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Nome: Leonardo Antonio Gonçalves, Joabi Neves, Bianca Tavares;

RA: 1801850172, 1801850395, 1001550567;

AO JUÍZO DA 80ª VARA DO TRABALHO DE CUIABÁ – MATO GROSSO

Autos: 999/2019

Fábrica de Tecidos Lurex Ltda, já qualificada nos autos em epígrafe,


por intermédio de seus advogados ao final assinado, vem, respeitosamente à
presença de Vossa Excelência, por seu representante legal constituído, com
fulcro no art. 847, da CLT, oferecer

CONTESTAÇÃO

Em face da Reclamação Trabalhista movida por Maria da Silva,


igualmente qualificada, pelos fatos e fundamentos a seguir expostos.

1. SÍNTESE DA INICIAL

Inicialmente, a reclamante alega ser vítima de doença profissional, pois,


o mobiliário da empresa reclamada não respeitava as normas de ergonomia.
Em seguida, afirma ser beneficiária do plano odontológico ofertado pela
empresa de forma gratuita, requerendo sua integração como salário utilidade.
Além disso, requer o pagamento das cestas básicas relativas ao mês de
agosto e setembro, pois, segundo a reclamante, nos dois últimos anos, a
empresa fornecia as cestas básicas aos empregados mensalmente,
interrompendo o fornecimento no dia 1º de agosto de 2020. Ato contínuo,
afirmou também que, por duas vezes na semana, permanecia na sede da
empresa por uma hora após o fim do expediente para participar de um culto
ecumênico, caracterizando tempo à disposição do empregador, pelo que
requer o pagamento das horas extras.

Narra ainda a reclamante que foi contratada como cozinheira, no


entanto, desde o início do seu contrato, era obrigada a preparar os alimentos
e levá-los aos demais funcionários do setor, exercendo deste modo, a função
de cozinheira e garçonete, requerendo adicional de 30% sobre o seu salário
em razão disto.

Por fim, a reclamante afirma que fora coagida a pedir demissão, pois,
se assim não fizesse, seria dispensada por justa causa, “mesmo não tendo
feito nada de errado”, requerendo, consequentemente, a anulação do pedido
de demissão e o pagamento dos direitos devidos.

2. DA INÉPCIA DA INICIAL

Diante das alegações da reclamante, é notável a inépcia da inicial. Alega


a autora que é devido o adicional de periculosidade, no entanto, sequer
fundamentou o pedido.

O art. 840, §1º, da CLT, dispõe que, a reclamação quando escrita, deve
conter a breve exposição dos fatos que resultem o dissídio e o pedido, que
deverá ser certo. No caso dos autos, verifica-se que não há causa de pedir
correlata ao pedido de adicional de periculosidade, pois, deixou a reclamante
de fundamentar o pedido, somente formulando pedido genérico.

Logo, de forma subsidiária ao processo do trabalho, o diploma


processual civil estabelece que nos casos de inépcia da inicial, impõe-se, de
rigor, o indeferimento da inicial, conforme art. 330, I, do Código de Processo
Civil.

Ao debruçar-se sobre questão assemelhada, o Egrégio Tribunal


Regional do Trabalho da 9ª Região teve a oportunidade de decidir:

RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA - AUSÊNCIA DE FUNDAMENTOS


QUANTO AOS PEDIDOS FORMULADOS EM FACE DOS POSSÍVEIS
RESPONSÁVEIS SUBSIDIÁRIOS - INDEFERIMENTO DE PLANO DA
PETIÇÃO INICIAL. Este Órgão Julgador anulou o processo para
possibilitar a emenda da petição inicial. Porém, intimado para, de forma
específica detalhar e individualizar as atividades desempenhadas e os
respectivos períodos de trabalho em face de cada reclamada, apontadas
como responsáveis subsidiárias, o reclamante deixou de atender a
contento a determinação judicial. Assim, quando não atendidos os
requisitos legais respeitantes aos fatos, fundamentos jurídicos e
pedido com as suas especificações, envolvendo cada litisconsorte,
impõe-se o indeferimento da petição inicial exclusivamente em
relação aos pedidos que não atenderam às exigências mencionadas.
Inteligência dos artigos 321, parágrafo único e 485, I, do CPC. Recurso
do autor a que se dá parcial provimento. (Tribunal Regional do Trabalho
da 9a Região - 7ª Turma. Acórdão: 0000246-37.2020.5.09.0028.
Relator: BENEDITO XAVIER DA SILVA. Data de julgamento:
24/02/2022. Publicado no DEJT em 21/03/2022. Disponível em:
<https://url.trt9.jus.br/ykl3v>). (Destaques intencionais).

