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Trata-se de AÇÃO DE COBRANÇA ajuizada por WESLLANY BARROS

PEREIRA em desfavor do ESTADO DO TOCANTINS, ambos qualificados nos


autos.

Dispensado o relatório, na forma do artigo 38 da Lei nº 9.099/95, face a sua


aplicação subsidiária aos processos sob a égide da Lei 12.153/2009, conforme
seu artigo 27 (Juizado da Fazenda Pública).

Em primeiro grau de jurisdição não existe incidência de custas processuais ou


honorários advocatícios na forma do artigo 54 e ss da lei 9099/95 c/c o artigo
27 da Lei 12.153/2009. Eventual pedido de gratuidade processual será
analisado pelo relator do recurso inominado uma vez que compete a ele
exercer com exclusividade o juízo de admissibilidade conforme entendimento
da Turma de Uniformização do Estado do Tocantins em reunião realizada na
data de 10/10/2016, no processo SEI nº 16.0.000007750-3.

Pleiteia a parte autora: o recebimento do retroativo de data-base; o


recebimento do retroativo de progressão funcional; o recebimento do retroativo
de adicional de insalubridade objeto de acordo e relativo à sua transferência de
unidade.

O requerido, por sua vez, sustenta em contestação: a situação financeiro-


orçamentária do Estado, o limite de gastos e insuficiência de recursos, entre
outros.

A questão acerca da aplicação do RE 905357 RG/RR será dirimida em tópico


oportuno, cujo tema se a ele se restringirá.

– Da aplicação da Medida Provisória nº 2/2019 e Lei Estadual nº 3462/2019

Sustenta o Estado do Tocantins que a concessão de reajuste, progressão/promoção e


dos retroativos esbarra na Lei Estadual nº 3462/2019, que suspende por 24 (vinte e
quatro meses) meses a concessão da progressão, de verba indenizatória e de
indenização pecuniária aos seus servidores.

De saída, cumpre esclarecer que tanto a suspensão da revisão quanto do recebimento


do retroativo estipulada na Medida Provisória n° 02, de 1º de fevereiro de 2019 –
posteriormente convertida em Lei Estadual nº 3.462/19 – não possui efeito em relação
ao pedido pleiteado na presente ação, uma vez que aquela lei não abarca a
cobrança das diferenças salariais retroativas ou implementação de
progressões/promoções havidas de situações jurídicas já consolidadas, sendo
algumas já reconhecidas pela própria Administração. Esse é o atual entendimento
do Tribunal de Justiça do Estado do Tocantins, ao qual adiro:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA. RETROATIVOS.


DATA BASE. LEI ESTADUAL Nº 3.462/2019. NÃO INCIDÊNCIA.
REPERCUSSÃO GERAL NO RE 905.357 RG/RR. NÃO
ACOLHIMENTO. DIREITO INCONTROVERSO.
IMPOSSIBILIDADE FINANCEIRA DO ESTADO. NÃO
COMPROVAÇÃO. REEXAME NECESSÁRIO NÃO
CONHECIDO. RECURSO VOLUNTÁRIO NÃO PROVIDO. 1. A
demanda originária não se refere à concessão do reajuste a
parte autora, uma vez que esse já lhe foi deferido anteriormente.
Assim, o objeto da ação é o pagamento das diferenças
relativas a data-base já implementadas e previstas em lei, de
modo que neste caso não incidem as disposições da Lei nº
3.462/2019, sendo necessário destacar que nem mesmo com
relação ao julgamento do RE nº 905357, julgado em
29/11/25019, uma vez que se o Estado incorporou o
percentual da revisão no salário do servidor, então ele
reconheceu a aplicabilidade da lei que concedeu essa
revisão, motivo pelo qual não há que discutir sobre a
previsão de dotação orçamentária. Lado outro, cediço é que
uma vez editada a lei que concede o reajuste geral anual ao
servidor público, presume-se, à míngua de provas em
sentido contrário, ônus que competia ao recorrente nos
termos do disposto no art. 373, II do CPC, a devida previsão
orçamentária, o que obsta a aplicação do entendimento
citado. 2. Faz jus a parte apelada ao retroativo/efeitos
financeiros advindos da data-base reconhecida pelo órgão
competente, sendo devidos pelo Estado recorrente. 3. Negativa
da administração pública sob a alegação de que haveria
extrapolação do limite prudencial com despesas de pessoal, ou
dificuldades financeiras, não tem o condão de retirar da parte
recorrida o direito quanto à percepção dos valores relativos à
progressão ou data-base a que tem direito, mormente porque se
presume a existência de reserva de valores para tanto. Lado
outro, a ausência de comprovação da impossibilidade financeira
do ente estatal, pelos órgãos de controle interno e externo
respectivos da Administração, em razão do que dispõe o art. 22,
parágrafo único, inciso I, da Lei Complementar nº 101/2000,
obstam o pleito do insurgente. Precedentes do STJ. 4. Reexame
Necessário NÃO CONHECIDO. Recurso voluntário conhecido e
NÃO PROVIDO. (AP 0007310-78.2019.8.27.2713. Relª. Desª.
Maysa Vendramini Rosal, 3ª Turma da 1ª Câmara Cível, julgado
em 5/8/2020). (Grifos acrescidos).

APELAÇÃO. AÇÃO DE COBRANÇA. SERVIDOR PÚBLICO


ESTADUAL APOSENTADO. RETROATIVO DE DATA-BASE.
LIMITE PRUDENCIAL COM DESPESA DE PESSOAL. LEI DE
RESPONSABILIDADE FISCAL E ART. 169 DA CF/88.
ALEGAÇÕES INSUBSISTENTES. INAPLICABILIDADE DA
MEDIDA PROVISÓRIA Nº 2, DE 1º DE FEVEREIRO DE 2019,
POSTERIORMENTE CONVERTIDA NA LEI ESTADUAL Nº
3.462. ALEGADA NECESSIDADE DE LIQUIDAÇÃO DA
SENTENÇA. AUSÊNCIA DE INTERESSE RECURSAL. NÃO
CONHECIMENTO DE PARTE DA APELAÇÃO. SENTENÇA
MANTIDA. 1. De plano, infere-se que o requerido, ora apelante,
não nega o direito vindicado pela parte autora, justificando a sua
não implementação na ausência de disponibilidade financeira do
ente público, e, ainda, na suposta violação às disposições da
Lei de Responsabilidade Fiscal - Lei Complementar n° 101/2000.
2. Não obstante, a simples alegação utilizada pelo Estado do
Tocantins, de que os gastos advindos com o pagamento da
progressão ultrapassariam o valor delimitado pela Lei de
Responsabilidade Fiscal, é certo que tanto a CF/88 (art. 169)
quanto a LRF (art. 23), de forma expressa, estabelecem medidas
a serem adotadas em casos tais. 3. Com efeito, uma vez devidas
verbas salariais como, retroativo de datas-bases, estando a
administração inadimplente e não havendo prova robusta acerca
da fragilidade das finanças públicas, não há a atração da
exceção que escusaria o pagamento vindicado pelo servidor
demandante, logo, não se aplica ao caso as normas insculpidas
nos artigos 15, 17, 19 e 20, da LC 101/00 - Lei de
Responsabilidade Fiscal, e art. 169 da CF/1988, restando
respeitado o princípio da separação dos Poderes contido no
artigo 2º da Carta Magna. 4. Não pode o Estado se eximir de
promover o pagamento de verbas salariais devidas, em virtude
da má gestão dos recursos públicos que acabem por extrapolar
eventuais limites estabelecidos na Lei de Responsabilidade
Fiscal, cabendo a ele a adoção de medidas que possibilitem a
concretização dos aludidos direitos dentro das limitações que lhe
são impostas. 5. In casu, mostra-se inaplicável, ao presente
caso, as disposições da Medida Provisória nº 02, de
01/02/2019, convertida, posteriormente, na Lei Estadual
3.462/2019, uma vez que referidas normas, em seu bojo,
suspenderam, pelo prazo de 24 (vinte e quatro) meses,
apenas a concessão de progressões funcionais, o reajuste
de gratificações e de outras verbas indenizatórias, não
trazendo qualquer vedação ao deferimento de data-base,
aos servidores públicos estaduais, durante o período. 6.
Além do mais, vislumbra-se dos documentos juntados no evento
1, anexo 6, que a servidora pública apelada já é aposentada,
portanto, encontrando-se dentro das exceções da citada Lei nº
3.462/2019. 7. No caso, observa-se não haver interesse de agir
no pleito recursal subsidiário lançado pelo Apelante,
consubstanciado na alegação de ser necessária a liquidação da
sentença para mensurar com precisão a quantia devida ao
credor na espécie, uma vez que tal questão já foi observada pelo
magistrado a quo na própria sentença recorrida. 8. Apelação
parcialmente conhecida e improvida. (APELAÇÃO CÍVEL Nº
0002578-42.2020.8.27.2738/TO, Relatora:
DESEMBARGADORA ANGELA MARIA RIBEIRO PRUDENTE,
3° Turma da 2° Câmara Cível, julgado em: 04/09/2020).

