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PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 15ª REGIÃO
2ª Vara do Trabalho de São José dos Campos

Processo: 0012163-69.2017.5.15.0132
AUTOR: GLEISON ALCINO DE SOUZA
RÉU: GENERAL MOTORS DO BRASIL LTDA

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SENTENÇA

I RELATÓRIO

GLEISON ALCINO DE SOUZA ajuizou reclamação trabalhista em face de GENERAL MOTORS DO BRASIL LTDA sustentando ter sido admitido em
03/03/2001, estando o contrato de trabalho ativo até a presente data. Alega ser portador de doença profissional e pretende a condenação da reclamada no
pagamento de indenização por danos morais e materiais na forma de pensão mensal vitalícia. Requer que lhe sejam concedidos os benefícios da justiça
gratuita. Juntou documentos. Atribuiu à causa o valor de R$ 100.000,00.

A reclamada apresentou sua defesa escrita, por meio da qual alegou preliminares e rechaçou todos os pedidos submetidos com a petição inicial, aguardando,
assim, a total improcedência da ação. Juntou também documentos.

O reclamante apresentou réplica.

Por ocasião da audiência, foi determinada a realização de perícia médica, estando o respectivo laudo e esclarecimentos encartados aos autos.

Sem mais provas a produzir, encerrou-se a instrução processual.

É o relatório.

Decido.

II FUNDAMENTAÇÃO.

1 Reforma trabalhista.

Dada a qualidade de ordem pública em que se fundam as disposições trabalhistas e a natureza de trato sucessivo do contrato de trabalho, a Lei
13.467/17 é aplicável de imediato aos contratos de trabalho em curso à data de sua vigência, de forma não retroativa, respeitados o direito adquirido, o ato
jurídico perfeito e a coisa julgada, nos termos do artigo 6º da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro, e observado o artigo 468 da CLT. O juízo
assim procederá, quando da análise dos pedidos a serem decididos.

2 Inépcia da petição inicial.

O processo do trabalho é regido pelo princípio da simplicidade, possuindo regulamentação própria no que pertine aos requisitos da petição inicial, não se
aplicando, dessa forma, o art. 319 do NCPC.

De fato, o art. 840 da CLT apenas exige que o autor faça uma breve exposição dos fatos e a seguir formule os seus pedidos, requisitos estes plenamente
observados. Ademais, a narração dos fatos permitiu à reclamada a apresentação de defesa profícua.

Não há, portanto, falar-se em inépcia da inicial.

Rejeito a preliminar.

3 Prescrição.

A definição do prazo prescricional a ser considerado para as ações de indenização decorrentes de acidentes do trabalho e/ou doença profissional está atrelada à
ciência inequívoca do dano experimentado pelo trabalhador. Assim, se tal ciência ocorreu anteriormente à vigência da Emenda Constitucional nº 45/04, o
prazo a ser considerado é aquele considerado no Código Civil, observadas as regras de transição, se for o caso. Contudo, se a ciência ocorreu após a entrada
em vigor de referida Emenda Constitucional, o prazo a ser considerado é o previsto no art. 7º, XXIX, da CF/88, ou seja cinco anos - contados da data do
ajuizamento da reclamação (Súmula nº 308, I, do TST) - até o limite de dois anos após a extinção do contrato de trabalho.

A SBDI-I do TST tem entendido dessa forma, conforme se observa no aresto a seguir transcrito:

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RECURSO DE EMBARGOS REGIDO PELA LEI N.º11.496/2007. PRESCRIÇÃO. DANO MORAL. ACIDENTE DE
TRABALHO.ILÍCITO OCORRIDO NA VIGÊNCIA DO CÓDIGO CIVIL DE 1916. DEMANDA AJUIZADA NA JUSTIÇA
DO TRABALHO APÓS A EMENDA CONSTITUCIONALN.º 45/2004. DIREITO INTERTEMPORAL.A SBDI1 desta Corte
pacificou entendimento no sentido de que as lesões ocorridas posteriormenteàvigência da Emenda Constitucional n.º
45/2004, por meio da qual se definiu a competência da Justiça do Trabalho para processar e julgar as ações de
indenização de dano moral decorrentes da relação de trabalho, a prescrição incidente éa prevista no artigo 7º, inciso XXIX,
da Carta Magna, porquanto indiscutível a natureza trabalhista reconhecida ao caso. Contrário sensu, verificada a lesão
anteriormenteàentrada em vigor da referida emenda constitucional, prevalece a prescrição civil, em face da controvérsia
quantoànatureza do pleito. No caso, observa-se o prazo trienal relativoà prescriçãoda pretensãoàindenização pleiteada
nestes autos. Considerando que a ação foi ajuizada em março de 2005, dentro do prazo prescricional de 3 anos contados
da vigência do Código Civil de 2002 (12/01/2003), não há que se falar em prescrição aplicável ao presente caso.
Precedentes. Recurso de embargos conhecido e desprovido. (E-RR-99100-19.2006.5.05.0012, Rel. Min. Renato de Lacerda
Paiva, Subseção I, Especializada em Dissídios Individuais, DEJT 2/3/2012).

