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SENTENÇA DE AUXÍLIO ACIDENTE

O INTERESSE DE AGIR, condição da ação prevista expressamente pelo CPC (art. 17), assenta-se
sobre três aspectos, quais sejam: a utilidade, a necessidade e a adequação. Assim, a exigência
de prévio pedido administrativo está relacionada ao aspecto necessidade, segundo o qual a
intervenção jurisdicional deve ser indispensável à satisfação da pretensão autoral.

No caso de benefícios previdenciários, a sua concessão está condicionada ao acionamento


prévio, na esfera administrativa, do INSS pelo segurado. Inexistente essa provocação, uma vez
que dela depende o reconhecimento do direito ao benefício, não há como se falar em
resistência à pretensão do autor, não se justificando a movimentação da máquina judiciária.

Assim, uma vez requerido o benefício, se for concedida uma prestação inferior à devida, está
caracterizada a lesão a direito, sem que seja necessário um prévio requerimento
administrativo de revisão.

Não assiste razão à autarquia previdenciária ao alegar que a petição inicial contém pedidos
incompatíveis entre si e por isso deve ser declarada INEPTA. Isso porque a exordial tem como
base pedidos e causa de pedir claros, notadamente a concessão de benefícios por
incapacidade em razão de pretenso acidente de trabalho ocorrido ....

Assim, ao contrário do que alegou a autarquia, o autor informou “(i) o nome do empregador;
(ii) como ocorreu o acidente”. Além disso, o fato de não ter sido apresentada CAT não torna a
petição inicial inepta, já que pode ser suprida por elementos probatórios para a configuração
do nexo de causalidade, matéria que atinge o mérito da demanda, o qual será analisado em
momento oportuno.

Questão prejudicial: PRESCRIÇÃO

Em 13.10.2020, com publicação do acórdão em 26.11.2020, o Supremo Tribunal Federal julgou


a ADI 6.096, declarando inconstitucional o estabelecimento de prazo decadencial para a
revisão do ato administrativo de indeferimento, cancelamento ou cessação de benefício
previdenciário, porque tal prazo inviabilizaria, em última análise, o exercício do direito
fundamental à previdência.

Os benefícios previdenciários envolvem relações de trato sucessivo e atendem necessidades


de caráter alimentar, razão pela qual não se admite a tese de prescrição do fundo de direito.O
benefício previdenciário possui natureza de direito indisponível, razão pela qual o benefício
previdenciário em si não prescreve, somente as prestações não reclamadas no prazo de 5 anos
é que prescreverão, uma a uma, em razão da inércia do beneficiário.

Nas causas em que se pretende a concessão de benefício de caráter previdenciário, inexistindo


negativa expressa e formal da Administração, não há falar em prescrição do fundo de direito,
porquanto a obrigação é de trato sucessivo, motivo pelo qual incide, no caso, o disposto na
Súmula 85 do STJ:

Súmula 85-STJ: Nas relações jurídicas de trato sucessivo em que a Fazenda


Pública figure como devedora, quando não tiver sido negado o próprio
direito reclamado, a prescrição atinge apenas as prestações vencidas antes
do quinquênio anterior à propositura da ação.
Portanto, é aplicável ao caso concreto o entendimento firmado pelo STF na ADI 6.096, não
havendo que se falar em prescrição do fundo de direito, mas apenas de eventuais parcelas
vencidas anteriormente ao quinquênio que precedeu o ajuizamento da ação (Súmula 85/STJ).

DO AUXÍLIO-ACIDENTE

O art. 86 da Lei 8.213/91 dispõe que o auxílio-acidente será concedido na hipótese em que
lesões já consolidadas resultarem em sequelas que impliquem na redução da capacidade para
o trabalho que o segurado habitualmente exercia. Trata-se de benefício de caráter
indenizatório, diante da redução da capacidade laborativa.

Benefício independe de carência (art. 26, inciso I, da Lei 8213/91).