EMENTA; APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA.


SERVIDOR PÚBLICO. PROGRESSÃO FUNCIONAL.
COBRANÇA DAS DIFERENÇAS SALARIAIS RETROATIVAS.
ALEGAÇÃO DE IMPOSSIBILIDADE DE PAGAMENTO POR
FORÇA DA LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL.
IRRELEVÂNCIA. SENTENÇA MANTIDA. 1- Consoante pacífica
jurisprudência, alegações fundadas em limitações oriundas da lei
de responsabilidade fiscal não podem servir de fundamento para
afastar o direito do servidor público legalmente assegurado. 2- A
Lei Estadual nº 3.462/2019, que suspende os reajustes e
progressões dos diversos quadros de pessoal que integram
o Poder Executivo Estadual, não alcança a lide, uma vez que
o objeto da ação é o pagamento das diferenças
vencimentais do autor entre a data da publicação da
progressão e a data de sua efetiva implementação. 3-
Apelação conhecida e improvida. (TJ/TO – APELAÇÃO CÍVEL
Nº 00023463320198272716; Rel. Juiz Convocado JOSÉ
RIBAMAR MENDES JÚNIOR. Julgado em 30.06.2020).

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL E REMESSA NECESSÁRIA.


AÇÃO DE COBRANÇA C/C OBRIGAÇÃO DE FAZER. DATA-
BASE. ANOS DE 2015 A 2018. DIREITO DEVIDO. COBRANÇA
DE VALORES RETROATIVOS. SUSPENSÃO DA DEMANDA.
TESE NÃO ACOLHIDA. REMESSA OFICIAL NÃO CONHECIDA
COM FUNDAMENTO NO ART. 496, § 1º, DO NCPC. APELO
VOLUNTÁRIO CONHECIDO E IMPROVIDO. 1 – Com efeito,
uma vez devida a reposição salarial, estando a administração
em atraso, não há a atração da exceção que escusaria o
pagamento vindicado pelo servidor demandante, logo, não se
aplica ao caso as normas insculpidas nos artigos 15, 17, 19 e 20,
da LC 101/00 - Lei de Responsabilidade Fiscal, restando
respeitado o princípio da separação dos Poderes contido no
artigo 2º da Carta Magna. 2- Ademais eventual alegação de
ofensa a Lei de Responsabilidade Fiscal não pode ser óbice à
concessão de progressões e datas-bases aos servidores
públicos. Isso porque a Lei de Responsabilidade Fiscal excetua
expressamente as decisões judiciais da limitação. 3 – Destarte a
Lei nº 3.462, de 2019, que suspende os reajustes e
progressões dos diversos quadros de pessoal que integram
o Poder Executivo Estadual, não alcança demandas que não
tem por objeto a ascensão funcional do servidor, mas
apenas cobrança das diferenças salariais retroativas
havidas de datas-bases anuais já reconhecidas pela própria
Administração. 4 - Honorários advocatícios recursais fixados
em 3% (três) sobre o valor atualizado da condenação - (art. 85, §
11 do NCPC). 5 - Remessa necessária não conhecida com
fundamento no art. 496, § 1º, do CPC, tendo vista a interposição
de recurso de apelação pelo ente estadual. Apelo voluntário
conhecido e improvido. (TJ-TO, APELAÇÃO/REMESSA
NECESSÁRIA Nº 0015258-96.2019.8.27.2737/TO, Relatora:
Desembargadora Jacqueline Adorno de La Cruz Barbosa, 1°
Câmara Cível, Data de Julgamento: 27/05/2020) (grifo não
original).

Frise-se que o TJTO reconheceu a inaplicabilidade daquela lei para suspender a


concessão de progressões cujo preenchimento dos requisitos ocorreram
anteriormente à sua vigência, nesse sentido:

EMENTA: (...) 4. No presente caso, é incontroverso que a


apelada (Assistente Administrativa), alcançou direito à
progressões com base na Lei 1.545/2004, uma vez que todos os
requisitos legais foram preenchidos, nesse contexto, o
ordenamento jurídico não pode ratificar a contínua desídia do
Estado do Tocantins em efetivar progressões tardiamente, sem o
efetivo pagamento dos valores retroativos, sob pena de
enriquecimento ilícito. 5. A Lei Estadual nº 3.462/2019, que
suspende os reajustes e progressões dos diversos quadros
de pessoal que integram o Poder Executivo Estadual, não
alcança os direitos adquiridos anteriormente à sua vigência.
(...) (AP 0010904-28.2019.8.27.2737, Relª. Desª. ANGELA
MARIA RIBEIRO PRUDENTE, 3ª Turma da 2ª Câmara, julgado
em 14/5/2020). (grifo não original).

Embora o estado defenda a aplicabilidade daquela lei ao caso concreto, a linha da


hermenêutica moderna tende a valorizar a vontade da lei, dando maior peso à
intenção da lei na sua aplicação. E nesse processo de buscar a aplicação da lei, faz-
se necessário retornar às técnicas de interpretação, a fim de extrair de um texto
normativo a verdadeira norma, pura e harmônica com todo o ordenamento jurídico.

Desse modo, a referida legislação não se aplica as causas que objetivam o


pagamento do retroativo da revisão geral anual, tampouco aos casos que versem
sobre a concessão de progressões (e retroativos) cujos direitos se encontram
consolidados antes da vigência da Medida Provisória n° 02, de 1º de fevereiro de 2019
– posteriormente convertida em Lei Estadual nº 3.462/19, razão pela qual rejeito a
tese de aplicabilidade da MP nº 2/2019 e da Lei Estadual nº 3.462/2019 na presente
demanda.

– Prejudicial de mérito

No que pese as alegações de aplicação da prescrição quinquenal, verifica-se


que o ente estatal possui razão. Neste sentido, vale ressaltar o disposto no
Decreto n° 20.910/32, in verbis:

Art. 1º. As dívidas passivas da União, dos Estados e dos Municípios, bem
assim todo e qualquer direito ou ação contra a Fazenda federal, estadual ou
municipal, seja qual for a sua natureza, prescrevem em (cinco) anos, contados
da data do ato ou fato do qual se originarem.

[...]