Deste modo, pugna a reclamada pelo indeferimento da inicial, em razão


da evidente inépcia da exordial.

2.1. DA PRESCRIÇÃO

A reclamante trabalhou na Lurex de 10/05/2008 a 29/09/2020,


ajuizou reclamação trabalhista em face da sociedade empresária, em
15/10/2020.

Art. 7º. São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que
visem à melhoria de sua condição social:

XXIX – ação, quanto a créditos resultantes das relações de trabalho, com


prazo prescricional de 5 (cinco) anos para os trabalhadores urbanos e rurais,
até o limite de 2 (dois) anos após a extinção do contrato de trabalho;
Porém, que observado o prazo de: até dois anos para a propositura da
ação, estariam garantidos cinco anos não prescritos no curso do respectivo
contrato de trabalho

Ainda, o Tribunal Superior do Trabalho na Súmula nº 156 estabelece:

“Da extinção do último contrato começa a fluir o prazo prescricional do direito


de ação em que se objetiva a soma de períodos descontínuos de trabalho”

Portanto, se for devido qualquer valor a reclamada deve-se observar o


princípio da eventualidade, sendo referido somente ao período não prescrito.

3. DO DANO MORAL

No tocante ao pedido de indenização por danos morais, narra a autora


ter adquirido doença degenerativa, em razão do trabalho, postulando pela
condenação da reclamada em danos morais. Todavia, não assiste razão à
reclamante, senão vejamos:

A reclamante juntou com a inicial, o laudo de ressonância magnética


da coluna vertebral, que atesta a natureza degenerativa da doença, e doenças
degenerativas não são consideradas doenças do trabalho, vejamos:

DOENÇA. ORIGEM DEGENERATIVA. AUSÊNCIA DE


RESPONSABILIDADE CIVIL DA EMPRESA. Comprovada a origem
degenerativa da doença e a ausência de nexo de causalidade ou de
concausalidade entre a atividade profissional e a patologia, não há como
responsabilizar o empregador pelas parcelas indenizatórias pleiteadas.
(Tribunal Regional do Trabalho da 9a Região (4ª Turma). Acórdão:
0001290-52.2017.5.09.0657. Relator: ROSEMARIE DIEDRICHS
PIMPAO. Data de julgamento: 10/06/2020. Publicado no DEJT em
19/06/2020. Disponível em: <https://url.trt9.jus.br/ph9l9>)

DOENÇA OCUPACIONAL. RESPONSABILIDADE DA RÉ.


INEXISTÊNCIA DE NEXO DE CAUSALIDADE OU CONCAUSALIDADE.
Para que reste caracterizada doença equiparada a acidente do
trabalho, deve ficar demonstrado, de forma clara, o nexo causal ou
concausal entre a doença e o labor desenvolvido, evidenciando ter
sido este fator determinante para o surgimento ou agravamento da
doença acometida pelo empregado, o que não ocorreu nos autos.
Sentença mantida. (Tribunal Regional do Trabalho da 9a Região (7ª
Turma). Acórdão: 0000053-22.2020.5.09.0125. Relator: ROSIRIS
RODRIGUES DE ALMEIDA AMADO RIBEIRO. Data de julgamento:
14/07/2022. Publicado no DEJT em 21/07/2022. Disponível em:
<https://url.trt9.jus.br/bugef>). (Destaques intencionais).

Ainda, conforme art. 20, §1º, da lei 8.213/1991, as doenças


degenerativas não são consideradas doenças do trabalho, nos seus exatos
termos.

Portanto, pugna a reclamante pela improcedência do pedido de


condenação em danos morais, eis que não demonstrado o nexo causal entre
a doença e o exercício das atividades na empresa reclamada, sendo a doença
de natureza degenerativa.

4. DO PLANO ODONTOLÓGICO

Com relação ao pedido de integração do plano odontológico ao salário


in natura, este vai de encontro com o disposto na Consolidação das Leis do
Trabalho.

Veja, excelência, o art. 458, §2º, IV, da CLT, estabelece que a assistência
médica, hospitalar e odontológica, prestada diretamente ou mediante seguro-
saúde, não podem ser consideradas para fins de composição ou serem
propriamente dito, salário:

Art. 458 - Além do pagamento em dinheiro, compreende-se no salário, para


todos os efeitos legais, a alimentação, habitação, vestuário ou outras prestações
"in natura" que a empresa, por fôrça do contrato ou do costume, fornecer
habitualmente ao empregado. Em caso algum será permitido o pagamento com
bebidas alcoólicas ou drogas nocivas.

