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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2023.0000562479

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº


1010304-71.2022.8.26.0066, da Comarca de Barretos, em que é apelante/apelado
SALU MATHIAS DA SILVA, é apelado/apelante FUNDO DE INVESTIMENTO
EM DIREITOS CREDITORIOS MULTISEGMENTOS NPL IPANEMA VI - NAO
PADRONIZADO.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 13ª Câmara de Direito


Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão:Negaram
provimento aos recursos. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra
este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores FRANCISCO


GIAQUINTO (Presidente), NELSON JORGE JÚNIOR E SIMÕES DE ALMEIDA.

São Paulo, 6 de julho de 2023.

FRANCISCO GIAQUINTO
relator
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

VOTO Nº: 40786


APEL. Nº: 1010304-71.2022.8.26.0066
COMARCA: BARRETOS
APTE./APDO.: SALU MATHIAS DA SILVA (JUSTIÇA GRATUITA)
APDO./APTE.: FUNDO DE INVESTIMENTO EM DIREITOS CREDITÓRIOS
MULTISEGMENTOS NPL IPANEMA VI NÃO PADRONIZADO

*Ação declaratória de inexigibilidade de débito e


indenização por danos morais - Inscrição do nome do autor
na plataforma “Serasa Limpa Nome”, por dívida prescrita
Sentença de parcial procedência reconhecendo a
inexigibilidade do débito, rejeitando os danos morais.

Cobrança extrajudicial de débito prescrito Prescrição


consumada (art. 206, §5º, I, do CPC) Inexigibilidade do
débito, por prescrito Impossibilidade de cobrança judicial
ou extrajudicial de dívida prescrita Observância do
princípio da razoabilidade e da segurança jurídica
Enunciado 11 da Seção de Direito Privado do TJSP
Recurso do réu negado.

Danos morais - Descabimento - Ausência de prova de


negativação do nome do autor em cadastros restritivos
Plataforma “Serasa Limpa Nome”, que se trata de mera
tentativa de negociação da dívida em atraso, sem natureza
de cadastro restritivo de crédito Danos morais não
configurados - Recurso do autor negado.

Recursos negados.*

Trata-se de ação declaratória de inexigibilidade de débito c.c.


indenização por dano moral proposta por SALU MATHIAS DA SILVA em face de
FUNDO DE INVESTIMENTO EM DIREITOS CREDITÓRIOS
MULTISEGMENTOS NPL IPANEMA VI NÃO PADRONIZADO, julgada
parcialmente procedente pela r. sentença de fls. 178/183 para declarar a inexigibilidade de
débito alcançado pela prescrição e condenar a parte requerida na obrigação de abster-se
de realizar cobranças do débito discutido nos autos, assim resolvendo o mérito, na forma
do art. 487, inciso I, do Código de Processo Civil. Derrotada em maior proporção, condeno
a parte requerida no pagamento de 70% das custas e despesas processuais, além de
honorários advocatícios ora arbitrados por equidade em R$ 1.200,00, na forma do art. 85,
§ 8º, do CPC. Também sucumbente, arcará a parte autora com o pagamento de 30% das
custas e despesas processuais, bem como honorários advocatícios que fixo, com fundamento

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no art. 85, § 2º, CPC em 15% sobre o valor da causa, ônus suspenso em razão da concessão
da gratuidade de justiça.

Apela o autor (fls. 186/204), sustentando que a inscrição de seu


nome na plataforma “Serasa Limpa Nome” ou banco de dados similar constitui meio
coercitivo para pagamento de dívida manifestamente inexigível por prescrita, causando
redução do score e dificultando a obtenção de crédito. Tal situação ultrapassa o mero
aborrecimento, causando danos morais in re ipsa, devendo a indenização ser fixada em
R$10.000,00. Pugna pelo provimento do recurso.