Art. 3º. Quando o pagamento se dividir por dias, meses ou anos, a prescrição
atingirá progressivamente as prestações, à medida que completarem os prazos
estabelecidos pelo presente decreto.

Logo, se constatada a existência de valores referentes a direitos estatutários


adquiridos em período anterior a 5 (cinco) anos prévios ao ingresso da
presente ação, estes serão devidamente debitados.

Entretanto, sobre os créditos porventura atingidos por aquele prazo, mas que
foram objeto do acordo de evento 1 – ANEXO9, 17 e 18 recai certa
especificidade que os permitem serem exigidos em juízo, consoante
fundamentação a seguir.
Ao se depurar na situação fática, aprioristicamente considerar-se-iam prescritos
os créditos referentes aos meses e anos anteriores a 5 anos prévios ao
ajuizamento da ação, consoante fundamentação alhures declinada. Entretanto,
observa-se que o Estado do Tocantins expressamente reconheceu o seu dever
de adimplir com aqueles valores objetos do acordo (evento 1 –ANEXO9, 17 e
18), afigurando-se verdadeira renúncia tácita à prescrição relativa àqueles
créditos, por exegese teleológico-sistemática do art. 1911, do Código Civil.

Veja-se que algumas das cobranças objeto dos autos refere-se a uma dívida já
reconhecida administrativamente, portanto, a demonstração do interesse da
Administração em efetuar o pagamento da dívida – assumindo-a – implica na
ocorrência do instituto da renúncia tácita da prescrição, conforme inteligência
do art. 191, do Código Civil.

Ressalte-se, ainda, que o Ente Público não ficou silente quanto aos alegados
débitos, mas expressamente os assumiu. Nesse sentido:

PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA.


PRETENSÃO DE REEXPEDIÇÃO DE REQUISIÇÃO DE PEQUENO VALOR.
PRESCRIÇÃO. NÃO OCORRÊNCIA. RENÚNCIA AO PRAZO. 1. Cinge-se a
controvérsia em definir se, em Execução contra a Fazenda Pública, após
escoado o prazo para saque de valor depositado por meio de requisição de
pequeno valor - RPV, a pretensão de reexpedição do requisitório é fulminada
pela prescrição. 2. Em casos tais, a jurisprudência do STJ decidiu que "a
prática de atos pelo ente público, que importem em reconhecimento
inequívoco do direito da parte contrária, como a realização de pagamentos
das verbas controvertidas aos exequentes (servidores públicos), são
incompatíveis com os efeitos da prescrição. Reconhecimento, na hipótese,
da renúncia tácita ao prazo prescricional, nos termos do art. 191 do Código
Civil". Precedente: AgRg no REsp 1.100.377/RS, Rel. Ministro Marco Aurélio
Bellizze, Quinta Turma, DJe 18/3/2013. 3. Recurso Especial não provido.
(REsp 1827462/PE, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA,
julgado em 10/09/2019, DJe 11/10/2019).

ADMINISTRATIVO. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL.


SERVIDOR PÚBLICO. TEMPO DE SERVIÇO LABORADO EM CONDIÇÕES
ESPECIAIS. PRESCRIÇÃO NÃO CONSUMADA. RECONHECIMENTO
ADMINISTRATIVO DA PRETENSÃO. CORREÇÃO MONETÁRIA E JUROS
MORATÓRIOS EM CONDENAÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA.
APLICAÇÃO DO ART. 1o.-F DA LEI 9.494/1997 (COM REDAÇÃO DADA
PELA LEI 11.960/2009) ÀS CONDENAÇÕES IMPOSTAS À FAZENDA
PÚBLICA. ENTENDIMENTO FIRMADO EM SEDE DE RECURSO ESPECIAL
REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA (RESP 1.495.146/MG, REL. MIN.
MAURO CAMPBELL MARQUES, DJE 2.3.2018). AGRAVO INTERNO DA
UNIÃO DESPROVIDO. 1. No caso, não houve consumação do prazo
prescricional, na medida em que a Administração reconheceu
expressamente o direito da parte autora à pretendida revisão dos
1
Art. 191. A renúncia da prescrição pode ser expressa ou tácita, e só valerá, sendo feita, sem prejuízo de terceiro, depois que a
prescrição se consumar; tácita é a renúncia quando se presume de fatos do interessado, incompatíveis com a prescrição.
proventos. Tal conduta implicou em renúncia tácita ao prazo prescricional
quanto aos valores atrasados, recomeçando este prazo a correr, em sua
integralidade, a partir desta data. Assim, considerando-se o intervalo que
mediou o reconhecimento administrativo (em novembro de 2006) até o
ajuizamento da presente ação, em julho de 2010, tem-se que não verificada a
fluência do lustro previsto no art. 1o. do Decreto 20.910/1932. [...] (AgInt no
REsp 1511615/PR, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 05/12/2019, DJe 12/12/2019). (grifo não original).

Portanto, aos valores que não estão abarcados pelo acordo de evento 1 –
ANEXO9,17 e 18 e que versem sobre parcelas anteriores a 5 anos prévios ao
ajuizamento da ação estão prescritos, cuja discriminação poderá se dar em
sede de cumprimento de sentença.

– Adicional de insalubridade objeto de acordo compreendido entre 19/12/2012 a


31/05/2014

Dispensada maiores digressões sobre a natureza, conceito e aplicabilidade


jurídica do adicional de insalubridade, mormente diante do fato incontroverso
de que a parte autora faz jus à diferença relativa ao cálculo do adicional de
insalubridade compreendido entre 19/12/2012 a 31/05/2014, restando como
controverso apenas o número de parcelas pré-fixadas aplicáveis à parte autora,
bem como o adimplemento ou não dessas parcelas.

No presente caso, o Estado do Tocantins informa que o saldo remanescente


está sujeito à disponibilidade financeira. A autora, por sua vez, afirma que não
recebeu a parcela relacionada ao saldo passivo das mensalidades restantes do
acordo.

Observo que o próprio Estado do Tocantins reconheceu em sua contestação


serem devidos os valores:

Referente à Indenização do Adicional de Insalubridade, segue o Extrato,


oriundo do sistema Ergon (http://sistemas.secad.to.gov.br/), com relação ao
pagamento de valores devidos do passivo referente ao período de 19/12/2012
a 31/05/2014, nos termos do art. 17, inciso 3º da Lei nº 2670/2012. Registra-se
que o saldo passivo apurado em nome da servidora ficou estabelecido que o
pagamento ocorresse em 06 (seis) parcelas, considerando que até a presente
data houve a liquidação de 03 (três) parcelas.

Diante disso, tendo em vista que o Estado do Tocantins não está se negando a
efetuar o pagamento, apenas está tomando providências para que efetue o
pagamento de forma igualitária e que não haja prejuízo ao orçamento público,
a ação deve ser julgada improcedente.

Nesse ponto a autora faz prova da sua alegação no sentido de que existem
parcelas a receber objeto do adicional de insalubridade, o que se vê em
documento juntado nos autos (Evento 1, ANEXO9, 17 e 18).
Em verdade o Estado do Tocantins, expressamente reconheceu a existência
de saldo remanescente, especificando a quantidade de parcelas acordada e as
remanescentes, o que conduz o pedido do autor à procedência para o
recebimento dos valores objetos daquele parcelamento ainda inadimplentes.

– Do adicional de insalubridade advindo da PORTARIA SES/SGPES/DGP/GRT Nº


37, DE 19 DE SETEMBRO DE 2016.

