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Sentença trabalhista e revisão de benefícios

previdenciários
» Alexandre Lopes Ribeiro

Resumo: O presente trabalho objetiva a análise da revisão de benefícios


previdenciários fundada em decisão proferida pela Justiça do Trabalho,
discorrendo sobre a competência da Justiça do Trabalho em matéria
previdenciária, a extensão e os efeitos de suas decisões, e as hipóteses em que
seria possível a revisão de benefícios previdenciários com base em decisão
trabalhista, à luz da legislação e da jurisprudência. 

Palavras-chave: Direito Previdenciário. Revisão de benefícios. Sentença


trabalhista. Efeitos da sentença.

Introdução

A divisão da ciência jurídica em disciplinas ocorre apenas para


fins de estudo, sendo certo que as diversas áreas do Direito não constituem
compartimentos estanques e incomunicáveis, mas pelo contrário, estão ligadas
umas às outras como os diversos ramos de uma mesma planta, cujo tronco é a
Constituição Federal.

Houve um tempo em que se estudava o Direito Previdenciário


como um apêndice do Direito do Trabalho, porém tal entendimento resta
superado em face da sua autonomia científica, vez que possui objeto de
estudo, princípios e normas próprios, distintos do Direito do Trabalho.

Apesar de se constituírem em disciplinas autônomas de estudo na


ciência do Direito, Direito Previdenciário e Direito do Trabalho guardam entre
si intrínsecas relações. Pode-se dizer que, para os segurados obrigatórios, a
relação previdenciária decorre da relação de trabalho, em suas mais diversas
acepções - relação de emprego, prestação de serviços autônoma, trabalho
avulso, etc.

Além disso, o Direito Previdenciário utiliza diversos conceitos


próprios do Direito do Trabalho (com as adaptações necessárias às suas
peculiaridades), tais como empregado, empregador, salário, remuneração,
dentre outros.
Os fatos ligados à relação trabalhista muitas vezes produzem
efeitos na relação previdenciária. O aumento de salário ou o recebimento de
horas extras implica no aumento do valor do salário de contribuição
previdenciário. Um acidente de trabalho pode resultar no pagamento de um
benefício acidentário. Por conta dessa íntima ligação entre a relação
trabalhista e a previdenciária, são comuns os casos em que o segurado, após
obter uma sentença favorável na Justiça do Trabalho, procura a autarquia
previdenciária com o intuito de proceder à revisão de seu benefício, em razão
dos consectários de tal decisão.

1 - A competência da Justiça do Trabalho em matéria previdenciária

A Emenda Constitucional nº 20/98 ampliou a competência da


Justiça do Trabalho ao introduzir o §3º no art. 114, com a seguinte redação:
Art. 114
- ......................................................................................
(...)
§ 3º - Compete ainda à Justiça do Trabalho executar, de
ofício, as contribuições sociais previstas no art. 195, I, "a", e
II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que
proferir."

Posteriormente, com a Emenda Constitucional 45/04, que


introduziu a chamada Reforma do Judiciário, passou a redação do §3 a constar
do inciso VIII do art. 114 da Constituição Federal[1]. Desse modo, a
competência da Justiça do Trabalho restringe-se ao aspecto tributário da
relação previdenciária, razão pela qual não possui competência para julgar
questões relativas à concessão ou revisão de benefícios previdenciários,
averbação de tempo de serviço/contribuição em razão do reconhecimento de
um vínculo de emprego, dentre outros.

A título de exemplo, suponha-se que determinada ação


trabalhista tenha por objeto o reconhecimento de um vínculo de emprego e o
pagamento de indenização por acidente do trabalho[2], e que na esfera
administrativa, pela falta da qualidade de segurado do RGPS[3], foi negado
pelo INSS ao autor o benefício acidentário requerido em razão do mesmo
evento objeto do pedido de indenização na Justiça do Trabalho. Julgados
procedentes os pedidos, em face da limitação constitucional da competência
em matéria previdenciária, não poderá o Juiz do Trabalho determinar a
concessão do benefício anteriormente indeferido.

