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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA 2ª VARA DE

FAMÍLIA E SUCESSÕES DO FORO DA COMARCA DE SÃO BERNARDO DO


CAMPO-SP.

PROCESSO Nº: 0324947-17.2022.5.19.0001


AÇÃO DE DESCONSTITUIÇÃO DE FILIAÇÃO BIOLÓGICA

ANTONIO JOAQUIM SANTOS, já devidamente qualificado nos autos do processo de


DESCONSTITUIÇÃO DA FILIAÇÃO BIOLÓGICA E RECONHECIMENTO DA
PATERNIDADE SOCIOAFETIVA, que lhe move MARISTELA PEREIRA DOS SANTOS,
já devidamente qualificada nos autos do processo, vem, respeitosamente à presença de Vossa
Excelência, com fulcro no artigo 336 do Código de Processo Civil, por meio de seu advogado
(procuração anexa) apresentar

CONTESTAÇÃO c/c RECONVENÇÃO

pelos motivos de fato e de direito que a seguir expõe.

I – PRELIMINARMENTE

I.A - DA JUSTIÇA GRATUITA

Pelas condições financeiras do requerido, Antônio Joaquim Santos, cabe declarar que
este, para fins processuais, é pobre no sentido legal e não possui condições de arcar com as
custas do processo sem comprometer sua própria subsistência. Por este motivo, pede-se o
benefício da justiça gratuita, com fulcro nos artigos 98 e 99 do Código de Processo Civil
(IRPF atual, extrato bancário recente e declaração de hipossuficiência em anexo).

I.B - DA FALTA DOS REQUISITOS LEGAIS DA PETIÇÃO INICIAL

De acordo com o artigo 337 do Código de Processo Civil, incumbe ao réu alegar na
contestação, além de toda a matéria de defesa sobre os fatos apresentados na petição inicial,
quando existir alguma preliminar relativa aos pressupostos processuais e as condições da
ação.

POLO ATIVO E POLO PASSIVO DO RECONHECIMENTO DE PATERNIDADE


SOCIOAFETIVA

O CPC prescreve:
“Art. 319. A petição inicial indicará:
I - o juízo a que é dirigida;
II - os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união
estável, a profissão, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas
Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, o endereço
eletrônico, o domicílio e a residência do autor e do réu;
III - o fato e os fundamentos jurídicos do pedido;
IV - o pedido com as suas especificações;
V - o valor da causa;
VI - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos
fatos alegados;
VII - a opção do autor pela realização ou não de audiência de
conciliação ou de mediação.
§ 1º Caso não disponha das informações previstas no inciso II,
poderá o autor, na petição inicial, requerer ao juiz diligências
necessárias a sua obtenção.
§ 2º A petição inicial não será indeferida se, a despeito da falta de
informações a que se refere o inciso II, for possível a citação do réu.
§ 3º A petição inicial não será indeferida pelo não atendimento ao
disposto no inciso II deste artigo se a obtenção de tais informações
tornar impossível ou excessivamente oneroso o acesso à justiça.
Art. 320. A petição inicial será instruída com os documentos
indispensáveis à propositura da ação.
Art. 321. O juiz, ao verificar que a petição inicial não preenche os
requisitos dos arts. 319 e 320 ou que apresenta defeitos e
irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito,
determinará que o autor, no prazo de 15 (quinze) dias, a emende ou
a complete, indicando com precisão o que deve ser corrigido ou
completado.
Parágrafo único. Se o autor não cumprir a diligência, o juiz
indeferirá a petição inicial.”

Mesmo com a determinação para emendar a petição inicial, a Autora não sanou os
vícios. Houve falha em colocar como parte Felipe Rodrigues da Silva, pessoa a qual Maristela
pretende reconhecer, de maneira socioafetiva, como pai, incluindo seu nome em sua certidão
de nascimento.

Ademais, não houve a juntada de quaisquer documentos comprobatórios em petição


inicial, trazendo aos autos apenas instrumento de procuração.

