariamente à vinculação das razões de decidir das
decisões proferidas em controle abstrato de normas.

3) O Estado ABC promulgou, em 2015, a Lei Estadual 1234, concedendo,


unilateralmente, redução expressiva de alíquota sobre o tributo incidente em
operações relativas à circulação interestadual de mercadorias (ICMS) usadas
como insumo pela indústria automobilística. O referido ente federativo, com
essa política de tratamento diferenciado, conseguiu atrair um grande número
de montadoras para seu território. Em razão disso, o Governador do Estado
XYZ, possuidor de um vasto parque automobilístico, propõe uma Ação Direta
de Inconstitucionalidade (ADI), com pedido de Medida Cautelar, junto ao STF,
contra a citada legislação do Estado ABC. Diante do caso hipotético acima
descrito, tendo como base a ordem constitucional vigente e a sua
interpretação pelo STF, responda:
a) Segundo a tese vigente no STF, o Governador do Estado XYZ possui
legitimidade para ajuizar uma ADI contra a lei do Estado ABC? Justifique.

Sim. O governador não está adstrito a questionar a temática de normas


oriundas do seu próprio estado. Ele pode propor ADI e ter a sua legitimidade
reconhecida diante de normas de outros estados ou mesmo da União, desde que ele
prove que aquela norma ou ato possui reflexos nas competências e interesses
jurídicos do seu estado.
Um caso emblemático que revela essa possibilidade trata-se da ADI 2.656,
em que o Governador de Goiás propôs ADI em face de lei editada pelo Governo do
Estado de São Paulo. Naquele caso, argumentou-se que as restrições à
comercialização do amianto crisotila, fabricado em massa pelo Estado de Goiás,
causavam evidentes reflexos em sua economia2.

b) Em sua perspectiva, quais poderiam ser os argumentos apresentados pelo


Governador do Estado XYZ, para justificar o pedido de concessão de Medida
Cautelar na ADI proposta?

Em relação à pertinência temática, poderia o Governador argumentar que a


redução tributária unilateral pelo Estado XYZ possui amplos reflexos na economia de
seu Estado, tendo em vista a afetação direta à produção automobilística e a criação
de uma situação concorrencial desigual que poderia motivar uma “guerra fiscal”.
Nesse sentido, poder-se-ia atacar a isenção tributária, vez que é sedimentado
pelo próprio STF (vide ADI 3.312 e ADI 5.929) que é inconstitucional a concessão
unilateral pelo estado ou pelo Distrito Federal de isenções, incentivos e benefícios
fiscais relativos ao ICMS, sem a celebração de convênios intergovernamentais. A

2 Lei editada pelo Governo do Estado de São Paulo. Ação direta de inconstitucionalidade proposta
pelo governador do Estado de Goiás. Amianto crisotila. Restrições à sua comercialização imposta
pela legislação paulista, com evidentes reflexos na economia de Goiás, Estado onde está localizada
a maior reserva natural do minério. Legitimidade ativa do governador de Goiás para iniciar o processo
de controle concentrado de constitucionalidade e pertinência temática. [ADI 2.656, rel. min. Maurício
Corrêa, j. 8-5-2003, P, DJ de 1º-8-2003.]
intenção dessa decisão é justamente frear a guerra fiscal do ICMS, que desencadeia
graves problemas no sistema de arrecadação tributária e compromete regras
constitucionais que visam a mitigar desigualdades regionais.

c) Diante da situação descrita, sendo a Medida Cautelar pleiteada na ADI


concedida, quais seriam os possíveis efeitos dessa concessão pelo STF?
Nos moldes do art. 11 da Lei 9.882/99, em regra, a Medida Cautelar na ADI
possui eficácia contra todos (erga omnes) e será concedida com efeito ex nunc, ou
seja, terá sua aplicação a partir da decisão, salvo se o Tribunal entender que deve
conceder-lhe eficácia retroativa.
Vale dizer, ainda, que a concessão da medida cautelar torna aplicável a
legislação anterior, ocorrendo o efeito repristinatório.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MELLO, Patrícia Perrone Campos. Precedentes – O desenvolvimento judicial do


direito no constitucionalismo contemporâneo. Rio de Janeiro: Renovar, 2008,
pp. 146-149.

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