Neste sentido:
EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA -
DETERMINAÇÃO DE REVISÃO DO INDEFERIMENTO
DA CONCESSÃO DE BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO -
INSS - INCOMPETÊNCIA DESTA JUSTIÇA
ESPECIALIZADA - LIMITES SUBJETIVOS DA COISA
JULGADA.
Falece competência à Justiça do Trabalho para dirimir
lides previdenciárias. Portanto, a decisão prolatada por
magistrado trabalhista determinando ao INSS, que sequer
integrou a reclamação trabalhista, a revisão de benefício
previdenciário de trabalhadora consubstancia-se em usurpação
da competência outorgada à Justiça Federal Comum (art. 109,
I, CR) ou, excepcionalmente à Justiça Estadual Comum (art.
109, parágrafo 3º, da CR), além de afrontar os limites subjetivos
da coisa julgada, que repousa no disposto no art. 472, do CPC.
O C. TST, por meio da Orientação Jurisprudencial 57, da SBDI-
2, não discrepa deste entendimento. Segurança concedida.
(TRT da 3.ª Região; Processo: MS - 623/08; Data de
Publicação: 20/02/2009; Órgão Julgador: 1ª Seção Espec. de
Dissídios Individuais; Relator: Marcelo Lamego Pertence;
Revisor: Maria Laura Franco Lima de Faria; Divulgação:
DJMG . Página 9)
EMENTA: AÇÃO DE REVISÃO DE BENEFÍCIO
PREVIDENCIÁRIO - INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO
TRABALHO - CONFLITO DE COMPETÊNCIA –
Diante do que dispõem os artigos 109, I, da Constituição da
República e 129, II, da Lei 8.213/91, a Justiça do Trabalho não
tem competência para processar e julgar demanda que tem por
objeto a revisão de benefício previdenciário, entendimento que
ora se reafirma mesmo diante da decisão proferida pelo
Supremo Tribunal Federal no julgamento do conflito de
competência 7204-1, que apenas ressalvou a competência desta
Especializada para o exame das ações de indenização por danos
decorrentes de acidente do trabalho movidas pelo empregado
contra seu ex-empregador, o que não alcança as ações
previdenciárias, cuja competência permanece da Justiça
Comum Estadual. E como esta já declinou de sua competência
para apreciação do litígio, cabe a este Tribunal suscitar o
conflito de competência, na forma do art. 105, I, da CR/88.
(TRT da 3.ª Região; Processo: RO -20406/05; Data de
Publicação: 10/02/2006; Órgão Julgador: Primeira Turma;
Relator: Convocada Taisa Maria M. de Lima; Revisor:
Mauricio J.Godinho Delgado; Divulgação: DJMG . Página 7)

Como visto, a competência da Justiça do Trabalho limita-se ao


aspecto tributário da relação previdenciária, nos moldes estabelecidos pela
Constituição Federal em seu art. 114, inciso VIII.
2 – As pretensões de revisão de benefícios decorrentes de decisões
proferidas pela Justiça do Trabalho

Apesar da íntima ligação entre a relação trabalhista e a


previdenciária, ambas se distinguem e são completamente independentes
juridicamente. Assim, a sentença trabalhista não tem por si o condão de impor
qualquer obrigação ao INSS, em face da limitação da competência da Justiça
do Trabalho em matéria previdenciária, e ainda pela limitação subjetiva da
coisa julgada, cujos efeitos se operam somente entre aqueles que foram parte
no processo, não podendo vincular terceiros e gerar efeitos diversos da
competência trabalhista, vez que a autarquia previdenciária não figurou como
parte no processo[4].