Analisados os autos, não há prova inequívoca de ciência da lesão incapacitante - permanentemente - em período anterior ao quinquênio.

Diante disso, não há prescrição a ser decretada.

4 Doença profissional.

O reclamante alega ser portador de problemas nos ombros e coluna decorrentes do trabalho prestado à reclamada.

O perito de confiança do Juízo verificou que o reclamante é portador de síndrome do manguito rotador bilateral e lombalgia, que são patologias com
características degenerativas.

Entretanto, afirmou o expert que a atividade laborativa exercida por ele exigia muitas posições não ergonômicas, com risco médio para lesões de coluna
vertebral e articulações dos ombros e membros superiores (fl. 452 do .pdf).

Em relação à coluna, o perito constatou condição de normalidade atualmente.

Já em decorrência das lesões nos ombros, o reclamante sofre de redução de sua capacidade laborativa em 12,5%.

Embora o Juiz não esteja adstrito ao laudo pericial, podendo formar sua convicção através de outros elementos ou fatos provados nos autos, no caso em
análise, é todo conveniente adotar as conclusões firmadas pelo expert na medida em que é o detentor do conhecimento especializado para dirimir a matéria
debatida.

Inafastável é o dever de indenizar da empresa ré, porque é a responsável pelos riscos do negócio (princípio da alteridade), sendo também responsável por
proporcionar a seus trabalhadores um ambiente de trabalho sadio e equilibrado, fornecendo meios necessários ao labor em condições de normalidade.

Considerando que as condições em que o labor era exercido pelo reclamante contribuíram diretamente para a doença, restou configurada a culpa da reclamada.

É inegável a afetação do patrimônio moral do obreiro, consistente no desequilíbrio psicológico advindo do acometimento da moléstia. Certamente suas
relações sociais, seu bem-estar, a normalidade de sua vida foram imensamente afetadas até por conta de dores, necessidade de consultas médicas, ingestão
diária de medicamentos, situações que, dentre outras, possuem o condão de causar-lhe dor, desânimo, angústia, abatimento, além de outros sentimentos
dolorosos para a vida de qualquer ser humano.

Contudo, a afirmação do expert no sentido de que a moléstia possui natureza degenerativa, de maneira que o trabalho desenvolvido na ré apenas contribuiu
para o seu agravamento, deve ser considerada para fins de mitigação da indenização devida.

Isto porque, a existência da concausa é circunstância que não elimina a culpa do empregador, já que as condições em que o labor era exercido contribuíram
diretamente para o agravamento da doença e, em consequência, para o dano sofrido. Contudo, não se pode desconsiderar que os fatores degenerativos foram
determinantes para a eclosão e/ou agravamento da doença, de forma que deve haver mitigação no que tange ao valor da indenização a ser deferida. Tal
circunstância deve ser considerada para fins de arbitramento da indenização devida, como também deve ser observada a análise médica quanto à incapacidade
do obreiro.

As duas partes são responsáveis pelo surgimento da moléstia: o autor, ainda que involuntariamente, mas em decorrência de sua própria constituição orgânica e
a ré, que não assegurou perfeitas condições para o exercício do labor. Assim, ante a ausência de critério objetivo capaz de uma análise segura quanto ao grau
de influência de cada culpa, entendo que deva haver uma distribuição proporcional nos prejuízos, cada qual arcando com os ônus parciais de suas
responsabilidades.

Entendo assim razoável se fixar uma indenização a título de danos morais no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), valor considerado justo e razoável,
contemplando, a um só tempo razoável compensação ao autor pelos prejuízos sofridos e, ainda, o caráter pedagógico da medida, a fim de refletir a ideia de
punição ao infrator, pelo desajuste de seu comportamento. Juros e atualização monetária na forma da Súmula nº 439 do TST.

