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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


COMARCA DE ARAÇATUBA
FORO DE ARAÇATUBA
4ª VARA CÍVEL
PRAÇA DR. MAURÍCIO MARTINS LEITE, 60, Araçatuba - SP - CEP
16015-925
Horário de Atendimento ao Público: das 12h30min às19h00min

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1003631-04.2021.8.26.0032 e código 8E169CC.
SENTENÇA

Processo Digital nº: 1003631-04.2021.8.26.0032


Classe - Assunto Procedimento Comum Cível - Pagamento Indevido
Requerente: Viviane dos Santos Izá
Requerido: Banco Pan S/A

Justiça Gratuita

Vistos.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por SERGIO RICARDO BIELLA, liberado nos autos em 14/05/2021 às 13:52 .
VIVIANE SANTOS IZÁ ajuizou a presente ação de repetição de
indébito c/c indenização por danos morais em face de BANCO PAN S.A alegando, em suma, que
é cliente do banco requerido em um contrato de financiamento do veículo descrito na inicial. No
dia 16 de janeiro foi contatada via “whatsapp” pelo número (11) 98401-4586, com foto de perfil
do Banco Pan, alegando ser um atendente que iria gerar o boleto de sua fatura mensal, conforme
fazia de costume. Após o contato fora gerado um boleto no valor de R$ 666,71, contendo todos os
seus dados pessoais. Realizou o pagamento do boleto. Entretanto, posteriormente, recebeu ligações
de cobrança do banco réu, informando o não pagamento da parcela do mês de janeiro de 2021,
momento em que teve ciência de que foi vítima de um golpe. Ao solicitar providências por meio
de conversas pela “whatsapp” oficial do réu, não obteve êxito. Com medo de ter seu nome
incluído nos órgãos de proteção ao crédito, pediu que sua filha realizasse o pagamento do boleto,
pois estava sem dinheiro. O boleto gerado era idêntico ao do réu e continha todos os dados. Diante
de tais fatos, requereu a procedência dos pedidos para condenar o réu na repetição do indébito, em
dobro, bem como danos morais no importe de R$ 5.000,00 (fls. 01/14). Juntou documentos nas fls.
15/57.

Por decisão de fl. 79, foi deferida a gratuidade da justiça à parte autora.

Citado (fl. 83), o requerido apresentou contestação (fls. 84/103) e


acostou documentos (fls. 104/187). Preliminarmente, alegou falta de interesse de agir. No mérito,
aduziu, m síntese, que não disponibiliza telefone celular para contato. Não comprovou a autora
que o número no qual entrou em contato é do Banco Pan. A autora disponibilizou todos os dados
para terceiro, que emitiram o boleto para pagamento de forma fraudulenta. Não deixa qualquer
telefone celular disponível para atendimento, mas sim seus canais oficiais que se encontram no
site. O boleto que a autora pagou não pertence ao Banco requerido. É dever do cliente consultar o
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PRAÇA DR. MAURÍCIO MARTINS LEITE, 60, Araçatuba - SP - CEP
16015-925
Horário de Atendimento ao Público: das 12h30min às19h00min

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1003631-04.2021.8.26.0032 e código 8E169CC.
boleto e conferir os dados para verificar se o mesmo está correto. Conforme comprovante de
pagamento apresentado pela autora o boleto foi emitido e tem como beneficiário o Banco Neon,
que não possui qualquer tipo de vínculo com o réu. Não recebe qualquer quantia senão pelos
meios de pagamento oficial, sendo o Banco 623 (Banco Pan) e Banco 104 (Caixa Econômica
Federal). Em nenhum momento a requerente comprova qualquer ligação do banco réu ou falha em
seus sistemas que possibilite qualquer acesso de pessoa estranha e fora do quadro de funcionários.
Evidente que a autora pagou em benefício de terceiros. Não possui responsabilidade pelo boleto
fraudado. Teceu considerações acerca da ausência de responsabilidade civil, da suposta fraude

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por SERGIO RICARDO BIELLA, liberado nos autos em 14/05/2021 às 13:52 .
culpa exclusiva de terceiro, da impossibilidade da quitação do débito, da inexistência do dano
moral e material pleiteados, requerendo, ao final, o acolhimento da preliminar arguida e, no
mérito, a improcedência dos pedidos.

Sobreveio réplica nas fls. 191/199.

É O RELATÓRIO.
FUNDAMENTO E DECIDO.

Inicialmente, afasto a preliminar de falta de interesse processual, pois a


parte autora formulou pedido que lhe é útil e necessário, lançando mão da via processual
adequada. Há, portanto, evidente interesse processual.

