Você está na página 1de 22

fls.

173

TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Registro: 2023.0000716047

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1078218-53.2022.8.26.0002 e código 221ECDAD.
ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº


1078218-53.2022.8.26.0002, da Comarca de São Paulo, em que é apelante ITAÚ
UNIBANCO S/A, é apelada ANALINA NOVAIS SILVA (JUSTIÇA GRATUITA).

ACORDAM, em 20ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MANOEL RICARDO REBELLO PINHO, liberado nos autos em 22/08/2023 às 17:36 .
São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento em parte ao recurso. V. U.", de
conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores ROBERTO


MAIA (Presidente) E ÁLVARO TORRES JÚNIOR.

São Paulo, 21 de agosto de 2023

REBELLO PINHO
RELATOR
Assinatura Eletrônica
fls. 174

TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

VOTO nº 43986

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1078218-53.2022.8.26.0002 e código 221ECDAD.
Apelação Cível nº 1078218-53.2022.8.26.0002
Comarca: São Paulo 9ª Vara Cível do Foro Regional II Santo Amaro
Apelante: Itaú Unibanco S/A
Apelado: Analina Novais Silva

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MANOEL RICARDO REBELLO PINHO, liberado nos autos em 22/08/2023 às 17:36 .
PROCESSO - Rejeição da alegação de nulidade da sentença, por
cerceamento do direito de defesa, em razão do julgamento
antecipado da lide.
DENUNCIAÇÃO DA LIDE Manutenção da r. sentença quanto
ao indeferimento da denunciação da lide pretendida - Isto porque:
(a) é descabida quando o direito de regresso não decorre
diretamente e incondicionalmente de previsão legal ou contratual,
como acontece na espécie, porquanto lastreada em imputação feita
pela denunciante em responsabilidade da denunciada; e (b) a
denunciação da lide, prevista no art. 125, II, CPC/2015, não é
obrigatória, e deve ser indeferida, quando se verificar que
procrastinará a marcha normal do processo, sendo certo que a ré
denunciante poderá demandar contra o terceiro, em ação própria, o
que entender direito.
OPERAÇÕES INDEVIDAS EM CONTA CORRENTE
Reconhecimento da existência de ato ilícito e defeito de serviço da
parte ré banco, consistente no descumprimento do dever de
resguardar a segurança da conta corrente da parte autora contra a
ação de fraudadores, falha de serviço esta que permitiu o acesso
destes à conta da parte autora correntista e, posteriormente, a
realização de operações indevidas descritas na inicial, resultando
na retirada de valores mediante transferências via PIX da conta da
parte autora.
RESPONSABILIDADE CIVIL - Comprovado o ato ilícito e
defeito de serviço, consistente no descumprimento do dever de
resguardar a segurança da conta corrente da parte autora contra a
ação de fraudadores, falha de serviço esta que permitiu o acesso
destes à conta da parte autora correntista e, posteriormente, a
realização de operações indevidas descritas na inicial, resultando
na retirada de valores mediante transações via PIX da conta da
parte autora, e não configurada nenhuma excludente de
responsabilidade, de rigor, o reconhecimento da responsabilidade
e a condenação do banco réu na obrigação de indenizar a autora
pelos danos decorrentes do ilícito em questão.
DANO MORAL - O descumprimento do dever de resguardar a
segurança da conta corrente da parte autora cliente contra a ação
de fraudadores, bem como a necessidade dela de ingressar em
Juízo para obter a solução de defeito de serviço da parte ré
fornecedora, por descumprimento do dever de segurança
patrimonial de seus clientes, constitui fato suficiente para causar
desequilíbrio do bem-estar e sofrimento psicológico relevante, e

Apelação Cível nº 1078218-53.2022.8.26.0002 - São Paulo - VOTO Nº 2/22


fls. 175

TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

não mero aborrecimento, porque expõe a parte consumidora a

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1078218-53.2022.8.26.0002 e código 221ECDAD.
situação de sentimentos de humilhação, desvalia e impotência
Mantida a indenização por dano moral fixada na quantia de
R$2.000,00, com incidência de correção monetária a partir da data
do arbitramento.
DANOS MATERIAIS Reforma da r. sentença, para reduzir o
valor da indenização por danos materiais para a quantia de
R$4.573,00, com incidência de correção monetária a partir das
datas em que efetivadas as transações impugnadas - A retirada
indevida de valores na conta corrente da parte autora, em razão de
defeito de serviço da parte ré banco, é fato gerador de dano

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MANOEL RICARDO REBELLO PINHO, liberado nos autos em 22/08/2023 às 17:36 .
material, porquanto implicou diminuição do patrimônio do
correntista.
Recurso provido, em parte.

Vistos.

Ao relatório da r. sentença de fls. 107/118, com embargos de


declaração (fls. 121/123) rejeitados (fls. 124/125), acrescenta-se que a presente demanda
foi julgada nos seguintes termos: “JULGO PROCEDENTE A DEMANDA formulada por
ANALINA NOVAIS SILVA, para declarar a inexigibilidade dos débitos objeto dos autos;
bem como condenar ITAÚ UNIBANCO S.A. a: a) restituir a quantia de R$4.880,00,
corrigida da data de cada supressão; b) a pagar R$2.000,00, a título de reparação por danos
morais, corrigidos desta data em diante, segundo a Súmula n. 362 do Colendo Superior
Tribunal de Justiça1; aplicando-se a Tabela Prática de Atualização de Débito Judiciais do
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, e com juros moratórios de 1% ao mês, nos
termos dos artigos 406 e 407 do Código Civil combinado com o artigo 161, parágrafo 1º,
do Código Tributário Nacional, a contar da citação. Condeno ITAÚ UNIBANCO S.A. ao
pagamento das custas e despesas processuais, bem como de honorários advocatícios, nos
termos do artigo 23 da Lei no 8.906/94 e do artigo 85, caput, do Código de Processo Civil,
que arbitro, em conformidade com o artigo 85, §2º do mesmo diploma legal, em 20%
sobre o valor da causa condenação, em conformidade ao entendimento consolidado na
Súmula n. 326 do Colendo Superior Tribunal de Justiça (“Na ação de indenização por dano
moral, a condenação em montante inferior ao postulado na inicial não implica
sucumbência recíproca”). Com o trânsito em julgado, resta extinta a fase de conhecimento,
com resolução de mérito, com fundamento no artigo 487, inciso I, do Código de Processo
Civil”.

Apelação da parte ré (fls. 128/145), sustentando que: (a) “a


necessidade de produção de outras provas deve ficar evidenciada, para que se aceite a
alegação de cerceamento de defesa, o que exatamente ocorreu no presente caso, pois, o
magistrado julgou o feito antecipadamente sem possibilitar a oitiva pessoal da parte
recorrida que era imprescindível para esclarecimento dos fatos e verificação das

Apelação Cível nº 1078218-53.2022.8.26.0002 - São Paulo - VOTO Nº 3/22


fls. 176

TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

excludentes de responsabilidade objetivas arguidas em defesa e que tornariam

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1078218-53.2022.8.26.0002 e código 221ECDAD.
imprescindível a improcedência da ação. Diante disso, roga-se pela anulação da sentença
combatida para continuidade da instrução probatória com a designação de audiência de
instrução e julgamento para oitiva pessoal da parte autora recorrida”; (b) “no caso em tela,
inexistente a responsabilidade da ora Ré por fortuito externo sofrido pela parte autora.
Desta forma, faz-se necessário a denunciação da lide em relação ao favorecido para
apuração de sua responsabilidade no recebimento de valores controversos. Assim,
denunciante e denunciado, prosseguirão na ação principal em litisconsorte passivo (art.128,
I, CPC), podendo o réu, demonstrar a ausência de sua responsabilidade”; (c) “as operações
e contratação somente foram possíveis visto quem realizou detinha o conhecimento dos

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MANOEL RICARDO REBELLO PINHO, liberado nos autos em 22/08/2023 às 17:36 .
dados e senhas, informações esses pessoais e intransferíveis da apelada. Ou seja, ou fora a
própria parte autora quem realizou as transações ou quem detinha conhecimento de seus
dados e senhas. Ressalta-se, entretanto, que a parte apelada tem o dever de zelar pela
guarda de seus dados e suas senhas. Somente com o conhecimento dos dados pessoais da
parte autora seria possível realizar tais operações”; (d) “eventual falha somente teria
ocorrido se o cliente não tivesse qualquer dispositivo eletrônico ativo quando dos débitos
ou se houvesse sido realizado transações em dispositivo eletrônico após solicitação de seu
cancelamento pelo próprio cliente bancário, contexto esse que não se verifica nos autos,
não podendo o Banco recorrente ser responsabilizado apenas pela mera alegação negativa
de débito pela parte recorrida”; (e) “não restando comprovado qualquer fraude ou violação
do sistema do Banco Itaú referente a operação reclamada, não pode ser o Banco apelante
responsabilizado pela ação de terceiros fora de seus estabelecimentos bancários, ao passo
que em se tratando de FORTUÍTO EXTERNO, fica obstado eventual aplicação da súmula
479 do STJ para contexto fático dos autos”; (f) “as operações reclamadas são legítimas,
sendo realizadas de forma regular e, portanto, inexistindo provas de falha ou ilicitude pelo
Banco apelante na autorização do débito contestado, não havendo assim que se falar em
danos materiais”; (g) “subsidiariamente requer que seja efetuada a compensação do valor
já devolvido a apelada de R$307,00”; (h) “o dano alegado não se afigura in re ipsa, assim,
cabia à parte autora provar a suposta ofensa grave e lesiva ao seu moral que justificasse
eventual indenização, o que não o fez” e (i) diminuição dos honorários sucumbenciais.

O recurso foi processado, com apresentação de resposta pela


parte apelada (fls. 151/159), insistindo na manutenção da r. sentença.

É o relatório.

1. A pretensão recursal da parte apelante é o provimento do


recurso, com reforma da r. sentença, para julgar a ação improcedente.

2. Rejeita-se a alegação de nulidade da sentença, por


cerceamento do direito de defesa, em razão do julgamento antecipado da lide.

No caso dos autos, era de todo desnecessária a dilação


probatória e admissível o julgamento antecipado da lide, nos termos do art. 355, I,
CPC/2015 (correspondente ao art. 330, I, do CPC/1973).