É cediço que o adicional de insalubridade é um direito reconhecido


pelo artigo 7º, XXIII da Constituição Federal aos trabalhadores urbanos e rurais
que desenvolvem suas atividades com prestação do trabalho sujeito a agentes
insalubres. Vale destacar, que o STJ já determinou que o adicional de
insalubridade só é devido a servidor submetido a vínculo estatutário ou
funcional-administrativo específico se houver expressa previsão em norma legal
editada pelo ente federado envolvido. (AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL
Nº 1.055.333 – PB (2017/0030766-3) Relator: Min. Napoleão Nunes Maia
Filho).

A definição das condições insalubres, bem como a fixação da base


de cálculo e do percentual de pagamento do respectivo adicional depende de
regulamento específico, não se admitindo, nesse caso, a aplicação por analogia
do disposto na legislação federal. Não se pode negar que é juridicamente
possível a instituição, mediante lei formal de adicional por tempo de serviço a
servidores ocupantes de cargos comissionados ou contratados temporariamente,
desde que haja previsão expressa no estatuto dos servidores públicos municipais
e em lei específica a fim de regulamentá-lo.

Isto porque o art. 39, caput, e § 3º, da Constituição Federal, atribui


competência exclusiva à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios para, no âmbito de cada um deles, instituir o regime jurídico para os
servidores da administração pública direta, das autarquias e das fundações
públicas.

Por esta razão, os servidores públicos civis da administração


pública direta, dependem, para a percepção de tal vantagem, da respectiva
legislação referente ao seu regime jurídico.

A lei do Servidor Público do Estado do Tocantins - nº 1818/07,


estabelece que:

Art. 73. Os servidores que trabalhem com habitualidade em locais insalubres


ou em contato permanente com substâncias tóxicas, radioativas, ou com risco
de morte, fazem jus a indenização pecuniária incidente sobre o menor subsídio
do Plano de Cargos, Carreiras e Subsídios respectivo, salvo disposição em
contrário em lei específica.
Especificamente em relação aos servidores da saúde – como é o
caso da parte autora - a Lei nº 2.670/2012, que dispõe sobre o Plano de Cargos,
Carreiras e Remuneração - PCCR dessa categoria, assim regula:

Art. 17. Aos profissionais da saúde no exercício habitual em condições


insalubres é concedida indenização, de acordo com os graus mínimo, médio ou
máximo a que estejam expostos.

§1º A caracterização e a classificação da indenização por insalubridade


verificam-se mediante perícia atestada por uma comissão, composta,
paritariamente, pelo Estado e pelos sindicatos das categorias envolvidas neste
PCCR.

§2º A comissão de que trata o §1o deste artigo é designada em ato conjunto dos
Secretários de Estado da Saúde e da Administração.

§3º O valor da indenização por insalubridade, exceto para os médicos, tem por
base o menor vencimento constante da tabela de vencimentos correspondente,
assim definido:

I - 10% para o grau mínimo;

II - 20% para o grau médio;

III - 40% para o grau máximo. §4º O valor da indenização por insalubridade
para os médicos tem por base o vencimento inicial na carreira, assim definido:

I - 8% para o grau mínimo;

II - 10% para o grau médio;

III - 12% para o grau máximo.

Art. 18. A indenização por insalubridade:

I - não se incorpora ao vencimento do profissional da saúde para quaisquer


efeitos legais;

II - é mantida ao profissional da saúde que exerça cargo de provimento em


comissão ou função de confiança na estrutura operacional da Secretaria da
Saúde, desde que a justifique o exercício da atividade ou do local que originou
o pagamento.

Por sua vez, a Portaria da SESAU nº 319/2009, tratou sobre os


laudos periciais, vejamos:

PORTARIA SESAU N°319/ 2009, DE 19 DE OUTUBRO DE 2009.


O SECRETÁRIO DA SAÚDE, no uso de suas atribuições legais, consoante o
disposto no artigo 42, § 1°, inciso IV, da constituição estadual, e ainda,

Considerando o disposto nos artigos 73 a 78 do Estatuto dos Servidores


Públicos Civis do Estado do Tocantins;

Considerando o disposto nos artigos 19-A, 19-B, 19-C, 19-D e 19-E da Lei
1.588 de 30 de junho de 2005, que trata do Plano de Cargos, Carreiras e
Subsídios dos Servidores da Saúde;

Considerando a necessidade de atualizar a concessão da Indenização


Pecuniária de Insalubridade, garantindo o pagamento a todo servidor que fizer
jus na forma das legislações vigentes;

Considerando o Parecer nº. 001-2009, de 30 de julho de 2009, emitido pela


Comissão Técnica de Insalubridade;

RESOLVE:

Art. 1º Homologar os Laudos Técnicos de Insalubridade, conforme avaliações


realizadas pela empresa Intelligent Business Consulting Ltda - ibconsulting,
conforme Processo nº.3055.001212.2007, no período de 07/10/2008 a
29/07/2009, atravésdos responsáveis técnicos Cássio Di Lêu de Carvalho CRM
-TO 1.481, Médico do Trabalho e Fábio Henrique de Melo Ribeiro - CREA
4.505- D/RN, Engenheiro de Segurança do Trabalho, nas Unidades sob Gestão
da Secretaria de Estado da Saúde.

Art. 2º O Laudo Técnico de Insalubridade tem o objetivo de analisar e avaliar


as condições do ambiente de trabalho, definindo o tipo de risco e quais os
agentes nocivos a que estão expostos os servidores, bem como, concluir se as
exposições a esses agentes são ou não prejudiciais à saúde humana ou à
integridade física dos servidores.

Art. 3° O Laudo Técnico de Insalubridade é o instrumento norteador da


Comissão Técnica de Insalubridade, subsidiando tecnicamente nas concessões,
alterações ou suspensões do pagamento da indenização, relativamente aos
profissionais de saúde, sendo sua gestão realizada pela Secretaria de Estado da
Saúde através da Superintendência de Gestão Administrativa e de
Desenvolvimento dos Recursos Humanos/Diretoria de Gestão e Regulação do
Trabalho.

Art. 4° Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 5° Revogam-se as disposições em contrário.


Dispensadas maiores digressões sobre a natureza jurídica e
embasamento legal do direito ao retroativo do adiciona de insalubridade
notadamente diante da publicação da seguinte portaria:

PORTARIA SES/SGPES/DGP/GRT Nº 37, DE 19 DE


SETEMBRO DE 2016. O SECRETÁRIO DA SAÚDE, no uso de suas
atribuições legais, consoante o disposto no art. 42, §1º, inciso IV, da
Constituição Estadual, e;

Considerando a PORTARIA SESAU Nº 319/2009, de 19 de


outubro de 2009, publicada no DOE nº 3.003, de 26 de outubro de 2009, que
homologa os Laudos Técnicos de Insalubridade em todas as Unidades sob
Gestão da Secretaria de Estado da Saúde;

Considerando os artigos 17 a 21, da Lei nº 2.670, de 19 de


dezembro de 2012, publicada no Diário Oficial do Estado nº 3.778, que dispõem
sobre a concessão, suspensão, alteração e manutenção de grau da indenização
por insalubridade, resolve:

Conceder, indenização pecuniária de insalubridade aos


Profissionais de Saúde abaixo relacionados, com efeitos financeiros a serem
implementados na folha de pagamento posterior a data da publicação, conforme
disposição a seguir:

O pagamento dos valores retroativos, constituídos em razão do


lapso temporal transcorrido entre a data de preenchimento dos requisitos para a
indenização de insalubridade e a concessão processada na conformidade desta
Portaria, será realizado em momento oportuno, segundo a capacidade
orçamentária-financeira do Estado.

[...]

