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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS E HUMANAS – CCSAH


CURSO: DIREITO TURNO: NOTURNO PERÍODO: 6°
COMPONENTE CURRICULAR: DIREITO PROCESSUAL CIVIL III
DOCENTE: BRUNO TAVARES PADILHA BEZERRA

ATIVIDADE COMPLEMENTAR: ANÁLISE DE JURISPRUDÊNCIA


AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 2458752 - SP (2023/0312257-0)

MANUEL JOSÉ DO NASCIMENTO NETO

MOSSORÓ (RN)
JANEIRO, 2024
A decisão ora analisada trata-se de uma decisão monocrática do relator Ministro
João Otávio de Noronha, publicada no Dje no dia 29/01/2024. O texto consisti em
“Agravo em Recurso Especial (AREsp 2458752) interposto pela empresa ITAU
UNIBANCO S.A, contra decisão que inadmitiu recurso especial com fundamento na
ausência de violação a dispositivo legal e incidência da Súmula n. 7 do STJ.” Na hipótese
essa era a ementa do Recurso:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE EXECUÇÃO. AUSÊNCIA


DE TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL. ARTIGO 784, III, DO
CPC. CONTRATO ELETRÔNICO. DOCUMENTOS JUNTADOS PELO
AGRAVANTE QUE NÃO COMPROVAM A CERTEZA, LIQUIDEZ E
EXIGIBILIDADE DO TÍTULO. INEXISTÊNCIA DE ASSINATURA
DIGITAL ATRIBUÍDA AO DEVEDOR. INTELIGÊNCIA DO
DISPOSTO NA MP 2.200-2/2001. PRECEDENTES. DECISÃO
MANTIDA. RECURSO NÃO PROVIDO.

No nascedouro do processo, ocorre que a ora parte agravante aplica uma Ação de
Execução em face do agravado ANA PAULA SERVICOS DE TRANSPORTES LTDA
por ter contratado empréstimos e créditos valor histórico de R$ 114.775,54. Nesse
contexto, o título extrajudicial apresentado em juízo trata-se de um contrato de abertura
de conta corrente, assinado pela representante legal da empresa, incluindo a condição de
devedora solidária, contém uma disposição explícita referente à opção de contratação de
crédito pré-aprovado para fins de capital de giro por meio eletrônico. O sujeito ativo
indica que essa disposição foi efetivamente utilizada em uma transação realizada via
plataforma “Bankline”, onde foram inseridas informações sobre a data e horário de
aceitação, além do número de autenticidade do documento.
Em sua parte mais importante, além de o recorrente alegar ter o tribunal
desrespeitado o art. 1022, II do CPC, traz constantes menções e se fundamenta nos arts.
783 e 784, III do CPC. De certa forma, pede que seja reconhecida a execução de título
por se enquadra todo o ato e objeto no teor do 783 do CPC, “A execução para cobrança
de crédito fundar-se-á sempre em título de obrigação certa, líquida e exigível.”
Ainda, defende que o título extrajudicial se enquadra no rol taxativo que a lei
dispõe, mais especificamente no art. 784, III do CPC. Segundo a parte, o negócio jurídico
celebrado por meio eletrônico conta com tecnologias de autenticidade que garantem
segurança, veracidade e validade aos documentos, sendo o necessário para atribuí-lo força
executiva.
Dessa maneira, o ITAU UNIBANCO S.A pede que o recurso seja provido e que
se anule o acórdão, e/ou, alternativamente, seja reformado e atribuída força executiva ao
documento em questão. Por sua vez, o tribunal reforçou o entendimento das instâncias
originárias e manteve negado o provimento do Recurso Especial.
Destarte, realizando a leitura da decisão, consta que as instâncias originárias
firmaram o entendimento de que não há existência daquilo é principal para a execução, o
título executivo. Tendo sido a realização do contrato mútuo por meio eletrônico,
verificou-se que esse tipo de contratação não se enquadra nas linhas dos arts. 783 e 784,
o que se constatou com a apresentação dos documentos pela instituição financeira. Nesse
sentido, dentre os documentos o que se tinha era um “código de autenticação” cuja
autenticidade não pode ser aferida, e que não tem nenhuma serventia ou relevância
processual. Dentre todos os documentos implica-se a ausência de uma assinatura digital
do contratante, único meio possível para que a tese fosse sustentada. Assim estava
disposto:

