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SENTENÇA

Vistos, etc

A presente segue o RITO SUMARÍSSIMO e com fulcro no art. 852-I da CLT, fica
dispensado o relatório.

1 – FUNDAMENTAÇÃO

VERBAS RESCISÓRIAS

A reclamante alega que se ativava junto à reclamada desde 01/02/2018 na função de


professora e que ao retornar às atividades, após as férias escolares, em 20/01/2020, se
deparou com um cartaz no portão da escola comunicando o fechamento do
estabelecimento. Relata que jamais foi comunicada sobre o fechamento da escola,
tampouco recebeu aviso prévio, verbas rescisórias, TRCT e guias para soerguimento do
FGTS e habilitação junto ao seguro-desemprego.

Em defesa, a reclamada afirma que o encerramento de suas atividades se deu por


dificuldades financeiras, configurando motivo de força maior. Alega o pagamento do 13º
salário de 2019 e das férias vencidas e que não há salário sem aberto. Reconhece o não
pagamento das verbas rescisórias e argumenta que as mesmas devem ser quitadas nos
termos do art. 501 da CLT, pela metade, como prevê o artigo 1º, §único da MP 927/2020
(estado de calamidade pública), sem incidência das multas dos arts. 477, 8º e 467 da CLT.

Em que pesem as razões da ré, entendo que as dificuldades financeiras enfrentadas não
configuram hipótese de força maior, nos termos do art.501 da CLT, o que não justifica o
descumprimento das obrigações que são inerentes ao empregador, uma vez que a ele
cabe suportar o ônus do risco econômico do pacto laboral sem negligenciar os direitos
dos trabalhadores, notadamente o lado mais frágil da relação empregatícia, mormente
considerando-se a natureza salarial da verba que remunera a força de trabalho colocada
à disposição.

A reclamada alegou em defesa que concedeu aviso prévio à autora na data de


01/11/2019 e que o mês de novembro/2019 foi o último laborado pela reclamante, com
o salário devidamente quitado, assim como o 13º salário do ano de 2019.

Não há nenhuma comprovação nos autos de que qualquer aviso prévio tenha sido
concedido à autora, conforme ela alegou na peça de ingresso, razão pela qual considero
o pacto laboral rompido sem justa causa na data de 20/01/2020.

O 13º salário de 2019 considero quitado, diante dos holerites e comprovantes de fls.
114/117.

A reclamada também logrou êxito em comprovar a quitação das férias 2017/2018 e


2018/2019 (fls. 140/143), ressaltando o fato que os períodos aquisitivos foram arranjados
de modo a que as férias dos professores coincidissem com as férias dos discentes. Pelo
exposto, considerando-se que a situação delineada nos autos não se enquadra nas
hipóteses de força maior, condeno a reclamada ao pagamento das seguintes verbas
rescisórias pleiteadas:

a) salário mês de dezembro de 2019 e saldo de salário de janeiro de 2020;

b) aviso prévio indenizado de 33 dias e sua devida projeção;

c) 13º Salário proporcional (02/12);

d) férias proporcionais 2019/2020 + 1/3 constitucional (08/12), considerando-se o início


do período aquisitivo em 02/07/2019;

e) FGTS sobre as verbas rescisórias.

f) multa de 40% sobre o FGTS de todo o pacto laboral.

Em audiência (fls. 144/147), foi deferida antecipação de tutela, cujos efeitos ora ratifico,
suprindo os pedidos de expedição de guias para soerguimento do FGTS, habilitação
junto ao Seguro-desemprego e baixa em CTPS.

DEPÓSITOS DE FGTS

A autora alega que a reclamada não depositou corretamente os valores devidos a título
de FGTS, durante o pacto laboral. Por ser fato extintivo do direito da autora, era da
reclamada o ônus de comprovar a regularidade dos recolhimentos fundiários (art. 818,
da CLT e art. 373, II, do CPC), conforme inteligência da Súmula 461, do C. TST, do qual
não logrou se desvencilhar, eis que não trouxe aos autos qualquer documentação capaz
de comprovar que os depósitos fundiários foram corretamente realizados.