Diante das alegações das partes, os pontos controvertidos


envolvem questões exclusivamente de direito, suficientemente esclarecidos pela prova
documental constante dos autos, não demandando a produção de outras provas.

Apelação Cível nº 1078218-53.2022.8.26.0002 - São Paulo - VOTO Nº 4/22


fls. 177

TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Não se vislumbra nenhum acréscimo eficiente à prova

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1078218-53.2022.8.26.0002 e código 221ECDAD.
constante dos autos, que pudesse advir da oitiva pessoal da autora.

Nesse sentido, em casos análogos, mas com inteira aplicação


à espécie: (a) “PROCESSO CIVIL - Cerceamento de defesa - Inocorrência Prova
oral: depoimento pessoal do autor Dispensabilidade Prova documental suficiente
Preliminar rejeitada. RESPONSABILIDADE CIVIL Conta corrente (saques
fraudulentos) e mútuo contratado mediante fraude Autor afirma que foram efetuadas
movimentações bancárias em sua conta corrente sem seu consentimento: saques de
dinheiro e contratação de mútuo por fraudador Aplicação do CDC Não há prova de

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MANOEL RICARDO REBELLO PINHO, liberado nos autos em 22/08/2023 às 17:36 .
que as movimentações foram realizadas pelo correntista, ou por terceiros por ele
autorizados - Entidade financeira poderia provar o alegado em sua contestação, por
exemplo, exibindo gravações de imagens das agências ou dos caixas eletrônicos onde
foram efetuadas as movimentações questionadas, mas não o fez - Uma das operações foi
um mútuo de R$ 9.750,00, cuja autoria o autor atribuiu ao fraudador. (...)Responsabilidade
objetiva do Banco pelo fato do produto e do serviço (arts. 12 a 14 do CDC), bem como
pelo vício do produto e do serviço (arts. 18 a 20, 21, 23 e 24 do CDC) - Ato ilícito e falha
na prestação do serviço bancário Responsabilidade do Banco-réu também resulta do
risco de sua atividade econômica Precedentes do STJ - Dano material (restituição de
valores) e dano moral Cabimento Indenização por dano moral arbitrada em primeiro
grau (R$ 27.556,80) reduzida para R$ 15.000,00, com atualização monetária a partir da
data deste acórdão e juros de mora da citação - Sentença reformada apenas para esse fim,
sendo confirmada nos demais pontos. Recurso provido em parte.” (20ª Câmara de Direito
Privado, Apelação 0011604-96.2013.8.26.0229, rel. Des. Álvaro Torres Júnior, j.
06.05.2019, o destaque não consta do original); (b) “Apelações Serviços bancários
Ação declaratória c.c. indenizatória precedida de pedido de tutela provisória de urgência
em caráter antecedente Sentença de rejeição da impugnação à gratuidade da justiça e de
acolhimento apenas do pedido declaratório de inexigibilidade das cobranças referentes aos
gastos no cartão de crédito Sentença parcialmente reformada, com o acolhimento
integral dos pedidos, revogados os benefícios da gratuidade da justiça concedidos ao autor.
1. Gratuidade da justiça Autor que se qualifica como empresário e promove gastos a
débito e a crédito em valores expressivos Favor legal revogado, destinado que é aos
verdadeiramente necessitados Recolhimento de todas as custas que haverá de se dar nos
termos do art. 102 do CPC, havendo de ser ressarcidas, ao final, pelo vencido. 2.
Cerceamento de defesa Inocorrência Requerimento voltado à mera colheita do
depoimento pessoal do adversário não justificando, por si só, a anulação do processo
a partir da perspectiva de que poderia advir confissão. 3. Responsabilidade civil da
instituição financeira. (...) Dispositivo: Afastaram a preliminar, deram provimento à
apelação do autor e deram parcial provimento à do réu.” (19ª Câmara de Direito
Privado, Apelação 1011897-82.2017.8.26.0011, rel. Des. Ricardo Pessoa de Mello Belli, j.
11.02.2019, o destaque não consta do original); e (c) “LEGITIMIDADE PASSIVA - Ação
declaratória de inexistência de débito Cartão de crédito - Compras não reconhecidas pelo
consumidor - Bandeira de cartão de crédito que também é responsável pelo serviço -
Legitimidade passiva configurada: A bandeira do cartão de crédito é parte legítima para
figurar no polo passivo de ação referente a compras não reconhecidas pelo consumidor -
Marcas de cartão de crédito respondem solidariamente com as instituições financeiras
administradoras do cartão, estando dentro da cadeia de fornecimento, nos termos do art. 14
do CDC. Precedentes do E. STJ. CERCEAMENTO DE DEFESA Requerimento de

Apelação Cível nº 1078218-53.2022.8.26.0002 - São Paulo - VOTO Nº 5/22


fls. 178

TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

depoimento pessoal do autor e perícia técnica Prova desnecessária porque ineficaz

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1078218-53.2022.8.26.0002 e código 221ECDAD.
à solução da controvérsia Julgamento antecipado Possibilidade: Não há
cerceamento de defesa no julgamento antecipado da lide quando as provas pleiteadas
se mostram inócuas para a plena cognição da controvérsia Caso específico que
demanda prova eminentemente documental Ausente a nulidade suscitada. AÇÃO
DECLARATÓRIA Consumidor Cartão de crédito utilizado por terceiros Transações
nitidamente destoantes do padrão de consumo do consumidor Dever da instituição
financeira zelar pela segurança das transações Exclusão do nexo causal
Impossibilidade: É dever da instituição financeira zelar pela segurança das transações de
seus clientes, razão pela qual, falhando nessa tarefa, não há exclusão do nexo causal, pela

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MANOEL RICARDO REBELLO PINHO, liberado nos autos em 22/08/2023 às 17:36 .
utilização do cartão de crédito furtado Declaração de inexigibilidade das compras
contestadas, indicadas na fatura e no extrato acostado aos autos. DANO MORAL
Movimentação indevida em conta corrente e uso de cartão de crédito Fraude
Responsabilidade objetiva do banco - Relação de consumo Inteligência da Sumula 479
do STJ - Indenização Cabimento (...). RECURSO DA MASTERCARD CONHECIDO
EM PARTE E NA PARTE CONHECIDA NÃO PROVIDO. RECURSO DA
INSTITUIÇÃO FINANCEIRA NÃO PROVIDO. RECURSO ADESIVO DO AUTOR
PROVIDO EM PARTE.” (13ª Câmara de Direito Privado, Apelação
1003591-65.2018.8.26.0278, rel. Des. Nelson Jorge Júnior, j. 19.09.2019, o destaque não
consta do original)

Quanto à prova documental, observa-se que incumbe à parte


autora instruir a inicial com os documentos indispensáveis para propositura da ação
(CPC/2015, art. 320) e ao réu compete instruir a resposta com os documentos destinados à
prova de suas alegações (CPC/2015, art. 436), com exceção aos casos previstos no art. 435
do CPC/2015.

O indeferimento de provas impertinentes não afronta o


princípio constitucional do contraditório e da ampla defesa, porquanto praticado com
observância do princípio constitucional do devido processo legal, que atribui ao MM Juiz
da causa o dever de zelar pela rápida solução do litígio e de indeferir diligências inúteis ou
meramente protelatórias, como expressamente previsto nos arts. 139, II e 370 do
CPC/2015, (correspondente aos arts.125, II, e 130, ambos do CPC/1973).

Inexistindo supressão de oportunidade de produção de prova


essencial para o julgamento do feito, não há como se acolher a alegação de nulidade da r.
sentença, por violação aos princípios do devido processo legal e do contraditório e da
ampla defesa, nem em afronta ao disposto nos arts. 5º, LIV e LV, e 125, da CF, e art. 355, I
do CPC/2015, (correspondente ao art. 330, I, do CPC/1973).

3. Reforma-se, em parte, a r. sentença.

3.1. A r. sentença recorrida deve ser mantida, quanto à


rejeição da denunciação da lide requerida pelo réu apelante de Nayara Galvão.

No caso dos autos, demanda em que consumidora busca


reparação de danos materiais cumulada com danos morais em decorrência de fraude em
sua conta corrente, com realização de transações bancárias para a beneficiária Nayara
Galvão, inadmissível o deferimento da denunciação da lide à terceira beneficiária da

Apelação Cível nº 1078218-53.2022.8.26.0002 - São Paulo - VOTO Nº 6/22


fls. 179

TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

operação indevida realizada através do Banco Itaú Unibanco S/A, caso dos autos, visto que

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1078218-53.2022.8.26.0002 e código 221ECDAD.
não encontra amparo no art. 125, II, CPC/2015.

Isto porque: (a) é descabida quando o direito de regresso não


decorre diretamente e incondicionalmente de previsão legal ou contratual, como acontece
na espécie, porquanto lastreada em imputação feita pela denunciante em responsabilidade
da denunciada; e (b) a denunciação da lide, prevista no art. 125, II, CPC/2015, não é
obrigatória, e deve ser indeferida, quando se verificar que procrastinará a marcha normal
do processo, sendo certo que a ré denunciante poderá demandar contra o terceiro, em ação
própria, o que entender direito.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MANOEL RICARDO REBELLO PINHO, liberado nos autos em 22/08/2023 às 17:36 .
Neste sentido, a orientação:

(a) de Humberto Theodoro Júnior: “Não se pode, enfim,


utilizar a denunciação da lide com o propósito de excluir a responsabilidade do réu para
atribuí-la a terceiro denunciado, por incorrer direito de regresso a atuar na espécie. É que,
“em tal caso, se acolhidas as alegações do denunciante, a ação haverá de ser julgada
improcedente e não haverá lugar para regresso; desacolhidas, estará afastada a
responsabilidade do denunciado” (“Curso de Direito Processual Civil”, vol. I, 49ª ed.,
Forense, 2008, RJ, p. 130, item nº 115);

