Você está na página 1de 24

fls.

EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DA __ VARA CÍVEL DA


COMARCA DE FORTALEZA/CE.

AÇÃO MONITÓRIA

Autora: CASABLANCA TURISMO E VIAGENS LTDA


Ré: FORTALEZA ESPORTE CLUBE

CASABLANCA TURISMO E VIAGENS LTDA., pessoa jurídica de


direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº 11.828.753/0001-06, com sede na Rua
Oswaldo Cruz, n° 2040, Aldeota, CEP: 60.125-150, Fortaleza/CE, por intermédio de
seus judiciais patronos in fine assinados (documentos sociais e procuração em anexo
– docs. 01/02), vem, perante Vossa Excelência, propor a presente AÇÃO
MONITÓRIA, nos termos do exposto nos artigos 700 a 702 do Código de Processo
Civil, em desfavor de FORTALEZA ESPORTE CLUBE, pessoa jurídica de direito
privado, inscrita no CNPJ sob o n° 07.319.551/0001-61, com sede na Avenida
Senador Fernandes Távora, nº 200, CEP: 60510-290, Fortaleza/CE, pelos
fundamentos fáticos e jurídicos que seguem adiante:

1
fls. 2

I – DAS INTIMAÇÕES

Para fins do artigo 77, inciso V, do Novo Código de Processo Civil,


requer que todas as intimações ou notificações figurem, exclusivamente, em nome
de xxx
, devendo ser publicada em Diário da Justiça, ou serem encaminhadas por AR, para
o endereço à xxx, bem como, requer que sejam anotados os nomes na capa do
processo, evitando-se, desta forma, cerceamento de defesa e eventual
nulidade, em detrimento de todos os partícipes da relação processual.

II – DOS FATOS

Ab initio, cumpre salientar que a Promovente atua na área de turismo,


com o fornecimento de passagens aéreas, estadia em hotéis, entre outros, conforme
contrato social que segue em anexo (doc.01).

Nesse sentido, celebraram as partes um acordo comercial para a


prestação dos serviços prestados pela Autora como fornecimento de passagens
aéreas nacionais, entre outros.

Em razão dos serviços prestados pela Autora, foram emitidas três


Duplicatas (FATURA 165335, FATURA 165336, FATURA 182828 em anexo – docs.
03/05) que tinham como sacada a Promovida, num montante total de R$ 45.776,22
(quarenta e cinco mil, setecentos e setenta e seis reais e vinte e dois centavos), cujo
valor total atualizado até 15 de dezembro de 2017 corresponde a R$
47.685,26 (quarenta e sete mil, seiscentos e oitenta e cinco reais e vinte e seis
centavos) – comprovantes de atualização em anexo (docs. 05/06) –,conforme se
observa pela planilha abaixo:

DUPLICATA VALOR VENCIMENTO Juros Valor Total


Mensal
FATURA 165335 R$ 12.263,68 20/06/2017 1% R$ 12.963,27
FATURA 165336 R$ 8.490,09 20/06/2017 1% R$ 8.974,41
FATURA 182828 R$ 25.022,45 10/10/2017 1% R$ 25.747,58
Total R$ 45.776,22 R$ 47.685,26

Ocorre que na data do vencimento das duplicatas, elas não foram


quitadas.

Portanto, conforme acima relatado, corporificando a obrigação


acordada entre Requerida e Requerente, esta emitiu em seu favor 03 (três)
duplicatas, devidamente descritas no corpo dos títulos, totalizando o crédito

2
fls. 3

supracitado.

Como se vê, a obrigação pactuada não foi honrada pela parte


Demandada, eis que pelos demonstrativos de débito em anexo, verifica-se que o
principal, acrescido dos juros e atualização monetária, atingiu a importância de
R$ 47.685,26 (quarenta e sete mil, seiscentos e oitenta e cinco reais e vinte e
seis centavos).

Esgotados todos os meios persuasórios para o recebimento do débito,


não restou alternativa à Requerente, senão recorrer ao Poder Judiciário, a fim de
compelir a Requerida a adimplir a dívida líquida, certa e exigível constante do título
que instrui a presente ação.

III – DO DIREITO

Sabe-se que no meio jurídico existem duas modalidades básicas de


ação sobre as quais se sustenta toda estrutura processual então vigente, a saber, o
processo cognitivo e o executório. O primeiro se presta a elucidar as questões
confiadas ao poder judicante, onde, através do contraditório, o juiz poderá dizer o
direito na melhor forma da lei, enquanto o segundo tem como objetivo a simplória
tarefa de executar decisões judiciais irrecorríveis, ou, ainda, executar títulos de
crédito ao qual a lei atribui natureza executiva.

De elementar sabença que a duplicata está inserida dentro desses


títulos de crédito, possuindo, portanto, condição suficiente para que o credor inicie
sua execução, independente de qualquer indagação sobre a existência ou não do
crédito demandado, assim como dispõe o art. 784, I, do CPC, veja:

Art. 784. São títulos executivos extrajudiciais:


I – a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture
e o cheque.
(grifou-se)

Ocorre que todo título de crédito extrajudicial é dotado de eficácia


executiva somente se guardar determinadas especificações formais e inerentes a
cada título, especificamente. Assim, se não observar tais exigências formais, o título
fica impossibilitado de ser executado, visto que não se revestirá de eficácia
executiva.

No caso da duplicata, diz a Lei 5.474/68, em seu artigo 2º, § 1º, os


exatos critérios que esta espécie de título deve conter, in verbis:

Art . 2º [...]

§ 1º A duplicata conterá:

3
.
fls. 4

I - a denominação "duplicata", a data de sua emissão e o número de


ordem;
II - o número da fatura;
III - a data certa do vencimento ou a declaração de ser a duplicata à
vista;
IV - o nome e domicílio do vendedor e do comprador;
V - a importância a pagar, em algarismos e por extenso;
VI - a praça de pagamento;
VII - a cláusula à ordem;
VIII - a declaração do reconhecimento de sua exatidão e da
obrigação de pagá-la, a ser assinada pelo comprador, como aceite,
cambial;
IX - a assinatura do emitente.
(grifou-se)

Considerando as duplicatas ora apresentadas como meio de prova


perceber-se-á que, embora dotadas da devida formalidade, não observaram a
integralidade dos critérios supracitados.