§ 2o Para os efeitos previstos neste artigo, não serão consideradas como salário
as seguintes utilidades concedidas pelo empregador:

IV – Assistência médica, hospitalar e odontológica, prestada diretamente ou


mediante seguro-saúde;
Ainda, o parágrafo quinto do mesmo dispositivo é claro ao estabelecer
que qualquer valor relativo à prestação de serviços odontológicos não
integram o salário:

§ 5o O valor relativo à assistência prestada por serviço médico ou odontológico,


próprio ou não, inclusive o reembolso de despesas com medicamentos, óculos,
aparelhos ortopédicos, próteses, órteses, despesas médico-hospitalares e
outras similares, mesmo quando concedido em diferentes modalidades de
planos e coberturas, não integram o salário do empregado para qualquer efeito
nem o salário de contribuição, para efeitos do previsto na alínea q do § 9o do
art. 28 da Lei no 8.212, de 24 de julho de 1991.

Assim, postula a reclamada pela improcedência do pedido.

5. CESTA BÁSICA

Quanto ao pedido de pagamento das cestas básicas dos meses de agosto


e setembro, é de rigor a improcedência do pedido.

A reclamante acostou junto à inicial, cópia da convenção coletiva, que


vigorou de julho de 2016 a julho de 2020, contudo, tal convenção perdurou
por 4 (quatro) anos. A Consolidação das Leis do Trabalho é clara ao proibir a
estipulação de duração superior a dois anos de uma convenção coletiva de
trabalho, nos termos do art. 614, §3º, da CLT, vejamos:

Art. 614 - Os Sindicatos convenentes ou as emprêsas acordantes promoverão,


conjunta ou separadamente, dentro de 8 (oito) dias da assinatura da Convenção
ou Acôrdo, o depósito de uma via do mesmo, para fins de registro e arquivo, no
Departamento Nacional do Trabalho, em se tratando de instrumento de caráter
nacional ou interestadual, ou nos órgãos regionais do Ministério do Trabalho e
Previdência Social, nos demais casos.

§ 3o Não será permitido estipular duração de convenção coletiva ou acordo


coletivo de trabalho superior a dois anos, sendo vedada a ultratividade.

No mais, a reclamante argumenta que, como não fora entabulada nova


convenção com o fim da anterior, a anterior deveria se prorrogar
automaticamente, entretanto, a ultratividade é expressamente vedada pelas
normas trabalhistas, como já se pode observar da leitura do art. 614, §3º, da
CLT.

Neste sentido é a jurisprudência:

ARTIGO 4º DA LEI ESTADUAL Nº 20.121/19. INTERPRETAÇÃO NO


SENTIDO DE CONFERIR ULTRATIVIDADE AOS INSTRUMENTOS
COLETIVOS FIRMADOS PELA CODAPAR. IMPOSSIBILIDADE.
VIOLAÇÃO AO ARTIGO 614, § 3º, DA CLT. A interpretação conferida
pelo d. Juízo ao artigo 4º da Lei Estadual nº 20.121/19 de que os
instrumentos coletivos celebrados pela CODAPAR deverão continuar a
reger as relações individuais de trabalho, até que sejam superadas por
normas coletivas ou disposição legislativa superveniente, não merece
guarida. Isto porque a norma extraída do artigo 4º, I, da Lei
20.121/2019 não comporta interpretação literal e isolada, devendo o
ordenamento jurídico ser interpretado sistematicamente,
considerando-se todo o arcabouço normativo decorrente do contexto em
que está inserida. Assim, o disposto legal não deve ser interpretado
isoladamente, mas em conjunto com o disposto no artigo 614, § 3º, da
CLT. Portanto, a norma estadual, ao preservar os direitos convencionais
dos empregados da CODAPAR, não criou novo direito e tampouco
renovou a vigência de instrumentos normativos, determinando apenas
a manutenção dos direitos oriundos da ACT/CCT 2019/2020 durante
a validade do instrumento coletivo, sem qualquer ultratividade. Recurso
ordinário do reclamado a que se dá provimento, no particular. (Tribunal
Regional do Trabalho da 9a Região (2ª Turma). Acórdão: 0000769-
83.2021.5.09.0652. Relator: LUIZ ALVES. Data de julgamento:
24/05/2022. Publicado no DEJT em 26/05/2022. Disponível em:
<https://url.trt9.jus.br/zuwdw>). (Destaques intencionais).

Logo, a improcedência do pedido é a medida que se impõe, tendo em


vista a manifesta contrariedade às leis trabalhistas.