Cabe aferir se estão presentes os requisitos legais para a concessão do benefício: qualidade de
segurado, acidente de trabalho, sequela definitiva, nexo de causalidade entre a sequela e o
acidente e, por fim, efetiva redução da capacidade laboral em razão da sequela.

Inicialmente, a qualidade de segurado está comprovada pelo CNIS...

Da ausência da qualidade de segurado:

2. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é firme no sentido de


que a sentença trabalhista pode ser considerada como início de prova
material, sendo apta a comprovar o tempo de serviço, mesmo que o INSS
não tenha participado da relação jurídico-processual-trabalhista, se
corroborado por outro meio de prova, como no caso.

Além disso, já houve inclusive a concessão anterior de benefício em favor do autor na esfera
administrativa.

Também restou comprovado o nexo de causalidade entre a incapacidade e o acidente de


trabalho.

Primeiro, pela CAT – Comunicação de Acidente de Trabalho (M. 1.9), emitida pela
empregadora do autor, em 05.10.1995, que descreveu que, naquela mesma data, às
16h20min, ele sofreu acidente de trabalho, assim descrito: “...”.

Segundo, o nexo já fora reconhecido pelo próprio INSS quando da concessão do benefício de
auxílio-doença na espécie acidentária – código 91 (CNIS de M. 23.1)

O perito judicial confirmou a origem acidentária da lesão (M. 43.1):

O requisito da incapacidade ou redução da capacidade do segurado para o trabalho, todavia,


não restou demonstrado.

A respeito, o laudo pericial (M. 43.1) juntado aos autos consignou que:

Em audiência de instrução e julgamento foram ouvidas duas testemunhas arroladas pelo


autor, José Josinei Cruciari e José Oswaldo da Paz (M. 62).

Como visto, o perito judicial concluiu que em decorrência de acidente de trabalho o autor
sofreu “amputação traumática de metade distal do 4º dedo da mão esquerda”. Vale dizer, o
autor perdeu a metade da “ponta” do dedo anular da mão esquerda.
Não há notícia de que o autor fosse canhoto. O perito atestou que a lesão já está consolidada e
que não gera incapacidade nem redução da capacidade para o trabalho que o autor
habitualmente exercia (carteiro motorizado), já que não há exigência de maior esforço para
realizá-lo.

Inclusive, não foram constatadas maiores alterações no exame físico direcionado às mãos:

Não obstante o relato da testemunha de que o autor possuía dificuldade para praticar suas
atividades de metalúrgico devido à lesão no dedo, não há nos autos qualquer indício de prova
material que corrobore tal alegação. Os atestados apresentados pelo autor no M. 1.6 não
trazem informações de momento posterior ao término do auxílio-doença nem tampouco
descrevem alguma limitação de movimento sofrida pelo autor após a cirurgia de amputação
do dedo.

Em que pese o julgador não esteja adstrito às conclusões do laudo pericial ( art. 479, CPC), não
há nos autos nenhum elemento que infirme ou ponha em dúvida as conclusões do perito.

Isto porque a prova testemunhal não é capaz de elidir o laudo pericial, que foi devidamente
fundamentado e elaborado por perito de confiança do juízo, além de ter sido submetido ao
crivo de contraditório.

Como visto, o perito apontou que o autor não apresenta redução da capacidade para a
atividade específica de metalúrgico, sendo taxativo ao afirmar que a lesão anteriormente
sofrida está consolidada e que a sequela residual não interfere no trabalho habitualmente
exercido à época do acidente.

Destaque-se, ainda, que a constatação pericial de redução da capacidade genérica ou, ainda,
de leve déficit funcional, não é um atestado de efetivo rebate profissional hábil a macular a
eficiência do desempenho do segurado demandante, na medida em que a mens legis do art.
86 da lei 8.213/91 é indenizar o segurado que, após o evento acidentário, realmente passa a
empreender maior esforço para realizar a mesma atividade. O objetivo do auxílio-acidente é
ressarcir o segurado cujo exercício do trabalho habitual passa a ser mais penoso. E segundo as
conclusões do perito, este não é o caso em tela.