Para estes casos, porém, o ordenamento jurídico pátrio vislumbrou


uma nova modalidade de processo no qual o jurisdicionado poderá exigir o
cumprimento de obrigação consubstanciada em prova escrita e sem eficácia de
título executivo, sem necessariamente ter que recorrer ao processo de
conhecimento, que traria mais demora à satisfação do crédito pleiteado.

A modalidade acima descrita traduz exatamente o que vem a ser a


Ação Monitória, procedimento no qual ora se socorre a parte Requerente. Observa-
se, então, o que dispõe o Código de Processo Civil a respeito do caso, em seu artigo
700, a saber:

Art. 700. A ação monitória pode ser proposta por aquele que
afirmar, com base em prova escrita sem eficácia de título
executivo, ter direito de exigir do devedor capaz:
I - o pagamento de quantia em dinheiro;
II - a entrega de coisa fungível ou infungível ou de bem móvel ou
imóvel;
III - o adimplemento de obrigação de fazer ou de não fazer.
(grifou-se)

Portanto, nesta situação determinada, o legislador proporcionou que


se buscasse a satisfação do crédito mediante a propositura de Ação Monitória,
bastando apenas que o autor da ação apresente documento escrito capaz de
demonstrar de forma inescusável a certeza, liquidez e exigibilidade de seu
direito.

Ao Réu, caberá demonstrar, em sede defesa, a inexistência de


quaisquer desses requisitos, sob pena, de não o fazendo em tempo hábil, adquirir o
documento objeto da ação natureza executiva, podendo ser executado de acordo

4
fls. 5

com as regras do procedimento executório. Sobre o tema expõe o doutrinador


Humberto Theodoro Júnior, na obra Curso de Direito Processual Civil, que:

“Seria, evidentemente, enorme perda de tempo exigir


que o credor recorresse à ação de condenação para posteriormente
poder ajuizar a de execução quando de antemão já se está convicto
de que o devedor não vai opor contestação ou não dispõe de defesa
capaz de abalar as bases jurídicas da pretensão.1”

E mais à frente arremata:

“Seu início é por um preceito análogo ao da execução forçada, isto


é, por uma ordem passada ao devedor para que se pague a dívida.
Sua força executiva, todavia, ainda não está presente, porque o juiz
não faz a cominação de penhora. Mas, esgotado o prazo de
embargos, opera-se, por preclusão, o aperfeiçoamento do título que
se transforma em executivo e autoriza a realização dos atos de
expropriação próprios da execução forçada.2”

No mesmo sentido, José Rogério Cruz e Tucci também já se


pronunciaram sobre a matéria:

“Múltiplos são os casos de cabimento da ação monitória, bastando


que o interessado seja portador de um documento público ou
privado, que justifique o crédito e que não tenha a eficácia típica
dos títulos executivos extrajudiciais.
[...]
Se o réu, pelo contrário, não cumprir a respectiva ordem e se os
embargos, a que alude a segunda parte do caput do artigo 1.102c,
não forem opostos a tempo e hora, formar-se-á o título executivo
judicial, e, por via de conseqüência, o mandado de pagamento ou de
entrega inicialmente deferido, converte-se em mandado de citação
válido para todos os atos executivos (penhora ou depósito da coisa,
avaliação, etc)3”

Seguindo a mesma linha de raciocínio supra transcrita, sedimentou-se


a jurisprudência de nossos tribunais, senão vejamos:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO MONITÓRIA. DUPLICATA.


IMPROCEDÊNCIA EM PRIMEIRO GRAU. RECURSO DA AUTORA.
DUPLICATAS SEM ACEITE E SEM PROTESTO. EXISTÊNCIA NOTAS
FISCAIS E COMPROVAÇÃO DA ENTREGA DAS MERCADORIAS.
Ação monitória compete a quem pretender, com base em
prova escrita sem eficácia de título executivo, pagamento de
soma em dinheiro, entrega de coisa fungível ou de

1
Theodoro Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, ed. Universitária. – Rio de Janeiro :
Forense, 1999. Pg. 377
2
Theodoro Júnio, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, ed. Universitária. – Rio de Janeiro :
Forense, 1999. Pg. 377
3
José Rogério Cruz e Tucci – Ação Monitória, 1a.edição, Editora Revista dos Tribunais
5
fls. 6

determinado bem móvel. Duplicata sem aceite é título


executivo, desde que o credor proceda ao protesto e comprove
a entrega e o recebimento das mercadorias. Caso ausente um
dos requisitos, a cobrança da duplicata somente poderá ser
feita pela via ordinária, sumária ou monitória, já que o título
não tem executividade. [...] (TJ-SC - AC: 20130553226 SC
2013.055322-6 (Acórdão), Relator: Cinthia Beatriz da Silva
Bittencourt Schaefer,Data de Julgamento: 09/07/2014, Primeira
Câmara de Direito Comercial Julgado)

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


AÇÃO MONITÓRIA. EMBARGOS MONITÓRIOS. COMPROVAÇÃO DO
NEGÓCIO JURÍDICO. CÓPIA DO CONTRATO. POSSIBILIDADE.
AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC. SÚMULA N. 7 DO
STJ. AGRAVO IMPROVIDO.
1. A jurisprudência do STJ tem entendimento de que a cópia do
contrato e a comprovação de efetiva contraprestação, cuja
autenticidade não é questionada, são hábeis à instrução da ação
monitória.
2.Não se mostra possível modificar os fundamentos do acórdão
recorrido que, analisando o contexto fático-probatório dos autos,
afirmou estarem presentes os requisitos para a propositura da ação
monitória, tendo em vista o óbice da Súmula n. 7 do STJ.
3. Agravo regimental a que se nega provimento.
(STJ; AgRg no AREsp 611675 SC 2014/0291702-6; 3ª Turma; DJ
05/03/2015)