De tais decisões pode resultar o reconhecimento de um vínculo


de emprego não registrado na CTPS, a condenação ao pagamento de verbas
salariais não pagas no curso do contrato de trabalho (horas extras, adicional
noturno, etc.), a declaração da existência de salários pagos “por fora”, com a
consequente anotação na CTPS de tais valores e o pagamento das demais
verbas salariais daí decorrentes, dentre outras.

Em linhas gerais, a sentença trabalhista julga o mérito com


exaurimento da instrução processual, baseando-se nas provas produzidas, ou
então apenas homologa um acordo celebrado entre os litigantes. Pode ainda
ocorrer que a condenação se dê em razão dos efeitos da revelia (artigos 844 da
CLT e 319 do CPC).

São comuns os casos em que o segurado pleiteia a revisão de seu


benefício previdenciário tendo por base uma sentença trabalhista, para incluir
um vínculo de emprego não anotado em CTPS ou para incluir salários de
contribuição relativos a determinado período com vistas a majorar o cálculo
da renda mensal inicial do benefício que recebe. Resta saber em que hipóteses
tais decisões poderão servir como documento hábil a produzir efeitos na
relação previdenciária.

Não é demais dizer que a relação previdenciária se dá entre o


segurado e Previdência Social, e tem por norte o disposto na legislação
previdenciária. No que diz respeito ao reconhecimento do tempo de serviço, a
Lei 8213/91 traz norma específica no art. 55, §3º:

Art. 55. O tempo de serviço será comprovado na


forma estabelecida no Regulamento, compreendendo,
além do correspondente às atividades de qualquer das
categorias de segurados de que trata o art. 11 desta
Lei,mesmo que anterior à perda da qualidade de
segurado:
(...)
§ 3º A comprovação do tempo de serviço para os
efeitos desta Lei, inclusive mediante justificação
administrativa ou judicial, conforme o disposto no art.
108, só produzirá efeito quando baseada em início de
prova material, não sendo admitida prova
exclusivamente testemunhal, salvo na ocorrência de
motivo de força maior ou caso fortuito, conforme
disposto no Regulamento.

Desse modo, em face do dispositivo acima transcrito, somente


nas hipóteses em que a sentença trabalhista tenha se baseado em prova
material (da efetiva prestação de serviços e do período trabalhado), que tenha
servido de base para a condenação é que a mesma poderá servir como
documento hábil a influenciar a relação previdenciária. Vale dizer: apenas a
sentença desprovida de qualquer outro elemento de prova que tenha servido
de suporte à decisão é insuficiente a fundamentar um pedido de revisão
perante o INSS.

Nesse sentido, veja-se a farta jurisprudência do STJ:

PREVIDENCIÁRIO. TEMPO DE SERVIÇO.