Além disso, condeno a ré a pagar ao reclamante pensão mensal vitalícia, desde o ajuizamento da ação, no importe equivalente a 6,25% (mitigação) de sua
última remuneração, devendo tal pensionamento ser atualizado anualmente pelo mesmo índice de atualização monetária autorizado pelo Governo Federal para
o pagamento das aposentadorias e pensões suportadas pelo INSS.
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Quanto à alegação da reclamada no sentido de que o fato de o contrato de trabalho do reclamante encontrar-se ativo representaria óbice ao deferimento de
pensão mensal vitalícia, não prospera, visto que tem por escopo ressarcir o recorrente do prejuízo sofrido em razão da redução da sua capacidade laborativa,
estimando-se o que deixará de ganhar no futuro em razão da natural dificuldade para a reinserção no mercado de trabalho, considerando a limitação imposta
pelas lesões experimentadas.

Além disso, o art. 950 do Código Civil não isenta ou excepciona o dever de indenizar na hipótese de o ofendido continuar exercendo atividade profissional. A
indenização nele prevista tem como fundamento o ato ilícito praticado pelo ofensor e está associada à compensação pela perda ou redução da capacidade
laborativa do trabalhador, ainda que temporária, e não à reposição salarial.

Tal indenização, contudo, no entender deste julgador, deve ser paga em prestações mensais. De fato, a indenização decorre do acometimento da moléstia
profissional, que, no caso, ocasionou a perda parcial da capacidade laboral do obreiro. Nesta seara, tal indenização objetiva preservar a situação econômica do
lesado (reclamante), bem como se sua família, tal como se estivesse ainda laborando. Sendo assim, a indenização em forma de prestações mensais além de ser
menos gravosa ao devedor é ainda mais benéfica ao trabalhador, já que, se deferida a prestação única e esta for mal administrada, em curto período de tempo
pode o trabalhador ficar privado de sua fonte de subsistência. Há que se considerar ainda que a indenização - paga de uma só vez - produziria um rendimento
em muito superior à remuneração até então percebida pelo reclamante, bastando para tanto ser aplicada em qualquer financeira bancária. Por outro lado, deve o
juiz também considerar que não se afigura justo o pagamento de uma indenização que seria devida ao longo de anos ou décadas de uma só vez, já que não há
nenhuma certeza quanto à sobrevivência do autor por todos esses anos ou décadas. A forma de pagamento desta indenização, portanto, não se traduz em direito
do empregado, situando-se, ao contrário, no âmbito de discricionariedade do julgador, que ponderando os valores antagônicos postos em juízo, tem o dever de
prolatar uma solução que lhe pareça mais justa e adequada para as partes. Dessa forma, ante o exposto, rejeito o pedido para que a indenização seja paga de
uma só vez, determinando-se assim que a indenização seja paga na forma de prestações mensais.

Reconhecida a conduta culposa do empregador e tendo em vista os termos da Recomendação Conjunta GP.CGJT nº 2/2011, após o trânsito em julgado desta
sentença, encaminhem-se comunicação eletrônica à Procuradoria da Fazenda Nacional - 2ª Região (prf3.regressivas@agu.gov.br), comunicando tal fato,
enviando ainda cópia desta decisão, a fim de subsidiar eventual ajuizamento de Ação Regressiva, nos termos do art. 120 da Lei nº 8.213/91. Deverá também
ser encaminhada comunicação eletrônica para o endereço regressivas@tst.jus.br, para a mesma finalidade.

5 Honorários periciais.

Sucumbente na pretensão objeto da perícia, fica a ré condenada nos honorários periciais no valor ora arbitrado de R$ 5.000,00.

Atualização conforme OJ nº 198 da SDI-I, do TST.

6 Gratuidade da justiça.

Embora a reclamada seja contrária à concessão do benefício, comungo do entendimento de que a mera declaração por ocasião da petição inicial da condição de
miserabilidade jurídica, é suficiente para o deferimento da Justiça gratuita ao reclamante (Lei n º 1060/50, art. 4º e §1º; OJ SBDI-I 305).

Fica o benefício deferido, portanto.