APELAÇÃO – AÇÃO MONITÓRIA – EMBARGOS – DUPLICATA SEM


ACEITE E NÃO PROTESTADA – PROVA ESCRITA SEM EFICÁCIA DE
TÍTULO EXECUTIVO – INTERESSE DE AGIR – SUCUMBÊNCIA
MÍNIMA – RESPONSABILIDADE DO VENCIDO PELA TOTALIDADE
DOS ÔNUS PROCESSUAIS – RECURSO DESPROVIDO – Duplicata
sem aceite e sem protesto, não obstante a prova da entrega da
mercadoria, não tem eficácia de título executivo, conforme
disposição expressa contida no artigo 15, inciso II, letra "a", da
Lei nº 5.474/68, sendo a ação monitória procedimento
adequado para cobrá-la. Diante da sucumbência mínima de uma
das partes, aplica-se o disposto no § 1º do artigo 21 do CPC. (TJMG
– AP 0360505-4 – (51076) – Bicas – 3ª C.Cív. – Rel. Juiz Mauro
Soares de Freitas – J. 22.05.2002)

Ademais, o próprio Superior Tribunal de Justiça já pacificou o


entendimento de que o prazo para cobrar duplicatas prescritas, sem valor
executivo, é de até 05 (cinco) anos, a contar da data de vencimento do
respectivo título.

Vê-se, assim, que a ação monitória é o meio hábil para resguardar a


eficácia executiva de título de crédito, de forma que é possível ao credor ingressar
diretamente no Juízo executório sem antes permear a demorada via de
conhecimento, bastando para tanto, que esteja fundamentado em prova escrita
sem eficácia de título executivo, que é o que ocorre no presente caso.
6
fls. 7

IV – DO PEDIDO

Diante do exposto, a empresa Promovente requer que Vossa


Excelência se digne a:

1) Determinar a expedição do mandado para pagamento do


quantum atualizado, cujo valor é de R$ 47.685,26 (quarenta e sete
mil, seiscentos e oitenta e cinco reais e vinte e seis centavos);

2) Conforme as faturas atualizadas em anexo, citar a empresa


Promovida a adimplir o débito, ou, querendo, oferecer embargos no
prazo legal, sob pena de transformar o referido mandado em titulo
executivo judicial;

3) A condenação da Promovida nos ônus sucumbenciais, tais


como, o pagamento das custas processuais, honorários advocatícios
na base de 20% (vinte por cento) do valor da condenação, dentre
outras despesas processuais que venham a existir;

Protesta , caso necessário, provar o alegado por todos os meios de


prova em direito admitidos, notadamente a posterior juntada de documentos,
perícia, bem como as demais diligências que Vossa Excelência considerar
necessárias para o processamento e julgamento do feito.

Por fim, para fins do artigo 77, inciso V, do Novo Código de Processo
Civil, requer que todas as intimações ou notificações figurem, exclusivamente, em
nome de xx, devendo ser publicada em Diário da Justiça, ou serem encaminhadas
por AR, para o endereço à Avenida Washington Soares, xxxFortaleza/CE, evitando-
se, desta forma, cerceamento de defesa e eventual nulidade de atos
processuais, em detrimentode todos os partícipes da relação ora constituída.

Dá-se à causa o valor de R$ 47.685,26 (quarenta e sete mil,


seiscentos e oitenta e cinco reais e vinte e seis centavos).
Nestes Termos,
Pede e Espera Deferimento.
Fortaleza/CE, 15 de dezembro de 2017.

Pp.
fls. 40

EXCELENTISSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DA 3a VARA CIVEL DA COMARCA


DE FORTALEZA-CE

Processo nº 0100474-07.2018.8.06.0001

Ação Monitória

FORTALEZA ESPORTE CLUBE, entidade de prática


desportiva, inscrito no CNPJ/MF sob o nº 07.319.551/0001-61, com sede na Av.
Senador Fernandes Távora, 200, Pici, na cidade de Fortaleza/CE, neste ato
representado por seu Presidente da Diretoria Executiva Marcelo Cunha da Paz,
brasileiro, solteiro, administrador de empresas, portador da cédula de identidade de nº.
92002132569 SSP/CE, e inscrito CPF/MF sob o nº. 956.183.503-78, comparece com
devido respeito perante vossa Excelência, com súpero respeito, apresentar
atempadamente EMBARGOS MONITÓRIOS em desfavor de CASABLANCA
TURISMO E VIAGENS LTDA, aduzindo, para tanto as razoes de ordem fático-
jurídicas a seguir expostas:

I. INICIALMENTE

Inicialmente, requer o peticionante a Vossa Excelência, que


todas as intimações oriundas do presente feito sejam direcionadas em nome dos
advogados GERMANO MONTE PALACIO, inscrito na OAB/CE sob o n.º 11.569,
FABIOLA ALVES CASTELO GUEDES, inscrita na OAB/CE sob o n.º 36.224 e
fls. 41

FRANCISCO DAVID PIRES REBOUÇAS, inscrito na OAB/CE sob o n.º 16.910, sob
pena de nulidade.

II. RESENHA FÁTICA


A Embargada ajuizou perante este honroso juízo, Ação
Monitória, visando o recebimento da quantia de 47.685,26(quarenta e sete mil,
seiscentos e oitenta e cinco reais e vinte e seis centavos), representada por borderôs
de venda de passagens em nome da empresa Contestante.

Contudo, em que pese tais fatos, temos que os documentos


estão ausentes de qualquer motivação e plausibilidade de sua cobrança.

III. DESNECESSIDADE DE PRÉVIA SEGURANÇA DO JUÍZO

Nos termos do caput do artigo 702 do Novo Código de


Processo Civil, “[i]ndependentemente de prévia segurança do juízo, o réu poderá opor
[...] embargos à ação monitória”, de modo que os presentes embargos cumprem com
esse requisito de admissibilidade.

