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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ

GRADUAÇÃO EM DIREITO

Resenha Crítica de Caso


Viviane de Souza Corrêa

Trabalho da disciplina: Direito Constitucional


Avançado

Professor: Hugo Lontra da Silva

Nova Friburgo

2020

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AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE

Referência: Lenza, Pedro Direito constitucional esquematizado® / Pedro Lenza.


– 23. ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2019; Moraes, Alexandre de Direito
constitucional / Alexandre de Moraes. - 13. ed. - São Paulo: Atlas, 2003.

Inicialmente, cumpre explicitar que o controle concentrado de constitucionalidade,


também chamado de controle abstrato, possibilita a análise de uma lei ou ato normativo
abstratamente sobre o espectro da Constituição Federal. Não há uma situação concreta, o que
se aprecia é o direito em tese. Ainda, é certo que existem cinco instrumentos para que seja
possível confrontar a constitucionalidade ou inconstitucionalidade de um dispositivo, e a
presente resenha terá como propósito abordar o principal deles, qual seja, a Ação Direta de
Inconstitucionalidade, que será tratada como ADI.
A priori, faz-se necessário um breve histórico acerca do controle abstrato de
constitucionalidade, que nasceu na Áustria em 1920, por inspiração das ideias de Hans
Kelsen. Foi inovador ao definir um Tribunal específico para exercer o controle de
constitucionalidade, tendo em vista que o sistema norte-americano previa apenas a hipótese
do controle difuso, como é conhecido atualmente, que determina a possibilidade de qualquer
magistrado analisar de forma incidental a constitucionalidade de lei ou ato normativo.
Outrossim, imprescindível citar que este controle é adotado no sistema brasileiro desde a
Emenda Constitucional n° 16 de 1965.
Ultrapassado isto, no tocante a ADI, mister faz-se evidenciar que, por se tratar de
instrumento do controle concentrado, terá por escopo julgar a inconstitucionalidade de lei ou
ato normativo em abstrato, sendo certo que, a inconstitucionalidade é o pedido principal da
ação.
Nesse sentido, conforme o art. 102, I, “a”, da CRFB, é competência originária do STF
julgar ADI de lei ou ato normativo federal, estadual e distrital de natureza estadual. Contudo,
é preciso apontar que, nos moldes do art. 125, §2° da CRFB, cabe aos Estados a instituição de
representação de inconstitucionalidade (equivale à ADI) de leis estaduais e municipais em
face da Constituição Estadual. Dessa forma, em caso de interposição de ADI e representação
de inconstitucionalidade simultâneas defronte o mesmo dispositivo, por foça do Princípio da
Simetria, suspender-se-á o curso da representação de inconstitucionalidade até o julgamento
final da ação ajuizada na Suprema Corte.