Apela o réu (fls. 229/238), alegando não comprovou o autor


inscrição indevida ou apontamento ativo vinculado ao seu nome, trazendo tão somente tela
com indicação de dívida atrasada em site de acordo. A prescrição do débito não atinge o
direito subjetivo em si mesmo, mas tão somente o direito de cobrança judicial do débito
inadimplido, permanecendo viável a cobrança administrativa em sistema eletrônico não
acessível a terceiros. O débito tem origem em contrato celebrado com a Via Varejo, objeto
de cessão ao requerido. Pugna pelo provimento do recurso.

Recursos processados, respondido apenas o apelo do réu (fls.


244/255).

É o relatório.

VOTO.

Trata-se de ação declaratória de inexigibilidade de débito e


indenização por danos morais, por cobrança de dívida prescrita.

A ação foi julgada procedente em parte pela r. sentença apelada


assim fundamentada:

“Trata-se de demanda na qual a parte autora pleiteia a declaração


de inexigibilidade de débito, a determinação de cessação das cobranças pela via
extrajudicial em razão da prescrição, bem como o recebimento de compensação por danos
morais experimentados pelas cobranças abusivas e pela exposição da dívida na
plataforma digital criada por órgão de proteção de crédito, por acarretar injusta
diminuição de sua pontuação e consequente dificuldade na obtenção de crédito. Pela
análise dos documentos anexados, o débito corresponde à dívida comvencimento em
19/02/2014. Como as grandes companhias que fornecem o crédito ou prestam serviços a

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consumidores em geral possuem diversas obrigações de natureza formal, dentre elas a de


manter registros das operações que realizam, é razoável entender que os contratos
firmados pelas partes se deram de forma escrita. Não há dúvida, portanto, da ocorrência
da prescrição, pois o prazo prescricional a ser considerado para débito tal é de cinco anos,
conforme dispõe o art. 206, § 5º, inciso I, do Código Civil, lapso temporal já transcorrido
sem a comprovação da existência de qualquer causa interruptiva da prescrição.
Consumada a prescrição, malgrado não exclua a dívida natural, veda-se sua cobrança,
até mesmo a extrajudicial. Nesse sentido, enunciados nº 11, aprovado pela colenda Turma
Especial da Subseção II de Direito Privado, em sessão realizada aos 22 de setembro de
2022, in verbis: Enunciado nº 11 A cobrança extrajudicial de dívida prescrita é ilícita. O
seu registro na plataforma “Serasa Limpa Nome” ou similares de mesma natureza, por si
só, não caracteriza dano moral, exceto provada divulgação a terceiros ou alteração no
sistema de pontuação de créditos: score. O enunciado supramencionado materializa
entendimento amplamente majoritário no âmbito do egrégio Tribunal de Justiça, que já
era adotado pelas 13ª, 14ª, 15ª, 16ª, 17ª, 18ª, 19ª, 20ª, 21ª, 22ª, 23ª, 24ª, 25ª, 26ª, 28ª, 30ª, 33ª,
34ª, 35ª, 36ª Câmaras de Direito Privado. Assim sendo, tomando por base o dever do
Poder Judiciário de zelar pela uniformização, estabilidade, integridade e coerência dos
precedentes jurisdicionais, conforme reza o art. 926, caput do Código de Processo Civil de
2015, em revisão ao entendimento anterior, curvome à jurisprudência do egrégio
Tribunal de Justiça no sentido de que o reconhecimento da prescrição inibe a pretensão
do credor de exigir o débito judicialmente ou extrajudicialmente. Logo, procede a
pretensão da parte autora de ser declarado inexigível débito prescrito em virtude do
implemento do prazo prescricional, devendo serem cessadas as cobranças extrajudiciais.
O pedido de compensação por danos morais, por outro lado, deve ser julgado
improcedente. Gravitando a controvérsia na configuração de danos morais, dispõe o
caput do art. 42 do CDC: “Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será
exposto a ridículo, nem será submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça”.
(...) Nada obstante, ainda que se considere tenha a parte autora sofrido transtornos comas
ligações ou recebimento de mensagens de texto, é necessário ressaltar que mesmo sendo
caso de mera cobrança indevida, esta por si só não é suficiente a gerar abalos aos direitos
da personalidade, ou seja, não tem o condão de ingressar no campo da angústia,
descontentamento e sofrimento a ponto de afetar a sua tranquilidade e paz de espírito, já
que inexiste qualquer inscrição em cadastro de proteção ao crédito que pudesse dar
publicidade à equivocada inadimplência. Quanto ao pedido de indenização por danos
morais, em consulta ao site da Serasa, é possível constatar pelas informações lá existentes
que a plataforma digital “Serasa Limpa Nome” ou similares da mesma natureza
constituem-se sistemas que informam ao consumidor previamente cadastrado e mediante
uso de senha pessoal, a existência de dívidas, para eventual e futura negociação, sem
implicar restrição desabonadora em órgãos de proteção ao crédito, sendo que as
informações contidas no sistema ficam restritas ao consumidor e a empresa credora,
obstando evento caracterizador de dano moral. A respeito da ausência de dano moral em
relação às informações contidas no serviço denominado “Serasa Limpa Nome” ou
similares da mesma natureza, já se manifestou diversas vezes o egrégio Tribunal de
Justiça: (...) O fato de se tratar de dívida prescrita também não constitui hipótese de
configuração de danos morais, justamente pelo fato de não ser o serviço “Serasa Limpa
Nome” ou similares da mesma natureza rol de restrição ao crédito. (...) Ademais, o
conjunto probatório coligido não é capaz de formar na convicção do juiz uma conclusão
segura de que a disponibilização do débito na plataforma impactou negativamente no
sistema de pontuação, ou seja, resultou na redução do score da parte autora, ônus que lhe