III. TEMPESTIVIDADE E SUSPENSÃO DA DECISÃO QUE EXPEDIU O MANDADO


DE PAGAMENTO.

Os presentes embargos encontram-se tempestivos, tendo em


vista o prazo de 15 dias úteis previsto no artigo 702, com referência ao artigo 701 do
NCPC.

Ademais, conforme o disposto no § 4º do artigo 702 do Novo


CPC, a simples oposição dos presentes embargos “suspende a eficácia da decisão
referida no caput do art. 701 até o julgamento em primeiro grau”.

IV. PRELIMINAR
DA AUSENCIA DE MATERIALIDADE DA MONITÓRIA

Carência da Ação

Imperioso ser reputada a carência da Ação Monitória proposta


pelo Embargado, visto a iliquidez, incerteza e inexigibilidade do título em que se
baseia. Ora, não há como prosperar a ação monitória a que estes embargos se
referem, senão vejamos:
fls. 42

A inicial veio desacompanhada de documentos que


conferissem legitimidade à quantia pleiteada, pois a simples leitura dos documentos
juntados pela Embargada que os documentos anexados são meramente extratos
unilaterais em que o próprio embargado imprime e junta aos autos, estando
totalmente ausente de qualquer anuência ou assinatura de algum empregado ou
pessoa ligada à Embargante.

Ademais e sob qualquer ângulo, o título não se reveste da


liquidez, certeza e exigibilidade pressuposta para a ação monitória. Vincula-se a
crédito ilíquido, tendo em vista que não há como se saber de onde vieram tais
débitos, bem como ainda pelo simples fato de que o Embargado não demonstrou tão
pouco quais índices foram utilizados para a cobrança dos diversos encargos
incidentes sobre o pretendido saldo devedor.

Não há espaço para nenhum processo liquidatório na ação


monitória, quer entre a expedição do mandado e sua comunicação ao réu, quer entre
a fase cognitiva e a executiva. Sendo assim, o crédito alegado deve ser claramente
certo, líquido e exigível desde o início, o que não ocorre no caso em tela, devendo ser
julgada extinta a presente monitória, por carência de ação.

Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS


JURÍDICOS BANCÁRIOS. AÇÃO MONITÓRIA.
COBRANÇA DE DÍVIDA ORIUNDA DE CÉDULA DE
CRÉDITO BANCÁRIO. AUSÊNCIA DE
PRESSUPOSTOS DECONSTITUIÇÃO E
DESENVOLVIMENTO VÁLIDO E REGULAR DO
PROCESSO. EXTINÇÃO DA AÇÃO SEM
RESOLUÇÃO DE MÉRITO. Para o ajuizamento de
ação monitória, deve a inicial vir acompanhada de
documento escrito apto a conferir verossimilhança
quanto à existência do crédito, previamente dotado
de exigibilidade e liquidez, configurando pressuposto
objetivo intrínseco de validade do processo,
específico deste procedimento. Ausentes tais
requisitos no caso em exame, uma vez que o
autor apresenta cédula de crédito bancário
desprovida de assinatura, e as demais provas
produzidas nos autos não corroboram as
alegações da inicial, impõe-se a extinção do
processo sem resolução de mérito.RECURSO
DESPROVIDO. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº
70061006037, Décima Sétima Câmara Cível, Tribunal
de Justiça do RS, Relator: Liege Puricelli Pires,
Julgado em 25/09/2014) (grifo meu)

V. DA REALIDADE FÁTICA
fls. 43

Com efeito, caso a demanda prospere após a análise da


preliminar supra, requer que sejam apreciados os argumentos fáticos a seguir
expostos.

A embargada afirma ser uma empresa de turismo que atua em


nosso mercado e que celebrou um contrato comercial com a instituição embargante.

Ocorre, Exa., que, mesmo que o contrato celebrado entre as


partes fosse um acordo verbal, o que aqui se faz para efeito de raciocínio, não existe
sequer um ofício, e-mail, ou qualquer outro documento que demonstrasse que os
serviços foram solicitados pela embargante e prestados pela embargada. Não existe
sequer um indício de que as datas tidas como vencimento da suposta obrigação de
pagar sejam as trazidas pela embargada, que apenas juntou um documento
confeccionado de forma unilateral, sem participação alguma da instituição ora cobrada.

Apesar de toda a modernidade existente na comercialização de


produtos no mercado, custa acreditar que uma empresa com vários anos no mercado
traga o argumento de que uma instituição centenária deve a mesma apenas com uma
duplicata sem aceite, desacompanhada de qualquer comprovação de solicitação de
serviço ou que o referido fora prestado.

A ação monitória é um misto de ação de conhecimento e de


execução. Isto posto, deveria a embargada ter se preocupado em trazer o mínimo de
argumentos para os autos, tendo preocupado-se mais na atualização do suposto
débito, deixando parcos dois parágrafos para tentar explicar a origem da dívida, senão
vejamos:

“Nesse sentido, celebraram as partes um acordo


comercial para a prestação dos serviços prestados
pela Autora como fornecimento de passagens aéreas
nacionais, entre outros.

Em razão dos serviços prestados pela Autora, foram


emitidas três Duplicatas (FATURA 165335, FATURA
165336, FATURA 182828 em anexo – docs. 03/05)
que tinham como sacada a Promovida, num montante
total de R$ 45.776,22 (quarenta e cinco mil,
setecentos e setenta e seis reais e vinte e dois
centavos), cujo valor total atualizado até 15 de
dezembro de 2017 corresponde a R$ 47.685,26
(quarenta e sete mil, seiscentos e oitenta e cinco reais
e vinte e seis centavos) – comprovantes de
atualização em anexo (docs. 05/06) –,conforme se
observa pela planilha abaixo:”
.
fls. 44

Com a presente demanda e seus argumentos, tenta a


embargada inverter o ônus probatório, fazendo com que a embargada prove que um
serviço não foi prestado, o que é absurdo, requerendo esta que a presente demanda
seja extinta, com as condenações de estilo.