Julgo antecipadamente a lide, nos termos do artigo 355, inciso I, do


Código de Processo Civil, pois a matéria litigiosa é unicamente de direito e porque os fatos
encontram-se comprovados pelos documentos juntados aos autos, de sorte que não há necessidade
de dilação probatória.

No mérito, os pedidos são improcedentes.

Com efeito, as atividades desempenhadas pelas instituições financeiras,


de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, estão abarcadas pelo conceito de serviços
ao consumidor, de acordo com o artigo 3º, §2º, do Código de Defesa do Consumidor.

Não se olvide ainda que a responsabilidade da instituição financeira pelo

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fato do produto é objetiva, de acordo com o que reza o artigo 14 do mesmo diploma legal. No
entanto, o mencionado artigo traz em seu bojo, mais especificamente no §3º, as hipóteses de
exclusão da responsabilidade do fornecedor, sendo elas justamente a ausência de defeito na
prestação do serviço, além da culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

Lembre-se também, a propósito, que o enunciado da súmula 479 do C.


Superior Tribunal de Justiça é claro ao prever que “as instituições financeiras respondem
objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por SERGIO RICARDO BIELLA, liberado nos autos em 14/05/2021 às 13:52 .
terceiros no âmbito de operações bancárias”.

No caso em apreço, não há dúvidas a respeito do pagamento realizado


pela autora e a ocorrência de fraude. A questão que remanesce é verificar se tal fato se enquadra na
hipótese de fortuito interno, para fins de responsabilização da instituição financeira.

Malgrado alegações ventiladas pela parte autora, não se vislumbra a


responsabilização do requerido, eis que não restou demonstrada falha da instituição financeira,
mas sim fraude perpetrada por terceiros, aliada ao descuido da requerente quanto aos meios
empregados para a emissão do boleto, não adotando as cautelas mínimas para, antes de realizar o
pagamento que lhe causou prejuízo, certificar que o título realmente foi emitido pelo banco réu e
em favor dele, não podendo exigir desse que impeça que terceiros, fraudulentamente, utilizem seu
nome e imagens para, por meio da internet, prejudicar consumidores.

Embora não se discuta o golpe praticado contra a autora, não há como


imputar ao réu o dever de reparar os danos por ela sofridos, tendo em vista a comprovação da
culpa exclusiva da consumidora diante de ato ilícito de terceiro, causas que rompem o nexo de
causalidade afastar a responsabilidade objetiva do fornecedor no acidente de consumo, na forma
do artigo 14, § 3º, inciso II, do Código de Defesa do Consumidor.

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da


existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à
prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição
e riscos. [...] § 3º O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar: [...] II -
a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

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Ora, resta evidenciado que o banco réu não contribuiu direita ou
indiretamente para o evento danoso, não praticou nenhum ilícito, ao contrário, os atos se deram
por conta e risco da autora que foi negligente.

Em que pese o boleto de fl. 28 se mostrar praticamente idêntico ao


gerado pelo banco réu, se verificado pelo site do requerido, através da validação de boleto,
constata-se a fraude pelo número do código de barras. Ademais, em consulta ao site do banco réu,

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por SERGIO RICARDO BIELLA, liberado nos autos em 14/05/2021 às 13:52 .
infere-se, ao adentrar no chat do site, a possibilidade de continuar o contato por “whatsapp” por
meio do nº (11) 4002-7799, número este diverso ao que a autora realizou as tratativas (11)
98401-4586. Infere-se, portanto, que a fraude ocorreu por meio de canais externos aos
disponibilizados pelo banco requerido.

Outrossim, extrai-se dos documentos de fls. 24/27 que a conversas entre


a autora e o fraudador não foram anexadas na íntegra. Veja-se que a autora, a princípio, se insurge
sobre o que seria “negociações promocionais”, não constando a continuidade da conversa, apenas
uma “figura” de agradecimento, o que leva a crer que as partes entabularam alguma conversa
anteriormente. Posteriormente, a requerente pede a emissão do “boleto” do mês, o qual foi gerado
pelo fraudador, possivelmente através de dados fornecidos pela autora.

Mesmo que não tenha a autora fornecido seus dados ao fraudador,


analisando o comprovante de pagamento de fl. 29, é possível vislumbrar que não observou as
cautelas e precauções recomendas, porquanto se houvesse conferido atentamente os dados antes de
realizar o pagamento, notaria que o beneficiário da transação não era o banco requerido.