No presente feito, o banco agravante trouxe "comprovante do


empréstimo Giro" (fls. 49), dando conta de que a operação financeira
teria sido celebrada por meio de assinatura do executado agravado de
forma eletrônica, mediante digitação de sua senha eletrônica, vinculada à
sua conta corrente. (STJ, 2024)

Por outro lado, vale ressaltar que a discussão sobre o contrato eletrônico e fecunda
e já mostrou resultados. A adição do § 4° no art. 784 do CPC fala aborda justamente essa
temática: “Nos títulos executivos constituídos ou atestados por meio eletrônico, é
admitida qualquer modalidade de assinatura eletrônica prevista em lei, dispensada a
assinatura de testemunhas quando sua integridade for conferida por provedor de
assinatura. (Incluído pela Lei nº 14.620, de 2023)”
Observa-se que o que se admite é o uso de “assinatura eletrônica”, onde o terceiro
desinteressado, reconhecedor da validade e veracidade do contrato firmado, é quem vai
“substituir” o papel das testemunhas será a própria entidade autenticadora. A par desse
arcabouço legislativo, é impossível reconhecer que o documento em litígio tenha força
executiva.
Portanto, dentre os princípios da execução, o julgador usa e cita o da taxatividade
e tipicidade dos títulos executivos. O princípio estabelece que os títulos executivos devem
se enquadrar em categorias previamente previstas pela lei, ou seja, devem ser típicos e
estar expressamente previstos na legislação processual. Isso significa que os títulos
executivos devem atender a requisitos específicos e preestabelecidos para que possam ser
utilizados como instrumentos de execução judicial, garantindo assim a segurança jurídica
e a previsibilidade no processo de execução. É o que se verifica ao longo do processo,
não foi apresentado nada que possa ser chamado de título executivo na forma da lei.
É notável que o tribunal segue um bom caminho ao adotar o entendimento que o
documento apresentado não integra o rol presente na lei. De outro modo, para fins de
complemento, o princípio da “Nulla Executio Sine Titulo” também apresenta relevância
óbvia para o tema.
Esse princípio estabelece que não pode haver execução judicial sem a existência
de um título executivo válido e eficaz. Em outras palavras, para que uma execução seja
realizada, é necessário que haja um documento que comprove a existência da obrigação
e que preencha os requisitos legais para ser considerado um título executivo, como a
certeza, liquidez e exigibilidade das obrigações. De certo modo, ele também se apresenta
cristalizado no art. 783 do CPC.
Logicamente, o que há nesse caso não é uma colisão de princípios, note que há
uma natural ponderação entre eles. Um torna-se complemento do outro. Uma vez que o
documento que se tem não integra os requisitos estabelecidos pelo rol apresentado pela
lei (Tipicidade dos títulos executivos), não pode haver execução pois não existe um título
que comprove o negócio jurídico (nulla executio sine titulo).
.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Senado Federal. Código de Processo Civil (Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015).


Disponível em:
https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/518231/Lei_13105_2015.pdf
Acesso em: 28 jan. 2024.

STJ. AGRAVO RECURSO ESPECIAL: AREsp 2458752 / SP (2023/0312257-0) Relator:


Ministro João Otávio de Noronha 29/01/2024. Superior Tribunal de Justiça, 2024.
Disponível em: <
https://processo.stj.jus.br/processo/monocraticas/decisoes/?num_registro=20230312257
0&dt_publicacao=29/01/2024> Acesso em: 28 jan. 2024.

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