Portanto, o requerente não preenche os requisitos necessários à concessão de qualquer


benefício acidentário, eis que não há incapacidade nem redução da capacidade para o
desempenho de sua atividade habitual, razão porque deve ser reformada a sentença para
julgar improcedente o pedido inicial.

ATENÇÃO – VERIFICAR SE O LAUDO ATESTA A EXISTÊNCIA DE REDUÇÃO DA CAPACIDADE,


AINDA QUE EM GRAU MÍNIMO:

Nesse sentido, imperioso frisar que o Superior Tribunal de Justiça, em sede do julgamento do
Tema Repetitivo nº 416, já decidiu acerca da possibilidade de concessão do auxílio-acidente
independente do grau da lesão, sendo tal benefício devido ainda que a incapacidade se dê
em grau mínimo, mas desde que comprovada a efetiva redução (mínima) da capacidade
laborativa do segurado.

Contudo, se atestar redução de amplitude de algum movimento mas SEM redução da


capacidade laboral, é improcedente.
SE PROCEDENTE: Termo inicial - TEMA 862/STJ - RESP 1.729.555/SP” o auxílio-acidente será
devido a partir do dia seguinte ao da cessação do auxílio-doença, mas, inexistente a
prévia concessão de tal benefício, o termo inicial deverá corresponder à data do
requerimento administrativo. Inexistentes o auxílio-doença e o requerimento administrativo, o
auxílio-acidente tomará por termo inicial a data da citação.”

Juros simples: poupança desde citação (art. 405 CC + Súmula 204-STJ) e correção pelo INPC
desde cada vencimento – Tema repetitivo 905.

Súmula 204-STJ: Os juros de mora nas ações relativas a benefícios


previdenciários incidem a partir da citação válida.

Custas, se procedente, pelo INSS. Se improcedente autor tem isenção legal art. 129 da lei.
8213/91.

Honorários em caso de procedência – fixados nos termos das Súmulas 110, 111 e 178 do STJ:

Súmula 111-STJ: Os honorários advocatícios, nas ações previdenciárias, não


incidem sobre as prestações vencidas após a sentença.

Súmula 110-STJ: A isenção do pagamento de honorários advocatícios, nas


ações acidentárias, é restrita ao segurado.

Súmula 178-STJ: O INSS não goza de isenção do pagamento de custas e


emolumentos, nas ações acidentárias e de benefícios, propostas na Justiça
Estadual.

Percentual dos honorários a ser fixado após a liquidação (Art. 85, §4º, II do CPC).

Reexame necessário DESNECESSÁRIO. Mesmo que ilíquida, é possível auferir com certeza que
o valor devido pelo INSS não ultrapassa o teto de 1.000 salários mínimos previsto pelo art. 496,
§3º, inciso I do CPC.

Após a entrada em vigor do Código de Processo Civil de 2015, é dispensável


a remessa necessária nas sentenças ilíquidas proferidas em desfavor do
INSS, cujo valor mensurável da condenação ou do proveito econômico seja
inferior a mil salários mínimos. STJ. 1ª Turma. REsp 1.735.097-RS, Rel. Min.
Gurgel de Faria, julgado em 08/10/2019 (Info 658).

Honorários sucumbência com base nas parcelas vencidas, se procedente.

Honorários periciais pelo Estado do PR se improcedente (tema 1044) e pelo INSS se


procedente.

Nas ações de acidente do trabalho, os honorários periciais, adiantados pelo


INSS, constituirão despesa a cargo do Estado, nos casos em que
sucumbente a parte autora, beneficiária da isenção de ônus sucumbenciais,
prevista no parágrafo único do art. 129 da Lei 8.213/91.

P.R.I.
Local e data.

Juiz Substituto

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