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Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da Vara dos Feitos

Relativos às Relações de Consumo, Cíveis e Comerciais da Comarca


de Remanso – BA.

Processo nº. 8001231-10.2016.8.05.0208

BANCO BRADESCO S/A, qualificado nos autos


supra, alusivos à Ação de Execução de Título Extrajudicial
proposta em desfavor de JOSÉ JAMES MARTINS MUNIZ,
igualmente qualificado, tomando conhecimento da r. sentença
proferida nos autos em epígrafe, vem, tempestivamente, por seus
advogados signatários, com o habitual respeito e acatamento, à
presença de Vossa Excelência para, com a devida vênia, com base
nos artigos 1.009 e seguintes do Código de Processo Civil, da
mesma apelar para o Egrégio Tribunal de Justiça do Estado da
Bahia, para o que oferece as presentes RAZÕES DE APELAÇÃO,
requerendo o seu recebimento e remessa àquela tribunal de justiça,
a fim de que sejam por ele processadas. Requer, ainda, a juntada
aos autos da comprovação de preparo do presente recurso (doc. 01).

Termos em que,
Pede deferimento.

Bom Jesus da Lapa - Bahia, 06.02.2017.

PAULO ROCHA BARRA MÁRCIA E. S. N. BARRA


OAB/BA 9.048 OAB/BA 15.551
RAZÕES DE APELAÇÃO

RECORRENTE: BANCO BRADESCO S/A

RECORRIDOS: JOSÉ JAMES MARTINS MUNIZ.

RECURSO: APELAÇÃO CÍVEL.

PROCESSO: 8001231-10.2016.8.05.0208

EMÉRITOS DESEMBARGADORES,

I – DA TEMPESTIVIDADE DO PRESENTE
RECURSO.

Inicialmente, cumpre salientar que o banco


apelante teve ciência da sentença recorrida através de
publicação disponibilizada através do Diário da Justiça
Eletrônico no dia 25/01/2017. Portanto, o início da contagem
do prazo se deu em 26/01/2017, segundo o Código de
Processo Civil, art. 231, VII, que considera como data de
início da contagem do prazo o dia útil seguinte à publicação.

Desta forma, considerando-se o prazo de 15


(quinze) dias para a interposição do apelo, bem como o recesso
forense, a contagem iniciou-se no dia 27/01/2017, findando em
16/02/2017. Logo, é tempestivo o presente recurso.

II- DOS FATOS

Em síntese, trata-se de Ação de Execução ajuizada


pelo Recorrente pretendendo obter o pagamento do crédito
exequendo, que totaliza R$37.092,72 (trinta e sete mil, noventa e
dois reais e setenta e dois centavos), gerado pelo inadimplemento
da CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO – Empréstimo Consignado
em Folha de Pagamento (Setor Público) nº. 266.767.064, emitida
em 04/09/2014, no valor originário de R$26.242,00 (vinte e seis
mil, duzentos e quarenta e dois reais).

Todavia, inusitadamente, o juízo a quo entendeu


ser necessária a assinatura de duas testemunhas , adu
ausência das assinaturas importa no não preenchimento dos
requisitos necessários à sua admissão como título executivo e,
consequentemente, a extinção do processo por ausência de
pressuposto de desenvolvimento válido e regular do processo; razão
pela qual proferiu sentença de extinção do processo, nos seguintes
termos:

“Proposta Ação de Execução de Título


Executivo Extrajudicial em que pretende o
exequente o pagamento do valor de R$
37.092,72 (trinta e sete mil novecentos e dois
reais e setenta e dois centavos), referente a
inadimplência em contrato de empréstimo
firmado pelas partes.
Na forma do artigo 784 do CPC, "são títulos
executivos extrajudiciais: III - o documento
particular assinado pelo devedor e por 2 (duas)
testemunhas". Como se nota da leitura do
dispositivo, para que o negócio jurídico tenha
força executiva, necessário o preenchimento
dos requisitos trazidos no texto da lei
processual.
Todavia, da análise do documento juntado aos
autos, ID 4313200, verifica-se apenas a
assinatura do devedor, de forma que não
preenche os requisitos necessários à sua
admissão com título executivo, posto que
desprovido de assinatura das duas
testemunhas.
Dessa forma, ante a ausência pressuposto de
desenvolvimento válido e regular do processo,
JULGO EXTINTO O FEITO SEM JULGAMENTO
DO MÉRITO, com fulcro no art. 485, IV do
CPC.”.