Ou seja, trata-se de PETIÇÃO INICIAL INÉPITA, não tendo sito sanados os vícios
em EMENDA A INICIAL de Fls. XX, devendo a mesma ser EXTINTA SEM
JULGAMENTO DE MÉRITO, nos termos do inciso I do artigo 485 do Código de
Processo Civil, “in verbis”:

Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando:


I - indeferir a petição inicial;
No mais, não há considerações. Todavia, por amor ao contraditório, passa a expor sua
CONTESTAÇÃO, pelos termos que seguem:

II – DA BREVE SÍNTESE DOS FATOS

Trata-se de ação em que a autora, Maristela Pereira dos Santos, pleiteia a exclusão do
nome do pai biológico, Antonio Joaquim dos Santos, o requerido, da sua certidão de
nascimento, e a inclusão do nome do padrasto, Felipe Rodrigues da Silva. Narra a Autora que
aos dois anos de idade foi abandonada por seu pai biológico, após da separação de seus
genitores, não recebendo qualquer apoio afetivo e material por parte do requerido. Maristela
alega que Antonio somente a procurou recentemente por meio das suas redes sociais para
conseguir ajuda financeira.

Ocorre que, diferentemente do que foi narrado na inicial apresentada, a separação não
ocorreu de forma amigável, pois não era da vontade de Antônio que o fato acontecesse. Sua
ex-esposa, Luana do Carmo, infeliz com a renda mensal de Antônio, o coagiu, exercendo
pressão psicológica e causando constrangimento, a assinar os papéis do divórcio. Luana usou
de mecanismos ardilosos que não somente desestabilizaram Antônio, mas o fizeram acreditar
que ele não seria um bom pai por conta de seu salário. Antonio trabalhou, durante 19
(dezenove) anos, como lixeiro. A ex-esposa alegava que o que o requerido obtia de proventos
mensais nunca poderia dar à filha deles, Maristela, uma vida digna.

Muito abalado, Antônio teve afastado de si qualquer possibilidade de aproximação


com sua filha com as atitudes de sua ex-esposa, que mudou-se para endereço desconhecido e
impediu qualquer tipo de contato. Luana possuía a guarda integral da criança, e utilizou-se de
todos os seus esforços para que a filha não pudesse ser encontrada, nem ao menos contatada,
pelo seu ex-marido António.

Não desistindo de ter contato com sua filha, Antonio repassava, mensalmente, quantia
simbólica em meio a sua renda mensal para a conta de Luana, a fim de provar que estava
disposto a oferecer a melhor vida que poderia à filha deles. Luana nunca retornou, e, pela
presente ação, nunca contou à Maristela o que seu pai fazia. Antônio somente parou de efetuar
os pagamentos quando se aposentou, e seu salário se tornou significativamente menor, sendo
suficiente apenas para o prover o básico para sua subsistência.

Depois de muitos anos, e com os adventos das novas tecnologias, o requerido, que na
presente data possui 67 anos, pôde finalmente, com a ajuda de um amigo, acessar as redes
sociais e por fim contatar sua filha, apesar de suas reais dificuldades financeiras e sua idade
avançada.

Fato é que nunca foi a intenção de Antônio tirar proveito de sua filha. Nas mensagens,
é possível perceber que o requerido queria, acima de tudo, reestabelecer qualquer vínculo,
mesmo que mínimo, com a requerente, porém todas as demais mensagens foram
desconsideradas, sendo destacada somente a única em que Antônio explica sua situação
financeira e pergunta se Maristela poderia ajudá-lo.

São os fatos. Passo à análise de mérito.

III – DO MÉRITO

III.A – DA ALIENAÇÃO PARENTAL

Luana do Carmo, mãe da requerente Maristela e ex-esposa de Antônio, ao coagir o


requerido a assinar a separação e impedir qualquer contato do ex-marido com a filha do casal,
não somente praticou um ato extremamente reprovável, como praticou alienação parental.

Carlos Roberto Gonçalves, sobre o assunto, define a alienação parental:

“A Lei n. 12.318, de 26 de agosto de 2010, visa coibir a denominada


alienação parental, expressão utilizada por Richard Gardner no ano de 1985
ao se referir às ações de guarda de filhos nos tribunais norte-americanos em
que se constatava que a mãe ou o pai de uma criança a induzia a romper os
laços afetivos com o outro cônjuge (“Parental Alienation Syndrome”). O
vocábulo inglês alienation significa “criar antipatia”, e parental quer dizer
“paterna”.
A situação é bastante comum no cotidiano dos casais que se
separam: um deles, magoado com o fim do casamento e com a conduta do
ex-cônjuge, procura afastá-lo da vida do filho menor, difamando a sua
imagem perante este e prejudicando o direito de visitas. Cria-se, nesses
casos, em relação ao menor, a situação conhecida como “órfão de pai vivo””
(Direito civil brasileiro, volume 6 : direito de família - 16. ed. São Paulo:
Saraiva Educação, 2019. p. 324).