RECLAMATÓRIA TRABALHISTA. INÍCIO DE PROVA
MATERIAL. SENTENÇA NÃO FUNDAMENTADA EM
PROVAS DOCUMENTAIS E TESTEMUNHAIS.  INÍCIO
DE PROVA MATERIAL NÃO CARACTERIZADO.
 1. Segundo entendimento pacífico desta Terceira Seção, a
sentença trabalhista será admitida como início de prova
material, apta a comprovar o tempo de serviço, caso ela tenha
sido fundada em elementos que evidenciem o labor exercido na
função e o período alegado pelo trabalhador na ação
previdenciária.
 2. Não cabem embargos de divergência quando a
jurisprudência do Tribunal se firmou no mesmo sentido do
acórdão embargado. Súmula n.
168/STJ.
 3. Agravo regimental improvido.
(AgRg nos EREsp  811.508/PR, Rel. Ministro JORGE
MUSSI, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 28/11/2012, DJe
05/12/2012)
PREVIDENCIÁRIO. TEMPO DE SERVIÇO.
RECLAMATÓRIA TRABALHISTA. INÍCIO DE PROVA
MATERIAL. ART. 55, § 3º, DA LEI 8.213/1991.
POSSIBILIDADE.
JURISPRUDÊNCIA DO STJ. SÚMULA 83/STJ.
REEXAME DO CONJUNTO PROBATÓRIO. SÚMULA
7/STJ. IMPOSSIBILIDADE.
1.  "A sentença trabalhista será admitida como início de
prova material, apta a comprovar o tempo de serviço, caso ela
tenha sido fundada em elementos que evidenciem o labor
exercido na função e o período alegado pelo trabalhador na
ação previdenciária" (EREsp 616.242/RN, Rel. Ministra
Laurita Vaz, Terceira Seção, DJ 24.10.2005).  No mesmo
sentido: AgRg no Ag 1.301.411/GO, Rel. Ministro Adilson
Vieira Macabu (Desembargador Convocado do TJ/RJ), Quinta
Turma, DJe 12.5.2011; e AgRg no REsp 1255231/PE, Rel.
Ministro Vasco Della Giustina (Desembargador Convocado do
TJ/RS), Sexta Turma, DJe 16.5.2012.
2. O acórdão recorrido está em sintonia com atual
orientação do STJ, razão pela qual não merece prosperar a
irresignação. Súmula 83/STJ.
3. O Tribunal de origem consignou a suficiência da prova
material e testemunhal para a comprovação do tempo de serviço
pleiteado. A revisão desse entendimento depende de reexame
fático, inviável em Recurso Especial, conforme disposto na
Súmula 7/STJ.
4. Agravo Regimento não provido.
(AgRg no REsp 1317071/PE, Rel. Ministro HERMAN
BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 21/08/2012, DJe
03/09/2012)
PREVIDENCIÁRIO. TRABALHADOR URBANO.
TEMPO DE SERVIÇO. URBANO. SENTENÇA
TRABALHISTA. INÍCIO DE PROVA MATERIAL.
POSSIBILIDADE. PRECEDENTES.
1. É possível a utilização da sentença trabalhista como
início de prova material para comprovação do exercício de
atividade laborativa, desde que existam outros elementos aptos à
comprovação, na linha dos precedentes desta Corte sobre a
matéria.
2. Agravo interno ao qual se nega provimento.
(AGRESP 200500142354, CELSO LIMONGI
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/SP) - SEXTA
TURMA, DJE DATA:03/11/2009.)
PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO
RECURSO ESPECIAL. TEMPO DE SERVIÇO.
RECONHECIMENTO. IMPOSSIBILIDADE. SENTENÇA
TRABALHISTA NÃO FUNDAMENTADA EM PROVAS
DOCUMENTAIS. AUSÊNCIA DE INÍCIO DE PROVA