Quem deveria comprovar a origem do suposto débito constante


das duplicatas era a parte embargada. Como não o fez, a ação deve ser julgada
improcedente, conforme jurisprudência abaixo colacionada:

TJ-SP - Apelação APL 40033209320138260079 SP


4003320-93.2013.8.26.0079 (TJ-SP)

Data de publicação: 10/03/2015

Ementa: "APELAÇÃO - MONITÓRIA DUPLICATAS


SEM ACEITE NOTAS FISCAIS - COMPROVANTES
DE ENTREGA DE MERCADORIAS - ÔNUS DA
PROVA CANCELAMENTO DE PROTESTO I -
Hipótese em que não é possível comprovar que
houve a efetiva entrega das mercadorias
representadas pelas notas fiscais que originaram as
duplicatas protestadas. Alegação da embargante de
que as mercadorias não foram entregues Ônus da
autora, ora embargada, de comprovar a
regularidade da relação jurídica entre as partes,
mediante juntada das notas fiscais e
comprovantes de entrega de mercadorias,
devidamente assinados. Impossibilidade de a ré
produzir a referida prova, sob pena de se exigir a
produção de prova negativa, ou seja, de que as
mercadorias não foram entregues, o que é
inadmissível Exegese do artigo 333, I, do CPC -
Ausência do comprovante de entrega de
mercadorias II - Inadmissibilidade da conversão do
mandado em título executivo judicial Ausência de
manifestação da embargante no ato do protesto que
não a impede de oferecer defesa contra a cobrança
que lhe move a embargada Cancelamento dos
protestos determinado - Embargos à Monitória
procedentes Monitória improcedente - Apelo
provido". "ÔNUS SUCUMBÊNCIA INVERSÃO -
Julgada improcedente a ação, invertem-se os ônus
da sucumbência, devendo a autora arcar com as
custas e despesas processuais e com os
honorários advocatícios do patrono da ré, fixados,
por apreciação equitativa, nos termos do art. 20, § 4º,
do CPC, em R$1.500,00 Apelo provido."
fls. 45

APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO MONITÓRIA –


DUPLICATA MERCANTIL - INSTRUMENTO DE
PROTESTO - FALTA DE PAGAMENTO –
INTIMAÇÃO POR EDITAL - NOTA FISCAL-FATURA
SEM ASSINATURA DO RECEBEDOR – AUSÊNCIA
DE ACEITE E PROVA DA ENTREGA DO PRODUTO
- PRESUNÇÃO DE DÍVIDA RELATIVA – AFASTADA
– AUSÊNCIA DE OUTROS ELEMENTOS DE PROVA
HÁBEIS A DEMONSTRAR A DÍVIDA - EMBARGOS
MONITÓRIOS ACOLHIDOS – SENTENÇA MANTIDA
– RECURSO DESPROVIDO. A duplicata mercantil,
sem aceite, protestada por falta de pagamento,
acompanhada da nota fiscal-fatura são
documentos hábeis para admissibilidade da ação
monitória, mas não desobriga o autor na fase
instrutória demonstrar a existência da relação
jurídica entre as partes e a efetiva remessa ou
entrega das mercadorias. (Ap 179729/2016, DESA.
NILZA MARIA PÔSSAS DE CARVALHO, PRIMEIRA
CÂMARA DE DIREITO PRIVADO, Julgado em
18/07/2017, Publicado no DJE 27/07/2017). (TJ-MT -
APL: 00029128620088110040 179729/2016, Relator:
DESA. NILZA MARIA PÔSSAS DE CARVALHO, Data
de Julgamento: 18/07/2017, PRIMEIRA CÂMARA DE
DIREITO PRIVADO, Data de Publicação: 27/07/2017)

Negada a relação causal pela ora embargante, sem a prova


da efetiva prestação dos serviços, impõe-se reconhecer a irregularidade na
emissão da duplicata e a improcedência da ação. Se não fosse assim, toda
falsa duplicata levada a protesto sem impugnação seria suporte suficiente para
a procedência da ação monitória.

Deixa a embargante de apresentar qualquer impugnação ao


valor, pois entende que a totalidade dos mesmos não é devida, conforme os
argumentos expostos acima.

VI. PEDIDOS E DEMAIS REQUERIMENTOS

Ante o exposto, requer:

a) Seja suspensa a eficácia da decisão que expediu o mandado de pagamento, nos


termos do § 4º do artigo 702 do NCPC;

b) Seja o Embargado intimado para responder aos presentes embargos, no prazo de


15 dias, nos termos do § 5º do artigo 702 do NCPC;
Es
fls. 46

c) A produção de todos os meios de provas admitidos em direito, caso seja a vontade


de Vossa Excelência;

d) Seja julgada extinta a ação monitória proposta pelo Embargado, condenando-o ao


pagamento de multa de 10% sobre o valor da causa, em favor do Embargante, por
litigância de má-fé;

e) Seja o Embargado condenado a arcar com os honorários advocatícios e demais


ônus sucumbenciais, estes arbitrados em seu máximo.

Nestes Termos,
Pede deferimento.
Fortaleza, 28 de fevereiro de 2018.