7 Honorários advocatícios.

Quanto aos honorários advocatícios, estes somente são devidos na Justiça do Trabalho na forma da Lei nº 5.584/70, Súmula n º 219 do TST, sendo pressuposto
o deferimento da Justiça Gratuita e estar a parte assistida por seu Sindicato profissional, requisitos concomitantes que não ocorrem na presente ação. Indefiro.

Para que se evite futura possível arguição de omissão na decisão, registro que não se cogita na aplicação dos honorários advocatícios previstos na Lei n.
13.467/17.

De fato, em princípio, como toda lei, a lei processual terá efeito imediato e geral, sendo eficaz a partir da sua vigência. Restringe-se, contudo, a eficácia da lei
processual, para deixar intactos os atos jurídicos perfeitos, os direitos adquiridos e a coisa julgada (Constituição Federal, art. 5º, XXXVI).

Há também que serem observados os princípios da segurança jurídica e igualmente o princípio que veda surpreender de forma prejudicial os litigantes que
iniciaram a relação processual sob a égide da lei velha.

Dessa forma, os efeitos imediatos da lei nova somente se aplicam quanto as situações jurídicas que lhes são posteriores.

Partindo-se desta premissa, honorários advocatícios, custas, benefícios da justiça gratuita, dentre outros, são temas que já eram disciplinados pela lei revogada,
sendo que continuam a reger o processo em curso ao tempo do surgimento da lei nova, para que haja observância aos preceitos acima registrados.

Especificamente quanto aos honorários advocatícios, não obstante o instituto estar inserido ao lado de regras processuais, é inegável sua natureza híbrida,
ressaltando o viés de direito material (art. 22, Lei n. 8.906/94). Assim, considerando o caráter bifronte do instituto, afasta-se a aplicação de honorários
advocatícios no caso em tela, regendo-se a matéria nos termos da Lei nº 5.584/70 e súmula nº 219 do TST, já acima referenciados.

Dessa forma, deixo de condenar qualquer das partes nos honorários advocatícios.

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8Juros e atualização monetária.

Juros, a contar da data da propositura da ação (CLT, art. 883 e Súmula n º 200, TST), não integrando a base de cálculo do Imposto de Renda (OJ nº 400 da
SDI-I do TST).

Atualização monetária, observadas as épocas próprias, assim consideradas os vencimentos de cada parcela (no caso dos salários, o mês subsequente ao da
prestação dos serviços - Súmula n º 381, TST), observado o disposto no art. 39 da Lei nº 8.177/91. A partir de 25/03/15, o índice de atualização a ser utilizado
deverá ser o Índice de Preços ao Consumidor Amplo Especial (IPCA-E), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em substituição à TRD,
conforme decisão do Colendo TST no processo ArgInc-479-60.2011.5.04.0231, que declarou a inconstitucionalidade da expressão "equivalentes à TRD" do
referido artigo, e complemento através de decisão em Embargos de Declaração, que modulou os efeitos de tal decisão, retroagindo à data acima estipulada.

Como fundamento para utilização do IPCA-E, transcrevo abaixo passagem das decisões acima mencionadas na qual são citados elementos valorativos
para adoção de índice adequado para atualização monetária, em substituição à TR(TRD):

"(...)1. a atualização monetária é instituto jurídico-constitucional, porque tema específico ou matéria própria de algumas normas contidas na
Constituição;

2. não representa acréscimo à dívida originária, de modo a favorecer ao credor;

3. a dívida que tem o seu valor nominal atualizado ainda é a mesma dívida;

4. deixar de assegurar a sua incidência desequilibra a equação econômico-financeira entre devedor e credor, em desfavor deste último, ou seja, negar-
lhe o direito acarreta o seu empobrecimento e correlato enriquecimento do devedor, pois a dívida é quitada mutilada ou de maneira parcial, ao passo
que o sujeito passivo da obrigação dela se desincumbe de modo reduzido;

5. constitui verdadeiro direito subjetivo do credor à percepção de uma determinada paga (integral) em dinheiro;

6. é instrumento de preservação do valor real de determinado bem, constitucionalmente protegido e redutível a dinheiro, como fim de resguardar o seu
"poder aquisitivo" e da deterioração ou perda de substância em virtude da inflação;

7. caracteriza-se, operacionalmente, pela aptidão para manter equilíbrio econômico-financeiro entre sujeitos da relação jurídica que lhe deu origem;

8. a sua incidência objetiva deixar os sujeitos da relação jurídica tal como qualitativamente se encontravam, no momento em que se formou a relação
obrigacional;

9. o índice há de corresponder ao preciso índice de desvalorização da moeda, em um certo período.

