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Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais

Poder Judiciário do Estado de Minas Gerais

O documento a seguir foi juntado aos autos do processo de número 5016678-63.2023.8.13.0518


em 08/01/2024 15:41:57 por PAULA TROYSE DE SOUZA
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- PAULA TROYSE DE SOUZA

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ID do documento: 10146369843
Nº 1.0000.23.341505-8/002
AGRAVO DE INSTRUMENTO-CV 18ª CÂMARA CÍVEL
Nº 1.0000.23.341505-8/002 POÇOS DE CALDAS
AGRAVANTE(S) BANCO PAN S/A
AGRAVADO(A)(S) WASHINGTON DE SOUZA

DECISÃO

Vistos.
Trata-se de Agravo de Instrumento interposto por BANCO PAN
S/A contra a decisão de ordem 35, proferida pelo MM Juiz da 3ª Vara
Cível da Comarca de Poços de Caldas, que, nos autos da pretensão de
repactuação de dívidas ajuizada por WASHINGTON DE SOUZA
LEITAO, deferiu a tutela provisória de urgência, nos seguintes termos:

“(...) Sendo assim, defiro a tutela, determino que os


descontos e cobranças sejam limitados a 30% dos
rendimentos líquidos da parte autora, na proporção
ideal de cada um, bem como que sejam suspensos
os encargos incidentes sobre as demais dívidas
apresentadas. (...)”

Em suas razões recursais, alega o recorrente que ao suspender


irrestritamente os descontos em folha, bem como aqueles incidentes
sobre a conta corrente do agravado, a decisão de origem desrespeitou
importantes preceitos legais, inclusive, a determinação de suspensão
de todos os processos que envolvam o tema 1.085 do STJ, pendente
de julgamento.
Discorre que deve ser reconhecida a nulidade da decisão
proferida para que seja suspensa toda e qualquer limitação
anteriormente deferida, bem como para que o feito de origem seja
suspenso até o julgamento final do tema 1.085 do STJ.
Aduz que o recorrido é militar da ativa, sujeitando-se as regras
interpostas pela Medida Provisória nº 2.215-10, de 30.08.2001, a qual
determina que os militares poderão ter descontados até 70% (setenta
por cento) de seus rendimentos.

Fl. 1/6
Nº 1.0000.23.341505-8/002
Argumenta que não houve extrapolação da margem consignável
estabelecida pela Medida Provisória supracitada.
Sustenta que o autor/agravado pleiteou a suspensão de todas as
cobranças e limitação dos descontos referentes aos empréstimos, sem,
sequer, demonstrar os valores que entende como necessários para a
preservação do mínimo existencial.
Pontua que não cabe concessão de tutela de urgência na
primeira fase do procedimento de repactuação, pois a Lei nº 14.181/21
privilegiou a via da autocomposição.
Aduz que os requisitos necessários para deferimento da tutela
antecipada não estão presentes, pois não há verossimilhança nas
alegações de desproporcionalidade das prestações contratuais, nem
mesmo quanto aos valores cobrados, assim como pelo fato do
recorrido não ter apresentado sequer um plano de pagamento para se
enquadrar na lei do superendividamento.
Expõe que o crédito responsavelmente concedido pela
instituição financeira recorrente, em momento anterior aos demais, se
atentou à disponibilização de margem consignável apurada pela
própria fonte pagadora do agravado, de modo que devem ser excluídos
da margem consignável os empréstimos mais recentes, mantendo-se a
ordem de antiguidade em relação aos descontos decorrentes de
contratações realizadas dentro da margem legal.
Discorre que a inscrição do nome do agravado junto aos órgãos
de proteção ao crédito na hipótese de inadimplência não é indevida e
trata-se de exercício legal de direito.
Com tais razões, requer a atribuição de efeito suspensivo ativo
ao recurso e o seu provimento ao final com a reforma da decisão
agravada.
Preparo regular (ordem 02).
É o relatório.
Passo a decidir.

Fl. 2/6
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Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do
recurso.

DO SOBRESTAMENTO DO FEITO
Razão não assiste ao recorrente ao pretender a suspensão do
feito por força do Tema 1.085 do Superior Tribunal de Justiça, referente
à “aplicabilidade ou não da limitação de 30% prevista na Lei n.
10.820/2003 (art. 1º, § 1º), para os contratos de empréstimos bancários
livremente pactuados, nos quais haja previsão de desconto em conta
corrente, ainda que usada para o recebimento de salário”,
Isso porque, em consulta ao precedente, verifico que já houve o
trânsito em julgado da questão submetida a julgamento, não havendo
que se falar na necessidade de suspensão, conforme pretende o
recorrente.