6. CULTO ECUMÊNICO

Excelência, a empresa fazia um convite aos funcionários para fazerem


parte de forma voluntária das práticas religiosas que ocorrem dentro da
empresa, e não se caracteriza como serviço efetivo, conforme vemos no texto
de lei no art 4 da Consolidação das leis do Trabalho

Art. 4º - Considera-se como de serviço efetivo o período em que o empregado


esteja à disposição do empregador, aguardando ou executando ordens, salvo
disposição especial expressamente consignada.
§ 2o Por não se considerar tempo à disposição do empregador, não será
computado como período extraordinário o que exceder a jornada normal, ainda
que ultrapasse o limite de cinco minutos previsto no § 1o do art. 58 desta
Consolidação, quando o empregado, por escolha própria, buscar proteção
pessoal, em caso de insegurança nas vias públicas ou más condições
climáticas, bem como adentrar ou permanecer nas dependências da empresa
para exercer atividades particulares, entre outras: (Incluído pela Lei nº 13.467,
de 2017) (Vigência)

I - práticas religiosas; (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017) (Vigência)

Assim, fica claro que esse período não fazia parte das horas de trabalho
já que de forma voluntária ela poderia ficar para fazer parte do culto
ecumênico.

7. PEDIDO DE DEMISSÃO

Ao alegar a nulidade do pedido de demissão, cabe à reclamante provar


os fatos constitutivos do direito que pleiteia, nos termos do art. 818, I, da CLT,
uma vez que não produz qualquer prova para confirmar os fatos por ela
alegados.

Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho:

Art. 818. O ônus da prova incumbe: (Redação dada pela Lei nº 13.467, de
2017)

I - ao reclamante, quanto ao fato constitutivo de seu direito; (Incluído pela Lei nº


13.467, de 2017)

Ainda, a jurisprudência é neste sentido:

RECURSO ORDINÁRIO DA RECLAMANTE. RITO SUMARÍSSIMO.


REVERSÃO DO PEDIDO DE DEMISSÃO FIRMADO PELO
EMPREGADO. VÍCIO DE CONSENTIMENTO. Conclui-se, por todo o
contexto probatório, que a iniciativa da rescisão do contrato de trabalho
partiu da reclamante, em verdadeiro pedido de demissão. Não há que
falar, assim, em reversão do pedido de demissão para rescisão sem
justa causa por iniciativa do empregador. Quanto ao vício de
consentimento alegado, não há elementos nos autos que o demonstrem.
Neste sentido, não houve apresentação de provas que viessem a
comprovar que houve qualquer vício quando do pedido de demissão.
Para que seja declarada a nulidade do pedido, é necessária a
comprovação de que o pedido ocorreu com vício de vontade, o que não
ficou comprovado no caso dos autos. Sentença mantida. Recurso
conhecido e não provido.

Deste modo, observa-se que o ônus da prova é de quem alega, isto é, do


reclamante, que vai a juízo com a pretensão, e consequentemente, com as
alegações vinculadas ao direito que assiste (VIVEIROS, 2015)

Destarte, não resta dúvida que a reclamante deve provar a coação que
diz ter sofrido, o que neste caso concreto não ocorreu.

8. ACÚMULO DE FUNÇÃO

Em princípio, a cada contrato de trabalho celebrado equivale a


obrigação de que o empregado exerça determinadas atribuições. Estas podem
ser específicas em relação a uma determinada função, ou podem consistir no
exercício de mais de uma função num mesmo contrato.

Inexistindo especificação formal quanto às funções a serem


desempenhadas, afirma o artigo 456, parágrafo único, da Consolidação das
Leis do Trabalho que “à falta de prova ou inexistindo cláusula expressa a tal
respeito, entender-se-á que o empregado se obrigou a todo e qualquer serviço
compatível com a sua condição pessoal.”

Art. 456. A prova do contrato individual do trabalho será feita pelas anotações
constantes da carteira profissional ou por instrumento escrito e suprida por
todos os meios permitidos em direito. (Vide Decreto-Lei nº 926, de 1969)

Parágrafo único. A falta de prova ou inexistindo cláusula expressa e tal


respeito, entender-se-á que o empregado se obrigou a todo e qualquer serviço
compatível com a sua condição pessoal.

A atividade desempenhada pela reclamante ara totalmente compatível


com sua condição profissional e pessoal.

9. PEDIDOS
a) A improcedência total dos pedidos formulados na inicial, com a
consequente extinção do feito sem julgamento do mérito, nos termos do art.
840, §3º, da CLT, e, art, 485, I, do diploma processual civil;

b) A condenação da reclamante ao pagamento de custas processuais e


honorários advocatícios;

c) Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito


admitidos;

Termos em que

Pede e espera deferimento

De São José dos Pinhais/PR para Cuiabá/MT, 06 de setembro de 2022.

OAB/PR XXX

OAB/PR XXX

OAB/PR XXX

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