(b) de Cássio Scarpinella Bueno: “Em que pese a literalidade


do texto [caput, do art. 70, do CPC], a maior parte da doutrina entende que a denunciação
da lide só é obrigatória quando for de evicção ou, de forma mais ampla, de garantia
própria, derivada da transmissão de direito, diante do comando do art. 456 do Código
Civil, que estabelece a pena de perdimento de eventual direito de regresso caso não haja a
“notificação” do alienante do litígio quando e como determinarem as leis do processo. (...)
O inciso III do art. 70 disciplina a mais comum das hipóteses de denunciação da lide. Cabe
a denunciação da lide “àquele que estiver obrigado, pela lei ou contrato a indenizar,
em ação regressiva, o prejuízo do que perder à demanda”. Justifica-se a denunciação
toda vez que houver alguma relação jurídica (estabelecida convencionalmente ou
imposta pela lei), que garante um determinado proveito econômico a alguém, mesmo
diante da ocorrência de dano. O exemplo mais mencionado pela doutrina e mais
facilmente encontrado na jurisprudência dos Tribunais é o contrato de seguro.” (“Cursos
Sistematizado de Direito Processual Civil Procedimento comum: ordinário e sumário”,
vol.2, tomo I, 2ª ed., Saraiva, 2009, SP, p. 500/501 e 503, o destaque não consta do
original);

(c) da nota de Nelson Nery Junior e Rosa Maria Andrade


Nery: “Direito genérico de regresso. Inadmissibilidade. Cabimento apenas nos casos
de garantia. “A admitir-se a denunciação em qualquer situação em que possa haver
posterior direito de regresso do vencido contra um terceiro, poder-se-ia chegar a um
resultado oposto àquele buscado pelo legislador, de maior delonga na solução da lide
principal, o que constituiria ofensa ao princípio da celeridade processual e até mesmo uma
denegação de justiça.” (JTACivSP 81/210). No mesmo sentido: RT 603/161. 593/144,
586/89; JTACivSP 83/114, 159; Grecco, ESD, 2, 249/258.” (“Código de Processo. Civil
Comentado e Legislação Processual Civil Extravagante em Vigor”, 10ª edição, RT, 2007,
p. 286, parte da nota 17 ao art. 70);

Apelação Cível nº 1078218-53.2022.8.26.0002 - São Paulo - VOTO Nº 7/22


fls. 180

TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

(d) de Athos Gusmão Carneiro: “Essa orientação vem sendo

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1078218-53.2022.8.26.0002 e código 221ECDAD.
mantida, constando de recentíssimo aresto que não será admitida a denunciação da lide
quando o reconhecimento do alegado direito de regresso requeira a análise de
fundamento novo que não conste da demanda originária; e haverá fundamento novo
quando o direito de regresso não derive, direta e incondicionalmente, da lei ou do
contrato celebrado com o denunciante sendo necessário recorrer a outros
elementos para evidenciá-lo, dado o tumulto que trará à marcha processual, em
contrariedade aos princípios da instrumentalidade e celeridade (...) Impende ponderar,
todavia, que o “fundamento” da denunciação nunca será o mesmo “fundamento” da ação;
destarte, melhor seria referência a “matéria nova”, não vinculada direitamente ao thema

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MANOEL RICARDO REBELLO PINHO, liberado nos autos em 22/08/2023 às 17:36 .
decidendum objeto da cognição.” (“Intervenção de Terceiros”, 19ª ed., Saraiva, 2010, SP,
p. 121/122, o destaque não consta do original);

(e) do Eg. STJ: (e.1) “A denunciação da lide, na hipótese


do art. 70, III, do CPC, restringe-se às ações de garantia, isto é, àquelas em que se
discute a obrigação legal ou contratual do denunciado em garantir o resultado da
demanda, indenizando o garantido em caso de derrota, sendo vedado, além do mais,
introduzir-se fundamento novo no feito, estranho à lide principal.” (STJ-4ª Turma,
REsp 648253/DF, rel. Min. Barros Monteiro, v.u., j, 04/10/2005, DJ 03/04/2006 p. 352, o
destaque não consta do original); (e.2) “1.- BANCO GENERAL MOTORS S/A interpôs
Recurso Especial com fundamento nas alíneas a e c do inciso III do artigo 105 da
Constituição Federal contra Acórdão proferido pela Primeira Câmara de Direito Civil do
Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina, Relator o Desembargador CARLOS
ADILSON SILVA, assim ementado (e-STJ fls. 155/156): APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO
DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C DANOS MORAIS,
MATERIAIS E LUCROS CESSANTES. PROTESTO INDEVIDO, INSCRIÇÃO E
MANUTENÇÃO EM CADASTRO RESTRITIVO DE CRÉDITO (SERASA).
CERCEAMENTO DE DEFESA EM DECORRÊNCIA DO JULGAMENTO
ANTECIPADO DA LIDE. INOCORRÊNCIA. APLICAÇÃO DO ART. 330, I, DO
CÂNONE PROCESSUAL. DANO MORAL PRESUMIDO. DEVER DE INDENIZAR
CARACTERIZADO. SENTENÇA PARCIALMENTE REFORMADA. APELO EM
PARTE PROVIDO. "Efetivamente, existindo nos autos elementos suficientes para o
convencimento do julgador, principalmente quando a lide versar sobre matéria
exclusivamente de direito, ou, sendo de direito e de fato, não houver necessidade de
produzir provas em audiência, não há que se falar em cerceamento de defesa quando
procedido o julgamento antecipado da lide". (Ap. Cív. n.2004.015882-3, de Lages, rela.
Desa. Marli Mosimann Vargas, j. em 21-07-2008). "Constitui entendimento consolidado
na jurisprudência pátria que os danos morais resultantes de manutenção indevida de nome
de pessoa física ou jurídica nos cadastros dos órgãos de proteção ao crédito são presumidos
[...] Para a fixação do quantum indenizatório, devem ser observados alguns critérios, tais
como a situação econômico-financeira e social das partes litigantes, a intensidade do
sofrimento impingido ao ofendido, o dolo ou grau da culpa do responsável, tudo para não
ensejar um enriquecimento sem causa ou insatisfação de um, nem a impunidade ou a ruína
do outro" (Ap. Cív. n. 2008.056198-0, de Concórdia, rel. Des. Marcus Tulio Sartorato, j.
em 03-11-2008). "O juiz, ao fixar o valor da indenização, deve levar em consideração os
princípios da razoabilidade e da reprovabilidade, a teoria do desestímulo, o dano causado,
o prejuízo sofrido e as qualidades do ofendido." (Ap. Civ. n. 2006.042043-7, da Capital,
rel. Des. Edson Ubaldo, j. em 12-2-2009). 2.- A instituição financeira Recorrente, nas

Apelação Cível nº 1078218-53.2022.8.26.0002 - São Paulo - VOTO Nº 8/22


fls. 181

TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

razões do especial, apontou ofensa aos artigos 160, 946 e 1.536, § 2º, do Código Civil de

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1078218-53.2022.8.26.0002 e código 221ECDAD.
1916, 219 do Código de Processo Civil e 2º da Lei n. 6.690/79, bem como divergência
jurisprudencial, alegando que a responsabilidade de baixa do protesto é do devedor, não
houve comprovação do dano moral, que o valor fixado a título de danos morais é
exorbitante para o caso dos autos (R$ 15.000,00) e que o termo inicial dos juros de mora é
a citação. Inadmitido o recurso na origem (e-STJ fls. 227/228), adveio o presente Agravo
de Instrumento. É o relatório. Não merece prosperar o inconformismo. 3.- Primeiramente,
o Recorrente afirma que o protesto do título foi regular, tendo sido condenada ao
pagamento de indenização por danos morais apenas por sua inércia na retirada do
apontamento. Entretanto, o Acórdão recorrido, com base nas provas produzidas, concluiu

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MANOEL RICARDO REBELLO PINHO, liberado nos autos em 22/08/2023 às 17:36 .
que o protesto foi efetuado após a quitação do débito, portanto, "protesto indevido,
reconhecido, inclusive, pelo banco/ora apelado" (e-STJ fls. 165/166). Diante de tal
contexto, verifica-se que a desconstituição das conclusões a que chegaram as instâncias
ordinárias, para afastar a responsabilidade da recorrente, como propugnado, ensejaria nova
incursão no acervo fático-probatório da causa, o que é vedado à luz da Súmula 7 desta
Corte. 4.- Quanto a alegação de que não restou comprovado nos autos a existência de
prejuízo capaz de caracterizar o dano moral, esta Corte já firmou entendimento que "o
dano moral não depende de prova; acha-se in re ipsa" (REsp 296.634-RN, Rel. Min.
BARROS MONTEIRO, DJ 26.8.2002), pois "não há falar em prova do dano moral, mas,
sim, na prova do fato que gerou a dor, o sofrimento, sentimentos íntimos que o ensejam"
(REsp 86.271/SP, Rel. Min. CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, DJU 9.12.97).
No mesmo sentido, confiram-se os seguintes precedentes: REsp 23575/DF, Rel. Min.
CESAR ASFOR ROCHA, DJU 1º.9.97; REsp. 233.076/RJ, Rel. Min. SÁLVIO DE
FIGUEIREDO TEIXEIRA, DJU 28.2.00; REsp. 471.159/RO, Rel. Min. ALDIR
PASSARINHO JUNIOR, DJ 31.3.03, entre muitos outros. 5.- De outro lado, não obstante
o grau de subjetivismo que envolve o tema da fixação da indenização, uma vez que não
existem critérios determinados e fixos para a quantificação do dano moral, reiteradamente
tem se pronunciado esta Corte no sentido de que a reparação do dano deve ser fixada em
montante que desestimule o ofensor a repetir a falta, sem constituir, de outro lado,
enriquecimento indevido. Com a apreciação reiterada de casos semelhantes, concluiu-se
que a intervenção desta Corte ficaria limitada aos casos em que o quantum fosse irrisório
ou exagerado, diante do quadro fático delimitado em primeiro e segundo graus de
jurisdição (REsp. 331.221/PB, relator Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA,
DJ de 04.02.2002, e REsp. 280.219/SE, relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES
DIREITO, DJ de 27.08.2001). Assim, não obstante os argumentos apresentados pela parte
Recorrente, não se vislumbra, em face da quantia afinal fixada pelo Tribunal de origem
(R$ 15.000,00), razão para provocar a intervenção desta Corte. 6.- Por fim, em relação ao
termo inicial dos juros moratórios nos casos de protesto indevido e inscrição indevida nos
serviços de proteção ao crédito, a jurisprudência desta Corte orienta que é caso de
aplicação da Súmula 54/STJ, segundo a qual "os juros moratórios fluem a partir do evento
danoso, em caso de responsabilidade extracontratual". Nesse sentido, entre outros:
PROCESSO CIVIL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. DANOS MORAIS. PROTESTO
INDEVIDO. OFENSA AO ART. 535 DO CPC. INDEFERIMENTO DE PROVA
TESTEMUNHAL. CERCEAMENTO DE DEFESA. NÃO-OCORRÊNCIA.
RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL. JUROS MORATÓRIOS. SÚMULA
N. 54/STJ. SUCUMBÊNCIA. SÚMULA N. 326/STJ. QUANTUM INDENIZATÓRIO.
EXCESSIVIDADE. DENUNCIAÇÃO DA LEI. ART. 70, III, DO CPC.
IMPOSSIBILIDADE. 1. Não há por que falar em violação do art. 535 do CPC quando o