Todavia, a referenciada sentença merece ser


reformada, na forma das presentes Razões de Apelação. Veja-se:
III – RAZÕES PARA REFORMA DA DECISÃO
EXTINTIVA PROFERIDA PELO JUÍZO DE
PRIMEIRO GRAU: DESNECESSIDADE DE
ASSINATURA DE DUAS TESTEMUNHAS.

O juízo a quo considerou que a cédula de crédito


bancário que instrui a Ação de Execução de Título Extrajudicial não
preenche os requisitos do Art. 784, extinguindo-o sem resolução do
mérito, com supedâneo no art. 485, IV, do CPC.

A decisão guerreada aduz que o referido título não


possui a assinatura das testemunhas, conforme estabelece o artigo
784, III do Código de Processo Civil e, por tanto, não preenche os
requisitos necessários para sua admissão como título executivo.

Entretanto, as razões suscitadas pelo magistrado


“a quo” para extinguir o feito executivo são, com a devida vênia,
equivocadas.

Inicialmente, da análise dos documentos que


acompanharam a petição inicial, verifica-se que não se trata de um
contrato particular formalizado entre as partes, mas, sim, de Cédula
de Crédito Bancário, regida por legislação específica, qual seja, a Lei
10.931/2004.

Logo, não é o artigo 784, III do CPC que confere a


Cédula de Crédito Bancário exequibilidade, mas sim, conforme
apontado através da exordial, o inciso XII do mesmo artigo, o qual
estabelece que são títulos executivos extrajudiciais aqueles previstos
em lei através de disposição expressa. Veja-se:

Art. 784.  São títulos executivos


extrajudiciais:

XII - todos os demais títulos aos quais, por


disposição expressa, a lei atribuir força
executiva”.

Ora, este é o caso do título no qual se embasa a


presente Ação de Execução, uma vez que sua elaboração foi
realizada com fulcro no previsto pela Lei 10.931/2004, e a sua
exequibilidade está regularmente amparado pelo texto legal, em
específico pelo seu art. 28, que passamos a colacionar:
"Art. 28 - A Cédula de Crédito Bancário é título
executivo extrajudicial e representa dívida em
dinheiro, certa, líquida e exigível, seja pela soma
nela indicada, seja pelo saldo devedor demonstrado
em planilha de cálculo, ou nos extratos da conta
corrente, elaborados conforme previsto no §2º.

§ 2º Sempre que necessário, a apuração do valor


exato da obrigação, ou de seu saldo devedor,
representado pela Cédula de Crédito Bancário, será
feita pelo credor, por meio de planilha de cálculo e,
quando for o caso, de extrato emitido pela
instituição financeira, em favor da qual a Cédula de
Crédito Bancário foi originalmente emitida,
documentos esses que integrarão a Cédula,
observado que: I - os cálculos realizados deverão
evidenciar de modo claro, preciso e de fácil
entendimento e compreensão, o valor principal da
dívida, seus encargos e despesas contratuais
devidos, a parcela de juros e os critérios de sua
incidência, a parcela de atualização monetária ou
cambial, a parcela correspondente a multas e
demais penalidades contratuais, as despesas de
cobrança e de honorários advocatícios devidos até a
data do cálculo e, por fim, o valor total da dívida; e
II - a Cédula de Crédito Bancário representativa de
dívida oriunda de contrato de abertura de crédito
bancário em conta corrente será emitida pelo valor
total do crédito posto à disposição do emitente,
competindo ao credor, nos termos deste parágrafo,
discriminar nos extratos da conta corrente ou nas
planilhas de cálculo, que serão anexados à Cédula,
as parcelas utilizadas do crédito aberto, os
aumentos do limite do crédito inicialmente
concedido, as eventuais amortizações da dívida e a
incidência dos encargos nos vários períodos de
utilização do crédito aberto."