MATERIAL. PRECEDENTES.
1. A sentença trabalhista apenas será admitida como início
de prova material, apta a comprovar o tempo de serviço, quando
fundada em elementos que evidenciem o labor exercido na
função e o período alegado pelo trabalhador na ação
previdenciária, o que não ocorre na hipótese em apreço.
Precedentes.
2. Agravo regimental desprovido.
(AGRESP 200802230699, LAURITA VAZ - QUINTA
TURMA, DJE DATA:20/04/2009.)
AGRAVO REGIMENTAL. PREVIDENCIÁRIO.
RECURSO ESPECIAL. APOSENTADORIA POR TEMPO
DE SERVIÇO. RECLAMATÓRIA TRABALHISTA. PROVA
MATERIAL.
1. A jurisprudência pacífica desta Corte é de que a sentença
trabalhista pode ser considerada como início de prova material,
sendo hábil para a determinação do tempo de serviço enunciado
no artigo 55, § 3º, da Lei nº 8.213/1991, desde que fundada em
elementos que evidenciem o exercício da atividade laborativa na
função e períodos alegados na ação previdenciária, ainda que o
INSS não tenha integrado a respectiva lide.
2. Agravo regimental improvido.
(AGRESP 200801064800, PAULO GALLOTTI - SEXTA
TURMA, DJE DATA:06/10/2008.)
AGRAVO REGIMENTAL. PREVIDENCIÁRIO.
RECONHECIMENTO DE TEMPO DE SERVIÇO.
SENTENÇA TRABALHISTA DESACOMPANHADA DE
DOCUMENTAÇÃO A EVIDENCIAR A ATIVIDADE
LABORATIVA. INÍCIO DE PROVA MATERIAL NÃO
CARACTERIZADA. MATÉRIA PACÍFICA.
1. A jurisprudência desta Corte é pacífica no sentido de que
a sentença trabalhista pode ser considerada como início de
prova material, mostrando-se hábil para a determinação do
tempo de serviço previsto no artigo 55, § 3º, da Lei nº
8.213/1991, desde que fundada em elementos que evidenciem o
exercício da atividade laborativa na função e períodos alegados
na ação previdenciária, ainda que o INSS não tenha integrado a
respectiva lide.
2. In casu, a decisão da Justiça do Trabalho não serve como
prova apta a autorizar o reconhecimento do alegado tempo de
serviço, pois inexistentes quaisquer documentos a evidenciar o
exercício da atividade laborativa.
3. Agravo regimental a que se nega provimento.
(AGRESP 200800969977, PAULO GALLOTTI - SEXTA
TURMA, DJE DATA:06/10/2008.)
PREVIDENCIÁRIO. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA
EM RECURSO ESPECIAL. CARTEIRA DE TRABALHO E
PREVIDÊNCIA SOCIAL. ANOTAÇÕES FEITAS POR
ORDEM JUDICIAL. SENTENÇA TRABALHISTA NÃO
FUNDAMENTADA EM PROVAS DOCUMENTAIS E
TESTEMUNHAIS. INÍCIO DE PROVA MATERIAL NÃO
CARACTERIZADO. 
1. A sentença trabalhista será admitida como início de
prova material, apta a comprovar o tempo de serviço, caso ela
tenha sido fundada em elementos que evidenciem o labor
exercido na função e o período alegado pelo trabalhador na
ação previdenciária. Precedentes das Turmas que compõem a
Terceira Seção.
2. No caso em apreço, não houve produção de qualquer
espécie de prova nos autos da reclamatória trabalhista, tendo
havido acordo entre as partes.
3. Embargos de divergência acolhidos.
(ERESP 200500170474, LAURITA VAZ - TERCEIRA
SEÇÃO, DJ DATA:24/10/2005 PG:00170.)