Assim, julgo procedente o pedido de FGTS não depositado durante o contrato de


trabalho, devendo, a reclamada, regularizar os depósitos fundiários devidos no prazo de
10 (dez) dias após o trânsito em julgado, sob pena de execução das respectivas quantias,
nos termos do art. 816 do CPC. Em caso de inércia, os valores devidos serão apurados
em regular liquidação de sentença.

MULTAS DOS ART. 467 e 477 DA CLT

Diante do não pagamento das verbas rescisórias, é devida a multa do art. 477, §8º da
CLT.A reclamada confessou o não pagamento das verbas rescisórias alegando
dificuldades financeiras. Assim, as mesmas se revestiram de caráter incontroverso e
deveriam ter sido pagas na primeira audiência. Devida, pois, a multado art. 467 da CLT
sobre o total destas.
DANO MORAL

A reclamante requer o pagamento de indenização por danos morais em razão da


ausência de pagamento das verbas rescisórias. O dano moral é a dor, sofrimento e
humilhação que, de forma anormal, causa grande sofrimento e abalo psicológico ao
indivíduo.

Constitui lesão à esfera extrapatrimonial, em bens que dizem respeito aos direitos da
personalidade que, exemplificativamente, encontram-se no rol do art. 5º, X, da
Constituição Federal.

Para que surja o dever de reparar, devem estar presentes os requisitos da


responsabilidade aquiliana (artigos 186 e 927, ambos do CC), quais sejam:(i) ato ilícito
(omissivo ou comissivo do agente lesante); (ii) dano experimentado, que, em regra, deve
ser certo atual e subsistente; (iii) nexo causal entre a conduta e o dano; (iv) culpa ou dolo
do agente lesante. O descumprimento de obrigações trabalhistas por parte do
empregador, tais como o pagamento de verbas rescisórias, cujo direito foi reconhecido
nestes autos, já sofre as cominações legais, como correção monetária, juros e de mais
multas, não sendo presumível o dano moral. Além disso, a dispensa sem justa causa é
faculdade do empregador, e a reclamante não alega ou comprova qualquer tipo de
ofensa moral causada pela conduta da ré.

Assim, não há que se falar em reparação por dano moral, pelo simples descumprimento
de obrigações contratuais se não houver prova de nenhum dano à honra, à
personalidade ou à imagem efetivo.

Indefiro, portanto, o pedido de indenização por danos morais.

COMPENSAÇÃO/DEDUÇÃO

Defiro a compensação/dedução de eventuais valores comprovadamente já pagos, a fim


de evitar o enriquecimento sem causa do autor.

JUROS E CORREÇÃO MONETÁRIA

Juros e correção monetária, conforme decisão do Supremo Tribunal Federal, em


18/12/2020, no julgamento das Ações Declaratórias de Constitucionalidade (ADCs) 58 e
59 e das Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADIs)5867 e 6021.

A correção monetária dos créditos referentes ao FGTS terá os mesmos índices aplicáveis
dos débitos trabalhistas, nos termos da Orientação Jurisprudencial 302 da SDI-I.
RECOLHIMENTOS PREVIDENCIÁRIOS E FISCAIS

Os recolhimentos previdenciários deverão ser efetuados e comprovados na forma do art.


28 da Lei 8.212/90, dos artigos 198, 201 e 276 do Decreto 3.048/1999 e da Súmula 368
do TST, autorizada a dedução dos valores devidos pelo reclamante, sob pena de
execução direta pela quantia equivalente, conforme artigo 114, VIII da CF/1988.

Nas hipóteses cabíveis, deverá ser realizada pelo empregador a atualização de


informações no CNIS (Lei nº 8.213/91, art. 29-A), sob pena de imposição de multa
oportunamente.

As contribuições sociais destinadas às entidades privadas de serviço social e de formação


profissional, vinculadas ao sistema sindical não estão abrangidas na competência desta
Justiça especializada, por possuírem natureza diversa das contribuições previdenciárias
executáveis, nos termos dos artigos 114, VIII, 195, I,a), II e 240 da CF.