94 WESLLANY BARROS PEREIRA 1140710 1 015.330.301-89


Enfermeiro Centro Int de Ass a Mul e a Cri D Regina S Campos Máximo
19/05/2016

No caso, é incontroverso que a parte autora faz jus ao recebimento


do adicional de insalubridade, tanto que o ente estatal emitiu Extrato de
Créditos/Débitos Parcelados/Retidos (evento 1, ANEXO9, Página 3), que
atesta a existência de débito referente a parcelas não pagas de indenização
por adicional insalubridade referentes aos meses de 5/2016 a 9/2016.
Assim, comprovado a existência de saldo remanescente referente
aos retroativos do adicional de insalubridade, a procedência desse pedido é
medida que se impõe.

– Retroativo de Progressão

A parte autora pleiteia os valores retroativos advindos de progressão já


implementada, a saber: Progressão Horizontal da Referência “Letra A” para a
Referência “Letra B”.

A evolução profissional na carreira é um direito do servidor público e ao mesmo


tempo uma forma da Administração Pública valorizá-lo, dando-lhe, em
consequência disso, ânimo para que continue se aperfeiçoando para, com a
qualificação necessária, melhor desempenhar a contento as atribuições do
cargo público para o qual foi nomeado e tomou posse. Quem ganha com isso é
o administrado, que sempre busca eficiência no serviço público.

Dispensadas maiores digressões sobre a natureza jurídica e embasamento


legal do direito ao retroativo da progressão notadamente diante da publicação
da seguinte portaria:

DIÁRIO OFICIAL N 4566, 24 de FEVEREIRO de 2016

PORTARIA CONJUNTA Nº 14, DE 18 DE FEVEREIRO DE 2016.

O SECRETÁRIO DE ESTADO DA ADMINISTRAÇÃO e o SECRETÁRIO DA


SAÚDE DO ESTADO DO TOCANTINS, no uso da atribuição que lhes
conferem o art. 42, §1º, inciso IV, da Constituição do Estado, e com fulcro no
art. 10, §1º, da Lei 2.670, de 19 de dezembro de 2012, resolvem:

CONCEDER evolução funcional horizontal aos servidores públicos constantes


do anexo único desta portaria conjunta, integrantes do Quadro da Saúde do
Poder Executivo, posicionando-os na referência “B”, em virtude da conclusão
do estágio probatório, a partir da data de preenchimento dos requisitos legais,
com efeitos financeiros a serem implementados na folha de pagamento do mês
de março de 2016.

O pagamento dos valores retroativos, constituídos em razão do lapso temporal


transcorrido entre a data de preenchimento de requisitos para evolução
funcional e a concessão processada na conformidade desta portaria conjunta,
será realizado em momento oportuno, segundo a capacidade orçamentário-
financeira do Estado.

[...]

1553 WESLLANY BARROS PEREIRA 1140710 1 01/08/2014


Do cotejo fático-probatório, observa-se que já foi reconhecido o direito de
implementação da referida progressão. Contudo, o réu não demonstrou nos
autos o pagamento do retroativo devido (art. 373, II, CPC).

Ademais, frise-se que cabia ao réu, corriqueiramente na contestação,


apresentar toda a documentação que lhe competia para provar os fatos
arguidos, posto ser este o momento processual adequado para tal (inteligência
do art. 434, caput, do CPC), sendo possibilitada a este a juntada posterior de
documentos novos, relativos a fatos novos, tidos como aqueles que ocorreram
posteriormente à propositura da ação, ou inacessíveis, indisponíveis ou não
conhecidos pela parte ao tempo do ajuizamento da ação (art. 435, caput e
parágrafo único, do CPC).

Logo, isso faz exsurgir para a parte autora o direito ao recebimento


daqueles retroativos.

Assentada tal premissa, importante salientar que diante de ato


administrativo ilegal ou de silêncio administrativo que se mostra abusivo, o
Poder Judiciário deve imiscuir-se nessa seara, porque seu dever de proteção de
um eventual direito subjetivo tutelado decorre de mandamento constitucional,
conforme previsto no artigo 5º, inciso XXXV, da Constituição da República,
segundo o qual “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou
ameaça a direito”, não havendo se falar, nessa ótica, em ativismo judicial nem
mesmo apreciação de matéria relacionada às políticas públicas.

O Judiciário, no importante desempenho de suas atribuições, e


zelando pelo equilíbrio entre os poderes, tem o papel constitucional de afastar
ilegalidades e arbítrios cometidos pelos outros poderes, sem contar na função
constitucional de, mediante a jurisdição, pacificar os conflitos sociais
instaurados.

Ademais, havendo legislação que proporcione ao servidor evoluir


na carreira profissional e financeiramente, não pode o Poder Público se abster ou
obstar, que seja, de avaliar e, notadamente, concedê-lo, quando patenteados os
requisitos legais, pois se trata de ato administrativo vinculado, não havendo
margem para não reconhecê-lo, ao simplório argumento quanto à falta de
oportunidade e conveniência.

Para o pagamento retroativo da progressão, prescindível a fase de


liquidação de sentença, devendo-se utilizar a diferença remuneratória existente
entre as aludidas referências e multiplicá-la pelos meses em atraso. A prova
pericial contábil igualmente é desnecessária, pois o cálculo pode ser feito em
consulta direta aos anexos da lei de regência. Desse modo, fica superada questão
relativa à iliquidez da sentença.

Confira-se, a respeito, a jurisprudência:


EMENTA: [...] 1. Diz-se ilíquida a sentença que não aponta valor certo e
determinado relativo à condenação imposta. In casu, não há se falar em
sentença ilíquida, na medida em que os valores devidos podem ser apurados
mediante simples cálculo aritmético. [...] [...] (TJDF, RI 0701503-
56.2018.8.07.0020, 3ª Turma Recursal dos Juizados Especiais do Distrito
Federal, da relatoria do juiz ASIEL HENRIQUE DE SOUSA, julgado em
29/08/2018, publicado em 05/09/2018. (Destaquei).

Outrossim, considerando que diversas leis estaduais trouxeram


sucessivos tabelamentos relacionados aos vencimentos dos servidores públicos
deste estado por ocasião da concessão de data-base, e levando-se em conta não
ser possível a fase de liquidação no âmbito dos juizados especiais, o que poderia
ocasionar a extinção do processo pela ausência de pedido certo e determinado
quanto aos valores diferenciais, deve prevalecer, para tanto, o tabelamento
existente no ato da habilitação do servidor à sua evolução funcional, sendo que
eventuais diferenças deverão ser perseguidas em outro processo.

Observo que a parte autora, atribui em seu pedido inicial como


passível de retroativo o período compreendido entre agosto de 2014 a fevereiro
de 2016, razão pela qual tomo este interstício como parâmetro de análise, até
porque compõe a realidade firmada pela portaria que implementou a evolução
funcional, sendo que a parte requerida nada impugnou especificamente.

- DA INDISPONIBILIDADE FINANCEIRO-ORÇAMENTÁRIA

Noutro passo, o ente púbico requerido também não pode, em


subterfúgio processual, valer-se da Lei de Responsabilidade Fiscal como escudo
para impedir aquele que, amparado por lei devidamente aprovada no Parlamento,
evolua na carreira e no ganho salarial, sob pena de, assim agindo, dar ensejo à
grave violação ao Estado de Legalidade, não se aplicando, portanto, nos casos
que envolvam progressão funcional, as regras formais estatuídas nos artigos 15,
17, 19 20 daquela legislação.

Quando se aprova uma lei que concede aumento progressivo está


implícito estudo técnico de impacto financeiro, de modo que, em previsibilidade,
tais acréscimos, por serem autorizados mediante um procedimento legislativo
hígido e prévio, geram presunção de reserva de valores e devem constar nos
planos orçamentários – ou, pelo menos, é assim que deve ser.