Cita-se o seguinte excerto da petição inicial apresentada por Maristela: “Os anos se
passaram, a requerente nunca teve contado com seu pai biológico, ora este, requerido desta,
que sequer moveu-se de mínimo esforço, para criar qualquer relação de paternidade
com sua filha”. A informação, como exposto anteriormente, é inverossímil. Antônio tentou,
por diversos meios, ter contato com sua filha, inclusive enviando à Luana, mensalmente, parte
de seu salário (extratos bancários, para efeitos de comprovação, em anexo), sem nunca ter
sido solicitado para realizar tal ação.

Dispõe o art. 2º da Lei n. 12.318, de 26 de agosto de 2010:


“Art. 2º Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação
psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos
genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua
autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause
prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este.
Parágrafo único. São formas exemplificativas de alienação parental, além
dos atos assim declarados pelo juiz ou constatados por perícia, praticados
diretamente ou com auxílio de terceiros:
I – realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício
da paternidade ou maternidade;
II – dificultar o exercício da autoridade parental;
III – dificultar contato de criança ou adolescente com genitor;
IV – dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar;
V – omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre
a criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de
endereço;
VI – apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou
contra avós, para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança ou
adolescente;
VII – mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a
dificultar a convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com
familiares deste ou com avós”.

É evidente que os incisos III, V e, principalmente VII se enquadram à situação em


tela. Luana, ao coagir, por meio de pressão e abuso psicológico, Antônio a se separar,
deixando sua filha sob tutela total da mãe, pois foi convencido de que nunca seria um pai bom
o suficiente, e impedir que a filha tivesse absolutamente qualquer contato com o seu genitor,
praticou alienação parental.

Não se pode colocar a culpa do ocorrido em Antônio, vez que o mesmo foi atingido
pela atitude maliciosa de sua ex-esposa. Ao citar a separação, a requerente descreve a situação
como “um trauma vivenciado por uma criança logo no seu início de vida”. Conforme Paulo
Lôbo, “A separação dos cônjuges não pode significar a separação de pais e filhos. (...) o
princípio do melhor interesse da criança trouxe-a ao centro da tutela jurídica, prevalecendo
sobre os interesses dos pais em conflito” (LÔBO, Paulo. Direito Civil. Famílias. 2. ed. São
Paulo: Saraiva, 2009. p. 168). Fato é que o trauma citado foi causado pela própria mãe, e não
pelo requerido. Antônio foi atingido e coagido pela ação de Luana, se sentindo incapaz de
cuidar de sua filha apenas pelo motivo monetário, o que o levou a assinar os papéis da
separação. É importante ressaltar que Antônio fazia tudo o que estivesse ao seu alcance para
propiciar à sua filha uma vida digna, com amor e tudo o que ela necessitasse. A atitude de sua
ex-esposa não foi apenas reprovável, mas também carregada de um forte preconceito
econômico.

Maria Berenice Dias destaca que a alienação parental ocorre quando um dos genitores,
gerados pelo desejo de vingança, embute a ideia na cabeça do filho do ex- casal, que sofre
com a possível perda decorrente da separação dos pais, a ideia de que fora abandona pelo
outro genitor, aquele que se afastou do lar, o convencendo que ele não é amado pelo seu outro
genitor, fazendo-o acreditar em fatos que não ocorreram como intuito de afastá-lo de seu pai
ou de sua mãe (2007, p. 11).