Pp.
fls. 126

PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO CEARÁ


Comarca de Fortaleza
3ª Vara Cível (SEJUD VI)
Rua Desembargador Floriano Benevides Magalhaes, nº 220, Água Fria - CEP 60811-690, Fone: (85) 3492 8254,
Fortaleza-CE - E-mail: for03cv@tjce.jus.br

SENTENÇA

Processo nº: 0100474-07.2018.8.06.0001


Apensos:
Classe: Monitória
Assunto: Inadimplemento
Requerente: Casablanca Turismo e Viagens Ltda

Requerido: Fortaleza Esporte Clube

Vistos, etc.
Trata-se de Ação Monitória proposta por CasaBlanca Turismo e Viagens
Ltda em face de Fortaleza Esporte Clube, ajuizada em15 de dezembro de 2017.
A requerente alega que é credora da ré pela quantia de R$ 45.776,22 (quarenta
e cinco mil, setecentos e setenta e seis reais e vinte e dois centavos), referente a emissão de 03
(três) duplicatas.
Devidamente citada, a parte requerida apresenta os embargos monitórios às
fls. 40/46, onde preliminarmente alega (i) a ausência de materialidade da monitória, diante da
carência de liquidez, certeza e exigibilidade; (ii) inexistência de documentos que comprovam
que os serviços foram solicitados.
Impugnação aos embargos monitórios às fls. 96/108.
Vieram os autos conclusos para julgamento.

É o que se tem a relatar. Passo a fundamentar e a decidir.


A temática sob apreciação aborda a discussão ante a obrigação do requerido de
pagar quantia fixada em acordo entre as partes para prestação de serviços, que a requerente
alega não terem sido adimplidos no tempo acertado.
De acordo com o art. 700 do CPC:
A ação monitória pode ser proposta por aquele que afirmar, com base em prova
escrita sem eficácia de título executivo, ter direito de exigir do devedor capaz:
...
I – o pagamento de quantia em dinheiro;
Nos termos do art. 335, I, do CPC, passo ao julgamento do feito no estado em
que se encontra o processo.
fls. 127

PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO CEARÁ


Comarca de Fortaleza
3ª Vara Cível (SEJUD VI)
Rua Desembargador Floriano Benevides Magalhaes, nº 220, Água Fria - CEP 60811-690, Fone: (85) 3492 8254,
Fortaleza-CE - E-mail: for03cv@tjce.jus.br

Inicialmente, passo ao exame da preliminar arguida.


Primeiramente, rejeito a preliminar de carência de materialidade da ação
monitória arguida pela parte requerida, tendo em vista que a certeza, liquidez e exigibilidade
prevista no art. 783 do CPC, são requisitos necessários para a cobrança através de Ação de
Execução, o que não é o caso nos autos, pois estamos diate de uma Ação Monitoria, que busca
justamente dar força executiva ao título objeto da ação, afastando assim que esses requisitos
seriam inerentes a presente demanda.
Constata-se ainda que a peça inicial está acompanhada de prova escrita apta a
embasar a ação monitória, constituída de documento tais como: as duplicatas sem força
executiva às fls. 19/26.
Quanto a alegativa da parte requerida referente a não existência de
comprovação de que os serviços foram solicitados e/ou prestados, o que se extrai dos autos é
que houve uma provocação da parte requerida a fim de obter orçamento quanto a prestação do
serviço, restando demostrado às fls. 102, através de e-mail encaminhado a requerente.
Doutro modo, ainda que não conste a devida autorização expressa para prestação do serviço, o
que se percebe a partir das capturas de telas referente as tratativas entre os funcionários das
partes seria a confirmação tácita de que houve não somente a efetiva prestação do serviço,
bem como o reconhecimento do débito.
Ademais, incumbe ao réu a prova da existência de fato impeditivo,
modificativo ou extintivo do direito do autor, preceito que extraímos do art. 373, II do CPC.
Vejamos:

Art. 373. O ônus da prova incumbe:

I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito;

II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do


direito do autor. [...]

Entretanto, mesmo sendo oportunizada, a requerida não juntou qualquer


documento ou requereu a produção de provas que comprovassem o alegado, impossibilitando
assim que suas alegações sejam presumidas sem base probatória.

Desta forma, entendo que os documentos que embasam a presente Ação


fls. 128

PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO CEARÁ


Comarca de Fortaleza
3ª Vara Cível (SEJUD VI)
Rua Desembargador Floriano Benevides Magalhaes, nº 220, Água Fria - CEP 60811-690, Fone: (85) 3492 8254,
Fortaleza-CE - E-mail: for03cv@tjce.jus.br

Monitória, servem como prova escrita para comprovar o crédito objeto do litígio e o seu não
pagamento.
Por todo o exposto, rejeito os embargos monitórios e, em ato contínuo, julgo
procedente a ação monitória, convertendo a obrigação de pagar em título executivo
judicial, (conforme determinação do art. 702, §8º do NCPC), devendo-se intimar os
requeridos para que seja realizado o pagamento da dívida atualizada, no prazo de 15 (quinze)
dias, sob pena de acréscimo de 10% (dez por cento), seguido de penhora de bens para garantia
da execução.

Condeno ainda as requeridas ao pagamento de custas processuais e honorários


advocatícios no importe de 10% (dez por cento) sobre o valor da causa, consoante art. 85, §2º
do NCPC, acrescido de correção monetária pelo INPC a partir do ajuizamento da demanda
(Súmula 14 do STJ) e de juros moratórios de 1% ao mês a partir do transito em julgado da
decisão (art. 85, §16, do NCPC).

Publique-se. Registre-se. Intime-se.

Fortaleza/CE, 26 de novembro de 2018.

Cid Peixoto do Amaral Neto


Juiz
Assinado por Certificação Digital1

1
De acordo com o Art. 1o da lei 11.419/2006: "O uso de meio eletrônico na tramitação de processos judiciais, comunicação de atos e
transmissão de peças processuais será admitido nos termos desta Lei.
• ˜ 2o Para o disposto nesta Lei, considera-se:
III - assinatura eletrônica as seguintes formas de identificação inequívoca do signatário:
a) assinatura digital baseada em certificado digital emitido por Autoridade Certificadora credenciada, na forma de lei específica;
Art. 11. Os documentos produzidos eletronicamente e juntados aos processos eletrônicos com garantia da origem e de seu signatário, na
forma estabelecida nesta Lei, serão considerados originais para todos os efeitos legais.
Para aferir a autenticidade do documento e das respectivas assinaturas digitais acessar o site http://esaj.tjce.jus.br. Em seguida
selecionar a opção CONFERÊNCIA DE DOCUMENTO DIGITAL e depois Conferência de Documento Digital do 1º grau.
Abrir a tela, colocar o nº do processo e o código do documento.
.
ESTADO DO CEARÁ
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
GABINETE DESEMBARGADORA MARIA VILAUBA FAUSTO LOPES