Estabelece, ainda, o art. 29, do mesmo Diploma:

"Art. 29. A Cédula de Crédito Bancário deve conter


os seguintes requisitos essenciais:
I - a denominação "Cédula de Crédito Bancário";

II - a promessa do emitente de pagar a dívida em


dinheiro, certa, líquida e exigível no seu vencimento
ou, no caso de dívida oriunda de contrato de
abertura de crédito bancário, a promessa do
emitente de pagar a dívida em dinheiro, certa,
líquida e exigível, correspondente ao crédito
utilizado; III - a data e o lugar do pagamento da
dívida e, no caso de pagamento parcelado, as datas
e os valores de cada prestação, ou os critérios para
essa determinação;

IV - o nome da instituição credora, podendo conter


cláusula à ordem; V - a data e o lugar de sua
emissão; e VI - a assinatura do emitente e, se for o
caso, do terceiro garantidor da obrigação, ou de
seus respectivos mandatários.

§ 1º A Cédula de Crédito Bancário será transferível


mediante endosso em preto, ao qual se aplicarão,
no que couberem, as normas do direito cambiário,
caso em que o endossatário, mesmo não sendo
instituição financeira ou entidade a ela equiparada,
poderá exercer todos os direitos por ela conferidos,
inclusive cobrar os juros e demais encargos na
forma pactuada na Cédula.

§ 2º A Cédula de Crédito Bancário será emitida por


escrito, em tantas vias quantas forem as partes que
nela intervierem, assinadas pelo emitente e pelo
terceiro garantidor, se houver, ou por seus
respectivos mandatários, devendo cada parte
receber uma via.

§ 3º Somente a via do credor será negociável,


devendo constar nas demais vias a expressão "não
negociável".

§ 4º A Cédula de Crédito Bancário pode ser


aditada, retificada e ratificada mediante documento
escrito, datado, com os requisitos previstos no
caput, passando esse documento a integrar a
Cédula para todos os fins."

Desse modo, evidencia-se que a cédula de crédito


bancário é título executivo extrajudicial, e representa dívida em
dinheiro, certa, líquida e exigível, desde que acompanhada de
demonstrativo do débito.

In casu, a Cédula de Crédito Bancário constante


do arquivo de ID n° 4313200, encontra-se revestida dos requisitos
de liquidez, certeza e exigibilidade necessários para torná-la hábil a
embasar Ação de Execução aviada pelo Banco
Exequente/Recorrente, porquanto devidamente acompanhada da
planilha de cálculo de ID n° 4313204, que indica, de forma clara e
precisa, o valor principal da dívida e seus encargos, bem como os
critérios de sua incidência em cumprimento dos requisitos legais.

A ausência de assinatura de duas testemunhas na


Cédula de Crédito Bancário não retira a sua condição de título
executivo extrajudicial, tendo em vista que não há qualquer
exigência legal, conforme o dispõe o art. 29 da Lei 10.931/2004,
aplicando-se ao caso a previsão contida no art. 784, inciso XII, do
NCPC.

A jurisprudência é neste sentido:

"APELAÇÃO - EXECUÇÃO - CÉDULA DE CRÉDITO


BANCÁRIO - TÍTULO EXECUTIVO - APURAÇÃO
DO SALDO DEVEDOR MEDIANTE PLANILHA DE
CÁLCULO - LIQUIDEZ - ASSINATURA DE DUAS
TESTEMUNHAS - DESNECESSIDADE -
CAPITALIZAÇÃO DE JUROS - PERMISSÃO. 1 - A
apuração do saldo devedor mediante planilha de
cálculo que preencha os requisitos do § 2º do art. 28
da lei 10.931/2004 não compromete a liquidez de
cédula de crédito bancário, título executivo
extrajudicial idôneo a embasar ação executiva para
satisfação do crédito nele representado e delimitado
pelos documentos complementares que o integram
por força de lei. 2 - Para a atribuição de eficácia
executiva a cédula de crédito bancário é
dispensável a assinatura de duas
testemunhas, sendo necessário apenas o
preenchimento dos requisitos legais dispostos
no art. 29 da lei 10.931/2004.3 - A capitalização
de juros por instituição financeira é permitida,
desde que expressamente prevista na avença.
(APELAÇÃO CÍVEL N° 1.0103.07.005020-0/001 -
RELATOR: DES. PEDRO BERNARDES);” (Grifado)