Apelação Cível nº 1078218-53.2022.8.26.0002 - São Paulo - VOTO Nº 9/22


fls. 182

TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

acórdão recorrido, integrado pelo julgado proferido nos embargos de declaração, dirime, de

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1078218-53.2022.8.26.0002 e código 221ECDAD.
forma expressa, congruente e motivada, as questões suscitadas nas razões recursais. 2.
Inexiste cerceamento de defesa quando o órgão julgador, verificando que está
suficientemente instruído o processo e que é desnecessária a dilação probatória, indefere o
pedido de produção de prova testemunhal. 3. Tratando-se de responsabilidade
extracontratual, os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, no caso, a data do
protesto indevido. Inteligência da Súmula n. 54/STJ. 4. Na ação de indenização por dano
moral, a condenação a montante inferior ao postulado na inicial não implica sucumbência
recíproca. Inteligência da Súmula n. 326/STJ. 5. Cabe ao STJ, na via do recurso especial,
reavaliar, considerando o contexto fático-jurídico delineado no acórdão recorrido, o

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MANOEL RICARDO REBELLO PINHO, liberado nos autos em 22/08/2023 às 17:36 .
quantum indenizatório fixado a título de danos morais quando ele não guardar
proporcionalidade e equivalência à gravidade da ofensa e ao grau de culpa do causador do
dano. 6. Não havendo preceito normativo ou instrumento contratual que estabeleça
vínculo obrigacional entre o denunciante e o denunciado, não se admite a
denunciação da lide com fundamento no art. 70, III, do CPC. 7. Recurso conhecido em
parte e provido. (REsp 967.644/MA, Rel. Min. JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, DJe
5.5.2008); PROCESSO CIVIL - AGRAVO REGIMENTAL - RESPONSABILIDADE
CIVIL - INDENIZAÇÃO - DANOS MORAIS - INSCRIÇÃO INDEVIDA EM
CADASTROS RESTRITIVOS DE CRÉDITO - RESPONSABILIDADE
EXTRACONTRATUAL JUROS MORATÓRIOS - SÚMULA 54/STJ -
APLICABILIDADE - DESPROVIMENTO. 1 - Tendo em vista que a inscrição em
cadastros restritivos de crédito não está prevista nas relações avençadas entre as partes,
cuida-se a hipótese de responsabilidade extracontratual. O dever de indenizar decorreu da
violação ao art. 159 do CC/16 e não do descumprimento de uma cláusula contratual.
Precedentes das duas Turmas que compõem a Segunda Seção desta Corte.2 - Agravo
regimental desprovido. (AgRg no AG 801.258/PR, Rel. Min. JORGE SCARTEZZINI, DJ
5.2.2007). 7.- Pelo exposto, nega-se provimento ao Agravo de Instrumento. Publique-se.
Intimem-se” (Ag 1416669, rel. Min. Sidnei Beneti, j. 08.05.2012, o destaque não consta
do original); e (e.3) quanto ao descabimento de denunciação da lide decorrente de cessão
de crédito, a orientação dos julgados extraídos do site: “RECURSO ESPECIAL.
PROCESSO CIVIL. PRELIMINAR DE INTEMPESTIVIDADE RECURSAL.
REJEIÇÃO. AÇÃO DE COBRANÇA DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.
DENUNCIAÇÃO DA LIDE. CESSÃO DE CRÉDITO ENTRE INSTITUIÇÕES
FINANCEIRAS. LIDE PARALELA. FUNDAMENTO NOVO.
INADMISSIBILIDADE. 1. O pedido de reconsideração, por não ser qualificado como
recurso, não interrompe nem suspende o prazo para a interposição de agravo, que tem
como termo inicial o ato decisório que deu origem ao gravame. Inaplicabilidade desse
entendimento na espécie, dadas as peculiaridades da causa. Retratação do relator no ponto.
2. Consoante jurisprudência consolidada nesta Corte Superior, não é admissível a
denunciação da lide embasada no art. 70, III, do CPC quando introduzir fundamento
novo à causa, estranho ao processo principal, apto a provocar uma lide paralela, a
exigir ampla dilação probatória, o que tumultuaria a lide originária, indo de encontro
aos princípios da celeridade e economia processuais, os quais esta modalidade de
intervenção de terceiros busca atender. Ademais, eventual direito de regresso não
estará comprometido, pois poderá ser exercido em ação autônoma. 3. Recursos
especiais parcialmente providos, a fim de afastar a denunciação da lide.” (STJ-3ª
Turma, REsp 1043612/RS, rel. Min. Vasco Della Giustina, v.u., j. 01/10/2009, DJe
30/11/2009, o destaque não consta do original); e

Apelação Cível nº 1078218-53.2022.8.26.0002 - São Paulo - VOTO Nº 1 0/22


fls. 183

TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

(f) deste Eg. Tribunal de Justiça: (f.1) “INTERVENÇÃO DE

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1078218-53.2022.8.26.0002 e código 221ECDAD.
TERCEIRO - Denunciação da lide - Endosso de duplicata mercantil - Denunciação à
empresa endossante - Denunciação só é obrigatória em relação ao denunciante que, não
denunciando, perderá o direito de regresso - Denunciação nos casos do inciso III do art.
70, isto é, regresso fundado em dever legal ou contratual de indenizar a quem perde a
demanda, não é obrigatória, em que pese a dicção do caput do art. 70 - Preliminar
rejeitada. CAMBIAL - Duplicata mercantil - Falta de aceite e de comprovante de efetiva
compra e venda de mercadoria - Título sem causa - Ré é empresa de factoring e admitiu ter
recebido o título por endosso - Se ela recebeu duplicata incompleta, deve arcar com o risco
de seu negócio, ou sujeitar-se às consequências decorrentes de sua incúria - Boa fé da

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MANOEL RICARDO REBELLO PINHO, liberado nos autos em 22/08/2023 às 17:36 .
endossatária - Irrelevância - Ressalva quanto ao seu direito de regresso em relação à
sacadora - Manutenção da decisão de primeiro grau, com a adoção de seus fundamentos
como razão de decidir - Ações principal (anulatória de título de crédito) e cautelar (de
sustação de protesto) procedentes. Recurso desprovido” (Apelação nº
9074225-28.2006.8.26.0000, rel. Des. Álvaro Torres Júnior, j. 11.04.2011, o destaque não
consta do original) e (f.2) “Prescrição - Ação regressiva de ressarcimento de cobertura
securitária Contrato de transporte marítimo Avarias nas mercadorias Reparação de dano
causado por fato do serviço Inaplicabilidade do prazo ânuo previsto no art. 8, "caput", do
Decreto-lei 116/67 - Prazo quinquenal Art. 27 do CDC Seguradora sub-rogada em todos os
direitos e ações de sua segurada, a quem indenizou o prejuízo derivado das mercadorias
avariadas em transporte de responsabilidade da ré Art. 786, "caput", do CC Pretensão ao
reembolso do valor da indenização paga pela autora que não se encontra prescrita Ação
ajuizada em menos de dois anos da data do desembarque das mercadorias avariadas
Prescrição afastada Sentença reformada. Responsabilidade civil - Ação regressiva de
ressarcimento de cobertura securitária - Denunciação da empresa que
a transportadora ré contratou para o transbordo da carga de um navio para o outro
Inadmissibilidade Art. 70, III, do CPC Inexistência do dever da empresa denunciada,
legal ou contratual, de indenizar a ré-denunciante pelos prejuízos que esta possa vir a
suportar com o resultado da ação proposta pela autora Ré-denunciante que
introduziu, na denunciação, fundamento novo estranho à "causa petendi" da ação
principal - Ausência de denunciação, ademais, que não ocasiona a perda do direito de
regresso ou de indenização - Denunciação da lide indeferida. Responsabilidade civil
Ação regressiva de ressarcimento de cobertura securitária Mercadorias da segurada da
autora que foram avariadas durante o transporte realizado pela ré Responsabilidade
objetiva da ré reconhecida Arts. 730, 749 e 750 do CC e art. 14, "caput", do
CDC Transportadora ré que não se desincumbiu de provar fato impeditivo, modificativo
ou extintivo do direito alegado pela autora, de acordo com os arts. 333, II, do CPC e 14, §
3º, do CDC. Responsabilidade civil Ação regressiva de ressarcimento de cobertura
securitária Reembolso do valor da indenização paga à segurada da autora Montante a ser
ressarcido nos limites do prejuízo resultante das mercadorias avariadas que se encontravam
acondicionadas no contêiner objeto da ação, nº SUDU 1633384 Valor concernente ao
outro contêiner, nº SUDU 3774577, que não pode ser reembolsado, por não ter sido objeto
da demanda Parcial procedência da ação decretada Apelo da autora provido em parte.
VOTO: “(…) Logo, apenas é admissível a denunciação da lide nas hipóteses de
garantia automaticamente resultante da lei ou do contrato, sendo proibida a
intromissão de fundamento novo, não constante da ação originária. No caso vertente,
não há o dever da empresa “Sepetiba Tecon S.A.”, legal ou contratual, de indenizar a
ré-denunciante pelos prejuízos que esta possa vir a suportar com o resultado da ação

Apelação Cível nº 1078218-53.2022.8.26.0002 - São Paulo - VOTO Nº 1 1/22


fls. 184

TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

proposta pela autora. Consoante reconhecido pela ré-denunciante na contestação: “De

