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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JATAÍ

UNIDADE ACADÊMICA DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS


CURSO DE DIREITO

DISCIPLINA: Direito Civil II


SEMESTRE: 2022.1
DOCENTES: Prof.ª Dr.ª Carolina Ferreira Souza

AVALIAÇÃO EM GRUPO:
A Validade das Provas Digitais

INTEGRANTES DO GRUPO:
Isabel de Tássia Fontes Souza
Nathalia Gonzalez Scheltinga
Paulo Martins Neto
Sabline Carvalho Colu Mohamad Salama
Suyhanne de Oliveira Monteiro Moraes

JATAÍ
2022
1. INTRODUÇÃO
Do artigo 212 a 232, no capítulo V do Código Civil, é abordado o tema “Da prova”,
onde são expostos alguns fatos sobre como se proceder aos fatos dos negócios jurídicos,
como exemplo o artigo 212 do Código Civil estabelece que “a confissão é irrevogável, mas
pode ser cancelada se resultar de circunstância ou coação”, na mesma redação do artigo 393
do CPC.
Por outro lado, observa-se no caput do artigo 219 do Código Civil que "as declarações
contidas nos documentos assinados são consideradas verdadeiras pelos signatários”.
Percebe-se que o principal tema desses artigos é sobre como devem ser apresentadas as
provas de um fato de negócio jurídico ou até mesmo de casos pessoais, como exemplo a se
proceder a testes de partenidade/maternidade ou meios de formas matrimoniais.
No decorrer dos artigos é apontado como os atos de testemunha, confissão, provas em
formas de documentos oficiais ou não, o não comparecimento a perícias judiciais e até
apresentação de documentos em formas de meios digitais. Neste trabalho, falaremos um
pouco sobre a controvérsia da prova entre o CC e o CPC e a validade da prova eletrônica.
2. A CONTROVERSA DA PROVA NO CÓDIGO CIVIL
Os fatos jurídicos e os negócios jurídicos são suscetíveis de serem provados, ou seja, a
prova é o meio empregado para demonstrar a existência do ato ou negócio jurídico. A prova
deve ter características como: ser admissível, ou seja, não proibida por lei e aplicável ao caso
em exame; ser pertinente, e logo, adequada à demonstração dos fatos em questão, e, por fim,
ser concludente ou esclarecedora dos fatos controvertidos.1
Não basta alegar é preciso provar, e o que se prova é o fato alegado, não o direito a
aplicar, pois esta é a atribuição do juiz de conhecer e aplicar o direito. Por outro lado, o ônus
da prova incumbe a quem alega o fato e não a quem o contesta, sendo que os fatos notórios
independem de prova. A regulamentação dos princípios referentes à prova é encontrada no
Código Civil, que estabelece a determinação das provas, a indicação do seu valor jurídico e
as condições de admissibilidade; e no Código de Processo Civil que estabelece o modo de
constituir a prova e de produzi-la em juízo.
Em conformidade com o CPC, art. 366 e CC, art. 107, quando a lei exigir forma
especial, como o instrumento público, para a validade do negócio jurídico, nenhuma outra
prova, por mais especial que seja, pode suprir-lhe a falta. No entanto, segundo o como estatui

1
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, Volume 1: Parte Geral. São Paulo: Saraiva,
2012.
o art. 332 do Código de Processo Civil, não havendo nenhuma exigência quanto à forma,
qualquer meio de prova pode ser utilizado, desde que não proibido: “Todos os meios legais,
bem como os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, são hábeis
para provar a verdade dos fatos, em que se funda ação ou defesa”. Portanto, quando o art. 212
do Código Civil enumera os meios de prova dos negócios jurídicos aos quais não se impõe
forma especial, o faz de forma exemplificativa, nos seguintes termos: “Salvo o negócio a que
se impõe forma especial, o fato jurídico pode ser provado mediante: I - confissão; II -
documento; III - testemunha; IV - presunção; V - perícia”. 2
O fato é que a regulamentação da prova no Código Civil, ou seja, a instituição do
título dedicado à prova (artigos 212 a 232), é considerado por muitos um retrocesso e
constitui objeto de disputas quanto à natureza processual ou material da prova. Embora vários
temas sobre a prova venham às vezes tratados na lei civil, existe o entendimento que se trata
de autêntica matéria processual, porque falar em provas significa pensar na formação do
convencimento do juiz, no processo.
Entretanto o que ocorreu foi que o novo Código Civil invadiu radicalmente essa área,
com disposições de caráter nitidamente processual, o que por muitos foi considerado
retrocesso científico. O título da prova inserida no Código Civil precisa conviver com a
normativa presente no Código de Processo Civil, que dedica um capítulo às provas, nos
termos dos artigos 369 a 484.
Cria-se então a necessidade de harmonizar a normativa vigente a partir da função da
prova, ou seja, sua finalidade e razão de ser, superando assim controvérsias baseadas
exclusivamente na análise estrutural dos dispositivos. Diante disto, busca-se compreender o
sentido da regulamentação da prova, tanto no Código Civil, quanto no Código de Processo
Civil, estabelecendo os pontos de interação entre essas fontes normativas.
A ampla controvérsia atinente à disciplina da prova simboliza a dificuldade de parte
da doutrina em lidar com a pluralidade de fontes normativas. O Código Civil, por exemplo,
ao positivar a prova em título próprio, manteve a confusão entre forma do negócio jurídico e
prova dos fatos jurídicos. A forma constitui o meio para exprimir a vontade interna em um
negócio jurídico, de modo que, até mesmo um acordo verbal pode gerar direitos e obrigações,
tal qual o acordo celebrado por escritura pública.
Portanto, uma vez verificada que a forma adotada corresponde às exigências legais,
não deve haver dúvidas quanto à validade do negócio jurídico. A prova, embora se relacione