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cabia com base na regra de distribuição prevista no art. 373, inciso I, CPC. Não
comprovado, pois, que a parte autora foi exposta à situação vexatória e que a conduta da
parte requerida nada mais gerou do que simples transtornos, inexistente ofensa anormal
à personalidade capaz de gerar indenização por danos morais.”

Rejeita-se a preliminar de não conhecimento do recurso do réu,


arguida em contrarrazões pelo autor (fls. 246/249), por preencher o recurso os requisitos
necessários para seu conhecimento, previstos no art. 1.010 do CPC, notadamente a
exposição do fato e do direito, bem como as razões pelas quais se objetiva nova decisão,
devolvendo ao Tribunal a matéria.

Não se questiona a regularidade da dívida de R R$828,48, relativa


ao contrato nº 21103300092741, vencida em 19/02/2014, com a Via Varejo S/A, cedida ao
Fundo requerido (fls.27/29).

Cinge-se a controvérsia sobre a possibilidade de declarar inexigível


débito prescrito, com cessação das cobranças, ainda que extrajudiciais.

Tratando-se de dívida líquida constante de instrumento particular,


caso de aplicar-se a prescrição quinquenal, prevista no art. 206, §5º, I, do Código Civil.

Sendo o vencimento do débito em 19/02/2014 (fls. 27/29),


consumou-se a prescrição da dívida em 2019, por transcorrido prazo de mais de cinco anos.

Logo, incontroversa a prescrição do débito, não impugnada pelo


requerido apelado, que também não produziu nenhuma prova a demonstrar causa
interruptiva ou suspensiva do prazo prescricional de 5 (cinco) anos (art. 206, §5º, I, do CC).

Reconhecendo-se a prescrição do débito, caso de declarar-se a


consequente a inexigibilidade.

A consumação da prescrição realmente não atinge o direito


subjetivo do credor em si ou extingue a obrigação natural.

Entretanto, a consumação do prazo prescricional fulmina a


pretensão do credor ao cumprimento da obrigação, inviabilizando a cobrança da dívida não
apenas pela via judicial com a extrajudicial.

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Deste modo, consumando-se a prescrição da dívida não é possível a


requerida cobrá-la seja pela via judicial ou extrajudicial, até mesmo como imperativo lógico
do princípio da razoabilidade e como corolário do princípio da segurança jurídica.