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1078218-53.2022.8.26.0002 e código 221ECDAD.
acordo com a logística da operação e como era de ciência da própria segurada autora, o
transporte foi realizado em duas etapas. Na primeira delas, a carga foi transportada a bordo
do navio 'Cap Cortes' desde o porto de origem, em Taiwan, até o porto de Sepetiba, no Rio
de Janeiro. Na sequência, a carga foi submetida à operação de transbordo para o navio
'Aliança Maracanã', a bordo do qual seguiu até o porto de destino, em Manaus-AM.
Importante registrar que a ré, na qualidade de transportador marítimo, não manuseia
cargas. Desse modo, no caso dos autos, a operação de transbordo da carga foi executada
pela empresa de Operações Portuárias 'Sepetiba Tecon S.A.', contratada pela ora
contestante para esta finalidade, a qual manuseou e movimentou o contêiner em que se

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MANOEL RICARDO REBELLO PINHO, liberado nos autos em 22/08/2023 às 17:36 .
encontrava acondicionada a carga da segurada da autora, realizando o transbordo do cofre
de carga para o navio 'Aliança Maracanã'. Ocorre que, durante a execução da referida
operação de transbordo, ocorreu avaria no contêiner em que se encontrava a carga da
segurada da autora, acarretando, em consequência, avaria e perda total da carga
acondicionada no interior do equipamento. Neste particular, conforme se verifica das
mensagens de e-mail anexas, o próprio operador portuário reconhece que as avarias
verificadas no contêiner e na carga da segurada da autora ocorreram nas dependências do
terminal 'Sepetiba Tecon S.A.', durante os procedimentos de transbordo da carga, o que
afasta por completo a responsabilidade da ré ora contestante em relação aos decorrentes
prejuízos” (fls. 168/169) (grifo não original). Ademais, a ré-denunciante introduziu, na
denunciação, fundamento novo, estranho à “causa petendi” da ação principal. Vale
dizer, segundo o pedido de denunciação da lide, a ré- denunciante atribuiu a
responsabilidade pelas avarias na carga que se encontrava sob sua guarda à empresa
denunciada que ela mesma contratou, por sua conta e risco, a fim de realizar a
operação de transbordo da aludida carga, verificada no percurso do transporte, de
um navio para outro (fl. 176). A ausência de denunciação na hipótese em exame, de
outra banda, não ocasiona a perda do direito de regresso ou de indenização” (23ª
Câmara de Direito Privado, Apelação nº0013210-09.2008.8.26.0562, rel. Des. José Marcos
Marrone, j. 11.12.2013, o destaque não consta do original).

3.2. Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor nas ações


de reparação de danos por vítimas de acidente de consumo, como acontece no caso dos
autos, por envolver responsabilidade civil de fornecedor de serviços, sendo, a propósito,
desnecessário perquirir sobre a presença dos elementos objetivos e subjetivos da relação de
consumo, conforme orientação que esse Relator passa a adotar.

Nesse sentido, a orientação: (a) do julgado, para caso


análogo, mas com inteira aplicação à espécie, extraído do site do Eg. STJ: “RECURSO
ESPECIAL. CIVIL E PROCESSO CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. ACIDENTE
DE CONSUMO. EXPLOSÃO DE GARRAFA PERFURANDO O OLHO ESQUERDO
DO CONSUMIDOR. NEXO CAUSAL. DEFEITO DO PRODUTO. ÔNUS DA PROVA.
PROCEDÊNCIA DO PEDIDO. RESTABELECIMENTO DA SENTENÇA. RECURSO
ESPECIAL PROVIDO. 1 - Comerciante atingido em seu olho esquerdo pelos
estilhaços de uma garrafa de cerveja, que estourou em suas mãos quando a colocava
em um freezer, causando graves lesões. 2 - Enquadramento do comerciante, que é
vítima de um acidente de consumo, no conceito ampliado de consumidor estabelecido
pela regra do art. 17 do CDC ("bystander"). 3 - Reconhecimento do nexo causal entre
as lesões sofridas pelo consumidor e o estouro da garrafa de cerveja. 4 - Ônus da prova da

Apelação Cível nº 1078218-53.2022.8.26.0002 - São Paulo - VOTO Nº 1 2/22


fls. 185

TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

inexistência de defeito do produto atribuído pelo legislador ao fabricante. 5 -

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1078218-53.2022.8.26.0002 e código 221ECDAD.
Caracterização da violação à regra do inciso II do § 3º do art. 12 do CDC. 6 - Recurso
especial provido, julgando-se procedente a demanda nos termos da sentença de primeiro
grau.” (STJ-3ª Turma, REsp 1288008/MG, rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, v.u.,. j.
04/04/2013, DJe 11/04/2013, RSTJ vol. 230 p. 591, o destaque não consta do original); e
(b) de Bruno Miragem: “Note-se que, no caso da responsabilidade civil dos bancos, tem
prevalência a aplicação do CDC, não sendo necessário investigar a presença dos
elementos da relação de consumo, como se reclama na disciplina dos contratos
bancários. Explica-se: enquanto nos contratos bancários, reclama-se a existência da
relação de consumo, invocando o disposto no art. 3º, § 2º, do CDC, quanto à quantificação

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MANOEL RICARDO REBELLO PINHO, liberado nos autos em 22/08/2023 às 17:36 .
da atividade bancária como espécie do serviço objeto da relação de consumo, bem como
no entendimento jurisprudencial afirmado pela Súmula 297 do STJ, há de se fazer uma
distinção É preciso definir se, além de se tratar de relação contratual entre cliente e banco,
o cliente ostenta qualidade que lhe permita ser identificado como consumidor, seja pela
exegese do conceito de destinatário final (art. 2º), ou pela interpretação do art. 29, que
autoriza a equiparação para fins de proteção contratual, atualmente interpretado segundo
exigência de demonstração de vulnerabilidade in concreto, de subordinação entre o cliente
e o banco. Outra coisa é a relação jurídica que resulta da imputação de
responsabilidade pelo dever de indenizar. Isso porque, aqui, a hipótese de
equiparação a consumidor, seja de quem não é cliente do banco, ou sendo cliente, não
se considera destinatário final ou vulnerável (uma grande sociedade empresária, por
exemplo), decorre de mera constatação fática de que se trata de vítima de um dano
cuja responsabilidade é do fornecedor. Em outros termos: enquanto em matéria
contratual permite-se investigar a qualidade subjetiva do cliente bancário para efeito
de promover sua equiparação a consumidor por força do art. 17 do CDC, sob o
fundamento de que se trata de pessoa exposta aos riscos de mercado de consumo, e,
em especial da atividade desenvolvida pelo banco. Assim, por exemplo, não se cogita
de questionar a aplicação odo CDC nos danos causados, seja a clientes pessoas físicas
ou grandes sociedades empresárias, pela informações levadas indevidamente a
registro pela instituição financeira em bancos de dados restritivos de crédito, ou pelo
protesto indevido de título. (...) Naquilo que diga respeito diretamente à prestação de
serviços bancários, contudo, no âmbito da atividade título da instituição financeira
(art. 17 da Lei 4.595/1694), a aplicação do CDC é impositiva, inclusive, pela
equiparação das vítimas.” (“Direito Bancário”, RT, 2013, SP, p.488/469, o destaque não
consta do original).

3.3. A instituição financeira responde objetivamente pelos


danos causados, em razão de defeitos no serviço prestado e de fatos com relação com os
próprios riscos da atividade bancária, em razão do disposto no art. 14, do CDC.

“Como é sabido, para que se configure a obrigação de


indenizar, indispensável que estejam presentes os três requisitos ensejadores da mesma,
quais sejam: (i) o ato ilícito, (ii) o dano experimentado pela vítima e (iii) o nexo de
causalidade entre o dano sofrido e a conduta ilícita. Nesse sentido, de se notar que o CDC
aplica-se às instituições financeiras conforme a Súmula n.° 297 do STJ. Portanto, a
responsabilidade dos bancos, pelos danos causados aos seus clientes, é objetiva, isto é,
independentemente da existência de ato culposo, conforme dispõe o art. 14, caput, do
CDC. Assim, a responsabilidade do recorrido prescinde de culpa sua, satisfazendo-se

Apelação Cível nº 1078218-53.2022.8.26.0002 - São Paulo - VOTO Nº 1 3/22


fls. 186

TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

apenas com o dano e o nexo de causalidade. Em relação ao nexo de causalidade, o próprio

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1078218-53.2022.8.26.0002 e código 221ECDAD.
CDC estabelece no inciso II, do § 3º, do art. 14, do CDC, determinadas situações aptas a
excluir o nexo causal entre a conduta do fornecedor e o dano causado ao consumidor, quais
sejam: a culpa exclusiva do consumidor ou a culpa de terceiro.” (STJ-3ª Turma, REsp
685662/RJ, rel. Min. Nancy Andrighi, v.u., j. 10/11/2005, DJ 05.12.2005 p. 323).

“O ônus da prova das excludentes da responsabilidade do


fornecedor de serviços, previstas no art. 14, § 3º, do CDC, é do fornecedor, por força do
art. 12, § 3º, também do CDC.” (STJ-3ª Turma, REsp 685662/RJ, rel. Min. Nancy
Andrighi, v.u., j. 10/11/2005, DJ 05.12.2005 p. 323).

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MANOEL RICARDO REBELLO PINHO, liberado nos autos em 22/08/2023 às 17:36 .
“A inversão do ônus da prova pode decorrer diretamente da
própria lei (ope legis), quando a comprovação de um fato, que normalmente seria encargo
de uma parte, é atribuída, pela própria lei, à outra parte. No caso da responsabilidade civil
por acidentes de consumo, o legislador atribuiu expressamente ao fornecedor o ônus de
comprovar todas as causas de exclusão da responsabilidade civil, que foram elencadas
pelos arts. 12 e 14, em seus respectivos §§3º, do CDC. Nas hipóteses de culpa exclusiva da
vítima, fato de terceiro ou de não-colocação do produto no mercado, essa distribuição do
encargo probatório acompanhou o sistema tradicional estabelecido pelo art. 333, II, do
Código de Processo Civil. O legislador, todavia, atribuiu também ao fornecedor o ônus de
comprovar a inexistência de defeito do produto ou do serviço. Normalmente, o defeito,
como fato constitutivo do direito do demandado, deveria ser demonstrado pelo consumidor
lesado, como autor da ação indenizatória. O CDC, em seu art. 12, §3º, II, e em seu art. 14,
§3º, I, deixa expresso que compete ao fornecedor o ônus de comprovar a inexistência de
defeito no produto ou no serviço. Essa modificação na distribuição dos encargos
probatórios pela própria lei é o que se denomina de inversão ope legis do ônus da prova”.
(Paulo de Tarso Vieira Sanseverino, “Responsabilidade Civil no Código do Consumidor e
a Defesa do Fornecedor”, 3ª ed., Saraiva, 2010, SP, p. 355/356).