A Lei de Responsabilidade Fiscal não afasta direitos subjetivos de


servidores públicos. Esse, inclusive é o entendimento da 1ª Turma Recursal dos
Juizados Especiais do Estado do Tocantins, lançado no julgamento do Recurso
Inominado no 0000396-09.2020.8.27.9100, que, por maioria dos votos, entendeu
que normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão
fiscal, preconiza que o aumento de despesas provindas da lei ou de decisão
judicial não são computadas para fins de limite de gastos com pessoal. Veja-se:
EMENTA: RECURSO INOMINADO. JUIZADO ESPECIAL DA FAZENDA
PÚBLICA. PROGRESSÃO DE SERVIDOR. SENTENÇA INDEFIRIU A
INICIAL. PRESENTES OS REQUISITOS LEGAIS PARA A
PROGRESSÃO. Lei Estadual n. 3.462, de 25/4/2019 suspendeu todos os
reajustes e progressões dos servidores públicos do Poder Executivo
estadual. Artigo 19, § 1º, inciso IV Lei Complementar n. 101, de 4/5/2000
- normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão
fiscal, preconiza que o aumento de despesas provindas da lei ou de decisão
judicial não são computadas para fins de limite de gastos com pessoal. Dever
legal, de implementar as progressões. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.
SENTENÇA CASSADA. (RI nº 0000396-09.2020.8.27.9100/TO, Relator: Nelson
Coelho Filho, 1ª Turma Recursal, julgado 20/7/2020). (grifos acrescentados)

Nesse sentido, são os entendimentos do Superior Tribunal de


Justiça e do Tribunal de Justiça do Estado do Tocantins:

EMENTA: [...] 1. Os limites previstos nas normas da Lei de Responsabilidade


Fiscal (LRF) - mormente os relacionados às despesas com pessoal de ente
público - não são aptos a justificar o descumprimento dos direitos subjetivos do
servidor público, como é o recebimento de vantagens asseguradas por lei (cf.
art. 22, parágrafo único, da LC 101/2000) (AgRg no AREsp. 463.663/RJ, Rel.
Min. MAURO CAMPBELL MARQUES, DJe 26.3.2014). 2. Agravo Regimental
do Estado do Rio Grande do Norte e outro a que se nega provimento. (STJ,
AgRg no AREsp 539.468/RN, 1ª Turma, da relatoria do ministro NAPOLEÃO
NUNES MAIA FILHO, julgado em 06/12/2018, e publicado em 19/12/2018).

EMENTA: {...] 2. Com efeito, a alegação de indisponibilidade financeira e


orçamentária não pode constituir óbice à implementação da progressão
funcional ao servidor, porquanto tal circunstância não tem o condão de
desconstituir o seu direito legalmente previsto, eis que, na hipótese vertente, o
impetrante comprovou o direito líquido e certo à pleiteada progressão
(progressão horizontal à referência \E\, a partir de 01/03/2016, na carreira dos
auxiliares administrativos do quadro do poder executivo estadual). 3. É
entendimento do Superior Tribunal de Justiça que\os limites previstos nas
normas da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), no que tange às despesas
com pessoal do ente público, não podem servir de justificativa para o não
cumprimento de direitos subjetivos do servidor público, como é o recebimento
de vantagens asseguradas por lei\ (AgRg no AREsp 464.951/RN). 4. Não pode a
Administração Pública negar a progressão ao Impetrante sob o argumento de
extrapolação do limite prudencial com despesas, porquanto tal circunstância
não tem o condão de desconstituir seu direito líquido e certo, alicerçado em
direito legalmente previsto em Lei Estadual, de onde se deduz a presunção de
reserva de valores. 5. Embargos de Declaração conhecido e provido, sem
efeitos infringentes, tão somente para constar no teor do voto condutor que a
alegação de ausência de dotação orçamentária não pode ser utilizada como
subterfúgio, por um órgão da Administração Pública, para tolher o direito à
progressão funcional do Impetrante. (TJTO, EDcl em MS 0025370-
61.2017.827.0000, Tribunal Pleno, de minha relatoria enquanto substituindo a
Desembargadora ÂNGELA PRUDENTE, julgado em 05/07/2018, e publicado
em 12/07/2018).

Denota-se, também, que, na hipótese de aventada crise financeira


em razão de superação do limite fiscal e prudencial com as despesas de pessoal,
o que poderia assim cogitar-se, ainda que remotamente, na aplicação da tese
relativa à derrotabilidade das normas, o artigo 169 da Constituição Federal
possui mecanismos jurídicos próprios e adequados para recompor o quadro de
déficit orçamentário.

Assim sendo, não basta ao ente requerido trazer planilhas e alegar


uma ineficácia da legislação que trata da matéria, é necessário, para se obter o
reconhecimento da situação emergencial pelo Poder Judiciário, provar que
concretizou aquele dispositivo e que, para o cumprimento dos limites fiscais:
reduziu pelo menos vinte por cento das despesas com cargos em comissão e
funções de confiança; exonerou servidores não estáveis; e, a não suficientes,
exonerou servidores estáveis, através de especificações particulares e de processo
administrativo que tenha assegurado o contraditório e a ampla defesa.

Sobre pagamento do retroativo concernente aos valores financeiros


da progressão concedida à requerente, possuo o entendimento no sentido de que
os efeitos financeiros da evolução funcional dão-se desde a habilitação do
servidor público, eis a ilogicidade em se conceder a progressão e, ao mesmo
passo, deixar de pagar os valores referenciais contidos na legislação de regência.

Desta feita, o atraso relacionado à efetuação do pagamento dos


valores retroativos da progressão concedida ao servidor público, ou a sua
retenção, configura conduta ilícita, pois abusiva e desproporcional, e gera por
isso mesmo um dano patrimonial, passível de indenização, nos termos do artigo
37, § 6º, da Constituição Federal de 1988. A prática de conduta ilícita do ente
público requerido, ao não efetuar a tempo o pagamento retroativo dos valores
que eram devidos, e a existência de um dano patrimonial, constante na perda
salarial e financeira, além da constatação do nexo de causalidade entre aqueles
dois, dão ensejo à responsabilidade civil objetiva, independente de culpa.

– Data base

Acerca da matéria relativa ao pagamento de data-base, existe julgamento proferido pelo


Supremo Tribunal Federal, com repercussão geral, ou seja, de observância obrigatória
por todos os Tribunais e magistrados (CPC artigo 927, III), que originou o TEMA 864,
com ementa nos seguintes termos:

Ementa: CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO.


REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA. PERDA DE OBJETO.
PROSSEGUIMENTO DA ANÁLISE DA QUESTÃO COM RELEVÂNCIA AFIRMADA.
SERVIDOR PÚBLICO. REVISÃO GERAL ANUAL. PREVISÃO NA LEI DE
DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS - LDO. AUSÊNCIA DE DOTAÇÃO NA LEI
ORÇAMENTÁRIA ANUAL. INVIABILIDADE DE CONCESSÃO DO REAJUSTE. 1.
Segundo o § único do art. 998 do Código de Processo Civil de 2015, “a desistência do
recurso não impede a análise de questão cuja repercussão geral já tenha sido
reconhecida e daquele objeto de julgamento de recursos extraordinários ou especiais
repetitivos”. 2. A norma se aplica para a hipótese de perda de objeto superveniente ao
reconhecimento da repercussão geral. Precedente: ARE 1054490 QO, Relator(a): Min.
ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, DJe 09-03-2018. 3. Segundo dispõe o art. 169,
§ 1º, da Constituição, para a concessão de vantagens ou aumento de remuneração aos
agentes públicos, exige-se o preenchimento de dois requisitos cumulativos: (I) dotação
na Lei Orçamentária Anual e (II) autorização na Lei de Diretrizes Orçamentárias. 4.
Assim sendo, não há direito à revisão geral anual da remuneração dos servidores
públicos, quando se encontra prevista unicamente na Lei de Diretrizes Orçamentárias,
pois é necessária, também, a dotação na Lei Orçamentária Anual. 5. Homologado o
pedido de extinção do processo com resolução de mérito, com base no art. 487, III, c,
do Código de Processo Civil de 2015. 6. Proposta a seguinte tese de repercussão geral:
A revisão geral anual da remuneração dos servidores públicos depende,
cumulativamente, de dotação na Lei Orçamentária Anual e de previsão na Lei de
Diretrizes Orçamentárias. (RE 905357/RR, Relator Ministro Alexandre de Moraes,
data 29/11/2019).

Resta evidente, da leitura simples do acórdão acima, de que para a concessão de


vantagens ou aumento de remuneração aos agentes públicos e ainda para a revisão geral
anual, exige-se o preenchimento de dois requisitos cumulativos: (I) dotação na Lei
Orçamentária Anual e (II) autorização na Lei de Diretrizes Orçamentárias.

A 2ª Turma Recursal do Estado do Tocantins adotou o mesmo sentido em julgamento


recente, vejamos:

Ementa: RECURSO INOMINADO. SENTENÇA DE IMCOMPETÊNCIA EM RAZÃO


DE COMPLEXIDADE NA ELABORAÇÃO DOS CÁLCULOS. SENTENÇA ILÍQUIDA.
COMO FOI APRESENTADA A MEMÓRIA DOS CÁLCULOS, ESSA
CIRCUNSTÂNCIA NÃO PODERIA TER SIDO UTILIZADA COMO FUNDAMENTO
PARA RECONHECER A INCOMPETÊNCIA DO JUÍZO. SENTENÇA CASSADA.
COMPETÊNCIA DOS JUIZADOS ESPECIAIS DA FAZENDA PÚBLICA
RECONHECIDA NO CASO EM CONCRETO. REVISÃO GERAL ANUAL.
PRETENSÃO DE RECEBER AS DIFERENÇAS SALARIAIS, CONSTITUÍDAS ENTRE
A DATA QUE FIXOU OS ÍNDICES E A INTEGRAL IMPLEMENTAÇÃO COM
EFEITOS FINANCEIROS, A TÍTULO DE “DATA BASE”. TESE FIRMADA EM SEDE
REPERCUSSÃO GERAL (RE 905357/RR - TEMA 864). PRECEDENTE
VINCULANTE. MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA. ART. 927, III,
CPC. IMPOSSIBILIDADE. RETROATIVIDADE INVIÁVEL, ANTE A AUSÊNCIA DE
EXPRESSA PREVISÃO LEGAL E QUE CONTA COM IMPACTOS
ORÇAMENTÁRIOS. A NORMA POSTERGA, DE MODO GRADUADO, A
INCIDÊNCIA DOS PERCENTUAIS DE REAJUSTE E ESTABELECE A AUSÊNCIA
DE RETROATIVIDADE, A FIM DE MANTER O EQUILÍBRIO ORÇAMENTÁRIO.
AUSÊNCIA DE PREVISÃO E DOTAÇÃO ORÇAMENTÁRIA NA LEI
ORÇAMENTÁRIA ANUAL. NÃO PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS
CUMULATIVOS. IMPROCEDÊNCIA DOS PEDIDOS INICIAIS. 1 - À primeira vista,
me afigura que a decisão do Magistrado Sentenciante até seria razoável, caso a autora
não houvesse trazido aos autos a memória de cálculo. Contudo, como foi apresentada a
memória dos cálculos, essa discussão de complexidade dos cálculos e,
conseqüentemente da causa, perde força. Pois, diante desses elementos seria
perfeitamente possível ao requerido fundamentar sua defesa e possível a prolatação de
sentença líquida, sem violar; sem a violação das disposições do artigo 38, Parágrafo
Único da lei 9.099/95, aplicável ao sistema de juizado. Portanto, essa circunstância
não poderia ter sido utilizada como fundamento para reconhecer a incompetência do
juízo. 2 - “A alocação de recursos públicos pelo Estado deve estrita observância aos
comandos egais e constitucionais aplicáveis à matéria e, “quanto às despesas com
pessoal, o constituinte não se limitou a indicar meras adequações à lei orçamentária”.
Ao contrário, impôs limites extremamente rígidos regulamentados pelo art. 169 da
Constituição Federal”. 3 - "Segundo dispõe o art. 169, § 1º, da Constituição, para a
concessão de vantagens ou aumento de remuneração aos agentes públicos, exige-se o
preenchimento de dois requisitos cumulativos: (I) dotação na Lei Orçamentária Anual e
(II) autorização na Lei de Diretrizes Orçamentárias. " (RE 905357/RR - TEMA 864). 4
- Os pedidos da autora devem ser julgados improcedentes de plano, nos termos do
dispõe o artigo 332, inciso II, do código e Processo Civil. Tendo em vista que a
pretensão da autora viola frontalmente Acórdão do Supremo Tribunal Federal, julgado
em sede de repercussão geral, em matéria similar, definindo tese de contrária a
pretensão da demandante. (2ª Turma Recursal do Estado do Tocantins, RI
00500812320198272729, Relator Juiz Deusamar Alves Bezerra, data 14/08/2020).

A elaboração e execução do orçamento são regulamentadas pela Constituição Federal,


pela Lei Complementar 101/2000 e pela Lei 4.320/1964, os quais preveem a
necessidade de elaboração de um Plano Plurianual, de Lei de Diretrizes Orçamentárias e
de Lei Orçamentária Anual.

Quanto à vigência da lei orçamentária, a própria nomenclatura utilizada no artigo 165,


III e §5º da CF/88 já traduz estarmos diante de uma lei anual.

A propósito, veja-se o teor do artigo 169, §1º, da Constituição Federal:

“§ 1º A concessão de qualquer vantagem ou aumento de remuneração, a criação de


cargos, empregos e funções ou alteração de estrutura de carreiras, bem como a admissão
ou contratação de pessoal, a qualquer título, pelos órgãos e entidades da administração
direta ou indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo poder público, só
poderão ser feitas: (Renumerado do parágrafo único, pela Emenda Constitucional 19, de
1998)

I - se houver prévia dotação orçamentária suficiente para atender às projeções de


despesa de pessoal e aos acréscimos dela decorrentes; (Incluído pela Emenda
Constitucional 19, de 1998)

II - se houver autorização específica na lei de diretrizes orçamentárias, ressalvadas as


empresas públicas e as sociedades de economia mista. (Incluído pela Emenda
Constitucional 19, de 1998)”

Assim, para a concessão de vantagens, aumento de remuneração da revisão geral anual,


exige-se o preenchimento de dois requisitos cumulativos: dotação orçamentária na LOA
e autorização na LDO.

No mesmo sentido, veja-se o seguinte precedente:


“[...] 4. Não é possível o deferimento de vantagem ou aumento de vencimentos sem
previsão orçamentária, nos termos do que estabelece o art. 169, § 1º, I e II, da
Constituição do Brasil. Precedente [MC-ADI n. 1.777, Relator o Ministro SYDNEY
SANCHES, DJ 26.05.2000]. 5. Segurança denegada”. (AO 1339/MA, Rel. Min. EROS
GRAU, Tribunal Pleno, DJe. 25/10/2006).”