Sobre o assunto, cita-se o seguinte julgado:

Agravos de instrumento. Ação de alienação parental, visitas e


guarda. Decisão que ampliou regime de visitas paterno (agravo
2117716-82.2021.8.26.0000) e decisão que reverteu a guarda e determinou
busca e apreensão das crianças (agravo 2279760-48.2021.8.26.0000).
Inconformismo da mãe, ré. Processo já tramita há 3 anos, com constantes
acusações mútuas. Laudos técnicos pela existência de alienação parental
praticada pela mãe contra o pai. Após a conclusão dos últimos laudos
produzidos nos autos, a mãe se mudou com as crianças para Lagoa
Santa/MG, há 7 horas de viagem do pai, a inviabilizar as tentativas de
reaproximação que já não vinham sendo cumpridas. Busca e apreensão,
com alteração de guarda, apesar de condizente com a conduta da mãe, não é
adequada desde já aos interesses das crianças, visto que, em função da
alienação, há profundo distanciamento com o pai. Visitas quinzenais
imediatas. Mais uma oportunidade para que a mãe retorne, com as crianças,
para a cidade de Atibaia, ao final do semestre letivo, com realização de
visitas quinzenais, com pernoite, pelo pai, e realização de novos estudos em
3 meses, a respeito do avanço em relação à alienação parental. Qualquer
descumprimento, pela mãe, implicará em alteração da residência das
crianças, para que passem a residir com o pai (TJSP. Agravos de Instrumento
nº 2279760-48.2021.8.26.0000 e 2117716-82.2021.8.26.0000. Relator Piva
Rodrigues. 01/04/2022)

III.B – DA IRREVOGABILIDADE DA PATERNIDADE BIOLÓGICA E DO


RECONHECIMENTO DE PATERNIDADE SOCIOAFETIVA

Em função da distância com o seu gestor, Maristela pleiteia a retirada do nome de


Antônio de sua certidão de nascimento e a inclusão do nome de seu padrasto, Felipe, pessoa
tida por ela, desde os seus 6 anos de idade, como única figura paterna.

Consoante os fatos apresentados preliminarmente, o afastamento que dá origem à


vontade da autora de retirar o nome de seu pai de seu registro civil não foi causado pelo
mesmo, sendo ele também sofredor das consequências dos atos praticados por sua mãe,
Luana. Fato é que, mesmo com o afastamento, Antônio possui grande apreço e carinho pela
filha, que deseja reencontrar e conviver desde a separação litigiosa.

Não há de se contrapor à vontade de Maristela em incluir o nome do padrasto, Felipe


Rodrigues da Silva, em sua certidão de nascimento, visto que ele representou a figura de pai
para a autora desde que Luana e ele se conheceram, uma vez que “não é mais exclusivamente
o casamento que identifica a família. Também não é a identidade genética que marca a relação
de parentesco. Tanto os vínculos extramatrimoniais como a filiação socioafetiva conquistaram
espaço no âmbito jurídico. Tal reflete-se também no tema do nome” (BERENICE DIAS,
Maria. Manual de direito das famílias I. 10. ed. rev., atual. e ampl. - São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2015. p. 126), mas sim pautar-se na possibilidade de que a inclusão do
nome do padrasto em sua certidão não obsta a manutenção do nome de Antônio, com fulcro
no princípio da dignidade humana, o macroprincípio que coordena o Direito de Família.
Como preceitua Maria Berenice Dias,
“A dignidade da pessoa humana encontra na família o solo apropriado para
florescer. A ordem constitucional dá-lhe especial proteção
independentemente de sua origem. A multiplicação das entidades familiares
preserva e desenvolve as qualidades mais relevantes entre os familiares - o
afeto, a solidariedade, a união, o respeito, a confiança, o amor, o projeto de
vida comum -, permitindo o pleno desenvolvimento pessoal e social de cada
partícipe com base em ideais pluralistas, solidaristas, democráticos e
humanistas” (Manual de direito das famílias I. 10. ed. rev., atual. e ampl. -
São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015. p.45).

Ainda sobre o assunto: “Com efeito, a constante instabilidade e volatilidade das


relações conjugais em nossa sociedade atual não podem e não devem impactar as relações de
natureza filial que se constroem ao longo do tempo e independentemente do vínculo de índole
biológica” (REsp 1.741.849/SP).