"PROCESSO DE EXECUÇÃO - CÉDULA DE


CRÉDITO BANCÁRIO - TÍTULO EXECUTIVO
EXTRAJUDICIAL - EXPRESSA DISPOSIÇÃO
LEGAL - ASSINATURA DE DUAS TESTEMUNHAS
- DESNECESSIDADE. Nos termos da Lei
10.931/04 e da remansosa jurisprudência desta
Casa, a cédula de crédito bancário é título executivo
extrajudicial e representa dívida em dinheiro,
líquida, certa e exigível, seja pela soma nela
indicada, seja pelo saldo devedor demonstrado em
planilha de cálculo, ou nos extratos de conta
corrente. A assinatura de duas testemunhas
não é requisito essencial das cédulas de
crédito bancário. (APELAÇÃO CÍVEL N°
1.0024.10.016134-8/001 - RELATOR: DES.
DOMINGOS COELHO).” (Grifado)

"EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO


DE EXECUÇÃO - CÉDULA DE CRÉDITO
BANCÁRIO - EXCEÇÃO DE PRÉ-
EXECUTIVIDADE - TÍTULO EXECUTIVO
LÍQUIDO, CERTO E EXIGÍVEL - FALTA DE
ASSINATURA DE TESTEMUNHAS -
PRESCINDIBILIDADE. A cédula de crédito
bancário é título executivo extrajudicial e
representa dívida em dinheiro, certa, líquida e
exigível. Para a sua executoriedade não tem
como requisito a exigência de duas
testemunhas."(AGRAVO DE INSTRUMENTO-CV
Nº 1.0024.12.083156-5/001. Rel. Des. José Flávio
de Almeida. Data de julgamento: 08-04-2015. Data
da publicação: 14-04-2015)” (Grifado)
Desse modo, evidencia-se que a cédula de crédito
bancário é título executivo extrajudicial e a assinatura de duas
testemunhas não é requisito essencial para sua validade e eficácia.

Assim, a sentença guerreada não pode subsistir,


sob pena de afronta ao artigo 794, XII do CPC/2015 e arts. 28 e 29
da Lei 10.931/04, bem como aos princípios da celeridade e
economia processuais.

Por tais razões, deverá ser reformada a sentença


recorrida, uma vez que a extinção do processo se deu pelo
entendimento do juízo a quo de que o título objeto da obrigação
exequenda não preencheria os requisitos necessários à sua
admissão como título executivo, restando, contudo, por meio das
presentes razões de apelação, comprovada que não há necessidade
da assinatura de duas testemunhas na Cédula de Crédito Bancário.

IV- DO PREQUESTIONAMENTO

Consoante determina o art. 105, III, “a”, da


Constituição Federal da República:

“Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de


Justiça:

...

III - julgar, em recurso especial, as causas


decididas, em única ou última instância, pelos
Tribunais Regionais Federais ou pelos
tribunais dos Estados, do Distrito Federal e
Territórios, quando a decisão recorrida:

a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-


lhes vigência;

...”

No caso dos autos, ao proferir a sentença apelada


o magistrado a quo contrariou e negou vigência aos artigos 794, XII
do CPC/2015, 28 e 29 da Lei 10.931/04, na medida em que
ignorou sua existência e aplicabilidade para conceder a cédula de
crédito bancário força de título capaz de instruir ação de execução.
Negando vigência também aos Princípios da Celeridade e
Economia Processuais.

Desta forma, visando a prevenção de direitos


futuros, sustenta o Apelante a contrariedade e negativa de vigência
de lei federal e princípios basilares de direito, nos termos acima
expedidos, ficando a matéria, desde já, prequestionada para todos os
fins de direito e, sobretudo, para eventuais hipóteses de recursos
extraordinários.

V – DA CONCLUSÃO

Por todo o exposto, requer:

a) seja recebida em seu duplo efeito, conhecida e


provida a presente Apelação, declarando-se a reforma da sentença
guerreada por erro in judicando, determinando-se, em consequência,
que o processo de execução retome ao seu curso normal, pelo que se
fará a mais lídima e salutar JUSTIÇA!

b) Requer, ainda, para fins de


PREQUESTIONAMENTO, a emissão de posicionamento expresso
deste Egrégio Tribunal a respeito das matérias Infraconstitucionais
aqui suscitadas, especificamente o art. 784, XII do CPC/2015, 28 e
29 da Lei 10.931/04 e Princípios da Celeridade e Economia
Processual, condição sine qua non para o aviamento de recurso às
instâncias superiores.

Termos em que,
Pede deferimento.

Remanso - BA, 06.02.2017.

PAULO ROCHA BARRA MÁRCIA E. S. N. BARRA


OAB/BA 9.048 OAB/BA 15.551

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