O tema se encontra sedimentado pelo enunciado 11 da seção de


Direito Privado do TJSP: “A cobrança extrajudicial de dívida prescrita é ilícita. O seu
registro na plataforma “Serasa Limpa Nome” ou similares de mesma natureza, por si só,
não caracteriza dano moral, exceto prova de divulgação a terceiros ou alteração de
pontuação de créditos: score.”

Nesse sentido precedentes do TJSP, inclusive desta Câmara:

PRESCRIÇÃO - Ação declaratória de inexigibilidade


Contrato de cartão de crédito - Cinco anos contados do dia da
data da última parcela em aberto Inteligência do artigo 206, §
5º, inc. I, do Código Civil Reconhecimento da prescrição: O
lapso prescricional para a pretensão de cobrança pretendendo o
ressarcimento de quantia representada por contrato de conta
cartão de crédito, tem como termo inicial a data da última
parcela em aberto, e transcorrido o prazo prescricional de cinco
anos, há que se reconhecer a perda da pretensão, inclusive para
cobrança na esfera extrajudicial. RECURSO PROVIDO
(Apelação Cível 1003051-83.2020.8.26.0007; Relator (a): Nelson
Jorge Júnior; Órgão Julgador: 13ª Câmara de Direito Privado; Foro
Regional VII - Itaquera - 4ª Vara Cível; Data do Julgamento:
07/01/2021);

Ação declaratória de inexigibilidade de débitos. Dívida


prescrita. Incontrovérsia. Insurgência do réu. Cobrança
extrajudicial. Impossibilidade. Inteligência do inc. I, do §5°, do
art. 206 do Código Civil. Observância do princípio da
razoabilidade e da segurança jurídica. Precedentes desta C.
Câmara. Sentença mantida. Recurso desprovido, com
majoração da verba honorária. (Apelação Cível 1034636-
95.2020.8.26.0576; Relator (a): Cauduro Padin; Órgão Julgador: 13ª
Câmara de Direito Privado; Foro de São José do Rio Preto - 1ª Vara
Cível; Data do Julgamento: 04/03/2021);

*PRESCRIÇÃO Dívidas vencidas em 27/06/2005 e 17/07/2005


e cedidas ao corréu pelo credor original Incidência do prazo
prescricional quinquenal previsto no art. 206, § 5º, do Código

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Civil Pretensão de cobrança dos valores inadimplidos


prescrita Impossibilidade de sua cobrança judicial ou
extrajudicial Precedentes - Dívidas que somente poderiam ser
quitadas voluntariamente pelo demandante, por se tratar de
obrigação natural, e sem direito à repetição, nos moldes do art.
882 do Código Civil. SUCUMBÊNCIA - Honorários de
advogado Condenação integral do corréu, em razão da
sucumbência maior experimentada - Verba honorária fixada
sobre o valor atualizado da causa, de diminuta complexidade,
que se mostra excessivo Redução Arbitramento por critério
equitativo, nos moldes do art. 85, §§ 2º e 8º, do CPC - Valor
fixado para tornar-se compatível com as peculiaridades do caso
e remunerar condignamente o profissional. SENTENÇA
PARCIALMENTE REFORMADA - RECURSO PROVIDO EM
PARTE.* (Apelação Cível 1093851-72.2020.8.26.0100; Relator
(a): Heraldo de Oliveira; Órgão Julgador: 13ª Câmara de Direito
Privado; Foro Central Cível - 28ª Vara Cível; Data do Julgamento:
05/03/2021);