O Supremo Tribunal Federal, em decisão proferida, se posicionou favoravelmente ao


reconhecimento da paternidade socioafetiva sem causar prejuízo ao vínculo de filiação
biológica.
“A pluriparentalidade, no Direito Comparado, pode ser
exemplificada pelo conceito de “dupla paternidade” (dual paternity),
construído pela Suprema Corte do Estado da Louisiana, EUA, desde a
década de 1980 para atender, ao mesmo tempo, ao melhor interesse da
criança e ao direito do genitor à declaração da paternidade. Doutrina.
(...)Recurso Extraordinário a que se nega provimento, fixando-se a
seguinte tese jurídica para aplicação a casos semelhantes: “A paternidade
socioafetiva, declarada ou não em registro público, não impede o
reconhecimento do vínculo de filiação concomitante baseado na origem
biológica, com os efeitos jurídicos próprios”. (RExt/SC 898.060)

A filiação biológica tem como característica a consanguinidade, sendo reconhecida


pelos laços de sangue entre pais e filhos. A paternidade socioafetiva não exclui os direitos
inerentes a ela.

Segundo destaca o Código Civil: “Art. 1.604. Ninguém pode vindicar estado contrário
ao que resulta do registro de nascimento, salvo provando-se erro ou falsidade do registro.”

VI – DA RECONVENÇÃO

Apesar de citado pela Autora como sendo um requerimento judicial, o pedido de


alimentos foi feito de maneira informal e longe dos tribunais.

Entretanto, Alega a autora, em petição inicial apresentada, que Antônio não teria, em
nenhuma hipótese, direito de receber alimentos, pela obrigação nunca ter sido feita da forma
prevista no Código Civil e na Constituição Federal, ou seja, de maneira recíproca, provento
sustento. Tal argumento não encontra embasamento diante do fundo repassado, mensalmente,
à mãe da autora, que o recebia e nunca deu notícia do fato à requerente.

Sabe-se, todavia, que o Réu de fato ajudava a ex-mulher com alimentos para sua prole
e, como narrado pela Autora, aparentemente, tal ajuda era utilizada em prol exclusivamente
da genitora da Autora. Entretanto, não há culpa do Réu quanto à má administração dos
valores.
Como verificado em EXTRATO BANCÁRIO juntado à este petitório, pode-se
evidenciar que mesmo que sem qualquer pedido ou decisão judiciária, o Réu sempre ajudou
enquanto pode.
Outrossim, agora que NÃO POSSUI MAIS CONDIÇÕES DE MANTER SEU
PRÓPRIO SUSTENTO, requer algo que é direito seu, ainda mais por ter ajudado a Autora,
mesmo que indiretamente.

Alimentos, segundo a precisa definição de Orlando Gomes, são prestações para


satisfação das necessidades vitais de quem não pode provê-las por si. Têm por finalidade
fornecer a um parente, cônjuge ou companheiro o necessário à sua subsistência (Direito de
família, p. 427).

O credor deve buscar alimentos de quem lhe é mais chegado, é o que diz a lei ao
estabelecer que a obrigação recai sobre os parentes de grau mais próximo (CC, art. 1.696), e é
por este motivo que o requerido pede assistência à sua filha Maristela. Como esclarecido
anteriormente, Antônio fez tudo o que estava ao seu alcance, e ao que sua faculdade psíquica
permitiu após a coação praticada por sua ex-esposa, para que sua filha possuísse vida digna,
mesmo com a distância.

Maria Berenice Dias, sobre o assunto, esclarece o seguinte:


“O dever dos pais de sustentar os filhos deriva do poder familiar. A
Constituição Federal (229) reconhece a obrigação dos pais de ajudar, criar e
educar os filhos menores. Também afirma que os filhos maiores devem
auxiliar e amparar os pais na velhice, carência e enfermidade. Trata-se de
obrigação alimentar que repousa na solidariedade familiar entre os parentes
em linha reta e se estende infinitamente” (Manual de direito das famílias I.
10. ed. rev., atual. e ampl. - São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015.
p.559).

Segundo a Constituição Federal de 1988, o cuidado dos filhos com os pais quando
idosos ultrapassam o dever ético ou moral e se impõe uma obrigação cidadã. Os filhos têm o
dever de auxiliar seus pais sendo obrigados a ajudá-los material e moralmente socorrendo-os e
protegendo-os em relação a sua pessoa tanto quanto ao seu patrimônio.

“Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e
os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice,
carência ou enfermidade.
Art. 230. A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as
pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo
sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida.”