O Supremo Tribunal Federal, já decidiu, também em repercussão geral, que o servidor


público não tem direito a aumento/revisão anual de sua remuneração, ou seja, não existe
direito líquido e certo do servidor público pela inclusão de reajuste na LDO
simplesmente, não se podendo presumir daí a reserva de valores. Veja-se:

Ementa: Direito constitucional e administrativo. Recurso extraordinário. Repercussão


geral. Inexistência de lei para revisão geral anual das remunerações dos servidores
públicos. Ausência de direito a indenização. 1. Recurso extraordinário, com
repercussão geral reconhecida, contra acórdão do TJ/SP que assentara a inexistência
de direito à indenização por omissão do Chefe do Poder Executivo estadual quanto ao
envio de projeto de lei para a revisão geral anual das remunerações dos respectivos
servidores públicos. 2. O art. 37, X, da CF/1988 não estabelece um dever específico de
que a remuneração dos servidores seja objeto de aumentos anuais, menos ainda em
percentual que corresponda, obrigatoriamente, à inflação apurada no período. Isso não
significa, porém, que a norma constitucional não tenha eficácia. Ela impõe ao Chefe do
Poder Executivo o dever de se pronunciar, anualmente e de forma fundamentada, sobre
a conveniência e possibilidade de reajuste ao funcionalismo. 3. Recurso extraordinário
a que se nega provimento, com a fixação da seguinte tese: “O não encaminhamento de
projeto de lei de revisão anual dos vencimentos dos servidores públicos, previsto no
inciso X do art. 37 da CF/1988, não gera direito subjetivo a indenização. Deve o Poder
Executivo, no entanto, pronunciar-se de forma fundamentada acerca das razões pelas
quais não propôs a revisão”. (RE 565089, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Relator(a)
p/ Acórdão: ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 25/09/2019,
PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-102 DIVULG
27-04-2020 PUBLIC 28-04-2020).

Conclui-se, então, que, apesar de o administrador público ter inserido na LDO a


autorização para a revisão geral, quedou-se inerte quando da elaboração da LOA.
Vejamos: http://www.sefaz.to.gov.br/leis---ldo-e-loa/lei-de-diretrizes-orcamentarias---
ldo--2010---2020/

- DISPOSITIVO

Em face do exposto, ACOLHO EM PARTE os pedidos iniciais, o que faço com


fundamento no art. 487, inciso I do Código de Processo Civil, razão pela qual:

1. CONDENO o ESTADO DO TOCANTINS a efetuar o pagamento dos


retroativos compreendidos entre agosto de 2014 a fevereiro 2015,
relativamente à progressão Horizontal da Referência “Letra A” para a
Referência “Letra B”, bem como dos respectivos reflexos, observando o
prazo prescricional quinquenal anterior ao ajuizamento da ação,
considerando para tanto o valor diferencial das referências, de acordo
com os anexos da Lei de regência da categoria (lei n. 2.670/12), cujo
cálculo, bastante simplificado, deverá ser apresentado, com todos os dados
que compõem esta sentença e os autos, por ocasião do requerimento de seu
cumprimento, sem prejuízo, contudo, da posterior remessa para a Contadoria
do TJTO.

2. CONDENO o ESTADO DO TOCANTINS ao pagamento das parcelas


restantes do adicional de insalubridade compreendido entre 19/12/2012 a
31/05/2014, consoante extrato de parcelamento de evento 1 – ANEXO9.

3. CONDENO o ESTADO DO TOCANTINS ao pagamento das parcelas


restantes do adicional de insalubridade compreendido entre 5/2016 a 9/2016,
consoante extrato de parcelamento de evento 1, ANEXO9.

4. Ausente um dos requisitos estabelecidos no julgamento que resultou no


tema 864 pelo STF com repercussão geral, julgo improcedente o pedido
inicial relativo ao retroativo de data-base.

À importância total deverá ser acrescida CORREÇÃO MONETÁRIA pelo Índice


de Preços ao Consumidor Amplo Especial (IPCA-E), nos termos do (RE)
870947, a partir de quando eram devidos os pagamentos, e JUROS DE
MORA calculados com base no índice oficial de remuneração básica e juros
aplicados à caderneta de poupança, nos termos da regra do art. 1º-F da Lei
9.494/97, com redação da Lei 11.960/09, a contar da citação válida2.

Sem custas e sem honorários nos termos dos arts. 54 e 55 da Lei nº 9.099/95,
aplicado subsidiariamente aos feitos do Juizado da Fazenda Pública (art. 27,
da Lei 12.153/2009).

Diante da Recomendação nº 04/2020 da CGJUS/TO, após certificado o trânsito


em julgado, proceda a intimação da parte requerida para os fins constantes na
referida recomendação, no prazo nela assinalado.

Decorrido o prazo recursal de 10 (dez) dias sem a apresentação de recurso


inominado, CERTIFIQUE-SE o trânsito em julgado e ARQUIVEM-SE os autos,
com as cautelas e formalidades devidas.

Lado outro, havendo a interposição de recurso, INTIME-SE a parte contrária,


para que, no prazo de 10 (dez) dias, apresente contrarrazões, remetendo-se
os autos, ato contínuo, à Turma Recursal, eis que a análise da admissibilidade
é daquele órgão jurisdicional de segundo grau.

Sentença NÃO SUJEITA A REEXAME NECESSÁRIO nos termos do art. 11


da Lei 12.153/2009.

2
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. REMESSA NECESSÁRIA. AÇÃO DE COBRANÇA. PROGRESSÃO PROFESSOR. MUNICÍPIO DE PALMAS. VALORES RETROATIVOS DEVIDOS. NÃO
COMPROVAÇÃO DE INEXISTÊNCIA DE PREVISÃO ORÇAMENTÁRIA. ÍNDICES DE JUROS DE MORA E CORREÇÃO MONETÁRIA APLICÁVEIS. PRECEDENTE STJ. HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS. SENTENÇA ILÍQUIDA. FIXAÇÃO NA LIQUIDAÇÃO DO JULGADO. 1. Resta incontroverso o direito à progressão vertical da autora para o Nível III, a qual foi
implementada pelo Município de Palmas, sendo certo que os valores decorrentes de sua progressão funcional são devidos desde a data do implemento das condições legais.
2. O Art. 54, da Lei Municipal n.º 1.445/2006 não impede os efeitos retroativos da progressão do servidor público, mas apenas determina que o pagamento fica condicionado
à previsão orçamentária. Contudo, o Município de Palmas não traz aos autos qualquer prova acerca da inexistência de previsão orçamentária destinada aos pagamentos
decorrentes das progressões concedidas aos seus servidores, no ano de 2008 e nos anos subsequentes, cujo ônus lhe incumbe. 3. Segundo estabelecido no REsp repetitivo
1.495.146/MG, deve incidir correção monetária pelo IPCA-E, desde o vencimento de cada parcela e juros de mora remuneração oficial da caderneta de poupança (Art. 1º-F da
Lei 9.494/97,com redação dada pela Lei 11.960/2009), a contar da citação. 4. Considerando que se trata se sentença ilíquida, com condenação em face da Fazenda Pública
Municipal, a definição do percentual dos honorários advocatícios de sucumbência apenas deve ocorrer quando liquidado o julgado, nos termos do Art. 85, §4º, inciso II, do
Código de Processo Civil. 5. Recurso de Apelação desprovido. Remessa Necessária parcialmente provida.
Desnecessária a intimação do Ministério Público, a teor da cota contida nos
autos.

Intime-se. Cumpra-se.

Palmas/TO, data certificada pelo sistema eletrônico.

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