NÚMERO ÚNICO: 0100474-07.2018.8.06.0001


TIPO DO PROCESSO: APELAÇÃO CÍVEL EM AÇÃO MONITÓRIA
ORIGEM: 3ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE FORTALEZA
APELANTE: FORTALEZA ESPORTE CLUBE S/A
APELADO: CASABLANCA TURISMO E VIAGENS S/A
ÓRGÃO JULGADOR: TERCEIRA CÂMARA DIREITO PRIVADO
RELATORA: DESA. MARIA VILAUBA FAUSTO LOPES

EMENTA: PROCESSO CIVIL. AÇÃO MONITÓRIA.

DUPLICATAS SEM ACEITE. TÍTULO CAUSAL.

NECESSIDADE DE COMPROVAR A EXISTÊNCIA DE

NEGÓCIO JURÍDICO SUBJACENTE. AUTORA/APELADA,

NA CONDIÇÃO DE CREDORA, QUE NÃO SE

DESINCUMBIU DO SEU ÔNUS, NA FORMA DO ART. 373,

INC. I, DO CPC/15.. APELO CONHECIDO E PROVIDO, PARA

REFORMAR A SENTENÇA E JULGAR IMPROCEDENTE A

PRETENSÃO AUTORAL DEDUZIDA NA AÇÃO MONITÓRIA.

01. O cerne da controvérsia consiste na aferição se mostrou-se

devidamente comprovado nos autos o negócio jurídico

subjacente às duplicatas sem aceite (fls.19/26), as quais são

objeto da ação monitória.

02. No caso dos autos, verifica-se que a emissão das

1
xx
ESTADO DO CEARÁ
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
GABINETE DESEMBARGADORA MARIA VILAUBA FAUSTO LOPES

duplicatas de fls. 15/26 sem aceite é decorrente da emissão de

passagens aéreas em favor da promovida/apelante, lançadas

nos meses de dezembro/2016 e janeiro/2017.

03. No entanto, a autora/apelada não se desincumbiu do seu

ônus de comprovar a existência de negócio jurídico entre as

partes, haja vista que limitou-se a juntar aos autos um pedido

de orçamento realizado pela promovida/apelante através de

mensagem eletrônica (e-mail), datada de dezembro de 2016,

cuja resposta ao pedido de cotação encontra-se com a data

omitida nos autos (fl.109).

04. Assim, a efetiva conclusão do negócio jurídico não restou

sequer demonstrada nos autos, razão pela qual, tratando-se a

duplicata sem aceite de título causal, a autora/apelada, na

qualidade de credora, não se desincumbiu do ônus que lhe

cabia, na forma do art. 373, inc. I, do CPC/15, sendo

insuficientes à comprovação os documentos colacionados aos

autos.

05. Recurso de apelação conhecido e provido, para

reformar a sentença, no sentido de julgar improcedente a

pretensão autoral deduzida na ação monitória, com fulcro no

art. 487, inc. I, c/c art. 702, ambos do CPC/15, invertendo-se o

2
xx
ESTADO DO CEARÁ
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
GABINETE DESEMBARGADORA MARIA VILAUBA FAUSTO LOPES

ônus da sucumbência.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, em que litigam as

partes, acima nominadas, ACORDA a TURMA JULGADORA DA TERCEIRA

CÂMARA DIREITO PRIVADO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO

CEARÁ, por UNANIMIDADE, em CONHECER DA APELAÇÃO INTERPOSTA,

PARA LHE DAR PROVIMENTO, reformando a sentença, no sentido de julgar

improcedente a pretensão autoral deduzida na ação monitória, com fulcro no art.

487, inc. I, c/c art. 702, ambos do CPC/15, invertendo-se o ônus da sucumbência,

tudo nos termos do voto da Relatora.

MARIA VILAUBA FAUSTO LOPES

Desembargadora-Relatora

RELATÓRIO

Em análise, Recurso de Apelação interposto por FORTALEZA

ESPORTE CLUBE, às fls. 131/135, adversando sentença de fls. 126/128, exarada

pelo MM. Juiz de Direito da 3ª Vara Cível da Comarca de Fortaleza, nos autos da

3
xx
ESTADO DO CEARÁ
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
GABINETE DESEMBARGADORA MARIA VILAUBA FAUSTO LOPES

Ação Monitória em epígrafe, proferida nos seguintes termos:


Por todo o exposto, rejeito os embargos monitórios e, em ato
contínuo, julgo procedente a ação monitória, convertendo a
obrigação de pagar em título executivo judicial, (conforme
determinação do art. 702, §8º do NCPC), devendo-se intimar os
requeridos para que seja realizado o pagamento da dívida
atualizada, no prazo de 15 (quinze) dias, sob pena de acréscimo de
10% (dez por cento), seguido de penhora de bens para garantia da
execução.
Condeno ainda as requeridas ao pagamento de custas processuais e
honorários advocatícios no importe de 10% (dez por cento) sobre o
valor da causa, consoante art. 85, §2º do NCPC, acrescido de
correção monetária pelo INPC a partir do ajuizamento da demanda
(Súmula 14 do STJ) e de juros moratórios de 1% ao mês a partir do
transito em julgado da decisão (art. 85, §16, do NCPC).

Irresignado, o promovido interpôs recurso de apelação de fls. 131/135,

requerendo o seu provimento, para que a sentença seja reformada, no sentido de

julgar improcedente a pretensão autoral, sob o argumento, em suma, da ausência

se materialidade da monitória, vez que as provas juntadas pelo autor tratam-se de

provas unilaterais, enquanto a duplicata não foi objeto de aceite.