INEXIGIBILIDADE DE DÍVIDA Dívida prescrita


Impossibilidade de realizar cobrança Inexigibilidade
Obrigação natural Valor que somente poderia ser pago
voluntariamente Impossibilidade de serem adotadas medidas
extrajudiciais: Não é possível exigir dívida prescrita de quem
já foi devedor quando alcançado o lapso prescricional, de modo
que, se revestindo tal circunstância como obrigação natural,
somente poderia ser paga voluntariamente se o fizesse a
devedora. DANOS MORAIS - Declaratória de inexigibilidade
c.c. indenização por danos morais- Ausência de prova de
inscrição de negativação- Dívida inscrita como "conta em
atraso" na plataforma "Serasa Limpa Nome"- Ausência de
publicidade- Danos morais- Inocorrência: -Em se tratando de
débito destituído de publicidade, o qual somente por ser
acessado pelo próprio titular, e, à míngua de elementos
concretos que atestem o dano moral, improcede o pleito
indenizatório. RECURSO DA AUTORA NÃO PROVIDO.
RECURSO DA RÉ PROVIDO EM PARTE. (Apelação Cível
1010924-55.2020.8.26.0001; Relator (a): Nelson Jorge Júnior;
Órgão Julgador: 13ª Câmara de Direito Privado; Foro Regional I -
Santana - 6ª Vara Cível; Data do Julgamento: 29/10/2020);

APELAÇÃO Ação declaratória de inexigibilidade de débito


cumulada com pedido de antecipação de tutela Pretensão de
declaração de insubsistência da dívida em virtude da prescrição
Sentença de improcedência para declarar a possibilidade de
persecução extrajudicial do crédito, ante a impossibilidade de a

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prescrição atingir o direito subjetivo Dívidas prescritas que


não podem ser objeto de cobrança judicial ou extrajudicial
Embora a inscrição junto ao "Serasa Limpa Nome" não atinja a
esfera extrapatrimonial do devedor, não remanesce suporte
fático à sua subsistência junto à plataforma Inteligência do
art. 43, §§ 1º e 5º do CDC - Precedentes Sentença reformada
RECURSO PROVIDO. (Apelação Cível
1006807-09.2020.8.26.0005; Relator (a): Jonize Sacchi de Oliveira;
Órgão Julgador: 24ª Câmara de Direito Privado; Foro Regional V -
São Miguel Paulista - 1ª Vara Cível; Data do Julgamento:
31/03/2021);

AÇÃO DECLARATÓRIA DÉBITO - PRESCRIÇÃO


OCORRÊNCIA APLICAÇÃO DO ARTIGO 206, § 5º, I, DO
CÓDIGO CIVIL COBRANÇA DA DÍVIDA EM JUÍZO OU
FORA DELE VEDADA INSCRIÇÃO DO NOME EM
PLATAFORMA DE RENEGOCIAÇÃO DE DÉBITOS -
"SERASA LIMPA NOME" - DANO MORAL NÃO
CONFIGURADO - MERO ABORRECIMENTO
SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA - RECURSO EM PARTE
PROVIDO. (Apelação Cível 1010732-13.2020.8.26.0005; Relator
(a): Matheus Fontes; Órgão Julgador: 22ª Câmara de Direito
Privado; Foro Regional V - São Miguel Paulista - 1ª Vara Cível;
Data do Julgamento: 30/03/2021).

Embora ilícita a cobrança judicial ou extrajudicial de dívida


prescrita, ela persiste como obrigação natural, podendo ser voluntariamente quitada pelo
devedor caso queira a extinção do débito, sem direito à repetição (art. 882 do CC).

Nesse sentido a jurisprudência do TJSP:

INEXIGIBILIDADE DE DÍVIDA Dívida prescrita


Impossibilidade de realizar a cobrança Inexigibilidade
Obrigação natural Valor que somente poderia ser pago
voluntariamente Impossibilidade de serem adotadas medidas
extrajudiciais Não é possível exigir dívida prescrita de que já foi
devedor quando alcançado o lapso prescricional, de modo que,
se revestindo tal circunstância como obrigação natural, somente
poderia ser paga voluntariamente se o fizesse o devedor
RECURSO NÃO CONHECIDO EM PARTE E, NA PARTE
CONHECIDA, NÃO PROVIDO (Apel.
1007013-82.2017.8.26.0084, Rel. Des. NELSON JORGE JÚNIOR,
j. 05/04/2019);