3.4. As instituições financeiras respondem objetivamente por


danos causados por terceiros, nas hipóteses de fraude ou utilização de documentos falsos,
inclusive nos casos de golpe em que o fraudador troca o cartão eletrônico do correntista,
nos locais utilizados na prestação dos serviços bancários, o que compreende não só as
agências e estacionamentos a ela vinculados, mas também caixas eletrônicos em terminais
de autoatendimento ainda que localizados fora das agências, visto que os ilícitos em
questão configuram fortuito interno, porquanto fazem parte do próprio risco do
empreendimento e, consequentemente, não têm o condão de excluir a responsabilidade da
instituição financeira pelos danos em questão.

Nesse sentido, quanto à responsabilidade da instituição


financeira pelos danos causados por fraudes ou delitos praticados por terceiro, inclusive
nos casos de golpe em que o fraudador troca o cartão eletrônico do correntista, adota-se a
orientação: (a) do julgado da Eg. 2ª Seção do STJ, no julgamento do REsp 1.199.782 PR,
relatado pelo Min. Luis Felipe Salomão, efetivado nos termos do art. 543-C, do CPC/1973,
visando unificar o entendimento e orientar a solução de recursos repetitivos, que se
reproduz: “RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA.
JULGAMENTO PELA SISTEMÁTICA DO ART. 543-C DO CPC.
RESPONSABILIDADE CIVIL. INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS. DANOS CAUSADOS

Apelação Cível nº 1078218-53.2022.8.26.0002 - São Paulo - VOTO Nº 1 4/22


fls. 187

TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

POR FRAUDES E DELITOS PRATICADOS POR TERCEIROS.

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1078218-53.2022.8.26.0002 e código 221ECDAD.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA. FORTUITO INTERNO. RISCO DO
EMPREENDIMENTO. 1. Para efeitos do art. 543-C do CPC: As instituições bancárias
respondem objetivamente pelos danos causados por fraudes ou delitos praticados por
terceiros - como, por exemplo, abertura de conta-corrente ou recebimento de
empréstimos mediante fraude ou utilização de documentos falsos -, porquanto tal
responsabilidade decorre do risco do empreendimento, caracterizando-se como
fortuito interno. 2. Recurso especial provido” (o destaque não consta do original); e (b)
dos julgados extraídos do site deste Eg. Tribunal de Justiça: (b.1) “Ação indenizatória por
danos materiais e morais Golpe da troca do cartão por fraudador no interior do

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MANOEL RICARDO REBELLO PINHO, liberado nos autos em 22/08/2023 às 17:36 .
estabelecimento bancário Realização de saques indevidos de conta corrente,
decorrente de abordagem de correntista por fraudador, em caixa eletrônico de
autoatendimento Aplicação do CDC (súmula 297 do STJ) Culpa objetiva do
Banco prestador de serviço bancário (art. 14 CDC) por não coibir a ação criminosa
de estelionatário que aborda correntista em caixa eletrônico na agência e efetua
movimentações bancárias com cartão magnético Súmula 479 do STJ - Matéria
pacificada pelo julgamento do Recurso Especial nº 1.199.782/PR, com base no artigo
543-C do Código de Processo Civil Danos materiais comprovados - Devolução dos
valores indevidamente sacados por falsário O esvaziamento da conta com diversos
saques ilícitos acarretam dano moral Valor da indenização arbitrado em consonância
com a razoabilidade e proporcionalidade Recurso negado”. (13ª Câmara de Direito
Privado, Apel. Cível nº 0011452-02.2011.8.26.0655, rel. Des. Francisco Giaquinto, v.u., j.
06.07.2015, o destaque não consta do original); e (b.2) “RESPONSABILIDADE CIVIL
Dano moral Golpe sofrido pelo cliente na fila do caixa eletrônico Troca do cartão
por terceiro Saques indevidos em sua conta corrente Dever do banco de zelar
pela segurança não só dos estabelecimentos, mas também dos caixas eletrônicos
Responsabilidade objetiva Manutenção do valor fixado na r. sentença em R$ 10.000,00
(dez mil reais) Recurso improvido. RESPONSABILIDADE CIVIL Dano material
Devolução do valor sacado, devidamente corrigido Recurso improvido”. (23ª Câmara de
Direito Privado, Apel. Cível nº 1004570-29.2014.8.26.0161, rel. Des. J.B. Franco de
Godoy, v.u., j. 24.06.2015, o destaque não consta do original).

3.5. Em demandas promovidas por correntistas imputando


movimentações e pagamentos indevidos, em conta corrente, mediante serviço
disponibilizado pelo banco via canal telefônico ou mediante uso de cartões eletrônicos,
incumbe a este provar que as operações foram realizadas regularmente, tendo em vista a
notoriedade do reconhecimento da possibilidade de violação do sistema eletrônico, por
força do disposto nos arts. 6º, VIII, e 14, caput, do CDC, e art. 333, II, do CPC/1973
(correspondente ao art. 373, II, do CPC/2015).

Nesse sentido, a orientação: (a) dos julgados do Eg. STJ


extraídos do respectivo site: (a.1) “Direito processual civil. Ação de indenização. Saques
sucessivos em conta corrente. Negativa de autoria do correntista. Inversão do ônus da
prova. - É plenamente viável a inversão do ônus da prova (art. 333, II do CPC) na
ocorrência de saques indevidos de contas-correntes, competindo ao banco (réu da
ação de indenização) o ônus de provar os fatos impeditivos, modificativos ou
extintivos do direito do autor. - Incumbe ao banco demonstrar, por meios idôneos, a
inexistência ou impossibilidade de fraude, tendo em vista a notoriedade do

Apelação Cível nº 1078218-53.2022.8.26.0002 - São Paulo - VOTO Nº 1 5/22


fls. 188

TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

reconhecimento da possibilidade de violação do sistema eletrônico de saque por meio

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1078218-53.2022.8.26.0002 e código 221ECDAD.
de cartão bancário e/ou senha. - Se foi o cliente que retirou o dinheiro, compete ao
banco estar munido de instrumentos tecnológicos seguros para provar de forma
inegável tal ocorrência. Recurso especial parcialmente conhecido, mas não provido.”
(STJ-3ª Turma, REsp 727843/SP, rel. Min. Nancy Andrighi, v.u., j. 15/12/2005, DJ
01/02/2006 p. 553 RDDP vol. 40 p. 145, o destaque não consta do original); e (a.2)
“DECISÃO (...) O acórdão recorrido encontra-se em consonância com o entendimento
preconizado por esta Corte no sentido de que, nas ações declaratórias negativas, cabe
à parte adversa a comprovação do ato ou fato negado pelo autor. Nesse sentido:
"PROCESSO CIVIL. ÔNUS DA PROVA. FATO AFIRMADO PELO AUTOR E

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MANOEL RICARDO REBELLO PINHO, liberado nos autos em 22/08/2023 às 17:36 .
CONFESSADO PELO RÉU. DESNECESSIDADE DE PROVA. CPC, ARTS. 333 E 334.
PRECEDENTES. RECURSO DESACOLHIDO. I - Em regra, o ônus da prova incumbe
a quem alega o fato, sendo desnecessário provar os fatos afirmados por uma parte e
confessados pela parte contrária, sendo igualmente certo, até porque proclamado
pela lei, que, salvo nas declaratórias negativas, ao autor cabe a prova dos fatos
constitutivos, e ao réu a prova dos fatos extintivos, impeditivos ou modificativos. II -
Tendo o acórdão concluído pela suficiência das provas dos autos para julgar procedente o
pedido, o reexame do conjunto probatório resta vedado a esta instância especial, a teor do
enunciado nº 7 da súmula/STJ." (REsp 161.629/ES, Rel. Ministro SÁLVIO DE
FIGUEIREDO TEIXEIRA, DJ 21.02.2000) Nego provimento ao agravo.”(Ag
650254/MG, rel. Min. Fernando Gonçalves, data da publicação: 21/09/2007, o destaque
não consta do original); e (b) de Luiz Paulo da Silva Araújo Filho: “Assim, por exemplo,
em ações nas quais alegue o consumidor que houve saques irregulares em sua conta
corrente ou em sua caderneta de poupança, e o banco conteste afirmando que os saques
foram feitos por cartão magnético, decerto do cliente. O tema tem sido frequentemente
analisado pela jurisprudência à luz da inversão do ônus da prova, em bora, a rigor,
devesse ser tratado como simples alegação de defeito do serviço, desde que
devidamente interpretada a expressão 'quando não fornece a segurança [neste caso
patrimonial] que o consumidor dele pode esperar, constante do §1º do art. 14 do
CDC, hipótese em que, para não ser responsabilizado, competiria ao banco provar
que 'o defeito inexiste' (v. o §3º, I, do art. 14). Seja como for, também é admissível a
inversão do ônus da prova, porque há notícias de saques efetuados com cartões
'clonados', além de outras falcatruas na realização de saques fraudulentos, sendo a
alegação do consumidor, portanto, verossímil. Mesmo que não se considerasse
verossímil a alegação, a hipossuficiência do consumidor é manifesta, porque não se
pode negar a sua inferioridade, uma vez que não tem ele acesso aos conhecimentos
técnicos do projeto ou do processo utilizado na execução do serviço, nem tem
condições, ele mesmo, de tomar as medidas necessárias para evitar esse tipo de
incidente, como poderia fazê-lo o banqueiro. Dessa forma, deve o juiz inverter o ônus da
prova em benefício do consumidor, se não entender, simplesmente, que compete ao banco
provar que o defeito na prestação do serviço não existiu. Não procederia, neste, eventual
alegação do banco de que a prova lhe é impossível, ou extremamente difícil, porque
para garantir ao cliente a segurança que do serviço se poderia esperar, e para
assumir os riscos da atividade econômica, competiria ao banco tomar todas as
medidas de controle possíveis. Nos Estados Unidos, verbi gratia, há anos os 'caixas
eletrônicos' ou 'bancos 24 horas' são equipados com câmeras de filmagem ou
máquinas fotográficas, que registram as imagens durante o funcionamento ou a
intervalos de segundos. Do consumidor, em qualquer caso, é que não se pode exigir a

Apelação Cível nº 1078218-53.2022.8.26.0002 - São Paulo - VOTO Nº 1 6/22


fls. 189

TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

prova diabólica de que não sacou o dinheiro”. (“Comentários ao Código de Defesa do

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1078218-53.2022.8.26.0002 e código 221ECDAD.
Consumidor”, 2ª ed., Saraiva, 2009, SP, p. 15/16, o destaque não consta do original).