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Ademais, é necessário aclarar que são objetos da ADI as leis e atos normativos
federais, estaduais e distritais de natureza estadual, que estejam em desconformidade com a
Constituição. Entretanto, cumpre apontar que há limitações. Isto porque, as matérias
legislativas previstas no art. 59 da CRFB são passíveis de ADI, salvo decretos e Resoluções
que não constituem ato normativo propriamente dito. Ao passo que, os atos normativos
somente poderão ser objeto se contiverem determinados requisitos, conforme dissertou o Min.
Celso de Mello: “a noção de ato normativo, para efeito de controle concentrado de
constitucionalidade, pressupõe, além da autonomia jurídica da deliberação estatal, a
constatação de seu coeficiente de generalidade abstrata, bem assim de sua impessoalidade.”.1
Esclarecido os objetos da ADI, é de todo oportuno tratar dos legitimados para propor
esta ação, previstos no rol taxativo do art. 103 da CRFB. Acerca dessa legitimidade, o STF
entende que existem os legitimados universais, que não precisam comprovar interesse para
ajuizar a ação, e os legitimados interessados ou especiais, que necessitam demonstrar
pertinência temática para propositura da ação. Dentre o rol do art. 103, somente três entes não
possuem a legitimidade universal, quais sejam, a Mesa de Assembleia Legislativa ou da
Câmara Legislativa do Distrito Federal, o Governador de Estado ou do Distrito Federal e a
confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.
Nesse interim, interessante se faz destacar a decisão acerca da ADI 2.159 AgR/DF, em
virtude de ter determinado que a comprovação da legitimidade deve ocorrer no momento da
propositura da ação. Portanto, a perda de representação de partido político no Congresso
Nacional superveniente ao ajuizamento da ADI, não desqualifica a legitimidade ativa para
prosseguir com a ação.
Nessa ocasião, passa-se a tratar do procedimento da ADI, disposto na Lei 9.868/99 e
nos §§1° 3° do art. 103 da CRFB. Primeiramente, a petição inicial da ação direta de
inconstitucionalidade deverá indicar a lei ou ato normativo que deseja impugnar, bem como
os respectivos fundamentos jurídicos, e em caso de petição subscrita por advogado, deverá
conter o instrumento de procuração. Após o ajuizamento da ação, o relator, caso julgue
necessário, irá solicitar informações adicionais, esclarecimentos, peritos ou audiências
públicas, no prazo de trinta dias.
Ainda, em que pese a regra no controle concentrado ser a de inadmissibilidade de
intervenção de terceiros, é permitido que o relator, ao avaliar a relevância da matéria e a

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ADI 2.321 MC, j. 25.10.2000, fls. 76 do acórdão.

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representatividade dos requerentes, possa admitir, por meio de despacho, a participação
amicus curiae, que possui a função de trazer informações fáticas e técnicas ao Tribunal.
Em seguida, após o término do prazo de trinta dias, o Advogado-Geral da União será
citado para efetuar a defesa do ato impugnado, sendo aberta vistas ao Procurador-Geral da
República, e estes deverão se pronunciar no prazo de quinze dias. Superada a fase instrutória,
o relator apresentará relatório e irá requisitar dia para julgamento.
O julgamento, será realizado no Plenário do Supremo Tribunal Federal, e deverá
possuir o quórum mínimo de oito ministros para instalação da sessão. Instalada a sessão, será
apresentado o voto e relatório do relator, e, em seguida têm-se a votação dos ministros. Para
que haja a declaração de inconstitucionalidade, por força do art. 97 da CRFB, deverá a ação
ser julgada procedente por quórum de maioria absoluta, isto é, seis ministros, no mínimo. Por
fim, necessário evidenciar que, da decisão de mérito em sede de controle concentrado, não
cabe recurso, exceto Embargos de Declaração.
Transposto isto, é certo que os efeitos gerados pela declaração de
inconstitucionalidade são ex tunc, isto é, desfazem, desde sua origem, o ato declarado
inconstitucional e, erga omnes, ou seja, para todos. E, ainda, os efeitos são repristinatórios e
vinculantes. Percebe-se por efeito repristinatório a possibilidade de norma revogada por outra
norma declarada inconstitucional ser restaurada, e, no tocante ao efeito vinculante, entende-se
que este vincula os órgãos e tribunais da administração pública à decisão tomada pelo STF.
Não obstante, o art. 27 da Lei 9868/99 estabelece que, em caso de razões de segurança
jurídica ou excepcional interesse social, o STF poderá, por maioria de 2/3 de seus membros,
limitar os efeitos da decisão. Portanto, é permitido que o STF manipule os efeitos da
declaração de inconstitucionalidade.
Por todo o exposto, conclui-se que o controle concentrado de constitucionalidade,
juntamente com seu instrumento mais importante, qual seja, a ação direta de
inconstitucionalidade, são de suma importância para o ordenamento brasileiro. Isto porque,
garantem a possibilidade de leis e atos normativos desarmônicos com os preceitos
constitucionais serem contrastados, o que enaltece o Princípio da Supremacia Constitucional,
além de reforçar o escalonamento da Pirâmide de Kelsen.

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