Isto não significa negar validade à sentença trabalhista transitada


em julgado. Esta produz efeitos no âmbito da relação de trabalho e dentro dos
limites subjetivos da coisa julgada. Porém, para que sirva de documento hábil
a embasar qualquer pretensão em face da Previdência Social, é necessário que
a sentença tenha se baseado em prova documental contemporânea à relação de
emprego declarada.

Contudo, pode ocorrer tratar-se de sentença homologatória de


acordo, em processo na qual as partes resolveram por fim à lide sem que
houvesse a produção de provas, reconhecendo a existência de um vínculo de
emprego. Nessa hipótese, em face da ausência de prova material, a sentença
homologatória não poderá ser utilizada como documento apto a fundamentar
um pedido de revisão. Da mesma forma, pode ocorrer ainda tratar-se de
sentença na qual o réu é condenado em razão dos efeitos da revelia, sem que
haja produção de prova material robusta. Não são raros os casos em que se
ajuíza ação trabalhista visando o reconhecimento de um vínculo de emprego,
no qual as partes em conluio celebram acordo reconhecendo o vínculo, com o
recolhimento das contribuições devidas pelo suposto empregador, tão somente
com o fim de buscar posteriormente que tal avença produza efeitos na seara
previdenciária.

Vejam-se a respeito os seguintes julgados:


PREVIDENCIÁRIO. RECONHECIMENTO DE TEMPO
DE SERVIÇO. PROVA MATERIAL. SENTENÇA
TRABALHISTA HOMOLOGATÓRIA DE ACORDO.
UTILIZAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO
REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO.
1. Impossível a utilização de sentença trabalhista
homologatória de acordo judicial, como início de prova
material, se não fundada em outros elementos que comprovem
o labor apontado.
2. Agravo regimental ao qual se nega provimento.
(AgRg no AREsp 25.553/PR, Rel. Ministra MARIA
THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em
02/08/2012, DJe 13/08/2012)
AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL.
PREVIDENCIÁRIO. RECONHECIMENTO DE TEMPO DE
SERVIÇO POR MEIO DE SENTENÇA TRABALHISTA.
MERO RECONHECIMENTO DA RELAÇÃO DE
TRABALHO POR PARTE DO RECLAMADO. AUSÊNCIA
DE ELEMENTOS DE PROVAS A SUBSIDIAR O PEDIDO.
 I. "A sentença trabalhista será admitida como início de
prova material, apta a comprovar o tempo de serviço, caso ela
tenha sido fundada em elementos que evidenciem o labor
exercido na função e o período alegado pelo trabalhador na
ação previdenciária. Precedentes das Turmas que compõem a
Terceira Seção" (EREsp 616.242/RN, 3ª Seção, Rel. Min.ª
Laurita Vaz, DJ 24/10/2005).
II. In casu, a sentença trabalhista tão somente homologou
acordo firmado entre as partes, no qual o reclamado
reconheceu relação de emprego do reclamante, não tendo sido
juntado, porém, qualquer elemento que evidenciasse, na ação
trabalhista, que ele houvesse prestado serviço na empresa e no
período alegado na ação previdenciária. Agravo regimental
desprovido. (AGRESP 200901121274, FELIX FISCHER -
QUINTA TURMA, DJE DATA:30/11/2009.)
PREVIDENCIÁRIO. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA
EM RECURSO ESPECIAL. CARTEIRA DE TRABALHO E
PREVIDÊNCIA SOCIAL. ANOTAÇÕES FEITAS POR
ORDEM JUDICIAL. SENTENÇA TRABALHISTA NÃO
FUNDAMENTADA EM PROVAS DOCUMENTAIS E
TESTEMUNHAIS.  INÍCIO DE PROVA MATERIAL NÃO
CARACTERIZADO.
1. A sentença trabalhista será admitida como início de
prova material, apta a comprovar o tempo de serviço, caso ela
tenha sido fundada em elementos que evidenciem o labor
exercido na função e o período alegado pelo trabalhador na
ação previdenciária. Precedentes das Turmas que compõem a
Terceira Seção.
2. No caso em apreço, não houve produção de qualquer
espécie de prova nos autos da reclamatória trabalhista, tendo
havido acordo entre as partes.
3. Embargos de divergência acolhidos.

 (EREsp. 616.242/RN, Rel. Min. Laurita Vaz, D.J. de


24/10/2005).

O entendimento administrativo do INSS a respeito da questão


está consolidado na Súmula 04 do Conselho de Recursos da Previdência
Social:

“Consoante inteligência do § 3º, do art. 55, da Lei


8.213/91, não será admitida como eficaz para comprovação de
tempo de contribuição e para os fins previstos na legislação
previdenciária, a ação Reclamatória Trabalhista em que a
decisão não tenha sido fundamentada em início razoável de
prova material contemporânea constante nos autos do
processo.”

A Instrução Normativa INSS PRES 45/2010 trata da questão em


seu art. 90.

De acordo com o disposto no art. 90, III da citada IN 45,


tratando-se de ação trabalhista transitada em julgado envolvendo apenas a
complementação de salários de contribuição de vínculo empregatício
devidamente comprovado, não será exigido pelo INSS início de prova
material, independente de existência de recolhimentos correspondentes.