MÉRITO
Infere-se dos autos que o autor/agravado ajuizou pretensão de
repactuação de dívidas, pugnando, em sede tutela de urgência, que os
bancos réus fossem compelidos a limitar os descontos incidentes sobre
sua remuneração ao percentual de 30%.
Isso porque, segundo o recorrido, os abatimentos relativos aos
empréstimos consignados contratados comprometem mais de 59% de
sua renda líquida.
Deferida a tutela de urgência na origem, recorreu o
réu/agravante, BANCO PAN S/A, pretendendo o reexame da questão
por este Tribunal.
Este é o contexto da lide. Passo, pois, ao exame do pedido de
atribuição de efeito suspensivo.
Cumpre-se destacar que, em regra, os recursos são recebidos
apenas no efeito devolutivo, nos termos do que dispõe o art. 995 do
Código de Processo Civil (CPC).

Fl. 3/6
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Todavia, a título de exceção, o Relator poderá atribuir efeito
suspensivo ao agravo de instrumento ou deferir, em antecipação de
tutela, total ou parcialmente, a pretensão recursal, desde que a decisão
impugnada possa resultar, ao mesmo tempo, risco de dano grave, de
difícil ou impossível reparação e ficar demonstrada a probabilidade de
provimento do recurso, nos termos do art. 1.019, inciso I c/c art. 995,
parágrafo único, ambos do CPC.
Compulsando os autos, e nos estritos limites de cognição
sumária, tenho que não restou demonstrada a probabilidade do direito
vindicado pelo autor/agravado, pois as provas dos autos não
evidenciam a ocorrência de descontos acima da margem consignável
reservada aos empréstimos consignados.
No presente caso, o agravado demonstrou às ordens 10/13 que
é servidor público ativo, lotado no cargo de 2º Sargento do Corpo de
Bombeiro Militar do Estado de Minas Gerais, percebendo,
mensalmente, a quantia líquida de R$9.273,08 (nove mil, duzentos e
setenta e três reais e oito centavos) a título de proventos, excluídas as
contribuições previdenciárias e de imposto de renda.
Desse montante, incidem descontos totais de R$4.733,84
(quatro mil, setecentos e trinta e três reais e oitenta e quatro centavos),
a título de empréstimos consignados, cartão de crédito consignado e
cartão consignado de benefício, que representam o percentual de
aproximadamente 50% dos rendimentos percebidos. Confira-se:
1. R$180,75 – Banco do Brasil;
2. R$200,00 – Banco Finasa BMC;
3. R$400,00 – Banco Finasa BMC
3. R$1.140,73 – Banco Panamericano;
4. R$536,00 – Banco Safra;
5. R$496,00 – Banco Panamericano;
6. R$107,00 – Banco Panamericano;
7. R$829,40 – BMG Card;
8. R$843,96 – Banco Master Cartão Benefício.

No caso, discute-se a legalidade dos descontos formalizados


pelo BANCO PAN a título de empréstimo consignado, os quais somam

Fl. 4/6
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a quantia total de R$1.743,73 (mil, setecentos e quarenta e três reais e
setenta e três centavos).
Nos termos do art. 12 da Lei nº 19.490/11, os descontos
referentes às consignações facultativas não poderão exceder a 40% da
remuneração líquida do servidor, sendo reservado exclusivamente o
limite de 10% (dez por cento) para desconto a favor de operações de
empréstimo ou financiamento realizadas por intermédio de cartão de
crédito.
Desse modo, os abatimentos referentes aos empréstimos
consignados contratados não podem superar o montante de 30% da
remuneração líquida do servidor.
Na espécie, os descontos referentes à essa modalidade de
empréstimo correspondem ao montante total de R$3.060,48 (três mil,
sessenta reais e quarenta e oito centavos), os quais, a princípio, não
extrapolam o percentual legal.
O próprio extrato de consignação do recorrido corrobora tal
afirmação, pois revela que a margem consignável facultativa
corresponde ao valor de R$3.078,11 (três mil, setenta e oito reais e
onze centavos), havendo, inclusive, saldo disponível para novas
consignações de R$17,63 (dezessete reais e sessenta e três
centavos).
Desse modo, entendo que os abatimentos devem persistir nos
moldes pactuados entre as partes, sobretudo porque inexiste prova da
irregularidade da contratação.
Ante o exposto, defiro o efeito suspensivo ativo ao presente
recurso para autorizar a retomada dos descontos efetuados pela
instituição financeira sobre a remuneração líquida percebida pela parte
agravada.
Oficie-se ao juízo a quo comunicando o teor desta decisão, bem
como para informar acerca de eventual retratação da decisão
agravada, nos termos do art. 1.018, §1º do Código de Processo Civil.

Fl. 5/6
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Intime-se a parte agravada para que apresente contraminuta no
prazo de 15 (quinze) dias, na forma do inciso II do art. 1.019 do Código
de Processo Civil.
Após, conclusos para julgamento.

Belo Horizonte, 19 de dezembro de 2023.

DES. MARCELO DE OLIVEIRA MILAGRES


Relator

Fl. 6/6

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