Apelação Cível nº 1010304-71.2022.8.26.0066 - 40786 - J 8


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RECURSO Apelação "Ação declaratória de inexigibilidade de


débito" Insurgência contra a r. sentença que julgou
improcedente a demanda Admissibilidade parcial Aplicação
das regras do CDC Hipótese em que restou incontroversa a
prescrição do débito relativo a renegociação de dívida de cartão
de crédito, cadastrada sob o número 30579 - 000000187561055
Prescrição do débito que extingue o direito à pretensão de
cobrar o débito Inteligência do artigo 189 do CC Permanência
do direito subjetivo em si, que não impede a declaração de
inexigibilidade do débito, mas tão somente a declaração de sua
inexistência Impossibilidade de se efetuar a cobrança judicial
ou extrajudicial do débito prescrito Multa prevista no artigo
537 do CPC, que pode ser imposta em fase de cumprimento de
sentença, caso se evidencia eventual resistência do banco
apelado Sentença parcialmente reformada Ação julgada
parcialmente procedente Banco apelado condenado ao
pagamento das verbas de sucumbência Recurso parcialmente
provido. (Apelação 1000064-38.2018.8.26.0462; Relator (a): Roque
Antonio Mesquita de Oliveira; Órgão Julgador: 18ª Câmara de
Direito Privado; Foro de Poá - 1ª Vara Cível; Data do Julgamento:
12/12/2018).

Portanto, abusiva a cobrança extrajudicial de dívida prescrita,


negando-se provimento ao recurso do réu

Não se evidencia danos morais na espécie.

A prova documental produzida é no sentido que o nome do autor foi


inserido na plataforma “Serasa Limpa Nome”, que se trata de mera plataforma para tentativa
de negociação das dívidas em atraso, não se equiparando a cadastro de inadimplentes (fls.
27/29).

Desse modo, verifica-se que a situação retratada na inicial, embora


causa de desconforto e dissabor, não saiu da esfera particular das partes, não demonstrada a
efetiva negativação do autor em cadastros de inadimplentes em relação ao débito prescrito,
diminuição do score da autora ou qualquer outro procedimento que tornasse pública a
cobrança, de forma a denegrir a honra ou imagem do requerente.

Ademais não há prova da utilização pelo réu de meios vexatórios ou


abusivos de cobrança do débito prescrito tampouco redução do score do apelante em razão
da disponibilização do débito no serviço “Serasa Limpa Nome”.

Apelação Cível nº 1010304-71.2022.8.26.0066 - 40786 - J 9


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Não se pode erigir a dano moral mero dissabor ou aborrecimento,


com a cobrança administrativa de débito declarado inexigível, de inserção do nome do autor
na plataforma “Serasa Limpa Nome”, fato sem maiores consequências, especialmente por
inexistir no caso comprovação da efetiva negativação do nome do autor ou prova de
emprego de meio vexatório da cobrança.

Nesse sentido precedentes inclusive desta 13ª Câmara de Direito


Privado:

Ação de nulidade da dívida c.c. ação declaratória de prescrição


c.c. reparação por danos morais". Sentença de improcedência.
Dívidas prescritas. Incontrovérsia. Cobrança extrajudicial.
Impossibilidade. Inteligência do inc. I, do §5°, do art. 206 do
Código Civil. Observância do princípio da razoabilidade e da
segurança jurídica. Precedentes desta C. Câmara. Danos
morais. Manutenção indevida do nome do autor no "Serasa
Limpa Nome" após transcurso do prazo prescricional da dívida.
Plataforma que apenas oportuniza a celebração de acordo entre
credores e devedores, podendo os débitos ali constantes estarem
negativados ou não. Ausência de caráter desabonatório. O prazo
máximo de permanência do débito perante os cadastros de
proteção ao crédito ou bancos de dados de inadimplentes é de
cinco anos, contados do dia seguinte ao vencimento da dívida, se
antes não houver ocorrido a prescrição da ação ordinária de
cobrança da mesma. Exegese do art. 43, §§ 1º e 5º, do CDC.
Dever de retirada do registro. Obrigação juridicamente
inexigível. Apontamento restritivo não efetuado. Dano moral
não configurado. Ausência de fatos que pudessem gerar o dever
indenizatório. Situação que não produziu humilhação ou
sofrimento na esfera da dignidade do autor. Circunstância que
caracterizou mero aborrecimento. Sentença reformada.
Procedência parcial. Recurso do autor provido em parte,
fixando verba honorária. (TJSP; Apelação Cível
1006780-63.2020.8.26.0510; Relator (a): Cauduro Padin; Órgão
Julgador: 13ª Câmara de Direito Privado; Foro de Rio Claro - 4ª
Vara Cível; Data do Julgamento: 21/06/2021; Data de Registro:
21/06/2021)

APELAÇÃO - ILEGITIMIDADE PASSIVA Pretensão do


autor de anular a r.sentença que julgou extinto o processo, sem
resolução do mérito, reconhecendo a ilegitimidade passiva dos
bancos réus Cabimento Hipótese em que os réus possuem
legitimidade para figurar no polo passivo da relação processual,

Apelação Cível nº 1010304-71.2022.8.26.0066 - 40786 - J 10


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pois a eles é atribuída a prática de ato ilícito, consistente na


cobrança de dívida eventualmente cedida e oriunda de relação
jurídica não reconhecida Recurso do autor provido para
anular a r.sentença que havia reconhecido a ilegitimidade dos
bancos réus para figurar do polo passivo da demanda
Possibilidade do julgamento com base no artigo 1.013, §4º, do
Código de Processo Civil/15 RECURSO PROVIDO, PARA
RECONHECER A LEGITIMIDADE DOS RÉUS PARA
FIGURAR NO POLO PASSIVO DA DEMANDA, com o
prosseguimento do julgamento com base na autorização contida
no art.1.013, §3º, do CPC. DÉBITO PRESCRITO
INEXIGIBILIDADE DE DÍVIDA PRESCRITA "SERASA
LIMPA NOME" E DANO MORAL - Prática de atos materiais
extrajudiciais de cobrança que é condicionada a uma efetiva
possibilidade de satisfação do crédito prescrito Recusa
definitiva do devedor, ainda que tácita, que deve ser acatada
pelo credor Impossibilidade de se eternizar o débito
Ilicitude configurada Impossibilidade de realizar cobranças
judiciais ou extrajudiciais de dívidas prescritas Precedentes
do TJSP Débito inexigível PEDIDO JULGADO
PROCEDENTE. APELAÇÃO DÉBITO PRESCRITO
"SERASA LIMPA NOME" DANO MORAL - FALTA DE
PUBLICIDADE DA INFORMAÇÃO AUSÊNCIA DE
DEMONSTRAÇÃO DE NEGATIVA DE CRÉDITO - DANO
MORAL NÃO CONFIGURADO Hipótese em que o serviço
denominado "Serasa Limpa Nome" não pode ser equiparado a
cadastro de inadimplentes Ausência de publicidade das
informações Ausência de dano moral "in re ipsa" nessa
situação Mera cobrança indevida que não acarreta
automaticamente dano moral, ausentes abusividade, ameaça,
exposição ao ridículo e constrangimento - Ausência de
demonstração da efetiva negativa de crédito PEDIDO
JULGADO IMPROCEDENTE. (TJSP; Apelação Cível
1006895-82.2021.8.26.0564; Relator (a): Ana de Lourdes Coutinho
Silva da Fonseca; Órgão Julgador: 13ª Câmara de Direito Privado;
Foro de São Bernardo do Campo - 4ª Vara Cível; Data do
Julgamento: 26/08/2021; Data de Registro: 26/08/2021)