“O Estatuto do Idoso veio atender ao comando constitucional que veda


discriminação em razão da idade (CF 3º, IV) e atribui à família, à sociedade e ao
Estado o dever de amparo às pessoas idosas, assegurando sua participação na
comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida
(CF 230) . Ao operacionalizar esse direito, acaba o Estado assumindo , ainda que em
caráter subsidiário e complementar, obrigação alimentar em favor do idoso .
Primeiro o Estatuto impõe o dever de prestar alimentos a quem tem tal
obrigação, nos termos da lei civil (EI 11): cônjuges ou companheiros e parentes (CC
1.694)” (BERENICE DIAS, Maria. Manual de direito das famílias I. 10. ed. rev.,
atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015. p.593).

Conforme o Estatuto de idoso:


“Art. 11. Os alimentos serão prestados ao idoso na forma da lei civil. A legislação
aplicável ao direito de prestação alimentícia ao idoso é o Código Civil, artigos 1.694 a 1.710 e
as disposições da Lei 5.478/68.”

Fica evidente a obrigação de prestar alimentos ao idoso, sendo que sua recusa constitui
violação à Constituição Federal e ao Estatuto do Idoso, sem justa causa para não prover a
subsistência.

Apresenta-se, a seguir, julgado sobre o assunto.

“ALIMENTOS. Genitora pleiteando alimentos em face do filho. Cabimento


Inconformismo. Necessidade de alimentos por parte do apelante
devidamente demonstrada. Binômio necessidade possibilidade. Inteligência dos
artigos 1.694, § 1º, 1.695 e 1.696 do CC. Sentença mantida, ratificando-se seus
fundamentos, nos termos do art. 252 do RITJSP. Recurso improvido.
(...)
Consigna-se que, corretamente, a r. sentença julgou parcialmente procedente
a pretensão inicial, fixando adequada e prudentemente a obrigação alimentar à
genitora do apelante
É cediço que, nos termos do artigo 229 da Constituição Federal: “Os pais
têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o
dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade”.
No mesmo sentido, é sabido que o direito à prestação de alimentos é
recíproco entre pais e filhos, nos termos do artigo 1.696 do Código Civil.
Outrossim, a pensão alimentícia pode ser exigida quando “Quem os pretende
não tem bens suficientes, nem pode prover, pelo seu trabalho, à própria mantença, e
aquele, de quem se reclamam, pode fornecê-los, sem desfalque do necessário ao seu
sustento” (artigos 1.695 e 1.696 do Código Civil).
No caso em comento, a apelada logrou êxito em comprovar a necessidade
dos alimentos.
Transcreva-se, por oportuno, trecho do parecer ministerial: “Além disso, o
requerido/apelante que está formalmente empregado (fls. 113/115) e ostenta situação
econômica relativamente confortável (fls. 155/ 156 e 165) , como consignado na
sentença não se desincumbiu do ônus de comprovar que a prestação de auxílio
material à mãe possa colocar em risco seu próprio sustento.” (TJSP. Apelação cível nº
1004242-41.2020.8.26.0177.00000. Voto nº 39007/TJ – Rel. Álvaro Passos – 2a Câm.
de Direito Privado. 20/04/2022)

Pelas exposições anteriormente postas, pede-se o deferimento do pedido de alimentos


para subsistência do requerido idoso, Antônio Joaquim Santos, com parcelas mensais pagas
por sua filha biológica Maristela Pereira dos Santos, no valor de R$850,00 (oitocentos e
cinquenta reais).

V – DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO

O requerido não apresenta interesse na audiência de conciliação.

VI – DOS PEDIDOS E DOS REQUERIMENTOS

Diante de todo o exposto, em sede de CONTESTAÇÃO, requer:

a) Seja deferida a JUSTIÇA GRATUITA ao Requerido, haja vista que não possui
condições de suportar as custas processuais sem prejuízo de seu próprio sustento, nos
termos da declaração de hipossuficiência e da documentação anexa;
b) O recebimento e o processamento da presente contestação, bem como os documentos
que a acompanham;
c) Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em Direito permitidos, em
“máxime” pela prova DOCUMENTAL e pela prova TESTEMUNHAL.
d) Seja dado julgado PROCEDENTE os pedidos da RECONVENÇÃO para fixar
ALIMENTOS no valor de R$ 850,00 (oitocentos e cinquenta reais) mensais, a serem
depositados na conta do Réu/Reconvinte, haja vista sua hipossuficiência e redução da
condição financeira, além de sua idade já avançada e impossibilidade de realizar labor,
além de todo o exposto em sede de reconvenção;
e) A TOTAL IMPROCEDÊNCIA da presente demanda, com a condenação do Autor ao
pagamento de honorários advocatícios nos parâmetros previstos no art. 85, §2º do
CPC;

VII - VALOR DA RECONVENÇÃO

Atribui-se à causa o valor de R$10.200,00 (dez mil e duzentos reais), correspondentes


ao valor obtido da soma de 12 (doze) prestações mensais de alimentos pedidas pelo requerido,
nos termos do artigo 292, inciso III, do Código de Processo Civil.

