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O INTERESSE DE AGIR, condição da ação prevista expressamente pelo CPC (art. 17), assenta-se
sobre três aspectos, quais sejam: a utilidade, a necessidade e a adequação. Assim, a exigência
de prévio pedido administrativo está relacionada ao aspecto necessidade, segundo o qual a
intervenção jurisdicional deve ser indispensável à satisfação da pretensão autoral.
Assim, uma vez requerido o benefício, se for concedida uma prestação inferior à devida, está
caracterizada a lesão a direito, sem que seja necessário um prévio requerimento
administrativo de revisão.
Não assiste razão à autarquia previdenciária ao alegar que a petição inicial contém pedidos
incompatíveis entre si e por isso deve ser declarada INEPTA. Isso porque a exordial tem como
base pedidos e causa de pedir claros, notadamente a concessão de benefícios por
incapacidade em razão de pretenso acidente de trabalho ocorrido ....
Assim, ao contrário do que alegou a autarquia, o autor informou “(i) o nome do empregador;
(ii) como ocorreu o acidente”. Além disso, o fato de não ter sido apresentada CAT não torna a
petição inicial inepta, já que pode ser suprida por elementos probatórios para a configuração
do nexo de causalidade, matéria que atinge o mérito da demanda, o qual será analisado em
momento oportuno.
DO AUXÍLIO-ACIDENTE
O art. 86 da Lei 8.213/91 dispõe que o auxílio-acidente será concedido na hipótese em que
lesões já consolidadas resultarem em sequelas que impliquem na redução da capacidade para
o trabalho que o segurado habitualmente exercia. Trata-se de benefício de caráter
indenizatório, diante da redução da capacidade laborativa.
Cabe aferir se estão presentes os requisitos legais para a concessão do benefício: qualidade de
segurado, acidente de trabalho, sequela definitiva, nexo de causalidade entre a sequela e o
acidente e, por fim, efetiva redução da capacidade laboral em razão da sequela.
Além disso, já houve inclusive a concessão anterior de benefício em favor do autor na esfera
administrativa.
Primeiro, pela CAT – Comunicação de Acidente de Trabalho (M. 1.9), emitida pela
empregadora do autor, em 05.10.1995, que descreveu que, naquela mesma data, às
16h20min, ele sofreu acidente de trabalho, assim descrito: “...”.
Segundo, o nexo já fora reconhecido pelo próprio INSS quando da concessão do benefício de
auxílio-doença na espécie acidentária – código 91 (CNIS de M. 23.1)
A respeito, o laudo pericial (M. 43.1) juntado aos autos consignou que:
Como visto, o perito judicial concluiu que em decorrência de acidente de trabalho o autor
sofreu “amputação traumática de metade distal do 4º dedo da mão esquerda”. Vale dizer, o
autor perdeu a metade da “ponta” do dedo anular da mão esquerda.
Não há notícia de que o autor fosse canhoto. O perito atestou que a lesão já está consolidada e
que não gera incapacidade nem redução da capacidade para o trabalho que o autor
habitualmente exercia (carteiro motorizado), já que não há exigência de maior esforço para
realizá-lo.
Inclusive, não foram constatadas maiores alterações no exame físico direcionado às mãos:
Não obstante o relato da testemunha de que o autor possuía dificuldade para praticar suas
atividades de metalúrgico devido à lesão no dedo, não há nos autos qualquer indício de prova
material que corrobore tal alegação. Os atestados apresentados pelo autor no M. 1.6 não
trazem informações de momento posterior ao término do auxílio-doença nem tampouco
descrevem alguma limitação de movimento sofrida pelo autor após a cirurgia de amputação
do dedo.
Em que pese o julgador não esteja adstrito às conclusões do laudo pericial ( art. 479, CPC), não
há nos autos nenhum elemento que infirme ou ponha em dúvida as conclusões do perito.
Isto porque a prova testemunhal não é capaz de elidir o laudo pericial, que foi devidamente
fundamentado e elaborado por perito de confiança do juízo, além de ter sido submetido ao
crivo de contraditório.
Como visto, o perito apontou que o autor não apresenta redução da capacidade para a
atividade específica de metalúrgico, sendo taxativo ao afirmar que a lesão anteriormente
sofrida está consolidada e que a sequela residual não interfere no trabalho habitualmente
exercido à época do acidente.
Destaque-se, ainda, que a constatação pericial de redução da capacidade genérica ou, ainda,
de leve déficit funcional, não é um atestado de efetivo rebate profissional hábil a macular a
eficiência do desempenho do segurado demandante, na medida em que a mens legis do art.
86 da lei 8.213/91 é indenizar o segurado que, após o evento acidentário, realmente passa a
empreender maior esforço para realizar a mesma atividade. O objetivo do auxílio-acidente é
ressarcir o segurado cujo exercício do trabalho habitual passa a ser mais penoso. E segundo as
conclusões do perito, este não é o caso em tela.
Nesse sentido, imperioso frisar que o Superior Tribunal de Justiça, em sede do julgamento do
Tema Repetitivo nº 416, já decidiu acerca da possibilidade de concessão do auxílio-acidente
independente do grau da lesão, sendo tal benefício devido ainda que a incapacidade se dê
em grau mínimo, mas desde que comprovada a efetiva redução (mínima) da capacidade
laborativa do segurado.
Juros simples: poupança desde citação (art. 405 CC + Súmula 204-STJ) e correção pelo INPC
desde cada vencimento – Tema repetitivo 905.
Custas, se procedente, pelo INSS. Se improcedente autor tem isenção legal art. 129 da lei.
8213/91.
Honorários em caso de procedência – fixados nos termos das Súmulas 110, 111 e 178 do STJ:
Percentual dos honorários a ser fixado após a liquidação (Art. 85, §4º, II do CPC).
Reexame necessário DESNECESSÁRIO. Mesmo que ilíquida, é possível auferir com certeza que
o valor devido pelo INSS não ultrapassa o teto de 1.000 salários mínimos previsto pelo art. 496,
§3º, inciso I do CPC.
P.R.I.
Local e data.
Juiz Substituto