Ao analisar a utilização da TR, assentou o então Ministro Relator:

1. o "índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança", na linha da jurisprudência do STF, não reflete a perda de poder
aquisitivo da moeda (ADI 493);

2. a metodologia de cálculo da TR não revela correspondente desvalorização da moeda, pois os fatores econômicos nela adotados não se
relacionam com o valor de troca da moeda, mas, sim - o que é diverso -, com o custo da sua captação;

3. por não refletir a exata recomposição do poder de compra, representa afronta à garantia da coisa julgada e à separação dos Poderes,
porque de nada adianta o direito reconhecido pelo Judiciário ser corretamente atualizado, até a data de expedição do precatório, se sofrer
depreciação até o efetivo pagamento;

4. a incidência de índices com redutores caracteriza fraude à Constituição;

5. a "preservação do valor real" do patrimônio particular é constitucionalmente assegurada."

A adoção do IPCA-E guarda ainda consonância com a Súmula nº 118 do Egrégio Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região:

"ARGUIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE - LEI Nº 8.177/91 - ARTIGO 39, CAPUT - EXPRESSÃO 'EQUIVALENTES À TRD
ACUMULADA' - ARTIGO 5º, INCISOS XXII e XXXVI, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988. É inconstitucional a expressão
'equivalentes à TRD acumulada', contida na cabeça do artigo 39 da Lei nº 8.177/91, por conflitar com o art. 5º, XXII e XXXVI, da CF/88,
violando as garantias fundamentais de proteção integral do patrimônio e de inviolabilidade da coisa julgada, uma vez que o referido índice
foi criado para remunerar o capital aplicado em investimentos financeiros, pelo que não serve à recomposição do valor da moeda depreciada
pela inflação." (RESOLUÇÃO ADMINISTRATIVA Nº 12/2018, de 18 de julho de 2018 - Divulgada no D.E.J.T. - Caderno Judiciário de
19/07/2018, págs. 01-02; D.E.J.T. de 20/07/2018, pág. 01; D.E.J.T. de 23/07/2018, pág. 01).

Dessa forma, determino a aplicação mantenho do IPCA-E como índice de correção monetária, na forma da modulação dos efeitos do julgado pelo C.
TST, aplicando a TRD até 24/03/2015 e após o IPCA-E.

9 Contribuições previdenciárias e fiscais.

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Para efeitos do art. 832, § 3º da CLT, determina-se a não incidência de contribuições previdenciárias e fiscais sobre a totalidade das parcelas deferidas, por sua
natureza indenizatória.

III CONCLUSÃO

Posto isto, julgo PROCEDENTES EM PARTE os pedidos formulados por GLEISON ALCINO DE SOUZA em face de GENERAL MOTORS DO BRASIL
LTDA para condená-la a pagar ao reclamante: indenização por danos morais; tudo conforme os estritos termos da fundamentação precedente, parte integrante
deste dispositivo.

Além disso, condeno a ré a pagar ao reclamante pensão mensal vitalícia, desde o ajuizamento da ação, no importe equivalente a 6,25% de sua última
remuneração, devendo tal pensionamento ser atualizado anualmente pelo mesmo índice de atualização monetária autorizado pelo Governo Federal para o
pagamento das aposentadorias e pensões suportadas pelo INSS.

São deferidos ao reclamante os benefícios da Justiça Gratuita.

Juros e atualização monetária; contribuições previdenciárias e fiscais; conforme tópicos nº 8 e 9 da fundamentação, respectivamente.

Honorários periciais a cargo da reclamada, no valor de R$ 5.000,00.

Reconhecida a conduta culposa do empregador e tendo em vista os termos da Recomendação Conjunta GP.CGJT nº 2/2011, após o trânsito em julgado desta
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Custas, pela reclamada, no importe de R$ 1.800,00, calculadas sobre R$ 90.000,00, valor arbitrado à condenação.

Intimem-se as partes.

Cumpra-se.

Nada mais.

São José dos Campos, 02/04/2019.

ROBERTO DOS SANTOS SOARES

Juiz do Trabalho

Assinado eletronicamente. A Certificação Digital pertence a:


[ROBERTO DOS SANTOS SOARES]

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