2
Tepedino, Gustavo & Viégas, Francisco de Assis. "A evolução da prova entre o direito civil e o
direito processual civil." Pensar-Revista de Ciências Jurídicas 22.2 (2017): 551-566.
à comprovação de certo fato, não se confunde com a forma, pois a forma é um conjunto de
solenidades que dão eficácia à declaração de vontade, a prova, por sua vez, representa o
conjunto de meios comprobatórios da existência do ato. O que ocorre é que, desse modo, a
forma, além das hipóteses em que se afigura essencial à validade do negócio jurídico, poderia
ser prevista como exigência legal para sua prova.3 No entanto, o que verdadeiramente ocorre
é que a jurisprudência do Supremo Tribunal de Justiça não exclui a possibilidade de prova
por outros meios, por exemplo, diante de casos em que o ato em relação ao qual não há
exigência de forma torna injustificada qualquer exigência formal para a prova do ato.
Conforme os artigos 228 do Código Civil e 447 do Código de Processo Civil, a
limitação a determinadas fontes de prova, como na hipótese das testemunhas incapazes,
impedidas ou suspeitas, fundamenta-se na credibilidade intrínseca à fonte de prova, sem
qualquer relação com a forma dos negócios jurídicos.
Mas também a disciplina da prova no Código Civil tem se mostrado doutrináriamente
controversa. Em um sistema complexo e monolítico, a crítica baseada na noção de disciplinas
jurídicas como compartimentos invulneráveis, cada uma regida por suas próprias leis ou
regulamentos, deve ser rejeitada. A disciplina da evidência deve ser entendida no contexto da
interação entre diferentes fontes normativas, em cada caso específico.
Por outro lado, porque a relação entre a forma dos negócios jurídicos e a prova nem
sempre é bem compreendida, resiste-se às opções legislativas do Código Civil quanto à
autonomia da prova, como se vê na controversa categoria dos negócios jurídicos. É chamado
de formulário de teste de anúncio.
Diante das novas tecnologias, o pleno entendimento da disciplina da prova é de
sensível importância, especialmente porque as chamadas provas eletrônicas podem ser
valorizadas em termos de legitimidade constitucional.
3. PROVAS OBTIDAS NO MEIO AMBIENTE DIGITAL
Na luz de uma sociedade completamente dependente da tecnologia, em especial da
internet, o direito se vê compelido a acomodar novos conceitos – como as provas eletrônicas.
Assim, torna-se pertinente o entendimento dessa disciplina, acima de tudo para que se possa
regulamentar e legitimar essas provas obtidas no meio digital. Levando em consideração a
pluralidade de fontes normativas no ordenamento jurídico brasileiro, que encontra sua