Os descontos fiscais deverão ser recolhidos e comprovados pelo empregador na forma


do artigo 46 da Lei nº 8.541/92, do Decreto 9.580/2018 e da Súmula 368 do TST, devendo
ser apurado e recolhido conforme os critérios fixados na Instrução Normativa RFB nº
1.500/2015 (DOU 30/10/2014), com exceção da incidência sobre os juros de mora, na
esteira do que prevê o artigo 404, do Código Civil, consoante OJ n.º 400 da SDI-I do TST.

Para os fins do artigo 832, § 3º da CLT, são verbas de natureza salarial, aquelas que não
estão elencadas no parágrafo 9º do inciso IV do artigo 28 da Lei n. 8.212/91.

JUSTIÇA GRATUITA

Com base no pedido lançado na petição inicial, na declaração acostada e ante a


inexistência de elementos que se contraponham à presunção de hipossuficiência
econômica da autora, defiro o benefício da gratuidade de justiça, nos moldes do artigo
790, §3º da CLT.

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DE SUCUMBÊNCIA

Havendo sucumbência recíproca, com base no art. 791-A, §2º e§3º da CLT, são devidos
os honorários advocatícios de sucumbência:

1 – Em favor do patrono da reclamante, no percentual de 10%sobre o valor que resultar


da liquidação de sentença.

2 – Em favor do patrono da reclamada, no percentual de 10%sobre o valor da causa dos


pedidos julgados improcedentes.

Considerando o benefício da assistência judiciária gratuita (TST, Súmula 463, I), declaro
suspensa a exigibilidade dos honorários de sucumbência devidos pelo reclamante;
eventual pedido superveniente de execução será examinado em processo específico,
instruído por demonstração objetiva de que cessado o motivo da concessão da
gratuidade (CLT 791-A, § 4º). Vedado o direcionamento indiscriminado dos créditos do
reclamante para pagamento de honorários sucumbenciais, considerando que o mero
recebimento desses créditos não é apto, por si só, para fazer cessar a condição de
necessidade econômica. Interpreto o art. 791-A, § 4º, da CLT, em conformidade com o
art. 5º, LXXIV, da Constituição Federal.

2 – DISPOSITIVO

Ante o exposto, nos autos da reclamação trabalhista movida por MARIA DA SILVA em
face de ESCOLA ABC, decido JULGAR PROCEDENTES EM PARTE os pedidos formulados
na petição inicial, para:

I – Condenar a reclamada ao pagamento de:

a) salário mês de dezembro de 2019 e saldo de salário de janeiro de 2020.

b) aviso prévio indenizado de 33 dias e sua devida projeção.

c) 13º Salário proporcional (02/12).

d) férias proporcionais 2019/2020 + 1/3constitucional (08/12).

e) depósitos de FGTS faltantes de todo o pacto laboral, inclusive sobre as verbas


rescisórias.

f) multa de 40% sobre o FGTS de todo o pacto laboral.

g) multa artigo 477, parágrafo 8º da CLT.

h) multa do art. 467 da CLT sobre as verbas rescisórias incontroversas.

i) juros e correção monetária.

II –Determinar a incidência de contribuições previdenciárias e fiscais.

III – Deferir os benefícios da Justiça Gratuita à reclamante, nos termos do art. 790, §3º da
CLT.

Os valores deferidos serão apurados em execução, por cálculos, e, se necessário, por


artigos e/ou arbitramento, no caso de falta de documentos ou elementos nos autos que
viabilizem a liquidação da sentença, ficando autorizada a dedução de valores pagos a
mesmo título, com base em documentos já existentes nos autos e limites dos pedidos.
Não haverá limitação da condenação aos valores indicados na petição inicial, conforme
art. 12, §2º da IN 41/2018 do TST.

Honorários advocatícios de sucumbência na forma da fundamentação.

Tudo em conformidade com os fundamentos, que supra passam a integrar esta


conclusão.
Custas processuais no importe de R$ 400,00 arbitradas provisoriamente, calculadas
sobre o valor de R$ 20.000,00 atribuído à condenação, a cargo da reclamada.

Intimem-se as partes. Nada mais.

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