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59ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro

ATOrd 0100109-84.2023.5.01.0059
RECLAMANTE: LIDIANE ROSSATO DECKMANN
RECLAMADO: CENTRO EDUCACIONAL DE REALENGO

ATA DE JULGAMENTO

Aos ... dias do mês de março de 2023, às ... horas, na


sala de audiência desta Vara, na presença da Dra. Débora
Blaichman Bassan, Juíza Titular de Vara do Trabalho, foram
apregoadas as partes, LIDIANE ROSSATO DECKMANN, reclamante,
e CENTRO EDUCACIONAL DE REALENGO, reclamada.
Partes ausentes.
Preenchidas as formalidades legais, foi proferida a
seguinte

SENTENÇA

Vistos, etc.
LIDIANE ROSSATO DECKMANN qualificada nos autos, ajuíza
a presente ação trabalhista em face de CENTRO EDUCACIONAL
DE REALENGO, alegando admissão em 02.05.2017, na função de
professora ensino médio, com a remuneração mensal de R$
4.357,03, postulando a declaração da rescisão indireta do
contrato de trabalho e a condenação da ré nas obrigações
elencadas no rol da exordial de id 073256. Junta procuração
e documentos.
Indeferida a antecipação dos efeitos da tutela, em
decisão de id 341663d.
Aberta a audiência, foi rejeitada a primeira proposta
conciliatória.
A ré ofereceu a defesa de id 6cd86d8, com procuração e
documentos.
Alçada fixada no valor da inicial.
Em réplica, a autora impugnou a preliminar de
prescrição, reportando-se à exordial.
Encerrou-se a instrução, reportando-se as partes, em
razões finais, aos elementos dos autos.
Inconciliados.
É o relatório.

DECIDO

DA INÉPCIA DA INICIAL
Inicialmente, a reclamante corrigiu o erro material
relativo ao item 5 da inicial na derradeira assentada.
Rejeito, assim, a preliminar de inépcia considerando-
se que não se apresentam na inicial qualquer um dos
obstáculos elencados no art. 330, do CPC, que pudesse
ensejá-la.
Quanto à ausência de atribuição de valores aos pedidos
na exordial, indefiro o requerimento defensivo de extinção
sem resolução de mérito, pois a reclamada, em audiência,
foi silente sobre a matéria e permitiu o encerramento da
instrução e a conclusão dos autos para sentença.

DA PRESCRIÇÃO QUINQUENAL
Declara-se a inexigibilidade das pretensões anteriores
a 12.02.2018 (art. 7º, XXIX, da CF/88).

NO MÉRITO

DA RESCISÃO INDIRETA E DAS VERBAS RESILITÓRIAS


A reclamante vindica a declaração de rescisão indireta
do seu contrato de trabalho alegando o descumprimento de
diversas obrigações do empregador, como a inadimplência de
salários e ausência de depósitos de FGTS.
A defesa apresentada não foi capaz de demonstrar o
efetivo cumprimento, por parte da ré, de todas as suas
obrigações contratuais, não provando o pagamento da
integralidade dos salários inadimplidos vindicados na
inicial.
Ademais, confessou que o FGTS não foi corretamente
quitado, mesmo depois de encerrados os períodos de
suspensão da sua exigibilidade pelas Medidas Provisórias
relativas à pandemia.
A reclamante junta extrato do FGTS zerado em id
74ccae8 - Pág. 2 / fl. 134.
Portanto, reconheço a rescisão indireta do contrato de
trabalho, por força do disposto no artigo 483, §3º, d, da
CLT, na data de 31.12.2022, considerando que a reclamante
era professora e não foi narrada prestação de serviços no
ano letivo de 2023 (item 4).
Diante do exposto, defiro os seguintes pedidos:
- salários inadimplidos das competências de maio a
dezembro de 2022, conforme contracheques juntados aos autos
(item 5-parte);
- aviso prévio proporcional indenizado de 45 dias
(item 5-parte);
- férias vencidas relativas aos períodos 2018/2019,
2019/2020 e 2020/2021 em dobro; do período 2021/2022, de
forma simples, e proporcionais (8/12), todas acrescidas de
1/3, nos limites do pedido (item 9 e 5-parte);
- 13º salário integral de 2018 a 2022 (item 5-parte);
e
- indenização dos depósitos mensais de FGTS faltantes,
inclusive em relação ao período do aviso prévio (Súmula 305
do C. TST), e da multa de 40% sobre o FGTS (item 7-parte).
Deduza-se da condenação acima o valor de R$ 3.949,18,
pago pela ré conforme documento de id be3b90e (fls.
770/771).
Desacolho o pedido de pagamento da multa do artigo 467
da CLT, considerando que a rescisão do contrato de trabalho
é objeto da presente sentença (item 5- parte).
Indefiro o pedido de aplicação de multa de 20% sobre o
total do FGTS, considerando o teor da OJ 302 da SDI-I do C.
TST, a qual dispõe que “Os créditos referentes ao FGTS,
decorrentes de condenação judicial, serão corrigidos pelos
mesmos índices aplicáveis aos débitos trabalhistas” bem
como a inexistência de previsão normativa estabelecendo ser
o empregado o beneficiário da multa e dos juros de mora
previstos no artigo 22 da Lei 8.036/1990 (item 7-parte).
Considerando-se que, a esta altura, não só se
apresenta a prova inequívoca do direito da demandante, como
também a própria verossimilhança da alegação articulada na
inicial, antecipo, desde logo e independentemente do
trânsito em julgado, os efeitos da tutela, nos termos do
art. 300 do CPC, no sentido de que seja efetivada a baixa
na CTPS da reclamante com a data de 31.12.2022 (item 3).