3
SIQUEIRA, Fernando de. Implicações do dever de esclarecimento na valoração da prova,
Revista Consultor Jurídico, 2018.
centralidade na Constituição, a prova eletrônica deve, também, ser valorada a partir da
legalidade constitucional.4
A confusão entre forma e prova, mencionada no tópico anterior, causa uma
controvérsia em relação à prova no âmbito do Direito Civil, que é levada para o entendimento
da validade das provas eletrônicas.
Com relação a essa confusão, Santos discorre que "não há formalidade solene para a
prova do ato, uma vez que ou este tem uma forma especial exigida por lei, ou pode ser
provado pelos meios admitidos em Direito”.5 Caso não se trate de um ato solene, a indicação
legal da fonte da prova seria apenas isso, uma indicação, não excluindo outro método
alternativo de prova.
O Código Civil de 2002, apesar de possuir certa defasagem com relação aos avanços
tecnológicos, traz matéria essencial ao assunto em seu artigo 225, onde diz que “as
reproduções fotográficas, cinematográficas, os registros fonográficos e, em geral, quaisquer
outras reproduções mecânicas ou eletrônicas de fatos ou de coisas fazem prova plena destes,
se a parte, contra quem forem exibidos, não lhes impugnar a exatidão.”6 A partir desse
dispositivo, boa parte da doutrina afirma que levou-se “à consagração do documento
eletrônico como fonte de prova”.7
Existem algumas ressalvas com relação a validação do documento eletrônico como
prova, principalmente nas exigências de ambos CC e CPC da assinatura como requisito para
que o documento se constitua como prova. É possível extrair dessa exigência a preocupação
com relação às declarações de vontade, bem como a comprovação de autenticidade. O
próprio Código Civil, entretanto, valida a utilização do documento eletrônico como prova
parágrafo único do artigo 221 onde edita que “a prova do instrumento particular pode
suprir-se pelas outras de caráter legal”.8
Fato é que, cada vez mais, negócios jurídicos são firmados de maneira eletrônica.
Dessa forma, é essencial que a prova eletrônica seja acolhida como válida, e isso vem sendo
adotado como entendimento nos tribunais brasileiros. Apesar disso, existem certas

4
de Araújo Pereira, Saulo. "DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL AO DIREITO ELETRÔNICO:
considerações sobre a aceitação da prova documental eletrônica no Processo Civil.". pg. 3.
Disponível em: <http://www.caedjus.com/wp-content/uploads/2018/05/Solucao_de_conflitos.pdf>.
Acesso em: 13 out. 2022.
5
SANTOS, J. M. de Carvalho. Código Civil brasileiro interpretado. Rio de Janeiro: Freitas Bastos,
1963. v. III. p. 118.
6
Artigo 225 da Lei nº 10.406 de 10 de Janeiro de 2002.
7
Tepedino, Gustavo & Viégas, Francisco de Assis. "A evolução da prova entre o direito civil e o
direito processual civil." Pensar-Revista de Ciências Jurídicas 22.2 (2017): 551-566. pg. 560.
8
Artigo 221 da Lei nº 10.406 de 10 de Janeiro de 2002.
controvérsias, fundamentadas na própria Constituição – a partir de princípios como o da
inviolabilidade das correspondências. Assim, é exigido do intérprete uma análise do caso
concreto, para que se possa ser aceita como legítima, ou não, a prova digital.
4. CONCLUSÃO
O atual desafio jurídico é destrinchar a complexidade do sistema, o que inclui o
diálogo das fontes. A grande controvérsia das fontes tem como protagonista a dificuldade da
doutrina em relação às plurais fontes normativas.
As inúmeras situações supracitadas confirmam que as provas eletrônicas sendo
admissíveis, pertinentes e esclarecedoras, são válidas. Pois mais importante que produzir os
espectros civis e processuais da prova, precisa-se entender o seu sentido regulamentar.
Ainda que o pensamento de Tartuce9 de que a natureza das normas têm caráter
processual seja relevante para o caso, é mais proveitoso que as fontes normativas tenham
influência mútua, de acordo com a concepção sistemática do ordenamento.
Em relação à controvérsia do Ad probationem, até os seus autores possuem
dificuldade diante do fato de que a lei não atribui a forma especial como requisito de
validade.
Assim, não se deve ignorar os avanços tecnológicos contemporâneos e reconhecer os
documentos eletrônicos como fontes de prova. Além de, sobretudo, auxiliar o intérprete
desses documentos por meio do desenvolvimento de novos parâmetros que assegurem a
privacidade e autenticidade da prova.

Os integrantes do grupo se reuniram nas datas 12/10/2022 e 15/10/2020 virtualmente. Além


disso, o trabalho foi feito em conjunto em um documento compartilhado no Drive, onde todos
tinham acesso ao desenvolvimento textual do restante do grupo.

9
Tartuce, Fernanda. Meios de prova no Código de Processo Civil e no Código Civil. In: Tartuce,
Flávio; Castilho, Ricardo (Coord.). Direito patrimonial e direito existencial: estudo em homenagem à
Professora Giselda Maria Fernandes Novaes Hironaka. São Paulo: Método, 2006. p. 163-176.

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