Logo, a conclusão a que se chega é a de que o evento danoso ocorreu por


culpa exclusiva da consumidora. Vale dizer, a autora agiu de forma negligente ao não tomar as
cautelas de praxe na verificação da autenticidade do contato do suposto agente mediante pesquisa
junto ao sistema de atendimento ao consumidor e, ainda, realizou pagamento a entidade bancária
diversa, indicada no comprovante de pagamento.

Seria responsável o requerido desde que a autora tivesse comprovado


que acessou o site do banco e que este a redirecionou para uma conversa via “whatsapp”, na qual

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possibilitou ao fraudador o envio de boleto falso. Nesse caso, restaria demonstrada a falha de
segurança do serviço do réu.

Contudo, restou cristalino, no caso em testilha, que a autora recebeu


contato de maneira aleatória, sem sequer acessar o site ou confirmar nas plataformas de contato
oficiais do banco, motivo pelo qual não há como imputar ao réu responsabilidade pelos fatos
descritos na inicial. Além do mais, não há prova nos autos de que a autora tenha sido induzida a
erro em decorrência de informações constantes na página do banco na internet ou qualquer

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por SERGIO RICARDO BIELLA, liberado nos autos em 14/05/2021 às 13:52 .
informação da central de relacionamento. Dessa forma, não se aplica ao caso concreto a Súmula
479 do C. Superior Tribunal de Justiça.

De salientar que, na atualidade, é do conhecimento público a existência


de inúmeros golpes dessa natureza, de modo que aquele que opta por realizar transações como a
narrada na inicial deve adotar cautela redobrada, o que é bastante para perceber os índicos de
fraude, como na hipótese em testilha.

Assim, resulta dos autos que a fraude perpetrada por terceiro, que
vitimou a parte autora, não pode ser creditada à parte requerida, pelo que não há que se falar em
sua responsabilização pelos danos assim experimentados, devendo a requerente buscar
indenização contra os beneficiários da fraude.

Sendo assim, não há que se falar em repetição de indébito, sendo


impertinente, ainda, a condenação por danos morais ante a inexistência de qualquer ilícito
perpetrado pela entidade financeira.

Nesse sentido:

Consumidor. Instituição financeira. Envio de boleto fraudulento não


quitou o financiamento junto a instituição bancária, mas creditou em conta de terceiros. Forma de
comunicação via aplicativo whatsapp em nada se assemelha com a conduta da instituição
financeira. Autora desconfiou de fraude, possuía conhecimento para tal, mas não tomou as
cautelas devidas. Falha na prestação do serviço não configurada. Recurso provido. Sentença
reformada. (TJSP; Recurso Inominado Cível 0003404-61.2020.8.26.0001; Relator (a): Rafael

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Dahne Strenger; Órgão Julgador: 3ª Turma Cível; Foro Regional I - Santana - 2ª Vara do Juizado
Especial Cível; Data do Julgamento: 04/08/2020; Data de Registro: 04/08/2020)

Recurso inominado Responsabilidade civil Reparação por danos


material e moral Golpe do boleto Descuido da consumidora, que pagou boleto encaminhado
por terceiro, sem comprovação de vínculo com a instituição financeira credora Circunstâncias
que indicavam fraude Indenização descabida Sentença de improcedência que se confirma
Recurso não provido. (TJSP; Recurso Inominado Cível 1001192-04.2020.8.26.0566; Relator (a):

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por SERGIO RICARDO BIELLA, liberado nos autos em 14/05/2021 às 13:52 .
Carlos Castilho Aguiar França; Órgão Julgador: 1ª Turma Recursal Cível e Criminal; Foro de
São Carlos - Vara do Juizado Especial Civel; Data do Julgamento:20/07/2020; Data de Registro:
20/07/2020)

Nesta linha, restando configurada a culpa exclusiva da vítima, de rigor a


improcedência dos pedidos.

Ante o exposto, com fundamento no artigo 487, inciso I, do Código de


Processo Civil, JULGO IMPROCEDENTES os pedidos formulados VIVIANE SANTOS IZÁ
em face de BANCO PAN S.A. Julgo extinto o processo, com resolução do mérito, com
fundamento no artigo 487, inciso I, do Código de Processo Civil.

Sucumbente, a parte autora arcará com o pagamento das custas e


despesas processuais, além dos honorários advocatícios, fixados, por equidade, em R$ 1.000,00,
observada a gratuidade da justiça.

Publique-se e intime-se.

Araçatuba, 13 de maio de 2021.

SÉRGIO RICARDO BIELLA


JUIZ DE DIREITO

DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI 11.419/2006,


CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA

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