Ademais, é de se ver que compete à instituição financeira ré


manter toda a documentação relativa à sua atividade, por imposição legal, enquanto não
operar a prescrição e a decadência em relação aos atos nela consignados.

3.6. Reconhece-se a existência de ato ilícito e defeito de


serviço da parte ré banco, consistente no descumprimento do dever de resguardar a
segurança da conta corrente da parte autora contra a ação de fraudadores, falha de serviço

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MANOEL RICARDO REBELLO PINHO, liberado nos autos em 22/08/2023 às 17:36 .
esta que permitiu o acesso destes à conta da parte autora correntista e, posteriormente, a
realização de operações indevidas descritas na inicial, resultando na retirada de valores
mediante transações via PIX realizadas da conta corrente da parte autora.

A existência das operações indevidas descritas na inicial,


realizadas na conta corrente da parte autora, consistentes na retirada de valores mediante
transações via PIX, restaram demonstradas pelo documento juntado a fls. 18/20.

Ressalva-se que, restou demonstrado que a autora sofreu uma


diminuição patrimonial de R$4.573,00, visto que as transações via PIX realizadas através
de sua conta bancária somaram o importe de R$4.880,00 (fls. 18/20) e a instituição
financeira realizou o ressarcimento de R$307,00 (fls. 26).

Anota-se que a regularidade da operação impugnada pela


parte autora não restou demonstrada nos autos, ônus que era da parte ré.

Diante das alegações das partes e da prova constante dos


autos, reconhece-se que a parte ré banco não produziu prova que permitisse o
reconhecimento de que as operações imputadas como indevidas, na conta corrente da parte
autora, foram realizadas por esta ou por terceiro por ela autorizado, ônus que era seu.

Inconsistente a genérica alegação da parte ré de que a parte


autora forneceu dados sigilosos da sua conta corrente, visto que sequer amparada por
nenhum indício de prova, sendo certo que a parte ré nada juntou aos autos para corroborar
sua alegação de que fragilização dos dados bancários.

O banco réu sequer conseguiu identificar quem efetivamente


realizou as transações especificadas na inicial, nem comprovou que houve operação
fraudulenta com contribuição da parte autora.

O ônus da prova da regularidade das operações ora


impugnadas pela parte autora era do réu (CPC/2015, art. 373, II).

O defeito de serviço e culpa da parte ré ficaram configurados,


no que concerne às operações indevidas, visto que não agiu com a diligência necessária na
prestação de seus serviços, permitindo a realização de operações fraudulentas na conta da
parte autora.

Quanto a essas questões, ausente argumento hábil do

Apelação Cível nº 1078218-53.2022.8.26.0002 - São Paulo - VOTO Nº 1 7/22


fls. 190

TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

embargante apelante para demonstrar o desacerto do r. ato judicial recorrido, para evitar

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1078218-53.2022.8.26.0002 e código 221ECDAD.
inútil tautologia e como autoriza o art. 252, do RITJ, adota-se a fundamentação da r.
sentença recorrida, muito bem lançada, pelo MM Juiz de Direito, Dr. Anderson Cortez
Mendes, como razão de decidir e que se transcreve:

“Por tratar o caso em tela de relação de consumo, o ônus da produção de


prova a fim de contrariar as alegações da petição inicial é atribuído à
demandada. Nesse diapasão, nos termos do artigo 6º, inciso VIII, do Código
de Defesa do Consumidor, é o caso de inverter-se o ônus da prova,
porquanto, para além de verossímeis as alegações da consumidora,

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MANOEL RICARDO REBELLO PINHO, liberado nos autos em 22/08/2023 às 17:36 .
configurada, in casu, sua hipossuficiência organizacional diante da empresa
ré.

Consoante à lição de Cecília Matos “já se afirmou que o consumidor é a


parte vulnerável da relação de consumo, que não dispõe de informação ou
de acesso aos elementos técnicos do produto. O fornecedor, de outro lado, é
a parte detentora dos dados da produção do bem e que se encontra em uma
melhor posição para fornecê-las ao magistrado. O Juiz, enquanto homem de
seu tempo, deverá deixar eventuais posturas tradicionais e se armar de
sensibilidade para apurar os casos em que a inversão se mostra
imprescindível, sob pena de denegar a prestação jurisdicional à parte
vulnerável” (O ônus da prova no Código de Defesa do Consumidor, Justitia,
São Paulo, n. 57, abril a junho de 1995 p. 99).

De outro lado, não é lícito impor-se a produção de prova negativa à parte.


Por conseguinte, comprovar a requerente que não efetuou transferências via
PIX, mostra-se extremamente difícil. Está-se, evidentemente, diante da
prova diabólica (probatio diabolica). Destarte, seria defeso não admitir que
caiba à ré o ônus de provar que encontra amparo em relação jurídica
mantida entre as partes o numerário suprimido de sua conta corrente e
empréstimos realizados (fls. 18/26).

[...]

Na hipótese sub judice, as alegações defensivas, portanto, não devem


prosperar, haja vista que não há nos autos prova hábil a demonstrar a
existência e validade das operações, o que, nos termos do artigo 434, caput,
do Código de Processo Civil, deveria acompanhar a resposta à demanda.
Para tanto, bastaria trazer relatório das transações ou levantamento
administrativo das transações realizadas à época, o que não ocorreu,
anotando-se que os prints juntados de suposta averiguação administrativa
feita pelo réu não se mostram aptos a comprovar a validade das operações
realizadas (fls. 59 e 66), pois não se é possível aferir por meio deles se os
dados identificadores do usuário e aparelho registrado se refere às
transações impugnadas. Anote-se, de mais a mais, segundo enunciado da
Súmula 479 do Colendo Superior Tribunal de Justiça, “as instituições
financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito
interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de
operações bancárias.
Apelação Cível nº 1078218-53.2022.8.26.0002 - São Paulo - VOTO Nº 1 8/22
fls. 191

TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

[...]

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1078218-53.2022.8.26.0002 e código 221ECDAD.
Urge a consideração, pois, que a responsabilidade civil exige para o
surgimento do dever de indenizar, em sua modalidade objetiva, um dano
imputado causalmente ao serviço, colocando-se o risco como nexo de
imputação em coexistência com a culpa, em nosso ordenamento (cf.
GODOY, Claudio Luiz Bueno de. Responsabilidade civil pelo risco da
atividade. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 26). Na hipótese sub judice, todos os
seus pressupostos restaram configurados, de sorte a ensejar a condenação do
demandado a reparar os danos morais experimentados pelo demandante, a

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MANOEL RICARDO REBELLO PINHO, liberado nos autos em 22/08/2023 às 17:36 .
inexigibilidade do débito e a devolução dos valores transferidos via PIX, no
importe total de R$4.880,00.

O fato do serviço consiste nas transações via PIX realizados de forma


fraudulenta, de modo a suprimir valores depositados em conta corrente de
seu cliente (fls. 18/21). Ao realizar o desempenho de sua atividade
empresarial, deveria cercar-se das cautelas necessárias para garantir que a
segurança necessária ao serviço prestado. Todavia, a providência não foi
adotada”.

Observa-se que: (a) nos termos do art. 252, do Regimento


Interno deste Eg. Tribunal de Justiça que estabelece: “Nos recursos, em geral, o relator
poderá limitar-se a ratificar os fundamentos da decisão recorrida, quanto,
suficientemente motivada, houver de mantê-la”; e (b) “É predominante a
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça em reconhecer a viabilidade de o
órgão julgador adotar ou ratificar o juízo de valor firmado na sentença, inclusive
transcrevendo-o no acórdão, sem que tal medida encerre omissão ou ausência de
fundamentação no decisum.” (STJ-2ª Turma, REsp 662272/RS, rel. Min, João Otávio de
Noronha, v.u., j. 04/09/2007, DJ 27/09/2007 p. 248, o destaque não consta do original).

Nenhuma prova produzida permite o reconhecimento da


culpa exclusiva de terceiro ou culpa exclusiva ou parcial da parte autora, nem mesmo a
ocorrência de caso fortuito ou força maior, para excluir a responsabilidade do banco réu.

Em sendo assim, é de se reconhecer a existência de falha na


prestação do serviço pelo banco, consistente no descumprimento do dever de resguardar a
segurança da conta corrente da parte autora, falha esta que permitiu a ação de fraudadores.