*INEXISTÊNCIA DE DÉBITO OBRIGAÇÃO DE FAZER -


DANOS MORAIS Contrato não reconhecido Apontamento
questionado Parcial Procedência Inconformismo
Anotação de débito inserido no portal "Serasa Limpa Nome'
Dívida prescrita Não demonstrado que teve seu score
reduzido Acesso ao site apenas por meio de cadastro de login e
senha Inexistência de publicidade Danos morais não
configurados, por inexistir prova da negativação Mero
dissabor Sentença mantida Recurso não provido.* (TJSP;

Apelação Cível nº 1010304-71.2022.8.26.0066 - 40786 - J 11


PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Apelação Cível 1000113-04.2021.8.26.0356; Relator (a): Heraldo de


Oliveira; Órgão Julgador: 13ª Câmara de Direito Privado; Foro de
Mirandópolis - 1ª Vara; Data do Julgamento: 05/08/2021; Data de
Registro: 05/08/2021)

APELAÇÃO DÍVIDA INEXÍGIVEL "SERASA LIMPA


NOME" FALTA DE PUBLICIDADE DA INFORMAÇÃO
AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DE NEGATIVA DE
CRÉDITO - DANO MORAL NÃO CONFIGURADO
Pretensão da autora de reforma da r.sentença, que julgou
improcedente pedido de indenização por dano moral
Descabimento Hipótese em que o serviço denominado "Serasa
Limpa Nome" não pode ser equiparado a cadastro de
inadimplentes Ausência de publicidade das informações
Não configuração de dano moral "in re ipsa" nessa situação
Ausência de demonstração de impacto no score de crédito da
consumidora e da efetiva negativa de crédito que impede o
reconhecimento do dano moral - RECURSO DESPROVIDO.
(TJSP; Apelação Cível 1002726-07.2020.8.26.0655; Relator (a):
Ana de Lourdes Coutinho Silva da Fonseca; Órgão Julgador: 13ª
Câmara de Direito Privado; Foro de Várzea Paulista - 2ª Vara; Data
do Julgamento: 23/07/2021; Data de Registro: 23/07/2021)

INEXIGIBILIDADE DE DÍVIDA Dívida prescrita


Impossibilidade de realizar cobrança Inexigibilidade
Obrigação natural Valor que somente poderia ser pago
voluntariamente Impossibilidade de serem adotadas medidas
extrajudiciais: Não é possível exigir dívida prescrita de quem
já foi devedor quando alcançado o lapso prescricional, de modo
que, se revestindo tal circunstância como obrigação natural,
somente poderia ser paga voluntariamente se o fizesse o
devedor. DANOS MORAIS Declaratória de inexigibilidade
c.c. indenização por danos morais- Ausência de prova de
inscrição de negativação Dívida inscrita em plataforma de
negociação "Serasa Limpa Nome" Ausência de publicidade
Danos morais Não ocorrência: Em se tratando de débito
destituído de publicidade, o qual somente consta da plataforma
de negociação "Serasa Limpa Nome", e, à míngua de elementos
concretos que atestem o dano moral, improcede o pleito
indenizatório. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.
(TJSP; Apelação Cível 1002320-63.2020.8.26.0306; Relator (a):
Nelson Jorge Júnior; Órgão Julgador: 13ª Câmara de Direito
Privado; Foro de José Bonifácio - 2ª Vara; Data do Julgamento:
10/06/2021; Data de Registro: 10/06/2021)

Apelação Cível nº 1010304-71.2022.8.26.0066 - 40786 - J 12


PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Nesse cenário, não há danos morais a indenizar, desprovendo-se o


recurso do autor, elevando-se os honorários advocatícios em mais R$500,00 (quinhentos
reais) em favor do autor e 5% do valor da causa em favor do réu (art. 85, §11, do CPC), com
suspensão da exigibilidade em relação ao autor, por beneficiário da justiça gratuita.

FRANCISCO GIAQUINTO
RELATOR

Apelação Cível nº 1010304-71.2022.8.26.0066 - 40786 - J 13

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