Contrarrazões às fls. 141/148.

É o relatório. Decido.

VOTO

Presentes os pressupostos que autorizam a admissibilidade dos

recursos apelatórios, recebo-os e passo a apreciá-los nos termos em que


4
xx
ESTADO DO CEARÁ
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
GABINETE DESEMBARGADORA MARIA VILAUBA FAUSTO LOPES

estabelece o art. 1.010 e seguintes do CPC/1915, vez que a sentença foi proferida

na data de 04 de junho de 2019.

O cerne da controvérsia consiste na aferição se mostrou-se

devidamente comprovado nos autos o negócio jurídico subjacente às duplicatas

sem aceite (fls.19/26, as quais são objeto da ação monitória.

Nesse sentido, o entendimento da jurisprudência pátria é assente

acerca de que incumbe ao credor o ônus de comprovar a existência do negócio

jurídico subjacente à duplicata emitida sem aceite, consistente na realização do

serviço ou entrega da mercadoria, senão:


APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. SENTENÇA DE
PARCIAL PROCEDÊNCIA. INSURGÊNCIA DA EMBARGANTE.
PRELIMINAR. PEDIDO DE CONCESSÃO DA JUSTIÇA GRATUITA.
DEFERIMENTO TÃO SOMENTE PARA ANÁLISE DO APELO.
DUPLICATA MERCANTIL, POR INDICAÇÃO, LEVADA À
PROTESTO POR FALTA DE PAGAMENTO. AUSÊNCIA DE ACEITE
E INEXISTÊNCIA DE PROVA DA ENTREGA DA MERCADORIA.
DOCUMENTO DA TRANSPORTADORA IMPRESTÁVEL PARA
DEMONSTRAR A ENTREGA DAS ROUPAS, PORQUANTO
APÓCRIFO E SEM INDICAÇÃO DO ENDEREÇO DA EXECUTADA.
REQUISITOS DO ART. 15 DA LEI 5.474/68 NÃO PREENCHIDOS.
AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DA RELAÇÃO NEGOCIAL QUE
DEU ORIGEM AO TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL. ÔNUS
QUE COMPETE À EXEQUENTE, A TEOR DO ART. 373, I, DO
CPC/2015. SENTENÇA MODIFICADA. INVERSÃO DOS ÔNUS
SUCUMBENCIAIS. HONORÁRIOS RECURSAIS. INVIABILIDADE
DE MAJORAÇÃO DA VERBA EM GRAU RECURSAL.
ENTENDIMENTO CONSOLIDADO PELO SUPERIOR TRIBUNAL DE
5
xx
ESTADO DO CEARÁ
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
GABINETE DESEMBARGADORA MARIA VILAUBA FAUSTO LOPES

JUSTIÇA. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. "A duplicata


mercantil é título causal e sua emissão é restrita às hipóteses
previstas em lei. No caso de cobrança da cambial sem aceite,
compete ao autor demonstrar a realização do serviço ou da
entrega da mercadoria que deu azo à emissão do referido título
de crédito, a teor do art. 373, I, do Código de Processo Civil" (TJ-
SC - AC: 03027865820148240082 Capital - Continente 0302786-
58.2014.8.24.0082, Relator: Sérgio Izidoro Heil, Data de Julgamento:
01/09/2020, Quarta Câmara de Direito Comercial) . Destacou-se

Ementa: PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE EXECUÇÃO. EMBARGOS


DO DEVEDOR. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA.
INOCORRÊNCIA. DUPLICATA. REQUISITOS. NÃO
PREENCHIMENTO. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. 1.
Não pode ser considerado como inversão do ônus da prova quando
compete ao autor a comprovação de fato constitutivo de seu direito;
2. Sendo a duplicata título de crédito causal, está sempre
vinculada à comprovação da relação jurídica subjacente, ou
seja, no caso dos autos, do fornecimento das mercadorias,
sendo ônus probante do exequente; 3. Não comprovada a
existência de relação jurídica direta entre as partes, capaz de
justificar a emissão da duplicata, resta ausente a sua exigibilidade e
certeza; 5. Recurso conhecido e negado provimento. (Relator (a):
Airton Luís Corrêa Gentil; Comarca: Manaus/AM; Órgão julgador:
Terceira Câmara Cível; Data do julgamento: 12/11/2018; Data de
registro: 13/11/2018). Destacou-se

No caso dos autos, verifica-se que a emissão das duplicatas de fls.

15/26 sem aceite é decorrente da emissão de passagens aéreas em favor da

promovida/apelante, lançadas nos meses de dezembro/2016 e janeiro/2017.


6
xx
ESTADO DO CEARÁ
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
GABINETE DESEMBARGADORA MARIA VILAUBA FAUSTO LOPES

No entanto, a autora/apelada não se desincumbiu do seu ônus de

comprovar a existência de negócio jurídico entre as partes, haja vista que limitou-se

a juntar aos autos um pedido de orçamento realizado pela promovida/apelante

através de mensagem eletrônica (e-mail), datada de dezembro de 2016, cuja

resposta ao pedido de cotação encontra-se com a data omitida nos autos (fl.109).

Assim, a efetiva conclusão do negócio jurídico não restou sequer

demonstrada nos autos, razão pela qual a autora/apelada, na qualidade de credora,

não se desincumbiu do ônus que lhe cabia, na forma do art. 373, inc. I, do CPC/15,

sendo insuficientes à comprovação os documentos colacionados aos autos.

Diante de todo o exposto, por tudo que dos autos consta, conheço do

recurso de apelação, para lhe dar provimento, para reformar a sentença, no

sentido de julgar improcedente a pretensão autoral deduzida na ação monitória, com

fulcro no art. 487, inc. I, c/c art. 702, ambos do CPC/15, invertendo-se o ônus da

sucumbência.

É como voto.

Fortaleza-CE, 07 de abril de 2021.

MARIA VILAUBA FAUSTO LOPES

Desembargadora-Relatora

7
xx

Você também pode gostar