DA INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS


Improspera a pretensão (item 8 do rol), considerando-
se que o mero descumprimento de obrigações pecuniárias, por
si só e isoladamente, não enseja a cominação de qualquer
indenização por danos morais e seja ainda, em que valor
for.
Não há como banalizar-se o instituto da indenização
por danos morais, como se trata a hipótese dos autos, pois,
a falta do pagamento de verbas salariais e rescisórias, ou
então, a de qualquer obrigação de fazer, não poderá trazer
qualquer ato atentatório a dignidade da pessoa da
reclamante, que pudesse, de outro lado, trazer qualquer
dor, humilhação, vexame ou sofrimento, entendimento
cristalizado pela Tese Jurídica Prevalecente nº 1 do E. TRT
da 1ª Região.
DA ISENÇÃO DE CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS
AGRAVO DE PETIÇÃO. ENTIDADE BENEFICENTE. CONTRIBUIÇÃO
PREVIDENCIÁRIA. ISENÇÃO. REQUISITOS. NÃO COMPROVAÇÃO.
CONTRIBUIÇÃO DEVIDA. De acordo com o artigo 29 da Lei n°
12.101/2009, com redação atual dada pela Lei nº
13.151/2015, para que a entidade beneficente faça jus à
isenção ao pagamento das contribuições previdenciárias, é
necessário que atenda, de forma cumulativa, aos requisitos
ali elencados, o fato de possuir o Certificado de Entidade
Beneficente de Assistência Social - CEBAS não é suficiente
para o reconhecimento da isenção pleiteada, uma vez que não
há comprovação do preenchimento das demais condições
previstas no artigo 29 da Lei nº 12.101/2009, as quais são
cumulativas. (TRT-1ª Região. Agravo de Petição 0100779-
05.2019.5.01.0014 - DEJT 2021-03-16).
Nos termos do entendimento acima exposto, e não tendo
a ré comprovado o cumprimento de todas as exigências
legais, indefiro a isenção requerida.

DOS RECOLHIMENTOS FISCAIS

Observe-se a incidência de contribuição previdenciária


sobre as parcelas deferidas na presente sentença na forma
do artigo 28 da Lei 8.212/1991, com cálculo pelo critério
de competência e cada parte responsável pela sua cota-
parte.
Indefere-se, de plano, a responsabilização exclusiva
da reclamada, por falta de fundamentação legal que subsidie
a pretensão.
Ademais, caberá à reclamada reter a cota da parte
autora, juntamente com a sua, recolhendo-a no prazo do
artigo 30 da Lei 8.212/1991, realizando a sua comprovação
nos autos em cinco dias, sob pena de execução.

DA LIQUIDAÇÃO
Liquidação por simples cálculos.
A correção monetária adotará o IPCA-E na fase pré-
judicial e, a partir do ajuizamento da ação, será utilizada
a taxa SELIC (art. 406 do Código Civil), nos termos das
decisões proferidas pelo STF nas ADCs 58 e 59, e nas ADIs
5867 e 6021, que conferiram interpretação conforme a
Constituição aos artigos 879, § 7º, e 899, § 4º, ambos da
CLT, na redação dada pela Lei 13.467/2017.
Ademais, levando em conta que a taxa SELIC engloba os
juros de mora, não será aplicada a regra prevista no artigo
39 da Lei 8.177/1991.

DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS


Considerando os critérios previstos no art. 791-A, §
2º, da CLT, arbitro os honorários advocatícios em 5% sobre
o valor de liquidação da sentença (honorários advocatícios
da parte reclamante) e 5% dos valores dos pedidos
rejeitados, devidamente atualizados (honorários
advocatícios da parte reclamada).

DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA À AUTORA


Considerando a irregularidade e insuficiência da
remuneração nos últimos 8 meses do contrato de trabalho,
defiro a gratuidade de justiça à parte reclamante, nos
termos da nova redação do artigo 790, § 4º, da CLT.

DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA À RÉ
Indefiro o requerimento, porquanto a mera alegação de
insuficiência econômica, por si só, não autoriza presumir
ser a ré incapaz de arcar com as despesas do processo.
Para a concessão do benefício previsto no artigo 790,
§4º, da CLT, cabe à pessoa jurídica, com ou sem fins
lucrativos, a efetiva comprovação da ausência de condições
de arcar com tais despesas, acompanhada dos devidos
esclarecimentos.

CONCLUSÃO

POSTO ISSO, declaro a inexigibilidade das pretensões


anteriores a 12.02.2018, sendo que, no mérito, JULGO
PROCEDENTES EM PARTE os pedidos articulados na presente
ação trabalhista, para condenar a ré na obrigação de fazer
referente à anotação de baixa na CTPS da parte autora com a
data de 31.12.2022, ficando certo, outrossim, que na falta
ou no seu descumprimento, caberá a Secretaria desta MM.
Vara do Trabalho procedê-la; e a pagar para a autora as
parcelas acima deferidas, deduzidas, no entanto, as verbas
já pagas ou adiantadas aos mesmos títulos, tudo ainda não
só nos termos da fundamentação supra e que passa a integrar
este decisum.
Os pedidos deferidos seguem liquidados, observados os
índices fixados pelo C. TST.
Custas pela ré no importe de R$ XXX, calculadas sobre
R$ XXX, valor da condenação, conforme memória de cálculo
anexa e que integra o presente dispositivo.
Não havendo pagamento, fica a parte autora ciente de
que deverá requerer o que entender cabível, observando-se
os termos do artigo 11-A da CLT.
Cumpra-se em oito dias.
Intimem-se as partes do teor desta decisão.

DÉBORA BLAICHMAN BASSAN


JUÍZA TITULAR DE VARA DO TRABALHO

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