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AGRAVO DE INSTRUMENTO N° 0622222-07.2019.8.06.

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Relator: Desembargador MARIA GLADYS LIMA VIEIRA
4ª Câmara De Direito Privado
Agravante: BANCO DO BRASIL S/A
Agravadas: ARAÚJO E BRILHANTE INDÚSTRIA DE ROUPAS EIRELI E
OUTRAS – todas em recuperação judicial

Memorial da ARAÚJO E BRILHANTE INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE


ROUPAS EIRELLI E OUTRAS a Exma. Desembargadora MARIA GLADYS
LIMA VIEIRA

1) DA AÇÃO DE ORIGEM E DA INTERPOSIÇÃO DO AGRAVO DE


INSTRUMENTO:

Em face da autoliquidação procedida pelo banco credor, a


recuperanda ajuizou impugnação de crédito requestando pela devolução da quantia de
R$ 525.151,15 (quinhentos e vinte e cinco mil, cento e cinquenta e um reais e quinze
centavos) – Processo nº 0045227-75.2017.8.06.0001.

Restou demonstrado que a liquidação antecipada de créditos


concursais praticada foi ilegal, implicando prejuízo às operações das Recuperandas,
caracteriza privilégio indevido frente aos demais credores e afronta o princípio do par
conditio creditorium.

Desta forma, requestou, liminarmente, pelo ressarcimento dos


valores autoliquidados pelo credor. No mérito, pugnou-se pela ratificação da liminar.

Avaliando a demanda, o magistrado constatou a concursalidade do


crédito havido em favor do banco credor, bem como a conduta indevida praticada de
autoliquidação, tendo deferido o pleito liminar nos seguintes termos:

Ante o exposto, defiro o pedido de tutela de urgência requerido


pela recuperandapara determinar que o Banco do Brasil S/A, em
5 (cinco) dias, devolva às recuperandas Araújo e Brilhante
Indústria e Comércio de Roupas Eireli e outras todos os
descontos realizados em suas contas bancárias após o
deferimento do processamento da recuperação judicial, em 17 de
março de 2017, sob pena de multa diária de R$ 20.000,00 (vinte
mil reais)

O Banco Agravante se insurge contra decisão proferida pelo Douto


Juízo da 1ª Vara de Recuperação de Empresas da comarca de Fortaleza/CE, sob o
pálio de que detém garantia fiduciária.

Alega que o contrato Nº 160.402.198, objeto dos descontos, trata-se


de uma cédula de crédito bancário, com garantia de cessão fiduciária de direitos
creditórios devidamente registrada no CRTD e em decorrência do mesmo não se
sujeitar aos efeitos da recuperação judicial e por estar inadimplido, efetuou os
descontos diretamente nas contas da Recuperanda, o foi feito de forma legal e prevista
no contrato, e, ainda, conforme determina o Art. 49, §3º da lei 11.101/2005.
Requesta que seja concedida liminar ao Agravo de Instrumento para
suspender a decisão de primeiro grau e, no mérito, anular a decisão que determinou a
devolução dos valores retidos e a imposição da multa.

Ao contrário das exposições trazidas pela parte adversa, é patente a


evidência da ilegalidade praticada pelo banco credor ao danificar o fluxo de caixa de
empresa em Recuperação Judicial através de conduta de autoliquidação da quantia de
R$ 525.151,15 (quinhentos e vinte e cinco mil, cento e cinquenta e um reais e quinze
centavos) por entender, sem qualquer crivo judicial, que seu crédito é extraconcursal.

Sucede que a cédula de crédito bancário n.º 160.402.198 não contém


individualização adequada da garantia fiduciária, impedindo sua identificação. Com
efeito, nas cláusulas dedicadas à pactuação da garantia (fls. 22 e 23), inexiste qualquer
descrição das duplicatas e/ou direitos creditórios supostamente cedidos pelo
instrumento contratual. Não há identificação do número desses títulos, nem dos seus
valores e sacados (devedores). Essa individualização também não se vislumbra em
qualquer outro documento apresentado pelo credor que possua vinculação objetiva
com o instrumento fiduciário epigrafado, como, por exemplo, os aditivos ao
instrumento fiduciário destacado.

[...]

Também é notório o perigo de dano representado pela ausência de


recurso financeiro dessa monta para a devedora. Com efeito, esse desfalque financeiro,
em pleno processo de reestruturação uma atividade empresarial, pode ser desastroso
para empreitada. A falta de recursos financeiros é ainda mais sentida em situações
como essa porque o ajuizamento do pedido de recuperação judicial costuma dificultar
seriamente o acesso do empresário em crise a crédito novo no sistema bancário, o que
torna ainda mais urgente a rápida liberação dos valores bloqueados. (Trechos da
decisão de fls. 301/308 da Impugnação de Crédito nº 0045227-75.2017.8.06.0001).

Desta feita, ante a clarividente ausência de qualquer comprovação do


preenchimento dos requisitos para a concessão da medida liminar, a uma porque, ante
a ausência de individualização da garantia, resta imperfeita a propriedade fiduciária,
conforme a vasta jurisprudência pátria, exemplo: (Agravo de Instrumento Nº
70070824883, Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Agravo de
Instrumento-Cv 1.0024.15.014584-5/001 - 125524-48.2015.8.13.0000 - Câmara
Câmaras Cíveis/12ª CÂMARA CÍVEL de Belo Horizonte, TJSP; Agravo de
Instrumento 2132921-30.2016.8.26.0000; Sexta Câmara Cível de Porto Alegre/RS -
DES. LUÍS AUGUSTO COELHO BRAGA, no Agravo de Instrumento nº
70053426524 (Nº CNJ: 0067277-72.2013.8.21.7000), Súmula 60 do TJSP), não
havendo, portanto, probabilidade do direito, a duas porque a credora deverá perceber
seus valores em consonância com o disposto no Plano de Recuperação Judicial, não
havendo qualquer perigo de dano.

A contrario senso, o dano e o risco ao resultado útil do processo


recuperacional em face da ilegal conduta praticada pelo banco credor é óbvia, pois no
atual status de empresa em recuperação judicial é manifesta a necessita de seu capital
que fora debitado de forma ilegal e abusiva para a condução da sua reestruturação.
Desta forma, requesta-se, pelo indeferimento da medida liminar
pretendida, de forma desarrazoada, pela parte Agravante.

Fortaleza/CE, 10 de maio de 2019.

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