Termos em que pede deferimento.

São Bernardo do Campo , 29 de abril de 2022.

José Alvim Ferreira


OAB-SP nº. 964.238
PROCURAÇÃO

OUTORGANTE:
Antônio Joaquim Santos, brasileiro, solteiro, portador do RG nº 08.078.989-28, inscrito no CPF sob nº
101.777.748-08, portador do endereço eletrônico antonio.joaquim687@gmail.com, residente e
domiciliado na Rua do Salvamento, no 1045, bairro Alvarenga, São Bernardo do Campo – SP, CEP
03455-668.

OUTORGADO
José Alvim Ferreira, brasileiro, casado, advogado inscrito na OAB-SP 964.238, endereço eletrônico
alvimferreira@gmail.com, com escritório na Rua Floriano Jesus, 398, Jardim Floresta, CEP
09571-388, onde receberá citações, intimações e notificações.

PODERES
Outorgando-lhe amplos, gerais e ilimitados poderes para o foro em geral, com a cláusula "ad judicia",
conforme estabelecido no artigo 38 do Código de Processo Civil, a fim de que, em conjunto ou
separadamente, possam realizar todos os atos que se fizerem necessários ao bom e fiel cumprimento
deste mandato, para, em nome do Outorgante, ajam perante qualquer juízo, instância ou tribunal,
repartição pública e órgãos da administração pública, direta ou indireta, federal, estadual e municipal,
autarquia ou entidade paraestatal, podendo propor contra quem de direito, as ações competentes e
defendê-lo nas contrárias, seja o outorgante autor ou reclamante, seguindo umas e outras até final
decisão, em primeira e superiores instâncias, inclusive em execução de sentença, usando os recursos
legais e acompanhando-os, conferindo-lhes, ainda, poderes especiais para reconvir, promover
quaisquer medidas cautelares, arrolar, inquirir, contraditar e recusar testemunhas, produzir provas,
arrazoar processos, requerer vistas dos mesmos, concordar com cálculos, custas e contas processuais,
podendo ainda, formar os documentos necessários, requerer, alegar e assinar o que for preciso, juntar e
retirar documentos, apresentar e assinar quaisquer guias, requerer certidões, alvarás diversos e demais
autorizações, receber importâncias, seja a que título, efetuar levantamentos, requerer laudos,
avaliações e perícias, arguir suspeição, falsidade e exceção, bem como confessar, desistir, transigir,
fazer acordo, renunciar, impugnar, receber e dar quitação, assinar termo de compromisso, requerer
benefícios da justiça gratuita, renunciar a valores excedentes a 60 salários mínimos em processos que
tramitam perante ao Juizado Especial, bem como substabelecer a presente com ou sem reserva de
poderes se assim lhe convier, dando tudo por bom, firme e valioso, especialmente para apresentar
contestação contra Maristela Pereira dos Santos.

São Bernardo do Campo, 22 de abril de 2022.

Outorgante: Antonio J. Santos


DECLARAÇÃO

Sob a pena da Lei cível e criminal, declaro, para fins processuais, que sou pobre no sentido
legal e não tenho condições de arcar com as custas do processo, sem comprometer minha
própria subsistência e de minha família.

São Bernardo do Campo, 22 de abril de 2022.

Antonio J. Santos
___________________________________________
ANTONIO JOAQUIM SANTOS, CPF/MF n° 101.777.748-0
08.078.989-28 10/12/2015

ANTÔNIO JOAQUIM SANTOS

JOSÉ ROBERTO SANTOS


MARIA APARECIDA ALMEIDA

S.BERNARDO DO CAMPO - SP 13/02/1955

SÃO BERNARDO DO CAMPO-SP SÃO BERNARDO DO CAMPO

101.777.748-08

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