3 – Decadência:

Questão relevante quanto à revisão de benefícios previdenciários


é a relativa à decadência. A Lei 8213/91, na redação conferida ao art. 103 pela
Lei 10.839/04, assim dispõe:
Art. 103. É de dez anos o prazo de decadência de todo e
qualquer direito ou ação do segurado ou beneficiário para a
revisão do ato de concessão de benefício, a contar do dia
primeiro do mês seguinte ao do recebimento da primeira
prestação ou, quando for o caso, do dia em que tomar
conhecimento da decisão indeferitória definitiva no âmbito
administrativo.
Parágrafo único. Prescreve em cinco anos, a contar da data
em que deveriam ter sido pagas, toda e qualquer ação para
haver prestações vencidas ou quaisquer restituições ou
diferenças devidas pela Previdência Social, salvo o direito dos
menores, incapazes e ausentes, na forma do Código Civil.

Suponha-se que uma ação trabalhista se arraste por longos anos,


buscando as partes o esgotamento de todas as vias recursais. Caso tenha
decorrido o prazo fixado no art. 103, caput, da Lei 8213/91 quando do
requerimento de revisão do benefício fundado na decisão proferida pela
Justiça do Trabalho, ainda que tal decisão esteja amparada em farta prova
documental, restará fulminada a pretensão revisional pela consumação da
decadência.

4 - Conclusão

Em face da limitação constitucional da competência da Justiça do


Trabalho em matéria previdenciária e dos limites subjetivos da coisa julgada,
a sentença trabalhista não tem por si a força de impor obrigações no âmbito da
relação entre o segurado e a Previdência Social.

A sentença trabalhista poderá servir como documento hábil a


embasar pedido de revisão de benefício previdenciário desde que fundada em
elementos probatórios que evidenciem a efetiva prestação de serviços e o
período alegado pelo segurado.

Não é possível utilização de sentença meramente homologatória


de acordo como início de prova material, se não fundada em outros elementos
que comprovem o labor apontado no acordo.

Tratando-se de ação trabalhista transitada em julgado envolvendo


apenas a complementação de salários de contribuição de vínculo empregatício
devidamente comprovado, não é exigido pelo INSS início de prova material,
conforme o disposto no art. 90, III da Instrução Normativa INSS PRES
45/2010.

Caso tenha transcorrido o prazo fixado no art. 103, caput, da Lei


8213/91, a pretensão revisional restará fulminada pela decadência.

Bibliografia:

AMADO, Frederico. Direito e Processo Previdenciário sistematizado. 3ª


edição ampliada e atualizada. Salvador: JusPodivm, 2012.

MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da Seguridade Social. 20ª edição.


São Paulo: Atlas, 2004.

Notas:
[1] Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar

(...)

VIII - a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art.


195, I, a , e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que
proferir;

[2] Súmula Vinculante 22 do STF: “A Justiça do Trabalho é


competente para processar e julgar as ações de indenização por
danos morais e patrimoniais decorrentes de acidente de trabalho
propostas por empregado contra empregador, inclusive aquelas que
ainda não possuíam sentença de mérito em primeiro grau quando da
promulgação da emenda constitucional nº 45/04.”

[3] Regime Geral de Previdência Social.

[4]  Código de Processo Civil - Art. 472.  A sentença faz coisa


julgada às partes entre as quais é dada, não beneficiando, nem
prejudicando terceiros. Nas causas relativas ao estado de pessoa, se
houverem sido citados no processo, em litisconsórcio necessário,
todos os interessados, a sentença produz coisa julgada em relação a
terceiros.

Conforme a NBR 6023:2000 da Associacao Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto cientifico
publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: RIBEIRO, Alexandre
Lopes. Sentença trabalhista e revisão de benefícios previdenciários. Conteudo Juridico, Brasilia-DF: 22
fev. 2013. Disponivel em: <http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.42156&seo=1>. Acesso
em: 12 set. 2017.

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