No mesmo sentido do ora julgado, para casos análogos, mas


com inteira aplicação à espécie, a orientação dos julgados extraídos do site do Eg. STJ: (a)
“RESPONSABILIDADE CIVIL Danos materiais Ressarcimento de quantia
Operação fraudulenta via TED Captura de informações da sociedade empresarial
correntista Restituição devida Aplicação da teoria do risco profissional
Precedentes Recurso nesta parte provido. RESPONSABILIDADE CIVIL Danos
morais Inocorrência Ilícito que não repercutiu na honra objetiva da empresa
Personalidades jurídicas dos administradores e da empresa que não se confundem
Precedentes Recurso nesta parte improvido.” (23ª Câmara de Direito Privado, Apelação
1017498-54.2016.8.26.0577, rel. Des. J. B. Franco de Godoi, j. 01/03/2017, o destaque não
consta do original); e (b) “Apelação Prestação de serviços Ação de indenização por danos

Apelação Cível nº 1078218-53.2022.8.26.0002 - São Paulo - VOTO Nº 1 9/22


fls. 192

TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

materiais e morais Transferência eletrônica indevida realizada na conta bancária da

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1078218-53.2022.8.26.0002 e código 221ECDAD.
empresa autora, mediante internet banking Cenário dos autos prestigiando a boa-fé
da demandante, presunção não infirmada pelo banco réu Inequívoca
responsabilidade do réu pelo ocorrido, nos termos da orientação cristalizada na
Súmula 479 do STJ Acertado, portanto, o reconhecimento do direito da autora à
restituição do que foi desviado de sua conta Falta de aptidão, porém, à falta da
especificidade exigida pelo art. 286 do CPC, do pedido destinado a que o valor da
restituição englobe os juros e demais encargos de cheque especial em que teria incorrido a
demandante Bem rejeitado o pedido de indenização por danos morais, não caracterizados
Entes fictícios que são, as pessoas jurídicas não experimentam sofrimento íntimo,

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MANOEL RICARDO REBELLO PINHO, liberado nos autos em 22/08/2023 às 17:36 .
sentimento a que só as pessoas naturais estão sujeitas Reconhecimento de dano moral, no
que concerne a tais entes, reclamando a demonstração de que o episódio trouxe
comprometimento ao bom nome da pessoa jurídica Situação dos autos em que não existiu
alegação nem prova nesse sentido Cenário de sucumbência recíproca e equivalente
justificando a repartição igualitária de responsabilidades por tais verbas, compensados os
honorários Recurso do réu não conhecido no tópico em que aborda o dano moral, uma vez
que a sentença lhe foi favorável nesse tópico. Apelação conhecida ao apenas em parte e, na
parte conhecida, desprovida; também improvido o adesivo, com observação.” (19ª Câmara
de Direito Privado, Apelação 4007995-63.2013.8.26.0576, rel. Ricardo Pessoa de Mello
Belli, j. 29/09/2014, o destaque não consta do original).

3.7. Comprovado o ato ilícito e defeito de serviço,


consistente no descumprimento do dever de resguardar a segurança da conta corrente da
parte autora contra a ação de fraudadores, falha de serviço esta que permitiu o acesso
destes à conta da parte autora correntista e, posteriormente, a realização de operações
indevidas descritas na inicial, resultando na retirada de valores mediante transações via
PIX da conta bancária da parte autora, e não configurada nenhuma excludente de
responsabilidade, de rigor, o reconhecimento da responsabilidade e a condenação do banco
réu na obrigação de indenizar a autora pelos danos decorrentes do ilícito em questão.

3.8. Mantém-se a r. sentença na parte em que condenou a


parte ré ao pagamento de indenização por dano moral fixada na quantia de R$2.000,00,
com incidência de correção monetária a partir da data do arbitramento.

3.8.1. O descumprimento do dever de resguardar a segurança


da conta corrente da parte autora cliente contra a ação de fraudadores, bem como a
necessidade dela de ingressar em Juízo para obter a solução de defeito de serviço da parte
ré fornecedora, por descumprimento do dever de segurança patrimonial de seus clientes,
constitui fato suficiente para causar desequilíbrio do bem-estar e sofrimento psicológico
relevante, e não mero aborrecimento, porque expõe a parte consumidora a situação de
sentimentos de humilhação, desvalia e impotência.

“Está assentado na jurisprudência da Corte que "não há que


se falar em prova do dano moral, mas, sim, na prova do fato que gerou a dor, o sofrimento,
sentimentos íntimos que o ensejam. Provado assim o fato, impõe-se a condenação, sob
pena de violação ao art. 334 do Código de Processo Civil” (STJ-3ª Turma, REsp
204786/SP, rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, v.u., j. 07.12.1999, DJ 12.01.1999,
JBCC vol. 188 p. 249, conforme site do Eg. STJ).

Apelação Cível nº 1078218-53.2022.8.26.0002 - São Paulo - VOTO Nº 2 0/22


fls. 193

TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

3.8.2. Quanto à quantificação da indenização por danos

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1078218-53.2022.8.26.0002 e código 221ECDAD.
morais, adota-se a seguinte orientação: (a) o arbitramento de indenização por dano moral
reconhecido deve considerar a condição pessoal e econômica do autor, a potencialidade do
patrimônio do réu, bem como as finalidades sancionadora e reparadora da indenização,
mostrando-se justa e equilibrada a compensação pelo dano experimentado, sem implicar
em enriquecimento sem causa do lesado; e (b) “a fixação do valor da indenização, devida a
título de danos morais, não fica adstrita aos critérios do Código Brasileiro de
Telecomunicações” (STJ-4ª Turma, AgRg no Ag 627816/MG, rel. Min. Fernando
Gonçalves, v.u., j. 03/02/2005, DJ 07.03.2005 p. 276, , conforme site do Eg. STJ).

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MANOEL RICARDO REBELLO PINHO, liberado nos autos em 22/08/2023 às 17:36 .
3.8.3. “Quanto ao emprego do salário mínimo como critério
de indexação do valor da indenização, o recurso merece parcial acolhida. Reproduzo, por
esclarecedora, a ementa do RE 409.427- AgR, Relator Ministro Carlos Velloso:
"CONSTITUCIONAL. INDENIZAÇÃO: SALÁRIO-MÍNIMO. C.F., art. 7º, IV. I. -
Indenização vinculada ao salário-mínimo: impossibilidade. C.F., art. 7º, IV. O que a
Constituição veda -- art. 7º, IV -- é a fixação do quantum da indenização em múltiplo de
salários-mínimos. STF, RE 225.488/PR, Moreira Alves; ADI 1.425. A indenização pode
ser fixada, entretanto, em salários-mínimos, observado o valor deste na data do
julgamento. A partir daí, esse quantum será corrigido por índice oficial. II. - Provimento
parcial do agravo: RE conhecido e provido, em parte." Cito, no mesmo sentido, os REs
270.161, Relatora Ministra Ellen Gracie; 225.488, Relator Ministro Moreira Alves; e
338.760 Relator Ministro Sepúlveda Pertence. Assim, frente ao art. 557, § 1º-A, do CPC,
dou parcial provimento ao recurso apenas para desvincular o quantum indenizatório do
valor do salário mínimo, devendo ser considerado o vigente na data da condenação, a ser
atualizado monetariamente pelos índices legais. Publique-se. Brasília, 26 de outubro de
2004. Ministro CARLOS AYRES BRITTO Relator” (RE 430411 / RJ, rel. Min. Carlos
Ayres Britto, DJ 30/11/2004 PP-00110, conforme site do Eg. STF).

“A correção monetária do valor da indenização do dano


moral incide desde a data do arbitramento” (Súmula 362/STJ).

3.8.4. Considerando-se os parâmetros supra indicados, e


buscando assegurar à parte lesada a justa reparação, sem incorrer em enriquecimento
ilícito, mostra-se, na espécie, razoável a fixação da indenização de danos morais na quantia
de R$2.000,00, com incidência de correção monetária a partir da data do arbitramento.

Observa-se que, na data da prolação da r. sentença,


23.02.2023, o valor do salário-mínimo era de R$1.302,00, daí por que a indenização
arbitrada corresponde aproximadamente a 1,5 salários-mínimos.

3.9. Reforma-se a r. sentença, para reduzir o valor da


indenização por danos materiais para a quantia de R$4.573,00, com incidência de correção
monetária a partir das datas em que efetivadas as transações impugnadas.

3.9.1. A retirada indevida de valores na conta corrente da


parte autora, em razão de defeito de serviço da parte ré banco, é fato gerador de dano
material, porquanto implicou diminuição do patrimônio do correntista.

Nesse sentido, a orientação de Sergio Cavalieri Filho: “O

Apelação Cível nº 1078218-53.2022.8.26.0002 - São Paulo - VOTO Nº 2 1/22


fls. 194

TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

dano emergente, também chamado positivo este sim, importa efetiva e imediata

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1078218-53.2022.8.26.0002 e código 221ECDAD.
diminuição no patrimônio da vítima em razão do ato ilícito. O Código Civil ao disciplinar
a matéria no seu art. 402 (reprodução fiel do art. 1.059 do Código de 1916, caracteriza o
dano emergente como sendo aquilo que a vítima efetivamente perdeu. A mensuração do
dano emergente, como se vê, não enseja maiores dificuldades. Via de regra importará no
desfalque sofrido pela vítima; será a diferença do valor do bem jurídico entre aquele que
ele tinha antes e depois do ilícito.” (“Programa de Responsabilidade Civil”, 9ª ed., Atlas,
2010, SP, p. 74, item 18.1.). Observa-se que a r. sentença permaneceu irrecorrida na parte
que fixou o valor da indenização por danos materiais, visto que o arbitramento não foi
impugnado especificamente, daí por que tal questão não foi devolvida ao conhecimento

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MANOEL RICARDO REBELLO PINHO, liberado nos autos em 22/08/2023 às 17:36 .
deste Eg. Tribunal de Justiça (CPC, arts. 1.008, 1.010, II e 1.013, do CPC/2015).

3.9.2. Na espécie, os descontos indevidos efetuados na conta


corrente da parte autora e não estornados ou rejeitados, referentes às operações indevidas
objeto da ação, demonstrado pela prova na prova documental de 18/20 e 21, totalizam o
montante de R$4.573,00 (=R$500,00 + R$3.680,00 + R$700,00 - R$307,00)

4. O provimento, em parte, do recurso não justifica a


modificação da r. sentença, no que concerne à condenação da parte ré ao pagamento das
custas e despesas processuais, nos termos do art. 82, §2º, do CPC, e em honorários
advocatícios fixados em 20% do valor da condenação, com base no art. 85, § 2º, do CPC,
ante a reforma da r. sentença, apenas-e-tão-somente, para reduzir a indenização por danos
materiais.

5. Em resumo, respeitado o entendimento do MM Juízo


sentenciante, o recurso deve ser provido, em parte, para, mantido, no mais, reformar a r.
sentença, para reduzir o valor da indenização por danos materiais para a quantia de
R$4.573,00, com incidência de correção monetária a partir das datas em que efetivadas as
transações impugnadas.

O presente julgamento não afronta as normas constitucionais


e infraconstitucionais invocadas pelas partes, visto que está em conformidade com a
orientação dos julgados supra especificados.

Ante o exposto e para os fins acima, dá-se provimento, em


parte, ao recurso.

Manoel Ricardo Rebello Pinho

Relator

Apelação Cível nº 1078218-53.2022.8.26.0002 - São Paulo - VOTO Nº 2 2/22

Você também pode gostar